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Sequências e Séries Infinitas
Sequências e Séries Infinitas
Análise Matemática
Material Teórico
Sequências e séries infinitas
Revisão Textual:
Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos
Sequências e séries infinitas
• Intervalos
• Sequências infinitas
• Séries infinitas
• Testes de convergência
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Apresentar formalmente a noção de limite de uma sequência.
Apresentar uma série como uma sequência de somas finitas.
Relembrar conceitos e testes de convergência.
ORIENTAÇÕES
Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) às nossas discussões sobre Fundamentos de Análise Matemática]!
Saiba que esta disciplina tem como propósito [aprofundar sua compreensão da Lógica ao
mesmo tempo em que discute com maior rigor conceitos relacionados aos números reais e
ao cálculo], oferecendo-lhe contato com as discussões mais recentes dessa área; além de lhe
proporcionar momentos de leitura – textual e audiovisual – e reflexão sobre os temas que
serão aqui discutidos, contribuindo com sua formação continuada e trajetória profissional.
Esta disciplina está organizada em [seis] unidades, cujo eixo principal será [o desenvolvimento
lógico do cálculo], ou seja, que dê conta [do significado e das técnicas de demonstração,
das regras de inferência da lógica, da compreensão das especificidades dos números reais
quando comparados com outros campos numéricos, de como essas especificidades permitem
compreender o estudo de limites de sequências e séries e finalmente definir de modo rigoroso
conceitos como continuidade de funções, derivadas e integrais]. É o que você encontrará nas
próximas unidades.
Ademais, perceba que a disciplina em ensino a distância pode ser realizada em qualquer lugar
em que você tenha acesso à Internet e a qualquer horário. Entretanto, normalmente com a
correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o último momento o acesso ao
estudo, o que implicará o não aprofundamento do material trabalhado ou, ainda, a perda dos
prazos para o lançamento das atividades solicitadas.
Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá
escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário para todos os dias ou alguns
dias e determinar como o “momento do estudo”.
No material de cada unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de
materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão
no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, bem como realize as atividades de sistematização, as quais o(a) ajudarão a verificar
o quanto absorveu do conteúdo: são questões objetivas que lhe pedirão resoluções coerentes
ao apresentado no material da respectiva Unidade para, então, prepará-lo(a) para a realização
das respectivas avaliações. Tratando-se de atividades avaliativas, se houver dúvidas sobre a
resposta correta, volte a consultar as videoaulas e leituras indicadas para sanar tais incertezas.
Lembre-se: você é responsável pelo seu processo de estudo. Por isso, aproveite ao máximo
esta vivência digital!
UNIDADE Sequências e séries infinitas
Contextualização
O tema da unidade trata do infinito: se você tem uma sequência de números
que nunca acaba, o que é que se pode dizer do que acontece com os valores dessa
sequência à medida que você avança mais e mais por ela?
Há outros mais complicados, como: 1, 3 , 11 , 25 , 137 , 147 ,... Se você converter essas
2 6 12 60 60
frações para sua representação decimal, verá que a sequência é crescente, mas
que o crescimento a cada passo é cada vez menor. Será que os valores acabam
convergindo para um valor limite?
6
Intervalos
Usaremos intervalos numéricos frequentemente na nossa discussão, por isso é
bom relembrar alguns conceitos e algumas notações. A seguir, algumas definições
que valem para qualquer conjunto numérico limitado.
Observe que K não precisa pertencer a C. Por exemplo, o conjunto dos números
negativos é limitado superiormente. Um conjunto C de números reais é limitado à
esquerda ou limitado inferiormente se existe um número real k, que será chamado
de cota inferior de C, tal que para todo elemento c de C vale k ≤ c. Observe que k
não precisa pertencer a C.
m > n
2m > 2n
2m + mn > 2n + mn
m (2 + n ) > n (2 + m )
m n
>
m+2 n+2
Ou seja, ainda que o conjunto dessas frações seja limitado superiormente, dada
uma delas, sempre é possível conseguir uma outra que é maior.
7
7
UNIDADE Sequências e séries infinitas
Temos uma ideia análoga para conjuntos limitados inferiormente. Eles podem
ou não ter elemento mínimo. Um exemplo de conjunto com mínimo é 2 ≤ x. E
um exemplo de conjunto limitado inferiormente que não tem mínimo é o conjunto
de todas as frações do tipo 1 n , onde n é um número natural. Essas frações são
todas positivas, isto é, qualquer que seja n, 1 n > 0 . No entanto, esse conjunto não
tem mínimo, pois dada uma fração 1 n , sempre é possível encontrar outra (por
exemplo, 1 ( n + 1) ) que é menor que ela, qualquer que seja n.
