You are on page 1of 11

12

FACULDADE ESTÁCIO
BACHARELADO EM DIREITO

HILDA OLIVEIRA DE ARAÚJO LEAL

ALIENÇAÇÃO PARENTAL: conceito e prevenção através da guarda


compartilhada

2023
HILDA OLIVEIRA DE ARAÚJO LEAL

ALIENÇAÇÃO PARENTAL: conceito e prevenção através da guarda


compartilhada
Trabalho de Conclusão de Curso como
requisito parcial à obtenção de título de
Bacharel em Direito pela Faculdade Estácio.

Professor (a): ____________________.

2023

ALIENÇAÇÃO PARENTAL: conceito e prevenção através da guarda


compartilhada

Projeto do Trabalho da Conclusão de Curso


como requisito parcial a obtenção de título
de Bacharel em Direito pela Faculdade
Estácio.

Data da aprovação: _____/_____/______.


Nota: _______.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________
EXAMINADOR 1

___________________________________________________________
EXAMINADOR 2

____________________________________________________________
EXAMINADOR 3

SUMÁRIO
1) RESUMO 5
2) ABSTRACT 5
3) INTRODUÇÃO 7
4) DA ALIENAÇÃO PARENTAL: A VISÃO CONCEITUAL DA
SÍNDROME 8
5) A ALIENAÇÃO PARENTAL SEGUNDO A LEI N.º 12.318/2010 10
6) DA GUARDA COMPARTILHADA NO ORDENAMENTO JURÍDICO, DA
POSSIBILIDADE (OU NÃO) DA SUA FIXAÇÃO EM CASOS DE INCIDÊNCIA DA
SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL E SEUS EFEITOS 13
7) CONSIDERAÇÕES FINAIS 17
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................................19

1) RESUMO

O trabalho em tela tem o condão de conceituar a alienação parental, fazendo


uma análise bibliográfica e legislativa do instituto. Ainda, busca-se, por intermédio da
pesquisa acadêmica em tela, verificar a possibilidade de fixação de guarda
compartilhada nos casos em que se verifica a existência de contendas familiares,
precipuamente nos casos em que há comprovada incidência dos chamados atos de
alienação parental.
Ademais, o trabalho em tela traz como questões norteadoras as seguintes: “a
guarda compartilhada quando há alienação parental atende o melhor interesse da
criança?”, “de que forma a guarda compartilhada pode prevenir a alienação
parental?” e “quais os atos da alienação parental e como interfere na vida social do
infante?”. No que concerne ao objetivo geral da pesquisa, com este trabalho busca-
se compreender os limites e admissões da guarda compartilhada nas questões de
alienação parental no Direito de Família.
É, portanto, por meio da pesquisa bibliográfica que se busca, portanto,
esclarecer o que se entende por alienação parental, exemplificar situações em que a
síndrome pode ser verificada e responder ao problema científico do presente
trabalho de conclusão de curso: “a guarda compartilhada pode inibir os atos da
alienação parental?”

Palavras-chave: alienação parental, guarda compartilhada, poder familiar,


atos de alienação parental, lei n.º 12.318/2010.
2) ABSTRACT

The work in question has the power to conceptualize parental alienation,


making a bibliographic and legislative analysis of the institute. In addition, it is sought,
through the academic research in question, to verify the possibility of establishing
shared custody in cases where the existence of family disputes is verified, especially
in cases where there is a proven incidence of the so-called acts of parental
alienation.
In addition, the work in question brings the following guiding questions: "does
joint custody when there is parental alienation serve the best interests of the child?",
"how can joint custody prevent parental alienation?" and "what are the acts of
parental alienation and how does it interfere in the child's social life?". Regarding the
general objective of the research, this work seeks to understand the limits and
admissions of shared custody in issues of parental alienation in Family Law.
It is, therefore, through bibliographic research that we seek, therefore, to
clarify what is meant by parental alienation, to exemplify situations in which the
syndrome can be verified and to answer the scientific problem of the present course
conclusion work: "can shared custody inhibit the acts of parental alienation?"

