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- 245 Em busca da ordem perdida: 0 ataque de Carl Schmitt ao liberalismo como critica a modernidade. PAULO SAVIO PEIXOTO MAIA Mestre em Direito, Estadi (Und). Invegrante do grupo de pesquisa “Percursos, narrativas e fragmentos: Histéria do Diteito e do or titucionalismo” (UFSC/UnB ~ CNPq), Professor (UNIFOR e ESMEC - TI/CE SUMARIO: 1 Introdugio - 2A sociologia dos conceitos: contraponto a Max Weber - 5 A busca pelo “mito mobilizante’: contraponto @ racionalidade ocidental . 4 O confronto com o “romantismo politico”: contrapanto ao cogita cartesiano « 5 Conclusao . 6 Referéncias. RESUMO: Téo logo a modernidade comecou a mostrar as suas potencialidades, os intelectuais se utilizaram do conceito “liberalismo” para descrever 0 novo papel de protagonismo que 0 individue passou a desempenher nessa nova forma de orga- nizac&o social. Carl Schmitt, um constitucionalista de destaque da Republica de Weimar (1918-1933), também desenvolveu esforcos nesse sentido, Em sua obra “Romantismo Politico’, Schmitt tenta encontrar a natureza do “coerente sistema me- tafisico do Liberalismo’. As consideragées de Schmitt parecem mostrar um certo pes- simismo cultural; e € nesse momento que o seu juizo sobre a modernidade se revela PALAVRAS-CHAVE: Carl Schmitt - Modernidade - Liberalismo 4/Malo 2014 - 9.2454 Revista Juridica da Presidéncla - Brasilia - v. 16 n. 108- Few 246 In Search of the Lost Order: Carl Schmitt’s Attack to Liberalism as a Critique of Modernity. CONTENTS: 2 Introduction « 2 The sociology of the concepts: counterpoint to Max Weber « 5 The search to the “mobilizing myth": counterpoint to the Western rationality . 4 The confrontation with the Cartesian cagita « 5 Conclusion» 6 References. ABSTRACT: As soon as the modernity had begun to show its potentialities the intel- lectuals had used the concept ‘liberalism’ to describe the new role of protagonism that the individual uses to play in this new social organization's form. Carl Schmitt ~ a remarkable constitutionalist of the Republic of Weimar (1918-1933) ~ also had developed efforts in this way. In “Political Romanticism’, Schmitt tries to find the nature of ‘liberalism’s coherent metaphysical system’: Schmitt's appointments seem to show a certain cultural pessimism: and in this moment his judgment about mo- demity is revealed KEYWORDS: Carl Schmitt «Modernity « Liberalism En busca del orden perdido: el ataque de Carl Schmitt al liberalismo como critica a la modernidad. CONTENIDO: 1 Introduccién . 2 La sociologia de los conceptos: contrapunto a Max Weber « 3 La btisqueda del “mito de ia movilizacién”: contrapunto a !a racionalidad occidental « 4 La confrontacién con el ‘romanticismo politico": contrapunto al cogito cartesiano . § Conclusién +6 Referencias. RESUMEN: Apenas la modernidad comenz6 a mostrar su potencial, los intelectua- les utilizaron el concepto de liberalismo para describir el nuevo protagonismo que el individu pasé a desempefiar en esta nueva forma de organizacién social. Carl Schmitt, un destacado constitucionalista de la Republica de Weimar (1918-1933), también ha desarrollado esfuerzos para tanto. En su obra “romanticismo politico’, Schmitt intenta encontrar la naturaleza del ‘coherente sistema metafisico del libera- liso’. Las consideraciones de Schmitt parecen revelar un cierto pesimismo cultural; es entonces que su juicio acerca de la modernidad se muestra. PALABRAS CLAVE: Carl Schmitt « Modernidad « Liberalismo. urigica da Paulo Savio Peixoto Maia . ‘Ll Introdugao 1767,0 iluminista escocés Adam Ferguson (1996, p. 57) assim descreveu E mM: singularidade de seu presente: “para os gregos antigos - ou romanos ~ 0 individuo era nada, e 0 publico era tudo. Para o moderno, em varias nacdes da Europa, 0 individuo € tudo e o publico nada”’. Mais que uma fundamentacao do individualismo, tal sentenca atesta o despontar de uma forma de organizacao social enfaticamente inédita em termos historicos: 4 sociedade moderna. Com inicio situado nos Ultimos anos do século XVIII, os tracos peculiares da mo- dernidade evidenciam-se quando contrastados com o anterior modo de organizacao social, a diferenciagdo por estratos. Em sintese, a estratificagao se caracteriza por uma divisao fundamental da sociedade entre uma parte nobre e uma parte comum; ‘0 que gera uma distribuicao iniqua de riqueza, de poder, em suma: desigualdade nas chances de comunicagao (LUHMANN, 1982, p. 234). Ha uma nitida separacdo entre superior e inferior, entre tarefas e fungdes que so proprias a cada estrato e que séo prestigiosas para o estrato superior (LUHMANN, 1983, p. 204-205). A esse tempo, todas as possibilidades do individuo dependiam do seu estrato de origem; dai se dizer que a incluso social era condicionada por critérios ad hominem (LUHMANN; DE GIORGI, 1994, p. 283). Em contraponto a isso, na modernidade “a funcdo passou a ser o principio pre- valecente na diferenciagéo interna da sociedade” (CAMPILONGO, 2000, p. 116). Pela primeira vez, foi possivel a todas as pessoas um acesso generalizado aos sistemas funcionais, sem que a hierarquia exercesse um primado (ou pressuposto) na produ- do de sentido social (DE GIORGI, 1998, p. 116), ainda que isso tenha acontecido de forma gradual, processual, e néo de modo instantaneo. E de se esperar que 0 ineditismo de um modo de organizacéo social requeira, dos tedricos, guias conceituais aptos a descrevé-la. Um desses quias conceituais (foi essa a opcdo de Fergurson) era a noc&o de “individuo" - que, a um s6 tempo, ainda fundamentava a abstinéncia propria a “modéstia regulatéria do Século XIX" (CAMPILONGO, 2011, p. 77). Outros autores preferiram