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Direito Constitucional - Hermenêutica Constitucional - Completo
Direito Constitucional - Hermenêutica Constitucional - Completo
Atualizado em 13.12.2019
DICA DE PROFESSOR!
IMPORTANTE PARA PROVA
Idealizado por Ernst Forsthoff, define que a interpretação da Constituição não se distingue da
dos demais atos normativos primários e, por isso, para se interpretar o sentido da lei constitucional,
devem-se utilizar as regras tradicionais da interpretação (interpretação sistemática, histórica, lógica
e gramatical). Em suma: lei e CF se equivalem do ponto de vista hermenêutico – “Tese da Iden-
tidade”.
b) método tópico-problemático
Elaborado por Theodor Viehweg2, tem como ponto de partida a compreensão prévia do pro-
blema. A Constituição não abrange todas as situações constantes na realidade social. Assim, esse
método busca conceder à Constituição um caráter aberto de interpretação, buscando adaptar o
texto constitucional ao problema concreto. O compromisso central do intérprete consiste em encon-
trar a melhor solução para o problema apresentado. O intérprete verifica os diversos topoi (pontos
de vista) a respeito daquele problema, analisando-os a fim de obter a solução normativa adequada
ao caso. Não existem respostas corretas ou verdadeiras, mas sim argumentos que se impõem pela
força do convencimento. Assim, o “método da tópica” toma a Constituição como um conjunto aberto
de regras e princípios, dos quais o aplicador deve escolher aquele que seja mais adequado para a
promoção de uma solução justa ao caso concreto que analisa. O foco, para o método, é o problema,
Daniel Sarmento3 ressalta que a solução do problema apresentado se torna o objetivo central do
intérprete, cujo compromisso com o sistema jurídico deixa de ser absoluto. “Dentre os topoi podem figurar
elementos heterogêneos como o texto normativo, princípios morais, tradições compartilhadas etc.”
A tópica “pura”4 considera o sistema jurídico como um topos entre os demais a serem ponde-
rados pelo intérprete da norma diante de um problema concreto. Segundo Luiz Roberto Barroso: “A
tópica representa a expressão máxima da tese segundo a qual o raciocínio jurídico deve orientar-se
pela solução do problema, e não pela busca de coerência interna para o sistema”.
Corre-se o risco de o método resultar em casuísmos e insegurança jurídica uma vez que a
coerência do sistema jurídico não é prioridade, sendo, no máximo, um topos a ser (des)considerado,
3
maculando inclusive a força normativa da Constituição. Além disso, alerta-se para a falta de compro-
misso do intérprete com a jurisprudência formada àquele respeito, o que compromete a coerência do
sistema judicial.5
3 Daniel Sarmento. Direito Constitucional: Teoria, história e métodos de trabalho. Ed Fórum, 2012.
4 Segundo Daniel Sarmento, “é como ‘tópica pura’ que Hesse denomina a metodologia jurídica de Viehweg.
Cf. HESSE, Konrad. Elementos de direito constitucional da República Federal da Alemanha, p. 65. Na obra de
Hesse, bem como na de Friedrich Müller, a tópica sofrerá certas correções de ordem normativa; será, portanto,
uma tópica mitigada”.
5 Marcelo Novelino. Curso de Direito Constitucional. 2017.
Direito Constitucional – Hermenêutica constitucional
O movimento de releitura do mesmo texto, que tem como “pano de fundo” a realidade social
(aspecto objetivo da interpretação) e promove uma relação entre texto e contexto, até que o intérprete
chegue a uma compreensão da norma adequada e possa aplicá-la ao fato concreto, é denominado
“Círculo hermenêutico”.
d) método normativo-estruturante
Criado por Friedrich Muller, parte-se da ideia de não haver identidade entre a norma jurídica 4
e o texto (“programa normativo”). O fenômeno normativo vai, portanto, além do texto normativo, que
é apenas a “ponta do iceberg” (o exemplo é do próprio autor). A interpretação se inicia no texto
(programa normativo), perpassa a realidade social (chamada pelo autor de “domínio normativo”) e
termina na norma aplicável (todo o “iceberg” existente).
A estrutura de uma norma resulta da conjunção entre o programa normativo, que é texto
positivado (a forma pela qual a norma se expressa), e o domínio normativo, que representa a por-
ção da realidade social sobre a qual a norma incide.
A norma constitucional é conformada não só pela atividade legislativa, mas também pela ju-
risdicional e pela administrativa. O intérprete deve identificar o conteúdo da norma constitucional
mediante a análise de sua concretização normativa em todos os níveis na realidade social.
Servimo-nos, nesse ponto, da lição de Luiz Roberto Barroso7 (grifo nosso): A norma jurídica
resulta da conjugação do programa normativo com o âmbito normativo. O programa normativo
consiste nas possibilidades de sentido do texto, estabelecidas de acordo com os recursos tradi-
cionais da interpretação jurídica. Já o âmbito normativo se identifica com a parcela da realidade social
dentro da qual se coloca o problema a resolver, de onde o intérprete extrairá os componentes fáticos
e axiológicos que irão influenciar sua decisão. Este é o espaço da argumentação tópica, da busca
da melhor solução para o caso concreto, tendo como limite as possibilidades contidas no
programa normativo. Esse modelo metodológico procura harmonizar o pensamento tópico-proble-
mático com o primado da norma.
Para o sintetizador desse método, Rudolf Smend, a análise do texto constitucional não se
fixa na literalidade da norma, mas parte da realidade social e dos valores subjacentes do texto da
Constituição, ou seja, integra o sentido das normas a partir da "captação espiritual" da realidade da
comunidade. Assim, é possível concluir que esse método tem natureza sociológica, haja vista que
analisa a norma a partir dos valores subjacentes da Constituição, a fim de alcançar a integração da
Constituição com a realidade espiritual da comunidade.
Busca realizar estudo comparado da Constituição atual com diversas outras Constituições,
analisando a evolução das normas e dos institutos jurídicos. Assim, estabelece-se uma comunicação
com constituições de outros momentos e países com o fito de descobrir critérios e significados de
enunciados linguísticos, para a busca da melhor interpretação e solução constitucional aos proble-
mas concretos.
