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UNIDADE 3 – TRIUNFO DOS ESTADOS E triangular * (açúcar, tabaco, cacau,

DINÂMICAS ECONÓMICAS NOS SÉCULOS algodão, ouro, escravos)


XVII E XVIII

Reforço das economias nacionais e


* Comércio triangular: circuito de comércio
tentativas de controlo do comércio
atlântico suportado pelas necessidades de
O tempo do grande comércio oceânico mão de obra das colónias americanas que
dependiam dos escravos negros para as
A partir do final do século XVI, a Europa
suas plantações e explorações mineiras.
viveu uma crise provocada pela
dependência dos metais preciosos da Da Europa para África partiam navios de
América espanhola. A Europa sentiu produtos de pouco valor (tecidos, armas,
necessidade de reforçar o seu aparelho pólvora, artigos de vidro e metal e bebidas
económico. alcoólicas). Na África eram trocados por
escravos. Estes eram levados para as
A rivalidade entre os Estados aumentou:
Américas para trabalharem nas plantações
• Devido à intenção de controlo da de açúcar, tabaco e algodão, assim como
circulação de metais preciosos, nas minas. Para a Europa vinham os
fundamentais à cunhagem da produtos acima referidos, onde eram
moeda; vendidos e consumidos.
• Devido à disputa de novas rotas de O domínio detido até ao século XVI, por
acesso a mercados livres para que Portugal e Espanha, foi disputado pelas
se pudessem aumentar os lucros e novas potências marítimas e coloniais e
diminuir a dependência do originaram-se novos impérios coloniais:
exterior. holandês, francês e inglês.
Nos séculos XVII e XIII, os mercadores O comércio atlântico com a América
europeus criaram grandes companhias de impõe-se e, por isso, a obtenção dos
comércio, desenvolveram novos produtos coloniais exigia elevados
mecanismos financeiros e expandiram os contingentes de mão de obra escrava,
seus negócios. sobretudo oriunda de África.
A economia europeia (impulsionada pela Tráfico negreiro: comércio de escravos
geração, investimento e aumento de negros que conduziu para a América
capital) entrou na era do capitalismo grande número de africanos.
comercial*.
A escravatura proveniente do tráfico
* Capitalismo comercial: sistema negreiro, foi o meio para assegurar a
económico que se afirmou nos séculos XVI produção mineira, agrícola e manufatureira
a XVIII e se caracteriza pela procura do e ainda trabalhos domésticos nas colónias
maior lucro, pelo espírito de concorrência e americanas.
pelo papel do comércio como motor do
desenvolvimento económico.

→ Principais rotas Reforço das economias nacionais: o


comerciais/produtos: mercantilismo
. Rota do Cabo (especiarias, chá,
A concorrência internacional e o domínio
seda, lacas, algodão);
de áreas económicas ultramarinas exigiram
. Rota atlântica (une a Europa, a
uma ação por parte dos Estados
África e a América): comércio
(intervencionismo), tendo em vista a A atuação dos governos devia de se focar
proteção do respetivo comércio e dos seus nos seguintes aspetos:
interesses. Foi neste contexto que se
→ O fomento/incentivo da produção
adotaram medidas destinadas a proteger
industrial;
as economias nacionais e engrandecer e
enriquecer os Estados. → A revisão das tarifas alfandegárias;
→ O incremento e reorganização do
Com esse objetivo estruturou-se e pôs-se comércio externo (exclusivo
em prática o mercantilismo. colonial).
Mercantilismo: teoria económica
dominante nos séculos XVI, XVII e XVIII,
que defende uma forte intervenção do
Estado na economia. Tinha em vista o O mercantilismo em França/ Colbertismo
aumento da riqueza nacional, reconhecida
pela quantidade acumulada de metais Em França, o mercantilismo impôs-se pelo
preciosos no país. Caracteriza-se por ministro de Luís XIV, Jean-Baptiste Colbert.
medidas de tipo protecionista e Este tinha o objetivo de afastar a
monopolista. concorrência holandesa e engrandecer o
estado.
O mercantilismo assentava em vários
princípios: → Colbert apostou no setor
manufatureiro (a produção interna
→ Riqueza de um Estado = de bens devia de aumentar, para
abundância de metais preciosos diminuir as importações,
(metalismo); incentivando a exportação de
→ Cada país devia ser autossuficiente produtos manufaturados);
e a economia nacional defendida → Criou novas indústrias (cristais de
pela prática protecionista (prática Murano, bordados de Veneza, etc),
económica que se destina a importando técnicas e mão de
proteger a produção nacional da obra estrangeira;
concorrência estrangeira); → Criou manufaturas (ex:
→ Uma parte significativa do dinheiro manufaturas reais);
que circulava no comércio europeu → Concedeu às manufaturas diversos
devia de ser canalizado para o país; benefícios (monopólios de fabrico,
→ Manter a balança comercial incentivos fiscais, subsídios…);
favorável (exportações > → Aplicou pesados direitos de
importações). entrada aos produtos importados e
Protecionismo: política económica que facilitou as exportações;
impede a livre iniciativa e circulação de → O Estado tinha o direito de
mercadorias. Define-se pelo aumento dos regulamentar detalhadamente a
direitos alfandegários sobre as atividade industrial;
importações e pela permissão de → Desenvolveu a frota mercante e a
exclusivos e privilégios industriais. O frota da marinha de guerra,
objetivo destas medidas é o criando companhias monopolistas
desenvolvimento das produções internas (às quais foi concedido o exclusivo
(que se tornam mais competitivas). comercial de determinadas áreas
geográficas, bem como poderes
para aí representarem o Estado,
conquistando terras, Criaram grandes companhias de comércio,
administrando os territórios e sendo a mais importante, a Companhia das
negociando tratados). Índias Orientais (uma sociedade que
detinha os direitos exclusivos sobre todo o
Manufatura: sistema de produção manual
comércio oriental).
(sem uso de maquinaria), em série,
típicocaracterístico da Europa pré- Estas políticas criaram condições para a
industrial dos séculos XVII e XVIII, que Inglaterra se tornar a principal potência
atenta na concentração de trabalhadores e marítima na segunda metade do século
a divisão de trabalho. XVII.

