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Neurobiologia I
2022-2023
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Índice
1. Introdução 2
2. Evolução dos conceitos sobre o sistema ervoso 6
3. Métodos de investigação do sistema nervoso 14
4. A célula 25
5. Genética reprodução e desenvolvimento 35
6. Estrutura microscópica do sistema nervoso 44
7. Sinalização electroquímica 51
8. Estrutura macroscópica do sistema nervoso 58
9. Sistemas motores 74
10. Sistemas sensoriais 84
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1 - Introdução à neurobiologia
Sumário
1. Marcello Malpighi
2. Luigi Galvani
3. Santiago Ramón y Cajal
4. Jean Pierre Lamarck
5. Biologia
6. Neurobiologia
O funcionamento do sistema nervoso assenta numa célula, chamada neurónio, que tem
capacidade para produzir e transmitir estímulos. A insuficiência de meios ópticos
dificultou o estudo dos tecidos dos seres vivos ao longo dos séculos. Marcello
Malpighi (1628-1694) anatomista Italiano fez observações microscópicas do cérebro
humano descrevendo as células piramidais (Fig. 1). Os avanços na fixação e coloração
dos tecidos permitiram a Santiago Ramón y Cajal (1852-1934), histologista Espanhol,
demonstrar que os neurónios não eram uma rede contínua mas que estavam separados
comunicando entre si. A esta zona de comunicação entre os neurónios chama-se sinapse
(Fig. 2).
O cérebro tem mais 100.000 milhões de neurónios (1011) e que cada um destes
neurónios pode estabelecer 1.000 a 100.000 sinapses com outros neurónios num total de
(1016) sinapses. Pensa-se que morrem em média 50.000 neurónios por dia que não são
substituídos. Contudo as células do corpo humano estão em constante renovação. Cerca
de 1.000 milhões de células novas substituem hora a hora as células antigas. Isto leva a
que qualquer parte do corpo seja mais nova que o todo.
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O termo biologia foi introduzido em 1802 por Jean Pierre Lamarck (1744-1829),
naturalista Francês que pretendeu escrever um livro sobre Biologia (Fig. 4) . A biologia
é uma ciência que estuda a vida, os seres vivos e as suas relações com o ambiente. A
neurobiologia é um ramo da biologia. O objectivo da neurobiologia é conhecer os
processos biológicos subjacentes ao funcionamento do sistema nervoso. Estuda as
células nervosas, a sua envolvente e a forma como as células se organizam em circuitos
funcionais para processar a informação e determinar o comportamento. Um dos grandes
segredos do sistema nervoso é a base biológica da consciência. A neurobiologia analisa
o comportamento em termos de actividade neuronal. É possível explicar algumas das
reacções dos seres humanos através de neurotransmissores que circulam no sistema
nervoso. Algumas destas substâncias já foram sintetizadas e estão inclusivamente
disponíveis no mercado.
Embora muitos dos mistérios sobre o sistema nervoso estejam por descobrir,
nomeadamente o que nos torna conscientes, os avanços nas últimas décadas foram
extraordinários.
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Sumário
1. Pré-história
2. Antigo Egipto
3. Grécia e Roma
4. Renascimento
5. Séculos XVIII e XIX
6. Século XX
7. Século XXI
A evolução dos conhecimentos sobre o sistema nervoso tem sido muito lenta e com
constantes avanços e recuos. Hoje em dia qualquer pessoa sabe qual a importância do
sistema nervoso. Contudo durante muito tempo discutiu-se qual a parte do corpo
humano ocupada pela mente. Sabemos que o conhecimento do cérebro é difícil porque é
o próprio cérebro que tenta desvendar os seus mistérios.
2. Pré-história
A trepanação consiste na abertura da calote craniana permitindo o acesso ao seu interior.
Sabemos hoje em dia que este tipo de cirurgia começou a ser praticado no Neolítico ou
seja há cerca de 10.000 anos. Para conseguirem cortar o osso da calote craniana usavam
lascas de sílex. Desconhecemos qual o motivo deste acto não só ousado como perigoso.
Sabemos que as pessoas sobreviviam a esta cirurgia porque os crânios encontrados
apresentam sinais de cicatrização evidenciando um calo ósseo (Fig.1). Em Portugal nas
estações neolíticas (Casa da Moura, Gruta das Fontainhas e Gruta da Furninha) foram
encontrados crânios com trepanações incompletas.
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3. Antigo Egipto
Os Egípcios, apesar de tentarem preservar o corpo após a morte num estado o mais
perfeito possível, prestavam pouca atenção ao cérebro. Este era retirado através do nariz
com uma espécie de colher. O coração devia ser preservado porque era o órgão mais
importante. Contudo alguns egípcios conheciam a importância do cérebro. Foi
descoberto um papiro egípcio escrito em hieróglifos, provavelmente no Antigo Império,
e que viria a ser traduzido por James Breasted em 1930 (Fig. 2). Este papiro, que fazia
parte de um tratado de cirurgia, descrevia lesões traumáticas cranianas que se
acompanhavam de alterações motoras ou da linguagem. Relacionava também as
fracturas da coluna cervical com a paralisia dos quatro membros.
