Professional Documents
Culture Documents
Book 266052
Book 266052
Educação e
Cultura
Indaial – 2021
2a Edição
Elaboração:
Prof. Carlos Odilon da Costa
C837s
ISBN 978-65-5663-682-5
ISBN Digital 978-65-5663-683-2
CDD 370
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao livro de Sociedade, Educação e Cultura. Nele,
você percorrerá um caminho de conhecimentos ligados à Sociologia, à Antropologia e
relacionados ao mundo da Educação.
O mundo atual está cada vez mais complexo e multifacetado. Somente com
olhares aprofundados das origens e desenvolvimento de alguns conceitos e temas é
que o sujeito profissional se tornará um ser autônomo e cidadão consciente de seu
papel na história humana.
Bons estudos!
QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 85
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................149
REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 217
UNIDADE 1 -
SOCIOLOGIA, AUTORES
E CONCEITOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
ORIGEM DA SOCIOLOGIA
1 INTRODUÇÃO
A origem da Sociologia está vinculada à história do mundo europeu. Pensadores
e obras do continente europeu iniciaram o debate e a reflexão em torno do que seria o
conhecimento sociológico transformado em Ciência.
Por isso, vamos entrar em nossos estudos no período conhecido como Idade
Medieval. Veremos as principais características, como era organizada a Sociedade, o
principal conhecimento produzido na época e sua relação com o movimento daqueles que
defendiam o conhecimento sociológico ou aqueles fatos, acontecimentos e conhecimentos.
Quase tudo girava em torno das coisas de Deus ou do próprio Deus pregado
e comunicado pela Igreja da época (Igreja Católica Apostólica Romana). Esse cenário
começou a mudar por volta do ano 1.000, com o surgimento das primeiras Universidades,
com o fim da Idade Média e com o espírito renascentista, que povoou a Europa.
3
girava em torno das grandes extensões de terras, os Feudos. Esse sistema ficou conhecido
como Feudalismo. As leis e os códigos de condutas sociais eram elaborados a partir das
Tradições da Nobreza e da interpretação Bíblica. A visão de mundo, religião, educação,
conhecimento, meio ambiente e cultura: Nessa época, predominava o conhecimento
Teológico, marcado pela supremacia da Igreja Católica Apostólica Romana (Igreja e Fiéis). A
cultura era elaborada a partir do Teocentrismo. A natureza era obra de Deus e era perfeita.
NOTA
Teocentrismo é uma doutrina que toma Deus como elemento central.
Viver na sociedade medieval era viver dentro dos limites da Igreja Católica Apostólica
Romana. Diretrizes, princípios, normas estabelecidas na vida social tinham como parâmetro
a interpretação da Bíblia por parte dos membros da Igreja. O destino da vida humana era
imposto pela interpretação do clero, ou seja, o conhecimento produzido para interpretar e
compreender a vida humana em todos os sentidos passava pelo crivo do conhecimento
religioso amparado nas leituras bíblicas das autoridades religiosas da época.
4
Entraremos agora em algumas características importantes para a compreensão
da configuração e condição da vida na sociedade medieval. De acordo com Schipansk e
Pontarolo (2009), o tempo na Idade Média e a relação com elementos religiosos e sociais
se apresentava da seguinte forma:
Tempo e
relações Características
estabelecidas
Para nós pode parece estranha a forma como os homens e mulheres
medievais viam e viviam o seu tempo, pois estamos habituados a uma rotina
Viver seu tempo frenética, sempre correndo contra o tempo, preocupados com o próximo
compromisso. A forma como os indivíduos entenderam e viveram o seu
tempo é muito importante para que possamos compreender sua sociedade.
No período medieval vemos uma força grandiosa da Igreja sobre muitos aspectos
Multiplicidade da sociedade e, de fato, o cristianismo influenciou profundamente a relação das
de tempo pessoas com o tempo. Além disso, nesse período havia uma multiplicidade de
tempos: o tempo natural e rural; o tempo senhorial; o tempo religioso.
Estamos falando de uma época em que a agricultura era a principal
atividade econômica e, portanto, uma época em que a terra e o seu uso
eram fundamentais para a sobrevivência. A natureza imperava na medição
e contagem do tempo rural. Existia o tempo das chuvas e o das secas; o
do dia e o da noite; o do plantio e o da colheita; o do inverno e do verão.
O tempo natural
É o tempo dos dualismos tão enfocados durante o período medieval: luz
e rural
e escuridão, calor e frio, ócio e trabalho, vida e morte. Esse tipo de tempo
é cíclico, lento e longo, e os camponeses estavam habituados a esperar,
pacientes, pela mudança – se é que ela ocorreria. Esse cenário é uma
representação imagética do tempo cíclico: um fato precede o outro, mas
voltará a acontecer – como as estações do ano.
O tempo senhorial é, antes de tudo, militar, isso porque tem como pontos
O tempo
culminantes no ano os períodos dos combates, das reuniões da cavalaria
senhorial
e dos adoubements.
Os mosteiros levaram para além de suas muralhas o seu ritmo de vida. As
O tempo atividades diárias eram ritmadas pelo badalo dos sinos e pelo eco das orações
religioso vindas dos interiores dos mosteiros. A importância dos sinos na Idade Média era
muito grande, pois cada som emitido significava um acontecimento diferente.
Cerimônia de iniciação dos jovens para a cavalaria, na qual acontecia a
Adubamento
benção cristã do novo cavaleiro.
Certamente, marcava os principais eventos da vida urbana, quer chamando
os fiéis para a celebração dos ofícios divinos, quer anunciando as festas; ora
O bater dos avisando o início e o fim do trabalho, ora lembrando triste acontecimento ou,
sinos ainda, alertando as pessoas para uma ameaça iminente. Toda a população
sabia o significado dos diversos toques, que, apesar de serem incessantes,
não perdiam o seu efeito no espírito dos ouvintes.
O ano também era marcado pela liturgia e pelas datas festivas relacionadas
à vida de Cristo, como o Natal, a Páscoa, a Ascensão e o Pentecostes. Aos
poucos foram se inserindo festas em honra à Virgem Maria e aos demais
Liturgia
santos. Esses festejos normalmente marcavam acontecimentos importantes
para questões econômicas, como, por exemplo, o pagamento de tributos
aos senhores ou a festa da colheita.
5
O clero era, também, o responsável pela medição do tempo útil e também
pelo tempo destinado ao descanso no Domingo, pela liturgia cristã que
definia quais eram os dias santos e de festa, bem como os dias de trabalho
e os de jejum. O tempo da Igreja era dominante no medievo, mas pede que
Clero tomemos cuidado ao fazer essa afirmação, pois mesmo que a ideologia
cristã tivesse total domínio sobre a população, a maioria dos camponeses
não sabia e nem se importava que dia fosse (com exceção dos domingos e
dias de festas), e é bem provável que não soubessem nem mesmo qual era
sua própria idade e o dia do seu aniversário.
Segundo a narrativa da Igreja sobre a criação do mundo e do homem, eles
Criação do foram criados em seis dias e o Criador descansou no sétimo, contemplando
mundo a sua obra. O domingo representava esse dia, e por isso devia ser reservado
às orações e ao descanso.
Horas canônicas: São as várias partes do Ofício divino, escalonadas ao
longo do dia: Laudes, como oração da manhã; horas menores (Tércia, Sexta
e Nona, das quais se pode optar por uma única, hora intermédia, a mais
Horas canônicas adequada à hora do dia); Vésperas, ao anoitecer (considerada hora principal,
juntamente com Laudes); Completas, ao deitar; e Ofício de Leitura, com
o valor de tempo de oração meditativa durante a noite, embora podendo
celebrar-se a qualquer hora.
A relação das pessoas com o tempo na Idade Média explica muito sobre seu
modo de vida. No entanto, vamos destacar outro aspecto fundamental dessa época: o
espaço, os locais de reuniões, de trabalho, de estudos. Segundo Schipansk e Pontarolo
(2009), assim se apresentava a relação espaço e ser humano no período medieval:
Espaços e
Configurações
relações
A primeira condição para o funcionamento do sistema feudal era a fixação
dos homens ao solo. Ora, a ligação dessas pessoas com a terra é indiscutível,
Fixação ao solo pois a base da sobrevivência era a agricultura. Além do mais, é a organização
espacial em feudos que estabelece o lugar de cada um: vassalo e suserano,
servo ou senhor.
A divisão espacial em paróquias mostra que a Igreja teve importância ímpar
também nesse aspecto, a criação do quadro paroquial. A paróquia reunia os
grupos, formando aldeias ao redor da igreja (que era um edifício sacralizado) e
Paróquias do cemitério. O lugar central e para onde convergiam as atenções e os olhares
era o altar – lugar onde a Igreja confirmava sua unidade através da eucaristia.
Essa distribuição populacional ao redor dos edifícios sagrados origina um
espaço “heterogêneo e hierarquizado, polarizado pelos santos e suas relíquias”.
No entanto, não podemos confundir vínculo à terra com imobilidade, pois,
ao contrário do que se acredita, nem todos os homens e mulheres da Idade
Média passavam a vida inteira no lugar onde nasceram, muitos deles viviam
Vínculo a terra em constante movimentação e peregrinação. Aparece como um elemento
fundamental do encelulamento, que contribui para a estabilidade das
populações rurais e, então, para a solidez do laço entre os homens e o seu
lugar, indispensável ao funcionamento da dominação feudal.
6
A movimentação se dava pelo fato de que, nesse tempo, as propriedades
podiam ser provisórias. Os indivíduos estavam inseridos em uma hierarquia
que determinava sua posição social: o senhor tinha todo o direito de retomar
do servo ou do vassalo a extensão territorial a ele concedida, desde que o
Movimentação
transferisse para outra da mesma proporção. Entretanto, esse novo local
poderia estar situado bem longe do local de origem. Já a peregrinação estava
associada às experiências de exterioridade e poderia funcionar como um
meio de reforçar o vínculo com o lugar de origem.
O espírito religioso que imperava nessa época empurrava as pessoas para
a estrada. A busca pelos lugares santos e pelas relíquias sagradas movia
boa parte da população medieval. A travessia era, na maioria das vezes,
Religiosidade
cercada de dificuldades: os caminhos longos e tortuosos, o frio e a fome, o
medo da noite e da floresta, os ladrões e o mau estado das estradas e dos
caminhos percorridos.
A peregrinação, portanto, não visava a satisfação do desejo pessoal
de conhecer novos lugares, nem mesmo era uma atividade de lazer. A
peregrinação era praticada como uma penitência, como uma provação.
Peregrinação Era uma das formas de purgar pecados graves, de se sacrificar pelo perdão
divino. Essas mobilidades e deslocamentos deixavam cada vez mais clara
para os indivíduos a importância dos seus lugares e isso reafirmava neles o
laço imaginário que os prendia ao seu espaço.
7
3 RENASCIMENTO E SOCIEDADE
Entre o final da Idade Média e início da Idade Moderna, o conhecimento dito
científico começa a colocar em questão muitos conhecimentos da época e o próprio
entendimento do mundo pelo conhecimento religioso/teológico. Por exemplo,
lembremos a descoberta de que a Terra não era o centro do Universo. A Revolução
Francesa, por exemplo, foi inspirada nas ideias iluministas e representa o principal
marco desse movimento intelectual (Renascentista).
NOTA
O iluminismo foi um movimento filosófico e intelectual que aconteceu entre os
séculos XVII e XVIII na Europa, em especial, na França. Os pensadores iluministas
defendiam as liberdades individuais e o uso da razão para validar o conhecimento.
Também chamado de “Século das Luzes”, o movimento iluminista
representa a ruptura do saber eclesiástico, isto é, do domínio que
a Igreja Católica exercia sobre o conhecimento. E dá lugar ao saber
científico, que é adquirido por meio da racionalidade.
O iluminismo é um movimento da Idade Moderna que rompeu com
o teocentrismo – doutrina que coloca Deus no centro de tudo – e
passou a ver o indivíduo como o centro do conhecimento.
8
Racionalismo, enquanto Teoria do Conhecimento pela razão opõe-se
ao misticismo, aos dogmas religiosos, às superstições. A teoria do
Racionalismo tem sido denunciada como sinônimo de irreligião. Ou
seja, o conhecimento que não aceita a Intuição, os valores humanos
ligados aos sentimentos. O Racionalismo expandiu-se, abrindo
novos horizontes do conhecimento. Ainda no século XVII, conquistou
espaços na política e nas artes (CRUZ; SILVA, 2011 p. 6421).
9
O afresco Escola de Atenas, do pintor renascentista Rafael, mostra os filósofos
Platão e Aristóteles (ao centro), além de outros estudiosos da Antiguidade. No
Renascimento, o pensamento da Antiguidade clássica foi retomado como base para
desenvolver novas ideias.
Características do Renascimento
10
4 AUGUST COMTE E SAINT SIMON
O Iluminismo floresceu na França, na Inglaterra, na Alemanha e nos Países
Baixos. A Filosofia Social Iluminista desdobrou-se em duas correntes: de um lado, os
Reformadores Sociais Moderados que buscavam um ajuste na sociedade aos interesses
da burguesia; de outro, os Radicais, que pareciam intuir vagamente os interesses de um
futuro proletariado. Os Moderados deram origem ao que mais tarde ficou conhecido como
o pensamento liberal conservador e positivista, e os Radicais deram origem aos Socialistas.
Saint Simon foi o autor de muitas ideias atribuídas ao seu secretário particular
August Comte. Seu pensamento ficou entre uma bifurcação ideológica: parte foi
aproveitada pelos conservadores e parte pelos socialistas. Foi o precursor do positivismo
e, em alguns aspectos, das ideias de Karl Marx, o mais importante teórico do socialismo.
Você pode notar acadêmico, que ele influenciou muito August Comte nessas
ideias de que a humanidade progrediu por etapas. Ao que parece, ele olha a humanidade
em seus tempos históricos: no início, a sociedade teria sido influenciada pela magia e
11
rituais sagrados; depois, viria a instituição da religião (idade média); a crítica humana
à influência religiosa no mundo (antropocentrismo e racionalismo), fase ou etapa dos
intelectuais, pensadores e filósofos; e, por último, a busca pelo conhecimento científico.
Por último, a maior das contribuições. Segundo Bins (1990, p. 15), Simon “propôs
a criação de uma ciência especializada, no estudo da conduta humana, a física social,
depois rebatizada por Comte de sociologia”.
12
FIGURA 5 – ISIDORE AUGUSTE MARIE FRANÇOIS XAVIER COMTE
O positivismo foi uma corrente teórica criada por Auguste Comte que influenciou
a política praticada nos primeiros anos do período republicano no Brasil.
13
Quais as principais características do positivismo? Confira:
14
NOTA
O método geral do positivismo de Auguste Comte consiste na observação
dos fenômenos, opondo-se ao racionalismo e ao idealismo, por meio da
promoção do primado da experiência sensível, única capaz de produzir
a partir dos dados concretos (positivos) a verdadeira ciência (na
concepção positivista), sem qualquer atributo teológico ou metafísico,
subordinando a imaginação à observação, tomando como base
apenas o mundo físico ou material. O positivismo nega à ciência
qualquer possibilidade de investigar a causa dos fenômenos
naturais e sociais, considerando este tipo de pesquisa inútil e
inacessível, voltando-se para a descoberta e o estudo das leis
(relações constantes entre os fenômenos observáveis).
15
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• Saint Simon foi o autor de muitas ideias atribuídas ao seu secretário particular August
Comte. Seu pensamento ficou entre uma bifurcação ideológica: parte foi aproveitada
pelos conservadores e parte pelos socialistas. Foi o precursor do positivismo e, em
alguns aspectos, das ideias de Karl Marx, o mais importante teórico do socialismo.
16
• O positivismo foi uma corrente teórica criada pelo filósofo francês Auguste Comte (1798-
1857), que defendia que a regra para o progresso social seria a disciplina e a ordem, o
que influenciou a teoria moral utilitarista de John Stuart Mill (1806-1873). Stuart
Mill reformulou o primeiro utilitarismo fundado por seu professor, o filósofo e jurista
Jerehmy Bentham. No Brasil, o positivismo político de Comte, renovado pela carga
moral utilitarista, influenciou a política praticada nos primeiros anos da Primeira
República (1889-1930), devido às referências positivistas trazidas pelos militares e
pelo primeiro presidente, o marechal Manuel Deodoro da Fonseca.
17
AUTOATIVIDADE
1 A Idade Média, para a maioria dos pesquisadores, foi um período conhecido Idade das
Trevas, ou seja, a Idade sem Luz, sem criatividade humana. A maior parte da história
desse período teve como fonte de compreensão, de interpretação da vida e tudo que se
relacionava com a sociedade, o conhecimento religioso ou o conhecimento teológico.
Referente ao modo de produzir as coisas na Idade Média, assinale a alternativa CORRETA:
2 Entre o final da Idade Média e início da Idade Moderna, o conhecimento dito científico
começa a colocar em questão muitos conhecimentos da época, além do próprio
entendimento do mundo pelo conhecimento religioso/teológico. Exemplo disso foi
a descoberta de que a Terra não era o centro do Universo. A Revolução Francesa
foi inspirada nas ideias iluministas e representa o principal marco desse movimento
intelectual. Sobre o Iluminismo, analise as afirmativas a seguir:
18
a) ( ) Segundo a filosofia política de Comte, existiam na história três estados: um
teológico; outro metafísico e, finalmente, o positivo.
b) ( ) O positivismo foi uma corrente teórica criada por Auguste Comte que influenciou
a política praticada nos primeiros anos do período republicano no Brasil.
c) ( ) Na visão utópica de Comte, nessa sociedade transformada imperavam as noções
de mérito e de cooperação.
d) ( ) Comte entendia que a humanidade precisava de relações de devoção. A devoção,
antes baseada na fé em Deus ou nos deuses, no positivismo, dá lugar para a fé na
ciência como única depositária de confiança da humanidade, surgindo o cientificismo.
19
20
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA E A
RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Sociologia, modernidade e Ciência: esse Tópico servirá para situar a reflexão
trazida neste livro de estudos sobre origem e o desenvolvimento da sociologia, ou seja,
apresentar o mundo europeu no início da modernidade e sua relação com os estudos
da sociologia da época. A sociedade moderna se caracterizou por símbolos, valores,
representações e instituições marcadas por determinadas formas de saber e de poder,
ocupantes de uma posição hegemônica. O exercício dessa hegemonia dependeu, em
grande medida, desde as conquistas dos grandes impérios sobre povos colonizados até
os modelos mais avançados de dominação, de estratégias próprias de apropriação do
espaço, origem e fundação de um território.
21
A vida humana se constitui dentro desse período por meio de grandes avanços
e desenvolvimentos em diversas áreas, como a Política, a Economia, a Cultura e a
Ciência. Angústias, certezas, esperanças, medos e mistérios cercaram o nascimento e
desenvolvimento desse período na história humana. O ser humano do período moderno
compreendeu que para viver e ser, nessa época, precisaria de muitos conhecimentos
para ter um mínimo de visão sobre a compreensão de habitar esse planeta e se aculturar
nas novas formas de convívio e de vida.
22
Você pode se perguntar: o que foi a Idade Moderna?
Idade Síntese
Pode ser entendida pelas grandes transformações ocorridas no
território europeu no período. Foi durante a Idade Moderna que os
europeus realizaram as Grandes Navegações e a Expansão Marítima,
criando as condições para a dominação de continentes inteiros,
Idade Moderna como a África e a recém-conhecida América. O domínio dessas
regiões resultou na conquista de inúmeras riquezas por parte das
classes dominantes europeias, criando as bases para que pudessem
expandir, posteriormente, sua forma de organização social para o
restante do mundo.
23
A Separação Tempo e Espaço: O ritmo das mudanças, que na modernidade se
dá de maneira muito mais acelerada do que acontecia nas sociedades pré-modernas.
As mudanças ocorridas nas sociedades pré-modernas aconteciam em uma localidade
e ficavam ali restritas, sem influenciar outros centros ou localidades. Isso não ocorreu
na modernidade, em que diferentes áreas do planeta foram postas em interconexão.
O papel dos agentes e instituições: tais como a família e a Igreja, se modificaram
em termos econômicos e culturais, bem como o surgimento dos Estados Nações em
oposição às cidades ou reinos. Desenvolvimento das cidades: o desenvolvimento
de uma sociedade majoritariamente urbana, que acarretou profundas e diversas
modificações na maneira de ser e estar no mundo. O centro condutor da vida: com a
modernidade, há uma mudança significativa de mentalidade. O ser humano começa a
valorizar com mais ênfase as suas capacidades racionais (ampliação do conhecimento,
maior uso do conhecimento científico, não somente do conhecimento religioso).
A crença naquele momento era de que a riqueza disponível no mundo não poderia ser
aumentada, apenas redistribuída. Assim, os países buscavam a acumulação de riquezas por
meio da proteção da economia local e acúmulo de metais decorrente das trocas comerciais
que realizavam com outros países. Foi nesse período que nações europeias exploraram os
recursos de suas colônias, como aconteceu aqui nas Américas.
24
NOTA
A monetização é uma ação humana e significa o aproveitamento de algo
como fonte de lucro. O termo é derivado do verbo monetizar, que designa
o ato de transformar algo em dinheiro. Basicamente, qualquer coisa
(objeto, informação, título, dívida etc.) pode ser usada para monetização.
Na atualidade até mesmo as relações entre pessoas.
No início da Idade Moderna, a Europa ainda tinha como base religiosa a Igreja
Católica Apostólica Romana. Essa liderança foi abalada, com um Movimento liderado por
um Monge Agostiniano, Martinho Lutero, que criticou as indulgências e certas normas
católicas, provocando o Movimento de Reforma Luterana ou Protestante.
Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão do século XVI liderado por Martinho
Lutero, simbolizado pela publicação de suas 95 Teses em 31 de outubro de 1517 na porta da Igreja
do Castelo de Wittenberg. Tendo por ponto de partida as críticas às vendas de indulgências,
o movimento de Lutero tornou-se conhecido como um protesto contra os abusos do clero,
evoluindo para uma proposta de reforma no catolicismo romano a partir da mudança em diversos
pontos da doutrina da Igreja Católica Romana, com base no que Lutero entendia como um
retorno às escrituras sagradas. Os princípios fundamentais extraídos da Reforma Protestante
são conhecidos como os Cinco Solas.
FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3A3C4ml>. Acesso em: 29 jul. 2021.
25
A construção teológica iniciada por Martinho Lutero deu origem a um princípio
conhecido como Cinco Solas:
Com relação às questões políticas, existia uma série de reis, nobres e autoridades
em geral que estavam interessados em romper o poder secular com o religioso. Isso significa
que muitos viam o rompimento como uma forma de consolidar ou de assegurar mais poder
sem a necessidade de ter que se sujeitar a outra autoridade – no caso, o papa.
26
No aspecto cultural da Idade Moderna, podemos destacar o Antropocentrismo
e o Renascimento. Contrário ao Teocentrismo, o Antropocentrismo é um conceito
filosofia que ressalta a importância do ser humano como um ser dotado de inteligência
e, portanto, livre para realizar suas ações no mundo. A palavra vem do grego, significa o
ser humano no centro, ou seja, todos os parâmetros para se viver em sociedade passam
pelo ser humano. A Política, a Economia, a Religião e a Arte terão como centro o Ser
Humano. Se na Idade Média a Cultura era permeada de anjos, igrejas, devoções, santos,
das coisas de Deus, agora, na Idade Moderna, tudo aquilo que a representa ou está
relacionado com a condição humana e o próprio ser humano passar ser um parâmetro
norteador na produção cultural (peças teatrais, música, pinturas).
FIGURA 10 – MONALISA
Embora Comte seja considerado o Pai da Sociologia, entre outras coisas, por tê-la
assim batizado, Durkheim é apontado como um dos seus primeiros grandes teóricos. Junta-
mente com seus colaboradores, esforçou-se por emancipar a Sociologia da Filosofia Social.
27
FIGURA 11 – DAVID ÉMILE DURKHEIM
Em livros e cursos, sua preocupação foi definir com precisão o objeto, o método
e as aplicações da nova Ciência. De acordo com Costa (1987, p. 51), “Durkheim formulou
com clareza os tipos de acontecimentos sobre os quais o sociólogo deveria se debruçar:
os fatos sociais. Estes constituem os objetos da Sociologia. Três são as características
que Durkheim distingue nos fatos sociais”.
28
Os fatos sociais são apresentados por Durkheim como maneiras coletivas de
pensar, de sentir e de agir que estão presentes na realidade das sociedades, estando
diretamente vinculados aos aspectos morais que regem a vida das pessoas e as relações
que estabelecem entre si. Valores, costumes, hábitos, regras, leis, normas e estruturas
sociais são alguns dos componentes que dão forma aos fatos sociais e, sobretudo, a
sua capacidade de influenciar o comportamento dos seres humanos a partir de fatores
externos aos próprios indivíduos.
QUADRO 10 – GENERALIDADE
Além do Fato Social, quais as outras contribuições deixadas por Durkheim para a
Sociologia? Foram diversas contribuições. no quadro a seguir apresentaremos algumas:
QUADRO 11 – CONCEITOS
29
No entanto, Durkheim não pode ser meramente tachado de conservador. Sua defesa das
instituições se baseia num ponto fundamental, o ser humano necessita se sentir seguro,
protegido e respaldado. Uma sociedade sem regras claras ("em estado de anomia"), sem valores
e sem limites leva o ser humano ao desespero. Preocupado com esse desespero, Durkheim se
dedicou ao estudo da criminalidade, do suicídio e da religião.
Uma rápida observação do contexto histórico do século XIX nos permite perceber que as
instituições sociais se encontravam enfraquecidas, havia muito questionamento, valores
tradicionais eram rompidos e novos surgiam, muita gente vivia em condições miseráveis,
desempregados, doentes e marginalizados.
Ora, numa sociedade integrada, essa gente não podia ser ignorada, de uma forma ou de outra,
toda a sociedade estava ou iria sofrer as consequências. Aos problemas que ele observou,
considerou como patologia social, e chamou aquela sociedade doente de "Anomana". A anomia
era a grande inimiga da sociedade, algo que devia ser vencido, e a sociologia era o meio para
isso. O papel do sociólogo seria, portanto, estudar, entender e ajudar a sociedade.
Em seus estudos, Durkheim concluiu que os fatos sociais atingem toda a sociedade, o que só
é possível se admitirmos que a sociedade seja um todo integrado. Se tudo na sociedade está
interligado, qualquer alteração afeta o geral, o que quer dizer que, se algo não vai bem em
algum setor da sociedade, toda ela sentirá o efeito. Partindo desse raciocínio, desenvolve dois
dos seus principais conceitos: Instituição social e Anomia.
Solidariedade Social
A solidariedade, segundo Durkheim , é oriunda de dois tipos de consciência: a consciência
coletiva (ou comum) e consciência individual. Cada indivíduo possui uma consciência
individual que sofre influência da consciência coletiva, que nada mais é que a combinação
das consciências individuais de todos os homens ao mesmo tempo. A consciência coletiva
seria responsável pela formação de nossos valores morais, e exerce uma pressão externa aos
indivíduos no momento de suas escolhas. A soma da consciência individual com a consciência
coletiva forma o ser social.
Dentro da perspectiva sociológica durkheimniana, a existência de uma sociedade só é possível
a partir de um determinado grau de consenso entre seus membros constituintes: os indivíduos.
Esse consenso se assenta, basicamente, no processo de adequação da consciência individual
à consciência coletiva. Dependendo do grau de consenso, temos dois tipos de solidariedade.
Solidariedade mecânica
A sociedade em sua fase primitiva se organizava socialmente a partir das semelhanças
psíquicas e sociais entre os membros individuais. Nessas sociedades, os indivíduos que as
integravam compartilhavam dos mesmos valores sociais, tanto no que se refere às crenças
religiosas como com relação aos interesses materiais necessários à subsistência do grupo,
essa correspondência de valores é que assegurava a coesão social.
Solidariedade orgânica
Já nas sociedades ditas "modernas" ou "complexas" do ponto de vista da maior diferenciação
individual e social, existe a solidariedade orgânica.
Nesse modelo, cada indivíduo tem uma função e depende dos outros para sobreviver. A
Solidariedade Orgânica é fruto das diferenças sociais, já que são essas diferenças que unem
os indivíduos pela necessidade de troca de serviços e pela sua interdependência.
O indivíduo é socializado porque, embora tenha sua individualidade, depende dos demais e, por
isso, se sente parte de um todo.
30
QUADRO 12 – CONTRIBUIÇÕES
Durkheim não desenvolveu métodos pedagógicos, mas suas ideias ajudaram a compreender
o significado social do trabalho do professor, tirando a educação escolar da perspectiva
individualista, sempre limitada pelo psicologismo idealista. Segundo Durkheim, o papel da
ação educativa é formar um cidadão que tomará parte do espaço público, não somente o
desenvolvimento individual do aluno. Portanto, "a educação tem por objetivo suscitar e
desenvolver na criança estados físicos e morais que são requeridos pela sociedade política no
seu conjunto". Tais exigências, com forte influência no processo de ensino, estão relacionadas
à religião, às normas e sanções, à ação política, ao grau de desenvolvimento das ciências e até
mesmo ao estado de progresso da indústria local.
Se a educação for desligada das causas históricas, ela se tornará apenas exercício da vontade
e do desenvolvimento individual, o que, para ele, era incompreensível: "Como é que o indivíduo
pode pretender reconstruir, por meio do único esforço da sua reflexão privada, o que não é obra
do pensamento individual?". Ele mesmo respondeu: "O indivíduo só poderá agir na medida em
que aprender a conhecer o contexto em que está inserido, a saber quais são suas origens e as
condições de que depende. E não poderá sabê-lo sem ir à escola, começando por observar a
matéria bruta que está lá representada". Por tudo isso, Durkheim é também considerado um
dos mentores dos ideais republicanos de uma educação pública, monopolizada pelo Estado, e
laica, liberta da influência do clero romano.
NOTA
Para pensar:
FONTE: <https://novaescola.org.br/conteudo/456/criador-sociologia-
educacao#>. Acesso em: 20 mar. 2021
31
Outro grande Sociólogo desse período é Max Weber. A partir de agora vamos
apresentar a vida, obras e seus conceitos:
Max Weber formulou com precisão o conceito de ação social, que para ele
baseia-se no processo comunicativo entre sujeitos, tomando como ponto de partida o
sentido dado pelo autor de uma ação e seu objetivo.
32
QUADRO 14 – TEORIA DA AÇÃO SOCIAL
A teoria sociológica da ação social foi amplamente trabalhada pelo teórico Max Weber, que
acreditava que a principal função da Sociologia era compreender os diversos aspectos da ação
social. A ação social é entendida por Weber como qualquer ação realizada por um sujeito em
um meio social que, no entanto, possua um sentido determinado por seu autor. O contínuo
processo de comunicação está intimamente ligado ao conceito de ação social. A manifestação
do sujeito que deseja uma resposta é manifestada em função dessa resposta. Em outras
palavras, uma ação social constitui-se como ação a partir da intenção de seu autor quanto à
resposta que deseja de seu interlocutor.
A partir desse entendimento, Weber justifica que a função dos esforços sociológicos é
justamente tentar compreender os sentidos dados às ações humanas em suas relações
sociais. As relações humanas e, por sua vez, as ações que estão inseridas no contexto dessas
relações, possuem sentido atribuído a elas por seus autores. Para que se compreenda o
processo de comunicação e de interação social, é necessário, então, que se compreenda
o sentido da ação, bem como, ainda mais importante, desvende-se o objetivo do autor da
ação em seu esforço comunicativo. Peguemos, por exemplo, a ação social de um abraço,
que pode carregar uma infinidade de sentidos. O autor da ação, ao realizá-la, deseja que
seu interlocutor apreenda o sentido que desejou implantar em seu ato, e não apenas que
entenda o sentido genérico do ato de abraçar.
FONTE: <https://cafecomsociologia.com/wp-content/uploads/2018/04/quadro-tipos-a%C3%A7%-
C3%A3o-social-weber.jpg>. Acesso em: 20 mar. 2021.
33
Max Weber escreveu sobre os tipos de dominação. O autor citou que podemos
legitimar três tipos:
Dominação Legal: onde qualquer direito pode ser criado e modificado através de um estatuto
sancionado corretamente, tendo a “burocracia” como o tipo mais puro desta dominação.
Os princípios fundamentais da burocracia, segundo o autor, são a Hierarquia Funcional, a
Administração baseada em Documentos, a Demanda pela Aprendizagem Profissional, as
Atribuições são oficializadas e há uma Exigência de todo o Rendimento do Profissional. A
obediência se presta não à pessoa, em virtude de direito próprio, mas à regra, que se conhece
competente para designar a quem e em que extensão se há de obedecer. Weber classifica este
tipo de dominação como sendo estável, uma vez que é baseada em normas que, como foi dito
anteriormente, são criadas e modificadas através de um estatuto sancionado corretamente.
Ou seja, o poder de autoridade é legalmente assegurado.
Dominação Carismática: onde a autoridade é suportada graças a uma devoção afetiva por
parte dos dominados. Ela assenta sobre as “crenças” transmitidas por profetas, sobre o
“reconhecimento” que pessoalmente alcançam os heróis e os demagogos, durante as guerras
e revoluções, nas ruas e nas tribunas, convertendo a fé e o reconhecimento em deveres
invioláveis que lhes são devidos pelos governados. A obediência a uma pessoa se dá devido as
suas qualidades pessoais. Não apresenta nenhum procedimento ordenado para a nomeação e
substituição. Não há carreiras e não é requerida formação profissional por parte do “portador”
do carisma e de seus ajudantes. Weber coloca que a forma mais pura de dominação carismática
é o caráter autoritário e imperativo. Contudo, Weber classifica a Dominação Carismática como
sendo instável, pois nada há que assegure a perpetuidade da devoção afetiva ao dominador,
por parte dos dominados.
FONTE: Adaptado de Weber (1982)
• Educação carismática: conforme explica Weber, “isto significa que eles [os educadores]
simplesmente desejavam despertar e testar uma capacidade considerada como
um dom de graça exclusivamente pessoal, pois não se pode ensinar nem preparar
um carisma” (WEBER, 1982, p. 482). Entre os exemplos citados por Weber estão os
mágicos (ou feiticeiros) e os heróis guerreiros,
34
• Educação especializada: de acordo com a explicação de Weber, trata-se das
“tentativas especializadas de treinar o aluno para finalidades úteis à administração –
na organização das autoridades públicas, escritórios, oficinas, laboratórios industriais,
exércitos disciplinados” (WEBER, 1982, p. 482). Weber esclarece ainda que esse
treinamento pode ser realizado com qualquer pessoa.
• Educação humanística: retomando os termos weberianos temos, que “a pedagogia
do cultivo finalmente procura educar um tipo de homem, cuja natureza depende do
ideal de cultura da respectiva camada decisiva. Isso significa educar um homem para
certo comportamento interior e exterior” (WEBER, 1982, p. 483). Entre os exemplos
citados pelo autor está a camada dos guerreiros no Japão, no qual “a educação visará
a fazer do aluno um cavalheiro e um cortesão estilizado, que despreza os homens
que usam a pena, tal como os samurais japoneses os desprezaram” (WEBER, 1982,
p. 483). Depois dessas definições conceituais, Weber se dirige para a realidade,
perguntando-se pelo caráter da educação chinesa: “o importante, no caso, é definir a
posição da educação chinesa em termos dessas formas” (WEBER, 1982, p. 482).
35
uma série de conteúdos que servem para treinar os indivíduos para operar nessas
novas funções racionais, ou seja, a administração burocrática do Estado Moderno. Isso
está diretamente ligado ao mundo Ocidental, onde a complexificação da sociedade e o
capitalismo geraram uma racionalização da vida social e a educação, portanto, voltou-
se para a formação de indivíduos aptos para as funções racionais estabelecidas.
36
FIGURA 16 – KARL HEINRICH MARX
37
NOTA
A palavra proletariado deriva de proletário, que tem origem no
latim advindo do antigo Império Romano. Os proletários eram os
homens sem posses, que tinham seus filhos (sua prole, daí a origem
da palavra proletário) como única coisa a oferecer ao Império para que
servissem no exército imperial.
No século XIX, o termo foi ressignificado. O filósofo e sociólogo
alemão Karl Marx utilizou o termo proletariado tal como entendemos
hoje: o trabalhador assalariado, pobre, que tende a permanecer
nessa condição por causa do pouco que recebe.
FONTE: <https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/proletariado.htm>.
Acesso em: 22 mar. 2021.
NOTA
O materialismo dialético é a concepção filosófica do Partido marxista-
leninista. Chama-se materialismo dialético porque o seu modo de
abordar os fenômenos da natureza, seu método de estudar esses
fenômenos e de concebê-los é dialético, e sua interpretação dos
fenômenos da natureza, seu modo de focalizá-los e sua teoria,
é materialista.
O materialismo histórico é a aplicação dos princípios do
materialismo dialético ao estudo da vida social, aos fenômenos da
vida da sociedade, ao estudo desta e de sua história.
38
Em seus estudos, Marx relacionou os conceitos de Homem, de Trabalho e de
História, o Homem como ser de necessidades, satisfação das necessidades e de produção
de bens materiais. O Homem, aqui, é entendido nas suas relações sociais (forma como
se comportam, agem e pensam), que são determinadas pela forma de produção da vida
material. Produção Material, aqui, se entende a partir de como os indivíduos trabalham
e produzem os meios necessários para a sustentação das sociedades. O Trabalho é
entendido como ação humana de transformação da natureza. A história humana é a
história das relações dos homens com a natureza e dos homens entre si.
QUADRO 15 – MAIS-VALIA
No sistema capitalista, o trabalhador vende sua força de trabalho como uma mercadoria.
Contudo, esta tem características distintas das outras mercadorias. O trabalhador oferece sua
força de trabalho e o empregador paga com o salário. Estabelece-se uma ideia de igualdade,
segundo a qual os homens são iguais diante da lei, do Estado, do mercado etc., e se veem
dessa forma.
Contudo, o valor de sua força de trabalho durante o tempo que está produzindo é maior do que
seu salário. Esse trabalho excedente é o valor não pago e que integra o capital, transformando-
se na riqueza dos dominantes.
39
Esse trabalho excedente é o que Marx denomina de mais-valia, que se traduz no grau de
exploração da força de trabalho pelo capital. O que impede o trabalhador de perceber que
existe um excedente de seu trabalho que não é pago é sua situação de alienação.
QUADRO 16 – MERCADORIA
A mercadoria surge como o ponto a priori de Marx, como o pilar fundamental desse sistema
que tem como característica fundamental a aquisição de mercadorias em prol da satisfação de
necessidades pessoais, sejam elas provindas do estômago (necessidade) ou da mente (desejo),
conferindo-lhe assim um caráter universal, comum a todos. Marx apresenta-nos o conceito
de mercadoria como sendo algo com duplo caráter, que em essência define-se como Valor
de Uso (substância de valor) e Valor de Troca (grandeza de valor). As mercadorias aparecem
no mercado de infinitas formas, são produzidas de infinitas maneiras e atendem as mais
diversas necessidades. A diversidade de mercadorias é tão grande que é impossível mensurá-
las em sua totalidade. Tal diversidade é superada por Marx por meio de uma abstração, pela
redução de toda a diversidade de mercadorias existentes para apenas um fator: a utilidade.
Uma mercadoria, para ser considerada como tal, precisa antes de tudo ser útil para alguém,
possuir seu Valor de Uso, independente de qual seja essa utilidade. No entanto, não é possível
mensurar quantitativamente a utilidade de algo, sendo ela intrínseca e subjetiva. É preciso algo
que torne as mercadorias comensuráveis entre si, que possibilite a efetivação da troca nos
processos mercantis, que demonstre sua objetividade. Para Marx, a quantidade de trabalho
humano médio despendido na produção de uma mercadoria, abstraído e incorporado nela,
é que define seu caráter quantitativo, sua substância de valor, seu Valor de Troca. O Valor de
Uso é efetivado apenas durante o consumo e serve como base de sustentação para o Valor de
Troca que se realiza.
40
QUADRO 17 – ALIENAÇÃO, FEITICHISMO
A partir do conceito de alienação, Karl Marx propôs a tese de que o homem, no contexto do
Capitalismo, se aliena com relação ao fruto de seu trabalho e a sua própria essência e espécie.
Marx desenvolveu o conceito de “alienação” em sua obra “Manuscritos Econômico-filosóficos”
ou “Manuscritos de Paris” (1844), obra que, embora escrita ainda em sua “juventude”, só veio
a ser conhecida por um público maior em 1932. Nas palavras de Sell (2013, p. 48), para Marx,
a alienação significa que a “exteriorização e objetivação dos bens sociais que resultam do
processo de trabalho tornaram-se autônomos e independentes do homem, apresentando-se
como realidades ‘estranhas’ e opostas a ele, como um ser alheio que o domina”.
Fetichismo da Mercadoria
O clássico do cinema mudo mostra o Homem como se fosse uma peça da grande engrenagem
industrial, um apêndice da máquina. Dentro dos escritos contemporâneos que interpretam
as teorias de Marx, o uso das imagens do filme de Chaplin é feito para ilustrar que o produto
do trabalhador parece ter surgido independente de seu produtor, como uma espécie de
feitiço. As mercadorias no sistema capitalista ocultam as relações sociais de exploração do
trabalho. O fetichismo da mercadoria é essa espécie de obscurecimento das percepções,
como se a exploração do trabalho não ocorresse e as relações sociais existissem sob a forma
de objetos, mercadorias.
41
QUADRO 18 – IDEOLOGIA
NOTA
Para saber mais!
O pensamento de Marx iniciou-se como uma crítica aos pensamentos de Hegel. Segundo
Marx, os movimentos dialéticos da sociedade se desenvolvem como um resultado
das condições materiais da vida dos homens, ou seja, não são as ideias que formam a
sociedade, mas as condições materiais dos homens é que produzem as suas ideias e o
seu modo de agir na sociedade. Não é a religião que cria o homem, mas o homem que
cria a religião, não é a constituição que desenvolve um povo, mas um povo que desenvolve
uma constituição. Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a
consciência. A raiz do homem é o próprio homem em sua condição material, e não em sua
condição ideal. A liberdade desse homem não passa pela filosofia, pela teologia ou pela
autoconsciência, mas pela sua condição histórica e material. Dessa forma Marx acredita
unir a teoria à prática. E a libertação do homem começa pela libertação da sua exploração,
e libertá-lo de ser explorado passa pelo fim do capital, pois o capital é a propriedade privada
dos produtos do trabalho de outros homens. A propriedade privada não existiu sempre, e
nem sempre existirá, sendo uma criação humana e como tal também pode ser modificada
ou destruída. O capital é o trabalho expropriado dos trabalhadores, o trabalho alienado
dos trabalhadores, surgindo da exploração dos trabalhadores e tornando-se estranho a
42
esses mesmos trabalhadores, pois não lhes pertence mais. Quanto
mais o trabalhador é explorado, mais o capital não é reconhecido
por ele, da mesma forma que quanto mais o homem põe em Deus,
menos conserva de si e para si. O trabalho é vida de trabalhador que
se torna objeto, objeto que não lhe pertence, que lhe é alheio, que lhe
é alienado. O trabalhador, com seu trabalho, cria objetos que não lhe
pertencem mais, assim como a vida, em forma de trabalho colocada
nesses objetos, também não lhe pertence mais. A vida do trabalhador
torna-se estranha a esse mesmo trabalhador, isso é alienação.
43
No bojo da filosofia proposta por Marx, a educação está associada ao conceito
de omnilateralidade e deve contribuir para o desenvolvimento integral do ser humano,
no sentido de promover o acesso à produção de cultura e a construção de saberes.
