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As Setenta Semanas de Daniel

As setenta semanas de Daniel é como ficou conhecida pelos cristãos a profecia registrada em Daniel 9:24-27. A profecia das
70 semanas é um dos temas mais polêmicos e debatidos entre os estudiosos devido a sua grande dificuldade de interpretação.
Neste estudo bíblico, conheceremos alguns aspectos importantes da profecia das 70 semanas de Daniel, e as principais
interpretações sobre o assunto.
Quando Daniel teve a revelação sobre as 70 semanas?
O capítulo 9 do livro do profeta Daniel nos mostra que o profeta havia descoberto, estudando as profecias do profeta
Jeremias (Jr 29:10-14), que o tempo de cativeiro do povo judeu na Babilônia duraria 70 anos.
Ao fazer tal descoberta, Daniel percebeu que o momento em que estava vivendo já era a véspera do tão aguardado fim do
exílio. Daniel percebeu ainda, que o fim do exílio também estava diretamente relacionado ao arrependimento de seu povo
durante o período em que ficaram cativos.
Entretanto, ao analisar a situação de seu povo na Babilônia, Daniel concluiu que o povo ainda estava impenitente. Então,
Daniel se preocupou, pois ele entendia a relação pactual do Senhor com seu povo, ou seja, onde bênçãos eram vistas na
obediência, e maldições na desobediência.
Foi neste cenário que Daniel orou ao Senhor. A oração de Daniel consistiu primeiramente em adoração a Deus por sua
fidelidade e soberania, depois ele confessou o seu pecado e o pecado de seu povo, também reconheceu a justiça de Deus em
seu julgamento do pecado, e, finalmente, ele fez uma grande suplica para que o Senhor, pela sua misericórdia, restaurasse a
cidade de Jerusalém tirando seu povo do exílio.
A Bíblia diz que enquanto ele ainda orava, o anjo Gabriel veio ao seu encontro com uma grande mensagem da parte do
Senhor (Dn 9:21), onde lhe foi revelado os propósitos de Deus acerca do futuro, e que seriam cumpridos durante 70 semanas.
O que é a profecia das 70 semanas de Daniel? Por que 70 semanas?
O anjo Gabriel falou a Daniel que 70 semanas estavam determinadas sobre o seu povo (Dn 9:24). O próprio Gabriel, na
descrição da visão, organiza as setenta semanas em três subdivisões: primeiramente 7 semanas, depois mais 62 semanas e,
por último, mais 1 semana.
Gabriel também fez referência a pelo menos dois personagens principais: o primeiro aparece no versículo 25, e é o Ungido,
também denominado como “Príncipe” no mesmo versículo 25. Já o segundo aparece no versículo 26, e trata-se de um
príncipe que lidera um povo que destruiria a cidade e o santuário. A identificação destes dois personagens da profecia varia
nas mais diversas interpretações sobre essa profecia.
Basicamente, a profecia fala primeiramente acerca da restauração de Jerusalém, e depois de uma nova destruição haveria de
acontecer. Também são apresentados seis itens que deveriam ser cumpridos durante o período das 70 semanas, sendo eles:
cessar a transgressão, por fim ao pecado, expiar a iniquidade, trazer a justiça eterna, selar a visão e a profecia e ungir o
Santíssimo (Dn 9:24). A forma e o período em que esses itens são cumpridos também variam de acordo com cada corrente
escatológica.
Muitos também se perguntam o porquê de serem 70 semanas. A expressão “setenta semanas” traduz o original “setenta
setes“. Muitos estudiosos acreditam que trata-se de uma referência direta aos 70 anos de exílio que o povo foi submetido,
sendo então, estes 70 anos, multiplicados sete vezes, de acordo com o padrão de tratamento pactual (cf. Lv 26:14,21,24,28).
Seja como for, todos os intérpretes consideram que as 70 semanas devem ser entendidas não como semanas de dias, mas
como semanas de anos, assim como está em Levítico 25:8. Desta forma, a profecia das 70 semanas se refere a um período de
490 anos (70×7).
Assim, a divisão das semanas estabelecida na própria profecia seria a seguinte: 49 anos (7 semanas), 434 anos (62 semanas) e
7 anos (1 semana).
As diferentes interpretações sobre as 70 semanas de Daniel
A profecia das setenta semanas de Daniel sempre foi muito debatida. Antes mesmo das discussões entre as diferentes
correntes escatológicas, tal profecia já era alvo de debate entre intérpretes judeus, depois latinos e gregos.
