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CONTRA A INCREDULIDADE

Richard Baxter

Título Original: Directions Against Unbelief from “A Christian


Directory”, 1673.

Traduzido do Inglês por Jhony Oliveira

Direitos de tradução © 2020 Jhony Oliveira


Índice

Introdução
Contra a Incredulidade
Direção nº 1
Direção nº 2
Direção nº 3
Direção nº 4
Direção nº 5
Direção nº 6
Direção nº 7
Direção nº 8
Direção nº 9
Direção nº 10
Direção nº 11
Direção nº 12
Direção nº 13
Direção nº 14
Direção nº 15
Direção nº 16
Direção nº 17
Direção nº 18
Direção nº 19
Direção nº 20
Direção nº 21
Direção nº 22
Direção nº 23
Direção nº 24
Direção nº 25
Direção nº 26
Direção nº 27
Direção nº 28
Direção nº 29
Direção nº 30
Direção nº 31
Direção nº 32
Direção nº 33
Direção nº 34
Direção nº 35
Direção nº 36
Pergunta
Resposta
Introdução

Richard Baxter, foi um pastor britânico puritano, que viveu entre


1615 e 1691, conhecido pelo trabalho extraordinário e transformador
na cidade de Kidderminster, durante 14 anos de ministério naquela
cidade e também muito conhecido pelos seus numerosos escritos –
ele foi, de fato, um dos puritanos que mais escreveram.
O seguinte escrito faz parte de uma coleção de livros chamada “A
Christian Directory” onde ele dá orientações para uma vida cristã em
várias áreas, de uma profunde e detalhada, não apenas em
questões de comportamento, mas de consciência, usando diversos
detalhes e referências bíblicas. Ele foi escrito originalmente em
1673, um tempo depois do período quando o Reverendo Richard
Baxter foi pastor em Kidderminster, portanto, aqui ele era um pastor
já muito experiente. Ele mesmo esteve envolvido em várias
polêmicas de sua época, incluindo a questão dos não-conformistas,
que foram conhecidos como dissidentes da Igreja Anglicana, e como
tantos outros puritanos, ele foi perseguido, e chegou a ser preso
várias vezes por continuar pregando sem autorização.
De uma linguagem forte e extremamente confrontante, optei por
usar os termos mais próximos do original, mesmo que ofensivos
para os leitores de hoje. Procurei trazer uma linguagem que fosse
clara para os nossos tempos, pois o autor escreve no inglês do
século XVII, um pouco diferente do usar atualmente.
Espero que esse escrito seja um apoio à fé de cada um que lê-lo
e te traga conhecimento para a maturidade cristã, dando, com a
graça de Deus, direcionamentos para a sua fé, assim como o autor
intencionou.