4. Grécia e Roma
4.1. Hipócrates (469-379 a.C.) Ainda hoje existe um grande plátano na ilha de Cós
debaixo do qual os jovens eram iniciados na arte da medicina e prestavam o chamado
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5. Renascimento
5.1. Leonardo da Vinci (1452–1519) uma das mais importantes figuras do
renascimento italiano interessou-se pela anatomia, biologia e fisiologia. Os primeiros
desenhos sobre o cérebro baseavam-se em textos antigos pelo que o sistema ventricular
era desenhado de uma forma que nada tinha a ver com a realidade anatómica (Fig. 3).
Anos mais tarde os seus desenhos são já fruto das dissecções que realizou e da injecção
do sistema ventricular com parafina. Estes últimos desenhos já se aproximavam muito
da realidade que conhecemos hoje.
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Fig. 3 – Desenhos de Leonard da Vinci sobre o sistema ventricular. O primeiro desenho deve ter sido
feito com base em textos antigos e está incorrecto. O segundo desenho aproxima-se muito da realidade.
Fig. 7 – Mapa Frenológico da região craniana posterior. Os números identificam áreas que segundo Gall
depois de medidas davam informações sobre as capacidades do indivíduo.
6.3. Pierre-Paul Broca (1824-1880) foi um médico francês que trabalhou em Paris.
Baseado em dados clínicos e de autópsia identificou uma área na lobo frontal esquerdo
responsável pela linguagem. Esta área ainda hoje conserva o nome de área de Broca.
Era também um antropologista e foi dos primeiros a chamar a atenção para as
trepanações nos crânios pré-históricos, demonstrando que as lesões tinham sido feitas
em vida.
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7. Século XX
7.1. Camilo Golgi (1834-1926) era professor da Faculdade de Medicina em Pádua e
conseguiu corar os neurónios com o auxílio de sais de prata. Defendia que as células
nervosas se encontravam em continuidade formando uma rede nervosa difusa.
7.2. Santiago Ramon y Cajal (1852-1934) foi um histologista Espanhol que usando as
técnicas de coloração de Golgi compreendeu que as células nervosas são unidades
individuais que se articulam entre si. Defendeu a chamada teoria neuronal que viria a
ser comprovada com o aparecimento do microscópio electrónico nos anos 50.
Camilo Golgi e Santiago Ramon y Cajal são dois nomes indiscutivelmente ligados aos
avanços conseguidos na microscopia do sistema nervoso no século XX. O prémio Nobel
da Medicina foi-lhes entregue em 1906.
7.3. Sigmund Freud (1856 -1939) foi professor de histologia tendo publicado obras
sobre neuropatologia e neurologia. Mais tarde dedica-se ao estudo do inconsciente
cerebral criando a psicanálise. Há quem afirme que Freud está de volta porque as
descrições neurobiológicas funcionam com as suas teorias. A amnésia infantil, refente
aos dois primeiros anos de vida, descrita por Freud, é hoje explicada pela
neurobiologia. O processo lento de maturação das estruturas da memória é a explicação
desta amnésia.
7.3. Hans Berger (1873-1924), de nacionalidade Alemã, cria em 1924 um
procedimento que permite registar a actividade do cérebro: o electroencefalograma
(E.E.G.). Através da colocação de eléctrodos no couro cabeludo Berger descreve os
ritmos alfa e beta e as suas alterações nos epilépticos.
7.4. Jame Papez (1883-1958) foi um neuroanatomista Americano que estabeleceu a
ligação entre as alterações emocionais dos doentes com raiva e as lesões provocadas
pelo vírus no sistema límbico. Posteriormente identifica o sistema límbico como o local
das emoções.
7.5. Egas Moniz (1874-1955) desenvolveu um importante trabalho em torno do sistema
nervoso. Idealizou uma cirurgia para acalmar os doentes psiquiátricos. A cirurgia
consistia em seccionar fibras do lobo frontal através de uma trepanação. Foi-lhe
concedido o Prémio Nobel em 1949 por esta técnica conhecida pelo nome de
leucotomia frontal.
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Fig. 4 – Técnica da trepanação bifrontal usada por Egas Moniz para a leucotomia.
8. Século XXI
O desafio do estudo do sistema nervoso não parou e é provável que o século XXI seja o
século do sistema nervoso. Enquanto durante séculos o estudo foi desenvolvido de
forma mais ao menos individual e com meios escassos, actualmente há uma conjugação
de esforços que incluem várias áreas das neurociências. Psicólogos, psiquiatras,
neurologistas, neurocirurgiões, neuroanestesistas, neurooftalmologistas, neurobiólogos,
neurofisiologistas, neuroquímicos, neuropatologistas, neuroanatomistas,
neurofarmacologistas e neuroteologos, dispõem de ferramentas adequadas para ajudar a
tratar as doenças e a desvendar os mistérios do sistema nervoso.
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Sumário
1. História e observação
2. Análise de sangue e urina
3. Exames de imagem
4. Exames electrofisiológicos
5. Análise do liquor
6. Biopsia de nervo e músculo
7. Biopsia de cérebro
4. Exames de imagem
4.1. Radiografia simples (Rx)
A descoberta dos raios X, em 1895, por Wilhelm Röntgen (1845-1923)
veio revolucionar a medicina. Contudo, embora a radiografia simples
(Fig.1) seja boa para ver uma fractura, não permite ver o sistema nervoso.
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Fig. 3 – Imagem de TAC crânio encefálico. O corte passa pelos ventrículos laterais.
