You are on page 1of 32

Fundamentos de

Análise Matemática
Material Teórico
Sequências e séries infinitas

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Francisco Augustin Machado Echalar

Revisão Textual:
Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos
Sequências e séries infinitas

• Intervalos
• Sequências infinitas
• Séries infinitas
• Testes de convergência

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Apresentar formalmente a noção de limite de uma sequência.
Apresentar uma série como uma sequência de somas finitas.
Relembrar conceitos e testes de convergência.

ORIENTAÇÕES
Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) às nossas discussões sobre Fundamentos de Análise Matemática]!
Saiba que esta disciplina tem como propósito [aprofundar sua compreensão da Lógica ao
mesmo tempo em que discute com maior rigor conceitos relacionados aos números reais e
ao cálculo], oferecendo-lhe contato com as discussões mais recentes dessa área; além de lhe
proporcionar momentos de leitura – textual e audiovisual – e reflexão sobre os temas que
serão aqui discutidos, contribuindo com sua formação continuada e trajetória profissional.
Esta disciplina está organizada em [seis] unidades, cujo eixo principal será [o desenvolvimento
lógico do cálculo], ou seja, que dê conta [do significado e das técnicas de demonstração,
das regras de inferência da lógica, da compreensão das especificidades dos números reais
quando comparados com outros campos numéricos, de como essas especificidades permitem
compreender o estudo de limites de sequências e séries e finalmente definir de modo rigoroso
conceitos como continuidade de funções, derivadas e integrais]. É o que você encontrará nas
próximas unidades.
Ademais, perceba que a disciplina em ensino a distância pode ser realizada em qualquer lugar
em que você tenha acesso à Internet e a qualquer horário. Entretanto, normalmente com a
correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o último momento o acesso ao
estudo, o que implicará o não aprofundamento do material trabalhado ou, ainda, a perda dos
prazos para o lançamento das atividades solicitadas.
Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá
escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário para todos os dias ou alguns
dias e determinar como o “momento do estudo”.
No material de cada unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de
materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão
no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, bem como realize as atividades de sistematização, as quais o(a) ajudarão a verificar
o quanto absorveu do conteúdo: são questões objetivas que lhe pedirão resoluções coerentes
ao apresentado no material da respectiva Unidade para, então, prepará-lo(a) para a realização
das respectivas avaliações. Tratando-se de atividades avaliativas, se houver dúvidas sobre a
resposta correta, volte a consultar as videoaulas e leituras indicadas para sanar tais incertezas.
Lembre-se: você é responsável pelo seu processo de estudo. Por isso, aproveite ao máximo
esta vivência digital!
UNIDADE Sequências e séries infinitas

Contextualização
O tema da unidade trata do infinito: se você tem uma sequência de números
que nunca acaba, o que é que se pode dizer do que acontece com os valores dessa
sequência à medida que você avança mais e mais por ela?

Em alguns casos é simples. Por exemplo, sequências triviais, em que todos os


valores são iguais: numa sequência de 1’s o valor será sempre 1, não importa
quanto você avance por ela. Em outros, a resposta, ainda que não imediata como
na sequência constante, parece visível, mas é preciso prová-la, como na sequência
a seguir que parece convergir para zero: 1, 2 , 4 , 8 , 16 ,32
,... (Talvez a razão de nossa
3 9 27 81 243
hipótese fique mais clara se você olhar a expansão decimal dessas frações...)

Um exemplo em que aparece uma sequência como a sequência acima é no


quicar de uma bola de tênis. Suponha que você a deixa cair de uma altura de 1m
e que, a cada quicada, sua altura se reduz 1/3 em relação à altura anterior. A
sequência de alturas atingidas pela bola é a sequência acima. Evidentemente, a
bola vai subir cada vez menos, até parar. Isso nos dá um indício de que a sequência
converge para 0.

Há outros mais complicados, como: 1, 3 , 11 , 25 , 137 , 147 ,... Se você converter essas
2 6 12 60 60
frações para sua representação decimal, verá que a sequência é crescente, mas
que o crescimento a cada passo é cada vez menor. Será que os valores acabam
convergindo para um valor limite?

O problema é que não é possível chegar às respostas passo a passo, percorrendo


um a um os elementos das sequências. É necessário recorrer ao raciocínio lógico.
Ao mesmo tempo, o raciocínio lógico envolvendo processos com infinitas etapas
pode ser bem capcioso. O filósofo da Antiguidade Zenon de Eléia propôs alguns
paradoxos que evidenciam essa dificuldade. O mais conhecido deles é o da corrida
entre Aquiles e uma tartaruga. O herói Aquiles vai apostar uma corrida com uma
tartaruga. Como a tartaruga é mais lenta, ela começa com uma dianteira de, por
exemplo, 10 m. Dada a largada, Aquiles percorre rapidamente os 10m, mas nesse
ínterim a tartaruga andou 1m. Quando Aquiles percorre esse 1m, ela está 0,1
m à frente. Quando Aquiles percorre esse 0,1 m, ela está 0,01m. E assim por
diante. Por esse raciocínio, Aquiles nunca alcança a tartaruga. Ela sempre estará
um pouco à frente. Na prática, sabemos que Aquiles rapidamente ultrapassaria a
tartaruga. Qual o problema com o raciocínio?

Bem, são dessas questões que trataremos nesta Unidade.

6
Intervalos
Usaremos intervalos numéricos frequentemente na nossa discussão, por isso é
bom relembrar alguns conceitos e algumas notações. A seguir, algumas definições
que valem para qualquer conjunto numérico limitado.

Um conjunto C de números reais é limitado à direita ou limitado superiormente


se existe um número real K, que será chamado de cota superior de C, tal que para
todo elemento c de C vale c ≤ K.

Observe que K não precisa pertencer a C. Por exemplo, o conjunto dos números
negativos é limitado superiormente. Um conjunto C de números reais é limitado à
esquerda ou limitado inferiormente se existe um número real k, que será chamado
de cota inferior de C, tal que para todo elemento c de C vale k ≤ c. Observe que k
não precisa pertencer a C.

Observe também que se existe um K ou k, existem infinitos outros números que


têm a mesma propriedade. Por exemplo, se C é o conjunto de todos os números
racionais menores que 2, então 2 é uma cota superior de C, mas também 5, 13, 2,
ou 1245,5601. A menor das cotas superiores é chamada de supremo do conjunto.
No exemplo acima, o supremo é o número 2. A maior das cotas inferiores é
chamada de ínfimo do conjunto.