Companhia monopolista: companhia que


possui direitos exclusivos de exploração do
O equilíbrio europeu e a disputa das áreas
comércio ou de produtos numa região
coloniais
determinada.
Antigo Regime → busca do equilíbrio de
O colbertismo é a corrente mais dirigista e
poder.
rígida de todo o mercantilismo.
• Formação de alianças;
• Intervenção dos diversos países
O sistema mercantil em Inglaterra nas guerras.
Em Inglaterra, as medidas mercantilistas Século XVII e XVIII → frágil equilíbrio
adaptaram-se às circunstâncias e com inúmeros conflitos
assumiram um carácter mais flexível, o
que as tornou mais eficazes. • Questões dinásticas;
• Questões económicas;
O mercantilismo inglês distingue-se pela • Disputas comerciais;
valorização da marinha e do setor → Mercantilismo criou
comercial. entraves ao comércio
Face ao poderio económico dos externo na Europa
Holandeses, entre 1651 e 1663, foram • Disputas pelas áreas coloniais.
promulgados os Atos de Navegação. Atos → Fontes de matérias-
de Navegação eram, portanto, um primas;
conjunto de leis, que determinavam que → Mercados
mercadorias de origem estrangeira tinham consumidores (sob
de chegar a Inglaterra em frotas inglesas, sistema de exclusivo
ou na do país de origem dessas colonial).
mercadorias. Essa atitude permitiu que a Exclusivo colonial: forma de exploração
frota inglesa se desenvolvesse ao mesmo económica que reserva para a metrópole
tempo que enfraquecia o comércio os recursos e o mercado das colónias.
holandês.
A disputa da supremacia no grande
Nessa sequência, a marinha inglesa comércio marítimo deu-se essencialmente
começou a desenvolver-se fortemente entre a Holanda, a Inglaterra e a França.
iniciando uma política de expansão
colonial, sobretudo na América do Norte e 1651-1689 – Holanda vs Inglaterra:
nas Antilhas.
• Derrota da Holanda:
→ Perde a sua hegemonia no consequência do excesso de
comércio europeu; oferta;
→ Perde parte do seu império • As exportações do vinho e do sal
colonial (América, português decaíram visto a
Oriente). concorrência francesa e espanhola;
• As exportações foram afetadas
1689-1763 – Inglaterra vs França:
pela redução da prata espanhola.
• Questões territoriais, de
Portugal perdeu mercado para os seus
abastecimento e de mercados
produtos. As Guerras da Restauração e as
coloniais;
despesas aumentaram a dependência
• Guerra dos 7 Anos (1756-1763) externa. Os rendimentos do Estado caíram
→ Vitória Inglesa – Tratado de e o défice da balança comercial e escassez
Paris; de meios de pagamento agravaram-se.
→ França entrega várias
possessões coloniais à
Inglaterra (na América do
O surto manufatureiro
Norte, no Oriente, e África)
e à Espanha. Para remediar a situação, os economistas
mercantilistas da época defenderam a
Após cerca de um século de conflitos, a
implementação de uma política económica
Inglaterra tornou-se a maior potência
manufatureira capaz de travar o défice da
marítima e colonial da Europa. A sua
balança comercial e reduzir a dependência
hegemonia económica perdurou por todo
do exterior.
o século XIX.
Duarte Ribeiro de Macedo, embaixador de
Da crise comercial de finais do século XVII à
Paris, defendeu uma política de fomento
apropriação do ouro brasileiro pelo
industrial no livro Discurso sobre a
mercado britânico
introdução das Artes no Reino, uma obra
No século XVII, Portugal tinha uma que serviu de fundamentação teórica aos
economia de base cerealífera sem ser dois ministros da fazenda de D. Pedro II: D.
autossuficiente, que dependia: da João de Mascarenhas, 1º marquês de
exportação de azeite, vinho e sal; da fronteira e o conde de Ericeira.
reexportação de produtos coloniais
Conde de Ericeira tomou as seguintes
(tabaco, açúcar, especiarias) e da
realizações:
importação de produtos industriais que
não se produziam no nosso país. • Medidas de fomento
manufatureiro e proteção de
Os efeitos negativos das novas zonas
produtos nacionais:
produtoras combinados com a política
→ Contratação de artífices
protecionista de Colbert e a concorrência
estrangeiros;
no comércio asiático, desencadearam uma
→ Novas manufaturas (vidros,
grave crise comercial.
têxteis, ferro);
1670-1692 – Grave crise comercial: → Privilégios e subsídios
fiscais;
• A produção de açúcar e do tabaco
→ Leis pragmáticas que
produzidas pelos holandeses e
proibiam o uso de diversos
pelos franceses nas Antilhas,
produtos de luxo
provocou a queda dos preços em
importados.
• Desvalorização monetária: Causas do abandono do fomento
→ Torna mais baratos os manufatureiro:
produtos portugueses no
• Facilidades de pagamento das
mercado externo;
importações (ouro brasileiro);
→ Torna mais caras as
• Fraca qualidade dos produtos
importações estrangeiras.
fabricados;
• Criação de Companhias
• Incapacidade de fazer cumprir as
monopolistas, com privilégios
Pragmáticas.
fiscais (Companhia do Cachéu –
tráfico de escravos; Companhia do 1703 – Tratado de Methuen:
Maranhão – tráfico brasileiro).
• Os têxteis ingleses seriam
admitidos sem restrições em
Portugal;
A inversão da conjuntura e a descoberta do
• A Inglaterra importaria os vinhos
ouro brasileiro
portugueses em condições
• Cerca de 1690, a crise comercial dá alfandegárias favoráveis (pagando
sinais de se extinguir: dois terços dos direitos exigidos
• Holandeses e franceses aos vinhos franceses).
saem prejudicados por
Consequências do Tratado de Methuen:
diversos conflitos que
transformam as relações • Crescimento das exportações dos
comerciais entre os países nossos vinhos;
europeus • Aumento da dependência
• Reativaram-se as vendas económica face à Inglaterra;
dos produtos coloniais e • Utilização do ouro do Brasil como
das produções tradicionais forma de pagamento do défice.
do reino: sal, azeite e
vinho. Cerca de três quartos de todo o ouro foi
para a Inglaterra.

