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Colecsio: VIATOR Direegfo: Prof. Doutor Aires A. Nascimenta Livros publicados: 1 Cister: os documentos primitivos ‘Tradusio, introdugées ¢ comentério de Aires A. Nascimento 2~ Ante de Trovar do Cancineiro da Bibliowca Nacional de Lisboa Introdugdo, edicdo critica e fac-simile por Giuseppe Tavani Gfuseppe Tavani Arte de Trovar do Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa Introdugio, Edigdo critica ¢ Pac-simile Edigdes Colibri Biblioteca Nacional - Catalogacav na Publicugao ‘Arte de trovar do Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa /introd,, ed. entiea € fuc-simile Giuseppe “Tavani, — (Viator ;2) ISBN 972-772-0994 1—Tavani, Giuseppe, 1924 CU 821.1343: 1309 "Titulo: Arte de Trovar do Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa Introduglo, edigdo critica efoe-shile por Giuseppe Tavani [Etor. Femando Mio de Ferro Design da capa: Ricardo Moita Thstrago da capa: Representago das diversas artes; & cesquerda: copista, relojoeiro, armeiro; ao centro: cozinhei- 10; drei: pintor, escultor, organeiro. (ms. Modena, Bibl Estense, lat 209, , 11 — De Sphaera). Depésito legal: 142-2059 ‘Tiragem: | 000 exemplares ‘Com o patroeinio do Instituto Portugués do Livro e das Bibliotecas Lisboa, Setembro de 1999 INDICE ‘A. poética do cancioneiro da Biblioteca Nacional ¢ as artes de trovar catulis ¢ provengais do século XII € do inicio do XIV Apéndice Fac-sfmile do manuscrito (a partir de fotografias do Ms. Colocci-Brancuti realizadas na Biblioteca Nacional de Roma). Ante de trovar do cancioneiro da Biblioteca Nacional. 33 i jo ‘ NACIONAL EAS PROVENGAIS DO © estudly das artes poéticas implica necessariamente, sobretuido no caso da poesia lirica vulgar dos primeiros séculos, a anilise paralela dos respectivos géneros lit Com efeito, tuma arte poética medieval tem por principal objectivo 0 de con- wr 0 horizonte de espera que © potencial fruider conheee pela requentagio dos textos anteriores: por oulras pakavras, © de por orclem no caos magmiiico das origens, através da deseti «dio e classificagio dos textos que entretanto se foram produzin- doe distribuindo espe mente em grupos, ainda fuislos, constituidas ao redor de alguns “textos-guia” (ou textos-funda- ), ou enliio organizados segundo pardmetros categorjais pertencentes iiewlua ckissica © aproveitados, embora com alt ustes indisper nas reser ws eolsgieas © com os pélas hovas concepgbes culturais do cristianismo. Portanto, a primeira fungi de uma arte poética ser a de x, do compas textual ao quatl se refere, os elementos — tem ticos, retéricas, lexicais, sintagmiticos, eventualmente métrico. ext LIU. R dats, Litérature mde er théoie des genes, in "Postique”, 1.1970, pp-85N6, Vi. tambsm G. Gonlroy. Les genres Isriques accitans les tnaites le potques de ka clasfcaton mdigvale ta sspolegie Inoneane, in sees du XVille Congres Imerteional de Lingwistque et de Philolagie Romane, VI ibingen WSK, pp 121-138, ‘ Giuseppe Tavani -ritmicos e sobretudo tépicos — que podem contribuir para a for- mulagio, ou levar & aceitagio condicional, de um determinado paradigma categoria, classificando-os ma base da stta maior ou ‘menor pertinéncia diferencial com respeito ao conjunto do cor- pus ¢ a cada uma das suas partes. Umi atte postica evidenciars (8 elementos “mareados” de cada texto, quer dizer, dest presenga de tragos caracterizantes (Lematicos,ret6ricos, ele.) que esse texto partilha com outros (principio de afinidade) © que © distinguem dos demais (principio de divergéncia), assim como salientard — mas no necessariamente — a ausEncia de tragos tipi cos que so préprios de outros conjuntos textuais. Ao mesmo tempo, deixar de lado os elementos niio-marcados, isto &, 0s ‘elementos que pertencem ao plano denotativo, ¢ os outros que, cembora conotados literariamente, 0 sio duma muncira genérica cu abstract, ignorando obviamente também os tragos que tipifi- ‘cam diferentes constelagies literrias |A segunula fangio de uma ante poética serd a de formular, ‘com os materiais caracterizantes assim evidenciados, a estrutura paradigmética distintiva de cada grupo de textos, definindo de tal ‘maneira a estrutura de um “género” literério, cuja drea eoincidira evidentemente com o grupo de textos seleccionados. Pode acon- lecer que © pavadigna assim claborado preveja segmentays internas, devido & intervengo de varidveis que podem mesmo articular-se em “subparadigmas”, correspondentes a subgén ‘onde essas varidveis so em geral allernativas, no combin rias, E nfo faltardo casos em que um destes subgénevos, de corresponder a. um grupo de textos, coincide com um tinico texto. Um exemplo conereto desta ditima possibilidade & ofen ido pelo descordo plurilingue de Raimbaut de Vaquciras. Nas tiés redacgbes das Levs d‘Amors, publicadas por Guillem Mo Arte de Trovar ’ ier — primeira entre 1328 e 1337, a segunda (em verso) enlte 1337 e 1343, aterceira cm 1356 ~ a propria defnigdo do ro" “descono™ parece inpirada diretamente pela famosa com: psig lirica de Raimbaut. A primeira redaego assim define as as eonstanles tipolgicas do objecto “descordo™ Deswortz es dictatz mot dive coblas coma vers: sos assaber dev. a x. Las quals coblas devon esser singulars, dezacordablas ¢ varablas en acort en so et en lengatges. E devon essertotas d'un compas 0 de divers, ¢ deu tractar d'amors 0 de lauzors © per maniera de rancura ~ “quar midons no mi ama ayssi ‘cum sol” 9 de tt aysso esses? © pot haver ay lantas Estas regras, com efeilo, repetem palavra por palavra 0 texto da primeira cobra do descordo de Raitmbaut, 0 nico “de cort” provengal onde a discordincia, que pretende representa al “quar midons no mi cancun” do poeta e a sua confusio mer ama ayssi cum sol”, afecta no apenas a forma métrica ¢ a melo- dia como também a expresso linguistica: Arno, Las 2 feta em Las Leys "Anos, Primera Pars ee Gi lors del Gay Saber, esier dichas Las Leys d’Amors, 3 vols, Pats: “Toulouse 184-1843, 1,342. °O descorda & uma composi muito vara da, e pone (cr tatas Cobras quantos veros tem feada uma ds cobras | Sahat de einen a des, E estas cobras devem ser singulares,disonantes © diferentes pela rina, pela melodia © pels linguas. E ‘mesina ou uma divers Forma métrica, ¢ [a composiglo] deve ‘ou de huvores ou se feta de maneira a expressar rancor ~ por a cam saa — of de tudo fst junto”. O texto das senor tts elas en Joseph Aula, Lars Flor et Ga Ser, Ba 1926 (relays em vero; Las Leys d’Amors, Manuserit de Teale dds Jue Elon, publi pa Joph Angle, 3 vols. Toulouse 1919. 10 Giuseppe Tavani _vuelh un descort comensar amor, per qu'iew vaue aratges: 4qu’una dona-m sol amar, ‘mas camjateI'es sos coratges, per qu’ieu faue desacordar los motz es sos els lengaiges® Raimbaut, como se sabe, uiliza neste texto cinco Hingutss, uma por cada cobra: por ordem, provengal, italiano, francés, ga <0 © galego-portugués; portant, cinco cobras, € todas singula- res, desacordadas e variiveis em rima, em lingua € muito provit- -velmente (pois o afirma 0 proprio autor, embora o texto aparega nos eédices sem notado) em melodia: uma combinagao da qual 1 texto rambaldiano oferece o tnico exemple na poesia dos tro- vadores, Por sua vez, a tornada repete em dez versos (dois por ‘eada uma das Jinguas empregadas nas cobras) a mestna sequén- cia, endo esta também uma estrutura nica na histéria da poesia dos trovadores, uma estrutura que nenhum outro poeta provengal Jintentou reproduzir, nem sequer parcialmente. E as Leys, mais ‘uma vez na base deste nico exemplo, preceituam Quis vol e qui volra far tormada, segua lx manier dessus dicha, cam tractem de vers. En la qual tomada dew hom trata ~ quis vol ~ de totz los Fengaiges los qual: dessus ha pawzatz,aysst ab 3.