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Aula 6
Aula 6
CONCEITUALIZAÇÃO DE CASOS
CLÍNICOS NA TCC
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Na primeira sessão realizada com os pais, a entrevista vai ser feita com a
etapa do desenvolvimento em mente, para que o terapeuta já possa ter ideia do
que está adequado ou não para aquele momento – como, em entrevistas iniciais
com casos adultos, instrumentos e escalas de avaliação podem ser aplicados,
tanto com os pais quanto com a criança, assim como entrevistas estruturadas com
essa finalidade. E, assim como com adultos, possíveis diagnósticos ateóricos
podem ser feitos de acordo com os sintomas apresentados, descrevendo o seu
funcionamento em termos gerais.
Além dos pais como fonte principal de informação, outras pessoas que
convivem com a criança também podem ser chamadas para uma sessão. Essas
outras perspectivas ajudam o terapeuta a ter uma visão mais abrangente do
problema, e podem ajudar, em um segundo momento, na intervenção e
psicoeducação – caso sejam necessárias – das pessoas que interagem com a
criança de modo significativo.
Uma visita à escola também pode ser muito útil para que o terapeuta possa
ter contato com os professores e observar como a criança se comporta no
ambiente escolar. Muitas vezes, diferenças no comportamento na escola e em
casa podem mostrar qual ambiente está desencadeando os comportamentos-
problema, permitindo que a conceitualização foque mais no contexto disfuncional.
Além da primeira e/ou segunda sessão com os pais e possíveis sessões
com outras pessoas envolvidas, podemos fazer uma sessão, ainda na etapa da
avaliação, com a família nuclear da criança. A interação dela com os pais e
possíveis irmãos pode ser muito esclarecedora para o terapeuta observar a
dinâmica entre os indivíduos.
Muitas vezes, é possível perceber que tipo de comportamento os pais
reforçam, o que, muitas vezes, acaba trazendo consequências disfuncionais. A
avaliação funcional, como já sabemos, é muito útil para o trabalho com a criança,
além de ser um elemento bastante didático, que pode ser mostrado e explicado
para os pais no trabalho de orientação.
A conceitualização em si é mais complexa por ter mais elementos a serem
levantados, mas sua elaboração é bastante parecida com a de adultos. Um
modelo de diagrama de conceitualização infantil foi desenvolvido por Caminha,
Soares e Caminha (2011) e acrescentou informações sobre os pais ou cuidadores
principais, relacionadas às suas crenças, emoções, pensamentos e
comportamentos.
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A maneira como os dados da conceitualização são coletados é diferente,
pois, no trabalho com crianças é importante que o terapeuta busque formas mais
lúdicas para trazer esses conteúdos à tona.
Por exemplo: usamos o RPD (registro de pensamento disfuncional) como
ponto de partida para o preenchimento da conceitualização e para ensinar o
cliente a identificar seus pensamentos, emoções e comportamentos, e como eles
podem estar influenciando uns aos outros, trazendo o sofrimento. Com a criança,
usamos o mesmo raciocínio ao investigar esses elementos, mas podemos usar
um recurso como o baralho das emoções, desenvolvido por Caminha e Caminha
(2014). Esse instrumento consiste em cartas representando uma emoção
específica na forma de desenho, fazendo com que seja mais fácil para o terapeuta
acessar esse conteúdo utilizando uma linguagem mais adequada para uma
criança.
Filmes infantis também podem ser usados com o mesmo propósito, com a
criança identificando quais emoções percebe nos personagens e se elas também
conseguem lembrar de algum momento em que se sentiram assim.
Saiba mais
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Sendo essa etapa muitas vezes turbulenta para os adolescentes e para os
pais, estes acabam procurando um processo terapêutico quando seu filho
apresenta algumas emoções ou comportamentos que chamam sua atenção, mas
eles não conseguem entender ou não sabem como lidar com eles.
Assim, a conceitualização com adolescentes acaba não sendo muito
diferente do que o trabalho com crianças. As informações trazidas por pais ou
outras pessoas que convivem com o adolescente são muito importantes para o
entendimento do contexto em que ele está inserido. O que muda são alguns
fatores inerentes à adolescência, que precisam ser explorados mais diretamente
pelo profissional.
Questões que surgem pela primeira vez nessa fase, como autoimagem,
autoestima e sexualidade, podem ser exploradas pelo terapeuta na
conceitualização, visando entender como o adolescente sente-se e relaciona-se
com essas mudanças e possíveis novas preocupações. Todos esses novos
fatores que aparecem nessa etapa do desenvolvimento podem influenciar nas
cognições, emoções e comportamentos do indivíduo e contribuem com a
formação de sua identidade. Considerando essas questões, o terapeuta precisa
criar um ambiente seguro e que consiga estabelecer um vínculo para que o
adolescente se sinta à vontade para lidar com questões desconfortáveis, mesmo
sem ter repertório para entender ainda.
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do tratamento. A conceitualização, como estamos vendo no decorrer deste
conteúdo, auxilia o terapeuta a entender quais são as intervenções com maior
chance de sucesso para o alcance dos objetivos combinados.
Além dos elementos básicos, a conceitualização do caso, na terapia de
casal, envolve entrevistas conjuntas e individuais. Todas as informações
apresentadas nessas duas entrevistas devem ser consideradas para a
formulação.
Uma das vantagens em um processo com o casal presente nas sessões
está no fato de o profissional poder observar, à medida que acontece, a interação
entre os dois e sua comunicação verbal e não verbal. Essas informações
decorrentes da observação do terapeuta acabam sendo muito importantes
quando ele apresenta a conceitualização para os clientes, pois o profissional
consegue pontuar exatamente o que está acontecendo, na dinâmica das
interações, que pode estar interferindo na interpretação do que o outro fala ou faz.
Um casal, por exemplo, buscou a terapia com dificuldades para lidar com
diferenças de opinião sobre questões da rotina da casa, as quais acabam gerando
grandes conflitos. Geralmente, situações mais rotineiras podem ter um significado
muito forte para um dos cônjuges. Vamos pensar que essa parceira está
descontente com o fato de todas as tarefas da casa serem realizadas por ela,
mesmo com os dois combinando que vão dividir.
Na visão dela, o parceiro é alguém que poderia colaborar com essas
demandas com mais dedicação, considerando que os dois têm praticamente a
mesma quantidade de tempo livre e dividem a casa. Na visão dele, a prioridade é
chegar após um dia de trabalho e poder aproveitar a companhia dela, deixando
as tarefas de casa como algo mais secundário ou que pode ser feito nos finais de
semana, quando sobra mais tempo.
O exemplo mostra o quanto podem estar distorcidas certas cognições
relacionadas às expectativas de cada um, regras formadas antes e durante o
relacionamento sobre como as coisas devem ser, atribuições e suposições sobre
atitudes ou comportamentos do outro. A busca, na maioria dos casos, acaba
sendo muito mais baseada em entender quais são as cognições disfuncionais de
cada um e conseguir chegar a um acordo sobre as dificuldades apresentadas, de
forma que seja o mais justo possível para ambos.
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TEMA 4 – CONCEITUALIZAÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS
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REFERÊNCIAS
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