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Broken - Valeria Veiga
Broken - Valeria Veiga
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
GAME DAY
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
GAME DAY
Capítulo 31
GAME DAY
Capítulo 32
Capítulo 33
GAME DAY
Capítulo 34
FESTIVAL RISE
GAME DAY
Capítulo 35
Capítulo 36
BELL GAME
HOME COMING
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Para a única garota que eu amei
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Copyright © 2023, Valéria Veiga
BROKEN
1ª Edição Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por
qualquer forma, meios eletrônicos ou mecânicos sem consentimento e
autorização por escrito do autor/editor.
“ isso vai ser grande time, isso vai ser especial… nada pode nos parar… Go
Bruins… nada pode parar esse time… vamos em 3… 2… 1… UCLA…
UCLA… UCLA… UCLA”
◆◆◆
Vencemos!
Eu e o meu time vencemos a temporada e eu sou o melhor
quarterback da liga universitária. No próximo semestre eu vou ser senior e
capitão do time, e em um ano graduarei em administração e partirei para a
liga profissional, assinando com um time da NFL.
— Vencemos Chase! — meu running back, Kalleb, falou me abraçando —
Vamos para o senior como campeões… agora sim temos chances reais de um
time profissional querer nos contratar. Porra, meu sonho desde menino
quando via os jogadores na televisão.
— Porra, digo eu — Falei dando um soco de brincadeira no seu ombro —
Bora comemorar que hoje à noite vai ser do terror.
Chase — meu técnico falou se aproximando de mim — Dois olheiros que
—
estavam no jogo se interessaram por você, então, trate de não estragar tudo
sendo… você fora do campo.
— E o que eu sou fora do campo? Um estudante de administração? Um cara
de vinte e dois anos que quer aproveitar tudo que a vida universitária
proporciona antes de entrar na vida de adulto que é só trabalho e mais
trabalho?
— Eu não sei o que fazer para você entender que não basta ser bom em
campo, tem toda uma imagem de vida que os homens valorizam quando vão
assinar um contrato.
— Toda a imagem que a mídia, os filmes, e agora as redes sociais vendem?
A galera fuma, cheira, se embriaga, faz um monte de merda e posa de good
vibes. Eu também tiro fotos bonitas e comportadas para as redes sociais, não
se preocupe.
Eu falei indo tomar o meu banho para sair e comemorar no melhor estilo
Chase essa vitória.
Passei a vida sendo cobrado pelo meu pai, que quer eu seja o filho
perfeito que estuda administração e vai ser contratado pela NFL, mesmo ele
achando que eu sou um erro, não presto nada e só estrago sempre tudo o que
eu coloco as mãos, e que não sirvo nem para ser exibido entre os seus
amigos nos jantares do iate clube.
Como jogamos em casa, deixei o estádio atravessando um mar azul e
amarelo dos torcedores dos Bruins, falando com o pessoal que queria me dar
os parabéns e autografando a camisa das garotas que faziam fila atrás de
mim.
— Hoje tudo que eu quero é uma noite de orgia para comemorar o final da
temporada — Kalleb falou animado enquanto seguíamos para nossa
fraternidade, a Sigma Alpha Epsilon.
— Claro, até porque as outras festas do ano que fomos eram de pura
castidade — Eu falei rindo — Porra irmão, quando vivemos fora da orgia?
— Que eu me lembre quando a gente era criança.
— Vocês são foda mano — meu fullback, Erich falou — Aquela jogada
final… vocês são os reis.
— Chase é o rei porque é do quarterback que elas gostam mais.
Kalleb falou brincando se referindo a minha popularidade no campus. Só
que eu atribuo o meu sucesso com as garotas, não só por ser quarterback,
mas por ter um lado badboy que agrada mais que os bonzinhos que enviam
flores e bombons.
— Isso é fato! Chase é o Rei do Campus. O cara chega e as garotas
já querem arrancar as calcinhas — Erich falou pulando nas minhas costas e
me dando um cascudo — E nós súditos temos que nos contentar com as que
não são escolhidas por você.
Entramos na fraternidade falando alto, gritando e comemorando o título da
temporada. Tinha sido uma grande conquista e eu só queria beber e esquecer
que tinha marcado com o meu pai de ir em casa prestar contas do semestre e
participar de um dos seus jantares chatos e intermináveis.
Cem no painel me aproximam de Deus
Não rezamos por amor, apenas rezamos por carros
(Starboy – The Weekend)
Capítulo 02
Chase Montana
cordei com o barulho da música alta, e me levantei para pegar uma cerveja
A
na geladeira comemorando por ter sobrado alguma depois de todas que
bebemos mais cedo quando chegamos do jogo.
Eu fui até a janela e o movimento na rua deixava claro que a festa estava
bombando no andar de baixo, e fui tomar um banho para me juntar com a
galera e com as famosas marias chuteiras que deviam estar perguntando por
mim.
Pouco me importa se elas querem ficar comigo para aparecer, porque para
mim uma foda é sempre uma foda, seja por interesse, ou só por tesão. Todos
sabem que sou avesso a compromisso, então quem fica comigo sabe que é só
sexo, prazer, uma boa foda e tchau.
Desço as escadas e sinto alguém segurando a minha perna. Quando eu olho
para ver quem é, vejo uma loira platinada que está sendo enrrabada por
Kalleb, enquanto chupa a boceta de outra garota e que me convida com os
olhos para se juntar a eles, mas eu só digo que não com a cabeça.
Eu não estou a fim de nenhuma orgia, e tudo que eu quero é pegar
uma bebida, mas para isso preciso atravessar o salão passando pelo cenário
de sempre, pessoas dançando em cima das mesas, outros transando nos sofás
ou encostados nas paredes, meus amigos repartindo o pó que dividiram em
três fileiras e do nada alguém que grita o meu nome com um volume maior
que a música alta fazendo com que todos me olhem.
— Agora a festa vai começar de verdade… Chase chegou galera!
Eu passo por uma garota que está com um cropped vermelho e com os peitos
quase saltando para fora deles, e ela sorri para mim e enfia a mão entre as
pernas, se tocando e olhando pra mim. Alcanço uma garrafa de cerveja e
abro dando um gole devagar enquanto a garota se masturba para mim
esperando ansiosa que eu a foda aqui mesmo.
— Nem pense em fazer isso — Rachel uma gostosa do time de dança com
quem tenho transado há duas semanas falou me abraçando — Eu dou conta
de tudo e você não precisa de mais ninguém.
Isso quem decide sou eu e não você — Eu falei, deixando ela e a loira
—
sozinhas, e olhando o meu relógio e vendo que já estava atrasado.
Assim que cruzei o gramado e alcancei a rua, Kalleb e Erich se apressaram
em me alcançar e pegamos o meu carro saindo em alta velocidade.
— Onde vai ser a corrida? — Kalleb perguntou.
— Em Pasadena.
Los Angeles é uma cidade famosa por Beverly Hills e a calçada da fama de
Hollywood, mas o que muitos não sabem é que ela tem várias gangues que
estão sempre em guerra, e se você gosta de adrenalina como eu, precisa
escolher um lado ou ficar vendo televisão dentro de casa.
Nas ruas vazias da cidade, onde as luzes começam a apagar, surge
um cenário clandestino de corridas de carros. O ronco dos motores ecoa
entre becos estreitos, iluminados apenas pelos faróis dos veículos prontos
para desafiar limites.
As ruas silenciosas da cidade que dorme, escondem segredos de uma
noite de corridas que poucos testemunham. O local da corrida de rua estava
muito cheio, e as pessoas bebiam e falavam alto.
Os pilotos, no meio da escuridão, se preparam para uma espetáculo
de alta velocidade. Os carros turbinados, pintados com cores vibrantes,
aguardam alinhados, revelando a intensidade da batalha de adrenalina que
está prestes a começar.
O aroma de gasolina paira no ar enquanto apostadores secretos se
reúnem, criando um ambiente carregado de muita excitação e
clandestinidade. A tensão no ar é palpável, e as apostas correm como uma
corrente elétrica, que gera milhões, através da multidão clandestina.
— Essa corrida promete, Chase? — Shea um amigo meu de balada
falou enquanto trabalhava em seu computador.
— Como estão as apostas? — Eu perguntei acendendo o meu cigarro
e olhando no computador o valor que só aumentava cada vez que alguém
apostava no aplicativo.
— Vai dar uma grana alta, e o povo está apostando em você, Chase.
— Qual vai ser, Chase? — Marco com sua bandana amarela na cabeça se
aproximou me perguntando — Pronto para me enfrentar?
— Pronto para te vencer como sempre.
— Vamos ver isso nas ruas.
A corrida consistia em dar três voltas em quarteirões diferentes de uma
avenida, e fazendo um giro em torno de um barril que ficava no meio dela
marcando o final de cada circuito.
Uma mulher usando um cropped e short minúsculos parou entre os
carros segurando uma bandeira no alto e olhando para o relógio.
O sinal de largada é dado, desencadeando uma sinfonia de
acelerações e derrapagens. Os carros vão rasgando as ruas ocultas, e,
desafiando a gravidade em curvas fechadas e retas perigosas.
A minha superioridade se torna evidente nas manobras ousadas que
eu faço, enquanto a corrida se desenrola como uma dança caótica, ritmada
pelo som constante dos motores dos carros em desafio.
Em cada curva e aceleração eu alimento a chama da paixão
clandestina por velocidade e descarrego toda a adrenalina acumulada dentro
de mim.
O espaço era apertado, com carros estacionados dos dois lados, e sair
na frente me deu certa vantagem. Mesmo assim, Marco não se importou em
arrancar alguns retrovisores pelo caminho para tentar me ultrapassar na
primeira curva.
As corridas ilegais são para mim como um jogo, só que mais
arriscado, onde em cada curva tudo pode acontecer.
Eu acelero tudo deixando Marco para trás, e freio forte quando chego
no local onde têm um grande barril iluminado e de onde sai uma fumaça
vermelha. Preciso ser rápido e dou a volta em torno dele disparando
novamente para dar a volta em mais um quarteirão.
O povo gritava, e a fumaça dos pneus queimando no asfalto subia alto
quando escutamos a sirene dos carros de polícia. Eu acelerei tudo que pude,
mas estava tudo cercado e a única opção foi parar o carro, e aceitar que desta
vez o final não foi como das outras vezes em que eu voltava como se nada
tivesse acontecido para a fraternidade.
Eu não consegui ver Kalleb e Erich depois que a polícia pediu meus
documentos, me mandou sair do carro e entrar na viatura. Eu só estava
torcendo para que eles tivessem escapado para não aumentar o escândalo.
Assim que cheguei na delegacia liguei para o meu pai, que era rico e com
amigos que certamente poderiam me tirar desta encrenca.
— Porra, você quer acabar com a sua carreira no futebol com essas corridas
de carro? O que você tem na cabeça? Merda!
— Você vai me ajudar ou não?
— Cale a boca e não de uma palavra com ninguém até que eu mande alguém
para pagar a fiança e te buscar.
◆◆◆
u acordei na casa do meu pai com uma grande ressaca depois de ter bebido
E
quase que uma garrafa de whisky sozinho para tentar me acalmar depois da
confusão que eu me meti.
Olhei nos sites e um deles falava sobre a corrida ilegal, coisa comum nas
ruas de Los Angeles, mas não citavam o meu nome. Meu pai com certeza
conseguiu com seu prestígio que meu nome não circulasse junto com a
batida policial, e agora era esperar o preço que eu pagaria por isso.
— Quando você vai crescer e parar de me causar problemas? — Meu pai
entrou falando no meu quarto — Eu estava em Nova York, num evento
importante e tive que largar tudo, e ainda ficar devendo favores em troca do
seu nome não ficar no recorde da polícia, o que simplesmente anularia
qualquer chance de você entrar na NFL.
— Você conseguiu isso?
— Devendo favores, coisa que odeio porque quando eu precisar de alguma
coisa já gastei meu prestígio livrando a sua cara.
— Desculpa se você vai morrer num dinheiro por minha causa.
— Eu não vou morrer em dinheiro nenhum, já você vai ter que fazer um
serviço como pagamento pelo favor, sendo uma espécie de babá.
— Que? Eu não vou ser…
— Volte para a faculdade, veja se consegue não fazer merda e no próximo
semestre você vai receber mais informações sobre o que precisa fazer.
— Eu não vou ser…
— Você vai sim ou prefere que eu diga que você prefere o seu nome no
recorde da polícia, que eu corte todos os seus cartões de crédito e…
— Chega, eu vou fazer o que você mandar. Posso voltar para a
faculdade?
— Se você tivesse juízo, não precisaria ter vindo para casa essa noite.
Fui correndo pelas ruas enquanto voltava para UCLA, com vontade de sair
voando depois do sermão de mais de uma hora que escutei do meu pai.
Assim que cheguei na fraternidade, estava tudo limpo e silencioso, sem
vestígios na noite anterior.
— Chase, onde você estava? Na cadeia?
— Ficou maluco, Kalleb. Eu fui dormir na casa do meu pai e sobre ontem,
não aconteceu nada e assunto encerrado — Eu falei indo para o meu quarto e
trancando a porta para não ser incomodado.
Eu tentei e tentei e tentei um pouco mais
Contei segredos até minha voz ficar rouca
Cansei de conversas vazias
Porque ninguém me ouve mais
◆◆◆
◆◆◆
“ Você só me dá desgosto.”
“Primeira faculdade de dança e agora transferência para a Califórnia.”
“Você está me cobrando para me ajudar na minha campanha?”
Foi relembrando as palavras do meu pai que entraram por um ouvido e
saíram pelo outro, que eu entrei feliz no meu carro, e segui cantando alto
pelas estradas que me levariam até Los Angeles.
Eu resolvi passar o verão em Long Beach, na praia enquanto esperava as
aulas começaram para poder me mudar para a fraternidade que seria o meu
lar neste último ano como estudante.
Os dias em Los Angeles são quentes, e sete horas da noite ainda está dia
claro, e aproveitei para caminhar na praia, correr pelas ruas ensolaradas e
claro, passar as noites maratonando a minha playlist de filmes que eu
chamava de favoritos da vida, e ficar sonhando em viver um dia essas
histórias.
Recomeçar (recomeçar, oh, oh)
Recomeçar (recomeçar, recomeçar)
Novos começos podem ser solitários
Graças a Deus eu tenho a mim para abraçar
◆◆◆
◆◆◆
Eu não tinha como deixar para o dia seguinte algo que deveria ter
resolvido durante o treino, então peguei o meu carro e fui até o prédio onde o
meu professor morava próximo ao campus.