€L.G. Tava, Peril testo del eliscondo pling di Raimbau de Vagus (PC. 392.4), em Studi Francesi e Provencal 84/85 ("Romavica Vulva. (Quads 897), pp, 117-147 [ 40". quoro comegar um descordo de amex, por que vou exiravid: pois una senor me aa, ‘por isso fag desacon as palaras, 35 melodic lo sou corn, 4 Texto om “Las Leys D’Amors. Prinira Par": ed ein Gatien-Ammoult, Las Jlrs det Gay Saber, ester dichas Las Leys d'Amuors cit, 1.342: "Quem Arte de Trovar “ E evideme que esta mindcia, mavifedada — aliés — por Guillen Motinier a0 Tongo de todo o seu tratado, tnha uma finalidade didascilica beéh pre centuaida do que cin qualquer outa ante postica, Isto expicao cuidado de exact- dels set a, muito ma Go do chanceler perpétuo da “Sobregaya Companhis ngdes dos ant trobadors de Thotosa”, caja obra — nats int dors” — devia propor-se como finalidade ditar as regr quais haviam de conformar-se os aspirantes poelas, € que por tanto devia prever todas as eventualidades, antecipar todas as dificuldades, eanalizar todas as pretenses dos partici Tides poéticas organizadas pela Companhia tolosana: € tudo iste nna base © em nome duma tradigio poética rovadoresea que ‘com as controlo suspicaz da inquisigo obrigava porém a tenyperar em sentido aeentuadamente religioso, Uma preacupagii ~ a de Gui Tem Molinier — que aparece no menos praticada nas outras dus redacgdes das Leys, a segunda ~ como vimos ~ inteiramente em vyersos € a terceira em prosa € verso: em ambas, a orientagio didictiea prevalece, niio menos que na primeira, sobre o interes- se descritivo e classificatério; melhor ainda, este interesse ~ que também esti presente nas Leys ~ aparece subordinado e em fun- ‘qo das preocupagbes didascilieas ‘ f pom preciso siientar que a fun embora nio tio acentuada ¢ excrupulosamente aplicada como nay Lexy d'Amors ~ prevalece cm qualquer das antes post vulgares da dade Média. A propria Poetic fragmentiria do CCancioneiro da Biblioteca Nacional tem de facto uma final muito mais prética do que teérica, como bem sabe quem te oportunidade de a examinar, Aqui também, a definigio dos guise Far torn, siga a regra que disseinos acim, quando fans de "wer", Nesta torada deve usa ~ quem quer ~ todas a Hogs ly anes, a esa dem em que a lion! “que qe rope Tavaui géneros © subgéneras, ay nonmas mt obedecem a exigéncias puramente dike respeito das Leys d'Amors, que o didacticismo activo destas apa rece substituido por um didacticismo passivo. Enquanto as Leys provengais se propdem ensinar como se consti uma poesia de ‘cunho trovadotesco, © portanto se dirigem Aqueles que preten- dem aprender a fazer poesia, a Poética portuguesa quer apenas ajudar o leitor a reconhecer, nos textos elaborados pelos poets antigos, as formas e as modilidades temiticas, méticas, t6picas que caracterizam os diferentes conjuntos textual ‘Mas a Poética do Cancioneiro da Biblioteca Nacional, rein por isso renuncia a miniivia clasificatoria que divisamos no tratado de Guillem Molinie. Baste citar a cinco Tinhis que res- tam do capitulo viii, de dificil leitura pelo mau estado do manus: crito, mas onde se consegue ler pelo menos que “Outrossi outrss ccantigas fazem os trobadores a que chamam de vilos”. Na {quarta Tinha deste capitulo ainda & possivel enxergar uma defi- nigdo negativa do género: “[Estas cantigas..] nam son per al tro bas, perque as non..."; seguem algumas letras que talvez se possam interpretar como “escamiom”, mas que também, menos provavelmente, se possam ler “escrevem’*, De qualquer maneira e seja qual for a Ieitura exacta deste breve capitulo, o que interes sa agora é salientar que © andnimo autor quis introduzir aqui is TeER coma diferenga, 5 Concorde nisto com o que sfima J. M. D’Heur na sua eligi da Podtica (€C L’Art de trove ea chansonnier Colocci rancat. Eto et ancse, fs “Arquivos do Centro Cultural Poruguts”, IX, 1975, pp. 321-398 (340) "Ce n'est un owvrage destng & insraction des furs troubadours, mais phot fe guide format? de Vomateur de chansons, propre comnne tel intoduie le letour dons ke magnifique neue qi viet dosti A transesign que dest Hinks sk J. M, Hear su elig da Posts rio parece acctével: “nd sson per al err dis lor que ay ni seat m9 [lef Arde ower «ct p. 335. Arte de Trovar B se fz apenas alusdio nas das rubs smvente, seguem a cantiga de Joao, de que precede Gaia Vosso pai na rua: a primeira delas informa de vito Dirt ean a tore baila corpo a roles: Vedes 0 cos, ay, cavaleiro’. en outra sta cantiga seguiu Jodo de Gaia per'aqueta de cima dle vilios que diz, a ream, “Vedes lo cos, ay cavaleiro" feze-a a un vildo...ete no Guillem Molinier define © des ‘embora variiveis ~ tiradas esta maneira, engu conto atribuindo-the caracteristicas principaliente de um s6 texto (aliés muito conhecido, presente no corpus, e assinado por um dos maiores trovadores proven- {ais}, 0 andnimo autor da Poética portuguesa leva a sua Ansia 1B 298 v8 (@P 1433), Vs E169 v-1T0 e* (Monaciw? 1043), G. Taba Reperiornmctco dela trea galego ponahese, Rome 1967 [Tail 667. 8 A resuigdo destes vervs apresenta algumas difialdades: sabretuto 2 ‘ikima paws da segunda linha que em B ¢ “probe” e en V “piobo" (Chin em Monaci constitu umn serdadcto enigma. que os eis pr “covanen em vo resolver. A minha propos de Iitura proxede da consid raga que deve taiar-se do compo de um enforcado, que ~ suspenso no ar — gevidentementevoas soe #1 est nos dcionriosgalegos encontra rok no seid das tombe, dando volts, rokamks’. O expe Jsticnispaleoee ie apres iin, pois a conus ene «| 1 hs, as desce din a it fren ws pais italian, quanto a confiado enire "lo" 6b" nite "5" baie 00" “ Giuseppe Tavani classificatéria alé © ponto de criar, ou pelo menos demarcar géneto (ou se quisermos, 0 subgénero) cit cantiga ke vile én absentia, isto 6, apesar de no haver sequer win exemplar deste tipo de composigio nos cancioneitos galego-portugueses, onde, como vimos, tudo se resolve na citago de dois versos de uma antiga no bem identificada embora presumivelmente bem ‘conhecida na época ~ da qual Joao de Gaia aproveitou o reftao para a sua cantiga: esta, aids, nfo & “de vildo”, mas “de seguir”, ‘como se depreende da segunda das rubricas alegadas (“Esta can- tiga seguiu Jodi de Gaia per’aquela de cima... A cantiga de seguir — classificivel como urna modilidade anémala do “contrafactum’” ~ € outro exemplo do cuidado com que 0 aulor da Poética inventariou © corpus litico galego-portu- gués, e ao mesmo tempo do desequilibrio que caracteriza a obra dele. Com efeito, a este “género” — sem divida um géncro menor dedicado 0 mesmo espago concedido globalmente i cantiga de escamho, a cantiga de maldizer € & tengo, embo nciros os textos qualificados, nas rubricas, de “cantiga de segu sejam apenas dois ou tr€s, € 08 outros varias centenas. E que © niimero das cantigas de seguir transmitidas pelos cancioneiros seja tio reduzido € incontestavel, no obstante os esforgos feitos pa dilatélo: 0 proprio Wilton Cardoso teve de reconhecer ‘Seja como for, salvo engano que de nenhum modo projudicars « afirmativa, s6 duas ou, quando nuito, tts ccantigas do acervo trovadoresco galego-portugucs, que cconsta de pouco mais de um miheiro e meio de poemas profanos, fazem referéncia ao género, ¢ isso em excep- cionais rubricas de um conjunto de poemas satfricos, cujo valor, longe de atenua-se, se intensities? 