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etaleelide ee Ono CoRR Ed b ~ | r cd ; ee es Clareamento de dentes polpados: técnicas e equipamentos Sore SSE ON Eero) Rafael Francisco Lia Mondelli ISSN 1678-0604 Vierldflews. eRe Ce) “Doutor do Departamento de Dentistica, Endodontia e iteriais Dentarios da Faculdade de Odontologia de Bauru, y Universidade de Sao Paulo / FOB-USP : Volume 1 i RESUMO 10 1 INTRODUCAO 11 2 CLAREAMENTO DE DENTES POLPADOS 15 2.1 CLAREAMENTO CASEIRO 17 2.2 CLAREAMENTO DE CONSULTORIO 36 2.3 CLAREAMENTO DE CONSULTORIO COM AGENTES FOTOSSENSIVEIS 40 2.4 APARELHOS DE ATIVACAO POR LUZ PARA O CLAREAMENTO 49 3 CONCLUSOES 68 ABSTRACT 68 | REFERENCIAS 69 Brodonto 10 Mondeli, FL, Clreamento de dents polpados:técnicase equipamentos CLAREAMENTO DE DENTES POLPADOS: TECNICAS E EQUIPAMENTOS Vital Teeth Bleaching: techniques and equipments RAFAEL FRANCISCO LIA MONDELLI* © clareamento de dentes polpados apresentou uma evolucio bastante acentuada na itima década, com a introdugao de novos agentes clareadores, com novas frmulas, concentragdes, formas de utilizacao, técnicas € equipamentos. A técnica caseira em que 0 agente clareador, gel de peréxido de carbamida, é aplicado por meio de moldeira individual pelo proprio paciente em sua casa, vem perdendo espago neste inicio de século para 0 ressurgimento da técnica de clareamento de consultério sob isolamento absoluto, que utiliza uma nova geragao de agentes clareadores ativados por luz, fotossenstvels, com alta concentragdo de perdxidos, apresentando aco répida e grande efetividade. A variedade destes novos aparelhos de luz, independente da fonte de energia, que sao indicados, para serem utilizados na técnica de clareamento de consultério, proporciona uma oportunidade impar ao cirurgido- dentista para fazer a op¢ao na aquisicdo de um destes sistemas que sero abordados neste capitulo, bem como as técnicas de utilizagao, seqiiéncias clinicas, possiveis comprometimentos e resultados estéticos. UNITERMOS: Clareamento vital; técnicas; equipamentos. *trlesorDoutor do Departsmento de Denisa, Endodentia€ Mattos Dents da Faculdade de Odortologa de Bauru, Universidade de S40 Paulo / FOB USP ErSacme ; fe e 0s as 1 INTRODUCAO ‘A Odontologia neste inicio de século tem demons- trado intimeros avangos em todas as dreas de atuacao, mas atengio impar tem sido dada para a estética, indepen- dente da especialidade e da regio de atuacao na cavidade oral, através de avancos no desenvolvimento de sistemas restauradores de insergao direta e indireta, de novas técni- as, de novos procedimentos, da associagao de duas ou mais técnicas e da evolugdo e desenvolvimento de novos aparelhos instrumentos. O direcionamento para ‘obtengao da estética perfeta, independente do tratamen- to ser de caréter invasivo e/ou nao invasivo, através da rea- lizacdo de procedimentos e restauragoes que sejam imper- ceptiveis a olho nu e proporcionem satide, fungao e, prin- cipalmente, estética, 6 0 maior desafio da Odontologia nos dias de hoje, tanto para os cirurgides-dentistas como prin- ipaimente para os pacientes, que desejam restauracoes da mesma cor dos dentes, sem a presenca de metal ou qualquer detalhe que denuncie algum tratamento odon- tol6gico realizado (Mondell, Silva e Souza Jt, Carvalho, 2001; Siva e Souza Jr, Carvalho, Mondeli, 2000; Silva e Souza J. et al, 2001). Nos dias atuais, a aparéncia estética apresenta uma importancia bastante grande no convivio social diétio, (Figura 2), no ambiente de trabalho e para a satide psi- coldgica das pessoas. Os pacientes geralmente desejam, necessitam e exigem dos cirurgides-dentistas procedimen- tos odontolégicos que proporcionem a reducdo ou mesmo a eliminacao de qualquer tipo de alteracao de cor «forma dos elementos dentais (Mondell, Silva