Método jurídico, A interpretação da Constituição não se distingue da interpretação de uma lei e, por isso,
hermenêutico para se interpretar o sentido da lei constitucional, devem-se utilizar as regras tradicio-
Direito Constitucional – Hermenêutica constitucional
clássico, ou de nais da interpretação. De tal modo, lei e CF se equivalem do ponto de vista hermenêu-
Forsthoff tico. Em suma: deve se aplicar às normas constitucionais os métodos clássicos uti-
lizados para interpretação das leis.
1
Método tópico- Parte-se de um problema para norma, já que as normas da CF são abertas, o que
dificultaria tomá-las como ponto de partida.
-problemático
CASO NORMA
2
Método hermenêu- Parte da norma para o caso. Funda-se em um “círculo hermenêutico” condizente com
tico-concretizador o “movimento de ir e vir” das pré-compreensões do intérprete (pressuposto subjetivo)
e de sua consideração da realidade externa (pressuposto objetivo).
3
NORMA CASO
6
Método científico- Reputa a norma como fenômeno cultural. A análise da norma não pode ater-se à leitura
fria da lei, mas deverá avançar ao substrato sociopolítico a ela inerente. Relaciona-se
-espiritual
com a realidade social e com o movimento dinâmico de renovação constante dos sen-
tidos normativos, em compasso com as modificações da vida em sociedade.
4
Atenção: Foi considerada CORRETA a assertiva formulada pelo CESPE, segundo a qual
“de acordo com o método de interpretação constitucional denominado científico-es-
piritual, a Constituição é um instrumento de integração, não apenas sob o ponto de vista
jurídico-formal, mas também, e principalmente, em perspectiva política e sociológica,
como instrumento de solução de conflitos, de construção e de preservação da unidade
social”.
Portanto, é bom ter em mente que alguns elementos do PRINCÍPIO do efeito integrador
estão presentes também no MÉTODO científico-espiritual.
Direito Constitucional – Hermenêutica constitucional
-estruturante ou de
Müller
TEXTO CONTEXTO NORMA
5
Método da compara- Relaciona-se com o Direito Comparado. A interpretação dos institutos se implementa me-
ção constitucional diante a comparação nas várias Constituições.
DICA DE PROFESSOR! 7
PONTO IMPORTANTE PARA A PROVA
A Constituição deve ser considerada de um diploma coeso, um todo unitário, despido de con-
tradições. Postula-se, portanto, que não se considere uma norma da Constituição fora do sistema
em que se integra. À vista desse princípio, é possível afirmar que não existem antinomias estabele-
cidas entre os dispositivos constitucionais.
(...) É lugar comum que o ordenamento jurídico e a Constituição, sobretudo, não são aglomerados
caóticos de normas; presumem-se um conjunto harmônico de regras e de princípios. RE 344.882/BA
Direito Constitucional – Hermenêutica constitucional
Assim, segundo o princípio do efeito integrador, a CF deve ser entendida como um projeto
normativo global que se destine a assegurar a harmonia entre o social e o jurídico, com vistas à 8
manutenção da ordem constitucional. Devem-se integrar os valores e anseios da Sociedade ao pro-
jeto de CF elaborado pelo Estado (Dirley da Cunha Jr).
O princípio da harmonização terá serventia mais frequente em conflitos, por exemplo, entre liberdade
de expressão e direito à privacidade. A concordância prática há de ser encontrada em cada caso con-
creto, segundo os parâmetros oferecidos pelo princípio da proporcionalidade. Será proporcional a so-
lução que melhor atender a tarefa de otimização das normas em conflito, considerando-se que cada
qual apresenta pesos variáveis de importância, conforme o caso concreto que esteja em exame. (Gil-
mar Ferreira Mendes. Curso de Direito Constitucional. 2017)
Propõe-se seja conferida prevalência aos pontos de vista que tornem a norma constitucional mais afeita
aos condicionamentos históricos do momento, garantindo-lhe interesse atual, e, com isso, obtendo-se
“máxima eficácia, sob as circunstâncias de cada caso”. Esse esforço poderá ser de mais pertinência
nos casos de normas que se valem de conceitos indeterminados, de textura literal mais flexível. (Gilmar
Ferreira Mendes. Curso de Direito Constitucional. 2017)
“A manutenção de decisões das instâncias ordinárias divergentes da interpretação adotada pelo STF
revela-se afrontosa à força normativa da Constituição e ao princípio da máxima efetividade da norma
constitucional. STF - RE 328,812 ED/AM, Rei. Min. Gilmar Mendes.
A força normativa da Constituição da República e o monopólio da última palavra, pelo Supremo Tri-
bunal Federal, em matéria de interpretação constitucional [...] A interpretação constitucional derivada
das decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal - a quem se atribuiu a função eminente de
'guarda da Constituição' 1CF, art. 102, 'caput') - assume papel de essencial importância na organi-
zação institucional do Estado brasileiro, a justificar o reconhecimento de que o modelo político-jurí-
dico vigente em nosso País confere, à Suprema Corte, a singular prerrogativa de dispor do monopólio
da última palavra em tema de exegese das normas inscritas no texto da Lei Fundamental. ADI
3345/DF, Rei. Min. Celso de Mello.”
Embora se trate de um princípio aplicável a toda norma constitucional, tem espaço de maior
realce no campo das normas constitucionais programáticas e no domínio dos direitos fundamentais.
A eficácia da norma deve ser compreendida como a sua aptidão para produzir os efeitos que lhes
são próprios – em caso de dúvida, deve-se preferir a interpretação que lhes reconheça maior eficácia.
O intérprete constitucional deve ter compromisso com a efetividade da Constituição: entre interpreta-
ções alternativas e plausíveis, deverá prestigiar aquela que permita a atuação da vontade constitucio-
10
nal, evitando, no limite do possível, soluções que se refugiem no argumento da não auto-aplicabilidade
da norma ou na ocorrência de omissão do legislador. A nova interpretação constitucional. Luís Roberto
Barroso e Ana Paula de Barcellos. 2003.