Um conjunto limitado superiormente pode ou não ter máximo, isto é, um elemento


que é maior do que todos os outros elementos do conjunto. Veja o exemplo de um
conjunto com máximo: o intervalo x ≤ 35 é um conjunto limitado superiormente e
tem como máximo o número 35. Agora, observe que nem todo conjunto limitado
superiormente tem um máximo. Por exemplo, o conjunto de todas as frações da forma
n
, onde n é um número natural, é limitado superiormente, pois qualquer que seja
n+2
n, a fração correspondente é necessariamente menor que 1, pois o denominador é
maior que o numerador. No entanto, esse conjunto não tem máximo, pois à medida
m n
que n aumenta, a fração aumenta. Isto é, se m > n, então > . Provemos
m+2 n+2
isso por uma demonstração direta.

m > n
2m > 2n
2m + mn > 2n + mn
m (2 + n ) > n (2 + m )
m n
>
m+2 n+2

Ou seja, ainda que o conjunto dessas frações seja limitado superiormente, dada
uma delas, sempre é possível conseguir uma outra que é maior.

7
7
UNIDADE Sequências e séries infinitas

Temos uma ideia análoga para conjuntos limitados inferiormente. Eles podem
ou não ter elemento mínimo. Um exemplo de conjunto com mínimo é 2 ≤ x. E
um exemplo de conjunto limitado inferiormente que não tem mínimo é o conjunto
de todas as frações do tipo 1 n , onde n é um número natural. Essas frações são
todas positivas, isto é, qualquer que seja n, 1 n > 0 . No entanto, esse conjunto não
tem mínimo, pois dada uma fração 1 n , sempre é possível encontrar outra (por
exemplo, 1 ( n + 1) ) que é menor que ela, qualquer que seja n.

Os intervalos são um tipo de conjunto numérico limitado, definido pela


identificação das suas extremidades. A seguir, relembramos alguns aspectos da
notação relativa a intervalos.

Um intervalo é definido pelas suas extremidades, frequentemente representadas


como a e b, com a < b. Quando as extremidades não pertencem ao intervalo,
dizemos que ele é um intervalo aberto de extremos a e b, representado por
(a, b) (onde os parênteses indicam que os extremos não pertencem ao intervalo).
Esse intervalo corresponde ao conjunto (a, b) = {x ∈ R: a < x <b}

Quando os extremos a e b pertencem ao intervalo, então ele chamado de


intervalo fechado e indicado como [a, b] (onde os parênteses indicam que os
extremos não pertencem ao intervalo). Esse intervalo corresponde ao conjunto:
[a, b] = {x ∈ R: a ≤ x ≤b}

O intervalo pode também ser semifechado ou semiaberto, como nos


exemplos seguintes:
• [-3, 1) = {x ∈ R: -3 ≤ x < 1} – o extremo direito não pertence ao intervalo,
mas o esquerdo pertence.
• (8,125] = {x ∈ R: 8 < x ≤ 125} – o extremo direito pertence ao intervalo, mas
o esquerdo não pertence.

Os símbolos –∞ (menos infinito) e +∞ (mais infinito) podem ser usados para


representar a reta real como um intervalo: (-∞, +∞) = {x: -∞ < x < +∞}. Esses
símbolos são usados para representar também intervalos limitados apenas de
um lado:
• [-7,+∞) = {x ∈ R: -7 < x} intervalo fechado limitado à esquerda.
• (-∞,425] = {x ∈ R: x < 425}

Quando falarmos dos intervalos (a, b), [a, b], (a, b] ou [a, b), a e b serão números
finitos, com a < b.

A Tabela 1 procura sistematizar os diferentes tipos de intervalo. Vamos


considerar, salvo menção em contrário, que estamos trabalhando no universo
dos números reais.

8
Tabela 1 – tipos de intervalos de números reais.
Exemplo e
Tipo Características Na reta
notação
Definido por dois números a Conjunto dos pontos do segmento que começa
Intervalo limitado -3 < x < 7
e b, tais que a < b, a e b não em -3 e termina em 7, com exceção das
aberto (-3, 7)
pertencem ao intervalo. extremidades -3 e = 7.
Definido por dois números
Intervalo limitado -3 ≤ x ≤ 7 Conjunto dos pontos do segmento que começa
a e b, tais que a < b, a e b
fechado [-3, 7] em -3 e termina em 7.
pertencem ao intervalo.
Definido por dois números a e
Intervalo limitado -3 < x ≤ 7 Conjunto dos pontos do segmento que começa
b, tais que a < b, b pertence ao
semiaberto à esquerda (-3, 7] em -3 e termina em 7, com exceção do 3.
intervalo, mas a não.
Definido por dois números a e
Intervalo limitado -3 ≤ x < 7 Conjunto dos pontos do segmento que começa
b, tais que a < b, a pertence ao
semiaberto à direita [-3, 7) em -3 e termina em 7, com exceção do 7.
intervalo, mas b não.
Intervalo
Definido por um número a, a x<7 Conjunto dos pontos da semirreta esquerda que
aberto limitado
não pertence ao intervalo. (-∞,7) tem origem em 7. 7 não pertence ao intervalo.
superiormente
Intervalo x≤7
Definido por um número a, a Conjunto dos pontos da semirreta esquerda que
fechado limitado (-∞, 7]
pertence ao intervalo. tem origem em 7. 7 não pertence ao intervalo.
superiormente
Intervalo aberto Definido por um número a, a -3<x Conjunto dos pontos da semirreta esquerda que
limitado inferiormente não pertence ao intervalo. (-3,+∞) tem origem em -3. -3 não pertence ao intervalo.
Intervalo fechado Definido por um número a, a -3≤x Conjunto dos pontos da semirreta esquerda que
limitado inferiormente pertence ao intervalo. [-3, +∞) tem origem em -3. -3 não pertence ao intervalo.

Um intervalo limitado superior e inferiormente está, então, associado a um


segmento da reta, enquanto os intervalos limitados apenas de um lado correspondem
a semirretas. Quando as extremidades pertencem ao intervalo, costuma-se desenhá-las
como “bolas cheias”, como indicado na figura 1. Quando a extremidade não pertence
ao intervalo, costuma-se desenhá-la como “bola vazia”, como mostrado na Figura 1.

Figura 1 – exemplo de representação gráfica de intervalos. Extremidade como círculo preenchido:


pertence ao intervalo. Extremidade como círculo não preenchido: não pertence ao intervalo.