O tradutor.
Contra a Incredulidade
Rev. Richard Baxter

Estou ciente que muitos dos cristãos que são pobres atribulados,
quando eles se queixam sobre o pecado da Incredulidade, querem
dizer com isso, sua falta de crença de que eles mesmos são fiéis
sinceros, pessoalmente justificados e que serão salvos. E estou
ciente que alguns antigos pregadores já afirmaram que o sentido do
artigo do Credo “Acredito na remissão dos pecados”[1], é, na
verdade, “Acredito que meus pecados foram verdadeiramente
perdoados.” Mas a verdade é que crer que sou um eleito ou que fui
justificado, ou ainda que sou um verdadeiro fiel, não é crer em
qualquer Palavra de Deus, pois nenhuma Palavra de Deus diz essas
coisas, nem qualquer coisa equivalente, nem qualquer coisa que
possa ser anexada a isso, pois essa é uma conclusão racional, e
uma das premissas que é suposta aqui, deve ser encontrada em
mim mesmo por meio da reflexão, sentido interno ou auto-
conhecimento. A Escritura apenas diz: “Aquele que crer é
justificado, e será salvo[2]”. Mas é a consciência, não a crença na
Escritura que pode dizer “Eu acredito sinceramente", portanto a
conclusão de que "sou justificado e serei salvo", é uma coleta
racional do que eu encontro nas Escrituras e em mim mesmo, e
reunidos e resultando de ambos, não podem ser tão firmes ou mais
certos que a mais fraca das premissas.
Portanto a convicção é objetiva ou subjetiva, na coisa em si ou
em minha compreensão. Quanto à certeza objetiva na coisa em si,
todas as verdades são igualmente verdadeiras, mas não são
igualmente discerníveis, havendo mais causa de dúvidas acerca de
coisas que são menos evidentes do que de outras que são mais
evidentes. Então a verdade da promessa de Deus quanto a
justificação dos crentes é mais certa, ou seja, tem uma evidência
mais segura e completa a ser discernida do que a verdade da minha
crença sincera, e dizer ‘Eu creio com sinceridade’ é a afirmação
mais fraca das premissas e, portanto, a conclusão se segue em sua
fraqueza, por isso, não pode ser Artigo de Fé. Quanto à convicção
subjetiva, ela varia dependendo das várias compreensões humanas.
As premissas, quanto às suas evidências ou aptidões em nos
averiguar, são a causa da conclusão como evidente ou
reconhecível. E as premissas, como compreendidas, são a causa
dessa conclusão, como sabemos.
Portanto há uma grande dúvida em alguns, se um homem pode
possivelmente estar mais convicto de que ele crê do que ele
realmente crê que aquilo que ele acredita é verdade, porque o ato
não pode ser ampliado mais que o objeto, e ter certeza que eu creio
é nada além de estar certo se eu considero a coisa acreditada ser
verdadeira. Mas eu devo assumir o contrário, que um homem pode
possivelmente estar mais certo que ele acredita do que ele está
certo de que a objeto acreditado é verdadeiro, porque minha crença
não é sempre uma certeza subjetiva que o objeto é verdadeiro, mas
uma crença de que é verdade. E embora você esteja totalmente
certo que toda Palavra de Deus é verdadeira, ainda assim você
pode acreditar que esta é a Sua Palavra, com alguma mistura de
incredulidade ou dúvida. Então, a questão é apenas essa: Se você
pode, sem dúvida, saber que você crê que a Palavra de Deus é
verdadeira, embora com alguma dúvida. E parece que isso é
possível. Mas essa é uma outra questão: Se você pode estar mais
convicto da sinceridade salvadora da sua fé do que estar convicto
que essa Palavra de Deus é verdade. E aqueles homens comuns da
primeira questão, tanto quanto eles duvidam da segunda questão,
penso que isso é uma verdade já experimentada. Mas ainda
assumir que com alguns isso pode ser de outra forma - porque
alguém crê sinceramente que até então acredita na Palavra de
Deus, de tal maneira a confiar sua vida e alma a ela, e renunciar
tudo em obediência a ela, e porque eu faço isso, eu posso saber
com menos dúvidas do que eu ainda possa ter sobre a verdade da
Palavra de Deus crida – tudo o que se segue é nada mais que isso,
que daqueles homens que duvidam da sua própria justificação e
salvação, algumas de suas dúvidas são causadas mais pela sua
dúvida em relação à Palavra de Deus do que pela sua dúvida se
eles com sinceridade, embora duvidando, creem. E as dúvidas de
outros, se eles são justificados e serão salvos, são causadas mais
muito mais por suas dúvidas quanto a sua própria fé sincera do que
suas dúvidas quanto à verdade das Escrituras. E a maior parte dos
Cristãos parecem para si mesmos serem desse último tipo. Sem
dúvida, embora um homem de entendimento claro possa
dificilmente crer, e ainda não reconhecer que ele acredita, ele ainda
pode crer sinceramente, e não saber se crê com sinceridade.
Ainda assim o entendimento da nossa própria justificação é nada
além de que o efeito ou o produto de nossa fé na Palavra de Deus,
e de nosso entendimento que cremos com sinceridade, que,
conjuntamente são os progenitores e as causas disso, e esse
entendimento não pode ser mais forte que o mais fraco de seus
progenitores - esse, sendo reconhecido[3], é nossa fé, mas, sendo
conhecido[4], é ora um e ora outro. E o efeito não é a causa, o efeito
da fé e conhecimento conjunto, não é fé em si mesmo. Não é uma
fé na Palavra de Deus acreditar que você crê ou que você é
justificado, mas ainda, porque essa fé é uma das progenitoras dela,
alguns a chamam pelo nome de fé, embora devam chamá-la nada
além de um efeito da fé, como uma de suas causas. Bem que
nossas dúvidas quanto a nossa própria salvação podem ser
declaradas como vindas da incredulidade, porque a incredulidade é
uma das causas dela, e a causa mais pecaminosa.
Que o artigo sobre a remissão do pecado deve ser crido com
aplicação para nós mesmos, é correto, mas não com a aplicação de
garantia, persuasão ou crença que nós já somos perdoados, mas
com a aplicação na aceitação de um perdão oferecido, em
consentimento com a aliança que o fez nosso. Nós cremos que
Cristo adquiriu a remissão do pecado, e fez uma concessão
condicional dela em Seu Evangelho, a todos, a saber, aos que se
arrependerem e crerem Nele, e tê-Lo como seu Salvador, ou se
tornarem Cristãos penitentes. E consentimos em fazer isso e aceita-
lo nesses termos. E cremos que todos que assim consentem são
perdoados.
Com tudo isso podemos perceber que aqueles Cristãos
atribulados que duvidam, não em relação à verdade da Palavra de
Deus, mas apenas de sua própria sinceridade, e consequentemente
de sua justificação e salvação, queixam-se, por ignorância, que eles
