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José pe Ripamar CHaves CaLDEIRA AS INTERVENTORIAS ESTADUAIS NO MARANHAO (Um ESTUDO SOBRE AS TRANSFORMAGOES POLT- TICAS REGIONAIS NO POS 30 ) Digsertacdo de Mestrado apresen- tada ac Instituto de Pilosofia e Ciéncias Humanas da Universidade Estadual de Campinas. Sdo Paulo - 1982 UNICAMP BIDLIOTOS® CRT DAE SUMARIO Apresentacdo ......-- bee eee een e enema eee e eee L Introdugdo wee... eeee seeeee es vee 8 Capitulo 1 ~ A CONJUNTURA MARANHENSE QUE ANTECEDEU OU- TUBRO DE 1930 wee. ee eee eee eee weteeeeee 25 1.1. Os magaihdesistas .....,. Pee eee eres 28 1,2, Os marcelinistas ...... sereeeeeteoseeensscenes 38 LS. Os tarquinistas ..0. cece eee e cece eee e eres SL Notas Gapitule 2 ~ 0 EPISODIO REVOLUCIONARIO DE 8 DE OUTUBRO 72 Notas Capitulo 3 - 0 CICLO REVOLUCIONARTO MARANHENSE - T A FASE REVOLUCIONARIA ....- ee ees ‘ oF 3.1. A Junta Governative Revolucionaria ...seeeeee 106 zg. A interventoria de Luso Torres ....s+eee wees 16 aeee 122 neee 128 . A Interventoria de Reis Perdigao 3.4, A Interventoria de Astolfo Serra « Notas Capitulo 4 - 0 CICLO REVOLUCIONARIO MARANHENSE ~ If A FASE TENENTISTA cc eyceeeeseeeeeeseeeees ses 158 4.1, A Interventoria de Seroa da Mota seseeeeeees 158 4.2. As eleigées de 1933 para a Constituinte Fede ral no Maranhdo ....eeees . OL 4.3, A Interventoria de Martins de Almeida ...... 208 4.4. Ag eleicgdes de 14 de outubro de 1934 2.5.4. 285 Notas Capitulo 5 - A VOLTA DAS OLIGARQUIAS AO CONTROLE BO APARBLHO DE BSTADO ..... peewee ener beeen wen eeene 242 5.1. As oligarquias reinstalam-se no governo .... 242 5.2, A Alianga Nacional Libertadora no Maranhdo .... 250 5.3, A crise politica cossscseeeeeeeeeeeee beneo teas 262 S.4. A dualidade de governos 5.5. O “impeachment” ¢ o fim da Crise seecseseeeeess 285 Notas CONCLUSAO oe bee eee este eee neces veer este eens FOd BIBLIOGRAFIA ceceee cee s eer eeerne ake e eee wee eee 308 ANEXOS ....- Dene eee eee ere eet e eee ease 312 Constitui este trabalho dissertagéo de Mestrado apre- sentada ao Institute de Filosofia e Ciéncias Humanas da Univer sidade Estadual de Campinas ~ UNICAMP ~ para a obtengdo do. Grau de Mestre em Ciéncia Politica, resultando do estimulo que recebi dos professores e colegas do Conjunto de Politica do IFCH, com quem convivi de 1979 a i981, Sou muito grato a Maria Werminia, Carlos Werneck Vianna, Sdnia Draibe, Caio Navarro e Evelina Dagnino. tevam Luiz Mais agradecido sou, especialmente, a Bécio Saes, que dedicou pacientemente muito do seu tempo B leitura critica do meu trabalho, ajudando-me a corrigir suas deficiéncias. Na me- dida da minha capacidade, incorporei muitas das suas suges— tées, ficando entretanto as falhas sob minha inteira response bilidade. A orientacdo de Caio Navarro de Tolede muito devo, so. pretudo pela inteira liberdade que me deu para conduzir a pes~ quisa e elaboragdo da dissertagfo, como também pelo seu empe— nho em apontar meus erros ¢ pelaajuda que me dew nos momentos dificeis da redagao do trabalho. os meus colegas ~ Zita, Dinko, Marlos, Marcos, Ibaré, Fajardo, Claudia, Regina, Marii e Hugo ~ agradego a alegria do convivio fraterno. Na Secretaria, a Marcia e a Lurdinha sempre foram aten_ ciosas e eficientes e muito me ajudaram na solugdo dos proble mas burocréticos, Registro aqui o meu agradecimento. Fora da UNI prof’ pxt Maria Isaura Pereira de Queiroz, da Universidade de MP, contei com o apoio inestimavel da $30 Paulo, que acompanhou com interesse minhas preocupacées teéd- ricas e ndo poucas vezes socorreu-me nos momentos de "transe” intelectual. Na paulicéia, a companhia fraternal de Ana Maria @ Thomas Haller, Gelva e Joaquim Facioli, Elida e Kleber Almei- da ey riam Aidar ~ amigos de muitos anos ~ tornou amena oa estada de minha familia. EH a companhia de Fernando Kieling — estimulo intelectual constantes- avxiliou-me bastante na aprecia ¢do e revisdo de muitas questées da ciéncia da Histér No Maranhdo, a ajuda que me deram meus compadres Ma~ ria do Amparo e José Cruz no perlodo da pesquisa ¢ a meiguice da minha afilhada Raissa tornaram~me ainda mais cativo da sua amizade. Também ew minha terra tive o apoio decisivo de meu co lega Prof. Joico Mendonca Cordeiro, na Universidade do Mara~ nhdo. No Instituto de Pesquisas Hcon6mico-Sociais, tive o apoio decisivo de meus companheiros de trabalho, especial — mente José Augusto Reis e¢ Tibério Mariano Martins. Um agradecimento especial 3 minha amiga Herminia Muza nek cumpre ser registrado, tanto pela atengdo com que — sempre me distinguiu na Biblioteca do Departamento de Histdéria da Fa- cuidade de Filosofia, Letras ¢ € éncias Humanas da USP, como, pelo empenho em datilografar os originais desta dissertagio. Sd Paulo, novembro de 1981 José de Ribamar C. Caldeira INTRODUCAG Existe consenso, entre algumas das diferentes ver tentes interpretativas da revolagao de 38, de que esse movi- mento resultou da investida de uma coalizao de forgas sociais heterogéneas sobre os grupos oligdrquicos dirigentes do pais, a fim de retira-los