acentuar uma ou outra ca- racteristica da modernidade para assim defini-la. Um Max Weber (1921/2000, p. 142-147) entendia que 0 predominio da racionalidade instrumental conjugada com No original: “To the Ancient Greek. or the Rom thing. To the modem, in too many nations of Europe, fal was nothing idividual is every thi id the public was every the public Revista Juri residencia - Brasilia - v. 16 n. 108- Fev. 2014/Malo 2014 - p.245 a 265, 247 248 Em busca da ordem perdida uma dominacao burocratica seria o traco distintivo do moderno. Ja um Ulrich Beck (1997, p. 11-74) prefere enfatizar a nogdo de “risco” Carl Schmitt, senhor de um decisionisme juridico cujos lineamentos contestam as aquisicdes mais caras ao constitucionalismo (separacao dos poderes, direitos individuais, democracia parlamentar), também parece possuir uma opiniao formada acerca da anatomia do moderno. Na impossibilidade de se ter acesso a ela de modo imediato, faz-se necessario um fio condutor. A hipotese que se segue é a seguinte: da mesma forma que “Lliberalismo” e “individualismo” foram conceitos assaz utilizados nas primeiras descrices da modernidade (a ponto de reduzir esta aqueles), afigura-se plausivel que 0 diagndstico de Schmitt, acerca desse acaso evolutivo que é amodernidade, seja evidenciado mediante um exame mais detido das consideracées de tal autor acerca do liberalismo e do individualismo, termos jungidos, na diccéo schmittiana, pelo conceito “sistema metafisico do liberalismo’. Nessa senda, e por uma questao ldgica, a compreenso do que venha a sero liberalismo depende do enfrentamento da seguinte questo: 0 que vem a ser um “sistema metafisico” para Schmitt? Que sentido existe em se buscar uma “estrutura espiritual”, uma “instancia extrema’, um “centro absoluto” (SCHMITT, 1981, p. 20), uma metafisica? Quais as implicacdes dessa impostacao metodolégica de Schmitt (inclusive para seu conceito de direito)? Abordadas tais questdes incidentais, o ataque que Schmitt desfere ao liberalismo (travestido em sua critica ao romantismo politico), pode levar a um novo juizo acerca da relacao do decisionismo juridico de Schmitt nao com 0 liberalism, e sim - e para além disso - com a propria modemidade’. 2 Asociologia dos conceitos: contraponto a Max Weber. Schmitt acredita que toda e qualquer época possui um nucleo metafisico. Para encontré-lo, propée uma “sociologia dos conceitos’, um método para lidar com a histéria, observando-a fundamentalmente como um processo de secularizacao° Segundo o jurista alemo, essa “sociologia dos conceitos” nao incidiria no suposto equivoco teorético de apontar causalidades entre motivagdes humanas e complexos Consoante j4 eme origina-se do instrun s Unhas acima, © concelto de ‘modernidade’, encampado por este escrito, tal. metodolégico fornecido pela teoria da diferenciacao do direto. 3 Para uma aplicagao desse método, ¢ propondo a histérla moderna europela como uma sucessdo de centros neutralizadores de conflitos, Cf. (SCHMITT, 1992, p. 106-120). Método que inspirou a postura historlogréfica de um de seus discfpulos. no campo da Teorla da Constitulcao, qual seja Béckenférde (2000, pp. 101-111 Revista Juridica da Presidéncia - Brasilia - v. 16 n. 108- Fev. 2014/Malo 2014 - p.245 a 265, Paulo Savio Peixoto Maia . culturais, ou mesmo ver toda manifestagao social por meio de metaforas como re- flexos ou imagens de relagdes econdmicas (SCHMITT, 1972, p. 64-66). Assim, a um 0 golpe, contra Max Weber e contra Karl Marx, a sua “sociologia dos conceitos” tem outra proposta. Nas palavras do proprio Schmitt: A sua peculiaridade consiste no fata de que, superando a conceitualida- de juridica orientada a interesses préticas imediativistas da vida juridica, a estrutura fundamental e radicalmente sistematica é encontrada, ¢ esta estrutura conceitual é em seguida comparada com a elaboracao conceitual da estrutura social de uma determinada época. Aqui nao interessa se 0 ideal da conceitualidade radical seja 0 reflexo de uma realidade socio- légica ou se a realidade social seja entendida camo a consequéncia de um modo determinado de pensar e, consequentemente, também de agir (SCHMITT, 1972, p. 68). Ha, nesse método, a postura de ir ao extremo, de utilizar os conceitos radical- mente, coisa que para Schmitt significa: ir ‘até o metafisico € 0 teolégico” (SCH- MITT, 1972, p. 69). Ele nao enxerga o menor problema em ir para além do positivo, daquilo que é dado, pois, para Schmitt, o que importa é notar que “o quadro meta- fisico que uma determinada época constroi do mundo possui a mesma estrutura daquilo que se apresenta & primeira vista como @ forma da sua organizacéo poli- tica” (SCHMITT, 1972, p. 69). Por isso, ‘a metafisica ¢ algo de inevitavel’ (SCHMITT, 1981, p. 21). Toda e qual quer época possui uma estrutura metafisica; para encontré-la, Schmitt acentua uni- lateralmente 4 realidade historica, reduzindo-a a um determinado aspecto que é mais interessante para seus objetivos. Ha, portanto, uma selegdo drastica de sentido na identificagao do “elemento espiritual ultimo” de uma época; essa é a “estratégia de conhecimento da realidade politica” utilizada por Schmitt (FERREIRA, 2004, p. 65)". Ha quem veja nessa postura ume filiagdo de Schmitt & metodologia de Max Weber pois, na construgao tipico-ideal, também ha o isolamento de determinada ca- racteristica realizada ao extremo, até que certa homogeneidade apareca e seja apta a direcionar a pesquisa. O tipo-ideal nao possui, por isso mesmo, tradugao real no mundo, e consiste apenas no inicio, e néo no resultado de um trabalho intelectual (FREUND, 2003, pp. 48-51). Com efeito, precisamente aqui observa-se um afasta- mento de Schmitt