Segundo esse princípio, não é possível, sob o ensejo interpretativo, a alteração na estrutura
de repartição de poderes e exercício das competências constitucionais estabelecidas pelo poder
constituinte originário, de forma a subverter ou perturbar o esquema organizatório-funcional já esta-
belecido. Segundo Gilmar Mendes12, esse princípio corrige leituras desviantes da distribuição de
competências entre as esferas da Federação ou entre os Poderes constituídos.
Se uma norma infraconstitucional, pelas peculiaridades da sua textura semântica, admite mais de um
significado, sendo um deles coerente com a Constituição e os demais com ela incompatíveis, deve-se
entender que aquele é o sentido próprio da regra em exame – leitura também ordenada pelo princípio
da economia legislativa (ou da conservação das normas). (Gilmar Ferreira Mendes. Curso de Di-
reito Constitucional. 2017)
▪ Conservação da norma: Sempre que for possível conceder interpretação de acordo com a Cons-
tituição, esta deve ser aplicada para evitar sua declaração de invalidade.
O intérprete não pode contrariar o texto literal e o sentido da norma interpretada, a fim de obter
concordância da lei com a Constituição;
O intérprete não pode violar o texto literal da norma para buscar interpretação de acordo com a
Constituição;
Do processo de hermenêutica, não pode ser extraída norma nova, totalmente distinta daquela que
o legislador objetivou, sob pena de ofensa à separação dos poderes.
h) princípio da proporcionalidade
Mais que um princípio, a proporcionalidade, deve ser compreendida como um "postulado" que
prescreve o modo de raciocínio e de argumentação relacionado às normas restritivas de direitos. É
composto da adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito. Assim, na aferi-
ção da constitucionalidade de intervenções estatais ou de particulares, deve-se analisar se esses
três subprincípios foram observados ou não.
▪ Adequação (pertinência ou idoneidade) – O meio adotado deve ser compatível com o fim;
▪ Necessidade (exigibilidade) – A conduta deve ser necessária e somente tomada se não houver
outro meio menos gravoso ou oneroso para a sociedade;
Não se exige que a medida restritiva de determinado princípio fomente o outro princípio em grau
máximo, mas sim que se busque um "ponto ótimo" entre eles. A otimização em relação aos princípios
colidentes nada mais é que o sopesamento.15
1
normas constitucionais a concretizar (Canotilho). 12
Princípio do As soluções extraídas pelo intérprete devem ser pluralisticamente integradoras (Ca-
Efeito integrador notilho); unidade política e integração social devem ser os objetivos desse princípio.
Princípio da Má- Deve-se preferir a interpretação que reconheça maior eficácia às normas constitucio-
xima efetividade nais, especialmente as de DF.
Princípio da Jus- Diz com a adequação ao esquema organizatório-funcional, entendido como o mo-
teza ou confor- delo de Estado concebido pela CF. Ou seja, não pode o intérprete subverter a organi-
midade ou exati- zação do Estado, alterando, por exemplo, as funções constitucionalmente estabeleci-
dão ou das. Protege-se, sobretudo, a Separação de Poderes.
correção
funcional
Princípio da Con- Equivale à ponderação de interesses constitucionais. Busca-se evitar o sacrifício total
cordância prá- de um princípio em relação a outro que lhe conflite com maior peso. Fundamenta-se na
tica ou harmoni- inexistência de hierarquia entre os princípios.
zação
Princípio da In- Diante de normas polissêmicas, deve-se dar a elas o sentido que mais se aproxime da
terpretação con- CF. A interpretação conforme a CF somente pode ser operada quando a norma tenha
forme a CF espaço para várias interpretações (plurissignificativa ou polissêmica), pois o intér-
prete não pode atuar como legislador positivo, mesmo que a pretexto de adequar
7
uma norma inconstitucional ao texto Maior. Nesse caso, a solução deve ser pela
declaração de inconstitucionalidade.
Direito Constitucional – Hermenêutica constitucional
Pauta de natureza axiológica que emana diretamente das ideias de justiça, equidade,
bom senso, prudência, moderação, justa medida, proibição de excesso e de insuficiên-
Princípio da Pro-
cia, direito justo e valores afins (Karl Larenz e Inocêncio Coelho). Preenche-se de três
porcionalidade
elementos: 1) necessidade ou exigibilidade: medida restritiva de direito só se legitima
ou razoabilidade
se indispensável; podendo-se substituí-la por outra menos gravosa, deve-se evitá-la; 2)
8
adequação, pertinência ou idoneidade: o meio escolhido deve ser adequado ao fim
buscado; 3) proporcionalidade em sentido estrito: refere-se ao custo-benefício da
medida, que deve ser positivo; busca-se a máxima efetividade com mínima restrição.
a) corrente interpretativista
Trata-se de visão mais conservadora da interpretação constitucional, a qual deve ser pautada pela
vontade originária dos formuladores da constituição (originalismo17) ou pelos elementos contidos no
texto constitucional (textualismo18). (Marcelo Novelino. Curso de Direito Constitucional. 2017)
17Sustenta que os magistrados devem seguir o entendimento original dos criadores da Constituição, por ser o
sentido pretendido pela sociedade daquela época.
As principais diretrizes do originalismo, voltadas à restrição da margem de ação dos juízes e à promoção da
democracia, são: I) o respeito absoluto à vontade do constituinte histórico; II) a utilização somente de "princípios
neutros" formulados pelo constituinte; III) a interpretação limitada ao previsto ou contemplado como possível
pelo constituinte histórico, de forma a efetivar sua mensagem, sem acréscimo de direitos não previstos origi-
nariamente no texto; IV) impossibilidade de afastamento da mensagem do constituinte histórico por magistra-
dos, sob pena de invasão das competências constitucionais e de atentado contra a soberania popular. (Marcelo
Novelino. Curso de Direito Constitucional. 2017)
18A interpretação deve utilizar apenas ingredientes contidos na Constituição, sendo o papel dos juízes limitado
à aplicação de seu texto, sem modificá-lo.
