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Direito Constitucional - Direitos Fundamentais (Teoria Geral)
Direito Constitucional - Direitos Fundamentais (Teoria Geral)
Atualizado em 26.12.2019
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................................. 2
2. CONCEITO E ABRANGÊNCIA ..................................................................................................... 2
Direitos fundamentais X Garantias fundamentais .......................................................................... 7
Direitos fundamentais x Direitos humanos .................................................................................... 8
3. TITULARIDADE ............................................................................................................................ 8
4. CARACTERÍSTICAS .................................................................................................................. 10
5. GERAÇÕES DE DIREITOS FUNDAMENTAIS ........................................................................... 14
6. CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ................................................................ 18
7. APLICABILIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS................................................................ 19
Proibição de proteção insuficiente (proibição de proteção deficiente,
proibição de insuficiência ou proibição por defeito) ..................................................................... 20
Princípio da reserva do possível x Mínimo existencial ................................................................. 21
Princípio da vedação do retrocesso (efeito cliquet) ..................................................................... 24
8. EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ............................................................................ 26
Dimensões .................................................................................................................................. 26
Teoria dos quatro status de Jellinek ............................................................................................ 28
Eficácia dos direitos fundamentais em sentido estrito ................................................................. 30
Teorias sobre a eficácia dos direitos fundamentais.................................................................. 31
Eficácia horizontal dos direitos fundamentais no Brasil ............................................................ 34
9. CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS JUSTIFICADORAS................................................................... 39
10. COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS ........................................................................... 40
11. LIMITAÇÕES E RESTRIÇÕES AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS .......................................... 45
12. TEORIA DOS DEVERES FUNDAMENTAIS ............................................................................. 51
Direito Constitucional - Teoria Geral dos Direitos Fundamentais
Legislação
Arts. 5º a 17; 60, §4º; 150, III, “b”; 170; 196; 205; 207; 225; 227, todos da CFRB
Jurisprudência
O tema possui diversos julgados importantes. Como forma de facilitar a busca, sugere-se pesquisa
no Buscador Dizer o Direito através da categoria – Direito Constitucional, subcategoria – Direitos e
garantias fundamentais.
1. INTRODUÇÃO
2. CONCEITO E ABRANGÊNCIA
IMPORTANTE
O conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano, que tem por finalidade básica o
respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabeleci-
mento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana, pode ser definido
como direitos fundamentais.1
Constituem-se, pois, de “limitações impostas pela soberania popular aos poderes constituídos
do Estado Federal, sendo um desdobramento do Estado Democrático de Direito”.2
O art. 170, inciso VI, da Constituição de 1988, inclui entre os princípios da ordem econômica
da República Federativa do Brasil a defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento dife-
renciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração
e prestação. Esta afirmação foi assertiva de questão na prova de Juiz Federal da 2ª Região, no
ano de 2018. Aqui há uma preocupação no desenvolvimento econômico, mormente representado
pelo segundo e terceiro setor, desde que haja consonância com a preservação ambiental.
Assinale a opção que, corretamente, lista princípios que a Constituição assenta para a ordem eco-
nômica:
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a) Soberania nacional, propriedade privada, livre iniciativa e tratamento favorecido a empresas bra-
sileiras de sócios nacionais.
b) Livre iniciativa, tratamento favorecido a pequenas empresas com sócios nacionais, defesa do meio
ambiente, defesa do consumidor e redução das desigualdades sociais.
c) Soberania nacional, livre concorrência, defesa do meio ambiente, redução das desigualdades re-
gionais e livre iniciativa.
d) Defesa do consumidor, defesa do meio ambiente, defesa da atuação do estado como agente
regulador e produtor na economia, defesa da concorrência, propriedade privada e função social da
propriedade.
e) Soberania nacional, propriedade privada, livre iniciativa e tratamento favorecido a empresas bra-
sileiras de sócios nacionais.
IMPORTANTE
Em sentido formal, são direitos fundamentais aqueles direitos localizados em um plano normativo
especial: a Constituição. Por sua vez, são direitos materialmente fundamentais a base axiológica, a
estrutura de valores vigentes em uma sociedade.
3 Curso de Direito Constitucional. Ingo Wolfgang Sarlet; Luiz Guilherme Marinoni; Daniel Mitidiero. 2016.
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aqueles que, apesar de se encontrarem fora do catálogo, por seu conteúdo e por sua importân-
cia, podem ser equiparados aos direitos formalmente (e materialmente) fundamentais.
(a) como parte integrante da Constituição escrita, os direitos situam-se no ápice de todo o
ordenamento jurídico, gozando da supremacia hierárquica das normas constitucionais;
(b) na qualidade de normas constitucionais encontram-se submetidos aos limites formais (pro-
cedimento agravado) e materiais (cláusulas pétreas) da reforma constitucional (art. 60 da CF);
(c) as normas de direitos fundamentais são diretamente aplicáveis e vinculam de forma ime-
diata o Estado e, mediante as necessárias ressalvas e ajustes (conforme estudaremos adiante), tam-
bém os atores privados (art. 5º, § 1º, da CF).
MPE/PR: A caracterização de um direito como fundamental não é determinada apenas pela relevân-
cia do bem jurídico tutelado por seus predicados intrínsecos, mas também pela relevância que é
dada a esse bem jurídico pelo constituinte, mediante atribuição da hierarquia correspondente (ex-
pressa ou implicitamente) e do regime jurídico-constitucional assegurado às normas de direitos fun-
damentais.
CERTO
Art. 5º. § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa
do Brasil seja parte.
ERRADO
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É com fundamento nesse dispositivo que o STF assegurou, por exemplo, a proteção familiar
a pessoas do mesmo sexo.
A Constituição não interdita a formação de família por pessoas do mesmo sexo. Consagração do juízo
de que não se proíbe nada a ninguém senão em face de um direito ou de proteção de um legítimo
interesse de outrem, ou de toda a sociedade, o que não se dá na hipótese sub judice. Inexistência do
direito dos indivíduos heteroafetivos à sua não equiparação jurídica com os indivíduos homoafetivos.
Aplicabilidade do § 2º do art. 5º da CF, a evidenciar que outros direitos e garantias, não expressamente
listados na Constituição, emergem "do regime e dos princípios por ela adotados" (...).4
Adiante, a CF/88, alterada pela EC 45/04, eleva ao status de direitos constitucionais, os direi-
tos previstos em tratados e convenções sobre direitos humanos, aprovados sob o rito específico
equiparado ao necessário à aprovação de uma emenda constitucional.
Art. 5º. § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em
cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos mem- 6
bros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
Súmula Vinculante 25 – É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a moda-
lidade do depósito.
Segundo o STF:
4STF. ADI 4.277 e ADPF 132, rel. min. Ayres Britto, j. 5-5-2011, P, DJE de 14-10-2011.
5Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada Casa e de suas Comissões
serão tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros.
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(...) desde a adesão do Brasil, sem qualquer reserva, ao Pacto Internacional dos Direitos Civis
e Políticos (art. 11) e à Convenção Americana sobre Direitos Humanos – Pacto de São José
da Costa Rica (art. 7º, 7), ambos no ano de 1992, não há mais base legal para prisão civil do
depositário infiel, pois o caráter especial desses diplomas internacionais sobre direitos huma-
nos lhes reserva lugar específico no ordenamento jurídico, estando abaixo da Constituição,
porém acima da legislação interna. O status normativo supralegal dos tratados internacionais
de direitos humanos subscritos pelo Brasil, dessa forma, torna inaplicável a legislação infra-
constitucional com ele conflitante, seja ela anterior ou posterior ao ato de adesão. Assim ocor-
reu com o art. 1.287 do Código Civil de 1916 e com o DL 911/1969, assim como em relação
ao art. 652 do novo Código Civil (Lei 10.406/2002).6
Sintetizando:
Tratados e convenções internacionais que não versem sobre direitos humanos: incorporam o or-
denamento jurídico brasileiro com força de lei ordinária.
6 RE 466.343, rel. min. Cezar Peluso, voto do min. Gilmar Mendes, j. 3-12-2008, P, DJE de 5-6-2009.
7 HC 97.256, rel. min. Ayres Britto, j. 1º-9-2010, P, DJE de 16-12-2010.
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Por sua vez, as chamadas garantias fundamentais – disposições assecuratórias – são instru-
mentos constitucionais idealizados para assegurar efetividade e proteção aos direitos fundamentais,
veiculando um “meio” em defesa de um direito substancial.
Embora seja possível encontrar doutrina que utilize as expressões como sinônimas, a expres-
são “direitos humanos” é mais comumente associada a “direitos do homem” e aos direitos naturais,
acompanhada, portanto, de uma pretensão normativa de universalidade, abrangendo, desse modo,
qualquer pessoa numa perspectiva extraestatal (internacional)9.
A leitura mais recorrente e atual sobre o tema, é aquela que afirma que os "direitos fundamentais" e os
"direitos humanos" se separariam apenas pelo plano de sua positivação, sendo, portanto, normas
jurídicas exigíveis, os primeiros no plano interno do Estado, e os segundos no plano do Direito In-
ternacional, e, por isso, positivados nos instrumentos de normatividade internacionais (como os Tra-
tados e Convenções Internacionais, por exemplo)10.
IMPORTANTE!
