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Contents

Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
GAME DAY
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
GAME DAY
Capítulo 31
GAME DAY
Capítulo 32
Capítulo 33
GAME DAY
Capítulo 34
FESTIVAL RISE
GAME DAY
Capítulo 35
Capítulo 36
BELL GAME
HOME COMING
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Para a única garota que eu amei
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Copyright © 2023, Valéria Veiga
BROKEN
1ª Edição Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por
qualquer forma, meios eletrônicos ou mecânicos sem consentimento e
autorização por escrito do autor/editor.

Capa: Lana Tyler (@relytdesigns)


Diagramação: Valéria Veiga
Ilustrações para diagramação: Lana Tyler (@relytdesigns)

Revisão: Larissa Lago


Leitura sensível: Milena Silva

Betagem: Angela Mikaelly, Camila Canteiro, Erica Raiane, Janaina Ramos,


Lana Tyler, Larissa Lago e Milena Silva

Ilustrações no interior do livro: Julio Cesar Draw Arts (Quarterback and


Cheerleader); Julio Cesar Draw Arts (Chase e Ava graduação);
Calorethorn_arts (Coringa e Arlequina)
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens e acontecimentos descritos
são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência.
Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer
meios existentes – tangíveis ou intangíveis – sem prévia autorização da
autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98,
punido pelo artigo 184 do código penal.
TEXTO REVISADO SEGUNDO O ACORDO ORTOGRÁFICO DA
LÍNGUA PORTUGUESA.
Finalmente chegou o grande dia de mostrar esse livro que me tirou da
minha zona de conforto. O livro mais intenso que eu já escrevi, que só de
sentar e abrir o computador eu já chorava. Chase e Ava são os personagens
que eu sempre quis escrever, mas que eu ainda não estava pronta para trazer
ao mundo.
Eu não sou perfeita. Eu tenho medos como todas as outras pessoas e
não sou uma fortaleza. Sim. Eu choro muito. Eu luto muito diariamente para
conseguir realizar tudo que eu quero, mas têm vezes que como qualquer
mortal eu desmorono.
Um dia alguém determinou que eu era um ícone do empoderamento
feminino porque eu escrevia livros com mulheres fortes. Sim, escrevi um
livro de máfia com mulheres empoderadas, e a partir daí começaram a me
cobrar ser assim, falar sobre isso em qualquer entrevista e eu surtei.
Sim. Surtei. Quis desistir. Chorei. Fiquei destruída.
Eu queria escrever personagens como eu, como você, que cai,
levanta, cai de novo. Que chora, que sorri, que perde, ganha e perde de novo.
Que nem sempre são fortes, mas que nunca desistem. Porém que têm dias
que se encontram numa grande escuridão, mas que depois conseguem voltar
para a luz.
Mas todos me cobravam mulheres fortes. Pior, tudo que as
personagens faziam no livro queriam que beirassem a perfeição. E eu surtei.
E quis desistir.
Daí escrevi Amor Em Alta Velocidade e me senti muito feliz. E
comecei a escrever Broken, mas precisei relançar todos os meus livros, o que
acabou durando 1 ano e me levando ao desespero.
Algo dentro de mim gritava para escrever personagens que tem
medo, que erram, que não querem viver debaixo de regras.
Muito obrigada Lari, minha assessora de milhões, que soube com sua
calma me fazer esperar dizendo que esse dia chegaria.
E ele chegou...
Sendo assim, esse livro marca uma nova era na minha carreira onde
me permito escrever aquilo que realmente eu quero e talvez tivesse receio.
Não esperem por heróis e heroínas neste meu livro.
Esperem por personagens reais que erram e tentam acertar. Que têm
dores, vivem seus lutos, e que nem sempre encontram a melhor solução para
passar por fases de suas vidas e acabam por se ferir.
Não esperem por mocinhas fortes porque a protagonista tem medos,
gatilhos, fantasmas rondando sua mente, quer ser livre, mas também se sente
presa. Se solta e recua várias vezes. Assim como nós que nem sempre
conseguimos superar as dificuldades na primeira vez. Não espere um
mocinho 100% correto porque Chase está longe de ser assim.
Esperem por personagens quebrados buscando um no outro sua cura.
Dito isso, já aviso que o livro possui muitos gatilhos.
Por favor leia atentamente a minha nota sobre os gatilhos e preserve
sua saúde mental.
Uma boa leitura a todos. Bem-vindos a nova era do VeigaVerso.

Bjs, Val a criadora do caos, de casais super hots e de muitos


surtos
É um livro que traz alguns temas sensíveis como dores que demoram
a encontrar a cura, luto, relacionamento familiar tóxico, ansiedade, e se você
não se sentir confortável pare a leitura e preserve a sua saúde mental.

O livro traz também consumo excessivo de drogas ilícitas e álcool,


uso de palavrões e cenas de sexo explícito.
BROKEN PLAYLIST
We are the Mighty Bruins,
the best team in the West,
we’re marching on to Vic-tor-y
to conquer all the rest.

(The Mighty Bruins (UCLA) lyrics)


Capítulo 01
Chase Montana
FINAL GAME
Local: Rose Bowl Stadium
Pasadena – California

Locutor n° 01: Boa tarde Los Angeles… boa tarde UCLA.


Dia lindo… sol quente … 39°… estádio Rose Bowl lotado
aguardando a entrada dos jogadores.
De um lado os donos da casa… Os Bruins que vem tentar mais uma
vitória e a conquista do campeonato.
Locutor n° 02: Do outro lado o Colorado Buffaloes que não querem
voltar para casa sem essa vitória.
Para quem vai a sua torcida?
Locutor n° 01: Se você está nos acompanhando, sinal que já foi
fisgado pela NFL.
Locutor n° 02: O futebol americano é um esporte extremamente
competitivo que mistura estratégia e inteligência com muita força,
velocidade e brutalidade.
Locutor n° 01: Os Bruins já se preparam para entrar em campo… eu
escutei UCLA… UCLA?
Locutor n° 02: As bandeiras azul e amarelo dos Bruins tomam conta
do estádio. Que jogo nos espera… que jogoooo.
​Enquanto do lado de fora o estádio ia à loucura com os narradores que
faziam todos vibrarem, dentro do vestiário nós estávamos dando nosso grito
de guerra a caminho do gramado e da partida final da temporada.

“​ isso vai ser grande time, isso vai ser especial… nada pode nos parar… Go
Bruins… nada pode parar esse time… vamos em 3… 2… 1… UCLA…
UCLA… UCLA… UCLA”

​ ocutor n° 01: E lá vem eles… a torcida vai à loucura…


L
​Locutor n° 02: O mascote do time da UCLA entra no gramado e o som é
um só em todo o estádio… Go Bruins… Go Bruins… Go Bruins…
​Locutor n° 01: E agora o espetáculo ficou ainda mais lindo… elas
chegaram… o time de dança UCLA… as cheerleaders dos Bruins já estão no
gramado.
Esse jogo marca também a despedida da capitã do time de dança da
UCLA, que acaba de se graduar, e já vem à mente uma pergunta: “Quem vai
assumir esse legado na próxima temporada?
​Locutor n° 02: Que show minha gente… que espetáculo lindo do time de
dança da casa… Go Bruins, as cheerleaders gritam encerrando o show.
​Locutor n° 01: E lá vem eles… Os Bruins… e na frente trazendo o time... a
estrela da casa… o capitão do time… é ele… seu nome: Chase Montana.
​Locutor n° 02: O momento que antecipa o início da partida é de pura
adrenalina e foco no seu objetivo que é a vitória.
Locutor n° 01: O jogo começa com Chase abrindo 6 x 0 para os
Bruins e levando o estádio à loucura… Qual o nome dele? Chase senhores,
guardem esse nome porque só falta mais uma temporada e nosso astro vai
seguir com certeza para o profissional na NFL.
Que partida emocionante, com os Bruins dominando o jogo, e
quando ninguém esperava, depois do intervalo, os Buffaloes viraram o
placar chegando a 12x9.
​Locutor n° 01: Que sufoco estão passando os Bruins… o que será que passa
nessa hora na mente dos jogadores… o que será que Chase está pensando?
​Locutor n° 02: O que foi isso? Os Bruins reagiram e simplesmente estão
dominando a final dessa partida.
Faltam dois minutos para encerrar uma partida disputadíssima e a
pressão é total para cima dos Buffaloes.
Locutor n° 01: Chase está com a bola… ele corre com a bola e
contra o tempo… restam agora menos de 40 segundos… ninguém respira no
estádio… falta o ar para o torcedor dos Bruins.
Locutor n° 02: Ele está conduzindo a bola para a endzone… faltam
10 segundos… e Chase é fatal como sempre… TOUCHDOWN… Os
BRUINS são os campeões da temporada… Chase assina o seu nome mais
uma vez e vai garantindo assim o seu passaporte para a NFL.
Locutor n° 01: Existem rumores que fora do campo ele não segue
regras, mas no campo ele é um fenômeno.
​Locutor n° 02: Mas regras devem ser cumpridas ou adeus à NFL.
​Locutor n° 01: Isso é verdade, mas hoje é dia de comemorar se você é
Bruins.
​Locutor n° 02: E de ficar de olho no Chase Montana que vai para sua última
temporada jogando com os Bruins e ver se o seu comportamento dentro e
fora do gramado vão garantir sua ida para a Liga Nacional de Futebol.

◆◆◆

​Vencemos!
Eu e o meu time vencemos a temporada e eu sou o melhor
quarterback da liga universitária. No próximo semestre eu vou ser senior e
capitão do time, e em um ano graduarei em administração e partirei para a
liga profissional, assinando com um time da NFL.
​— Vencemos Chase! — meu running back, Kalleb, falou me abraçando —
Vamos para o senior como campeões… agora sim temos chances reais de um
time profissional querer nos contratar. Porra, meu sonho desde menino
quando via os jogadores na televisão.
​— Porra, digo eu — Falei dando um soco de brincadeira no seu ombro —
Bora comemorar que hoje à noite vai ser do terror.
​ Chase — meu técnico falou se aproximando de mim — Dois olheiros que

estavam no jogo se interessaram por você, então, trate de não estragar tudo
sendo… você fora do campo.
​— E o que eu sou fora do campo? Um estudante de administração? Um cara
de vinte e dois anos que quer aproveitar tudo que a vida universitária
proporciona antes de entrar na vida de adulto que é só trabalho e mais
trabalho?
​— Eu não sei o que fazer para você entender que não basta ser bom em
campo, tem toda uma imagem de vida que os homens valorizam quando vão
assinar um contrato.
​— Toda a imagem que a mídia, os filmes, e agora as redes sociais vendem?
A galera fuma, cheira, se embriaga, faz um monte de merda e posa de good
vibes. Eu também tiro fotos bonitas e comportadas para as redes sociais, não
se preocupe.
​Eu falei indo tomar o meu banho para sair e comemorar no melhor estilo
Chase essa vitória.
Passei a vida sendo cobrado pelo meu pai, que quer eu seja o filho
perfeito que estuda administração e vai ser contratado pela NFL, mesmo ele
achando que eu sou um erro, não presto nada e só estrago sempre tudo o que
eu coloco as mãos, e que não sirvo nem para ser exibido entre os seus
amigos nos jantares do iate clube.
​Como jogamos em casa, deixei o estádio atravessando um mar azul e
amarelo dos torcedores dos Bruins, falando com o pessoal que queria me dar
os parabéns e autografando a camisa das garotas que faziam fila atrás de
mim.
​— Hoje tudo que eu quero é uma noite de orgia para comemorar o final da
temporada — Kalleb falou animado enquanto seguíamos para nossa
fraternidade, a Sigma Alpha Epsilon.
​— Claro, até porque as outras festas do ano que fomos eram de pura
castidade — Eu falei rindo — Porra irmão, quando vivemos fora da orgia?
​— Que eu me lembre quando a gente era criança.
​— Vocês são foda mano — meu fullback, Erich falou — Aquela jogada
final… vocês são os reis.
​— Chase é o rei porque é do quarterback que elas gostam mais.
​Kalleb falou brincando se referindo a minha popularidade no campus. Só
que eu atribuo o meu sucesso com as garotas, não só por ser quarterback,
mas por ter um lado badboy que agrada mais que os bonzinhos que enviam
flores e bombons.
— Isso é fato! Chase é o Rei do Campus. O cara chega e as garotas
já querem arrancar as calcinhas — Erich falou pulando nas minhas costas e
me dando um cascudo — E nós súditos temos que nos contentar com as que
não são escolhidas por você.
​Entramos na fraternidade falando alto, gritando e comemorando o título da
temporada. Tinha sido uma grande conquista e eu só queria beber e esquecer
que tinha marcado com o meu pai de ir em casa prestar contas do semestre e
participar de um dos seus jantares chatos e intermináveis.
Cem no painel me aproximam de Deus
Não rezamos por amor, apenas rezamos por carros
(Starboy – The Weekend)
Capítulo 02
Chase Montana

​ cordei com o barulho da música alta, e me levantei para pegar uma cerveja
A
na geladeira comemorando por ter sobrado alguma depois de todas que
bebemos mais cedo quando chegamos do jogo.
​Eu fui até a janela e o movimento na rua deixava claro que a festa estava
bombando no andar de baixo, e fui tomar um banho para me juntar com a
galera e com as famosas marias chuteiras que deviam estar perguntando por
mim.
​Pouco me importa se elas querem ficar comigo para aparecer, porque para
mim uma foda é sempre uma foda, seja por interesse, ou só por tesão. Todos
sabem que sou avesso a compromisso, então quem fica comigo sabe que é só
sexo, prazer, uma boa foda e tchau.
​Desço as escadas e sinto alguém segurando a minha perna. Quando eu olho
para ver quem é, vejo uma loira platinada que está sendo enrrabada por
Kalleb, enquanto chupa a boceta de outra garota e que me convida com os
olhos para se juntar a eles, mas eu só digo que não com a cabeça.
Eu não estou a fim de nenhuma orgia, e tudo que eu quero é pegar
uma bebida, mas para isso preciso atravessar o salão passando pelo cenário
de sempre, pessoas dançando em cima das mesas, outros transando nos sofás
ou encostados nas paredes, meus amigos repartindo o pó que dividiram em
três fileiras e do nada alguém que grita o meu nome com um volume maior
que a música alta fazendo com que todos me olhem.
​— Agora a festa vai começar de verdade… Chase chegou galera!
​Eu passo por uma garota que está com um cropped vermelho e com os peitos
quase saltando para fora deles, e ela sorri para mim e enfia a mão entre as
pernas, se tocando e olhando pra mim. Alcanço uma garrafa de cerveja e
abro dando um gole devagar enquanto a garota se masturba para mim
esperando ansiosa que eu a foda aqui mesmo.
​— Nem pense em fazer isso — Rachel uma gostosa do time de dança com
quem tenho transado há duas semanas falou me abraçando — Eu dou conta
de tudo e você não precisa de mais ninguém.
​ Isso quem decide sou eu e não você — Eu falei, deixando ela e a loira

sozinhas, e olhando o meu relógio e vendo que já estava atrasado.
​Assim que cruzei o gramado e alcancei a rua, Kalleb e Erich se apressaram
em me alcançar e pegamos o meu carro saindo em alta velocidade.
​— Onde vai ser a corrida? — Kalleb perguntou.
​— Em Pasadena.
​Los Angeles é uma cidade famosa por Beverly Hills e a calçada da fama de
Hollywood, mas o que muitos não sabem é que ela tem várias gangues que
estão sempre em guerra, e se você gosta de adrenalina como eu, precisa
escolher um lado ou ficar vendo televisão dentro de casa.
Nas ruas vazias da cidade, onde as luzes começam a apagar, surge
um cenário clandestino de corridas de carros. O ronco dos motores ecoa
entre becos estreitos, iluminados apenas pelos faróis dos veículos prontos
para desafiar limites.
As ruas silenciosas da cidade que dorme, escondem segredos de uma
noite de corridas que poucos testemunham. O local da corrida de rua estava
muito cheio, e as pessoas bebiam e falavam alto.
Os pilotos, no meio da escuridão, se preparam para uma espetáculo
de alta velocidade. Os carros turbinados, pintados com cores vibrantes,
aguardam alinhados, revelando a intensidade da batalha de adrenalina que
está prestes a começar.
O aroma de gasolina paira no ar enquanto apostadores secretos se
reúnem, criando um ambiente carregado de muita excitação e
clandestinidade. A tensão no ar é palpável, e as apostas correm como uma
corrente elétrica, que gera milhões, através da multidão clandestina.
— Essa corrida promete, Chase? — Shea um amigo meu de balada
falou enquanto trabalhava em seu computador.
— Como estão as apostas? — Eu perguntei acendendo o meu cigarro
e olhando no computador o valor que só aumentava cada vez que alguém
apostava no aplicativo.
— Vai dar uma grana alta, e o povo está apostando em você, Chase.
​— Qual vai ser, Chase? — Marco com sua bandana amarela na cabeça se
aproximou me perguntando — Pronto para me enfrentar?
​— Pronto para te vencer como sempre.
​— Vamos ver isso nas ruas.
​A corrida consistia em dar três voltas em quarteirões diferentes de uma
avenida, e fazendo um giro em torno de um barril que ficava no meio dela
marcando o final de cada circuito.
​ Uma mulher usando um cropped e short minúsculos parou entre os
carros segurando uma bandeira no alto e olhando para o relógio.
O sinal de largada é dado, desencadeando uma sinfonia de
acelerações e derrapagens. Os carros vão rasgando as ruas ocultas, e,
desafiando a gravidade em curvas fechadas e retas perigosas.
A minha superioridade se torna evidente nas manobras ousadas que
eu faço, enquanto a corrida se desenrola como uma dança caótica, ritmada
pelo som constante dos motores dos carros em desafio.
Em cada curva e aceleração eu alimento a chama da paixão
clandestina por velocidade e descarrego toda a adrenalina acumulada dentro
de mim.
O espaço era apertado, com carros estacionados dos dois lados, e sair
na frente me deu certa vantagem. Mesmo assim, Marco não se importou em
arrancar alguns retrovisores pelo caminho para tentar me ultrapassar na
primeira curva.
As corridas ilegais são para mim como um jogo, só que mais
arriscado, onde em cada curva tudo pode acontecer.
Eu acelero tudo deixando Marco para trás, e freio forte quando chego
no local onde têm um grande barril iluminado e de onde sai uma fumaça
vermelha. Preciso ser rápido e dou a volta em torno dele disparando
novamente para dar a volta em mais um quarteirão.
​O povo gritava, e a fumaça dos pneus queimando no asfalto subia alto
quando escutamos a sirene dos carros de polícia. Eu acelerei tudo que pude,
mas estava tudo cercado e a única opção foi parar o carro, e aceitar que desta
vez o final não foi como das outras vezes em que eu voltava como se nada
tivesse acontecido para a fraternidade.
​Eu não consegui ver Kalleb e Erich depois que a polícia pediu meus
documentos, me mandou sair do carro e entrar na viatura. Eu só estava
torcendo para que eles tivessem escapado para não aumentar o escândalo.
​Assim que cheguei na delegacia liguei para o meu pai, que era rico e com
amigos que certamente poderiam me tirar desta encrenca.
​— Porra, você quer acabar com a sua carreira no futebol com essas corridas
de carro? O que você tem na cabeça? Merda!
​— Você vai me ajudar ou não?
​— Cale a boca e não de uma palavra com ninguém até que eu mande alguém
para pagar a fiança e te buscar.
◆◆◆

​ u acordei na casa do meu pai com uma grande ressaca depois de ter bebido
E
quase que uma garrafa de whisky sozinho para tentar me acalmar depois da
confusão que eu me meti.
​Olhei nos sites e um deles falava sobre a corrida ilegal, coisa comum nas
ruas de Los Angeles, mas não citavam o meu nome. Meu pai com certeza
conseguiu com seu prestígio que meu nome não circulasse junto com a
batida policial, e agora era esperar o preço que eu pagaria por isso.
​— Quando você vai crescer e parar de me causar problemas? — Meu pai
entrou falando no meu quarto — Eu estava em Nova York, num evento
importante e tive que largar tudo, e ainda ficar devendo favores em troca do
seu nome não ficar no recorde da polícia, o que simplesmente anularia
qualquer chance de você entrar na NFL.
​— Você conseguiu isso?
​— Devendo favores, coisa que odeio porque quando eu precisar de alguma
coisa já gastei meu prestígio livrando a sua cara.
​— Desculpa se você vai morrer num dinheiro por minha causa.
​— Eu não vou morrer em dinheiro nenhum, já você vai ter que fazer um
serviço como pagamento pelo favor, sendo uma espécie de babá.
​— Que? Eu não vou ser…
​— Volte para a faculdade, veja se consegue não fazer merda e no próximo
semestre você vai receber mais informações sobre o que precisa fazer.
​— Eu não vou ser…
​— Você vai sim ou prefere que eu diga que você prefere o seu nome no
recorde da polícia, que eu corte todos os seus cartões de crédito e…
— Chega, eu vou fazer o que você mandar. Posso voltar para a
faculdade?
​— Se você tivesse juízo, não precisaria ter vindo para casa essa noite.
​Fui correndo pelas ruas enquanto voltava para UCLA, com vontade de sair
voando depois do sermão de mais de uma hora que escutei do meu pai.
Assim que cheguei na fraternidade, estava tudo limpo e silencioso, sem
vestígios na noite anterior.
​— Chase, onde você estava? Na cadeia?
​— Ficou maluco, Kalleb. Eu fui dormir na casa do meu pai e sobre ontem,
não aconteceu nada e assunto encerrado — Eu falei indo para o meu quarto e
trancando a porta para não ser incomodado.
Eu tentei e tentei e tentei um pouco mais
Contei segredos até minha voz ficar rouca
Cansei de conversas vazias
Porque ninguém me ouve mais

(Anyone- Demi Lovato)


Aguente firme
Não desista de si mesmo
Porque todo mundo chora
E todo mundo se machuca, às vezes

(Everybody Hurts – R.E.M.)


Capítulo 03
Ava Miller
Final do ano letivo
Michigan

Eu ligava o meu computador a cada cinco minutos, mesmo sabendo


que eu receberia uma notificação no meu celular caso o e-mail que eu tanto
estava esperando chegasse.
​Faz três meses que eu decidi aplicar para cursar o último ano da
universidade na UCLA, e para fazer parte do time de dança deles. Eu sempre
morei e estudei em Michigan, e justamente por isso que quero ir para bem
longe daqui.
​Eu pensei que apesar de ser perto de casa, já que eu estava morando numa
fraternidade tudo seria mais fácil para mim, mas continuei embaixo da
vigilância cerrada do meu pai, ou melhor, dos seus assessores que se sentiam
no direito de mandar na minha vida por causa da sua carreira política.
​Nada contra ele sonhar em ser o presidente dos Estados Unidos, mas o
problema é querer que eu deixe de viver por conta disso. Eu acho que só
nasci para que ele pudesse postar o modelo de família perfeita para ganhar
votos dos seus eleitores.
​Eu sempre tive que sorrir mesmo sem ter vontade, responder que ele é o
melhor pai do mundo e que mesmo ocupado sempre está presente na minha
vida mesmo sendo mentira para não ficar de castigo, estudar e ser acima da
média na escola para mostrar que sou inteligente, não comer
exageradamente em público para mostrar que sou educada, não beber nem
em festas para não correr o risco de dar vexame, não fumar, não falar alto,
não… não... não.
​Eu cresci no meio do “não pode isso” e “não pode aquilo”.
​Sempre tentei parecer invisível na escola para não correr o risco de fazer
algo errado e todos notarem.
Seu único acerto foi querer me colocar no ballet desde criança, porque
para o meu pai era bonito ter uma filha bailarina para ele tirar fotos de pai
orgulhoso da sua cria nas apresentações do final do ano.
​E foi isso que me salvou do caos que sempre foi a minha vida.
A dança!
A melodia que me fazia flutuar no seu ritmo.
Os movimentos corporais que falavam por mim.
A dança sempre foi o escape da minha realidade.
​Quando fui convidada para ser cheerleader na High School tive medo,
porque todos passariam a me notar, e se eu fizesse algo errado mesmo que
sem querer todos saberiam. Eu me lembro que cheguei em casa e fui dividir
a alegria e as minhas dúvidas com esse convite para o time de dança da
escola, e os assessores do meu pai se meteram na conversa.
Para os caça votos, o meu pai ter uma filha capitã das cheerleaders
seria ótimo para sua imagem, porque mostraria apoio ao esporte, além de ser
mais um lugar para cumprimentar os eleitores quando ele fosse me prestigiar
nos jogos.
Capitã!
Eu seria uma entre tantas, mas para o meu pai isso era sinal de
incompetência e ele não queria uma filha na última fila. Eu era tão feliz nos
treinos, mas sempre humilhada quando chegava em casa por não ser a líder,
ou seja, a garota dos sonhos políticos do meu pai.
Ele não entendia que eu dançava por amor e não como obrigação de
ser a melhor. E o lugar de capitã acabou vindo para mim, não porque o meu
pai quis, e sim, porque eu conquistei com as minhas habilidades e amor pela
dança.
Eu pensei que seria livre e independente quando fui para a
universidade, mas nada mudou, porque como eu apliquei para dança e não
para ser a advogada que o meu pai queria, eu acabei tendo que estudar na
universidade do Michigan, porque meu pai disse que não gastaria dinheiro
com um curso desses e que assim eu podia continuar morando em casa
mesmo.
Quem vai para a universidade e continua morando com os seus pais?
Foi com esse discurso que diriam que ele não quis investir no futuro da filha,
então imagina no dos outros jovens do país, que consegui que ele pagasse
uma fraternidade e me mudei para o campus. Foram três anos me dedicando
aos estudos, ao time de dança, vendo a cara de desprezo do meu pai quando
eu contava que viajaria para dançar na abertura dos jogos e mais nada. Eu
estava perto demais de casa e a pressão em cima de mim continuava igual e
eu não aguentava mais e precisava voar e ser feliz.
Olhei para o meu braço e toquei algumas cicatrizes, marca de
momentos de loucura e cansaço da pressão que sempre vivi na minha casa.
Sim… eu me cortei na esperança de que a dor dos ferimentos fosse maior do
que a que eu sentia cada vez que meu pai dizia que eu tinha feito tudo errado
e que isso poderia prejudicar a sua carreira presidencial.
​Meu celular apitou avisando que tinha uma notificação, e espantando as
lembranças ruins da minha mente. Respirei fundo e olhei devagar, como se
isso fosse mudar quem tinha me enviado o e-mail e evitar uma decepção.
​Acho que meu coração até errou a batida quando eu vi que era da UCLA.
Abri o e-mail ansiosa, certa de que ali podia estar o meu grito de liberdade, e
custei a ter coragem de ler o que estava escrito.
​Ava Miller, será uma honra para a UCLA ter você como aluna. Seja bem-
vinda! Segue em anexo todas as informações para admissão na
Universidade.
​Eu não conseguia acreditar… eu fui aceita na UCLA.
​O celular apitou de novo, e desta vez era do time de dança avisando que
minha admissão tinha sido aceita e que eles adorariam me ver no teste para
novas cheerleaders, e como eu seria senior, poderia conseguir também a
vaga de capitã.
​Eu saí correndo do meu quarto na fraternidade e fui até um estúdio de
tatuagem e no lugar das três cicatrizes, eu mandei fazer três borboletas, que
significava a minha liberdade do casulo em que sempre vivi.

◆◆◆

​ os dias seguintes eu passei organizando a minha mudança e me despedindo


N
das minhas amigas. Ninguém esperava que eu fosse pedir transferência no
último ano e me graduar em outra universidade.
​— Você pediu transferência por conta do que aconteceu no início do
semestre? — Jasmine, minha companheira de quarto perguntou — Anthony
foi um babaca, mas…
​— Não é por causa dele, e quer saber, não é nem por causa do meu pai, e
muito menos por causa da minha mãe, que só se importa em gastar,
frequentar as festas da sociedade e viajar pelo mundo. Essa mudança estou
fazendo por mim. Eu quero ter o direito de ser livre, e de viver intensamente
o meu último ano de faculdade.
​— E de viver as cenas da sua lista de filmes favoritos da vida.
​— Ah… isso já é pedir demais — Eu falei rindo e abraçando Jasmine de
quem com certeza sentiria saudades.
​— Você não me falou o que os seus pais acharam da sua mudança.
​— Eles não sabem, mas eu vou contar agora depois que fechar essa última
caixa, colocar no carro e seguir para a casa deles.
​— E como você vai fazer se eles não concordarem? Amiga, a fraternidade e
a universidade são caríssimas, e até onde eu sei, o seu pai paga tudo.
​— E vai continuar pagando, porque eu até poderia usar o dinheiro que
sempre guardei de cada mesada que recebi e nunca usei porque não precisei,
e das aulas particulares que dei em todos os meus tempos livres nesses três
anos, mas quer saber? Meu pai sempre me usou nas suas campanhas
políticas, e vai precisar de mim para sua ambição política dar certo, então
que pague por isso, porque não vou ajudar sorrindo e mentindo de graça.
​— Quem é você? O que fizeram com a Ava Miller que só ficava no quarto
assistindo sua playlist de filmes?
​— Acordou e vai viver o seu primeiro ano livre deles, igual a Samantha
Mackenzie, do filme A Filha do Presidente, que foi estudar longe de casa.

◆◆◆

“​ Você só me dá desgosto.”
​“Primeira faculdade de dança e agora transferência para a Califórnia.”
​“Você está me cobrando para me ajudar na minha campanha?”
​Foi relembrando as palavras do meu pai que entraram por um ouvido e
saíram pelo outro, que eu entrei feliz no meu carro, e segui cantando alto
pelas estradas que me levariam até Los Angeles.
​Eu resolvi passar o verão em Long Beach, na praia enquanto esperava as
aulas começaram para poder me mudar para a fraternidade que seria o meu
lar neste último ano como estudante.
​Os dias em Los Angeles são quentes, e sete horas da noite ainda está dia
claro, e aproveitei para caminhar na praia, correr pelas ruas ensolaradas e
claro, passar as noites maratonando a minha playlist de filmes que eu
chamava de favoritos da vida, e ficar sonhando em viver um dia essas
histórias.
Recomeçar (recomeçar, oh, oh)
Recomeçar (recomeçar, recomeçar)
Novos começos podem ser solitários
Graças a Deus eu tenho a mim para abraçar

(The Art of Starting Over - Demi Lovato)


E quando os dias parecem os mesmos
Nós vamos dobrar as linhas e fazer uma nova
Só pra encontrar o lugar onde o tempo é livre

(Come With Me (feat. salem ilese))


Capítulo 04
Ava Miller

Início do Ano Letivo


UCLA – Los Angeles

Como em todas as manhãs, passei gel no meu cabelo, fiz um coque


bem firme, e coloquei grampos para não correr o risco de um fio sair do
lugar. Eu me olhei no espelho, respirei fundo, e sorri para o meu reflexo
enquanto passava um gloss nos meus lábios.
​Esse ritual me acompanha desde a infância quando estudei balé
clássico, depois jazz, hip hop, sapateado e ginástica artística, o combo
perfeito que abriu as portas para que eu entrasse no time de dança da UCLA.
Eu olhei para Miah que dividia o quarto comigo na fraternidade de
Alpha Delta Phi, e atirei uma almofada fazendo ela me xingar enquanto se
espreguiçava na cama.
​— Eu já acordei, só estava cochilando mais um pouquinho.
​— Levanta logo que você vai perder a hora. Eu estou indo mais cedo
porque quero comprar um café e um pão de banana integral antes do ensaio.
​— Meu Deus, você já acordou com fome?
​— Eu vivo com fome! — Eu falei rindo, enquanto colocava um
casaco largo de moletom, que escondia todas as curvas do meu corpo, um
boné com cuidado para não estragar o penteado, minha mochila nas costas e
saia apressada pelo corredor.
​— Ava — Miah gritou se escorando na porta do quarto — Você é
linda e nem esse moletom horroroso é capaz de esconder isso.
​Fiz um sinal com o dedo do meio para ela e desci as escadas
apressada. O que a minha amiga não sabe, é que muitas vezes, mesmo que
inconscientemente, eu ainda tento ser invisível, já que sempre fiz tudo
escondido.
Fui criada embaixo de muitas regras por ser filha de um senador da
república que me fez crescer escutando os seus assessores me dizendo o que
eu podia ou não fazer para preservar a imagem do meu pai.
​ cho que é meio automático ainda em mim, colocar roupas largas
A
que não chamem atenção para passar despercebida, que com certeza é
melhor do que tentar ser sempre perfeita.
​O caminho até a cafeteria do campus era movimentado, e as pessoas
caminhavam apressadas para chegar nos seus destinos, enquanto eu ficava
olhando aquele monte de rostos desconhecidos, e me sentia feliz por
ninguém saber nada sobre mim. Eu sei que daqui a alguns dias todos vão
saber que sou Ava Miller, capitã do time de dança dos Bruins, mas por
enquanto prefiro ser anônima.
Eu entrei apressada na melhor cafeteria do campus doida para sentir
o cheiro do café inundando as minhas narinas, quando fui atropelada por um
mal-educado que entrou como um furacão no local derramando charme para
a atendente com a intenção de conseguir fazer o seu pedido antes de todos.
Então continuei paciente esperando o meu pedido ficar pronto,
enquanto as meninas que trabalhavam no local ficavam babando pelo cara
que parecia ocupar o balcão todo e atrair toda a atenção do local.
— Aba — A atendente chamou e eu fui pegar o meu pedido
pensando que essas pessoas que trabalham em cafeteria nunca acertam o
nome dos clientes. Eu li outro dia em algum lugar que isso era marketing,
porque os clientes sempre postam o copo com o nome errado nas redes
sociais e acabam por fazer um marketing orgânico para a empresa.
Eu peguei meu café e quando tomei o primeiro gole senti a energia
voltando para o meu corpo, esqueci o nome errado no meu copo e até o mal-
educado que me atropelou quando entrou cheio de pressa.
Como tudo que é bom dura pouco, não foi diferente com a minha
alegria, porque quando eu estava dando a primeira mordida no meu bolo de
banana que já era o meu favorito da vida, senti alguém se sentando do meu
lado e me empurrando para o canto da mesa.
— Você se sentou na minha mesa, e acho melhor procurar outro
lugar porque os meus amigos devem estar chegando.
— Sinto muito se esqueci os meus óculos que eu não uso em casa, e
por isso não enxerguei que nessa mesa estava escrito que era propriedade
particular de alguém.
— Não está escrito, mas todos sabem.
— Todos menos eu, e quer saber? Não dou a mínima para isso.
— Você quer parecer que está comigo, é isso? Tudo bem, eu vou
sorrir, você fica famosa por dividir a mesa comigo por alguns minutos, eu
posso assinar o meu nome no seu moletom e depois disso você vaza.
— Obrigada, mas não quero ficar famosa por dividir a mesa com um
babaca. Tudo que eu quero é tomar o meu café da manhã em paz, e se você
puder faça o mesmo em silêncio.
— Eu até gosto de garotas atrevidas, mas em outros locais, então se
esse é o seu jogo para chamar minha atenção…
— Não seja ridículo. Eu só quero tomar o meu café e comer o meu
bolo de banana que com certeza é mais gostoso que você.
— Eu te conheço? Já sei, eu esqueci o seu nome e por isso…
— Não nos conhecemos e você não transou comigo se é isso que está
insinuando. Agora posso tomar o meu café em paz?
— Você é sempre assim? Mal-humorada.
— Só quando alguém que se acha, age como se eu quisesse alguma
coisa dele, sendo que quem se jogou em cima de mim foi ele.
Eu falei e aumentei o som do meu Ipod para não ter mais que escutar
a voz de ninguém, quando o espaçoso que me empurrou tirou o boné e o
óculos de sol, e foi então que me dei conta que era Chase Montana, o
quarterback da UCLA, que eu já tinha visto jogando contra os Spartans, time
do Michigan, minha antiga universidade.
Como capitã do time de dança eu teria que conviver muito com ele,
que em poucos segundos me mostrou ser super arrogante, e já podia prever
problemas, uma vez que uma rivalidade entre nós não seria nada agradável
para os Bruins. Mas tudo bem, eu já nasci representando, primeiro a boa
filha, agora vou ter que ser a que atura... “ops” … se dá bem com o
quarterback.
Ainda estava concluindo o meu pensamento quando duas garotas
fingiram tropeçar para cair no colo dele, derrubando o meu café e sujando
todo o meu moletom.
Eu sei que as garotas fazem fila por Chase, e sempre escutei as
histórias sobre ele, mas eu com certeza não seria uma delas, já que a
primeira impressão que tive dele foi a pior possível.
— Já vai estranha? — Ele perguntou me vendo levantar e nem
esperou eu responder e enfiou a língua na boca de uma das oferecidas.
Eu não tinha como passar com os dois se esfregando e fechando o
caminho, e tenho certeza de que ele fez de propósito para não me dar a
chance de pedir licença, e me obrigar assim, a ficar ali assistindo sua
exibição de rei do campus.
Acontece que eu tinha me mudado justamente para mostrar ao
mundo que eu existia, e roubei a cena do quarterback arrogante, subindo na
mesa para sair dali, e dando um mortal, caindo linda e plena no chão e
arrancando aplausos do pessoal da cafeteria.
— Pode ficar com o que sobrou do meu café da manhã — Eu falei
olhando para ele e fui embora rindo, vendo a sua cara de decepção por não
ter conseguido me irritar.

◆◆◆

​ u cheguei quase na hora do treino começar e corri para o vestiário,


E
tirei o boné arremessando o longe, joguei a minha mochila no chão, o
moletom sobre ela e corri para o estúdio de dança.
Era o último ensaio antes do evento onde seriam apresentados os
atletas do time de futebol dos Bruins e as escolhidas para o time de dança e
sua capitã da temporada.
​— Onde você estava, Ava? — Miah perguntou já que eu saí da
fraternidade antes dela e cheguei depois no campo — Quantos pães de
banana você comeu pra demorar tanto?
​— Por favor, hoje eu só quero esquecer que existe café e bolo de
banana no mundo — Eu falo enquanto estou esticando os meus braços para
cima me alongando.
​Foram horas seguidas treinando e não importava se estávamos cansadas,
porque sempre precisamos aprimorar e limpar um pouco mais nossos
movimentos.
​O treino é dividido em alongamento, flexibilidade, dança e os movimentos
de acrobacia da ginástica artística, como avião, flic-flac, e aprimoramento de
postura: estendido, grupado, carpado, afastado e selado.
​Nem todas as meninas têm todas essas habilidades, por isso precisam treinar
dobrado, mas para ser a capitã é preciso dominar todas essas técnicas, e
praticar exaustivamente até ficar perfeito.
​Eu amo treinar os movimentos acrobáticos, porque é um momento em que
me desligo de tudo e foco apenas no que estou fazendo, até porque um
milésimo de desconcentração pode causar não só um movimento errado, mas
muitas vezes um pequeno ou grave acidente.
​ espiro fundo, e atravesso a sala fazendo estrelas intercaladas e no final dou
R
um duplo twist carpado e arranco aplausos das outras meninas.
​— Desculpa, eu sei que isso não faz parte do treino, mas às vezes me bate
saudades da ginástica artística — Eu falei para o nosso técnico.
​— Você é perfeita nos movimentos e renderia muito como ginasta.
​— Eu sei disso, mas a dança faz com que eu me sinta viva. Eu gosto das
acrobacias, do foco que precisamos para execução dos movimentos, mas
quando toca uma música, e fecho meus olhos, eu sinto meu corpo ganhando
vida e querendo seguir cada nota musical.
​— Nossa capitã é tudo de perfeita — Miah gritou enquanto me abraçava e
nosso técnico concordou e logo depois disse rindo que o papo estava bom,
mas que tínhamos que voltar para o treino.
​E assim as horas foram se passando e quando encerramos fomos tomar um
banho e uma das meninas só falava numa festa a fantasia que ia acontecer
numa das fraternidades do campo e Miah já me olhou animada.
​— Onde vai ser essa festa?
​— Na Kappa Sigma.
​— Como vai ser? Têm que ter convite ou vai ser porta aberta?
​— Porta aberta, e os únicos requisitos são estar fantasiado e de máscara.
​— Pegação geral e sem ninguém saber quem é quem… ameiiiii — Miah
gritou e começou a pular jogando água do chuveiro para todo lado — Você
vai, Ava?
​— Só precisamos correr para comprar uma fantasia e máscaras no shopping.
‘Cê vai sair dessa prisão
‘Cê vai atrás desse diploma
Com a fúria da beleza do Sol, entendeu?
Com a fúria da beleza do Sol, entendeu?
Faz isso por nóis, faz essa por nóis (vai)
Te vejo no pódio
Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”

(AmarElo – Emicida, Majur, Pabllo Vittar)


Capítulo 05
Chase Montana

Cinco horas da manhã! Meu horário sagrado de corrida pelo campo


de futebol quando estou a fim de ficar sozinho.
Amo esse horário porque está tudo vazio, sem o falatório dos outros
jogadores, sem os gritinhos das líderes de torcida, sem os outros alunos
querendo acompanhar os treinos, sem as marias chuteiras querendo aparecer
nas arquibancadas para chamar minha atenção, e principalmente, sem os
olheiros dos grandes times nos colocando pressão para sermos perfeitos até
nos treinos para conseguir um contrato com um time da NFL.
Depois de quase uma hora correndo começo a busca por um pouco
de ar, e enxugo as gotículas de suor que escorrem pela minha testa,
colocando as mãos nos joelhos, e me sentindo relaxado depois de liberar
toda a adrenalina armazenada no meu organismo.
As minhas corridas matinais são o momento que tenho comigo
mesmo, onde passo as estratégias de jogo na minha mente, onde penso no
meu amor pelo futebol americano, na minha importância como capitão e
líder do meu time, na minha posição de quarterback que consegui graças a
todo o meu esforço e dedicação, e sem o apoio do meu pai que me considera
uma grande decepção por não ser o modelo de filho perfeito como era o meu
irmão, não importa quantos títulos eu conquiste.
​Ele quer que eu consiga minha vaga na NFL, para que eu siga a minha vida e
fique bem longe dele, já que para o meu pai não passo de um grande
causador de problemas.
Minha mãe só sabe viajar pelo mundo com o novo marido dela, e no
fundo eu penso que ela preferia que eu tivesse morrido naquele acidente de
carro, e não seu filho favorito.
Eu não esqueço aquela noite em que um caminhão nos jogou para
fora da estrada, e do carro capotando. Eu tinha acabado de tirar o meu cinto
de segurança para pegar minha mochila no banco de trás, e tudo virou de
cabeça para baixo. Eu fui atirado longe, e Axel rolou com o carro colina
abaixo e não conseguiu sobreviver.
Por isso eu tenho ânsia de viver, não quero que tudo acabe de um dia
para o outro como foi com o meu irmão, que não aproveitou nada da vida
fazendo tudo que os meus pais queriam.
Entrei no vestiário, tomei um banho para tirar todo o suor do meu
corpo, e tentando fazer com que a água limpasse as minhas lembranças
ruins, e logo depois me arrumei para ir tomar meu café.
Assim que entrei na cafeteria fui direto para o balcão pedir o meu
café de sempre, já que não preciso ficar em fila porque as atendentes
disputam a minha atenção. Peguei o meu lanche e quando fui me sentar na
minha mesa, que todos ali sabem que é dos jogadores de futebol, respirei
fundo vendo uma estranha, com um boné que cobria toda a sua cabeça e um
moletom largo, sentada onde eu sempre me sento, com certeza como
desculpa para me conhecer.
Os minutos seguintes foram um festival de patadas que a sem noção
mal-humorada me deu, além de sair da mesa dando um mortal como se
estivesse numa competição de ginástica artística.
— Quem era a garota? — Kalleb chegou me perguntando.
​— Uma caloura nerd qualquer que fingiu não saber quem eu sou, e ficou me
alugando com um papinho chato de que tudo que ela queria era tomar seu
café em paz.
​— Ou da ginástica artística, por que você viu que ela subiu na mesa e deu
um mortal com a naturalidade de quem está caminhando pela rua?
​— E ainda te deixou sem ter o que falar — Erich chegou falando e rindo da
minha cara.
​— Porra nenhuma, eu só não quis continuar o papo chato e fiquei feliz de me
ver livre daquela mal-humorada — Eu falei me dando conta que uma das
garotas que se jogou em cima de mim continuava no meu colo e mandei ela
sair e procurar outro lugar para sentar porque o espetáculo da nerd conseguiu
estragar a minha manhã.
​— Mas fala, Chase, ela era bonita, gostosa, alguém que você pegaria?
​— Insuportável, com um boné enterrado na cabeça, um moletom gigante, e
um rosto que eu acho que nunca vi antes — Eu respondi para Kalleb e me
levantei seguindo para o treino.
​Assim que cheguei no estádio e fui para o gramado com o meu time, eu
pensei que o treino intenso me faria esquecer a manhã desagradável com
aquela garota estranha que acha que me enganou querendo ser indiferente,
mas que estava na verdade doida para ficar perto de mim.
​ epois de quatro horas de treino pesado fomos para o parque que tinha atrás
D
do estádio, fumar um beck, jogar conversa fora e falar sobre o verão que eu
passei na casa do meu pai que tinha a ilusão de sempre, que podia me
impedir de fazer o que tenho vontade com suas regras, e me lembrando todos
os dias que tinha uma dívida para pagar.
​— O que aconteceu depois que você foi preso? — Erich falou enquanto
soltava fumaça em formato de argolas com aquela porra do seu vaper fedido.
​— Eu não sei do que você está falando?
​— Qual foi Chase, está tirando onda com a gente? Somos seus irmãos, meu
parceiro, para tudo — Kalleb falou dando um trago no beck e passando para
mim.
— Meu pai resolveu tudo, estou limpo e pronto para outra.
​— Teu pai é foda irmão, porque o Marco ficou preso mais de uma semana
porque ninguém foi pagar a fiança dele.
​— Meu pai conseguiu com o prestígio dele me livrar, mas em troca vou ter
que ser babá de um calouro nerd — falei dando mais uma tragada antes de
devolver para Kalleb, enquanto Erich estava deitado com seu Ipad no
máximo e perdido no meio da fumaça.
​— Como assim?
— Sei lá, o figurão que não sei o nome e que tirou meu nome parece
que quer que eu fique de olho em alguém que vai estudar aqui. O homem
deve ter um filho nerd no primeiro ano, daqueles que sofriam bullying na
escola e quer que eu fique de olho para que não lhe aconteça nada.
​— Melhor que ficar fichado e perder a chance de jogar na NFL.
​— Foda, isso sim! Como eu vou ficar de olho num nerd? Só vou na
biblioteca quando tenho uma foda marcada atrás das estantes de livro.
​Eu ainda não sabia quem era o filho desse homem que limpou minha barra, e
como as aulas começaram oficialmente têm uma semana, mas já têm quinze
dias que o campus está cheio por conta das pessoas que moram nas
fraternidades, pode ser que ele tenha desistido do favor.
​— Você vê quem é o calouro, já dá o aviso que ninguém toque nele, e
pronto, nem precisa mais se preocupar.
​— Já pensei nisso, mas como ele não falou nada até agora estou torcendo
que ele tenha esquecido essa porra.
​— Assunto nerd resolvido, vamos falar da boa de hoje que vai ser a festa a
fantasia na Sigma Chi.
​— Já escolheu sua fantasia?
​ Ainda não, vou ver alguma que tenho das festas passadas — Eu falei, mas

era mentira, porque comprei uma fantasia do Coringa, meu ídolo por ser
avesso às regras, mas duvido saberem que sou eu de maquiagem, máscara e
cabelo colorido.
​— Eu acho que vou…
​— Se a festa é a fantasia, então porque não curtir a noite sem saber quem é
quem, e deixar o mistério ser o tempero da noite. Não vamos contar quem
somos e ver no que vai dar.
​— Virou poeta? — Erich falou do nada e já tinha até esquecido que ele
estava ali com a gente.
​— Essa porra de beck deve estar batizado — Kalleb falou rindo e peguei o
cigarro da mão dele e dei um trago rindo.

◆◆◆

Eu não tinha como deixar para o dia seguinte algo que deveria ter
resolvido durante o treino, então peguei o meu carro e fui até o prédio onde o
meu professor morava próximo ao campus.
​Subi as escadas correndo, cruzei com duas alunas que sorriram para mim e
perguntaram se eu estava procurando por elas, mas não ri da piada delas
porque estava focado no que iria pedir para o treinador. Eu bati na porta do
quarto dele sabendo que estava invadindo seu momento de privacidade, mas
não queria esperar até amanhã.
​— Chase, o que você está fazendo aqui? O que você aprontou dessa vez?
​— Seu crédito na minha pessoa é zero pelo visto, mas eu não aprontei
nada… desta vez!
​— Você é um, não… você é o melhor jogador que já passou por esse time,
aqueles que nasceram predestinados para vencer no esporte e não ser mais
um, só que sua falta de juízo…
​— Eu não vim falar sobre a minha vida fora do campo, e sim te pedir uma
coisa. Eu sei que o uniforme já deve estar pronto, mas eu pago para
refazerem o meu correndo para a apresentação do time, eu…
​— Como assim refazer o seu uniforme?
​— É o meu último ano nos Bruins, era o último dele também, e o acidente
não o deixou chegar na final…
​— Axel teria muito orgulho de você, Chase, ele vivia contando sobre seus
jogos na High School.
​ Meus pais me culpam pelo que aconteceu.

​— Foi um acidente, uma fatalidade, e você não tem culpa de nada.
​— Eu sei que não tenho, o caminhão veio como um louco desgovernado e
atirou o nosso carro longe, mas para os meus pais tudo teria sido evitado se o
meu irmão não tivesse saído da universidade para me assistir jogar.
​— Axel se pudesse não perderia nem os seus treinos.
​— Eu sei disso e ele sempre dizia que eu seria o futuro número 10 da
UCLA, como ele, mas preferi o 11, só que agora quero jogar com o mesmo
número que o meu irmão.
​— Você quer que seu uniforme seja 10?
​— Sim, eu pago para refazerem, só quero entrar com o uniforme com o
número 10 na apresentação do time para essa temporada. Quero jogar e
vencer por mim e por ele neste último ano.
​— Eu vou ver o que posso fazer, porque o uniforme já chegou...
​— Faça o impossível. Eu sei que vai ser um gasto extra, ainda mais sendo
emergência por conta do prazo, mas eu pago o que for, mas quero jogar com
a camisa 10.
​— Temos pouco tempo. Na verdade, não temos praticamente nenhum
tempo, mas vou dar um jeito. Seu pai sabe disso?
​— Não, e nem sei se vai saber, porque ele não acompanha os jogos, só paga
o meu agente, tudo que eu preciso e vive a vida dele.
​Agora sim, com esse assunto que eu queria resolver acertado, eu podia voltar
para a fraternidade, me arrumar para a festa, e aproveitar minha noite.
Eu disse garota
O que você quer fazer comigo
Eu posso ser a sua fantasia, esta noite

(Stay With Me Forever – Justin Bieber)


Capítulo 06
Chase Montana
​ u fui caminhando para a festa que era na mesma quadra que a minha, e
E
quando cheguei na fraternidade já dava para imaginar a loucura que estava lá
dentro. Passei pelas pessoas que estavam todas fantasiadas, e como era de
noite elas não me reconheceram por trás da máscara preta que eu coloquei
no meu rosto. Eu estava com uma camisa vermelha toda aberta e com umas
tatuagens removíveis da gargalhada do Coringa, e com o cabelo verde graças
a um creme que deixa o cabelo colorido.
​Assim que cheguei já peguei uma cerveja que ficava em tonéis coloridos
logo na entrada, e tomei uns três shots que estavam dispostos em uma
bandeja e que estavam sendo repostos a cada rodada que levava segundos.
​Duas ruivas gostosas fantasiadas de diabas, usando vestidos vermelhos
justos e super curtos, sorriram para mim, e uma delas fingiu que queria pegar
um shot, e começou a me empurrar como quem pede passagem, pegando a
bebida e esfregando sua bunda no meu pau.
​Eu deixei as duas diabas com suas bundas grandes e gostosas e entrei na
festa para ver se encontrava os meus amigos, já que a maioria eu sabia a
fantasia porque vi quando saíram antes de mim.
​Quando cheguei na área da piscina, já tinha um grupo de garotas só de
máscara e calcinha, e outras ainda de roupa fazendo um trenzinho e batendo
com a bunda na boceta da outra.
Não vi ninguém do time, e todos ali pareciam desconhecidos com
seus rostos cobertos por máscaras, com suas bebidas na mão, conversando e
rindo alto.
Tomei outro gole da minha cerveja e vi uma mesa onde uma garota
de biquíni estava deitada, e três caras repartiam o pó que estava dividido em
fileiras nas suas coxas.
O som estava extremamente alto, e tinham caixas de som embutidas
por toda a parte, tocando “La Pat - Rodeo” enquanto as pessoas se divertiam
desprendidas de qualquer tipo de pudor.
E então a vejo.
Ela está em cima de uma mesa, com seu cabelo preto preso em dois
tufos laterais, com mechas rosas e azuis, dançando como se só ela existisse
no mundo, entre uma nuvem de fumaça que paira no ar deixada pelos becks
e os milhares de vapers espalhados pelo salão.
Eu sou atraído por ela, que parece indiferente a todos no salão que
pulam, dançam, fodem ou gritam feito doidos.
Ela está com uma meia arrastão preta toda rasgada, um short mínimo
azul, um top branco, e uma coleira no pescoço que eu adoraria que tivesse o
meu nome gravado nela.
Não existe ninguém para a Arlequina.
Principalmente para essa que tem o cabelo preto contrastando com a
pele clara, e que está gostosa demais vestida sob medida para ser o meu par.
Eu pego uma garrafa de Vodka em um tonel colorido que tem no
canto da sala, e tomo um gole, mas sem perder de vista a garota que parece
ter me hipnotizado.
Quem é essa Arlequina única que eu nunca vi antes? Ou será que eu
já vi e não estou reconhecendo porque além da fantasia que me seduz, seu
rosto está parcialmente coberto por uma máscara preta?
​Ao som de Come With Me da Mira eu vejo suas mãos deslizando pelo seu
corpo, enquanto sua língua lambe os seus lábios de uma forma sensual, me
fazendo engolir seco enquanto o meu pau fica duro.
​Ela está envolvida pela música, com seus quadris balançando no ritmo de
cada nota, até que ela abre os seus olhos e pisca como que tentando enxergar
algo no meio de tanta fumaça.
​Então me dou conta que seu olhar se encontra com o meu, ela para pôr um
segundo e depois volta a dançar como se estivesse se exibindo para mim.
​Que mulher gostosa é essa que surgiu do nada e me deixou simplesmente
paralisado por ela?
​Eu não aguento mais a distância que nos separa e começo a caminhar entre
as pessoas, tentando me aproximar dela, que morde os lábios quando
percebe que estou me aproximando, e do nada fecha os olhos, vira de costas
para mim e desce da mesa.
​Que porra foi essa?
Meus olhos buscam rápido por ela entre as pessoas que não param de
dançar e me irrito quando vejo um babaca segurando a sua cintura. Mas ela o
empurra e sai caminhando como se só ela existisse naquele salão repleto de
pessoas.
Eu percebo que ela foi em direção a piscina, e caminho para lá
também, mas não consigo encontrá-la em lugar nenhum. Finalmente vejo
Kalleb e sua fantasia ridícula de zumbi, e caminho em sua direção.
— Porra irmão, fantasia de zumbi é foda.
​— Gostou?
​— Feia pra caralho.
​— Vai se foder, Chase — Ele falou batendo com sua garrafa de cerveja na
minha de Vodka — Cara, você está irreconhecível de Coringa.
— Eu sei me fantasiar. Mas irmão, por acaso você não viu uma
Arlequina gostosa que está na aqui na festa? Estou procurando…
​— Você está drogado, ou chapado? — Ele perguntou rindo — Está achando
que é o Coringa mesmo, e está até procurando uma Arlequina.
​Eu nem perdi o meu tempo respondendo e saí caminhando tentando achar a
garota que dominou a minha mente, mas por fim desisti e me sentei puto
numa cadeira um pouco afastado das pessoas e com uma bandeja de shot na
mão querendo de fato ficar chapado.
​Desde quando eu corri atrás de alguma mulher? Eu devo ter bebido alguma
coisa batizada, só pode.
​— Isso é para você dividir comigo, meu pudinzinho? — Alguém pergunta
sussurrando no meu ouvido e logo depois pegando um shot da bandeja e o
virando antes de sorrir para mim.
​Ela simplesmente se sentou no meu colo, com sua boceta quente esmagando
o meu pau.
​— Você me chamou de pudinzinho?
​— Posso te chamar assim?
​— Eu te conheço? — Eu perguntei e quando toquei na sua máscara ela
segurou a minha mão.
​— Somos namorados, Coringa, esqueceu?
​Eu não me preocupei em responder e a beijei, com a minha língua faminta
querendo foder a sua boca. Ela então segurou com força os meus cabelos, e
rebolou gostoso no meu colo, deixando claro que não era só sua boquinha
que queria ser fodida por mim.
​Seu beijo tinha gosto de cerveja e tequila, e descobri que essas bebidas têm o
sabor mais gostoso no beijo dessa garota desconhecida.
Meu pau dói de tão duro e tudo que eu sei é que quero foder ela aqui
mesmo, nessa cadeira, no chão, em qualquer lugar.
​— Você sabe que sentada assim no meu colo deixa meu pau doido para
comer sua boceta, não sabe?
​ Minha meia está toda rasgada — Ela falou e ficou me encarando

enquanto deslizei minha mão na sua bunda e a apertei — e não estou de
calcinha porque deixaria o short marcado e feio.
​Sem desviar o meu olhar do dela por baixo de nossas máscaras, deslizei meu
dedo pela sua boceta por cima do short, e ela gemeu, abaixando a sua cabeça
e mordendo a ponta da minha orelha.
Empurrei seu short um pouco para o lado, e deslizei meu dedo dentro
da sua boceta melada. Ela gemeu de novo, jogando a cabeça para trás e
apertando meu dedo dentro dela.
As pessoas passavam pela gente, com ela sentada no meu colo
cobrindo o meu corpo, e pude sentir quando ela mordeu sua boca para não
gritar quando enfiei mais um dedo dentro dela.
Sua respiração ficou então descompassada quando eu comecei um
movimento de tirar e enfiar meu dedo repetidamente dentro dela, e quando
meu polegar esfregou o seu clítoris, as paredes internas da sua vagina
pareciam querer mastigar os meus dedos.
​— Eu quero foder você, vamos sair daqui.
​— Não, eu quero gozar, continua — Ela falou com a sua boceta rebolando
em cima da minha mão, pouco se importando com as pessoas que passavam
por nós, e que estavam pouco se importando com o que nós estávamos
fazendo.
​Suas pernas começaram a tremer, ele fincou as unhas arranhando o meu
pescoço, e começamos a nos beijar com força, como se só estivéssemos nós
dois naquele lugar.
​— Goza gostosa, que eu quero minha mão toda lambuzada da sua porra
quente.
​Eu senti seu corpo esquentando, suas pernas tremendo, e ela gemeu alto,
enquanto jogou a cabeça para trás e gozou forte na minha mão. Eu dei mais
umas bombadas com o dedo dentro dela, depois os retirei da sua boceta e
chupei cada um deles para sentir o seu gosto.
​Ela então se levantou, ajeitou o short, pegou um shot na bandeja abandonada
no chão, virou e saiu andando. Eu me levantei e a segui até que ela encostou
numa parede, e me puxou, pulando no meu colo e entrelaçando as pernas na
minha cintura.
​— Você quer que eu te foda aqui?
— Por que não?
​ la não precisou repetir a pergunta, e tirei meu pau que estava latejando
E
forte e coloquei na entrada da sua boceta, e então ela começou a rebolar
deixando claro que estava mais do que pronta.
​— Trouxe a camisinha — Ela falou e fui pegar no meu bolso e urrei de ódio
quando me dei conta que não estava no meu bolso — PORRA! — Eu gritei
desesperado — Devem ter caído lá perto da cadeira. Vou buscar.
​— Não vai rolar — Ela falou e saiu caminhando — Preciso ir embora, não
vou poder esperar.
— O que?
​— Quem sabe a gente se encontra de novo pudinzinho.
​Ela ajeitou o short e saiu caminhando, me deixando em pé que nem um
adolescente despreparado que esquece a camisinha. Fui andando até o lugar
onde eu estava sentado pouco antes fazendo ela gozar gostoso, e encontrei a
porra do maldito pacote de camisinha no chão e o chutei longe.
​Mulher nenhuma tinha me negado uma foda antes. Elas sempre imploravam
querendo que eu as fodesse mais uma vez, e a... Me dei conta que não sabia
quem era essa garota que fez isso comigo, mas sou Chase Montana, e não
vou ficar aqui parado depois de levar pela primeira vez um toco.
​Fui procurar Kalleb e os outros para beber com eles, cheirar um pó, ficar
doidão e transar com a primeira gostosa que passasse por mim. Tudo que eu
queria era deletar esse dia da minha vida, que começou com a mal-humorada
da cafeteria, e terminou com essa Arlequina.
Você pega uma quarta-feira
E faz ela parecer como se fosse o primeiro dia
Da semana inteira

(Come With Me (feat. Salem Ilse))


Capítulo 07
Ava Miller

O dia com certeza já devia estar claro, ensolarado e quente, mas eu


continuava embaixo das cobertas e no escuro do meu quarto. Minha cabeça
estava doendo, sinal da ressaca que eu enfrentaria graças aos vários shots de
tequila que tomei na festa a fantasia.
​Eu tentei abrir os olhos e fragmentos de lembranças da noite anterior
vinham como flashes na minha mente.
​Luzes… som alto… maconha… tequila… pudim.
​Eu me sentei quando lembrei do pudim… pudinzinho… e me joguei
de novo na cama com a cabeça enfiada no travesseiro. Porra eu gozei
gostoso demais… não foi sonho… foi muito bom…, mas… afff… o
pudinzinho não tinha camisinha para a gente continuar… AMADOR.
​Entre um bocejo e outro fui tomando coragem para sair da cama, e
quando consegui me sentar, levei um susto com Miah entrando e falando
alto, o que fez a minha cabeça parecer que ia explodir.
​— Bom dia amigaaaaa — Ela falou se jogando em cima de mim e
me derrubando de volta na cama — Meu Deus, quem te atropelou?
​— Várias doses de tequila — Eu respondo rindo e me levantando
para lavar o meu rosto — Socorro, Deus! — Eu gritei olhando no espelho.
​Meu cabelo estava uma bagunça. Eu me lembrei de ter jogado uma
água rápida no meu corpo antes de me deitar, e de ficar repetindo que lavaria
o cabelo pela manhã.
Eu estava uma bagunça completa, com make branca em partes do
meu rosto, cabelo despenteado, e com apenas um lado da maria-chiquinha, e
ainda com o creme azul e rosa que usei para a fantasia de ontem à noite.
Peguei um lenço demaquilante e comecei a passar no meu rosto. Eu
podia jurar que tinha feito isso quando cheguei, mas pelos borrões de rímel e
blush ficou bem claro que a única coisa que eu fiz foi tirar a roupa antes de
me atirar na cama.
​— Eu preciso de um banho e uma hidratação profunda no meu
cabelo.
​— Eu te avisei… eu te avisei — Miah ficava repetindo e rindo.
​ u liguei o chuveiro e deixei a água cair batendo forte no meu rosto
E
para me fazer despertar. Eu passei um, dois, três shampoos, até conseguir
tirar toda a tinta do meu cabelo, e depois coloquei uma máscara de
hidratação capilar porque eu precisava salvar a dignidade do meu cabelo que
estava destruído.
Saí do banheiro, peguei a minha skincare e me joguei na cama de
Miah, empurrando-a para o lado e lhe entregando uma máscara de vitamina
C. Ela colocou no rosto e agora que estávamos hidratando nossas peles
podíamos começar a hora da fofoca, ou das revelações do que fizemos na
festa.
— Ava, você estava muito doida na festa. Você ficou dançando em
cima da mesa e o povo louco pela arlequina misteriosa — Ela falou dando
gargalhadas.
— Eu depois do vigésimo shot só queria ser feliz. Mentira! Eu já vim
para cá querendo ser feliz, livre, dona do meu nariz, das minhas vontades.
Os shots e uns tragos de vaper foram só para celebrar o momento.
​— Doidaaaaa… lindaaaaa… poderosaaaa.
​Apesar de ser por euforia pelas minhas palavras, os gritos de Miah
ainda assim faziam minha cabeça explodir. Eu realmente devo ter bebido
muito além da conta, e meu corpo gritava sedento por água para voltar a se
equilibrar.
​Eu me levantei e me sentei em frente à minha geladeirinha preta e
cheia de adesivos feitos por mim mesmo com as cenas favoritas dos meus
filmes… tudo bem, pode parecer brega… é brega mesmo, mas eu amo.
​— Preciso de água — Eu falei rindo — Onde e com quem você
passou a noite?
​— Na Gama Delta com Cath, do time de dança. Juro que era para ser
só uns amassos, que acabou numa pegada mais profunda no paredão da festa
e acabou em sexo pesado no quarto dela.
​— Pesado tipo BDSM?
​— Nessa vibe, mas nem tão ao pé da letra — Ela falou rindo — Só te
juro que foi muito bom.
​Olhei em volta de mim, e o chão do quarto era um mar de roupas,
produtos de cabelo, maquiagem e partes da minha fantasia. O lugar
precisava de uma limpeza urgente, mas tudo que eu fiz foi puxar um
travesseiro da minha cama, colocar no chão e deitar minha cabeça nele.
​— E você? Depois da dança na mesa não te vi mais na festa.
​ Eu fui dar uma volta, devo ter dançado em cima de outras mesas

— Eu respondi rindo — e depois encontrei o pudinzinho.
​— Que pudim doida, nem tinha doce na festa.
​— Tinha sim, e um bem gostoso por sinal. Porra, o beijo do
pudinzinho só não me fez tirar a calcinha porque eu já fui sem ela.
​— Você é doida e eu tapada. Eu estava aqui pensando num pudim de
verdade.
​— Ele estava fantasiado de alma gêmea da minha arlequina, e eu
senti isso quando ele me olhou dançando e por segundos esqueci totalmente
a música. Depois eu estava andando pelo jardim da festa, e o vi sentado
numa cadeira, esperando por mim. Fui lá, me sentei no seu colo, e senti tudo
pegando fogo dentro de mim.
​— O negócio está esquentando.
​— Ele não me beijou, e sim, fodeu a minha boca. Juro! Ele me fez
gozar de um jeito que eu nunca tinha gozado antes, foi muito bom. E isso
com as mãos, agora imagina transando? Imaginou? Eu também, e só fiquei
no sonho mesmo.
​— Como assim? O homem broxou?
​— Não — respondi dando uma gargalhada — Ele era um amador
que foi para a festa e não levou uma camisinha. Não ia rolar sem
preservativo. Não conheço o pudinzinho, talvez nunca vá conhecer, sei lá
onde ele enfiou o pau dele antes.
​— Não acredito que você não transou com o seu pudinzinho.
​— Não. Fiquei no vácuo, fui beber mais um pouco, e depois vim
embora dormir.
Eu nunca fui livre antes e ontem pela primeira vez me dei ao direito
de fazer o que me viesse à cabeça sem medo. Eu estava fantasiada,
maquiada, mascarada, e em nada lembrava a filha imaculada e fabricada nos
sonhos do senador.
A conversa que eu estava tendo com Miah sobre sexo seria
desaprovada pela minha mãe, que diria que eu devia guardar só para mim os
meus segredos mais íntimos. É assim que a minha mãe e as pessoas da
sociedade vivem. Se expondo nas redes sociais, mas sem revelar seus
segredos, ou seja, quem realmente são por trás dos inúmeros flashes.
Viver de aparência! Regra número 01 para ser uma pessoa pública
bem-sucedida. Mas eu só tenho vinte e dois anos, só vou fazer universidade
uma vez antes de embarcar no mundo adulto propriamente dito, com todos
os seus deveres e obrigações, então vou me permitir ser feliz.
Eu nunca fiz nada parecido com o que rolou ontem na festa com o
“pudinzinho”, mas o seu olhar me dominou por completo. Talvez fosse o
ambiente, ou a música que me fazia flutuar enquanto eu dançava, mas
quando eu vi o Coringa fiquei totalmente rendida.
Agora totalmente sóbria me pergunto como tive coragem de beijar
um desconhecido e deixar que ele invadisse a minha intimidade e me fizesse
gozar na sua mão?
Eu me entreguei de verdade naquele momento, mas não fui louca de
arriscar tudo transando sem camisinha. Minha nossa, eu teria transado com
um desconhecido no meio de uma festa, cercada por um monte de pessoas?
Sim, eu teria, e pensar assim me fez rir alto.
— Do que você está rindo?
— Estou pensando que quase transei com um desconhecido no meio
de uma festa. Nunca fiz nada assim antes na minha vida.
— Nunca transou com alguém que você tenha conhecido e do nada
sentiu vontade?
— Como ontem? Não. Mas já transei, não sou virgem — eu falei me
sentando no chão e tirando a máscara de skincare do meu rosto — mas
confesso que a minha última vez foi horrível porque o babaca postou nossa
foto dormindo juntos.
— Que filho da puta.
— Foi o quarterback do Spartans, eu fiquei com ele sem saber que
ele era sobrinho de um adversário político do meu pai. Ele se aproximou de
mim, eu me deixei levar e terminei na sua cama, e com minha foto dormindo
com ele nos seus stories do Instagram. Depois disso me fechei, quase entrei
novamente em depressão, mas no lugar disso eu decidi que não adiantava me
esconder ou tentar ser quem eu não era para agradar os outros, porque uma
hora a verdade iria aparecer. Eu nunca quis ser a mocinha comportada, mas a
que faz tudo como todas as outras da minha idade e me inscrevi para estudar
aqui, longe de todos que eu conheço e no lugar que eu sempre quis viver, na
Califórnia.
​— Eu não sei como é viver tendo que ser perfeita para o mundo porque seu
pai depende disso para conseguir atingir os seus objetivos, só sei que não é
justo que você deixe de viver para que ele alcance os seus sonhos.
​ Mas esse ano não quero pensar em nada disso, e acho que pela primeira

vez na vida ele me deixou respirar, porque não tem ligado ou enviado
mensagens perguntando o que eu tenho feito ou deixado de fazer.
​Eu estava achando estranho o silêncio dos meus pais, mas prefiro assim do
que eles me cobrando o tempo todo.
Eu costumava pensar que eu era inteligente
Mas você me fez parecer tão ingênua
O jeito que você me vendeu em partes
Enquanto cravava seus dentes em mim, oh
Sanguessuga, aproveitador
Me sugando até secar como a droga de um vampiro

(Vampire - Olivia Rodrigo)


Capítulo 08
Ava Miller

Alguns meses atrás


​ quele dia tinha sido especial com a vitória dos Spartans. Estávamos em
A
Utah para torcer pelo time, e depois do jogo todos foram comemorar num
bar que tinha karaokê.
​As outras cheerleaders estavam animadas, enquanto eu estava mais calada
depois de uma discussão com a minha mãe no telefone. Ela queria que eu
fosse para casa no final de semana porque eles iriam dar uma festa e não sei
por que ela achou que eu seria perfeita para o filho de um empresário amigo
deles que tinha ambições na política.
​Se ela prestasse mais atenção em mim saberia que eu nunca iria querer uma
vida igual a dela. Mas ela nunca teve tempo de perceber o que eu queria, só
o que ela planejava para o meu futuro.
​Eu não queria mais ser aquela que se machucava e se punia por não ser
como eles sonhavam. Eu não era mal-agradecida como minha mãe dizia, já
que eles sempre me davam tudo, mas depois jogavam na minha cara e
cobravam o preço deles.
​Por muito tempo eu achei que era a filha desnaturada, aquela que nunca fazia
nada certo. Suas críticas se tornaram verdades absolutas e eu fui me
fechando e mergulhando num abismo de tristeza.
​Tudo que eu queria era respirar, mas parecia que o topo nunca chegava, e
então eu me feria para sentir outra dor que não fosse aquela de estar se
afogando num mar de queixas e lamúrias.
​— Por que a garota mais linda do time é a mais calada? Um gato comeu a
sua língua?
​Eu olhei para o alto e seus olhos verdes brilhavam com a intensidade que ele
me olhava. Anthony Rever, o quarterback do Spartans, se sentou ao meu
lado e segurou a minha mão. Eu podia ter me afastado, algo nele me
incomodava, mas não segui minha intuição e sorri de volta.
Qualquer coisa era melhor do que a vontade de correr para algum
lugar onde eu pudesse ficar sozinha e me cortar para esquecer as palavras
duras da minha mãe.
​Eu só precisava de um motivo válido para sair daquele caminho silencioso
que eu estava entrando e não pensei em mais nada.
​— Vamos cantar?
​— Não, eu sou muito desafinada.
​— Todos são, mas quando estão no palco se esquecem disso e juram que são
cantores profissionais — Ele falou me puxando e me fazendo caminhar entre
as pessoas, enquanto ele pedia para abrirem caminho que iríamos cantar.
​Ele pegou dois shots numa mesa, me deu um e virou o outro rapidamente, e
assim aquecidos pela tequila que desceu rasgando em nossas gargantas
escolhemos uma música e começamos a cantar.
​E foi assim que aos poucos fui me deixando levar por Anthony, pelo seu
jeito que parecia perfeito na primeira semana que ficamos juntos, e então
veio a festa da fraternidade, que pela primeira vez eu resolvi ir de tanto que
ele insistiu pela minha companhia.
​Dançamos, bebemos e no final eu acabei aceitando dormir no quarto dele.
Eu não estava apaixonada, não senti as famosas borboletas no estômago, não
levantei o meu pé quando o beijei igual no Diário da Princesa, mas não
posso dizer que o sexo com ele foi ruim, mas também não foi nada
arrebatador.
​Talvez isso de química, de olhar alguém e ficar com a calcinha molhada, de
querer transar só por puro tesão fosse mentira, ilusão, e o sexo fosse só algo
normal que vendem como uma coisa sensacional.
​Eu não me dei conta que desejar menos era uma forma de dizer que eu não
merecia algo melhor. Não enxergava ainda esses sinais.
​E então acordei ao lado de Anthony que me deu um beijo de bom dia e se
levantou dizendo que estava atrasado para a aula, praticamente me
mandando embora. Eu coloquei minha roupa, dei tchau, e ele respondeu já
debaixo do chuveiro sem me dar importância.
Eu atravessei o salão da fraternidade com todos olhando para a
cheerleader que o quarterback levou para a cama, e dispensou na manhã
seguinte.
​Antes fosse só isso!
​— Bom dia — Eu falei atendendo o celular com a ligação do meu pai.
​— Bom dia? Porra, que merda você tem na sua cabeça. Quer acabar com
tudo que eu construí? Você vai para a cama do sobrinho do meu adversário
político e me fala, bom dia?
​ Do que o senhor está falando?

