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Copyright © 2023 por Nathalia Santos

Todos os direitos reservados.

Título: Probabilidades do Amor


Revisão: Marcielle Alves
Capa: Lily Design
Diagramação: Nathalia Santos

Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer


meios, sem o consentimento do(a) autor(a) desta obra.
Esta é uma obra de ficção. Todos os nomes, lugares,
acontecimentos e descrições são fruto da mente da autora.
Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
Texto revisado conforme o Novo Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa.
SPIN-OFF DA DUOLOGIA “IRMÃOS LANCASTER”.
NECESSÁRIA A LEITURA DE AS LEIS DO AMOR E O
SILÊNCIO DO AMOR.
UM ROMANCE DE SEGUNDA CHANCE.
O ex-quarterback que vive preso na culpa dos seus maiores
arrependimentos.
A ex-princesa do quarterback com o coração partido.
Como duas pessoas que se amaram tanto a ponto de destruir
o próprio relacionamento, poderiam ter um recomeço?
Melvin Howard passou pelo pior. Ele cresceu em uma família
imperfeita, sob a pressão de ser o melhor, e no seu primeiro erro, foi
expulso de casa e mandado para Los Angeles para viver uma vida
de órfão ao lado de sua irmã.
Tudo parecia perdido...
Até que ela apareceu.
Aurora Benson era a garota popular e a mais bonita da escola.
Jogadora de vôlei e dona de uma personalidade gentil, ela
conquistou o coração quebrado do quarterback sem precisar de
muitos esforços.
Acontece que, depender de pessoas para ser feliz, nunca é
uma saída, principalmente quando está tão triste por dentro.
Melvin dependia da Aurora.
Eles viveram anos mágicos juntos.
Mas também tiveram momentos trágicos no relacionamento.
Eles eram tudo um para o outro.
Até que se tornaram completos estranhos.
Hoje, eles vivem em uma mesma casa e cuidam do filho que
não estava nos planos de nenhum deles.
O amor que já sentiram, ainda permanece em seus corações,
mas o medo de se quebrarem mais do que antes, pesa muito na
decisão de uma reconciliação.
Será que eles conseguiriam superar suas mágoas e passado
para um recomeço?
E o ar está denso com a perda e a indecisão
Eu sei que minha dor é uma grande imposição
Agora, você está correndo pelo corredor
E você sabe o que todos eles dizem
Você não sabe o que tem até que tenha perdido
Taylor Swift – You’re Losing Me
Olá! Seja bem-vindo a Probabilidade do Amor, spin-off da
duologia dos Irmãos Lancaster. Antes de começar, você deve saber
que a leitura do primeiro livro “As Leis do Amor” e do segundo livro
“O Silêncio do Amor” é necessária para entender todos os
acontecimentos desse livro.
É louco pensar em como todo esse universo dos Lancaster e
da Elite começou, principalmente se for ver aonde eles chegaram.
Não estava nos planos escrever uma história da Aurora e do Melvin,
assim como no início, a mocinha do irmão mais querido desse
universo, Christopher, não era a Maeve.
Acredito muito que tudo acontece por um motivo.
Acredito muito em destino.
E, primordialmente, acredito em vocês, meus leitores.
Vocês enxergaram história em Aurora e Melvin muito antes de
mim, e enquanto eu não afirmava que viria algo sobre eles, nunca
desistiram desses dois. Obrigada por isso.
A história deles não podia ser maior ou menor do que é, o que
é engraçado, pois fazer livros com menos de 300 páginas não faz
parte do meu histórico, mas aconteceu naturalmente com Melvin e
Aurora.
Comecei escrevendo, reescrevendo esse livro até me
encontrar com a história e vou admitir, enquanto escrevia, sentia um
carinho e empatia pelos personagens, mas só quando li cada linha
desse livro que pude, enfim, me apaixonar por eles.
Melvin e Aurora são personagens reais, que agem conforme
seus sentimentos, e se entendem através de um olhar. Eles estão
buscando seu recomeço, mas isso não quer dizer que não podem
se machucar até encontrá-lo.
Melvin e Aurora me mostraram um lado do amor que não
visitava há muito tempo: o lado que erra, o lado que não é perfeito, o
lado que precisa ser empático ou você irá acabar perdendo tudo o
que construiu até aquele momento.
Nem todo romance é um conto de fadas e acho que gostamos
disso quando o final é feliz.
Bem-vindos ao encerramento desse universo, não conseguiria
sem o apoio de cada um de vocês.
Probabilidade do Amor tem uma playlist no Spotify, sinta-se à vontade para ouvir. As
músicas estão organizadas conforme a ordem dos capítulos.
Para ouvir, abra a guia “Busca” no Spotify e toque na câmera, depois aponte para o
código abaixo e vai ser direcionado para a playlist.
HÁ CERCA DE SEIS ANOS...
MELVIN HOWARD
— Vai mesmo fazer isso? — Caitlin perguntou ao meu lado,
um pouco surpresa com meu gesto romântico. — Digo... você está
mesmo gostando dela?
— Estou! — afirmei, sentindo-me um pouco nervoso. — Você
sabe como tenho me sentido nesses últimos dois anos, e Aurora
tem me ajudado muito a superar toda a merda com nossos pais.
— Ela sabe sobre nós? Melvin, prometemos que ninguém
saberia e que esqueceríamos desse assunto! Sabe o que pode
acontecer se isso se espalhar? É só você não ser o namorado per...
Coloquei minhas mãos sobre os ombros da minha irmã um ano
mais nova que eu, e a interrompi antes que continuasse falando
coisas que não faziam o menor sentido.
— Contei que eles estão mortos e que não eram bons pais,
não é essa a verdade?
Achava que Caitlin conseguia perceber nos meus olhos o
quanto essa realidade me deixava triste, mas no momento, ela
preferiu ignorar e focar no que eu disse, pois, essa era a nossa
verdade agora.
De uma forma trágica e precária, apesar de nossos pais
estarem vivos em outro estado, muito longe da Califórnia, para nós,
era como se eles estivessem mortos, assim como nós estávamos
para eles.
— Sabe que uma garota não pode curar você, né? — Caitlin
reagiu daquele modo irmã mais velha que na verdade deveria vir de
mim. — Mas se ela te faz feliz, tem que agarrar isso. Eu gosto de
Aurora, é uma excelente colega de time e tenho certeza de que será
uma ótima cunhada.
Sorri e abracei minha irmã sem pensar muito bem.
O gesto a surpreendeu um pouco, porém Cat passou os
braços ao redor do meu corpo e retribuiu meu abraço.
Não éramos os irmãos mais grudados do mundo, não
demonstrávamos amor com tanta frequência como eu via em outras
relações de irmandades nessa escola, mas tínhamos uma boa
relação, e até o momento, éramos tudo o que o outro tinha.
E eu sabia que Caitlin me amava.
Ela havia saído daquela casa sem pensar duas vezes quando
nossos pais me expulsaram, porque não me deixaria sozinho.
— Você e essa mania de ser a irmã mais velha — provoquei,
soltando-a. — Tem que parar com isso.
Ela deu de ombros e sorriu.
— O que posso fazer se é mais forte do que eu? — Bateu no
meu ombro. — Vai lá ser o romântico do ano! Fiquei sabendo que
Aurora iria treinar alguns lances sozinha na quadra. Depois,
convide-a para almoçar conosco. Maeve gosta dela.
Sorri, concordando com minha irmã.
Movi-me a passos rápidos até a quadra da escola, onde os
jogos de vôlei costumavam acontecer, e encontrei a loira que vinha
mexendo comigo mais do que gostava de pensar, jogando a bola na
parede, treinando como Caitlin disse que estaria.
Ela era a garota mais delicada e linda que já havia encontrado.
Sei que ainda tinha dezesseis anos e não podia os resumir como se
fosse toda a minha vida, mas nesses anos, eu nunca havia sentido
algo parecido com o que sentia quando olhava para Aurora.
Meu coração acelerava.
Minhas mãos suavam.
Meu estômago se contorcia quando ela dava risada de algo
que eu falava ou quando, inevitavelmente, nos tocávamos.
Eu estava completamente apaixonado por aquela princesa. Ela
era como um raio de sol feito especialmente para mim. Ela trouxe
luz para minha vida assim que riu da cantada ruim que a dediquei
no jogo do mês passado. E soube no primeiro encontro que tivemos,
enquanto conversávamos na beira da praia, sentados, aproveitando
o pôr do sol, que com Aurora ao meu lado, a escuridão nunca
voltaria para minha vida.
Ela me pertencia.
Eu pertencia a ela.
Não podia deixar isso escapar, e era por isso que a pediria em
namoro antes mesmo da grande final dos jogos delas. Era
justamente por esse motivo que minhas mãos suavam agora.
— Melvin? — Aurora notou minha presença antes mesmo que
eu falasse alguma coisa. Ela sorriu, e isso me deixou mole e com a
sensação de que poderia morrer, caso recusasse meu pedido. — O
que faz aqui? Não deveria estar no seu treino?
Mesmo assim, ela se aproximou de mim e ficou na minha
frente. Os olhos brilhantes em cima dos meus e o sorriso ainda mais
aberto ao notar que eu estava nervoso.
No nosso último encontro, acabei admitindo que às vezes
ficava daquela forma quando estava perto dela.
— Por que está nervoso?
Segurei sua mão, atraindo sua atenção e desmanchando o seu
sorriso.
— Você está gelado! Está tudo bem? Aconteceu alguma
coisa?
Seu tom e semblante demonstraram preocupação.
Ela se preocupava comigo.
Ela era a garota certa.
— Não, Sunshine — murmurei, usando pela primeira vez o
apelido que surgiu na minha cabeça assim que entendi o significado
do que estava sentindo. Ela se surpreendeu com a palavra e sorriu
timidamente. — Estou aqui porque quero falar com você.
— O quê? — perguntou baixinho.
Entrelacei nossos dedos e a olhei com firmeza, para que
entendesse que as palavras que sairiam da minha boca eram
sinceras.
— Sabe que não me aproximei de você para termos apenas
um lance passageiro, né? Você chamou minha atenção jogando
nessa quadra, Aurora. No momento em que sorriu porque havia
ganhado aquele jogo, eu soube que também queria ser o motivo
que a fazia sorrir. Chamá-la para diversos encontros, foi a minha
forma de conhecê-la, porque eu soube por minha irmã que você
gostava de gestos românticos. — Ajoelhei-me na sua frente e com a
mão que não estava segurando a dela, peguei o anel de
compromisso no meu bolso. — Então... estou aqui, me descobrindo
como um garoto romântico apenas para que continue tendo olhos
para mim. Sei que somos jovens, mas também sei que o que estou
sentindo por você é maior do que qualquer outra coisa que já senti.
Eu quero conhecer mais desse sentimento, Aurora, quero entender
mais sobre como é estar apaixonado, mas isso apenas contigo...
Por isso, aceita ser a minha namorada?
Seus olhos já estavam marejados e antes de receber uma
resposta da sua boca, ela se jogou por cima de mim, fazendo-me
cair de costas no chão. Abracei seu corpo em cima do meu e ri fraco
da sua reação.
Ela podia até estar chorando, mas era de emoção. Eu
conseguia notar.
— Eu aceito, Melvin. É claro que aceito!
Aurora me beijou antes que eu pudesse colocar o anel em seu
dedo, mas não me importei com isso, apenas a beijei de volta,
sentindo nos movimentos de sua língua o quanto ela também
correspondia aos meus sentimentos.
Eu esperava viver uma vida feliz com aquela garota.
Porque quando somos jovens, somos sonhadores,
principalmente ao estarmos apaixonados.
Eu só não contava com o óbvio: o sol não fica presente vinte e
quatro horas por dia e a escuridão sempre acaba chegando, e por
mais que você tente evitar, iluminando da forma que pode, algumas
luzes simplesmente falham.
A minha luz desistiu de me iluminar, e quando a escuridão me
pegou por completo, já era tarde demais para mim.
Eu não tinha mais minha irmã.
Eu não tinha mais meus amigos.
Eu não tinha mais meus pais.
Eu tinha apenas a escuridão, me cercando em uma dor tão
profunda, que me fazia querer desistir.
E eu desisti.
Eu realmente não queria lutar mais.
Havia chegado em um esgotamento que não aguentava mais.
E por um mísero segundo, eu realmente não quis mais estar
nesse mundo.
Por um mísero segundo, poderia não estar mais nesse mundo.
Mas de alguma forma, alguém lá em cima gostava muito de
mim, e eu sobrevivi à dor profunda, porém não à escuridão.
Agora, a minha luz estava desgastada e para recuperá-la,
primeiro eu precisava aprender a viver no escuro.
Eu amei você perigosamente
Mais do que o ar que eu respiro
Sabia que bateríamos na velocidade que estávamos indo
Não importava se a explosão me arruinasse
Baby, eu amei você perigosamente
Eu amei você perigosamente
DANGEROUSLY — CHARLIE PUTH
AURORA BENSON
Minhas costas doíam e antes mesmo de abrir meus olhos,
sentia que não havia dormido o suficiente para não sentir sono
durante o dia. Mas não era uma opção dormir mais alguns minutos
ou acabaria me atrasando por completo, então abri meus olhos com
dificuldade, encarando diretamente o teto cinza que vinha me dando
bom dia há quase um ano.
O silêncio me recebeu como em quase todas as vezes.
Para a minha sorte, Elijah estava dormindo e esperava que
ficasse assim até que eu conseguisse me arrumar para a
universidade.
Antigamente, meu corpo todo estaria dolorido por ficar em uma
festa até de madrugada com minhas amigas, e minha cabeça
estaria doendo muito por conta de uma ressaca. Além, é claro, que
provavelmente ficaria irritada porque Melvin disse alguma merda
desnecessária que me desagradou.
Mas hoje tudo era diferente.
Fazia pouco mais de onze meses que meu filho havia nascido
e minha vida tinha mudado por completo.
Tinha dias que eu acordava com o corpo dolorido porque havia
levantado muitas vezes durante a noite, pois Elijah não conseguia
dormir direito por causa de uma dor de barriga ou por algum outro
motivo; minha cabeça doía pela falta de sono, e minha irritação
vinha diretamente do meu humor, que alternava entre bom e ruim
em menos de vinte e quatro horas, porque ser mãe era uma
responsabilidade e tanto, e que não deveria ser totalmente
romantizada.
Tudo era diferente.
Só que eu não podia reclamar, porque tinha apoio e vinha da
pessoa que mais se esforçava para se tornar o melhor pai do ano.
Melvin Howard estava diferente e já não me deixava irritada
pelos mesmos motivos de antes, minha irritação agora era por
causa da maldita distância que fazia questão de colocar entre nós, e
com sua falta de atitude quando se relacionava a nós dois.
Eu sabia que ele conseguiria mudar seus hábitos quando
quase morreu naquela festa por ter tido uma overdose, não
imaginava que seria uma recuperação menos dramática, até
porque, ele tinha traumas que poderiam trazer muitos gatilhos.
O loiro seguia com o tratamento psicológico até hoje, tomava
remédios antidepressivos e estava afastado há mais de um ano de
jogos e festas, duas das coisas que ele preferiu se manter longe
para não trazer nenhuma recaída.
E, bom… A outra coisa era eu.
Ele podia não admitir isso, mas se estivéssemos em outras
circunstâncias, meu ex com certeza teria se afastado de mim e não
me trazido para morar com ele, porque a fase complicada do nosso
relacionamento, nossos sentimentos um pelo outro, tudo isso ainda
eram grandes gatilhos, não só para ele, como para mim também.
À medida que a gravidez chegava na reta final, fui me
preocupando em como seriam os primeiros meses do Elijah, até
porque, não dava para ficar com um bebê no campus. Então o plano
inicial seria ficar na casa dos meus pais, eles, inclusive, estavam
montando um quartinho para o neto, mas sempre vi o quanto Melvin
demonstrava incômodo quando falávamos sobre. Até que um dia ele
me convidou para acompanhá-lo, pois queria me mostrar algo;
aceitei e quando chegamos, me deparei com um apartamento. Ele
me disse que queria fazer parte disso, que queria ser o melhor pai
possível para nosso filho e perguntou se eu aceitaria morar com ele.
Meu pai não me queria com ele novamente e tinha certeza
de que esse era um plano para que ele me reconquistasse. Eu
estava completamente insegura em ficar tão perto de alguém que
desejava e amava como homem e não como amigo, além do medo
de acabar me machucando mais com a convivência. Mas então
notei o quanto Melvin queria ficar perto do Elijah e o quanto
precisaria dele perto do nosso filho. Eu não podia criar essa criança
sozinha, e apesar de ter dinheiro o suficiente para contratar uma
babá para me ajudar, não achava necessário quando tinha o pai
dele bem ao meu lado, querendo desempenhar o papel.
Foi então que tomei a decisão de vir morar com ele e admitia
que, mesmo depois de onze meses, ainda não era fácil.
Se me perguntassem o que eu e Melvin éramos, não
conseguiria responder sem acabar deixando algumas lágrimas
escaparem.
Amigos? Não, amigos não se olham do jeito que nos olhamos.
Inimigos? Não, nenhum de nós dois tem capacidade de odiar o
outro, e temos uma dinâmica incrível quando se trata de cuidar do
Elijah.
Apaixonados um pelo outro?
Suspirei.
Com certeza existia uma via de mão única quando se tratava
dos nossos sentimentos.
Nenhuma terapia foi capaz de me fazer esquecê-lo, enquanto
para ele, sentia que já havia dado um ponto final na nossa história.
Existem coisas que você apenas sabe, e quando se tratava de nós
dois, aquela vírgula que achei ter, na verdade deveria ser um erro
de pontuação.
Ele já tinha dado um ponto final há muito tempo. E isso foi
quando pediu para que nos separássemos naquele quarto que dividi
com a Caitlin por dois anos.
Nunca havia o visto com outra garota e esperava ao menos
não estar mais apaixonada por ele quando isso acontecesse.
Um choro fraco de bebê me acordou dos meus pensamentos e
me impediu de seguir para o banho. Olhei no relógio e eram sete
horas da manhã, estava cedo para que Elijah acordasse, mas como
hoje havia sido uma noite atípica dele, em que não dormiu direito,
deixei de lado e segui para o seu quarto.
A porta estava aberta quando me aproximei e assim que entrei
no cômodo, vi Melvin tentando acalmá-lo.
Ele estava sem camisa.
O desgraçado não conseguia nem colocar uma camisa para
não me atentar.
Suas costas muito bem desenhadas estavam ali, à mostra, e
eu não podia mais tocá-lo. Isso não era um martírio? Ainda doía pra
caramba vê-lo daquela forma e não poder abraçá-lo por trás como já
fiz tantas outras vezes.
O loiro sentiu minha presença antes mesmo que eu me
aproximasse deles e se virou, segurando nosso filho e me
impactando com sua beleza.
Ele sempre foi um cara lindo.
Lembrava perfeitamente que antes dele se aproximar, ainda na
época da escola, costumava admirá-lo em segredo. Algo muito
parecido com “tenho uma quedinha pelo irmão da minha mais nova
amiga”. Até que ele se aproximou de mim e mostrou ter uma queda
muito maior do que a minha.
Me senti a garota mais sortuda do mundo naquela época.
— Ele está bem? — perguntei, ignorando seu olhar que
passeou por todo meu corpo.
Não estava vestindo nada de mais.
Era uma calça de moletom cinza e uma blusa branca justa ao
corpo.
— Estou um pouco preocupado com ele — o loiro admitiu,
voltando sua atenção para nosso filho, que ainda resmungava em
seu colo. — Fazia algumas semanas que ele não tinha noites assim.
— Isso é culpa da tia Maeve — resmunguei, me encostando
no berço. Elijah já estava um pouco mais calmo nos braços do pai,
por isso não me preocupei em pegá-lo. — Por que ela foi dar tanto
suco de uva pra ele?
— Podemos fazer um acordo de não deixá-la mais ficar
sozinha com nosso filho? Tenho medo de que da próxima vez, o
encontre com uma barra de chocolate na boca.
Acabei dando risada, o que segundos depois, provocou o
mesmo nele.
Maeve era maluca por Elijah, e quando digo essa palavra, era
de fato isso mesmo. Minha amiga sempre se mostrou animada com
a chegada dele, mas quando estava grávida, achava que era
apenas um fogo que se apagaria assim que ele nascesse.
Claro que ela me surpreendeu.
Maeve só não vinha todos os dias aqui pra casa, porque tinha
um namorado e uma vida, essa última, na maioria das vezes, ela
ignorava por completo para cuidar desse bebê.
A ruivinha tinha ciúmes da babá que ficava com ele de manhã,
odiava que as pessoas ficassem babando em cima dele, e quase
morria quando meu menino sorria para uma pessoa que não era ela.
Completamente maluca.
— Ele parece melhor, só enjoadinho — comentei, notando
como Elijah segurava o peito do pai como se fosse o seu porto
seguro. — O remédio que o doutor Nolan receitou para quando ele
tivesse noites assim funcionou. Logo Margô vai chegar e não
podemos esquecer de passar o horário que ele tem que tomar de
novo.
Margô era a babá, que cuidava de Elijah na parte da manhã
enquanto eu e Melvin estudávamos. Ela era uma senhora de
cinquenta anos e tinha todo o amor que um coraçãozinho como o do
nosso filho deveria receber.
— Você dormiu bem? — Melvin perguntou ao mesmo tempo
em que eu tentava estralar meu pescoço. — Falei que podia tomar
conta dele, mas não me ouviu.
— Não é como se eu fosse conseguir dormir com Elijah
chorando.
Ele também não havia conseguido dormir bem, podia ver isso
pelos olhos cansados e as olheiras em seu rosto.
— Você também não dormiu bem.
Sorriu de lado.
— Não é como se eu fosse conseguir dormir com nosso filho
chorando daquela forma.
Sorri com a resposta repetida.
Ele não facilitava, não quando se tratava de me fazer esquecê-
lo.
Meu ex era um pai incrível e que superou todas as minhas
expectativas. Ele cuidava do bebê 100% do tempo em que estava
em casa, o instigava a falar e a tentar caminhar, mesmo que até
agora, nosso filho só tenha engatinhado e balbuciado sons sem
significados algum.
Melvin me ajudava em tudo e se preocupava com qualquer
suspiro errado que Elijah dava. Ele era tão preocupado, presente e
bom com nosso menino, que não conseguia entender como teve
tanto medo de ser pai há um ano, quando agora era o melhor
desempenhando esse papel.
— Ele dormiu de novo — ele murmurou baixinho e se
aproximou de mim, fazendo aquela droga de coração bater um
pouco mais rápido apenas com a proximidade. — Pode me dar
licença para colocá-lo no berço?
Claro.
Eu estava encostada nele.
Afastei-me rapidamente e tentei evitar pensar no quanto era
idiota por ter reações tão ridículas como essas.
Melvin colocou o pequeno no berço e enquanto estava com as
costas flexionadas, dando atenção para o nosso filho, me permiti
observá-lo um pouco mais.
O cabelo loiro com os fios bagunçados, as costas definidas,
juntamente com o abdômen trincado que tinha na parte da frente, o
corpo alto e o rosto lindamente esculpido, que agora tinha uma
barba rala. Tudo isso apenas dificultava ainda mais que eu
diminuísse o desejo que sentia por ele. Sofrer por amor já era ruim,
mas quando o cara era a personificação de homem gostoso,
chegava a ser desesperador, pois dava a sensação de ser
insuperável.
E para piorar, não tinha tempo para procurar outros caras e
iniciar um relacionamento, não quando tinha um filho que precisava
da minha atenção. Mas quando essa fase passasse, não podia
deixar de me perguntar se conseguiria achar alguém que me fizesse
ao menos sentir metade das sensações que tive com Melvin.
A paixão ardente da adolescência.
O amor puro crescendo conforme nos conhecíamos cada vez
mais.
As brigas bobas que nos levavam para cama e nos faziam rir
no dia seguinte.
A tempestade que o fez se isolar e que nem mesmo eu o
consegui salvar.
Os desastres que isso causou no nosso amor.
A doença que todos nossos sentimentos causaram para o
relacionamento.
Todas as fases e as sensações que cada uma me causou,
construíram a Aurora de agora.
Eu entendia nosso tempo separados, entendia até mesmo o
fato de nunca voltarmos a ficar juntos, mas não conseguia entender
o porquê não conseguia superar toda essa história.
Sempre amei tudo nele, desde a forma que mexia nos cabelos
aos olhos azuis e profundos, o mar da cor do oceano, que eu me
lancei sem medo nenhum e afundei nos seus próprios medos,
apenas para resgatá-lo.
— Aurora. — Melvin tocou meu ombro e o enxerguei muito
próximo a mim, o que me fez dar dois passos para trás rapidamente.
Ele notou, pois seus olhos vacilaram por míseros segundos. — Você
está bem?
Não.
Eu nunca estive totalmente bem desde aquela noite em que
terminei o nosso relacionamento primeiro.
— Sim, estou apenas cansada — menti e apontei para a porta.
— Vou me arrumar ou irei acabar me atrasando.
Não deixei que ele respondesse e saí praticamente correndo
do quarto.
— Se controle, Aurora Benson. — Mandei em mim mesma
assim que fechei a porta do meu quarto. — Pare de sonhar
acordada com seu ex-namorado.
Ele é apenas o pai do seu filho agora.
Completei em pensamento.
Eu não podia esquecer daquele detalhe gigante na nossa
história.
Até mesmo agora, eu não consigo
Deixar você ir, deixar você ir
Isso é tudo o que você tem a dizer?
Se deixar apenas uma palavra
E se arrepender
Você não me deixaria saber? Me deixaria saber?
LOVE ME AGAIN – V
MELVIN HOWARD
Fazia mais de um ano que visitava Clare regularmente pelo
menos uma vez por semana. Ela era a única profissional que me
sentia confortável para desabafar, receber conselhos e analisar tudo
sobre a minha vida, buscando uma forma de não acabar me
afundando na depressão novamente.
— Você chegou dez minutos mais cedo — ela constatou ao
olhar para o relógio no pulso e apontou para a poltrona na sua
frente. — Sente-se e me diga por que parece ansioso.
Droga. Ela era boa em tudo, principalmente quando se tratava
de me ler.
— E se eu não quiser dizer?
— Nós vamos conversar sobre outra coisa — respondeu com
a paciência que eu invejava. — Não é obrigado a nada aqui dentro,
Melvin.
— É sobre Aurora.
Clare sorriu como se já soubesse disso.
— O que tem a mãe do seu filho?
Percebi que era muito difícil de explicar em palavras tudo o
que estava sentindo. Talvez pudesse ser resumido em confusão,
exatamente como vinha sendo nesses últimos meses.
— A convivência está tranquila? — ela perguntou ao perceber
que estava perdido.
Assenti.
— Essa noite Elijah acordou muitas vezes e atrapalhou nosso
sono. Acho que nos vimos mais vezes nessa madrugada do que nos
últimos dias.
Minha psicóloga não escondeu como ficou confusa com minha
resposta.
— Estão distantes?
— Não somos amigos, não conversamos sobre muitas coisas
a não ser que seja algo para a casa ou para o Elijah — resumi
nossa relação. — E sempre que acabamos nos aproximando,
acontece algo desconfortável que faz Aurora fugir de mim.
Clare pensou por um momento e pareceu chegar a uma
conclusão sozinha ao assentir.
— É normal estar desconfortável em uma relação como essa
de vocês. Lembra do que falei quando surgiu com a ideia de morar
com Aurora e Elijah?
Que existiam riscos e lados positivos.
Quando contei para minha psicóloga sobre a gravidez da
Aurora, ela ficou muito preocupada porque sabia de todos os meus
medos e gatilhos para acabar decaindo. Tive tantas sessões de
emergência nos primeiros meses, que não consigo nem ter um
número exato de quantas vezes foram. Eu tinha medo de ser pai,
havia terminado com a mãe do meu filho, e mesmo que tivesse sido
pelo nosso bem, isso não deixava as coisas melhores; e acima
disso tudo, eu odiava a minha vida, eu me odiava por completo. Da
mesma forma que meus pais me odiavam.
Tudo estava uma bagunça e a vontade de sair daquela
realidade era tanta, que me levou a beber até ser amparado por
Christopher Lancaster, em uma noite qualquer há cerca de um ano.
Eu estava ciente do medo da minha psicóloga de que eu
voltasse a usar drogas, e por mais que não fosse viciado, senti
muita vontade de usar só para escapar daquela realidade. Todos os
dias ela me perguntava o que eu estava fazendo e dizia que era
para procurá-la caso as coisas se tornassem insuportáveis.
Fiz isso diversas vezes para não recorrer às bebidas e às
drogas.
Clare me ajudou a clarear a minha mente.
Não sabia como ser pai, mas não podia fugir da minha
responsabilidade e deixar Aurora sozinha. Eu nunca poderia
abandonar meu filho e a mulher que amava. Foi por isso que a
acompanhei em cada consulta e exame médico. Foi por esse motivo
que arrumei um emprego como assistente do meu antigo treinador
do ensino médio, só para ter mais dinheiro e dar o melhor para o
nosso filho. Foi por causa disso que voltei a achar a luz no final do
meu corredor escuro.
Sabia de todos os meus erros que me acompanharam até aqui
e me arrependia de todos eles, mas não podia voltar para Aurora,
mesmo sabendo que ela ainda me amava.
Eu não era um bom homem.
O que justificava isso? O inferno que fiz na vida dela no último
ano que ficamos juntos.
— Pouco mais de um ano se passou desde que decidiu que
era melhor para os dois se separarem — Clare falou. — O que acha
disso agora?
— Não quero fazê-la infeliz.
— Por que acha que a faria infeliz?
— Porque eu já fiz isso — respondi o óbvio. — Aurora está tão
bem com Elijah, sabe? Não quero voltar a ser um idiota para ela.
— Ela pode estar bem com o filho, mas não 100%, já imaginou
isso? — indagou. — Pelo que me contou da história de vocês,
consigo entender perfeitamente o motivo que a faz se sentir tão
desconfortável perto de você. Não é fácil tentar ser amiga de um
homem que ainda ama, Melvin, e tenho certeza de que também não
é nada fácil para você ser amigo dela.
Assenti, concordando com ela.
— Vocês vivem na mesma casa há onze meses e tem sido
incrível criar Elijah, não é mesmo?
Novamente, concordei.
Dessa vez, lembrando do meu filho e de todas suas
travessuras.
A sujeira que ele fazia para comer papinha.
O quase banho que ele fazia questão de me dar quando eu o
banhava.
As almofadas do sofá que ele amava jogar no chão.
Os brinquedos caros que comprei e ele acabou destruindo.
Elijah era tão cheio de vida, que era impossível não me sentir
feliz perto dele.
Meu filho.
Ainda sentia calafrios quando eu pensava nisso.
Eu era responsável por aquela criança, quando não tinha
responsabilidade nem mesmo em relação a mim.
— Seu sorriso sincero diz tudo — Clare chamou minha
atenção e me olhou com um sorriso fraco nos lábios. — Você
evoluiu muito, Melvin. É até surpreendente ver o quanto.
— Estou fazendo o melhor pelo meu bebê.
— E por Aurora?
Engoli em seco.
— E por Caitlin? Lembro de você ter prometido naquela carta.
— Também. — Fui sincero. — Cat está orgulhosa de mim e
estamos mais próximos, muito mais do que já estivemos em
qualquer outra fase da nossa vida.
Ela sabia disso, eu havia contado na semana passada sobre a
minha relação com minha irmã.
— O que quero dizer com tudo isso é que está tudo bem se
quiser arriscar voltar com Aurora, arriscar voltar a jogar e arriscar ir
em uma festa. Tudo no seu tempo e respeitando seus limites —
aconselhou. — Já atendi diversos pacientes, inclusive dependentes
químicos, e consigo dizer que você nunca esteve refém das drogas.
— Não tenho medo de me drogar.
Eu não pensava mais nisso.
— Então do que tem medo?
— De voltar a ser o que eu era antes — admiti, sentindo o
peso aos poucos saindo dos meus ombros. — Não sei como me
tornei aquela pessoa, e tenho muito medo de acabar voltando a ser
aquilo novamente.
Eu estava mais cauteloso, mais observador e mais calado,
mas quem me garantia que isso era o certo?
Nunca fui dessa forma.
Sempre fui um cara mais social, festeiro e apaixonado pelo
esporte. Gostava de aproveitar a minha vida e foi isso que me fez
ser expulso de casa, porque segundo os meus pais, estava tendo
comportamentos rebeldes. Eles não queriam um filho com notas
ruins, bebendo e fumando alguns cigarros escondido dos adultos.
Eles queriam o filho perfeito, e eu nunca consegui ser.
Conseguia ver que desde aquela época estava me sentindo
sozinho e depressivo. Não ter a preocupação dos meus pais e
apenas a decepção deles, me machucou mais.
Ser chutado para Los Angeles e descobrir nos noticiários que
eles haviam me matado, me quebrou ainda mais.
— Você depositou toda a sua felicidade na Aurora quando
começou a namorar com ela, e se tornou dependente daquele
relacionamento de uma forma que não é saudável — Clare
começou a falar. — Não podemos depender das pessoas para ser
feliz, Melvin, não quando não conseguimos ser felizes apenas
conosco. É por ter dependido tanto dela para te tirar essa dor, que
acabou se afundando ainda mais, machucando a garota que ama e
todos que estavam ao seu redor. Mas hoje você sabe disso e confio
que não irá fazer novamente.
— Como pode ter tanta certeza?
— Não tenho certeza de nada nessa vida, mas acredito que
não é do seu perfil cometer os mesmos erros — disse Clare. — Hoje
você conhece seus limites, até que ponto pode ir em uma relação e
modéstia à parte, tem a terapia na sua vida.
Às vezes, minha psicóloga não escondia seu lado convencido.
Ela era uma boa pessoa e havia se tornado muito importante
para mim nesse último ano. Clare era bem mais velha do que eu,
tinha trinta e dois anos e era casada há dez. Seu marido, o qual não
lembrava o nome, também foi seu primeiro amor e muitas vezes que
não queria me abrir em uma conversa, ela me contava um pouco
mais da história deles.
Era algo bonito e genuíno.
Eles se conheceram no último ano da faculdade, namoraram
por um ano e se casaram no seguinte. Ainda não tinham filhos, mas
ela disse que tinha vontade de experimentar agora que estavam em
uma fase boa de suas vidas.
— Tenho medo, Clare! Me tornei um idiota.
— Ótimo! — Sua resposta foi muito animada e não disfarcei
minha careta. Era ótimo que havia me tornado um idiota? — Não a
parte de ter se tornado um idiota, porque você não se tornou, e sim
a parte de estar com medo. É um sentimento bom porque mostra
que vai ser cauteloso desta vez.
— Confia mesmo em mim, hum?
Ela deu de ombros e sorriu fraco.
— O que posso fazer? Os pacientes são como meus filhos.
— Agora entendi o porquê não quis um tão cedo — brinquei e
ela riu. — Obrigado, Clare. Não sei o que seria de mim sem sua
ajuda.
— Eu não fiz muito, foi você que fez o caminho até aqui. —
Elogiou. — Continue dessa forma, e se achar que é a hora certa de
voltar para as coisas que ama, volte. Elas não vão mais te levar
para a escuridão.
Assenti.
— Sinto falta de jogar — murmurei baixinho. — Sinto muita
falta da Aurora. — Meus olhos marejaram só de me lembrar da
nossa situação. — É horrível, Clare. Ela está ali comigo e eu não
posso abraçá-la, tocá-la, beijá-la ou simplesmente perguntar como
foi o dia dela.
— Não pode nem fazer essa pergunta? Por quê?
— Tenho medo de que ela me diga que conheceu alguém mais
interessante do que eu.
Ela não respondeu tão rápido, pois sabia que era uma
realidade possível assim como eu.
— Se isso acontecesse... Como você ficaria, Melvin?
Uma lágrima escorreu pela minha bochecha sem que eu
tivesse controle algum das minhas emoções.
Dei de ombros, mas ainda assim olhei para a psicóloga à
minha frente.
— O que eu poderia fazer? Aurora estaria fazendo a melhor
escolha para si. — Senti meu peito apertar ao dizer as palavras em
voz alta. — Eu só poderia desejar felicidade a ela, mesmo que não
fizesse mais parte dela.
Clare assentiu e sorriu fraco.
— Você evoluiu, percebeu? Há dois anos, diria que nunca a
deixaria partir.
Engoli o choro e limpei o lado que havia escorrido minha
lágrima.
Não sabia se isso provava alguma coisa.
Minha mente tinha receio de qualquer decisão que poderia
tomar pela emoção, enquanto meu coração necessitava da Aurora
para voltar a bater normalmente.
Tudo era confuso para um caralho.
Toda vez que eu juro que acabou
Faz com que você me queira ainda mais
Você se afasta e eu chego mais perto
E tudo em nós fica despedaçado
HURTS SO GOOD - ASTRID S
AURORA BENSON
Joguei minha mochila de qualquer forma na cadeira ao meu
lado e descansei minhas pernas ao me sentar na frente da Maeve e
da Caitlin. Não era sempre que tínhamos a oportunidade de
almoçarmos juntas, mas fazíamos um esforço para ser pelo menos
uma vez por semana.
Era algo nosso, um almoço das meninas, já que todo sábado
nos encontrávamos para ser com toda a elite.
— Ei, mamãe, como está meu sobrinho? — Maeve perguntou
antes de qualquer coisa.
— Eu poderia matar você por ter dado tanto suco de uva pra
ele — acusei. — A sua única sorte é que recebi uma mensagem da
Margô há dez minutos, dizendo que ele está muito bem.
— Ele passou tão mal assim? — Minha amiga parecia
arrependida.
— Elijah teve gases e dor de barriga, não conseguia dormir
direito e claro que não nos deixou dormir também — respondi,
pegando o cardápio para escolher meu almoço, pois já sentia meu
estômago criar um buraco de tanta fome. — Já fizeram seus
pedidos?
— Estávamos te esperando, mas já temos algo em mente —
Caitlin disse. — E você, como está?
— Tirando a noite mal dormida, estou ótima.
Elas sabiam que não era totalmente verdade, só que não
insistiam em arrancar tudo o que eu estava sentindo. Essas
meninas entendiam o quanto era confuso, complicado e delicado.
— Melvin te ajudou? — Cat questionou.
— Como o pai perfeito de sempre — murmurei, com os olhos
presos nos pratos saudáveis daquele restaurante. Ainda estava
dando leite para o Elijah e evitava comer refeições não tão
saudáveis mais de uma vez na semana. — O prato com legumes,
salada e frango parece uma boa opção.
Maeve assentiu.
— Delicioso — falou, mas não escondeu o quanto preferia algo
mais gorduroso.
Sorri.
— Como está o treino? Preparadas para começarem a
próxima temporada?
Não havia voltado a jogar, pois agora que tinha meu filho,
precisava focar nele e nos estudos. Não tinha mais tempo para me
dedicar ao vôlei, o que era uma pena, sentia saudade de passar
mais tempo com as meninas.
— Confiantes de que vamos ganhar mais uma, não é mesmo,
Maeve?
A ruiva fez que sim com a cabeça.
Uma garçonete se aproximou de nós, anotou os pedidos, e
quando se afastou, Maeve se voltou para mim:
— É normal termos discussões bobas em relacionamentos?
Prendi a risada, só imaginando o que ela e Christopher haviam
aprontado. Aqueles dois não brigavam nem se fossem ameaçados,
então com certeza, era algo bem bobo e difícil de ser considerado
uma discussão.
— O que aconteceu? — indaguei.
Ela cruzou os braços enquanto seus lábios formavam um bico,
em um comportamento mais forte do que minha amiga conseguia
evitar.
— Não fizemos nada além de simplesmente jantar fora no
nosso um ano de namoro, e por isso queria passar o final de
semana em Nova Iorque com ele. Vai ter um evento de nerds lá e
sei que ele quer ir. Mas acredita que o orgulhoso não quer que eu
banque a viagem?
Cat riu.
— Não é orgulho, é apenas a forma deles não quererem
incomodar — explicou ela. — Uma viagem para Nova Iorque
gastaria muito e pode ser que para nós não seja tanto, mas para os
Lancaster? É muito dinheiro, Maeve.
Ela não melhorou o bico emburrado.
— Relaxe. — Pedi. — Escute nossa amiga que namora um
Lancaster há mais tempo do que você.
— Discutiram por isso? — Cat perguntou.
— Tenho certeza de que logo já estão trocando mensagens —
provoquei.
— Tudo bem, eu supero. — Maeve suspirou. — Vou procurar
algo legal por aqui para irmos.
Sorri.
— É claro que vai! — Inclinei-me e apertei sua bochecha
rapidamente, a fazendo soltar um resmungo. — Você é tão rendida
pelo Christopher.
Caitlin concordou, voltando a dar risada.
— Não ria como se não fosse pelo enjoado do Trevor.
— Não chama ele assim! — A loira defendeu o namorado. —
Vocês deveriam assumir que já são amigos.
A ruiva dessa vez não economizou na careta.
— Nunca poderia mentir dessa forma.
Revirei meus olhos, rindo da bobagem que ela e Trevor tinham
um pelo outro. Era pura implicância, daquelas comuns entre irmãos.
Não conseguia evitar ficar feliz pelas minhas amigas. Elas
estavam tão bem com seus respectivos namorados, que me sentia
quase completa por isso. Só eu sei o quanto ambas se escondiam
atrás de máscaras e acabavam fingindo ser outra pessoa apenas
para agradar outras.
Caitlin e Maeve estavam felizes, eram verdadeiras e nossa
união nunca esteve melhor.
A única parte triste é que mesmo em toda felicidade que sentia
por elas e todo orgulho por terem evoluído naturalmente, sentia algo
parecido com desespero quando comparava minha realidade com a
delas.
Não era inveja. Mas era uma tristeza por pensar que um dia,
há anos, pensei estar na minha melhor fase da vida sendo a garota
do Melvin.
Aonde isso me levou? A uma casa grande, vivendo
separadamente com ele e tentando a todo custo evitar encontros
para não deixar nossa relação mais desconfortável do que já estava.
— Por que está com essa cara? — Maeve me perguntou.
Neguei, deixando aquele assunto de lado.
— Apenas preocupada. — Resolvi focar na minha outra
ansiedade. — O aniversário do Elijah está chegando e recebi um
trabalho na aula de hoje que vai ocupar meu tempo.
— Sério? Tão chato assim? — Cat enrugou a testa. — Eu e
Maeve já adiantamos muitas coisas do aniversário e se precisar de
mais, podemos ajudar.
A ruiva concordou.
— Pelo meu sobrinho, faço tudo.
Sorri.
— Claro que faz, nem é pela sua amiga mais.
— O que posso fazer? Elijah é muito mais interessante.
Mostrei a língua para ela, a fazendo rir.
— Que trabalho é esse? Posso não estar no mesmo semestre
que você, mas sei muitas coisas de Artes.
— É teoria — expliquei. — Temos que fazer um artigo sobre
algumas obras do Picasso. Vou encontrar com meu colega amanhã
para começarmos, não parece nada fácil.
— Odeio teoria — Maeve exclamou. — E esse colega? É
bonitinho?
Arqueei as sobrancelhas.
— Ele é normal, pare com isso — mandei.
— O que foi? Não é crime querer ver minha amiga sentando
em um macho gostoso.
— Sabe que não é tão fácil assim.
A doidinha suspirou e só pela cara que fez, soube que falaria
demais.
— O quê? Você não está mais com o Melvin, e até entendo
que tem sentimentos por ele, mas o idiota não faz nada para
recuperar o que tinham — falou, sem paciência alguma. — Com
todo respeito, Cat.
— Deixa de ser explosiva, Maeve — nossa amiga respondeu.
— Meu irmão está tentando ser alguém melhor. Infelizmente, para
ele não é tão fácil como foi para você.
Ela se calou, parecendo perceber que havia mesmo falado
demais.
— Só acho que seria bom usar esse tempo em que estão
separados para viver novas experiências, sabe? — Maeve sugeriu.
— Você e ele só tiveram um ao outro. E se no final, o grande amor
da sua vida for outra pessoa?
Engoli em seco.
O que minha amiga disse, era algo que para mim, nunca
pareceu possível.
Eu amava aquele cara.
Amava quem éramos antes de tudo dar merda.
Amava a Aurora que eu era com ele.
Amava o Melvin que sempre estava atento às minhas
vontades, pronto para sempre me agradar.
Então, por isso, eu nunca pensei que o amor da minha vida
fosse outra pessoa que não ele.
— Não gosto da ideia de parecer estar contra o meu irmão,
mas se não existe a possibilidade de vocês voltarem, seria até
melhor que se separassem de vez — Caitlin sugeriu. — Vai fazer
um ano que estão na mesma casa. Por quanto tempo vão suportar
essa situação?
— É pelo Elijah.
— Elijah sempre vai existir, Aurora — Maeve me lembrou um
tópico importante. — E adivinha? Quanto mais tempo passa, mais
difícil fica para separar os dois.
— E o que sugerem? Que eu volte para o campus e traga meu
filho junto? — zombei.
— Ache um espaço para você em que o Melvin poderá visitá-lo
sem os olhares julgadores dos seus pais — minha ex-cunhada
aconselhou. — A fase mais difícil de cuidar de um bebê já passou.
Peguei o copo cheio de água na minha frente e bebi, só para
não dar uma resposta naquele momento.
A verdade sobre tudo? Eu não queria estar longe do pai do
meu filho, escolhi estar perto dele por todo esse tempo, porque era
uma forma de não me desapegar.
O que meus pais falaram sobre Melvin querer me reconquistar
ao me levar para morar com ele? Eu queria que fosse verdade.
O quanto devo me odiar por ter feito tudo isso sabendo que
não tínhamos chances?
Nossa tensão podia estar lá, entre todas as palavras não ditas,
fazendo quase nos beijarmos na maioria das vezes, mas não
tínhamos mais chance.
Não existia mais um nós.
E talvez, fosse isso que Maeve quisesse me dizer sem ser
estúpida.