Subi as escadas correndo, cruzei com duas alunas que sorriram para mim e
perguntaram se eu estava procurando por elas, mas não ri da piada delas
porque estava focado no que iria pedir para o treinador. Eu bati na porta do
quarto dele sabendo que estava invadindo seu momento de privacidade, mas
não queria esperar até amanhã.
— Chase, o que você está fazendo aqui? O que você aprontou dessa vez?
— Seu crédito na minha pessoa é zero pelo visto, mas eu não aprontei
nada… desta vez!
— Você é um, não… você é o melhor jogador que já passou por esse time,
aqueles que nasceram predestinados para vencer no esporte e não ser mais
um, só que sua falta de juízo…
— Eu não vim falar sobre a minha vida fora do campo, e sim te pedir uma
coisa. Eu sei que o uniforme já deve estar pronto, mas eu pago para
refazerem o meu correndo para a apresentação do time, eu…
— Como assim refazer o seu uniforme?
— É o meu último ano nos Bruins, era o último dele também, e o acidente
não o deixou chegar na final…
— Axel teria muito orgulho de você, Chase, ele vivia contando sobre seus
jogos na High School.
Meus pais me culpam pelo que aconteceu.
—
— Foi um acidente, uma fatalidade, e você não tem culpa de nada.
— Eu sei que não tenho, o caminhão veio como um louco desgovernado e
atirou o nosso carro longe, mas para os meus pais tudo teria sido evitado se o
meu irmão não tivesse saído da universidade para me assistir jogar.
— Axel se pudesse não perderia nem os seus treinos.
— Eu sei disso e ele sempre dizia que eu seria o futuro número 10 da
UCLA, como ele, mas preferi o 11, só que agora quero jogar com o mesmo
número que o meu irmão.
— Você quer que seu uniforme seja 10?
— Sim, eu pago para refazerem, só quero entrar com o uniforme com o
número 10 na apresentação do time para essa temporada. Quero jogar e
vencer por mim e por ele neste último ano.
— Eu vou ver o que posso fazer, porque o uniforme já chegou...
— Faça o impossível. Eu sei que vai ser um gasto extra, ainda mais sendo
emergência por conta do prazo, mas eu pago o que for, mas quero jogar com
a camisa 10.
— Temos pouco tempo. Na verdade, não temos praticamente nenhum
tempo, mas vou dar um jeito. Seu pai sabe disso?
— Não, e nem sei se vai saber, porque ele não acompanha os jogos, só paga
o meu agente, tudo que eu preciso e vive a vida dele.
Agora sim, com esse assunto que eu queria resolver acertado, eu podia voltar
para a fraternidade, me arrumar para a festa, e aproveitar minha noite.
Eu disse garota
O que você quer fazer comigo
Eu posso ser a sua fantasia, esta noite
despertador tocou avisando que por mais que a festa tivesse sido boa, e a
O
ressaca muito forte, era hora de acordar e ir para a aula. As classes da manhã
eu tinha perdido, mas a que eu tinha a tarde não podia faltar, porque o
professor de história da dança costumava falar sem parar e entregava muito
conteúdo e eu não queria acumular matéria e ficar perdida na hora de
estudar.
Entrei no banheiro, tomei um banho rápido para tirar a máscara hidratante
que deixei no meu cabelo, passei um protetor solar, um gloss, e agradeci por
ser verão e não precisar secar os cabelos.
Eu quase não tinha conseguido dormir, porque depois de conversar horas
com Miah, resolvi pegar uma caixa e começar a guardar todos os meus
moletons e camisas de malha extra large que eu tinha para usar por cima das
minhas roupas.
Ontem na festa não foram só shots de tequila, ou um simples porre, e
sim uma limpeza de sistema. Sim, limpei com álcool tudo que estava
enraizado dentro de mim, e que mesmo tendo me mudado de estado e
universidade eu trouxe junto comigo.
Eu não sentiria mais medo.
Um medo que machucava.
Que me paralisava.
Que aos poucos me matava.
Eu não era como os meus pais queriam. Na verdade, sou muito
melhor que o modelo que eles tentaram fabricar.
Acho que sempre fui a garota que aceitou ficar no canto, que recebia
críticas o tempo todo da família, mas que sempre retribuiu com amor
fazendo bilhetinhos cheios de coraçõezinhos, que assim como os
trabalhinhos da escola só iam para a porta da geladeira para servir de fundo
para fotos nas redes sociais, e amassados e jogados no lixo logo depois para
não estragarem a decoração.
Talvez por muito tempo eu tenha acreditado que eu era exatamente
quem eles queriam que eu fosse, e que só precisava me encaixar para caber
certinho no padrão que me foi estabelecido.
Meus pais, meus parentes, seus amigos e assessores… todos eles me
fizeram acreditar que eu devia ser como eles.
Frios.
Interesseiros.
Mentirosos.
Ambiciosos.
Falsos.
Eu tentei por todos esses anos da minha vida.
Eu me esforcei e me doei o tempo todo para eles… por eles, mas
nada do que eu fiz foi perto de ser o suficiente.
Toda aquela pressão que eu vivia me fez esquecer de como era dar
uma gargalhada, e de como era bom me sentir bem.
Tudo que eu sentia era medo de errar, de não agradar, de não
conseguir.
Mas eu não sou assim. Eu não quero e não vou ser assim.
Eles roubaram minha infância, minha adolescência e parte da minha
juventude que estava começando e que eu viveria intensamente.
Arrumei na estante meus livros da Jane Austen com suas mocinhas
resilientes. Agora era minha vez de lidar com as mudanças, superar os
obstáculos e aprender a resistir às pressões da vida.
Eu seria a partir de agora a narradora da minha vida.
Eu agora era como um cronômetro zerado antes de começar um novo
treino. Estava longe de tudo e de todos que me traziam lembranças fodidas, e
pronta para viver novas emoções.
Eu sei que tenho que vigiar para não ter novas crises de ansiedade, e
assim o farei. Gastarei adrenalina suficiente para manter minha sanidade
destruída por pais tóxicos.
Abri o meu armário e escolhi um jeans escuro, um cropped preto e
sapatos da mesma cor com um solado que me deixava uns quatro dedos mais
alta. Peguei minha bolsa, meu chaveiro de coelho fantasiado de caveira, meu
fichário e quando abri a porta apressada quase atropelei Cath que estava
entrando no quarto.
— Quem é você? — Ela perguntou rindo e me analisando da cabeça aos
pés.
— Acho que finalmente minha colega de quarto saiu do casulo e se
transformou nas borboletas tatuadas no seu braço — Miah falou dando um
selinho em Cath.
Eu fiz um biquinho e pisquei os olhos, dei uma voltinha para que elas vissem
melhor o meu look mais uma vez e saí apressada para a aula.
No caminho até o prédio onde seria a minha aula, fui olhando como algumas
pessoas estavam apressadas como eu, enquanto outras estavam deitadas no
gramado pegando sol.
A aula de história da dança era do outro lado do campus e acabei tendo que
correr para chegar a tempo. Subi as escadas do prédio correndo, atravessei os
corredores e me perdi porque tudo era tão grande que ainda não tinha
aprendido o caminho e tudo parecia um grande labirinto.
Respirei fundo.
Eu não era boa com labirintos.
Olhei para o meu relógio e vi que estava atrasada.
Atrasos me causavam fobia por conta dos gatilhos de que eu
precisava ser perfeita e pontual nos meus compromissos.
Eu continuei correndo, subi as escadas, encontrei o corredor que eu
estava procurando e parei para respirar colocando as mãos nos meus joelhos.
Olhei para a porta da sala de aula, me ajeitei e caminhei até ela, e abri a
empurrando com mais força do que devia e fazendo com que todos olhassem
para mim.
O professor parou por um instante e olhou para mim, depois limpou a
garganta e voltou a falar sobre como a dança se desenvolveu através dos
séculos, e nas questões que envolvem a produção de uma obra coreográfica
como parte do contexto social em que está inserida.
Escutei atentamente cada palavra que o senhor Eastwood falava, e anotei
vários tópicos que achei importante para consultar depois no Google e
aprofundar ainda mais o tema.
Eu gostava de buscar referências a tudo que eu achava importante, além de
pontos que discordassem da forma apresentada em sala de aula e que
pudessem servir como ponto de partida para um debate.
Sim, me antecipava aos meus professores. Quando pediam um
trabalho no meio ou no final do semestre, já tinha vários pontos de partida
prontos para redigir e entregar o trabalho com maestria dentro do prazo.
Eu não era boa aluna só porque os meus pais queriam meu nome
como número um em qualquer lista acadêmica, mas porque eu gostava de
estudar.
A aula seguiu por mais duas horas e quando encerrou eu corri para a
cafeteria mais próxima em busca do meu combustível cafeinado.
Com um copo bem grande saindo fumaça e com o cheiro irresistível
do café entrando pelas minhas narinas, me sentei confortavelmente embaixo
de uma árvore, coloquei o meu fone de ouvido, liguei o meu IPad e fui
assistir pela milionésima vez Dirty Dancing.
Eu tinha alguns filmes numa pasta do ITunes que eu chamava de
“Favoritos da Vida” e sempre que tinha um tempo livre, queria esquecer os
problemas ou simplesmente relaxar, eu escolhia um deles e assistia. Eu sabia
as cenas e as falas dos personagens de cor, e perdi as vezes em que sonhei
em viver várias cenas dos filmes.
Eu era viciada em Dirty Dancing, o que eu tinha escolhido para
assistir e perdi a noção do tempo vendo a Baby aprendendo os passos do
mambo com o Johnny mal-humorado. Eu sabia reproduzir cada passo de
todas as danças do filme e meu pé balançava no gramado, doido para que eu
começasse a dançar, quando me dei conta que mais uma vez estava atrasada.
Acho que nessa nova versão da Ava pós casulo, eu me tornei uma
irresponsável no quesito horário. Eu me levantei, joguei meu copo de café
fora e corri para a biblioteca onde eu tinha um encontro com o grupo de
literatura, uma das atividades extracurriculares na qual me inscrevi.
— Desculpem o atraso — Eu falei baixinho assim que encontrei todos os
alunos sentados com as cadeiras em um círculo numa ala afastada das mesas
da biblioteca.
— A senhorita não está atrasada — a senhora Brown, mediadora do nosso
grupo falou sorrindo para mim — Eu tive um pequeno contratempo e vamos
começar agora o nosso encontro.
Eu sorri para de volta para ela, que tinha uma voz linda, e num tom que
parecia que falava como se estivesse narrando um filme. Eu tinha certeza de
que poderia ficar horas escutando-a lendo trechos de livros sem o risco de
me sentir entediada.
— Hoje vamos falar de livros que amamos, cada um vai falar sobre os seus,
mas sem nos prendermos aos clássicos. Livros nos transportam para um
universo paralelo, e todos tem seu valor. Um leitor nunca deve se privar de
novas experiências, por isso quem lê uma coisa só ao contrário do que pensa,
não é realmente um amante dos livros. Vamos debater sobre isso? Sobre os
livros que amamos, suas histórias e a importância de todos os tipos de
literatura.
maior parte do grupo respirou aliviada por poder falar sobre os seus
A
romances favoritos sem aquele ar esnobe dos que acham que literatura se
resume a obras clássicas, que muitas vezes podem ser tediosas e difíceis de
ler. Eu gosto de alguns clássicos, mas eles não são os únicos para mim e
poder dizer isso alto e claro era mais um grito de liberdade que eu estava
dando na minha vida.
Adorei o grupo, as discussões, e foi incrível que tirando à pressão e nos
dando a oportunidade de falar sobre vários livros, acabamos falando sobre
grandes clássicos, sobre livros que ganharam adaptação para o cinema, e dos
ebooks, que faz parte da literatura moderna atual e que veio expandir o
hábito de ler.
Acabamos passando da hora de encerrar o debate, e nos despedimos já
ansiosos pelo encontro que aconteceria na semana seguinte, onde cada um
iria escolher um romance, se colocar no lugar do protagonista e do vilão e
falar deles pelo seu ponto de vista, e como se fôssemos o narrador do livro,
contar uma nova versão do protagonista e do vilão, a partir do nosso ponto
de vista.
Antes de ir embora resolvi caminhar pelos corredores de livros da biblioteca
e escolher um livro que eu ainda não tivesse lido para fazer o trabalho da
próxima semana. Eu poderia escolher um dos romances que sabia de cor,
mas gostei do que a senhora Brown falou sobre nos abrirmos a novas
possibilidades, e resolvi ler um livro mais antigo e clássico, e me desafiar a
me colocar no lugar da mocinha e do vilão, dando o meu ponto de vista
como se eu fosse eles na história.
◆◆◆
Flashback
Você jogou muito, Chase. Tenho muito orgulho de você meu irmão.
—
— Um dia vamos jogar juntos num time da NFL.
— Vamos ser os irmãos Montana do Buffalo Bills.
— Você vai mesmo para o Buffalo Bills?
— O meu agente confirmou hoje, mas não contei para ninguém.
— Nem para os nossos pais?
— Você é o primeiro a saber, Chase. Mas hoje o dia é seu, você que jogou,
que venceu e vamos comemorar.
— Com tequila?
— Com refrigerante porque você é menor de idade — Ele falou dando uma
gargalhada, enquanto eu tirava o cinto de segurança e virava para pegar um
casaco que estava dentro da minha mochila jogada no banco de trás do
carro.
— Pelo menos eu tentei a tequi…
Eu não terminei de falar e o meu irmão não terminou de rir. Tudo que eu me
lembro foi de um barulho enorme, do carro girando, das luzes fortes de um
farol, da porta se abrindo e eu sendo jogado longe.
Estava tudo escuro.
Silencioso.
Minha cabeça doía muito quando escutei vozes dizendo que tinham
encontrado alguém.
Abri os olhos devagar.
Os bombeiros falaram para eu não me mover.
Meu irmão.
Eu precisava encontrar Axel e me levantei cambaleando.
Eu desabei sentado no chão porque minha cabeça girava mais rápido
que os meus pés que tentavam caminhar.
Eles me enrolaram num cobertor e eu fiquei esperando enquanto eles
desciam o penhasco em busca do carro do meu irmão.