São tantas interpretações diferentes que seria algo quase impossível considerar todas elas num único texto. Portanto,
colocarei ênfase apenas nas principais interpretações dentro do cristianismo, que, de alguma forma, são defendidas pelas
diferentes posições acerca da escatologia bíblica.
Não há tanta discussão entre os cristãos a respeito das primeiras 69 semanas, apenas alguns debates acerca de datas e eventos
históricos. As discussões se concentram realmente no significado da septuagésima semana. Sobre isto, existem três
interpretações principais:
 Interpretação literal e futurista: interpreta as semanas de forma literal, ou seja, representando um período preciso de
tempo, a saber, 490 anos exatos. Devido à interpretação estritamente literal, essa linha de interpretação entende que
483 anos já se cumpriram, o que corresponde a 69 semanas (7+62) e a última semana, no caso a septuagésima, foi
adiada e transferida para os últimos dias da presente dispensação. Assim, existe um hiato entre a sexagésima nona e
a septuagésima semana, uma lacuna de tempo, um período indeterminado que é a era da Igreja. Finalmente, a
septuagésima semana começa quando a Igreja for arrebatada e o Anticristo revelado, e corresponde aos sete anos de
grande tribulação. Esta é a principal interpretação entre os pré-milenistas dispensacionalistas.
 Interpretação preterista: essa interpretação entende que as 70 semanas já se cumpriram, e a septuagésima semana
corresponde ao período desde a morte de Cristo na cruz até a destruição de Jerusalém em 70 d.C. pelo exército
romano. Alguns preteristas entendem que a destruição de Jerusalém não ocorre necessariamente dentro das 70
semanas, mas em algum momento depois dela. Muitos pós-milenistas defendem esta interpretação.
 Interpretação simbólica: essa interpretação defende que as 70 semanas devem ser entendidas de forma simbólica.
Apesar de ser simbólica, essa interpretação se mistura com historicidade, ou seja, as 70 semanas se cumprem
historicamente, porém não existe a necessidade das datas serem exatas. Assim, a septuagésima semana é simbólica,
e se refere à época da Igreja, ou seja, ao período que compreende desde a primeira vinda de Cristo até sua segunda
vinda. Esta é a principal interpretação entre os amilenistas.
Como interpretar as 70 semanas de Daniel?
Todas as interpretações sobre as 70 semanas de Daniel possuem problemas. O texto de fato não é claro, de forma que em
qualquer posição que tomarmos, necessariamente estaremos defendendo uma simples interpretação.
Sobre as “setenta semanas” e suas três divisões, muitas tentativas já foram feitas para estabelecer com exatidão a cronologia
desse período, porém nenhuma delas se mostrou realmente eficaz. Isso acontece porque “a conta não fecha” com precisão em
nenhuma das interpretações possíveis, isto é, sempre a data se mostra aproximada e não exata.
Para entendermos melhor as dificuldades que existem, vamos analisar resumidamente o texto da profecia das 70 semanas.
Já vimos que existem duas possibilidades de interpretarmos as 70 semanas, isto é, ou de forma simbólica ou literal. Se
entendermos as setenta semanas como literais, então temos a grande dificuldade de fazer com que os 490 anos se encaixem
nas datas propostas.
Um exemplo dessa dificuldade pode ser visto na afirmação de que o tempo deveria ser contado “desde a saída da ordem
para restaurar e para edificar Jerusalém“. Sobre isto, encontramos pelo menos três decretos que poderiam representar tal
“ordem”. O primeiro foi com Ciro no século 6 a.C., depois temos o primeiro decreto de Artaxerxes em 457 a.C., e, por
último, um segundo decreto em 444 ou 445 a.C. (embora não tenha sido tecnicamente um decreto e sim uma autorização).
O primeiro decreto com Ciro é praticamente inviável, pois a data ficaria muito longe do primeiro século depois de Cristo,
além de que a ordem prioriza a reconstrução do Templo e não da cidade. Vale dizer que há intérpretes que consideram essa
data, colocando então o termino das 70 semanas no período intertestamentário, na época de Antíoco IV Epifânio.
Como discutiremos aqui apenas as principais interpretações dentro do cristianismo, então nos sobrariam as outras duas
possibilidades. Antes de falarmos sobre isto, devemos considerar a dificuldade com relação ao tipo de calendário utilizado
para fazer este cálculo, ou seja, é possível calcular com o calendário lunar e o calendário solar.
Também soma-se a isto o fato de que há um erro entre 4 e 7 anos no cálculo feito por Dionísius Exiguus no calendário que
nós utilizamos hoje, cuja contagem dividiu a História em “a.C.” e “d.C”.