• 1693-1725 – Descoberta de jazidas


de ouro no Brazil:

→ Ficou a dever-se à ação dos


bandeirantes que
procuravam escravos e
ouro no sertão; A política económica e social pombalina
→ Entraram em Portugal Nova crise em meados do século XVIII:
cerca de 500 toneladas de
ouro. • Diminuição das remessas de ouro;
• Dificuldades no comércio
O ouro brasileiro não incentivou o internacional;
desenvolvimento económico. • Debilidade da produção
internacional;
• Défice crónico da balança
A apropriação do ouro brasileiro pelo comercial.
mercado britânico
A crise coincidiu com o governo do A prosperidade comercial dos finais do
ministro de D. José I, Marquês de Pombal. século XVIII

Objetivos da política pombalina: redução Os resultados da política pombalina


do défice; nacionalização do sistema traduziram-se num aumento de produção,
comercial português – medidas no crescimento das exportações e numa
mercantilistas. diminuição das importações de produtos
manufaturados.
1755 – Criação da Junta do Comércio:
Entre 1796 e 1807, Portugal viveu o seu
• Repressão do contrabando e da
melhor período comercial de sempre, mas
contrafação;
esta balança comercial positiva ficou a
• Vigilância das alfândegas (de dever-se também a uma oportunidade
forma a impedir a importação de externa favorável (guerras e revoluções
produtos estrangeiros). que afetaram o comércio francês e inglês).
- Criação de companhias monopolistas
privilegiadas (ex: Companhia das Vinhas do
Alto Douro);

- Revalorização do setor manufatureiro –


medidas já usadas pelo Conde de Ericeira
(revitalização das indústrias existentes,
privilegiamento das manufaturas,
reputamento de artífices estrangeiros);

- Promoção social da burguesia:

• 1759 – Criação da Aula do


Comércio, a primeira escola
comercial da Europa. Fornecia
uma educação adequada aos
futuros comerciantes, lecionando
matérias de carácter prático, como
contabilidade.
• 1770 – Grande comércio é
declarado “profissão nobre,
necessária e proveitosa”,
conferindo à alta burguesia o
estatuto nobre.

- 1768 – Fim da distinção entre cristãos


novos e cristãos velhos. Bem como a
subordinação dos Tribunais do Santo Ofício
à Coroa, terminando assim com o poder
arbitrário dos inquisidores e iniciando um
período de estabilidade, de que a
burguesia usufruiu e durante o qual
ganhou prestígio.

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