Direito Constitucional – Hermenêutica constitucional
Os adeptos do não interpretativismo adotam posições mais progressistas. Defendem o direito de cada
geração viver a constituição a seu modo, descabendo ao legislador constituinte do passado impor seus
valores, de modo absoluto, à sociedade atual. Por isso, os magistrados têm a obrigação de desenvolver
e atualizar o texto constitucional para serem atendidas as exigências do presente, cabendo-lhes des-
cobrir os valores consensuais existentes no meio social e projetá-los na interpretação. Tal perspectiva
confere ao Poder Judiciário um papel de protagonismo nas mudanças sociais e na incorporação de
novos direitos à constituição. (Marcelo Novelino. Curso de Direito Constitucional. 2017)
CORRENTE CARACTERÍSTICAS 15
– Ostenta características próprias da Escola Exegética, que viveu seu
auge nos tempos do Código de Napoleão: a atividade judicante é apenas
para reproduzir o que a lei, clara, perfeita e completa, já diz. O juiz inter-
Interpretativista
preta de forma procedimental, não podendo ir além do texto.
Teoria do "reforço da democracia" (John Hart Ely): cabe aos magistrados a proteção de
direitos indispensáveis (pré-condições) ao bom funcionamento da democracia, bem como de grupos
em situação de risco resultante da insuficiência do processo democrático.
O maximalismo, por sua vez, refere-se às decisões formuladoras de regras gerais para jul-
gamentos futuros e voltadas a fornecer justificativas teoricamente ambiciosas para os resultados
(significa decidir, em todos os casos, tudo o que possa ser decidido). Quando proferidas por tribunais
constitucionais, tornam o direito mais previsível e reduzem o risco de decisões equivocadas em ins-
tâncias inferiores.
16
Teoria do pragmatismo jurídico (Richard Posner): a decisão deve visar o resultado mais
razoável, levando em consideração não apenas consequências decorrentes do caso específico, mas
também as sistêmicas em seu sentido mais amplo. A decisão pragmática é baseada em fatos e
consequências, mais do que em conceitualismos, generalidades ou deduções silogísticas.
20Justifica-se por motivos diversos, entre eles, os de que os tribunais devem: (I) decidir apenas as questões
estritamente necessárias à resolução da controvérsia; (II) evitar decidir casos que ainda não estejam suficien-
temente "maduros"; (III) evitar emitir opiniões consultivas; (IV) respeitar os precedentes judiciais (holdings),
mas não necessariamente as opiniões pessoais secundárias expressas na decisão ; (V) exercer a "virtude
passiva" de manter o silêncio sobre as grandes questões cotidianas.
Direito Constitucional – Hermenêutica constitucional
práticos. O pragmatismo é, ademais, experimentalista e voltado para o futuro. A justificação dos juí-
zos morais se baseia, para o pragmatismo, no que é mais produtivo, no que pode oferecer a melhor
contribuição para a construção do futuro. (...)
Para Posner, o principal critério para a correção de uma decisão judicial diz respeito às suas conse-
quências. Boa decisão é a que produzir melhores consequências, e não a que estiver de acordo com
os textos legais vigentes ou com alguma ambiciosa teoria moral. (...)
O pragmatismo jurídico, por outro lado, é empirista. Ele tende a atribuir mais importância aos dados
da realidade do que às construções teóricas. A preocupação com o mundo real e com as consequên-
cias prática das decisões judiciais são contribuições relevantes do pragmatismo. No campo da inter-
pretação constitucional, não há dúvida de que essas dimensões devem ser incorporadas.
Atenção. Não é incomum que considerações pragmáticas penetrem na jurisdição constitucional bra-
sileira. Um claríssimo exemplo, de resultado calcado em razões exclusivamente pragmáticas e con-
sequencialistas, ocorreu em julgamento recente do STF, em que, apesar de reconhecer a existência
de inconstitucionalidade no processo legislativo da medida provisória que instituíra o Instituto Chico
Mendes, o STF absteve-se de invalidar o ato normativo – ADI 402921. O mesmo vício que afetava 17
aquela norma também contaminava cerca de quinhentas outras medidas provisórias.
Chegou-se à conclusão de que era preferível naquele contexto “transigir” com os efeitos da incons-
titucionalidade já praticada, do que se sujeitar aos riscos de invalidação de centenas de outras nor-
mas – dentre as quais algumas importantíssimas, como a que criara o programa social “Bolsa-Famí-
lia”. Ao justificar publicamente o resultado heterodoxo do julgamento da Corte, o Min. Luiz Fux res-
saltou que o STF agira de forma “patriótica”, para evitar uma “crise constitucional”. (Daniel Sar-
mento. Direito Constitucional. 2017)
21 ADI nº 4.029, Rel. Min. Luiz Fux. Julg. 8.3.2012; nova proclamação de resultado em 9.3.2012. O vício con-
sistia na inobservância do disposto no art. 62, § 9º, da Constituição, que determina que uma comissão mista
de deputados e senadores emita parecer sobre a medida provisória, antes da apreciação da mesma no plenário
de cada casa legislativa. Uma resolução do Congresso Nacional até então em vigor permitia que a medida
provisória fosse apreciada sem o referido parecer, acompanhada apenas de manifestação do seu relator.
22 Apesar de se referir especificamente à Constituição dos Estados Unidos, a leitura moral proposta por Dwor-
kin, apresenta um caráter geral e, por isso, tem sido utilizada como parâmetro hermenêutico, também, para a
interpretação de outras Constituições democráticas
Direito Constitucional – Hermenêutica constitucional
a uma conformação entre a interpretação e os objetivos primaciais das leis fundamentais. Para se
atingir tal fim, os valores considerados superiores – morais – devem prevalecer.
A leitura moral propõe que nós todos – juízes, advogados, cidadãos – interpretemos e apliquemos
essas normas abstratas segundo o entendimento de que elas invocam princípios morais acerca da
decência política e da justiça. (Sergio Fernando Moro. Jurisdição Constitucional Como Democracia.
2004).
4. REGRAS E PRINCÍPIOS
DICA DE PROFESSOR!