Sobre a referida concepção, Manacorda (1991, p. 81) esclarece que:
DICA
Para saber mais!
44
INTERESSANTE
A alienação de que fala Marx é consequência do afastamento entre os
interesses do trabalhador e aquilo que ele produz. De modo mais
amplo, trata-se também do abismo entre o que se aprende apenas
para cumprir uma função no sistema de produção e uma formação
que realmente ajude o ser humano a exercer suas potencialidades.
Você já pensou se a educação, como é praticada a seu redor,
procura dar condições ao aluno para que se desenvolva por inteiro
ou se responde apenas a objetivos limitados pelas circunstâncias?
45
RESUMO DO TÓPICO 2
• No início da Idade Moderna, a Europa ainda tinha como base religiosa a Igreja Católica
Apostólica Romana. Esta liderança foi abalada, com um Movimento liderado por um
Monge Agostiniano, Martinho Lutero, que criticou as indulgências e certas normas
católicas, provocando o Movimento de Reforma Luterana ou Protestante.
• Foi na cidade de Erfurt que nasceu Max Weber, em uma família de burgueses
liberais. Desenvolveu estudos de direito, filosofia, história e sociologia. Iniciou a
carreira de professor em Berlim e, em 1895, foi catedrático em Heidelberg. Manteve
46
contato permanente com intelectuais de sua época, como Simmel, Sombart,
Tönnies e Georg Lukács. Na política, defendeu ardorosamente seus pontos de
vista liberais e parlamentarista e participou da comissão redatora da Constituição
da República de Weimar.
47
AUTOATIVIDADE
1 Foi uma das formas encontradas pelos historiadores para se dividir a história da
humanidade. Seu recorte temporal inicia-se com a queda do Império Bizantino e
a tomada da cidade de Constantinopla pelo Império Turco-Otomano, em 1453. Seu
recorte final está delimitado com a Revolução Francesa, em 1789. Esse período ficou
conhecido como?
a) ( ) Idade Média.
b) ( ) Idade Contemporânea.
c) ( ) Idade Antiga.
d) ( ) Idade Moderna.
2 Os fatos sociais são apresentados por Durkheim como maneiras coletivas de pensar,
de sentir e de agir que estão presentes na realidade das sociedades, estando
diretamente vinculados aos aspectos morais que regem a vida das pessoas e as
relações que estas estabelecem entre si. Valores, costumes, hábitos, regras, leis,
normas e estruturas sociais são alguns dos componentes que dão forma aos fatos
sociais e, sobretudo, a sua capacidade de influenciar o comportamento dos seres
humanos a partir de fatores externos aos próprios indivíduos. Sobre os Fatos Sociais,
analise as sentenças a seguir:
III- Por fim, a coercitividade representa a condição de coerção social a qual os indivíduos
se tornam suscetíveis diante dos fatos sociais, o que permite com que suas estruturas
sejam alteradas sem grande capacidade de resistência.
48
3 Nasceu na cidade de Treves, na Alemanha. Em 1836 matriculou-se na Universidade
de Berlim e doutorou-se em filosofia em Iena. Foi redator de uma gazeta liberal
em Colônia. Mudou-se em 1842 para Paris, onde conheceu Friedrich Engels, seu
companheiro de ideias e publicações por toda a vida. Expulso da França em 1845 foi
para Bruxelas participar da recém-fundada Liga dos Comunistas. Em 1848 escreveu
com Engels o Manifesto do Partido Comunista, obra fundadora do marxismo,
enquanto movimento político e social a favor do proletariado. Com o malogro das
revoluções sociais de 1848, Marx mudou-se para Londres, onde se dedicou a um
grande estudo da economia e da política. Marx foi um dos fundadores da Associação
Internacional dos Operários, ou Primeira Internacional. Morreu em 1883, após intensa
vida política e intelectual. Suas principais obras foram: A Ideologia Alemã, Miséria da
Filosofia, Para a crítica da economia política, A Luta de Classes em França e O Capital.
5 Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim são considerados e identificados como ‘sociólogos
clássicos’ e seus pressupostos teóricos e metodológicos são revisitados por estudiosos e
pesquisadores até os dias atuais. Estes sociólogos viveram e assistiram ao fortalecimento
dos ideais Iluministas, da Revolução Francesa, do positivismo, do capitalismo e da
sociedade moderna industrial. Foi neste momento que a Sociologia e os Estudos Sociais
se consolidaram como conhecimento científico. Diante disto, disserte sobre o contexto
econômico e as problemáticas sociais a partir de Marx e Weber.
49
50
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
AUTORES CONTEMPORÂNEOS
DA SOCIOLOGIA E A RELAÇÃO
COM A EDUCAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico estudaremos a questão da pós-modernidade em comparação
com o espírito da modernidade, principais características, autores e movimentos
dentro dessas duas concepções de sociedade. Para alguns autores, a Revolução
Francesa no campo político e dos direitos, aliada à Revolução Industrial no fator
econômico, foram os dois grandes acontecimentos que direcionaram a vida das
pessoas na Idade Contemporânea e deram os fundamentos para aquilo que podemos
denominar do espírito moderno. O pós-modernismo ou a pós-modernidade pode ser
percebido a partir das mudanças sociais, culturais, artísticas, filosóficas, científicas e
estéticas que surgiram após a segunda guerra. Essas mudanças foram responsáveis
por marcantes transformações nas relações travadas entre as crescentes práticas
capitalistas, a arte e a cultura.
2 SOCIOLOGIA E PÓS-MODERNIDADE
No período Contemporâneo, até próximo ao início do século XXI, a
Sociedade apresentava as seguintes principais características:
51
• Relação principal: no início do século XX, Governo e o cidadão e após a segunda
guerra mundial, o Empresário e o consumidor.
• Divisão social: ampliou a divisão de classes sociais.
• Economia ou modo de produzir as coisas: após o capitalismo industrial, no início
do século XX, fortaleceu o Socialismo e após a segunda guerra mundial, o Capitalismo
Financeiro e depois o Informacional.
• Leis e os códigos de conduta social: do direito do Homem, ampliou-se para os
Direitos Sociais, Étnicos, Ambientais, Culturais, Gênero, entre outros.
• Visão de mundo, religião, educação, conhecimento, meio ambiente e cultura:
educação vista como direito humano. Após a segunda guerra mundial, a preocupação
com uma agenda ambiental preservacionista. Crescimento do Ateísmo e diversidade
religiosa. A cultura do consumir e materialidade. Predomínio do Neoliberalismo.
Para alguns autores, a Revolução Francesa no campo político e dos direitos, aliada
à Revolução Industrial no campo econômico, foram os dois grandes acontecimentos
que direcionaram a vida das pessoas na Idade Contemporânea e deram os fundamentos
para aquilo que podemos denominar de espírito moderno.
52
FIGURA 17 – REVOLUÇÃO FRANCESA
A Rússia no século XIX tinha sua economia baseada na agricultura (sistema feudal
Russo). Os senhores feudais Russos não admitiam a modernização produtiva e econômica.
Por se tratar de um Império, o país, em sua totalidade, estava submetido às decisões do
Czar (Imperador), que tinha a mentalidade absolutista e governava as alianças com foco
em lucros e interesses pessoais. Os senhores feudais eram fiéis aos interesses do Czar.
53
NOTA
CZAR
czar
[tzar]
sm
Título que se dava ao imperador da Rússia, antes da Revolução
de 1917.
Informações complementares:
var. tzar.
Informações complementares:
fem.: czarina.
Etimologia: russo car, via fr.
NOTA
Igreja Católica Apostólica Ortodoxa.
Significado de Ortodoxo.
54
importante da Rússia, que passou a se tornar um dos principais países exportadores
de grãos. O Império precisou, finalmente, investir no processo de industrialização. Isso
levou à criação de várias fábricas estrangeiras na Rússia, resultando nas maiores taxas
de crescimento entre os países europeus nas últimas duas décadas do século XIX. Em
1904, a Rússia entrou novamente em uma guerra, dessa vez contra o Japão. Como
todo conflito, resultou em graves consequências para o povo russo, desorganizando a
economia e refletindo negativamente na vida dos camponeses e operários. A derrota
para os japoneses também fez com que os ânimos se acirrassem, elevando ainda mais
a insatisfação contra o Czar.
55
A Idade Contemporânea viveu também duas grandes Guerras Mundiais.
A Primeira Guerra Mundial, que durou de 1914 a 1918, foi considerada por muitos de seus
contemporâneos como a mais terrível das guerras. Por este motivo, tornou-se conhecida
durante muito tempo como “A Grande Guerra”. E a Segunda Guerra Mundial foi o maior
conflito da humanidade, acontecendo de 1939 a 1945, em diferentes locais da Oceania,
Ásia, África e Europa. Esse conflito foi travado entre os Aliados (Reino Unido, França, EUA,
URSS etc.) e o Eixo (Itália, Alemanha, Japão etc.) e teve como consequências a morte
de, aproximadamente, 60 milhões de pessoas e uma destruição material significativa.
Uma ideia que foi ganhando espaço de debate em termos mundiais foi a preservação
ambiental. O Movimento Ambiental ou ecológico, a partir da sensibilização da sociedade em
razão do uso irracional dos recursos naturais e dos impactos ambientais gerados pela ação
humana, passou a destacar o conceito de crescimento sustentável, que se colocou como uma
alternativa que promove a interdependência entre economia, meio ambiente e sociedade.
Confira no quadro a seguir a origem desse movimento e o seu conceito.
A WWF (O Fundo para a Vida Selvagem), a primeira ONG ambiental de espectro verdadeiramente
ambiental, foi criada em 1961. O assunto ganhou corpo com a publicação de Silent Spring
(Primavera Silenciosa), o famoso livro de Rachel Carlson, que chamou atenção para a degradação
ambiental. Já nos anos 1970, Leis e D’Amato afirmam que o ambientalismo não governamental
se institucionaliza nas sociedades americana e europeia. A década de 1970 foi marcada pelas
críticas contundentes contra a industrialização, feitas pelo movimento ambiental, que começou
a se consolidar. É justamente nesta época que a questão ganhou relevância e passou a ser
pautada pelos órgãos nacionais e internacionais. Em 1971, o 1º relatório do Clube de Roma alertou
para os limites do planeta e vinculou o crescimento da população ao uso abundante de recursos
naturais, em um debate malthusiano. A primeira Conferência Internacional para debater o Meio
Ambiente Humano foi realizada no ano seguinte, em Estocolmo, e buscava soluções técnicas
para os problemas ambientais. Na mesma década, foi fundada no Canadá a maior e ainda mais
conhecida organização não governamental ambientalista – o Greenpeace, caracterizado por
suas ações estratégicas e amplos protestos para mobilizar a opinião pública. A ONG expandiu-
se oficialmente em 39 países. Aqui no Brasil, um pouco mais tarde, em 1986, foi formada
uma das organizações ambientais mais representativas, a SOS Mata Atlântica, que tem como
principal objetivo preservar as áreas remanescentes da Mata Atlântica e valorizar a identidade
física e cultural da região. Atualmente, segundo o CNEA (Cadastro Nacional de Entidades
Ambientalistas), registro vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, o Brasil conta com 463 ONGs
de cunho ambientalista. Isso sem contar organizações não legalmente estabelecidas ou que
por eventuais razões, não constam no cadastro oficial. Em sua fase fundacional, os movimentos
ambientais se restringiram a combater a poluição e a apoiar a preservação de recursos naturais,
sem aliar a temática social, mas a década de 1980 revelou outros desafios, como a superação da
pobreza, a participação e o controle social do desenvolvimento. Em 1987, foi criada a Comissão
de Brundtland (presidida pela primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland) e surge
a expressão desenvolvimento sustentável, como o desenvolvimento que corresponde às
necessidades presentes, sem comprometer o desenvolvimento das futuras gerações.
56
Para a vida em sociedade, o conceito de desenvolvimento sustentável remete,
dessa maneira, à importância de três princípios para a sua efetivação: os princípios
econômicos, ambientais e sociais. Essas ações remetem ainda ao conceito de
sustentabilidade, que está ligada à promoção de ações que oferecem sustentação para
o crescimento econômico, a preservação ambiental e a redução da desigualdade social.
Na década de 1960, o movimento hippie apareceu disposto a oferecer uma visão de mundo
inovadora e distante dos vigentes ditames da sociedade capitalista. Na maioria jovens, os
hippies abandonavam suas famílias e o conforto de seu lar para se entregarem a uma vida
regada por sons, drogas alucinógenas e a busca por outros padrões de comportamento. Ao
longo do tempo, ficariam conhecidos como a geração da “paz e amor”.
Conseguindo mobilizar uma enorme quantidade de pessoas, os hippies lutaram pela ampliação
dos direitos civis e o fim das guerras que aconteciam naquele momento. Em várias
situações, a influência das autoridades sob os meios de comunicação acobertava a discussão
que se desenvolvia, para assim reforçar os comportamentos marginais dos hippies. Não raro,
a força policial era acionada para que esses “desordeiros” fossem retirados do espaço público.
FONTE: <https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/as-lutas-do-movimento-hippie.htm>.
Acesso em: 29 jul. 2021.
Vamos retratar agora o mês de maio de 1968, sua origem e consequências para
a vida humana.
57
QUADRO 22 – MAIO DE 1968
Maio de 1968 ficou marcado na história mundial como o mês em que estudantes demonstraram
sua intenção de transformar o mundo. Influenciados por ideais anarquistas e marxistas, os
estudantes franceses iniciaram protestos contra o sistema educacional francês e contra a
sociedade capitalista da França. Contando com o apoio dos trabalhadores, esses jovens
pararam a França e marcaram gerações de pessoas. Os protestos contra a Guerra do Vietnã; o
debate por transformações significativas no combate ao racismo; a Tchecoslováquia era agitada
por um reformismo que procurava democratizar o socialismo no país; na Alemanha, protestos
estudantis aconteciam em Berlim; e aqui no Brasil, lutava-se contra a ditadura. Embora as
mobilizações estudantis tivessem sido influenciadas por acontecimentos globais, havia
também problemas relacionados à própria sociedade francesa que serviram de catalisadores.
Entre os fatores estavam a insatisfação pelo desemprego e com o sistema educacional francês,
além do descontentamento com o governo de De Gaulle, em geral.
O protesto dos estudantes em Nanterre foi encerrado após a chegada da polícia, convocada
pela própria administração da cidade. Novos protestos seguiram acontecendo nos meses de
março e abril, e a ação policial era baseada na truculência, o que indignava os estudantes. Os
protestos, no entanto, continuaram.
Os sindicatos decidiram convocar greve geral na França. Estima-se que, nesse mês de maio,
cerca de 10 milhões de trabalhadores estiveram em greve no território francês. Em muitos
lugares, eles ocuparam as fábricas e assumiram o controle da produção. A adesão dos
trabalhadores aos protestos estudantis forçou o governo do presidente De Gaulle a negociar.
Governo, representantes dos sindicatos e empresários sentaram-se à mesa para debater
condições para que os trabalhadores voltassem ao trabalho. As negociações estenderam-se
por todo o mês de maio, e, ao final, chegou-se aos Acordos de Grenelle. Os trabalhadores
ganharam uma série de benefícios, como aumentos salariais e redução na jornada de trabalho,
e os sindicatos ganharam maior liberdade para organizar-se. Parte dos trabalhadores decidiu
retomar os trabalhos, mas outra parte considerou que as concessões realizadas não eram
suficientes. Charles De Gaulle decidiu usar a violência policial contra os trabalhadores.
Enquanto o governo negociava com os trabalhadores, os estudantes seguiam firmes na sua
mobilização. Dezenas de barricadas foram construídas nas ruas de Paris, e os estudantes,
além dos protestos, engajaram-se em produzir cartazes que manifestavam suas intenções e
insatisfações. Mensagens contra o capitalismo e contra o governo De Gaulle eram comuns. Uma
das expressões mais populares desse período foi “é proibido proibir”, uma mensagem clara
contra os padrões da sociedade francesa, enxergados pelos estudantes como conservadores.
O ímpeto dos protestos seguiu-se durante o mês de maio, mas perderam força no final
dele. A decisão de parte dos trabalhadores de retornarem ao trabalho também enfraqueceu
a mobilização. A repressão de De Gaulle e uma reação conservadora de parte da sociedade
francesa também foram fatores que desarticularam os estudantes.
58
Em certo sentido, Maio de 1968 tornou-se um símbolo da mobilização estudantil e
influenciou gerações no mundo, mas, no final, não foi a revolução que muitos enxergavam,
principalmente porque não houve apoio político consistente para as causas estudantis.
QUADRO 23 – CONSEQUÊNCIAS
59
Na segunda metade do século XIX, o capitalismo proporcionou a integração
econômica mundial, favorecendo assim, principalmente, as nações que haviam
começado seu processo de industrialização. Essas mesmas nações expandiram
significativamente seu território em direção a outros continentes, sobretudo o Asiático,
o Africano e a Oceania. A Idade contemporânea conheceu três etapas do Capitalismo,
conforme exposto a seguir:
60
A partir dos anos 1980, o keynesianismo perde forças e a ideia de Estado mínimo e
pouca participação estatal na economia retorna. Assim como os liberais, os defensores
do neoliberalismo defendem que as próprias regras do mercado vão garantir o crescimento
econômico e o desenvolvimento social.
O neoliberalismo foi implantado no Brasil e em diversos países da América Latina, seguindo as
proposições do que se estabeleceu no Consenso de Washington – uma proposta neoliberal
para o desenvolvimento dos países da região.
Guerra Fria e a vitória do sistema capitalista
Apesar de ser adotada em grande parte do mundo hoje, a hegemonia do sistema capitalista
esteve em disputa durante décadas após a Segunda Guerra Mundial. O outro sistema
econômico era o comunismo, que defendia o fim da propriedade privada em prol da construção
de uma sociedade mais justa e igualitária.
Ao longo do conflito, Estados Unidos – defensor do capitalismo – e União Soviética –
defensora do comunismo – disputavam a hegemonia mundial e buscavam o apoio de outros
países para fortalecer seu posicionamento ideológico.
Foi chamada Guerra Fria, pois não houve embate militar direto entre esses dois países, era um
conflito ideológico sustentado por uma guerra armamentista. Ambos os países foram investindo
em materiais e tecnologias bélicas e o equilíbrio entre essas forças foi o que impediu que ataques
entre eles de fato acontecessem.
Com o final da Guerra Fria e a vitória do capitalismo como sistema hegemônico, grande parte
dos países que estavam do lado da União Soviética começaram a implementar o capitalismo.
61
QUADRO 26 – CAPITALISMO INFORMACIONAL
Para alguns estudiosos da economia, o Capitalismo Informacional não é uma nova fase do
capitalismo, mas um novo momento da fase do capitalismo financeiro. O conceito de capitalismo
informacional foi discutido pela primeira vez por Manuel Castells, em seu livro Sociedade em
rede, publicado em 1996 e está relacionado à revolução tecnológica dos últimos tempos.
A modernidade está, portanto, associada, nos séculos XVII e XVIII, a uma visão eufórica
do progresso, considerando-a como a inauguração de uma época de desenvolvimento
técnico ilimitado. Os instrumentos são ainda considerados como aperfeiçoamentos da
percepção do mundo e os utensílios destinam-se a ajudar o gesto humano, na modelagem
dos objetos naturais.
No entanto, à medida que foi integrando conhecimentos científicos mais elaborados, a técnica
foi adquirindo cada vez maior autonomia com relação à percepção e aos gestos humanos. É
esse processo que conduzirá ao maquinismo industrial, a partir da segunda metade do século
XIX, e ao aparecimento de uma relação cada vez mais problemática e conflitual com a técnica.
62
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o domínio da técnica adquiriu uma autonomia até
agora inimaginável, ao converter-se em sistema, acarretando consequências para a própria
experiência do mundo que ainda estamos longe de poder avaliar com rigor. Em todo o caso,
essas transformações estão associadas ao atual processo de globalização, não só no domínio
económico, mas sobretudo nos domínios político, ético e estético, anunciando-se, desse
modo, novas oportunidades, mas também novos riscos.
A nossa época caracteriza-se pela consciência aguda do esgotamento dos projetos, romântico
e futurista, da modernidade e pela consequente indiferença perante os valores e as normas que
os movimentos de vanguarda procuraram instaurar, ao longo do seu processo de implantação.
Essa consciência da crise da modernidade pode ser entendida como o retorno do recalcado:
através das atuais manifestações da pós-modernidade vislumbram-se as próprias formas
tradicionais que retornam, por vezes, de maneira nostálgica.
63
Quais seriam as principais características da pós-modernidade?
NOTA
No contexto pós-Segunda Guerra e diante de tantas informações, ligadas ou não a
esse acontecimento, algumas características permitem identificar o pós-modernismo.
Dentre elas, merecem destaque:
NOTA
Vários autores dividem a pós-modernidade em dois principais
períodos. A primeira fase teria começado com o fim da Segunda
Guerra Mundial e se desenvolvido até o declínio da União
Soviética (fim da Guerra Fria). Já a segunda e derradeira
etapa teve início no fim da década de 1980, com a
quebra da bipolaridade vivida no mundo durante a
Guerra Fria e o avanço das novas tecnologias.
Primeira etapa da Pós-Modernidade
De modo geral, a pós-modernidade representa a "quebra"
com antigos modelos de pensamento linear defendidos na era
moderna pelos iluministas. Eles eram baseados na defesa da razão
e ciência como parte de um plano em prol do desenvolvimento
da humanidade. No entanto, com os horrores presenciados na
Segunda Guerra Mundial, começou a crescer um forte sentimento
de insatisfação e decepção na sociedade, visto que todo o
"plano" moldado com base nos ideais iluministas havia falhado.
