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Sociedade,

Educação e
Cultura

Prof. Carlos Odilon da Costa

Indaial – 2021
2a Edição
Elaboração:
Prof. Carlos Odilon da Costa

Copyright © UNIASSELVI 2021

Revisão, Diagramação e Produção:


Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

C837s

Costa, Carlos Odilon da

Sociedade, educação e cultura. / Carlos Odilon da Costa –


Indaial: UNIASSELVI, 2021.

228 p.; il.

ISBN 978-65-5663-682-5
ISBN Digital 978-65-5663-683-2

1. Sociologia. 2. Antropologia - Brasil. II. Centro Universitário


Leonardo da Vinci.

CDD 370

Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao livro de Sociedade, Educação e Cultura. Nele,
você percorrerá um caminho de conhecimentos ligados à Sociologia, à Antropologia e
relacionados ao mundo da Educação.

Os novos temas e conceitos presentes na Sociedade dita pós-moderna e


globalizada fazem parte do currículo das universidades e também das escolas de
educação básica. O motivo é simples: é importante a compreensão crítica e mais ampla
de mundo por parte dos profissionais e futuros profissionais da educação.

O mundo atual está cada vez mais complexo e multifacetado. Somente com
olhares aprofundados das origens e desenvolvimento de alguns conceitos e temas é
que o sujeito profissional se tornará um ser autônomo e cidadão consciente de seu
papel na história humana.

Para que esse aprendizado ocorra, na Unidade 1 estudaremos sobre a Sociologia,


Autores e Conceitos, tendo como objetivo proporcionar a compreensão da origem
histórica e da constituição do conhecimento na sociologia.

Na Unidade 2 abordaremos os assuntos envolvendo Cultura e Educação para


compreender como se configuraram os principais conceitos dos processos culturais e
ambientais em sociedade.

Na Unidade 3 focaremos Educação, Cultura e Sociedade em Sala de Aula,


analisando as relações culturais e de consumo existentes em sociedade a partir das
salas de aula.

Bons estudos!

Professor Carlos Odilon da Costa


GIO
Olá, eu sou a Gio!

No livro didático, você encontrará blocos com informações


adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender
melhor o que são essas informações adicionais e por que você
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais
e outras fontes de conhecimento que complementam o
assunto estudado em questão.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos


os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina.
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada
também digital, em que você pode acompanhar os recursos
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que
também contribui para diminuir a extração de árvores para
produção de folhas de papel, por exemplo.

Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente,


apresentamos também este livro no formato digital. Portanto,
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Preparamos também um novo layout. Diante disso, você


verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos,
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.

QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!

LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conheci-


mento, construímos, além do livro que está em
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem,
por meio dela você terá contato com o vídeo
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de
auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que


preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


SUMÁRIO
UNIDADE 1 - SOCIOLOGIA, AUTORES E CONCEITOS............................................................ 1

TÓPICO 1 - ORIGEM DA SOCIOLOGIA.....................................................................................3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................3
2 IDADE MÉDIA E SOCIEDADE...............................................................................................3
3 RENASCIMENTO E SOCIEDADE..........................................................................................8
4 AUGUST COMTE E SAINT SIMON.......................................................................................11
RESUMO DO TÓPICO 1.......................................................................................................... 16
AUTOATIVIDADE................................................................................................................... 18

TÓPICO 2 - AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA E A RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO....... 21


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 21
2 SOCIOLOGIA, MODERNIDADE E CIÊNCIA......................................................................... 21
3 ÉMILE DURKHEIM, MAX WEBER E A EDUCAÇÃO.............................................................27
4 KARL MARX E A EDUCAÇÃO............................................................................................ 36
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................... 46
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 48

TÓPICO 3 - AUTORES CONTEMPORÂNEOS DA


SOCIOLOGIA E A RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO.................................................................. 51
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 51
2 SOCIOLOGIA E PÓS-MODERNIDADE................................................................................ 51
3 PIERRE BOURDIEU, MICHEL FOUCAULT E A EDUCAÇÃO.............................................. 65
4 ZYGMUNT BAUMAN, VIRTUALIDADE E A EDUCAÇÃO.....................................................73
LEITURA COMPLEMENTAR..................................................................................................78
RESUMO DO TÓPICO 3.......................................................................................................... 81
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 83

REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 85

UNIDADE 2 — CULTURA E EDUCAÇÃO................................................................................ 89

TÓPICO 1 — CONCEITO DE CULTURA................................................................................... 91


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 91
2 ORIGEM DO CONCEITO DE CULTURA............................................................................... 91
2.1 EDWARD BURNETT TYLOR (LONDRES 2 DE OUTUBRO DE 1832 –
WELLINGTON 2 DE JANEIRO DE 1917) .................................................................................................92
2.2 FRANZ URI BOAS (MINDEN, 9 DE JULHO DE 1858 —
NOVA IORQUE, 21 DE DEZEMBRO DE 1942).........................................................................................95
2.3 ALFRED LOUIS KROEBER (HOBOKEN, 11 DE JUNHO DE 1876 -
PARIS, 5 DE OUTUBRO DE 1960)............................................................................................................96
3 CULTURA E IDENTIDADE.................................................................................................108
4 EXEMPLOS DE IDENTIDADE CULTURAL........................................................................109
5 CULTURA E DESCONSTRUÇÃO........................................................................................111
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................ 113
AUTOATIVIDADE................................................................................................................. 115
TÓPICO 2 - DIVERSIDADE CULTURAL................................................................................117
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................117
2 INCLUSÃO E CULTURA.....................................................................................................117
3 GÊNERO E CULTURA........................................................................................................ 119
4 CULTURA E A TEORIA DECOLONIAL...............................................................................123
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................126
AUTOATIVIDADE................................................................................................................. 127

TÓPICO 3 - CULTURA E MEIO AMBIENTE..........................................................................129


1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................129
2 CULTURA E SUSTENTABILIDADE...................................................................................129
3 CULTURA E DIÁLOGO DOS SABERES.............................................................................133
4 CULTURAS E O BEM VIVER..............................................................................................135
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................ 141
RESUMO DO TÓPICO 3....................................................................................................... 144
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................146

REFERÊNCIAS.....................................................................................................................149

UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO, CULTURA E SOCIEDADE EM SALA DE AULA.........................155

TÓPICO 1 — INTERCULTURALIDADE EM SALA DE AULA.................................................. 157


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 157
2 MULTICULTURALIDADE.................................................................................................. 157
3 INTERCULTURALIDADE..................................................................................................162
4 PRÁTICAS INTERCULTURAIS EM SALA DE AULA..........................................................165
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................169
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................170

TÓPICO 2 - SALA DE AULA NO SÉCULO XXI...................................................................... 173


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 173
2 SOCIEDADE DE CONSUMO E SALAS DE AULA............................................................... 173
3 SOCIEDADE ALTERNATIVAS E SALAS DE AULA............................................................ 176
4 SALAS DE AULAS CONECTADAS....................................................................................180
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................184
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................185

TÓPICO 3 - BNCC: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS.........................................................187


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................187
2 ESTRUTURA DA BNCC.....................................................................................................187
3 BNCC E A EDUCAÇÃO BÁSICA........................................................................................ 191
4 BNCC: HUMANIDADE E SOCIEDADE............................................................................. 200
4.1 COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE CIÊNCIAS HUMANAS
E SOCIAIS APLICADAS AO ENSINO MÉDIO........................................................................................207
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................... 209
RESUMO DO TÓPICO 8........................................................................................................213
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................215

REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 217
UNIDADE 1 -

SOCIOLOGIA, AUTORES
E CONCEITOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• desenvolver a capacidade de análise acerca dos fenômenos sociais e educacionais;

• analisar aspectos do campo educacional a partir de uma perspectiva sociológica moderna;

• identificar as principais características sociológicas nos autores pós-modernos e na


sociologia da virtualidade;

• compreender a origem histórica e constituição do conhecimento sociológico.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – ORIGEM DA SOCIOLOGIA

TÓPICO 2 – AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA E A RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO

TÓPICO 3 – AUTORES CONTEMPORÂNEOS DA SOCIOLOGIA E A RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!

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2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
ORIGEM DA SOCIOLOGIA

1 INTRODUÇÃO
A origem da Sociologia está vinculada à história do mundo europeu. Pensadores
e obras do continente europeu iniciaram o debate e a reflexão em torno do que seria o
conhecimento sociológico transformado em Ciência.

Para melhor compreender esse debate sobre a origem e desenvolvimento


da sociologia no solo europeu, é importante entender como era a Europa do início do
processo de constituição da Sociologia. Na história da sociedade humana europeia,
esse período de constituição da Sociologia tem suas bases no fim da Idade Média.

Por isso, vamos entrar em nossos estudos no período conhecido como Idade
Medieval. Veremos as principais características, como era organizada a Sociedade, o
principal conhecimento produzido na época e sua relação com o movimento daqueles que
defendiam o conhecimento sociológico ou aqueles fatos, acontecimentos e conhecimentos.

2 IDADE MÉDIA E SOCIEDADE


A Idade Média, para a maioria dos pesquisadores, foi um período conhecido
como a Idade das Trevas, ou seja, a Idade sem Luz, sem criatividade humana. A maior
parte da história desse período teve como fonte de compreensão, de interpretação
da vida e de tudo que se relacionava com a sociedade o conhecimento religioso ou o
conhecimento teológico.

Quase tudo girava em torno das coisas de Deus ou do próprio Deus pregado
e comunicado pela Igreja da época (Igreja Católica Apostólica Romana). Esse cenário
começou a mudar por volta do ano 1.000, com o surgimento das primeiras Universidades,
com o fim da Idade Média e com o espírito renascentista, que povoou a Europa.

Observando a configuração da Sociedade através do tempo histórico, podemos


perceber que, no período medieval, a Sociedade apresentava algumas características
que identificamos como principais:

Relação principal: do Senhor Feudal e o Servo da terra. O Servo trabalhava nas


terras do Senhor Feudal. Era considerado um produto da terra, se a terra fosse vendida, o
Servo ficava nas terras como um produto a ser adquirido pelo comprador. A divisão social
era hierárquica, dividida basicamente em quatro estamentos ou estados: Rei, Nobreza,
Clero e Servos, sendo que os dois primeiros possuíam privilégios em relação ao último
grupo subordinado. Economia ou modo de produzir as coisas: a produção basicamente

3
girava em torno das grandes extensões de terras, os Feudos. Esse sistema ficou conhecido
como Feudalismo. As leis e os códigos de condutas sociais eram elaborados a partir das
Tradições da Nobreza e da interpretação Bíblica. A visão de mundo, religião, educação,
conhecimento, meio ambiente e cultura: Nessa época, predominava o conhecimento
Teológico, marcado pela supremacia da Igreja Católica Apostólica Romana (Igreja e Fiéis). A
cultura era elaborada a partir do Teocentrismo. A natureza era obra de Deus e era perfeita.

A vida na sociedade medieval se caracterizava por um forte apelo às questões


religiosas e rurais no sentido de que o modo de produção vigente, conhecido como
Feudalismo, foi o mais usado em toda a história desse período, de grandes extensões
de terras do Senhor Feudal, em que trabalha o servo, para fugir da miséria e buscar seu
espaço no céu. Arte, Educação, Política, Religião, Leis, Cultura, entre outros setores da
sociedade da época, eram fundamentadas no conhecimento religioso ou teológico. O
teocentrismo era a medida de todas as coisas.

NOTA
Teocentrismo é uma doutrina que toma Deus como elemento central.

Viver na sociedade medieval era viver dentro dos limites da Igreja Católica Apostólica
Romana. Diretrizes, princípios, normas estabelecidas na vida social tinham como parâmetro
a interpretação da Bíblia por parte dos membros da Igreja. O destino da vida humana era
imposto pela interpretação do clero, ou seja, o conhecimento produzido para interpretar e
compreender a vida humana em todos os sentidos passava pelo crivo do conhecimento
religioso amparado nas leituras bíblicas das autoridades religiosas da época.

FIGURA 1 – SOCIEDADE MEDIEVAL

FONTE: <https://bit.ly/3A2tnIW>. Acesso em: 8 jan. 2021.

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Entraremos agora em algumas características importantes para a compreensão
da configuração e condição da vida na sociedade medieval. De acordo com Schipansk e
Pontarolo (2009), o tempo na Idade Média e a relação com elementos religiosos e sociais
se apresentava da seguinte forma:

QUADRO 1 – TEMPO E RELAÇÕES ESTABELECIDAS

Tempo e
relações Características
estabelecidas
Para nós pode parece estranha a forma como os homens e mulheres
medievais viam e viviam o seu tempo, pois estamos habituados a uma rotina
Viver seu tempo frenética, sempre correndo contra o tempo, preocupados com o próximo
compromisso. A forma como os indivíduos entenderam e viveram o seu
tempo é muito importante para que possamos compreender sua sociedade.
No período medieval vemos uma força grandiosa da Igreja sobre muitos aspectos
Multiplicidade da sociedade e, de fato, o cristianismo influenciou profundamente a relação das
de tempo pessoas com o tempo. Além disso, nesse período havia uma multiplicidade de
tempos: o tempo natural e rural; o tempo senhorial; o tempo religioso.
Estamos falando de uma época em que a agricultura era a principal
atividade econômica e, portanto, uma época em que a terra e o seu uso
eram fundamentais para a sobrevivência. A natureza imperava na medição
e contagem do tempo rural. Existia o tempo das chuvas e o das secas; o
do dia e o da noite; o do plantio e o da colheita; o do inverno e do verão.
O tempo natural
É o tempo dos dualismos tão enfocados durante o período medieval: luz
e rural
e escuridão, calor e frio, ócio e trabalho, vida e morte. Esse tipo de tempo
é cíclico, lento e longo, e os camponeses estavam habituados a esperar,
pacientes, pela mudança – se é que ela ocorreria. Esse cenário é uma
representação imagética do tempo cíclico: um fato precede o outro, mas
voltará a acontecer – como as estações do ano.
O tempo senhorial é, antes de tudo, militar, isso porque tem como pontos
O tempo
culminantes no ano os períodos dos combates, das reuniões da cavalaria
senhorial
e dos adoubements.
Os mosteiros levaram para além de suas muralhas o seu ritmo de vida. As
O tempo atividades diárias eram ritmadas pelo badalo dos sinos e pelo eco das orações
religioso vindas dos interiores dos mosteiros. A importância dos sinos na Idade Média era
muito grande, pois cada som emitido significava um acontecimento diferente.
Cerimônia de iniciação dos jovens para a cavalaria, na qual acontecia a
Adubamento
benção cristã do novo cavaleiro.
Certamente, marcava os principais eventos da vida urbana, quer chamando
os fiéis para a celebração dos ofícios divinos, quer anunciando as festas; ora
O bater dos avisando o início e o fim do trabalho, ora lembrando triste acontecimento ou,
sinos ainda, alertando as pessoas para uma ameaça iminente. Toda a população
sabia o significado dos diversos toques, que, apesar de serem incessantes,
não perdiam o seu efeito no espírito dos ouvintes.
O ano também era marcado pela liturgia e pelas datas festivas relacionadas
à vida de Cristo, como o Natal, a Páscoa, a Ascensão e o Pentecostes. Aos
poucos foram se inserindo festas em honra à Virgem Maria e aos demais
Liturgia
santos. Esses festejos normalmente marcavam acontecimentos importantes
para questões econômicas, como, por exemplo, o pagamento de tributos
aos senhores ou a festa da colheita.

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O clero era, também, o responsável pela medição do tempo útil e também
pelo tempo destinado ao descanso no Domingo, pela liturgia cristã que
definia quais eram os dias santos e de festa, bem como os dias de trabalho
e os de jejum. O tempo da Igreja era dominante no medievo, mas pede que
Clero tomemos cuidado ao fazer essa afirmação, pois mesmo que a ideologia
cristã tivesse total domínio sobre a população, a maioria dos camponeses
não sabia e nem se importava que dia fosse (com exceção dos domingos e
dias de festas), e é bem provável que não soubessem nem mesmo qual era
sua própria idade e o dia do seu aniversário.
Segundo a narrativa da Igreja sobre a criação do mundo e do homem, eles
Criação do foram criados em seis dias e o Criador descansou no sétimo, contemplando
mundo a sua obra. O domingo representava esse dia, e por isso devia ser reservado
às orações e ao descanso.
Horas canônicas: São as várias partes do Ofício divino, escalonadas ao
longo do dia: Laudes, como oração da manhã; horas menores (Tércia, Sexta
e Nona, das quais se pode optar por uma única, hora intermédia, a mais
Horas canônicas adequada à hora do dia); Vésperas, ao anoitecer (considerada hora principal,
juntamente com Laudes); Completas, ao deitar; e Ofício de Leitura, com
o valor de tempo de oração meditativa durante a noite, embora podendo
celebrar-se a qualquer hora.

FONTE: Schipansk e Pontarolo (2009, p. 30-31)

A relação das pessoas com o tempo na Idade Média explica muito sobre seu
modo de vida. No entanto, vamos destacar outro aspecto fundamental dessa época: o
espaço, os locais de reuniões, de trabalho, de estudos. Segundo Schipansk e Pontarolo
(2009), assim se apresentava a relação espaço e ser humano no período medieval:

QUADRO 2 – ESPAÇO E RELAÇÕES

Espaços e
Configurações
relações
A primeira condição para o funcionamento do sistema feudal era a fixação
dos homens ao solo. Ora, a ligação dessas pessoas com a terra é indiscutível,
Fixação ao solo pois a base da sobrevivência era a agricultura. Além do mais, é a organização
espacial em feudos que estabelece o lugar de cada um: vassalo e suserano,
servo ou senhor.
A divisão espacial em paróquias mostra que a Igreja teve importância ímpar
também nesse aspecto, a criação do quadro paroquial. A paróquia reunia os
grupos, formando aldeias ao redor da igreja (que era um edifício sacralizado) e
Paróquias do cemitério. O lugar central e para onde convergiam as atenções e os olhares
era o altar – lugar onde a Igreja confirmava sua unidade através da eucaristia.
Essa distribuição populacional ao redor dos edifícios sagrados origina um
espaço “heterogêneo e hierarquizado, polarizado pelos santos e suas relíquias”.
No entanto, não podemos confundir vínculo à terra com imobilidade, pois,
ao contrário do que se acredita, nem todos os homens e mulheres da Idade
Média passavam a vida inteira no lugar onde nasceram, muitos deles viviam
Vínculo a terra em constante movimentação e peregrinação. Aparece como um elemento
fundamental do encelulamento, que contribui para a estabilidade das
populações rurais e, então, para a solidez do laço entre os homens e o seu
lugar, indispensável ao funcionamento da dominação feudal.

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A movimentação se dava pelo fato de que, nesse tempo, as propriedades
podiam ser provisórias. Os indivíduos estavam inseridos em uma hierarquia
que determinava sua posição social: o senhor tinha todo o direito de retomar
do servo ou do vassalo a extensão territorial a ele concedida, desde que o
Movimentação
transferisse para outra da mesma proporção. Entretanto, esse novo local
poderia estar situado bem longe do local de origem. Já a peregrinação estava
associada às experiências de exterioridade e poderia funcionar como um
meio de reforçar o vínculo com o lugar de origem.
O espírito religioso que imperava nessa época empurrava as pessoas para
a estrada. A busca pelos lugares santos e pelas relíquias sagradas movia
boa parte da população medieval. A travessia era, na maioria das vezes,
Religiosidade
cercada de dificuldades: os caminhos longos e tortuosos, o frio e a fome, o
medo da noite e da floresta, os ladrões e o mau estado das estradas e dos
caminhos percorridos.
A peregrinação, portanto, não visava a satisfação do desejo pessoal
de conhecer novos lugares, nem mesmo era uma atividade de lazer. A
peregrinação era praticada como uma penitência, como uma provação.
Peregrinação Era uma das formas de purgar pecados graves, de se sacrificar pelo perdão
divino. Essas mobilidades e deslocamentos deixavam cada vez mais clara
para os indivíduos a importância dos seus lugares e isso reafirmava neles o
laço imaginário que os prendia ao seu espaço.

FONTE: Schipansk e Pontarolo (2009, p. 32)

O feudalismo predominou na Idade Média. Sendo assim, a agricultura era a base


econômica dos povos europeus ocidentais. Como se observa, em geral, a Idade Média foi
sumariamente caracterizada por um sistema político, econômico e social denominado
feudalismo. Queiroz e Junior (2015, p. 34), caracterizam o Feudalismo da seguinte maneira:

O feudo era tido como um “modo de posse de bens reais” e ‘feudal’


relacionava-se não apenas ao feudo propriamente, mas também aos
encargos decorrentes deste tipo de posse. Posteriormente, durante
a monarquia absolutista, a expressão que denominava o aspecto
jurídico, passa a incorporar um conteúdo político. Com isso, passa-
se a enfatizar como principais características do âmbito feudal os
vários aspectos relativos à fragmentação da soberania. Mais tarde, a
partir dos estudos e conceitos desenvolvidos por Karl Marx e Friedrich
Engels, entre 1845 e 1846, o período medieval passa a ser visto pelos
historiadores marxistas como um modo de produção, o chamado
“modo de produção feudal”. Esse modo de perceber o feudalismo
como fenômeno histórico implicava num entendimento em que a
expressão “feudal” incorporasse também um conteúdo econômico,
referindo-se não apenas à organização política e às relações pessoais
estabelecidas entre os homens pertencentes às classes dominantes,
mas também à própria maneira como estes sujeitavam uma população
mais ampla para a organização de uma produção agrícola da qual
todos dependiam para a sua subsistência. Assim, as relações verticais
entre senhores e servos e todo um complexo sistema de trabalho e
propriedade passavam a figurar o “modo de produção Feudal”.

Portanto, o Feudalismo incluía tanto um sistema senhorial de exploração


econômica-social, como o conjunto de mecanismos feudo-vassálicos, por onde se
organizava a hierarquia.

7
3 RENASCIMENTO E SOCIEDADE
Entre o final da Idade Média e início da Idade Moderna, o conhecimento dito
científico começa a colocar em questão muitos conhecimentos da época e o próprio
entendimento do mundo pelo conhecimento religioso/teológico. Por exemplo,
lembremos a descoberta de que a Terra não era o centro do Universo. A Revolução
Francesa, por exemplo, foi inspirada nas ideias iluministas e representa o principal
marco desse movimento intelectual (Renascentista).

Iluminismo: Contrário à visão teocêntrica que dominava a Europa. Essa


forma de pensamento tinha o propósito de iluminar as trevas em que se encontrava a
sociedade. De acordo com Mello e Donato (2011, p. 252),

O pensamento iluminista tem como fundamentos a crença no poder


da razão humana de compreender nossa verdadeira natureza e de
ser consciente de nossas circunstâncias. O homem, então, creia
ser o detentor de seu próprio destino, formulando o racionalismo
e contrariando as imposições de caráter religioso, sua “razão”
divina de existir, e os privilégios dados à nobreza e ao clero – ainda
predominantes à época (séculos XVII e XVIII).

NOTA
O iluminismo foi um movimento filosófico e intelectual que aconteceu entre os
séculos XVII e XVIII na Europa, em especial, na França. Os pensadores iluministas
defendiam as liberdades individuais e o uso da razão para validar o conhecimento.
Também chamado de “Século das Luzes”, o movimento iluminista
representa a ruptura do saber eclesiástico, isto é, do domínio que
a Igreja Católica exercia sobre o conhecimento. E dá lugar ao saber
científico, que é adquirido por meio da racionalidade.
O iluminismo é um movimento da Idade Moderna que rompeu com
o teocentrismo – doutrina que coloca Deus no centro de tudo – e
passou a ver o indivíduo como o centro do conhecimento.

FONTE: <https://www.significados.com.br/iluminismo/>. Acesso em: 29 jul. 2021.

O Racionalismo é uma corrente filosófica que atribui particular confiança


à razão humana, ao passo que acredita que é dela que se obtém os conhecimentos.
Somente o pensamento por meio da razão é capaz de atingir a verdade.

Entende-se por Racionalismo, do ponto de vista da Teoria do


Conhecimento o saber que se funda na razão. Todo conhecimento
deriva de princípios (a priori), ou o conhecimento que independe
da experiência sensível. O conhecimento adquirido somente pelos
sentidos fornece, tão somente, uma ideia confusa e provisória
da verdade. A filosofia do Racionalismo data do século XVII O

8
Racionalismo, enquanto Teoria do Conhecimento pela razão opõe-se
ao misticismo, aos dogmas religiosos, às superstições. A teoria do
Racionalismo tem sido denunciada como sinônimo de irreligião. Ou
seja, o conhecimento que não aceita a Intuição, os valores humanos
ligados aos sentimentos. O Racionalismo expandiu-se, abrindo
novos horizontes do conhecimento. Ainda no século XVII, conquistou
espaços na política e nas artes (CRUZ; SILVA, 2011 p. 6421).

O racionalismo descreve que há um tipo de conhecimento que surge


diretamente da razão. É baseado nos princípios da busca da certeza e da demonstração,
fundamentados por um conhecimento que é elaborado somente pela razão. O
racionalismo considera que o ser humano tem ideias inatas, ou seja, que não são
derivadas da experiência, mas se encontram no ser humano desde seu nascimento e
desconfia das percepções sensoriais.

O Renascimento cultural foi um movimento artístico, cultural e científico,


ocorrido nos séculos XIV, XV e XVI, marcando o início da Idade Moderna. Foi marcado
pela crítica à cultura religiosa medieval, baseada na “fé cega”, quase que a rejeição da
ideologia da Igreja Católica Romana, apesar dos temas religiosos presentes em algumas
de suas manifestações artísticas.

O movimento difundiu-se primeiramente na Península Itálica, devido à


enriquecida burguesia da região que se beneficiou com o comércio mediterrânico
ocidente-oriente na Itália, mais precisamente em cidades ligadas ao comércio, como
Veneza, Pisa, Gênova e Florença. Tais cidades receberam uma forte influência dos
sábios bizantinos. Além disso, após a Queda de Constantinopla, muitos pensadores
do antigo Império Bizantino fugiram para a Itália, auxiliando na difusão dos saberes da
cultura greco-romana clássica. Além dessa influência, havia os árabes que mantinham
contatos comerciais com os italianos.

FIGURA 2 – O AFRESCO ESCOLA DE ATENAS

FONTE: <https://bit.ly/3QAuKWE>. Acesso em: 13 jan. 2021.

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O afresco Escola de Atenas, do pintor renascentista Rafael, mostra os filósofos
Platão e Aristóteles (ao centro), além de outros estudiosos da Antiguidade. No
Renascimento, o pensamento da Antiguidade clássica foi retomado como base para
desenvolver novas ideias.

Características do Renascimento

a- Individualismo: valorização da capacidade do ser humano em fazer escolhas


livremente, valendo-se de suas próprias forças
b- Racionalismo: ênfase na razão como principal instrumento para compreender
o Universo, a natureza e até mesmo Deus.
c- Humanismo e Antropocentrismo: perspectiva de que o homem deveria ser
o centro das indagações dos pensadores em detrimento do teocentrismo
medieval, centrado na natureza de Deus. No entanto, o fato de os humanistas
serem antropocêntricos não quer dizer que fossem ateus. Ao contrário,
eles eram profundamente cristãos. Sem se afastarem da religião cristã, os
humanistas fizeram da capacidade de conhecer as coisas através do uso da
razão uma das qualidades mais elevadas do homem. A fim de poder empregar
e desenvolver a inteligência humana eles defenderam o livre exame dos
textos sagrados, inclusive da Bíblia. Foi essa imensa confiança nas qualidades
humanas que caracterizou o humanismo.
d- Hedonismo: busca do prazer individual. Naturalismo: preocupações com a
natureza, dentro de uma perspectiva metafísica sobre as coisas e sobre as
capacidades da razão em moldar a realidade natural.
e- Neoplatonismo: ideia de que o homem deveria se elevar até Deus. Influência
da cultura Greco-Romana: o movimento se inspirou na cultura da antiguidade
clássica, adaptando-a de acordo com os interesses da burguesia europeia da
Idade Moderna.
f- Mecenato: A Itália foi durante muito tempo apenas uma expressão geográfica
e não um país. Desde a Idade Média ela era composta de uma multidão de
cidades-estados independentes e assim continuou até sua unificação no
século XIX. Na época do Renascimento, algumas cidades-estados, como
Florença, Milão e Veneza, destacavam-se não só pela riqueza, mas também
pela proteção que dispensavam aos artistas e intelectuais. Os governantes
dessas cidades representavam certas famílias, como a Sforza, de Milão, e os
Medici, de Florença, notabilizando-se como mecenas, isto é, como protetores
e financiadores de sábios e artistas.

FONTE: Adaptado de SEVCENKO, N. O renascimento. 4. ed. Campinas: Editora da Universidade Es-


tadual de Campinas, 1986.

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4 AUGUST COMTE E SAINT SIMON
O Iluminismo floresceu na França, na Inglaterra, na Alemanha e nos Países
Baixos. A Filosofia Social Iluminista desdobrou-se em duas correntes: de um lado, os
Reformadores Sociais Moderados que buscavam um ajuste na sociedade aos interesses
da burguesia; de outro, os Radicais, que pareciam intuir vagamente os interesses de um
futuro proletariado. Os Moderados deram origem ao que mais tarde ficou conhecido como
o pensamento liberal conservador e positivista, e os Radicais deram origem aos Socialistas.

A primeira corrente do pensamento sociológico propriamente dito foi o


Positivismo, primeira teoria a organizar alguns princípios a respeito do ser humano e
da sociedade de forma cientifica. Seu primeiro representante foi o pensador francês
Auguste Comte, influenciado por Saint Simon.

FIGURA 4 – CLAUDE HENRI DE ROUVROY, CONDE DE SAINT-SIMON

FONTE: <https://bit.ly/3At1oUr>. Acesso em: 19 mar. 2021.

Saint Simon foi o autor de muitas ideias atribuídas ao seu secretário particular
August Comte. Seu pensamento ficou entre uma bifurcação ideológica: parte foi
aproveitada pelos conservadores e parte pelos socialistas. Foi o precursor do positivismo
e, em alguns aspectos, das ideias de Karl Marx, o mais importante teórico do socialismo.

Quais eram os principais pensamentos, ideias e princípios defendidos por Saint


Simon? Vejamos a seguir. Sobre o Desenvolvimento da Humanidade, Bins (1990, p. 14) afirma:

A humanidade progride por etapas. Na primeira a teológica, o mundo fora


interpretado em termos religiosos. Na segunda a metafisica, por meio da
filosofia e por fim, a positiva ou científica. O progresso para ele não se
reduziria somente ao mundo das ideias, pois seria também material.

Você pode notar acadêmico, que ele influenciou muito August Comte nessas
ideias de que a humanidade progrediu por etapas. Ao que parece, ele olha a humanidade
em seus tempos históricos: no início, a sociedade teria sido influenciada pela magia e

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rituais sagrados; depois, viria a instituição da religião (idade média); a crítica humana
à influência religiosa no mundo (antropocentrismo e racionalismo), fase ou etapa dos
intelectuais, pensadores e filósofos; e, por último, a busca pelo conhecimento científico.

Olhando para educação e os conhecimentos criados e incorporados no dia


a dia das escolas e universidades da época, seriam as seguintes possíveis etapas:
conhecimento religioso, conhecimento filosófico e sociológico (com o suporte da
geografia e história entre outros conhecimentos) e, por fim, o conhecimento científico.

Simon vivenciou a revolução Francesa, que interpretou como luta


de classes: os industriais, os que produzem, contra a aristocracia
parasitária. Não percebeu, porém, que esta categoria era composta
por duas classes, a dos burgueses e a dos trabalhadores. Após
a revolução, concluiu que se os industriais haviam teoricamente
vencido, quem de fato tinha liderado o processo e continuava
a manter o poder eram os metafísicos, os advogados e outras
categorias bastardas (BINS,1990, p. 14).

É o primeiro teórico que esboça a ideia da luta de classes, muito embora


esse conceito seja divergente daquele apresentado por Marx. De acordo com Bins
(1990, p. 15), “imaginava que para o futuro, as sociedades tornar-se-iam orgânicas,
com suas partes perfeitamente integradas e sem conflitos, comandadas por uma
elite técnica-científica”.

Influenciou muitos pensadores com esse princípio de sociedades orgânicas,


sobretudo Herbert Spencer, e a sociologia evolucionista, que permite conceber
o sistema social composto por elementos interdependentes constituindo uma unidade
própria, à semelhança dos organismos biológicos. Spencer buscou no evolucionismo
os mecanismos e objetivos da sociedade, e defendeu o ensino da ciência para formar
adultos competitivos. A concepção organicista, em oposição à perspectiva historicista,
influenciou Durkheim e a corrente funcionalista.

Por último, a maior das contribuições. Segundo Bins (1990, p. 15), Simon “propôs
a criação de uma ciência especializada, no estudo da conduta humana, a física social,
depois rebatizada por Comte de sociologia”.

Crítico ferrenho da aristocracia e do clero, Saint-Simon distingue nas


transformações sociais de sua época os prenúncios de uma nova era na história da
humanidade. Ele foi, ao mesmo tempo, o referencial ideológico dos socialistas, dos
positivistas e dos anarquistas. Suas ideias para a Educação são notadas nessas
três vertentes, nas concepções teóricas e práticas da educação usada por parte de
professores e sistemas de ensino. Seu maior objetivo era a criação de uma sociedade
ideal, mais justa e igualitária. Para alguns pensadores de Saint Simon, esse era o grande
objetivo do Socialismo Utópico criado por ele. Outro grande pensador e fundador da
Sociologia foi August Comte.

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FIGURA 5 – ISIDORE AUGUSTE MARIE FRANÇOIS XAVIER COMTE

FONTE: <https://bit.ly/3A51oZl>. Acesso em: 18 mar. 2021.

Comte nasceu em Montpellier, França, em uma família católica e monarquista.


Viveu a infância na França napoleônica. Estudou no colégio de sua cidade e depois
em Paris, na escola Politécnica. Tornou-se discípulo de Saint Simon, de quem sofreu
enorme influência. Devotou seus estudos à filosofia positivista, considerada por ele
como uma religião da qual era o pregador. Segundo sua filosofia política, existiam na
história três estados: um teológico; outro metafísico e, finalmente, o positivo. Esse último
representava o coroamento do progresso da humanidade. Sobre as ciências, distinguia
as abstratas das concretas, sendo que a ciência mais complexa e profunda seria a
Sociologia, ciência que batizou na sua obra Curso de Filosofia Positiva, em seis volumes,
publicada entre 1830 e 1842. Além dessa, publicou Discurso sobre o espírito positivo,
Discurso sobre o conjunto do positivismo, Sistema de política positivista, Catecismo
positivista e a Síntese subjetiva. Morreu em Paris (COSTA, 1987).

O positivismo foi uma corrente teórica criada por Auguste Comte que influenciou
a política praticada nos primeiros anos do período republicano no Brasil.

QUADRO 3 – CORRENTE POSITIVISTA

O positivismo foi uma corrente teórica criada pelo f ilósofo


francês Auguste Comte (1798-1857) que defendia que a regra para
o progresso social seria a disciplina e a ordem, o que influenciou a teoria
moral utilitarista de John Stuart Mill (1806-1873). Stuart Mill reformulou o
primeiro utilitarismo fundado por seu professor, o filósofo e jurista Jerehmy
Bentham. No Brasil, o positivismo político de Comte, renovado pela carga moral
utilitarista, influenciou a política praticada nos primeiros anos da Primeira República
(1889-1930), devido às referências positivistas trazidas pelos militares e pelo
primeiro presidente, o marechal Manuel Deodoro da Fonseca.

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3AsK69L>. Acesso em: 29 jul. 2021.

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Quais as principais características do positivismo? Confira:

QUADRO 4 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS POSITIVISMO

• Doutrina filosófica: como uma continuidade do Iluminismo, a inspiração


política e científica do positivismo estava nos ideais iluministas. As aspirações
dos primeiros filósofos iluministas de alcançar um estágio de desenvolvimento
moral da sociedade foram mantidas. No entanto, um novo modo de agir era
necessário para garantir a ordem social, desestabilizada após a Revolução
Francesa.
• Doutrina sociológica: visando garantir a ordem social, o positivismo
atua como uma doutrina que, partindo dos estudos sociológicos, serve
de base para o comportamento social e moral das pessoas. A Lei dos Três
Estados estaria no topo dessa cadeia de desenvolvimento da sociedade.
• Doutrina política: a disciplina, o rigor e a ordem social eram requisitos
políticos para a garantia do avanço social na ótica positivista.
• Desenvolvimento das ciências e das técnicas: o progresso social estaria
intimamente ligado ao progresso intelectual, científico e tecnológico. A ideia
de uma escola laica, universal e gratuita, que já havia ganhado certo espaço
durante o Iluminismo, passou a ser defendida com mais força pelos intelectuais
positivistas.
• Religião positiva: Comte entendia que a humanidade precisava de
relações de devoção. A devoção – antes baseada na fé em Deus ou
nos deuses – no positivismo, dá lugar para a fé na ciência como única
depositária de confiança da humanidade, surgindo o cientificismo,
caracterizado pela aposta incondicional nas ciências como fonte total do
conhecimento verdadeiro.

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3AsK69L>. Acesso em: 12 mar. 2021.

FIGURA 6 – COMTE E O POSITIVISMO

FONTE: <https://bit.ly/3c2YvjK>. Acesso em: 12 mar. 2021.

14
NOTA
O método geral do positivismo de Auguste Comte consiste na observação
dos fenômenos, opondo-se ao racionalismo e ao idealismo, por meio da
promoção do primado da experiência sensível, única capaz de produzir
a partir dos dados concretos (positivos) a verdadeira ciência (na
concepção positivista), sem qualquer atributo teológico ou metafísico,
subordinando a imaginação à observação, tomando como base
apenas o mundo físico ou material. O positivismo nega à ciência
qualquer possibilidade de investigar a causa dos fenômenos
naturais e sociais, considerando este tipo de pesquisa inútil e
inacessível, voltando-se para a descoberta e o estudo das leis
(relações constantes entre os fenômenos observáveis).

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3CgyqZ5>. Acesso em: 20 jan. 2021.

15
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• A origem da Sociologia está vinculada à história do mundo europeu. Pensadores e


obras do continente europeu iniciaram o debate e a reflexão em torno do que seria o
conhecimento sociológico transformado em Ciência.

• A Idade Média teve como fonte de compreensão, de interpretação da vida e tudo


que se relacionava com a sociedade, o conhecimento religioso ou o conhecimento
teológico.

• A vida na sociedade medieval se caracterizava por um forte apelo às questões


religiosas e rurais no sentido de que o modo de produção vigente conhecido como
Feudalismo foi o mais usado em toda a história desse período, onde grandes
extensões de terras do Senhor Feudal eram usadas pelos servos para fugir da miséria
e buscar seu espaço no céu.

• O pensamento iluminista tem como fundamentos a crença no poder da razão


humana de compreender nossa verdadeira natureza e de ser consciente de nossas
circunstâncias. O homem, então, cria ser o detentor de seu próprio destino, formulando
o racionalismo e contrariando as imposições de caráter religioso, sua “razão” divina
de existir, e os privilégios dados à nobreza e ao clero, ainda predominantes à época
(séculos XVII e XVIII).

• O Renascimento cultural foi um movimento artístico, cultural e científico, ocorrido


nos séculos XIV, XV e XVI, início da Idade Moderna. Foi marcado pela crítica à cultura
religiosa medieval, baseada na “fé cega”, quase que a rejeição da ideologia da Igreja
Católica Romana, apesar dos temas religiosos presentes em algumas de suas
manifestações artísticas.

• Saint Simon foi o autor de muitas ideias atribuídas ao seu secretário particular August
Comte. Seu pensamento ficou entre uma bifurcação ideológica: parte foi aproveitada
pelos conservadores e parte pelos socialistas. Foi o precursor do positivismo e, em
alguns aspectos, das ideias de Karl Marx, o mais importante teórico do socialismo.

• Comte nasceu em Montpellier, França, em uma família católica e monarquista. Viveu


a infância na França napoleônica. Estudou no colégio de sua cidade e depois em
Paris, na escola Politécnica. Tornou-se discípulo de Saint Simon, de quem sofreu
enorme influência. Devotou seus estudos a filosofia positivista, considerada por ele
como uma religião da qual era o pregador.

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• O positivismo foi uma corrente teórica criada pelo filósofo francês Auguste Comte (1798-
1857), que defendia que a regra para o progresso social seria a disciplina e a ordem, o
que influenciou a teoria moral utilitarista de John Stuart Mill (1806-1873). Stuart
Mill reformulou o primeiro utilitarismo fundado por seu professor, o filósofo e jurista
Jerehmy Bentham. No Brasil, o positivismo político de Comte, renovado pela carga
moral utilitarista, influenciou a política praticada nos primeiros anos da Primeira
República (1889-1930), devido às referências positivistas trazidas pelos militares e
pelo primeiro presidente, o marechal Manuel Deodoro da Fonseca.

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AUTOATIVIDADE
1 A Idade Média, para a maioria dos pesquisadores, foi um período conhecido Idade das
Trevas, ou seja, a Idade sem Luz, sem criatividade humana. A maior parte da história
desse período teve como fonte de compreensão, de interpretação da vida e tudo que se
relacionava com a sociedade, o conhecimento religioso ou o conhecimento teológico.
Referente ao modo de produzir as coisas na Idade Média, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A produção basicamente girava em torno das grandes extensões de terras, os


chamados Feudos, e tal sistema ficou conhecido como Feudalismo.
b) ( ) A produção basicamente girava em torno das pequenas extensões de terras, os
Feudos. Esse sistema ficou conhecido como Feudalismo.
c) ( ) A produção basicamente girava em torno das grandes extensões de terras, os
Feudos. Esse sistema ficou conhecido como Mercantilista.
d) ( ) A produção basicamente girava em torno das grandes extensões de terras, os
Burgos. Esse sistema ficou conhecido como Feudalismo.

2 Entre o final da Idade Média e início da Idade Moderna, o conhecimento dito científico
começa a colocar em questão muitos conhecimentos da época, além do próprio
entendimento do mundo pelo conhecimento religioso/teológico. Exemplo disso foi
a descoberta de que a Terra não era o centro do Universo. A Revolução Francesa
foi inspirada nas ideias iluministas e representa o principal marco desse movimento
intelectual. Sobre o Iluminismo, analise as afirmativas a seguir:

I- Iluminismo: contrário à visão teocêntrica que dominava a Europa.


II- O pensamento iluminista tem como fundamentos a crença no poder da razão humana de
compreender nossa verdadeira natureza e de ser consciente de nossas circunstâncias.
III- O Iluminismo foi um movimento artístico, cultural e científico, ocorrido nos séculos
XIV, XV e XVI.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente as afirmativas I e II estão corretas.


b) ( ) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
c) ( ) Somente as afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa III está correta.

3 A primeira corrente do pensamento sociológico, propriamente dita, foi o Positivismo,


primeira teoria a organizar alguns princípios a respeito do ser humano e da Sociedade.
Seu primeiro representante foi o pensador francês Auguste Comte, influenciado por
Saint Simon. Sobre August Comte, assinale a alternativa CORRETA:

18
a) ( ) Segundo a filosofia política de Comte, existiam na história três estados: um
teológico; outro metafísico e, finalmente, o positivo.
b) ( ) O positivismo foi uma corrente teórica criada por Auguste Comte que influenciou
a política praticada nos primeiros anos do período republicano no Brasil.
c) ( ) Na visão utópica de Comte, nessa sociedade transformada imperavam as noções
de mérito e de cooperação.
d) ( ) Comte entendia que a humanidade precisava de relações de devoção. A devoção,
antes baseada na fé em Deus ou nos deuses, no positivismo, dá lugar para a fé na
ciência como única depositária de confiança da humanidade, surgindo o cientificismo.

4 Ao longo da Idade Média, prevaleceu a concepção teocêntrica de mundo e


sociedade. A partir do Renascimento e do início da Idade Moderna, esta concepção
foi gradualmente sendo substituída pelo antropocentrismo, provocando mudanças
e transformações profundas na maneira de entender o homem, a religiosidade, a
sociedade e a natureza. Diante disto, descreva duas mudanças apresentadas pela
concepção de mundo no contexto do Renascimento e da Idade Moderna.

5 Auguste Comte desenvolveu, no campo teórico, os preceitos do Positivismo, que


influenciaram tanto a compreensão da sociedade quanto da educação ao longo da
história. Um dos lemas desse pressuposto epistemológico é “Ordem e Progresso”, o
qual também consta estampado na bandeira nacional, símbolo de nosso país. Com
base no exposto, disserte sobre o positivismo e sua relação com a sociedade.

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UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA E A
RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Sociologia, modernidade e Ciência: esse Tópico servirá para situar a reflexão
trazida neste livro de estudos sobre origem e o desenvolvimento da sociologia, ou seja,
apresentar o mundo europeu no início da modernidade e sua relação com os estudos
da sociologia da época. A sociedade moderna se caracterizou por símbolos, valores,
representações e instituições marcadas por determinadas formas de saber e de poder,
ocupantes de uma posição hegemônica. O exercício dessa hegemonia dependeu, em
grande medida, desde as conquistas dos grandes impérios sobre povos colonizados até
os modelos mais avançados de dominação, de estratégias próprias de apropriação do
espaço, origem e fundação de um território.

Apresentaremos sobre Émile Durkheim, que nasceu em Épinal, na Alsácia,


descendente de uma família de rabinos, e iniciou seus estudos filosóficos na Escola
Normal Superior de Paris, indo depois para a Alemanha. Lecionou Sociologia em Bordéus,
primeira cátedra dessa ciência na França. Max Weber nasceu na cidade de Erfurt, em
uma família de burgueses liberais. Desenvolveu estudos de direito, filosofia, história e
sociologia, constantemente interrompidos por uma doença que o acompanhava por
toda a vida. Iniciou a carreira de professor em Berlim e, em 1895 foi catedrático em
Heidelberg. Manteve contato permanente com intelectuais de sua época. No decorrer do
Tópico 2 vamos estudar os principais conceitos e características da proposta sociológica
desses autores e a relação com a educação.

Por último, apresentaremos Karl Marx, que nasceu na cidade de Treves, na


Alemanha. Em 1836 matriculou-se na Universidade de Berlim e doutorou-se em
filosofia na Universidade de Jena. Foi redator de uma gazeta liberal em Colônia. Mudou-
se em 1842 para Paris, onde conheceu Friedrich Engels, seu companheiro de ideias e
publicações por toda a vida.

2 SOCIOLOGIA, MODERNIDADE E CIÊNCIA


Os Estados Nacionais foram constituídos a partir do ideal de nação em termos
de uma identidade compartilhada e de território, concebido como a base homogênea
para o desenvolvimento dessa identidade.

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A vida humana se constitui dentro desse período por meio de grandes avanços
e desenvolvimentos em diversas áreas, como a Política, a Economia, a Cultura e a
Ciência. Angústias, certezas, esperanças, medos e mistérios cercaram o nascimento e
desenvolvimento desse período na história humana. O ser humano do período moderno
compreendeu que para viver e ser, nessa época, precisaria de muitos conhecimentos
para ter um mínimo de visão sobre a compreensão de habitar esse planeta e se aculturar
nas novas formas de convívio e de vida.

No período conhecido como Idade moderna, as principais características da


sociedade eram:

Relação principal: no início do período o Rei e o Súdito simbolizavam a maior


relação existente na sociedade da época. No final do período, o Governo e o trabalho
aparecem como a relação que predominou. A divisão social: início das classes sociais
descritas por Marx e outros pensadores que estudavam a sociedade. Economia
ou modo de produzir as coisas: surgimento das primeiras fábricas e oficinas. O
capitalismo era mercantilista na época das grandes navegações, e no início da idade
contemporânea o capitalismo industrial veio assim se caracterizando, com a revolução
industrial. As leis e os códigos de condutas sociais: com o início das estruturações
e configurações dos Estados-nações e, sobretudo, na Idade Contemporânea, com a
Revolução Francesa, a questão do direito se tornou presente em muitos países. Surge
a discussão sobre os Direitos Universais do Homem. A visão de mundo, religião,
educação, conhecimento, meio ambiente e cultura: a visão de mundo passa pelo
parâmetro do Antropocentrismo. A Igreja Protestante nasce com Lutero. Contrarreforma
Católica com os Jesuítas. A natureza é vista como algo a ser explorado para a
produção de artefatos culturais. Nesse período, vigorava a ideia de que a natureza era
fonte inesgotável de riquezas. Nascimento das primeiras Universidades Modernas, o
conhecimento é ampliado em diversas disciplinas ou áreas, sobretudo aquelas que
podem auxiliar o ser humano na compreensão do mundo, da sociedade que está sendo
gestada. Fortalecimento do liberalismo e início dos ideais comunistas/socialistas.

FIGURA 8 – A CONQUISTA DE CONSTANTINOPLA PELOS OTOMANOS, EM 1453

FONTE: <https://bit.ly/3CgA4dd>. Acesso em: 13 mar. 2021.

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Você pode se perguntar: o que foi a Idade Moderna?

QUADRO 5 – IDADE MODERNA

Idade O que foi?


Foi uma das formas encontradas pelos historiadores para se dividir a
história da humanidade. Seu recorte temporal inicia-se com a queda
do Império Bizantino e a tomada da cidade de Constantinopla pelo
Império Turco-Otomano, em 1453. Seu recorte final está delimitado
com a Revolução Francesa, em 1789. Essa divisão é pautada na
perspectiva histórica europeia, já que os marcos divisórios referem-
se indireta ou diretamente a fatos importantes para os europeus. A
Idade Moderna tomada de Constantinopla pelos turcos pôs fim ao Império Bizantino
herdeiro direto do Império Romano da Antiguidade e surgido onde
hoje é a Itália – e representou o fim de uma longa era. A concepção
de uma Idade Moderna era também uma ruptura com o que foi
considerado como uma Idade Média da História. Média, nesse sentido,
era o período entre a Antiguidade e a Idade Moderna. A própria divisão
histórica como conhecemos (Idades Antiga, Medieval, Moderna e
Contemporânea) surge nesse momento da História europeia.

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3A0yNV6>. Acesso em: 29 jul. 2021.

Em síntese, como podemos compreender a Idade Moderna no âmbito de


sociedade e vida?

QUADRO 6 – COMO A IDADE MODERNA PODE SER ENTENDIDA

Idade Síntese
Pode ser entendida pelas grandes transformações ocorridas no
território europeu no período. Foi durante a Idade Moderna que os
europeus realizaram as Grandes Navegações e a Expansão Marítima,
criando as condições para a dominação de continentes inteiros,
Idade Moderna como a África e a recém-conhecida América. O domínio dessas
regiões resultou na conquista de inúmeras riquezas por parte das
classes dominantes europeias, criando as bases para que pudessem
expandir, posteriormente, sua forma de organização social para o
restante do mundo.

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3A0yNV6>. Acesso em: 29 jul. 2021.

Esses e outros fatores influenciaram a vida moderna (Capitalismo mercantilista,


Grandes Navegações, Renascimento, Iluminismo, Reforma Luterana, Contrarreforma
Católica). De uma vida essencialmente no campo, a Europa passa a viver nas cidades
que nascem com o capitalismo mercantilista e mais tarde com o capitalismo industrial.

Também é possível destacar algumas características da Idade Moderna que


ainda condicionam a vida em Sociedade:

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A Separação Tempo e Espaço: O ritmo das mudanças, que na modernidade se
dá de maneira muito mais acelerada do que acontecia nas sociedades pré-modernas.
As mudanças ocorridas nas sociedades pré-modernas aconteciam em uma localidade
e ficavam ali restritas, sem influenciar outros centros ou localidades. Isso não ocorreu
na modernidade, em que diferentes áreas do planeta foram postas em interconexão.
O papel dos agentes e instituições: tais como a família e a Igreja, se modificaram
em termos econômicos e culturais, bem como o surgimento dos Estados Nações em
oposição às cidades ou reinos. Desenvolvimento das cidades: o desenvolvimento
de uma sociedade majoritariamente urbana, que acarretou profundas e diversas
modificações na maneira de ser e estar no mundo. O centro condutor da vida: com a
modernidade, há uma mudança significativa de mentalidade. O ser humano começa a
valorizar com mais ênfase as suas capacidades racionais (ampliação do conhecimento,
maior uso do conhecimento científico, não somente do conhecimento religioso).

Todas essas transformações, conhecimentos e invenções mudaram por


completo a vida das pessoas que viviam na Europa, no início e durante a Idade Moderna.
Novos conhecimentos foram produzidos para se compreender e viver em sociedade,
as Universidades começaram a ter um importante papel para essa compreensão, bem
como a educação começa a ser vista como direito e essencial à vida humana. Sobre o
modo de produzir as coisas e de transformar a natureza em bens culturais ou objetos de
uso, podemos citar que nesse período o desenvolvimento do mercantilismo possibilitou
a ruptura da economia feudal. O mercantilismo antecedeu o desenvolvimento da
indústria e trouxe novas necessidades com o surgimento da burguesia, diferentes
dos interesses da nobreza. Posteriormente, o mercantilismo será substituído pelo
capitalismo industrial.

O que foi o Capitalismo Mercantilista ou Comercial?

QUADRO 7 – PRIMEIRA FASE DO SISTEMA CAPITALISTA: CAPITALISMO COMERCIAL (MERCANTILISTA) –


SÉCULO XV – XVIII

A fase do capitalismo comercial é também chamada de pré-capitalista. Naquele


momento ainda não havia industrialização e o sistema estava baseado em trocas comerciais.
O modelo econômico adotado nesse período foi o mercantilismo, que tinha como principais
características:

• o controle estatal da economia – o Rei controlava o mercado;


• o protecionismo – proteção do mercado interno;
• o metalismo – acúmulo de metais preciosos;
• e a balança comercial favorável – mais exportação do que importação.

A crença naquele momento era de que a riqueza disponível no mundo não poderia ser
aumentada, apenas redistribuída. Assim, os países buscavam a acumulação de riquezas por
meio da proteção da economia local e acúmulo de metais decorrente das trocas comerciais
que realizavam com outros países. Foi nesse período que nações europeias exploraram os
recursos de suas colônias, como aconteceu aqui nas Américas.

FONTE: Adaptado de <https://www.politize.com.br/sistema-capitalista-origem/>. Acesso em: 13 jan. 2021.

24
NOTA
A monetização é uma ação humana e significa o aproveitamento de algo
como fonte de lucro. O termo é derivado do verbo monetizar, que designa
o ato de transformar algo em dinheiro. Basicamente, qualquer coisa
(objeto, informação, título, dívida etc.) pode ser usada para monetização.
Na atualidade até mesmo as relações entre pessoas.

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3xrHcNH.>. Acesso em: 30 jul. 2021.

No início da Idade Moderna, a Europa ainda tinha como base religiosa a Igreja
Católica Apostólica Romana. Essa liderança foi abalada, com um Movimento liderado por
um Monge Agostiniano, Martinho Lutero, que criticou as indulgências e certas normas
católicas, provocando o Movimento de Reforma Luterana ou Protestante.

FIGURA 9 – 95 TESES, MARTINHO LUTERO

FONTE: <https://m.media-amazon.com/images/I/51teWYvrUJL.jpg>. Acesso em: 12 jan. 2021.

QUADRO 8 – REFORMA PROTESTANTE

Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão do século XVI liderado por Martinho
Lutero, simbolizado pela publicação de suas 95 Teses em 31 de outubro de 1517 na porta da Igreja
do Castelo de Wittenberg. Tendo por ponto de partida as críticas às vendas de indulgências,
o movimento de Lutero tornou-se conhecido como um protesto contra os abusos do clero,
evoluindo para uma proposta de reforma no catolicismo romano a partir da mudança em diversos
pontos da doutrina da Igreja Católica Romana, com base no que Lutero entendia como um
retorno às escrituras sagradas. Os princípios fundamentais extraídos da Reforma Protestante
são conhecidos como os Cinco Solas.
FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3A3C4ml>. Acesso em: 29 jul. 2021.