do controle dos aparatos estatais para tornar possivel a ampliacgdo da participagdo de alguns setores sociais subalternos da sociedade nacional ne joge politico e incluir, entre as polfeicas econémicas do Estado, medidas que atendessem aos interesses dos grupos que formaram aque la coalizao. Assim, entre os autores que analisatam aquele mo- vimento, podem ser incluides Neison Werneck Sodré (1979 ¢ 1976); Celso Furtado (19793; Boris Fausto (1976) ¢ Décio sees Gave) H, Conforme se segue, esses autores no divergem pro fundamente em telagdo & composigio da coalizio, assim como aos objetivos da revolug& sessa ~oxede ‘eilorrseig eTsondang =P eatourid eno ‘trseagd op Bott -voTiqnd ens op B1ep ep mepso 10 sogSntoaes vp soatio£ 20} anb sed4og Sy oauenbd rozne op stpersuodestp oonod um spatjoedsiod we anb ap oaby oped epestyrasal 9 opSeatesqo asd “yggT We 794 vataurad ated epto pri91stH @ epuodses S1sty Ovssinrog Z epucdsesro GLET “WISsY go soe oquenb ouo2 oF zor ‘Oie1 {eLano & 2ypeod eB Wwereu jussorde seigo 12961 @P g OB5TPO Ppeuritzo 085 GF saostpa sv tube os-ninsos ‘2.(pos’N'N oP SPiqe Se Bied +eornbie® —-110 eorapred ogSeurmop ep wiz +orTogjUD 107s OP eITUQHODe 3 eoragprod egSeuTuop ep eigonb _ rpataageo eTuou so ep epougrspuodead ep exqenb ‘xapod ou soquaSe sop e5uep -nu saqdwrs/esansang provsoousp ep oiveuvoStezzode teotnbareBr to woriyrod ovSsvurmop ep rigond svoTaqiod a svopuouose smuto gad ‘peqeise oiviede op ngstnbuol ssetpam sesseto/ soquous3 /equspTsstp ernbresTyo _ seip Bu sossepa/sorvayTrw/aye> Op EyWouoaa Ep Sosnpaxe Sosoyss +(soaeaT {Tm @ Stato) soungan $2025 /STETAISNDUT 3a Teprsstp etnbseB11o0/etsenBine gaquauey/setpaw sasseLo/ aquaprastp eatnbsgStro ogSery (9461) Sarg oFlad (geet) orsmed “a (6261) OpEesing Co.6t) 9apes ‘MN CN (6461) tps “HON OYSNIOATE VO SOATLICEO OYZITvVOD ¥E sodAuy yoray AS possiveis divergéncias entre esses autores quan~ to A composigéo da coalizdo que precipiton o movimento e quanto acs objetives da revolucdo, todavia, ndo anulam a fina jidade precipua desta: a destruigdo da dominagdo politic econdmica olig&yquica ¢ a sua substituicdo pela suprenacia do poder econémice ¢ politico da burguesia. Entre og autores que fizeram andlise compsrativa de algumas dessas interpretagées, inclui-se Luiz Werneck Vianna, para quem a “formalizago da poiénica’ em torno da composigio da coalizio, assim como sobre og objetives da revolugio go serve para enceminhar a eleigio de uma ou de outra perspectiva’. Assim, afirma esse autor: “pm qualquer hipétese, o divisor se vincyla ao pro- blema do rompimento com a oliganquia agraria, iden- tificada essa como uma categoria ndo-burguesa" (2). Com efeito, ¢ movimento politico-militar de 36 foi uma revolugdo burguesa, apesar da componente oligérquica que teve participag&o decisiva na organizagdo ¢ precipitagao do movimento, E mais; embora a presenca de tal componente na articulagio de forcas que realizou a revolucéo tivesse peso ponderavel, entretanto, Seu empenho em levar avante o movinen, to tirha objetivos reformistas do mesmo modo que os autros grit pos que integravam a coalizdo. Yodavia, a reyolugde de 1950 possi ainda dimen- sGes pouco analisadas ~ além das especificamente econtmicas e politicas que vén sendo objeto de estudos de alguns anos .G aa: pare ci 3), No caso, trata-se de andlises referentes ao seu registro © desdobramentos nos diversas Estados do pais. f verdade que a ocorréncia dos episddios ligados @ revyolucdo em cade Estado se encontra sucintamente narrada em algumas obras historiografic s, como em Barbosa Lima Sobri- nho (1975) e Hélio Silva (1972). Contudo, as referéncias desses autores aos episédios revoluciondrios estaduais se res tringem a descrigdo das acbes dos principais agentes envolvi dos nos movimentos dos respectives Estados. Recentemente foi publicada coletaénea de estudos re ferentes ao imediato pis 30 nos Fstado de Pernambuco, Minas Gerais, Séo Paulo ¢ Rio Grande do Sul, coordenada por Ange~ la Maria de Castro Gomes (1980). Tais estudos permitem evi- denciar que a condugdo do "processo revoluciondrio", naque~ los Fstados, nio se processou de modo uniforme. Assim, pode-se admitir que 03 desdobramentos econd, micos e politicos imediatos da revolugao de 30 apresentaram- se diferenciados nas diversas regiges do pais, derivades . som dévida, das diferencas econdmicas @ socials existentes entre elas. E ainda: a andlise dos referidos desdobramentos iy indicar o grau de homogeneidade politica e¢ econdmica das medidas sucessivamente adotadas pelos interventores que ocun param 0S governos dos Estados apds outubro de 1930, assim co mo 9 modo de relacionamento entre eles ¢ os diversos setores sociais dos respectivos Estados. Esto posto, pode-se levantar a hipétese de que no perfodo em que os governos dos Estados foram ocupades por in terventores federais (1930/35). © jogo polftico naquelas re gides ndo se processou de modo uniforme (embora fosse condu- nido sob a arbitragem daqueles agentes, que se apresenta— van identificados com uma ideaiogia mais ou