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FACULDADE ÚNICA

DE IPATINGA

1
PRÁTICA PEDAGÓGICA
INTERDISCIPLINAR: FORMAÇÃO SOCIAL,
ECONÔMICA E POLÍTICA DO BRASIL

1ª edição
Ipatinga – MG
ANO

2
FACULDADE ÚNICA EDITORIAL

Diretor Geral: Valdir Henrique Valério


Diretor Executivo: William José Ferreira
Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos
Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira
Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa
Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva
Carla Jordânia G. de Souza
Rubens Henrique L. de Oliveira
Design: Brayan Lazarino Santos
Élen Cristina Teixeira Oliveira
Maria Luiza Filgueiras

© 2021, Faculdade Única.

Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização
escrita do Editor.

T314i Teodoro, Jorge Benedito de Freitas, 1986 - .


Introdução à filosofia / Jorge Benedito de Freitas Teodoro. – 1. ed. Ipatinga, MG:
Editora Única, 2020.
113 p. il.

Inclui referências.

ISBN: 978-65-990786-0-6

1. Filosofia. 2. Racionalidade. I. Teodoro, Jorge Benedito de Freitas. II. Título.

CDD: 100
CDU: 101
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920.

NEaD – Núcleo de Educação as Distancia FACULDADE ÚNICA


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3
Menu de Ícones
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo apli-
cado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são
para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com
uma função específica, mostradas a seguir:

São sugestões de links para vídeos, documentos cientí-


fico (artigos, monografias, dissertações e teses), sites ou
links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e Biblio-
teca Pearson) relacionados com o conteúdo abor-
dado.
Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações im-
portantes nas quais você deve ter um maior grau de
atenção!

São exercícios de fixação do conteúdo abordado em


cada unidade do livro.

São para o esclarecimento do significado de determi-


nados termos/palavras mostradas ao longo do livro.

Este espaço é destinado para a reflexão sobre ques-


tões citadas em cada unidade, associando-o a suas
ações, seja no ambiente profissional ou em seu cotidi-
ano.

4
SUMÁRIO

O PERÍODO PRÉ-COLONIAL E OS PRIMEIROS PASSOS DO BRASIL


UNIDADE COLÔNIA................................................................................................... 8

01
1.1 A CHEGADA DOS EUROPEUS ÀS AMÉRICAS...................................................... 8
1.2 PRIMEIROS PASSOS DO BRASIL COLÔNIA: O SISTEMA DE CAPITANIAS
HEREDITÁRIAS E A IMPLEMENTAÇÃO DO GOVERNO GERAL.......................... 13
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................... 17

O PERÍODO COLONIAL........................................................................... 20
UNIDADE

02
2.1 A MÃO DE OBRA ESCRAVA COMO BASE DO SISTEMA COLONIAL ............... 20
2.2 O CICLO DO OURO ........................................................................................... 23
2.3 AS REVOLTAS DO PERÍODO COLONIAL............................................................ 24
2.4 A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL .......................................................................... 28
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................... 31

O REINADO DE D. PEDRO I...................................................................... 36


UNIDADE

03
3.1 A CRISE ECONÔMICA E A INSTABILIDADE POLÍTICA ...................................... 36
3.1.1 A Constituição Outorgada de 1824.............................................................37
3.2 AS REVOLTAS DO PRIMEIRO REINADO ............................................................. 38
3.3 A ABDICAÇÃO DO TRONO POR DOM PEDRO I............................................... 40
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................... 41

O PERÍODO REGENCIAL.......................................................................... 45
UNIDADE

04
4.1 REGÊNCIA TRINA PROVISÓRIA ......................................................................... 46
4.2 REGÊNCIA TRINA PERMANENTE ........................................................................ 47
4.3 REGÊNCIA UNA.................................................................................................. 49
4.4 REVOLTAS REGENCIAIS ..................................................................................... 50
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................... 53

O REINADO DE D. PEDRO II..................................................................... 58


UNIDADE

05
5.1 O CENÁRIO POLÍTICO DO SEGUNDO REINADO .............................................. 58
5.2 O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO .............................................................. 60
5.3 AS GUERRAS DURANTE O SEGUNDO REINADO................................................ 63
5.4 A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA ...................................................................... 67
5.5 A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA................................................................... 70
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................... 74

ALGUNS REFLEXOS DO PASSADO NA ATUALIDADE .............................. 78


UNIDADE

06
6.1 REFLEXOS DA HISTÓRIA NA SOCIEDADE DE HOJE........................................... 79
6.2 REFLEXOS DA HISTÓRIA NA ECONOMIA DE HOJE .......................................... 86
6.3 REFLEXOS DA HISTÓRIA NA POLÍTICA DE HOJE ............................................... 90
FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................... 94

RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ............................................. 100

REFERÊNCIAS ......................................................................................... 101

5
CONFIRA NO LIVRO

Na primeira unidade, “O período pré-colonial e os primeiros passos


do Brasil Colônia”, serão apresentados os acontecimentos mais im-
portantes acerca do "descobrimento" do Brasil, do período pré-co-
lonial e dos primeiros anos do Brasil Colônia, quando Portugal iniciou
o processo colonizatório por meio das capitanias hereditárias e, pos-
teriormente, pela instauração de um Governo Geral.

A segunda unidade, “O período colonial”, adentrará com mais pro-


fundidade nos anos de ascensão e declínio do Brasil Colônia, com
a substituição do foco econômico do pau-brasil para o ouro, a ex-
ploração da mão de obra escrava, as revoltas coloniais, a chegada
da Família Real e, por fim, o grito pela independência, em 1822.

Nesta unidade, “O reinado de D. Pedro I”, serão abordados os ele-


mentos mais significativos que permearam os anos seguintes à im-
plementação da República, tais como a Constituição outorgada
de 1824, as crises políticas e econômicas, a instabilidade em decor-
rência de conflitos internos e a existência de fatores externos que
fizeram com que, por fim, D. Pedro retornasse a Portugal e abdicasse
do trono em favor do seu filho.

A quarta unidade, “O período regencial”, terá como destinação


apresentar os traços centrais do período entre a abdicação de D.
Pedro I e a assunção do trono por D. Pedro II que, quando do retorno
do seu pai para Portugal, tinha apenas 5 anos e não podia assumir.
Diante disso, o Brasil ficou entre 1831 a 1841 sob regência (com re-
gentes trinos provisórios, trinos permanentes e uno), enfrentando for-
tes crises políticas e econômicas, com algumas das revoltas popula-
res mais importantes da sua História.

Na quinta unidade, “O Reinado de D. Pedro II”, serão trabalhados o


desenvolvimento econômico do período e a ascensão do Brasil no
mercado internacional por conta da exportação de café. Além
disso, serão abordadas as conturbações políticas, as Guerras exter-
nas nas quais o país se envolveu, a abolição da escravidão e, por
fim, a proclamação da República.

A sexta unidade, “Alguns reflexos do passado na atualidade”, terá


como objetivo refletir sobre a existência de características sociais,
econômicas e políticas do Brasil Colônia e do Brasil Império que, até
hoje, têm seus efeitos enraizados nas estruturas mais profundas da
sociedade.

6
INTRODUÇÃO

Entender o presente é um trabalho extremamente complexo, que depende


de diversas variáveis. Tais fatores precisam ser analisados com um olhar contemporâ-
neo e multidisciplinar, que leve em consideração a realidade atual. Porém, nunca se
deve esquecer que o presente só é o que é, por conta do passado.
Com isso em mente, o presente livro didático busca analisar os traços sociais,
econômicos e políticos mais significativos e marcantes da História brasileira, no perí-
odo de 1500 a 1889. Ou seja: do descobrimento à proclamação da República.
Embora possam parecer tempos há muito passados e esquecidos, tal período
representa mais de 70% do total de anos do Brasil como território descoberto interna-
cionalmente. Significa dizer: desde que o Brasil "existe", em 70% do tempo ele foi Co-
lônia ou Império. E, desse raciocínio, extrai-se que a República, hoje realidade brasi-
leira, pode ser equiparada a uma mera adolescente, com poucos anos de estrutura-
ção e profundas dificuldades em entender sua própria identidade.
Justamente por isso, no intuito de compreender os traços da República de
hoje, que traz no seu âmago tantos reflexos de um Brasil Colônia e de um Brasil Impé-
rio, é que as próximas páginas são tão relevantes.
E então? Preparado para compreender melhor os principais elementos históri-
cos, sociais, econômicos e políticos dos primeiros séculos de vida do Brasil? Curioso
para entender alguns dos seus reflexos na atualidade? Vamos a isso!

7
O PERÍODO PRÉ-COLONIAL E OS UNIDADE

01
PRIMEIROS PASSOS DO BRASIL
COLÔNIA

1.1 A CHEGADA DOS EUROPEUS ÀS AMÉRICAS

“Nada que resulta em progresso humano é alcançado com consenti-


mento unânime. Aqueles que são iluminados antes dos outros são con-
denados a perseguir a luz apesar dos outros.”(Cristóvão Colombo)

Embora a História do Brasil seja retratada pelos livros como nascida em 1500, a
verdade é que os motivos do seu descobrimento e os traços do estilo de colonização
que seria imposto possuem suas sementes em momentos anteriores.
Nesse sentido, a Europa Ocidental do séc. XIV vivia um momento de expansão
marítima, no qual alguns dos seus países dedicavam tempo e esforços ao estudo e
desbravamento dos oceanos, em busca de novas terras e mais matérias primas para
fomentar o comércio. Na época, vigorava uma política mercantilista, em que o acú-
mulo de metais (sobretudo o ouro e a prata) era demonstrativo da riqueza nacional.
Além disso, também as especiarias (pimenta, canela, cravo, gengibre, etc.) eram
artigos de luxo e, portanto, visados durante as transações comerciais.
A expansão marítima foi sentida por vários países, tendo sido Portugal um dos
principais pioneiros, em que pese a pequena extensão territorial e a ausência de gi-
gantescos recursos financeiros. O que pode explicar tal pioneirismo é o fato de Por-
tugal ter tornado-se uma monarquia centralizada antes de outras grandes potências,
o que facilitava o proferimento e a execução de ordens. Além disso, as condições
geográficas colocam o pequeno país justamente na ponta esquerda da Europa, o
que propiciava a exploração do Atlântico. A partir disso, o domínio da técnica marí-
tima fez com que as embarcações e ferramentas portuguesas fossem cada vez mais
aprimoradas, permitindo que Portugal chegasse cada vez mais longe.
Uma rota era especialmente importante para os portugueses: a que levava à
Índia, por meio do contorno da África. Anteriormente, os mercadores italianos eram
os responsáveis por trazer as especiarias das Índias para a Europa, por um caminho a
partir do mar mediterrâneo. Entretanto, com os conflitos que passaram a existir na

8
região, os outros países europeus precisaram se reinventar e descobrir novas formas
de chegar às Índias. Portugal, neste cenário, viu a possibilidade de contornar a África
(que na época não possuía seus contornos exatamente conhecidos), e pelo cami-
nho encontrou muita riqueza e mão de obra. Foi justamente no séc. XIV que os pri-
meiros africanos foram escravizados por portugueses, que dominavam suas terras,
extraiam suas riquezas e levavam consigo o seu povo, para torná-los escravos.

Figura 1: As principais rotas mercantes portuguesas nos séc. XV e XVI

Disponível em: https://bit.ly/303WqKV . Acesso em: 01 jul. 2020

A chegada dos portugueses à Índia por este caminho que contornava a África
se deu em 1498, liderada por Vasco da Gama. Antes disso, porém, Cristóvão Co-
lombo, a serviço da Espanha, já havia descoberto terras a oeste da Europa, mais
especificamente na região que hoje conhecemos por América Central. Ao descobrir
tais terras e seu povo, Colombo chamou-lhes "índios", por achar que estava na Índia.
Esta confusão se deu pois, à época, não se sabia com certeza se a Terra era redonda.
Anos depois, Américo Vespúcio corrigiu Colombo e alertou para o fato de que
aquele era um novo continente - nomeado, então, em homenagem a Vespúcio,
como "América".

9
Como Portugal era o país europeu mais próximo da América, Portugal e Espa-
nha assinam em 1494 o Tratado de Tordesilhas, que traçava uma linha a 370 léguas a
oeste da ilha de Cabo Verde e determinava que as terras a oeste estariam sob do-
mínio espanhol e, as que estivessem a leste, sob domínio português. Interessa perce-
ber que o Brasil sequer havia sido descoberto no momento em que esta divisão foi
feita. De qualquer forma, acredita-se que, não coincidentemente, seis anos depois
da assinatura do Tratado, uma frota portuguesa comandada por Pedro Álvares Ca-
bral saiu rumo às Índias e acabou por desembarcar nesta terra nova em em 22 de
abril 1500, a qual, antes de se chamar Brasil, chamou-se Monte Pascoal, Vera Cruz e
Terra de Santa Cruz.

Figura 2: Representação da "Descoberta" do Brasil

Disponível em: https://bit.ly/3pYWtBT . Acesso em: 01. jul. 2020

A nova terra era habitada por uma população com hábitos muito diferentes
dos europeus e o choque cultural foi logo sentido. Porém, os tupiniquins encontrados
tratavam-se de indivíduos pacíficos, que apesar de portarem arcos e flechas, não
tiveram comportamento hostil à chegada deste povo tão branco, tão vestido e com
uma língua tão estranha às suas terras.

10
Considerando que a nova terra já possuía uma população local, você entende como
correta a utilização da palavra "descobrimento"? De acordo com o dicionário, "descobrir"
pode ter diferentes significados, tais como:

1. Achar o ignorado, o desconhecido ou o oculto.

2. Fazer um descobrimento.

3. Chegar a conhecer.

4. Notar.

5. Destapar.

6. Mostrar.

7. Manifestar; revelar.

8. Avistar; ver; alcançar com a vista.

9. Inventar.

(Disponível em: https://bit.ly/3qWYxvA . Acesso em: 10 jul. 2020)

Não existe resposta absolutamente correta para a pergunta anterior, pois ela depende
da forma como cada um interpreta a palavra "descobrir". Realmente, dentre os países
europeus, Portugal foi o primeiro a encontrar o Brasil. Entretanto, também é fato que havia
um povo que já cá estava - e estes sim carregam o gene do povo originariamente brasi-
leiro.

A nova terra estava "descoberta", porém não possuía grande atenção por
parte dos portugueses, que naquele momento estavam mais interessados no recente
descobrimento do caminho às Índias por Vasco da Gama, pois dele iriam provir as
riquezas advindas das especiarias. Portanto, pouco tempo depois de aportarem no
Brasil, a frota de Pedro Álvares Cabral logo seguiu rumo às Índias.
É neste cenário que o período de 1500 a 1530 é chamado de pré-colonial, pois
as expedições à nova terra sequer tinham intuito colonizatório e só ocorriam com o
foco em:

1) Explorar os recursos locais (o pau-brasil, sobretudo);


2) Garantir que o território não fosse invadido por outros países; e
3) Reconhecer geograficamente a nova terra, em busca de novos recursos na-
turais a serem explorados.

11
Até 1530, portanto, a convivência da população local com os portugueses era
pacífica e baseava-se em escambos: os europeus davam aos índios quinquilharias
como espelhos, canivetes, livros e etc. Em troca, os indígenas extraíam o pau-brasil e
colocavam a madeira nos navios portugueses.

Figura 3: Charge retratando a relação entre os indígenas brasileiros e os portugueses, no pe-


ríodo pré-colonial

Disponível em: https://bit.ly/2ZWNlTL . Acesso em: 02 jul. 2021

Durante o período pré-colonial, não havia interesse dos portugueses no sentido


de enviar pessoas para o Brasil e fazer com que a nova terra se tornasse uma colônia.
O objetivo era pura e simplesmente retirar o que se encontrasse de valioso e enviar
para Portugal, onde seria dado um "bom rumo" às riquezas. Porém, por medo de que
o comércio das especiarias nas Índias começasse a desandar e tendo em vista que
os franceses apresentavam sinais de interesse em dominar as terras descobertas por
Portugal, a Coroa Portuguesa achou por bem começar a exercer maior influência
sob a nova terra, dividindo-a em capitanias hereditárias - o primeiro mecanismo co-
lonizador implementado no Brasil.

12
Figura 4: Representação dos períodos da história brasileira

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

O período colonial é o mais extenso da história do Brasil até hoje, tendo durado
por 292 anos, de 1530 a 1822. Depois disso, o Brasil ainda experienciou uma época
como Império para, apenas em 1889, constituir-se em República. Essa percepção é
absolutamente importante para que se analisem os problemas enfrentados atual-
mente no cotidiano brasileiro, pois muito disso (para não dizer que tudo isso) é reflexo
de séculos de História. Estudar a história brasileira e a forma como o processo coloni-
zatório se deu é, portanto, essencial. Vamos a isso.

1.2 PRIMEIROS PASSOS DO BRASIL COLÔNIA: O SISTEMA DE CAPITANIAS HE-


REDITÁRIAS E A IMPLEMENTAÇÃO DO GOVERNO GERAL

“Poder dividido é poder enfraquecido.” (Dir-


ceu Azevedo)

As capitanias hereditárias correspondiam a grandes lotes de terras, entregues


a "capitães donatários", que geralmente eram comerciantes ou nobres portugueses
próximos ao Rei, que recebiam o direito vitalício e hereditário de explorar as terras e,
em contrapartida, deveriam desenvolvê-las, protegê-las de ataques estrangeiros e
de indígenas e entregar parte dos lucros a Portugal.
O sistema de capitanias acabou por ser um fracasso, a ponto de apenas 2 das
14 capitanias hereditárias terem prosperado: São Vicente e Pernambuco. As princi-
pais causas do fracasso das outras 12 capitanias foram a distância da metrópole e a
consequente dificuldade de comunicação com a Coroa, além do fato de várias das
capitanias sequer terem sido ocupadas e da relação complicada entre os portugue-
ses e os indígenas (que, neste momento, não estavam mais confortáveis com a intro-
missão dos homens brancos nas suas terras).
Em São Vicente e Pernambuco, acredita-se que só foi possível um maior de-
senvolvimento por conta da relação menos hostil que existia com os índios locais,
além do fato da cultura da cana-de-açúcar ser propícia nessas regiões.

13
O sistema de capitanias hereditárias durou até 1548, quando o poder foi cen-
tralizado e foi implementado o sistema de Governo Geral.

Figura 5: Mapa clássico das Capitanias Hereditárias, de autoria de Luís Teixeira (1586)

Disponível em: https://bit.ly/2O5vPuc . Acesso em: 05 jul. 2021

O objetivo desse novo sistema era justamente centralizar o poder e, assim, con-
seguir uma melhor defesa do território, garantindo o monopólio e o controle de tudo
que fosse explorado na colônia. Tomé de Souza foi o primeiro governador geral (1549-
1553), seguido de Duarte da Costa (1553-1558) e Mem de Sá (1558-1572).
O Governo Geral durou até 1572, e algumas das principais características e
realizações dessa época foram:

 A chegada dos jesuítas e a catequização dos índios (já que a Igreja estava
interessada em novos fieis, diante da expansão do protestantismo na Europa);
 A expansão da agricultura e início da pecuária;
 A exploração do interior, em busca de riquezas;

14
 A ampliação e organização da cobrança de impostos;
 A invasão e expulsão dos franceses (1555-1567);
 A fundação do Rio de Janeiro em 1561 (que posteriormente viria a ser a capital
da colônia);
 O início da escravidão no Brasil.

