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Capítulo 2

Bacia Hidrográfica

2. BACIA HIDROGRÁFICA

2.1 Definição
É uma área delimitada topograficamente, drenada por um curso d’água ou um sistema conectado
de cursos d’água, tal que toda vazão efluente seja descarregada através de uma única saída
chamada de seção de controle. (VAZÃO EFLUENTE = lâmina de água que eflui, (sai) através de
uma determinada seção de um curso d’água na unidade de tempo).

Figura 1 – Bacia hidrográfica

2.2 Divisor de águas da bacia hidrográfica


A bacia hidrográfica é necessariamente contornada por um divisor de águas, assim designado por
ser a linha de separação que divide as precipitações que caem em bacias vizinhas e que
encaminha o escoamento superficial resultante para um ou outro sistema fluvial.

Figura 2 - Divisor de águas (fonte: DAE)


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O divisor segue uma linha rígida em torno da bacia, atravessando o curso d’água somente no
ponto de saída ou seção de controle. O divisor une os pontos de máxima cota entre bacias, o que
não impede que no interior de uma bacia existam picos isolados com cota superior a qualquer
ponto do divisor. De acordo com a Figura 3 pode-se notar que uma bacia principal pode conter
uma ou mais sub-bacias no seu interior.

Divisor de águas

Divisor de
águas

Divisor de
seção de
Sub- controle
bacia

guas Sub-bacia

Divisor de Sub-
águas bacia

Divisor de Sub-
águas bacia

Divisor de Sub-
saída da bacia ou
seção de seção de controle
bacia
controle
Sub-
Figura 3
guas - Representação esquemática de uma bacia hidrográfica
bacia
Na realidade, os terrenos de uma bacia são delimitados por dois tipos de divisores de água: um
divisor topográfico ouDivisor de e um divisor freático ou subterrâneo. O divisor
superficial Sub-topográfico é
águas
condicionado pela topografia, determinando, portanto a área da qual provém bacia
o escoamento
superficial da bacia. O divisor de águas freático é, em geral, determinado pela estrutura geológica
Divisor
dos terrenos, e portanto de
estabelece Sub- de onde é
os limites dos reservatórios de água subterrânea
derivado o escoamento águas
subterrâneo ou básico da bacia. bacia
As áreas demarcadasDivisor
por essesde divisores dificilmente coincidem exatamente. Devido
Sub- à dificuldade
de se determinar precisamente
seção o divisor
de freático, uma vez que ele não é fixo, mudando
bacia de posição
com as flutuações do lençol
controle freático, costuma-se considerar que a área da bacia hidrográfica é
aquela determinada pelo divisor topográfico.
guas
2.2.1 Normas práticas para o traçado dos divisores de uma bacia hidrográfica
Para delimitar a áreaDivisor
de uma baciade hidrográfica é necessário determinar os divisores topográficos
da mesma. Para tanto águas
se utiliza a carta topográfica da região, em uma escala conveniente e com
uma boa densidade de curvas de nível. Quanto menor a área da bacia em estudo menor deverá
Divisor
ser a escala das cartas de
utilizadas.
águas

Tabela 1 - Divisor de
Escalas recomendadas em função da área da bacia (HERAS, 19 )
seção de
controle Área da bacia (Km²) Escala da carta
A  100 1: 5000
guas 100  A  1000 1: 10000
1000  A  5000 1: 25000
Divisor de  A  10000
5000 1: 50000
águas 10000  A  25000 1: 100000
A > 25000 1: 200000
Divisor de
águas
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Divisor de
seção de
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O primeiro procedimento a ser tomado, a fim de facilitar a visualização da bacia, é fazer o