menos comum: es~ tatiswo, “neutralidade politica’, oposicio sistematica 4s oli garquias, reformas administrativa e financeira ¢ desenvol- vimento industrial), pelos seguintes motivos: a) freqlentes substituigSes dos interventores, que ndo davam continuidade as medidas econémicas e administrativas iniciadas pelos seus antecesso~ res; b) as diferentes disponibilidades financeiras dos Estados, onde nas economicamente mais podero— 50s era permitida a execucdo de algumas medidas nodernizadoras, o que no podia acontecer nas yegiées de economia menos dindmica e mais depen dentes dos recursos federais; ~ c}) os diferentes modos de articulagdo politica dos interventores com o3 diversos grupos sociais hs Estados, caracterizados por aliangas ora com determinada fragde burguesa, ora com as oligar- yuias e ora com os setores populares urbanos | aliancas essas derivadas das alteragdes conjun- turais processadss ao iongo do intervalo 1950/ 35. Assim, somente a anflise mais detida das praticas dos interventores das diversas unidades federadas podera apontar para a existéncia de homogeneidade ou nao das politi cas adotadas por aqueles agentes, a fim de se estabelecer a uniformidade da sua ideologia. O estudo da revolugdo de 30 ¢ seus desdobramentos até o ano de 1936, em um Estado como o Maranhdo — de veduzi- da expresso econdmica © politica no conjunto da federagdo —- revela que as medidas econémicas ¢ polfticas adotadas pe- jos agentes que ocuparam o governo do Estado na condigéo de jnterventores federais (de 1950 a 1935}, assim como o seu re~ jacionamente politico com os diferentes grupos sociais mara- nhenses nZo se caracterizaram pela uniformidade. Por outre lado, revela também que aquelas medidas ndo se voltaram para modificar a estrutura produtiva do Esta~ do, nem também para alterar o relacionamento entre as clas- ces dominantes e as subalternas do Maranhdo. No primeiro ca~ so, pelas limitacdes impostas 4 politica financeira dos inter yentores, derivadas da extingdo dos impostos inter-estaduais , da proibicdo de obtengdo de empréstimos externos pelo Estado fe pela transferéncia do maior volume de recursos arrecadados no Estado pela via tributdria para 9 governe central, ao que deve ser acrescentada a relativa dificuldade de obtengdo de recursos federais para a sua aplicagdo em investimentos capa- ses de alterar a fisionomia econémica do Estado. No segundo caso, embora as oligarquias permanccessem excluidas do con- trole do aparato estatal, 2 classes subalternas permaneceram ainda algam tempo vinculadas politicamente aquelas, conforme 9 demonstraram os resultados das eleigées para a Constituin te federal, em maio de 1933. E mai o seu desvinculamente, embora relative — €, ainda assim, ao nivel de alguns grupos dos setores urbanos — ocorrera em 1934, nas eleicgées para @ Constituinte estadual, acentuande-se quando do engajamento ¢ militincia das classes médias e populares urbanas na Alianga Nacional Libertadora CANL) » Assim, durante o periodo das interventerias no Mara nhdo, as medidas politicas e econdmicas dos agentes que ocu~ param o governo do Estado n@o constituiram fator que conduzis se fi restrigdo ou ecliminagdo da subordinagde politica dos se- tores dominados acs dominantes. Antes, os dominados tentaram autonomizar-se através de préticas préprias, embora nao conse guissem suprimir, inteiramente,a dominagdo politica oligar~ quica, que permanecia inaltereda em relagdo &s populagdes ru- rais, Com efeito, a dominag&o politica oligdrquica, no ca so maranhense, refletia o controle econdmico © social exer do pelos proprietirios dos meios de produgde sobre o conjunte dos trabalhadores, tanto os do campo, quanto os de pequeno parque manufatureiro instalado no Rstado. Quanto aos setores soci is urbanos que exerciam ou- tras atividades, aquela dominag&o se processava através da cooptagdo desses grupos, pela via politico-partidaria. Assim, enquanto o campesinato votaya nos nomes indi cados pelos chefes locais, og "coronéis", que manipulavam clei toralmente o voto campenés, os setores subalternos urbanos concediam apoio eleitoral avs grupos que os cooptavam politi- camente através da via partiddria. Nesse sentido, nfo se pode entrever, ai, a militéo- cig partiddria dos seteres urbanos nos partidos dos grupos dominantes, mas a manifestagdo de um apoio eleitoral que se fazia por determinagdo de um "engajamento” polftico compulsd- rio, dado que o elevade grau de competigdo entre os diversos -10- grupos politicos ndo comportava a neutralidade ou o absenteis no politico de todos os setores da sociedade “), Por outro lado, es partidos dos oligarcas ndo se distinguiam uns dos outros como partidos representativos de uma fracdo especifica do capital ou da propriedade fundiaria, mas, antes, eram aparelhos integrados por agentes que se dedi cavam ao exercicio de diferentes atividades econémicas. As- sim, por exemplo, cada aparelho partiddrio era integrado por jatifundifrios, agro-industriais © comerciantes importadores- exportadores, os quais, na maioria