Alguns afirmam que as 69 semanas ou 483 anos, se cumprem exatamente no ano em que Jesus começou seu ministério na
Galiléia. Outros afirmam que os 483 anos coincide no ano em que Cristo foi crucificado. Entretanto, considerando as
dificuldades que já mencionamos aqui, podemos concluir que é impossível que seja estabelecida uma data exata para o
término das 69 semanas.
Particularmente, prefiro considerar como sendo mais provável, a ordem de 444 a.C., de forma com que “os tempos
angustiosos” citados na profecia, são aqueles registrados no relato de Neemias. Assim sendo, de 444 a.C. devem ser contados
483 anos, resultando então em 37 ou 38 d.C. Considerando o erro de cálculo nas contas Dionísius Exiguus entre 4 e 7 anos,
então chegaremos a uma data aproximada entre os anos 31 e 34 d.C., o que provavelmente corresponde ao período do
ministério de Jesus.
Na interpretação preterista, que é a mais literal de todas, não há como fazer encaixar o período entre a crucificação de Cristo
e a destruição de Jerusalém em 70 d.C. Assim, segue-se uma interpretação literal até a sexagésima nona semana, e é preciso
que se recorra a um arranjo para posicionar a septuagésima semana. Como já dissemos, para resolver essa questão,
geralmente os preteristas defendem que Daniel não diz que a destruição de Jerusalém ocorreria dentro da septuagésima
semana.
Já na interpretação dispensacionalista essa dificuldade não ocorre, porém por outro lado, a septuagésima semana é adiada e
inicia-se um hiato. O problema é que o texto não faz qualquer referência sobre um possível adiamento da septuagésima
semana, nem mesmo que haveria uma lacuna de tempo após a sexagésima nona semana.
Assim, penso que tal interpretação não pode reivindicar uma condição especialmente literalista, pois utiliza um elemento que
não esta literalmente no texto. Logo, é possível notar uma aparente falta de padrão no estilo interpretativo.
Outro problema também se dá pelo fato de que, se a septuagésima semana corresponde ao período futuro de grande
tribulação e esse período deve ser interpretado de forma literal, então será possível calcular a segunda vinda de Cristo a partir
da manifestação futura do Anticristo, e não existe qualquer base bíblica que aponte para essa possibilidade.
Talvez a melhor chance de resolver todos estes problemas é entender que a interpretação das 70 semanas deve ser simbólica,
pois assim, tais dificuldades serão eliminadas. Vale dizer que a interpretação simbólica considera que o texto onde a profecia
das setenta semanas aparece é apocalíptico, e, como tal, existe o uso de elementos simbólicos.
Também é preciso notar que o próprio número “7” é amplamente utilizado com significado simbólico em textos
apocalípticos da Bíblia. Assim, os interpretes dessa posição entendem que o período de 490 anos representa uma fórmula
padrão, ou seja, a profecia não estava estabelecendo necessariamente um cálculo exato de anos, mas segmentos de tempo
amplamente definidos.
Esse estilo de organização não era incomum na literatura judaica, e pode ser observado em textos produzidos principalmente
no período intertestamentário, como por exemplo, o livro não canônico Jubileus, que estrutura a História em períodos de 490
anos.
Se as setenta semanas for entendida de forma simbólica, então a primeira divisão da profecia em 7 semanas representa um
curto espaço de tempo até que Jerusalém fosse reconstruída com a volta do povo do cativeiro. Depois, haveria um longo
período de tempo (62 semanas) até que o Messias estivesse na terra durante os primeiros dias do primeiro século, o que
também ocorreu em aproximadamente 434 anos depois da reconstrução de Jerusalém como já vimos. Note sempre a
condição “aproximadamente”, que, como já dissemos, indica que não há necessidade de se estabelecer com exatidão uma
data.
Também vale dizer que alguns estudiosos entendem que o “Ungido” (ou Messias) citado no versículo 25 pode não ser uma
referência a Cristo, mas a um rei usado por Deus como instrumento para realizar sua vontade. Neste caso, geralmente é
utilizada a data do decreto de Ciro. Todavia, creio que a melhor interpretação é que tal citação é referente ao Messias mesmo.
Também notamos no versículo 24 os seis itens que deveriam ser cumpridos durante as setenta semanas. Os
dispensacionalistas entendem que os seis itens só serão completamente cumpridos na segunda vinda de Cristo e no
estabelecimento de um reino milenar na terra (o milênio).