não têm fé, ou que não conseguem crer, pois não há ato de
incredulidade para eu duvidar se meu próprio coração é sincero,
isso é minha própria ignorância, mas não é nenhum grau de
incredulidade, pois a Palavra de Deus em lugar algum diz que eu
sou sincero, e, portanto, eu posso duvidar disso sem, de forma
alguma, duvidar da Palavra de Deus. Deixe que todos os Cristãos
atribulados saibam que eles não têm mais incredulidade neles do
que eles têm dúvida ou incredulidade da verdade da Palavra de
Deus. Mesmo aquela perda de esperança, que não tem nada disso
em si mesmo, não tem descrença nela - se houver tal. Acho
necessário, a esse ponto, dizer o que incredulidade significa, antes
de dar-lhes Direções contra ela.
E embora a simples dúvida de nossa própria sinceridade não seja
incredulidade de forma alguma, ainda assim, a real incredulidade na
verdade das Sagradas Escrituras, é um pecado tão comum e
perigoso, e em algum ponto está mais latente, que acho que não
podemos ir muito além na obra da graça, por destruí-lo. A fraqueza
da nossa fé na verdade das Escrituras, e o resto da nossa
incredulidade nela, é a principal causa de todo esfriamento do nosso
amor e obediência e de toda a graça, e fortalecer a fé, é fortalecer
todos eles. O que escrevi de forma mais completa no meu livro
“Saints’ Rest”, Parte II, e no meu escrito “Tratado contra a
Infidelidade”, aqui presumo:
Direção nº 1
Considere bem o quanto de religião a própria natureza ensina, e
razão (sem revelações sobrenaturais) deve-se necessariamente
confessar, como se houvesse outra vida para qual o homem foi feito
para e que ele seja obrigado ao máximo amar e obedecer a Deus, e
descansar, conforme descrito na Introdução. Então observe quão
congruente a doutrina de Cristo veio, para ajudar onde a natureza
se perdeu, e como é exata a forma que ela se encaixa às verdades
naturais, e com que tamanha clareza ela a explica, e contém tanto
dela quanto é necessário à salvação, e o quão adequado e
apropriado meio para atingir seus objetivos, e quão grande
testemunho das doutrinas da natureza e graça dão entre elas.
Direção nº 2
Considere que o objetivo do homem está na vida que por vir, e
Deus é o Justo e Misericordioso Governante do homem para esse
objetivo, deve necessariamente saber que Deus dará a ele meios
suficientes para saber Sua vontade para esse objetivo, e que o mais
claro e completo meio deve demonstrar muito do governo e da
misericórdia de Deus.
Direção nº 3
Considere que triste experiência o mundo tem em sua
perversidade e grande corrupção, e que a tendência natural da
razão é para as coisas altas e excelentes que a corrupção e
brutalidade quase extinguiram ou baniram, e que a prevalência das
mais baixas faculdades contra a razão correta, é tão lamentável e
universal, para a confusão do mundo, que é suficiente dizer que
esse não é o estado que Deus nos criou, e que certamente o
pecado manchou e desordenou Seu trabalho. A maldade do mundo
é uma grande confirmação da Escritura.
Direção nº 4
Considere o quanto a doutrina do Evangelho e a aliança da graça
são adequadas para o estado decaído do homem, mesmo que a lei
das obras eram adequadas para seu estado de inocência, o
Evangelho pode ser chamado da lei da natureza decaída, adequada
para ela, embora não revelada por ela, como a outra lei foi a lei de
toda a natureza.
Direção nº 5
Compare as muitas profecias de Cristo com o cumprimento delas
em Sua pessoa, como as de Moisés citadas por Estevão em Atos
8:37, ou Isaías 53, Daniel 9:24-26, etc., e considere que aqueles
Judeus que eram os piores inimigos dos Cristãos, reconheciam e
preservavam aquelas profecias, e todo o Velho Testamento, que dão
um testemunho tão completo do Novo Testamento.
Direção nº 6
Considere que adequação admirável há na doutrina de Cristo
para o prazer de uma mente celestial, e como tudo o que espiritual e
verdadeiramente bom em nós, se aproxima e aceita a doutrina por
uma certa congruência de naturezas, como o olho faz perante a luz,
e como o estômago faz com a comida adequada. Todo homem bom
em ler as Escrituras Sagradas, sente algo (mesmo tudo o que é
bom) dentro dele e dá testemunho disso. Apenas o que há de pior
em nós discute e se rebela contra ela.
Direção nº 7
Considere como as primeiras igrejas eram plantadas pelo
sucesso de todos aqueles milagres mencionados na Escritura. E
que os Apóstolos e milhares de outros viram os milagres de Cristo,
as igrejas viram os milagres dos Apóstolos[5], ouviram eles falarem
em línguas não aprendidas por eles[6], e tinham os mesmos dons
extraordinários comunicados entre eles[7]. E esses, sendo
abertamente e frequentemente manifestados, convenceram os
descrentes, e foi abertamente instado pelos apóstolos para calar a
boca dos opositores e confirmar os crentes. Quem poderia ter
desprezado seus argumentos ou a fé que eles sustentavam, se tudo
isso tivesse sido fantasia, dos quais deles mesmos foi dito serem
testemunhas oculares e agentes. Então a mera existência das
igrejas é um testemunho da questão de fato. E que testemunho do
interesse e aprovação de Deus pode ser maior, que a ressurreição
de Cristo e todos esses milagres?
Direção nº 8
Considere como nenhum de todos os hereges e apóstatas em
algum momento contradisseram as questões de fato ou deixou no
mundo algum tipo de refutação deles, que eles não quisessem por
maldade, ou encorajamento, mesmo tendo a oportunidade de fazer.
Direção nº 9
Considere como que nenhum de todos aqueles milhares que
afirmaram os milagres, são mencionados na História de terem se
arrependido disso, tanto nas suas saúdes ou mesmo na hora de
suas mortes, mesmo que tenha sido tão hedionda a oposição que
enganou o mundo numa causa tão grande, que a consciência de
alguns homens na hora da morte, especialmente aqueles que
colocaram todas as suas esperanças na vida futura, deveria ter se
arrependido.
Direção nº 10
Considere que as testemunhas de todos aqueles milagres e
todas as igrejas que creram neles, foram ensinados por sua própria
doutrina e experiência, para abandonar tudo o que eles tinham no
mundo, e serem censurados, odiados e perseguidos por todos os
homens, sendo como ovelhas entre lobos, à espera da morte, e tudo
isso em favor da esperança da bem-aventurança prometida a eles
por um Cristo crucificado, mas ressurreto. Para que nenhum objetivo
mundano pudesse movê-los para o engano, ou deixá-los dispostos
a serem enganados.
Direção nº 11
Considere o quanto impossível seria, que tantos homens