em relaco 2 Weber. Quando Schmitt cré identificar uma estrutura 4 Na consciente manipulag2o que Schmitt faz da histdria, a influéncia da nogo de “disj confecclonada por Georges Sorel. tem por principal efelto o Isolamento deliberado instituigGes de seus devidos contextos. O que foi bem notado por: (SEITZER, 1998, p. 283), Revista Juridica da Presidéncia - Brasilla - v. 16 n. 108- Fev. 2014/Malo 2014 - p.245 a 265, 249 250 Em busca da ordem perdida metafisica, ele nao @ utiliza como uma chave metodologica que fornece 0 inicio da compreensao da reelidade: ela faz parte da prépria realidade, porquanto a metafisi- ca é"a expresso mais lucida de uma época” (SCHMITT, 1972, p. 69). De se ver, por isso, que 0 “tipo-ideal” de Schmitt nao possui nada de ideal: ele possui existéncia concreta, est mais pare “tipo-real” (MEHRING, 1998, p. 141). Des- sarte, a congruéncia entre o método de Schmitt eo de Weber é ndo mais que apa- rente, 0 que fica ainda mais demarcado quando se leva em conta os objetivos perse- guidos a partir dos postulados tedricos: Schmitt se porta profundamente contrario a qualquer tentativa teorética de explicagéio da modernidade como um proceso de racionalizagao e desencantamento do mundo, como o fez Weber’, Ao contrério, quando procede 8 identificacao do “quadro metafisico” de uma época Schmitt se vale muito mais da “filosofia da vida concreta” (Lebensphilosophie)*: uma orientacao filo- s6fica que tinha como principal mote o combate a algumas caracteristicas basicas da modernidade. 3 A busca pelo “mito mobilizante”: contraponto a racionalidade ocidental. Um dos principais expoentes da “filosofia da vida concreta’ foi o francés Geor- ges Sorel, que elaborou uma teoria do mito. Com forte viés antirracionalista, Sorel se perguntava como é possivel impelir as massas @ aco, mas de forma diferente do que aconteceu no século XIX, ocasiéo em que “todas as perturbacées revolucio- narias [...] resultaram em um fortalecimento do Estado” (SOREL, 1921, p. 29). Ele duvida que a utopia, a analise cientifica ou o parlamentarismo consigam fazé-lo (SOREL, 1921, p. 169-170): isso porque as convicgdes morais ndo se comovem por uma argumentagdo racional, mas por um estado de guerra, que consegue traducdo 5 importante sublinhar que a Potitische Theotogle de Carl Schmitt ~ na qual ele trabalha com 0 que parece ser dois tipos-ideais, 0 normativismo e o decisionismo - foi pela primeira vez publicada em 1922 em um Festschrift em meméria de Max Weber, do qual Schmitt fot aluno logo apés o final da | Guerra. Cf. (KERVEGAN, 1995, p. 250). 6 Entende-se que tal orlentagao revela-se mals proveitosa que aquela outra que se ocupa em perqulrir se Schmitt adotara método “indutivo" ou “dedutivo’,trilha inaugurads por Kurt Wilk (1934, p. 186- 196) a0 qualificar o método ce Carl Schmitt como ‘puramente dedutivo’.o que the renderla, a titulo de principal caracteristica, um niilismo cientifico. A rigor, quando se concebe 2 cincia como um sistema autopoiético, consoante propée a teoria da sociedade de Niklas Luhmann, vé-se que a distingdo entre Indugdo e dedugao nao parece ser uma descri¢ao promissora para ainda organizar a comunicagio do sistema da ciéncia: a circularidade é constitutiva para a produgo de sentido, de forma que a induggo 6120 dedutiva quanto a deducao € Indutiva. A Indicagao de uma precedéncia parece nao $6 dificil. mas iniitil em termos de resultados concretos. Cf. (LUHMANN, 1996, pp. 204-213). Revista Juridica da Presideéncia - Brasilia 108+ Fox. 2014/Malo 2014 - p.245 a 265. Paulo Savio Peixoto Maia . a partir de mitos (CARLONI, 2001, p. 373). E o mito a ser selecionado para impelir a revolucao do proletariado é o mito da greve geral (SOREL, 1921, p. 39), que tem como fungao a “organizagao de imagens capazes de invocar instintivamente todos 0s sentimentos que correspondem as diversas manifestacdes da guerra engajada pelo socialismo contra a sociedade moderna” (SOREL, 1921, p. 182). Uma guerra cuja “a finalidade deve ser sempre a catastrofe do inimigo” (SOREL, 1921, p. 168). Revela-se nitida, outrossim, a filiagdo de Sorel a filosofia de Henri Bergson, qua- lificada (poeticamente) por Sorel “como uma arvore robusta que se eleva ao centro das devastadas estepes da filosofia contemporanea” (SOREL, 1935, p. 167-168, tra- dug&o nossa). Para Bergson, a metafisica ainda tem um papel a desempenhar na sociedade moderna. Para ele, a ciéncia trabalha com simbolos; sé que ela fornece somente uma realidade relativa, pois nao consegue ir além da percepgao das formas visiveis. Se existe um meio de contemplar a realidade de modo absoluto, e ndo re- lativo, esse meio consiste na metafisica: uma ciéncia que dispensa simbolos, porque é mais do que uma ciéncia (BERGSON, 1946, p. 159-162). £ a intuicdo metafisica que consegue ir além de um elenco de experiéncias cientificas, que consegue forjar Lexpérlence intégrale (BERGSON, 1946, p. 200). O préprio Sorel, a propésito, expressa claramente que 0 seu conceito de mito corresponde a “experléncia integral” da me- tafisica de Bergson (SOREL, 1921, p. 181 e 188). Schmitt é indisfar¢avel admirador do potencial mobilizante do mito, que para ele consiste na maior prova de que 0 racionalismo encontrava-se em declinio’. Nao s6 para ele como também para os adeptos da “revolucéo conservadora” (no ambito da RepUblica de Weimar) como um todo (HERF, 1993, p. 49). A forca vital do mito po- deria salvar 0 Ocidente da decadéncia que a Zivilization e suas “qualidades afemina- das’, oriundas da modernidade, impingiam a Kultur germanica. A politica, o sangue, a aco, deveriam derrotar os dois principais agentes da Zivilization, a racionalidade (Geist) e 0 dinheiro (Geld)*. Assim, Bergson € Sorel interessam a Schmitt a medida ele Schmitt apon ral pela qual da separacao entre teoria e pratica) consiste em Oswald Spen. normente o quanto conti nas paginas 301-317 e 353, ocasido em que disserta sobre 2 “uta final entre o dinheiro e a politica Revista Juri residencia - Brasilia - v. 16 n. 108- Fev. 2014/Malo 2014 - p.245 a 265, 251 252 Em busca da ordem perdida que pretendem suplantar a racionalidade de meios-a-fins do pensamento tecnicis- ta? bem como porque também buscam superar a decadéncia burguesa®®. Para Schmitt, foi a forca vital do mito que permitiu a Mussolini salvar a Italia da dissolugao liberal, como atesta o discurso do lider fascista em 1922 pouco antes da Marcha sobre Roma: “nés criamos um mito, ele € uma crenga, um entusiasmo nobre; ele nao precisa ser realidade (...). Nosso mito é a Nagdo, a grande Nacdo que quere- mos transformar em uma realidade concreta” (SCHMITT, 1994, p. 76). Na analise de Schmitt, 0 argumento de Mussolini tao somente substituiu o grande mito de Sorel, a “greve geral’, pelo mito da Nagao. De toda sorte, nao foi a racionalidade, mas 2 aco direta que 0 fez lograr éxito (CARLONI, 2004, p. 374). Desta feita, afigura-se fundamental perceber a influéncia da filosofia da vida concreta na forma de Schmitt encarar o presente, porquanto isso explica a maneira pela qual ele se utiliza do passado (OIAKANGAS, 2006). E a “disjuncao’, instrumento por meio do qual Sorel aborde a historia, também ilustra e reforca essa ordem de ideias. Em Sorel, a“disjunc30” significa: [...] um esforgo deliberado de isolar caracteristicas de ideias, instituigdes, eventos, ou desenvolvimentos de seus contextos respectivos. Pela abstra- gao de fatores contextuais que limitam a utilidade de uma ideia ou de uma instituicao para resolver um determinado problema pritico, a “disjungao” fortalece a capacidade de um objeto de servir como ponto de referencia para a ago politica, porque ele intensifica a oposicao entre as alternativas consideradas (SEITZER, 1998, p. 283). Tal método, a disjun¢ao, é em tudo assemelhado @ estratégia tedrica de Schmitt quando da identificagdo da estrutura metafisica de uma época. Com efeito, quando Schmitt problematiza 0 passado, com a sua “sociolagia dos conceitos’, nao esta nem 9 John McCormick (1997) valoriza muito esse aspecto da teorla de Schmitt. Apesar de a luta contra a “técnica” ser, efetivamente, um trago marcante do pensamento schmittiano, ela parece ser apenas um onto no interior de um grande mosaico que tem o mundo moderno como verdadeiro adversério. 40. Para negar qualquer “vitalidade” burguesia, Schmitt (1994, p. 68) a qualifica, pela boca de Sorel, como uma mera “plutocracia demagégica’, “degenerada pela ansia de dinheiro e propriedade’. 0 paralelo no sé com Spengler, mas com outros mandarins do modernismo reacionario revela- se apropriado por Isso, peta circulagao de sentido em comum: nao pela utilizagao das mesmas categorias, mas sim pela semelhanga de objetivo. Assim, discorda-se das consideragdes de Joseph Bendersky (1987, pp. 27-42), que alega ser imprdprio o paralelo entre Schmitt e os modernistas reaclonarlos, como Jiinger e Spengler. Bendersky parece olvidar o fato de que J em 1914 Schmitt fazia coro 2o género de autores que no se que elegem o predominio do “dinheiro e da técnica” como um fator de decadéncla do Ocidente; um predominio que. na andlise de Schmit. serla algo caracteristico da época moderna, Cf. (SCHMITT, 2003, p. 64), Revista Juridica da Presidencia - Brasilia - v. 16 108+ Fox. 2014/Malo 2014 - p.245 a 265. Paulo Savio Peixoto Maia um pouce interessado em realizar uma analise cientifica e desinteressada da hi téria, ou mesmo em conseguir isolar, e acentuar, determinadas caracteristicas para conseguir lidar com um objeto de pesquisa de um modo valorativamente livre, como faz um Weber. Ao contrario, Schmitt realiza uma espécie de “historicismo’, porquanto descreve a evolugao da sociedade como uma sucessao irreversivel de centros meta- fisicos no decorrer do tempo (MEHRING, 1998, p. 145). Ele tende a separar uma ideia, um conceito de seu contexto; apés, vem o diag- néstico de que a metafisica que orientava essa estrutura conceitual ja estaria ul- trapassada. A conclusao, geralmente, € de que aquilo que analisado ~ seja um conceito como o liberalismo, seja uma instituiggo como o parlamento - sofreu uma mudanca de significado fruto do deslocamento metafisico de uma época (MEHRING, 1998,p. 144), A inevitabilidade do diagnéstico faz com que as ‘solugdes” de Schmitt aparecam como medidas (também inevitavelmente) necessarias. Seu procedimento é historicista, ainda que em um sentido bem peculiar, porque “ele constréi um contexto hist6rico (...) nos termos de uma sequéncia dialética irre- versivel” (MEHRING, 1998, p. 144). 0 que aparenta ser problematico nesse modo de proceder é que Schmitt parece ignorar que é perfeitamente possivel que os concei- tos que descrevem uma organizacao formal, como o Poder Legislative, por exemplo, sejam redefinidos por novos observadores, sejam ativados de forma distinta’’. $6 que para Schmitt isso ndo importa: basta identificar um descompasso entre o fun- cionamento de uma instituigdo e a estrutura metafisica que embasou suas origens para que ele nao lhe conceda “uma segunda chance histérica” (MEHRING, 1998, p. 144). Portanto, nao deixa de ser um julgamento da hist6ria. A selecdo de sentido his- torico é feita por Schmitt com exclusive intuito de construir um mito, de impelir para a “ago heroica’, para a decisdo; e assim, tal como em Sorel “a historia consistiria em blica seu mais consistente ataque a democracia representativa, “Die geistesg ige