8
Em síntese, uma diferenciação precisa dos termos estabeleceria o seguinte:
Direitos fundamentais: direitos positivados e protegidos pelo direito constitucional interno de cada
Estado.
Direitos do homem: no sentido de direitos naturais, não positivados ou ainda não positivados.
3. TITULARIDADE
Impõe-se, ao Judiciário, o dever de assegurar, mesmo ao réu estrangeiro sem domicílio no Brasil, os
direitos básicos que resultam do postulado do devido processo legal, notadamente as prerrogativas
inerentes à garantia da ampla defesa, à garantia do contraditório, à igualdade entre as partes perante
o juiz natural e à garantia de imparcialidade do magistrado processante.12
Com efeito, o entendimento do STF é no sentido que a condição humana da pessoa estran-
geira é protegida constitucionalmente e no âmbito dos direitos humanos.
O súdito estrangeiro, mesmo aquele sem domicílio no Brasil, tem direito a todas as prerrogativas bási-
cas que lhe assegurem a preservação do status libertatis e a observância, pelo Poder Público, da
cláusula constitucional do due process.13
Sob esse raciocino, o Supremo já entendeu pela legitimidade do estrangeiro para impetração
de Habeas corpus14, pela possibilidade de concessão do benefício da substituição da pena privativa
de liberdade por restritiva de direitos15, bem como pela viabilidade de progressão de regime pelo
estrangeiro que cumpre pena no País16.
9
Obs.: Há direitos fundamentais, inclusive, cuja titularidade é reservada aos estrangeiros, por
exemplo, o direito ao asilo político.
Ademais, tem-se por inegável, atualmente, que pessoas jurídicas são titulares de direitos
e garantias fundamentais – direito à indenização por danos morais, direito à imagem, direito de
propriedade, direito de igualdade, de propriedade, de sigilo de correspondência, etc. Podem ser
identificados, inclusive, direitos específicos de pessoas jurídicas, como o de não interferência
estatal no funcionamento das associações (art. 5º, XVIII) e o de não serem elas dissolvidas com-
pulsoriamente (art. 5º, XIX).
12 HC 94.016, Rel. Min. Celso de Mello, julg. em 16.9.2008, 2ª T, DJ de 27.2.2009. No mesmo sentido: HC
nado não nacional pelo crime de tráfico ilícito de entorpecentes seja privado da concessão do benefício da
substituição da pena privativa por restritiva de direitos quando atende aos requisitos objetivos e subjetivos do
art. 44 do Código Penal”. HC 94.477/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Julg. em 06.09.2011.
16 É possível inclusive que seja deferida a progressão de regime ao apenado que aguarda o cumprimento da
ordem de extradição. Mas isso só poderá ser concretizado pelo juízo das execuções depois que o STF con-
cordar. ExT 893/QO. 2ª T. Julg. em 10.03.2015. Rel. Min Gilmar Mendes.
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Outrossim, não estão afastadas do elenco de titulares, as pessoas jurídicas de direito pú-
blico, sobretudo, dos direitos fundamentais de natureza procedimental17.
Não se deve negar aos Municípios, peremptoriamente, a titularidade de direitos fundamentais e a even-
tual possibilidade de impetração das ações constitucionais cabíveis para sua proteção. Se considerar-
mos o entendimento amplamente adotado de que as pessoas jurídicas de direito público podem,
sim, ser titulares de direitos fundamentais, como, por exemplo, o direito à tutela judicial efetiva,
parece bastante razoável vislumbrar a hipótese em que o Município, diante de omissão legislativa do
exercício desse direito, se veja compelido a impetrar mandado de injunção. A titularidade de direitos
fundamentais tem como consectário lógico a legitimação ativa para propor ações constitucionais des-
tinadas à proteção efetiva desses direitos.19 10
MPE/PR: As pessoas jurídicas de direito público são titulares de direitos fundamentais apenas de
cunho processual (por exemplo, o contraditório e a ampla defesa), sendo incompatíveis com sua
natureza direitos de natureza estritamente material.
ERRADO
4. CARACTERÍSTICAS
MUITO IMPORTANTE!
A doutrina, naturalmente, não é unânime na catalogação das características dos direitos fun-
damentais. Todavia, para fins de concurso público, é importante sejam conhecidas algumas, notada-
mente por serem cobradas pelas bancas com certa frequência. São elas:
Alguns autores (ex.: Gilmar Mendes e Canotilho) admitem restrições a direitos fundamen-
tais diante de uma finalidade acolhida ou tolerada pela ordem constitucional21. São exem-
plos apontados pelos autores o da liberdade de expressão e manifestação, que pode ceder
face a um contrato de trabalho no qual fique estabelecido cláusula de confidencialidade,
ou ainda, quando da participação voluntária do indivíduo em um reality show22.
As características seguintes são de citação menos comum, mas é bom que o aluno conheça
sua menção:
8. Interdependência: o efetivo sentido e tutela dos direitos fundamentais só podem ser obti-
dos a partir da análise conjugada de um direito com os demais, em verdadeiro esforço de
conjugação de todos em um só sistema. Assim é que não há como falar de um direito à
igualdade independente do direito à educação, saúde ou liberdade, por exemplo.
também seria uma das características dos direitos fundamentais. Curso de Direito Constitucional. Dirley
da Cunha Jr. 2017.
Direito Constitucional - Teoria Geral dos Direitos Fundamentais
10. Indivisibilidade: igualmente decorrente dos caracteres precedentes, diz-se que os direitos
fundamentais formam um conjunto uno e indivisível, não sendo possível conceber direitos
civis e políticos dissociados dos direitos sociais econômicos e culturais, por exemplo.
11. Inexauribilidade: O rol de direitos fundamentais não é exaustivo e não se exaure em de-
finitivo. Os direitos constantes na CF/88 são meramente exemplificativos, admitindo-se ou-
tros que decorram do regime, dos princípios adotados por ela ou dos tratados em que a
República federativa do Brasil seja parte (art. 5º, § 2º). Ademais, em razão da historicidade,
remanesce a expectativa de novos direitos fundamentais, decorrentes da inesgotável e cres-
cente dinâmica social. É o caso, por exemplo, do direito à moradia, que por força da Emenda
Constitucional 26/2000, passou a ser considerado formalmente direito fundamental.
12. Inerência: os direitos fundamentais são inerentes a cada pessoa, pelo simples de existir,
dispensando condições à titularidade (Kildare Gonçalves Carvalho25). 13
13. Continuidade/Identidade: O constituinte reconheceu ainda que os direitos fundamentais
são elementos integrantes da identidade e da continuidade da Constituição, considerando,
por isso, ilegítima qualquer reforma constitucional tendente a suprimi-los (art. 60, § 4º)
(Gilmar Ferreira Mendes26).
Direitos e garantias fundamentais devem ter eficácia imediata (cf. art. 5º, § 1º); a vinculação direta dos
órgãos estatais a esses direitos deve obrigar o Estado a guardar-lhes estrita observância. Direitos fun-
damentais são elementos integrantes da identidade e da continuidade da Constituição (art. 60, § 4º)27.
Não é difícil imaginar que todos os candidatos saibam dissertar algo sobre as três primeiras
gerações de direitos fundamentais, que se espelham no lema da revolução francesa: liberdade, igual-
dade e fraternidade. Todavia, a doutrina mais atual tem reconhecido outras gerações de direitos
fundamentais, que podem ainda ser estranhos à boa parte dos estudantes. Seguem todas elas:
Marco temporal: desenvolvimento do Estado Social, no curso do século XX, como resposta
aos movimentos e ideias liberais.
• Terceira geração: relacionam-se com o terceiro pilar da revolução francesa, qual seja, a
fraternidade ou solidariedade. Correspondem, portanto, aos direitos dos indivíduos en-
quanto membros da coletividade, ou seja, possuem natureza transindividual. Aqui situam-
se, por exemplo, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e o direito dos
consumidores. Outros autores apontam, ainda, o direito à paz, ao desenvolvimento e à
comunicação.
• Quarta geração: como dito, a tradicional teorização das gerações dos direitos fundamen-
tais tem sido incrementada por novas revoluções tecnológicas e informacionais na socie-
dade moderna. Fala-se, assim, na quarta geração de direitos fundamentais, que alicerça-
riam o futuro da cidadania e da liberdade dos povos, em tempos de globalização político-
econômica.
Para fins de concurso público, é importante saber que existem dois autores relevantes que
cuidam do tema, porém com abordagens distintas:
a) Norberto Bobbio: entende que a quarta geração deriva dos avanços concernentes à
biotecnologia e engenharia genética, que deve observar limites e condicionantes, sob pena
de colocar em risco a própria existência humana. O autor elenca como exemplos o direito
contra manipulações genéticas e o direito à mudança de sexo.
b) Paulo Bonavides: afirma que a quarta geração está relacionada à globalização política,
destacando-se os direitos à democracia, à informação, ao pluralismo.
Marco temporal: avanço da globalização, início do século XXI. Exigência normativa de uni-
versalização dos direitos fundamentais para além do campo estatal, conectando-os a ele-
mentos essenciais para a formação de uma sociedade aberta do futuro.
15
• Quinta geração: por fim, a título de completude acerca do tema, Paulo Bonavides registra
que o direito à paz deve ser tratado à parte, distanciando-o da terceira geração, alcan-
çando assim um patamar superior e específico de fundamentalidade, no século XXI29.