e Souza J, Carvalho, 2001), independente da vida itil da restauracao, dda menor ou maior remocao de estrutura dental, da neces- sidade de repetigao dos tratamentos com maior freqiién- ia, do custo final e, muitas vezes, nao levando em con- sideracao sua propria sade Durante o desenvolvimento de produtos odon- tolégicos € posterior utilzagao clinica destes materia, ‘muitas vezes ocorreram fracassos em decorréncia das téc- Volume 1 = Numero 1 = Janeio /Fevereio 2003 - 11 niicas e/ou dos materiais restauradores devido a varios fatores, como indicagdes incorretas, por nao serem segui- dos 05 passos clinicos recomendados pelo fabricante, falta de propriedades condizentes com sua indicagao utiliza- ‘80 na cavidade bucal, além da irresponsabilidade de alguns ministradores e professores em indicarem alguns ‘materiais para determinados procedimentos clinicos sem a respectiva comprovagao clentfica. No aff de lancarem novos materiais em virtude da grande concorréncia nesta rea de mercado, sem o necessério desenvolvimento labo- ratorial, acompanhamento clinico e adequada fiscalzaca0 dos 6rgaos competentes, as indiistrias odontol6gicas tam- bém foram e sao responsaveis por alguns destesfracass0s, podendo comprometer 0 trabalho do cirurgido-dentista e a satide do paciente. Muitas vezes 0 cirurgiao-dentista, por diversas razOes, ndo tem a oportunidade de acompanhar direta- mente o desenvolvimento destes materiais, das técnicas, suas aplicagbes clinicas e literatura especializada, sendo esta a real finalidade da edico desta Revista de Odontologia. Por meio da apresentacio de casos clinicos,, da literatura pertinente, das opinides imparciais dos, autores e/ou professores, da experiéncia adquirida a0 longo dos anos na vida acacémica ¢ de evidéncias cientifi cas, serdo apresentadas novas técnicas, novos materais, novos aparelhos e novos procedimentos, proporcionando 205 clinicos e aos estudantes de Odontologia a oportu- niidade de vivenciarem determinados tratamentos, suas aplicagdes, suas indicagdes e contra-indicagées, vantagens € desvantagens, 05 passos clinicos e os possiveis compro- metimentos destes procedimentos, que serdo abordados de forma detalhada e esclarecedora em cada fasciculo desta Revista. De acordo com 0 tipo de alteragao de cor, forma ce estrutura dos dentes, é muito importante que o cirurgiao- dentista saiba diagnosticar e diferenciar as mais variadas etiologias que possam causar estas alteracoes, Broce 12 Mandell, RAL. Clareamento de dentes polpados:técicas &equipamentos Figura 1 Figura 1: A- anise do sorso de uma paciente, adulta, que apresentava cor amarclaintensa dos dentes, duas manchas hipocaleficadas na eq}3o incisal dos incisivos superores, qu jf haviam sido microabrasionades, alm de algumas manchas brancas por cle Inaivas decorrentes e tratamento ortodentico;B- visto apro-ximada dos arcos, onde se pode observar cor amarela dos dentes e pequenas alteragoes do esate: - clereamento caseio dos atcos superior e inferior com gel de peréxido de carbamida a 10 %; D- resultado fina, apos dois meses da finaliza ‘Gio do tatamenta, onde se vefica 9 careamento consequido, pois, uma vez realizado 0 diagnéstico correto, o profisional deve ser capaz de indicar o melhor tratamento ou a associ- agdo de dois ou mais tratamentos, sempre com a finalidade de preservar o maximo de estrutura dentaria sadia e obter 0 melhor resultado estético aps 0s tratamentos, com econo- mia de estrutura dental, tempo e recursos para os pacientes (Mondelli, 1998; Mondbeli, Silva e Souza Jr, Carvalho, 2001; Mondeli et al, 2002a; Mondeli et al., 2002b; Mondelli, Lopes, 2000; Mondeli, Oltramani, D¥alpino, 2002). Com a evolugo das técnicas para clareamento dental, desde a introducdo do clareamento caseiro para dentes polpados com moldeira individual idealizada por Haywood, Heymann (1989), observa-se uma constante evolugo nos tratamentos clareadores, através do apareci- mento de novas técnicas e diferentes métodos de aplicagao, novos agentes clareadores com grande variedade em suas, substincias ativas, como os géis de peréxido de carbamida ras concentragdes de 10, 15, 16, 20, 22, 30.