Entrei em casa e me deparei com uma cena muito difícil de


simplesmente ignorar: Melvin estava no meio da sala, segurando
Elijah de barriga para baixo enquanto corria de um lado para o outro
e fingia que o pequeno era um avião. Era a brincadeira favorita do
nosso filho e o fazia rir tanto, que era impossível controlar o sorriso.
Fechei a porta com todo cuidado para não chamar atenção dos
dois e fiquei parada na entrada, apenas observando.
Meu pequeno nem parecia o mesmo menino que não dormiu a
noite toda. Ele estava alegre demais na brincadeira e provocava um
sorriso lindo nos lábios do pai toda vez que gargalhava.
Não existia nada mais fofo do que aquele garotinho que eu
amava mais que tudo, tinha certeza disso.
Ele estava naquela fase em que os bebês ficam gordinhos e
têm até dobrinhas nas pernas. Tão fofo e saudável, que só me fazia
querer apertá-lo quando o segurava. Não era de se surpreender que
ninguém resistia à sua fofura.
— Ok, filho — Melvin disse, um pouco ofegante e parando de
correr pela sala. — Estou cansado.
Ele virou para a porta, pegando-me no flagra.
— Ei, faz tempo que está aí? — questionou.
Ele parecia melhor do que de manhã, o que me lembrou que
hoje era dia de sua terapia.
— O suficiente para ver Elijah quase vomitar nos seus pés —
brinquei, me aproximando dos dois. Larguei a mochila no sofá e
estendi minhas mãos para o bebê. — Oi, filho.
— Ele não vomitaria em mim — o loiro respondeu, se dando
por vencido quando o neném estendeu os bracinhos curtos e
cheinhos para mim. — Estávamos apenas brincando, já fazia um
tempo que ele havia se alimentado.
— Sorte a sua por não ter a roupa suja por esse pequeno
esperto, hum? — Abracei nosso bebê o mais apertado que era
possível e beijei sua bochecha, ouvindo-o resmungar. Dei risada. —
O que foi? Está aprendendo com quem a não gostar de contato?
Melvin se sentou no sofá e senti que era alvo de seu olhar. Fiz
um esforço para não dar atenção a ele naquele momento.
— Não posso nem culpar Maeve, porque ela se tornou a
pessoa mais grudenta que conheço — ele zombou, me fazendo rir e
concordar.
Elijah balbuciou outro dos seus sons sem significado algum e
sorriu para mim quando viu que era alvo do meu olhar.
— Você é lindo, bebê. — Voltei a beijar sua bochecha. — Está
com fome?
— Margô disse que ele comeu bem no almoço — Melvin
respondeu. — Tomara que não fique com dor de barriga de novo.
— Amanhã é a consulta dele, não podemos esquecer de falar
sobre o que aconteceu essa noite — lembrei e ele concordou. —
Apesar de saber o que causou, é melhor manter o médico sempre
atento.
Aproximei-me do sofá e me sentei ao seu lado.
Peguei o ursinho e entreguei nas mãos do neném, que sorriu
ao ver seu panda favorito.
— Como foi a terapia hoje?
Eu não resistia.
Sempre acabava querendo saber mais dele.
— Foi esclarecedora — respondeu, não dando muitos
detalhes, como sempre. Entendia que o que conversavam era algo
apenas entre os dois, mas não me sentia melhor por não saber mais
nada do que se passava na sua cabeça. — Tem ido na sua?
Assenti.
— Tem sido bom.
Não era mentira.
Sentia que meus pensamentos em relação à minha vida
estavam bem melhores e havia compreendido muitas coisas depois
da terapia.
Elijah colocou o ursinho na boca, não tendo nenhuma noção
de que aquilo poderia fazê-lo mal. Movi minha mão na direção do
urso ao mesmo tempo em que Melvin, e sem querer, nossas mãos
se tocaram quando tentaram tirar a pelúcia da boca do nosso filho.
Sua pele estava quente como me lembrava e mesmo que ele
estivesse me olhando nesse momento — eu sentia isso —, não fui
capaz de retribuir. Havia um conforto misturado com a dor toda vez
que acabávamos, inevitavelmente, nos tocando. Era familiar, fazia
meu coração bater mais rápido e não me permitia pensar
coerentemente.
Com um mísero toque.
Afastei minha mão tão rápido como se tivesse levado um
choque e o deixei resolver a questão do urso.
— Você deveria entender que não deve colocar isso na boca,
mocinho — ele ralhou com nosso filho, que apenas riu.
— Acho que... vou dar banho nele antes que anoiteça —
comentei, já me levantando.
— Precisa de ajuda?
— Não — respondi rapidamente. — Amanhã é o seu dia de
dar.
Melvin sorriu fraco, parecendo querer dizer muitas coisas pela
forma que me olhava.
Mas eu não fui capaz de ficar ali para ouvi-las.
Você foi da minha casa para
Foi bom te conhecer
E isso parte meu coração
FOR US – V
MELVIN HOWARD
Acordei no meio da noite sentindo meu coração acelerado. Era
algo comum quando estava ansioso demais com alguma coisa.
Fechei meus olhos e tentei dormir novamente, mas o sono
simplesmente não voltava.
Não acredito que justo na noite que Elijah estava dormindo
tranquilamente, eu não conseguia dormir.
Levantei-me da cama e saí do quarto.
Nossa casa não era tão grande. Tinha três quartos, um
banheiro e o corredor que levava até a sala e a cozinha conjugada.
Não era nada luxuoso como a mansão que minha tia vivia e que eu
e Caitlin moramos por alguns anos antes de ir para a UCLA, mas
era um imóvel de classe média alta em um lugar bom em Los
Angeles.
Aproximei-me da sala e estranhei a luz da cozinha estar ligada.
Será que Aurora havia esquecido?
Ou... será que ela estava ali?
Perfeito!
Como se não fosse suficiente ela permanecer nos meus
pensamentos durante a noite.
Eu preferia que ela apenas tivesse esquecido a luz ligada,
porém, não tinha tudo o que desejava há muito tempo.
A mulher que sempre fazia meu coração bater mais forte
estava sentada, tomando um copo de iogurte natural enquanto
olhava para o nada.
— Também não consegue dormir? — perguntei, assustando-a.
— Desculpa.
— Por que está acordado a essa hora?
— Perdi o sono.
Peguei um iogurte na geladeira e me sentei ao seu lado.
— Senti fome — ela disse e balançou sua bebida. — Acho que
a janta não foi suficiente.
Sorri fraco.
O silêncio voltou a preencher a cozinha da mesma forma que
acontecia quando não tínhamos mais assunto para jogar fora.
Nunca arriscávamos dizer algo sobre nós.
O que ela pensava? Será que ainda nutria sentimentos por
mim? Será que continuava me esperando?
Sinto sua falta, Sunshine.
Sinto falta do seu cheio.
Sinto falta de poder te abraçar.
Sinto falta das nossas conversas até tarde da noite.
Sinto falta de fazê-la sorrir, como um dia eu prometi.
Sinto falta das noites em que acabávamos enrolados nos
lençóis, no nosso mundo.
Sinto falta dos seus gemidos baixinhos.
Sinto tanta a sua falta, Aurora.
Será que ela conseguia perceber isso?
— Preciso falar uma coisa — falamos ao mesmo tempo e nos
encaramos. Ela riu, me fazendo rir junto. — Fale você primeiro.
Eu pedi, sentindo esperanças. A última vez que falei primeiro,
terminei nosso relacionamento sem saber que ela estava grávida.
— Elijah já vai fazer um ano daqui algumas semanas —
lembrou. — Estava pensando que era melhor procurar um lugar
apenas para mim e para ele.
Foi como levar dois socos no estômago.
Fui nocauteado de uma forma que não imaginava e nem ingeri
o iogurte que havia pegado ou passaria mal.
Por que Aurora queria ir embora? Por que ela queria tirar meu
filho de mim?
Será que todos os meus esforços para ser um homem e pai
melhor haviam sido em vão?
— Por quê? — perguntei em um sussurro.
Ela me lançou um sorriso, parecendo nervosa.
— Não vou morar com você para o resto da vida, né? — Soou
brincalhona, mesmo que em seus olhos não tivesse diversão
alguma. — E seria melhor agora para Elijah se acostumar.
— Eu ficaria longe dele. — murmurei, sentindo meu peito
apertar.
— Você poderia visitá-lo e pegá-lo sempre que quisesse. Não
sou uma pessoa dramática, sei que ainda irá continuar o procurando
e me ajudando.
Assenti, é claro que faria isso para sempre.
— Eu ficaria longe de você. — Criei coragem para admitir e
busquei seus olhos, querendo saber como ela responderia com uma
solução para isso. Aurora me respondeu com o silêncio e se não
fosse pelos seus olhos me encarando assustada, acharia que não
tinha entendido. — Não quero que vão embora.
Não quero ficar longe de vocês.
Segurei sua mão sobre a mesa, sentindo-a gelada e achava
que era por causa do iogurte que estava tomando.
— Por que não quer, Melvin? — indagou baixinho. — Existe
algo me prendendo aqui?
Senti nas suas palavras o quanto ela queria que eu falasse
algo.
Não era a vez dela, era a minha.
Meu coração voltou a acelerar conforme eu enxergava dentro
dos seus olhos claros, as emoções e tudo o que minha garota
queria ouvir.
— Eu...
Faça alguma coisa, Melvin.
Diga algo.
Você consegue fazer isso.
Você não é mais o mesmo.
Escolha eles.
Você não tem mais nada se não os escolher.
— É melhor eu voltar para a cama — Aurora disse ao perceber
que da minha boca não sairia nada e apertou minha mão. — Não
podemos nos atrasar amanhã.
— Aurora...
— Eu disse para você que nunca o obrigaria a nada e que
estava aqui para apoiá-lo na sua recuperação, mas não posso mais
ficar nessa casa, Melvin. — Ela parecia sentir dor conforme as
palavras saiam de sua boca. — Não quero mais viver machucada,
entende? Eu ainda amo você e viver nessa casa não está mais
sendo suportável para mim.
Engoli em seco.
Ela largou minha mão e antes que levantasse, uma lágrima
escapou pelo seu olho e escorreu pela sua bochecha. Aproximei-me
dela e levantei a minha mão até ficar perto do seu rosto.
Limpei o início das lágrimas que mais uma vez seriam culpa
minha.
— Sinto muito por machucar você. — Acariciei seu rosto com
meu polegar. — Sinto muito por ainda machucá-la.
Seus olhos encheram-se ainda mais.
— Não chore por mim.
— Não estou chorando por você — admitiu. — Estou chorando
por mim. — Eu sentia que havia muito mais por trás daquelas
palavras.
Ela segurou minhas mãos e as afastou do seu rosto. Aurora se
levantou em um movimento rápido e saiu da cozinha sem olhar para
trás.
Olhei minhas mãos, agora vazias, e as fechei em punho.
Senti a dor invadir meu coração com toda força e chorei para
aliviar, mesmo sabendo que a única que podia desempenhar esse
papel era a garota no final do corredor.
— Aurora precisou ir mais cedo para a universidade, querido.
Ela não te avisou?
O que Margô me disse assim que acordei e notei a ausência
da Aurora em casa veio na minha cabeça.
Não, ela não precisava vir mais cedo para a faculdade, ela
estava me evitando.
Eu a conhecia tempo suficiente para ter certeza disso.
Suspirei.
Nem quando eu pensava demais sentia que estava fazendo o
certo.
— Se você soltar mais um suspiro, vou socar a sua cara —
Barry reclamou ao meu lado. — Parece até que está com dor.
Estávamos sentados ao redor de uma mesa no campus depois
de nossas respectivas aulas esperando o tempo passar para seguir
para nossos próximos compromissos. Meu amigo tinha treino e eu
estava esperando Aurora para irmos pra casa buscar Elijah para a
consulta, enquanto Maeve e Chris... bom, não fazia ideia do que
eles faziam aqui.
— Talvez ele esteja — Maeve disse, em pé e agarrada ao
pescoço do Christopher, como se fosse seu maior amuleto. —
Talvez essa dor seja invisível para nós.
— Você está sabendo de alguma coisa que não sabemos? —
Chris sinalizou para ela.
No último ano uma coisa boa havia acontecido.
Eu tinha conquistado o perdão daquele nerd e hoje ele era,
junto com o Barry, os meus amigos mais íntimos. A nossa amizade
parecia loucura quando me lembrava do que fiz no passado, mas
ela acabou acontecendo conforme eu aprendia mais da língua dos
sinais e tentava ser alguém melhor.
Óbvio que no início, nossa convivência foi meio que forçada.
Christopher começou a namorar Maeve e seu irmão era namorado
da minha irmã, em qualquer oportunidade que tínhamos de nos
juntar, eu e ele acabávamos juntos.
Admitia que em um primeiro momento, o peso na consciência
do que fiz com ele por causa do meu ciúme, foi o fator principal que
me fez puxar mais assunto, mas quando Chris começou a mostrar
mais do seu verdadeiro eu, me vi simpatizando com o cara e me
tornando mais próximo até do que eu poderia imaginar.
Chris sempre me ajudava, e aos poucos, havia percebido o
quanto ele era um cara legal e queria mantê-lo na minha vida.
Sempre tirávamos um tempinho para fazermos algo juntos, e até
tinha aprendido a jogar um daqueles jogos que tanto amava.
— É, Maeve... Está sabendo de alguma coisa? — Barry
questionou por mim.
— Nadinha — disse com um sorriso que não me convencia
que falava a verdade. — Sou só uma garota muito inteligente e
observadora.
Nosso amigo riu só para provocá-la, recebendo um olhar
esmagador da ruiva.
— Você deveria saber que é verdade! — Ela ralhou com ele.
Ele levantou as mãos em rendição.
— Não falei nada.
— Maeve descobriu que eu era apaixonado por ela antes de
mim. Ela é mesmo inteligente e observadora — Christopher
defendeu a namorada, me fazendo sorrir fraco.
Eles eram bons juntos.
A ruiva agarrou o queixo do Chris e roubou um selinho dos
seus lábios, o deixando vermelho na hora. Ele não gostava muito de
saber que era o centro das atenções.
— É por isso que você é o melhor namorado do mundo!
— Ai! Vocês são tão grudentos! — Barry reclamou. — Vamos
respeitar o amigo que não vê a namorada há dois dias e o outro que
está na seca há mais de um ano?
— Ei! — Dei um tapa na sua nuca. — Pode calar a boca?
— Não é uma mentira, né? — Maeve também provocou.
Revirei os meus olhos.
Babacas.
Não era à toa que eram melhores amigos.
E não, não era uma mentira.
Última vez que havia ficado com Aurora foi antes de ela ter
terminado comigo, e desde aquela época, nunca mais havia ficado
com ninguém. Até me embrulhava o estômago em pensar em ficar
com outra garota a não ser a mãe do meu filho.
— Quando Tiffany volta? Não estou acostumado a ter você tão
perto dessa forma. — Resolvi provocar meu amigo, o fazendo
devolver o tapa que o dei.
— Deixa de ser cuzão, Melvin, estou sempre perto de você! —
devolveu. — Tiffany deve voltar amanhã. A mãe dela já está melhor.
— Hum... Quem é o gatinho ao lado da Aurora?
Deveria me preocupar de Maeve chamar outro cara de gatinho
bem na frente do seu namorado? Deveria, mas sabia que agora
Christopher estava mais confiante quando se tratava do
relacionamento dele com a ruiva e infelizmente, mesmo que não
estivesse, eu não teria prestado atenção, porque o gatinho na
situação, estava ao lado da minha garota.
E quando segui o olhar dos meus amigos, aos poucos senti um
desespero tomar conta de mim.
Ele era um moreno ajeitadinho.
Eles estavam saindo juntos do prédio que minha garota
estudava e pareciam ser bem próximos pela forma como ela sorria
para algo que ele dizia.
Meu estômago se reverteu enquanto meu sangue esquentava
com uma sensação muito conhecida por mim.
Ciúmes.
Não era mais a raiva potente que sentia antes, mas era um
ciúme desesperador e mais intenso de simplesmente perdê-la para
aquele idiota.
Fechei minhas mãos, sentindo que agora eu era o alvo dos
olhares dos meus amigos.
Eu não tinha mais o direito de sentir ciúmes.
Porra!
Saber disso doía ainda mais e me irritava pra caralho.
Levantei-me e agarrei minha mochila, colocando-a nas costas.
— Aonde você vai? — Barry perguntou.
Eu não respondi.
Existiam duas opções para mim: ir para casa e esperar Aurora
com Elijah ou parar na frente deles e acabar com aquela gracinha.
Adivinha qual um idiota como eu escolheu?
Eu posso te deixar louca, eu posso te fazer gritar
Eu posso fazer você chorar, posso fazer você ir embora
Eu posso fazer você me odiar por tudo
Mas eu não posso fazer você voltar para mim
BACK TO ME – THE ROSE
AURORA BENSON
— É sério! Podemos fazer um ótimo trabalho juntos com as
artes que selecionamos — Zane disse enquanto saímos do prédio
que tivemos aula agora há pouco. — O que acha? Consigo ver no
seu rosto que não está tão animada.
Sorri, tentando demonstrar que estava bem com as decisões
que tomamos ainda na aula. Meu problema era pessoal, não tinha
nada a ver com o artigo que teria que fazer com ele.
Meu problema tinha 1,86cm de altura, era loiro, gostoso e um
ex-namorado difícil de superar.
— Parece bom — respondi meu colega. — Vamos nos
encontrar na minha casa mesmo? Espero que não se importe com
minha pessoinha favorita.
— Elijah, né? — Ele sorriu e assenti. — É claro que não, na
verdade, estou ansioso para conhecê-lo.
— Ele pode ou te amar ou odiá-lo, não tem com o que se
preocupar.
Ele arregalou os olhos, parecendo preocupado de repente.
— Isso é sério?
Dei risada, mas acabei concordando.
— Sinto-me tão nervoso como estaria se fosse conhecer os
sogros da minha futura namorada.
Não tive tempo de responder porque uma pessoa com um
perfume muito familiar parou ao meu lado e arranhou a garganta,
querendo propositalmente interromper a conversa.
Olhei para Melvin.
— Por que está aqui? — perguntei, soando mais ríspida do
que queria.
Poxa, não era minha intenção estar tão puta com ele, mas as
coisas acontecem e não tem como controlar, certo? Certo!
— Ah, você é o Melvin — Zane falou, mostrando que sabia
tudo sobre as fofocas no campus.
— Sim — ele respondeu, sem emoção nenhuma, ainda com os
olhos fixos nos meus. — Estou esperando você. Temos consulta
com nosso filho daqui uma hora.
— Eu sei! Quero saber por que está aqui. Poderia ter me
esperado em casa.
Notei o quanto minhas palavras o deixaram zangado.
Bom.
Que bom.
Eu estava todos esses meses sendo compreensível e a boa
ex-namorada que sempre o entendia, mas para quê?
Para não ouvir nada da sua boca quando tudo o que ele tinha
que dizer era que me queria de volta?
Estava me sentindo uma estúpida por ter esperado durante
todo esse ano, quando era óbvio que Melvin já não sentia mais o
mesmo por mim.
Precisava sair daquela casa.
Precisava recomeçar sozinha.
— Preferi esperar você aqui.
Ele ainda era teimoso e insistente.
Olhei para meu colega.
— Preciso ir — avisei e ele assentiu. — Conversamos
amanhã?
— Claro, talvez amanhã consigamos iniciar o trabalho.
Esse era o plano.
Concordei e acenei em forma de adeus, dando as costas tanto
para ele quanto para Melvin, e indo em direção ao estacionamento,
onde sabia que o carro do meu ex estava estacionado.
— Quem é ele? — O loiro me alcançou e passou a me
acompanhar nos passos rápidos até seu carro.
— Um colega.
— Ele vai para nossa casa?
— Em breve, sua casa, mas sim, ele irá para fazermos um
trabalho juntos.
Antes que eu chegasse no carro, estava sendo agarrada pelas
mãos de Melvin. Não estava preparada para que ele me puxasse
para si e acabei tropeçando nos meus próprios pés, e se não fosse
pelas suas mãos firmes na minha cintura, talvez tivesse caído.
Ele não me afastou e odiei não ter força para afastá-lo
também.
— Está assim por causa dessa madrugada?
Engoli a vontade de chorar. Eu já havia feito isso pelo restante
da noite desde o momento em que saí daquele encontro estúpido na
cozinha.
— Assim como? Não estamos muito diferentes do que temos
sido nesses últimos meses.
— Aurora...
— Vamos pegar Elijah ou iremos nos atrasar.
Ele não me soltou, pelo contrário, seu toque se tornou mais
potente em minha cintura. Seus olhos claros brilhavam em minha
direção e me sentia uma tola, pois acreditava que existiam
sentimentos ali que apenas o deixava mais confuso.
Melvin estava com medo.
Mas do quê, exatamente? De me amar novamente ou de dizer
que não me amava mais da mesma forma?
— É isso que você quer? — ele perguntou baixinho e por uma
fração de segundos, notei seus olhos descerem para minha boca,
acelerando meu coração sem qualquer aviso. — Se manter afastada
de mim?
— Durante todo esse ano, eu o entendi e deixei de lado
qualquer mágoa que pudesse sentir, porque sabia que não podia ser
egoísta dessa forma — comecei a explicar. — Temos uma relação
ótima quando se trata do nosso filho, mas quando se trata de nós
dois... Não percebe o quanto você me afastou? Eu sempre tentei,
Melvin. Até mesmo te ensinei língua de sinais em vez de mandá-lo
se matricular em um curso, tudo isso porque queria estar por perto,
queria ao menos ser sua amiga.
— É complicado, Aurora...
— Eu sei que é. — Segurei suas mãos e as tirei do meu corpo,
sentindo minha pele queimar mesmo embaixo da roupa. — Acredite,
eu sei o quanto é complicado.
Caminhei até o carro e esperei que ele destravasse.
Não tínhamos muito o que conversar e Melvin sabia disso.

— Ouviu o que o médico disse, filho? Você está cada dia mais
forte e saudável. — Beijei a bochecha do Elijah, o fazendo soltar
uma das suas risadas gostosas. — Lindo da minha vida.
Ele olhou para o pai e estendeu os bracinhos pedindo-o para
pegá-lo
— Seu pai não pode te pegar agora, filho — falei, tentando
distraí-lo.
O loiro estava dirigindo em direção ao mercado porque não
tínhamos quase nada na despensa. Não falamos mais sobre nós e
voltamos à relação de bons pais do Elijah, que era quando sempre
acabávamos achando uma sintonia.
— Pa... Papa — o bebê tentou falar e me fez arregalar os
olhos.
Se não fosse pelo cinto, teria parado no banco da frente com a
pisada nos freios que Melvin deu ao ouvir o que nosso filho disse.
Não havia notado, mas já havíamos chegado no supermercado.
Ele se virou para trás.
— Você falou papai? — Meu ex não conseguiu esconder o
sorriso.
— Papa... — Elijah repetiu e meus olhos marejaram.
Meu menino podia não estar tentando pronunciar “mamãe”,
mas ainda me sentia realizada, pois sabia o quanto esse momento
era importante para nós, principalmente para o homem à minha
frente, que por um período, acreditou que não seria um bom pai.
Droga.
Eu o amava pra caralho.
— Aurora — Melvin chamou, ainda incrédulo e tive a
impressão que ele queria me chamar de outra forma que não meu
nome — Ele me chamou de pai.
Sorri, concordando em meio às lágrimas.
— Não é que você venceu e ele o chamou primeiro?
— Papa...
Melvin começou a chorar no mesmo momento em que Elijah
soltava um dos seus sorrisos, e a vontade de pular para o outro
banco e abraçá-lo junto com nosso filho só aumentava.
Era um momento emocionante sempre que um filho chamava
“pai” ou “mãe” pela primeira vez, mas conseguia entender os
motivos das lágrimas do meu ex serem mais intensas do que o
normal. Deveria ser parecido com a sensação de um trabalho bem-
feito, que ele lutou e teve muita insegurança, até executá-lo.
E para não deixar meu pequeno assustado, aproveitei que
estávamos parados no estacionamento do mercado e o tirei do bebê
conforto, enchendo sua bochecha de beijo enquanto ainda estava
muito emocionada por ele estar tentando falar palavras mais
concretas.
— Agora diga mamãe. — Pedi.
— Papa...
Ele repetiu, me fazendo rir e fungar ao mesmo tempo.
— Ok, eu ainda assim amo você.
Elijah não riu, pois olhava para o papai com muita atenção.
Melvin estendeu os braços para ele, que esboçou um sorriso e fez o
mesmo, doido para pular no colo dele.
O entreguei para o loiro à minha frente, observando-o aninhar
nosso neném em seus braços.
— Obrigado, filho. — Ele beijou a testa dele. — Você foi a
melhor coisa que me aconteceu.
Foi impossível controlar as lágrimas também.
Me lembro até hoje do medo sufocante ao ver Melvin entre a
vida e a morte.
O quanto quis uma segunda chance para ele. Para nós.
E agora vê-los aqui, as duas pessoas que eu mais amava no
mundo, com tanto amor e devoção um pelo outro, era impossível
não me emocionar.
Eu tinha que concordar com ele.
Elijah era a melhor coisa que nos aconteceu.
— Antes de você nascer, achava que minha vida não tinha
sentido nenhum e que eu não serviria para ser pai — ele confessou
e o mais lindo era ver meu filho prestar atenção em cada uma de
suas palavras. — Mas adivinhe só? Você trouxe sentido para ela.
Você, meu amor, fez com que eu tivesse certeza de que precisava
ser alguém melhor. Para você, para suas tias e principalmente, para
sua mamãe.
Ele me olhou com seus olhos lindos brilhando de lágrimas.
— E você ainda pensava que não seria um bom pai, hum?
Nosso filho preferiu te chamar primeiro do que eu. — Não resisti e
para tentar desviar da intensidade daquele olhar, acabei
provocando-o.
Melvin riu fraco.
— Em breve ele vai chamar você.
— Papa! — Elijah bateu no peito do pai, animado. — Papa.
— Ah! — Coloquei minhas mãos nos meus ouvidos, brincando
ao chamar a atenção do meu filho. — Estou com inveja!
Ele riu como se tivesse entendido.
— Papa! Papa!
Fingi que ia morder sua mãozinha, arrancando uma risada
profunda dele.
— Você é tão travesso quanto seu pai.
— Eu? — o loiro perguntou, ofendido.
— Você! — Semicerrei os olhos em sua direção. — Não finja
que ele não herdou essa personalidade de você.
— Está vendo isso, filho?
— Papa...
Dei risada.
— Vamos, antes que eu comece a sentir meu coração doer de
tanto que ele diz papai.
Colocamos Elijah na cadeira do carrinho do supermercado
antes de entrarmos para fazer as compras. Por algum motivo que
fazia sentido na cabeça do meu filho, ele amava estar naquele lugar.
Fomos para a parte das frutas e os olhinhos dele brilharam
quando enxergou diversas das que consumia em casa.
Eu e Melvin fomos colocando-as no carrinho, enquanto o
pequeno segurava seu panda e prestava atenção em nós.
— Papa. — Apontou para as bananas.
— Vamos pegar, filho.
Fui em direção às maçãs e selecionei as melhores enquanto o
loiro pegava as bananas que o bebê tinha apontado.
— Que família mais adorável — uma mulher disse ao se
aproximar de nós. — São tão jovens e parecem tão unidos.
Meu sorriso morreu na hora. Era assim que parecíamos?
— Parabéns por essa criança linda. — Ela elogiou e se afastou
com o mesmo sorriso simpático.
— Obrigada — murmurei, mesmo que a senhora não estivesse
mais ali.
Olhei para o pai do meu filho.
Ele parecia ter perdido o foco com o que a mulher disse.
Não podíamos julgá-la por pensar isso de nós, não quando
Elijah era nosso filho e fazíamos de tudo para aproveitarmos cada
segundo ao lado dele.
Só não podíamos aproveitar como um casal.
— Papapapa. — O loirinho chamou nossa atenção.
Ele parecia que iria chorar.
Nos aproximamos no mesmo instante dele.
— O que foi? — perguntei, preocupada.
— Acho que ele está ficando no tédio — Melvin respondeu e
olhou para o corredor vazio à nossa frente. — Tenho uma ideia.
Antes que eu perguntasse do que se tratava ou tentasse
entender, o doido estava colocando impulso no carrinho e fazendo
uma corridinha, arrancando risadas do pequeno.
Pensei em chamar sua atenção para o que estava fazendo
dentro de um supermercado, mas perdi qualquer vontade ao ver o
sorriso apaixonado que direcionava para nosso filho.
Meu ex se pendurou no carrinho enquanto ele seguia mais
rápido com o impulso que tinha dado antes.
— Chama a mamãe — Melvin disse mais alto para Elijah. Os
dois me olhavam, parada no meio do corredor, apenas os
observando. — Chama, filho.
Meu menino tentou falar algo, mas tudo o que saiu foram sons
desconexos. Mesmo assim, sua mão se estendeu para mim, me
chamando. Ele sabia que era eu.
— Não devemos fazer essas coisas no supermercado — falei,
desmanchando minha cara de boba e me aproximando deles.
— Não seja tão chata, estamos sozinhos aqui — ele provocou.
— Vem, suba no carrinho.
O encarei em choque.
— O quê?
— Suba no carrinho, Aurora Benson.
— Você ficou maluco? — Ri nervosa.
Sem que eu esperasse, ele colocou minhas mãos no agarrador
do carrinho e indicou a parte de baixo.
— Apenas se pendure como uma criança.
Sempre tive dificuldade para pensar direito quando se tratava
de tomar uma decisão que envolvia esse homem, e é claro que
acabei seguindo seu pedido. Coloquei meus pés no ferro do
carrinho e senti meu coração acelerar quando Melvin se colocou
atrás de mim e segurou o agarrador, uma mão de cada lado do meu
corpo.
Ele não estava me tocando, mas era quase como se estivesse.
— O que vai fazer? — murmurei.
Elijah nos olhava com expectativa.
O loiro atrás de mim não respondeu com palavras, ele preferiu
me mostrar, empurrando o carrinho o suficiente para dar uma
corridinha. Nosso filho deu uma gargalhada tão linda, que me senti
estúpida por não dar minha atenção total a ele.
Tudo porque algo mais forte roubava metade da minha mente
no momento. Melvin estava rindo junto, com o rosto tão próximo ao
meu ouvido, que me desconcertava por completo.
O som da sua risada junto com a do meu filho, era tão
poderoso que me fez rir junto com eles em um momento que
provavelmente poderia me arrancar lágrimas.
Eu não tinha solução.
Nada na minha vida poderia substituir o que eu sentia por esse
homem.
E isso me apavorava.
Você está ferida também, porque você é minha
Eu só quero te surpreender
Desse jeito, você está se afastando mais
Eu digo que não é nada demais
PROMISE – JIMIN
MELVIN HOWARD
O almoço de sábado sempre tinha a característica de ser
caótico, mas ter dado a ideia de fazê-lo na nossa casa nesse final
de semana, não foi uma das melhores coisas que poderíamos ter
feito.
Aurora achava que iria ser mais fácil para terminar de planejar
a festa de aniversário do Elijah, o único problema era que ela e
Maeve discordavam de algumas coisas.
— Pense só como vai ser incrível ser recepcionado por um
panda gigante na entrada da festa. — A ruivinha voltou a persistir na
sua ideia. — Por favor, não faça eu cancelar esse pedido. Meu
sobrinho não para de sorrir, olha!
Nosso filho estava no colo dela e realmente, não parava de rir
para a tia favorita dele.
— É porque você não para de fazer cócegas nele — Aurora
observou e notei que as mãos travessas da amiga estavam
brincando com a barriguinha do pequeno. — Falei que não queria
fazer algo tão grande assim. Somos apenas nós, meus pais e meus
avós.
— Nosso neném merece o melhor, vocês não acham? —
Maeve parecia que choraria se não tivesse a ideia aprovada. — Ele
ama pandas, o que custa dar um gigante pra ele por um dia?
— Não jogue esse jogo comigo. — A loira semicerrou os olhos
para a melhor amiga e suspirou. — Ok, vamos ter um panda
gigante.
Prendi a risada enquanto bebia um pouco de refrigerante.
Maeve comemorou, fazendo Elijah pular no seu colo, bem da
forma caótica que ele gostava da tia.
Nem me atrevi a chegar perto deles para babar um pouco no
meu menino porque a louca que o segurava ainda estava chateada
que ele não a tinha chamado de tia e já havia me chamado de pai.
Sendo que o pequeno nem chamou a Aurora de mãe ainda!
Maluca!
Só Christopher mesmo para ser apaixonado por ela.
— Os doces e bolo também já foram encomendados — Caitlin
informou. — E Trevor conseguiu uma ótima decoradora na internet.
Ela vai transformar o salão em uma selva de pandas para meu
sobrinho.
Olhei para o meu filho.
C om certeza, ele amaria.
— O aniversário é daqui a três semanas — Christopher
lembrou a todos. — Se tiver mais alguma coisa que podemos
ajudar, podem falar.
Aurora me olhou pela primeira vez nessa manhã.
Tentei recapitular tudo o que havíamos feito até o momento
para a festa do nosso filho, porém, tudo o que consegui pensar foi o
quanto me senti confortável no supermercado na tarde do dia
anterior.
Brincamos no carrinho, fizemos as compras e voltamos para
casa, nos divertindo com Elijah, que foi o caminho todo tentando
falar mais palavras, mas sempre acabava voltando para “papa”.
Foi tão divertido e confortável, que por um momento me
esqueci que não éramos mais um casal de verdade e que minha
garota queria sair de casa assim que meu filho completasse um
ano.
Essa merda ainda estava na minha cabeça e me arrancava
noites de sono.
— A música está ok, decoração também, comida e doces
também — listei, enquanto tentava me lembrar de alguma coisa que
estivesse esquecendo. — Tudo parece certo.
— Também não consigo me lembrar de nada — Aurora disse.
— Caso se lembrem de alguma coisa, ainda temos essa
semana para correr atrás — Trevor falou, abraçando Caitlin de lado.
— Podem continuar contando com a gente.
— Obrigada! — minha ex agradeceu.
— Nosso sobrinho vai adorar a festa de qualquer forma —
Barry falou e não escondeu sua animação ao bater palmas. — Faz
tempo que não vou em uma festa de criança. Amo os doces que
posso roubar a qualquer momento.
— Os doces geralmente são para as crianças, sabia? —
Tiffany o provocou ao seu. — Deixa de ser guloso.
— Elijah nem come doces! Seria um desperdício — meu amigo
se defendeu.
Ele não mudava de forma alguma.
— Como estão os treinos? — perguntei, aproveitando que
estávamos próximos. Ele me olhou.
— Sabe como o nosso treinador é... Ele está obcecado em
sermos os melhores e o time está indo bem para aumentar o desejo
dele — comentou. — E você? Quando vai voltar?
Suspirei.
— Não acho que irei voltar — respondi, atraindo a atenção de
todos naquela mesa.
— E o que vai fazer? Você ama futebol tanto quanto ama a
Aurora.
Olhei para a garota à minha frente, que desviou o olhar para o
caderno de anotações da festa.
— Se até eu voltei para o time de vôlei, você também vai voltar
para o futebol, Melvin. É simples como um mais um — Maeve falou.
— Seria importante tentar voltar agora, poderia até jogar na
próxima temporada — Barry comentou. — Nessa universidade, não
existe um quarterback melhor para substituí-lo.
— Prometo pensar sobre isso — avisei, o que não pareceu
convencê-lo.
— Sempre sonhou em ser o melhor no futebol, irmão, e todos
nessa mesa concordam que você evoluiu muito nos últimos meses.
Se isso continua sendo algo que te faz feliz, não tenha medo de
arriscar — Caitlin aconselhou e sorriu fraco para mim. — Vou estar
aqui para puxar suas orelhas se voltar para o caminho errado.
Ri fraco da sua piada.
A campainha de casa tocou e antes que eu me levantasse
para atender, Aurora já estava tomando a frente.
— Deve ser Zane, meu colega — ela informou, me causando
uma indigestão com o que havia comido. — Combinamos de iniciar
o artigo hoje. Vocês se importam?
Meus amigos e minha irmã negaram, mas eu preferi ficar
quieto.
Por um momento, havia me esquecido do ser inconveniente
que entraria na nossa casa.
— Usem a cozinha para trabalhar. Vamos ficar aqui na sala
jogando conversa fora e aproveitando o Elijah — Maeve sugeriu.
Engoli em seco, vendo a minha garota ir até a porta e abri-la
com um sorriso gentil nos lábios.
O mesmo sorriso que me ofereceu quando me viu pela
primeira vez na escola.
Desviei meu olhar.
Não era obrigado a ver isso.
Ouvi as vozes deles e os passos se aproximarem de onde
estávamos.
— Pessoal, esse é Zane — Aurora o apresentou. — Zane,
essa é a Elite da UCLA, ou costumávamos ser... não sei como
somos chamados agora.
— Aposentados — Maeve zombou. — Da Elite.
Meus amigos riram dela.
— É um prazer conhecê-los pessoalmente — o cara
cumprimentou com uma simpatia que não gostei. — Já ouvi falar
sobre cada um de vocês.
— Somos populares — Barry disse, animado.
— Vamos para a cozinha? Podemos fazer o trabalho lá, meu
notebook está em cima da mesa.
Não estava olhando para eles, mas sentia que alguém dentro
daquela sala estava me olhando. Ouvi os passos dos dois se
afastando e então levantei meu olhar, notando que meus dois
amigos me encaravam.
— O que foi? — resmunguei.
— Você nem cumprimentou o cara — Barry ralhou.
— Talvez assim da próxima vez ele tenha noção.
— Do quê, exatamente? — Chris questionou.
— Que não é bem-vindo por mim.
Maeve riu e meu filho a acompanhou, sem saber do motivo de
estar rindo.
— Esqueceu que a casa também é da Aurora? Minha amiga
pode trazer quem ela quiser pra cá.
Às vezes, ela era chata pra caralho.
— Não se esqueça que o filho que está segurando é meu,
então posso tirá-lo de você a qualquer momento.
A ruiva fez uma careta e mostrou a língua, abraçando-o mais
apertado.
— Aliás, por que vocês não têm um filho logo? Assim deixam o
meu em paz.
Chris ficou vermelho e Maeve revirou os olhos.
— Você é tão desnecessário às vezes, sabia?
Caitlin riu.
— Por que não jogamos UNO? — sugeriu. — E Maeve, faça o
favor de me dar um pouco o meu sobrinho. Estou com saudade
dele.
A ruiva entregou Elijah a contragosto para minha irmã.
E é claro que todos aceitaram a ideia e eu me vi segundos
depois sendo arrastado para uma roda no meio da sala para jogar.
Mas era inútil pois meus pensamentos estavam na loira na cozinha.