Já a outra possibilidade é a de que os seis itens já foram cumpridos na obra redentora de Cristo, mas que, em alguns aspectos,
alcançarão a plenitude em sua segunda vinda. Observando as profecias do Antigo Testamento à luz do Novo Testamento,
percebemos que essa é a melhor interpretação. Assim, podemos entender que a profecia das 70 semanas se concentra em
grande parte a revelar a obra do Messias em sua primeira vinda.
Estes dois versículos certamente são os mais difíceis. Apesar das dificuldades, e da questão quanto à literalidade ou o
simbolismo das setenta semanas, todas as posições de certa forma concordam com o que ocorre nas primeiras 69 semanas da
profecia (7+62), ou seja, independente de ser considerado o primeiro decreto ou o segundo de Artaxerxes, as dadas são
próximas à reconstrução de Jerusalém e aos primeiros anos do século 1 d.C. durante o ministério de Jesus.
O texto claramente diz que “depois das sessenta e duas semanas será cortado o Messias“, obviamente uma referência à
crucificação de Cristo. Quanto a isto, praticamente todas as interpretações concordam, exceto aqueles que entendem que o
Ungido citado no versículo 25 não é o Messias. Nesse caso, então a morte do Ungido seria uma referência ao juízo de Deus
sobre o rei levantado por Ele mesmo, e que teria ultrapassado os limites como instrumento do seu juízo. Realmente eu não
creio nessa possibilidade.
Voltando ao texto, existe um debate entre as diferentes posições sobre quando se deu a crucificação de Cristo, se na
sexagésima nona semana, durante o hiato ou na septuagésima semana.
Alguns dispensacionalistas afirmam que a crucificação ocorreu na sexagésima nona semana, enquanto outros afirmam que
ela ocorreu após a sexagésima nona semana, mas não na septuagésima semana, já que esta ainda é futura. Assim, a
crucificação teria ocorrido durante a lacuna de tempo.
Já as outras interpretações entendem que a morte do Messias ocorreu na septuagésima semana. Particularmente penso que
isso está claro no texto, pois é uma interpretação lógica e natural que “depois da sexagésima nona semana” se inicia a
septuagésima semana.
Como já disse, o problema é que o dispensacionalismo introduz um elemento estranho ao texto, isto é, o hiato. Logo, creio
que o texto obviamente está dizendo que o Messias foi morto na septuagésima semana, até porque se não for assim não temos
o registro da septuagésima semana no texto, ou seja, não há no texto uma expressão como “ na septuagésima semana“, mas
apenas “depois da sexagésima nona semana“. É claro que ambas as expressões se equivalem.
O versículo 26 ainda diz que “o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário“. Aqui penso que a
melhor interpretação é a de que se trata de uma referência ao general Tito Vespasiano e ao seu exército que destruiu
Jerusalém. Alguns estudiosos entendem que talvez haja aqui alguma menção ao grego Antíoco IV Epifânio como precursor
de Tito.
No versículo 27 lemos que uma aliança seria feita: “Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana“. A interpretação
dispensacionalista entende que o “ele” é uma referência ao príncipe e não ao Messias. Assim, para o Dispensacionalismo
aqui se trata do Anticristo, que fará uma aliança com o povo de Israel durante o período de tribulação.
Ainda no Dispensacionalismo, o Anticristo então “fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares“, o que significa que ele
proibirá a prática religiosa entre os judeus, o que resultará na segunda metade da septuagésima semana, um período em que
haverá intensa tribulação.
Entretanto, apesar da nossa tradução em português parecer indicar que a melhor interpretação é entender que quem faz a
aliança é o príncipe e não o Messias, no texto original é impossível determinar quem está fazendo a aliança. Note que no
versículo anterior (26) duas pessoas são citadas: o Ungido e o príncipe que lidera um povo. Assim, o “ele” que inicia o
versículo 27, gramaticalmente, pode ser tanto o Ungido quanto o príncipe.
Talvez haja uma pequena vantagem, gramaticalmente falando, na interpretação de que o “ele” se refira ao Messias, pois o
assunto principal do versículo 26 é o Ungido e não o príncipe.
Se no texto original a identificação é praticamente impossível, penso que quando interpretamos esse texto com base no
restante das Escrituras, a melhor interpretação certamente será a de que o “ele” se trata do Messias.
Na Última Ceia, quando Jesus tomou o cálice, Ele disse: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto todas as
vezes que o beberdes em memória de mim” (1 Coríntios 11:25). Compare o texto de Daniel que diz que “ele fará firme
aliança com muitos“, com o texto do Evangelho de Mateus onde Jesus disse: “Porque isto é o meu sangue, o sangue da nova
aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados” (Mt 26:28).