€ 35 %, géis de pet6xido de hidrogénio em baixas e altas concentragoes, ou mesmo através da associacao destes dois agentes, materias com diferentes consisténcias, produtos ativados por apare- thos de luz, cada qual com suas caracteriticas e indicacées espectticas. ‘Atualmente, existe uma tendéncia para a realizacao do clareamento em apenas uma sesso de atendimento, implicando na utiizagao de agentes clareadores em altas concentragdes, que empregam em sua maioria © peréxido de hidrogenio a 30 ou 35 % como substancia ativa e apre- sentam ativacao quimica e/ou fisica. A quimica se inicia apés €@ mistura (espatulago) dos componentes € a fsica apds a 2, lo is a fotoativacdo por meio da utilizacao dos aparelhos de fonte de luz héldgena convencionais (Figuras 17, 18 e 20), LED (luz emitida por diodo) associado ao laser de diodo (Figuras 24 € 26), arco de plasma (Figuras 21 € 23) ou aparethos a laser de argonio (Figura 30), diodo (Figura 31), neodimio- YAG ou CO2 (Navarro, Mondell, 2002; Zanin, Brugnera Jr, 2002), sendo uma op¢ao valida nos casos de clareamento. Neste primeiro fasciculo sero relatadas as indi- cages € as técnicas de clareamento de dentes polpados que necessitam obter coloracao mais clara, por se apresentarem escurecidos devido & propria cor dos dentes (amarelados) (Figura 1), pela idade ou decortentes de manchamentos és-eruptivos (Figuras 5 e 8). Serio abordadas também as indicagdes da associagao do tratamento clareador e da mmicroabrasao, principaimente nos casos de alteragéo. do ‘esmalte devido a fiuorose dental para a remogao das man- chas brancas hipocakificadas superfciais e da pigmentagao dos dentes (Figura 5), bem como as opcbes existentes para a realizagdo destes tratamentos, dos materials, técnicas © equipamentos que podem e devem ser utiizados e toda a seatiéncia clinica destes procedimentos. Nos dias de hoje € observada uma incidéncia muito grande de casos de fluorose dental, principalmente em decorréncia dos programas de prevencio nas cidades escolas, como égua de abastecimento contendo fhtor € apli- cagdes t6picas (bochechos) com solugées fluoretadas, cremes dentais que apresentam fiior em sua composi¢lo (Mondell, Siva e Souza Jr, Carvalho, 2001) e também gomas de mascar com alta concentragao deste elemento (righenti et al, 2002). A prolongada ingestao de fior em concentragdes altas durante 0 perfodo de formagio dos dentes causa alterago metabélica nos ameloblastos, resul- tando no desenvolvimento de esmalte poroso (matriz defeituosa) € hipomineralizado (calificagao inadequada) (Fetjerskov et al, 1994) (Figura 2). Além do aumento dos casos de fluorose no Brasil, ‘observa-se um aumento relativamente grande de profis- slonais que estdo realizando 0 tratamento ortodéntico e abrangendo também as camadas sociais menos abastadas Volume 1 = Namero 1 «Janeiro /Fevereno 2003. - 13, através da prética de precos mais acessiveis & populacio. Independente do nivel sécio-econémico, geralmente os pacientes recorrem a0 tratamento ortodéntico para cor- regdes funcionais, de posicionamento dental € devido estética, independente de sua idade, e muitas vezes o trata- mento ortodéntico deve e pode ser associado a tratamentos estéticos, como os restauradores, & microabrasio € a0 dlareamento (Monde et al, 2002b; Mondelli, Lopes, 2000; Mondeli, Siva e Souza J, Carvalho, 2001; Sundfeld, Crol, Killian, 2002; Sundfeld, Menegazzo, Pésqua Neto, 