Segunda etapa da Pós-Modernidade: consolidação
Muitos estudiosos consideram o fim da década de 1980 como
a consolidação definitiva da Pós-Modernidade como uma
estrutura social, política e econômica no mundo. Com o fim da
bipolaridade imposta pela Guerra Fria, o mundo passou a viver sob
uma Nova Ordem, baseada na ideia de pluralidade e globalização
entre quase todas as nações. Os avanços tecnológicos e nos
meios de comunicação, o boom da internet e o monopólio do
sistema capitalista são algumas das características que ajudaram
a consolidar os princípios que definem a sociedade pós-moderna.
64
3 PIERRE BOURDIEU, MICHEL FOUCAULT E A EDUCAÇÃO
Pierre Bourdieu foi um dos maiores pensadores das ciências humanas do
século XX. Filósofo por formação desenvolveu importantes trabalhos de etnologia, no
campo da antropologia, e conceitos de profunda relevância no campo da sociologia,
como habitus, campo e capital social. Sua obra é extensa e abrangente, com contribuição
para diversas áreas do conhecimento, especialmente na educação e cultura.
65
Honoris Causa” da Universidade Livre de Berlim (1989), da Universidade Johann Wolfgang-
Goethe de Frankfurt (1996) e da Universidade de Atenas (1996). Pierre Bourdieu faleceu em
Paris, França, no dia 23 de janeiro de 2002 (FRAZÃO, 2002, s. p.)
FONTE: FRAZÃO, D. Pierre Bourdieu. 2002. Disponível em: https://bit.ly/3dNGN4c. Acesso em: 23
mar. 2021.
66
volume de dinheiro que acumulamos ou de uma situação de prestígio que desfrutamos
por possuirmos escolaridade ou qualquer outra particularidade de destaque, mas está
na articulação de sentidos que esses aspectos podem assumir em cada momento
histórico. A estrutura social é apresentada por Bourdieu como um sistema hierarquizado
de poder e privilégio, determinado tanto pelas relações materiais e/ou econômicas
(salário, renda) como pelas relações simbólicas (status) e/ou culturais (escolarização)
entre os indivíduos. Alguns conceitos e aspectos da teoria de Bourdieu.
O “capital”, junto com o “campo” e o “habitus”, são três conceitos que se conectam. O capital
diz respeito aos recursos que um indivíduo possui que lhe fornece vantagens e privilégios
em relação àqueles que não os tem, ou seja, o capital são as “armas” herdadas ou adquiridas
por alguém. Esses capitais podem ser econômicos, culturais ou sociais. O capital econômico
pode ser considerado o mais óbvio: é a quantidade de recursos financeiros que uma pessoa
dispõe na forma de propriedades, dinheiro e bens materiais. Esse é o fator que é considerado
geralmente para explicar as desigualdades sociais. Entretanto, Bourdieu descobre, ao analisar
a escola, outro tipo de capital: o cultural, que diz respeito a recursos adquiridos na instituição
escolar como linguagem erudita, domínio da oratória, livros, diplomas e notas altas em provas,
por exemplo. Além disso, existe o capital social que é a rede de relacionamentos sociais e
contatos que uma pessoa possui que lhe confere vantagem sobre os demais.
Campo
O conceito de campo está intimamente ligado ao de capital porque é no campo que ocorrem
as disputas de poder e posição na realidade social. De fato, o campo é definido como uma rede
ou uma configuração de relações sociais que são organizadas em posições de dominância
diferentes. Qualquer espaço social em que há uma correlação de forças desiguais em termos
de capital – econômico, cultural ou social – entre diferentes pessoas pode ser considerado
um campo. Bourdieu descobre, por exemplo, que a área da literatura é um campo, assim
como a política, a ciência, ou a escola. Além disso, todo campo possui suas próprias regras. A
forma como aprendemos como o campo em que estamos inseridos funciona é abarcada pelo
conceito de habitus.
O conceito de habitus advém da ideia de hábito mental, ou seja, a forma como as pessoas
aprendem e reproduzem aquilo que aprenderam durante o seu crescimento dentro de uma
sociedade, passando a assumir os pensamentos de sua época. Trata-se de uma aprendizagem
de como perceber o mundo e atuar nele. O habitus é a experiência social incorporada em
nossas mentes. Os habitus são sempre construídos em um indivíduo dentro de um campo,
detendo alguns capitais. Cada pessoa ocupa uma posição diferente no campo e herda ou
adquire determinados capitais ao longo da vida, o que a torna única. Ao mesmo tempo, o
campo já existe antes de qualquer indivíduo nascer: ele determina algumas condições que
são compartilhadas por todas as pessoas no mesmo campo. Assim, com o habitus, Bourdieu
mostra como as pessoas são construídas e ao mesmo tempo constroem o campo social no
seu dia a dia, em uma verdadeira interdependência com a estrutura social. É por isso que ele
usa o termo “agente” para se referir a todos nós, indivíduos ou pessoas que, de fato, atuam
cotidianamente na sociedade.
67
Produção do gosto
Já houve muita discussão na filosofia sobre qual a verdadeira definição do belo ou do sentido
do bom ou mau gosto. Bourdieu demonstra que, na verdade, os gostos são construídos
socialmente como uma forma de fazer vínculos sociais, a depender do campo social em
que o agente está inserido. Depois de uma pesquisa que compreendeu 1.217 entrevistas na
França, Bourdieu demonstra como os gostos servem para realizar um julgamento social dos
indivíduos. Gostar e consumir arte, cinema, músicas eruditas revela o capital cultural de um
agente, e funciona muitas vezes como uma forma de se distinguir daqueles que não possuem
os mesmos gostos “refinados”.
Violência simbólica
68
cultura culta, o sistema de ensino tende a perpetuar a estrutura da distribuição do capital
cultural, contribuindo para reproduzir e legitimar as diferenças de gosto entre os grupos
sociais. Posto isso, as disposições exigidas pela escola, por exemplo, as sensibilidades
pelas letras ou pela estética visual ou musical, enfim, uma estética artística, privilégio
de alguns poucos, tendem a intensificar as vantagens daqueles mais bem aquinhoados,
material e culturalmente.
69
do conhecimento que já trazem de casa, além de várias "heranças",
como a postura corporal e a habilidade de falar em público. Os
próprios estudantes mais pobres acabam encarando a trajetória
dos bem-sucedidos como resultante de um esforço recompensado
(FERRARI, 2009a, s. p.).
DICA
O sociólogo francês detectou mecanismos de conservação e reprodução
em todas as áreas da atividade humana, entre elas, o sistema educacional.
Em síntese, para Bourdieu o sistema escolar, em vez de oferecer acesso
democrático de uma competência cultural específica para todos, tende a
reforçar as distinções de capital cultural de seu público (SETTON, 2010).
NOTA
Frequentemente fazemos, sem perceber, julgamentos severos com base
em motivos nada consistentes ou, pior, preconceituosos. Na escola, é
comum alunos serem discriminados por causa de sua aparência e seus
hábitos. Você já observou como muitas vezes isso é uma manifestação
de sentimentos de superioridade de alguns grupos sociais em relação a
outros? (FERRARI, 2009).
70
Frazão (2019, s. p.) disserta sobre o caminho da vida e obra de Foucault:
71
A educação não foi o foco principal do pensador francês; nos momentos em
que esteve nas escolas foi para analisar as atividades dos estudantes. O elemento
fundamental para a Pedagogia é o sujeito, aí que se possibilita a articulação entre
Foucault e a Educação. É nesse aspecto do sujeito que o autor apresenta uma
perspectiva para a educação escolar, pois a partir dessa análise do pensamento de
Foucault se pode aproveitar os pontos do seu pensamento pedagógico. Por meio de
uma análise histórica inovadora, o filósofo francês viu na educação moderna atitudes de
vigilância e adestramento do corpo e da mente.
NOTA
É comum a educação ser encarada como um valor único, invariável e
redentor. No entanto, Foucault a via enredada em seu contexto cultural.
Por isso, o ensino que em uma época é considerado a salvação do
ser humano, em outra pode ser visto como nocivo. Você já pensou
nas implicações políticas e sociais da educação atual, com base em
sua experiência? Se sim, você leva em conta as conclusões ao planejar o
trabalho em sala de aula? (FERRARI, 2009b)
72
4 ZYGMUNT BAUMAN, VIRTUALIDADE E A EDUCAÇÃO
A tecnologia é um dos temas mais estudados no mundo contemporâneo. Em
todas as áreas do conhecimento e das artes ela se faz presente, não só como tema de
debate, mas transformando a ação humana e os objetos produzidos. Dentre as diversas
áreas, destacam-se a nanotecnologia, a robótica, a informática e a biotecnologia. Se no
passado a distinção entre natureza e máquina era natural, hoje essas diferenças tendem
a ganhar contornos bem mais imprecisos. Ideias que figuravam na literatura ficcional
passaram a integrar o cotidiano das civilizações. Seriam as promessas de um mundo
novo que fazem os seres humanos buscar novas formas de tecnologias e Ciência.
DICA
Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) podem ser definidas
como o conjunto total de tecnologias que permitem a produção, o acesso
e a propagação de informações, assim como tecnologias que permitem
a comunicação entre pessoas. Com a evolução tecnológica, surgiram
novas tecnologias, que se propagaram pelo mundo como formas de
difusão de conhecimento e facilitaram a comunicação entre as pessoas,
independentemente de distâncias geográficas (RODRIGUES, 2016).
O que estamos assistindo é que um novo mundo, uma nova sociedade, em termos
de relacionar-se e viver, está sendo gestada e você, acadêmico, está convidado a vivê-la e
compreendê-la. Nesta sociedade, multifacetada, líquida, virtual e de consumo, um nome
da Sociologia que a analisou de forma competente foi o Polonês Zygmunt Bauman
73
Quem foi Bauman? Qual sua formação? O que ele pesquisou?
74
FIGURA 29 – CONCEITOS E TEMAS DE ZYGMUNT BAUMAN
75
Qual a diferença entre educar na era pré-moderna e na modernidade
líquida dos dias atuais?
76
— As duas coisas. Nós estamos seduzidos pelos recursos das mídias digitais
por causa do nosso medo de sermos abandonados, mas uma vez imerso na rede de
relações on-line, que tem uma falsa ideia de ser facilmente manuseada, nós perdemos
ou não adquirimos habilidades sociais que poderiam (e deveriam) nos ajudar a extirpar
as causas dos medos que vêm do mundo off-line. Assim, as redes sociais são,
simultaneamente, produto da modernidade líquida e a sua válvula de escape.
77
LEITURA
COMPLEMENTAR
A EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE LÍQUIDO-MODERNA: REFLEXÕES SOBRE OS
ESCRITOS DE ZYGMUNT BAUMAN
78
Segundo Bauman (2008a), passamos de uma sociedade sólido-moderna, que
poderia ser denominada de “sociedade de produtores”, para uma sociedade líquido-
moderna, compreendida como uma “sociedade de consumidores”. É importante
salientar que o termo “consumo” assume uma perspectiva mais ampla que a esfera
natural/biológica do indivíduo. Na reflexão de Bauman (2008a, p. 41), o consumo
assume uma conceituação referente à esfera macrossocial, tornando-se “[...] um tipo
de arranjo social resultante da reciclagem de vontades, desejos e anseios humanos
rotineiros, permanentes e, por assim dizer, ‘neutros quanto ao regime’, transformando-
os na principal força propulsora e operativa da sociedade”.
79
A (des)ordem cultural e política líquido-moderna se ancora na perspectiva da
oferta massiva de informações. Nesse momento, a ambivalência com o desenvolvimento
tecnológico e a preocupação com o novo tipo de indivíduo moldado na esfera deste
arranjo social, são alvos das reflexões de Bauman. Por conseguinte, Bauman (2008b, p.
163) entende que:
80
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• O período conhecido como Idade Contemporânea inicia por volta de 1789, com
um dos acontecimentos políticos que muito influenciou a vida em sociedade, no
primeiro momento no contexto europeu e com o passar do tempo no contexto global.
Esse acontecimento, somado aos seguintes: Revolução Industrial, Capitalismo
Industrial, Financeiro, Informacional, duas grandes guerras mundiais, Movimentos
de contestações sociais, entre outros, caracterizaram a vida humana, sobretudo, em
uma forma dinâmica e de extremos.
• Para alguns autores, a Revolução Francesa no campo político e dos direitos, aliado à
Revolução Industrial no fator econômico, foram os dois grandes acontecimentos que
direcionaram a vida das pessoas na Idade Contemporânea e deram os fundamentos
para aquilo que podemos denominar do espírito moderno.
81
• O pós-modernismo ou a pós-modernidade, pode ser percebido a partir
das mudanças sociais, culturais, artísticas, filosóficas, científicas e estéticas
que surgiram após a segunda guerra. Essas mudanças foram responsáveis por
marcantes transformações nas relações travadas entre as crescentes práticas
capitalistas, a arte e a cultura.
• Pierre Bourdieu foi um dos maiores pensadores das ciências humanas do século
XX. Filósofo por formação desenvolveu importantes trabalhos de etnologia, no
campo da antropologia, e conceitos de profunda relevância no campo da sociologia,
como habitus, campo e capital social. Sua obra é extensa e abrangente, com
contribuição para diversas áreas do conhecimento, especialmente na educação
e cultura.
• Zygmunt Bauman foi um sociólogo, pensador, professor e escritor polonês, uma das
vozes mais críticas da sociedade contemporânea. Criou a expressão “Modernidade
Líquida” para classificar a fluidez do mundo onde os indivíduos não possuem mais
padrão de referência.
82
AUTOATIVIDADE
1 A Idade Contemporânea viveu também duas grandes Guerras Mundiais. A Primeira
Guerra Mundial, que durou de 1914 a 1918, foi considerada por muitos de seus
contemporâneos como a mais terrível das guerras. Por esse motivo, tornou-se
conhecida durante muito tempo como “A Grande Guerra”. A Segunda Guerra Mundial
foi o maior conflito da humanidade, acontecendo de 1939 a 1945 em diferentes
locais da Oceania, Ásia, África e Europa. Esse conflito foi travado entre Aliados
(Reino Unido, França, EUA, URSS etc.) e Eixo (Itália, Alemanha, Japão etc.) e teve
como consequências a morte de, aproximadamente, 60 milhões de pessoas e uma
destruição material significativa. Referente à Idade Contemporânea, assinale a
alternativa CORRETA:
2 Pierre Bourdieu foi um dos maiores pensadores das ciências humanas do século XX.
Filósofo por formação desenvolveu importantes trabalhos de etnologia, no campo
da antropologia, e conceitos de profunda relevância no campo da sociologia, como
habitus, campo e capital social. Sua obra é extensa e abrangente, com contribuição
para diversas áreas do conhecimento, especialmente na educação e cultura. Sobre
Bourdieu, analise as sentenças a seguir:
83
Assinale a alternativa CORRETA:
3 Zygmunt Bauman foi um sociólogo, pensador, professor e escritor polonês, uma das
vozes mais críticas da sociedade contemporânea. Criou a expressão “Modernidade
Líquida” para classificar a fluidez do mundo onde os indivíduos não possuem mais
padrão de referência. Sobre o conceito de modernidade líquida, assinale a alternativa
CORRETA:
84
REFERÊNCIAS
AMARAL, M. T. C. G. Barthez entre Montpellier e Paris: a complexa rede por trás
da ciência do homem. Tese em Doutorado em História da Ciência pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 2010. 117 p.
BASSI, V. Karl Marx: veja o que é capitalismo e o materialismo histórico. Blog do Enem,
24 set. 2018. Disponível em: https://blogdoenem.com.br/pensamento-atual-karl-
marx/. Acesso em: 20 mar. 2021.
BODART, C. N. Alienação em Marx. Blog Café com Sociologia. 2016. Disponível em:
https://cafecomsociologia.com/alienacao-em-marx/. Acesso em: 20 mar. 2021.
CARPENTIER, V. A idade média passo a passo. São Paulo: Companhia das Letras,
2012.
85
CHAUI, M. Convite À Filosofia. São Paulo: Ática, 1997.
KNIPP, K. Karl Marx se mantém extremamente atual. 2018. Disponível em: https://
www.dw.com/pt-br/karl-marx-se-mant%C3%A9m-extremamente-atual/a-43629900.
Acesso em: 20 mar. 2021.
86
MARX, K. O Capital: crítica da economia política. v. 6, Rio de Janeiro: Bertrand Brasi,
1994.
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. Porto Alegre: Ed. L&PM
Pocket, 2001.
MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. Tradução de José Carlos Bruni e Marco
Aurélio Nogueira. São Paulo: Livraria Editora Ciências Humanas, 1979.
87
SELL, C. E. Sociologia clássica: Marx, Durkheim e Weber. Petrópolis, RJ: Editora
Vozes, 2013.
88
UNIDADE 2 —
CULTURA E EDUCAÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• analisar as ações antrópicas e seus resultados para o meio ambiente e a relação com
os processos educacionais tradicionais.
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
89
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
Acesse o
QR Code abaixo:
90
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
CONCEITO DE CULTURA
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, vamos estudar três blocos de conteúdo. No primeiro entraremos
no conceito de cultura e sua origem. Principais autores e obras, conceitos usados
na pesquisa e entendimento do assunto abordado. De forma simples, a Cultura
adquire diversos significados: grande conhecimento de determinado assunto, arte,
ciência, "fulano de tal tem cultura". No entanto, aos olhos da Antropologia e da Sociologia,
Cultura é tudo aquilo que resulta da criação humana.
91
NOTA
Antropologia é o estudo do homem como ser biológico, social e cultural. Sendo
cada uma destas dimensões por si só muito ampla, o conhecimento antropológico
geralmente é organizado em áreas que indicam uma escolha prévia de certos
aspectos a serem privilegiados como a “Antropologia Física ou Biológica” (aspectos
genéticos e biológicos do homem), “Antropologia Social” (organização
social e política, parentesco, instituições sociais), “Antropologia Cultural”
(sistemas simbólicos, religião, comportamento) e “Arqueologia” (condições
de existência dos grupos humanos desaparecidos). Além disso podemos
utilizar termos como Antropologia, Etnologia e Etnografia para distinguir
diferentes níveis de análise ou tradições acadêmicas.
Cultura, de certa forma, são ideias, artefatos, costumes, leis, crenças morais
e conhecimento adquirido a partir do convívio social etc. A palavra cultura tem
origem no latim, é um verbo e significa ato de plantar e cultivar plantas ou realizar
atividades agrícolas.
92
FIGURA 1 – EDWARD BURNETT TYLOR
93
NOTA
Charles Robert Darwin ( Shrewsbury, 12 de fevereiro de 1809 – Downe, 19 de abril de 1882) foi
um naturalista, geólogo e biólogo britânico, célebre por seus avanços sobre evolução nas ciências
biológicas. Juntamente com Alfred Wallace, Darwin estabeleceu a ideia que todos os seres vivos
descendem de um ancestral em comum, argumento agora amplamente aceito e considerado um
conceito fundamental no meio científico, e propôs a teoria de que os ramos evolutivos são resultados
de seleção natural e sexual, onde a luta pela sobrevivência resulta em consequências similares às
da seleção artificial.
94
NOTA
ETNOCENTRISMO
• Etnocentrismo é um conceito antropológico, segundo o qual a visão ou
avaliação que um indivíduo ou grupo de pessoas faz de um grupo social
diferente do seu é apenas baseada nos valores, referências e padrões
adotados pelo grupo social ao qual o próprio indivíduo ou grupo fazem
parte. • Essa avaliação é, por definição, preconceituosa, feita a partir
de um ponto de vista específico. Basicamente, encontramos em tal
posicionamento um grupo étnico considerar-se como superior a outro.
Do ponto de vista intelectual, etnocentrismo é a dificuldade de pensar a
diferença, de ver o mundo com os olhos dos outros.
95
geração de antropólogos. Aposentou-se, em 1936, pela Universidade
de Columbia, da cadeira que hoje tem o seu nome. A sua crítica ao
evolucionismo está, principalmente, contida em seu artigo "The
Limitation of the Comparative Method of Anthropology", no qual
atribuiu a antropologia a execução de duas tarefas: A) a reconstrução
da história de povos ou regiões particulares; B) a comparação da vida
social de diferentes povos, cujo desenvolvimento segue as mesmas
leis (LARAIA, 2001, p.32)
96
FIGURA 3 – ALFRED LOUIS KROEBER
Para Kroeber, o ser humano pode ser considerado o resultado do meio cultural?
Laraia (2001, p. 33) afirma que sim.
97
QUADRO 1 – CONCEITO DE CULTURA
NOTA
O superorgânico é outro modo de descrever e compreender a cultura ou o sistema
sociocultural. Se começarmos com o inorgânico, é o universo físico, todos os átomos dos
elementos sem vida. Podemos chamar isso o mais baixo nível de complexidade.
O segundo nível de complexidade é composto das coisas vivas. A cultura e
a sociedade compõem o terceiro nível. Os seres humanos são animais, e,
dessa forma, são sistemas orgânicos. Eles desenvolveram comunicações
entre eles próprios a um nível complexo, muito mais sofisticado do
que outros animais. Essa complexidade associa os humanos em
comunidades e sociedades. Essas associações são simbólicas, não
genéticas como nos sistemas biológicos. O nível socioeconômico,
cultura ou sociedade, é desse modo transportado por humanos e
transcende os humanos. Uma cultura tem uma "vida própria" que é
simbólica em vez de genética. É, desse modo, uma coisa "viva". Opera a
um nível mais elevado de complexidade que o orgânico. É superorgânico
(BARTLE, 2012).
98
QUADRO 2 – CARACTERÍSTICAS
Ruth Benedict escreveu em seu livro o crisântemo e a espada que a cultura é como uma lente
através da qual o homem vê o mundo. Homens de culturas diferentes usam lentes diversas
e, portanto, têm visões desencontradas das coisas. A nossa herança cultural, desenvolvida
através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir depreciativamente com
relação ao comportamento daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria da
comunidade. O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes
comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança
cultural, ou seja, o resultado da operação de uma determinada cultura. Podemos entender o
fato de que indivíduos de culturas diferentes podem ser facilmente identificados por uma série
de características, tais como o modo de agir, vestir, caminhar, comer, mencionar a evidência
das diferenças linguísticas, o fato de mais imediata observação empírica.