DIFERENÇA IMPORTANTE PARA A PROVA
Até o século XX, o caráter normativo dos princípios não era plenamente reconhecido – eram
considerados proclamações políticas, morais ou filosóficas, sem caráter vinculante para os poderes
públicos.
A partir de então, as normas constitucionais podem ser compreendidas como gênero, de onde
extraem as espécies: regras e princípios, cada qual com peculiaridades relacionadas a sua interpre-
tação e aplicação.
na Alemanha. Esses movimentos políticos e militares ascenderam ao poder dentro do quadro de legalidade
vigente e promoveram a barbárie em nome da lei. Os principais acusados de Nuremberg invocaram o cumpri-
mento da lei e a obediência a ordens emanadas da autoridade competente. Ao fim da Segunda Guerra Mundial,
a ideia de um ordenamento jurídico indiferente a valores éticos e da lei como uma estrutura meramente formal,
uma embalagem para qualquer produto, já não tinha mais aceitação no pensamento esclarecido.
Direito Constitucional – Hermenêutica constitucional
apenas a casos homogêneos, o alto grau de abstração dos princípios, considerados normas "gene-
ralíssimas" por serem aplicáveis a diversos casos heterogêneos, exige ação integradora do órgão
que vai aplicá-lo. Demais disso, o conflito entre regras é analisado sob o enfoque da validade das
normas jurídicas e resolvido pelos tradicionais critérios hierárquico, cronológico e especialidade, e o
conflito entre princípios é estudado sob o prisma da importância (valor ou peso), resolvido pelo critério
da ponderação (harmonização).
a) critérios distintivos24
Segundo Dworkin, as regras são aplicáveis à maneira do tudo ou nada – caso ocorram os
fatos estipulados por regras válidas, as respostas dadas devem ser aceitas. Atribui-se a elas, por-
tanto, caráter de definitividade.
Os princípios, por sua vez, indicariam, apenas de forma provisória (caráter prima facie), o
sentido da decisão a ser dada, sendo que seu preterimento em um caso específico não significa
invalidade. 19
• Critérios distintivos propostos por Robert Alexy
Embora a noção de princípio formulada por Ronald Dworkin tenha inspirado a teoria desen-
volvida por Robert Alexy, as duas concepções se diferenciam em aspectos de fundamental impor-
tância25.
Os princípios são definidos por Alexy como mandamentos de otimização, ou seja, "normas
que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível, dentro das possibilidades jurídicas
e fáticas existentes”.
As regras, por sua vez, são definidas como mandamentos definitivos, ou seja, "normas que
são sempre satisfeitas ou não satisfeitas. Se uma regra vale, então, deve-se fazer exatamente aquilo
que ela exige, nem mais, nem menos. Regras contêm determinações no âmbito daquilo que é fática
e juridicamente possível".
Além disso, as razões fornecidas pelos princípios, diante da possibilidade de superação por
outras mais fortes, têm sempre caráter provisório, enquanto as fornecidas pelas regras têm caráter
definitivo, desde que não comportem exceções.
Quanto ao modo como contribuem para a decisão, categoriza as regras como normas
"preliminarmente decisivas e abarcantes" com pretensão de gerar uma solução específica para
o conflito de razões, e os princípios como normas "primariamente complementares e preliminar-
mente parciais" vocacionadas a fornecer razões contributivas para a decisão.
Quanto à justificação adotada na interpretação e aplicação, a das regras exige uma cons-
trução conceitual dos fatos correspondente à da norma e de sua finalidade; a dos princípios impõe
a correspondência entre o "estado de coisas posto como fim" e os "efeitos decorrentes da
conduta havida como necessária".
Sintetizando os critérios anteriores e refinando-os, Luís Roberto Barroso e Ana Paula Barcel-
los26 lecionam:
26 A nova interpretação constitucional. Luís Roberto Barroso e Ana Paula de Barcellos. 2003.
Direito Constitucional – Hermenêutica constitucional
Princípios, por sua vez, contêm relatos com maior grau de abstração, não especificam a conduta a
ser seguida e se aplicam a um conjunto amplo, por vezes indeterminado, de situações. Em uma
ordem democrática, os princípios frequentemente entram em tensão dialética, apontando direções
diversas. Por essa razão, sua aplicação deverá se dar mediante ponderação: à vista do caso con-
creto, o intérprete vai aferir o peso que cada princípio deverá desempenhar na hipótese, mediante
concessões recíprocas, e preservando o máximo de cada um, na medida do possível. Sua aplicação,
portanto, não será no esquema tudo ou nada, mas graduada à vista das circunstâncias representa-
das por outras normas ou por situações de fato.
As regras fornecem razões decisivas (decisive reasons) para se chegar a determinadas con-
clusões, ao passo que os princípios fornecem apenas razões contributivas (contributing reasons)
– daí serem qualificados como “unilaterais”, ou seja, argumentos favoráveis ou contrários a certos
resultados, mas incapazes de determinarem, por si mesmos, a conclusão específica.
Segundo Ávila, a interpretação e a aplicação de princípios e regras dar-se-ão com base nos postula-
dos normativos inespecíficos, quais sejam, a ponderação (atribuindo-se pesos), a concordância
prática e a proibição de excesso (garantindo a manutenção de um mínimo de eficácia dos direitos
fundamentais), e específicos, destacando-se o postulado da igualdade, o da razoabilidade e o da
proporcionalidade. (Pedro Lenza. Direito Constitucional Esquematizado. 2017)
Nada obstante o estudo das distinções qualitativas entre princípios e regras vistas até aqui, é
certo que, mais recentemente, já se discute tanto a aplicação do esquema tudo ou nada aos princí-
pios27 como a possibilidade de também as regras serem ponderadas.
Há situações em que uma regra, perfeitamente válida em abstrato, poderá gerar uma incons-
titucionalidade ao incidir em determinado ambiente ou, ainda, há hipóteses em que a adoção do
comportamento descrito pela regra violará gravemente o próprio fim que ela busca alcançar – são os
denominados hard cases.
