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Curso Básico de Teologia


“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

REFLEXÃO INICIAL

Aurélio Agostinho, Bispo de Hiponna e doutor da Igreja Antiga, que viveu em fins do
séc. IV e início do séc. V, gostava de argumentar, com muita propriedade, que o
cristão genuíno une contemplação e ação, entendimento e amor (num sentido
prático – amor atitude), fé e entendimento – conforme a expressão: crede ut
intelligas, intellige ut credas (do lat. = creia para entender, entenda para crer). Na
verdade, o problema do conhecimento, ainda que não seja a única prioridade no
processo redentivo, está na raiz de nossa relação com Deus. Jesus disse: “Se
alguém quiser fazer a vontade de dele [Deus], conhecerá a respeito da doutrina...”
(Jo 7:17).

PRESSUPOSTOS IMPRESCINDÍVEIS EM TEOLOGIA

1º) A BÍBLIA É VERDADEIRA E É NOSSA REFERÊNCIA DA VERDADE DA FÉ.


2º) O DEUS DA BÍBLIA EXISTE, E ATÉ ONDE ELA O REVELA, DEUS É COMO A
BÍBLIA O REVELA. “A mais imprescindível pressuposição da Teologia é a existência
de Deus” (Gn 1:1; Hb 11:6). Em última análise, o cristão aceita a existência de Deus
pela fé.

PERSPECTIVA DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA COMPARADA

O estudo da Bíblia é empreendido, em grande medida, para produzir TEOLOGIA.


Esta palavra, TEOLOGIA, pode esconder um universo de complexidade se
intentarmos dissecar seus significados exaustivamente. Entretanto, “a Teologia,
definida com simplicidade, é o estudo de Deus e do seu relacionamento com tudo
quanto Ele criou” . A Teologia Cristã é, na aceitação geral, uma ocupação racional
de metodologia própria que estuda a pessoa divina e seu plano, conforme aparece
revelado na Bíblia Sagrada, Antigo e Novo Testamentos. Esta deve ser
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compreendida como todo esforço humano empreendido com a finalidade de


construir um conhecimento de Deus e de seu plano para o universo criado. Podemos
dizer que a Teologia é “SAPIENTIA FIDEI” (do lat. = Sabedoria da Fé).

Há um ramo teológico que não deriva da revelação bíblica, ao qual denominamos


Teologia Natural. Há basicamente seis “modalidades” de produção teológica que
pressupõem esforço hermenêutico derivado necessariamente das Escrituras, são as
modalidades da chamada Teologia Escriturística: Teologia Bíblica (ou Teologia
Exegética), Teologia Sistemática, Teologia Dogmática, Teologia Histórica, Teologia
Conjuntural (ou Teologia de Escola), Teologia Apologética, Teologia Moral e
Teologia Prática. Há ainda um único ramo que não depende de um esforço
hermenêutico escriturístico formal, mas também não é fruto de extensas reflexões
sobre os manifestos naturais e gerais da revelação, pois fundamenta-se numa
modalidade mais direta, pessoal e intuitiva de revelação divina a qual eu chamo de
Teologia Empírica (ou Teologia da Experiência). O esforço Hermenêutico-Bíblico é
empreendido, em grande medida, para produzir TEOLOGIA. A Teologia é o campo
de estudo que ousa transcender ao senso comum religioso. Vejamos o que querem
dizer cada uma destas modalidades:

TEOLOGIA NATURAL É a Teologia produzida a partir daquilo que a própria


natureza, as ciências naturais, percepções filosófico-religiosas e até a constituição
e existência humanas, evidenciam acerca de Deus e do seu universo (Sl 19:1; Rm
1:18-20). Podemos dizer ainda, que a Teologia Natural é aquela derivada da
Revelação Geral. Porém, uma compreensão ainda mais radical deste campo, afirma
que teologia natural trata da teologia que pode ser produzida pela instrumentalidade
da razão, da observação e da intuição, pretensamente, em impulso puramente
filosófico e/ou científico, completamente destituída de referenciais religiosos. Ex.: em
sua obra Discurso do Método, o filósofo René Descartes produziu uma
argumentação de prova da existência de Deus com base em inferências racionais e
filosóficas. Se a natureza foi criada por Deus, ela reflete a razão divina e segue leis
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e normas racionais, isto é, possui uma racionalidade inerente. E, se a natureza


reflete racionalidade, a razão humana é capaz de apreendê-la.

TEOLOGIA CONJUNTURAL É aquela que tenta dar resposta a uma conjuntura, ou


tenta justificar, questionar e explicar esta conjuntura (quer seja filosófica, ideológica,
política, sociológica, histórica, étnica, cultural) de um ponto de vista teológico.
Também poderíamos dizer que é a apresentação da mensagem cristã de modo
contextualizado a uma época, situação ou visão específica e desafiadora presente
no mundo . Ex.: nos primeiros séculos da era cristã, um grupo de pessoas
influenciados por uma visão espiritual, filosófica e cosmológica, radicada no
helenismo greco-romano e numa mistagogia multi-sincrética, elaborou o chamado
Cristianismo Gnóstico que se tivesse tido sucesso teria destruído a fé cristã; o
Liberalismo Teológico no final do século XIX e início do século XX que em virtude
do crescente racionalismo histórico-filosófico europeu e do positivismo científico,
tentou explicar a fé cristã em novas bases e acabou por diluir, naquele período, o
conteúdo da ortodoxia (doutrina) cristã; as Teologias de Libertação (Negra, Africana,
da Mulher, da América Latina) são teologias do século XX que tentaram embasar
biblicamente a luta por libertação e emancipação quer fosse civil, política, racial,
sexual (de gênero), cultural, econômica, etc.

TEOLOGIA DOGMÁTICA É o estudo das verdades fundamentais da fé cristã como


se nos apresentam nos credos nas proclamações doutrinárias oficiais e normativas
da(s) Igreja(s). Pode-se dizer também que é uma apresentação teológica ordenada
(sistemática) da doutrina. Porém, a duas acepções possíveis do conceito de
dogmática. Uma acepção mais secundária, é constituída num sistema teológico
notavelmente rígido e tornada normativo para determinado grupo, isto é, que
representa uma norma de pensamento e de doutrina para uma determinada
coletividade religiosa. Em outros termos, para este grupo específico onde ela é
aplicada, ela é o referencial do qual deve partir e para a qual deve convergir todos
os esforços interpretativos. Nesse sentido, o que caracteriza o dogmatismo como
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conceito é que ele implica numa resistência ao pensamento divergente de modo


tendenciosamente ideológico, autoritário e inflexível, dificultando qualquer processo
coerente de auto revisão. Porém, esse uso indevido dos “dogmas” não implica que
na inexistência de dogmas na Bíblia. Pelo contrário, eles existem. E não são poucos.