9-W, Condoso, Du cantiga de seguir no cancioncira peninsular da Ke ‘Média, Bolo Horizonte 1977, p. 82. Ante de Trova 1s ois ou, quando muito, 18s so portunto os textos identiti civeis como cantigas degeguir: o jf citado Vosso pat wa rua de Joo de Gaia, 0 escamho do mesmo trovador prelado a jatar, se bem me venha'® (que “foi seguida per da bailada que diz: Vis avede-tos othos verdes \ € matar-m'edes © Quen oj'ouvesse" que Lopo Lins “Fez a son fu descor”, As tentativas levadas a cabo “com o fim de caracterizar ‘0 mesmo processo ou sua diversa aplicagio em composigées conde nao se faz mengo expressa do fendmeno” conduziram Wilton Cardoso por sendas arriseadas, sugerindo-Ihe “ativar © plano das rigidas averiguagGes documentirias com 0 sopro de alguma imaginagio... cientifica”, isto &, identificar como cantiga de seguir qualquer texto onde aparegam niotives, por assim Fw convided wn com eles’ dizer, “tralicionais”: e, sondo assim, o perigo de eair em gener: lizagoes improprias torna-se inevitivel. Parece portanto mais aconselhavel cingir-se rigorosamente ao plano document evitando quer a api textos no explicitamente indica quer abibuir aos acidentes da tradigo manusctita a per Jimetros apontados na Pactica it tiga de seguir de ‘outros exemiplos do. género; por conseguinte, a conjeciura nfais econsinica, no caso da cantiga de seguir, seria a de reconhcper a Padtica orgaiizou o seu discurso tendo em que o autor apenas 08 Us textos recolhiddos nos cancioneiros. Atel para delimitar € descrever minuciosamente as particukaridades de géneros © subgénerox pouco ou nda repre: sentados no conjunto xual, vai de par com a propesdo part abreviar ou sintetizar a exposigio relativa a outros géneros, vimos que na Poética portugues 0 1113026" E4829, VE 1730 eAMnac 0? 1062) Tava 66 suai 87.16, 11289 v2 C8" HIS), VES (Mani 963, 6 Ginseppe Tavani de seguiré, de per si, quase tio extenso como o conjunto dos rés cconsagrados a géneros tio habitusis os trovadlores como as ceantigas de escamho e maldizer e as tengBes. O desequilfbrio que esta atitude implica, revela-se na despraporgio entie seegdes reservadas a aspectos marginals, como por exemplo o acordo verbal (primeiro capitulo do titulo quinto), ¢ outras relatives a questdes importantes como a estruturagdo das finds ou das can tigas “ateudas"? Mas se por um lado o tratido portugues ostenta uma meti- culosidade comparivel 2 manifestada pelas Leys d’Amors no que diz respeito 8 definigio de géneros menores pouco ou nada representados nos cuncioneiros, por outro lado exibe uma noti- vel despreocupagio relativamente as distingdes intemas aos géneros maiores. E evidente que a acefalia do manuscrito ¢ a consequente falta dos capitulos relatives & cantiga de amor € 3 antiga de amigo, nos impede de conhecer qual foi a atitude do redactor relativamente aos subgéneros da segunda: por outras palavras, nunca saberemos se ele teve em conta, por exemplo, a Lipologia das pastorelas ou das baadas, que devia ser conside- radas modalidades da cantiga de amigo. Mas podemos veriticar {que entre os outros géneros, & pate as cantigas de escarnho © 3s de maldizer, apenas as tengbes the mereceram con tratado, niio hé qualquer referéncia ao pranto ~ um género com caracteristicas especificas, documentado nos cancioneiros. por cinco composiges, uma delas em morte de Dom Dinis -, nem 12 Cantigas “atchudas isto 6 que apresentam as cobras “igidas® sem inter ‘uo entre uma e ora a3 finda, so aguelas evjadenominay, na base {cna indica do trata inpropriameate intepeca °F tn a cig fai deve de iat finda, eal deve densa € eoacaro entre {oro Jo que ante nom acahou nas cobras": BE), for emendads "afin Arte de Trovar 0 ay sirveutés moral ~ este também exemplificado nos eancione ros por textos ainda mgs mumeresos, nos quals pastas come Martins Moxa, Jodo Gafcia de Guilhade, Airas Nunes e outros de qualquct releréncia especifica a0 partimen, io deixan de ser testenninbo de uma atitude excessivaniente generalizadora: & verdaue que neste caso se trata apenas de modalidades da cantiga de escamho e maldizer ou da tengo, carecidas de individuali- dade formal propria, mas & também inegavel que nos cancionet 10s ndo faltam rubrieas nas quais se salienta a fungo especttica de algurnas cantigns, dedicadas quer a discutir problemas do amor eortés, quer a crticar a técnica poética de outros trovacdores cow a conduta repreensivel de personagens da corte © colejo entre a Podtica do Cancioneiro da Biblioteca a Peninsult nos Nacional ¢ as outras artes poéticas elaboradas primeiros decénios do século XIV, confirma a impressio de superticialidade, e de trabalho feito & pressa, provocada pela let- {ura da primeira, Una superficialidade © uma pressa revels também; pelas palavras com quis 6 aninimo redactor age 0 primeiro capitulo do titulo sexto c altimo: (0s ettos son tantos ~ € de tantas maneiras ~ que os homens podem fazer no trobar, que non posso falar em todos tam compridumente, Pero convem que dos tantos «én d8 alguns! 1 Lain asso a itina fase (m0 {que os ante nae rns") initahesie ena “s” en “Was”. M. Deu (he. i 164) anerpela pole contro, “pte ennurm yur was feral ene alguns” 8 Giuseppe Tavani E logo, depois de falar brevemente do “cagefeton” ¢ das rimas de vogal aberta com vogal fechada, apressa-se a escrever palavra “finis”, dirfamos que com um suspiro de alivio. Dos outros tratados peninsulares compardveis com a Poé: tica do Cancioneiro da Biblioteca Nacional, quer pela brevidade ‘quer pela posigio cronolégica, o que mais se aproxima do texto portugués é 0 pequeno tratado anepigrafo do manuscrito Ripoll 129 do Arquivo da Coroa de Aragio (ff. 25 v°-26 v°), cujo cardcter exclusivamente descritivo sugere uma intengio didasc: Tica passiva andloga & da nossa Arte de Trovar. Mas para além desta afinidade, os dois textos apresentam-se muito diferentes no {que diz respeito 2 estrutura, ao estilo © ao teor das definigdes. © tralado de Ripoll!— escrito na mistura lingusstica de provengal e catalio. que foi ao fongo do século XIV 0 meio expressivo ‘comum a todos os poetas catalies — € mais breve do que o trata~ do portugues: mas a brevidade dele & determinada mais pelo sin- tctismo tipico de um vademecum do que pela superficialidade ou pela softeguidio da escrita. Com efeito, a enunciagio dos tragos tipicos de cada género é répida e essencial, mas ao mesmo tempo completa, ¢ quase sempre integrada ~ € neste ponto o contraste ‘com a Poética portuguesa é considerdvel — pela citagao do pri- meiro verso de uma poesia pertencente ao género enunciado © pelo nome do autor dela. Veja-se, por exemplo, o parigrafo dedi ceado ao sirventés: Sirventesch es semblant en nombre de cobles e de refrayn a la cango, mas la sua materia es de tot go quis potdiro per alscuns afers assanyalats, axi com per host 0 HCE The Razos de trobar of Raimon Vidal and associated texs, edited by 1H, Marshall, London-New York-Toeonto, Oxford University Pres, 1972, pp. 101-105 Arte de Trovar ' per aveniment de rey oper preso d’algun loch, o per cas: fich dalcuna persona o per semblan cosa; axi con es aquel d’En RiomBau de Vaqueres qui div: Es pot bom ves ‘oxi con aquel qui di CComensamy sirventesch ab quem pes, fe molts daltes qui wi ha, B d’aquests. no ne trobat no aguet damon dit d'Ex buna torna!