entrassem em acordo para enganar o mundo, e isso tudo por nada,
e para o sua própria perda e morte, e que eles todos entrassem em
acordo com as mesmas narrativas e doutrinas de uma forma tão
unânime, e que nenhum deles em momento algum confessassem o
engano, e desgraçassem o resto. Como um todo, isso parecerá não
apenas uma impossibilidade moral, mas uma impossibilidade
natural, especialmente considerando seus atributos e distância entre
eles, havendo milhares em vários países diferentes, que nunca
viram as faces dos outros deles, muito menos entraram em uma
aliança com eles, para poderem enganar o mundo.
Direção nº 12
Considere a maneira pela qual as doutrinas e escritos dos
apóstolos e outros mensageiros do Evangelho foram entregues a
nós, sem nenhuma possibilidade de alteração dos materiais. Porque
as Escrituras Sagradas não foram deixadas sob o cuidado de
homens comuns ou de um grupo de Cristãos de um país, que
poderiam ter concordado entre si sobre corromper ou alterar os
escritos, mas foi o ofício de ministros comuns ler, expor e aplicá-los.
E cada congregação tinha um ou mais desses ministros, e o povo
recebeu as Escrituras como a lei de Deus, pela qual eles deveriam
viver e serem julgados, sabendo que ela serviria como sua
permissão para entrar nos céus. Portanto não era apenas possível
para um único ministro corromper o texto das Escrituras, pois os
outros ministros juntamente com o povo, rapidamente iriam reprová-
lo. Nem seria possível para aqueles de um reino trazer a todos os
Cristãos de todo o mundo para ele, sem uma grande quantidade de
consultas e oposição (se não totalmente), o que nunca foi registrado
até hoje.
Direção nº 13
Fique familiarizado tanto quanto você pode com a história da
Igreja, para que você saiba como o Evangelho foi plantado,
propagado, atacado e preservado até agora, e isso irá te satisfazer
muito mais do que as conversas incertas dos outros.
Direção nº 14
Julgue você mesmo se Deus, sendo o sábio e misericordioso
governante do mundo, iria permitir que os assuntos mais honestos e
sujeitos a Ele sobre o mundo, fossem deturpados de maneira tão
grande, pela pretensão de doutrinas e milagres procedendo Dele
mesmo, e que ninguém além Dele mesmo (ou alguém por sua
especial permissão) seria capaz de fazer, sem rejeitá-lo, ou dando
meios suficientes ao mundo para descobrir o engano. Pois,
certamente, Ele não precisaria nos enganar para nos governar. Se
você disser que Ele permite os maometanos façam isso, eu te
respondo: 1. A doutrina principal dos maometanos em favor da
adoração de um único Deus, contra toda idolatria, é verdadeira, e as
fantasias de seu pretenso profeta, não foram ordenadas ao mundo
por meio de milagres atestados de forma alguma, mas pela
afirmação de revelações, sem qualquer selo ou atestado divino, e
foram impostas no mundo pelo poder da espada.
2. E Deus deu ao mundo proteções suficientes contra eles, pela
nulidade da prova deles, e pela insensatez evidente de suas coisas
e escritos, para que o honesto e diligente facilmente irá escapar
deles.
Direção nº 15
Observe os efeitos sobrenaturais do Evangelho sobre a alma dos
crentes, poderosamente subjugando tanto sentido quanto os
maiores interesses carnais à vontade de Deus, e tornando homens
em sábios e bons, e colocando uma diferença admirável entre eles e
os outros homens. E então julgue se esse não é o selo de Deus,
tendo nele a Sua imagem, que Ele usa e honra sendo o instrumento
da impressão da Sua imagem sobre nós.
Direção nº 16
Note bem a vaidade de todas as outras religiões que prevalecem
sobre a terra. Idólatras e maometanos, que abertamente levam a
marca de sua própria vergonha, compartilharam entre eles quase
todo o mundo inteiro[8], pois o mero Deísmo é escasso em alcance
em qualquer lugar, e o Judaísmo não tem uma herança
considerável, e ambos deles sensivelmente são refutados pela
corrupção, necessidade e solidão do homem.
Direção nº 17
Note a grande diferença entre a parte Cristã do mundo (aqueles
que recebem o Cristianismo com sinceridade e seriedade), e todo o
resto do mundo. Aqueles que estão mais longe do Cristianismo e da
piedade, honestidade, civilidade ou qualquer porção ou conversa
louvável, muitos deles agem bestialmente ou impiedosamente, e o
resto é um pouco melhor apenas, e ignorância e brutalidade não
podem ser a perfeição do homem. Melhor, entre cristãos professos,
as multidões que levam nada além do nome, e odeiam a natureza e
a prática deles, são como suínos ou lobos, e alguns dos piores,
como parentes próximos do inimigo. Quando todos os que
receberam o Cristianismo em seus corações e vidas, são celestes e
santos, e (à medida que eles receberam) seus pecados são
mortificados, e eles se tornam devotos a Deus, e possuídos de
justiça, caridade, e paciência perante os homens, e são realizados
acima desse mundo, e desprezam aquilo que o resto do mundo tem
como felicidade e deleite. De modo que se o que faz o bem for bom,
então é a bondade da fé Cristã, visível a todos, que tem qualquer
familiaridade, razão, e imparcialidade para julgar.
Direção nº 18
Pense no que seria de você se você não tivesse se tornado
cristão? Sim, quais seriam as consequências se você tivesse caído
da fé Cristã? A vida não teria se tornado duvidosa? Você não
decidiria tomar o seu prazer no mundo, e satisfazer a sua carne e
negligenciar a sua alma, e se aventurar por quase todos os vícios
que parecessem necessários aos objetivos de sua carne. O
Cristianismo te limpou e te santificou, se você realmente foi
santificado, e se você abandonar o Cristianismo - que Deus não o
permita! - rapidamente você mostraria a diferença por uma vida
carnal, suja e mundana.
Direção nº 19
Quando você enxerga a divina revelação e autoridade, isso já é
suficiente para silenciar suas dúvidas e sofismas sobre pormenores
ou circunstâncias. Pois você sabe que Deus é verdadeiro e infalível;
e você sabe que você é tolo, um verme ignorante, que está
totalmente perdido, quando não tem ninguém por perto para te fazer
passar por todas as dificuldades e que todas as artes e ciências
parecem cheias de dificuldades e contradições para ignorantes e
novatos inexperientes.
Direção nº 20
Permita durante todo o seu aprendizado, pelas dificuldades que
podem surgir sobre tradução, ambiguidade entre os idiomas
humanos, mudança ou variedade de palavras e costumes, tempo,
lugar, e outras circunstâncias, e especialmente pela sua própria falta
de familiaridade com tudo isso, que então suas próprias