Joguei as cartas no chão e controlei minha voz para não


acordar Elijah, que tinha dormido há poucos minutos.
— Desisto!
— Tadinho... Ele não sabe perder — Barry zombou ao meu
lado.
— Não sabe e desconta esse mau humor em todo mundo —
Maeve comentou, também largando as cartas.
— Estamos jogando há uma hora — lembrei a todos, ficando
mais irritado ao ouvir as risadas na cozinha.
Barry percebeu.
— Sabe que não pode fazer nada, né?
Engoli em seco.
Qual era a dele? Mostrar que eu era um fodido quando já sabia
disso?
— E não vai fazer nada para mudar essa situação? — Trevor
questionou.
Observei Caitlin deitar a cabeça no ombro do meu cunhado.
— Do que vocês estão falando?
— Não se concentrou em nada no jogo, só ficou prestando
atenção em Aurora e Zane na cozinha. — Christopher sinalizou. —
É sobre isso que estamos falando.
Até ele estava nessa.
— Vai mesmo deixar um idiota qualquer roubar o coração da
sua garota? — Barry perguntou.
Fechei minha mão em punho, fazendo um esforço enorme
para não ir por esse caminho.
— Eles estão fazendo um trabalho. São colegas.
— Quando fui tomar água, percebi que ele não a olha como
um simples colega — Tiffany falou. — Parece que ele quer ocupar o
cargo de padrasto.
— Não digam bobagens! — reclamei. — Vocês não têm que ir
embora não?
Barry suspirou.
— Sei que tem medo de ser um idiota com a Aurora de novo, e
por isso fica congelado enquanto está louco para tê-la de volta —
disse, como sempre me lendo como uma página de livro. — Só que
o tempo está passando e ela pode se cansar de esperar você,
sabia?
— Minha amiga tem te esperado por mais de um ano, Melvin.
Ela pode achar que é hora de seguir em frente — a ruiva completou.
— E eles estando próximos por conta de um trabalho, parece
ser uma ótima forma de se apaixonar — Chris falou, olhando para a
namorada. — Foi assim comigo e com Maeve.
— Não...
A negativa saiu da minha boca, tão baixinho e doloroso, que
senti meu coração afundar no peito. Eles tinham razão em tudo o
que estava falando, o que me provocava ainda mais medo.
Eu não era mais o mesmo de um ano atrás.
Podia ter minha garota de volta.
Então por que simplesmente não voltava para ela?
Eu estava pronto para ela. Certo?
Movido por uma força muito maior do que o medo de trazer o
inferno de volta para a vida da mãe do meu filho, me levantei com
uma decisão: Aurora sempre seria minha.
Dizer: Não vá
Eu ficaria pra sempre se você
Dissesse: Não vá
SAY DON’T GO – TAYLOR SWIFT
AURORA BENSON
— Você parece cansada — Zane disse ao me observar ajeitar
a postura mais uma vez na cadeira que estava sentada. — Quer
parar por aqui?
Neguei.
— Seria bom continuarmos para cada um ter o que pesquisar
quando não conseguirmos nos encontrar — respondi. — É apenas o
peso de ser mãe, universitária e viver com o ex-namorado na
mesma casa.
Ele riu fraco.
— Por que essa situação parece ser horrível?
— Porque ela é — falei a verdade. — Onde estávamos?
Melvin entrou na cozinha abruptamente, impedindo que meu
colega me respondesse. Olhei para sua expressão, que
transparecia preocupação e tristeza, e me preocupei na hora com
nosso filho.
— Elijah está bem?
Levantei-me na hora, mas nem cheguei a dar um passo ao vê-
lo assentir.
— Elijah? Sim, ele está dormindo — o loiro disse e olhou para
Zane.
— Por que está com essa cara então? Não pode me assustar
dessa forma.
Parecia que tinha acontecido algo terrível pela forma como seu
rosto estava tenso.
— Podemos conversar? — Melvin perguntou, colocando os
olhos novamente em mim.
— Agora? Não dá, estou fazendo o trabalho. — Apontei para
meu companheiro de curso voltando a me sentar. — Temos o tempo
todo para conversarmos.
Sorri fraco para Zane a apontei para o notebook.
— Vamos continuar.
Senti que ainda era alvo do olhar do meu ex, e fiz um grande
esforço para não o encarar.
Meu colega pareceu entender que eu não queria dar atenção
para o pai do meu filho e continuou a falar sobre o trabalho que
estávamos fazendo. O problema é que eu já havia me desconectado
dele há alguns minutos.
Fingi estar prestando atenção, mesmo que meu corpo todo
ardesse por ainda estar recebendo a atenção daquele loiro idiota.
Eu não olharia.
Não cairia mais nisso.
Precisava dar o fora daquela casa o quanto antes, pois meus
sentimentos já eram uma bagunça desde quando terminamos, e
agora estavam ainda mais.
Não estávamos tendo um tempo quando ainda ficávamos tão
próximos um do outro. Precisava aproveitar que agora Elijah já
estava um pouco mais crescido e reconheceria o pai onde quer que
ele estivesse.
O que o Melvin queria, afinal? Estava com ciúmes do Zane?
Então por que simplesmente não fazia nada?
Isso que me irritava.
Eu entendia todas as merdas que contribuíram para ele ficar
mais retraído, cuidadoso, e admirava sua coragem e força para sair
de uma vida tão agitada como a que tinha antes e ser mais
cauteloso agora, mas, poxa... A vida dele estava passando. Não era
apenas pela nossa situação que me deixava extremamente
magoada. Eu o amava e via que seus sonhos estavam escapando
enquanto ele não fazia nada.
Dessa forma, todo o progresso que teve seria em vão, pois
voltaria para o mesmo ciclo e não conseguiria ser feliz,
principalmente quando se tocasse que deixou tudo ir apenas por ter
medo demais.
Arrisquei olhá-lo, para caso tivesse coragem, mandar que
saísse da cozinha e nos deixasse estudar, porém, vê-lo com o olhar
tão perdido em mim e Zane, me atingiu com força e me deixou sem
palavras.
Melvin notou meu olhar e balançou a cabeça, negando algo
para si mesmo e saindo do cômodo.
Sentia cada fagulha do meu coração queimar.
— Ele está bem? — meu colega perguntou.
Não consegui sorrir forçado dessa vez.
— Melvin é assim, não se preocupe.
Eu já estou preocupada o suficiente.
Comigo.
Unicamente comigo.

Até tentei me concentrar no que estávamos pesquisando para


escrever o artigo, o único problema foi que não consegui, e ao ter
que ler o mesmo parágrafo duas vezes e mesmo assim não
entender, inventei uma desculpa para Zane sobre minha cabeça
estar doendo e pedi para nos encontrarmos na segunda para
continuarmos.
Meus amigos já haviam ido embora e Melvin foi colocar Elijah
para dormir no quarto, então quando meu colega partiu, aproveitei o
silêncio da casa para me jogar no sofá da sala.
Fechei meus olhos, procurando não pensar em nada.
Seria tão bom se eu não pensasse em nada.
No entanto, ouvi os passos de Melvin se aproximarem e minha
atenção focou apenas nele. Senti sua presença próxima a mim
antes mesmo que fizesse sombra com seu corpo sobre o meu.
Abri meus olhos só para encontrá-lo me olhando.
— O que queria conversar comigo?
— Gosta daquele cara?
A pergunta me surpreendeu tanto, que tive que me sentar
direito no sofá.
— Do que você está falando? Estamos apenas fazendo um
trabalho.
Não era como o ciúme de antes que chegava a ser doentio, o
jeito que perguntou e que me olhava, demonstrava que existia uma
dor muito maior dentro dele, que nem fazia o perceber o quanto
havia mudado.
— Só preciso saber para me preparar se tiver que vê-la o
olhando como me olhava antes — ele disse, seus olhos marejando
e suas palavras me atingindo como uma lâmina afiada. — De
qualquer forma, você merece a felicidade.
P odia dizer que gostava do Zane, apenas para atingi-lo como
uma grande filha da puta, mas eu não era assim.
Eu nunca iria me sentir bem causando mal a ele, fazendo-o
sofrer. Não era essa pessoa.
Levantei-me, ficando na sua frente, mais próxima dele que
meu coração permitia.
— O que te faz pensar que meu coração está aberto para
outra pessoa? Não consegue perceber que eu não deixei de amá-lo
nem por um momento nesse último ano?
Seus ombros tremeram e o alívio que sentiu foi percebido por
mim, assim como as lágrimas que começavam a escorrer pelo seu
rosto.
— Por que ainda gosta de mim? — Fungou.
— Por que eu teria deixado de gostar?
Meus olhos se encheram de lágrimas.
— Você não fez absolutamente nada para que eu deixasse de
amá-lo — falei. — Pelo contrário, tem sido um pai incrível para a
pessoa que mais amo nesse mundo.
— Fiz da sua vida um inferno, Aurora!
— Ninguém é capaz de trazer paz quando está vivendo no
inferno, Melvin! Achei que já havia entendido isso.
— Eu entendi! — Sua voz se alterou enquanto meus olhos
decidiram acompanhar os dele no choro. — Entendi que fiz de você
a minha felicidade. Entendi que depositei toda a minha esperança
em você. Entendi que coloquei toda a responsabilidade da minha
paz em você. Ninguém deve ser responsável por nada disso.
Ele tinha razão.
Droga, eu sabia que ele estava certo e isso me deixava ainda
mais irritada.
— E o que sente agora em relação a mim? — Encostei meu
indicador no rumo do seu coração. — Porque diferente de você, eu
não consigo esquecê-lo tão facilmente.
— Do que você está falando?
— Você. — Soquei seu peito. — Me. — Outra vez. —
Esqueceu.
Melvin segurou minha mão e me puxou para mais perto, me
fazendo tropeçar e encostar meu corpo ao seu antes que caísse.
Podia estar com a visão embaçada porque havia chorado, mas
conseguia vê-lo próximo ao meu rosto, conseguia ver cada lágrima
escorrendo dos seus olhos, e podia sentir sua respiração agitada
batendo contra meu rosto.
— Você se manteve o mais afastado de mim por todos esses
meses só para me esquecer, não foi? — murmurei, deixando
escapar um soluço.
Ele negou.
— Só não queria machucá-la, Sunshine.
— Não me chame assim! — Implorei, alterando um pouco
minha voz. Tentei me afastar, mas Melvin permaneceu me
mantendo perto dele. — O que você quer de mim? Diga algo! Fale o
que somos ou o que podemos nos tornar, porque eu realmente não
aguento mais ficar sozinha nessa confusão.
— Você acha que eu aguento?
Então me escolha.
Diga que vamos recomeçar com cuidado, mas juntos.
Era o que eu implorava naquele instante.
O loiro encostou sua testa na minha e fechei meus olhos,
sentindo o estúpido do meu coração batendo mais forte.
Por favor...
— Não quero voltar para o que éramos antes — ele
murmurou.
— Eu sei.
Sei que tem medo, eu também tenho.
— Abra os olhos, Aurora. — Pediu.
Fui incapaz de ignorar um pedido tão simples e delicado que
saiu da sua boca. Encontrei o oceano que me afoguei há alguns
meses tão agitado, que me senti fraca para não me lembrar de tudo
o que vivemos no passado.
Observei primeiro seus lábios perto dos meus.
Sentia falta de beijá-lo, como nunca imaginei sentir na minha
vida.
Suas mãos agarraram minha cintura e quase suspirei ao sentir
as pontas dos seus dedos em um filete de pele que tinha entre
minha camisa e a calça. Sentia falta do seu toque, do seu amor, da
nossa relação.
Sentia falta de nós dois.
Da nossa conexão.
Da leveza que por mais de cinco anos ele me deu.
Voltei a olhar para os seus olhos e notei que sua atenção
estava na minha boca.
Me beija.
Pedi em pensamentos, quase fazendo isso por nós dois.
Cheguei a aproximar meu rosto do seu a ponto de tocar
nossos narizes.
— Se eu fizer isso — ele murmurou baixinho. — Significa que
farei minha escolha?
Agarrei seu peito e assenti, molhando meus lábios ressecados
com a língua. Seus olhos observaram hipnotizados o momento.
Ele ainda me queria.
— Eu nunca me esqueci de você.
Ele nunca me esqueceu.
Todo meu ar foi solto quando sua boca beijou demoradamente
o canto da minha.
Não era uma provocação.
Era a sua decisão.
— Me desculpa.
Engoli minhas lágrimas ao vê-lo se afastar de mim.
Melvin não estava pronto para arriscar e me escolher.
E eu não estava pronta para continuar vivendo aquilo com ele.
De repente, tudo o que senti foi a mágoa se transformar em
raiva e como qualquer outro ser humano em uma situação dessas,
não consegui evitar agir por impulso.
— Você é um grande filho da puta — murmurei.
— O quê?
Foda-se!
Havia aprendido na terapia que quase todos escondiam um
lado tóxico porque não somos pessoas perfeitas e estava prestes a
descobrir o meu.
— Você é um grande filho da puta — falei mais alto ao me
afastar dele. Sentia que sua proximidade só me trazia mal. — E eu
cansei de ser seu brinquedo.
Melvin engoliu em seco.
— Você não é um brinquedo para mim.
— Não sou? — Ri com deboche. — Então o que sou? Você
não me deixar ir, mas também não faz o mínimo para me fazer ficar.
Acha que vou ficar esperando você pelo resto da minha vida? Talvez
tenha razão... O homem pelo qual me apaixonei não está mais aí,
porque ele não era um covarde.
O silêncio dele só me deixava mais irritada.
— Cansei de chorar, Melvin... Cansei até mesmo de ser
compreensiva contigo, porra! Eu te entendo, mas será que você me
entende?
Dei as costas, ainda sentindo que não estava pronta para ir
embora, pois tinha mais coisas para falar na sua cara. O que
aconteceu com a minha língua? Eu simplesmente não conseguia
parar de dizer o que estava sentindo, então me virei novamente
para ele.
— Por que você continua me dando esperanças? É melhor
que pare de uma vez! É melhor assumirmos apenas um
relacionamento de pais do Elijah, e não de casal. Não quero mais
fazer parte dessa merda de balança.
Eu podia ir embora porque não imaginava ele dizendo algo que
pudesse me fazer mudar de ideia, acontece que meu peito estava
ardendo e não era de dor, era de muita raiva, rancor e decepção.
Tanto comigo quanto com ele.
— Você não percebe o quanto eu o amo e o quanto esse amor
me deixou idiota? Passei um ano inteiro presa nessa casa, torcendo
ao máximo para que se recuperasse e voltasse a nos escolher, mas
então nessa noite... Você me fez perceber que eu deveria ser a
escolhida, ser conquistada, que por todo o nosso passado, eu
também mereço mais.
Busquei ar enquanto tentava me manter calma, porque era
difícil de isso acontecer.
— Um dia, você simplesmente apareceu na minha vida,
exatamente como um problema que não consegui me livrar e por
muito tempo achei que era bem-vindo, já que gostava de viver no
meu próprio conto de fadas..., mas talvez, eu deva tentar afastá-lo,
porque cansei de tentar me enganar. Prefiro tentar viver uma nova
vida, me obrigar a conhecer outra pessoa e me apaixonar de novo,
do que continuar a me submeter a isso — admiti e sem pensar,
agarrei a gola da sua camisa. — Por que você não fala nada?!
Gritei na cara dele.
— Se bem que, acho melhor assim... Só me faz sentir mais
raiva de você.
Como estava mais próxima dele, consegui notar o quanto seus
olhos transpareciam tristeza e estavam marejados. Sabia que
minhas palavras o atingiam de inúmeras formas e até tentei
controlar minha língua, mas vê-lo parado assim, sem me dizer nada
ou tomar alguma atitude, só me fazia falar mais.
— Qual é a merda do seu problema? Por que está parado
como se fosse uma estátua?
Melvin finalmente demonstrou estar vivo quando subiu suas
mãos até chegar nos meus ombros. Detestei sentir meu interior
agitado pela forma como me olhava. Detestei que mesmo na raiva,
ele ainda tinha um poder inconfundível sobre mim.
Eu era mesmo idiota.
— Me solta! — Tentei me afastar, mas ele não deixou, ou eu
que não reuni forças o suficiente para afastá-lo? —Já falei tudo o
que queria e não quero te ver mais na minha frente, nem mesmo
pintado de ouro. Eu vou dar o fora dessa casa e...
Seus lábios grudaram nos meus, me calando por completo.
Mantive meus olhos arregalados, em completo choque por
depois de tudo o que eu disse, ele me responder daquela forma.
Mas também, não sentia seus lábios há tanto tempo, que requereria
muita força para tentar afastá-lo.
Porém, eu não tive.
Seus lábios se mantiveram presos nos meus, não me dando
outra opção a não ser abri-los.
Porra!
Eu queria muito resistir e podia ter tentado, mas ao ter suas
mãos na minha cintura me puxando com tanta força, meus lábios se
entreabriram facilmente para sua língua adentrar minha boca.
Poderia mordê-lo, mas me deixei levar por alguns segundos.
Era ridículo da minha parte dizer o tanto que sentia falta
daquele contato? Sentia-me ridícula por estar aproveitando os
segundos que esse beijo me proporcionava.
Os lábios sugando os meus e incendiando meu corpo por
completo.
Sua língua tomando espaço pela minha boca, voltando a
conhecê-la e me deixando com arrepios até onde não achava ser
possível.
Melvin era mesmo um filho da puta.
Um gostoso filho da puta, que com apenas um toque,
conseguia me fazer esquecer o motivo de estar tão puta com ele.
Mas dessa vez não.
Eu não deixaria.
Mordi seu lábio e o empurrei com tanta força, que não sei dizer
se ele se desequilibrou pela mordida ou pelas minhas mãos.
— O que você acha que eu sou?!
Gritei e chorei ao mesmo tempo em que ficava perplexa.
Meu corpo todo parecia em combustão, tanto pela explosão de
raiva que tive quanto pelo olhar que ele me lançava nesse
momento.
— Sinto muito — fui eu que murmurei dessa vez.
Sinto muito por ter te atingido com essas palavras.
Sinto por você ter se tornado alguém tão receoso.
Sinto por você não acreditar que pode melhorar.
Sinto por você ser um completo idiota quando se trata do
nosso amor.
Sinto muito, Melvin.
Nós somos um amor tortuoso
Em uma linha reta
Faz você querer fugir e se esconder
Mas faz você dar meia-volta
I WISH YOU WOULD – TAYLOR SWIFT
MELVIN HOWARD
Qualquer pessoa que me observasse, me acharia um completo
idiota.
E talvez eu fosse.
Saí da sala e fui pra cozinha com a certeza de que não
deixaria Zane perto da Aurora, porque ela me pertencia. Estava
pronto até para implorar se fosse preciso para que ela saísse e
conversasse comigo.
Mas então ela negou enquanto me olhava firmemente.
Eu sentia raiva e mágoa ao me lembrar de tudo o que já a fiz
passar por conta de ciúmes.
Não tinha direito algum de fazê-la se afastar do seu colega.
E agora... ouvindo tudo o que ouvi da sua boca, como poderia
achar que seria melhor do que antes? Estávamos separados porque
deveria ser o melhor para nós dois, principalmente para ela.
Apesar de todos os meus esforços, parecia ser em vão já que
pude ver nos olhos dela, a dor que a fazia sentir.
Ela havia explodido bem na minha frente e não consegui fazer
nada além de puxá-la para um beijo, esperando que entendesse
com ele como me sentia.
Mas ainda assim, não me arrependia, pois tive a oportunidade
de senti-la mais um pouco.
O seu sabor, o seu cheiro, o seu calor. Porra!
Sentia tanta a falta da nossa relação.
Seus lábios sobre os meus, voltando a me fazer sentir com a
sensação de que estava com o mundo em minhas mãos.
Mas em compensação, tinha suas palavras cheias de uma
mágoa que estavam guardadas dentro dela há muito tempo, e
apesar de elas não terem me magoado, me fizeram paralisar.
Tinha tanto medo de perdê-la, mas não era o que justamente
estava acontecendo?
Olhei para minhas mãos. Ainda sentia sua pele sob meus
dedos, mesmo que ela já tivesse ido para o quarto há longos
minutos. E eu estava parado no mesmo lugar de antes, porque me
sentia um completo covarde.
Toquei meus lábios, sentindo seu gosto vivo nos meus.
Você é um filho da puta!
Eu era, sempre fui. Não era por isso que as pessoas
acabavam me deixando?
Respirei fundo e limpei meu rosto.
Precisava que minha garota me perdoasse.
Movi meus pés em direção ao corredor que me levaria aos
quartos, e antes de entrar no dela, espiei o de Elijah e observei meu
filho dormindo tranquilamente no berço, abraçado ao panda que
tanto adorava.
A porta do quarto da Aurora estava entreaberta e não se ouvia
nem passos do outro lado. Será que ela já estava deitada?
Ouvi um barulho de cabide batendo um no outro, o que negou
a pergunta que havia me feito. Sem entender o que poderia estar
acontecendo, me aproximei e entrei no quarto.
Não foi preciso mais do que dois segundos para entender o
que estava acontecendo.
Minha garota estava indo embora.
Minha mulher e meu filho estavam me deixando.
— Aurora — chamei.
Ela estava de costas para mim e mesmo assim, notei suas
costas tensionando ao ouvir minha voz.
— Maeve disse que posso ficar lá no apartamento dela até
achar um lugar — explicou, colocando as roupas de qualquer jeito
na mala aberta em cima da cama. — Eu poderia ir para os meus
pais, mas ficaria mais difícil de você ir ver o Elijah.
Engoli toda a dor que suas palavras me causaram, sentindo
que estava prestes a ficar perdido por viver naquela casa sozinho.
Aurora me deixaria aqui? Sem ela? Sem meu bebê?
Abri minha boca para perguntar o motivo, mas sabia que seria
estúpido demais.
— É por causa do que aconteceu. — Não foi uma pergunta, foi
mais como uma afirmativa.
— Não. — Ela fechou a mala com tanta força que não sei
como o zíper não estourou. — É porque não estamos mais juntos.
Dois ex-namorados não devem morar juntos e criar o filho como se
fossem um casal perfeito. Elijah já está entrando em uma fase que
começa a entender as coisas ao seu redor e não quero continuar
criando o meu filho nesse clima.
— Mas...
— Foi bom e necessário ter a sua ajuda durante todos esses
meses — interrompeu, descendo a mala, ainda de costas para mim.
— Você trocou fralda, deu banho, fez ele dormir, além de tantas
outras coisas que não consigo nem falar, e tudo isso quando eu não
aguentava mais a pressão de ser mãe.
Uma maldita lágrima escorreu pelo meu olho.
— Agora eu preciso viver separada de você. — Aurora
finalmente se virou e me mostrou seu rosto extremamente magoado
pela nossa situação. — Era para ser assim desde o início, não era?
Só tivemos um contratempo.
Odiei ouvir aquelas palavras saindo da sua boca.
Odiei que tenha se referido ao nosso filho como um
contratempo.
Odiei que tenha resumido a nada tudo que passamos nesse
último ano.
Mas antes de qualquer coisa, eu estava me odiando mais do
que tudo nesse momento.
Me odiava por ser um maldito covarde.
Por não ser quem ela e meu filho precisavam.
Por não ser um homem que eles pudessem se orgulhar.
— E como vamos fazer... com Elijah?
— Pode ir vê-lo sempre que estiver com saudade.
Eu sempre estou com saudade dele. De vocês.
Ela estava prestes a passar por mim quando a segurei pelo
braço.
— Aurora...
Seus olhos azuis ainda brilhavam com algumas lágrimas.
— É melhor não. — Parecia que estava implorando. — Você
fez uma escolha.
Eu fiz.
A mulher que eu amava saiu do quarto com sua mala, e no
momento que a porta foi fechada atrás de mim, chorei mais do que
quando ela terminou tudo comigo.
Nós nunca seríamos para sempre.
Todos os momentos bons que me permitia viver quando estava
com ela e nosso menino nessa casa, foram se apagando da minha
mente e dando lugar a uma realidade fria e melancólica.

— Deixa eu ver se entendi — Barry falou, bebendo mais um


gole da sua cerveja. — Você pediu para eu vir no meio da noite,
trazer cerveja, porque cometeu uma burrada dessas?
— E lembro de ter pedido para você ficar quieto, não me julgar
como está prestes a fazer.
Bebi mais alguns goles da minha cerveja.
Sabia a importância de evitar o álcool, mas aquela era uma
noite que eu precisava de algo para aplacar pelo menos um
pouquinho o desespero que estava sentindo. Era só não exagerar e
era exatamente por esse motivo que convidei o meu amigo.
— Cara... — Ele suspirou. — Sei que a situação de vocês é
delicada e que não é algo que pode simplesmente pedir perdão para
voltar às mil maravilhas, mas acha que não tê-la escolhido agora vai
adiantar alguma coisa? Pensei que você iria entrar naquela cozinha
e dizer que a queria de volta, não que sairia de lá mais magoado do
que antes.
— Eu tentei fazer isso — revelei. — Tentei trazê-la de volta
para mim, mas na hora eu travei.
Meu amigo bufou, frustrado.
— Parece que nem a terapia está funcionando — resmungou e
aproveitei o momento para dar um tapa na sua nuca. — Porra,
Melvin!
— Você pode me respeitar?
— Estou tentando ser seu amigo aqui, e adivinha? Amizade
não é só passar pano para as coisas que você faz — disse,
largando a cerveja na mesa. — Você está com medo de voltar a ser
o que era antes para Aurora? Que grande prova de amor! Acho
bonito da sua parte, mas não seja idiota, não é assim que vai trazê-
la de volta para você.
Ele parecia muito frustrado.
— Eu te amo, Melvin, e me preocupo contigo como se fosse
meu irmão de sangue. — Ele apertou o meu ombro. — Em um
relacionamento, você não vai estar sempre feliz, nem vai estar
sempre de bom humor, muito menos evitar de erras às vezes.
Relacionamento é sobre ciclos e tem que decidir de uma vez se
quer recomeçar com Aurora ou deixá-la ir para sempre, só não
invente de chorar no meu ombro ao vê-la com outra pessoa.
— E se eu voltar a ser 100% dependente dela?
— Nós somos dependentes de tudo, não percebe? Não somos
100% felizes sozinhos.
Ele tinha um bom ponto.
— Não sei o que aconteceu, Barry — admiti e deitei minha
cabeça em seu ombro, não evitando de voltar a chorar novamente.
— Eu estava a segurando perto de mim, eu cheguei a beijá-la e
estava prestes a tomá-la para mim de novo. Era tudo o que
queríamos..., mas eu travei.
Meu amigo suspirou.
— Tudo bem... Acho que ela te entende. — Ele deu batidinhas
no meu braço, lembrando que não sabia mesmo consolar alguém.
— Por que não resgata um pouco da coragem e atrevimento do
antigo Melvin? Não são características negativas.
— Do que está falando?
— Apareça amanhã no treino — sugeriu e me impediu de me
desencostar do seu ombro. — Converse com o treinador e treine um
pouco conosco. Comece arriscando pelo mais fácil e depois de ver
que está bem e dentro dos seus limites, procure Aurora para
conversar.
— Isso é tudo o que você quer, né? — zombei, limpando meu
rosto.
— Quero ver meu amigo feliz, não posso?
Respirei fundo.
— Prometo tentar.
Era a única promessa que podia fazer agora.
Eu tenho recolhido as peças
Da bagunça do que você fez
Pessoas como você sempre querem de volta
O amor que elas afastaram
ALL YOU HAD TO DO WAS STAY — TAYLOR SWIFT
AURORA BENSON
Não sabia identificar o que estava passando pela mente de
Rue nesse momento e era estranho ainda me sentir avaliada,
quando na verdade, ela estava ali para me ajudar.
Levei muito tempo para me acostumar com a terapia e
podíamos ver que às vezes, eu voltava para o início, me sentindo
um peixinho dentro de um aquário.
— O que foi, Aurora?
— Te contei tudo — murmurei. — Não é a sua vez de falar
algo?
Ela sorriu, simpática como sempre.
— Sente-se bem com a decisão que tomou?
— Faz apenas dois dias que saí de casa e estou incomodando
a Maeve no apartamento dela, não sei se tenho uma resposta certa
para sua pergunta.
— Não se sente livre?
Franzi a testa.
— Nunca me senti presa — respondi. — Posso dizer que me
sinto magoada.
Rue assentiu, provavelmente entendendo o que se passava na
minha cabeça e no meu coração.
— É normal que se sinta assim. Passou todo esse tempo
esperando que seu ex fizesse algo, respeitou o espaço que ele criou
e da forma que conseguiu, foi uma amiga, quando ainda o ama
como mulher.
— Acha que estou sendo idiota por estar sentindo raiva?
Ela negou.
— É claro que não — disse. — Quando envolve sentimentos,
nem sempre existe lado certo ou errado.
— E quando envolve escolhas?
Ela entendeu em que ponto eu queria chegar com isso.
— Sei que no seu coração pode estar o culpando, Aurora, mas
devemos lembrar que estamos falando do Melvin, um garoto que
pelo que me diz, é cheio de traumas mesmo que não admita, e
você, alguém que passou por situações difíceis enquanto estava
envolvida com ele.
— Eu sei.
Abaixei minha cabeça e fechei meus olhos por alguns
segundos antes de assumir:
— Sabe o que é o pior? Se ele me ligasse agora, dizendo que
errou e que me quer de volta, eu voltaria.
Olhei para minha psicóloga e a vi sorrir fraco.
— Sou uma tola! — Recriminei-me.
— Aurora, nós estamos acostumados a sempre ser reativos,
devolver na mesma moeda àqueles que nos fizeram sofrer, falar que
não dependemos de ninguém, que segundas chances não são o
certo..., mas isso seria algo com o qual você conseguiria conviver?
Conseguiria viver tranquilamente sabendo que deixou a mágoa e o
rancor a dominar, apenas para fazer aquilo que esperam de você,
mas talvez deixando de viver ao lado do homem que ama? — Ela
me olhou e sorriu como se entendesse a confusão que estava meus
pensamentos. — Não se ache tola por seguir seu coração, mas
também não aja guiada apenas por ele.
Suspirei, sentindo meus olhos encherem de lágrimas.
Preferi desviar desse assunto e pensar nisso em outro
momento.
— Só queria que ele se enxergasse como eu o enxergo,
sabe?
— E como você o enxerga?
— Ele não é ruim, nosso relacionamento pode ser melhor do
que já foi e ele é perfeito em tudo o que se coloca para fazer.
— E o que pensa em fazer agora que está solteira de
verdade?
Dei de ombros.
— Cuidar do meu filho? Parece ser a melhor opção.
— Posso dar um conselho? — Assenti. — Tenta se priorizar,
aproveita cada instante ao lado das suas amigas e do seu filho.
Procure entender por si mesma quem é você, o que de fato quer e o
que sente pelo Melvin. Você não está solteira há pouco mais de seis
anos, procure viver um pouco.
— E o que sugere? Que eu conheça novas pessoas?
Rue negou.
— Não precisa ser dessa forma. — Me surpreendeu ao dizer.
— Nossa própria companhia é boa de vez em quando, sabia?
Tinha certeza de que ela enxergava no meu rosto que eu não
fazia ideia do que estava falando.
— Use desse tempo para amadurecer seus sentimentos,
Aurora — aconselhou. — É isso que eu espero que Melvin também
faça.
Engoli em seco.
A ideia dessa realidade era tão péssima quanto a que estava
vivendo com meu ex antes.

Não esperava encontrar Melvin com Elijah no apartamento de


Maeve quando voltei da terapia, mas foi o que vi quando cheguei.
Não podia me irritar por ele estar fazendo o papel de pai, ainda mais
quando havia ficado dois dias sem ver nosso filho em respeito a
mim.
Ele provavelmente estava morrendo de saudade do pequeno.
E pela forma como meu filho o agarrava, estava também.
Se tinha uma coisa que eu amava ver e respeitava, era o amor
e a conexão que os dois tinham. Melvin venerava nosso filho, fazia
de tudo para tirar um sorriso dele, e eu nunca seria a pessoa que
iria impedi-los de ficarem juntos.
— Oi — ele cumprimentou, sem jeito.
Chris e Maeve também estavam na sala.
— Oi.
Meu bebê sorriu para mim e voltou a brincar com o pai,
demonstrando nos seus atos que aquele loiro era tudo que ele
queria naquele momento.
— Vou tomar banho — falei para Maeve. — Depois preciso
estudar para uma prova.
Minha amiga sabia que não havia prova nenhuma, mas
concordou para me ajudar nessa. Dei as costas para todos e entrei
no quarto dela, fechando a porta logo em seguida. Encostei meu
corpo nela e fechei meus olhos, tentando acalmar as batidas
aceleradas do meu coração.
Por que ele tinha essa mania de bater mais forte quando eu via
Melvin?
Como poderia usar esse tempo para curtir, quando cada parte
de mim ainda pensava e funcionava por causa dele?
Que tipo de amor é esse?
Se eu fosse uma pessoa fácil de desapegar, já estaria curtindo
minha vida de solteira. E isso me fazia sentir inveja das pessoas que
tinham essa facilidade.
— Como ela está? — o ouvi perguntar do outro lado.
Ainda tinha dúvidas se era bom ou não as paredes do
quarto da ruivinha serem tão finas.
— Muito bem — Maeve respondeu com uma animação, que eu
quase acreditei no que ela disse sobre mim. — Vamos até em uma
festa no final de semana.
Vamos?
Eu mataria aquela garota.
Melvin não respondeu nada e movi meus pés para ir tomar o
banho conforme havia dito, até que a sua voz me interrompeu:
— Cuide da sua mãe por mim, viu, garotinho? — Engoli em
seco. — Seu pai tem sido um covarde nos últimos meses, mas está
tentando ser um cara melhor para vocês dois.
— Barry me contou que tem treinado com o time nesses dois
dias — minha amiga comentou e fiquei tensa.
O quê?
Ele estava treinando agora?
Se fosse em qualquer outra circunstância, ficaria muito feliz por
ele, pois sabia que o esporte era uma parte importante de sua vida e
ele estava criando coragem para arriscar novamente. Mas agora,
só conseguia me sentir decepcionada.
Ele escolheu voltar a jogar, mas não escolheu me ter de volta.
— Barry é mesmo um bocudo — Melvin disse.
Desencostei-me da porta antes que ouvisse mais alguma coisa
que me afetasse e eu começasse a chorar.
Chega!
Eu não merecia isso.
Peguei minha toalha e fui em direção ao banheiro.