® rncgun qui hai vi cables Rionbaty ots fos alles aan ‘Compare-se com os cupitulos que a Paéticu do Cancionei- ro da Biblioteca Nacional dedica 3s cantigas de escarnho © de maldizer: © tatado cataldo citeunscreve as caracteristi Lipologia do WS no sett sinletismo nio omite © dado ténico do mimero das cobras nem deixa de: lembrar cexcepeiio constituida pelo texio em sete cobras de Raimbatt além disso, cita 0 nome de um dos autores de sirventeses e trans: ‘creve a incipit de duas composigdes, a primeira atribuida ao pré prio Raimbaut de Vaqueiras (P.-C. 392,3: Eras pot liom conois- J; uma quantidade ser e prover), a outra anénima endo identifies de noticias em poucas palavias. A definigdo da Poética pow. is alent a esa revekise 0 mesmo terypo mais gonérica € “0 sieve isa mr dle € ako que s pn dizer quer {os assinalados, por exemplo por uns expedigio de guera ou de unt ou pela eonquiss dslgum lugar, quer por censurar alguém ou por oie scmelhantes; come por exemplo 0 de Ranaut de Vaqueiras que i “Agana se parks ver" 0 0 outs gue diz: “Comsyaret um sirventés ind {que ms ese", € muits outs que existe, E destes no encontet nent 0 de Ratabaut citado acima; todos os demas im » Ginseppe Tavant cla conereta questées de ordem técnica, evitando qualquer rete tos trovadores que cultivaram os dois géneros satricos ou aos diversos assuntos de que podem tratar: Camtgas d'eseameo son aquelas que es tohadores fazen querendo dizer wal d’algien e Iho per palavras cubertas que hajan dots entendimentos, pera The- slo non entenderen. ligeiramente: e estas palavras cha mam os clérigos “hequivocatio”. E estas cantigas se podem fazer outrassi de mestria ou de vefran, E pero que alguns dizen que bi hi alt de “joguete Wartei- ro", estas non son mis en d'eseambio, ein fam out centendimento. Pero er dizem que outras hi hi “de risabe- In”: estas ou serim d'escambo ou de maldizer ebsimsn clhe assi porque riim ende a vezes os how ‘som cousas em que subedoria nem outro bet hi. CCantigas de maldizer son aquetas que fazen os troba- dores descubertamente: em elas entra- rim palavras em que queren dizer mal ¢ non averedim> ‘outro entendimento se nom aquel que querem dizer c’chiamente, F outrossia todas fazen dizer. © redactor da Poética portuguesa prefere portanto exibir a sua cultura clerical ¢ perder-se em pormienores classifi tem polémica com quem quer reconhecer estatuto de atonomia 20 “joguete d'arteito” ou & cantiga “de risabelha” (0 que alids confirma a preferéncia para as categorias genéricas) -. mais do aque oferecer noticias sobre os textos ou 0s trovaddores que os ela~ boraram. “Também 0 outro ratady eatalio cove tem bem pouess analogias com o tratado portugués, além das da brevidade © da Arte de Trova a coincidéncia enmokigica: a Doctrina de compondre dictate!®, Iranserita nas If 29 e"-3] edo eédice 239 da Bibliotcea Central de Barcelona, demarcaSe com efeito por uma orientago didas- cilica claramenie activa — como quase todas as artes poétieas da Jiea provengall -, obedecendo, no menos que as Leys dl’ Amors, jexigéncia de ditar regras para a clabo fiuigio da poesia: além do proprio titulo (Doctrina de compon: dre dictatz “Insicugées para compor poesias"), expr “per fa qual raho.... poras venir a perfeccio de fer aquestes sen crrada, ses reprendimen, com fer ne volrras”, ow como “E comengaras tor cantar segons que usaran aquells dels quals ton serventler comengaras”, 00 ainda como “Si vols fer cobles espar- do inequivocus, ¢ remata ses, pot es far en qual so te vale ds pelo explicit: "..per ka qual doctina eascus qui Be k les veja, si es sublils d'emtencio, pora leugerament v feccio de la at de wobar"™, Acrescente-se que tamb tratado nio se manifestam os desequilfbrios que ja tivemos o censejo de destacar, no texto portugués, relativamente & extenso dios diferentes capitulos: de maneira que a Gnica analogia assinalivel é nogativa, quer dizer, a auséncia das releréncigs textos concretose a nomes de postas que encontrimos na Padi cade Ripoll Mas embora apresentem entre si analogias estruturais © funcionais de um certo relevo, também as duas Aries poéticus ccatalis revelam divergéneias, quanto ao mimero dos géncros Jos © 2 exactido e ao rigor das definigdes. Enquanto, 16 C4 The Rac de trabar of Ramon Vidal and associated test, pp. 95-98 17 Chit, p98" pr meio das us intrest observe hem, se Tiver hont emeadinknis, punk ladle chegae 8 perfeiylo a ate de 2 Giuseppe Tavani por exemplo, o tratado de Ripoll distingue oito modalidades posticas “cangons, tengons, sirventesch, cobles, vers, dances, sdesda>nges e viaderes" ~ a Doctrina identifica dezasseis: “ean 0, vers, lays, serventesch, retronxa, pastora, danga, plant, alba, gayta, estampida, sompni, gelozesca, discort, cubles esparses, {enso”: ainda que em ambas as listas, € sobretudo na segunda, figurem caegorias alheias 2 tradigfo trovadoresca clissica, ‘mais proprias da drea cultural catalé (como a viadeira, a gelozes- ca, a desdanga e 0 sompni), ou importadas da Franga (como Jais) — todas elas ignoradas por Guillem Molinier's -, a discre~ pancia € notavel, e a favor da Doctrina, cujo catélogo inclui ‘géneros muito importantes como a alba, o descordo, a pastorel © prunto, que o tratado de Ripoll ignora. E mesmo as definigBes aparecem mais pormenorizadas na Doctrina, mais técnicas, mais ricas de noticias; um exemplo interessante é 0 do descordo, propésito do qual o autor ~ revelando-se ainda mais meticuloso {que 0 proprio Guillem Molinier ~ assinala a maneira de fazer desacordar os sons, isto é a melodia: Si vols far discort, deus parlar d’amor com a hom qui nes desemparat e com a hom qui no pot haver plaser de. sadona e viu turmentatz, E que en fo canta, ta hon fo 30 dduria muntar, que baxes; € fe lo contra de tot Valre cantar. E deu haver tes cobles e una o dues tomades & responedor. E potz metre un o dos motz mes en una cobla que en una altra, per go que mils sia discordant. 