des heutigen Parlamentarismus” [A situagao histérico-espiritual do Parlamentarismo atual]. Em 1925, Richard Thoma (1994, p. 80) publica uma réplica contestando as conclusGes autoritérias de Schmitt. Sua fala ~ muito acertada nesse particular - ¢ precisamente nesse sentido: ‘a valla e vitalidade de uma Institulcao politica nao depende, de forma alguma, da qualidade e do carater per S ideologias propostas para sua justificagao’ Revista Juridica da Presidéncia - Brasilla - v. 16 n. 108- Fev. 2014/Malo 2014 - p.245 a 265, 253 254 Em busca da ordem perdida uma ferramenta utilizével para desencadear a mudanca social radical” (SEITZER, 1998, p. 285) ‘Agora que ja se sabe como Schmitt identifica a “estrutura fundamental radical- mente sistematica” de um conceito, tem-se em mos o pressuposto minimo para uma compreensio do que seja a sua critica ao “liberalismo como sistema metafisico co- erente’. Isso aparece na critica de Schmitt ao assim-chamado ‘romantismo politico”. 4 O confronto com o “romantismo politico”: contraponto ao cogito cartesiano. O romantismo consistiu, antes de mais nada, em um movimento artistic; sSU- miu, portanto, pretensdes fundamentalmente estéticas. Valorizando a subjetividade artistica, abordou amide a intimidade, o animo, as possibilidades infinitas do Eu frente 4 realidade palpavel (HERF, 1993, p. 135). Tinha como caracteristica, também, um certo apreco pelo passado, pintado com tonalidades nostalgicas até, de tal for- ma que aparentemente esse movimento visava apenas a “arte pela arte” (SCHMITT, 1991, p. 19). De igual modo, o romantismo acabou por expressar uma mudanga na estrutura da sociedade que estava acontecendo naquela virada do século XVIII para © século XIX, Como notou Franz Briseke (2004), € no romantismo que o sujeito abstrato do Iluminismo se transforma em sujeito empirico. Na sua conhecida fundamentacao do sujeito transcendental, Immanuel Kant deriva a existéncia do sujeito por meio do conceito de acdo, sendo que a agao é ra- cional porque deriva de uma vontade livre do individuo, sempre pressuposto como um ser racional (DE GIORGI, 2002, p. 63). Pois bem, o romantismo desenvolve esse paradoxo, uma vez que esse movimento “mudou a perspectiva da autopreservacao e autodeterminagdo, caracter/stica do Iluminismo, para a ideia da autorrealizacdo e do desdobramento dos potenciais individuais” (BRUSEKE, 2004, p. 29)". Pode-se apon- tar que 0 romantismo radicaliza o Iluminismo e seu caréter corrosive em relaco & 12. Sorel e Schmitt nao estavam sozinhos, ness incitava os alemdes @ fazerem frente con um de seus frutos, o Tratado de Versalhes. Sob uficlente para ser utilizado quer pela “dlreita’, quer peta ‘esquerda’, nao i ele, por parte daquela, patente que importe exclusividade. Tanto que coube a Carl Schmitt formar, na Republica de Weimar, no s6 juristas ‘reacionéros de drelta’s mas m 0s que se diziam de“esquerda’, como denota o exemplo de Ditto Kirchheimer (considerado o pupilo preferido de Schmitt), contexto. Oswald Spengler (1941, p. 179 e ss) também a‘Revolugao de Cor” (isto é, Dolchevique), mormente contra ponte, insta perceber que 0 autoritarismo de Schmit idindo sobre 6 universal c 3 Contudo, é de se notar que essa realizagao do sujeito kantlano se dé no terreno sem-tempo da razao. A destranscendentalizag3o desse sujeito kantiano, principalmente por obra de Martin Heidegger, ocorre quando o tempo é colocado como horizonte de significacao do Ser. E assim abre-se espaco para que essa ‘realizacao" (ou sua impossibilidade) seja historicamente Revista luridica da Presidencia - Brasilia v. 108+ Fox. 2014/Malo 2014 - p.245 a 265. Paulo Savio Peixoto Maia . ordem social pré-moderna, que tinha como principal caracteristica o primado da es- tratificacao, e no o do “sujeito” Por certo, o surgimento dessa seméntica que coloca 0 “sujeito” como protagonista da ordem social desempenha um papel importante no sentido de dissolver a antiga ordem escalonada por ordines*« (LUHMANN, 1990, p. 69) (VERSCHRAEGEN, 2002, p. 266). Com a centralizaco do individuo como protagonista da ordem social, um fato historico realmente inédito, estabeleceu-se um confronto com uma nogéo muito propria do pensamento medieval, a eternitas; isso porque, para o romantismo, o in- dividuo se autorrealiza em um tempo limitado e secular*’. N&o sé a eternidade, mas outras grandezas metafisicas, como “absoluto’, “totalidade” e “infinito” passam a ser questionadas pelo sujeito autocentrado (BRUSEKE, 2004, p. 29). Schmitt se defronta com essa semantica de transigao da modernidade, que des- creve uma sociedade em que 0 individuo adquire um primado - 0 que lhe causa notdria inquietago. Mais do que isso, Schmitt percebe que o romantismo, pelos motivos mais tortos possiveis, acaba por revelar uma carga politica: é possivel falar, assim, em um romantismo politico. O motivo incidental da obra Romantismo Politico (1924, 2° ed.) reside em uma critica as ideias politicas de romanticos como Friedrich Schlegel e Adam Miller (HIRST, 1992, p. 154). Em relacdo a este Ultimo, por exemplo, Schmitt se impressio- na coma total mutabilidade de seus ideais politicos durante sua trajetéria intelectu- al: em Géttingen, Miller fora anglofilo, mas em Berlim se transformou em defensor do velho sistema prussiano de estamentos (SCHMITT, 1981, pp. 53-81). No intuito de descobrir como era possivel que uma postura estética permitisse essa (suposta) total falta de compromisso, Schmitt perquire “qual estrutura espiritual se colocava como fundamento desta expansdo da estética, e porque o romantismo apareceu logo no século XIX e conseguiu tanto sucesso” (SCHMITT, 1981, p, 20). A busca por esse ‘estrutura espiritual” tenta