9
9
UNIDADE Sequências e séries infinitas

Toda nossa discussão será baseada em intervalos e é essa uma das dificuldades
do tratamento formal do cálculo. O aluno inicialmente está acostumado a trabalhar
com cálculos e problemas que envolvem manipulação de números e cujos resultados
são números. Quando se começa a estudar funções, uma das dificuldades é se
dar conta de que o objeto de estudo não são mais números e sim relações entre
números. Às vezes o resultado até é um número, mas que deve ser interpretado no
contexto das relações em que ele se insere. Aqui, o problema é que não trabalhamos
mais com números e sim com intervalos de números.

Sequências infinitas
Uma sequência numérica infinita nada mais é do que uma sequência de números
que tem um elemento inicial, mas não tem fim. Uma sequência (não ficaremos
repetindo o termo “infinita”, todas de que trataremos aqui são infinitas) pode ser
simplesmente constante, a repetição de um mesmo número: 2, 2, 2, ... Pode
ser uma sequência de números aleatórios: 1, 4, 2, 2, 2, 5, 9, 7,... ou pode ser
uma sequência de números que variam segundo alguma determinada regra. O
exemplo mais simples desse caso é a sequência de números naturais: 1, 2, 3, 4,
5,... Conforme o tipo de regra, às vezes as sequências recebem nomes especiais.
Você possivelmente conhece as progressões aritméticas e geométricas.

Uma progressão geométrica é uma sequência na qual cada elemento é obtido multipli-
Explor

cando-se o elemento anterior por uma razão q. O termo geral dessa sequência é

an = a1 .qn−1

onde a1 é o termo inicial da sequência.


A soma dos n primeiros termos de uma progressão geométrica é dada por:
a1. ( qn − 1)
Sn =
( q − 1)

No link a seguir você encontrará informações sobre as progressões aritméticas:


Explor

Disponível em : http://goo.gl/Vl7Noq
E neste aqui sobre progressões geométricas:
Disponível em : http://goo.gl/SH1VRk

As posições dos números são numeradas e são importantes. A sequência 1, 2,


3, 4, 5, 6, ... é diferente da sequência 6, 5, 4, 3, 2, 1 ... Em termos matemáticos,

10
toda sequência pode ser entendida como uma função cujo domínio são os números
naturais: n → f ( n) . Cada número natural n identifica uma posição da sequência
(começando com o 1, mas isso pode ser mudado conforme a conveniência). A
cada posição n, está associado um número, que representamos como f(n), segundo
a notação usual de funções, ou, muito mais frequentemente, como an, segundo
a notação mais comum quando se fala de séries. O número n que aí aparece é
chamado de índice da sequência, e an de n-ésimo elemento da sequência.

Uma sequência está definida quando se conhecem, ou se tem condições de


conhecer, os números que ocupam cada uma das posições da sequência. Isto é,
para cada n, há como conhecer o an correspondente. Quando temos uma fórmula
que relaciona n e an, isso é inequívoco. A fórmula do an em função de n é chamada
de termo geral da sequência. Exemplos:

A sequência dos números pares positivos é dada pela fórmula an = 2n. Verifique,
substitua n por cada um dos primeiros números naturais, faça a conta e veja que são
gerados os primeiros números pares positivos. A sequência dos números ímpares
positivos é dada pela fórmula an = 2n – 1, com n = 1, 2, 3,... Se começamos a
contar o n a partir do 0 (o que em alguns casos pode ser conveniente fazer), a
fórmula deve ser alterada para an = 2n + 1, com n ≥ 0.

Uma sequência pode ser descrita pelos seus primeiros termos. Por exemplo,
as relações abaixo sugerem que se trata da sequência dos múltiplos positivos de 4.

a1 = 4, a2 = 8, a3 = 12, a4 = 16, a5 = 20, a6 = 20,...

No caso a seguir, o reconhecimento não necessariamente é imediato, mas se


trata das aproximações decimais por falta de 2 :

a1 = 1,4, a2 = 1,41, a3 = 1,414, a4 = 1,4142, a5 = 1,41421, a6 = 1,414213,...

Para indicar a sequência como um todo, muito frequentemente se usa a notação


(an) ou então (an)n ∈ N, (a1, a2, a3,...).

Por que falar de sequências infinitas? Por que não se restringir a


sequências finitas?

Uma razão é porque já vimos que sequências infinitas podem ser muito frequentes
ao trabalhar com números reais. Lembra-se dos dígitos das expansões decimais de
dízimas periódicas e de números irracionais? Então, precisamos entender melhor
como é possível uma sequência infinita de dígitos corresponder a um valor finito,
bem preciso. Como é possível que a sequência infinita de dígitos que representam
a expansão decimal da raiz quadrada de 2 corresponda a um valor preciso, bem
definido, à medida da diagonal de um quadrado de lado 1?

Vamos, então, primeiramente procurar identificar o conceito de sequência


1
convergente. Um exemplo é a sequência dada por an = . A Tabela 2 mostra os
n
primeiros termos dessa sequência:

11
11
UNIDADE Sequências e séries infinitas

1
Tabela 2 – primeiros termos da sequência a
n =
n
.

n 1 2 3 4 5 6 7 8 9
an 1 0,5 0,333.. 0,25 0,20 0,1666... 0,142857... 0,125 0,111...

Observe os valores da sequência. Eles ficam cada vez menores à medida que n
aumenta e parecem chegar cada vez mais perto do 0. Parece razoável pensar que
quando n tende a infinito, o valor de an tende a 0. Não parece?

Bem, daqui a pouco provaremos que é mesmo isso. Antes devemos sublinhar
alguns aspectos:
• “No popular”, o problema pode ser traduzido por “qual é o valor de an quando
n é infinito”? Por que “no popular”? Porque infinito não é um número real,
muito menos natural. Ou seja, não dá para substituir n por infinito e fazer uma
conta. A ideia é tentar prever qual o resultado quando n assume valores finitos,
mas cada vez maiores, sem limite. Dá para dizer algo sobre o valor de an?
• Como a cada vez n assume apenas valores finitos bem determinados, não é
possível chegar ao infinito passo a passo, aumentando gradativamente o valor
de n. Precisamos de outro caminho. Esse caminho é dado pelo raciocínio
lógico, que vai nos permitir dar esse salto: contornar as limitações de passos
finitos e levar-nos a um valor de an “no infinito” que faça sentido.
• Para desenvolver esse salto, precisamos antes definir mais objetivamente
alguns termos que usamos acima: “valor no infinito”, “tender para”, “ficar
cada vez menor”, “chegar cada vez mais perto”. É isso que faremos agora.