18 A fista das Leys d'Amors gomta onze género: vers, cans, desert ss, sirvones, strc, ers, panne, planch, escondige etnnche 1 Ch The Rozos de trobur of Rainn Vidal anul associated teats, p97 *Se queres fazer um descordo, doves falar de anor com quern & desampa- rad dele ‘quem no pole haver prince dh Artede Trovar 2 Mudando de perspestiv se definein ou se propaem como verdadiras Artes poéticas, para obras que mitis propriafente sto tratatos. grammaticais, Razos de trobar de Raimen Vidal, dos sltimos anos do século XIl ou dos primeiros do XII, ou as Regles de trobar de Jofve de ‘ix’?! do fim do XI ou sinda o Mill de trobar de Berenguer de Noia (ou d’ Anoia}? ds primeiros anos do XIV, verifieamos que, embora a finalidade principal destes textos seja a de ensinar 20s, digamos assim, poetas de domingo as regras da gramética provengill ~ tiradas das poesias de autores da época cli nenhum deles, salvo o de Raimon Vidal, renuncia a incluir nor- mas ou consideragGes rolatvas 3s rimas ou aos “colores thetoici (Os parigrafos dedieados as rimas ed estrutura estrfica talvez 08 que miais imeressam aqui, pois se trata de mia isto 6, passando dos tratados que bastante desenvolvida na Poética do Cancioneito da Biblioteca Nacional, que a Doctrina de compondre dictate ignora com- pletamente mas & qual 0 Tratado de Ripoll reserva uma atengo particular, dedicando as virias espécies de rima quase 0 mesmo cespaigo alribuido aos géneros, enquanto as Regles de Jofre de Foixa limitam-se a dar indicagbes sobre a ligagao rimica entre as ment. Fars tl o contro que no outa cantar. E deve haver 8s cobras e unt tw dus tomnadas, © espondodor. E podes meter uma ou dass = versa] ss numa eta que em outa, para que sj ts dsc 20 Ga eam The Rais de trobur of Raiinon Vil and associated tous. ci 1p 2-25 (verses dos mss Be), pp. 145-159 (versio dos mss CL). 2 FA Fone Li Gt, ofr le Roc, Vers © Regles de Trobar, Modena 1952, lta The Races tsar of Raion Vil and esol ters, i ir s0or 22.C1, Berenguer de Nova, Milde Trobar, a cu de P. Palo, Palernne 1955; ara edi, wcuta de Jaume Vidal i Aleover, Montsearat 1984 4 Giuseppe Tavani cobras. A compilagio portuguesa, na verdad, mais que da rima ‘ocupa-se do “talho” das cantigas, isto é, da sua estruturagio: iiimero de versos por cada cobra, niimero de sflubas por cada verso, niimero de cobras por cada cantiga?®. Uma atengio espe- cial é dedicada, no capitulo segundo do titulo quarto, & “palavra perduda”, isto 6, a0 verso sem correspondéncia rina no interior ‘da cobra, mas em rima com os versos paralelos das outras ‘cobras, € 0 capitulo terceiro é inteiramente consagrado, como -vimos, as cantigas “atehudas”. ‘Das outras posticas peninsulares que tratamn do ussunto, © Tratado de Ripoll preocupa-se, pelo contririo, mais com a qua- Tidade das rimas que com a stia distribuigo, comegando por definir as caracteristicas essenciais da consondncia (“Rima es ‘semblanga d’u mot ab ara en la fi, cant a les fetes eal accent; € dich “cant al accent”, cor no seria rima d’aquest mot en lati péndere, en quant ha la primeira largua, ab aquest altre pendére, fen quant fa la seguona largua, jlsecia que sien semblans on Jetres”*), para depois enumerar nove catcgorias de rimas: “soltes", “purses”, “eroades”, “leonines”, “dobles”, “closes”, “doblades”, ares” € “ajectivades”, cada uma acompanhida por uma breve escrigéo e quase sempre também por um exemplo; as Regles de trobar, como se disse, dedicam um inteiro parigrafo Aquela que © autor define como “maneira”, isto é, & distribuigdo das rimus 2 As dlfculdades de Iitura deste pardgrafo (que a transerigdo inferpretativa dde J. M. D'Heur no conseguiu superar) imipedem que se aduzam nétmeros 24.Ch, The Razos de trobarof Rtinon Vidal ancl associated texts, eit. p. 104 Rinna ésemelhanga lana pales com outa no fi lo verse, quant ‘caw acento High" 0a", porque wn Forma FN eI pulavea latin pendere, que tem n primeira scent, cam esta a ‘ender, ue em oacenta na segunda, embora as tas Sejm 35 estas” Arte de Trovar Fo na cobra, entre as quuis distingue as Wés estnaturas mais vulgares, em cobras unissonantes, yingulares, ¢ doblas*. Mirall de trobair, por seu tado, introduz algumas infor mages sobre acidentes rimicos particulares no capitulo dos “colors de reloriea”, lustrando os fendmenos da “Ieonismitat”™ “que vol dir aylant con dues diecions o mes han en fa fi Hur yeu", rima dues sillabes semblants en llur consonacio 0 {sto 6, por exemplo “amistanga: honranga: benenanga: malenan- a” ~, da “anadiplosis” ou repetigdo da palavra final duma cobra ho inicio da seguinte (coblas capfinidas), da “agnominacio” ow rima idéntica, da “traduccio” ou rima derivada e equivoca. Mas Berenguer de Noia prefere alargar-se mais nos “vicis que deven cessor fort esquivatz en versificar 0 en trobar 0 en rimar, dels uals no [se} son guardats alcuns en Murs trobars o rimas[s]”, isto 6, no que a Podtica portuguesa chama de “erros... que os homens podem fazer no trobar". J4 vimos conto o anénimo autor desta firma rotundamente, no primeito capitulo do titulo sexto, que os e de t alar em todos tam compridamente”, embora nio se possa eximir a dar alguns excmplos, ainda que limitados ao “cagefcton” fe & rima de vogal aberta com vogal fechadt, A atitude de Berenguer de Noia é bastante parecida, pois preliminarmente anuncia que, senco dificil aos nao entendidos corrigir estes ervos,limita-se- nunciar “en poques e breus paraules” os eros mais comuns, porque "per aquestes entena hom les altres”; mas, na realidade, tenquanto o autor portugués se cinge a dois erros apenas, 0 maior- {quino apresenta e ilustra uma lista de oito " Parece portanto evidente que as Artes post res se apresentam, todas, bastante lacunosas, ou pelo. menos estes e1fos “son I iras... que nom posso 25. The Racosde woh of Rain Vial and asxaciaed texts cit, p57, 2% Giaseppe Tavani incompletas: por vezes terse a impressfo de que as catals se relacionam umas com as outras, embora correspondam em geral 2 projectos e a exigncias diferentes. Neste quadro, a Poética portuguesa ocupa uma posigdo evidentemente isolada, e mesmo a sua presenca no inicio do Cancioneiro da Biblioteca Nacional é reveladora da subordinagdo dela & antologia, da fungio ancilar {que Ihe foi atribufda desde o inicio: uma fungo que ela partitha com o Tratado de Ripoll, ambém anteposto a win cancionciro, aliés muito reduzido, mas que os dois textos desempenham dduma maneira muito diferente, s0, fica-se com a sensagio de que a Poética por- tuguesa terd sido escrita & pressa, por alguém que ndo se preoci pava muito em esclarecer todos os pontos duvidosos dos textos ue decidira, por assim dizer, prefaciar. Mas talvez seja outra a explicagio dos caracteres gerais deste pequeno tratado: a sua elaboragio foi feita provavelmente a uma certa distdncia crono- \6gica da época de composigio das cantigas, quando o eco dos factos que as provocaram ¢ da prépria ideologia que as motivara se tinha atenuado ou inteiramente dissipado. Ao passo que as Artes catalis correspondiam a exigencias ainda vivas, quer dizer que se dirigiam ~ talvez com a nica excep do Tratadlo de Ripoll ~ a utilizadores activos, interessados no apenas emt ler, como antes em escrever poemas, ¢ que evidentemente conhe ‘mais famo- ciam pelo menos os nomese as obras dos trovador os, quer da €poca chissica quer das ramificagies tardias tolos ecatala, De qualquer maneira, uma e outras so apenas esbogos de Pogéticas, tratadinhos parciais, cada um especializado em ofere- cer uma parte apenas das noges necessirias quer para ler com conhecimento de causa 0s poemas dos “antigos” quer para com- por novos poemas na esteira da tradi¢o dos trovadores. Por isso, Arte de Trovar 2 ‘no momento em que decidem reunir-se no dia primeiro de Maio de 1324, inicialmente paga meostrarem aos coneidadéos as suas capacidades literrias, nfas logo depois para avaliarem os poc- ‘mas alhcios apresentados ao certame postico por eles organiza do, os sete trovaulores de Tolosa verificam que 0s concortentes no dispdcm de normas claras para a