dos casos, dedicavam-se & explorag3o concomitante dessas atividades (33, Qpondo-se a tais partidos, no caso maranhense, exis tia, depois de 1927, uma secgao regional de Partido Democrati co, que, organizado por um pequeno grupo de utores pertencen- tes as classes médias do Estado, no entanto, resultara de uma dissidéncia de um dos partidos oligirquicos. Nessa seccdo re gional de PD encontravam-se também ateres ligados as oli— garquias estaduais. Na verdade, esse partido tentava reprodu air, no Maranhao, a pratica politica do PD paulista. Todavia, o PD maranhense se diferenciava dos parti- dos das oligarquias, por se identificar com o pensamento te- nentista. Em certo sentido, ao nivel do Maranhao, correspon dia ao “"brago arnmado" de uma pequena parcela das classes né- diag desse Estado, que tencionava desalojar oligarquia do controle do aparato estatal através de quaiquer recurso ( ine clusive os "extra-sistémicos"), « fim de romper o "cireulo ~ll- de ferro” ¢ implementar reformas politicas que possibilitas— sem a ampliagdo de sua participagdo no sistema politico. A andlise do processo politice maranhense do perfo- do 1930/36, objeto deste estudo, tem por finalidade averi— guar Como ocorreu a tentativa de supressao da dominagdo poli- tica oligdrquica (pré-burguesa) num Estado onde nfo existia uma classe burguesa econdmica ¢ politicamente poderosa, com condigées materiais e politicas para enfrentar as oligarquias e dar sustentacgdo politica ao pequeno grupo que, imediatamen te apds a revolugdo, passou a controlar o aparelho de Estado, Por outro lado, o reduzido grupo burgués existente no Estado, além de ndo possuir um projeto politico aiternativo capaz de contar com o apoio das classes médias € dos setores urbanos maranhenses ~ dada a sua debilidade econdmica e politica - foi compelido a atrelar-se as oligarquias, com quem ado se conflitava. Desse modo, quando foi assegurada a vitéria nacio- nal da revolugao de 1930, 0 grupo que passou a controlar os aparatos estatais do Maranhdo (composte por agentes de extra cdo social wédia) teve que optar por reformas administrati- vas e politicas pelos seguintes motivos: 1} a debilidade econdmica de Estado, que impedia a ntroducdo de mecanismos que levassem 4 supera- Gao das formas pré-capitalistas de produgdo pre- ponderantes no Maranhdo © 2) a inexisténcia de uma burguesia economicamente apacitada para participar do procegso de trans~ Formagdo econdémica do Estado, através da aplica~ “12- cdo de recursos em setores modernos, de parceria com o Estado. A auséncia de uma pequena burguesia e de um setor operario industrial para dar suporte a um projeto burgués de supressdo da dominac#o oligdrquica também obstaculizava a exe cugdo de medidas que conduzissen A modernizagao da sociedade e da economia do Estado por parte dos agentes que passaram a controlar os aparelhos estatais apés outubro de 1930. £ verdade que nenhum dos grupos ou agentes que orga, nizaram e lideraram o movimento revolucionario no Estado in cluia em seu pensamento a inten: o de medificagio da estrutu- ra produtiva daquele; mas, antes, © objetivo que os mobilizou para aquele fim foi a derrubada do grupo oligirquico que con- trolava os aparatos estatais. Qu seja, para aqueles grupos e agentes néo havia a cogitagdo de ser promovida a modernizagio da economia do Estado. Assim, enquanto o grapo que precipitou o movimento de 30 no Maranhdo passou a controlar o aparato estatal, aos grupos oligdrquicos politicamente derratados restou 0 contro le do aparelho produtivo, evidenciando uma certe contradi— gd que nio podia ser superada, dada a debilidade econdmica do Estado para intervir no procosso econdmico, que se acen- tuon, sobretudo, depois da cossacic da cobranga dos — impos tos inter-estaduais e da transferéncia de razofvel volume de recursos arrecadados através da tributagao para @ governo fe- deral. Nesse sentido, a tentativa de ser promovida a passa -13- gen da dominagdo oligirquica para a dominagdo burguesa, 0 ca- so maranhense reproduziu, sob certos aspectos, algumas das dimensdes das contradigdes enfrentadas pelas forgas que se instalaram no poder do pals apds a vitdria revoluciondria de trinta. Com efeito, conforme apontou Werneck Vianna, quando a coaliz3o aliancista se instalou no poder do pais, ‘dois pontos se encontravan na ordem do dia, diversifi cagdo do apareiho produtivo e reforma do sistema po litico para ampliar a participac3o. A incompatibi~ lidade desses dois objetivos patenteava-se Logo apos a tomada do peder pelas forgas da oposigdo em armas. A debilidade do nove Estado nao lhe permiti ria aplicar-se nas tarefas de realizar a acumila- gdo que possibilitasse 4 modernizagiio, ao mesmo tem po em que exercesse o jogo politico do Liberalismo, suportando, ademais, a oposigdo agrdrio-exportadora e a movimentagao agressiva das classes subalternas" (8). Ne caso maranhense, © grupo derrotado nfo tinha com digdes politicas, ou seja, bases de apoio pepular ou outres para enfrentar o grupo que passara a controlar o aparato