​— Essas fotos suas embaixo da coberta do infeliz com quem você passou a
noite.
​Eu abri correndo o celular e a foto estava lá no Instagram numa conta fake.
Rever e Miller… onde eu já li esse sobrenome Miller mesmo?
​Dali para frente foi tudo muito rápido. Os assessores do meu pai
conseguiram derrubar a conta fake, a foto sumiu, mas para o meu pai eu me
transformei na prostituta que dorme com qualquer um e o expõe ao ridículo.
​Claro que Anthony disse para todo mundo que alguém entrou no quarto dele
e fez as fotos, não que de verdade isso importasse para as pessoas. Mas eu
sabia que era mentira porque me lembro quando ele trancou a porta do
quarto.
Todo mundo estava ocupado com as suas vidas na Universidade e
não tinham tempo para se preocupar com quem faz sexo com quem, mas
importa para a vida pública do meu pai.
Como ele mesmo disse, os jovens são mundanos, inconsequentes,
mas eu não tinha o direito de ser como eles, porque seria a filha do
presidente.
O meu pai, minha mãe e os seus assessores se preocuparam com a
minha imagem que deveria ser imaculada, só que aquilo tudo me feriu me
jogando de novo no fundo do poço.
Era horrível a sensação de sentir o ar não passar pela garganta.
Eu não chamei atenção ou despertei interesse em outra pessoa,
apenas fui usada para atacar o meu pai, provavelmente em troca de algum
favor ou até dinheiro.
Eu queria respirar e não podia. Eu andava pelo quarto, tentava pensar
em outra coisa, não deixar o pânico vencer, mas ele era como um monstro
forte, e mais uma vez a dor venceu, e lágrimas rolaram pelo meu rosto, ao
mesmo tempo que a pia do meu dormitório ficava suja de sangue.
Passei o resto da semana indo dos treinos para a fraternidade, com
raiva de ter sido tão burra e facilmente manipulada por um otário.
Chorei, gritei, andei de cabeça baixa com vergonha de mim mesma, e
no final de tudo fiquei dois dias assistindo os filmes que eu amava e que
eram melhores que a minha vida real. Sorte daquelas mocinhas que
passavam pelas coisas e tinham um final feliz.
Eu abri meu estojo de maquiagem e o estilete estava lá. Foi então que
me dei conta que eu tinha dois caminhos, o de me enterrar viva ou de voar
para conquistar as minhas coisas, ser dona da minha vontade e escolher
quem eu quero perto de mim.
Abri o computador e tomei a coragem de fazer o que sempre quis
para a minha vida: estudar na UCLA, morar num lugar com praia e sol, e ser
livre para fazer o que eu estiver com vontade, sem ninguém se achar no
direito de dizer que eu não podia ou que era errado.
É a minha vida, é agora ou nunca
Eu não vou viver para sempre
Eu só quero viver enquanto eu estou vivo

(It's My Life - Bon Jovi)


Capítulo 09
Ava Miller

​ despertador tocou avisando que por mais que a festa tivesse sido boa, e a
O
ressaca muito forte, era hora de acordar e ir para a aula. As classes da manhã
eu tinha perdido, mas a que eu tinha a tarde não podia faltar, porque o
professor de história da dança costumava falar sem parar e entregava muito
conteúdo e eu não queria acumular matéria e ficar perdida na hora de
estudar.
​Entrei no banheiro, tomei um banho rápido para tirar a máscara hidratante
que deixei no meu cabelo, passei um protetor solar, um gloss, e agradeci por
ser verão e não precisar secar os cabelos.
​Eu quase não tinha conseguido dormir, porque depois de conversar horas
com Miah, resolvi pegar uma caixa e começar a guardar todos os meus
moletons e camisas de malha extra large que eu tinha para usar por cima das
minhas roupas.
Ontem na festa não foram só shots de tequila, ou um simples porre, e
sim uma limpeza de sistema. Sim, limpei com álcool tudo que estava
enraizado dentro de mim, e que mesmo tendo me mudado de estado e
universidade eu trouxe junto comigo.
Eu não sentiria mais medo.
Um medo que machucava.
Que me paralisava.
Que aos poucos me matava.
Eu não era como os meus pais queriam. Na verdade, sou muito
melhor que o modelo que eles tentaram fabricar.
Acho que sempre fui a garota que aceitou ficar no canto, que recebia
críticas o tempo todo da família, mas que sempre retribuiu com amor
fazendo bilhetinhos cheios de coraçõezinhos, que assim como os
trabalhinhos da escola só iam para a porta da geladeira para servir de fundo
para fotos nas redes sociais, e amassados e jogados no lixo logo depois para
não estragarem a decoração.
Talvez por muito tempo eu tenha acreditado que eu era exatamente
quem eles queriam que eu fosse, e que só precisava me encaixar para caber
certinho no padrão que me foi estabelecido.
Meus pais, meus parentes, seus amigos e assessores… todos eles me
fizeram acreditar que eu devia ser como eles.
Frios.
Interesseiros.
Mentirosos.
Ambiciosos.
Falsos.
Eu tentei por todos esses anos da minha vida.
Eu me esforcei e me doei o tempo todo para eles… por eles, mas
nada do que eu fiz foi perto de ser o suficiente.
Toda aquela pressão que eu vivia me fez esquecer de como era dar
uma gargalhada, e de como era bom me sentir bem.
Tudo que eu sentia era medo de errar, de não agradar, de não
conseguir.
Mas eu não sou assim. Eu não quero e não vou ser assim.
Eles roubaram minha infância, minha adolescência e parte da minha
juventude que estava começando e que eu viveria intensamente.
Arrumei na estante meus livros da Jane Austen com suas mocinhas
resilientes. Agora era minha vez de lidar com as mudanças, superar os
obstáculos e aprender a resistir às pressões da vida.
Eu seria a partir de agora a narradora da minha vida.
Eu agora era como um cronômetro zerado antes de começar um novo
treino. Estava longe de tudo e de todos que me traziam lembranças fodidas, e
pronta para viver novas emoções.
Eu sei que tenho que vigiar para não ter novas crises de ansiedade, e
assim o farei. Gastarei adrenalina suficiente para manter minha sanidade
destruída por pais tóxicos.
Abri o meu armário e escolhi um jeans escuro, um cropped preto e
sapatos da mesma cor com um solado que me deixava uns quatro dedos mais
alta. Peguei minha bolsa, meu chaveiro de coelho fantasiado de caveira, meu
fichário e quando abri a porta apressada quase atropelei Cath que estava
entrando no quarto.
​— Quem é você? — Ela perguntou rindo e me analisando da cabeça aos
pés.
​— Acho que finalmente minha colega de quarto saiu do casulo e se
transformou nas borboletas tatuadas no seu braço — Miah falou dando um
selinho em Cath.
​Eu fiz um biquinho e pisquei os olhos, dei uma voltinha para que elas vissem
melhor o meu look mais uma vez e saí apressada para a aula.
​No caminho até o prédio onde seria a minha aula, fui olhando como algumas
pessoas estavam apressadas como eu, enquanto outras estavam deitadas no
gramado pegando sol.
​A aula de história da dança era do outro lado do campus e acabei tendo que
correr para chegar a tempo. Subi as escadas do prédio correndo, atravessei os
corredores e me perdi porque tudo era tão grande que ainda não tinha
aprendido o caminho e tudo parecia um grande labirinto.
​Respirei fundo.
Eu não era boa com labirintos.
Olhei para o meu relógio e vi que estava atrasada.
Atrasos me causavam fobia por conta dos gatilhos de que eu
precisava ser perfeita e pontual nos meus compromissos.
Eu continuei correndo, subi as escadas, encontrei o corredor que eu
estava procurando e parei para respirar colocando as mãos nos meus joelhos.
Olhei para a porta da sala de aula, me ajeitei e caminhei até ela, e abri a
empurrando com mais força do que devia e fazendo com que todos olhassem
para mim.
​O professor parou por um instante e olhou para mim, depois limpou a
garganta e voltou a falar sobre como a dança se desenvolveu através dos
séculos, e nas questões que envolvem a produção de uma obra coreográfica
como parte do contexto social em que está inserida.
​Escutei atentamente cada palavra que o senhor Eastwood falava, e anotei
vários tópicos que achei importante para consultar depois no Google e
aprofundar ainda mais o tema.
​Eu gostava de buscar referências a tudo que eu achava importante, além de
pontos que discordassem da forma apresentada em sala de aula e que
pudessem servir como ponto de partida para um debate.
Sim, me antecipava aos meus professores. Quando pediam um
trabalho no meio ou no final do semestre, já tinha vários pontos de partida
prontos para redigir e entregar o trabalho com maestria dentro do prazo.
Eu não era boa aluna só porque os meus pais queriam meu nome
como número um em qualquer lista acadêmica, mas porque eu gostava de
estudar.
A aula seguiu por mais duas horas e quando encerrou eu corri para a
cafeteria mais próxima em busca do meu combustível cafeinado.
Com um copo bem grande saindo fumaça e com o cheiro irresistível
do café entrando pelas minhas narinas, me sentei confortavelmente embaixo
de uma árvore, coloquei o meu fone de ouvido, liguei o meu IPad e fui
assistir pela milionésima vez Dirty Dancing.
Eu tinha alguns filmes numa pasta do ITunes que eu chamava de
“Favoritos da Vida” e sempre que tinha um tempo livre, queria esquecer os
problemas ou simplesmente relaxar, eu escolhia um deles e assistia. Eu sabia
as cenas e as falas dos personagens de cor, e perdi as vezes em que sonhei
em viver várias cenas dos filmes.
Eu era viciada em Dirty Dancing, o que eu tinha escolhido para
assistir e perdi a noção do tempo vendo a Baby aprendendo os passos do
mambo com o Johnny mal-humorado. Eu sabia reproduzir cada passo de
todas as danças do filme e meu pé balançava no gramado, doido para que eu
começasse a dançar, quando me dei conta que mais uma vez estava atrasada.
Acho que nessa nova versão da Ava pós casulo, eu me tornei uma
irresponsável no quesito horário. Eu me levantei, joguei meu copo de café
fora e corri para a biblioteca onde eu tinha um encontro com o grupo de
literatura, uma das atividades extracurriculares na qual me inscrevi.
​— Desculpem o atraso — Eu falei baixinho assim que encontrei todos os
alunos sentados com as cadeiras em um círculo numa ala afastada das mesas
da biblioteca.
​— A senhorita não está atrasada — a senhora Brown, mediadora do nosso
grupo falou sorrindo para mim — Eu tive um pequeno contratempo e vamos
começar agora o nosso encontro.
​Eu sorri para de volta para ela, que tinha uma voz linda, e num tom que
parecia que falava como se estivesse narrando um filme. Eu tinha certeza de
que poderia ficar horas escutando-a lendo trechos de livros sem o risco de
me sentir entediada.
​— Hoje vamos falar de livros que amamos, cada um vai falar sobre os seus,
mas sem nos prendermos aos clássicos. Livros nos transportam para um
universo paralelo, e todos tem seu valor. Um leitor nunca deve se privar de
novas experiências, por isso quem lê uma coisa só ao contrário do que pensa,
não é realmente um amante dos livros. Vamos debater sobre isso? Sobre os
livros que amamos, suas histórias e a importância de todos os tipos de
literatura.
​ maior parte do grupo respirou aliviada por poder falar sobre os seus
A
romances favoritos sem aquele ar esnobe dos que acham que literatura se
resume a obras clássicas, que muitas vezes podem ser tediosas e difíceis de
ler. Eu gosto de alguns clássicos, mas eles não são os únicos para mim e
poder dizer isso alto e claro era mais um grito de liberdade que eu estava
dando na minha vida.
​Adorei o grupo, as discussões, e foi incrível que tirando à pressão e nos
dando a oportunidade de falar sobre vários livros, acabamos falando sobre
grandes clássicos, sobre livros que ganharam adaptação para o cinema, e dos
ebooks, que faz parte da literatura moderna atual e que veio expandir o
hábito de ler.
​Acabamos passando da hora de encerrar o debate, e nos despedimos já
ansiosos pelo encontro que aconteceria na semana seguinte, onde cada um
iria escolher um romance, se colocar no lugar do protagonista e do vilão e
falar deles pelo seu ponto de vista, e como se fôssemos o narrador do livro,
contar uma nova versão do protagonista e do vilão, a partir do nosso ponto
de vista.
​Antes de ir embora resolvi caminhar pelos corredores de livros da biblioteca
e escolher um livro que eu ainda não tivesse lido para fazer o trabalho da
próxima semana. Eu poderia escolher um dos romances que sabia de cor,
mas gostei do que a senhora Brown falou sobre nos abrirmos a novas
possibilidades, e resolvi ler um livro mais antigo e clássico, e me desafiar a
me colocar no lugar da mocinha e do vilão, dando o meu ponto de vista
como se eu fosse eles na história.

◆◆◆

​ stava no meu quarto quase dormindo quando Miah e Cath entraram


E
animadas falando sobre a apresentação que aconteceria no dia seguinte. A
apresentação dos atletas da UCLA era um grande evento, e nós do time de
dança que faríamos a abertura.
​— Vai ser sua estreia como capitã do time! — Miah falou se jogando na
minha cama e me abraçando — Eu estou tão animada, passou tão rápido
desde as audições. Eu tentei duas vezes e só consegui entrar agora no último
ano.
​— Cath é nossa veterana do time — Eu falei rindo — Eu estou muito
ansiosa para esse evento amanhã. As pessoas não me conhecem, mas depois
desse evento todos vão saber quem eu sou.
​— Você vai entrar com os capitães do time de futebol e basquete, Chase e
Mason, você já os conhece? — Cath perguntou enquanto se sentava no chão
do quarto e olhava meus livros na estante.
​— Não conheço… quer dizer, o tal do Chase eu tive a infelicidade de
conhecer outro dia na cafeteria.
​— Para tudoooo — Miah gritou — O carinha que você me disse que
estragou o seu dia na cafeteria foi o Chase Montana? O quarterback?
— Vocês duas podem me explicar essa história? — Cath perguntou
enquanto Miah se sentava ao seu lado no chão abraçada com ela.
​— Essa história ela vai contar para nós duas, porque a única coisa que eu sei
é que ela ficou dizendo que um babaca atrapalhou o café da manhã dela, mas
esqueceu de contar o melhor da fofoca.
​As duas ficaram me olhando, e eu joguei os braços para o alto rendida, me
sentei na cama e contei tudo o que aconteceu na cafeteria, arrancando
gargalhada das duas.
​Elas disseram que Chase se acha, e que todas as garotas ficam babando por
ele. Que o cara pega uma por noite, ou mais de uma já que é chegado numa
orgia, além de sempre se meter em confusão, mas por ser rico sempre
acabam passando pano.
​— Eu aposto que já devem estar fazendo apostas que ele vai ser o primeiro a
pegar a nova capitã do time de dança — Cath falou colocando o dedo na
boca simulando que iria vomitar.
​— E fazendo piada que ela já deve estar sonhando com isso. Os caras do
time tratam ele como o rei do campus — Miah falou com cara de deboche
— Pior que ele não tem ideia de que você e a capitã são a mesma pessoa,
porque o Instagram do spirit squad só vai postar as fotos do novo time
amanhã depois da apresentação.
​— Só que desta vez ele vai perder a aposta, porque eu estou longe de ter
algum interesse neste quarterback arrogante.
​— Ele costuma ficar muito com a Rachel, do time de dança, que não perde a
oportunidade de se atirar em cima dele, e fica de cara feia para todas as
outras que vão para a cama com ele.
— Por mim ela pode ficar com ele todinho — Eu falei e Cath riu
enquanto se levantava e dava um beijo se despedindo de Miah.
​ — Eu tenho que ir que amanhã tenho que entregar um trabalho na primeira
aula, e à tarde nos encontraremos para a apresentação. Amanhã promete, e
estou achando, Miah, que vamos ter um casal cão e gato mais animado que
os desses romances — Ela falou apontando para a minha prateleira de
livros.
​Eu fiz cara de brava para ela que começou a rir, deu um beijo na minha
cabeça e saiu abraçada com Miah que foi levá-la até a porta.
​Amanhã vai ser um grande dia, onde pela primeira vez vou vestir
oficialmente o uniforme azul e amarelo da UCLA, e por isso precisava
dormir e descansar para esse evento, mas minha mente ora me levava para a
imagem arrogante do Chase, ora para o meu Coringa que talvez eu nunca
mais fosse ver.
​Incrível como em um só dia eu pude vivenciar um turbilhão de emoções tão
distintas, como o ranço eterno pelo quarterback e o prazer dos deuses pelo
pudinzinho.
Adeus, adeus, adeus
Você era maior que todo o céu
Você era mais do que um curto período de tempo
E eu tenho muito o que lamentar
Tenho muito o que viver sem
Eu nunca vou saber
O que poderia ter sido, teria sido
O que deveria ter sido você

(Bigger Than The Whole Sky - Taylor Swift)


Capítulo 10
Chase Montana

​ ada um do time pegou sua caneca de cerveja, levantou para o alto e


C
brindamos mais um campeonato que iria começar. Amanhã a essa hora todos
nós vamos estar no estádio sendo apresentados como os jogadores de futebol
da UCLA que vão buscar mais um campeonato.
​Escolhemos o nosso bar favorito perto da universidade onde gostávamos de
nos reunir e os mais animados pediram garrafas de tequila, mas eu fiz com a
mão que passava porque depois daqui tinha uma corrida e só ficaria numa
caneca de cerveja para estar com todos os meus reflexos prontos para vencer.
​— Não vai querer nem um shot? — Um deles perguntou colocando a garrafa
na mesa.
​— Depois da corrida com certeza, portanto compre duas garrafas ou guarde
metade para o seu capitão.
​— Que horas começa a corrida? Lá pelas onze horas, mas a festa e o som
começam lá pelas nove, então é acabar aqui e cair lá.
​— Desta vez vai ser na casa do Rick, naquela parte de terra vazia e
improdutiva que ele tem no terreno gigantesco dele — Kalleb falou — Você
passa na estrada e fica vendo o tanto de pasto, e nem imagina que o cara tem
uma parte vazia com circuito para corrida de carros.
​Eu preferia essas corridas dentro de locais fechados porque era pura
adrenalina, mas sem exposição no meio da rua. Muitas vezes terminava em
briga entre as gangues, e daí todo mundo metia o pé, mas a polícia ficava de
fora.
​— Chase, e o nerd que você tem que tomar conta? Já sabe quem é o cara?
​— Não faço ideia. Meu pai ficou de enviar um e-mail, mas quer saber, vou
tacar o foda-se, fingir que estou de olho e cuidar da minha vida. Não vou
perder meu último ano seguindo ninguém em laboratórios ou bibliotecas.
​— Você vai dar o perdido no seu pai e no figurão que limpou sua ficha?
Você é um louco irmão — Kalleb falou virando um shot e fazendo careta
quando o líquido desceu queimando a sua garganta.
​— Chase, é verdade que você vai assinar com o Buffalo Bills? — Um dos
rapazes do time que estava sentado mais distante perguntou chamando a
atenção de todos.
​— As pessoas falam demais — falei desconversando — Meu agente que
cuida disso tudo, mas só deve me falar alguma coisa, mas no final da
temporada, agora é tudo especulação.
​Eu não gostava de dividir minhas conquistas antes de serem concretas.
Odiava esses comentários que vinham sempre carregados de inveja, e
cortava logo o assunto. Ainda tinha uma temporada inteira para vencer, e no
final, depois de tudo assinado, eu posso falar se estou indo ou não para o
time do Buffalo Bills, agora são só conversas e negociações, que claro já
vazou e caiu na boca do povo fofoqueiro.
​— Vamos respeitar nosso capitão, que esse semestre o cara está encoleirado
— Um outro falou — Rachel falou que vocês agora são oficiais e…
​— Que porra é essa? Não têm outro nome para colocar na roda não?
​Todos os caras estavam rindo e pelo visto eu era o único que não estava
achando graça no assunto. Era sempre a mesma coisa, a mulherada
inventando algo comigo que não estava rolando e os caras espalhando
qualquer coisa que escutavam.
​— Foda é foda, namoro é namoro, e não sei qual a parte que nunca namorei
e nem pretendo que vocês ainda não entenderam.
​— Irmão, os caras sempre brincam… o time te venera porque você é o Rei, e
você nunca liga — Kalleb falou baixo para que só eu escutasse — O que
está acontecendo?
​— Você sabe que dia é hoje? Ele faria aniversário hoje… minha cabeça não
está boa, por isso quero correr e botar essa dor para fora.
​Todo ano no dia do aniversário dele eu ficava mal. Não me conformava da
vida dele ter acabado em menos de um segundo.
​Eu fiquei feliz por ter uma corrida marcada para essa noite. Meu foco
precisava ser em outra coisa senão sou capaz de surtar.
​— Hoje ainda era de madrugada, quando peguei o meu carro e saí disparado
pelas ruas. Eu fui até lá. No local onde tudo aconteceu.
​— Você precisa parar de voltar lá, irmão? — Kalleb falou.
— Eu chutei todas as pedras que estavam no acostamento fazendo
elas rolarem pelo penhasco. O silêncio, o vento, as pedras rolando. Foi assim
também com o carro dele.
​ s lembranças daquela noite não desapareciam da minha mente e ficavam se
A
repetindo como um filme sem fim.

Flashback
​ Você jogou muito, Chase. Tenho muito orgulho de você meu irmão.

​— Um dia vamos jogar juntos num time da NFL.
​— Vamos ser os irmãos Montana do Buffalo Bills.
​— Você vai mesmo para o Buffalo Bills?
​— O meu agente confirmou hoje, mas não contei para ninguém.
​— Nem para os nossos pais?
​— Você é o primeiro a saber, Chase. Mas hoje o dia é seu, você que jogou,
que venceu e vamos comemorar.
​— Com tequila?
​— Com refrigerante porque você é menor de idade — Ele falou dando uma
gargalhada, enquanto eu tirava o cinto de segurança e virava para pegar um
casaco que estava dentro da minha mochila jogada no banco de trás do
carro.
​— Pelo menos eu tentei a tequi…
​Eu não terminei de falar e o meu irmão não terminou de rir. Tudo que eu me
lembro foi de um barulho enorme, do carro girando, das luzes fortes de um
farol, da porta se abrindo e eu sendo jogado longe.
​Estava tudo escuro.
Silencioso.
Minha cabeça doía muito quando escutei vozes dizendo que tinham
encontrado alguém.
​Abri os olhos devagar.
Os bombeiros falaram para eu não me mover.
​Meu irmão.
Eu precisava encontrar Axel e me levantei cambaleando.
Eu desabei sentado no chão porque minha cabeça girava mais rápido
que os meus pés que tentavam caminhar.
Eles me enrolaram num cobertor e eu fiquei esperando enquanto eles
desciam o penhasco em busca do carro do meu irmão.
​— O carro caiu na água senhor, eu sinto muito. Estamos com nossa equipe
toda de resgate em busca do seu filho, mas as chances de encontrá-lo com
vida são mínimas.
​Eu escutei então o grito do meu pai.
​Não sabia que ele estava ali. Ele não veio me ver.
Sua dor era imensa por perder o seu filho querido. O que o enchia de
orgulho. O que fazia suas vontades mesmo achando um saco todos aqueles
eventos formais cheio de velhos ricos e metidos que o meu pai o fazia ir para
exibir o filho. Melhor aluno do curso de direito da UCLA. Capitão do time
de futebol americano. Seu herdeiro de ouro.
​Foi então que alguém falou para ele que seu outro filho estava bem. Escutei
seus passos se aproximando. Seu olhar cheio de dor. E então ele me
abraçou.
​— Como isso foi acontecer?
​— Eu não sei, foi tudo muito rápido, estávamos conversando…
​— Seu irmão deveria estar na UCLA, treinando, estudando, e não nessa
estrada.
​Foi tudo que o meu pai falou. Ele me culpou e não fez questão de esconder
isso.
​Eu não tive culpa foi tudo que repeti para mim mesmo a partir daquele dia.
Mas quando as pessoas te acusam com o olhar, te deixam entender que
poderia ter sido diferente… você acaba acreditando na verdade que elas te
contam.
Todos estes cavalos no meu carro me pegaram indo rápido
Eu só quero fazer o traço, colocar o meu pedal de gás
Indo tão rápido, espero não falhar
Um movimento em falso, que poderia ser a minha última

(Horses - Kodak Black feat. PnB Rock & A Boogie Wit da Hoodie)
Capítulo 11
Chase Montana
​ ra por volta das vinte e uma horas quando acelerei mais fundo entrando na
E
casa de Rick. O lugar estava cheio, a música rolava alto e as pessoas bebiam,
fodiam e se drogavam em volta da piscina.
​Tudo que eu queria era pisar fundo, correr feito um louco, liberar toda a
adrenalina e dor que estavam guardadas dentro de mim. Foi quando Rachel
se aproximou, com um biquíni que mal tapava seus seios se jogando em
cima de mim.
​— Não estou de bom humor.
​— Eu não me importo desde que a gente fique junto.
​— Nós nunca vamos estar juntos. Pare de espalhar que tem algo a mais
comigo que uma foda.
​— Não fala assim, somos perfeitos juntos. Você e eu temos química.
​— Eu tenho um pau que entra na sua boceta apenas isso — Eu falei pegando
uma cerveja e saindo de perto de Rachel.
​Fui procurar por Rick e o encontrei sentado na parte de trás da sua pick-up,
com duas mulheres agarradas no seu pescoço. O cumprimentei de longe
acenando com a garrafa de cerveja e fui até o meu carro que Kalleb já tinha
colocado na posição da corrida.
​— Essa máquina parece um avião. Isso vai voar nessa pista.
​— Custou uma fortuna e pelo menos para isso serve ter um pai rico.
​Kalleb saiu do carro e peguei a chave colocando no bolso. Eu não dei dois
passos e Rachel apareceu, se jogando no meu pescoço, segurando o meu pau
e me puxando para a parte de trás de uma pick-up que estava estacionada
logo ali, implorando para ser fodida por mim.
​A festa estava rolando solta, com a música alta quando vi o fogaréu
queimando no tonel no meio da pista onde aconteceria o racha. Fui
caminhando na direção do fogo que queimava, jogando ali minhas
lembranças, agora nada mais importava e tudo que eu queria era vencer.
​Eu sempre gostei de vencer, de ser rico, de ser popular. Eu gostava do poder
que o dinheiro tinha para mudar o rumo das coisas. Foi assim que meu pai
me livrou tantas vezes, foi assim que comprei a máquina onde estava
sentado.
​ alvez eu fosse mesmo todo errado, ou só um covarde que nunca mandou a
T
família para o inferno porque gostava da grana que eles tinham. Eu gostava
de viver na fraternidade, de ter o melhor quarto, de ser o rei do campus, de
ter um carro que custou alguns milhões, e eu não teria nada disso se cortasse
todos os laços com o meu pai.
​Olhei para o outro carro que ia disputar comigo e não acreditei quando vi
Marco sentado no volante. Eu não sabia que o racha seria com ele, mas tudo
bem, isso aumentava a minha vontade de vencer.
​Ele me olhou com ódio, abriu a janela e cuspiu no chão.
​Eu fiz um sinal com o meu dedo do meio mandando ele se foder.
​Eu sei que ele tinha raiva porque ao contrário dele, eu saí limpo da última
corrida. Nós chegamos ao mesmo tempo na delegacia, ficamos alguns
minutos dividindo a mesma cela, só que eu fui embora e voltei para a minha
vida, enquanto ele amargou dias na prisão.
​O barulho do ronco dos motores do nosso carro ficou mais alto que a
música, e o cheiro no ar era de borracha queimada e gasolina. Comecei a
brincar com o acelerador esperando a hora da largada. Rick levantou o braço
com a sua arma para o alto e atirou.
Um tiro no meio do nada. Em direção a escuridão da noite.
Aceleramos. Eu e Marco estávamos disputando cada milésimo de
segundo. O circuito era sinuoso e como o chão era de terra, a fumaça cobria
os carros e quando saia da reta do percurso, o carro virava quase que de lado
para fazer a volta do tonel cheio de fogo.
Na terceira e última volta, vendo que não tinha como vencer, o
infeliz começou a bater no meu carro. Ele queria me tirar da pista, e as
imagens do carro capotando comigo e Axel invadiu a minha mente.
Todos os meus fantasmas me assombrando, e eu lutando contra eles
enquanto acelerava.
Foco. Eu precisava ter foco.
O miserável bateu mais forte no meu carro fazendo o meu carro
balançar.
Eu não ia morrer, não sem vencer pelo meu irmão essa última
temporada com a camisa número 10.
Acelerei.
Como um raio eu passei a frente do seu carro e do nada tirei o pé do
acelerador.
Marco teve que pisar no freio, mesmo assim acertou a traseira do
meu carro.
Nós dois giramos.
Os pneus agarrados no chão, arrastando a terra, e levantando
fumaça.
Eu pisei no acelerador no meio do cavalo de pau que parecia sem fim
e voltei para a pista. Ele tinha levado um susto porque não esperava que eu
fosse jogar sujo como ele, mas eu fiz… e por isso não perdi tempo correndo
para a vitória.
Quando ele conseguiu parar o carro, saiu batendo a porta e veio com
tudo para cima de mim. Ele me deu um soco, mas eu desviei e acertei um
chute no seu estômago.
Rick atirou para o alto.
​— Não quero briga. Não quero confusão — Rick falou apontando a arma
para Marco.
​— Esse riquinho privilegiado fodeu com o meu carro.
​— Porra nenhuma. Você começou batendo no carro dele. Jogou sujo.
Quebrou as regras de um racha limpo na minha casa e pagou o preço. Ele
apenas revidou.
​— Você fala isso porque é rico que nem ele. Gente como vocês se protegem.
Mas nas ruas…
​— Aqui não é rua. É a minha casa. Minha pista. Minha corrida. Quer uma
guerra comigo, Marco? Então você vai ter.
​Eu queria socar a cara do Marco até ele cair morto no chão. Estava com ódio
por ele ter batido no meu carro e me feito lembrar daquela noite. Só que
Rick não estava brincando, e se um dos dois provocasse era capaz de tomar
um tiro.
​Marco era de uma gangue barra pesada, mas Rick era o dono do tráfico
local. Ele era poderoso e por isso as corridas na sua casa não terminavam
com a polícia chegando. Se tivesse confusão ele eliminava antes o problema.
​— Vai ter volta. Você destruiu o meu carro.
​— E você o meu, a diferença é que amanhã mesmo eu posso comprar outro.
​Marco e eu nos olhamos com ódio. Nossa vontade era de matar um ao outro.
Rick nos olhou ainda segurando a sua arma e fomos cada um para o seu
lado.
​Uma ameaça pairava no ar.
Marco estava com ódio e com certeza iria querer uma revanche.
E eu com certeza estaria pronto para vencer mais uma vez.
Eu chamei sua atenção?
Parece que você perdeu a respiração, huh
Quando eu círculo pela sala, você é uma coruja, você vai revirar sua
cabeça

(Looking At Me - Sabrina Carpenter)


Capítulo 12
Ava Miller
Ainda estava escuro e os primeiros raios de sol estavam longe de
aparecer quando eu acordei sentindo um nó na minha garganta.
O ar ameaça não passar pela garganta, e já sei o que isso significa.
Respiro fundo e tento esvaziar sem sucesso a minha mente.
Hoje é um dia muito importante, e está sendo impossível não lembrar
dos meus pais que sempre colocavam algum defeito nas minhas
apresentações desde criança.
​“Você poderia ter falado mais alto.”
​“Você poderia ter feito mais piruetas.”
“Você poderia ter falado mais pausadamente.”
​“Você poderia ter tirado uma nota melhor.”
​Eu me levantei, coloquei rapidamente um tênis, uma legging preta e um
cropped, peguei minha sapatilha de jazz, enchi uma garrafa com água,
peguei as chaves do carro e saí apressada.

​A UCLA nessa hora era deserta e silenciosa.

Passei de carro pelo Wallis Annenberg onde vai ser a apresentação


desta noite e vi que assim como eu alguém tinha pulado cedo fora da cama.
Olhei para o meu celular e eram cinco da manhã, tudo escuro ainda, e tinha
um atleta solitário, correndo sozinho na pista de atletismo.

Será que o desconhecido gostava de se exercitar cedo, ou assim como


eu estava querendo se libertar dos seus fantasmas?

Entrei no prédio onde fica o estúdio de dança e agradeci por ele ficar
aberto. Eu conectei meu celular ao aparelho de som, e em segundos, Flowers
da Miley Cyrus, tomou conta do ambiente.

Assim que as primeiras notas começaram a tocar, todas as dores,


medos e dúvidas desapareceram da minha mente.
Todo o meu corpo se sintonizou com a melodia, e eu me senti livre,
como se estivesse flutuando, enquanto minhas mãos deslizavam pelas
minhas coxas.

Lentamente fui descendo meu tronco até que ele tocasse o assoalho
frio.

Me virei de barriga para cima, fiz uma ponte, e depois desci a bunda
até que ela tocasse no chão e subi de novo, fazendo desta vez uma ponte com
a perna esticada para trás e ficando de pé novamente.

Eu comecei a girar pelo estúdio.

Meu corpo estava sincronizado com a música.

Quando eu começo a dançar sozinha, não tenho a intenção de montar


uma coreografia, apenas de viver aquele momento que é único e só meu.

Através dos meus gestos corporais eu conto a minha história. Narro


as cenas que quero viver, e assim me liberto completamente.

Eu dancei por mais de uma hora. Minha playlist já tinha encerrado e


estava tocando músicas aleatórias quando alonguei o meu corpo e respirei
bem fundo.

Caminhei até o local onde joguei minha bolsa no chão e peguei


minha garrafa d'água. Eu estava suada, cansada, e principalmente pronta
para enfrentar o grande dia.

Eu me olhei no espelho e sorri para o meu reflexo. Passei as mãos


nas três borboletas que eu tinha tatuado no braço e fechei os olhos pensando
na minha nova vida.

Peguei a vassoura com o pano de chão que ficava no canto da sala e


passei por todo o assoalho, deixando o estúdio limpo como eu encontrei. Só
depois disso que peguei a minha bolsa, as chaves do carro e desci a escada
apressada porque já eram seis e quarenta cinco da manhã, o dia já estava
claro e eu precisava voltar para a fraternidade, tomar um banho e correr para
a minha primeira aula do dia.
— Onde você estava? — Miah perguntou bocejando na cama quando
me viu entrando apressada.

​— Fui dançar um pouco para começar bem o dia.

​— De madrugada?

​— Já são quase sete horas.

​— Madrugada ainda — Ela falou cobrindo o rosto com o seu cobertor.

​ iah também tinha aula às oito da manhã, só que sempre levantava quinze
M
minutos antes e várias vezes ia de pijama mesmo quase levando a cama nas
costas.

​ omei um banho, e só passei um hidratante no rosto com protetor solar,


T
coloquei um gloss e fui me vestir. Eu teria que fazer maquiagem e prender o
cabelo mais tarde no Wallis Annenberg, por isso decidi ir de cabelo solto e
molhado mesmo para a aula.

​ ntes de sair, passei o tattoo cover no meu braço cobrindo as pequenas


A
borboletas tatuadas. Líderes de torcida não podem ter tatuagem ou cabelos
coloridos, e por isso eu cobria as minhas com uma base própria para isso.

​ ui caminhando apressada para a aula, me sentei no auditório, mas o


F
conteúdo por mais interessante que fosse, não conseguia prender a minha
atenção que estava toda no evento que aconteceria naquela noite.

◆◆◆

Às horas passaram rápido, e mantive o tempo todo a minha mente


ocupada com o conteúdo das aulas, e na hora exata cruzei os corredores que
me levaram direto para o vestiário feminino reservado para as cheerleaders.
— Nossa capitã chegou — Miah gritou no meio de um mar de
pompons azuis e amarelos — Agora estamos oficialmente prontas.
Olhei em volta e vi que tinha sido a última a chegar. Como capitã eu
deveria ter sido a primeira, mas o professor da minha última aula ultrapassou
o limite de tempo da aula passando um trabalho de última hora.
Eu sorri para Miah e para as outras meninas que estavam olhando
para mim.

— Essa noite é a primeira de muitas que daremos nosso sangue pelo


Bruins. GO BRUINS… — eu gritei com os braços para o alto.

— GO BRUINS — Todas responderam e correram para a frente do


espelho para começar a sessão de make e penteado.

Depois de várias opções, provas de uniformes e penteados durante


dias, escolhi o vestido tubinho que desenhava os nossos corpos. Ele era azul,
de alcinha, com uma faixa amarela nas laterais e UCLA escrito na frente.
Nossos cabelos ficariam soltos e a make seria bem clean e com batom cor
terra escuro.

O uniforme e nossa coreografia que tinham que destacar nessa noite,


e não nossa maquiagem, por isso a escolha de cores neutras.

As horas seguintes foram todas entre pranchas, risos, babyliss,


fofocas e uma adrenalina que só aumentava à medida que o tempo passava.

— Vamos entrar antes de todos os atletas da UCLA — Nosso técnico


falou — Miller, nossa capitã vai entrar junto com as estrelas da universidade,
Chase Montana, do futebol, e Madson Cleverson, do basquete.

— Quando você estiver entre eles vai estar aberta a temporada de


testosterona para ver quem ganha a nossa capitã — Rachel falou e pude
notar um certo sarcasmo em sua voz.

— Resta saber se eu vou querer um dos dois, não é verdade?

​— Montana e eu…

​ Fodem quando ele está livre — Cath falou interrompendo Rachel — Mas

ela costuma espalhar que é fixa do cara.

​ odas riram e Rachel jogou os pompons que estava segurando em cima de


T
Cath que os segurou fazendo uma careta.
​ Ela tentou te intimidar — Miah falou — Ninguém merece.

​Intimidar.
​Essa palavra me fez engolir seco.
​Gatilhos.
​Eu sempre fui intimidada a vida toda.
​Não vim aqui para que me digam o que fazer.
​Respirei fundo.
​Quarterback. Karaokê. Gatilhos.
​Eu me olhei no espelho e passei o meu batom determinada a focar no que
vim fazer essa noite no Wallis Annenberg que é ajudar a levar os Bruins para
o topo.
​Passei a mão no local onde minhas borboletas tatuadas estavam cobertas e
me levantei pronta para voar.
​— Chegou a hora meninas — Eu falei e todas pegaram seus pompons.
​O treinador abriu a porta do vestiário e fui na frente, levando meu time de
cheerleader para nossa primeira noite juntas pelo Bruins.
​O corredor estava cheio de atletas de todas as modalidades da UCLA.
​— Meu Deus, olha a altura desses caras. Caralho. Me sinto um gnomo perto
deles — Miah falou rindo se referindo ao time de basquete.
​Logo à frente, estavam os carinhas dos bíceps musculosos, pernas bem
definidas, e peitoral gigante. O gritinho das cheerleaders deixava claro
porque os atletas do time de futebol eram os mais cobiçados do campus.
​— Vamos Miller — Meu técnico falou me chamando para ir com ele me
juntar aos capitães do time de futebol e basquete.
​— Vai lá e brilha, Ava — Miah falou me abraçando — Nos vemos no
gramado.
​Eu caminhei com passos apressados, coração disparado porque já podia
escutar o grito das pessoas que lotavam o estádio, quando me virei e então o
vi… o quarterback… o capitão do time de futebol… Chase Montana que me
olhava como se tivesse visto um monstro de um filme de terror.
​— Muito bem, agora que já temos nossas três estrelas da UCLA, meu
técnico falou me colocando entre Chase e Madson — Vamos nos preparar
para entrar no estádio.
​Ele saiu e eu cumprimentei o capitão de basquete que falou comigo.
​— Uma novata na UCLA? Nunca te vi por aqui.
​— Eu vim transferida do Michigan. Prazer, Miller… Ava Miller.
​ Madson Cleverson — Ele respondeu dando um beijo na minha cabeça —

Muito prazer.
​— Você? — Chase falou se aproximando de mim e falando baixo próximo
ao meu ouvido.
​— Prazer, Ava Miller.
​— Você disse que não sabia quem eu era. Eu sabia que você só queria ficar
perto de mim — Ele falou com um sorrisinho debochado.
​— Ou você se jogou na minha mesa fingindo ser sua só para ficar perto de
mim — Eu falei franzindo os olhos e balançando a cabeça como se
confirmasse que estava certa e o babaca deu uma gargalhada alta.
​— Hora do show!!! — O técnico de futebol falou — Vamos entrar!
​Chase, eu e Madson respiramos fundo ao mesmo tempo.
​Caminhamos em direção ao estádio, e meu coração disparou quando vi um
mar azul e amarelo nas arquibancadas, gritando UCLA.
​Assim que entramos fomos direto para o gramado onde tinha um palco
gigantesco para a apresentação dos atletas.
​Paramos no local reservado para aguardar a entrada dos atletas.
​Todos entraram e em segundos o gramado estava lotado.
​Madson sorriu para mim, e foi então que do nada Chase segurou a minha
mão e a levantou para o alto junto com a dele, fazendo a arquibancada ir ao
delírio.
​— GO BRUINS — ele gritou me colocando sentada no seu ombro esquerdo
e caminhando pelos atletas — UCLA… BRUINS… — ele gritava e todos
faziam coro junto com ele, enquanto eu suspendia os braços com os
pompons para o alto.
​Assim que voltamos para nosso lugar, ele me colocou no chão como se nada
tivesse acontecido.
​— O que foi isso? — Eu perguntei sem entender nada.
​— Nada além do show. Bem-vinda a UCLA, Ava Miller.
Eu estou perdendo a cabeça
Estou perdendo o controle de mim neste momento
Ela me faz perder a cabeça

(Lost - Bruno Mars)


Capítulo 13
Chase Montana

Eu cheguei no estádio e já na entrada ganhei olhares e gritinhos das


torcedoras do Bruins que vibraram quando me viram caminhando em
direção ao Wallis Annenberg.
​— Chase mal chegou e já tem fila de bocetas piscando por ele — Kalleb
falou rindo e eu dei de ombros, porque tudo que me importava neste
momento era o primeiro dia como capitão dos Bruins com a camisa número
10.
​Eu me lembrei de Axel e dos seus planos interrompidos quando entrei no
Wallis Annenberg.
​Malditas lembranças que causavam tanta dor, mas que eu insistia em reviver.
​Eu não pude me despedir dele e isso era o que me deixava louco.
​Eu não disse adeus.
​Eu não agradeci por ele ter sido um irmão foda.
​Isso me machucava.
​Entrei no vestiário e os caras do time me levantaram no alto, gritando: Go
Bruins… nada pode parar esse time… vamos em 3… 2… 1… UCLA…
UCLA… UCLA… UCLA.
​Meu celular vibrou e era uma mensagem do meu agente.
​Agente: Montana chegou o grande dia! Faça acontecer.
​Chase: Eu vou fazer.
​Agente: Você precisa cuidar da sua imagem. Ter um relacionamento sério,
quem sabe.
​Chase: Nem fodendo. Eu sou bom no campo, mas fora dele a vida é minha, e
faço com ela o que eu quiser.
​Agente: Esse é o problema. Siga as regras se quiser a NFL.
​Chase: Farei os touchdowns necessários para ser disputado.
​Porra. Sempre o mesmo papo.
​Eu preciso das corridas. Quando eu acelero minha mente esvazia e assim
mantendo minha sanidade.
​ bebo, fumo, transo igual coelho, porque eu tenho vinte e três anos, estou
E
na faculdade, e quero viver intensamente.
​A vida pode terminar no próximo segundo, e não quero ficar sentado
esperando que isso aconteça sem aproveitar cada minuto.
Meu técnico chegou nos chamando para entrar na parte do vestiário
até então fechada, para vestirmos nossos uniformes.
Eu estava ansioso porque não sabia se ele tinha conseguido atender o
meu pedido de última hora, e por isso entrei de cabeça baixa, e olhei devagar
em direção ao meu uniforme.
Número 10. Ele conseguiu. Número 10.
​— Eu não sabia que você tinha trocado de número — Erich falou — Foda
irmão, você vai jogar com o número do seu irmão.
​Eu peguei o uniforme e quando comecei a vestir foi inevitável lembrar de
Axel.
​Ele dizia que iria para o profissional e viria me assistir jogar com o número
dele.
​Tirei uma foto e postei na minha rede social. Eu, meu uniforme e uma lata de
energético.
​Não demorou muito para o meu celular vibrar com uma chamada do meu
pai.
​— Eu vi a foto. Vai jogar com o número do seu irmão. Espero que isso
signifique que você entendeu que se quer vencer precisa ser como ele, e não
viver como um inconsequente como se não houvesse amanhã.
Eu não queria ser ele.
Eu não queria viver a sua vida.
Eu só queria fazer uma homenagem.
​— Claro que você não ligou para me desejar sorte no campeonato.
​— Eu não acredito em sorte, mas em quem faz acontecer. Faça acontecer, e
tenha em mente que mesmo indo para a NFL, você precisa se formar em
administração e começar a comparecer em eventos da empresa que será sua
um dia. Gera instabilidade aos negócios, não ter um herdeiro presente.
Família é sempre algo bem-visto no nosso meio.
​— Eu não quero ser CEO de nada.
​— Não importa, mas têm que estar presente nos eventos que custeiam os
seus luxos, e sua vida de playboy inconsequente.
​Eu não iria discutir. Eu sou mesmo o filho badboy. Eu faço um monte de
merda. Mas eu também tiro notas altas e sou bom aluno. Sou o capitão do
time de futebol. Se para o meu pai só importa a imagem, então não têm do
que se queixar.
​— E o seu trabalho para pagar a merda que você fez sendo preso. Você viu
o e-mail? Está fazendo a sua parte?
​— Claro que sim. Estou sendo a babá perfeita como você mandou.
​— Bom campeonato. Eu não pude ir essa noite porque tenho uma reunião
importante, mas farei o possível para estar presente no primeiro jogo.
​Meu pai falou e eu concordei, como se fosse verdade. Ele nunca vinha nos
meus jogos. Eu era o filho que infelizmente restou para ele, que se pudesse
trocaria minha vida pela do meu irmão.
​— Vamos — meu técnico falou — Você vai entrar com Madson e a capitã
das cheerleaders.
​Eu dei de ombros, chamei o meu time, e segui o treinador passando por
todos os atletas que já estavam formados para entrar no estádio.
​— Chase Montana.
​— Madson Cleverson.
​Era nítida a falsidade entre nós dois. Não éramos amigos. O time de
basquete sempre disputa a atenção e preferência com o time de futebol.
​— Já sabe quem é ela?
​— Ela quem? — Eu perguntei desinteressado em ficar de papo.
​— A nova capitã das cheerleaders.
​— Não sei.
​— Achei que sua namorada tinha te falado, sendo do time.
​— Não tenho namorada. Faço sexo. Não namoro. — Eu respondi e ele ia
falar alguma coisa quando a tal capitã surgiu, conversando com seu treinador
e de costas para nós.
​— Porra. Que gostosa! — Madison falou e eu tive que concordar.
​Ela estava com um vestido que moldava todo o seu corpo. Ela era baixinha,
com uma bunda grande e empinada. Os cabelos castanhos escuros estavam
soltos, e ela andava de costas em nossa direção, nos deixando hipnotizados
até que ela se virou e eu pensei que estava sonhando, ou melhor, tendo um
pesadelo.
​Era a nerd insuportável da cafeteria.
​Ex nerd, atual gostosa, mas ainda assim com o mesmo olhar superior do
outro dia.
​Ela me ignorou e deu atenção a Madison que começou a puxar assunto.
​ epois de se apresentar para o babaca que a comia com os olhos ela
D
finalmente olhou para mim.
​Não posso dizer que trocamos palavras, e sim farpas afiadas.
​Baixinha marrenta e atrevida. Ela sabia quem eu era e ficou se fazendo na
cafeteria.
​Insuportável e gostosa na mesma medida.
​Entramos no estádio com todos gritando o meu nome, e vi quando ela
revirou os olhos. Paramos no lugar marcado, e ficamos esperando todos os
atletas se posicionarem.
​— No Michigan também era assim? — Madison perguntou.
​— Aqui tudo parece mais quente — Ela falou mordendo os lábios enquanto
olhava o estádio, e o capitãozinho do time de basquete ficou comendo-a com
o olhar.
​Num impulso, sem entender como e porque, eu segurei suas mãos e vi que
ela se assustou, mas no lugar de tentar soltar, ela segurou firme e sorriu para
todos no estádio como se aquilo estivesse combinado.
​Madison então fez um movimento para imitar o meu gesto, e só sei que
fiquei puto e a tirei de perto dele, a colocando sentada no meu ombro
esquerdo e fazendo todos gritarem mais alto no Wallis Annenberg.
​Nem fodendo aquele merda do basquete ia aparecer mais do que eu. Repeti
isso mentalmente várias vezes, justificando para mim mesmo a minha
atitude.
​Assim que a coloquei no chão ela me questionou sobre o show que eu dei, e
simplesmente me ignorou quando eu lhe dei boas-vindas.
Ninguém me ignorava.
Essa noite era importante, eu tinha um foco, mas ela simplesmente
me tirou da rota.
Normalmente as garotas quando conseguiam me enlouquecer era na
cama, mas essa parece que tinha o poder de me desconcentrar, irritar, e
merda… me hipnotizar.
Eu estou precisando é de uma boa rodada de sexo, porque nos
últimos dias tudo que eu consegui foi estragar meu dia com essa capitã na
cafeteria, ficar louco por uma arlequina que não sei quem é, e agora ficar
puto com o desinteresse que ela finge ter por mim.
Sim, só pode ser fingimento, e eu vou provar isso para ela.
Eu estava distraído quando começou a tocar Cher Fight Song e a
baixinha metida saiu correndo indo se juntar as cheerleaders.
A batida da música que começa a tocar é conhecida, mas por algum
motivo hoje, com ela a frente das cheerleaders se torna sensual.
Engulo seco quando vejo os pompons que ela segura deslizando por
suas coxas, e fico paralisado a vendo descer sensualmente até quase tocar o
gramado com seu tronco, e empinando sua bunda para o ar.
Sua sensualidade é natural, e todo o seu corpo parece sincronizado
com a música. Movimentos normais executados pelas outras garotas do time
são comuns, mas porra… nela tudo pare erótico e feito para me provocar.
Ela é muito sexy.
A coreografia continua e quando elas se viram para nós, os atletas,
seus olhos se prendem aos meus, e ela continua dançando, como se
estivéssemos só eu e ela no Wallis Annenberg.
Porra, o que está acontecendo comigo.
Eu só sinto vontade de jogar, necessidade de acelerar o mais rápido
possível… e dor… saudade… saudade que machuca… e agora, não sei
porque sinto também atração… desejo.
Eu poderia subir o seu vestido, arrancar sua calcinha e a foder
gostoso aqui mesmo se ela tivesse vontade.
Se essa mulher dançando num estádio lotado é uma perdição para o
meu pau que está latejando dentro do meu uniforme, fora daqui ela pode se
tornar facilmente o meu fim.
A música terminou, todos foram ao delírio, e ela voltou para o meu
lado me olhando fixamente.
​— Deixa eu limpar — Ela falou passando o pompom rapidamente próximo a
minha boca — que tem um pouco de baba escorrendo.
​Eu queria mandá-la se foder, mas o locutor começou a falar e ela começou a
agitar os pompons como se eu não estivesse ao lado dela.
​Locutor 01: Boa noite, UCLA. Que noite meus amigos. Que noite!
​Locutor 02: O Rose Bowl hoje está pequeno para tantas estrelas. Temos
todos os nossos atletas reunidos e preparados para nos trazer muitos títulos.
​Locutor 01: Vamos começar pelos dois que o cinema adora romantizar, e que
já nos proporcionaram um espetáculo no início da noite.
​Locutor 02: Vamos chamar para subir no palco do centro do gramado, nossa
estrela do futebol americano, nosso quarterback, nosso atual capitão, Chase
Montana, e nossa capitã do time de dança, Ava Miller.
​Eu senti vontade de rir porque Madson ficou para trás, afinal eu sou o rei do
campus, embora ele não entenda isso. Só que eu não tive tempo para isso, já
que fui quase atropelado por uma baixinha que se virou rápido e só não me
mandou longe, porque não têm força nem para me desequilibrar.
​— Você é sempre assim, mal-humorada?
​— Só com quem eu não gosto.
​— E por que você não gosta de mim?
​— Não é você. É… eu não gosto de quarterbacks, apenas isso.
​O estádio não parava de gritar o meu nome, o meu time estava empolgado
com o início do campeonato, eu olhava a minha imagem no telão e
enxergava o meu irmão com o número 10, e uma mistura de sentimentos me
fazia ter vontade de sair correndo, pegar o meu carro e só parar de acelerar
quando estivesse muito longe daqui.
​— Está tudo bem? — Ava perguntou ficando na ponta dos pés para tentar
falar próximo ao meu ouvido, mas não chegando nem perto do ombro.
​— Eu pensei que você não gostasse de quarterbacks.
​— Eu tenho meus gatilhos, mas isso não quer dizer que eu deixe de ser
solidária com alguém que parece não estar nada bem. Você está aqui no
palco, mas ao mesmo tempo parece que está acenando aleatoriamente.
​— Como você sabe disso?
​— Eu aprendi com o melhor a ser falso e representar em meio a multidões,
mas isso não importa.
​— Não é surreal toda essa alegria, agitação, festa, e nós dois falando algo tão
fora do contexto sendo o centro das atenções?
— Nem sempre somos aquilo que os outros imaginam, simples
assim.
Ela falou e saiu pulando, gritando UCLA, e eu fiquei pensando nas
suas palavras, quando meu time me suspendeu no ar, gritando o meu nome,
enquanto eu a procurava com os olhos no meio da multidão.
Uma realidade distorcida, uma insanidade sem solução
Eu te disse que estava bem, mas eu estava mentindo
Eu estava dançando com o diabo

(Dancing With The Devil - Demi Lovato)


Capítulo 14
Ava Miller

Encarei o relógio vendo que ainda eram seis horas da manhã, e


contive um bocejo enquanto obrigava o meu corpo a sair da cama. Eu
caminhei até o banheiro, tirei a minha roupa e tomei um banho no modo
automático.
Eu daria tudo para poder estar indo para o estúdio dançar, mas
infelizmente hoje eu não vou poder, porque preciso enfrentar meus
fantasmas.
Arrumei o cabelo, passei a mão no meu vestido clássico, social,
salmão e sem vida. Eu gostava dos meus jeans rasgados, das minhas blusas
de caveiras, dos meus piercings, mas hoje eu tinha que ser a filha do senador,
e respirei fundo enquanto revirava os olhos cheios de tédio.
Eu me lembrei da noite de apresentação dos atletas que tinha
acontecido há dois dias e que meus pais não se preocuparam em perguntar
como tinha sido. Quando recebi a mensagem deles, achei que era para me
dar parabéns, porque sim, eu sempre fantasio que serei notada por eles, mas
era mais uma vez eles me intimando a comparecer a um evento político com
eles para terem fotos da família feliz.
Eu disse que tinha provas, trabalhos para entregar, mas meu pai me
lembrou dos meus deveres com a família, e sempre que ele começava o seu
discurso, eu preferia me calar e seguir o protocolo no automático.
Meu pai disse que se eu não fosse para casa no final de semana,
então ele viria me buscar, e eu não quero que o vejam. Não quero ser a filha
do senador. Só quero ser eu, e enquanto não me ligarem ao senador do
Michigan, melhor para mim aqui na UCLA.
Eu peguei a minha bolsa, e saí sem me olhar no espelho. Não queria
me ver como a filha do senador. Não gosto desta Ava que está descendo as
escadas da fraternidade e seguindo para o aeroporto de Uber. Não gosto
destas joias. Não gosto desse cabelo todo alinhado sem um fio fora do lugar.
Entrei no avião e coloquei meu Ipod no máximo me desligando de
tudo à minha volta. E então me lembrei do estádio, dos aplausos, e de Chase
Montana.

Flashback

​ O que foi aquilo? — Miah falou assim que entramos no vestiário —



Chase Montana te colocando no ombro dele minha amiga… que momento.
— Como ele mesmo disse: parte do show.
— No cu dele — Cath falou rindo — Se me contassem eu não
acreditaria, mas parece que alguém chamou finalmente a atenção do
quarterback badboy.
Por um minuto eu sorri, mas no outro eu me lembrei do Michigan.
​E o ar começou a desaparecer.
​Meu coração acelerou.
​“Você não sabe que sempre vão querer te usar contra mim?”
​As palavras do meu pai me faziam sentir o quanto eu era só alguém que o
carinha mais desejado da universidade levou para a cama pensando em
ganhar algo em troca.
​— Você está bem? — Miah perguntou me vendo pálida.
​— Um pouco tonta. Estava ansiosa e não comi nada o dia todo. Vou pegar
uma água — Eu falei fingindo ir pegar uma garrafa no frigobar, parei no
meu armário, peguei meu Ipad e entrei no banheiro.
​Eu fiquei sentada no vaso tentando me acalmar.
​Fechei os meus olhos e me lembrei do pudinzinho. Como Arlequina eu fui
livre. Eu fui desejada de verdade. Pensar no desconhecido fez com que eu
me acalmasse. Ele me quis sem saber quem eu era. Fiz o que tive vontade, e
senti prazer de verdade. Eu não fui usada.
​Chase era real demais.
Eu não posso me envolver com ninguém.
Não quero confusão.
Não quero meu rosto na mídia.
​Por que eu estava pensando no quarterback?
​Peguei meu Ipad e comecei a escrever. Às vezes eu riscava porque não
acreditava no que escrevia, mas então focava e continuava.
​Estou calma. Minha mente está vazia. Sou forte. Não tenho medo. Estou
calma. Minha mente está vazia. Sou forte. Não tenho medo. Estou calma.
Minha mente está vazia. Sou forte. Não tenho medo. Estou calma. Minha
mente está vazia. Sou forte. Não tenho medo. Estou calma. Minha mente está
vazia. Sou forte. Não tenho medo. Estou calma. Minha mente está vazia. Sou
forte. Não tenho medo. Estou calma. Minha mente está vazia. Sou forte. Não
tenho medo. Estou calma. Minha mente está vazia. Sou forte. Não tenho
medo. Estou calma. Minha mente está vazia. Sou forte. Não tenho medo.
Estou calma. Minha mente está vazia. Sou forte. Não tenho medo. Estou
calma. Minha mente está vazia. Sou forte. Não tenho medo. Estou calma.
Minha mente está vazia. Sou forte. Não tenho medo. Estou calma. Minha
mente está vazia. Sou forte. Não tenho medo. Estou calma. Minha mente está
vazia. Sou forte. Não tenho medo. Estou calma. Minha mente está vazia. Sou
forte. Não tenho medo. Estou calma. Minha mente está vazia. Sou forte. Não
tenho medo.
​— Você precisa comer alguma coisa — Miah falou batendo na porta do
banheiro — Eu e Cath estamos indo comer alguma coisa no BJ’s, e você
vem com a gente, e nem adianta dizer que não.
​Eu limpei o meu rosto, e saí do banheiro, com os olhos e o nariz vermelho e
disse que chorei quando vomitei porque estava realmente me sentindo mal.
​Eu menti. Era especialista em mentir. Aprendi a esconder minha dor.
​— Vamos — Eu falei sorrindo, depois de lavar o rosto e decidir que o meu
passado não destruiria o meu presente. Essa noite era especial e nada me
impediria de comemorar.
​Eu queria ser forte o tempo todo, mas nem sempre eu conseguia.
​Assim que deixamos o vestiário, eu o vi. No meio dos corredores lotados de
atletas que estavam assim como nós indo embora.
​Ele estava de pé, e todos, absolutamente todos olhavam para ele. As outras
meninas do time estavam lá em volta dele. Rindo alto. Tentando chamar sua
atenção.
​Chase não se dava ao trabalho de olhar para ninguém. Ele parecia não se
importar com todas aquelas pessoas.
​E então ele me viu e seu olhar colou no meu.
​Por alguma razão desconhecida parecia que algo nos puxava um para o
outro.
​Foi então que Rachel se aproximou dele, jogando seus braços em volta do
seu pescoço.
​Eu senti meu estômago embrulhar e fiquei com raiva de mim por sentir isso.
Ela percebeu que Chase estava distante, seguiu seu olhar e revirou os olhos
ao me ver.
​ le a tirou dos seus braços e abriu caminho entre as pessoas e começou a
E
caminhar na minha direção. Que inferno de olhar magnético ele têm que não
me deixa desviar o olhar.
​— Nossa capitã já está indo embora? Não vai para a festa?
​— Amanhã eu tenho trabalho para apresentar na primeira aula.
​— Então eu não errei quando disse que você era uma nerd?
​— Nós vamos jantar primeiro e depois vamos na festa. Não precisa nos
esperar acordado — Cath falou rindo e saiu puxando a mim e a Miah.
​— Hoje tem festa? Achei que não teria por causa da apresentação.
​— Ava, minha querida, aprenda que aqui na UCLA, quinta, sexta e sábado
ter festa nas fraternidades é como uma lei absoluta.

◆◆◆

Desembarquei em Michigan e lá estavam os assessores do meu pai


me aguardando. Eu sorri educadamente e os segui com os mesmos passos
automáticos de sempre.
Quando cheguei no local do evento, meus pais vieram me receber. O
senador beijou a minha cabeça enquanto encostava meu rosto no seu peito,
como se estivesse com saudades. Para o meu pai era natural atuar com
perfeição.
Eu então sorri com moderação para os seus correligionários do
partido. A roupa clássica, as joias delicadas, o leve brilho de um gloss nos
lábios, são usados para parecer uma jovem exemplar.
É tudo muito cansativo. Tudo falso. Vazio.
— Que saudades minha filhinha — minha mãe fala olhando para
mim e para todos à sua volta, como se quisesse compartilhar a falta que eu
faço com todos.
Seus cabelos estão presos em um coque apertado no alto da sua
cabeça, e seu terninho salmão e exato no tom do meu vestido — Escolhemos
o mesmo tom de roupa. Que sintonia entre mãe e filha — Ela fala e todos
concordam com a cabeça e exibindo sorrisos falsos.
​Eu apenas sorrio de volta, pensando no seu fingimento, já que eu recebi uma
caixa ontem no meu dormitório, com esse vestido e instruções claras que era
para usar nesse evento.
Os assessores indicam a mesa que devemos nos sentar e quando
ficamos sozinhos minha mãe começou o seu interrogatório, enquanto sorria
para todos.
— Por que você estava nos braços do quarterback da UCLA?
— Aquilo foi ensaiado — Eu menti naturalmente como sempre fiz a
vida toda para não me aborrecer.
​— Eu gostaria de lembrá-la que a última vez que você estava com um
quarterback, era como se fosse uma puta debaixo dos seus lençóis.
​— Eu só vi o capitão do time naquela noite, minha mãe — respondi sentindo
as batidas erráticas do meu coração e uma vontade de chorar, mas eu sabia
que precisava sorrir.
​— O pai dele é empresário, tem muito dinheiro e é eleitor do seu pai — Ela
falou — e seria um bom par para você se ele não fosse um inconsequente,
que participa de rachas, que bebe, fuma. Você está fumando? Eu não sei se
estudar na Califórnia, um estado tão liberal…
​— Eu não fumo, não bebo, e não sou uma puta porque dormi com alguém
minha mãe.
​— Você não pensa, mas atitudes assim pesam contra a imagem casta que
você deve ter.
​Eu queria sair correndo daquela mesa, mas não podia. Eu precisava sorrir.
Imagem casta. Eu não sei por que as pessoas compram essa ideia de família
perfeita que todo político apresenta nas campanhas? É tudo tão superficial,
irreal. Ninguém é perfeito, todo mundo sabe disso, mas cobram isso do
outro.
​Minha mãe continuou falando suas sandices que me machucavam sem se
importar, mas meu pensamento estava longe.
​Chase participa de rachas? O quarterback que todos esperam que seja
perfeito dentro e fora de campo, correndo em disputas ilegais?
Será verdade? Será que não sou só eu que as pessoas imaginam
totalmente diferente do que os seus olhos enxergam?