— O carro caiu na água senhor, eu sinto muito. Estamos com nossa equipe
toda de resgate em busca do seu filho, mas as chances de encontrá-lo com
vida são mínimas.
Eu escutei então o grito do meu pai.
Não sabia que ele estava ali. Ele não veio me ver.
Sua dor era imensa por perder o seu filho querido. O que o enchia de
orgulho. O que fazia suas vontades mesmo achando um saco todos aqueles
eventos formais cheio de velhos ricos e metidos que o meu pai o fazia ir para
exibir o filho. Melhor aluno do curso de direito da UCLA. Capitão do time
de futebol americano. Seu herdeiro de ouro.
Foi então que alguém falou para ele que seu outro filho estava bem. Escutei
seus passos se aproximando. Seu olhar cheio de dor. E então ele me
abraçou.
— Como isso foi acontecer?
— Eu não sei, foi tudo muito rápido, estávamos conversando…
— Seu irmão deveria estar na UCLA, treinando, estudando, e não nessa
estrada.
Foi tudo que o meu pai falou. Ele me culpou e não fez questão de esconder
isso.
Eu não tive culpa foi tudo que repeti para mim mesmo a partir daquele dia.
Mas quando as pessoas te acusam com o olhar, te deixam entender que
poderia ter sido diferente… você acaba acreditando na verdade que elas te
contam.
Todos estes cavalos no meu carro me pegaram indo rápido
Eu só quero fazer o traço, colocar o meu pedal de gás
Indo tão rápido, espero não falhar
Um movimento em falso, que poderia ser a minha última
(Horses - Kodak Black feat. PnB Rock & A Boogie Wit da Hoodie)
Capítulo 11
Chase Montana
ra por volta das vinte e uma horas quando acelerei mais fundo entrando na
E
casa de Rick. O lugar estava cheio, a música rolava alto e as pessoas bebiam,
fodiam e se drogavam em volta da piscina.
Tudo que eu queria era pisar fundo, correr feito um louco, liberar toda a
adrenalina e dor que estavam guardadas dentro de mim. Foi quando Rachel
se aproximou, com um biquíni que mal tapava seus seios se jogando em
cima de mim.
— Não estou de bom humor.
— Eu não me importo desde que a gente fique junto.
— Nós nunca vamos estar juntos. Pare de espalhar que tem algo a mais
comigo que uma foda.
— Não fala assim, somos perfeitos juntos. Você e eu temos química.
— Eu tenho um pau que entra na sua boceta apenas isso — Eu falei pegando
uma cerveja e saindo de perto de Rachel.
Fui procurar por Rick e o encontrei sentado na parte de trás da sua pick-up,
com duas mulheres agarradas no seu pescoço. O cumprimentei de longe
acenando com a garrafa de cerveja e fui até o meu carro que Kalleb já tinha
colocado na posição da corrida.
— Essa máquina parece um avião. Isso vai voar nessa pista.
— Custou uma fortuna e pelo menos para isso serve ter um pai rico.
Kalleb saiu do carro e peguei a chave colocando no bolso. Eu não dei dois
passos e Rachel apareceu, se jogando no meu pescoço, segurando o meu pau
e me puxando para a parte de trás de uma pick-up que estava estacionada
logo ali, implorando para ser fodida por mim.
A festa estava rolando solta, com a música alta quando vi o fogaréu
queimando no tonel no meio da pista onde aconteceria o racha. Fui
caminhando na direção do fogo que queimava, jogando ali minhas
lembranças, agora nada mais importava e tudo que eu queria era vencer.
Eu sempre gostei de vencer, de ser rico, de ser popular. Eu gostava do poder
que o dinheiro tinha para mudar o rumo das coisas. Foi assim que meu pai
me livrou tantas vezes, foi assim que comprei a máquina onde estava
sentado.
alvez eu fosse mesmo todo errado, ou só um covarde que nunca mandou a
T
família para o inferno porque gostava da grana que eles tinham. Eu gostava
de viver na fraternidade, de ter o melhor quarto, de ser o rei do campus, de
ter um carro que custou alguns milhões, e eu não teria nada disso se cortasse
todos os laços com o meu pai.
Olhei para o outro carro que ia disputar comigo e não acreditei quando vi
Marco sentado no volante. Eu não sabia que o racha seria com ele, mas tudo
bem, isso aumentava a minha vontade de vencer.
Ele me olhou com ódio, abriu a janela e cuspiu no chão.
Eu fiz um sinal com o meu dedo do meio mandando ele se foder.
Eu sei que ele tinha raiva porque ao contrário dele, eu saí limpo da última
corrida. Nós chegamos ao mesmo tempo na delegacia, ficamos alguns
minutos dividindo a mesma cela, só que eu fui embora e voltei para a minha
vida, enquanto ele amargou dias na prisão.
O barulho do ronco dos motores do nosso carro ficou mais alto que a
música, e o cheiro no ar era de borracha queimada e gasolina. Comecei a
brincar com o acelerador esperando a hora da largada. Rick levantou o braço
com a sua arma para o alto e atirou.
Um tiro no meio do nada. Em direção a escuridão da noite.
Aceleramos. Eu e Marco estávamos disputando cada milésimo de
segundo. O circuito era sinuoso e como o chão era de terra, a fumaça cobria
os carros e quando saia da reta do percurso, o carro virava quase que de lado
para fazer a volta do tonel cheio de fogo.
Na terceira e última volta, vendo que não tinha como vencer, o
infeliz começou a bater no meu carro. Ele queria me tirar da pista, e as
imagens do carro capotando comigo e Axel invadiu a minha mente.
Todos os meus fantasmas me assombrando, e eu lutando contra eles
enquanto acelerava.
Foco. Eu precisava ter foco.
O miserável bateu mais forte no meu carro fazendo o meu carro
balançar.
Eu não ia morrer, não sem vencer pelo meu irmão essa última
temporada com a camisa número 10.
Acelerei.
Como um raio eu passei a frente do seu carro e do nada tirei o pé do
acelerador.
Marco teve que pisar no freio, mesmo assim acertou a traseira do
meu carro.
Nós dois giramos.
Os pneus agarrados no chão, arrastando a terra, e levantando
fumaça.
Eu pisei no acelerador no meio do cavalo de pau que parecia sem fim
e voltei para a pista. Ele tinha levado um susto porque não esperava que eu
fosse jogar sujo como ele, mas eu fiz… e por isso não perdi tempo correndo
para a vitória.
Quando ele conseguiu parar o carro, saiu batendo a porta e veio com
tudo para cima de mim. Ele me deu um soco, mas eu desviei e acertei um
chute no seu estômago.
Rick atirou para o alto.
— Não quero briga. Não quero confusão — Rick falou apontando a arma
para Marco.
— Esse riquinho privilegiado fodeu com o meu carro.
— Porra nenhuma. Você começou batendo no carro dele. Jogou sujo.
Quebrou as regras de um racha limpo na minha casa e pagou o preço. Ele
apenas revidou.
— Você fala isso porque é rico que nem ele. Gente como vocês se protegem.
Mas nas ruas…
— Aqui não é rua. É a minha casa. Minha pista. Minha corrida. Quer uma
guerra comigo, Marco? Então você vai ter.
Eu queria socar a cara do Marco até ele cair morto no chão. Estava com ódio
por ele ter batido no meu carro e me feito lembrar daquela noite. Só que
Rick não estava brincando, e se um dos dois provocasse era capaz de tomar
um tiro.
Marco era de uma gangue barra pesada, mas Rick era o dono do tráfico
local. Ele era poderoso e por isso as corridas na sua casa não terminavam
com a polícia chegando. Se tivesse confusão ele eliminava antes o problema.
— Vai ter volta. Você destruiu o meu carro.
— E você o meu, a diferença é que amanhã mesmo eu posso comprar outro.
Marco e eu nos olhamos com ódio. Nossa vontade era de matar um ao outro.
Rick nos olhou ainda segurando a sua arma e fomos cada um para o seu
lado.
Uma ameaça pairava no ar.
Marco estava com ódio e com certeza iria querer uma revanche.
E eu com certeza estaria pronto para vencer mais uma vez.
Eu chamei sua atenção?
Parece que você perdeu a respiração, huh
Quando eu círculo pela sala, você é uma coruja, você vai revirar sua
cabeça
Entrei no prédio onde fica o estúdio de dança e agradeci por ele ficar
aberto. Eu conectei meu celular ao aparelho de som, e em segundos, Flowers
da Miley Cyrus, tomou conta do ambiente.
Lentamente fui descendo meu tronco até que ele tocasse o assoalho
frio.
Me virei de barriga para cima, fiz uma ponte, e depois desci a bunda
até que ela tocasse no chão e subi de novo, fazendo desta vez uma ponte com
a perna esticada para trás e ficando de pé novamente.
— De madrugada?
iah também tinha aula às oito da manhã, só que sempre levantava quinze
M
minutos antes e várias vezes ia de pijama mesmo quase levando a cama nas
costas.
◆◆◆
— Montana e eu…
Fodem quando ele está livre — Cath falou interrompendo Rachel — Mas
—
ela costuma espalhar que é fixa do cara.
Flashback
◆◆◆
Flashback
◆◆◆
oje a fraternidade estava uma calmaria, sem gente entrando e saindo, sem
H
barulho, e eu me sentei na sala para assistir ao jogo do Buffalo Bills com os
outros jogadores do meu time.
Compramos cerveja, vodka, energético, pizza, pipoca e tacos para
assistirmos o jogo e muitos sonharem com o uniforme de um dos times mais
cobiçados da NFL.
— Ano que vem podemos estar lá — Kalleb falou apontando para a
televisão na hora que o time do Buffalo Bills estava entrando no gramado.
— Mas enquanto isso não acontece, e nenhum de vocês está na NFL,
podíamos dar uma festa extra essa noite, porque essa sala cheia de macho
está fedendo — Ian, um dos membros da fraternidade falou.
Ele não era do nosso time de quarterback, mas era filho de um empresário de
minério eu acho, e acabou sendo aceito aqui, mesmo sendo um chato da
porra.
— A festa é a noite como sempre, e agora se puder calar a boca estamos
assistindo ao jogo — Eu falei sem paciência.
Ele sabia que tinha festa a noite, e se queria fazer uma extra que fizesse no
seu quarto, porque agora eu estava confraternizando com os meus amigos e
não estava querendo ser incomodado.
— Chase Montana recusando festa extra com garotas entrando cheias de
fogo por aquela porta? O que aconteceu? — O babaca perguntou — Será que
foi a nova capitã do time de dança que você cheirou pó nas coxas que te
deixou assim, nocauteado?
— Qual o seu problema, seu filho da puta, você não está vendo que estou
assistindo ao jogo. Quer que eu me levante daqui e te cubra de porrada para
você calar essa boca?
— Calma, Chase — Kalleb falou se colocando na minha frente — Não vale
a pena, e ele só quer te irritar.
Porra! Eu nunca me apaixonei e não sei nem o que é isso.
Tudo bem, fica calmo irmão, só queria saber se você estava interessado
—
nela, porque achei a novata gostosa demais e estamos fazendo aula juntos de
literatura, pensei em investir e ver se rola, só isso.
O ar me faltou na hora que ele se referiu a Ava, como novata gostosa. Ela
não era para o bico dele. Não era pro de ninguém ali, e nem pro meu que
também não presto.
— Tenta a sorte irmão — Eu respondi sendo sarcástico e pegando uma
cerveja para continuar assistindo ao jogo.
Peguei o celular e vi seu nome nos meus contatos. Ela me deu o seu número
porque eu disse brincando que teria que mandar para algum lugar a conta do
prejuízo do meu carro caso ele ficasse totalmente destruído depois que ela
corresse nele.
Eu não tinha intenção de ligar para ela. Não mandava mensagem para garota
nenhuma, até porque elas não me davam tempo de fazer isso e já lotavam
minha caixa de mensagens, quando algum infeliz passava o meu contato.
Ela tem fantasmas a perturbando, e eu sei bem o que é isso.
Ela correu comigo no meu carro.
Ela dividiu um beck comigo.
Ela me contou uma das suas loucuras.
Eu por algum motivo me sentia seu protetor. Porra nenhuma, eu estava era
com raiva só de pensar em alguém tocando no seu corpo como Ian deu a
entender que faria.
Sou tóxico!
Sou todo errado!
Sou um merda!
Mas ainda assim vou procurar por ela.
hase: Você me deu seu número para caso tivesse que pagar por algum
C
prejuízo no meu carro.
◆◆◆
música alta no andar de baixo fica abafada pelas paredes do meu quarto, e
A
nossa respiração ofegante toma conta do ambiente.
hase: Não é porque estou em outro ônibus que não estou de olho em você.
C
Ava: Possessivo o meu pudinzinho.
Chase: Só com você.
ônibus seguiu para o aeroporto e embarcamos no avião reservado para o
O
time rumo a San Francisco.
Chase me olhou de longe, piscou para mim e deu um sorriso que me fez rir
de volta feito uma menina romântica vivendo o primeiro amor.
Primeiro amor. Eu nunca tive um primeiro amor. Nem aqueles da escola
como todas as garotas, porque estava preocupada em me esconder.
Chase Montana. Seria ele o meu primeiro amor? Ele me faz sentir borboletas
no estômago. Ele me faz querer sorrir.
Eu fico observando ele de longe, concentrado para o jogo de mais tarde e me
pego sorrindo, mas logo a seguir me lembro da minha mãe dizendo que ele
até poderia ser um bom partido, mas que não tinha um comportamento
adequado para o seu padrão de qualidade.
Se os meus pais souberem vão arruinar tudo. Eles sempre destroem os meus
sonhos. Nunca me deixaram viver e agora com Chase eu estou
experimentando algo novo, bom, e que me faz feliz.
É como se eu estivesse em um mundo paralelo, rindo, fumando, bebendo,
beijando na boca, transando e dirigindo em alta velocidade.
Meus pais não precisam fazer parte desse mundo novo que estou construindo
para mim. Eu não quero que eles venham cagar suas regras em cima de mim
porque estou sendo feliz pela primeira vez.
Flashback
Eu quero de verdade ficar com você borboletinha.
—
— Como assim? Isso aqui é um sonho? — Eu falei passando a mão pelo seu
corpo até chegar no seu pau que ficou duro com o meu toque.
— Gostosa demais — Chase falou apertando a minha bunda e me fazendo
gemer — Do que você tem medo?