O século XVI ficou conhecido como o século do açúcar, por ser esta a princi-
pal atividade econômica da época. Nesse sentido, durante todo o período das ca-
pitanias hereditárias e do Governo Geral (de 1530 a 1580, mais precisamente), vigo-
rou uma parceria comercial entre Portugal e Holanda, que juntos financiaram o cul-
tivo de monoculturas de cana-de-açúcar nos chamados "Engenhos" brasileiros. A
cana foi escolhida por ser um produto que crescia facilmente em solo brasileiro e que
era vendida rapidamente para o resto da Europa. Assim, grandes latifúndios, basea-
dos na mão de obra escrava, possibilitavam que Portugal produzisse e transportasse
o produto, enquanto a Holanda ficava responsável pelo refinamento e distribuição
para os demais países.

Para dar espaço à plantação em larga escala da cana de açúcar, centenas


de quilômetros quadrados de floresta foram desmatados e milhares de indígenas se
viram obrigados a fugir de suas próprias terras, para que não fossem escravizados ou
mortos. Neste momento, a convivência com o povo indígena já era muito mais hostil
do que no período pré-colonial.

Figura 6: Ilustração de um Engenho de Açúcar

15
Disponível em: https://bit.ly/3aTwAz8 . Acesso em: 10 jul. 2021

Ainda a respeito da economia do Brasil Colônia e apesar do açúcar ter sido a


principal atividade econômica do séc. XVI, também a pecuária foi consolidando um
papel importante com o passar dos anos. Nesse sentido, a criação de animais tra-
tava-se, a princípio, de uma atividade acessória, com a mera função de fornecer
carne e couro para os engenhos. Posteriormente, porém, tornou-se atividade essen-
cial, na medida em que os animais viraram meio de transporte e ferramenta de força
para a movimentação de moinhos (já que a tração animal acabava sendo mais
produtiva do que a dos escravos).

16
FIXANDO O CONTEÚDO

1. Os primitivos habitantes do Brasil foram vítimas do processo colonizador. O euro-


peu, com visão de mundo calcada em preconceitos, menosprezou o indígena e
sua cultura. A acreditar nos viajantes e missionários, a partir de meados do século
XVI, há um decréscimo da população indígena, que se agrava nos séculos se-
guintes. Os fatores que mais contribuíram para o citado decréscimo foram

a) a captura e a venda do índio para o trabalho nas minas de prata do Potosí.


b) as guerras permanentes entre as tribos indígenas e entre índios e brancos.
c) o canibalismo, o sentido mítico das práticas rituais, o espírito sanguinário, cruel e
vingativo dos naturais.
d) as missões jesuíticas do vale amazônico e a exploração do trabalho indígena na
extração da borracha.
e) as epidemias introduzidas pelo invasor europeu e a escravidão dos índios.

2. "O senhor de engenho é título a que muitos aspiram, porque traz consigo o ser
servido, obedecido e respeitado de muitos." O comentário de Antonil, escrito no
século XVIII, pode ser considerado característico da sociedade colonial brasileira
porque

a) a condição de proprietário de terras e de homens garantia a preponderância dos


senhores de engenho na sociedade colonial.
b) a autoridade dos senhores restringia-se aos seus escravos, não se impondo às co-
munidades vizinhas e a outros proprietários menores.
c) as dificuldades de adaptação às áreas coloniais levaram os europeus a organizar
uma sociedade com mínima diferenciação e forte solidariedade entre seus seg-
mentos.
d) as atividades dos senhores de engenho não se limitavam à agroindústria, pois con-
trolavam o comércio de exportação, o tráfico negreiro e a economia de abaste-
cimento.
e) o poder político dos senhores de engenho era assegurado pela metrópole através
da sua designação para os mais altos cargos da administração colonial.

17
3. Em 1534, o governo português concluiu que a única forma de ocupação do Brasil
seria através da colonização. Era necessário colonizar, simultaneamente, todo o
extenso território brasileiro. Essa colonização dirigida pelo governo português se
deu através da

a) criação da Companhia Geral do Comércio do Estado do Brasil.


b) criação do sistema de governo-geral e câmaras municipais.
c) criação das capitanias hereditárias.
d) montagem do sistema colonial.
e) criação e distribuição das sesmarias.

4. Quais as características dominantes da economia colonial brasileira?


a) Propriedade latifundiária, trabalho indígena e produção monocultura.
b) Propriedades diversificadas, exportação de matérias-primas e trabalho servil.
c) Monopólio comercial, latifúndio e trabalho escravo de índios e negros.
d) Pequenas vilas mercantis, monocultura de exportação e trabalho servil.
e) propriedade minifundiária, colônias agrícolas e trabalho escravo.

5. A expansão da colonização portuguesa na América, a partir da segunda metade


do século XVIII, foi marcada por um conjunto de medidas, dentre as quais pode-
mos citar:

a) o esforço para ampliar o comércio colonial, suprimindo-se as práticas mercantilis-


tas.
b) a instalação de missões indígenas nas fronteiras sul e oeste, para garantir a posse
dos territórios por Portugal.
c) o bandeirismo paulista, que destruiu parte das missões jesuíticas e descobriu as
áreas mineradoras do planalto central.
d) a expansão da lavoura da cana para o interior, incentivada pela alta dos preços
no mercado internacional.
e) as alianças políticas e a abertura do comércio colonial aos ingleses, para conter
o expansionismo espanhol.

18
6. No Brasil colônia, a pecuária teve um papel decisivo na

a) ocupação das áreas litorâneas.


b) expulsão do assalariado do campo.
c) formação e exploração dos minifúndios.
d) fixação do escravo na agricultura.
e) expansão para o interior.

7. Assinale a opção que caracteriza a economia colonial estruturada como desdo-


bramento da expansão mercantil européia da época moderna.
a) A descoberta de ouro no final do século XVII aumentou a renda colonial, favore-
cendo o rompimento dos monopólios que regulavam a relação com a metrópole.
b) O caráter exportador da economia colonial foi lentamente alterado pelo cresci-
mento dos setores de subsistência, que disputavam as terras e os escravos dispo-
níveis para a produção.
c) A lavoura de produtos tropicais e as atividades extrativas foram organizadas para
atender aos interesses da política mercantilista européia.
d) A implantação da empresa agrícola representou o aproveitamento, na América,
da experiência anterior dos portugueses nas suas colônias orientais.
e) A produção de abastecimento e o comércio interno foram os principais mecanis-
mos de acumulação da economia colonial.

8. A centralização político-administrativa do Brasil colônia foi concretizada com a


a) criação do Estado do Brasil.
b) instituição do governo-geral.
c) transferência da capital para o Rio de Janeiro.
d) instalação do sistema das capitanias hereditárias.
e) política de descaso do governo português pela atuação predatória dos bandei-
rantes.

19
O PERÍODO COLONIAL UNIDADE

01
2
2.1 A MÃO DE OBRA ESCRAVA COMO BASE DO SISTEMA COLONIAL

“A liberdade é indivisível, e quando um ho-


mem é escravizado, nós todos não somos li-
vres.”(John Fitzgerald Kennedy)

A mão de obra escrava era uma das principais características do Brasil Colô-
nia, e a primeira forma de escravidão em solo brasileiro foi a dos indígenas. A respeito
disso, você pode se perguntar: "mas a relação entre os portugueses e as tribos não
era amigável, baseada em escambos?", e a resposta será: em um primeiro momento,
sim. Porém, a partir do momento que Portugal decidiu colonizar de fato o Brasil, pas-
sou a ter interesse nas terras que já estavam ocupadas pelos habitantes locais - o que
gerou conflito e muito derramamento de sangue ao longo de alguns séculos.
Para que as terras pudessem ser plantadas ou destinadas à criação de ani-
mais, tornou-se necessária a expulsão dos indígenas, que possuíam basicamente três
possíveis destinos diante das forças portuguesas: a fuga, a escravidão ou a morte.
Grande parte das tribos existentes à época tentaram resistir à dominação portuguesa,
mas algumas se aliaram aos colonizadores e passaram a capturar integrantes de ou-
tras tribos e a vendê-los como escravos.

Figura 7: Indígenas escravizados durante o período colonial

Disponível em: https://bit.ly/2ZRc8ZK . Acesso em: 05 jul. 2021.

20
Um dos problemas, neste ponto, é que o povo indígena não conhecia o con-
ceito de escravidão, o que dificultava muito a interação com os senhores e tornava
o trabalho nos Engenhos mais lento do que o realizado pelos negros (posteriormente
trazidos da África, onde já estavam familiarizados com a ideia de escravidão e tra-
balho exaustivo).
Outro ponto que pesava contra a escravidão indígena era a pressão da Igreja
Católica, que estava interessada na catequização dos indígenas por meio das Esco-
las Jesuítas e era, portanto, favorável a leis abolicionistas (embora fosse defensora da
escravização dos negros). Mesmo assim, a mão de obra escrava indígena só foi ser
proibida (em teoria) muito tempo depois do "descobrimento" do Brasil, apenas na
metade do século XVIII - o que mesmo assim representa mais de 100 anos anteriores
à abolição da escravatura negra.
Antes da abolição indígena, porém, as tribos precisaram resistir por muito
tempo - seja aos ataques violentos e armados da Coroa, por meio das "Guerras Jus-
tas" e das expedições bandeirantes, seja às doenças trazidas pelos portugueses (e
contra as quais os indígenas não possuíam anticorpos). Dentre os principais conflitos
diretos entre indígenas e colonos portugueses, há 3 "Guerras Indígenas" que merecem
especial destaque:

Quadro 1: Principais Guerras Indígenas do séc. XVI ao séc. XVIII

O conflito teve início quando João Ramalho (parceiro do


governador de São Vicente) casou-se com uma indígena no intuito
de passar a fazer parte da sua tribo (prática conhecida como
Confederação dos "cunhadismo") e, assim, comandou um ataque à aldeia, com o
Tamoios (de 1556 a objetivo de escravizar os índios locais. Os tupinambás resistiram e
1567, no litoral do aliaram-se a outras tribos, num conflito contra os colonos e a tribo
Sudeste) guaianense (aliada aos portugueses). Nos anos seguintes uma
epidemia acabou por dizimar parte dos combatentes e, por fim, em
1567 os tamoios foram expulsos do território fluminense, o que
terminou o conflito.

Teve início quando um senhor de engenho paraibano invadiu a


tribo potiguara e sequestrou a filha do cacique. Os índios revidaram
por meio da invasão do engenho e morte de todos os habitantes.
Guerra dos Potiguaras
A partir daí, volta e meia eram enviadas expedições portuguesas
(de 1574 a 1599, na
no sentido de repreender os potiguaras, que resistiam a todo custo.
Paraíba)
Tal conflito só cessou em 1599 quando, após serem acometidos por
uma grande epidemia, os potiguaras aceitaram assinar o acordo
de paz.

21
Teve início por ordem do governador da época, que buscava
evitar rebeliões futuras e reprimir um episódio ocorrido anos antes,
no qual os indígenas da tribo dos Manaus haviam matado dois
Guerra dos Manaus aliados da Coroa Portuguesa. Desconsiderou-se, porém, que tais
(de 1723 a 1730, no mortes haviam sido uma resposta ao assassinato do filho do líder
Amazonas) indígena, que acontecera enquanto tais colonos luso-brasileiros
tentavam realizar capturas de índios para a escravização (já que
uma epidemia de varíola, ocorrida anos antes, havia dizimado
quase toda a população indígena escrava).
Fonte: Elaborado pelo Autor (2021)

A experiência de mão de obra escrava com a população indígena foi cruel e


devastadora. Mesmo com o seu fim, ainda teve continuidade uma outra forma de
escravidão, iniciada no século XV e que só foi ter fim no século XIX: a dos negros
oriundos das colônias portuguesas na África.
A respeito da escravidão negra, sabe-se que tal movimento aconteceu diante
de uma crescente econômica dos Engenhos de Açúcar, que demandavam cada
vez mais mão de obra. A escravização dos indígenas não era mais suficiente e, com
isso, escravos advindos sobretudo da Guiné, do Congo e da Angola passaram a ser
amontoados, a partir de 1558, em navios negreiros cujas situações eram absoluta-
mente precárias e degradantes. Não havia qualquer condição de dignidade, seja
alimentar, seja salutar - e não à toa a mortalidade chegava à média de 70%.
Os escravos que sobreviviam à viagem eram vendidos em feiras e, a partir daí,
alguns poucos eram alocados em trabalhos nas cidades e a grande maioria era en-
viada para trabalhar nos Engenhos. O serviço era exaustivo e, por vezes, fatal. A ali-
mentação e o alojamento também eram precários e todo e qualquer desvio de con-
duta era punido de forma cruel, com torturas, mutilações e até mesmo a morte. Tais
seres eram tratados como objetos, como animais de propriedade dos seus senhores,
que podiam ser vendidos, herdados, doados, descartados e etc. Ao contrário dos
indígenas, que eram vistos como seres humanos pela Igreja Católica, nos escravos
negros não era vista neles nenhuma humanidade.
Diante desse cenário, as tentativas de fuga eram constantes. Os poucos es-
cravos que efetivamente conseguiam fugir sem serem capturados ou mortos, reu-
niam-se e fundavam comunidades próprias, chamas de Quilombos. Um dos princi-
pais Quilombos do Brasil foi o dos Palmares, localizado no Alagoas e cujo nome mais
importante foi o de um dos seus líderes: Zumbi.

22
Figura 8: Zumbi dos Palmares (Reprodução)

Disponível em: https://bit.ly/2MqNyvB . Acesso em: 10 jul. 2021.

O Quilombo dos Palmares foi criado no fim do século XVI e durou por cerca de
100 anos até que, após inúmeras tentativas, a Coroa Portuguesa por fim destruiu o
ajuntamento. Durante o período em que existiu, chegou a abrigar cerca de 20 mil
quilombolas, organizados em mocambos (agrupamentos menores), que eram lidera-
dos pelo mocambo central. Havia organização política e administrativa, além de re-
gras próprias e fortes estratégias de segurança.
Os quilombos, para além de serem uma ponta de esperança para os escravos,
representavam a mais clara forma de resistência do povo negro, que buscava meios
de sobreviver e de resgatar traços da cultura africana, de onde haviam sido retirados
à força. Até os dias de hoje, muito da religião, da tradição e dos costumes ancestrais
conhecidos e preservados devem-se à resistência, força e coragem dos quilombolas.

2.2 O CICLO DO OURO

“Aquele que mais estima o ouro do que a vir-


tude, há de perder a ambos.”(Confúcio)

O início da colonização brasileira foi litorânea, com a exploração do pau brasil


e da cana de açúcar, os quais eram facilmente encontrados e plantados no solo do
litoral. Porém, com o enfraquecimento do mercado açucareiro, a Coroa Portuguesa

23
passou a ter mais interesse no interior do Brasil, e foi a partir de então que começaram
a ter força as Entradas e as Bandeiras (as primeiras, expedições organizadas pela
própria Coroa Portuguesa; As segundas, organizadas por particulares). Os objetivos
de tais expedições eram a exploração do interior e a busca por metais preciosos,
além da apreensão de índios para a escravização e da destruição de quilombos.
Foi por meio de expedições bandeirantes que, por volta de 1674, foram en-
contradas minas de ouro e o Ciclo do Ouro teve início no Brasil. A notícia logo se
difundiu e não tardou até que centenas de pessoas fossem rumo ao que hoje chama-
se Minas Gerais, o que colaborou bastante para o desenvolvimento econômico, co-
mercial e urbano da região e também do litoral sudeste, pois era por meio destes
portos que o ouro era enviado para Salvador (a capital da época).
Embora a exploração do ouro fosse livre à população, diversas normas foram
criadas no sentido de "taxar" o ouro encontrado, destinando grande parte dos lucros
para a Coroa.

Quadro 2: impostos sobre a extração do ouro

Nome do imposto Ano de implanta- Conteúdo


ção

Determinava que 20% de toda a arrecadação


Quinto 1725
de ouro deveria ser entregue à Coroa

Impunha o pagamento de 17g de ouro por es-


Capitação 1735
cravo utilizado na mineração

Determinava uma produção mínima anual de


Arrecadação mí-
1750 100 arrobas de ouro (algo equivalente a 1,5 to-
nima
nelada)

Impunha a cobrança forçada das arrobas fal-


Derrama 1765
tantes para a arrecadação mínima
Fonte: Elaborado pelo Autor (2020)

A importância da extração do ouro para a Coroa Portuguesa era tanta que,


em 1763, visando a maior facilidade de transporte da mercadoria e a distância de
Salvador, a capital foi transferida para o Rio de Janeiro.

2.3 AS REVOLTAS DO PERÍODO COLONIAL

A praça, a praça é do Povo!


Como o céu é do Condor!
É antro onde a liberdade,

24
Cria a águia ao seu calor!
(Castro Alves)

O Brasil é, desde sempre, um país de dimensões continentais. Isso fez com que
houvesse diversas revoltas, em diferentes localidade e pelos motivos distintos. As Re-
voltas Nativistas são constituídas, basicamente, pelo descontentamento diante de
decisões estatais ou de normas estabelecidas por grupos poderosos. É importante
perceber, entretanto, que não possuem ideais separatistas. Nesse sentido, algumas
das revoltas nativistas mais importantes para o período colonial e que colaboraram
para construir a sociedade da forma como a vemos hoje, são:

Quadro 3: Principais Revoltas Nativistas

A revolta se deu por conta da criação da Companhia de Comércio do


Revolta de
Maranhão, que acabou aumentando os preços dos alimentos e
Beckman (em
diminuindo o lucro dos agricultores da região. Além disso, o fim da
1684, no
escravidão indígena também aumentou o custo para os produtores. A
Maranhão)
revolta foi logo reprimida.

Tratava-se do conflito entre os paulistas e os forasteiros (emboabas),


pois os primeiros julgavam ter o monopólio da exploração do ouro na
Guerra dos
região (já que foram os que o encontraram), mas os segundos também
Emboabas (de
queriam o direito de explorar minério na região. O final do conflito se
1707 a 1709, em
deu com o massacre dos paulistas, mas com a decisão do governo
Minas Gerais)
Português no sentido de que os paulistas de fato teriam direito à
exploração das minas por eles encontradas.

Tratou-se de um conflito de poder entre Olinda e Recife.


Resumidamente, Olinda era a capital de Pernambuco e era composta
por antigos senhores de engenho e seus descendentes. "Mascates", por
sua vez, era uma forma pejorativa que os olindenses apelidavam os
comerciantes recifenses. Quando Recife começou a ganhar
Guerra dos importância política, os olindenses demonstraram insatisfação. Mesmo
Mascates (de 1710 assim, em 1709, o Governador de Pernambuco transferiu sua residência
a 1711, em Recife) para Recife, o que foi o estopim para os olindenses. No ano seguinte,
portanto, olindenses invadiram Recife e tentaram assassinar o
governador, o que gerou o revide por parte dos recifenses. Tal conflito
perdurou por cerca de 1 ano e só teve fim quando os chefes olindenses
foram presos e tiveram seus bens confiscados. A partir daí, Recife
tornou-se de fato a capital de Pernambuco.