Quando falarmos dos intervalos (a, b), [a, b], (a, b] ou [a, b), a e b serão números
finitos, com a < b.
8
Tabela 1 – tipos de intervalos de números reais.
Exemplo e
Tipo Características Na reta
notação
Definido por dois números a Conjunto dos pontos do segmento que começa
Intervalo limitado -3 < x < 7
e b, tais que a < b, a e b não em -3 e termina em 7, com exceção das
aberto (-3, 7)
pertencem ao intervalo. extremidades -3 e = 7.
Definido por dois números
Intervalo limitado -3 ≤ x ≤ 7 Conjunto dos pontos do segmento que começa
a e b, tais que a < b, a e b
fechado [-3, 7] em -3 e termina em 7.
pertencem ao intervalo.
Definido por dois números a e
Intervalo limitado -3 < x ≤ 7 Conjunto dos pontos do segmento que começa
b, tais que a < b, b pertence ao
semiaberto à esquerda (-3, 7] em -3 e termina em 7, com exceção do 3.
intervalo, mas a não.
Definido por dois números a e
Intervalo limitado -3 ≤ x < 7 Conjunto dos pontos do segmento que começa
b, tais que a < b, a pertence ao
semiaberto à direita [-3, 7) em -3 e termina em 7, com exceção do 7.
intervalo, mas b não.
Intervalo
Definido por um número a, a x<7 Conjunto dos pontos da semirreta esquerda que
aberto limitado
não pertence ao intervalo. (-∞,7) tem origem em 7. 7 não pertence ao intervalo.
superiormente
Intervalo x≤7
Definido por um número a, a Conjunto dos pontos da semirreta esquerda que
fechado limitado (-∞, 7]
pertence ao intervalo. tem origem em 7. 7 não pertence ao intervalo.
superiormente
Intervalo aberto Definido por um número a, a -3<x Conjunto dos pontos da semirreta esquerda que
limitado inferiormente não pertence ao intervalo. (-3,+∞) tem origem em -3. -3 não pertence ao intervalo.
Intervalo fechado Definido por um número a, a -3≤x Conjunto dos pontos da semirreta esquerda que
limitado inferiormente pertence ao intervalo. [-3, +∞) tem origem em -3. -3 não pertence ao intervalo.
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9
UNIDADE Sequências e séries infinitas
Toda nossa discussão será baseada em intervalos e é essa uma das dificuldades
do tratamento formal do cálculo. O aluno inicialmente está acostumado a trabalhar
com cálculos e problemas que envolvem manipulação de números e cujos resultados
são números. Quando se começa a estudar funções, uma das dificuldades é se
dar conta de que o objeto de estudo não são mais números e sim relações entre
números. Às vezes o resultado até é um número, mas que deve ser interpretado no
contexto das relações em que ele se insere. Aqui, o problema é que não trabalhamos
mais com números e sim com intervalos de números.
Sequências infinitas
Uma sequência numérica infinita nada mais é do que uma sequência de números
que tem um elemento inicial, mas não tem fim. Uma sequência (não ficaremos
repetindo o termo “infinita”, todas de que trataremos aqui são infinitas) pode ser
simplesmente constante, a repetição de um mesmo número: 2, 2, 2, ... Pode
ser uma sequência de números aleatórios: 1, 4, 2, 2, 2, 5, 9, 7,... ou pode ser
uma sequência de números que variam segundo alguma determinada regra. O
exemplo mais simples desse caso é a sequência de números naturais: 1, 2, 3, 4,
5,... Conforme o tipo de regra, às vezes as sequências recebem nomes especiais.
Você possivelmente conhece as progressões aritméticas e geométricas.
Uma progressão geométrica é uma sequência na qual cada elemento é obtido multipli-
Explor
cando-se o elemento anterior por uma razão q. O termo geral dessa sequência é
an = a1 .qn−1
Disponível em : http://goo.gl/Vl7Noq
E neste aqui sobre progressões geométricas:
Disponível em : http://goo.gl/SH1VRk
10
toda sequência pode ser entendida como uma função cujo domínio são os números
naturais: n → f ( n) . Cada número natural n identifica uma posição da sequência
(começando com o 1, mas isso pode ser mudado conforme a conveniência). A
cada posição n, está associado um número, que representamos como f(n), segundo
a notação usual de funções, ou, muito mais frequentemente, como an, segundo
a notação mais comum quando se fala de séries. O número n que aí aparece é
chamado de índice da sequência, e an de n-ésimo elemento da sequência.