encontrar, assim, uma “instancia extrema’, um “centro absoluto” (SCHMITT, 1981, p. 20); em outras palavras, uma metafisica. Schmitt considera que nao consiste em tarefa facil definir um movimento in- telectual que “ora se transforma em filosofia da natureza, ora em mitologia, ora em irracionalismo” (SCHMITT, 1981, p. 85). Logo de inicio, percebe que o romantismo 14 A nogao de di e motor d sot ‘0 subjetivo, que surge precisamente nessa época, pode ser vista como expresso tende rani aserv (07) (DIPPEL, 2005, p. 15: cia: 08 ireltos, que an “oo essencialmente pertinentes a um sujeito de direito. Ct. (MAIA, 156). ram entendides como uma concessdo graciosa do E é dai que surge, nessa época, a not jildung, formagao. CF. (KOSELLECK, 2002, pp. 170-207). Revista Juri a Presidencia - Brasilia - 16 n + Few, 2014/Malo 2014 - p.245 a 265, 255 256 politico nao tem um conteudo uniforme, uma temética propria. Seria necessario encontrar outra hipotese explicativa. E € no af de encontrar uma postura que pu- desse explicar os romanticos de forma convincente que Schmitt propée o conceito occasio. O romantismo politico seria um “ocasionalismo” subjetivado, o que significa afirmar que “o sujeito romantico considera o mundo como ocasido e pretexto para a sua produtividade romantica” (SCHMITT, 1981, p. 21). Ver-se-a, agora, como Schmitt chega a tal definiggo. Consoante seu método de argumentar a partir do extremo, Schmitt vai aqui- lo que ele acredita ser as origens da modernidade: 0 cogito ergo sum cartesiano. Para ele, é a filosofia de Descartes que poe termo ao antigo pensamento ontolégico (proprio da Idade Média). Com o cogito cartesiano, funda-se um egocentrismo filo- sOfico que coloca uma subjetividade interior em confronto com a realidade exter- na. Nascem, assim, os dualismos que tanto caracterizam 0 pensamento moderno, como “pensamento e ser, conceito e realidade, espirito e natureza, sujeito e objeto” (SCHMITT, 1981, p. 86). Essa polarizacao do pensamento comeca a colocar em uma posicao acuada o conceito do velho pensamento ontolégico que caracterizava o Absoluto: Deus. Como essa transcendéncia ja nao convencia, fazia-se necessario que se criassem novas totalidades, novas divindades. Nesse sentido, durante o século XVIII dois novos “demiurgos” modernos se credenciam: a humanidade e a historia (SCHMITT, 1981, p. 94). So sinteses de potencial secularizante que permitem ao sujeito nado se submeter a uma instancia como Deus (SCHMITT, 1981, p. 108). A humanidade enquanto “demiurgo” se manifesta a partir das formas mais diversas, como povo, comunidade, nac&o. Os objetivos de sua evocacdo também nao se dao univocamente; podem conclamar uma revolu¢ao, como 0 fez os jacobinos com a categoria totalizante “povo”; podem fundamentar uma contrarrevolucao, como De Maistre (1990, p. 61-67) fez com “nacao’, havida vista como uma criacdo de Deus (SCHMITT, 1981, p. 94-98). E na analise da utilizacao do “demiurgo historia” pelos romanticos que se chega mais proximo do centro metafisico do romantismo politico. Para Schmitt, o romanti- co ndo tolera o passar do tempo. O presente, com sua contingéncia, € opressor; limi- ta as possibilidades da vida. Dai o interesse pelo passado: se o passado consiste em negacao do presente, o passado nega a limitacao de possibilidades do Eu romantico (SCHMITT, 1981, p. 110), Disso advém o interesse de muitos romanticos pelo Me- dievo e Antiguidade classica, Nessa recusa de encarar o presente, e de se utilizar do passado, Schmitt enxerga uma atitude especificamente romantica: a fuga da reali- Revista Juridica da Presidencia asilla - v. 16 n. 108+ Fev. 2014/Malo 2014 Paulo Savio Peixoto Maia . dade (SCHMITT, 1981, p. 112). Uma postura que significa, simultaneamente, uma recusa a objetividade, a uma ordem exterior e 4 adogao de qualquer tipo de decisao. Na verdade, ao romantico so interessa a discusséo (SCHMITT, 1981, p. 18-19), Citando reiteradas vezes um dos Fragmentos de Novalis (0 de numero 66), Schmitt afirma que, para um roméntico, “qualquer coisa € 0 inicio de um romance sem fim” (SCHMITT, 1981, p. 127), ou seja, qualquer fato da realidade social ¢ uma ocasido (occasio). Nisso se exercitaria @ liberdade do Eu que pensa o mundo a partir do co- gito cartesiano, colocando sua experiéncia pessoal como juiz da realidade (HIRST, 1992, p. 152). O mundo exterior do romantico vem considerado téo-somente na medida em que ele possa fornecer um interesse estético para o exercicio de sua subjetividade (SCHMITT, 1981, p. 128). Arealidade configura um pretexto para o de- leite fantastico do sujeito, mera occasio para sua produtividade estética (CAAMANO MARTINEZ, 1950, p. 60). Com a occasio, 0 sujeito romantico opera uma secularizagao de Deus, na exata medida em que se coloca em Seu lugar. Ha uma nova acepc¢o de totalidade, uma vez que o mundo passa a ser compreendido a partir da representagao de uma von- tade subjetiva'*. Deriva disso a peculiar nogao schmittiana de secularizacao. Para Schmitt, “todos os conceitos mais importantes da moderna teoria do Estado séo conceitos teoldgicos secularizados” (SCHMITT, 1934/1972, p. 61). A modernidade nada mais seria que uma mera reocupacao de temas medievais (de onde se conclui que, para Schmitt, a modernidade nunca se realizou) (MOUFFE, 1994, p. 103). Aoccasio romantica se situa nesse contexto de secularizaco, porquanto propée ‘© sujeito como o criador de um mundo que se encontra 4 disposicao de seu deleite estético (SCHMITT, 1924/1981, p. 144). O lugar que era de Deus, ocupa-o 0 sujeito, E tudo isso é valorado, por Schmitt, com sensivel pessimismo: Somente em uma sociedade minada pelo individualismo a produtividade e do sujeito