Este campo magnético orienta os núcleos dos átomos do tecido que se quer
estudar. Em seguida é aplicada uma energia, na frequência das ondas de
rádio, no plano que se pretende estudar (Fig. 5).
Trata-se de uma técnica pouco difundida e que tem vindo a ser substituída
pela ressonância magnética funcional.
5. Exames electrofisiológicos
5.1. Electroencefalograma (EEG)
O EEG mede a actividade eléctrica e os ritmos do cérebro. É um método
não invasivo e indolor. O impulso eléctrico registado é o somatório de
milhares de neurónios activados em conjunto. Os ritmos do EEG variam
com os níveis de atenção sono ou vigília (Fig. 8).
8. Biopsia cerebral
O diagnóstico de lesões que invadem o encéfalo obriga na maior parte dos
casos a fazer uma biopsia da lesão.
4. A célula
Sumário
1. Teoria celular
2. Tipos de células
3. Variedade de células animais
4. Componentes das células animais
5. Transporte de substâncias
6. Ciclo celular
7. Célula neoplásica e morte celular
1. Teoria celular
2. Tipos de células
As células vivas dividem-se em dois tipos básicos: procarióticas e eucarióticas (Fig. 2).
As células procarióticas são anucleadas sendo representadas pelas bactérias. Nestas
células os cromossomas não estão separados do citoplasma por uma membrana. Pensa-
se que existem na terra há cerca de 3 biliões de anos.
Fig. 3 – Tecidos humanos. Da esquerda para a direita: tecido epitelial, tecido conjuntivo, tecido muscular
e tecido nervoso.
4.3. Núcleo
O núcleo é o centro que controla a célula. Contem o património genético da
célula sob a forma de DNA. O nucléolo é uma estrutura no interior do
núcleo onde são sintetizados os ribossomas. O núcleo está separado do
citoplasma por uma dupla membrana com poros.
5. Transporte de substâncias
A célula, para que possa sobreviver, necessita da entrada de certas
substâncias e da excreção de outras As substâncias podem penetrar no
interior da célula de forma passiva não havendo gasto de energia ou através
de um transporte activo.
6. Ciclo celular
A célula divide-se para permitir não só o crescimento como a reparação
celular. A divisão de uma célula em duas células filhas iguais chama-se
mitose. A informação genética é igual nas três células, a célula mãe e as
células filhas. A mitose ocupa um pequeno sector do ciclo celular. O resto
do ciclo chama-se interfase.
6.1. Interfase
A interfase é composto pelos três períodos G1, S e G2 e corresponde à
actividade normal da célula (Fig. 5).
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Fig. 5 – Interfase.
Sumário
1. Leis de Mendel
2. Cromossomas
3. ADN e ARN
4. Cariótipo
5. Reprodução
6. Desenvolvimento embrionário
7. Desenvolvimento fetal
8. Desenvolvimento do sistema nervoso
1. Leis de Mendel
Gregor Mendel (1822-1884) era um monge que em 1865 descobriu os princípios
básicos da hereditariedade. Nessa época ainda não se sabia o que eram
cromossomas. Mendel usou plantas para fazer os seus estudos. As ervilhas de
cheiro têm espécies puras, isto é dentro de uma linha todas as plantas são idênticas.
Ao fazer diversos cruzamentos de plantas com características diferentes foi
possível tirar conclusões sobre a transmissão da informação genética (Fig. 1).
Mendel percebeu que cada traço é transmitido por um par de factores a que
chamamos genes. Cada um dos genes (alelo) é herdado de um dos progenitores. Os
genes podem ser dominantes ou recessivos conforme as suas características surgem
nos descendentes ou parecem ter desaparecido. Mendel descobriu que os
descendentes de linhas puras, na primeira geração (F1), não misturavam as
características aparentando o gene dominante.
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Fig. 1 – Mendel cruzou sementes lisas com sementes rugosas. Na primeira geração F1 surgem só
sementes lisas embora tenham o alelo rugoso, que não se manifesta. Na segunda geração F2,
resultante do cruzamento entre as plantas de F1, um quarto das sementes são rugosas. Os restantes
três quartos são lisos. Destes um quarto é como a planta lisa original e os outros dois quartos são
como as plantas de F1.
2. Cromossomas
Cada espécie de animais ou plantas possui um número constante de cromossomas. No
ser humano existem 23 pares em cada célula, no rato existem 20 pares e no centeio 7
pares. Os cromossomas estão contidos no núcleo das células mas só são visíveis quando
a célula inicia a sua divisão. Os cromossomas são constituídos por ADN (ácido
desoxirribonucleico) que contem a informação hereditária e por uma proteína chamada
histona (Fig. 2). O ADN estende-se ao longo de todo o cromossoma sem interrupções e
é o chamado código da vida. Se desdobrássemos o ADN de uma célula humana o
comprimento era superior à altura do seu portador.
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Este ADN contem todas as informações referentes ao seu portador como a cor dos
cabelos, cor da pele, cor dos olhos e inclusivamente se ele vai sofrer de certas doenças.
Embora o ser humano tenha diversos tipos de células a nível dos vários tecidos todas
elas têm o mesmo conteúdo em ADN. As células humanas com excepção do óvulo e
espermatozóide apresentam 46 cromossomas que podem ser agrupados em 23 pares.