esta tal e, menos ainda, materiais, dado que se encontrava debili- tade economicamente pela crise na qual havia submergido, com a queda da produg&o e das exportagdes. Por outro lado, optou por um reciio tatica, por ter a percepgdo da dimens&o nacio~ nal do movimento revoluciondrio, que tinha, entre as Forgas que o haviam liderado, um grupo militar. Quanto is classes populares, néo se manifestaram es~ tas de imediato apés a ocorrancia da revolugdo no Estado, da dos a uma semi-paralisia politi qual ndo participarem., Redu ca, aqueles setores somente emergiriam & cena politica em oca ~14- sides especificas, Ou seja, quando a correlag&o de forgas do grupo dirigente se desestabilizava em grau ponderdvel, as classes populares apoiavam ostensivamente os agentes que ha- yiam tentado aproximar-se delas (como na ocasiado da demissdo do interventor Astolfo Serra, em agosto de i931) ou, em oun tra conjuntura, quando se engajaram ¢ militaram espontanca— mente na Alianga Nacional Libertadora {maio/julho de 1935). © curso do precesso politico marankense no periodo 1936/36 foi marcado pela nio-homogeneidade das medidas econé- micas e das prdticas politicas dos agentes que controlavam © aparelho estatal, sobretudo na fase das interventorias (1930/ 35). Por outro lado, foi marcado também pelos arranjos que os grupos politicos dominantes tiveram que fazer entre sie com os setores subalternos urbanos para poderem enfrentar pon jiticamente os interventores, como também para assegurar = 2 gua yoita ao controle des aparelhos estatais através des elei gSes de 1953 © 1934. Para ser percebide como se conduziu aquele processo, a an@lise deverd se deter na investigagdo das sucessivas con- junturas que formaram ¢ periodo, interligadas pelas lutas en~ tre os diferentes grupos politicos para a participagao, mesmo indiretajno governo ¢, finalmente, para a conquista do contro je do aparelho do Estado. Desse modo, o perfodo 1930/36 serd dividido em duas partes: a) de outubro de 2930 a junho de 1985, quando o governo do Estado fot ocupado por intervento— res ¢ 6) de junho de 1935 a junho de 1954, quando a oligar— -L5~ quia voltou a se instaiar no poder. Assim, por exemplo, no periodo em que as forgas vi- toriosas em 1930 controlavam o aparato estatal (outubro de 30 a junho de 35}, © processo potftico estadual se caracterizou pela nfo-homogeneidade das praticas politicas des diversos agentes que ocuparam o governo. Do seu lado, também os gru- pos sociais alteraram suas praticas, tanto em relacdo aas in- terventores, como em relagho entre si. Por isso, o periode 1930/35 ~ aqui denominado ci clo revolucionério maranhense ~ sera eutrevisto @ luz das praticas dos grupos sociais e do relacionamento destes com os agentes no poder. Por outro lado, tal ciclo seri dividido em guas fases, qualificadas de acordo com os tipos de agentes que ocuparam o governe: 1 «a fase revoluciondria (outubro de 1930 ~ agos- to de 1931} que se caracterizou pelo controle do aparato @5- tatal por interventores civis © militares Ligados a grupos po Lfticos do Estado identificados com o movimento revoluciona— rio; (agosto de 1951 - Junho de mentista 1935) que teve por caracterfstica principal © governo de in- terventores militares ndo-naturais do Estado e desvinculados, politicamente, de qualquer grupo polftico maranhense. {sto posto, & possivel dispor oS pontos de diferen- ciagho ¢ de aproximagio entre as fases indicadas, a fim de si tua-Las no conjunto do ciclo reyolucionario, segundo alguns fatores: a1G= spotaprod @ TEATS sep -ppatses se 943u3 sag5aTay se arurad “ans opnzuod kes (SOATR[NSuOQ soYTas Ton) ouLsAO8 ou saquLUrWop sodns3 sop BaTTOqUTS OBSEdTOTIAag "SPATITTFUOD- “seasoduy sop owuouny/sepes3se op wana Jog /ogsnpoad op seistTertées-oad seu fos stu apepT Ttqeooauy upefauetd opK- *SOIEQETIW ‘Tetque2 oureaod ojad syuetieieayp Sopworpul- sours -oF op ajuaueapitiyses aed —Totqaed ap stetoos sodn13 gop SeAT}eauel, *SPATITTFUOD- ogSnpesd ap serstpeztdes-gad seur0y Sup opdvarosoag “epe(auvyTd ON- teraro @ sox ABItTT ‘opeasa op eTapUcTo Ftoasi eppayo Bred sopeawoN- eoq3t sod apepoyo0g/TIAT? SpppeToos Sa05eTsy’s eopugquone BoTaTTed *F saroqueareiul “¢ sopwasg op _ ‘opeisg op Stee stugnaeu-opu sajuede xod opetoriucg- Aaeu soquese tod opetoruog- opeasg op oyperedy ‘2 PPSTUOTIUSALORUL- pysTUoTousAteqUy~ opeisy op apo "1 Bist zuousl, eT apwoTanyoaay, SYOTES]UHLOWAVS ~ SdSva sguoLlva -17- © ciclo revoluciondtio maranhense, com efeito, es— gotou-se em junho de 1935, quando os antigos grupos oligarqui cos voltaram a controlar o aparelho estatal, conforme a vité- ria por eles obtida nas eleigdes para a Constituinte estadual (1934), que elegeu o governador do Estado, ator ligado poli ticamente 4s classes dominantes do Maranha Todavia, aquele retorno — assegurado pelas elei- des de 1934, niio se deu segundo os moldes da Repiblica Ve- tha. Quando ele ocorreu, ss relagdes politicas entre aqueles grupos e as Classes subaiternas das cidades se haviam altera- do. Do lado da pequena burguesia, ponderdvel