poderia se colocar como centro espiritual da realidade; somente em um mundo burgués se poderia encarregar 0 individuo - espiri- tualmente isolado e abandonado a si mesmo - de dar conta de todos aque- les fardas que tempos atrés eram, ao contrario, repartidos entre as diversas Fungo deste tipo o individuo privado é fadado a ser 0 sacerdote de si mesmo e [...] a ser o arquiteto que erige a catedral para o cutto da propria personalidade: 25 hierarquicas do ordenamento social, Somente em uma sociedade 16 Arthur Schopenhauer, com 0 a0 Idealismo subjetivo de Berkeley, fol uma Influéncta forte no jovem Schmitt (CARLONI, 2004, p. 365). Para uma mostra do conhecimento profundo que Schmitt tinha da obra de Schopenhau (SCHMITT, 1914/1997, p. 474-479). Cf. também o excelente texto introdutério a esse artigo de Schmitt: (DOREMUS, 1997, pp. 47 Revista Juri a Presidencia - Brasilia - 16 n + Few, 2014/Malo 2014 - p.245 a 265, 257 258 Em busca da orde perdida nesse sacerdécio privado se encontra a raiz ultima do romantismo e dos fendmenos roménticos (SCHMITT, 1924/1981, p. 24), Assim, cabe sintetizar o argumento de Schmitt: (i) a modernidade se caracteriza pelo surgimento do primado do individuo; (ii) € a occasfo romantica que fundamenta um individuo que nao possui outro compromisso que nao o seu deleite estético, que se vale do mundo como simples pretexto; logo (iii) a manutengao do primado do sujeito depende da conservacao da estrutura metafisica representada pela occasio. A occasio pode ser traduzida como uma celebracao das possibilidades infinitas de uma subjetividade autonoma frente o mundo”. Assim, acredita Schmitt, ‘caso se queira dar uma definicao total do romantismo, é necessério procuré-la na auséncia de qualquer relagao com uma causa’, Ora, 0 individuo sé consegue desenvolver o eterno didlogo romantico com a correspondente recusa de se entender 0 mundo a partir de qualquer regularidade objetiva, de qualquer causa. Por isso 0 romantico nega qualquer sorte de ligagdes normativas que estabelecam ume relacéo entre occa- sio @ efeito, porque a occasio é sempre imprevisivel (FERREIRA, 2004, . 87). 0 roman- tico simplesmente abomina a causa porque ela forma vinculos com o futuro, porque impele a decisdo € a intervencéo nas relagdes do mundo sensivel. Limitar @ occasio seria limitar a liberdade do sujeito. Por essa razéo € que Schmitt define o romantismo politico como uma occasio subjetivada. O romantismo politico consiste na recusa da decisdo. Disso derivaria a sua nulidade politica, como expés Bernardo Ferreira: Para Schmitt, 0 processo de emancipagao do sujeito em face dos pres supostos da ontologia tradicional nao s6 desestabiliza a possibilidade de uma fundamentacao substancial dos principios normativos, como implica a rendncia a prépria ideia de uma ordem normativa, Expressao extrema daquele processo, 0 romantismo nao teria como oferecer uma contrapar- tida politica para @ dissolucao individualista da “hierarquia da esfera do espirito’ Assim, a sua nulidade politica nao se distingue da sua impoténcia normativa. Se o sujeito romantico, como repete Schmitt insistentemente, nao € capaz de nenhuma decisdo ¢ porque ele ndo admite se sujeitar a um posicionamento normativo diante da realidade. A incapacidade romantica de decisao seria, em ultima anélise, a incapacidade de estabelecer uma or- dem fundada em parémetros de normalidade partilhados e minimamente estdveis (FERREIRA, 2004, p. 98). 17. Na analise de Hugo Ball (1924/2004, p. 77 e 80), essa atitude romantica de eterno diélogo nada mals seria que um “artificialismo irractonal" que contraporla 0 “ideal” com o ‘real’. A afirmagao nao pode ser considerada, peremptoriamente, falsa; mas é imprecisa. Schmitt ndo expe 2 questao com base nessa distingao Idela/realidade. A rigor, 0 ue distingue o romantico, para Schmitt, “critério negative’, por assim dizer: 0 roméntico politico é aquele que no decide. Revista Juridica da Presidéncia - Brasilia - v. 16 n. 108- Fev. 2014/Malo 2014 - p.245 a 265, Paulo Savio Peixoto Maia E precisamente a recusa a qualquer vinculo normativo por parte do ocasionali mo que torna inexistente uma teoria do direito ou mesmo uma ética romantica, pois a passividade do romantismo se recusa a operar qualquer transformacdo ative do mundo social (SCHMITT, 1981, p. 238). O “interminavel falatério’ do romantismo do século XIX impediria qualquer tomada de decisdo que escape @ afirmagao solipsista de um Eu romantico (HERF, 1993, p. 137), € no por outro motivo o romantismo politico no tolera qualquer relagao com normas ou decisées juridicas: “qualquer norma the aparece, sobretudo, como uma tirania antirromantica, e qualquer decisao do género juridico ou moral the pareceria privada de sentido” (SCHMITT, 1981, p. 178). Anorma reduz o espectro de liberdade do sujeito roméntico, porquanto coloca um ponto final na mobilidade infinita do eterno didlogo (SCHMITT, 1981, p. 237); a norma, por constranger & decisdo, deve ser evitada. Dal 0 porqué de o tipo de pensamento juridico (rechtswissenschafiliches Denken) préprio ao sistema metafisico do liberalismo, 0 normativismo, buscar na sublimi- dade do geral e do abstrato uma pretensa superioridade “sobre a mera realidade e facticidade do caso individual concreto” (SCHMITT, 2001, p. 168). $6 que, nesse mar- co, a “despersonificagao” levada a efeito pela impessoalidade do “governo das leis” seria nada mais que uma fuga daquela que seria a principal quest&o juridica: quem decide?**. Afinal, nada é mais avesso ac liberalismo do que @ decisdo. 