29 “Vamos, por conseguinte, retirar o direito à paz da invisibilidade em que o colocou o edificador da categoria
dos direitos da terceira geração.(...) Devemos assinalar, doravante, que a defesa da paz se tornou princípio
constitucional, insculpido no art. 4°, VI, da CR. Desde 1988 avulta entre os princípios que o legislador consti-
tuinte estatuiu para regerem o país no âmbito de suas relações internacionais. E, como todo princípio na Cons-
tituição, tem ele a mesma força, a mesma virtude, a mesma expressão normativa dos direitos fundamentais.
Só falta universalizá-lo a cânone de todas as Constituições. Vamos requerer, pois, o direito à paz como se
requerem a igualdade, a moralidade administrativa, a ética na relação política, a democracia no exercício do
poder (...)
A ética social da contemporaneidade cultiva a pedagogia da paz. Impulsionada do mais alto sentimento de
humanismo, ela manda abençoar os pacificadores. Elevou-se, assim, a paz ao grau de direito fundamental da
quinta geração ou dimensão (as gerações antecedentes compreendem direitos individuais, direitos sociais,
direitos ao desenvolvimento, direito à democracia). (...)Subimos, agora, o derradeiro degrau na ascensão ao
patamar onde, desde já, é possível proclamar também, em regiões teóricas, o direito à paz por direito de quinta
geração, tirando-o da obscuridade a que dantes ficara confinado, enquanto direito esquecido da terceira di-
mensão.” Curso de Direito Constitucional. Paulo Bonavides. 2008.
Direito Constitucional - Teoria Geral dos Direitos Fundamentais
MUITO IMPORTANTE
Direitos fundamentais
Aprofundando: A melhor doutrina de direito constitucional assevera que deve ser exercida
uma leitura paradigmática das gerações/dimensões de direitos fundamentais, afastando-se do con-
ceito de que cada nova categoria representaria mero acréscimo de direitos em seu catálogo. Advoga-
se haver verdadeira redefinição e reconfiguração no sentido e dos conteúdos anteriormente fixados.
30Atualmente, assentei eu, já se cogita de direitos de quarta geração decorrentes de novas carências enfren-
tadas pelos seres humanos, especialmente em razão do avanço da tecnologia da informação e da bioenge-
nharia. Assim é que, hoje, busca-se proteção contra as manipulações genéticas (...) Min. Ricardo Lewandowski.
Direito Constitucional - Teoria Geral dos Direitos Fundamentais
Ao falar em uma segunda geração de direitos, é inevitável que voltemos os olhares para
os direitos de primeira geração e busquemos desenvolver uma leitura compatibilizada e
harmonizada desses dois níveis. Assim, não há como imaginar que, por exemplo, a inclu-
são dos direitos sociais no texto constitucional não levou a uma rediscussão sobre os
direitos de liberdade ou de propriedade. Um exemplo interessante, pode ser explicitado
com o direito de propriedade (da primeira geração). Com o advento do Estado Social e
com os intitulados direitos de segunda geração, temos não só um alargamento da tábua
de direitos fundamentais, mas também uma redefinição dos direitos de primeira geração
à luz do paradigma do constitucionalismo social. Nesses termos, a propriedade perde sua
perspectiva absoluta (ilimitada) e passa a ser trabalhada a partir da sua função social
(função social da propriedade). O mesmo ocorre com a igualdade ou com a liberdade que
ganham novas atribuições de sentido.31
Já que mencionamos na “função social da propriedade”, pergunta-se: Qual das Constituições brasi-
leiras foi a primeira a dispor desta expressão em seu texto? Antes da CF/88 a função social da pro-
priedade já existia. A exemplo, na Carta Magna de 1934, no seu art. 113, item 17 e na Constituição
de 1891, no seu art. 72, §17 (incluído por uma emenda do ano de 1926), ou seja, o que ambos têm 17
em comum é a proteção da propriedade, mas passível de supressão em razão necessidade ou inte-
resse público. Ambas, foram influenciadas pelas Constituições sociais do México (1917) e a alemã
de Weimar (1919). Com base nessas informações, vejamos a seguinte questão:
Quanto aos princípios gerais da atividade econômica previstos na Constituição brasileira, jul-
gue o item:
A Constituição Federal foi a primeira a prever a função social da propriedade como princípio da ordem
econômica
Gabarito: ERRADO. Como visto, a CF/88 não foi a primeira a prever tal instituto. Aliás, a expressão
“função social da propriedade” já tinha sido alcunhada expressamente no texto constitucional de 1967
(art. 157, III), desta feita, não no título dos direitos e garantias fundamentais, mas, alocada dentro da
ordem econômica e social.
Alguns autores (ex.: Norberto Bobbio) identificam o fenômeno como dimensão (ou eficácia) histó-
rica dos direitos fundamentais. A terminologia identifica justamente a necessidade de releitura da
geração de direitos fundamentais anteriores à luz das novas.
Já analisamos anteriormente a classificação que a própria CF/88 dispensou aos direitos fun-
damentais, elencando-os topograficamente em 5 capítulos32, bem como a identificação que, a partir
de um perfil histórico, divide-os em “gerações”.
Em âmbito doutrinário, destaca-se ainda como de grande relevância a categorização dos di-
reitos fundamentais quanto a sua função primordial, baseada na Teoria dos status de Jellinek (estu-
dada à frente). Nessa esteira, é amplamente adotada a classificação trialista dos direitos funda-
mentais, segundo a qual, estes se distinguem, a partir de um conteúdo nuclear típico, em:
a) Direitos de defesa: são os típicos direitos de resistência (ou negativos), que impõe ao Es-
tado um dever de abstenção, limitando o poder estatal face à autonomia dos indivíduos. 18
Correspondem, regra geral, aos direitos individuais e coletivos, previstos no art. 5º, CF.
32 a) direitos e deveres individuais e coletivos (art. 5.º); b) direitos sociais (arts. 6.º a 11); c) direitos à naciona-
lidade (arts. 12 e 13); d) direitos políticos (arts. 14 a 16); e) partidos políticos (art. 17).
33 Curso de Direito Constitucional. Marcelo Novelino. 2016.
Direito Constitucional - Teoria Geral dos Direitos Fundamentais
Obs.: Parte da doutrina (v.g. Canotilho e Alexy) não cogita os direitos de participação como
uma terceira classe de direitos fundamentais, exatamente por possuírem características mistas de
direitos de defesa e direitos prestacionais. Fala-se aqui, portanto, em classificação dualista dos
direitos fundamentais – direitos de defesa (incluídos os direitos políticos) e direito a prestações.
O texto constitucional trouxe disposição expressa, no art. 5º, a respeito da aplicabilidade dos
direitos fundamentais:
Art. 5º § 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.
IMPORTANTE!
IMPORTANTE!
Tendo em vista a necessidade de conferir máxima eficácia possível aos direitos fundamentais,
o imperativo se estende tanto à necessidade de proteção de direitos já consagrados, quanto à pro-
moção daqueles que dependem de prestações materiais ou jurídicas – e.g., criminalização de con-
20
dutas gravemente ofensivas ou edição de leis regulamentadoras dos direitos fundamentais veicula-
dos em normas constitucionais de eficácia limitada.
VUNESP Proc/Câmara de Campo Limpo Paulista – SP: O princípio da proibição da proteção insu-
ficiente tem por objetivo impedir que as intervenções a direitos fundamentais sejam realizadas de
forma excessiva, infringindo o seu núcleo essencial.
ERRADO35
CESPE DPE/RN: A proibição do excesso e da proteção insuficiente são institutos jurídicos ligados
ao princípio da proporcionalidade utilizados pelo STF como instrumentos jurídicos controladores da
atividade legislativa.
CERTO
No Brasil, o Supremo Tribunal Federal tem erguido como óbice à aplicabilidade da cláusula
da reserva do possível o respeito ao mínimo existencial, entendido como o conjunto de elementos
fundamentais à dignidade da pessoa humana. É dizer que a tese fazendária não tem sido acolhida,
quando não demonstrada a satisfação do referido mínimo existencial.
Atendido o mínimo existencial, Ingo Sarlet anota que a tese da reserva do possível deve ser
acolhida, quando restarem comprovadas:
Direito Constitucional - Teoria Geral dos Direitos Fundamentais
MPF/24º Concurso/Questão discursiva: Como a teoria da reserva do possível pode ser utilizada como
argumento pelo administrador público e como deve ser ela apreciada pelo Judiciário?
A cláusula da “reserva do possível” é endossada pela “teoria dos custos do direito” e pela tese
das “escolhas trágicas”, todas elas relacionadas a argumentos de ordem orçamentário-financeira.
A “teoria dos custos dos direitos”, pensada pelos autores Stephen Holmes e Cass Sustein
na obra “The cost of rigths” (“O custo dos direitos”), propõe uma análise econômica do Direito. Se-
gundo os autores, o direito nasce a partir de sua previsão orçamentária: antes disso, não há direito
a ser vindicado, pois o Estado não pode proteger direitos sem recursos.