A sequência dos números pares positivos é dada pela fórmula an = 2n. Verifique,
substitua n por cada um dos primeiros números naturais, faça a conta e veja que são
gerados os primeiros números pares positivos. A sequência dos números ímpares
positivos é dada pela fórmula an = 2n – 1, com n = 1, 2, 3,... Se começamos a
contar o n a partir do 0 (o que em alguns casos pode ser conveniente fazer), a
fórmula deve ser alterada para an = 2n + 1, com n ≥ 0.
Uma sequência pode ser descrita pelos seus primeiros termos. Por exemplo,
as relações abaixo sugerem que se trata da sequência dos múltiplos positivos de 4.
Uma razão é porque já vimos que sequências infinitas podem ser muito frequentes
ao trabalhar com números reais. Lembra-se dos dígitos das expansões decimais de
dízimas periódicas e de números irracionais? Então, precisamos entender melhor
como é possível uma sequência infinita de dígitos corresponder a um valor finito,
bem preciso. Como é possível que a sequência infinita de dígitos que representam
a expansão decimal da raiz quadrada de 2 corresponda a um valor preciso, bem
definido, à medida da diagonal de um quadrado de lado 1?
11
11
UNIDADE Sequências e séries infinitas
1
Tabela 2 – primeiros termos da sequência a
n =
n
.
n 1 2 3 4 5 6 7 8 9
an 1 0,5 0,333.. 0,25 0,20 0,1666... 0,142857... 0,125 0,111...
Observe os valores da sequência. Eles ficam cada vez menores à medida que n
aumenta e parecem chegar cada vez mais perto do 0. Parece razoável pensar que
quando n tende a infinito, o valor de an tende a 0. Não parece?
Bem, daqui a pouco provaremos que é mesmo isso. Antes devemos sublinhar
alguns aspectos:
• “No popular”, o problema pode ser traduzido por “qual é o valor de an quando
n é infinito”? Por que “no popular”? Porque infinito não é um número real,
muito menos natural. Ou seja, não dá para substituir n por infinito e fazer uma
conta. A ideia é tentar prever qual o resultado quando n assume valores finitos,
mas cada vez maiores, sem limite. Dá para dizer algo sobre o valor de an?
• Como a cada vez n assume apenas valores finitos bem determinados, não é
possível chegar ao infinito passo a passo, aumentando gradativamente o valor
de n. Precisamos de outro caminho. Esse caminho é dado pelo raciocínio
lógico, que vai nos permitir dar esse salto: contornar as limitações de passos
finitos e levar-nos a um valor de an “no infinito” que faça sentido.
• Para desenvolver esse salto, precisamos antes definir mais objetivamente
alguns termos que usamos acima: “valor no infinito”, “tender para”, “ficar
cada vez menor”, “chegar cada vez mais perto”. É isso que faremos agora.
No caso dos an, isso também pode acontecer. Depende da sequência. Por
exemplo, isso acontece com a sequência dos números pares positivos mencionada
anteriormente (an = 2n). Não é possível colocar um limite superior para an. Vamos
tentar. Vamos supor que o limite seja L. A ideia é que todos os elementos da
sequência sejam menores ou no máximo iguais a L. an ≤ L. Vamos substituir nessa
expressão a fórmula de an: 2n ≤ L. Ora, essa fórmula só será verdadeira enquanto
n for menor ou no máximo igual à metade de L. Quando n for igual à metade de
L + 1, acabou. A partir daí todos os an serão maiores que L, qualquer que seja L.
É isso o que quer dizer “an tende a infinito”. Se todas as sequências fossem desse
jeito, as coisas seriam muito sem graça. Provavelmente nem estaríamos falando
delas. A questão é que há séries para as quais é possível colocar um limite, é
possível dizer, por exemplo, que “an tende para 2.”