Parte-se da ideia de que as normas jurídicas possuem exceções implícitas28, não identificá-
veis de antemão, e, quando essas exceções são configuradas, elas têm o condão de derrotar a
solução normativa extraída prima facie da literalidade da norma. O afastamento da aplicação de
regras válidas diante das circunstâncias específicas do caso concreto é conhecido como derrotabi-
lidade (ou superabilidade). Em tais hipóteses, o intérprete confere ao princípio da justiça e aos prin-
cípios que justificam o afastamento da regra um peso maior do que ao princípio da segurança jurídica
e àqueles subjacentes à regra.
A ponderação, portanto, não é feita entre a regra e o princípio, mas entre princípios que forne-
cem razões favoráveis e contrárias à aplicação da regra naquele caso específico.
Não há nisso qualquer desobediência ao direito, pois a decisão é pautada por normas esta-
22
belecidas pelo próprio ordenamento jurídico.
Sobre o tema, destacamos alguns exemplos em que a técnica foi utilizada, embora sem a
alcunha:
O STJ30 considerou legítima a interceptação telefônica (por determinação constitucional, restrita aos
fins de investigação criminal) determinada por Juízo da vara de família para investigar o paradeiro
28 Hart percebeu que em razão da impossibilidade de as normas preverem as diversas situações fáticas, ainda
que presentes seus requisitos, elas contêm, de forma implícita, uma cláusula de exceção (tipo: a menos que),
de modo a ensejar, diante do caso concreto, a derrota/superação da norma. (Dirley da Cunha Jr.)
29 Como preceitua Humberto Ávila, as regras possuem eficácia de trincheira, já que somente podem ser supe-
radas “por razões extraordinárias e mediante ônus de fundamentação maior”. (Teoria dos princípios: da defini-
ção à aplicação dos princípios jurídicos. Humberto Ávila. Ed. Malheiros)
30 STJ, HC 203.405/MS. “A possibilidade de quebra do sigilo das comunicações telefônicas fica, em tese, res-
trita às hipóteses de investigação criminal ou instrução processual penal. No entanto, o ato impugnado, embora
Direito Constitucional – Hermenêutica constitucional
de criança levada por familiar contra determinação judicial. Diante da ineficácia da expedição de
diversas cartas precatórias para busca e apreensão da criança, entendeu-se que as razões forneci-
das pelos princípios protetivos de direitos fundamentais do menor – direitos à educação, à alimenta-
ção, ao lazer à dignidade e à convivência familiar – seriam suficientemente fortes para afastar a regra
("derrotabilidade da regra") constitucional inscrita no artigo 5º, inciso XII, CF, por serem as conse-
quências do cumprimento da decisão judicial em questão muito menos graves que as decorrentes
da inércia do Judiciário.
O professor Dirley da Cunha Júnior, por sua vez, cita como exemplo de derrotabilidade o reconheci-
mento pelo STF da possibilidade de interrupção da gravidez em razão da anencefalia, pois, com a
decisão, “o Supremo superou/derrotou uma norma jurídica de Direito Penal proibitiva do aborto (salvo
nos casos de gravidez decorrente de estupro ou para salvar a vida da gestante). Entretanto, o crime
de aborto continua a existir e incidir normalmente nos casos tipificados no Código Penal”.
1) Justificativa condizente – Deve ser demonstrado o descompasso entre a hipótese da regra e sua
finalidade e, mais, provar que o afastamento da regra não gerará insegurança jurídica.
2) Fundamentação condizente – Essa decorre da hipótese anterior. O afastamento da regra deve ser
fundamentado. Expor o motivo do afastamento, possibilitando a ampla defesa e o contraditório.
3) Comprovação condizente – A justificativa de afastamento da regra deve ser provada, não sendo
possível mera alegação de que ela não está adequada aos anseios normativos e sociais.
praticado em processo cível, retrata hipótese excepcional, em que se apuram evidências de subtração de me-
nor, crime tipificado no art. 237 do Estatuto da Criança e do Adolescente”.
Direito Constitucional – Hermenêutica constitucional
a interpretação do direito não se resume à mera descrição de um significado normativo, nem à desco-
berta de uma norma preexistente. Trata-se de uma atividade constitutiva, não simplesmente declara-
tória. O intérprete constrói – ou, segundo Humberto Ávila, reconstrói – o sentido da norma a partir do
texto normativo, ponto de partida e limite para a interpretação.
No sistema constitucional brasileiro, o direito judicial com força de Lei revela-se, sobretudo,
nas decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal em sede de controle abstrato de constituci-
onalidade (CF, art. 102, §§ 1º e 2º) e na edição de enunciados de súmula com efeito vinculante (CF,
art. 103-A). Em tais hipóteses, é inegável a atribuição de um poder normativo ao Tribunal, ainda que 24
pautado por parâmetros constitucionais. A criação judicial do direito se mostra, ainda mais nítida, nas
decisões judiciais criativas, quando o tribunal constitucional emprega a técnica da interpretação con-
forme ou supre uma omissão de outro poder.
Segundo a doutrina, as decisões judiciais criativas (criação judicial do direito) podem ser:
Diante de duas possíveis interpretações que determinado ato normativo possa ter, a Corte
adota aquela que se conforma à Constituição, repudiando qualquer outra que contrarie o texto
constitucional.
A Corte Constitucional não se limita a analisar a constitucionalidade das normas que lhe são
submetidas, mas, agindo como legislador positivo, modifica diretamente o ordenamento jurídico, adi-
cionando-lhe ou substituindo-lhe normas, a pretexto ou com o propósito de adequá-lo à Constituição.
• Sentenças aditivas33
A Corte Constitucional declara inconstitucional certo dispositivo legal pelo que ele omite, alar-
25
gando o texto da lei ou seu âmbito de incidência. A decisão se mostra “aditiva”, pois a Corte, ao
decidir, cria uma norma autônoma. A sentença é declarada inconstitucional na “parte em que não
prevê” e contempla uma exceção ou impõe uma condição a certas situações que deveria prever. Ex.