25
A construção teológica iniciada por Martinho Lutero deu origem a um princípio
conhecido como Cinco Solas:

• Sola fide (somente a fé).


• Sola scriptura (somente a Escritura).
• Solus Christus (somente Cristo).
• Sola gratia (somente a graça).
• Soli Deo gloria (glória somente a Deus).

QUADRO 9 – CAUSAS DA REFORMA PROTESTANTE

A Reforma Protestante teve causas relacionadas a aspectos políticos, econômi-


cos e teológicos e resultou da corrupção existente na Igreja Católica. Além disso, resul-
tado de interesses políticos oriundos de nobres que viram na reforma uma possibilidade de
romper o vínculo de autoridade com o papa. Por fim, foi imposta a questão dos interesses
econômicos, uma vez que a Igreja estipulava a cobrança de impostos de todos os seus fiéis.

No aspecto teológico, o ponto imediato a ser destacado é a insatisfação de


Martinho Lutero com as práticas da Igreja Católica. A Igreja de Roma era, naquele período,
a maior autoridade da Europa Ocidental e detinha um imenso poder, uma vez que era dona
de terras e riquezas gigantescas. Além disso, a autoridade do papa impunha-se além do
campo religioso, alcançando o campo secular (político). Os reis da Europa tinham seu poder
sustentado pela autoridade da Igreja, uma vez que era praticamente impossível manter-se no
comando sem a aprovação do papa. Sendo assim, a Igreja Católica possuía o monopólio da vida
política e religiosa europeia. Centrado no aspecto teológico, muitos começaram a questionar
as posições da Igreja. Antes mesmo de Lutero, já haviam existido na Europa movimentos
religiosos e figuras do clero católico que questionavam determinados princípios do catolicismo.
Em longo prazo, pode-se ressaltar, por exemplo, os valdenses, que surgiram na França no final
do século XII. Em um período imediato, isto é, poucos anos antes do início da reforma, existiram
os pré-reformadores na Europa, que teceram críticas à Igreja de Roma. Dois nomes que se
destacaram nesse contexto foram John Wycliffe e Jan Hus. O primeiro criticava o acúmulo
de poder político e os desvios da Igreja dos verdadeiros ensinamentos de Jesus. O segundo
tecia críticas parecidas contra o enriquecimento da Igreja e a venda de indulgências.

Com relação às questões políticas, existia uma série de reis, nobres e autoridades
em geral que estavam interessados em romper o poder secular com o religioso. Isso significa
que muitos viam o rompimento como uma forma de consolidar ou de assegurar mais poder
sem a necessidade de ter que se sujeitar a outra autoridade – no caso, o papa.

Nas questões econômicas, há de se destacar que na região norte da Europa havia


uma insatisfação muito grande com a quantidade de impostos que deveriam ser repassados
para a Igreja. Tal questão intensificava-se em um contexto em que as penínsulas Itálica e
Ibérica estavam em franco desenvolvimento e enriquecimento, enquanto regiões como a que
corresponde à atual Alemanha eram pobres e enfrentavam dificuldades econômicas.

FONTE: Adaptado de <https://www.historiadomundo.com.br/idade-moderna/reforma-protestante.htm>.


Acesso em: 29 jul. 2021.

Martinho Lutero foi o fundador do protestantismo, vertente do cristianismo


que rompeu com a Igreja Católica.

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No aspecto cultural da Idade Moderna, podemos destacar o Antropocentrismo
e o Renascimento. Contrário ao Teocentrismo, o Antropocentrismo é um conceito
filosofia que ressalta a importância do ser humano como um ser dotado de inteligência
e, portanto, livre para realizar suas ações no mundo. A palavra vem do grego, significa o
ser humano no centro, ou seja, todos os parâmetros para se viver em sociedade passam
pelo ser humano. A Política, a Economia, a Religião e a Arte terão como centro o Ser
Humano. Se na Idade Média a Cultura era permeada de anjos, igrejas, devoções, santos,
das coisas de Deus, agora, na Idade Moderna, tudo aquilo que a representa ou está
relacionado com a condição humana e o próprio ser humano passar ser um parâmetro
norteador na produção cultural (peças teatrais, música, pinturas).

Monalisa é um exemplo desse período. Ela é retratada sozinha, no centro. Centro


e Individualização, duas características do Antropocentrismo.

Importante sublinhar que durante a Idade Moderna o homem passa a


dar maior importância a si mesmo, valorizando sua condição humana
e sua capacidade de intervenção na natureza. A visão teocêntrica é
sobreposta pela visão antropocêntrica da realidade. Essa perspectiva
de mudança é inter-relacionada com dois novos valores da sociedade
moderna, o individualismo – valorização do indivíduo, e o racionalismo
– valorização da razão (RUSSELL, 2004, p. 67).

FIGURA 10 – MONALISA

FONTE: <https://bit.ly/3lotqcl>. Acesso em: 12 jan. 2021.

3 ÉMILE DURKHEIM, MAX WEBER E A EDUCAÇÃO

Embora Comte seja considerado o Pai da Sociologia, entre outras coisas, por tê-la
assim batizado, Durkheim é apontado como um dos seus primeiros grandes teóricos. Junta-
mente com seus colaboradores, esforçou-se por emancipar a Sociologia da Filosofia Social.

27
FIGURA 11 – DAVID ÉMILE DURKHEIM

FONTE: <https://slideplayer.com.br/9702941/31/images/slide_1.jpg>. Acesso em: 20 mar. 2021.

Durkheim nasceu em Épinal, na Alsácia. Descendente de uma família de rabinos


iniciou seus estudos filosóficos na Escola Normal Superior de Paris, indo depois para
Alemanha. Lecionou Sociologia em Bordéus, primeira cátedra dessa ciência na França.
Transferiu-se em 1902 para a Sorbonne, para onde levou inúmeros cientistas, entre
eles seu sobrinho Marcel Mauss, reunindo-se em um grupo que ficou conhecido como
escola sociológica francesa. Morreu em Paris (COSTA, 1987).

Em livros e cursos, sua preocupação foi definir com precisão o objeto, o método
e as aplicações da nova Ciência. De acordo com Costa (1987, p. 51), “Durkheim formulou
com clareza os tipos de acontecimentos sobre os quais o sociólogo deveria se debruçar:
os fatos sociais. Estes constituem os objetos da Sociologia. Três são as características
que Durkheim distingue nos fatos sociais”.

FIGURA 12 – GENERALIDADE, EXTERIORIDADE E COERCITIVIDADE

FONTE: <https://bit.ly/3K3GH4m>. Acesso em: 20 mar. 2020.

28
Os fatos sociais são apresentados por Durkheim como maneiras coletivas de
pensar, de sentir e de agir que estão presentes na realidade das sociedades, estando
diretamente vinculados aos aspectos morais que regem a vida das pessoas e as relações
que estabelecem entre si. Valores, costumes, hábitos, regras, leis, normas e estruturas
sociais são alguns dos componentes que dão forma aos fatos sociais e, sobretudo, a
sua capacidade de influenciar o comportamento dos seres humanos a partir de fatores
externos aos próprios indivíduos.

QUADRO 10 – GENERALIDADE

Em primeiro lugar, a generalidade corresponde à capacidade dos


fatos sociais exercerem o seu poder de influência sobre a totalidade ou
A generalidade sobre a maioria dos membros de uma sociedade ou grupo social. Nesse
sentido, a necessidade de obediência às determinações não recai apenas
sobre alguns indivíduos, mas sobre todos aqueles reconhecidos como
membros do corpo social ao qual são destinadas tais obrigações.
Em segundo lugar, a exterioridade compreende e delimita a existência
A exterioridade dos fatos sociais independentemente das vontades pessoais. Portanto, são
elementos cuja propriedade é exterior às consciências individuais, sendo,
portanto, imutáveis em curto prazo e aplicáveis coletivamente às pessoas.
Por fim, a coercitividade representa a condição de coerção social, em
que os indivíduos se tornam suscetíveis diante dos fatos sociais, o que
não permite que suas estruturas sejam alteradas sem grande capacidade
de resistência. Desse modo, ocorre a imposição de comportamentos
sob a condição de que, se necessário, para a manutenção da ordem e
A coercitividade
dos aspectos morais vigentes, as pessoas sejam reprimidas e sofram
sanções em casos de condutas consideradas como inadequadas. No
entanto, é importante destacar que nem toda coerção social exclui a
personalidade individual, tornando-a um instrumento que impele a
alienação de algumas das vontades individuais, porém não de todas –
visto que o seu objetivo maior é a preservação da ordem social.

FONTE: Adaptado de <https://www.politize.com.br/politica-e-fatos-sociais/>. Acesso em: 10 abr. 2021.

Além do Fato Social, quais as outras contribuições deixadas por Durkheim para a
Sociologia? Foram diversas contribuições. no quadro a seguir apresentaremos algumas:

QUADRO 11 – CONCEITOS

Instituição social e Anomia


A instituição social é um mecanismo de organização da sociedade, é o conjunto de regras
e procedimentos padronizados socialmente, reconhecidos, aceitos e sancionados pela
sociedade, cuja importância estratégica é manter a organização do grupo e satisfazer as
necessidades dos indivíduos que dele participam.
As instituições são, portanto, conservadoras por essência, quer seja família, escola, governo,
religião, polícia ou qualquer outra. Elas agem contra as mudanças, pela manutenção da ordem
vigente. Durkheim registra, em sua obra, o quanto acredita que essas instituições são valorosas
e parte em sua defesa, o que o deixou com certa reputação de conservador, que durante
muitos anos causou antipatia a sua obra.

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No entanto, Durkheim não pode ser meramente tachado de conservador. Sua defesa das
instituições se baseia num ponto fundamental, o ser humano necessita se sentir seguro,
protegido e respaldado. Uma sociedade sem regras claras ("em estado de anomia"), sem valores
e sem limites leva o ser humano ao desespero. Preocupado com esse desespero, Durkheim se
dedicou ao estudo da criminalidade, do suicídio e da religião.
Uma rápida observação do contexto histórico do século XIX nos permite perceber que as
instituições sociais se encontravam enfraquecidas, havia muito questionamento, valores
tradicionais eram rompidos e novos surgiam, muita gente vivia em condições miseráveis,
desempregados, doentes e marginalizados.
Ora, numa sociedade integrada, essa gente não podia ser ignorada, de uma forma ou de outra,
toda a sociedade estava ou iria sofrer as consequências. Aos problemas que ele observou,
considerou como patologia social, e chamou aquela sociedade doente de "Anomana". A anomia
era a grande inimiga da sociedade, algo que devia ser vencido, e a sociologia era o meio para
isso. O papel do sociólogo seria, portanto, estudar, entender e ajudar a sociedade.
Em seus estudos, Durkheim concluiu que os fatos sociais atingem toda a sociedade, o que só
é possível se admitirmos que a sociedade seja um todo integrado. Se tudo na sociedade está
interligado, qualquer alteração afeta o geral, o que quer dizer que, se algo não vai bem em
algum setor da sociedade, toda ela sentirá o efeito. Partindo desse raciocínio, desenvolve dois
dos seus principais conceitos: Instituição social e Anomia.
Solidariedade Social
A solidariedade, segundo Durkheim , é oriunda de dois tipos de consciência: a consciência
coletiva (ou comum) e consciência individual. Cada indivíduo possui uma consciência
individual que sofre influência da consciência coletiva, que nada mais é que a combinação
das consciências individuais de todos os homens ao mesmo tempo. A consciência coletiva
seria responsável pela formação de nossos valores morais, e exerce uma pressão externa aos
indivíduos no momento de suas escolhas. A soma da consciência individual com a consciência
coletiva forma o ser social.
Dentro da perspectiva sociológica durkheimniana, a existência de uma sociedade só é possível
a partir de um determinado grau de consenso entre seus membros constituintes: os indivíduos.
Esse consenso se assenta, basicamente, no processo de adequação da consciência individual
à consciência coletiva. Dependendo do grau de consenso, temos dois tipos de solidariedade.
Solidariedade mecânica
A sociedade em sua fase primitiva se organizava socialmente a partir das semelhanças
psíquicas e sociais entre os membros individuais. Nessas sociedades, os indivíduos que as
integravam compartilhavam dos mesmos valores sociais, tanto no que se refere às crenças
religiosas como com relação aos interesses materiais necessários à subsistência do grupo,
essa correspondência de valores é que assegurava a coesão social.
Solidariedade orgânica
Já nas sociedades ditas "modernas" ou "complexas" do ponto de vista da maior diferenciação
individual e social, existe a solidariedade orgânica.
Nesse modelo, cada indivíduo tem uma função e depende dos outros para sobreviver. A
Solidariedade Orgânica é fruto das diferenças sociais, já que são essas diferenças que unem
os indivíduos pela necessidade de troca de serviços e pela sua interdependência.
O indivíduo é socializado porque, embora tenha sua individualidade, depende dos demais e, por
isso, se sente parte de um todo.

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3PyOIQ9>. Acesso em: 20 mar. 2021.

Durkheim é considerado o criador da Sociologia da Educação. Para ele, a


principal função do professor é formar cidadãos capazes de contribuir para a harmonia
social. Qual seria a grande função da Educação segundo Durkheim?

30
QUADRO 12 – CONTRIBUIÇÕES

Durkheim não desenvolveu métodos pedagógicos, mas suas ideias ajudaram a compreender
o significado social do trabalho do professor, tirando a educação escolar da perspectiva
individualista, sempre limitada pelo psicologismo idealista. Segundo Durkheim, o papel da
ação educativa é formar um cidadão que tomará parte do espaço público, não somente o
desenvolvimento individual do aluno. Portanto, "a educação tem por objetivo suscitar e
desenvolver na criança estados físicos e morais que são requeridos pela sociedade política no
seu conjunto". Tais exigências, com forte influência no processo de ensino, estão relacionadas
à religião, às normas e sanções, à ação política, ao grau de desenvolvimento das ciências e até
mesmo ao estado de progresso da indústria local.
Se a educação for desligada das causas históricas, ela se tornará apenas exercício da vontade
e do desenvolvimento individual, o que, para ele, era incompreensível: "Como é que o indivíduo
pode pretender reconstruir, por meio do único esforço da sua reflexão privada, o que não é obra
do pensamento individual?". Ele mesmo respondeu: "O indivíduo só poderá agir na medida em
que aprender a conhecer o contexto em que está inserido, a saber quais são suas origens e as
condições de que depende. E não poderá sabê-lo sem ir à escola, começando por observar a
matéria bruta que está lá representada". Por tudo isso, Durkheim é também considerado um
dos mentores dos ideais republicanos de uma educação pública, monopolizada pelo Estado, e
laica, liberta da influência do clero romano.

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3QJSabE>. Acesso em: 20 mar. 2021.

NOTA
Para pensar:

Durkheim dizia que a criança, ao nascer, trazia consigo só a sua


natureza de indivíduo. "A sociedade encontra-se, a cada nova geração,
na presença de uma tábua rasa sobre a qual é necessário construir
novamente", escreveu. Os professores, como parte responsável pelo
desenvolvimento dos indivíduos, têm um papel determinante e
delicado. Devem transmitir os conhecimentos adquiridos, com
cuidado para não tirar a autonomia de pensamento dos jovens.
A proposta de Durkheim levará o aluno a avançar sozinho? Esse
modelo de formação externa contrária à independência nos
estudos? Ou será uma condição para que a educação cumpra
seu papel social e político?

FONTE: <https://novaescola.org.br/conteudo/456/criador-sociologia-
educacao#>. Acesso em: 20 mar. 2021

31
Outro grande Sociólogo desse período é Max Weber. A partir de agora vamos
apresentar a vida, obras e seus conceitos:

FIGURA 13 – MAXIMILIAN KARL EMIL WEBER

FONTE: <https://i.pinimg.com/originals/2b/40/af/2b40aff3b9e413b83f24f5ae4c765a43.jpg>. Acesso em


20 mar. 2021.
Foi na cidade de Erfurt que nasceu Max Weber, em uma família de burgueses
liberais. Desenvolveu estudos de direito, filosofia, história e sociologia, constantemente
interrompidos por uma doença que o acompanhava por toda a vida. Iniciou a carreira
de professor em Berlim e em 1895 foi catedrático em Heidelberg. Manteve contato
permanente com intelectuais de sua época, como Simmel, Sombart, Tönnies e
Georg Lukács. Na política, defendeu ardorosamente seus pontos de vista liberais e
parlamentarista e participou da comissão redatora da Constituição da República de
Weimar. Sua maior contribuição nas pesquisas e estudos sociológicos foi na Sociologia
da Religião, estabelecendo relações da formação política e crenças religiosas. Suas
principais obras foram: Artigos reunidos da Sociologia da Religião; Artigos reunidos da
Teoria da Ciência; Economia e Sociedade (obra póstuma); Ética Protestante e Espírito do
Capitalismo. Morreu em Monique (COSTA, 1987).

Max Weber formulou com precisão o conceito de ação social, que para ele
baseia-se no processo comunicativo entre sujeitos, tomando como ponto de partida o
sentido dado pelo autor de uma ação e seu objetivo.

32
QUADRO 14 – TEORIA DA AÇÃO SOCIAL

A teoria sociológica da ação social foi amplamente trabalhada pelo teórico Max Weber, que
acreditava que a principal função da Sociologia era compreender os diversos aspectos da ação
social. A ação social é entendida por Weber como qualquer ação realizada por um sujeito em
um meio social que, no entanto, possua um sentido determinado por seu autor. O contínuo
processo de comunicação está intimamente ligado ao conceito de ação social. A manifestação
do sujeito que deseja uma resposta é manifestada em função dessa resposta. Em outras
palavras, uma ação social constitui-se como ação a partir da intenção de seu autor quanto à
resposta que deseja de seu interlocutor.
A partir desse entendimento, Weber justifica que a função dos esforços sociológicos é
justamente tentar compreender os sentidos dados às ações humanas em suas relações
sociais. As relações humanas e, por sua vez, as ações que estão inseridas no contexto dessas
relações, possuem sentido atribuído a elas por seus autores. Para que se compreenda o
processo de comunicação e de interação social, é necessário, então, que se compreenda
o sentido da ação, bem como, ainda mais importante, desvende-se o objetivo do autor da
ação em seu esforço comunicativo. Peguemos, por exemplo, a ação social de um abraço,
que pode carregar uma infinidade de sentidos. O autor da ação, ao realizá-la, deseja que
seu interlocutor apreenda o sentido que desejou implantar em seu ato, e não apenas que
entenda o sentido genérico do ato de abraçar.

FONTE: Adaptado de <https://www.preparaenem.com/sociologia/conceito-acao-social-max-weber.htm#>.


Acesso em: 29 jul. 2021.

FIGURA 14 – CARACTERIZAÇÃO DA AÇÃO SOCIAL

FONTE: <https://cafecomsociologia.com/wp-content/uploads/2018/04/quadro-tipos-a%C3%A7%-
C3%A3o-social-weber.jpg>. Acesso em: 20 mar. 2021.

33
Max Weber escreveu sobre os tipos de dominação. O autor citou que podemos
legitimar três tipos:

QUADRO 15 – TIPOS DE DOMINAÇÃO LEGÍTIMA

Dominação Legal: onde qualquer direito pode ser criado e modificado através de um estatuto
sancionado corretamente, tendo a “burocracia” como o tipo mais puro desta dominação.
Os princípios fundamentais da burocracia, segundo o autor, são a Hierarquia Funcional, a
Administração baseada em Documentos, a Demanda pela Aprendizagem Profissional, as
Atribuições são oficializadas e há uma Exigência de todo o Rendimento do Profissional. A
obediência se presta não à pessoa, em virtude de direito próprio, mas à regra, que se conhece
competente para designar a quem e em que extensão se há de obedecer. Weber classifica este
tipo de dominação como sendo estável, uma vez que é baseada em normas que, como foi dito
anteriormente, são criadas e modificadas através de um estatuto sancionado corretamente.
Ou seja, o poder de autoridade é legalmente assegurado.

Dominação Tradicional: onde a autoridade é, pura e simplesmente, suportada pela existência


de uma fidelidade tradicional. O governante é o patriarca ou senhor, os dominados são os
súditos e o funcionário é o servidor. O patriarcalismo é o tipo mais puro desta dominação.
Presta-se obediência à pessoa por respeito, em virtude da tradição de uma dignidade pessoal
que se julga sagrada. Todo o comando se prende intrinsecamente a normas tradicionais (não
legais), como um tipo de “lei moral”. A criação de um novo direito é, em princípio, impossível,
em virtude das normas oriundas da tradição. Também é classificado por Weber como sendo
uma dominação estável, devido à solidez e estabilidade do meio social, que se acha sob a
dependência direta e imediata do aprofundamento da tradição na consciência coletiva.

Dominação Carismática: onde a autoridade é suportada graças a uma devoção afetiva por
parte dos dominados. Ela assenta sobre as “crenças” transmitidas por profetas, sobre o
“reconhecimento” que pessoalmente alcançam os heróis e os demagogos, durante as guerras
e revoluções, nas ruas e nas tribunas, convertendo a fé e o reconhecimento em deveres
invioláveis que lhes são devidos pelos governados. A obediência a uma pessoa se dá devido as
suas qualidades pessoais. Não apresenta nenhum procedimento ordenado para a nomeação e
substituição. Não há carreiras e não é requerida formação profissional por parte do “portador”
do carisma e de seus ajudantes. Weber coloca que a forma mais pura de dominação carismática
é o caráter autoritário e imperativo. Contudo, Weber classifica a Dominação Carismática como
sendo instável, pois nada há que assegure a perpetuidade da devoção afetiva ao dominador,
por parte dos dominados.
FONTE: Adaptado de Weber (1982)

Segundo o professor e pesquisador Sell (2002), podemos apresentar os tipos


ideais de educação de Max Weber da seguinte forma:

• Educação carismática: conforme explica Weber, “isto significa que eles [os educadores]
simplesmente desejavam despertar e testar uma capacidade considerada como
um dom de graça exclusivamente pessoal, pois não se pode ensinar nem preparar
um carisma” (WEBER, 1982, p. 482). Entre os exemplos citados por Weber estão os
mágicos (ou feiticeiros) e os heróis guerreiros,

34
• Educação especializada: de acordo com a explicação de Weber, trata-se das
“tentativas especializadas de treinar o aluno para finalidades úteis à administração –
na organização das autoridades públicas, escritórios, oficinas, laboratórios industriais,
exércitos disciplinados” (WEBER, 1982, p. 482). Weber esclarece ainda que esse
treinamento pode ser realizado com qualquer pessoa.
• Educação humanística: retomando os termos weberianos temos, que “a pedagogia
do cultivo finalmente procura educar um tipo de homem, cuja natureza depende do
ideal de cultura da respectiva camada decisiva. Isso significa educar um homem para
certo comportamento interior e exterior” (WEBER, 1982, p. 483). Entre os exemplos
citados pelo autor está a camada dos guerreiros no Japão, no qual “a educação visará
a fazer do aluno um cavalheiro e um cortesão estilizado, que despreza os homens
que usam a pena, tal como os samurais japoneses os desprezaram” (WEBER, 1982,
p. 483). Depois dessas definições conceituais, Weber se dirige para a realidade,
perguntando-se pelo caráter da educação chinesa: “o importante, no caso, é definir a
posição da educação chinesa em termos dessas formas” (WEBER, 1982, p. 482).

O professor e pesquisador Sell (2002) prossegue sua explanação, afirmando que


Weber também faz várias referências à educação ocidental, mostrando suas diferenças
para com a educação chinesa. Pretendemos interpretar esses fragmentos à luz da
teoria weberiana da racionalização. Falando da educação moderna, Weber toma como
exemplo o caso da Alemanha, e constata o conflito entre uma concepção humanista de
educação uma concepção técnica de educação:

Na Alemanha, essa educação [trata-se da educação humanista] foi, até


recentemente e de forma quase exclusiva, uma condição preliminar
para a carreira oficial que leva a posições de comando na administração
civil e militar. Ao mesmo tempo, essa educação humanista marcou
os alunos que se preparavam para tais carreiras, como pertencendo
socialmente ao estamento culto, porém, trata-se de uma diferença
muito importante entre a China e o Ocidente o treinamento racional
e especializado foi acrescentado a essa qualificação educacional
honorífica, que substituiu em parte (SELL, 2002, p. 483).

Portanto, todas as vezes em que discorre sobre a educação ocidental, Weber


insiste nas características racionais desta última. Em suma, o processo histórico
de desenvolvimento da educação no Ocidente também é o desenraizamento e o
multiculturalismo pensado por Weber em termos de um processo de racionalização.
Além disso, a vitória da educação técnica sobre a educação humanística na Alemanha
também demonstra como a força avassaladora do processo de desencantamento e
“secularização do mundo” atinge todas as esferas da vida social, inclusive a educação.

As grandes contribuições de Weber para a Sociologia da Educação: de forma


simples, a educação consiste na maneira de preparar os homens para o exercício das
funções estabelecidas pela racionalização da vida. A educação sistemática constitui

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uma série de conteúdos que servem para treinar os indivíduos para operar nessas
novas funções racionais, ou seja, a administração burocrática do Estado Moderno. Isso
está diretamente ligado ao mundo Ocidental, onde a complexificação da sociedade e o
capitalismo geraram uma racionalização da vida social e a educação, portanto, voltou-
se para a formação de indivíduos aptos para as funções racionais estabelecidas.

A concepção de educação para Weber, nas palavras da professora e pesquisadora


Trevisan (2009, p. 35), é de que,

a educação humanística e intelectualizante deram espaço à ‘confecção’


de profissionais capacitados para este mundo racional: diferentemente
das ideias de Durkheim, para quem a educação é um processo de
preparação do sujeito para constituir sua parte no todo orgânico da
sociedade para a harmonia do organismo social. De modo diferente
também da teoria de Marx segundo a qual a educação aparece como
forma de emancipação do sujeito alienado pelo capitalismo. Weber
concebe a educação como uma forma de ampliar a estratificação
social, de obter dinheiro e poder, de competição entre os indivíduos,
como uma ação racional, o que chama de desencantamento.

Sobre a racionalidade e a finalidade da Educação, Weber descreve que,

conforme seu método analítico da racionalidade, há três tipos (tipos


ideais) de finalidade para a educação: despertar o carisma, preparar
o aluno para uma conduta de vida e transmitir conhecimento
especializado. Vamos dar maior importância aqui ao terceiro caso, ao
que Weber chamou de pedagogia do treinamento. Nessa perspectiva,
devido à crescente racionalização da vida social e a burocratização do
aparato estatal, a educação tem paulatinamente deixado de preparar o
indivíduo de uma forma mais humanística em favor de uma preparação
mais especializada. Desse modo, Weber expressa seu pessimismo
quanto ao rumo da educação como um mecanismo de obtenção de
poder, dinheiro, de ascensão social e status (TREVISAN, 2009, p. 35).

Podemos observar que Weber via a educação como parte do processo


capitalista, da racionalização da vida, ou seja, o fim da possibilidade de formação
emancipatória e humanística do ser humano e o início de um processo de educação
para o trabalho e o dinheiro.

4 KARL MARX E A EDUCAÇÃO


Weber não chegou a presenciar a vitória de nenhuma revolução comunista, mas
sua crítica ferrenha ao capitalismo trouxe para muitos rebeldes uma certeza: a mudança
era inevitável. Estamos falando de Karl Marx.

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FIGURA 16 – KARL HEINRICH MARX

FONTE: <https://bit.ly/3ptgDGH>. Acesso em: 20 mar. 2021.

Nasceu na cidade de Treves, na Alemanha. Em 1836 matriculou-se na


Universidade de Berlim e doutorou-se em filosofia em Iena. Foi redator de uma
gazeta liberal em Colônia. Mudou-se em 1842 para Paris, onde conheceu Friedrich
Engels, seu companheiro de ideias e publicações por toda a vida. Expulso da França
em 1845, foi para Bruxelas participar da recém-fundada Liga dos Comunistas. Em
1848 escreveu com Engels o Manifesto do Partido Comunista, obra fundadora do
marxismo enquanto movimento político e social a favor do proletariado. Com o
malogro das revoluções sociais de 1848, Marx mudou-se para Londres, onde se
dedicou a um grande estudo da economia e da política. Marx foi um dos fundadores
da Associação Internacional dos Operários, ou Primeira Internacional. Morreu
em 1883, após intensa vida política e intelectual. Suas principais obras foram: A
Ideologia Alemã, Miséria da Filosofia, Para a crítica da economia política, A Luta de
Classes em França, O Capital (COSTA, 1987).

37
NOTA
A palavra proletariado deriva de proletário, que tem origem no
latim advindo do antigo Império Romano. Os proletários eram os
homens sem posses, que tinham seus filhos (sua prole, daí a origem
da palavra proletário) como única coisa a oferecer ao Império para que
servissem no exército imperial.
No século XIX, o termo foi ressignificado. O filósofo e sociólogo
alemão Karl Marx utilizou o termo proletariado tal como entendemos
hoje: o trabalhador assalariado, pobre, que tende a permanecer
nessa condição por causa do pouco que recebe.

FONTE: <https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/proletariado.htm>.
Acesso em: 22 mar. 2021.

Caro acadêmico, é o momento de estudarmos algumas ideias, conceitos


e pensamentos de Karl Marx. Alguns conceitos são básicos, tais como: forças de
produção, relações de produção, ideologia, infraestrutura, superestrutura, classes
sociais, mercadoria, alienação, mais-valia, fetichismo da mercadoria, força de trabalho,
valor de troca e valor de uso.

A perspectiva de Karl Marx era uma perspectiva de Materialismo Histórico e


Dialético, ou seja, de interpretar os acontecimentos históricos como fatores econômicos
sociais. O Materialismo Histórico é a parte real da vida, coisas que os seres humanos
precisam para sobreviver, bem como capital, trabalho etc., ou seja, a base econômica
é o seu fundamento e a produção e reprodução da sociedade capitalista só se realiza
porque capitalistas e trabalhadores entram em uma relação de dominação e exploração.

NOTA
O materialismo dialético é a concepção filosófica do Partido marxista-
leninista. Chama-se materialismo dialético porque o seu modo de
abordar os fenômenos da natureza, seu método de estudar esses
fenômenos e de concebê-los é dialético, e sua interpretação dos
fenômenos da natureza, seu modo de focalizá-los e sua teoria,
é materialista.
O materialismo histórico é a aplicação dos princípios do
materialismo dialético ao estudo da vida social, aos fenômenos da
vida da sociedade, ao estudo desta e de sua história.

FONTE: <https://bit.ly/3CfNxCb>. Acesso em: 12 maio 2021.

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Em seus estudos, Marx relacionou os conceitos de Homem, de Trabalho e de
História, o Homem como ser de necessidades, satisfação das necessidades e de produção
de bens materiais. O Homem, aqui, é entendido nas suas relações sociais (forma como
se comportam, agem e pensam), que são determinadas pela forma de produção da vida
material. Produção Material, aqui, se entende a partir de como os indivíduos trabalham
e produzem os meios necessários para a sustentação das sociedades. O Trabalho é
entendido como ação humana de transformação da natureza. A história humana é a
história das relações dos homens com a natureza e dos homens entre si.

Para Marx, a história das sociedades que estão baseadas na apropriação


privada dos meios de produção confunde-se com a história das
lutas de classes. O pensador procura evidenciar os antagonismos de
interesses presentes em uma sociedade de classes. O conflito é algo
inerente a essa sociedade, já que a relação entre classes está baseada
na exploração e na desigualdade social. Apesar das relações de classe
não se limitarem somente à polaridade entre detentores dos meios de
produção e assalariados, já que existem outras relações como a classe
média, por exemplo, esta relação conflituosa é que acaba por permear
toda a vida social. Marx distingue dois tipos de classes: classe em si e
classe para si. A primeira seria constituída de grupos de pessoas que
compartilham de uma mesma situação, a segunda seriam grupos que
passam organizar politicamente para defenderem conscientemente
seus interesses, formando uma identidade de classe. As condições
econômicas transformam primeiro a massa da população do país
em trabalhadores. A dominação do capital criou para esta massa
uma situação comum, interesses comuns. Assim, pois, esta massa já
é uma classe com respeito ao capital, mas ainda não é uma classe
para si. Na luta, esta massa se une, se constitui como classe para si.
Marx também acredita que por meio da luta de classes é que ocorrem
as transformações na sociedade. A luta de classes seria o motor da
história e a classe explorada o agente de mudança. A luta de classes
irá conduzir à ditadura do proletariado, sendo esta a transição para
a abolição de todas as classes e para uma sociedade sem classes
(BASSI, 2018, s. p.).

QUADRO 15 – MAIS-VALIA
No sistema capitalista, o trabalhador vende sua força de trabalho como uma mercadoria.
Contudo, esta tem características distintas das outras mercadorias. O trabalhador oferece sua
força de trabalho e o empregador paga com o salário. Estabelece-se uma ideia de igualdade,
segundo a qual os homens são iguais diante da lei, do Estado, do mercado etc., e se veem
dessa forma.
Contudo, o valor de sua força de trabalho durante o tempo que está produzindo é maior do que
seu salário. Esse trabalho excedente é o valor não pago e que integra o capital, transformando-
se na riqueza dos dominantes.

39
Esse trabalho excedente é o que Marx denomina de mais-valia, que se traduz no grau de
exploração da força de trabalho pelo capital. O que impede o trabalhador de perceber que
existe um excedente de seu trabalho que não é pago é sua situação de alienação.

FONTE: Adaptado de <https://blogdoenem.com.br/pensamento-atual-karl-marx/>. Acesso em: 29 jul. 2021.

QUADRO 16 – MERCADORIA

A mercadoria surge como o ponto a priori de Marx, como o pilar fundamental desse sistema
que tem como característica fundamental a aquisição de mercadorias em prol da satisfação de
necessidades pessoais, sejam elas provindas do estômago (necessidade) ou da mente (desejo),
conferindo-lhe assim um caráter universal, comum a todos. Marx apresenta-nos o conceito
de mercadoria como sendo algo com duplo caráter, que em essência define-se como Valor
de Uso (substância de valor) e Valor de Troca (grandeza de valor). As mercadorias aparecem
no mercado de infinitas formas, são produzidas de infinitas maneiras e atendem as mais
diversas necessidades. A diversidade de mercadorias é tão grande que é impossível mensurá-
las em sua totalidade. Tal diversidade é superada por Marx por meio de uma abstração, pela
redução de toda a diversidade de mercadorias existentes para apenas um fator: a utilidade.
Uma mercadoria, para ser considerada como tal, precisa antes de tudo ser útil para alguém,
possuir seu Valor de Uso, independente de qual seja essa utilidade. No entanto, não é possível
mensurar quantitativamente a utilidade de algo, sendo ela intrínseca e subjetiva. É preciso algo
que torne as mercadorias comensuráveis entre si, que possibilite a efetivação da troca nos
processos mercantis, que demonstre sua objetividade. Para Marx, a quantidade de trabalho
humano médio despendido na produção de uma mercadoria, abstraído e incorporado nela,
é que define seu caráter quantitativo, sua substância de valor, seu Valor de Troca. O Valor de
Uso é efetivado apenas durante o consumo e serve como base de sustentação para o Valor de
Troca que se realiza.

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3PJsPxK>. Acesso em: 29 jul. 2021.

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QUADRO 17 – ALIENAÇÃO, FEITICHISMO

A partir do conceito de alienação, Karl Marx propôs a tese de que o homem, no contexto do
Capitalismo, se aliena com relação ao fruto de seu trabalho e a sua própria essência e espécie.
Marx desenvolveu o conceito de “alienação” em sua obra “Manuscritos Econômico-filosóficos”
ou “Manuscritos de Paris” (1844), obra que, embora escrita ainda em sua “juventude”, só veio
a ser conhecida por um público maior em 1932. Nas palavras de Sell (2013, p. 48), para Marx,
a alienação significa que a “exteriorização e objetivação dos bens sociais que resultam do
processo de trabalho tornaram-se autônomos e independentes do homem, apresentando-se
como realidades ‘estranhas’ e opostas a ele, como um ser alheio que o domina”.

Fetichismo da Mercadoria

O sistema capitalista sustenta-se graças ao desenvolvimento tecnológico que traz novos e


modernos elementos e aumento da produtividade. Esse aumento na produtividade se dá devido
ao que Marx chamou de divisão do trabalho social, em que cada qual realiza sua atividade
individual abstrata, sua “especialidade”, sem relação com o produto final. Esse sistema atende
aos interesses particulares dos grupos dominantes e muito eventualmente o trabalhador. As
decisões a respeito do trabalho do proletário são tomadas pelo empregador. O trabalhador
acaba por perder o prazer por seu ofício, como se fosse um apêndice da máquina, e que pode
ser facilmente substituído por outro trabalhador que negocie melhor preço por sua força de
trabalho. O trabalhador está alienado do produto do seu trabalho. Por uma ironia histórica, as
imagens que mais são utilizadas para mostrar os trabalhadores alienados são do filme Tempos
Modernos, de Charles Chaplin.

O clássico do cinema mudo mostra o Homem como se fosse uma peça da grande engrenagem
industrial, um apêndice da máquina. Dentro dos escritos contemporâneos que interpretam
as teorias de Marx, o uso das imagens do filme de Chaplin é feito para ilustrar que o produto
do trabalhador parece ter surgido independente de seu produtor, como uma espécie de
feitiço. As mercadorias no sistema capitalista ocultam as relações sociais de exploração do
trabalho. O fetichismo da mercadoria é essa espécie de obscurecimento das percepções,
como se a exploração do trabalho não ocorresse e as relações sociais existissem sob a forma
de objetos, mercadorias.

FONTE: Adaptado de <https://blogdoenem.com.br/pensamento-atual-karl-marx/>. Acesso em: 29 jul. 2021.

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QUADRO 18 – IDEOLOGIA

O conceito de ideologia aparece em Marx como equivalente de ilusão, falsa consciência,


concepção idealista na qual a realidade é invertida e as ideias aparecem como motor da
vida real. Para Marx, os ideólogos promoviam uma subversão entre a realidade e o
pensamento, submetendo aquela a este, isto é, invertendo a relação, de modo que os fatos
se adequassem às ideias, e não as ideias aos fatos. A Ideologia crítica concebida por Karl Marx,
em contraposição aos ideólogos alemães, era uma designação negativa do termo, atribuindo
ao termo uma dissociação proposital entre a realidade e as ideias, promovida por uma classe
burguesa como forma de obnubilar a apreensão da realidade pelos trabalhadores com o intuito
de explorá-los. De acordo com Marx, as ideologias surgem por meio de relações sociais,
econômicas e políticas, em contextos de ideias conflitantes, de contradições e contrastes
sociais manifestos em desigualdade de recursos, de direitos, de acesso a bens e serviços.
Portanto, as ideologias podem ter por finalidade naturalizar conflitos para que eles sejam
considerados aceitáveis, na tentativa de normalizar, justificar, amenizar e mesmo ocultar as
tensões sociais. Assim, elas contribuem para a manutenção e reprodução de determinado
arranjo social, possibilitando que aqueles que, de alguma forma, são prejudicados e poderiam
insurgir-se contra ele, enxerguem-no como bom ou como impossível de ser modificado. Marx
aponta a ideologia como uma falsa consciência da realidade. Para ele, ela é um instrumento
de ocultamento da realidade utilizado pela classe dirigente para sobrepor-se às demais
classes com a aquiescência delas. O monopólio da produção intelectual e cultural pela
classe dominante permitiu que ela manipulasse, a seu favor, a valoração dos fatos de maneira
sistemática. Assim, as suas ideias prevaleceram e foram interiorizadas pelos demais, ainda que
para eles colocá-las em prática não representasse os mesmos benefícios. Em síntese, para
Marx, a ideologia é a percepção da realidade com base em uma perspectiva sobre ela que
vem da classe que tem o monopólio dos meios de produção material e intelectual. A ideologia
restringe a compreensão da realidade a uma única visão dos fatos, ou seja, toma um recorte
da realidade como se fosse a sua totalidade. Como parte desse mecanismo da classe
burguesa de alienar os trabalhadores quanto à sua própria realidade, Marx identifica um
processo que ele conceitua como fetichismo, isto é, a dissociação entre a mercadoria e a forma
como ela foi produzida.

FONTE: Adaptado de <https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/ideologia.htm>. Acesso em: 29 jul. 2021.

NOTA
Para saber mais!

O pensamento de Marx iniciou-se como uma crítica aos pensamentos de Hegel. Segundo
Marx, os movimentos dialéticos da sociedade se desenvolvem como um resultado
das condições materiais da vida dos homens, ou seja, não são as ideias que formam a
sociedade, mas as condições materiais dos homens é que produzem as suas ideias e o
seu modo de agir na sociedade. Não é a religião que cria o homem, mas o homem que
cria a religião, não é a constituição que desenvolve um povo, mas um povo que desenvolve
uma constituição. Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a
consciência. A raiz do homem é o próprio homem em sua condição material, e não em sua
condição ideal. A liberdade desse homem não passa pela filosofia, pela teologia ou pela
autoconsciência, mas pela sua condição histórica e material. Dessa forma Marx acredita
unir a teoria à prática. E a libertação do homem começa pela libertação da sua exploração,
e libertá-lo de ser explorado passa pelo fim do capital, pois o capital é a propriedade privada
dos produtos do trabalho de outros homens. A propriedade privada não existiu sempre, e
nem sempre existirá, sendo uma criação humana e como tal também pode ser modificada
ou destruída. O capital é o trabalho expropriado dos trabalhadores, o trabalho alienado
dos trabalhadores, surgindo da exploração dos trabalhadores e tornando-se estranho a

42
esses mesmos trabalhadores, pois não lhes pertence mais. Quanto
mais o trabalhador é explorado, mais o capital não é reconhecido
por ele, da mesma forma que quanto mais o homem põe em Deus,
menos conserva de si e para si. O trabalho é vida de trabalhador que
se torna objeto, objeto que não lhe pertence, que lhe é alheio, que lhe
é alienado. O trabalhador, com seu trabalho, cria objetos que não lhe
pertencem mais, assim como a vida, em forma de trabalho colocada
nesses objetos, também não lhe pertence mais. A vida do trabalhador
torna-se estranha a esse mesmo trabalhador, isso é alienação.

FONTE: <https://bit.ly/3PAsFZl>. Acesso em: 20 mar. 2021.

Como Marx se manifestava com relação à Educação?

Nas Instruções aos Delegados do Conselho Central Provisório da AIT, de 1868,


Marx assim se manifesta:

Afirmamos que a sociedade não pode permitir que pais e patrões


empreguem, no trabalho, crianças e adolescentes, a menos que se
combine esse trabalho produtivo com a educação. Por educação
entendemos três coisas: 1) Educação intelectual. 2) Educação corporal,
tal como a que se consegue com os exercícios de ginásticas militares.
3) Educação tecnológica, que recolhe os princípios gerais e de caráter
científico de todo o processo de produção e, ao mesmo tempo, inicia
as crianças e os adolescentes no manejo de ferramentas elementares
dos diversos ramos industriais (MARX; ENGELS, 2006, p. 68).

Nas palavras de Marx, a educação relaciona-se com o trabalho.

Para Marx, a educação deve estar integrada ao trabalho produtivo


desde a infância. Isso não deve ser entendido como apologia à
exploração do trabalho infantil. É que para esse filósofo, o homem
constrói sua humanidade em sua práxis no mundo, por meio do
trabalho. Ao transformar o mundo, também se transforma. Pode-se
dizer que o trabalho é a categoria fundante da humanização, para
Marx, e também um “princípio educativo” (LOMBARDI, 2008). Nessa
perspectiva, a educação associada ao trabalho produtivo, tem a função
de reintegrar o trabalho intelectual ao trabalho manual (concepção e
execução), separados pela divisão social do trabalho nas sociedades
capitalistas. A intenção é que o trabalhador tenha uma compreensão
integral do processo produtivo e não esteja alienado do mesmo.
Isso também pode ser visto como uma possibilidade de superar a
ruptura entre a ciência e o trabalho, típica da produção industrial.
Lombardi (2008, p. 11) destaca que a teoria marxista entende que:
“com o trabalho produtivo, a educação deveria possibilitar o acesso
aos conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade, em
seus aspectos filosófico, científico, literário, intelectual, moral, físico,
industrial e cívico” (SAUL, 2014, p. 30)

Qual a grande contribuição da Educação na visão de Marx para o ser humano?

43
No bojo da filosofia proposta por Marx, a educação está associada ao conceito
de omnilateralidade e deve contribuir para o desenvolvimento integral do ser humano,
no sentido de promover o acesso à produção de cultura e a construção de saberes.
Sobre a referida concepção, Manacorda (1991, p. 81) esclarece que:

A omnilateralidade é, portanto, a chegada histórica do homem a uma


totalidade de capacidades produtivas e, ao mesmo tempo, a uma
totalidade de capacidades de consumo e prazeres, em que se deve
considerar, sobretudo, o gozo daqueles bens espirituais [inclusa a
educação], além dos materiais, e dos quais o trabalhador tem estado
excluído em consequência da divisão do trabalho.

É importante salientar que, para Marx, a educação politécnica caminha lado a


lado com a concepção de omnilateralidade. É o próprio desenvolvimento do capitalismo
(e suas contradições) que cria bases para a sua implementação. Em consonância desse
entendimento, Lombardi (2008, p. 14) aponta que:

Os fundamentos dessa educação omnilateral e politécnica eram


decorrência da própria transformação da indústria, que constantemente
revoluciona as bases técnicas da produção, e com ela, a divisão do
trabalho. Articulando o desenvolvimento das forças produtivas com a
implementação de transformações nas bases técnicas de produção,
cujas dimensões promovem transformações na divisão do trabalho, é
que Marx vislumbrou uma educação mais ampla, integral e flexível.

Em contraposição à visão capitalista, o marxismo entende que a associação


do trabalho à educação politécnica não tem como objetivo principal o aumento da
produtividade e do lucro, mas está relacionada à questão do desenvolvimento pleno
das capacidades humanas, ou seja, à construção do homem omnilateral (SAUL, 2014).

DICA
Para saber mais!

Qual a diferença entre socialismo e comunismo?


Há várias correntes da teoria marxista. Em uma delas, o socialismo é a etapa de transição
inevitável entre o sistema capitalista e o comunista. Este último seria organizado sem
divisão de classes sociais e suprimiria até a existência do próprio Estado. Essa
sociedade utópica nunca se concretizou, mas países e partidos adotaram as ideias
socialistas. Karl Marx (1818-1883) defendia que os trabalhadores se unissem em
uma revolução para acabar com o poder da burguesia e a propriedade privada
dos meios de produção. O objetivo era instalar um sistema político voltado aos
interesses dos trabalhadores (ou proletários, termo do Manifesto do Partido
Comunista, de 1848), em que o dinheiro não fosse o foco. No socialismo, o
governo controla a produção e a distribuição dos bens.

FONTE: <https://bit.ly/3pwRoDg>. Acesso em: 21 mar. 2021.

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INTERESSANTE
A alienação de que fala Marx é consequência do afastamento entre os
interesses do trabalhador e aquilo que ele produz. De modo mais
amplo, trata-se também do abismo entre o que se aprende apenas
para cumprir uma função no sistema de produção e uma formação
que realmente ajude o ser humano a exercer suas potencialidades.
Você já pensou se a educação, como é praticada a seu redor,
procura dar condições ao aluno para que se desenvolva por inteiro
ou se responde apenas a objetivos limitados pelas circunstâncias?

FONTE: <https://bit.ly/3c1vbdz>. Acesso em: 23 mar. 2021.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu:

• A sociedade moderna se caracterizou por símbolos, valores, representações e


instituições marcadas por determinadas formas de saber e de poder, ocupantes de
uma posição hegemônica.

• A Idade Moderna pode ser entendida pelas grandes transformações ocorridas


no território europeu no período. Foi durante a Idade Moderna que os europeus
realizaram as Grandes Navegações e a Expansão Marítima, criando as condições para
a dominação de continentes inteiros, como a África e a recém-conhecida América.

• Outros fatores influenciaram a vida moderna (Capitalismo mercantilista, Grandes


Navegações, Renascimento, Iluminismo, Reforma Luterana). De uma vida
essencialmente no campo, a Europa passa a viver nas cidades, que nascem com o
capitalismo mercantilista e mais tarde com o capitalismo industrial.

• Sobre a produção do conhecimento, a Idade Moderna é um período de grandes


transformações. Essas transformações e o desenvolvimento da ciência moderna
levaram o ser humano a questionar os critérios e os métodos usados para aquisição
do conhecimento verdadeiro da realidade.

• No início da Idade Moderna, a Europa ainda tinha como base religiosa a Igreja Católica
Apostólica Romana. Esta liderança foi abalada, com um Movimento liderado por um
Monge Agostiniano, Martinho Lutero, que criticou as indulgências e certas normas
católicas, provocando o Movimento de Reforma Luterana ou Protestante.

• No aspecto cultural da Idade Moderna podemos destacar o Antropocentrismo e o


Renascimento.

• Durkheim nasceu em Épinal, na Alsácia. Descendente de uma família de rabinos,


iniciou seus estudos filosóficos na Escola Normal Superior de Paris, indo depois
para Alemanha. Lecionou Sociologia em Bordéus, primeira cátedra dessa ciência na
França. Transferiu-se em 1902 para a Sorbonne, para onde levou inúmeros cientistas,
entre eles seu sobrinho Marcel Mauss, reunindo-se em um grupo que ficou conhecido
como escola sociológica francesa. Morreu em Paris.

• Foi na cidade de Erfurt que nasceu Max Weber, em uma família de burgueses
liberais. Desenvolveu estudos de direito, filosofia, história e sociologia. Iniciou a
carreira de professor em Berlim e, em 1895, foi catedrático em Heidelberg. Manteve

46
contato permanente com intelectuais de sua época, como Simmel, Sombart,
Tönnies e Georg Lukács. Na política, defendeu ardorosamente seus pontos de
vista liberais e parlamentarista e participou da comissão redatora da Constituição
da República de Weimar.

• A dominação é sempre resultado de uma relação social de poder desigual, onde se


percebe claramente a existência de um lado que comanda (domina) e outro que
obedece. Podemos assemelhar, assim, a dominação a qualquer situação em que
indivíduos são subordinados ao poder de outros. No entanto, a dominação se difere
das relações de poder em geral por apresentar uma tendência a se estabilizar, a
procurar manter-se sem provocar confrontos.

• Marx nasceu na cidade de Treves, na Alemanha. Em 1836 matriculou-se na


Universidade de Berlim e doutorou-se em filosofia em Iena. Foi redator de uma
gazeta liberal em Colônia. Mudou-se em 1842 para Paris, onde conheceu Friedrich
Engels, seu companheiro de ideias e publicações por toda a vida. Expulso da França
em 1845, foi para Bruxelas participar da recém-fundada Liga dos Comunistas. Em
1848 escreveu com Engels o Manifesto do Partido Comunista, obra fundadora do
marxismo enquanto movimento político e social a favor do proletariado.

• A perspectiva de Karl Marx era uma perspectiva de Materialismo Histórico e Dialético,


ou seja, interpreta os acontecimentos históricos como fatores econômicos sociais. O
Materialismo Histórico é a parte real da vida, coisas que os seres humanos precisam
para sobreviver, bem como capital, trabalho etc., ou seja, a base econômica é o seu
fundamento e a produção e reprodução da sociedade capitalista só se realiza porque
capitalistas e trabalhadores entram em uma relação de dominação e exploração.

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AUTOATIVIDADE
1 Foi uma das formas encontradas pelos historiadores para se dividir a história da
humanidade. Seu recorte temporal inicia-se com a queda do Império Bizantino e
a tomada da cidade de Constantinopla pelo Império Turco-Otomano, em 1453. Seu
recorte final está delimitado com a Revolução Francesa, em 1789. Esse período ficou
conhecido como?

a) ( ) Idade Média.
b) ( ) Idade Contemporânea.
c) ( ) Idade Antiga.
d) ( ) Idade Moderna.

2 Os fatos sociais são apresentados por Durkheim como maneiras coletivas de pensar,
de sentir e de agir que estão presentes na realidade das sociedades, estando
diretamente vinculados aos aspectos morais que regem a vida das pessoas e as
relações que estas estabelecem entre si. Valores, costumes, hábitos, regras, leis,
normas e estruturas sociais são alguns dos componentes que dão forma aos fatos
sociais e, sobretudo, a sua capacidade de influenciar o comportamento dos seres
humanos a partir de fatores externos aos próprios indivíduos. Sobre os Fatos Sociais,
analise as sentenças a seguir:

I- Em primeiro lugar, a generalidade corresponde à capacidade dos fatos sociais


exercerem o seu poder de influência sobre a totalidade ou sobre a maioria dos
membros de uma sociedade ou grupo social.

II- Em segundo lugar, a exterioridade compreende e delimita a existência dos fatos


sociais independentemente das vontades pessoais.

III- Por fim, a coercitividade representa a condição de coerção social a qual os indivíduos
se tornam suscetíveis diante dos fatos sociais, o que permite com que suas estruturas
sejam alteradas sem grande capacidade de resistência.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a alternativa I está correta.


b) ( ) Somente a alternativa III está correta.
c) ( ) Todas as alternativas estão corretas.
d) ( ) Somente as alternativas I e II estão corretas.

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3 Nasceu na cidade de Treves, na Alemanha. Em 1836 matriculou-se na Universidade
de Berlim e doutorou-se em filosofia em Iena. Foi redator de uma gazeta liberal
em Colônia. Mudou-se em 1842 para Paris, onde conheceu Friedrich Engels, seu
companheiro de ideias e publicações por toda a vida. Expulso da França em 1845 foi
para Bruxelas participar da recém-fundada Liga dos Comunistas. Em 1848 escreveu
com Engels o Manifesto do Partido Comunista, obra fundadora do marxismo,
enquanto movimento político e social a favor do proletariado. Com o malogro das
revoluções sociais de 1848, Marx mudou-se para Londres, onde se dedicou a um
grande estudo da economia e da política. Marx foi um dos fundadores da Associação
Internacional dos Operários, ou Primeira Internacional. Morreu em 1883, após intensa
vida política e intelectual. Suas principais obras foram: A Ideologia Alemã, Miséria da
Filosofia, Para a crítica da economia política, A Luta de Classes em França e O Capital.

Sobre o conceito de alienação em Marx, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A partir do conceito de alienação Karl Marx propôs a tese de que o homem, no


contexto do Capitalismo, se aliena com relação ao fruto de seu trabalho e a sua
própria essência e espécie.
b) ( ) O sistema capitalista sustenta-se graças ao desenvolvimento tecnológico que
traz novos e modernos elementos e aumento da religiosidade.
c) ( ) O conceito de alienação aparece em Marx como equivalente de ilusão, falsa
consciência, concepção idealista na qual a realidade é invertida e as ideias
aparecem como motor da vida real.
d) ( ) Numa de suas frases mais famosas, escrita em 1845, o pensador alemão Karl Marx
dizia que, até então, os filósofos haviam alienado o mundo de várias maneiras.
"Cabe agora transformá-lo", concluía.

4 A obra "Escola de Atenas” é um afresco elaborado pelo artista renascentista Rafael


Sanzio, entre os anos de 1506 e 1510; e se encontra disponível ao acesso e à visitação
no Palácio Apostólico do Vaticano, em Roma. Trata-se de uma alegoria que mostra um
grupo de filósofos e pensadores de várias épocas históricas, que rodeiam Aristóteles
e Platão, ilustrando a retomada e continuidade histórica do pensamento filosófico
clássico. A obra também é identificada como uma síntese do pensamento renascentista,
que rompe drasticamente com as ideologias que predominaram ao longo da Idade
Média, destacando o Renascimento comercial, urbano, artístico, bem como as grandes
navegações e a reforma religiosa. A partir do contexto do Renascimento, disserte sobre
os aspectos que prevaleceram nas mentalidades renascentistas.