12
1 + 2n
Vejamos um exemplo. Seja a sequência an = . A Figura 2 mostra os valores
n
dessa sequência de n = 1 até n = 100. Observe que ele começa em 3 e cai
rapidamente no início e depois continua caindo cada vez mais lentamente à medida
que n aumenta. Por exemplo, em n = 1, an = 3, enquanto em n = 10, an = 2,1,
em n = 20, an = 2,05, em n = 100, an = 2,01. Em outras palavras, dá a impressão
de que an se aproxima cada vez mais de 2, à medida que n aumenta. Se isso for de
fato verdade para qualquer valor de n, nós dizemos que a sequência an converge
para 2 quando n tende a infinito. A ideia é que, se fosse possível chegar a n, an
valeria dois. Vamos primeiramente formalizar essa ideia.
1 + 2n
Figura 2 – Comportamento de a n =
n
a medida que n cresce.
Diz-se que uma sequência (an) converge para o número L, ou tem limite L, se, dado qualquer
Explor
Uma sequência que não converge é dita divergente. Chama-se sequência nula toda
sequência que converge para zero.
Escreve-se lim an = L, lim an = L, ou a n → L .
n→ ∞
(ÁVILA, 2006)
13
13
UNIDADE Sequências e séries infinitas
(L – ε, L + ε). Denotaremos esse intervalo com o símbolo Vε(L). Observe que a condição
x ∈ Vε(L) pode ser escrita das seguintes três maneiras equivalentes:
Vamos provar agora, usando a definição, que a sequência acima de fato converge
para 2. A sequência é:
1 + 2n 3 5 7 1 + 2n
( an ) = = , , ,…, ,…
n 1 2 3 n
1 + 2n
Então, nossa hipótese é que nlim = 2.
n →∞
Se esse for o caso, provar que esse limite existe e é 2 implica encontrar uma
regra que, dado e, permite calcular N tal que n > N → an − L < ε . A estratégia é
manipular o termo an − L < de maneira a isolar n. Procuremos fazer isso.
an − L < ε
1 + 2n
−2 < ε
n
1 + 2n − 2n
<ε
n
1
<ε
n
1
Ou seja sempre que n for maior que N = , então an − L < ε
ε
14
Observe que, em geral, como neste caso, N depende de e. Isto é, conforme
nosso nível de exigência sobre a proximidade entre an e L, isto é, um e maior ou
menor, teremos que ter um N correspondentemente menor ou maior.
Neste caso, se (e = 0,1) n → 10. Ou seja, a partir do a11, é que an − 2 < 0,1 .
23 23 23 − 22 1
De fato, a11 = . E que a11 − 2 = 11 − 2 = 11 = 11 , que de fato é menor do que
11
é dado (e = 0,1). Se quisermos valores muito mais próximos de L, teremos que
avançar bem mais na sequência. Por exemplo, se e = 0,000001 → n > 1000000.
2000003
Ou seja, a partir do a1000001, é que an − 2 < 0,1 . De fato, a1000001 = . E que
1000001
2000003 23 − 2000002 1
a1000001 − 2 = −2 = = , que de fato é menor do que o é dado
1000001 1000001 1000001
(e = 0,000001).
an − L < ε
3n
−3 <ε
n + sen 2
3n − 3 ( n + 2n) 3n − 3n − 3 2n −3 2n 3 2n
= = = <ε
n + sen2 n+ 2n n + sen2 n + sen2
1 ≤ 1
″
n + sen2 n − sen2
3 ≤ 3
″
n + sen2 n − sen2
15
15
UNIDADE Sequências e séries infinitas
3 3
≤
n − sen 2n n − 1
3n 3
an − L = −3 ≤
″
n + sen2 n−1
3 3n
Ou seja, se fizermos com que ≤ ε , garantiremos que an − L =
n + sen2
− 3 ″≤ ε
n−1
Resolvendo a 1ª desigualdade:
3 3
≤ ε → 3 ≤ ε ( n − 1) → 3 ≤ εn − ε → 3 + ε ≤ εn → + 1 ≤ n
n−1 ε
3 3n
Ou seja, se n > 1 + , então necessariamente an − L =
n + sen2
−3 < ε, o que prova o
ε
limite acima. Observe que por causa das simplificações realizadas, não é possível
3n 3
dizer que se −3 <ε , então n>1+ , mas como para nós o objetivo é provar
n + sen2 ε
que o limite é 3, só precisamos da 1ª implicação.