Fig. 3 – O ser humano possui 23 pares de cromossomas. Na mulher o par 23 contem dois cromossomas
X. No homem o mesmo par 23 contem um cromossoma X e outro Y.
3. ADN e ARN
James Watson e Francis Crick, em 1953, formularam a hipótese de que o ADN era
constituído por uma dupla espiral. Esta dupla espiral é formada por açucares e fosfatos e
é semelhante aos lados de uma escada em caracol. Os nucleótidos representam os
degraus da escada. Estes nucleótidos por sua vez resultam de quatro bases unidas duas a
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duas (adenina com timina, citosina com guanina, timina com adenina e guanina com
citosina).
Fig.4 – Os constituintes fundamentais do ADN são quatro nucleótidos: adenina, timina, citosina e
guanina. A ordem de sucessão destes quatro nucleótidos determina toda a informação grnética.
4. Cariótipo
A análise dos cromossomas tem por base a identificação de anomalias que possam estar
na origem de certas doenças. Em 1969 foi determinada a primeira perturbação dos
cromossomas de um feto a que se chamou síndrome de Down. O cariótipo é uma
classificação dos cromossomas de uma pessoa segundo uma ordem predeterminada que
permite estudá-los.
Podem usar-se células sanguíneas ou do líquido amniótico para o diagnóstico pré-natal.
No cariótipo de uma criança com síndrome de Down identificam-se 47 cromossomas
existindo três cromossomas 21 em vez de dois (Fig. 5).
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Fig. 5 - Mapa dos cromossomas, cariótipo, de uma pessoa com síndrome de Down.
O círculo assinala a existência de três cromossomas 21 em vez de dois.
5. Reprodução
A capacidade para se reproduzirem é talvez a propriedade mais importante dos seres
vivos. Todas as células têm origem noutras células. A formação de um ser humano
começa com a junção de um espermatozóide e de um óvulo. Os espermatozóides são
formados nos tubos seminíferos que se encontram no interior dos testículos. Os
testículos têm de estar fora da cavidade abdominal porque a temperatura abdominal
impede a maturação dos espermatozóides. Durante a ejaculação o homem liberta cerca
de 100 milhões de espermatozóides. Os espermatozóides amadurecem no epidídimo e
passam no canal deferente antes de atingirem a uretra.
Na mulher os ovários contêm cerca de 1 milhão de oócitos imaturos. Depois da
puberdade uma vez por mês cada ovário liberta o óvulo mais maduro.
Os espermatozóides e os óvulos são gâmetas, ao contrário das outras células do corpo
humano só contêm metade do material genético isto é 23 cromossomas em vez de 46
(Fig. 6). Ao dar-se a junção entre o espermatozóide e o óvulo o novo embrião fica com
os 46 cromossomas e recebe informação genética dos dois progenitores.
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Fig. 7 – A meiose é formada por duas fases e prepara as células para a reprodução. Na meiose I
formam-se duas células e da meiose II resultam quatro células.
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O óvulo é captado pela trompa de Falópio que o conduz até ao útero. No caso de o
óvulo ser fertilizado pelo espermatozóide vai desenvolver-se no útero.
6. Desenvolvimento embrionário
Durante o período de formação dos vários órgãos, o embrião é muito sensível a
produtos químicos e vírus. Os diferentes órgão e tecidos do ser humano surgem de três
camadas no embrião (endoderme, mesoderme e ecotderme). O sistema nervoso deriva
da ectoderme. O desenvolvimento embrionário termina por volta das oito semanas de
gestação quando existem os rudimentos de todas as estruturas que vão estar presentes no
nascimento.
7. Desenvolvimento fetal
O desenvolvimento fetal inicia-se quando o futuro ser humano tem os rudimentos de
todas as estruturas que vão estar presentes no nascimento. A cabeça é
desproporcionadamente grande, as orelhas estão implantadas muito em baixo e os olhos
estão muito afastados. Com o tempo as diferentes estruturas vão-se tornando mais
proporcionadas. Durante o desenvolvimento fetal os diferentes órgãos e tecidos
crescem, especializam-se e começam a interagir. Às 12 semanas o feto já chupa no dedo
e dá pontapés, e aos 4 meses tem cabelos e unhas. Cerca de 266 dias após o
espermatozóide ter penetrado no óvulo a criança está em condições de nascer.
Fig. 8 – Cinco cortes do embrião mostrando a formação do tubo neural. A placa neural tem origem na
ectoderme e transforma-se em tubo neural.
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Fig. 9 – Representação das estruturas encefálicas que resultam das três vesículas primárias: prosencéfalo,
mesencéfalo e rombencéfalo.
Sumário
1. Doutrina neuronal
2. Neurónio
3. Glia
4. Célula de Schwann
5. Barreira hematoencefálica
2. Teoria neuronal
Os neurónios são pequenas células não observáveis a olho nu. Têm cerca 20 m de
diâmetro sendo necessário colocar 50 lado a lado para formar um milímetro. De
início pensava-se que as células nervosas se fundiam por não ser possível observar
os seus limites (Fig. 1).
Fig. 1 – Ramon & Cajal à esquerda e Camilo Golgi à direita receberam o prémio Nobel em 1906.
Ao centro um desenho de células de neurónios feito por Cajal. Foi graças a uma coloração, para os
neurónios, descoberta por Gogi que Cajal percebeu que os neurónios eram células e não uma rede
nervosa como pensava Golgi.