Comecemos lembrando que n cresce indefinidamente. Uma maneira de


dizer isso é que “n tende a infinito” ou “n tende a mais infinito”. Isso quer dizer
que se tomarmos como referência um número L qualquer, em algum ponto da
sequência os valores de n alcançarão L e o ultrapassarão. Em outras palavras, não
é possível colocar um limite para n. Em algum momento, n alcançará esse limite e
o ultrapassará.

No caso dos an, isso também pode acontecer. Depende da sequência. Por
exemplo, isso acontece com a sequência dos números pares positivos mencionada
anteriormente (an = 2n). Não é possível colocar um limite superior para an. Vamos
tentar. Vamos supor que o limite seja L. A ideia é que todos os elementos da
sequência sejam menores ou no máximo iguais a L. an ≤ L. Vamos substituir nessa
expressão a fórmula de an: 2n ≤ L. Ora, essa fórmula só será verdadeira enquanto
n for menor ou no máximo igual à metade de L. Quando n for igual à metade de
L + 1, acabou. A partir daí todos os an serão maiores que L, qualquer que seja L.
É isso o que quer dizer “an tende a infinito”. Se todas as sequências fossem desse
jeito, as coisas seriam muito sem graça. Provavelmente nem estaríamos falando
delas. A questão é que há séries para as quais é possível colocar um limite, é
possível dizer, por exemplo, que “an tende para 2.”

12
1 + 2n
Vejamos um exemplo. Seja a sequência an = . A Figura 2 mostra os valores
n
dessa sequência de n = 1 até n = 100. Observe que ele começa em 3 e cai
rapidamente no início e depois continua caindo cada vez mais lentamente à medida
que n aumenta. Por exemplo, em n = 1, an = 3, enquanto em n = 10, an = 2,1,
em n = 20, an = 2,05, em n = 100, an = 2,01. Em outras palavras, dá a impressão
de que an se aproxima cada vez mais de 2, à medida que n aumenta. Se isso for de
fato verdade para qualquer valor de n, nós dizemos que a sequência an converge
para 2 quando n tende a infinito. A ideia é que, se fosse possível chegar a n, an
valeria dois. Vamos primeiramente formalizar essa ideia.

1 + 2n
Figura 2 – Comportamento de a n =
n
a medida que n cresce.

Diz-se que uma sequência (an) converge para o número L, ou tem limite L, se, dado qualquer
Explor

número ε > 0, é sempre possível encontrar um número N tal que:


n > N → an − L < ε

Uma sequência que não converge é dita divergente. Chama-se sequência nula toda
sequência que converge para zero.
Escreve-se lim an = L, lim an = L, ou a n → L .
n→ ∞

(ÁVILA, 2006)

Vamos interpretar a definição de sequência convergente. O e representa um


limite superior para o erro absoluto, a diferença em módulo entre o valor an da
sequência e o limite L, ou ainda a distância entre an e L na reta. A definição diz que
qualquer que seja o valor escolhido para esse e, (isto é, “dado e > 0”) a partir de um
certo valor de n maior do que um limite N (que pode ou não ser inteiro ou mesmo
positivo), todos os valores subsequentes de an estarão a uma distância de L menor
que e. Em outras palavras, se a sequência converge, podemos chegar tão perto
quanto necessário de L, sendo esse “tão perto quanto se queira” definido pelo valor
de e. Para isso, basta avançar o suficiente na sequência, isto é, encontrar o valor de
n a partir do qual estaremos a uma distância menor do que e.

Para desenvolver as discussões sobre limites, é importante apresentar o conceito


de vizinhança.

13
13
UNIDADE Sequências e séries infinitas

Dado um número L qualquer, chama-se vizinhança ε de L todos os números x do intervalo


Explor

(L – ε, L + ε). Denotaremos esse intervalo com o símbolo Vε(L). Observe que a condição
x ∈ Vε(L) pode ser escrita das seguintes três maneiras equivalentes:

x − L < ε ⇔ −ε < x − L < ε ⇔ L − ε < x < L + ε

O conceito de vizinhança permite dizer que se uma sequência converge para o


limite L, isso quer dizer que a partir de um certo valor suficientemente grande de
n, todos os termos an passam a pertencer à vizinhança em torno de L, vizinhança
esta definida por e. Simbolicamente, isso pode ser representado de diferentes
modos equivalentes:
• A sequência converge para L: n > N → an − L < 
• A partir de n > N, an está na vizinhança de L: n > N → an ∈ Vε ( L )

Vamos provar agora, usando a definição, que a sequência acima de fato converge
para 2. A sequência é:
1 + 2n   3 5 7 1 + 2n 
( an ) =   =  , , ,…, ,… 
 n  1 2 3 n 
1 + 2n
Então, nossa hipótese é que nlim = 2.
n →∞

Se esse for o caso, provar que esse limite existe e é 2 implica encontrar uma
regra que, dado e, permite calcular N tal que n > N → an − L < ε . A estratégia é
manipular o termo an − L <  de maneira a isolar n. Procuremos fazer isso.

an − L < ε
1 + 2n
−2 < ε
n
1 + 2n − 2n

n
1

n

Como n é sempre positivo, podemos tirar o módulo.


1

n
1 < εn
1
<n
ε

1
Ou seja sempre que n for maior que N = , então an − L < ε
ε

14
Observe que, em geral, como neste caso, N depende de e. Isto é, conforme
nosso nível de exigência sobre a proximidade entre an e L, isto é, um e maior ou
menor, teremos que ter um N correspondentemente menor ou maior.

Neste caso, se (e = 0,1) n → 10. Ou seja, a partir do a11, é que an − 2 < 0,1 .
23 23 23 − 22 1
De fato, a11 = . E que a11 − 2 = 11 − 2 = 11 = 11 , que de fato é menor do que
11
é dado (e = 0,1). Se quisermos valores muito mais próximos de L, teremos que
avançar bem mais na sequência. Por exemplo, se e = 0,000001 → n > 1000000.
2000003
Ou seja, a partir do a1000001, é que an − 2 < 0,1 . De fato, a1000001 = . E que
1000001
2000003 23 − 2000002 1
a1000001 − 2 = −2 = = , que de fato é menor do que o é dado
1000001 1000001 1000001
(e = 0,000001).