Séries infinitas
Nós já encontramos séries infinitas. A expansão decimal de um número irracional
ou de uma fração que é uma dízima periódica é uma série infinita (de agora em
diante, usaremos na maior parte das vezes o termo série apenas – está implícito
que é uma série infinita). Por exemplo:
1 3 3 3 3
= + + + + … = 0, 3333 …
3 10 100 1000 10000
Ou seja, uma série infinita nada mais é do que uma soma com infinitos termos.
No caso da expansão acima, a soma, apesar de ter infinitos termos, tem um valor
16
finito. Como dissemos no início, temos que ser capazes de responder à seguinte
pergunta: como chegar ao resultado de uma soma infinita? Não dá para fazer a
soma no sentido estrito. Precisamos usar o raciocínio lógico. No caso de dízimas
periódicas, podemos, por exemplo, usar o procedimento a seguir:
Chamemos a dízima de x:
x = 0,33333...
10x = 3,3333...
Façamos 10x – x
9x = 3
x = 3/9 = 1/3
Tudo parece muito claro e lógico, não? E funciona. No entanto, por cada
passagem há a ideia de que essa soma tem um valor definido e que posso operar
com elas como se fossem números reais. Ora, anteriormente já mostramos uma
série que, conforme a maneira como a analisássemos, resultava num valor diferente:
S = 1 – 1 + 1 – 1 + 1 -1 ...
1ª possibilidade:
2ª possibilidade
S = 1 — (1 — 1) — (1 — 1) — (1 — 1) — ... = 1.
Precisamos definir o limite de uma série e depois calculá-lo. Para fazer isso,
definimos formalmente uma série como uma sequência de somas parciais.
Para entender melhor as sutilezas que podem envolver raciocínios sobre processos
Explor
infinitos, vale a pena conhecer os paradoxos de Zenon. Você pode encontrar uma
interessante apresentação em (USP. Filosofia da Física. Capítulo 1: Paradoxos de Zenão.
Disponível em: http://goo.gl/2D7jS3
S1 = a1
S2 = a1 + a2
17
17
UNIDADE Sequências e séries infinitas
S3 = a1 + a2 + a3
S4 = a1 + a2 + a3 + a4
...
Sn = a1 + a2 + a3 + ... + an
...
Hipóteses:
n
• Sn = ∑ak – esta é a reduzida de ordem n da série S.
k =1
Tese:
lim an = 0
n→ ∞
Demonstração
an = Sn − Sn−1
lim an = lim ( Sn − Sn−1 )
n→ ∞ n→ ∞
18
Ora, tanto lim ( Sn ) = S , como nlim
n→ ∞ →∞
( Sn−1 ) = S . Logo:
lim an = S − S
n→ ∞
lim an = 0
n→ ∞
Observe que o ponto de partida foi que a série converge, e a conclusão foi que
an tende a 0. Isso não quer dizer que se an tende a zero, a série converge. Veja
∞
1 1
um exemplo famoso, o da série harmônica: S = ∑ . O termo tende a 0. No
n=1 n n
entanto, a série é divergente. A seguir uma ilustração da demonstração dada por
Nicole Oresme, matemático do século XIV (ÁVILA, 2006):
1 1 1
A série é esta soma: S = 1 + + + + …. Os termos desta soma podem ser
2 3 4
agrupados do seguinte modo:
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
S =1+ + + + + + + + +…+ + +…+ + +…+ …
2 3 4 5 6 7 8 9 16 17 32 33 64
2k +1
1
∑n
2k +1
1 1 1 1 1 1 1 1 16 1
+ …+ + > + …+ + = =
17 18 31 32 32 32 32 32 32 2
Ou seja
1 1 1 1 1 1 1
S >1+ + + + + + + +…
2 2 2 2 2 2 2
Para dizer que o lado direito é divergente, usamos o teorema na sua forma
contrapositiva. O teorema diz “Se S converge, então an à 0”. A contrapositiva é
“Se an não tende a 0, então S não converge.” Essa contrapositiva também pode
ser usada para demonstrar que a série S = 1 – 1 + 1 – 1 + 1 -1 ... não converge,
pois an fica oscilando entre -1 e 1.