parcela desse s¢ tor se desyinculou dos partidos dos oligarcas ¢ se organizou, com alguns segmentoes da burguesia, em partidos préprios. Bo lado das classes populares das dreas urbanas, também estas deixaram de ser politicamente cooptadas pelos grupos dominan tes e também constituiram seu préprio partide, Dos setores subaiternos, apenas o campesinato permaneceu manipulade poli- tica e eleitoralmente pelas oligarquias. £ verdade que a auto-organizagdo politico-partida— ria das classes médias e da burguesia foi facilitada pela al- teragio da correlagdo de forcas entre os setores oligdrquicos. Quanto aos setores popuiares, foi facilitada pela introdugio de inovacgdes no sistema eleiteral, como o veto secreto @ . a instituigdo da Justica Eleitoral. Desse mode, quando as diferentes facgées politicas oligdrquicas se organizaram em torno dos seus partidos para @ reconquista do controle do aparelho de Estado pela via eleitg “18- ral om 1934, tiveram que fazer entre si allangas em moldes diferenciados da Repiiblica Velha. Ou seja, a fim de obterem aquela conquista, 08 antigos grupes pelitices oligdrquicos antagdnicos se aliaram para poder enfrentar as novas. forgas surgidas com as reformas politicas introduzidas pelo governo federal, entre 1950 ¢ 1934. EB mais: aquela vitdria foi obtida sobretudo atra yés da manipulagdo do voto camponés. © relative desligamento politica dos setores urba- nos dos grupos oligdrquicos se refletiu particularmente quan do estes, uma yer de posse do controle do aparato estatal. cindiram-se em dois biocos, cada um deles a tentar — exercer maior controle sobre aquele aparato. Na disputa desses dois bloces pelo maior controle daquele aparato, foram os mesmos deixados 3 prépria sorte pelos setores urbanos, que haviam incorporade @ sua praética politica a militancia na ANL, fa~ tor que, sem diivida, permitiu Aqueles setores subalternos apro fundar sua critica A dominagdo oligdrquica e reorientar a sua luta contra os grupos dominantes maranhenses. Por isso — dado os grupos dominantes so encontrg yem envolvidos mm conflito que envolvia apenas os seus in~ teresses exclusives — 0 governo federal péde intervir ao conflito intra-oligarquico ¢ retirar do governo do Estado, ainda em 1936, os grupos que haviam retornade ao poder, sem qualquer oposigao dos setores sociais urbanos. Com efeito, apeados do governo naquele ano, aque- les grupos somente retornariam ao poder em 1946. ~19~ 0 estude do processo politico maranhense no perfo- do 1930/36, encontra > fig escassez bibliografica sobre o Esta. do, algum obstaculo. Basicamente a literatura existente se cinge aos trabalhos de Mirio Meireles (1960) e os recentemente publica- dos de Reis Perdigdo (1980) e Carlos de Lima Coal. 0 primeiro, apesar de conter alguns perfis de ato- res das classes dominantes, nao ultrapassa a vertente histo- riogréfica voltada para a descricdo das prdticas daqueles ato res. OQ de Carlos de Lima pouce acrescenta ao trabalho pio- neiro de Mario Meireles. Quante ao de Reis Perdigdo,que cons titui um depoimento sobre a acdo politica desse agente entre 1930 ¢ 1932 no Estado, 6 um documento que, embora contendo algumas indicagdes importantes para a averiguagdo do pensanen to politico do autor, entretante, apresenta lacunas, por dei xar de lado a observagdo relativa & ideologia de alguns gru- pos e atores proeminentes que participaram do movimento de 1950 no Maranhéo. Ha, ainda, as memérias de Travassos Furtado (1977, que trazem poucas referéncias sobre o perfodo que & objeto deste estudo e as de Victorino Freire (1978), que, além de conterem muites lapsos, contribuem pouce para a compreensao da &poca em que Victorino Breire comegou a militar na polfti- ca estadual (1934). E, acrescente-se, a militancia desse ator nos anos 1934/35 no Meranhdo cra importante, uma vez que ocupou o cargo de Secretdrio Geral do interventor Martins de Almeida ¢, junto a este @ seu grupo, participou da fundagdo -20- do Partido Social lemocr&tico do Maranhiio, a fim de concorrer mas eleigSes para 4 Constituinte Estadual, em 1934, Finalmente, hf o DLs o Secreto de Humberto de Cam pos (1954), que também contém poucas observagbes sobre o pro cesso politico maranhense ne perfodo em andlise, As impres- sdes politicas desse escritor sdo bastante reduzidas se compa radas com ag andlises de obras e personalidades da literatura, anbora tivesse Humberto de Campos militado na politica do seu Estado & época da revolucdo de 30, no partido governista. Assim, o periodo 1939/36 de processo politico mara nhense ainda se ressente da auséncia de bibliografia que per- mita analisd-lo com mais profundidade. -21- INTRODUCAG - NOTAS . SODRE, Nelson Werneck (1970, pp. 326-327 © 1976, pp. 275- 276); FURTADO, Celso (1979, p. 201), FBAUSTO, Boris (1976, po. 102-105) e SARS, Décio (1976, pp. 7-12). YEANNA, Luiz Werneck (1978, p. 112). intre estes, que escapam 2 historiografia comum,podem ser citados os trabalhos que se dedicam a investigagao das re- dagdes entre a form de Estado implantado em 1930 e os