2001). Denire os tratamentos restauradores estéticos uti lizados na finalizagao dos tratamentos ortoclénticos, pode-se indicar e associar alguns, como o aumento do comprimen- to e largura da coroa clinica dos dentes, 0 fechamento de diastemas miltiplos (Figura 29), remodelagio dentéria e a transformagao da forma dos dentes (Mondell etal, 2002b; Mondeli, Lopes, 2000). Muitas vezes estes tratamentos estéticos devem ser indicados para a correcdo de possiveis, comprometimentos oriundos do tratamento ortodéntico, em si (Mondeli, Silva e Souza jr, Carvalho, 2001), como por exemplo a remogio incompleta na face vestibular dos, dentes da resina composta utilizaca na fixacao dos braque- tes ortodénticos, que pode determinar 0 manchamento do cesmalte adjacente pela impregnacio de corantes da alimen- taco (Figura 8) ou mesmo impedir a passagem do agente (per6xido) durante o tratamento clareador (Figura 10), além de manchas brancas por céries ativas ou inativas, principal. ‘mente quando nao é institucionalizado um programa de revengo para os pacientes submetidos ao tratamento ortodéntico. Geralmente, a indicagdo da associagao da ide 'n0s as05 relacionados as alteracGes do esmalte devido a flu microabrasio do esmalte e do clareamento dental ‘rose dentéria que, apés a sua microabrasao para a remocao, das manchas ou nos casos apés a remogao do aparelho, ortodéntico e remogao da resina remanescente, 0 esmalte apresenta-se manchado e/ou escurecido (Mondeli, Siva e Souza Jt, Carvalho, 2001; Sundfetd, Crol, Kilian, 2002), podendo ser indicado o clareamento apés a microabrasao. _Brsidanxa 14 - Monde ros téencos equipame A. Clreamento de dents poh Quando existe a necessidade de associar 0 clareamento dental e a microabrasdo do esmalte para estabelecer estética adequada, a maior divida para 0 Jinico € saber a seqiiéncia mais légica em que estes, tratamentos devem ser realizados para obtencao de sucesso clinico e satisfagao do paciente (Figuras 5 a 9). Na maioria dos casos clinicos que necessitam de microabrasio e de acordo com os resultados estéticos Figura 2 alcangados apés este tratamento, € realizada ou nao a indicagdo do clareamento dental com a finalidade de obter dentes mais claros e, consequientemente, melhor estética. O inverso também é verdadeiro, onde em alguns casos realiza-se primeiramente o clareamento dental para depois completar 0 tratamento através da microabrasao do esmalte. Figura 2: A- soniso de uma paciente adolescente, 13 anos de idade " comptometimento da ‘estética do sorrso ‘devido a thiorose Jentiria, com histéria de ingestao de creme dental fluoretado na infancia associado a Sgua de abastecimento fluoretada de sua cia manipiadae taca de icone (Vinking = KG Sorensen) para renox da camada supertcn do esate aerada, D- apén a conc tratumento dos aos uperore infer, pode obserarorenitade i esttico scangado ate do soso da pacente once se vera resultado om a. micoabrast, sendo eabelecido novo Parr estéico do sono, (Cao clinic redhzado pela estan Ana Carona Francichone 3 Prot Dr Rafe rancico Li Monde EN Volume 1 «mero 1 = Joneivo / Fevereiro 2003 = 15 2 CLAREAMENTO DE DENTES POLPADOS ‘As culturas em todas as partes do mundo estao dando grande importancia ao novo padrdo de estética dental realcado mundialmente, de dentes claros e bran- cos, independente da cor, sexo, raca, idade, nivel social, fungdo e cargo das pessoas. Existe procura cada vez maior nos consult6rios odontolégicos para a realizagao de tratamentos cosméticos e estéticos, através da microabrasdo, transformacao dos dentes, fechamento de diastemas, reconstrugao da guia incisal, movimen- taco ortodéntica, cirurgias periodontais estéticas, préteses sem metal e, mais recentemente, o clareamen- to dental que vem sendo indicado para obtencao de dentes mais