19
19
UNIDADE Sequências e séries infinitas
Testes de convergência
O teorema acima forneceu uma condição necessária para a convergência de
uma série, mas, como ela não é uma condição suficiente, ele não pode ser usado
como teste de convergência. A seguir apresentamos alguns testes úteis. Mas
antes, apresentaremos um teorema que permite deduzir a convergência de uma
série a partir da convergência de outras séries. O teorema é consequência das
propriedades operacionais dos limites de sequências. Ele diz que se as séries ∑ an
e ∑ bn convergem e k é um número qualquer, então as séries ∑ kan e ∑ ( an + bn )
também convergem e valem as seguintes relações:
∑ kan = k ∑ an
∑ ( an + bn ) = ∑ an + ∑ bn
Uma consequência disso é que se prova-se que uma série converge a partir de
n > N, toda a série converge e os limites se relacionam do seguinte modo:
∞ ∞
∑an = SN + ∑aN +n
n=1 n=1
onde SN = a1 + a2 + ... + aN
Pois
∞
∑a
n=1
n = lim ( Sn ) = lim ( SN + aN +1 + aN +2 + … + aN +n )
∞
∑a
n=1
n = lim ( SN ) + lim
m ( aN +1 + aN +2 + … + aN +n )
∞ ∞
∑an = SN + ∑aN +n
n=1 n=1
20
Com esse critério, podemos formalizar a demonstração da não convergência da
série harmônica. Para isso, façamos p = n. Logo:
an+1 + an+2 + … + an+ p = an+1 + an+2 + … + a2n
1 1 1
an+1 + an+2 + … + an+ p = + +…+
n+1 n+2 2n
1 1 1 n 1
an+1 + an+2 + … + an+ p > + +…+ = =
2n 2n 2n 2n 2
Teste da comparação
Sejam ∑an e ∑bn duas séries de termos não negativos, tal que an≤ bn, para n ≥ p.
21
21
UNIDADE Sequências e séries infinitas
Precisamos encontrar uma série ∑ bn tal que an≤bn para todo n. Isso é feito do
seguinte modo:
1 1 ≤ 1 1
= £ = n-1
n! 2. 3. ... .n 2. 2. ... .2 2
∞
1
Ou seja, ∑ bn = ∑ n−1
n= 2 2
∞ ∞
1 1
Ou seja, temos que ∑ an = ∑ e ∑ bn = ∑ n−1
. Essas duas séries atendem às
n= 2 n ! n= 2 2
condições do teste: para todo n, a n > 0, b n ≥ 0, a n ≤ b n. Ou seja, elas atendem
à condição do teste.
∞
1
Sabemos que ∑ bn converge; logo ∑ an converge. Se ∑ an e ∑
n= 0 n !
= 2 + ∑ an, então
∞
1
∑ n! também converge, como queríamos demonstrar.
n= 0
22
Teste da razão ou teste de D’Alembert
Seja ∑ an uma série de termos positivos (isto é, an > 0 para todo n) tal que
an+1
existe o limite L do quociente . Se L < 1, a série converge. Se L > 1, a série
an
diverge. Se L = 1, não é possível concluir nada sobre a convergência de ∑ an . A
demonstração desse teste você encontra em Ávila (2006, p. 120).
n+1
Veja um exemplo de aplicação com a série ∑ . Observe que os termos dessa
n!
série são todos positivos, pois n ≥ 1. Precisamos ver se existe o limite L. Primeiro
a
calculemos n+1 :
an
( n + 1) + 1
an+1 ( n + 1) ! ( n + 1) + 1 n! n+2 n!
= = . = .
an n + 1 ( n + 1) ! n + 1 ( n + 1) .n! n + 1
n!
an+1 n+2 1
= .
an ( n + 1) n + 1
an+1 n+2
=
( n + 1)
2
an
an+1 n+2
= 2
an n + 2n + 1
an+1 n+2
L = lim = lim 2
n→ ∞ a n→ ∞ n + 2n + 1
n
n n n2
L=
lim (1 / n) + lim 2
n→ ∞
( n)
n→ ∞
2
0+0 0
L= = =0
1+0+0 1
23
23
UNIDADE Sequências e séries infinitas
Teste da integral
Seja f(x) uma função positiva e decrescente. Seja uma série ∑ an tal que an = f(x). Seja
N
a integral ∫ f ( x ) dx . Essa integral é limitada superior e inferiormente do seguinte modo:
1
N N N −1
∑f ( n) ≤ ∫ f ( x ) dx ≤
n= 2
∑ f ( n)
n=1
1
Figura 3 – relação entre as somas e a integral no teste da integral. No lado esquerdo, entre ∑
n= 2
f ( n)
N N −1 N
N
N
∫e
−x
dx = −e − x = −e − N + e −1
1
1
24
Exercícios de fixação
2n2
1) Demonstre pela definição que a sequência an =
n2 + 7 converge para o limite 2.