“esqueleteamento” da carta da região em estudo (Figura 4). Isto é, deve-se evidenciar o sistema
de drenagem através, por exemplo, do uso de canetas coloridas, assinalando, com setas, o
sentido do escoamento e os pontos de maior cota. A seguir são indicadas algumas normas
práticas para facilitar o traçado dos divisores da bacia.
 o divisor corta ortogonalmente as curvas de nível;
 quando o divisor aumenta sua altitude corta as curvas de nível pela sua parte convexa ;
 quando o divisor diminui sua altitude corta as curvas de nível pela sua parte côncava;
 quando um rio (ou talvegue) aumenta sua altitude corta as curvas de nível pela sua parte
côncava;
 quando um rio (ou talvegue) diminui sua altitude corta as curvas de nível pela sua parte
convexa;
 a água escoa pelo terreno seguindo direções normais às curvas de nível (linhas de máxima
declividade). É conveniente abusar do uso de setas indicativas desse fato;
 a linha do divisor NUNCA deve cortar um curso d’água (ou um talvegue), a não ser no ponto
de saída ou seção de controle da bacia da qual procura-se o divisor;
 de modo geral o divisor une os pontos de maior altitude entre bacias vizinhas, mas poderão
existir dentro dessas bacias pontos isolados com altitudes superiores;
 de modo geral, quando entre dois cursos d’água não houver suficiente densidade de curvas de
nível, o divisor pode ser mantido eqüidistante desses cursos d’água. Outra opção é manter a
direção geral do divisor, isto é, sem provocar mudanças bruscas na direção do mesmo;
 a menor altitude do divisor deverá localizar-se SEMPRE na seção de controle da bacia
hidrográfica procurada. Caso contrário, um erro grosseiro foi cometido na sua determinação.

Figura 4 – Destaque da rede de drenagem e dos pontos altos e cotados e (fonte: USP)

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Figura 5 - Destaque da rede de drenagem e união dos pontos altos e cotados. (fonte: USP)

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Figura 6 – Traçado da linha divisória da bacia hidrográfica (fonte: USP)

EXERCÍCIOS
Determinar a bacia hidrográfica do Arroio Barreiros, situado no município de Aratinga (SC). Escala
da carta: 1:50000

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2.3 Características Físicas da Bacia Hidrográfica


As características físicas de uma bacia são elementos de grande importância em seu
comportamento hidrológico. Existe uma estreita correspondência entre o regime hidrológico e
estes elementos sendo, portanto, de grande utilidade prática o conhecimento dos mesmos, pois,
ao se estabelecer relações e comparações entre eles e dados hidrológicos semelhantes, pode-se
determinar indiretamente os valores hidrológicos em seções ou locais de interesse nos quais
faltem dados ou em regiões onde, devido a fatores de ordem física ou econômica, não seja
possível a instalação de estações hidrométricas.
As principais características físicas de uma bacia hidrográfica são às seguintes: área de
drenagem, forma da bacia, sistema de drenagem, relevo da bacia, tipo de solo, tipo de cobertura
vegetal e tipo de manejo. Algumas dessas características podem ser consideradas permanentes
ou invariáveis no tempo e outras francamente variáveis, especialmente quando ocorrem
processos de urbanização na bacia.
O parâmetro hidrológico mais importante relacionado com vários aspectos morfológicos e físicos
da bacia é o tempo de concentração, definido como o tempo que leva o escoamento superficial
gerado no ponto mais afastado da seção de controle da bacia, para chegar até a mesma. Este
conceito será abordado novamente no capítulo referente ao escoamento superficial, dada sua
importância na gênese de ondas de cheia.

2.3.1 Área de drenagem da bacia hidrográfica


A área de drenagem de uma bacia é a área plana (projeção horizontal) inclusa entre seus
divisores topográficos. A área de uma bacia pode ser calculada por vários métodos, tais como:
planimetria, geometria plana, pesagem e integração por computador.
Planimetria: utiliza um aparelho chamado planímetro, que passa sobre os limites ou divisor de
águas da bacia, que já se encontram delimitados na carta topográfica (item 2.3). O aparelho vai
integrando a área e após percorrer todo o contorno já nos dá a leitura direta da área.
Geometria plana: inclui-se a bacia em uma poligonal fechada e depois se faz a divisão em
polígonos menores, na maioria das vezes triângulos, e calcula-se a área de cada um. Somam-se
suas áreas e obtém-se a da bacia.
Pesagem: é um processo bastante rápido, mas para sua execução existem papéis especiais, que
precisam ser bastante homogêneos para se obter certa precisão. O método consiste na pesagem
do papel onde está representada a bacia e cálculo da área do papel. Depois se recorta a bacia e
pesa-se novamente. Por regra de três chega-se à área da bacia.
Integração por computador: são os métodos mais modernos, consistindo em mesas especiais
onde se coloca a folha com a representação em escala da bacia, e passa-se sobre o contorno
desta um aparelho chamado digitalizador. O computador recebe as coordenadas, calcula a área e
ainda fornece um mapa no vídeo.