Mas não nos é orientado pela Bíblia que tenhamos posturas intelectuais inflexíveis
e as tomemos como absolutas por “capricho” ou “conveniência”, seja de cunho
intelectual ou de cunho histórico. E é aqui que existe uma segunda aplicabilidade do
termo, que na verdade é a aplicação primária. Para enfocar essa acepção mais
primária, que foi esquecida, evoco Carl Braaten quando diz que: “A dogmática é uma
parte da teologia, talvez o cerne, mas certamente não a sua totalidade”. Ou seja,
trata daquele núcleo de conceitos e crenças cristãs singulares e inegociáveis,
chamados dogmas, que nos definem como cristãos. Mas esse cerne (constituído
nos dogmas) possuiria, então, uma índole especial na medida que “fala em nome da
verdade absoluta do único Deus e do sentido último de toda humanidade e de todo
o mundo. Trata-se da escandalosa reinvindicação do evangelho a respeito de Jesus,
o Cristo de Deus. A dogmática é uma resposta crente do intelecto a essa imperiosa
reinvindicação. É um eco do evangelho no reino das ideias” . Nesse sentido, trata
de temáticas da teologia sistemática que se definem mais notoriamente como
dogmas. Ex. 1: na acepção secundária do termo, são modelos de teologia dogmática
a Católica Romana, a Ortodoxa Oriental (ou Bizantina), a Cóptica, a Adventista, a
das Testemunhas de Jeová e a Mórmon, pois por meios oficiais ou oficiosos, tornam
normativa a sua maneira de ver a fé cristã, que é de caráter rígido e apresentada
nas obras literárias institucionais, e se apoia nas tradições históricas, nos credos, no
magistério institucional ou em documentos oficiais dos que as representam ou
governam. Ex. 2: na acepção primária do termo, produzem sistemas de teologia
dogmática os Luteranos e os Anglicanos, pois tentam tratar certas temáticas
vinculadas a dogmas bíblicos, em tratados próprios, de modo especial.
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TEOLOGIA APOLOGÉTICA É A Teologia que busca a defesa do conjunto


específico de crenças verdadeiramente cristãs, a defesa doutrinária do Cristianismo
genuíno, ou melhor, a defesa do que se considera ortodoxo e verdadeiro quanto à
doutrina cristã. Para o Cristianismo Evangélico, a Teologia Apologética é a defesa
da Fé Cristã sob o ponto de vista Evangélico-Protestante em seu enfoque bíblico e
conservador (isto é, de referencial não Católico Romano, não Ortodoxo Bizantino,
diverso das religiões não-cristãs e não “ultra-heterodoxo-sectarista”: como são as
Testemunhas de Jeová, os Mórmons, a Ciência Cristã, ou mesmo o Espiritismo
Kardecista). Ex.: a Teologia dos apologistas antigos da Igreja, que defenderam o
cristianismo dos ataques filosófico-teológicos feitos pelos romanos ou pelos ultra-
heterodoxos-sectários gnósticos dos sécs. I a IV AD; bem como a iniciativa do
Instituto Cristão de Pesquisas – ICP – de produzir material teológico destinado ao
combate das seitas ultra-heterodoxas contemporâneas.

TEOLOGIA MORAL É aquela que estuda os princípios espirituais ou ético-morais


ligados à conduta (ou existência) cristã correta e sadia, tanto individualmente, quanto
coletivamente, e, especialmente, com relação ao ministério cristão. “No seu sentido
mais lato, essa teologia é o estudo da conduta humana, em relação aos preceitos
da crença teológica” (CHAMPLIN, EBTF, Vol. 6, p.492). Ex.: Quando estudamos a
Teologia do Ministério Pastoral ou Diaconal, teremos de tratar dos aspectos morais
ligados à conduta ministerial destes oficiais bíblicos do ministério. Ex2: Quando
falamos de princípios morais à luz da Palavra de Deus, isto é, da Ética Bíblica em
relação à vida da comunidade cristã, tratamos de Teologia Moral. Todavia, o mero
estudo da ética sob um ponto de vista filosófico não é Teologia Moral, pois esta
última precisa necessariamente vincular-se aos postulados da Bíblia Sagrada.

TEOLOGIA PRÁTICA É a modalidade da Teologia que busca a aplicação das


verdades condensadas na investigação teológica, na vida da comunidade cristã.
Tenta fazer isso referenciando, vinculando e manifestando o conhecimento teológico
na vida diária dos indivíduos ou da comunidade organizada. Ex.: quando realizamos
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de um modo saudável e bíblico a pregação, o evangelismo, as missões, o


aconselhamento pastoral, a administração eclesiástica, a educação religiosa, o
treinamento ministerial, o culto ao Senhor, a ética cristã etc.

TEOLOGIA HISTÓRICA É aquela produzida para ressaltar como a comunidade


cristã tem procurado, ao longo dos séculos, esclarecer, desenvolver, formular,
reformular e/ou contextualizar suas próprias afirmações ou especulações a respeito
das verdades reveladas das Escrituras, isto é, estuda o desenvolvimento histórico
de suas postulações doutrinárias. Também traça a história do desenvolvimento da
interpretação doutrinária, e envolve o estudo da história da Igreja, ainda que não
seja reduzido a esta. A cadeia de influências de cada época, novas descobertas
científicas, divergências doutrinárias, fizeram com que a fé cristã fosse pensada de
modos diversos ao longo dos séculos. Ex.: Dos séculos IV ao XII a teologia e a
filosofia cristãs foram largamente influenciadas pelo platonismo e o grande
referencial intelectual cristão foi o bispo Agostinho de Hipona, já dos séculos XII ao
XVI as atenções voltaram-se para o aristotelismo e para a figura do monge Tomás
de Aquino. Há controvérsias sérias que desde os primeiros séculos da era cristã que
até hoje não se chegou a um consenso. Hodiernamente, a escola denominada
Teologia do Processo tenta dar explicações supostamente mais coerentes e
aceitáveis que aquelas que a teologia tradicional vem dando a séculos.

TEOLOGIA BÍBLICA Também chamada por alguns de Teologia Exegética, é aquela


produzida com foco na mensagem dos textos sagrados em si mesmos, valorizando
as intenções dos autores originais e procurando desvendar os significados que estes
teriam segundo a ótica de sua própria época, lugar, destinatários, contexto, cultura
e língua originais. É a descoberta dos significados específicos do “lá e então”. Traça
ainda, o progresso da revelação da verdade de Deus através dos livros da Bíblia.
George Eldon Ladd cunhou uma ótima frase a respeito: “A teologia bíblica é a
disciplina que estrutura a mensagem dos livros da Bíblia em seu ambiente formativo
histórico” . Ex.1: Teologia Bíblica do AT, que valoriza e organiza os significados das
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palavras, frases e estilos hebraicos originais, os personagens e o contexto do AT,


bem como a evolução dos conceitos teológicos dos hebreus ao longo dos livros e
do tempo do mesmo AT; Ex.2: estudar a doutrina da predestinação ou a da expiação
como vai aparecendo no livro de Atos, nas Epístolas e no Apocalipse.

TEOLOGIA SISTEMÁTICA É a apresentação das doutrinas fundamentais do


Cristianismo de modo estruturado, sistemático, coerente e agrupadas por assuntos.
Pode-se entender também como a ordenação da doutrina num sistema organizado
e racional. É um estudo cuidadosamente organizado por tópicos. Wayne Grudem
nos dá um referencial muito didático: “Teologia Sistemática é qualquer estudo que
responda à pergunta ‘o que a totalidade da Bíblia nos diz?’ a respeito de um tópico
específico”. Já Railey&Aker, referem-se a um aspecto mais técnico ao dizer: “A
teologia sistemática desempenha um papel vital dentro da teologia como um todo.
Aproveita os dados descobertos pela teologia histórica, bíblica e exegética, e
organiza os resultados dessas teologias numa forma facilmente transmitida”. Ex.: os
textos ou livros que tratam da pessoa e obra de Jesus Cristo são relacionados e
investigados, e, o conhecimento derivado deste trabalho é analisado, organizado e
classificado sob o título: “Doutrina de Cristo” ou “Cristologia”. A perspectiva de
Teologia Sistemática implica:

Abordagem organizada e por tópicos (temas em comum).