composiga0 dos textos, cencaregam Guillem Moliner de elaborar um tratado no qua my puresca trobar plenicirament compilat ¢ ajustat tot so que spate dispers”, “per so queel sabers de trobar— bo ‘qual havien tengut rescost li antic trobador, at aquo meteysh ppuesca hom ayssi trobar ‘essenhamen" € das “motas doctrinas” expostas nas Leys, “las quals degus dels anticz troba- dors non han pauzadas, jaciaysso que sian necessarias ad. atro- bar"™”, E evidente, portanto, que os préprios. “mantenedors” de Tolosa estavam cientes da fragmentariedade e insuficigncia dos tratados existentes, e da dispersio dus regras indispensdveis & elaboragao dos poems. Com efeito, as Leys d’Amors, nas suas tr€s redacgoes, constituem uma suma de tudo 0 que € preciso saber sobré a "Gaya Ciéncia”, desde a propria definisio do “trobar” até os horagio dks eangiies, pass do pelas definigdes ¢ ilustragdes dos sons © dos acentos, dos vversos ¢ das rimas, dos tipos de cobra e das suas TigagBes com os denn era esea quen havian pauzat escuramen 2% CF. Gaticn-Armoull, Lar flors del Gay Saber, ester dichas Las Leys 'Amors, cit, 1 2: “soja possivel encontrar numa compilagSo completa & ‘rena to 6 que dunes era desordenado e disperso. ara que a cgncia Pica — solve & qual os antigus tovadoees. guardaram segredo ou 4 ‘nifestaram de maneirsincomproensivel ~ se possa conhecereararent 27 hid. “que nenhum dos antigos trovadores tem declarado, embora sejam necexsirias para pot. 2 Giuseppe Tavani ‘géneros poéticos € com ox problemas gr d’Amors ~ apesar da considerivel protixidade ‘do, em parte corrigida e atenuacla nas outras verses — tratado orginico e sistemitico de todas as regras necessdrias para escrever poemas trovadorescos, uma compilagio exaustiva de tudo 0 que é preciso fazer e niio fazer quando se pretenda patti. jpar nos certames tolosanos: to exaustiva que qualquer um de nds poderia ~ aplicando as normas ilustradas por Guillem Moli- rier — armar-se em trovador € fazer de Bemart de Ventadom ou ‘Amaut Daniel, se a sua ambigio chegasse a tanto, Poderia esco- ther entre 11 espécies de versos ¢ 28 de rima, 11 géneros post cos ¢ 35 tipos de cobra, mas teria que precaver-se dos 55 “vicio prineipais nos quais podem incorrer os poctas inexperientes € {que nem sequer 0s mais famosos trovadores souberam evitar ‘A este ponto © nesta perspectiva, torna-se bastante facil tirar algumas concluses, a mais interessante das quais € que uma regulamentagio orgiinica da arte de trovar no apa do século XIV: com efeito, as Razos de trobar de Raimon Vidal ignoram o problema enquanto as Regles de trabar de Jofre de Foixa limitam o seu interesse & correspondén entre estrofes. $6 nos primeiros trinta anos do século de Trezentos & {que comeca a manifestar-se a tendéncia para uma descri¢Zo dos ‘g6neros da poesia cortés e uma esquematizagao das caractetsti- ‘cas que 0s distinguem uns dos outros. A prioridade pertence aos censaios catales: a Doctrina de compomdre dictate, que para mi —embora se apresente como uma continuinzio das Regles de Jofre de Foixt — no € da autoria deste, € uma lista sintétiea embora ‘quase completa das modalidades poéticas trovadorescas, mas nada diz sobre as rimas e a tipologia desta lirica; 0 Tratade ti pulense, pelo contritio, & mais esquemitica no que diz respeite 08 géneros, mas exemplifica as regras citando textos e nomes de j 4 i Arte de trovar » poctis, ¢ dedi largo espago aos problemas daria, apaenta- tho set niis uma tenaliva de integraglo da obra de Jofie de Foind 0 Mirall de trobur'ellecte Finalmente uma tradigZo cult fal auténoma, maorquns, independente da do Principado, © fprescala-se como um tratado essencialmente gramatical, anito- zo sox de Raimon Vidal e Jofie de Foixa, embora nao faltem pros de uma ate poica riele, como vinios, alguns elementos ‘Todos estes tratados ~ ¢ 08 outros que no pertencem 30 Ambito peninsular, como a Doctrina d’Acort de Terramagnino de Pisa, ¢ Doctrinal ¢ © Glosari de Raimon de Comet, 0 Com- pendi de Joan de Castellnou ~ so antecedentes e preliminares das Leys d’Anuors, isto &, constituem 0 material “descampat € dispers” que Guillem Molinier se propde completar © organi ‘Mas a obra deste, apesar de ser muito maior € mais rca em por 'menores ein explicagées, nfo consegue substtuir nem eliminar 6s textos anteriores: um outros chegam efectivamente nas yedors” do Consistori barcelonés de final de século Jacime March e Luys d’ Avergs) ~, 08 quais no se limita Go a guardé-los juntamente com os manuscritos das Leys d'Amors, mas os. transcreverSo num cédice ~ n° 239 da Bibljo- teca Central de Catalunya ~ que deve ter sido uma especie i tev ae pips os coves posto: ogni dos por eles em 1393 e depois, anualmente, a partir de 1396, A Arte poética portugyesa no teve tanta sorte: elaborada, como vimos, por quem ndo tinha seniio um interesse genérico € superficial de leilor por um patrimnio literitio ja niio actual, € considerava esse pattinnio como un acervo muito mais homo- 10 ¢ indiferenciado do que & na realidade, esta desigual des: ccrig&o «kt tipologia Kiiea do século XIII e dos primeiros anos do XIV coloca-se provavelment sgalego-portuguesa; em qualquer caso, niio teve nenhuma repe ¢ final da trajcet6ria postica Fa Giuseppe Tavani ‘eussio, ficando antes sepultada na colectinea preparada pelo Conde de Barcelos, cuja sorte partilhou. E nfo é improvavel que 6 seu redactor tenha sido © préprio Conde ou um dos dois trovadores (Jofo de Gaia e Est@vo du Guarda) que devem ter colaborado com ele na organizagio desse hipotético “Ur- Liederbuch” que dcu origem a0 ramo mais completo da tradi- G40, isto €, a0s dois apSgrafos italianos. Pareceu-me oportuno, para concltir estas sintéticas notas, intentar uma nova transcrigo da Arte de Trovar, com a (secreta) cesperanga de melhorar, 20 menos em alguns lugares, as leturas aque dela procuraram até agora Tesfilo Braga (1880-81), Emesto ‘Monaci (1886), Elza Pacheco Machado (1947), Elza Pacheco Machado e José Pedro Machado (1949); um destaque especial merece a mais recente, publicada por Jean-Marie D'Heur (L’Art de Trouver du Chansonnier Colocei-Brancuti) mencionada em rota, para a qual remeto quanto a indicagbes bibliograficas com ppletas. © quanto a0 registo das opgées textuais das precedentes edigbes. 'Na edigdo que proponho a seguir ~ para a qual consultei quer 0 manuscrito conservado em Lisboa, quer a reprodugao fotogrifiea feta em 1924, antes da aquisigio do eddies por paste do governo portugués, e desde entio disponivel na Biblioteca Nacional de Roma®® ~, além de resolver as abreviuturas (a abre- ‘viatura para a nasal em vogal final de palavra sempre > “m" considerando que as formas em -m prevalecem nit escrita nor- mal), elimino 0 “h” no etimolégico (introduzindo-o em caso contrétio), regularizo em “i as grafias “y,;* com valor vocdlico 28 Ct. astefeténcias bibliogrlicas completa no Apénaice. 