Keywords: parental alienation, shared custody, family power, acts of parental


alienation, law no. 12.318/2010.
12

3) INTRODUÇÃO

É sabido que ao homem tornou-se impossível viver isolado, surgindo as


chamadas aldeias ou tribos na antiguidade, que a posteriori vieram a desembocar
nos núcleos familiares no formato hodierno. Tal qual como ocorre na sociedade
como um todo, as relações familiares também podem ocasionar contendas entre os
envolvidos, desencadeando inclusive violências no âmbito das relações
interpessoais. Um exemplo de tal dinâmica no âmbito da seara criminal reside na
chama síndrome da alienação parental, fenômeno que surge precipuamente quando
da separação de genitores responsáveis pela guarda e sustento de filhos menores,
passando a haver, com a nova dinâmica familiar, uma verdadeira disputa pela
guarda dos infantes.
De acordo com estudiosos da seara da família, sua origem está ligada à
intensificação das estruturas de convivência familiar, com maior aproximação entre
pais e filhos, sendo aqueles primeiros, com a separação do casal, surpreendidos
com a quebra de uma realidade com a qual se acostumara. Ocorre, porém, que
nesta verdadeira guerra de braços restam os filhos menores, os quais uma vez que
ainda não tenham atingido a capacidade civil plena estão sujeitos ao poder familiar
dos genitores (ALEXANDRIDIS e FIGUEIREDO, 2013). Assim, submetido, enquanto
incapaz, ao jogo de manipulações dos genitores recém-separados, é sabido que a
alienação parental se externa de diversas formas, inclusive sobre a assertiva de ter
sido o filho vítima de abuso sexual (IDBFAM, 2016).
São diversas as situações que, visando dificultar ao máximo ou impedir a o
acesso do ex-cônjuge não detentor da guarda – com o fito único de destruir o ex-
cônjuge e a relação genitor-filho, neste caso independentemente de gênero, insta
salientar – pode caracterizar a síndrome de alienação parental. Segundo o psiquiatra
Richard Gardner, tal síndrome se consubstanciaria em programar uma criança para
que venha a odiar seu genitor (mãe ou pai, conforme o caso concreto) sem qualquer
justificativa.
No presente trabalho, visando explicar a síndrome retro mencionada, far-se-á
a conceituação da alienação parental, visando, ainda, demonstrar como ela se
externaliza e quais suas práticas mais frequentes. Ademais, ao longo da presente
pesquisa se buscará demonstrar a possibilidade (ou não) do estabelecimento de
guarda compartilhada entre os genitores em casos em que há sabidamente a
ocorrência da ditada síndrome, verificando-se, por fim, se a adoção do modelo de
guarda configura ou não meio eficaz de se coibir a prática da violência.
Trata-se, portanto, de pesquisa bibliográfica pautada precipuamente em livros
doutrinários e artigos acadêmicos, além de se lastrear, no que couber ao assunto,
nos termos da Lei de Alienação Parental (Lei n.º 12.318/2010) e entendimentos
jurisprudenciais atinentes ao tema, visando, assim, responder à problemática do
presente trabalho de conclusão de curso: “a guarda compartilhada pode inibir os
atos da alienação parental?”

4) DA ALIENAÇÃO PARENTAL: A VISÃO CONCEITUAL DA SÍNDROME

A família tem especial proteção do Estado, uma vez que constitui a base de
nossa sociedade (ALEXANDRIDIS e FIGUEIREDO, 2013), de forma que seu
reconhecimento, manutenção, desenvolvimento e dissolução devem ter especial
atenção da figura estatal, com a devida regulação de forma a preserva a própria
instituição. Com a evolução da sociedade, inconteste o surgimento de novas formas
familiares além das tradicionalmente reconhecidas pelo casamento, como o núcleo
familiar advindo de uma união estável, a denominada família monoparental e a
família homoafetiva.
Desta especial proteção do Estado quanto à família nasceu o chamado poder
familiar em nosso ordenamento jurídico, conceituado por Maria Diniz como:

Um conjunto de direitos e obrigações, quanto à pessoa e bens do filho


menor não emancipado, exercido, em igualdade de condições, por ambos
os pais, para que possam desempenhar os encargos que a norma jurídica
lhes impõe, tendo em vista o interesse e a proteção do filho.