Todas as manhãs Elijah ficava com Margô e agora que não


estávamos morando mais com o Melvin, ela ia até o apartamento de
Maeve. Já fazia alguns dias que ela estava nessa rotina, porém,
hoje, parecia estar um pouco mais complicado.
— Algum problema? — Zane perguntou ao meu lado.
Estávamos no campus, terminando de escrever nosso artigo.
Li novamente a mensagem que recebi.
Margo: Ele continua chorando e gritando por “papa”.
Elijah não havia dormido direito, nem quando o coloquei em
cima do meu peito e Maeve saiu do colchão no chão e se deitou ao
nosso lado. Ele podia nos amar pra caramba, mas nessa noite,
estava com muita saudade do pai, mesmo que tivesse o visto na
tarde anterior.
— Você consegue terminar sozinho? — perguntei, guardando
meu telefone. — Meu filho está um pouco enjoadinho e precisa de
mim.
— Claro... — Estava me levantando quando ele segurou meu
pulso. — Posso te pedir algo em troca?
Franzi a testa, sem entender o que poderia ser.
— O quê?
Zane parecia um pouco nervoso.
— Vai ter uma festa na sexta na casa do Atlas, do time de
basquete. Quer me acompanhar?
Ele estava me convidando para sair? Será que era a mesma
festa que Maeve comentou na noite anterior?
Sorri um pouco mais forçado do que todos os outros sorrisos
que já lhe dei. Eu só o enxergava como um colega e tenho certeza
de que sempre fiz questão de demonstrar isso.
— Acho que eu estarei lá — comentei. — Minha amiga me
convidou para uma festa no final de semana.
— Ah...
Eu não podia dar esperanças para ele, não quando estar perto
dele e sua aparência bonita não me deixava nem... nervosa.
— Vejo você por lá, ok? — Soltei meu braço do seu toque. —
Até mais, e qualquer coisa que precisar, pode me enviar uma
mensagem.
Zane apenas assentiu e usei do momento, fugindo para o
apartamento da minha amiga, e ainda assim, consegui ver que era
alvo da atenção de Melvin, do outro lado do campus.
Ele estava com Barry e mais alguns garotos do time,
provavelmente a caminho do campo para treinarem.
Preferi fingir que não o conhecia quando passei na sua frente.
Era melhor assim.

Elijah pareceu um pouco melhor quando pulou para os braços


da sua única e preferida avó.
A senhora Elowen era conhecida por mim como a dona do
melhor colo e tinha certeza de que mesmo tão novinho, meu filho
também sentia isso.
Foi chegar na casa dos meus pais para que ele se acalmasse,
quando nem eu e Margô conseguimos.
— O que você tem, meu amor? Estava com saudade da
vovó?
Elijah fungou e se aninhou mais no colo da minha mãe.
Meu pai estava ao lado dela e tentava o distrair com o ursinho
de panda que ele tanto amava.
— Como ele está? Tem se alimentado direito?
— Tivemos uma consulta na semana passada e ele está bem
— Meu filho sim, eu que não estava nada bem.
— Isso foi antes de sair daquela casa? — meu velho
perguntou. — Finalmente tomou jeito e largou aquele garoto.
— Zac! — mamãe o repreendeu. — Eles estavam cuidando do
filho deles.
— Eu sei, e só por conta do meu neto que permiti que isso
acontecesse.
Suspirei.
Meu pai odiava o Melvin, já minha mãe apenas o suportava.
Eu nem podia ficar chateada por essa situação, porque todos
os sentimentos deles eram reflexo do final do nosso namoro.
— Você pode morar com a gente — ele voltou a falar e minha
mãe concordou. — Tem tudo aqui.
— Eu sei, pai, mas irei procurar um lugar para morar sozinha
com Elijah — Pelo olhar que me lançavam, tinha certeza de que
sabiam o motivo. — Eu e as meninas vamos ver alguns
apartamentos amanhã.
— Sabe que pode contar conosco para qualquer coisa, não é?
— a dona do melhor colo questionou. — Estamos aqui para apoiá-la
em qualquer decisão.
— Obrigada!
Saber que tinha esse apoio deles, era muito importante para
mim, mas sentia que precisava tomar minhas próprias decisões,
fazer algo apenas por mim e pelo meu filho.
Sorri fraco, vendo o coroa abaixar a cabeça e fazer careta para
Elijah, provocando o primeiro sorriso do dia no meu bebê.
— Como está, querida? — Minha mãe quis saber, e pelo olhar
profundo, sabia que seria difícil se simplesmente mentisse.
— Vou ficar bem.
— Acho que também tinha a esperança de que ele a
reconquistasse quando foi para aquela casa, né?
Dei de ombros.
— Eu achava que ficaríamos um tempo separados, iríamos
amadurecer e depois recomeçaríamos juntos.
Meu pai bufou.
— A vida não é um conto de fadas, Aurora — ele lembrou. —
Apenas seu nome é de princesa.
Podia ficar brava, mas acabei rindo da sua frase.
— Isso me lembra quando eu era chamada de princesa do
quarterback — comentei, levando minhas memórias para o passado
novamente e sentimento meu coração apertar quando olhei para a
mulher que me criou. — Mãe...
Mas de repente, meus olhos marejaram e ela suspirou.
— Está precisando de colo também, querida?
Olhei para Elijah, que estava distraído com meu pai no colo
dela e assenti.
— Cuide do nosso neto, querido... Nossa filha precisa de mim.
Ela entregou meu menino para o marido.
— Vem aqui, querida.
Meu pai se levantou com meu filho e saiu da sala sem que
deixasse ele ver que eu estava chorando. Levantei e me encolhi ao
deitar a cabeça no colo da minha mãe. Fechei os olhos por um
momento e suspirei aliviada.
Continuava o mesmo colo perfeito.
Ela começou a alisar meu cabelo enquanto eu me derramava
em lágrimas.
— Sabe o porquê seu nome é Aurora?
— Por causa da princesa?
— Só fui saber da existência dela quando você nasceu —
explicou. — Uma vez seu pai me levou para uma cidade chamada
Fairbanks, no Alasca. Ele disse que tinha uma surpresa para mim e
que ela mudaria nossas vidas. Não sabia na época, mas essa
cidade é muito procurada para ver a Aurora Boreal.
“Nunca havia visto o fenômeno e seu pai aproveitou para me
mostrá-lo. Isso pode ter acontecido há vinte e cinco anos, mas me
lembro perfeitamente daquela noite. O céu estava colorido, o ar
estava gelado a ponto de doer nossos dedos e mesmo assim, seu
pai se ajoelhou na neve e me pediu em casamento.”
A olhei surpresa.
— Nunca me contou essa história.
— Achei que agora seria o momento certo para contar —
disse, acariciando minha cabeça. — Eu aceitei, pois o amava mais
que tudo, e disse que o nome da nossa filha seria Aurora, para que
aquele momento nunca fosse esquecido em meio a tantas
memórias que construiríamos juntos.
— Vocês sempre foram fofos.
Ela sorriu fraco.
— Seu pai me perguntou na época o que faríamos se
tivéssemos um menino. Lembro de ter respondido que tinha certeza
de que seria menina e olha só... estava certa. — Apertou minha
bochecha. — Nós temos a nossa própria Aurora Boreal. Você brilha
tão intensamente, em tantas cores, que é impossível de não se
apaixonar.
Funguei, negando.
— Está falando isso porque é minha mãe.
— Não, querida — rebateu, demonstrando estar chateada por
eu pensar dessa forma. — Você é como uma Aurora Boreal. Brilha
em vermelho quando está apaixonada, em verde quando está feliz,
em cinza quando está completamente perdida ou se sentindo
sozinha, e em azul quando está triste. Eu a vejo brilhando em todas
as cores. Você é intensa e tem seu próprio brilho, por isso Melvin a
ama tanto, porque mesmo quando ele estava no seu pior momento,
você ficou até ultrapassar seu próprio limite, filha.
— Mãe...
As lágrimas voltaram rapidamente. Ela nunca havia me dito
que me enxergava dessa forma.
— Disse que eu e seu pai sempre fomos fofos, mas o que diria
se soubesse que nem sempre foi assim? — A olhei sem entender e
ela aproveitou para limpar meu rosto. — Sabe que nos conhecemos
desde a adolescência, né? — Assenti. — Namoramos por dois anos
sem qualquer desentendimento, mas começamos a brigar quando o
período de seleção para a faculdade começou. Não havia um dia
que não brigávamos. Seu pai queria sempre atenção e eu estava
focada em conseguir uma bolsa de estudos, muito diferente dele,
que era rico e tinha como pagar facilmente. Nós começamos a ficar
muito distantes, eu principalmente, porque odiava a forma como ele
não me entendia. Perguntava-me todos os dias em que lugar estava
o cara que me apaixonei?
— E onde ele estava?
— Seu pai descobriu que eu havia tentado bolsas para outras
universidades fora da lista que fizemos juntos. Tivemos outra
discussão feia, em que ele saiu da minha casa e foi para a festa de
um amigo — contou. — Eu fui atrás dele uma hora depois e quando
entrei naquela casa, o vi beijando outra garota.
Engoli em seco ao mesmo tempo em que meus olhos se
arregalaram.
— Papai? Meu pai?
Estava muito chocada.
Nunca poderia imaginar que isso aconteceu com eles no
passado. Meus pais nunca demonstraram que já tiveram uma crise
como traição no relacionamento.
— Ele estava bêbado, mas isso não justifica, né? Usar a
bebida para fazer burradas é tão ridículo quanto cometer os
mesmos erros.
— Como foi para você?
— Briguei feio com ele e falei que não queria vê-lo nem
pintado na minha frente. — Riu fraco, continuando com a carícia nos
meus cabelos. — Mas quando se trata de amor... tudo é tão
imprevisível, né?
— Muito — murmurei, pensando na minha relação.
— Seu pai me pediu perdão tantas vezes, e neguei todas elas,
porém, isso não me fazia feliz e nem me trazia tranquilidade.
— Porque você o amava.
Ela concordou.
— Eu não estava disposta a esquecê-lo e seguir em frente.
Igualzinho a mim.
— Levou dois meses para que eu aceitasse seu perdão, mas
foi a melhor decisão que tomei porque toda aquela tragédia só nos
deixou melhor. Voltamos mais fortes, mais apaixonados e mais
respeitosos um com o outro. — Ela prendeu meu nariz entre seus
dedos e o balançou de um lado para o outro, como fazia quando era
mais nova. — Sabe por que a segunda chance é sempre a melhor
parte de um relacionamento? — Neguei. — Porque quando a
damos, temos certeza de que faremos de tudo para não voltarmos
aos mesmos erros, afinal, sabemos como é estar separados.
Seu ponto de vista era interessante e inteligente... como ela.
— Por que está me contando isso?
— Primeiro, para explicar o motivo pelo qual seu pai odeia
tanto o Melvin agora. É só porque ele se vê nele. — Nós duas rimos.
— E também porque você e Melvin ainda não tiveram uma segunda
chance. Vejo muito de nós em vocês. Viveram um relacionamento
lindo e saudável… até ele adoecer.
— Eu te falei que ele não me escolheu.
— Porque ele a ama tanto, que está com medo de machucá-la
de novo. — Minha mãe sorriu. — Sabe... pensando bem, eu não
deveria ter tanto ranço dele por estar tão preocupado assim.
Sorri fraco.
— Eu sei e entendo os motivos dele.
— Aproveite de verdade seu tempo longe dele, filha. — Pediu
quase o mesmo que minha psicóloga. — Tudo vai ser resolvido com
o tempo.
— Então se por um acaso nós voltássemos... não ficaria
brava?
— Eu perdoei uma traição, por que ficaria brava com você?
Voltamos a rir e no meio das risadas, a abracei apertado.
— Às vezes, sinto saudade de ser criança e deitar dessa forma
no seu colo quando tenho algum problema. Sempre senti que ele
faz com que todo mal desapareça.
Mamãe voltou a alisar meu cabelo.
— Você não é mais uma criança, é uma mulher que tem um
filho para criar — lembrou-me. — Mas enquanto eu estiver viva,
sempre estarei aqui para te oferecer meu colo.
Sorri, me sentindo muito melhor.
— Obrigada, mãe.
Dias chuvosos
Estou pensando em você, o que dizer
Queria saber como encontrar o caminho
De volta para você em dias chuvosos como
RAINY DAYS – V
AURORA BENSON
O final de semana chegou em uma velocidade rápida e com
ele, a insistência de Maeve para que acompanhasse ela e o Chris
em uma festa. Tentei recusar com a desculpa de ficar com meu filho,
mas Caitlin e Trevor chegaram no mesmo instante, pegando Elijah
do meu colo e o levando para casa do Melvin.
Ainda estava meio incerta em deixá-lo com aqueles três,
entretanto não tinha outra opção.
— Pensei que você não gostasse de festas universitárias,
Chris — comentei, cruzando meus braços no banco traseiro do táxi
em que estávamos esmagados.
— Quem disse que estamos indo para uma festa universitária?
— a ruivinha perguntou. — Estamos indo para o segundo lugar
favorito de Chris.
Só então percebi que estávamos seguindo a direção oposta da
faculdade.
Por um motivo estranho, me senti aliviada.
— Achei melhor irmos para um lugar reservado e que não a
reconheçam, sabe? Assim consegue se distrair de verdade — Essa
preocupação me fazia gostar ainda mais dela. — Fora que, meu
namorado aqui, ama esse lugar.
— É um bom lugar para se divertir, Aurora — Chris sinalizou,
com seu sorriso simpático de sempre. — Se até eu gosto, você vai
gostar.
— Obrigada por isso — agradeci aos dois. — Sei que estou
incomodando por ficar lá no apartamento, e mesmo assim, vocês
estão me trazendo para me divertir.
— Você não incomoda, só impede a gente de transar. —
Maeve usou da sua sinceridade para me fazer rir e causar
constrangimento no rosto do seu pobre namorado. — O que foi?
Não me diga que está tímido, trevo de quatro folhas?!
— É... Depois de um ano de relacionamento com essa garota,
já deveria estar acostumado, Chris — comentei.
— Ela sempre consegue me surpreender com a falta de filtro
— ele explicou. — E você não incomoda, Aurora. Não ligue para o
que essa doidinha está dizendo.
Minha amiga semicerrou os olhos para ele. Sabia que ela
falaria alguma coisa que o deixaria desnorteado e até estava
ansiosa para isso, porque eu era fã do relacionamento dos dois; e
quando pensava em amor, eles sempre acabavam vindo na minha
mente de uma maneira ou de outra.
Maeve não tinha tido nenhum contato com esse sentimento,
nem mesmo por parte da sua mãe, que deveria amá-la, mas a ruiva
ainda assim lutou pelo que estava sentindo pelo Christopher. Foi
paciente, cuidou e o entendeu como ninguém nunca conseguiu.
Eles não eram só almas gêmeas.
Eles eram o complemento um do outro.
— Então nem podemos repetir o que fizemos no banheiro ano
passado — ela comentou e ele a fuzilou com os olhos. — O que
foi?
Maeve o encarava com a maior cara de inocente.
Sorri fraco.
Eles não mudavam mesmo.
— Chegamos — o taxista disse, parando em frente a um local
cheio de pessoas.
— Muito obrigada — ela agradeceu.
Saímos do carro.
Pensei que entraríamos na fila que estava formada em frente
ao local, mas minha amiga segurou a mão do Chris e foi em direção
ao segurança do lugar. Senti alguns olhares afiados em nossa
direção, então preferi apenas me aproximar deles.
Não queria arrumar briga por estar furando a fila ali.
Mesmo que estivesse.
— Obrigada! — Maeve agradeceu o homem e me olhou. —
Vamos, Aurora.
O segurança permitiu nossa entrada, mas antes de entrar e ter
minha atenção roubada para a festa que acontecia ali dentro, ouvi
algumas pessoas reclamarem.
O lugar estava cheio e a música era alta.
Havia dois bares, um do lado direito e outro do lado esquerdo,
e a pista de dança ficava entre eles.
— Ei! — Maeve chamou a minha atenção. — Vamos nos
divertir hoje, o que acha?
Fazia tanto tempo que eu não pisava em uma festa, que era
até estranho estar de volta em um local como esse.
— Prometo me divertir com vocês.
Era isso que eu faria.
Aproveitaria essa noite como se fosse a minha
última. Esqueceria por algumas horas a responsabilidade de ser
mãe, de ser um exemplo de ex-namorada e de não ser a escolha
para o recomeço do Melvin.
Apenas iria focar nesse momento.

Sentia meus pés apertados dentro da bota e aproveitei a


pausa entre as músicas para ir beber alguma coisa.
— Maeve, vai querer alguma bebida? — gritei por cima da
música que estava começando a tocar.
Ela negou.
Chris estava em outra dimensão enquanto dançava com um
copo de drink e resolvi nem perguntar para ele se iria querer mais
alguma coisa. O garoto amava beber e, pelo jeito, também amava
uma festa.
Dançamos tanto nos últimos minutos, que realmente me
esqueci de qualquer situação que estava acontecendo na minha
vida, mas agora só queria uma boa bebida e então voltaria para os
dois.
Havia me esquecido o quanto era divertido festar.
Mais tarde tinha que agradecer Maeve por isso.
— Um gin, por favor — pedi ao barman.
Sentei-me em frente ao bar e observei o cara com mãos
habilidosas fazendo meu pedido. Nem reparei quando alguém se
sentou ao meu lado, e só percebi quando senti dois pares de olhos
fixos em mim ao ponto de me sentir queimar.
Virei meu rosto para o lado, me deparando com um homem
moreno de aparência muito bonita. Ele tinha sobrancelhas grossas,
olhos escuros, assim como os fios do seu cabelo de tamanho
médio, e um rosto sem nenhuma marca, nem mesmo um fio de
barba por fazer.
O cara parecia quase um modelo.
— Olá! — Ele se aproximou um pouco mais para me
cumprimentar e junto com a sua voz rouca, senti o perfume incrível
que usava. — Sou Ângelo e você?
Sorri fraco para não parecer antipática.
— Sou Aurora.
— É um prazer conhecê-la, Aurora — disse com um sorriso
sedutor no canto dos lábios. — Seu nome é tão lindo quanto você.
Tinha absoluta certeza de que ele era alguns anos mais velho
que eu.
— Obrigada — murmurei.
Minha bebida chegou e aproveitei o momento para virar um
gole, sentindo a garganta seca. Não sabia mais reagir a flertes de
desconhecidos, tudo o que eu pensava era que queria Melvin aqui,
flertando comigo.
Inferno de homem!
— O que uma garota bonita como você faz sozinha nessa
festa?
Ele voltou a chamar minha atenção.
— Não estou sozinha. — Olhei para a pista de dança e apontei
para Chris e Maeve, que estavam dançando lá. — Meus amigos
estão ali.
Balancei a bebida na minha frente.
— Só vim descansar meus pés enquanto bebo.
— Entendo... — Sorriu novamente. — O que acha de dançar
comigo depois desse drink?
Olhei para minha bebida cor-de-rosa. Eu deveria fazer isso ou
simplesmente negar?
O homem era atraente, não podia negar o óbvio.
Tomei mais um gole do meu drink.
— Claro — respondi, mas com a sensação de que foi uma
péssima decisão.
Merda!
Eu não conseguia desapegar.
Por que estava aqui, afinal? Era para eu estar curtindo minha
própria companhia, não me envolvendo em uma futura dança com
um homem que queria ficar comigo.
Bebi mais da bebida, dessa vez até o fim.
— Opa... — Ele riu fraco. — Você parece estar tendo um
péssimo dia.
Meu sorriso saiu forçado.
Levantei-me para ir até a pista de dança, mas senti uma
tontura me atingir em cheio, e se não fosse pelas mãos fortes que
me agarraram, eu teria caído de cara no chão.
— Prometo ajudá-la a relaxar.
A voz rouca do homem soou no meu ouvido e dessa vez, eu
senti algo.
Senti medo.
Pavor.
Pois mesmo atordoada, consegui entender perfeitamente o
que estava acontecendo, só não sabia explicar como deixei que isso
acontecesse.
Ângelo havia me drogado.
Tentei me afastar daquele babaca, mas não tive forças para
isso e apenas ouvi sua risadinha no meu pescoço enquanto era
arrastada para algum lugar que não fazia ideia qual era.
Estava quase fechando meus olhos, quando ouvi uma voz que
nem mesmo drogada conseguiria confundi-la.
— Ei, seu imbecil! — Melvin gritou.
E em seguida uma sombra estava partindo para cima daquele
cara, o pegando desprevenido. Ele não conseguiu continuar me
agarrando e fui parar nos braços de outra pessoa.
— Aurora! Meu Deus! Você está bem?
Era a voz de Maeve.
Minha amiga estava apavorada.
Não consegui responder, meus olhos acabaram se fechando
para toda confusão que havia acontecido.
E eu amo o jeito
Que você nunca consegue encontrar as coisas certas para dizer
E você não pode parar quieta por uma hora no dia
Estou tão apaixonado, vamos fugir porque nós é o suficiente
I GUESS I’M IN LOVE - CLINTON KANE
MELVIN HOWARD
Sempre segui minhas emoções conforme as sentia, por isso
que minha impulsividade era um dos tópicos mais trabalhados nas
minhas sessões de terapia.
Ser impulsivo podia ser positivo como também podia ser
negativo, e esse último lado, já havia vivido o suficiente para não
querer vivenciá-lo novamente. Acontece que quando se tratava da
Aurora, eu ainda não conseguia me controlar muito bem.
Desde a hora que Trevor e Caitlin apareceram com Elijah na
minha casa, senti um incômodo por Aurora estar indo em uma festa
longe do campus com a Maeve e o Chris.
Não era nada igual a possessividade que já havia sentido por
ela, era apenas um pensamento constante de que não queria que
ela estivesse lá e sim aqui, comigo.
Era um pensamento egoísta.
Bem do jeitinho que eu era.
Foi quando suspirei pela décima vez em um curto espaço de
tempo, que Trevor me mandou tomar um jeito já que, de qualquer
forma, não estava concentrado no meu filho.
Tentei mudar isso e continuei brincando com Elijah até não
aguentar mais. Na minha cabeça só vinha a certeza de que
precisava ir ver Aurora, nem que fosse de longe, só para ter certeza
de que ela estava bem e se divertindo.
Deixei meu filho com os tios, pois ele já estava bem sonolento,
e peguei o carro na garagem, vindo parar no centro de Los Angeles,
no lugar que Maeve e Chris sempre vinham quando queriam se
divertir um pouco.
Não tinha fila para entrar, o que me possibilitou uma entrada
mais rápida. Até pensei que seria muito difícil achar Aurora no meio
de tantas pessoas, mas não levou nem cinco minutos para que isso
acontecesse, e a cena que vi me causou uma raiva tão grande, que
nem tive tempo de processar direito se o que estava vendo era
mesmo o que havia entendido.
Aurora parecia estar sendo carregada quase desacordada por
um imbecil e foi o sorrisinho safado dele, de quem havia ganhado a
noite, que me fez partir para cima dele.
Aproximei-me tão rápido como pude e soquei sua cara.
— Imbecil! — Gritei. — O que pensa que está fazendo com a
minha mulher?
Ele não esperava pelo soco e acabou se desequilibrando,
quase levando Aurora junto se não fosse pelas mãos da Maeve.
Não sei em que momento ela e o Chris se aproximaram, pois minha
atenção estava toda no filho da puta à minha frente.
— Aurora! Meu Deus! Você está bem? — Dava para perceber
o quanto a ruivinha estava preocupada só pelo tom de voz.
Desviei o olhar apenas por um segundo para ver como ela
estava, e vi minha garota atordoada, sem entender nada do que
estava acontecendo.
Eu mataria aquele imbecil!
Voltei minha atenção para ele, com a certeza de que só
pararíamos na polícia, mas o covarde já estava fugindo entre as
pessoas da festa, empurrando-as para chegar na saída o mais
rápido possível.
Movi meus pés para ir atrás dele ao mesmo tempo em que
Chris me segurava pelo braço e me impedia de dar mais que dois
passos.
— Me solta, Christopher! Eu vou matar aquele filho da puta.
Ele negou e apontou para Aurora com o queixo. Olhei para a
minha garota, sentindo a raiva se dissipando e a preocupação
apenas aumentar.
Como isso pôde acontecer? A loirinha sabia sobre idiotas que
drogavam meninas em festas para se aproveitar delas. Até já
havíamos ajudado duas nessa situação no passado, uma das
garotas foi em uma festa do ensino médio e a outra no primeiro ano
da universidade, então... Como ele conseguiu drogá-la? Dificilmente
ela aceitaria uma bebida de um estranho.
— Aurora...
Soltei-me do Chris e me aproximei dela.
Apesar da forma atordoada que estava, ela pareceu
reconhecer meu corpo e relaxou assim que passei meus braços ao
redor do seu corpo.
— Não sei como isso foi acontecer... ela só disse que ia pegar
uma bebida e eu e Chris ficamos dançando. — Maeve parecia estar
se sentindo muito culpada e até estava com os olhos marejados.
O nerd se aproximou da namorada e a abraçou.
— Se a gente não tivesse aqui ou se você não tivesse
aparecido... — a ruiva murmurou chorosa e desacreditada do que
havia acontecido.
— É melhor eu levá-la para casa ou para um médico... O que
fazemos quando isso acontece? — perguntei, atordoado e
preocupado.
A lgumas pessoas notaram que algo estava acontecendo e se
aproximaram apenas para ver.
— Vamos levá-la para casa — Maeve disse e Chris concordou.
— Ela só está dormindo agora.
Assenti e a agarrei no colo.
Esperava que Maeve estivesse em condições para dirigir meu
carro, pois não tinha pretensão de soltar Aurora hoje.

— O que aconteceu? — Caitlin perguntou, preocupada.


— Maeve vai explicar — falei, já caminhando em direção aos
quartos. — Como está Elijah?
— Nós acabamos de fazê-lo dormir — Trevor respondeu,
olhando assustado para Aurora sonolenta no meu colo. — Precisa
de ajuda?
Neguei.
— Ela já acordou no carro e disse que queria ir para o meu
apartamento — Maeve respondeu. — Mas Melvin insistiu para que
os trouxesse até aqui.
A loira no meu colo me abraçou mais forte enquanto eu
ignorava minha irmã e meus amigos na sala e partia para meu
quarto.
— Não me deixe — ela murmurou baixinho. — Por favor,
Melvin.
Não resisti e acabei sorrindo, um pouco mais relaxado quando
sua cabeça se aninhou em meu pescoço. Estava aliviado por ter
seguido meus instintos, por ter conseguido salvá-la de algo que com
certeza seria traumático.
Não sabia que tipo de droga o imbecil havia usado, parecia ser
um sedativo que tinha apenas o objetivo de apagá-la para se
aproveitar.
— Como eu poderia deixá-la, Sunshine? — perguntei
enquanto abria a porta do quarto com um chute. — Espero que não
se irrite comigo amanhã por ter desobedecido sua ordem de deixá-la
com Maeve.
A coloquei no colchão macio.
Ela parecia desconfortável com as roupas que estava usando,
e apesar de conhecer o corpo dela como se fosse o meu, não era o
certo e não poderia tirar para colocar algo mais confortável, mesmo
com uma pilha de camisas que ficariam lindas nela. Ela ficaria louca
no dia seguinte ao saber que a vi apenas de roupas íntimas e com
certeza eu levaria um tapa.
Apenas tirei a jaqueta e as botas que ela usava, deitando-a
melhor na cama.
Estava prestes a me afastar para trocar de roupa, quando
Aurora segurou meu pulso.
— Melvin?
Ela estava com os olhos semiabertos e parecia confusa.
— Oi... Você está bem?
— Um pouco enjoada... O que aconteceu?
— Não se lembra?
Preocupei-me com ela assim que fechou os olhos e não
respondeu.
Retirei meus tênis de forma rápida e de qualquer jeito, me
ajoelhando na cama ao seu lado.
— Você está mesmo bem?
Toquei seu rosto só para sentir a temperatura e a senti nem tão
quente e nem tão fria.
Parecia normal.
Aurora abriu os olhos e só então notei que estava com o rosto
muito perto do dela.
Sem que eu esperasse por qualquer movimento da parte dela,
a loira me puxou para um abraço, quase me fazendo cair por cima
de seu corpo. Senti seus ombros balançarem sob mim e quando
fungou, tive a certeza de que estava chorando.
— Não sei c-como aconteceu. — Choramingou. — E se...
— Ei, está tudo bem agora. — A puxei para meus braços,
abraçando-a mais forte enquanto se desmanchava no meu colo. —
Você não tem culpa.
— Não está... bravo comigo?
Sua pergunta me deixou com o coração mais partido ainda.
Estávamos tão distantes um do outro, que ela nem me
conhecia mais, pois nem quando estava vivendo o inferno que
também a fiz passar, a culparia ou ficaria bravo com ela por conta
dessa situação.
— É claro que não, Sunshine.
Aurora me apertou mais.
— Não está sentindo nada mesmo? Talvez eu devesse levá-la
para o hospital.
Ela negou rapidamente.
— Seu abraço — disse baixinho, alisando minhas costas. — É
bom senti-lo depois de tanto tempo.
— Meu abraço não pode te curar se estiver mal, Sunshine.
— Você está errado — respondeu com mais firmeza do que
qualquer uma de suas últimas palavras. — Seu abraço me curou de
muitas coisas no passado.
Meu coração acelerou ao ouvi-la falar aquilo.
Ela não podia dizer tudo isso assim, ainda mais depois do que
estávamos vivendo nos últimos dias.
— Achei que ficaria brava comigo por não tê-la levado para
Maeve.
A senti ficar tensa dentro do meu abraço e quando afastou o
rosto do meu pescoço para me olhar, minha atenção, assim como
todo meu sangue, pareceu focar e funcionar apenas por ela.
— Posso ficar apenas essa noite aqui? — pediu, com olhos
vermelhos de tanto chorar.
— Você nunca deveria ter saído daqui, Sunshine.
Se eu chamando-a daquela forma, estava a incomodando, ela
não se atreveu a dizer naquele momento.
A deitei novamente no colchão e dessa vez, fiz o mesmo ao
seu lado.
Não resisti e me virei para ela, a puxando pela cintura para que
continuássemos abraçados.
— Você disse que meu abraço te cura — justifiquei meu ato.
Aurora passou a mão pela minha cintura, me abraçando
também. Seu rosto se aproximou mais do meu com o movimento e
quase suspirei quando sua respiração bateu contra a minha.
Porra!
Sentia até falta disso.
De tê-la em uma cama comigo, nós dois compartilhando o
mesmo ar.
De poder sentir sua pele, seu cheiro.
Da sensação de que meu mundo todo estava nos meus
braços.
Eu simplesmente senti falta de tê-la comigo.
De todas as formas possíveis.
Os olhos da loira que sempre faria meu coração bater mais
forte viajaram pelo meu rosto até pararem na minha boca.
Odiava a forma como ela me olhava agora.
Era daquela forma que sempre olhava quando queria um beijo
e não queria dar o primeiro passo.
Aurora me olhou muito dessa forma antes de começarmos a
namorar.
— É melhor você dormir, Sunshine.
Ela ainda estava drogada. Não era certo pensar em beijá-la
quando havia passado por um evento como aquele.
Eu mesmo tirei minha mão da sua cintura e a aproximei do seu
rosto, passando meus dedos com delicadeza pelas suas pálpebras
para que fechasse os olhos. Ela sorriu fraco e me obedeceu.
— Boa noite, Sunshine.
Voltei a mão para sua cintura e não desgrudei meus olhos do
seu rosto, nem quando o sono estava querendo me tomar por
completo.
Era a primeira vez depois de muito tempo, que minha garota
estava comigo.
Era a primeira vez depois de muito tempo, que ela confiava em
mim.
E eu gravaria cada segundo daquela noite.
Ei, é tudo culpa minha, na minha cabeça
Fui eu quem nos incendiou
Mas não era o que eu queria
Me desculpe por ter te machucado
AFTERGLOW – TAYLOR SWIFT
MELVIN HOWARD
Aurora dormiu pelo que acho ter sido duas horas antes de
acordar. E enquanto estava dormindo, seu corpo se aconchegou
ainda mais em mim e encaixou a cabeça no vão do meu pescoço.
Depois que acordou, levantou a cabeça e me encarou com os olhos
bem abertos e o semblante de quem tinha muitas coisas passando
pela mente, mesmo que tivesse acordado há poucos segundos.
— Está melhor? Pode dormir mais um pouco, está longe para
amanhecer — falei.
Não conseguia pegar o celular, mas tinha certeza de que nem
havia passado das cinco horas ainda.
— Por que não está dormindo?
— Estou cuidando de você — respondi o óbvio.
— Estou bem — murmurou. — Deveria dormir.
— Eu estou bem, Sunshine, você que foi dopada — a lembrei,
alisando seus cabelos. — Temos que ficar te observando por pelo
menos, vinte e quatro horas.
Aurora tentou prender o sorriso, mas não conseguiu por
completo.
Meu coração se aqueceu ao vê-la sorrindo. Ela continuava
sendo a garota mais bonita do mundo, que mexia comigo a cada
minuto do meu dia.
Queria poder simplesmente beijá-la nesse momento, mas
sabia que não era merecedor disso.
Não quando errei e a fiz esperar tanto.
— O que foi? Por que está rindo? — perguntei, voltando para o
assunto em que estávamos.
— Pretende ficar grudado em mim por vinte e quatro horas? —
Queria falar que por mim, seria para o resto das nossas vidas.
— Não me custaria nada, sabe?
— Custaria muito para mim, sabia? — devolveu,
demonstrando que palavras tinham o poder de atingir o coração
com os significados que elas escondiam por trás.
— Como foi... — Fiz uma pausa, ponderando se perguntava ou
não o que estava se passando na minha cabeça. — Essa semana
para você?
Ela suspirou e voltou a encaixar a cabeça no meu pescoço.
— Tem sido pior do que eu imaginava que seria — admitiu
baixinho. — Você sempre está lá. Nos meus pensamentos. Nos
meus sonhos. Nas minhas lembranças.
Meus olhos marejaram e em vez de afastá-la, a apertei mais
contra mim.
— Sinto muito.
Porra, como eu sentia.
— Talvez se você nunca tivesse me conhecido...
— Não diga bobagens! — Bateu nas minhas costas. — Fiquei
irritada a semana inteira por sua causa e gostaria de continuar
assim. Mas as coisas não são como queremos, Melvin. Ainda não
sei se é infelizmente ou felizmente, só sei que te entendo.
— Me entende?
— Você não quer voltar ao que era antes, nem mesmo ao cara
que me tratava como uma princesa, porque tem medo de acabar se
machucando e me machucando também. Não importa quantas
vezes eu diga que está diferente, que mudou, existe um mecanismo
de defesa que você mesmo criou e que é difícil de quebrá-lo — ela
disse, me enxergando melhor do que eu mesmo. — É por isso que
saí dessa casa. Não foi só por independência, foi porque também
precisava colocar meus pensamentos em ordem para não acabar
surtando.
E ali estava... a garota por quem me apaixonei e o motivo de
nunca poder superá-la.
Aurora era essa mulher. Compreensível, gentil, apaixonada e
do tipo que se doava 100% em qualquer relacionamento. Era por
isso que acabei fazendo-a tão mal.
— Obrigada — murmurei, sentindo minha garganta fechar. —
Você sempre foi capaz de me entender.
Sentia-me envergonhado por tantas vezes que a machuquei.
A mãe do meu filho era a melhor parte da minha vida, e agora
eu estava perdendo-a porque não sabia se era o mesmo cara por
quem ela se apaixonou.
— Eu mudei, Sunshine — avisei, só para o caso de ela ainda
não ter percebido. — A única coisa que nunca mudou, foi como me
sinto em relação a você.
Sua respiração bateu mais forte contra meu pescoço,
arrepiando-me por completo.
— Idem — admitiu. — Sei que voltou a treinar com os
meninos. — Podia sentir que tinha algo a mais em sua fala.
— É um teste — expliquei. — Testar coisas que eram
importantes para mim antes, mas que deixei que se tornasse
gatilhos quando estive no meu pior momento.
Ela me olhou.
— Foi por isso que não me escolheu?
Confirmei com a cabeça em um movimento lento.
— Nunca poderia ser um teste, Sunshine. Eu só voltaria para
você se tivesse certeza de que a faria feliz. E agora nós temos
nosso filho… nunca poderia colocá-lo no meio da merda que já a fiz
passar. Sei que não tive um bom exemplo em casa, que por muitas
vezes agi por impulso, a magoei, mas não quero nem você, muito
menos o Elijah passando por algo semelhante.
Aurora fechou os olhos e se aconchegou novamente em mim.
— Você não mudou totalmente — murmurou contra a minha
pele. — O homem pelo qual me apaixonei, ainda está aí dentro. Por
que acha que fiz de tudo para não desistir de você? Eu não sou
estúpida como parecia ser. Aguentei todo o lado ruim do nosso
amor, até o limite que podia, e desisti de nós quando sabia que
nossas memórias e momentos bons seriam apagados pela mágoa
que estava começando a sentir.
Em um resumo melhor, ela foi a que mais lutou por nós, e esse
era um dos motivos que a amava pra caralho.
Aurora não tinha obrigação de ficar comigo quando estava em
constantes crises de depressão, tratando-a como um lixo e sendo o
pior namorado possível, tudo porque não aguentava mais me
manter vivo. Eu estava cansado, profundamente cansado. Mas
ainda assim, ela ficou ao meu lado até não aguentar mais.
E levou um tempo para que esse momento chegasse.
— Terminar com você foi a coisa mais difícil que tive que fazer
— murmurou.
— Ver o que causei em nós, foi a pior visão que já tive em toda
minha vida — admiti, fechando os olhos enquanto sentia sua
respiração bater na minha pele. Era reconfortante estar com ela
daquela forma. Abraçados, sem encarar um ao outro. Fazia tanto
tempo que não tínhamos um momento tão sincero e natural como
esse. — Eu quis morrer.
Eu tentei me matar.
Quando vi o que havia feito, achei que não suportaria viver
com aquela culpa e quis fazer cessar. De uma forma ou de outra.
Alisei suas costas, a sentindo tensa sob meus braços.
— É por isso que se quiser continuar com a ideia de procurar
outro lugar para morar, eu vou entender, Aurora — falei, mesmo que
doesse em mim. — Você viveu anos presa a mim.
Ela levantou o rosto, semicerrando os olhos em minha direção.
— Falando assim, parece que você é um pesadelo na minha
vida.
Às vezes, era assim que me sentia.
— Preciso lembrar do cara que me levou em três encontros
antes de me beijar e só depois me pediu em namoro, tudo isso
porque eu gostava de romantismo? Preciso lembrar do garoto que
levou uma suspensão por entrar na sala de som da escola e fazer
uma declaração linda para todos ouvirem, tudo porque tinha um ano
que estava namorando?
Senti minhas bochechas corarem.
— Meu Deus... — Dei risada. — A diretora puxou tanto a
minha orelha.
Não é como se eu tivesse me esquecido de todo o lado bom
do nosso relacionamento, porém, sentia que essas memórias
estavam apagadas da minha mente.
— Você se atrasava todos os dias pro treino e tinha que fazer
cinquenta abdominais porque almoçava comigo, já que era o único
tempo que tínhamos durante o dia para ficarmos juntos — Aurora
voltou a me lembrar. — Você amava entrar escondido no meu
quarto apenas para dormir abraçado a mim porque odiava a solidão
na casa da sua tia.
Isso, de alguma forma, me deixava triste. Como me tornei
quem sou hoje quando tinha todo esse passado?
— Você me abraçava e dizia que sentia falta dos seus pais,
tudo isso quando eu nem fazia ideia de que era porque nunca teve
pais de verdade.
— Aurora...
— Você me protegia de todos, até mesmo dos professores que
me chamavam a atenção. — Ela riu, me fazendo rir junto em meio
ao choro preso na garganta. — Nunca vou me esquecer do dia que
foi pra diretoria porque o professor de história me repreendeu por
não prestar atenção.
Fiz uma careta.
— Acho que foi exagerado da minha parte.
— Eu também acho.
Nós continuamos rindo.
— Hum... Lembra da vez que decidimos sair da cidade? Eu
havia acabado de receber minha carta de motorista e queria viajar
com você. Cheguei até fazer um roteiro romântico — lembrei de
uma das nossas histórias mais engraçadas.
A loirinha fechou os olhos, rindo e colocando a mão na boca.
— Deu tudo errado! — falamos juntos.
O pneu havia estourado e como era um feriado, não tinha uma
mecânica aberta na estrada. Tivemos que nos hospedar em uma
fazenda que havia por perto, ela era de uma família que foi muito
acolhedora conosco e que nos ajudaria dois dias depois, pois o
marido da mulher voltaria da viagem e trocaria o pneu para nós.
— Quem disse que era uma boa ideia dois adolescentes
viajarem juntos? — Aurora perguntou.
Ri da sua pergunta.
— Você ficou lindo cheio de lama — ela provocou.
Revirei os meus olhos.
— Tenho pesadelos até hoje com aquilo!
Não podíamos ficar na fazenda de graça, então falamos que
ajudaríamos em tudo que fosse fácil para fazer.
Recebemos a tarefa de alimentar as ovelhas, mas para chegar
até elas tínhamos que passar por um chão cheio de lama. Lembro
de ter tentado caminhar o mais devagar e delicadamente possível
para não cair, acontece que não contava que um cachorro gigante
iria achar que estava brincando e me atacaria.
Fui parar no chão, completamente cheio de lama e com um
cão enorme em cima de mim.
— Foi engraçado! Não podemos negar isso.
Sorri.
— Foi uma boa viagem para você?
— Maravilhosa.
Seu rostinho estava tão fofo, com os olhos brilhando
intensamente para mim e com as covinhas aparecendo em cada
lado da sua bochecha, que não resisti e baguncei seu cabelo como
nos velhos tempos.
— Melvin! — ela repreendeu.
— Lembra disso também?
— Eu continuo odiando!
Aurora se afastou para arrumar o cabelo, esquecendo
completamente que estava deitada e que isso não era importante.
Suspirei, pensativo a respeito de tudo o que conversamos.
— Se eu dissesse que estou arrependido por não tê-la
escolhido naquele dia, me daria uma nova chance? — perguntei e
sua mão paralisou no topo da cabeça.
Ela me olhou sem entender.
— Está arrependido?
— Estou pensando que talvez eu devesse apertar o botão de
recomeçar e levá-la para mais três encontros antes de ter seu
perdão de volta.
Ela desviou o olhar e para a minha surpresa, suas bochechas
ficaram avermelhadas.
Fazia tanto tempo que eu não a fazia corar, que havia me
esquecido completamente da sensação avassaladora que me
invadia sempre que ela ficava dessa forma. Meu coração ainda
batia acelerado igual ao dia que descobriu estar apaixonado por ela.
— Do que você está falando?
Que dessa vez, eu faria qualquer coisa para trazê-la de volta
para mim.
Do modo certo.
Do modo maduro.
Do modo calmo e paciente.
Talvez, só talvez... nós poderíamos nos encontrar juntos.
Cada um à sua forma, mas juntos.
— Saia comigo, Aurora Benson. — Pedi. — Tenho pensado
que não quero voltar de onde paramos. Quero ter a oportunidade de
me apaixonar novamente por você e fazê-la se apaixonar por mim
de novo.
— Mas...
Neguei.
— Está custando muito da minha coragem dizer isso, então
poderíamos abandonar o passado e construirmos algo mais sólido
depois de todo esse tempo separados?
Abandonar seria até mesmo os momentos bons que tivemos
juntos.
Seria algo novo.
Algo que nós dois poderíamos dar conta de viver.
Nosso maior problema no presente, era nosso passado.
Ela não desistia de mim porque ainda me via como esse
garoto das suas melhores lembranças, e eu a mantinha nessa
balança de indecisão porque estava preso às memórias do quanto
nos fiz mal.
— O que me diz, Aurora?
Diga que foram longos seis meses
E você estava com muito medo
De dizer a ela o que você quer, quer
E é assim que funciona
É assim que você conquista a garota
HOW YOU GET THE GIRL – TAYLOR SWIFT
AURORA BENSON
Acordei com a sensação de não ter dormido o suficiente, não
sei se era por conta do tempo que eu e Melvin ficamos conversando
ou porque estava sob efeito do que havia acontecido ontem.
Como toda aquela situação foi acontecer? Em que momento
me deixei ser drogada?
Podia forçar minha mente a pensar mais e chegar a uma
conclusão sozinha, mas não conseguia me preocupar com isso, não
quando havia aceitado a proposta inusitada do meu ex durante a
madrugada.
Nós iríamos sair.
Ele estava disposto a me conquistar novamente?
Um sorriso bobo brotou nos meus lábios sem qualquer
controle. Não conseguia esconder a animação que estava sentindo
e talvez fosse mesmo um pouquinho trouxa por conta disso, porém
não conseguia evitar.
Abri meus olhos e me deparei com o loiro adormecido ao meu
lado.
Sabia que ele não conseguiria permanecer por mais tempo
acordado, era apenas um teimoso que adorava discordar.
Aproximei minha mão dos fios soltos do seu cabelo em frente a
sua testa e coloquei para trás, só para vê-los voltarem, de tão lisos e
hidratados que estavam. Antigamente, eu costumava amar mexer
nas mechas dele, observá-lo dormindo e de vez em quando, me
aconchegar mais em seu corpo só para dormir mais um pouco ao
seu lado.
Se eu parasse para pensar o que de fato fez com que o
amasse dessa forma tão profunda, ficaria horas e talvez até dias
procurando uma resposta, que provavelmente não encontraria.
Amar uma pessoa vem com o tempo, não é mesmo? Você não
ama de um dia para o outro ou de um encontro para o outro.
Então a resposta mais plausível que poderia encontrar, era que
conhecê-lo cada vez mais, fez com que eu o amasse dessa forma.
Despertei-me dos meus pensamentos ao sentir sua mão
segurar meu pulso. Os olhos dele ainda estavam fechados, mas
isso não o impediu de acariciar a minha pele, com os lábios
curvados levemente em um sorriso fraco e singelo. Seus dedos se
entrelaçaram com os meus num gesto suave e reconfortante.
O quarto estava silencioso, exceto apenas pela nossa
respiração suave. Observei Melvin de perto, percebendo que pela
primeira vez, depois de muito tempo, ele estava em seu momento
de paz. Havia uma serenidade em seu semblante que contrastava
com toda a agitação que seu passado carregava.
Observei nossas mãos, sentindo um calor muito bem-vindo se
espalhar pelo meu peito, acalmando todas as dúvidas que me
atormentaram por todos esses meses. Era como se o simples toque
dele fosse capaz de dissolver todas as preocupações e incertezas,
deixando apenas um sentimento de plenitude e segurança.
Por favor, diga que estamos seguros agora.
Foi o que pedi em pensamentos antes dos seus olhos se
abrirem e me encararem.
Eu apenas pisquei meus olhos e o loiro estava em cima de
mim, fazendo o bobo do meu coração acelerar com nossa
proximidade.
— Bom dia, Sunshine — ele cumprimentou com um sorrisinho
travesso.
Sabia que deveria respondê-lo, mas só consegui focar nos
seus lábios próximos aos meus.
Nosso último beijo não havia sido aproveitado tanto, e só
serviu para me deixar com raiva e excitada ao mesmo tempo. Muito
diferente de agora, que estávamos bem e poderíamos dar esse
passo. Sentia tanta falta do seu toque, que acho que poderia
enlouquecer.
Com a outra mão que não era segurada pela dele, agarrei sua
nuca e o aproximei do meu rosto. Melvin percebeu a minha intenção
e me lançou um dos seus olhares brilhosos e maliciosos, como se
gostasse de me provocar e estivesse gostando da tensão palpável
que se formava entre nós. Um sorriso sugestivo brincava em seus
lábios, juntamente com o desafio dançando naquela imensidão azul.
Todo meu interior esquentou e meu coração acelerou ao vê-lo
abaixar a cabeça e pairar a poucos centímetros da minha boca.
Tinha certeza de que ele ouvia meus batimentos frenéticos pela
forma como nossas respirações se misturavam naquele momento.
Cada milímetro que nos separava parecia uma eternidade, uma
tortura deliciosamente agonizante que despertava uma ânsia
avassaladora dentro de mim.
Seus lábios roçaram levemente os meus, enviando ondas de
eletricidade pelo meu corpo. Foi um toque sutil, provocante, que fez
com que minha pele se arrepiasse em resposta. Senti um calor
imenso subir pelo meu corpo quando ele desviou seu rosto para a
região do meu pescoço e beijou suavemente.
— O que você quer, Aurora? — sussurrou no meu ouvido.
Cretino!
— Você sabe o que é — respondi, minhas pálpebras
estremecendo quando ele beijou mais uma vez.
Agarrei sua nuca com mais força e ele levantou a cabeça,
voltando a pairar sobre mim. Melvin também queria me beijar, o
conhecia bem o suficiente para saber disso.
Se ele não tomasse atitude, provavelmente eu que iria dar o
primeiro passo do beijo.
Seus braços estavam à mostra com a regata preta que usava
e toda sua provocação, além dessa aparência incrivelmente
gostosa, só me deixava mais louca por ele.
Melvin recuou ligeiramente, deixando um espaço mínimo entre
nossos rostos. Seus olhos brilhavam com uma intensidade que
parecia desvendar os segredos mais profundos da minha alma. Era
como se ele lesse cada pensamento, cada desejo oculto que eu
tentava manter escondido. E, mesmo sem proferir uma única
palavra, sua presença era capaz de despertar um tumulto de
emoções em meu ser.
Mas então, um sorriso divertido dançou em seus lábios e ele
murmurou um suave:
— Pego você às oito, ok?
O quê?
Ele ficou maluco?
Aquele idiota não iria mesmo me beijar?
Antes que eu pudesse fazer isso por nós, ele estava pulando
para fora da cama.
— Por mais que seja extremamente tentador beijá-la, precisa
saber que eu não iria parar com um beijo, Sunshine — admitiu, do
jeito cafajeste que sempre existiu dentro de si. — Temos três
encontros pela frente antes de eu voltar a fazê-la minha para
sempre!
Odiei a forma como suas palavras só me deixaram mais
molhada.
Estava pronta para mandá-lo a merda, quando completou:
— Pode ficar brava comigo se quiser, mas eu pretendo tratá-la
como uma princesa.
Sua explicação conseguia me deixar ainda mais irritada.
Ele queria me tratar como uma princesa, mas iria me deixar
aqui excitada?
— Você quer morrer? Eu poderia socar a sua cara!
— Quantos socos eu mereço de você? Não seria nada de mais
— disse, sorrindo fraco e dando de ombros.
Bom... eu ainda estava puta com ele!
— Você poderia enfiar o cavalheirismo no...
Elijah chorou bem na hora que falaria outro palavrão sem
pensar.
— Você — apontei para ele enquanto pulava da cama. —
Fique aqui! Vou pegar Elijah e voltar para Maeve.
— Passarei no apartamento às oito — voltou a dizer.
— Estou brava com você!
— E eu falei que irei reconquistá-la — lembrou. — Esteja
pronta.
Apenas bati a porta com mais força do que o necessário
quando saí do quarto.
Cretino!
Eu amava um grande cretino!
Então me diga o que foi que atrapalhou
E como eu achei bom que isso tenha mudado
E estou pedindo desculpas de novo
Oh, eu nunca poderia mudar os meus hábitos
TOO MUCH (FEAT. JK & CENTRAL CEE) - THE KID LAROI