Façamos um segundo exemplo, retirado de Ávila (2006). Seja a sequên-


3n
cia: an =
n + sen 2n
O limite dessa sequência é 3. Você pode, por exemplo, fazer o gráfico para
chegar a essa estimativa. Agora é necessário provar que de fato essa sequência
converge para 3 à medida que n se torna cada vez maior. A ideia é basicamente a
mesma, partir da definição e encontrar uma fórmula para n em função de e.

an − L < ε
3n
−3 <ε
n + sen 2
3n − 3 ( n + 2n) 3n − 3n − 3 2n −3 2n 3 2n
= = = <ε
n + sen2 n+ 2n n + sen2 n + sen2

Para continuar, vamos usar uma propriedade da função seno: sen ( x ) ≤ 1 ,


qualquer que seja x.
3 sen2n 3

n + sen2n n + sen2n

Observe agora o denominador: n + sen2 ≥ n − sen2 . Consequentemente:

1 ≤ 1

n + sen2 n − sen2

Multiplicando essa inequação por 3, temos:

3 ≤ 3

n + sen2 n − sen2

15
15
UNIDADE Sequências e séries infinitas

Voltando a usar sen ( x ) ≤ 1 :

3 3

n − sen 2n n − 1

Observe que a relação acima só vale quando n > 1.

Em resumo, conseguimos o seguinte:

3n 3
an − L = −3 ≤

n + sen2 n−1

3 3n
Ou seja, se fizermos com que ≤ ε , garantiremos que an − L =
n + sen2
− 3 ″≤ ε
n−1
Resolvendo a 1ª desigualdade:
3 3
≤ ε → 3 ≤ ε ( n − 1) → 3 ≤ εn − ε → 3 + ε ≤ εn → + 1 ≤ n
n−1 ε
3 3n
Ou seja, se n > 1 + , então necessariamente an − L =
n + sen2
−3 < ε, o que prova o
ε
limite acima. Observe que por causa das simplificações realizadas, não é possível
3n 3
dizer que se −3 <ε , então n>1+ , mas como para nós o objetivo é provar
n + sen2 ε
que o limite é 3, só precisamos da 1ª implicação.

O estudo de sequências implica determinar seus limites. Hipóteses sobre limites


são feitas, por exemplo, por meio de estudo da função f(n) = an. A demonstração
pela definição de que o limite é de fato o que se supõe utiliza outras ferramentas,
como as propriedades operacionais de limites e os testes de convergência.

A seguir estudaremos mais aprofundadamente algo que pode ser entendido


como um tipo especial de sequência numérica: as séries infinitas, de particular
importância no estudo de funções.

Séries infinitas
Nós já encontramos séries infinitas. A expansão decimal de um número irracional
ou de uma fração que é uma dízima periódica é uma série infinita (de agora em
diante, usaremos na maior parte das vezes o termo série apenas – está implícito
que é uma série infinita). Por exemplo:
1 3 3 3 3
= + + + + … = 0, 3333 …
3 10 100 1000 10000

Ou seja, uma série infinita nada mais é do que uma soma com infinitos termos.
No caso da expansão acima, a soma, apesar de ter infinitos termos, tem um valor

16
finito. Como dissemos no início, temos que ser capazes de responder à seguinte
pergunta: como chegar ao resultado de uma soma infinita? Não dá para fazer a
soma no sentido estrito. Precisamos usar o raciocínio lógico. No caso de dízimas
periódicas, podemos, por exemplo, usar o procedimento a seguir:

Chamemos a dízima de x:

x = 0,33333...

Multipliquemos x por 10:

10x = 3,3333...

Façamos 10x – x

10x – x = 3,3333... – 0,33333...

9x = 3

x = 3/9 = 1/3

Tudo parece muito claro e lógico, não? E funciona. No entanto, por cada
passagem há a ideia de que essa soma tem um valor definido e que posso operar
com elas como se fossem números reais. Ora, anteriormente já mostramos uma
série que, conforme a maneira como a analisássemos, resultava num valor diferente:

S = 1 – 1 + 1 – 1 + 1 -1 ...

1ª possibilidade:

S = (1 - 1) + (1 -1) + (1 -1) + ... = 0.

2ª possibilidade

S = 1 — (1 — 1) — (1 — 1) — (1 — 1) — ... = 1.

Precisamos definir o limite de uma série e depois calculá-lo. Para fazer isso,
definimos formalmente uma série como uma sequência de somas parciais.

Para entender melhor as sutilezas que podem envolver raciocínios sobre processos
Explor

infinitos, vale a pena conhecer os paradoxos de Zenon. Você pode encontrar uma
interessante apresentação em (USP. Filosofia da Física. Capítulo 1: Paradoxos de Zenão.
Disponível em: http://goo.gl/2D7jS3

Seja a série: S = a1 + a2 + a3 + a4...

Essa série é definida como o limite da seguinte sequência de somas


parciais (finitas)

S1 = a1

S2 = a1 + a2

17
17
UNIDADE Sequências e séries infinitas

S3 = a1 + a2 + a3

S4 = a1 + a2 + a3 + a4

...

Sn = a1 + a2 + a3 + ... + an

...

Onde cada Sn é a soma dos n primeiros termos da série. Sn também é chamado


de soma parcial ou reduzida de ordem n.

A série S tem um valor definido, isto é, converge para um limite se a sequência


(Sn) é convergente. Isto é: . A diferença entre esse limite (se ele existe) e
uma dada soma parcial qualquer Sk é chamada de resto de ordem k (Rk) da série.
Simbolicamente: .
[...] a noção de série infinita generaliza o conceito de soma finita, pois a série se
reduz a uma soma finita quando todos os seus termos, a partir de um certo índice,
são nulos. Mas é bom enfatizar que há uma real diferença entre a soma de um
número finito de termos e a soma de uma série infinita. Esta última não resulta de
somar uma infinidade de termos — operação impossível: ela é, isto sim, o limite da
soma finita Sn. (ÁVILA, 2006)

Vamos agora desenvolver algumas ferramentas para estudar séries. Vejamos


inicialmente uma condição necessária para que uma série convirja. Vamos provar
que se uma série converge, seu termo geral an tende a zero.