Enquanto menores – não tendo atingido a maioridade e, portanto, a capacidade


civil plena –, os filhos estarão sujeitos ao poder familiar alhures conceituado, o qual,
segundo Roberto Lisboa é “a autorização legal para atuar segundo os fins de
preservação da unidade familiar e do desenvolvimento biopsíquico de seus
integrantes”. Cristalino, assim, que os pais servem de guia para o desenvolvimento e
orientação da vida do menor, desde o seu nascimento até a maioridade civil – que
em nosso país se dá aos 18 anos.
Segundo a legislação cível pátria, enquanto durar o casamento ou união estável
compete a ambos os pais o exercício do poder familiar. Destaque-se, que via de
regra o término do relacionamento amoroso entre genitores não altera a relação
existente entre pais e filhos, apesar de com o fim do vínculo matrimonial haver
fatidicamente o efetivo poder familiar por um dos genitores, enquanto o outro –
afastado do lar – passa a exercer o chamado direito de convivência.
É neste dinâmica de dissolução do vínculo matrimonial ou da união estável que
frequentemente se observa a instalação da síndrome de alienação parental,
passando a haver entre os genitores uma disputa pela guarda dos filhos. Antes, a
naturalização da função materna levava a que os filhos ficassem sob a guarda da
mãe. Ao pai restava somente o direito de visitas em dias predeterminados,
normalmente em fins-de-semana alternados (IDBFAM, 2008). Como encontros
impostos de modo tarifado não alimentam o estreitamento dos vínculos afetivos, a
tendência é o arrefecimento da cumplicidade que só a convivência traz. Afrouxando-
se os elos de afetividade, ocorre o distanciamento, tornando as visitas rarefeitas.
Com isso, os encontros acabam protocolares: uma obrigação para o pai e, muitas
vezes, um suplício para os filhos (IDBFAM, 2008).
De acordo com o entendimento de Maria Berenice Dias (2008), muitas vezes “a
ruptura da vida conjugal gera na mãe sentimento de abandono, de rejeição, de
traição, surgindo uma tendência vingativa muito grande”. E segue a ex-
desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

Quando não consegue elaborar adequadamente o luto da separação,


desencadeia um processo de destruição, de desmoralização, de descrédito
do ex-cônjuge. Ao ver o interesse do pai em preservar a convivência com o
filho, quer vingar-se, afastando este do genitor.

Segundo Duarte (2011), a alienação parental designa uma condição psicológica


causada pelo exercício abusivo do poder sobre a criança, quando um dos genitores
impede a convivência da criança com o outro genitor. Segundo a autora, é uma
forma de maltrato ou de abuso, no qual um genitor manipula a consciência dos
filhos, com o objetivo de impedir, dificultar ou destruir seus vínculos com o outro
genitor.
Ao se manifestar nas crianças – induzida, conforme ditado alhures –, alienação
parental ocasiona comportamentos, sentimentos e pensamentos diversos, levando
ao menor a denigrir sistematicamente o genitor alienado, recusando a presença
deste último, sem conseguir explicar o motivo de tal aversão (Gardner, 2002).
Assim, a alienação parental pode ocasionar prejuízos incalculáveis, dentre eles a
destruição das ligações emocionais básicas entre pais e filhos. Isso se se dá
principalmente através de campanhas denegritórias empreendidas pelo genitor
alienador, que o faz sem medir o prejuízo gerado à criança – que pode desenvolver
um quadro de negação, vergonha, ansiedade, depressão e culpa, segundo
estudiosos da psicologia.

5) A ALIENAÇÃO PARENTAL SEGUNDO A LEI N.º 12.318/2010

A Lei n.º 13.318/2018 conceitua juridicamente a alienação parental como atos e


não como uma síndrome propriamente dita, como ocorre pela psicologia. Assim, no
texto legislativo, “a lei não trata do processo de AP necessariamente como patologia,
mas como conduta que merece intervenção judicial, sem cristalizar única solução
para o controvertido debate acerca de sua natureza” (PEREZ, 2013). Não obstante
isto, frequentemente os magistrados responsáveis por julgar casos em que há a
incidência da alienação parental entendem tais atos com os chamados atos ilícitos,
previstos nos arts. 186 e 187 do Código Civil de 2002 (MONTEZUMA et al, 2017).
De acordo com o art. 2º da lei retro, “considera-se ato de alienação parental a
interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou
induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou
adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou
que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este”. O
parágrafo único do artigo 2º traz um rol exemplificativo dos atos de alienação
parental, conforma abaixo colacionado:

Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental,


além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia,
praticados diretamente ou com auxílio de terceiros:
I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no
exercício da paternidade ou maternidade;
II - dificultar o exercício da autoridade parental;
III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência
familiar;
V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes
sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e
alterações de endereço;
VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste
ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a
criança ou adolescente;
VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a
dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor,
com familiares deste ou com avós.

Salta aos olhos, por seu turno, a escolha do legislador ao dispor que a prática da
alienação parenta ocasiona a lesão de direito fundamental da criança sobre a qual
incidirá o ato (conforme art. 3º), chamando a atenção do leitor, neste ponto, a
escolha de palavras para demonstrar que o maior atingido é em verdade o menor
sob a guarda do genitor alienador e não o genitor alienado, como se pretende quem
perpetua tais atos.
Como suscitado acima, uma vez violado o cuidado inerente aos pais quanto aos
filhos menores por intermédio da prática de atos de alienação parental, cabe ao
Estado-Juiz a tramitação prioritária das ações judiciais diante da declaração da
ocorrência da síndrome. Tal medida, segundo o art. 4º da legislação em pauta, tem
como finalidade a preservação da integridade psicológica da criança ou do
adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a
efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso.
A lei trata, ainda, do procedimento a ser adotado pelo magistrado que, diante de
indício de prática de ato de alienação parental, determinará a realização de perícia
psicológica ou biopsicossocial (art. 5º), em ações autônomas e incidentais, visando
proteger a criança ou adolescente submetido a alienação, bem como verifica a
efetiva ocorrência dos atos.
À título de responsabilização a ser imposta frente ao genitor alienador, o art. 6º
dita que uma vez caracterizados os atos de alienação parental ou qualquer conduta
que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, conforme
dispositivo abaixo transcrito:

o
Art. 6 Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer
conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor,
em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não,
sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla
utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus
efeitos, segundo a gravidade do caso:
I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;
II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;
III - estipular multa ao alienador;
IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;
V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua
inversão;
VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;
§ 1º Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou
obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação
de levar para ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor,
por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência familiar.
§ 2º O acompanhamento psicológico ou o biopsicossocial deve ser
submetido a avaliações periódicas, com a emissão, pelo menos, de um
laudo inicial, que contenha a avaliação do caso e o indicativo da
metodologia a ser empregada, e de um laudo final, ao término do
acompanhamento.

A lei dita, por fim, que a atribuição ou alteração da guarda do menor é


preferencialmente fixada em favor do genitor que viabiliza a efetiva convivência do
menor com o outro genitor, nas hipóteses em que seja inviável a guarda
compartilhada (art. 7º).

6) DA GUARDA COMPARTILHADA NO ORDENAMENTO JURÍDICO, DA


POSSIBILIDADE (OU NÃO) DA SUA FIXAÇÃO EM CASOS DE INCIDÊNCIA
DA SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL E SEUS EFEITOS