— Tudo que eu faço é motivo para os inimigos do meu pai usarem contra
ele. Sempre fui vigiada. Sempre fui controlada e não quero que saibam nada
da minha vida porque eles vão fazer perguntas, vasculhar sua intimidade,
descobrir se você é a pessoa perfeita para estar ao meu lado, porque para eles
não existe isso de “só sexo”, é relacionamento para expor na mídia e ganhar
votos, ou a castidade da menina perfeita da família tradicional, que segundo
seus assessores ganha votos da ala conservadora.
— Só sexo? Você só está me usando para ter prazer, borboletinha? — Chase
falou fazendo cara de ofendido e acendendo um cigarro.
u percebi que ele ficou preocupado com as minhas palavras, mas que
E
tentou disfarçar brincando que ele não era um objeto.
Não julgo. Imagina ficar com alguém que a família vai mandar investigar
como se você estivesse sendo espionado pelo FBI?
— Podemos continuar assim… juntos… — Eu não sabia como falar sobre
nós dois, mas eu queria poder ficar com ele.
— Você sendo só minha podemos ir levando e ver no que vai dar.
Chase me abraçou e continuamos assistindo Para Todos Os Garotos Que Eu
Amei, e achei lindo ele querer ser o mocinho dos meus filmes, sendo que na
verdade o que eu gostava dessas histórias, é que de alguma forma as
protagonistas deixavam de ser invisíveis, que era tudo que eu mais queria
para mim.
— Qual desses filmes da sua lista é o seu favorito?
— Dez Coisas Que Eu Odeio Em Você.
— Por quê?
— Eu acho linda a história de superação dos protagonistas. Ela se abre para
o mundo ao lado dele. Já ele, começa o relacionamento porque está sendo
pago para isso, mas acaba se apaixonando, mostrando que não é o badboy
que todos pensavam. Quando ela descobre, o relacionamento deles termina,
mas daí ele toca o foda-se para o mundo e se declara em alto e bom som para
todos do colégio ficarem sabendo que sim, o sentimento dele é real, e não
tem a ver com nenhum acordo.
◆◆◆
Chase: Se prepara que meu time está indo te buscar. Não pergunta
nada, só segue com eles em silêncio.
◆◆◆
◆◆◆
◆◆◆
Locutor n° 01: Já são mais de quatro horas de jogo e Chase está com
a bola… ele não parece correr e sim voar.
Locutor n° 02: Chase está conduzindo a bola para a endzone… o
silêncio é total no estádio… ninguém respira… ninguém quer perder um
milésimo de segundo do jogo.
Locutor n° 01: Chase vai finalizar como sempre…
TOUCHDOWN… Os BRUINS vencem o primeiro jogo da temporada e
Chase começa a sua caminhada para assinar um contrato com algum time
grande da NFL.
Locutor n° 02: Esse rapaz é um fenômeno.
Eu, eu te amei em segredo
Foi à primeira vista, sim
Nós amamos sem razão
“isso vai ser grande time, isso vai ser especial… nada pode nos
parar… Go Bruins… nada pode parar esse time… vamos em 3… 2…
1… UCLA… UCLA… UCLA… UCLA… U… C… L… A… FIGHT.
FIGHT. FIGHT.”
mensagem do meu pai resolvi ignorar e fui ler a outra que realmente me
A
importava.
◆◆◆
◆◆◆
(Sweat - ZAYN)
Capítulo 25
Ava Miller
Eu olho para o espelho e analiso a roupa que escolhi para essa noite.
Um coturno preto, um cropped vermelho e um short de couro preto.
Deixei os cabelos soltos, fiz uma make nude para destacar o batom
vermelho.
Olhei para os meus braços e vi as tatuagens de borboleta que hoje
ficariam expostas. Eu não preciso escondê-las. Não vou para o jogo ou
algum lugar da universidade, e sim para uma corrida de rua ilegal no sítio de
um traficante.
Quem é você agora, Ava Miller?
Eu começo a rir para mim mesma feliz por estar fazendo o que sinto
vontade, e não o que os outros acham que eu devo fazer.
Pego a minha bolsa, a chave do meu carro, confirmo o endereço no
GPS do meu celular e saio apressada da fraternidade.
Miah estava com Cath na fraternidade dela, e mandei uma mensagem
dizendo que estava indo ver Chase correr e elas surtaram. Eu não tinha
certeza se podia levar outras pessoas, mas com certeza na próxima vez
colocaria o nome delas na lista.
Dirigi apressada pela estrada que estava vazia e com o coração
acelerado ansiosa pelo que eu viveria essa noite.
Uma corrida de rua clandestina. Quanta adrenalina deve ter numa
competição dessas, e como será que é ver a pessoa que você gosta arriscando
a vida em alta velocidade?
Pensar nisso me deu medo e um aperto no coração.
Cheguei no local e assim como da outra vez de manhã parei em
frente a um portão enorme, só que desta vez um homem com dois
seguranças veio checar o meu nome e me deixou passar.
Estacionei o meu carro e comecei a caminhar pelo local que estava
lotado, e confesso que me senti perdida sem saber para que lado seguir.
Não consegui ver Chase em lugar nenhum e fui seguindo em direção
às caixas de som.
No caminho peguei uma garrafa de cerveja que estava em um barril,
e fiquei observando as pessoas do local. Algumas usavam bandanas
vermelhas ou pretas, na cabeça e nos braços, e acho que era como escolher
um time.
Time? Acorda, Ava. As bandanas com certeza marcam de qual
gangue você faz parte.
Próximo a caixa de som algumas pessoas dançavam alheia ao que
estava acontecendo. Algumas pick-ups estacionadas no local serviam como
um motel a céu aberto, e tinha um grupo que parecia discutir sobre quem
venceria a corrida.
Passo por algumas garotas e as escutei elas falarem que o gostoso do
Chase enfrentaria um piloto de Indiana.
O local mesmo sendo a céu aberto, era abafado devido a tanta gente
que parecia se espremer num único ponto daquele lugar gigante.
— Você por aqui? — Rachel perguntou me encarando de cima a
baixo.
— Por que a surpresa? Chase vai correr então onde mais eu poderia
estar senão aqui ao seu lado?
— Cuidado, capitã, que quanto mais você subir com Chase, mais vai
se machucar na queda.
Eu queria ignorar essa frase que com certeza Rachel falou por
despeito, mas meus gatilhos eram mais fortes que minha força de vontade.
Tomei um gole de cerveja, respirei fundo e olhei para o céu
estrelado.
Eu não vim chorar. Eu vim ver Chase correr. Repeti isso
mentalmente algumas vezes e consegui respirar normalmente.
O lugar era enorme, e achei que passaria a noite andando em círculos
até que escutei o locutor anunciando os corredores da noite e fui passando
espremida entre as pessoas até conseguir chegar na primeira fila e finalmente
ver Chase.
— Apostou em alguém? — Um ruivo alto e cheio de tatuagens me
perguntou enquanto seus braços envolviam minha cintura e me puxavam
para junto do seu corpo.
— Eu não vim para apostas, mas para assistir…
Eu não consegui terminar de falar porque alguém o puxou com força
e o infeliz me machucou porque não queria soltar minha cintura.
— Ficou louco irmão, só quero me divertir com a garota.
Foi então que eu vi que o cara que o puxou com força era Kalleb que
estava com mais quatro jogadores do time de futebol.
— Acontece que essa é a garota do Chase e acho bom você sumir
antes que ele acabe com a sua raça e estrague a corrida, porque neste caso
você vai se ver com Rick, e a coisa vai ficar bem feia para o seu lado.
— Eu não sabia que Chase tinha uma garota — O ruivo falou vendo
Chase vindo em sua direção, mas parando quando viu que eu estava segura e
que os seus amigos já estavam em volta de mim.
— Você deu sorte que a corrida vai começar, mas o melhor que você
faz é ir embora, porque não sei o que pode acontecer se ele te encontrar por
aqui.
Chase me olha e posso ver o quanto ele está furioso e não quero que
ele se desconcentre e sorrio para ele.
Kalleb me entrega algo e vejo que é uma bandana preta igual a que
Chase está usando. Eu pego e passo pela minha cabeça e falo olhando para
ele e movendo os lábios sem som para que ele vença.
Inspirei.
Expirei.
Inspirei.
E expirei de novo.
Esse local, essa bandana preta, o som do ronco dos motores, o cheiro
de pneu queimado… eu estava oficialmente quebrando as regras junto com
Chase.
É dada a largada.
Que vença o melhor. E que o melhor seja Chase
Ele arranca com o carro pelo circuito e me lembro quando fiz isso
junto com ele.
Abro um sorriso quando vejo que o corredor de Indiana está
comendo poeira.
A adrenalina pulsa forte por toda a minha corrente sanguínea, e meu
coração acelera à medida que perco Chase de vista no circuito escuro como a
noite.
De repente vejo o Mustang Dark Horse R do oponente de Chase
acelerando e o fechando numa curva.
Meu coração parece parar por segundos com medo do que pode
acontecer.
Chase precisa ficar bem.
Eu estava paralisada até ver que o carro de Chase parece voar.
— Ele acionou o turbo. Porra ele é muito foda. Voa Chase — Kalleb
gritou ao meu lado.
Chase estava acelerando e encurtando a distância do seu oponente,
quando fez uma manobra arriscada próxima a um barranco que tinha na pista
me fazendo quase cair no chão já que minhas pernas tremiam como se
fossem gelatina.
Então, ele virou o volante com tudo em frente ao rei de Indiana
fazendo com o que o cara perdesse o controle do carro e ficasse rodando na
pista no meio de uma fumaça de terra que tomou conta do local.
Chase então surge do meio da fumaça e cruza a linha de chegada
sendo ovacionado pela multidão que estava no local.
Ele venceu!
Eu estava muito feliz!
Chase era um fenômeno no gramado e nas pistas.
Ele saiu do carro, cumprimentou um homem e veio correndo na minha
direção.
Chase me suspendeu no ar e me rodou no meio das pessoas que não paravam
de gritar.
— Ainda vou fazer isso depois de vencer um jogo — Ele falou me beijando.
Sim, aqui ele podia me exibir para todos.
Me senti mal por ser covarde e não enfrentar minha família tóxica.
Tóxica. Esse era o motivo.
Eu estava feliz, e não queria a toxicidade deles entre eu e Chase.
O mesmo homem que cumprimentou Chase quando ele saiu do carro
se aproximou cercado por seguranças.
— Chase, você é o Rei mesmo. Quando quiser trazer sua garota para
correr em troca de noites como essa, saiba que o circuito é de vocês.
— Quer usar a minha vontade de deixar minha namorada feliz para
ficar mais rico ainda, Rick?
— Dinheiro é sempre bem-vindo.
Namorada? Ele falou namorada?
— Tão bem-vindo que na próxima, vou correr para ganhar minha
parte — Chase falou rindo se referindo a hoje que ele não ganhou nada.
O homem foi embora com certeza conferir quanto ganhou essa noite
e Chase passou o seu braço em volta da minha cintura me conduzindo até o
seu carro.
— Me dê as chaves do seu carro — Ele pediu e eu abri a bolsa
procurando por elas e entreguei em suas mãos.
Chase olhou em volta e acenou para Kalleb que veio correndo.
— Leva o carro de Ava para a universidade.
— Deixa comigo — Ele falou pegando as chaves e sumindo entre as
pessoas.
— Você hoje é só minha, Ava Miller.
— Só hoje?
— Sempre minha.
Entramos no carro e Chase acelerou passando entre as pessoas e eu
fiquei assustada achando que o doido atropelaria alguém.
— Não se preocupe, porque ao menos que aquele ruivo filho da puta
que ousou tocar em você esteja aqui, não pretendo atropelar ninguém.
Ele falou e segurou a minha mão, freando o carro do nada e me
fazendo levar um susto.
— Quer ser minha namorada?
Eu comecei a rir. Chase era completamente louco. Quase me mata de
susto para me pedir em namoro mostrando como ele sabe ser romântico.
— Claro que sim, ou não mergulharia de cabeça no seu mundo
apocalíptico. Só espero que você saiba que o meu não fica nada a dever ao
seu.
— Cuidamos disso no futuro.
Futuro!
Eu teria um futuro com Chase Montana?
Eu não queria fazer planos, mas era impossível negar que eu o queria para
sempre, e não com prazo de validade até a formatura.
E à medida que o carro acelerava mais eu tinha certeza de que estava
quebrando regras sem volta.
Chase me fez sair da minha zona de conforto da invisibilidade e ir muito
mais longe do que eu poderia imaginar.
Olhei as borboletas no meu braço sabendo que elas estavam voando cada vez
mais alto.
◆◆◆
Flashback
◆◆◆
(Ghosts - Deftones)
Capítulo 26
Ava Miller
A última aula do dia termina e olho para o relógio vendo que são
vinte e duas horas. Eu sei que o estúdio de dança fica vazio esta hora e
resolvo ir para lá dançar e buscar meu equilíbrio.
A semana passou rápido e amanhã embarcamos para mais um jogo,
desta vez contra os Spartans.
Não estava preparada para voltar lá tão cedo.
Minha antiga universidade.
Minha família.
Anthony.
Eu chego no estúdio exausta emocionalmente, jogo minha mochila
no chão, tiro o meu casaco e pego minha garrafa de água porque sinto que
minha boca está seca.
Alongo meu corpo como sempre faço antes de começar a dançar.
Abaixo meu corpo, e sinto a ponta dos meus dedos das mãos
alcançarem os meus pés com facilidade. Sinto meus músculos esticando,
minhas costas estalando e só isso já me faz relaxar.
Eu respiro fundo quando me sento no chão gelado.
Inspiro.
Expiro.
Me deito no chão, sentindo as minhas costas tocando a madeira fria
do piso, e estico os meus braços acima da cabeça. Logo depois, os estico
para a frente, e subo meu corpo me deitando agora com minha barriga no
chão.
Sinto os bicos dos meus seios ficarem duros em contato com o chão
gelado.
Inspiro.
Expiro.
Eu me sento e abro as pernas o máximo que consigo enquanto me
deito no chão com a barriga tocando o assoalho.
Jogo meus braços para trás, espalmo as palmas das minhas mãos no
chão, ao mesmo tempo que uno minhas pernas e projeto meu corpo para o
alto fazendo uma ponte.
Coloco uma perna de cada vez para o alto e para trás e fico
novamente de pé.
Começo a rodopiar pela sala quando escuto vozes no corredor.
Chase.
Rachel?