5 Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim são considerados e identificados como ‘sociólogos
clássicos’ e seus pressupostos teóricos e metodológicos são revisitados por estudiosos e
pesquisadores até os dias atuais. Estes sociólogos viveram e assistiram ao fortalecimento
dos ideais Iluministas, da Revolução Francesa, do positivismo, do capitalismo e da
sociedade moderna industrial. Foi neste momento que a Sociologia e os Estudos Sociais
se consolidaram como conhecimento científico. Diante disto, disserte sobre o contexto
econômico e as problemáticas sociais a partir de Marx e Weber.

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UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
AUTORES CONTEMPORÂNEOS
DA SOCIOLOGIA E A RELAÇÃO
COM A EDUCAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico estudaremos a questão da pós-modernidade em comparação
com o espírito da modernidade, principais características, autores e movimentos
dentro dessas duas concepções de sociedade. Para alguns autores, a Revolução
Francesa no campo político e dos direitos, aliada à Revolução Industrial no fator
econômico, foram os dois grandes acontecimentos que direcionaram a vida das
pessoas na Idade Contemporânea e deram os fundamentos para aquilo que podemos
denominar do espírito moderno. O pós-modernismo ou a pós-modernidade pode ser
percebido a partir das mudanças sociais, culturais, artísticas, filosóficas, científicas e
estéticas que surgiram após a segunda guerra. Essas mudanças foram responsáveis
por marcantes transformações nas relações travadas entre as crescentes práticas
capitalistas, a arte e a cultura.

Em seguida, abordaremos dois grandes autores contemporâneos: Pierre


Bourdieu e Michel Foucault. Bourdieu foi um dos maiores pensadores das ciências
humanas do século XX. Filósofo por formação desenvolveu importantes trabalhos de
etnologia, no campo da antropologia, e conceitos de profunda relevância no campo
da sociologia, como habitus, campo e capital social. Já Foucault foi um intelectual que
exerceu uma ação e influência consideráveis em vários ramos do saber: na filosofia,
na psiquiatria, na psicologia, na história, na sociologia, na antropologia, nas artes e na
política e a relação deles com a educação.

Por último, apresentaremos Zygmunt Bauman, um sociólogo, pensador,


professor e escritor polonês, uma das vozes mais críticas da sociedade contemporânea.
Criou a expressão “Modernidade Líquida” para classificar a fluidez do mundo onde os
indivíduos não possuem mais padrão de referência e como ele apresenta a educação
nesses tempos ditos pós-modernos.

2 SOCIOLOGIA E PÓS-MODERNIDADE
No período Contemporâneo, até próximo ao início do século XXI, a
Sociedade apresentava as seguintes principais características:

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• Relação principal: no início do século XX, Governo e o cidadão e após a segunda
guerra mundial, o Empresário e o consumidor.
• Divisão social: ampliou a divisão de classes sociais.
• Economia ou modo de produzir as coisas: após o capitalismo industrial, no início
do século XX, fortaleceu o Socialismo e após a segunda guerra mundial, o Capitalismo
Financeiro e depois o Informacional.
• Leis e os códigos de conduta social: do direito do Homem, ampliou-se para os
Direitos Sociais, Étnicos, Ambientais, Culturais, Gênero, entre outros.
• Visão de mundo, religião, educação, conhecimento, meio ambiente e cultura:
educação vista como direito humano. Após a segunda guerra mundial, a preocupação
com uma agenda ambiental preservacionista. Crescimento do Ateísmo e diversidade
religiosa. A cultura do consumir e materialidade. Predomínio do Neoliberalismo.

O período conhecido como Idade Contemporânea inicia por volta de 1789,


com um dos acontecimentos políticos que muito influenciou a vida em sociedade, no
primeiro momento no contexto europeu e, com o passar do tempo, no contexto global.
Esse acontecimento somado aos seguintes: Revolução Industrial, Capitalismo Industrial,
Financeiro, Informacional, Revolução Russa, duas grandes guerras mundiais, crise de
1929, Movimentos de contestações sociais, entre outros, caracterizaram a vida humana
sobretudo em uma forma dinâmica e de extremos.

Em 1789 inicia-se a Revolução Francesa, movimento que buscava o fim da


organização política, social e econômica vigente na época (a Monarquia), que oferecia
privilégios a pequenas parcelas da população e concedia poucos direitos ao povo.
Algumas causas foram vitais para que o acontecimento prosperasse, tais como:
absolutismo de Luís XVI; dívidas da corte; dívida externa; Tratado de Éden-Reynevall;
exploração do campesinato; Guerra dos Sete Anos (1757-63); Independência dos EUA
(1776-1781); e a grande fome (1787-1789).

Para alguns autores, a Revolução Francesa no campo político e dos direitos, aliada
à Revolução Industrial no campo econômico, foram os dois grandes acontecimentos
que direcionaram a vida das pessoas na Idade Contemporânea e deram os fundamentos
para aquilo que podemos denominar de espírito moderno.

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FIGURA 17 – REVOLUÇÃO FRANCESA

FONTE: <https://bit.ly/3ikhpTj >. Acesso em: 12 jan. 2021.

Podemos afirmar que a Revolução Francesa é o acontecimento que inaugura


a Idade Contemporânea e institui novas perspectivas políticas que até hoje exercem
efeitos no mundo ocidental

A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, sem dúvida, foi o documento


mais importante, que promovia e influenciava outros documentos sobre o pensar o ser
humano acima do poder particular em qualquer esfera e sobre a perspectiva que se iniciou
a Revolução Francesa, que desejava dar todo o poder ao povo, um ideal a ser conquistado
por todas as nações, por todos os povos. A própria reflexão em torno da liberdade em seu
sentido pleno viria influenciar povos, nações e gerações. Nesse sentido, a visão de mundo
e a forma de vida no planeta seriam influenciadas após esse acontecimento.

Outro acontecimento importante ocorrido já no século XX é a Revolução Russa


em 1917. A construção do Estado soviético pelos membros do partido bolchevique
resultou em uma mudança das formas de desenvolvimento econômico, político,
religioso e cultural. Esse processo de transformação social na Rússia posteriormente
seria espalhado pelo resto do mundo.

A Rússia no século XIX tinha sua economia baseada na agricultura (sistema feudal
Russo). Os senhores feudais Russos não admitiam a modernização produtiva e econômica.
Por se tratar de um Império, o país, em sua totalidade, estava submetido às decisões do
Czar (Imperador), que tinha a mentalidade absolutista e governava as alianças com foco
em lucros e interesses pessoais. Os senhores feudais eram fiéis aos interesses do Czar.

53
NOTA
CZAR

czar
[tzar]
sm
Título que se dava ao imperador da Rússia, antes da Revolução
de 1917.

Informações complementares:
var. tzar.
Informações complementares:
fem.: czarina.
Etimologia: russo car, via fr.

FONTE: <https://bit.ly/3QK1ufV>. Acesso em: 3 ago. 2021.

NOTA
Igreja Católica Apostólica Ortodoxa.
Significado de Ortodoxo.

A palavra ortodoxo vem do grego, da junção de “orthos” que


significa “reto” e “doxa” que significa “fé”. Por isso, o cristianismo
ortodoxo acredita que eles sejam os únicos depositários da
verdadeira fé.

A Igreja Católica Apostólica Ortodoxa foi fruto de um desmembra-


mento da Igreja Católica Apostólica Romana surgida após o Cisma do
Oriente em 1054. Ocidente e Oriente disputavam questões teológicas
como a supremacia do Bispo de Roma sobre o clero, a questão da
veneração de imagens e a procedência do Espirito Santo. Sem che-
garem a um acordo, o Papa Leão IX (1002-1054) e o Patriarca Miguel
I Cerulario (1000-1059) se excomungaram mutuamente. A partir de
então, o cristianismo passa a se constituir em dois grandes grupos:
a Igreja Católica Apostólica Romana, com sede em Roma e a Igreja
Ortodoxa, com sede em Constantinopla (atual Istambul).

FONTE: <https://bit.ly/3PVTG9X>. Acesso em: 3 ago. 2021.

Como esse cenário começou a mudar?

Próximo ao século XIX, a Rússia entrou em Guerra contra Inglaterra, França


e Turquia. Por se encontrarem em um nível atrasado de industrialização, acabaram
perdendo e forçando o czar Alexandre II a tomar uma série de providências. Com isso, a
servidão foi abolida, as terras foram vendidas aos camponeses e novas áreas agrícolas
foram ocupadas. De acordo com Morais (2019), essas medidas levaram a um crescimento

54
importante da Rússia, que passou a se tornar um dos principais países exportadores
de grãos. O Império precisou, finalmente, investir no processo de industrialização. Isso
levou à criação de várias fábricas estrangeiras na Rússia, resultando nas maiores taxas
de crescimento entre os países europeus nas últimas duas décadas do século XIX. Em
1904, a Rússia entrou novamente em uma guerra, dessa vez contra o Japão. Como
todo conflito, resultou em graves consequências para o povo russo, desorganizando a
economia e refletindo negativamente na vida dos camponeses e operários. A derrota
para os japoneses também fez com que os ânimos se acirrassem, elevando ainda mais
a insatisfação contra o Czar.

QUADRO 19 – COMO FOI INSTALADA A REVOLUÇÃO RUSSA

Em uma manifestação popular por melhores condições de vida e pela instalação de um


parlamento, o czar respondeu com um massacre, matando várias pessoas em um conflito que é
considerado o marco inicial da Revolução Russa. Como não poderia deixar de ser, o resultado
foi uma insatisfação ainda maior da população. Apesar disso, o imperador fez algumas concessões
a fim de se evitarem novos conflitos, como a criação do parlamento de Duma. Entre os anos de
1907 e 1914, a Rússia encontrou um ambiente relativamente ameno, com a volta do crescimento
econômico e a distribuição de terras aos camponeses. Contudo , ao longo do tempo, a oposição
começou a ganhar bastante força, principalmente com o lado socialista baseado nas ideias
de Karl Marx. Nesse sentido, a ideia era que os problemas somente acabariam com a abolição
do capitalismo e a consequente implantação do comunismo. Divididos em dois grupos distintos,
os comunistas tinham ideias mais radicais (bolcheviques, liderados por Lenin) e moderadas
(mencheviques). Com o estouro da Primeira Guerra Mundial, em 1914, várias consequências
recaíram sobre a Rússia, como a desorganização econômica, a fome e a pobreza, os protestos
contra o império e, finalmente, a renúncia por parte do czar, em 1917. A queda do imperador
fez com que um cenário de disputa surgisse, de modo que o governo provisório, ocupado
pela burguesia, adotasse algumas medidas que iam desde a anistia para presos políticos até a
redução da jornada de trabalho para oito horas. Apesar disso, os camponeses, que queriam
terras, e os operários, que buscavam melhores salários, continuavam insatisfeitos. Em
um contexto de grande disputa política, os bolcheviques passaram a ocupar o cargo de porta-
voz da oposição. Esse cenário também favoreceu o surgimento dos sovietes, grupos políticos
que nasceram no meio das camadas populares. Dessa forma, era possível encontrar sovietes
oriundos de grupos de camponeses, operários e até mesmo soldados. Em um crescente cenário
de insatisfação popular, que se acumulava desde o período imperial até as decisões burguesas
tomadas pelo governo provisório, os grupos sovietes e bolcheviques eram vistos como a solução.
Assim, apoiado por essas camadas da população e, em conjunto com uma milícia popular, Lênin
conquista a capital, forçando a renúncia do poder provisório e assumindo o governo em
1917. Agora no poder, Lênin busca a realização e a implantação de uma sociedade igualitária
e libertária. Dessa forma, várias medidas foram tomadas, como:

• desapropriação das terras de burgueses e da Igreja;


• distribuição dessas terras aos camponeses;
• estatização dos meios de produção (fábricas, lojas, bancos etc.).

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3ikj3nZ>. Acesso em: 29 jul. 2021.

A Revolução Russa é um dos Movimentos Políticos, Econômicos e Sociais mais


importantes do Século XX. Suas repercussões se desenvolveram em diversas partes
do mundo até os dias atuais, influenciando governos, partidos, movimentos sociais e a
própria forma de se fazer política e economia.

55
A Idade Contemporânea viveu também duas grandes Guerras Mundiais.
A Primeira Guerra Mundial, que durou de 1914 a 1918, foi considerada por muitos de seus
contemporâneos como a mais terrível das guerras. Por este motivo, tornou-se conhecida
durante muito tempo como “A Grande Guerra”. E a Segunda Guerra Mundial foi o maior
conflito da humanidade, acontecendo de 1939 a 1945, em diferentes locais da Oceania,
Ásia, África e Europa. Esse conflito foi travado entre os Aliados (Reino Unido, França, EUA,
URSS etc.) e o Eixo (Itália, Alemanha, Japão etc.) e teve como consequências a morte
de, aproximadamente, 60 milhões de pessoas e uma destruição material significativa.

Na década de 1960 aconteceram diversos Movimentos em termos Mundiais que


buscavam a formas de vida mais simples ou até mesmo mais ecológicas. Movimentos
de reivindicações foram realizados em diversas partes do mundo. Movimento Feminista,
Movimento Negro, Movimento de liberação gay (marco do Movimento LGBTTTS: Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), Movimento Ecológico/ambiental,
entre outros. Neste momento, vamos destacar o Movimento Hippie e o Maio de 1968.

Uma ideia que foi ganhando espaço de debate em termos mundiais foi a preservação
ambiental. O Movimento Ambiental ou ecológico, a partir da sensibilização da sociedade em
razão do uso irracional dos recursos naturais e dos impactos ambientais gerados pela ação
humana, passou a destacar o conceito de crescimento sustentável, que se colocou como uma
alternativa que promove a interdependência entre economia, meio ambiente e sociedade.
Confira no quadro a seguir a origem desse movimento e o seu conceito.

QUADRO 20 – MOVIMENTO AMBIENTAL

A WWF (O Fundo para a Vida Selvagem), a primeira ONG ambiental de espectro verdadeiramente
ambiental, foi criada em 1961. O assunto ganhou corpo com a publicação de Silent Spring
(Primavera Silenciosa), o famoso livro de Rachel Carlson, que chamou atenção para a degradação
ambiental. Já nos anos 1970, Leis e D’Amato afirmam que o ambientalismo não governamental
se institucionaliza nas sociedades americana e europeia. A década de 1970 foi marcada pelas
críticas contundentes contra a industrialização, feitas pelo movimento ambiental, que começou
a se consolidar. É justamente nesta época que a questão ganhou relevância e passou a ser
pautada pelos órgãos nacionais e internacionais. Em 1971, o 1º relatório do Clube de Roma alertou
para os limites do planeta e vinculou o crescimento da população ao uso abundante de recursos
naturais, em um debate malthusiano. A primeira Conferência Internacional para debater o Meio
Ambiente Humano foi realizada no ano seguinte, em Estocolmo, e buscava soluções técnicas
para os problemas ambientais. Na mesma década, foi fundada no Canadá a maior e ainda mais
conhecida organização não governamental ambientalista – o Greenpeace, caracterizado por
suas ações estratégicas e amplos protestos para mobilizar a opinião pública. A ONG expandiu-
se oficialmente em 39 países. Aqui no Brasil, um pouco mais tarde, em 1986, foi formada
uma das organizações ambientais mais representativas, a SOS Mata Atlântica, que tem como
principal objetivo preservar as áreas remanescentes da Mata Atlântica e valorizar a identidade
física e cultural da região. Atualmente, segundo o CNEA (Cadastro Nacional de Entidades
Ambientalistas), registro vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, o Brasil conta com 463 ONGs
de cunho ambientalista. Isso sem contar organizações não legalmente estabelecidas ou que
por eventuais razões, não constam no cadastro oficial. Em sua fase fundacional, os movimentos
ambientais se restringiram a combater a poluição e a apoiar a preservação de recursos naturais,
sem aliar a temática social, mas a década de 1980 revelou outros desafios, como a superação da
pobreza, a participação e o controle social do desenvolvimento. Em 1987, foi criada a Comissão
de Brundtland (presidida pela primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland) e surge
a expressão desenvolvimento sustentável, como o desenvolvimento que corresponde às
necessidades presentes, sem comprometer o desenvolvimento das futuras gerações.

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3KdD7Vp>. Acesso em: 29 jul. 2021.

56
Para a vida em sociedade, o conceito de desenvolvimento sustentável remete,
dessa maneira, à importância de três princípios para a sua efetivação: os princípios
econômicos, ambientais e sociais. Essas ações remetem ainda ao conceito de
sustentabilidade, que está ligada à promoção de ações que oferecem sustentação para
o crescimento econômico, a preservação ambiental e a redução da desigualdade social.

Dois acontecimentos, o Movimento Hippie e Maio de 1968, mudaram a forma


de ser e existir da humanidade. Após as duas grandes guerras, a população muda sua
forma de vida.

QUADRO 21 – MOVIMENTO HIPPIE

Na década de 1960, o movimento hippie apareceu disposto a oferecer uma visão de mundo
inovadora e distante dos vigentes ditames da sociedade capitalista. Na maioria jovens, os
hippies abandonavam suas famílias e o conforto de seu lar para se entregarem a uma vida
regada por sons, drogas alucinógenas e a busca por outros padrões de comportamento. Ao
longo do tempo, ficariam conhecidos como a geração da “paz e amor”.

Ao longo da década de 1960, junto do movimento negro, os integrantes dessa geração


discutiram questões políticas de grande relevância e se organizaram para levar a público uma
opinião sobre diversos acontecimentos contemporâneos.

Conseguindo mobilizar uma enorme quantidade de pessoas, os hippies lutaram pela ampliação
dos direitos civis e o fim das guerras que aconteciam naquele momento. Em várias
situações, a influência das autoridades sob os meios de comunicação acobertava a discussão
que se desenvolvia, para assim reforçar os comportamentos marginais dos hippies. Não raro,
a força policial era acionada para que esses “desordeiros” fossem retirados do espaço público.

Entre os grandes confrontos do movimento hippie, podemos destacar a mobilização feita


na Convenção Nacional Democrata, ocorrida entre os dias 26 e 29 de agosto de 1968, na
cidade de Chicago. Sob a liderança de Abbie Hoffman e Jerry Rubin, a chamada “Festa da
Vida” contou com vários episódios em que o cenário político norte-americano era criticado.
Entre tantas outras ações de deboche, os hippies lançaram um porco (chamado de “Pigasus”)
como candidato a presidente dos EUA.

FONTE: <https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/as-lutas-do-movimento-hippie.htm>.
Acesso em: 29 jul. 2021.

Com o desenvolvimento do movimento hippie mundo afora, o Brasil rapidamente


teve contato com os ideais de contracultura e de rebeldia. Houve adesão dos estudantes
e artistas buscaram o rock’n roll como referência, utilizaram roupas coloridas e tentavam
romper com o comportamento social e cultural dominantes. Vivendo durante a Ditadura
Militar, os jovens do Brasil também tinham os objetivos de igualdade de direitos, liberdade
de comportamento, fim do machismo e das arbitrariedades dos governos militares.
Muitos artistas e estudantes foram perseguidos, presos e até mortos por divulgarem
ideais que eram considerados rebeldes.

Vamos retratar agora o mês de maio de 1968, sua origem e consequências para
a vida humana.

57
QUADRO 22 – MAIO DE 1968

Maio de 1968 ficou marcado na história mundial como o mês em que estudantes demonstraram
sua intenção de transformar o mundo. Influenciados por ideais anarquistas e marxistas, os
estudantes franceses iniciaram protestos contra o sistema educacional francês e contra a
sociedade capitalista da França. Contando com o apoio dos trabalhadores, esses jovens
pararam a França e marcaram gerações de pessoas. Os protestos contra a Guerra do Vietnã; o
debate por transformações significativas no combate ao racismo; a Tchecoslováquia era agitada
por um reformismo que procurava democratizar o socialismo no país; na Alemanha, protestos
estudantis aconteciam em Berlim; e aqui no Brasil, lutava-se contra a ditadura. Embora as
mobilizações estudantis tivessem sido influenciadas por acontecimentos globais, havia
também problemas relacionados à própria sociedade francesa que serviram de catalisadores.
Entre os fatores estavam a insatisfação pelo desemprego e com o sistema educacional francês,
além do descontentamento com o governo de De Gaulle, em geral.

O protesto dos estudantes em Nanterre foi encerrado após a chegada da polícia, convocada
pela própria administração da cidade. Novos protestos seguiram acontecendo nos meses de
março e abril, e a ação policial era baseada na truculência, o que indignava os estudantes. Os
protestos, no entanto, continuaram.

Em dois de maio, a administração da universidade em Nanterre decidiu autorizar o fechamento


do campus e ameaçou expulsar os estudantes que participavam dos protestos. No dia seguinte,
três de maio, os estudantes de Nanterre começaram a contar com o apoio dos estudantes
do campus da Universidade de Sorbonne, em Paris. Nesse dia, os confrontos entre policiais e
estudantes foram violentos. A polícia incendiava carros para incriminá-los e usava da violência
para dispersá-los, e os estudantes respondiam construindo barricadas para impedir o avanço
policial e lançando paralelepípedos nas forças de polícia. Novas pautas foram adicionadas às
reivindicações estudantis, como o fim da separação de gêneros nos alojamentos. A força do
movimento foi crescendo, pois a violência policial fez com que ele passasse a contar com o
apoio de outras classes, principalmente a dos trabalhadores.

Os sindicatos decidiram convocar greve geral na França. Estima-se que, nesse mês de maio,
cerca de 10 milhões de trabalhadores estiveram em greve no território francês. Em muitos
lugares, eles ocuparam as fábricas e assumiram o controle da produção. A adesão dos
trabalhadores aos protestos estudantis forçou o governo do presidente De Gaulle a negociar.
Governo, representantes dos sindicatos e empresários sentaram-se à mesa para debater
condições para que os trabalhadores voltassem ao trabalho. As negociações estenderam-se
por todo o mês de maio, e, ao final, chegou-se aos Acordos de Grenelle. Os trabalhadores
ganharam uma série de benefícios, como aumentos salariais e redução na jornada de trabalho,
e os sindicatos ganharam maior liberdade para organizar-se. Parte dos trabalhadores decidiu
retomar os trabalhos, mas outra parte considerou que as concessões realizadas não eram
suficientes. Charles De Gaulle decidiu usar a violência policial contra os trabalhadores.
Enquanto o governo negociava com os trabalhadores, os estudantes seguiam firmes na sua
mobilização. Dezenas de barricadas foram construídas nas ruas de Paris, e os estudantes,
além dos protestos, engajaram-se em produzir cartazes que manifestavam suas intenções e
insatisfações. Mensagens contra o capitalismo e contra o governo De Gaulle eram comuns. Uma
das expressões mais populares desse período foi “é proibido proibir”, uma mensagem clara
contra os padrões da sociedade francesa, enxergados pelos estudantes como conservadores.
O ímpeto dos protestos seguiu-se durante o mês de maio, mas perderam força no final
dele. A decisão de parte dos trabalhadores de retornarem ao trabalho também enfraqueceu
a mobilização. A repressão de De Gaulle e uma reação conservadora de parte da sociedade
francesa também foram fatores que desarticularam os estudantes.

FONTE: Adaptado de <https://www.politize.com.br/maio-de-1968/>. Acesso em: 11 ago. 2021.

58
Em certo sentido, Maio de 1968 tornou-se um símbolo da mobilização estudantil e
influenciou gerações no mundo, mas, no final, não foi a revolução que muitos enxergavam,
principalmente porque não houve apoio político consistente para as causas estudantis.

Vamos retornar a outro acontecimento que marcou o Espírito Moderno no Mundo


e influenciou a vida na Idade Contemporânea. A Revolução industrial foi um conjunto de
mudanças que aconteceram na Europa nos séculos XVIII e XIX. A principal particularidade
dessa revolução foi a substituição do trabalho artesanal pelo assalariado e com o uso das
máquinas. A principal característica da Revolução Industrial foi a criação do sistema fabril
mecanizado, isto é, as fábricas passaram da simples produção manufaturada para a complexa
substituição do trabalho manual por máquinas. Essa substituição implicou na aceleração da
produção de mercadorias, que passaram a ser produzidas em larga escala. Essa produção em
larga escala, por sua vez, exigiu uma demanda cada vez mais alta por matéria-prima, mão de
obra especializada para as fábricas e mercado consumidor. Tal exigência implicou, por sua vez,
também na aceleração dos meios de transporte de pessoas e mercadorias. Era necessário o
encurtamento do tempo que se percorria de uma região à outra para escoar os produtos.

FIGURA 18 – REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

FONTE: <https://bit.ly/3PKpfDh>. Acesso em: 20 mar. 2021.

Confira no Quadro a seguir algumas das consequências da Revolução Industrial:

QUADRO 23 – CONSEQUÊNCIAS

O desenvolvimento tecnológico acelera- A formação da sociedade de massas


do, que caracterizou uma sucessão de eta- constituiu também uma das consequências
pas evolutivas, como a Segunda Revolução da Revolução Industrial, haja vista que o cres-
Industrial (desenvolvida no século XIX, seu cimento das cidades e a grande quantida-
principal aspecto foi a criação dos motores de de de trabalhadores (que formaram a classe
combustão interna movidos a combustíveis operária) que passaram a habitar os centros
derivados do petróleo) e a Terceira Revolução urbanos geraram as massas, isto é, o grande
Industrial (desenvolvida no século XX e ainda fluxo de pessoas em uma só região.
em expansão, seu aspecto principal são os
ramos da microeletrônica, engenharia gené-
tica, nanotecnologia, entre outros).

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3ADZW1w>. Acesso em: 21 jan. 2021

59
Na segunda metade do século XIX, o capitalismo proporcionou a integração
econômica mundial, favorecendo assim, principalmente, as nações que haviam
começado seu processo de industrialização. Essas mesmas nações expandiram
significativamente seu território em direção a outros continentes, sobretudo o Asiático,
o Africano e a Oceania. A Idade contemporânea conheceu três etapas do Capitalismo,
conforme exposto a seguir:

QUADRO 24 – CAPITALISMO INDUSTRIAL

Segunda fase do sistema capitalista: Capitalismo Industrial (Século XVIII – XIX)


A passagem do capitalismo comercial para o capitalismo industrial se deu em meio às
revoluções tecnológicas e políticas. A Revolução Industrial se inicia na Inglaterra, em 1760, e
tem como seu marco principal a introdução da máquina a vapor na produção, o que deu início
à transição de uma produção manufatureira para uma produção industrial.
A produção industrial tornava-se necessária, pois com o crescimento demográfico e
expansão das cidades era necessário que os produtos fossem criados e distribuídos com mais
eficiência e escala.
As revoluções também tiveram um caráter político. Em 1789, inicia-se a Revolução Francesa,
movimento que buscava o fim da organização política, social e econômica vigente na época;
que oferecia privilégios a pequenas parcelas da população e concedia poucos direitos ao povo.
Nessa fase do capitalismo, o poder passou para as mãos da burguesia, que começou a
crescer com a intensificação do comércio. A economia durante o período do capitalismo
industrial estava baseada no liberalismo econômico. Essa corrente de pensamento – cujo
principal pensador foi Adam Smith – defendia o Estado mínimo e a não intervenção estatal
na economia. Segundo seus defensores, a lei de oferta e procura e a competição do mercado,
garantiriam melhores resultados para a sociedade como um todo.
O modo de produção vigente nos séculos de capitalismo industrial permitiram o aumento da
produtividade, a diminuição dos valores das mercadorias e a acumulação de capital; por outro
lado, esses avanços só foram possíveis a partir de condições precárias de trabalho, jornadas de
trabalho muito altas, diminuição dos salários e aumento do desemprego.
FONTE: Adaptado de <https://www.politize.com.br/sistema-capitalista-origem/>. Acesso em: 29 jul. 2021.

QUADRO 25 – CAPITALISMO FINANCEIRO

Terceira fase do sistema capitalista: Capitalismo Financeiro (Século XX)


O capitalismo financeiro se inicia no século XX, depois do final da Segunda Guerra Mundial.
Essa nova fase tem seu início quando bancos e empresas se unem para obter maiores lucros. É
nesse momento que surgem as empresas multinacionais e transnacionais, e se fortalecem
as práticas monopolistas. Esse modelo, vigente até hoje, é baseado nas leis das instituições
financeiras e dos grandes grupos empresariais presentes no mundo todo.

É um período caracterizado por elevada concorrência internacional, monopólio comercial,


evolução tecnológica, globalização e elevadas taxas de urbanização. É chamado de capitalismo
financeiro, pois as grandes empresas passaram a vender parcelas de seu capital na bolsa de
valores, e a partir de então, passou-se a produzir riqueza por especulação. Nesse momento, a
acumulação do capital chegou a níveis nunca vistos antes.
Em decorrência das políticas liberais, em 1929, o sistema capitalista vive uma das piores crises econô-
micas da história. Por conta de uma produção em excesso nos Estados Unidos e da redução da de-
manda por produtos desse país, as empresas perderam valor e houve a quebra da bolsa de valores.
Para salvar o mercado, o Estado teve que intervir na economia e a partir de então se adotou
o sistema econômico Keynesiano, que defendia a intervenção do Estado na economia para
evitar crises e garantir o consumo e o emprego. Esse sistema é também chamado de Welfare
State, ou Estado de bem-estar social.

60
A partir dos anos 1980, o keynesianismo perde forças e a ideia de Estado mínimo e
pouca participação estatal na economia retorna. Assim como os liberais, os defensores
do neoliberalismo defendem que as próprias regras do mercado vão garantir o crescimento
econômico e o desenvolvimento social.
O neoliberalismo foi implantado no Brasil e em diversos países da América Latina, seguindo as
proposições do que se estabeleceu no Consenso de Washington – uma proposta neoliberal
para o desenvolvimento dos países da região.
Guerra Fria e a vitória do sistema capitalista
Apesar de ser adotada em grande parte do mundo hoje, a hegemonia do sistema capitalista
esteve em disputa durante décadas após a Segunda Guerra Mundial. O outro sistema
econômico era o comunismo, que defendia o fim da propriedade privada em prol da construção
de uma sociedade mais justa e igualitária.
Ao longo do conflito, Estados Unidos – defensor do capitalismo – e União Soviética –
defensora do comunismo – disputavam a hegemonia mundial e buscavam o apoio de outros
países para fortalecer seu posicionamento ideológico.
Foi chamada Guerra Fria, pois não houve embate militar direto entre esses dois países, era um
conflito ideológico sustentado por uma guerra armamentista. Ambos os países foram investindo
em materiais e tecnologias bélicas e o equilíbrio entre essas forças foi o que impediu que ataques
entre eles de fato acontecessem.
Com o final da Guerra Fria e a vitória do capitalismo como sistema hegemônico, grande parte
dos países que estavam do lado da União Soviética começaram a implementar o capitalismo.

FONTE: Adaptado de <https://www.politize.com.br/sistema-capitalista-origem/>. Acesso em: 29 jul. 2021.

FIGURA 20 – CAPITALISMO FINANCEIRO

FONTE: <https://bit.ly/3QLjmXX>. Acesso em: 21 fev. 2021.

61
QUADRO 26 – CAPITALISMO INFORMACIONAL

Para alguns estudiosos da economia, o Capitalismo Informacional não é uma nova fase do
capitalismo, mas um novo momento da fase do capitalismo financeiro. O conceito de capitalismo
informacional foi discutido pela primeira vez por Manuel Castells, em seu livro Sociedade em
rede, publicado em 1996 e está relacionado à revolução tecnológica dos últimos tempos.

O capitalismo informacional é caracterizado pela globalização e pelos avanços nas tecnologias


de informação, na aceleração e crescimento dos fluxos de informações, pessoas, capitais
e mercadorias. Segundo esse autor, essas transformações tecnológicas mudam nossas
práticas culturais e sociais e constroem uma nova estrutura social.

FONTE: Adaptado de <https://www.politize.com.br/sistema-capitalista-origem/>. Acesso em: 29 jul. 2021.

Entende-se por moderno o período histórico que começou no Iluminismo


e se desenvolveu até a metade do século XX, aproximadamente. A modernidade é
caracterizada pela crença na ciência, além da razão e do progresso como guias da
humanidade. Esses princípios deixaram de ser referências intelectuais, sociais e
artísticas, a partir do momento que a realidade mostrou um resultado decepcionante:
os valores da modernidade. O ideal da modernidade havia fracassado e assim se inicia
uma nova era: a pós-modernidade

A modernidade construiu-se em meio aos conflitos ideológicos da razão objetiva


instrumental, utilizada como ferramenta de abordagem de questões do pensamento
humano e de sua realidade. Assim, o pensamento tradicional, ligado ao pensamento
teológico e religioso, foi progressivamente abandonado. Max Weber referiu-se a esse
fenômeno como o processo de “desencantamento do mundo”, no qual o sujeito moderno
passou a despir-se de costumes e crenças baseados em tradições aprendidas que se
apoiavam nos pilares fixos das religiões. Explicações e questionamentos baseados na
utilização da razão instrumental quebraram noções preconcebidas e ancoradas no
núcleo religioso. Todavia, foi apenas nos séculos XIX e XX que esse fenômeno tomou as
dimensões que vemos hoje. A era moderna, diante dos conflitos cada vez mais globais,
foi marcada pela segregação de classes, indivíduos e, principalmente, de nações.

Como se desenvolveu o espírito moderno?

QUADRO 27 – ESPÍRITO MODERNO

A modernidade está, portanto, associada, nos séculos XVII e XVIII, a uma visão eufórica
do progresso, considerando-a como a inauguração de uma época de desenvolvimento
técnico ilimitado. Os instrumentos são ainda considerados como aperfeiçoamentos da
percepção do mundo e os utensílios destinam-se a ajudar o gesto humano, na modelagem
dos objetos naturais.

No entanto, à medida que foi integrando conhecimentos científicos mais elaborados, a técnica
foi adquirindo cada vez maior autonomia com relação à percepção e aos gestos humanos. É
esse processo que conduzirá ao maquinismo industrial, a partir da segunda metade do século
XIX, e ao aparecimento de uma relação cada vez mais problemática e conflitual com a técnica.

62
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o domínio da técnica adquiriu uma autonomia até
agora inimaginável, ao converter-se em sistema, acarretando consequências para a própria
experiência do mundo que ainda estamos longe de poder avaliar com rigor. Em todo o caso,
essas transformações estão associadas ao atual processo de globalização, não só no domínio
económico, mas sobretudo nos domínios político, ético e estético, anunciando-se, desse
modo, novas oportunidades, mas também novos riscos.

O ideal revolucionário é outra das características constantes da modernidade. Em contraste


com os valores de estabilidade que caracterizam a experiência tradicional, a modernidade
promove valores de ruptura e de mudança constante.

A experiência moderna está também associada à emergência do sujeito, no sentido ambivalente


desse termo, entendido, por um lado, como instância soberana, de autonomia e emancipação
e, por outro lado, como processo de sujeição ao imperativo do novo e da mudança. Dessa
duplicidade, retira o sujeito moderno uma consciência dilacerada ou clivada.

A modernidade promove a procura de princípios explicativos racionais para os fenômenos


da natureza e da cultura e de normas racionalmente fundadas para a política, para a ética e
para a estética.

A nossa época caracteriza-se pela consciência aguda do esgotamento dos projetos, romântico
e futurista, da modernidade e pela consequente indiferença perante os valores e as normas que
os movimentos de vanguarda procuraram instaurar, ao longo do seu processo de implantação.
Essa consciência da crise da modernidade pode ser entendida como o retorno do recalcado:
através das atuais manifestações da pós-modernidade vislumbram-se as próprias formas
tradicionais que retornam, por vezes, de maneira nostálgica.

FONTE: Adaptado de <https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/modernidade/>. Acesso em: 29 jul. 2021.

No início do Século XXI, a sociedade começa a apresentar as seguintes


características. Relação principal: blocos econômicos e atores políticos, ONGs,
virtualidade? A divisão social: classes sociais concretas e classes sociais virtuais?
Economia ou modo de produzir as coisas: Capitalismo Virtual, Socialismo Virtual?
As leis e os códigos de condutas sociais: ênfase nas condições humanas voltadas
para o mundo virtual? A visão de mundo, religião, educação, conhecimento, meio
ambiente e cultura: virtualidade e desconstruções, fragmentações?

Você deve se perguntar sobre as interrogações nesse último período apresentado,


não é mesmo? Veja, ainda não passamos esse período, estamos vivendo e fazendo ou
criando a história, somos protagonistas neste enredo. Como serão as características deste
período? Somente o futuro dirá ao certo. De nossa parte, podemos refletir e pesquisar.

O pós-modernismo ou a pós-modernidade pode ser percebido a partir das mudan-


ças sociais, culturais, artísticas, filosóficas, científicas e estéticas que surgiram após a segunda
guerra. Essas mudanças foram responsáveis por marcantes transformações nas relações
travadas entre as crescentes práticas capitalistas, a arte e a cultura. Por conta das trans-
formações ligadas à cultura e as relações capitalistas, o movimento pós-modernista pode
também ser chamado de pós-industrial ou de movimento financeiro, pois é a partir do fim
da Segunda Guerra Mundial que as inovações tecnológicas, os investimentos financeiros e
a indústria de massa desenvolveram-se e marcaram intensas e profundas transformações
na sociedade e na maneira pela qual os indivíduos passaram a relacionar-se com o consumo.

63
Quais seriam as principais características da pós-modernidade?

NOTA
No contexto pós-Segunda Guerra e diante de tantas informações, ligadas ou não a
esse acontecimento, algumas características permitem identificar o pós-modernismo.
Dentre elas, merecem destaque:

• Ausência de regras e valores muito rígidos.


• Individualismo.
• Pluralidade e diversidade.
• Combinações de tendências, gostos e estilos.
• Produção em série de cultura voltada para o consumo rápido.
• Liberdade de expressão e pensamento.
• Mistura entre realidade e imaginação - hiper-realismo.
• Disponibilização de grande quantidade de informações.
• Incertezas e vazios existenciais.

FONTE: <https://bit.ly/3AksV96>. Acesso em: 29 jul. 2021.

NOTA
Vários autores dividem a pós-modernidade em dois principais
períodos. A primeira fase teria começado com o fim da Segunda
Guerra Mundial e se desenvolvido até o declínio da União
Soviética (fim da Guerra Fria). Já a segunda e derradeira
etapa teve início no fim da década de 1980, com a
quebra da bipolaridade vivida no mundo durante a
Guerra Fria e o avanço das novas tecnologias.
Primeira etapa da Pós-Modernidade
De modo geral, a pós-modernidade representa a "quebra"
com antigos modelos de pensamento linear defendidos na era
moderna pelos iluministas. Eles eram baseados na defesa da razão
e ciência como parte de um plano em prol do desenvolvimento
da humanidade. No entanto, com os horrores presenciados na
Segunda Guerra Mundial, começou a crescer um forte sentimento
de insatisfação e decepção na sociedade, visto que todo o
"plano" moldado com base nos ideais iluministas havia falhado.
Segunda etapa da Pós-Modernidade: consolidação
Muitos estudiosos consideram o fim da década de 1980 como
a consolidação definitiva da Pós-Modernidade como uma
estrutura social, política e econômica no mundo. Com o fim da
bipolaridade imposta pela Guerra Fria, o mundo passou a viver sob
uma Nova Ordem, baseada na ideia de pluralidade e globalização
entre quase todas as nações. Os avanços tecnológicos e nos
meios de comunicação, o boom da internet e o monopólio do
sistema capitalista são algumas das características que ajudaram
a consolidar os princípios que definem a sociedade pós-moderna.

FONTE: <https://bit.ly/3TdxTx2>. Acesso em: 29 jul. 2021.

64
3 PIERRE BOURDIEU, MICHEL FOUCAULT E A EDUCAÇÃO
Pierre Bourdieu foi um dos maiores pensadores das ciências humanas do
século XX. Filósofo por formação desenvolveu importantes trabalhos de etnologia, no
campo da antropologia, e conceitos de profunda relevância no campo da sociologia,
como habitus, campo e capital social. Sua obra é extensa e abrangente, com contribuição
para diversas áreas do conhecimento, especialmente na educação e cultura.

FIGURA 24 – PIERRE BOURDIEU

FONTE: <https://bit.ly/3pD1qTd>. Acesso em: 20 mar. 2021.

Pierre Félix Bourdieu nasceu em Denguin, França, no dia 1 de agosto de 1930.


Iniciou seus estudos básicos em sua cidade natal. Mudou-se para Paris, ingressou
na Faculdade de Letras, onde cursou Filosofia, obtendo a graduação em 1954. Prestou
serviço militar na Argélia (então colônia francesa). Entre os anos de 1958 e 1960, assumiu
a função de professor assistente na Faculdade de Argel. De volta à França, Pierre Bourdieu
foi nomeado assistente do filósofo e sociólogo Raymond Aron, na Faculdade de Letras de
Paris. Filiou-se ao Centro Europeu de Sociologia, tornando-se secretário-geral em 1962.
Durante as décadas de 60 e 70, Bourdieu se dedicou às pesquisas como etnólogo que
revolucionaram a Sociologia. Dessas investigações sobre a vida cultural, sobre as práticas
de lazer e de consumo dos povos europeus, principalmente dos franceses, resultou na
publicação de “Anatomia do Gosto” (1976), e sua obra prima “A Distinção – Crítica Social
do Julgamento” (1979). Em suas obras, Bourdieu tenta explicar a diversidade do gosto
entre os segmentos sociais, analisando a variedade das práticas culturais entre os grupos.
Afirmava que o gosto cultural e os estilos de vida da burguesia, das camadas médias e da
classe operária, estavam profundamente marcados pela trajetória social vivida por cada
um deles. A repercussão de suas reflexões o levou a lecionar em importantes universidades
do mundo a Universidade de Harvard e de Chicago e o Instituto Max Planck de Berlim. Em
1981, Bourdieu assumiu a cadeira de Sociologia no Collège de France, onde em sua aula
inaugural destacou-se por propor uma crítica sobre a formação do sociólogo, propondo o
que ficou identificado como “Sociologia da Sociologia”. Pierre Bourdieu foi considerado um
dos mais importantes intelectuais de sua época. Tornou-se referência na Antropologia e na
Sociologia, publicando trabalhos sobre educação, cultura, literatura, arte, mídia, linguística,
comunicação e política. Com sua vasta produção intelectual, recebeu o título “Doutor

65
Honoris Causa” da Universidade Livre de Berlim (1989), da Universidade Johann Wolfgang-
Goethe de Frankfurt (1996) e da Universidade de Atenas (1996). Pierre Bourdieu faleceu em
Paris, França, no dia 23 de janeiro de 2002 (FRAZÃO, 2002, s. p.)

FONTE: FRAZÃO, D. Pierre Bourdieu. 2002. Disponível em: https://bit.ly/3dNGN4c. Acesso em: 23
mar. 2021.

FIGURA 25 – CONCEITOS E TEMAS DE PIERRE BOURDIEU

FONTE: <https://bit.ly/3T9UcUo>. Acesso em: 23 mar. 2021.

Crítico dos mecanismos de reprodução das desigualdades sociais, Pierre


Bourdieu destaca em sua obra os condicionamentos materiais e simbólicos que agem
sobre nós (sociedade e indivíduos) numa complexa relação de interdependência, ou
seja, a posição social ou o poder que detemos na sociedade não dependem apenas do

66
volume de dinheiro que acumulamos ou de uma situação de prestígio que desfrutamos
por possuirmos escolaridade ou qualquer outra particularidade de destaque, mas está
na articulação de sentidos que esses aspectos podem assumir em cada momento
histórico. A estrutura social é apresentada por Bourdieu como um sistema hierarquizado
de poder e privilégio, determinado tanto pelas relações materiais e/ou econômicas
(salário, renda) como pelas relações simbólicas (status) e/ou culturais (escolarização)
entre os indivíduos. Alguns conceitos e aspectos da teoria de Bourdieu.

QUADRO 26 – CAPITAL, CAMPO

O “capital”, junto com o “campo” e o “habitus”, são três conceitos que se conectam. O capital
diz respeito aos recursos que um indivíduo possui que lhe fornece vantagens e privilégios
em relação àqueles que não os tem, ou seja, o capital são as “armas” herdadas ou adquiridas
por alguém. Esses capitais podem ser econômicos, culturais ou sociais. O capital econômico
pode ser considerado o mais óbvio: é a quantidade de recursos financeiros que uma pessoa
dispõe na forma de propriedades, dinheiro e bens materiais. Esse é o fator que é considerado
geralmente para explicar as desigualdades sociais. Entretanto, Bourdieu descobre, ao analisar
a escola, outro tipo de capital: o cultural, que diz respeito a recursos adquiridos na instituição
escolar como linguagem erudita, domínio da oratória, livros, diplomas e notas altas em provas,
por exemplo. Além disso, existe o capital social que é a rede de relacionamentos sociais e
contatos que uma pessoa possui que lhe confere vantagem sobre os demais.

Campo

O conceito de campo está intimamente ligado ao de capital porque é no campo que ocorrem
as disputas de poder e posição na realidade social. De fato, o campo é definido como uma rede
ou uma configuração de relações sociais que são organizadas em posições de dominância
diferentes. Qualquer espaço social em que há uma correlação de forças desiguais em termos
de capital – econômico, cultural ou social – entre diferentes pessoas pode ser considerado
um campo. Bourdieu descobre, por exemplo, que a área da literatura é um campo, assim
como a política, a ciência, ou a escola. Além disso, todo campo possui suas próprias regras. A
forma como aprendemos como o campo em que estamos inseridos funciona é abarcada pelo
conceito de habitus.

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3Af1uNX>. Acesso em: 29 jul. 2021.

QUADRO 27 – HABITUS, PRODUÇÃO DO GOSTO E VIOLÊNCIA SIMBÓLICA

O conceito de habitus advém da ideia de hábito mental, ou seja, a forma como as pessoas
aprendem e reproduzem aquilo que aprenderam durante o seu crescimento dentro de uma
sociedade, passando a assumir os pensamentos de sua época. Trata-se de uma aprendizagem
de como perceber o mundo e atuar nele. O habitus é a experiência social incorporada em
nossas mentes. Os habitus são sempre construídos em um indivíduo dentro de um campo,
detendo alguns capitais. Cada pessoa ocupa uma posição diferente no campo e herda ou
adquire determinados capitais ao longo da vida, o que a torna única. Ao mesmo tempo, o
campo já existe antes de qualquer indivíduo nascer: ele determina algumas condições que
são compartilhadas por todas as pessoas no mesmo campo. Assim, com o habitus, Bourdieu
mostra como as pessoas são construídas e ao mesmo tempo constroem o campo social no
seu dia a dia, em uma verdadeira interdependência com a estrutura social. É por isso que ele
usa o termo “agente” para se referir a todos nós, indivíduos ou pessoas que, de fato, atuam
cotidianamente na sociedade.

67
Produção do gosto

Já houve muita discussão na filosofia sobre qual a verdadeira definição do belo ou do sentido
do bom ou mau gosto. Bourdieu demonstra que, na verdade, os gostos são construídos
socialmente como uma forma de fazer vínculos sociais, a depender do campo social em
que o agente está inserido. Depois de uma pesquisa que compreendeu 1.217 entrevistas na
França, Bourdieu demonstra como os gostos servem para realizar um julgamento social dos
indivíduos. Gostar e consumir arte, cinema, músicas eruditas revela o capital cultural de um
agente, e funciona muitas vezes como uma forma de se distinguir daqueles que não possuem
os mesmos gostos “refinados”.

Violência simbólica

O conceito de violência simbólica visa apresentar de que maneira a autoridade e o poder de


agentes ou instituições são naturalizadas, ou seja, consideradas “normais” em uma sociedade.
Exemplos de violência simbólica na escola incluem: conteúdos, disciplinas, provas, trabalhos e
correções gramaticais. Isso porque os critérios de avaliação escolar estão pautados nos capitais
econômicos e culturais das classes dominantes, e não a dos pobres. Assim, o sucesso na
escola muitas vezes acaba sendo condicionado pela origem e o desenvolvimento econômico,
cultural e social dos estudantes. Os próprios alunos em desvantagem, por sua vez, acabam
aderindo e aceitando os critérios desse campo na escola.

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3Af1uNX>. Acesso em: 29 jul. 2021.

Referente aos processos educacionais, é possível notar que a educação é parte


de um dos temas centrais na obra de Bourdieu. Ele foi responsável por demonstrar a
violência simbólica existente nas escolas e alertar as pessoas sobre o otimismo no sistema
educacional. Bourdieu apresentou as dificuldades das classes mais pobres com relação
ao acesso e à permanência na escola, bem como as diferenças de desempenho de alunos
por sexo, origem, local de moradia e classe. Com sua teoria, Bourdieu pretende mostrar
não só a escola, mas como outras instituições dominantes funcionam, e fazer um esforço
para pensar outros modos de organização que estimulem a crítica e a produção de novas
ideias. Embora a maioria dos grandes pensadores da educação tenha desenvolvido suas
teorias com base numa visão crítica da escola, somente na segunda metade do século XX
surgiram questionamentos bem fundamentados sobre a neutralidade da instituição. Até
ali a instrução era vista como um meio de elevação cultural mais ou menos à parte das
tensões sociais. O francês Pierre Bourdieu empreendeu uma investigação sociológica do
conhecimento que detectou um jogo de dominação e reprodução de valores.

Para Bourdieu, o sistema de ensino perpetua a desigualdade social. Setton


(2010) comenta que, agindo dessa forma, o sistema escolar limitaria o acesso e o pleno
aproveitamento dos indivíduos pertencentes às famílias menos escolarizadas, pois
cobraria deles os que eles não têm, ou seja, um conhecimento cultural anterior, aquele
necessário para se realizar a contento o processo de transmissão de uma cultura culta.
Essa cobrança escolar foi denominada por ele como uma violência simbólica, pois imporia
o reconhecimento e a legitimidade de uma única forma de cultura, desconsiderando e
inferiorizando a cultura dos segmentos populares. Assim, convertendo as desigualdades
sociais, ou seja, as diferenças de aprendizado anterior, em desigualdades de acesso à

68
cultura culta, o sistema de ensino tende a perpetuar a estrutura da distribuição do capital
cultural, contribuindo para reproduzir e legitimar as diferenças de gosto entre os grupos
sociais. Posto isso, as disposições exigidas pela escola, por exemplo, as sensibilidades
pelas letras ou pela estética visual ou musical, enfim, uma estética artística, privilégio
de alguns poucos, tendem a intensificar as vantagens daqueles mais bem aquinhoados,
material e culturalmente.

Quais foram as grandes influências deixadas por Bourdieu para a educação?

Suas pesquisas exerceram forte influência nos ambientes


pedagógicos nas décadas de 1970 e 1980. "Desde então, as teorias
de reprodução foram criticadas por exagerar a visão pessimista sobre
a escola", diz Cláudio Martins Nogueira, professor da Universidade
Federal de Minas Gerais. "Vários autores passaram a mostrar que nem
sempre as desigualdades sociais se reproduzem completamente na
sala de aula". Na essência, contudo, as conclusões de Bourdieu não
foram contestadas. Na mesma época em que as restrições a sua
obra acadêmica se tornaram mais frequentes, a figura pública do
sociólogo ganhou notoriedade pelas críticas à mídia, aos governos
de esquerda da Europa e à globalização. Ele costuma ser incluído na
tradição francesa do intelectual público e combativo, a exemplo do
escritor Émile Zola (1840-1902) e do filósofo Jean Paul Sartre (1905-
1980) (FERRARI, 2009a, s. p.).

Referente ao conceito de Capital Cultural e Educação, o autor relacionou esses


dois elementos da seguinte forma:

Outro conceito utilizado por Bourdieu é o de campo, para designar


nichos da atividade humana nos quais se desenrolam lutas pela
detenção do poder simbólico, que produz e confirma significados.
Esses conflitos consagram valores que se tornam aceitáveis pelo
senso comum. No campo da arte, a luta simbólica decide o que
é erudito ou popular, de bom ou de mau gosto. Dos elementos
vitoriosos, formam-se o habitus e o código de aceitação social. Os
indivíduos, por sua vez, se posicionam nos campos de acordo com
o capital acumulado - que pode ser social, cultural, econômico e
simbólico. O capital social, por exemplo, corresponde à rede de
relações interpessoais que cada um constrói, com os benefícios
ou malefícios que ela pode gerar na competição entre os grupos
humanos. Já na educação se acumula, sobretudo, capital cultural, na
forma de conhecimentos apreendidos, livros, diplomas etc.Com os
instrumentos teóricos que criou, Bourdieu afastou de suas análises a
ênfase central nos fatores econômicos, que caracteriza o marxismo,
e introduziu, para se referir ao controle de um estrato social sobre
outro, o conceito de violência simbólica, legitimadora da dominação
e posta em prática por meio de estilos de vida. Isso explicaria por
que é tão difícil alterar certos padrões sociais: o poder exercido em
campos como a linguagem é mais eficiente e sutil do que o uso da
força propriamente dita. Para Bourdieu, a escola é um espaço de
reprodução de estruturas sociais e de transferência de capitais de
uma geração para outra. É nela que o legado econômico da família
transforma-se em capital cultural. E ele, segundo o sociólogo, está
diretamente relacionado ao desempenho dos alunos na sala de
aula. Eles tendem a ser julgados pela quantidade e pela qualidade

69
do conhecimento que já trazem de casa, além de várias "heranças",
como a postura corporal e a habilidade de falar em público. Os
próprios estudantes mais pobres acabam encarando a trajetória
dos bem-sucedidos como resultante de um esforço recompensado
(FERRARI, 2009a, s. p.).

DICA
O sociólogo francês detectou mecanismos de conservação e reprodução
em todas as áreas da atividade humana, entre elas, o sistema educacional.
Em síntese, para Bourdieu o sistema escolar, em vez de oferecer acesso
democrático de uma competência cultural específica para todos, tende a
reforçar as distinções de capital cultural de seu público (SETTON, 2010).

NOTA
Frequentemente fazemos, sem perceber, julgamentos severos com base
em motivos nada consistentes ou, pior, preconceituosos. Na escola, é
comum alunos serem discriminados por causa de sua aparência e seus
hábitos. Você já observou como muitas vezes isso é uma manifestação
de sentimentos de superioridade de alguns grupos sociais em relação a
outros? (FERRARI, 2009).

Michel Foucault foi um intelectual que exerceu uma ação e influência


consideráveis em vários ramos do saber: na filosofia, na psiquiatria, na psicologia, na
história, na sociologia, na antropologia, nas artes e na política. Teve uma trajetória
acadêmica brilhante e uma atuação militante política expressiva. Foi uma das cabeças
mais lúcidas que nosso século passado produziu.

FIGURA 26 – MICHEL FOUCAULT

FONTE: <https://bit.ly/3CKP9En>. Acesso em: 19 mar. 2021.

70
Frazão (2019, s. p.) disserta sobre o caminho da vida e obra de Foucault:

Michel Foucault nasceu em Poitiers, França. Estudou no Lycée


Henri IV e em seguida na École Normale Supérieure, em Paris, onde
desenvolveu um interesse pela filosofia. Foi aluno da Sorbonne, onde
se formou em filosofia e psicologia. Em 1954 publicou “Doença Mental
e Psicologia”. Após vários anos como diplomata cultural no exterior, ele
retornou à França, e a partir de 1960, passou a lecionar na Universidade
de Clemont-Ferrand. Em 1961, publicou sua grande obra: “História da
Loucura na Era Clássica”. Em 1966, após deixar Clemont, Foucault
lecionou na Universidade de Tunis, permanecendo até 1968, quando
retornou à França e passou a chefiar o departamento de filosofia da
nova universidade experimental de Paris. Em 1970, Foucault passou a
lecionar História do Pensamento no Colégio de França. Tornou-se um
ativista de vários grupos envolvidos em campanhas contra o racismo,
contra os abusos dos direitos humanos e em campanhas pela
reforma penal. Michel Foucault veio cinco vezes ao Brasil, a primeira
foi em 1965. No final dos anos 70, foi descoberto pela universidade de
Berkeley, na Califórnia, onde foi bem acolhido, e realizou palestras.