claros, podendo também ser associado a estes diversos tratamentos estéticos. Atualmente nao basta aos pacientes apresentarem dentes bem alinhados € bem constituidos, integros e em perfeita fungao, sem ‘que 05 mesmos apresentem coloragao branca (Navarro, Mondelli, 2002). Em decorréncia da grande veiculacao nos érgaos de comunicagao a respeito dos tratamentos clareadores para dentes polpados e do conhecimento da populacao sobre o mesmo, esto sendo indicados e rea- lizados em todo 0 mundo numa escala crescente, com excelentes resultados clinicos (Mondelli, 1998; Mondell, Silva e Souza J, Carvalho, 2001; Mondelli et al., 2002a; Mondelliet al., 2002b; Mondelli, Lopes, 2000; Mondelli Oltramani, D’alpino, 2002; Zanin, Brugnera Jr, 2002). As indicagdes do clareamento para dentes polpados, independente da técnica a ser utilizada, geralmente abrange os dentes mais escuros ou com coloragdo amarelada oriunda do proprio matiz dos dentes (Figuras 1 ¢ 10) ou aqueles que apresentam pigmentacoes pés-eruptivas (exégenas) por habitos alimentares de corantes dos alimentos como café, ché preto, beterraba etc. e outros pigmentos como nicotina bactérias cromégenas, placa bacteriana, dentre outros (Figuras 3, 5 e 8). Nos casos de traumas mecanicos ou ortodénticos pode ocorrer a calcificagao distrafica da polpa coronétia e radicular e, pela formagao de dentina reacional em toda luz da camara pulpar, ocorre também a alteracao de cor do dente, geralmente com tendéncia para o amarelo, e estes dentes respondem bem ao trata- mento clareador (Navarro, Mondelli, 2002; Mondelli, 1998; Mondeli, Oltrami, D’alpino, 2002), Outro fator que pode comprometer e alterar a cor original dos dentes é a idade do paciente, pela pig- mentacao extrinseca do esmalte, formacao fisiolégica de dentina secundéria radicular e coronéria com o decorrer da vida do paciente, diminuindo 0 didmetro dos tibulos, dentinérios e 0 tamanho da camara pulpar através da formagao de dentina mais mineralizada e escura, e tam- bém pelo desgaste fisiolgico do esmalte responsdvel pela maior transparéncia da dentina e, consequente- mente, maior escurecimento dos dentes (Figura 3). As técnicas existentes para a realizagio do clareamento dental podem ser divididas em clareamen- to intrinseco (interno) ou extrinseco (externo), onde o clareamento intrinseco € indicado somente para dentes com tratamento endodéntico, através dos tibulos dentinarios via camara pulpar, que neste volume da revista no vai ser abordado. As técnicas extrinsecas, cuja acao clareadora acontece via esmalte vestibular, podem ser utilizadas tanto para dentes polpados (Figuras 1, 3, 5, 9, 10, 12, 13, 17, 18, 22, 25, 27 e 29) como para dentes despolpados (Figura 3) (Mondeli, 1998; Navarro, Mondelli, 2002). © mecanismo de acao dos agentes clareadores a base de perdxido de hidrogénio ou carbamida acon- tece pela oxidacao dos pigmentos no dente Bis 16 - Mondell, FL (Mcevoy, 1989; Mcquillen, 1867), sendo um mecanis- ‘mo bastante complexo; a grande maioria funciona por coxidagdo, um proceso quimico pelo qual o material organico que causa a alteracao de cor € convertido eventualmente em diéxido de carbono e agua, sendo liberados juntamente com 0 oxigénio nascente (Goldstein, Feinman, 1991). Comumente, a reacao de clareamento & em baixa velocidade € apresenta pro- ducao de produtos quimicos intermedidrios, que sao mais claros, consequindo-se o clareamento. Durante os processos iniciais de clareamento, grandes quantidades de moléculas de carbono pigmentadas (que causam a alteragao de cor) so que- bradas (abertas) e convertidas em cadeias menores, que apresentam cor mais clara; esta reagao quimica altera 0 tipo, ntimero € posi¢ao relativa dos étomos que compoem estas moléculas (Kirk, 1889* citado por Haywood, 