Eu sei que deveria ignorar e continuar dançando, mas não consigo e
fico próxima a porta escutando a conversa, ou seria discussão entre os dois.
— Estou com saudades, vamos para o seu carro, eu te faço esquecer
de qualquer garota.
— Você pode por favor parar de me seguir. Eu não vou a lugar
nenhum com você.
— Pode ser no banheiro que fica vazio essa hora. Me faz gozar como
só você sabe fazer.
— Não se humilhe assim por ninguém. Procure quem te queira.
— Eu não quero outra pessoa, só você, Chase.
— Tira a mão do meu pau, porra.
— É por causa daquela vadia da Ava?
— Limpa essa boca para falar da minha namorada.
— Namorada? Você nunca namorou. Por que não namorou comigo
que sempre estive disponível te esperando?
— Me deixa em paz.
— Você pensa que ela é santa? Ela transou com o quarterback do
Spartans. Aliás, vocês estão indo para lá esse final de semana. Será que ela
marcou algum encontro com o ex?
— Eu vou te dar a chance de sumir da minha frente e só não vou te
dar o cala boca que você merece porque apesar de filha da puta você é uma
mulher, e não sou covarde. Mas some da minha frente. Não fala mais
comigo.
— Tudo isso por causa dela?
— Sim, tudo isso pela única garota que eu quero no mundo.
— Tomara que o ex dela pegue ela de jeito e você volte corno desta
viagem.
— Vai para o inferno sua puta.
Eu abri a porta devagar quando escutei os passos de Rachel e vi
Chase dando um soco na parede.
Ele olhou para trás e se assustou quando me viu.
— Não sabia que você estava aqui?
— Vim dançar. Precisava esfriar minha cabeça. Esse final de semana
não vai ser fácil para mim.
— Entendo.
— Eu não tenho ex, Chase. Nunca tinha namorado ninguém até
conhecer você.
— Eu sei disso — Ele falou entrando no estúdio, fechando a porta e
me abraçando.
— Estou com medo. Tenho lembranças ruins de lá.
— Se o babaca do Anthony olhar para você eu mato ele.
— Não é só ele. Tem a minha família também. Minha mãe já enviou
mensagem que eles vão estar no jogo. Ela e o meu pai. Os dois não perdem a
oportunidade de angariar votos, e onde têm eleitores, eles estão presentes.
— Quer que eu te faça esquecer isso tudo? — Ele falou me pegando
no colo e entrelaçando minhas pernas na sua cintura.
Chase apertou minha bunda me fazendo gemer alto.
Ele rodou comigo no seu colo e depois me colocou no chão.
Flowers começou a tocar e eu inspirei jogando minha cabeça para
trás, e depois expirei olhando para Chase enquanto tirava o meu top e jogava
no chão.
Ele se ajoelhou olhando para mim e tirou a camisa.
Eu dei uma pirueta e quando parei tirei minha saia ficando só de
calcinha.
Ele então tirou sua calça de moletom ficando apenas com sua boxer
preta.
Eu tirei e joguei as sapatilhas no canto da sala, e ele fez o mesmo
com seu tênis.
Joguei meu corpo de um lado para o outro como se fosse uma onda
do mar e inspirei fundo.
Eu espalmei as mãos no espelho fazendo com que os bicos dos meus
seios encostassem nele ficando duros.
Chase caminhou até onde eu estava e colou o seu corpo no meu.
Olhamos um para o outro pelo reflexo do espelho.
Ele tocou os bicos dos meus seios me fazendo gemer e embaçar o
espelho.
Seu pau começou a roçar minha bunda e eu sentia minha boceta
piscando como o meu corpo imprensado no espelho.
— Gostosa demais. Hoje você vai ver como fica linda sendo minha.
Eu murmurei algo sem sentido, com sua ereção inchada tocando
minha bunda.
Chase segurou meus cabelos e o enroscou no seus dedos, virando o
meu rosto e colando nossas bocas num beijo faminto.
Ele abaixou deixando uma trilha de beijos nas minhas costas e sem
soltar os meus mamilos. Ficar olhando a ponta dos seus dedos brincando
com os bicos dos meus seios me deixou com as pernas trêmulas e uma
vontade enorme de gozar.
Chase então soltou os meus seios e começou a tirar a minha calcinha
e enlouqueci quando vi seu dedo entrando dentro de mim e o seu polegar
tocando meu clitóris.
— Você está encharcada. Isso tudo é tesão, borboletinha?
— Eu quero gozar.
— Quer? Por quê? Te excita me ver assim brincando com o seu
clitóris?
— Por favor.
— Olha para o espelho. Olha os meus dedos entrando e saindo
lambuzados da sua boceta.
— Chase.
Eu consigo sentir seus dedos sendo acolhidos pela minha excitação.
Caralho.
Isso é bom demais.
Ele me virou fazendo a minha bunda colar no espelho e colocou as
minhas pernas apoiadas nas suas costas enquanto me chupava. Eu senti as
minhas pálpebras pesadas, mas não conseguia parar de olhar ele agachado,
me sustentando e me fodendo com a sua língua pelo reflexo do espelho.
— Eu vou gozar.
Ele então desacelera os movimentos, afastando sua mão da minha boceta, e
eu resmungo irritada.
Chase ri porque estou xingando ele com todos os palavrões que conheço e
enfia três dedos de uma vez dentro de mim.
Foi insano gozar forte, gemendo alto e me vendo viver esse momento.
u estava sendo dele. Eu podia ver esse momento pelo espelho. E eu queria
E
mais. Queria ver seu pau entrando dentro de mim.
Chase me sustentou e foi se levantando. Ele então desceu as minhas
pernas colocando-as em volta da sua cintura e abaixou sua boxer fazendo seu
pau com veias grossas pular para fora e bater na minha boceta.
— Quer me ver te comendo?
— Sim, por favor.
— Sim, por favor, o que, Ava?
— Eu quero ver você me fodendo. Quero me ver gozando no seu
pau. Quero te ver gozando dentro de mim.
— Como a minha namorada é gulosa.
Ele falou e enterrou o seu pau dentro de mim fazendo minhas costas
baterem com força no espelho.
— Apertada demais, porra.
Porra. Para qualquer lado que eu olhasse podia ver a gente
transando.
Eu gemo alto quando sinto seus dedos enterrados na minha bunda e
ele me fodendo mais forte.
Porra.
Meu corpo se choca contra o espelho a cada estocada.
Eu o abraço e sinto o cheiro dos seus cabelos, misturados com suor
do nosso sexo forte, invadindo minhas narinas.
Eu empurro meu quadril contra o seu pau que está enterrado dentro
de mim, e vejo pelo espelho suas pernas tremerem.
Consigo ver a base da sua coluna arrepiada, e me sinto plena vendo
esse homem lindo me desejando.
Eu fico observando sua expressão enquanto ele goza sendo só meu.
Nossas respirações, igualmente desreguladas, se misturam num
orgasmo forte.
Hoje eu pude ver como somos lindos sendo um do outro.
Foi intenso.
Foi insano.
Foi gostoso.
Foi arrebatador.
◆◆◆
dia amanheceu cinzento combinando com o meu humor para viajar para
O
Michigan.
Eu, Miah e Cath que desta vez tinha sido escalada seguimos no carro do
aplicativo para pegar o ônibus que nos levaria para o aeroporto com o resto
do time.
Como na outra vez embarcamos no último ônibus junto com os reservas e
desta vez eu fui sentada com Lucy, do time de dança, e Miah claro foi com
Cath.
Como o avião não tinha lugar marcado, desta vez Chase não abriu mão de ir
comigo, e se sentou ao meu lado, e os jogadores começaram a zoar que ele
estava encoleirado, deixando-o puto.
— Essa noite eu vou ter que ir jantar com os meus pais.
— E você está bem com isso?
— Não. Quando estou com eles não sou eu mesma. Mas trouxe na mala meu
uniforme de filha do senador.
— Um dia vamos mandar nossas famílias para o inferno.
— Sim, mas agora vamos pensar no jogo que você está indo vencer.
Esse era o verdadeiro espírito dessa viagem e era sobre isso que eu iria
pensar. Eu estava desanimada, mas quando vi todos no avião cantando o
hino, empolgados, me lembrei que tinha prometido a mim mesma que esse
ano seria especial, e confesso que acabou sendo melhor que minhas
expectativas.
Olhei para Chase e sorri. Ele fez tudo ser muito melhor do que eu podia
esperar, e não iria ficar sofrendo antes da hora.
A viagem foi bem barulhenta, pois os jogadores estavam animados e
ansiosos pelo segundo jogo da temporada. Eu estava feliz por Cath ter sido
escalada, porque assim teria minhas duas amigas ao meu lado no estádio,
além do meu namorado que estava sempre querendo me proteger do mundo.
Desembarcamos no Michigan alegres e com grandes expectativas para o
jogo. Eu, Miah e Cath estávamos rindo e Chase segurou minha mão na
mesma hora que vi minha mãe no aeroporto.
Eu soltei sua mão, endireitei minha postura, perdi o brilho do meu sorriso e
respirei fundo caminhando na direção da minha mãe.
— Não esperava te encontrar aqui no aeroporto.
— Como eu iria deixar de vir receber a minha filha amada — Minha mãe
falou sorrindo e seu fotógrafo disparou flashes no meu rosto. Seja bem-
vindas ao Michigan, ela falou olhando para as meninas do time de dança.
Muito prazer, senhora Miller. Eu sou a Miah, companheira de quarto da
—
Ava.
— Que prazer conhecê-la. Ava fala muito em você.
Miah sorriu sabendo que eu nunca falava com a minha mãe, nem sobre ela e
nem sobre ninguém.
— Essa noite vamos fazer um jantar lá em casa e será uma honra receber
todas vocês do time de dança e a comissão técnica — Minha mãe falou
cumprimentando o meu treinador — Eu e o Senador Miller, pai de Ava,
estamos muito felizes com a chegada de vocês ao nosso estado.
— Será um prazer senhora Miller — Meu técnico falou — A comissão
técnica do futebol estará em concentração, mas eu e a equipe de dança
aceitamos o convite.
— Então mandaremos os carros para buscá-los no hotel. Filha, nós nos
vemos mais tarde — Minha mãe falou esbanjando seu sorriso de simpatia e
indo embora me deixando sem chão na frente de todos que não tinham ideia
de quem era o meu pai.
— Eu não sabia que você era filha do Senador do Michigan — Lucy falou e
as outras meninas também fizeram cara de surpresa.
— Isso não é algo que alguém estampe na testa ou se apresente contando —
Cath falou — Eu sabia por que temos uma convivência maior fora do
campo, mas foi por acaso falando das nossas famílias, e não “Oi, sou Ava, e
meu pai é Senador”.
Olhei em volta e vi que o time de futebol já tinha seguido para o ônibus.
— Chase já embarcou?
— Já — Miah respondeu — eu vi quando ele seguiu para o ônibus.
— Eu estou me sentindo mal por tê-lo largado como se ele não fosse
ninguém importante para mim.
— Ele sabe que você não quer envolver sua família entre vocês.
— É um pouco mais complicado — Eu falei apertando uma mão contra a
outra — A minha mãe falou mal dele para mim na outra vez que estive aqui.
Ela disse que ele seria um bom partido se não fosse um cara que não seguia
regras.
— Como sua mãe aqui no Michigan sabe sobre o que Chase faz em Los
Angeles, sendo que vocês nem tinham nada para ela se interessar sobre ele?
— Verdade, nunca parei para pensar nisso. Por que minha mãe saberia que
Chase participa de rachas?
iah deu de ombros e eu fiquei pensando que mesmo o pai dele sendo rico e
M
conhecido, isso não é algo que fosse ser assunto de fofoca da alta sociedade.
Se bem que esse povo adora apontar defeito nos outros.
Entramos no ônibus e mandei uma mensagem para Chase.
Ava: Desculpa, mas não sabia que minha mãe iria me esperar no
aeroporto.
va: Kalleb, sou eu, Ava, por favor, qual o número do quarto de Chase.
A
Kalleb: Você vacilou com o meu irmão.
Ava: Você pode me dar o número do quarto?
Kalleb: 722
Ava: Obrigada.
Flashback
Você tatuou as borboletas para cobrir as cicatrizes?
—
— Sim. Elas representam a minha metamorfose.
— E agora você que está voando não vai voltar nunca mais para aquele lugar
escuro.
— Às vezes eu tenho medo de fraquejar.
— Quando isso acontecer, quando sentir medo, lembra de mim te pedindo
para não fazer isso, porque cada corte seu vai doer em mim também.
— Você existe mesmo?
— Comecei a existir quando te conheci, porque antes estava fazendo merda
por aí.
— Você ainda faz merda, Chase Montana.
le me abraçou rindo e disse que éramos dois estranhos e quebrados, e que
E
nossas diferenças ou nos uniriam para sempre ou nos arruinariam de vez.
◆◆◆
Nós três descemos na hora exata em que o jantar seria servido e nos
sentamos nos lugares marcados com nosso nome.
Eu me sentei entre a minha mãe e um rapaz que eu nunca tinha visto antes.
— Eu te procurei, mas não te encontrei — Minha mãe falou — Onde você
estava?
— Eu fui mostrar o meu quarto para as minhas amigas.
— Uma anfitriã nunca deixa seus convidados sozinhos.
— Eu não sou anfitriã. Sou convidada. Essa casa é…
— Você é anfitriã de qualquer evento do seu pai e deve se portar como tal.
— Sim, senhora — Eu concordei ligando o meu modo de concordar para não
me aborrecer.
— Edgar — Minha mãe falou chamando o rapaz ao meu lado — Essa é a
minha filha, Ava. Filha, Edgar, se formou recentemente em direito em
Harvard, e é filho do deputado Forbs grande aliado do seu pai.
— Muito prazer, Ava.
— Igualmente — Eu respondi e tomei um gole de água, colocando um
sorriso forçado no rosto para Edgar que não parava de me olhar.
— Esse rapaz é uma excelente companhia para você — Minha mãe
sussurrou — faça companhia a ele, converse, e não desperdice o seu tempo
com essas suas amigas de time de dança.
Eu não respondi a minha mãe e comi em silêncio, sentindo a comida descer
pesada pela minha garganta.
Meus pais não entendiam que eu tinha escolhido estudar em outro estado
para ficar longe deles e das suas decisões para a minha vida.
Será que a minha mãe realmente acreditava que poderia me empurrar
um casamento?