Flashback

​ u, Miah e Cath, demoramos muito jantando e fofocando sobre a


E
apresentação e a caminhada até chegar nas festas das fraternidades foi longa,
mas no caminho já podíamos ver os grupinhos de meninas animadas
seguindo na mesma direção que a nossa.
​— Em qual festa nós vamos primeiro? — Miah perguntou vendo as meninas
entrando e saindo das casas das fraternidades que estavam todas enfeitadas.
​ oda quinta, sexta e sábado as casas ganham luzes, decorações com balões
T
nas portas, food trucks com comidas variadas, e muita… muita bebida.
Como aqui na Califórnia não é permitido o consumo de bebida alcoólica na
rua, ou seja, você não pode caminhar tomando uma garrafa de cerveja, ou
vodka, por exemplo, todos transitam entre as fraternidades, escolhendo em
qual festa vai ficar com suas garrafas térmicas.
​— São tantas com festas ao mesmo tempo, e uma do lado da outra, que fica
mais fácil decidir em qual delas não vamos — Cath falou rindo e
caminhando na direção da Sigma Alpha Epsilon.
​Claro que essa era a festa mais cheia de todas, afinal, era a fraternidade dos
quarterbacks, e do rei do campus, Chase Montana.
​— Hoje é noite de festa, e foda-se o amanhã — um dos quarterbacks que eu
não sabia o nome falou nos recebendo, e nos mostrando uma bandeja de
shot.
​Eu e as meninas viramos logo uns 3 shots, rindo alto, e entramos na festa. O
som estava muito alto, o salão da fraternidade cheio de pessoas que
dançavam no meio da fumaça dos vapers.
​—Vamos circular — Miah falou me puxando enquanto Cath pegava três
garrafas de vodka e latas de energético, e misturava as bebidas enchendo
nossas garrafas térmicas.
​Nós fomos para a área externa, onde estava tocando Greed de Tate McRae e
foi quando eu vi Chase, e engoli seco observando uma garota tirando a
camiseta, e derramando Vodka nos seios para ele lamber.
​Aquela cena provocou um frenesi no meu corpo, e eu já não sabia se queria
estar no lugar dela, ou com nojo deles. Todos gritavam enquanto Chase
passava sua língua retirando toda a bebida dos seios dela e quando ele
terminou todos bateram palma.
​Foi então que ele me viu.
Tinha algo em Chase que por algum motivo me fazia ficar fora de
mim. Era um misto de sentimentos dúbios, porque ao mesmo tempo que eu
queria brigar com ele, também imaginava ele me beijando.
Era como se algo nele me fizesse ser diferente da Ava moldada pelos
meus pais. Ele parecia ser alguém livre como eu sonhava ser, sem se
importar com a opinião dos outros.
Eu não conseguia saber se essa atração era boa ou ruim, mas estava
prestes a descobrir quando ele acenou para mim e perguntou se eu iria
participar da brincadeira.
​ Nossa capitã, vai participar do bodyshot ou ficar só olhando? — Ele

perguntou olhando nos meus olhos.
​— Está me desafiando Capitão.
​— Você escolhe o shot.
​— E você?
​— O local do seu corpo onde vou colocar ele.
​— Desafio aceito.
​— Se você desistir vai ter que pagar uma consequência.
​— Não vou desistir — Eu falei virando todo o líquido da minha garrafa
térmica e entregando ela vazia para Miah que me olhava em dúvida,
naturalmente pensando se eu realmente teria coragem para ir tão longe.
​Sim, eu tenho coragem. Preciso ser livre em todos os momentos possíveis.
​Nunca tinha participado de brincadeiras assim, mas escutava as meninas
contando sobre bodyshot, body pôquer, body sei lá o que… eram muitas
brincadeiras onde no final todo mundo acabava bêbado e na maioria das
vezes sem saber onde estavam suas roupas.
​Eu me aproximei da bandeja dos shots e Kalleb, o runningback que estava
organizando a brincadeira, me mostrou as opções que eu poderia escolher.
​Deslizei meus dedos pela garrafa de tequila, depois a de whisky, vodka e
pela embalagem plástica transparente com um pó dentro. Fiquei
tamborilando os dedos pela embalagem e vi os olhos de Chase brilhando e
me desafiando, como se achasse que eu não seria tão ousada a esse ponto.
​— Eu quero isso aqui — falei pegando o saquinho transparente e entregando
para Kalleb.
​Eu podia escutar os gritos eufóricos dos outros estudantes que estavam no
local sobressaindo o som alto da música.
Miah e Cath se aproximaram curiosas, talvez achando que eu fosse
desistir, ter que pagar uma consequência e fosse precisar do apoio moral
delas.
​— Sua vez, Chase, escolha o local — Kalleb falou entregando o saquinho
escolhido para o quarterback.
​Ele então caminhou na minha direção, me segurou pela cintura fazendo meu
coração disparar e num movimento rápido me colocou sentada num banco.
​— Aqui — Ele falou tocando a minha coxa, e fazendo um círculo com o
movimento dos seus dedos na parte interna, próximo a minha virilha.
​— Eu aceito — Respondi olhando nos seus olhos, e tentando não parecer
ofegante.
​ le me olhou desconfiado, e tenho certeza de que pensou que eu iria sair
E
correndo.
Chase abre o pequeno saco, se ajoelha e coloca minha perna em seu
ombro. E eu me inclino um pouco, quando vejo ele depositando a cocaína na
parte interna da minha coxa.
Ele me encara, e eu fico completamente imóvel, e me concentro
porque sei que ansiedade é algo que me deixa fora do controle do meu
corpo.
Seus olhos se prendem aos meus de forma tão intensa, que me sinto
perdida quando ele desvia o olhar para a minha coxa, formando duas
carreiras perfeitas nela.
Ele me olha novamente, enquanto enterra o rosto na minha perna e
inala toda a droga.
​Porra, quando que eu imaginei que uma carreira de cocaína podia ser tão
foda a ponta de me fazer sentir a boceta piscar, sem eu nem ter inalado uma
grama dela.
​Ele então lambe a minha perna, e quando volta a me olhar, e se levanta
ficando de frente para mim, eu posso ver as veias do seu pescoço saltadas, e
um pequeno sorriso se forma nos meus lábios.
​— Quem é você, Capitã? Por que eu te odeio por ser tão metida, e te desejo
na mesma intensidade por ser tão gostosa?
​— Isso você vai ter que descobrir sozinho.

◆◆◆

​ em eu sei quem sou eu de verdade. Se essa que está sentada na mesa de um


N
jantar escutando minha mãe me diminuir a cada segundo, ou a que se
permite gozar nas mãos de um coringa qualquer, ou ainda a que sente a
boceta encharcando quando o quarterback cheira cocaína nas suas pernas.
​Eu dei uma gargalhada sem querer chamando a atenção de todos à minha
volta. Foi inconsciente, mas infelizmente não passou despercebida
principalmente para os meus pais.
​— Você ficou louca? — Minha mãe perguntou rindo como se estivéssemos
achando graça de algo íntimo compartilhado entre mãe e filha. Incrível a arte
que ela tem de transformar tudo em um espetáculo favorável à sua imagem.
​— Me desculpe, foi sem querer — Eu respondi e quase ri de novo pensando
na cara da minha mãe se soubesse que eu ri lembrando das loucuras que
tenho feito. Coisas normais para outras jovens, mas que parecem pervertidas
quando se trata de alguém que sempre foi invisível.
​Eu aguentei calada o resto do evento, e quando entrei no carro para seguir
até o aeroporto respirei fundo, sem saber como consegui viver assim a minha
vida inteira.
​Assim que desembarquei em Los Angeles, corri até o banheiro, tirei a
porcaria das joias e roupas clássicas escolhidas pela minha mãe, baguncei o
meu cabelo deixando do jeito que eu queria, coloquei meus jeans preto
rasgado, meu cropped de caveira, meu Ipod no máximo, e segui mais uma
vez para recomeçar a minha vida.
Todos nós temos pesadelos e nenhum sonho
Nós procuramos por alguém que acredite em nós
E nos mostre o caminho
E faça tudo ficar bem

(Shadows - Sabrina Carpenter)


Capítulo 15
Ava Miller

A semana toda acordei cedo e fui dançar antes de amanhecer. Eram


tantas coisas novas acontecendo, e só a dança me fazia ter coragem para
viver e enfrentar o mundo.
Depois do evento do Michigan que fui com os meus pais não nos
falamos mais e isso me deixa aliviada. Então me lembro das palavras do
pastor da igreja que sempre ia com os meus pais, dizendo que é pecado não
honrar pai e mãe.
Mas, e pai e mãe que não honram o filho? Ninguém fala sobre isso.
Por que temos o dever de obedecer cegamente, de amar acima de qualquer
coisa, quando eles simplesmente não te enxergam ou retribuem qualquer
gesto de carinho?
Pecado!
Tudo é pecado!
Pensar assim é pecado, diria o pastor. Mas por que ele não diz que é
pecado os pais obrigarem os filhos a ser como eles querem, sonham ou
projetam? Porque eles são seus pais e você deve honrá-los é sempre a
resposta.
Meus dedos apertavam o volante do carro à medida que eu pensava
nos meus pais. Eles são tóxicos, mas a pecadora desnaturada sempre fui eu
que quis ser diferente dos planos deles.
​Como em todas as outras madrugadas, lá estava o solitário atleta correndo
pelo Wallis Annenberg, vestindo seu casaco azul com o capuz cobrindo a sua
cabeça. Era como se ele já fizesse parte da minha rotina, porque sempre
olhava procurando por ele que estava lá correndo.
​Eu fantasiava sobre os motivos que o levavam a acordar antes de todos na
UCLA. Eu tinha um companheiro desconhecido no silêncio da universidade,
que assim como eu podia estar expurgando as suas dores.
​Cheguei no estúdio, e segui minha rotina de conectar meu Ipad na caixa de
som, e me deixar levar pelas músicas da minha playlist. Eu gostava de
dançar, de rodopiar, de me sentir conectada com a melodia.
Eu me viro de barriga para cima, ainda deitada no chão, e minhas
costas sobem e minha cabeça pende para trás. Meus joelhos deslizam no
assoalho do estúdio, e me sinto flutuando, com o meu corpo sincronizado
com cada batida.
Deslizo de novo pelo chão enquanto o refrão da música se repete, e
passo mais alguns segundos viajando numa coreografia nova, que eu estava
criando para a prova final, até que a música acaba me fazendo despertar.
Eu inspiro fundo e alongo o meu corpo, e me levanto indo pegar
minha garrafinha de água de dentro da bolsa.
​Era como se a música fosse uma extensão de mim, e eu poderia passar horas
envolvida neste processo de conexão, mas como sempre meu despertador
tocou me mostrando que já eram quase 6h e eu precisava deixar tudo
arrumado e voltar para a fraternidade.
​No caminho de volta, eu estava dirigindo com o vidro aberto e deixando os
primeiros raios de sol tocarem a minha pele. Foi quando eu cruzei com uma
Mercedes que estava saindo do Wallis Annenberg e vi Chase no volante. Ele
abriu o vidro do carro e fez sinal para que eu estacionasse o carro e parei
logo atrás dele.
​— Eu não esperava te encontrar aqui tão cedo? — Ele falou enquanto saia
do carro e vinha na minha direção.
​— Eu gosto de dançar quando ainda está tudo silencioso — Eu falei
deixando o carro e reconhecendo o casaco que eu sempre via na pista de
atletismo de manhã — Então você é o corredor solitário?
​— Como assim?
​— Eu sempre te vejo correndo às cinco da manhã quando passo por aqui
indo para o estúdio. Sempre fiquei pensando que assim como eu alguém
levantava cedo para espantar os seus fantasmas — Eu falei dando de ombro
e pegando um cigarro que ele me ofereceu enquanto acendia o seu.
​— Você estava me espionando?
​— Eu não sabia que era você, só te via de costas e com o capuz na cabeça.
​— Essa hora não têm ninguém no estádio e consigo pensar, me sentir livre,
sem os risinhos das garotas, sem o meu time me seguindo por todo lado, sem
as malditas lembranças, só eu correndo e gerando adrenalina no meu corpo.
— Eu não sabia que Chase Montana tinha “lembranças malditas”
para expurgar.
— Todos temos, Ava, o que nos diferencia um dos outros é a nossa
forma de lidar com o que nos machuca.
— As pessoas que nos olham só enxergam o glamour dos nossos
uniformes. Me desculpe, eu acabei fazendo o mesmo com você, e te julguei
pelo estereótipo.
— Quais os seus fantasmas, Ava? Posso te chamar assim, agora que
compartilhamos a madrugada e o cigarro.
— Família. Meus fantasmas são os meus pais tóxicos e tudo que os
envolvem.
— Entendo. Eu posso dizer que meus pais também são os meus
fantasmas.
E no final, eu e Chase tínhamos mais em comum do que podíamos
imaginar, e ficamos olhando um para o outro por um tempo, até que eu
quebrei nosso silêncio caminhando até o seu carro.
Ele tinha uma Mercedes-AMG GT4 prata com detalhes em laranja,
que parecia com um carro de corrida.
— Então é verdade?
— O que?
— Você participa de rachas?
— Quem te falou isso?
— Boatos.
— Se eu disser que é verdade?
— Eu te pediria para me levar numa corrida.
— Está me chamando para um encontro?
— Eu estou te falando sobre correr, não te propondo um date.
— E você corre?
— Não, mas deve ser uma sensação única sair pisando fundo e
deixando tudo para trás.
— Você quer abandonar seus fantasmas?
— Você deixa os seus quando acelera?
— Sim, mas depois eles voltam.
— Mas pelo menos você se livra deles por um tempo. Deve ser muito
bom poder se sentir sozinho.
— Não seja por isso — Ele falou indo até o meu carro, pegando a
minha bolsa e a chave, fechando o carro e caminhando para o banco do
carona da Mercedes — Vamos?
— Você quer que eu dirija essa máquina?
— Eu conheço um lugar que você vai poder acelerar sem medo a
essa hora da manhã.
Não pensei duas vezes e entrei no carro, coloquei o cinto e acelerei
devagar com medo do carro sair voando.
Eu não queria pensar em nada. Éramos eu e Chase naquele carro, eu
só queria experimentar uma sensação nova de liberdade.
Descemos as ruas silenciosas da UCLA, e Los Angeles ainda estava
escura, porque o dia por aqui só começa a clarear depois das sete horas, e
seguimos pela Freeway, comigo dirigindo e seguindo o GPS para um lugar
desconhecido.
Chase estava no celular, mandando mensagens sei lá para quem tão
cedo, até que disse que estava tudo certo e sorriu para mim. Não demorou
muito, e entramos numa estrada de chão, e paramos em frente a um portão
enorme de ferro.
Ele se identificou, o portão se abriu e ele me guiou até uma parte da
propriedade que tinha o chão cheio de marcas de pneu.
— Aqui é onde você corre? Essa casa é sua?
— Sim e não. Sim, eu corro aqui, e não, essa casa não é minha, ou
dos meus pais.
— E de quem é esse lugar?
— Um conhecido para quem eu fiquei devendo favores para me
deixar te trazer aqui tão cedo.
— Que tipo de favores?
— Corrida. Vou correr e o lucro das apostas vai ser repartido com ele
que vai ficar com a maior fatia.
— Isso não é justo. Você não precisava me trazer aqui, eu não quero
te prejudicar.
— A única que pode se prejudicar é você ficando perto de mim. Não
sou boa companhia, você já deve ter percebido. Não amanheceu ainda e eu
já te dei um cigarro, te entreguei o meu carro para você dirigir acima da
velocidade permitida, e te trouxe numa pista de racha na casa de um
traficante.
PORRA! Eu infringi todos os códigos de boa conduta dos meus pais
de uma só vez ao lado de Chase.
— E se eu quiser pagar para ver?
— Se envolver comigo pode ser um caminho sem volta.
— É isso que eu procuro, um caminho sem volta para a mesmice da
minha vida.
— Então, é só pisar fundo e seguir a marcação da pista.
Tinham vários bambus em alguns pontos formando uma espécie de
parede, e pneus fazendo rotatórias.
— Qual a velocidade máxima a que eu posso ir?
— A que você achar que consegue segurar o carro sem nos matar.
— Você vai confiar o seu carro a uma pessoa que nunca fez isso
antes.
— Meu carro e minha vida, porque estarei aqui ao seu lado.
Eu engoli seco quando ele falou que confiaria sua vida a mim. Ele
era louco, só podia, e eu mais ainda por me sentir tão excitada segurando o
volante.
Acelerei.
O carro parecia estar fora do chão, como se estivéssemos voando.
Pensei no que os assessores do meu pai diriam se soubessem que
estou correndo numa pista clandestina de um traficante.
O carro gira rápido numa curva e por segundos achei que tudo tinha
acabado.
Eu me desconcentrei.
Preciso focar. Chase confiou em mim. Não quero ser responsável por
sua morte.
Foquei novamente. Ele não deu uma palavra.
Porra!
O carro fez um giro de trezentos e sessenta graus e ele não falou
nada. Não gritou! Não piscou! Não disse que eu era uma merda louca que
iria ferrar com tudo.
Ele não me ofendeu. Não me diminuiu.
Eu devia achar isso normal, até porque não é correto humilhar os
outros, mas foi tudo que eu recebi sem fazer nada errado, e quando erro,
quase nos matando, não escuto nenhuma recriminação.
Talvez eu tenha morrido e não me dei conta.
Não, estou correndo com uma Mercedes-AMG GT4 e não sei quando
vou conseguir parar de fazer isso.
O tempo passou sem eu sentir. Depois das primeiras voltas não
pensei em mais nada. Todas as dores sumiram e tudo que me alimentava era
a adrenalina.
Ele então me mostrou um barril e disse que ali era sempre o desafio
final.
Eu sorri. E acelerei.
O carro ficou girando em volta do barril levantando muita fumaça e
por fim quando eu freei, o carro andou de lado e despertei da adrenalina
quando Chase colocou suas mãos sobre as minhas para ajudar a segurar o
carro.
— Você quase perdeu o controle total numa curva.
— Eu me distraí. Me desculpe.
— Não tem por que pedir desculpa, só estou falando para te alertar
que quando correr têm que esquecer de tudo e de todos.
— Eu pensei nos fantasmas. No que eles diriam e me desconcentrei.
— Eu entendo, mas precisa focar sempre que estiver correndo e
também no dia a dia. Eles não podem nunca ser mais fortes do que nós, Ava.
Nunca!!!
Saímos do carro e nos sentamos em silêncio no capô. Chase pegou
um beck, acendeu e me ofereceu.
— Você fuma?
— Eu faço coisas que até eu duvido tentando ser livre.
— Que tipo de coisas, Ava Miller.
— Basicamente: viver! Eu nunca tive o direito de viver, de ser quem
eu sou. No fundo, eu não tenho, mas aqui quero acreditar que sim. Quero ser
livre!
— Entendo. E que coisas loucas você fez, além de vir para um lugar
desconhecido no meio do nada, correr em alta velocidade no carro dele, e
agora estar dividindo um beck de maconha com um estranho.
— Você não é estranho, Chase Montana.
— Não sou?
— Não, dividimos fantasmas e cigarro, lembra?
— Verdade. Mas você não me contou nenhuma loucura que já fez
querendo ser livre.
— Ir a uma festa, sentar no colo de um estranho, deixar ele me fazer
gozar feito louca com seus dedos que pareciam mágicos, conta?
— Caralho. Você quer me deixar louco, Ava? Isso é coisa que se fale
para um cara te acha uma gostosa.
Eu dei uma gargalhada. Chase me achava gostosa. Informação
registrada com sucesso pela minha mente criativa.
— Você perguntou, eu te contei.
— Puta que o pariu, queria ter sido esse sortudo.
— Não queira ser ele, porque no final o cara era só um amador que
não tinha camisinha e tudo ficou só nisso.
— Que babaca!
— E você? Quais loucuras já fez?
— Muitas, não teria como listar todas.
— Já se deu mal alguma vez?
— No final do semestre fui preso num racha.
— Sério?
— Sim, mas foi tudo abafado por um amigo do meu pai, que em
troca quer que eu seja babá do filho nerd dele que veio estudar na UCLA.
— Melhor do que ficar com o nome no sistema.
— Sim.
Meu despertador tocou e me dei conta que já eram oito e meia da
manhã, e que eu tinha perdido a primeira aula.
Retornamos em silêncio para o Wallis Annenberg com Chase
dirigindo e eu calada, pensando em tudo que senti enquanto acelerava sem
medo.
— Está entregue, capitã — Chase falou me entregando as chaves do
meu carro.
— Foi incrível, obrigada — Eu falei saindo do carro e pegando um
cigarro — Posso?
— Leve a cartela.
Eu aceitei, peguei o maço de cigarros e fui caminhando para o meu
carro.
Chase foi embora como sempre em alta velocidade, e eu fiquei
sentada no capô do meu carro, fumando um cigarro e olhando a vista da
UCLA.
Você me tem em suas mãos
Nem sabe o tamanho do seu poder
Eu estou a centenas de metros do chão
Mas eu caio quando estou perto de você

(Mercy - Shawn Mendes)


Capítulo 16
Chase Montana

​ oje a fraternidade estava uma calmaria, sem gente entrando e saindo, sem
H
barulho, e eu me sentei na sala para assistir ao jogo do Buffalo Bills com os
outros jogadores do meu time.
​Compramos cerveja, vodka, energético, pizza, pipoca e tacos para
assistirmos o jogo e muitos sonharem com o uniforme de um dos times mais
cobiçados da NFL.
​— Ano que vem podemos estar lá — Kalleb falou apontando para a
televisão na hora que o time do Buffalo Bills estava entrando no gramado.
​— Mas enquanto isso não acontece, e nenhum de vocês está na NFL,
podíamos dar uma festa extra essa noite, porque essa sala cheia de macho
está fedendo — Ian, um dos membros da fraternidade falou.
​Ele não era do nosso time de quarterback, mas era filho de um empresário de
minério eu acho, e acabou sendo aceito aqui, mesmo sendo um chato da
porra.
​— A festa é a noite como sempre, e agora se puder calar a boca estamos
assistindo ao jogo — Eu falei sem paciência.
​Ele sabia que tinha festa a noite, e se queria fazer uma extra que fizesse no
seu quarto, porque agora eu estava confraternizando com os meus amigos e
não estava querendo ser incomodado.
​— Chase Montana recusando festa extra com garotas entrando cheias de
fogo por aquela porta? O que aconteceu? — O babaca perguntou — Será que
foi a nova capitã do time de dança que você cheirou pó nas coxas que te
deixou assim, nocauteado?
​— Qual o seu problema, seu filho da puta, você não está vendo que estou
assistindo ao jogo. Quer que eu me levante daqui e te cubra de porrada para
você calar essa boca?
​— Calma, Chase — Kalleb falou se colocando na minha frente — Não vale
a pena, e ele só quer te irritar.
​Porra! Eu nunca me apaixonei e não sei nem o que é isso.
​ Tudo bem, fica calmo irmão, só queria saber se você estava interessado

nela, porque achei a novata gostosa demais e estamos fazendo aula juntos de
literatura, pensei em investir e ver se rola, só isso.
​O ar me faltou na hora que ele se referiu a Ava, como novata gostosa. Ela
não era para o bico dele. Não era pro de ninguém ali, e nem pro meu que
também não presto.
​— Tenta a sorte irmão — Eu respondi sendo sarcástico e pegando uma
cerveja para continuar assistindo ao jogo.
​Peguei o celular e vi seu nome nos meus contatos. Ela me deu o seu número
porque eu disse brincando que teria que mandar para algum lugar a conta do
prejuízo do meu carro caso ele ficasse totalmente destruído depois que ela
corresse nele.
​Eu não tinha intenção de ligar para ela. Não mandava mensagem para garota
nenhuma, até porque elas não me davam tempo de fazer isso e já lotavam
minha caixa de mensagens, quando algum infeliz passava o meu contato.
​Ela tem fantasmas a perturbando, e eu sei bem o que é isso.
​Ela correu comigo no meu carro.
​Ela dividiu um beck comigo.
​Ela me contou uma das suas loucuras.
​Eu por algum motivo me sentia seu protetor. Porra nenhuma, eu estava era
com raiva só de pensar em alguém tocando no seu corpo como Ian deu a
entender que faria.
​Sou tóxico!
Sou todo errado!
Sou um merda!
​Mas ainda assim vou procurar por ela.

​ hase: Você me deu seu número para caso tivesse que pagar por algum
C
prejuízo no meu carro.

​ u mandei e tentei esquecer, mas não consegui me concentrar no jogo até


E
que meu celular vibrou com uma mensagem dela.

​ va: Eu sabia que não seria de graça aquela corrida.


A
​Chase: Ainda bem, porque a conta chegou.
​ va: Quanto?
A
​Chase: Vou pensar e te falo amanhã na festa da praia.
​Ava: Quem disse que eu vou nessa festa amanhã à noite?
​Chase: Eu estou dizendo, até porque você tem que levar o meu pagamento.
​Ava: Você está tentando marcar um encontro comigo, Chase Montana?
​Chase: Não, só quero o meu pagamento.
​Ava: Ah, só isso. Eu pensei que seria algo mais… tudo bem, amanhã nos
vemos.

Inferno! Ela sempre consegue me desconcertar e dar a palavra final.


​Será que ela aceitaria algo a mais comigo?
​Ela era diferente, parecia não estar interessada em mim. Mas todas sempre
estão, e porque logo ela, a mais interessante de todas, parecia querer se
manter tão distante.
​O jogo acabou, o Buffalo Bills venceu e eu não sei nem que horas aconteceu
o touchdown.
Eu cheirei cocaína na coxa dela, e fiquei mais alucinado pelo seu
cheiro que pela droga. Nunca fiquei assim, pensando em garota nenhuma,
mas ela parece ter me deixado viciado nela.
​— Pensando na novata? — Kalleb perguntou — Eu vi que você ficou puto
com o comentário do Ian, e depois ficou trocando mensagens com alguém.
Era ela?
​— Qual o problema de vocês? Por que cismaram com Ava e querem jogar
ela para mim? Tem muita mulher gostosa no mundo para eu ficar pensando
numa só.
​Por sorte Kalleb não focava muito num assunto, então só deu de ombros e
saiu me deixando sozinho no sofá.
​Eu peguei meu celular e curioso procurei pelo perfil de Ava no Instagram,
mas não encontrei nada. Será que ela não tinha nenhuma rede social?
​Quem é você, Ava Miller?
​Eu sei que deveria ficar afastado, porque ela me faz ter certeza de confusão à
vista, mas eu simplesmente não consigo.
Festaaaaaaa… alguém gritou desligando a televisão e ligando o som.
Rapidamente começaram a mover tudo de lugar, como acontecia em todas as
noites de festa, mas eu não estava interessado nessa noite, e sim, na festa de
amanhã.
Eu subi para tomar um banho e trocar de roupa, e quando cheguei no
topo da escada vi que a casa estava lotada.
Desci apressado e tendo que passar por cima de um trio de otários
que estavam chapados e ficavam dando gargalhadas olhando para o teto.
Fui até o balcão, peguei uma cerveja e comecei a empurrar o bando
de desconhecidos até chegar na parte externa da casa.
Encontrei Ian próximo a caixa de som cercado por garotas, se
achando o rei do pedaço, e percebi quando ele ficou puto ao perceber que
toda a atenção do local se voltou para mim. Então, eu forcei meu sorriso
mais irônico, e levantei minha garrafa no ar para brindar com ele.
Eu vi Kalleb com os braços apoiados na borda da piscina, todo
molhado e com uma ruiva de cabelos cacheados colada ao seu corpo. Seus
movimentos bruscos, deixavam claro que ele estava comendo a garota por
trás, e ela não se importava com os outros ao seu redor e jogava a cabeça
para trás abrindo a boca como se quisesse que todos vissem que estava sendo
fodida pelo runningback.
Desisti de procurar os meus amigos, que pelo visto estavam
ocupados e fixo meu olhar numa loira gostosa e com seios fartos que
pulavam para fora do crooped, e que começou a caminhar na minha direção.
Ela estava com uma saia tão justa que eu podia jurar que era uma segunda
pele, e com saltos agulhas que deixavam suas pernas mais torneadas.
Gostosa demais!
​— Até que enfim te encontrei — Rachel fala chegando por trás de mim e
beijando as minhas costas — e a tempo de você não comer outra garota que
não seja eu.
​— Eu posso foder com quem eu quiser, não sou nada seu e já cansei dessa
sua insistência.
​— Mas você gosta de me foder não gosta? — Ela falou raspando suas unhas
longas nas minhas costas.
​Meu pensamento vai direto na baixinha intrigante segurando firme o volante
da minha Mercedes. Me lembro da sua excitação nas curvas, dos seus dentes
mordendo os seus lábios enquanto pisava mais fundo… porra, o que está
acontecendo comigo?
​Nunca fiquei pensando em garota nenhuma.
​— No que você está pensando?
​— Em nada que seja da sua conta — Eu falei e saí caminhando com Rachel
me seguindo.
​ u joguei a garrafa de cerveja fora e peguei outra só que de Vodka, e me
E
sentei no sofá irritado. Rachel na mesma hora se sentou no meu colo, abriu o
zíper da minha calça e puxou o meu pau para fora.
​Sexo! Foda! Trepar!
​Era disso que eu precisava agora e foda-se o resto do mundo.
​Rachel se levantou sentando de costas para mim, suspendendo a sua saia e
deixando sua bunda exposta.
​Caralho! Ela queria me dar o cu e no lugar de me excitar eu lembrei da porra
da Arlequina.
​Ela vira o rosto para trás e me beija com força, e sinto necessidade de
retribuir, de jogar fora toda a merda que vinha desejando fazer, e que eu não
podia.
​Ava não era para mim. Ela tinha traumas, dores, fantasmas, ou sei lá mais o
que. Eu não queria ser mais uma dor para ela. Nunca me preocupei com
ninguém, mas algo nela desperta o meu lado predador e protetor na mesma
proporção.
​O maldito gosto de gloss se espalha na minha boca, e porra, eu odeio essa
merda que lambuza tudo. Ela fica me beijando e esfregando sua bunda no
meu pau, querendo ser sensual, e talvez até tivesse conseguido ser bem
fodida como ela queria, se eu não tivesse olhado para o lado, e visto a capitã.
​Ela estava dançando no meio das pessoas na área externa.
​Linda!
​Sexy!
​Eu me levantei na mesma hora, afastando Rachel e fechando a minha calça.
​— Qual o seu problema? Eu quero você, Chase — Ela gritou quase que mais
alto que a música.
​— Mas eu não estou com vontade, e para de forçar uma situação comigo.
​— É por causa dela? — Rachel falou apontando para Ava — Chase Montana
está de quatro por uma garota? Juro que se for isso eu acabo com essa
novata. Você é meu…
​— Cala a porra da sua boca. Sério mesmo, vai arrumar alguém que te queira,
porque comigo não vai rolar.
​Rachel cruzou os braços me encarando furiosa e depois começou a rir.
​— Parece que não vai rolar para você também — Ela falou passando a mão
no meu braço e me arranhando com suas unhas.
​Malditas luzes coloridas que inventam de colocar em todas as festas, e que
se misturam com a fumaça dos becks e vapers.
​ orcei os olhos e a visão que antes era do paraíso, agora tinha se
F
transformado totalmente numa visão do inferno.
​Ava estava dançando sensualmente, com um vestido preto colado no seu
corpo, e o idiota do Ian estava atrás dela, esfregando seu pau na sua bunda.
​Rachel aproveita e começa a fazer o mesmo comigo. Esfrega o seu corpo
com força no meu, enrosca seus braços na minha cintura, e eu aperto a carne
macia da sua bunda.
​Estou com ódio!
​Ava estava fodendo com a minha mente, enquanto quase rebolava no pau de
Ian, que segurava sua cintura, onde minhas mãos que deveriam estar e, urro
de ódio quando vejo o filho da puta mordendo a sua orelha.
​Eu aperto com mais força a bunda de Rachel, e sinto minha respiração
ficando ofegante.
​Os braços de Ava sobem para trás do pescoço de Ian, enquanto Rachel se
vira de costas para mim e começa a tentar imitar os movimentos da novata.
​A capitã balança seus quadris contra os de Ian, e quando seu vestido sobe
deixando suas coxas à mostra, o infeliz mordisca de novo o lóbulo da sua
orelha e fala sei lá o que para ela.
​Ava então consegue me ver por entre a fumaça e seus olhos se prendem aos
meus, enquanto o babaca que vou infernizar a vida até o último dia da sua
existência lambe o seu pescoço.
​A intensidade do seu olhar me hipnotiza, e a sensualidade com que ela dança
com Ian me olhando me faz ficar com o pau duro.
​Ela vira todo o líquido da sua garrafa, lambe os lábios e sorri para mim.
​Maldita.
Sexy pra caralho.
​— Eu estou com saudades de você, vamos para o seu quarto.
​— Saudades de mim? Não sou nada seu para você sentir saudades.
​— Ela não te quer. Já está com outro.
​— Eu não sei do que você está falando, me deixa em paz, já deu… — Eu
falei jogando os braços para o alto e me afastando de Rachel.
​Quando olho de novo para a pista de dança não vejo mais Ava e começo a
caminhar puto entre as pessoas, quando vejo Ian passando sozinho
segurando uma garrafa de cerveja e acendendo um beck.
​Ava! Começo a procurar por ela e a encontro no balcão, pegando um copo,
enchendo de whisky e adicionando uma lata de energético.
​ Me seguindo, Chase Montana — Ela falou quando me viu e foi

impossível não notar que ela estava chapada.
​— Você não acha que já bebeu demais?
​— Sim, e acho que vou beber mais um pouco. Tchau! — Ela falou acenando
com a mão para mim.
​— Eu não vou te deixar sozinha bebendo desse jeito.
​— E por que não? Cadê a Rachel?
​— Eu não sei da Rachel. Onde está o Ian?
​— Quem é Ian?
​— O filho da puta que estava se esfregando em você na pista de dança.
​— Ah, é esse o nome dele… não sabia — Ela falou virando a bebida do seu
copo.
​— Vamos, eu vou te levar para casa.
​— Ficou doido, a festa está só começando, e não sou nada sua para você me
levar em casa.
​A música que estava tocando para e começa outra que faz os seus olhos
brilharem.
​— Vem, vamos dançar — Ela falou e saiu me puxando para a pista de dança.
​Used To Be Young, da Miley Cyrus, estava tocando no máximo, e Ava
parecia ser guiada pelas notas musicais.
​Ela parecia um anjo caído do céu, que flutuava sincronizada com as batidas
da música. Seu corpo se movia sensualmente, fazendo todo o meu corpo
ganhar vida.
​Ava está envolvida pela música, e eu envolvido por ela, e me esqueço de
tudo e de todos que estão ao nosso redor.
​Eu estou fissurado por ela, não posso negar, por mais que isso vá contra os
meus princípios de não me prender jamais em alguém.
​Será que todas as garotas dançam assim e eu nunca reparei, ou só ela que
têm esse poder de me fazer parar de piscar.
​Porra, eu não estou piscando.
​Ela é única.
​Eu acho que também parei de piscar no dia da apresentação dos atletas
quando ela dançou na frente das cheerleaders.
​Essa mulher me tira o foco.
​Se eu não me afastar ela vai ser minha perdição no campo, nas pistas
clandestinas, na vida.
​Ava Miller, o anjo que caiu do céu e veio decretar o fim de Chase Montana.
​ la finalmente parece me enxergar entre um movimento e outro e sorri para
E
mim.
​— A dança para mim é como a adrenalina que te alimenta e te acalma nas
pistas. Ela me salva, me leva para longe — Ela sussurrou no meu ouvido
enquanto entrelaçava os braços no meu pescoço.
​— Então dançar e acelerar são nossos caça-fantasmas.
​— Sim, e agora acho que vou aceitar se você quiser ir caminhando comigo
até a minha fraternidade — Ela falou deitando a cabeça no meu ombro.
​Eu segurei suas mãos e saí caminhando com ela da pista de dança. Ava tinha
bebido além da conta, e confiou em mim, um filho da puta que fodia com
tudo como o meu pai dizia para levá-la em casa.
​E eu me senti importante cuidando desse meu anjo da perdição.
​Eu tenho certeza de que despertamos a atenção de todos na festa, porque
Chase Montana nunca andou de mãos dadas com nenhuma outra garota.
​E eu não me importei com isso, com os comentários, risinhos ou olhares
curiosos, porque simplesmente não enxerguei ninguém enquanto caminhava
com Ava.
​— Chegamos — Eu falei parando em frente a porta da sua fraternidade —
Está entregue em segurança.
​— Obrigada — Ela falou me abraçando e dando um beijo no meu rosto.
​Um beijo no rosto? Porra, desde quando eu me tornei um cara que fica feliz
com um beijo na bochecha?
​— Nos vemos amanhã na festa da praia — Ela falou enquanto subia as
escadas — não para um date, mas para um pagamento pelos arranhões no
seu carro — Ela falou rindo e jogou um beijo entrando e fechando a porta
atrás dela.
​Eu coloquei as mãos no bolso e me virei para ir embora quando escutei a
porta da fraternidade se abrindo.
​— Ou não… vai saber o que pode acontecer numa festa, não é verdade,
capitão? — Ela falou e fechou a porta me deixando mais uma vez sem ação.
​Anja.
​Diaba.
​Ava.
“Você pode pegar tudo que eu tenho
Você pode quebrar tudo o que eu sou
Como se eu fosse feita de vidro
Vá em frente e tente me derrubar
Eu vou me levantar do chão
Como um arranha-céu”

(Skyscraper – Demi Lovato)


Capítulo 17
Ava Miller

Eu acordei e me arrumei correndo porque minha aula começava em


poucos minutos e eu ainda tinha que atravessar o campo todo para chegar no
estúdio de dança. Peguei minha mochila, uma garrafa de água e outra de
suco, e saí apressada do quarto com Miah me chamando avisando que iria
comigo.
​— Me espera amiga, que eu vou com você. Também tenho aula do outro
lado do campus e cheguei mais tarde que você, e só não te acordei porque
sou muito boazinha, mas nem pensem em me deixar o dia todo curiosa.
​— Curiosa com o que, eu posso saber?
​— Não se faça a desentendida, Ava Miller, e vai me dando o relatório
completo do que aconteceu quando você deixou a festa com Chase Montana.
​— Que noite com Chase? — Eu perguntei dando uma gargalhada.
​— Sabe quantas vezes nesses anos de UCLA alguém viu Chase de mãos
dadas com uma garota?
​— Não faço ideia.
​— Nunca!!! E daí ontem do nada, eu e todos que estavam na festa ficaram
de boca aberta quando vocês passaram desfilando, como se só tivessem
vocês dois no centro da terra, de mãos dadas deixando a festa.
​— Eu acho que bebi além da conta ontem, e ele apenas me acompanhou até
a fraternidade e foi embora.
— Que ele não demorou nem uma hora eu sei, porque vi quando ele
voltou, pegou uma cerveja e subiu sozinho para o seu quarto.
​— Ele foi dormir quando voltou?
​— Parece que sim, porque subiu direto pro quarto dele. Claro, que Rachel
tentou ir atrás dele, mas não sei o que ele falou para ela, que desceu com
cara de poucos amigos, parou do meu lado e me disse que odiava a novata.
​— Não aconteceu nada entre nós, e ela me odeia à toa.
​— Sei… você e ele do nada viraram melhores amigos e saíram da festa de
mãos dadas, foi isso?
​— Na verdade, eu encontrei com ele outro dia de manhã quando estava
voltando do estúdio de dança. Lembra o corredor solitário que eu te falei,
então, era o Chase. A gente conversou um pouco, fumamos um cigarro e ele
me deixou dirigir o carro dele para eu ver como era correr em alta
velocidade.
​— O que? Pode esquecer a aula porque eu quero saber de tudo. Desde
quando você tem segredos para sua nova melhor amiga do mundo?
​— Você não dormiu no nosso quarto, estava com Cath, por isso não te contei
nada ontem, porque eu não te vi.
​Eu acabei tendo que me sentar com Miah, que desistiu da aula para se
atualizar no que parecia ser seu novo assunto preferido, eu e Chase, sendo
que não existe, eu e Chase.
​— E hoje vocês vão se encontrar na festa da praia?
​— Sim e não. Miah, não é um date.
​— Claro que é um date, ou vocês vão ser só melhores amigos com essa
tensão visível entre vocês dois.
​— Eu não quero me envolver com ninguém. Não posso.
​— Não pode? Claro que pode, Ava, Você não tem ninguém, é solteira, livre,
e sim, pode se envolver com quem quiser.
​— Não é tão simples assim, e não existe essa tensão entre nós. Só que o
Chase, não sei, ele me faz sentir algo que eu nunca senti antes, como se ele
fosse uma bomba de adrenalina que me faz acelerar. É como se ele pudesse
me entender, quando ninguém pode, porque temos coisas em comum.
​— Uauuu… vivi para isso escutar alguém falando que o quarterback badboy
era profundo — Ela falou rindo — Vai fundo amiga, e se tiver com medo,
mete o pé e vai assim mesmo, porque na vida a gente só aprende se
arriscando, e só é feliz tentando.
​Miah me deu um abraço e marcamos de nós irmos juntas para a festa na
praia. Ela foi para a sua aula e eu corri para a minha, no caso para a segunda
do dia, porque a primeira perdi conversando com a minha amiga curiosa.
​O professor de dança começou a aula falando sobre a importância dos
movimentos em uma coreografia, e explicando o que esperava da nossa
apresentação final para a graduação.
​Eu já estava preparando a minha quando ia dançar de madrugada. Por mais
que me deixasse levar pela música, muitos movimentos eu guardava para a
coreografia que estava pensando em montar.
​A aula acabou e confesso que não prestei muita atenção porque fiquei
pensando nas palavras de Miah.
​Tensão.
Existe mesmo uma tensão entre eu e Chase?
Ele faz as coisas erradas dele sem que ninguém saiba, mas ao meu
lado tudo pode ser revelado e não quero prejudicá-lo. Por mais que eu queira
ser livre, sei o peso que carrego nas costas por ser filha do senador. Pior, do
talvez futuro Presidente dos Estados Unidos.
Se eu quero que ele ganhe as eleições? Não. E me sinto uma egoísta
torcendo contra ele, porque não quero essa vida para mim.
Eu sei que se ele vencer vão ficar vasculhando a minha vida, me
seguindo e nunca mais terei paz. Ou eu preciso ser forte, conviver com isso,
e parar de torcer contra a minha família.
Filha desnaturada. As palavras do pastor ecoam na minha cabeça.
Nunca vou me livrar dessas vozes me acusando, porque me cobro e me julgo
segundo o que elas me convenceram ser o certo.
Por mais que eu queira ser outra pessoa, me cobro e me culpo o
tempo todo.
Será pecado querer viver do jeito que você tem vontade, fazendo
tudo aquilo que você deseja?
Procurei uma árvore do campus, me sentei encostada nela e comecei
a olhar minha lista de filmes quando Chase chegou de surpresa, se jogou
sentado ao meu lado e pegou meu computador.
​— Filmes favoritos da vida — Ele falou lendo o título da minha lista de
filmes — Vamos ver quais são eles?
​— Quem disse que você pode pegar o meu computador — Eu falei tentando
pegar de volta das mãos dele, mas sem sucesso já que ele era mais forte do
que eu.
​— Dirty Dancing, 10 coisas que eu odeio em você, Para todos os garotos que
eu já amei, Crepúsculo… esses são os filmes da sua vida?
​— Sim, eles são a minha companhia.
​— E por que eles são especiais?
​— Não interessa, eu estou atrasada — Falei pegando o meu computador —
Tenho aula — Menti, me levantando, mas ele segurou a minha mão e me fez
sentar novamente.
​— Você ia assistir um filme, logo não tem aula nenhuma agora.
​— E você, não têm aula?
​— Também não. Você ainda não me respondeu o que esses filmes têm de tão
especial para serem a sua companhia.
​— É coisa minha.
​ E eu não posso saber?

​— Eles não têm nada demais, apenas gosto de ficar assistindo.
​— Duvido. Dirty Dancing, eu entendo, tem dança, mas qual a ligação com
os outros?
​— As protagonistas são invisíveis.
​Ele ficou em silêncio me observando por alguns segundos sem dar uma
palavra, e com os nossos olhos como sempre presos um no outro.
​— Como você tentava ser… por isso o boné e o moleton largo na cafeteria…
agora começo a entender.
​— Sou complicada.
— Somos — Ele falou enquanto se levantava — Eu preciso ir, tenho
treino. Nos vemos à noite na praia.
Eu fiz com a cabeça que sim e ele sorriu me deixando sozinha.
Chase Montana já sabia dos meus fantasmas, do meu segredo de
dançar de madrugada enquanto todos dormiam, e agora conhecia os meus
filmes favoritos.
Eu nunca deixei ninguém me ver por trás das minhas inúmeras
máscaras.
Chase foi o primeiro.
Talvez ele vá ser o único.

◆◆◆

Já tinham se passado mais de duas horas e eu e Miah continuávamos


deitadas na cama fofocando sobre a vida.
​Ela e Cath estavam saindo juntos, mas no modo ficantes, e sempre vinha a
dúvida se isso se tornaria um relacionamento sério.
​— A gente se dá bem até demais, se curte, se ama — Ela falou rindo e
colocando a língua para fora e fazendo um círculo no ar como se estivesse
chupando Cath e eu joguei meu travesseiro nela dando uma gargalhada.
​— Eu acho vocês duas juntas a coisa mais linda do mundo.
​— Eu também acho, amiga, e esse é o grande dilema. Estamos no último ano
e quando nos formarmos entraremos oficialmente na vida adulta, estilo
workaholic para pagar as contas. Eu estou visando uma empresa de Nova
York, que trabalha com arquitetura minimalista como eu gosto, e já enviei
currículo. Me formando quero tentar uma vaga de trainee, mandar super bem
e ser efetivada em seis meses.
​ E Cath? Quais os planos dela? Você sabe?

​— Ela vai se formar direito, e já faz estágio num escritório em Santa
Mônica, e acredito que vai ficar morando aqui e trabalhando com eles, e
tentar ser sócia um dia, não sei.
​— Ou, se vocês derem um passo mais sério, tentar um escritório em Nova
York.
​— As dúvidas do último ano já são tantas, que não sei se cabe também às de
um relacionamento sério. É o nosso futuro, e dar esse passo significa talvez
morar juntas, dividir tudo, e alguém sempre abrir mão de alguma coisa, já
que temos ambições profissionais diferentes.
​— Mas como vamos saber, caso isso realmente exista, quando nosso felizes
para sempre vai aparecer? Se na High School, que não tem como sobreviver
o relacionamento — falei e dei de ombros — ou na universidade, que tem
grandes possibilidades de dar certo, ou sei lá em que fase das nossas vidas.
​— No nosso país, onde nascemos e vivemos com prazo de validade na casa
dos nossos pais, acabamos por desenvolver ansiedade pelo futuro que cai nas
nossas mãos assim que concluímos a high school, uma necessidade de viver
tudo na universidade, e uma responsabilidade de dar certo quando nos
graduamos.
​Eu fiquei pensando nas palavras de Miah, enquanto me obriguei a levantar
da cama e ir tomar um banho.
​Sempre sonhei com esse prazo de validade da casa dos meus pais que para
mim nunca chegou. Eu fui para a faculdade, mas não conquistei a minha
sonhada liberdade.
​Comecei a passar um demaquilante no meu rosto enquanto a água do
chuveiro esquentava e respirei fundo para não cair de novo no ciclo das
minhas lamentações torturantes.
​Eu se estivesse no lugar de Miah, não poderia ter dúvidas sobre o meu futuro
com outra pessoa, a menos que os assessores do meu pai dissessem que ele
tinha uma ficha aprovada, e que aceitaria viver dentro dos protocolos
ambiciosos da minha família.
​Se o meu pai vencer as eleições não terei a chance de conhecer ninguém sem
que o país todo viva essa história junto comigo.
​Preciso urgentemente incluir o filme Vermelho, Branco e Azul na minha lista
e me lembrar sempre do que será o meu futuro caso eu seja filha do
presidente.
​ ó que eu não tenho a força do protagonista que teve a sorte de ser criado
S
numa família acolhedora. O meu pai inclusive fez sérias críticas a esse filme,
a liberdade que tem nele e tudo mais, e se sentiu ofendido por falarem a
verdade sobre os democratas que respeitam a liberdade, e os republicanos,
que são extremamente conservadores.
​Meu pai é um republicano, mas o voto é secreto, e mesmo sabendo que ele
vem liderando as pesquisas, até o ano que vem tudo pode acontecer, e meu
voto não será nele, mas no candidato democrata.
​Minha mãe morreria se soubesse que minha companheira de quarto tem uma
namorada, que fumamos beck e ficamos rindo à toa, e que estou me
arrumando para um “não date” com o quarterback que ela descreveu como
badboy.
​— Meu Deus, alguém quer fazer um touchdown no quarterback — Miah
gritou batendo palmas quando me viu pronta para a festa.
​— Para que eu coloquei uma roupinha básica, e parecida com a que você
está usando.
​— E quem disse que eu também não me vesti para nocautear minha garota?
​— O “também” fica por sua conta — Eu falei rindo — Não estou indo
abater nenhum soldado.
​— Claro que não, Ava, seu alvo tem patente maior. Capitão!!!
​Eu não aguentei e dei uma gargalhada alta.
​Como é bom poder rir da vida.
Eu me olhei no espelho e aprovei meu look, que era basicamente um
cropped branco sem alças, um short jeans preto todo desfiado, e um All Star
preto cano alto. Na make apostei apenas numa base matte e apliquei um
gloss que deixava os lábios levemente vermelhos.
Olhei para o meu braço e conferi que as pulseiras estavam cobrindo a
minha tatuagem, embora não sejam permitidas só na liga oficial das
cheerleaders. Ainda assim, eles não costumam admitir no time de dança
oficial quem tem tatuagem, por isso fazemos em locais que não aparecem e
sempre cobrimos com cover tattoo, nos ensaios e apresentações.
No meu caso, estava cobrindo com pulseiras porque sempre
perguntam o porquê dos desenhos que escolhemos, e isso não é algo que eu
queira compartilhar numa fogueira com estudantes durante uma festa na
praia.
Qual é a cara dos meus demônios (qual é a cara dos seus)
Agora que os meus bolsos estão cheios?
Qual é a cara dos meus demônios (é, ei)
Agora que vocês estão chocados? (Porra)
É, qual é a cara dos meus demônios

(Demons – Doja Cat)


Capítulo 18
Chase Montana
— Sinto muito por interromper suas obrigações sérias de sexta à
noite, que devem ser, deixe-me pensar… Festa? — Meu pai falou assim que
eu atendi a sua ligação — Eu preciso saber se você está cumprindo sua parte
no acordo, onde eu dei a minha palavra que você ficaria de olho…
​— Não se preocupe que estou indo tão bem no trabalho de babá — eu falei
sabendo que nem abri o e-mail que ele me enviou — que é capaz até que eu
largue o curso de administração de empresas no último ano para trabalhar
como baby sitter.
​— Guarde as suas ironias para os seus amiguinhos que idolatram o
irresponsável que você é, porque eu não tenho tempo para gracinhas. Faça a
sua parte, já que eu fiz a minha limpando o seu nome de mais uma merda
que você fez na sua vida.
​— O senhor meu pai vê sempre o pior em mim. Não me lembro de ter
recebido parabéns por ter notas altas e ser sempre um dos melhores da
turma, como o filho perfeito dos seus sonhos.
​— Primeiro que ser um dos melhores alunos não é mais que a sua obrigação
já que talvez tenha esquecido, mas você foi para a universidade estudar.
Além disso, ter notas altas é o mínimo para compensar um pouco do estrago
que você sempre causa, bancando o badboy. E quanto aos meus sonhos, não
tenho nenhum onde você seja o meu filho perfeito, porque a cada dia que
passa percebo que você está mais longe disso. Se puder não me envergonhar,
atrapalhar os meus negócios, e garantir uma vaga na NFL, já que não vai
assumir a nossa empresa, já está de bom tamanho.
Eu segurei o celular com força entre meus dedos e quase o parti ao
meio.
Para ele eu não passo de um merda.
​— Mais alguma coisa, ou o senhor meu pai ainda tem algo ruim para falar de
mim?
​— Eu preciso de você aqui na terça-feira à noite para comparecer a um
evento comigo.
— Eu sei que o senhor pensa que sou a porra de um desocupado, mas
tenho meus próprios compromissos.
​ Que são com certeza alguma ilegalidade, já me informei e vocês viajam

para um jogo no domingo e retornam na segunda. Se não têm compromisso
com o futebol, então não têm mais nada importante para fazer.
​— Minha vida não é só o futebol…
​— Pois deveria ser depois de tudo. Terça-feira à noite te espero aqui em casa
e não se atreva a não aparecer, ou pode dar adeus às suas mordomias, porque
caso você não se lembre, ainda não está jogando na liga e vive às minhas
custas. Ou o que você ganha nos seus rachas cobrem sua vida de luxo na
fraternidade?
​— Nos vemos terça-feira. Tenha uma boa noite.
​Eu desliguei o celular com ódio, e não foi por ele nunca avisar com
antecedência ou se dar ao trabalho de me perguntar qual horário eu estaria
disponível, mas foi por falar que vencer no futebol era minha obrigação
depois de tudo.
​O acidente que matou Axel foi porque ele quis me ver jogar. Eu tenho que
vencer sempre, afinal, eu matei o meu irmão por causa do futebol.
​Por que você foi assistir o meu jogo?
Por que tinha que querer me compensar por nosso pai só gostar de
você?
Por que não me deixou te dizer adeus?
Desci as escadas da fraternidade correndo e saí batendo a porta.
Eu precisava me acalmar.
Eu precisava acelerar sem destino.
Eu precisava da adrenalina e foda-se as consequências.
Mas não tinha corrida essa noite.
Então só me restava o Wallis Annenberg.
Eu precisava correr.
E fiz isso por uma hora sem parar na pista de atletismo.
Corri.
Transpirei.
Expurguei a dor que eu sentia por ter causado a morte do meu irmão.
Eu não o matei, mas de tanto ser acusado indiretamente, é difícil não
acreditar que você é o culpado.
Acendi um cigarro, e voltei caminhando para a fraternidade, com o
celular cheio de mensagens de Kalleb e dos outros jogadores do time,
querendo saber se eu não iria para a festa.
Eu nunca perderia essa festa de hoje à noite.
Mesmo depois da merda com o meu pai eu não perderia essa festa.
Ava.
Eu precisava encontrar com ela. Só não sabia por quê? Mas eu
precisava.
Entrei em casa, corri para o meu quarto, tomei um banho e saí
acelerando para Redondo Beach onde aconteceria a festa.
Assim que cheguei eu vi que tinha mais gente do que eu imaginava, e
assim que pisei na areia fui cercado pelos jogadores do meu time, que já
estavam realmente achando que eu não viria.
​— Pensei que você tinha desistido de vir na festa. O que aconteceu? —
Kalleb perguntou me entregando uma garrafa de cerveja.
​— O de sempre… meu pai. Mas não quero pensar nele. Tem gente demais
aqui. — Eu falei olhando em volta da fogueira onde tinham várias toalhas
coloridas no chão, onde muitas garotas estavam sentadas bebendo e
fumando. Também tinham alguns casais deitados abraçados e perto da caixa
de som tinha uma galera dançando.
​— Oi — Uma garota com cabelos cacheados falou se aproximando de mim
e Kalleb — pensei que você não vinha.
​— O que não faria diferença já que nem te conheço — Eu falei e saí
caminhando olhando atento para tudo e todos em volta de mim, e sendo
seguido por Kalleb.
​— Que isso irmão, nunca te vi dispensar uma gostosa que se atirou para
cima de você?
​— Não estou a fim — Eu falei acendendo o meu cigarro.
​— Vai dispensar as gatas? Sério mesmo? — Ele continuou falando mas meu
olhos já tinham encontrado quem eu estava procurando — Ah, entendi… é
por causa dela — Ele falou depois de olhar na mesma direção que o meu
olhar perdido.
​Ava.
​Sim, era por causa dela.
​E qual o problema disso?
​Deixei Kalleb falando sozinho e caminhei na direção dela que sorriu ao me
ver.
​— Pensei que tinha desistido de receber o seu pagamento?
​— Eu nunca deixaria de vir te cobrar.
​Ficamos parados olhando um para o outro e sem ter o que falar. Eu nunca
precisei conversar com uma garota porque elas já chegavam caindo em cima,
e depois eu não via mais. Mesmo Rachel, com quem transava sempre, eu não
era muito de conversar.
​— Agora que você pelo visto tem companhia, eu e Miah vamos dar uma
circulada — uma cheerleader que eu não sabia o nome falou saindo de mãos
dadas com uma outra garota também do time de dança.
​— Tudo bem, Miah, qualquer coisa eu grito — Ava falou rindo e fazendo
careta para mim.
​— Acho que ninguém vai escutar se você gritar com essa música alta — Eu
falei dando de ombros.
​— Eu não pretendo gritar. Sou discreta — Ela falou mordendo os lábios e
saiu andando me fazendo sei lá por que a seguir como se eu fosse
acostumado a andar atrás de uma garota.
​Só que Ava não era só uma garota. ELA ERA A GAROTA.
​Linda. Sexy. Misteriosa. Perfeita.
​— Hora do karaokê — alguém gritou do nada — Quem vai começar?
​— Você quer cantar? — Ian surgiu do nada chamando Ava e me fazendo
querer dar uma porrada na cara dele.
​— Sim, ela quer, mas só se for comigo — Eu falei puxando Ava porque nem
fodendo aquele babaca ou outro qualquer iria ficar perto dela.
​— Eu não quero cantar — Foi tudo que ela falou segurando firme o meu
braço quando eu peguei o microfone já arrependido daquela cena patética.
​Todos estavam me olhando sem entender nada. Eu cantando num karaokê.
​Eu olhei para Ava e ela parecia petrificada.
​— Acredite, eu também nunca fiz isso na vida.
​— Eu não posso, por favor — Ela falou e percebi que ela estava perdendo a
cor.
​— Vamos embora — Eu falei e ela segurou minha mão.
​— Vão cantar ou não? — Ian gritou me tirando do sério. Minha garota
estava mal… minha garota… ela não é minha garota — Estamos decidindo e
vocês que lutem esperando, porra — eu gritei puto e depois falei baixo no
ouvido de Ava — Foda-se, vamos sair daqui — só que Ava escutou, mas não
se movia.
​— Merda, vamos cantar. Só não me deixa cair — Ela falou virando todo o
líquido da sua garrafa de vodka, e pegando a minha garrafa de cerveja e
fazendo o mesmo.
​Ela escolheu Angels Like You, da Miley Cyrus e quando a música começou
me arrependi daquele show ridículo que eu ia dar na frente de todos.
​ m lado meu queria mandar todo mundo se foder e sair daquele circo, mas
U
um outro me fazia querer estar ao seu lado, mesmo que fosse passando
vergonha.
​Ela estava tremendo quando segurou mais forte a minha mão.
​Porra, cantar de mãos dadas já era demais, e eu queria me afastar.
​Só que eu fiquei, e segurei firme sua mão.
​E começamos a cantar.
​Ava parecia que estava perdendo o ar, enquanto eu pensava que aquela
música era exatamente sobre eu e ela.

​Porque dizem que o sofrimento adora companhia


Não é sua culpa eu estragar tudo
Não é sua culpa que eu não sou o que você precisa
Amor, anjos como você não podem voar para o inferno comigo
Eu sou tudo o que eles disseram que eu séria

​ ão vi mais ninguém que nos olhava cantar na praia.


N
​Me desliguei de tudo e cantei.
​E quando a música acabou, Ava saiu caminhando pela areia, e eu fui atrás
dela.
​Ela não parava de andar, parecia querer ficar o mais longe possível, até que
se jogou sentada na areia cobrindo o rosto.
​— Eu não acredito que isso aconteceu. Estou sem ar.
​— Por quê? São os seus fantasmas.
​— Universidade. Quarterback. Karaokê. Sim. São alguns dos meus
fantasmas.
​— Respira. Por favor — Eu falei me sentando ao seu lado e a abraçando —
Só respira.
​Eu queria proteger aquela garota.
​Eu queria cuidar dela, só não sabia por que ela despertava sentimentos assim
tão diferentes em mim.
​— Eu só queria ser normal — ela falou tão baixo que eu quase não escutei
— as vezes eu me sinto tão cansada de viver.
​— Eu também, mas vamos sobreviver, combinado?
​— Sim.
​ Essas borboletas? — Eu falei vendo sua tatuagem quando toquei sua pele

entre as pulseiras.
​— Significam minha liberdade.
​Ela deitou a cabeça no meu ombro e foi se acalmando. Acendi um beck.
Fumamos juntos. Nos deitamos na areia olhando para o céu estrelado, e pela
primeira vez senti paz.
​Somos dois quebrados que por algum motivo se encontraram no meio do
caos.
Não se apaixone por mim, garota
Eu não sou o tipo certo
Eu sou um homem mau
Eu vou fazer tudo o que eu puder
Para te manter ao meu lado
Apenas porque eu sei que isso parece certo

(Good Guy - ZAYN)


Capítulo 19
Chase Montana

A festa estava rolando distante de nós dois que continuávamos


sentados alheios a tudo na areia da praia, olhando as ondas quebrando e
sentido os respingos da água salgada e gelada no nosso rosto.
​— Foi um quarterback que causou tanto mal a você?
​— Não, ele só foi um erro que eu cometi tentando ser normal como as
pessoas da nossa idade. Mas eu não quero falar sobre isso…
​— Não precisa — eu a interrompi — mas se jogarmos contra ele no
campeonato me avisa quem é porque não sei o que ele te fez, mas vou
quebrar o nariz dele em campo.
​— Bobo.
— Eu sou bobo por querer te defender? — Eu falei me deitando na
areia fazendo cara de ofendido.
​— Ele só me usou como sempre disseram que todos fariam comigo. Eu
nunca vou ter paz, mas esse ano, eu quero ser feliz longe de tudo. Minha
vida sempre foi uma prisão, e vim para cá ser livre pelo menos uma vez na
vida. — Ava falou se deitando ao meu lado — Nem sei por que te conto tudo
sobre mim, sendo que não sei nada sobre você.
— Você sabe que eu participo de rachas, fumo, bebo, uso drogas de
vez em quando, e sou o melhor quarterback universitário.
​— Um pacote de confusão sob medida para me fazer viver o melhor ano da
minha vida. Você me levaria para correr com você?
​— É impressão minha ou você quer ser corrompida por mim e pelo meu
estilo de vida?
​— E se eu quiser? Você vai me corromper, Chase Montana?
​Eu deveria dizer que não. Ela é toda quebrada e acabou de ter uma crise de
ansiedade na minha frente. Eu sou um merda que pode destruir ela ainda
mais com a minha companhia.
​Eu sou um irresponsável tão grande, que no lugar de dizer não, toquei o seu
rosto, sentindo sua pele macia na ponta dos meus dedos.
​Ela virou o rosto de lado e mordeu o meu dedo.
​ orra. Não sou de ferro.
P
​Eu quero essa mulher.
​Eu me sentei e a puxei para junto do meu corpo, e Ava se sentou no meu
colo, com as pernas entrelaçadas na minha cintura fazendo o meu pau ganhar
vida.
​— Eu não sou o mocinho dos seus filmes românticos?
— Eu não estou procurando por eles.
​— Tem certeza?
​— Talvez eu procure por um sim, mas ele não é tão romântico assim — Ela
falou e mordeu os meus lábios enquanto enroscava os seus dedos no meu
cabelo.
​— E como é esse que você procura? — Eu falei mordiscando o seu pescoço.
​— Eu sonho sim em viver as cenas dos meus filmes, porque deve ser bom no
final de tudo achar alguém que seja especial, mas eu quero mesmo é quebrar
todas as regras como a Arlequina, que liga o foda-se para o mundo, se joga,
é louca, e faz só aquilo que ela quer, e de quebra, ainda tem o seu
pudinzinho…
​Eu não deixei ela terminar de falar, e me levantei enquanto ela ficou sentada
na areia.
​Não pode ser. Eu devo estar ficando louco.
​A nerd era Ava.
​Agora… a Arlequina.
​— O que aconteceu? — Ela perguntou — Se não está a fim é só você falar…
​— Repete o que você falou sobre a… a Arlequina.
​— Que ela quebra todas as regras? Se joga na vida?
​— Sobre o amor, namoro, sei lá como é a relação dela com o…
​— Pudinzinho. É assim que ela chama o Coringa. Você nunca assistiu o
filme deles?
​— Isso só pode ser coincidência. Eu sou uma piada para você, universo? —
Eu perguntei jogando os braços para o alto.
​— Chase, eu acho que o beck que você fumou não foi o mesmo que o meu,
porque sério, você está parecendo um doido, sem falar coisa com coisa —
Ela falou rindo e me jogando areia.
​— Você por acaso… fala a verdade… Você foi em alguma festa a fantasia
aqui na universidade?
​— Quanto drama — Ela falou pegando um pacote de bala na bolsa e
colocando uma na boca.
​ va era surpreendente. Ao mesmo tempo que parecia que iria quebrar, ela
A
fodia com a minha cabeça, e do nada, pegava um saquinho de bala de
maconha na bolsa e colocava na boca.
​— Você não me respondeu.
​— Fui a uma tem duas ou três semanas eu acho, sei lá, o tempo aqui passa
muito rápido.
​Porra! Era ela?
​— E você por acaso foi de Arlequina? — Eu falei me abaixando, apoiando
um joelho na areia e olhando dentro dos seus olhos.
​— Sim, e foi a festa que eu te contei que eu… — Ela parou de falar quando
eu acho que ela se deu conta do que estava acontecendo — Por que você está
me perguntando isso? Você era o…
​— Coringa.
​Eu podia esperar tudo, menos que ela se jogasse deitada na areia, dando
gargalhadas e apontando para mim.
​— Você era o amador sem camisinha? Chase Montana, sua fama não condiz
com a sua pessoa, e eu posso provar — Ela falou rindo e me deixando puto.
​— A porra da camisinha tinha caído no chão.
​— Amador.
​Eu saí andando puto quando me lembrei do que ela tinha me falado sobre o
amador, e voltei me deitando sobre ela e segurando os seus braços no alto da
sua cabeça.
​— Se eu me lembro bem, você disse algo sobre o amador como você está
chamando o Coringa, de ter dedos mágicos.
​— E eu só não fiquei sabendo se o pau dele era tão bom também, porque
como eu disse ele era um amador — Ela falou me desafiando e eu me deitei
na areia trazendo-a para cima de mim — Mas quem sabe ele agora evoluiu e
tem uma camisinha dentro do bolso?
​Ava estava sentada em cima do meu pau, com sua boceta que eu sabia que
era quente e gostosa, e vasculhando os meus bolsos.
​— Você me deve uma foda, pudinzinho — Ela falou sacudindo o pacote de
camisinha para mim.
​— Seu pedido é uma ordem.
​Essa mulher fodeu duas vezes com a minha mente no mesmo dia de formas
diferentes.
​Se eu antes tinha dúvidas, agora eu é tenho certeza, que Ava vai ser a minha
total perdição, porque eu sei que vou querer protegê-la do mundo, sendo que
eu faço parte da escória.
Essa garota me instiga e sempre faz algo que me surpreende.
​Eu não sei até onde ela está disposta a ir comigo, e confesso que me excita
essa sua falta de limites.
Seus olhos não soltam os meus em momento algum enquanto sigo
encarando sua boca carnuda. Fico completamente fascinado por sua
respiração cada vez mais acelerada, e quando ela cola nossos lábios sinto o
meu pau latejar.
Ela geme gostoso, e nosso beijo é uma mistura de sentimentos entre
desesperado e impetuoso.
Minha língua suga a sua com desejo, e sinto o sabor da bala de
maconha que me deixa mais excitado.
Minha mão aperta sua bunda e Ava esfrega sua boceta com força
contra o meu pau. Mordisco seu lábio e o puxo entre os meus dentes
sentindo o calor da sua boceta que sei que deve estar toda melada me
deixando com água na boca.
Ava joga sua cabeça para trás, e eu faço uma trilha de beijos e
lambidas no seu pescoço, e fico louco quando ela geme gritando o meu
nome.
— Eu vou te foder muito, minha Arlequina misteriosa.
— É o que eu mais quero, pudinzinho.
Sua boca está inchada e vermelha por conta dos nossos beijos fortes,
e suas pálpebras pesadas.
Meu anjo é perfeito. É sexy e gostosa!
— É isso mesmo que você quer? — Eu falei deitando Ava na areia
— Ser fodida por mim aqui na praia? — Ela fica em silêncio me encarando
— Você quer ou não ser fodida agora, Ava Miller?
— Mais que qualquer outra coisa.
— Porra, assim você me deixa louco.
Eu tiro seu short, coloco suas pernas no meu ombro e empurro sua
calcinha para o lado deixando sua boceta exposta para mim.
Porra, como diabos uma mulher pode ser tão gostosa assim?
Eu abaixo as suas pernas e me coloco entre elas, enquanto escorrego
minha mão para dentro do seu cropped e sinto o mamilo intumescido.
Ava tira o cropped e deixa os seus seios pequenos e arrebitados
expostos para mim. Seus mamilos são rosados e ficam lindos em contraste
com sua pele branca.
Ela é uma gostosa do caralho e sei disso desde a primeira vez que os
meus dedos se lambuzaram dentro dela.
Minha nerd… capitã… Arlequina… geme arqueando suas costas e
me permitindo abocanhar seus seios com mais facilidade, enquanto seus
dedos se enroscam em meus cabelos. Raspo meus dentes em um dos seus
mamilos, e fico brincando com o outro.
— Porra, você não tem só os dedos mágicos, sua boca também é
fodidamente gostosa e se você continuar chupando meus mamilos eu vou
gozar.
— O que você quer que eu faça? Quer que eu pare?
— Não, eu quero gozar.
Ava é tão direta que me faz querer enterrar meu pau dentro dela, mas
antes resolvo preparar um pouquinho sua boceta que com certeza está
encharcada esperando para ser toda preenchida por mim.
Eu sinto o tecido da sua calcinha todo molhado, e no momento que
meus dedos tocam sua carne melada e encharcada, meu pau lateja me
fazendo sentir dor, e eu rosno de tanto tesão.
— Você está muito molhada e os meus dedos vão se perder dentro da
sua boceta.
Empurro novamente sua calcinha para o lado, e engulo em seco com
a visão da sua boceta e lábios avermelhados.
— Eu quero você.
— Carallho — rosno — eu nunca desejei tanto uma mulher como
você neste momento — falei deslizando meu dedo dentro dela e
pressionando meu polegar no seu clitóris.
Meus dedos estavam muito melados, e quando tirei de dentro dela
escorreguei por toda a sua extensão até tocar no seu cu, e senti seu corpo
tremer. Logo depois eu os trouxe até o meu rosto, inspirei sentindo seu
cheiro forte e único, antes de chupá-los e deixar seu gosto tomar conta da
minha boca.
— Eu preciso comer sua boceta com a minha língua — rosno, me
lambuzando em seus lábios melados por alguns segundos.
Lambo seu clitóris e o seu gosto provoca um frenesi que invade
minha corrente sanguínea provocando uma sensação indescritível.
Ava é sem dúvida fodidamente gostosa.
Seu quadril começa a esfregar em meu rosto e sinto que ela precisa
gozar, mas o meu egoísmo querendo desfrutar mais da sua excitação, faz
com que eu retarde esse momento.
— Você não vai me deixar gozar?
— Agora não.
— Porra, eu não vou aguentar.
Começo a movimentar meus dedos dentro dela, e sinto suas paredes
internas os esmagando. Eu sei que ela quer gozar, e está me implorando com
o seu olhar, e por isso resolvo ceder um pouco. Meus dedos começam a
entrar e sair de dentro dela, e sua respiração rápida abafa o som das ondas
quebrando na areia.
Ava começa a gemer alto, mostrando que não é do tipo silenciosa, e
os seus gemidos são os sons mais gostosos que eu já ouvi.
Nossos olhos se encontram e ver que ela está me assistindo comê-la
me deixa ainda mais excitado. Eu começo a chupar seu clitóris ao mesmo
tempo em que meus dedos aceleram os movimentos em sua entrada.
— Vou gozar. Pudinzinho… Chaseeee… vou gozar.
Pego rapidamente a camisinha, rasgo a embalagem e abaixo minha
calça junto com a cueca, deixando meu pau duro exposto.
Ava umedece os lábios e olha para meu pau como se estivesse
analisando se caberia dentro dela.
Eu deslizo o látex por toda a minha extensão. Não demoro muito e
entro com força na sua boceta encharcada, batendo antes a glande em seu
clitóris para estimulá-la.
Seus dedos seguram firme em meus ombros e seus pés enroscam nas
minhas costas.
Eu dou uma estocada firme me enfiando todo dentro dela, e sinto
suas unhas ficando nas minhas costas e arranhando a minha pele.
Ela estrangula o meu pau com a sua boceta me deixando louco.
Começo o movimento de vai e vem tirando meu pau quase por completo
somente para enterrá-lo até o talo outra vez.
Ava geme e fala palavras sem sentido, enquanto a fodo com força na
areia da praia, tendo as ondas do mar e as estrelas como testemunhas do
nosso ato.
— Mais rápido Chase, por favor — ela implora.
O cheiro do nosso sexo fica no ar misturado com o da maresia.
Esfrego meu pau nela, pressiono seu clitóris, e só depois me afundo
nela com tudo outra vez.
— Sua boceta é a mais gostosa que eu já fodi na minha vida.
— Você quer que eu acredite nisso?
— Se não quiser acreditar o azar vai ser seu, porque o tempo vai
mostrar o quanto estou obcecado por você.
Aperto sua coxa com a minha mão livre deixando a marca dos meus
dedos em sua pele enquanto estoco novamente forte dentro dela.
Seu corpo arqueado faz com que os meus movimentos sejam ainda
mais fundo, e duplico a força e a velocidade das minhas investidas.
— Chase, eu sei que podemos fazer mal um ao outro porque somos
dois fodidos cheios de fantasmas, mas tudo que eu agora é gozar forte. Me
faz gozar. Me faz bater fora toda essa merda que sempre foi a minha vida.
Me faz acreditar que por um momento só existe você no mundo.
— Só existo eu no seu mundo a partir de agora. E você é um
caminho sem volta na minha vida, Ava Miller.
Nossas pálpebras pesam, nossos músculos se contraem, e gozamos
forte, com Ava rebolando no meu pau.
​Eu me deito na areia e trago ela para cima de mim, que deita a cabeça no
meu peito. Não muito longe de nós a festa na praia continua, mas para mim
só existem nós dois no mundo.
​Como vai ser daqui para a frente? Não faço ideia, só sei que não posso mais
abrir mão desta garota que me fez esquecer todas as minhas dores enquanto
eu estava dentro dela.
Eu estou viciada em você
Obcecada pelo seu amor
Como uma droga poderosa da qual não consigo ter o suficiente

(Addicted To You - Avicii)


Capítulo 20
Ava Miller
Eu acordei ainda de madrugada, com preguiça de me levantar, mas
minha mente precisa desse momento diário onde através da dança me liberto
dos meus medos e me reconecto comigo mesma.
Me levantei e fui até o banheiro escovar os dentes e me peguei com
um sorriso bobo no rosto quando me olhei no espelho.
“— Você me fez esquecer que eu tinha algum problema no mundo.
Talvez você se torne o meu novo vício.”
Oh, Chase, talvez você também se torne o meu vício, porque nos
seus braços pela primeira vez esqueci das minhas dores.
Peguei minha mochila, minha garrafinha de água e as chaves do meu
carro saindo apressada para o estúdio.
Olhei no relógio do carro e estava marcando cinco horas da manhã
exatamente quando passei em frente ao Wallis Annenberg, e o meu corredor
solitário já estava lá como em todos os outros dias.
Só então tive coragem de pegar o meu celular, e senti uma dor forte
no estômago quando tomei coragem e abri as redes sociais. Olhei o twitter,
Instagram das fraternidades, grupos de notícias da UCLA e nada… eu não
estava em nenhuma delas na areia da praia com alguém.
Meu coração bateu acelerado, porque infelizmente eu tinha gatilhos
fortes e medo de ser usada novamente, mesmo que no fundo eu soubesse que
com Chase tinha sido diferente.
Nos conectamos de alguma forma que não sei explicar, e, o fato de
saber que ele me desejou sem saber quem eu era me deixou com uma
pequena confiança, o que poderia ser a minha queda lá na frente, mas eu não
iria deixar de viver por medo do que possa vir a acontecer.
Ano que vem vamos nos formar e cada um vai seguir o seu destino, e
se eu tiver que ficar com ele de novo, farei isso, porque só vou viver uma
vez essa liberdade que eu tenho aqui, principalmente se o meu pai vier a
ganhar as eleições.
Continuei dirigindo e novamente um sorriso bobo apareceu no meu
rosto e quando cheguei no estúdio de dança, coloquei Angels Like You para
tocar, e me lembrei do karaokê.
Alonguei o meu corpo com imagens misturadas na minha mente, que
iam do dia que cantei com Anthony, e onde as lembranças eram deturpadas e
com risos vazios, e cheias de dor, até ontem à noite, onde Chase segurou
firme a minha mão que tremia indicando que eu começaria a ter uma crise de
ansiedade.
Com ele ao meu lado a crise forte não veio. Ele fez com que eu me
sentisse segura por tempo suficiente para cantar e só depois sair correndo.
Comecei a rodopiar de uma ponta a outra do estúdio, e logo depois
deslizei meu corpo pelo chão, de olhos fechados sentindo cada batida da
música guiando meus movimentos.
​“— Seu gosto é como uma droga que vicia — Chase falou com o seu rosto
enfiado na minha boceta — Você é muito gostosa.”
​Era a primeira vez que eu não dançava espantando meus medos, mas me
lembrando de momentos bons e intensos.
​Lembrei de quando voltamos para a festa caminhando de mãos dadas pela
areia. Quando chegamos aonde todos estavam em volta da fogueira eu soltei
sua mão, e me surpreendi quando ele passou o braço em torno do meu
ombro.
​Talvez ele seja possessivo.
Talvez eu goste de ser dele.
​Talvez ele não ligue para mim.
​Talvez isso não faça diferença para mim.
​Eu me deitei com as costas no chão e quando fiz uma ponte abri os meus
olhos e o vi.
​Ele estava de pé, e eu o via de cabeça para baixo, com o seu olhar intenso
sobre mim.
​Eu me sentei com as pernas abertas e os cotovelos apoiados no chão, e fiquei
acompanhando enquanto ele caminhava na minha direção.
​Ele foi se abaixando até ficar com o rosto um pouco acima do meu, e então
segurou o meu queixo e ergueu o meu rosto, colou nossas bocas e mordeu
meu lábio inferior.
​— Linda.
​— Por que parou de correr? Conseguiu caçar os seus fantasmas, mais rápido
hoje?
​— Eu descobri que tem algo muito melhor que correr e que faz todos eles
desaparecerem.
​— É mesmo?
​ Sim. Sorte a minha você não acha?

