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Título​: O Sol no Hermetismo

Autor​: Vinicius Pimentel Ferreira


E-mail​: ​vpffilosofia@gmail.com

Feira de Santana, Bahia. 29 de Maio de 2020.

O Hermetismo é uma doutrina originada enquanto literatura no período Ptolomaico entre o


séculos II e III da era comum. Surge de uma mescla da cultura greco/romana do helenismo,
gnóstica e egípcia tendo como principal autoria a figura mítica de Hermes Trimegisto. As
principais obras do hermetismo estão compiladas num livro chamando ​Corpus Hermeticum
que apresenta a perspectiva hermética para o modo como o cosmos é organizado, qual o
papel do homem no mundo e como Deus, os deuses e os daemons interagem conosco.

Dentre as figuras de destaque no Hermetismo temos o Sol, que é ao mesmo tempo uma
divindade dotada de vida e consciência cósmica, como um dos planetas que governam o
reino astral (onde habitam os astros, logicamente). No modelo celeste do Hermetismo, sete
planetas que também são deuses regem não apenas a Natureza num sentido amplo como
nosso modo de vida, não sendo eles meramente pedaços rochosos flutuando na imensidão
cósmica, mas Governadores de um sistema chamado de Destino. Esses governadores ou
planetas, que estão de acordo ao modelo Ptolomaico da época são a Lua, o Sol, Saturno,
Júpiter, Marte, Vênus e Mercúrio.

Dentre todos os sete, o de maior importância e até mesmo o mais citado na obra
Hermética é o Sol, que possui em sua aparência sensível similitude Divina, pois como diz o
próprio Corpus Hermeticum, Deus é Luz e Vida, o Sol por sua vez é manifestação física
disso ​(CH I-9).

" O Sol é o maior dos deuses do céu; todos os deuses celestes o reconhecem como seu rei
e seu chefe"
CH V-3

O Sol é para o Hermetismo a fonte da inteligência (Nous) cósmica no centro do nosso


mundo, é também aquele que dá a vida aos seres com sua luz ao mesmo tempo que colhe
a abundância do mundo. O Sol é o astro que ordena todos os astros, que governa o mundo
celeste e vigia o mundo terrestre como um grande soberano. O Sol também é para o
Hermetismo o próprio Demiurgo (​CH XVI-5 e 18​), o grande artífice do universo e aquele que
faz ponte entre o mundo astral e o mundo terrestre. É o sol o responsável por distribuir pela
Terra as tinturas planetárias, ou seja, as características e as virtudes ocultas de cada
planeta sobre os objetos materiais como os metais, os minerais, as plantas, os fungos, os
animais e os símbolos. Também é o Sol aquele que faz a extração do espírito das coisas
materiais elevando-os ao Céu. O Sol é o grande nutridor do mundo material e também do
mundo dos imortais.

"É que é a partir dele que as boas energias penetram não apenas o céu e o ar, mas
também a terra e a maior profundidade e o abismo"
CH XVI-5
O Sol vivifica e ordena o cosmos não sozinho, mas com ajuda dos deuses celestes e dos
daemons, esses últimos servindo como operários da grande obra solar. A obra do Sol é a
transformação das coisas por meio da dissolução e da coagulação, elevando o material ao
celestial e fazendo o celestial descer ao material, fazendo assim com que o mundo
permaneça no seu eterno ciclo de mutação sem nunca abandonar a existência. O sol
confere a todos a evolução e com ela a eternidade.