Claro que ela acreditava. Eu sempre deixei eles acreditarem que podiam
fazer o que quisessem comigo. Eles nunca entenderam que eu aceitava tudo
achando que isso faria eles gostarem de mim.
Eu não faço mais questão de ser aceita por eles, e esse Edgar não me
interessa, porque já tenho a melhor pessoa do mundo ao meu lado, e sorte
minha eles não saberem disso para não azedarem minha felicidade.
epois do jantar, minha mãe inventou que queria tomar um aperitivo comigo
D
e chamou o tal do Edgar para nos fazer companhia, e não passou
despercebido para ela que eu revirei os meus olhos.
— Ava, estuda dança na UCLA. Eu e o pai dela queríamos que ela estudasse
direito, mas ela insiste neste amor pela dança, e como queremos sua
felicidade, apoiamos.
— Faz parte do espírito universitário esses jogos e festas. Ava está vivendo
esse momento e depois vai seguir com responsabilidade na vida adulta — O
tal Edgar falou parecendo o meu pai falando.
Fiquei olhando para ele e pensando se o cara era um chato, ou assim como
eu, representava o papel do filho perfeito.
Um fotógrafo veio fazer uma foto e minha mãe teve a cara de pau de me
empurrar para ficar ao lado do tal Edgar, por quem nos seus delírios eu me
interessaria.
A festa com certeza iria rolar até tarde, mas o meu técnico disse que
precisávamos ir porque no dia seguinte teríamos muitos compromissos junto
ao time de futebol, respirei aliviada quando me despedi dos meus pais.
Assim que entrei no carro peguei o meu celular e vi que tinham algumas
mensagens de Chase.
liquei no link que ele enviou e vi a foto que minha mãe me empurrou para
C
tirar com o tal Edgar no site de notícias do Michigan, e deixando no ar a
dúvida se estaria acontecendo algo entre nós dois.
va: Quando eu disse para você que minha família é podre eu não estava
A
brincando.
Chase: Quem é esse cara?
Ava: Um chato que nos delírios da minha mãe seria perfeito para mim.
Chase: E você ficou conversando com ele.
Ava: Com a minha mãe junto mediando o assunto porque eu não tinha nada
para falar.
Chase: Sei. Estou há 24hs no Michigan e tudo que eu quero é voltar para
Los Angeles.
sse era o meu medo. Um dia, e Chase já estava de saco cheio dos meus pais
E
e sem nem ter falado diretamente com eles.
Será que as pessoas têm ideia de tudo que acontece por trás das redes sociais
das famílias perfeitas que elas juram ter zero defeitos?
Assim que chegamos no hotel fomos direto para o nosso quarto e depois de
tomar um banho mandei mensagem para Chase.
Ava: Boa noite. Dorme bem porque amanhã você tem um jogo para
vencer.
Chase: Pode deixar que vou vencer para comemorarmos juntos.
Ava: Vou cobrar. Sonha comigo.
Chase: Meus sonhos com você costumam ser intensos e eu não
descansaria um minuto.
Ava: Tarado.
Chase: Sou tarado por você, e se esse assunto continuar vou ter que
ir até o seu quarto te sequestrar para dormir comigo.
Ava: Não precisa, só abrir a porta.
(Ghosts - Ibeyi)
Capítulo 28
Chase Montana
GAME DAY
◆◆◆
◆◆◆
◆◆◆
◆◆◆
◆◆◆
va: Eu pensei que você tivesse dito que seria o mocinho dos meus
A
filmes e não meu super-herói. Eu não quero te ver brigando ou se
prejudicando por mim, mas obrigada por me defender.
(Perfect - Ed Sheeran)
Capítulo 30
Chase Montana
Ava era a garota mais linda, complicada, doce, ousada e perfeita que
eu já tinha conhecido. Ela tinha uma pureza natural, mesmo querendo ser
impetuosa e desejando quebrar todas as regras.
Ela não tinha experiência de vida porque viveu cercada num mundo de
regras, e tinha ânsia de viver já que foi podada o tempo todo em suas
escolhas.
Ela dizia que tinha certeza de que só nasceu para que seus pais tivessem a
foto da família perfeita, mas para mim ficou claro, que ela nasceu para ser
minha.
O meu anjo chegou bagunçando toda a minha vida e derrubando as
minhas defesas.
Eu quero ver a minha garota feliz e por isso fiz uma lista com lugares
que queria levar Ava. Confesso que nunca imaginei que existisse alguém que
nunca foi num parque, num cinema ou num show.
Parque de diversões
Cinema
Lago (cena de filme)
Fechei meu Ipod e fui para o centro de atletas treinar para o jogo do
final de semana e sorri feito bobo quando vi minha garota linda ensaiando
com o time de dança no gramado.
— Chase, cuidado amigo que se continuar assim você vai derrubar o
time todo — Kalleb falou passando por mim enquanto descíamos as escadas
da arquibancada para o centro do gramado.
— Você veio treinar chapado? — Eu perguntei por que não entendi
nada do que ele tinha falado.
— Sua baba, capitão. — Erich falou rindo e apontando para Ava —
Está escorrendo tanto que vai molhar o chão todo e podemos cair.
— Vão se foder, porra — Eu falei puto e jogando a bola na cabeça de
Kalleb que começou essa palhaçada.
Descemos para o treino que cada vez que a temporada avançava
ficava mais puxado.
— Já vencemos os dois primeiros jogos e faltam oito para o título.
Precisamos de foco e disciplina, dentro e fora do campo — O técnico falou
olhando para mim.
Porra, eu não briguei por indisciplina, mas para defender a honra da
minha garota, e não vou negar que faria de novo se fosse preciso.
Faltavam apenas oito jogos na liga universitária e foi inevitável
pensar que esses anos na UCLA passaram muito rápido.
Os jogos de futebol americano acontecem sempre entre agosto e
novembro, e diferente dos outros anos, na volta dos holidays não vou me
preparar para jogar no próximo ano, e sim esperando a graduação em maio
para seguir efetivamente para a minha vida adulta.
Eu não sei como vai ser depois, mas não vou me privar de nada, pois
esse tempo como universitário só vou viver uma vez.
Sobre o futuro, a única certeza que tenho é que quero Ava fazendo
parte dele, mesmo eu sabendo que minhas escolhas podem ser decisivas para
a família dela me ver como uma ovelha negra, mas não vou desistir da
minha borboletinha.
O treino do time de dança acabou e o nosso continuou até tarde, e já
eram por volta das onze horas quando fomos liberados para tomar banho e
deixar o centro de atletismo.
Tucson - Arizona
Locutor 01: O kickoff está prestes a começar. Quem você acha que
vai sair na frente, Peter?
◆◆◆
Locutor 01: Sim, Chase faz o snap, recua para o pocket e, faz um
passe profundo para o wide receiver, que escapa da marcação e vai direto
para a end zone! Um touchdown espetacular que com certeza só vai
fomentar os rumores de sua contratação pelo Buffalo Bills.
Locutor 02: O time da casa não desanima, e tempos que falar sobre a
incrível variedade de jogadas, com corridas precisas e passes estratégicos
que eles vêm fazendo para tentar manter o jogo equilibrado.
◆◆◆
primeira coisa que Miah fez quando entramos no nosso quarto, foi se jogar
A
exausta na cama.
— Estou oficialmente velha, minha amiga — Ela falou rindo — Troquei
meu amor por uma cama vazia.
— Não somos mais as mesmas — Eu disse rindo enquanto colocava o meu
pijama, calçava minhas pantufas e corria para a minha cama quentinha.
— Você não disse que tinha um trabalho para entregar?
— Eu menti.
— Por quê? Você e Chase parecem tão felizes juntos.
— E somos, mas hoje eles venceram um jogo, gostam de comemorar
revendo os lances na televisão, discutindo jogadas, reclamando dos passes
errados, e se eu fosse dormir com ele seria mais uma vez que ele deixaria de
confraternizar com o time.
— Agora eu me senti mais velha ainda, porque não fui dormir com
Cath porque estou com dor nas costas e tudo que eu quero é ficar deitada
imóvel na minha cama.
— Podemos fofocar deitadas olhando para o teto assim você só
precisa mover a boca para falar.
— Só piora o meu sentimento de envelhecimento precoce.
— Sobre o que vamos conversar?
— Podemos começar falando da sua pele cada dia mais radiante.
— Ah, isso é devido aos múltiplos orgasmos deliciosos que tenho tido quase
diariamente.
Miah fez um escândalo gritando e batendo palmas, e fiquei pensando como
ela conseguia fazer a louca deitada feito uma múmia na cama.
— Agora vai ter que contar os detalhes sórdidos.
— Não posso sou ciumenta — Eu falei rindo — Mas posso te contar dos
lugares inusitados que venho transando.
— Essa conversa só melhora.
— Numa praia deserta, no estúdio com aquele monte de espelhos para todos
os lados, na rua encostada no carro, e ele já me fez gozar sentada na mesa do
California Grill enquanto eu esperava a minha pizza.
— Eu e Cath nos achávamos fodonas porque transamos uma vez na parede
de uma festa, mas vocês dois me fizeram ver que somos duas caretas.
— Eu vim viver a minha vida livremente e no caminho encontrei Chase
Montana que está me proporcionando tudo muito melhor do que eu podia
imaginar.
— Você deu foi um chá de boceta bem dado no homem na festa a fantasia.
— E ele me deu uma surra de pau que me deixou louca quando transamos.
— Porra, Ava, agora vou olhar para vocês dois e vou pensar, lá vem o casal
pau e boceta.
Eu e Miah rimos tão alto que acho que acordamos toda a fraternidade.
Incrível como em tão pouco tempo nós criamos uma conexão de irmãs, e
estávamos sempre zoando uma da outra.
Ela com certeza trouxe leveza para a minha vida. Eu nunca fui de conversar
sobre sexo, me abrir ou fazer piadas, mas desde que conheci Miah isso se
tornou algo natural, descontraído e como têm que ser, já que sexo virou tabu
sei lá por que, se é algo que todo mundo faz.
◆◆◆
Acordei atrasada para minha aula já que a conversa com Miah foi até
tarde e só dormimos porque desmaiamos de cansaço, porque não me lembro
de darmos boa noite uma para a outra.
Acorda Miah! Olha a hora!
—
— Meu Deus, já amanheceu? Alguém faz o tempo ir mais devagar, por
favor!
— Eu não sei como vai ser quando você estiver em Nova York para não se
atrasar para o trabalho, porque Cath é outra que também dorme mais que a
cama.
— Mensagem de texto. Você me envia todos os dias me lembrando de
acordar.
— Toma vergonha e compra um despertador — Eu falei rindo e jogando um
travesseiro nela.
Desci as escadas apressadas e abri o meu celular para ver se tinha alguma
mensagem do Chase, mas só encontrei uma da minha mãe que fiz questão de
não ler.
Cheguei no estúdio de dança e todos os alunos já estavam do lado de fora,
esperando a hora da banca para nossa primeira prova prática do semestre.
Cheguei na hora do sorteio dos números, e agradeci mentalmente a Deus por
eu ser o número três, já que minha ansiedade iria ao grau máximo se eu
tivesse que esperar mais de cinquenta pessoas antes de mim.
Meu celular vibrou e desta vez era uma mensagem de Chase.
(TiO - ZAYN)
Capítulo 33
Chase Montana
Locutor 02: Que jogada incrível! Mas a equipe dona da casa não
está para brincadeira. Vimos uma resposta rápida, com corridas precisas e
passes estratégicos. Este jogo está realmente equilibrado, com as duas
equipes mostrando seu melhor em campo.
◆◆◆
◆◆◆
va: Amanhã vou ter dois trabalhos para apresentar e passo na sua
A
fraternidade por volta das 15h. Me espere.
Chase: Você anda muito mandona, Borboletinha. Preciso consultar
minha agenda.
Chase: Você deu sorte, estarei livre às 15h.
Ava: A sorte é sua pudinzinho, porque se tivesse teria que desmarcar.
Nos vemos amanhã. Sonhe comigo.
Chase: Eu prefiro ir te buscar para dormir comigo do que ter você
em sonho.
Ava: Hoje eu não posso porque preciso mesmo fazer esses dois
trabalhos, mas amanhã você será só meu.
Chase: É a segunda vez que você fere o meu pau. Dê manhã disse
que preferia panquecas e agora que vai fazer trabalho da faculdade.
Ava: Pobrezinho. Amanhã eu dou um beijinho nele para compensar.
Chase: Só um beijinho?
Ava: Boa noite, Chase Montana.
◆◆◆
Locutor 02: Com certeza, Peter! Este jogo promete ser um duelo
épico entre os quarterbacks, já que Chase, dos Bruins, e Adam, do Golden
Bears, vem sendo os destaques da temporada.
Locutor 01: E o que falar da defesa dessas equipes que tem sido
gigante em campo. Temos visto que a linha defensiva dos dois times está
determinada a parar qualquer avanço do ataque adversário.
Locutor 02: Sim, Peter, e isso coloca uma pressão muito maior nos
quarterbacks. Hoje iremos ver os dois melhores da liga universitária
enfrentando defesas incrivelmente sólidas.
Locutor 01: Vamos ficar atentos a cada lance e analisar como essas
equipes irão buscar estrategicamente a vitória.
(Vai!) Mais Velozes
(Vai!) Mais Furiosos
Sou rápido demais pra vocês, cara
“isso vai ser grande time, isso vai ser especial… nada pode nos parar… Go
Bruins… nada pode parar esse time… vamos em 3… 2… 1… UCLA…
UCLA… UCLA… UCLA”
BELL GAME
FINAL
Locutor 01: Boa tarde Los Angeles… boa tarde UCLA… boa tarde
torcedores que lotam o Rose Bowl.
Dia lindo aqui em Pasadena com temperatura na casa dos 30°.
Homecoming é sempre um dia com muita festa e emoção.
E hoje mais ainda por ser a grande final da liga universitária de 2022.
Para quem vai a sua torcida nessa grande final, que marca a
despedida de Chase Montana, o quarterback dos Bruins que ano que vem vai
se graduar e quem sabe jogar na NFL.
Locutor 02: Com certeza teremos um jogo épico que marca a
despedida desse fenômeno da liga universitária.
Seu nome? Chase Montana. O quarteback demonstrou habilidade,
estratégia e determinação durante toda a temporada.