​— Com certeza.
​Chase me beijou e nossas línguas começaram a duelar uma contra a outra.
​— E você? Precisa dançar mais para se curar? Eu posso assistir?
​— Se eu te contar que estou com sorte e já tenho algo mais gostoso que cura
as minhas dores, você acreditaria?
​— Que pessoas de sorte nos tornamos, Ava Miller.
​— Resta saber se estamos dispostos a pagar o preço por essa droga nova.
​— Eu estou, e você?
​— Sim, mesmo que ela tenha prazo de validade até a graduação, eu quero
pagar o preço.
​— E depois o que vai acontecer?
​— Vamos ter que nos virar sozinhos, só não sei se sairemos disso tudo
curados ou mais destruídos.
​— Eu não sou o modelo de homem que as garotas sonham. Nunca namorei e
nem pretendo. Não quero compromisso ou alguém me ditando regras,
porque odeio as que tenho.
​— Então somos dois, Chase Montana. O que acontecer não poderá ser
exposto ao mundo, porque não quero que termine antes do tempo certo.
​Chase se levantou me pegando no colo e me jogando nas suas costas. Ele
pegou minhas coisas no chão e me levou até o seu carro me deitando no
banco de trás.
​— Eu quero você!
​Foda-se se estávamos suados.
​Eu precisava dele.
Ele precisava de mim.
​Se estávamos usando um ao outro para ficar bem? Talvez.
​O perigo era que isso se transformasse em sentimentos que não sei se
estávamos preparados para viver.
​Mas por enquanto era só sexo forte e curativo, e tudo bem quem ache que
sexo não pode ser usado desta forma, porque se funcionasse para a gente era
o que importava naquele momento.
​Não iria me julgar por isso. Já me julguei demais todos esses anos. Já me
condenei e fui condenada mesmo sem fazer nada errado.
​Voltei para a fraternidade dirigindo e escutando Demons da Doja Cat e
pensando como eu tinha sido de Chase Montana duas vezes em tão pouco
tempo.
​ u dei uma gargalhada pensando na cara da minha mãe se soubesse disso
E
depois dela dizer que ele seria um bom partido por ter dinheiro, mas não
servia para mim por não seguir as regras de boa maneira impostas pela nossa
sociedade hipócrita.
​Parei no Starbucks e comprei café, muffins e croissants para mim e Miah
que deixei dormindo quando saí de madrugada para minha terapia diária, que
agora estava muito mais interessante.
​— Bom dia, dorminhoca — Eu falei entrando no quarto — Trouxe café e
comida para a gente.
— Boa noite, porque para mim não amanheceu ainda — Miah falou
esfregando os olhos e se sentando na cama.
— Só aqui dentro que está escuro, porque lá fora já existem
universitários correndo para as suas primeiras aulas.
​— Esse povo madruga para chegar na aula — Ela falou se espreguiçando —
Ainda falta mais de quarenta minutos e eu prefiro chegar nos últimos
segundos antes do professor iniciar a aula para ficar dormindo, mas minha
barriga está roncando depois que eu senti o cheiro do café da manhã — Miah
esticou o braço e pegou um café e croissant — Essa alegria toda pela manhã
tem um motivo especial? Tipo, um que usa uniforme de quarterback?
​Eu me sentei na sua cama e tomei um gole do meu café respirando fundo.
​— Encontrei o pudinzinho ontem à noite, e continuamos de onde paramos na
festa a fantasia.
​— O que? — Ela falou quase cuspindo o café — Como assim? Você ontem
sumiu e depois voltou junto com Chase. Eu apostando que vocês já eram um
casal, porque sério, duas vezes seguidas que esse homem aparece em público
de mãos dadas com você, e no caso, você transou com o pudinzinho? —
Você transou com os dois?
​— Não — Eu falei dando uma gargalhada — Minha liberdade não chegou
em fazer trisal, mas agradeço você me dar tanto crédito assim.
​— Chase já transou com várias garotas ao mesmo tempo, e compartilha
geral com os amigos, vai saber né.
​Guardei a informação do que Chase fazia e confesso que eu não gostei.
​— E se eu te contar que o quarterback com quem eu briguei na cafeteria e
disse que queria distância, era o mesmo que me fez gozar a noite em sua
mão fantasiado de Coringa?
​Miah deu um pulo da cama e começou a pular e gritar ao mesmo tempo.
​— Caralho… que isso… caralho… fala sério… meu Deus.
​ Foi essa bagunça de sentimentos desconexos que eu senti também quando

soube que os dois eram a mesma pessoa.
​— Você falou que odiava o quarterback e que estava louca pelo pudinzinho,
e no final… e agora? Vocês estão juntos? Gente, quem é você, Ava Miller,
que em poucas semanas fez o quarterback galinha, filho da puta e badboy se
render desse jeito?
​Eu ia responder quando ela se jogou na cama rindo e jogando o travesseiro
na minha cara.
​— Que chá é esse que tu tens que abateu o Chase? — Ela perguntou rindo.
​— Ou será que foi ele que me abateu? Eu não sei explicar, mas ele derrubou
as minhas defesas. Eu fiz sexo na areia da praia e no carro dele hoje de
manhã.
​— Como é? Eu achando que você tinha ido dançar.
​— Eu fui, mas ele apareceu por lá e daí…
​Eu descobri conversando com Miah que ser livre não é algo que depende só
de você desejar, mas de você sentir que é capaz de fazer aquilo que têm
vontade sem pensar na opinião dos outros.
​Ainda estava presa as falas problemáticas que escutei a vida toda.
​Eu venci mil barreiras que parecem bobas para quem não tem os meus
gatilhos.
​Miah transa com Cath desde que ficaram juntas, e não fica pensando nisso,
porque para ela é algo natural. Eu queria ser assim, mas não consigo pensar
que foi uma loucura tudo que eu fiz, porque para mim essa entrega que tive
com Chase não é algo normal do meu dia a dia.
​— E agora? Vocês estão juntos?
​— Sim e não. A gente meio que deixou claro que estamos dispostos a viver
isso, mas sem regras, ou sei lá, algo sério, tipo firmando um compromisso.
​— Ava, por mais que você queira ser livre, voar alto, ter um relacionamento
aberto não é fácil, ainda mais com alguém como Chase Montana. Você vai
ficar bem vendo ele com outras garotas?
​— Eu não estou apaixonada por ele, se é isso que você quer saber.
​— Não, Ava, o que eu não quero é que você se machuque.
​Miah me abraçou e pela primeira vez eu pensei como teria sido bom ter uma
irmã. Ela não sabia dos meus traumas, medos, fantasmas, mas parecia me
conhecer muito bem.
​— A minha vida é complicada, e nem que eu quisesse acho que poderia me
relacionar com Chase sem perder a minha paz. E não estou falando isso por
ele ser quem ele é, um cara que pega geral, mas por eu ser quem eu sou.
​— E quem você é, Ava Mille?
​— Eu sou alguém que quer ser feliz, mas que a família quer que seja
perfeita, e que neste momento precisa sair correndo porque esqueceu da hora
e vai perder a apresentação do projeto final de dança.
​Eu tomei um banho rápido, me arrumei e saí correndo da fraternidade
atrasada como sempre. Como eu precisava ser rápida, resolvi me aventurar
no meio de locomoção mais comum na UCLA, a scooter.
​Corri até onde eles estavam estacionados, fiz um programa para recargas
mensais com o meu cartão de crédito, e pronto, agora era só começar a ir e
vir de um lado para o outro.
​Seria perfeito se eu soubesse como andar de scooter.
​Eu pensava que era só subir, ligar e sair andando, mas a realidade foi que
assim que acelerei ele escapou da minha mão e eu caí de bunda no chão.
​Catei no chão os cacos da minha dignidade depois do tombo, respirei fundo
e não me dei por vencida. Subi de novo no scooter, acelerei devagar, e só
coloquei os dois pés em cima dele quando me senti segura.
​Fiquei com um pouco de medo na hora que comecei a descer a rua,
principalmente quando passou um carro do meu lado, mas logo depois me
acostumei e decidi que usaria menos o meu carro a partir de agora, já que
com a scooter eu chegava rápido aonde eu queria e sem o estresse de ficar
procurando lugar para estacionar o carro.
​O professor de dança explicou todo o projeto e marcou para a aula da
próxima semana a entrega por escrito do esboço do projeto da coreografia
final.
​Eu teria que me desdobrar para preparar tudo e entregar no dia, e fiquei tensa
porque sabia que quase não sobraria tempo para isso, já que hoje eu tinha
treino com as cheerleaders sem hora para terminar, e amanhã a viagem com
o time de futebol para o Colorado.
​Saí da aula apressada, peguei minha scooter e fui direto comprar o meu
almoço no Trader Joe's, um mercado que tem saladas prontas que eu adoro e
depois segui direto para o centro de treinamentos dos atletas.
​Eu vinha feliz, escutando minhas músicas e sentindo o vento batendo no
meu rosto quando senti a scooter indo mais devagar e parei do nada quase
caindo no chão outra vez.
​— Não pode parar, senão perde a força — um dos jogadores do time de
futebol falou me vendo olhar desolada para a subida e com medo de
continuar.
​— De carro a gente nem se dá conta que tudo isso aqui é dentro de um
morro, por isso tantas subidas e descidas.
​— Vamos um pouco para trás e subimos juntos — Ele falou e eu o segui —
Nunca te vi com a scooter, é a primeira vez que você anda?
​— Sim, achei mais prático que carro, e todo mundo usa na universidade.
​— Pronta? — Ele perguntou e eu fiz com a cabeça que sim.
​Ele foi me encorajando, dizendo que faz esse caminho todos os dias e que
era só uma questão de costume. Chegamos juntos no centro de treinamento,
e ficamos conversando um pouco antes dele seguir para o treino, e foi então
que eu vi Chase, encostado no seu carro, e nos olhando com cara de poucos
amigos.
​Eu acenei para ele, que me ignorou, jogando o resto do cigarro no chão,
pisando em cima e caminhando em seguida para o gramado onde aconteceria
o último treino antes da nossa viagem para o Colorado.
​— Se chegar atrasado vou mandar te cortarem — Chase falou sem olhar
para trás e o jogador do time que estava comigo se apressou em jogar a
scooter no chão e correr atrás dele.
​Eu entrei no ginásio onde as cheerleaders iriam treinar e fui direto me
arrumar. Peguei minha salada e fui comendo entre uma peça e outra de roupa
que eu trocava para não perder tempo, quando estava pronta me apresentei
para o nosso técnico e começamos a treinar.
​Perdi a noção do tempo entre gritos de guerra, acrobacias e piruetas. Essa
seria minha primeira apresentação fora de casa com a UCLA e eu estava
ansiosa.
​Já era noite quando o técnico disse para irmos tomar um banho, descansar e
que ninguém poderia se atrasar no dia seguinte, porque os ônibus saíram
para o aeroporto pontualmente às sete horas da manhã.
​— Quando a festa terminar às duas da manhã todo mundo corre para dormir
e não se atrasar — Cath falou baixo e as meninas riram.
​As meninas foram todas para o vestiário e eu fiquei mais um pouco
repassando tudo com o nosso treinador. Tinha uma série de protocolos e
regras e ele queria se certificar que eu soubesse todas para não ficar perdida.
​Quando finalmente consegui ir tomar banho encontrei as meninas animadas
e só falando sobre a nossa primeira viagem da temporada.
​— Pensei que o técnico não fosse te liberar nunca — Cath falou saindo do
chuveiro — Amanhã vamos sair cedo, temos festa para ir e ele só falando.
​ Ele repassou coisas importantes que não posso me esquecer.

​— Você não vai, Ava — Miah falou — Domingo vai ser o seu grande dia
como capitã do time de dança dos Bruins.
​Eu tomei um banho rápido e vi que as minhas amigas estavam me
esperando.
​— Podem ir que eu vou de scooter — Eu falei — Eu agora não quero outra
vida.
​— Nós vamos caminhando mesmo — Miah falou— Eu já tentei andar nisso,
mas não me adaptei.
​— Realidade: ela caiu umas cem vezes e desistiu — Cath falou dando
gargalhadas.
​Elas duas eram muito engraçadas e sempre me faziam rir com a leveza que
levavam a vida. Assim que eu me despedi delas, me lembrei de Chase e me
deu uma pontada de tristeza por ele ter me ignorado antes do treino.
​Eu sei que combinamos que não seria nada sério, e que não íamos ficar
expondo nada, mas virar a cara para mim como se não me conhecesse, foi
como me dar um soco no meio da minha cara para me lembrar de acordar
para a realidade.
​Eu e qualquer outra dava no mesmo para Chase Montana, restava saber por
que isso estava me afetando.
​Quando terminei de me arrumar me despedi das meninas que ainda estavam
no vestiário, e fui caminhando sozinha pelos corredores do centro de
treinamento.
​Fui parada algumas vezes por atletas que gritavam ‘GO BRUINS’ para mim
e quando cheguei finalmente do lado de fora, me lembrei que precisava
descobrir onde ficavam as scooters para pegar uma e voltar para a
fraternidade.
​Quando olhei para o outro lado da rua eu vi Chase, com um conjunto de
moletom preto escrito “Team Football”, o cabelo molhado de quem acabou
de tomar banho, e a mesma expressão séria da hora que eu cheguei para
treinar.
​Eu suspirei pesado, coloquei minha mochila nas costas e comecei a caminhar
na direção oposta à dele, quando escutei ele me chamando.
​— Ava — Ele falou acelerando os passos e se aproximando de mim — o que
aconteceu com o seu carro?
​— Deixei estacionado perto da fraternidade.
​— Para vir de scooter com Alejandro?
​ Quem é Alejandro?

​— O jogador do meu time com quem você chegou cheia de sorrisos e
intimidade.
​— Nós não viemos juntos, ele só me viu com dificuldade de subir a rua e me
deu uns toques.
​— Eu não gostei de ver vocês juntos cheio de risinhos — Ele falou
colocando as mãos no bolso da calça de moletom — Se você queria aprender
a andar de scooter, poderia ter me pedido.
​— Foi por isso que você não falou comigo quando eu cheguei para treinar?
— Eu falei rindo — Eu pensando…
​— Pensando o que?
​— Eu não sei se você lembra, mas fez questão de pontuar para mim seu jeito
de filho da puta com as mulheres, e da sua falta de vontade de ter alguém na
sua vida, sendo assim, eu pensei que você não tinha falado comigo porque
eu tinha sido só mais uma.
​— Você não é mais uma.
​— Não sou?
​Chase não respondeu e me puxou para junto dele, me envolvendo em seus
braços.
​— Você nunca teve ciúmes antes?
​— Ciúme? — Ele falou rindo — Eu nunca tive ciúmes de ninguém.
​— Engraçado, porque agora pensando no motivo do porquê você me virou a
cara quando me viu com seu amigo, eu só chego à uma conclusão: Chase
Montana morre de ciúmes de mim.
​— O que eu vou fazer com você minha borboletinha? — Ele falou tocando o
meu braço por cima do meu casaco no local da minha tatuagem — Você está
me fazendo sentir coisas que eu nunca senti antes.
​Eu não poderia responder essa pergunta, porque também estava sentindo
coisas novas, e tinha medo disso, já que minha família e suas ambições
sempre destroem tudo que não seja do agrado deles.
​— Vem comigo que vou te levar para casa. — Chase falou me dando a mão
e fomos caminhando até o seu carro.
​Fomos em silêncio mergulhados em nossos pensamentos até chegarmos em
frente a minha fraternidade.
​— Nos vemos mais tarde na festa? — Eu perguntei antes de sair do carro e
Chase me puxou e sei lá como em segundos me colocou sentada no seu
colo.
​ Eu passo aqui para te buscar — Chase falou e me beijou forte enquanto

suas mãos deslizavam pelas minhas coxas — Me avisa quando estiver
pronta.
​— Está com medo de que eu chegue acompanhada na festa?
​— Não me provoque borboletinha.
​Chase foi embora depois de se despedir umas cem vezes, e quando entrei no
meu quarto com o meu novo e constante sorriso bobo no rosto, e encontrei
Miah encostada na janela e olhando para mim.
​— Scooter agora mudou de nome?
​— Ele apareceu do nada e quis me trazer em casa.
​— Isso está ficando sério.
​Eu sorri e dei de ombros e Miah deu uma gargalhada.
​— Tudo bem, eu vou fingir que acredito na sua indiferença pelo quarterback
— Ela falou se sentando na cama — Se arruma logo porque daqui a pouco
Cath chega para irmos na festa.
​— Ah… esqueci de falar, mas, Chase vem me buscar — Eu falei enquanto
escolhia minha roupa.
​— Ava Miller — Miah gritou — Você realmente fez um touchdown na vida
de Chase Montana.
Eu não sei exatamente como isso aconteceu
Eu baixei minha guarda
(…)
Mas me apaixonei perdidamente

(Addicted To You - Avicii)


Capítulo 21
Chase Montana

Eu estava seguindo em direção a fraternidade de Ava e dentro de


mim tudo era uma grande contradição de sentimentos. Nunca me apeguei a
nenhuma mulher, e todas elas apenas passaram pela minha vida, até à Ava
aparecer e se tornar a dona do meu pensamento.
​Sempre treinei pesado, enfrentei vários desafios nos jogos, vi a morte de
perto em cada curva em alta velocidade, mas nada se comparava a
adrenalina que eu estava sentindo enquanto seguia pelas ruas da UCLA para
fazer algo que parecia comum, mas que para mim era diferente de tudo:
buscar uma garota para levar comigo a uma festa.
​Eu não sabia como agir numa situação assim. Não me preparei para viver
isso. Na verdade, sempre achei que não viveria esse momento.
​E se ela pensasse que isso significava um compromisso?
​E se eu quisesse que fosse um compromisso?
​Eu e Ava sendo só um do outro.
​Exclusividade.
​Teria que ser assim, porque sempre compartilhei garotas, mas minha
borboletinha eu mato se alguém tocar.
​Eu queria poder dizer que esses pensamentos são porque estou chapado, mas
a verdade é que estou limpo.
Estacionei o carro em frente a Alpha Delta Phi no momento que duas
estudantes estavam saindo e elas vieram logo na minha direção.
​— Chase, veio nos fazer uma visitinha antes da festa? — Uma delas
perguntou se jogando em cima de mim.
​Eu desviei delas e não perdi meu tempo respondendo porque Ava surgiu
descendo as escadas.
​Fodidamente linda.
​Fodidamente perfeita.
​Fodidamente minha!
​Ava estava com uma calça jeans, um cropped azul e um tênis branco. A
roupa que parecia simples, nela ficava perfeita marcando cada parte do seu
corpo.
​ u fiquei paralisado. Que merda eu estava fazendo.
E
​Me lembrei das palavras do meu pai falando com alguém no telefone no
local do acidente.
​“— Ele veio buscar o irmão. Se não tivesse vindo estava vivo.”
​Eu vim buscar Ava. E se o problema fosse realmente comigo.
— Vamos? — Ela perguntou vendo que eu a olhava sem dar uma
palavra e quebrando o silêncio entre nós — Está tudo bem?
Eu não conseguia falar. Eu fiquei assim depois do acidente. Tinha
crises de ansiedade, mas ninguém sabia. Ninguém se importaria então
guardava para mim.
Encontrei nos jogos e nas corridas uma forma de ocupar minha
mente. Eu nunca mais tinha tido isso, mas agora…
Agora eu tinha alguém que eu me importava e não queria machucar.
​— Está tudo bem, vamos — Eu falei entrando no carro e Ava deu a volta
abrindo a porta e se sentando no banco do carona olhando para mim.
​— Não vou te fazer perguntas, mas se quiser falar estou aqui para te escutar.
​Ela sabia que tinha algo errado comigo. Ava conseguia me enxergar e não
sei se isso era bom ou ruim.
​— Tem certeza de que você quer me levar na festa? Se quiser podemos ir
separados…
​— Eu quero ir com você — Eu falei e saí cantando pneu atraindo os olhares
dos curiosos.
​O meu silêncio fez ela pensar que eu não estava confortável ao lado dela
indo para uma festa.
Eu não queria despejar minhas merdas em cima dela, não queria que
ela soubesse dos meus fantasmas, e o pior, que pudesse me culpar também
pelo que aconteceu.
Se ela me julgasse culpado eu perderia a primeira pessoa que me fez
ter vontade de emergir. Era melhor ela não ficar sabendo de nada. Não por
mim. Não com os meus lamentos.
Eu não estava preparado para o seu veredito.
Nossa fraternidade ficava muito perto, então em cinco minutos já
estávamos estacionando o carro e caminhando para a festa.
A rua estava cheia, e grupos de garotas passavam apressadas, falando
alto, dando gargalhadas, virando suas garrafas térmicas cheias de álcool e
decidindo para qual festa iriam primeiro.
De quinta a sábado é sempre essa mesma rotina que começa por volta
das vinte e duas horas. Geralmente são umas quatro ou cinco festas, e as
meninas entrando e saindo de todas elas.
Passamos por um trio animado, onde o cara estava sentado no chão,
com duas estudantes se revezando em chupar seu pau, como se estivessem
entre quatro paredes.
Ava olhou um grupo passando com uma garota sendo carregada
chapada e olha que ainda não era nem meia-noite.
Entramos na minha fraternidade, e foi eu cruzar a porta que Kalleb
anunciou minha chegada gritando mais alto que o som.
​— O Rei chegou! Aumentem mais o som que nosso quarterback está na
área.
​Todos voltaram os olhares para mim, e eu conseguia escutar o grito da
mulherada, quando todos viram Ava ao meu lado.
​Eu envolvi meus braços na sua cintura, trazendo ela para junto de mim, de
forma possessiva, deixando claro que estávamos juntos.
​Eu e Ava estávamos juntos. Era para ser só entre nós que ela falou… e eu
concordei…, mas, agora deixei que todos soubessem.
​Caminhamos até a mesa de bebida e pegamos uma Vodka cada um e
adicionamos energético. Encostei no balcão que separava nossa cozinha da
sala, e coloquei Ava na minha frente e passei meu braço em volta do seu
corpo, e a diaba começou a dançar se esfregando no meu pau.
​Ela sabia como me provocar e me deixar louco querendo comer sua boceta.
Ava parecia ter um poder sobre mim, algo que eu não sabia explicar, só
sentir. Era como se ela tivesse realmente caído do céu para ser minha.
Meu anjo sedutor!
Minha borboletinha!
Antes eu não me importava de foder uma garota na frente dos outros,
mas ela eu não iria expor para ninguém.
​Fomos para a área externa onde estava rolando beer pong com shots de
tequila e um jogo de verdade ou consequência.
​As regras do jogo: Os desafiadores, um homem e uma mulher escolhidos no
início do jogo escolhem alguém. O desafiado fica na frente dos copos. O
desafiador fica do outro lado da mesa com as bolinhas. Se o desafiador errar
a bola, tem que tomar um shot de tequila e responder uma verdade ou pagar
uma consequência. Se o desafiador acertar, o desafiado toma o shot e
responde uma verdade ou paga a consequência.
​ s desafiadores da noite eram Erich e Rachel. Na sequência que assistimos
O
duas garotas perderam, e uma delas respondeu que tinha dormido com cinco
caras diferentes na última semana, e a outra preferiu a consequência e
mergulhou pelada na piscina.
​— Eu desafio a minha capitã — Rachel falou e eu senti seu olhar indo de
Ava até a mim.
​— Você não precisa jogar — Eu falei para Ava já imaginando que Rachel a
escolheu para me irritar.
​— Desafio aceito, Rachel — Ela respondeu e caminhou com passos firmes
até a mesa.
​Eu cerrei as minhas mãos em punho, e podia sentir os nós dos meus dedos
ficando brancos sem circulação sanguínea.
​— Escolha como consequência minha garota pular pelada na piscina, e a
festa termina na mesma hora — Eu falei me aproximando de Erich.
​— Calma irmão — Ele falou — A consequência é só se ela não quiser
responder e não sou eu quem escolho.
​— Foda-se — Eu respondi — Eu afogo essa vadia da Rachel na piscina se
ela ousar me desafiar.
​Rachel jogou a primeira bolinha e acertou, e Ava então tomou o primeiro
shot de tequila. Depois ela jogou e acertou a segunda bolinha. A filha da
puta era boa nisso, e fazendo muitas garotas serem canceladas por não
aceitarem pagar a consequência.
​Ava estava com os olhos fixos em Rachel que deu um beijo na bolinha,
olhou para mim e jogou, marcando seu terceiro ponto.
​— Muito bem capitã…
​— Ava. Meu nome é Ava. Sou capitã quando estou em campo, aqui sou
estudante assim como você.
​— Certo, Ava. Verdade ou consequência?
​— Verdade.
​Rachel deu um sorriso malicioso, colocou as duas mãos apoiadas na mesa e
ficou um tempo em silêncio fazendo suspense.
​— Muito bem, Ava, eu quero saber se é verdade que você já transou com
outro quarterback antes do Chase.
​Que porra de pergunta foi essa?
​Eu vi que Ava parecia ter perdido a cor, e que sua respiração ficou irregular
como no dia do Karaokê e me aproximei dela.
— Prefere pagar a consequência? — Rachel perguntou e começou a
rir.
​— Sim, é verdade, eu já transei com outro quarterback e com Chase, se era
isso que você queria saber.
​Ava respondeu com um tom de voz firme e saiu caminhando em direção a
casa.
​Ela transou com outro quarterback?
Um nó parecia apertar a minha garganta, e descobri que estava
oficialmente sentindo ciúmes de uma garota pela primeira vez na minha
vida.
Ava.
Para onde ela foi?
Empurrei meia dúzia de estudantes que estavam no meu caminho e
entrei na casa procurando pela minha garota.
Pela primeira vez em quatro anos de universidade a fumaça dos
vapers e o barulho da música alta me irritou. Eu parecia caminhar em círculo
entre as pessoas quando a vi sentada na escada.
— O que aconteceu?
— Me senti mal, só isso.
— Você não precisava ter jogado.
— Eu sei, mas não vim aqui para me esconder — Ela falou ofegante
— Eu só não esperava aquela pergunta que me levou para um lugar
desconfortável.
Que grande babaca que eu sou. Meu anjo precisando de mim, e eu no
lugar de ser mais rápido perdi tempo sentindo ciúmes.
Ela disse que odiava quarterbacks.
​Anthony.
​Só pode ter sido o maldito quarterback do Spartan que machucou de alguma
forma minha borboletinha. Ele já pode se considerar morto porque não vou
ter pena dele quando nos enfrentamos em campo.
​— Se você quiser te levo para casa.
​— Não, eu prefiro ir para o seu quarto.
​Ava falou e começou a subir as escadas, eu a segui alcançando suas mãos e a
guiando até o meu quarto.
​— Quero um cigarro.
​— Tudo bem — Eu falei indo até a gaveta e sendo seguido por ela que riu
vendo a quantidade de maços, becks e vapers variados.
— Essa quantidade aí pode ser considerada tráfico — Ela falou rindo
e pegando um beck.
Ela se sentou na minha cama e acendeu o beck com facilidade.
Ava com seu porte de rainha parecia ser a dona do meu quarto, da
minha cama, de tudo.
​Até onde ela pode ir com isso de querer ser livre?
​Ela não tem medo de se ferir no processo, simplesmente se joga mesmo
sabendo que os seus gatilhos podem ser acionados.
​E eu? Até onde eu posso ir?
​Eu queria ser forte para me afastar dela antes de destruí-la com a minha
marca, como diz a minha mãe, de atrair desgraça.
​Mas eu sou egoísta, e vou continuar com ela.
​— Ele me fez acreditar que estava a fim de mim. Eu confiei, achei que podia
fazer sexo como qualquer pessoa normal, mas no dia seguinte minha foto em
sua cama estava nas redes sociais. Parece que o tio dele é adversário
partidário do meu pai e ele se vendeu para queimar minha imagem.
​— Anthony?
​— Sim. Eu sempre fiquei invisível e quando quis me libertar fui usada.
​— Filho da puta — Eu gritei dando um murro na mesa que tinha no meu
quarto — Esse babaca vai se arrepender de ter feito você chorar.
​— Não, por favor, esquece isso. Quanto mais longe eu fico de problemas,
mas livre me sinto. Meu pai e seus assessores já jogaram a sujeira para
debaixo do pano como sempre.
​— Quem é seu pai?
​— O senador republicano Miller, do Michigan.
​— O presidenciável?
​— Sim. Isso te assusta?
​— Não.
​— Mas deveria, porque ele controla tudo. Não quero que ele saiba da gente e
estrague tudo, porque acredite, ele destrói tudo.
​— Ele não vai nos destruir.
​— Nos destruir? Desde quando nos referimos um ao outro no plural?
​— Desde que você cruzou o meu caminho e me deixou entrar na sua vida.
​Ava se ajoelhou na minha cama, e veio engatinhando na minha direção.
​Ela não precisou falar nada porque o seu olhar direcionado ao meu corpo,
mais precisamente para a minha ereção que se formava dentro da minha
calça, deixava claro o seu desejo.
​ eus olhos intensos se voltam para os meus e minha borboletinha sorri, e
S
noto então que o meu ar parece estar preso, e começo a me questionar se ela
é capaz de fazer o meu pulmão parar de funcionar de tão ansioso que eu me
sinto ao seu lado querendo que tudo seja perfeito.

​ música alta no andar de baixo fica abafada pelas paredes do meu quarto, e
A
nossa respiração ofegante toma conta do ambiente.

— Você algum dia vai me contar também sobre os seus fantasmas?


— Ela murmura me encarando.
Neste momento um silêncio se forma entre nós e fico ansioso, e pego
o beck que Ava está segurando e trago fundo tentando me acalmar.
— Não quero ser julgado. Acusado. Não sei se consigo, ou se quero
falar sobre isso.
— Então não fale, mas saiba que não vou te julgar, ou ficar contra
com você meu pudinzinho.
— Nunca?
— Nunca. Confio em você. Por favor, não me decepcione.
— Eu não vou.
Ava sorri e meu coração dispara. Porra, seu sorriso me abala. Estou
fodido com essa garota.
Eu seguro sua cintura, passando minhas mãos em volta das suas
costas e ela cola a cabeça no meu peito.
— Lembra quando eu disse que tudo seria com prazo de validade? —
Ela falou e abaixou o rosto — Eu não quero que seja assim.
— Eu não vou embora da sua vida. Pelo certo eu não deveria nem ter
me aproximado, mas agora nem fodendo eu te deixo.
Nosso relacionamento deveria ser só desejo, sexo e algo com prazo
de validade até a formatura.
Esse foi o acordo que fizemos e que não durou nem quarenta e oito
horas.
Eu não sei em que momento perdi o controle da situação, mas agora
é tarde demais.
— Vai ser foda, porque no final não sei se teremos escolha.
— Eu não me importo se vai ser difícil, nem se vou ter que enfrentar
o futuro presidente, só sei que eu quero você para mim.
Ava me beija com força e eu gemo contra sua boca e a coloco
sentada na minha escrivaninha, empurrando meus livros e os jogando no
chão.
Minha pele queima onde os seus dedos tocam, e eu inclino minha
cabeça para o lado quando sinto sua língua lambendo o meu pescoço.
Minhas mãos vão para as suas costas e eu tiro o seu cropped, e
seguro os seus mamilos duros.
Eu aperto o seu seio enquanto meu polegar alisa seus bicos rígidos, é
eu não resisto os colocando na minha boca e os sugando com força.
Ava tira a calça jeans e abre um pouco as pernas, e eu deslizo o meu
dedo indicador por cima da sua calcinha, sentindo o calor da sua boceta
encharcada.
Ela então me empurra, desce da escrivaninha e vira de costas.
— Acho que hoje você poderia fazer diferente.
— Você quer que te foda por trás?
— Sim.
Ela tem a boceta apertada demais, e salivo pensando como deve ser
fodidamente bom o seu cu.
Porra. Não sei se ela já fez isso e fico com medo de perguntar e ela se
ofender. Ava têm tantos gatilhos, e pela primeira vez me pego preocupado
com uma garota.
— Eu nunca fiz isso — Ela fala parecendo ler os meus pensamentos
— Mas quero muito que seja com você a primeira vez.
— Única vez, porque eu juro borboletinha, nunca vou deixar você.
— Possessivo. Amo.
Ela vira a cabeça para trás e assiste com olhos pesados de tesão
quando eu liberto meu pau da cueca, e, passo o meu polegar por cima da
glande vermelha,
Ela puxa minha mão e chupa o meu meu polegar enviando um
comando direto ao meu pau.
Enfio um dedo dentro da sua boceta, e ela geme.
Esfrego meu pau na entrada melada da sua boceta e ela empina a
bunda. Eu pego uma camisinha na minha gaveta, coloco e invisto contra sua
boceta de uma única vez.
Ela não queria preliminares. Queria sexo duro. Queria se libertar seja
lá de que merda de lembrança ela teve com o filho da puta do Michigan.
Eu saio de dentro dela e ela geme. A coloco imprensada na parede do
meu quarto, e enfio forte de novo dentro dela, enquanto aperto com força a
carne da sua bunda gostosa.
Ela coloca seus braços em volta do meu pescoço, e suas pernas
entrelaçam a minha cintura.
Ava geme alto quando sente que eu a estou fodendo mais forte.
Porra.
Caralho.
Que mulher é essa?
Os músculos internos da sua boceta me apertam com tanta força que
preciso me controlar para não gozar primeiro.
Ela geme, treme, grita e se liberta gozando forte, com suas pupilas
dilatadas e mostrando vulnerabilidade e intensidade ao mesmo tempo no seu
olhar.
A intensidade do momento é o bastante para que o meu orgasmo
também seja muito forte, e nossas respirações desreguladas se misturam em
um único som.
— Você não quis…
— Eu quero, mas não assim, não para liberar porra de merda
nenhuma. Quero que seja especial.
— Desde quando você pensa assim?
— Desde que eu entendi que não é só desejo, não têm como ser só
isso. Eu quero ser o mocinho dos seus filmes, mesmo sendo o oposto dele.
Dito isso, sem que Ava tivesse tempo de falar alguma coisa, eu me
deitei na cama com ela enroscada no meu corpo, liguei o computador e
mandei ela colocar um dos seus filmes favoritos para assistirmos juntos.
Eu gosto mais de mim quando estou com você
Eu gosto mais de mim quando estou com você
Eu sabia desde a primeira vez, que eu ficaria por um longo tempo porque
Eu gosto mais de mim quando
Eu gosto mais de mim quando estou com você

(I like me better - LAUV)


Capítulo 22
Ava Miller

Ainda estava tudo escuro quando eu e Miah, seguimos juntas para o


centro de treinamento num carro de aplicativo.
Não podíamos chegar atrasada e perder o ônibus que nos levaria para
o aeroporto, e nem perder tempo procurando vaga para estacionar o carro.
— A Rachel está revoltada por não ter sido escalada para esse jogo
— Miah falou — e está dizendo que você implica com ela por ciúmes.
​— Ciúmes? Dela? — Eu falei rindo — São seis cheerleaders por jogo, e
sempre vai ser o time principal. No HomeComing e apresentações locais
podemos nos apresentar com o time de dança completo. Se fosse escolha
minha por preferência, Cath estaria aqui com a gente, não têm a ver com
amizade ou rivalidade, que nem tenho com ela.
​— Eu sei disso, e Cath também tanto que nem ficou chateada. Ela sabe que
não entrou no time principal e que vai sempre se apresentar em casa, ou em
outros jogos. Já Rachel acha que você deixou ela de fora por ciúmes de
alguém que sempre cagou para sua existência.
​— Pior que ele não era assim só com ela, mas com todas que passaram pela
cama dele, eu não sei quando ela se julgou importante na vida de alguém que
nunca a respeitou.
​— Ele era assim com todas até você aparecer.
​— Isso que me assusta, porque está sendo tudo muito rápido. Ontem eu
odiava ele, hoje… bem, hoje estamos juntos.
​Paramos de falar assim que o motorista parou em frente aos ônibus e fomos
direto procurar nosso técnico.
​A movimentação era grande no local, já que seriam três ônibus para levar
todo mundo. Nossa equipe era pequena, mas a do futebol era gigante.
​Eu sabia que Chase estava por ali, mas tentei não pensar nisso e conferir se
meu time já estava todo no local para embarcarmos.
​Nosso ônibus era o terceiro junto com os reservas do time de futebol, e nos
encaminhamos para próximo dele. A alegria misturada com ansiedade
tomava conta de todos que estavam ali, afinal era o primeiro jogo da
temporada.
​Eu e Miah fomos as primeiras a embarcar, sendo seguida pelas outras quatro
meninas do time de dança. Escolhemos os últimos assentos e ficamos de
olho em todos que embarcavam. Os jogadores eram altos e grandes e o
ônibus de luxo parecia pequeno perto deles.
​— Sobre ontem, que ódio eu senti da Rachel. Como ela descobriu sobre o
que aconteceu em Michigan? Será que ela andou fazendo perguntas sobre
você para o povo de lá?
​— Com a internet fica fácil você se conectar com qualquer pessoa.
​— Eu vi que você não ficou bem e te procurei, mas quando te encontrei você
estava abraçada com Chase e não quis atrapalhar.
​— Ele foi muito carinhoso comigo e…
— Atenção rapaziada, fiquem ligados que tenho um aviso do nosso
capitão — Um dos jogadores que eu não sabia o nome falou e todos pararam
de falar para escutar, inclusive, eu e Miah.
​Era incrível o poder de liderança de Chase e o respeito que todos do time
sentiam por ele.
​— O capitão mandou avisar que todos se comportem neste ônibus, que não
fiquem de gracinha ou falando merda, porque a garota dele está aqui — Ele
falou e todos olharam para mim que tive vontade de desaparecer.
Miah me olhou como se tivesse visto um fantasma e logo depois
começou a rir.
— Meu Deus, eu estou passada. O Chase assumiu você para todo
mundo, é isso mesmo?
​— Eu achei que ele estava brincando quando ele falou que queria mudar, e
ser o mocinho dos meus filmes.
​— Ah para que vou do “odeio o babaca” para “shippo você com esse fofo”.
​Meu celular vibrou e fui ver a mensagem já imaginando que poderia ser do
Chase.

​ hase: Não é porque estou em outro ônibus que não estou de olho em você.
C
​Ava: Possessivo o meu pudinzinho.
​Chase: Só com você.
​ ônibus seguiu para o aeroporto e embarcamos no avião reservado para o
O
time rumo a San Francisco.
​Chase me olhou de longe, piscou para mim e deu um sorriso que me fez rir
de volta feito uma menina romântica vivendo o primeiro amor.
​Primeiro amor. Eu nunca tive um primeiro amor. Nem aqueles da escola
como todas as garotas, porque estava preocupada em me esconder.
​Chase Montana. Seria ele o meu primeiro amor? Ele me faz sentir borboletas
no estômago. Ele me faz querer sorrir.
​Eu fico observando ele de longe, concentrado para o jogo de mais tarde e me
pego sorrindo, mas logo a seguir me lembro da minha mãe dizendo que ele
até poderia ser um bom partido, mas que não tinha um comportamento
adequado para o seu padrão de qualidade.
​Se os meus pais souberem vão arruinar tudo. Eles sempre destroem os meus
sonhos. Nunca me deixaram viver e agora com Chase eu estou
experimentando algo novo, bom, e que me faz feliz.
​É como se eu estivesse em um mundo paralelo, rindo, fumando, bebendo,
beijando na boca, transando e dirigindo em alta velocidade.
​Meus pais não precisam fazer parte desse mundo novo que estou construindo
para mim. Eu não quero que eles venham cagar suas regras em cima de mim
porque estou sendo feliz pela primeira vez.

Flashback
​ Eu quero de verdade ficar com você borboletinha.

​— Como assim? Isso aqui é um sonho? — Eu falei passando a mão pelo seu
corpo até chegar no seu pau que ficou duro com o meu toque.
​— Gostosa demais — Chase falou apertando a minha bunda e me fazendo
gemer — Do que você tem medo?
​— Tudo que eu faço é motivo para os inimigos do meu pai usarem contra
ele. Sempre fui vigiada. Sempre fui controlada e não quero que saibam nada
da minha vida porque eles vão fazer perguntas, vasculhar sua intimidade,
descobrir se você é a pessoa perfeita para estar ao meu lado, porque para eles
não existe isso de “só sexo”, é relacionamento para expor na mídia e ganhar
votos, ou a castidade da menina perfeita da família tradicional, que segundo
seus assessores ganha votos da ala conservadora.
​— Só sexo? Você só está me usando para ter prazer, borboletinha? — Chase
falou fazendo cara de ofendido e acendendo um cigarro.
​ u percebi que ele ficou preocupado com as minhas palavras, mas que
E
tentou disfarçar brincando que ele não era um objeto.
​Não julgo. Imagina ficar com alguém que a família vai mandar investigar
como se você estivesse sendo espionado pelo FBI?
​— Podemos continuar assim… juntos… — Eu não sabia como falar sobre
nós dois, mas eu queria poder ficar com ele.
​— Você sendo só minha podemos ir levando e ver no que vai dar.
​Chase me abraçou e continuamos assistindo Para Todos Os Garotos Que Eu
Amei, e achei lindo ele querer ser o mocinho dos meus filmes, sendo que na
verdade o que eu gostava dessas histórias, é que de alguma forma as
protagonistas deixavam de ser invisíveis, que era tudo que eu mais queria
para mim.
​— Qual desses filmes da sua lista é o seu favorito?
​— Dez Coisas Que Eu Odeio Em Você.
​— Por quê?
​— Eu acho linda a história de superação dos protagonistas. Ela se abre para
o mundo ao lado dele. Já ele, começa o relacionamento porque está sendo
pago para isso, mas acaba se apaixonando, mostrando que não é o badboy
que todos pensavam. Quando ela descobre, o relacionamento deles termina,
mas daí ele toca o foda-se para o mundo e se declara em alto e bom som para
todos do colégio ficarem sabendo que sim, o sentimento dele é real, e não
tem a ver com nenhum acordo.

◆◆◆

​ esembarcamos em San Francisco e seguimos para Palo Alto, onde no dia


D
seguinte seria o jogo e fomos direto para o hotel.
​— Daqui a pouco vamos até o estádio para um treino rápido e voltamos para
descansar para o jogo de amanhã. Nada de festa. Nada de bebida. Nada de
bagunça. Fui claro? — O chefe da comissão técnica perguntou e todos os
jogadores concordaram — As meninas do time de dança tem o dia livre e
podem sair para turistar se tiverem vontade.
​Nosso time precisava desta vitória no primeiro jogo e todos fomos para os
nossos quartos. Enquanto os jogadores foram para o estádio, eu e as outras
cheerleaders nos arrumamos e fomos dar uma volta no shopping.
​O dia custou a passar, e acho que em parte porque senti falta de Chase. Era
estranho estar tão perto e longe ao mesmo tempo.
​ u nunca tinha sentido isso antes. Saudades de alguém que eu estivesse
E
gostando.
Será que isso é amor?
Quanto tempo precisamos estar com alguém para saber que estamos
gostando dela de verdade?
Acho que não tem tempo. Eu acho que pode ser imediato, já que tem
pessoas que levam uma vida juntos e nunca sentem isso de verdade.
Anoiteceu e eu e Miah estávamos de camisola, comendo uma pizza
no quarto e fofocando quando meu celular vibrou.

Chase: Se prepara que meu time está indo te buscar. Não pergunta
nada, só segue com eles em silêncio.

Eu não entendi a mensagem e já ia responder quando escutei um


barulho no corredor.
— U.C.L.A. FIGHT. FIGHT. FIGHT. GO BRUINS.
Eu e Miah corremos para a porta do nosso quarto e vimos todos os
jogadores do time gritando e festejando, enquanto a comissão técnica gritava
que tinha avisado que era para ficarmos descansando.
Do nada senti um dos jogadores me puxando e me colocando no
meio deles. Eu não entendi na hora, mas me lembrei da mensagem e fui
caminhando escondida no meio deles, até que fui praticamente jogada dentro
de um quarto.
Eu fechei a porta e caminhei até a varanda onde tinha uma jacuzzi
com um quarterback gostoso sorrindo para mim.
— Não acredito — Eu falei sorrindo ainda sem acreditar que a cena
que eu vi tantas vezes no filme ficava ainda mais perfeita quando no lugar do
Peter Kavinsky estava Chase Montana.
— Eu disse que seria o mocinho dos seus filmes.
Eu me sentei na borda da jacuzzi e fiquei balançando as pernas
dentro d’agua.
— Você não vai entrar?
— Eu estou de camisola.
— Igual no filme.
— Você está me fazendo acreditar em algo que sempre achei que não
era para mim.
— O que?
— Felicidade — Eu falei entrando na água e sentindo a minha
camisola de seda colar no meu corpo.
— Eu sei que sempre fui um babaca, mas não quero ser assim com
você.
— Por quê?
— Porque você me faz sentir coisas que eu nunca senti antes e que eu
também achava que não era para mim.
— Que tipo de coisa?
— Eu sinto vontade de ficar perto de você o tempo todo — Ele falou
vendo eu me aproximar dele.
— Eu não sou uma garota simples. Na verdade, por trás desta minha
ânsia de liberdade, tenho meus medos e…
— Você é difícil, borboletinha — Ele falou me puxando pela cintura
e me suspendendo fazendo com que eu me sentasse no seu colo com as
pernas entrelaçadas na sua cintura — mas a vida não facilita nada para mim,
logo, não seria diferente com a primeira garota que eu quero de verdade para
mim.
Eu envolvi meus braços no seu pescoço e ele me beijou.
Me beijou com carinho.
Me beijou com amor?
— Me deixa cuidar de você, borboletinha. Não precisamos postar nas
redes sociais porque felicidade se vive entre duas pessoas, entre quatro
paredes, e não precisa ser dividida com o mundo.
— Eu não quero dividir isso que nós temos com o mundo.
— Então seremos nós dois versus o mundo.
GAME DAY

Local do Jogo: Stanford Stadium


Palo Alto - Condado de San Mateo – California

Locutor n° 01: Boa tarde Palo Alto… boa tarde Cardinal.


Dia lindo… temperatura na casa dos 17°… estádio Stanford lotado
aguardando a entrada dos donos da casa.
De um lado os Cardinais, que já avisaram que esse ano querem o
primeiro lugar.
Locutor n° 02: Do outro lado os Bruins atuais campeões da liga
universitária.
Para quem vai a sua torcida neste jogo?
Locutor n° 01: Para você que nos acompanha sempre sabe que a liga
universitária é muito importante pois daqui sairão os futuros jogadores da
NFL.
Locutor n° 02: O futebol americano é um esporte amado e venerado
pelos americanos.
Locutor n° 01: Os Cardinais já se preparam para entrar em campo e
em todo o estádio se escuta o seu grito de guerra.
Locutor n° 02: As bandeiras vermelha e branca dos Cardinais
dominam o estádio.
Locutor n° 01: Que jogo nos espera hoje senhores, porque ao
mesmo tempo que gritam pelo time da casa, todos aguardam a estrela dos
Bruins, Chase Montana, porque mesmo sendo adversário, ele hoje é o grande
nome da liga universitária.
Locutor n° 02: E lá vem eles…os donos da casa…o time de futebol
americano da universidade de Stanford.
Locutor n° 01: O estádio vai a loucura. Todos de pé para receberem
os seus jogadores, a banda oficial, o mascote, e claro, elas… as cheerleaders.
Locutor n° 02: E lá vem ele, do outro lado do gramado, o time
adversário, e à frente dos seus jogadores, ninguém menos que Chase
Montana.
Locutor n° 01: Os jogadores começam seu aquecimento ao som do
grito da torcida.

◆◆◆

Locutor n° 01: O jogo já começa com os Bruins, ou melhor, Chase


Montana abrindo o placar com 2 x 0 para os Bruins.
Locutor n° 02: Esse jogador com certeza vai seguir com certeza para
o profissional na NFL.
Locutor n° 01: O talento desta família é como um legado, já que seu
irmão, falecido em um acidente de carro, era a estrela dos Bruins e grande
promessa da NFL.
Locutor n° 02: Rumores que Chase Montana vai assinar com o
Buffalo Bills, time que assinaria um contrato com seu irmão

◆◆◆

Locutor n° 01: A partida segue emocionante, e mesmo com os


Bruins minando o jogo, os Cardinais não desistem e já viraram o placar duas
vezes.
​Locutor n° 02: Sim, apesar do sufoco que estão passando com os Bruins
nosso time da casa não desanima.
​Locutor n° 01: O que foi essa jogada?
Locutor n° 02: Chase Montana está fazendo um touchdown atrás do
outro.

◆◆◆

Locutor n° 01: Já são mais de quatro horas de jogo e Chase está com
a bola… ele não parece correr e sim voar.
Locutor n° 02: Chase está conduzindo a bola para a endzone… o
silêncio é total no estádio… ninguém respira… ninguém quer perder um
milésimo de segundo do jogo.
Locutor n° 01: Chase vai finalizar como sempre…
TOUCHDOWN… Os BRUINS vencem o primeiro jogo da temporada e
Chase começa a sua caminhada para assinar um contrato com algum time
grande da NFL.
Locutor n° 02: Esse rapaz é um fenômeno.
Eu, eu te amei em segredo
Foi à primeira vista, sim
Nós amamos sem razão

(Dancing With Our Hands Tied - Taylor Swift)


Capítulo 23
Chase Montana

— Vencemos — Kalleb gritava pelos corredores do estádio até


entrarmos no vestiário.
Agora era o nosso momento de comemorar nossa vitória do jeito que
só os Bruins sabem fazer.
Pegamos nossas garrafas e começamos a jogar água um no outro,
enquanto cantávamos nosso grito de guerra.

“isso vai ser grande time, isso vai ser especial… nada pode nos
parar… Go Bruins… nada pode parar esse time… vamos em 3… 2…
1… UCLA… UCLA… UCLA… UCLA… U… C… L… A… FIGHT.
FIGHT. FIGHT.”

Nosso primeiro jogo da temporada.


Nossa primeira vitória.
Minha última temporada na liga universitária.
Eu estava confiante. Meu agente disse que dava como certa minha
contratação pelo Buffalo Bills.
Lembrei das regras. Eu não sigo as regras.
Kalleb começou sua dancinha no meio da roda e todos gritavam
jogando água para o alto. Depois um a um foi fazendo seus passinhos e
quando gritaram o meu nome, eu estava distraído pensando que se eu não
fosse contratado teria que fazer pós-graduação para continuar no time, ou ter
que assumir uma cadeira na diretoria da empresa do meu pai.
Nunca. Eu vou vencer cada jogo e seguir minha vida longe de quem
me acha um estorvo.
Fiz meu tradicional passinho de hip hop que era o único que eu sabia
e me lembrei da minha bailarina rodopiando sensualmente todas as manhãs
no estúdio de dança.
— Chase, você é bom no campo, mas dançando parece um cabo de
vassoura — Meu técnico falou rindo.
— Pede para a sua garota te ensinar uns passos novos — Kalleb
falou e todos começaram a rir.
— Vão para o inferno — Eu falei puto porque odiava ser zoado,
mesmo sabendo que dançando eu era realmente um desajeitado.
Lembrei de um dos filmes que Ava gostava, em que o cara era
dançarino. Queria poder fazer essa surpresa e dançar com ela, mas realmente
eu era um cabo de vassoura neste quesito.
— Nosso voo sai dentro de duas horas, e o aeroporto de San
Francisco é um pouco distante, portanto, comemorem, mas se apressem para
tomar banho porque precisamos ir embora — nosso técnico falou e os
jogadores o suspenderam do chão e ele ficou deitado em cima de um mar de
jogadores.
— Você está tão velho e rabugento que esqueceu como se comemora
sem tempo para acabar uma vitória — Eu falei rindo e indo pegar o meu
celular no meu armário e vendo que tinham duas mensagens.

​ exus Montana: Parabéns pela vitória. Não se esqueça do nosso


L
compromisso na terça-feira à noite.

​ mensagem do meu pai resolvi ignorar e fui ler a outra que realmente me
A
importava.

Ava: Estou tão orgulhosa do meu pudinzinho. Meu Deus, você é


muito bom. Eu não sabia se torcia agitando os pompons e gritando UCLA,
ou se gritava o seu nome em cada touchdown.
Chase: Vencemos borboletinha e eu tive que me segurar para não
pegar você nos meus braços e mostrar para todo mundo que a capitã mais
linda da liga universitária é só minha.

Voltei para a comemoração com os outros jogadores e nosso técnico


já estava tenso com o horário quando resolvemos tomar banho e acabamos
tendo que nos arrumar correndo para não perder o voo.
Desembarcamos em Los Angeles e seguimos de ônibus para a
UCLA. Assim que chegamos, desci apressado do ônibus para procurar por
Ava que estava parada em frente a porta me aguardando.
— Esperando alguém?
— Um certo capitão muito gostoso. Você conhece?
Eu abracei Ava e a beijei da forma que eu queria ter feito depois do
jogo, mas não pude porque ela não queria chamar atenção de ninguém para a
gente.
Ela estava certa, porque os jogos da liga são transmitidos pela ESPN
e todos assistem. Claro que um romance entre o quarterback e a filha do
senador presidenciável seria motivo de fofoca.
Eu não me preocupava só com Ava, mas comigo que não precisava
de holofotes fora do campo. Não quero deixar as corridas porque preciso da
adrenalina para me manter são, e se ficarem me vigiando, não teria paz para
isso e ainda arriscaria meu contrato com a NFL.
Para quem queria ser discreto e fazer as duas coisas, ficar com a filha
do candidato à presidência dos Estados Unidos era realmente uma total
discrepância.
Eu também não quero que meu pai descubra, porque com certeza ele
vai achar que vou ficar noivo e me casar na próxima primavera. Para ele ser
o sogro da filha do futuro presidente seria como abrir um leque de
oportunidades. Talvez ele até passasse a me dar algum valor.
— Vamos jantar? Eu estou morrendo de fome.
— Como você é romântico? — Ela falou rindo.
Fomos caminhando até a minha fraternidade que era mais perto do
local onde o ônibus parou, deixamos nossas coisas no meu quarto e fomos
no meu carro procurar um restaurante para jantarmos.
— O que você quer comer?
— Hummm… — Ela falou me olhando com sua carinha de safada e
me deixando de pau duro — Pode ser pizza e salada no California Grill.
Entramos no restaurante e escolhi uma mesa no canto para nos
sentarmos, e não quis ficar de frente para ela, mas ao lado dela.
— Boa noite. Chase, parabéns pelo jogo — O garçom falou — O que
vocês vão querer, já escolheram?
— Pizza de pepperone, fettuccini com molho alfredo, almôndegas,
uma sopa de ervilha e duas sodas.
​O restaurante ficava na esquina, com janelas grandes de vidro que nos
deixavam expostos para que passasse na rua, mas não me importei com isso
e já que Ava me provocou teria que aguentar.
​ Isso aqui que você queria comer agora? — Eu peguei sua mão e coloquei

em cima da minha calça para ela sentir o meu pau duro.
​— Chase, as pessoas vão ver… ela falou e gemeu quando enfiei minha mão
no meio das suas pernas brincando com seu clitoris por cima da sua calcinha.
​— Parabéns Chase — Um cliente falou passando pela nossa mesa.
​— Obrigado — Eu respondi enquanto puxava o tecido da calcinha de Ava
para o lado e enfiava meu dedo na sua boceta.
​Ava encostou seu corpo na mesa e começou a olhar o celular disfarçando
enquanto gemia baixinho.
​— Você vai me fazer gozar no meio desse restaurante.
​— Você quer gozar, borboletinha?
​Eu estava com um braço em cima da mesa, e o outro em volta de Ava. As
pessoas só não podiam imaginar que minha mão não estava em sua cintura.
​Comecei a estocar com mais força, e parava quando alguém passava perto da
sua mesa, enquanto Ava se contorcia discretamente até abaixar a cabeça para
que não vissem suas pálpebras pesadas e sua boca abrindo a cada gemido.
​— Eu quero gozar — Ela sussurrou — Você é louco e eu adoro isso.
​Eu acelerei o vai e vem do meu dedo e senti quando eles ficaram melados à
medida que Ava gozava.
​Foi o tempo exato dela suspirar e o garçom chegar com a nossa comida.
​— Você é linda gozando toda tímida com medo que saibam o que você está
fazendo.
​— Fique sabendo que esse aperitivo só abriu meu apetite — Ela falou
enquanto comia uma fatia de pizza.
​Essa é a minha garota.
​Não importa o que eu fale ou faça, ela sempre me surpreende, seja com uma
atitude ou uma simples resposta.
​— Achamos o cara — Kalleb falou rindo e se jogando no assento livre do
outro lado da mesa e me mostrando para os outros jogadores que estavam
esperando suas comidas.
​— Eu não sabia que estava sendo procurado — Eu falei comendo uma fatia
da minha pizza — e nem estava a fim de ser encontrado.
​— Mal começou a namorar e já está esnobando os amigos. — Kalleb falou
rindo — Ava, por favor, aproveita que você é bailarina e ensina seu
namorado a dançar porque eu não sei se você sabe, mas o cara é mais duro
que um cabo de vassoura.
​ alleb se levantou rindo e roubando uma fatia de pizza e me deixando sem
K
saber o que falar ou como olhar para Ava.
​Namorar.
​Namorado.
​Porra, ele usou essas duas palavras e me deixou sem ação.
​Eu não tinha conversado com ela sobre isso. Sobre títulos no que a gente
estava vivendo.
Que inferno!
​— Quer dizer que somos namorados, pudinzinho? — Ela falou rindo e
provando a sopa de ervilha.
Eu não respondi e ela ficou me olhando.
Eu nunca me preocupei com o que eu falava antes de Ava, mas agora
queria saber o que ela estava pensando.
​— Eles que inventaram isso.
Se eu for namorar quero fazer direito. Ava respira filmes românticos,
mas têm seus medos e por isso não percebe que no fundo sonha em viver
cada cena que assiste diariamente, e eu quero ser o cara que vai realizar essa
sua lista de desejos, mesmo que ela não saiba que tenha uma.
Me diga, você ainda tá acordada? (Acordada)
São cinco da manhã e tô bêbado agora
Me diga, a gente ainda pode transar? (Que se foda essa merda)
Único, agora tô completamente focado

(I Know? – Tavis Scott)


Capítulo 24
Chase Montana

Cinco horas da manhã.


O único barulho que escuto são os dos meus pés tocando a pista de
na atletismo do estádio assim que começo a correr.
Em poucos segundos a música I Know? da minha playlist começa a
tocar e me desligo de tudo ao meu redor.
Terça-feira.
Dia do encontro com o meu pai.
Inferno.
Ele parecia saber sempre como e quando atrapalhar a minha vida.
Hoje é dia de racha no sítio, e preciso correr em troca do favor de ter levado
Ava lá outro dia de manhã.
Eu não esperava por essa corrida de hoje, mas rachas surgem
conforme a demanda de apostas. Quando eu recebi a mensagem avisando
hora e local, não acreditei que seria na mesma noite que marquei com o meu
pai.
Lexus Montana não aceita atrasos, muito menos que desmarquem
com ele.
Essa noite terei o meu combo perfeito: reunião chata com o meu pai
e a adrenalina das pistas. Só resta saber como conciliar as duas coisas para
que uma não atropele a outra.
Correr sempre foi o suficiente para que eu conseguisse administrar
minha ansiedade misturada com as minhas dores.
Mas agora isso não é o suficiente para mim.
Eu preciso dela.
Ava era como um furacão desenfreado em busca de liberdade, e eu
um fósforo aceso num tanque de gasolina pronto para explodir com tudo.
Eu nunca seria capaz de machucá-la ou destruí-la com as minhas
loucuras, mas ela me prendeu de uma forma que era impossível deixá-la
partir.
Continuo correndo com sua imagem na minha mente e pensando
como ela fez uma bagunça na minha vida em tão pouco tempo.
Depois de quase uma hora correndo eu paro e coloco as mãos no
joelho respirando ofegante e tentando desacelerar.
Caminho até o local onde deixei minha mochila e pego minha garrafa
com água dentro dela e caminho lentamente até o meu carro.
E lá está a dona dos meus surtos, desejos e pensamentos.
Seu jipe está estacionado próximo a minha Mercedez e ela sorri
quando me vê.
Ela sai do carro e me estende a mão com um cigarro aceso.
Ninguém me conhece como Ava.
Ela não me julga. Não me diz que correr e fumar logo depois não é
nada saudável. Pelo contrário, ela fuma junto comigo.
​— Eu já estava indo te encontrar no estúdio de dança.
​—Eu vim antes porque gosto de ficar vendo você correr perdido nos seus
pensamentos.
​— Atualmente eu corro pensando em você.
​— E eu danço como se fosse para você.
​— Então podemos começar a intercalar nossas saídas matinais com outro
tipo de atividades que nos façam liberar adrenalina juntos.
​Ava envolveu seus braços no meu pescoço e eu ataquei faminto a sua boca,
com um beijo forte a reivindicando mais uma vez só para mim.
​Nos sentamos no capo do jipe e ficamos dividindo o cigarro e vendo o dia
amanhecer.
​— Nos vemos mais tarde? — Ela perguntou olhando o relógio e vendo que
precisava ir embora.
​— Hoje à noite eu tenho um compromisso.
​— Tudo bem, nos vemos depois…
​— Sabia que você fica ainda mais linda com ciúmes.
​— Ciúmes? Não sei do que você está falando, só disse que nos vemos
amanhã por que você falou que hoje tem compromisso.
​— Com o meu pai, borboletinha. — Eu falei e ela abaixou a cabeça rindo —
Hoje tenho que enfrentar a fera.
​— Você nunca me fala da sua família.
​— Não tenho o que falar. Meu pai é um CEO conservador e manipulador, e
minha mãe sumiu pelo mundo viajando e fazendo compras. Eu sou um filho
que não corresponde às suas expectativas, e isso é tudo.
​ Seu pai não gosta de futebol?

​— Meu pai gosta de dinheiro. Se eu for para a NFL e ficar rico, ele vai
gostar. Caso contrário, vai querer que eu trabalhe com ele na empresa. Esse é
o seu discurso de sempre, e hoje a noite vai com certeza me lembrar das
minhas obrigações, e jogar na minha cara o quanto gasta comigo.
​— Entendo — Ela falou deitando a cabeça no meu ombro — Podemos nos
ver depois…
​— E depois desse inferno têm racha lá no sítio.
​— Eu posso ir?
​— Você quer me ver correr?
​— Eu quero.
​Eu não sei se era uma boa ideia envolver Ava na minha vida ilegal, afinal ela
já tinha problemas de sobra com o seu pai.
​— Eu não vou poder te buscar porque devo sair tarde da casa do meu pai.
​— Se você me passar a direção e como faz para entrar eu posso te encontrar
lá.
​— Eu sou uma péssima influência para você.
​Ava desceu do capo do carro rindo e eu fiz o mesmo parando em frente a ela.
​— Mesmo sabendo que é errado e que estou te corrompendo, eu te passo a
direção mais tarde.
​— Eu amo ser corrompida por você — Ela falou entrando no jipe e jogando
um beijo para mim.

◆◆◆

Montana Enterprises é uma das maiores empresas de tecnologia dos


Estados Unidos, ficando atrás apenas da Stanford, com sede em San
Francisco.
Ela existe há três gerações, e todos acreditam que ela passará para
mim no futuro, afinal sou hoje seu único herdeiro.
Nossa empresa tem um faturamento de bilhões de dólares por ano, e
todas as vezes que vou até a sede, escuto que o talento dos Montanas é
hereditário, e que o meu pai tem a mente brilhante dos seus antecessores.
Eu admiro o meu pai como empresário apesar de não querer seguir os
seus passos. Não consigo me ver atrás de uma mesa todos os dias, com
reuniões intermináveis e festas onde tenho que sorrir socialmente para
aumentar minha lista de clientes.
— Vai jantar sem dar uma palavra? — Meu pai me perguntou, me
vendo comer perdido nos meus pensamentos — Me conte como está a
universidade, os treinos.
​— Está tudo bem.
​— Só isso. Tudo bem é tudo o que você tem a dizer.
​— Não sei o que falar diferente disso. Já perguntei pela empresa, o senhor
me colocou a par de todas as inovações, conquistas, eu já o parabenizei por
tudo, e agora não tenho mais o que falar.
​— E as garotas? Você nunca me apresentou uma namorada.
​— Eu nunca tive namorada — Respondi e pensei em Ava.
​Meu pai respira fundo, ajusta a sua gravata e toma um gole do seu vinho.
Com certeza ele está enfadado com esse jantar tanto quanto eu, mas continua
fingindo que não quer se levantar e ir embora da mesa, como faz em todos os
seus eventos sociais.
​— E o favor que você ficou de fazer por conta da burrada que te livrei no
final do outro semestre.
​— Esse assunto de novo? Já disse que estou de olho como sempre. Está tudo
bem, sem problemas, então não tenho nada para falar sobre isso.
​Eu confesso que já tinha esquecido dessa coisa de ser babá do nerd, mas
desde que o infeliz não se metesse em confusão, ou fosse chorar no colo do
papai, ninguém saberia que eu sequer sei quem é o coitado que o pai quer
vigiar na universidade.
​— Será que não tem nenhum assunto que você queira conversar com o seu
pai? Parece que estou jantando com um estranho.
​— O senhor me afastou a vida toda e agora quer um filho amoroso na hora
do jantar?
​— Eu nunca te afastei, você que vive para me afrontar quebrando as regras,
e no final, ainda tenho que limpar a sua sujeira como da última vez.
​— Eu não quero lhe afrontar. Eu corro porque gosto e me faz bem.
​— Te faz bem acelerar feito um louco em rachas? Com a sua idade eu já
estava de casamento marcado com a sua mãe.
​— Eu não pretendo me casar.
​— Não pretende ser meu sucessor, e, não pretende se casar — Meu pai falou
com ar de deboche.
​— Será que eu posso ir embora? Acho que nosso jantar…
​ Não, você não pode.