Neste conflito, a população se revoltou com a excessiva taxação de


impostos sobre o ouro por parte das Casas de Fundição (controladas
Revolta de Vila pela Coroa Portuguesa). Pediam, sobretudo, o fechamento de tais
Rica (em 1720, em Casas. Para dar fim ao conflito, o Governo garantiu que as
Minas Gerais) reinvidicações seriam cumpridas, mas depois disso ordenou que todos
os revoltosos fossem presos. O líder da Revolta, Felipe dos Santos, foi
enforcado, esquartejado e exposto em praça pública.
Fonte: Elaborado pelo Autor (2020)

25
As Revoltas Emancipacionistas, por sua vez, são caracterizadas por serem mo-
vimentos que buscavam dar um ponto final ao colonialismo português, com a inde-
pendência brasileira e, em alguns casos, o fim da escravidão.

Figura 9: Tiradentes, um dos maiores símbolos das Revoltas Emancipacionistas

Disponível em: https://bit.ly/3qR7HK6 . Acesso em: 06 jul. 2021.

Embora fossem movimentos difundidos (em maior ou menor escala) por diver-
sas partes do Brasil, três revoltas especialmente relevantes foram:

Quadro 4: Principais Revoltas Emancipacionistas

Nesta altura, a mineração do ouro já era muito mais escassa, mas a


Coroa Portuguesa seguia cobrando altos impostos da população e,
para além disso, ameaçava decretar a Derrama. Diante disso, um
grupo de revoltosos da classe média se reuniu com a pretensão de
formarem um novo país, que abarcaria Minas Gerais e Rio de
Inconfidência
Janeiro. Um dos integrantes do grupo, porém, traiu seus
Mineira (em 1789, em
companheiros e delatou o plano para a Coroa, que prendeu os
Minas Gerais)
revoltosos. De todos do grupo, havia apenas um deles que era de
fato pobre: Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como
Tiradentes. Não por acaso, Tiradentes foi declarado como o líder do
grupo e foi o único condenado à morte, tendo sido enforcado em
praça pública e esquartejado posteriormente.

Também chamada Conjuração Baiana, Revolta dos Búzios ou


Inconfidência Baiana.
Ao contrário da Inconfidência Mineira, a Revolta dos Alfaiates tinha
caráter popular, com ideais emancipacionistas, abolicionistas e
Revolta dos Alfaiates igualitários. Muitos dos pensamentos vinham da Revolução
(de 1798 a 1799, em Francesa, acontecida há menos de 10 anos na Europa, e traziam à
Capitania da Bahia) tona convicções ligadas à racionalidade, à liberdade e ao atraso
que representavam a monarquia, a nobreza e o clero. Ao descobrir
os ideais dos revolucionários, o governador baiano condenou
quatro dos líderes ao enforcamento e esquartejo, o que deu fim à
rebelião antes mesmo do seu efetivo começo.

26
Foi o último movimento emancipacionista e republicano ocorrido no
Brasil Colônia, motivado pela insatisfação das elites com as
condições vividas em Pernambuco e com a instalação da Coroa
Portuguesa no Rio de Janeiro (que havia acontecido em 1808). A
grande desigualdade social, somada aos impostos cada vez mais
altos (para sustentar os luxos da recém chegada Corte ao Brasil), fez
com que a população aderisse ao movimento revolucionário. Os
separatistas conseguiram tomar Recife e implantar um Governo
Revolução
Provisório em Pernambuco, abolindo alguns impostos e
Pernambucana (em
estabelecendo liberdade de imprensa e de credo (mantendo,
1817, em
porém, a escravidão, haja vista se tratar de um movimento liberal,
Pernambuco)
mas essencialmente elitista). O movimento se espalhou por outros
estados mas, ao final, divergências entre os revoltosos gerou o
enfraquecimento dos ideais, o que permitiu a retomada de todos os
territórios pela Coroa Portuguesa e a prisão e morte de alguns dos
integrantes da Revolução.
Embora não tenha servido ao seu exato propósito, a Revolução
Pernambucana deixou claro que a independência do Brasil era uma
questão de (pouco) tempo.
Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

A respeito das revoltas emancipacionistas, é importante que não sejam todas


elas colocadas como absolutamente compactuantes entre si, pois haviam diferen-
ças fundamentais, que faziam com que alguns dos ideais de uma revolta fossem
completamente rechaçados por outra e vice-versa. Por isso, é essencial entender os
pormenores de cada uma - sobretudo no que se refere à defesa (ou não) da aboli-
ção da escravidão.

Figura 10: Lucas Dantas, Manuel Faustino, Luís Gonzaga e João de Deus (os quatro líderes da
Revolta dos Alfaiates)

27
Disponóvel em: https://bit.ly/3spVM6o . Acesso em: 10 jul. 2021

2.4 A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

“A independência tem um preço, sempre o


soube, e nunca me recusei a pagá-lo.”
(Eugênio de Andrade)

A pressão interna pela independência já vinha acontecendo há tempos, mas


a realidade é que foram os acontecimentos e interesses externos que de fato con-
cretizaram a independência brasileira.
Para entender o contexto, é necessário retornar à Europa do século XVIII, que
sentia na pele os efeitos de uma Revolução Industrial e das novas tecnologias desco-
bertas pela humanidade. A política mercantilista vigente até então e o monopólio
comercial das metrópoles sobre as respectivas colônias não fazia mais sentido para
as grandes nações que estavam investindo pesado na indústria - dentre elas, sobre-
tudo a Inglaterra.
Para além do interesse britânico, também as Guerras Napoleônicas acabaram
por influenciar no processo da independência do Brasil. Nesse sentido, o imperador
francês, Napoleão Bonaparte, havia declarado guerra contra a Inglaterra e imposto
o "bloqueio continental", pelo qual proibia todos os países europeus de manterem
contato comercial com os ingleses, sob pena de invasão de seus territórios pelas tro-
pas francesas.
A Inglaterra, por sua vez, alertou que os países que aderissem ao bloqueio con-
tinental teriam suas colônias por eles invadidas. Portugal acabou por permanecer do
lado inglês e não tardou até que, em 1808, as tropas napoleônicas marchassem rumo
às terras lusitanas. Diante desse cenário, a Família Real e 15 mil outros portugueses,

28
sob o reinado de D. João VI, embarcaram rumo ao Brasil.

A primeira medida tomada pelo rei foi a abertura dos portos e a possibilidade
de que a colônia comercializasse com qualquer país aliado a Portugal (Inglaterra,
principalmente).
Para além dos portos, a instalação da Família Real na capital demandava es-
paço, e por isso foram expulsas centenas de pessoas de suas propriedades, sendo
alocadas em regiões periféricas do Rio de Janeiro (em zonas que, não coincidente-
mente, formam hoje algumas das favelas cariocas tão conhecidas no Séc. XXI). Além
disso, o desenvolvimento urbano e cultural da capital baseou-se também na maior
cobrança de impostos com vistas ao sustento do luxo da Corte, e à abertura de
diversas instituições públicas, tais como o Banco do Brasil, os Tribunais de Justiça, a
Biblioteca Nacional, alguns teatros e etc.
Treze anos após a chegada da Família Real, Dom João VI se viu na necessi-
dade de voltar para a terra natal para conter a revolta de seus conterrâneos. Os por-
tugueses estavam indignados pois, mesmo com o fim das guerras napoleônicas, a
Corte ainda não havia retornado para Portugal. Os ânimos exaltados punham em
risco o trono de Dom João VI e, por isso, o rei voltou para a Europa e deixou seu filho,
Dom Pedro, como príncipe regente do Brasil.
A regência de D. Pedro durou apenas dois anos, 1821 e 1822, pois logo os por-

29
tugueses passaram a exigir também o retorno do príncipe para Portugal, com pres-
sões para que as coisas voltassem a ser como antes e que o Brasil retornasse à con-
dição de colônia.
Dom Pedro, porém, que havia crescido no Brasil e feito muitos contatos e ami-
zades com brasileiros, recebeu o apoio dos latifundiários e da elite local, que juntou
mais de 8 mil assinaturas pedindo pela sua permanência no Brasil. Em 9 de janeiro de
1822, o príncipe anunciou que não retornaria a Portugal - episódio até hoje lembrado
como o "Dia do Fico".
A partir deste momento, os ânimos com Portugal ficaram mais exaltados e as
relações com a Inglaterra foram se estreitando - haja vista ser o país nitidamente mais
interessado na independência brasileira.
Assim, com a pressão da população rica brasileira e com o incentivo dos in-
gleses, em 7 de setembro de 1822, Dom Pedro dirigiu-se às margens do riacho Ipi-
ranga e ali formalizou a independência do Brasil.

Figura 11: Obra "Independência ou Morte", de Pedro Américo

Disponível em: https://bit.ly/3uzd1UQ . Acesso em: 10 jul. 2021

O "novo país", apesar de independente, continuava com praticamente todos


os traços sociais da sociedade colonialista: escravidão, produção voltada à expor-
tação, mesmos contornos econômicos e mesma ordem social. De qualquer forma, a
nomenclatura agora passou a ser outra: o Brasil havia deixado de ser colônia para
virar um Império, e Dom Pedro deixou de ser o príncipe regente para se tornar Dom
Pedro I - o primeiro Imperador do Brasil.

30
FIXANDO O CONTEÚDO

31
1. (Fuvest-SP) Podemos afirmar sobre o período da mineração no Brasil que

a) atraídos pelo ouro, vieram para o Brasil aventureiros de toda espécie, que inviabi-
lizaram a mineração.
b) a exploração das minas de ouro só trouxe benefícios para Portugal.
c) a mineração deu origem a uma classe média urbana que teve papel decisivo na
independência do Brasil.
d) o ouro beneficiou apenas a Inglaterra, que financiou sua exploração.
e) a mineração contribuiu para interligar as várias regiões do Brasil e foi fator de di-
ferenciação da sociedade.

2. (Fuvest-SP) Os fatores que levaram ao desenvolvimento e à ampliação das ativi-


dades econômicas periféricas da colônia, tais como, a pecuária, o tabaco, as
drogas do sertão e mesmo o pau-brasil, em detrimento da lavoura de cana-de-
açúcar, após a expulsão dos holandeses, em 1654, foram

a) a criação de um mercado interno fomentado pelo descobrimento das minas de


ouro no final do século XVI e sua ampliação para as cidades litorâneas da colônia.
b) a inversão significativa da utilização da mão de obra escrava pela mão de obra
livre na região das minas, criando, assim, um mercado consumidor expressivo.
c) estagnação econômica do Centro-Oeste, em função do renascimento agrícola
no Nordeste, ao longo do século XVII.
d) o acompanhamento destas atividades, primeiro como complemento da ativi-
dade açucareira e, posteriormente, como núcleos abastecedores da atividade
mineradora e seus desdobramentos.
e) todas as alternativas anteriores estão corretas.

3. (FUVEST) – No Brasil colonial, a escravidão caracterizou-se essencialmente

a) por sua vinculação exclusiva ao sistema agrário exportador.


b) pelo incentivo da Igreja e da Coroa à escravidão de índios e negros.
c) por estar amplamente distribuída entre a população livre, constituindo a base
econômica da sociedade.
d) por destinar os trabalhos mais penosos aos negros e mais leves aos índios.

32
e) por impedir a emigração em massa de trabalhadores livres para o Brasil.

4. O instituto popular, de acordo com o exame da razão, fez da figura do alferes


Xavier o principal dos inconfidentes, e colocou os seus parceiros a meia ração de
glória. Merecem, decerto, a nossa estima aqueles outros; eram patriotas. Mas o
que se ofereceu a carregar com os pecadores de Israel, o que chorou de alegria
quando viu comutada a pena de morte dos seus companheiros, pena que só ia
ser executada nele, o enforcado, o esquartejado, o decapitado, esse tem de re-
ceber o prêmio na proporção do martírio, e ganhar por todos, visto que pagou
por todos (ASSIS, M. Gazeta de Notícias, n. 114, 24 abr. 1892.). No processo de
transição para a República, a narrativa machadiana sobre a Inconfidência Mi-
neira associa

a) redenção cristã e cultura cívica.


b) veneração aos santos e radicalismo militar.
c) apologia aos protestantes e culto ufanista.
d) tradição messiânica e tendência regionalista.
e) representação eclesiástica e dogmatismo ideológico.

5. A elevação de Recife à condição de vila; os protestos contra a implantação das


Casas de Fundição e contra a cobrança de quinto; a extrema miséria e carestia
reinantes em Salvador, no final do século XVIII, foram episódios que colaboraram,
respectivamente, para as seguintes sublevações coloniais:

a) Guerra dos Emboabas, Inconfidência Mineira e Conjura dos Alfaiates.


b) Guerra dos Mascates, Motim do Pitangui e Revolta dos Malês.
c) Conspiração dos Suassunas, Inconfidência Mineira e Revolta do Maneta.
d) Confederação do Equador, Revolta de Felipe dos Santos e Revolta dos Malês.
e) Guerra dos Mascates, Revolta de Felipe dos Santos e Conjura dos Alfaiates.

6. A Guerra dos Emboabas, a dos Mascates e a Revolta de Vila Rica, verificadas nas
primeiras décadas do século XVIII, podem ser caracterizadas como:

a) movimentos isolados em defesa de ideias liberais, nas diversas capitanias, com a

33
intenção de se criarem governos republicanos.
b) movimentos de defesa das terras brasileiras, que resultaram num sentimento naci-
onalista, visando à independência política.
c) manifestações de rebeldia localizadas, que contestavam alguns aspectos da po-
lítica econômica de dominação do governo português.
d) manifestações das camadas populares das regiões envolvidas, contra as elites
locais, negando a autoridade do governo metropolitano.
e) manifestações separatistas de ideologia liberal contrárias ao domínio português.

7. O ideário da Revolução Francesa, que entre outras coisas defendia o governo


representativo, a liberdade de expressão, a liberdade de produção e de comér-
cio, influenciou no Brasil a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana, porque

a) cedia às pressões de intelectuais estrangeiros que queriam divulgar suas obras no


Brasil.
b) servia aos interesses de comerciantes holandeses aqui estabelecidos que deseja-
vam influir no governo colonial.
c) satisfazia aos brasileiros e aos portugueses, que desta forma conseguiram conciliar
suas diferenças econômicas e políticas.
d) apesar de expressar as aspirações de uma minoria da sociedade francesa, aqui
foi adaptado pelos positivistas aos objetivos dos militares.
e) foi adotado por proprietários, comerciantes, profissionais liberais, padres, peque-
nos lavradores, libertos e escravos, como justificativa para sua oposição ao abso-
lutismo e ao sistema colonial.

8. (Fuvest-SP) “... quando o príncipe regente português, D. João, chegou de malas


e bagagens para residir no Brasil, houve um grande alvoroço na cidade do Rio de
Janeiro. Afinal era a própria encarnação do rei (...) que aqui desembarcava. D.
João não precisou, porém, caminhar muito para alojar-se. Logo em frente ao cais
estava localizado o Palácio dos Vice-Reis”. (Lilia Schwarcz. As Barbas do Impera-
dor.)
O significado da chegada de D. João ao Rio de Janeiro pode ser resumido
como:

34
a) decorrência da loucura da rainha Dona Maria I, que não conseguia se impor no
contexto político europeu.
b) fruto das derrotas militares sofridas pelos portugueses ante os exércitos britânicos
e de Napoleão Bonaparte.
c) inversão da relação entre metrópole e colônia, já que a sede política do império
passava do centro para a periferia.
d) alteração da relação política entre monarcas e vice-reis, pois estes passaram a
controlar o mando a partir das colônias.
e) imposição do comércio britânico, que precisava do deslocamento do eixo polí-
tico para conseguir isenções alfandegárias.

35
O REINADO DE D. PEDRO I UNIDADE

3.1 A CRISE ECONÔMICA E A INSTABILIDADE POLÍTICA 03


“O descontentamento é a causa de todo pro-
gresso.”(Max Nordau)

Ao contrário do que se pode imaginar, o período que sucedeu a proclamação


da independência não foi de prosperidade, mas sim de crise - econômica, social e
política. Nesse sentido, a economia vinha sofrendo com a queda da exportação de
alguns dos seus principais produtos (como o açúcar e o algodão), e a dívida externa
do Brasil estava elevada, devido aos empréstimos feitos por Dom Pedro I com a In-
glaterra, para pagar a Portugal uma indenização pela independência. O dinheiro
nos cofres brasileiros era pouco e a população estava cada vez mais insatisfeita. A
queda da exportação fazia com que não houvesse dinheiro para importar alguns
bens essenciais, e isso também colaborava para que a revolta generalizada se am-
pliasse e para que a popularidade do imperador fosse cada vez menor, nas mais
diversas classes sociais.

Figura 12: Retrato de D. Pedro I

Fonte: https://bit.ly/3aVfn8Q . Acesso em: 21 ago. 2020

36
3.1.1 A Constituição Outorgada de 1824

A partir de 1822, passou a ser necessária a elaboração e promulgação de uma


Constituição - a primeira do Brasil como um Estado independente. A Assembleia
Constituinte, convocada para elaborar os termos da lei que regeria o país, era divi-
dida entre o Partido Português e o Partido Brasileiro: enquanto o primeiro defendia
que a maior parte do poder se mantivesse nas mãos do Imperador e do Estado, o
segundo exigia que o poder do Imperador fosse o mínimo possível, com a maior parte
de tomada de decisões dada ao Parlamento e com a distribuição dos principais car-
gos públicos aos grandes proprietários rurais.
Antes mesmo de completar um ano de funcionamento e dos partidos chega-
rem a qualquer espécie de consenso, porém, a Assembleia foi dissolvida por Dom
Pedro e um novo texto para a 1ª Constituição Brasileira foi escrito e outorgado em
1824.

Dentre as características mais relevantes da Constituição de 1824, algumas


merecem ser elencadas:

 Princípios que estabeleciam o direito constitucional à liberdade, à segurança


pessoal e à propriedade privada.
 O sistema político estabelecido foi o de Monarquia Constitucional Hereditária.
Com isso, fixou-se a ideia de que um Imperador governaria sob a égide de
uma Constituição, repassando seu cargo para seu filho mais velho, quando da
sua morte ou abdicação.
 Existência de quatro poderes: Executivo, Legislativo, Judiciário e Moderador (os
três primeiros possuíam uma função semelhante a que possuem atualmente,
enquanto o poder Moderador concedia ao imperador a possibilidade de in-
terferir em todos os outros poderes).

37
 No Legislativo, a Câmara dos Deputados tinha eleição temporária, enquanto
no Senado os cargos eram vitalícios.

Implementação do voto censitário: impunha uma renda mínima anual para


que houvesse participação política. Os valores eram de 200 mil réis (cerca de
R$25.000,00 na moeda atual) para quem quisesse votar e de 400 mil réis (algo em
torno de R$50.000,00 na moeda atual) para quem quisesse concorrer a algum cargo.
Em outras palavras, apenas a a elite detinha direitos políticos.

