ORTODONTIA

APLICAÇÃO CLÍNICA
DA RÉGUA DE
PROPORÇÃO ÁUREA
Transformação de incisivos laterais conóides
– um relato clínico
MARCOS T. MARGRAF

conceito inicial da beleza foi atribuído à harmonia

O das proporções. Para estabelecê-la, a matemática

constituiu uma importante fonte inspiradora a filó-
sofos que desejavam provar a hipótese de que a beleza po-
Marcos T. Margraf,
Prof. Clínica
deria ser expressa matematicamente.
Integrada da
UEPG – PR; Mestre
em Dentística Pitágoras determinou uma pro-
Restauradora pela porção numérica na qual a relação
UCCB – SP;
Coordenador do Curso de 1 / 1,618 = 0,618 (Fig. 1) era re-
de Aperfeiçoamento. conhecida particularmente como
em Dentística da
APCD – SP bela. Tal relação ficou conhecida
como proporção áurea, dourada ou
divina (RUFENACHT, 1998).
Os primeiros relatos do empre-
go da Proporção Áurea advêm de

Fig. 1

1,618

1,0

1 / 1,618 = 0,618

Proporção áurea (Pitágoras)

Uma estrutura retangular, com
os lados na razão desta proporção,
é reconhecida como bela.
1509 com o livro Divine Proportione,
com ilustrações de Leonardo da Vin-
ci, escrito por Luca Pacioli
(RUFENACHT, 1998).
Fig. 2
Desenho esquemático evidenciando
proporção áurea.
A utilização desta proporção na
Odontologia foi primeiramente
mencionada por Lombardi (1973) e
desenvolvida por Lewin (1978), que
observou que nas dentições estetica-
mente agradáveis, vistas de frente, a
largura do incisivo central está em
proporção áurea com a largura do
incisivo lateral, que por sua vez está
em proporção dourada com a parte
anterior visível do canino (Fig. 2).
Lewin também desenvolveu um
gráfico para auxiliar o dentista no
momento de reconstruções estéticas
nos dentes anteriores. Posteriormen-
te, compassos com divisores doura-
dos ou ditos perfeitos foram desen-
volvidos e puderam ser empregados
na Odontologia. Atualmente rece-
bem o nome de "Régua de Proporção
Áurea" (GOLDSTEIN, 2000) (Figs.
3 e 4).
A "Régua de Proporção Áurea"
trata-se de um compasso que, quan-
do aberto, estabelece uma relação de
proporção entre os dois segmentos,
um maior e outro menor. O segmen-
to maior representa 1,618 vez o
Fig. 3
Régua da
proporção
áurea,
demonstrando
a relação
1 / 1,618 = 0,61
Fig. 4
Régua da
proporção
áurea,
determinando
a proporção
áurea.
(desenvolvida
sob orientação
do Prof.
Marcos
Margraf)
comprimento do segmento menor, e
este, 0,618 vez o do maior
(RICKETTS, 1982). Dentre suas
aplicações, destaca-se o estabeleci-
mento das dimensões proporcionais
entre os dentes anteriores no mo-
mento de procedimentos de reanato-
mização, como, por exemplo, na
transformação de incisivos conóides
(JAVAHERI & SHASHNAVAZ, 2002;
PAGANI & BOTINO, 2003).
RELATO CLÍNICO
A paciente CA, 12 anos, apre-
sentou-se com retenção dos incisi-
vos laterais superiores. Após diag-
nóstico, constatou-se que eram co-
nóides, sendo estabelecido para o
tratamento a integração de procedi-
Fig. 5
Caso clínico inicial,
onde se observa a
desarmonia pela
ausência dos laterais.
Fig. 6
Caso clínico inicial com a presença
dos laterais conóides e contorno
gengival desfavorável esteticamente.
Tratamento ortodôntico realizado
pela Profa. Gilce Czelusniak.
mentos clínicos (Figs. 5 e 6).
Para a realização dos procedi-
mentos restauradores, necessitaram
ser considerados:
• o estabelecimento do valor da
largura mesio-distal dos laterais co-
nóides numa relação de proporção
áurea com os demais elementos an-
teriores;
• a presença de desarmonia no
contorno gengival e
• a existência do espaço negati-
vo ou negro na região das papilas
gengivais.
A aplicação da Régua de Pro-
porção Áurea (FAVA) torna-se um
auxiliar importante na determinação
dos espaços interproximais, de tal
forma que a proporção áurea no mo-
mento da reanatomização esteja ga-
rantida de forma objetiva e segura
(Fig. 7).
Fig. 7
Planejamento do restabelecimento
da proporção áurea.
Para a correção da desarmonia
do contorno gengival, um procedi-
mento de aumento de coroa clínica
por gengivoplastia foi efetuado
(Fig. 8).
Fig. 8
Aumento de coroa clínica.
Cirurgia periodontal realizada
pelo Prof. Marcio Fernandes.
Visando atenuar os espaços ne-
gativos ou negros nas regiões das pa-
pilas gengivais, que comprometem
de forma sensível a aparência estética
e a fonética, realizou-se o condicio-
namento das papilas gengivais com
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ORTODONTIA

coroas acrílicas provisórias, as quais CONCLUSÃO

no ato da cimentação promoveram Fig. 11

uma ligeira isquemia nas papilas, de- A aplicação dos Princípios

terminando uma reação de hiperpla- Estéticos na Odontologia podem
sia orientada pelos provisórios. Des- conferir resultados extremamente
ta maneira, num prazo de 45 dias, contempladores ao paciente e para a
equipe de profissionais envolvidos na
Fig. 9 terapia (Fig. 14).
Moldagem com Express (3M ESPE).

Fig. 13

Fig. 12

Caso clínico com a ortodontia

concluída e com os provisórios
instalados, promovendo a
formação das "papilas gengivais".
Aplicação clínica da Régua de
Proporção Áuera (FAVA).

Caso clínico finalizado em proporção

Fig. 10 áurea, após a cimentação (Variolink II)
das cores metal free.
Fig. 14

observamos a formação das "papilas

Vista sem o provisório, onde
as papilas estão estabelecidas
após 45 dias.
gengivais" (Figs. 9 e 10).
Decorrido tal período, realiza-
mos a moldagem, a confecção e a ci-
mentação das coroas "metal free" com Resultado após
cimento resinoso Variolink II (Figs. dois anos.
11 e 12).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. LOMBARDI, R.E. The principles of visual perception and their clinical application to dental esthetics. J. Prost. Dent., v.29,
n.4, p.358-381, Apr., 1973.

2. LEVIN, E.I. Dental esthetics and the golden proportion. J. Prost. Dent., v.40, n.3, p.242-252, Sept., 1978.

3. RUFENACHT, C.R. Fundamentos de Estética. São Paulo, Santos, 1998, 375p.

4. RICKETTS, R.M. The biologic significance of the Divine proportion and Fibonacci series. Am. J. Orthod. Dentofacial
Orthop., v.81, n.5, p.351-370. May, 1982.

5. JAVAHERI, D.S. & SHASHNAVAZ, S. Utilizing the concept of the golden proportion. Dent. Today, p.96-101, June, 2002.

6. PAGANI, C., & BOTINO, M.C., Proporção áurea e a Odontologia Estética. J. Bras. Dent., v.2, n.5, p.80-85, 2003.

7. GOLDSTEIN, R. A estética em Odontologia. São Paulo, Santos, 2000, 470 p.

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