​Inspirei e depois expirei algumas vezes tentando me acalmar enquanto
caminhava até o meu carro. Foram mais de duas horas de sermão onde claro
o meu pai deixou claro seu total desapontamento comigo.
Ele não citou minhas notas altas.
Ele não falou sobre a minha vitória no jogo.
Ele só ficou repetindo como eu deveria ser, e como eu era diferente
do meu irmão, que conseguia ser atleta, educado, bom aluno, respeitoso e
presente na vida social da família.
Depois do acidente eu tentei ser igual ao meu irmão para agradar o
meu pai, mas nunca consegui, porque ele sempre enxergava os meus erros, e
nunca minhas tentativas de me aproximar e tentar ser como ele tanto queria.
Eu tentei ir aos jantares no clube, ser presente nas reuniões que
tinham na nossa casa, mas ele sempre reclamava da minha gravata, da minha
postura a mesa, e quando eu respondia alguma pergunta de um convidado,
ele me repreendia com o olhar com medo de que eu respondesse algo fora do
seu script de filho ideal.
Foi então que eu desisti de agradá-lo, porque não adiantava.
E agora ele me cobra uma conversa de pai e filho num jantar?
Eu entendo que ele queira um sucessor, mas nem que eu aceitasse
isso seria suficiente. Com certeza ele iria preferir qualquer outra pessoa, e só
diz que me quer para ter como me infernizar, e me punir por algo que eu não
tive culpa.

◆◆◆

— O carro já está pronto para o campeão.


Rick fala assim que me vê como que me lembrando que apostou alto
em mim.
Minha mente ainda estava um caos, já que o meu pai fez tanta
questão de infernizar minha vida, e com certeza essa noite eu iria correr na
força do ódio.
O sítio de Rick, conhecido como Mountain Ride, estava pronto como
sempre para sediar o maior racha de Los Angeles.
O lugar estava lotado, com pessoas bebendo, fumando, dançando ou
conversando sobre a corrida ao lado de gigantescas caixas de som que
deixavam todos surdos, mas ninguém parecia se importar com isso.
Eu passei rapidamente os olhos no circuito, mas era algo que eu fazia
por rotina, porque eu tinha cada ponto, cada buraco, cada curva, cada árvore
do percurso gravada na minha memória.
Estou acostumado a correr aqui em alta velocidade e fazendo
manobras arriscadas, desde que descobri que isso me deixava melhor do que
infinitas horas de terapia.
Quando entro no meu carro e acelero, sinto como se o circuito fosse
uma válvula de escape, onde posso me esconder de todo o inferno que me
cerca.

Locutor da corrida: Atenção Mountain Ride, está quase na hora dos


motores serem ligados. Prontos para encherem o pulmão com a fumaça dos
carros, estourarem os tímpanos com o ronco dos motores maior que o das
caixas de som e sentirem aquele cheiro delicioso de pneus queimados?

As pessoas gritam enlouquecidas em resposta ao locutor. Qualquer


pessoa sensata sairia correndo daqui, mas quem está aqui ama essa
adrenalina e loucura das corridas clandestinas.
— Quase na hora, irmão — Kalleb fala me entregando a bandana que
passo pela minha cabeça e minhas luvas.
— Essa noite temos um corredor novo de Indiana. Dizem que é o Rei
de lá e Rick apostou o triplo de dinheiro que ele não vence o Rei de Los
Angeles.
— As apostas estavam caindo porque ninguém queria apostar em
quem corria comigo, e trazendo alguém de fora, o povo que diz me adorar
aposta no meu oponente querendo me ver perder. Filhos da puta!
— Vão perder o dinheiro porque ninguém vence Chase Montana,
seja no campo, ou seja, nas pistas.
— Irmão, preciso que você fique atento porque Ava ficou de vir
assistir à corrida e não estou vendo ela por aqui.
— Foca no circuito que eu vou ver se ela está na área.
Aperto os meus olhos, tentando enxergar melhor a multidão e ver se
a vejo, mas sou surpreendido pelo locutor chamando os corredores.
— Mountain Ride, com vocês o nosso corredor da casa, o Rei de Los
Angeles, Chase Montana, e seu oponente, Roger Thompson, Rei de Indiana.
A plateia começa a gritar, enquanto nós dois caminhamos até os
nossos carros.
Olho de novo para a multidão e só então a vejo.
Linda.
Com um short preto minúsculo e um cropped vermelho. Ela quer me
enlouquecer?
Ava sorri para mim e neste momento vejo um cara segurando sua
cintura.
Eu olho furioso em sua direção, quando vejo Kalleb gritando com o
infeliz que tocou na minha garota.
O cara se afasta e Kalleb fica de pé ao lado de Ava, como se fosse
seu segurança. Esse é meu irmão! Sei que posso confiar nele.
Ava então pega algo com Kalleb, e porra… ela coloca uma bandana
preta igual a minha na cabeça.
Minha rainha!
Eu sorrio para ela e entro no meu carro. Quando seguro o volante
olho para o lado e vejo o carro do meu oponente alinhado ao meu.
Eu respiro fundo, coloco meu cinto, confiro os retrovisores, as luzes
do painel e seguro firme o volante me desligando de tudo à minha volta.
Uma ruiva com um macacão vermelho atarraxado no corpo e botas
longas pretas, se posiciona entre os carros, e quando o lenço que está em
suas mãos suspensas o máximo que ela consegue, desce, o meu carro pula
com fúria e acelero com tudo.
Ficando acordado para você
Dia e noite pra você
Temos perdido a noção do tempo
Alcançando alturas mais altas
Só uma coisa em minha mente

(Sweat - ZAYN)
Capítulo 25
Ava Miller

Eu olho para o espelho e analiso a roupa que escolhi para essa noite.
Um coturno preto, um cropped vermelho e um short de couro preto.
Deixei os cabelos soltos, fiz uma make nude para destacar o batom
vermelho.
Olhei para os meus braços e vi as tatuagens de borboleta que hoje
ficariam expostas. Eu não preciso escondê-las. Não vou para o jogo ou
algum lugar da universidade, e sim para uma corrida de rua ilegal no sítio de
um traficante.
Quem é você agora, Ava Miller?
Eu começo a rir para mim mesma feliz por estar fazendo o que sinto
vontade, e não o que os outros acham que eu devo fazer.
Pego a minha bolsa, a chave do meu carro, confirmo o endereço no
GPS do meu celular e saio apressada da fraternidade.
Miah estava com Cath na fraternidade dela, e mandei uma mensagem
dizendo que estava indo ver Chase correr e elas surtaram. Eu não tinha
certeza se podia levar outras pessoas, mas com certeza na próxima vez
colocaria o nome delas na lista.
Dirigi apressada pela estrada que estava vazia e com o coração
acelerado ansiosa pelo que eu viveria essa noite.
Uma corrida de rua clandestina. Quanta adrenalina deve ter numa
competição dessas, e como será que é ver a pessoa que você gosta arriscando
a vida em alta velocidade?
Pensar nisso me deu medo e um aperto no coração.
Cheguei no local e assim como da outra vez de manhã parei em
frente a um portão enorme, só que desta vez um homem com dois
seguranças veio checar o meu nome e me deixou passar.
Estacionei o meu carro e comecei a caminhar pelo local que estava
lotado, e confesso que me senti perdida sem saber para que lado seguir.
Não consegui ver Chase em lugar nenhum e fui seguindo em direção
às caixas de som.
No caminho peguei uma garrafa de cerveja que estava em um barril,
e fiquei observando as pessoas do local. Algumas usavam bandanas
vermelhas ou pretas, na cabeça e nos braços, e acho que era como escolher
um time.
Time? Acorda, Ava. As bandanas com certeza marcam de qual
gangue você faz parte.
Próximo a caixa de som algumas pessoas dançavam alheia ao que
estava acontecendo. Algumas pick-ups estacionadas no local serviam como
um motel a céu aberto, e tinha um grupo que parecia discutir sobre quem
venceria a corrida.
Passo por algumas garotas e as escutei elas falarem que o gostoso do
Chase enfrentaria um piloto de Indiana.
O local mesmo sendo a céu aberto, era abafado devido a tanta gente
que parecia se espremer num único ponto daquele lugar gigante.
— Você por aqui? — Rachel perguntou me encarando de cima a
baixo.
— Por que a surpresa? Chase vai correr então onde mais eu poderia
estar senão aqui ao seu lado?
— Cuidado, capitã, que quanto mais você subir com Chase, mais vai
se machucar na queda.
Eu queria ignorar essa frase que com certeza Rachel falou por
despeito, mas meus gatilhos eram mais fortes que minha força de vontade.
Tomei um gole de cerveja, respirei fundo e olhei para o céu
estrelado.
Eu não vim chorar. Eu vim ver Chase correr. Repeti isso
mentalmente algumas vezes e consegui respirar normalmente.
O lugar era enorme, e achei que passaria a noite andando em círculos
até que escutei o locutor anunciando os corredores da noite e fui passando
espremida entre as pessoas até conseguir chegar na primeira fila e finalmente
ver Chase.
— Apostou em alguém? — Um ruivo alto e cheio de tatuagens me
perguntou enquanto seus braços envolviam minha cintura e me puxavam
para junto do seu corpo.
— Eu não vim para apostas, mas para assistir…
Eu não consegui terminar de falar porque alguém o puxou com força
e o infeliz me machucou porque não queria soltar minha cintura.
— Ficou louco irmão, só quero me divertir com a garota.
Foi então que eu vi que o cara que o puxou com força era Kalleb que
estava com mais quatro jogadores do time de futebol.
— Acontece que essa é a garota do Chase e acho bom você sumir
antes que ele acabe com a sua raça e estrague a corrida, porque neste caso
você vai se ver com Rick, e a coisa vai ficar bem feia para o seu lado.
— Eu não sabia que Chase tinha uma garota — O ruivo falou vendo
Chase vindo em sua direção, mas parando quando viu que eu estava segura e
que os seus amigos já estavam em volta de mim.
— Você deu sorte que a corrida vai começar, mas o melhor que você
faz é ir embora, porque não sei o que pode acontecer se ele te encontrar por
aqui.
Chase me olha e posso ver o quanto ele está furioso e não quero que
ele se desconcentre e sorrio para ele.
Kalleb me entrega algo e vejo que é uma bandana preta igual a que
Chase está usando. Eu pego e passo pela minha cabeça e falo olhando para
ele e movendo os lábios sem som para que ele vença.
Inspirei.
Expirei.
Inspirei.
E expirei de novo.
Esse local, essa bandana preta, o som do ronco dos motores, o cheiro
de pneu queimado… eu estava oficialmente quebrando as regras junto com
Chase.
É dada a largada.
Que vença o melhor. E que o melhor seja Chase
Ele arranca com o carro pelo circuito e me lembro quando fiz isso
junto com ele.
Abro um sorriso quando vejo que o corredor de Indiana está
comendo poeira.
A adrenalina pulsa forte por toda a minha corrente sanguínea, e meu
coração acelera à medida que perco Chase de vista no circuito escuro como a
noite.
De repente vejo o Mustang Dark Horse R do oponente de Chase
acelerando e o fechando numa curva.
Meu coração parece parar por segundos com medo do que pode
acontecer.
Chase precisa ficar bem.
Eu estava paralisada até ver que o carro de Chase parece voar.
— Ele acionou o turbo. Porra ele é muito foda. Voa Chase — Kalleb
gritou ao meu lado.
Chase estava acelerando e encurtando a distância do seu oponente,
quando fez uma manobra arriscada próxima a um barranco que tinha na pista
me fazendo quase cair no chão já que minhas pernas tremiam como se
fossem gelatina.
Então, ele virou o volante com tudo em frente ao rei de Indiana
fazendo com o que o cara perdesse o controle do carro e ficasse rodando na
pista no meio de uma fumaça de terra que tomou conta do local.
Chase então surge do meio da fumaça e cruza a linha de chegada
sendo ovacionado pela multidão que estava no local.
​Ele venceu!
​Eu estava muito feliz!
​Chase era um fenômeno no gramado e nas pistas.
​Ele saiu do carro, cumprimentou um homem e veio correndo na minha
direção.
​Chase me suspendeu no ar e me rodou no meio das pessoas que não paravam
de gritar.
​— Ainda vou fazer isso depois de vencer um jogo — Ele falou me beijando.
​Sim, aqui ele podia me exibir para todos.
​Me senti mal por ser covarde e não enfrentar minha família tóxica.
​Tóxica. Esse era o motivo.
Eu estava feliz, e não queria a toxicidade deles entre eu e Chase.
O mesmo homem que cumprimentou Chase quando ele saiu do carro
se aproximou cercado por seguranças.
— Chase, você é o Rei mesmo. Quando quiser trazer sua garota para
correr em troca de noites como essa, saiba que o circuito é de vocês.
— Quer usar a minha vontade de deixar minha namorada feliz para
ficar mais rico ainda, Rick?
— Dinheiro é sempre bem-vindo.
Namorada? Ele falou namorada?
— Tão bem-vindo que na próxima, vou correr para ganhar minha
parte — Chase falou rindo se referindo a hoje que ele não ganhou nada.
O homem foi embora com certeza conferir quanto ganhou essa noite
e Chase passou o seu braço em volta da minha cintura me conduzindo até o
seu carro.
— Me dê as chaves do seu carro — Ele pediu e eu abri a bolsa
procurando por elas e entreguei em suas mãos.
Chase olhou em volta e acenou para Kalleb que veio correndo.
— Leva o carro de Ava para a universidade.
— Deixa comigo — Ele falou pegando as chaves e sumindo entre as
pessoas.
— Você hoje é só minha, Ava Miller.
— Só hoje?
— Sempre minha.
Entramos no carro e Chase acelerou passando entre as pessoas e eu
fiquei assustada achando que o doido atropelaria alguém.
— Não se preocupe, porque ao menos que aquele ruivo filho da puta
que ousou tocar em você esteja aqui, não pretendo atropelar ninguém.
Ele falou e segurou a minha mão, freando o carro do nada e me
fazendo levar um susto.
— Quer ser minha namorada?
Eu comecei a rir. Chase era completamente louco. Quase me mata de
susto para me pedir em namoro mostrando como ele sabe ser romântico.
— Claro que sim, ou não mergulharia de cabeça no seu mundo
apocalíptico. Só espero que você saiba que o meu não fica nada a dever ao
seu.
— Cuidamos disso no futuro.
Futuro!
​Eu teria um futuro com Chase Montana?
​Eu não queria fazer planos, mas era impossível negar que eu o queria para
sempre, e não com prazo de validade até a formatura.
​E à medida que o carro acelerava mais eu tinha certeza de que estava
quebrando regras sem volta.
​Chase me fez sair da minha zona de conforto da invisibilidade e ir muito
mais longe do que eu poderia imaginar.
​Olhei as borboletas no meu braço sabendo que elas estavam voando cada vez
mais alto.

◆◆◆

O professor fala sobre a História da dança e não consigo conter um


bocejo, já que praticamente não dormi na noite passada.
A emoção da corrida, com Chase acelerando na velocidade da luz,
ainda pulsava no meu corpo, e o cansaço não era maior do que minha alegria
por ter vivido uma experiência tão incrível.
Miah: Minha aula de biologia está uma merda e fritando todos os
meus neurônios.
Ava: Já eu não sei dizer nada do que o professor está falando porque
estou quase dormindo.
Miah: Eu preciso saber de tudo. Como foi ontem?
Ava: Uma experiência única. Chase acelerando. Vencendo. Me
beijando. Me chamando de namorada. Tudo intenso demais.
Miah: Namorada? Ele oficializou a relação de vocês já no nível de
namorados?
Ava: Eu sei que namoro é algo sério, que não foi feito com prazo,
mas com a intenção de fazer durar, e isso me assusta, ao mesmo tempo que
me faz parecer tão certo.
Miah: Almoçamos juntas para colocar a fofoca em dia?
Ava: Sim, te vejo no refeitório do campus.
Eu me esforcei para prestar atenção no restante da aula, mas fiquei
aliviada quando terminou porque a voz do professor parecia três vezes mais
alta com a dor de cabeça que eu estava sentindo.
Me lembrei que na pressa hoje de manhã, só tive tempo de passar na
minha fraternidade para trocar de roupa e não deu tempo de comer nada
antes de vir para a aula.
Passei correndo no refeitório e peguei um copo duplo de café e
alguns donuts para encarar mais duas aulas antes de me encontrar com Miah
para almoçarmos.
Durante toda a manhã meu pensamento se dividiu entre as notas
importantes que o professor falava e as lembranças da noite com Chase, que
terminou com os dois dormindo enquanto passava o filme Para todos os
garotos: P.S. ainda amo você.

Flashback

— Às vezes eu olho para você e vejo um mulherão. Em outros


momentos, uma menina romântica e sonhadora como essas dos filmes que
você gosta.
— Isso é ruim?
— Não, eu acho isso fofo. Você é linda. É a pessoa mais doce e
respondona, e mais pura e safada, que eu já conheci. Para cada lado seu tem
um oposto na mesma proporção.
— Sou frágil e intensa.
— Exatamente, você me faz sentir protegido ao seu lado, ao mesmo
tempo que me faz querer te proteger do mundo.

◆◆◆

Eu fico encarando o caderno no meu colo e me dou conta que tudo


que fiz foi ficar escrevendo o nome de Chase como se eu fosse uma
adolescente na High School.
Abri meu Ipad e encontrei a lista dos meus filmes favoritos e cenas
deles que eu sonhava em viver, e aproveitei para riscar a da jacuzzi.
Cena da jacuzzi
Cena de soltar balão
Cena dançando no lago
Cena dançando na apresentação final
e outras que me fizeram pensar em Chase que estava empenhado em
ser o mocinho dos meus filmes, sem saber que já tinha realizado a primeira
cena dos meus sonhos.
Antes eu chorava achando que nada a respeito do amor era para mim,
mas agora meu medo é de que o que eu estou vivendo possa ter um fim.
Como seria se tudo terminasse hoje?
Tudo voltaria a ser como era antes?
Chase iria embora me deixando com saudades dos dias felizes?
Eu saberia voltar a ser sozinha?
Ele me fez ver que a vida a dois não é tão ruim como eu pensava
baseado na minha experiência com o casamento frio dos meus pais.
Eu só queria ser livre, e agora quero ser feliz ao lado dele.
Essas perguntas sempre ficam indo e vindo na minha mente.
Por isso que eu sempre vou para o estúdio e danço até sentir que
meus pés não aguentam mais, meu pulmão está ardendo sem ar e minha
mente está vazia.
Não posso permitir que meus medos me impeçam de viver.
Sinto alguém me observando e olho para as mesas no fundo da sala e
vejo Rachel me olhando com raiva, como se eu tivesse roubado Chase, que
nunca pertenceu nem a ela e nem a ninguém.
Chega de drama, eu falei quando finalmente a última aula encerrou e
pude correr para conversar com Miah no refeitório.
Eu nunca fui de festas, bebidas, cigarros ou corridas.
Quando vim para a UCLA sabia que seria um ano que eu tinha para
viver tudo que eu queria, e quando fiquei com Chase sabia que minha
família daria um jeito de me separar dele.
Mas se eu sempre soube disso, por que a ideia de ficar sem ele era
tão ruim? A resposta era muito clara: eu estava apaixonada por Chase
Montana.
Justo quando eu acho que eu estou ganhando
Quando eu quebrei todas as portas
Os fantasmas da minha vida
Golpeiam mais selvagem do que antes

(Ghosts - Deftones)
Capítulo 26
Ava Miller

A última aula do dia termina e olho para o relógio vendo que são
vinte e duas horas. Eu sei que o estúdio de dança fica vazio esta hora e
resolvo ir para lá dançar e buscar meu equilíbrio.
A semana passou rápido e amanhã embarcamos para mais um jogo,
desta vez contra os Spartans.
Não estava preparada para voltar lá tão cedo.
Minha antiga universidade.
Minha família.
Anthony.
Eu chego no estúdio exausta emocionalmente, jogo minha mochila
no chão, tiro o meu casaco e pego minha garrafa de água porque sinto que
minha boca está seca.
Alongo meu corpo como sempre faço antes de começar a dançar.
Abaixo meu corpo, e sinto a ponta dos meus dedos das mãos
alcançarem os meus pés com facilidade. Sinto meus músculos esticando,
minhas costas estalando e só isso já me faz relaxar.
Eu respiro fundo quando me sento no chão gelado.
Inspiro.
Expiro.
Me deito no chão, sentindo as minhas costas tocando a madeira fria
do piso, e estico os meus braços acima da cabeça. Logo depois, os estico
para a frente, e subo meu corpo me deitando agora com minha barriga no
chão.
Sinto os bicos dos meus seios ficarem duros em contato com o chão
gelado.
Inspiro.
Expiro.
Eu me sento e abro as pernas o máximo que consigo enquanto me
deito no chão com a barriga tocando o assoalho.
Jogo meus braços para trás, espalmo as palmas das minhas mãos no
chão, ao mesmo tempo que uno minhas pernas e projeto meu corpo para o
alto fazendo uma ponte.
Coloco uma perna de cada vez para o alto e para trás e fico
novamente de pé.
Começo a rodopiar pela sala quando escuto vozes no corredor.
Chase.
Rachel?
Eu sei que deveria ignorar e continuar dançando, mas não consigo e
fico próxima a porta escutando a conversa, ou seria discussão entre os dois.
— Estou com saudades, vamos para o seu carro, eu te faço esquecer
de qualquer garota.
— Você pode por favor parar de me seguir. Eu não vou a lugar
nenhum com você.
— Pode ser no banheiro que fica vazio essa hora. Me faz gozar como
só você sabe fazer.
— Não se humilhe assim por ninguém. Procure quem te queira.
— Eu não quero outra pessoa, só você, Chase.
— Tira a mão do meu pau, porra.
— É por causa daquela vadia da Ava?
— Limpa essa boca para falar da minha namorada.
— Namorada? Você nunca namorou. Por que não namorou comigo
que sempre estive disponível te esperando?
— Me deixa em paz.
— Você pensa que ela é santa? Ela transou com o quarterback do
Spartans. Aliás, vocês estão indo para lá esse final de semana. Será que ela
marcou algum encontro com o ex?
— Eu vou te dar a chance de sumir da minha frente e só não vou te
dar o cala boca que você merece porque apesar de filha da puta você é uma
mulher, e não sou covarde. Mas some da minha frente. Não fala mais
comigo.
— Tudo isso por causa dela?
— Sim, tudo isso pela única garota que eu quero no mundo.
— Tomara que o ex dela pegue ela de jeito e você volte corno desta
viagem.
— Vai para o inferno sua puta.
Eu abri a porta devagar quando escutei os passos de Rachel e vi
Chase dando um soco na parede.
Ele olhou para trás e se assustou quando me viu.
— Não sabia que você estava aqui?
— Vim dançar. Precisava esfriar minha cabeça. Esse final de semana
não vai ser fácil para mim.
— Entendo.
— Eu não tenho ex, Chase. Nunca tinha namorado ninguém até
conhecer você.
— Eu sei disso — Ele falou entrando no estúdio, fechando a porta e
me abraçando.
— Estou com medo. Tenho lembranças ruins de lá.
— Se o babaca do Anthony olhar para você eu mato ele.
— Não é só ele. Tem a minha família também. Minha mãe já enviou
mensagem que eles vão estar no jogo. Ela e o meu pai. Os dois não perdem a
oportunidade de angariar votos, e onde têm eleitores, eles estão presentes.
— Quer que eu te faça esquecer isso tudo? — Ele falou me pegando
no colo e entrelaçando minhas pernas na sua cintura.
Chase apertou minha bunda me fazendo gemer alto.
Ele rodou comigo no seu colo e depois me colocou no chão.
Flowers começou a tocar e eu inspirei jogando minha cabeça para
trás, e depois expirei olhando para Chase enquanto tirava o meu top e jogava
no chão.
Ele se ajoelhou olhando para mim e tirou a camisa.
Eu dei uma pirueta e quando parei tirei minha saia ficando só de
calcinha.
Ele então tirou sua calça de moletom ficando apenas com sua boxer
preta.
Eu tirei e joguei as sapatilhas no canto da sala, e ele fez o mesmo
com seu tênis.
Joguei meu corpo de um lado para o outro como se fosse uma onda
do mar e inspirei fundo.
Eu espalmei as mãos no espelho fazendo com que os bicos dos meus
seios encostassem nele ficando duros.
Chase caminhou até onde eu estava e colou o seu corpo no meu.
Olhamos um para o outro pelo reflexo do espelho.
Ele tocou os bicos dos meus seios me fazendo gemer e embaçar o
espelho.
Seu pau começou a roçar minha bunda e eu sentia minha boceta
piscando como o meu corpo imprensado no espelho.
— Gostosa demais. Hoje você vai ver como fica linda sendo minha.
Eu murmurei algo sem sentido, com sua ereção inchada tocando
minha bunda.
Chase segurou meus cabelos e o enroscou no seus dedos, virando o
meu rosto e colando nossas bocas num beijo faminto.
Ele abaixou deixando uma trilha de beijos nas minhas costas e sem
soltar os meus mamilos. Ficar olhando a ponta dos seus dedos brincando
com os bicos dos meus seios me deixou com as pernas trêmulas e uma
vontade enorme de gozar.
Chase então soltou os meus seios e começou a tirar a minha calcinha
e enlouqueci quando vi seu dedo entrando dentro de mim e o seu polegar
tocando meu clitóris.
— Você está encharcada. Isso tudo é tesão, borboletinha?
— Eu quero gozar.
— Quer? Por quê? Te excita me ver assim brincando com o seu
clitóris?
— Por favor.
— Olha para o espelho. Olha os meus dedos entrando e saindo
lambuzados da sua boceta.
— Chase.
Eu consigo sentir seus dedos sendo acolhidos pela minha excitação.
Caralho.
Isso é bom demais.
Ele me virou fazendo a minha bunda colar no espelho e colocou as
minhas pernas apoiadas nas suas costas enquanto me chupava. Eu senti as
minhas pálpebras pesadas, mas não conseguia parar de olhar ele agachado,
me sustentando e me fodendo com a sua língua pelo reflexo do espelho.
​— Eu vou gozar.
​Ele então desacelera os movimentos, afastando sua mão da minha boceta, e
eu resmungo irritada.
​Chase ri porque estou xingando ele com todos os palavrões que conheço e
enfia três dedos de uma vez dentro de mim.
​Foi insano gozar forte, gemendo alto e me vendo viver esse momento.
​ u estava sendo dele. Eu podia ver esse momento pelo espelho. E eu queria
E
mais. Queria ver seu pau entrando dentro de mim.
Chase me sustentou e foi se levantando. Ele então desceu as minhas
pernas colocando-as em volta da sua cintura e abaixou sua boxer fazendo seu
pau com veias grossas pular para fora e bater na minha boceta.
— Quer me ver te comendo?
— Sim, por favor.
— Sim, por favor, o que, Ava?
— Eu quero ver você me fodendo. Quero me ver gozando no seu
pau. Quero te ver gozando dentro de mim.
— Como a minha namorada é gulosa.
Ele falou e enterrou o seu pau dentro de mim fazendo minhas costas
baterem com força no espelho.
— Apertada demais, porra.
Porra. Para qualquer lado que eu olhasse podia ver a gente
transando.
Eu gemo alto quando sinto seus dedos enterrados na minha bunda e
ele me fodendo mais forte.
Porra.
Meu corpo se choca contra o espelho a cada estocada.
Eu o abraço e sinto o cheiro dos seus cabelos, misturados com suor
do nosso sexo forte, invadindo minhas narinas.
Eu empurro meu quadril contra o seu pau que está enterrado dentro
de mim, e vejo pelo espelho suas pernas tremerem.
Consigo ver a base da sua coluna arrepiada, e me sinto plena vendo
esse homem lindo me desejando.
Eu fico observando sua expressão enquanto ele goza sendo só meu.
Nossas respirações, igualmente desreguladas, se misturam num
orgasmo forte.
Hoje eu pude ver como somos lindos sendo um do outro.
Foi intenso.
Foi insano.
Foi gostoso.
Foi arrebatador.

◆◆◆
​ dia amanheceu cinzento combinando com o meu humor para viajar para
O
Michigan.
​Eu, Miah e Cath que desta vez tinha sido escalada seguimos no carro do
aplicativo para pegar o ônibus que nos levaria para o aeroporto com o resto
do time.
​Como na outra vez embarcamos no último ônibus junto com os reservas e
desta vez eu fui sentada com Lucy, do time de dança, e Miah claro foi com
Cath.
​Como o avião não tinha lugar marcado, desta vez Chase não abriu mão de ir
comigo, e se sentou ao meu lado, e os jogadores começaram a zoar que ele
estava encoleirado, deixando-o puto.
​— Essa noite eu vou ter que ir jantar com os meus pais.
​— E você está bem com isso?
​— Não. Quando estou com eles não sou eu mesma. Mas trouxe na mala meu
uniforme de filha do senador.
​— Um dia vamos mandar nossas famílias para o inferno.
​— Sim, mas agora vamos pensar no jogo que você está indo vencer.
​Esse era o verdadeiro espírito dessa viagem e era sobre isso que eu iria
pensar. Eu estava desanimada, mas quando vi todos no avião cantando o
hino, empolgados, me lembrei que tinha prometido a mim mesma que esse
ano seria especial, e confesso que acabou sendo melhor que minhas
expectativas.
​Olhei para Chase e sorri. Ele fez tudo ser muito melhor do que eu podia
esperar, e não iria ficar sofrendo antes da hora.
​A viagem foi bem barulhenta, pois os jogadores estavam animados e
ansiosos pelo segundo jogo da temporada. Eu estava feliz por Cath ter sido
escalada, porque assim teria minhas duas amigas ao meu lado no estádio,
além do meu namorado que estava sempre querendo me proteger do mundo.
​Desembarcamos no Michigan alegres e com grandes expectativas para o
jogo. Eu, Miah e Cath estávamos rindo e Chase segurou minha mão na
mesma hora que vi minha mãe no aeroporto.
​Eu soltei sua mão, endireitei minha postura, perdi o brilho do meu sorriso e
respirei fundo caminhando na direção da minha mãe.
​— Não esperava te encontrar aqui no aeroporto.
​— Como eu iria deixar de vir receber a minha filha amada — Minha mãe
falou sorrindo e seu fotógrafo disparou flashes no meu rosto. Seja bem-
vindas ao Michigan, ela falou olhando para as meninas do time de dança.
​ Muito prazer, senhora Miller. Eu sou a Miah, companheira de quarto da

Ava.
​— Que prazer conhecê-la. Ava fala muito em você.
​Miah sorriu sabendo que eu nunca falava com a minha mãe, nem sobre ela e
nem sobre ninguém.
​— Essa noite vamos fazer um jantar lá em casa e será uma honra receber
todas vocês do time de dança e a comissão técnica — Minha mãe falou
cumprimentando o meu treinador — Eu e o Senador Miller, pai de Ava,
estamos muito felizes com a chegada de vocês ao nosso estado.
​— Será um prazer senhora Miller — Meu técnico falou — A comissão
técnica do futebol estará em concentração, mas eu e a equipe de dança
aceitamos o convite.
​— Então mandaremos os carros para buscá-los no hotel. Filha, nós nos
vemos mais tarde — Minha mãe falou esbanjando seu sorriso de simpatia e
indo embora me deixando sem chão na frente de todos que não tinham ideia
de quem era o meu pai.
​— Eu não sabia que você era filha do Senador do Michigan — Lucy falou e
as outras meninas também fizeram cara de surpresa.
​— Isso não é algo que alguém estampe na testa ou se apresente contando —
Cath falou — Eu sabia por que temos uma convivência maior fora do
campo, mas foi por acaso falando das nossas famílias, e não “Oi, sou Ava, e
meu pai é Senador”.
​Olhei em volta e vi que o time de futebol já tinha seguido para o ônibus.
​— Chase já embarcou?
​— Já — Miah respondeu — eu vi quando ele seguiu para o ônibus.
​— Eu estou me sentindo mal por tê-lo largado como se ele não fosse
ninguém importante para mim.
​— Ele sabe que você não quer envolver sua família entre vocês.
​— É um pouco mais complicado — Eu falei apertando uma mão contra a
outra — A minha mãe falou mal dele para mim na outra vez que estive aqui.
Ela disse que ele seria um bom partido se não fosse um cara que não seguia
regras.
​— Como sua mãe aqui no Michigan sabe sobre o que Chase faz em Los
Angeles, sendo que vocês nem tinham nada para ela se interessar sobre ele?
​— Verdade, nunca parei para pensar nisso. Por que minha mãe saberia que
Chase participa de rachas?
​ iah deu de ombros e eu fiquei pensando que mesmo o pai dele sendo rico e
M
conhecido, isso não é algo que fosse ser assunto de fofoca da alta sociedade.
Se bem que esse povo adora apontar defeito nos outros.
​Entramos no ônibus e mandei uma mensagem para Chase.

​Ava: Eu te procurei, mas você já estava no ônibus.

​Como ele não respondeu, eu enviei outra mensagem.

Ava: Desculpa, mas não sabia que minha mãe iria me esperar no
aeroporto.

— Espera a gente chegar no hotel e você fala com ele pessoalmente.


Chegamos no hotel, fizemos check-in e fomos para os nossos
quartos.
Eu deixei as minhas coisas no meu quarto e corri para o quarto de
Miah e Cath que ficaram de me ajudar a chegar no quarto de Chase.
— Como vou saber qual o quarto dele?
​— Eu tenho o número do celular do Kalleb — Cath falou — Ele descobriu o
meu, sei lá como, e ficava me enviando mensagens achando que eu sairia
com ele — Ela falou rindo e me enviando o contato dele.

​ va: Kalleb, sou eu, Ava, por favor, qual o número do quarto de Chase.
A
​Kalleb: Você vacilou com o meu irmão.
​Ava: Você pode me dar o número do quarto?
​Kalleb: 722
​Ava: Obrigada.

​ ós estávamos no sexto andar e fui pela escada até o sétimo, procurei o


N
quarto 722 e bati na porta torcendo para que ele abrisse logo antes que
alguém me visse já que era proibido visita aos jogadores que estavam em
concentração. Escutei os passos de Chase e vi que ele hesitou em
abrir a porta provavelmente depois de me ver pelo olho mágico.
​— Chase, abre a porta.
​ O que você quer? — Ele falou abrindo a porta e olhando para sério para

mim.
​— Eu preciso falar com você — Eu falei entrando no quarto.
​— Eu não sirvo para estar com você em público, mas aqui entre quatro
paredes, tudo bem?
— Você não entende.
— Que você tem vergonha de mim?
— Não é isso — Eu falei e meus olhos encheram d'água e minhas
mãos ficaram trêmulas — Eles estragam tudo. Investigam, buscam
empecilhos.
— E daí você acha que não vão me aprovar e me largou como um
desconhecido no aeroporto.
— Eu não quero que nada atrapalhe a única vez que fui feliz na
minha vida.
Chase ficou me olhando quando eu disse isso e me abraçou.
— Me desculpa.
— Eu também tenho meus problemas, Ava. Eu não sou um estorvo,
ou algo ruim como pensam. Eu tenho meus erros, realmente faço coisas que
são consideradas ilegais, mas isso não faz de mim um monstro.
— Mas quem disse que você é um estorvo ou algo ruim? Por que
você não me fala sobre sua família, ou o que te…
— Não quero falar sobre isso. Tenho um jogo amanhã e preciso
vencer.
— Tudo bem, me desculpe, eu não quero atrapalhar sua
concentração.
— Ava — Chase falou quando eu já estava abrindo a porta — Fica.
Eu corri e o abracei.
— Você foi a melhor coisa que já aconteceu na minha vida.
— E você na minha borboletinha.
Eu sabia que não seria fácil, mas não abriria jamais mão de ficar com
Chase para sempre na minha vida.
Eu espero na porta como se eu fosse apenas uma criança
Uso minhas melhores cores para o seu retrato
Arrumo a mesa com as coisas chiques
E observo você tolerar isso

(Tolerate It - Taylor Swift)


Capítulo 27
Ava Miller

Eu tirei a toalha que estava enrolada no meu cabelo e joguei sobre a


cama deixando que os fios úmidos do meu cabelo tocassem a minha pele me
despertando dos meus pensamentos com a minha família.
Com calma fui desembaraçando fio a fio, antes de secar e pranchar
para não deixar nem um fio fora do lugar.
Passei um hidratante, corretivo, base, rímel preto e um gloss.
Olhei para a cama e vi a roupa que trouxe para jantar com os meus
pais. Só não imaginava que seria na companhia do meu técnico e das outras
meninas do time de dança, que estavam animadas para esse “evento social” e
foram no shopping comprar roupas e sapatos.
A roupa que eu escolhi foi uma blusa de seda azul escuro, e uma saia
palito azul claro e blazer da mesma cor. Coloquei uma meia calça cor da pele
grossa porque aqui no Michigan é frio e um sapato de salto bico fino da
mesma cor do saia.
Uma roupa clássica e… pálida.
​— Você está linda — Lucy falou me vendo arrumada.
​— Você também — Eu respondi vendo que ela tinha caprichado no visual,
com um terninho azul royal e uma blusa de cashmere branca com gola alta.
​As outras meninas seguiam o mesmo padrão e nos encontramos todas no
saguão do hotel, onde nosso técnico já estava nos esperando próximo a
limusine enviada pelos meus pais que adoravam uma exibição.
​O percurso do hotel até a casa dos meus pais foi de mais ou menos quarenta
minutos, e só Miah e Cath sabiam do meu desconforto com esse jantar de
família.
​Assim que chegamos, a quantidade de carros estacionados no jardim,
deixava claro que estavam fazendo uma festa, e não algo íntimo.
​— Sejam bem-vindos — Meu pai falou assim que o meu técnico e as
meninas entraram na casa deles — Ava, minha filha, que saudades — Meu
pai praticamente gritou enquanto me puxava para um abraço.
​Ele cumprimentou a todos com o seu sorriso de sempre e todos ficaram
encantados com a hospitalidade do Senador Miller.
​ Senhores, esse é o técnico e o time de dança dos Bruins. Esse

Homecoming será diferente, pois esse meu velho coração de pai estará
dividido entre o seu time do coração, e, o que sua filha vai estar à frente
como capitã do time de dança — Ele falou me abraçando e com os olhos
marejados como se realmente estivesse emocionado.
​Eu, Miah e Cath fomos dar uma volta entre os convidados, enquanto as
outras meninas estavam animadas conversando com os filhos de uns
políticos e empresários que estudam na Michigan.
​— Seu pai parecia emocionado quando falou de você como capitã dos
Bruins.
— Não acredite nos sorrisos do meu pai, Miah.
​— E o seu quarto?
​— No andar de cima. Vocês querem ir lá? — Eu perguntei para ela e Cath.
​Elas fizeram que sim com a cabeça e subimos pela escada secreta que tinha
na biblioteca para não chamar atenção dos convidados.
​Foi estranho voltar no meu quarto cor de rosa. Tudo estava do jeito que eu
deixei, sem um nada fora do lugar, afinal eu tinha que ser organizada.
​As meninas se sentaram na cama e disseram que era tudo muito lindo, e
como elas imaginavam.
​— Um quarto de princesa — Cath falou olhando em volta.
​Eu não respondi e fui até o banheiro. Abri a gaveta com as mãos trêmulas e
encontrei a caixinha de band aids que tinha no fundo vários estiletes, e meus
olhos se encheram d'água lembrando de Chase.

Flashback
​ Você tatuou as borboletas para cobrir as cicatrizes?

​— Sim. Elas representam a minha metamorfose.
​— E agora você que está voando não vai voltar nunca mais para aquele lugar
escuro.
​— Às vezes eu tenho medo de fraquejar.
​— Quando isso acontecer, quando sentir medo, lembra de mim te pedindo
para não fazer isso, porque cada corte seu vai doer em mim também.
​— Você existe mesmo?
​— Comecei a existir quando te conheci, porque antes estava fazendo merda
por aí.
​— Você ainda faz merda, Chase Montana.
​ le me abraçou rindo e disse que éramos dois estranhos e quebrados, e que
E
nossas diferenças ou nos uniriam para sempre ou nos arruinariam de vez.

◆◆◆

Nós três descemos na hora exata em que o jantar seria servido e nos
sentamos nos lugares marcados com nosso nome.
​Eu me sentei entre a minha mãe e um rapaz que eu nunca tinha visto antes.
​— Eu te procurei, mas não te encontrei — Minha mãe falou — Onde você
estava?
​— Eu fui mostrar o meu quarto para as minhas amigas.
​— Uma anfitriã nunca deixa seus convidados sozinhos.
​— Eu não sou anfitriã. Sou convidada. Essa casa é…
​— Você é anfitriã de qualquer evento do seu pai e deve se portar como tal.
​— Sim, senhora — Eu concordei ligando o meu modo de concordar para não
me aborrecer.
​— Edgar — Minha mãe falou chamando o rapaz ao meu lado — Essa é a
minha filha, Ava. Filha, Edgar, se formou recentemente em direito em
Harvard, e é filho do deputado Forbs grande aliado do seu pai.
​— Muito prazer, Ava.
​— Igualmente — Eu respondi e tomei um gole de água, colocando um
sorriso forçado no rosto para Edgar que não parava de me olhar.
​— Esse rapaz é uma excelente companhia para você — Minha mãe
sussurrou — faça companhia a ele, converse, e não desperdice o seu tempo
com essas suas amigas de time de dança.
​Eu não respondi a minha mãe e comi em silêncio, sentindo a comida descer
pesada pela minha garganta.
​Meus pais não entendiam que eu tinha escolhido estudar em outro estado
para ficar longe deles e das suas decisões para a minha vida.
Será que a minha mãe realmente acreditava que poderia me empurrar
um casamento?
​Claro que ela acreditava. Eu sempre deixei eles acreditarem que podiam
fazer o que quisessem comigo. Eles nunca entenderam que eu aceitava tudo
achando que isso faria eles gostarem de mim.
​Eu não faço mais questão de ser aceita por eles, e esse Edgar não me
interessa, porque já tenho a melhor pessoa do mundo ao meu lado, e sorte
minha eles não saberem disso para não azedarem minha felicidade.
​ epois do jantar, minha mãe inventou que queria tomar um aperitivo comigo
D
e chamou o tal do Edgar para nos fazer companhia, e não passou
despercebido para ela que eu revirei os meus olhos.
​— Ava, estuda dança na UCLA. Eu e o pai dela queríamos que ela estudasse
direito, mas ela insiste neste amor pela dança, e como queremos sua
felicidade, apoiamos.
​— Faz parte do espírito universitário esses jogos e festas. Ava está vivendo
esse momento e depois vai seguir com responsabilidade na vida adulta — O
tal Edgar falou parecendo o meu pai falando.
​Fiquei olhando para ele e pensando se o cara era um chato, ou assim como
eu, representava o papel do filho perfeito.
​Um fotógrafo veio fazer uma foto e minha mãe teve a cara de pau de me
empurrar para ficar ao lado do tal Edgar, por quem nos seus delírios eu me
interessaria.
​A festa com certeza iria rolar até tarde, mas o meu técnico disse que
precisávamos ir porque no dia seguinte teríamos muitos compromissos junto
ao time de futebol, respirei aliviada quando me despedi dos meus pais.
​Assim que entrei no carro peguei o meu celular e vi que tinham algumas
mensagens de Chase.

​ hase: Como está o jantar?


C
​Chase: Acabei de ver sua foto com os seus pais num site. Você está linda
com essa roupa comportada no estilo filha do presidente.

​Só ele para me fazer rir depois desta noite entediante.

​Chase: Que porra de foto é essa?

​ liquei no link que ele enviou e vi a foto que minha mãe me empurrou para
C
tirar com o tal Edgar no site de notícias do Michigan, e deixando no ar a
dúvida se estaria acontecendo algo entre nós dois.

​ va: Quando eu disse para você que minha família é podre eu não estava
A
brincando.
​Chase: Quem é esse cara?
​Ava: Um chato que nos delírios da minha mãe seria perfeito para mim.
Chase: E você ficou conversando com ele.
​Ava: Com a minha mãe junto mediando o assunto porque eu não tinha nada
para falar.
​Chase: Sei. Estou há 24hs no Michigan e tudo que eu quero é voltar para
Los Angeles.

​ sse era o meu medo. Um dia, e Chase já estava de saco cheio dos meus pais
E
e sem nem ter falado diretamente com eles.
​Será que as pessoas têm ideia de tudo que acontece por trás das redes sociais
das famílias perfeitas que elas juram ter zero defeitos?
​Assim que chegamos no hotel fomos direto para o nosso quarto e depois de
tomar um banho mandei mensagem para Chase.

Ava: Boa noite. Dorme bem porque amanhã você tem um jogo para
vencer.
Chase: Pode deixar que vou vencer para comemorarmos juntos.
Ava: Vou cobrar. Sonha comigo.
Chase: Meus sonhos com você costumam ser intensos e eu não
descansaria um minuto.
Ava: Tarado.
Chase: Sou tarado por você, e se esse assunto continuar vou ter que
ir até o seu quarto te sequestrar para dormir comigo.
Ava: Não precisa, só abrir a porta.

Escutei os passos apressados de Chase que sorriu quando me viu.


​— Você vem no meu quarto para me usar e eu que sou o tarado?
​— Cala a boca e me fode logo — Eu falei entrando no seu quarto e fazendo
Chase dar uma gargalhada.
​— Estava com saudades dessa sua versão desbocada da Arlequina — Ele
falou me pegando no colo e me fazendo gemer com os seus dedos enterrados
na carne firme da minha bunda.
​— E eu com saudades do meu pudinzinho que me leva à loucura.
Nós construímos um mundo tolo
(...)
Meus fantasmas não sumiram
Eles dançam na sombra

(Ghosts - Ibeyi)
Capítulo 28
Chase Montana
GAME DAY

Local do Jogo: Michigan Stadium

Ann Arbor - Michigan

Chegamos no estádio e fomos direto para o vestiário. Esse era o


segundo jogo da temporada e precisávamos vencer para disparar na tabela da
liga universitária.
​Eu tive um dia de merda ontem por causa de Ava. Primeiro porque
fui dispensado por ela no aeroporto, o que me fez reviver sentimentos que
me causam dor. Segundo, porque tive que ficar aguentando meus amigos me
consolando, e suas frases de efeito me lembraram das inúmeras terapias
pelas quais passei depois do acidente.
​Era incrível como que em todas as sessões e grupos de ajuda, eles
queriam que eu aceitasse a minha perda sem me culpar por ela, sendo que eu
era acusado diariamente por olhares atravessados ou indiretas por aqueles
que contratavam os terapeutas para me curarem do mal que eles mesmo me
faziam.
​Os fantasmas daqueles dias escuros em que perdi a única pessoa da
família que sempre me enxergou ou teve tempo para mim, voltaram com
força na minha mente e por mais que eu corresse na esteira que tinha no meu
quarto não conseguia esvaziar a minha mente.
​Quando Ava veio me ver foi como se um peso absurdo de transportar
tivesse saído das minhas costas, e me dei conta que eu estava com muito
medo de tê-la perdido.
​Ela soltou minha mão e foi embora, e naquele momento era como se
eu fosse ficar sozinho outra vez.
​Ava precisou fazer isso porque para ela não é fácil lidar com as suas
dores, e se eu ficar perto da sua família faz com que ela tenha medo de que
eu saia da vida dela, então serei forte por ela.
Eu prometi e vou cuidar da minha borboletinha.
​Só que à noite ela foi jantar na casa dos seus pais e não gostei de vê-
la numa foto com o filho de um político local que dizia ter rumores de quem
sabe um possível romance no ar.
​Ava me mandou mensagem hoje cedo dizendo que só trocou duas
palavras com o sujeito por insistência da sua mãe e já fizeram a foto. Eu
precisava focar no jogo, mas ficava difícil com tantas coisas acontecendo, e
sentimentos novos surgindo na minha vida.
​Eu entendi por que Ava queria nos manter longe da sua família, só
não entendia por que eu não servia para ela se era herdeiro da segunda maior
empresa de tecnologia do país.
​Todo mundo tem um podre escondido na nossa sociedade, então eu
ser um cara que participa de rachas não me desqualifica. Quando você tem
dinheiro o máximo que dizem é que você estava passando por uma fase e
mais nada.
​A verdade é que ser desmerecido me afeta por conta dos meus pais
que sempre fizeram isso comigo. Eu lutei para ser o Rei do Campus e o Rei
das Pistas, e daí vem os pais da Ava e me tratam como um merda.
​ u respirei fundo e vesti meu uniforme. Foda-se se os pais dela. Só o
E
que me importa é Ava e mais nada. Ela me faz bem. O resto não importa.
— Go Bruins… para cima deles… viemos vencer esse jogo — Eu
gritei animando meu time — U.C.L.A. FIGHT. FIGHT. FIGHT.
Meu time precisava de mim à frente deles, e não voltaríamos para
casa derrotados.
— Chase, alguma instrução especial? — Erich perguntou e todos
ficaram esperando minha resposta.
— Vencer e atropelar o time deles.
— É isso… vamos passar por cima deles — Kalleb gritou e todos
começaram a gritar PARA CIMA DELE BRUINS.

◆◆◆

Locutor n° 01: Boa tarde Spartans.


Temperatura na casa dos 10°… estádio Michigan lotado aguardando
a entrada dos jogadores.
De um lado os donos da casa, os jogadores do Spartans, que
venceram o primeiro jogo e querem essa segunda vitória.
Locutor n° 02: Do outro lado os Bruins que também estrearam na
temporada com vitória sobre os Cardinais.
E agora eu quero saber para quem vai a sua torcida neste jogo que
promete ser de gigantes, visto que o capitão dos dois times tem chances de
conquistar uma vaga na NFL.
Locutor n° 01: É isso senhores, deste jogo podem sair um ou dois
jogadores que vão jogar na NFL na próxima temporada.
Locutor n° 02: Os jogadores do Michigan já se preparam para entrar
em campo e o estádio todo está de pé.
Locutor n° 01: Na tribuna de honra temos a presença do Senador
Miller. Um fato curioso é que sua filha, que fazia parte do time de dança do
Michigan, agora é a capitã dos Bruins. Será que o coração do nosso senador
está dividido entre o seu time e o que sua filha é capitã?
Locutor n° 02: E lá vem eles…os donos da casa…o time de futebol
americano da universidade de Michigan.
Locutor n° 01: O estádio vai a loucura.
Locutor n° 02: E lá vem eles, do outro lado do gramado, o time
adversário, os Bruins da UCLA.
◆◆◆

O clima do jogo no gramado é sempre tenso antes do jogo e nos


dedicamos ao aquecimento para entrar prontos para fazer um touchdown.
A ansiedade aumenta quando a partida vai começar e os dois times
ficam um de frente para o outro. Neste momento é comum xingamentos e
ofensas para desconcentrar o oponente, e todos já estão acostumados com
isso, porque a rivalidade entre os times é gigante.

— Gostando da minha sobra, Chase? — Anthony perguntou rindo


tentando me desestabilizar com algo que talvez ele não tenha ideia da
importância para mim.

— Você está morto seu filho da puta — Eu gritei e Kalleb começou a


xingar Anthony se colocando na minha frente.
— Nervosinho capitão? — Ele perguntou no momento exato que a
partida começou e não pensei duas vezes batendo com toda a força com meu
capacete no peito dele.

◆◆◆

Locutor n° 01: O jogo começa e os Bruins, ou melhor, Chase


Montana vai com tudo para cima do capitão do Spartans, abrindo o placar
com 1 x 0 para os Bruins.
Locutor n° 02: Os dois quarterbacks parecem se enfrentar
individualmente em capo e com certeza um vai querer aparecer mais que o
outro visto que disputam uma vaga na liga profissional.
Locutor n° 01: O jogo segue tenso, como se os dois times se
enfrentando duramente a cada passe de bola

◆◆◆

Locutor n° 01: A partida segue emocionante, com uma rivalidade


acirrada em cada jogada pelos quarterbacks de cada time.
Locutor n° 02: Sim, apesar de tentarem reagir, os Spartans estão
levando uma surra do Bruins.
​Locutor n° 01: O que foi essa jogada de Chase Montana?
Locutor n° 02: Ele parece disposto não só a vencer, mas a humilhar
o time do Michigan, já que a cada touchdown acena para Anthony, o
quarterback oponente.

◆◆◆

Locutor n° 01: Já são quase quatro horas de jogo e Chase como


sempre está com a bola para finalizar mais uma partida.
Locutor n° 02: E lá vai ele conduzindo a bola para a endzone com o
time do Spartans parecendo assistir sem reação.
Locutor n° 01: TOUCHDOWN… Os BRUINS vencem o segundo
jogo da temporada.

◆◆◆

​ ntramos comemorando pelos corredores do estádio que levavam ao


E
vestiário quando escutei a voz do babaca do Anthony.
​— Você passou por cima de mim várias vezes seu animal, e tudo por
causa de uma garota que transamos.
​— Eu avisei que você estava morto, seu filho da puta — Eu falei
partindo para cima e dando uma porrada no meio da sua cara de babaca.
​— Tudo isso por causa de uma puta? Sinto muito se ela aceitou vir
para o meu quarto e eu comi primeiro…
​Eu não deixei ele terminar de falar e soquei a sua boca quebrando os
seus dentes.
​— NUNCA. MAIS. FALE. DA. MINHA. NAMORADA. SEU.
FILHO. DA. PUTA.COVARDE. BABACA. DE. MERDA
​— Vocês estão loucos? — Nossos técnicos gritaram vendo a
confusão que se formou — Vem Chase. Porra. Você vai matar ele assim.
​— Esse filho da puta precisava aprender a ser homem.
​— Chase, você vai perder sua vaga na NFL se ele prestar queixa —
Meu técnico falou visivelmente nervoso.
​— Não me importo, mas se ele me denunciar perde a vaga dele
também porque nós dois brigamos. Só que eu levei a melhor.
​— Ele não matou o babaca, só deixou ele sem alguns dentes, mas
nada que não se resolva com uma boa dentadura — Kalleb falou — E o
nariz quebrado dá para fazer uma boa plástica e o olho roxo ele coloca um
bife e tudo certo.
​ Vou acabar com a sua carreira — Anthony falou cuspindo sangue.

​— Só que foi você que começou seu machista de merda — Cath a
cheerleader dos Bruins surgiu do nada, no meio dos homens falando alto, e
com o seu celular na mão passando um vídeo.
​— O que essa Cheerleader está fazendo aqui?
​— Eu estava filmando a chegada dos Bruins campeões e olha quem
surgiu do nada ofendendo a honra de uma mulher? ANTHONY. BABACA.
DESDENTADO — Cath falou sem se deixar intimidar — Denuncie Chase,
que esse vídeo que já enviei para as outras cheerleaders vai para as redes
sociais. Já vejo a comoção que isso vai causar: QUARTERBACK DOS
BRUINS ARRISCA SUA VAGA NA NFL PARA ENSINAR UM
MACHISTA DO SPARTANS COMO SE TRATA UMA MULHER.
​— Isso já foi longe demais. Ninguém vai falar nada sobre o que
aconteceu — o assessor do babaca chegou falando — Anthony sofreu um
acidente no banheiro. Acabou. E você devia saber disso antes de começar
essa merda toda, porra.
​— Para o vestiário — Meu técnico falou — Todos tomem banho
rápido porque estamos indo embora direto pro aeroporto.
​— Nunca mais fale da minha namorada, ou eu vou te buscar até no
inferno — Eu falei pro covarde do Anthony que estava sendo arrastado pelo
seu assessor.
​— Já chega, Chase — Meu técnico falou me puxando e foi então que
eu a vi encostada numa parede ao lado das outras cheerleaders.
​Eu não queria que ela passasse por mais dores neste inferno de lugar
cheio de lembranças ruins, mas nunca iria permitir que o babaca que a usou
e a machucou tanto, ainda ousasse falar dela como se fosse uma marmita.
Filho da puta, minha vontade era voltar e quebrar os dentes que restaram na
sua boca, mas eu sabia que nos encontraríamos outras vezes e que em todas
elas eu me lembraria de quebrar a sua cara.
​— Cath, é o seu nome?
​— Sim.
​— Obrigada. Por mim e por Ava.
​— Sério? Não acredito que vou ter que deixar de te achar um babaca
— Ela falou rindo.
​Ava seguiu com as meninas para o vestiário feminino e eu sabia que
aquele não era o momento para falar com ela.
​ ntrei no vestiário, tomei banho e fui com os outros jogadores para o
E
ônibus. Não comemoramos nossa vitória como sempre fazíamos, mas assim
que chegássemos em casa faríamos a nossa festa.
​A confusão foi abafada segundo o meu técnico porque a confusão
envolve política, e essa gente é peixe grande.
​Eu avisei aos meus jogadores que não queria o nome de Ava em
rodinha de fofoca e meu técnico disse que ela era uma bomba relógio.
​Meu assessor me ligou dizendo que eu era um cara difícil de
agenciar. Que uma hora reclamava do que eu tinha que fazer e na outra
exagerava na função. Eu desliguei o celular na cara dele, porque para me
falar coisas sem sentido numa hora dessa com certeza estava bêbado ou
drogado.
​Assim que eu entrei no ônibus lembrei de pegar o meu celular e vi
que tinha uma mensagem.

​ va: Eu pensei que você tivesse dito que seria o mocinho dos meus
A
filmes e não meu super-herói. Eu não quero te ver brigando ou se
prejudicando por mim, mas obrigada por me defender.

Chase: Eu disse que iria te proteger, minha borboletinha, e eu


costumo cumprir as minhas promessas.
Me matando devagar, do lado de fora da janela
Eu estou sempre esperando que você esteja esperando lá embaixo
Demônios jogam os dados, anjos reviram os olhos
O que não me mata, me faz te querer mais

(Cruel Summer - Taylor Swift)


Capítulo 29
Ava Miller

Eu estava na biblioteca com o meu grupo de literatura preparando a


apresentação de um debate sobre literatura contemporânea quando meu
pensamento voou para bem longe dali, mais precisamente num certo
quarterback que eu não via desde que voltamos do Michigan.
​Chase e eu ainda não tínhamos conversado sobre tudo que aconteceu, já que
ele chegou e foi direto para o centro de atletas para uma reunião.
​Apesar de não ter tido consequências mais sérias que comprometesse seu
futuro na NFL, o técnico não deixou passar em branco o fato de Chase ter
brigado com Anthony e ele levou um sermão de mais de quatro horas sobre
suas atitudes intempestivas e seu comportamento fora do campo.
​Esses últimos três dias foram muito corridos, com provas, apresentação de
trabalhos e muito treino por conta dos jogos que acontecem todo final de
semana, e como ele me disse que precisava estudar e treinar mais horas por
dia, eu respeitei entendo que ele queria ficar sozinho.
​Eu confesso que estava sentindo mais falta dele do que imaginei, mas sei
melhor do que ninguém que às vezes precisamos de um tempo com nós
mesmos para colocar as ideias em ordem.
​Não vou mentir que tive medo de que ficássemos afastados para sempre,
mas procurei focar nos estudos que estavam todos atrasados para conseguir
respeitar o espaço dele.
​A professora chamou o meu grupo para a apresentação e durante os
cinquenta minutos me desliguei de tudo e embarquei no mundo dos
romances contemporâneos.
​Assim que a aula encerrou, eu desci as escadas apressadas para não me
atrasar para a última aula do dia quando vi meu quarterback sentado nos
últimos degraus fumando seu cigarro e batucando os pés no chão como ele
sempre fazia quando estava escutando música.
— Você veio ler um livro na biblioteca, está parado aqui por acaso ou
está esperando alguém? — Eu perguntei parando na sua frente e tirando um
dos seus IPods para que ele me escutasse.
— Eu vim buscar a minha namorada, uma baixinha, com os cabelos
escuros, uma boca carnuda, uma bunda gostosa…
Eu dei uma gargalhada e ele me puxou me colocando sentada no seu
colo e me beijando.
— Eu senti sua falta.
— Eu sei que te devo uma explicação para ter sumido, mas é que na
verdade ainda não sei como lidar com tudo isso que eu estou sentindo.
— Eu também não sei, e nós dois sabíamos que não seria fácil.
Ele se levantou e saímos caminhando pelo campus.
— Chase Montana sem o seu carro?
— Eu vim de moto.
— Você tem uma moto? — Eu falei com ele parando em frente a
uma Kawasaki Ninja H2R e me entregando um capacete.
— Eu não sei se já te contei, mas amo velocidade.
Eu coloquei o capacete, subi na moto e abracei Chase escutando o
barulho do motor roncar. Ele, então, me olha com um sorriso de molhar
calcinhas, antes de sair cantando os pneus deixando a UCLA em segundos
para trás.
​Nós paramos na praia de Santa Mônica e descemos de mãos dadas até a
areia, onde nos sentamos olhando para o mar que estava iluminado pelo
parque de diversões do píer.
​— Eu nunca tinha sentido isso antes. — Chase falou — Na hora que aquele
babaca falou de você eu só pensei em acabar com ele.
​Eu fiquei em silêncio enquanto ele parecia buscar as palavras certas, ou
simplesmente, ter coragem para se abrir.
​— Eu não me arrependo. Quebraria todos os dentes dele de novo. Eu senti
ódio escutando ele se referir a você de uma maneira tão baixa. Não foi
ciúme. Foi algo maior. Foi proteção. Foi cuidado.
Chase acendeu um beck e voltou a ficar em silêncio antes de
continuar falando.
​— Foi amor
Desta vez foi a minha vez de ficar sem palavras.
Amor.
Chase falou que foi amor.
— Se alguém tentar te machucar eu sempre vou te defender.
— Chase… no estádio quando eu te vi brigando com aquele infeliz,
eu fiquei sem ação.
— Você se assustou comigo brigando?
— Eu não me assustei com à violência, só fiquei sem saber como
agir quando alguém estava me defendendo porque isso nunca aconteceu. Eu
sempre tive regras e vários assessores me cobrando para cumpri-las à risca, e
quando aconteceu à situação com Anthony eles jogaram à sujeira para
debaixo do tapete, tudo que eu escutei do meu pai é que eu era errada,
culpada, e que me comportei como uma vadia indo para à cama do sobrinho
do seu inimigo.
Chase passou a mão em volta do meu ombro e me puxou para junto
dele.
— Eu não fiz nada de errado. Eu nem sabia quem era ele, além do
quarterback do Michigan. Todas as garotas faziam suas escolhas na
universidade e só eu era vadia por ter transado? Eu sempre fui sozinha até
conhecer você.
Eu respirei fundo e fiquei em silêncio por um tempo olhando as
ondas do mar quebrando na areia.
— Eu queria ter ido falar com você no estádio, mas eu não pude
porque Miah falou que a confusão ficaria ainda maior e eu não queria te
prejudicar. Naquele momento, vendo você ser ameaçado de perder sua vaga
na NFL eu só queria te colocar dentro de um potinho para te proteger do
mundo.
— Eu não lembrava mais como era ter alguém querendo me
proteger.
— Você já teve esse alguém?
— Sim. — Ele falou e tragou fundo o beck que parecia estar
esquecido em sua mão — O meu irmão.
Chase tem um irmão?
Eu não sei nada sobre a vida dele enquanto ele já sabe tanto sobre a
minha.
— Eu não sabia que você tinha um irmão. Ele…
— Ele morreu.
Peguei o beck e foi a minha vez de tragar fundo já que não esperava
essa resposta.
Então essa é a dor que ele tenta esquecer correndo?
— Você quer falar sobre isso?
— Hoje não.
Chase se levantou e segurou a minha mão me puxando para um
abraço.
— Vem comigo que eu vou levar minha namorada para se divertir
como os casais apaixonados dos filmes que ela gosta — Ele falou apontando
para o parque de diversões do píer.
— Para de ser perfeito que assim eu me apaixono.
— Você já é apaixonada por mim.
— Eu sou? Hum… isso vai depender do que você ganhar para mim
no tiro ao alvo — Eu falei apontando para a barraca com a atração e vários
ursos de pelúcia pendurados.
— Vou ter que comprar o seu amor com um urso desses aí? — Ele
falou enquanto comprava os tickets do brinquedo — Tudo bem borboletinha,
se prepare para ficar ainda mais rendida por mim.
Chase mirou o alvo todo confiante e quando errou começou a xingar
irritado.
— Acho que não vai ser desta vez que ficarei rendida pelo
quarterback.
— Não conte com isso, borboletinha.
Chase se concentrou e ficou olhando o alvo até que finalmente atirou.
Quando ele viu que acertou, se levantou e me pegou no colo me girando
igual criança quando ganha um presente.
— Agora estou oficialmente rendida pelo quarterback.
Chase me deu um beijo e ficou todo orgulhoso me entregando o urso
de pelúcia que ele ganhou para mim.
Nós paramos numa barraca de algodão doce e depois fomos para a
roda gigante porque ele queria que eu visse a cidade toda lá do alto.
— Eu nunca fiz isso antes.
— Você nunca andou de roda gigante? — Ele me perguntou como se
eu fosse um ser de outro planeta.
— Meus pais nunca me levaram na pracinha do bairro, imagina num
parque de diversões.
Fiquei com vergonha de ser tão estranha e abaixei a cabeça. Quem na
vida nunca foi pelo menos uma vez num parque? Aqui nos Estados Unidos
qualquer feira da escola, da igreja, de mudança de estação tem parque de
diversões, só que eu só ia e ficava o tempo do meu pai cumprimentar
eleitores e ir embora.
Não existia tempo para brincar.
Não existia tempo para comer pipoca.
Não existia tempo para ser criança.
O pessoal da escola sempre marcava ida aos parques, shoppings,
cinema, mas eu nunca ia porque preferia ser invisível do que fazer algo
errado e ser castigada.
Só então me dei conta que nunca fiz nada além de ir à escola, igreja
aos domingos em época de eleição e eventos políticos.
— Eu fui a um carrossel uma vez para tirar fotos com os meus pais
para um ensaio que ele contratou.
— Eu vou te levar para fazer tudo que você nunca fez, borboletinha.
— Então se prepare porque a lista é grande — Eu falei comendo um
pouco do algodão doce e ficando sem ar porque a roda gigante parou com a
gente no topo.
— Se você quiser conhecer cada ponto iluminado que você está
vendo eu vou te levar — Chase falou me abraçando.
— Que vista linda! Aqui de cima parece que todos os problemas do
mundo ficaram lá embaixo.
— E ficaram porque somos eu e você contra o mundo. Lembra
disso?
— Sim — Eu falei e o beijei sentindo um frio na barriga pelo medo
de estar tão alto misturado com as borboletas que sempre pareciam estar
voando no meu estômago quando eu estava com Chase.
A roda gigante começou a se mover e Chase foi apontado e me
mostrando os lugares de Los Angeles.
— Aqui eu me sinto livre. Parece que estou voando como as
borboletas da minha tatuagem e que ninguém pode me deter.
— Eu não vou deixar ninguém quebrar suas asas borboletinha porque
eu quero te ver voar e ser feliz.
— Eu sou feliz! — Eu falei olhando nos seus olhos — Sou feliz com
você.
Nós ainda somos crianças, mas estamos tão apaixonados
Lutando contra todas as possibilidades
Eu sei que ficaremos bem desta vez
Querida, apenas segure minha mão
Seja minha garota, eu serei seu homem
Eu vejo meu futuro em seus olhos

(Perfect - Ed Sheeran)
Capítulo 30
Chase Montana

Ava era a garota mais linda, complicada, doce, ousada e perfeita que
eu já tinha conhecido. Ela tinha uma pureza natural, mesmo querendo ser
impetuosa e desejando quebrar todas as regras.
​Ela não tinha experiência de vida porque viveu cercada num mundo de
regras, e tinha ânsia de viver já que foi podada o tempo todo em suas
escolhas.
​Ela dizia que tinha certeza de que só nasceu para que seus pais tivessem a
foto da família perfeita, mas para mim ficou claro, que ela nasceu para ser
minha.
O meu anjo chegou bagunçando toda a minha vida e derrubando as
minhas defesas.
Eu quero ver a minha garota feliz e por isso fiz uma lista com lugares
que queria levar Ava. Confesso que nunca imaginei que existisse alguém que
nunca foi num parque, num cinema ou num show.
Parque de diversões
Cinema
Lago (cena de filme)
Fechei meu Ipod e fui para o centro de atletas treinar para o jogo do
final de semana e sorri feito bobo quando vi minha garota linda ensaiando
com o time de dança no gramado.
— Chase, cuidado amigo que se continuar assim você vai derrubar o
time todo — Kalleb falou passando por mim enquanto descíamos as escadas
da arquibancada para o centro do gramado.
— Você veio treinar chapado? — Eu perguntei por que não entendi
nada do que ele tinha falado.
— Sua baba, capitão. — Erich falou rindo e apontando para Ava —
Está escorrendo tanto que vai molhar o chão todo e podemos cair.
— Vão se foder, porra — Eu falei puto e jogando a bola na cabeça de
Kalleb que começou essa palhaçada.
Descemos para o treino que cada vez que a temporada avançava
ficava mais puxado.
— Já vencemos os dois primeiros jogos e faltam oito para o título.
Precisamos de foco e disciplina, dentro e fora do campo — O técnico falou
olhando para mim.
Porra, eu não briguei por indisciplina, mas para defender a honra da
minha garota, e não vou negar que faria de novo se fosse preciso.
Faltavam apenas oito jogos na liga universitária e foi inevitável
pensar que esses anos na UCLA passaram muito rápido.
Os jogos de futebol americano acontecem sempre entre agosto e
novembro, e diferente dos outros anos, na volta dos holidays não vou me
preparar para jogar no próximo ano, e sim esperando a graduação em maio
para seguir efetivamente para a minha vida adulta.
Eu não sei como vai ser depois, mas não vou me privar de nada, pois
esse tempo como universitário só vou viver uma vez.
Sobre o futuro, a única certeza que tenho é que quero Ava fazendo
parte dele, mesmo eu sabendo que minhas escolhas podem ser decisivas para
a família dela me ver como uma ovelha negra, mas não vou desistir da
minha borboletinha.
O treino do time de dança acabou e o nosso continuou até tarde, e já
eram por volta das onze horas quando fomos liberados para tomar banho e
deixar o centro de atletismo.