enfermidades e ignorância e erros de raciocínio, não sejam
atribuídos à Verdade das Escrituras.
Direção nº 21
Entenda o uso apropriado das Escrituras Sagradas e quão divina
ela é, para que você não seja tentado a descrer, por colocar nela
aquilo que nunca foi intencionado, e então encontrar suas
expectativas sem causa frustradas. Ela não é tão divina em suas
clausulas, estilo, ordem, ou modos e matérias circunstanciais, como
se toda a exatidão pudesse ser esperada nela, ou que Deus
colocasse tudo em um livro. Nem foi intencionada para ser como um
sistema para a física, ou lógica, ou qualquer ciência ou arte
subserviente, mas ainda assim ela é a infalível revelação da vontade
de Deus, para o governo da Igreja, e para conduzir os homens à
Vida Eterna, e ela foi ordenada e escrita de modo a partilhar de tais
enfermidades humanas, sem por em dúvida a verdade ou eficácia
delas, mas para fazê-las mais adequadas à toda generalidade do
homem, os quais suas enfermidades necessitam de um jeito e
maneira tais para serem lidadas. Para que, assim como um filho de
Deus herda um corpo dos pais terrenos, que ainda é de Deus, e tão
de Deus, como participante das enfermidades desses pais; ou
ainda, como Adão tinha um corpo herdado de Deus, mas também
da Terra, e portanto, frágil, tinha uma alma vinda diretamente de
Deus, que era a mais pura e divina, assim as Escrituras tem seu
estilo, linguagem e método vindas de Deus, tendo nela nada de
inadequado para seus objetivos, e ainda não tão de Deus, como se
Ele mesmo tivesse por meio dela mostrado Sua mais perfeita
sabedoria ao extremo, e ainda tendo nada nela de imperfeição
humana, mas a verdade e bondade que estão na alma das
Escrituras, vêm direto de Deus. Os estilos e métodos de seus
escritores podem ser variados, mas a mesma alma anima todas as
partes. Não é desonra alguma às Sagradas Escrituras se Cícero
fosse escolhido pelas pessoas, pela sua pureza de estilo, fraseado e
oratória, ou ainda para outros usos comuns, o que, certamente, ele
deva ser escolhido para usos específicos, sendo, portanto, o melhor
estilo para um ato do Parlamento, que é próximo ao pior estilo para
um discurso. Cada meio tem o seu fim.
Direção nº 22
Considere quantas aparições de assistência e feitiçarias e outras
evidências sensíveis de espíritos interagindo com a humanidade,
deu a eles fé, dos quais eu escrevi nos tratados já mencionados,
portanto, passemos adiante.
Direção nº 23
Considere quais vantagens a fé pode ter, observando a natureza
e a tendência a alma, e suas expectativas e medos em relação à
vida que há de vir, junto a mundos superiores que certamente são
possuídos por habitantes mais nobres. Aquele que vê cada canto da
terra, mar, e ar habitado, e pensa o que a terra é em comparação
com todas as esferas gloriosas e grandes acima da terra, irão
dificilmente sonhar que elas são todas vazias de habitantes, e que
não há espaço suficiente para almas.
Direção nº 24
O ministério dos anjos, dos quais providências particulares nos
dão grande probabilidade, nos dão alguma ajuda para aquela
doutrina que nos diz que nós devemos viver com os anjos, e que
devemos subir a uma maior familiaridade com eles, que
condescendem a um grande serviço por nós atualmente.
Direção nº 25
A inimizade universal e grandiosa de homens corruptos contra a
santa doutrina, seus caminhos, e contra os servos de Cristo, e a
guerra aberta em cada reino, e a guerra secreta em cada coração,
que é mantida entre Cristo e Satanás por todo o mundo, com a
tendência de toda tentação, violência e constância em todas as
gerações para todas as pessoas contra Cristo, os Céus, e Sua
santidade, declaram notoriamente que a doutrina de Cristo e Sua
vida tendem para nossa salvação, que o inimigo tão maliciosamente
e incessantemente se opõe, e assim suas tentações dão grande
vantagem à alma do tentado contra o seu tentador, pois não é em
troca de nada que o inimigo de nossas almas faz tão forte oposição.
E o fato de haver um inimigo, que assim se opõe a Cristo e nos
tenta, não apenas aparições sensíveis e feitiçarias comprovam, mas
as tentações sensíveis que, por sua forma e maneira, dizem-nos
claramente de onde vêm. Especialmente quando todo o mundo é
formado como dois exércitos hostis, um lutando sob a autoridade de
Cristo e o outro sob a autoridade do inimigo, e assim é desde Caim
e Abel até hoje.
Direção nº 26
As profecias de Cristo sobre a destruição de Jerusalém e o
ajuntamento da Sua Igreja, e o uso cruel delas pelo mundo, dão
grande apoio a nossa fé quando as vemos serem cumpridas com
tanta pontualidade.
Direção nº 27
Note se não é a respeito de coisas temporais que a tua fé é
assaltada; e não venha com uma mente sensual e enviesada
procurar algo dentro desse grande mistério. Mundanidade, orgulho e
sensualidade são inimigos mortais da fé e onde eles prevalecem
irão mostrar sua inimizade, e cegarão a mente. Se a alma está
mergulhada em lama e lodo, ela não pode ver as coisas de Deus.
Direção nº 28
Venha a Ele com humildade e com consciência de sua
ignorância, e não com arrogância e auto-engano, como se tudo
precisasse estar errado pois sua mente vazia e insensata não
consegue perceber o que é certo. Os apóstatas mais famosos que
eu conheci, eram homens de um orgulho e presunção notórias.
Direção nº 29
Não provoque a Deus pecando deliberadamente contra a luz que
você já recebeu, e a abandone para se entregar para a infidelidade.
“Pois os homens não receberam o amor a verdade, para que sejam
salvos; por isso Deus os envia a uma forte ilusão, para que todos
sejam amaldiçoados pois não creram na verdade, mas tiveram
prazer na injustiça.”[9] Obedeça a doutrina de Cristo o tanto quanto
você a conheça e você reconhecerá que ela vem de Deus.[10]
Direção nº 30
Não sejam tentados pela infidelidade, por meio de uma pretensa
humildade em rebaixar suas faculdades naturais, quando vocês
deveriam ser humilhados por suas depravações morais. Vilipendiar
a alma, sua razão e seu livre-arbítrio natural tendem a levar as
pessoas rumo à infidelidade, por nos fazer pensar que somos nada
além de animais inferiores, incapazes de uma vida superior com
Deus. Viver de uma forma humilhante, por causa da corrupção da
razão e do livre-arbítrio, tende a nos mostrar a necessidade de um
médico e isso auxilia nossa fé em Cristo.
Direção nº 31
Não julgue uma causa tão grande por percepções repentinas, ou
na surpresa de uma tentação, quando você não tem tempo para
procurar todas as evidências de fé e juntá-las para tomar uma visão