Segundo Alecrim (2020), a guarda compartilhada surgiu na Inglaterra, na década


de 60, se expandido posteriormente pela Europa, Canadá e Estados Unidos. É
somente em meados de 2008 que, segundo o autor, o modelo de guarda chega ao
Brasil.
Segundo Peres (2002), com a Revolução Industrial que a guarda dos filhos
passou a pertencer à mãe, pois os homens Diante deste panorama, houve a criação
da guarda repartida, quebrando-se a tradição de somente um dos genitores manter
a guarda do menor no sistema jurídica inglês, influenciando outras nações posto que
na guarda compartilhada ou repartida ambos os pais desempenham seus deveres
inerentes ao poder familiar.
Neste sentido, dita Peres (2002):
Na Inglaterra, o sistema da Commow law teve a iniciativa de romper com o
tradicional deferimento da guarda única que sempre teve tendência para a
figura materna, passando assim os tribunais a adotarem a conhecida solo
ordem, que significa repartir, dividir, os deveres e obrigações de ambos os
cônjuges sobre seu filho. Dessa maneira, as decisões dos tribunais ingleses
passaram a beneficiar sempre o interesse do menor e a igualdade parental,
abolindo definitivamente a expressão direito de visita, possibilitando assim
maior contato entre pai/mãe e filho. Tal instituto aos poucos foi ganhando
repercussão na Europa, e aproximadamente no ano de 1976 foi
profundamente assimilado pelo direito Francês, com a mesma intenção da
guarda compartilhada criada no direito inglês; ou seja; dirimir as malécias
que a guarda única provoca para os cônjuges e seus filhos. Assim, o
ordenamento jurídico francês, após a introdução da Lei 87.570, ratificou o
posicionamento dos tribunais, passando no seu art. 378-2 a mencionar que
todos os direitos inerentes dos país sobre seus filhos irão continuar após o
divórcio.

Tal qual como ocorrido no país europeu de origem, a guarda compartilhada


desembocou em território brasileiro em um período de grande estímulo à entrada e
permanência das mulheres no mercado do trabalho formal, ocasionando mudanças
significativas nas relações interpessoais, inclusive as familiares (ALECRIM, 2020).
Diante disso, recepcionou-se em nosso ordenamento jurídico a modalidade de
guarda dos filhos menores em análise, a qual passou a ser prevista nos arts. 1.583,
1.585 e 1.634 do Código Civil Brasileiro.
Na modalidade em análise, resguarda-se o direito de todos os filhos e genitores à
convivência familiar, independentemente da situação conjugal ou vínculo existente
entre os pais. Desta feita, na guarda compartilhada, segundo o art. 1.583, §1º do
CC/2002, tem-se “a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres
do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar
dos filhos comuns”.
No ordenamento jurídico pátrio, a fixação da guarda compartilhada é regra,
havendo inclusive a previsão de que a fixação do modelo de guarda ocorre inclusive
quando não há acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho menor, com
exceção dos casos em que um dos genitores expressamente declarar ao magistrado
que não deseja a guarda do menor, vide art. 1.584, II, §2º, abaixo colacionado:

Art. 1.584. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser: (Redação


dada pela Lei nº 11.698, de 2008).
§ 2º Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do
filho, encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder
familiar, será aplicada a guarda compartilhada, salvo se um dos
genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor.
(Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)

Portanto, a legislação conceitua a guarda compartilhada como verdadeiro


sistema de corresponsabilidade no exercício do poder parental (COLTRO, 2018),
com ambos os genitores participando ativamente da vida dos filhos nos deveres de
cuidado e no crescimento destes últimos. Destaque-se, ainda, que segundo Alecrim
(2020), o relacionamento dos genitores após o fim da união conjugal é o principal
fator para tornar possível a aplicação da guarda compartilhada, posto mãe e pai
assumem, em comum acordo, a função de continuarem no pleno exercício do poder
familiar conjuntamente.

Não obstante isto, sabe-se que existem contendas inclusive nas relações
familiares, ocasionando inclusive a própria alienação parental. Com o fito de coibir a
ocorrência de tais atos, inclusive, o magistrado atuante no caso concreto os
aspectos positivos e negativos das guardas dispostas no Código Civil, sobrepesando
aquela que mais for beneficia ao menor no caso concreto.

Nos casos de incidência de atos de alienação parental, por seu turno, para a
fixação da guarda compartilhada seja viável e tenha sua eficácia atingida
(assegurando, assim, o bom convívio dos genitores para juntos assegurarem o bem-
estar do filho menor) se faz necessária análise criteriosa, ultrapassando a teoria e
verificando o que de fato é benéfico à criança ou adolescente do caso concreto
(Alecrim, 2020). Assim, o juiz não deve afastar do entendimento de que a formação
moral, social e psicológica do menor é o principal foco e objetivo e a ser alcançado.