Abordagem completa da Bíblia (a Bíblia inteira, ou, todos os textos importantes para
o conhecimento completo do assunto).
Riqueza de detalhes, de perspectivas e de tratamento dos problemas comuns, na
fundamentação das conclusões.
Clareza e precisão no uso da linguagem conceitual e descritiva ao abordar cada
assunto.

Costuma-se dizer que a teologia Sistemática estuda as DOUTRINAS da Bíblia.


Todavia, muitos podem se perguntar: o que significa “DOUTRINA”? Acolhemos a
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definição de Wayne Grudem, quando afirma que em Teologia Sistemática: “Doutrina


é o que a totalidade da Bíblia nos ensina a respeito de algum tópico particular”.

CRITÉRIOS DE VALIDADE PARA A TEOLOGIA

I – CRITÉRIOS FILOSÓFICOS

1º) CRITÉRIOS LÓGICOS. São os critérios de validade das afirmações e


argumentos.
Juízos de Validade (x) Juízos de Verdade. Tanto em Filosofia quanto em Teologia,
mantemos em riste a pretensão de fundamentar ideias e conceitos. Na Teologia
utilizamos a argumentação de cunho racional-teorético e lógico, somado ao manejo
hermeneuticamente consistente das Escrituras. Assim vemos que a lógica, que é
uma disciplina formal tipicamente filosófica (que encontra eco e desenvolvimento
semelhante somente na matemática), é “instrumentalmente imprescindível” na
Teologia. Para quem estiver achando que estou dizendo besteira, lembro
simplesmente que a Teologia como a estudamos funda-se, inexoravelmente, na
Hermenêutica Bíblica. E o que é “Hermenêutica Bíblica”? Dizendo de modo simples,
mas esclarecendo seu vínculo intrínseco, é a aplicação de princípios de lógica à
interpretação bíblica que resulta em regras apropriadas a essa atividade. Lógica não
é um conceito que diga respeito primariamente à verdade ou à falsidade dos
argumentos (isto é, com o conteúdo do pensamento – no sentido de averiguar se
existe correspondência entre as afirmações e a realidade), mas sim com a questão
da validade dos raciocínios (isto é, o “formato” do pensamento – no sentido de avaliar
se a forma como um argumento é apresentado é estruturalmente válido). Implica:
Argumentos Falaciosos. São as formas de argumento cuja própria estrutura, ou
intenção, implicam em “invalidade” ou “falsidade” (ou ambos).
Conceitos fortes (x) Conceitos Moderados. MODERADO: tomamos esse termo com
o sentido de afirmação precavida, prevenida (não precipitada), analítica e crítica. Em
lógica, aprendemos que conceitos, argumentos ou afirmações fortes demais,
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tendem a possibilitar refutações igualmente fortes. Já os conceitos, argumentos ou


afirmações moderadas e ponderadas, tendem a dificultar refutações. Na Teologia
algumas afirmações precisam ser taxativas e inflexíveis, mas não todas, e muitas
vezes se faz teologia ruim por não haver discernimento desse princípio.

2º) CRITÉRIOS EPISTEMOLÓGICOS. Questão crucial: COMO SABEMOS?


Razão Ordinária. “Conhecimento é a crença verdadeira e justificada” (definição
tripartite clássica).
Razão Extraordinária (ou Racionalidade da Fé). “A fé é a certeza de coisas que se
esperam; a convicção de fatos que não se veem” / “Sem fé é impossível agradar a
Deus, porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe
e que é galardoador daqueles que o buscam” (Hb 11:1,6). “Salto de fé” / “salto no
escuro”.
A Bíblia como fonte. A Bíblia é a fonte, a referência e a autoridade final para o
conhecimento teológico-doutrinário. Nosso fundamento para proposições teológico-
doutrinárias é o que a Bíblia ensina.

II – CRITÉRIOS ESPECIFICAMENTE TEOLÓGICOS

1º) PERSPECTIVA MISTAGÓGICA. A Bíblia revela os “mistérios de Deus” (Dt


29:29).
Via Negativa do Saber Teológico. Teoria de Dionísio Areopagita.
Teologia como Ciência do Mistério e da Metafísica. Afirmação de Gregório (art. X da
Teologia como Ciência, citação de Tomás de Aquino).

2º) PERSPECTIVA IRENISTA. Em última análise, a verdade promove a paz e a


liberdade.
A verdade nem sempre precisa estar em um extremo conceitual. Em Teologia,
lidamos com “paradoxos”, em maior escala do que costumamos admitir, dado o
nosso objeto de estudo ser Deus. Deus é infinito, nós finitos. Seu modo de existir é
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“misterioso”. Se Deus é misterioso no modo como existe ele também é misterioso


no modo como age e realiza sua vontade. Não alimentemos a pretensão de
compreender exaustivamente o modo de existência e de ação divinos.
A verdade é “simples”. Princípio: quanto mais “satisfatoriamente simples” é uma
teoria, tanto mais forte e próxima da verdade ela é. Quanto mais insatisfatoriamente
complexa é uma teoria, tanto mais fraca e afastada da verdade ela está. Mas não
devemos apelar à simplicidade contra a evidência e contra a verdade. A
“simplicidade” é um princípio, não uma ideologia.
A verdade é orgânica (perspectiva sistemático-organicista). A verdade conforme
concebida pela Bíblia é de tal ordem que existe unidade e interdependência entre os
princípios implicados. Por isso, a verdade pode implicar em nuances diferentes
relativas a aspectos diferentes do objeto estudado. Nesse sentido, a verdade nem
sempre é exclusiva (ou excludente). Devemos discernir quando a verdade tende a
ser inclusiva (ou includente) em relação ao nosso objeto de estudo. Ver Virkler p.
101-102.

3º) PERSPECTIVA RELACIONAL. Quase tudo em relação aos mistérios de Deus


revelados pela Bíblia, em última análise, vinculam ou implicam nossa relação
espiritual e existencial com ele. Ver Erickson p. 56 (transcrever).

4º) PERSPECTIVA GRADIENTE. Procura graduar as fontes e os tipos de


conclusões afins à Teologia de acordo com um senso de ordem e importância.
Destacamos para fins dessa disciplina, os seguintes:

a) QUANTO À IMPORTÂNCIA DOUTRINÁRIA (ou, RELEVÂNCIA SISTÊMICA).