completa e deliberada de toda a sua causa. Se trata de um mistério
tão grande que é requerida uma mente vazia e limpa, livre de
preconceitos, abstraída de distrações e enganos, que, com a melhor
assistência e consideração, deve ser colocada totalmente a
disposição para você discernir a verdade. E, se foi com a melhor
assistência e consideração que você foi convencido da verdade e
então você deixar cada pensamento repentino, ou tentação, ou
dificuldade parecerem o bastante para questionar tudo de novo, isso
é infidelidade contra a verdade, um caminho para resistir às mais
claras evidências e nunca ter feito isso. É como se você devesse
responder seu adversário na Corte quando suas testemunhas estão
todas dispensadas ou longe, e todas as suas provas não estão
presentes, e seu conselheiro e advogado também. É como a
entrega de um longo e intrincado relato que um homem terminou
com estudo e tempo hábil, e quando ele o completou, alguém o
questiona sobre um pormenor, e outro sobre outro pormenor,
quando seus relatos não estão presentes, não é adequado para ele
responder cada pormenor, nem questionar seu próprio relato até
que ele tenha oportunidade e apoio para colocar todas as provas na
mesa novamente.
Direção nº 32
Se o trabalho parece muito difícil para você, vá e se consulte com
crentes mais sábios e experientes, que podem facilmente responder
as dificuldades que te deixam perplexo e que podem te levar à
tentação. A modéstia te dirá que a vantagem do estudo e
experiência podem fazer qualquer um mais sábio em sua própria
profissão, e colocam os outros acima de você, a medida que você
tem menos delas.
Direção nº 33
Lembre-se que o Cristianismo é o caminho mais seguro para sua
esperança eterna, e as matérias desta vida que fazem os homens o
abandonar são uma ninharia transitória, você não deve se tornar um
perdedor por causa delas, e, portanto, você deve estar convicto de
que este é caminho mais seguro.
Direção nº 34
Não julgue uma causa tão séria em tempos de melancolia,
quando os medos e confusões te fazem inapto. Nesse caso, ou em
qualquer momento em que Satanás perturbar a sua fé estabelecida,
ou te tentar, em seu prazer em levantar novas questões em casos
resolvidos ou verdades já discernidas, abomine suas sugestões, e
não dê a ele espaço em seus pensamentos, mas lance-os de volta
no rosto do tentador. Não há nenhum melancólico entre vários que
não seja violentamente agredido com tentações para blasfemar ou
deixar de crer, quando eles têm nada além da metade de suas
razões e não têm compostura de mente para debater tais
controvérsias com o inimigo. Não é adequado para eles nessa
incapacidade escutar qualquer uma de suas sugestões, que os
levam a disputar os fundamentos de sua fé, mas devem ao
contrário, expulsá-las para longe deles com resoluta repugnância.
Nem deveria nenhum Cristão, que é profundamente estabelecido no
verdadeiro fundamento, satisfazer o inimigo de tal forma a disputar
com ele a qualquer momento que ele nos provoca para isso, mas
devemos nos esforçar em fortalecer a nossa fé, e destruir os
resquícios de incredulidade.
Direção nº 35
Lembre-se que Cristo propagou Sua religião juntamente com Seu
Espírito e Sua Palavra e Ele mesmo executou o que Ele ordenou.
Pois embora hajam evidências suficientes da credibilidade de Sua
Palavra, ainda a mente cega e corrupta, e os corações perversos
dos homens, precisam da cura pela Sua graça medicinal antes de
crerem de forma efetiva e salvadora em uma doutrina que é tão
santa, elevada e celestial, e que controla tão bem suas luxúrias.
Desconfie de seu coração corrupto e invoque fervorosamente pelo
Espírito de Cristo.
Direção nº 36
Trabalhe fervorosamente pelo amor de cada verdade que você
crê para sentir o poder regenerador delas em seus corações, e o
poder reformador delas em sua vida, especialmente para que você
avance no amor de Deus, para uma vida e mente celestial. Esse
será um dos maiores reforços contra todas as tentações para a
incredulidade, pois o coração agarra mais rapidamente o Evangelho
que somente a mente. A semente é lançada na terra e se ela é
estimulada e forma raiz, é melhor preservada, e quanto mais
profundamente enraizada mais certamente ela permanece; mas se
ela morre, perece e se vai. Quando a semente da Santa Palavra
produz a nova criatura, ela é certa e salva, mas quando ela é retida
apenas no cérebro como uma opinião morta, qualquer tentação
pode derrubá-la. É uma grande vantagem que o Cristão prático e
sério tem sobre qualquer hipócrita e insatisfeito: o amor irá ser mais
firme que a crença morta. O amor é a graça que permanece para
sempre, e essa é a fé duradoura que trabalha pelo amor. O cristão
experiente sentiu tanto do poder e da bondade da Palavra que se
você embaralhar sua cabeça com raciocínios sutis contra ele, ainda
assim o seu coração e experiência não vão permitir que ele se vá.
Ele experimentou de uma forma tão doce que ele não acreditará no
que é amargo, mesmo que ele não consiga responder tudo o que é
dito contra ele. Se alguém tentar persuadi-lo a acreditar no mal que
é dito pelo seu amigo mais querido ou pelo seu próprio pai, o amor e
a experiência irão melhor lhe preservar do que o raciocínio poderia.
A nova criatura, ou nova natureza nos crentes, e a experiência do
amor de Deus comunicado por Jesus Cristo em suas almas, são
testemunhas constantes da Palavra de Deus, aquele que acredita
testemunha em si mesmo, que o Espírito Santo que foi dado a ele é
um testemunho objetivo ou uma evidência, e uma evidência efetiva.
Sobre isso leia o meu “Tratado da Infidelidade.” Homens não
santificados podem ser facilmente levados pela infidelidade, pois
eles nunca sentiram a renovadora e estimulante obra da fé, nem
foram levados por ela ao amor de Deus, e a uma mente e vidas
santas e celestes. Aqueles que nunca foram cristãos de coração são
rapidamente levados a serem cristãos apenas em opinião e nome.
Pergunta
Por qual razão, evidência ou obrigação, os judeus deveriam
acreditar nos profetas? Sendo que Isaías, Jeremias, Ezequiel, etc.,
não operaram nenhum milagre, e haviam falsos profetas nos dias
deles, como poderia qualquer homem saber que eles eram de fato
enviados por Deus, quando eles afirmaram isso?
Resposta
Menciono essa objeção ou caso, porque em meu livro “Reasons
of the Christian Religion” ela foi esquecida - o qual, para todo o
resto, encaminho o leitor -, e porque é uma das perguntas mais
difíceis em relação à nossa fé.