 Consolidação de um Estado Confessional: a Constituição estabelecia a união


entre o Estado e a Igreja, com o catolicismo como sendo a religião oficial do
Brasil.
 Inimputabilidade do Imperador, que não podia ser punido judicialmente por
eventuais ilegalidades que cometesse.

Considerando que o presente é um reflexo do passado, você consegue visualizar traços


da primeira Constituição brasileira nos dias de hoje? Tendo em vista principalmente o voto
censitário e o Estado Católico, você acredita ainda haver resquícios da Constituição do
Império na Constituição atual? Quem são, atualmente, os representantes do povo? El es
representam de fato os interesses da população ou costumam beneficiar apenas as eli-
tes? Como a religião exerce (ou não) influência sobre decisões políticas?

Projeto de Constituição para o Império do Brasil - 1823

3.2 AS REVOLTAS DO PRIMEIRO REINADO

“Em matéria de revolta, antepassados é coisa


que não falta a ninguém.”(André Breton)

Como se demonstrou anteriormente, o período do Primeiro Reinado foi repleto


de instabilidades e, não à toa, revoltas importantes aconteceram justamente nesta
época. Dentre elas, as duas com mais significância e efeitos foram a Confederação
do Equador, em Pernambuco de 1824, e a Guerra da Cisplatina, no território que hoje
corresponde ao Uruguai, entre 1825 e 1828.

38
A Confederação do Equador foi um movimento liderado por Manuel de Car-
valho, um antigo governador de Pernambuco, que havia sido retirado do cargo por
Dom Pedro I. O Nordeste vivia tempos econômicos difíceis com a queda da exporta-
ção do açúcar e, diante disso, ficou mais fácil a organização de um grupo separa-
tista. Não tardou até que Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte também aderissem
ao movimento, clamando pela criação de uma República independente e gover-
nada pelo povo, na qual seriam abolidos o tráfico negreiro, a escravidão e o alista-
mento obrigatório.
O movimento tinha o suporte de ricos e pobres, porém, discordâncias internas
fizeram com que a elite agrária deixasse de suportar os separatistas e, assim, o movi-
mento perdeu força.
Aproveitando-se da situação, Dom Pedro I pediu mais dinheiro emprestado à
Inglaterra e formou um exército, que em setembro de 1824 invadiu Pernambuco com
o apoio das elites locais e prendeu os revoltosos. Um dos principais nomes da Confe-
deração, Frei Caneca, foi julgado e condenado à morte por enforcamento. O caso
é até hoje lembrado por conta da recusa de todos os carrascos no sentido de exe-
cutar o enforcamento. Diante disso, Frei Caneca foi morto com o tiro de um fuzil.

Figura 13: Quadro que retrata a execução de Frei Caneca

Disponível em: https://bit.ly/3kqeaJF . Acesso em: 01 ago. 2020

A Guerra da Cisplatina, por sua vez, foi o movimento separatista de uma região
ao Sul do Brasil, chamada Cisplatina. Tal pedaço de terra havia sido anexado ao
Brasil anos antes, em 1820, por Dom João VI, mas sua população sequer falava por-
tuguês e seus membros não se sentiam brasileiros. Por isso, com o apoio do que hoje
é a Argentina, organizaram-se e lutaram por 3 anos pela independência da região -

39
o que veio a acontecer em 1828, quando Dom Pedro reconheceu a derrota e assinou
o Tratado de Montevidéu. A respeito desse conflito, Boris Fausto explica que:
"Internamente, a guerra provocou o temido e impopular recrutamento
da população através de métodos de pura força. O rei decidiu con-
tratar tropas no exterior para completar as fileiras do exército. A maio-
ria dessas tropas era formada por pessoas pobres, que nada tinham
de militares profissionais e que se inscreveram na Europa com a pers-
pectiva de se tornarem pequenos proprietários no Brasil. Como seria
de se esperar, em nada contribuíram para fazer a guerra pender em
favor do Império" (FAUSTO, 2006, p. 155).

Figura 14: A guerra da Cisplatina

Disponível em: https://glo.bo/3qVDQ33 . Acesso em: 10 ago. 2020

3.3 A ABDICAÇÃO DO TRONO POR DOM PEDRO I

"Não existem métodos fáceis para resolver pro-


blemas difíceis." (René Descartes)

O Primeiro Reinado, que já havia começado em contexto de instabilidade e

40
assim permaneceu em todos os anos subsequentes, durou menos de 10 anos (1822 a
1831).
A crise econômica decorrente da queda das exportações e agravada pelos
empréstimos feitos com a Inglaterra acabaram se somando aos gastos de combate
com a Confederação do Equador e a Guerra da Cisplatina, ao ponto de ser neces-
sário o fechamento do Banco no Brasil no ano de 1829.
Muito por conta da crise econômica, em 1830 o Partido Brasileiro conseguiu
eleger a maior parte dos membros da Câmara de Deputados, o que representava
uma derrota para o Imperador. Além disso, a crise política também era fomentada
pelo desgosto quanto ao poder Moderador e pela desconfiança dos brasileiros no
sentido de que Dom Pedro não havia se desligado completamente de Portugal.
Neste contexto, a popularidade do Imperador não parava de cair e as mani-
festações de rua eram constantes. O ápice dos conflitos se deu em um episódio
conhecido como a "Noite das Garrafadas", em 13 de março de 1831. Nesta ocasião,
membros do Partido Português no Rio de Janeiro haviam preparado uma festa de
recepção para o Imperador, que estava regressando de uma viagem política a Mi-
nas Gerais. Os membros do Partido Brasileiro ficaram desagradados com o evento e
começaram um ataque contra os portugueses, o que foi revidado por meio do arre-
messo de garrafas de vidro. A confusão acabou perdurando por 5 dias e, após o seu
fim, não restava muito tempo até que Dom Pedro abdicasse o trono em favor do seu
filho, Pedro II, no 7 de abril seguinte. Pedro II, que na época tinha apenas 5 anos, só
poderia governar a partir da maioridade de forma que, até lá, deveria ser instaurado
um Governo Regente.

FIXANDO O CONTEÚDO

41
1. Por meio da Constituição de 1824, foi instituído o Poder Moderador. Entre as carac-
terísticas desse poder, estava

a) nomear apenas os membros do Poder Judiciário.


b) nomear e destituir os ministros do Poder Executivo.
c) não interferir na composição e na dissolução da Câmara dos Deputados.
d) garantir toda autonomia aos três poderes.
e) não interferir em nenhuma das esferas legislativas do poder.

2. (FUVEST) – O sistema eleitoral adotado no Império Brasileiro estabelecia o voto cen-


sitário. Esta afirmação significa que

a) o sufrágio era indireto no que se referia às eleições gerais.


b) para ser eleitor era necessário possuir uma determinada renda anual.
c) as eleições eram efetuadas em dois turnos sucessivos.
d) o voto não era extensivo aos analfabetos e às mulheres.
e) por ocasião das eleições, realizava-se o recenseamento geral da população.

3. (UESPI/2010) A Constituição de 1824, resultante da dissolução da Assembleia Cons-


tituinte de 1823, marcou o início da institucionalização do poder monárquico no
Brasil. Essa Constituição

a) criou o Poder Moderador de exclusividade do Imperador, o que na prática signifi-


cava conceder-lhe poderes quase absolutos.
b) provocou a insatisfação em diversas províncias, estando na base da eclosão de
diversas rebeliões, como a Confederação do Equador, a Sabinada e o Contes-
tado.
c) favoreceu o reconhecimento do Brasil como nação independente, o que ocorreu
sem reveses, à exceção dos Estados Unidos por conta da doutrina Monroe.
d) estabeleceu a eleição pelo voto censitário para os governadores das províncias.
e) determinou que representantes para o Senado e a Câmara seriam eleitos pelo
voto direto e secreto.
4. (Mackenzie) A Confederação do Equador, movimento que eclodiu em Pernam-
buco em julho de 1824, caracterizou-se por

42
a) ser um movimento contrário às medidas da Corte Portuguesa, que visava favore-
cer o monopólio do comércio.
b) uma oposição a medidas centralizadoras e absolutistas do Primeiro Reinado,
sendo um movimento republicano.
c) garantir a integridade do território brasileiro e a centralização administrativa.
d) ser um movimento contrário à maçonaria, clero e demais associações absolutistas.
e) levar seu principal líder, Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, à liderança da
Constituinte de 1824.

5. “Confederação do Equador: Manifesto Revolucionário:

Brasileiros do Norte! Pedro de Alcântara, filho de D. João VI, rei de Portugal, a quem
vós, após uma estúpida condescendência com os Brasileiros do Sul, aclamastes
vosso imperador, quer descaradamente escravizar-vos. Que desaforado atrevi-
mento de um europeu no Brasil. Acaso pensará esse estrangeiro ingrato e sem cos-
tumes que tem algum direito à Coroa, por descender da casa de Bragança na
Europa, de quem já somos independentes de fato e de direito? Não há delírio igual
(… ).”
(Brandão, Ulysses de Carvalho. A CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR. Pernambuco: Publicações
Oficiais, 1924).
O texto dos Confederados de 1824 revela um momento de insatisfação política con-
tra a

a) extinção do Poder Legislativo pela Constituição/1824 e sua substituição pelo Poder


Moderador.
b) mudança do sistema eleitoral na Constituição/1824, que vedava aos brasileiros o
direito de se candidatar ao Parlamento, o que só era possível aos portugueses.
c) atitude absolutista de D. Pedro I, ao dissolver a Constituinte de 1823 e outorgar uma
Constituição que conferia amplos poderes ao Imperador.
d) liberalização do sistema de mão de obra nas disposições constitucionais, por pres-
são do grupo português, que já não detinha o controle das grandes fazendas e da
produção de açúcar.
e) restrição às vantagens do comércio do açúcar pelo reforço do monopólio portu-
guês e aumento dos tributos contidos na Carta Constitucional.

43
6. O episódio conhecido como “A Noite das Garrafadas”, briga entre portugueses e
brasileiros, relaciona-se com

a) a promulgação da Constituição da Mandioca pela Assembleia Constituinte.


b) a instituição da Tarifa Alves Branco, que aumentava as taxas de alfândega, acir-
rando as disputas entre portugueses e brasileiros.
c) o descontentamento da população do Rio de Janeiro contra as medidas sanea-
doras de Oswaldo Cruz.
d) a manifestação dos brasileiros contra os portugueses ligados à sociedade “Colu-
nas do Trono” que apoiavam Dom Pedro I.
e) a vinda da Corte Portuguesa e o confisco de propriedades residenciais para alojá-
la no Brasil.

7. Termos da abdicação de Dom Pedro I:

Usando do direito que a Constituição me concede, declaro que hei muito volun-
tariamente abdicado na pessoa do meu mui amado e prezado filho o Sr. Pedro
de Alcântara. Boa Vista – 7 de abril de 1831, décimo de Independência e do Im-
pério – D. Pedro I.
Mendes Júnior, Antônio et al. Brasil-História, Texto e Consulta. Império. São Paulo: Brasiliense,
1977. p. 200.

Os fatos que conduziram à abdicação foram

a) repressão aos revolucionários da Confederação do Equador, incorporação da


Guiana Francesa e outorga da Constituição.
b) favorecimento aos comerciantes brasileiros em detrimento dos portugueses, dívida
externa elevada com a Guerra da Cisplatina e falência do Banco do Brasil.
c) repressão aos revolucionários da Confederação do Equador, perda da Província
Cisplatina e falência do Banco do Brasil.
d) perda da província Cisplatina, dissolução da Assembleia Constituinte e punição
exemplar aos pistoleiros que executaram o jornalista Líbero Badaró.

44
UNIDADE
e) controle das finanças nacionais, respeito aos constituintes que elaboraram a pri-

04
meira constituição e favorecimento aos comerciantes brasileiros.

8. (UFPR) Com a abdicação do imperador D. Pedro I em 1831, o fracasso do primeiro


reinado tomou corpo. Com relação a isso, considere os fatos abaixo:

I. A imigração europeia para o Brasil ocorrida nesse período.


II. A eclosão da guerra na Província Cisplatina (1825-1828) contra as Províncias Argen-
tinas, a qual consumiu recursos do Estado em formação e cujo principal resultado
foi a criação da República Oriental do Uruguai, em 1828.
III. A indisposição do Imperador nas negociações com os deputados das províncias
do Brasil, que levou ao fechamento da Assembleia Constituinte, em 12 de novem-
bro de 1823, e à imposição de uma carta constitucional em 1824.
IV. A queda do gabinete dos Andradas, que levou o Imperador a se cercar de inú-
meros portugueses, egressos de Portugal ainda ao tempo do governo de D. João
VI.

Tiveram influência direta no desfecho do primeiro reinado os fatos apresentados


em

a) II, III e IV somente.


b) I, III e IV somente.
c) III e IV somente.
d) I, II e III somente.
e) I e II somente.

O PERÍODO REGENCIAL

45
4.1 REGÊNCIA TRINA PROVISÓRIA

“O poder não pode ser duradouro!


O poder sendo efêmero é menos cruel.”
(Bruno Calil Fonseca)

Considerando que a Constituição de 1824 impunha uma monarquia hereditá-


ria no Brasil, era esperado que após a abdicação de D. Pedro I, o trono fosse pronta-
mente passado ao seu filho mais velho. Porém, o príncipe só tinha 5 anos quando seu
pai abdicou e, legalmente, era necessário que se estabelecesse um poder regente
até que Pedro atingisse a maioridade.
O primeiro modelo de regência escolhido foi a trina provisória, até que se es-
colhessem os regentes permanentes. Francisco de Lima e Silva, José Joaquim de
Campos e Nicolau de Campos Vergueiro foram os regentes durante um breve perí-
odo, de abril a junho de 1831.

Figura 15: Francisco de Lima e Silva, José Joaquim de Campos


e Nicolau de Campos Vergueiro

Disponível em: https://bit.ly/3aSO2nn . Acesso em: 12 ago. 2020

Durante os poucos meses em que a Regência Trina Provisória vigorou, as prin-


cipais medidas adotadas foram:

 Manutenção da Constituição de 1824


 Decretação de anistia aos presos políticos
 Criação da Guarda Municipal

46
4.2 REGÊNCIA TRINA PERMANENTE

“Política e guerra são situações notavelmente


semelhantes.”
(Newt Gingrich)

No junho seguinte à abdicação de D. Pedro I, foi realizada a Assembleia que


escolheu os três regentes permanentes que ficariam no comando do Brasil de 1831 a
1835: José da Costa Carvalho, João Bráulio Muniz e, novamente, Francisco de Lima
e Silva.
Todo o período de Regência foi marcado por instabilidade econômica e po-
lítica, na continuação do que havia sido o Primeiro Reinado para o Brasil. Agora, no
cenário político, havia três partidos com grande representação e poder de decisões,
e entre eles a tensão e os jogos políticos era constante: o Partido Exaltado, o Partido
Moderador e o Partido Restaurador.

Figura 16: Os Partidos Políticos da época regencial e suas características

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

47
Por estar com maior poder em suas mãos e no intuito de diminuir a pressão que
estava sendo feita pelo Partido Exaltado, o Partido Moderador adotou duas medidas:

1) Criação do primeiro Código Criminal Brasileiro em 1830, o que dava aos juízes
de paz uma maior liberdade no julgamento e prisão de acusados por peque-
nos delitos (já que os demais crimes eram julgados por uma tribuna de jurados,
no Júri, seguindo o modelo inglês).

Figura 17: Bernardo Pereira de Vasconcelos, autor do projeto do


primeiro Código Criminal do Brasil.

Disponível em: https://bit.ly/2NEvP4m . Acesso em: 13 ago. 2020.

2) Implementação do Ato Adicional em 1834, alterando alguns dispositivos da


Constituição de 10 anos antes. As principais emendas foram:

 Concessão de maior autonomia às províncias, com separação do orçamento


central, provincial e municipal;
 Extinção do Poder Moderador (responsável por conceder poder absoluto ao

48
Imperador) e do Conselho de Estado (órgão que auxiliava o Imperador na to-
mada de decisões e exercício do poder);
 Estipulação da Regência Una

Outra questão relevante no período da Regência Trina Permanente foi a ques-


tão da Segurança - tanto a nacional, por meio do Exército, quanto a pública, por
meio da Guarda Nacional.

 O Exército: era visto com descrédito na época, pois muitos dos seus coman-
dantes eram portugueses e grande parte da sua base era formada pela po-
pulação pobre, que diante de salários baixos e péssimas condições de traba-
lho, não raramente acabava por se alinhar a rebeldes ao invés de defender o
Governo.
 A Guarda Nacional: foi criada em 1831, com vistas a substituir as chamadas
"milícias" até então existentes. Tratavam-se de grupos armados constituídos por
cidadãos entre 21 e 60 anos, cuja função era defender seus respectivos muni-
cípios, protegendo fronteiras e enfrentando eventuais rebeliões sob o co-
mando do Exército. Sua implementação acabou por desfalcar de vez os car-
gos militares, já que quem se alistava para servir à Guarda Nacional, ficava
dispensado do alistamento obrigatório no Exército.

4.3 REGÊNCIA UNA

“O mais sólido e mais duradouro traço de


união entre os seres é a barreira.” (Pierre Re-
verdy)

De acordo com o que havia sido estabelecido pelo Ato Adicional de 1834, a
próxima regência seria una, e assim foi.
A conjuntura política atual podia, neste momento, ser dividida entre os Con-
servadores e os Liberais:

Os conservadores reuniam magistrados, burocratas, uma parte dos


proprietários rurais (especialmente do Rio de Janeiro, Bahia e Pernam-
buco), e os grandes comerciantes, entre os quais muitos portugueses.
Os liberais agrupavam a pequena classe média urbana, alguns pa-
dres e proprietários rurais de áreas menos tradicionais (sobretudo de
São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul) (FAUSTO, 2006, p. 171)

49
Nas primeiras eleições, em 1835, o corpo eleitoral era bastante baixo e apenas
2.826 votos foram o suficiente para eleger o liberal Padre António Diogo Feijó como o
primeiro Regente Uno do Brasil.

Figura 18:Retrato do Padre Diogo Antônio Feijó

Disponível em: https://bit.ly/2ZQPvo6 . Acesso em: 13 ago. 2020.

Seu governo foi extremamente instável, haja vista a desaprovação de grande


parte do Congresso e o estopim de grandes revoltas no Pará e no Rio Grande do Sul
justamente no ano em que foi eleito. Diante de tantas pressões, Padre Feijó renunciou
em 1837 e, desta vez, um representante conservador foi levado ao poder: Pedro de
Araújo Lima, senhor de engenho em Pernambuco e antigo presidente da Câmara.

De 1837 a 1840, diversas medidas "regressionistas" tomadas pelo novo regente faziam com
que os liberais temessem o futuro do país, que cada vez mais estava voltando a ter políti-
cas centralizadoras do poder e com reforço da autoridade do seu governante.

Diante disso, a pressão no Congresso pela redução da maioridade (para que Pedro II
assumisse o trono brasileiro) veio por parte dos liberais, sobretudo por representantes do
dito Partido Moderado, que já haviam criado, inclusive, o "Clube da Maioridade" (um mo-
vimento que buscava o apoio popular no sentido da assunção do trono por Pedro II).