Apesar de ter sido criada para assegurar o bom convívio da família que
recentemente passou por um processo de dissolução matrimonial, segundo Alecrim
(2020):
(...) a guarda compartilhada pode ter aspectos tanto positivos quanto
negativos, deste modo, alguns autores aduzem que os malefícios que
podem ser causados pela guarda compartilhada, são concretizados pelo
sentimento de culpa e angústia que ainda podem existir, acarretando em
uma possível alienação parental, na qual um dos ex-cônjuges utiliza o(s)
filho(s) para atacar o outro, tanto emocional quanto psicologicamente.

Da mesma feita, segundo Guimarães (2003),

Na maioria dos casos trata-se de uma disputa narcísica entre eles, que
atribuem ao judiciário o poder de decidir quem é o competente o suficiente
para incumbir-se dos cuidados da criança. É, portanto, uma questão que
envolve angústias depressivas associadas à dependência e à culpa. A
dependência é negada inconscientemente, uma vez que se acredita que a
criança pode prescindir dos cuidados da outra parte, quando, na verdade,
está sendo usada pelos pais como uma arma para ferir o narcisismo um do
outro como troféu que garanta a suposta completude do vencedor como
figura parental. (GUIMARÃES, 2003)
Apesar das vantagens da guarda compartilhada, importa esclarecer que as
problemáticas enfrentadas em decorrência de atos de alienação parental e
constantes desavenças podem inviabilizar a fixação do modelo de guarda em
estudo, caso em que, segundo COLTRO (2018), deve-se dar guarda única ao
cônjuge que demonstrar maior aptidão em garantir o bom e sadio desenvolvimento
dos filhos.

De modo diverso é o entendimento de Tudela e Fernandes (2010), os quais


versam sobre a necessidade de convivência dos filhos menores com ambos os
genitores, de forma a assegurar o estreitamento de laços afetivos. De acordo com os
autores, a guarda compartilhada atuaria, portanto, como mecanismo capaz de
proteger a criança e o adolescente dos possíveis prejuízos decorrentes da fixação
da guarda unilateral, que, segundo os estudiosos, facilitam a ocorrência dos atos de
alienação parental.

Como já explicitado anteriormente, a regra de fixação de guarda de filhos


menores no ordenamento jurídico é a guarda compartilhada, aplicando a guarda
unilateral apenas quando da impossibilidade acordo entre os pais. Ainda segundo
Tudela e Fernandes (2010), a guarda compartilhada visa justamente evitar disputas,
preterir a criança de sujeitar-se a manipulações psicológicas, fazer valer o superior
interesse da criança e os seus demais direitos resguardados em lei.

Assim, inconteste que diante de uma análise minuciosa dos casos concretos
a ser feito pelo magistrado, a utilização correta da Lei n.º 12.318/2010 e a guarda
compartilhada, em conjunto, possuem o fito de assegurar o melhor interesse da
criança, mormente o fato deste último instituto assegurar o convívio igualitário a
ambos os genitores na vida do menor. Cabe, portanto, educar a sociedade civil,
coibir os atos de alienação parental desde o seu nascedouro e visar a proteção
integral da criança, possibilitando, desta forma, o desenvolvimento saudável das
relações familiares e do próprio menor.

7) CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto ao longo presente trabalho, verificou-se que a alienação