en- presdrios; ¢ modelo de industrializagdo “restringida” a especificidade do capitalismo tardio no Brasil, come por exenpio, os estudos de Liana Marja Aureliano da Silva(1976}, Eli Diniz (1978) e Sénta Miriam Draibe (1981). Com efeito, o apoie eleitoral que os setores médios © popu lares urbanos do Estado concediam ao partido de oposicdd do grapo oligarquice ndo apontayva para a existéncia de uma alianga politica de tipo populista. Aqueles apoio derivaya da pratica que a oposicdo olig@rquice desenvolvia em dire~ Gao daqueles setores: para a pequena burguesia, @ promes~ $a de ampliar a sua participagio no jogo politica: para os setores populares, a manutongdo da politica filantropi ca ¢ assistencialista. Tais praticas, sem divida, refi tiam o modo de cooptagdo politica daqueles setores subal ternos e nao de alianca entre dominantes e dominados. Na verdade, esses partidos nio congregavam setores sociais identificados com as diferentes fungGes do capital Ccomer~ cial, industrial e financeiro). Antes, etam aparelhos in~ tegrados ¢ controlados por agentes oligarcas que os utili- zavam para definir suas posigoes politicas na cena esta-— dual, como grupos politicos especificos. Nesse sentido , tais aparel hos propendiam @ se apresentar mais como gru—— pos-partidos que como partidos propriamente dites. . VIANNA, Luiz Werneck (1978, p- 116). -22- Capitulo 2 A CONJUNTURA MARANHENSE QUE ANT U OUTUBRO BE 1930 No comego do ano de 1930, as classes dominantes ma~ ranhenses encontrevam-se énvoividas em uma crise de dupla fei go: 1) econémica, provocada pela queda dos rendimmtos de ca- pital, derivada da redugdo des exportagdes estaduais, em de- corréncia do aprofundamento da crise do sistema capitalista no ano anterior |) 2) polftica, pelo envolvimento dos grupos politicos que integravam aquelas classes na disputa pe le reforco do controle do aparelho de Estado exercido por eles, através das eleigdes de 1¥ de margo ¢ de 12) de outu- bro daquele ano. Tais eleigées, @ verdade, nfo cram para o governe do Estado; as de marco eram para @ presidéncia e vi- ce-presidéncia da Repiblica ¢ para os representantes maranhen ses no Congresso Nacional ¢ as de outubro para o Congresso do Estado, Prefeituras e Camaras Municipais de tedo o Estado. Entretanto, tais eleigSes possuiam um significado politica ponderdvel para os grupos que as disputavan. Qu seja, a} pa- ra a caso do grupo dirigente, a vitéria eleitoral permitiria a este consolidar e ampliar por mais tempo a sua posicio de grepo situacionista; ) para os oposicionistas, aumentar as suas posigées nas instituigé s de representagio politica (atra, yvés dos postos conquistades) ¢ tentar reduzir o quase absolu- to exercicio do poder pele grupo dirigente, -235= por outro lado, aquelas eleigées apresentavam-se um pouco diferenciadas das anteriores (sobretudo as de margo), dg do que a movimentagdo e o interesse das classes médias © popu- Lares urbanas do Estado pelos candidates nacionais da Alianga Liberal ~ cujo discurso havia conseguido mebilizar aqueles s¢ tores, que se mostraram interessados pela plataforma aliancis, ta — apontavam para a necessidade de um acirramento da cam~ panha, sobretudo da parte dos 5 ituacionistas. Com efeito, embora atingidos pela crise que afetava a todos og setores da economia estadual © pela tendéncia dos setores médios ¢ populares urbanes a apoiar a coligacdo alien~ cista no Estado, os grupos polfricos integrantes das classes dominantes maranhenses, naquela conjuntura, continuaram a exercer o mesmo tipo de pratica politica em relagdo as classes subalternas. Ou seja, a manipulagdo eleitoral do campesinato e a cooptagio politica dos setores sociais urbanos, a fim de extrair deles 0 apoio eleiteral. © acirramento da disputa eleitoral se justificava porque, quanto maior o controle dos aparatos estatais por um daqucles grupos, maior a possibilidade de extrair, daquele con trole, recursos materiais ¢ politicos ajustades aos seus inte~ resses, Por outro lado, tal controle permitia, ainda, a exten @, sdo de bene£icios aos seus partidirios, exclusivamente Aqueles grupos - que constitulam as Gnicas forgas com atuagdo politica legal no Estado ~ concentravam em torno de si o envolvimento de todos os setores da sociedade maranhen se. Por essa razéo, dominavam, sozinhos, a cena politica esta -24~ dual, dada a inexisténcia de outros, por exemplo, que repre~ stado ie . sentassem os setores populares do Eran ainda grupos que tinham sua origen desde 0 inicio do regime republicano e correspondiam a partides poli- ticos que, embora ac longo da Repiiblica Velha tivessem chega~ do a mudar suas denominacées '*), todavia, preservavam entre os seus integrantes as faccdes polfticas que os havian organi. zado e dirigido desde as suas origens. Por outro iado, pou- cas foram as vezes em que se altermaram no poder, Na verdade, tais partidos — dado que eram contro- lados por cliques @ apareciam mais como instrumentes politi— cos através dos quais estas exerciam suas praéticas politicas — apresentavam-se como