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Relatório de Visita Cultural ao Samba do Congo – Arte, Cultura e Raiz, por Mariana Turra

No dia 19 de março, em uma noite chuvosa, visitei o Samba do Congo. O Samba do


Congo foi fundado em 2011, os componentes deste grupo conquistaram a sede atual em 2018,
com o apoio do projeto vai. Desde de 2011 é com muita luta e resistência que o Samba do congo
desenvolve ações que promovem arte, inserção social e cultural, buscam a identificação com a
ancestralidade, valorizando a história dos negros, imigrantes e dos brasileiros para a partir das
raízes construir novas histórias.

Toda terça-feira à noite ocorre o encontro dos compositores, por volta das 19h30, na
zona noroeste de São Paulo no bairro Brasilândia. O local como pessoal do Samba do Congo
afirma “é na quebrada”, periferia de São Paulo, mas possui acesso por transporte coletivo e
particular. É próximo do ponto final do ônibus Morro Grande e da Avenida Elísio Teixeira Leite.
A sede do Samba do Congo é como se fosse uma casa, a entrada pela rampa nos direciona para
o grande quintal da casa. Nesse quintal ou mesmo terreiro ocorre os encontros dos
compositores, as feijoadas e o samba rock, os banheiros são grandes e tem adaptações para
pessoas que usam cadeiras de rodas. Já na parte interna possuem salas que ocorrem os cursos
de canto e percussão e uma cozinha.

Objetivo do encontro dos compositores é compartilhar experiências para incentivar e


valorizar a arte por meio da composição musical de sambas, como também, disseminar a cultura
afro-brasileira e resgatar a história do samba paulista.

Antes de iniciar o encontro, os organizadores do Samba do Congo, convidaram a todos


para sentar-se na roda, as cadeiras estavam colocas em círculos, os organizadores prezaram para
que todos, por volta de quinze pessoas, ficassem sentados próximos. Nunca sentei numa roda
de samba, as minhas experiências sempre foram em pé, mas a experiência foi boa me senti
participante no encontro, pois estava sentada na mesma roda que os músicos, um dos
componentes ofereceu um chocalho para tocar e disse “ é só fazer um tchá tchá”, então sorri e
peguei o chocalho.

Neste momento, Fernando, um dos idealizadores do projeto, trouxe para o grupo a


solicitação de uma família que está sem recursos para comprar alimentos, cujo o pai desta
família teria sido homenageado pelas suas composições musicais em algum evento anterior no
Samba do Congo. Após formularem algumas ideias para atender a demanda dessa família,
durante essa conversa surgiu outras questões, como a relação deles com os policias durante o
desfile do bloco de rua no Carnaval, aparentou ter problemas e conflitos, pois um deles afirmou
“ Um dia os policias vão querer me levar, mas vocês continuem o bloco”, “ Eles são folgados”,
não explicou os motivos naquele momento, mas sei que existe muitos casos de violência policial
na periferia. Esse momento me remeteu a história do povo negro escravizado, em que se
comunicava e planejavam as revoltas, durante o jongo e as umbigada.
Finalmente, um dos músicos, iniciou a roda de samba com uma voz alta, anunciando de
forma contundente, “Vamos começar mais uma roda do Samba do Congo, arte, cultura e raiz.
Vaidade não me leva, deixa eu cantar para o meu povo”, eles mostram força na voz, uma voz
que não é de festa, nem de comemoração, é de luta e resistência e assim eles começam a cantar
músicas da velha guarda.

Após cantarem algumas músicas tradicionais do samba paulista, abriram para as pessoas
mostrarem as suas composições musicais. Começaram pelos componentes do samba do congo
e depois pelos participantes do encontro, alguns compositores já tinham as músicas já prontas
e conhecidas por visitantes e a maioria deles distribuíam papéis com a letra da música para que
todos pudessem acompanhar e aprender a letra. Outros a composição da música estava em
processo, tinham a letra, mas estava sem melodia e procuravam o tom, o acorde, conforme
iriam tocando e cantando. Interessante notar que as músicas mostravam um pouco da história
e das vivências das pessoas da região, como aquele que compôs a música que falava sobre a
saudade da sua avó e seu fogão a lenha, outro compôs uma música, depois que passou por uma
experiência de trabalho no abrigo muito difícil com uma criança. ( ideia de identidade narrativa
pg.20 texto diversidade em convergência)

Durante essa roda de samba, um dos participantes afirmou que andava triste e
desanimado, pois, alguma parente dele estava na UTI, por ter sofrido uma agressão violenta de
seu namorado, levando facadas no abdômen. O participante está receoso e preocupado com a
sua vida, espera que ela sobreviva a essa violência, em seguida pede para cantar a música Força
do Cantar diz que a música traz alento e esperança a ele. Nesse momento, fiquei bem
emocionada e preocupada, pois feminicídio é recorrente na periferia, um dos componentes do
Samba do Congo acolheu dizendo que aquele é um espaço de troca de ideias e emoções,
importante ele trazer esse sentimento para o grupo e espera que aquela mulher se recupere e
retome com melhores condições de vida.

Essas falas são possíveis durante o grupo, pois eles anunciam o nome de cada pessoa na
roda e em seguida todos aplaudem, seja para mostrar a sua composição musical ou para solicitar
um samba paulista, ou para dizer algo. Eles buscam incentivar a todos escrever durante o
encontro, eles conversam, brincam e dizem que é importante expressar nossas ideias e
pensamentos.

Esse é um espaço de criação, expressão e vida, as pessoas participantes e os


componentes do grupo do Samba do Congo deixam as pessoas à vontade, me senti acolhida,
conhecia apenas uma pessoa do Samba do Congo e saí conhecendo novas pessoas e novos
sambas.

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