Confira o que abordam as Teorias de Foucault:

As teorias de Foucault abordam principalmente a relação entre o


poder e o conhecimento, e como elas são usadas com o objetivo
de controle social através das instituições. Embora citado como
estruturalista e pós-modernista, Foucault rejeitou esse rótulo,
preferindo apresentar seu pensamento como uma história crítica da
modernidade. Suas teorias influenciaram acadêmicos, que trabalham
em estudos de sociologia, teoria literária, teoria crítica, comunicação,
e também alguns grupos ativistas (FRAZÃO, 2019, s. p.).

FIGURA 27 – CONCEITOS E TEMAS DE MICHEL FOUCAULT

FONTE: <https://bit.ly/3R0lefi>. Acesso em: 29 jul. 2021.

71
A educação não foi o foco principal do pensador francês; nos momentos em
que esteve nas escolas foi para analisar as atividades dos estudantes. O elemento
fundamental para a Pedagogia é o sujeito, aí que se possibilita a articulação entre
Foucault e a Educação. É nesse aspecto do sujeito que o autor apresenta uma
perspectiva para a educação escolar, pois a partir dessa análise do pensamento de
Foucault se pode aproveitar os pontos do seu pensamento pedagógico. Por meio de
uma análise histórica inovadora, o filósofo francês viu na educação moderna atitudes de
vigilância e adestramento do corpo e da mente.

A seguir, abordaremos a visão do autor referente à escola e à educação de


forma geral:

Para Foucault, a escola é uma das instituições de sequestro, como


o hospital, o quartel e a prisão. “São aquelas instituições que retiram
compulsoriamente os indivíduos do espaço familiar ou social mais
amplo e os internam, durante um período longo, para moldar suas
condutas, disciplinar seus comportamentos, formatar aquilo que
pensam etc.", diz Alfredo Veiga-Neto. Com o advento da Idade
Moderna, tais instituições deixam de ser lugares de suplício, como
castigos corporais, para se tornarem locais de criação de "corpos
dóceis". A docilização do corpo tem uma vantagem social e política
sobre o suplício, porque este enfraquece ou destrói os recursos
vitais. Já a docilização torna os corpos produtivos. A invenção-
síntese desse processo, segundo Foucault, é o panóptico, idealizado
pelo filósofo inglês Jeremy Bentham (1748-1832): uma construção de
vários compartimentos em forma circular, com uma torre de vigilância
no centro. Embora não tenha sido concretizado imediatamente,
o panóptico inspirou o projeto arquitetônico de inúmeras prisões,
fábricas, asilos e escolas. Uma das muitas "vantagens" apresentadas
pelo aparelho para o funcionamento da disciplina é que as pessoas
distribuídas no círculo não têm como ver se há alguém ou não na
torre. Por isso, internalizam a disciplina. Ampliada a situação para o
âmbito social, a disciplina se exerce por meio de redes invisíveis e
acaba ganhando aparência de naturalidade (FERRARI, 2009b, s. p.).

NOTA
É comum a educação ser encarada como um valor único, invariável e
redentor. No entanto, Foucault a via enredada em seu contexto cultural.
Por isso, o ensino que em uma época é considerado a salvação do
ser humano, em outra pode ser visto como nocivo. Você já pensou
nas implicações políticas e sociais da educação atual, com base em
sua experiência? Se sim, você leva em conta as conclusões ao planejar o
trabalho em sala de aula? (FERRARI, 2009b)

72
4 ZYGMUNT BAUMAN, VIRTUALIDADE E A EDUCAÇÃO
A tecnologia é um dos temas mais estudados no mundo contemporâneo. Em
todas as áreas do conhecimento e das artes ela se faz presente, não só como tema de
debate, mas transformando a ação humana e os objetos produzidos. Dentre as diversas
áreas, destacam-se a nanotecnologia, a robótica, a informática e a biotecnologia. Se no
passado a distinção entre natureza e máquina era natural, hoje essas diferenças tendem
a ganhar contornos bem mais imprecisos. Ideias que figuravam na literatura ficcional
passaram a integrar o cotidiano das civilizações. Seriam as promessas de um mundo
novo que fazem os seres humanos buscar novas formas de tecnologias e Ciência.

DICA
Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) podem ser definidas
como o conjunto total de tecnologias que permitem a produção, o acesso
e a propagação de informações, assim como tecnologias que permitem
a comunicação entre pessoas. Com a evolução tecnológica, surgiram
novas tecnologias, que se propagaram pelo mundo como formas de
difusão de conhecimento e facilitaram a comunicação entre as pessoas,
independentemente de distâncias geográficas (RODRIGUES, 2016).

O que estamos assistindo é que um novo mundo, uma nova sociedade, em termos
de relacionar-se e viver, está sendo gestada e você, acadêmico, está convidado a vivê-la e
compreendê-la. Nesta sociedade, multifacetada, líquida, virtual e de consumo, um nome
da Sociologia que a analisou de forma competente foi o Polonês Zygmunt Bauman

FIGURA 28 – ZYGMUNT BAUMAN

FONTE: <https://bit.ly/2Vkgnya>. Acesso em: 22 mar. 2021.

73
Quem foi Bauman? Qual sua formação? O que ele pesquisou?

Zygmunt Bauman foi um sociólogo, pensador, professor e escritor polonês,


uma das vozes mais críticas da sociedade contemporânea. Criou a expressão
“Modernidade Líquida” para classificar a fluidez do mundo onde os indivíduos não
possuem mais padrão de referência. Nasceu em Poznan, Polônia, no dia 19 de
novembro de 1925. Filho de judeus, em 1939, junto com sua família escapou da
invasão das tropas nazistas na Polônia e se refugiou na União Soviética. Alistou-
se no exército polonês no front soviético. Em 1940 ingressou no Partido Operário
Unificado, o partido comunista da Polônia. Em 1945 entrou para o Serviço de
Inteligência Militar, onde permaneceu durante três anos. Com o fim da Segunda
Guerra Mundial, Zygmunt voltou para Varsóvia. Conciliou sua carreira militar com
os estudos universitários e com a militância no Partido Comunista. Estudou
Sociologia na Academia de Política e Ciências Sociais de Varsóvia. Casou-se com
Janina Bauman, uma judia de família próspera que sobreviveu aos horrores da
invasão nazista. Zygmunt viveu com Janina (também escritora) até sua morte,
em 2009. Bauman ingressou no mestrado na Universidade de Varsóvia. Em 1950,
deixou o Partido Operário. Em 1953 foi expulso do Exército da Polônia. Em 1954
concluiu o mestrado e tornou-se professor assistente de Sociologia na mesma
Universidade. Durante muitos anos se manteve próximo à ortodoxia marxista,
mas depois passou a fazer severas críticas ao governo comunista da Polônia,
sofrendo perseguições durante 15 anos. Em março de 1968, uma série de
protestos de professores, estudantes e artistas que lutavam contra a censura do
regime, culminou com o expurgo antissemita que obrigou muitos poloneses de
origem judia a deixarem o país. Brauman e sua mulher foram expulsos da Polônia.
Exilado em Israel, lecionou na Universidade de Tel-aviv. Em 1971, foi convidado
para lecionar Sociologia na Universidade de Leeds, Inglaterra, onde também
dirigiu o departamento de sociologia da Universidade até sua aposentadoria, em
1990. Durante mais de meio século, Zygmunt Bauman foi um dos mais influentes
observadores da realidade social e política. É descrito como um pessimista, que
entra no coro dos que criticam a pós-modernidade, em busca das causas do
processo social perverso, no mundo das ideias do pensamento anticapitalista
(FRAZÃO, 2021, s. p.).

FONTE: <https://www.ebiografia.com/zygmunt_bauman/>. Acesso em 20 mar. 2021.

74
FIGURA 29 – CONCEITOS E TEMAS DE ZYGMUNT BAUMAN

FONTE: <https://bit.ly/3AKnAtl>. Acesso em: 20 mar. 2021.

A Pós-Modernidade pode ser definida, dentre outras formas, como um período


histórico que expressa, através da cultura da globalização e da sua ideologia neoliberal,
uma estrutura econômica global que mascara as relações de desigualdade entre
os povos das grandes potências econômicas e dos países periféricos. A sociedade
humana passa a caminhar por um período de intensas transformações e inovações,
não somente no âmbito das tecnologias, mas também, morais, socioculturais e
econômicas, cujos efeitos e reflexos abalaram os tradicionais modelos de convivência
até então conhecidos. Tais transformações têm alterado as formas de interação do
Ser Humano com os seus semelhantes, com o meio ambiente, com todos os aspectos
essenciais à vida, induzindo-nos a uma existência temporária, imediatista, mas sem
grandes perspectivas para o futuro. Bauman se debruçou sobre esses fenômenos e,
de certa forma, contribuiu para se pensar a educação nesses tempos pós-modernos
e desafios a enfrentar. Caro acadêmico, acompanhe uma entrevista concedida
por Bauman. Nessa entrevista, ele reflete sobre o aprendizado e os desacertos da
sociedade com relação ao ensino.

75
Qual a diferença entre educar na era pré-moderna e na modernidade
líquida dos dias atuais?

— Muita coisa se transformou no trabalho dos professores. Como o


educador E. O. Wilson observou, “estamos nos afogando em informação e,
ao mesmo tempo, famintos por sabedoria”. A cada dia, o volume de novas
informações excede milhões de vezes a capacidade do cérebro humano de
retê-las. A mudança da sociedade moderna de sólida para um estágio líquido
coincide, segundo a terminologia de Byung-Chul Han (teórico sul-coreano), com
a passagem da “sociedade da disciplina” para a “sociedade de desempenho”. Esta
última é, principalmente, a sociedade de desempenho individual e da “cultura de
afundar ou nadar sozinho”. Mesmo indivíduos emancipados descobrem que eles
mesmos não estão à altura das exigências da vida individualizada.

Então, é preciso mudar esse pensamento individualizado?

— Nosso sistema educacional é um poderoso mecanismo de, cada vez


mais, reproduzir os privilégios entre gerações. Nos Estados Unidos, 74% dos
estudantes que frequentam as universidades mais competitivas vêm das famílias
mais ricas, e 3%, das mais pobres. Além disso, muitas escolas e universidades
induzem à fácil ideologia de que empregos bem remunerados são os únicos
objetivos da universidade. Esses são apenas uns dos desafios, erros e negligências
da educação contemporânea.

E como será no futuro?

— Uma coisa certa é que, num cenário líquido, rápido e de mudanças


imprevisíveis, a educação deve ser pensada durante a vida inteira. O resto vai
depender de nossas escolhas dentro do que é possível para essa obrigação.
Enfatizamos que esse “nós” que faz as escolhas não é limitado aos profissionais
de educação. Para citar Will Stanton (professor australiano), que nos mantém
alerta de que há muitos que pretendem ensinar nossos filhos apenas a obedecer:
“Devemos aceitar autoridade como verdade em vez da verdade como autoridade”.
Ele ainda diz: “O que é a mídia mainstream se não outra plataforma de ‘educação’
defendendo a autoridade como verdade? Nós sentamos em frente ao noticiário
noturno e escutamos âncoras e repórteres nos dizendo o que pensar, a quem
apontar nossos dedos, porque nosso país precisa ir para a guerra e com o que
a gente deve se horrorizar”. Considere ainda o tremendo impacto da indústria da
publicidade em nós mesmos ou no que as crianças aprendem ou no que elas foram
levadas a esquecer. Por exemplo, crianças não nascem inseguras. A publicidade é
que as deixa apavoradas com o que as outras pessoas pensam delas.

O sucesso mundial das redes sociais é um produto da modernidade


líquida ou aspecto transformador dela?

76
— As duas coisas. Nós estamos seduzidos pelos recursos das mídias digitais
por causa do nosso medo de sermos abandonados, mas uma vez imerso na rede de
relações on-line, que tem uma falsa ideia de ser facilmente manuseada, nós perdemos
ou não adquirimos habilidades sociais que poderiam (e deveriam) nos ajudar a extirpar
as causas dos medos que vêm do mundo off-line. Assim, as redes sociais são,
simultaneamente, produto da modernidade líquida e a sua válvula de escape.

O senhor afirma que o fato de a educação superior não garantir mais


ascensão social é um problema para a educação tal qual conhecemos. Qual a
solução para esse problema?

— Ascensão social é uma sinfonia, não um canto gregoriano monofônico.


A educação superior é apenas um dos muitos sons que se fundem na melodia,
e um dos muito poucos instrumentos que contribuem para sua evolução. Nós
configuramos o problema e torcemos por soluções, como o ensino superior, porque
alguns desses “nós” que se preocupam, pensam e escrevem sobre o problema têm
ensino superior e passaram anos sendo ensinadas que vivemos em uma “sociedade
do conhecimento” que continua sendo transformada pelo tipo de conhecimento
definido, armazenado e distribuído por universidades. Isso não é necessariamente
correto — pelo menos até quando isso permanecer sem ressalvas. O que nós
percebemos como ascensão social é um rio cuja trajetória resulta de vários
afluentes. Mais e mais pessoas por trás das mudanças sociais que chamamos de
“ascensão” desistiram da universidade ou nunca entraram nela.

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3wPXrXN>. Acesso em: 29 jul. 2021.

O autor acrescenta que nesse cenário de ignorância que a sociedade globalizada


está vivendo, é fácil sentir-se perdido e sem esperança, e é ainda mais fácil sentir-se
perdido e privado de esperança quando não se tem capacidade de compreender aquilo
que acontece. Quem não tem uma visão mais acabada do presente não poderia sonhar
em controlar o futuro. A ignorância leva à paralisia da vontade. Quem não sabe o que
guarda no depósito, não tem como calcular os riscos. Para a autoridade, intolerante com
relação às proibições impostas pelos detentores do poder através de uma democracia
"elástica e flutuante", essa impotência, induzida pela ignorância do eleitorado, bem como
a desconfiança geral na eficácia do dissenso e a oposição ao envolvimento político, são
fontes necessárias e bem-vindas de capital político: a dominação através da ignorância
e da incerteza deliberadamente cultivadas é mais aceitável e menos cansativa do que o
princípio baseado na discussão atenta dos acontecimentos e no esforço demorado de
estabelecer a verdade dos fatos e os modos menos arriscados de proceder. A ignorância
política entrançada com a inatividade fica ao alcance da mão cada vez que é sufocada a
voz da democracia ou as suas mãos ficam atadas. É preciso uma educação permanente
para dar a nós mesmos a possibilidade de escolher, mas temos ainda mais necessidade
de salvar as condições que tornam as escolhas possíveis e ao nosso alcance.

77
LEITURA
COMPLEMENTAR
A EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE LÍQUIDO-MODERNA: REFLEXÕES SOBRE OS
ESCRITOS DE ZYGMUNT BAUMAN

Daniel Bardini Dürks


Sidinei Pithan Da Silva

Na leitura de Bauman (1999), inicialmente o projeto social da modernidade tinha


como objetivo principal a instauração da ordem. Neste momento, a administração,
planejamento e controle social ficavam a cargo, essencialmente, das políticas com “P”
maiúsculo do Estado-Nação. As grandes estruturas solidificadas no imaginário social
agiam diretamente sobre os indivíduos, influenciando para a manutenção do status quo
instituído pelos legisladores. Para o autor, a fase sólida da modernidade influenciava
e administrava as formas de ser dos indivíduos, em grande parte gerenciadas pelo
poder do Estado-Nação. Neste momento, o poder era enraizado no espaço-tempo
determinando e interpelando os indivíduos, ainda que por vezes através da coerção, ao
engajamento social.

Conforme Bauman (2009), o trabalho era um dos conceitos chave para a


constituição identitária dos indivíduos. Na sociedade sólido-moderna, com base
no arranjo social de uma sociedade engajada para a produção de bens e serviços,
a característica predominante no tipo de representações e disposições sociais
dos indivíduos era pela “ética do trabalho” (BAUMAN, 2000). Dessa forma, a
procrastinação dos prazeres individuais era fundamental para se pensar num projeto
de vida vinculada ao enraizamento a um determinado tipo de trabalho e arquitetura
social (BAUMAN, 2001).

Contudo, em decorrência das reformulações políticas e econômicas


impulsionadas pelo advento da globalização, ou mais especificamente pelo avanço e
aceitação do modelo neoliberal, profundas transformações sociais são instauradas.
As estruturas ou instituições responsáveis pela normatividade social nas diferentes
instâncias da vida (trabalho, cultura, educação etc.) se liquefazem e, ao contrário da
modernidade sólida em que eram remodeladas com uma forma ainda mais sólida,
se mantém líquidas e cambiantes à mercê da responsabilidade e da ação individual
(BAUMAN, 2001). Essa remodelação política, cultural e econômica da arquitetura social
implica no deslocamento dos papéis-sociais contemporâneos da “ética do trabalho”
para a “estética do consumo” (BAUMAN, 2000).

78
Segundo Bauman (2008a), passamos de uma sociedade sólido-moderna, que
poderia ser denominada de “sociedade de produtores”, para uma sociedade líquido-
moderna, compreendida como uma “sociedade de consumidores”. É importante
salientar que o termo “consumo” assume uma perspectiva mais ampla que a esfera
natural/biológica do indivíduo. Na reflexão de Bauman (2008a, p. 41), o consumo
assume uma conceituação referente à esfera macrossocial, tornando-se “[...] um tipo
de arranjo social resultante da reciclagem de vontades, desejos e anseios humanos
rotineiros, permanentes e, por assim dizer, ‘neutros quanto ao regime’, transformando-
os na principal força propulsora e operativa da sociedade”.

O tipo de arranjo social da sociedade líquido-moderna impele aos indivíduos


a necessidade permanente de se ressignificar em um ambiente extremamente
cambiante e volátil. Ao contrário da “sociedade de produtores” sólido-moderna, em que
características como a acumulação, o engajamento social e o adiamento dos prazeres
predominavam no tecido do imaginário social, a “sociedade de consumidores” líquido-
moderna incita ao permanente descarte, privatização, individualismo e a busca do prazer
instantâneo e episódico. Conforme Bauman (2001; 2002), a política que antes poderia
ser considerada “global” ou com “P” maiúsculo, mas que, de certa forma, apagava o
indivíduo, agora é considerada com “p” minúsculo e ocupa-se majoritariamente das
políticas da vida, o que coloca todas as responsabilidades às custas do mérito individual
(se você falhou, foi por culpa sua).

Estas transformações da sociedade líquido-moderna são elementares no


entendimento de Bauman sobre a educação, como em suas palavras: “[...] a vida de
consumo é uma vida de aprendizado rápido... e imediato esquecimento” (BAUMAN, 2011,
p. 151). O tipo de arranjo social consumista, acelerado, cambiante e emoldurado para a
expansão do progresso econômico da sociedade líquido-moderna difere profundamente
do arranjo social de ordenamento e acumulação da sociedade sólido-moderna. Para
Bauman (2008b; 2011; 2013a), a ideia de educação planejada e arquitetada para o
arranjo social de ordenação da modernidade sólida era equivalente a ideia da paideia
grega. Ou seja, apesar das crises que emergiam nos diferentes tempos históricos, a
educação tinha como objetivo principal a promessa da “educação para toda a vida” e
comprometia-se para propiciar esse acúmulo de conhecimentos e o comprometimento
com a cidadania.

Contudo, para Bauman (2008a; 2008b; 2010; 2011; 2013b), a educação – no


sentido amplo do termo, ou seja, institucionalizada e não-institucionaliza – enfrenta,
diante das metamorfoses sociais da modernidade líquida, um desafio diferente das crises
anteriores. O arranjo social líquido-moderno consumista e individualista, não possui
mais a intenção de valorizar características intrínsecas à ideia de educação para “toda a
vida”. A memória, o estudo aprofundado de um tema, a densidade e fundamentação de
um conceito, a descoberta gradual de conhecimentos (do simples para o complexo) não
fazem mais sentido para os indivíduos culturalmente inseridos nesta liquidez.

79
A (des)ordem cultural e política líquido-moderna se ancora na perspectiva da
oferta massiva de informações. Nesse momento, a ambivalência com o desenvolvimento
tecnológico e a preocupação com o novo tipo de indivíduo moldado na esfera deste
arranjo social, são alvos das reflexões de Bauman. Por conseguinte, Bauman (2008b, p.
163) entende que:

[...] o avassalador sentimento de crise sentido de igual forma pelos


filósofos, teórico e educadores, essa versão corrente do sentimento
de “viver nas encruzilhadas”, a busca febril por uma nova autodefinição
e, idealmente, também uma nova identidade, tem pouco a ver com as
faltas, os erros e a negligência dos pedagogos profissionais, tampouco
com os fracassos da teoria educacional. Estão relacionados com a
dissolução universal das identidades, com a desregulamentação e a
privatização dos processos de formação de identidade, com a dispersão
das autoridades, a polifonia das mensagens de valor e a subsequente
fragmentação da vida que caracteriza o mundo em que vivemos.

É possível interpretar na leitura do autor que a questão educacional é essencial


para a continuidade de uma sociedade democrática. No entanto, o tom pessimista de
sua reflexão sobre a modernidade em sua fase líquida perpassa pelo sentimento de uma
sociedade que, parafraseando Castoriadis “[...] deixou de se questionar” (BAUMAN, 2001,
p. 30). O envolvimento com a educação de uma maneira geral, isto é, a preocupação
com o espaço da esfera pública, do encontro com os Outros, vem se tornando vazio, o
que permite que oligarquias financeiras e empresariais ocupem este espaço. Citando
Castoriadis (1999, p. 82), “O capitalismo parece ter enfim conseguido fabricar o tipo de
indivíduo que lhe ‘corresponde’: perpetuamente distraído, zapeando de uma ‘fruição’
para a outra, sem memória e sem projeto, pronto a responder a todas as solicitações de
uma máquina econômica”.

De certa forma, este é um dos grandes desafios educacionais que Bauman


diagnostica na sociedade líquido-moderna. Os indivíduos não possuem mais “um projeto
de vida”, permanecem a procura de momentos de felicidade cada vez mais episódicos
e ambivalentes. Nesse cenário, em que o espaço público está cada vez mais esvaziado,
privatizado e acelerado, é que Bauman compreende a necessidade da educação se
ressignificar e permanecer crítica, desafiando os educadores a se tornarem intérpretes
para as gerações que estão e serão inseridas em um mundo não mais ordenado (sólido)
mas ambivalente e incerto (líquido).

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3CCqvFw>. Acesso em: 20 mar. 2021.

80
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• O período conhecido como Idade Contemporânea inicia por volta de 1789, com
um dos acontecimentos políticos que muito influenciou a vida em sociedade, no
primeiro momento no contexto europeu e com o passar do tempo no contexto global.
Esse acontecimento, somado aos seguintes: Revolução Industrial, Capitalismo
Industrial, Financeiro, Informacional, duas grandes guerras mundiais, Movimentos
de contestações sociais, entre outros, caracterizaram a vida humana, sobretudo, em
uma forma dinâmica e de extremos.

• Para alguns autores, a Revolução Francesa no campo político e dos direitos, aliado à
Revolução Industrial no fator econômico, foram os dois grandes acontecimentos que
direcionaram a vida das pessoas na Idade Contemporânea e deram os fundamentos
para aquilo que podemos denominar do espírito moderno.

• A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, sem dúvida, foi o documento mais


importante, que promovia e influenciava outros documentos sobre o pensar o ser
humano acima do poder particular em qualquer esfera e sobre a perspectiva que se
iniciou a Revolução Francesa, que desejava dar todo o poder ao povo, um ideal a ser
conquistado por todas as nações, por todos os povos.

• Na década de 1960 aconteceram diversos Movimentos em termos Mundiais que


buscavam a formas de vida mais simples ou até mesmo mais ecológicas. Movimentos
de reivindicações foram realizados em diversas partes do mundo. Movimento
Feminista, Movimento Negro, Movimento de liberação gay (marco do Movimento
LGBTTTS: Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros),
Movimento Ecológico/ambiental, entre outros.

• O capitalismo financeiro se inicia no século XX, depois do final da Segunda Guerra


Mundial. Essa nova fase tem seu início quando bancos e empresas se unem para
obter maiores lucros. É nesse momento que surgem as empresas multinacionais e
transnacionais, e se fortalecem as práticas monopolistas. Esse modelo, vigente
até hoje, é baseado nas leis das instituições financeiras e dos grandes grupos
empresariais presentes no mundo todo.

• O capitalismo informacional é caracterizado pela globalização e pelos avanços nas


tecnologias de informação, na aceleração e crescimento dos fluxos de informações,
pessoas, capitais e mercadorias. Segundo esse autor, essas transformações
tecnológicas mudam nossas práticas culturais e sociais e constroem uma nova
estrutura social.

81
• O pós-modernismo ou a pós-modernidade, pode ser percebido a partir
das mudanças sociais, culturais, artísticas, filosóficas, científicas e estéticas
que surgiram após a segunda guerra. Essas mudanças foram responsáveis por
marcantes transformações nas relações travadas entre as crescentes práticas
capitalistas, a arte e a cultura.

• Pierre Bourdieu foi um dos maiores pensadores das ciências humanas do século
XX. Filósofo por formação desenvolveu importantes trabalhos de etnologia, no
campo da antropologia, e conceitos de profunda relevância no campo da sociologia,
como habitus, campo e capital social. Sua obra é extensa e abrangente, com
contribuição para diversas áreas do conhecimento, especialmente na educação
e cultura.

• Michel Foucault foi um intelectual que exerceu ação e influência consideráveis


em vários ramos do saber: na filosofia, na psiquiatria, na psicologia, na história, na
sociologia, na antropologia, nas artes e na política. Teve uma trajetória acadêmica
brilhante e uma atuação militante política expressiva. Foi uma das cabeças mais
lúcidas que nosso século passado produziu.

• Zygmunt Bauman foi um sociólogo, pensador, professor e escritor polonês, uma das
vozes mais críticas da sociedade contemporânea. Criou a expressão “Modernidade
Líquida” para classificar a fluidez do mundo onde os indivíduos não possuem mais
padrão de referência.

82
AUTOATIVIDADE
1 A Idade Contemporânea viveu também duas grandes Guerras Mundiais. A Primeira
Guerra Mundial, que durou de 1914 a 1918, foi considerada por muitos de seus
contemporâneos como a mais terrível das guerras. Por esse motivo, tornou-se
conhecida durante muito tempo como “A Grande Guerra”. A Segunda Guerra Mundial
foi o maior conflito da humanidade, acontecendo de 1939 a 1945 em diferentes
locais da Oceania, Ásia, África e Europa. Esse conflito foi travado entre Aliados
(Reino Unido, França, EUA, URSS etc.) e Eixo (Itália, Alemanha, Japão etc.) e teve
como consequências a morte de, aproximadamente, 60 milhões de pessoas e uma
destruição material significativa. Referente à Idade Contemporânea, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) Na década de 1960 aconteceram diversos Movimentos em termos Mundiais que


buscavam a formas de vida mais simples ou até mesmo mais ecológicas.
b) ( ) Uma ideia que foi ganhando espaço e debate em termos mundiais foi a
preservação ambiental. O Movimento Ambiental ou ecológico,
c) ( ) Maio de 1968 ficou marcado na história mundial como o mês em que estudantes
demonstraram sua intenção de transformar o mundo. Influenciados por ideais
anarquistas e marxistas, os estudantes franceses iniciaram protestos contra o
sistema educacional francês e contra a sociedade religiosa da França.
d) ( ) Na década de 1960, o movimento hippie apareceu disposto a oferecer uma visão
de mundo inovadora e distante dos vigentes ditames da sociedade capitalista.
Na maioria jovens, os hippies abandonavam suas famílias e o conforto de seu lar
para se entregarem a uma vida regada por sons, drogas alucinógenas e a busca
por outros padrões de comportamento.

2 Pierre Bourdieu foi um dos maiores pensadores das ciências humanas do século XX.
Filósofo por formação desenvolveu importantes trabalhos de etnologia, no campo
da antropologia, e conceitos de profunda relevância no campo da sociologia, como
habitus, campo e capital social. Sua obra é extensa e abrangente, com contribuição
para diversas áreas do conhecimento, especialmente na educação e cultura. Sobre
Bourdieu, analise as sentenças a seguir:

I- Em suas obras, Bourdieu tenta explicar a diversidade do gosto entre os seguimentos


sociais, analisando a variedade das práticas culturais entre os grupos.
II- Pierre Bourdieu foi considerado um dos mais importantes intelectuais de sua época.
Tornou-se referência na Antropologia e na Sociologia, publicando trabalhos sobre
educação, cultura, literatura, arte, mídia, linguística, comunicação e política.
III- Crítico dos mecanismos de reprodução das desigualdades sociais, Pierre Bourdieu
destaca em sua obra os condicionamentos materiais e simbólicos que agem sobre
nós (sociedade e indivíduos) numa complexa relação de interdependência.

83
Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a sentença I está correta.


b) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
c) ( ) Somente a sentença II está correta.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 Zygmunt Bauman foi um sociólogo, pensador, professor e escritor polonês, uma das
vozes mais críticas da sociedade contemporânea. Criou a expressão “Modernidade
Líquida” para classificar a fluidez do mundo onde os indivíduos não possuem mais
padrão de referência. Sobre o conceito de modernidade líquida, assinale a alternativa
CORRETA:

a) ( ) Zygmunt criou o termo “modernidade líquida” título de um livro seu publicado em


1960 para descrever as transformações do mundo contemporâneo, no qual nada
é sólido: tudo se dilui no ar.
b) ( ) Zygmunt criou o termo “modernidade líquida”, título de um livro seu publicado
em 2000, para descrever as transformações do mundo contemporâneo, no qual
nada é sólido: tudo se dilui no ar.
c) ( ) A Modernidade pode ser definida dentre outras formas, como um período histórico
que expressa, através da cultura da globalização e da sua ideologia neoliberal,
uma estrutura econômica global que mascara as relações de desigualdade entre
os povos das grandes potências econômicas e dos países periféricos.
d) ( ) Uma coisa certa é que, num cenário líquido, rápido e de mudanças imprevisíveis,
a educação deve ser pensada de forma imediata.

4 Zygmunt Bauman e Pierre Bourdieu são considerados dois grandes sociólogos da


época contemporânea. Em seus estudos, defenderam diversos conceitos e dentre
eles podem ser relacionados: tempos líquidos, mal-estar na pós-modernidade; poder
e violência simbólica, habitus e campus. Com estes conceitos, buscavam melhor
definir e explicar os fenômenos e fatos sociais que observavam. Diante disto, disserte
sobre o contexto e os problemas sociais aos quais Bauman e Bourdieu remetiam
suas análises, conceitos e reflexões.

5 O contexto escolar da sociedade contemporânea vivencia situações-problema. Isto


exige uma compreensão da totalidade do ambiente escolar: as relações dentro e
fora da sala de aula, a comunidade, a história dos indivíduos, entre outros fatores.
Esta realidade exige dos profissionais da educação uma aproximação entre os
conhecimentos da sociologia e da educação. Nesse sentido, disserte sobre as
afinidades entre a sociologia e a educação e as contribuições que a sociologia pode
trazer à educação.

84
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da ciência do homem. Tese em Doutorado em História da Ciência pela Pontifícia
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WEBER, M. Os letrados chineses. In: Ensaios de sociologia geral. 5. ed. Rio de


Janeiro: Guanabara, 1982. p. 482-490.

88
UNIDADE 2 —

CULTURA E EDUCAÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender como se configuraram os principais conceitos dos processos culturais


e ambientais em sociedade;

• identificar os principais conceitos de cultura presentes na sociedade;

• interpretar as relações inclusivas encontradas em sociedade;

• analisar as ações antrópicas e seus resultados para o meio ambiente e a relação com
os processos educacionais tradicionais.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – CONCEITO DE CULTURA


TÓPICO 2 – DIVERSIDADE CULTURAL
TÓPICO 3 – CULTURA E MEIO AMBIENTE

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

89
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!

Acesse o
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90
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
CONCEITO DE CULTURA

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, vamos estudar três blocos de conteúdo. No primeiro entraremos
no conceito de cultura e sua origem. Principais autores e obras, conceitos usados
na pesquisa e entendimento do assunto abordado. De forma simples, a Cultura
adquire diversos significados: grande conhecimento de determinado assunto, arte,
ciência, "fulano de tal tem cultura". No entanto, aos olhos da Antropologia e da Sociologia,
Cultura é tudo aquilo que resulta da criação humana.

No segundo, veremos a relação de cultura e produção de identidade humana e


como a identidade humana é construída nos processos culturais e sociais existentes.
Em certo sentido, a identidade cultural é um conjunto híbrido e maleável (depende do
momento e das peculiaridades culturais de uma determinada sociedade) de elementos
que formam a cultura identitária de um povo, é a forma de reconhecer-se enquanto
agrupamento cultural que se distingue dos outros.

Por fim, abordaremos os processos de desconstrução da cultura moderna.


Você vai compreender a importância da desconstrução de certas visões culturais para
o avanço das sociedades democráticas. Desconstrução é um esforço de superação dos
estereótipos e preconceitos que carregamos dentro de nós. É quebrar o conjunto de
barreiras morais e culturais que nos impede de aceitar o diferente.

2 ORIGEM DO CONCEITO DE CULTURA


Como ser histórico, o ser humano é um ser cultural, compreendendo e
transformando a natureza ele a humaniza; reconhecendo o outro, ele se humaniza.
Assim cria um mundo propriamente humano que é o mundo da cultura, o mundo
histórico. Assim, a própria consciência humana, produto do trabalho humano, é também
construída na história, ser consciente o ser humano surge em um mundo de cultura.

Dentro das chamadas Ciências Sociais (Sociologia, Antropologia e Ciência


Política), a Ciência que estuda e pesquisa a Cultura Humana de forma mais direta é a
Antropologia, principalmente por meio de um dos seus ramos: a Antropologia Cultural.
Outras Ciências também contribuem com a questão cultural, por exemplo a Sociologia
com enfoque sobre a Cultura.

91
NOTA
Antropologia é o estudo do homem como ser biológico, social e cultural. Sendo
cada uma destas dimensões por si só muito ampla, o conhecimento antropológico
geralmente é organizado em áreas que indicam uma escolha prévia de certos
aspectos a serem privilegiados como a “Antropologia Física ou Biológica” (aspectos
genéticos e biológicos do homem), “Antropologia Social” (organização
social e política, parentesco, instituições sociais), “Antropologia Cultural”
(sistemas simbólicos, religião, comportamento) e “Arqueologia” (condições
de existência dos grupos humanos desaparecidos). Além disso podemos
utilizar termos como Antropologia, Etnologia e Etnografia para distinguir
diferentes níveis de análise ou tradições acadêmicas.

FONTE: <https://antropologia.fflch.usp.br/antropologia>. Acesso em: 9 set. 2021.

Cultura, de certa forma, são ideias, artefatos, costumes, leis, crenças morais
e conhecimento adquirido a partir do convívio social etc. A palavra cultura tem
origem no latim, é um verbo e significa ato de plantar e cultivar plantas ou realizar
atividades agrícolas.

Qual a origem do conceito de cultura com enfoque moderno?

No final do século XVIII e no princípio do seguinte, o termo germânico


Kultur era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de
uma comunidade, enquanto a palavra francesa Civilization referia-
se principalmente às realizações materiais de um povo. Ambos os
termos foram sintetizados por Edward Tylor (1832-1917) no vocábulo
inglês Culture, que "tomado em seu amplo sentido etnográfico é este
todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis,
costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo
homem como membro de uma sociedade". Com essa definição, Tylor
abrangia em uma só palavra todas as possibilidades de realização
humana, além de marcar fortemente o caráter de aprendizado
da cultura em oposição à ideia de aquisição inata, transmitida por
mecanismos biológicos (LARAIA, 2001, p. 25).

2.1 EDWARD BURNETT TYLOR (LONDRES 2 DE OUTUBRO DE


1832 – WELLINGTON 2 DE JANEIRO DE 1917)
Foi um antropólogo britânico, irmão do geólogo Alfred Tylor. Edward Tylor filia-
se à escola antropológica do evolucionismo social. Considerado o pai do conceito
moderno de cultura, Tylor vê, porém, a cultura humana como única, pois defende
que os diferentes povos sofreriam convergência de suas práticas culturais ao longo
de seu desenvolvimento, ideia que não é consenso hoje em dia. Sua principal obra
é Primitive Culture (1871).

92
FIGURA 1 – EDWARD BURNETT TYLOR

FONTE: <https://bit.ly/2YjeGCg>. Acesso em: 20 abr. 2021.

Portanto, acadêmico, o conceito de Cultura, pelo menos como utilizado atualmente,


foi definido pela primeira vez por Tylor, como sugere Laraia (2001, p. 30):

A primeira definição de cultura que foi formulada do ponto de vista


antropológico, como vimos, pertence a Edward Tylor, no primeiro
parágrafo de seu livro Primitive Culture (1871). Tylor procurou,
além disto, demonstrar que cultura pode ser objeto de um estudo
sistemático, pois trata-se de um fenômeno natural que possui
causas e regularidades, permitindo um estudo objetivo e uma análise
capazes ele proporcionar a formulação de leis sobre o processo
cultural e a evolução.

Como Tylor apresentava a cultura e sua diversidade em suas pesquisas?

Mais do que preocupado com a diversidade cultural, Tylor a seu


modo preocupa-se com a igualdade existente na humanidade. A
diversidade é explicada por ele como o resultado da desigualdade de
estágios existentes no processo de evolução. Assim, uma das tarefas
da antropologia seria a de "estabelecer, grosso modo, uma escala de
civilização", simplesmente colocando as nações europeias em um
dos extremos da série e em outro as tribos selvagens, dispondo o
resto da humanidade entre dois limites (LARAIA, 2001, p. 31).

Percebam que Tylor pensava as instituições humanas tão distintamente


estratificadas. Elas se sucedem em séries substancialmente homogêneas por
todo o planeta, independentemente de raça e linguagem, diferenças essas que
são comparativamente superficiais, mas moduladas por uma natureza humana
semelhante, atuando através das condições sucessivamente mutáveis da vida
selvagem, bárbara e civilizada.

93
NOTA
Charles Robert Darwin ( Shrewsbury, 12 de fevereiro de 1809 – Downe, 19 de abril de 1882) foi
um naturalista, geólogo e biólogo britânico, célebre por seus avanços sobre evolução nas ciências
biológicas. Juntamente com Alfred Wallace, Darwin estabeleceu a ideia que todos os seres vivos
descendem de um ancestral em comum, argumento agora amplamente aceito e considerado um
conceito fundamental no meio científico, e propôs a teoria de que os ramos evolutivos são resultados
de seleção natural e sexual, onde a luta pela sobrevivência resulta em consequências similares às
da seleção artificial.

FONTE: <https://bit.ly/3BzIDMS>. Acesso em: 23 mar. 2021.

Qual a relação do pensamento de Tylor com a Teoria de Darwin?

Para entender Tylor, é necessário compreender a época em que


viveu e consequentemente o seu background intelectual. O seu livro
foi produzido nos anos em que a Europa sofria o impacto da Origem
das espécies, de Charles Darwin, e que a nascente antropologia foi
dominada pela estreita perspectiva do evolucionismo unilinear. A
década de 60 do século XIX foi rica em trabalhos desta orientação.
Uma série de estudiosos tentou analisar, sob esse prisma, o
desenvolvimento das instituições sociais, buscando no passado
as explicações para os procedimentos sociais da atualidade
(LARAIA, 2001, p.31)

O pensamento de Tylor mostra que a cultura desenvolve-se de maneira uniforme,


e se espera que cada sociedade tenha percorrido as etapas que já tinham sido percorridas
pelas sociedades mais avançadas". Dessa maneira era fácil estabelecer uma escala
evolutiva que não deixava de ser um processo discriminatório, através do qual as diferentes
sociedades humanas eram classificadas hierarquicamente, com nítida vantagem para as
culturas europeias. Etnocentrismo e Ciência, marchavam então de mãos dadas.

94
NOTA
ETNOCENTRISMO
• Etnocentrismo é um conceito antropológico, segundo o qual a visão ou
avaliação que um indivíduo ou grupo de pessoas faz de um grupo social
diferente do seu é apenas baseada nos valores, referências e padrões
adotados pelo grupo social ao qual o próprio indivíduo ou grupo fazem
parte. • Essa avaliação é, por definição, preconceituosa, feita a partir
de um ponto de vista específico. Basicamente, encontramos em tal
posicionamento um grupo étnico considerar-se como superior a outro.
Do ponto de vista intelectual, etnocentrismo é a dificuldade de pensar a
diferença, de ver o mundo com os olhos dos outros.

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3C3jeLJ>. Acesso em: 23 mar. 2021.

2.2 FRANZ URI BOAS (MINDEN, 9 DE JULHO DE 1858 — NOVA


IORQUE, 21 DE DEZEMBRO DE 1942)
Foi um antropólogo teuto-americano, um dos pioneiros da antropologia moderna
que tem sido chamado de Pai da Antropologia Americana.

FIGURA 2 – FRANZ URI BOAS

FONTE: <https://bit.ly/3ta34N9>. Acesso em: 23 mar. 2021.

Qual foi a principal reação à corrente evolucionista da Antropologia?

A principal reação ao evolucionismo, então denominado método


comparativo, inicia-se com Franz Boas inicialmente um estudante
de física e geografia em Heidelberg e Bonn. Uma expedição
geográfica a Baffin Land (1883-1884), que o colocou em contato
com os esquimós, mudou o curso de sua vida, transformando-o
em antropólogo. Tal fato provocou, também, a sua mudança para os
Estados Unidos, onde foi responsável pela formação de toda uma

95
geração de antropólogos. Aposentou-se, em 1936, pela Universidade
de Columbia, da cadeira que hoje tem o seu nome. A sua crítica ao
evolucionismo está, principalmente, contida em seu artigo "The
Limitation of the Comparative Method of Anthropology", no qual
atribuiu a antropologia a execução de duas tarefas: A) a reconstrução
da história de povos ou regiões particulares; B) a comparação da vida
social de diferentes povos, cujo desenvolvimento segue as mesmas
leis (LARAIA, 2001, p.32)

Franz Boas em seus escritos também insistiu na necessidade de ser comprovada,


antes de tudo, a possibilidade de os dados serem comparados.

Propôs em lugar do método comparativo puro e simples, a comparação


dos resultados obtidos através dos estudos históricos das culturas
simples e da compreensão dos efeitos das condições psicológicas
e dos meios ambientes. São as investigações históricas, reafirma
Boas, o que convém para descobrir a origem deste ou daquele traço
cultural e para interpretar a maneira pela qual toma lugar num dado
conjunto sociocultural. Em outras palavras, Boas desenvolveu o
particularismo histórico (ou a chamada Escola Cultural Americana),
segundo a qual cada cultura segue os seus próprios caminhos em
função dos diferentes eventos históricos que enfrentou. A partir daí a
explicação evolucionista da cultura só tem sentido quando ocorre em
termos de uma abordagem multilinear (LARAIA, 2001, p. 33).

Outro grande pesquisador que em sua obra caracterizou-se pela profundidade


teórica e amplitude dos temas tratados, que abrangiam desde os sistemas classificatórios
de parentesco, categorias linguísticas, estilos de arte, mudança cultural, linguagem por
sinais, contos épicos e até mesmo a moda feminina. Teve enorme influência sobre os
investigadores do seu tempo e deixou alguns ensaios de grande importância, estamos
falando de Alfred Kroeber.

2.3 ALFRED LOUIS KROEBER (HOBOKEN, 11 DE JUNHO DE


1876 - PARIS, 5 DE OUTUBRO DE 1960)
Foi um antropólogo estadunidense. Após formar-se em inglês pela Universidade
de Columbia, em 1897, estudou antropologia com Franz Boas e em 1901 apresentou tese
sobre o simbolismo decorativo dos Arahapo, tribo indígena de Montana. No mesmo ano
fundou o Departamento de Antropologia da Universidade da Califórnia, em Berkeley, ao
qual ficou ligado até aposentar-se, em 1946. Foi depois professor visitante em diversas
Universidades norte-americanas (Chicago, Columbia, Harvard e Yale).

96
FIGURA 3 – ALFRED LOUIS KROEBER

FONTE: <https://bit.ly/2Xcence>. Acesso em: 23 mar. 2021.

Portanto, Kroeber tinha um campo de pesquisa amplo, incluindo desde os índios


da Califórnia, até estudos sobre índios das planícies e do povo primitivo zuñi. Seus
interesses e competência eram mais abrangentes que os de qualquer outro antropólogo
norte-americano de sua época.

Alfred Kroeber (1876-1960), antropólogo americano, em seu artigo


"O superorgânico" mostrou como a cultura atua sobre o homem,
ao mesmo tempo em que se preocupou com a discussão de uma
série de pontos controvertidos, pois suas explicações contrariam o
conjunto de crenças populares. Iniciou, como o título de seu trabalho
indica, com a demonstração de que graças à cultura a humanidade
distanciou-se do mundo animal. Mais do que isto, o homem passou a
ser considerado um ser que está acima de suas limitações orgânicas
(LARAIA, 2001, p. 33).

Para Kroeber, o ser humano pode ser considerado o resultado do meio cultural?
Laraia (2001, p. 33) afirma que sim.

O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado.


Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o
conhecimento e a experiência adquiridas pelas numerosas gerações
que o antecederam. A manipulação adequada e criativa desse
patrimônio cultural permite as inovações e as invenções. Essas não
são, pois, o produto da ação isolada de um gênio, mas o resultado do
esforço de toda uma comunidade.

Kroeber (apud Laraia, 2001, p. 34) contribuiu para a ampliação do conceito de


Cultura e pode ser relacionada nos seguintes pontos:

97
QUADRO 1 – CONCEITO DE CULTURA

A cultura, mais do que a herança genética, determina o comportamento do homem e justifica


as suas realizações.
O homem age de acordo com os seus padrões culturais. Os seus instintos foram parcialmente
anulados pelo longo processo evolutivo pelo qual passou.
A cultura é o meio de adaptação aos diferentes ambientes ecológicos. Em vez de modificar para
isso o seu aparato biológico, o homem modifica o seu equipamento superorgânico.
Em decorrência da afirmação anterior, o homem foi capaz de romper as barreiras das diferenças
ambientais e transformar toda a terra em seu hábitat.
Adquirindo cultura, o homem passou a depender muito mais do aprendizado do que a agir
através de atitudes geneticamente determinadas.
Como já era do conhecimento da humanidade, desde o Iluminismo, é esse processo de
aprendizagem (socialização ou endoculturação, não importa o termo) que determina o seu
comportamento e a sua capacidade artística ou profissional.
A cultura é um processo acumulativo, resultante de toda a experiência histórica das gerações
anteriores. Esse processo limita ou estimula a ação criativa do indivíduo.
Os gênios são indivíduos altamente inteligentes que têm a oportunidade de utilizar o
conhecimento existente ao seu dispor, construído pelos participantes vivos e mortos de seu
sistema cultural, e criar um novo objeto ou uma nova técnica. Nessa classificação podem ser
incluídos os indivíduos que fizeram as primeiras invenções, tais como o primeiro homem que
produziu o fogo através do atrito da madeira seca; ou o primeiro homem que fabricou a primeira
máquina capaz de ampliar a força muscular, o arco e a flecha etc. São eles gênios da mesma
grandeza de Santos Dumont e Einstein. Sem as suas primeiras invenções ou descobertas, hoje
consideradas modestas, não teriam ocorrido as demais. E pior do que isso, talvez nem mesmo
a espécie humana teria chegado ao que é hoje.

FONTE: Kroeber (apud Laraia, 2001, p. 34)

NOTA
O superorgânico é outro modo de descrever e compreender a cultura ou o sistema
sociocultural. Se começarmos com o inorgânico, é o universo físico, todos os átomos dos
elementos sem vida. Podemos chamar isso o mais baixo nível de complexidade.
O segundo nível de complexidade é composto das coisas vivas. A cultura e
a sociedade compõem o terceiro nível. Os seres humanos são animais, e,
dessa forma, são sistemas orgânicos. Eles desenvolveram comunicações
entre eles próprios a um nível complexo, muito mais sofisticado do
que outros animais. Essa complexidade associa os humanos em
comunidades e sociedades. Essas associações são simbólicas, não
genéticas como nos sistemas biológicos. O nível socioeconômico,
cultura ou sociedade, é desse modo transportado por humanos e
transcende os humanos. Uma cultura tem uma "vida própria" que é
simbólica em vez de genética. É, desse modo, uma coisa "viva". Opera a
um nível mais elevado de complexidade que o orgânico. É superorgânico
(BARTLE, 2012).

Como é realizada a atuação da Cultura e de que forma a Cultura molda a vida


das pessoas? Laraia (2001) destaca as seguintes características e elementos:

98
QUADRO 2 – CARACTERÍSTICAS

1- A Cultura Condiciona a Visão de Mundo do Homem

Ruth Benedict escreveu em seu livro o crisântemo e a espada que a cultura é como uma lente
através da qual o homem vê o mundo. Homens de culturas diferentes usam lentes diversas
e, portanto, têm visões desencontradas das coisas. A nossa herança cultural, desenvolvida
através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir depreciativamente com
relação ao comportamento daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria da
comunidade. O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes
comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança
cultural, ou seja, o resultado da operação de uma determinada cultura. Podemos entender o
fato de que indivíduos de culturas diferentes podem ser facilmente identificados por uma série
de características, tais como o modo de agir, vestir, caminhar, comer, mencionar a evidência
das diferenças linguísticas, o fato de mais imediata observação empírica.
O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como consequência
a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural. Tal
tendência, denominada etnocentrismo, é responsável em seus casos extremos pela ocorrência
de numerosos conflitos sociais (LARAIA, 2001, p 69-77).

2- A Cultura interfere no plano biológico

A reação oposta ao etnocentrismo, é a apatia. Em lugar da superestima dos valores de sua


própria sociedade, numa dada situação de crise os membros de uma cultura abandonam a
crença nesses valores e, consequentemente, perdem a motivação que os mantém unidos e
vivos. Diversos exemplos dramáticos desse tipo de comportamento anômico são encontrados
em nossa própria história (LARAIA, 2001, p. 77-82).
3- Os indivíduos participam diferentemente de sua cultura

A participação do indivíduo em sua cultura é sempre limitada; nenhuma pessoa é capaz de


participar de todos os elementos de sua cultura. Esse fato é tão verdadeiro nas sociedades
complexas com um alto grau de especialização, quanto nas simples, onde a especialização
refere-se a penas às determinadas pelas diferenças de sexo e de idade.
Qualquer que seja a sociedade, não existe a possibilidade de um indivíduo dominar todos os
aspectos de sua cultura. Isto porque, nenhum sistema de socialização é idealmente perfeito,
em nenhuma sociedade são todos os indivíduos igualmente bem socializados, e ninguém é
perfeitamente socializado. Um indivíduo não pode ser igualmente familiarizado com todos os
aspectos de sua sociedade; pelo contrário, ele pode permanecer completamente ignorante a
respeito de alguns aspectos. O importante, porém, é que deve existir um mínimo de participação
do indivíduo na pauta de conhecimento da cultura a fim de permitir a sua articulação com os
demais membros da sociedade. Todos necessitam saber como agir em determinadas situações
e, também, como prever o comportamento dos outros (LARAIA, 2001, p. 82).
4- A Cultura tem uma lógica própria

Todo sistema cultural tem a sua própria lógica e não passa de um ato primário de etnocentrismo
tentar transferir a lógica de um sistema para outro. Infelizmente, a tendência mais comum é de
considerar lógico apenas o próprio sistema e atribuir aos de mais um alto grau de irracionalismo.
A coerência de um hábito cultural somente pode ser analisada a partir do sistema a que
pertence.
Todas as sociedades humanas dispõem de um sistema de classificação para o mundo natural
parece não haver mais dúvida, mas é importante reafirmar que esses sistemas divergem entre
si porque a natureza não tem meios de determinar ao homem um só tipo taxionômico.
Finalmente, entender a lógica de um sistema cultural depende da compreensão das categorias
constituídas pelo mesmo. Como categorias entendemos, como Marcel Mauss, "esses
princípios de juízos e raciocínios ... constantemente presentes na linguagem, sem que estejam
necessariamente explícitas, elas existem ordinariamente, sobretudo sob a forma de hábitos
diretrizes da consciência, elas próprias inconscientes” (LARAIA, 2001, p. 90-98).

99
5- A Cultura é Dinâmica

Podemos agora afirmar que existem dois tipos de mudança cultural: uma que é interna,
resultante da dinâmica do próprio sistema cultural, e uma segunda que é o resultado do
contato de um sistema cultural com um outro. No primeiro caso, a mudança pode ser lenta. O
segundo caso pode ser mais rápido e brusco.

Cada sistema cultural está sempre em mudança. Entender essa dinâmica é importante para
atenuar o choque entre as gerações e evitar comportamentos preconceituosos. Da mesma
forma que é fundamental para a humanidade a compreensão das diferenças entre povos de
culturas diferentes, é necessário saber entender as diferenças que ocorrem dentro do mesmo
sistema. Esse é o único procedimento que prepara o homem para enfrentar serenamente este
constante e admirável mundo novo por vir (LARAIA, 2001, p. 98-105).

FONTE: Adaptado de Laraia (2001, p. 98-105)

Quais principais autores, obras, características e pensamentos que permearam a


produção do conceito e temas relacionados à cultura? Barraqui (2018) sugere o seguinte:

O Universo da Cultura

A) O CONCEITO DE CULTURA:

I. Alfred Kroeber (1876-1960):


Cultura como mecanismo adaptativo, acumulativo, transmissivo de geração em
geração, ao longo da história.

II. Bronislaw Malinowski (1884-1942):


Cultura como significados e valores.
Só é possível compreender a cultura quando se é integrante dela.
Propõe que o pesquisador se insira dentro da cultura.

III. Roberto DaMatta (1936-):


Noção prescritiva de cultura: cultura como uma espécie de receituário, um código
uma espécie de mapa que, ao ser seguido, nos torna humanos.

IV. Ruth Benedict (1887-1984):


Noção descritiva: cultura é o que nos descreve como humanos. Não é possível falar
em humanidade sem cultura.

100
FONTE: Adaptado de Barraqui (2018)

B) A CULTURA DA ANTIGUIDADE À MODERNIDADE:

I. Grécia e Roma:

Cultura como um sistema de valores universais.

“Bárbaro” – conceito utilizado pelos gregos e romanos para quaisquer povos que não
fossem originários de sua cultura.

Visão etnocêntrica.

II. Iluminismo:

• Cultura assume um caráter hierarquizante (como se houvesse uma cultura


superior a outra).

• Relacionada ao conhecimento científico, à evolução e ao progresso.


• Cultura se refere ao cultivo do espírito humano ao adquirir educação e instrução
com pressuposto na razão.
• Estado de cultura se opõe ao estado de natureza.
• “Visão universalista” – todas as culturas se desenvolvem da mesma forma em
direção a um mesmo objetivo: a civilização.

101
• Hierarquiza: concebe o modelo de sociedade europeia do século XVIII (urbana,
industrializada, republicana e democrática) como superior.
• Cultura como civilizadora.

FONTE: Adaptado de Barraqui (2018)

III. Civilização e cultura

A noção de civilização está atrelada ao progresso.

Kultur – Para os alemães é aquilo que os indivíduos têm de mais autêntico


(hábitos, costumes, habilidades, tradições). Aspectos únicos e particulares de uma
comunidade.

Civilization – Para os franceses é um padrão universal de comportamento ligado a


identidade cultural.

Culture – para Edward Tylor (1832-1917), antropólogo inglês, é toda a gama de


conhecimentos, crenças, produções artísticas, leis, moral, ou seja, todos os aspectos
simbólicos que envolve a vida em sociedade.

C) O CARÁTER SIMBÓLICO DA CULTURA

• O ser humana se caracteriza pela capacidade de abstração e simbolização.