Não se ignora que a realização dos direitos econômicos, sociais e culturais – além de caracterizar-se
pela gradualidade de seu processo de concretização – depende, em grande medida, de um inescapá-
vel vínculo financeiro subordinado às possibilidades orçamentárias do Estado, de tal modo que, com-
provada, objetivamente, a alegação de incapacidade econômico-financeira da pessoa estatal,
desta não se poderá razoavelmente exigir, então, considerada a limitação material referida, a
imediata efetivação do comando fundado no texto da Carta Política.
Por outro lado, a tese das “escolhas trágicas”, apresentada pelos autores Guido Calabresi
e Philip Bobbit na obra “Tragic Choices” (ou “Escolhas Trágicas”) exprime “o estado de tensão
dialética entre a necessidade estatal de tornar concretas e reais as ações e prestações de saúde
em favor das pessoas, de um lado; e as dificuldades governamentais de viabilizar a alocação de
recursos financeiros, sempre tão dramaticamente escassos, de outro” (Min. Celso de Mello, ARE
745.745 AgR/MG). Em outras palavras, a tese mencionada revela ao intérprete o problema da
escassez de recursos, em face das múltiplas demandas sociais. Nesse sentido, cotidianamente o
Judiciário é chamado a decidir se, por exemplo, concede tratamento médico de R$ 100.000,00
(cem mil reais) a um único paciente, ou preserva os referidos recursos para resguardar o trata-
mento de outras cem pessoas. Eis o contexto das “escolhas trágicas”: alguém deverá sucumbir,
bastando ao poder público escolher quem.
23
Nesse ponto, retoma-se a ideia de ilegitimidade das decisões judiciais que não levam em
conta as suas consequências no mundo real. Demais disso, a Fazenda Pública deve defender que,
em um contexto de “escolhas trágicas”, a atuação judicial não pode, a pretexto de realizar a justiça
do caso concreto (microjustiça), influir negativamente na distribuição de justiça social por meio de
políticas públicas coletivas (macrojustiça), definida, ordinariamente, pelos Poderes majoritários.
O STF possui vários julgados sobre o dilema examinado, mencionando-se, por oportuno, tre-
cho do julgado prolatado na STA 748 MC/AL:
O caso sob comento, o relatório médico de fls. 10 é bastante claro ao aduzir que o demandado procurou
o médico subscritor do referido relatório para “submeter-se a tratamento com estimulação magnética
transcraniana, técnica inovadora e revolucionária”. Em momento algum afirma a necessidade insofis-
mável da utilização deste tratamento específico e a inexistência de outro tratamento apto a preservar
a saúde do demandante. Nesta senda, seria por demais injusto com os demais cidadãos necessi-
tados relativizar o princípio da reserva do possível para conceder um tratamento alternativo de
R$ 68.000,00 (sessenta e oito) mil reais, notadamente porque este valor causaria abalos injusti-
ficáveis às finanças municipais, o que certamente refletiria no fornecimento de tratamentos es-
pecíficos a outros administrados mais necessitados.
Dica: Recomenda-se ao candidato mencionar, se possível, as obras e autores que sustentam as teses ora
estudadas. Isso demonstrará conhecimento ao examinador, que tenderá a pontuar o espelho com generosi-
dade.
MUITO IMPORTANTE
Direito Constitucional - Teoria Geral dos Direitos Fundamentais
Essa proteção dos direitos subjetivamente adquiridos constitui um poderoso limite jurídico da liberdade
de conformação do legislador e, simultaneamente, uma obrigação de realização de uma política con-
sentânea com os direitos concretos e as expectativas subjetivamente alicerçadas, de sorte que o nú-
cleo essencial dos direitos fundamentais, já realizado e efetivado através de medidas legislativas ou
políticas públicas, “deve considerar-se constitucionalmente garantido, sendo inconstitucionais quais-
quer medidas que, sem a criação de outros esquemas alternativos ou compensatórios, se traduzam na
25
prática numa 'anulação', 'revogação', ou 'aniquilação' pura e simples desse núcleo essencial.36
Obs.: No julgamento da ADI 4543/DF, o princípio da vedação ao retrocesso foi tratado, pelo
STF, aplicado ao âmbito político:
Com maior frequência adotado no âmbito dos direitos sociais pode-se ter como também
aplicável aos direitos políticos, como é o direito de ter o cidadão invulnerado o segredo do
seu voto, que ficaria comprometido pela norma questionada.
Esse princípio da proibição de retrocesso político há de ser aplicado tal como se dá quanto
aos direitos sociais, vale dizer, nas palavras de Canotilho “uma vez obtido um determinado
grau de realização, passam a constituir, simultaneamente, uma garantia institucional e um
direito subjetivo. ...o princípio em análise limite a reversibilidade dos direitos adquiridos em
clara violação do princípio da proteção da confiança e da segurança dos cidadãos no âmbito
econômico, social e cultural, e do núcleo essencial da existência mínima inerente ao respeito
pela dignidade da pessoa humana” (CANOTILHO, J.J. Gomes – Direito Constitucional e
Teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 3ª. Ed., p. 326).
Tenho por aplicável esse princípio também aos direitos políticos e ao caso presente, porque
o cidadão tem o direito a não aceitar o retrocesso constitucional de conquistas históricas
que lhe acrescentam o cabedal de direitos da cidadania.
Dessa feita, a correta leitura do princípio da proibição do retrocesso abrange e impõe-se sobre as
diversas esferas dos direitos fundamentais.
Dimensões
IMPORTANTE
A dimensão subjetiva dos direitos fundamentais revela a prerrogativa de impor direitos pessoais –
positivos ou negativos – ao Poder Público.
Para a doutrina de Paulo Gonet Branco e Gilmar Mendes, a dimensão subjetiva dos direitos
fundamentais “corresponde à característica desses direitos de, em maior ou menor escala, enseja-
rem uma pretensão a que se adote um dado comportamento”37.
Nessa perspectiva, “os direitos fundamentais correspondem à exigência de uma ação nega-
tiva (em especial, de respeito ao espaço de liberdade do indivíduo) ou positiva de outrem”. Em
outras palavras, a dimensão subjetiva dos direitos fundamentais os revela como posições jurídicas
em face do Estado (eficácia vertical) ou de outros particulares (eficácia horizontal), fazendo exsurgir
37 Curso De Direito Constitucional. Gilmar Ferreira Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco. 2015.
Direito Constitucional - Teoria Geral dos Direitos Fundamentais
uma relação de traço intersubjetivo, que ordena uma ação ou contenção desses sujeitos.
IMPORTANTE
A dimensão objetiva resulta do significado dos direitos fundamentais como princípios básicos da
ordem constitucional.39
Trata-se do que Ingo Sarlet denominou “eficácia irradiante” dos direitos fundamentais.
Nesses termos, os direitos fundamentais seriam vistos não só como direitos de defesa (garantias ne-
gativas), ligados a um dever de omissão, (um não fazer ou não interferir do Estado no universo privado
dos cidadãos), e direitos de prestações (garantias positivas) para o exercício das liberdades (e aqui,
entendidos como obrigações de fazer ou de realizar) por parte do Estado, mas, além disso, nos termos
objetivos, eles, como a base do ordenamento, seriam um "vetor" a ser seguido (pelos Poderes Públicos 27
e particulares) para interpretação e aplicação de todas as normas constitucionais e infraconstitucionais.
Daí que, a dimensão objetiva (indo além das funções de cunho subjetivo tradicionalmente consagradas
aos direitos fundamentais e não sendo apenas um "reverso da medalha" da dimensão subjetiva) se
apresentaria como um verdadeiro "reforço de juridicidade" das normas de direitos fundamentais, bem
como da "sistemática" de concretização e densificação dessas normas.40
38 A expressão foi pela primeira utilizada no caso LÜTH julgado pela Corte Constitucional Alemã.
39 Curso De Direito Constitucional. Gilmar Ferreira Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco. 2015.
40 A eficácia dos direitos fundamentais. Ingo Sarlet. 2010.
41 Curso De Direito Constitucional. Gilmar Ferreira Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco. 2015.
Direito Constitucional - Teoria Geral dos Direitos Fundamentais
MUITO IMPORTANTE
Direitos Fundamentais
Posição jurídica do indivíduo em face do Estado ou DF como princípios ordenadores do Estado e do sis-
de outros particulares. Impõe a estes agentes o de- tema jurídico. Diz com a eficácia irradiante dos DF,
ver de agir ou se conter para respeitá-los. Revela o que influi na edição de novas leis e no comporta-
cunho obrigacional ou intersubjetivo dos DF. mento, em geral, dos atores estatais.
Com o foco na influência, aplicação e eficácia dos direitos fundamentais sobre a vida do indi-
28
víduo, o jurista alemão George Jellinek, desenvolveu a teoria que indica quatro posições ou situações
jurídicas de um sujeito de direitos e deveres perante o Estado – o direito fundamental completo é um
feixe de posições de diferentes conteúdos e diferentes estruturas42.
A FCC (Câmara Legislativa do Distrito Federal – Procurador Legislativo) trouxe interessante assertiva
(correta) acerca do direito de participação dos cidadãos na formação da vontade política estatal:
O direito de participação dos cidadãos nas decisões estatais contemporaneamente não se resume
aos processos eleitorais, de sorte que a democracia participativa, tal como a brasileira, contempla a
ação popular, o direito à informação e a iniciativa popular das leis, entre outros.