Chase: Eu sei que já está tarde, mas preciso muito te levar em um


lugar.
Ava: Eu já estava quase dormindo, mas vou me arrumar. Você está
vindo?
Chase: Só vou passar na fraternidade para trocar de roupa. Coloque
um casaco porque vamos de moto.

​ u entrei rapidamente no meu quarto, coloquei meu jeans, uma camisa de


E
malha preta e peguei minha jaqueta de couro e desci apressado as escadas.
​Não tinha certeza ainda do que estava fazendo, mas foi só parar em frente a
fraternidade de Ava e vê-la vindo em minha direção que me enchi de
coragem. Ela sempre confiou em mim, e eu precisava fazer o mesmo com
ela.
​— Para onde estamos indo? — Ela perguntou pegando o capacete.
​— Você vai ver quando chegarmos lá.
​ va envolve seus braços firmemente ao redor da minha cintura enquanto
A
acelero em alta velocidade.
O rugido do motor e o pulsar acelerado de nossos corações é o único
barulho que escutamos.
As luzes da cidade começam a cintilar como estrelas distantes, à
medida que começamos a subir o penhasco em Malibu.
A sensação de liberdade se entrelaça com a adrenalina que percorre
nossas veias, e cada curva… cada reta… me deixa mais próximo de onde
tudo aconteceu.
​Quando chegamos no alto do penhasco eu parei a moto e descemos em
silêncio.
​Respirei fundo e tirei o capacete. Caminhei até a beira do penhasco e chutei
uma pedra que deslizou direto para o mar.
​Vazio.
​Escuridão.
​Dor.
​Meus olhos começaram a arder.
Minha respiração ficou acelerada.
Eu me abaixei com as mãos na cabeça.
Um nó se formou na minha garganta e o ar começou a desaparecer.
Gatilhos.
Crise de ansiedade.
Eu escutei o barulho do capacete de Ava caindo no chão e seus
passos apressados vindo na minha direção.
Suas mãos seguraram firme o meu rosto e quando vi seus olhos
arregalados sem entender o que estava acontecendo, e porque eu a trouxe
neste lugar, lágrimas reprimidas por tantos anos começaram a rolar pelo meu
rosto, enquanto eu tentava respirar.
​— Inspira… expira… inspira… Chase… olha para mim… eu estou aqui
com você… sempre vou estar — Ava falou com os olhos cheios d'água.
Eu não consigo reagir.
Eu não consigo me mover.
Acho que entrei em choque.
Ava me olha assustada.
Eu preciso reagir.
Eu preciso colocar tudo para fora.
​ Eu não tive culpa. Ele foi me ver jogar porque gostava de acompanhar

tudo que eu fazia. Eu não pedi para ele ir. Eu não o matei. Eu o amava tanto.
Ele era o meu herói. O meu ídolo.
​— Ele quem? O seu… — Ela respirou fundo e olhou para baixo do penhasco
onde não se via nada além da escuridão — irmão?
​— Ele foi assistir o meu jogo e na volta um caminhão desenfreado surgiu do
nada e nos jogou fora da estrada — Eu falei e me sentei no chão cobrindo o
meu rosto — eu fui cuspido fora do carro porque estava sem o cinto e Axel
capotou com o carro até lá embaixo.
— Chase… meu Deus… foi um acidente.
​— Eu não pude me despedir. Eu tirei o cinto para pegar minha mochila no
banco de trás e tudo aconteceu. Os bombeiros chegaram e me encontraram
caído em algum lugar por aqui. — Eu falei apontando para o nada em volta
de mim — Tinham muitos carros. Todos buscavam pelo carro e por Axel.
Meu pai chegou e ficou desesperado. Alguém avisou que seu outro filho
estava bem, mas ele não pareceu escutar… ou não se interessou. Ele me
culpou por tudo. Minha mãe me culpou por tudo. Eu escutei tantas indiretas
que tinham sido por minha causa que passei a me culpar.
​— Você não foi culpado de nada. Seu irmão com certeza foi te assistir
jogando porque te amava muito e você não pode se culpar por isso.
​— Ele era o quarterback da UCLA. Estava na última temporada e iria
vencer. Seu contrato com o Buffalo Bills já estava certo e ele se foi… e
agora eu vou completar sua história… vou ser campeão por ele. Vou erguer o
troféu que Axel não teve tempo de conquistar.
​— Você só joga por causa dele?
​— Axel me apresentou ao futebol e sua paixão pelo esporte me contagiou.
Eu amo entrar em campo e sentir a adrenalina do jogo. Eu sempre joguei
com a camisa número 11, mas nessa última temporada pedi para jogar com a
10 em homenagem ao meu irmão. Eu decidi que cada vitória desta
temporada seria por ele.
​— E você está cotado para jogar pelo Buffalo Bills.
​— Parece que eu caminho seguindo os seus passos e me orgulho disso.
​Eu estava mais calmo.
A crise de ansiedade estava diminuindo e a respiração voltando ao
normal.
Ava não me julgou.
Ela não me culpou.
​ Eu tinha medo de te perder se você soubesse… tinha medo de que você

também me culpasse.
​— Você não vai me perder. Somos dois fodidos com crises de ansiedade e
fantasmas que nos seguem pelas sombras, mas também somos fortes porque
temos um ao outro.
​— Isso é amor?
​— Sim. Nosso amor é real. Somos imperfeitos. E esse sentimento que temos
um pelo outro nos une e nos cura.
​Ava se sentou no chão ao meu lado com as pernas esticadas e eu me deitei
com a cabeça no seu colo e fiquei olhando para o céu escuro.
​Eu senti paz.
​Pela primeira vez respirei sem dor. Sem culpa.
​Talvez a dor volte depois… eu não sei…, mas agora estou em paz ao lado da
minha borboletinha que parece conseguir me levar junto com ela no seu voo
de liberdade.
GAME DAY

Local do Jogo: Arizona Stadium

Tucson - Arizona

Locutor 01: Bem-vindos, fãs do esporte que está no coração do


americano. Estamos aqui para um emocionante confronto entre os Wildcats e
os Bruins. O que esperamos ver neste jogo, Peter?

Locutor 02: Com certeza, muitas jogadas espetaculares, Mike!


Ambas as equipes vêm com desempenhos sólidos nesta temporada e por isso
esse jogo promete ser tenso. Os Wildcats têm uma defesa incrível, enquanto
os Bruins têm um ataque poderoso e claro, não podemos deixar de falar dele,
Chase Montana.
Locutor 01: A defesa dos Wildcats terá um grande desafio de tentar
parar o quarterback dos Bruins, que está lançando com precisão notável e já
é considerado um fenômeno.

Locutor 02: Mas os Wildcats têm sua estrela Connan, e os Bruins


terão o desafio de conter o running back. Ele tem sido a força do time e vem
despontando cada vez mais nesta temporada.

Locutor 01: O kickoff está prestes a começar. Quem você acha que
vai sair na frente, Peter?

Locutor 02: É difícil dizer, Mike. Ambas as equipes são talentosas e


tem suas estrelas, e tudo pode acontecer neste jogo. Preparem-se para uma
tarde emocionante de futebol americano!
Eu não consigo ver nada de errado
Entre nós dois
Seja minha, seja minha, sim
A qualquer momento, a qualquer hora

(Fallin' All In You - Shawn Mendes)


Capítulo 31
Chase Montana

Cinco horas da manhã e estou no meu momento solitário correndo no


estádio vazio no campus da UCLA.
​Sábado vencemos mais um jogo, desta vez sobre os Wildcats e seguimos
nossa caminhada rumo a grande final.
​Minha vida agora se divide entre aulas, treinos diários, jogos nos finais de
semana e Ava.
​Estamos cada vez mais unidos e nos tornando imprescindíveis na vida um do
outro.
​Juntos nos sentimos livres dos nossos medos e respiramos. Talvez isso seja
tóxico para quem está de fora, porque cada vez nos fechamos mais em um
mundo só nosso. Mas para nós dois é saudável porque nos curamos de tudo
quando estamos juntos.
​Ava ainda não se sente pronta para anunciar aos pais que estamos juntos. Ela
diz que se começarmos a frequentar muitos lugares públicos juntos, vão
acabar nos fotografando, e tudo vai virar um circo midiático orquestrado
pelos assessores do seu pai.
​Ela tem seus traumas e eu respeito isso mesmo querendo gritar que ela é
minha garota no final de cada jogo transmitido pela FOX.
​Aqui na UCLA é como se estivéssemos dentro de uma bolha, e não importa
para os outros estudantes se estamos juntos ou não, já que cada um têm sua
vida e não está nem aí para a do outro. Segundo Ava, nosso relacionamento
aqui na universidade só importa para as minhas ex, como ela chama as
garotas com quem já fiquei, mas que abandonei desde o dia que a vi
dançando como Arlequina.
​Eu quero levar Ava para viver, mas nossos horários estão sempre ocupados e
acabamos só nos encontrando entre aulas e treinos, mas hoje quero fazer
algo diferente com a minha garota.
​Acabei de correr e me sentei no capo do meu carro e acendi um beck para
relaxar, e fiquei pensando no futuro que antes parecia tão distante, mas se
aproximava na velocidade da luz.
​ m alguns meses terminaria minha última temporada nos Bruins e ficaria
E
restando um semestre para a graduação. Eu sei que tenho grandes chances
com o Buffalo Bills porque meu agente disse que eles estavam
impressionados comigo em cada jogo pelos Bruins, e que já era certa minha
ida para Nova York.
​— Pensando em mim, pudinzinho — Ava falou se aproximando de mim.
​— Sempre.
​— Eu achei que você ia aparecer lá no estúdio.
​— E você queria que eu fosse até lá te foder como no outro dia?
​— Eu amo esse seu jeito tarado antes mesmo do dia começar a clarear —
Ela falou segurando o meu rosto e me beijando.
​— Hoje depois do treino vou te buscar para passarmos a noite juntos longe
daqui.
​— Eu posso saber…
​— Não pode — Eu a interrompi rindo — Você é muito curiosa, mas só vai
saber quando chegarmos lá.
​— E que roupa eu devo vestir?
​— Qualquer uma porque vou tirar mesmo quando a gente chegar lá.
​Ava deu uma gargalhada e me abraçou esfregando sua boceta no meu pau
que já estava duro só com a presença dela perto de mim.
​— Tudo bem — Ela falou se esfregando mais um pouco em mim sabendo
que isso me deixava louco — Te vejo mais tarde — Ela falou dando um
beijo na minha boca e outro no meu pau por cima da minha calça.
​— Safada — Eu falei dando um tapa na sua bunda — Não tem a menor
chance de você me deixar assim o dia todo.
​Eu a agarrei e a encostei na porta do carro, e ela gemeu quando sentiu a
minha ereção tocando na sua barriga.
Tirei o seu casaco e desci as alças do seu cropped tendo uma linda
visão dos seus seios arredondados com os mamilos pontudinhos. Eu me
abaixei, lambendo um deles com a ponta da língua e apertando com força
sua bunda macia entre os meus dedos.
— Vamos transar aqui? No meio da rua?
— Está escuro ainda.
— Você é louco — Ela falou se virando de costas para mim e
encostando a barriga no meu carro — e eu sou mais ainda por querer ser
fodida assim, no meio da rua.
— Eu amo essa sua boquinha falando putaria — Eu falei me
abaixando e tirando sua legging e calcinha, e deixando sua boceta exposta
para mim ​— Você quer a minha boca te lambendo, e te chupando, até você
gozar bem forte?
​— Você me deixa louca e querendo gozar falando desse jeito.
Eu não tinha como negar que eu pertencia a minha garota que me
dominou por completo, e nem precisei pedir, e Ava já abriu as pernas para
mim, me deixando ver o quanto estava molhada e gemendo alto e sem pudor
algum quando enterrei meu rosto em sua boceta, passando a língua em sua
fenda encharcada e sentindo como o seu clitóris estava inchado.
​— Essa boceta é só minha.
Minha língua começou a lamber toda a sua extensão, e deslizei um
dedo para dentro dela, fazendo-a gemer gostoso. Eu a chupei com força, e
depois com lambidas leves no seu clitóris, e Ava começou a choramingar
quando sentiu um novo orgasmo chegando.
— Por favor, me deixe gozar. Eu amo você me chupando e me
lambendo com força. Vou gozar!
Eu podia sentir seus músculos se contraindo, apertando minha língua
que estava enterrada dentro dela, quando ela gemeu alto e gozou na minha
boca me deixando todo lambuzado e ainda mais viciado nela.
Eu me levantei procurando a sua boca, e nosso beijo foi intenso.
Não perdi tempo já que em pouco tempo o dia começaria clarear e
com uma estocada firme me enterrei dentro dela, iniciando um vaivém forte
e ritmado, fazendo os nossos corpos se chocarem com força um no outro.
Ela entrelaçou as pernas em volta da minha cintura, e comecei a
fodê-la sentindo sua boceta esmagar o meu pau.
— Quanto mais você me apertar, mais forte vou te foder.
Eu nem terminei de falar e ela me apertou com muita força e me
desafiou com o seu olhar cheio de tesão.
​— Goza no meu pau com essa boceta que é só minha… goza, minha
borboletinha viciante.
— Vamos gozar juntos pudinzinho.
Eu me enterrei todo dentro dela só parei de estocar quando a última
gota de porra saiu de dentro de mim.
​— Você é só minha… para sempre! ​
​Seu corpo ficou mole e ela deitou a cabeça no meu ombro.
​ u ajudei Ava a se vestir e a carreguei nos meus braços até o seu carro para
E
poder ficar mais tempo com ela perto de mim.
​— Isso foi só um aperitivo — Eu falei quando a coloquei dentro do seu carro
e fechei a porta — Nos vemos a noite e já te aviso que amanhã você não vai
conseguir andar.
​— Promessa é dívida e vou cobrar — Ela falou sorrindo e foi embora
pisando fundo no acelerador do seu carro.

◆◆◆

O dia custou a passar e quando o treino acabou eu queria correr para


me encontrar com Ava, mas ainda tive que atender uma chamada inesperada
da minha mãe.
​— Como você está?
​— Bem — Eu respondi desconfiado porque ela nunca me ligava e muito
menos se preocupava comigo.
​— Espero que você esteja tomando cuidado com as besteiras que sempre faz
porque seu pai me contou que o seu agente teve uma reunião com os
dirigentes do Buffalo Bills e eles querem você na próxima temporada.
​— Eu sempre me cuido. Treino todos os dias.
​— E também bebê, fuma, usa drogas e participa de corridas ilegais.
​— O meu desempenho não está comprometido por nada disso.
​— Eu conheço o seu discurso de que só se vive uma vez como universitário,
mas isso não quer dizer que você possa fazer um combo de coisas erradas
que podem comprometer o seu futuro, e principalmente, me fazer passar
vergonha.
— Claro, a sociedade, o que vão pensar, falar. Era só isso?
​— Você reclama quando eu não ligo, mas quando ligo…
​— Eu não reclamo.
​— É impossível conversar com você.
​— Então não me ligue. Você tem a sua vida e me deixe ter a minha em paz.
​— Tão diferente…
​— Sim, muito diferente do meu irmão.
​Minha mãe. Tinha meses que eu não a via.
​Sempre que ela me liga a conversa termina com ela me comparando ao meu
irmão, e me fazendo sentir culpa por sua infelicidade.
​— Você não se esforça para ser igual a ele que sempre fazia tudo certo. Axel
deveria ter sido um exemplo para você, mas ao contrário dele…
​ Minha mãe, eu sou excelente aluno, o primeiro do meu curso. Sou um

atleta que se destaca e que vou assinar um contrato com a NFL. Eu sou tudo
que Axel era só que não tenho valor.
​— Seu irmão não participava de rachas. Seu irmão só bebia socialmente.
​— Eu só bebo em festas.
​— Você fuma.
​— Porque preciso descarregar minha tensão.
​— Que tensão? Você é rico. Têm tudo o que quer. Faz tudo que têm vontade.
Inventa que têm depressão como desculpa para fazer suas besteiras.
Depressão tenho eu que perdi o meu filho.
​— Eu perdi o meu irmão. Porra, por que você e meu pai acham que eu não
sofro com isso? Vocês perderam, mas eu também perdi.
​— Não compare sua dor a minha.
​Minha mãe como sempre desligou na minha cara. Ela não aceitava que eu
tivesse alguma dor por ter perdido meu irmão. Só ela podia sofrer. Egoísta!
​Maldita ligação.
​Minha garota me esperando e eu sentado no carro tentando esquecer que sou
tão merda para minha mãe que nem sentimento ela acredita que eu possa ter
por alguém.
​Inferno.
​Eu respirei fundo e acelerei meu carro em direção a fraternidade de Ava que
estava me esperando.
​Assim que cheguei e vi Ava descendo as escadas sorrindo para mim toda a
escuridão desapareceu. Minha garota tinha esse poder. Ela me fazia esquecer
tudo e só pensar nela.
​— Eu já posso saber para onde estamos indo?
​— Quando chegar lá.
​Pegamos a estrada deixando a UCLA para trás e seguindo em direção a
Malibu. Quando eu peguei uma estrada sinuosa e mal marcada, vi que Ava
ficou apreensiva, mas eu segurei sua mão a tranquilizando.
​— O caminho é perigoso, mas o lugar que estamos indo vai valer à pena.
​Ava sorriu quando eu parei o carro e viu a vista do local.
​— Que lugar é esse?
​— El Matador State Beach.
​— É lindo!
​Eu coloquei a mochila com a barraca de acampamento nas costas, peguei o
cooler com as bebidas e dei a mão a Ava para descermos até a praia seguindo
por um caminho todo irregular, com seus afloramentos de rochas megalíticos
e falésias vermelhas.
​Assim que chegamos vi que Ava olhou admirada para a enseada vazia com a
água estava calma devido a maré baixa tinham vários trechos abertos e foi
possível caminhar pelas cavernas que tinham no mar.
Eu montei a barraca enquanto Ava ficou observando os golfinhos
brincando no mar.
​— Que lugar perfeito! Obrigada por me trazer aqui.
​— Eu faço qualquer coisa para ver esse sorriso no seu rosto.
​Nos sentamos abraçados próximos da fogueira que fizemos juntos, e eu
peguei uma cerveja para mim e Vodka para Ava.
— Eu quero mergulhar — Ela falou tomando um gole da bebida,
colocando a garrafa no chão e caminhando em direção a água.
Eu fiquei observando enquanto ela caminhava e quase me engasguei
com a cerveja quando ela começou a tirar a roupa e jogar na areia.
Ava mergulhou nua no mar me proporcionando uma visão mais linda
que toda a paisagem do lugar.
Eu me levantei e fui caminhando ao encontro dela, deixando minha
roupa junto com a dela na areia.
— Eu nunca transei no mar — Ela falou me abraçando dentro da
água e entrelaçando suas pernas na minha cintura.
— Ava, você sabe como enlouquecer um homem.
Ela riu jogando o corpo para trás, boiando com os seios sendo
iluminados pela lua e com a boceta roçando no meu pau.
Eu comecei a beijar seu pescoço e senti o quanto Ava estava
arrepiada. O corpo estava quente e ela gemeu quando passei minha língua na
sua pele molhada.
Suas pernas entrelaçadas na minha cintura me apertaram com mais
força assim que suguei um dos seus mamilos que estava salgado por conta
da água do mar.
— Por favor!
— O que você quer, Ava?
— Você sabe — ela respondeu, choramingando.
— Você vai ter que me pedir.
— Eu quero seu pau dentro de mim me fazendo gozar alto no meio
do mar.
— Assim? — Eu perguntei e entrei lentamente dentro dela.
— Não, eu quero com força.
Eu a segurei firme, com seu corpo colocado no meu e estoquei forte
dentro dela, fazendo com que ela cavalgasse no meu pau.
Ela rebolava e esmagava o meu pau dentro da sua boceta deliciosa,
num sexo selvagem no meio do mar.
— Você é muito gostosa.
— Eu quero gozar — Ela gritou e seu gemido parecia ecoar pelo
mar.
Ava era linda e insaciável, e eu precisei cravar os meus pés firmes no
chão para manter o ritmo forte e intenso que ela gostava.
​— Eu quero que você goze dentro de mim.
​Seu pedido era uma ordem e aumentei a velocidade das estocadas até gozar
forte e preencher minha garota com a minha porra como ela pediu.
​— Você é perfeito, Chase Montana.
​— Por você eu quero ser sempre o melhor que eu puder.
​Ava me deu um beijo e me abraçou deitando a cabeça no meu ombro,
enquanto a água do mar embalava os nossos corpos.
GAME DAY

Local do Jogo: Autzen Stadium


Eugene - Oregon

Locutor 01: Boa tarde Ducks. Sejam bem-vindos a este empolgante


confronto de futebol americano da liga universitária! Estamos aqui
acompanhando cada momento, com um estádio lotado e uma atmosfera
eletrizante. O que esperar dessa partida, meu amigo?

Locutor 02: Com certeza, estamos prestes a presenciar um


espetáculo, já que as duas equipes estão fortes nessa temporada, e a
rivalidade entre elas promete um jogo cheio de emoções e quem sabe
reviravoltas.

Locutor 01: O jogo começa e já no primeiro quarto, vimos algumas


defesas sólidas, não acha?
Locutor 02: Os defensores estão mostrando sua presença em campo,
tackles precisos e interceptações, e agora, no início do segundo quarto, o
quarterback dos Bruins parece estar preparando uma jogada especial.

Locutor 01: Sim, Chase faz o snap, recua para o pocket e, faz um
passe profundo para o wide receiver, que escapa da marcação e vai direto
para a end zone! Um touchdown espetacular que com certeza só vai
fomentar os rumores de sua contratação pelo Buffalo Bills.

Locutor 02: O time da casa não desanima, e tempos que falar sobre a
incrível variedade de jogadas, com corridas precisas e passes estratégicos
que eles vêm fazendo para tentar manter o jogo equilibrado.

Locutor 01: Avançando para o terceiro quarto, os Bruins estão


dominando a posse de bola. Kalleb, o running back, está imparável,
driblando defensores e ganhando terreno a cada corrida. E então surge
Chase, que lança um passe certeiro para o tight end na end zone.
Touchdown!

Locutor 02: Agora, no último quarto, com o tempo se esgotando, a


equipe dos Ducks está atrás no placar. O quarterback está sob pressão, mas
demonstra ter nervos de aço fazendo uma série de jogadas imprevisíveis.
Mas Chase faz um passe incrível para o wide receiver dos Bruins, na linha
de 20 jardas, que faz a recepção e corre para a end zone. Touchdown!

Locutor 01: Sem dúvida, essa noite assistimos um espetáculo


inesquecível. Agradecemos a todos por nos acompanharem nesta
transmissão. Até a próxima partida emocionante da liga universitária de
futebol americano.
Posso ir aonde você vai?
Podemos ser próximos assim para todo o sempre?
E ah, me leve pra sair, e me leve pra casa
Você é meu, meu, meu, meu
Amado

(Lover - Taylor Swift)


Capítulo 32
Ava Miller

Desembarcamos na UCLA depois da volta do jogo contra o Ducks


com muita festa no centro de atletas depois de mais uma vitória dos Bruins.
​— Chase é imbatível! — Miah falou me abraçando quando estávamos
saindo do ônibus — Ele joga muito bem.
​— Ele é fera mesmo, a defesa do outro time bem que tentou mas ele
atropelou geral — Cath falou batendo palmas.
​— Eu sou suspeita para falar, mas meu namorado é o melhor de todos
mesmo — Eu falei toda orgulhosa e levei um susto quando Chase chegou de
surpresa me abraçando por trás.
​— Escutar você falando que sou seu namorado é melhor do que vencer um
jogo.
​— Menos, Chase Montana — Cath falou rindo — Assim vamos ser
obrigadas a aceitar que você é um namorado fofo, perfeito, romântico. O que
fizeram com aquele Chase insuportável que estudava aqui na UCLA?
​— Ele conheceu uma garota e se apaixonou por ela.
​— Ele é oficialmente o namorado perfeito — Eu falei toda derretida e com
as minhas amigas rindo e virando os olhos.
​— Vamos comemorar? — Kalleb perguntou — A gente chega exausto, mas
o jogo hoje foi de virada, não dá para passar em branco.
​— Vamos pro BJ’S — Chase falou — Alguém liga e já reserva as mesas.
​Chase era um líder nato. Podia estar a maior barulheira, mas era ele falar e
todos paravam para escutar.
​Me lembrei do meu pai. Todos falavam que ele era um líder nato. Só que
meu pai tinha o dom da oratória, e com isso convencia as pessoas, já Chase
tinha um carisma natural.
​Pensar no meu pai fez um arrepio tomar conta do meu corpo. Ele não tinha
ideia de que eu estava namorando. Se minha mãe achava que Chase não
servia para mim, o meu pai com certeza acharia o mesmo.
​— Você está com frio? — Chase falou tirando o casaco e colocando nas
minhas costas.
​ Um pouco — Eu menti para não falar que estava pensando em como

meus pais estragariam nosso relacionamento.
​Eu não tinha medo por mim. Por Chase eu mandaria os dois para o inferno,
mas tinha medo de que ele não comprasse essa briga para ele.
​Chase já têm os problemas dele. Seus pais jogam um peso enorme
nas costas dele o culpando por um acidente que ele não tinha como evitar, e
com certeza, ele não merecia os meus pais trazendo mais uma parte do
inferno para a vida dele.
​Sim, eu tenho medo de querer enfrentar o mundo e perder tudo de bom que
estou vivendo.
​Nunca fui uma fortaleza. Nunca disse que era uma. Nunca sei se serei um
dia.
Mas eu sei que estou feliz! Que sou feliz com Chase e não quero
arriscar tudo compartilhando o que estou vivendo com quem sempre me
tratou segundo o que eles querem que eu seja, e não como eu sou na
realidade.
​— Go Bruins! — Alguém gritou e me dei conta que caminhamos do centro
de atleta até o BJ’s sem que eu me desse conta já que estava mergulhada nos
meus pensamentos.
​Entramos e nos sentamos na mesa reservada para Chase com 6 lugares, no
centro do restaurante e os outros jogadores e cheerleaders foram se sentando
nas mesas reservadas em volta da nossa.
— Kalleb, Erich, Miah e Cath vão se sentar com a gente — Chase
falou e eu pude ver a surpresa no rosto das duas que já estavam indo se
sentar em outra mesa.
Ele pensava em tudo. Sabia que ia ficar falando o tempo todo sobre
as jogadas com os outros jogadores, então trouxe minhas amigas para me
fazer companhia.
​Todos pedimos uma rodada de chopp para brindar e para comer escolhemos
vários petiscos do cardápio.
​— Para você ver como as aparências enganam — Eu falei enfiando um
mini-hambúrguer inteiro na minha boca e fazendo Chase olhar de cara feia
para o amigo.
— Sério irmão, se continuar regulando o que minha garota ou as suas
amigas estão comendo, você vai comemorar sozinho lá na calçada — Chase
falou sério e Kalleb deu uma gargalhada apontando a rua para Erich.
​ noite foi animada e só terminou cedo porque todos nós tínhamos aula no
A
dia seguinte e não podíamos faltar. Nosso tempo era menor que o dos outros
para estudarmos por conta dos treinos e viagens, e por isso precisávamos
ralar muito durante a semana para entregar tudo em dia.
— Você vai dormir comigo? — Chase perguntou quando saímos do
restaurante.
​— Não posso porque eu ainda tenho que terminar um trabalho para
apresentar na primeira aula.
​— Vou sentir sua falta — Ele falou me abraçando.
​— A gente se vê amanhã no almoço?
​— Claro, só que primeiro vou te levar para casa.
​— Não precisa, eu vou caminhando com as meninas. Pode ir com os seus
amigos porque eles estão querendo comemorar mais e acho que ninguém vai
dormir na sua fraternidade essa noite.
​Chase me deu um beijo e foi para a sua fraternidade que era bem mais perto
do que a minha, já que fraternidades masculinas e femininas ficavam em
lados opostos, e a nossa ficava um pouco mais acima do centro comercial do
Westwood Village.

◆◆◆

​ primeira coisa que Miah fez quando entramos no nosso quarto, foi se jogar
A
exausta na cama.
​— Estou oficialmente velha, minha amiga — Ela falou rindo — Troquei
meu amor por uma cama vazia.
​— Não somos mais as mesmas — Eu disse rindo enquanto colocava o meu
pijama, calçava minhas pantufas e corria para a minha cama quentinha.
​— Você não disse que tinha um trabalho para entregar?
— Eu menti.
​— Por quê? Você e Chase parecem tão felizes juntos.
​— E somos, mas hoje eles venceram um jogo, gostam de comemorar
revendo os lances na televisão, discutindo jogadas, reclamando dos passes
errados, e se eu fosse dormir com ele seria mais uma vez que ele deixaria de
confraternizar com o time.
— Agora eu me senti mais velha ainda, porque não fui dormir com
Cath porque estou com dor nas costas e tudo que eu quero é ficar deitada
imóvel na minha cama.
— Podemos fofocar deitadas olhando para o teto assim você só
precisa mover a boca para falar.
— Só piora o meu sentimento de envelhecimento precoce.
​— Sobre o que vamos conversar?
​— Podemos começar falando da sua pele cada dia mais radiante.
​— Ah, isso é devido aos múltiplos orgasmos deliciosos que tenho tido quase
diariamente.
​Miah fez um escândalo gritando e batendo palmas, e fiquei pensando como
ela conseguia fazer a louca deitada feito uma múmia na cama.
​— Agora vai ter que contar os detalhes sórdidos.
​— Não posso sou ciumenta — Eu falei rindo — Mas posso te contar dos
lugares inusitados que venho transando.
​— Essa conversa só melhora.
​— Numa praia deserta, no estúdio com aquele monte de espelhos para todos
os lados, na rua encostada no carro, e ele já me fez gozar sentada na mesa do
California Grill enquanto eu esperava a minha pizza.
​— Eu e Cath nos achávamos fodonas porque transamos uma vez na parede
de uma festa, mas vocês dois me fizeram ver que somos duas caretas.
​— Eu vim viver a minha vida livremente e no caminho encontrei Chase
Montana que está me proporcionando tudo muito melhor do que eu podia
imaginar.
​— Você deu foi um chá de boceta bem dado no homem na festa a fantasia.
​— E ele me deu uma surra de pau que me deixou louca quando transamos.
​— Porra, Ava, agora vou olhar para vocês dois e vou pensar, lá vem o casal
pau e boceta.
​Eu e Miah rimos tão alto que acho que acordamos toda a fraternidade.
Incrível como em tão pouco tempo nós criamos uma conexão de irmãs, e
estávamos sempre zoando uma da outra.
​Ela com certeza trouxe leveza para a minha vida. Eu nunca fui de conversar
sobre sexo, me abrir ou fazer piadas, mas desde que conheci Miah isso se
tornou algo natural, descontraído e como têm que ser, já que sexo virou tabu
sei lá por que, se é algo que todo mundo faz.

◆◆◆

Acordei atrasada para minha aula já que a conversa com Miah foi até
tarde e só dormimos porque desmaiamos de cansaço, porque não me lembro
de darmos boa noite uma para a outra.
​ Acorda Miah! Olha a hora!

​— Meu Deus, já amanheceu? Alguém faz o tempo ir mais devagar, por
favor!
​— Eu não sei como vai ser quando você estiver em Nova York para não se
atrasar para o trabalho, porque Cath é outra que também dorme mais que a
cama.
​— Mensagem de texto. Você me envia todos os dias me lembrando de
acordar.
​— Toma vergonha e compra um despertador — Eu falei rindo e jogando um
travesseiro nela.
​Desci as escadas apressadas e abri o meu celular para ver se tinha alguma
mensagem do Chase, mas só encontrei uma da minha mãe que fiz questão de
não ler.
​Cheguei no estúdio de dança e todos os alunos já estavam do lado de fora,
esperando a hora da banca para nossa primeira prova prática do semestre.
Cheguei na hora do sorteio dos números, e agradeci mentalmente a Deus por
eu ser o número três, já que minha ansiedade iria ao grau máximo se eu
tivesse que esperar mais de cinquenta pessoas antes de mim.
​Meu celular vibrou e desta vez era uma mensagem de Chase.

​ hase: Boa sorte na prova. Eu sei que você vai arrasar.


C
​Ava: Obrigada. A próxima a ser chamada sou eu. Torce por mim.

​— Sempre. — Ele falou me abraçando pelas minhas costas.


— O que você está fazendo aqui?
— A vantagem de se ter só notas altas é poder perder uma aula para
vir dar um apoio a sua namorada que vai apresentar sua primeira coreografia
valendo nota para a graduação.
​— Eu já disse que você é perfeito?
​— Já, mas pode falar de novo.
​— Bobo — Eu falei dando um beijo nele — Obrigada por vir. É muito
importante para mim.
​Foi a primeira vez que me senti acolhida e tive alguém segurando a minha
mão antes de uma apresentação. Sentia falta disso desde criança, aonde
sempre fui com o motorista para o teatro me apresentar com o ballet.
​Eu me lembro das crianças chegando com as mães e recebendo mil
recomendações, e eu ficava escutando fingindo que eram para mim. No
final, todas recebiam rosas vermelhas, abraços e beijos calorosos dos seus
pais, enquanto um assessor me entregava um buquê para segurar, e fazia
várias fotos minhas como o meu pai para escolher a melhor, e a seguir íamos
embora.
​— Número 03. Ava Miller. — O professor gritou na porta do estúdio.
​— Voa borboletinha — Chase falou quando eu soltei sua mão.
​Inspira.
​Expira.
​Inspira.
​Expira.
​Eu esvaziei a minha mente.
​Me desliguei das cinco pessoas sentadas atrás de uma mesa formando a
banca julgadora.
​Era só eu e a música.
​Flowers começou a tocar no estúdio.
​A melodia invadiu a minha mente e tomou conta de cada parte do meu
corpo.
​E eu dancei.
​A dança era o meu passe para ser livre.
​Meu corpo parecia fazer parte da música.
Parecia conectado ao chão quando me arrastei por ele no movimento
sensual da coreografia que criei.
E então eu rodopiei por todo o estúdio.
E dancei.
E voei como uma borboleta.
Quando a música terminou e o estúdio ficou em silêncio eu me
permiti abrir os olhos e olhar para cada jurado.
​Seus olhos pareciam marejados como os meus.
Eu entreguei tudo.
E eles receberam a minha entrega.
​— Você já tem alguma proposta para depois da graduação? — Um dos
jurados me perguntou — Porque eu gostaria de ter você na minha companhia
de dança em Nova York. Vou enviar a proposta para o seu e-mail que está
aqui na ficha.
​— Obrigada por essa apresentação linda. Obrigada por tanta entrega que eu
tenho certeza de que emocionou a cada um de nós aqui no estúdio. Eu
também te enviarei uma proposta — Outro jurado falou e eu fiquei sem
saber o que dizer além de obrigada.
​ eixei o estúdio e corri para os braços de Chase, que ficou me rodando no ar
D
quando eu contei sobre as duas propostas que iriam me enviar.
​— Eu sabia que você ia arrasar lá dentro. Primeira prova e já têm duas
propostas. Mas agora a minha garota vai tomar um banho, porque vamos
almoçar e de tarde vamos ao cinema.
​— Cinema?
​— Vai passar uns filmes antigos no Bruins e sabe qual vai estar em cartaz
hoje à tarde? Dirty Dancing.
​— Meu Deus, eu me apresentando de manhã e depois assistindo um dos
filmes que eu mais amo no mundo, e que eu sonho em reproduzir a última
cena? Têm como ficar mais perfeito esse dia?
​— Você fala muito e desse jeito vamos nos atrasar — Chase falou me
colocou nas costas e saindo apressado do estúdio.
​O cinema dos Bruins tinha um horário de sessão sempre fixo, e se você
atrasasse não podia mais entrar porque fechava as portas. Por isso fizemos
tudo rápido, já que a sessão seria às duas da tarde, um horário horrível e que
só faltando aula para assistir.
​Mas eu estava feliz!
Cinema. Chase. Pipoca. Dirty Dancing. O combo perfeito para mim.
​— Eu pensei que o cinema estaria vazio. De onde surgiu essa gente toda?
​— Chase Montana, esse filme é praticamente um clássico. Chega a ser
pecado não gostar dele.
​— Eu não imaginava que tanta gente faltaria a aula para assistir algo que
passa na televisão, e que têm em DVD.
​— Não é a mesma coisa que no cinema. Obrigada de verdade por lembrar de
mim e me trazer para assistir. Eu não vi o anúncio e ia perder esse momento
que vai ser épico para mim.
​A primeira música começou a tocar e meu coração disparou quando vi a
cena da Baby, a protagonista do filme, no carro com os seus pais chegando
no hotel fazenda.
​Chase riu porque na hora que o Patrick Swayze apareceu pela primeira vez
na tela teve um monte de gritos na sala, inclusive o meu.
​Eu estava emocionada e em cada cena eu tinha vontade de chorar de tão
linda que ficava na tela gigante do cinema.
​O filme foi avançando e várias vezes Chase disse que eu lembrava a Baby,
que se escondia do mundo, mas que assim como Johnny eu não deixaria
ninguém me colocar num canto como enfeite.
​ então veio a cena final.
E
​Meu Deus.
​A cena final no cinema.
​— Eles vão dançar a coreografia que ele ensinou e ela errou na primeira
vez?
​— Sim, aquela que eles ensaiaram no lago, e dançaram no hotel. A parte
principal dessa coreografia é a que ele a sustenta no alto com os seus braços
totalmente esticados, enquanto ela parece estar flutuando.
​— Eu consigo fazer. Basta ser forte — Ele falou mostrando seus braços
musculosos.
​— Não é uma questão de força. Não é sobre ela saber dançar ou não. É sobre
confiança. Essa parte da coreografia é como se você se atirasse no vazio, e o
seu parceiro estivesse ali te esperando. Te acolhendo. Te sustentando no ar
como se não houvesse perigo algum no mundo porque ele está ali com você.
Ela falhou na primeira vez porque ainda não sabia que podia confiar nele.
Agora na cena final, ela se entrega para ele, confia que ele é o seu
companheiro, e se joga no ar sabendo que seus braços a sustentarão, e assim
ela busca o equilíbrio necessário para se manter ereta no ar.
​— Tudo isso num passo de dança?
​— Tudo isso na história deles que finaliza com essa dança e esse momento
de total cumplicidade.
​Eu acho que dei um nó na cabeça do meu namorado, porque ele saiu em
silêncio do cinema em silêncio. A dança e os filmes que eu amo assistir tem
toda uma razão de ser para mim, e eu não os assisto à toa, mas porque
acredito que eles me passem uma mensagem que eu preciso na minha vida.
​As mocinhas são como eu, imperfeitas, com dores, medos, vontade de
vencer sem saber como, e sempre encontram o seu caminho, assim como eu
sonho em encontrar o meu um dia.
​E hoje se eu puder escolher, espero que esse caminho seja com Chase
Montana.
Eu só quero lhe ver quando você tira tudo
Tira toda sua maquiagem, quando tira tudo
Eu só quero lhe ver quando você tira tudo
Tira toda sua roupa e quero lhe ver tirando tudo

(TiO - ZAYN)
Capítulo 33
Chase Montana

Eu levei Ava no cinema para assistir um filme e descobri que sempre


assisti tudo na televisão de forma superficial, porque a borboletinha sei lá
como conseguia ver detalhes, encontrar mensagens que faziam todo o
sentido, e no final de tudo fiquei me sentindo como um bobo que só foi ao
cinema comer pipoca, porque nem namorar ou tirar uns sarros eu pude,
porque além da sala lotada, ela só tinha olhos para a tela onde o filme estava
passando.
Depois do treino de futebol, eu passei na fraternidade e trouxe Ava
para dormir comigo, e até a visão dela em pé no meu quarto tentando se
livrar dos seus tênis eu achava sexy demais, e me aproximei e me ajoelhei
aos seus pés para ajudar.
Eu segurei sua panturrilha direita olhando nos seus olhos e a fiz pisar
em minha coxa.
— Eu tiro os tênis para você.
Assim que ela ficou descalça, no lugar de me levantar, eu tirei o seu
short e beijei sua calcinha antes de tirá-la completamente.
Eu levei minha mão até sua boceta e ela estava quente e melada,
mostrando o quanto me estava me desejando enterrado dentro dela.
Eu movi meus dedos massageando seu clitóris, e Ava suspirou e
gemeu gostoso ao mesmo tempo que segurou o meu cabelo e tornou a pisar
na minha coxa.
Passei a minha língua em toda a sua extensão, sentindo sua fenda
delicada, e seu cheiro que eu amava tanto quanto o seu gosto.
— Pudinzinho… Sua língua é muito gostosa.
Eu adorava quando Ava me chamava pelo apelido que lembrava a
primeira vez que eu me senti rendido por uma garota.
A minha Arlequina.
Minha borboletinha.
Ela abriu mais as pernas me dando uma visão privilegiada da sua
boceta que eu estava lambendo bem devagar.
— Eu preciso de mais… quero gozar.
Eu a peguei no colo e a deitei na minha cama e coloquei as suas
pernas uma em cada lado do meu ombro e ela gemeu alto me vendo tirar a
calça e a cueca box deixando meu pau exposto.
Ava lambeu os lábios e depois os mordeu, me observando nu e
deixando claro o que ela queria.
— Que visão perfeita! Me fode, Pudinzinho.
Ela sabia que esse apelido me deixava louco, mas eu queria sentir o
seu gosto quando ela gozasse na minha boca e enterrei meu rosto na sua
boceta, enfiando minha língua dura dentro dela e fazendo ela gritar que iria
gozar. Eu parei e comecei a fazer uma trilha de beijos na parte interna da sua
coxa e lamber sua virilha. Sua boceta piscava quando enfiei um dedo
devagar dentro dela e chupei seu clítoris.
— Para de me torturar assim… me deixa gozar.
— Seu pedido é uma ordem — Eu falei e suguei seu clitóris que
estava muito sensível e enfiei de novo a língua dentro dela fazendo com que
ela gozasse forte na minha boca.
Era fodidamente bom saber que eu proporcionava tanto prazer para a
mulher que era dona de todos os meus pensamentos e desejos.
Ava tirou a camiseta e atirou longe, e então, eu beijei o seu pescoço e
fui descendo alternando com lambidas e mordidas leves uma trilha que
terminou quando minha boca alcançou seus seios.
— Você é muito linda.
Ava me puxou para junto dela colando nossos corpos e eu deslizei
minhas mãos até alcançar sua bunda gostosa e apertar sua carne entre os
meus dedos.
— Eu preciso de você.
Ava falou e tentou me empurrar para que eu me deitasse na cama,
mas não conseguiu e ficou me encarando de cara feia.
— Eu não sou mais forte que você, Chase Montana, e se você faz
força não consigo o que eu quero.
— Deixei de ser Pudinzinho?
— Sim, no momento que eu quero cavalgar neste seu pau e você me
priva disso, deixa de ser meu…
— Pode montar em mim, cavalgar, foder, fazer o que você quiser —
Eu falei me deitando rendido — mas seja sempre minha Arlequina.
Ela pegou o preservativo e colocou em toda a extensão do meu pau
depois de dar um beijo nele me fazendo enlouquecer.
A imagem dela sentada em cima de mim e do meu pau alargando sua
boceta apertada era alucinante e precisei me controlar para deixar que ela
ditasse o ritmo.
Ava subia e descia, me espremendo dentro dela, e com as mãos
apoiadas no meu peitoral.
Quando eu consegui alcançar seus seios e comecei a brincar com
seus mamilos, ela começou a gritar e gemer alto sem se importar que o resto
da fraternidade escutasse.
Ela era perfeita e o som do estalo entre nossos corpos ecoava pelo
meu quarto, misturado com nossos gemidos.
— Eu vou gozar. Vou gozar, Pudinzinho.
Ava gozou forte e se levantou ficando de pé na beira da cama e com a
bunda empinada para o alto.
— Me fode com força — Ela pediu e eu me levantei estocando fundo
dentro dela que segurava o lençol entre os dedos e tentando não cair na
cama.
— Acho que você não vai conseguir andar amanhã.
Ela respondeu empurrando seus quadris para o alto e rebolando no
meu pau deixando claro que não estava se importando com o dia seguinte.
Ava esmaga o meu pau, e eu estocava devagar e curto, apreciando a
visão linda da sua bunda arrebitada quando senti o orgasmo me atingir com
força.
— Eu amo quando nossas porras se misturam. — Eu falei sentindo
seu corpo estremecendo enquanto ela gozava forte no meu pau, e minha
porra preenchia sua boceta.
— Eu preciso descansar um pouco. Você foi foda. Muito perfeito.
— Você está me fazendo ficar com o ego inflado falando toda hora
que sou perfeito.
— Você já nasceu com o ego inflado — Ela falou rindo e se deitando
na minha cama.
— Quer tomar um banho?
— Não, quero ficar com o seu cheiro no meu corpo.
Porra.
Que mulher foda.
Ela sabe mesmo como me colocar uma coleira com as suas palavras.
Ava se deitou de conchinha comigo, sentindo o meu pau melado na
sua bunda e dizendo que amava saber que estava com o meu gosto no seu
corpo e dentro dela.
GAME DAY

Local do Jogo: Husky Stadium


Seattle - Washington

Locutor 01: Boa tarde, Huskies e torcedores apaixonados por futebol


americano. Voltamos com a transmissão e vamos continuar trazendo para
vocês a cobertura completa desse jogo emocionante da liga universitária.

Locutor 02: Com certeza, temos uma atmosfera eletrizante, com as


arquibancadas repletas de fãs que vieram torcer por seus atletas. No primeiro
quarto, já vimos algumas jogadas defensivas impressionantes, com tackles
sólidos e interceptações que deixaram a torcida enlouquecida.

Locutor 01: Sem dúvida, a defesa está se destacando. Mas agora, no


início do segundo quarto, o quarterback da equipe dos Bruins parece
decidido a agitar as coisas. Ele faz o snap, recua para o pocket e lança um
passe profundo para o wide receiver, que escapa da marcação e corre para
um touchdown espetacular. Chase Montana leva a arquibancada toda a
loucura.

Locutor 02: Que jogada incrível! Mas a equipe dona da casa não
está para brincadeira. Vimos uma resposta rápida, com corridas precisas e
passes estratégicos. Este jogo está realmente equilibrado, com as duas
equipes mostrando seu melhor em campo.

Locutor 01: Avançando para o terceiro quarto, os Bruins assumem o


controle da posse de bola. O running back, Kalleb, está em um dia
espetacular, escapando dos defensores com agilidade e ganhando terreno. E
então, Chase Montana conecta um passe perfeito para o tight end na end
zone. Touchdown! É emocionante ver o talento desse rapaz.

◆◆◆

Locutor 02: O terceiro quarto foi incrível, mas agora entramos no


último quarto com o jogo em um ponto crucial. A equipe dos Huskies está
atrás no placar, e o quarterback está sob pressão, mesmo assim está
conseguindo conduzir uma série de jogadas imprevisíveis, incluindo um
passe incrível para o wide receiver na linha de 20 jardas. Touchdown!

Locutor 01: Que reviravolta! A torcida está delirando. O tempo está


se esgotando, a equipe dos Bruins tenta uma última investida desesperada,
depois de um jogo espetacular, mas a defesa dos Huskies está firme. Eles
conseguem conter o avanço dos Bruins e garantem uma vitória emocionante.

Locutor 02: Foi uma partida simplesmente inesquecível, e a primeira


derrota dos Bruins nessa temporada, mas ainda assim seguem sendo os
líderes isolados do campeonato. Agradecemos a todos vocês por nos
acompanharem nesta transmissão emocionante. Até a próxima!
Pegue um pedaço do meu coração
E o torne todo seu
Assim, quando estivermos separados
Você nunca estará só
Nunca estará só

(Never Be Alone - Shawn Mendes)


Capítulo 34
Ava Miller

Voltamos para a UCLA depois da nossa primeira derrota dos Bruins


na temporada e Chase estava muito abalado. Ele sente uma pressão enorme
para vencer, seja externa provocada pelo seu pai que diz que é o mínimo
depois de tudo, o culpando pela morte do irmão, ou, interna, onde ele mesmo
se sente em dívida com Axel que não terminou sua última temporada.

— Eu vou dormir. Não estou bem. Nos vemos amanhã — Chase


falou dando um beijo na minha cabeça e deixando o centro de treinamento
assim que desembarcamos.
— Eu posso dormir com você? — Eu perguntei indo atrás dele
sabendo que ele queria ficar sozinho e pela primeira vez ultrapassando esse
espaço que eu sabia que precisávamos de vez em quando.
Chase parou e ficou em silêncio esperando eu me aproximar dele
sem olhar para trás.
Eu não sabia se tinha feito certo em impor minha presença e já ia
recuar quando ele esticou o braço para trás para que eu lhe desse a mão.
Caminhamos em silêncio até a fraternidade. Chase estava tenso e
podia sentir porque ele estava apertando tanto a minha mão que chegava a
doer.
Mas eu suportaria. Sei que dor é essa. Sei que é o limite entre o “eu
posso suportar”, e, “preciso fazer algo que doa mais do que a dor que eu
estou sentindo”.
Eu nunca tive ninguém por mim nesses momentos. Chase disse que
me daria a mão se um dia eu sentisse essa dor de novo. E hoje é ele que
precisa de mim, e eu vou segurar a sua mão.
Entramos em silêncio na fraternidade, e Chase passou direto por
todos que estavam na sala e subiu as escadas, sem soltar a minha mão.
Ele não me olhou nenhuma vez. Não deu uma palavra. Mas ele sabia
que eu estava ao seu lado.
Chase tirou a roupa no modo automático, ficando apenas com a
camisa de malha dos Bruins e uma cueca boxer preta e se jogou na cama.
Eu tirei minha roupa com calma, peguei uma das suas camisas dentro
da gaveta, vesti e fui me deitar ao seu lado.
— Obrigada por ficar comigo.
— Sempre que você precisar, ou enquanto você me quiser, estarei
com você.
— Eu sempre vou te querer, borboletinha. Você é tudo que eu tenho.
Nunca me deixe — Ele falou enfiando a cabeça no meu colo e ficando em
silêncio até dormir comigo fazendo carinho na sua cabeça.
​Eu acabei pegando no sono recostada na cama e acordei com Chase falando
alto e se virando de um lado para o outro da cama.
​— Eu perdi. Me perdoa.
​— Chase — Eu falei tentando fazer com que ele acordasse.
—Eu fui incompetente. Eu não fui suficiente.
— Chase, você é o melhor jogador da liga universitária.
Ele não me escutava.
Estava delirando.
Eu o abracei e senti o quanto ele estava quente.
Me levantei e comecei a procurar por algum remédio nas gavetas do
seu quarto até que encontrei um pote de Tylenol e com muita dificuldade
consegui que ele engolisse o comprimido morrendo de medo dele se
engasgar.
Meu Deus.
Me ajuda.
Eu nunca cuidei de ninguém.
Nem de mim, eu dei conta.
Inspira.
Expira.
Inspira.
Expira.
Chase precisava de mim e esse não era o meu momento, mas o dele e
eu tinha que ser forte.
Eu fui até o banheiro e molhei as toalhas com água fria e coloquei no
seu corpo e coloquei sua cabeça no meu colo esperando a febre baixar.
— Eu o matei. Ele foi me ver jogar. Ele ia ser campeão. Eu perdi.
— Seu irmão te amava e foi te ver jogar. Foi um acidente.
— Axel. Axel. Axel.
— Você vai ser campeão, meu amor.
— Axel. Axel. Axel.
— Você vai vencer e conquistar tudo o que você quiser — Eu falava
sabendo que ele não estava me escutando.
— Eu não me despedi. Eu não disse adeus. Você foi embora sem eu
dizer adeus. Axel. Axel.
​Eu não sabia o que fazer até ter uma ideia e com dificuldade consegui
alcançar meu computador e comecei a fazer algumas pesquisas sobre um
festival que gostaria de levar Chase.
​Ele precisava se despedir do seu irmão e eu o ajudaria a fazer isso.
​— Axel. Axel. Axel. Axel.
​Chase repetia o nome do irmão sem parar. No início tão alto que eu não sei
como não acordou toda a fraternidade, depois o som foi baixando, sua voz
foi ficando distante, seu corpo não estava mais quente, e então, ele respirou
fundo e adormeceu profundamente.
​Eu me levantei, levei as toalhas para o banheiro, troquei sua camisa e cueca
que estavam encharcadas e joguei um cobertor limpo por cima da cama já
que eu não teria como trocar a roupa de cama, colocando Chase em cima
dele e me sentando ao seu lado.
Eu continuei minha pesquisa e mal acreditei que o Festival Rise
aconteceria justamente nessa semana. Eu não sei como faríamos para faltar
aos nossos treinos, mas eu daria um jeito, e comprei as entradas e todos os
itens que eles vendiam para participar do evento.
​— Ava. — Eu escutei a voz de Chase e abri os olhos assustada achando que
ele estava delirando de novo.
​— Você está bem? — Eu falei colocando a mão na sua testa, rosto e braços e
respirando aliviada vendo que seu corpo não estava febril.
— O que aconteceu? — Ele perguntou apontando para o banheiro
cheio de toalhas no chão — Eu não lembro de ter trocado de roupa — Ele
falou e olhou para o chão vendo o cobertor e a camisa dos Bruins.
— Você teve febre a madrugada toda. Eu não tinha como te levar
para o banheiro para tomar um banho e resfriei o seu corpo com toalhas
molhadas. Depois precisei trocar sua roupa que ficou encharcada.
— Você cuidou de mim, borboletinha?
— Sim — Eu falei pegando o meu celular e pedindo um café da
manhã reforçado no Dennis com panquecas, waffles, ovos, torradas,
presunto e bacon.
— Desculpa te dar trabalho.
— Seria bom você se levantar, tomar um bom banho enquanto eu
troco essa roupa de cama e arrumo essa bagunça.
— Você não tem que fazer…
— Chase Montana, se levante e vá agora tomar um banho.
— Sim, capitã — Ele se levantou falando e batendo continência para
mim me deixando com a certeza de que fisicamente ele já estava ótimo.
Enquanto Chase tomava banho, eu dei um jeito no quarto dele,
troquei a roupa de cama e coloquei as roupas sujas no cesto para ele levar
mais tarde para a lavanderia.
​— Capitã Borboletinha — Ele me chamou ironicamente, mas me fazendo
rir.
​— O que você quer? — Eu falei me aproximando dele no banheiro.
​— Você — Chase falou me pegando no colo e me colocando embaixo do
chuveiro — Eu amo te ver com a minha camisa, mas agora eu prefiro você
sem nada.
​Chase tirou a camisa que eu vestia e beijou cada um dos meus seios. Depois
ele tirou a minha calcinha e ficou de joelhos lambendo toda a minha
extensão.
​Eu entendi que ele queria bater fora toda a merda de noite que ele teve. Eu
também pedia para ele me foder com força quando tudo estava mal.
​Assim éramos eu e Chase.
A cura um do outro.
O AMOR UM DO OUTRO.
Eu acredito no nosso amor, só que ainda não tive coragem de gritar
isso para o mundo e ligar o foda-se para o senador. Por algum motivo, meus
gatilhos me fazem acreditar que tudo vai acabar quando meu pai souber. E
esse medo ainda é real dentro de mim e ainda não consegui caçar esse
fantasma.
Um dia de cada vez e chegarei lá.
Chegaremos lá!
Somos dois caçadores de fantasmas.
Um casal.
Somos um casal.
Depois do banho que deixou os dois relaxados, Chase desceu
apressado para pegar nosso café da manhã que já tinham deixado na porta.
— Você assim, de calça de moletom preta, camisa de malha branca e
descalço fica igual aos mocinhos hots dos filmes e dos romances.
— Hummm… isso quer dizer que você já quer se aproveitar de mim
de novo — Ele falou colocando o café em cima da mesa, e se sentando na
cadeira e me puxando para o seu colo.
— Eu sempre quero você, Chase Montana, mas agora eu estou
morrendo de fome é de panqueca, waffles — Eu falei saindo do seu colo e
me sentando na sua cama e puxando a mesa para perto de mim.
— Meu pau está profundamente ofendido por ter sido trocado por um
café da manhã.
— Ele vai superar — Eu falei enfiando um waffle coberto com calda
de chocolate na boca.
Chase e eu tomamos o nosso café da manhã e ficamos deitados
abraçados na cama assistindo 10 Coisas Que Eu Odeio Em Você no lugar de
ir assistir aula. Não morreríamos por perder um dia de aula e hoje tudo que
eu queria era ficar agarradinha com Chase que teve uma noite horrível.
— Eu costumava ter febre emocional depois que… — Chase
começou a falar e eu senti que ele queria se abrir um pouco mais para mim
— Axel morreu.
— Então essa noite não foi a primeira vez?
— Não. Eu costumava ficar assim e chamando por ele. Meu pai
acordou na primeira noite e chamou um médico, e depois colocou uma
enfermeira para passar a noite em casa para não ter que se levantar de novo.
Ele não falou mais nada e eu também não perguntei.
Fiquei feliz por ter cuidado dele com o amor e carinho que ele
merecia, já que seus pais lhe deram as costas nos momentos difíceis, e eu sei
bem como faz falta o colo de uma mãe, ou o abraço forte de um pai que você
nunca teve.
Eu e Chase passamos o dia juntos e a noite fomos para o centro de
treinamento porque a derrota de sábado era passado, e tínhamos mais um
jogo para vencer no final de semana.
Quando o meu treino acabou eu fui com Miah e Cath para a
fraternidade e Chase ficou, pois eles teriam treinamento dobrado já que
precisavam corrigir as falhas do último jogo.
— Amigas, eu pedi uma reunião mais tarde com o nosso técnico e o
de Chase, mas ele não pode saber, por isso eu inventei que estávamos indo
para a fraternidade da Cath para uma noite de garotas.
— O que você está aprontando, Ava? — Miah perguntou.
— Essa noite, Chase passou muito mal.
— Por causa da derrota? — Cath perguntou — Eu percebi que ele
ficou muito abatido.
— Ele acha que precisa vencer porque o irmão dele morreu quase
levantando o troféu de campeão pelos Bruins. Só que o maior problema
mesmo, eu entendi essa noite enquanto ele delirava, que maior que a dor
pela rejeição dos pais que o culpam pelo acidente, e pelo luto em si, o seu
desespero maior é não ter podido dizer adeus ao irmão.
— Coitado — Miah falou colocando as mãos no bolso do casaco por
conta do frio e respirando fundo enquanto caminhávamos — Foda isso!
— Ele se virou para pegar a mochila no banco de trás e aconteceu o
acidente. Não teve como ele se despedir, porque foi cuspido fora do carro já
que tinha tirado o cinto de segurança e o irmão caiu junto com o carro no
penhasco de Malibu.
— E a reunião de amanhã é sobre isso? — Cath perguntou.
— Eu consegui entradas para o Festival Rise que é anual, e vai
acontecer justamente amanhã.
— Se eles não dispensarem vocês, faremos um protesto com cartazes
“#freeChase #freeAva” — Miah falou me abraçando — Que horas vai ser a
reunião?
— Depois do treino. Eu disse que era muito importante, que era algo
importante para o time e o nosso técnico disse que iria comigo falar com o
treinador deles mais tarde.
— Ele deve estar achando que seu pai vai injetar dinheiro no treino
— Cath falou — Deve achar que é sobre patrocínio e você quer saber como
que faz.
— Será? Se for já valeu de alguma coisa nessa vida ser filha do
senador.

◆◆◆

​ u voltei com Miah e Cath para o centro de treinamento e esperamos Chase


E
e os outros jogadores saírem para entrarmos sem sermos vista.
​— A gente te espera aqui — Miah falou — E qualquer coisa estou pronta
pro protesto.
​— Vai dar certo! — Cath falou e eu respirei fundo entrando na sala de
reuniões.
​O encontro com os técnicos durou uns quarenta minutos, tempo suficiente
para eles acharem que eu estava doida, depois me escutarem, respirarem
fundo, analisarem, me olharem desconfiados, depois respirarem fundo de
novo, perguntar mais de cem vezes se eu estava falando a verdade, de olhar
as entradas para o festival e finalmente dizerem que tudo bem, que nós
poderíamos faltar ao treino do dia seguinte, mas que na quarta-feira teríamos
que treinar dobrado.
​— Eu fui o técnico de Axel — o treinador falou — ele era brilhante.
​— Ele era uma promessa da NFL — meu técnico falou — Quando o
acidente aconteceu a UCLA ficou em luto por muito tempo. Foi muito difícil
voltar sem ele nos jogos.
​— Ele adorava o irmão. Falava que Chase era melhor do que ele, e que o
mundo ainda iria escutar muito o nome dele — o treinador do futebol
americano falou e pude ver que seus olhos se encheram de água — No dia
do acidente, Chase tinha um jogo, a final eu acho, e ele me disse que
precisaria faltar ao treino por causa disso, mas que compensaria depois. Ele
apostava tudo no irmão, muito mais do que nele. E ele estava certo, porque o
caçulinha como ele chamava Chase é um fenômeno. Mas ele é um jovem
difícil, que não se cuida e infringe todas as regras, mas fecho os olhos
porque se não têm provas não serei eu a falar nada. Faço isso por Axel.
Porque ele amava muito esse irmão e essa viagem pode fazer Chase acordar,
e parar de se destruir, então não vai ser um treino que vai ficar no caminho
dele.
​— Obrigada. Muito obrigada.
​Eu saí da sala de reuniões emocionada com tudo que escutei sobre Axel e
Chase, e contei para as meninas que também ficaram comovidas.
​— Nunca pensei que iria chorar por causa do ex ogro Chase Montana —
Cath falou — Ele sempre foi um grande idiota para mim, e agora Ava está
me fazendo começar a gostar dele.
​Eu mandei uma mensagem para Chase assim que cheguei no meu quarto
morrendo de ansiedade por causa da nossa viagem.

​ va: Amanhã vou ter dois trabalhos para apresentar e passo na sua
A
fraternidade por volta das 15h. Me espere.
Chase: Você anda muito mandona, Borboletinha. Preciso consultar
minha agenda.
Chase: Você deu sorte, estarei livre às 15h.
Ava: A sorte é sua pudinzinho, porque se tivesse teria que desmarcar.
Nos vemos amanhã. Sonhe comigo.
Chase: Eu prefiro ir te buscar para dormir comigo do que ter você
em sonho.
Ava: Hoje eu não posso porque preciso mesmo fazer esses dois
trabalhos, mas amanhã você será só meu.
Chase: É a segunda vez que você fere o meu pau. Dê manhã disse
que preferia panquecas e agora que vai fazer trabalho da faculdade.
Ava: Pobrezinho. Amanhã eu dou um beijinho nele para compensar.
Chase: Só um beijinho?
Ava: Boa noite, Chase Montana.

◆◆◆

Na hora marcada, eu cheguei na fraternidade de Chase e ele veio me


receber com a roupa que eu disse que achava ele “hot”: calça de moletom
preta, camisa de malha branca e descalço.
​— Bela tentativa, Pudinzinho — Eu falei mordendo os lábios — mas agora
estamos atrasados, e você precisa se arrumar para viajarmos.
​— Viajarmos? — Ele perguntou cruzando os braços e com a cara fechada
com uma expressão de raiva — Qual o seu problema? Não quer mais transar
comigo? Porra, você não me quer mais? Se for isso…
​— Para de ser dramático, Chase Montana. Sobe e troca rápido de roupa
porque senão vamos perder a hora.
​— Hora de que? Tenho treino?
​— Eu já cuidei disso.
​— Disso o que?
​— Você confia em mim?
​— De olhos fechados.
​— Então só coloca um jeans, tênis, casaco, e…essa roupa que você está
usando para a madrugada.
​— Agora comecei a gostar desta viagem, sei lá para onde. Mas e o treino?
— Eu disse que já cuidei disso, só confia em mim. Hoje não vamos
treinar, mas amanhã será dobrado para compensar.
​— O que você está tramando, borboletinha? Como conseguiu isso de não
treinarmos?
​— Tenho meus segredos.
​— Devo ficar com medo?
​— Só deve se arrumar e vir comigo.
​ hase se arrumou rápido e desceu as escadas apressado e encontrou Kalleb e
C
os outros jogadores na sala.
​— Hoje não vou treinar. Fui dispensado.
​— Como assim? — Kalleb perguntou.
​— Aparentemente estou sendo sequestrado pela capitã do time de dança e
com a ajuda do nosso técnico.
​— Será que mandaram sumir com você?
​— Não sei amigo, mas se eu não voltar, já sabe com quem deve procurar
pelo meu corpo.
​— Para de palhaçada e vamos logo — Eu falei puxando Chase pelo braço —
E vocês, tratem de ir para o treino porque só o capitão aqui foi dispensado.
​— Vocês estão vendo o que eu passo na mão desta mulher? Ela só sabe dar
ordens, e melhor vocês obedecerem e correrem para o treino.
​Entramos no carro e eu saí acelerando com pressa porque seriam quase
quatro horas até o local do festival.
​— Será que eu posso saber para onde estamos indo?
​— Sul de Las Vegas, baby!
​— Vegas? Você pediu dispensa do treino e conseguiu sei lá como para irmos
jogar num cassino. Quebradora de regras! Amo!
​— Chase Montana, relaxe que estaremos onde planejei te levar em quatro
horas. E não vou te contar aonde vamos. É surpresa! Aceite e aproveite a
viagem.
FESTIVAL RISE

Já era noite quando pegamos a estrada escura e silenciosa do deserto


de Vegas para as últimas 25 milhas de viagem.
​Chase quase não falou durante a viagem. Ontem passamos o dia todo juntos
e ele também estava bem introspectivo. Ele não estava confortável com o
fato de ter ficado delirando na minha frente, e eu entendo, porque não é fácil
expor as nossas fragilidades, mesmo que seja para quem amamos.
​— Meu Deus. Esse lugar… — Chase falou olhando para o céu que estava
coberto por vários pontinhos de luz — Como você? Tem no filme que você
gosta. Eu não acredito.
​— Sim, tem no filme que assistimos juntos. Eu quis te trazer porque…
​— Eu entendi.
​Chase abriu a janela deixando o vento bater no seu rosto e olhando para o
céu. Assim que eu estacionei o carro, ele saltou e curvou o corpo colocando
a mão nos joelhos e começou a respirar acelerado.
​— Inspira. Expira. Me dê a sua mão — Eu falei e ele foi soltando o joelho e
esticando o braço até segurar a minha mão.
​ le precisou de um tempo para conseguir ficar de pé com firmeza e então me
E
abraçou, dando um beijo no topo da minha cabeça.
​— Você é incrível, Ava Miller. Desde quando você tinha essa viagem
preparada.
​— Fiz tudo enquanto você estava com febre. Eu senti que você precisava vir
até aqui e entrei no site, dei sorte de ser hoje, já que o festival é anual,
comprei entradas, e a parte que eu achei mais difícil que era conseguir uma
dispensa do treino, eu resolvi numa reunião ontem à noite.
​— O que eu fiz para merecer você, borboletinha? — Chase perguntou e me
beijou.
​— Vem, vamos correr porque precisamos colocar nossas lanternas no céu —
Eu falei segurando sua mão e subimos juntos uma duna do deserto e quando
chegamos no topo vimos as milhares de pessoas que foram para o festival e
os balões tomando conta do céu.
​O Rise Festival acontece uma vez por ano, e neste dia milhares de lanternas
são enviadas com mensagens para o céu. O significado de quando você solta
essa lanterna, é que você está deixando tudo que você tem de negativo para
trás: pensamentos ruins, raiva e tristeza.
​Muitos escrevem cartas para pessoas que já partiram, com mensagens de
despedida e foi por isso que eu trouxe Chase ao festival, para que ele possa
escrever o “adeus” que ficou faltando para o seu irmão.
​Nos sentamos na areia e começamos a escrever o que nossa lanterna iria
levar para o céu. E tudo que escrevemos foi uma única frase que significava
muito para nós dois.

CHASE E AVA JUNTOS PARA SEMPRE!

Acendemos a lanterna e quando ela começou a subir, Chase me


abraçou forte e eu recostei minha cabeça no seu peito.
Essa lanterna foi fácil, mas agora Chase precisava escrever a dele, e
esse era um momento só seu, e por isso eu me sentei na areia em silêncio, e
fiquei contemplando as lanternas no céu, e orando para que ele conseguisse
escrever tudo que queria dizer para o irmão.
​Chase ficou um bom tempo parado com a caneta na mão e o papel em
branco, e por um momento achei que ele não conseguiria.
​— É como se eu estivesse no carro com ele no penhasco em Malibu. Eu
sempre senti dor por não ter dito adeus…, mas agora… eu não consigo. Eu
olho para esse papel e parece que quando eu acabar de escrever, vou virar
para pegar minha mochila e Axel vai embora para sempre.
​— Ele nunca vai embora para sempre, porque vive no seu coração. Mas você
precisa se libertar dessa dor, e deixar ele livre também, para seguir o
caminho dele em paz.
​— Dizem que se a gente sofre, quem partiu sofre também. Você acredita
nisso?
​— Eu acredito que vocês dois precisam de paz. Que os dois precisam dizer
adeus um para o outro.
​Chase me olhou e pude ver as lágrimas que rolavam pelo seu rosto. Ele
pegou a caneta e começou a escrever, se libertando, se perdoando, dizendo
adeus.
​Axel, eu sinto muito a sua falta. Eu queria ter ficado naquele carro caindo e
ido embora com você. Tive muita raiva porque você não me levou junto e me
deixou aqui. Um dia eu voltei a jogar e disse que ia vencer por você. Eu vou
vencer. Eu faço um monte de merda. Você iria ficar bravo, mas você sabe
que eu sou assim. Mas vou parar porque vou para a NFL. Eu vou jogar no
Buffalo Bills. Cara, íamos ser do mesmo time. Íamos jogar juntos, mas eu
vou ter que ir sozinho.
Não sei se quero me despedir. Nunca quis me despedir. Não queria
que você tivesse partido. Mas sempre achei também que faltava alguma
coisa. Faltou o final da nossa conversa.
Então lá vai… obrigado por ter sido o melhor irmão do mundo.
Obrigado por ter cuidado de mim. Obrigado por ter ido para o meu quarto
quando eu tinha pesadelos. Obrigado por ter brincado comigo. Obrigado
por sempre ter acreditado em mim. Obrigado por ter ido em todos os meus
jogos enquanto você esteve aqui. Obrigado por ser o meu ídolo.
Eu te amo Axel.
Foi sempre muito bom ser seu irmão.
ADEUS.
Ass: Chase Montana o seu caçulinha

​ oi impossível não chorar lendo cada palavra que Chase escreveu.