• Comportamento humano se baseia em símbolos (escrita, gestos, placas de
trânsito, ritos, valores).

102
• Cultura é a produção, reprodução e manutenção de símbolos ao longo da história.

D) EVOLUCIONISMO CULTURAL

I. Definição:

• Conjunto de teorias antropológicas, inspiradas na Teoria Evolucionista de Charles


Darwin.
• Sociedade funcionaria como um organismo vivo (visão organicista).
• Uso de leis naturais e conceitos das ciências naturais para explicar a sociedade.

II. Autor e obra:

Edward Tyler - Primitive Culture (1871)

Cultura como um fenômeno natural.

Os grupos humanos se diferenciam apenas pelo grau de civilização (assim quando


comparada a civilização europeias, as demais civilizações sempre eram atrasadas /
servil de base para a “missão civilizadora” do imperialismo do séc. XIX e XX).

Uso do método comparativo linear (como se todas as civilizações caminhassem em


uma mesma linha evolutiva.

E) DIFUSIONISMO CULTURAL

I. Conceito:

Corrente de pensamento que defende que a cultura é fruto de “irradiação” por meio
do contato (comércio, guerras) entre os povos o que leva a imitação, reprodução,
reelaboração (sincretismo).

F) ANTROPOLOGIA ESTRUTURALISTA

I. Conceito:

Defende a existência de uma estrutura simbólica, linguística, e mítica comuns a toda


a humanidade.

II. Autor e obra:

Claude Lévi-Strauss (1908-2009) – “Antropologia Estrutural” (1967).

103
Defendia a existência de estruturas mentais universais.

Ex. “Tabu do incesto”: todas as culturas apresentam algum tipo de condenação a


prática do incesto (esse elemento em comum expressa uma estrutura mental).

Todas as culturas operam em estruturas binárias (masculino x feminino, céu x inferno,


morte x vida, frio x quente, belo x feio).

G) O CULTURALISMO

I. Conceito:

Teoria que defende que cada cultura segue seu próprio processo evolutivo.

Questionou as bases do evolucionismo cultural e significou uma crítica ao


etnocentrismo, ao racismo e as formas de dominação cultural.

II. Autor:

Franz Boas (1859-1942).

Cada cultura passa pelo seu processo evolutivo que está intimamente ligada às
condições geográficas, climáticas, psicológicas e históricas.

Cada cultura deve ser compreendida dentro de sua história particular.

H) CULTURA TRADICIONAL, CULTURA ERUDITA E CULTURA DE MASSAS

I. Cultura Tradicional

Também chamada de cultura popular é aquela produzida e reproduzida pela camada


dominada.

Encontra-se no folclore, nas crenças, tradições, habilidades e costumes, bem como


valores morais e na linguagem.

II. Cultura Erudita

É aquela produzida pela camada dominante da sociedade.

Caracterizada pela erudição, letramento, fundamentada na ciência e racionalidade


aos moldes do pensamento iluminista.

104
III. Cultura de Massas

Absorvida por maior parte dos indivíduos de uma sociedade.



Fator mercadológico, seguindo a lógica do capitalismo de mercado e do consumismo.

I) CAPITAL CULTURAL E CAPITAL SIMBÓLICO

I. Conceito:

Elementos da cultura sendo utilizados como instrumentos de poder econômico,


social e político.

Ex.: Quanto mais cultura eu acumulo, mais culto sou. Quanto mais diplomas acúmulo,
maior meu status.

J) ANTROPOLOGIA E CULTURA NO BRASIL

I. Contexto Histórico:

• Décadas de 1930 e 1940.


• Expedições do Marechal Cândido Rondon.
• Governo Vargas – pretensão de unificar o território sob o prisma de uma única
cultura nacional brasileira (índio como atrasado que precisava ser civilizado).
• Influência do culturalismo de Franz Boas e do estruturalismo de Claude Lévi-
Strauss.

II. Principais autores e obras:

1) Luís Câmara Cascudo (1898-1986) – “Dicionário do Folclore Brasileiro” (1952)

Se esforçou para registrar as práticas culturais, comidas típicas, o folclore, os mitos


e lendas regionais brasileiras.

2) Eduardo Viveiros de Castro (1951-) – “A inconstância da alma selvagem”

Estudo detalhado das manifestações culturais dos indígenas atuais.

3) Gilberto Velho (1945-2012) – “"A Utopia Urbana: um estudo de antropologia


social" (1973)

Estudou a complexa relação entre o indivíduo, sociedade e modo de vida urbano.

105
Analisou fenômenos como violência nos grandes centros urbanos, práticas culturais
dos grupos juvenis, o individualismo, o consumismo e as relações familiares.

4) Luis Eduardo Soares (1954-) – “Elite da Tropa” (2006)

Interpretou a relação entre a violência, a criminalidade, a mídia e o Estado.

Nos mostra como que o próprio poder político corrompido produz e sustenta a
criminalidade.

Nos mostra como que a mídia ajuda a propagar a violência por intermédio do
sensacionalismo.

5) Roberto DaMatta (1936-) – “Carnavais, malandros e heróis (1979)

Estudou o carnaval e seus significados, a figura do malandro, o jeitinho brasileiro e a


prática do “você sabe com quem está falando?”

K) INTÉRPRETES DO BRASIL

I. Principais autores e obras:

1) Gilberto Freyre (1900-1987) – “Casa grande e Senzala” (1932)



Estudou a formação histórica e social do Brasil desde o período colonial.

Sociedade brasileira resultado da mestiçagem.

2) Sergio Buarque de Holanda (1902-1982) – “Raízes do Brasil” (1936)

Conceito do “homem cordial”, como característica marcante da alma brasileira. O


homem que valoriza mais a emoção do que a razão. Tese de que o brasileiro seria
mais “cordial”, mais afável, amigável, submetido a paixões; tende a valorizar mais as
relações familiares e afetivas; mais festivo e hospitaleiro; daria mais importância ao
domínio privado do que o público.

No país da malandragem, o jeitinho brasileiro teria como tragédia maior a corrupção.

3) Darcy Ribeiro (1922-1997) – “O povo brasileiro” (1997)

Estudou a formação da sociedade brasileira a partir das três matrizes: nativo (índio),
negro (africano) e o branco (europeu).

106
Demonstra como esse caldeirão cultural foi marcado tanto por relações amistosas
quanto por conflitos, violência e relação de dominação.

OBS.: Ambos os autores são duramente criticados pelas explicações reducionistas


e generalizantes.

L) PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL

O Patrimônio Cultural pode ser definido como um bem (ou bens) de nature-
za material e imaterial considerado importante para a identidade da sociedade
brasileira. Segundo Artigo 216 da Constituição Federal, configuram patrimônio
"as formas de expressão; os modos de criar; as criações científicas, artísticas e
tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços des-
tinados às manifestações artístico-culturais; além de conjuntos urbanos e sítios
de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico
e científico". O patrimônio cultural pode ser material ou imaterial.

I. PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL

É formado por um conjunto de bens culturais classificados segundo sua natureza:


arqueológico, paisagístico e etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas.
Eles estão divididos em bens imóveis – núcleos urbanos, sítios arqueológicos e
paisagísticos e bens individuais – e móveis – coleções arqueológicas, acervos
museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos
e cinematográficos.

II. PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL

Estão relacionados aos saberes, às habilidades, às crenças, às práticas, ao


modo de ser das pessoas.

Ex.: Festa do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, a Feira de Caruaru, o Frevo,


a capoeira, o modo artesanal de fazer Queijo de Minas e as matrizes do Samba no
Rio de Janeiro.

FONTE: Adaptada de <https://dougnahistoria.blogspot.com/2018/01/o-universo-da-cultura.html>.


Acesso em:1 set. 2021.

A cultura traz para a sociedade conhecimento e riqueza sem igual. O acesso ao


lazer, conhecimento, prazer, e diversos bens que para as pessoas tem grande relevância.
Quando bem trabalhada pode se tornar algo que faça parte da vida e do cotidiano do
todo. Tornando rotineiro o acesso a novas tradições e ideologias. Nosso próximo assunto
abordará a relação cultura e identidade.

107
3 CULTURA E IDENTIDADE

Em certo sentido, a identidade cultural é um conjunto híbrido e maleável


(depende do momento e das peculiaridades culturais de uma determinada sociedade.)
de elementos que formam a cultura identitária de um povo. É a forma de reconhecer-se
enquanto agrupamento cultural que se distingue dos outros.

Um dos grandes desafios para se manter a Identidade Cultural dos grupos


sociais. Atualmente, é a globalização, que determina padrões culturais baseados
principalmente na cultura estadunidense, que tem se tornado hegemônica no mundo.

O que é a Identidade Cultural? O professor e pesquisador Porfirio (2020, s.p.)


responde:

A palavra identidade está associada, historicamente, ao que algo


é. Na Filosofia, a essência é a definição do que algo é, ou seja, a
identidade é a definição da essência. A identidade cultural não está
distante da definição de identidade, pois ela é a identificação essencial
da cultura de um povo. O que um povo produz linguística, religiosa,
artística, científica e moralmente compõe o seu conjunto de produção
cultural. Esse conjunto tende a seguir certos padrões dentro de
sociedades, o que cria um aspecto identitário para as culturas de
determinadas sociedades.
A identidade cultural é, justamente, esse padrão que identifica
uma produção cultural a certo grupo social. Por exemplo, podemos
associar certos tipos de roupas e um ritmo musical específico à
cultura hip hop, que surgiu nos centros urbanos a partir da década
de 1980. Também identificamos algumas pinturas corporais como
dos índios habitantes das aldeias indígenas brasileiras, assim
como e identificamos as flautas feitas de bambu tocadas em certos
ritmos com os nativos do território boliviano. A identidade cultural
funciona, portanto, criando laços que ligam certos elementos a
povos específicos.

Qual a importância da preservação da identidade cultural no século XXI?

A IMPORTÂNCIA DA IDENTIDADE CULTURAL NO SÉCULO XXI

FONTE: Adaptado de Porfirio (2020)

108
A preservação da identidade cultural é necessária em meio à homogeneidade cultural
do mundo globalizado.

O século XXI vivencia o ápice da globalização. O fenômeno da globalização


começou com força na década de 1960, período da Guerra Fria (quando Estados
Unidos e União Soviética disputavam a hegemonia do poder político no mundo). Com
o fim da União Soviética, no final da década de 1980, o capitalismo estadunidense
passou a dominar as relações comerciais e políticas.

Com isso, houve uma invasão da cultura norte-americana em países da América do Sul,
países africanos e países orientais. Essa invasão da cultura norte-americana como modo
cultural hegemônico ocasionou uma mudança de perspectiva, que colocou o hábito cultural
imposto no lugar do hábito cultural tradicional.

Podemos perceber, por exemplo, que o gosto musical dos brasileiros mudou ao longo
dos tempos. Se até a década de 1960 os brasileiros consumiam mais uma música
brasileira de origem regional, a partir dessa década, passou-se a ouvir mais músicas
estrangeiras. Com o fenômeno da importação de filmes e programas televisivos
dos Estados Unidos e, a partir dos anos 2000, com o advento da popularização
da internet, a música consumida pela população brasileira sofreu uma influência
norte-americana muito maior.

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3nlMRDY>. Acesso em: 31 ago. 2021.

4 EXEMPLOS DE IDENTIDADE CULTURAL


É difícil delinear exemplos claros de identidade cultural, visto que a cultura é
um termo muito amplo e maleável. No entanto, alguns aspectos culturais podem ser
separados e postos como exemplos de elementos identitários de determinadas culturas.
Listamos a seguir, com base em Porfirio (2020), alguns exemplos de identidade cultural
que são associados a algumas culturas:

• Religiosidade: as diversas religiões são elementos identitários de certos grupos


culturais. Cristãos (católicos, protestantes ou espíritas), judeus, muçulmanos,
candomblecistas, budistas, hinduístas, ou qualquer outra denominação religiosa,
compreendem grupos identitários que se relacionam a determinadas culturas.
• Artes plásticas: os artefatos produzidos por artistas plásticos e artesãos também
são fortes elementos de identidade cultural de um povo. Os adereços corporais, a
pintura e a escultura podem representar de maneira efetiva uma cultura.
• Música: é um elemento de identidade cultural muito eficaz. De acordo com o
ritmo ou com os instrumentos utilizados, é possível estabelecer de onde a música

109
se originou, havendo uma noção de identidade cultural implícita nessa relação.
A música sertaneja composta por viola caipira, por exemplo, remete ao sertão do
Brasil, enquanto os ritmos rápidos com tambores e chocalhos remetem aos ritmos
africanos ou de origem africana.
• Culinária: forte elemento de identidade cultural. É comum associarmos as massas
à culinária italiana, o bacalhau à culinária portuguesa, o sushi à culinária japonesa,
a paella à culinária espanhola, a feijoada à culinária brasileira e a cerveja à culinária
alemã. Os hábitos culinários dizem muito a respeito da cultura em questão.

FONTE: Adaptada de <https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/identidade-cultural.htm>.


Acesso em: 31 ago. 2021.

Em síntese, o conceito de identidade cultural se relaciona com à construção


identitária de cada indivíduo em seu contexto cultural. A identidade cultural está
relacionada com a forma como vemos o mundo exterior e como nos posicionamos em
relação a ele. Esse processo é contínuo e dialético, o que significa que a identidade de
um sujeito está sempre sujeita a mudanças.

NOTA
Identidade Nacional
A identidade nacional, é uma condição social, cultural e espacial. Trata-se de características
que têm uma relação com um entorno político uma vez que, em geral, as nações estão
associadas a um Estado (ainda que não seja sempre assim). O conceito de identidade
nacional só começou a ganhar força no século XIX, quando surgiu a noção de nação.

Identidade Étnica
• Etnia = Processo de identificação de um grupo sociocultural
• Resultado de fatores historicamente construídos: ancestralidade, organização social,
língua e religião;
• IMPERIALISMOS – opressão, exclusão, exploração, aculturação!

Identidade Cultural
A identidade cultural se constrói de forma múltipla e dinâmica.
A identidade cultural é um conjunto vivo de relações sociais
e patrimônios simbólicos historicamente compartilhados que
estabelece a comunhão de determinados valores entre os membros
de uma sociedade. Sendo um conceito de trânsito intenso e tamanha
complexidade, podemos compreender a constituição de uma
identidade em manifestações que podem envolver um amplo número
de situações que vão desde a fala até a participação em certos eventos.

110
5 CULTURA E DESCONSTRUÇÃO
Historicamente, os processos de colonização ocidentais etnocêntricos,
apoiados por ideologias dominantes e de extermínio étnico, constituíram abismos
profundos a partir de visões de mundo daqueles que dominavam sobre aqueles que
eram dominados. Dessa forma, a diversidade cultural era negada e silenciada por meio
das formas mais variadas e cruéis de poder e da produção do conhecimento, alicerçadas
num racionalismo positivista, discriminatório e segregador. A diferença era vista como
atraso e deveria ser aniquilada ou domesticada.

Nas últimas décadas, com os processos democráticos em desenvolvimento em


vários contextos sociais, a diversidade cultural vem tomando visibilidade no cotidiano
das lutas sociais e pelos direitos humanos. Todavia, os conflitos e tensões continuam e
sinalizam que ainda estamos longe de uma utopia de igualdade e de reconhecimento
desse pluralismo sociocultural que colore a vida, tanto nas instituições como nas
políticas públicas e na produção do conhecimento. Assim, a diversidade não pode ser
negada ou silenciada como outrora foi e era percebida como obstáculo ou resistência
ao projeto de hegemonia tanto econômico como ideológico.

Dessa forma, em nossa contemporaneidade, as lutas dos grupos sociais minoritários


formam redes de apoio e de sustentabilidade das formas mais variadas e clamam
posicionamentos políticos e identitários. O reconhecimento dessa diversidade cultural e
social, a partir das agendas que os movimentos sociais perfilam, são complexos e híbridos.
Justiça social e igualdade de direitos ainda são temas em diversos contextos políticos e
acadêmicos que assolam movimentos e grupos minoritários no capitalismo neoliberal. A
multiplicidade de manifestações culturais e saberes populares ou indígenas com a infinidade
de grupos minoritários sejam eles étnicos, sexuais ou de gênero, ainda formam um conjunto
de lutas e manifestações pela garantia de seus direitos civis e culturais.

Um conceito se torna presente nestes tempos atuais: Desconstrução. Segundo


Guidolin e Michelman (2017, s.p.), trata-se de:

Conceito apropriado da filosofia, que reverbera não apenas nos


ambientes universitários, mas também nas periferias e nas escolas.
Desconstrução é um esforço de superação dos estereótipos e
preconceitos que carregamos dentro de nós. É quebrar o conjunto
de barreiras morais e culturais que nos impede de aceitar o diferente,
oprimindo o outro e criando um ambiente de hostilidade que gera
violência velada ou explícita. Machismo, homofobia, racismo e outras
formas de preconceito são desconstruídos em um processo contínuo
que evolui e não necessariamente se completa. Dessa forma, a
desconstrução tem um potencial transformador e pode abrir um
mundo diferente conforme essa nova geração aceita esse desafio.

Contudo, não podemos subestimar que novas formas de dominação e de


violência preconizadas pela cultura globalizante e hegemônica por meio das mais
refinadas e abrangentes promessas do individualismo narcisista contra as minorias

111
sociais e culturais ainda presentes na atual sociedade humana. Essa configuração de
manifestações e lutas constitui o hibridismo social que faz parte de nossa sociedade
contemporânea, que nos obriga a revisar e reconsidera novas políticas sociais de
legitimidade desse pluralismo em curso e de movimentos de desconstrução cultural
de processos que envolvem a superação estereótipos e preconceitos, do racismo, do
machismo, da homofobia, entre outros, e, sem sombra de dúvida, nos aponta para a
necessidade da produção de um conhecimento interdisciplinar que possa nos ajudar
para compreender e desejar a possível liberdade humana.

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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• Como ser histórico, o ser humano é um ser cultural, compreendendo e transformando


a natureza ele a humaniza; reconhecendo o outro, ele se humaniza. Assim cria um
mundo propriamente humano que é o mundo da cultura, o mundo histórico.

• Ruth Benedict escreveu em seu livro O crisântemo e a espada que a cultura é como
uma lente através da qual o homem vê o mundo. Homens de culturas diferentes usam
lentes diversas e, portanto, têm visões desencontradas das coisas. A nossa herança
cultural, desenvolvida através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a
reagir depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos
padrões aceitos pela maioria da comunidade.

• Em certo sentido, a identidade cultural é um conjunto híbrido e maleável (depende


do momento e das peculiaridades culturais de uma determinada sociedade.) de
elementos que formam a cultura identitária de um povo, é a forma de reconhecer-se
enquanto agrupamento cultural que se distingue dos outros.

• O conceito de identidade cultural se relaciona com à construção identitária de cada


indivíduo em seu contexto cultural. A identidade cultural está relacionada com a
forma como vemos o mundo exterior e como nos posicionamos em relação a ele.
Esse processo é contínuo e dialético, o que significa que a identidade de um sujeito
está sempre sujeita a mudanças.

• Historicamente os processos de colonização ocidentais etnocêntricas apoiados


por ideologias dominantes e de extermínio étnico, constituíram abismos profundos
a partir de visões de mundo daqueles que dominavam sobre aqueles que eram
dominados. Dessa forma, a diversidade cultural era negada e silenciada por meio das
formas mais variadas e cruéis de poder e da produção do conhecimento, alicerçadas
num racionalismo positivista, discriminatório e segregador. A diferença era vista
como atraso e deveria ser aniquilada ou domesticada.

• Nas últimas décadas, com os processos democráticos em desenvolvimento em vários


contextos sociais, a diversidade cultural vem tomando visibilidade no cotidiano das
lutas sociais e pelos direitos humanos. Todavia, os conflitos e tensões continuam e
sinalizam que ainda estamos longe de uma utopia de igualdade e de reconhecimento
desse pluralismo sociocultural que colore a vida, tanto nas instituições como nas
políticas públicas e na produção do conhecimento. Assim, a diversidade não pode ser
negada ou silenciada como outrora foi. Onde ela era percebida como obstáculo ou
resistência ao projeto de hegemonia tanto econômico como ideológico.

113
• Desconstrução é um esforço de superação dos estereótipos e preconceitos que
carregamos dentro de nós. É quebrar o conjunto de barreiras morais e culturais
que nos impede de aceitar o diferente, oprimindo o outro e criando um ambiente
de hostilidade que gera violência velada ou explícita. Machismo, homofobia, racismo
e outras formas de preconceito são desconstruídos em um processo contínuo que
evolui e não necessariamente se completa. Dessa forma, a desconstrução tem um
potencial transformador e pode abrir um mundo diferente conforme essa nova
geração aceita esse desafio (GUIDOLIN; MICHELMAN, 2017).

114
AUTOATIVIDADE
1 O fato de que o ser humano vê o mundo através de sua cultura tem como
consequência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e
o mais natural. Tal tendência é denominada etnocentrismo. Sobre o Etnocentrismo,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Etnocentrismo é responsável em seus casos extremos pela ocorrência de


numerosos conflitos sociais.
b) ( ) O Etnocentrismo, de fato, é somente um fenômeno local.
c) ( ) O Etnocentrismo tem lugar quando duas ou mais culturas entram em interação
de uma forma horizontal e sinérgica.
d) ( ) As relações entre diferentes culturas são fundamentadas no Etnocentrismo, a
qual compreende vários processos de interação que contribuem para que as
pessoas envolvidas cultivem ligações com base em princípios como respeito
mútuo e justo julgamento.

2 Em certo sentido, a identidade cultural é um conjunto híbrido e maleável (depende


do momento e das peculiaridades culturais de uma determinada sociedade) de
elementos que formam a cultura identitária de um povo. É, portanto, a forma de
reconhecer-se enquanto agrupamento cultural que se distingue dos outros. De
acordo com o estudado sobre Identidade Cultural, analise as afirmativas a seguir:

I- A identidade cultural é, justamente, esse padrão que identifica uma produção cultural
a certo grupo social.
II- Um exemplo de identidade cultural seria a Religiosidade.
III- A identidade cultural está relacionada com a forma como vemos o mundo exterior e
como nos posicionamos com relação a ele.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a afirmativa I está correta


b) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.
c) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
d) ( ) Somente a afirmativa III está correta.

3 Historicamente, os processos de colonização ocidentais etnocêntricas apoiados por


ideologias dominantes e de extermínio étnico constituíram abismos profundos a partir
de visões de mundo daqueles que dominavam sobre aqueles que eram dominados.
Dessa forma, a diversidade cultural era negada e silenciada por meio das formas
mais variadas e cruéis de poder e da produção do conhecimento, alicerçadas num
racionalismo positivista, discriminatório e segregador. Nesse sentido, é necessário

115
desconstruir certas visões de mundo que oprimem e marginalizam determinadas
culturas ou formas de vida. Referente às temáticas cultura e desconstrução,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Desconstrução é um esforço de superação dos estereótipos e preconceitos que


carregamos dentro de nós. É quebrar o conjunto de barreiras morais e culturais que
nos impede de aceitar o diferente, oprimindo o outro e criando um ambiente de
hostilidade que gera violência velada ou explícita.
( ) Machismo, homofobia, racismo e outras formas de preconceito são desconstruídos
em um processo contínuo que evolui e não necessariamente se completa. Dessa
forma, a desconstrução tem um potencial transformador e pode abrir um mundo
diferente conforme essa nova geração aceita esse desafio.
( ) Os processos de desconstrução são novas formas de dominação e de violência
preconizadas pela cultura globalizante e hegemônica por meio das mais refinadas
e abrangentes promessas do individualismo narcisista contra as minorias sociais e
culturais ainda presentes na atual sociedade humana.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – V – F.
b) ( ) V – V – V.
c) ( ) F – F – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Nos estudos de Sociedade, Educação e Cultura, podemos compreender que o Brasil


é formado por uma sociedade plural. Neste sentido, é possível afirmar que existem
"vários brasis”, apontando a ampla miscigenação racial, a diversidade cultural e as
peculiaridades regionais. Diante disso, disserte sobre os desafios que estas diferenças
indicam aos espaços educacionais.

5 As discussões em torno do conceito e tema "cultura" e as manifestações/expressões


culturais têm sido variadas. Muitas delas englobam aspectos econômicos, políticos,
intelectuais e sociais da produção cultural. Contudo, as relações e as diferenças
culturais entre diferentes grupos e povos têm se evidenciado nitidamente de
forma excludente. Diante deste cenário, disserte sobre as contribuições que a
interculturalidade pode fornecer à nossa época.

116
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
DIVERSIDADE CULTURAL
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, vamos estudar três assuntos. Em Inclusão e Cultura, você
perceberá que a cultura da inclusão é possível em uma sociedade aberta ao diálogo. Para
dialogar, é necessário que possamos compreender a visão de mundo do outro. A inclusão
cultural define que qualquer pessoa seja incluída em diferentes espaços, independente
da sua cultura. Como a inclusão social abrange essa definição para diversos aspectos,
como etnia, cultura, gênero, classe social e muitas outras características, podemos dizer
que a inclusão cultural está dentro desse contexto.

Na questão de Gênero e Cultura, falaremos sobre o respeito e acolhimento do


outro em sua singularidade e que também é um processo cultural. A identidade de gênero
é a forma pela qual eu expresso o gênero com o qual uma pessoa se identifica, que pode
ou não concordar com o gênero que lhe foi atribuído quando de seu nascimento

Em Cultura e a Teoria Decolonial, você vai compreender as novas formas de


construção de conhecimento alternativo, criadas contra as sociedades colonizadas pelo
conhecimento eurocêntrico. A Teoria Decolonial surgiu a partir das lutas históricas dos
povos indígenas e afrodescendentes que foram colonizados e não se viam representados
na História e na Ciência produzidas na Europa como um modelo universal.

2 INCLUSÃO E CULTURA
A exclusão cultural de um determinado grupo de pessoas ocorre quando não há
igualdade na conquista por oportunidades, quando não há igualdade na representação
dentre os espaços públicos ou quando os direitos desses grupos são blindados. Quando
nos reportamos à identidade e inclusão, não podemos deixar de referir a importância da
noção de cultura e da sua estreita relação com o pertencimento, os enraizamentos e as
afetividades ao território e ao local habitado. Portanto, integração social cultural também
se alcança por iniciativas em prol da realização de atividades valorizadas pelas próprias
pessoas enquanto atores participantes numa comunidade. Assim, a cultura pode ser
entendida como um instrumento ao serviço do alcance de graus de desenvolvimento,
mas também, como um fim desejável, dando sentido à própria existência humana.

117
FIGURA 4 – INCLUSÃO CULTURAL

FONTE: <https://bit.ly/2WEpTwU>. Acesso em: 24 abr. 2021.

A sociedade é herdeira de um conjunto de recursos culturais de natureza


material e imaterial, que fazem parte da chamada memória coletiva. Assim, esses
recursos culturais prefiguram sentimentos de identidade e de pertença comunitária e,
por sua vez, o respeito e acolhimento (inclusão) dessas diversas formas de ver e viver o
mundo se traduz em riqueza humana.

A inclusão cultural define que qualquer pessoa seja incluída em diferentes espaços,
independentemente da sua cultura. Como a inclusão social abrange essa definição
para diversos aspectos, como etnia, cultura, gênero, classe social e muitas outras
características, podemos dizer que a inclusão cultural está dentro desse contexto.
Todo conjunto de ações que tem como objetivo proporcionar a participação
igualitária de toda a população na sociedade é visto como uma prática de inclusão
social. Logo, quando essas ações visam garantir que todas as culturas tenham seu
espaço igual na sociedade, a denominação é inclusão cultural. A inclusão cultural
e social é importante em uma sociedade, pois é ela que garante que todos tenham
os mesmos direitos e oportunidades em diferentes áreas da vida como educação,
finanças, saúde, lazer, entre outras.

FONTE: Adaptado de <https://becocultural.com.br/inclusao-cultural>. Acesso em: 23 mar. 2021.

A cultura de um povo é formada por vários elementos, como crenças, ideias,


mitos, valores, danças, festas populares, alimentação, modo de se vestir, entre outros
fatores. É uma característica muito importante de uma comunidade, pois a cultura é
transmitida de geração em geração e demonstra aspectos locais de uma população. É
necessário promover por atitudes e pensamentos, o sentimento de valorização cultural,
além do reconhecimento e respeito das diferentes culturas, mostrando que não existe
uma melhor ou mais desenvolvida que a outra.

O respeito à diversidade cultural é a condição essencial para que possamos construir


a nossa própria história pessoal, conferindo significados a todos os acontecimentos.

118
Os aspectos positivos da diversidade cultural doam novas aprendizagens, abertura
mental e tolerância, levando-nos à descoberta de valores que deixarão todos mais ricos
intelectualmente. A coexistência das diversidades culturais é um fator de progresso, sempre.

Portanto, a cultura de inclusão é um conjunto de valores e atitudes acerca de


como as pessoas devem ser acolhidas e tratadas na sociedade; esses valores e atitudes
devem ser compartilhados e vivenciados por todos. Quando se fala de instalação de
uma cultura, fica evidente, de imediato, que não se está discorrendo sobre um processo
que acontece da noite para o dia. Ao contrário, culturas envolvem padrões atitudinais
e comportamentais extremamente complexos, cuja modificação é lenta e gradual em
qualquer indivíduo e, muito mais ainda, quando se pensa ao nível coletivo.

3 GÊNERO E CULTURA
O termo gênero tem sido usado para teorizar a questão da diferença sexual,
desde a década de 1970. Um conceito complexo, que abrange a ideia de que as distinções
baseadas no sexo são fundamentalmente sociais, afastando-se, assim, a noção de
naturalização. Além disso, explicita a assimetria nas relações entre homens e mulheres,
marcadas pela hierarquização e por dimensões de poder. Você provavelmente já ouviu
falar em gênero, pois muito tem se falado sobre identidade de gênero, igualdade
de gênero, ideologia de gênero, entre outros temas relacionados ao termo. No
entanto, afinal, qual o significado desse conceito? Acompanhe as explicações
das autoras Medeiros e Moraes (2015):

Para começar, vejamos o conceito de gênero. Aqui utilizamos como referência o


artigo escrito por Maria Eunice Figueiredo Guedes, “Gênero, o que é isso?”, de 1995.
Nesse artigo, ela traz diversas citações do conceito de gênero. Destacamos quatro
delas a seguir:

“qualquer agrupamento de indivíduos, objetos, ideias, que tenham caracteres


comuns”. – Dicionário Aurélio, 1986.
“uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado”. – Gates, citada por
Scott, 1995.
“gênero é um elemento constitutivo das relações sociais baseado nas diferenças
percebidas entre os sexos… o gênero é uma forma primária de dar significado às
relações de poder.” – Scott, 1995.
“uma forma de entender, visualizar e referir-se à organização social da relação entre
os sexos.” – Guedes, 1995.

Muitas vezes o termo gênero é erroneamente utilizado em referência ao sexo biológico. Por
isso, é importante enfatizar que o gênero diz respeito aos aspectos sociais atribuídos ao sexo,
ou seja, gênero está vinculado a construções sociais, não a características naturais.

119
O gênero, portanto, se refere a tudo aquilo que foi definido ao longo tempo e que a
nossa sociedade entende como o papel, função ou comportamento esperado de
alguém com base em seu sexo biológico.

FONTE: Adaptado de <https://www.politize.com.br/vamos-falar-sobre-genero/#>. Acesso em: 31 ago. 2021.

Medeiros e Moraes (2015) também identificam dois termos importantes para a


compreensão do conceito de Gênero: Sexo e sexualidade.

É bastante comum observar confusão com relação a esses termos. Muitas


vezes eles são utilizados como sinônimo, de maneira equivocada.
Para esclarecer discussões como o debate sobre igualdade de gênero, por
exemplo, é fundamental compreender a distinção entre esses conceitos.

Sexo
O sexo diz respeito às características biológicas que diferenciam homens e mulheres.
O sexo é usualmente determinado pelas genitálias.

Gênero
Novamente, o gênero é a construção social atribuída ao sexo.
Vejamos um exemplo que nos permita entender melhor essa distinção:
Muitas vezes escutamos frases como “cuidar da casa é coisa de mulher”. O que está
por trás de frases desse tipo é justamente a questão de gênero: se o que caracteriza
“ser mulher” são simplesmente características biológicas e anatômicas, não haveria
razão para alguém atribuir uma atividade especificamente às mulheres. Afinal,
qual genitália uma pessoa tem não faria diferença na hora de limpar a casa. Isso
demonstra que há algum sentido a mais atribuído a “ser mulher”, algo que vá além do
sexo biológico. Esse “algo além” é, justamente, o gênero.

Sexualidade
A sexualidade diz respeito à orientação sexual de uma pessoa, ou seja, por quais
gêneros essa pessoa sente atração sexual ou romântica.
Algumas das categorias atribuídas à sexualidade são: heterossexualidade (pessoa
que sente atração por pessoa do gênero oposto); homossexualidade (pessoa que
sente atração por pessoa do mesmo gênero); bissexualidade (pessoa que sente
atração por pessoas dos dois gêneros).

FONTE: Adaptado de <https://www.politize.com.br/vamos-falar-sobre-genero/#>. Acesso em: 31 ago. 2021.

Por muito tempo as pessoas usaram a sigla "GLS" para designar e generalizar
pessoas Gays, Lésbicas e "Simpatizantes", no entanto, essa é uma sigla excludente, limita
muito um grupo de pessoas e gêneros e isso não condiz mais com a realidade no século XXI.
Aqui temos mais informações para não deixar dúvidas.
120
LGBTQIA+ é a sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais, transexuais, Queer, intersexo,
Assexuais e mais(+), onde o (+) busca incluir outras variações de gênero, tais como:
Pan, poli, não-binarie, omni e demi. Antes de entender o significado de cada uma das
letras da sigla, precisamos entender o que é identidade de gênero, pois ela é o motivo
para haver todas essas letras.

FONTE: Adaptado de <https://blog.beeshirts.com.br/2019/07/lgbtqi-identidade-de-genero-lgbtfobia.html>.


Acesso em: 30 ago. 2021.

O que é Identidade de gênero?

Identidade de gênero é a percepção que um indivíduo tem de si como sendo do


gênero masculino, feminino ou da combinação dos dois, o que independe do
sexo biológico. É uma convicção íntima da pessoa se perceber homem, mulher ou
nenhum dos dois e pode não estar visível para as demais pessoas.

FONTE: Adaptado de <https://blog.beeshirts.com.br/2019/07/lgbtqi-identidade-de-genero-lgbtfobia.html>.


Acesso em: 30 ago. 2021.

Tipos de Identidade de Gênero:

Transgênero: trata-se do indivíduo que identifica como sendo do gênero oposto ao


seu gênero de nascença. Por exemplo: uma pessoa com características masculinas,
segundo seu sexo biológico, mas que se percebe como do gênero feminino; ou o
indivíduo com sexo biológico feminino, mas que se percebe homem. A transgeneridade
não é um distúrbio mental e qualquer insinuação de patologia representa a violação
dos direitos humanos previstos pela OMS – Organização Mundial da Saúde.

Cisgênero: trata-se do indivíduo que se identifica com seu gênero de nascença, Por
exemplo: um indivíduo que tem que o gênero de nascença definido como masculino
e que tem a percepção de si como homem, assim definido como homem cisgênero.

Não-Binário: também reconhecido como terceiro gênero, o indivíduo não-binário


caracteriza-se pela mistura entre os gêneros feminino e masculino ou pela completa
indiferença entre ambos. O indivíduo não-binário transcende rótulos sociais
atribuídos a gêneros e por isso é conhecido como o terceiro gênero.

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3tyZ9Ke>. Acesso em: 23 abr. 2021.

121
O que é Orientação Sexual e Sexo Biológico?

Orientação é o termo que relaciona as diferentes formas de atração, seja ela


afetiva ou sexual. Esse conceito substitui a antiga ideia de "opção sexual", já que
não se pode escolher a sexualidade, ou seja, a sexualidade é desenvolvida ao longo
da vida de acordo com a percepção que o indivíduo tem de si e como ele se sente
atraído por outros indivíduos.

• Heterossexual ou heteroafetivo: sente atração sexual ou afetiva pelo gênero


oposto ao seu, exemplo: um homem que sente atração por mulheres;
• Homossexual ou homoafetivo: sente atração sexual ou afetiva por indivíduos
do mesmo gênero. Nessa denominação se enquadram gays (homens que sentem
atração por outros homens) e lésbicas (mulheres que sentem atração por outras
mulheres);
• Bissexual ou biafetivo: assim é quando o indivíduo sente atração sexual ou
afetiva por ambos os gêneros, masculino e feminino.

Sexo Biológico: são as características físicas originadas pela combinação de


cromossomos. Está basicamente relacionada com a existência dos órgãos genitais
(pênis, vagina, ambos ou nenhum deles) e com o conceito de macho (homem), fêmea
(Mulher) e intersexo.

122
Em síntese, identidade de gênero diz respeito ao gênero com o qual uma pessoa
se identifica. É independente do sexo (ou seja, das características biológicas), está
relacionada à identificação de uma pessoa com o gênero masculino ou feminino. Algumas
pessoas se identificam com um gênero diferente do que é imposto a elas em função de
seu sexo biológico. Essa identificação é o que se chama de identidade de gênero.

4 CULTURA E A TEORIA DECOLONIAL


A Teoria Decolonial abrange diversas formas de crítica teórica, articuladas por
várias camadas de pensamentos, que tem como principal intuito libertar o campo do
conhecimento, e recentemente vem ganhando maior destaque no ideário da América
Latina. No meio acadêmico, ele se manifesta pela análise da distinção de classes, dos
estudos étnicos, estudos de gênero e estudos regionais. Ela surgiu a partir das lutas
históricas dos povos indígenas e afrodescendentes que foram colonizados e não se viam
representados na História e na Ciência produzidas na Europa como um modelo universal.
Dessa forma, um grupo de intelectuais militantes latino-americanos sentiu a necessidade
identitária de se contraporem epistemologicamente à hegemonia eurocêntrica do
conhecimento, defendendo o protagonismo de outros modos de saber, de ser e do poder.
Críticos da história única, esses pensadores elaboraram, a partir de meados da década
passada, um conjunto de categorias que constituem o Pensamento Decolonial.

FIGURA 5 – COLONIALISMO E COLONIALIDADE

FONTE: O autor.

Quijano (2010) define colonialidade como um dos elementos constitutivos


e específicos do padrão mundial capitalista. “Sustenta-se na imposição de uma
classificação racial/étnica da população do mundo como pedra angular do referido

123
padrão de poder e opera em casa um dos panos, meios e dimensões, materiais e
subjetivos, da existência social quotidiana e a escala societal” (QUIJANO, 2010, p. 84). A
colonialidade se reproduz em uma tripla dimensão: a do poder, do saber e do ser.

FIGURA 6 – COLONIALIDADE DO PODER

FONTE: O autor.

NOTA
A colonialidade do poder é um conceito desenvolvido originalmente
por Aníbal Quijano, em 1989, e amplamente utilizado pelo grupo.
Ele exprime uma constatação simples, isto é, de que as relações de
colonialidade nas esferas econômica e política não findaram com a
destruição do colonialismo.

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3feYKcV>. Acesso em: 23 mar. 2021.

NOTA
A colonialidade do ser (gênero e sexualidade) pode ser definida
como uma realidade do mundo moderno colonial, que faz com
que se inferiorizem pessoas, logo, uma forma de se destituir a
existência humana.
A Colonialidade do saber: a teoria de Quijano sobre
a colonialidade propõe uma concepção da diferenciação colonial e
epistêmica, onde a colonialidade se transfere do âmbito do poder
para o campo do saber, construindo a colonialidade do saber que
age de forma a manter a hegemonia eurocêntrica como perspectiva
superior do conhecimento.

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3D2wRNe>. Acesso em: 23 mar. 2021.

124
As profundas marcas produzidas pela experiência colonial na realidade cultural
e territorial dos povos africanos, asiáticos e americanos operam como matriz ideológica
de processos compreendidos mediante os designados estudos subalternos, cuja
perspectiva de reflexão da colonialidade do poder, do ser, do saber perpassa certamente
os elementos mais sutilmente imbricados na cosmovisão dos povos colonizados.

Tornou-se imprescindível, consequentemente, repensar a situação colonial


mediante as construções epistemológicas produzidas a partir do processo de
independência. Todavia, não se trata somente de repensar a situação colonial em si.
Antes, trata-se fundamentalmente de se repensar as bases epistemológicas do próprio
pensamento pós-colonial, constituído sobre os alicerces da identificação das assimetrias
existentes nas relações coloniais, cujos antagonismos possibilitam a reflexão referente
à suposta hegemonia bélica, epistemológica, cultural e social euro centrada.

Como narrativa hegemônica da modernidade, a Europa ocupa espaço


privilegiado de poder que favorece a sobreposição de sua cultura em detrimento das
demais referências de vida. Todavia, o pensamento decolonial não trata simplesmente
de retirar o verniz imposto pela situação colonial, tampouco se refere à emancipação
simplesmente em termos políticos e econômicos. Trata-se, dentre todas essas
possibilidades, especialmente, de retomar a cultura autóctone dentro da sua legitimidade
e autenticidade epistêmica, posto que apenas retirar o verniz imposto pelo colonizador
resultaria em sociedades vazias, e não um retorno às epistemologias originárias dos
povos subalternos. Um simples desnudamento da cultura euro centrada poderia
inclusive legitimar o epistemicídio promovido pelo processo colonial.

125
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• A inclusão cultural define que qualquer pessoa seja incluída em diferentes espaços,
independente da sua cultura. Como a inclusão social abrange essa definição para
diversos aspectos, como etnia, cultura, gênero, classe social e muitas outras
características, podemos dizer que a inclusão cultural está dentro desse contexto.
Todo conjunto de ações que tem como objetivo proporcionar a participação igualitária
de toda a população na sociedade é visto como uma prática de inclusão social. Logo,
quando essas ações visam garantir que todas as culturas tenham seu espaço igual
na sociedade, a denominação é inclusão cultural.

• A cultura de inclusão é um conjunto de valores e atitudes acerca de como as pessoas


devem ser acolhidas e tratadas na sociedade; valores e atitudes estes, que devem
ser compartilhados e vivenciados por todos. Quando se fala de instalação de uma
cultura, fica evidente, de imediato, que não se está discorrendo sobre um processo
que acontece da noite para o dia. Ao contrário, culturas envolvem padrões atitudinais
e comportamentais extremamente complexos, cuja modificação é lenta e gradual em
qualquer indivíduo e, muito mais ainda, quando se pensa ao nível coletivo.

• O termo gênero tem sido usado para teorizar a questão da diferença sexual, desde
a década de 1970. Um conceito complexo, que abrange a ideia de que as distinções
baseadas no sexo são fundamentalmente sociais, afastando-se, assim, a noção de
naturalização. Além disso, explicita a assimetria nas relações entre homens e mulheres,
marcadas pela hierarquização e por dimensões de poder. Você provavelmente já
ouviu falar em gênero, muito tem se falado sobre identidade de gênero, igualdade de
gênero, ideologia de gênero, entre outros temas relacionados ao termo.

• Identidade de gênero é a percepção que um indivíduo tem de si como sendo do


gênero masculino, feminino ou da combinação dos dois, o que independe do sexo
biológico. É uma convicção íntima da pessoa se perceber homem, mulher ou nenhum
dos dois e pode não estar visível para as demais pessoas.

• A Teoria Decolonial abrange diversas formas de crítica teórica, articuladas por


várias camadas de pensamentos, que tem como principal intuito libertar o campo
do conhecimento, e recentemente vem ganhando maior destaque no ideário da
América Latina. No meio acadêmico, ele se manifesta pela análise da distinção de
classes, dos estudos étnicos, estudos de gênero e estudos regionais. Ela surgiu
a partir das lutas históricas dos povos indígenas e afrodescendentes que foram
colonizados e não se viam representados na História e na Ciência produzidas na
Europa como um modelo universal.

126
AUTOATIVIDADE
1 A exclusão cultural de um determinado grupo de pessoas ocorre quando não há
igualdade na conquista por oportunidades, quando não há igualdade na representação
dentre os espaços públicos ou quando os direitos desses grupos são blindados.
Referente à Inclusão cultural, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A inclusão cultural define que qualquer pessoa seja incluída em diferentes


espaços, independente da sua cultura.
b) ( ) Os aspectos positivos da diversidade cultural doam novas aprendizagens,
abertura mental e intolerância.
c) ( ) A cultura de inclusão é um conjunto de valores e atitudes acerca de como as
pessoas devem ser acolhidas e tratadas na sociedade; valores e atitudes estes,
que devem ser compartilhados e vivenciados pelas crianças.
d) ( ) O respeito a diversidade cultural é a condição essencial para que possamos
construir a nossa própria história financeira.

2 O termo gênero tem sido usado para teorizar a questão da diferença sexual, desde
a década de 1970. Um conceito complexo, que abrange a ideia de que as distinções
baseadas no sexo são fundamentalmente sociais, afastando-se, assim, a noção de
naturalização. A respeito da temática de gênero, analise as afirmativas a seguir:

I- Muitas vezes o termo gênero é erroneamente utilizado em referência ao


sexo biológico. Por isso, é importante enfatizar que o gênero diz respeito
aos aspectos sociais atribuídos ao sexo, ou seja, gênero está vinculado a
construções sociais, não a características naturais.
II- Binário: Também reconhecido como terceiro gênero.
III- Transgênero: Trata-se do indivíduo que se identifica com seu gênero de nascença.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a afirmativa II está correta.


b) ( ) As afirmativas II e III estão corretas.
c) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
c) ( ) Somente a afirmativa I está correta.

3 É um conceito desenvolvido originalmente por Aníbal Quijano, em 1989, que exprime


uma constatação simples, isto é, de que as relações de colonialidade nas esferas
econômica e política não findaram com a destruição do colonialismo. Sobre o exposto,
assinale a alternativa CORRETA:

127
a) ( ) Colonialidade do poder.
b) ( ) Colonialidade do fazer.
c) ( ) Colonialidade do ser.
d) ( ) Colonialidade do saber.

4 A diversidade na sociedade, seja de raças, de línguas ou de níveis sociais, é algo


histórico no país. Ela tem suas raízes, como já estudado, no processo colonizatório, à
medida que se tomaram as terras pertencentes aos nativos aqui existentes, antes da
chegada dos portugueses. Não diferentemente, houve o processo de escravização
do negro. Assim sendo, houve o assujeitamento de duas etnias: a indígena e a
africana. Nesse sentido, além da questão étnica, na sociedade, muitos outros fatores
concorrem para a formação da diversidade: a questão religiosa, a orientação sexual
etc., o que faz com que a sociedade seja plural, diversa. Por isso, fala-se que a
diversidade é algo salutar, importante. Explique a importância da diversidade.

5 Para a superação das diferenças, o essencial é não somente o reconhecimento


da diferença. Importante também é o questionamento dos valores humanos que
podem excluir o ser humano, o diferente. Portanto, não basta somente tolerar, mas
compreender como a diferença está instalada no seio da sociedade e, ao mesmo
tempo, ver e compreender as relações de poder, para, assim, respeitar e admirar
a diferença. Explique como poderia ser trabalhado o conceito de diversidade no
ambiente escolar, a fim de promover a integração entre os diferentes.

128
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
CULTURA E MEIO AMBIENTE

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico vamos estudar três assuntos. Em Cultura e Sustentabilidade,
vamos refletir sobre um mundo onde o consumismo se faz presente é necessário o
estudo de formas de preservação e sustentação do meio ambiente de qualidade, o termo
sustentabilidade é apresentado como um processo cultural historicamente construído. A
noção de sustentabilidade surgiu baseada no entendimento de que os recursos naturais
são finitos. Portanto, a preocupação ambiental passa pelas questões econômicas,
biológicas, culturais, entre outros setores e áreas do conhecimento humano e da
sociedade. A sustentabilidade é uma preocupação amparada em eventos marcantes e
de consequências trágicas para a humanidade e a natureza.

Na abordagem da Cultura e Diálogo dos Saberes, veremos que não há saber mais
ou saber menos diria Paulo Freire em seus escritos, há saberes diferentes, somente com
o diálogo entre os conhecimentos, principalmente o prático e com o científico teremos
um mundo mais justo e igualitário. Paulo Freire, nosso grande educador, foi um dos
precursores em problematizar a temática Diálogo dos saberes, em sua obra Extensão
ou Comunicação, em 1977, no sentido de orientar a relação entre o técnico e o agricultor,
onde todos os sujeitos são educandos e educadores.

Por último, em Culturas e o Bem Viver, destacaremos que os povos indígenas


da América Latina e Caribe, possuem uma palavra que representa uma visão de mundo
mais fraternos e igualitária, o bem viver. No contexto latino-americano, nas últimas
décadas do Século XX, um importante debate referente à vida plena para todos se
tornou presente: a utopia indígena do Bem Viver, Sumak Kawsay, em sua expressão em
quíchua, a mais conhecida no Continente. Não se trata de um tema realmente novo,
mas sim de uma riqueza de sabedoria que só nos últimos anos os povos indígenas estão
trazendo à luz e oferecendo-a ao mundo como sua contribuição à aventura humana.

2 CULTURA E SUSTENTABILIDADE
Sustentabilidade é um conceito relacionado à conservação. No aspecto
ambiental, que com frequência o termo é empregado, a sustentabilidade diz respeito,
então, a um planeta sadio, no qual as pessoas possam encontrar as condições necessárias
para a sua sobrevivência, de geração em geração. Como surgiu esse termo? A noção
de sustentabilidade surgiu baseada no entendimento de que os recursos naturais
são finitos. Portanto, a preocupação ambiental passa pelas questões econômicas,

129
biológicas, culturais, entre outros setores e áreas do conhecimento humano e da
sociedade. A sustentabilidade é uma preocupação amparada em eventos marcantes e
de consequências trágicas para a humanidade e a natureza.

O que é Sustentabilidade?

Sustentabilidade refere-se ao princípio da busca pelo equilíbrio entre a


disponibilidade dos recursos naturais e a exploração deles por parte da sociedade, ou
seja, visa a equilibrar a preservação do meio ambiente e o que ele pode oferecer
em consonância com a qualidade de vida da população. O termo sustentabilidade
surge da necessidade de discussão a respeito da forma como a sociedade vem
explorando e usando os recursos naturais, pensando em alternativas de preservá-
lo evitando, assim, que esses recursos se esgotem na natureza. A definição de
sustentabilidade está atrelada ao conceito de desenvolvimento sustentável.

FONTE: Adaptado de <https://brasilescola.uol.com.br/educacao/sustentabilidade.htm>. Acesso em: 12 jan. 2021.

FIGURA 7 – DIMENSÕES SUSTENTABILIDADE

FONTE: <https://autossustentavel.com/wp-content/uploads/2011/09/dimensc3b5es-da-sustentabilidade.jpg>.
Acesso em: 23 fev. 2021.

O conceito de sustentabilidade é apresentado a partir de cinco perspectivas,


cinco dimensões primordiais, sendo elas: sustentabilidade social; sustentabilidade
econômica; sustentabilidade ecológica; sustentabilidade espacial (ou geográfica);
sustentabilidade cultural.
130
QUADRO 3 – CINCO DIMENSÕES PRIMORDIAIS

 A sustentabilidade social é a adoção de um crescimento estável, distribuindo melhor,


as riquezas, com menos desigualdades. Ela visa diminuir as diferenças sociais.
 A sustentabilidade econômica, “tornada possível graças ao fluxo constante
de inversões públicas e privadas, além da alocação e do manejo eficientes dos
recursos naturais”.
 As bases da sustentabilidade ecológica estão na utilização massificada do potencial
de recursos nos diferentes ecossistemas, produzindo o mínimo de deterioração.
Prevê ainda a diminuição do uso de combustíveis fósseis e a redução do volume
de substâncias poluentes.
 Quanto à sustentabilidade geográfica, podemos dizer que a ocupação espacial
desequilibrada causa problemas. Exemplo disso é a população dos grandes
centros (leia-se cidades, principalmente metrópoles) continua a crescer, junto com
o percentual de população residente nas áreas urbanas, bem como a diminuição
demográfica das áreas rurais. Resulta disso a destruição de ecossistemas
encontrados nas cidades devido à utilização de áreas não ideais para moradia. Visa
o equilíbrio nos usos espaciais, bem como a proteção de áreas que não deveriam
ser utilizadas (pela população que está à margem da sociedade), promovendo a
melhoria na qualidade de vida da população.
 Já a sustentabilidade cultural se configura como a mais complexa no sentido de sua
concretização. Intenta dar soluções locais, adaptadas a cada cultura e ecossistema.
Uma nova consciência dos limites ecossistêmicos e de sua fragilidade, em face
destas dimensões do desenvolvimento sustentável, pode ajudar a nortear as ações
locais futuras, tendo em vista as mudanças globais de que tanto necessitamos
para viver melhor, no sentido mais amplo que este “viver melhor” pode vir a ter. A
responsabilidade é de todos e de cada um. À coletividade, dá-se o papel de defesa
e proteção do meio ambiente.
FONTE: Adaptado de <https://autossustentavel.com/2011/09/as-dimensoes-da-sustentabilidade.html>.
Acesso em: 23 fev. 2021

Um termo bastante usado atualmente nas questões ecológicas e sustentáveis


é o de Desenvolvimento Sustentável.

O que é desenvolvimento sustentável?

Desenvolvimento sustentável refere-se ao desenvolvimento socioeconômico,


político e cultural atrelado à preservação do meio ambiente. Sendo assim, as
práticas capitalistas associadas ao consumo devem estar em equilíbrio com a
sustentabilidade, visando aos avanços no campo social e econômico sem prejudicar
a natureza. É a garantia do suprimento das necessidades da geração futura por meio
da conservação dos recursos naturais.

131
Esse termo surgiu no relatório desenvolvido pela Comissão Mundial sobre o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento apresentado em 1987, conhecido como Relatório de
Brundtland ou Nosso Futuro Comum. O relatório traz a definição de desenvolvimento
sustentável como:

“O desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a


capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades.”

FONTE: Adaptado de <https://brasilescola.uol.com.br/educacao/sustentabilidade.htm>. Acesso em: 12 jan. 2021.

A partir de diferentes momentos em que a sociedade humana, promoveu a


destruição da Natureza, da indiferença do ser humano com seu semelhante, tornou-se
necessário convergir esforços globais para mitigar essas profundas desigualdades e
atitudes predatórias que condenam os seres e os ambientes para a acelerada destruição
de todas as vidas. Desde a Conferência de Estocolmo de 1972, os debates têm insistido
em como viabilizar a Sustentabilidade na vida das pessoas e como se torna um objetivo
comum para a melhoria da vida, da dignidade, das relações que ocorrem entre humano
e não humanos. Segundo Aquino e Garcia (2017, p.3),

Essa lógica predatória de humanos e não humanos chega ao seu


ponto de saturação. As pessoas precisam se tornar responsáveis
pelas suas escolhas: a Sustentabilidade é a alternativa eleita para
uma vida digna e na qual demanda compreensão sobre sua lógica
inclusiva ou essa promessa gera apenas uma imagem cujo conteúdo
se decidiu não cumprir porque não se pode entender, nem respeitar e
sequer reconhecer os desafios do século XXI para além das relações
humanas. Por esse motivo, a Sustentabilidade, não obstante todos
os seus obstáculos, é a matriz de transformação do atual cenário
mundial que se manifesta pelas diferentes experiências, inclusive
cognitivas, e modifica a racionalidade humana para se criar novos
projetos de utopias mais leves, dinâmicas, inclusivas.