44 "Ao membro do Estado é concedido um status, no âmbito do qual ele é o senhor, uma esfera livre do Estado,
que nega o seu imperium. Essa é a esfera individual de liberdade, do status negativo, do status libertatis, na
qual os fins estritamente individuais encontram a sua satisfação por meio da livre ação do indivíduo". Georg
Jellinek, System der subjektiven Offentlichen Rechie, p. 87.
45 Curso de Direito Constitucional. Bernardo Gonçalves. 2017.
46 O fato de o indivíduo ter esse tipo de pretensão em face do Estado significa, em primeiro lugar, que ele
tem direitos a algo em face do Estado e, em segundo lugar, que tem uma competência em relação ao seu
cumprimento.
47 Teoria dos Direitos Fundamentais. Robert Alexy. 2006.
Direito Constitucional - Teoria Geral dos Direitos Fundamentais
Na formulação clássica dos direitos fundamentais, de matriz eminentemente liberal, os direitos funda-
mentais representavam limites ao exercício do poder do Estado, de modo a barrar a ação usurpadora
deste nas suas relações com os particulares. Com o aumento de complexidade percebido pelo direito
e o desenvolvimento de novos paradigmas jurídicos, uma nova possibilidade de incidência dos direitos
fundamentais foi teorizada para além da dicotomia Estado-Particular. Sem dúvida, essa nova possibi-
lidade de aplicação dos direitos fundamentais irá ter íntima relação com a ruptura paradigmática com 30
o Estado Liberal (constitucionalismo clássico de cunho negativo abstencionista), adstrito a uma pers-
pectiva subjetiva dos direitos fundamentais, e o advento do Estado Social (constitucionalismo social de
cunho positivo intervencionista), que, para além da dimensão subjetiva, desenvolveu uma dimensão
objetiva dos direitos e garantias fundamentais.
Ademais, ainda no campo das relações privadas, quando a relação dos particulares for ca-
racterizada por acentuada desigualdade entre as partes, verificar-se-á a eficácia diagonal dos di-
reitos fundamentais. A hipossuficiência de determinados sujeitos de direito reclama uma maior pro-
teção em seus ajustes ainda que privados. É o que se observa, precipuamente, nas relações traba-
lhistas e consumeristas. Os princípios de proteção do trabalhador e do consumidor, nesses casos,
nada mais são do que evidências da eficácia diagonal dos direitos fundamentais.
IMPORTANTE
Diagonal Relação entre particulares com patrimônio jurídico desigual, em que uma das
partes é vulnerável em relação à outra.
IMPORTANTE
A decisão jurisdicional substitui a omissa atuação correta das partes e do legislador e, embora de-
corra de relação verticalizada do Estado-juiz x jurisdicionado, seus efeitos espalham-se sobre os
particulares.
31
Teorias sobre a eficácia dos direitos fundamentais
Desde a década de 1950, não mais se discute a aplicação dos direitos fundamentais às relações
privadas. Entrementes, teoriza-se, a partir de então, sobre a forma com que essa incidência se dará. Em
suma, são as seguintes as teorias sobre a observância dos direitos fundamentais às relações privadas:
Essa teoria não é atualmente adotada em quase nenhum país do mundo. Entretanto rema-
nesce relevante, pois é observada nos EUA. Entende-se que todos os direitos fundamentais se vin-
culam e se voltam tão somente ao Estado. A única exceção consta da 13ª Emenda que prevê a
proibição da escravidão.
O fundamento da chamada Doutrina da “State Action” (doutrina da ação estatal) está no Li-
beralismo, na autonomia da vontade e na preservação da autonomia dos Estados-membros para
legislar sobre direitos privados, vedando tal matéria ao espaço de competências da União. Sendo
assim, proíbe-se que as cortes federais, mesmo que a pretexto de estarem aplicando a Constituição,
48O direito à tutela jurisdicional efetiva na perspectiva da teoria dos direitos fundamentais. Luiz Guilherme
Marinoni, 2014.
Direito Constitucional - Teoria Geral dos Direitos Fundamentais
Mais recentemente alguns temperamentos vêm sendo feitos, mormente pela adoção da “pu-
blic function theory”, segundo a qual haverá aplicabilidade dos direitos fundamentais quando o
particular exercer atividades de natureza tipicamente estatal (atos equiparados ao do poder público).
Confira os exemplos50.
Foi desenvolvida pelo autor alemão Günter Dürig, e prevalece atualmente sendo aplicada na
Alemanha. No Brasil, já foi aplicada, algumas vezes, por Gilmar Mendes.
A teoria da eficácia horizontal indireta tem como ponto de partida a existência de um direito
geral de liberdade e visa proteger o núcleo de autonomia privada dos indivíduos. De acordo com ela,
os direitos fundamentais não ingressam no cenário privado imediatamente como direitos subjetivos
por haver uma necessária intermediação do legislador – a proteção aos direitos fundamentais em
relações privadas somente pode se dar a partir da consagração de leis infraconstitucionais voltadas
32
para tais relações.
Os defensores desta teoria entendem pela necessidade dessa intermediação por três razões
(verdadeiras críticas à eficácia horizontal direta):
1ª) A aplicação direta dos direitos fundamentais às relações privadas causaria uma desfigu-
ração do direito privado, que deixariam de ser regidas livremente pela autonomia da vontade, e uma
perda de sua clareza conceitual;
3ª) Violação dos princípios da segurança jurídica, da separação dos poderes e o princípio
democrático. Os direitos fundamentais são deveras amplos e indeterminados, de modo que, a pos-
sibilidade de sua aplicação direta, concederia ao juiz uma margem demasiada de decisão, inclusive
com possibilidade de atuação em áreas reservadas ao legislador, o que geraria, por fim, insegu-
rança jurídica.
Essa teoria, apesar de não mais ser praticada na Alemanha, surgiu nesse país, na década de
50, desenvolvida por Nipperdey. Ao tempo, após a 2ª guerra mundial, várias transformações ocorre- 33
ram no constitucionalismo, sendo uma delas a aplicação direta dos direitos fundamentais nas rela-
ções privadas. Atualmente, adotam esse entendimento a Itália, Espanha, Portugal e Brasil.
Consoante esse raciocínio, os direitos fundamentais podem ser aplicados diretamente às re-
lações entre particulares, independentemente de arranjos interpretativos. Seus defensores afirmam
que os direitos fundamentais, tal como previstos no texto constitucional, já trazem condições de plena
aplicabilidade nas relações entre particulares, dispensando a mediação infraconstitucional, não ne-
cessitando, portanto, da atuação (sindicabilidade) do legislador e nem mesmo da interpretação da
legislação infraconstitucional à luz da Constituição. Nesse sentido, com base na perspectiva da má-
xima efetividade a Constituição (com seu rol de direitos fundamentais) deveria ser aplicada direta-
mente nas relações entre particulares51.
Por essa teoria, defendida por Robert Alexy e Ernst Wolfgang Böckenförde, a aplicação dos
direitos fundamentais às relações entre particulares deve ocorrer por meio de lei (eficácia indireta).
No entanto, se esta não existir, é possível que ocorra a aplicação direta (eficácia direta). Daí a ca-
racterística que identifica esta teoria – “integradora”, pois trabalha a complementaridade das teses
da eficácia horizontal direta e indireta.
O Supremo Tribunal Federal, em mais de uma oportunidade, manifestou-se pela eficácia ho-
rizontal direta, firmando seu entendimento nesse sentido.
Eficácia dos direitos fundamentais nas relações privadas. As violações a direitos fundamentais
não ocorrem somente no âmbito das relações entre o cidadão e o Estado, mas igualmente nas relações
travadas entre pessoas físicas e jurídicas de direito privado. Assim, os direitos fundamentais assegu- 34
rados pela Constituição vinculam diretamente não apenas os poderes públicos, estando direcionados
também à proteção dos particulares em face dos poderes privados.
(...)
A autonomia privada, que encontra claras limitações de ordem jurídica, não pode ser exercida em
detrimento ou com desrespeito aos direitos e garantias de terceiros, especialmente aqueles positivados
em sede constitucional, pois a autonomia da vontade não confere aos particulares, no domínio de sua
incidência e atuação, o poder de transgredir ou de ignorar as restrições postas e definidas pela própria
Constituição, cuja eficácia e força normativa também se impõem, aos particulares, no âmbito de suas
relações privadas, em terna ele liberdades fundamentais.52
A partir da segunda metade do século XX, consolidou-se a percepção de que também os denominados
– poderes privados – podem vulnerar os direitos fundamentais das pessoas com as quais mantêm
relações jurídicas, principalmente naquelas de natureza assimétrica, em que um dos polos está em
estado de sujeição ou é hipossuficiente do ponto de vista jurídico, econômico ou social. Daí a consa-
gração da denominada eficácia horizontal dos direitos fundamentais ou a sua eficácia na esfera do
Direito Privado ou entre particulares, instrumento mediante o qual o Poder judiciário atua para limitar o
exercício arbitrário ou abusivo do poder por particulares que atinja os direitos fundamentais daqueles
com os quais estes se relacionam. Também não cabe, hoje, nenhuma dúvida quanto à aplicabilidade
direta e imediata dos direitos fundamentais em geral no âmbito das relações trabalhistas. Afinal, a
doutrina contemporânea reconhece e proclama que os direitos fundamentais não são como os chapéus
que se deixam na entrada do local de trabalho, eis que tais direitos, assim como as cabeças, não
podem ser separados da pessoa humana em nenhum lugar, sob nenhuma circunstância.53
Ilustrando:
35
53 RR n° 122600-60.2009.5.04.0005. Redator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, Data de Julgamento:
11/06/2014, 2ª T, Data de Publicação: DEJT 08/08/2014.