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3. Neurónios
Os neurónios são as células mais importantes do sistema nervoso. São formados
por um corpo com prolongamentos que incluem o axónio e os dentritos. Estes
prolongamentos do corpo celular servem para os neurónios comunicarem entre si.
O corpo é formado por uma membrana que envolve o citoplasma que contem o
núcleo no seu interior. Os dentritos são vários por neurónio e trazem informação
para a célula. O axónio, um por célula, conduz informação para fora da célula
(Fig. 2).
Fig. 2 – O neurónio é formado por um corpo celular que apresenta numerosos prolongamentos que
recebem informação dos outros neurónios e um axónio que estabelece a comunicação com o
neurónio seguinte.
A ligação entre estes prolongamentos celulares faz-se através das sinapses (Fig. 3).
A sinapse surge como o local de contacto entre o neurónio e outra célula. No
sistema nervoso central a sinapse situa-se entre os neurónios, no sistema nervoso
periférico e no autónomo a sinapse estabelece a relação com músculos, glândulas
ou outros órgão.
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Fig. 3 – Tal como defendia Cajal os neurónios são células individuais que comunicam através de
uma fenda chamada sinapse.
Muitos dos neurónios têm os axónios envolvidos por uma bainha de lípidos
chamada mielina que funciona como isolante e permite uma condução mais rápida
dos estímulos eléctricos através da célula. Os oligodendrócitos são células que fazem
parte da glia e produzem a mielina para os neurónios do sistema nervoso central.
As células de Schwan produzem a mielina para os neurónios do sistema nervoso
periférico.
4. Células gliais
As células gliais não participam directamente no processamento da informação do
sistema nervoso. Englobam quatro tipos de células onde se incluem: astrocitos,
oligodendrocitos, células ependimárias e micróglia.
Os astócitos são células que fazem lembrar um astro pela riqueza dos seus
prolongamentos em todas as direcções. Uma das suas funções é o suporte dos
neurónios e dos capilares sanguíneos (Fig. 4). Contribuem para a barreira hemato-
encefálica através dos prolongamentos para a parede dos capilares sanguíneos.
Podem armazenar neurotransmissores levando a uma regulação do funcionamento
dos neurónios.
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Fig. 4 – Representação de um astrocito que devido aos seus prolongamentos faz lembrar um astro.
À direita está representado um astrocito ligado a um vaso sanguíneo.
Fig. 5 – O oligodendrocito produz a bainha de mielina para os neurónios do sistema nervoso central
e faz parte da glia. As células de Schwann produzem a bainha de mielina para os neurónios do
sistema nervoso periférico. Enquanto um oligodendrocito produz mielina para vários neurónios a
célula de Schwann produz para um só.
4. Células de Schwann
As células de Schwann só se encontram no sistema nervos periférico e são
responsáveis pela formação da mielina. Ao contrário dos oligodendrocitos em que
uma célula produz mielina para vários neurónios a célula de Schwann envolve o
neurnónio produzindo mielina para um só neruónio. Ao longo do axónio de um
neurónio do sistema nervoso periférico existem várias células de Schwann. Os
nódulos de Ranvier são as zonas em que há um estrangulamento da bainha de
mielina ao longo do axónio. A membrana de mielina é responsável pelo isolamento
do axónio o que permite uma mais rápida condução dos estímulos.
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Fig. 7 – Mielina envolvendo o axónio do neurónio. A mielina é produzida pelas células de Schwann.
Os nódulos de Ranvier representam constrições na bainha de mielina.
5. Barreira hematoencefálica
A barreira hemato-encefálica representa a interface entre o sistema vascular e as
células do sistema nervoso central (Fig. 8). Os capilares sanguíneos do sistema
nervoso têm junções mais apertadas que os restantes capilares do organismo. Estas
junções mais apertadas formam uma barreira que impede a saída das
macromoléculas dos vasos sanguíneos evitando a entrada dessas substâncias no
sistema nervoso central.
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Fig. 8 – A barreira hemato-encefálica funciona como uma interface entre os capilares e o sistema
nervoso. Contribuem para esta barreira os capilares com fendas mais estreitas e os astrocitos que
aderem às suas paredes.
7. Sinalização electroquímica
Sumário
1. Membrana celular e canais iónicos
2. Potencial de repouso
3. Condução nervosa
4. Sinapse
5. Neurotransmissores
Fig. 1 – A membrana celular é relativamente impermeável à passagem de iões havendo canais iónicos que
funcionam como portas.
através da membrana (Fig.1). Estes canais estão habitualmente fechados mas podem
abrir-se durante um curto período de tempo para deixar passar os iões. A abertura dos
canais pode ser devida a uma variação no potencial de membrana ou à presença de
neurotransmissores. Existe um gradiente eléctrico entre o interior e o exterior da
membrana celular chamado potencial de membrana. No interior da célula há um
predomínio de iões potássio (K+) e no exterior da célula predominam os iões sódio
(Na+).
Fig. 2 – A bomba de sódio (Na+) e potássio (K+) move estes iões em direcções opostas através da
membrana da célula. A energia para este processo é conseguida através do ATP que passa a ADP. Por
cada três iões de sódio que saem entram dois iões de potássio.