4.4 REVOLTAS REGENCIAIS

50
“Às vezes tudo se ilumina de uma intensa irrea-
lidade e é como se agora este pobre, este
único, este efêmero instante do mundo esti-
vesse pintado numa tela, sempre...”(Mário
Quintana)

Durante as regências de Padre Feijó e de Pedro de Araújo Lima, o Brasil pre-


senciou algumas das maiores revoltas já vistas na sua História. Isso pode parecer con-
traditório quando se pensa que, neste momento, a autonomia que as províncias
tanto pediram era de fato maior do que durante o Primeiro Reinado. Porém, como
explicam os historiadores, a inexistência de uma figura centralizadora e a disputa das
elites pelo poder das províncias locais fez com que os ânimos ficassem exaltados em
diversas regiões do Brasil.

Figura 19: "Fogo no Pasto", obra de Guido Mondin

Disponível em: https://bit.ly/37OeDQO . Acesso em: 14 ago. 2020.

Quadro 5: Principais Revoltas do Período Regencial

Desencadeada pela revolta dos cabanos (em sua maioria negros,


índios e mestiços que habitavam cabanas nas beiras dos rios) com a
situação de vida miserável que levavam. Os revoltosos organizaram-
Cabanagem se e tomaram Belém, proclamando a independência do Pará. Alguns
(de 1835 a 1840, no dos líderes da revolta juravam lealdade ao futuro imperador, D. Pedro
Pará) II, o que dividiu o movimento e acabou gerando o massacre de cerca
de 30 mil pessoas até que, em 1840, o Governo central pôs fim ao
movimento. Não se tratava de uma revolta contra a escravidão, muito
embora vários dos seus membros fossem escravos.

51
O nome decorre do criador do movimento: Francisco Sabino. Foi uma
revolução com ideais federalistas e republicanos, que visava formar
um Governo Provisório até que Pedro II assumisse o trono. Foi
Sabinada
organizada por pessoas de classe média e comerciantes, que se
(de 1837 a 1838, na
comprometeram a libertar os escravos que participassem da revolta
Bahia)
(mantendo escravizados os demais). O embate com as tropas
enviadas pelo Padre Feijó (e apoiadas pelos grandes latifundiários
locais) resultou em mais de mil mortes.

A crise na exportação do algodão fazia com que a parte mais pobre


da população maranhense se visse miserável e faminta. Neste
contexto, rivalidades entre as elites locais fizeram com que a classe
média se unisse aos ideais de Manoel Francisco dos Anjos Ferreira, um
produtor e vendedor de balaios que havia tido uma filha estuprada
por um capitão de polícia e buscava vingança.
Balaiada
Ferreira, junto de Raimundo Gomes (político local) e Cosme (líder de
(de 1838 a 1840, no
cerca de 3 mil escravos fugidos) tomaram a segunda maior cidade do
Maranhão)
estado, evocando pautas de liberdade e aclamando a Constituição,
o Catolicismo e o futuro imperador, D. Pedro II.
Os desentendimentos e a falta de união interna enfraqueceram o
movimento, que deixou de ser apoiado pela classe média e acabou
por ser derrotado pela Guarda Nacional em 1840, com um saldo de
cerca de 12 mil mortos e a reescravização dos escravos fugidos.

A Revolução Farroupilha foi a revolta mais longa da História brasileira,


tendo sido organizada pela elite pecuarista local, que há tempos
possuía reclamações para com o Governo Central, mas viu a gota
d’água na diminuição do imposto de importação sobre a carne de
gado e derivados. Com isso, tornava-se mais barato importar a carne
de gado de países vizinhos do que comprar do RS, e a elite percebeu
que seu principal negócio seria prejudicado.
Os estancieiros, portanto, organizaram-se e, com o apoio de escravos
e indígenas, tomaram a parte sul do Estado, criando a República do
Guerra dos Piratini. Os principais nomes da Revolução foram o do líder Bento
Farrapos (de 1835 a Gonçalves e o do comandante italiano, Giuseppe Garibaldi.
1845, no Rio O levante só teve fim com a nomeação de Duque de Caxias a
Grande do Sul) governador do Rio Grande do Sul, momento em que foram adotadas
medidas que enfraqueceram as pautas dos revoltosos, tais como:
- Anistia aos revoltosos;
- Alforria dos escravos que desistissem de lutar pelos farrapos;
- Nomeação dos oficiais farrapos ao Exército Imperial, desde que
abandonassem seus cargos na Revolução;
- Aumento do imposto sobre a importação da carne bovina.
Tais medidas foram somadas a ataques militares ordenados e fizeram
com que em 1845 fosse assinado o Tratado de Monte-Verde, dando
fim à República Rio-grandense e à Guerra dos Farrapos.
Fonte: Adaptado de FAUSTO (2006)

O período regencial constituiu anos sangrentos, que jamais poderão ser esque-
cidos. Eles são a prova viva de que os movimentos populares podem tomar dimen-
sões significativas, principalmente quando lutam contra os desmandos daqueles que
estão no poder.

52
FIXANDO O CONTEÚDO

53
1. O período de instabilidade durante o Governo Regencial possui sua origem em
tempos anteriores. Alguns dos principais motivos são:

a) a diferença entre o investimento no Rio de Janeiro e no restante do país


b) a Guerra da Cisplatina, motivada pela chegada da Família Real ao Brasil.
c) o abandono do cultivo da cana de açúcar, causando a queda na exportação
d) a crise financeira em decorrência dos gastos com os conflitos do 1º Reinado, a
alta dívida externa e a dificuldade de importação de bens essenciais.
e) a chegada dos imigrantes italianos no sul e a diferenciação de salários pagos.

2. (MACKENZIE) Do ponto de vista político, podemos considerar o Período Regencial


como:

a) uma época conturbada politicamente, embora sem lutas separatistas que com-
prometessem a unidade do país.
b) um período em que as reivindicações populares, como direito de voto, abolição
da escravidão e descentralização política, foram amplamente atendidas.
c) uma transição para o regime republicano que se instalou no país a partir de 1840.
d) uma fase extremamente agitada com crises e revoltas em várias províncias, ge-
radas pelas contradições das elites, classe média e camadas populares.
e) uma etapa marcada pela estabilidade política, já que a oposição ao Imperador
Pedro I aproximou os vários segmentos sociais, facilitando as alianças na Regên-
cia.

3. (PUC-PR) A unidade territorial brasileira foi posta à prova no Período Regencial


com revoltas armadas, tais como:

a) Balaiada, Revolução Praieira, Revolta da Cisplatina.


b) Guerra dos Farrapos, Balaiada, Sabinada.
c) Revolução Praieira, Confederação do Equador, Sabinada.
d) Noite das Garrafadas, Balaiada, Revolta da Armada.
e) Guerra dos Emboabas, Revolução Praieira, Balaiada.

54
4. (UEL-PR) “[...] explodiu na província do Grão-Pará o movimento armado mais po-
pular do Brasil [...]. Foi uma das rebeliões brasileiras em que as camadas inferiores
ocuparam o poder.” Ao texto podem-se associar:

a) a Regência e a Cabanagem.
b) o Primeiro Reinado e a Praieira.
c) o Segundo Reinado e a Farroupilha.
d) o Período Joanino e a Sabinada.
e) a abdicação e a Noite das Garrafadas.

5. (FUVEST) A Sabinada que agitou a Bahia entre novembro de 1837 e março de


1838:

a) tinha objetivos separatistas, no que diferia frontalmente das outras rebeliões do


período.
b) foi uma rebelião contra o poder instituído no Rio de Janeiro que contou com a
participação popular.
c) assemelhou-se à Guerra dos Farrapos, tanto pela posição antiescravista quanto
pela violência e duração da luta.
d) aproximou-se, em suas proposições políticas, das demais rebeliões do período
pela defesa do regime monárquico.
e) pode ser vista como uma continuidade da Rebelião dos Alfaiates, pois os dois
movimentos tinham os mesmos objetivos.

6. (Fuvest-SP) “[...] a carne, o couro, o sebo, a graxa, além de pagaram nas alfân-
degas do país o duplo dízimo de que nos propuseram aliviar-nos, exigia mais 15%
em qualquer dos portos do Império. Imprudentes legisladores nos puseram desde
esse momento na linha dos povos estrangeiros, desnacionalizaram a nossa Provín-
cia e de fato a separaram da Comunidade Brasileira.” Esse texto se refere
a) ao problema dos altos impostos que recaiam sobre produtos do Maranhão e que
ocasionaram a Balaiada.
b) aos fatores econômicos que motivaram a Revolução Farroupilha, iniciada du-
rante o Período Regencial.

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c) às implicações econômicas do movimento de independência da Província Cis-
platina.
d) às dificuldades econômicas do Nordeste, que justificaram a eclosão da Confede-
ração do Equador.
e) aos problemas econômicos do Pará, que deram origem à Cabanagem.

7. A respeito do Período Regencial (1831 – 1840), selecione a alternativa correta.

a) Foram anos com algumas revoltas populares, mas nada significativo, se compa-
rado com outros períodos.
b) Passou por três etapas: regência trina provisória, regência trina e regência una.
c) Foi um momento importante, pois durante a regência una é que ocorreu a tão
desejada extinção do Poder Moderador.
d) Foi o momento em que se destituiu a Guarda Nacional.
e) Tratou-se do momento auge de exportação açucareira, sendo conhecido como
o Século do Açúcar.

8. (Unespar 2016) Sobre as revoltas provinciais deflagradas no período regencial,


considere as seguintes alternativas:

I. A Cabanagem - PA (1835-1840) foi um movimento popular com a participação


de índios, caboclos e negros que se opôs à Regência e ocupou, por alguns meses,
o governo da província.
II. A Revolução Farroupilha - RS/SC (1835-1845) foi uma revolta motivada, sobre-
tudo, pela política tributária do governo regencial, que, por sua vez, conseguiu
conter o movimento, punir os líderes e impor as tarifas que causaram o início do
movimento.
III. A Sabinada – BA (1837-1838) pregava a República federativa, estabelecendo
em 1837 o novo regime na BA, o qual se manteria até a maioridade do futuro im-
perador. Após reação dos senhores de engenho do Recôncavo e do governo
central (com a Armada) a capital da BA foi retomada.
IV. As revoltas Cabanagem, Revolução Farroupilha e Sabinada tinham em co-
mum demandas regionais não atendidas pelo governo central. Em nenhum caso,
seus líderes pretendiam ampliar as conquistas para o âmbito nacional.

56
a) I, II e III estão corretas;
b) II e IV estão corretas;
c) I, III e IV estão corretas;
d) Todas estão corretas;
e) II, III e IV estão corretas.

57
O REINADO DE D. PEDRO II UNIDADE

5.1 O CENÁRIO POLÍTICO DO SEGUNDO REINADO


05
"Precisar de dominar os outros é precisar dos
outros. O chefe é um dependente." (Fernando
Pessoa)

O "golpe da maioridade" foi, basicamente, uma distorção interpretativa da


Constituição Federal pela qual D. Pedro II foi considerado, com apenas 14 anos, apto
a assumir o trono e comandar o Brasil - o que aconteceu de 1840 a 1889.

Figura 20: Retrato de Pedro II com 12 anos

Disponível em: https://bit.ly/3qUjK9u . Acesso em: 15 ago. 2020.

A elite política responsável por colocá-lo no poder, entretanto, não havia o


feito por mera bondade, mas sim na esperança de receber benefícios no momento
em que o menino assumisse. Dentre os principais pedidos dos Conservadores e dos
Liberais estavam o fim do poder moderador, a implementação do sistema político do
parlamentarismo e a realização de novas eleições. A respeito destes tópicos, o que
se sucedeu após a coroação do novo imperador foi:

58
 Poder Moderador: ao contrário do que pretendiam as elites, o Poder Modera-
dor foi mantido.
 Parlamentarismo: foi implementado, mas ficou conhecido como "parlamenta-
rismo às avessas", pois, diferentemente do parlamentarismo inglês (em que
existem eleições parlamentares), o Primeiro Ministro era indicado pelo próprio
Imperador. Continuavam a existir os 4 poderes, portanto, sendo que o poder
Executivo era agora exercido pelo Primeiro Ministro e pelo Conselho de Minis-
tros.
 Novas eleições para a Câmara: aconteceram ainda em 1940, e ficaram co-
nhecidas como "eleições do cacete", devido às fraudes realizadas sobretudo
pelos Liberais.

Com a assunção do trono por D. Pedro II, houve conturbação no cenário po-
lítico por conta das medidas "regressistas" adotadas por D. Pedro II, que buscava
cada vez mais explicitamente a centralização do poder:
Todo aparelho administrativo e judiciário voltou às mãos do governo
central, com exceção dos juízes de paz. Mas eles perderam importân-
cia, em favor da polícia. […]. O processo de centralização política e
de reforço do imperador completou-se com a reforma da Guarda Na-
cional. O princípio eletivo, que na prática não funcionara, desapare-
ceu por completo. Os oficiais passaram a ser escolhidos pelo governo
central ou pelos presidentes de província, aumentando-se as exigên-
cias de renda para assumir os postos. A hierarquia ficava reforçada e
se garantia o recrutamento dos oficiais em círculos mais restritos. A par-
tir daí, em vez de concorrência entre a Guarda Nacional e o Exército,
existiria uma divisão de funções. Caberia à Guarda Nacional a manu-
tenção da ordem e a defesa dos grupos dominantes, em nível local,
ficando o Exército encarregado de arbitrar as disputas, garantir as
fronteiras e manter a estabilidade geral do país (FAUSTO, 2006, p. 176)

Além disso, com a adoção do Parlamentarismo (às avessas), D. Pedro II fez uso
do seu poder de nomear ministros e, antes mesmo das eleições de 1940, indicou vá-
rios Liberais para os cargos - o que desagradou os Conservadores.
Pouco tempo mais tarde, porém, logo após as eleições ocorridas naquele
mesmo ano, o imperador aliou-se ao Partido Conservador e retirou os ministros Liberais
dos cargos, entregando-os aos Conservadores. Esse movimento foi visto com maus
olhos e gerou manifestações revoltosas por parte dos Liberais que, anos mais tarde,
acabaram por culminar na Revolução Praieira em Pernambuco de 1948 a 1950 - a
última revolução provincial.
Figura 21: Esquema sobre a Revolução Praieira

59
Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

Entre os historiadores, há quem defenda que as diferenças ideológicas entre


os Liberais e Conservadores eram basicamente inexistentes e que, ao fim, tratavam-
se todos de membros de uma mesma elite brasileira interessada em "obter prestígio
e benefícios para si próprio e sua gente" (FAUSTO, 2006, p. 181).

Neste cenário, os candidatos eram eleitos com base nas promessas pessoais
que faziam a apoiadores, e não propriamente pelas propostas e projetos de governo
que apresentavam. Após as eleições, portanto, gastavam seus esforços para honrar
quem os havia colocado no poder, e não para beneficiar o povo em si. A prioridade
era agradar pessoas poderosas, que colaborassem para a manutenção do poder -
mesmo que, por vezes, em detrimento dos interesses públicos.

5.2 O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

60
"A riqueza de uma nação se mede pela ri-
queza do povo e não pela riqueza dos prínci-
pes."(Adam Smith)

Após longas décadas de crise econômica, o Segundo Reinado foi, finalmente,


época de bonanças no que se refere aos cofres públicos, sobretudo por conta do
aumento da produção do café (não à toa apelidado de "ouro verde") e dos lucros
advindos da sua exportação.
A produção nas lavouras cafeeiras era baseada em técnicas simples e na
mão de obra escrava. Além disso, o clima do Sudeste era propenso à plantação do
grão, o escoamento para a capital era barato e, concomitantemente, o café tornou-
se um produto cada vez mais valorizado na Europa e nos Estados Unidos. A soma de
todos esses fatores aumentou drasticamente os números da exportação cafeeira, o
que acabou por tornar os barões do café algumas das pessoas com mais poder e
influência durante o Segundo Reinado.
O grão começou a ser produzido nos caminhos para as minas de ouro, em
uma região denominada Vale do Paraíba. A parir daí, a rota cafeeira foi adentrando
São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maro Grosso do Sul e Paraná.
A produção cafeeira solidificou de vez a mudança do polo econômico brasi-
leiro do Nordeste para o Centro-Sul. Com isso, a região passou a receber ainda mais
investimentos do que já recebia desde a época da fixação da Família Real no Rio de
Janeiro, com a reforma de portos, melhoria dos transportes, disponibilização de mais
vagas de empregos e maior facilidade na obtenção de crédito. Tudo isso, somado,
desenvolveu a economia local que, por sua vez, favoreceu o desenvolvimento cul-
tural, social e tecnológico da região.

Figura 22: A marcha do café

61
Disponível em: https://bit.ly/37QB2Ns . Acesso em: 19 ago. 2020.

Embora o café tenha sido o carro chefe do desenvolvimento econômico no


Segundo Reinado, fato é que o investimento de pessoas como Barão de Mauá pos-
sibilitaram que outras áreas também fossem desenvolvidas, tais como a produção e
exportação do cacau e da borracha.
O transporte, nesse caso, era ponto crucial, já que o látex da borracha vinha
das seringueiras amazônicas e precisava, portanto, percorrer um longo percurso até
chegar aos portos. O chamado "Ciclo da Borracha" teve espaço no final do Império
e início da República, entre os anos de 1879 e 1912, ainda em decorrência da Revo-
lução Industrial ocorrida na Inglaterra, o que fez com que a borracha passasse a ser
um produto extremamente valioso.

62
A partir daí, passou a investir no desenvolvimento do Brasil, sendo o responsável por diver-
sos projetos extremamente importantes, tais como:

 1850: encanamento das águas do Rio Maracanã, no RJ;

 1851: fundação da Companhia de Iluminação a Gás do Rio de Janeiro;

 1852: fundação da Companhia de Navegação a Vapor do Amazonas e da Compa-


nhia Fluminense de Transportes;

 1854: construção da primeira ferrovia do país;

 1855: fundação do "Mauá, MacGregor e Cia, Instituição Financeira", que em 1867 vi-
rou o "Banco Mauá e Cia";

 1858: construção da Estrada de Ferro Dom Pedro II;

 1874: instalação de um cabo telegráfico submarino que interligava Brasil e Europa.

Para saber maiores detalhes sobre a vida de um nos mais importantes nomes da História
brasileira, acesse: https://bit.ly/3dJ7vJf . Acesso em: 15 ago. 2020.

5.3 AS GUERRAS DURANTE O SEGUNDO REINADO

"A grande arte é mudar durante a batalha.