O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como consequência
a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural. Tal
tendência, denominada etnocentrismo, é responsável em seus casos extremos pela ocorrência
de numerosos conflitos sociais (LARAIA, 2001, p 69-77).
Todo sistema cultural tem a sua própria lógica e não passa de um ato primário de etnocentrismo
tentar transferir a lógica de um sistema para outro. Infelizmente, a tendência mais comum é de
considerar lógico apenas o próprio sistema e atribuir aos de mais um alto grau de irracionalismo.
A coerência de um hábito cultural somente pode ser analisada a partir do sistema a que
pertence.
Todas as sociedades humanas dispõem de um sistema de classificação para o mundo natural
parece não haver mais dúvida, mas é importante reafirmar que esses sistemas divergem entre
si porque a natureza não tem meios de determinar ao homem um só tipo taxionômico.
Finalmente, entender a lógica de um sistema cultural depende da compreensão das categorias
constituídas pelo mesmo. Como categorias entendemos, como Marcel Mauss, "esses
princípios de juízos e raciocínios ... constantemente presentes na linguagem, sem que estejam
necessariamente explícitas, elas existem ordinariamente, sobretudo sob a forma de hábitos
diretrizes da consciência, elas próprias inconscientes” (LARAIA, 2001, p. 90-98).
99
5- A Cultura é Dinâmica
Podemos agora afirmar que existem dois tipos de mudança cultural: uma que é interna,
resultante da dinâmica do próprio sistema cultural, e uma segunda que é o resultado do
contato de um sistema cultural com um outro. No primeiro caso, a mudança pode ser lenta. O
segundo caso pode ser mais rápido e brusco.
Cada sistema cultural está sempre em mudança. Entender essa dinâmica é importante para
atenuar o choque entre as gerações e evitar comportamentos preconceituosos. Da mesma
forma que é fundamental para a humanidade a compreensão das diferenças entre povos de
culturas diferentes, é necessário saber entender as diferenças que ocorrem dentro do mesmo
sistema. Esse é o único procedimento que prepara o homem para enfrentar serenamente este
constante e admirável mundo novo por vir (LARAIA, 2001, p. 98-105).
O Universo da Cultura
A) O CONCEITO DE CULTURA:
100
FONTE: Adaptado de Barraqui (2018)
I. Grécia e Roma:
“Bárbaro” – conceito utilizado pelos gregos e romanos para quaisquer povos que não
fossem originários de sua cultura.
Visão etnocêntrica.
II. Iluminismo:
101
• Hierarquiza: concebe o modelo de sociedade europeia do século XVIII (urbana,
industrializada, republicana e democrática) como superior.
• Cultura como civilizadora.
102
• Cultura é a produção, reprodução e manutenção de símbolos ao longo da história.
D) EVOLUCIONISMO CULTURAL
I. Definição:
E) DIFUSIONISMO CULTURAL
I. Conceito:
Corrente de pensamento que defende que a cultura é fruto de “irradiação” por meio
do contato (comércio, guerras) entre os povos o que leva a imitação, reprodução,
reelaboração (sincretismo).
F) ANTROPOLOGIA ESTRUTURALISTA
I. Conceito:
103
Defendia a existência de estruturas mentais universais.
G) O CULTURALISMO
I. Conceito:
Teoria que defende que cada cultura segue seu próprio processo evolutivo.
II. Autor:
Cada cultura passa pelo seu processo evolutivo que está intimamente ligada às
condições geográficas, climáticas, psicológicas e históricas.
I. Cultura Tradicional
104
III. Cultura de Massas
I. Conceito:
Ex.: Quanto mais cultura eu acumulo, mais culto sou. Quanto mais diplomas acúmulo,
maior meu status.
I. Contexto Histórico:
105
Analisou fenômenos como violência nos grandes centros urbanos, práticas culturais
dos grupos juvenis, o individualismo, o consumismo e as relações familiares.
Nos mostra como que o próprio poder político corrompido produz e sustenta a
criminalidade.
Nos mostra como que a mídia ajuda a propagar a violência por intermédio do
sensacionalismo.
K) INTÉRPRETES DO BRASIL
Estudou a formação da sociedade brasileira a partir das três matrizes: nativo (índio),
negro (africano) e o branco (europeu).
106
Demonstra como esse caldeirão cultural foi marcado tanto por relações amistosas
quanto por conflitos, violência e relação de dominação.
O Patrimônio Cultural pode ser definido como um bem (ou bens) de nature-
za material e imaterial considerado importante para a identidade da sociedade
brasileira. Segundo Artigo 216 da Constituição Federal, configuram patrimônio
"as formas de expressão; os modos de criar; as criações científicas, artísticas e
tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços des-
tinados às manifestações artístico-culturais; além de conjuntos urbanos e sítios
de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico
e científico". O patrimônio cultural pode ser material ou imaterial.
107
3 CULTURA E IDENTIDADE
108
A preservação da identidade cultural é necessária em meio à homogeneidade cultural
do mundo globalizado.
Com isso, houve uma invasão da cultura norte-americana em países da América do Sul,
países africanos e países orientais. Essa invasão da cultura norte-americana como modo
cultural hegemônico ocasionou uma mudança de perspectiva, que colocou o hábito cultural
imposto no lugar do hábito cultural tradicional.
Podemos perceber, por exemplo, que o gosto musical dos brasileiros mudou ao longo
dos tempos. Se até a década de 1960 os brasileiros consumiam mais uma música
brasileira de origem regional, a partir dessa década, passou-se a ouvir mais músicas
estrangeiras. Com o fenômeno da importação de filmes e programas televisivos
dos Estados Unidos e, a partir dos anos 2000, com o advento da popularização
da internet, a música consumida pela população brasileira sofreu uma influência
norte-americana muito maior.
109
se originou, havendo uma noção de identidade cultural implícita nessa relação.
A música sertaneja composta por viola caipira, por exemplo, remete ao sertão do
Brasil, enquanto os ritmos rápidos com tambores e chocalhos remetem aos ritmos
africanos ou de origem africana.
• Culinária: forte elemento de identidade cultural. É comum associarmos as massas
à culinária italiana, o bacalhau à culinária portuguesa, o sushi à culinária japonesa,
a paella à culinária espanhola, a feijoada à culinária brasileira e a cerveja à culinária
alemã. Os hábitos culinários dizem muito a respeito da cultura em questão.
NOTA
Identidade Nacional
A identidade nacional, é uma condição social, cultural e espacial. Trata-se de características
que têm uma relação com um entorno político uma vez que, em geral, as nações estão
associadas a um Estado (ainda que não seja sempre assim). O conceito de identidade
nacional só começou a ganhar força no século XIX, quando surgiu a noção de nação.
Identidade Étnica
• Etnia = Processo de identificação de um grupo sociocultural
• Resultado de fatores historicamente construídos: ancestralidade, organização social,
língua e religião;
• IMPERIALISMOS – opressão, exclusão, exploração, aculturação!
Identidade Cultural
A identidade cultural se constrói de forma múltipla e dinâmica.
A identidade cultural é um conjunto vivo de relações sociais
e patrimônios simbólicos historicamente compartilhados que
estabelece a comunhão de determinados valores entre os membros
de uma sociedade. Sendo um conceito de trânsito intenso e tamanha
complexidade, podemos compreender a constituição de uma
identidade em manifestações que podem envolver um amplo número
de situações que vão desde a fala até a participação em certos eventos.
110
5 CULTURA E DESCONSTRUÇÃO
Historicamente, os processos de colonização ocidentais etnocêntricos,
apoiados por ideologias dominantes e de extermínio étnico, constituíram abismos
profundos a partir de visões de mundo daqueles que dominavam sobre aqueles que
eram dominados. Dessa forma, a diversidade cultural era negada e silenciada por meio
das formas mais variadas e cruéis de poder e da produção do conhecimento, alicerçadas
num racionalismo positivista, discriminatório e segregador. A diferença era vista como
atraso e deveria ser aniquilada ou domesticada.
111
sociais e culturais ainda presentes na atual sociedade humana. Essa configuração de
manifestações e lutas constitui o hibridismo social que faz parte de nossa sociedade
contemporânea, que nos obriga a revisar e reconsidera novas políticas sociais de
legitimidade desse pluralismo em curso e de movimentos de desconstrução cultural
de processos que envolvem a superação estereótipos e preconceitos, do racismo, do
machismo, da homofobia, entre outros, e, sem sombra de dúvida, nos aponta para a
necessidade da produção de um conhecimento interdisciplinar que possa nos ajudar
para compreender e desejar a possível liberdade humana.
112
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• Ruth Benedict escreveu em seu livro O crisântemo e a espada que a cultura é como
uma lente através da qual o homem vê o mundo. Homens de culturas diferentes usam
lentes diversas e, portanto, têm visões desencontradas das coisas. A nossa herança
cultural, desenvolvida através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a
reagir depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos
padrões aceitos pela maioria da comunidade.
113
• Desconstrução é um esforço de superação dos estereótipos e preconceitos que
carregamos dentro de nós. É quebrar o conjunto de barreiras morais e culturais
que nos impede de aceitar o diferente, oprimindo o outro e criando um ambiente
de hostilidade que gera violência velada ou explícita. Machismo, homofobia, racismo
e outras formas de preconceito são desconstruídos em um processo contínuo que
evolui e não necessariamente se completa. Dessa forma, a desconstrução tem um
potencial transformador e pode abrir um mundo diferente conforme essa nova
geração aceita esse desafio (GUIDOLIN; MICHELMAN, 2017).
114
AUTOATIVIDADE
1 O fato de que o ser humano vê o mundo através de sua cultura tem como
consequência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e
o mais natural. Tal tendência é denominada etnocentrismo. Sobre o Etnocentrismo,
assinale a alternativa CORRETA:
I- A identidade cultural é, justamente, esse padrão que identifica uma produção cultural
a certo grupo social.
II- Um exemplo de identidade cultural seria a Religiosidade.
III- A identidade cultural está relacionada com a forma como vemos o mundo exterior e
como nos posicionamos com relação a ele.
115
desconstruir certas visões de mundo que oprimem e marginalizam determinadas
culturas ou formas de vida. Referente às temáticas cultura e desconstrução,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
a) ( ) V – V – F.
b) ( ) V – V – V.
c) ( ) F – F – F.
d) ( ) F – F – V.
116
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
DIVERSIDADE CULTURAL
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, vamos estudar três assuntos. Em Inclusão e Cultura, você
perceberá que a cultura da inclusão é possível em uma sociedade aberta ao diálogo. Para
dialogar, é necessário que possamos compreender a visão de mundo do outro. A inclusão
cultural define que qualquer pessoa seja incluída em diferentes espaços, independente
da sua cultura. Como a inclusão social abrange essa definição para diversos aspectos,
como etnia, cultura, gênero, classe social e muitas outras características, podemos dizer
que a inclusão cultural está dentro desse contexto.
2 INCLUSÃO E CULTURA
A exclusão cultural de um determinado grupo de pessoas ocorre quando não há
igualdade na conquista por oportunidades, quando não há igualdade na representação
dentre os espaços públicos ou quando os direitos desses grupos são blindados. Quando
nos reportamos à identidade e inclusão, não podemos deixar de referir a importância da
noção de cultura e da sua estreita relação com o pertencimento, os enraizamentos e as
afetividades ao território e ao local habitado. Portanto, integração social cultural também
se alcança por iniciativas em prol da realização de atividades valorizadas pelas próprias
pessoas enquanto atores participantes numa comunidade. Assim, a cultura pode ser
entendida como um instrumento ao serviço do alcance de graus de desenvolvimento,
mas também, como um fim desejável, dando sentido à própria existência humana.
117
FIGURA 4 – INCLUSÃO CULTURAL
A inclusão cultural define que qualquer pessoa seja incluída em diferentes espaços,
independentemente da sua cultura. Como a inclusão social abrange essa definição
para diversos aspectos, como etnia, cultura, gênero, classe social e muitas outras
características, podemos dizer que a inclusão cultural está dentro desse contexto.
Todo conjunto de ações que tem como objetivo proporcionar a participação
igualitária de toda a população na sociedade é visto como uma prática de inclusão
social. Logo, quando essas ações visam garantir que todas as culturas tenham seu
espaço igual na sociedade, a denominação é inclusão cultural. A inclusão cultural
e social é importante em uma sociedade, pois é ela que garante que todos tenham
os mesmos direitos e oportunidades em diferentes áreas da vida como educação,
finanças, saúde, lazer, entre outras.
118
Os aspectos positivos da diversidade cultural doam novas aprendizagens, abertura
mental e tolerância, levando-nos à descoberta de valores que deixarão todos mais ricos
intelectualmente. A coexistência das diversidades culturais é um fator de progresso, sempre.
3 GÊNERO E CULTURA
O termo gênero tem sido usado para teorizar a questão da diferença sexual,
desde a década de 1970. Um conceito complexo, que abrange a ideia de que as distinções
baseadas no sexo são fundamentalmente sociais, afastando-se, assim, a noção de
naturalização. Além disso, explicita a assimetria nas relações entre homens e mulheres,
marcadas pela hierarquização e por dimensões de poder. Você provavelmente já ouviu
falar em gênero, pois muito tem se falado sobre identidade de gênero, igualdade
de gênero, ideologia de gênero, entre outros temas relacionados ao termo. No
entanto, afinal, qual o significado desse conceito? Acompanhe as explicações
das autoras Medeiros e Moraes (2015):
Muitas vezes o termo gênero é erroneamente utilizado em referência ao sexo biológico. Por
isso, é importante enfatizar que o gênero diz respeito aos aspectos sociais atribuídos ao sexo,
ou seja, gênero está vinculado a construções sociais, não a características naturais.
119
O gênero, portanto, se refere a tudo aquilo que foi definido ao longo tempo e que a
nossa sociedade entende como o papel, função ou comportamento esperado de
alguém com base em seu sexo biológico.
Sexo
O sexo diz respeito às características biológicas que diferenciam homens e mulheres.
O sexo é usualmente determinado pelas genitálias.
Gênero
Novamente, o gênero é a construção social atribuída ao sexo.
Vejamos um exemplo que nos permita entender melhor essa distinção:
Muitas vezes escutamos frases como “cuidar da casa é coisa de mulher”. O que está
por trás de frases desse tipo é justamente a questão de gênero: se o que caracteriza
“ser mulher” são simplesmente características biológicas e anatômicas, não haveria
razão para alguém atribuir uma atividade especificamente às mulheres. Afinal,
qual genitália uma pessoa tem não faria diferença na hora de limpar a casa. Isso
demonstra que há algum sentido a mais atribuído a “ser mulher”, algo que vá além do
sexo biológico. Esse “algo além” é, justamente, o gênero.
Sexualidade
A sexualidade diz respeito à orientação sexual de uma pessoa, ou seja, por quais
gêneros essa pessoa sente atração sexual ou romântica.
Algumas das categorias atribuídas à sexualidade são: heterossexualidade (pessoa
que sente atração por pessoa do gênero oposto); homossexualidade (pessoa que
sente atração por pessoa do mesmo gênero); bissexualidade (pessoa que sente
atração por pessoas dos dois gêneros).
Por muito tempo as pessoas usaram a sigla "GLS" para designar e generalizar
pessoas Gays, Lésbicas e "Simpatizantes", no entanto, essa é uma sigla excludente, limita
muito um grupo de pessoas e gêneros e isso não condiz mais com a realidade no século XXI.
Aqui temos mais informações para não deixar dúvidas.
120
LGBTQIA+ é a sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais, transexuais, Queer, intersexo,
Assexuais e mais(+), onde o (+) busca incluir outras variações de gênero, tais como:
Pan, poli, não-binarie, omni e demi. Antes de entender o significado de cada uma das
letras da sigla, precisamos entender o que é identidade de gênero, pois ela é o motivo
para haver todas essas letras.
Cisgênero: trata-se do indivíduo que se identifica com seu gênero de nascença, Por
exemplo: um indivíduo que tem que o gênero de nascença definido como masculino
e que tem a percepção de si como homem, assim definido como homem cisgênero.
121
O que é Orientação Sexual e Sexo Biológico?
122
Em síntese, identidade de gênero diz respeito ao gênero com o qual uma pessoa
se identifica. É independente do sexo (ou seja, das características biológicas), está
relacionada à identificação de uma pessoa com o gênero masculino ou feminino. Algumas
pessoas se identificam com um gênero diferente do que é imposto a elas em função de
seu sexo biológico. Essa identificação é o que se chama de identidade de gênero.
FONTE: O autor.
123
padrão de poder e opera em casa um dos panos, meios e dimensões, materiais e
subjetivos, da existência social quotidiana e a escala societal” (QUIJANO, 2010, p. 84). A
colonialidade se reproduz em uma tripla dimensão: a do poder, do saber e do ser.
FONTE: O autor.
NOTA
A colonialidade do poder é um conceito desenvolvido originalmente
por Aníbal Quijano, em 1989, e amplamente utilizado pelo grupo.
Ele exprime uma constatação simples, isto é, de que as relações de
colonialidade nas esferas econômica e política não findaram com a
destruição do colonialismo.
NOTA
A colonialidade do ser (gênero e sexualidade) pode ser definida
como uma realidade do mundo moderno colonial, que faz com
que se inferiorizem pessoas, logo, uma forma de se destituir a
existência humana.
A Colonialidade do saber: a teoria de Quijano sobre
a colonialidade propõe uma concepção da diferenciação colonial e
epistêmica, onde a colonialidade se transfere do âmbito do poder
para o campo do saber, construindo a colonialidade do saber que
age de forma a manter a hegemonia eurocêntrica como perspectiva
superior do conhecimento.
124
As profundas marcas produzidas pela experiência colonial na realidade cultural
e territorial dos povos africanos, asiáticos e americanos operam como matriz ideológica
de processos compreendidos mediante os designados estudos subalternos, cuja
perspectiva de reflexão da colonialidade do poder, do ser, do saber perpassa certamente
os elementos mais sutilmente imbricados na cosmovisão dos povos colonizados.
125
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• A inclusão cultural define que qualquer pessoa seja incluída em diferentes espaços,
independente da sua cultura. Como a inclusão social abrange essa definição para
diversos aspectos, como etnia, cultura, gênero, classe social e muitas outras
características, podemos dizer que a inclusão cultural está dentro desse contexto.
Todo conjunto de ações que tem como objetivo proporcionar a participação igualitária
de toda a população na sociedade é visto como uma prática de inclusão social. Logo,
quando essas ações visam garantir que todas as culturas tenham seu espaço igual
na sociedade, a denominação é inclusão cultural.
• O termo gênero tem sido usado para teorizar a questão da diferença sexual, desde
a década de 1970. Um conceito complexo, que abrange a ideia de que as distinções
baseadas no sexo são fundamentalmente sociais, afastando-se, assim, a noção de
naturalização. Além disso, explicita a assimetria nas relações entre homens e mulheres,
marcadas pela hierarquização e por dimensões de poder. Você provavelmente já
ouviu falar em gênero, muito tem se falado sobre identidade de gênero, igualdade de
gênero, ideologia de gênero, entre outros temas relacionados ao termo.
126
AUTOATIVIDADE
1 A exclusão cultural de um determinado grupo de pessoas ocorre quando não há
igualdade na conquista por oportunidades, quando não há igualdade na representação
dentre os espaços públicos ou quando os direitos desses grupos são blindados.
Referente à Inclusão cultural, assinale a alternativa CORRETA:
2 O termo gênero tem sido usado para teorizar a questão da diferença sexual, desde
a década de 1970. Um conceito complexo, que abrange a ideia de que as distinções
baseadas no sexo são fundamentalmente sociais, afastando-se, assim, a noção de
naturalização. A respeito da temática de gênero, analise as afirmativas a seguir:
127
a) ( ) Colonialidade do poder.
b) ( ) Colonialidade do fazer.
c) ( ) Colonialidade do ser.
d) ( ) Colonialidade do saber.
128
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
CULTURA E MEIO AMBIENTE
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico vamos estudar três assuntos. Em Cultura e Sustentabilidade,
vamos refletir sobre um mundo onde o consumismo se faz presente é necessário o
estudo de formas de preservação e sustentação do meio ambiente de qualidade, o termo
sustentabilidade é apresentado como um processo cultural historicamente construído. A
noção de sustentabilidade surgiu baseada no entendimento de que os recursos naturais
são finitos. Portanto, a preocupação ambiental passa pelas questões econômicas,
biológicas, culturais, entre outros setores e áreas do conhecimento humano e da
sociedade. A sustentabilidade é uma preocupação amparada em eventos marcantes e
de consequências trágicas para a humanidade e a natureza.
Na abordagem da Cultura e Diálogo dos Saberes, veremos que não há saber mais
ou saber menos diria Paulo Freire em seus escritos, há saberes diferentes, somente com
o diálogo entre os conhecimentos, principalmente o prático e com o científico teremos
um mundo mais justo e igualitário. Paulo Freire, nosso grande educador, foi um dos
precursores em problematizar a temática Diálogo dos saberes, em sua obra Extensão
ou Comunicação, em 1977, no sentido de orientar a relação entre o técnico e o agricultor,
onde todos os sujeitos são educandos e educadores.
2 CULTURA E SUSTENTABILIDADE
Sustentabilidade é um conceito relacionado à conservação. No aspecto
ambiental, que com frequência o termo é empregado, a sustentabilidade diz respeito,
então, a um planeta sadio, no qual as pessoas possam encontrar as condições necessárias
para a sua sobrevivência, de geração em geração. Como surgiu esse termo? A noção
de sustentabilidade surgiu baseada no entendimento de que os recursos naturais
são finitos. Portanto, a preocupação ambiental passa pelas questões econômicas,
129
biológicas, culturais, entre outros setores e áreas do conhecimento humano e da
sociedade. A sustentabilidade é uma preocupação amparada em eventos marcantes e
de consequências trágicas para a humanidade e a natureza.