" O Sol é o conservador e o nutridor de todos os tipos de entes. Do mesmo modo que o
mundo inteligível, o qual envolve o mundo sensível e o preenche com todo tipo de formas,
com a infinita diversidade de suas figuras, assim também o Sol, envolvendo tudo que há no
mundo, fortalece e dá consistência a todos os entes que nele nascem - embora os absorva
em si mesmo quando eles morrem e se escoam."
CH XVI-12

​ Sol também, por meio de seus raios projeta sobre a alma de alguns poucos humanos a
O
razão e a inteligência, esses humanos se tornam invulneráveis a ação maléfica dos
daemons, que nada podem contra os raios solares ou raios de deus (​CH XVI-16​). É através
dos raios solares e de sua abundância de virtudes que podemos quebrar as correntes do
destino que prendem todos aqueles que se deixam levar pelas paixões do corpo e pelas
emoções (terra e água), mas que deixam de lado as beneces da razão e da da inteligência
(ar e fogo).

O Hermetismo compreende o Sol como uma representação do deus soberano (Nous) e o


próprio Demiurgo (artífice), de modo que para o hermetista se faz necessário não apenas
um respeito sacro ao Sol, como também uma adoração. Respeito no sentido de observar
qual a posição o Sol deve ter diante dos demais planetas e estrelas para seus rituais, pois é
o Sol que tinturará a atividade do mago, que alimentará seu rito e purificará seu corpo e
espírito. Respeito, pois apesar desse potencial doador do astro rei, o Sol também é um
colérico juiz que não deixa passar descuidos de impiedade, pois é um astro cheio de fogo.
Por isso, deixo algumas dicas baseadas no Corpus Hermeticum e também em minha
própria experiência para quem deseja trabalhar com magia dentro do Hermetismo:

1° Não se alimentar de alimentos de origem animal nos dias de purificação e rituais de


criação. Não estar sob efeito de algum vício e se possível não ter tido relações sexuais.

2° Todo ritual deve iniciar com um Hino em honra a Deus e ao Sol, de preferência o hino
místico de Hermes Trimegisto localizado no Corpus Hermeticum.

3° Todo ritual deve ser feito com o magista voltado a direção do Sol se o ritual for feito
durante o dia e voltado ao espelho do Sol se for feito durante a noite. A tintura do Sol e da
Lua não são idênticos entre si.

4° rituais de criação são mais poderosos na primeira hora do nascer do sol do momento
astrológico do qual se deseja extrair a tintura. Rituais de criação são sempre feitos com o
corpo voltado para o Leste. Rituais de potencialização e energização com o sol a pino,
rituais de finalização com o sol poente com o corpo voltado para o Sul.

5° purificar o corpo e o ambiente com defumações e lavagens tinturadas com ervas solares.
Defumação com a queima de Alecrim seco por exemplo, tende a não apenas limpar o
ambiente, como deixa-o mais propício a atividades da mente racional e do espírito. Quanto
maior o número de plantas solares diferentes maior das virtudes solares, como observa
Agrippa em seu livro de filosofia natural.

6° compreender que a magia consiste em unir a virtude continente dos objetos manifestos
com as virtude qualitativa dos objetos imanifestos. O hermetista compreende as
correspondência e as aplica.

7° compreender que Hermetismo ​não​ é O Caibalion. A magia no Hermetismo não é


meramente mental e muito menos explicadas em sete leis que parecem princípios de
auto-ajuda. O Caibalion tem seu valor como obra mentalista, mas não dá conta de explicar
com coerência a filosofia e a Teosofia Hermética. O Hermetismo tem como base o ​Corpus
Hermeticum ​e os demais textos atribuídos a Hermes Trimegisto, tudo que diferir disso é
comentário sobre o Hermetismo ou quando se utiliza o nome de Hermes Trimegisto para
apresentar uma idéia diferente da base, apenas perversão da obra. Este texto e nenhum
outro, no que diz respeito ao Hermetismo pode substituir o Corpus Hermeticum.

Referências Bibliográficas

Hermes trimegisto. Corpus Hermeticum. Editora polar. 2019.

Hermes trimegisto. Asclépio ou Discurso de iniciação. Editora polar. 2019.

Hermes trimegisto. Pupila do mundo. Editora polar. 2019.

Cornélio Agrippa. Três livros de filosofia Oculta. Editora Madras. 2012.

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