Em tempos atuais, quais ênfases conceituais e práticas de Sustentabilidade em


defesa da vida em suas várias dimensões será necessário promover? Referente a esse
olhar sobre a Sustentabilidade, Pavan e Castillo (2013, p. 12) citam que:

Nos dias atuais, a sustentabilidade concentra-se como o assunto


mais elucidado entre as mais diversas áreas e nos mais variados
gêneros, lugares e formas de pensar acerca da real contemplação
do que vem a ser esse fenômeno. Mudanças deverão ocorrer para
que haja uma maior garantia de vida terrena. Em seus estudos,
anuncia que “dos lares mais modestos, e passando pelos mais
diferentes ambientes sociais e de trabalho, e pelos gabinetes
onde se tomam decisões acerca do destino das famílias e das
cidades, até as complexas decisões concernentes ao destino da
‘casa comum,’” a sustentabilidade está presente. Está na esfera da
preocupação com a crise ambiental o cerne essencial do fenômeno
da sustentabilidade. Como será possível o contínuo desenvolvimento

132
sem que haja a direta agressão ao meio ambiente? Como se tornar
uma sociedade sustentável? As novas tecnologias, avultando as
áreas comerciais, as atitudes agressivas no comércio internacional, a
crise financeira, o avanço do efeito estufa e do aquecimento global,
a crescente perda da biodiversidade, a degradação dos recursos
indispensáveis para a sobrevivência humana, o exagero no consumo
e na produção. Tudo isso são fatos, são realidades que, para haver
condições existenciais de vida humana, é indispensável que haja a
mudança de estilo de civilização. Deve-se dar ênfase à preocupação
no sistema desenvolvimentista social, econômico e ambiental, pois,
em cada ato humano há, direta ou indiretamente, uma agressão
ao meio ambiente. Assim, buscar-se-á um estudo quanto ao tema
da sustentabilidade, como um fenômeno que tem por finalidade a
reorganização das atitudes humanas, uma nova forma de pensar e
agir diante do colapso ambiental. Esse é um meio ou “o” meio pelo
qual os seres humanos têm a fórmula de vida terrena. Mas, diante
de seus atos, em comparação a uma empresa, estar-se-ia em
plena falência, pois que dilapida seu capital, o qual, em se tratando
de meio ambiente, são os recursos naturais. E o faz como se esses
fossem eternos, ilimitados, infindáveis, o que não é verdade, já que os
recursos naturais são meios limitados, finitos.

Portanto, o ser humano tem o direito a um meio ambiente ecologicamente


equilibrado, sadio. O sujeito em pleno desenvolvimento tende a preocupar-se com o
meio que lhe garante sua subsistência, ser sustentável é essencial para a preservação
do meio ambiente. Com ações sustentáveis os recursos naturais não se esgotam,
podendo ser utilizados por gerações futuras. Por isso, quando você faz a sua parte, deixa
de prejudicar o meio ambiente. Por outro lado, para as empresas, ao mesmo tempo que
elas contribuem na preservação ambiental, elas adquirem vantagens econômicas, em
taxas e impostos e passam a serem vistas como empresas responsáveis. O Século XXI
convoca os sujeitos a serem sustentáveis.

3 CULTURA E DIÁLOGO DOS SABERES


O conhecimento é o conjunto de informações que o indivíduo adquire por meio
da sua experiência, aprendizagem, crenças, valores e insights sobre algo no decorrer
da sua trajetória. A pessoa que detêm o conhecimento é capaz de saber alguma
informação ou instrução e a mesma pode mudar comportamentos e auxiliar na tomada
de decisões. O conhecimento é capaz de transformar vidas e, se utilizado devidamente,
contribui significativamente para a construção de um mundo melhor. Trata-se de um
processamento complexo e subjetivo da informação absorvida por um indivíduo. É a
interação com processos mentais lógicos e não lógicos, com experiências anteriores,
compromissos e vários outros elementos que fazem parte da mente de uma pessoa.

Embora o conhecimento sempre tenha sido necessário para elaborar os produtos,


sua importância aumentou vertiginosamente com o desenvolvimento da ciência e da
tecnologia, particularmente nas últimas décadas do século XX. É fundamental saber
como utilizar os conhecimentos e saberes existentes. O conhecimento tradicional

133
diz respeito às informações acumuladas ao longo do tempo por uma determinada
comunidade com relação as suas práticas, seus valores, sua cultura, enfim, suas
vivências e experiências. Tais conhecimentos não são permanentes nem inabaláveis,
pois são gerados, modificados e reformulados pela comunidade. Diegues et al. (2000,
p. 30) definem o conhecimento tradicional “como o conjunto de saberes e saber-fazer a
respeito do mundo natural, sobrenatural, transmitido oralmente de geração em geração”.
Dickmann e Dickmann (2008, p. 70) afirmam que “o saber popular é entendido como
aquele adquirido nas lutas, que não está escrito nos livros, aquele que é fruto das várias
experiências vividas e convividas em tempos e espaços diversos na história do povo”.

Alguns autores citam que existem tipos de conhecimentos, por exemplo:


Filosófico, Senso Comum, Religiosos, Científico, Artístico, Popular, entre outros. No
caso específico de certas pesquisas acadêmicas pesquisa investigasse também o
conhecimento dito popular (tradições ancestrais e do povo em geral), que de certa
forma se relaciona com o conhecimento científico. Nas palavras de Costa (2002), o
conhecimento popular é a expressão máxima de determinados povos, onde se localiza
o sagrado, o pertencimento à solidariedade. Para o autor, além de ser transmitido
milenarmente em certas ocasiões, serve para auxiliar o povo excluído, oprimido,
marginalizado, nos casos de saúde, educação, relacionamentos. Uma vertente não
eurocêntrica e sim do local, da comunidade.

Paulo Freire, grande educador, foi um dos precursores em problematizar a


temática Diálogo dos saberes, em sua obra Extensão ou Comunicação, em 1977, no
sentido de orientar a relação entre o técnico e o agricultor, onde todos os sujeitos são
educandos e educadores. Numa relação de ensino-aprendizagem, Diálogo de saberes
é a confluência, ou o encontro do conhecimento científico, sistematizado, comprovado,
aprendido na escola com o conhecimento ou saber popular adquirido por meio da
experiência de vida do agricultor nas diversas dimensões, que expressa o que faz
sentido para ele, sua visão de mundo, sua identidade de agricultor.

O importante no âmbito cultural e das relações existente em sociedade é de


que o diálogo pressupõe troca, uma relação de sujeitos iguais, ambos educadores e
educandos, ou seja, numa relação horizontal em que nenhum é melhor ou mais que
o outro, e ambos são possuidores de conhecimentos, cientificamente ou apenas
socialmente construído. O diálogo entre o conhecimento científico e o conhecimento
popular é central para o entendimento da Popularização da Ciência. É importante
que os pesquisadores deem retorno do que tem feito para a sociedade, mas também
é necessário ouvir, para entender o que as pessoas desejam e precisam, bem como
descobrir realidades e conhecimentos distintos dos ensinados nas universidades.

Esse diálogo tem como pressuposto o reconhecimento e o respeito à cultura,


aos valores étnicos, a história dos sujeitos, na medida em que se procura conhecer a
realidade do sujeito ou da comunidade com a qual vai trabalhar, que vai pesquisar. É
nessa realidade ou nesse contexto sócio-histórico, sob o olhar atento do pesquisador,

134
que se pode ler valores culturais, o modo de ser e de se ver, de viver e de trabalhar,
de significar seus projetos de vida. No Diálogo de saberes está implícita a construção
conjunta do conhecimento ou a produção coletiva de conhecimentos, sem haver
imposição de receitas, técnicas ou soluções prontas, sem “invasão cultural”. É uma
prática que envolve a participação direta do sujeito ou da comunidade, na ação
(execução), gestão; monitoramento e avaliação. É permitir que o sujeito assuma o
protagonismo de seu processo histórico, tendo um papel ativo na transformação de sua
realidade, buscando atuar e se corresponsabilizar pelo seu desenvolvimento, de modo
cada vez mais autônomo.

Por outro lado, o pesquisador não pode se omitir na sua relação com os sujeitos.
Não pode omitir o que sabe, esconder o que sabe, esconder o que aprendeu nos
domínios do conhecimento técnico-científico, esconder seus valores, suas crenças, sua
visão, pois o verdadeiro aprendizado só se constrói na "síntese cultural" de sujeitos. O
conceito de ser humano aqui inerente é um ser ativo, criativo, que transforma o meio
produzindo cultura; um ser capaz de criar as suas próprias condições de existência
atuando sobre a natureza, transformando-a e transformando-se a si próprio. O princípio
não é apenas ideológico, mas também adotado na prática da pesquisa, conduzida em
todos os territórios com a contribuição de um pesquisador profissional e de sujeitos
envolvidos com suas práticas. Um saber tecido a muitas mãos, com contribuições das
universidades, e dos sujeitos beneficiários, observando que o seu conhecimento sobre
a realidade local e o saber tradicional devem estar obrigatoriamente contemplados para
uma efetiva política pública.

Percebe-se que os grupos sociais tradicionais têm seu dinamismo e tempos


próprios. Cabe à comunidade acadêmica aceitar a legitimidade dos saberes desses grupos
e trabalhar com as possibilidades que a aceitação, seguida da dialogicidade, pode propiciar.
Observação, oralidade, experiência íntima e mítica com o espaço vivido e relações de
trabalho são materializadas em círculos familiares e de amizade. A capacidade de aprender
com a própria vivência advêm de nossas experiências do e no espaço. A observação não é
um simples ato de ver, restrito a um único órgão sensorial. Na proposta de diálogo entre os
saberes deve-se pensar numa epistemologia que trate a contextualização e a concepção
sistêmica da vida como princípios filosóficos essenciais.

4 CULTURAS E O BEM VIVER


O que é uma vida boa? Como se deve viver? O que significa viver bem? Essas
perguntas podem ser interpretadas de diferentes maneiras. Poderíamos responder que
para se viver bem, deveríamos ter uma vida moral impecável. Outros desejariam ter
uma vida prazerosa ou ter boa saúde. Acrescentariam o conforto à prosperidade ou até
mesmo muitos amigos.

135
No contexto latino-americano, nas últimas décadas do Século XX, um importante
debate referente à vida plena para todos se tornou presente: a utopia indígena do Bem
Viver, Sumak Kawsay em sua expressão em quechua, a mais conhecida no Continente.
Não se trata de um tema realmente novo, mas sim de uma riqueza de sabedoria que só
nos últimos anos os povos indígenas estão trazendo à luz e oferecendo-a ao mundo
como sua contribuição à aventura humana. Sobre o exposto, Osório (2015, p. 8) afirma:

A noção de Bem Viver tem como procedência o sumak kawsay, um


modo de vida de populações indígenas latino-americanas. Bem Viver
provém da tradução para o castelhano (buen vivir) da expressão
kichwa sumak kawsay e da expressão aymara suma qamaña. Sumak,
que em kichwa, significa plenitude, e kawsay, viver. Kichwa designa um
povo, uma nacionalidade e um idioma falado por cerca de 14 milhões
de pessoas distribuídas entre as regiões andinas e amazônicas de
Peru, Bolívia, Equador, Chile, Colômbia e Argentina. Foi a língua oficial
do Império Inca. Nesse idioma, “suma significa plenitude, excelência,
bem, e qamaña, viver, estar sendo. Aymara é também a designação
de um povo estabelecido no Peru, Bolívia, Argentina e Chile”.

NOTA
O Sumak Kawsay, da tradução literal, seria a vida em plenitude, excelência,
o melhor, o belo. Mas já interpretada em termos políticos, é a própria vida,
uma mistura de tarefas e vontade política que significam mudanças para
que as pessoas não percam o pão do dia e que não haja desigualdades
sociais entre homens e mulheres. O Sumak Kawsay é o sonho não só
dos índios, mas também de todos os humanos. Quando falamos sobre o
Sumak Kawsay, não se trata de voltar ao passado, porque não podemos
dizer que isso foi perfeito, mas nós tivemos e vivemos o Sumak Kawsay
(CHANCOSO, 2014).

O Bem Viver deve combinar com um Bem Conviver: não vivemos bem se não
convivemos bem, entendendo isso efetivamente em um sentido integral: convivência
entre os humanos, convivência com as demais espécies para evitar o especismo, e
convivência com toda a natureza em harmonia integral. Bem viver que não é a boa-vida
não solidária, nem o viver melhor na acumulação ou progresso indefinido a qualquer
custo. Bem Viver que pode levar, em boa parte, ao decrescimento, à vida natural, à
sobriedade para que todos possam também viver bem.

Os movimentos indígenas emergem com muita força em vários países latino-


americanos, como sujeitos e não mais como objetos da política. São atores fundamentais
em processos de democratização no Equador e na Bolívia, em particular. Não só sujeitos,
mas também portadores de alternativas de sua própria forma de ver o mundo, pois os
Povos indígenas são povos com larga memória e que podem enfrentar momentos de
muita crise. São povos que oferecem opções diferentes de vida. De acordo com Acosta
(2016, p. 10):

136
Há nessa sobrevivência centenária não somente um mecanismo
de defesa, mas sabedorias sofisticadas e alternativas para as crises
ecológicas, sociais e políticas que atingem todo o mundo. Muitas
práxis libertadoras e igualitárias de povos originários, marginalizados
e periféricos da América Latina e de territórios emergentes compõem
a essência da filosofia do Bem Viver. “A vida de um ser humano em
harmonia consigo mesmo, com o outro e com a natureza.

Em certo sentido, o Bem Viver seria uma cosmovisão igualitária da Sociedade


em que a convivência é a referência maior. Suess (2010, p. 1) explica:

O paradigma Sumak Kawsay é de origem quéchua e significa Bem


Viver. Não é fácil expressar, com palavras, uma noção tão ampla e
complexa como o Bem Viver, que abrange muitas dimensões e
significados. Pode-se dizer que ele expressa, ao mesmo tempo,
memória e horizonte – por um lado, memória pré-colonial e tradicional
do mundo andino – e, por outro lado, protesto e luta contra os
excessos do capitalismo agroindustrial globalizado.Os povos quéchua
compreendem seu passado como um mundo imerso no Bem Viver,
que, hoje, seria a convivência harmoniosa entre cosmo, natureza e
humanidade. Saídas políticas assumidas no presente sustentam-se,
muitas vezes, na memória de um tempo bom, perdido e idealizado,
ao mesmo tempo mítico e histórico. Esse tempo passado pode ser e
é, muitas vezes, o motor para transformações da realidade presente.

Podemos destacar que o Bem Viver é uma Filosofia de Vida. Nas palavras da
pesquisadora Bonim (2015, p. 1),

Trata-se de uma filosofia, com reflexos muito concretos, que


sustenta e dá sentido às diferentes formas de organização social de
centenas de povos e culturas da América Latina. Sob os princípios da
reciprocidade entre as pessoas, da amizade fraterna, da convivência
com outros seres da natureza e do profundo respeito pela terra, os
povos indígenas têm construído experiências realmente sustentáveis
que podem orientar nossas escolhas futuras e assegurar a existência
humana. Esses povos têm nos ensinado que para construir o Bem
Viver as pessoas devem pensá-lo para todos. Isso significa dizer que é
preciso combater as injustiças, os privilégios e todos os mecanismos
que geram a desigualdade. Assim, a “causa” indígena se vincula com
a “causa” dos pobres e marginalizados e, desse modo, não deve
ser pensada como uma questão à parte, desvinculada dos grandes
desafios do mundo contemporâneo.

Quais os ensinamentos deixados pela perspectiva do Bem Viver para a Humanidade?

Um dos grandes ensinamentos que os povos indígenas têm nos


transmitido, desde tempos imemoriais, é o de saber conviver
com a Mãe Terra, dedicando-lhe respeito, amor e profundo zelo.
Na visão desses povos, a terra é mais do que simplesmente o
lugar onde se vive. Ela é sagrada, é capaz de fazer germinar e de
acolher plantas, animais e uma infinidade de seres vivos, além dos
humanos, compondo assim ambientes onde a vida frutifica em todo
o seu esplendor. Assim sendo, a terra está na base do Bem Viver.
No entanto, nem todas as comunidades indígenas brasileiras podem

137
usufruir do direito de viver em seus territórios tradicionais, ou seja,
estão sem possibilidade de vivenciar a condição primordial do Bem
Viver. O conceito de Bem Viver está na contramão de um modelo de
desenvolvimento que considera a terra e a natureza apenas como
insumos para a produção de mercadorias de rápido consumo e, mais
rápido ainda, descarte. É para sustentar o modelo capitalista que os
governos priorizam os mega investimentos, as grandes barragens,
a exploração mineral, as monoculturas que degradam o ambiente
e envenenam a terra, as águas e todos os seres vivos. O modelo
capitalista promove a concentração de bens e riquezas nas mãos
de poucos privilegiados que priorizam as regras da competitividade,
da lucratividade e do ideal individualista de “se dar bem na vida”. A
falta de respeito com o diferente e com todos aqueles que possuem
maneiras distintas de viver e pensar é característica das elites, das
quais a brasileira se destaca por ser acentuadamente conservadora
(BONIM, 2015, p.1).

Como um Projeto de Vida, o Bem Viver tem alguns ensinamentos importantes


para o futuro da humanidade. Em escala micro ou em uma escala macro, quais seriam
essas práticas e ensinamentos que devemos ter para alcançar a Vida Plena?

Para alcançarmos uma vida digna para todos é preciso diminuir


o consumo, sobretudo do que é excessivo e supérfluo, e também
reduzir as desigualdades sociais. Vale ressaltar que o propósito
individualista de “se dar bem na vida” é um dos princípios desse
modelo que promove a injustiça, a violência, a insegurança e a morte
de seres humanos, condenados a viver em “cinturões de miséria” nas
grandes cidades, ou em condições de trabalho desumanas nas áreas
rurais. Além disso, o consumo desenfreado promove a devastação
de florestas e da biodiversidade e coloca em perigo a vida de todos
os seres, não apenas do homem. O Bem Viver, experienciado por
centenas de comunidades e povos indígenas na América Latina, pode
nos inspirar a repensar valores e práticas da cultura contemporânea.
O Bem Viver das culturas indígenas pode ser reinterpretado para se
tornar um projeto de vida concreto, capaz de revolucionar nossas
maneiras de pensar, nossas formas de interagir com a natureza e
nossas relações humanas (BONIM, 2015, p. 1).

A importância da Cosmovisão ou Paradigma do Bem Viver está na realização


imediata na retomada de um horizonte de um futuro com justiça e igualdade. A luta
indígena pelo Bem Viver faz parte de uma ampla aliança pela preservação da vida no
planeta Terra. Para pensar em Bem Viver é necessário beber da fonte ancestral, mas
isso não significa fazer uma leitura utópica do passado, e sim pensá-lo como tempo que
respalda a contínua produção do presente e do futuro. As próprias culturas indígenas são
o melhor exemplo de que outro mundo é possível porque conseguem ainda no início deste
século XXI, marcado pela desigualdade e uniformização das mercadorias, do consumo e
dos desejos, construir sociedades igualitárias, sem marginalização e sem exclusão.

138
NOTA
Significado de Paradigma
Paradigma é um termo com origem no grego "paradeigma" que
significa modelo, padrão. No sentido lato corresponde a algo que vai
servir de modelo ou exemplo a ser seguido em determinada situação.
O paradigma é um princípio, teoria ou conhecimento. Uma referência
inicial que servirá de modelo a ser seguido (mudança).

FONTE: <https://bit.ly/3ziHpH5>. Acesso em: 23 mar. 2021.

Com base nos povos indígenas, o conceito de "Bem Viver" se apresenta como
algo que convida a voltar a sonhar, mas de olhos abertos, a pensar possibilidades de
novos mundos, mas sempre com pé no chão, entendendo os reais problemas e em qual
ponto de partida nos encontramos. Somos seres em comunidade, temos que entender
que somos parte da Natureza.

PRINCÍPIOS DO BEM VIVER

• A aceitação de estados plurinacionais, ou seja, reconhecer que dentro do seu


território existem diferentes identidades nacionais e que devem ser respeitadas
por igual, além de efetivamente participativas. E Com essa visão plurinacionalista,
será possível construir novas histórias, realidades, uma nova democracia,
respeitando os povos originários, a diversidade e, principalmente, a Natureza.
• Com uma visão mais colaborativa, o “Bem Viver” pede um novo modelo de
economia, mais pautada na solidariedade, responsabilidade, integralidade
e reciprocidade, algo diferente do que se vê ou viu, do que conhecemos do
capitalismo e do socialismo.
• Mudanças nos moldes de produção e consumo, buscando sempre uma qualidade
de vida universal, e não no acúmulo de capital.
• Novas formas de produção, principalmente de alimentos, sendo mais locais –
iniciativa zero quilômetro – que fortaleçam a soberania.
• Participação plena na política, gerando contrapoderes influentes.
• Fomentar a economia interna e externa ao mesmo tempo, de forma a serem
complementares e não competitivas.
• As necessidades humanas são o motor do processo e não as metas.
• Repensar as organizações políticas tradicionais e os partidos, sendo a construção
do “Bem Viver” algo autodependente e participativo.
• O lema é crescer menos, mas com qualidade.

139
• Redução do tempo de trabalho e distribuição do emprego, sendo o trabalho direito
e dever da sociedade que busca o “Bem Viver”.
• Subtração do olhar objetificado dos seres humanos, passando de ameaça para
promessa.
• Combate à excessiva concentração de riqueza, levando a uma convivência sem
miséria, discriminação e com o mínimo de coisas necessárias.
• Possibilidade igualitária de escolhas para as pessoas, mesmo que com meios
diferentes.

FONTE: ACOSTA, A. O Bem Viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. São Paulo: Editora
Autonomia Literária, 2016, p.

140
LEITURA
COMPLEMENTAR
O BEM VIVER E A RADICALIDADE DE SONHAR OUTROS MUNDOS

Juliana Gonçalves

O conhecimento que emerge de memórias antigas. Aprendizados fincados


em práticas comunitárias. “Bem Viver” é um nome novo usado para conceitualizar a
cosmovisão de comunidades tradicionais que se organizavam a partir do coletivo. É um
modo de vida que abarca a relação entre as pessoas, a natureza e o modelo econômico
em sociedades que não tinham no capitalismo o modo possível de se organizar. Enquanto
conceito, nasce em berço andino, mas há correspondências do Bem Viver em muitas
comunidades tradicionais e seus modos de organização antes da colonização sofrida na
América Latina e no continente africano. Bem Viver é sumak kawsay em quéchua – idioma
falado por muitos grupos indígenas da América do Sul –, é Suma Qamaña em aymara
– língua de povo tradicional do mesmo nome existente na Colômbia, Equador, Bolívia,
entre outros países. É também o teko porã, guarani ou ainda o nhanderekó, do guarani
mbya. Boaventura de Sousa Santos (2010), professor e sociólogo português, destaca
que mesmo sendo um conceito nativo, o Bem Viver não é entendido pelas organizações
indígenas como uma propriedade exclusiva dos indígenas, mas entendem como uma
contribuição dos povos indígenas para todo conjunto das etnias presentes na América
Latina. Alberto Acosta, um dos teóricos do conceito e autor de “O Bem Viver – Uma
oportunidade para imaginar outros mundos”, afirma também que há correspondência
do conceito no continente africano, como na filosofia do ubuntu da África do Sul. Acosta
aponta que “não são ideias que foram construídas na academia, nas universidades ou
partidos políticos, são ideias e valores, experiências e muitas práticas existentes em
muitas comunidades”.

Para povos que viveram o massacre físico e epistêmico da colonização e


escravidão, o Bem Viver é uma inspiração que nos permite sonhar outros mundos. O
combate ao capitalismo ganha destaque dentro da teoria do Bem Viver, como coloca a
socióloga feminista colombiana Magdalena León (2012), pois “marca uma ruptura com
a centralidade do indivíduo, a superioridade do humano e com as noções de progresso,
desenvolvimento e bem-estar em chave capitalista”. Dessa maneira, o Bem Viver
propõe também abandonar a busca pelo “desenvolvimento”, porque considera que esse
conceito vem carregado de violência e opressão em todas as esferas. O capitalismo exige
relações calcadas nas desigualdades para se desenvolver. Essas desigualdades são
construídas a partir da hierarquização dos corpos proposta pelas ideias colonizadoras e
escravocratas, que carregam consigo a perda da humanidade dos povos colonizados.
Sendo assim, a construção de um novo marco civilizatório passa, necessariamente,

141
pela criação de outro modelo econômico. No entanto, não faltam críticas que apontem
que esses governos usam o Bem Viver muito mais como um slogan do que pelo seu
conteúdo revolucionário.

A feminista boliviana e socióloga, Silvia Rivera Cusicanqui acusa os governos


de Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador), de se valerem do termo sem uma
implementação de fato. Falar do Bem Viver sem romper a lógica desenvolvimentista fez
com que, segundo ela, ambos os presidentes apliquem a fórmula extrativista colonial
que expulsa comunidades de seus territórios, destroem florestas para a exploração
de petróleo e construção de rodovias, entre outras violências em nome do progresso.
Além de ser debatido nesses dois países, lugares como Espanha, Alemanha e Brasil vem
angariando seguidores do conceito. No Brasil, desde a grande Marcha das Mulheres
Negras que ocorreu em 2015, por intermédio de uma lutadora do Pará, Nilma Bentes, as
mulheres negras constroem o conceito do Bem Viver como elemento que se contrapõe
ao modelo capitalista neoliberal. Na Carta das Mulheres Negras de 2015, documento
divulgado pela organização da Marcha dias antes das mulheres tomarem às ruas de
Brasília em 18 de novembro, traz a reivindicação da teoria do Bem Viver alinhada com o
que é destacado pelos autores citados anteriormente.

“A sabedoria milenar que herdamos de nossas ancestrais se traduz na concepção


do Bem Viver, que funda e constitui as novas concepções de gestão do coletivo e do
individual; da natureza, política e da cultura, que estabelecem sentido e valor à nossa
existência, calcados na utópica de viver e construir o mundo de todas(os) e para
todas(os). Na condição de protagonistas oferecemos ao Estado e a Sociedade brasileiros
nossas experiências como forma de construirmos coletivamente uma outra dinâmica
de vida e ação política, que só é possível por meio da superação do racismo, do sexismo
e de todas as formas de discriminação, responsáveis pela negação da humanidade de
mulheres e homens negros”. O documento aponta para a mudança estrutural proposta
pela teoria do Bem Viver já que, como apresenta a intelectual feminista Bell Hooks (2013),
uma sociedade balizada pela ideologia da “supremacia branca, imperialista, capitalista e
patriarcal” nunca pode ser justa. Sendo assim, as sociedades eurocêntricas, alicerçadas
nas ideais de branquitude, têm como base do seu desenvolvimento a concentração de
poder, o acúmulo de riqueza, a exploração como sustento da sociedade, o domínio de
outros povos e o massacre epistêmico de tudo que não é branco. Elementos que vão na
contramão do Bem Viver.

Vale lembrar que como um dos pontos em comum, a experiência indígena


na América Latina e a de negros e negras carregam profundas cicatrizes advindas
do colonialismo europeu. Segundo a intelectual feminista Lélia Gonzáles (1988), o
colonialismo europeu se valeu do racismo científico para estruturar um modelo de
superioridade branco europeu. Esse modelo estrutural foi internalizado pelas culturas
exploradas. Essas experiências em comum foram ressignificadas por Gonzáles por
meio da categoria “amerifricanidade”, a combinação em território latino-americano das
diferentes identidades indígenas, africanas que modificam a cultura hegemônica por

142
meio de suas vivências em comum. Os valores civilizatórios africanos e indígenas contidos
no conceito de Bem Viver estão na contramão de um modelo de desenvolvimento que
considera a terra e a natureza apenas como insumos para a produção de mercadorias
de rápido consumo e, mais rápido ainda, descarte. O Bem Viver assim como ressalta
as cosmovisões africanas e indígenas, não entende que enquanto humanos estamos
apartados da natureza, pelo contrário, somos parte dela. Ao permitir sonhar outros
mundos, o Bem Viver dá base para uma prática política que visa a desconstrução das
opressões estruturais a partir do rompimento de práticas colonizadoras.

Desse modo, o termo nada tem a ver com o “viver bem”, ou o “viver melhor”
que trazem em si o consumismo, o acúmulo de riqueza ou acesso às abundâncias que
o dinheiro pode comprar com base em relações exploratórias. Pelo contrário, não há
Bem Viver na opressão. O conceito surge com a missão de descolonizar a democracia
a partir do rompimento de práticas colonizadoras que são alicerces do capitalismo. O
Bem Viver nos lembra que mudar esse sistema econômico e político não é utopia, mas
sim uma necessidade.

FONTE: Adaptado de <https://usinadevalores.org.br/o-bem-viver-e-a-radicalidade-


-de-sonhar-outros-mundos/>. Acesso em: 30 ago. 2021.

143
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• Sustentabilidade é um conceito relacionado à conservação. No aspecto ambiental,


que com frequência o termo é empregado, a sustentabilidade diz respeito, então, a
um planeta sadio, no qual as pessoas possam encontrar as condições necessárias
para a sua sobrevivência, de geração em geração. O conceito de sustentabilidade é
apresentado a partir de cinco perspectivas, cinco dimensões primordiais, sendo elas:
sustentabilidade social; sustentabilidade econômica; sustentabilidade ecológica;
sustentabilidade espacial (ou geográfica); sustentabilidade cultural.

• Desenvolvimento sustentável refere-se ao desenvolvimento socioeconômico,


político e cultural atrelado à preservação do meio ambiente. Sendo assim, as práticas
capitalistas associadas ao consumo devem estar em equilíbrio com a sustentabilidade,
visando aos avanços no campo social e econômico sem prejudicar a natureza. É a
garantia do suprimento das necessidades da geração futura por meio da conservação
dos recursos naturais.

• Paulo Freire, nosso grande educador, foi um dos precursores em problematizar a


temática Diálogo dos sabres, em sua obra Extensão ou Comunicação, em 1977, no
sentido de orientar a relação entre o técnico e o agricultor, onde todos os sujeitos
são educandos e educadores. Numa relação de ensino-aprendizagem, Diálogo de
saberes é a confluência, ou o encontro do conhecimento científico, sistematizado,
comprovado, aprendido na escola com o conhecimento ou saber popular adquirido
por meio da experiência de vida do agricultor nas diversas dimensões, que expressa
o que faz sentido para ele, sua visão de mundo, sua identidade de agricultor.

• A noção de Bem Viver tem como procedência o sumak kawsay, um modo de vida
de populações indígenas latino-americanas. Bem Viver provém da tradução para
o castelhano (buen vivir) da expressão kichwa sumak kawsay e da expressão
aymara suma qamaña. Sumak, que em kichwa, significa plenitude, e kawsay, viver.
Kichwa designa um povo, uma nacionalidade e um idioma falado por cerca de 14
milhões de pessoas distribuídas entre as regiões andinas e amazônicas de Peru,
Bolívia, Equador, Chile, Colômbia e Argentina. Foi a língua oficial do Império Inca.
Neste idioma, “suma significa plenitude, excelência, bem, e qamaña, viver, estar
sendo. Aymara é também a designação de um povo estabelecido no Peru, Bolívia,
Argentina e Chile” (OSÓRIO, 2015: p. 8).

• A importância Da Cosmovisão ou Paradigma do Bem Viver está na realização imediata


na retomada de um horizonte de um futuro com justiça e igualdade. A luta indígena
pelo Bem Viver faz parte de uma ampla aliança pela preservação da vida no planeta

144
Terra. Para pensar em Bem Viver é necessário beber da fonte ancestral, mas isso
não significa fazer uma leitura utópica do passado, e sim pensá-lo como tempo que
respalda a contínua produção do presente e do futuro. As próprias culturas indígenas
são o melhor exemplo de que outro mundo é possível porque conseguem ainda no
início deste século XXI, marcado pela desigualdade e uniformização das mercadorias,
do consumo e dos desejos, construir sociedades igualitárias, sem marginalização e
sem exclusão.

145
AUTOATIVIDADE
1 O termo sustentabilidade surge da necessidade de discussão a respeito da forma
como a sociedade vem explorando e usando os recursos naturais, pensando em
alternativas de preservá-lo evitando, assim, que esses recursos se esgotem na
natureza. A definição de sustentabilidade está atrelada ao conceito de desenvolvimento
sustentável. Sobre a dimensão social, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) É a adoção de um crescimento estável, distribuindo melhor as riquezas, com


menos desigualdades.
b) ( ) Tornada possível graças ao fluxo constante de inversões públicas e privadas,
além da alocação e do manejo eficientes dos recursos naturais
c) ( ) Prevê ainda a diminuição do uso de combustíveis fósseis e a redução do volume
de substâncias poluentes.
d) ( ) Se configura como a mais complexa no sentido de sua concretização. Intenta dar
soluções locais, adaptadas a cada cultura e ecossistema.

2 Paulo Freire, grande educador, foi um dos precursores em problematizar a temática


Diálogo dos saberes, em sua obra Extensão ou Comunicação, em 1977, no sentido de
orientar a relação entre o técnico e o agricultor, onde todos os sujeitos são educandos
e educadores. Numa relação de ensino-aprendizagem, Diálogo de saberes é a
confluência, ou o encontro do conhecimento científico, sistematizado, comprovado,
aprendido na escola com o conhecimento ou saber popular adquirido por meio da
experiência de vida do agricultor nas diversas dimensões, que expressa o que faz
sentido para ele, sua visão de mundo, sua identidade de agricultor. Sobre o exposto,
analise as afirmativas a seguir:

I- No Diálogo de saberes está implícita a construção conjunta do conhecimento ou a


produção coletiva de conhecimentos, sem haver imposição de receitas, técnicas ou
soluções prontas, sem “invasão cultural”.
II- O importante no âmbito cultural e das relações existentes em sociedade é de que
o diálogo pressupõe troca, uma relação de sujeitos iguais, ambos educadores e
educandos, ou seja, numa relação horizontal em que nenhum é melhor ou mais que
o outro, e ambos são possuidores de conhecimentos, cientificamente ou apenas
socialmente construído.
III- Na proposta de diálogo entre os saberes deve-se pensar numa epistemologia que trate
a contextualização e a concepção religiosa da vida como princípios filosóficos naturais.

Assinale a alternativa CORRETA:

146
a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
b) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
c) ( ) Somente a afirmativa III está correta.
d) ( ) Somente a afirmativa II está correta.

3 Eles emergem com muita força em vários países latino-americanos, como sujeitos
e não mais como objetos da política. São atores fundamentais em processos de
democratização no Equador e na Bolívia, em particular. Não só sujeitos, mas também
portadores de alternativas de sua própria forma de ver o mundo. Sobre o exposto,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Europeus.
b) ( ) Trabalhadores.
c) ( ) Povos marginalizados.
d) ( ) Movimentos Indígenas.

4 As diferentes culturas trazem variações nas características e na formação de


identidades sociais. Essas diferentes identidades se expressam num coletivo. Isso
porque as pessoas convivem em ambientes diferentes e acabam desempenhando
diversificados papéis, formando um complexo de características. Descreva como
pode ser reconhecida essa identidade social, exemplificando.

5 Quando se deseja estabelecer um conceito de diversidade cultural e desigualdade


social, percebe-se que há diferenças não só no significado da palavra, mas na
constituição do próprio conceito. Diversidade possui significado diferente de
desigualdade. No entanto, apesar da diferença, há uma relação entre elas, que se
estabelece a partir da forma em que se constituiu a diversidade num determinado
país ou região. Isto posto, disserte sobre o processo e as contribuições da diversidade
étnico-cultural brasileira.

147
148
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%E2%80%9Csumak%20kawsay%E2%80%9D%20prop%C3%B5e%20a,parte%20
inerente%20ao%20ser%20social.&text=O%20ser%20individualizado%20da%20
modernidade,e%20viver%20com%20sua%20alteridade. Acesso em: 20 mar. 2020.

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Rio de Janeiro: Guanabara, 1982. p. 482-490.

154
UNIDADE 3 —

EDUCAÇÃO, CULTURA
E SOCIEDADE EM
SALA DE AULA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• analisar as relações culturais e de consumo existentes em sociedade a partir das


salas de aula;

• refletir sobre as práticas interculturais em sociedade e nas salas de aula;

• promover o debate e a inclusão de gênero em sala de aula com o suporte das teorias
decoloniais;

• compreender a estrutura e aplicabilidade da BNCC em sala de aula.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – INTERCULTURALIDADE EM SALA DE AULA


TÓPICO 2 – SALA DE AULA NO SÉCULO XXI
TÓPICO 3 – BNCC: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

155
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A TRILHA DA
UNIDADE 3!

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156
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
INTERCULTURALIDADE EM SALA DE AULA

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico estudaremos a multiculturalidade. O multiculturalismo pode ocorrer
em escala nacional ou nas comunidades de uma nação. Pode ocorrer naturalmente
por meio da imigração ou artificialmente quando jurisdições de diferentes culturas são
combinadas por meio de decreto legislativo.

Também abordaremos a interculturalidade. A Interculturalidade é um termo


usado para indicar um conjunto de propostas de convivência democrática entre
diferentes culturas, buscando a integração entre elas sem anular sua diversidade

Por fim, veremos acerca das práticas interculturais em sala de aula, que englobam
relações étnico-raciais, questões de gênero e sexualidade, pluralismo religioso, relações
geracionais, culturas infantis e juvenis, povos tradicionais e educação diferenciada,
entre outros.

2 MULTICULTURALIDADE
A natureza humana resulta do aprendizado cultural e por conseguinte é a
responsável pela diversidade humana, nascemos seres biológicos e o que nos torna
humanos é a cultura. Os processos culturais abrangem as práticas humanas e suas
manifestações, como os conhecimentos, as crenças, os valores, os costumes, as artes,
a tecnologia, que podem ser analisadas como representações simbólicas.

NOTA
Multiculturalidade: em que há, em simultâneo, várias culturas num
mesmo território, país etc.; multicultural.

FONTE: <https://www.dicio.com.br/multiculturalidade/>. Acesso em: 22


maio 2021.

A noção de processo é o resultado do fato de a cultura ser dinâmica e de


estar relacionada às transformações sócio-históricas em que interagem relações
de causa e de consequência. Sendo assim, o que confere unidade ao ser humano
“(...) é a sua aptidão à variação cultural, ou seja, aquilo que os seres humanos têm

157
em comum é a sua capacidade para se diferenciar uns dos outros, para elaborar
costumes, línguas, modos de conhecimento, instituições, jogos profundamente
diversos” (LAPLANTINE, 1994, p. 22).

Desse modo, cada sociedade, cada cultura tem sua dinâmica própria, construída
historicamente dentro do seu contexto específico e único. Esse processo resulta na
diversidade cultural existente, ou seja, sociedades multiculturais, que no contexto da
globalização, que permitiu a aproximação das pessoas por meio do desenvolvimento das
tecnologias, que abreviaram distâncias. Novas e complexas redes foram criadas, todas
interdependentes, com uma economia multinacional e que não se limitava mais às barreiras
das tradicionais fronteiras. Nesse cenário, a cultura passou a sofrer vários processos
diferentes de produção e consumo, passando desde a homogeneização fundamentada
na cultura hegemônica estadunidense, até mesmo a um reforço das culturas locais,
tradicionais. Tudo isso acabou gerando um universo de grande variedade cultural.

NOTA
O multiculturalismo é a inter-relação de várias culturas em um mesmo ambiente.
É um fenômeno social que pode ser relacionado com a globalização e
as sociedades pós-modernas. Alguns países apresentam uma maior
multiculturalidade. Muito devido aos diferentes grupos de imigrantes
recebidos, mas também por observar outros fatores de integração e o
desenvolvimento de novas culturas a partir do choque cultural.

FONTE: <https://www.significados.com.brimulticulturalismo/>. Acesso em: 8 set. 2021.

É necessário, então, conhecermos o multiculturalismo no contexto da


globalização, que resultou em novas e complexas redes criadas, todas interdependentes,
com uma economia multinacional e que não se limitava mais às barreiras das tradicionais
fronteiras. Nesse cenário de globalização, a cultura passou a sofrer vários processos
diferentes de produção e consumo, passando desde a homogeneização fundamentada
na cultura hegemônica estadunidense, até mesmo a um reforço das culturas locais,
tradicionais. Tudo isso gerou uma grande variedade cultural. Portanto, vamos conhecer
melhor o multiculturalismo, suas características e seus desafios.

O que é o multiculturalismo?

Em linhas gerais, o multiculturalismo se relaciona, tanto do ponto de vista


acadêmico quanto das políticas institucionais, com as questões levantadas pelo
surgimento das sociedades multiculturais. Essas nada mais são do que sociedades
que abrigam, em um mesmo local, povos de origens culturais diferentes. Vale dizer
que a aceitação entre esses diversos grupos pode variar desde a tolerância até o

158
conflito aberto, passando até mesmo por rejeição. Tudo vai depender de como a
cultura dominante se impõe entre as demais, além das políticas públicas definidas
pelo Estado e até mesmo a formação histórica daquele território.

O fato é que a convivência entre culturas não é algo recente, mas se intensificou
bastante nas últimas décadas, devido a muitas mudanças ocorridas no mundo atual.
A principal delas é o fenômeno da globalização. Por um lado, esse ideário propagou
uma forma única de ver o mundo, em que prevalece o Capitalismo neoliberal, a
democracia liberal e todos os seus valores decorrentes, incluindo uma cultura
massificada e um modo de vida ocidentalizado e “americanizado”, que passou a
atingir todos os cantos do planeta.

Por outro lado, várias culturas tradicionais se fortaleceram na luta para


evitar justamente essa homogeneização cultural advinda do Ocidente. Isto é, apesar
dessa massificação cultural, muitas comunidades locais conseguem desenvolver
sua própria cultura, até mesmo se apropriando de pedaços da cultura hegemônica,
produzindo algo novo e original. O rap e o funk brasileiros são alguns exemplos disso.

FONTE: <https://www.gestaoeducacional.com.br/multiculturalismo-o-que-e/>. Acesso em: 22 abr. 2021.

DICA
Para saber mais sobre o Multiculturalismo, sugiro a leitura do seguinte livro:
MCLAREN, Peter. Multiculturalismo Crítico. São Paulo: Cortez, 1997.

Quais as principais características do multiculturalismo?

• A capacidade de assimilar algo de qualquer cultura e criar novas expressões culturais,


respeitando os princípios e valores fundantes das culturas em contato.
• É um fenômeno social que não discrimina, pois evita o desconhecimento e preconceito
referente às culturas e faz o caminho inverso o da integração cultural.
• Entende-se que o multiculturalismo é altamente nivelado, pois deixa de lado as
representações discriminatórias que são geralmente provocadas por medo ou por
desconhecimento do outro. Ao mesmo tempo, o multiculturalismo admite a existência
de todas as culturas e não renega nenhuma, pois nesse aspecto todas elas podem
contribuir da mesma maneira na geração de uma nova expressão cultural.
• Muitos consideram o multiculturalismo uma espécie de antídoto em relação ao
eurocentrismo e ao imperialismo cultural estadunidense.

159
NOTA
Posturas diante da diversidade cultural.
DIAGRAMAÇÃO: Favor inserir ponto final após a palavra “comportamento”, no
primeiro quadrado do relativismo.

FONTE: <https://bit.ly/3dvS5HH>. Acesso em: 20 abr. 2021.

Quais os desafios para o Multiculturalismo?

DESAFIOS MULTICULTURAIS

Apesar de ter aumentado a sua importância neste novo século, o multiculturalismo


ainda tem alguns desafios pela frente. Em primeiro lugar, é preciso superar as críticas
recebidas do ponto de vista teórico. Uma das principais críticas é a ideia de que para que
esse conceito possa prosperar é necessário que as identidades culturais devam deixar
de existir isoladamente. O problema é que isso pode levar muitas culturas históricas a
perderem sua essência, tirando sua originalidade e podendo causar justamente o que o
multiculturalismo tenta combater: a homogeneização das culturas.

Outra crítica que alguns destacam é que esse fenômeno não prevê uma
integração de fato das culturas, mas o domínio de algumas em relação a
outras. Há desafios também no campo prático. Embora muitos países democráticos
tenham buscado aceitar e incorporar culturas distintas em seus territórios, outros
negam direitos sociais e perseguem as minorias culturais. Em alguns casos, ainda
que exista uma política pública favorável a esse processo, o que ocorre no dia a dia é
a perseguição feita por indivíduos comuns, organizados ou não, inflamados por
um nacionalismo doente que rejeita o outro.

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3DJ4e9k>. Acesso em: 22 abr. 2021.

160
Caro acadêmico, em sociologia, de forma ampla, o multiculturalismo descreve
a maneira como uma dada sociedade lida com a diversidade cultural e com base na
suposição subjacente de que membros de culturas frequentemente muito diferentes
podem coexistir pacificamente, o multiculturalismo expressa a visão de que a sociedade
é enriquecida preservando, respeitando e até encorajando a diversidade cultural.

Na área da sociologia e filosofia política, o multiculturalismo se refere às


maneiras pelas quais as sociedades optam por formular e implementar políticas oficiais
que tratem do tratamento equitativo de diferentes culturas. Na implementação das
políticas públicas, tendo como referencial o conceito de multiculturalismo, quais seriam
as principais vantagens para a vida em sociedade?

• O multiculturalismo é a forma como uma sociedade lida com a diversidade cultural,


tanto em nível nacional como comunitário.
• Sociologicamente, o multiculturalismo pressupõe que a sociedade como um todo
se beneficia do aumento da diversidade por meio da coexistência harmoniosa de
diferentes culturas.

O multiculturalismo pode ocorrer em escala nacional ou nas comunidades de


uma nação. Pode ocorrer naturalmente por meio da imigração ou artificialmente quando
jurisdições de diferentes culturas são combinadas por meio de decreto legislativo. Os
defensores do multiculturalismo acreditam que as pessoas devem reter pelo menos
algumas características de suas culturas tradicionais. Por sua vez, os oponentes dizem
que o multiculturalismo ameaça a ordem social ao diminuir a identidade e a influência
da cultura predominante.

Se tratando da diversidade existente nos processos sociais de relações e


integração, quais seriam as principais características de uma sociedade multicultural?

SOCIEDADES MULTICULTURAIS

Sociedades multiculturais são caracterizadas por pessoas de diferentes raças,


etnias e nacionalidades vivendo juntas na mesma comunidade. Em comunidades
multiculturais, as pessoas mantêm, transmitem, celebram e compartilham seus
modos de vida, línguas, arte, tradições e comportamentos culturais únicos.

As características do multiculturalismo geralmente se espalham nas escolas


públicas da comunidade, onde os currículos são elaborados para apresentar aos
jovens as qualidades e benefícios da diversidade cultural. Embora às vezes criticado
como uma forma de “correção política”, os sistemas educacionais em sociedades
multiculturais enfatizam as histórias e tradições das minorias nas salas de aula e
nos livros didáticos.

161
Longe de ser um fenômeno exclusivamente norte americano, exemplos de
multiculturalismo são encontrados em todo o mundo.

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3sBW9gt>. Acesso em: 22 abr. 2021.

Em síntese o multiculturalismo é um fenômeno extremamente típico de final do


século XX e início do século XXI. Isso tem a ver com um processo de maiores alcances
conhecido como globalização e que se caracteriza principalmente pelo estabelecimento
de laços entre todas as regiões do mundo de maneira inevitável e indiscutível. A diversidade
ocorre quando pessoas de diferentes raças, nacionalidades, religiões, etnias e filosofias
se reúnem para formar uma comunidade. Uma sociedade verdadeiramente diversa é
aquela que reconhece e valoriza as diferenças culturais de seu povo. Os defensores da
diversidade cultural argumentam que ela torna a humanidade mais forte e pode, de fato,
ser vital para sua sobrevivência a longo prazo. Ao reconhecer e aprender sobre esses
vários grupos, as comunidades constroem confiança, respeito e compreensão em todas
as culturas. Comunidades e organizações em todos os ambientes se beneficiam das
diferentes origens, habilidades, experiências e novas formas de pensar que vêm com a
diversidade cultural.

3 INTERCULTURALIDADE
A interculturalidade enfoca a necessidade do diálogo, da vontade de inter-
relação e não de dominação. Um diálogo cujas regras, não podem ser firmadas
unilateralmente e nem a priori, mas que devem ser estabelecidas no decorrer do
mesmo e com a confiança mútua. Portanto, a compreensão é um elemento central
na construção de relações interculturais. Uma comunicação só se torna eficaz
quando se chega a um grau de compreensão aceitável para os interlocutores, isto é, a
interculturalidade só ocorre quando um grupo começa a entender e assumir o sentido
que as coisas e objetos têm para os outros.

FIGURA 1 – A DIFERENÇA NOS ENRIQUECE E O RESPEITO NOS UNE

FONTE: <http://cieepr.org.br/wp-content/uploads/2020/11/diversidade.jpg>. Acesso em: 22 abr. 2021.

162
A interculturalidade tem lugar quando duas ou mais culturas entram em
interação de uma forma horizontal e sinérgica. Para tal, nenhum dos grupos se deve
encontrar acima de qualquer outro que seja, favorecendo, assim, a integração e a
convivência das pessoas. Esses tipos de relações interculturais implicam em ter respeito
pela diversidade; embora, por razões óbvias, o aparecimento de conflitos seja inevitável
e imprevisível, podem ser resolvidos através do respeito, do diálogo.

FIGURA 2 – O VERDADEIRO DIÁLOGO

FONTE: <https://bit.ly/3TNlwI5>. Acesso em: 19 mar. 2021.

A Interculturalidade é um termo usado, nas palavras do professor e pesquisador


Fleuri (2018), para indicar um conjunto de propostas de convivência democrática entre
diferentes culturas, buscando a integração entre elas sem anular sua diversidade, ao
contrário, fomentando o potencial criativo e vital resultante das relações entre diferentes
agentes e seus respectivos contextos. O termo tem origem e vem sendo utilizado com
frequência nas teorias e ações pedagógicas, mas saiu do contexto educacional e
ganhou maior amplitude passando a referir-se também às práticas culturais e políticas
públicas. Esse termo diferencia-se de outro bastante usado no estudo da diversidade
cultural que é o da multiculturalidade que indica apenas a coexistência de diversos
grupos culturais na mesma sociedade sem apontar para uma política de convivência.

O termo interculturalidade, segundo Fleuri (2018), pode ser usado como uma
forma de indicar como a cultura flui e como ela faz para se fundir com outras culturas.
Pode ser visto também, como algo que está em constante mobilidade para alterar o
meio no qual se vive, seja pela fusão, adição de novos elementos ou mesmo subtração
deles. Sobretudo, a interculturalidade é vista como um meio de experimentar a cultura
de outro indivíduo e ter interesse em conhecer mais sobre ela e sobre a pessoa também,
preza por valores como respeito, cidadania, igualdade, tolerância, democracia na
educação, e direitos humanos.

Nos escritos do teólogo, filósofo e antropólogo Albó (2005), interculturalidade


pode ser definida como qualquer relação entre pessoas ou grupos sociais de diversas

163
culturas. A interculturalidade, segundo ele, pode ser negativa quando a relação acaba
destruindo ou reduzindo o que é culturalmente distinto (etnicídio cultural) ou até
mesmo quando há simplesmente a assimilação da cultura dominante pela cultura
dominada ou positiva quando resulta na aceitação do que é culturalmente distinto e
na troca de conhecimentos, com enriquecimento mútuo. A simples tolerância do que
é culturalmente diferente, sem um verdadeiro intercâmbio enriquecedor, não chega a
ser uma interculturalidade positiva. As relações de alteridade são positivas quando os
dois polos – o da própria identidade e o outro – se fortalecem, se enriquecem e se
transformam mutuamente, sem, no entanto, deixar de ser o que são.

Naturalmente, alerta Albó (2005), para que esses mecanismos funcionem em


ambos os sentidos, com alguma forma de mútua reciprocidade, as relações devem
estar baseadas numa certa simetria, conseguida, quase sempre, por meio de longos,
pacientes e, às vezes, dolorosos processos desenvolvidos nos planos interpessoal,
grupal e estrutural. Apesar de a raiz fundamental da interculturalidade positiva estar
nas relações interpessoais entre indivíduos isoladamente ou em grupo, não é possível
trabalhar apenas nesse nível. É preciso transformar as instituições e estruturas que
constituem o corpo social sistema educativo, meios de comunicação, sistema judiciário,
polícia, igrejas, entre outros, mas principalmente o sistema econômico para que reflitam
e facilitem as relações positivas entre os diversos grupos de pessoas. Estabelecer
relações interculturais positivas, é muito mais fácil quando há culturas distintas, mas de
igual posição e prestígio social. Ele lamenta, no entanto, que as relações interculturais
assimétricas sejam muito mais comuns no mundo cada vez mais globalizado e injusto.

Portanto, a interculturalidade enfoca a necessidade do diálogo, da vontade de


inter-relação e não de dominação. Um diálogo cujas regras, não podem ser firmadas
unilateralmente e nem a priori, mas que devem ser estabelecidas no decorrer do mesmo
e com a confiança mútua. Portanto, a compreensão é um elemento central na construção
de relações interculturais. Uma comunicação só se torna eficaz quando se chega a
um grau de compreensão aceitável para os interlocutores, isto é, a interculturalidade
só ocorre quando um grupo começa a entender e assumir o sentido que as coisas e
objetos têm para os outros.

Para tanto, na sociedade atual global é necessário promover valores, atitudes e


comportamentos que fomentem o diálogo, a não-violência, a tolerância e a reaproximação
de culturas. A Interculturalidade pode contribuir para que um pluralismo cultural assente
em trocas culturais e contatos entre indivíduos e grupos de diferentes raízes culturais.

O diálogo entre culturas é, portanto, um fator essencial para a construção de uma


cultura de paz. Simultaneamente, tem um papel muito importante na coesão social, já
que as sociedades são cada vez mais heterogêneas e possuem elementos de diferentes
origens culturais. Esse fenômeno faz das sociedades um organismo extremamente rico
e em constante mudança. Para além disso, a Interculturalidade contribui ainda para a
riqueza das produções culturais e artísticas, já que favorece sincretismos e o surgimento
de diferentes leituras e interpretações de um único bem cultural.

164
NOTA
Reinaldo Fleuri destaca a necessidade de que a interculturalidade esteja
baseada numa política da diferença e não apenas da diversidade. As políticas
de diversidade pressupõem que você possa categorizar os diferentes públicos
socioculturais a partir de alguns padrões mais ou menos gerais. Categorizamos
diferentes grupos étnicos por suas características genéricas e
enquadramos os indivíduos nessas categorias. Já as políticas da diferença
consideram que as diferenças se constituem na interação viva entre as
próprias pessoas, os próprios grupos e que, nesse jogo de forças, cada um
vai se constituindo, se posicionando, propondo contrapontos, interagindo
com todos. Vão se configurando processos de identificação e, portanto, de
diferenciação (FLEURI, 2018).

4 PRÁTICAS INTERCULTURAIS EM SALA DE AULA


A proposta de estudo neste bloco de conteúdos sobre Práticas Interculturais
em sala de aula é a partir de uma visão mais ampla do conceito sociológico de Educação
e de Sala de Aula. Já estudamos que os processos culturais existentes na sociedade
humana passam pelas trocas de relações entre grupos e sujeitos mediatizados pelo
mundo e o mecanismo que promove cultura e a humanização é a Educação.

Nosso direcionamento, portanto, é perceber e compreender o termo sala de


aula nos próximos assuntos estudados como um espaço vivido e de trabalho humano.
Ensinar e aprender em locais que são estabelecidas as relações de integração e troca
culturais. Apresentaremos dois locais/espaços de ensinar e aprender as práticas culturais
em sociedade. As salas de aula serão, Educação (Escola/Universidade), Intercâmbios
(Empresas/Pesquisa/Estudos).

Relações étnico-raciais, questões de gênero e sexualidade, pluralismo religioso,


relações geracionais, culturas infantis e juvenis, povos tradicionais e educação
diferenciada, entre outros, são temas fortemente presentes na sociedade na atualidade.
Tais assuntos provocam debates, controvérsias e reações de intolerância e discriminação,
assim como suscitam diversas iniciativas orientadas a trabalhá-las numa perspectiva
direcionada à afirmação democrática, ao respeito à diferença e à construção de uma
sociedade em que todos e todas possam ser plenamente cidadãos e cidadãs.