Ai do general que vai para o combate com
um esquema."(Napoleão Bonaparte)

Enquanto o Sudeste prosperava com a exportação cafeeira, as regiões Sul e


Centro-Oeste do Brasil vivenciaram no Segundo Reinado dois conflitos externos im-
portantes contra países vizinhos: a Guerra do Prata e a Guerra do Paraguai.
A Guerra do Prata (também chamada Guerra Contra Oribe e Rosas) datou de
1851 e 1852 e decorreu de uma aliança feita entre os líderes da Argentina e do Uru-
guai no intuito de anexar o Paraguai e uma parte do Rio Grande do Sul para forma-
rem um novo país, chamado "Vice-Reinado do Prata". Diante da ameaça aos seus
territórios, Brasil e Paraguai se uniram e, com o apoio de duas províncias argentinas
que discordavam do seu líder, iniciaram o conflito. Tropas brasileiras invadiram o Uru-
guai e renderam seu líder, Manuel Oribe. Na sequência, dirigiram-se à Argentina,
onde, após diversas batalhas importantes, conseguiram depor o presidente Juan Ro-
sas - momento que teve fim o conflito.

63
Figura 23: Batalha de Monte Caseros, a mais importante da Guerra do Prata

Disponível em: https://bit.ly/304tdzv Acesso em: 15 ago. 2020

Anos mais tarde, em 1864, teve início a Guerra do Paraguai, que duraria até
1870. Também conhecido como "Guerra da Tríplice Aliança", este conflito possui mui-
tas divergências de narrativas e de explicação dos motivos.
De um lado estavam Brasil, Argentina e Uruguai (com o apoio e financiamento
de guerra inglês). Do outro, estava o solitário o Paraguai. A respeito da forma como
a História é contada, há quem defenda que o confronto ocorreu por conta da "am-
bição do ditador paraguaio em obter mais terras, tendo sido bravamente refreado
pelas tropas imperiais brasileiras". Para outros, tratou-se da "opressão de três países
poderosos contra um pequeno, no intuito de garantir que o Paraguai assim continu-
asse". Há quem defenda, ainda, a versão de que "a Guerra foi manipulada pela In-
glaterra, devido ao seu interesse de que todos os quatro países continuassem a dela
depender".

Figura 24: Charge que remete à interferência inglesa na Guerra do Paraguai

Disponível em: https://bit.ly/3r84p5a. Acesso em: 17 ago. 2020

64
Hoje em dia, o acesso a maios número de bibliografias faz com que exista um
certo consenso entre os historiadores do sentido de que uma diversidade de fatores
interferiu para a ocorrência do conflito, muito embora ele não fosse, de todo, neces-
sário. Nesse sentido, o Paraguai haveria se sentido ameaçado devido à interferência
do Brasil na política uruguaia em 1862, temendo ser o próximo a sofrer com os des-
mandes do imperador brasileiro. O Paraguai, embora pequeno, era extremamente
militarizado, e isso amedrontava os países vizinhos. Acredita-se que, como forma de
demonstrar sua represália ao Brasil pela interferência uruguaia, os paraguaios tenham
interceptado um navio brasileiro que fazia transporte pelo rio. Além disso, em dezem-
bro de 1864, tropas paraguaias invadiram uma parte do Mato Grosso, o que fez com
que o Brasil declarasse guerra ao país vizinho.
Na sequência da declaração de guerra, Solano López pediu ao governo ar-
gentino a autorização para adentrar a Argentina com sua tropa para invadir o Rio
Grande do Sul. O pedido foi negado, mas o ditador paraguaio invadiu a Argentina
na mesma. Neste cenário, o Paraguai já estava em guerra contra o Brasil e a Argen-
tina, e bastou entrar o Uruguai para que se formasse a Tríplice Aliança.

Por muitos anos, alguns historiadores defenderam piamente a ideia de que a Guerra do
Paraguai havia sido orquestrada pela Inglaterra. Hoje em dia, porém, sabe-se que o Brasil
havia cortado relações diplomáticas com os ingleses por conta de desentendimentos
quanto à escravidão, de forma que o país não teria tido formas de exercer influência
direta sobre D. Pedro II. Fato é, porém, que após a declaração de guerra foram feitos
empréstimos pela Tríplice Aliança para com a Coroa Inglesa, no intuito de estruturar e
fortalecer seus exércitos até então basicamente inexistentes. Sabendo que o Paraguai
era, no início do conflito, uma potência militar muito mais forte que Brasil, Argentina e
Uruguai, você já parou para refletir qual poderia ter sido o desfecho desta guerra se a
Inglaterra não houvesse prestado suporte financeiro à Tríplice Aliança? Como você acha
que seriam as fronteiras nos dias de hoje?

A Guerra do Paraguai foi assustadoramente sangrenta e só teve fim em 1º de


março de 1870, com a execução do líder paraguaio pelo Exército brasileiro.
O conflito como um todo foi amplamente criticado enquanto ocorria, tanto por
movimentos internos quanto por outros países: foi um dos eventos mais cruéis da His-
tória, dizimou mais da metade da população paraguaia e atrasou imensamente o

65
desenvolvimento da América Latina como um todo. E o pior: hoje em dia, entende-
se que a guerra sequer precisava ter ocorrido se, desde o princípio, os líderes de cada
país houvessem agido em prol do diálogo e entendimento mútuo.
A respeito destes tristes anos é possível concluir que se, por um lado, há quem
pinte Solano López pura e simplesmente como um ditador sanguinário (o que, dentre
outras coisas, ele foi mesmo), fato é que o imperador brasileiro também contribuiu (e
muito!) para a chacina ocorrida. A maior prova disso foi o fato de a última batalha
do Exército brasileiro ter ocorrido em um momento no qual o Paraguai já estava des-
truído e nitidamente derrotado. Não era necessário mais derramamento de sangue,
mas, mesmo assim, D. Pedro II ordenou que as tropas brasileiras só parassem quando
Solano López estivesse morto, mesmo que isso significasse enfrentar uma tropa para-
guaia composta basicamente por crianças. E foi o que aconteceu.

Durante a Guerra do Paraguai, o Exército ganhou imenso protagonismo naci-


onal e foi justamente neste contexto que personalidades como Duque de Caxias,
Floriano Peixoto e Deodoro da Fonseca vieram à tona, sendo até hoje lembrados e
homenageados ao emprestarem seus nomes a ruas, praças e cidades ao redor de
todo o Brasil.
Se, por um lado, este conflito ficará eternizado por conta da destruição cau-
sada, ele também foi essencial para que o Brasil possuísse as fronteiras que possui hoje
e, principalmente, para que se tornasse uma República. Nesse sentido, ao retornarem
da Guerra, os oficiais viram-se decepcionados por não terem todo o reconhecimento

66
que acreditavam que teriam do Imperador. Não por acaso, é justamente nos basti-
dores do Exército que ganham força os ideais republicanos.

5.4 A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

"Estamos livres, mas as feridas ainda não cica-


trizaram." (Guilherme Rodrigues Figueiredo)

Falar de abolição da escravatura vai muito além de falar sobre a Lei Áurea
assinada em 1888 pela Princesa Isabel, pois as sementes deste movimento começa-
ram séculos antes, sobretudo com a luta e resistência dos quilombos.
Apesar dos movimentos existentes entre os escravos fugidos e até mesmo da
simpatia de alguns brancos ligados à política, a escravidão era absolutamente arrai-
gada à sociedade brasileira. A abolição parecia muito distante, ao ponto de até
mesmo a Constituição de 1824 atribuir aos escravos a condição de objetos dos seus
senhores.

Figura 25: Anúncios no jornal da venda de escravos

Fonte: Arquivo do autor (2020)

Foi a partir de 1844 que ocorreu, de fato, um pontapé inicial para a abolição.

67
Explica-se: neste ano, foi implementado no Brasil um aumento dos impostos sobre a
importação de produtos estrangeiros (para 30%, quando não houvesse produto na-
cional equiparado, e para 60%, quando houvesse). Tal medida desagradou a Ingla-
terra, haja vista o Brasil ser um dos seus principais mercados exportadores.

Foi na sequência da criação deste tributo, então, que a Inglaterra promulgou


em 1845 a Lei Aberdeen, cujo teor proibia o tráfico de escravos e possibilitava que a
Inglaterra apreendesse qualquer navios negreiros que encontrasse em alto mar. O
intuito da lei era forçar a libertação dos escravos que, passando a trabalhadores as-
salariados, virariam também consumidores dos produtos ingleses.
A partir de então, a abolição da escravidão foi ocorrendo de forma gradual,
por meio de alguns dispositivos esparsos, dentre os quais vale a pena destacar:

Quadro 6: Principais leis brasileiras no sentido da abolição da escravatura

ANO LEI TEOR DO DISPOSITIVO

1850 Lei Eusébio de Queirós Criminalizava a conduta daqueles que trouxessem


escravos africanos para o Brasil e concedia a liberdade a
quaisquer escravos trazidos a partir deste momento

1866 Decreto nº 3.725-A, de Concedia a liberdade aos escravos que decidissem servir
6 de Novembro de ao exército brasileiro
1866

1871 Lei do Ventre Livre Decretava a liberdade dos filhos de escravas nascidos a
partir de então

1885 Lei dos Sexagenários Concedia a liberdade aos escravos idosos, com mais de 60
anos de idade
Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

68
O fato da abolição no Brasil ter sido feita de forma gradual não foi mero acaso,
mas sim resultado de muitas pressões sofridas por D. Pedro II durante o sue governo.
De um lado, estavam a elite composta por donos de terras, que dependiam da mão-
de-obra escrava para manterem sua produção. Do outro, estavam a Inglaterra e os
abolicionistas. Na tentativa de controlar os ânimos de ambos os lados e não gerar
grandes revoltas, as leis abolicionistas foram elaboradas e promulgadas aos poucos.
Os grandes donos de terra que dependiam da mão de obra escrava estavam
em cada vez menor número (já que o tráfico de novos escravos estava proibido) e a
parcela da população favorável à abolição era cada vez maior. Com a Guerra do
Paraguai, até mesmo o Exército passou a pressionar o imperador para que fosse dada
assinada a alforria coletiva, haja vista muitos oficiais terem lutaram lado a lado com
escravos e ex-escravos. Não parecia correto, portanto, que os (agora) ex-escravos,
ao retornarem para casa depois da Guerra, encontrassem suas famílias ainda escra-
vizadas.
As duas últimas leis (do Ventre Livre e dos Sexagenários) foram publicadas no
intuito de dar uma resposta aos pedidos da população, mas foram vistas com des-
gosto pelos abolicionistas, que se sentiram enganados pelo imperador. Isso porque,
na prática, quase nenhuma criança foi liberta (já que a lei previa a possibilidade de
que o Senhor utilizasse da mão de obra destas crianças até que fizessem 21 anos) e
tampouco havia sexagenários para libertar (tendo em vista que a expectativa de
vida dos escravos raramente chegava aos 40 anos de idade).

Com isso, em 1888 foi finalmente assinada a Lei Áurea - tendo sido o Brasil o
último país das Américas a abolir a escravidão, após lucrar mais de 300 anos com o
tráfico negreiro. A responsável pela assinatura foi Princesa Isabel, filha de D. Pedro II,
já que este estava em viagem para tratamento de saúde.

69
Figura 26: Lei Áurea, assinada em 1888 pela Princesa Isabel

Disponível: https://bit.ly/3uARU4j . Acesso em: 25 ago. 2020.

Um ponto importante sobre a Lei Áurea foi o fato de a libertação de todos os


escravos ter sido feita sem nenhuma indenização aos Senhores (ao contrário das leis
anteriores, que previam indenização estatal para quando houvesse libertação de es-
cravos). Tal classe ficou, diante disso, com o sentimento de traição por parte do Im-
pério, que os havia causado um "imenso prejuízo".
Se os Senhores de escravos não ganharam indenização, os ex-escravos muito
menos. Foram libertos, mas não receberam nenhum tipo de suporte para o que seria
a vida a partir de então. Muito embora as amarras tivessem sido legalmente desfei-
tas, o estigma, o preconceito e o desrespeito por grande parte da sociedade conti-
nuou a ser sentido pela população negra, mesmo após a abolição da escravatura.

5.5 A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

"É que aqueles que criticam a injustiça não a


criticam por recearem praticá-la, mas por te-
merem sofrê-la."(Platão)

O Segundo Reinado, como grande parte dos Governos da época, baseava-


se no apoio da elite, da Igreja e das Forças Armadas. Não por acaso, D. Pedro II se
viu obrigado a abrir mão do seu Império justamente no momento em que perdeu o

70
apoio destas três camadas poderosíssimas, que passaram a olhar com bons olhos os
ideais republicanos.
Os primeiros a ficarem descontentes com o Império foram os membros da
Igreja, muito por conta da publicação da Bula Papal Sillybus em 1864, que criticava
a interferência dos monarcas na estrutura da Igreja e condenava os cristãos que
eram ligados à maçonaria. No Brasil, ambas as coisas aconteciam: além do impera-
dor ter o poder de indicar bispos e arcebispos (o que representava interferência di-
reta), também possuía muita afinidade com os maçons. Essa bula papal não foi
aceita por Dom Pedro II e, quando o Bispo de Olinda, Dom Vital, expulsou padres
ligados à maçonaria e fechou duas igrejas por este mesmo motivo, foi preso a mando
do imperador. Dom Vital foi solto após diversas negociações diretas de Roma com o
Brasil, mas isso abalou em muito a relação do imperador com Igreja Católica, que
não mais apoiava incondicionalmente o Império.

Figura 27: D.Pedro II dá a mão à palmatória para o Papa Pio IX

Disponível em: https://bit.ly/3pVUPBg. Acesso em: 21 ago. 2020.

Na sequência, os membros do Exército, ao voltarem da Guerra do Paraguai


(1864-1870), depararam-se com um cenário de descaso e poucos louros por parte do
Império - algo bem diferente do que estavam esperando. Após anos lutando uma
guerra sangrenta e com pouco sentido, o mínimo que os oficiais esperavam era o
reconhecimento por parte de D. Pedro II, com maior atribuição de poder e de parti-
cipação na política imperial. Ao perceberem que isso não iria acontecer, diversos
membros do Exército passaram a conversar mais entre si a respeito da possibilidade
da consolidação de uma República, aderindo às ideias de alguns membros que, an-
tes mesmo da Guerra, já criticavam o Império.

71
Por fim, o Império deixou de ser interessante para as elites donas de terra
quando, em 1888, a escravidão foi abolida (e sem indenização). Esta parcela da so-
ciedade, dos ricos e com poder político, demorou até embarcar nos ideais republi-
canos sobretudo pelo receio de que a República trouxesse consigo a libertação dos
escravos (que compunham a maior parte da sua mão-de-obra). Por isso, a partir do
momento em que a Lei Áurea foi assinada, esta parcela da população percebeu
que a Monarquia não trazia mais tantas vantagens, e que seu poder poderia ser
muito maior em uma República.
Uma parte considerável da população civil já defendia a ideia de se instaurar
uma República, mas foi apenas após a perda dessas três camadas populacionais
poderosas que um golpe em prol do republicanismo se fez viável. A princípio, a ideia
era esperar pela morte de Dom Pedro II, que já estava doente e com uma certa
idade. Porém, no início de novembro de 1889, em uma reunião entre os líderes civis
e do Exército, ficou decidido que Marechal Deodoro da Fonseca seria a figura central
da proclamação (o que demorou para ser aceite pelo mesmo, já que Deodoro pos-
suía uma relação próxima e de respeito para com o imperador e que não estava de
acordo com o fato de civis estarem participando do golpe, pois defendia que o
mesmo deveria ser estritamente militar).
No dia 15 de novembro de 1889, portanto, as tropas do Exército marcharam
rumo ao Ministério da Guerra sob o comando do Marechal Deodoro, e proclamaram
a República do Brasil com praticamente nenhuma participação civil.

Figura 28: "Proclamação da República", obra de Benedito Calixto (1893)

Disponível em: https://bit.ly/2MqhibP . Acesso em: 20 ago. 2020.


A família real foi expulsa e partiu rumo à Europa no dia 17 subsequente, sendo

72
absolutamente proibida de retornar ao Brasil (tendo em vista o receio de que conse-
guissem força política para reestabelecer a monarquia).
República instaurada, a participação militar no cenário político brasileiro pas-
sou a ser extremamente significativa, com diversos presidentes militares e, inclusive,
uma ditadura militar implementada anos mais tarde. Foi sobretudo a partir deste 15
de novembro, portanto, que muito da Política e do Exército passou a coabitar nas
mesmas figuras públicas.

73
FIXANDO O CONTEÚDO

1. (UMC) - O golpe da maioridade, datado de julho de 1840 e que elevou D. Pedro


II a imperador do Brasil, foi justificado como sendo

a) uma estratégia para manter a unidade nacional, abalada pelas sucessivas rebe-
liões provinciais.
b) o único caminho para que o país alcançasse novo patamar de desenvolvimento
econômico e social.
c) a melhor saída para impedir que o partido Liberal dominasse a política nacional.
d) a forma mais viável para o governo aceitar a proclamação da República e a
abolição da escravatura.
e) uma estratégia para impedir a instalação de um governo ditatorial e simpatizante
do socialismo utópico.

2. (Mackenzie) – Sobre o parlamentarismo praticado durante quase todo o Segundo


Reinado e a atuação dos partidos Liberal e Conservador, podemos afirmar que

a) ambos colaboraram para suprimir qualquer fraude nas eleições e faziam forte
oposição ao centralismo imperial.
b) as divergências entre ambos impediram períodos de conciliação, gerando acen-
tuada instabilidade no sistema parlamentar.
c) organizado de baixo para cima, o parlamentarismo brasileiro chocou-se com os
partidos Liberal e Conservador de composição elitista.
d) Liberal e Conservador, sem diferenças ideológicas significativas, alternavam-se no
poder, sustentando o parlamentarismo de fachada, manipulado pelo imperador.
e) os partidos tinham sólidas bases populares e o parlamentarismo seguia e prati-
cava rigidamente o modelo inglês.

3. (IFBA 2016) Neste país, que se presume constitucional e onde só deverão ter ação
poderes delegados, responsáveis, acontece, por defeito do sistema, que só há
um poder ativo onímodo, onipotente, perpétuo, superior à lei, e à opinião, e esse
é justamente o poder sagrado, inviolável e irresponsável. (Trecho do Manifesto
Republicano, publicado no Jornal A República, do Rio de Janeiro, em dezembro

74
de 1870.) A crítica apresentada pelo Manifesto Republicano de 1870 pode ser as-
sociada

a) ao despototismo de D. Pedro II, no desrespeito à Constituição Imperial.


b) aos amplos e ilimitados poderes garantidos ao Imperador pelo Poder Moderador.
c) à irresponsabilidade de D. Pedro II no trato com o dinheiro e com as finanças pú-
blicas.
d) ao estado de corrupção e fraudes que envolvia D. Pedro II e grande parte de seus
assessores.
e) aos prejuízos econômicos do país nas negociatas que D. Pedro II realizou com a
Inglaterra.

4. (UNESP) – A expansão da economia do café para o Oeste Paulista, na segunda


metade do século XIX, e a grande imigração para a lavoura de café trouxeram
modificações na história do Brasil, como
a) o fortalecimento da economia de subsistência e a manutenção da escravidão.
b) a diversificação econômica e o avanço do processo de urbanização.
c) a divisão dos latifúndios no Vale do Paraíba e a crise da economia paulista.
d) o fim da república oligárquica e o crescimento do movimento camponês.
e) a adoção do sufrágio universal nas eleições federais e a centralização do poder.