1992). Existem compostos de carbono com dupla ligagao, usualmente que sio convertidos em grupos hidroxilas, em que sao desprovidos de cor. Dentre as técnicas de clareamento extrinsecas que podem ser utilizadas nos dentes polpados, existe a técnica caseira (Figuras 1, 5 € 9), que é realizada através da utilizagdo de um gel clareador em baixa concentra¢ao, aplicado em uma moldeira individual termopléstica (polietileno) pelo préprio paciente em sua casa (Haywood; Heymann, 1989), ou a técnica de consultério, idealizada por Ames (1937), que deve ser realizada sob isolamento absoluto, onde foi utilizada primeiramente a solucao de perdxido de hidrogénio a 30%, e, mais recentemente, os géis de peréxido de carbamida a 22 % ou 35 %, podendo empregar ou nao alguma fonte de calor (espatula aquecida, caneta jigmentados de amarelo, eletrénica para cera, lampada “fotoflood”, lémpada “Newlux”, aparelhos fotopolimerizadores, etc.), com a finalidade de aumentar a temperatura do agente ‘Cloreamento de dentespolpadostéencas ¢ equipamentos clareador (Figura 3) e, conseqdentemente, a liberacao de oxigénio, diminuindo 0 tempo de tratamento (Navarro, Mondelli, 2002; Mondelli, 1998). Apés a introdugdo do clareamento caseiro, em 1989, 0 clareamento de consultério praticamente deixou de ser utilizado na Gltima década pelas vantagens que 0 primeiro apresentava, mas, nos dias de hoje, com a introdugao € evolugao dos agentes clareadores totos- sensiveis, que apresentam resultados altamente satis- fatérios, e dos aparelhos de emissao de luz especificos para o clareamento, o tratamento de consultério em sesso Unica € a grande evolucao deste inicio de século. 0 caso clinico da Figura 3 apresenta o resulta- do estético conseguido com o clareamento de con- sult6rio, onde a paciente estava incomodada com a alteracao de cor dos caninos superiores (polpados) do incisivo central superior direito apés tratamento de canal (Figura 3 A). Apés anamnese, exame clinico € radiogréfico, foi planejado o clareamento extrinseco (via esmalte vestibular) pela técnica de consultério destes trés dentes. Apds a confec¢ao do isolamento absoluto, amarria com fio dental dos dentes em questao, adaptagao de matriz transparente para pro- teger os dentes vizinhos, foi realizado 0 condiciona- ‘mento do esmalte com dcido fosférico a 37 % (Figura 3 8), por 30 segundos, aplicacao do gel de peréxido de car- bamida a 37 % (Whiteness Super - FGM Produtos Odontolégicos) e aquecimento com espatula e tempe- ratura controlada (caneta eletronica para cera — Termotron Equipamentos Ltda) (Navarro, Mondeli, 2002; Mondelli, 1998). Apés a realizacao do polimen- to do esmaite e aplicacao tépica de flor fosfato acidu- lado a 1,23 %, foi realizada mais uma sessao de clarea- mento, seguindo 0 mesmo protocolo, O resultado estético conseguido pode ser observado nas Figuras 3 Ce D, por meio da andlise da harmonia estética do sorriso determinado pelo clareamento dental “ik C, The chemical bleaching of teth (1889) apud HAYWOOD, VB. History saley, and electveness of caren beaching techniques and applications of the ightguard val leaching technique. Quintessence nt 1992:23-471.86 Exadonto Figura 3 Volume 1 - Nimero 1 - Jani / Fevereiro 2003 - 17 Figura 3: A. soriso da paciente onde se observa aalteragdo de cor do incisive central superior dirito apés tratamento de canal e dos caninos superiores(polpades), em relacao aos outros dentes;B- apés a confeccao do islamento absolut, amar transparente para protecio dos dentes vzinhos, fo! realizado © candicionamento cam Scio fostérco a 37% por 30 segundos lareador € realizado 0 aquecimento dos dentes; C- apés pol ‘com fio dental, adaptagio de matriz ieado agente vento e aplicagio de flior, pode-se ebservar o resultado consequido com © {lareamento; D- soriso