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Teoria da Arquitetura III

Trabalho individual

O local de intervenção é produto de sucessivas adições ao original Liceu Luís de Camões.


Originalmente no início do vale característico da Vila de Santo António dos Olivais, a construção
do Liceu de Camões algures na década de 1920, com o restante terreno como área agrícola,
possuindo um marcante atravessamento no eixo oeste-este, tal que foi apagado nas seguintes
intervenções. O local do atual edifício da Quinta de São Jerónimo já possuía um caminho que
remetia para a forma do atual edifício, dado pela topografia do vale, e uma enorme casa
unifamiliar, presente até hoje, que suponho que seja da família dona da quinta.

Atualmente, a divisão dos espaços é clara por dois principais motivos: a presença de patamares
marcados que os dividem e a linguagem construtiva dos edifícios implantados nos mesmos. Esta
não se comunica entre eles, e ainda remetem a épocas distintas: o Liceu foi construído algures
na década de 1920, com paredes exteriores auto-portantes em alvenaria de pedra calcária; os
atuais edifícios da ESEC são de pré-fabricação em betão armado, enquanto as atuais cantinas
são edifícios de caráter industrial, com a sua construção em betão armado e estrutura em ferro
para as chapas das coberturas que constituem o seu sistema em sheds. Nota-se ainda uma
timidez nos acessos que ligam as diferentes zonas, usando meramente o espaço que sobrou,
quase como se estes fossem secundários.

O desenho urbano do bairro é labiríntico, carecendo de espaços de distribuição e convívio, que


possa organizar o mesmo, torná-lo característico e promover interação social. O bairro funciona
como enormes arruamentos paralelos de casas unifamiliares, que apenas fornece ligação entre
os moradores e as atividades fora do bairro. No entanto, existe um enorme jardim mais a sul,
delimitado pelo edifício da Quinta de São Jerónimo a norte. O mesmo tem espaço suficiente
para abrigar as atividades diárias de toda a comunidade, mas acaba por não ter grande vida no
final de contas. A implantação, genericamente, funciona como uma meia-lua que abraça o
parque e volta as suas costas para o restante bairro, ainda que possuindo acessos relevantes,
que acabam por não se enquadrar com a realidade do desenho urbano – embora que um dia já
possam ter feito – invalidando os mesmos, deixando apenas a opção de contornar o perímetro
e cortando a relação visual entre a maioria dos moradores e o jardim que, ainda público, se
torna o jardim do condomínio da quinta. Para além da sua relação com o bairro, acredito que a
sua implantação num vale com uma topografia acentuada também desincentive muita gente
que, mesmo assim, poderia mesmo assim ter interesse em frequentar o parque.

No entanto, existe um atravessamento no edifício da quinta que remete a uma intenção


contrária a fechar-se. Coincidência ou não este mesmo atravessamento, que está na parte mais
a norte e central do edifício, está no mesmo eixo que o espaço definido entre os edifícios da
ESEC. A rua a norte do edifício da quinta que o separa do local da intervenção é muito fechada e
enterrada, pela cota em que o edifício se implanta e para fornecer acesso ao estacionamento
subterrâneo. Existe também um caminho mais a este que também é definido por um
espaçamento entre os lotes, que chega praticamente ao Liceu, mas, mesmo ao chegar, morre na
praia. Parece que, mesmo o projeto sendo fechado sobre o próprio perímetro e o jardim, existe
alguma comunicação com o restante bairro que permite ser trabalhada em futuros projetos. É
ainda importante informar a presença de um piso-loja na praça formada pelo próprio edifício,
justamente onde também vemos este marcante atravessamento. Quase como uma zona que
está preparada para ser um importante centro comercial e até cultural do bairro, mas que o
projeto decidiu deixar de lado. Com a ausência de movimento fora os residentes da quinta, este
espaço caiu em desuso.

Após esta análise sintética do espaço, a minha abordagem parte por fornecer espaço público
próximo das pessoas do bairro, organizando o mesmo e abrindo novas ligações, entre elas, a
outrora marcante ligação oeste-este. Esta ligação, na minha opinião, não só é prioritária como já
é, de certo modo, sugerida pelo desenho do bairro, com pelo menos o espaço restante a norte
como espaço público. Depois, trabalhar o eixo norte-sul como forma de criar ligação com os
anteriormente referidos jardim e praça da quinta. Este é ainda uma oportunidade para
trabalhar a continuidade entre os diferentes patamares e os definir no seu caráter mais ou
menos público. Sendo o edifício Luís de Camões, para mim, garantido como habitação, também
será interessante trabalhar as tais escadas descontínuas para conectarem diretamente os seus
moradores e estas importantes zonas.

O programa habitacional pede o abrigo de um mínimo de 150 pessoas. Optei então por recorrer
ao edifício Luís de Camões, pelo seu grande porte, caráter nobre e implantação que permitem
espaços, ainda que públicos, mais reservados para os moradores; e ainda pelos edifícios
industriais em sheds, primeiramente pela necessidade espacial do programa, mas também pelas
suas implantações que não só definem uma clara métrica entre todos os complexos
habitacionais pelo paralelismo dos edifícios e os espaços criados entre estes, e ainda os seus
módulos que me remetem para uma escala unifamiliar, com o seu pé direito alto e os sheds que
conjugados, acredito que se possam transformar em espaços familiares dignos.

Não acredito que seja possível cumprir todos estes objetivos sem a demolição de nenhum
edifício existente nem a reconfiguração de alguns patamares e cotas. Como o professor João
Mendes Ribeiro disse uma vez em aula, passo a citar, “este projeto não se resolve sem um gesto
forte”, e a configuração atual do espaço não dá abertura para grandes gestos. Proponho então a
demolição de parte do edifício do pavilhão desportivo da ESEC (tirando proveito dos sistemas de
pré-fabricação que podem ser desmontados), apenas o necessário para desafogar o espaço, e a
demolição total do edifício à direita deste, de modo a dar continuidade ao espaço e criar um
espaço público aberto no seu lugar.

"A knowledge of history and a concern for the future are particularly important to a person
engaged in the fine arts because the arts are the enbodiment of enduring values."
Origins of Functionalism, Edward R. De Zurko, p.235-236
"In essence, functional adaptation is a group process without beginning or end."
Origins of Functionalism, Edward R. De Zurko, p.236

"The best adaptation is, therefore, a significantly creative contribution to the general welfare,
the good life."
Origins of Functionalism, Edward R. De Zurko, p.236

Tomás Dinis Couceiro

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