Hipóteses:
n
• Sn = ∑ak – esta é a reduzida de ordem n da série S.
k =1

• S = lim Sn – a série converge.


n→ ∞

Tese:
lim an = 0
n→ ∞

Demonstração
an = Sn − Sn−1
lim an = lim ( Sn − Sn−1 )
n→ ∞ n→ ∞

Como, quando os limites existem, o limite da diferença é a dos limites,


podemos escrever:
lim an = lim ( Sn ) − lim ( Sn−1 )
n→ ∞ n→ ∞ n→ ∞

18
Ora, tanto lim ( Sn ) = S , como nlim
n→ ∞ →∞
( Sn−1 ) = S . Logo:
lim an = S − S
n→ ∞

lim an = 0
n→ ∞

Observe que o ponto de partida foi que a série converge, e a conclusão foi que
an tende a 0. Isso não quer dizer que se an tende a zero, a série converge. Veja

1 1
um exemplo famoso, o da série harmônica: S = ∑ . O termo tende a 0. No
n=1 n n
entanto, a série é divergente. A seguir uma ilustração da demonstração dada por
Nicole Oresme, matemático do século XIV (ÁVILA, 2006):
1 1 1
A série é esta soma: S = 1 + + + + …. Os termos desta soma podem ser
2 3 4
agrupados do seguinte modo:

1 1 1 1 1 1 1 1 1   1 1   1 1 
S =1+ +  +  +  + + +  +  +…+ + +…+ + +…+ …
2 3 4 5 6 7 8 9 16   17 32   33 64 

Observe que cada par de parênteses é a soma

2k +1
1
∑n
2k +1

CUIDADO COM AS POTÊNCIAS: No limite de baixo, o expoente é


somente k (o 1 está sendo somado ao 2k). No limite de cima, o expoente
do 2 é k+1

Essa soma é sempre maior que ½, pois:


2k +1
1 1 1 1 1 1 1 1 2k 1
∑k n
=
2k
+ 1
+
2k
+ 2
+ … +
2 + ( 2 − 1)
k k
+
2k +1
>
2k +1
+
2k +1
+ … +
2k +1
=
2k +1
=
2
2 +1

Exemplo no caso do 4º parênteses:

 1 1 1 1  1 1 1 1 16 1
 + …+ + > + …+ + = =
 17 18 31 32  32 32 32 32 32 2

Ou seja
1 1 1 1 1 1 1
S >1+ + + + + + + +…
2 2 2 2 2 2 2

O lado direito é claramente divergente; consequentemente, S também é.

Para dizer que o lado direito é divergente, usamos o teorema na sua forma
contrapositiva. O teorema diz “Se S converge, então an à 0”. A contrapositiva é
“Se an não tende a 0, então S não converge.” Essa contrapositiva também pode
ser usada para demonstrar que a série S = 1 – 1 + 1 – 1 + 1 -1 ... não converge,
pois an fica oscilando entre -1 e 1.

19
19
UNIDADE Sequências e séries infinitas

Testes de convergência
O teorema acima forneceu uma condição necessária para a convergência de
uma série, mas, como ela não é uma condição suficiente, ele não pode ser usado
como teste de convergência. A seguir apresentamos alguns testes úteis. Mas
antes, apresentaremos um teorema que permite deduzir a convergência de uma
série a partir da convergência de outras séries. O teorema é consequência das
propriedades operacionais dos limites de sequências. Ele diz que se as séries ∑ an
e ∑ bn convergem e k é um número qualquer, então as séries ∑ kan e ∑ ( an + bn )
também convergem e valem as seguintes relações:

∑ kan = k ∑ an
∑ ( an + bn ) = ∑ an + ∑ bn

Em outras palavras, a soma de duas séries convergentes é uma série convergente,


e seu limite é a soma dos limites das duas séries iniciais; o produto de uma série
convergente por uma constante k é uma série convergente e seu limite é o produto
da série inicial por k.

Uma consequência disso é que se prova-se que uma série converge a partir de
n > N, toda a série converge e os limites se relacionam do seguinte modo:
∞ ∞

∑an = SN + ∑aN +n
n=1 n=1

onde SN = a1 + a2 + ... + aN

Pois

∑a
n=1
n = lim ( Sn ) = lim ( SN + aN +1 + aN +2 + … + aN +n )

∑a
n=1
n = lim ( SN ) + lim
m ( aN +1 + aN +2 + … + aN +n )
∞ ∞

∑an = SN + ∑aN +n
n=1 n=1

Critério de convergência de Cauchy


O critério de convergência de Cauchy oferece uma condição necessária
e suficiente para a convergência de uma série. O teorema diz o seguinte: uma
condição necessária e suficiente para que uma série ∑ an seja convergente é que
dado e > 0 qualquer, é possível encontrar um N tal que para todo inteiro positivo p:

n > N → an+1 + an+2 + … + an+ p < ε

Observe que an+1 + an+2 + … + an+ p = Sn+ p − Sn

20
Com esse critério, podemos formalizar a demonstração da não convergência da
série harmônica. Para isso, façamos p = n. Logo:
an+1 + an+2 + … + an+ p = an+1 + an+2 + … + a2n

Observe que a soma dentro do módulo tem n parcelas.

1 1 1
an+1 + an+2 + … + an+ p = + +…+
n+1 n+2 2n
1 1 1 n 1
an+1 + an+2 + … + an+ p > + +…+ = =
2n 2n 2n 2n 2

Ora, se o lado esquerdo é maior que meio para um n qualquer, nunca


encontraremos um N tal que, para n > N, o lado esquerdo seja menor que um
dado e arbitrário. Logo, a série é divergente.

Provemos agora que se ∑ an converge, então ∑ an converge. Se ∑ an


converge, ela passa pelo critério de Cauchy. Ou seja, é possível encontrar N, tal
que, dado e > 0 qualquer, para todo inteiro positivo p:

n > N → an+1 + an+2 + … + an+ p < ε

Se ∑ an e ∑ an são ambas séries convergentes, diz-se que a série ∑ an converge


Explor

absolutamente. Se ∑ an é convergente mas ∑ an não é convergente, diz-se que a série


∑ an converge condicionalmente.

Ora, an+1 + an+2 + … + an+ p ≥ an+1 + an+2 + … + an+ p . Logo, se ∑ an atende ao


critério de Cauchy, então necessariamente ∑ an também atende e consequentemente
∑ an é convergente.

Teste da comparação
Sejam ∑an e ∑bn duas séries de termos não negativos, tal que an≤ bn, para n ≥ p.