Locutor 01: E lá vem as duas equipes entrando em campo com uma
energia incrível. A arquibancada está ensurdecedora, festejando, gritando o
nome dos atletas e ansiosa para ver quem vai conquistar o tão sonhado título.
Locutor 02: Preparem os corações porque foi dado o apito inicial
para a grande final.
Notem que os dois times estão se estudando nos primeiros minutos
do jogo, e que a defesa de ambos está agressiva, enquanto os ataques buscam
brechas para avançar.
◆◆◆
◆◆◆
Chegamos na UCLA e me despedi de todos da comissão técnica e
agradeci por tudo. Claro que ainda nos encontraríamos muitas vezes, até
porque até me formar preciso continuar treinando, e farei isso com os
Bruins, mas não serei mais seu quarterback e nem farei mais parte do time.
Eu e Ava fomos embora juntos e direto para a minha fraternidade que estava
em festa pela vitória dos Bruins. Eu peguei uma bebida para mim e outra
para ela e subi as escadas, porque hoje a única festa que eu queria era com a
minha namorada.
— Antes de qualquer coisa, quero dizer que aquilo que eu falei no estádio é
verdade, e que eu amo você de verdade. Eu sei que não vai ser fácil, que sou
um peso e que infelizmente ficar comigo significa ter a vida vasculhada e
exposta para o mundo — Sua sinceridade em cada palavra é tão grande que
só me faz gostar ainda mais dela — Você despertou em mim uma vontade de
viver que eu nunca tive antes, e eu não sei se vamos ficar juntos por pouco
tempo ou por toda a eternidade, mas quero que você saiba que eu sou sua,
Chase Montana.
— Eu queria te beijar, mas porra, escutar que você me ama é a
melhor coisa do mundo. Eu nem sabia que era tão bom ser amado até você
gritar hoje para todo o estádio escutar.
Ela então me beija com a intensidade do primeiro beijo, quando era a
desconhecida Arlequina.
— Caralho, eu não sei fazer declaração — Eu falei com raiva de mim
por ser um ogro e Ava deu uma gargalhada — só sei que fiquei hipnotizado
por você dançando em cima da mesa e depois no meu colo esmagando o
meu pau, e eu ainda não sabia quem era você.
— Que romântico!
— Porra, eu não sei falar bonito, mas você é, e sempre será, tudo que
eu mais vou querer na vida. Eu tenho medo de te arruinar porque eu corro
nas ruas, e isso é uma coisa fora da lei, mas sou tão egoísta que o senador
que lute para me livrar mil vezes da cadeia se não quiser um escândalo
envolvendo sua filha, porque não vou abrir mão de você, minha
borboletinha.
— Já estou imaginando a cara dos assessores dele se um dia tiverem
que tirar você da cadeia. — Ela falou rindo — Você já foi preso, não foi?
Acho que você me falou algo sobre isso uma vez logo que a gente se
conheceu.
— Sim, uma vez, mais um conhecido do meu pai muito influente
livrou a minha cara em troca de favores — Eu falei enquanto acendia um
cigarro — mas não quero falar sobre isso, porque estou ocupado tentando
entender o que eu fiz para merecer você.
— Isso tudo que você falou quer dizer, que mesmo sabendo que vai
estar sempre sendo alvo de políticos que vasculham a sua vida, você quer
ficar comigo?
— Você é minha, Ava Miller e o resto do mundo que se foda.
Ava geme quando a abraço e a pego no colo, entrelaçando suas
pernas na minha cintura e sentindo minha ereção tocando sua boceta por
cima da calcinha.
Ela estimula em mim vários sentidos que me levam a loucura.
Eu me deitei na cama e trouxe ela comigo, só que no lugar de fodê-la
fiquei olhando para ela que estava mais linda do que qualquer outro dia.
— Isso tudo para mim é novo. Nunca desafiei minha família…
— Eu estou com você, e se for preciso converso com o senador, só
não vou aceitar nunca a ideia de você não ser minha.
Ava se entregou de corpo e alma para mim.
Não foi só sexo.
Foi entrega.
Foi amor.
Ela adormeceu com a cabeça recostada no meu peito e eu fiquei
pensando como era bom ser merecedor do seu amor.
Acendi um beck e lembrei que estava tendo uma festa no andar de
baixo e me dei conta que não curtia mais esses eventos. Agora eu preferia
estar aqui, deitado na minha cama com o meu amor dormindo nos meus
braços, do que participando de orgias que eram a verdadeira face dessas
festas.
◆◆◆
Não sei que horas eram porque eu peguei no sono, mas quando
acordei vi que a cama estava vazia.
— Ava — Eu chamei e ela respondeu que estava no banheiro
tomando um banho.
— Sério isso? Foi tomar banho e nem me chamou? — Eu falei me
levantando nu da cama e quando estava chegando na porta do banheiro
escutei alguém esmurrando a porta do meu quarto.
— O que aconteceu? Que barulho é esse?
— Algum bêbado filho da puta que quer foder alguma garota e acha
que meu quarto está à disposição dele — Eu falei enquanto a pessoa insistia
com a porra das batidas — Eu vou quebrar a sua cara seu filho da puta, vai
bater… — Eu não terminei de falar vendo meu pai entrar feito um louco no
meu quarto.
— Ah, por favor! — Ele falou me vendo nu — É assim que você
abre a porta do seu quarto?
— Porra, a porta quase caiu com os seus socos nela e sua
preocupação é o fato de que estou nu? O que aconteceu? Onde é o fogo?
— Seu infeliz, você tem a cara de pau de me perguntar onde é o
fogo, com essa cara de quem não sabe a merda que fez?
— Do que você…
— Você sabe quando custou te tirar da porra da cadeia por causa das
suas merdas disfarçadas de trauma? Sabe quantos favores o Senador ficou
devendo por isso? E o que você tinha que fazer? Apenas vigiar os passos da
filha dele, ou, se ela fizesse algo errado contar para ele.
— Senador?
— Não se faça de sonso porque você recebeu o e-mail dos assessores
dele com todos os dados do que você tinha que fazer, e toda a vez que eu te
perguntava sobre isso, a sua resposta era que estava tudo certo, que você
estava vigiando e ainda fazia piada que tinha nascido para ser babá.
Eu estava tonto com tudo que o meu pai estava falando e não
conseguia raciocinar direito.
Ele estava falando do nerd que eu tinha que ser babá? Era isso?
— Era só vigiar — Meu pai continuou gritando — não era para
transar com ela seu merda. Hoje no telão quando vocês apareceram juntos
seu infeliz ficou claro como você retribui o favor comendo a filha dele seu
idiota.
— Eu não estou entendendo nada. De que senador o senhor está
falando?
— Você quer brincar de ser sonso? Tudo bem, então vamos lá.
Senador Miller do Michigan. O homem que livrou sua cara da cadeia. O
homem que os assessores te enviaram o e-mail com o nome e a foto da filha
dele para você tomar conta.
Eu me sentei na cama em choque e tentando entender o que estava
acontecendo quando meu pai continuou falando antes de sair batendo a
porta.
— Se livre da garota que está no seu banheiro, coloque uma roupa e
venha até a minha casa porque nossa conversa não terminou.
Ava.
Era ela quem estava no banheiro.
Me levantei correndo e não cheguei a dar um passo e vi minha garota
enrolada numa toalha, com os cabelos molhados e o rosto vermelho coberto
por lágrimas.
— Ava…
— Por favor, não fale nada. — Ela falou vestindo sua roupa
apressada — Não precisa se explicar, você precisava me vigiar, então porque
não aproveitar e me foder também, não é verdade?
— Eu…
— O seu serviço acabou, Chase Montana. Não precisa mais ficar
vinte e quatro horas comigo para fazer um relatório para o meu pai…
acabou.
— Ava…
— Eu sempre achei que meus pais fodiam com a minha vida, até
conhecer você que acabou com ela de vez.
Eu não sabia o que fazer e a abracei desesperado querendo que ela
pudesse sentir o meu amor, mas tudo que ela fez foi me empurrar para longe
dela.
— Nunca mais toque em mim. Nunca mais fale comigo. Nunca mais
olhe para mim.
Ava saiu correndo do meu quarto enquanto eu parecia congelado.
O ar não passava pela minha garganta.
Dor.
Vazio.
Tudo ficou sem sentido novamente.
Ava não me olhou com ódio.
Ava me olhou com decepção.
— O que aconteceu irmão? — Kalleb entrou no meu quarto
assustado dizendo que viu Ava ir embora correndo da fraternidade.
— Meu computador. Pega o meu computador.
Eu não conseguia respirar.
Tudo doía dentro de mim.
O e-mail que eu nunca abri estava ali.
— Eu nunca abri o maldito e-mail para saber quem eu tinha que
vigiar. Porra, eu não sabia.
— Do que você está falando?
Eu falei rápido para Kalleb que disse que isso só podia ser um
engano até que com as mãos trêmulas eu abri o e-mail e estava tudo ali: o
nome do senador e tudo sobre a sua filha, além de duas fotos dela para não
deixar nenhuma dúvida.
— Se eu não fosse um merda como o meu pai fala eu teria aberto o e-
mail, mas eu sempre me achei o fodão e agora… — lágrimas rolaram pelo
meu rosto e eu não tive vergonha disso — eu perdi o amor da minha vida.
Eu não cumpri minha promessa.
Eu não protegi minha borboletinha.
Eu fiz mal para Ava.
E no final minha mãe tinha razão.
Eu faço mal para quem me ama.
Ele era a cura, eu estava pronta para ter certeza
Então deixei que ele se aproximasse mais (se aproximasse mais)
Mas não demorou muito para perceber
Que a mulher em mim não chora
Por um homem que é um menino e ele não é merece isso
ai: Eu quero que você venha para casa neste final de semana. Precisamos
P
conversar.
Mãe: Por que você sempre tem que escolher o homem errado para se
deitar?
Mãe: Eu te avisei que ele não era para você.
Mãe: Eu te falei que apesar de milionário ele não servia.
Mãe: Estamos te esperando esse final de semana.
Assessores: Bom dia, Ava. O pai do Chase me disse que parece que vocês
dois se desentenderam, mas pensamos que o melhor seria negociar com o
quarterback para que vocês finjam que são um casal. O pai dele ficou de
conversar com o filho. Estamos aguardando a resposta.
◆◆◆
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ara que a terceira parte do meu plano desse certo eu precisaria da ajuda das
P
amigas da Ava e sei que essa parte talvez fosse ser mais difícil porque eu não
sabia se elas iriam querer me escutar.
Eu sabia a hora que o treino de dança terminava e fiquei esperando Cath
próximo a fraternidade dela e dei sorte quando vi que Miah, sua namorada
estava vindo junto com ela.
Na mesma hora pensei em Ava, que deve ter ficado sozinha no estúdio de
dança como sempre até mais tarde. Ela precisava dançar para se curar, e
fiquei triste me dando conta que eu agora era um dos seus fantasmas.
Respirei fundo e fui até as meninas já pensando em implorar se fosse preciso
pela ajuda delas.
— Posso falar com vocês?
— O que você quer Chase? — Miah perguntou — Se for recado…
— Eu vim pedir a ajuda de vocês para fazer uma surpresa para Ava.
— Você já fez uma surpresa e bem desagradável, Chase Montana. — Cath
falou — Deixa Ava em paz. Ela não merece sofrer por você.
— Por que ninguém me escuta? Porra, eu sei que sempre fui um babaca, mas
com Ava eu sempre fui o mais carinhoso e atencioso dos namorados.
— Vigiando-a para o pai dela?
— Eu não fiz isso, Miah. Eu me meti numa confusão depois de uma corrida,
o meu pai foi lá e me soltou. Em casa, ele me disse que um conhecido
importante tinha livrado a minha cara e em troca eu tinha que fazer um
favor, que era vigiar o filho dele. Eu pensei que era um estudante, nerd, que
sofria bullying e nem abri a porra do e-mail. Toda vez eu falava para o meu
pai que estava tudo sob controle, mas imagina eu perdendo meu tempo com
um otário? Eu não sabia que o figurão importante que me soltou era o
senador. Eu não sabia que o favor era vigiar uma garota, e muito menos que
era Ava. Eu soube ao mesmo tempo que ela, que não me deixou explicar. Eu
enviei muitas mensagens, liguei, mas ela não quis saber o que tinha
acontecido. Eu sei que tinha que respeitar a sua decisão, e fiz isso até essa
madrugada quando ela me enviou essa mensagem. — Eu falei mostrando o
celular para as duas — Ava não me esqueceu. Por favor, me ajudem a ter ela
de volta. Eu quero provar que o meu amor é verdadeiro.
— Olha aqui, Chase Montana, se eu achar você, fofo de novo, e, for outra
palhaçada pode saber que você vai ficar com menos dentes na boca que o
Anthony do Michigan — Miah falou.
— Você quer nossa ajuda para o que exatamente?
u contei a primeira parte do meu plano e as duas sorriram.
E
Ponto para mim.
— Você vai fazer isso mesmo? — Cath perguntou — Eu preciso filmar isso,
por favor, preciso do dia exato para levar meu celular para o campo.
— Você vai saber o dia, porque depois que terminar tudo, eu vou fazer a
segunda parte que confesso vai ser difícil para mim que sou um ogro.
Eu contei para elas o que eu pretendia e as duas disseram que desse
jeito não tinha como elas não acreditarem em mim.
— Depois disso, bem, aí vem a parte que vocês duas entram para me
ajudar. Eu preciso aprender a dançar a coreografia final de um filme que Ava
adora e que assistimos juntos no cinema.
— Você só pode estar brincando — Miah falou rindo — Você quer se
tornar o Patrick Swayze de um dia para a noite?
— Vocês me ajudam?
— E como vamos fazer isso? — Cath perguntou — Você tem alguma noção
de dança?
— Não, mas eu sou forte, consigo sustentar Ava…
— Ah, claro, a parte mais difícil da dança você quer fazer também — Cath
falou rindo.
— Vocês são dançarinas. Só precisam me ensinar.
— E supondo que a gente te ajude, quem vai se quebrar toda somos nós, —
Miah falou — mas fazer o que se no fundo eu sou uma romântica incurável e
quero que Ava tenha a chance de te escutar e decidir se quer ou não voltar
com você.
— Então vocês vão me ajudar?
— Se minha namorada resolveu te ajudar, quem sou eu para dizer que não e
ficar escutando-a reclamando que não tive boa vontade — Cath falou dando
de ombros.
— Quando começamos?