3n n
2) Demonstre pela definição que a sequência an =
n n+5
converge para o limite 3.
4
3) Demonstre pelo teste da comparação que a série ∑
3n + 2
é convergente.
b) ∑ 1
2n + 1
Soluções
2n2
1) Demonstre pela definição que a sequência an = converge e tem como
n2 + 7
limite 2.
Pela definição, se L = 2, então podemos encontrar N tal que para n > N, temos
2n2
−2 < ε
n2 + 7
14
Se fizermos < ε , teremos:
n2
14
n2 >
ε
14
n>
ε
14 2n2
Ou seja, dado e, se n> , então teremos −2 < ε
ε n2 + 7
Logo, está provado que o limite é 2.
3n n
2) Demonstre pela definição que a sequência an = converge para o limite 3.
n n+5
Pela definição, se L = 3, então podemos encontrar N tal que para n > N, temos:
3n n
−3 <ε
n n+5
25
25
UNIDADE Sequências e séries infinitas
3n n
−3 =
3n n − 3 n n + 5(=
)
3n n − 3n n − 15
=
−15
=
15
<
15
n n+5 n n+5 n n+5 n n+5 n n+5 n n
15
Se fizermos < ε, teremos:
n n
3 15
n n=n 2
>
ε
2
15 3
n>
ε
2
15 3
3n n
Ou seja, dado e, se n> , então teremos −3 <ε
ε n n+5
Logo, está provado que o limite é 3.
4
∑
3 +2
n
4
Se ∑ an = ∑ , precisamos encontrar ∑ bn , tal que bn ≥ an.
3 +2
n
4
Considere bn = . Observe que 4n > n 4 para todo n ≥ 1.
3n 3 3 +2
4
Por outro lado, ∑ n é uma progressão geométrica infinita de razão 1/3 e
3
termo inicial 4/3. Logo, ela converge.
9 9 9 9
0, 9999 … = + 2 + 3 + 4 +…=1
10 10 10 10
26
9
Ou seja, a pergunta pode ser entendida como: demonstre que a série ∑
10n
converge para o limite 1.
an+1 1 1
lim = lim =
n→ ∞ an n→ ∞ 10 10
an+1
Como o limite nlim é menor que 1, a série converge.
→∞ an
9
Para provar que o limite da série ∑ é 1, precisamos calcular a soma parcial
10n
Sn. Observe que a série é uma progressão geométrica infinita. A soma de uma PG
finita é dada por:
a1 ( qn − 1)
Sn =
q −1
9 1
No problema,
= a1 =
10
eq
10
:
1
( ) 1 1
− 1 9 10 n − 1 9 10 n − 1
n
9
10 10 = 10 = 10
Sn =
1 −1 1 − 10 −9
10
10 10
1 1
Sn = − n − 1 = 1 − n
10 10
27
27
UNIDADE Sequências e séries infinitas
Claramente, quando n à ∞, Sn à 1
N N N
1 x −2 x −1 1 1
∫1 4 x2 dx = ∫1 4 dx = −
4
=− +
4N 4
1
Calculando o limite:
∞
1 1 1 1 1 1 1
∫ 4x
1
2
dx = lim −
n→ ∞
+ = lim − + lim = 0 + =
4N 4 n→∞ 4N n→∞ 4 4 4
N
1 N
∫1 2x + 1
dx = 2 x + 1 = 2N + 1 − 2 + 1
1
N
1
∫1 2x + 1
dx = 2N + 1 − 3
Calculando o limite:
∫
1
2x + 1
dx = lim
n→ ∞
( )
2N + 1 − 3 = + ∞
1
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
Videoaulas da UNIVESP TV sobre sequências e séries convergentes:
USP: (UNIVESP TV. Cálculo III. Aula 01 – Introdução ao estudo de sequências e séries
convergentes.
https://goo.gl/bm0IPQ
UNICAMP: UNIVESP TV. Cursos Unicamp - Cálculo III – Sequências numéricas- parte 1.
https://goo.gl/QOjWFQ
Paradoxos de Zenon
Preparação Digital. Noções de cálculo, limite de funções e paradoxo de Zenão.
http://goo.gl/1ySGgj
29
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UNIDADE Sequências e séries infinitas
Referências
ÁVILA, Geraldo. Análise matemática para licenciatura. 3ª ed. São Paulo:
Blücher, 2006.
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