A complexidade das relações sociais e a diversidade cultural atualmente


requerem novas formas de se elaborar o conhecimento e a pesquisa no âmbito da
Educação. A constante relação entre os fenômenos culturais e as grandes mudanças e
avanços ocorridos nas ciências, atuaram e atuam como processos de desestabilização
e fragmentação dos códigos culturais, ou seja, as distâncias e barreiras entre os sujeitos,
as culturas e suas formas de manifestação estão cada vez mais estreitas e articulando-
se por completo, tornando o mundo cada vez mais interconectado em suas novas
combinações espaço-tempo.
165
DICA
“O diálogo é o encontro entre os homens, mediatizados pelo mundo,
para designá-lo. Se ao dizer suas palavras, ao chamar ao mundo, os
homens o transformam, o diálogo impõe-se como o caminho pelo qual
os homens encontram seu significado enquanto homens; o diálogo é,
pois, uma necessidade existencial” (FREIRE, 1987, p. 42).

É percebido que a escola e a Universidade, através de seus docentes, têm


ignorado conhecimentos e experiências dos grupos cujos padrões culturais não
correspondem aos impostos pela cultura ocidental hegemônica, pois a instituição
educacional parece ter dificuldade em reconhecer que grande parte da população não
se enquadra nos parâmetros determinados por uma concepção universalista de cultura.

Por tudo, não é raro observarmos que os estudantes apresentem resistência


com relação à escola ou a universidade, porque, muitas vezes, seus valores e saberes
não são aceitos e nem valorizados dentro desse contexto.

Por sua vez, na sociedade existe uma crescente sensibilidade para a temática
das diferenças culturais que se manifesta em diversos âmbitos sociais. No entanto, no
que se refere à educação escolar, é possível detectar uma sensação de impotência, de
não sabermos lidar positivamente com essas questões. Para avançar na incorporação
da perspectiva intercultural no cotidiano escolar e acadêmico, é importante que ela seja
introduzida nos processos de formação continuada realizados coletivamente na própria
escola e universidade.

Entendendo que todas as culturas têm valor e podem contribuir para enriquecer
o processo de construção do conhecimento, acredita-se que a Educação deveria
assumir uma perspectiva intercultural, pois ela apresenta-se como uma possibilidade
de se compreender a complexidade das interações humanas, criando condições para
que haja crescimento de todos os sujeitos e grupos aos quais pertencem, promovendo
mudanças profundas na educação.

Podemos afirmar então, que a incorporação de uma perspectiva intercultural,


"não pode ser reduzida a algumas situações e/ou atividades realizadas em momentos
específicos ou por determinadas áreas curriculares, nem focalizar sua atenção a
determinados grupos sociais" (CANDAU, 2000, p. 51).

A partir dessa perspectiva a concepção de Educação é ampliada, passando a


ser entendida, como salienta Fleuri (2003, p. 20):

Como um processo construído pela relação tensa e intensa entre


diferentes sujeitos, criando contextos interativos que, justamente,
por se conectar dinamicamente com os diferentes contextos

166
culturais em relação aos quais os diferentes sujeitos desenvolvem
suas respectivas identidades, se torna um ambiente criativo e
propriamente formativo.

Uma das condições fundamentais para práticas educativas interculturais é a


necessidade de uma reestruturação cultural das formas de agir, sentir e pensar o mundo,
e, portanto, a Educação. Essa estruturação, de nada servirá se não implementarmos
mudanças em aspectos culturais enraizados em nossas escolas e universidades,
que pelas transformações constantes na sociedade, acabam não satisfazendo mais
as necessidades dos sujeitos. Candau (1998) defende uma proposta de formação de
professores fundamentada na perspectiva intercultural, acreditando que somente com
uma formação voltada para a diversidade cultural os professores podem colaborar para
desestabilizar o papel homogeneizador da cultura escolar.

A formação de professores precisa ser considerada como um espaço importante


para começar as mudanças, acreditarmos na necessidade de se investir na formação
inicial e, principalmente continuada, para os professores em serviço, com propostas
que venham sensibilizar os educadores para a diversidade cultural, o que pode
significativamente contribuir para os sujeitos saírem da menoridade e construírem-se
como sujeitos críticos, criativos e autônomos, buscando o esclarecimento das questões
que permeiam o mundo.

Outra necessidade para a promoção de diálogo e implementação de uma


visão intercultural em diversos espaços e locais é o intercambio. Fazer um intercâmbio
e vivenciar experiências culturas diferentes é, hoje, um dos sonhos da maioria dos
estudantes ou futuros profissionais. O intercâmbio pode ser uma abertura de horizontes,
uma ponte para fazer novas amizades, conhecer novas culturas, estilos de vidas, rever
valores, aprender sobre respeito mútuo entre as diferentes nações do mundo.

Estudar no exterior é, de fato, uma experiência internacional maravilhosa,


mas ela é automaticamente intercultural? Apesar de serem usadas como sinônimo
e estejam interligadas, as duas são coisas diferentes. Aliás, você sabe o que isso
significa? Uma experiência intercultural requer preparo e, quando bem-sucedida,
traz enormes benefícios à sua vida. O que é e quais são os benefícios da experiência
(intercâmbio) intercultural?

A psicóloga Góes (2020) alerta que, a experiência internacional e intercultural, embo-


ra estejam relacionadas, não são sinônimos. Nem toda experiência internacional (de contato
com um outro país, uma outra cultura) é, necessariamente, uma experiência intercultural.

A experiência intercultural vai além do simples contato com outra cultura e envolve,
entre outros fatores, curiosidade, troca, interesse genuíno pelo outro, reconhecimento
das diferenças, respeito e aprendizado. Assim, uma experiência intercultural se torna
mais enriquecedora, reconhecendo outros valores, comportamentos e visões de mundo
que possam ser diferentes, além de ter um grande potencial para auxiliar na aquisição

167
e desenvolvimento de diversas habilidades e capacidades em todas as faixas etárias. O
estudante pode fazer isso de diversas formas. Dentre elas, Góes (2020) destaca:

QUADRO 1 – EXPERIÊNCIA INTERCULTURAL

1. Estudar o idioma do país que pretende viajar: não é preciso, necessariamente ter um
nível de idioma fluente, mas sabemos que a habilidade de se expressar no idioma local está
diretamente ligada a adaptação (pois impacta nos relacionamentos sociais, na vida escolar
e na rotina do estudante).
2. Exercitar a curiosidade: pesquisar e conhecer mais sobre o país que pretende estudar:
sua história, costumes, cultura, enfim, ter informações e conhecimento sobre o destino vai
auxiliar no processo de adaptação no futuro.
3. Além de conhecer mais sobre o outro (a cultura e o país), é fundamental conhecer mais sobre
si. Exercitar o autoconhecimento é compreender quais são as suas forças e qualidades, ter
a clareza dos seus objetivos em estudar fora, compreender como se lida com mudanças,
com o imprevisto entre outros elementos. Desbravar o mundo interno certamente auxiliará
o estudante a desbravar o mundo lá fora.
4. Treinamento Intercultural: essa é uma excelente ferramenta para auxiliar no processo de
preparação para uma experiência no exterior. Compreender e desenvolver ferramentas para
lidar com a adaptação, o stress cultural, as diferenças culturais, os sentimentos envolvidos
contribuem para que o jovem embarque mais confiante, seguro e preparado e assim esteja
mais capacitado para lidar com os desafios e usufruir melhor a experiência intercultural.

FONTE: <https://bit.ly/3DjxDWn>. Acesso em: 9 set. 2021.

Uma experiência intercultural é um convite para se adquirir e desenvolver


habilidades que serão úteis durante a vivência no exterior, e certamente fundamentais
para a vida. É uma convocação para se lidar com diferenças assim como no intercâmbio
diariamente. Conversar com pessoas com posicionamentos diferentes, exercitar a empatia
com um vizinho e até mesmo trabalhar (presencialmente ou virtualmente) com pessoas
de diversos lugares do mundo e, portanto, com valores e comportamentos diferentes.
Assim, a experiência pessoal certamente ajudará e desenvolverá diariamente a continuar
exercitando essas habilidades para construir relacionamentos mais saudáveis e positivos.

DICA
A ideia de expansão internacional é sempre muito interessante, pois significa novas
oportunidades de atuação, novos ganhos e um crescimento da importância do seu
negócio em escala global. O problema é que essa guinada também envolve
riscos, e é preciso estar preparado para encará-los. Uma forma de minimizá-
los é investindo na experiência intercultural dos colaboradores. A experiência
intercultural nada mais é do que permitir que o colaborador passe algum
tempo em outra empresa que se localiza na região para a qual se quer
expandir. Com essa espécie de imersão, será possível construir uma
análise mais acertada do cenário que se vai encontrar. É preciso então:
entender a cultura de outros países e sua legislação; adquirir experiência
antes de expandir; identificar na experiência intercultural vantagens e
desvantagens da expansão.

FONTE: <https://bit.ly/3DhkNrG>. Acesso em: 14 maio 2021.

168
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• Os processos culturais abrangem as práticas humanas e suas manifestações, como


os conhecimentos, as crenças, os valores, os costumes, as artes, a tecnologia, que
podem ser analisadas como representações simbólicas. A noção de processo é o
resultado do fato de a cultura ser dinâmica e de estar relacionada às transformações
sócio-históricas em que interagem relações de causa e de consequência.

• Em linhas gerais, o multiculturalismo se relaciona, tanto do ponto de vista acadêmico


quanto das políticas institucionais, com as questões levantadas pelo surgimento das
sociedades multiculturais. Essas nada mais são do que sociedades que abrigam, em
um mesmo local, povos de origens culturais diferentes.

• O multiculturalismo é um fenômeno extremamente típico de final do século XX e


início do século XXI. Isso tem a ver com um processo de maiores alcances conhecido
como globalização e que se caracteriza principalmente pelo estabelecimento de
laços entre todas as regiões do mundo de maneira inevitável e indiscutível.

• A interculturalidade enfoca a necessidade do diálogo, da vontade de inter-relação e


não de dominação. Um diálogo cujas regras, não podem ser firmadas unilateralmente
e nem a priori, mas que devem ser estabelecidas no decorrer desse diálogo e com a
confiança mútua.

• Interculturalidade pode ser definida como qualquer relação entre pessoas ou grupos
sociais de diversas culturas. A interculturalidade, segundo Albó (2005), pode ser
negativa quando a relação acaba destruindo ou reduzindo o que é culturalmente
distinto ou até mesmo quando há simplesmente a assimilação da cultura dominante
pela cultura dominada ou positiva quando resulta na aceitação do que é culturalmente
distinto e na troca de conhecimentos, com enriquecimento mútuo.

• A complexidade das relações sociais e a diversidade cultural atualmente requerem


novas formas de se elaborar o conhecimento e a pesquisa. A constante relação entre
os fenômenos culturais e as grandes mudanças e avanços ocorridos nas ciências,
atuaram e atuam como processos de desestabilização e fragmentação dos códigos
culturais, ou seja, as distâncias e barreiras entre os sujeitos, as culturas e suas formas
de manifestação estão cada vez mais estreitas e articulando-se por completo,
tornando o mundo cada vez mais interconectado em suas novas combinações
espaço-tempo.

169
AUTOATIVIDADE
1 O debate em torno da diversidade cultural tornou-se importante para orientar a
construção de políticas públicas, principalmente nas áreas da cultura, do emprego
e da educação, devido à garantia das condições materiais básicas para todos. No
âmbito das discussões sociológicas, tornou-se mais intensa sob quais conceitos?

a) ( ) Multiculturalidade.
b) ( ) Plurianual.
c) ( ) Transcendência.
d) ( ) Nenhuma opção apresentada.

2 As sociedades de forma geral são formadas não só por diferentes etnias, como
por imigrantes de diferentes países. Além disso, as migrações colocam em contato
grupos diferenciados. A convivência entre grupos diferenciados nos planos social e
cultural muitas vezes é marcada pelo preconceito e pela discriminação. Com relação
aos processos interculturais, analise as afirmativas a seguir:

I- É necessário compreender que atitudes com relação à diversidade etnocultural,


normas e valores, comportam uma dimensão social e uma dimensão religiosa que
refletem os princípios assumidos pessoalmente por cada um a partir dos vários
sistemas normativos que circulam na questão da fé.
II- O grande desafio da sociedade humana é investir na superação da discriminação e
dar a conhecer a riqueza representada pela diversidade etnocultural que compõe o
patrimônio sociocultural, valorizando a trajetória particular dos grupos que compõem
as diversas sociedades.
III- Para viver democraticamente em uma sociedade plural é preciso respeitar os
diferentes grupos e culturas que a constituem.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.


b) ( ) Somente a afirmativa II está correta.
c) ( ) As afirmativas II e III estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.

3 As práticas interculturais, no contexto das lutas sociais contra os processos crescentes


de exclusão social inerentes à globalização econômica, propõem o desenvolvimento
de estratégias que promovam a construção de identidades particulares e o
reconhecimento das diferenças, ao mesmo tempo em que sustentem a inter-relação
crítica e solidária entre diferentes grupos. Referente às práticas interculturais, assinale
a alternativa CORRETA:

170
a) ( ) Uma prática intercultural encara a diversidade dos alunos como um problema e,
perante ela, recorre a práticas que permitem a cada um deles conhecer melhor
a si e aos outros. Para isso, transporta para a escola os saberes do cotidiano
e as especificidades dos diversos grupos e trabalha-os de forma esporádica e
fragmentada, mas contextualizados e vivenciados por processos interagidos.
b) ( ) A prática intercultural bem conduzida permite reconhecer a identidade ao outro
e, sobretudo, conhecer o outro na sua diferença e complexidade.
c) ( ) A prática intercultural é um princípio subjacente a toda a atividade religiosa, e
não um novo dogma
d) ( ) Práticas interculturais pressupõem uma ação individual que não se esgota nos
conteúdos e nas matérias selecionados para o ensino e a aprendizagem. Ao
contrário, atravessam todos os aspectos da organização e gestão pessoal.

4 Não há unanimidade quanto à Pós-modernidade. Além disso, a Pós-modernidade é


o nome designado para as mudanças que aconteceram por volta dos anos 1950 em
diante, em diversos campos, entre eles: as ciências, as artes, avanços tecnológicos
(computação, ciências cognitivas etc.). Da mesma forma, a Pós-modernidade tomou
corpo por volta dos anos 1960 na arte pop e nos anos 1970 quando chega à filosofia.
Disserte sobre as visões de intelectuais a respeito da Pós-modernidade

5 Não se pode negar que vivemos em um contexto e em um período de constantes


mudanças e transformações. Estas mudanças abalam os mais diversos âmbitos da
sociedade. Neste contexto, o mercado de trabalho não passa imune. É recorrente
encontrar afirmações de que a educação/formação/qualificação é imprescindível
para que os indivíduos sejam e se mantenham inseridos no mercado do trabalho.
Disserte sobre as relações existente entre educação e trabalho.

171
172
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
SALA DE AULA NO SÉCULO XXI
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico estudaremos sobre a Sociedade de Consumo e salas de aula. A
sociedade de consumo é um conceito que define um modelo de reprodução social baseado
no consumismo. A ideia de sociedade de consumo é empregada para designar uma sociedade
cujas relações de consumo ocupam uma posição estratégica na organização social.

Também veremos acerca das Sociedades Alternativas e salas de aula. Uma


Sociedade Alternativa é aquela que se diferencia do modelo de Sociedade de Exclusão,
que afasta e priva determinados indivíduos ou de grupos sociais e étnicos em diversos
âmbitos da estrutura da sociedade.

Outro ponto que será abordado neste tópico são as Salas de aulas conectadas.
A humanidade vive uma transformação das interações sociais onde passam a não
mais relacionar-se com outros indivíduos, mas sim a conectar-se e desconectar-se.
Esse novo paradigma tecnológico, é definido por novos agrupamentos humanos que
reorganizam seus significados, integrando o mundo em grandes redes local-global. Esse
novo sistema de novas tecnologias apresenta cada vez mais elementos universalizantes
como linguagem, sons, imagens, cultura, política, economia, identidade etc. Esses
produtos culturais, estão “moldando a vida e, ao mesmo tempo, sendo moldados por ela.

2 SOCIEDADE DE CONSUMO E SALAS DE AULA


Sociedade de consumo é um termo bastante utilizado para representar os
avanços de produção do sistema capitalista, que se intensificaram ao longo do século
XX notadamente nos Estados Unidos e que, posteriormente, espalharam-se e ainda
vem se espalhando pelo mundo.

NOTA
Significado de Sociedade de consumo:

Designa o tipo de sociedade que se encontra em uma etapa avançada de


desenvolvimento industrial, em que a oferta de bens e serviços quase sempre
excede a procura, e em que os padrões de consumo são massificados,
produzindo um tipo de cultura e comportamento característicos.

FONTE: <https://bit.ly/3gR6geu>. Acesso em: 8 set. 2021.

173
O desenvolvimento econômico e social é pautado pelo aumento do consumo,
que resulta em lucro ao comércio e às grandes empresas, gerando mais empregos,
aumentando a renda, o que acarreta ainda mais consumo. Uma ruptura nesse modelo
representaria uma crise, pois a renda diminuiria, o desemprego elevar-se-ia e o acesso a
elementos básicos seria mais dificultado. Uma das grandes críticas ao sistema capitalista
é a emergência desse modelo.

Qual seria essa crítica?

As críticas sobre a sociedade de consumo direcionam-se não apenas pela


perspectiva econômica, mas também pelo viés ambiental. Afinal, um dos efeitos
do consumismo é a ampliação da exploração dos recursos naturais para a geração
de matérias-primas voltadas à fabricação de mais e mais mercadorias. Estimativas
apontam que seriam necessários quatro planetas e meio para garantir os recursos
naturais para a humanidade caso todos os países mantivessem o nível de consumo
dos EUA. Com isso, há a devastação das florestas e o esgotamento até mesmo
dos recursos renováveis, tais como a água própria para o consumo, as florestas e o
solo. Além disso, os recursos não renováveis vão contando os dias para a escassez
completa, tais como as reservas de petróleo e de diversos minérios utilizados para a
fabricação dos mais diferentes produtos utilizados pela sociedade.

FONTE: <https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/o-capitalismo-sociedade-consumo.htm>. Acesso


em: 13 maio 2021.

FIGURA 3 – MUDANÇAS DE HÁBITOS

FONTE: <https://bit.ly/3SV9Q4L>. Acesso em: 23 maio 2021.

Existe uma grande crítica referente à produção de mercadorias rapidamente


descartadas. Confira no trecho a seguir.

174
Um dos aspectos mais criticados no que se refere à sociedade de consumo é
a obsolescência programada ou obsolescência planejada, que consiste na produção de
mercadorias previamente elaboradas para serem rapidamente descartadas, fazendo com
que o consumidor compre um novo produto em breve. Assim, aumenta-se o consumo,
mas também aumenta a demanda por recursos naturais e maximiza a produção de lixo,
elevando ainda mais a problemática ambiental decorrente desse processo.

Com isso, além da adoção de políticas sociais de controle ao consumismo


exagerado, é preciso encontrar meios econômicos alternativos ao desenvolvimento
pautado no consumo. Não obstante, faz-se necessária também a promoção de políticas
de reciclagem, além da reutilização ou reaproveitamento dos produtos não mais utilizados,
contendo, assim, a geração de lixo e a demanda desenfreada por matérias-primas.

FONTE: <https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/o-capitalismo-sociedade-consumo.htm>. Acesso


em: 13 maio 2021.

Para Bauman (2008), a sociedade de consumo representa o tipo de sociedade


que promove, encoraja ou reforça a escolha de um estilo de vida e uma estratégia
existencial consumistas, e rejeita todas as opções culturais alternativas. Ele fala ainda
que na sociedade de consumidores, ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro virar
mercadoria, ou seja, para que uma pessoa possa consumir nos moldes da sociedade de
consumo, ela precisa vender sua própria força de trabalho. Assim, ela é também uma
mercadoria no sistema da sociedade de consumo.

Em síntese, a sociedade de consumo é um conceito que define um modelo


de reprodução social baseado no consumismo. A ideia de sociedade de consumo é
empregada para designar uma sociedade cujas relações de consumo ocupam uma
posição estratégica na organização social. Ela é uma sociedade onde são criados
inúmeros bens de consumo para comercialização e onde o marketing tem um papel
fundamental na construção dos desejos de consumo da população, sobretudo pela
propaganda. Na sociedade de consumo, o consumo é intensificado pela criação de
necessidades de consumo. Todas as pessoas se tornam consumidores em potencial e
muitas compras são realizadas para satisfazer essas vontades impulsivas e motivadas
por fatores que excedem a necessidade material real.

DICA
A história das coisas

O vídeo “A história das coisas” é um dos vídeos mais interessantes para entender as etapas
que formam uma sociedade de consumo. Acesse em:
https://www.youtube.com/watch?v=7qFiGMSnNjw.

175
Diálogos com Zygmunt Bauman

O vídeo “Diálogos com Zygmunt Bauman” ajuda a compreender um pouco mais sobre as principais
ideias do Sociólogo polonês. Acesse em: https://www.youtube.com/watch?v=in4u3zWwxOM.

Sociedade de Consumo

O vídeo “Sociedade de Consumo (by Steve Cutts)” ajuda a compreender as


consequências socioambientais de um modelo de desenvolvimento consumista,
bem como a ação humana predatória sobre o meio. O conceito de sociedade
de consumo extrapola produtos meramente materiais. Atinge não só os bens
materiais como torna expressões culturais em mercadorias.
Acesse em: https://www.youtube.com/watch?v=QBHvsSdy56A.

3 SOCIEDADE ALTERNATIVAS E SALAS DE AULA


Uma Sociedade Alternativa é aquela que se diferencia do modelo de Sociedade
de Exclusão, que afasta e priva determinados indivíduos ou de grupos sociais e étnicos
em diversos âmbitos da estrutura da sociedade. A busca por essa sociedade alternativa se
configurara a partir dos Movimentos Sociais que criticam os sistemas de exclusões sociais.

Os movimentos sociais são formados por grupos de indivíduos que defendem,


demandam e/ou lutam por uma causa social e política. É uma forma da população se
organizar, expressar os seus desejos e exigir os seus direitos. São fenômenos históricos,
que resultam de lutas sociais, que vão transformando e introduzindo mudanças
estruturais nas sociedades buscando alternativas sociais onde a equidade e a justiça
são as bases de sustentação da sociedade reivindicada, por meio de ações coletivas são
usadas como forma de manifestação, como: passeatas, greves, marchas, entre outros.

Os movimentos sociais podem ser divididos em dois tipos:

• Conjuntural: movimento que surge devido uma demanda específica e tem curto
prazo (por exemplo as manifestações sobre o preço da passagem).
• Estrutural: movimento que quer conquistar coisas a longo prazo (por exemplo os
movimentos que lutam pelo fim do racismo).

IMPORTANTE
Um fato importante é que movimentos sociais podem ser favoráveis ao governo
vigente, basta apoiarem as mesmas lutas com as quais o governo se identifica.
O movimento social é diferente de manifestação espontânea! Manifestações
espontâneas acontecem, por exemplo, em estádios de futebol. Quando um grupo
grande de pessoas está reunido por um objetivo comum, mas não se conhecem
e não defendem os mesmos ideais.

176
Quais os principais Movimentos Sociais contemporâneos no Brasil que apresentam
uma agenda ou pauta de reivindicações de alternativas de mudanças?

Movimentos Sociais

Movimento Negro
Apesar de já ser um movimento presente desde a época da escravidão,
os negros ainda precisam lutar contra a discriminação étnica e racial.

Movimento Estudantil
Responsáveis por organizar a Passeata dos Cem Mil na década de 1960,
os estudantes dispunham de várias organizações representativas, como por
exemplo a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a UEE (Uniões Estaduais dos
Estudantes. Também estiveram presentes nas manifestações em oposição ao
governo Collor e mais recentemente na Mobilização estudantil de 2016. A luta
dos estudantes se concentra em garantir um ensino público de qualidade e não
permitir cortes de verbas destinadas a educação.

Movimento Feminista
Pode ser dividido em três “ondas”:
A primeira onda, que podemos localizar temporalmente do fim do
século XIX até meados do século XX, foi caracterizada pela reivindicação, por
parte das mulheres, dos diversos direitos que já estavam sendo debatidos — e
conquistados — por homens de seu tempo.

A segunda onda tem seu início em meados dos anos de 1950 e se


estende até meados dos anos 1990 do século XX. Foi nessa época que foram
iniciados uma série de estudos focados na condição da mulher, onde começou-
se a construir uma teoria-base sobre a opressão feminina.

Geralmente, o início da terceira onda é associado ao surgimento de movimentos


punk femininos, cuja ideologia girava em torno da negação a corporativismos e da
defesa do “faça você mesmo” (do it yourself), ou seja, o movimento feminista luta
pelos direitos das mulheres e pela igualdade de gênero.

Movimento LGBTQIA+
O movimento LGBTQIA+ (sigla que significa: Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis, Transexuais, Transgêneros, Queer, Intersexo e Assexual e mais), mais
conhecido pela sociedade como Movimento LGBT, age em busca da igualdade
social e de direitos e contra o preconceito.

Uma das ações mais conhecidas do movimento é a Parada do orgulho


LGBT de São Paulo, que acontece anualmente na Avenida Paulista e atrai turistas
de todo o mundo. O objetivo principal da Parada é a luta contra a LGBTfobia.

177
Movimento Ecológico
Concentram-se nos projetos voltados a estudar o impacto do capitalismo
no meio ambiente, reivindicando medidas de proteção ambiental.
Visa a conscientização da população e a fiscalização dos órgãos
governamentais responsáveis por tratar dos assuntos ligados ao meio ambiente.

FONTE: <https://www.politize.com.br/movimentos-sociais/>. Acesso em: 22 abr. 2021.

Na Sociedade pós-moderna, uma onda de ódio se alastra pela rede, denominada


de Discurso de Ódio. O discurso de ódio é uma das mais prolíferas formas de intolerâncias e
de xenofobia, sobretudo on-line: a internet é frequentemente palco de abusos por parte de
quem quer espalhar propaganda e difamar grupos ou pessoas diferentes. Cada vez mais no
discurso político dominante, vemos uma mistura tóxica de discurso de ódio, notícias falsas,
e “factos alternativos” que são uma ameaça real à liberdade e à Democracia. Uma forma de
combater o discurso de ódio nas redes sociais, foi criado pelo Conselho dos Direitos Humanos
Europeu, com o nome de “Movimento Contra o Discurso de Ódio”, a primeira campanha on-
line do Conselho da Europa foi lançada em 22 de março de 2013. A campanha tornou-se
um movimento presente em 45 países, uma comunidade internacional de ativistas on-line
e uma infinidade de parceiros, tendo sido a primeira iniciativa internacional ampla a abordar
o discurso de ódio e a abordá-lo como uma questão importante de Direitos Humanos. O
Movimento aborda temáticas específicas, tais como: discurso de ódio sexista, racismo,
apoio às pessoas refugiadas, solidariedade com as vítimas de crimes de ódio, islamofobia
e intolerância religiosa, antissemitismo, homofobia etc. A campanha foi enraizada no
entendimento de que a Internet é um serviço público, um espaço comum onde os Direitos
Humanos se devem aplicar a todos e todas, e onde a dignidade humana deve vir em primeiro
lugar. Através da conscientização e educação para os Direitos Humanos a campanha
promoveu a liberdade de expressão e a participação plena dos cidadãos na sociedade, tanto
on-line como off-line.

DICA
Movimento contra o discurso de ódio.
Para saber mais sobre o Movimento, acesse o site:http://www.odionao.com.pt/.

Outras formas de discriminação e de preconceito, como anticiganismo,


cristianofobia, islamofobia, misoginia, sexismo e discriminação com base na orientação
sexual e na identidade de gênero estão claramente dentro do âmbito do discurso de
ódio. O discurso de ódio on-line é um fenômeno particularmente preocupante. Caro
acadêmico, o discurso de ódio não é um fenômeno do passado, continua a ser um
perigo real. Como podemos definir o compreender esse fenômeno?

178
O discurso de ódio, cobre todas as formas de expressão que
propaguem, incitem, promovam ou justifiquem ódio racial, xenofobia,
antissemitismo e outras formas de ódio baseado na intolerância,
incluindo intolerância expressa por nacionalismo ou etnocentrismo
agressivo, discriminação e hostilidade contra minorias, migrantes e
pessoas de origem migrante (LATOUR, 2017, p. 9).

A internet criou outros espaços de comunicação e de interação com poucos


limites: quem utiliza a internet pode esconder-se através do anonimato e da distância
para expressar ódio contra outras pessoas. Para além disso, o ódio pode ser propagando
e partilhado facilmente, através de comentários ou partilhas, ganhando uma vida
própria, independente da publicação original. Os efeitos podem ser devastadores para o
alvo do discurso de ódio, mas podem também afetar a sociedade como um todo.

A internet é um campo de construção de narrativas, que é uma descrição e


interpretação lógica e internamente coerente de eventos ou informações relacionadas,
que fazem sentido para quem a escuta ou lê. Quando uma narrativa é apresentada
como a única e como normal, negando alternativas ou, em casos extremos, incitando
à violência contra quem a questiona, o problema começa a ser mais sério no caso de
narrativas violentas e extremistas, incluindo o discurso de ódio. Uma solução para
diminuir ou extinguir o discurso de ódio na internet seria a criação de contranarrativas
ou de narrativas alternativas.

As contranarrativas e as narrativas alternativas combatem o discurso


de ódio ao desacreditarem ou desconstruírem as narrativas nas quais
se baseia. Também propõem narrativas (alternativas) que se baseiam
nos Direitos Humanos e nos valores democráticos como a tolerância,
o respeito pela diferença, a liberdade e a igualdade. Essas narrativas
podem fazê-lo através de informação alternativa e detalhada,
mostrando que há várias perspectivas e visões (LATOUR, 2017, p. 17).

Pensar em sociedades alternativas frente ao discurso de ódio virtual, tem como


fundamento a aceitação das narrativas alternativas.

O termo contranarrativas é muitas vezes usado no contexto do


trabalho contra extremismo e terrorismo violento, enfatizando a
necessidade de desconstruir e enfraquecer as narrativas violentas
que podem parecer atrativas, especialmente aos e às jovens. O uso do
termo narrativas alternativas sublinha a importância de mostrar várias
perspectivas, enfatizando alternativas positivas que ultrapassam
a imagem negativa das narrativas que pretendem combater, sem
as reforçar ao focarem-se nelas. A divisão entre esses dois termos
é muitas vezes ténue na prática, uma vez que a contranarrativa
pressupõe ou se refere implicitamente a uma narrativa alternativa
(LATOUR, 2017, p. 19).

É importante propor, desenvolver e disseminar narrativas alternativas, não discri-


minatórias e com base nos Direitos Humanos. Toda e qualquer contranarrativa ou narrati-
va alternativa deve basear-se em duas ideias centrais:

179
• Os Direitos Humanos são a base das narrativas que combatem o discurso de ódio.
• As narrativas que se baseiam nos Direitos Humanos têm um papel fundamental nas
estratégias transformadoras e emancipadoras para os e as jovens, e sobretudo para
quem é alvo direto ou para quem é agente do discurso de ódio.

NOTA
Tecnologia como aliada: os movimentos sociais em rede

A internet surgiu como uma construção de um novo espaço para debate. Compartilhando
conteúdo, informação e conhecimento, a internet tornou-se um espaço social, onde
ideias e pontos de vista podem ser disseminados a todo instante. Um terreno fértil
para os movimentos sociais se organizarem e atingirem mais militantes.
Apesar de os movimentos sociais parecerem muito ligados com a nação
a qual pertencem, você sabia que existem movimentos sociais que são
transnacionais? É o caso do Fórum Social Mundial, um evento que é
organizado por diferentes movimentos sociais pelo mundo e tem o objetivo
de apresentar soluções para problemas contemporâneos de transformação
social global, formando uma rede de globalização.

4 SALAS DE AULAS CONECTADAS


Atualmente se tem notado que a distância no aspecto geográfico não é mais
considerada, mas sim a do ponto de vista cultural, econômico, da educação continuada,
das diferentes formas de pensar e sentir, do acesso e domínio, ou não, das tecnologias
da comunicação. O que mais está em evidência é a INTERNET, e essa se faz, atualmente,
muito presente na educação no mundo do trabalho. Escolas, universidades e empresas
estão cada vez mais em busca desse recurso para não ficarem atrasadas em relação às
demais. Portanto, O uso de Novas Tecnologias coloca o profissional diante de algumas
situações que precisam ser trabalhadas em sua formação.

NOTA
10 profissões que surgiram com a Tecnologia:

1. cientista de Dados;
2. desenvolvedor de aplicativos;
3. analista de Marketing Digital;
4. especialista de Mídias Sociais;
5. tecnologia da Informação (TI);
6. desenvolvedor de Jogos;
7. desenvolvedor Web;
8. engenheiro de Software;
9. especialista em e-Commerce;
10. influenciadores digitais.

FONTE: <https://bit.ly/3h6A1s8>. Acesso em: 13 maio 2021.

180
Os computadores estão cada vez mais ultrassofisticados; a Internet está cada
vez mais rápida, dinâmica e inclusa em todas as ferramentas utilizadas como celulares,
os tablets e até na televisão; o cinema está proporcionando um avanço tão profundo que
pode se experenciar um tipo de aproximação com a realidade virtual. Os seres humanos
estão conectados, seja a outro ser ou objetos. Com o advento da internet e das novas
tecnologias, Santos (2008, p.15) afirma que:

A internet torna-se gradativamente, um meio comum de trocas


de informações, de acesso de especialista, de crianças e jovens,
de formação de equipes de trabalho, de construção de relações
de amizades, independente da distância geográfica. Diferente das
tecnologias surgidas nos últimos anos, a internet rompe não só as
barreiras geográficas, mas também de tempo e espaço, permitindo
que as informações sejam em tempo real e este novo cenário social,
tecnológico e cultural está cada vez mais familiar para todos.

Cada vez mais as novas tecnologias e a virtualidade fazem parte da socialização


humana enquanto indivíduos racionais pertencentes à sociedade. A humanidade vive
uma transformação das interações sociais onde passam a não mais relacionar-se com
outros indivíduos, mas sim a conectar-se e desconectar-se. Esse novo paradigma
tecnológico é definido por novos agrupamentos humanos que reorganizam seus
significados, integrando o mundo em grandes redes local-global. Esse novo sistema de
novas tecnologias apresenta cada vez mais elementos universalizantes como linguagem,
sons, imagens, cultura, política, economia, identidade etc. Esses produtos culturais, estão
“moldando a vida e, ao mesmo tempo, sendo moldado por ela” (CASTELLS, 2002, p. 22).

A sociedade contemporânea vive conectada à mídia, o que acarreta uma mudança


considerável na velocidade da propagação da informação, da mesma forma que colabora
para a criação de ambientes virtuais e de um novo espaço de comunicação, onde podemos
citar, por exemplo, aqueles em que os sujeitos se comunicam através de redes sociais e jogos
eletrônicos. As novas tecnologias são, então, o novo modo de vida da contemporaneidade e
que reconfigura a sociedade, resultando em novas formas de organização social.

No conjunto da sociedade da informação, a Internet é a ferramenta que ganha maior


importância para o mundo do cotidiano social. O uso da internet proporciona um contato
com vários aspectos da vida social, e as altera significativamente como a nova economia, as
atividades políticas, as identidades culturais, a sociabilidade, a educação etc.

A tecnologia é um grande motor de mudança. Não há dúvidas de que o surgimento


de novas ferramentas e dispositivos alterou profundamente a forma como as pessoas vivem
e o modo como as empresas operam. Vale lembrar, entretanto, que a transformação gerada
pela era digital é ainda mais profunda e atinge todos os indivíduos em suas mais diversas
atribuições: as relações de trabalho, por exemplo, tiveram que se adaptar à disruptura
tecnológica, a fim de enfrentar desafios iminentes e encarar novas oportunidades. Você
sabe como as relações de trabalho na era digital desafiam o profissional?

181
A tecnologia afeta as relações de trabalho

Em uma empresa, quando os equipamentos são modernos e as engrenagens


estão ajustadas, o rendimento da fábrica é alto e o faturamento do negócio cresce.
Com a tecnologia e as relações de trabalho: quando há sinergia entre a capacidade
técnica humana e o aparato tecnológico, os resultados são cada vez mais expressivos
e consistentes. Ao negligenciar o poder das inovações, os profissionais perdem a
chance de se antecipar à demanda do mercado e, claro, de corresponder às novas
exigências do trabalho. Em vez de se empenharem em uma operação manual, é
necessário que saibam administrar tecnologias automatizadas, tais como softwares
e equipamentos de última geração.

O impacto da tecnologia nas profissões

Em geral, o impacto da era digital é profundo e irrevogável. Não dá para


retroceder e eliminar tudo o que a tecnologia fez (e continuará fazendo) pelo mercado
e pelas profissões. Cabe ao profissional, portanto, a iniciativa de imergir no novo
contexto e, de lá, tirar expertises relevantes às empresas tecnológicas. Nas últimas
décadas houve um significativo avanço tecnológico com profissionais qualificados
e preparados, aptos a pensar fora da caixa e a fazer acontecer. Portanto, todas as
profissões passam por mudanças extraordinárias e cabe a cada um, no desejo de
galgar novas posições e desafios, a missão de mergulhar no paradigma tecnológico
da atualidade.

O preparo para um cenário de mudanças constantes

A resposta é direta e depende exclusivamente do profissional: aprimorando-


se. Somente ao buscar atualização constante, desvendando os mistérios e as
potencialidades das tecnologias emergentes, é possível reunir as competências que
um mercado altamente dinâmico exige. Importante é recorrer a formações robustas
tais como pós-graduações e cursos livres, capazes de transmitir conhecimentos
atualizados sobre temas que estão em evidência. Lembrar que o impacto da
tecnologia não se restringe somente a uma forma de produção ou trabalho humano:
na educação, as metodologias EAD garantem um aprendizado ágil, cômodo e
eficiente. Vale investir!

O cenário de transformação digital se modificou na pandemia

Com as medidas de isolamento social impostas no enfrentamento da Covid-19,


a primeira saída que as empresas tiveram para manter seus negócios funcionando
de maneira relativamente tranquila foi lançar mão imediatamente de iniciativas de
transformação digital, como é o caso do trabalho remoto.

182
Isso causou completa alteração nos processos internos e de negócios, os
quais já vinham dando sinais de uma possível aceleração advinda da era digital.
No entanto, a surpresa da pandemia não deu alternativa às organizações, senão
repensarem seus modelos de negócio para continuarem operando.

Em um curto espaço de tempo, as empresas foram forçadas a modificar


processos e implantar novas iniciativas de negócio, os quais certamente perdurarão
após a pandemia. Como as tecnologias digitais extinguiram fronteiras, tornou-se
essencial estreitar o relacionamento entre todos os envolvidos na organização, dos
colaboradores aos clientes. Essa rápida evolução provou como é possível ter uma
ótima experiência com a empresa e alcançar um dinamismo organizacional pouco
visto até então. Com esse pensamento, as empresas que aproveitarem o legado
deixado pela transformação digital na pandemia terão condições de enfrentar muito
mais facilmente a fase de recuperação e de posicionar-se à frente da concorrência.
Esse pensamento e ação foi replicado em diversos setores da Sociedade, a Educação
foi um deles.

FONTE: <https://hsmuniversity.com.br/blog/relacoes-de-trabalho-na-era-digital/>. Acesso em: 12 maio 2021.

Lembrando que a concepção de sala de aula neste tópico foi a partir de diversos
espaços de aprendizagens dos sujeitos envolvidos nos processos de ensinar e aprender,
portanto, os locais que refletimos foi em espaços socialmente construídos, que no dia
a dia é composto de uma infinidade de relações e interações entre os sujeitos. Escolas,
academias, igrejas, escritórios, oficinais. O século XXI e sua característica de um mundo
fundamentado na virtualidade e Novas Tecnologias, cria novas formas de ver, de ser,
de produzir, de convier, de existir e o resultado são novas formas de compreender a
realidade que vivemos e assim, novas formas de aprender e ensinar.

183
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• Sociedade de consumo é um termo bastante utilizado para representar os avanços


de produção do sistema capitalista, que se intensificaram ao longo do século XX
notadamente nos Estados Unidos e que, posteriormente, espalharam-se e ainda vem
se espalhando pelo mundo.

• A sociedade de consumo representa o tipo de sociedade que promove, encoraja ou


reforça a escolha de um estilo de vida e uma estratégia existencial consumista, e
rejeita todas as opções culturais alternativas.

• Uma Sociedade Alternativa é aquela que se diferencia do modelo de Sociedade de


Exclusão, que afasta e priva determinados indivíduos ou de grupos sociais e étnicos
em diversos âmbitos da estrutura da sociedade.

• Na Sociedade pós-moderna, uma onda de ódio se alastra pela rede, denominada de


Discurso de Ódio, o discurso de ódio é uma das mais prolíferas formas de intolerâncias e de
xenofobia, sobretudo on-line: a internet é frequentemente palco de abusos por parte de
quem quer espalhar propaganda e difamar grupos ou pessoas diferentes. Cada vez mais
no discurso político dominante, vemos uma mistura tóxica de discurso de ódio, notícias
falsas, e “factos alternativos” que são uma ameaça real à liberdade e à Democracia.

• Uma forma de combater o discurso de ódio nas redes sociais, foi criado pelo Conselho
dos Direitos Humanos Europeu, com o nome de “Movimento Contra o Discurso de
Ódio”, a primeira campanha on-line do Conselho da Europa foi lançado em 22 de
março de 2013. A campanha tornou-se um movimento presente em 45 países, uma
comunidade internacional de ativistas on-line e uma infinidade de parceiros, tendo
sido a primeira iniciativa internacional ampla a abordar o discurso de ódio e a abordá-
lo como uma questão importante de Direitos Humanos.

• Atualmente, se tem notado que a distância no aspecto geográfico não é mais


considerada, mas sim a do ponto de vista cultural, econômico, da educação continuada,
das diferentes formas de pensar e sentir, do acesso e domínio, ou não, das tecnologias
da comunicação. O que mais está em evidência é a INTERNET, e essa se faz, atualmente,
muito presente na educação, no mundo do trabalho. Escolas, universidades, empresas
estão cada vez mais em busca desse recurso, para não ficar atrasada com relação às
demais. Portanto, O uso de Novas Tecnologias coloca o profissional diante de algumas
situações que precisam ser trabalhadas em sua formação.

184
AUTOATIVIDADE
1 A sociedade de consumo é um termo bastante utilizado para representar os avanços de
produção do sistema capitalista, que se intensificaram ao longo do século XX notadamente nos
Estados Unidos e que, posteriormente, espalharam-se e ainda vem se espalhando pelo mundo.
A ideia de sociedade de consumo é empregada para designar uma sociedade cujas relações
de consumo ocupam uma posição estratégica na organização social. Ela é uma sociedade
onde são criados inúmeros bens de consumo para comercialização e onde o marketing tem
um papel fundamental na construção dos desejos de consumo da população, sobretudo pela
propaganda. Referente à Sociedade de Consumo, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A sociedade do consumo é aquela que possibilita queindivíduos satisfaçam


plenamente suas necessidades.
b) ( ) A sociedade de consumo é um conceito que define um modelo de reprodução
social baseado no consumismo.
c) ( ) O consumo de mercadorias não visa apenas à satisfação de necessidades básicas
dos indivíduos; visa também a suas necessidades simbólicas de diferenciação
social e promoção da autonomia do ser.
d) ( ) A sociedade de consumo não é nada além de uma sociedade do excesso e da
fartura e, portanto, da redundância e da valorização ética e moral do ser humano.

2 Os movimentos sociais são ações coletivas mantidas por grupos organizados da


sociedade que visam lutar por alguma causa social. Em geral, as pautas levantadas
pelos movimentos sociais representam a voz de pessoas excluídas do processo
democrático, que buscam ocupar os espaços de direito na sociedade. Sobre a
temática Movimentos Sociais, analise as afirmativas a seguir:

I- Os movimentos sociais são de extrema importância para a formação de uma


sociedade democrática ao tentarem possibilitar a inserção de cada vez mais pessoas
na sociedade de direitos.
II- Os movimentos sociais são formados por grupos de indivíduos que defendem,
demandam e/ou lutam por uma causa social e política. É uma forma da
população se organizar, expressar os seus desejos e exigir os seus direitos.
III- Os participantes dos grupos sociais se unem para promover mudanças específicas e
de acordo com os anseios, alterações religiosas e políticas que desejam conquistar.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.


b) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
c) ( ) As afirmativas II e III estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.

185
3 Uma sociedade conectada é aquela em que o uso da tecnologia da informação
e telecomunicação serve para a sociedade se interagir, compartilhar ideias e
conhecimentos. É a estrutura social organizada através da rede de informações
processadas eletronicamente. Referente à relação tecnologias e sociedade, assinale
a alternativa CORRETA:

a) ( ) Cada vez mais as novas tecnologias e a virtualidade fazem parte da socialização


humana enquanto indivíduos religiosos pertencentes à sociedade.
b) ( ) A sociedade contemporânea vive conectada à mídia, o que acarreta uma
mudança considerável na velocidade da propagação da informação, da mesma
forma que colabora para a criação de ambientes virtuais e de um novo espaço
de comunicação, onde podemos citar, por exemplo, o que acontece em que os
sujeitos se comunicam através de redes sociais e jogos eletrônicos.
c) ( ) No conjunto da sociedade da informação, a Internet é a ferramenta que ganha
maior importância para o mundo do cotidiano social. No entanto, o uso da
internet sempre dificulta o contato com vários aspectos da vida social, e as altera
significativamente como a nova economia, as atividades políticas, as identidades
culturais, a sociabilidade, a educação etc.
d) ( ) A tecnologia é um grande motor de mudança. Contudo, o surgimento de novas
ferramentas e dispositivos, não alterou a forma como as pessoas vivem e o modo
como as empresas operam.

4 O ser humano promove o desmatamento por uma série de razões, por exemplo,
na retirada de madeira para construir estradas e moradias. O tema desmatamento
é interessante de ser abordado na escola, pois sua abrangência envolve diversos
aspectos sociais e ambientais. Disserte sobre pelo menos três aspectos relacionados
com o desmatamento.

5 Vivemos em um mundo marcado por diversas lutas, como a do movimento indígena


e negro. Também grupos como os judeus e muçulmanos lutam por respeito na
sociedade ocidental. Um dos conceitos que auxiliam na compreensão dessas lutas
político-sociais é o de diversidade cultural. Neste sentido, pergunta-se: o que se
pode compreender por diversidade cultural?

186
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
BNCC: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, estudaremos sobre a estrutura da BNCC. A BNCC é sigla para Base
Nacional Comum Curricular, um documento que integra a política nacional da Educação
Básica, contribuindo para o alinhamento de outras políticas e ações, em âmbito
federal, estadual e municipal. Ele se refere à formação de professores, à avaliação, à
elaboração de materiais educacionais e aos critérios para a oferta de infraestrutura para
o desenvolvimento da educação.

Também abordaremos a BNCC e a Educação Básica. Como primeira etapa


da Educação Básica, a Educação Infantil é o início e o fundamento do processo
educacional. O Ensino Fundamental, com nove anos de duração, é a etapa mais longa
da Educação Básica, atendendo estudantes entre 6 e 14 anos. O Ensino Médio é a etapa
final da Educação Básica, direito público subjetivo de todo cidadão brasileiro. Todavia, a
realidade educacional do País tem mostrado que essa etapa representa um gargalo na
garantia do direito à educação.

Por fim, veremos que a BNCC da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
integrada por Filosofia, Geografia, História e Sociologia propõe a ampliação e o
aprofundamento das aprendizagens essenciais desenvolvidas no Ensino Fundamental,
sempre orientada para uma formação ética.

2 ESTRUTURA DA BNCC
A BNCC, sigla para Base Nacional Comum Curricular, é um documento normativo
previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica (BRASIL, 1996) que busca
definir o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os
alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica.
Isso é feito para assegurar os direitos de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos,
em conformidade com o que estabelece o Plano Nacional de Educação (PNE) (BRASIL,
2014).

Esse documento integra a política nacional da Educação Básica, contribuindo


para o alinhamento de outras políticas e ações, em âmbito federal, estadual e municipal.
Ele se refere à formação de professores, à avaliação, à elaboração de materiais
educacionais e aos critérios para a oferta de infraestrutura para o desenvolvimento da
educação.

187
Caro acadêmico, a BNCC da Educação Infantil e do Ensino Fundamental foi
homologada em 20 de dezembro de 2017. Já a do Ensino Médio foi homologada em
2018. Ela é de vital importância devido justamente a ser uma das bases na formação
humana e social do sujeito. O ser, o estar, o conviver, o fazer humano está inserido
nesse documento. Dito de outra maneira, a Educação processo cultural que humaniza
o ser humano, por meio da concepção de trabalho, as relações estabelecidas entre os
seres humanos, entre a natureza e a cultura produzida, cria a sociedade humana, cria o
mundo do trabalho, cria as relações e interações sociais. Todos os setores e profissões
da sociedade de forma direta ou indireta são influenciados por esse documento, por isso
a necessidade de estudá-lo e compreendê-lo.

A BNCC define as aprendizagens essenciais que devem ser desenvolvidas ao


longo de toda a Educação Básica. Isso significa que a elaboração dos currículos nacionais
deve ser norteada pela BNCC, a fim de garantir a todos os estudantes uma formação
integral que os prepare para enfrentar os desafios da vida. Trata-se de um documento
extenso e complexo, que tem despertado diversas dúvidas entre os educadores. Nesse
contexto, a estrutura da Base como um todo e para cada segmento é um dos aspectos
que tem gerado muitas perguntas.

Divide-se em competências e habilidades que o aluno deve desenvolver ao


longo de toda a Educação Básica. As definições desses conceitos são apresentadas no
próprio documento: a competência é definida como “a mobilização de conhecimentos
(conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais),
atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno
exercício da cidadania e do mundo do trabalho” (BRASIL, 2018, p. 9). Por sua vez, “as
habilidades expressam as aprendizagens essenciais que devem ser asseguradas aos
alunos nos diferentes contextos escolares” (BRASIL, 2018, p. 9).

Dessa forma, a escola deve pensar práticas pedagógicas com o objetivo de


desenvolver as habilidades dos estudantes. A evolução das competências será fruto
da mobilização dessas habilidades com o objetivo de resolver problemas e desafios. No
documento, é determinado um conjunto de dez competências gerais que sumarizam os
direitos de aprendizagem e de desenvolvimento dos estudantes. Essas competências
devem ser trabalhadas ao longo de toda a Educação Básica e compreendem todas as
dimensões do indivíduo: não apenas a cognitiva, mas também as dimensões física,
social, emocional e cultural. Essas competências devem ser trabalhadas de forma
integrada, uma vez que se relacionam de diversas maneiras, e seu desenvolvimento
deve ser articulado com as habilidades dos componentes curriculares. Além disso,
elas devem ser trabalhadas e estimuladas não apenas em sala de aula, mas em todo o
espaço escolar, na relação com o outro e com o ambiente.

188
FIGURA 4 – DEZ COMPETÊNCIAS GERAIS

189
FONTE: Adaptada de BNCC (BRASIL, 2018, p. 9-10)

Vamos conhecer um pouco mais sobre as 10 competências Gerais da BNCC:

1. Conhecimento: essa competência se refere a desenvolver um repertório


sobre o mundo a partir dos conhecimentos que a humanidade já produziu.
Envolve conhecer o mundo físico e digital, as ciências humanas e exatas, e
utilizar essas informações para entender e explicar a realidade.
2. Pensamento científico, crítico e criativo: essa competência busca
promover o pensamento científico, ou seja, a capacidade de elaborar
hipóteses, construir teses e investigar. Além disso, refere-se ao pensamento
crítico, pretendendo que os alunos sejam capazes de argumentar sobre
experimentos, e usar a criatividade para que os estudantes pensem em
novas alternativas para resolver problemas já propostos.
3. Repertório cultural: conhecer e participar de produções artísticas deve
ser valorizado como parte do currículo escolar. Por meio das experiências
artísticas, o aluno poderá ser capaz de se expressar e atuar, além de explorar
as relações entre culturas, sociedades e artes.
4. Comunicação: essa competência busca formar alunos capazes de
utilizarem diferentes linguagens (verbal, corporal, visual, sonora e digital)
para uma comunicação objetiva e partilhar informações com os outros.
Trata-se de algo essencial para todas as fases da vida e que contribuirá
também para que o aluno desenvolva tanto a escuta como a capacidade de
expressar ideias, opiniões e emoções.

190
5. Cultura digital: o ensino deve englobar o uso dos recursos digitais de
forma ética, crítica e significativa, desenvolvendo no aluno a compreensão
do uso responsável da tecnologia, seja como consumidor dela ou como
produtor de conteúdos digitais.
6. Trabalho e projeto de vida: o foco dessa competência é capacitar o aluno
a gerir a própria vida, tanto no âmbito profissional, como no pessoal. Ela
propõe o desenvolvimento de habilidades como estabelecimento de metas,
disciplina e resiliência.
7. Argumentação: essa competência não aborda somente a prática
da formulação, negociação e defesa de ideias, mas também ressalta a
importância do embasamento dessas opiniões e pontos de vista. Isso deve
ser feito tendo em vista aspectos como os direitos humanos, por exemplo.
8. Autoconhecimento e autocuidado: as competências da BNCC também
abordam o bem-estar do aluno, tanto físico quanto mental. Na de número
oito, o foco está no cuidado com a saúde, conhecimento das emoções,
autocrítica e apreciação de si próprio. Essa competência também visa
contribuir para a construção de valores e de uma identidade.
9. Empatia e cooperação: essa competência trabalha o desenvolvimento social
dos alunos, para que eles conheçam o mundo em que vivem e sejam agentes
de transformação, com respeito à diversidade e aos direitos humanos, e foca
em exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de problemas e a cooperação.
10. Responsabilidade e cidadania: a última das competências da BNCC se
concentra nos princípios éticos, democráticos, inclusivos e sustentáveis de
uma sociedade. Envolve o foco em contribuir para que o aluno desenvolva
suas habilidades pensando nesses elementos.

FONTE: Adaptada de <>. Acesso em: 8 set. 2021.

Portanto, tendo em vista cada uma das competências da BNCC, fica clara a
intenção de buscar uma formação mais completa para os alunos. Não é mais o suficiente
se limitar a transmitir um conteúdo teórico a ser decorado, mas sim contribuir para que
o estudante se desenvolva de maneira integral. A BNCC busca nortear os currículos e
propostas pedagógicas de todas as escolas, públicas e privadas, do Brasil.

3 BNCC E A EDUCAÇÃO BÁSICA


Como primeira etapa da Educação Básica, a Educação Infantil é o início e o
fundamento do processo educacional. A entrada na creche ou na pré-escola significa, na
maioria das vezes, a primeira separação das crianças dos seus vínculos afetivos familiares
para se incorporarem a uma situação de socialização estruturada. Nas últimas décadas,
vem se consolidando, na Educação Infantil, a concepção que vincula educar e cuidar,
entendendo o cuidado como algo indissociável do processo educativo. Nesse contexto,

191
as creches e pré-escolas, ao acolher as vivências e os conhecimentos construídos
pelas crianças no ambiente da família e no contexto de sua comunidade, e articulá-los
em suas propostas pedagógicas, têm o objetivo de ampliar o universo de experiências,
conhecimentos e habilidades dessas crianças, diversificando e consolidando novas
aprendizagens, atuando de maneira complementar à educação familiar – especialmente
quando se trata da educação dos bebês e das crianças bem pequenas, que envolve
aprendizagens muito próximas aos dois contextos (familiar e escolar), como a socialização,
a autonomia e a comunicação. Nessa direção, e para potencializar as aprendizagens
e o desenvolvimento das crianças, a prática do diálogo e o compartilhamento de
responsabilidades entre a instituição de Educação Infantil e a família.