O que é Sustentabilidade?
FONTE: <https://autossustentavel.com/wp-content/uploads/2011/09/dimensc3b5es-da-sustentabilidade.jpg>.
Acesso em: 23 fev. 2021.
131
Esse termo surgiu no relatório desenvolvido pela Comissão Mundial sobre o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento apresentado em 1987, conhecido como Relatório de
Brundtland ou Nosso Futuro Comum. O relatório traz a definição de desenvolvimento
sustentável como:
132
sem que haja a direta agressão ao meio ambiente? Como se tornar
uma sociedade sustentável? As novas tecnologias, avultando as
áreas comerciais, as atitudes agressivas no comércio internacional, a
crise financeira, o avanço do efeito estufa e do aquecimento global,
a crescente perda da biodiversidade, a degradação dos recursos
indispensáveis para a sobrevivência humana, o exagero no consumo
e na produção. Tudo isso são fatos, são realidades que, para haver
condições existenciais de vida humana, é indispensável que haja a
mudança de estilo de civilização. Deve-se dar ênfase à preocupação
no sistema desenvolvimentista social, econômico e ambiental, pois,
em cada ato humano há, direta ou indiretamente, uma agressão
ao meio ambiente. Assim, buscar-se-á um estudo quanto ao tema
da sustentabilidade, como um fenômeno que tem por finalidade a
reorganização das atitudes humanas, uma nova forma de pensar e
agir diante do colapso ambiental. Esse é um meio ou “o” meio pelo
qual os seres humanos têm a fórmula de vida terrena. Mas, diante
de seus atos, em comparação a uma empresa, estar-se-ia em
plena falência, pois que dilapida seu capital, o qual, em se tratando
de meio ambiente, são os recursos naturais. E o faz como se esses
fossem eternos, ilimitados, infindáveis, o que não é verdade, já que os
recursos naturais são meios limitados, finitos.
133
diz respeito às informações acumuladas ao longo do tempo por uma determinada
comunidade com relação as suas práticas, seus valores, sua cultura, enfim, suas
vivências e experiências. Tais conhecimentos não são permanentes nem inabaláveis,
pois são gerados, modificados e reformulados pela comunidade. Diegues et al. (2000,
p. 30) definem o conhecimento tradicional “como o conjunto de saberes e saber-fazer a
respeito do mundo natural, sobrenatural, transmitido oralmente de geração em geração”.
Dickmann e Dickmann (2008, p. 70) afirmam que “o saber popular é entendido como
aquele adquirido nas lutas, que não está escrito nos livros, aquele que é fruto das várias
experiências vividas e convividas em tempos e espaços diversos na história do povo”.
134
que se pode ler valores culturais, o modo de ser e de se ver, de viver e de trabalhar,
de significar seus projetos de vida. No Diálogo de saberes está implícita a construção
conjunta do conhecimento ou a produção coletiva de conhecimentos, sem haver
imposição de receitas, técnicas ou soluções prontas, sem “invasão cultural”. É uma
prática que envolve a participação direta do sujeito ou da comunidade, na ação
(execução), gestão; monitoramento e avaliação. É permitir que o sujeito assuma o
protagonismo de seu processo histórico, tendo um papel ativo na transformação de sua
realidade, buscando atuar e se corresponsabilizar pelo seu desenvolvimento, de modo
cada vez mais autônomo.
Por outro lado, o pesquisador não pode se omitir na sua relação com os sujeitos.
Não pode omitir o que sabe, esconder o que sabe, esconder o que aprendeu nos
domínios do conhecimento técnico-científico, esconder seus valores, suas crenças, sua
visão, pois o verdadeiro aprendizado só se constrói na "síntese cultural" de sujeitos. O
conceito de ser humano aqui inerente é um ser ativo, criativo, que transforma o meio
produzindo cultura; um ser capaz de criar as suas próprias condições de existência
atuando sobre a natureza, transformando-a e transformando-se a si próprio. O princípio
não é apenas ideológico, mas também adotado na prática da pesquisa, conduzida em
todos os territórios com a contribuição de um pesquisador profissional e de sujeitos
envolvidos com suas práticas. Um saber tecido a muitas mãos, com contribuições das
universidades, e dos sujeitos beneficiários, observando que o seu conhecimento sobre
a realidade local e o saber tradicional devem estar obrigatoriamente contemplados para
uma efetiva política pública.
135
No contexto latino-americano, nas últimas décadas do Século XX, um importante
debate referente à vida plena para todos se tornou presente: a utopia indígena do Bem
Viver, Sumak Kawsay em sua expressão em quechua, a mais conhecida no Continente.
Não se trata de um tema realmente novo, mas sim de uma riqueza de sabedoria que só
nos últimos anos os povos indígenas estão trazendo à luz e oferecendo-a ao mundo
como sua contribuição à aventura humana. Sobre o exposto, Osório (2015, p. 8) afirma:
NOTA
O Sumak Kawsay, da tradução literal, seria a vida em plenitude, excelência,
o melhor, o belo. Mas já interpretada em termos políticos, é a própria vida,
uma mistura de tarefas e vontade política que significam mudanças para
que as pessoas não percam o pão do dia e que não haja desigualdades
sociais entre homens e mulheres. O Sumak Kawsay é o sonho não só
dos índios, mas também de todos os humanos. Quando falamos sobre o
Sumak Kawsay, não se trata de voltar ao passado, porque não podemos
dizer que isso foi perfeito, mas nós tivemos e vivemos o Sumak Kawsay
(CHANCOSO, 2014).
O Bem Viver deve combinar com um Bem Conviver: não vivemos bem se não
convivemos bem, entendendo isso efetivamente em um sentido integral: convivência
entre os humanos, convivência com as demais espécies para evitar o especismo, e
convivência com toda a natureza em harmonia integral. Bem viver que não é a boa-vida
não solidária, nem o viver melhor na acumulação ou progresso indefinido a qualquer
custo. Bem Viver que pode levar, em boa parte, ao decrescimento, à vida natural, à
sobriedade para que todos possam também viver bem.
136
Há nessa sobrevivência centenária não somente um mecanismo
de defesa, mas sabedorias sofisticadas e alternativas para as crises
ecológicas, sociais e políticas que atingem todo o mundo. Muitas
práxis libertadoras e igualitárias de povos originários, marginalizados
e periféricos da América Latina e de territórios emergentes compõem
a essência da filosofia do Bem Viver. “A vida de um ser humano em
harmonia consigo mesmo, com o outro e com a natureza.
Podemos destacar que o Bem Viver é uma Filosofia de Vida. Nas palavras da
pesquisadora Bonim (2015, p. 1),
137
usufruir do direito de viver em seus territórios tradicionais, ou seja,
estão sem possibilidade de vivenciar a condição primordial do Bem
Viver. O conceito de Bem Viver está na contramão de um modelo de
desenvolvimento que considera a terra e a natureza apenas como
insumos para a produção de mercadorias de rápido consumo e, mais
rápido ainda, descarte. É para sustentar o modelo capitalista que os
governos priorizam os mega investimentos, as grandes barragens,
a exploração mineral, as monoculturas que degradam o ambiente
e envenenam a terra, as águas e todos os seres vivos. O modelo
capitalista promove a concentração de bens e riquezas nas mãos
de poucos privilegiados que priorizam as regras da competitividade,
da lucratividade e do ideal individualista de “se dar bem na vida”. A
falta de respeito com o diferente e com todos aqueles que possuem
maneiras distintas de viver e pensar é característica das elites, das
quais a brasileira se destaca por ser acentuadamente conservadora
(BONIM, 2015, p.1).
138
NOTA
Significado de Paradigma
Paradigma é um termo com origem no grego "paradeigma" que
significa modelo, padrão. No sentido lato corresponde a algo que vai
servir de modelo ou exemplo a ser seguido em determinada situação.
O paradigma é um princípio, teoria ou conhecimento. Uma referência
inicial que servirá de modelo a ser seguido (mudança).
Com base nos povos indígenas, o conceito de "Bem Viver" se apresenta como
algo que convida a voltar a sonhar, mas de olhos abertos, a pensar possibilidades de
novos mundos, mas sempre com pé no chão, entendendo os reais problemas e em qual
ponto de partida nos encontramos. Somos seres em comunidade, temos que entender
que somos parte da Natureza.
139
• Redução do tempo de trabalho e distribuição do emprego, sendo o trabalho direito
e dever da sociedade que busca o “Bem Viver”.
• Subtração do olhar objetificado dos seres humanos, passando de ameaça para
promessa.
• Combate à excessiva concentração de riqueza, levando a uma convivência sem
miséria, discriminação e com o mínimo de coisas necessárias.
• Possibilidade igualitária de escolhas para as pessoas, mesmo que com meios
diferentes.
FONTE: ACOSTA, A. O Bem Viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. São Paulo: Editora
Autonomia Literária, 2016, p.
140
LEITURA
COMPLEMENTAR
O BEM VIVER E A RADICALIDADE DE SONHAR OUTROS MUNDOS
Juliana Gonçalves
141
pela criação de outro modelo econômico. No entanto, não faltam críticas que apontem
que esses governos usam o Bem Viver muito mais como um slogan do que pelo seu
conteúdo revolucionário.
142
meio de suas vivências em comum. Os valores civilizatórios africanos e indígenas contidos
no conceito de Bem Viver estão na contramão de um modelo de desenvolvimento que
considera a terra e a natureza apenas como insumos para a produção de mercadorias
de rápido consumo e, mais rápido ainda, descarte. O Bem Viver assim como ressalta
as cosmovisões africanas e indígenas, não entende que enquanto humanos estamos
apartados da natureza, pelo contrário, somos parte dela. Ao permitir sonhar outros
mundos, o Bem Viver dá base para uma prática política que visa a desconstrução das
opressões estruturais a partir do rompimento de práticas colonizadoras.
Desse modo, o termo nada tem a ver com o “viver bem”, ou o “viver melhor”
que trazem em si o consumismo, o acúmulo de riqueza ou acesso às abundâncias que
o dinheiro pode comprar com base em relações exploratórias. Pelo contrário, não há
Bem Viver na opressão. O conceito surge com a missão de descolonizar a democracia
a partir do rompimento de práticas colonizadoras que são alicerces do capitalismo. O
Bem Viver nos lembra que mudar esse sistema econômico e político não é utopia, mas
sim uma necessidade.
143
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• A noção de Bem Viver tem como procedência o sumak kawsay, um modo de vida
de populações indígenas latino-americanas. Bem Viver provém da tradução para
o castelhano (buen vivir) da expressão kichwa sumak kawsay e da expressão
aymara suma qamaña. Sumak, que em kichwa, significa plenitude, e kawsay, viver.
Kichwa designa um povo, uma nacionalidade e um idioma falado por cerca de 14
milhões de pessoas distribuídas entre as regiões andinas e amazônicas de Peru,
Bolívia, Equador, Chile, Colômbia e Argentina. Foi a língua oficial do Império Inca.
Neste idioma, “suma significa plenitude, excelência, bem, e qamaña, viver, estar
sendo. Aymara é também a designação de um povo estabelecido no Peru, Bolívia,
Argentina e Chile” (OSÓRIO, 2015: p. 8).
144
Terra. Para pensar em Bem Viver é necessário beber da fonte ancestral, mas isso
não significa fazer uma leitura utópica do passado, e sim pensá-lo como tempo que
respalda a contínua produção do presente e do futuro. As próprias culturas indígenas
são o melhor exemplo de que outro mundo é possível porque conseguem ainda no
início deste século XXI, marcado pela desigualdade e uniformização das mercadorias,
do consumo e dos desejos, construir sociedades igualitárias, sem marginalização e
sem exclusão.
145
AUTOATIVIDADE
1 O termo sustentabilidade surge da necessidade de discussão a respeito da forma
como a sociedade vem explorando e usando os recursos naturais, pensando em
alternativas de preservá-lo evitando, assim, que esses recursos se esgotem na
natureza. A definição de sustentabilidade está atrelada ao conceito de desenvolvimento
sustentável. Sobre a dimensão social, assinale a alternativa CORRETA:
146
a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
c) ( ) Somente a afirmativa III está correta.
d) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
3 Eles emergem com muita força em vários países latino-americanos, como sujeitos
e não mais como objetos da política. São atores fundamentais em processos de
democratização no Equador e na Bolívia, em particular. Não só sujeitos, mas também
portadores de alternativas de sua própria forma de ver o mundo. Sobre o exposto,
assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Europeus.
b) ( ) Trabalhadores.
c) ( ) Povos marginalizados.
d) ( ) Movimentos Indígenas.
147
148
REFERÊNCIAS
ACOSTA, A. O Bem Viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. São Paulo:
Editora Autonomia Literária, 2016.
ALFANO, B. O Globo Brasil. A educação deve ser pensada durante a vida inteira, diz
Zygmunt Bauman, 23 ago. 2015. Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/
educacao/a-educacao-deve-ser-pensada-durante-vida-inteira-diz-zygmunt-
bauman-17275423. Acesso em: 20 mar. 2021.
AMARAL, M. T. C. G. do. Barthez entre Montpellier e Paris: a complexa rede por trás
da ciência do homem. 2010, 117p. Tese (Doutorado em História da Ciência) – Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010.
BASSI, V. Karl Marx: veja o que é capitalismo e o materialismo histórico. Blog do Enem,
[s.l.], 24 set. 2018. Disponível em: https://blogdoenem.com.br/pensamento-atual-karl-
marx/. Acesso em: 20 mar. 2021.
149
BELTRÃO, C.; DAVIDSON, J. História antiga. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2009. 276 p.
BODART, C. das N. Alienação em Marx. Blog Café com Sociologia. 2016. Disponível
em: https://cafecomsociologia.com/alienacao-em-marx/. Acesso em: 20 mar. 2021
CARPENTIER, V. A idade média passo a passo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
CARRASCO, B. Ex_isto, 2017. A existência precede a essência – Sartre. Disponível em: https://
www.ex-isto.com/2017/06/existencia-precede-essencia.html. Acesso em: 7 maio 2020
150
DIEGUES A. C. et al. Os saberes tradicionais e a biodiversidade no Brasil. São
Paulo: MMA/COBIO/NUPAUB/USP, 2000.
KNIPP, K. Karl Marx se mantém extremamente atual. 2018. Disponível em: https://
www.dw.com/pt-br/karl-marx-se-mant%C3%A9m-extremamente-atual/a-43629900.
Acesso em: 20 mar. 2021
LARAIA, R. de B. Cultura: Um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge "Zahar Ed., 2001.
151
LOMBARDI, J. C. Educação, ensino e formação profissional em Marx e Engels.
In: LOMBARDI, J. C.; SAVIANI, D. (Orgs.). Marxismo e educação: debates
contemporâneos. 2. ed. Campinas, 2008. p. 01-38.
MARX, K. O Capital: crítica da economia política, v. 6. Rio de Janeiro: Bertrand Brasi, 1994,
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. Porto Alegre: Ed. L&PM
Pocket, 2001.
MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. Tradução de José Carlos Bruni e Marco
Aurélio Nogueira. São Paulo: Livraria Editora Ciências Humanas, 1979.
MEDEIROS, L.; MORAES, I. Politize, 2015. Gênero: você entende o que significa?
Disponível em: https://www.politize.com.br/vamos-falar-sobre-genero/. Acesso em:
20 abr. 2021.
152
PIAGET, J. Estudos Sociológicos. Rio de Janeiro: Forense, 1973.
SETTON, M. da G. Uma introdução a Pierre Bourdieu. Cult, São Paulo, ed. 128, 2010.
Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/uma-introducao-a-pierre-
bourdieu/. Acesso em: 20 mar. 2021.
SUESS, P. Elementos para a busca do Bem Viver (Sumak Kawsay) para todos
e sempre. 2010. Disponível em: https://cimi.org.br/2010/12/elementos-para-
a-busca-do-bem-viver-sumak-kawsay-para-todos-e-sempre/#:~:text=O%20
%E2%80%9Csumak%20kawsay%E2%80%9D%20prop%C3%B5e%20a,parte%20
inerente%20ao%20ser%20social.&text=O%20ser%20individualizado%20da%20
modernidade,e%20viver%20com%20sua%20alteridade. Acesso em: 20 mar. 2020.
153
TREVISAN, T. V. Sociologia da educação. Santa Maria: Editora UFSM, 2009.
154
UNIDADE 3 —
EDUCAÇÃO, CULTURA
E SOCIEDADE EM
SALA DE AULA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• promover o debate e a inclusão de gênero em sala de aula com o suporte das teorias
decoloniais;
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
155
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
Acesse o
QR Code abaixo:
156
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
INTERCULTURALIDADE EM SALA DE AULA
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico estudaremos a multiculturalidade. O multiculturalismo pode ocorrer
em escala nacional ou nas comunidades de uma nação. Pode ocorrer naturalmente
por meio da imigração ou artificialmente quando jurisdições de diferentes culturas são
combinadas por meio de decreto legislativo.
Por fim, veremos acerca das práticas interculturais em sala de aula, que englobam
relações étnico-raciais, questões de gênero e sexualidade, pluralismo religioso, relações
geracionais, culturas infantis e juvenis, povos tradicionais e educação diferenciada,
entre outros.
2 MULTICULTURALIDADE
A natureza humana resulta do aprendizado cultural e por conseguinte é a
responsável pela diversidade humana, nascemos seres biológicos e o que nos torna
humanos é a cultura. Os processos culturais abrangem as práticas humanas e suas
manifestações, como os conhecimentos, as crenças, os valores, os costumes, as artes,
a tecnologia, que podem ser analisadas como representações simbólicas.
NOTA
Multiculturalidade: em que há, em simultâneo, várias culturas num
mesmo território, país etc.; multicultural.
157
em comum é a sua capacidade para se diferenciar uns dos outros, para elaborar
costumes, línguas, modos de conhecimento, instituições, jogos profundamente
diversos” (LAPLANTINE, 1994, p. 22).
Desse modo, cada sociedade, cada cultura tem sua dinâmica própria, construída
historicamente dentro do seu contexto específico e único. Esse processo resulta na
diversidade cultural existente, ou seja, sociedades multiculturais, que no contexto da
globalização, que permitiu a aproximação das pessoas por meio do desenvolvimento das
tecnologias, que abreviaram distâncias. Novas e complexas redes foram criadas, todas
interdependentes, com uma economia multinacional e que não se limitava mais às barreiras
das tradicionais fronteiras. Nesse cenário, a cultura passou a sofrer vários processos
diferentes de produção e consumo, passando desde a homogeneização fundamentada
na cultura hegemônica estadunidense, até mesmo a um reforço das culturas locais,
tradicionais. Tudo isso acabou gerando um universo de grande variedade cultural.
NOTA
O multiculturalismo é a inter-relação de várias culturas em um mesmo ambiente.
É um fenômeno social que pode ser relacionado com a globalização e
as sociedades pós-modernas. Alguns países apresentam uma maior
multiculturalidade. Muito devido aos diferentes grupos de imigrantes
recebidos, mas também por observar outros fatores de integração e o
desenvolvimento de novas culturas a partir do choque cultural.
O que é o multiculturalismo?
158
conflito aberto, passando até mesmo por rejeição. Tudo vai depender de como a
cultura dominante se impõe entre as demais, além das políticas públicas definidas
pelo Estado e até mesmo a formação histórica daquele território.
O fato é que a convivência entre culturas não é algo recente, mas se intensificou
bastante nas últimas décadas, devido a muitas mudanças ocorridas no mundo atual.
A principal delas é o fenômeno da globalização. Por um lado, esse ideário propagou
uma forma única de ver o mundo, em que prevalece o Capitalismo neoliberal, a
democracia liberal e todos os seus valores decorrentes, incluindo uma cultura
massificada e um modo de vida ocidentalizado e “americanizado”, que passou a
atingir todos os cantos do planeta.
DICA
Para saber mais sobre o Multiculturalismo, sugiro a leitura do seguinte livro:
MCLAREN, Peter. Multiculturalismo Crítico. São Paulo: Cortez, 1997.
159
NOTA
Posturas diante da diversidade cultural.
DIAGRAMAÇÃO: Favor inserir ponto final após a palavra “comportamento”, no
primeiro quadrado do relativismo.
DESAFIOS MULTICULTURAIS
Outra crítica que alguns destacam é que esse fenômeno não prevê uma
integração de fato das culturas, mas o domínio de algumas em relação a
outras. Há desafios também no campo prático. Embora muitos países democráticos
tenham buscado aceitar e incorporar culturas distintas em seus territórios, outros
negam direitos sociais e perseguem as minorias culturais. Em alguns casos, ainda
que exista uma política pública favorável a esse processo, o que ocorre no dia a dia é
a perseguição feita por indivíduos comuns, organizados ou não, inflamados por
um nacionalismo doente que rejeita o outro.
160
Caro acadêmico, em sociologia, de forma ampla, o multiculturalismo descreve
a maneira como uma dada sociedade lida com a diversidade cultural e com base na
suposição subjacente de que membros de culturas frequentemente muito diferentes
podem coexistir pacificamente, o multiculturalismo expressa a visão de que a sociedade
é enriquecida preservando, respeitando e até encorajando a diversidade cultural.
SOCIEDADES MULTICULTURAIS
161
Longe de ser um fenômeno exclusivamente norte americano, exemplos de
multiculturalismo são encontrados em todo o mundo.
3 INTERCULTURALIDADE
A interculturalidade enfoca a necessidade do diálogo, da vontade de inter-
relação e não de dominação. Um diálogo cujas regras, não podem ser firmadas
unilateralmente e nem a priori, mas que devem ser estabelecidas no decorrer do
mesmo e com a confiança mútua. Portanto, a compreensão é um elemento central
na construção de relações interculturais. Uma comunicação só se torna eficaz
quando se chega a um grau de compreensão aceitável para os interlocutores, isto é, a
interculturalidade só ocorre quando um grupo começa a entender e assumir o sentido
que as coisas e objetos têm para os outros.