1. Aqueles que pensam que cada livro das Escrituras provam a si


mesmo serem divinos, por luz própria, pela sua própria matéria,
estilo e outras propriedades, dirão com razão, que por ouvir os
profetas então, ou lê-los agora, essa evidência intrínseca e
satisfatória foi compreendida. Tudo o que posso dizer disso é que
há tais características nas profecias que são ajudas perante a fé,
que as fazem mais facilmente dignas de fé de que elas são de
Deus, mas não tanto como eu pudesse ter sido mais determinado
nisso (especialmente como foram entregues por parcelas), se não
houvessem mais delas.

2. Também não concordo com a afirmação que diz que, aqueles


que têm o mesmo espírito, conhecem o espírito dos profetas. Pois,
a) Isso suporia que estaria claro que ninguém que não fosse capaz
de acreditar neles não tinha o mesmo espírito e, b) o espírito de
santificação não é suficiente para nossas inspirações em
discernimento profético. O dom de discernir espíritos não é comum
a todos os santificados.

3. É o bastante ser observado que Deus nunca enviou algum


profeta para criar uma lei ou aliança sob a qual a salvação das
pessoas dependeria, sem o testemunho de milagres
inquestionáveis. Moisés operou numerosos milagres em público, ao
ponto de controlar e refutar os milagres contraditoriamente
parecidos no Egito, e Cristo e Seus apóstolos operaram mais
milagres que Moisés, para que essas leis e alianças pelas quais
Deus governaria e julgaria o povo fossem todas confirmadas acima
de qualquer exceção.

4. Deve ser observado que muitos outros profetas também


operaram milagres para confirmar suas doutrinas, e provar que eles
eram enviados de Deus, como fez Elias e Eliseu.