Sabemos que cada vez que a Igreja se reúne para participar da Santa Ceia do Senhor, ela está recordando, e ao mesmo tempo
anunciando essa aliança. Assim, entendemos que a morte de Cristo pois fim ao sistema sacrifical do Antigo Testamento, de
forma que, conforme o escritor da Epístola aos Hebreus escreveu, os sacrifícios levíticos eram sombras do sacrifício perfeito
e definitivo de Jesus no Calvário.
Sobre a frase “fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares” alguns preteristas entendem que seja uma referência à
profanação e destruição do Templo por Tito, enquanto outros entendem que seja uma referência à própria morte de Cristo.
Como na interpretação simbólica entende-se que a septuagésima semana representa todo o período da era da Igreja, ou seja,
ela é a última semana, os últimos dias conforme o apóstolo Pedro interpretou a profecia do profeta Joel em Atos 2:17, tal
semana será dividida ao meio.
A primeira metade representa o período de pregação do Evangelho pelo mundo, onde nada poderá barrar o crescimento da
Igreja de Cristo na terra e a aliança estará sendo pregada. Já a outra metade corresponde ao período do “ pouco tempo de
Satanás” (Ap 20:3), onde o homem da iniquidade (2Ts 2:3), o Anticristo, será revelado e haverá intensa perseguição contra a
Igreja. Essa segunda metade refere-se ao período final, a grande tribulação que antecede a segunda vinda de Cristo.
Ainda dentro dessa interpretação, a segunda metade não possui a mesma duração da primeira metade, pois a semana é
simbólica. A segunda metade da septuagésima semana será um curto período de tempo, pois, conforme Jesus falou em
seu Sermão Escatológico, “se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos
escolhidos serão abreviados aqueles dias” (Mateus 24:22).
Aqui vale uma observação de que para entender completamente a interpretação simbólica, é preciso que se conheça a posição
amilenista acerca da escatologia bíblica, sobretudo ao que diz respeito à forma de se interpretar o milênio.
Finalmente, o versículo 27 termina dizendo que “sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e
o que está determinado será derramado sobre o assolador” (Daniel 9:27). Os preteristas defendem que essa frase é uma
referência a destruição do Templo e queda de Jerusalém em 70 d.C. sob as ações de Tito.
Vale também notar que Daniel utiliza expressões semelhantes a “uma abominação que causa desolação” em outras
passagens de seu livro (Dn 8:13; 11:31; 12:11). Em Daniel 8:13, por exemplo, essa frase está diretamente relacionada à
Antíoco IV Epifânio.
Porém, devido à data do decreto que utilizamos como base para o período das 70 semanas, obviamente a passagem que
estamos estudando não pode se referir a Antíoco IV Epifânio. Logo, podemos dizer que Daniel pode ter usado Antíoco IV
Epifânio como uma pré-figura de outro governante que faria atrocidades.
Assim, muitos intérpretes entendem que Antíoco IV Epifânio foi um protótipo do Anticristo escatológico. Também podemos
entender que a própria profanação promovida por Antíoco IV Epifânio, prefigurou a destruição promovida por Tito em 70
d.C. que, juntas, também prefiguram o período de domínio do Anticristo escatológico.
Essa parece ter sido a interpretação de Jesus em seu Sermão Escatológico (Mt 24:15; Mc 13:14). Se entendermos desta
forma, então essa frase se trata de uma profecia de múltiplo cumprimento, algo que é comum nas profecias do Antigo
Testamento.
Conclusão sobre as 70 semanas de Daniel
Mais uma vez quero dizer que a profecia das setenta semanas realmente se trata de um texto bastante difícil de interpretar,
portanto é preciso que haja humildade entre os que se propõe a debatê-la e respeito com os que pensam de outra forma.
Apesar de todas as dificuldades apontadas, vale ressaltar que na Bíblia não há qualquer erro ou contradição, ou seja, as
opiniões conflitantes não significam que o problema esteja no texto bíblico, mas em nossas interpretações, que buscam
entender detalhes que Deus achou por bem não nos revelar de maneira tão clara.
Por fim, penso que antes de qualquer debate sobre detalhes específicos dessa profecia, precisamos apontar para o glorioso
cumprimento da mensagem principal que ela nos traz, a saber, a obra redentora do Messias. Isso certamente nos leva a
admirar a verdade de que somente um Deus soberano, Senhor da História, é quem poderia revelar mistérios tão profundos ao
seu servo Daniel.

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