162
A interculturalidade tem lugar quando duas ou mais culturas entram em
interação de uma forma horizontal e sinérgica. Para tal, nenhum dos grupos se deve
encontrar acima de qualquer outro que seja, favorecendo, assim, a integração e a
convivência das pessoas. Esses tipos de relações interculturais implicam em ter respeito
pela diversidade; embora, por razões óbvias, o aparecimento de conflitos seja inevitável
e imprevisível, podem ser resolvidos através do respeito, do diálogo.
O termo interculturalidade, segundo Fleuri (2018), pode ser usado como uma
forma de indicar como a cultura flui e como ela faz para se fundir com outras culturas.
Pode ser visto também, como algo que está em constante mobilidade para alterar o
meio no qual se vive, seja pela fusão, adição de novos elementos ou mesmo subtração
deles. Sobretudo, a interculturalidade é vista como um meio de experimentar a cultura
de outro indivíduo e ter interesse em conhecer mais sobre ela e sobre a pessoa também,
preza por valores como respeito, cidadania, igualdade, tolerância, democracia na
educação, e direitos humanos.
163
culturas. A interculturalidade, segundo ele, pode ser negativa quando a relação acaba
destruindo ou reduzindo o que é culturalmente distinto (etnicídio cultural) ou até
mesmo quando há simplesmente a assimilação da cultura dominante pela cultura
dominada ou positiva quando resulta na aceitação do que é culturalmente distinto e
na troca de conhecimentos, com enriquecimento mútuo. A simples tolerância do que
é culturalmente diferente, sem um verdadeiro intercâmbio enriquecedor, não chega a
ser uma interculturalidade positiva. As relações de alteridade são positivas quando os
dois polos – o da própria identidade e o outro – se fortalecem, se enriquecem e se
transformam mutuamente, sem, no entanto, deixar de ser o que são.
164
NOTA
Reinaldo Fleuri destaca a necessidade de que a interculturalidade esteja
baseada numa política da diferença e não apenas da diversidade. As políticas
de diversidade pressupõem que você possa categorizar os diferentes públicos
socioculturais a partir de alguns padrões mais ou menos gerais. Categorizamos
diferentes grupos étnicos por suas características genéricas e
enquadramos os indivíduos nessas categorias. Já as políticas da diferença
consideram que as diferenças se constituem na interação viva entre as
próprias pessoas, os próprios grupos e que, nesse jogo de forças, cada um
vai se constituindo, se posicionando, propondo contrapontos, interagindo
com todos. Vão se configurando processos de identificação e, portanto, de
diferenciação (FLEURI, 2018).
Por sua vez, na sociedade existe uma crescente sensibilidade para a temática
das diferenças culturais que se manifesta em diversos âmbitos sociais. No entanto, no
que se refere à educação escolar, é possível detectar uma sensação de impotência, de
não sabermos lidar positivamente com essas questões. Para avançar na incorporação
da perspectiva intercultural no cotidiano escolar e acadêmico, é importante que ela seja
introduzida nos processos de formação continuada realizados coletivamente na própria
escola e universidade.
Entendendo que todas as culturas têm valor e podem contribuir para enriquecer
o processo de construção do conhecimento, acredita-se que a Educação deveria
assumir uma perspectiva intercultural, pois ela apresenta-se como uma possibilidade
de se compreender a complexidade das interações humanas, criando condições para
que haja crescimento de todos os sujeitos e grupos aos quais pertencem, promovendo
mudanças profundas na educação.
166
culturais em relação aos quais os diferentes sujeitos desenvolvem
suas respectivas identidades, se torna um ambiente criativo e
propriamente formativo.
A experiência intercultural vai além do simples contato com outra cultura e envolve,
entre outros fatores, curiosidade, troca, interesse genuíno pelo outro, reconhecimento
das diferenças, respeito e aprendizado. Assim, uma experiência intercultural se torna
mais enriquecedora, reconhecendo outros valores, comportamentos e visões de mundo
que possam ser diferentes, além de ter um grande potencial para auxiliar na aquisição
167
e desenvolvimento de diversas habilidades e capacidades em todas as faixas etárias. O
estudante pode fazer isso de diversas formas. Dentre elas, Góes (2020) destaca:
1. Estudar o idioma do país que pretende viajar: não é preciso, necessariamente ter um
nível de idioma fluente, mas sabemos que a habilidade de se expressar no idioma local está
diretamente ligada a adaptação (pois impacta nos relacionamentos sociais, na vida escolar
e na rotina do estudante).
2. Exercitar a curiosidade: pesquisar e conhecer mais sobre o país que pretende estudar:
sua história, costumes, cultura, enfim, ter informações e conhecimento sobre o destino vai
auxiliar no processo de adaptação no futuro.
3. Além de conhecer mais sobre o outro (a cultura e o país), é fundamental conhecer mais sobre
si. Exercitar o autoconhecimento é compreender quais são as suas forças e qualidades, ter
a clareza dos seus objetivos em estudar fora, compreender como se lida com mudanças,
com o imprevisto entre outros elementos. Desbravar o mundo interno certamente auxiliará
o estudante a desbravar o mundo lá fora.
4. Treinamento Intercultural: essa é uma excelente ferramenta para auxiliar no processo de
preparação para uma experiência no exterior. Compreender e desenvolver ferramentas para
lidar com a adaptação, o stress cultural, as diferenças culturais, os sentimentos envolvidos
contribuem para que o jovem embarque mais confiante, seguro e preparado e assim esteja
mais capacitado para lidar com os desafios e usufruir melhor a experiência intercultural.
DICA
A ideia de expansão internacional é sempre muito interessante, pois significa novas
oportunidades de atuação, novos ganhos e um crescimento da importância do seu
negócio em escala global. O problema é que essa guinada também envolve
riscos, e é preciso estar preparado para encará-los. Uma forma de minimizá-
los é investindo na experiência intercultural dos colaboradores. A experiência
intercultural nada mais é do que permitir que o colaborador passe algum
tempo em outra empresa que se localiza na região para a qual se quer
expandir. Com essa espécie de imersão, será possível construir uma
análise mais acertada do cenário que se vai encontrar. É preciso então:
entender a cultura de outros países e sua legislação; adquirir experiência
antes de expandir; identificar na experiência intercultural vantagens e
desvantagens da expansão.
168
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• Interculturalidade pode ser definida como qualquer relação entre pessoas ou grupos
sociais de diversas culturas. A interculturalidade, segundo Albó (2005), pode ser
negativa quando a relação acaba destruindo ou reduzindo o que é culturalmente
distinto ou até mesmo quando há simplesmente a assimilação da cultura dominante
pela cultura dominada ou positiva quando resulta na aceitação do que é culturalmente
distinto e na troca de conhecimentos, com enriquecimento mútuo.
169
AUTOATIVIDADE
1 O debate em torno da diversidade cultural tornou-se importante para orientar a
construção de políticas públicas, principalmente nas áreas da cultura, do emprego
e da educação, devido à garantia das condições materiais básicas para todos. No
âmbito das discussões sociológicas, tornou-se mais intensa sob quais conceitos?
a) ( ) Multiculturalidade.
b) ( ) Plurianual.
c) ( ) Transcendência.
d) ( ) Nenhuma opção apresentada.
2 As sociedades de forma geral são formadas não só por diferentes etnias, como
por imigrantes de diferentes países. Além disso, as migrações colocam em contato
grupos diferenciados. A convivência entre grupos diferenciados nos planos social e
cultural muitas vezes é marcada pelo preconceito e pela discriminação. Com relação
aos processos interculturais, analise as afirmativas a seguir:
170
a) ( ) Uma prática intercultural encara a diversidade dos alunos como um problema e,
perante ela, recorre a práticas que permitem a cada um deles conhecer melhor
a si e aos outros. Para isso, transporta para a escola os saberes do cotidiano
e as especificidades dos diversos grupos e trabalha-os de forma esporádica e
fragmentada, mas contextualizados e vivenciados por processos interagidos.
b) ( ) A prática intercultural bem conduzida permite reconhecer a identidade ao outro
e, sobretudo, conhecer o outro na sua diferença e complexidade.
c) ( ) A prática intercultural é um princípio subjacente a toda a atividade religiosa, e
não um novo dogma
d) ( ) Práticas interculturais pressupõem uma ação individual que não se esgota nos
conteúdos e nas matérias selecionados para o ensino e a aprendizagem. Ao
contrário, atravessam todos os aspectos da organização e gestão pessoal.
171
172
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
SALA DE AULA NO SÉCULO XXI
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico estudaremos sobre a Sociedade de Consumo e salas de aula. A
sociedade de consumo é um conceito que define um modelo de reprodução social baseado
no consumismo. A ideia de sociedade de consumo é empregada para designar uma sociedade
cujas relações de consumo ocupam uma posição estratégica na organização social.
Outro ponto que será abordado neste tópico são as Salas de aulas conectadas.
A humanidade vive uma transformação das interações sociais onde passam a não
mais relacionar-se com outros indivíduos, mas sim a conectar-se e desconectar-se.
Esse novo paradigma tecnológico, é definido por novos agrupamentos humanos que
reorganizam seus significados, integrando o mundo em grandes redes local-global. Esse
novo sistema de novas tecnologias apresenta cada vez mais elementos universalizantes
como linguagem, sons, imagens, cultura, política, economia, identidade etc. Esses
produtos culturais, estão “moldando a vida e, ao mesmo tempo, sendo moldados por ela.
NOTA
Significado de Sociedade de consumo:
173
O desenvolvimento econômico e social é pautado pelo aumento do consumo,
que resulta em lucro ao comércio e às grandes empresas, gerando mais empregos,
aumentando a renda, o que acarreta ainda mais consumo. Uma ruptura nesse modelo
representaria uma crise, pois a renda diminuiria, o desemprego elevar-se-ia e o acesso a
elementos básicos seria mais dificultado. Uma das grandes críticas ao sistema capitalista
é a emergência desse modelo.
174
Um dos aspectos mais criticados no que se refere à sociedade de consumo é
a obsolescência programada ou obsolescência planejada, que consiste na produção de
mercadorias previamente elaboradas para serem rapidamente descartadas, fazendo com
que o consumidor compre um novo produto em breve. Assim, aumenta-se o consumo,
mas também aumenta a demanda por recursos naturais e maximiza a produção de lixo,
elevando ainda mais a problemática ambiental decorrente desse processo.
DICA
A história das coisas
O vídeo “A história das coisas” é um dos vídeos mais interessantes para entender as etapas
que formam uma sociedade de consumo. Acesse em:
https://www.youtube.com/watch?v=7qFiGMSnNjw.
175
Diálogos com Zygmunt Bauman
O vídeo “Diálogos com Zygmunt Bauman” ajuda a compreender um pouco mais sobre as principais
ideias do Sociólogo polonês. Acesse em: https://www.youtube.com/watch?v=in4u3zWwxOM.
Sociedade de Consumo
• Conjuntural: movimento que surge devido uma demanda específica e tem curto
prazo (por exemplo as manifestações sobre o preço da passagem).
• Estrutural: movimento que quer conquistar coisas a longo prazo (por exemplo os
movimentos que lutam pelo fim do racismo).
IMPORTANTE
Um fato importante é que movimentos sociais podem ser favoráveis ao governo
vigente, basta apoiarem as mesmas lutas com as quais o governo se identifica.
O movimento social é diferente de manifestação espontânea! Manifestações
espontâneas acontecem, por exemplo, em estádios de futebol. Quando um grupo
grande de pessoas está reunido por um objetivo comum, mas não se conhecem
e não defendem os mesmos ideais.
176
Quais os principais Movimentos Sociais contemporâneos no Brasil que apresentam
uma agenda ou pauta de reivindicações de alternativas de mudanças?
Movimentos Sociais
Movimento Negro
Apesar de já ser um movimento presente desde a época da escravidão,
os negros ainda precisam lutar contra a discriminação étnica e racial.
Movimento Estudantil
Responsáveis por organizar a Passeata dos Cem Mil na década de 1960,
os estudantes dispunham de várias organizações representativas, como por
exemplo a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a UEE (Uniões Estaduais dos
Estudantes. Também estiveram presentes nas manifestações em oposição ao
governo Collor e mais recentemente na Mobilização estudantil de 2016. A luta
dos estudantes se concentra em garantir um ensino público de qualidade e não
permitir cortes de verbas destinadas a educação.
Movimento Feminista
Pode ser dividido em três “ondas”:
A primeira onda, que podemos localizar temporalmente do fim do
século XIX até meados do século XX, foi caracterizada pela reivindicação, por
parte das mulheres, dos diversos direitos que já estavam sendo debatidos — e
conquistados — por homens de seu tempo.
Movimento LGBTQIA+
O movimento LGBTQIA+ (sigla que significa: Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis, Transexuais, Transgêneros, Queer, Intersexo e Assexual e mais), mais
conhecido pela sociedade como Movimento LGBT, age em busca da igualdade
social e de direitos e contra o preconceito.
177
Movimento Ecológico
Concentram-se nos projetos voltados a estudar o impacto do capitalismo
no meio ambiente, reivindicando medidas de proteção ambiental.
Visa a conscientização da população e a fiscalização dos órgãos
governamentais responsáveis por tratar dos assuntos ligados ao meio ambiente.
DICA
Movimento contra o discurso de ódio.
Para saber mais sobre o Movimento, acesse o site:http://www.odionao.com.pt/.
178
O discurso de ódio, cobre todas as formas de expressão que
propaguem, incitem, promovam ou justifiquem ódio racial, xenofobia,
antissemitismo e outras formas de ódio baseado na intolerância,
incluindo intolerância expressa por nacionalismo ou etnocentrismo
agressivo, discriminação e hostilidade contra minorias, migrantes e
pessoas de origem migrante (LATOUR, 2017, p. 9).
179
• Os Direitos Humanos são a base das narrativas que combatem o discurso de ódio.
• As narrativas que se baseiam nos Direitos Humanos têm um papel fundamental nas
estratégias transformadoras e emancipadoras para os e as jovens, e sobretudo para
quem é alvo direto ou para quem é agente do discurso de ódio.
NOTA
Tecnologia como aliada: os movimentos sociais em rede
A internet surgiu como uma construção de um novo espaço para debate. Compartilhando
conteúdo, informação e conhecimento, a internet tornou-se um espaço social, onde
ideias e pontos de vista podem ser disseminados a todo instante. Um terreno fértil
para os movimentos sociais se organizarem e atingirem mais militantes.
Apesar de os movimentos sociais parecerem muito ligados com a nação
a qual pertencem, você sabia que existem movimentos sociais que são
transnacionais? É o caso do Fórum Social Mundial, um evento que é
organizado por diferentes movimentos sociais pelo mundo e tem o objetivo
de apresentar soluções para problemas contemporâneos de transformação
social global, formando uma rede de globalização.
NOTA
10 profissões que surgiram com a Tecnologia:
1. cientista de Dados;
2. desenvolvedor de aplicativos;
3. analista de Marketing Digital;
4. especialista de Mídias Sociais;
5. tecnologia da Informação (TI);
6. desenvolvedor de Jogos;
7. desenvolvedor Web;
8. engenheiro de Software;
9. especialista em e-Commerce;
10. influenciadores digitais.
180
Os computadores estão cada vez mais ultrassofisticados; a Internet está cada
vez mais rápida, dinâmica e inclusa em todas as ferramentas utilizadas como celulares,
os tablets e até na televisão; o cinema está proporcionando um avanço tão profundo que
pode se experenciar um tipo de aproximação com a realidade virtual. Os seres humanos
estão conectados, seja a outro ser ou objetos. Com o advento da internet e das novas
tecnologias, Santos (2008, p.15) afirma que:
181
A tecnologia afeta as relações de trabalho
182
Isso causou completa alteração nos processos internos e de negócios, os
quais já vinham dando sinais de uma possível aceleração advinda da era digital.
No entanto, a surpresa da pandemia não deu alternativa às organizações, senão
repensarem seus modelos de negócio para continuarem operando.
Lembrando que a concepção de sala de aula neste tópico foi a partir de diversos
espaços de aprendizagens dos sujeitos envolvidos nos processos de ensinar e aprender,
portanto, os locais que refletimos foi em espaços socialmente construídos, que no dia
a dia é composto de uma infinidade de relações e interações entre os sujeitos. Escolas,
academias, igrejas, escritórios, oficinais. O século XXI e sua característica de um mundo
fundamentado na virtualidade e Novas Tecnologias, cria novas formas de ver, de ser,
de produzir, de convier, de existir e o resultado são novas formas de compreender a
realidade que vivemos e assim, novas formas de aprender e ensinar.
183
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• Uma forma de combater o discurso de ódio nas redes sociais, foi criado pelo Conselho
dos Direitos Humanos Europeu, com o nome de “Movimento Contra o Discurso de
Ódio”, a primeira campanha on-line do Conselho da Europa foi lançado em 22 de
março de 2013. A campanha tornou-se um movimento presente em 45 países, uma
comunidade internacional de ativistas on-line e uma infinidade de parceiros, tendo
sido a primeira iniciativa internacional ampla a abordar o discurso de ódio e a abordá-
lo como uma questão importante de Direitos Humanos.
184
AUTOATIVIDADE
1 A sociedade de consumo é um termo bastante utilizado para representar os avanços de
produção do sistema capitalista, que se intensificaram ao longo do século XX notadamente nos
Estados Unidos e que, posteriormente, espalharam-se e ainda vem se espalhando pelo mundo.
A ideia de sociedade de consumo é empregada para designar uma sociedade cujas relações
de consumo ocupam uma posição estratégica na organização social. Ela é uma sociedade
onde são criados inúmeros bens de consumo para comercialização e onde o marketing tem
um papel fundamental na construção dos desejos de consumo da população, sobretudo pela
propaganda. Referente à Sociedade de Consumo, assinale a alternativa CORRETA:
185
3 Uma sociedade conectada é aquela em que o uso da tecnologia da informação
e telecomunicação serve para a sociedade se interagir, compartilhar ideias e
conhecimentos. É a estrutura social organizada através da rede de informações
processadas eletronicamente. Referente à relação tecnologias e sociedade, assinale
a alternativa CORRETA:
4 O ser humano promove o desmatamento por uma série de razões, por exemplo,
na retirada de madeira para construir estradas e moradias. O tema desmatamento
é interessante de ser abordado na escola, pois sua abrangência envolve diversos
aspectos sociais e ambientais. Disserte sobre pelo menos três aspectos relacionados
com o desmatamento.
186
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
BNCC: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, estudaremos sobre a estrutura da BNCC. A BNCC é sigla para Base
Nacional Comum Curricular, um documento que integra a política nacional da Educação
Básica, contribuindo para o alinhamento de outras políticas e ações, em âmbito
federal, estadual e municipal. Ele se refere à formação de professores, à avaliação, à
elaboração de materiais educacionais e aos critérios para a oferta de infraestrutura para
o desenvolvimento da educação.
Por fim, veremos que a BNCC da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
integrada por Filosofia, Geografia, História e Sociologia propõe a ampliação e o
aprofundamento das aprendizagens essenciais desenvolvidas no Ensino Fundamental,
sempre orientada para uma formação ética.
2 ESTRUTURA DA BNCC
A BNCC, sigla para Base Nacional Comum Curricular, é um documento normativo
previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica (BRASIL, 1996) que busca
definir o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os
alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica.
Isso é feito para assegurar os direitos de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos,
em conformidade com o que estabelece o Plano Nacional de Educação (PNE) (BRASIL,
2014).
187
Caro acadêmico, a BNCC da Educação Infantil e do Ensino Fundamental foi
homologada em 20 de dezembro de 2017. Já a do Ensino Médio foi homologada em
2018. Ela é de vital importância devido justamente a ser uma das bases na formação
humana e social do sujeito. O ser, o estar, o conviver, o fazer humano está inserido
nesse documento. Dito de outra maneira, a Educação processo cultural que humaniza
o ser humano, por meio da concepção de trabalho, as relações estabelecidas entre os
seres humanos, entre a natureza e a cultura produzida, cria a sociedade humana, cria o
mundo do trabalho, cria as relações e interações sociais. Todos os setores e profissões
da sociedade de forma direta ou indireta são influenciados por esse documento, por isso
a necessidade de estudá-lo e compreendê-lo.
188
FIGURA 4 – DEZ COMPETÊNCIAS GERAIS
189
FONTE: Adaptada de BNCC (BRASIL, 2018, p. 9-10)
190
5. Cultura digital: o ensino deve englobar o uso dos recursos digitais de
forma ética, crítica e significativa, desenvolvendo no aluno a compreensão
do uso responsável da tecnologia, seja como consumidor dela ou como
produtor de conteúdos digitais.
6. Trabalho e projeto de vida: o foco dessa competência é capacitar o aluno
a gerir a própria vida, tanto no âmbito profissional, como no pessoal. Ela
propõe o desenvolvimento de habilidades como estabelecimento de metas,
disciplina e resiliência.
7. Argumentação: essa competência não aborda somente a prática
da formulação, negociação e defesa de ideias, mas também ressalta a
importância do embasamento dessas opiniões e pontos de vista. Isso deve
ser feito tendo em vista aspectos como os direitos humanos, por exemplo.
8. Autoconhecimento e autocuidado: as competências da BNCC também
abordam o bem-estar do aluno, tanto físico quanto mental. Na de número
oito, o foco está no cuidado com a saúde, conhecimento das emoções,
autocrítica e apreciação de si próprio. Essa competência também visa
contribuir para a construção de valores e de uma identidade.
9. Empatia e cooperação: essa competência trabalha o desenvolvimento social
dos alunos, para que eles conheçam o mundo em que vivem e sejam agentes
de transformação, com respeito à diversidade e aos direitos humanos, e foca
em exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de problemas e a cooperação.
10. Responsabilidade e cidadania: a última das competências da BNCC se
concentra nos princípios éticos, democráticos, inclusivos e sustentáveis de
uma sociedade. Envolve o foco em contribuir para que o aluno desenvolva
suas habilidades pensando nesses elementos.