Essa classificação enfoca o grau de influência que uma doutrina terá para o “sistema
doutrinário” como um todo, isto é para o seu conjunto. Dito de outro modo, enfoca
as doutrinas de acordo com o grau de interferência que possuem na compreensão
de outras doutrinas e com o grau de interferência que implicam sobre as práticas
cristãs. Há doutrinas mais importantes que outras, quanto à relevância para o
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sistema teológico e para a vivência da fé cristã. Há doutrinas secundárias e doutrinas


fundamentais. Wayne Grudem disse: “Com frequência os cristãos dizem que
desejam buscar concordância na igreja sobre doutrinas básicas, mas também tolerar
diferenças em doutrinas secundárias”, mas classifica as diversas doutrina em dois
tipos:
DOUTRINAS SECUNDÁRIAS. “Uma doutrina secundária é a que tem impacto muito
pequeno sobre o que pensamos acerca de outras doutrinas e impacto muito
pequeno sobre como vivemos a vida cristã”. Exemplo 1: a citada doutrina
pentecostal das línguas estranhas como evidência do batismo com/no Espírito Santo
apesar de falha, é uma doutrina secundária, posto não ter impacto sobre como
interpretamos outras doutrinas mais fundamentais, e também porque, no sentido
prático, não comprometem ou interferem seriamente em como vivenciamos o
Cristianismo. Exemplo 2: Dicotomia (x) Tricotomia. Polêmica. A questão se o homem
é dicotômico ou tricotômico em sua substância é relativamente “indiferente” para o
modo como interpretamos outras doutrinas e sobre como vivemos o Cristianismo.
DOUTRINAS FUNDAMENTAIS. “Uma doutrina básica é a que tem impacto
significativo em nosso pensamento acerca de outras doutrinas, ou que tem impacto
significativo em como vivemos a vida cristã”. Exemplo 1: crer e afirmar a doutrina do
nascimento virginal de Cristo é fundamental para o contexto do Cristianismo, posto
que é uma doutrina que interfere profundamente na interpretação de outras
doutrinas, e porque interfere em como nos relacionamos com Jesus (e com Deus).
PRINCÍPIO HERMENÊUTICO IMPLICADO: Devemos buscar concordância, tanto
quanto possível, sobre todas as doutrinas bíblicas, mas podemos ter interpretações
relativamente divergentes em doutrinas secundárias sem comprometer o conjunto
sistêmico da doutrina. Entretanto, interpretações relativa ou absolutamente
divergentes em doutrinas fundamentais comprometem o conjunto sistêmico da
doutrina.

QUANTO À FORÇA DE EVIDÊNCIA. Devemos separar, no cotejo da evidência


bíblica, o que é relato histórico e o que é norma doutrinária.
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EVIDÊNCIA DESCRITIVA. É aquela em que os textos narram acontecimentos que


descrevem os aspectos práticos envolvidos, mas sem que exista qualquer
configuração de ordem, norma ou prescrição objetivamente expressa, porém,
podendo constituir uma evidência implícita. Portanto, não atribuem juízo de valor aos
dados que expõem e não articulam formalmente a doutrina com base neles. É o
conjunto, a harmonia e a frequência das descrições de determinada prática (ou
princípio) o que potencializa a implicação indireta de um padrão normativo qualquer.
EVIDÊNCIA PRESCRITIVA. É aquela que oferece prescrições, orientações e
ordenanças formais, expressas e objetivas, quanto a fé e prática da Igreja,
constituindo uma evidência explícita de um princípio ou doutrina. Portanto, atribuem
juízo de valor aos dados que expõem e articulam formalmente a doutrina com base
neles. As próprias afirmações do texto implicam diretamente um valor principio lógico
ou doutrinário.
PRINCÍPIO HERMENÊUTICO IMPLICADO: Uma evidência doutrinária é sempre
mais forte e mais determinante para a doutrina que uma evidência narrativa.
EXEMPLO 1: As línguas estranhas são evidência do batismo no Espírito Santo? É
uma crença comum no meio pentecostal a de que se uma pessoa não falar em
línguas estranhas, não é/foi batizado com o Espírito Santo. Em outros termos, “o
falar em línguas” é uma evidência do “batismo no Espírito Santo” (ou, “infusão de
carismas”). Mas o que diz a evidência bíblica a respeito? Os pentecostais baseiam
sua crença na narrativa de Atos dos Apóstolos, onde sempre que alguém recebe o
Espírito Santo também fala em línguas. Esta é uma evidência narrativa. Porém, em
1Co 12:27-31 (especialmente no versículo 30), parece haver uma contestação a
essa ideia. E esta é uma evidência doutrinária. Portanto, dizer que as línguas são
evidência do “batismo carismático” parece não ser uma afirmação verdadeira. Então,
também parece ser mais razoável e bíblico crer e afirmar que um crente pode ser
batizado com o Espírito Santo sem ter a necessidade de receber o carisma de
línguas.
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QUANTO À PERSPECTIVA DA NARRATIVA. É preciso verificar se o texto narrativo,


em sua intenção, é numenológico ou fenomenológico.

NUMENOLÓGICA. É a perspectiva que percebe um objeto de conhecimento como


derivado de intuição intelectual pura, o objeto desprovido de qualquer atributo
“fenomenal”. Em outros termos, representa “algo em si mesmo”, ou a “coisa em si”.
No caso da hermenêutica bíblica, é o fato/dado/narrativa bíblico(a) visto como “coisa
real”, como se descrito sob a ótica divina tal como é, ou tal como aconteceu.
Númeno: do gr. nooúmenon = “coisa em si”, “coisa real”; o oposto de “fenômeno”.

FENOMENOLÓGICA. É a perspectiva que percebe um objeto tal qual se apresenta


ao sensório, tal qual apreendida pelos sentidos de um observador referenciado. Em
outros termos, representa a “coisa como aparenta ser”, ou a “aparência da coisa”.
No caso da hermenêutica bíblica, é o fato/dado/narrativa bíblico(a) relatado
conforme percebido na ótica humana de referência. Fenômeno: do gr. fainómena ou
phainómena = “aparência”, “manifestação”, “aparecimento” (material ou espiritual);
é tudo o que pode ser percebido pelo sensório (sentidos) ou pela consciência.
PRINCÍPIO HERMENÊUTICO IMPLICADO:
EXEMPLO: O Dilúvio foi universal ou local? Depende da perspectiva implicada no
texto: se numenológica ou fenomenológica.

QUANTO À AUTORIDADE E CONTEXTUALIDADE HISTÓRICA.

HISTÓRICA. Naquilo que a Bíblia ensinou quanto ao que ocorreu no “lá e então” e
que naquele contexto foi exigido das pessoas, ela é autoridade histórica. Millard
Erickson adverte: “É possível que algo tenha autoridade histórica sem ter autoridade
normativa”.
NORMATIVA. Se ao cotejarmos o texto bíblico restar comprovado que há um
princípio permanente por traz da expressão histórica do seu ensino, este ensino, de
modo contextualizado ao “aqui e agora”, possui autoridade normativa para nós.
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PRINCÍPIO HERMENÊUTICO IMPLICADO: Devemos discernir entre a expressão


histórica da revelação e sua atualidade principiológica normativa, lembrando que o
objetivo da revelação é nortear nossa relação efetiva e eficaz com Deus em todas
as gerações.
EXEMPLO:

AS GRANDES TRADIÇÕES TEOLÓGICAS DO CRISTIANISMO

Durante seu avanço histórico a Igreja foi-se tornando um organismo institucional


complexo, vindo a perder muito de suas características originais e diversificando-se
em grupos que vivenciam o Cristianismo com os mais variados enfoques. Vejamos:

I – GRANDES TRADIÇÕES NÃO-PROTESTANTES:

TRADIÇÃO CATÓLICA ROMANA (ou: LATINA/OCIDENTAL). Vinculada


historicamente à Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR). A Igreja Católica
Apostólica Romana, historicamente falando, toma forma, a partir do séc. III AD,
sendo consolidada por medidas e decretos imperiais nos sécs. IV e V AD. A forma
atual dessa tradição não nasceu como hoje se mostra, mas passou por inúmeras
transformações circunstanciais no período medieval que configuraram seu formato
atual. A Igreja Católica como instituição é movida por uma unidade rígida, que
implica numa Eclesiologia extremamente forte (na verdade monárquica,
representada na figura do “papa” e da “cúria romana”). Também acolhe uma visão
singular a respeito da figura de Maria, de modo que acrescenta uma subárea de
estudo dogmático ao conjunto de sua teologia: a Mariologia. Portanto, os pontos
onde existe extrema tensão entre os católicos e outras tradições cristãs, são
justamente na Mariologia e na Eclesiologia. Em outros assuntos, eles não são tão
divergentes dos bizantinos e protestantes.
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TRADIÇÃO ORTODOXA BIZANTINA (ou: GREGA/ORIENTAL). Vinculada


historicamente à irmandade da Igreja Católica Ortodoxa Grega (ICOG). A Igreja
Apostólica Ortodoxa Oriental, derivada da tradição Bizantina, de origem asiático-
greco-eslava, também denominada Igreja Ortodoxa Grega, pois é fruto da cisma
entre esta e a Igreja Católica Romana (ou Latina) em 1054 AD. Difere da Igreja
Romana em algumas poucas matérias de cunho doutrinário-teológico, porém,
principalmente, na eclesiologia, com especial foco na liturgia, que é o centro da vida
eclesiástica Ortodoxa. As igrejas ortodoxas formam uma confederação
relativamente coesa, vinculada pela lealdade a uma fé comum, e não por um senso
de centralidade autoritativa. Daí sua eclesiologia estar mais próxima do
protestantismo que da tradição romana, lembrando muitos aspectos e elementos
dos sistemas eclesiológicos anglicano, metodista e presbiteriano. Também possui
ecos de veneração Mariana, porém, sua Mariologia é mais branda que a católica.
Assim, os pontos onde existe tensão entre os bizantinos e outras tradições cristãs,
são também na Mariologia e na Eclesiologia, ressalvando que de um modo mais
brando, visto que a tradição bizantina parece estar a meio caminho entre a tradição
católica e a tradição protestante. Peculiaridades destacáveis:

Não usam instrumentos musicais, bem como aceitam mosaicos e pinturas, mas não
esculturas nos templos.
Veneram Maria como Theótokos (gr. = Mãe de Deus), mas não aceitam a doutrina
da Imaculada Conceição (católica);
Pregam a infalibilidade da Igreja, mas não a infalibilidade do Papa ou de qualquer
líder religioso.
Rejeitam as doutrinas do purgatório e da “filioque” (para eles, grosso modo, dizer
que o Espírito Santo “procede do Filho” – filioque – é errado, pois segundo eles o
Espírito procede do Pai).
As vertentes mais expressivas de sua teologia e de sua mística, baseiam-se na
adoção de um dos cinco a sete principais ritos ortodoxos tradicionais da celebração
litúrgica, a saber: o Bizantino, o Armênio, o Alexandrino (ou Copta ), o Antioquino
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Curso Básico de Teologia
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

(ou Siríaco ), o Persa (ou Caldeu ) e o Etíope. Apoiam sua espiritualidade no conceito
de Mysterium Tremendum (lat.). Tal conceito diz respeito ao senso de que a Igreja
expressa sua espiritualidade em fórmulas de adoração e de súplica, fazendo
prevalecer a escuta reverente. Associado ao Mysterium Tremendum está o conceito
de Teoandropia. Teoandropia é a forte consciência de que como a humanidade do
Cristo foi assumida pela divindade, assim continua essa operação na liturgia da
igreja e se reverbera nos fiéis.

TRADIÇÃO JUDAICO-MESSIÂNICA. É uma tradição que existe há muito tempo,


mas que somente mais recentemente começou a ser mais amplamente conhecida.

II – GRANDES TRADIÇÕES PROTESTANTES:

As tradições protestantes também são conhecidas popularmente como


“EVANGÉLICAS”, por um enfoque moderno do termo. Sob esta denominação estão
todos os grupos que, direta ou indiretamente, imediata ou tardiamente, mantendo ou
não todo o seu conjunto de valores doutrinários, conceituais e/ou práticos, derivaram
da Reforma Protestante do séc. XVI AD. Estes grupos diferenciam-se dos Católicos
Romanos e dos Ortodoxos Orientais, em todas as implicações e desdobramentos,
quer teológicos, quer práticos, por crerem fundamentalmente em alguns princípios
diferenciais, a saber:

Solus Christus – Somente Cristo é mediador da Nova Aliança. Nem Maria, nem os
santos, nem o clero, nem os concílios possuem essa prerrogativa.
Sola Fide & Sola Gratia – Salvação se dá pela Fé em Cristo Jesus, mediante a
sobrenatural, misericordiosa e soberana graça divina.
Sola Scriptura – A Escritura Sagrada é a Máxima Fonte e Autoridade Doutrinária
para a Igreja – todas os outros meios de conhecimento e prática da fé são por ela
julgados e ela é maior que qualquer autoridade humana ou institucional.
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Curso Básico de Teologia
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

Sacerdócio Universal – Todos os crentes são universalmente sacerdotes e ministros


da Nova Aliança, não devendo haver, assim, dependência espiritual de um clero
profissional, ainda que haja na Igreja funções de liderança dos fiéis.
Livre Exame das Escrituras – Recomenda-se o Livre Exame das Escrituras
Sagradas, pois é o principal instrumento da revelação de Deus e de seu plano
redentivo, ainda que não se reconheça uma função magisterial na Igreja.
A Igreja deve prosseguir em sua paroikia (gr. = peregrinação) como Igreja
Reformada e Reformando.

Estes princípios diferenciais, ao longo da história do protestantismo foram tomando


conotações singularizadas de modo mais notório em oito perspectivas (ou leituras)
de matriz protestante:

LUTERANA. Sua singularidade é que foi a tradição protestante originária e,


teologicamente falando, manteve-se relativamente original ao longo da história,
apesar de hodiernamente compartilhar muito mais perspectivas teológicas com
outras tradições do que no seu advento no séc. XVI. O cerne da visão Luterana pode
ser definido como um “evangeliocentrismo”. Explico melhor. No luteranismo tudo é
visto sob enfoque “cristológico”, na conformidade da “essência” do Evangelho, que
implica a relação de Deus com o homem, a qual é mediada pela fé. O cordão de
amarração desta perspectiva é a relação redentiva entre Deus e o homem,
insculpida na doutrina da “justificação pela fé”, princípio visto como o cerne do
Evangelho. Em outros termos, ela foca primordialmente o relacionamento de Deus
com o homem, na demanda pela salvação deste, pela mediação da fé. Representa
um sistema teológico muito consistente.

ANGLICANA (ou: EPISCOPAL / ANGLO-EPISCOPALISMO). Sua singularidade é


que mantém muito dos seus aspectos litúrgicos e organizacionais (institucionais)
semelhantes ao Catolicismo, mas acolhe o calvinismo como sua referência
preferencial em Teologia. Ou seja, sua eclesiologia é em grande medida influenciada
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Curso Básico de Teologia
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

pela perspectiva católica, mas nos demais assuntos é calvinista. Nesse sentido, é
uma perspectiva que tem especificidades, é bastante consistente, mas não é de todo
original.