— Para quando você quer fazer isso tudo? — Miah perguntou.
— Deve ser no final do semestre — Cath falou — Porque vai levar meses
até esse poste dançar.
— Na verdade, eu pensei em fazer tudo dentro de uma semana porque não
aguento mais ficar longe da minha garota.
Cath deu uma gargalhada alta e depois ficou séria quando viu que eu não
estava brincando.
Eu não sei como vamos fazer para que Ava não saiba de nada — Miah
—
falou — Eu e Cath vamos simplesmente ter que sumir e treinar com você em
todas as horas vagas, ou seja, nas madrugadas.
— Você pode alugar o estúdio de dança que têm aqui perto da universidade
para usarmos de madrugada e Miah faz de conta que está dormindo comigo
a semana toda.
— Ava vai se sentir sozinha, mas vai ser por uma boa causa. Vamos te
ajudar.
Eu deixei as duas depois de agradecer quase que de joelhos, e fui até o
estúdio de dança que elas falaram e aluguei o espaço por cinco dias, durante
toda a madrugada.
Assim que cheguei na fraternidade me tranquei no meu quarto e passei a
noite tentando escrever uma carta para Ava.
Todas as partes do meu plano seriam difíceis de realizar, mas foram
pensadas nos mínimos detalhes em Ava, em tudo que ela sempre gostou, e
que fariam ela entender que eu a amava de verdade.
Agora era só começar a contagem regressiva para o meu plano
acontecer.
Acho que chorei vezes demais
Eu só preciso de mais carinho
Qualquer coisa que me faça seguir em frente
◆◆◆
aula de história da dança foi muito interessante e ocupou minha mente por
A
toda a manhã. Eu estava animada com o tema que escolhi para o trabalho
final, e aproveitei muita coisa que o professor falou para colocar na minha
tese sobre como a dança pode servir como terapia.
No mundo todo, uma grande parte da população sofre com problemas
psicológicos e emocionais, e a cada ano, aumenta o número de pessoas com
depressão e ansiedade. Com isso a busca por métodos que proporcionem um
bem-estar emocional cresce, e o exercício físico possui uma grande
relevância na manutenção da saúde, com resultados expressivos no campo
emocional. A dança é uma ferramenta da educação física que traz bem-estar,
e reações positivas na saúde.
Eu saí do auditório onde estava assistindo a aula e fui para o refeitório do
campus almoçar com Cath, Miah e as outras meninas do time de dança.
Estávamos falando sobre as viagens que iriam começar nos finais de semana,
agora com o time de basquete, quando Chase chegou chamando atenção de
todos como sempre e olhando diretamente para mim.
Eu quase sorri achando que ele viria falar comigo por causa da mensagem
que eu enviei para ele tomar cuidado na corrida, mas ele simplesmente me
ignorou e foi se sentar com os seus amigos.
u tomei um gole do meu suco de laranja enquanto tentava disfarçar a
E
decepção por ele ter passado direto por mim e Miah sussurrou no meu
ouvido que só quem estava perdendo era ele.
Depois do almoço fomos para o campo treinar a nova coreografia do time de
dança, para a abertura da temporada de basquete, e quando terminamos, e
todos foram embora, fui para o estúdio de dança e dancei até descarregar
todas as emoções reprimidas do meu dia.
No dia seguinte, eu estava na biblioteca com o meu grupo de literatura
quando meu celular vibrou com uma mensagem de Miah avisando que
dormiria na fraternidade de Cath.
Fiquei triste porque era com ela que sempre conversava sobre o meu dia,
mas ela estava certa em aproveitar todo o tempo livre que tinha com Cath.
À noite eu não quis ir à festa alguma, e resolvi pedir uma pizza e me deitar
para assistir os filmes da minha playlist, começando por “10 coisas que eu
odeio em você.”
A semana se arrastou entre aulas de dança, treinos e as pizzas que eu pedia
todas as noites para comer sozinha no meu quarto.
Miah estava dormindo com Cath, e eu acabei ficando com o quarto só para
mim, e como não tinha o que fazer, ou com quem falar, eu comecei a
arrumar as minhas coisas que estavam uma bagunça, fiz faxina no banheiro,
assisti filmes, comprei uma luminária online, depois travesseiros novos, e
quando me dava conta que não precisava de nada, e que só estava entediada,
pedia mais pizza e sorvete e ia assistir algum filme novamente.
Na hora do almoço notei que Miah e Cath não apareciam mais no refeitório,
e nos treinos de dança pareciam exaustas, custando a acertar passos básicos.
— As noites de vocês têm sido boa hein — Eu falei rindo depois de Cath
atrasar um passo e perder o tempo da coreografia porque não parava de
bocejar.
— Você nem imagina como tem sido as nossas madrugadas — Ela falou
entre um bocejo e outro.
— E não têm como no meio dessa paixão toda entre vocês, arrumar um
tempinho para almoçar com essa amiga aqui — Eu falei apontando para
mim.
— Amiga, estamos muito ocupadas, acho que só semana que vem mesmo.
Cath falou e eu concordei com a cabeça e sorri, para não parecer a chata
empata foda que queria ficar entre as duas.
las estavam fazendo as coisas delas, almoçando juntas em algum lugar, e
E
não estavam na vibe de ficar de papo furado comigo.
Eu estava me sentindo sozinha e comecei a me questionar se não tinha feito
algo para que Miah se afastasse de mim, a ponto de não querer mais dormir
na própria fraternidade.
Podia realmente ser por causa de Cath, mas e se fosse culpa minha?
Eu olhei para os meus braços e fiquei observando as minhas borboletas
voando. Uma coisa que eu aprendi é que a vida deve ser vivida a cada
minuto, e não planejada, e agradeci por ter me jogado de cabeça no primeiro
semestre e feito tudo intensamente porque agora tudo estava diferente.
Fui dormir tarde vendo vários filmes e quase não consegui acordar para ir
para o estúdio de madrugada. Eu estava preparando a coreografia para a
minha prova final, e esse era o melhor horário, quando estava tudo vazio e
silencioso. Eu tinha mudado o meu caminho, e não estava mais passando
pelo estádio para evitar de encontrar com Chase durante suas corridas, e ver
se assim iria me desligando dele que tinha sumido e nunca mais apareceu no
refeitório na hora do almoço.
As aulas da manhã foram agitadas, porque quanto mais se aproximava da
graduação, mais ansiosos ficávamos com o prazo para entregar todos os
trabalhos finais.
Cheguei no centro de treinamento dos atletas atrasada, vesti meu uniforme
de cheerleader e corri para o campo onde iríamos treinar os últimos passos
para uma competição de dança entre as cheerleaders da liga universitária.
— Pensei que você não viesse no treino. — Miah falou assim que me viu —
Já estava pensando em ir te procurar para te trazer para cá.
— Eu estava terminando um projeto final e nem tive tempo para almoçar,
mas pode ficar tranquila que vai dar tempo de treinarmos.
— Agora que nossa capitã chegou — O nosso técnico falou — Podemos
começar o ensaio, ele falou colocando a música.
Estávamos ensaiando havia uns trinta minutos, quando a música parou do
nada e meu técnico foi ver se alguma caixa de som tinha queimado.
Foi então que a banda da UCLA que ensaiava no outro campo entrou no
meio do nosso ensaio como se fosse um dia de jogo. Mas eles não estavam
tocando o hino da UCLA, e sim uma outra música.
E uma voz surgiu cantando na arquibancada.
Meu Deus.
You're just too good to be true, Can't take my eyes off of you. You'd be like
—
heaven to touch I wanna hold you so much, At long last love has arrived,
And I thank God I'm alive. You're just too good to be true,Can't take my eyes
off of you. (Você é simplesmente boa demais para ser verdade. Não consigo
tirar meus olhos de você. Tocar você seria como tocar o paraíso. Eu quero te
abraçar tanto. Finalmente o amor chegou. E agradeço a Deus por estar vivo.
Você é simplesmente boa demais para ser verdade. Não consigo tirar meus
olhos de você.)
Ava, eu não sei falar bonito e escrever menos ainda. Só sei que meu
chão tem tanto papel amassado, que joguei fora, por isso vou escrever do
jeito que consigo porque tudo que eu sei é que quero minha garota de volta,
E não sei como fazer você acreditar que eu te amo.
Porque eu te amo.
Amo muito.
Eu só faço merda mesmo e sempre fui babaca, arrogante, pegador, e me
achava mesmo, até que uma nerd me desprezou na cafeteria e uma
Arlequina me deixou de pau duro me olhando como se eu fosse um babaca
que não tinha uma camisinha no bolso para transar com ela.
Não faça isso com a gente. Por favor, eu te imploro que não acabe com o
que estávamos construindo.
Eu não sabia quem era você. Juro que eu não sabia.
Por favor, não destrua nossa história.
Por favor. Eu te imploro.
Te peço de joelhos se você quiser, só me diz que vai ficar tudo bem e
que não acabou.
Diz que vai ficar tudo bem, que nossos fantasmas não vão nos
separar.
Não acabe com a gente. Eu não sou capaz de te deixar. Eu não quero
que você me deixe.
Volta para mim, por favor.
Eu não abri o e-mail achando que não tinha que fazer nada porque
meu pai pediu favor por mim, se comprometeu por mim, e eu não queria
seguir nerd nenhum.
O burro aqui acho que era um garoto nerd que o pai tinha medo de que
jogassem na lixeira.
Eu não sabia que era uma garota. Muito menos a minha garota.
Não me diz que esse é o nosso fim, porque a gente só está começando.
Por favor, Ava.
Por favor, meu amor.
Por favor, borboletinha, voa de volta para mim.
A gente tinha combinado que nada podia nos separar.
Eu te amo tanto.
Você e eu juntos somos os melhores caçadores de fantasmas, e quando
estamos juntos somos mais fortes, porque nos protegemos.
Você me fez não querer mais pular do penhasco onde meu irmão morreu.
Você me fez querer viver.
Você me fez querer acordar.
Você me fez querer respirar.
Me perdoa por não ter lido a porra do e-mail antes e te machucar.
Eu te mandei tantas mensagens e você nunca me respondeu.
Eu te amo.
Não quero pensar que nossa história que tem tudo para ser linda acabou.
Volta para mim, borboletinha.
Seu, Chase Pudinzinho Montana
Este amor é bom, este amor é mau
Este amor está vivo de volta dos mortos, oh
Estas mãos tiveram que soltá-lo
E este amor voltou para mim, oh
◆◆◆
◆◆◆
salário ele iria negociar alto que eu sei, mas o apartamento eu fazia
O
questão de resolver sozinho porque tenho planos de fazer uma surpresa para
Ava como presente de formatura.
Eu sempre guardei muito do dinheiro que o meu pai me dava, e usaria para
dar entrada num apartamento e pagar o restante com o meu salário.
Eu sugeri que ficássemos a princípio num hotel, para conhecer a cidade
enquanto escolhemos nossos apartamentos, porque não quero que ela saiba
de nada antes da graduação, que se tudo der certo vai ser o dia que vamos
deixar a UCLA rumo a nossa nova vida.
Olhei para o meu quarto enquanto fechava a mala pensando em quantas
vezes pensei neste dia de jogar pela NFL.
Sei que arrisquei muito com o meu jeito de não seguir nenhuma regra, mas o
que posso dizer é que não me arrependo de nada, porque eu vivi
intensamente minha vida de universitário.
eguei minha mala, o boné dos Bruins, e antes de sair joguei no lixo a minha
P
bandana preta e o maço de cigarro.
Tudo que eu sei no fim do dia
É que você ama quem ama, não tem jeito
Se tem uma coisa que eu aprendi com um milhão de erros
É que é você que eu quero no fim do dia
◆◆◆
Acordei cedo, tomei um banho, prendi os meus cabelos com gel sem
deixar um único fio solto, e coloquei algumas presilhas coloridas enfeitando.
Respirei fundo e vesti meu top, minha legging, conferi minha make super
básica, coloquei um gloss e toquei nas borboletas tatuadas no meu braço.
Era hora de voar.
— Você está linda!
— Obrigada. Estou nervosa.
— Vai dar tudo certo.
Eu fiz que sim com a cabeça concordando com ele e segurei sua
mão.
— Vai dar certo. Vamos que eu preciso conquistar minha vaga nessa
companhia de dança.
Assim que chegamos no local, meu coração disparou e um certo
pânico tomou conta de mim.
Eu estava a um passo de começar a conquistar o meu lugar no
mundo.
— Você só precisa entrar e fazer aquilo que ninguém faz melhor do
que você, ou seja, dançar. Você é única, brilhante, talentosa e essa vaga já é
sua.
Chase segurou firme a minha mão e subimos a escada, e foi com um
frio grande na barriga que entrei no estúdio assim que chamaram o meu
nome.
Agora o meu amor seguiria para o seu futuro, e eu precisava conquistar o
meu.
Olhei para a banca julgadora e respirei fundo.
Inspira.
Expira.
Inspira.
Expira.
A música que eu escolhi, The Art of Starting Over começou a tocar e
eu comecei a dançar flutuando como sempre em cada nota musical.
Cada pirueta, cada braço esticado, cada movimento que eu fazia, era
mais um passo em busca da minha independência.
O dinheiro dos meus pais me sustentou até aqui, mas agora eu
precisava pagar as minhas contas, comprar minha comida, pagar meu
aluguel e me virar sozinha, porque estou me formando e sou adulta.
Um sentimento de euforia com tudo de novo que vinha pela frente
tomou conta de mim, substituindo a ansiedade de sempre e eu dancei
sorrindo, feliz, sentindo o futuro me abraçando.
Eu rodopiei por toda a sala, deixando para trás tudo o que passou, e
recomeçando minha vida.
A música continuou, mas agora com Pretty Girls Walk, no mix que
eu fiz para que uma ficasse seguida da outra.
Agora meus passos eram firmes, numa pegada mais hip hop,
incluindo várias acrobacias, e comigo cantando o refrão da música.
Eu dancei.
Eu cantei.
Eu voei.
E quando a música parou, o suor escorria por todo o meu corpo, e os
jurados me aplaudiram de pé.
— Bem-vinda à Broadway!
Eu bati palmas e pulei como nunca fiz de tanta felicidade.
Eu estou na Broadway!
Eu deixei a sala feliz e agora era só esperar o email com o contrato
que eu teria que assinar, e depois da graduação preparar a minha mudança.
Bjs… Val mais feliz e realizada depois desse livro do que nunca
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