F
​Ele estava em prantos acendendo a lanterna e foi se acalmando à medida que
ela foi subindo e desaparecendo no céu.
​Nós nos sentamos e ficamos agarradinhos um no outro sei lá por quanto
tempo olhando aquelas lanternas no céu. Era sem dúvida um espetáculo
lindíssimo e com um significado que só quem participou desse festival pode
entender.
GAME DAY

Local do Jogo: California Memorial Stadium


Bekerley - California
Locutor 01: Bem-vindos, Golden Bears a mais uma tarde
emocionante com o nosso esporte do coração. Hoje eu estou aqui com Mark,
um comentarista que vocês, amantes desse esporte já conhecem, e juntos
vamos analisar essa partida.

Locutor 02: Com certeza, Peter! Este jogo promete ser um duelo
épico entre os quarterbacks, já que Chase, dos Bruins, e Adam, do Golden
Bears, vem sendo os destaques da temporada.

Locutor 01: E o que falar da defesa dessas equipes que tem sido
gigante em campo. Temos visto que a linha defensiva dos dois times está
determinada a parar qualquer avanço do ataque adversário.

Locutor 02: Sim, Peter, e isso coloca uma pressão muito maior nos
quarterbacks. Hoje iremos ver os dois melhores da liga universitária
enfrentando defesas incrivelmente sólidas.

Locutor 01: E por falar em pressão, o clima aqui no estádio é de


festa com duas torcidas apaixonadas por seus times.

Locutor 02: Chegou a hora do espetáculo. Preparem os corações


porque foi dado o apito inicial, e começamos mais um confronto
emocionante de futebol americano.

Locutor 01: Vamos ficar atentos a cada lance e analisar como essas
equipes irão buscar estrategicamente a vitória.
(Vai!) Mais Velozes
(Vai!) Mais Furiosos
Sou rápido demais pra vocês, cara

(Act A Fool - Ludacris)


Capítulo 35
Chase Montana

Com a vitória do 6° jogo contra os Golden Bears, estávamos muito


perto da grande final que seria no Homecoming, que é quando jogamos no
nosso estádio.
Faltava agora o Bell Game, e mais dois jogos para eu encerrar meu
tempo pelos Bruins.
Eu precisava mais do que nunca me destacar nos jogos para garantir
minha contratação para jogar na NFL, e agora que Ava tinha duas propostas
em Nova York, jogar pelo Buffalo Bills se tornou ainda mais atrativo para
mim.
Eu sabia que para isso acontecer um lado meu rebelde e
inconsequente teria que desaparecer, mas eu estava preparado para isso,
afinal depois da faculdade vem a vida adulta propriamente dita, e eu não
estava mais sozinho, logo precisaria mudar.
Mas como ainda estou na UCLA, e sou um universitário que quer
viver intensamente essa fase da vida, não vou ficar me preocupando, e sendo
assim, peguei minha bandana preta e outra para a minha namorada e saí
acelerando para buscar Ava para mais uma noite de corridas clandestinas em
algum lugar da cidade de Los Angeles.
— A corrida vai ser no sítio ou nas ruas? — Ava perguntou
segurando sua bandana.
— Nas ruas. Fique o tempo todo com Kalleb e qualquer coisa corra
com ele.
— Qualquer coisa, tipo, polícia?
— Sim, é um circuito clandestino e se vaza o local e a polícia
aparece temos que acelerar para o mais longe possível. Então, caso isso
aconteça vá com Kalleb e nos encontramos na fraternidade.
Eu percebi que a respiração de Ava acelerou com as minhas palavras,
mas ela precisava saber que quando a corrida acontecia na rua o risco era
muito maior.
— Por isso que eu não queria te trazer.
— Eu prefiro correr riscos a deixar você sozinho nesses lugares com
as garotas se jogando em cima de você.
— Possessiva.
— Muito possessiva.
Paramos de falar quando nos aproximamos do local e começamos a
escutar o rugido dos motores que ecoavam pelas ruas escuras e vazias de Los
Angeles.
A escuridão era nossa maior aliada, escondendo as máquinas
selvagens que cortavam as ruas desertas.
Os pneus pareciam fritar em cima do asfalto quente, e eu sentia a
adrenalina correndo nas minhas veias.
Eu coloquei minha bandana e beijei minha garota deixando a junto
de Kalleb que sabia que tinha que cuidar dela para mim.
O sinal da largada foi dado e a competição começou acirrada, e cada
curva era um novo desafio, e cada reta uma explosão de velocidade.
O ronco dos motores modificados, competiam com o pulsar da
música pesada no rádio criando uma sinfonia única de velocidade proibida.
Cada ultrapassagem era arriscada, entre a glória de vencer e o
desastre de um acidente.
O cheiro de borracha queimada tomava conta do ar, enquanto eu me
concentrava na próxima manobra, sabendo que o menor erro poderia ser meu
último nessa vida.
Eu iria sentir falta de tudo isso quando fosse jogar pela NFL.
Das corridas.
Do ronco dos motores.
Da adrenalina de correr na clandestinidade.
Os arranha-céus imponentes do centro de Los Angeles eram as
únicas luzes distantes que testemunhavam o que acontecia na madrugada.
Meu coração batia no ritmo acelerado do meu carro, e quando eu vi a
linha de chegada, só pensei em vencer.
Eu sempre pensava apenas em vencer.
Não sabia perder.
Meu carro cruzou a linha e mais uma vez me consagrei um Rei
temporário das ruas de Los Angeles.
— Você venceu de novo! — Minha garota falou pulando no meu
colo e me beijando.
— Possessiva e territorialista.
— Eu preciso deixar claro que esse Rei das ruas já tem dona.
— Você é minha dona?
— Não sou?
— Claro que é, minha borboletinha. Eu sou só seu.
— Nossa, vocês são melados demais — Kalleb falou colocando o
dedo na garganta como se fosse vomitar — Agora que sua “dona” está
entregue eu vou procurar alguma companhia para terminar a noite.
— Valeu irmão, fico te devendo essa.
— Pode saber que vou cobrar.
Kalleb não conseguia passar uma noite sem foder alguma boceta
diferente, e nessas corridas arrumava logo uma orgia para participar, mas
como o amigo fiel que é, passou o tempo todo tomando conta da minha
garota para mim e estava pronto para sumir daqui com ela se tivesse alguma
confusão.
Eu dei a mão a Ava, contornei o meu carro e abri a porta para ela
entrar.
— Vamos, minha Rainha?
— Já?
— Na rua não acho seguro a gente ficar muito tempo. Eu tenho um
contrato me esperando e seu pai uma presidência para concorrer.
— Desde quando você se preocupa com o senador?
— Desde o momento que qualquer coisa que o desagrade ou
prejudique afete você.
Ava sorriu para mim e entrou no carro. Eu não queria confusão para
mim e muito menos para ela.
E assim deixamos o local comigo pisando fundo no acelerador e
fazendo a Mercedes voar.
— Essa corrida me deixou excitada — Ava falou se virando no
banco e ficando de frente para mim.
— Quer que eu acelere mais na estrada?
— Por favor — Ela falou enquanto abria o botão da minha calça.
— Quer me chupar enquanto eu corro em alta velocidade?
— Eu quero muito.
Ava tirou o cinto de segurança, abriu o zíper da minha calça e alisou
a glande rosa do meu pau que estava saindo da cueca de tão duro.
— Seu pau é delicioso — Ela falou o chupando de leve — É grosso,
grande e muito gostoso. Meu Deus, você é perfeito, e eu não me canso de
dizer isso.
Ela deslizou a mão por todo o meu pau duro me fazendo gemer alto e
segurar com força o volante do carro.
— Eu quero te ver sendo meu e enchendo a minha boca com a sua
porra.
— Você vai engolir?
— Cada gota.
— Porra. Assim você me mata, Ava Miller.
— Eu só quero te ouvir gemendo enquanto te fodo com a minha
boca.
Ava me surpreendia, quando do nada vinha com um jeito desbocado,
sujo e sexy pra caralho.
Ela passou a língua por toda a minha glande que estava quente e
molhada, e então engoliu o meu pau devagar, como se estivesse fazendo uma
degustação.
Gemi alto e ela então o engoliu de uma vez, me fazendo estremecer e
pisar fundo no acelerador quando ela o esmagou entre os lábios.
Eu podia sentir cada veia grossa do meu pau tocando seus lábios, e
sentia um vazio quando ela o tirava da boca de vez em quando e olhava para
mim enquanto me lambia.
— Depois eu vou querer me sentar no seu pau. Preciso disso.
Ava falou isso e eu freei o carro parando no acostamento e descendo
numa trilha que eu sabia que tinha naquele local. Estacionei o carro num
lugar seguro e senti quando ela começou a me chupar com mais força
querendo que eu gozasse.
Ela começou a se ajoelhar no banco do carro, empinando a bunda
para o alto e me chupando cada vez mais forte, e eu ajudei segurando o seu
cabelo entre os meus dedos e estocando com força contra a sua boca.
Quando eu finalmente gozei com jatos fortes, ela cumpriu o que
falou engolindo toda a minha porra e lambendo cada gota que sobrou.
— Senta no meu pau — Eu falei pulando para o banco do carona e a
erguendo no ar.
No momento que meu pau se encaixou dentro da sua boceta, eu
alcancei um dos seus mamilos e comecei a chupá-lo, enquanto Ava rebolava
gostoso em cima de mim me levando a loucura.
— Sua boceta está ensopada e latejando gostoso com o meu pau
dentro dela.
Eu comecei a apertar sua bunda, e ela jogou a cabeça para trás
diminuindo a velocidade com que rebolava, e gemendo com cada estocada
funda que eu dava dentro dela.
— Eu não quero parar... Me come com força... Eu preciso gozar.
— Você é deliciosa.
— Você também é muito gostoso — ela gemia, com o suor
escorrendo pelo seu rosto e comigo estocando sem piedade dentro dela.
— Eu sempre vou querer foder muito a sua boceta. Quero te comer
até você me implorar pedindo para parar.
Eu falei isso e ela explodiu num orgasmo múltiplo e me pedindo para
segurá-la firme porque tinha perdido o controle das suas pernas.
Que mulher gostosa!
Eu continuei estocando curtinho e fundo da sua boceta enquanto
disparava jatos quentes e fortes dentro dela.
— Você é louca, sabia?
— Sou louca por você. Agora acelera esse carro porque eu quero
chegar logo na fraternidade e me sentar de novo neste seu pau gostoso.
Eu acelerei o carro por uma Los Angeles escura e silenciosa, e sem
pensar em mais nada que fosse passar a noite fodendo a minha garota
insaciável.
We are the Mighty Bruins,
the best team in the West,
we’re marching on to Vic-tor-y
to conquer all the rest.

(The Mighty Bruins (UCLA) lyrics)


Capítulo 36
Chase Montana

A UCLA amanheceu com seus estudantes vestindo azul e amarelo, e


caminhando em direção às fraternidades masculinas que ficavam próximas
ao centro de treinamento para lotar os mais de vinte ônibus que levariam os
alunos para torcer pelos Bruins no Los Angeles Memorial Sports Arena, casa
dos Trojans, nossos maiores rivais.

​ UCLA e a USC, são as duas universidades de Los Angeles e a rivalidade


A
delas é acirrada, principalmente quando tem jogo de futebol americano.

​ Bell Game é disputado sempre por duas escolas ou universidades que


O
ficam na mesma cidade, e que vão ficar um ano com o sino na sede delas e
sendo consideradas as donas da cidade.

​ s ônibus com os jogadores, cheerleaders e comissão técnica já estavam


O
prontos para seguir para o estádio, e então, os batedores da polícia militar
chegaram para abrir caminho e nos escoltar até o local do jogo.

​ um momento único, quando começamos a passar pelas ruas da UCLA,


É
com as motos da polícia parando o trânsito e todos nos saudando com as
buzinas dos seus carros.

​ chegada no estádio é tensa, afinal estamos na casa adversária, e sentimos a


A
hostilidade em cada olhar por onde passamos até chegar no vestiário.

​ Somos os maiores e vamos levar o sino da cidade para a UCLA — Eu



gritei assim que entrei no vestiário.

“isso vai ser grande time, isso vai ser especial… nada pode nos parar… Go
Bruins… nada pode parar esse time… vamos em 3… 2… 1… UCLA…
UCLA… UCLA… UCLA”
BELL GAME

Local: Los Angeles Memorial Sports Arena


Los Angeles - California

Locutor 01: Boa tarde, USC. Boa tarde, UCLA.


Locutor 02: Dia lindo… Temperatura na casa dos 28°… Clima tenso
entre as torcidas.
Locutor 01: Bem-vindos a este Bell Game tão aguardado entre a
UCLA e a USC! Estamos ao vivo no Los Angeles Memorial Sports Arena,
onde duas das maiores universidades rivais estão prestes a se enfrentar em
um duelo épico.
Locutor 02: Esta rivalidade histórica entre os Bruins e os Trojans
sempre traz um espetáculo, e a atmosfera aqui está eletricamente carregada
de muita tensão. As equipes estão no campo, e os torcedores prontos para
assistir mais um capítulo desta saga, e estamos todos ansiosos esperando
para ver as jogadas e estratégias que essas equipes gigantes trarão hoje.
Locutor 01: Este Bell Game promete ser memorável, e com certeza
estamos ansiosos para ver as jogadas desses times talentosos, e, claro, a
presença de Chase Montana como quarterback da UCLA traz uma
expectativa extra para os fãs do esporte. Chase que está a um passo da
grande final com os Bruins e da sua provável ida para a NFL.
Locutor 02: Começamos o primeiro quarto, e a defesa de ambas as
equipes estão muito agressivas.
Locutor 01: Atenção, porque neste momento todos estão indo ao
delírio com Chase Montana que assume o comando de todas as jogadas dos
Bruins e demonstra porque é uma força a ser reconhecida.
Locutor 02: Chase faz o snap, analisa a defesa e lança um passe
perfeito para o wide receiver, que faz uma recepção espetacular na end zone.
Touchdown UCLA! Um início emocionante para os Bruins neste Bell Game!
Locutor 01: Chase Montana mostrando sua maestria desde o início
do jogo, mas os Trojans não se deixam abater. Seu quarterback, Joseph, faz
uma série de jogadas, avançando pelo campo e igualando o placar com os
Bruins no final do segundo quarto com um belo passe para o tight end na
end zone.
Locutor 02: Entramos no terceiro quarto, e a UCLA retoma a
liderança. Chase Montana, em uma exibição de precisão, conecta um passe
para o running back, que percorre o campo com velocidade incrível.
Touchdown UCLA!
Locutor 01: Os Trojans da USC respondem com garra, e seu
quarterback conduz uma série de jogadas que terminam em um touchdown
crucial.
Locutor 02: Que reviravolta no último quarto.
Locutor 01: Momento difícil para os Bruins.
Locutor 02: A USC assume a liderança com um field goal preciso,
deixando a UCLA com a dura missão de buscar uma virada nos últimos
minutos da partida.
Locutor 01: Quem levará o Bell Game para casa?
Locutor 02: Chase Montana nunca decepciona. É impressionante a
habilidade desse quarterback. Faltam dois minutos no relógio, e ele comanda
uma última investida.
Locutor 01: O estádio silencia. Ninguém se move. Ninguém respira.
Locutor 02: Um passe decisivo para o wide receiver na end zone, e...
Touchdown UCLA! A torcida vai à loucura gritando: GO BRUINS…GO
CHASE.
Locutor 01: Inacreditável esse momento. A defesa dos Bruins segura
os Trojans nos últimos momentos do jogo, deixando o campo livre para sua
grande estrela, e Chase garante a vitória da UCLA neste Bell Game
emocionante.
Locutor 02: Parabéns à UCLA.
Locutor 01: E parabéns Chase Montana por liderar sua equipe nesta
vitória espetacular.
Locutor 02: Muito obrigado a todos vocês por nos acompanharem
nesta transmissão. Que Bell Game incrível!
Locutor 01: Até a próxima, torcedores apaixonados pelo futebol
americano da liga universitária!
Me dê uma caneta, vou reescrever outro final
Que não terminou do jeito que eu queria

(The Art of Starting Over – Demi Lovato)


HOME COMING

FINAL

Local: San Devil Stadium


Tempe - Arizona

Locutor 01: Boa tarde Los Angeles… boa tarde UCLA… boa tarde
torcedores que lotam o Rose Bowl.
Dia lindo aqui em Pasadena com temperatura na casa dos 30°.
Homecoming é sempre um dia com muita festa e emoção.
E hoje mais ainda por ser a grande final da liga universitária de 2022.
Para quem vai a sua torcida nessa grande final, que marca a
despedida de Chase Montana, o quarterback dos Bruins que ano que vem vai
se graduar e quem sabe jogar na NFL.
Locutor 02: Com certeza teremos um jogo épico que marca a
despedida desse fenômeno da liga universitária.
Seu nome? Chase Montana. O quarteback demonstrou habilidade,
estratégia e determinação durante toda a temporada.
Locutor 01: E lá vem as duas equipes entrando em campo com uma
energia incrível. A arquibancada está ensurdecedora, festejando, gritando o
nome dos atletas e ansiosa para ver quem vai conquistar o tão sonhado título.
Locutor 02: Preparem os corações porque foi dado o apito inicial
para a grande final.
Notem que os dois times estão se estudando nos primeiros minutos
do jogo, e que a defesa de ambos está agressiva, enquanto os ataques buscam
brechas para avançar.

Locutor 01: O quarterback dos Bruins está sob intensa pressão, e


cada jarda conquistada é valiosa nesta final.
Locutor 02: E o primeiro touchdown chegou com a assinatura dele,
Chase Montana.
Locutor 01: O jogo está fervendo aqui no Rose Bowl, e cada minuto,
cada estratégia dos treinadores é crucial para a tão sonhada vitória.
Locutor 02: Já percebemos que os Sun Devils não vão desistir e que
a batalha será intensa em busca do título de campeão!
Esta é a última chance de deixar nossa marca (atirar)
A história saberá quem somos
Este é o último jogo, então conte que é
Agora ou nunca

(Now Or Never - High School Musical 3)


Capítulo 37
Chase Montana

Eu estou no centro do campo, e observo atentamente a defesa


adversária, capturando cada movimento que eles fazem.
O estádio é tomado pelo grito dos torcedores, enquanto eu crio
estratégias complexas em um piscar de olhos.
Meus músculos estão tensos.
Minha adrenalina pulsa forte.
Eu sei a responsabilidade que carrego em meus ombros.
Eu me posiciono, observo todos os movimentos do meu time e do
meu adversário.
Então eu olho para o lado do gramado e vejo seu sorriso lindo
direcionado para mim por trás dos pompons que ela agita.
Ava.
Meu amor.
Um silêncio tão ensurdecedor quanto o dos fogos, gritas e buzinas se
faz no estádio segundos antes de ser quebrado pelo som agudo do apito.
A batalha pelo título vai começar.
São milésimos de segundos que eu tenho para analisar as opções, e
meus olhos estão fixos nos receptores, e em cada movimento que eles fazem
no jogo.
Eu começo a ler mentalmente a dinâmica do jogo, calculando
velocidades, buscando falhas dos adversários e transformando em brechas,
calculando as distâncias e todas as possíveis interceptações.
E então eu pego a bola em minhas mãos.
Eu me torno neste momento uma extensão da jogada.
Minha mente é ágil e minha visão periférica me orienta em cada
movimento.
Eu posso sentir a pressão da linha defensiva.
Eu posso sentir os segundos passando no relógio.
Eu posso sentir a expectativa da torcida que me acompanha em cada
movimento.
Eu posso sentir a ansiedade do meu time que confia em mim.
E então eu arremesso a bola em um arco calculado, lançando-a em
direção ao alvo.
O estádio está em silêncio.
Todos estão tensos acompanhando o movimento da bola no ar.
​Eu observo a bola voando e sei que seu destino já está traçado.
​Meu coração parece parar.
O ar fica preso nos pulmões.
E então a bola chega ao seu destino que são as mãos de Kalleb.
A defesa tenta conter o meu running back que rompe a linha
ganhando jardas preciosas.
Touchdow!
O jogo continua e o time adversário começa a reagir.
As horas vão passando.
A tensão de ser o último jogo vai crescendo.
A bola está novamente nas minhas mãos.
Eu olho para o relógio e faltam dez segundos.
Eu não tenho tempo de passar a bola e corro eu mesmo em direção a
end zone ignorando todos os corpos do time adversário formando uma
muralha em volta de mim.
Eu passo por todos...mil pensamentos inundam a minha mente nos
dois últimos segundos quando eu cruzo a end zone e TOUCHDOWN…
BRUINS CAMPEÕES.
Minha equipe me abraça e me jogam para o alto gritando o meu
nome.
Eu olho o estádio e sei que é minha última vez jogando com o
uniforme azul e amarelo dos Bruins.
Uma faixa gigante se abre no estádio: OBRIGADA POR TUDO
CHASE MONTANA. OS BRUINS ESTARÃO SEMPRE TORCENDO
POR VOCÊ.
Meu time me coloca no chão e eu aceno para a torcida pela última
vez como quarterback da UCLA.
Neste momento sinto sua presença no meio de uma multidão.
Ava está correndo na minha direção.
— Foda-se o senador. Foda-se suas regras. Foda-se se minha mãe te
acha bom ou não para mim. Eu te amo, Chase Montana e quero que o mundo
inteiro saiba disso.
Minha borboletinha se jogou nos meus braços e eu a abracei sabendo
que isso era o maior voto de confiança que ela estava me dando.
Ela não tinha mais medo de ninguém porque confiava em mim como
o seu companheiro.
— Eu também te amo muito e sempre vou te proteger. Ninguém
nunca vai nos separar.
Nos beijamos sem nos importarmos com a nossa imagem no telão.
A torcida foi à loucura, afinal quem não romantiza, como diz minha
garota, o namoro do quarterback com a cheerleader.
O jogo foi perfeito.
Eu e Ava estamos mais juntos do que nunca, e agora não tem nada
que possa nos separar.
Eu me sinto... FELIZ!

◆◆◆

A comemoração no vestiário é emocionante e com tom de despedida.


​Eu, Kalleb e Erich vamos deixar os Bruins.
​Nós ainda não sabemos como será no próximo ano, se vamos conseguir
algum contrato com a NFL, mas nenhum dos três pretende continuar na liga
universitária.
​Muitos optam por fazer pós-graduação para continuar sendo alunos e
jogando no time, mas eu e meus amigos sempre pensamos igual e nos demos
o prazo da universidade para nos tornamos ou não profissionais do futebol
americano.
​Na verdade, Erich não quer seguir jogando. Durante essa temporada disse
que gostou mais do que imaginava da faculdade de direito e quer seguir a
vida como advogado. Já eu e Kalleb estamos em negociação com o Buffalo
Bills, e talvez em 2023 estejamos começando a jogar na NFL.
​Eu no meu caso, se não for para o Buffalo Bills, vou acabar tendo que
assumir meu lugar na empresa do meu pai. Pensar nisso me embrulha o
estômago, mas foi o trato que eu fiz… foi a imposição que o senhor
Montana fez quando eu vim para a UCLA.
​Continuamos jogando água uns nos outros e gritando que ninguém podia
parar os Bruins por mais um tempo até que fomos tomar um banho para
deixar o Rose Bowl.
​Desta vez o jogo foi em casa, então em menos de uma hora estaríamos na
universidade e desta vez sem treino na segunda, porque a temporada
encerrou.
​Eu me arrumei e vesti o uniforme de viagem dos Bruins pela última vez e foi
impossível não olhar cada parte do estádio sem lembrar de cada vitória, cada
jogada, cada título conquistado.
​Antes de ir embora, fui olhar o gramado e as arquibancadas vazias.
​— Foi tudo por você! — Eu falei olhando para o céu — Cada jogada de
hoje. Cada touchdown. Foi por você meu irmão. Vencemos Axel.
​Se não fosse o acidente ele teria vivido esse momento.
​Uma dor tomou conta de mim ao mesmo tempo que senti suas mãos tocando
o meu braço.
​— Ele está feliz por você. De onde ele estiver com certeza está muito feliz
pelo homem que o irmão caçula dele se tornou.
​— Eu sou um merda, Ava. Eu venci como quarterback, mas faço um monte
de coisas que eu sei que ele acharia errado.
​— Você não é um merda, e não tem que se cobrar por aquilo que você acha
que seu irmão acharia certo ou errado.
​— Ele era todo certinho. Axel era o rei das regras.
​— E você o rei de quebrar todas elas — Ava falou rindo e eu a abracei.
​— Obrigada por ter entrado na minha vida e pode saber que nunca vou
deixar você partir.
​— E quem disse que eu quero partir?
​Eu e Ava nos beijamos e depois ficamos um tempo olhando para o estádio.
​— Vamos que o ônibus já deve estar pronto e todos vão começar a nos
procurar.
​— Vou sentir falta de tudo isso — Eu falei olhando para o estádio.
​— Você ainda vai ter a oportunidade de ver os Bruins com o time de
basquete e beisebol ou pode me deixar acompanhar os jogos sozinha.
​— Você não testa o meu ciúme porque tranco você no meu quarto todos os
finais de semana do próximo semestre e você vai faltar a todos os jogos —
Eu falei e Ava deu uma gargalhada.
​Deixamos o Rose Bowl de mãos dadas e eu me senti completo pela primeira
vez na minha vida. Se alguém me contasse que eu terminaria a faculdade
namorando sério eu riria com certeza na cara da pessoa.
​Ainda faltava um semestre completo da faculdade e até a graduação em maio
nós estaremos aqui na UCLA e depois… o futuro ainda não sei como vai ser,
mas com certeza, Ava fará parte dele.

◆◆◆
Chegamos na UCLA e me despedi de todos da comissão técnica e
agradeci por tudo. Claro que ainda nos encontraríamos muitas vezes, até
porque até me formar preciso continuar treinando, e farei isso com os
Bruins, mas não serei mais seu quarterback e nem farei mais parte do time.
​Eu e Ava fomos embora juntos e direto para a minha fraternidade que estava
em festa pela vitória dos Bruins. Eu peguei uma bebida para mim e outra
para ela e subi as escadas, porque hoje a única festa que eu queria era com a
minha namorada.
​— Antes de qualquer coisa, quero dizer que aquilo que eu falei no estádio é
verdade, e que eu amo você de verdade. Eu sei que não vai ser fácil, que sou
um peso e que infelizmente ficar comigo significa ter a vida vasculhada e
exposta para o mundo — Sua sinceridade em cada palavra é tão grande que
só me faz gostar ainda mais dela — Você despertou em mim uma vontade de
viver que eu nunca tive antes, e eu não sei se vamos ficar juntos por pouco
tempo ou por toda a eternidade, mas quero que você saiba que eu sou sua,
Chase Montana.
— Eu queria te beijar, mas porra, escutar que você me ama é a
melhor coisa do mundo. Eu nem sabia que era tão bom ser amado até você
gritar hoje para todo o estádio escutar.
Ela então me beija com a intensidade do primeiro beijo, quando era a
desconhecida Arlequina.
— Caralho, eu não sei fazer declaração — Eu falei com raiva de mim
por ser um ogro e Ava deu uma gargalhada — só sei que fiquei hipnotizado
por você dançando em cima da mesa e depois no meu colo esmagando o
meu pau, e eu ainda não sabia quem era você.
— Que romântico!
— Porra, eu não sei falar bonito, mas você é, e sempre será, tudo que
eu mais vou querer na vida. Eu tenho medo de te arruinar porque eu corro
nas ruas, e isso é uma coisa fora da lei, mas sou tão egoísta que o senador
que lute para me livrar mil vezes da cadeia se não quiser um escândalo
envolvendo sua filha, porque não vou abrir mão de você, minha
borboletinha.
— Já estou imaginando a cara dos assessores dele se um dia tiverem
que tirar você da cadeia. — Ela falou rindo — Você já foi preso, não foi?
Acho que você me falou algo sobre isso uma vez logo que a gente se
conheceu.
— Sim, uma vez, mais um conhecido do meu pai muito influente
livrou a minha cara em troca de favores — Eu falei enquanto acendia um
cigarro — mas não quero falar sobre isso, porque estou ocupado tentando
entender o que eu fiz para merecer você.
— Isso tudo que você falou quer dizer, que mesmo sabendo que vai
estar sempre sendo alvo de políticos que vasculham a sua vida, você quer
ficar comigo?
— Você é minha, Ava Miller e o resto do mundo que se foda.
Ava geme quando a abraço e a pego no colo, entrelaçando suas
pernas na minha cintura e sentindo minha ereção tocando sua boceta por
cima da calcinha.
Ela estimula em mim vários sentidos que me levam a loucura.
Eu me deitei na cama e trouxe ela comigo, só que no lugar de fodê-la
fiquei olhando para ela que estava mais linda do que qualquer outro dia.
— Isso tudo para mim é novo. Nunca desafiei minha família…
— Eu estou com você, e se for preciso converso com o senador, só
não vou aceitar nunca a ideia de você não ser minha.
Ava se entregou de corpo e alma para mim.
Não foi só sexo.
Foi entrega.
Foi amor.
Ela adormeceu com a cabeça recostada no meu peito e eu fiquei
pensando como era bom ser merecedor do seu amor.
Acendi um beck e lembrei que estava tendo uma festa no andar de
baixo e me dei conta que não curtia mais esses eventos. Agora eu preferia
estar aqui, deitado na minha cama com o meu amor dormindo nos meus
braços, do que participando de orgias que eram a verdadeira face dessas
festas.

◆◆◆

Não sei que horas eram porque eu peguei no sono, mas quando
acordei vi que a cama estava vazia.
— Ava — Eu chamei e ela respondeu que estava no banheiro
tomando um banho.
— Sério isso? Foi tomar banho e nem me chamou? — Eu falei me
levantando nu da cama e quando estava chegando na porta do banheiro
escutei alguém esmurrando a porta do meu quarto.
— O que aconteceu? Que barulho é esse?
— Algum bêbado filho da puta que quer foder alguma garota e acha
que meu quarto está à disposição dele — Eu falei enquanto a pessoa insistia
com a porra das batidas — Eu vou quebrar a sua cara seu filho da puta, vai
bater… — Eu não terminei de falar vendo meu pai entrar feito um louco no
meu quarto.
— Ah, por favor! — Ele falou me vendo nu — É assim que você
abre a porta do seu quarto?
— Porra, a porta quase caiu com os seus socos nela e sua
preocupação é o fato de que estou nu? O que aconteceu? Onde é o fogo?
— Seu infeliz, você tem a cara de pau de me perguntar onde é o
fogo, com essa cara de quem não sabe a merda que fez?
— Do que você…
— Você sabe quando custou te tirar da porra da cadeia por causa das
suas merdas disfarçadas de trauma? Sabe quantos favores o Senador ficou
devendo por isso? E o que você tinha que fazer? Apenas vigiar os passos da
filha dele, ou, se ela fizesse algo errado contar para ele.
— Senador?
— Não se faça de sonso porque você recebeu o e-mail dos assessores
dele com todos os dados do que você tinha que fazer, e toda a vez que eu te
perguntava sobre isso, a sua resposta era que estava tudo certo, que você
estava vigiando e ainda fazia piada que tinha nascido para ser babá.
Eu estava tonto com tudo que o meu pai estava falando e não
conseguia raciocinar direito.
Ele estava falando do nerd que eu tinha que ser babá? Era isso?
— Era só vigiar — Meu pai continuou gritando — não era para
transar com ela seu merda. Hoje no telão quando vocês apareceram juntos
seu infeliz ficou claro como você retribui o favor comendo a filha dele seu
idiota.
— Eu não estou entendendo nada. De que senador o senhor está
falando?
— Você quer brincar de ser sonso? Tudo bem, então vamos lá.
Senador Miller do Michigan. O homem que livrou sua cara da cadeia. O
homem que os assessores te enviaram o e-mail com o nome e a foto da filha
dele para você tomar conta.
Eu me sentei na cama em choque e tentando entender o que estava
acontecendo quando meu pai continuou falando antes de sair batendo a
porta.
— Se livre da garota que está no seu banheiro, coloque uma roupa e
venha até a minha casa porque nossa conversa não terminou.
Ava.
Era ela quem estava no banheiro.
Me levantei correndo e não cheguei a dar um passo e vi minha garota
enrolada numa toalha, com os cabelos molhados e o rosto vermelho coberto
por lágrimas.
— Ava…
— Por favor, não fale nada. — Ela falou vestindo sua roupa
apressada — Não precisa se explicar, você precisava me vigiar, então porque
não aproveitar e me foder também, não é verdade?
— Eu…
— O seu serviço acabou, Chase Montana. Não precisa mais ficar
vinte e quatro horas comigo para fazer um relatório para o meu pai…
acabou.
— Ava…
— Eu sempre achei que meus pais fodiam com a minha vida, até
conhecer você que acabou com ela de vez.
Eu não sabia o que fazer e a abracei desesperado querendo que ela
pudesse sentir o meu amor, mas tudo que ela fez foi me empurrar para longe
dela.
— Nunca mais toque em mim. Nunca mais fale comigo. Nunca mais
olhe para mim.
Ava saiu correndo do meu quarto enquanto eu parecia congelado.
O ar não passava pela minha garganta.
Dor.
Vazio.
Tudo ficou sem sentido novamente.
Ava não me olhou com ódio.
Ava me olhou com decepção.
— O que aconteceu irmão? — Kalleb entrou no meu quarto
assustado dizendo que viu Ava ir embora correndo da fraternidade.
— Meu computador. Pega o meu computador.
Eu não conseguia respirar.
Tudo doía dentro de mim.
O e-mail que eu nunca abri estava ali.
— Eu nunca abri o maldito e-mail para saber quem eu tinha que
vigiar. Porra, eu não sabia.
— Do que você está falando?
Eu falei rápido para Kalleb que disse que isso só podia ser um
engano até que com as mãos trêmulas eu abri o e-mail e estava tudo ali: o
nome do senador e tudo sobre a sua filha, além de duas fotos dela para não
deixar nenhuma dúvida.
— Se eu não fosse um merda como o meu pai fala eu teria aberto o e-
mail, mas eu sempre me achei o fodão e agora… — lágrimas rolaram pelo
meu rosto e eu não tive vergonha disso — eu perdi o amor da minha vida.
Eu não cumpri minha promessa.
Eu não protegi minha borboletinha.
Eu fiz mal para Ava.
E no final minha mãe tinha razão.
Eu faço mal para quem me ama.
Ele era a cura, eu estava pronta para ter certeza
Então deixei que ele se aproximasse mais (se aproximasse mais)
Mas não demorou muito para perceber
Que a mulher em mim não chora
Por um homem que é um menino e ele não é merece isso

(The Art Of Starting Over - Demi Lovato)


Posso expirar por um minuto?
Posso desabafar?
Posso me sentar por um segundo?
Posso respirar?

(Exhale - Sabrina Carpenter)


Capítulo 38
Ava Miller

Eu sinto o meu corpo pesado e tento abrir os meus olhos.


Não sei o que está acontecendo, mas parece que estou presa dentro
do meu próprio corpo.
Minha cabeça dói tentando me lembrar onde estou e flashes meus
junto com Chase começam a ir e voltar na minha mente.
Ele me abraçando.
Ele me beijando.
Ele dizendo que me ama.
Ele dizendo que vai me proteger.
Socos.
Gritos.
Seu pai gritando.
O senador.
Ele me usou para passar o tempo enquanto pagava o favor que meu
pai fez o livrando da cadeia.
Não sei se é dia, ou se é noite, nem que horas são, e muito menos
onde estou.
— Ava.
Miah. A voz da minha amiga. Eu estou no meu quarto. Não lembro
como cheguei aqui, mas estou no meu quarto.
Eu quero me mexer, mas meu corpo dói.
Eu estava feliz.
Agora tudo se quebrou dentro de mim.
Eu preciso abrir os olhos.
Faço força.
Luto contra mim mesma.
Abro os olhos e agradeço o quarto estar escuro.
— Ava, ainda bem que você acordou.
— O que aconteceu?
— A Alice do time de dança disse que viu você sair correndo da
fraternidade do Chase, então eu e Cath ficamos preocupadas e começamos a
te procurar.
A voz de Miah estava tão alta que parecia que ia fazer minha cabeça
explodir.
— Te encontramos na rua, sentada na calçada e chorando. Daí
trouxemos você para casa. Sei lá com quem você comprou droga, só sei que
você colocou o pó na cama e cheirou tudo.
​— Por isso meu nariz está queimando.
​— Claro, você fez de qualquer jeito, inspirou uma parte e a outra voou com
você espirrando.
​— Eu só queria esquecer. Como foi que eu apaguei se nem usar a droga
consegui?
​— Você tomou três comprimidos do seu remédio para dormir.
​— Ele faz apagar mesmo se tomar uma dose maior.
— Você e Chase brigaram? Foi isso?
​— Nunca existiu eu e Chase. Sempre existiu apenas a idiota aqui e mais
ninguém.
​Eu precisava me levantar, mas não conseguia.
​— Toma esse copo de café, que eu acho que vai te ajudar — Cath falou
entrando no quarto com três copos e uma bolsa com café da manhã.
​— Você precisa comer alguma coisa.
​— Eu não estou com fome, mas o café eu vou querer.
​Eu acabei aceitando comer um croissant enquanto contava tudo para Miah e
Cath que não conseguiam acreditar que Chase tinha sido capaz de ser tão
dissimulado comigo.
​— Eu vi como ele te defendeu em Michigan — Cath falou — Ele não
parecia estar representando.
​— Ele não estava. Devia fazer parte do serviço dele.
​Ficamos conversando por algumas horas e depois eu fui tomar um banho
para tentar buscar forças nem sei para fazer o que, já que tudo tinha perdido
o sentido.
​Eu vim para a UCLA viver um ano só meu, sem interferências da minha
família, e no final de tudo, consegui ficar muito pior do que quando estava
no Michigan.
​Olhei para as borboletas no meu braço e doeu lembrar do apelido que Chase
me chamava e que eu achava que era carinhoso.
​ bri o meu celular que não parava de apitar e encontrei várias mensagens do
A
meu pai e outras da minha mãe.

​ ai: Eu quero que você venha para casa neste final de semana. Precisamos
P
conversar.
​Mãe: Por que você sempre tem que escolher o homem errado para se
deitar?
​Mãe: Eu te avisei que ele não era para você.
​Mãe: Eu te falei que apesar de milionário ele não servia.
​Mãe: Estamos te esperando esse final de semana.
​Assessores: Bom dia, Ava. O pai do Chase me disse que parece que vocês
dois se desentenderam, mas pensamos que o melhor seria negociar com o
quarterback para que vocês finjam que são um casal. O pai dele ficou de
conversar com o filho. Estamos aguardando a resposta.

​ ue porra de mensagens eram essas?


Q
​O pai do Chase depois de tudo que falou para o filho ainda têm coragem de
negociar com os assessores sobre uma palhaçada dessas de namoro falso.
​Um ódio cresceu dentro de mim por toda essa gente.
​Não sou um objeto.
​Peguei o meu celular e mandei uma mensagem para os meus pais.

​ va: Não tenho tempo e nem vontade de ir para o Michigan.


A
​Ava: Na verdade, não quero ver vocês.
​Ava: Eu só queria viver em paz e você colocou um estudante para me vigiar.
Me deixem em paz. Avise ao cuzão dos assessores que não vou fingir casal
com ninguém. Vão todos vocês tomarem no meio do cu.

◆◆◆

​ despertador tocou às quatro horas da madrugada e me levantei mesmo


O
sentindo o meu corpo e a minha cabeça doendo porque já tinham três dias
que eu lutava contra as minhas dores e sentia que estava perdendo a batalha.
​Eu não podia recomeçar.
​Um corte.
​Um alívio momentâneo.
​ ma dor maior depois por me considerar fraca.
U
​Olhei para o meu braço e minhas borboletas que representavam minha
liberdade agora eram também a lembrança dolorosa da voz de Chase me
chamando pelo apelido que ele me deu.
​Eu o amava… eu o amo… mesmo ele tendo me ferido… mesmo tendo sido
uma mentira... eu o amo.
​Mas não posso pensar nele que me enganou. Tenho que ser forte e aceitar
que acabou... que na verdade, nunca existiu.
​Pego o meu Ipad e começo a escrever e riscar tudo ao mesmo tempo.
​Sinto tanto a sua falta. Te quero tanto. Sinto saudades. Eu te amo. Preciso
esquecer. Preciso seguir. Como se vive sem você? Sinto a sua falta. Te quero
tanto. Sinto saudades. Eu te amo. Preciso esquecer. Como se vive sem você?
Te quero tanto. Sinto tanto a sua falta. Te quero tanto. Sinto saudades. Eu te
amo. Preciso esquecer. Preciso seguir. Como se vive sem você? Sinto a sua
falta. Te quero tanto. Sinto saudades. Eu te amo. Preciso esquecer. Como se
vive sem você? Te quero tanto. Sinto tanto a sua falta. Te quero tanto. Sinto
saudades. Eu te amo. Preciso esquecer. Preciso seguir. Como se vive sem
você? Sinto a sua falta. Te quero tanto. Sinto saudades. Eu te amo. Preciso
esquecer. Como se vive sem você? Te quero tanto. Sinto tanto a sua falta. Te
quero tanto. Sinto saudades. Eu te amo. Preciso esquecer. Preciso seguir.
Como se vive sem você? Sinto a sua falta. Te quero tanto. Sinto saudades.
Eu te amo. Preciso esquecer. Como se vive sem você? Te quero tanto. Sinto
tanto a sua falta. Te quero tanto. Sinto saudades. Eu te amo. Preciso
esquecer. Preciso seguir. Como se vive sem você? Sinto a sua falta. Te quero
tanto. Sinto saudades. Eu te amo. Preciso esquecer. Como se vive sem você?
Te quero tanto.
Olho para a minha bolsa de maquiagem e vejo o estilete.
Não.
Não vou perder para a dor.
Joguei a necessaire longe, peguei minha mochila, minha garrafa de
água, as chaves do meu carro e desci apressada as escadas da fraternidade.
Eu passei em frente ao estádio e parei o carro.
Me sentei no capô e fiquei observando de longe Chase correndo
sozinho e me lembrei de como éramos bons juntos caçando nossos
fantasmas.
Abraço meus joelhos, e deito minha cabeça sobre eles.
A UCLA está silenciosa. ​
Minha mente está silenciosa.
Sinto o gosto amargo da dor na minha boca e meu estômago dói.
Não consigo pensar em nada.
Só sinto dor.
Entro no meu carro e vou para o estúdio expurgar as minhas dores.
Era isso que eu precisava para começar a me curar: dançar.
Precisava dançar e controlar a dor da falta que Chase estava
causando.
Ele me enviou várias mensagens de texto, mas eu nunca li nenhuma
delas.
Não queria ler suas mentiras.
E assim o tempo foi passando… entre minhas danças, tristezas, aulas,
treinos e dor.
Muita dor.

◆◆◆

O tempo parecia estar parado e os dias cada vez mais longos.


A UCLA não era mais a mesma, e eu não conseguia fingir
normalidade depois de tudo o que aconteceu quando uma vez ou outra acaba
cruzando com Chase no Campus.
Eu não estava mais indo às festas, só estudando e deixando o tempo
curar as minhas feridas sem me forçar a fazer nada que eu ainda não
estivesse com vontade.
A liberdade que eu tanto ansiava já não parecia tão convidativa como
antes, e eu não tinha mais vontade de voar, mas também não conseguia
retornar para o meu casulo, e ficava caminhando sem rumo, esperando por
algo que eu desconhecia.
Dezembro chegou e com ele o Natal, e ao contrário do feriado de
Ação de Graças que me recusei a ir em casa e passei sozinha na fraternidade
já que todas foram para suas casas, eu decidi enfrentar os meus pais e ir para
o Michigan.
— Você vai mesmo para a casa dos seus pais? — Miah perguntou
desconfiada porque eu não falei nada no último feriado e fiquei sozinha.
— Sim, eu estou indo passar o Natal com a minha família amada —
Eu falei revirando os olhos.
— Você está confortável com isso? Se quiser pode passar o Natal
comigo e com a minha família.
— Obrigada, mas preciso enfrentar o senador. Ele precisa ver o
estrago que fez na minha vida, e mesmo que ele não se importe, desta vez
vai ficar sabendo por que eu não ficarei calada.
Eu arrumei as minhas coisas, e desta vez não vesti as roupas clássicas
em tons pastéis, e sim meu cropped de listras preto e branco, minha calça
jeans com rasgos e minha bolsa com a imagem de um coelho zumbi.
​Assim que desembarquei já vi os assessores do meu pai que me olharam
como se eu fosse um extraterrestre por causa das minhas roupas que fiz
questão de exibir antes de colocar meu sobretudo, gorro e luvas por conta do
frio.
​Entrei no carro e bati a porta com toda a força, deixando a imagem segundo
eles de alguém muito mal-educado, e ainda fiz sinal com o dedo do meio
para o que não parava de me olhar.
​Com meu IPod no máximo fui percorrendo as ruas do Michigan cobertas
pela neve e me lembrei de Chase.
​Inferno!
Agora até aqui no Michigan tenho lembranças dele.
Respiro fundo e quase consigo sentir o seu cheiro que parece ter
ficado impregnado no meu corpo.
O carro parou em frente à casa dos meus pais e saltei com desânimo
para mais um Natal com os Miller.
— Eu pensei que você tinha esquecido que tinha uma família —
Minha mãe falou assim que me viu com sua cara de reprovação pela minha
roupa.
— Não tenho família. — Eu falei pendurando meu casaco — Vocês
são alguma espécie de provação que estou passando nessa vida.
— Isso é jeito de falar com a sua mãe — Meu pai falou se
aproximando de mim e dando um beijo na minha cabeça.
— Judas também beijou Jesus e depois o traiu — Eu falei limpando
minha cabeça com a mão.
— Que jeito é esse de falar, Ava Miller?
— O que você esperava de mim, senador? Ah, claro, esperava aquela
garotinha tola que sempre tentou ser aceita, acolhida e amada por vocês —
Eu falei olhando com desprezo para dentro dos seus olhos — Esperava
aquela adolescente que chegava em casa querendo conversar, contar suas
conquistas e que vocês nem disfarçavam que não queriam assunto.
Esperavam a filha que aceitava suas regras, vestia as roupas que vocês
escolhiam e estava sempre sorrindo sem vontade para a sociedade enquanto
era ferida o tempo todo por vocês dois, o casal perfeito, os pais amorosos —
Eu terminei de falar e bati palmas para os dois.
— O que aconteceu com essa menina? — Meu pai perguntou
assustado para a minha mãe.
— Isso é influência daquele rapaz desqualificado filho do CEO da
Montana’s Tech que você devia ter deixado na cadeia.
— O pai dele é um dos principais colaboradores da minha
campanha, e eu ajudei o filho problemático dele em troca de favores
financeiros e não só para que ele olhasse nossa filha.
— Você confiou num irresponsável, não só por participar de corridas
ilegais para passar o tempo, mas porque toda a sociedade sabe que os pais o
culpam do irmão.
— Mas agora é tarde porque nossa filha se envolveu com ele e
precisamos fingir que está tudo bem, que é coisa de jovens…
— Calem a porra da boca de vocês — Eu gritei e os dois ficaram
paralisados — Eu sempre odiei o fato de vocês dois falarem de mim, na
minha frente como se eu não estivesse presente.
— Ava, você não está bem, acho melhor você descansar…
— Corridas ilegais são atividades fora da lei, e vocês dizem que ele
corre para passar o tempo porque é rico? Se ele fosse pobre diriam que é um
bandido de alguma gangue? O dinheiro muda tudo, não é verdade. E o Chase
não matou o irmão dele, foi um acidente. Sabiam que acidentes acontecem?
— Essa conversa é desnecessária porque esse rapaz não vai mais
fazer parte da sua vida. Pensamos em criar algo fake para a imprensa que
fica querendo saber se existe algum compromisso…
— Vocês dois tem audição seletiva? Eu falo e vocês não escutam.
Não vou mais fazer parte do circo midiático de vocês, e foi apenas isso que
eu vim aqui falar pessoalmente para o senador e sua amadíssima esposa.
Vocês me machucaram a vida toda, e eu cansei de ser quem eu não sou para
agradar quem não gosta de mim.
— Você está dizendo que seus pais não te amam?
— Por favor, meu pai, pare de falar comigo como se estivesse num
palanque. Só temos, eu, você, minha mãe e esse bando de assessores
babacas. Vocês não me amam. Eu só nasci e sirvo para vocês posarem de
família feliz. Mas isso vai ter um preço a partir de hoje. Se querem me ver
nas fotos com as roupas de morta viva que vocês gostam, cabelo impecável e
sorriso falso, vão ter que pagar por isso.
— Nossa filha, quer cobrar para ser da família? — Meu pai
perguntou para a minha mãe me ignorando como fez a vida toda.
— Ela foi muito afetada pela má companhia do tal quarterback.
— Continuem se fazendo de surdos. Vocês assessores — Eu falei
olhando para os babacas de terno que pareciam estátuas no meio da sala —
Eu quero minha liberdade em troca dessa palhaçada toda de família feliz.
Vou viver a minha vida, voltar para a faculdade, beber, fumar, foder, e tudo
mais que eu quiser fazer e se alguém falar alguma coisa mando os eleitores
tomarem no cu. Quero que continuem pagando minha faculdade, e tudo que
eu precisar, afinal eu trabalho para o meu pai ser Presidente, e quero um
salário bem alto por isso. Agora vou para o meu quarto descansar, e a noite
desço para sorrir ao lado de vocês para os convidados chatos que vem para a
ceia de Natal na residência feliz do senador Miller.
Eu subi as escadas sem olhar para trás e quando entrei no meu
quarto, bati a porta e escorreguei escorada nela até o chão e abracei os meus
joelhos, trêmula e chorando.
O ar começou a me faltar, meu corpo começou a tremer mais forte, e
uma forte crise de ansiedade tomou conta de mim.
Eu precisava me acalmar e desta vez seria como antes, sozinha.
Me deitei no chão e fiquei imóvel olhando para o teto.
Eu falei tudo que guardei a vida toda de uma vez só para os meus
pais. Demonstrei uma força que não tenho, mas aprendi a representar com os
melhores.
As horas foram passando, a respiração regularizando, e eu consegui
então me levantar, e fui me preparar para ser a filha dos Miller, mas agora
ganhando por isso.
Dei uma gargalhada alta quando lembrei da cara assustada dos meus
pais.
Me olhei no espelho limpando a maquiagem borrada pelas lágrimas e
rindo por ter deixado todos desta casa em choque.
Depressão.
Euforia.
Instabilidade emocional.
Herança dos Miller.
Enquanto eu me arrumava me lembrei das palavras da minha mãe
que Chase tinha matado o seu irmão, e me lembrei da noite no Penhasco.
Nem tudo foi mentira.
Sua dor era real.
Ah, Chase, por que você me deixou acreditar que eu era especial?
Respirei fundo.
Não queria mais pensar em Chase.
Precisava descer e sorrir no show da ceia de Natal, e depois voltar
para a UCLA para o último semestre antes da minha graduação, e desta vez
sem sombra alguma vigiando os meus passos.
Estou exausto, merda, eu preciso de descanso
Mas como posso escapar de você se você estiver na minha cabeça?
Estou ouvindo ruídos, que porra é esse som?
Abusar do meu fígado vai manter as emoções longe

(Uncomfortable – Chase Atlantic)


Capítulo 39
Chase Montana
UCLA - Semestre Final
Gradução

A primeira aula do semestre foi cansativa e o professor deixou claro


que não facilitaria para ninguém e quem quisesse graduar teria que se
esforçar muito.
​Eu não estava preocupado, primeiro porque minhas notas sempre foram as
melhores, e depois porque agora não teria mais que viajar todos os finais de
semana para jogar e sobraria mais tempo para finalizar os trabalhos.
​Olhei meu Ipad e minha lista para o último semestre e respirei fundo quando
vi o seu nome riscado.
​Último semestre. Graduação. Fim de uma era. Início da vida adulta. Buffalo
Bills. Ava.
​Eu mandei mais de 100 mensagens de texto.
Ela nunca me respondeu.
Eu liguei igual um chato insistente até que ela me bloqueou.
Bloqueado.
Fora da sua vida.
Então eu desisti.
Eu errei por não ter aberto o e-mail, mas ela não quis me escutar,
então agora ela que aguente porque Chase Montana está de volta e não vou
facilitar para a borboletinha… Ava Miller.
Encontrei com Kalleb e fomos para a fraternidade malhar na nossa
academia porque precisávamos manter a forma até os treinos recomeçarem.
Meu agente disse que eu treinasse forte como se fosse jogar pelos
Bruins porque assim iria em forma para o Buffalo Bills, que ele já dava
como praticamente certo assinar comigo para a próxima temporada.
— Qual vai ser a boa de hoje? — Erich chegou na academia
perguntando e geral respondeu festa e sexo.
— E você, Chase, vai descer para a festa ou continuar recluso no seu
quarto como no final do ano? — Ian perguntou rindo e minha vontade era
arrancar o peso que ele estava segurando e tacar na sua cabeça.
— O que eu faço ou deixo de fazer contínua do mesmo jeito que
sempre foi, sem ser da sua conta.
— Ele quer saber por que quando você desce para a festa todas as
garotas só querem você — Erich falou rindo.
— Todas? — Ian falou com cara de deboche.
— Escuta aqui o seu pau no cu, se você queria apanhar conseguiu —
Eu falei arrastando-o para o ringue e lhe entregando uma luva de box.
— Você ficou louco — Ele falou com todos gritando em volta de
nós.
— Só um treino. A princesa tem medo de um treinozinho?
— No seu cu, Chase — Ian subiu no ringue colocando as luvas.
— LUTA! — alguém da fraternidade gritou e os outros que não
estavam na academia desceram correndo e colocando uma música alta.
O ringue era um lugar para extravasar nossas emoções e hoje eu
aliviaria as minhas na cara do babaca que resolveu zoar com a minha dor.
Ava era o meu amor e o motivo atual da minha dor.
A luta começa e eu desvio com facilidade do soco que Ian tentou
acertar na minha cara e rebato, dando um chute na sua panturrilha e um soco
certeiro na sua barriga.
— Isso não muda que ela não te quis — O babaca fala me
provocando e eu apenas dou de ombros enquanto me preparo para acabar
com a sua raça.
Nossa luta não tem regra, e todos gritam quando enfio um soco na
cabeça do otário que não sei por que passou todos esses anos tentando me
tirar do sério. Segundo Erich, ele sempre teve inveja de mim, porque só é
babaca assim comigo, mas hoje ele se superou no quesito deboche, e por isso
o derrubei e o prendi pelo pescoço desferindo golpes no seu rosto, enquanto
ele grita nervoso, e consegue se soltar acertando uma cotovelada no meu
queixo.
Ele comemora que me acertou rindo com seus dentes vermelhos
cheios de sangue. A adrenalina toma conta da fraternidade e o frenesi dos
estudantes é grande a cada soco trocado, e gritam o meu nome quando Ian
bate com a cabeça no chão e o enforco com meu braço, e me levanto
vitorioso.
— Da próxima vez fica calado se não quiser apanhar — Eu falei e
deixei a academia que ficava no porão da fraternidade e fui para o meu
quarto tomar um banho relaxado depois de quebrar a cara de um otário.

◆◆◆

Acordei com a música alta no andar de baixo da fraternidade e desci


como estava, sem camisa, descalço e com uma calça de moletom preta para
pegar uma cerveja.
Como sempre, fui obrigado a desviar dos casais que amam foder na
escada e estava quase chegando no salão lotado, quando a vi no meio da
fumaça dos vapers.
Ava Miller.
A dona dos meus surtos.
Linda.
Perfeita e dançando como só ela sabia fazer e com os olhos fixos no
meu abdômen.
Terminei de descer a escada, peguei uma cerveja e parei ao lado dela.
— Gostando da vista? — Eu perguntei próximo do seu ouvido e
passando a mão no meu abdômen.
— Na verdade, eu estava pensando em como eu perdi meu tempo
com você — Ela falou olhando para mim com deboche e saiu andando.
Touchdown. A borboletinha sempre me deixava com cara de cu com
as suas respostas.
Ela foi para o lado de fora, e eu fui atrás com medo que ela ficasse
com outro cara. Eu sei que ela não é mais minha namorada, mas ela foi,
então ninguém tem o direito de olhar para ela ou vai se ver comigo.
Ava parou próxima da mesa de bebidas e pegou uma garrafa de
Vodka e uma lata de energético, e colocou as duas bebidas na sua garrafa
térmica e ficou me olhando no momento que Rachel e outra cheerleader se
aproximaram de mim.
As duas colocaram as mãos no meu peito e Ava tomou um gole
grande da sua bebida.
— Até que enfim Chase está de volta — A outra garota que eu não
lembrava o nome falou passando a mão em cada gominho do meu abdômen
— Saudade de nós três.
Eu dei corda, deixei as garotas me tocarem para provocar Ava. Ela
disse que perdeu tempo comigo, e eu queria mostrar que ela estava
enganada, mas foi só eu ver que seu peito estava balançando mais rápido, e
que uma de suas mãos limpava o seu rosto, que eu parei.
Eu conhecia a minha garota. Ela tem gatilhos e não quero que ela
tenha uma crise de ansiedade.
Não por minha causa. Não na minha frente, quando eu perdi o direito
de segurar as suas mãos até os seus fantasmas irem embora.
— Eu não estou de volta. — Eu falei e me afastei das duas indo me
sentar sozinho numa mesa para poder mesmo de longe ficar olhando para
Ava.
Um lado meu queria pegar todas as mulheres da festa só para a
borboletinha ficar louca de ciúmes, mas um outro me lembrava que isso a
deixaria triste caso ela ainda sentisse algo por mim e eu não queria machucá-
la ainda mais do que já tinha feito.
Eu voltei jurando que seria o terror no último semestre e tudo que eu
consegui no primeiro dia de aula, foi brigar com Ian que debochou porque eu
perdi minha garota, e agora ficar sentado como cara de bobo vigiando minha
ex sem saber como fazer para impedir alguém de chegar nela.
Ela tinha o direito de ser livre e viver a vida dela. Eu não podia ficar
vigiando e a impedindo de seguir em frente, e o meu lado racional insistia
em me lembrar disso mesmo contra a minha vontade.
Ela é minha. Só minha, o meu outro lado gritava.
Ava, o que você fez comigo?
Meu celular vibrou e assim que vi de quem era a mensagem me
levantei apressado e corri para o meu quarto para trocar de roupa. Assim que
desci, Kalleb e Erich já estavam na porta, chapados, mas prontos para me
acompanhar como sempre faziam, e saímos apressados da fraternidade.
Assim que eu entrei no carro, vi que Ava estava parada na escada me
olhando, mas virei para frente, liguei o carro e acelerei.
Eu iria correr e me desligar de tudo.
Eu precisava disso. Precisava acelerar deixando tudo para trás.
Eu sabia que tinha que desistir porque ela não seria mais minha.
Se eu tivesse uma única chance eu faria de tudo para ela voltar para
mim.

◆◆◆

Eu estava acelerando na noite escura e silenciosa de Los Angeles,


seguindo para mais uma corrida que despertava os meus instintos mais
selvagens.
Chegando no local marcado, eu já podia sentir o pulsar distante dos
motores indicando o ponto de encontro da velocidade e o sigilo da
clandestinidade.
Meu carro, uma máquina modificada, e eu, estávamos ansiosos pela
liberdade das ruas vazias.
O cheiro de gasolina se misturou com a adrenalina que pulsava em
minhas veias, e a rua deserta estava iluminada apenas pelos faróis dos carros
aguardando a largada.
Meu coração estava acelerado esperando a bandeira baixar, meu pé
estava colado no acelerador, eu estava focado até que meu celular vibrou
com um tom único, diferente de todos e que eu esperei escutar novamente
todos os segundos do meu dia desde que Ava deixou o meu quarto na noite
do homecoming.
Eu precisava olhar a mensagem.
E precisava focar na largada.
Mas acima de tudo, eu precisava ter certeza de que não estava
sonhando.

Ava: Eu sei que você foi correr. Só tome cuidado.

DESBLOQUEADO foi a única palavra que invadiu e tomou conta da


minha mente.
A largada foi dada e meu pé afundou no acelerador, e as ruas estreitas
de Los Angeles se transformaram em um labirinto de desafios.
Minha habilidade era testada em cada curva e em cada derrapagem.
Os outros pilotos para mim eram como sombras velozes.
A cidade adormecida, não tinha ideia da emoção que estava tomando
conta das suas ruas.
O cheiro de pneu queimado parecia envolver o meu carro, e quando
eu cruzei a linha de chegada, eu saí comemorando não a vitória de mais uma
corrida, e sim a chance que eu teria a partir de agora de reconquistar minha
borboletinha.
Você poderia, por favor, ter piedade, piedade
Do meu coração?
Você poderia, por favor, ter piedade, piedade
Do meu coração?

(Mercy - Shawn Mendes)


Capítulo 40
Chase Montana
​ cordei e pulei da cama para retomar a minha vida de onde ela parou
A
quando minha garota me deixou.
​Ela me enviou uma mensagem.
​Ela me desbloqueou.
​Ela se preocupou comigo.
​E agora eu tinha a chance de ter ela de volta. Ava não deixou de me amar,
mas perdeu algo fundamental para um relacionamento que é a confiança, e
eu precisava provar para ela que o meu amor é verdadeiro.
​Eu tive raiva dela em alguns momentos por não querer me escutar, mas
sempre procurei me colocar em seu lugar e vi que eu faria o mesmo.
​Ela se entregou para mim. Confiou no meu amor, no meu carinho, na minha
proteção.
​Eu fui muito imaturo não abrindo o e-mail. Quis bancar o fodão e irritar o
meu pai e quem saiu perdendo fui eu, ou não, porque se eu tivesse aberto e
lido, se eu soubesse que era ela que eu tinha que bancar a babá nossa história
não teria acontecido.
​Mas agora isso é passado, e o que eu preciso é dar um jeito de reconquistar
Ava, mesmo que isso seja mais difícil que vencer uma temporada de futebol
americano ou uma corrida de rua.
​Eu me arrumei e desci as escadas apressado porque eu tinha aula de cálculos
e depois precisava procurar duas pessoas que seriam fundamentais no meu
plano de como trazer a borboletinha de volta.
​— Caiu da cama? — Kalleb perguntou — Eu achei que hoje você não ia
para a aula.
​— Eu não sou você que por tudo falta a aula. Quero me formar e seguir a
minha vida.
​— Eu só falto a aula quando durmo tarde.
​— Ou seja, todos os dias.
​— Porra, vou até me arrumar porque você me lembrou o meu pai falando —
Kalleb falou rindo.
​— Depois da sua aula me encontra no refeitório do campus porque vou
precisar da tua ajuda.
​ Corrida, jogo…

​— Ava. Vou reconquistar minha garota — Eu falei saindo apressado e
Kalleb veio atrás de mim.
​— Eu sabia que essa disposição toda não era para fazer contas.
​Eu fiz um sinal com o dedo do meio para ele e corri apressado me sentindo
feliz pela primeira vez depois de semanas em que não encontrava mais
sentido para nada.
​Cheguei atrasado na aula de cálculos e o professor me olhou de cara feia,
mas não me importei porque parei no caminho para escrever algumas coisas
que eu não poderia esquecer de fazer para que tudo acontecesse do jeito que
eu estava planejando.
​Depois da aula que se arrastou por três horas eu fui para o refeitório
encontrar com Kalleb e meu coração disparou quando vi Ava sentada
almoçando com as amigas.
Nossos olhares se encontraram e tive vontade de ir falar com ela, mas
eu sabia que tudo tinha que ser feito como eu planejei para não dar errado e
fui me sentar na mesa onde Kalleb e Erich estavam sentados me esperando.
Eu contei animado tudo que planejei e expliquei o que precisava que
eles fizessem para me ajudar.
— Cara, de boa, o plano é bom, mas têm uma parte, que tenho que te
falar irmão que vai ser um fiasco, sério mesmo, você não sabe dançar —
Erich falou rindo.
— O caralho que eu não sei. Sou Chase Montana. Rei do Campus.
Rei dos Rachas. E pela minha garota serei o Rei da Dança.
Kalleb cuspiu o suco longe quando eu falei isso e só não deixei ele
morrer engasgado por ter rido de mim porque precisava dele para me ajudar
numa parte do meu plano.
— Se alguém souber do que eu estou planejando antes de acontecer
eu mato vocês dois.
— Porra irmão, você está louco, vai pagar o maior mico da história
da UCLA, mas vamos estar ao seu lado — Kalleb falou — pelo menos a
parte da dança só a Ava que vai ver, mas estaremos lá também do lado de
fora esperando para socorrê-la depois que você derrubar a coitada no chão.
— Vão os dois chupar um pau.
Eu falei e saí puto da mesa, com os dois rindo alto de mim e
chamando atenção de todos no refeitório.