5. Substitui-se então uma história crítica, profunda, por uma crônica de detalhes
onde o patriotismo e a bravura dos nossos soldados encobrem a vilania dos moti-
vos que levaram a Inglaterra a armar brasileiros e argentinos para a destruição da
mais gloriosa república que já se viu na América Latina, a do Paraguai.
(CHIAVENATTO, J. J. Genocídio americano: A Guerra doParaguai. São Paulo: Brasiliense,
1979 (adaptado).)

O imperialismo inglês, “destruindo o Paraguai, mantém o status quo na Amé-


rica Meridional, impedindo a ascensão do seu único Estado economicamente livre”.
Essa teoria conspiratória vai contra a realidade dos fatos e não tem provas documen-
tais. Contudo essa teoria tem alguma repercussão.
(DORATIOTO. F. Maldita guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Cia.
das Letras, 2002 (adaptado).

75
Uma leitura dessas narrativas divergentes demonstra que ambas estão refle-
tindo sobre

a) a carência de fontes para a pesquisa sobre os reais motivos dessa Guerra.


b) o caráter positivista das diferentes versões sobre essa Guerra.
c) o resultado das intervenções britânicas nos cenários de batalha.
d) a dificuldade de elaborar explicações convincentes sobre os motivos dessa
Guerra.
e) o nível de crueldade das ações do exército brasileiro e argentino durante o con-
flito.

6. (FATEC) – No século XIX, a Inglaterra pressionou diversos países para acabar com
o protecionismo comercial e com a existência do trabalho compulsório. Esta situ-
ação culminou, em 1845, com o “Bill Aberdeen”. Neste contexto o Brasil sancio-
nou, em 1850, a “Lei Eusébio de Queirós” tratando

a) da extinção do sistema de parceria na lavoura cafeeira.


b) da manutenção dos arrendamentos de terras.
c) da extinção do tráfico indígena entre o norte e o sul do país.
d) da manutenção do sistema de colonato na lavoura canavieira.
e) da extinção do tráfico negreiro.

7. (UPE-SSA 2016) A Proclamação da República é um episódio da modernização à


brasileira. Nas décadas finais do Império, o vocábulo república expandiu seu
campo semântico, incorporando as ideias de liberdade, progresso, ciência, de-
mocracia, termos que apontavam, todos, para um futuro desejado.
MELLO, Maria Tereza Chaves. A modernidade Republicana. In: https://bit.ly/3qW9NIM

O texto demonstra que, no final do Segundo Império, os ideais republicanos já


estavam bastante difundidos no Brasil. Os adeptos do republicanismo, nesse período,
tinham como principal pensamento a

a) defesa do federalismo, buscando maior autonomia para as províncias.

76
b) luta pela continuidade da concentração política, mesmo sem a figura do impe-
rador.
c) organização de uma República centralizadora, sendo o Estado de São Paulo a
sede político-administrativa.
d) implantação de um regime militar em que os grandes nomes da guerra da Tríplice
Fronteira tomassem a direção nacional.
e) construção de um parlamentarismo em que o primeiro-ministro seria o responsável
pela manutenção da unidade nacional.

8. A respeito do Segundo Reinado brasileiro, selecione a alternativa correta.


a) O algodão consolidou-se como o principal produto nacional de exportação ,
contribuindo para a maior estabilidade econômica.
b) Politicamente falando, os Liberais e Conservadores possuíam princípios e ideolo-
gias completamente opostas, o que explica a sua disputa pelo poder durante
todo o Império de D. Pedro II.
c) Em 1850, a Lei de Terras de D. Pedro II fez com que as terras fossem melhor distri-
buídas, gerando comoção positiva por parte da população devido à ação de-
mocrática do imperador.
d) No cenário externo, a Guerra do Paraguai foi uma grande vitória para o Brasil e
representou um grande aumento da popularidade do Imperador.
e) Foi um período marcado pelo fortalecimento da indústria, em grande parte por
conta do investimento de pessoas como Barão de Mauá.

77
UNIDADE

06

ALGUNS REFLEXOS DO PASSADO


NA ATUALIDADE

78
6.1 REFLEXOS DA HISTÓRIA NA SOCIEDADE DE HOJE

“Vivo sempre no presente. O futuro, não o co-


nheço. O passado, já o não tenho.” (Fernando
Pessoa)

A História não é e nunca poderá ser completamente exata, afinal, é composta


e contada por pessoas - e pessoas são absolutamente plurais. Cada um interpreta o
passado de acordo com o seu ponto de vista, com as suas percepções da realidade,
ressaltando o que para si é mais importante. Por isso, criar um nexo de causalidade
entre fatos passados e situações do presente é algo que precisa ser feito com cau-
tela, no intuito de não atribuir culpa (de mais ou de menos) aos eventos que aconte-
ceram há tempos. Porém, na mesma proporção em que é necessário ter cuidado
para não contar a História de forma completamente parcial, também é importante
não fechar os olhos para tudo o que já aconteceu - porque são estes os eventos
responsáveis por moldar o perfil da sociedade e Estado que existe hoje.
Com tudo isso em mente, os próximos parágrafos serão destinados muito mais
a uma reflexão do que à afirmação de verdades absolutas pois, ao tratar de acon-
tecimentos históricos, nenhuma verdade se escreve no singular.
No que se refere ao Século XXI, é possível perceber alguns problemas sociais
complexos relacionados a pilares como Educação, Segurança e Saúde. Tais ques-
tões, embora contemporâneas, não nasceram ontem. Ao contrário, possuem raízes
antigas, atreladas a um passado distante e, por isso, tão intrínsecas aos tempos atuais.
Assim como as ervas daninhas, os problemas sociais não podem ser apenas
podados, devendo ser arrancados pela raiz; ao contrário do que acontece com elas,
porém, não se trata de um processo fácil: encontrar a origem de questões tão com-
plexas é uma tarefa árdua, e mudar o pensamento de toda uma sociedade é mais
ainda. Em um cenário como este, são necessárias cautela (na investigação), persis-
tência (para modificar o pensamento da sociedade) e bastante paciência (para ob-
ter resultados).

Figura 28: Última pesquisa Datafolha, com 2.878 entrevistas realizadas em 175 municípios de
todo o país, em 29 e 30 de agosto de 2019, a respeito do principal problema enfrentado

79
pelo país atualmente

Disponível em: https://bit.ly/3dMp9M5 . Acesso em: 22 ago. 2020.

A origem de tais problemas sociais pode ser considerada tão antiga quanto o
próprio Brasil, e está intimamente ligada ao modelo colonizatório adotado. Nesse sen-
tido, é importante lembrar que a colonização brasileira sempre foi, desde 1500, ex-
ploratória.
Por colonização exploratória entende-se o ato dos países colonizadores que
utilizavam suas Colônias como fonte de recursos a serem explorados e enviados à
Metrópole, no intuito de aumentarem seus lucros.

Figura 29: Sátira à intenção portuguesa para com o Brasil. Charge de César Lobo.

Disponível em: https://bit.ly/3utl4CF . Acesso em: 22 ago. 2020.


A colonização exploratória aconteceu ao redor de toda a América do Sul, por
parte de algumas das potências da época, como Portugal, Espanha e França.

80
No que se refere ao Brasil, especificamente, foram séculos em que o Brasil foi
visto única e exclusivamente como fonte de recursos. Apenas a partir de 1808, com
a instalação da Família Real no Rio de Janeiro, é que esta percepção começou a
mudar.e iniciaram-se alguns incentivos à cultura e ao desenvolvimento local. Tal pro-
cesso, porém, aconteceu de forma absolutamente regionalizada, apenas nos luga-
res que interferiam de alguma forma na vida do Rei e dos seus protegidos. Ou seja:
mais uma vez, o interesse não era de desenvolver o Brasil em si, mas sim de facilitar a
vida dos portugueses, que haviam sido obrigados a se mudar para a Colônia en-
quanto fugiam dos ataques napoleônicos que aconteciam em Portugal.
Embora muitos não parem para refletir a respeito, fato é que esta cultura co-
lonizatória voltada exclusivamente à exploração deixou marcas profundas na socie-
dade brasileira, que até hoje sofre crises identitárias e, por vezes, vangloria outros
países enquanto se autodeprecia. A dificuldade de reconhecer em si mesmo valor
como sociedade é um claro reflexo de um Brasil Colônia que, durante séculos, nunca
foi valorizado como sociedade, mas sim como um mercado no qual Portugal apor-
tava suas frotas, extraía o que houvesse de valioso e enviava tais riquezas para o
exterior.
Além disso, muito se engana quem pensa que apenas a terra e o minério bra-
sileiros geraram lucro a Portugal. Afinal, uma das maiores fontes de lucro da Metrópole

81
advinha da exploração da mão de obra escrava, e tal ponto é especialmente sensí-
vel quanto aos reflexos que gera na sociedade atual.
Neste sentido, a imposição de ideias de inferioridade dos povos indígenas e
sobretudo dos negros, o sequestro de toda a sua humanidade e a sua objetificação
durante praticamente três séculos, foram responsáveis por criar a fundação de um
preconceito racial que hoje em dia está arraigado à sociedade brasileira. A abolição
da escravatura sem qualquer medida de reinserção social foi responsável por colo-
car os pilares. E, ainda hoje, esta estrutura enorme ainda está de pé, atuando de
forma explícita ou velada, consciente ou não, mas diariamente presente.
Faz apenas 132 anos que a Lei Áurea foi assinada e, na sequência, os senhores
de escravos foram definitivamente obrigados a não mais utilizarem esse tipo de mão
de obra nas suas terras. Porém, tal medida foi adotada sem suporte algum, de modo
que, de um dia para o outro, pessoas que haviam sido escravas a vida toda se viram
"livres", mas sem emprego, sem teto, sem comida e sem qualquer tipo de base a partir
da qual a vida pudesse se iniciar de forma digna.
Por isso, na prática, muitos dos ex-escravos continuaram a trabalhar para os
mesmos senhores, ganhando salários ínfimos e se submetendo a condições absurdas
de trabalho, que certamente não seriam aceitas por mais ninguém.
Aqueles que decidiram cortar o vínculo com seus antigos "donos" foram obri-
gados a procurar, sozinhos, algum lugar em que pudessem morar - já que o Estado
não prestou qualquer auxílio neste sentido. Os terrenos ocupados acabaram por ser
aqueles periféricos ou localizados em morros, por se tratarem de locais em que mais
ninguém queria morar (seja pela distância do centro, seja pelo perigo de deslizamen-
tos e acidentes). A partir daí, essa população negra precisou, mais uma vez por si só,
tentar se inserir na sociedade que até ontem os tratava como objetos.
Não foi uma tarefa fácil e as marcas de todo esse processo são, até hoje, níti-
das. Um exemplo claro é o fato de, em pleno século XXI, a cor de pele predominante
dentre os moradores das favelas do Rio de Janeiro ainda ser a negra. Afinal, muitos
dos morros ocupados pelos ex-escravos em 1888 acabaram por formar as favelas
cariocas que hoje em dia são tão conhecidas.

82
Quantos professores negros você teve durante a sua vida? Quantos colegas negros
teve/tem durante a graduação? Quantos colegas de trabalho negros? Já teve algum
médico ou dentista negro? O engenheiro que fez o projeto da sua casa, era negro?

Por que é que, em pleno século XXI, ainda são tão poucos os negros em atividades inte-
lectuais e de prestígio social? Qual o papel do Estado dentro disso? Que políticas públicas
podem ser implementadas e quais delas efetivamente o são, no sentido de incluir essa
população que foi por tantos séculos excluída?

Outro claro reflexo da escravidão é o fato de que, até hoje, os cargos ocupa-
dos pela maior parte da população negra ainda estão atrelados às funções que os
negros realizavam enquanto escravos. Nesse sentido, grande parte das mulheres ne-
gras ainda trabalha com serviços domésticos, limpando casas e cuidando dos filhos
alheios, e muitos dos homens ainda são diretamente ligados ao trabalho braçal, de-
pendente de esforço físico.
Para quem nasceu mais de um século após a escravidão, é importante sempre
lembrar que os 132 anos desde a abolição, para a História, são muito pouco. Em um
contexto de milhares de anos de civilização, é como se a escravidão tivesse sido on-
tem. Por isso, negar os seus efeitos até hoje existentes e adotar um discurso de que o
"preconceito está nos olhos de quem vê" pode ser perigoso e, acima de tudo, extre-
mamente desrespeitoso para com a dor de quem efetivamente sofre com esse pre-
conceito todos os dias.

83
Figura 30: Referência às raízes profundas do racismo

Disponível em: https://bit.ly/2P2gB9x . Acesso em: 25 ago. 2020.

Em resumo: O povo negro foi sequestrado das suas terras, abarrotado em na-
vios, trazido para um lugar onde não entedia a língua, onde não podia praticar sua
religião e onde era obrigado a trabalhar até a morte. Suas famílias foram separadas,
suas mulheres estupradas, seus filhos morreram de fome. Quem tentou se impor contra
essas atrocidades, foi perseguido, açoitado e morto. Quem aguentou até o fim e teve
a "sorte" de viver até 1888, ganhou um pedaço de papel que garantia a liberdade,
mas não dava nenhuma chance de vida digna. Em um cenário como este, parece
óbvio que muito da pobreza que ainda hoje existe é descendente destes ex-escra-
vos. Parece óbvio que a pobreza não vira riqueza da noite pro dia e que as oportu-
nidades não aparecem facilmente para pessoas que até então eram consideradas
coisas. Parece óbvia a alegria misturada com indignação dos jovens negros que ce-
lebram a entrada em uma universidade pública, mas, ao mesmo tempo, se lembram
dos seus avós, ex-escravos, que morreram sem saber ler ou escrever. Tudo isso parece
e é, de fato, óbvio - mas toda essa obviedade não torna os fatos menos graves ou
absurdos.
Os impactos de uma cultura escravocrata e segregacionista são sentidos até
hoje e podem ser visualizados, por exemplo, na diferença de tratamento por parte
das instituições do Estado que existe entre ricos e pobres, brancos e negros. Se é ver-
dade que a ação policial na favela é mais violenta do que no condomínio de luxo,
também é verdade que existe mais violência contra negros do que contra brancos -

84
isso é histórico; isso é real. E, para quem deseja mudar a realidade, não é inteligente
fechar os olhos. A cegueira só beneficia aqueles que, por algum motivo, não querem
ver.

Figura 31: Referência ao extermínio dos jovens negros

Disponível em: https://bit.ly/2PcvoPc . Acesso em: 26 ago. 2020.

A soma de todos esses fatores leva a um problema especialmente grave do


Século XXI, visualizado na cultura de extermínio da população negra (sobretudo ho-
mens e jovens). A respeito disso, no último Atlas da Violência do IPEA (2019), ficou
demonstrado que, em 2017, do total de pessoas assassinadas no país, 75,5% eram
negros/pardos. Isso significa uma taxa de 43,1 entre 100 mil negros assassinados, en-
quanto a taxa dos não negros (brancos, amarelos e indígenas) foi de 16,0
(CERQUEIRA et al., 2019 ).
Figura 32: Atlas da Violência IPEA - Taxas de homicídios de negros e de não negros a cada
100 mil habitantes dentro destes grupos populacionais – Brasil (2007-2017)D

Disponível em: https://bit.ly/3koRxoU . Acesso em: 27 ago. 2020

85
Tais índices demonstram que, mesmo com um racismo legalmente abolido,
ainda existe algo de errado na forma como a sociedade age materialmente. Afinal,
se de fato o preconceito racial fosse coisa do passado, tais taxas tão discrepantes
não existiriam ainda hoje.
Em comparação, é possível afirmar que: enquanto no passado o extermínio
negro escondia-se por detrás da institucionalização legal da escravidão, hoje em dia
ele esconde-se no mito do Estado Democrático e da sociedade igualitária, que pro-
metem respeito e igualdade de tratamento, mas que não os entregam de fato.

Figura 33:Referências ao preconceito racial velado na sociedade do século XXI

Disponível em: https://bit.ly/3pQl4ZO . Acesso em: 27 ago. 2020

Diante disso, fica claro que conhecer a História e entender os seus desdobra-
mentos é um bom caminho para encontrar a melhor forma de se posicionar e agir.
Não adianta fechar os olhos para o que aconteceu. É necessário, na verdade, ficar
de olhos bem abertos. Só assim é possível evitar que a História se repita e tentar, de
alguma forma, reparar uma parte dos danos por ela causados, interrompendo esse
ciclo de dor e sofrimento há tantos anos causado ao povo negro no Brasil.

6.2 REFLEXOS DA HISTÓRIA NA ECONOMIA DE HOJE

86
“A economia não trata de coisas ou de obje-
tos materiais tangíveis; trata de homens, de
suas apreciações e das ações que daí deri-
vam." Ludwig von Moses

A colonização portuguesa no Brasil teve um viés fortemente econômico e ex-


portador: Portugal buscava lucro e tal lucro advinha da venda dos produtos brasilei-
ros para os demais países do mundo (na Europa, a princípio, e para os EUA, anos mais
tarde).
A exportação era essencial para o mercado de cultivo do pau-brasil, do açú-
car, do ouro, do café, do algodão, da borracha e etc. Foi fundamental para susten-
tar a economia no período colonial, durante os anos do Brasil Império e é, até hoje,
um dos pilares da República.
A respeito desse tema, é interessante perceber que o interesse português pela
exportação das riquezas brasileiras começou antes mesmo do interesse na coloniza-
ção em si. Afinal, de 1500 a 1530 sequer haviam sido tomadas medidas colonizadoras,
mas já havia comércio exterior do pau-brasil. Não à toa, o apreço pela exportação
é um conceito tão enraizado na cultura econômica até hoje.
Tal cultura de cultivo para exportação foi tão arraigada à realidade brasileira
que, até os dias atuais, o agronegócio é um dos principais destinatários de investi-
mentos públicos e privados. A questão é que, mesmo em um Brasil com mais de 212
milhões de habitantes e com regiões de extrema miséria, este alimento todo não é,
na sua maioria, destinado ao consumo interno. Até hoje, o incentivo à exportação é
o que comanda o agronegócio, que desde sempre foi induzido a enviar para o es-
trangeiro tudo o que de melhor fosse produzido no Brasil, pois é a partir daí que o
lucro é gerado.
A importação, na outra ponta, também é essencial desde o início da coloni-
zação, já que o Brasil demorou séculos até ter algo parecido com a indústria e de-
pendia, portanto, da vinda de produtos básicos de outros países (a princípio, o Brasil
só podia importar de Portugal, mas, a partir de 1808 e da abertura dos portos, a com-
pra de produtos ingleses tornou-se essencial).
Durante séculos, a economia brasileira dependeu exclusivamente do sucesso
do setor primário (com extração e modificação de produtos naturais), pois só assim
havia dinheiro o suficiente para importar os produtos básicos necessários (e que não
eram produzidos em território nacional devido à falta de investimento na indústria).

87
Isso facilitava a instabilidade econômica e, consequentemente, a instabilidade polí-
tica, pois quaisquer imprevistos de produção ou de queda de consumo pelo mer-
cado exterior resultavam em impactos diretos na economia brasileira.