2.3.2 Comprimento dos cursos d’água


Para se determinar o comprimento dos cursos d’água da bacia hidrográfica pode-se utilizar os
seguintes métodos:
Curvímetro: é um aparelho que se passa sobre a linha que representa o rio na carta topográfica
que contem a bacia em estudo. Este aparelho nos dá a leitura direta do comprimento do rio.
Escala: pode-se medir o rio através de uma régua, utilizando-se a mesma escala que a da carta,
medindo-se pequenos trechos retos e somando-os.
Cordão: pode-se também utilizar um cordão sobre o rio e depois medi-lo com a escala adequada.

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2.3.3 Declividade média do curso d’água


Como a declividade é uma característica física muito importante da bacia, pois tem grande
influência no escoamento superficial e conseqüentemente no dimensionamento de obras
hidráulicas, é necessário traçar o perfil longitudinal do rio principal (Figura 7 e Figura 10) para
poder estimar, com maior segurança, sua declividade média (Figura 11 e Figura 12).

Figura 7 - Perfil longitudinal do rio principal ou talvegue (fonte: DAE)

Obtém-se a declividade de um curso d’água, entre dois pontos, dividindo-se a diferença de nível
pelo comprimento do curso d’água entre esses dois pontos (Figura 11).

(eq. 1)

O procedimento utilizando a cota da cabeceira e a da seção de controle do rio só deve ser usado
quando as diferenças de declividade dos trechos superiores e inferiores não forem muito
acentuadas. Obtém-se um valor mais representativo e racional traçando-se todo o perfil
longitudinal do curso d’água e sobre o mesmo uma reta que faça uma compensação de áreas
(Figura 12).

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Figura 8 - Destaque do rio principal e pontos de cruzamento das curvas de nível (20m) com o
curso d’água (fonte: USP)

Figura 9 – Detalhe da nascente do rio principal (fonte: USP)

Perfil Longitudinal
Cota (m)

Ribeirão Santo Antônio - (Caconde)

1260

1160

1060

960

860
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Distância ( km)

Figura 10 – Perfil longitudinal do rio principal (fonte: USP)

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Cota (m) Perfil Longitudinal


Ribeirão Santo Antônio - ( Caconde )

1260

1160 S1

1060

960

860
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Distância ( km)

Figura 11 – Declividade calculada através da equação 1(fonte: USP)

Perfil Longitudinal
Cota (m)

Ribeirão Santo Antônio - ( Caconde )

1260

1160
S2

1060

960

860
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Distância ( km)

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Figura 12 - Declividade calculada através da reta com compensação de área (fonte: USP)

Perfil Longitudinal
Cota (m)

Ribeirão Santo Antônio - ( Caconde )

1260
S1= 55 m/km S2= 47 m/km
1160

1060

960

860
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Distância ( km)

Figura 13 - Comparação entre os dois métodos (fonte: USP)

IMPORTANTE: Na maioria dos casos, quando se trabalha em pequenas bacias hidrográficas, as


mesmas não possuem todos os dados hidrológicos necessários. Nestas circunstâncias, é comum
a utilização de dados de bacias vizinhas que possuam características físicas e climáticas
semelhantes. Portanto é fundamental que se tenha o “perfil” completo da bacia. Nestas notas de
aula não foram abordados todas as características da bacia e os métodos utilizados para
determiná-las.

É ACONSELHÁVEL LER O CAPÍTULO 2 - BACIA HIDROGRÁFICA - DO LIVRO “HIDROLOGIA


APLICADA” DE VILLELA E MATTOS.

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