54 Constitucional – Defesa – Devido Processo Legal – Inciso Lv Do Rol Das Garantias Constitucionais – Exame
– Legislação Comum. A intangibilidade do preceito constitucional assegurador do devido processo legal dire-
ciona ao exame da legislação comum. (...). Entendimento diverso implica relegar à inocuidade dois princípios
básicos em um Estado Democrático de Direito – o da legalidade e do devido processo legal, com a garantia da
ampla defesa, sempre a pressuporem a consideração de normas estritamente legais. (...) Na hipótese de ex-
clusão de associado decorrente de conduta contrária aos estatutos, impõe-se a observância ao devido pro-
cesso legal, viabilizado o exercício amplo da defesa. Simples desafio do associado à assembleia geral, no que
toca à exclusão, não é de molde a atrair adoção de processo sumário. Observância obrigatória do próprio
estatuto da cooperativa. RE n° 158.215/RS. Rel. Min. Marco Aurélio de Mello. 2ª T DJ 07.06.1996.
55 Sociedade civil sem fins lucrativos. Entidade que integra espaço público, ainda que não-estatal atividade de
caráter público. Exclusão de sócio sem garantia do devido processo legal. Aplicação direta dos direitos funda-
mentais à ampla defesa e ao contraditório. A ordem jurídico-constitucional brasileira não conferiu a qualquer as-
sociação civil a possibilidade de agir à revelia dos princípios inscritos nas leis e, em especial, dos postulados que
têm por fundamento direto o próprio texto da Constituição da República, notadamente em tema de proteção às
liberdades e garantias fundamentais. O espaço de autonomia privada garantido pela Constituição às associações
não está imune à incidência dos princípios constitucionais que asseguram o respeito aos direitos fundamentais
de seus associados. (...) As associações privadas que exercem função predominante em determinado âmbito
econômico e/ou social, mantendo seus associados em relações de dependência econômica e/ou social, integram
o que se pode denominar de espaço público, ainda que não-estatal. A União Brasileira de Compositores – UBC,
sociedade civil sem fins lucrativos, integra a estrutura do ECAD e, portanto, assume posição privilegiada para
determinar a extensão do gozo e fruição dos direitos autorais de seus associados. A exclusão de sócio do quadro
social da UBC sem qualquer garantia de ampla defesa, do contraditório, ou do devido processo constitucional,
onera consideravelmente o recorrido, o qual fica impossibilitado de perceber os direitos autorais relativos à exe-
cução de suas obras. A vedação das garantias constitucionais do devido processo legal acaba por restringir a
própria liberdade de exercício profissional do sócio. O caráter público da atividade exercida pela sociedade e a
dependência do vínculo associativo para o exercício profissional de seus sócios legitimam, no caso concreto, a
aplicação direta dos direitos fundamentais concernentes ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla
defesa (art. 5º, LIV e LV, CR/88). (...) RE n° 201.819/RJ. Rel. do Acórdão Min. Gilmar Ferreira Mendes. 2ª T DJ
26.10.2006.
Direito Constitucional - Teoria Geral dos Direitos Fundamentais
Abuso do poder diretivo da reclamada. Inobservância do princípio da dignidade da pessoa humana e do direito à
liberdade. Violação dos artigos 5°, inciso x, da constituição federal e 927 do código civil caracterizada. (...) Discute-
se, no caso, a configuração do dano moral decorrente de demissão fundamentada em norma interna da recla-
mada que proíbe o relacionamento amoroso entre empregados dentro e fora da empresa. (...) A dispensa dos
dois empregados, na mesma data, decorreu do simples fato de estarem morando juntos, tendo um relaciona-
mento, e da companheira do reclamante exercer suas atividades exatamente no setor de Divisão de Loss Pre-
vention ou de prevenção de perdas, presumindo-se que ela poderia não agir corretamente no exercício de suas
funções na área de segurança do supermercado. Na hipótese dos autos, não houve nenhuma alegação ou re-
gistro de que eles agiram mal, de que entraram em choque ou de que houve algum incidente, envolvendo esse
casal, no âmbito da empresa. Esses fatos configuram, sim, invasão injustificável ao patrimônio moral de cada
empregado e da liberdade de cada pessoa que, por ser empregada, não deixa de ser pessoa e não pode ser
proibida de se relacionar amorosamente com seus colegas de trabalho. Ao contrário: isso é inerente à natureza
humana. Diante desse contexto fático, não cabe a menor dúvida de que preceitos constitucionais fundamentais
estão sendo atingidos, como a dignidade da pessoa humana e a liberdade, tendo em vista que a vida pessoal
desse empregado, sem nenhuma justificativa razoável e sem real necessidade, está sendo desproporcionalmente
limitada pelo empregador fora do ambiente de trabalho. Com efeito, em razão da condição hierárquica da relação
existente entre empregado – subordinado – e empregador, tem-se que esse último detém o poder diretivo, o qual,
no entanto, deve observar os limites estabelecidos na Constituição Federal e nas leis, devendo os atos empresa-
riais, sejam eles tácitos, sejam escritos (regulamentos internos e demais normas internas), ser razoáveis, sendo
vedado seu uso abusivo e contrário à função social que deve presidir e, ao mesmo tempo, servir de limite daque-
les próprios atos empresariais. Destaque-se, aqui, a necessidade de respeito ao princípio da dignidade da pessoa
humana, preconizado no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal, o qual se concretiza pelo reconhecimento e
pela positivação dos direitos e das garantias fundamentais, sendo o valor unificador de todos os direitos funda-
mentais, e à liberdade, que constitui um dos pilares principais de efetivação da dignidade humana. Vale ressaltar,
por oportuno, que uma das principais características dos direitos fundamentais é sua inalienabilidade ou indispo-
nibilidade, que resulta da fundamentação do direito no valor da dignidade humana: da mesma forma que o homem
não pode deixar de ser homem, ele não pode ser livre para ter ou não dignidade, o Direito não pode permitir que
o homem se prive de sua dignidade. Nesse contexto, serão indisponíveis exatamente os direitos fundamentais
Direito Constitucional - Teoria Geral dos Direitos Fundamentais
É sabido que os direitos fundamentais constituem cláusula pétrea (art. 60, § 4º, IV), de modo
que não podem ser objeto de emenda constitucional tendente a aboli-los. Questiona-se, todavia, se
essa proteção também alcança os direitos fundamentais nascidos por meio de reforma constitucional.
Se o poder constituinte de reforma não pode criar cláusulas pétreas, o novo direito fundamental que
venha a estabelecer – diverso daqueles que o constituinte originário quis eternizar – não poderá ser
tido como um direito perpétuo, livre de abolição por uma emenda subsequente.
É dizer: direito fundamental criado posteriormente pelo poder constituinte reformar não
é cláusula pétrea, sendo por isso passível de exclusão posterior do ordenamento constitucional.
Essa posição já foi cobrada, por diversas vezes, pelo CESPE, por isso, cuidado!
37
que visam resguardar diretamente a potencialidade do homem de viver com dignidade e de se autodeterminar,
como o direito à proteção da personalidade e da vida privada do trabalhador, que se destina a salvaguardar a
liberdade do trabalhador de tomar decisões sem coerções externas, mormente quando envolver questões ine-
rentes à própria natureza humana, como é, sem dúvida, o direito de estabelecer relacionamentos amorosos com
pessoas com quem um determinado empregado ou empregada houver convivido no ambiente de trabalho, situ-
ação ora em análise. Ademais, a norma regulamentar que proíbe aos empregados da reclamada que, de forma
absoluta e até mesmo fora de seu local de trabalho, mantenham qualquer forma de relacionamento afetivo ou
amoroso com alguns de seus colegas de trabalho também fere direta e frontalmente o artigo 5º, II, da Constituição
Federal, ao tentar tornar ilícito, no âmbito da empresa, um comportamento que a Constituição e as leis absoluta-
mente não proíbem e até estimulam por meio do artigo 226 da mesma Norma Fundamental, que assegura a
especial proteção do Estado à família e à união estável entre o homem e a mulher, como entidade familiar. Por
fim, tal conduta empresarial também ignora por completo o disposto no artigo 21 do Código Civil brasileiro, que
estabelece incisivamente que a vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interes-
sado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a essa norma (destacou-
se). Diante disso, é forçoso concluir que está configurado, no caso, o abuso do poder diretivo da empresa, a qual,
fundamentando-se exclusivamente em norma interna que proíbe o relacionamento amoroso entre empregados,
dispensou sem causa justificada o reclamante, violando direta e indiscutivelmente seu patrimônio moral, lesão
que deve ser reparada, nos termos dos artigos 5°, inciso X, da Constituição Federal e 927, caput, do Código Civil.
Recurso de revista conhecido e provido. (...) RR n° 122600-60.2009.5.04.0005. Redator Ministro: José Roberto
Freire Pimenta, Data de Julgamento: 11/06/2014, 2ª T, Data de Publicação: DEJT 08/08/2014.