1: STF34 determinou a aplicação, aos servidores públicos, da Lei 7.783/89, que dispõe sobre o exer-
cício do direito de greve na iniciativa privada, pelo que promoveu extensão aditiva do âmbito de
incidência da norma. Ex. 2: A decisão proferida na Pet 3.388/RR ,quando o Tribunal, enfrentando a
situação de insegurança geral deflagrada pela demarcação da reserva Raposa Serra do Sol, logrou
dar margens nítidas à extensão do usufruto dos indígenas sobre as áreas que lhes são constitucio-
nalmente garantidas.
33 Como espécies de decisões com alguma eficácia aditiva, Gilmar Mendes (Curso de Direito Constitucional,
2017) afirma: ainda devem ser referidas as decisões demolitórias com efeitos aditivos (quando é suprimida
uma lei inconstitucional constritora de direitos), as aditivas de prestação (que têm impacto orçamentário) e as
aditivas de princípio (onde são fixados princípios que o legislador deve observar ao prover a disciplina que
se tem por indispensável ao exercício de determinado direito constitucional).
34 MI 670, red. para o acórdão Min. Gilmar Mendes, MI 708, rel. Min. Gilmar Mendes, e MI 712, rel. Min. Eros
Grau, julgados em 25-10-2007. Tenha-se presente, ainda, o MI 543, rel. Min. Octavio Gallotti, DJ de 24-5-2002,
e o MI 283, rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 14-11-1991, quando restou assentado que “é dado ao Judici-
ário, ao deferir a injunção, somar, aos seus efeitos mandamentais típicos, o provimento necessário a acautelar
o interessado contra a eventualidade de não se ultimar o processo legislativo, no prazo que fixar, de molde a
facultar-lhe, quando possível, a satisfação provisória do seu direito”.
Direito Constitucional – Hermenêutica constitucional
• Sentenças substitutivas
Exemplo: Interpretação dada sobre o art. 15-A do DL 3365/41 quanto aos juros moratórios e
compensatórios. No dia 14/09/2001 fora ajuizada contra a MP 2183-56 a ADI 2332 que, em decisão
liminar, suspendeu os seus efeitos e retornou com a taxa de juros compensatórios de 12% ao ano
(detalhe: em 28/05/2018, ao julgar o mérito, o Supremo Tribunal Federal entendeu pela constitucio- 26
nalidade da taxa de juros compensatórios em 6% ao ano – decisão final na ADI 2332 e art. 15-A do
DL 3.365/41, Inf. 902).
Interpretação
conforme a CF e
De rechaço
repulsa a qualquer
outra que lhe contrarie
Interpretativas em
sentido estrito
Anulação de
interpretação (e não
De aceitação
da norma)
desconforme a CF
Decisões judiciais
criativas
conforma omissão do
Aditivas
preceito interpretado
Manipuladoras
(manipulativas ou
normativas) anula preceito
incompatível com a CF
Substitutivas
substituindo-o por
outro
27
6. MUTAÇÕES CONSTITUCIONAIS35
DICA DE PROFESSOR!
PONTO IMPORTANTE
A interpretação judicial como instrumento de mutação informal da Constituição. A questão dos proces-
sos informais de mutação constitucional e o papel do Poder Judiciário: a interpretação judicial como
instrumento juridicamente idôneo de mudança informal da Constituição. A legitimidade da adequação,
mediante interpretação do Poder Judiciário, da própria Constituição da República, se e quando impe-
rioso compatibilizá-la, mediante exegese atualizadora, com as novas exigências, necessidades e trans-
formações resultantes dos processos sociais, econômicos e políticos que caracterizam, em seus múl-
tiplos e complexos aspectos, a sociedade contemporânea. STF. HC 91.361-SP.
No direito constitucional brasileiro podem ser mencionados como exemplos recentes de mu-
tação constitucional, entre outros, as seguintes mudanças ocorridas na jurisprudência do STF envol-
vendo:
Limites: a mutação jamais poderá significar ruptura com o sistema plasmado pelo constituinte,
ou desrespeito ao sentido mínimo das cláusulas pétreas e aos princípios estruturantes da CF, sob
pena de violação à ordem constitucional.
36 STF – HC (QO) 86.009/DF: “Tendo em vista que o Supremo Tribunal Federal, modificando sua jurisprudên-
cia, assentou a competência dos Tribunais de Justiça estaduais para julgar habeas corpus contra ato de Tur-
mas Recursais dos Juizados Especiais, impõe-se a imediata remessa dos autos à respectiva Corte local para
reinício do julgamento da causa, ficando sem efeito os votos já proferidos. Mesmo tratando-se de alteração de
competência por efeito de mutação constitucional (nova interpretação à Constituição Federal), e não propria-
mente de alteração no texto da Lei Fundamental, o fato é que se tem, na espécie, hipótese de competência
absoluta (em razão do grau de jurisdição), que não se prorroga”.
37 STF – HC 82.959: “Conflita com a garantia da individualização da pena – artigo 5º, inciso XLVI, da Consti-
tuição Federal – a imposição, mediante norma, do cumprimento da pena em regime integralmente fechado.
Nova inteligência do princípio da individualização da pena, em evolução jurisprudencial, assentada a inconsti-
tucionalidade do artigo 2º, § 1º, da Lei 8.072/1990.
38 STF. RE nº 363.889.
Direito Constitucional – Hermenêutica constitucional
▪ Atuação do legislador: quando, por ato normativo primário, procura alterar o sentido já dado a
alguma norma constitucional.
ii. O Ministério Público pode, por autoridade própria, realizar investigação de natureza penal,
desde que respeitados os direitos e as garantias fundamentais, as prerrogativas profissionais,
39Em âmbito administrativo, a Res. 7/CNJ reconheceu novas perspectivas aos princípios da impessoalidade e
da moralidade e ao nepotismo.
Direito Constitucional – Hermenêutica constitucional
sem prejuízo do controle judicial dos atos praticados pelo parquet (HC 89.837/DF, rel. Min.
Celso de Mello, DJU, 20.11.2009).
A democratização não deve ocorrer apenas no momento em que a Constituição é criada, mas
30
também na sua interpretação.