◆◆◆
​ ara que a terceira parte do meu plano desse certo eu precisaria da ajuda das
P
amigas da Ava e sei que essa parte talvez fosse ser mais difícil porque eu não
sabia se elas iriam querer me escutar.
​Eu sabia a hora que o treino de dança terminava e fiquei esperando Cath
próximo a fraternidade dela e dei sorte quando vi que Miah, sua namorada
estava vindo junto com ela.
​Na mesma hora pensei em Ava, que deve ter ficado sozinha no estúdio de
dança como sempre até mais tarde. Ela precisava dançar para se curar, e
fiquei triste me dando conta que eu agora era um dos seus fantasmas.
​Respirei fundo e fui até as meninas já pensando em implorar se fosse preciso
pela ajuda delas.
​— Posso falar com vocês?
​— O que você quer Chase? — Miah perguntou — Se for recado…
​— Eu vim pedir a ajuda de vocês para fazer uma surpresa para Ava.
​— Você já fez uma surpresa e bem desagradável, Chase Montana. — Cath
falou — Deixa Ava em paz. Ela não merece sofrer por você.
​— Por que ninguém me escuta? Porra, eu sei que sempre fui um babaca, mas
com Ava eu sempre fui o mais carinhoso e atencioso dos namorados.
​— Vigiando-a para o pai dela?
​— Eu não fiz isso, Miah. Eu me meti numa confusão depois de uma corrida,
o meu pai foi lá e me soltou. Em casa, ele me disse que um conhecido
importante tinha livrado a minha cara e em troca eu tinha que fazer um
favor, que era vigiar o filho dele. Eu pensei que era um estudante, nerd, que
sofria bullying e nem abri a porra do e-mail. Toda vez eu falava para o meu
pai que estava tudo sob controle, mas imagina eu perdendo meu tempo com
um otário? Eu não sabia que o figurão importante que me soltou era o
senador. Eu não sabia que o favor era vigiar uma garota, e muito menos que
era Ava. Eu soube ao mesmo tempo que ela, que não me deixou explicar. Eu
enviei muitas mensagens, liguei, mas ela não quis saber o que tinha
acontecido. Eu sei que tinha que respeitar a sua decisão, e fiz isso até essa
madrugada quando ela me enviou essa mensagem. — Eu falei mostrando o
celular para as duas — Ava não me esqueceu. Por favor, me ajudem a ter ela
de volta. Eu quero provar que o meu amor é verdadeiro.
​— Olha aqui, Chase Montana, se eu achar você, fofo de novo, e, for outra
palhaçada pode saber que você vai ficar com menos dentes na boca que o
Anthony do Michigan — Miah falou.
​— Você quer nossa ajuda para o que exatamente?
​ u contei a primeira parte do meu plano e as duas sorriram.
E
​Ponto para mim.
​— Você vai fazer isso mesmo? — Cath perguntou — Eu preciso filmar isso,
por favor, preciso do dia exato para levar meu celular para o campo.
​— Você vai saber o dia, porque depois que terminar tudo, eu vou fazer a
segunda parte que confesso vai ser difícil para mim que sou um ogro.
Eu contei para elas o que eu pretendia e as duas disseram que desse
jeito não tinha como elas não acreditarem em mim.
— Depois disso, bem, aí vem a parte que vocês duas entram para me
ajudar. Eu preciso aprender a dançar a coreografia final de um filme que Ava
adora e que assistimos juntos no cinema.
— Você só pode estar brincando — Miah falou rindo — Você quer se
tornar o Patrick Swayze de um dia para a noite?
— Vocês me ajudam?
​— E como vamos fazer isso? — Cath perguntou — Você tem alguma noção
de dança?
​— Não, mas eu sou forte, consigo sustentar Ava…
​— Ah, claro, a parte mais difícil da dança você quer fazer também — Cath
falou rindo.
​— Vocês são dançarinas. Só precisam me ensinar.
​— E supondo que a gente te ajude, quem vai se quebrar toda somos nós, —
Miah falou — mas fazer o que se no fundo eu sou uma romântica incurável e
quero que Ava tenha a chance de te escutar e decidir se quer ou não voltar
com você.
​— Então vocês vão me ajudar?
​— Se minha namorada resolveu te ajudar, quem sou eu para dizer que não e
ficar escutando-a reclamando que não tive boa vontade — Cath falou dando
de ombros.
​— Quando começamos?
​— Para quando você quer fazer isso tudo? — Miah perguntou.
​— Deve ser no final do semestre — Cath falou — Porque vai levar meses
até esse poste dançar.
​— Na verdade, eu pensei em fazer tudo dentro de uma semana porque não
aguento mais ficar longe da minha garota.
​Cath deu uma gargalhada alta e depois ficou séria quando viu que eu não
estava brincando.
​ Eu não sei como vamos fazer para que Ava não saiba de nada — Miah

falou — Eu e Cath vamos simplesmente ter que sumir e treinar com você em
todas as horas vagas, ou seja, nas madrugadas.
​— Você pode alugar o estúdio de dança que têm aqui perto da universidade
para usarmos de madrugada e Miah faz de conta que está dormindo comigo
a semana toda.
​— Ava vai se sentir sozinha, mas vai ser por uma boa causa. Vamos te
ajudar.
​Eu deixei as duas depois de agradecer quase que de joelhos, e fui até o
estúdio de dança que elas falaram e aluguei o espaço por cinco dias, durante
toda a madrugada.
​Assim que cheguei na fraternidade me tranquei no meu quarto e passei a
noite tentando escrever uma carta para Ava.
​Todas as partes do meu plano seriam difíceis de realizar, mas foram
pensadas nos mínimos detalhes em Ava, em tudo que ela sempre gostou, e
que fariam ela entender que eu a amava de verdade.
Agora era só começar a contagem regressiva para o meu plano
acontecer.
Acho que chorei vezes demais
Eu só preciso de mais carinho
Qualquer coisa que me faça seguir em frente

(Anyone - Demi Lovato)


Capítulo 41
Ava Miller

Eu voltei para a UCLA depois do recesso de Natal e Ano Novo


disposta a recomeçar tudo de novo. Eu sabia que não seria fácil, mas não
podia desistir de tudo por conta do que aconteceu.
Sempre tudo tinha a ver com o meu pai e isso me machucava, porque
por mais que eu quisesse não conseguia odiar o senador e sua esposa, e tudo
que eu mais queria era ser feliz com eles, mas sei que isso nunca vai
acontecer.
O tempo não volta atrás, e cada desenho que fiz para eles com amor e
foi para o lixo, não têm como ser refeito. Cada vez que eu quis cantar uma
música que aprendi na escola e eles não tiveram tempo de escutar, ou que
pedi ajuda em um dever e eles contrataram uma explicadora, são momentos
que deixamos de viver.
​Eu não os odeio, apenas preciso de distância para ter um pingo de sanidade
mental que ainda me restou.
​Eu também não consigo odiar Chase, mas a mágoa e a decepção eram
grandes demais para que eu conseguisse tirar do meu coração.
Durante as primeiras semanas depois do que aconteceu eu evitei as
festas das fraternidades, foquei nas provas finais, mas agora que eu estava de
volta, e não deixaria de viver por causa de ninguém.
A parte mais difícil foi falar tudo que estava atravessado na minha
garganta para os meus pais, e eu consegui, então agora o que eu tinha que
fazer era aproveitar os últimos cinco meses de faculdade dando aqui também
mais um grito de liberdade.
Na verdade, eu darei quantos gritos forem precisos em busca de ser
livre, porque nunca mais vou desistir de viver.
​— Você vai nas festas hoje à noite — Miah perguntou vendo que eu estava
me arrumando para sair.
​— Preciso voltar a viver, porque daqui a poucos meses essa vida de
universitária termina, e ainda vou precisar ver o que vou fazer.
— Eu estou querendo ir para Nova York, e Cath está pensando em
vir comigo.
​— Hummm… vida de casal oficial.
​Miah riu e eu sei que não quis mostrar muita empolgação para não me deixar
triste lembrando que para mim tudo deu errado. Eu a abracei e disse que ela
podia surtar, comemorar, festejar e dividir tudo comigo porque minha dor
por estar longe de Chase não me impedia de ficar feliz por ela e Cath.
​Eu coloquei um short jeans, um cropped azul e um All Star preto e desci
apressada porque não pretendia ficar até tarde nas festas, apenas dançar um
pouco, e beber alguma coisa para relaxar.
​Passei em duas fraternidades, mas estavam um pouco vazias e acabei indo
para a dos atletas que estava mais cheia mesmo sabendo que poderia
encontrar com ele.
​O salão estava lotado e mal dava para ver o outro lado de tanta fumaça. Fui
até a mesa e peguei uma bebida para mim e fui para a pista de dança.
​Eu não queria companhia.
Só queria dançar e fechei os olhos me deixando levar por cada nota
musical.
Eu estava envolvida pela melodia que me fazia flutuar quando senti
sua presença. Era como se eu pudesse sentir que ele estava me olhando, e
quando abri os olhos vi Chase.
Lindo.
Perfeito.
Gostoso.
Ele estava sem camisa exibindo o seu abdômen definido e com todos
os gominhos que eu adorava contornar com a ponta dos meus dedos.
Seus pés no chão, uma calça de moletom que deixava a mostra uma
parte da cueca, e o cabelo bagunçado deixavam claro que ele tinha acabado
de acordar.
Ficamos pouco tempo juntos, mas eu conhecia cada detalhe de
Chase. Sua carinha quando estava com sono, quando acordava, quando
estava tendo crise de ansiedade, quando precisava correr, quando queria
foder comigo.
Senti tudo latejando entre as minhas pernas lembrando de como era
bom quando ele estava dentro de mim me fazendo ser só sua.
Ele costumava ser só meu.
Chase desceu as escadas e veio andando na minha direção sem
desviar o olhar e quando parou perto de mim perguntou se eu o estava
admirando.
Eu o dispensei, mas a verdade é que não estava só olhando, e sim,
babando por ele.
Eu fui para o lado de fora esfriar a cabeça e o meu corpo que pegava
fogo por Chase, quando vi Rachel e Liana do time de dança se esfregando
nele.
​Ele deixou as duas passarem a mão no corpo dele, que costumava ser só
meu, e um sentimento de posse tomou conta de mim. Eu não podia impedir
as duas de tocarem nele, e nem o direito de ficar com raiva dele porque não
estávamos juntos, mas ainda assim, o sentimento de perda me fez ficar
ansiosa.
​Eu nunca tinha sentido isso antes. Eu nunca tinha amado ninguém antes de
Chase.
​Eu pensei que ele estava gostando da situação, quando do nada notei que ele
percebeu que eu estava olhando para o trisal do inferno, e então dispensou as
duas e se sentou numa cadeira sozinho para tomar sua cerveja.
​Nós ficamos olhando um para o outro como se tivéssemos um imã que nos
conectasse quando ele recebeu uma mensagem de texto e se levantou
apressado.
​Não demorou muito e ele desceu todo de preto. Eu amava quando ele
colocava a calça jeans com rasgos, a camiseta preta que mostrava seus
braços musculosos, o coturno e a bandana preta.
​Chase estava indo correr. Ele amava a adrenalina.
​Fui até a porta da fraternidade e vi quando ele entrou no carro acompanhado
de Kalleb e Erich. Chase me viu e olhou para mim por alguns segundos
antes de sair acelerando pelas ruas escuras de Los Angeles.
​Eu fui embora caminhando sozinha até a minha fraternidade me lembrando
de quando ele me levou para dirigir de madrugada, de quando fomos ao
cinema, na praia deserta e da noite na jacuzzi.
​Entrei em silêncio no meu quarto para não acordar Miah que chegou mais
cedo que eu e já estava dormindo, e fui tomar um banho. Já estava embaixo
do chuveiro quando me lembrei dos riscos de uma corrida clandestina e me
enrolei na minha toalha, me sentei na borda da banheira e peguei o meu
celular.
​Fui até os contatos e vi o seu nome.
​ LOQUEADO.
B
​Respirei fundo e fiz o desbloqueio. Em seguida enviei uma mensagem
torcendo para que ele ainda tivesse o meu número ou não tivesse me
bloqueado.
​Esperei um segundo e vi que a mensagem tinha sido entregue, e fui tomar o
meu banho e me arrumar para dormir.
​Ansiosa, resolvi conferir o celular mais uma vez e não tinha nenhuma
mensagem. Ele não quis responder. Ou, ele não teve como responder porque
a corrida começou. Ou, terminou e ficou… ele não quis responder.
​Fui dormir, mas deixei seu contato desbloqueado.
​Por que a mágoa é um sentimento que machuca e nos afasta mais do que
qualquer outro de uma pessoa? Eu não sabia a resposta. Só sabia que o
amava e não o queria por estar magoada.
​E assim, fui dormir mais uma vez com os olhos cheios d'água.
​Meu coração sempre será de Chase, mesmo que meu corpo nunca mais seja
dele outra vez.

◆◆◆

​ aula de história da dança foi muito interessante e ocupou minha mente por
A
toda a manhã. Eu estava animada com o tema que escolhi para o trabalho
final, e aproveitei muita coisa que o professor falou para colocar na minha
tese sobre como a dança pode servir como terapia.
​No mundo todo, uma grande parte da população sofre com problemas
psicológicos e emocionais, e a cada ano, aumenta o número de pessoas com
depressão e ansiedade. Com isso a busca por métodos que proporcionem um
bem-estar emocional cresce, e o exercício físico possui uma grande
relevância na manutenção da saúde, com resultados expressivos no campo
emocional. A dança é uma ferramenta da educação física que traz bem-estar,
e reações positivas na saúde.
​Eu saí do auditório onde estava assistindo a aula e fui para o refeitório do
campus almoçar com Cath, Miah e as outras meninas do time de dança.
Estávamos falando sobre as viagens que iriam começar nos finais de semana,
agora com o time de basquete, quando Chase chegou chamando atenção de
todos como sempre e olhando diretamente para mim.
​Eu quase sorri achando que ele viria falar comigo por causa da mensagem
que eu enviei para ele tomar cuidado na corrida, mas ele simplesmente me
ignorou e foi se sentar com os seus amigos.
​ u tomei um gole do meu suco de laranja enquanto tentava disfarçar a
E
decepção por ele ter passado direto por mim e Miah sussurrou no meu
ouvido que só quem estava perdendo era ele.
​Depois do almoço fomos para o campo treinar a nova coreografia do time de
dança, para a abertura da temporada de basquete, e quando terminamos, e
todos foram embora, fui para o estúdio de dança e dancei até descarregar
todas as emoções reprimidas do meu dia.
​No dia seguinte, eu estava na biblioteca com o meu grupo de literatura
quando meu celular vibrou com uma mensagem de Miah avisando que
dormiria na fraternidade de Cath.
​Fiquei triste porque era com ela que sempre conversava sobre o meu dia,
mas ela estava certa em aproveitar todo o tempo livre que tinha com Cath.
​À noite eu não quis ir à festa alguma, e resolvi pedir uma pizza e me deitar
para assistir os filmes da minha playlist, começando por “10 coisas que eu
odeio em você.”
​A semana se arrastou entre aulas de dança, treinos e as pizzas que eu pedia
todas as noites para comer sozinha no meu quarto.
​Miah estava dormindo com Cath, e eu acabei ficando com o quarto só para
mim, e como não tinha o que fazer, ou com quem falar, eu comecei a
arrumar as minhas coisas que estavam uma bagunça, fiz faxina no banheiro,
assisti filmes, comprei uma luminária online, depois travesseiros novos, e
quando me dava conta que não precisava de nada, e que só estava entediada,
pedia mais pizza e sorvete e ia assistir algum filme novamente.
​Na hora do almoço notei que Miah e Cath não apareciam mais no refeitório,
e nos treinos de dança pareciam exaustas, custando a acertar passos básicos.
​— As noites de vocês têm sido boa hein — Eu falei rindo depois de Cath
atrasar um passo e perder o tempo da coreografia porque não parava de
bocejar.
​— Você nem imagina como tem sido as nossas madrugadas — Ela falou
entre um bocejo e outro.
​— E não têm como no meio dessa paixão toda entre vocês, arrumar um
tempinho para almoçar com essa amiga aqui — Eu falei apontando para
mim.
​— Amiga, estamos muito ocupadas, acho que só semana que vem mesmo.
​Cath falou e eu concordei com a cabeça e sorri, para não parecer a chata
empata foda que queria ficar entre as duas.
​ las estavam fazendo as coisas delas, almoçando juntas em algum lugar, e
E
não estavam na vibe de ficar de papo furado comigo.
​Eu estava me sentindo sozinha e comecei a me questionar se não tinha feito
algo para que Miah se afastasse de mim, a ponto de não querer mais dormir
na própria fraternidade.
​Podia realmente ser por causa de Cath, mas e se fosse culpa minha?
​Eu olhei para os meus braços e fiquei observando as minhas borboletas
voando. Uma coisa que eu aprendi é que a vida deve ser vivida a cada
minuto, e não planejada, e agradeci por ter me jogado de cabeça no primeiro
semestre e feito tudo intensamente porque agora tudo estava diferente.
​Fui dormir tarde vendo vários filmes e quase não consegui acordar para ir
para o estúdio de madrugada. Eu estava preparando a coreografia para a
minha prova final, e esse era o melhor horário, quando estava tudo vazio e
silencioso. Eu tinha mudado o meu caminho, e não estava mais passando
pelo estádio para evitar de encontrar com Chase durante suas corridas, e ver
se assim iria me desligando dele que tinha sumido e nunca mais apareceu no
refeitório na hora do almoço.
​As aulas da manhã foram agitadas, porque quanto mais se aproximava da
graduação, mais ansiosos ficávamos com o prazo para entregar todos os
trabalhos finais.
​Cheguei no centro de treinamento dos atletas atrasada, vesti meu uniforme
de cheerleader e corri para o campo onde iríamos treinar os últimos passos
para uma competição de dança entre as cheerleaders da liga universitária.
​— Pensei que você não viesse no treino. — Miah falou assim que me viu —
Já estava pensando em ir te procurar para te trazer para cá.
​— Eu estava terminando um projeto final e nem tive tempo para almoçar,
mas pode ficar tranquila que vai dar tempo de treinarmos.
​— Agora que nossa capitã chegou — O nosso técnico falou — Podemos
começar o ensaio, ele falou colocando a música.
​Estávamos ensaiando havia uns trinta minutos, quando a música parou do
nada e meu técnico foi ver se alguma caixa de som tinha queimado.
​Foi então que a banda da UCLA que ensaiava no outro campo entrou no
meio do nosso ensaio como se fosse um dia de jogo. Mas eles não estavam
tocando o hino da UCLA, e sim uma outra música.
​E uma voz surgiu cantando na arquibancada.
Meu Deus.
​ You're just too good to be true, Can't take my eyes off of you. You'd be like

heaven to touch I wanna hold you so much, At long last love has arrived,
And I thank God I'm alive. You're just too good to be true,Can't take my eyes
off of you. (Você é simplesmente boa demais para ser verdade. Não consigo
tirar meus olhos de você. Tocar você seria como tocar o paraíso. Eu quero te
abraçar tanto. Finalmente o amor chegou. E agradeço a Deus por estar vivo.
Você é simplesmente boa demais para ser verdade. Não consigo tirar meus
olhos de você.)

Meu coração parou por alguns milésimos de segundos até que eu


pudesse entender o que estava acontecendo.
​— I love you baby, and if it's quite all right, I need you, baby, to warm the
lonely night. I love you, baby, trust in me when I say: Oh pretty, baby don't
bring me down I pray, Oh pretty baby, now that I've found you, Stay and let
me love you, baby, let me love you. (Eu te amo, amor, e se estiver tudo bem
por você. Preciso de você, amor, para aquecer as noites. Eu amo você, amor,
acredite em mim quando eu digo. Oh, linda, não me decepcione, rezo por
isso. Oh, linda, agora que encontrei você. Fique e deixe eu te amar, deixe eu
te amar.)
​Chase.
​Chase Montana estava na arquibancada da UCLA, com um microfone, com
sua voz ecoando por todo o estádio, com a banda o acompanhando,
reproduzindo a cena que eu mais amava do filme “10 Coisas Que Eu Odeio
Em Você”
Ele estava declarando publicamente o seu amor por mim.
Ele estava me pedindo que confiasse nele.
Tudo estava igual no filme. Eu estava no meio do gramado. Ele
estava na arquibancada cantando.
Lágrimas rolaram pelo meu rosto. Eu queria muito correr até ele, mas
assim que a música acabou ele se foi.
Eu fiquei sem saber o que falar, ou fazer, e o técnico disse ainda meio
perdido no meio de tudo que precisávamos continuar o ensaio.
​Foi difícil me concentrar depois de tudo, e quando acabou o ensaio procurei
por Miah e Cath, mas elas não me esperaram para falarmos sobre o que
aconteceu.
​Eu estava explodindo de felicidade e sem ter com quem falar, gritar, surtar.
​Peguei o meu carro e fui até a fraternidade de Chase, mas ele não estava lá.
​Fui para o meu quarto e fiquei esperando para ver se ele aparecia.
​ iguei para Miah…caixa postal.
L
​Liguei para Cath… caixa postal.
​Olhei as mensagens…zero mensagens novas.
​Eu estava ansiosa demais para dormir. Liguei o computador e fui assistir a
cena do filme que Chase reproduziu no estádio e comecei a rir sozinha.
​— Por favor, Deus, se eu estiver sonhando, não quero acordar.
​Continuei esperando, mas Chase não apareceu, ligou ou enviou mensagem.
​Eu não sei em que momento eu dormi, só sei que acordei com o meu
despertador às 4:30h da manhã como sempre, e me levantei, lavei o rosto,
escovei os dentes, prendi o cabelo, peguei minha mochila, minha garrafa de
água, a chave do carro, e ainda no modo automático desci as escadas da
fraternidade.
​Conferi mais uma vez o celular e não tinha nenhuma ligação ou mensagem.
​Abri a porta para sair apressada como sempre, quando vi um balão em
formato de coração com um envelope amarrado nele.
​Olhei para os lados e não vi ninguém e quando peguei o envelope eu
comecei a chorar.
​Eu sabia que era para mim.
​Meu Deus.
​“Para a única garota que eu amei”
Para a única garota que eu amei

Ava, eu não sei falar bonito e escrever menos ainda. Só sei que meu
chão tem tanto papel amassado, que joguei fora, por isso vou escrever do
jeito que consigo porque tudo que eu sei é que quero minha garota de volta,
E não sei como fazer você acreditar que eu te amo.
​Porque eu te amo.
Amo muito.
​Eu só faço merda mesmo e sempre fui babaca, arrogante, pegador, e me
achava mesmo, até que uma nerd me desprezou na cafeteria e uma
Arlequina me deixou de pau duro me olhando como se eu fosse um babaca
que não tinha uma camisinha no bolso para transar com ela.
​Não faça isso com a gente. Por favor, eu te imploro que não acabe com o
que estávamos construindo.
​Eu não sabia quem era você. Juro que eu não sabia.
​Por favor, não destrua nossa história.
Por favor. Eu te imploro.
Te peço de joelhos se você quiser, só me diz que vai ficar tudo bem e
que não acabou.
Diz que vai ficar tudo bem, que nossos fantasmas não vão nos
separar.
Não acabe com a gente. Eu não sou capaz de te deixar. Eu não quero
que você me deixe.
Volta para mim, por favor.
Eu não abri o e-mail achando que não tinha que fazer nada porque
meu pai pediu favor por mim, se comprometeu por mim, e eu não queria
seguir nerd nenhum.
​O burro aqui acho que era um garoto nerd que o pai tinha medo de que
jogassem na lixeira.
​Eu não sabia que era uma garota. Muito menos a minha garota.
​Não me diz que esse é o nosso fim, porque a gente só está começando.
​Por favor, Ava.
​Por favor, meu amor.
​Por favor, borboletinha, voa de volta para mim.
​A gente tinha combinado que nada podia nos separar.
​Eu te amo tanto.
​Você e eu juntos somos os melhores caçadores de fantasmas, e quando
estamos juntos somos mais fortes, porque nos protegemos.
​Você me fez não querer mais pular do penhasco onde meu irmão morreu.
Você me fez querer viver.
Você me fez querer acordar.
Você me fez querer respirar.
​Me perdoa por não ter lido a porra do e-mail antes e te machucar.
​Eu te mandei tantas mensagens e você nunca me respondeu.
​Eu te amo.
​Não quero pensar que nossa história que tem tudo para ser linda acabou.
​Volta para mim, borboletinha.
​Seu, Chase Pudinzinho Montana
Este amor é bom, este amor é mau
Este amor está vivo de volta dos mortos, oh
Estas mãos tiveram que soltá-lo
E este amor voltou para mim, oh

(This Love - Taylor Swift)


Capítulo 42
Ava Miller

Minhas mãos estavam trêmulas segurando a carta.


​Meu rosto molhado por tantas lágrimas que derramei.
​Ele escreveu uma carta para mim.
​Uma carta.
​As mensagens de texto. Eu tinha todas, mas nunca li nenhuma.
​Peguei o meu celular e abri no nome dele e tinham mais de 50 mensagens.
​Comecei a ler algumas e meu coração antes quebrado agora batia acelerado.

​ hase: Por favor. Te imploro. Me escuta.


C
​Chase: Eu não sabia de nada. Eu juro.
​Chase: Tem uma semana que você foi embora. Os dias estão só passando.
Ainda não acredito que você me deixou.
​Chase: Tem duas semanas que você não chega aqui na minha porta com seu
sorriso lindo.
​Chase: Você está bem? E as borboletas? Me preocupo de você querer cortar
as asas dela e eu não estar perto para te impedir segurando as suas mãos.
​Chase: Agora eu sou um dos seus fantasmas? Eu sei que te trouxe dor.

​ u quero acreditar que ele não sabia.


E
​Ele me ama. Ele cantou para mim no estádio. Ele me escreveu uma carta.
​Eu precisava conversar com ele. Deixei o balão de coração amarrado na
minha cama, e a carta eu guardei dentro da minha mochila.
​Saí correndo da fraternidade, peguei o meu carro e fui voando para o estádio
onde Chase sempre corre essa hora da manhã, mas desta vez a pista estava
vazia.
​Chase não estava lá. Peguei o carro e corri até a fraternidade, digitei o
código da garagem e vi que estava vazia. Ele não estava em casa e nem
correndo.
​Eu precisava dele, mas não tinha ideia de onde ele estava.
​Olhei para o relógio e vi que ainda dava tempo de ir para o estúdio e corri
para lá. Foram tantas coisas que aconteceram e eu precisava dançar.
​ u precisava ter calma e esperar Chase aparecer.
E
​Entrei no estúdio, joguei minha mochila no canto, tomei um gole de água e
fui até a caixa de som, mas antes de chegar até ela uma música começou a
tocar.
​Respirei fundo. Eu conhecia aquela música.

​ ow, I've had the time of my life


N
No, I've never felt like this before
Yes, I swear, it's the truth
And I owe it all to you
'Cause I've had the time of my life
And I owe it all to you
Agora, eu tive os melhores momentos da minha vida
Não, eu nunca me senti assim
Sim, eu juro, é verdade
E devo tudo a você
Pois eu tive os melhores momentos da minha vida
E eu devo tudo a você

​ u não conseguia acreditar no que estava acontecendo.


E
​Chase, todo de preto, vindo na minha direção com o braço esticado para que
eu lhe desse a minha mão e… meu Deus… ele estava fazendo os passos do
Patrick Swayze no filme?
​Eu não consegui segurar um sorriso bobo que surgiu no meu rosto quando
ele simplesmente me segurou pela cintura e começou a dançar.
​Ele estava dançando.
​Como? Desde quando ele dança?

I​ 've been waiting for so long


Now, I've finally found someone to stand by me
We saw the writing on the wall
As we felt this magical fantasy
Tenho esperado por muito tempo
Agora, finalmente encontrei alguém que fique ao meu lado
Vimos os sinais
Ao sentir esta fantasia mágica

​ música continuou e eu me permiti dançar com o meu… AMOR.


A
​Deixei que as notas musicais me fizessem flutuar e fechei os meus olhos
para viver esse momento único, que reproduzia uma cena de Dirty Dancing
que sempre sonhei viver.Chase então se afastou.
​Ele olhou nos meus olhos.
​Focado na dança.
​Eu olhei sem ter certeza de que podia confiar nele num passo tão difícil da
coreografia.
​Confiança.
​Ele se preparou para esse momento.
​Ele pensou em cada detalhe da reprodução dessas três cenas dos meus
filmes.
​Eu disse para ele no cinema que essa parte da coreografia não era força para
erguer a outra pessoa no ar. Que não era preciso saber dançar para ser
erguida.
Era confiança. Confiança no seu companheiro.
Ele aprendeu a dança e estava me esperando para o momento mais
lindo do filme.

With my body and soul


I want you more than you'll ever know
So, we'll just let it go
Don't be afraid to lose control, no
Yes, I know it's on your mind
When you say: Stay with me tonight
(Stay with me)
Com meu corpo e alma
Eu te quero mais do que você jamais saberá
Por isso vamos nos soltar
Não tenha medo de perder o controle, não
Sim, eu sei que está na sua mente
Quando você diz: Fique comigo esta noite
(Fique comigo)

E eu corri na sua direção e me joguei em seus braços.


E ele me ergueu. E eu me equilibrei no alto sendo sustentada por ele.
Eu corri em direção a nossa vida.
Ao nosso amor.
Eu confiei nele.
Eu sei que posso confiar nele.
Ele me colocou no chão e me abraçou.
​— Eu te amo, Chase.
​— Eu te amo mais, Ava.
​— Juntos de novo?
​— Para sempre.
Você sabe que eu serei
Sua vida, sua voz
Sua razão de ser meu amor
Meu coração está respirando por isso
Momentos no tempo

(Moments - One Direction)


É o jeito que você anda
O jeito que você fala
O jeito que você me faz sentir por dentro
Está no seu sorriso
Está no seus olhos

(Daydreamin’ - Ariana Grande)


Capítulo 43
Chase Montana

Saímos do estúdio de dança de mãos dadas e felizes, e encontramos


nossos amigos do lado de fora.
— Ava está bem? Não vai ser preciso chamar o bombeiro? — Kalleb
perguntou arrancando gargalhadas de Erich, Cath e Miah.
— O que vocês estão fazendo aqui? — Ava perguntou sem entender
aquele movimento todo na porta do estúdio.
— Quem você acha que ensinou o poste a dançar? — Cath perguntou
— Ou você acha que ele nasceu com esse dom?
— Meu Deus, por isso vocês duas sumiram. Eu achando que tinha
feito algo errado, que Miah estava magoada, que não queria mais dormir no
mesmo quarto que eu. Nossa, Cath, eu te chamei para almoçar…
— E eu não fui porque esse seu namorado é uma negação para dança,
e transformar o cara no Patrick Swayze em uma semana não foi fácil.
— Mas fizemos por você — Miah falou abraçando Ava — ou
melhor, fizemos por vocês, porque Chase nos convenceu que te amava de
verdade.
— E eu e Erich — Kalleb falou — Viemos porque ficamos com
medo dele te derrubar e você precisar ir para o hospital.
— Vocês são lindos. Os quatro.
— Sério? — Eu perguntei com cara de ofendido — Eles chamam o
seu namorado de poste, me zoam, e você diz que eles são lindos? — Eu
perguntei e Ava me deu um beijo. Um selinho, mas o primeiro depois dos
meses que ficamos separados.
— Agora que está tudo certo, e vocês estão bem, com certeza vão
querer conversar e matar as saudades — Miah falou — Nos vemos no treino
mais tarde.
— Obrigada por tudo, e depois eu vou querer saber com detalhes
sobre as aulas de dança.
​Os quatro foram embora, e Kalleb levou o carro de Ava, já que ela veio
dirigindo e iria voltar comigo.
​ Nós precisamos conversar — Ava falou assim que entrou no carro.

​— Eu não sabia… — Eu falei, mas ela me interrompeu com um beijo.
​— Eu sei. Agora eu sei. Eu li a carta, e depois li as mensagens. Eu não
consegui te escutar. Foi mágoa. Foi decepção.
​— Eu sei e te peço perdão por ter feito você passar por isso tudo.
​— Você não tem culpa. Não fez nada. Nem leu o email. Só que seu pai falou
como se você soubesse. Eu tenho tantos fantasmas na minha mente. Eles
venceram.
​Eu peguei o seu braço e vi que as borboletas estavam intactas.
​— Eles venceram, mas só parcialmente — Ela falou e eu beijei as três
borboletas tatuadas no seu pulso, uma de cada vez.
​— Eu tive tanto medo de que você fizesse alguma besteira.
​— Eu enfrentei o senador e minha mãe. Neste dia tive medo de fraquejar.
Mas venci. Eu venci. Depois eu te conto tudo, mas agora eu quero te dizer
que você foi mais lindo que todos os mocinhos dos meus filmes. As cenas
ficam mais bonitas com você como protagonista.
Eu me senti importante com Ava falando isso, porque realmente eu
me desdobrei para trazer ela de volta para mim, e entendi que ela mudou de
assunto porque não queria conversar sobre o que passou.
Eu respeitei o seu silêncio sobre o dia que enfrentou o seu pai e
continuei falando sobre como foi fazer cada cena dos filmes que ela tanto
ama.
Se um dia ela quiser me contar, eu vou estar pronto para escutar. E se
ela nunca quiser falar sobre isso, eu estou pronto para respeitar a sua
vontade.
​O que importa é que estamos juntos e agora para sempre.
​— O que vamos fazer agora? Acho que a primeira aula já perdemos.
​— Tudo bem, eu não estava pensando em ir para a aula — Ava falou
mordendo os lábios — Podemos ir para a sua fraternidade, pedir um café da
manhã e ficar por lá até a hora do treino.
​— Fazendo o que?
​— O que você acha, Pudinzinho?
​Eu parei o carro no acostamento, agarrei Ava e dei um beijo que mais
parecia que minha língua estava fodendo a sua boca.
​— Eu senti muito a sua falta — Eu falei segurando o seu rosto próximo ao
meu e olhando dentro dos seus olhos.
​ iguei o carro e fomos direto para a fraternidade, porque tudo que a gente
L
não queria era ser preso por atentado ao pudor transando na rua e ficar mais
um dia separados até pagarem nossa fiança.

◆◆◆

Eu acabei de correr como em todas as manhã e sorri ao ver minha


garota sentada no capô do meu carro me esperando. Mesmo uma semana
depois que voltamos, eu ainda sorria feito bobo lembrando que estávamos
juntos de novo.
Decidimos seguir em frente, mas sem apagar o tempo que passamos
separados, porque ele servia para nos lembrar sempre como era ruim ficar
longe um do outro.
Eu precisava amadurecer. Fui infantil quando deixei de abrir o email,
e em todas as vezes que quis chamar a atenção do meu pai, ou que fiz coisas
que poderiam prejudicar o meu futuro, porque no final de tudo, as minhas
escolhas teriam consequências, e só eu pagaria o preço delas.
Eu e Ava somos maiores do que tudo que aconteceu, mas a dor da
distância que eu senti quando a perdi serviu de aprendizado.
— Se for um sonho que você voltou para mim não quero acordar —
Eu falei, a abraçando e me sentando ao seu lado no capô do meu carro.
Era impossível eu me conter de tão feliz, porque ter Ava de volta me
parecia bom demais para ser verdade.
— Não é um sonho, e nós dois juntos sempre vai ser realidade.
— Eu quero que você fique comigo para sempre, e eu prometo que
sempre farei tudo por você.
— Eu quero que a gente faça tudo por nós dois. Somos um casal e
não duas pessoas distintas dividindo a vida e se encontrando de vez em
quando.
— Como nossos pais?
— Sim. Quero que sejamos cúmplices. Você acha que conseguimos?
— Tenho certeza que sim, borboletinha.
— Lembra do que você me disse uma vez? Que seríamos nós dois
contra o mundo. Então, sempre que estiverem contra nós, estaremos um ao
lado do outro.
— Quando você estiver ansiosa, eu estarei presente para segurar as
suas mãos.
— E quando você estiver com saudades de Axel, eu estarei do seu
lado para escutar suas histórias e conhecer um pouco mais do seu irmão.
Ficamos mais um tempo sentados, acendemos um beck para não
perder o costume e ficamos olhando para a UCLA que em poucos meses
deixaria de ser o nosso lar.
— Nos vemos na hora do almoço? — Ela falou olhando para o
celular quando se deu conta que o dia estava clareando.
— Te encontro no refeitório.
​Ava saiu apressada com o seu jipe cantando pneu e eu fiquei mais um tempo
fazendo planos para o nosso futuro.
​Eu teria a primeira reunião com o Buffalo Bills em uma semana, e esse seria
o primeiro passo para uma possível contratação. Ava tinha uma audição
marcada no final de abril, duas semanas antes da nossa graduação, e os meus
planos de morarmos juntos só se consolidavam na minha mente.
​Mas eu queria que fosse uma surpresa, e só queria contar quando os dois
tivessem assinado os contratos e com residência obrigatória em Nova York.
Ava quer muito ser independente, e eu a entendo, porque também quero
isso.
​A partir de maio, quando eu me formar, serei eu bancando os meus gastos,
com o meu trabalho e não mais com o dinheiro da minha família. Ava
também queria isso, e eu não me sentia no direito de pedir para ela não tentar
em outro lugar caso não fosse aprovada para morar comigo.
​Eu sei que se isso acontecer, vai ficar muito mais difícil, mas ainda assim
não vamos nos separar.
​Eu cheguei na fraternidade e fui direto para o meu quarto tomar um banho e
quando desci encontrei Kalleb e Erich na sala.
​— Reunião?
​— Bateu uma bad — Kalleb falou — Tá acabando, irmão.
​— Eu sei. Hoje fiquei olhando a vista do campus e pensando nisso.
​— Sei que ainda temos alguns poucos meses de festa — Erich falou — no
caso você não porque tá casado — Ele disse apontando para mim — mas sei
lá, parece que estou no final da temporada de uma série da televisão.
​A vida fora do campus estava batendo na nossa porta e era impossível não
sentir uma certa nostalgia. Vivemos muitas coisas desde que chegamos e nos
tornamos Bruins, e nos despedir não seria algo fácil, afinal um ciclo vai estar
se fechando e outro novo vai começar em um lugar diferente, com pessoas
novas, e tudo isso que vivemos aqui será uma grande lembrança.
​ ecidimos matar aula e fomos para trás do campo de futebol jogar conversa
D
fora como não fazíamos há muito tempo. Eu com certeza vou sentir muita
falta desses meus dois amigos, que foram como irmãos todos esses anos.
​— Essa semana eu começo o estágio num escritório de advocacia novo —
Erich falou — Eu já vou ser contratado como assistente e promovido depois
da graduação.
​— Eu vou para Nova York ter a minha primeira reunião com o Buffalo Bills
— Eu falei — E depois é torcer para me contratarem.
​— Eu vou ter uma reunião em Nova York no mês que vem, e acho que
vamos mesmo para o mesmo time como sempre combinamos — Kalleb
falou me abraçando — Eu estou muito feliz irmão, mas também estou triste
porque esse traidor roeu a corda e não vai com a gente.
​— Eu vou ser o advogado de vocês e analisar os contratos. — Erich falou
nos abraçando — Vocês não vão se livrar de mim.
​— É isso, uma vez Bruins, sempre Bruins — Eu falei — U.C.L.A.
​— FIGHT. FIGHT.FIGHT.
​Ficamos conversando, rindo e relembrando momentos memoráveis dos
nossos jogos e na hora do almoço fui encontrar com Ava no refeitório, e
nosso assunto foi sobre Nova York, provas finais.
​— Tem certeza de que não vai poder ir comigo para Nova York?
​— Não têm como, muito trabalho para entregar e neste dia específico, tenho
análise da minha tese.
​— Vou sentir sua falta.
​— Eu também. Você vai ficar quantos dias lá?
​— Acho que dois.
​Eu queria que Ava fosse comigo, mas eu sei que até a formatura vai ser
difícil conciliarmos todos os horários, mas vamos nos adaptando.

◆◆◆

Pai: Você está indo que horas para Nova York?


Chase: Já estou quase de saída.
Pai: Vai precisar de alguma coisa?
Chase: Só de uma caneta para assinar esse contrato.
Pai: Seu agente falou que essa reunião vai ser para discutir salário e
o que você quer para jogar no time deles.
Chase: Eu sei. O contrato oficial só vou assinar no final de abril.
Pai: Deixe que seu agente negocie as suas exigências. Não faça
muitas porque você está começando, mas faça alguma para não acharem que
você está desesperado.
Chase: Sim, senhor. Mais alguma coisa?​
Pai: Como ficou a sua história com a filha do senador? O seu agente
me disse que você tinha pedido duas passagens, uma para você, e outra para
sua namorada.
Chase: Você não quer saber do meu contrato. Essas mensagens são
para saber se eu estou com Ava e se isso pode lhe gerar algum lucro com a
imagem do senador que tudo indica será presidente.
Pai: Eu só perguntei por que depois de toda aquela confusão, o
senador pensou em manter as aparências, a filha dele não quis, você também
não, e agora você pede uma passagem para ela.
Chase: Não somos vocês. Não representamos. E sim, estamos juntos.
Era só isso? Preciso fechar a minha mala.

Meu pai nem disfarçou o seu principal interesse na troca de


mensagens comigo. Depois que soube o que queria nem lembrou de
representar me desejando boa viagem.

Agente: Estou passando aí dentro de dez minutos.


Chase: Eu vou assinar o contrato, pode ter certeza disso, e se quiser
continuar trabalhando comigo, não fale mais uma palavra sobre nada para o
meu pai, porque senão você não será o meu agente no Buffalo Bills.
Agente: Eu só falo porque ele me contratou, mas quando você
assinar, estarei trabalhando para você e não direi nenhuma palavra.
Chase: Tudo bem, mas não quero que as minhas exigências cheguem
até o meu pai. Invente alguma, mas não quero que ele saiba o que vou pedir.
Agente: Feito.

​ salário ele iria negociar alto que eu sei, mas o apartamento eu fazia
O
questão de resolver sozinho porque tenho planos de fazer uma surpresa para
Ava como presente de formatura.
​Eu sempre guardei muito do dinheiro que o meu pai me dava, e usaria para
dar entrada num apartamento e pagar o restante com o meu salário.
​Eu sugeri que ficássemos a princípio num hotel, para conhecer a cidade
enquanto escolhemos nossos apartamentos, porque não quero que ela saiba
de nada antes da graduação, que se tudo der certo vai ser o dia que vamos
deixar a UCLA rumo a nossa nova vida.
​Olhei para o meu quarto enquanto fechava a mala pensando em quantas
vezes pensei neste dia de jogar pela NFL.
​Sei que arrisquei muito com o meu jeito de não seguir nenhuma regra, mas o
que posso dizer é que não me arrependo de nada, porque eu vivi
intensamente minha vida de universitário.

​ va: Já está indo?


A
​Chase: Estou saindo.
​Ava: Eu sei que já falei isso quando acordamos, mas, boa viagem, e volta
logo meu astro da NFL.
​Chase: Não vou demorar, minha borboletinha, eu prometo.

​ eguei minha mala, o boné dos Bruins, e antes de sair joguei no lixo a minha
P
bandana preta e o maço de cigarro.
Tudo que eu sei no fim do dia
É que você ama quem ama, não tem jeito
Se tem uma coisa que eu aprendi com um milhão de erros
É que é você que eu quero no fim do dia

(End Of the Day - One Direction)


Capítulo 44
Ava Miller
​ cordei cedo e como em todas as manhãs eu fui para o estúdio de dança.
A
​Nos últimos dias não estava dançando para espantar fantasmas, mas por
prazer, vontade de me jogar no que mais amo fazer… dançar.
​Hummm… segunda coisa que eu mais amo…porque a primeira é ficar com
Chase.
​Estávamos bem. Felizes. Vivendo o nosso amor de uma forma leve.
​Nós dois sabíamos que os fantasmas estavam lá escondidos, e que sempre
poderiam voltar, mas não queríamos pensar nisso e viver as nossas vidas.
​Por motivos óbvios de criação, nenhum dos dois acreditava na instituição
família, mas juntos já estávamos descobrindo que isso era um problema dos
nossos pais que não se amavam, porque nós dois com certeza seríamos
felizes juntos.
​Planos.
Eu nunca pensei que fosse fazer planos sorrindo para o futuro, mas
estava aqui, arrumando minhas coisas para ir até Nova York com Chase que
ia se reunir com os dirigentes do Buffalo Bills.
Como eu não me preocupava mais com os meus pais, postei uma foto
minha e de Chase no meu Instagram que agora tinha as fotos do meu jeito, e
até o meu nome, Ava Miller, e a não ser que os eleitores do meu pai
odiassem ver pessoas felizes, eu não tinha nada para esconder deles.
​— Vocês já estão indo? — Miah perguntou me vendo arrumar a mala.
​— Sim, vamos ficar só três dias, mas como faz para não levar tanta roupa —
Eu falei rindo.
​— Amiga, você vai conhecer a companhia que talvez você faça parte.
— Eu vou fazer um teste de dança lá com eles e vamos ver.
​— Vai dar certo — Miah falou me abraçando — A gente achava que ia se
separar depois da formatura e vamos todas para Nova York. Eu, você, Cath e
Chase. Os quatro Bruins em Nova York.
​— Eu andei vendo alguns apartamentos, e depois vou te mostrar. Mas agora
nesse início Chase sugeriu que a gente fique num hotel para escolher com
calma nossos apartamentos. Vamos ver se alugamos algo perto para mesmo
com os horários diferentes nos encontrarmos para o happy hour.
​ Que glamour isso, heim! Happy Hour na Times Square depois de um dia

de trabalho.
​— Muito adultas — Eu falei batendo palmas.
​— Eu pensei que... Você e Chase não vão morar juntos?
​— Nunca falamos sobre isso, e acho que ele vai dividir o apartamento com
Kalleb.
​— Então vamos ficar todas juntas. Podemos ver um apartamento com dois
quartos e dividimos.
​— Eu não vou querer atrapalhar vocês.
​— Ah para que aqui todo mundo tem roomate e divide as casas. Muito caro
o aluguel em Nova York. Se você quiser, pegamos um dois quartos e partiu
Nova York.
​— Você é a irmã que eu nunca tive — Eu falei com os olhos cheios de água
— Deixa eu passar primeiro na audição e depois fazemos planos.
​— Você já passou, Ava.
​Eu tomei um banho demorado, vesti meu jeans, uma bota preta, uma camisa
de gola rolê branca e fiquei me olhando no espelho enquanto arrumava o
meu cabelo.
​Quanta coisa mudou desde o dia que vim para a UCLA.
​Eu me lembro quando me arrumei neste mesmo banheiro, coloquei um
moletom largo e um boné me escondendo do mundo e fui até a cafeteria
tomar meu café da manhã.
​Foi o dia que conheci Chase e jurei que nunca ia querer nada com o
quarterback que se achava o rei do mundo.
​Meu celular vibrou e ri lendo a mensagem dele justo quando lembrava do
nosso primeiro encontro.

​Chase: Chego em cinco minutos meu amor.

​ eu amor. Ele agora me chama de meu amor, e um sorriso bobo surge no


M
meu rosto.
​Eu acabei de me arrumar, peguei minha mala e desci apressada e ansiosa as
escadas da fraternidade.
​Só faltavam duas semanas de aula. Duas semanas e eu deixaria a UCLA.
Esse lugar definitivamente mudou a minha vida e vou sentir saudades de
todo esse agito, de caminhar pelo campus, de acordar cedo para dançar.
​— Pronta? — Chase perguntou quando eu entrei no carro.
​— Ansiosa.
​ Vai dar tudo certo e voltaremos contratados.

​— Então vamos logo que nossa vida nova nos espera em Nova York.
​— Assim que se fala, borboletinha. Vamos voar alto.
​A viagem foi tranquila, comigo e Chase cada um escutando suas músicas e
pensando no futuro.
Eu não sei como vai ser quando nos mudarmos, e não morarmos
mais tão perto um do outro, sem nos encontrarmos de madrugada quando
estamos caçando nossos fantasmas, mas eu sei que sempre vivi numa
completa solidão, e passei pelo inferno quando estive longe dele, e agora
tudo que eu quero é ser feliz.
Desembarcamos em Nova York e seguimos para o hotel onde
ficaríamos hospedados. No caminho foi impossível não ficar admirando essa
cidade que nunca para e parece girar no mesmo ritmo 24h por dia.
​— Que horas é a sua reunião, amanhã?
​— Às dez horas. Estou esperando meu agente confirmar porque às vezes
eles remarcam para mais tarde, não sei. E a sua audição?
​— Amanhã às oito horas.
​— Então eu te deixo lá às oito, espero você entrar e depois vou dar uma
volta pela cidade até a hora da minha reunião.
​— Eu posso ir de Uber e você dorme um pouco mais e vai direto…
​— De jeito nenhum — Ele falou segurando a minha cintura e me puxando
para junto dele — Eu vou levar você na audição, ficar segurando a sua mão
até você entrar te dar um beijo de boa sorte.
Chase sabia como fazer meu coração ficar derretido, cuidando de
mim com carinho, estando sempre presente e tentando não me deixar ficar
ansiosa.
— Como nossos compromissos são só amanhã, que tal se a gente
tirar toda essa roupa pesada — Ele falou tirando o meu casaco e a minha
blusa de gola rolê. Chase me pegou no colo e eu entrelacei as pernas
na sua cintura enquanto ele me levava até a janela, que na verdade era uma
parede de vidro que ia do chão até o teto e dava para ver toda a cidade.
​Ele me colocou no chão e me beijou. Depois com cuidado, tirou o meu sutiã
e deixando meus seios expostos como ele gostava e sugou cada um dos meus
mamilos fazendo minha boceta latejar.
​Em seguida, ele me virou de costas para ele, e colou meu corpo na parede de
frente para Nova York. Eu senti o meu corpo ficando todo arrepiado, não só
pelo contato com a superfície gelada, mas também pela adrenalina de me
sentir exposta, como se todos pudessem me ver do outro lado.
— Chase, esse vidro…
— É temperado e ninguém vai te ver do outro lado sendo muito bem
fodida enquanto todos passam apressados pelas ruas.
Eu respirei fundo e engoli seco quando olhei para baixo e vi a altura
que estávamos, enquanto ele fazia uma trilha de beijos pelas minhas costas.
Em seguida, ele me virou de costas para a rua e se ajoelhou,
segurando firme a minha panturrilha, colocando o meu pé apoiado na sua
coxa e tirando a minha bota. Ele fez a mesma coisa com o meu outro pé, e
depois desceu lentamente a minha calça lambendo cada parte da minha coxa
que ia ficando exposta.
Eu segurei o seu cabelo entre os meus dedos, quando ele começou a
tirar minha calcinha e parou para chupar o meu clitoris. Ele sabia que esse
era um dos meus pontos mais sensíveis e eu queria friccionar uma perna na
outra, só que quase não consegui porque ele foi mais rápido colocando uma
perna minha apoiada num lado do seu ombro e enterrando seu rosto na
minha boceta.
​— Chase, eu estou apoiada nessa parede de vidro. Minha bunda está virada
para a cidade — Eu falei sentindo um tesão gigantesco percorrendo todo o
meu corpo.
​Foi estranho olhar para baixo, ver os carros passando, as pessoas correndo
como se estivessem atrasadas, enquanto eu gozava forte na boca de Chase.
Chase se levantou e me colocou novamente de costas para ele, me
deixando sentir seu pau duro dentro da sua calça, roçando a minha bunda.
Meus mamilos que já estavam sensíveis depois que eu gozei, ficaram ainda
mais em atrito com o vidro da janela.
​— Eu amo essa sua bunda redonda e deliciosa, e toda empinada para
mim.
​— Ela está esperando o seu pau.
— Safada! — Ele falou, dando um tapa na minha bunda e fazendo
minha boceta bater forte no vidro.
Chase se afastou e voltou com a gravata que ele trouxe para a reunião
e amarrou os meus braços atrás do meu corpo, restringindo os meus
movimentos.
​— Tudo bem isso para você? Se quiser eu desamarro.
​— Eu confio em você.
Chase começou a estimular meus mamilos que já estavam durinhos e
eu joguei a cabeça para trás. Eu queria me tocar, mas não podia e comecei a
esfregar minha boceta no vidro em busca de alívio.
​— Quer gozar de novo?
​— Por favor!
​— Por favor, o que?
​— Por favor, me fode até eu gozar.
​— Safada. Eu vou te fazer gozar vendo as pessoas passando lá
embaixo.
Meus gemidos cada vez mais alto não deixavam dúvida sobre o que
eu queria, e Chase enfiou um dedo dentro de mim, depois dois e quando eu
senti meu corpo começando a convulsionar, ele retirou, me fazendo
choramingar implorando por mais.
Ele deu um tapa no meu clitóris, e outro forte na minha bunda, antes
de enfiar novamente o dedo na minha boceta e me foder bem devagar.
​— Chase… por favor… acelera isso…
​— Eu não corro mais, esqueceu?
​— Chase Pudinzinho Montana, você não corre mais nos rachas, mas
aqui trate de aumentar a velocidade que eu preciso gozar.
​— Humm… Você está tão doida assim para ser comida com força? ​
— Ele falou tirando a sua roupa e enfiando a ponta do seu pau na minha
entrada ​— A paciência é uma virtude, borboletinha.
​— Virou filósofo, agora?
​— Eu amo esse seu mau humor quando quer gozar e eu não deixo.
Chase me virou de frente para ele e começou a chupar os biquinhos
duros do meu seio, enquanto esfregava seu pau duro na minha boceta.
— Você quer me matar? ​
Chase se ajoelhou novamente e lambeu o meu clitóris inchado, e só
depois introduziu novamente os seus dedos e sua língua dentro da minha
boceta encharcada, me fazendo gozar forte com a minha bunda batendo
contra o vidro.
​— Agora eu vou te foder como você gosta. Bem forte! Socando meu
pau nessa sua boceta — Ele falou, desamarrando a gravata que prendiam os
meus braços e me colocando no seu colo com as pernas entrelaçadas na sua
cintura.
Chase me deitou na cama e enterrou seu pau bem fundo dentro de
mim, estocando com força, e só depois que eu gozei mais uma vez, que ele
disparou sua porra quente dentro de mim.
Depois de um sexo forte, ficamos deitados e agarradinhos um no
outro, admirando a vista da cidade, e fazendo planos para o futuro.

◆◆◆

Acordei cedo, tomei um banho, prendi os meus cabelos com gel sem
deixar um único fio solto, e coloquei algumas presilhas coloridas enfeitando.
Respirei fundo e vesti meu top, minha legging, conferi minha make super
básica, coloquei um gloss e toquei nas borboletas tatuadas no meu braço.
Era hora de voar.
— Você está linda!
— Obrigada. Estou nervosa.
— Vai dar tudo certo.
Eu fiz que sim com a cabeça concordando com ele e segurei sua
mão.
— Vai dar certo. Vamos que eu preciso conquistar minha vaga nessa
companhia de dança.
Assim que chegamos no local, meu coração disparou e um certo
pânico tomou conta de mim.
Eu estava a um passo de começar a conquistar o meu lugar no
mundo.
— Você só precisa entrar e fazer aquilo que ninguém faz melhor do
que você, ou seja, dançar. Você é única, brilhante, talentosa e essa vaga já é
sua.
Chase segurou firme a minha mão e subimos a escada, e foi com um
frio grande na barriga que entrei no estúdio assim que chamaram o meu
nome.
​Agora o meu amor seguiria para o seu futuro, e eu precisava conquistar o
meu.
Olhei para a banca julgadora e respirei fundo.
Inspira.
Expira.
Inspira.
Expira.
A música que eu escolhi, The Art of Starting Over começou a tocar e
eu comecei a dançar flutuando como sempre em cada nota musical.
Cada pirueta, cada braço esticado, cada movimento que eu fazia, era
mais um passo em busca da minha independência.
O dinheiro dos meus pais me sustentou até aqui, mas agora eu
precisava pagar as minhas contas, comprar minha comida, pagar meu
aluguel e me virar sozinha, porque estou me formando e sou adulta.
Um sentimento de euforia com tudo de novo que vinha pela frente
tomou conta de mim, substituindo a ansiedade de sempre e eu dancei
sorrindo, feliz, sentindo o futuro me abraçando.
Eu rodopiei por toda a sala, deixando para trás tudo o que passou, e
recomeçando minha vida.
A música continuou, mas agora com Pretty Girls Walk, no mix que
eu fiz para que uma ficasse seguida da outra.
Agora meus passos eram firmes, numa pegada mais hip hop,
incluindo várias acrobacias, e comigo cantando o refrão da música.
Eu dancei.
Eu cantei.
Eu voei.
E quando a música parou, o suor escorria por todo o meu corpo, e os
jurados me aplaudiram de pé.
— Bem-vinda à Broadway!
Eu bati palmas e pulei como nunca fiz de tanta felicidade.
Eu estou na Broadway!
Eu deixei a sala feliz e agora era só esperar o email com o contrato
que eu teria que assinar, e depois da graduação preparar a minha mudança.

Ava: Eu consegui. Estou na Broadway.


Chase: Eu sabia que você conseguiria, borboletinha.
Ava: Você já está na sede do Buffalo?
Chase: Sim, e já vou entrar na reunião. Nos encontramos no hotel?
Ava: Sim.

Eu fui até o vestiário tomar um banho e conheci algumas bailarinas


da companhia que estavam se arrumando para um ensaio.
Desta vez eu deixei o meu cabelo solto depois do banho, coloquei um
vestido florido, calcei uma rasteirinha e chamei um aplicativo. No lugar do
hotel, eu pedi para ele me deixar na sede do Buffalo Bills e fiquei ansiosa no
saguão esperando por Chase.
Eu abri a internet para ver se já tinha alguma nota sobre a sua
contratação, e um site dizia que o novo quarterback do Buffalo Bills seria
apresentado à imprensa.
Fiquei muito orgulhosa porque o quarterback tão esperado era o meu
namorado.
Meu Chase.
​Fiquei atualizando o site até que escutei alguns gritos e quando olhei Chase
estava saindo do elevador com o seu agente, e alguns torcedores o
chamavam pelo nome.
​Ele parou e acenou para os torcedores, falou alguma coisa para o seu agente,
pegou uma caneta e foi até eles autografar suas camisas.
​Chase Montana agora era uma celebridade da NFL.
​Depois que ele fez algumas fotos com os torcedores, o seu agente o chamou
para seguir para a sala de imprensa e foi então que nossos olhos se
encontraram.
​— Eu estou muito orgulhosa de você! — Eu falei devagar para que ele
entendesse minha linguagem labial.
​Eu estava sentada assistindo a tudo feliz por ele, sem querer ser invadir o seu
momento, apenas testemunhando esse momento tão importante na vida dele.
​Chase fez sinal para que eu fosse até ele e eu me levantei envergonhada
porque todos ficaram me olhando.
​— Você veio, borboletinha.
​— Eu não podia perder esse momento. Vai lá e brilha. Vou te esperar.
​— Claro que não, você vem comigo — Ele falou me puxando para junto
dele.
​Ele pediu que o seu agente providenciasse um lugar para mim na sala de
imprensa, e foi então, quando entrei no salão repleto de fotógrafos que me
dei conta do que estava fazendo.
​Fotógrafos.
​Repórteres.
​Tudo que sempre me cercou.
​Tudo do que eu sempre fugi.
​Flashes foram disparados em direção a Chase enquanto eu queria afundar na
cadeira que o agente indicou para que eu me sentasse.
​Inspira.
​Expira.
​Inspira.
​ xpira.
E
​— Senhores, o Buffalo Bills tem a honra de apresentar o seu novo
quarterback, o fenômeno da Liga Universitária, agora na NFL, Chase
Montana.
​Meu Deus. Como faz para não chorar num momento como esse?
​Chase. Meu amor. A nova promessa da NFL.
​Me lembrei do dia que o conheci na cafeteria, dele fantasiado de Coringa, da
nossa primeira vez na areia da praia de Santa Mônica, dele cantando para
mim no estádio da UCLA, do Festival Rise em Vegas, e de Axel, que eu só
conhecia pelas histórias que Chase contava do irmão.
​Ele conseguiu. Eu sempre soube que ele conseguiria.
​— É uma honra vestir essa camisa — Chase falou tirando a que ele estava
vestindo a do Buffalo Bills. Podem ter certeza de que vou me dedicar cada
segundo para levar esse time até a vitória.
​A seguir ele começou a responder várias perguntas sobre o tempo nos
Bruins, e sobre quando começaria efetivamente no time. Eu percebi que ele
estava um pouco inquieto, e que procurava não olhar para as pessoas se
concentrando no repórter que fazia a pergunta da vez.
A sessão de apresentação durou em média uma hora, mais ou menos,
e quando encerrou ele saiu acompanhado dos dirigentes do clube e do seu
agente.
​Eu tentei sair sem chamar atenção da sala de imprensa quando escutei um
homem alto, de terno, me chamando.
​— Ava Miller? — Ele perguntou se aproximando de mim e foi impossível
não notar sua semelhança com Chase — Sou o pai de Chase.
​— Muito prazer. Eu não sabia que o senhor viria.
​— Chase não me convidou, mas eu não deixaria de estar presente.
​— Ele não o convidou porque imaginou que o senhor estaria ocupado.
​— Eu não sei o que Chase fala a meu respeito…
​— Ele não fala nada, e se o senhor me der licença…
​— O senhor é o pai do Chase Montana? — Um repórter perguntou se
aproximando e parando na minha frente, bloqueando o meu caminho.
​— Sim, e essa é a namorada do meu filho, Ava Miller, filha do senador
Miller do Michigan — Ele falou me puxando para um foto junto com ele.
​Os flashes me cegaram por um momento e o ar começou a me faltar.
​— Chase Montana namora a filha do candidato à presidência dos Estados
Unidos — Um repórter falou alto e disparam mais um monte de flashes em
cima de mim que pedi licença e sai apressada do salão largando o pai de
Chase sozinho.
​Eu já estava chegando no saguão quando senti Chase me puxando para junto
de si e me abraçando.
​— Me perdoa. Esse é o seu momento e não do meu pai. Mas eu sou filha do
candidato e onde eu pisar vai ser sobre mim, sobre a candidatura, e era tudo
que eu não queria que acontecesse.
​— Para começar tudo que for a seu respeito vai ser sobre mim também, por
isso se fomos um pouco ofuscados pela campanha presidencial, não faz a
menor diferença. Você acha que eu já não esperava por isso? Quando vi o
meu pai já imaginei que estaria aqui não por mim, mas porque agora tenho
valor como jogador, como namorado da filha do presidente, e para ele o que
importa é aparecer e fechar novos contratos.
​— Chase, meu filho, parabéns — O pai dele surgiu o abraçando — Estou
muito orgulhoso por você ter conseguido.
​O pai dele era igual ao senador, e a tantos outros figurões da sociedade. Ele
fez algumas fotos com Chase e depois saiu apressado para os seus
compromissos, e só parou para soltar sua última pérola do dia.
​— Nos vemos na graduação de vocês. Eu e o senador combinamos de
jantarmos todos juntos depois para comemorar.
​Chase me abraçou e deu um beijo no topo da minha cabeça.
​— Vamos que por hoje o circo da nossa família parece ter terminado e
voltaremos a ser só nos dois de novo.
​— Eles nem falam com a gente, e combinam um jantar de comemoração
juntos?
​— O meu pai é dono da segunda maior empresa do país, e um dos
financiadores da campanha do seu pai. Por outro lado, o meu pai ganha
prestígio sendo “quase da família” do futuro presidente.
​— Se o meu pai vencer.
​— Ele está bem na frente das pesquisas.
​— Se ele vencer…
​— Uma coisa de cada vez. Agora eu quero levar minha namorada para
almoçar, quero contar sobre o meu contrato e saber sobre a audição dela.
Nossos pais com todo o respeito eu quero mais é que se fodam.
​Chase segurou minha mão e seguimos juntos até o estacionamento, onde um
carro alugado pelo time aguardava por ele.
​— Já têm até carro a sua disposição?
​ Seu namorado agora é quarterback da NFL.

​Saímos do estádio do Buffalo e Chase só não acelerou porque o trânsito de
Nova York é tão caótico que não permite que você ande a mais de 5 kms por
hora.
E no final
O amor que você recebe
É igual
Ao amor que você dá

(The End - The Beatles)


Capítulo 45
Ava Miller

O tão aguardado dia da graduação chegou.


Era estranho olhar para o meu quarto e ver tudo vazio.
Eu e Miah empacotamos tudo durante a semana e como estamos indo
todos para a mesma cidade, contratamos um caminhão de mudança que
levou todas as nossas coisas, da Cath, Kalleb e Chase para um depósito em
Nova York.
Cath e Miah vão passar uma semana em Ibiza antes de se mudarem
para o apartamento que elas alugaram na Amsterdan Avenue, no mesmo
prédio que Kalleb.
Eu pensei em alugar um neste mesmo prédio, mas fica um pouco
longe da companhia de dança e Chase falou que eu dependeria de carro, e
como os meus ensaios são sempre cedo seria melhor eu escolher um com
calma e por isso vamos ficar num hotel até eu conseguir achar um que me
agrade, já que ele vai ficar morando num apartamento que o time alugou
para ele.
Miah disse que eu falei tanto pra Chase que queria ser independente,
pagar minhas contas, e tudo mais que ele nem teve coragem de me chamar
para morar com ele.
Mas tudo bem, quem sabe no futuro ele não se muda pro meu
apartamento.
Entrei no banheiro para fazer minha última make como Bruins.
Coloquei o meu vestido branco, minha sandália da mesma cor e optei
por deixar o cabelo solto.
Eu depositei todos os meus sonhos nessa transferência para a UCLA
e foi tudo muito melhor do que eu poderia imaginar.
— Está pronta? — Miah perguntou acabando de calçar sua sandália.
— Sim. Obrigada por cada momento que vivemos juntas neste
último ano.
— Amigas para sempre.
Descemos pela última vez a escada da fraternidade e encontramos
uma festa de despedida no salão principal. Éramos doze formandas da nossa
fraternidade Alpha Delta Phi.
Meu Deus. Como eu vou sentir saudades de tudo isso que eu vivi
aqui neste último ano.
Depois das despedidas seguimos apressadas para o ginásio onde
aconteceria a graduação e ficamos no nosso lugar na fila.
Olhei para Chase que estava no seu lugar da fila e sorri para ele.
Reitor da UCLA: Boa noite UCLA. É com muito orgulho que
recebemos nossos formandos do ano de 2023.
Todos entramos emocionados no ginásio todo decorado de azul e
amarelo, e a cada discurso ficava mais difícil conter as lágrimas.
O reitor foi chamando cada aluno e quando escutei o meu nome
comecei a chorar. Só eu sei tudo que passei para chegar neste dia em que
finalmente vou me formar naquilo que tanto sonhei.
Reitor: Ava Miller, nossa formanda que nos abrilhantou neste último
ano como capitã do time de dança dos Bruins.
Todos gritaram o meu nome e olhei rapidamente para os convidados
e vi os meus pais me aplaudindo de pé e um fotógrafo tirando fotos deles e
minha no palco.
Eu ergui o meu diploma para eles, cumprindo mais uma vez o meu
papel na minha família. Mas sorriso eu só dei para o meu amor, que quebrou
o protocolo e ficou de pé me aplaudindo.
Quando o reitor disse que iria chamar alguém que era orgulho para os
Bruins, todos já sabiam que se tratava de Chase.
Reitor: Senhores, UCLA nosso formando que deixa o time dos
Bruins direto para o Buffalo Bills. Nosso quarterback que agora vai jogar na
NFL, Chase Montana.
Todos ficaram de pé para aplaudir a grande estrela dos Bruins.
Ele pegou o diploma, e assim como eu ergueu para os seus pais e
depois para mim com o sorriso mais lindo do mundo.
Quando a cerimônia terminou, foi o momento de despedida dos
nossos amigos.
Chorei muito abraçada com as meninas do time de dança.
Chorei muito abraçada com Miah e Cath.
E quando consegui abraçar Chase, fomos cercados por nossos pais.
— Que menina linda, meu filho. Você escolheu muito, ela e uma
princesa — A mãe de Chase chegou falando e me abraçando.
Ele balançou a cabeça incrédulo. Ela não o via a tempos, sempre o
criticou, mas hoje estava elogiando sua namorada. Ou, a filha do Senador
Miller.
— Muito prazer — Meu pai falou apertando a mão de Chase —
Parabéns pela sua contratação para jogar no Buffalo Bills.
— Quem sabe em breve estaremos todos na final do Super Bowl —
minha mãe, aquela que falava mal de Chase falou como se o adorasse.
— Que tal uma foto da família? — O pai de Chase falou, como se
fosse amigo da mãe de Chase, com quem nunca mais falou depois do
divórcio.
Eu e Chase fomos arrastados para um foto que com certeza seria para
as redes sociais. Ter um genro jogador da NFL devia ser bom para a imagem
do senador, ou ele não estaria fazendo tanta questão de tirar fotos com
Chase.
— Vamos sair para celebrar.
— Não vamos poder, meu pai. Eu e Ava temos outro compromisso.
— Como assim não vão poder? — Meu pai falou — Reservamos
uma mesa no restaurante…
— Com todo o respeito, Senador, eu e Ava estamos indo ainda hoje
para Nova York. Celebrem vocês quatro, postem fotos com seus filhos e
mandem legendar que sentem muito orgulho, e não se preocupe, quando
começar oficialmente a campanha, eu e Ava estaremos lá, representando a
família feliz, mas isso têm um preço, nos deixem em paz. Vocês quatro. Eu e
Ava, somos reais, vivemos um amor de verdade e só queremos ser felizes.
Chase segurou minha mão e deixamos o ginásio sem olhar para trás e
seguimos para a fonte que tinha na universidade, tiramos nossos sapatos e
estouramos uma garrafa de champagne.
— Graduamos. Conseguimos. Vivemos nosso último ano
intensamente e agora vamos oficialmente para a vida adulta.
— E ser felizes do nosso jeito imperfeito — Chase falou me
abraçando.
— Você vai ser o melhor quarterback da NFL, já estou imaginando
as narrações dos jogos do Buffalo Bills.
— E você vai estar em todos os jogos junto comigo.
— Hummm… não conversamos sobre isso ainda.
— Eu tenho um presente para você — Chase falou tirando uma
chave do bolso.
— Uma chave?
— Eu comprei um apartamento para a gente morar em Nova York.
— O que?
— São dois quartos. Um deles será o nosso, e o outro mandei
reformar, colocar um assoalho e espelhos na parede. Eu posso sair para
correr às cinco da manhã em qualquer lugar para espantar os meus
fantasmas, mas você precisa de um estúdio de dança, e mandei fazer um só
para você.
— Chase? Eu não sei o que dizer. Eu não esperava.
— Você achou mesmo que eu iria deixar a mulher da minha vida
morando sozinha em Nova York?
— Você fez um estúdio de dança?
— Só para você.
— Assim fica impossível recusar o seu pedido para morarmos
juntos.
— Só por isso?
— Você sabe que não — Eu falei envolvendo seu pescoço em torno
dos meus braços e o beijando — Eu não saberia mais viver sem o meu
Pudinzinho. Eu estou muito feliz. Eu te amo.
— Eu te amo muito mais.
Chase me abraçou e me suspendeu tirando os meus pés do chão e me
levando com ele para dentro do chafariz. Batizamos naquelas águas o nosso
amor e a promessa de viver cada dia como se fosse único dali para frente.
Fomos andando até o estacionamento onde o carro dele estava
estacionado para seguirmos até o aeroporto. De lá o agente dele mandaria
levar a Mercedes dele para Nova York, junto com o meu jipe na mesma
carreta.
— Parabéns, Chase e Ava pela graduação — o agente dele falou
entregando as chaves da Mercedes para Chase — Cuidei de tudo e das
reservas para os três na primeira classe. Tenham uma boa viagem. Nos
vemos em Nova York.
— Três lugares?
— Nossa família aumentou.
— Como assim? — Eu perguntei entrando no carro e comecei a
chorar assim que eu vi o filhote de pitbull mais lindo do mundo no banco de
trás do carro — Chase…
— Gostou?
— Vem com a mamãe Cupcake — Eu falei pegando o filhote no colo
e recebendo mil lambeijos.
— Cupcake?
— Ele não tem cara de Cupcake?
— Eu vou ser o quarterback do Buffalo Bills, eu não posso ter um
pitbull chamado Cupcake.
— Por que não? Fala pro papai que você gostou do nome.
Cupcake começou a lamber Chase que ligou o carro e saiu
acelerando com um dos braços para o alto.
— Já vi que vocês dois vão ser sempre dois contra um.
Eu comecei a rir e pedi para Chase ir devagar porque queria me
despedir do campus da UCLA.
— Foi aqui Cupcake que o papai e a mamãe se conheceram.
— E agora nós três, vamos seguir juntos para uma nova vida em
Nova York.
— Eu te amo, Chase Pudinzinho Montana.
— Eu te amo, Ava Arlequina Borboletinha Miller.
FIM
Foi insano e intenso demais escrever esse livro.
Escrever sem roteiro já é uma loucura que faz parte da minha rotina
de escritora, mas com a carga emocional desse livro foi algo tão forte e
louco, que eu não tenho como definir em palavras.
Eu estava tão envolvida emocionalmente, tão quebrada por eles, que
todas às vezes que eu colocava a playlist de Broken, e sentava para escrever,
eu começava a chorar.
Era mais forte do que eu a emoção de contar a história do Chase e da
Ava que foram me guiando de acordo com a vontade deles.
Foi o primeiro livro que eu fiz a pesquisa de ambientação ao vivo. Eu
escrevi na própria UCLA, e vai ser estranho ficar por lá agora sem ficar
pensando, aqui pode acontecer isso, aquilo ali que os alunos estão fazendo
pode ser a cena tal, ou surtando com eles indo para as festas e anotando tudo
para colocar no livro.
Eu queria que fosse tipo a vida como ela é. E consegui. Mostrei a
rotina deles, que são jovens, que são livres, e vivem intensamente cada dia
de universidade antes de ingressar oficialmente na vida adulta.
Eu sou muito grata ao Chase e a Ava, porque eles são os donos dos
meus surtos e da minha felicidade de estar lançando esse livro.
Não foi fácil, e por isso eu primeiro quero agradecer a Deus porque
só Ele sabe o quanto foi difícil escrever esse livro no meio de tantas lutas.
Segundo, a Lana Tyler, que sempre me disse que continuasse
escrevendo, para acreditar que eu conseguiria, e que leu cada capítulo assim
que eu terminava de escrever, me incentivando a continuar, além de fazer o
feed mais lindo do meu Instagram, a capa perfeita do livro e me ajudar na
diagramação do livro.
​Terceiro, as minhas betas lindas que surtaram comigo enquanto eu escrevia.
Vocês foram fundamentais no meu processo de escrita, porque toda vez que
eu lia um comentário de vocês eu me sentia forte para continuar.
​Quarto, a minha assessora Lari, que sempre me jogou para cima quando eu
tentava me sabotar me jogando para baixo. Ela sabia o quanto eu queria
escrever esse livro. Ela nunca me deixou desistir.
​Quinto, as minhas parceiras bookstans que estão junto comigo fazendo esse
livro voar como as borboletas da Ava. Muito obrigada de coração a cada
uma de vocês.
​Sexto, a cada uma das bookinfluencers que estão fazendo as publis
espalhando Broken pelas redes sociais.
​E o meu agradecimento de todo o coração a você leitor que chegou até aqui,
que riu, chorou, surtou, quis me matar (vocês sempre querem em algum
momento matar a autora), depois me abraçar… amo vocês!
​Muito obrigada por tanto carinho que vocês sempre estão me enviando
através das mensagens que vocês me escrevem.
​Foi muito bom escrever Broken. Espero que vocês tenham gostado.
​POR FAVOR NÃO DEIXEM DE AVALIAR.

​Bjs… Val mais feliz e realizada depois desse livro do que nunca

Instagram: valeriaveigaauthor

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