Atendidas estas condições, podemos afirmar que:

(a) Se ∑ bn converge, então ∑ an converge e ∑ an ≤ ∑ bn .

(b) Se ∑ an diverge, então ∑ bn também diverge.

Demonstremos a parte (a) usando o critério de Cauchy.

Se ∑ bn converge, então, dado e, é possível encontrar um N tal que para todo


inteiro positivo p:

n > N → bn+1 + bn+2 + … + bn+ p < ε

21
21
UNIDADE Sequências e séries infinitas

Ora, como para todo n, an≤bn e an≥0 e bn≥0, então

an+1 + an+2 + … + an+ p ≤ bn+1 + bn+2 + … + bn+ p

Ou seja, se ∑ bn atende ao critério de Cauchy, então necessariamente ∑ an


também atende ao critério.

Tendo provado (a) podemos provar (b) rapidamente: se ∑ bn convergisse, então


∑ an também convergiria (por causa da parte a do teste).

Um exemplo da utilização desse teste é a demonstração de que a




1 1 1
série ∑ n! é convergente. Observe que > 0 . A série ∑ an será ∑ n! .
n= 0 n! n= 2

1 1 1
Ou seja, ∑ = + + ∑an.
n= 0 n! 0 ! 1!

1 ∞
1
Como vimos acima, se ∑ an converge, então ∑ n!
n= 0
converge e ∑ n! = 2 + ∑ a . n
n= 0

Precisamos encontrar uma série ∑ bn tal que an≤bn para todo n. Isso é feito do
seguinte modo:

1 1 ≤ 1 1
= £ = n-1
n! 2. 3. ... .n 2. 2. ... .2 2


1
Ou seja, ∑ bn = ∑ n−1
n= 2 2

Ora, ∑ bn nada mais é do que a soma de uma progressão infinita de razão ½ e


termo inicial ½. Como a razão é menor que 1, essa progressão tem limite dado por
inicial 1 1
S= . Ou seja: S = 1 − 21 = 2 =1
1
.
1 − razão 2 2

∞ ∞
1 1
Ou seja, temos que ∑ an = ∑ e ∑ bn = ∑ n−1
. Essas duas séries atendem às
n= 2 n ! n= 2 2
condições do teste: para todo n, a n > 0, b n ≥ 0, a n ≤ b n. Ou seja, elas atendem
à condição do teste.

1
Sabemos que ∑ bn converge; logo ∑ an converge. Se ∑ an e ∑
n= 0 n !
= 2 + ∑ an, então

1
∑ n! também converge, como queríamos demonstrar.
n= 0

22
Teste da razão ou teste de D’Alembert
Seja ∑ an uma série de termos positivos (isto é, an > 0 para todo n) tal que
an+1
existe o limite L do quociente . Se L < 1, a série converge. Se L > 1, a série
an
diverge. Se L = 1, não é possível concluir nada sobre a convergência de ∑ an . A
demonstração desse teste você encontra em Ávila (2006, p. 120).
n+1
Veja um exemplo de aplicação com a série ∑ . Observe que os termos dessa
n!
série são todos positivos, pois n ≥ 1. Precisamos ver se existe o limite L. Primeiro
a
calculemos n+1 :
an
( n + 1) + 1
an+1 ( n + 1) ! ( n + 1) + 1 n! n+2 n!
= = . = .
an n + 1 ( n + 1) ! n + 1 ( n + 1) .n! n + 1
n!
an+1 n+2 1
= .
an ( n + 1) n + 1
an+1 n+2
=
( n + 1)
2
an
an+1 n+2
= 2
an n + 2n + 1

Calculemos agora o limite de an+1 :


an

an+1 n+2
L = lim = lim 2
n→ ∞ a n→ ∞ n + 2n + 1
n

Dividindo o numerador e o denominador da razão por n²:


n
+2 2
L = lim n2 n
n 2 + 2n 2 + 1
n→ ∞ 2

n n n2

L=
lim (1 / n) + lim 2
n→ ∞
( n)
n→ ∞
2

lim 1 + lim ( 2 / n) + lim ( 1 ) 2


n→ ∞ n→ ∞ n
n→ ∞

0+0 0
L= = =0
1+0+0 1

Logo, L < 1. Consequentemente, a série converge.

23
23
UNIDADE Sequências e séries infinitas

Teste da integral
Seja f(x) uma função positiva e decrescente. Seja uma série ∑ an tal que an = f(x). Seja
N
a integral ∫ f ( x ) dx . Essa integral é limitada superior e inferiormente do seguinte modo:
1
N N N −1

∑f ( n) ≤ ∫ f ( x ) dx ≤
n= 2
∑ f ( n)
n=1
1

O esquema da Figura 3 mostra porque essas somas constituem estimativas


por falta e por excesso dessa integral. Quando N → ∞ , se a integral converge,
pela primeira desigualdade de expressão acima, concluímos que a série converge;
se a série converge, pela segunda desigualdade da expressão, concluímos que a
integral converge.

Figura 3 – relação entre as somas e a integral no teste da integral. No lado esquerdo, entre ∑
n= 2
f ( n)
N N −1 N

(estimativa por falta) e ∫ f ( x ) dx . No lado direito, entre ∑ f ( n) (estimativa por excesso) e ∫ f ( x ) dx .


1 n=1 1
Fonte: Ávila (2006).

Em resumo, dadas essas condições, a série ∑ an converge se e somente se a



integral imprópria ∫ f ( x ) dx tem um limite definido. Vejamos dois exemplos.
1 N

Comecemos por ∑ e − n . Seja f ( x ) = e − x . A integral que devemos calcular é ∫e − x dx:


1

N
N
∫e
−x
dx = −e − x = −e − N + e −1
1
1

Precisamos agora calcular o limite dessa integral quando N → ∞ .


N
lim ∫e − x dx = lim ( −e − N + e −1 ) = lim ( −e − N ) + lim ( e −1 )
N →∞ N →∞ N →∞ N →∞
1
N
 1  1
lim ∫e − x dx = − lim  N  + Nlim  
N →∞
1
N →∞
e  →∞ e
 
N
1
lim ∫e − x dx = −0 +
N →∞
1
e
N
1
lim ∫e − x dx =
N →∞
1
e

Ou seja, a integral imprópria ∫f ( x ) converge. Logo, a sequência converge.