40Enquanto no sistema constitucional anterior a legitimação era atribuída apenas ao Procurador-Geral da Re-
pública, a Constituição de 1988 a estendeu a inúmeras entidades do Estado e até mesmo da sociedade civil.
Direito Constitucional – Hermenêutica constitucional
“O exercício da jurisdição constitucional, que tem por objetivo preservar a supremacia da Constitui-
ção, põe em evidência a dimensão essencialmente política em que se projeta a atividade institucional
do Supremo Tribunal Federal, pois, no processo de indagação constitucional, assenta-se a magna
prerrogativa de decidir, em última análise, sobre a própria substância do poder. (...) A interpretação
constitucional derivada das decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal — a quem se atribuiu
a função eminente de ‘guarda da Constituição’ (CF, art. 102, caput) — assume papel de fundamental
importância na organização institucional do Estado brasileiro, a justificar o reconhecimento de que o
modelo político-jurídico vigente em nosso País conferiu, à Suprema Corte, a singular prerrogativa de
dispor do monopólio da última palavra em tema de exegese das normas inscritas no texto da Lei
31
Fundamental. MS nº 26.603/DF, Rel. Min. Celso de Mello. Julg. 4.10.2007.”
41 Nada obstante, constata-se na jurisprudência do STF alguma abertura para a revisão dos seus posiciona-
mentos anteriores, quando postos em xeque por atos legislativos subsequentes.
42 Jorge Miranda, Teoria do Estado e da Constituição. 2015.
Direito Constitucional – Hermenêutica constitucional
Para a teoria do pensamento do possível, a realidade do passado, refletida na norma então promul-
gada e eventualmente insuficiente no agora, pode ser corrigida – por meio de alternativas – diante
das necessidades do presente. Também chamada de “pensamento pluralista de alternativas”, a teo-
ria apoia-se na “abertura procedimental”, instituída no modelo teórico da “sociedade aberta de intér-
pretes da constituição”, formulado por Häberle. O pensamento do possível ou o pensamento plura-
lista de alternativas abre suas perspectivas para “novas” realidades, para o fato de que a realidade
de hoje pode corrigir a de ontem, especialmente a adaptação às necessidades do tempo de uma
32
visão normativa, sem que se considere o novo como o melhor.
Não há que se falar em prejuízo à força normativa da Constituição, que é preservada pela ideia de
que esta não é estática nem está pronta e acabada, mas em processo constante desenvolvimento.
Entre as interpretações cogitáveis, aquela que mais se aproxima de um “pensamento do possível”,
na espécie, é exatamente a perfilhada na decisão pelo STF, que logra realizar os princípios em even-
tual tensão dialética sem comprometer aspectos fundamentais da complexa decisão constitucional.
O pensamento do possível é o pensamento em alternativas. Deve estar aberto para terceiras ou
quartas possibilidades, assim como para compromissos. (Härbele)
A teoria foi utilizada pelo Min. Gilmar Ferreira Mendes no julgamento dos Embargos Infringentes na
ADI 1289-4/DF e na Suspensão de Segurança 3154-6/RS. Igualmente, no RE 147.776-8, que envol-
via a questão da defesa e assistência jurídica dos hipossuficientes pelas Defensorias Públicas Esta-
duais. À época, a maioria das unidades da federação não contava com o órgão da Defensoria im-
43 Luís Roberto Barroso. Curso de direito constitucional contemporâneo, 2. ed., p. 129: Há quem diferencie a
interpretação constitucional da construção, salientando o caráter mais vinculado da primeira em relação à se-
gunda. Para nós, a construção não deixa de ser interpretação constitucional, já que se trata de atividade des-
tinada à atribuição de sentido às normas constitucionais.
DICA DE PROFESSOR!
PONTO IMPORTANTE
a) preâmbulo
O preâmbulo de uma Constituição pode ser definido como documento de intenções do di-
ploma e nele devem constar os antecedentes e o enquadramento histórico da Constituição, bem
como suas justificativas e seus grandes objetivos e finalidades. Não faz parte do texto constitucional
propriamente dito e, consequentemente, não contém normas constitucionais de valor jurídico autô-
33
nomo. Dessarte, não poderá prevalecer contra texto expresso da Constituição Federal, tampouco
poderá ser paradigma comparativo para a declaração de inconstitucionalidade, porém, por traçar as
diretrizes políticas, filosóficas e ideológicas da Constituição, será uma de suas linhas-mestras inter-
pretativas.
Para o Supremo Tribunal Federal45, o preâmbulo não se situa no domínio do Direito, mas da
política ou da história, possuindo apenas um caráter político-ideológico destituído de valor normativo
e força cogente, motivo pelo qual não pode ser invocado como parâmetro para o controle de consti-
tucionalidade – Tese da Irrelevância Jurídica.
b) ADCT
STF – ADI 2.076/AC, rel. Min. Carlos Velloso (DJ 08.08.2003); STF – MS (MC) 24.645/DF, rel. Min. Celso de
45
fora do Texto principal, mas com o mesmo valor jurídico das normas ali contidas. Outras tantas vezes,
o assunto em si mesmo parece de menor estatura ao legislador constitucional, que, mesmo assim,
quer recobri-lo com a proteção de que gozam as normas constitucionais. Abre-se, em todos esses
casos, a opção por incluir essas normas no corpo do ADCT47.
O ADCT, promulgado em 1988 pelo legislador constituinte, qualifica-se como um estatuto de índole
constitucional. A estrutura normativa que nele se acha consubstanciada ostenta, em consequência, a
rigidez peculiar às regras inscritas no texto básico da Lei Fundamental da República. Disso decorre o
reconhecimento de que inexistem, entre as normas inscritas no ADCT e os preceitos constitucionais
da Carta Política, quaisquer desníveis ou desigualdades quanto à intensidade de sua eficácia ou à
prevalência de sua autoridade. Situam-se, ambos, no mais elevado grau de positividade jurídica, im-
pondo-se, no plano do ordenamento estatal, enquanto categorias normativas subordinantes, à obser-
vância compulsória de todos, especialmente dos órgãos que integram o aparelho do Estado. STF. RE
nº 161.462-5/SP.
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