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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA ___ª VARA CÍVEL DO FORO

REGIONAL DE PINHEIROS DA COMARCA DE SÃO PAULO

Processo nº _____________________

EDITORA E. DILÍCIA ​(“Editora”), já qualificada nos autos do processo


sob o número em epígrafe, que lhe move ​ESCRITOR NÃO TÃO FAMOSO (“Autor”),
também já qualificado, por suas advogadas r​egularmente constituídas, ​que junta neste ato
instrumento de procuração, vem apresentar sua

CONTESTAÇÃO

pelos fatos e fundamentos de direito a seguir expostos:

I - BREVE SÍNTESE DA DEMANDA

O Autor ajuizou ação em face da Requerida com base em Contrato de


Criação de Obra (“Contrato” e “Obra”) celebrado entre as partes em 1º de janeiro de 2016.
Alega que a Editora, baseando-se em “irrelevante sucesso”, não permitiu a inscrição de sua
Obra no concurso Belichões, o que o moveu a fazê-lo por conta própria.

O Autor informa ter alcançado o primeiro lugar no concurso, cujo prêmio


corresponde ao valor de R$200.000,00, a serem divididos em iguais partes e entregues
diretamente o Autor e a editora. Afirma que a Editora teria supostamente renunciado seu
valor no prêmio quando negou anuência da inscrição e que o Contrato existente entre Autor e
Editora seria irrelevante para além das partes.
Alega, além disso, que a Editora, novamente, teria se manifestado no sentido
de impedir, com suposta arbitrariedade e de má-fé, sua participação em outro concurso
(Tofráco), mas que ele o faria independentemente de anuência. Pede, então, que seja
concedida tutela provisória de urgência, permitindo a participação no concurso sem que
ocorresse responsabilização em decorrência de cláusulas contratuais.

Relata também ter recebido uma denúncia, por meio de email anônimo com
domínio da Editora, que, conforme alegam, comprovaria “irregularidades no pagamento”
relativo aos exemplares comercializados pela Editora, pedindo, então, os valores decorrentes
das possíveis dívidas.

Alega que houve “evidente” dano moral, o que ensejaria o pagamento de


indenização no valor de R$50.000,00.

Por fim, alega ter sido ameaçado pela Editora, por meio de “expressa
declaração da Diretora Executiva” e pede a resolução do contrato.

Em 28 de abril foi juntado aviso de recebimento de citação, sendo que


vieram os autos para Contestação, o que se faz tempestivamente.

II - DAS PRELIMINARES

Alega o Autor que o valor da causa resulta da cumulação do valor do prêmio


pretendido e de indenização por danos morais, neste caso, no valor de R$50.000,00. Esta
importância a título de danos morais foi excessivamente fixada em detrimento da observância
dos critérios da razoabilidade e proporcionalidade, uma vez que o dano, se houver, não enseja
uma indenização nesse aporte. No sentido de banalizar o instituto do dano moral, verifica-se a
exploração, por parte do Autor, do caráter subjetivo do mesmo, com o intuito de se obter uma
quantia demasiadamente alta.
A ofensa causada deve ser atenuada através da compensação paga. Ademais,
busca-se o desestímulo da conduta do ofensor, de forma que ela não venha a se repetir.
Lembra-se, então, que meros aborrecimentos não ensejam indenização por danos morais. No
caso, a alegação que visa fundamentar o dever de indenizar o dano extrapatrimonial parte do
que é chamado uma "depreciação da Obra", que decorreria da proibição de participar em
concursos. No entanto, verifica-se que a proibição era possível e prevista em contrato, não
cabendo alegar má-fé da Editora por exercer um direito que lhe era garantido. O dano para
fins de responsabilidade civil ocorre quando há redução ou subtração de um bem jurídico -
patrimonial ou moral. Percebe-se, no entanto, que a prerrogativa contratual em nada se
relacionava com a afetação da personalidade do Autor.

Assim, descaracteriza-se o valor da causa, o que gera a incorreção de seu


valor (preliminar prevista no art. 337, III).

III - DOS PEDIDOS DE TUTELA PROVISÓRIA

O Autor alega direito a tutela provisória de urgência referente a dois pontos:


(i) o direito de participar do concurso Tofráco, sem que disso decorressem responsabilidades
em razão de cláusula contratual que o proíbe (cláusula terceira) e (ii) sobre o direito de
receber integralmente o valor referente ao prêmio do concurso Belichões, diferentemente do
que dispõe cláusula do próprio concurso.