Para manter esta diferença de concentração de iões existe um mecanismo que bombeia
iões de Na+ para o exterior da célula e K+ para o interior da célula, a chamada bomba de
Na+ e K+ (Fig. 2). Este trabalho consome cerca de um terço da energia gasta pela célula
e é fornecido por moléculas de ATP (adenosina trifosfato).
Fig. 3 – Concentrações dos diferentes iões no exterior e interior da célula em milésimos da mole (mM). A
mole é uma unidade de quantidade de substância. Dos quatro iões apresentados o potássio é o único que
predomina no interior da célula.
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Por cada molécula de ATP consumida são bombeados três iões de Na+ para fora da
célula e dois iões de K+ para dentro da célula. No interior da célula há um predomínio
de K+ e no exterior da célula predomina o Na+, o cloro (Cl-) e o cálcio (Ca2+) (Fig.3). O
neurónio, tal como as outras células, possui uma carga eléctrica através da sua
membrana sendo positiva no exterior e negativa no seu interior.
3. Potencial de repouso
Existe uma diferença de potencial de cerca –70mV (milivolts) entre o exterior e o
interior da célula devido às diferentes concentrações de iões e proteínas (Fig. 4).
Fig. 4 – O neurónio possui uma carga eléctrica através da sua membrana, sendo positivo no exterior e
negativo no interior. A carga eléctrica leva a uma diferença de potencial, de cerca de -70 mV, entre o
exterior e o interior do neurónio, quando está em repouso.
Esta diferença de potencial quando a célula não está activa chama-se potencial de
repouso. Nesta fase a célula é relativamente impermeável aos iões. A equação de Nernst
permite calcular a relação entre a concentração de iões e o potencial de membrana (Fig.
5). Segundo esta equação o potencial de equilíbrio para um ião resulta do quociente
entre a concentração do ião dentro e fora da célula.
Eião = 2,303
RT
log
iãoe
zF iãoi
Fig. 5 – A equação de Nernst permite calcular o potencial de equilíbrio para um ião. Eião representa o
potencial de equilíbrio. RT é o produto entre a constante dos gases e a temperatura absoluta. O produto
entre a carga do ião e a constante de Faraday é representado por zF
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3. Potencial de acção
Uma das principais características do sistema nervoso é a capacidade para produzir e
conduzir estímulos eléctricos. O potencial de acção surge na sequência de um estímulo
químico ou eléctrico que a célula recebe e que origina uma corrente que percorre a
célula. Este potencial de acção é um fenómeno de tudo ou nada. Isto é, logo que a
intensidade do estímulo atinge o limiar, o potencial de acção desencadeia-se. Este
potencial apresenta as mesmas características, mesmo que o estímulo seja superior ao
limiar. O potencial de repouso passa de –70 mV para +30 mV, num ponto da
membrana, e depois segue na direcção da sinapse. Este processo inicia-se com a
abertura dos canais iónicos de Na+ o que permite a entrada de iões de Na+. É a entrada
destes iões com carga positiva que leva à despolarização da membrana. Para retomar o
equilíbrio a célula abre os canais iónicos de potássio e permite a saída de cargas
positivas K+ (Fig. 6). A membrana retoma então um potencial negativo ao fim de cerca
de 2 ms (milisegundo). Após o potencial de acção há um período refractário em que
parte do neurónio não pode ser despolarizado.
Fig. 6 – O potencial de acção. Em (1) os canais de sódio são abertos começando a entrar sódio para dentro
da célula. (2) os canais de potássio abrem-se mais tarde permitindo a saída de potássio para fora da célula.
(3) Os canais de sódio fecham-se, ao fim de cerca de 1 milissegundo, não permitindo a entrada de mais
sódio. A célula atinge um potencial de +30 mV. (4) os canais de potássio mantêm-se abertos permitindo a
saída de potássio. (5) os canais de potássio fecham-se. (6) a membrana volta ao potencial de repouso de –
70 mV
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4. Condução nervosa
A propagação do potencial de acção é conseguida através da despolarização da
membrana imediatamente à frente, caminhando na direcção da sinapse (Fig. 7). O
período refractário permite que o potencial de acção caminhe numa só direcção
afastando-se do local do estímulo inicial. A velocidade de condução das fibras aumenta
com o seu diâmetro e com o revestimento pela bainha de mielina. As fibras sem mielina
e de pequeno diâmetro são as que conduzem os estímulos mais lentamente. A bainha de
mielina não é contínua, apresentando apertos em anel que têm o nome de nódulos de
Ranvier. A condução nervosa faz-se de nódulo a nódulo e por isso chama-se saltatória.
Fig. 7 – A abertura dos canais iónicos leva a uma mudança na concentração iónica da célula que se traduz
numa despolarização. O interior da célula torna-se positivo. A progressão da despolarização faz-se na
direcção da sinapse.
5. Sinapse
A transferência de estímulos entre os neurónios ocorre na sinapse. As sinapses
estabelecem a ligação não só entre neurónios como entre os neurónios e os músculos. A
sinapse é formada pelo elemento pré-sináptico ou botão sináptico, onde se situam os
neurotransmissores, e que se encontra separado do elemento pós-sináptico, do segundo
neurónio, pela fenda sináptica. Existem dois tipos de sinapses: as químicas e as
56
Fig. 8 – O neurotransmissor encontra-se contido em vesículas que o libertam para a fenda sináptica.