CALVINISTA (ou: REFORMADA e PRESBITERIANA). A singularidade dos


calvinistas é definida mais propriamente por dois fatores: 1) a organização
“presbiterial-conciliar” da autoridade; 2) a teologia preferencialmente “monergista”
(ou “determinista”). Teologicamente, o monergismo implica que há apenas um
referencial de força ou poder que realiza os fatos espirituais e naturais no mundo,
em última análise. Em outros termos, Deus é o único poder (ou força) determinante
das coisas que acontecem no mundo. Nesse sentido é que dizemos que é uma
perspectiva determinista, pois Deus, afinal, é quem “determina” tudo o que sucede
no mundo. Ele o faz baseado em sua soberania, fundado em seus “decretos
eternos”. As implicações do monergismo são mais aparentes e problemáticas no que
tange à hamartiologia e à soteriologia, porque implicam numa negação (ao menos
aparente) da liberdade moral humana (livre arbítrio). As discussões mais acirradas
sobre esta perspectiva, dão-se sobre as implicações da doutrina bíblica da eleição
(e da predestinação), conforme a entendem os calvinistas. Por seu histórico de
aperfeiçoamento e por sua coerência interna, é um dos sistemas teológicos mais
consistentes já postulados.

ARMINIANA (ou: WESLEYANA / METODISTA). A singularidade dos arminianos é


definida por sua contestação parcial à perspectiva calvinista, que implica numa
tendência teológica preferencialmente “sinergista” (ou “indeterminista”) como é
classificada por teólogos calvinistas.
Teologicamente, o sinergismo implica que apesar de Deus ser o preponderante
referencial de força ou poder para realizar os fatos espirituais e naturais no mundo,
em última análise, a liberdade dos entes morais, como é o caso do ser humano,
concorre, ainda que em grau muito menor, para determinar as coisas que se
sucedem no mundo. As discussões mais acirradas sobre esta perspectiva, dão-se
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Curso Básico de Teologia
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

sobre as implicações da doutrina bíblica da eleição (e da predestinação), conforme


a entendem os arminianos. O Arminianismo, historicamente derivou de uma reação
crítica à perspectiva determinista do Calvinismo. Na sua versão metodista, o
arminianismo é um sistema bastante consistente.

BATISTA (ou: CONGREGACIONAL / ANABATISTA [?]). Sua singularidade funda-


se no amálgama de base calvinista com um acolhimento parcial de ideias derivadas
do Protestantismo Radical e do ideário Anabatista em questões de ética,
espiritualidade (devocional) e eclesiologia, especialmente na sua defesa do
“congregacionalismo”, isto é a autonomia das congregações para reger sua vida
espiritual independentemente de qualquer autoridade externa à própria
congregação. Isso se funda no fato de que tais ideias acabaram influenciando uma
ala da Igreja Anglicana da qual os batistas derivaram historicamente. O princípio
congregacionalista, no âmbito batista americano, acabou por consolidar os ideais
democráticos que marcaram a formação dos Estados Unidos (EUA). Deve-se
mencionar que hoje, no que tange à soteriologia, os batistas são relativamente
divididos, havendo uma maioria de pró-calvinistas, mas também não poucos pró-
arminianos entre eles. A perspectiva batista representa outro sistema teológico de
grande consistência.

MENONITA (ou: ANABATISTA / PROTESTANTE RADICAL). Sua singularidade


reside em sua perspectiva devocional-eclesiológica de teor “anabatista-radical”. É
uma das tradições diretamente derivadas do movimento “Anabatista” e do
movimento reformista denominado “Protestantismo Radical”. O que se concebe
como “radical” nessa perspectiva não é a ideia de extremismo ou dogmatismo, mas
sim que os protestantes radicais buscavam referenciais do Cristianismo nas suas
“raízes” bíblicas e mais primitivas. Destacou-se, ainda no séc. XVI, por sua
tenacidade em defender ideias e costumes alternativos contra as influências e
perseguições dos calvinistas e luteranos. Os menonitas destacaram-se como o
grupo mais moderado entre os anabatistas radicais. Mas como todos os protestantes
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Curso Básico de Teologia
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

radicais tendiam ao “puritanismo”. Dado esse fato, sua tradição parece uma espécie
de seleção doutrinária de elementos daquelas perspectivas com um toque
relativamente original. Organizacionalmente, possuem elementos e leituras
teológicas em comum com os batistas, porém, em se tratando de outras subáreas
teológicas diversas da eclesiologia, possuem intersecções, mas também visões
alternativas, àquelas tradicionalmente defendidas pelo Luteranismo, Calvinismo e
Arminianismo. As doutrinas mais distintivas dos menonitas são: 1) que as Escrituras
Sagradas, em especial o Novo Testamento, são a autoridade final; 2) que a igreja é
uma irmandade formada voluntariamente apenas de pessoas renascidas; 3) que a
essência do cristianismo consiste no discipulado de Cristo; 4) que a ética do amor
rege todas as relações humanas. A perspectiva menonita, representa um sistema
teológico bastante consistente, ainda que mantenha seu fundo “radical-anabatista”.

DISPENSACIONALISTA. A singularidade desta perspectiva está na compreensão


de que a revelação redentiva divina na história, compreende ênfases distintivas para
os diversos períodos históricos, na conformidade do que a própria Bíblia sugere. Há
ligeiras diferenças entre os dispensacionalistas sobre a natureza, a quantidade e o
arranjo destas “dispensações”. Contudo, todos concebem um certo número de
dispensações operantes na história da revelação e um arranjo específico para cada
uma, no que tange aos seus limites históricos e suas implicações espirituais. Como
sistema teológico, o dispensacionalismo é frágil, posto que deriva implicações
teologicamente relevantes a partir de sua visão, porém, igualmente, abre espaço
para inconsistências, de diversos tipos e graus. É uma perspectiva que vale a pena
cotejar, mas que requer muito cuidado crítico.

CARISMÁTICA (ou: PENTECOSTAL / NEOPENTECOSTAL / RENOVADA). A


singularidade dessa perspectiva está em sua renovada a atualizada ênfase na
operação dos dons carismáticos e das intervenções miraculosas divinas na
caminhada e na espiritualidade da Igreja. O cerne do pentecostalismo é a sua ênfase
especial na pneumatologia, em especial no ministério dos dons espirituais para a
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Curso Básico de Teologia
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

dinamização e otimização do trabalho evangelístico e para a edificação da Igreja.


Em geral a perspectiva teológica pentecostal é arminiana, especialmente na
hamartiologia, na soteriologia e em alguns aspectos de sua escatologia. Mas sua
eclesiologia é híbrida, acolhendo elementos de diversas tradições. Como sistema
teológico, a perspectiva carismática tende a ser bastante consistente quando
acolhida por denominações históricas, mas sua vertente “neo-pentecostal” é frágil,
pois deriva implicações teologicamente relevantes a partir de sua visão, mas
também abre espaço para inconsistências, de diversos tipos e graus.

O específico da perspectiva pentecostal formou-se de um número considerável de


influências diferentes (algumas até contraditórias). Assim, é uma perspectiva que
vale muito a pena cotejar, mas que requer algum cuidado crítico.