58 Curso De Direito Constitucional. Gilmar Ferreira Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco. 2015.
Direito Constitucional - Teoria Geral dos Direitos Fundamentais
Em outra concepção, é possível que emenda à Constituição acrescente dispositivo ao rol de di-
reitos fundamentais sem que, em verdade, esteja criando direitos novos. É o que ocorre quando a
emenda objetiva explicitar ou especificar direitos já concebidos. Ilustrando, tal situação se verifica, em se
tratando do direito à duração razoável do processo. Esse direito já existia antes da Emenda Constitucional
nº 45/2004, decorrendo do direito de acesso à justiça e do princípio do devido processo legal.
Há, nesse contexto, uma redefinição do conceito de democracia, que não pode ser vista apenas sob
o prisma da vontade da maioria. De se ver que a democracia atualmente desejada, portanto, é uma
democracia constitucional, pluralista e tolerante em que, por meio dos direitos fundamentais decla-
rados para todos os indivíduos e organizações que compõem a sociedade, assegura-se uma “demo-
cracia de direitos”.
59 ALEXY, Robert. Los derechos fundamentales em El estado constitucional. In: CARBONELL, Miguel. Neo-
A colisão do monopólio do poder de conformar o direito através da função legislativa com os direitos
fundamentais normatizados pela Constituição mostra-se, então, apenas aparentemente antidemo-
crática, eis que a função antimajoritária dos direitos fundamentais é justamente preservar o pacto
democrático plural e tolerante estipulado constitucionalmente.
IMPORTANTE
Direitos Fundamentais
Paulo Gonet Branco60, registrando estudo de Jorge Miranda, pontua que para os jusnatura-
listas, os direitos fundamentais são imperativos do direito natural, anteriores e superiores à vontade
do Estado.
Já para os positivistas, tais direitos são faculdades outorgadas pela lei e reguladas por ela.
São por isso mesmo posteriores e dependentes da vontade do Estado. O caráter cultural e histórico
dos direitos fundamentais encontra amparo nesta última concepção.
Jusnaturalistas DFs são anteriores à vontade do Estado, sendo, a bem da verdade, conformado-
res desta. São imanentes à condição humana. Evidencia o caráter absoluto dos
DFs.
Juspositivistas DFs são posteriores e dependentes da vontade do Estado. Apenas são DFs os
que forem positivados pelo Estado como tal. Evidencia culturalismo, relativismo
e historicismo dos DFs.
Robert Alexy, na obra Teoria dos Direitos Fundamentais, traçou os parâmetros jurídicos
basilares para o entendimento do tema. A partir da concepção do autor, é possível se entender
a possibilidade de colisão de direitos fundamentais e da superação de tal enfrentamento.
Com efeito, um dos pontos mais importantes da teoria de Alexy é a distinção entre prin-
40
cípios e regras, utilizada para analisar a estrutura das normas de direitos fundamentais. Essa
distinção é a base da teoria da fundamentação no âmbito desses direitos e a chave para a solu-
ção de problemas centrais da dogmática dos direitos fundamentais. Sem ela, não pode haver
nem uma teoria adequada sobre as restrições e as colisões entre esses direitos, nem uma teoria
suficiente sobre o papel dos direitos fundamentais no sistema jurídico. Por isso, Alexy afirma que
essa diferenciação é uma das “colunas-mestras” do edifício da teoria dos direitos fundamentais.
O autor faz, portanto, uma discriminação precisa entre regras e princípios e uma utilização
sistemática das diferenças em sua teoria. O método adotado não se relaciona com o grau de
generalidade ou abstração das normas, como usualmente descrito pela doutrina tradicional.
Trata-se de uma distinção qualitativa.
Por outro lado, regras são mandamentos definitivos, ou seja, normas que só podem ser
cumpridas ou não, sendo realizadas por meio da lógica “tudo ou nada”. Isso implica formas di-
versas de solucionar conflitos entre regras e colisões entre princípios – enquanto o primeiro deve
Direito Constitucional - Teoria Geral dos Direitos Fundamentais
ser solucionado por meio de subsunção, a colisão deve ser resolvida por meio do sopesamento
ou ponderação.
IMPORTANTE
Norma-princípio Norma-regra
A partir dessa distinção estabelece-se uma das teses centrais do autor: os direitos funda- 41
mentais possuem natureza de PRINCÍPIOS, sendo, por isso, mandamentos de otimização, a
serem realizados na maior medida possível, sob a máxima da proporcionalidade, com suas três ver-
tentes – adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito.
No que tange à ponderação, cumpre enfatizar ser ela uma técnica hermenêutica, destinada
a solucionar conflitos de direitos fundamentais, que, como ressaltado anteriormente, são normas-
princípio. Tais colisões compõem o que os autores chamam de hard cases ou “casos difíceis”, exa-
tamente porque a solução não é encontrada aprioristicamente na norma legal, mas sim nas peculia-
ridades do caso concreto.
Plano 2 Aquilatar a importância dos fundamentos para a intervenção nos DFs em con-
flito
a) Adequação – a medida ou meio adotado devem ser aptos para alcançar o resultado pre-
tendido, isto é, o fim visado.
b) Necessidade – imposição para que adote sempre a medida menos gravosa possível (de
menor ingerência) para atingimento de determinado objetivo.
que “o ônus imposto pela norma deve ser inferior ao benefício (bônus) que pretende
gerar. A constatação negativa deve ser tomada, portanto, como um juízo pela despro-
porcionalidade do ato”.
Conquanto sejam tratadas como equivalentes por parte da doutrina e jurisprudência pátrias, propor-
cionalidade e razoabilidade diferenciam-se por sua origem, estrutura e forma de aplicação.
A razoabilidade, por sua vez, é apontada como exigível em virtude do caráter substantivo atribuído
à cláusula do devido processo legal. Aplica-se, geralmente, a situações nas quais se manifeste um
conflito entre o geral e o individual, determinando que as circunstâncias de fato sejam consideradas
na aplicabilidade da regra geral – impõe a harmonização das normas com suas condições externas
de aplicação. Foi sob esse raciocínio que o STF declarou inconstitucional a instituição por lei de
adicional de férias para servidores inativos:
Decorre igualmente da razoabilidade uma correspondência entre critério adotado e medida tomada
– a medida adotada deve ser equivalente ao critério que a dimensiona. Ilustrando, na fixação de uma
pena, por exemplo, a punição deve ser equivalente ao ato delituoso.
A possibilidade de colisão de direitos fundamentais objeto em estudo não se confunde com a concor-
rência entre direitos desta espécie. A concorrência de direitos fundamentais ocorre quando um com-
portamento do mesmo titular se enquadra no âmbito de proteção de mais de um direito, liberdade ou
garantia – aglomeração de dois ou mais direitos na mesma pessoa. Nesses casos, eventuais diver-
gências acerca dos limites de cada direito deverão ser dissipadas pelo critério da especialidade.
CESPE DPE/RN: Como tentativa de evitar a ocorrência de conflito, a legislação brasileira tem im-
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posto regras que impedem o exercício cumulado de diferentes direitos fundamentais.
ERRADO. A colisão, recorde-se, ocorre quando dois ou mais direitos abstratamente válidos entram
em conflito diante de um caso concreto.
Ela pode ser de duas espécies: colisão em sentido impróprio: o exercício de um determinado
direito fundamental entra em colisão com outros bens constitucionalmente protegidos; colisão au-
têntica: o exercício por parte de um titular colide com o de outro titular.
MPE/PR: Quando houver conflito entre dois ou mais direitos e garantias fundamentais, o operador
do direito deve interpretá-los de forma a coordenar e combinar os bens jurídicos em dissenso,
evitando o sacrifício total de uns em relação aos outros, realizando uma redução proporcional do
âmbito de alcance de cada qual, de forma a conseguir uma aplicação harmônica do texto constitu-
cional.
CERTO
O constitucionalismo moderno entende que a lei infraconstitucional também pode ser utilizada
para promover limitações aos direitos fundamentais, quando retirarem seu fundamento de validade
diretamente da Carta Magna ou para preservar um outro direito constitucionalmente assegurado.
Cuida-se das restrições indiretamente constitucionais. Podemos citar como exemplo a Lei de
Interceptação Telefônica (Lei 9296/1996) no qual regulamenta o inciso XII, parte final, do art. 5º da
64 STF. MS 23.452, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 16-9-1999, Plenário, DJ de 12-5-2000.) Vide: HC
103.236, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 14-6-2010, Segunda Turma, DJE de 3-9-2010.
Direito Constitucional - Teoria Geral dos Direitos Fundamentais
ERRADO. As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito Fede-
ral e dos Municípios podem requisitar diretamente das instituições financeiras informações sobre as
movimentações bancárias dos contribuintes. Esta possibilidade encontra-se prevista no art. 6º da
LC 105/2001, que foi considerada constitucional pelo STF. [STF. Plenário. ADI 2390/DF, ADI
2386/DF, ADI 2397/DF e ADI 2859/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgados em 24/2/2016 e RE 46
601314/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/2/2016 – INFO 815.
Nesse sentido, a limitação deve surgir para desenvolver o direito fundamental ou outros direi-
tos fundamentais previstos constitucionalmente em casos de colisão.