5. Também deve ser observado que havia uma escola de


profetas[11], ou sociedades deles[12] naqueles tempos, onde eram
educados de uma forma que os equipava para a recepção de
inspirações proféticas, quando agradava a Deus os dar. Não que a
simples educação fez de qualquer pessoa um profeta, nem que os
profetas tiveram em todos os momentos presente neles o dom de
profecia; mas agradou a Deus possuir a diligência ordenada a
homens, de forma que Ele poderia unir Sua benção a uma
educação, e naqueles momentos com Ele pensou satisfazer,
iluminá-los por visões e revelações acima de qualquer outro
período, e por isso, é falado de Amós, como se fosse algo
extraordinário, que Ele foi feito um profeta sendo um pastor de
ovelhas.[13]

6. Portanto, um profeta entre os Judeus era conhecido como


alguém que, geralmente, antes dessas profecias gravadas deles,
que nós temos agora nas Escrituras Sagradas: a. Os espíritos dos
profetas que eram sujeitos aos profetas, eram julgados pelos
profetas que tinham de fato o Espírito Santo, e então o povo tinha o
testemunho dos outros profetas acerca deles.
b. A direção do próprio Senhor para reconhecer um verdadeiro
profeta era o cumprimento daquilo que foi profetizado.[14] Era assim
antes que eles fossem recebidos entre os profetas, eles davam
satisfação para a sociedade dos profetas pelos eventos das coisas
profetizadas por eles.
c. Ou eles poderiam ter forjado milagres antes de terem satisfeito
os membros da escola do seu chamado, embora esses milagres
não estivessem todos mencionados nas Escrituras.
d. Ou os outros profetas pudessem ter algum testemunho divino
acerca deles por meio de visões, revelações, ou inspirações de si
mesmos. Tudo isso para que o povo não fosse deixado à
credulidade de afirmações nuas e não comprovadas de nenhum que
dissesse que foi enviado por Deus.

7. Haviam alguns sinais dados por alguns dos profetas para


confirmarem suas palavras. Por exemplo, as profecias do profeta
Isaías sobre a doença do rei Ezequias e sua recuperação,[15] e a
sombra que retrocedeu em dez graus na escadaria do rei Acaz,[16]
etc., e muitas outras que possam ter acontecido, mas que não são
do nosso conhecimento.

8. Nem todas as profecias eram de obrigações iguais. As


primeiras profecias de qualquer profeta que ainda não haviam
trazido nenhum atestado por milagres, e que nem ainda haviam
profecias para serem cumpridas, puderam ser revelações
misericordiosas de Deus, que poderia obrigar os ouvintes a uma
consideração reverente, e uma interrogação sobre a autoridade do
profeta, e uma espera em suspense até que eles vissem se
aconteceria, mas o cumprimento das primeiras profecias aumentava
suas obrigações. Algumas profecias que falavam de acontecimentos
temporais (cativeiros e libertações) poderiam primeiramente (antes
que os profetas produzissem algum atestado divino) ser uma
predição nua em vez de uma lei, e se os homens não cressem, isso
não os faria de maneira nenhuma, culpados de pecado, mas eles
apenas recusaram aquele aviso de um julgamento temporal, que
seria útil para eles quando eles receberam.
9. Mas nossa obrigação atualmente em crer nas mesmas
profecias da Escritura é muito maior, porque vivemos em uma era
onde muitas delas já foram cumpridas, e o resto delas foi atestado
por Cristo e pelos apóstolos, que provaram seu atestado por
numerosos milagres.

10. Quando os profetas reprovaram os pecados conhecidos do


povo, e chamaram os homens para cumprirem os deveres que a lei
ordenava, nenhum homem faria mais mal a si mesmo por obedecer
tais profetas, pois a matéria de suas profecias estavam todas
encontradas na lei do próprio Deus, que deve ser obedecida, e essa
é a parte principal das profecias registradas.

11. E qualquer homem que falou contra qualquer parte da lei de


Deus (por revelação natural ou sobrenatural) não pode ser crido,
porque Deus não pode falar contra si mesmo.

12. Mas os próprios profetas tinham outro tipo de obrigação, que


era crer em suas próprias visões e inspirações mais do que
qualquer um de seus ouvintes, pois a revelação grandemente
extraordinária de Deus era como a luz, que imediatamente se revela
a si mesma, e compele o entendimento para saber que ela é
realmente de Deus, e tais eram as revelações que vieram por meio
de aparições de anjos e visões. Portanto, os próprios profetas
poderiam estar amarrados a algo mais que apenas suas palavras
obrigavam seus ouvintes a fazer, pois eles mesmos foram
feridos[17], ficaram nus[18], se alimentaram sobre fezes[19], etc., e
esse foi o caso de Abraão ao oferecer Isaque[20]. Ainda assim Deus
nunca ordenou algum profeta, ou a alguém por meio dos profetas, a
fazerem algo simplesmente mal, mas Ele ordenou apenas coisas
que eram de natureza mutável, e que suas vontades poderiam
alterar[21], e torná-las para o bem, e esse foi o caso de Abraão, se
bem considerado[22].
[1] Referente ao Credo Niceno, que diz: “Reconheço um único Batismo
para a remissão dos pecados (traduzido livremente pelo tradutor)
[2] Marcos 16:16; Atos 13:39
[3] Em latim ‘in esse cognoscibili’
[4] Em latim ‘in esse cognito’
[5] Atos 3:1-6; 9:17-18; 9:36-41; 14:8-10; 20:9-10, entre outros
[6] Atos 2:4, 6-12
[7] Atos 6:8; 9:17-18, entre outros
[8] Observar o contexto histórico da época
[9] 2 Tessalonicenses 2:10-12 (traduzido livremente)
[10] João 7:17
[11] 2 Reis 2:3
[12] 1 Samuel 19:20
[13] Amós 7:14-15
[14] Deuteronômio 18:22; Jeremias 28:9
[15] Isaías 38:1-5, 9, 21; 2 Reis 20:1-7
[16] Isaías 38:7-8; 2 Reis 20:9-11
[17] Jeremias 20:2
[18] Isaías 20:2-3
[19] Ezequiel 4:12
[20] Gênesis 22:1-14
[21] Ezequiel 4:14-15, por exemplo.
[22] Gênesis 22:11-12

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