No que diz respeito ao primeiro ponto apresentado pelo Autor, o pedido de


declaração do direito do Autor a se inscrever no concurso Tofráco mostra-se manifestamente
improcedente. Como se bem sabe, a tutela provisória, de acordo com o art. 294 do CPC, deve
ser fundamentada em ​urgência ou ​evidência​. O peticionário preocupa-se em ressaltar a
iminência do término do prazo para inscrição em referido concurso como elemento de
urgência​, mas ignora o fato de que o direito que pede que seja declarado sequer existe. O
contrato firmado entre as partes claramente estipula, em sua cláusula terceira, que o Autor
estaria vedado de inscrever a obra, sem consentimento da editora, em qualquer concurso
literário em país de língua portuguesa. Portanto, não há qualquer ​evidência de direito, uma
vez que o direito pleiteado é inexistente. Consequentemente, não há qualquer risco de perda
de direito em que se baseie a argumentação de urgência. Além disso, nos parece irrazoável
que o pedido tenha sido formulado no sentido de solicitar a declaração de um suposto direito
que claramente vai contra aquilo que foi contratualmente estabelecido enquanto,
simultaneamente, pede para que não haja responsabilização contratual. O Autor demonstra ter
ciência de que seu pedido consiste em manifesta violação do contrato.

O segundo ponto apresentado pelo Autor, solicitando declaração do direito


de receber integralmente o valor da premiação do concurso Belichões, sob “iminente risco de
que tal seja parcialmente entregue à Editora”, também não merece ser acolhido. Neste caso,
não somente está ausente o ​fumus bonis iuris do peticionário – e, por consequência, o
periculum in mora que foi arguido – como também ficam evidentes as intenções maliciosas
do Autor em prejudicar a Editora, privando-a de seu direito em receber metade da premiação
do Prêmio Belichões, direito este que independe de qualquer acordo entre as partes, uma vez
que está previsto pelas próprias regras do concurso.

IV - DO MÉRITO

IV.A. Quanto ao pagamento das supostas dívidas inadimplidas


No que diz respeito ao pagamento das supostas dívidas inadimplidas pela
Editora, faz-se necessário ressaltar que as suposições do Autor baseiam-se no recebimento de
um e-mail anônimo. A isso responde-se que o ônus da prova cabe ao Autor, como disposto
pelo art. 373, I, do Código de Processo Civil, não sendo possível o enquadramento do caso
em nenhuma das hipóteses de inversão do ônus da prova.

A mera existência do email, apesar de interno, não é suficiente para que se


questione a reputação ilibada da Editora, que possui o certificado ISO 9300 para seus
processos contábeis e financeiros e tem apresentado os relatórios semestrais previstos na
cláusula quarta, parágrafo primeiro do Contrato. Portanto, a existência de culpa não é
presumível e uma indenização não pode ser aferida.

IV.B. Quanto ao recebimento do valor integral do Prêmio Belichões


Quanto ao pedido de recebimento do valor integral relativo ao Prêmio
Belichões, reitera-se que a solicitação viola cláusula do próprio edital do concurso.
Contrariamente ao que o Autor declarou, o Contrato firmado não tem validade apenas ​inter
partes: o Autor cedeu os direitos patrimoniais relativos a Obra de acordo com o Contrato
(cláusula primeira, a) e de acordo com todos os dispositivos legais, consentindo com a
exploração do livro em países de língua portuguesa pelo prazo de 10 anos.

IV. C. Quanto aos supostos danos morais causados pela Editora


No tocante às razões para o impedimento da inscrição por parte da Editora,
deve-se colocar que não foi determinado contratualmente que deveriam haver justificativas
para este impedimento, apenas que a inscrição dependia, necessariamente, de anuência por
escrito da Editora. Mesmo assim, pode-se ressaltar que, anteriormente ao Prêmio Belichões, o
Autor e sua Obra já haviam perdido concurso anterior (Prêmio Cágado), sendo que, nesta
ocasião, houve o devido apoio.

Dessa forma, deve ser negado o pedido por danos morais, pois não se pode
dizer que estes sejam cabíveis considerando que a candidatura para o Prêmio Cágado foi
devidamente apoiada pela Editora e o Autor não conquistou o prêmio.