OBS: Todas as tradições protestantes aqui listadas possuem vertentes mais


“fundamentalistas” (ou “dogmáticas”) e vertentes mais adeptas de um
“conservadorismo moderado”. O ideal para qualquer estudante de Teologia
Sistemática é contemplar, dentro do possível, os referenciais teológicos de cada
uma e de todas essas tradições. Somente conhecendo todas essas perspectivas e
peculiaridades, poderemos dizer, com rigor acadêmico, que conhecemos algo de
Teologia Sistemática. Estudar sob uma única perspectiva, pode servir
instrumentalmente a algum propósito prático e ministerial, mas um conhecimento
pleno e rigoroso de Teologia Sistemática, academicamente relevante, nos obriga a
percorrer os itinerários, as referências interpretativas e as perspectivas de cada
tradição. Isso não somente nos dará conhecimento academicamente rigoroso e
relevante, mas também nos enriquecerá doutrinária e teologicamente.
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Curso Básico de Teologia
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

Teontologia – A Doutrina de Deus

1) Etimologia da palavra Teontologia


Theos – Deus; Onto – Ser; Logos – Estudo, tratado
Teontologia = Estudo acerca do ser de Deus

2) Conceitos de Deus
a) “Deus é espírito, infinito, eterno e imutável em seu ser, sabedoria, poder,
santidade, justiça, bondade e verdade” (Catecismo Menor de Westminster).

b) “Deus é Espírito, em si e por si infinito em seu ser, glória, bem-aventurança e


perfeição; todo-suficiente, eterno, imutável, insondável, onipresente, onipotente,
onisciente; infinito em sabedoria, santidade, justiça, misericórdia, graça e
longanimidade; cheio de toda bondade e verdade” (Catecismo Maior de
Westminster).

c) “Ele é um espírito puríssimo, invisível, sem corpo, membros ou paixões, é


imutável, imenso, eterno, incompreensível, onipotente, onisciente, santíssimo,
completamente livre e absoluto, fazendo tudo para sua própria glória e segundo o
conselho da sua própria vontade, que é reta e imutável. É cheio de amor, é
verdadeiro galardoador dos que o buscam, e, contudo, justíssimo e terrível em seus
juízos, pois odeia todo pecado; de modo algum terá por inocente o culpado”
(Confissão de Fé de Westminster).

3) A Prova da Existência de Deus


a) Argumento Cosmológico – Cada coisa criada no universo tem uma causa. Essa
causa só pode ser Deus.
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Curso Básico de Teologia
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

b) Argumento Ontológico – Há uma ideia inata no ser humano sobre a


existência de um ser supremo que deve ser reverenciado e temido.

c) Argumento Teleológico – Toda a criação revela inteligência, ordem, harmonia


e propósito. Logo foi criada por um ser inteligente e capaz.

d) Argumento Moral - O ser humano tem consciência do que é certo e do que é


errado e que é responsável por isso diante da divindade.

e) Argumento Histórico – Todos os povos da terra em toda a sua história têm


consciência de um ser supremo, daí as manifestações religiosas em suas
respectivas culturas.

4) A Natureza Essencial de Deus


a) A Espiritualidade de Deus (Deus é um espírito) – “Deus é Espírito, e
importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” Jo 4.24. (Veja
ainda Rm 1.20; Cl 1.15; 1 Tm 1.17; Hb 11.27; ...).
b) A Personalidade de Deus (Deus é um ser pessoal, tendo sabedoria,
emoções e vontade) - Como ser pessoal é possível ao homem manter comunhão
com Ele visto ter sido feito a Sua imagem e semelhança. (A inteligência divina – “Ó
SENHOR, quão variadas são as tuas obras! Todas as coisas fizeste com sabedoria;
cheia está a terra das tuas riquezas” Sl 104.24 (Veja ainda 1 Sm 2.3; Is 28.29; Tg
1.5; 3.17; 1 Tm 1.17;...). Vontade – “Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu;
sim, a tua lei está dentro do meu coração” Sl 40.8 (Veja ainda Sl 51.18; Is 46.10; Mt
6.10; 26.42; Jo 5.30; Rm 12.2; 1 Jo 2.17;...). Emoções – “Mas Deus prova o seu
amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” Rm
5.8. “E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia
da redenção” Ef 4.30 (Veja ainda Jo 3.16; Ap 1.5; Nm 22.22; 25.3,4; Sl 30.5; Gn 6.6;
Ne 8.10; Jo 15.11; Sf 3.17;...).
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Curso Básico de Teologia
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

c) A Unicidade de Deus (Deus é único) - Segundo a revelação das Sagradas


Escrituras Deus é uno, ou seja, só existe ele como Deus verdadeiro. As outras
divindades criadas pela imaginação do homem são deuses falsos que tem boca mais
não falam, tens olhos mais não veem, tem ouvidos, mas, não ouvem, tem mãos,
mas não apalpam, tens pés mas não andam (Sl 115.4-7). Quando se fala na
unicidade de Deus diz-se que só existe Ele como Deus verdadeiro e não existe outro.
“Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o único SENHOR” Dt 6.4. “A qual a seu
tempo mostrará o bem-aventurado, e único poderoso SENHOR, Rei dos reis e
Senhor dos senhores; Aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz
inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver, ao qual seja honra e
poder sempiterno. Amém” 1 Tm 6.15,16. (Veja ainda Mc 12.29; Rm 3.30; 16.27; 1
Co 8.4,6; Ef 4.6; 1 Tm 2.5; 2 Tm 2.5; Jd 25...).
d) A Transcendência e a Imanência de Deus - Deus é transcendente, ou seja,
Ele é excelso, está fora do alcance do homem, habita na luz inacessível, não se
pode ver, é plenamente puro, absoluto e perfeito. “Ainda que o SENHOR é excelso,
atenta todavia para o humilde; mas ao soberbo conhece-o de longe” (Veja ainda Is
33.14; 57.15; At 17.24,25; 1 Tm 6.16; Jó 25.5; Hc 1.13; Mt 5.48...). Deus apesar de
ser transcendente também é imanente, ou seja, habita no meio da sua criação, está
próximo dela, e até dentro dos seus filhos adotivos. Com o advento de Cristo essa
imanência tornou-se visível e percebível com a presença do Emanuel conosco e do
Espírito Santo na vida do crente em Jesus. “Porque assim diz o Alto e o Sublime,
que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar hábito; como
também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e
para vivificar o coração dos contritos” Is 57.15 (Veja ainda At 17.26-28; 1 Co 3.16; 2
Co 6.16; Jo 1.1,14; Mt 1.23...).
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Curso Básico de Teologia
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

5) Os nomes de Deus no Antigo Testamento


a) El, Eloim, Elyon – El e Eloim acentuam o fato de que ele é forte e poderoso.
Elyon chama a atenção para a sua natureza exaltada como o Altíssimo, objeto de
reverência e culto.
b) Adonai (Senhor) - revela Deus como dono e governador de todos os homens
c) Shaddai ou El-Shaddai - acentua a grandeza divina principalmente como fonte
de bênção e conforto para o seu povo.
d) Yaweh (SENHOR) – (Jeová em português) revela Deus como o Deus da graça;
e) Combinações do nome Yaweh (Jeová)
- Jeová-Jiré: O Senhor proverá
- Jeová-Rafa: O Senhor que cura
- Jeová-Nissi: O Senhor, nossa bandeira
- Jeová-Shalom: O Senhor, nossa paz
- Jeová-Raa: O Senhor, meu pastor
- Jeová-Tsidkenu: O Senhor, nossa justiça
- Jeová-Shamá: O Senhor está presente

6) Os nomes de Deus no Novo Testamento


a) Theos – significa Deus
b) Kurios – (Senhor) – Designa Deus como dono e governador de todas as coisas,
particularmente do Seu povo, como o único que tem autoridade e poder real.
c) Pater – Designa Deus como originador e Criador. Denota ainda a relação da 1ª
pessoa da Santíssima Trindade com Jesus, o Filho. Ainda denota o relacionamento
entre o Pai celestial e os filhos adotados em Cristo

7) Os Atributos de Deus (Características distintivas do ser de Deus)


a) Atributos Incomunicáveis (São as perfeições divinas que não se encontram
correspondência nas criaturas)
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Curso Básico de Teologia
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