AURORA BENSON
Não sabia dizer o que havia acontecido comigo naquela
manhã para ter ficado tão irritada, e conforme explicava sobre as
últimas horas para minhas melhores amigas, elas ficavam cada vez
mais surpresas com os detalhes da história.
— Espera aí… — Maeve riu fraco, desacreditada do que eu
havia dito. — Você quase o mandou tomar no cu? Isso é o que
dizem sobre alguém ficar na seca por tanto tempo...
— Sim — resmunguei enquanto me enfiava dentro do vestido
que separei para aquela noite. — Como eu poderia ficar quieta? Ele
foi um idiota!
— É só surpreendente que você, Aurora, a mais gentil e
compreensível de todas, tenha surtado dessa forma — a ruivinha
explicou o motivo de estar surpresa. — Droga! Queria estar lá para
ver esse evento.
Caitlin a encarou séria.
— Não é uma brincadeira, Maeve — minha amiga chamou sua
atenção. — Aurora ainda parece nervosa.
Elijah soltou um gritinho quando jogou seu ursinho para longe
e ele quase caiu da cama. Maeve o pegou e entregou para o
pequeno, que sorriu, o abraçando com os bracinhos gordinhos.
Meu filho estava sentado no colo de Caitlin e parecia estar se
divertindo. Ele amava muito as tias e tinha certeza de que nem
sentiria tanto a minha falta durante as horas em que me encontraria
com o Melvin.
— É claro que estou — respondi. Poxa, eu queria mesmo que
ele tivesse me fodido.
— Está com raiva dele?
Parei em frente ao espelho para ver como o vestido ficava em
mim. Não era nada muito chique porque não fazia ideia do lugar que
ele me levaria. Optei por usar um rosa, justo até a cintura e de
manga longa, com uma meia-calça grossa branca para não passar
frio. Ela combinava com o tom do vestido, o que me tranquilizou
para colocar meu sobretudo branco.
Não estava a fim de passar frio.
— Sim!
— Então por que está se arrumando para um encontro com
ele? Podia brincar com a cara dele por ter te deixado na mão. —
Maeve e sua cabeça maléfica.
— Porque eu sou idiota.
Caitlin riu e meu filho a acompanhou, sem entender nada.
— Nisso nós temos que concordar — a sem-noção da minha
amiga murmurou alto o suficiente para eu ouvir. Semicerrei meus
olhos em sua direção. — Todos nós somos idiotas quando se trata
de amor.
— Essa frase é tão clichê — Cat respondeu. — A usamos só
para não nos sentirmos tão idiotas.
Prendi a risada.
— Acho que isso faz mais sentido.
— Eu estava tentando melhorar a situação para nossa amiga
— a ruiva explicou, olhando para meu filho. — Sua tia é terrível,
Elijah.
Ele apenas soltou uma risadinha para ela.
— Tenho certeza de que ele está pensando que é você a
terrível — minha ex-cunhada rebateu.
Me intrometi antes que iniciassem uma discussão na frente do
meu menino:
— Se eu fosse outra mulher, já o teria superado, né? Teria
saído com outros caras...
— Acredite, um... — Maeve olhou para Cat. — Tampe os
ouvidos do nosso bebê.
Nossa amiga colocou as mãos nos ouvidos do Elijah, que
tentou evitar de ter suas orelhas tapadas.
— Um pau novo não é o que você precisa, não para superar o
Melvin.
— Não? E a teoria que se distrai de uma situação arrumando
outra no lugar? Não deveria ser o mesmo com homens?
Meu menino soltou um gritinho, incomodado porque estava
com os ouvidos tapados.
— Eu devo continuar o querendo com todas as forças porque
ele transa bem — falei, ainda irritada com minha situação. — Só
isso explica eu me colocar em uma situação como essa.
— Agora, controlem a língua de vocês porque destapei os
ouvidos do Elijah — Caitlin chamou nossa atenção. — Pobre
criança... tem dois loucos como pais.
— Estou curiosa para saber como esse encontro vai acabar —
Maeve comentou, em um tom provocativo. — Beijo? Na cama?
Hum... — ponderou. — Com certeza, na cama. Vocês estão há
muito tempo sem dormirem juntos.
A idiota ainda teve a capacidade de fazer aspas ao falar a
palavra dormirem. Era uma pervertida mesmo.
— Depois do que ele fez comigo hoje de manhã? Agora vamos
passar pelos três encontros! Não percebeu que estou irritada?
— Claro... e ouvi a parte que você elogiou os atributos dele —
ela provocou.
Resmunguei um palavrão quase que no mesmo instante em
que a porta do quarto era aberta por ninguém menos e ninguém
mais que o Melvin.
Christopher estava na sala e provavelmente havia liberado sua
entrada no apartamento, então por isso ele me olhava agora com
um sorriso cretino como se tivesse ouvido o que acabei de falar
sobre...
Argh!
Isso não tinha como ficar pior.
— Olá, Melvin — Maeve cumprimentou. — Chegou bem na
hora, e ainda com flores.
Só então prestei atenção no buquê de flores que ele segurava.
Eram tão coloridas e lindas, que me deixaram por alguns segundos
sem palavras. Não podia acreditar que depois de anos, ele estava
comprando flores para mim de novo.
— Está pronta? — o loiro maldito perguntou e me olhou de
cima a baixo, tão lentamente ao ponto de fazer meu coração bater
mais rápido e outras partes do meu corpo que deveriam ficar
quietinhas, esquentarem também. De novo não! — Você está linda.
— Papa...
Elijah chamou, me salvando de corar na frente dele.
Melvin o olhou e sorriu fraco, se aproximando da cama para
dar atenção ao nosso filho.
Aproveitei o momento para terminar minha maquiagem e até
tentei não olhar pelo espelho o reflexo daquele cara brincando com
o nosso bem mais precioso, mas ficava difícil conforme os dois
soltavam altas gargalhadas.
Quando me virei para dizer que estava pronta, as palavras
ficaram presas na garganta e os observei mais um pouco.
Meu garotinho estava tentando se esquivar do pai que
arrancava risadas pelas cócegas que sua barba rala estava
provocando nele.
Maeve balançou a mão atrás do loiro, chamando minha
atenção. Soube que era uma de suas gracinhas quando ela me
lançou um olhar divertido e moveu os lábios, só para que eu
entendesse:
Hoje à noite, com certeza.
Revirei meus olhos.
Era óbvio que ela estava falando sobre eu transar com meu ex.
— Vamos? Estou pronta — falei, antes que minha amiga
falasse suas gracinhas em voz alta.
Antes de sair, me aproximei do meu filho e deixei um beijo na
sua bochecha.
— Fica bem com suas titias, ok? Daqui algumas horas mamãe
estará de volta para te encher de beijinho.
Maeve pegou o ursinho e se levantou, chamando a atenção do
sobrinho.
— Cuida bem dele — falei para ela.
Mostrando que não tinha maturidade nenhuma, longe das
vistas do Elijah, ela me mostrou a língua. — Cuido melhor do que
você.
Dei risada e voltei a atenção para o Melvin.
— Vamos?
Ele se aproximou, me fazendo dar dois passos para trás, mas
ao perceber que ainda estava chateada com o que fez, me ofereceu
as flores.
Olhei para elas e depois para ele.
— Seu carro está lá embaixo? Vamos até ele.
Podia não aceitar as flores, mas seria péssimo, né? As peguei
e tentei fingir que não estava comovida com o gesto romântico,
mesmo sabendo que daqui algumas horas ou dias, não estaria mais
brava com ele.

O restaurante que Melvin marcou nosso encontro não era


longe do apartamento da Maeve, ficava a apenas uns quinze
minutos de distância, e achei lindo da parte dele a preocupação
para não nos afastarmos tanto de onde nosso filho estava caso
acontecesse alguma coisa. Isso só provava o quanto ele era
apaixonado pelo Elijah.
Nesses minutos dentro do carro com ele, até chegarmos no
restaurante japonês, apenas curti a vista de Los Angeles de noite.
Comida japonesa era a minha favorita e claro que ele lembrava
disso.
Um ponto para ele.
— Ainda está brava comigo? — ele perguntou quando já
estávamos sentados, escolhendo o que pediríamos.
Desci devagar o cardápio que segurava em frente ao rosto,
não acreditando na sua pergunta.
— Hum... Por que estaria? — me fingi de sonsa.
Respirei fundo e fechei o cardápio.
— Porque não dei o que queríamos hoje de manhã.
— Quem perdeu foi você mesmo, então... tanto faz. — Dei de
ombros.
Ele prendeu a risada, provavelmente se divertindo com o meu
comportamento e levantou a mão, olhando para alguém atrás de
mim.
— Acho que podemos fazer nossos pedidos, Sunshine.
Mordi meu próprio lábio para não dar uma resposta afiada para
ele e esperei que o garçom anotasse nossos pedidos para voltar ao
assunto.
Melvin procurou minha mão assim que o funcionário se
afastou, que agarrava firmemente o hashi.
— Segure, antes que enfie esse hashi no meu olho. — Pediu,
me provocando. Larguei o pauzinho e segurei sua mão. — Sinto
muito por deixá-la tão irritada.
Aaah, aquele sorrisinho de lado cretino dele!
Que ódio!
— Bom... você ainda é um idiota, o que só prova que ninguém
muda totalmente.
Ele se calou e assim que percebi que o que falei poderia ser
interpretado de uma outra forma, abri minha boca para consertar,
mas Melvin foi mais rápido:
— Descobri mais uma característica sua que amo... Quando
está bravinha dessa forma.
Não resisti e dei um tapa na mão dele.
— Está se divertindo? Porque posso sair desse restaurante e
acabar com esse encontro mais cedo.
O loiro rapidamente puxou minha mão e negou, a aproximando
do seu rosto.
— Não faça isso, não quando tudo o que quero é ter você na
minha vida de novo. — Ele beijou a palma da minha mão e engoli
em seco, sentindo que minhas armaduras já estavam
estremecendo.
— Você vai ter que se esforçar um pouquinho — murmurei e
ele sorriu de lado, não sei se porque sabia que era uma mentira ou
porque gostava do desafio.
Soltei nossas mãos antes que ele inventasse de me beijar de
novo.
— Estou de acordo com suas exigências.
Segurei o sorriso, olhando para outro lado do restaurante que
não fosse para ele.
Era reconfortante sentir que algumas coisas não mudaram por
completo.
— Agora preciso deixar uma coisa clara, Sunshine... — Soube
que viria algo muito estilo Melvin, quando o encarei. — Nenhum
homem poderia fazê-la gozar como eu faço.
Senti minhas bochechas corarem e automaticamente olhei ao
redor, com medo de que alguém por perto pudesse ter escutado.
Ninguém prestava atenção em nós, para o bem da minha sanidade
mental.
Olhei para Melvin, a tempo de assisti-lo piscar para mim e
beijar o dorso da minha mão, como se fosse um cavalheiro.
Minha ganância que não conseguia te deixar ir
Se tornou uma obsessão que te aprisionou
Você ficou machucada por minha culpa?
Você não responde
EYES, NOSE, LIPS - TAEYANG
MELVIN HOWARD
Aurora levou um hot roll até a boca e o saboreou.
Ela parecia mais confortável agora que a comida tinha
chegado e para a minha sorte, não parecia mais querer me matar
toda vez que eu falava alguma coisa.
Senti que essa poderia ser a oportunidade para iniciar
oficialmente o nosso encontro.
— Seu preferido. — Levei um uramaki até sua boca.
Ela me olhou de um jeito estranho, provavelmente por estar
dando o sushi para ela daquela forma. Não me lembrava de alguma
vez já ter dado algo na sua boca e por isso quis tentar algo
diferente.
Senti meu peito se encher de alívio quando ela separou os
lábios e o aceitou. Aurora mastigou sob meu olhar atento e assim
que engoliu, perguntou:
— Como está o treino com os meninos?
Fiquei contente por querer saber um pouco mais sobre isso.
— Tem sido divertido. Os caras são especiais mesmo e não
estão me cobrando para voltar o mais rápido a jogar. Acho que me
ter treinando com eles, já é uma lacuna que preencho no time —
expliquei minha situação, vendo-a assentir. — Você deveria
aparecer em um dos treinos... me motivaria mais a continuar. —
Pisquei pra ela.
Eu estava motivado o suficiente, mas isso não significava que
não queria vê-la sentada na arquibancada, me olhando com
admiração e carinho. Essa visão com certeza me deixaria mais feliz.
— Vou pensar se está merecendo — respondeu, sorrindo de
lado antes de colocar outro sushi na boca.
Aproveitei para tomar um pouco de Coca-Cola.
— O que acha de sairmos daqui e ir direto ao cinema? Não sei
se você viu, mas está acontecendo uma semana de filmes de
romance lançados há um tempinho, e Diário de uma Paixão está
passando hoje.
Aurora arregalou os olhos.
— Diário de uma Paixão?
Sabia que mesmo se ela estivesse irritada comigo no
momento, aceitaria ir. Ela amava aquele filme.
— Ainda é seu filme favorito, né?
Ela não conseguiu esconder o brilho que iluminou seu rosto.
— Eles são simplesmente os melhores, e provavelmente,
nunca nenhum filme irá conseguir superá-lo para mim. Que horas é
a sessão? Eu quero! Você não pode oferecer o doce para uma
criança e não dar!
Prendi a risada.
— Daqui uma hora e meia — respondi e peguei meu celular no
mesmo momento. — Vou garantir nossos ingressos.
A loirinha concordou, mais animada.
— Você deve saber todas as falas do filme, mas não perde
uma oportunidade de vê-lo, né — comentei enquanto entrava no site
dos ingressos. — Acho que não tenho nenhum filme favorito a esse
ponto.
— Vamos combinar que você não tem nada favorito? —
zombou. — Mas sempre assistiu comigo, mesmo romance não
sendo seu gênero preferido.
— Eu tenho algo favorito — reclamei, me sentindo ofendido
por ela não se lembrar disso. Aurora me olhou, aguardando minha
resposta. — Você é minha pessoa favorita e há 11 meses, Elijah
também se tornou.
Ela semicerrou os olhos lindos em minha direção. Minha
garota não sabia, mas ficava ainda mais bonita quando me
encarava dessa forma.
— Estamos falando de filme — lembrou, mas não conseguiu
esconder o sorrisinho por muito tempo. — Não tente me falar
palavras doces e que toda mulher quer ouvir, porque não vou cair
nessa.
É claro que ela ainda estava irritadinha comigo, o que era fofo
da sua parte.
Eu queria mesmo beijá-la naquela cama mais cedo, queria
poder tocá-la por toda parte, fazê-la gozar com minha boca, com
meus dedos e com o meu pau.
Meu corpo todo desejava isso há tanto tempo.
Mas minha mente era boa em me lembrar que nossa
reconciliação não podia ser fácil assim. Aurora merecia muito mais
de mim, ela merecia esforço e por mais que tenha a deixado
excitada de propósito, não me arrependia da minha decisão e sabia
que no fundo, ela admirava o meu autocontrole.
Fui um filho da puta? É claro que sim. Não podia negar minhas
origens, afinal, meus pais eram mesmo uns babacas.
— E eu estou trabalhando para reconquistá-la, portanto, meus
flertes estão liberados, não acha?
Terminei de comprar os ingressos e bloqueei o celular,
finalmente voltando a atenção inteiramente para ela, que me
encarava com as bochechas levemente rosadas e tinha certeza de
que não era do blush que usava.
— Não vamos pedir a sobremesa, né? Eu quero comer pipoca
— Aurora disse, mudando completamente de assunto. — Amo
pipoca de cinema.
— Já imaginava que diria isso.
Apontei para os sushis.
— Terminamos aqui e vamos, o que acha?
Ela me lançou um sorriso animado e por Deus, me senti um
completo idiota por meu coração aumentar as batidas, como se
estivesse vendo aquele sorriso pela primeira vez.
Segurei sua mão, pegando-a completamente de surpresa.
— O que foi? — perguntou, confusa.
— Obrigado! — agradeci, e pela forma confusa que me
encarava, tive a certeza de que só o agradecimento não era o
suficiente. — Por me dar outra chance.
Queria agradecer por muito mais que isso, mas achava que
ainda não era o momento certo para dizer essas palavras.
Aurora desviou a atenção para nossas mãos ao sentir meus
dedos entrelaçando nos seus.
— Eu prometo que em breve, você voltará a confiar em mim e
no nosso relacionamento.
Ela suspirou.
— Sempre acreditei em nós dois.
— Eu sei — respondi. — Você sempre acreditou por nós dois,
mas agora quero que acredite por você.
Ela soltou sua mão da minha e pegou o hashi.
— Dificilmente eu conseguiria parar de amá-lo ao te ouvir
falando essas coisas — confessou baixinho, um pouco irritada
consigo mesma e me fazendo sorrir.
Peguei outro sushi.
— Amo você, Aurora! — A declaração saiu facilmente dos
meus lábios, fazendo-a paralisar com o sushi perto da boca. — Te
amo ainda mais do que antes.
Ela colocou o hot roll para dentro e o mastigou, evitando me
olhar, mas não conseguindo evitar de sorrir.
Sua reação foi a melhor resposta que poderia ter no momento.

Estendi outro lenço para Aurora, e só não fiquei tão


preocupado com seu choro, porque já havia vivenciado essa cena
antes.
O filme tinha acabado há alguns minutos e ela não conseguia
parar de chorar desde a cena final, antes dos créditos.
As luzes do cinema estavam ligadas e muita gente já estava
saindo, enquanto nós permanecíamos sentados ali.
— Obrigada — ela murmurou, aceitando meu lenço.
Sentia que era um insensível por não derramar uma lágrima
sequer com o filme.
Não que ele não fosse comovente, Diário de uma Paixão era
uma obra linda e que mostrava muito sobre o amor, em suas
diversas fases; eu só não conseguia me emocionar por outra coisa
que não fosse a garota ao meu lado.
— Você está chorando mais do que normalmente chora
quando assiste esse filme — comentei ao me levantar e estender a
mão para ela. — Vamos pegar um ar lá fora.
Aurora me deu a mão e limpou suas lágrimas com a outra,
mas ainda assim, algumas ainda caíam enquanto andávamos em
direção à saída.
Muitas pessoas também estavam emocionadas com o filme,
então não foi estranho passar por elas com a loira chorando.
Saímos do cinema e respiramos o ar fresco da noite que nos
recebeu do lado de fora. Com a certeza de que não queria acabar
aquele encontro tão cedo, puxei Aurora para a rua iluminada e
começamos a andar.
— No que está pensando? — indaguei, entrelaçando nossos
dedos.
Ela fungou.
— Foi impossível não nos comparar com eles — admitiu,
quase me fazendo parar no meio da calçada. — Apesar de não
termos sido separados pelas mãos dos outros, e sim nós que
acabamos fazendo isso, não podemos negar que nosso
relacionamento segue a mesma linha que a deles.
Dois jovens apaixonados, sem medo de nada, brincando em
parques de diversões, se encontrando escondido de todos e vivendo
no próprio mundinho apaixonado deles…… Esse era o nosso antes,
exatamente como o passado de Noah e Allie.
Dois jovens que não perceberam o quanto estavam cada dia
mais apaixonados, até tudo começar a ruir.
Nós tínhamos muito em comum com aquele casal, e só agora
conseguia notar isso.
— Contanto que tenhamos o mesmo fim... Eu estarei feliz. —
Levei sua mão até minha boca e beijei nossos dedos.
— Ei! Quem deu permissão? — Ela tentou afastar sua mão,
mas não deixei. — Melvin, isso é se aproveitar do meu momento de
fragilidade.
— Não é nessa hora que tenho que ser o perfeito cavalheiro e
conquistar a garota?
Aurora negou, mas eu sabia que estava certo.
Acariciei sua mão novamente e segui andando ao seu lado.
— Não quero perder minha memória e acabar me esquecendo
do nosso amor — ela disse do nada. — Esse final não poderia ser
todo igual.
— Concordo — respondi. — Eu sofreria mais do que o Noah.
Ela sorriu ao mesmo tempo que algumas lágrimas ainda caíam
dos seus olhos.
— Por algum motivo, você não consegue parar de chorar —
comentei, parando e a fazendo com que imitasse meu gesto. E
então de frente para Aurora, segurei seu rosto. — Sofremos todo o
processo da separação, amadurecemos o que conseguimos nesse
último ano, somos excelentes pais e continuaremos sendo pelo
resto de nossas vidas.
— Eu sei...
— Não vai ser fácil, temos camadas que podem afetar nossa
relação e torná-la muito difícil, teremos que trabalhar todos os
dias… Mas quero fazer isso porque quero você. Porque eu amo
você. — Alisei sua bochecha, aproximando mais nossos corpos,
sem me importar de estarmos parados no meio da calçada. — Você
e eu. Todos os dias. Consegue imaginar nossa vida juntos daqui
trinta anos? Quarenta? Porque eu nunca deixei de imaginar.
Ela sorriu.
— Você também gravou algumas falas — disse, se referindo
às frases que havia adaptado, diretamente do filme. — Diferente da
Allie, eu não quero e nem tenho que ir. Meu lugar sempre foi ao seu
lado.
— Isso evita o drama desnecessário do filme.
Aurora bateu no meu ombro.
— Não ouse criticá-lo na minha frente.
Aproximei mais nossos rostos e o sorriso em seus lábios
congelou.
Queria beijá-la desde que a vi dentro daquele vestido mais
cedo, ainda mais depois de ouvir que eu a fodia bem.
Porra!
Aquela frase saindo diretamente dos lábios dela, só me fez
perceber que todo meu corpo também sentia sua falta.
Estávamos próximos ao ponto de compartilharmos o mesmo ar
novamente, e seus olhos estremeceram diante dos meus, tanto que
chegou a fechá-los. Aproveitei a oportunidade para repetir o gesto,
aproximando minha boca para beijá-la de novo.
Da forma certa.
Do jeito que meu corpo ansiava.
Seria apenas um beijo, nada como o que faríamos hoje de
manhã se prosseguíssemos.
Mas tudo o que senti foi a sua pele macia em contato direto
com os meus lábios.
Abri os olhos e me deparei com sua bochecha, juntamente
com um sorriso travesso.
Aurora se afastou aos poucos, me deixando estático na sua
frente.
Ela tinha acabado de recusar um beijo meu?
— Depois do terceiro encontro. Ou se esqueceu que sou uma
mulher romântica?
Ela piscou e voltou a andar, sem se importar em me puxar para
acompanhá-la.
Meu peito ardeu ainda mais de desejo por aquela garota.
Essa era a minha Aurora.
Provocativa, fofa e destemida.
E eu havia acabado de me apaixonar mais um pouquinho por
ela, por me dar exatamente o que estava merecendo.
— Você não vem? — gritou a alguns metros de distância de
mim. — Seria péssimo se eu tivesse que chamar um táxi.
Neguei com a cabeça e corri em sua direção, pronto para
acompanhá-la até em casa e pensar nos próximos dois encontros
antes de ela ser minha novamente.
E se nós reescrevermos as estrelas?
Diga que você foi feita pra ser minha
Nada poderia nos manter separados
REWRITE THE STARS (FEAT. ANNE-MARIE) – JAMES ARTHUR