Portanto, tendo em vista cada uma das competências da BNCC, fica clara a
intenção de buscar uma formação mais completa para os alunos. Não é mais o suficiente
se limitar a transmitir um conteúdo teórico a ser decorado, mas sim contribuir para que
o estudante se desenvolva de maneira integral. A BNCC busca nortear os currículos e
propostas pedagógicas de todas as escolas, públicas e privadas, do Brasil.
191
as creches e pré-escolas, ao acolher as vivências e os conhecimentos construídos
pelas crianças no ambiente da família e no contexto de sua comunidade, e articulá-los
em suas propostas pedagógicas, têm o objetivo de ampliar o universo de experiências,
conhecimentos e habilidades dessas crianças, diversificando e consolidando novas
aprendizagens, atuando de maneira complementar à educação familiar – especialmente
quando se trata da educação dos bebês e das crianças bem pequenas, que envolve
aprendizagens muito próximas aos dois contextos (familiar e escolar), como a socialização,
a autonomia e a comunicação. Nessa direção, e para potencializar as aprendizagens
e o desenvolvimento das crianças, a prática do diálogo e o compartilhamento de
responsabilidades entre a instituição de Educação Infantil e a família.
192
FIGURA 5 – ESTRUTURA BNCC EDUCAÇÃO INFANTIL
193
retomar e ressignificar as aprendizagens do Ensino Fundamental Anos Iniciais no
contexto das diferentes áreas, visando ao aprofundamento e à ampliação de repertórios
dos estudantes. Nesse sentido, também é importante fortalecer a autonomia desses
adolescentes, oferecendo-lhes condições e ferramentas para acessar e interagir
criticamente com diferentes conhecimentos e fontes de informação. Os estudantes
dessa fase inserem-se em uma faixa etária que corresponde à transição entre infância
e adolescência, marcada por intensas mudanças decorrentes de transformações
biológicas, psicológicas, sociais e emocionais.
194
Para responder a essa necessidade de recriação da escola, mostra-se imprescindível
reconhecer que as rápidas transformações na dinâmica social contemporânea nacional
e internacional, em grande parte decorrentes do desenvolvimento tecnológico, atingem
diretamente as populações jovens e, portanto, suas demandas de formação. Nesse
cenário cada vez mais complexo, dinâmico e fluido, as incertezas relativas às mudanças
no mundo do trabalho e nas relações sociais como um todo representam um grande
desafio para a formulação de políticas e propostas de organização curriculares para a
Educação Básica, em geral, e para o Ensino Médio, em particular.
Considerar que há muitas juventudes implica organizar uma escola que acolha
as diversidades, promovendo, de modo intencional e permanente, o respeito à pessoa
humana e aos seus direitos e que garanta aos estudantes ser protagonistas de seu
próprio processo de escolarização, reconhecendo-os como interlocutores legítimos
sobre currículo, ensino e aprendizagem. Significa, nesse sentido, assegurar-lhes
uma formação que, em sintonia com seus percursos e histórias, permita-lhes definir
seu projeto de vida, tanto no que diz respeito ao estudo e ao trabalho como também no
que concerne às escolhas de estilos de vida saudáveis, sustentáveis e éticos.
195
A dinâmica social contemporânea nacional e internacional, marcada
especialmente pelas rápidas transformações decorrentes do
desenvolvimento tecnológico, impõe desafios ao Ensino Médio.
Para atender às necessidades de formação geral, indispensáveis ao
exercício da cidadania e à inserção no mundo do trabalho, e responder
à diversidade de expectativas dos jovens quanto à sua formação,
a escola que acolhe as juventudes tem de estar comprometida
com a educação integral dos estudantes e com a construção de
seu projeto de vida (BRASIL, 2018, p. 462).
• conhecer-se e lidar melhor com seu corpo, seus sentimentos, suas emoções e suas
relações interpessoais, fazendo-se respeitar e respeitando os demais;
• compreender que a sociedade é formada por pessoas que pertencem a grupos
étnico-raciais distintos, que possuem cultura e história próprias, igualmente valiosas,
e que em conjunto constroem, na nação brasileira, sua história;
• promover o diálogo, o entendimento, a solução não violenta de conflitos, possibilitando
a manifestação de opiniões e pontos de vista diferentes, divergentes ou opostos;
• combater estereótipos, discriminações de qualquer natureza e violações de direitos
de pessoas ou grupos sociais, favorecendo o convívio com a diferença;
197
• valorizar sua participação política e social e a dos outros, respeitando as liberdades
civis garantidas no estado democrático de direito; e
• construir projetos pessoais e coletivos baseados na liberdade, na justiça social, na
solidariedade, na cooperação e na sustentabilidade.
Essa nova estrutura do Ensino Médio, além de ratificar a organização por áreas
do conhecimento sem desconsiderar, mas também sem fazer referência direta a todos
os componentes que compunham o currículo dessa etapa, prevê a oferta de variados
itinerários formativos, seja para o aprofundamento acadêmico em uma ou mais áreas
do conhecimento, seja para a formação técnica e profissional. Essa estrutura adota
a flexibilidade como princípio de organização curricular, o que permite a construção de
currículos e propostas pedagógicas que atendam mais adequadamente às especificidades
locais e à multiplicidade de interesses dos estudantes, estimulando o exercício
do protagonismo juvenil e fortalecendo o desenvolvimento de seus projetos de vida.
198
FIGURA 7 – A BNCC DO ENSINO MÉDIO
199
A oferta de diferentes itinerários formativos pelas escolas deve considerar a
realidade local, os anseios da comunidade escolar e os recursos físicos, materiais
e humanos das redes e instituições escolares de forma a propiciar aos estudantes
possibilidades efetivas para construir e desenvolver seus projetos de vida e se integrar
de forma consciente e autônoma na vida cidadã e no mundo do trabalho. Para tanto,
os itinerários devem garantir a apropriação de procedimentos cognitivos e o uso de
metodologias que favoreçam o protagonismo juvenil.
200
formas de organização da família e da sociedade em diferentes espaços e épocas
históricas. Para tanto, prevê que os estudantes explorem conhecimentos próprios da
Geografia e da História: temporalidade, espacialidade, ambiente e diversidade (de raça,
religião, tradições étnicas etc.), modos de organização da sociedade e relações de
produção, trabalho e poder, sem deixar de lado o processo de transformação de cada
indivíduo, da escola, da comunidade e do mundo.
Nessa direção, a BNCC da área de Ciências Humanas prevê que, no Ensino Médio,
sejam enfatizadas as aprendizagens dos estudantes relativas ao desafio de dialogar
com o outro e com as novas tecnologias. Considerando que as novas tecnologias
exercem influência, às vezes negativa, outras vezes positiva, no conjunto das relações
sociais, é necessário assegurar aos estudantes a análise e o uso consciente e crítico
dessas tecnologias, observando seus objetivos circunstanciais e suas finalidades a
médio e longo prazos, explorando suas potencialidades e evidenciando seus limites na
configuração do mundo contemporâneo.
201
gráficas, cartográficas etc.), valorizar os trabalhos de campo (entrevistas, observações,
consultas a acervos históricos etc.), recorrer a diferentes formas de registros e engajar-
se em práticas cooperativas, para a formulação e resolução de problemas.
202
aos arranjos dos objetos de diversas naturezas e, também, às movimentações de
diferentes grupos, povos e sociedades, nas quais ocorrem eventos, disputas, conflitos,
ocupações (ordenadas ou desordenadas) ou dominações. No espaço (em um lugar) se
dá a produção, a distribuição e o consumo de mercadorias. Nele são realizados fluxos de
diversas naturezas (pessoas e objetos) e são desenvolvidas relações de trabalho, com
ritmos e velocidades variados.
Território e Fronteira, por sua vez, são categorias cuja utilização, na área de Ciências
Humanas, é bastante ampla. Território é uma categoria usualmente associada a uma porção
da superfície terrestre sob domínio de um grupo e suporte para nações, estados, países. É
dele que provêm alimento, segurança, identidade e refúgio. Engloba as noções de lugar,
região, fronteira e, especialmente, os limites políticos e administrativos de cidades, estados
e países, sendo, portanto, esquemas abstratos de organização da realidade. Associa-se
território também à ideia de poder, jurisdição, administração e soberania, dimensões que
expressam a diversidade das relações sociais e permitem juízos analíticos.
203
A discussão a respeito das categorias Indivíduo, Natureza, Sociedade, Cultura
e Ética, bem como de suas relações, marca a constituição das chamadas Ciências
Humanas. O esclarecimento teórico dessas categorias tem como base a resposta à
questão que a tradição socrática, nas origens do pensamento grego, introduziu: o que
é o ser humano?
As transformações geradas por cada indivíduo são mediadas pela cultura. Em sua
etimologia latina, a cultura remete à ação de cultivar saberes, práticas e costumes em um
determinado grupo. Na tradição metafísica, a cultura foi apresentada em oposição à natureza.
Atualmente, as Ciências Humanas compreendem a cultura a partir de contribuições de
diferentes campos do saber. O caráter polissêmico da cultura permite compreender o modo
como ela se apresenta a partir de códigos de comunicação e comportamento, de símbolos
e artefatos, como parte da produção, da circulação e do consumo de sistemas culturais que
se manifestam na vida social. Os indivíduos estão inseridos em culturas (urbanas, rurais,
eruditas, de massas, populares, regionais, locais etc.) e, dessa forma, são produtores e
produto das transformações culturais e sociais de seu tempo.
204
Na modernidade, a noção de indivíduo se tornou mais complexa em razão das
transformações ocorridas no âmbito das relações sociais marcadas por novos códigos
culturais, concepções de individualidade e formas de organização política no mundo
ocidental. Em meio às mudanças, foram criadas condições para o debate a respeito da
natureza dos seres humanos, seu papel em diferentes culturas, suas instituições e sua
capacidade para a autodeterminação. A sociedade capitalista, por exemplo, ao mesmo
tempo em que propõe a centralidade de sujeitos iguais, constrói relações econômicas
que produzem e reproduzem desigualdades no corpo social.
205
do indivíduo na pólis, na sociedade e no mundo, incluindo o viver coletivo e a cidadania.
As discussões em torno do bem comum e do público, dos regimes políticos e das formas
de organização em sociedade, as lógicas de poder estabelecidas em diferentes grupos,
a micropolítica, as teorias em torno do Estado e suas estratégias de legitimação e a
tecnologia interferindo nas formas de organização da sociedade são alguns dos temas
que estimulam a produção de saberes nessa área.
206
as desigualdades sociais. Há hoje mais espaço para o empreendedorismo individual, em
todas as classes sociais, e cresce a importância da educação financeira e da compreensão
do sistema monetário contemporâneo nacional e mundial, imprescindíveis para uma
inserção crítica e consciente no mundo atual. Diante desse cenário, impõem-se novos
desafios às Ciências Humanas, incluindo a compreensão dos impactos das inovações
tecnológicas nas relações de produção, trabalho e consumo.
207
a consciência, a ética socioambiental e o consumo responsável em âmbito local,
regional, nacional e global.
4. Analisar as relações de produção, capital e trabalho em diferentes territórios,
contextos e culturas, discutindo o papel dessas relações na construção, consolidação
e transformação das sociedades.
5. Identificar e combater as diversas formas de injustiça, preconceito e violência,
adotando princípios éticos, democráticos, inclusivos e solidários, e respeitando os
Direitos Humanos.
6. Participar do debate público de forma crítica, respeitando diferentes posições e
fazendo escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com
liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
208
LEITURA
COMPLEMENTAR
DEZ NOVAS COMPETÊNCIAS PARA UMA NOVA PROFISSÃO
Philippe Perrenoud
Será que essas competências são realmente "novas"? Elas definem a "nova
profissão", esboçada por Meirieu (1990) há mais de 10 anos? Representam uma ruptura
ou são "eternas" no seio da profissão de educador?
209
técnicas, mas devido à transformação da visão ou das condições de exercício da
profissão. As representações e as novas práticas pedagógicas desenvolvem-se de forma
progressiva. Em primeiro lugar, são aplicadas em escolas e classes atípicas, muito antes
de serem reconhecidas e adotadas pela instituição e pela profissão, ainda que, em cada
momento da história de um sistema educativo, observe-se um amplo leque de práticas;
e, portanto, de competências; que vão das mais tradicionais às mais inovadoras. Desse
modo, seria exagerado falar de novas competências se isto sugerisse uma "mutação".
Assistimos mais a uma progressiva recomposição do leque de competências de
que os professores necessitam para exercer seu ofício de forma eficaz e equitativa.
Algumas formas de "dar aula" desaparecem lentamente, enquanto outras assumem
uma crescente importância. Algumas delas, que eram parte integrante da profissão,
agora pertencem à tradição, ao passo que outras, reservadas aos militantes, integram-
se pouco a pouco à identidade e aos recursos do professor da base.
• reconhecer que os professores não possuem apenas saberes, mas também competências
profissionais que não se reduzem ao domínio dos conteúdos a serem ensinados;
• aceitar a ideia de que a profissão muda e sua evolução exige atualmente que todos os
professores possuam novas competências, antes reservadas aos inovadores ou aos
professores que precisavam lidar com os públicos mais difíceis.
210
NOVAS COMPETÊNCIAS: PARA QUE TODOS APRENDAM
A escola não tem mais direito ao fracasso, não pode mais rejeitar os que
"não querem trabalhar". Não é mais suficiente fazer progredir os que trabalham e
compreendem de forma espontânea o sentido desse investimento; é preciso aderir à
causa da instrução dos alunos para os quais "a vida está em outro lugar". Por isso, as
novas competências exigidas estão relacionadas tanto a didáticas pontuais, baseadas
nas ciências cognitivas, quanto a enfoques transversais que aliam a psicanálise e a
sociologia, que visam a criar ou a manter; e, portanto, a explicar e a compreender; o
desejo de aprender, o sentido dos saberes, o envolvimento do sujeito na relação
pedagógica e a construção de um projeto.
211
Isso está relacionado à evolução do sindicalismo, aos projetos de estabelecimento
e à participação dos professores na elaboração das reformas escolares, desde que
seja negociado. Significa que a profissionalização exige uma vontade comum dos
professores, dos diretores e dos políticos.
212
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• O Ensino Fundamental, com nove anos de duração, é a etapa mais longa da Educação
Básica, atendendo estudantes entre 6 e 14 anos. Há, portanto, crianças e adolescentes
que, ao longo desse período, passam por uma série de mudanças relacionadas a
aspectos físicos, cognitivos, afetivos, sociais, emocionais, entre outros.
213
• A BNCC da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas integrada por Filosofia,
Geografia, História e Sociologia – propõe a ampliação e o aprofundamento das
aprendizagens essenciais desenvolvidas no Ensino Fundamental, sempre orientada
para uma formação ética. Tal compromisso educativo tem como base as ideias de
justiça, solidariedade, autonomia, liberdade de pensamento e de escolha, ou seja, a
compreensão e o reconhecimento das diferenças, o respeito aos direitos humanos e
à interculturalidade, e o combate aos preconceitos de qualquer natureza.
214
AUTOATIVIDADE
1 Na BNCC, a evolução das competências é fruto da mobilização dessas habilidades
com o objetivo de resolver problemas e desafios. No documento é determinado um
conjunto de dez competências gerais que sumarizam os direitos de aprendizagem e
de desenvolvimento dos estudantes. Essas competências devem ser trabalhadas ao
longo de toda a Educação Básica e compreendem todas as dimensões do indivíduo: não
apenas a cognitiva, mas também as dimensões física, social, emocional e cultural. Sobre
as 10 competências, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
a) ( ) V – V – F.
b) ( ) F – F – F.
c) ( ) V – V – V.
d) ( ) F – F – V.
2 Para formar esses jovens como sujeitos críticos, criativos, autônomos e responsáveis,
cabe às escolas de Ensino Médio proporcionar experiências e processos que lhes
garantam as aprendizagens necessárias para a leitura da realidade, o enfrentamento
dos novos desafios da contemporaneidade (sociais, econômicos e ambientais) e a
tomada de decisões éticas e fundamentadas. Partindo do estudo Ensino Médio e
com relação ao mundo, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) O mundo deve lhes ser apresentado como campo aberto para investigação e
intervenção quanto a seus aspectos políticos, sociais, produtivos, ambientais e
culturais, de modo que se sintam estimulados a equacionar e resolver questões
legadas pelas gerações anteriores e que se refletem nos contextos atuais ,
abrindo-se criativamente para o novo.
215
b) ( ) A dinâmica social contemporânea nacional e internacional, marcada especialmente
pelas transformações decorrentes do desenvolvimento teológico, impõe desafios ao
Ensino Médio. Para atender às necessidades de formação geral, indispensáveis ao
exercício da cidadania e à inserção no mundo do trabalho, e responder à diversidade
de expectativas dos jovens quanto à sua formação
c) ( ) Para atender a todas essas demandas de formação no Ensino Médio, mostra-
se imperativo repensar a organização curricular vigente para essa etapa da
Educação Básica, que apresenta homogeneidade de componentes curriculares e
abordagens pedagógicas distantes das culturas religiosas, do mundo do trabalho
e das dinâmicas e questões sociais contemporâneas.
d) ( ) Essa nova estrutura do Ensino Médio, além de ratificar a organização por áreas
do conhecimento sem desconsiderar, mas também sem fazer referência direta a
todos os componentes que compunham o currículo dessa etapa , prevê a oferta de
variados itinerários formativos, seja para o aprofundamento acadêmico em uma ou
mais áreas do conhecimento, seja para a formação teológica e profissional.
3 No Ensino Médio, a BNCC da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas propõe que
os estudantes desenvolvam a capacidade de estabelecer diálogos entre indivíduos,
grupos sociais e cidadãos de diversas nacionalidades, saberes e culturas distintas.
No que essa capacidade resulta?
216
REFERÊNCIAS
ACOSTA, A. O Bem Viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. São Paulo:
Editora Autonomia Literária, 2016.
ALFANO, B. A educação deve ser pensada durante a vida inteira’, diz Zygmunt Bauman.
O Globo. São Paulo, 23 ago. Educação. Disponível em: https://oglobo.globo.com/
sociedade/educacao/a-educacao-deve-ser-pensada-durante-vida-inteira-diz-
zygmunt-bauman-17275423. Acesso em: 20 mar. 2021.
AMARAL, M. T. C. G. do. Barthez entre Montpellier e Paris: a complexa rede por trás
da ciência do homem. 2010, 117f. Tese (Doutorado em História da Ciência) –Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010.
BASSI, V. Karl Marx: veja o que é capitalismo e o materialismo histórico. Blog do enem,
Florianópolis, SC, 24 set. 2018. Disponível em: https://blogdoenem.com.br/pensamento-
atual-karl-marx/. 2021. Acesso em: 20 mar. 2021.
BASCHET, J. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América. São Paulo: Globo, 2006.
217
BELATO, D. Civilizações clássicas II. Ijuí: Ed. Unijuí, 2009. 162 p.
BODART, C. das N. Alienação em Marx. Blog Café com Sociologia. 2016. Disponível em:
https://cafecomsociologia.com/alienacao-em-marx/. Acesso em: 20 mar. 2021
CARPENTIER, V. A idade média passo a passo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
218
CARRASCO, B. A existência precede a essência – Sartre. Disponível em: https://www.
ex-isto.com/2017/06/existencia-precede-essencia.html. Acesso em: 7 maio 2020.
FERRARI, M. Nova Escola, 2008a. Karl Marx, o filosofo da revolução. Disponível em:
https://novaescola.org.br/conteudo/1716/karl-marx-o-filosofo-da-revolucao. Acesso em:
23 mar. 2021.
219
FLEURI, R. M. Interculturalidade, identidade e decolonialidade: desafios políticos e
educacionais. Série-Estudos - Periódico do Programa de Pós-Graduação em
Educação da UCDB. Campo Grande, MS, n. 37, p. 89-106, jan./jun. 2014.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
GÓES, K. Brasil escola, 2020. O que é e quais são os benefícios da experiência intercultural?
Disponível em: https://vestibular.brasilescola.uol.com.br/estudar-no-exterior/entrevista-o-que-
e-e-quais-são-os-beneficios-da-experiencia-intercultural.htm. Acesso em: 13 maio 2021.
KNIPP, K. Karl Marx se mantém extremamente atual. 2018. Disponível em: https://
www.dw.com/pt-br/karl-marx-se-mant%C3%A9m-extremamente-atual/a-43629900.
Acesso em: 20 mar. 2021
LARAIA, R. de B. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge "Zahar Ed., 2001.
220
LOMBARDI, J. C. Educação, ensino e formação profissional em Marx e Engels. In:
LOMBARDI, J. C.; SAVIANI, D. (org.). Marxismo e educação: debates contemporâneos.
2. ed. Campinas, 2008. p. 1-38.
LUZURIAGA, L. História da educação e da Pedagogia. São Paulo: Cia Editora Nacional, 1985.
MARX, K. O Capital: crítica da economia política, v. 6, Rio de Janeiro: Bertrand Brasi, 1994.
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. Porto Alegre: Ed. L&PM Pocket, 2001.
MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. Trad. José Carlos Bruni e Marco Aurélio
Nogueira. São Paulo: Livraria Editora Ciências Humanas, 1979.
MARX, K.; ENGELS, F. Textos sobre Educação e Ensino. Trad. Rubens Eduardo Frias. 5.
ed. São Paulo: Centauro Editora, 2006.
MEDEIROS, L.; MORAES, I. Gênero: você entende o que significa? 2015. Disponível em:
https://www.politize.com.br/vamos-falar-sobre-genero/. Acesso em: 20 abr. 2021.
221
SCHIPANSKI, C. E.; PANTAROLO, L. P. História medieval: releitura de uma época.
Guarapuava: Ed. Unicentro, 2009. 80 p.
SELL, C. E. Sociologia clássica: Marx, Durkheim e Weber. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2013.
WEBER, M. Os letrados chineses. In: Ensaios de sociologia geral. 5. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara, 1982. p. 482-490.
222