29 Cova: Sala Manoscrit 7A, ColoeetBraneuti 1/1-3 lim 11027, 1-3) Arte de Trovar u em“ as que {@m valor consoni ico, raduzo as vogais duplas, orais e nasa, e as consonantes duplas etimolgicas ou duplica- das por motivos fonosixidcticos (com exelusio de “ss” internos, que pelo contrério restituo na base do uso actual para representat, no primeiro caso, "s” surda, no segundo “” vil da), simplifico em “e” a conjungdo (escrita em abreviatura ov, por extenso, “et"); ndo reproduzo, se no excepcionalmente, palavras ou grupos de letras eliminadas pelo copista nem os crros de leitura dos precedentes editores, para os quais remeto para a mencionada transcrigio (sin6ptica, semidiplomética € er tica) de J-M. D'Heur ; ARTE DE TROVAR ‘TEXTO Capitolo quarto! E porque algtias eamtigas 1 hd en que falam cles e clas coutrossi, per én é bem de entenderdes se som d’amor, se d’ami- 20: porque sabede que, se eles falam na prima cobra ¢ elas na outa <é d'>amor, porque se move a razon dele (como vos ante dissemos); ¢ se elas falam na primeira cobra, € outrossi amigo; ¢ se ambos falam en da cobra, outrossi é segundo qual eles fats na cobra primeiro? i 2 De aeordo com D'Hew, resto sempre, mesmo quand no ms. nda hi cabreviatura, as formas “primeiro, peimcra”.A fla de exemple de” brim em rina, quer nas cantigasprofanas quer nas Comigas de Santa Maria, nia conabara a afimmacin de E Goncalves em enja opiniter “puim. vin” eocvitivin mt porns medical com “princi, pric” (Afsana, Cana des Tran ‘Companies, Nunta de Galicia, 1998, pp, 167-186 167, nota 1 Saag le 2 Giuseppe Tavani Capitolo quinto? CCamtigas d’escameo som aquelas que 0s trobadores fazen querendo dizer mal d’alguen en elas, e dizen-Iho per palavras ccubertas que hajan dous entendimentos, pera the-lo non entende- ren... igeiramente: e estas palavras chamam os clerigos “hequ ‘vocatio”. E estas cantigas se podem fazer outrossi de mestria ou de tefram. E pero que alguns dizen que hi i algitas cantigas de “joguete d'arteito”, estas non son mais ca d'escamho, nem ham ‘outro entendimento. Pero er dizem que outras ha i “de risabe~ tha”: estas ou serim d'escamho ou de maldizer; ¢ chamam-Ihes ssi porque tiim ende a vezes os homens, mais nom som cous tem que sabedoria nem outro bem hajat. Capitolo sexto* Cantigas de maldizer son aquelacs> que fazem os troba dores descubertamente: e clas entra palavras ecm> que queren dizer mal ¢ nom aver outro 3 quimol 4 robadores)trobadars; artic} erteyro; ca io; im ij com as dois limos caracteres sobreinhadas (com respeito& forma, ¢f. R. Lorenzo, La tra- duccingallega de la Crinica General y de a Crnica dle Castilla, 2 voll, ‘Orense, Instituto de Estutios Orensanos “Padke Feijn”, 1977, 1, 1136, s. vip 5 extol vi Arte de Travar 4s entendimento se nom aquel que querem dizer chdameente>. E outrossi a todas fazen dizer *, é Capitolo septimo? COuiras cantigas fazem 08 trobadores que chamcam> ten ges, porque son Feitas per maneiras de razom que um haja con- tra outro, en que e diga aquelo que por bem tever na pri- meeir>a cobra, € © outro responda-the na outra dizend 0 ccontrairo% Estas se podem fizer d'amor ou d'amigo ou descarnho ou de malllizer. pero que devem de ser de mecstria>. E destas poden fazer quantas cobras quiserem, fazendo cada da a sua par, Se i ouver d'aver finda, faze ambos senha, ou duas duas, ca nom convem de fazer cada um mais cobras nen. nva finda que 0 outr”, 6 cco algueno resin Mica, para preencher wma tac} tn te can tl con a ener em ssid trevedne[ iegragdsgeida peo comesor ao mn cw ater tia era ‘os wubaores| as; eames] chea on chia; manciras] mana com abre tur nos tes altimos carmereres, <>] @ seguir 0 cam abresiatra sobneputa € sem solu de continue, 12-36 un trago que por sua ves alevia ser abrevinura por "X's iatenpretrs cnne letra errada de wn * do ole possvel er tener, primeear>al prima; cobra cab, 9 cada um cadshuna a“ Giuseppe Tesani Capitolo outavo'® ‘Outrossi outras cantigas fazem os trobadores, a que cha~ mam “de vildos”. Estas cantigas <{> sem mao lenguacge>: nam son per al trobas, porque as nom escamniom ne como outras cantigas; pode as fazer de quantos talhos -!! Capitolo nono! ‘Outra maneira hi i en que tobam dos homens a que chamam “seguir”; e chamam-Ihe assi porque convem de seguir cada um outra cantiga a som ou en pras ou en todo. E este “seguir” se pode fazer em tres maneiras: a Ga, filha-se 0 som elas caber aquel som mesmo. E este seguir é de menos em sabedoria, porque toman nada das palavras da cantiga que segue", 1 vidos) vilas; lacuna de wma linha; obs] erbas (D'Heur: ‘errca>das, que no parece ter sentido}; nem falam mal>f nada mais que ume hipétese de inegragio, ext; outa forma de integragdo conjectural faceitével poder ser nem maldizens, quanto talhos ] qua {eilos:letura dividosa (a seguir a “teilas” néo se consegue ler outa ‘coisa, nem no manuscrito, nem na repreduo forogifica da Biblioteca Nacional de Rome, mas tal palavra jt erailegivel para o prprio Molten {em 1878} A integrapo ol proposta por Braga eaaptada por E. Paxeco ‘Machado e J.P. Machado; D’Heur: cuaniostletoos |. 12 pono 13.8 som] as 6; pcalav>ras) prac; lodo| odo; ues 1; a a} buna hi Arte de Trovar 4s a que chamam “palavra por quiser seguir que ‘Outi: maneira i ha de “segue palavrss © porque convgm 0 que esta maneira faga a cantiga nas rimd da outra cantiga que segue, © jguaes ede tantas silabas Uas come as outras, pera poderem caber em aque som mesmo" E outra mancirai hi de “seguir” em que non seguecm> as palavras. fazen-as das outras rims, iguaes daquelss pera poderem caber no som; mais outracs> daquela cantiga que seguem as devem de tontar, outracs> mever, <=> farerenvihe dar aquel entendimento mesmo per outra maneira®. {E pera maior sabedoria podecin>-the dar aquele mesmo ou outro entendimento per aquclas palavras mesmas: assi € a melhor rmaneira de seguir, porque di ao refrum outro entendlimento per fe tragem as palavras da cobs eon cordarem com el! Tillasc} filha sede por um sina de areviatara que se parece com wt ‘Seow melhor, com un Bunide a won espéeie de Lem analguer ease ei tilde interpretar para 0 qual ndo encontro, nas tratados de paleografia sheave, entra solagi. D'Heur ndo resolve a ebreviatura; 0 soe) #0: tom aren oa Ke ee a, me ee pu sine | lacuna correspondente «wma die de letras, eae “desl 16 oa ute en oats; thor mata m. manera ea de ©: eoncar len] acangor da. 46 Giuseppe Tavani © quarto en que contem capitolos Capitolo prim (0s tathos das cantigas cuidam os trobadores e fazer ceguaes ¢ de quantas maneci>ras quiserem 2 teverem por ber. ero os mais dos talhos en que fazen as caniigas de mestria sam estas: a cobra de cinque palavras. Pero quem a quiser fazer — tanto que igual e estas ~ pode meter e essa favondo ou alongand’assi fine ontras, que seja euisa de tantas silabas com’én quis outral?. Mas quantas outras cantigas ha ecm> que estas podem seguir de mais silabas - as de , pero que to devam seguir iguaes'* Mais en todo jamais da cobra quiserem fazer iguaes, pero as ‘maneiras devem ser as de ir todas com'em os da outras can- tigas: devem pier rimadas e iguaes, porque d'outra guisa non ‘poderiam caber no som que bern fosse'”. 0 trobadores podem fazer as cantigis ou de qualro ou de seis ou de cito ou de mais, se quiserem. Mais estes som os talhos mesm’os melhores, pera ser mais a rezom € no fazer 17 ceome>} lacuna de 4-5 letras; obviamente, as hipdteses de resiwigao podem ser ouras, por ex ; pode meter] per meter (que nao fz sentido}; alongan' asi} D’Heur, alongadas s as de ] lacuna de 46 letras: pero que "embora’; seguir iguses| seguir y yguacs. 