- Auto-existência de Deus (Deus existe por si mesmo, não depende de nada


para existir) – “E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim
dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós” Ex 3.14 (Veja ainda Is 43.14; Sl
90.2;...).
- Imutabilidade (Deus é imutável, não está condicionado ao tempo) – “Porque eu, o
SENHOR, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos” Ml 3.6
(Veja ainda Tg 1.17; Hb 1.10-12;...).
- Infinitude (Tudo que pertence ao ser de Deus não tem limite) – “Mas, na verdade,
habitaria Deus na terra? Eis que os céus, e até o céu dos céus, não te poderiam
conter, quanto menos esta casa que eu tenho edificado” 1 Rs 8.27 (Veja ainda 2 Cr
2.6; 6.18;...).
- Onipotência (Deus tem todo o poder) – “SENDO, pois, Abrão da idade de noventa
e nove anos, apareceu o SENHOR a Abrão, e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-
Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito” Gn 17.1 (Veja ainda Ex 6.3; Jó
11.7; Mt 26.64; Ap 1.8; 11.17;...).
- Onisciência (Deus tem todo o conhecimento) – “E não há criatura alguma encoberta
diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com
quem temos de tratar” Hb 4.13 (Veja ainda Sl 139.1-4; Jó 34.21; Pv 15.3; Ap 1.14;...).
- Onipresença (Deus não é limitado pelo espaço, está presente em todos os lugares
do seu domínio ao mesmo tempo) - “Para onde me irei do teu espírito, ou para onde
fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama,
eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades
do mar, até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá. Se disser: Decerto
que as trevas me encobrirão; então a noite será luz à roda de mim. Nem ainda as
trevas me encobrem de ti; mas a noite resplandece como o dia; as trevas e a luz são
para ti a mesma coisa” Sl 139.7-12 (Veja ainda Mt 18.20; Jr 23.24; Sl 123.1; Is
57.15;...).
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Curso Básico de Teologia
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

b) Atributos Comunicáveis (São aqueles atributos de que Ele é possuidor em


plenitude, mas, que compartilhou dos mesmos, em certa medida, com as suas
criaturas morais)
- A Santidade - “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a opressão não
podes contemplar. Por que olhas para os que procedem aleivosamente, e te calas
quando o ímpio devora aquele que é mais justo do que ele?” Hc 1.13 (Veja ainda Lv
19.2; Is 6.3; 1 Pe 1.15,16; Ap 4.8;...).
- O Amor – “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por
nós, sendo nós ainda pecadores” Rm 5.8 (Veja ainda 1 Jo 4.8,16; Jo 3.16; Ap 1.5;...).
- A Verdade – “Clamava, pois, Jesus no templo, ensinando, e dizendo: Vós
conheceis-me, e sabeis de onde sou; e eu não vim de mim mesmo, mas aquele que
me enviou é verdadeiro, o qual vós não conheceis” Jo 7.28 (Veja ainda Jo 8.26; 17.3;
14.6; Ap 3.7, 14; 6.10;...).
- A Justiça - “O SENHOR faz justiça e juízo a todos os oprimidos” Sl 103.6 (Veja
ainda Sl 145.17; Is 30.18; Ap 15.3; 16.5;...).

8) A Santíssima Trindade
Deus é uno em Seu ser essencial, mas nesse único ser há três pessoas,
chamadas Pai, Filho, e Espírito Santo. Essas pessoas não são três deuses, mas,
sim um único Deus verdadeiro que subsiste nessas três pessoas distintas uma das
outras, mas possuidoras da mesma essência e dos mesmos atributos. “Há três
pessoas na Divindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo; estas pessoas são um só
Deus verdadeiro e eterno, da mesma substância, iguais em poder e glória, embora
distintas pelas suas propriedades pessoais” (Catecismo Maior de Westminster).
Sendo assim o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus. “A graça do
Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com
todos vós. Amém” 2 Co 13.13 (Veja ainda Gn 1.26,27; 3.22; 11.7; Mt 3.13-17; 28.20;
2 Co 13.13; 1 Jo 5.7.). O Pai como Deus – “(João 17:1) - JESUS falou assim e,
levantando seus olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho,
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Curso Básico de Teologia
“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

para que também o teu Filho te glorifique a ti” Jo 17.1 (Veja ainda Gn 1.1; Mt
6.1,9,18,32; 26.39;...). O Filho como Deus – “Eu e o Pai somos um” Jo 10.30 (Veja
ainda Jo 1.1-3; 20.31; 1 Tm 6.15; 1 Jo 5.20; Ap 1.8; 5.12-14...). O Espírito como
Deus – “Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para
que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade?
Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que
formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens,
mas a Deus” At 5.3,4 (Veja ainda 1 Co 2.10,11; Ap 4.5). Na Trindade há só uma
essência, uma só vontade, um só propósito.
a) Provas Escriturísticas da Trindade no Antigo Testamento – “E disse Deus:
Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre
os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e
sobre todo o réptil que se move sobre a terra” Gn 1.26 (Veja ainda Gn 3.22; 11.7; Is
48.16; 61.1; 63.9,10;...).
b) Provas Escriturísticas da Trindade no Novo Testamento – “E eu rogarei ao
Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre” Jo 14.16
(Veja ainda Lc 1.35; 3.21,22; Mt 28.19; Jo 14.16; e 2 Co 13.13; 1 Co 12.4-6; 1 Pe
1.2;…).

9) A Obra de Deus
a) A Criação (material e espiritual) – Deus chamou à existência todas as coisas,
tanto as visíveis como as invisíveis, pela palavra do seu poder – “NO princípio criou
Deus os céus e a terra” Gn 1.1 (Veja ainda Gn 2.1-3; Jr 10.16; 51.19; Ap 4.11; Cl
1.16;...).
b) A Providência - “aquela obra de Deus pela qual Ele preserva todas as Suas
criaturas, está ativo em tudo o que acontece no mundo, e dirige todas as coisas ao
seu fim estabelecido” - “Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos pese aos vossos
olhos por me haverdes vendido para cá; porque para conservação da vida, Deus me
enviou adiante de vós” Gn 45.5 (Veja ainda Gn 45.7,8; Et 4.14; Pv 16.9;...).
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“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

- A Preservação (Preservação é a obra continua de Deus pela qual Ele sustenta


todas as coisas) - “O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem
da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo
feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da
majestade nas alturas” Hb 1.3 (Veja ainda Gn 8.22; 9.8-17; Sl 36.6; 63.8; Ne 9.6; At
17.28; Cl 1.17;...).
- O Governo (governo é a atividade continua de Deus com a qual Ele governa
todas as coisas, de modo que elas correspondem ao propósito de sua existência) –
“O SENHOR tem estabelecido o seu trono nos céus, e o seu reino domina sobre
tudo” Sl 103.19 (Veja ainda Dn 4.34,35; Sl 22.28,29; 93.1; 96.10; 97.1; 99.1; Pv
16.1,9;...).
- Os Milagres (as intervenções graciosas de Deus realizando coisas não usuais
para beneficiar a quem Ele deseja beneficiar, uma pessoa individual ou a uma
comunidade) – “Porque tu és grande e fazes maravilhas; só tu és Deus” Sl 86.10
(Veja ainda Jó 9.10; Sl 40.5; 72.18; 98.1; 136.4; Gl 3.5; At 2.43; 19.11;...).

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