Além disso, é impossível que o Autor argumente ​desencorajamento por


parte da Editora em relação ao Prêmio Tofráco uma vez que a Editora não proferiu nenhuma
manifestação oficial sobre a situação. Não obstante, a possibilidade de não apoiar a inscrição
do peticionário no concurso é plenamente jusitificável e não constitui, de forma alguma,
aquilo que eu Autor caracteriza como “claras intenções maliciosas da Editora no sentido de
prejudicar o Escritor”. Muito pelo contrário, a Editora não tem qualquer interesse no prejuízo
do Escritor, uma vez que seu sucesso implica em benefícios para ela. A possível não
autorização à inscrição se daria principalmente em motivo da possibilidade do conteúdo da
obra ser ofensivo a uma das religiões praticadas na Angola. Esta possível ofensa não apenas
seria prejudicial à reputação da Editora como, principalmente e muito acima de qualquer
interesse econômico que esteja em jogo, poderia afrontar direitos fundamentais mais amplos.
IV.D. Resolução do contrato como meio de abstenção do pagamento de prestações
contratuais
Finalmente, o pedido de resolução do contrato proposto pelo peticionário
demonstra a clara intenção do Autor de se esquivar do pagamento das prestações contratuais
que são devidas.

Faz-se necessário apontar que o contrato acordado entre as partes estabelecia


a devolução do adiantamento realizado pela Editora na importância de RS 1.000,00 por dia de
atraso, e o Autor atrasou a entrega da obra em 6 meses, inclusive ultrapassando em muito o
valor adiantado. Ademais, ressalta-se que a Diretora Executiva, quando da entrega da Obra,
expressamente não dispôs de qualquer direito oriundo do Contrato o que implica,
nominalmente, que a Editora não dispôs de seus direitos de reaver o valor do atraso.

Também merece nota, ainda que breve, o fato de que a suposta ameaça
proveniente de declaração da Diretora Executiva da Editora, apontada pelo peticionário nos
autos, não se sustenta quando interpretada em seu devido contexto e não preenche o suporte
fático necessário, não devendo o Direito se ocupar de suposições infundadas.

V - DA RECONVENÇÃO

Primeiramente, em se tratando da inscrição da Obra no concurso Belichões


em desacordo com instruções da Editora, pleiteia-se o pagamento da devida multa contratual
no valor de R$100.000,00, como previsto na cláusula terceira, parágrafo primeiro do
Contrato.

Reclama-se também a importância de R$60.000,00, com base na cláusula


quarta do Contrato, que estabelecia a devolução de R$1.000,00 por dia de atraso na entrega
da Obra. Foi acordado em instrumento contratual (cláusula segunda, f) que a data máxima de
entrega da Obra seria 01/03/2016 - entretanto, a entrega só se deu 184 dias depois, em
01/09/2016.
Porém, é evidente que a devolução do adiantamento na importância de
R$60.000,00 é insuficiente para cobrir o atraso em que incorreu o Autor. Este atraso de 184
dias representa mais do que o triplo do que se acreditara possível quando estabelecidos os
valores do adiantamento e da respectiva devolução. Pretender que a questão fosse resolvida
com a devolução do adiantamento mostra-se insuficiente, uma vez que a cláusula referida
(segunda, f) restaria banalizada, e esta solução acabaria por incentivar atrasos cada vez
maiores por parte dos contratantes com a Editora. Portanto, considerando os 124 dias de
atraso para além daqueles que estavam contratualmente previstos, pede-se que sejam pagos à
Editora danos patrimoniais no valor de R$120.000,00. Este pedido, para além dos R$1.000,00
diários que estavam acordados, visa proteger o princípio fundamental do ​pacta sunt servanda
e também considera os ganhos que deixaram de ser auferidos pela Editora ao longo dos
meses em que o valor permaneceu com o Autor, sem que fosse possível seu investimento.

VI - DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer-se:

a) A apreciação das preliminares arguidas para que seja declarada a incorreção do


valor da causa;

b) Que seja julgada improcedente a presente demanda


I - declarando-se a validade das cláusulas contratuais e o consequente
impedimento da participação do Autor na concurso "Tofráco";
II - declarando-se a validade do recebimento do valor correspondente ao
"Prêmio Belichões" pela Editora;

c) Condenação do pagamento da multa contratual de no valor de R$100.000,00,


decorrente da violação da cláusula terceira;

d) Condenação da devolução do adiantamento feito pela Editora, como acordado na


cláusula quarta, na importância de R$60.000,00;
e) Condenação a indenização por danos patrimoniais no valor de R$120.000,00;

f) Que as alegações feitas pelo demandante sejam evidenciadas por todos os meios de
prova admitidos em direito, notadamente documental, pericial e testemunhal.

Termos em que pede deferimento.

São Paulo, 26 de maio de 2017.


_________________________
Grupo 3

Bruna Tanan Gomes - nº 9354082


Caroline Tie Tanaka Battisti Archer - nº 9353758
Laura Mauleón Ervolino - nº 9354001
Milena Liberato Silva - nº 9353803
Renata Litsuko Tamashiro - nº 9354248
Stéphanie Moreira Wochler - nº 9353532

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