1

24
Exercícios de fixação
2n2
1) Demonstre pela definição que a sequência an =
n2 + 7 converge para o limite 2.
3n n
2) Demonstre pela definição que a sequência an =
n n+5
converge para o limite 3.
4
3) Demonstre pelo teste da comparação que a série ∑
3n + 2
é convergente.

4) Demonstre que 0,9999... = 1

5) Verifique se as séries a seguir convergem ou não. Utilize o teste da integral:


1
a) ∑
4n2

b) ∑ 1
2n + 1

Soluções
2n2
1) Demonstre pela definição que a sequência an = converge e tem como
n2 + 7
limite 2.

Pela definição, se L = 2, então podemos encontrar N tal que para n > N, temos

2n2
−2 < ε
n2 + 7

Manipulando o lado esquerdo, temos:

2n2 2n2 − 2n2 − 14 −14 14 14


−2 = = 2 = 2 < 2
n +7
2
n +7
2
n +7 n +7 n

14
Se fizermos < ε , teremos:
n2

14
n2 >
ε
14
n>
ε

14 2n2
Ou seja, dado e, se n> , então teremos −2 < ε
ε n2 + 7
Logo, está provado que o limite é 2.
3n n
2) Demonstre pela definição que a sequência an = converge para o limite 3.
n n+5

Pela definição, se L = 3, então podemos encontrar N tal que para n > N, temos:
3n n
−3 <ε
n n+5

25
25
UNIDADE Sequências e séries infinitas

Manipulando o lado esquerdo, temos:

3n n
−3 =
3n n − 3 n n + 5(=
)
3n n − 3n n − 15
=
−15
=
15
<
15
n n+5 n n+5 n n+5 n n+5 n n+5 n n

15
Se fizermos < ε, teremos:
n n

3 15
n n=n 2
>
ε
2
 15  3
n> 
 ε 
2
 15  3
3n n
Ou seja, dado e, se n>  , então teremos −3 <ε
 ε  n n+5
Logo, está provado que o limite é 3.

3) Demonstre pelo teste da comparação que a série a seguir é convergente:

4

3 +2
n

4
Se ∑ an = ∑ , precisamos encontrar ∑ bn , tal que bn ≥ an.
3 +2
n

4
Considere bn = . Observe que 4n > n 4 para todo n ≥ 1.
3n 3 3 +2
4
Por outro lado, ∑ n é uma progressão geométrica infinita de razão 1/3 e
3
termo inicial 4/3. Logo, ela converge.

Pelo teste da comparação, se ∑ bn converge, sendo , bn ≥ an ≥ 0 então ∑ an converge.

4) Demonstre que 0,9999... = 1

Lembre-se do que significa a expansão decimal de um número:

9 9 9 9
0, 9999 … = + 2 + 3 + 4 +…=1
10 10 10 10

26
9
Ou seja, a pergunta pode ser entendida como: demonstre que a série ∑
10n
converge para o limite 1.

Vamos demonstrar que a série converge com auxílio do teste da razão.


an+1
Determinemos primeiro :
an
9 n+1
an+1 9 10n 1
= 10 = n+1 . =
an 9 10 9 10
10n

Ou seja, a razão entre o termo seguinte e o anterior é sempre 1/10.


Evidentemente, neste caso o limite da razão existe:

an+1 1 1
lim = lim =
n→ ∞ an n→ ∞ 10 10

an+1
Como o limite nlim é menor que 1, a série converge.
→∞ an
9
Para provar que o limite da série ∑ é 1, precisamos calcular a soma parcial
10n
Sn. Observe que a série é uma progressão geométrica infinita. A soma de uma PG
finita é dada por:

a1 ( qn − 1)
Sn =
q −1

9 1
No problema,
= a1 =
10
eq
10
:

 1
( )  1   1 
− 1  9 10  n − 1  9 10  n − 1 
n
9 
10  10 =  10 =  10 
Sn =
1 −1 1 − 10 −9
10
10 10
 1   1 
Sn = −  n − 1  =  1 − n 
 10   10 

27
27
UNIDADE Sequências e séries infinitas

Claramente, quando n à ∞, Sn à 1

5) Verifique se as séries a seguir convergem ou não. Utilize o teste da integral:


1
a) ∑
4n2
1
∑ > 0 para todo n > 1
4n2
1
Seja f ( x ) = 2 . f(x) é decrescente.
4x N

Precisamos calcular a integral ∫ f ( x ) dx :


1

N N N
1 x −2 x −1 1 1
∫1 4 x2 dx = ∫1 4 dx = −
4
=− +
4N 4
1

Calculando o limite:

1  1 1  1  1 1 1
∫ 4x
1
2
dx = lim  −
n→ ∞
+  = lim  −  + lim   = 0 + =
 4N 4  n→∞  4N  n→∞  4  4 4

Como o limite existe, a série converge.


1
b) ∑
2n + 1
1

2n + 1 > 0 para todo n ≥ 1
1
Seja f ( x ) = . f(x) é decrescente.
2x + 1
N
Precisamos calcular a integral ∫ f ( x ) dx :
1

N
1 N

∫1 2x + 1
dx =  2 x + 1  = 2N + 1 − 2 + 1
1

N
1
∫1 2x + 1
dx = 2N + 1 − 3

Calculando o limite:


1
2x + 1
dx = lim
n→ ∞
( )
2N + 1 − 3 = + ∞
1

Como o limite não existe, a série não converge.

28
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Videoaulas da UNIVESP TV sobre sequências e séries convergentes:
USP: (UNIVESP TV. Cálculo III. Aula 01 – Introdução ao estudo de sequências e séries
convergentes.
https://goo.gl/bm0IPQ

UNICAMP: UNIVESP TV. Cursos Unicamp - Cálculo III – Sequências numéricas- parte 1.
https://goo.gl/QOjWFQ

Paradoxos de Zenon
Preparação Digital. Noções de cálculo, limite de funções e paradoxo de Zenão.
http://goo.gl/1ySGgj

O que é o paradoxo da dicotomia, de Zenão – Colm Kelleher.


https://goo.gl/7aGucI

Progressões geométrica e aritmética


Matemática com Prof. Gui. Progressão Aritmética (P.A) – Prof. Gui.
https://goo.gl/aD34bB

Marcos Aba Matemática. PG – Progressão Geométrica – aula 01.


https://goo.gl/bgK4KX

29
29
UNIDADE Sequências e séries infinitas

Referências
ÁVILA, Geraldo. Análise matemática para licenciatura. 3ª ed. São Paulo:
Blücher, 2006.

30

You might also like