da paciente aps o termine do tratamento clareador 2.1 CLAREAMENTO CASEIRO Em geral, 0 clareamento caseiro envolve 0 uso de peréxido de carbamida a 10 ou 15 % ou de perdxi- do de hidrogenio de 1 % a 10 %. € um procedimento mais simples, que requer menor concentragao de perSxido, Permitindo ao paciente executar a maioria dos pasos em casa; tendo os peréxidos larga utilizagao como ant sépticos orais, considerados seguros e eficientes pela FDA (Food and Drugs Administration) nos Estados Unidos da América, desde os anos 60, varios sistemas domésticos tém sido langados no mercado e vendidos ‘em todo o mundo. (© mecanismo de ago do peréxido de carbami- da, quando usado no meio oral, varia devido ao efeito das peroxidases salivares quando o gel entra em conta to com a saliva e promave a dissociagéo do agente Clareador e a liberaca0 do oxigenio, a instabilidade das diferentes solugdes de peréxido e do contetido con- centrago do gel aplicado na moldeira (Haywood, 1994). O peréxido de carbamida quando degradado pela acdo da saliva libera uréia, substancia que apresen- ta as caracteristicas de ser anticariogénica, por meio da elevagao do pH da placa (Leonard et al., 1994) e da sali- va (Leonard, Bentley, Haywood, 1994), Em detrimento aos casos de maior alteragao de 18 Mondel, RF cor dos dentes, tetraciclina por exemplo, onde o trata- mento caseiro era realizado com géis de peréxido de carbamida em baixas concentracées (10 ou 15 %) € por ‘no apresentar os resultados desejados, os fabricantes comegaram a aumentar a concentracao dos agentes, com a finalidade de conseguir methores resultados, hoje podem ser encontrados no comércio odontolégico géis clareadores & base de perdxido de carbamida e/ou hidrogénio em varias concentragdes (10, 15, 16, 20, 22, 30 e 35 9%), mas sem a presenca de agentes fotossensiveis. clareamento caseiro deve ser indicado nos casos de alteragao generalizada da cor do esmalte dos dentes e para pacientes que nao apresentem nenhuma contra-indicagao, pois 0s peréxidos sempre geraram alguma preocupagao em decorréncia a possivel for: magio de radicais livres e seu potencial de mudanca celular, principalmente nos tratamentos caseiros nao supervisionados pelo dentista, pelo uso indiscriminado Por estar em contato direto com os tecidos moles. Em alguns paises, inclusive no Brasil, os agentes clareadores & base de peréxido de carbamida podem ser adquiridos através de canais de tel €, como ocorre nos Estados Unidos da América, podem ser comprados nas prateleiras dos supermercados (Figura 4). Os tratamentos clareadores, independente da técnica e devido as caracteristicas quimicas de seus com- em farmacias ponentes, agentes oxidantes, devem ser indicados, monitorados e acompanhados pelo cirurgido-dentista, nunca pela vontade exclusiva dos pacientes. Os per6 dos sempre geraram preocupagao devido a possivel for- magio de radicais livres e, conseqiientemente, seu potencial de mudanca celular, principalmente nos casos de uso indiscriminado e auto-aplicacao sem a supervisao do cirurgiao-dentista © possivel efeito co-carcinogénico desta substancia, relatado em trabalhos de Pieroli (1996) e Camargo (1999), principalmente quando utilizada sem 0 controle do profissional (auto-aplicagao) € no caso do paciente apresentar alguma pré-disposigo ou hereditariedade ees ‘Cloreomento de dentes polpados: técicas e equipamentos Figura 4; Agentes clareadores dentais em exposiglo na prateleira de ‘um supermetcado nos Estados Unidos da América, com live acesso para compra e utilzagao pela populagdo, sem o devido controle do ‘ents para o desenvolvimento de lesies cancerigenas no trato gastrointestinal (boca, garganta, es6fago, estémago, etc.), bem como em pacientes xerostmicos, gestantes © fumantes, contra-indica 0 tratamento