Figura 34: Esquema sobre os setores econômicos

Fonte: Elaborado pelo Autor (2020)

A industrialização do Brasil poderia ter sido um caminho interessante para in-


terromper a dependência do país para com o mercado externo, mas a verdade é
que inexistiam condições para tanto. Primeiramente, importa lembrar que até a che-
gada da Família Real havia uma proibição no sentido de industrializar a colônia, pois
Portugal tinha interesse de que o Brasil dependesse da Metrópole (que, por sua vez,
dependia da importação de produtos ingleses). Porém, mesmo após a 1808 e a pos-
sibilidade da criação de fábricas brasileiras, o cenário não era propício à industriali-
zação:

 a elite agrária local não tinha interesse na mudança econômica;


 a população era majoritariamente analfabeta e possuía pouca (ou nenhuma)
condição de elaborar projetos concretos para a industrialização;

88
 a mão de obra escrava fazia com que não houvesse trabalhadores assalaria-
dos para comprarem os produtos;
 a abertura dos portos possibilitou aos ingleses a exportação de produtos dire-
tamente para o Brasil, sem o intermédio português (o que acabou acomo-
dando ainda mais os brasileiros, que se contentavam em comprar produtos
estrangeiros ao invés de investir na produção local).

Embora já tenham se passado alguns séculos, a cultura de falta de investimen-


tos em pesquisa e tecnologia continua gerando efeitos. Afinal, em um país com o
tamanho, população e quantidade de matéria prima como os do Brasil, era de se
esperar que já houvesse uma indústria tecnológica autossuficiente, capaz de produzir
o suficiente para si e até mesmo para outros países. Porém, o que se vê na prática é
um mercado que depende de:

1) Exportações de produtos do primeiro setor, no intuito de garantir a entrada de


recursos;
2) Importações de tecnologias, sobretudo pela inexistência de incentivos à pes-
quisa e ao desenvolvimento das ciências dentro do país;

Existe aí, portanto, mais um ponto de evidente semelhança entre o Brasil Colô-
nia (dependente de Portugal), o Brasil Império (dependente da Inglaterra) e o Brasil
atual (dependente sobretudo dos EUA e da China).
Por fim, um último fator interessante a ser ressalvado (pois nascido no Brasil Im-
pério e gerador de efeitos até hoje), é a dívida externa brasileira. Seu início se deu
quando do empréstimo feito com a Inglaterra para pagar uma indenização a Portu-
gal por conta da independência. Na sequência, a ocorrência de diversos conflitos

89
internos e guerras com países vizinhos fez com que essa dívida crescesse, o que sem-
pre obrigou o Estado a destinar parte dos recursos nacionais ao pagamento de outras
Nações. Com a instauração da República, posteriormente, não foi diferente.
No final de 2019, a dívida externa brasileira chegou a 4,23 trilhões de reais - e
agora você já sabe como ocorreu pelo menos o princípio deste número.

6.3 REFLEXOS DA HISTÓRIA NA POLÍTICA DE HOJE

“Na política, os ódios comuns são a base das


alianças.” Charles Tocqueville

A política de hoje é especialmente marcada por reclamações referentes à


corrupção. A corrupção, por sua vez, está atrelada à prática de atos políticos disso-
ciados de interesses coletivos, praticados com interesses de favorecimento próprio
ou dos seus.
É importante lembrar que a corrupção não existe apenas na política, estando
presente também na sociedade como um todo, dos pequenos aos grandes gestos
(desde a pessoa que cola durante uma prova na faculdade, até o sujeito que trans-
fere a sua multa para o nome da esposa ou que oferece dinheiro ao Guarda de
Trânsito para não receber uma penalização).
Na realidade, parece coerente dizer que a política nacional só é corrupta
quando a sociedade em si o é - afinal, os políticos provêm da sociedade e carregam
consigo as bases morais com que foram ensinados.

90
Desta forma, é possível concluir que a corrupção existente na política nacio-
nal, responsável por gerar tantas vítimas diretas e indiretas, nada mais é do que um
reflexo de uma sociedade anteriormente corrupta, que criou tais pessoas e colocou-
as no poder.

Figura 35: Charge de Alexandre de Oliveira

Disponível em: https://bit.ly/3uypoQU . Acesso em: 20 ago. 2020.

Na época da colonização, por exemplo, a distribuição das capitanias heredi-


tárias ocorreu sem maiores estudos, dedicação ou interesse por parte da Metrópole.
Foram escolhidos comerciantes e nobres portugueses, que já tinham alguma relação
de proximidade com a Coroa, e enviados à Colônia com o intuito de produzirem
lucro para si e para Portugal. Nesse sentido, a intenção portuguesa nunca foi o de
enviar os indivíduos mais capacitados ou com melhores intenções para o desenvol-
vimento da "nova terra", mas sim o de garantir que o território não seria invadido por
forças estrangeiras (francesas, sobretudo) e que uma parte dos lucros obtidos seria
enviada para a Metrópole.

91
Na teoria, o projeto por trás das capitanias até parecia ser estruturado, com a
previsão da atração de investimentos, da distribuição de terras e da cobrança de
impostos, mas a verdade é que o interesse português pelo Brasil nunca fora suficien-
temente relevante e, por isso, o sistema foi mal pensado, os capitães donatários não
tinham experiência ou empenho suficiente e, logo, praticamente todas as capitanias
hereditárias fracassaram.

Figura 36: Sátira a respeito do projeto de implementação do Governo Geral

Disponível em: https://bit.ly/3bFOd4X . Acesso em: 20 ago. 2020.

Posteriormente, com a implementação do governo-geral e com a ascensão


do açúcar, as figuras mais importantes em território nacional passaram a ser os go-
vernadores gerais e os senhores de engenho. Porém, sua influência era pouquíssimo
utilizada no sentido de desenvolver o país como um todo, e muito utilizada para a
obtenção de cargos administrativos para parentes, amigos e pessoas para quem
eram devidos favores. A partir do momento em que ocupavam cargos importantes
na sociedade, tais pessoas agiam como se fossem o próprio cargo, e não como se
só estivessem nele, temporariamente. Essa confusão entre "ser" e "estar", alimentada
pelo ego, é extremamente perigosa e foi responsável por aumentar ainda mais as
desigualdades sociais no país.
Diante de todo esse cenário exposto, a colonização política brasileira pode ser
caracterizada como patrimonialista (com a inexistência de distinção entre a posição
pública e privada, entre o bem público e privado) e clientelista (com o favoreci-
mento de pessoas motivado por laços pessoais de sangue, amizade ou dívida de

92
favores).
Infelizmente, tais características perduraram durante os anos do Império e fo-
ram, inclusive, consolidadas (devido à ocorrência das eleições para o Congresso e
o consequente aumento do número de cargos políticos em jogo). Assim, os períodos
eleitorais eram marcados por promessas pessoais e apoios baseados em interesses
secundários, geralmente relacionados ao maior lucro possível das partes envolvidas.
A política estava explícita e escancaradamente desvirtuada: não buscava o melhor
para o país e para o povo, mas sim atingir interesses pessoais.

Figura 37: Charge de Reginaldo Soares

Disponível em: https://bit.ly/3bFOd4X . Acesso em: 20 ago. 2020.

Além disso, a divisão partidária, presente nos últimos anos de Colônia e durante
todo o Império, também parece ser uma característica do passado que encontra
bastante respaldo na realidade atual. Os atritos, brigas (inclusive físicas) e desenten-
dimentos por conta de partidos eram frequentes, sobretudo na época imperial. Po-
rém, chamava a atenção o fato de pessoas de partidos rivais, com ideologias teori-
camente opostas, formarem parcerias quando lhes era conveniente (não em prol do
povo e de um bom Governo, mas sim no intuito de lucrar).
Não à toa, diversas pessoas alertavam, à época, que as discordâncias entre
os partidos eram muito menos ideológicas e muito mais motivadas pela ganância por
mais poder: afinal, alianças improváveis eram feitas em momentos de necessidade,
desde que esse fosse o caminho mais rápido para a obtenção de cargos e privilégios
pessoais.

93
E com isso, diante de todas essas informações, só nos resta constatar que, ao
fim e ao cabo, o passado nem parece estar assim tão longe do presente.

FIXANDO O CONTEÚDO

1. (UENP) Do ponto de vista sociológico, o Brasil se constituiu sobre o mito da demo-


cracia racial principalmente depois da publicação de Casa grande e senzala de
Gilberto Freyre (2003). De acordo com Florestan Fernandes (1965) o ideal de mis-
cigenação fora difundido como mecanismo de absorção do mestiço não para a
ascensão social do negro, mas para a hegemonia da classe dominante. O mito
da democracia racial assentou-se sobre dois fundamentos: 1) o mito do bom se-
nhor; 2) o mito do escravo submisso. Analise as afirmações:

I. A crença no bom senhor exalta a vulgaridade das elites modernas, como diria
Contardo Calligaris, e juntamente com uma espécie de pseudocordialidade se-
riam responsáveis pela manutenção e o aprofundamento das diferenças sociais.
II. O mito do escravo submisso fez com que a sociedade de um modo geral não
encarasse de frente a violência da escravidão, fez com que os ouvidos se ensur-
decessem aos clamores do movimento negro, por direitos e por justiça.
III. As proposições legislativas sobre a inclusão de negros vão desde o Projeto de
Lei que reserva aos negros um percentual fixo de cargos da administração pública,
aos que instituem cotas para negros nas universidades públicas e nos meios de
comunicação.

Assinale a alternativa correta.

a) todas as afirmações são verdadeiras.


b) apenas a afirmação II é verdadeira.
c) as afirmações I e III são verdadeiras.
d) as afirmações I e II são falsas.
e) todas as afirmações são falsas.

2. (FCC/2018 - Prova para Educador Social Penitenciário) Se o conceito de violência


estrutural inclui a ideia de que se trata de uma “violência gerada por estruturas

94
organizadas e institucionalizadas, naturalizada e oculta em estruturas sociais”, en-
tão é correto concluir que

a) a desorganização social enfraquece as instituições e contribui para que a violên-


cia estrutural revele os verdadeiros interesses que a geram.
b) a origem da violência estrutural encontra-se na natureza humana, onde a violên-
cia se oculta em sua estrutura mais profunda.
c) a violência se torna estrutural na medida em que é praticada de forma escondida
pelo crime organizado contra as instituições sociais.
d) a violência estrutural deve ser combatida por instituições policiais e judicias bem
organizadas e estruturadas.
e) o senso comum nem sempre considera ou compreende a violência estrutural
como expressão de violência.

3. (FCC/2018 - Prova para Educador Social Penitenciário) Sobre as causas da vio-


lência, é correto afirmar, segundo o consenso dos estudiosos, que

a) as pessoas agem de forma violenta porque tem índole má, a qual pode ser rever-
tida se elas forem condenadas a longas penas de prisão.
b) a principal causa da violência é a pobreza, o que se comprova pelo fato de que
a maioria das pessoas que estão presas por crime violento são pobres.
c) não existe uma única causa para a violência e a punição de quem age com
violência não é suficiente para resolver o problema.
d) a violência é causada pela pouca firmeza na educação dos filhos, provocada
especialmente pela proibição do uso, pelos pais, de castigos físicos e surras para
corrigi-los.
e) a tolerância com as diferenças entre as pessoas e com os diferentes modos de
pensar e agir causa a violência porque faz desaparecer da sociedade a noção
do que é certo ou errado.

4. (VUNESP/2016 - Prova para Analista) Embora o Brasil não viva uma situação de
guerra civil ou de atentados terroristas, a violência tem sido um dos temas mais
frequentes no noticiário nacional, uma preocupação política e um tormento para

95
o brasileiro comum, independentemente de sua classe social, de seu nível de ins-
trução, de sua religião ou de sua inclinação política. Vive-se atualmente um clima
de medo e insegurança generalizado. Essa sensação é confirmada pelas estatís-
ticas que revelam o aumento crescente da criminalidade e, ao lado dela, da
mortalidade por violência em nosso país, sendo o jovem a vítima preferencial.
(BRYM, Robert [et al.] Sociologia: sua bússola para um novo mundo. São Paulo: Thomson
Learning, 2006. Adaptado)

Assinale a alternativa que apresenta as causas estruturais da violência nas


áreas urbanas.

a) A violência urbana é fruto do consumo de drogas que conduz os usuários à for-


mação de guetos e à fuga do mercado de trabalho.
b) A ausência de uma política de assistência social que ampare os pobres para que
se mantenham distantes do crime organizado.
c) A falta de investimento público no sistema prisional, que pela falta de vagas, an-
tecipa a liberdade condicional aos condenados.
d) A exclusão social, provocada pelo desemprego estrutural e pela ausência de
perspectivas, fornece a base social para a criminalidade urbana.
e) A violência urbana no Brasil se encontra restrita as gangues juvenis que atuam nas
áreas urbanas pela ausência de políticas públicas voltadas para a orientação so-
cial da juventude.

5. (Unespar 2016) “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por
sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e
se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.”
(Nelson Mandela – citado em: SILVA, Aida M. M. Apresentação. In: SILVA, Aida M. M.; TI-
RIBA, Léa (orgs.). Direito ao ambiente como direito à vida: desafios para a educação em
direitos humanos. São Paulo: Cortez, 2015. p. 08.)

“[...] E de pai pra filho o racismo passa


Em forma de piadas que teriam bem mais graça
Se não fossem o retrato da nossa ignorância
Transmitindo a discriminação desde a infância
E o que as crianças aprendem brincando

96
É nada mais nada menos do que a estupidez se
propagando
Qualquer tipo de racismo não se justifica
Ninguém explica
Precisamos da lavagem cerebral pra acabar com esse
lixo que é uma herança cultural […].”
(GABRIEL O PENSADOR. Lavagem Cerebral. Álbum: Gabriel O Pensador. Sony Music,
1993. CD.)

Os dois trechos acima fazem menção à discriminação racial. Com base neles
e nas condições históricas do racismo no Brasil, escolha a alternativa CORRETA.

a) O primeiro trecho assinala que o racismo é uma característica irreversível do ser


humano, ao passo que o segundo afirma que o racismo é um legado que deve
ser recusado.
b) Historicamente, no Brasil, não houve e não há diferenciação legal entre pessoas
de cores diferentes, motivo pelo qual o racismo se consolidou por meio de piadas
e brincadeiras, como sugere o segundo trecho.
c) O primeiro trecho indica que a tolerância racial pode ser ensinada, ao passo que
o segundo trecho nega que o racismo tenha raízes históricas.
d) O racismo contemporaneamente não tem vínculo direto com a escravidão no
Brasil, uma vez que esta foi extinta em 1888, logo após a assinatura da Lei Áurea,
pela Princesa Isabel, filha de D. Pedro II.
e) Tanto o primeiro quanto o segundo trecho sugerem que o racismo é resultado de
um processo histórico, que pode ser convertido em tolerância racial.

6. O tema da violência tem sido uma constante nas discussões sobre o Brasil em
oposição a um senso comum de que se trata de um povo pacífico, alegre e feliz,
“abençoado por Deus”. A violência assume diferentes formas na vida cotidiana:
física, doméstica, moral. São manifestações dessas formas, respectivamente

a) ação de policiais, milícias e traficantes em comunidades de periferias; assassinato


de mulheres; assédio no trabalho e nos transportes.
b) furto de carros; conflitos entre gangues; desavença entre vizinhos.

97
c) pátrio poder; estelionato; perseguição a religiões de matriz africana por funda-
mentalistas.
d) abuso sexual a menores; acidentes de trânsito com eventuais mortes; impunidade
a crimes de corrupção.
e) desrespeito a determinações constitucionais; uso de algemas na prisão de acu-
sados de crimes do colarinho branco; assassinato de homossexuais.

7. (Unesp 2016) Sob o ponto de vista individual, a corrupção pode ser vista como
uma escolha racional, baseada em uma ponderação dos custos e dos benefícios
dos comportamentos honesto e corrupto. No tocante às empresas, punir apenas
as pessoas, ignorando as entidades, implica adotar, nesse âmbito, a teoria da
maçã podre, como se a corrupção fosse um vício dos indivíduos que as pratica-
ram no seio empresarial. O que constatamos é bem diferente disso. A corrupção
era, para as empresas envolvidas na operação Lava Jato, um modelo de negócio
que majorava o lucro em benefício de todos.
(Entrevista com Deltan Martinazzo Dallagnol [procurador público].O Estado de S.Paulo,
18.03.2015. Adaptado.)

A corrupção é abordada no texto como um problema que pode ser explicado


sob um ponto de vista

a) ético, devido ao comportamento irracionalista que é assumido pelos indivíduos.


b) moral, pois o fenômeno é abordado como resultado de comportamentos desre-
grados.
c) pragmático, pois é considerada, sobretudo, a avaliação dos efeitos práticos das
ações.
d) jurídico, pois é necessária uma legislação mais rigorosa para coibir o fenômeno
e) materialista, pois suas causas relacionam-se com a estrutura do sistema capita-
lista.

8. (UEL 2011) Observe a charge.

98
A charge remete à prática política recorrente no Brasil, a qual vem sendo com-
batida pelo Supremo Tribunal Federal. A prática central assinalada na charge é defi-
nida como

a) Clientelismo, uma vez que remete ao voto de cabresto do candidato em relação


ao eleitor.
b) Fisiologismo, isto é, a mudança de partido realizada pelo candidato, a cada elei-
ção.
c) Populismo, resultante da presença, na cena pública, de líder carismático e con-
servador.
d) Nepotismo, por tratar do uso da máquina pública para empregar parentes.
e) Solidarismo, por reforçar a necessidade de todos se ajudarem em defesa da ci-
dadania plena.

99
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO

UNIDADE 01 UNIDADE 02

QUESTÃO 1 E QUESTÃO 1 E
QUESTÃO 2 A QUESTÃO 2 D
QUESTÃO 3 C QUESTÃO 3 C
QUESTÃO 4 C QUESTÃO 4 D
QUESTÃO 5 B QUESTÃO 5 E
QUESTÃO 6 E QUESTÃO 6 C
QUESTÃO 7 C QUESTÃO 7 E
QUESTÃO 8 B QUESTÃO 8 C

UNIDADE 03 UNIDADE 04

QUESTÃO 1 B QUESTÃO 1 B
QUESTÃO 2 B QUESTÃO 2 D
QUESTÃO 3 A QUESTÃO 3 B
QUESTÃO 4 B QUESTÃO 4 A
QUESTÃO 5 C QUESTÃO 5 B
QUESTÃO 6 D QUESTÃO 6 D
QUESTÃO 7 C QUESTÃO 7 C
QUESTÃO 8 A QUESTÃO 8 A

UNIDADE 05 UNIDADE 06

QUESTÃO 1 A QUESTÃO 1 A
QUESTÃO 2 D QUESTÃO 2 E
QUESTÃO 3 B QUESTÃO 3 C
QUESTÃO 4 B QUESTÃO 4 D
QUESTÃO 5 D QUESTÃO 5 E
QUESTÃO 6 E QUESTÃO 6 A
QUESTÃO 7 A QUESTÃO 7 E
QUESTÃO 8 E QUESTÃO 8 D

100
REFERÊNCIAS

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