parental configura, sob o viés psicológico da problemática, como espécie de abuso
ou maltrato infringido ao filho menor, que é submetido a tal violência por seu genitor
(mãe ou pai) em detrimento de seu ex-cônjuge ou companheiro. É por meio de tal
violência que o genitor alienador causa sofrimento ao menor, que acredita estar em
perigo com o genitor alienado, vindo a recusá-lo sem saber sequer justificar.
Sob o entendimento legal da alienação parental, fora explanado que a alienação
parental não foi descrita em sua lei como uma síndrome psicológica, mas sim atos
que demonstram a tentativa de fazer com que o menor venha a preterir o genitor
alienado. No tópico inerente aos aspectos legais, viu-se, ainda, que a Lei da
Alienação Parental visa atribuir a responsabilidade ao genitor alienador de formas
diversas, conforme a gravidade do ato de alienação parental, podendo culminar
desde na advertência, fixação de multa ou alteração da guarda previamente fixada
em favor do genitor alienado.
Adiante, buscou-se conceituar o instituto da guarda compartilhada, demonstrar
quando a mesma fora recepcionada no ordenamento jurídico brasileiro e se é
possível a aplicabilidade do modelo de guarda com o fito de coibir a prática dos atos
de alienação parental. Na oportunidade, mediante a pesquisa bibliográfica, a
pesquisa acadêmica demonstrou a possibilidade de fixação da guarda compartilhada
mesmo nos casos de incidência de atos de alienação parental.
Neste sentido, importa destacar que a guarda compartilhada é tida, inclusive,
como regra, uma vez que possibilita a coparticipação de ambos os genitores na
formação, desenvolvimento do filho menor e tomada de decisões no que concerne
ao melhor interesse deste último. Detectou-se, assim, que a comunidade acadêmica
enxerga o instituto como meio eficaz de coibir a prática dos atos de alienação
justamente por prever este sistema de coparticipação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. (27 ago. 2010). Dispõe sobre a alienação
parental e altera o artigo 236 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Diário
Oficial da União. Disponível em: L12318 (planalto.gov.br).

WILLIAMS, Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams; OLIVEIRA, Ricardo P.


Oliveira, 2021. Estudos Documentais sobre Alienação Parental: Uma Revisão
Sistemática. Psicologia: Ciência e Profissão 2021 v. 41, e222482, 1-15. Disponível
em: https://doi.org/10.1590/1982-3703003222482.

MONTEZUMA, Márcia Amaral; PEREIRA, Rodrigo da Cunha; MELO, Elza Machado


de. Abordagens da alienação parental: proteção e/ou violência? Physis 27,
2017. Oct-Dec 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-
73312017000400018.

BRANDÃO, Eduardo Ponte; AZEVEDO, Luciana Jaramillo Caruso, 2023. Poder,


Norma e Ideário na Lei da Alienação Parental. Psicologia: Ciência e Profissão
2023 v. 43, e249888, 1-14. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1982-
3703003249888.

FERMANN et al, 2017. Perícias Psicológicas em Processos Judiciais


Envolvendo Suspeita de Alienação Parental. Psicologia: Ciência e Profissão
Jan/Mar. 2017 v. 37 n°1, 35-47. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1982-
3703001202016.

SARMET, Yvanna Aires Gadella, 2014. Os filhos de Medeia e a Síndrome da


Alienação Parental. Psicol. USP 27 (3). Sep-Dec 2016. Disponível em:
https://doi.org/10.1590/0103-656420140113.

FIGUEIREDO, FÁBIO VIEIRA; ALEXANDRIDIS, Georgios, 2014. Alienação


parental / Fábio Vieira Figueiredo e Georgios Alexandridis. – 2. ed. – São Paulo:
Saraiva, 2014.

DIAS, Maria Berenice Dias, 2028. Síndrome da alienação parental, o que é isso?
IDBFAM, 2008. Disponível em: IBDFAM: Síndrome da alienação parental, o que é
isso?.

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível


em: L10406compilada (planalto.gov.br).

ALECRIAM, Michel Duarte, 2020. GUARDA COMPARTILHADA E ALIENAÇÃO


PARENTAL. Trabalho de Conclusão de Curso. UniEvangélica, 2020. Disponível em:
Monografia -MICHAEL ALECRIM.docx (live.com).
TUDELA, Daniele; WELTON, Fernandes, 2019. A GUARDA COMPARTILHADA
COMO POSSÍVEL PREVENÇÃO À ALIENAÇÃO PARENTAL. Trabalho de
Conclusão de Curso, ?, 2019.

DIAS, Maria Pricila Magro. Alienação parental: quando a implantação de falsas


memórias decorre do exercício abusivo da guarda. Disponível em:
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-112/alienacao-parental-quando-
aimplantacao-de-falsas-memorias-decorre-do-exercicio-abusivo-da-guarda/.2013.

SILVA, Flávio Augusto da; ONG Todas Marias. Denuncia de violência institucional
doméstica, psicológica, patrimonial e sexual contra crianças adolescentes e
suas mães. Brasília, 08 de agosto de 2018. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1682647&
filename=Tramitacao-PL+10639/2018.

You might also like