A restrição (limitação) não pode ser tal que, ao invés de desenvolver (dar mais efetividade), prejudique
o direito fundamental (ou os direitos fundamentais em questão), amesquinhando-o(s) de tal forma (de
tal monta) que torne o ato (do legislador ou do administrador) inconstitucional.65
Seguindo esse raciocínio, a teoria dos limites dos limites (ou teoria das restrições das
restrições), de origem alemã, estabelece limites (contornos e parâmetros) para o exercício de res-
trição aos direitos fundamentais. Dito de outra forma, os direitos fundamentais podem ser limitados,
tanto por determinação expressa da Constituição, quanto por lei ordinária com fundamento imediato
naquela, porém tais restrições são limitadas e condicionadas.
Como requisito formal, tem-se que os direitos fundamentais só podem ser restringidos por
normas elaboradas por órgãos dotados de atribuição legiferante conferida pela Constituição –
princípio da reserva legal. Por conseguinte, a eventual restrição estaria expressa ou implicitamente
Obs.:66 A reserva de lei impede a adoção de medidas restritivas aos direitos fundamentais pela
Administração Pública, sem que exista um fundamento constitucional ou legal. Isso não significa, porém,
que esta esteja impossibilitada de aplicá-los diretamente, tampouco de protegê-los e promovê-los.
a) Observância do núcleo essencial: Informa a teoria dos limites dos limites que a restrição
à intervenção do direito fundamental somente é válida se respeitar um núcleo mínimo,
inarredável, previsto expressa ou implicitamente na Carta Magna.
“(...) a proteção do núcleo essencial destina-se a evitar o esvaziamento do conteúdo do direito funda-
mental decorrente de restrições descabidas, desmesuradas ou desproporcionais.”
IMPORTANTE
Obs. 1: Acerca da proteção do núcleo essencial, a doutrina aponta duas correntes relativas a
seu objeto:
1) Teoria Absoluta: caracteriza esse núcleo mínimo como fixo, separando os direitos insusce-
tíveis de limitação daqueles que podem ser restringidos. Nessa acepção, o conteúdo do di-
reito não se altera com as peculiaridades da situação concreta;
2) Teoria Relativa: (prevalente no Brasil) entende que o núcleo deve ser aferido no caso con-
creto, inserido em um contexto específico.
Adotando-se uma ou outra teoria, pode-se afirmar que o núcleo essencial implica uma limitação que
o legislador não pode ultrapassar, cercando um espaço que a lei não pode adentrar, sob pena de
ser declarada inconstitucional. Nesse sentido, atente-se, o controle de constitucionalidade também
serve de instrumento de proteção aos direitos fundamentais.
b) Restrição genérica e abstrata: A teoria dos limites dos limites impõe, ainda, que a restri-
ção deve ser e genérica e abstrata. Nestes termos, a lei que venha a limitar o direito
fundamental não pode ser casuística, discriminatória, sob pena de ofensa aos princípios
da igualdade material e da segurança jurídica. Do mesmo modo, a interpretação das
normas que venham dispor de restrições a esse direito deve ser feita de forma a evitar
contradições com a Constituição.
“(...) as leis individuais e concretas não contêm uma normatização dos pressupostos da limitação, ex-
pressa de forma previsível e calculável e, por isso, não garantem aos cidadãos nem a proteção da
confiança nem alternativas de ação e racionalidade de atuação.”70
Obs.: O STF, ao decidir pela constitucionalidade do protesto da CDA71, entendeu que o pro-
cedimento constituiria mecanismo constitucional e legítimo por não restringir de forma desproporcio-
nal quaisquer direitos fundamentais garantidos aos contribuintes e, assim, não constituir sanção po-
lítica. A leitura do julgado é recomendada, pois versa sobre todos os critérios acima expendidos,
acerca dos requisitos da teoria do limite dos limites.
71 Ementa: Direito tributário. Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 9.492/1997, art. 1º, parágrafo único.
Inclusão das certidões de dívida ativa no rol de títulos sujeitos a protesto. Constitucionalidade(...) 3. Tampouco
há inconstitucionalidade material na inclusão das CDAs no rol dos títulos sujeitos a protesto. Somente pode
ser considerada “sanção política” vedada pelo STF (cf. Súmulas nº 70, 323 e 547) a medida coercitiva
do recolhimento do crédito tributário que restrinja direitos fundamentais dos contribuintes devedores
de forma desproporcional e irrazoável, o que não ocorre no caso do protesto de CDAs. 3.1. Em primeiro
lugar, não há efetiva restrição a direitos fundamentais dos contribuintes. De um lado, inexiste afronta ao devido
processo legal, uma vez que (i) o fato de a execução fiscal ser o instrumento típico para a cobrança judicial da
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Dívida Ativa não exclui mecanismos extrajudiciais, como o protesto de CDA, e (ii) o protesto não impede o
devedor de acessar o Poder Judiciário para discutir a validade do crédito. De outro lado, a publicidade que é
conferida ao débito tributário pelo protesto não representa embaraço à livre iniciativa e à liberdade profissional,
pois não compromete diretamente a organização e a condução das atividades societárias (diferentemente das
hipóteses de interdição de estabelecimento, apreensão de mercadorias, etc.). Eventual restrição à linha de
crédito comercial da empresa seria, quando muito, uma decorrência indireta do instrumento, que, porém, não
pode ser imputada ao Fisco, mas aos próprios atores do mercado creditício. 3.2. Em segundo lugar, o disposi-
tivo legal impugnado não viola o princípio da proporcionalidade. A medida é adequada, pois confere maior
publicidade ao descumprimento das obrigações tributárias e serve como importante mecanismo extrajudicial
de cobrança, que estimula a adimplência, incrementa a arrecadação e promove a justiça fiscal. A medida é
necessária, pois permite alcançar os fins pretendidos de modo menos gravoso para o contribuinte (já que não
envolve penhora, custas, honorários, etc.) e mais eficiente para a arrecadação tributária em relação ao execu-
tivo fiscal (que apresenta alto custo, reduzido índice de recuperação dos créditos públicos e contribui para o
congestionamento do Poder Judiciário). A medida é proporcional em sentido estrito, uma vez que os even-
tuais custos do protesto de CDA (limitações creditícias) são compensados largamente pelos seus benefícios,
a saber: (i) a maior eficiência e economicidade na recuperação dos créditos tributários, (ii) a garantia da livre
concorrência, evitando-se que agentes possam extrair vantagens competitivas indevidas da sonegação de tri-
butos, e (iii) o alívio da sobrecarga de processos do Judiciário, em prol da razoável duração do processo. 4.
Nada obstante considere o protesto das certidões de dívida constitucional em abstrato, a Administração Tribu-
tária deverá se cercar de algumas cautelas para evitar desvios e abusos no manejo do instrumento. Primeiro,
para garantir o respeito aos princípios da impessoalidade e da isonomia, é recomendável a edição de ato
infralegal que estabeleça parâmetros claros, objetivos e compatíveis com a Constituição para identificar
os créditos que serão protestados. Segundo, deverá promover a revisão de eventuais atos de protesto que, à
luz do caso concreto, gerem situações de inconstitucionalidade (e.g., protesto de créditos cuja invalidade tenha
sido assentada em julgados de Cortes Superiores por meio das sistemáticas da repercussão geral e de recur-
sos repetitivos) ou de ilegalidade (e.g., créditos prescritos, decaídos, em excesso, cobrados em duplicidade).
5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. Fixação da seguinte tese: “O protesto das Certi-
dões de Dívida Ativa constitui mecanismo constitucional e legítimo, por não restringir de forma desproporcional
quaisquer direitos fundamentais garantidos aos contribuintes e, assim, não constituir sanção política.” ADI
5135, Relator(a): Min. Roberto Barroso, Tribunal Pleno, julgado em 09/11/2016, Processo Eletrônico DJe-022
DIVULG 06-02-2018 PUBLIC 07-02-2018.
Direito Constitucional - Teoria Geral dos Direitos Fundamentais
IMPORTANTE
a. Observância do núcleo – Teoria absoluta: núcleo mínimo fixo; não leva em considera-
essencial: ção o caso concreto;
Recorde-se que a Constituição da República de 1988, em seu Capítulo I do Título II, faz men-
ção expressa aos “direitos e deveres individuais e coletivos”. Embora bem menos abordados, difun-
didos e estudados, os deveres fundamentais detêm fundamental relevância na efetiva tutela dos
interesses da comunidade, objetivada pelo Estado Democrático de Direito.
O reconhecimento de deveres fundamentais diz respeito à participação ativa dos cidadãos na vida
pública e implica em um empenho solidário (de responsabilidade social) de todos na transformação
das estruturas sociais.72
Não obstante, a despeito da clareza dos comandos constitucionais, ainda é laboriosa a exi-
gência de cumprimento efetivo de alguns deveres fundamentais. Segundo a melhor doutrina, a razão
seria sua baixa densidade normativa.
Para que os deveres fundamentais possuam exigibilidade coercitiva é necessário que estejam regula-
mentados por normas infraconstitucionais, ou seja, é imperativa a atuação do legislador (o primeiro
destinatário de tais deveres) para que se possam fazer valer em um caso concreto.76
73 Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
74 Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
Nesse sentido, prevalece que não se aplica aos deveres fundamentais a norma do §1º, do
art. 5º: “As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”. Por
conseguinte, os deveres fundamentais careceriam, em regra, de aplicação direta.
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