Depois de atravessar a fenda vai ligar-se a receptores da célula pós-sináptica e leva a uma resposta desta
célula.
6. Neurotransmissores
São substâncias libertadas a nível da sinapse pelo neurónio e que vão actuar noutro
neurónio ou noutra célula. Para ser classificada como neurotransmissor uma substância
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Sumário
1. Divisão do sistema nervoso
2. Revestimento do sistema nervoso
3. Sistema nervoso central
3.1. Hemisférios cerebrais
3.2. Gânglios da base e tálamo
3.3. Sistema ventricular e LCR
3.4. Tronco cerebral
3.5. Cerebelo
3.6. Medula espinhal
3.7. Vascularização
4. Sistema nervoso periférico
5. Sistema nervoso vegetativo
Fig. 1 – Revestimento do sistema nervoso. De fora para dentro encontramos a pele, o osso, a
duramáter, a aracnoideia e a piamáter. As meninges são formadas por estas três membranas
(duramáter, aracnoideia e piamáter). O LCR circula entre a aracnoideia e a piamáter.
O lobo frontal é o mais anterior situa-se por cima do globo ocular. O seu
limite posterior é o sulco central também chamado rego de Rolando. O lobo
parietal fica na continuação posterior do lobo frontal e está dele separado
pelo sulco central. O rego de Silvius separa a porção inferior dos lobos
parietal e frontal da porção superior do lobo temporal. O lobo occipital é o
mais posterior e fica na continuação dos lobos parietal e temporal.
Fig. 5 – À esquerda observa-se a face interna do hemisfério cerebral direito. Uma linha assinala a zona
por onde passa o corte coronal que se situa à direita.
sensorial com excepção do olfacto passa pelo tálamo. Por sua vez o tálamo
tem ligações com quase todas as áreas corticais, incluindo as zonas da
sensibilidade e motoras. Existem também ligações entre o tálamo e outras
estruturas como: o hipotálamo, os núcleos da base, o cerebelo e o tronco
cerebral.
Fig. 6 – O sistema ventricular é formado por quatro ventrículos: dois ventrículos laterais, o terceiro
ventrículo e o quarto ventrículo. Os ventrículos laterais comunicam com o terceiro ventrículo através dos
buracos de Monro e o terceiro ventrículo comunica com o IV ventrículo através do aqueduto de Silvius. À
esquerda está representado o sistema ventricular visto lateralmente e à direita visto de cima.
Fig. 7 – O tronco cerebral situa-se entre os hemisférios cerebrais e a medula. É formado pelos pedúnculos
cerebrais, protuberância e bulbo raquidiano. À esquerda está representado em secções com os núcleos e
feixes nervosos. À direita vê-se as faces anterior e lateral esquerda do tronco cerebral.
3.5. Cerebelo
O cerebelo fica na parte posterior do encéfalo atrás do tronco cerebral. Os
pedúnculos cerebelosos, em número de três, de cada lado ligam o cerebelo
ao tronco cerebral. Os pedúnculos cerebelosos superiores ligam o
cerebelo aos pedúnculos cerebrais, os pedúnculos cerebelosos médios
ligam à protuberância e os pedúnculos cerebelosos inferiores ligam ao
bulbo raquidiano. O IV ventrículo situa-se entre o tronco cerebral e o
cerebelo. O cerebelo é formado por dois hemisférios que se encontram
unidos na linha média pelo vérmis. Tal como nos hemisférios cerebrais a
superfície dos hemisférios cerebelosos é pregueada. O cerebelo pode ser
dividido em lobo floco-nodular que é o mais antigo sob o ponto de vista
66
Fig. 8 – O cerebelo apresenta dois hemisférios que se unem na linha média, pelo vérmis. Está ligado ao
tronco cerebral através de três pares de pedúnculos. À esquerda está representado o cerebelo visto
posteriormente e à direita visto pelo lado esquerdo.
Fig. 9 – Duas secções da medula. A da esquerda representa uma raiz sensitiva a caminhar pelas vias da
sensibilidade posteriores. A figura da direita representa uma raiz motora que provem das vias motoras.
3.6 Vascularização
Embora o encéfalo represente apenas 2% do peso do corpo humano recebe
cerca de 20% do volume sanguíneo bombeado pelo coração. A interrupção
da circulação sanguínea encefálica durante alguns segundos pode deixar a
pessoa inconsciente. Uma interrupção durante mais de cinco minutos pode
causar danos irreversíveis. Certas situações como a hipotermia podem
permitir que o cérebro resista durante mais tempo à falta de sangue.
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Fig. 10 – Ramos da artéria carótida interna representados em perfil à esquerda e de frente à direita.
Fig. 11 – Irrigação cerebral. A artéria cerebral anterior irriga a porção interna dos lobos frontal e parietal.
A artéria cerebral média irriga a porção externa dos lobos frontal, parietal e temporal. A artéria
cerebral posterior irriga o lobo occipital e a porção posterior do lobo temporal.
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Fig. 13 – As artérias comunicantes posteriores estabelecem a ligação entre o sistema carotídeo e basilar.
O polígno de Willis é formado pela artéria comunicante anterior, artérias cerebrais anteriores, artérias
comunicantes posteriores e artérias cerebrais posteriores.