19 mancras] mas; pet] por; caer] eas ou tals (ertend de D'Hewr) Arte de Trovar a cenfadarem os homens"®, E estas cobras poderé fazer de quac talhos quiserem, como vos ja disse, por quanlas que forcem>. E as cobras dévem de ser todas tres em una rima ou senhas senhas. E se fazem de quatro ou de mais, podem ser en dit rima?t Capitolo segundo Porque alguns trobadores, pera monstratem moor Mest eterom, en sas cantigas que fezeron, una palavra que nom Fimasse com as oulras, © ech>amant-Ihe “palavra perduda” est pukivra pode micter 0 wobador no eomego ot Ho NiO, OF cima da cobra, em qual logar quiser. Pero que, se a meter em cobra, deve-a meter nas outras, en cada Ga delas en aquel lugar esta palavra deve de ser moor mestria: ou er pode meter senhas palavras en cada cobra, que rimem fas outras, 04, Se Guiser, en cada cobra de senhas rimas. E outrosi poden meter na ccbra palavra porducda duas vezes per esta maneirs®. 20 ou de quatro ou dies quan com a “e” reescrto sobre o prinevo “0 de out soa os tals] sons ethos; meson'os methores} mesma 1, uss sepals a € tnspensvel) neem est; aver far! enka come sale arevianara na tina era 2 tahos!ealho; disse dir (D'Houe: dire); Eas cobras} De os gars; deve tie] dcmede, com abreviaura no segumudo “e"; senhas senbus} semide 2 segue 28 muooe mera] ment ans me wes MEE Mes] Meo Ms “s Gluseppe Tavani Capitolo terceiro™ Outrosi fezerom os trobadores algunas cantigas a que desinarom “ateudas”, e estas podem set tam bem de mestria come de refram. E chamarom-Ihe “ateudas” porque convern que 1 prestomeira palavra da cobra nom acabe razom per fim, ‘mais tem a prima palavra da outra cobra que vem apos cla <..> de entendimento ¢ fard conclusom?S. E toda a cantiga assi deve de ir ata a finda, e ali deve densarrar € concludir 0 enten- elas as razones que disserom nas cantigas, ‘chamando-this “fici-da" porque quer tanto diz-cer> come aca. bbamento de razom Besta finda podem fazer de Ga ou de dus ou de tres ou de quatro palavras. E se for a cantiga de mestria, deve a finda rimar 24 tereiro} i 25 desinaroen] dsinar8 (D'Heur: disinaron}; “atewdas” porque] alchueds p. 26 ia) nda. 27 quarto il Arte de Trovar ” com a prestumeira cobra; ese for de refram, deve de rimar com 0 reftam?*. E como quer que diga que a cantiga deve d’aver una delas, ¢ tues i houve que Ihe fezerom duas ou tres, segundo sa vontade de cada un deles, E taes i houve que as fezerom sem findas, pero a finda é mais comprimento™. Capitoto quinto™ Quirosi vos queremos mostrar que quer ser “dob Dobre é dizer Ga palavra cada cobra duas vezes ou mais, mais deven-o meter na cantiga mui gardadamente"': e convem, como cen fa ds cobras, que assi 0 metam nas outras todas, sem ha Ga meterem nas outs, podem amete! aque dobre que m no ir meter en outras palavras, pero sempre naquel talho e daquela maneira que © meterem na primceir>a. E outrossi o devecin> de meter na finda per aquela manera. 2 elas les tes} exes sem finda. ind 1 gouladomente gars met so Giuseppe Tevani Capitolo sexto™® “"Mozdobre” é tanto come dobre quanto é no entendimento des palavras, mas as palavras desvairam-se, porque mudam 05 tempos. E como vos ja dixi do dobre, outrossi o mozdobr’ en aquela guisa e per aquela maneira que o meterem en Ga cobra, asi o devecm> de meter nas outras © na finda, pera ser mais ‘comprimento®, 2 sextol vf. 5 de meter} € ms nas ous] nos 0 Arte de Trovar a Capitoto quipto: conten dous capitolos Capitolo primceir>o (0s tempos chamam os trobadores quando falan nas cantl- gas no tempo passado, ot no presente em que estam, ou no que hide vir: ca cada um destes tres tempos, ou os dous, ou todos ‘res nom podem escusar 0s trobadores que nom falem e eles na cantiga que fazem, Ca se falarcen> conira si ou contra ‘outrem, convem de falar en alguns destes tempos. E porque se en algum deles comegarcem> a cantiga, nom convem que depois Talem mp outro em aqueta razom nem per aquel entendimento, se ron se falar per oulra razom ou en outro entendimento: ca en ‘ula guisa descordaria o entendimento da rizom da cantiga. ero como vus ja dixi, poden-o meter no mozdobre, porque dam cemeel a cal tempo seu entendemento™. \ 1 1M cea ees}. clos; que faze}. que fazer; a seguir se entndemento,« opis repets,eininandoo depois con um risco fin com @ mesa ina trecho que jd tinka tanscrto antes, "8a razom da cantiga Pero ‘eno vs ja dit podeno meter no” st Gluseppe Tavant Capitoto segundo’s Cutrossi as cantigas, come o disse, fazer em rimas longas ou breves ou en todas mesturadas, E por esto con- ‘vem de Vos mostrarmos quaes som as rims longas ou as breves, ‘pero que todas nom vos podemos mostrar compridamente, por- {que som muitas e de muitas maneras: pero que todalas rimas se acabam em estas vogoes, que sejam as prestumeiras, todas som Jongas, convem a saber: as que se acabam no “a” ou no ‘apé-lo “a” ou 0 “0” pée-lo “e” ou qualquer das outras vogaes que pontiam en cabo da rima pola prestomeira silaba, ela per si. E as outras timas todas que se acabam en leteras breves, todas son ‘curtas, por que convem que o trobador que trobar quiser, se omega en longas ou per curtas silabas, que per elas a acabes pero que poderd meter na cobra das as ¢ das outras, se quiser, ‘tanto que, per qual guisa as meter en Ga cobra, per tal guisa as ‘meta nas outras. Pero convem que, como as meter, que assi as {aga rimar longas com longa € curtas 35 segundo i? 2 fazer em fzsrem em (prowtve dtagrafiay: Pero qu todas P. {eros; apélo “a” ou 0°0" pe-o“e"] Apolo 2. ou no 0. polo. Ante de Trovar 8 Sexto capitolo, em que contem tres capitolos Capitolo primeiro” (Os erros son tantos - € de tantas maneiras ~ que os homens podem fazer no trobar, que nom posso falar em todos mente. Pero convem que dos tantos én dé alguns™. Capitolo segundo acharam os trobadores que era ia palavra a que cha- marom “eagefetom”, que se nom deve meter na cantiga, que & tanto come “patavra fea" e sia mal na boca, E algun lange en eta eagorria ou fixo, que nom conver de ser metudo em boa cantiga!” 2 primer 1% dos tans on dl aos tant ele (PYHour "pero ennvem que vos tersaute eve ag) + pace] mabeca eagoaria econ (cagumia “ombaria’), ey Giuseppe Tavani Capitolo terceiro*! COutrossi erro é meter a palavra vogal depés vogal. Non entendades , que se entende vogal depds vogal se as vognes som de senhas naturas, mais nom se deve meter duas vezes, da apés outra, se Ga vogal € maior®, Meta-se dela ‘duas vezes, quiserem fazer silaba: pero alguns as metem na ccantiga, dando 10 “0” ¢ 10 as a cada Ba des tacs> vogaest3. Bassi podem meter cada tia delaes> dus vezes. E nom vos posso esto mais declarar, senom como o cada tum filhar en seu entendimento, ‘AS leteras vogaes son estas: A, E, |, 0, U. FINIS tere) i 42 catenlades 'Heur] Jean-Marie D'Hleur, LAR de trouver eli chansonnier Colocei-Brancut. Edition et analyse, nos “Aruivos do Centro Cult ral Portugués", IX, Paris 1975, pp. 321-398 eneshits 56 Giuseppe Tavant ‘Uma reproduglo dos folio relativos & Arte de Trovar no fac -sfqile do e6Aice: Cancioneiro da Biblioteca Nacional (Colocci “Brancuti), Cod. 10991. 1, Reprodugio fac-similada, Lisboa, Bibliote- ‘ca Nacional/imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1982, pp. 15-18. Execugdo Grafica Tele. Fax 79640 38 fret: won cl calib pt enc @ea-colib pt

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