clareador caseiro, pois o gel clareador permanece em contato direto com a mucosa, além da possibilidade de deglu- ticdo pelos pacientes. Nestes casos, havendo a necess: dade da realizacao do clareamento dos dentes polpados, 6 indicado o clareamento de consult6rio sob isolamento absoluto, pois o agente clareador nao entra em contato com os tecidos moles do paciente. Para a indicagao de qualquer técnica de clarea- mento para pacientes jovens, uma anélise radiogrética criteriosa deve ser realizada para observar o tamanho da camara e a proximidade pulpar, pois, nestes casos, a sensibilidade pés-operatéria (Haywood, 1994; Haywood et al, 1994) © um possivel comprometimento pulpar (Cohen, Chase, 1979; Kwong et al,, 1993; Seale at al, 1992) (reabsorcao interna e necrose) so mais féceis de ocorrer, devido principalmente a pequena espessura de dentina, diémetro dos tibulos dentinérios e maior perme. abilidade do esmalte e dentina, principalmente quando, se utiliza 0 calor (Outhwaite, Livingston, Pashley, 1976; Pashley, Thompson, Stewart, 1983). O ideal é que qual- quer tratamento clareador seja indicado para os pacientes com idade acima de 16 anos (Navarro, Mondelli, 2002; Mondelli, 1998), pois nesta idade o esmalte © a dentina se apresentam mais mineralizados e menos permeéveis, a camara pulpar em menor diémetro © a dentina mais espessa em virtudle da formagao da dentina secundéria fisiolégica, 0 caso clinico seguinte (Figura 5) relata 0 trata mento de uma paciente do sexo feminino, adulto- jovem, que apresentava alteracao de cor generalizada dos seus dentes e procurou 0 Departamento de Dentistica, Endodontia e Materiais Dentérios, FOB-USP,, pois desejava dentigo mais clara. A anélise do sorriso da paciente (Figura 5 A) demonstra 0 comprometimento da estética, que além da alteragao de cor dos dentes apresentava também caracteristicas de alteracao do esmalte (hipocalcificagao) por fluorose grau TF 02 (Figura 5 B) (Mondeli, Silva e Souza Jr, Carvalho, 2001). ‘Apés a anamnese da paciente e determinacao (escolha) da cor dos seus dentes, foi planejada a realiza- ¢fo do tratamento clareador de segundo pré-molar ao segundo pré-molar dos arcos superior e inferior, de acor- do com 0 sorriso da paciente, para verificar qual seria 0 resultado conseguido com este tratamento ¢ se o mesmo seria capaz de proporcionar, além do clarea- mento, a equiparacao da cor dos dentes com as estrias do esmalte oriundas da fiuorose, uma vez que diversos autores apregoam que o tratamento clareador & capaz de proporcionar este resultado (Figura 5 C). Como a paciente no apresentava_nenhuma contra-indicagao para a realizagao do tratamento clareador caseiro, constatado através da anamnese ¢ histéria clinica e familiar, na primeira sessdo de atendimento foi realizada {4 moldagem dos arcos. Apés obtencao do modelo de .gess0 foi confeccionado o alivio de aproximadamente 1,0 mm de espessura na face vestibular dos dentes que setiam clareados, devendo-se manter a cervical livre Volume = Nimero 1 «Janeiro /Fevero 2003 = 19 para maior adaptacao da moldeira nesta regio a fim de conter 0 gel no reservatorio com minimo extravasamen- to. Para a confeccio do alivio podem ser empregadas resinas compostas fotoativadas especiticas para este pro- cedimento ou mesmo uma resina composta conven- ional. O alivio nao pode ser confeccionado em cera, pois a mesma se funde com a alta temperatura da resistencia elética Ua maquina 4 vacuy necesséria para o amolecimento da folha plastica, podendo comprometer a adaptagio e a formacdo do reservatério para 0 gel clareador, A moldeira deve ser recortada em cima do suleo gengival, cerca de 0,5 a 1,0 mm acima da margem gengival, com lamina de bisturi direto no modelo de

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