O polígno de Willis apresenta sete lados sendo formado da frente para trás
pela artéria comunicante anterior, artérias cerebrais anteriores, artérias
comunicantes posteriores e artérias cerebrais posteriores. Este polígono tem
a possibilidade de manter a circulação cerebral no caso da oclusão de uma
das artérias principais.
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Drenagem venosa
As veias cerebrais superficiais drenam para o seio longitudinal superior
que corre entre os dois hemisférios cerebrais. O seio longitudinal superior
divide-se, na região occipital, nos seios transversos direito e esquerdo que
passam entre o hemisfério cerebral e o cerebelo (Fig. 14). A junção entre o
seio longitudinal superior e os seios transversos chama-se lagar de Herófilo
e recebe também o seio recto com a drenagem profunda do cérebro. Os
seios transversos abrem-se nas veias jugulares através dos seios
sigmóides. As veias jugulares passam no pescoço junto das artérias
carótidas.
Fig. 14 – A drenagem venosa cerebral. Os seios venosos recebem as veias encefálicas e drenam para as
veias jugulares.
Fig. 15 – Sistema nervoso autónomo. À esquerda está representado o sistema nervoso simpático e à
direita o sistema nervoso parassimpático.
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83
Sumário
1. Sistema sensorial somático
2. Receptores
3. Nervos periféricos
4. Vias da sensibilidade
5. Dor
6. Placebo
2. Receptores
3. Nervos periféricos
A informação captada pelos receptores é transportada pelos nervos raquidianos que
contêm fibras nervosas sensoriais e motoras. O nervo periférico está ligado à medula
através das raízes. A raiz anterior ou motora e raiz posterior ou sensitiva. Os neurónios
motores têm o corpo celular no interior da medula espinhal a nível do corno anterior.
Pelo contrário os neurónios sensitivos têm o corpo celular fora da medula espinhal, no
gânglio que é uma dilatação da raiz posterior. Os neurónios que conduzem a informação
sensitiva podem ter diâmetros diferentes e ser ou não mielinizados. As fibras C não são
mielinizadas e transportam a informação de dor e temperatura. As fibras Aδ são
mielinizadas e transportam informação referente a dor e temperatura. As sensações de
tacto são transmitidas pelas fibras Aβ. Quanto ao diâmetro as fibras C são as mais finas
0,2 a 1,5 μm, seguido das Aδ com 1 a 5 μm e por fim as Aβ com 6 a 12 μm (Tabela -1).
Cada uma das raízes sensitivas está ligada a um nervo raquidiano que por sua vez é
responsável pela sensibilidade num determinado território cutâneo a que se chama
dermatoma. O conhecimento destes territórios é fundamental para perceber qual o nível
de uma lesão medular. (Fig. 2).
Fig. 2 – À esquerda estão representados os territórios cutâneos (dermatomas) que correspondem a cada
nervo raquidiano. Os mamilos situam-se no dermatoma do 5º nervo dorsal. No caso de uma lesão medular
a nível da quinta vértebra dorsal pode haver uma perda de todas as sensibilidades abaixo dos mamilos.
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4. Vias da sensibilidade
A informação sensorial atinge o córtex na área sensitiva que fica na região anterior do
córtex parietal atrás do sulco central. A distribuição das várias zonas sensitivas é
semelhante à do córtex motor que se situa à frente do sulco central (Fig. 3). Existem
duas vias principais que conduzem a informação sensorial até à área sensitiva que fica
na região anterior do córtex parietal: feixe dos cordões posteriores e feixe espino-
talâmico. Estas duas vias passam no tálamo e cruzam a linha média a níveis diferentes.
Fig. 3 – O córtex sensitivo situa-se atrás do sulco central e na porção anterior do lobo parietal. Cada
região do córtex recebe informação sensitiva de uma zona do corpo. A distribuição das diferentes zonas é
semelhante à do córtex motor.
Fig. 4 – O feixe dos cordões posteriores transmite as informações proprioceptivas, tácteis e vibratórias.
Cruza a linha média no tronco cerebral.
Fig. 5 – O feixe espino-talâmico transmite as informações da dor e temperatura. Cruza a linha média na
medula.
Uma lesão da medula que envolva a via espino-talâmica leva a uma perda contralateral
da sensação dolorosa e térmica abaixo do nível da lesão.
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Fig. 6 – Representação conjunta do feixe espino-talamico e feixe dos cordões posteriores. Ambos passam
no tálamo e atingem o córtex sensitivo na região parietal anterior do lado contrário ao que entraram na
medula.
5. Dor
A dor fantasma surgem em cerca de 10% das amputações. O doente refere dor numa
parte do membro que foi amputado. Pode dever-se a uma reacção a nível do nervo
seccionado que é interpretada pelo cérebro como um processo doloroso.
6. Placebo
O placebo é uma substância sem acção farmacológica. É usado para o doente pensar que
está a tomar um medicamento real. Emprega-se em ensaios clínicos para testar a
eficácia de um medicamento novo. Após consentimento os doentes são divididos em
dois grupos, um que toma o placebo e outro que toma o medicamento real. Se os
resultados forem semelhantes significa que o medicamento não é eficaz.
Sabe-se que o placebo pode levar à libertação de mediadores cerebrais que combatem a
dor. O doente ao pensar que está a tomar um medicamento analgésico acaba por levar o
seu cérebro a produzir substâncias que combatem a dor.