AURORA BENSON
Maeve e Christopher estavam sentados embaixo de uma
árvore, em um dos bancos com mesa espalhados no campus e me
juntei a eles, pois ainda era cedo para me encontrar com Zane.
— Oi, casal — os cumprimentei enquanto largava minha
mochila de qualquer jeito em cima da mesa. — Sobre o que
estavam falando?
— Nós vamos para São Francisco neste final de semana — a
ruiva anunciou. — Ele prometeu me apresentar alguns lugares da
cidade que cresceu para comemorar nosso um ano juntos.
— Depois de meses, finalmente chegaram em uma
alternativa? Pensei que deixariam passar mais dias. Daqui a pouco
já estão completando um ano e meio juntos.
— Exagerada! — a ruiva disse.
Ri fraco da careta que ela fez.
— Não se esqueçam que no próximo final de semana é o
aniversário do sobrinho de vocês.
— É claro que não esqueceremos disso — Chris sinalizou. —
Maeve passa o dia falando sobre como vai fazer a festa nesse
aniversário.
Olhei séria para minha amiga.
— É melhor se controlar, espertinha! É aniversário de criança.
— Eu sei, loirinha. — Sorriu. — Minha única tristeza de passar
fora esse final de semana é que não irei ver o Elijah... E se ele
chorar por sentir minha falta? Talvez só dormir na minha cama não
seja o suficiente.
Semicerrei meus olhos para ela.
— Você sabe que a mãe sou eu, né?
— Já falamos sobre eu ser a tia-mãe, ou esqueceu?
Olhei para Christopher.
— Por que não coloca um filho nela logo?
Ele ficou vermelho ao mesmo tempo em que soltava uma
risada.
— Não estamos prontos para ser pais.
Pelo menos dessa vez, ele não se esquivou da pergunta e
Maeve concordou com o namorado.
— E vocês acham que eu ou o Melvin estávamos? — zombei,
mesmo sabendo que nossas situações eram bem diferentes.
Eles se cuidavam muito para isso não acontecer e eu... Bem,
em algum momento devo ter feito algo que cortou o efeito do
anticoncepcional e isso me trouxe o melhor “acidente” que tivemos
em nossas vidas.
— Melvin até mesmo teve aquela crise, pois tinha muito medo
de desempenhar esse papel — lembrei-os.
— Se não fosse a terapia... — Maeve jogou a frase incompleta
no ar.
Era fácil de entender o que queria dizer.
Se não fosse a terapia que o pai do meu filho fazia toda
semana, ele provavelmente não teria aguentado a pressão de ser
pai, por puro medo de repetir os erros do seu.
— Melvin conseguiu entender que deveria fazer o oposto do
que o pai o fez e Cat passarem na infância — Chris sinalizou,
demonstrando o quanto estava mais próximo do meu ex. — É por
isso que ele vai ser um bom pai. Aquele cara já teve um horrível, e
agora sabe que não quer dar essa experiência ao próprio filho.
Assenti.
Era isso mesmo que vinha observando nele durante todos
esses meses.
— Como foi o encontro ontem?
— Curioso, Lancaster? — provoquei e dei de ombros. — Foi
um encontro divertido e emocionante.
— Se beijaram? Transaram? — Maeve perguntou.
Chris prendeu a risada, balançando a cabeça. A namorada
dele era mesmo um acontecimento.
— Por mais que eu sinta falta de beijá-lo e do sexo, e tenha
ficado com raiva por ele não me dar isso ontem, percebi que nosso
relacionamento precisa ser mais do que isso — respondi. — Ele
está tentando me reconquistar, por que tenho que dar tudo na
primeira noite?
Minha amiga riu.
— Como se você precisasse ser reconquistada.
Ela apertou minha bochecha.
— Nunca deixou de esperar por ele.
Dei um tapa na mão dela e esfreguei minha bochecha dolorida.
— Você e essa mania! — reclamei. — E é por isso mesmo,
Maeve. Eu esperei por meses, o que seria para o Melvin ter que
esperar por três encontros?
— Estou tão orgulhosa de você! — Ela me abraçou apertado.
— Merece até um beijo.
Esquivei-me antes que conseguisse me beijar e dei risada.
— Estou indo encontrar o Zane! Te vejo em casa?
— Devo ir daqui alguns minutos, quer que eu libere a Margô?
Não me importo de ficar cuidando do Elijah.
— Você que sabe... Não vou demorar muito, só precisamos
fazer a conclusão do artigo.
— Fica tranquila, Aurora... podemos ajudar em tudo — Chris
disse.
Sorri para eles e fiz um coração com as mãos.
— Vocês são os melhores!
Dei as costas e fui correndo encontrar meu colega de curso.
— Você não foi na festa no final de semana — Zane comentou
enquanto digitava o início do texto de conclusão que elaboramos
juntos. — Te procurei por lá e não a encontrei.
— Maeve me levou para outro lugar — expliquei. — A festa foi
divertida?
Ele parou de digitar e me olhou.
— Poderia ter sido mais se você estivesse lá.
Sorri de lado e indiquei o notebook à sua frente.
— Concentre-se no nosso texto, temos que entregar esse
artigo na próxima semana.
Zane era um conquistador e eu não era idiota, sabia que
queria uma chance comigo, uma que nunca viria porque meu
coração já tinha dono.
Talvez eu devesse deixar isso mais claro, apesar de não saber
como poderia fazer isso quando era tão óbvio que não estava
nenhum pouco a fim.
— Aurora! — Melvin gritou atrás de mim.
Em um piscar de olhos ele estava em pé ao meu lado, olhando
mais para o Zane do que para mim.
Suspirei.
Não foi uma boa ideia vir fazer o trabalho perto da quadra que
eles jogavam, mas era o único lugar vazio que achamos.
— Oi — cumprimentei. — Como foi o treino?
— O que está fazendo? — ele perguntou, ignorando minha
pergunta.
Movi a cabeça mais para o lado, interrompendo seu olhar
matador para meu colega.
— Terminando o trabalho com ele — expliquei. — E o que
você está fazendo aqui?
Eu o conhecia o suficiente para saber que ele não gostava do
Zane porque havia percebido antes de mim que ele era a fim de
mim. Acontece que eu não podia fazer nada quanto a isso, além
disso, tinha que continuar com o trabalho. Melvin teria que aprender
a lidar com seu ciúme.
— Tudo bem? — Zane perguntou, atraindo a atenção do loiro
à minha frente.
— Estou aqui para convidar minha garota para o nosso
segundo encontro. — Melvin me olhou. — Podemos conversar a
sós?
Antes que ele falasse algo que provocasse meu colega,
confirmei com a cabeça e me levantei. Segurei seu pulso e nos
afastamos da mesa em que estávamos.
— O que foi? Seja rápido porque preciso terminar esse
trabalho hoje e ir ficar com nosso filho.
— Por que tem que fazer trabalho com ele? — perguntou com
a cara fechada. — É óbvio que ele gosta de você.
Não neguei, pois já tinha certeza de que sim.
— E você sabe disso? Aurora...
— Eu não posso fazer nada além de falar que não estou a fim
e focar no trabalho — expliquei. — Zane é meu colega de curso.
— Então eu vou deixar as coisas claras para ele...
O segurei antes que fosse até a mesa.
— Para! O que vai fazer? — indaguei. — Por mais que seu
ciúme contido seja fofo, eu não gosto dele, me traz lembranças
ruins.
Ele engoliu em seco, entendendo onde eu queria chegar.
— Não vou bater nele. — Melvin parecia ofendido por isso ter
passado na minha mente. — Sei que já fui idiota antes, mas pense
pelo meu lado: gostaria que uma garota que estivesse a fim de mim
fizesse trabalho comigo?
Sorri de lado e segurei seu rosto.
— Quem disse que não entendo seu lado? — Balancei seu
rosto para os lados, o fazendo revirar os olhos e quase rir com a
brincadeira. Ele parecia um pouco mais relaxado. — Acontece que
só me dei conta de que ele queria mais do que ser meu colega de
trabalho, quando já estávamos no fim do artigo. A partir da próxima
semana não teremos mais tanto contato.
— Ok.
Ele ainda parecia incomodado.
— Você não confia em mim?
Melvin suspirou, derrotado.
— Confio.
Meu sorriso foi mais sincero agora.
— Para onde vai me levar hoje? — perguntei, afastando minha
mão do seu rosto.
— Quero ter um encontro com você e com meu filho —
explicou seus planos. — Farei o jantar para vocês e brincaremos
juntos. O que acha disso?
— Você? Fazer o jantar?
— Não confia em mim? — devolveu a pergunta.
— Não.
O loiro bufou e bagunçou meu cabelo só para me irritar.
— Idiota!
— Posso buscá-los à noite?
Assenti.
Ele ainda olhou para o Zane por longos segundos antes de
voltar sua atenção para mim.
— Não posso mesmo beijá-la?
Eu ri.
— Não pode! Agora vai pra casa. — Mandei. — Te vejo depois.
Ele pareceu derrotado quando encolheu os ombros e me deu
as costas, indo em direção à saída do campus. Não consegui
esconder o sorriso, nem quando me sentei ao lado do meu colega
novamente.
Amava demais aquele loiro idiota que não saía dos meus
pensamentos.
— Vocês voltaram? — Zane me trouxe para a realidade.
— Estamos voltando — respondi, notando como a resposta o
decepcionou.
Era melhor assim.
Agora ele sabia que não existia ninguém além do Melvin na
minha vida.
Oh, quero ter ele de volta
Porque, por outro lado, sinto muita falta dele e isso me deixa muito triste
Oh, quero doce vingança e quero ele de novo
Quero ter ele de volta, volta, volta
GET HIM BACK! – OLIVIA RODRIGO
AURORA BENSON
Perto das oito horas da noite, Melvin, eu e Elijah entramos na
casa que costumávamos morar juntos.
O loiro havia ido nos buscar no apartamento de Maeve e
insistiu que eu trouxesse uma bolsa com pijama e roupas para mim
e nosso filho, porque não iria nos levar de volta.
Um cretino!
Falei que não me importava e que poderia chamar um táxi,
mas me convenci quando vi a saudade que ele estava sentindo do
nosso filho.
Eu tinha meu próprio quarto aqui e não seria um problema,
contanto que ele não me atentasse com sua presença.
— O que seu papai vai fazer para o jantar, filho? Alguma
opinião? — perguntei ao neném no meu colo enquanto me
aproximava da cozinha, onde Melvin já estava com um avental
preparando a carne. — Será que ele sabe cozinhar?
Meu ex me lançou um olhar de desafio.
— Você vai comer a melhor carne de forno da sua vida. —Se
gabou.
Elijah balançou os bracinhos.
— Papa...
— Viu? Até nosso filho concorda.
Revirei meus olhos, ajeitando o garotinho no meu colo.
— Ele só sabe falar papa agora.
— Talvez seja porque ele tenha uma preferência por mim...
— É porque mamãe é mais complicado de dizer — justifiquei.
O cretino sorriu, colocando a carne na bandeja.
— É isso que está dizendo para se convencer? — continuou
me provocando.
Antes que eu o xingasse, Elijah começou a choramingar,
estendendo os bracinhos em direção ao cercadinho que ficava entre
a sala e a cozinha.
— Quer brincar enquanto ajudo o papai a não colocar fogo na
casa?
— Papa…
Sorri pra ele e deixei um beijo em sua bochecha antes de
colocá-lo dentro do cercado. Meu filho amava aquele espaço, afinal
tinha suas pelúcias e brinquedos favoritos, e era o espaço em que
se sentia mais confiante para engatinhar e ficar de pé com a pouca
força que tinha nas pernas.
— Ele vai ficar bem? — Melvin perguntou, não escondendo o
quanto era um pai preocupado.
— Claro! Conseguimos ver ele perfeitamente daqui, não é? —
Parei ao seu lado e olhei para Elijah se divertindo. — Nosso filho vai
esquecer de nós por alguns minutos. Precisa de ajuda para o
jantar?
Ele levou a mão até a nuca e a coçou, parecendo meio sem
graça.
— Eu vi a receita da carne de forno no TikTok e a segui
perfeitamente, mas confesso que não sei o que fazer de
acompanhamento.
— Não é à toa que eu que cozinhava nesses últimos meses
aqui — brinquei.
— Ei! Eu pedi comida para nós diversas vezes — disse, como
se isso justificasse algo.
— Sua sorte é que amo cozinhar — comentei, caminhando até
a geladeira e abrindo-a. — O que acha de salada de macarrão?
— A estilo italiana que costumava fazer?
Os olhos dele até brilharam com a sugestão. Eu sabia o quanto
ele amava aquele prato e admitia que adorava fazer só para vê-lo
saboreando como se fosse a primeira vez.
Assenti ao mesmo tempo em que pegava os tomates e a
muçarela de búfala na geladeira.
— Pode ir cortando os tomates enquanto preparo o macarrão?
Ele concordou e os pegou da minha mão.
Depois de deixá-lo com essa tarefa, achei o pacote de penne
no armário, coloquei água na panela e a levei até o fogo alto.
Esperei que a água fervesse para colocar o macarrão nela e
enquanto esperava, espiei como Melvin estava indo com os
tomates.
Que bom que fiz isso, pois ele estava cortando tudo errado!
— Melvin! — chamei, sem disfarçar o tom de bronca.
Aproximei-me dele e apontei para os tomates. — Você tem que
cortar em cubo, não em rodelas.
Ele parecia confuso, o que para minha tristeza, só o deixava
mais bonito.
Como um homem completamente perdido na cozinha ficava
ainda mais gostoso? Será que tinha a ver com as roupas escolhidas
justamente para hoje?
Ele usava uma blusa preta fina de manga longa e com gola, e
a calça era um jeans no tom claro, combinando perfeitamente com a
parte de cima, deixando seu look ainda mais sexy.
— Não é a mesma coisa? — perguntou, interrompendo minha
inspeção.
— Não! — Peguei a faca de sua mão. — Acho melhor eu ficar
com os tomates.
Indiquei o macarrão atrás de nós, para que fosse me substituir
naquela tarefa, mas ele não saiu do lugar.
— O que foi?
Puxei a tábua com os tomates e o queijo até estarem na minha
frente, já que Melvin não saiu do lugar.
— Você está linda — elogiou, absolutamente do nada.
Ainda bem que não estava cortando nada ou teria machucado
meu dedo com a faca.
Eu não estava superproduzida, apenas vestia uma blusa de lã
rosê e uma calça branca mais grossa do que as normais. Não
estava usando maquiagem porque como nosso encontro era mais
caseiro, não vi necessidade de passar algo na cara que não fosse
minha skin care.
— Está me zoando? — brinquei. — Vai fazer o macarrão,
Melvin. Não vou te beijar.
Ele riu e se afastou para atender meu pedido.
Segurei a faca e estava prestes a cortar o primeiro tomate,
quando os braços dele circularam na minha cintura e sua cabeça
pousou no meu ombro. Diferente da dele, minha blusa não era de
gola e mostrava todo o meu pescoço, e isso foi uma vantagem para
Melvin, que deixou um beijo casto na minha pele, me
desconcertando por completo e arrepiando todos os pelinhos dos
meus braços.
— Certeza de que não quer? — provocou, com a voz rouca no
meu ouvido.
Minha primeira preocupação foi Elijah, mas nosso filho estava
tão entretido com seus brinquedos, que nem estava prestando
atenção no seu pai me provocando. — Você não vai conseguir me
convencer — falei, tentando soar firme. — Afaste-se antes que eu te
dê uma cotovelada.
Ele riu, afundando mais o rosto no meu pescoço.
O ar quente saindo da sua boca enviou um forte calor pelo
meu corpo, me lembrando que eu estava há mais de um ano sem
transar, quando no passado, não ficávamos nem uma semana sem
fazer sexo.
Melvin tirou sua mão da minha cintura e a deslizou para minha
barriga, e o carinho poderia parecer fofo, da forma que às vezes ele
fazia quando Elijah ainda estava aqui dentro, mas ele não era
inocente. Esse idiota nunca foi.
Meu ex sabia o efeito que tinha em mim e estava feliz que
nada havia mudado nesse sentido.
Meu coração bateu acelerado quando senti seus lábios se
abrirem e chuparem minha pele. Estremeci, soltando o ar e quase
gemendo seu nome.
Por muito pouco eu não fiz aquilo.
Queria me virar e puxá-lo para um beijo, entregando-me
completamente ao desejo que inundava minha calcinha. Não cairia
nessa de novo!
Melvin desceu mais sua mão, dessa vez indo em direção ao
calor entre minhas pernas e tive um restinho de força para
interrompê-lo.
— Nosso filho...
Ele mordeu o lóbulo da minha orelha, e logo em seguida os
chupou.
— Melvin...
— Amanhã você vai sair comigo de novo, Sunshine. Teremos
nosso terceiro encontro, e depois dele, vou deitá-la na minha cama
e te foder a noite inteira — prometeu, encharcando ainda mais
minha calcinha. Filho da puta! Ele sabia que eu amava ouvir essas
palavras. — Farei você lembrar que nunca nesta terra, nenhum
outro homem, poderá te fazer sentir o que sente quando está
comigo. Que nenhum outro homem te faz gozar como eu faço.
Ninguém mais tem o poder sobre seu corpo como eu tenho,
Sunshine. E caso tenha se esquecido disso, amanhã terei o prazer
de passar a noite toda te lembrando de cada uma dessas coisas.
O babaca finalizou aquela tortura com um beijo casto no meu
pescoço antes de se afastar para, finalmente, cuidar do macarrão.
Mas agora, eu queria que ele cuidasse de outra coisa. De
novo!
Cretino!

Consegui terminar de jantar sem pensar em agarrar o pai do


meu filho como meu corpo e minha mente desejavam 100% do
tempo em que estava ao seu lado.
Peguei Elijah no cercado e fui para o sofá da sala enquanto
esperava Melvin aparecer com a mamadeira que estava preparando
para nosso filho.
O pequeno estava muito animado naquela noite, e mesmo
estando no meu colo, ainda insistia para que eu brincasse com ele.
— Quer aproveitar que ainda não tomou seu leite e brincar de
avião?
Meu neném soltou um gritinho animado, batendo as mãozinhas
uma na outra.
Levantei-me e o virei de barriga para baixo. A brincadeira nem
havia começado, mas o espertinho já estava balançando as
perninhas e abrindo os bracinhos enquanto soltava gritinhos e falava
sílabas aleatórias, animado com a ideia de ser um avião.
Girei meu filho de um lado e depois para o outro. Ele soltou
uma gargalhada alta, que resultou no meu sorriso.
Eu amava aquela criança mais do que tudo nesse mundo!
— Está se divertindo, né? — provoquei e corri até o outro lado
da sala.
Elijah abriu mais os braços.
— Aaa...
Não tinha como resistir a ele.
Parei no meio da sala antes que ficasse tonta ou o deixasse
cair e o coloquei em pé no meu colo. Não resisti e o enchi de beijo,
e ele protestou com um gritinho agudo.
— Sua mãe está o incomodando, filho?
Melvin se aproximou com a mamadeira e se sentou no sofá.
— Vamos ter que esperar um pouco para dar a mamadeira
para ele. Acabei esquentando demais o leite.
Sentei-me ao seu lado com Elijah.
— Ainda faz isso? Seu filho já vai fazer um ano — provoquei.
— Precisa aprender a preparar o leite dele no ponto certo.
Ele apenas soltou um resmungo e deixou a mamadeira no
cantinho do chão, perto do sofá, enquanto batia em suas pernas.
— Quero brincar com vocês também.
Estava prestes a colocar o bebê no colo do pai, mas o loiro me
interrompeu, segurando meus ombros e me colocando com a
cabeça deitada em suas pernas.
Olhei dele para o nosso filho, achando uma graça Elijah ter
sentado em cima da minha barriga. Ele nos olhava de forma confusa
ao mesmo tempo em que parecia achar graça de tudo.
— Não é estranho ele ser tão... feliz? — Melvin perguntou, me
fazendo rir. — O que foi? Sou uma pessoa depressiva, não pode me
julgar.
— Está julgando a felicidade do nosso filho! É claro que vou
julgá-lo.
— Quando estava pesquisando e estudando sobre bebês, para
estar preparado para o nascimento do nosso filho, tinha uma ideia
completamente diferente de como seria.
— Eu também — admiti, olhando para o nosso garotinho.
De modo geral, Elijah não era um bebê que incomodava.
Como qualquer outro bebê, ele teve suas fases. Lembrava
como se fosse ontem de quando chegamos do hospital, após o
nascimento dele, e começamos a nos adaptar à nova realidade.
Tudo o que sabíamos de como cuidar um bebê, era o que havíamos
estudado na internet e nos livros. Nos preparamos para a
dificuldade que ele teria para dormir, os possíveis enjoos e as dores
de barriga que poderia sentir, afinal, eram muito famosas quando se
falava de recém-nascido; mas Elijah passou seu primeiro mês
acordando poucas vezes durante a noite e sempre era porque
estava com fome. No segundo mês, ele acordava com mais
frequência, tanto para mamar como para ser trocado. A partir do
terceiro, as coisas começaram a ficar um pouco mais complicadas,
e Melvin teve que me ajudar mais do que já estava ajudando.
Nosso filho ficou uma semana muito enjoadinho, e tinha desde
cólicas, a simplesmente não querer dormir. Houve dias em que eu ia
pra aula parecendo um zumbi e o Melvin acabava faltando para ficar
acordado durante a noite com nosso filho.
— Esqueceu daquela semana do terceiro mês dele? —
perguntei.
— Não, mas depois dela, Elijah nunca mais passou dias ruins
daquele jeito — respondeu. — E agora ele dorme praticamente a
noite toda, ama brincar e só chora quando quer atenção, como há
pouco, quando estávamos lavando a louça.
Sorri para meu filho.
— Ele é um serzinho criado com muito amor, o que podemos
fazer?
Ergui o neném para o alto e o danadinho gargalhou, adorando
a brincadeira.
— Por que você ama tanto essa brincadeira? Quer ser um
piloto? — Melvin perguntou, tocando sua testa com a dele e a
franzindo ao esfregar seu nariz com o dele.
— Papa...
As mãozinhas do pequeno foram em direção à bochecha do
pai e as apertaram.
— Ai!
Eu e Elijah rimos.
— Ah, então vai ser assim? — Melvin segurou o rostinho do
nosso bebê e começou a enchê-lo de beijos. — Um, dois, três,
quatro...
Sorri com a cena, sentindo meu coração se encher de paixão,
tanto pelo momento quanto pelos dois homens da minha vida.
Melvin estava certo.
Ele não era mais o mesmo.
Ele era mil vezes melhor do que alguma vez já foi, e eu estava
me apaixonando por ele pela segunda vez, ainda mais forte e
intenso do que a primeira.
Vamos aproveitar o nosso tempo esta noite, garota
Todas as estrelas estão nos observando lá de cima
Não há outro lugar nesse mundo onde eu preferiria estar
Nos seus olhos é onde eu me perco
VERSACE ON THE FLOOR – BRUNO MARS
MELVIN HOWARD
Para o terceiro encontro com Aurora, resolvi levá-la para jantar,
só que dessa vez, em um restaurante italiano que ficava perto da
praia. A culinária italiana era a sua segunda favorita depois da
japonesa.
Conversamos, nos provocamos e rimos muito antes de
esvaziarmos nossos pratos e sairmos para caminhar na noite fria de
Los Angeles.
Era nosso terceiro encontro e notei que dessa vez, minha
loirinha estava um pouco mais nervosa. E podia apostar que o
motivo tinha a ver com a promessa que fiz quando estávamos
cozinhando ontem.
Ela até tentou agir normalmente quando me afastei, mas eu a
conhecia bem o suficiente para saber que não via a hora para que
essa noite chegasse.
E, bem… eu também.
Contei cada segundo desse dia até chegar a hora do nosso
encontro.
Prestei atenção ao meu redor, me dando conta de que
estávamos próximo ao píer da parte mais funda do mar. O céu
estava bem estrelado essa noite e como a construção de madeira
era bem iluminada, segurei a mão da minha garota e a puxei em
direção a ela.
Era quase como um presente não ter ninguém por ali em um
encontro romântico a essa hora.
— Para onde estamos indo? — ela perguntou.
— Não está de estômago cheio? Podemos sentar aqui e
passar o tempo juntos. O céu está limpo, sem nenhuma nuvem e
com as estrelas bem visíveis, igualzinho a quando fugíamos no meio
da noite do seu quarto para ficarmos em cima do telhado da casa
dos seus pais.
Aurora sorriu, lembrando do que eu estava falando.
— Velhos tempos...
Chegamos no fim do píer e me sentei primeiro.
— Muita coisa mudou de lá para cá — constatei enquanto a
ajudava a se sentar ao meu lado. — Quem poderia imaginar que
seríamos pais tão cedo?
— Ou que acabaríamos nos separando quando isso nunca
havia passado pela nossa cabeça? — ela sorriu, tristemente.
Vê-la soltar esses sorrisos assim, só fazia eu me arrepender e
me questionar se algum dia ela me perdoaria por tudo que a fiz
passar em todo esse tempo.
Talvez seja por isso que demorei e tive tanto medo de voltar
para sua vida.
Entendia tudo o que me levou a fazer o que fiz, assim como o
que adoeceu a nossa relação, mas nunca conseguiria deixar de me
sentir culpado.
E viver com esse sentimento seria meu maior castigo porque
quando se tratava de culpa, não podíamos fazer nada, apenas
seguir em frente, cuidando para não cometer os mesmos erros.
— Nosso filho vai completar um ano daqui uma semana —
lembrei, entrelaçando nossos dedos. — Lembra quando
descobrimos o sexo dele? Parece até irreal que todo esse tempo já
passou.
Tempo que eu perdi sem tocá-la, sem poder falar o quanto a
amava, sem poder ser o cara responsável pelos seus sorrisos…,
Mas apesar de tudo, sei que foi necessário para me tornar o que
sou hoje. O que nós somos hoje.
— Maeve estava certa ao falar que era um menino — Aurora
respondeu. — Como ela conseguiu adivinhar?
Dei de ombros.
— Por algum motivo, ela sempre sabe muito sobre nosso filho.
Nós dois não tínhamos preferência de sexo para o bebê, e
talvez isso tenha sido porque ainda estávamos no estágio de
entender que seríamos pais, porém existia a Maeve nas nossas
vidas, e graças a Deus por isso, porque por mais que não fosse fácil
ter um filho tão cedo, ela nos fez enxergar todos os lados bons e
incríveis de assumir essa responsabilidade, começando com a
crença de que era um menino que Aurora carregava.
No fim, ela estava certa.
Quando chegou o dia do parto, todos estavam mais nervosos
do que a minha loirinha. Era uma espera tensa para quem estava do
lado de fora aguardando Elijah nascer, mas era ainda pior para mim,
que passei as horas do parto segurando a mão de Aurora e pedindo
para se manter concentrada em colocar nosso filho no mundo.
Ainda lembro da dor que senti apenas de olhar para ela
sofrendo durante o parto, que por escolha dela, foi o normal. Mas
mais do que isso, me lembro exatamente como senti quando escutei
o primeiro choro do meu filho, foi um misto de emoções e ali, foi
como se eu tivesse alcançado um novo sentido para minha vida. Eu
precisava ser o papai que o Elijah iria se orgulhar. Eu precisava ser
o cara que Aurora iria amar a cada dia, e principalmente, eu
precisava mudar, por eles e por mim.
— Tenho algo para te dizer. — Aurora me olhava atentamente.
— Durante todos esses meses em que ficamos separados, eu não
parei de me apaixonar por você nem por um dia sequer.
Suas bochechas coraram sob o anoitecer que nos cercava.
— Do que está falando? — perguntou em um tom duvidoso.
— Pela grande mulher que você se tornou, não percebe?
Passou pela dor do parto, foi morar com o ex-namorado mesmo se
machucando com isso, porque não queria separar o nosso filho de
mim, passou aqueles dias do ano em casa e quando voltou para a
universidade, conseguiu conciliar os estudos com a
responsabilidade de ser mãe — resumi o que ela havia feito durante
todos esses meses. — Muitas pessoas no seu lugar não
aguentariam.
— Eu tive ajuda, não teria conseguido sozinha.
— Talvez... Não sabemos. — Fui sincero. — O que quero que
saiba, é que mesmo parecendo distante, estava a observando e me
apaixonando mais por cada detalhe seu.
Ela sorriu e deitou sua cabeça em meu ombro. Fechei meus
olhos por um instante e aproveitei para abraçá-la. O aroma do
perfume que estava usando naquela noite era tão suave, que me
provocava uma vontade enorme de abaixar o rosto e senti-lo direto
da sua pele.
Mais tarde eu com certeza faria isso.
— Por mais que eu quisesse, nunca consegui deixar de te
observar e de continuar me apaixonando, mesmo estando no banco
de espera.
Abri meus olhos, apertando-a ainda mais contra meu corpo.
— Não peça desculpas. — Pediu, antes que eu fizesse
justamente isso. — Estamos juntos agora, não?
— Desde que você aceitou o primeiro encontro.
Aurora deu uma leve batidinha na minha coxa e levantou o
rosto, me olhando com diversão e um pouco de provocação.
— Você pode me beijar de verdade agora.
Meus olhos caíram diretamente para seus lábios perfeitamente
desenhados e extremamente convidativos. Minha garota parecia
uma boneca, estando ou não com maquiagem. Seu rostinho era
angelical e sempre teve a capacidade de me desconcertar.
— Farei isso. — Encostei meu nariz no seu, observando-a
quase fechar os olhos. — Mas será mais tarde, porque temos uma
vista linda na nossa frente para admirar.
Seus olhos se abriram rapidamente e quase ri pela forma como
ela parecia querer me matar naquele momento.
Olhei para frente e tentei me concentrar no ar da noite nos
cercando, na iluminação romântica que nos abraçava sem que eu
tivesse feito qualquer planejamento, e no céu lindo que era refletido
pelo mar calmo ao nosso redor. Tudo estava tão calmo que nem
parecia ser Los Angeles.
Tentei mesmo prestar mais atenção nesses detalhes, mas
ainda sentia Aurora me encarando, ansiosa por um beijo meu.
Abaixei meu rosto e encontrei seu jeitinho irritado que eu
também havia me apaixonado.
— Foda-se — murmurei, aproximando nossos lábios. — Quem
estou querendo enganar? Estou esperando isso por todos esses
meses.
Colei minha boca na dela, tomando seus lábios com afinco.
Aurora estremeceu sob meus braços e agarrou minha nuca com as
mãos, entreabrindo sua boca e permitindo a entrada da minha
língua.
Quase gemi ao sentir o calor delicioso do interior da sua boca.
Porra!
Como eu consegui ficar sem esse beijo por tanto tempo?
O que roubei dela há alguns dias não foi suficiente para matar
a saudade, mas iria aproveitar tudo o que podia dessa vez, então
subi uma de minhas mãos pelos seu braço enquanto a outra
deslizava pela sua cintura.
Agarrei seu pescoço e quase a fiz se deitar sobre mim quando
a puxei para mais perto. Engolia seus lábios com os meus,
deslizava minha língua por cada canto da sua, tentando controlar a
falta que sentia daquele simples contato.
Meus movimentos foram diminuindo conforme sentíamos a
necessidade de ar. Não queria me afastar ainda, então a beijei mais
lento ao mesmo tempo em que acariciava sua cintura com carinho.
Você sempre será minha.
Eu sempre serei seu.
E dessa vez, eu manteria a promessa que fiz lá atrás sobre
fazê-la sorrir. Não queria nunca mais fazê-la chorar como aconteceu
diversas vezes nesses últimos meses, eu queria apenas seus
sorrisos, seus olhos irritados por uma idiotice minha, e que dois
segundos depois estaria me olhando da forma apaixonada de
sempre.
Era isso que queria para o nosso futuro.
Afastei nossas bocas, ofegante.
— Vamos para casa.
Aurora não pensou duas vezes antes de segurar minha mão e
se levantar comigo.

No caminho até nossa casa, enviei uma mensagem para


Maeve perguntando como estavam as coisas com Elijah, e tive a
resposta no celular de Christopher, que me enviou uma selfie dos
três deitados na cama.
Me tranquilizei quando vi como meu filho parecia tranquilo
dormindo na barriga da nossa amiga.
Ele era mesmo apegado à tia Maeve, o que causava um pouco
de ciúmes na minha irmã. Nós nem tentamos deixá-lo com ela e o
Trevor, porque sabíamos que ele podia até curtir no início, afinal os
amava também, mas não dormiria com eles como estava dormindo
com Maeve e Chris.
— Quem é a família do Elijah? Eu e Aurora ou vocês? Vou
colocá-los na polícia se roubarem meu filho. — Impliquei, enviando
o áudio para Christopher enquanto dirigia a caminho de casa.
Aurora me olhou sem entender.
Mostrei a foto para ela, que sorriu e balançou a cabeça.
— Como ele pode ser tão apegado a eles?
Dei de ombros, estacionando o carro em frente a nossa casa.
— O que importa é que eles estão avisados, não podem roubar
o que é nosso.
Ela riu.
— Não saia do carro ainda. — Pedi assim que a vi segurando
a maçaneta da porta.
Saí primeiro e dei a volta, abrindo para ela como o cavalheiro
que deixei de ser há muito tempo. Aurora sorriu com o gesto e
segurou minha mão, descendo do veículo.
Fechei a porta e a puxei em direção à entrada de casa,
notando que suas mãos estavam geladas. Seu comportamento me
trazia um déjà vu da nossa primeira vez, lembrava o quanto ela
estava nervosa e hoje não era diferente.
Porém conseguia entendê-la perfeitamente, pois mesmo que já
tivéssemos transado antes, era a primeira vez depois de muito
tempo. Tinha muitas outras coisas e sentimentos diferentes
envolvidos dessa vez, e precisava confessar que estava nervoso
também.
Meu celular apitou em uma nova mensagem. Era de
Christopher.

Chris: Vocês que saíram e deixaram Elijah com a gente. Não


nos culpe se ele nos amar mais no futuro.
Ri da sua mensagem.
— Quando foi que Christopher se tornou tão respondão? —
perguntei enquanto abria a porta.
— Ele só está sendo ele mesmo — Aurora respondeu. — Ele
se sente confortável para isso quando está com amigos.
Amigos.
Eu era amigo do Christopher Lancaster.
Ele havia me perdoado de toda a merda que o causei e acabei
me redimindo mais ao me tornar mais próximo dele. O nerd era um
cara legal e muito bom ouvinte, por mais que dissesse que era
porque não conseguia falar, ele sempre me ouvia e me dava bons
conselhos.
Não é à toa que a primeira pessoa que me viu surtar após sair
da clínica tenha sido ele. Naquela noite, quando me encontrou
bêbado e cuidou tão bem de mim, senti que ele poderia entrar na
minha pequena lista de melhores amigos, junto com o Barry.
— Será que não precisamos mesmo pegar o Elijah? — Aurora
perguntou quando entramos dentro de casa. — Não quero ficar
ouvindo da Maeve que a única oportunidade que tinha para transar
com Chris no apartamento, foi a que ela foi colocada como babá.
Sorri e a puxei pela mão, aproximando seu corpo do meu.
— Acho que podemos apenas nos preocupar com a gente hoje
— murmurei, agarrando seu pescoço e quase tocando minha boca
na sua com a proximidade que nos forcei a ficarmos. O olhar dela
mudou, me encarando com mais intensidade do que as outras
vezes. — Lembra da promessa que fiz ontem? Nós tivemos o nosso
terceiro encontro, Sunshine.
Eu poderia beijá-la ali mesmo, era o que queríamos desde que
saímos daquele píer e entramos no carro, mas queria levá-la para o
quarto e ir devagar. Passei todos esses meses sonhando com o
momento em que a teria de volta, e não desperdiçaria agora que
tinha a oportunidade.
Mesmo agora tendo o resto de nossas vidas.
Deslizei minhas mãos devagar pelo seu corpo, até chegar na
sua cintura e a erguer com meus braços. As mãos de Aurora
seguraram meus ombros e as pernas abraçaram meu quadril.
— Você deveria me levar para seu quarto — ela sugeriu com
um sorriso provocativo. — Sinto sua falta.
Porra! Eu também sentia.
A segurei firme e deixei que minhas pernas nos conduzissem
até o meu quarto. A saia que ela estava usando subiu um pouco e
aproveitei para apertar a carne da sua bunda. Não via a hora de tirar
aquela meia-calça grossa que ela estava usando e beijá-la por todo
o corpo, até fazê-la perder o fôlego.
— Eu não disse, mas você está incrivelmente linda hoje. —
Elogiei enquanto abria a porta do quarto e depois a fechei com os
pés. — Mas… me lembro que você fica ainda mais gostosa quando
está nua sob mim.
Aurora riu fraco e subiu sua mão pela minha nuca, enfiando os
dedos entre os fios do meu cabelo e me causando um arrepio
gostoso naquela região.
— Será que lembra mesmo?
Sentia tanta saudade daquele sorriso dela cheio de segundas
intenções. Coloquei minha garota sentada na cama, empurrando-a e
até cair de costas no colchão macio da cama. Não perdi meu tempo
e retirei suas botas com mais pressa do que pretendia ao tirar suas
roupas.
Depois me inclinei sobre Aurora e segurei as mãos dela em
cima da sua cabeça. O olhar que direcionou a mim tinha tanto tesão,
que eu podia apostar que a calcinha dela já estava molhada, sem
qualquer incentivo da minha parte.
Ela fechou os olhos quando aproximei minha boca da dela,
provavelmente achando que eu a beijaria, mas apenas reprimi meu
sorriso e passei meus lábios pelo canto da sua boca, indo em
direção ao seu pescoço.
Aspirei seu cheiro, diretamente da sua pele, do jeito que queria
fazer desde o momento em que a vi.
Tão incrível.
Aurora sempre foi o meu maior vício, desde seu cheiro até a
sua personalidade.
Beijei seu pescoço, observando seu peito puxar mais forte a
respiração. Abri meus lábios e chupei sua pele, sendo agraciado
com o gemido baixinho que veio da sua garganta.
Lambi aquela região, do mesmo jeito que eu faria daqui alguns
minutos na sua boceta, e Aurora tentou soltar suas mãos das
minhas para me agarrar, mas não deixei, não quando ela estava tão
gostosa tentando evitar de se contorcer com minha boca no seu
pescoço.
Passei para o outro lado e repeti os movimentos.
— Melvin... — ela gemeu.
— Não achou que eu ia apenas foder você incansavelmente,
né? — perguntei no seu ouvido. — Passei todos esses meses me
masturbando apenas com nossas memórias, acho que merecemos
curtir cada instante, não acha?
— Você me deixou esperando por todo esse tempo e agora
quer ir devagar?
Ri contra seu pescoço, notando pelo tom de voz o quanto ela
estava ansiosa para fazer tudo ao mesmo tempo.
— Pelo jeito, não se lembra como eu sou bom em ir devagar.
— Mordi o lóbulo da sua orelha.
Soltei suas mãos e levei as minhas até sua blusa, tirando-a
com a ajuda da Aurora, revelando seus seios ainda com o sutiã, que
haviam ficado mais fartos com a maternidade. Ela estava ainda mais
gostosa do que antes. Como isso era possível?
A olhei e fiquei confuso ao ver um pouco de insegurança nos
seus olhos, não parecendo mais a garota provocativa de alguns
segundos atrás.
— Meu corpo não é mais o mesmo — explicou. — Posso ter
apenas quatro quilos a mais do que pesava quando estava com
você, mas existem algumas estrias na região da barriga e...
Minha mão foi parar em sua boca ao entender o que ela estava
tentando me dizer.
— Desde quando eu me importaria com isso? Você sempre foi
e sempre será linda, Sunshine. Não me importo com quilos a mais
ou com estrias, vou amá-los da mesma forma que sempre amei seu
corpo, porque para mim, nada disso é um defeito, entendeu?
Ela relaxou, sorrindo ao assentir.
— Você é um cretino! — ofendeu, me deixando surpreso. Falei
algo de errado? — Eu só consigo me apaixonar ainda mais por você
dessa forma.
Foi a minha vez de relaxar ao entender o que queria dizer.
Retribui o sorriso e continuei a fazer meu trabalho.
Desci o zíper da lateral da sua saia e a deslizei pelas suas
pernas até o fim, atirando-a em qualquer canto do quarto.
Meu pau se apertou contra a cueca ao vê-la vestida apenas
com a meia-calça e o sutiã de renda da mesma cor preta. Como
essa mulher conseguia ficar insegura quando provocava tudo isso
em mim?
Tirei sua meia-calça com calma, deixando-a de propósito
apenas com a calcinha fina e pequena tapando sua boceta. Voltei a
ficar por cima de seu corpo e aproximei nossos rostos, dessa vez,
beijando-a como ela queria que eu fizesse desde que entramos
nesta casa.
Suas mãos agarraram minhas costas ao mesmo tempo em que
sua língua correspondia ao meu beijo. Chupei seus lábios, sentindo
meu pau doer a cada estalo das nossas línguas juntas.
Deslizei minha boca pelo seu pescoço, puxei sua pele com
meus dentes e distribuí chupões, ouvindo seus gemidos cada vez
mais altos. Sentia o gosto levemente salgado da sua pele ao
deslizar minha língua até a região dos seus seios.
Aurora estremeceu sob mim.
Enfiei minhas mãos por baixo dela e abri seu sutiã.
Não demorei nada para atirá-lo em qualquer lado daquele
quarto e abocanhasse o seio direito. Aurora agarrou meu cabelo,
gemendo alto ao sentir minha língua trabalhar com seu biquinho
duro de excitação.
Chupei seu peito, passei meus dentes pela região sensível e vi
seu corpo se contorcer conforme aumentava a pressão.
— Lembra disso? — perguntei, olhando, e aproveitei sua
atenção fixa em mim para lamber seu mamilo. — Lembra quando a
fiz gozar apenas dessa forma?
Foi lento, torturante e gostoso. Tudo ao mesmo tempo.
Aurora me encarava como se eu fosse maluco.
Aproveitei do seu momento de raciocínio e passei a repetir os
mesmos movimentos no outro seio. Lambi para depois chupar,
sentindo seu mamilo cada vez mais enrijecido entre meus dentes.
— Melvin... por favor — Implorou, causando um espasmo no
meu pau. — Me fode.
Eu poderia e queria muito estar dentro dela.
Mas...
— Vou fazer você gozar, Sunshine — prometi.
Avancei no seu seio e apalpei o outro, usando meus dedos
para massageá-lo enquanto chupava o que estava na minha boca.
Aurora gemeu mais alto, agarrando fortemente os fios do meu
cabelo e os puxando conforme seu corpo se movimentava sob mim,
mais especificamente seu quadril, buscando um alívio.
— Porra, Melvin...
Ela estava quase.
Apenas esfreguei lentamente meu pau duro em direção a sua
virilha, do jeito que ela queria, ao mesmo tempo em que chupava
mais seu seio, e senti quando seu corpo mudou embaixo do meu.
Aurora relaxou por um segundo ao ser atingida pelo orgasmo.
Sorri fraco e não parei, descendo minha boca pelo seu corpo,
parando no seu ventre, e então beijei cada uma das suas estrias
visíveis sob meu olhar enquanto a encarava.
— Você é linda, perfeita, gostosa e toda minha!
Seus olhos marejaram.
— Não é hora de chorar, Sunshine — provoquei, mordendo de
leve sua barriga. — Acabei de fazê-la gozar.
— Não estou chorando!
Aspirei seu cheiro ali naquela região e então deslizei um pouco
mais em direção à sua boceta. Aurora me encarava com uma
mistura de tesão, expectativa e de realização, com o orgasmo que já
havia proporcionado a ela.
Movi meu rosto e beijei sua intimidade por cima da calcinha
fina, sentindo a umidade e o cheiro da sua excitação. Agarrei as
laterais da peça íntima, puxando-a para baixo, e depois voltei a me
aproximar do meio das suas pernas, abrindo-as mais.
Beijei o início da sua coxa e com meus olhos presos nos seus,
coloquei minha língua para fora e lambi sua boceta de baixo para
cima, provando do orgasmo que teve e da sua excitação, tudo ao
mesmo tempo.
— Olhe para mim, Sunshine — mandei ao vê-la prestes a
fechar os olhos. — Quero que olhe para o único homem que pode
fazer isso com você.
Aurora mordeu seus lábios, mas não conseguiu controlar o
gemido alto que saiu no instante em que comecei a matar minha
saudade da sua boceta de verdade.
— Melvin... — Ela agarrou os lençóis. — Isso...
Era tudo o que ela queria desde o início.
Minha garota sempre foi viciada na minha boca devorando sua
intimidade, e podia admitir que eu também era. Seu gosto era único
e não havia visão mais incrível do que a de vê-la recebendo prazer.
Aurora arqueou os quadris quando abocanhei seu clitóris,
querendo desesperadamente me sentir mais. E dei o que ela queria
ao chupar mais forte aquela região, arrancando mais gemidos dela.
Gostei que mesmo sentindo um prazer absoluto, ela ainda
mantinha seus olhos em mim, atenta em cada detalhe meu
chupando seu ponto de prazer.
Eu estava tão duro por ela, que se me esfregasse naquele
colchão enquanto a dava prazer, gozaria como um virgem. Não que
pudesse me cobrar muito, estava me aliviando com minha mão
durante todos esses meses, mas porra! Isso seria uma vergonha
que eu não queria para essa noite.
— Você... — ela gemeu. — Ainda está c-com roupa.
Sorri de lado, lambendo-a mais.
— Melvin...
Aurora fez menção de fechar as pernas, mas não deixei,
apenas prendi seu quadril na cama e as abri mais.
Porra! Estava alucinado pelo seu gosto.
Alucinado pelos seus gemidos.
Pela forma como se contorcia embaixo de mim.
Afastei a minha boca assim que notei que ela gozaria a
qualquer momento e a deixei recuperar sua respiração enquanto me
despia por completo, com seus olhos ainda em mim.
Não demorei mais do que um minuto para tirar minhas roupas
e voltar a ficar por cima dela.
A loirinha tocou meus ombros e deslizou as mãos em um
carinho misturado com admiração pelo meu peito, descendo até
meu abdômen.
— Eu amo você — ela declarou, voltando a ficar com os olhos
marejados. — Muito.
Sempre senti isso, Sunshine.
Segurei sua mão e a beijei.
— Todo o meu amor é seu. Toda minha devoção é sua. Este
coração não vai amar mais ninguém, porque não existe alguém que
possa substitui-la nesse universo. Meu coração sempre te quis e te
amou, sem se importar com nada.
Aurora meu puxou para um beijo enquanto nossas outras
mãos se entrelaçavam. Senti uma emoção diferente me
consumindo, e junto com todo tesão que estava sentindo, era como
se o que estávamos vivendo nesses últimos dias fosse o certo.
Eu finalmente pertencia a ela novamente.
E Aurora finalmente me pertencia.
As pernas da minha garota me abraçaram e meu pau encostou
na sua boceta, arrancando um gemido fraco de nós dois.
Sem desgrudar nossos lábios, me encaixei na sua entrada e a
penetrei, engolindo nossos gemidos e sentindo a sensação
poderosa de estar dentro da mulher da minha vida de novo.
Minha loirinha estava bem molhada, o que me possibilitou
entrar mais rápido.
Larguei sua boca apenas para beijá-la por cada canto da sua
pele que estava na minha frente enquanto a penetrava em um ritmo
mais lento, sentindo a cada penetração, seu interior se abrindo e me
apertando mais.
Era tão gostoso.
— Melvin... — Ela arranhou minhas costas.
— Sunshine... — gemi e beijei seu queixo, continuando meus
movimentos. — Você gosta disso?
Ela assentiu e soquei mais uma vez, lento e apaixonado.
Meu coração batia acelerado por essa mulher deitada sob
mim, gemendo meu nome, arranhando cada parte de minha e
declarando seu amor a cada instante que nossos olhares se
encontravam.
Todo meu mundo externo ainda parava de existir quando
estava assim com ela , mas não era como antes. Eu sabia que
Aurora não era a minha salvação, mas juntos, éramos o apoio um
do outro. Juntos, nós éramos a pessoa favorita um do outro. Como
um relacionamento normal deveria ser.
Pisquei, e só me dei conta que estava emocionado quando
algumas lágrimas caíram no peito dela.
Ela não me encarou confusa, porque sabia o que eu estava
sentindo, porque no fundo, eu acho que ela estava igual.
Finalmente, depois de acharmos que tudo estava perdido,
estávamos juntos novamente.
— Eu amo você, Aurora Benson.
Estoquei mais uma, duas, três vezes e na quarta vez, o
orgasmo nos atingiu com força total, deixando que nossos líquidos
se misturassem em um só, da mesma forma que nos unimos nessa
noite.
Você sabe que me conquistou
Tudo que você faz, tudo que você fez
Tudo o que eu gostaria de ter
Faz com que me sinta bem, só estou dizendo que sim
YOU & ME – JENNIE
AURORA BENSON
Senti meu corpo todo dolorido quando abri meus olhos na
manhã do dia seguinte, e na mesma hora começaram a surgir as
lembranças do que eu e Melvin fizemos durante a madrugada.
Agarrei o travesseiro e enfiei minha cara ali por alguns segundos,
me perguntando se estava sonhando ou se isso realmente estava
acontecendo. Nós voltamos.
Nós voltamos muito melhores.
— Bom dia, Sunshine! Espero que esteja se espreguiçando e
não bancando a tímida quando já passamos dessa fase.
Tirei meu rosto do travesseiro e olhei em direção à sua voz,
ficando surpresa ao vê-lo carregando uma bandeja com o que
parecia ser o nosso café da manhã.
— O que é isso? — perguntei, mesmo que fosse óbvio.
Sentei-me ao mesmo tempo em que ele também se sentava na
cama e me enrolei no lençol, já que ainda estava nua embaixo dele.
— Nosso café — respondeu, sorrindo. — Você está bem?
Peguei um morango do prato e mergulhei na calda de
chocolate.
— Com sono — admiti, levando a fruta até a boca e
mastigando. — Hum...
Simplesmente amava morangos!
— É uma pena que tenhamos aula hoje, não é? — Aproximou-
se e beijou minha boca rapidamente. — Poderia ficar nessa cama
com você o dia todo.
Melvin beijou meu ombro diversas vezes, me causando
cócegas. Esquivei-me dele, rindo do bico que seus lábios formaram.
— Você mesmo disse que temos aula. Não podemos nos
atrasar.
Peguei uma torrada, só percebendo agora o quanto estava
com fome.
— Tenho treino de tarde a partir dessa semana — o loiro
informou. — Não vou conseguir acompanhá-la até em casa.
Engoli um pedaço da torrada e assenti.
— Você não precisa.
— Eu gostaria — admitiu. — Mas sei que Margô tem
compromissos na parte da tarde e não pode ficar mais tempo com o
Elijah.
Assenti, concordando com ele.
— Posso te pedir uma coisa? — Melvin perguntou e mais uma
vez repeti o movimento com a cabeça, pois estava com a boca
cheia. — Estamos juntos agora e eu queria muito que você e nosso
filho voltassem a morar nessa casa. É solitário demais estar aqui
sem vocês, mas irei entender se quiser ir com calma.
Sorri e apertei sua bochecha enquanto a balançava de um lado
para o outro, achando fofo como parecia inseguro ao fazer o
convite.
— Achei que não nos chamaria.
Ele soltou uma risada nasalada.
— Qual a chance de eu não querer viver 100% do tempo
grudado em você a partir de agora?
— Cuidado! Dizem que a saudade é um sentimento bom em
um relacionamento — chamei sua atenção. — Não quero me
divorciar de você no futuro por estar enjoada da sua cara.
Melvin semicerrou os olhos em minha direção.
— Enjoada? Você se atreveria a se enjoar de mim? —
indagou, se ajoelhando na cama e aproximando-se cada vez mais
de mim.
— O quê? Melvin, cuidado com a bande...
Nem terminei de falar porque comecei a gargalhar com as
cócegas que o idiota começou a fazer em mim.
— M-melvin...
— Diga que nunca vai enjoar de mim!
— A b-band...
Soltei um grito, rindo mais ao sentir suas mãos no meu ponto
fraco: costelas.
— Estou esperando, Sunshine! — Ele riu.
Era um cretino!
— Eu... — Busquei o ar. — Nunca... — Respirei fundo. — Vou
enjoar de você.
E então ele parou com as cócegas, mas permaneceu por cima
de mim, me encarando com seus olhos claros e brilhantes.
— Nunca conseguiria me enjoar de você também — declarou e
surgiu com um morango perto da minha boca. — Vamos pegar suas
coisas hoje na casa da Maeve?
Separei meus lábios e recebi a fruta vermelha que me oferecia,
fazendo um gesto positivo com a cabeça em resposta à sua
pergunta.