Como se constitui o desenvolvimento e aprendizagem das crianças na Educação


Infantil? A BNCC (BRASIL, 2018, p. 38) descreve da seguinte forma:

• Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes


grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento
de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre
as pessoas.
• Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes
espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos),
ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus
conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências
emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e
relacionais.
• Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do
planejamento da gestão da escola e das atividades propostas
pelo educador quanto da realização das atividades da vida
cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e
dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando
conhecimentos, decidindo e se posicionando.
• Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores,
palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias,
objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando
seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as
artes, a escrita, a ciência e a tecnologia.
• Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessida-
des, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opini-
ões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens.
• Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural,
constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de
pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações,
brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em
seu contexto familiar e comunitário.

Conviver, brincar, participar da vida comunitária, se expressar por sentimentos


e emoções, dialogar, construir e conhecer sua identidade. A reflexão em torno da
infância na BNCC vai muito além da sala de aula, pois aponta para uma formação onde
os espaços e processos culturais que a criança vive estejam incorporados no ensino
e aprendizagens das escolas e consequentemente no desenvolvimento social dessa
criança e a mudança de modelos de sociedades, pois o conhecimento criado, trabalhado,
assimilado proporciona novas formas de ser e estar no mundo.

192
FIGURA 5 – ESTRUTURA BNCC EDUCAÇÃO INFANTIL

FONTE: Adaptada de BNCC (BRASIL, 2018, p. 25)

O Ensino Fundamental, com nove anos de duração, é a etapa mais longa da


Educação Básica, atendendo estudantes entre seis e 14 anos. Há, portanto, crianças
e adolescentes que, ao longo desse período, passam por uma série de mudanças
relacionadas a aspectos físicos, cognitivos, afetivos, sociais, emocionais, entre outros.
Essas mudanças impõem desafios à elaboração de currículos para essa etapa de
escolarização, de modo a superar as rupturas que ocorrem na passagem não somente
entre as etapas da Educação Básica, mas também entre as duas fases do Ensino
Fundamental: Anos Iniciais e Anos Finais.

Ao longo do Ensino Fundamental Anos Iniciais, a progressão do conhecimento


ocorre pela consolidação das aprendizagens anteriores e pela ampliação das práticas de
linguagem e da experiência estética e intercultural das crianças, considerando tanto seus
interesses e suas expectativas quanto o que ainda precisam aprender. Ampliam-se a
autonomia intelectual, a compreensão de normas e os interesses pela vida social, o que lhes
possibilita lidar com sistemas mais amplos, que dizem respeito às relações dos sujeitos entre
si, com a natureza, com a história, com a cultura, com as tecnologias e com o ambiente.

No Ensino Fundamental Anos Finais, os estudantes se deparam com desafios


de maior complexidade, sobretudo, devido à necessidade de se apropriarem das
diferentes lógicas de organização dos conhecimentos relacionados às áreas. Tendo em
vista essa maior especialização, é importante, nos vários componentes curriculares,

193
retomar e ressignificar as aprendizagens do Ensino Fundamental Anos Iniciais no
contexto das diferentes áreas, visando ao aprofundamento e à ampliação de repertórios
dos estudantes. Nesse sentido, também é importante fortalecer a autonomia desses
adolescentes, oferecendo-lhes condições e ferramentas para acessar e interagir
criticamente com diferentes conhecimentos e fontes de informação. Os estudantes
dessa fase inserem-se em uma faixa etária que corresponde à transição entre infância
e adolescência, marcada por intensas mudanças decorrentes de transformações
biológicas, psicológicas, sociais e emocionais.

FIGURA 6 – ESTRUTURA DA BNCC ENSINO FUNDAMENTAL

FONTE: Adaptada de BNCC (BRASIL, 2018, p. 27-28)

O Ensino Médio é a etapa final da Educação Básica, direito público subjetivo


de todo cidadão brasileiro. Todavia, a realidade educacional do País tem mostrado
que essa etapa representa um gargalo na garantia do direito à educação. Para além
da necessidade de universalizar o atendimento, tem-se mostrado crucial garantir a
permanência e as aprendizagens dos estudantes, respondendo às suas demandas e
aspirações presentes e futuras.

Com a perspectiva de um imenso contingente de adolescentes, jovens e adultos


que se diferenciam por condições de existência e perspectivas de futuro desiguais, é
que o Ensino Médio deve trabalhar. Está em jogo a recriação da escola que, embora não
possa por si só resolver as desigualdades sociais, pode ampliar as condições de inclusão
social, ao possibilitar o acesso à ciência, à tecnologia, à cultura e ao trabalho

194
Para responder a essa necessidade de recriação da escola, mostra-se imprescindível
reconhecer que as rápidas transformações na dinâmica social contemporânea nacional
e internacional, em grande parte decorrentes do desenvolvimento tecnológico, atingem
diretamente as populações jovens e, portanto, suas demandas de formação. Nesse
cenário cada vez mais complexo, dinâmico e fluido, as incertezas relativas às mudanças
no mundo do trabalho e nas relações sociais como um todo representam um grande
desafio para a formulação de políticas e propostas de organização curriculares para a
Educação Básica, em geral, e para o Ensino Médio, em particular.

Na direção de atender às expectativas dos estudantes e às demandas da


sociedade contemporânea para a formação no Ensino Médio, a necessidade de não
caracterizar o público dessa etapa constituído predominantemente por adolescentes
e jovens, como um grupo homogêneo, nem conceber a juventude como mero rito
de passagem da infância à maturidade. Ao contrário, defendem ser fundamental
reconhecer a juventude como condição sócio-histórico-cultural de uma categoria
de sujeitos que necessita ser considerada em suas múltiplas dimensões, com
especificidades próprias que não estão restritas às dimensões biológica e etária, mas
que se encontram articuladas com uma multiplicidade de atravessamentos sociais
e culturais, produzindo múltiplas culturas juvenis ou muitas juventudes Adotar essa
noção ampliada e plural de juventudes significa, portanto, entender as culturas juvenis
em sua singularidade. Significa não apenas compreendê-las como diversas e dinâmicas,
como também reconhecer os jovens como participantes ativos das sociedades nas
quais estão inseridos, sociedades essas também tão dinâmicas e diversas.

Considerar que há muitas juventudes implica organizar uma escola que acolha
as diversidades, promovendo, de modo intencional e permanente, o respeito à pessoa
humana e aos seus direitos e que garanta aos estudantes ser protagonistas de seu
próprio processo de escolarização, reconhecendo-os como interlocutores legítimos
sobre currículo, ensino e aprendizagem. Significa, nesse sentido, assegurar-lhes
uma formação que, em sintonia com seus percursos e histórias, permita-lhes definir
seu projeto de vida, tanto no que diz respeito ao estudo e ao trabalho como também no
que concerne às escolhas de estilos de vida saudáveis, sustentáveis e éticos.

Para formar esses jovens como sujeitos críticos, criativos, autônomos e


responsáveis, cabe às escolas de Ensino Médio proporcionar experiências e processos
que lhes garantam as aprendizagens necessárias para a leitura da realidade, o
enfrentamento dos novos desafios da contemporaneidade (sociais, econômicos
e ambientais) e a tomada de decisões éticas e fundamentadas. O mundo deve lhes
ser apresentado como campo aberto para investigação e intervenção quanto a seus
aspectos políticos, sociais, produtivos, ambientais e culturais, de modo que se sintam
estimulados a equacionar e resolver questões legadas pelas gerações anteriores – e
que se refletem nos contextos atuais, abrindo-se criativamente para o novo.

Quais seriam as finalidades do Ensino Médio no Mundo Contemporâneo?

195
A dinâmica social contemporânea nacional e internacional, marcada
especialmente pelas rápidas transformações decorrentes do
desenvolvimento tecnológico, impõe desafios ao Ensino Médio.
Para atender às necessidades de formação geral, indispensáveis ao
exercício da cidadania e à inserção no mundo do trabalho, e responder
à diversidade de expectativas dos jovens quanto à sua formação,
a escola que acolhe as juventudes tem de estar comprometida
com a educação integral dos estudantes e com a construção de
seu projeto de vida (BRASIL, 2018, p. 462).

Para orientar essa atuação, torna-se imprescindível, a consolidação e o


aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando
o prosseguimento de estudos; a preparação básica para o trabalho e a cidadania do
educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade
a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; o aprimoramento
do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento
da autonomia intelectual e do pensamento crítico; a compreensão dos fundamentos
científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no
ensino de cada disciplina. Garantir a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos
adquiridos no Ensino Fundamental é essencial nessa etapa final da Educação Básica. Além
de possibilitar o prosseguimento dos estudos a todos aqueles que assim o desejarem, o
Ensino Médio deve atender às necessidades de formação geral indispensáveis ao exercício
da cidadania e construir aprendizagens sintonizadas com as necessidades, as possibilidades
e os interesses dos estudantes e, também, com os desafios da sociedade contemporânea.

Para atingir essa finalidade, é necessário, em primeiro lugar, assumir a firme


convicção de que todos os estudantes podem aprender e alcançar seus objetivos,
independentemente de suas características pessoais, seus percursos e suas histórias.
Com base nesse compromisso, a escola que acolhe as juventudes deve:

• favorecer a atribuição de sentido às aprendizagens, por sua vinculação aos desafios da


realidade e pela explicitação dos contextos de produção e circulação dos conhecimentos;
• garantir o protagonismo dos estudantes em sua aprendizagem e o desenvolvimento
de suas capacidades de abstração, reflexão, interpretação, proposição e ação,
essenciais à sua autonomia pessoal, profissional, intelectual e política;
• valorizar os papéis sociais desempenhados pelos jovens, para além de sua condição
de estudante, e qualificar os processos de construção de sua(s) identidade(s) e de
seu projeto de vida;
• assegurar tempos e espaços para que os estudantes reflitam sobre suas experiências
e aprendizagens individuais e interpessoais, de modo a valorizarem o conhecimento,
confiarem em sua capacidade de aprender, e identificarem e utilizarem estratégias
mais eficientes a seu aprendizado;
• promover a aprendizagem colaborativa, desenvolvendo nos estudantes a capacidade
de trabalharem em equipe e aprenderem com seus pares; e
• estimular atitudes cooperativas e propositivas para o enfrentamento dos desafios
da comunidade, do mundo do trabalho e da sociedade em geral, alicerçadas no
conhecimento e na inovação.
196
Essas experiências, como apontado, favorecem a preparação básica para o
trabalho e a cidadania, o que não significa a profissionalização precoce ou precária
dos jovens ou o atendimento das necessidades imediatas do mercado de trabalho. Ao
contrário, supõe o desenvolvimento de competências que possibilitem aos estudantes
inserir-se de forma ativa, crítica, criativa e responsável em um mundo do trabalho cada
vez mais complexo e imprevisível, criando possibilidades para viabilizar seu projeto de
vida e continuar aprendendo, de modo a serem capazes de se adaptar com flexibilidade
a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores. Para tanto, a escola
que acolhe as juventudes precisa se estruturar de maneira a:

• garantir a contextualização dos conhecimentos, articulando as dimensões do


trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura;
• viabilizar o acesso dos estudantes às bases científicas e tecnológicas dos processos de
produção do mundo contemporâneo, relacionando teoria e prática – ou o conhecimento
teórico à resolução de problemas da realidade social, cultural ou natural;
• revelar os contextos nos quais as diferentes formas de produção e de trabalho
ocorrem, sua constante modificação e atualização nas sociedades contemporâneas
e, em especial, no Brasil;
• proporcionar uma cultura favorável ao desenvolvimento de atitudes, capacidades e valores
que promovam o empreendedorismo (criatividade, inovação, organização, planejamento,
responsabilidade, liderança, colaboração, visão de futuro, assunção de riscos, resiliência
e curiosidade científica, entre outros), entendido como competência essencial ao
desenvolvimento pessoal, à cidadania ativa, à inclusão social e à empregabilidade;
• prever o suporte aos jovens para que reconheçam suas potencialidades e vocações,
identifiquem perspectivas e possibilidades, construam aspirações e metas de
formação e inserção profissional presentes e/ou futuras, e desenvolvam uma
postura empreendedora, ética e responsável para transitar no mundo do trabalho e
na sociedade em geral.

Nessa mesma direção, é também finalidade do Ensino Médio o aprimoramento do


educando como pessoa humana, considerando sua formação ética e o desenvolvimento
da autonomia intelectual e do pensamento crítico. Tendo em vista a construção de uma
sociedade mais justa, ética, democrática, inclusiva, sustentável e solidária, a escola que
acolhe as juventudes deve ser um espaço que permita aos estudantes:

• conhecer-se e lidar melhor com seu corpo, seus sentimentos, suas emoções e suas
relações interpessoais, fazendo-se respeitar e respeitando os demais;
• compreender que a sociedade é formada por pessoas que pertencem a grupos
étnico-raciais distintos, que possuem cultura e história próprias, igualmente valiosas,
e que em conjunto constroem, na nação brasileira, sua história;
• promover o diálogo, o entendimento, a solução não violenta de conflitos, possibilitando
a manifestação de opiniões e pontos de vista diferentes, divergentes ou opostos;
• combater estereótipos, discriminações de qualquer natureza e violações de direitos
de pessoas ou grupos sociais, favorecendo o convívio com a diferença;

197
• valorizar sua participação política e social e a dos outros, respeitando as liberdades
civis garantidas no estado democrático de direito; e
• construir projetos pessoais e coletivos baseados na liberdade, na justiça social, na
solidariedade, na cooperação e na sustentabilidade.

Subjacente a todas essas finalidades, o Ensino Médio deve garantir aos


estudantes a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos
produtivos, relacionando a teoria com a prática. Para tanto, a escola que acolhe as
juventudes, por meio da articulação entre diferentes áreas do conhecimento, deve
possibilitar aos estudantes:

• compreender e utilizar os conceitos e teorias que compõem a base do conhecimento


científico-tecnológico, bem como os procedimentos metodológicos e suas lógicas;
• conscientizar-se quanto à necessidade de continuar aprendendo e aprimorando
seus conhecimentos;
• apropriar-se das linguagens científicas e utilizá-las na comunicação e na disseminação
desses conhecimentos; e
• apropriar-se das linguagens das tecnologias digitais e tornar-se fluentes em sua utilização.

Para atender a todas essas demandas de formação no Ensino Médio, mostra-se


imperativo repensar a organização curricular vigente para essa etapa da Educação Básica, que
apresenta excesso de componentes curriculares e abordagens pedagógicas distantes das
culturas juvenis, do mundo do trabalho e das dinâmicas e questões sociais contemporâneas.

Na direção de substituir o modelo único de currículo do Ensino Médio por


um modelo diversificado e flexível, a Lei nº 13.415/2017 (BRASIL, 2017) alterou a LDB,
estabelecendo que o currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional
Comum Curricular e por itinerários formativos, que deverão ser organizados por
meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto
local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber:

I- linguagens e suas tecnologias;


II- matemática e suas tecnologias;
III- ciências da natureza e suas tecnologias;
IV- ciências humanas e sociais aplicadas;
V- formação técnica e profissional (BRASIL, 2017).

Essa nova estrutura do Ensino Médio, além de ratificar a organização por áreas
do conhecimento sem desconsiderar, mas também sem fazer referência direta a todos
os componentes que compunham o currículo dessa etapa, prevê a oferta de variados
itinerários formativos, seja para o aprofundamento acadêmico em uma ou mais áreas
do conhecimento, seja para a formação técnica e profissional. Essa estrutura adota
a flexibilidade como princípio de organização curricular, o que permite a construção de
currículos e propostas pedagógicas que atendam mais adequadamente às especificidades
locais e à multiplicidade de interesses dos estudantes, estimulando o exercício
do protagonismo juvenil e fortalecendo o desenvolvimento de seus projetos de vida.

198
FIGURA 7 – A BNCC DO ENSINO MÉDIO

FONTE: Adaptada de BNCC (BRASIL, 2018, p. 32-33)

FIGURA 8 – ITINERÁRIOS FORMATIVOS

FONTE: Adaptada de BNCC (BRASIL, 2018, p. 469)

199
A oferta de diferentes itinerários formativos pelas escolas deve considerar a
realidade local, os anseios da comunidade escolar e os recursos físicos, materiais
e humanos das redes e instituições escolares de forma a propiciar aos estudantes
possibilidades efetivas para construir e desenvolver seus projetos de vida e se integrar
de forma consciente e autônoma na vida cidadã e no mundo do trabalho. Para tanto,
os itinerários devem garantir a apropriação de procedimentos cognitivos e o uso de
metodologias que favoreçam o protagonismo juvenil.

FIGURA 9 – CONCEPÇÃO DE ITINERÁRIOS

FONTE: Adaptada de BNCC (BRASIL, 2018, p. 477-478)

4 BNCC: HUMANIDADE E SOCIEDADE


A BNCC da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas integrada por
Filosofia, Geografia, História e Sociologia – propõe a ampliação e o aprofundamento das
aprendizagens essenciais desenvolvidas no Ensino Fundamental, sempre orientada
para uma formação ética. Tal compromisso educativo tem como base as ideias de
justiça, solidariedade, autonomia, liberdade de pensamento e de escolha, ou seja, a
compreensão e o reconhecimento das diferenças, o respeito aos direitos humanos e à
interculturalidade, e o combate aos preconceitos de qualquer natureza.

No Ensino Fundamental, a BNCC se concentra nos processos de tomada de


consciência do Eu, do Outro e do Nós, das diferenças em relação ao Outro e das diversas

200
formas de organização da família e da sociedade em diferentes espaços e épocas
históricas. Para tanto, prevê que os estudantes explorem conhecimentos próprios da
Geografia e da História: temporalidade, espacialidade, ambiente e diversidade (de raça,
religião, tradições étnicas etc.), modos de organização da sociedade e relações de
produção, trabalho e poder, sem deixar de lado o processo de transformação de cada
indivíduo, da escola, da comunidade e do mundo.

A exploração dessas questões sob uma perspectiva mais complexa torna-


se possível no Ensino Médio dada a maior capacidade cognitiva dos jovens, que lhes
permite ampliar seu repertório conceitual e sua capacidade de articular informações
e conhecimentos. O desenvolvimento das capacidades de observação, memória e
abstração permite percepções mais acuradas da realidade e raciocínios mais complexos
– com base em um número maior de variáveis, além de um domínio maior sobre
diferentes linguagens, o que favorece os processos de simbolização e de abstração.

Portanto, no Ensino Médio, a BNCC da área de Ciências Humanas e Sociais


Aplicadas propõe que os estudantes desenvolvam a capacidade de estabelecer diálogos
entre indivíduos, grupos sociais e cidadãos de diversas nacionalidades, saberes e
culturas distintas, elemento essencial para a aceitação da alteridade e a adoção de
uma conduta ética em sociedade. Para tanto, define habilidades relativas ao domínio de
conceitos e metodologias próprios dessa área. As operações de identificação, seleção,
organização, comparação, análise, interpretação e compreensão de um dado objeto
de conhecimento são procedimentos responsáveis pela construção e desconstrução
dos significados do que foi selecionado, organizado e conceituado por um determinado
sujeito ou grupo social, inserido em um tempo, um lugar e uma circunstância específicos.

De posse desses instrumentos, espera-se que os jovens elaborem hipóte-


ses e argumentos com base na seleção e na sistematização de dados, obtidos em fon-
tes confiáveis e sólidas. A elaboração de uma hipótese é um passo importante tanto
para a construção do diálogo como para a investigação científica, pois coloca em prática
a dúvida sistemática entendida como questionamento e autoquestionamento, conduta
contrária à crença em verdades absolutas.

Nessa direção, a BNCC da área de Ciências Humanas prevê que, no Ensino Médio,
sejam enfatizadas as aprendizagens dos estudantes relativas ao desafio de dialogar
com o outro e com as novas tecnologias. Considerando que as novas tecnologias
exercem influência, às vezes negativa, outras vezes positiva, no conjunto das relações
sociais, é necessário assegurar aos estudantes a análise e o uso consciente e crítico
dessas tecnologias, observando seus objetivos circunstanciais e suas finalidades a
médio e longo prazos, explorando suas potencialidades e evidenciando seus limites na
configuração do mundo contemporâneo.

É necessário, ainda, que a Área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas favoreça


o protagonismo juvenil investindo para que os estudantes sejam capazes de mobilizar
diferentes linguagens (textuais, imagéticas, artísticas, gestuais, digitais, tecnológicas,

201
gráficas, cartográficas etc.), valorizar os trabalhos de campo (entrevistas, observações,
consultas a acervos históricos etc.), recorrer a diferentes formas de registros e engajar-
se em práticas cooperativas, para a formulação e resolução de problemas.

Considerando as aprendizagens a ser garantidas aos jovens no Ensino Médio,


a BNCC da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas está organizada de modo
a tematizar e problematizar algumas categorias da área, fundamentais à formação dos
estudantes: Tempo e Espaço; Territórios e Fronteiras; Indivíduo, Natureza, Sociedade,
Cultura e Ética; e Política e Trabalho. Cada uma delas pode ser desdobrada em outras ou
ainda analisada à luz das especificidades de cada região brasileira, de seu território, da
sua história e da sua cultura.

Tempo e Espaço explicam os fenômenos nas Ciências Humanas porque


permitem identificar contextos, sendo categorias difíceis de se dissociar. No Ensino
Médio, a análise de acontecimentos ocorridos em circunstâncias variadas torna possível
compará-los, observar suas semelhanças e diferenças, assim como compreender
processos marcados pela continuidade, por mudanças e por rupturas.

Nomear o que é semelhante ou diferente em cada cultura é relativamente


simples. Bem mais complexo é explicar as razões e os motivos (materiais e imateriais)
responsáveis pela formação de uma sociedade, de sua língua, seus usos e costumes. É
simples enunciar a diferença. Complexo é explicar a “lógica” que produz a diversidade.

Portanto, analisar, comparar e compreender diferentes sociedades, sua cultura


material, sua formação e desenvolvimento no tempo e no espaço, a natureza de suas
instituições, as razões das desigualdades, os conflitos, em maior ou menor escala, e as
relações de poder no interior da sociedade ou no contexto mundial são algumas das
aprendizagens propostas pela área para o Ensino Médio.

Definir o que seria o tempo é um desafio sobre o qual se debruçaram e se


debruçam grandes pensadores de diversas áreas do conhecimento. O tempo é matéria
de reflexão na Filosofia, na Física, na Matemática, na Biologia, na História, na Sociologia
e em outras áreas do saber.

Na História, o tempo assume significados e importância variadas. O fundamen-


tal é compreender que não existe uma única noção de tempo e que ele não é nem
homogêneo nem linear, ou seja, ele expressa diferentes significados. Assim, no Ensino
Médio, os estudantes precisam desenvolver noções de tempo que ultrapassem a di-
mensão cronológica, ganhando diferentes dimensões, tanto simbólicas como abstratas,
destacando as noções de tempo em diferentes sociedades. Na história, o acontecimen-
to, quando narrado, permite-nos ver nele tanto o tempo transcorrido como o tempo
constituído na narrativa sobre o narrado.

A compreensão do espaço deve contemplar suas dimensões histórica e


cultural, ultrapassando suas representações cartográficas. Espaço está associado

202
aos arranjos dos objetos de diversas naturezas e, também, às movimentações de
diferentes grupos, povos e sociedades, nas quais ocorrem eventos, disputas, conflitos,
ocupações (ordenadas ou desordenadas) ou dominações. No espaço (em um lugar) se
dá a produção, a distribuição e o consumo de mercadorias. Nele são realizados fluxos de
diversas naturezas (pessoas e objetos) e são desenvolvidas relações de trabalho, com
ritmos e velocidades variados.

Território e Fronteira, por sua vez, são categorias cuja utilização, na área de Ciências
Humanas, é bastante ampla. Território é uma categoria usualmente associada a uma porção
da superfície terrestre sob domínio de um grupo e suporte para nações, estados, países. É
dele que provêm alimento, segurança, identidade e refúgio. Engloba as noções de lugar,
região, fronteira e, especialmente, os limites políticos e administrativos de cidades, estados
e países, sendo, portanto, esquemas abstratos de organização da realidade. Associa-se
território também à ideia de poder, jurisdição, administração e soberania, dimensões que
expressam a diversidade das relações sociais e permitem juízos analíticos.

Fronteira também é uma categoria construída historicamente. Ao expressar


uma cultura, povos definem fronteiras, formas de organização social e, por vezes, áreas
de confronto com outros grupos. A conformação dos impérios coloniais, a formação
dos Estados Nacionais e os processos de globalização problematizam a discussão
sobre limites culturais e fronteiras nacionais. Os limites, por exemplo, entre civilização
e barbárie geraram, não raro, a destruição daqueles indivíduos considerados bárbaros.
Temos aí uma fronteira sangrenta. Povos com culturas e saberes distintos em muitos
casos foram separados ou reagrupados de forma a resolver ou agravar conflitos, facilitar
ou dificultar deslocamentos humanos, favorecer ou impedir a integração territorial de
populações com identidades semelhantes.

Para além das marcações tradicionais do território, as cidades são repletas de


territorialidades marcadas por fronteiras econômicas, sociais e culturais. As músicas,
as festas e o lazer podem aproximar, mas podem também separar, criar grupos com
culturas específicas ou circuitos culturais ou de poder. As fronteiras culturais são
porosas, móveis e nem sempre circunscritas a um território específico.

Também há fronteiras de saberes, que envolvem, entre outros elementos,


conhecimentos e práticas de diferentes sociedades. Caçar ou pescar, por exemplo, são
atividades que demandam habilidades nem sempre conhecidas e desenvolvidas por
populações das grandes cidades. Plantar e colher exigem competências e habilidades
experimentadas no dia a dia por populações dedicadas ao trabalho agrícola, desenhando
fronteiras, frutos de diversas formas de produção, usos do solo e transformação na natureza.

Assim, no Ensino Médio, o estudo dessas categorias deve possibilitar aos


estudantes compreender os processos identitários marcados por territorialidades
e fronteiras em históricas disputas de diversas naturezas, mobilizar a curiosidade
investigativa sobre o seu lugar no mundo, possibilitando a sua transformação e a do
lugar em que vivem, enunciar aproximações e reconhecer diferenças.

203
A discussão a respeito das categorias Indivíduo, Natureza, Sociedade, Cultura
e Ética, bem como de suas relações, marca a constituição das chamadas Ciências
Humanas. O esclarecimento teórico dessas categorias tem como base a resposta à
questão que a tradição socrática, nas origens do pensamento grego, introduziu: o que
é o ser humano?

Na busca da unidade, de uma natureza (physis), os primeiros pensadores gregos


sistematizaram questões e se indagaram sobre as finalidades da existência, sobre o que
era comum a todos os seres da mesma espécie, produzindo uma visão essencializada e
metafísica sobre os seres humanos. A identificação da condição humana como animal
político – e animal social – significa que, independentemente da singularidade de cada um,
as pessoas são essencialmente capazes de se organizar para uma vida em comum e de se
governar, ou seja, os seres humanos têm uma necessidade vital da convivência coletiva.

Todavia, os humanos têm, também, necessidades relacionadas à sua


subsistência. Nesse sentido, exercem atividades que implicam relações com a natureza,
agindo sobre ela de maneira deliberada e consciente, transformando-a. Esse processo
contribui para que o indivíduo se produza como ser social. A sociedade, da qual faz
parte o indivíduo, consiste em um grupo humano, ocupante de um território, com uma
forma de organização baseada em tradições, práticas, hábitos, costumes, modos de ser
e valores, responsáveis por sua especificidade cultural. Na construção de sua vida em
sociedade, o indivíduo estabelece relações e interações sociais com outros indivíduos,
constrói sua percepção de mundo, atribui significados ao mundo ao seu redor, interfere
na natureza e a transforma, produz conhecimento e saberes, com base em alguns
procedimentos cognitivos próprios, fruto de suas tradições tanto físico-materiais
como simbólico-culturais. A forma como diferentes povos e sociedades estruturam e
organizam o espaço físico-territorial e suas atividades econômicas permite, por exemplo,
reconhecer a influência que esses aspectos exercem sobre os diversos modos como
esses grupos estabelecem suas relações com a natureza, incluindo-se os problemas
ambientais resultantes dessas interferências. As relações que uma sociedade tem com
a natureza também são influenciadas pela importância atribuída a ela em sua cultura,
pelos valores sociais como um todo e pela informação e consciência que se tem da
importância da natureza para a sustentabilidade do planeta.

As transformações geradas por cada indivíduo são mediadas pela cultura. Em sua
etimologia latina, a cultura remete à ação de cultivar saberes, práticas e costumes em um
determinado grupo. Na tradição metafísica, a cultura foi apresentada em oposição à natureza.
Atualmente, as Ciências Humanas compreendem a cultura a partir de contribuições de
diferentes campos do saber. O caráter polissêmico da cultura permite compreender o modo
como ela se apresenta a partir de códigos de comunicação e comportamento, de símbolos
e artefatos, como parte da produção, da circulação e do consumo de sistemas culturais que
se manifestam na vida social. Os indivíduos estão inseridos em culturas (urbanas, rurais,
eruditas, de massas, populares, regionais, locais etc.) e, dessa forma, são produtores e
produto das transformações culturais e sociais de seu tempo.

204
Na modernidade, a noção de indivíduo se tornou mais complexa em razão das
transformações ocorridas no âmbito das relações sociais marcadas por novos códigos
culturais, concepções de individualidade e formas de organização política no mundo
ocidental. Em meio às mudanças, foram criadas condições para o debate a respeito da
natureza dos seres humanos, seu papel em diferentes culturas, suas instituições e sua
capacidade para a autodeterminação. A sociedade capitalista, por exemplo, ao mesmo
tempo em que propõe a centralidade de sujeitos iguais, constrói relações econômicas
que produzem e reproduzem desigualdades no corpo social.

As diferenças e semelhanças entre os indivíduos e as sociedades foram


sedimentadas ao longo do tempo e em múltiplos espaços e circunstâncias. Procurar
identificar essas diferenças e semelhanças tanto em seu grupo social (familiar, escolar,
bairro, cidade, país, etnia, religião etc.) quanto em outros povos e sociedades constitui
uma aprendizagem a ser garantida aos estudantes na área de Ciências Humanas e Sociais
Aplicadas. Para além dessa identificação, o exercício de deslocamento para outros pontos
de vista e o reconhecimento de diferentes demandas políticas é central para a formação
das juventudes no Ensino Médio, na medida em que ajuda a superar posturas baseadas
na reiteração das referências de seu próprio grupo para avaliar os demais.

Seguindo essa atitude inquiridora da realidade, é preciso que os estudantes


percebam que a pretensão da validade e a aceitação de princípios universais têm sido
questionadas por diversos campos das Ciências Humanas, visto que a legitimação dos
saberes envolve um conjunto de códigos produzidos em diferentes épocas e sociedades.
A razão e a experiência, por exemplo, são paradigmas da sociedade moderna ocidental
e dificilmente servirão para analisar sociedades fundadas em outras lógicas, produto de
outras histórias e outros contextos.

O entrelaçamento entre questões sociais, culturais e individuais permite


aprofundar, no Ensino Médio, a discussão sobre a ética. Para tanto, os estudantes
devem dialogar sobre noções básicas como o respeito, a convivência e o bem comum
em situações concretas. A ética pressupõe a compreensão da importância dos direitos
humanos e de se aderir a eles de forma ativa no cotidiano, a identificação do bem
comum e o estímulo ao respeito e ao acolhimento às diferenças entre pessoas e povos,
tendo em vista a promoção do convívio social e o respeito universal às pessoas, ao bem
público e à coletividade.

Em suma, o conhecimento do outro, da outra cultura, depende da capacidade


de se indagar para indagar o outro, atitude fundamental a ser desenvolvida na área
de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Esse é o primeiro passo para a formação
de sujeitos protagonistas tanto no processo de construção do conhecimento como da
ação ética diante do mundo real e virtual, marcado por uma multiplicidade de culturas.

As categorias Política e Trabalho também ocupam posição de centralidade nas


Ciências Humanas. A vida em sociedade pressupõe ações individuais e coletivas que são
mediadas pela política e pelo trabalho. A política é entendida enquanto ação e inserção

205
do indivíduo na pólis, na sociedade e no mundo, incluindo o viver coletivo e a cidadania.
As discussões em torno do bem comum e do público, dos regimes políticos e das formas
de organização em sociedade, as lógicas de poder estabelecidas em diferentes grupos,
a micropolítica, as teorias em torno do Estado e suas estratégias de legitimação e a
tecnologia interferindo nas formas de organização da sociedade são alguns dos temas
que estimulam a produção de saberes nessa área.

A política está na origem do pensamento filosófico. Na Grécia Antiga, o exercício


da argumentação e a discussão sobre os destinos das cidades e suas leis estimularam
a retórica e a abstração como práticas necessárias para o debate em torno do bem
comum. Esse exercício permitiu ao cidadão da pólis compreender a política como
produção humana capaz de favorecer as relações entre pessoas e povos e, ao mesmo
tempo, desenvolver a crítica a mecanismos políticos como a demagogia e a manipulação
do interesse público. A política, em sua origem grega, foi o instrumento utilizado para
combater os autoritarismos, as tiranias, os terrores, as violências e as múltiplas formas
de destruição da vida pública.

No mundo contemporâneo, essas questões observadas tanto em escala local


como global ganham maior visibilidade na Geopolítica, pois ela enuncia os conflitos
planetários entre pessoas, grupos, países e blocos transnacionais, desafio importante
de ser conhecido e analisado pelos estudantes. As discussões sobre formas de
organização do Estado, de governo e do poder são temáticas enunciadas no Ensino
Fundamental e aprofundadas no Ensino Médio, especialmente em sua dimensão formal
e como sistemas jurídicos complexos. Essas temáticas apresentadas de forma ampla
na BNCC fornecem alguns elementos capazes de agregar diversos temas de ordem
econômica, social, política, cultural e ambiental e permitem, sobretudo, a discussão dos
conceitos veiculados por diferentes sociedades e culturas.

A categoria trabalho, por sua vez, comporta diferentes dimensões filosófica,


econômica, sociológica ou histórica: como virtude; como forma de produzir riqueza, de
dominar e de transformar a natureza; como mercadoria; ou como forma de alienação.
Ainda é possível falar de trabalho como categoria pensada por diferentes autores:
trabalho como valor (Karl Marx); como racionalidade capitalista (Max Weber); ou como
elemento de interação do indivíduo na sociedade em suas dimensões tanto corporativa
como de integração social (Émile Durkheim). Seja qual for o caminho ou os caminhos
escolhidos para tratar do tema, é importante destacar a relação sujeito/trabalho e toda
a sua rede de relações sociais.

Atualmente, as transformações na sociedade são grandes, especialmente


em razão do uso de novas tecnologias. Observamos transformações nas formas de
participação dos trabalhadores nos diversos setores da produção, a diversificação das
relações de trabalho, a oscilação nas taxas de ocupação, emprego e desemprego, o uso
do trabalho intermitente, a desconcentração dos locais de trabalho, e o aumento global
da riqueza, suas diferentes formas de concentração e distribuição, e seus efeitos sobre

206
as desigualdades sociais. Há hoje mais espaço para o empreendedorismo individual, em
todas as classes sociais, e cresce a importância da educação financeira e da compreensão
do sistema monetário contemporâneo nacional e mundial, imprescindíveis para uma
inserção crítica e consciente no mundo atual. Diante desse cenário, impõem-se novos
desafios às Ciências Humanas, incluindo a compreensão dos impactos das inovações
tecnológicas nas relações de produção, trabalho e consumo.

Como apontado, o estudo das categorias Política e Trabalho no Ensino Médio


deve permitir aos estudantes compreender e analisar a diversidade de papéis dos
múltiplos sujeitos e seus mecanismos de atuação e identificar os projetos políticos e
econômicos em disputa nas diferentes sociedades. No tratamento dessas categorias no
Ensino Médio, a heterogeneidade de visões de mundo e a convivência com as diferenças
favorecem o desenvolvimento da sensibilidade, da autocrítica e da criatividade, nas
situações da vida, em geral, e nas produções escolares, em particular. Essa ampliação da
visão de mundo dos estudantes resulta em ganhos éticos relacionados à autonomia das
decisões e ao comprometimento com valores como liberdade, justiça social, pluralidade,
solidariedade e sustentabilidade.

Por fim, para garantir as aprendizagens essenciais definidas para a área de


Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, é imprescindível que os jovens aprendam a
provocar suas consciências para a descoberta da transitoriedade do conhecimento,
para a crítica e para a busca constante da ética em toda ação social.

Considerando esses pressupostos, e em articulação com as competências gerais


da Educação Básica e com as da área de Ciências Humanas do Ensino Fundamental,
no Ensino Médio, a área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas deve garantir aos
estudantes o desenvolvimento de competências específicas. Relacionadas a cada uma
delas, são indicadas, posteriormente, habilidades a ser alcançadas nessa etapa.

4.1 COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE CIÊNCIAS HUMANAS E


SOCIAIS APLICADAS AO ENSINO MÉDIO
1. Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais nos âmbitos
local, regional, nacional e mundial em diferentes tempos, a partir da pluralidade de
procedimentos epistemológicos, científicos e tecnológicos, de modo a compreender
e posicionar-se criticamente em relação a eles, considerando diferentes pontos de
vista e tomando decisões baseadas em argumentos e fontes de natureza científica.
2. Analisar a formação de territórios e fronteiras em diferentes tempos e espaços,
mediante a compreensão das relações de poder que determinam as territorialidades
e o papel geopolítico dos Estados-nações.
3. Analisar e avaliar criticamente as relações de diferentes grupos, povos e sociedades
com a natureza (produção, distribuição e consumo) e seus impactos econômicos e
socioambientais, com vistas à proposição de alternativas que respeitem e promovam

207
a consciência, a ética socioambiental e o consumo responsável em âmbito local,
regional, nacional e global.
4. Analisar as relações de produção, capital e trabalho em diferentes territórios,
contextos e culturas, discutindo o papel dessas relações na construção, consolidação
e transformação das sociedades.
5. Identificar e combater as diversas formas de injustiça, preconceito e violência,
adotando princípios éticos, democráticos, inclusivos e solidários, e respeitando os
Direitos Humanos.
6. Participar do debate público de forma crítica, respeitando diferentes posições e
fazendo escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com
liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.

Na BNCC, o protagonismo e a autoria estimulados no Ensino Fundamental


traduzem-se, no Ensino Médio, como suporte para a construção e viabilização do
projeto de vida dos estudantes, eixo central em torno do qual a escola pode organizar
suas práticas. Ao se orientar para a construção do projeto de vida, a escola que acolhe
as juventudes assume o compromisso com a formação integral dos estudantes, uma
vez que promove seu desenvolvimento pessoal e social, por meio da consolidação e
construção de conhecimentos, representações e valores que incidirão sobre seus
processos de tomada de decisão ao longo da vida. Dessa maneira, o projeto de vida é
o que os estudantes almejam, projetam e redefinem para si ao longo de sua trajetória,
uma construção que acompanha o desenvolvimento da(s) identidade(s), em contextos
atravessados por uma cultura e por demandas sociais que se articulam, ora para
promover, ora para constranger seus desejos (BRASIL, 2018).

Logo, é papel da escola auxiliar os estudantes a aprender a se reconhecer como


sujeitos, considerando suas potencialidades e a relevância dos modos de participação
e intervenção social na concretização de seu projeto de vida. É, também, no ambiente
escolar que os jovens podem experimentar, de forma mediada e intencional, as interações
com o outro, com o mundo, e vislumbrar, na valorização da diversidade, oportunidades
de crescimento para seu presente e futuro.

208
LEITURA
COMPLEMENTAR
DEZ NOVAS COMPETÊNCIAS PARA UMA NOVA PROFISSÃO

Philippe Perrenoud

É preciso reconhecer que os professores não possuem apenas saberes, mas


também competências profissionais que não se reduzem ao domínio dos conteúdos
a serem ensinados, e aceitar a ideia de que a evolução exige que todos os professores
possuam competências antes reservadas aos inovadores ou àqueles que precisavam
lidar com públicos difíceis.

Existe hoje um referencial que identifica cerca de 50 competências cruciais


na profissão de educador. Algumas delas são novas ou adquiriram uma crescente
importância nos dias de hoje em função das transformações dos sistemas educativos,
bem como da profissão e das condições de trabalho dos professores.

Essas competências dividem-se em 10 grandes "famílias":

1. Organizar e estimular situações de aprendizagem.


2. Gerar a progressão das aprendizagens.
3. Conceber e fazer com que os dispositivos de diferenciação evoluam.
4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e no trabalho.
5. Trabalhar em equipe.
6. Participar da gestão da escola.
7. Informar e envolver os pais.
8. Utilizar as novas tecnologias.
9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão.
10. Gerar sua própria formação contínua.

Será que essas competências são realmente "novas"? Elas definem a "nova
profissão", esboçada por Meirieu (1990) há mais de 10 anos? Representam uma ruptura
ou são "eternas" no seio da profissão de educador?

Em algumas profissões que dependem totalmente das tecnologias, a renovação


das competências é evidente. No entanto, isto não acontece na educação escolar: nem
o vídeo, nem o computador, nem a multimídia, até hoje, fizeram com que a profissão de
professor mudasse. Desse ponto de vista, a aparente continuidade provoca a ruptura.
Se surgissem novas competências, não seria para responder a novas possibilidades

209
técnicas, mas devido à transformação da visão ou das condições de exercício da
profissão. As representações e as novas práticas pedagógicas desenvolvem-se de forma
progressiva. Em primeiro lugar, são aplicadas em escolas e classes atípicas, muito antes
de serem reconhecidas e adotadas pela instituição e pela profissão, ainda que, em cada
momento da história de um sistema educativo, observe-se um amplo leque de práticas;
e, portanto, de competências; que vão das mais tradicionais às mais inovadoras. Desse
modo, seria exagerado falar de novas competências se isto sugerisse uma "mutação".
Assistimos mais a uma progressiva recomposição do leque de competências de
que os professores necessitam para exercer seu ofício de forma eficaz e equitativa.
Algumas formas de "dar aula" desaparecem lentamente, enquanto outras assumem
uma crescente importância. Algumas delas, que eram parte integrante da profissão,
agora pertencem à tradição, ao passo que outras, reservadas aos militantes, integram-
se pouco a pouco à identidade e aos recursos do professor da base.

É bastante difícil perceber a novidade, pois as palavras utilizadas para designar


as grandes famílias de competências criam uma impressão de familiaridade e, por isso,
diversos professores podem, com boa-fé, afirmar que essas competências não lhes são
estranhas, que já as possuem, embora nem sempre as dominem bem nem as apliquem
no dia a dia. Por exemplo, que professor confessaria que não sabe organizar e estimular
situações de aprendizagem? Uma parte do sentimento de familiaridade nasce do fato
de que essas questões estão presentes no discurso "moderno" que acompanha as
reformas escolares ou que está enraizado nos movimentos pedagógicos e nas ciências
da educação. Assim, essas ideias fazem parte da "paisagem pedagógica" e todos "veem
mais ou menos" o que é evocado quando se fala de avaliação formativa, de contrato
didático, de pedagogia diferenciada. Se levarmos a sério todas essas competências,
poderemos medir melhor o desvio existente entre o fato de saber ministrar um curso
frontal ou "lições"; habilidade pedagógica muito comum, porém bastante pobre; e
controlar uma ampla gama de situações e procedimentos de aprendizagem, levando em
conta a diversidade dos aprendizes. Essas últimas práticas exigem competências muito
mais apuradas, provenientes tanto da didática quanto da gestão de classe. Ante todas
as listagens apresentadas como definitivas e fechadas, o movimento espontâneo de um
leitor é a resistência, o questionamento da incrível pretensão do autor à exaustividade
e ao ordenamento. No entanto, essa resistência, salutar, deixa de lado o mecanismo
principal: pensar nas principais evoluções da profissão. Paradoxalmente, embora seja
apresentado como uma ferramenta de análise, um referencial também cumpre uma
função de síntese. Considerado em seu conjunto, deixa entrever uma profissão e
talvez seu movimento histórico. É nesse nível que se impõe o debate. Para entrar na
matéria, parece-me importante colocar e admitir duas considerações prévias, que serão
examinadas a seguir. É importante:

• reconhecer que os professores não possuem apenas saberes, mas também competências
profissionais que não se reduzem ao domínio dos conteúdos a serem ensinados;
• aceitar a ideia de que a profissão muda e sua evolução exige atualmente que todos os
professores possuam novas competências, antes reservadas aos inovadores ou aos
professores que precisavam lidar com os públicos mais difíceis.

210
NOVAS COMPETÊNCIAS: PARA QUE TODOS APRENDAM

Na análise dos motivos para lutar pela profissionalização da profissão de professor,


deparamo-nos com dois tipos de fatores: por um lado, transformações das condições
de exercício da profissão e, por outro, crescentes ambições dos sistemas educativos.
O ensino nunca foi uma profissão tranquila. Sempre teve de confrontar o outro, sua
resistência, sua opacidade, suas ambivalências. Entretanto, devido às suas múltiplas
transformações, parece cada vez mais difícil ensinar e, sobretudo, fazer aprender. Ao
mesmo tempo, o nível de conhecimento e de competência das novas gerações torna-
se um mecanismo político e econômico da maior importância. Mecanismo econômico
porque o "capital humano" continua sendo um trunfo decisivo para o desenvolvimento
e a sobrevivência na concorrência internacional. E também um mecanismo político
porque, embora sem garantir a generosidade e o altruísmo, e menos ainda a liberdade,
a igualdade e a fraternidade, a instrução é uma condição necessária da democracia
e da capacidade de construir uma ordem negociada, de não aumentar a violência ou
o fanatismo quando a sociedade é rompida por crises. Logo, espera-se uma maior
eficácia dos sistemas educativos, ao mesmo tempo em que os orçamentos diminuem e
as condições de trabalho e os públicos tornam-se mais difíceis.

A escola não tem mais direito ao fracasso, não pode mais rejeitar os que
"não querem trabalhar". Não é mais suficiente fazer progredir os que trabalham e
compreendem de forma espontânea o sentido desse investimento; é preciso aderir à
causa da instrução dos alunos para os quais "a vida está em outro lugar". Por isso, as
novas competências exigidas estão relacionadas tanto a didáticas pontuais, baseadas
nas ciências cognitivas, quanto a enfoques transversais que aliam a psicanálise e a
sociologia, que visam a criar ou a manter; e, portanto, a explicar e a compreender; o
desejo de aprender, o sentido dos saberes, o envolvimento do sujeito na relação
pedagógica e a construção de um projeto.

DEZ FAMÍLIAS DE COMPETÊNCIAS MAIS UMA

Não podemos dissociar as competências da relação com a profissão.


Para formar professores mais competentes, aliando uma postura reflexiva e uma forte
implicação crítica para o desenvolvimento da sociedade, é necessário desenvolver
a profissionalização do professor. A palavra está na moda, mas a ideia assusta.
Provavelmente, todos desejariam beneficiar-se com o nível de especialização que é
associado a uma profissão, ao prestígio, ao poder e a uma boa remuneração. No entanto,
os atores hesitam em assumir a parcela de autonomia e responsabilidade que está
ligada ao exercício de uma profissão. As autoridades querem conservar seu controle
sobre os professores e os estabelecimentos. Por outro lado, esses últimos não desejam
prestar contas. Daí a importância, para gerar a transição, de uma décima primeira família
de competências, da qual dependerão a outras. Essas competências não se relacionam
ao trabalho com os alunos, mas à capacidade de os professores agirem como um ator
coletivo no sistema e de direcionar o movimento rumo à profissionalização e à prática
reflexiva, assim como para o domínio das inovações.

211
Isso está relacionado à evolução do sindicalismo, aos projetos de estabelecimento
e à participação dos professores na elaboração das reformas escolares, desde que
seja negociado. Significa que a profissionalização exige uma vontade comum dos
professores, dos diretores e dos políticos.

FONTE: Adaptado de <https://www.unige.ch/fapse/SSE/teachers/perrenoud/php_main/php_2001/2001_23.


html#Heading3>. Acesso em: 20 maio 2021.

212
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• A BNCC, sigla para Base Nacional Comum Curricular, é um documento normativo


previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica (BRASIL, 1996), que busca
definir o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos
os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação
Básica. Isso é feito para assegurar os direitos de aprendizagem e desenvolvimento
dos alunos, em conformidade com o que estabelece o Plano Nacional de Educação
(BRASIL, 2014).

• No documento (BNCC) é determinado um conjunto de dez competências gerais


que sumarizam os direitos de aprendizagem e de desenvolvimento dos estudantes.
Essas competências devem ser trabalhadas ao longo de toda a Educação Básica e
compreendem todas as dimensões do indivíduo: não apenas a cognitiva, mas também
as dimensões física, social, emocional e cultural. Essas competências devem ser
trabalhadas de forma integrada, uma vez que se relacionam de diversas maneiras,
e seu desenvolvimento deve ser articulado com as habilidades dos componentes
curriculares. Além disso, elas devem ser trabalhadas e estimuladas não apenas em
sala de aula, mas em todo o espaço escolar, na relação com o outro e com o ambiente.

• Como primeira etapa da Educação Básica, a Educação Infantil é o início e o fundamento


do processo educacional. A entrada na creche ou na pré-escola significa, na maioria
das vezes, a primeira separação das crianças dos seus vínculos afetivos familiares para
se incorporarem a uma situação de socialização estruturada. Nas últimas décadas,
vem se consolidando, na Educação Infantil, a concepção que vincula educar e cuidar,
entendendo o cuidado como algo indissociável do processo educativo.

• O Ensino Fundamental, com nove anos de duração, é a etapa mais longa da Educação
Básica, atendendo estudantes entre 6 e 14 anos. Há, portanto, crianças e adolescentes
que, ao longo desse período, passam por uma série de mudanças relacionadas a
aspectos físicos, cognitivos, afetivos, sociais, emocionais, entre outros.

• O Ensino Médio é a etapa final da Educação Básica, direito público subjetivo de


todo cidadão brasileiro. Todavia, a realidade educacional do País tem mostrado que
essa etapa representa um gargalo na garantia do direito à educação. Para além da
necessidade de universalizar o atendimento, tem-se mostrado crucial garantir a
permanência e as aprendizagens dos estudantes, respondendo às suas demandas e
aspirações presentes e futuras.

213
• A BNCC da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas integrada por Filosofia,
Geografia, História e Sociologia – propõe a ampliação e o aprofundamento das
aprendizagens essenciais desenvolvidas no Ensino Fundamental, sempre orientada
para uma formação ética. Tal compromisso educativo tem como base as ideias de
justiça, solidariedade, autonomia, liberdade de pensamento e de escolha, ou seja, a
compreensão e o reconhecimento das diferenças, o respeito aos direitos humanos e
à interculturalidade, e o combate aos preconceitos de qualquer natureza.

214
AUTOATIVIDADE
1 Na BNCC, a evolução das competências é fruto da mobilização dessas habilidades
com o objetivo de resolver problemas e desafios. No documento é determinado um
conjunto de dez competências gerais que sumarizam os direitos de aprendizagem e
de desenvolvimento dos estudantes. Essas competências devem ser trabalhadas ao
longo de toda a Educação Básica e compreendem todas as dimensões do indivíduo: não
apenas a cognitiva, mas também as dimensões física, social, emocional e cultural. Sobre
as 10 competências, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Conhecimento: essa competência se refere a desenvolver um repertório sobre


o mundo a partir dos conhecimentos que a humanidade já produziu. Envolve
conhecer o mundo físico e digital, as ciências humanas e exatas, e utilizar essas
informações para entender e explicar a realidade.
( ) Repertório cultural: conhecer e participar de produções artísticas deve ser
valorizado como parte do currículo escolar. Por meio das experiências artísticas, o
aluno poderá ser capaz de se expressar e atuar, além de explorar as relações entre
culturas, sociedades e artes.
( ) Cultura digital: o ensino deve englobar o uso dos recursos digitais de forma ética,
crítica e significativa, desenvolvendo no aluno a compreensão do uso responsável
da tecnologia, seja como consumidor dela ou como produtor de conteúdos digitais.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – V – F.
b) ( ) F – F – F.
c) ( ) V – V – V.
d) ( ) F – F – V.

2 Para formar esses jovens como sujeitos críticos, criativos, autônomos e responsáveis,
cabe às escolas de Ensino Médio proporcionar experiências e processos que lhes
garantam as aprendizagens necessárias para a leitura da realidade, o enfrentamento
dos novos desafios da contemporaneidade (sociais, econômicos e ambientais) e a
tomada de decisões éticas e fundamentadas. Partindo do estudo Ensino Médio e
com relação ao mundo, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O mundo deve lhes ser apresentado como campo aberto para investigação e
intervenção quanto a seus aspectos políticos, sociais, produtivos, ambientais e
culturais, de modo que se sintam estimulados a equacionar e resolver questões
legadas pelas gerações anteriores e que se refletem nos contextos atuais ,
abrindo-se criativamente para o novo.

215
b) ( ) A dinâmica social contemporânea nacional e internacional, marcada especialmente
pelas transformações decorrentes do desenvolvimento teológico, impõe desafios ao
Ensino Médio. Para atender às necessidades de formação geral, indispensáveis ao
exercício da cidadania e à inserção no mundo do trabalho, e responder à diversidade
de expectativas dos jovens quanto à sua formação
c) ( ) Para atender a todas essas demandas de formação no Ensino Médio, mostra-
se imperativo repensar a organização curricular vigente para essa etapa da
Educação Básica, que apresenta homogeneidade de componentes curriculares e
abordagens pedagógicas distantes das culturas religiosas, do mundo do trabalho
e das dinâmicas e questões sociais contemporâneas.
d) ( ) Essa nova estrutura do Ensino Médio, além de ratificar a organização por áreas
do conhecimento sem desconsiderar, mas também sem fazer referência direta a
todos os componentes que compunham o currículo dessa etapa , prevê a oferta de
variados itinerários formativos, seja para o aprofundamento acadêmico em uma ou
mais áreas do conhecimento, seja para a formação teológica e profissional.

3 No Ensino Médio, a BNCC da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas propõe que
os estudantes desenvolvam a capacidade de estabelecer diálogos entre indivíduos,
grupos sociais e cidadãos de diversas nacionalidades, saberes e culturas distintas.
No que essa capacidade resulta?

a) ( ) Aceitação da alteridade e a adoção de uma conduta ética em sociedade.


b) ( ) Aceitação da diversidade e a adoção de uma conduta moralista em sociedade.
c) ( ) Aceitação da diversidade e a adoção de uma conduta homogenia em sociedade.
d) ( ) Aceitação da alteridade e a adoção de uma conduta de prevenção em sociedade.

4 A BNCC procura desempenhar um papel de apontar aquilo que todos os alunos


devem desenvolver de maneira que a igualdade educacional permita, também, que
as singularidades de cada um sejam consideradas. A BNCC veio exatamente com
o desejo de acabar com o foco conteudista e permitir uma formação mais ampla
de maneira a preparar o aluno para os desafios da vida e do mercado de trabalho.
Referente à BNCC, disserte sobre a importância dela para a sociedade brasileira.

5 As competências gerais propostas pela BNCC são aquelas que norteiam o


documento, desdobrando-se em tudo o que é definido para cada etapa do ensino.
Essas competências gerais preveem o desenvolvimento integral do aluno, tanto
em termos cognitivos quanto socioemocionais. A Base tem como objetivo criar
cidadãos capazes de ter sucesso no século XXI. Portanto, essas características
socioemocionais são tão importantes quanto as cognitivas. Disserte sobre as
competências gerais da BNCC.

216
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