5 Conclusdo De tudo que foi exposto, infere-se que a critica de Schmitt ao liberalismo, pelo medium do ataque & estrutura ocasional do romantismo, consiste, ao fim e ao cabo, em um confronto com a propria modernidade. Seu problema é a passagem de uma sociedade pré-moderna - diferenciada por estratos e que naturaliza posigdes sociais a partir de critérios de nascenca - para uma sociedade moderna, com fundamentos artificiais, méveis e precdrios; uma sociedade que, por um lado, promove incluso generalizada nos sistemas sociais, mas que, por um lado, “produz desigualdades na 18 Consoante sua proposta de conceber a histérla como sucessdo de “centros de gravidade” (Zentralgebie, Schmitt vé nessa atitude normativista uma espécie de caracteristica primordial de seu tempo, em que a técnica parecia orientar toda a sociedade, e assim também o Estado, Dessarte, da mesma forma que, nos primérdios do Estado moderno, Albericus Gentile péde falar aos tedlogos e, theologi, in munere alienol”, 0 d encontra Imerso 0 Estado moderno dotou a “era da técnica” das possibllidades a MARRAMAO, 1995, p. 72) “Silete, theologi? pelo te, jurisconsulti Revista Juridica da Presidéncia - Brasilla - v. 16 n. 108- Fev. 2014/Malo 2014 - p.245 a 265, 259 260 Em busca da ordem perdida distribuicdo de bens, assimetria na alocacao dos riscos e desequilibrios nas tentati- vas de inclus&o” (CAMPILONGO, 2012, p. 59). O pessimismo que Schmitt devota a essa passagem para a modernidade revela- -s€ notorio ao qualifica-la como o momento historico em que “se desagregam as hierarquias do espirito” (SCHMITT, 1981, p. 19). Ha uma espécie de contraposigao fatal no argumento de Schmi u se tem o sujeito cartesiano como sacerdote de si mesmo ou se tem uma sociedade com ordem. E nessa impostacdo se vislumbra um pessimismo cultural, um juizo de decadéncia, quando se concebe a modernida- de como o desmoronamento de um sistema metafisico que propiciava uma ordem s6lida, a partir de uma hierarquia que tinha Deus como ultima rato. € quando o luto por uma ordem perdida é elaborado por meio da teoria. Nesse diapasao, mostra-se possivel verificar que Romantismo Politico, ao fim e ao cabo, lanca os alicerces de um projeto intelectual (consistente, sofisticado e au- toritario) de critica 4 modernidade, e assim o faz ao entendé-la como “sistema meta- fisico liberal”. Na esteira de “modernistas reacionarios”, como Ernst Jiinger e Oswald Spengler, Schmitt vai atacar a incapacidade do individualismo liberal de forjar uma comunidade nacional politica e motivada a acdo politica. Dal a configuracéo do sistema metafisico liberal como completamente inapto para se gerar decisdes, uma vez que ele fundamenta uma centralidade subjetiva que faz com que 0 mundo e a politica sejam entendidos como mera representagao de uma occasio estética Abusca por um mito apto a gerar uma “experiéncia integral’, para além da occa- sio liberal e seu interminavel “falatério’, inscreve Schmitt nas fileiras daqueles seus contemporaneos que acreditavam que uma barbarie revigorante poderia salvar 0 mundo da racionalidade moderna ocidental (Zivilization). E ao diagnosticar a total auséncia de decisdo como uma espécie de doenca genética do moderno, Schmitt fi- cara muito a vontade para elaborar uma teoria do direito que combate as conquistas mais caras a0 mundo moderno, como a separacao dos poderes e os direitos funda- mentais, por exemplo (SCHMITT, 2001, p. 58-62). Disso advem a sistematicidade de ‘sua obra**, O vigor dos ataques ao sujeito livre e racional, que se investe como sacerdote para seu proprio culto, deixa transparecer que Schmitt confecciona um nexo interno entre modernidade e liberalismo na exata medida em que identifica este ultimo 9 Coube a Hugo Ball (2004, p. 71) enxergar, plonelramente, J4 em 1924, esse perfl orgénico, sistematico, que existe entre os escritos de Schmitt. No entanto, Ball acredita que o fio conduto: que dé unidade a obra schmittiana seria a contraposicao a “técnica” (adversdria eletta, também, por Oswald Spengler Revista Juridica da Presideéncia - Brasilia - v. 16 n. 108~ Fev. 2014/Malo 2014 - p.245 a 265, como a “instancia extreme’, a “estrutura espiritual” daquela, Mas, por esse nexo inter- no, também mostra-se possivel enxergar que,a rigor, o grande adversario de Schmitt mais que 0 liberalismo, a propria modernidade, esse modo de organizagao social que se pauta em uma diferenciacao funcional, E essa conclusdo carrega implicagdes que se estendem para além do terreno metodoldgico € dialoga com aspectos mais prementes: o problema enfrentado pelo decisionismo juridico de Schmitt néo se reduz a um fato local e historicamente isolado, qual seja o liberalismo politico e econémico burgués que era dominante na Alemanha da Republica de Weimar. O adversario de Schmitt tem generalidade, consiste na sociedade moderna; e exatamente por isso que, enquanto ela subsistir, sera possivel assistir a utilizacaéo de uma teoria do direito acentuadamente autorita- ria e cuja universalidade ndo parece conhecer limites relativos a tempo, espaco ou orientacao politica (seja de “direita’, seja de “esquerda’). A critica 8 modernidade consiste no objetivo tedrico de Schmitt. Esse objetivo geral assume o papel de fio condutor de seus escritos, doando-lhes organicidade. Por tudo isso, a critica 4 modernidade é a unitas multiplex de Schmitt. 6 Referéncias BALL, Hugo. La théologie politique de Carl Schmitt. Tradugaé de André Doremus. In: Les Etudes Philosophiques. N. 1. Paris: Presses Universitaires de France, janeiro de 2004, p. 65-103. BECK, Ulrich. A reinvencao da politica: rumo a uma teoria da modernizacao reflexiva. In: GIDDENS, Anthony; BECK, Ulrich; LASH, Scott. Modernizacao reflexiva: politica, tradic&o e estética na ordem social moderna. 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