Melvin ainda assim quis se atrasar para o treino só para me


levar até o restaurante que combinei de almoçar com as meninas e
os Lancaster. Ele se despediu de mim com um beijo que quase me
fez querer sequestrá-lo e levá-lo para nossa casa para ficarmos
apenas curtindo nosso momento de casal, longe dos olhos atentos
da UCLA.
Depois desse beijo, tinha certeza de que os fofoqueiros que
ainda ficavam de olho em nós, comentariam que estávamos juntos
de novo. No fundo, tinha quase certeza de que era isso mesmo que
Melvin queria.
Era mesmo um enciumado!
Mas eu gostava quando era desse jeito, sem aquela forma
doente com medo de me perder e totalmente perdido como já
esteve antes.
— Hum... — Maeve fez barulho assim que me aproximei da
mesa em que estavam. — Quer dizer que os dois pombinhos
finalmente voltaram.
Assenti, me sentando ao lado de Caitlin.
— Finalmente as coisas estão ficando em ordem novamente —
minha cunhada e melhor amiga disse, suspirando aliviada.
Cat deitou a cabeça no meu ombro.
— Estou feliz por vocês.
— Vocês não deixaram de se amarem um só dia nesse tempo
separados, acho que tudo o que aconteceu foi bom para o
amadurecimento desse sentimento — Chris sinalizou,
demonstrando empatia por nós. — Acho que meus ouvidos vão
descansar nos próximos dias. Estou aliviado.
Maeve riu, deitando a cabeça no ombro dele.
— Vai ter mais tempo pra gente? — ela questionou. — Agora
que não vai precisar mais ser o segundo psicólogo do Melvin.
Trevor fez uma careta em direção aos dois.
— Como se vocês não tivessem tempo suficiente juntos! Sério,
nem eu e Caitlin somos tão grudentos como vocês. — Se gabou
com orgulho, recebendo um olhar de sua namorada que eu julgava
estar chamando-o de mentiroso. — Eu e Chris não jogamos
videogame há uma semana. Poderia liberar meu irmão desse seu
cativeiro?
A ruiva o fuzilou com o olhar.
— Cativeiro? Já parou para pensar que talvez ele tenha
percebido que você é chato e não queira passar mais tempo
contigo?
— Oras...
— Ai, chega vocês dois! — Caitlin mandou, enquanto eu e
Christopher apenas prendíamos a risada. — Quando vão começar a
se amarem? Quando acho que as coisas estão ficando amigáveis,
vocês discutem por bobagens.
— Se você estiver precisando de ajuda, sabe que é só me
fazer um sinal, né? — Trevor continuou, perguntando diretamente
para o Chris.
Dei risada da cara que Maeve fez.
Ela parecia que o esmagaria bem ali, mas acho que até Cat
sabia que isso não aconteceria. Esses dois adoravam se bicarem de
vez em quando. A relação deles parecia quase como a de irmãos.
— Não se preocupe, estou bem com minha namorada.
De uma forma bem infantil, a ruivinha mostrou a língua para o
cunhado ao ver a resposta do seu namorado.
— Podemos focar na volta do Melvin e Aurora? — Caitlin
questionou e eles concordaram. — Como vocês estão? Tudo está
sendo como imaginava?
— Acho que é ainda melhor — admiti. — Não sinto mais o
peso do passado nas minhas costas. Melvin também me parece
estar mais leve, livre.
Ela sorriu e me abraçou de lado.
— Estou muito feliz.
— Eu também — Maeve disse. — Sei que já zombei muito
vocês e em alguns momentos dei a entender que não queria que
voltassem, mas era tudo porque estava preocupada com você e
com o Elijah. Sempre acreditei que o que tinham era poderoso e que
se quisessem, poderiam voltar para a parte boa e saudável do
relacionamento. Vocês escolheram o lado certo.
— Eu sei, Maeve — respondi, segurando sua mão por cima da
mesa. — Você é uma boa amiga.
Ela me mandou um beijo.
— Hoje irei pegar as coisas no seu apartamento e voltar a
morar com o Melvin — falei, parecendo não surpreender ninguém.
— Achamos que vai ser melhor para o nosso filho.
— Claro... Elijah — Maeve provocou.
Prendi a risada.
— É sério! Temos um filho agora e nos amamos... Por que
continuarmos separados?
— Aproveitem esse tempo juntos — Caitlin aconselhou. — Vai
ser importante para vocês.
Concordei com ela.
— Bom... — Suspirei e já mudei de assunto. — Em menos de
duas semanas temos o aniversário do nosso menino.
Maeve bateu palmas, animada.
— Eu e Christopher selecionamos as músicas — ela disse. —
Ontem… enquanto Elijah dormia e a gente não podia fazer nada.
O nerd ficou vermelho.
— Pare de constranger seu namorado — Trevor julgou.
— Já estou acostumado com a boca sem filtro dela — Chris
defendeu a ruivinha.
— Ei! Você bem que gosta da...
Ele colocou a mão na boca dela antes que terminasse.
Todos nós rimos.
— Ok, vocês selecionaram as músicas. Podem me mandar a
playlist depois?
Eles fizeram um gesto positivo com a cabeça.
— Obrigada! — agradeci mais uma vez. — Não
conseguiríamos sem vocês.
— Estamos aqui sempre, amiga. Não lembra da promessa que
fizemos quando descobrimos sua gravidez? — Caitlin perguntou.
Eu lembrava de tudo.
E era por isso que era grata.
Eles nunca nos deixaram, pelo contrário, sempre estiveram ali
sendo como pais substitutos para o Elijah, pois sabiam o quanto era
grande a responsabilidade para nós, principalmente na situação em
que estávamos.
— Droga— murmurei. — Amo vocês.
Abracei Caitlin e peguei a mão de Maeve antes que ela a
tirasse de cima da mesa.
— E vocês também, meninos — falei para os irmãos Lancaster.
Eles sorriram timidamente.
— Nós também, Aurora — minha ruiva falou. — Só não chora.
Agora é só alegria, ok?
Eu concordei com um aceno.
Sim, agora era só alegria.
Era a oportunidade de aproveitar tudo o que não aproveitei no
passado porque estava de coração partido.
Quero te amar todos os dias
Garota, estou te dando tudo que eu tenho
(Amor)
Por favor, me dê a honra de poder ficar ao seu lado
Porque eu estou te dando tudo que tenho
ALL I GOT – BAEKHYUN
MELVIN HOWARD
Sentei-me no banco de reserva, sentindo o cansaço tomar
minhas pernas e me deixando com preguiça de dar sequer um
passo nos próximos minutos. Peguei a garrafinha de água e tomei
alguns goles, observando os outros garotos do time treinarem.
Billy Smith, o técnico do time, se aproximou e se sentou ao
meu lado.
— Tem evoluído nos treinos, rapaz — ele elogiou. —
Consegue notar?
— Futebol sempre foi a minha paixão, Billy.
— E quando está pensando em mostrar isso de novo para
nossa torcida?
— Ainda não sei...
— Próxima semana teremos um amistoso aqui na
universidade. Você não é tolo e já sabe disso, todos os meninos
estão treinando para esse jogo — ele comentou e imaginei suas
intenções por trás disso. — Pode assumir seu lugar como
quarterback e ver como irá se sair.
— Billy...
— É apenas uma sugestão — interrompeu. — Só lembre-se
que a porta pode não abrir tão cedo novamente. O garoto que está
no seu lugar é bom, e pode se tornar tanto quanto você.
Suspirei.
— Mande uma mensagem com a resposta até amanhã. —
Pediu e assenti. — Tenho certeza de que irá fazer a escolha certa.
Bebi mais um pouco de água, me sentindo ansioso por ter que
responder esse pedido até amanhã.
Era mais uma escolha importante que teria que fazer na minha
vida.
Mais uma das que me deixavam com medo.
Se aceitasse, significaria voltar a ser o centro das atenções
desta universidade, voltar a sentir a pressão da torcida, dos meninos
do time e até mesmo do técnico.
Eu estava preparado para isso? Tinha medo de não estar.
— Está pensando demais para quem está vivendo uma lua de
mel — Barry provocou ao se aproximar.
Dei risada.
— Do que você está falando?
— Faz três dias que Aurora voltou a morar com você, estão em
lua de mel — explicou.
— Cala a boca — mandei, dando um tapa na sua nuca.
Ele riu, pegando sua garrafa de água e dando alguns goles.
— Acha que consegue voltar a jogar para valer semana que
vem? — ele perguntou e se virou para mim. — O treinador fala alto,
foi fácil escutar.
Dei de ombros.
— O jogo é na sexta — constatei. — O aniversário do meu filho
é no sábado.
Meu amigo me olhou como se eu fosse estúpido.
— Isso não é nem desculpa, Melvin.
— Se eu tiver um ataque de pânico, é uma desculpa —
expliquei, caso não se lembrasse que mesmo eu estando bem,
ainda era um fodido da cabeça. — Vou conversar com Aurora hoje e
ver o que ela acha.
Ele sorriu e me abraçou sem que eu esperasse. Fiz uma careta
ao notar que o idiota estava suado.
— Sai de perto!
— Estou muito orgulhoso de você. — Abraçou-me com mais
força. — Vai conversar com sua mulher, como um homem
responsável e preocupado.
Por fim, apertou minha bochecha antes de me largar.
— Idiota!
— Não estou mentindo, Melvin — Barry disse enquanto
balançava sua garrafa de água. — Desde que saiu da clínica de
reabilitação, consegui ver o quanto tem se esforçado e mudado,
estou feliz que você se deu uma chance para voltar a viver com
essa sua nova versão.
Toquei meu ombro com o seu, o empurrando de brincadeira.
— Desde quando se tornou tão falante?
Meu amigo riu, sem graça.
— Só estou dizendo, chato! Muitas pessoas dizem que vão
mudar e acabam cometendo os mesmos erros, mas vi você se
esforçando todos os dias e se encontrando novamente. Sabe... é
bonito de se ver.
Sorri fraco, dessa vez eu que estava me sentindo um pouco
sem graça.
— Obrigado!
Ele se levantou.
— Agora irei falar com o pessoal do time. — Apontou para
mim. — Pense direito no seu futuro.
A forma como me olhava era ameaçadora.
Assenti em resposta, vendo meu amigo se juntar com o
restante do time.

Quando cheguei em casa, encontrei Aurora brincando no sofá


com Elijah, com vários brinquedos espalhados ao redor dos dois.
Larguei minha mochila em qualquer canto e tirei meu tênis,
agradecendo silenciosamente por ter tomado banho antes de sair do
vestiário, porque poderia chegar a agarrar os dois amores da minha
vida.
— Oi! — Cumprimentei, recebendo um sorriso lindo de cada
um. Sentei-me ao lado da minha mulher e abracei sua cintura. —
Como vocês estão?
Deitei minha cabeça em seu ombro, sentindo meu corpo
relaxar com o calor que emanava do dela. Era tão bom abraçá-la.
— Nós passamos bem, né, filho?! — Aurora perguntou e Elijah
sorriu, pegando seu caminhão de brinquedo e o fazendo voar.
— Que bom!
Aproveitei que nosso filho não estava olhando e puxei o rosto
dela para mim, beijando sua boca o mais demoradamente que
conseguia em uma situação como essa. Os lábios dela eram como
pétalas de rosa, macios e doces, e o gosto dela era a essência de
uma doce tentação. Cada movimento de seus lábios era uma dança
cuidadosa e apaixonada, como se estivessem contando a nossa
história.
Sempre sentia que o tempo desaparecia quando nos
beijávamos e dessa vez não foi diferente.
— E como foi o treino? — ela perguntou quando
interrompemos o beijo.
— Bom — respondi e voltei a pensar na proposta do técnico,
que não saía da minha cabeça nem por um intervalo de cinco
minutos. — O treinador me chamou para jogar na próxima semana.
Aurora me encarou animada.
— Sério? — Seus olhos brilharam e ela não conseguiu
esconder o sorriso. Assenti para sua pergunta. — Isso é incrível,
amor.
Meu coração se aqueceu com o apelido e não resisti, dei um
selinho nos seus lábios.
— Será?
Não demorou muito para que notasse minha dúvida.
— Não vai ser como da última vez, mas também não vai ser
fácil. Você sabe, né? Todos vão te olhar, inclusive, alguns torcendo
para que tenha um surto e erre novamente, só para gerar
entretenimento.
— Eu sei. — Suspirei, concordando com o que ela estava
dizendo.
— Mas você tem a mim e ao seu filho do seu lado — ela me
lembrou com o típico sorriso lindo nos lábios e eu não consegui
reprimir o meu. — Não importa a pressão que coloquem para que
seja o melhor, o importante é que entenda que quando entra
naquela quadra, você é o melhor.
Beijei seus lábios rapidamente.
— Preciso dar a resposta até amanhã.
— Qualquer que seja a sua decisão, irei apoiá-lo, pois sei que
é o que dá conta de fazer.
Segurei sua bochecha e a apertei de leve, rindo da careta que
sua cara se transformou.
— Você é perfeita, sabia?
— Estou sabendo que sou uma ótima namorada. — Se gabou,
rindo. — Uma ótima mãe também, né, Elijah?
— Papa — nosso filho disse sem olhar para nós.
— Parece que ele ainda prefere o papai — sussurrei no seu
ouvido e por muito pouco não levei uma cotovelada na região das
costelas. — Nosso terceiro dia juntos, e já está me tratando assim?
— É para você parar de ser chato!
Ri e aproximei meus lábios do seu pescoço, sentindo seu
cheiro e, por fim, deixei um beijo bem ali.
Aurora se arrepiou e encolheu os ombros com a sensação que
a causei.
— Por que não vai esquentar o banho do seu filho e já
aproveita para banhá-lo? — ela perguntou. — Vou ver o que
podemos fazer para o jantar.
Concordei com a ideia, mas não soltei meus braços da sua
cintura.
— Precisa me soltar, espertinho.
Neguei, beijando seu pescoço outra vez.
— Melvin! — Ela riu e estremeceu ao mesmo tempo. — Isso
faz cócegas.
— Onde? — perguntei, mordendo o lóbulo da sua orelha. —
Posso te ajudar com isso.
Aurora deu um tapa nas minhas mãos e a soltei.
— Nosso filho está aqui, tenha mais respeito!
Era engraçado vê-la tentando me dar uma bronca.
Minha loirinha sempre ficaria fofa quando estivesse brava ou
irritada.
— Vou preparar o banho dele — falei, me levantando. —
Aurora...
Ela ergueu a cabeça e me olhou, esperando para que eu
continuasse o que queria falar.
Engoli em seco.
— Vá me ver jogar na sexta-feira e leve nosso filho. — Pedi,
deixando-a em choque. — Não vou desperdiçar a oportunidade que
tenho para voltar a fazer o que amo.
Aurora sorriu.
— Eu poderia pular em seu colo de felicidade agora, mas estou
de olho no nosso filho no sofá para que não caia.
Dei risada.
— Mais tarde você pode me recompensar.
Sem que eu esperasse, ela pegou uma almofada e acertou
precisamente no meu rosto.
— Cretino! — Moveu os lábios, só para que eu entendesse.
Elijah riu do que sua mãe fez, chamando minha atenção.
— Viu como ela me trata, filho? Faz muito bem em não a
chamar da forma certa.
Aurora semicerrou os olhos em minha direção.
— Quer levar outra almofada na cara?
Ri, negando.
— Vou arrumar o banho dele — falei.
Saí às pressas da sala e segui em direção ao banheiro, tendo
a certeza de que as coisas estavam começando a ter sentido para
mim.
Eu voltaria a jogar, seria um quarterback melhor do que já fui e
realizaria meu sonho mais antigo: entrar para a NFL.
Querida, ninguém vai me amar como você ama
E você nunca vai encontrar um amor como o meu
Diga-me, o que eu posso fazer para compensar?
Pois o que temos é bom demais para dizer adeus, adeus
TOO GOOD TO SAY GOODBYE – BRUNO MARS
AURORA BENSON
Fazia mais ou menos uma hora que eu e Melvin havíamos
jantado, brincamos com Elijah até ele não aguentar mais ficar
acordado e o colocamos para dormir. Agora, estava lavando a louça
na cozinha enquanto Melvin conversava pelo celular com o técnico
do time.
Mal conseguia acreditar que ele voltaria a jogar.
Sabia bem o que o esporte significava em sua vida e admitia
que antes, sentia um certo medo de que ele não voltasse para sua
paixão, e sabia que cedo ou tarde, meu loiro poderia acabar se
arrependendo dessa decisão.
Felizmente, Melvin estava se arriscando.
Ele estava descobrindo uma versão melhor de si mesmo e eu,
que passei mais de seis anos da minha vida com ele, conseguia
reconhecer isso. O homem que eu amava estava voltando a ser
corajoso, e agora existia também a cautela. Ele sabia que toda
aquela impulsividade não podia acompanhá-lo nessa nova fase. E
isso era bom.
Significava que mesmo com o passado que tinha e seus
pesadelos, ele não voltaria a se perder novamente.
— No que está pensando? — Senti braços me abraçarem pela
cintura e sorri quando o dono dos meus pensamentos beijou meu
pescoço. — Espero que seja em mim.
Peguei o pano em cima da bancada e sequei minhas mãos,
me virando para ele.
— Você está muito convencido, sabia?
Ele soltou uma risadinha e notei seu olhar cheio de segundas
intenções quando me olhou de cima a baixo.
— Conversou com o treinador?
Ele assentiu, abaixando sua cabeça e beijando meu pescoço.
Minha pele se arrepiou com o contato dos seus lábios.
— Estou dentro do time — respondeu, arrastando o nariz pelo
meu pescoço, subindo até chegar na minha bochecha. Seu olhar
encontrou com o meu. — Acho que podemos comemorar…
Sua testa tocou na minha, e senti o ar que saiu da boca dele,
causando um frenesi por todo meu corpo.
— Acho que devemos ter um champanhe por aqui...
— Não estou falando de champanhe, Sunshine, e você sabe
disso — disse, me olhando intensamente. Senti Melvin deslizar as
mãos da minha cintura até a barra da calça de moletom que eu
vestia, me fazendo estremecer quando enfiou seus dedos para
dentro. — Sabe quantas vezes evitei te encontrar nessa cozinha? E
nas poucas vezes em que a encontrei, pensava em deitá-la nessa
bancada e chupá-la até que gozasse, para depois fodê-la até que
esquecesse do seu próprio nome.
Minha calcinha molhou pelas palavras chulas ditas, e pela
forma como ele me olhava, estava imaginando todas essas coisas
nesse momento e isso refletia no seu olhar.
Seus dedos pararam perto da minha boceta, mas não me
tocaram.
Ele apenas esperava.
Agarrei sua nuca, ansiosa e excitada.
— Você tem a chance de fazer isso agora — murmurei contra a
sua boca.
Ele sorriu de lado, provavelmente gostando da minha
resposta.
Sua boca tomou a minha de forma rápida e intensa. Agarrei
mais forte a nuca dele, fechando os olhos ao mesmo tempo em que
sua língua se encontrava com a minha.
Meu corpo todo esquentou à medida que seus dedos desciam
devagar em direção à minha boceta. Abri minhas pernas
instintivamente e Melvin engoliu o gemido que soltei quando seu
indicador passou pela minha fenda. Ele não parou por aí, e esfregou
meu clitóris por cima da calcinha, me fazendo choramingar contra
seus lábios.
Meu corpo todo o reconhecia, e não estava surpresa por ficar
pronta para ele apenas com aquelas provocações. Melvin sempre
foi capaz de me deixar molhada apenas com um olhar e isso não
mudou nem com o tempo que permanecemos separados.
Ele era incrivelmente gostoso, desde os ombros largos e
braços musculosos, até o abdômen firme, definido e o pau grande
que me fazia gozar rapidamente, me tocando nos pontos certos.
Esse loiro era perfeito em todos os sentidos, e agora, enquanto me
beijava e descia minha calça, eu tinha mais certeza disso.
Ele interrompeu o beijo enquanto minha calça caía nos meus
pés, e antes que eu processasse direito, estava sendo levada para a
bancada maior e vazia da cozinha.
Melvin foi rápido ao levantar minha blusa e tirá-la do meu
corpo. Como era de um tecido grosso, ele não havia notado que
estava sem o sutiã, e apenas quando a retirou do meu corpo, que
seus olhos caíram para meus seios e os viram livres.
Ele arfou, me fazendo repetir seu som quando os agarrou ao
mesmo tempo e os esmagou entre seus dedos. Minhas pálpebras
estremeceram e minha boceta ficava mais molhada.
— Toda vez que você cozinhar nessa cozinha… — Abaixou a
cabeça e desceu a boca pelo vão entre meus seios. — Vai se
lembrar do que fizemos aqui hoje.
Nem consegui respondê-lo, pois gemi com o chupão que ele
deu na lateral do meu seio direito.
Porém ele não enfiou nenhum deles na boca, apenas colocou
sua língua para fora e a deslizou pela minha barriga, acelerando
ainda mais meu coração, fazendo-me estremecer internamente.
Quando se aproximou do meio das minhas pernas, Melvin puxou
meu quadril mais para frente, quase batendo-o em seu rosto.
— Levante um pouco o seu quadril, quero vê-la fora dessa
calcinha. — Sua voz rouca soou autoritária, só me deixando mais
excitada pelo seu jeito cretino quando estávamos sozinhos dessa
forma.
Não tardei em obedecê-lo e o ajudei a tirar a peça íntima de
mim.
O loiro a jogou para longe e abriu mais as minhas pernas,
dando um beijo em cada lado da minha coxa antes de abocanhar
minha boceta.
— Melvin! — gritei enquanto agarrava seu cabelo.
Ele lambeu toda a minha excitação e me olhou de uma forma
divertida no meio do tesão que estava sentindo.
— É melhor não acordar nosso filho ou vai acabar essa noite
sem gozar.
Porra! Ele tinha razão.
— Filho da puta. — Xinguei baixinho, me arrepiando com sua
risada no meio das minhas pernas.
— Você sabe que eu sou. — O canalha sorriu tão pervertido,
que eu não sabia se o xingava mais ou se o mandava voltar a me
chupar logo.
O idiota parou de falar — ainda bem — e voltou a dar atenção
à minha vagina. Sua língua percorreu entre os grandes lábios e com
a pontinha dela, tocou meu clitóris, me fazendo morder a boca para
não gritar.
Dessa vez, ele não foi devagar e abocanhou meu ponto de
prazer. Agarrei os fios do seu cabelo mais forte, puxando-os
conforme movimentava sua língua e chupava meu ponto maior de
prazer.
Sentia-me afogando em um prazer imenso a cada sucção que
ele fazia.
Cheguei a bater minha cabeça no armário atrás de mim,
tamanha a intensidade que estava sentindo. Mas não senti dor
nenhuma, não quando estava concentrada apenas na sua boca me
dando tudo aquilo que senti falta em todo esse tempo.
Melvin enfiou um dedo em mim, me pegando totalmente de
surpresa. Meus olhos se arregalaram e um gemido um pouco mais
alto saiu dos meus lábios sem que me controlasse.
Depois enfiou mais um, tirando e colocando os dois na minha
entrada, simulando uma penetração com seu pau ao mesmo tempo
em que sua boca continuava me levando à loucura.
— Melvin... eu vou... gozar — gemi.
Ele sabia disso, pois me chupou ainda mais rápido.
— Não para. — Cheguei a implorar, gemendo com a sensação
incrível de sua boca e dedos em mim.
Tudo ao mesmo tempo.
Porra.
Minhas pernas tremeram e o orgasmo percorreu meu corpo
como uma descarga elétrica, me deixando completamente sem
fôlego enquanto Melvin lambia cada gota que saía de mim,
impedindo-me de fechar as pernas com a sensibilidade que sentia
naquela região.
— Quero você, Aurora. — Ele parecia sentir dor. — Agora.
E sem perder tempo, ele retirou a calça e a cueca de qualquer
jeito, atirando-as em qualquer canto daquela cozinha.
Eu podia ter acabado de ter um orgasmo, mas não pareceu
suficiente quando olhei para seu pau grande e ereto, pronto para
entrar em mim.
O puxei pela camisa para mais perto, mas logo o despi dela,
agarrando sua cintura quando estava completamente nu na minha
frente.
O beijei, dando total liberdade para que fizesse qualquer coisa
comigo.
Melvin deslizou suas mãos pelo meu corpo até chegar na
minha bunda e o senti apertando-a com vontade enquanto me
puxava mais para a ponta. Quando entendi que queria me levar
para outro lugar, enrolei minhas pernas em sua cintura e deixei que
me levasse para onde quisesse.
Meus olhos permaneciam fechados e eu estava concentrada
nos movimentos das nossas línguas, que se encaixavam
perfeitamente, quando o senti me deitando em um estofado fofo.
Abri meus olhos, interrompendo o beijo.
Estávamos na sala, em cima do sofá.
— Não quero machucar você naquela cozinha e não perderia a
oportunidade de fodê-la nessa sala — disse com a voz rouca.
Mordi meus lábios, me sentindo tão pronta para ele e sem
perder tempo, deslizei minhas mãos pelo abdômen que eu tanto
amava, descendo-as até chegar em seu pau, e quando o fiz, o ouvi
gemer enquanto sentia o aperto na minha cintura mais firme.
Movimentei minha mão de cima para baixo, observando como
seu membro crescia mais entre meus dedos e apreciando os curtos
gemidos que saíam de sua boca.
— Diga-me que você está pronta. — Sua voz saiu sofrida e o
senti tocando minha boceta, fazendo-me arfar. — Porra! Você já
está completamente molhada pra mim, Sunshine.
Sorri de lado ao erguer meus quadris. Ele afastou sua mão do
meio das minhas pernas e encaixou seu pau na minha entrada,
olhando em meus olhos ao descer lentamente pela minha boceta.
— Caralho! — Ele arfou, apertando minha cintura.
Gemi com a sensação avassaladora de tê-lo dentro de mim.
Não existia sensação melhor no mundo do que ser preenchida
por ele, o cara que tinha meu coração em suas mãos.
Melvin moveu seus quadris para frente e para trás, entrando e
saindo de mim com uma intensidade muito maior do que nossa
última vez. Ele parecia querer me marcar mais, a cada estocada.
Um gemido mais alto saiu dos meus lábios e eu sabia que precisava
controlar, mas era difícil.
O loiro agarrou meu pescoço e me puxou para um beijo,
enfiando sua língua na minha boca. Toquei seus ombros, erguendo
meus quadris, sentindo seu pau ir mais fundo.
Nós gememos durante o beijo.
Repeti o movimento, o ajudando com as estocadas. Subindo
meu quadril, quando ele investia rápido em mim e engolindo os
curtos gemidos que soltava enquanto éramos consumidos pelo
prazer.
— Continua... isso, porra! — Melvin gemeu contra meus lábios,
descendo-os pelo meu pescoço e distribuindo chupões por toda
parte, como se estivesse me marcando. Eu sabia que depois iria me
arrepender daquilo, mas naquela hora, estava tão entregue, que só
queria mais. — Gosta disso? — perguntou. — Quero marcá-la por
inteira, Sunshine. Porque. — Estocou. — Você. — Foi com mais
força. — É. — Mais forte. — Minha!
Tudo o que consegui foi jogar minha cabeça para trás, dando
mais espaço para que continuasse a me marcar.
Melvin sabia como eu gostava do seu lado cafajeste na hora
do sexo, era o que fazia toda aquela relação ficar mais excitante.
— A princesa do quarterback durante o dia — sussurrou com a
voz cheia de tesão no meu ouvido e eu sabia que ele falaria mais
uma merda. — E a putinha dele entre quatro paredes.
Cafajeste!
Mordeu o lóbulo da minha orelha, antes de descer sua boca
pelo meu corpo e agarrar meu seio com os dentes, quase me
fazendo gozar com o arranhar deles no meu mamilo.
O apertei mais contra mim, sentindo que estávamos perto de
gozar.
Ele passou a boca para meu outro seio, o colocou na boca e
chupou.
— Estou quase! — Arfei, recebendo uma mordida fraca, que
me estremeceu.
— Goza comigo, Sunshine. — Implorou.
Foi como se meu corpo todo entendesse que essa era a hora.
O orgasmo me atingiu ao mesmo tempo em que o atingia.
Melvin subiu a boca novamente até meu pescoço e o beijou,
descansando o rosto no vão dele.
Pela forma que meu coração batia acelerado, sentia como se
tivesse corrido o mais rápido possível e em uma grande distância.
Passei meus braços pelos seus ombros, sentindo até eles
tremerem com as últimas sensações sentidas.
Fechei meus olhos e esperei que nossos corpos
normalizassem para que ele pudesse sair de cima de mim, sendo
agraciada com o som da sua respiração e do seu coração batendo
forte.
Assim como o meu por ele.
— Posso fazer uma pergunta? — perguntei, depois de um
tempo em que estávamos deitados na cama.
Havia abandonado meu antigo quarto e agora dormia no dele,
ou como meu loiro dizia: nosso quarto.
Tínhamos nos deitados há poucos minutos, depois que
tomamos banho e verificamos como Elijah estava.
— O quê? — perguntou, me puxando para seus braços.
Deitei minha cabeça em seu peito e o abracei pela cintura.
— Você ainda pensa em se drogar? — Senti que ele
estremeceu sob mim. — Vou entender se não quiser me responder
isso.
— Responderia qualquer coisa que quisesse saber, Sunshine
— disse, alisando minhas costas. — Enquanto estava grávida,
houve alguns momentos que sim. — Pela pressão de ser pai?
— Sim — confirmou o que já imaginava. — Na primeira vez,
recorri à bebida e fui parar no quarto do Chris, lembra?
— É claro que sim.
— Depois daquele dia, saímos para tomar sorvete e você disse
que eu não precisava me preocupar sozinho, porque também tinha
medo de ser uma mãe ruim.
Lembrava perfeitamente daquele dia e dos medos que sempre
senti por ser mãe tão jovem.
— Na segunda vez que pensei em me drogar, fui para a terapia
— confessou com um tom de voz divertido. — Quem poderia
imaginar que usaria minhas consultas ao invés de fazer alguma
merda?
Sorri.
— Estou orgulhosa de você.
— A verdade é que por muito pouco eu não me viciei, Aurora,
e meu maior problema nunca foi as drogas, e sim uma doença que
vai estar comigo para sempre.
Depressão.
Era isso que ele estava se referindo.
— Parte de ter te machucado tanto durante esse tempo em
que estivemos separados, foi porque acreditei que seria o melhor
para você, e que antes de voltar para seus braços, encontraria uma
cura para isso. Eu não queria repetir os mesmos erros, Sunshine.
Ele suspirou e beijou o topo da minha cabeça.
— Mas não existe isso — completou.
— E eu ainda assim amo você.
Beijei seu peito nu e voltei a deitar minha cabeça nele.
— E eu prometo fazer de tudo para não a machucar mais.
Ergui meu rosto para encará-lo.
— Confio em você.
Melvin pareceu aliviado ao ouvir isso.
— Sempre que se sentir mal ou aflito com algo, quero que
saiba que pode vir falar comigo, ok? — o lembrei, pois sabia que
essa dificuldade que ele tinha de se abrir, havia contribuído para
levá-lo ao fundo do poço. — Eu nunca o deixarei, Melvin.
Não sou como as pessoas que o colocaram no mundo.
Era isso que queria que ele soubesse para o resto de nossas
vidas.
— Agora eu sei, Sunshine — murmurou. — Sei que escolhas
nos movem e que mereço você em minha vida. Sei que diferente
dos meus pais, você me ama.
Nossa conexão.
Ela ainda estava ali. Ele conseguiu me entender apenas com
um olhar.
Sorri.
— E eu também amo você — declarou.
O abracei mais forte e fechei meus olhos.
— Estamos vivendo nossa segunda chance, faremos de tudo
para aproveitá-la da melhor forma — respondi.
Me diga algo que eu preciso saber
Depois tire meu fôlego e nunca deixe ir
Se você me deixar apenas invadir seu espaço
Eu ficarei o prazer
Junto com a dor
LOVE ME HARDER feat. THE WEEKND – ARIANA GRANDE
AURORA BENSON
Não me lembrava mais como era a sensação de estar aflita por
causa de um jogo.
Era angustiante desde o início.
Os meninos do time nem haviam entrado na quadra, mas já
sentia meu coração acelerado e um nervosismo absurdo me
envolvendo.
Claro que isso se devia ao fato de que esse jogo também era o
primeiro depois da volta do grande quarterback, Melvin Howard,
meu namorado e pai do bebê lindo que segurava no colo.
Todos estavam falando sobre isso e notei como Melvin estava
nervoso no dia anterior por conta da expectativa e de alguns
comentários maldosos na internet ao seu respeito. Infelizmente,
esse era um preço que tínhamos por ainda sermos populares na
universidade.
Ele conseguiu ignorá-los com o nosso apoio, mas não fazia
ideia de como estava agora. Não o via desde o início da tarde
porque precisou se reunir com o time mais cedo.
— Nervosa? — Caitlin perguntou ao meu lado.
— Muito — respondi. — Como você acha que ele está?
— É a grande volta do quarterback — ela comentou, não
deixando de sorrir orgulhosa do irmão. — Como acha que ele está?
— Contanto que isso não o tire do foco.
Melvin havia trabalhado duro para chegar onde chegou, não
queria que tivesse um desempenho ruim logo no primeiro jogo da
sua volta. Queria que mostrasse a todos o quanto é bom naquele
gramado.
— Você e Elijah estão tão lindos com essas roupas — Maeve
falou ao se aproximar de nós.
Meu filho sorriu para a tia, agarrando mais forte seu ursinho
favorito.
Meu jogador preferido não sabia, mas há alguns meses eu
havia mandado fazer uma camiseta com o número dele para que
Elijah usasse. Tinha esperança de que isso acontecesse ainda esse
ano para que servisse no nosso filho.
E aconteceu.
Nós dois estávamos vestindo camisetas com o número do
Melvin. E esperava que ao menos ele sentisse esse ato como mais
uma forma de apoio.
Chris e Trevor se aproximaram com balas de goma e pipocas.
Maeve já foi logo pegando as balas com o namorado quando ele se
se sentou ao lado dela e Caitlin não foi diferente com as pipocas do
Trevor.
— Quer? — Ele me ofereceu.
Neguei.
— Se eu colocar alguma coisa na boca agora irei vomitar.
— Está tão nervosa assim? — Trev questionou. — É o Melvin
que vai jogar.
— Eles voltaram a ser um só — a ruiva provocou.
Ajeitei Elijah no meu colo. Ele olhava atentamente para as
pessoas, não parecendo incomodado com o tanto de gente ao
nosso redor. Arriscaria dizer que o garotinho até gostava da atenção
que recebia das pessoas curiosas que nos olhavam.
— Ei, o time está entrando — Caitlin chamou minha atenção.
Olhei diretamente para o gramado.
Todos estavam entrando e cumprimentando a torcida.
Melvin estava na frente, olhando ao redor e parecendo
procurar por alguém, e assim que seus olhos pousaram em nós,
percebi que ele viu o que estávamos vestindo. Um sorriso se abriu
nos seus lábios e sem que eu esperasse, ele ergueu as mãos e fez
um coração com ela, diretamente para nós.
— Ownnnn! — Maeve e Caitlin murmuram ao meu lado.
Sorri, me sentindo tímida de uma hora para a outra.
Por que ele havia feito aquilo?
Observei os garotos se posicionarem em seus lugares no
campo e aguardarem o início do jogo. O comentarista começou a
falar sobre o amistoso ao mesmo tempo em que o time da
Universidade da Pensilvânia entrava, cumprimentando a torcida
deles UCLA e assumindo seus lugares.
O estádio estava mesmo cheio para um jogo amistoso e tinha
quase certeza de que isso se devia à volta do meu namorado aos
campos de futebol.
— Seu papai vai jogar, filho — falei para Elijah. — Está
animado, garotinho?
Balancei seu corpinho no meu colo, o fazendo sorrir.
— Torça pelo seu pai ou ele vai ficar triste.
— Papa! — disse meu neném.
Beijei sua bochecha, dando risada do gritinho que ele deu.
— Quando você vai aprender a falar mamãe, hein? Estou
começando a ficar magoada.
— Papa.
— Ok, ok — resmunguei. — Hoje é mesmo o dia do seu pai.
Voltei a prestar atenção no jogo, que estava prestes a
começar.
— Não sente saudades? — Maeve perguntou ao meu lado. —
Da emoção de estar na quadra de vôlei?
— Sinto mais saudade de dividir esse momento com vocês. —
Fui sincera. — Mas agora com o Elijah, não tenho tempo para voltar
pro esporte. De qualquer forma, em breve irei me formar e o vôlei
era só um hobby para mim.
— E gostou de colocar tudo no meu cu, né? — Maeve
resmungou e ao falar o palavrão, apenas mexeu com os lábios para
meu pequeno não ouvir.
Dei risada.
— Você não está feliz jogando? Se não estiver, é só sair.
— Estou — admitiu o que eu já imaginava. — Só gosto de
incomodar você.
Revirei meus olhos.
Agora que a mãe dela havia finalmente a deixado em paz,
minha amiga se sentia mais confortável jogando, e eu sabia que ela
gostava, pois era assim como eu, não queria isso para sua vida,
mas curtia o momento com todas as meninas.
O apito soou no estádio, atraindo minha atenção para o jogo,
que já estava começando. Notei a tensão palpável no ar enquanto
as equipes se preparavam para o chute inicial.
Melvin se posicionou no campo, examinando a defesa do outro
time. Ele parecia avaliar algo com o olhar e com um sinal de sua
mão, a partida deu início com a bola sendo lançada.
Meu namorado evitou os jogadores adversários, passando a
bola para Barry em um passe perfeito, que foi aplaudido pelo
público.
Nosso amigo segurou a bola e desviou dos oponentes com uma velocidade
surpreendente. Ele atravessou a linha defensiva do time adversário, atropelando todos que
tentavam o bloquear, correndo pela lateral do campo, evitando tackles 1 e avançando metro
após metro. Com uma última novidade, ele cruzou a linha de gol, marcando um touchdown
para a nossa universidade.
Todos nós comemoramos, chocados com a velocidade e o
avanço espetacular do time. Eles estavam com muita fome de
vencer!
Elijah resmungou no meu colo por conta do barulho e tentei
acalmá-lo.
— Você não quis usar o protetor de ouvido — murmurei,
lembrando que ele chorou com o acessório quando coloquei nele
mais cedo. — Olha o papai jogando.
Ele olhou para onde eu apontava.
Melvin acenou para nós e abraçou Barry, comemorando os
primeiros pontos da noite. Não conseguia ver direito pelo capacete,
mas conseguia imaginar o sorriso que tinha nos lábios nesse
momento.
Ele estava indo bem.
Nós ganharíamos esse jogo.

Meus olhos marejaram com a gritaria ensurdecedora dos


torcedores ao nosso redor. Elijah estava um pouco assustado no
meu colo, mas parecia mais acostumado por conta dos últimos
minutos do jogo.
A UCLA havia vencido.
Eles terminaram o jogo marcando outro touchdown.
Melvin havia conseguido, do jeitinho que eu confiava que
conseguiria.
— O que ele está fazendo? — Trevor perguntou e olhei para
onde ele estava olhando.
Meu namorado tirou o capacete preto e correu em nossa
direção. Olhei para meus amigos sem entender e Caitlin deu de
ombros, parecendo esconder o sorriso.
Em um piscar de olhos, Melvin estava pulando os bancos das
arquibancadas da frente e se aproximando de mim, e esperava que
estivesse muito consciente de que éramos alvos de mais de trinta
mil universitário ali.
— O que você...
Fui interrompida com o abraço mais caloroso que alguma vez
já recebi dele.
Diferente de todas as vezes que era abraçado apertado, Elijah
não resmungou. Assim como eu, nosso filho ficou em silêncio
naquele momento.
— Obrigado! — Melvin murmurou, me deixando sem entender
nada. — Você não imagina o quanto sonhei em sentir o que estou
sentindo hoje.
Ele se afastou para me olhar, mas se manteve próximo de nós.
— Nunca me senti tão... vivo.
Meus olhos marejaram e as lágrimas caíram quando sua boca
grudou na minha, iniciando um beijo lento e apaixonado.
Dessa vez, Elijah resmungou e colocou as mãozinhas nos
nossos rostos, mas apenas sorrimos entre o beijo, ignorando todos
os olhares que estavam em nós nesse momento.
Enquanto ele se sentia vivo, eu me sentia completa.
Eu tenho corrido pela selva
Eu tenho corrido com os lobos
Para chegar até você, chegar até você
Eu estive nas ruas mais sombrias
Vi o lado escuro da lua
Para chegar até você, chegar até você
WOLVES – SELENA GOMEZ, MARSHMELLO
MELVIN HOWARD
Observei meu filho tentando brincar com o grande panda que
Maeve havia providenciado para a festa de aniversário dele, e dei
risada quando ela quase caiu por cima dele ao tropeçar na pata do
bicho que deveria ser do tamanho de uma cadeira.
— Onde foi que ela arrumou isso? — Caitlin perguntou ao ficar
do meu lado.
— Você, que é a melhor amiga dela, não sabe... como eu
poderia ter essa resposta?
Cat riu.
— Ei, como você está? Conseguiu dormir depois do jogo de
ontem?
Sorri com a memória do jogo vindo novamente em minha
mente.
Não conseguia esquecer o que havia acontecido na noite
anterior. Achei que acordaria menos feliz porque a adrenalina já
deveria ter baixado, mas tudo o que senti ainda estava presente em
mim como se tivesse acabado de vencer o jogo. Sabia que não era
um jogo tão importante, mas só o fato de ter vencido e ter sido
elogiado por tantas pessoas, me trazia uma sensação que não
sentia há muito tempo.
Estava sendo admirado novamente.
Estavam dizendo que o tempo fez bem para mim.
— Sabe que estão falando sobre o beijo de ontem, né? —
minha irmã provocou. — Parece que a princesa e o quarterback
voltaram.
— Não olhei as redes sociais, mas imagino que sim. Eles só
estavam esperando algo para voltarem a falar de nós.
— Sabe... estou, realmente, muito orgulhosa de você — disse.
— Sei que essa não é a hora certa para falar sobre isso, afinal, é
aniversário do meu sobrinho, mas quero que saiba o quanto me
orgulho de quem você está se tornando.
— Não é o lugar para dizer que está se sentindo assim em
relação a mim? — brinquei.
Ela negou, desmanchando seu sorriso.
— Não é o lugar para dizer que estou contente por finalmente
superar nosso passado com nossos pais.
Eu paralisei e Cat percebeu isso.
— Minha maior preocupação era que nunca entendesse que
eles não te merecem, que nunca compreendesse que eles são uns
cuzões e não irão mudar.
— Não penso mais neles com tanta frequência — admiti para
minha irmã. — Desde que Elijah nasceu para falar a verdade.
Notei o quanto ela ficou aliviada ao ouvir o que disse.
— Tenho uma família agora e uma ótima terapeuta — comentei
a última parte de forma divertida. — O que quero dizer é que
entendo que não é minha culpa.
Caitlin voltou a sorrir e sem que eu entendesse em um primeiro
momento, abriu seus braços.
— O que foi?
Ela me chamou com a mão para um abraço.
— Sério, Caitlin?
— Apenas abrace a sua irmã e deixe de ser careta!
Dei risada e fiz o que pediu antes que pulasse em cima de mim
e me abraçasse à força.
Nosso abraço não durou tanto, mas foi aconchegante e familiar
da mesma forma.
— Obrigada por cumprir sua promessa. Eu não suportaria vê-lo
viver uma vida triste.
Ela estava se referindo à carta que deixei antes de provocar
minha overdose.
— Ok, esse não é mesmo um papo para festa de criança —
zombei, não querendo que minha irmã começasse a chorar ali
mesmo.
Um corpo masculino se aproximou de nós por trás e nos
abraçou. Barry enfiou sua cara no nosso meio e sorriu ao virar o
rosto para mim.
— Festa incrível, mano — ele disse, balançando o refrigerante
na mão que estava ao redor do meu pescoço. — Era dessa forma
que queria estar comemorando nossa vitória.
Caitlin deu uma cotovelada de leve nele, que o fez soltá-la.
— Deixa de ser sarcástico! É a festa do seu sobrinho, respeite
isso — ela ralhou com ele.
— Faço das palavras dela, as minhas.
— Chatos! Só estou comentando. — Ele apontou para o urso
gigante onde estava Elijah, Maeve e Aurora. — Nossa amiga tem
sérios problemas, né?
Ri da forma como se referiu à ruivinha.
— É melhor tomar cuidado, cara. Se no primeiro aninho, ela
deu um urso gigante para o garoto, o que ela vai dar quando ele
fizer dezoito? Seu filho vai crescer mimado!
— Pelo menos Elijah está se divertindo. — Indiquei com a
cabeça, observando meu filho rir ao tentar abraçar o urso. — Se me
derem licença, vou aproveitar um pouco com minha mulher e meu
filho.
Ele e Caitlin murmuraram um “Humm” ao mesmo tempo.
Revirei meus olhos e fui até Aurora.
— Se divertindo, filho? — perguntei, me agachando ao seu
lado.
— Uu..uu...
Sorri com sua tentativa de falar urso.
— Vou deixar vocês cuidando dele agora, porque preciso
colocar as velinhas no bolo — Maeve disse, ficando de pé. — E
comer alguns docinhos.
Ela se afastou e foi correndo em direção à mesa dos doces,
onde Christopher já estava.
Peguei Elijah no colo e me levantei também, aproximando-me
de Aurora.
— Está gostando? — perguntei a ela.
Não era uma festa grande porque não queríamos algo tão
grandioso para uma coisa que Elijah nem se lembraria daqui alguns
anos. Além disso, nem tínhamos muita gente para convidar, então
não havia motivos para ser algo extravagante.
O salão que alugamos suportava perfeitamente o urso gigante
e os convidados, que se resumiam aos nossos amigos e à família
da Aurora.
— Elijah está, então por que eu não estaria?
Nosso filho era a nossa prioridade nessa festa.
Sorri fraco e olhei ao redor, notando que meus sogros estavam
nos observando.
— Por que seus pais não se aproximaram de mim nem por um
momento desde que chegaram? — perguntei.
— Eles sabem que voltamos — Aurora respondeu, o que
explicou muito da situação. Desde o término, o senhor e a senhora
Benson não falavam direito comigo, arriscaria dizer que até me
odiavam por ter feito sua única filha sofrer tanto. — Ei, sem
paranoias. Eles vão superar isso.
— Pela forma como seu pai está me olhando, não diria o
mesmo.
Minha garota olhou pra ele e riu fraco.
— Vamos apenas curtir o aniversário do nosso filho — disse,
pegando na mãozinha do pequeno. — Dá para acreditar que ele já
está com um aninho?
Elijah olhou para sua mãe e apertou o dedo dela.
— Mamamae.
Tanto meus olhos como os de Aurora arregalaram.
— Ei, o que você disse, garotinho? — perguntei, temendo ter
ouvido errado.
Minha loirinha permanecia em choque.
— Mamamae.
Ele quase não conseguia pronunciar a letra “e” direito, mas era
óbvio que estava chamando a sua mãe.
— Mamãe? — indaguei e ele sorriu, repetindo a palavra do
jeitinho dele e olhando para ela. — Olha só... Ele não odeia tanto
você.
Aurora me deu um tapa no ombro e não conseguiu controlar
suas lágrimas.
— Droga! Achei que a gente não chorava por isso — reclamou,
limpando o cantinho do olho. Sorri, vendo-a estender os braços e
Elijah quase pular para seu colo. — Amo você, filho! Mamãe está
aqui.
Ela o abraçou apertado.
— Por que minha filha está chorando? O que você fez? —
Zachary, meu sogro, perguntou enquanto se aproximava com sua
mulher.
Se não fosse por minha sogra, ele teria partido para cima de
mim em um piscar de olhos.
— Calma, querido! — Elowen pediu.
— Pai! — Aurora chamou. — Melvin não fez nada. Eu me
emocionei porque Elijah falou mamãe.
— O quê? — Elowen largou o marido e se aproximou do neto.
— Ai, meu Deus! Fale de novo, meu amor.
Lancei um sorriso tenso para Zachary, que ainda me olhava
desconfiado.
— Amor, você ouviu? Ele chamou sua filha de mamãe! — Ela
chamou a atenção do marido.
Ele finalmente se rendeu ao neto e se aproximou dele.
— Não ouvi.
— Ele não repetiu, parece que está com vergonha — Elowen
falou, alisando as costinhas do meu filho. — Mas sua filha estava
emocionada por isso.
— Nosso neto está crescendo — o velho comentou, sem
conseguir esconder no seu rosto o amor que nutria pelo Elijah,
mesmo que ainda estivesse pronto para me matar. — Parece que foi
ontem que ele nasceu.
— Um ano muda muitas coisas — minha sogra respondeu e se
virou para mim. — Aurora me disse que vocês voltaram.
Meu corpo todo enrijeceu quando os olhos de Zachary
voltaram a me olhar.
— Ambos têm certeza sobre isso, né? Não podem criar uma
criança em meio a separações e reconciliações.
— Voltamos para nunca mais nos separarmos, Elowen —
garanti e ela sorriu, assentindo.
— Bom... Desejo que sejam felizes e que tenham aprendido
com os erros.
— O quê? — seu marido perguntou, em choque. — Vai dizer
apenas isso? Esse idiota fez a nossa filha chorar.
— Pai, isso é passado — Aurora se intrometeu, pois sabia que
esse ainda era um assunto delicado para nós. — Melvin é um novo
homem.
Ele respirou fundo e apontou o dedo indicador para mim.
— Se minha filha ainda morasse na minha casa, eu não
permitiria a volta desse namoro. — Deixou bem claro. — Mas ela é
adulta, tem um filho com você e pode cuidar da sua própria vida. Só
vou logo avisando, garoto... Se eu ver Aurora chorando por sua
causa de novo, eu corto seu bem precioso.
Olhou para o meio das minhas pernas e automaticamente me
encolhi, só de imaginar a dor.
— Você está exagerando, pai.
— Ele não está — interrompi, finalmente conseguindo dizer
algo. — Não se preocupe, senhor. Eu não vou mais fazer sua filha
chorar, não de tristeza. E essa não é uma promessa como da última
vez que a fiz e não cumpri, esse é meu juramento.
— Ótimo!
Maeve pareceu perceber o clima tenso que estava ao nosso
redor, pois se aproximou com todos nossos amigos e seu
namorado.
— Por que não cantamos parabéns para o Elijah? — ela
sugeriu. — Temos que curtir muito essa festinha com ele.
Todos concordaram.
Eu e Aurora fomos para trás da mesa do bolo em formato de
panda, e quando Caitlin se aproximou acendendo a velinha, os
olhinhos do nosso filho brilharam.
Os parabéns começou a ser cantado, mas tudo o que consegui
prestar atenção foi a felicidade daquela criança, que mal sabia o
poder que tinha em suas mãozinhas.
Ele foi o início do meu encontro comigo mesmo.
O maior motivo para que eu focasse em uma recuperação de
verdade.
Elijah não era um acidente, ele veio na hora certa, e apesar de
todas as dificuldades, sabia que o arrependimento era o único
sentimento que não se passava pelos nossos corações quando
pensávamos nele. Não faríamos nada diferente.
Ei
Lindo, lindo, lindo, lindo anjo
Amo suas imperfeições, em todos os ângulos
O amanhã vem e vai antes que você perceba
Então, só preciso te deixar saber
BEAUTIFUL – BAZZI, CAMILA CABELLO
MELVIN HOWARD
— Como está se sentindo, Melvin? — Clare perguntou, se
sentando na minha frente com o seu caderno de anotações.
Era mais um dia de terapia, um dia após um final de semana
intenso.
— Seria estranho se eu dissesse que estou me sentindo feliz?
— Por que acha que seria estranho?
Dei de ombros.
— Por que tenho uma doença que me faz sentir justamente o
contrário? Ou por que não me sinto assim há muito tempo?
Ela assentiu, parecendo compreender o que eu estava falando.
— Você nem sempre estará triste ou ansioso, não se sinta
confuso sobre isso. É um bom estar feliz, e tem motivos para isso —
disse, mantendo seu olhar gentil em direção a mim. —
Reconquistou o amor da sua vida, tem um filho de um aninho cheio
de saúde, tem amigos que são mais como uma família, e acabou de
fazer uma grande volta no campo de futebol.
— Como sabe? Assistiu ao jogo?
— Me prestei a esse papel quando me enviou uma mensagem
dizendo que voltaria a jogar.
Sorri, não escondendo o quanto gostei da sua resposta.
— Sabe... te vi brilhar naquele campo, e não era só por causa
do futebol. Parecia ser porque você se sentia livre do que antes o
prendia — falou, entendendo muito bem como me sentia. — E o
beijo no final do jogo, foi digno de um filme.
Não fazia parte da minha personalidade ficar envergonhado,
mas acabei ficando por ela tocar naquele assunto.
— Estou certa? Se sente livre?
Assenti.
— Não é como antes.
— Me permite fazer algumas perguntas? — Fiz que sim com a
cabeça. — Como se sente em relação a seus pais agora?
Suspirei.
— Se eu dissesse que está tudo bem, estaria mentindo. — Fui
sincero. — Eles não frequentam mais a minha mente e quando
penso neles, como agora, ou no sábado, quando Caitlin me
perguntou o mesmo, sinto um pouco do vazio e da mágoa que eles
me causaram, mas não é como antes.
Clare entendeu o que disse.
— Seu pai está preso agora, mas sua mãe conseguiu ser
inocentada de todas as acusações — lembrou, me fazendo sentir a
irritação por aquela situação. Uma parte de mim, desejou que ela
ficasse atrás das grades também. — Você disse uma vez que queria
vê-la e perguntar o motivo de terem feito o que fizeram, ainda sente
isso?
Lembrava de quando falei sobre isso.
Foi em uma das minhas últimas sessões de terapia com Clare
dentro da clínica de reabilitação. Depois que saí aconteceram tantas
coisas, que aquele desejo foi se apagando aos poucos no meu
peito.
Não adiantaria em nada fazer isso.
— Não — respondi, mas não a surpreendi. — Todos nós temos
que fazer escolhas e elas dizem muito sobre quem somos. Meus
pais não me escolheram, e consegui compreender com a sua ajuda,
que não tenho culpa por isso. Eu quase deixei Aurora por medo,
quase escolhi vê-la separada definitivamente de mim, e entendi que
se fizesse isso, a culpa não seria dela, e sim, minha.
Ri fraco, negando com a cabeça. Não acreditando que uma
vez senti desejo de esclarecer as coisas com meus pais.
— Acredita que com a prisão do meu pai, minha mãe assumiu
o lugar de vítima da história ao não ter nada que a incriminasse? Ela
continua enviando dinheiro para minha tia para manter esse segredo
guardado a sete chaves — perguntei, sentindo que esse assunto
ainda me afetava, pois dentro do meu peito, havia uma dorzinha que
quase me causou lágrimas ali mesmo. — Eu pensei em me revelar
na internet, como um grande plano de vingança para chamar a
atenção dela, mas do que isso adiantaria? Cheguei à conclusão de
que ficaria pior do que estava, então me mantive em silêncio.
— Você lembra onde foi parar se mantendo em silêncio, então
preciso que responda… ainda se mantém dessa forma?
Neguei.
— Eu nunca mais quero viver daquela forma. Hoje, vejo que
tenho amigos e uma família que me apoia, que querem o meu
melhor. Não poderia fazer isso nem comigo e nem com eles… não
suportaria.
Ela fez que sim com a cabeça, suspirando.
— Quando pesquisou sobre ela?
Sabia que Clare não deixaria isso passar.
— Ontem… enquanto Aurora dormia — respondi. — Não
conseguia dormir e fiquei com a conversa com Caitlin na cabeça,
então acabei pesquisando por curiosidade.
— Como se sentiu?
— Sinceramente? — Ela me olhou como se fosse óbvio. — Um
idiota por me sentir dessa forma por pessoas tão imundas.
— Sente raiva então?
— Gostaria de me sentir indiferente, como Caitlin consegue,
mas, sim, senti raiva.
— Eu entendo você, Melvin, e não é só porque sou psicóloga
— falou, largando seu caderno do lado da poltrona. — Você sempre
foi cobrado para ser o filho perfeito, nunca existiu espaço para
falhas na sua família, e quando foi contra isso, ainda adolescente,
uma época em que todo mundo comete erros, seus pais o
expulsaram.
“Você passou anos guardando a mágoa que isso o causou,
então encontrou uma namorada linda e incrível, mas não podia ser
sincero com ela sobre tudo, porque se sentia na obrigação de seguir
a ordem dos seus pais de não deixar ninguém saber sobre o que
aconteceu, pois queria, ao menos, obedecer a isso. Mas existia uma
mágoa muito grande, uma dor que foi só crescendo, e enquanto sua
irmã seguia a vida de uma maneira que você julgava ser perfeita,
você foi se sentindo pior porque não conseguia ser como ela.”
Meus olhos marejaram ao me dar conta de como Clare me
resumia perfeitamente.
— Não ser indiferente estava te matando por dentro. Estou
errada? — Neguei, ela estava certa. — Usar as drogas o aliviou por
um momento, mas nós sabemos que são sensações temporárias, e
quando você voltava a sentir o que sentia antes, ficava irritado com
todos ao seu redor, descontando até na pessoa que mais amava.
Então Aurora terminou com você e veio a overdose... Não
imaginava que receberia uma chance de viver novamente, né?
Porque você não fez aquilo por prazer.”
— Por que está me lendo dessa forma?
Deu de ombros.
— Só estou expondo como penso sobre você. Lembra que
combinamos de sermos sinceros? — Assenti e ela sorriu. — Você
teve medo de voltar para a Aurora e pediu um tempo, sabe o
motivo?
Engoli em seco.
— Não aguentaria ser abandonado de novo por outro erro que
cometi.
— Foi o que imaginei — disse. — Vocês têm um filho agora,
um garotinho que precisam amar e cuidar, e por isso foi mais
cauteloso em tudo. Sei o quanto se cobra para ser perfeito e sei o
quanto teve medo de voltar para as coisas que amava no passado,
mas entenda, Melvin: erros são inevitáveis e você irá aprender com
cada um deles.
— Inevitáveis?
Senti-me uma criança perguntando isso.
— É claro que vai continuar sendo cauteloso para não cometer
atitudes que possam magoar Aurora ou outra pessoa que seja
importante para você, mas adivinha só? Somos humanos, temos
sentimentos e boa parte das vezes, somos movidos por eles. O que
quero dizer é que, seja responsável com suas atitudes e
sentimentos, seus e dos outros, mas viva. Se permita viver, se
permita errar, se permita recomeçar. Não deixei o medo de errar, te
impedir de ser feliz.
— Acho que entendo o que está querendo dizer.
— De qualquer forma, acho que até Aurora entende que a
maior prova de amor que você fez por ela, foi se manter afastado,
se curando para ser a sua melhor versão para os dois.
Limpei meu rosto das lágrimas que ainda caíam.
— Viva um pouco mais, ok? Não se sinta incerto por estar feliz
como chegou nessa sala. É um sentimento bom e você merece
depois de tudo.
— Obrigada, Clare.
— Não tem o que me agradecer! Descobrimos em você uma
resiliência difícil de achar, tem que se sentir orgulhoso de si mesmo
— afirmou. — E sobre seus pais, meu melhor conselho é que não
volte a procurar sobre eles, e os perdoe. Pode se sentir muito
melhor.
— Acha isso?
Assenti.
— O perdão não faz bem para quem recebe e sim para quem o
dá. Grave isso, hum?!
Clare se levantou.
— Nossa sessão acabou por hoje, mas meu celular está
ligado, caso precise.
Também me levantei.
— De verdade, obrigada, Clare. Sei que pode parecer
antiprofissional, mas você é como uma irmã mais velha para mim,
não uma psicóloga.
Ela riu.
— Bem... Vou levar isso como um elogio de que estou fazendo
meu trabalho muito bem.
— Você está! — Caminhei até a porta. — Até semana que
vem, Clare.
— Até, Melvin.
Saí do seu consultório e andei pelo corredor até a sala da
recepção, encontrando Aurora e Elijah me esperando.
Havia combinado com ela para irmos comer um lanche da
tarde e levar nosso filho para uma exposição da PIXAR que estava
tendo na cidade.
— Fiz vocês esperarem muito? — perguntei, me aproximando
e selando meus lábios nos dela.
— Papa! — Elijah gritou.
— Oi, filho! — Beijei sua bochecha. — Está pronto para ver os
desenhos animados?
Ele apenas riu.
— Você está bem? Parece que chorou. — Aurora se mostrou
preocupada.
— Apenas uma sessão esclarecedora na terapia — respondi e
segurei sua mão. — Vamos comer? Estou com fome, não almocei.
Minha garota concordou e sorriu.
Saímos da clínica e seguimos em direção a lanchonete, que
não era muito longe daqui.
— Quer que eu o segure? — perguntei, me referindo ao Elijah.
— Tudo bem, você faz isso quando estivermos na exposição.
Andamos a passos lentos até nosso destino e não deixei de
notar como esse momento parecia mais família do que o que já
tivemos até aqui. Nossas mãos entrelaçadas enquanto estávamos
animados para o primeiro passeio envolvendo diversão que nosso
filho teria.
Nem em um milhão de alternativas, acharia que essa seria a
nossa realidade.
Tínhamos um filho, tínhamos falhas, superamos nossas
mágoas, e aos poucos, íamos nos reconstruindo.
Aprendi mais sobre o amor nesses últimos meses, do que a
minha vida toda.
Amor perfeito é raro de fato porque nós somos falhos. Nós
nunca saberíamos de tudo e na nossa vida, sempre estaríamos
aprendendo porque isso fazia parte do nosso crescimento.
Agora eu entendia tudo isso.
E estava disposto a viver cada momento ao lado da minha
mulher e do meu garoto, valorizando-os como as joias mais
preciosas da minha vida, porque eles não mereciam nada menos do
que isso.
AURORA BENSON
Abracei Maeve e Caitlin ao mesmo tempo, feliz por estar com
elas depois de dez anos. Sempre ouvi sobre amizades que
acabavam se distanciando quando a vida adulta chegava de vez,
mas isso nunca foi uma preocupação para nossa relação, pois
sempre fomos unidas.
Mesmo quando Cat estava em temporada de jogos ou quando
eu e a ruivinha estava trabalhando em projeto grande de ilustração.
Nós sempre arrumávamos uma forma de estarmos presentes uma
na vida da outra.
Éramos uma família, e quando se tratava desse tipo de
relação, nunca nos distanciaríamos.
E hoje não seria diferente.
O que estávamos fazendo era a realização de um sonho de
duas amigas que estudaram na faculdade o que amavam. E isso era
a nossa exposição de arte juntas, unindo as duas galerias de artes
mais procuradas em Los Angeles.
Sempre comentamos sobre fazer algo juntas por sermos
melhores amigas e termos trabalhos completamente diferentes que
se completavam, mas só no ano anterior que começamos a
trabalhar na ideia.
— Estão orgulhosas do trabalho de vocês? Porque eu estou —
Caitlin disse, com um sorriso lindo no rosto enquanto segurava a
minha sobrinha, a recém-nascida, Anger. — O trabalho de vocês
está cada vez mais lindo, e olha o tanto de pessoas que atraiu.
Olhei ao redor, entendendo do que minha amiga falava. O
salão de exposição estava cheio de clientes, influencers,
patrocinadores e jornalistas.
— Não acredito que chegamos até aqui — Maeve admitiu.
— É claro que chegamos! Somos ótimas no que nos propomos
a fazer — respondi e não resistindo, segurei a mãozinha da Anger,
tomando cuidado para não a acordar — Sinto falta de quando Elijah
era um bebê.
— É só fazer outro — Caitlin respondeu. — Tenho certeza de
que meu irmão tem disposição para cuidar de mais um filho.
Olhei para Melvin, que estava ajudando Elijah a roubar alguns
docinhos da mesa de sobremesas. Eu já havia falado que nosso
filho precisava jantar primeiro e depois comer os doces, mas meu
quarterback realmente não conseguia dizer não para ele. Podia até
entender meu marido, nosso filho era mesmo um danadinho que
convencia a todos, mas não podíamos nos descuidar da situação.
— Não estamos pensando em filhos agora, e você vai ver o
quanto um já dá bastante trabalho.
Maeve concordou com a cabeça.
— Emma está aí como prova.
— Elijah também — completei.
Nós rimos.
— Esperamos que a pequena Anger não seja tão terrível
quanto nossos filhos — a ruivinha disse.
— Por falar neles... Vou deixá-las com seus maridos e vou dar
atenção para o meu antes de começarmos a coletiva de entrevistas
— informei ao ver Trevor e Christopher se aproximando, ambos
segurando seus drinks. — Oi, meninos.
Eles acenaram.
Trevor foi direto para Anger e como o bom pai babão que havia
se tornado nos últimos meses, começou a fazer carinho nela.
— Se você a acordar depois de eu tê-la feito dormir, vou bater
em você.
— É só o papai fazer dormir de novo.
Caitlin revirou os olhos, mas acabou sorrindo quando a
pequena Anger segurou o dedo do pai como se fosse sua relíquia
mais preciosa. Não tinha como não estar feliz por esses três, eles
tinham uma família linda.
— Já volto!
Afastei-me deles e fui ao encontro do meu marido.
Assim que me aproximei dele, fui agarrada pela mão e forçada
a dar uma voltinha na sua frente antes de ter meu corpo colado ao
seu.
— Você é a mulher mais linda do mundo — Melvin elogiou, me
arrancando um sorriso. — Não é, filho?
Elijah terminou de engolir um docinho e assentiu.
— Mamãe é a mais linda.
Semicerrei os olhos para o atrevido.
— Acha que não te vi comendo um monte de doces?
— Papai deixou, mamãe — respondeu, colocando toda a culpa
no pai.
Meu marido me olhou de forma inocente, o que não combinava
em nada pouco com ele.
— Hoje é um dia especial — justificou. — O jantar vai ser
servido só mais tarde e Elijah não comeu muitos.
— Isso mesmo, mãe — meu filho disse.
Suspirei.
— Vocês não me levam mesmo a sério, né?
— Claro que levamos, mãe. — Meu filho se aproximou e me
abraçou. — Amamos você.
Ele podia ser um menino arteiro, mas também era o mais
amoroso quando se tratava de demonstrar carinho na nossa família.
— Posso ir brincar com Emma lá fora? Tio Barry e tia Tiffany
estão com ela e o Patrick nos fundos do salão. — Ele pediu.
Olhei para Melvin só para confirmar se era mesmo verdade e
ele assentiu.
— Ok! Sem correr e obedeça a seus tios, ok? Barry me tem
nos contatos de emergência dele — menti.
Era só para deixá-lo ciente de que não podia sair por aí
jogando água na Emma ou acabaria espirrando nas pessoas, nem
mesmo poderiam correr ou brincar de esconder.
— Ok, mãe.
Elijah se afastou, indo em direção a porta dos fundos do salão.
— Eles crescem rápido, né? — meu marido questionou, me
virando de costas para ele e me abraçando por trás. — Parece que
foi ontem que ele nasceu.
— Você diz isso sempre que tem a oportunidade — provoquei.
— É só porque fico realmente surpreso.
Sorri e toquei nas suas mãos ao redor da minha cintura,
sentindo seu queixo se encaixar no meu ombro.
Nossa vida era ótima.
Melvin era um excelente quarterback para os Fierce Falcons,
time de futebol da NFL, que ele jogava desde que foi selecionado.
Ele também era um excelente marido. E costumava me
valorizar muito mais do que algum dia já me valorizou.
Meu amor era um bom pai. Tão bom que fazia quase todas as
vontades do filho.
Ele nunca mais teve uma recaída como daquela vez na
universidade. Quando os dias estavam ruins para ele, Melvin
preferia tirar um tempo para si mesmo e fazer o que mais gostava:
ficar com a família.
Diferente do que muitos poderiam pensar, nosso
relacionamento só deu certo a partir do momento que nos demos
uma segunda chance.
— Estou orgulhoso, Sunshine — Melvin chamou a minha
atenção. — Por tudo o que estamos construindo juntos, e
principalmente, por ser casado com uma mulher tão foda como
você.
Dei risada.
— Exagerado!
— Ei! — Ele beijou o cantinho da minha boca. — Encontrei em
você tudo o que nunca sequer ousei sonhar que poderia merecer ou
ter. Um tipo de amor que é raro. Você me conhece de uma forma
que toca as partes mais profundas de mim, me aceita de uma forma
que me surpreende. Eu te amo.
— Do nada? — Murmurei.
— Só acho que faz tempo que não falo o quanto amo você.
Tem sido uma correria por causa das temporadas dos jogos.
— Eu sei o quanto me ama — o lembrei. — Daqui a pouco
nosso filho volta a nos chamar de bregas.
Ele riu, afundando seu rosto no meu pescoço.
Elijah tinha essa mania ridícula de nos chamar assim quando
ouvia as palavras mais doces e fofas que eu e Melvin trocávamos.
— Amo você, quarterback! — Segurei seu rosto e fechei meus
olhos, antes de beijá-lo.
Nosso amor era lindo, mas nem sempre foi assim, eu sabia
disso e sabia que muitos teriam desistido quando as coisas
começaram a dar errado.
Mas éramos sinônimos de força e resiliência.
Nós lutamos e agora, colhíamos tudo de bom que apenas
nosso relacionamento nos proporcionava.
E o principal, nos amávamos mais a cada dia.
Primeiramente, eu gostaria de agradecer aos meus leitores. Desde o dia em que o
primeiro livro foi lançado, vocês enxergaram Melvin de uma forma que nem eu, autora,
enxergava. Se escrevi essa novela foi porque vocês me deram força e inspiração o
suficiente para fechar a história desses dois, que para sempre vai ficar guardadinha em
uma parte do meu coração.
O universo dos Lancaster me trouxe tantas coisas boas, desde leitoras novas, que
hoje já estão apaixonadas por outras obras minhas, até leitoras antigas que voltaram a
vibrar por um universo de irmãos para amar, a experiências incríveis e novas, que nunca
me imaginei vivenciando ao escrever. Obrigada por confiarem no meu trabalho, espero
surtar com vocês por mais anos e com novos projetos. Vem coisa muito boa por aí!
Eu sou o que sou hoje, graças a vocês, e nada nesse mundo pode me parar com
vocês ao meu lado. Então obrigada, por serem meu apoio e minha força. Eu amo vocês.
Meus pais amados, que têm paciência comigo em cada processo. Obrigada por me
ouvirem, por me apoiarem em todas as minhas escolhas e pelos conselhos. Sei o quanto
se orgulham de mim e eu farei o possível para dar ainda mais orgulho. Amo vocês.
Minhas amigas incríveis. Obrigada, obrigada, obrigada. Vocês são o refúgio quando
tudo está difícil. Uma vez eu perguntei à minha mãe por que ela não me dava um irmão, e
ela me respondeu que eu teria amigas incríveis no futuro, e que elas seriam minhas irmãs,
mais uma vez, dona Maria estava certa. Deus me enviou cada uma de vocês, e sou grata a
Ele. Amo cada uma de vocês.
Minhas betas lindas, que escolhi exclusivamente para esses livros, obrigada por cada
surto trocado, por cada suporte e carinho com esses dois. Foi especial demais acompanhar
a leitura de vocês em tempo real e ver até mesmo quem não torcia para o Melvin, se
apaixonando por ele ainda mais do que imaginava. Obrigada! Foi um prazer trabalhar com
vocês.
Meu time incrível de parceria, revisão e influencers. Obrigada pelo trabalho incrível,
obrigada por fazerem os Lancaster e a Elite irem tão longe.
Aos novos leitores que estão chegando, obrigada por lerem esse livro. Espero que os
Lancaster os tenham conquistado o bastante para lerem outros livros meus. Tem história
para todos os gostos e minha DM no Instagram está aberta para surtos.

Com amor,
Nathalia Santos
Não esqueça de avaliar
A sua opinião é muito importante para mim e para aquela pessoa que está
pensando em ler o livro.

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Para falar comigo pode ser pelo Instagram ou por e-mail. Pode me chamar que eu
vou amar conversar com você.
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Twitter: @autoranathalia
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SINOPSE

NOTAS DA AUTORA
PLAYLIST
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS

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