grupos-partidos mais que como parti— gos proprismente ditos, se considerarmos esses aparelhos co- no organizagées poifticas por meio das quais setores sociais diversificados pratican a potitica ©), Yodavia, entre tais cliques, um determinado grupo familiar exercia o controle quase absoluto dos partidos. Un indicador de tal controle era 8 transmissio da chefia destes para um herdeiro pertencente so grupo familiar. E mais: a de- signagdo que se fazia do grupo-partide era extraida da adjeti yagdo do nome do seu chefe, © que indicava o alto grau de controle pessoal do aparelho parti@rio exercido pela sua che fia §, por outro lado, nfo constituiam partidos organi- zados e integrados por uma fragdo oligarquica que explorava atividades econdmicas comuns; antes, eram formados por agentes das classes dominantes do Estado dedicadss & exploragio de ati- vidades econdmicas diferenciada Desse modo, os grupos politicos que dominavam 4 ce- na pelitica maranhense no periodo que imediatamente antecedeu a revolugado de 30 eram os seguintes: os magaihdesistas, os mar celinistas e og tarquinistas. Qs primeiros pertencian ao Partido Republicano go- vernista e constituiam o grupo dirigente; os segundos, eram a forga de oposigdo oligdrquica agrupada no Partido Republicano oposicionista © os Gltimos pertenciam ao Partido Bemocratico estadual e representavam, no Maranhdo, © grape das classes mé- dias identificade com o pensamento tenentista, além de consti~ tuirem a corrente de oposicéo aos grupos politicos oligdrqui- cos dos dois PRs. 1.1. Os Magalhaes (7) Constituiam esse grupo os integrantes © adeptos do PR situacionista, Esse grupo cra assim denominado porque, desde 1922, tinha como chefe o oficial da Marinha José Maria Magalhdes de Almeida {presidente do Estado, 1926/1936}, herdel (8) ro politico de Urbano Santos Por outro lado, correspondia o PR governista ao par tido que ocupara o governo do rado durante quase toda a Re- piblica Velha, excetuando-se o curto perioda de 1906 a 1910, Correspondia, pois, o magelhdesismo, ao grupo diri~ #26- gente da oligarquia estadual integrado predominantemente pe-— los grandes proprietarios xurais (como os "corondis" José Ca dido, de Pedreiras; Cecilio de Souza, de Carolina; Felipe dos Santos, de Riachdo; Pio Correia Lima, de Sao Bernardo, e etc.), agro-industriais (os “coronéis" Manuel Cruz, de Cururupu ¢ Se~ bastigo Archer da Silva, de Codé) e comerciantes ligados A im- portagdo-exportagdo (entre estes, os "“coronéis" Manuel Jodo de Moraes Rego, de Pedreiras e Pedro de Oliveira, de Sao Luis). Ao lado dessas categorias, integravam ainda o PR go yernista alguns agentes das classes médias do Estado, come Wilson Soares e José Caetano Vaz (funciondrios piblicos), Ala~ pico Pacheco (médico), Antémio Pires da Fonseca (farmacéutico} e Georgiano Goncalves {advogado), que representavam — aqueles classes no partide. Todavia, esse fator ndo constituia critério sufi~ ciente para se entrover, através dele, uma militdncia da peque na burguesia do Estado nesse partido. Mas, antes, a vincula— gdo dessa classe a esse partido derivava da concessio de bene- ficios e favores pelos "donos do poder” & parcela daquela clas se que era partiddria do PR governista. Entre tais favores avultavam os empregos na administragio piblica. Mesmo intelectuais maranhenses de certa projecdo na cional, como Humberto de Campos e Viriato Correia, pertenciam ao PR governista ), também apoiava eleitoralmente esse partido a peque- na massa operaria do pequeno parque manufatureiro do Estado, a qual, na Togistatura 1926/1930, tivera seus "representantes" , -27- tante no Congresso Estadual (ne cd so, © advogado Raimundo Valle Sobrinho), quanto na Cdmara Municipal de Sdo Luis(o ope~ vario Jofo Procdpio Ramos) (1), Contudo, as articulagdes do PR governista nio se esgotavam nesse nivel. Aliava-se a sie, ainda, o Partido Re- publicano Federal, que se agregava ao primeiro como um parti- do ancilar. Com efeito, o Partido Republicano Federal (PRP }, chefiado por Clodomir Cardoso ~ advogado e agro-industrial , sécio da empresa Candido Ribeiro § Cla; proprietaria das f4- bricas Camboa (400 operarios) & Cotoniffcio Candide Ribeiro (360 operarios) — existia come um apéndice do PR governista, dado que sua orientagdo ¢ sua praitica eram determinadas pelos divigentes deste filtimo, Por outro lado, além dos integran~ tes do PRF pertencerem ao mesmo grupo social dos governistas, sua ideologia e suas prdticas politicas cram semelhantes. Integravam o PRE sobretudo os grandes proprietd, rios rurais (entre estes, 08 “corondis' Raimundo Moreira Li- ma e Heitor Guterres) ¢ comerciantes importadores-exportado~ yes, como Marcelino Miranda, de Barra do Corda. Tambén pequena parcela das classes médias do Esta~ do era cooptada, politicamente, pelo PRE e concedia apoio elei, toral aos candidatos deste partido, por determinagdo de pré- prio grupo dirigente, com os seguiates objetivos: 1) de ser evitado possivet “desvio" daquela parce- ja de classe para outros partidos e 2) para “reduzir? a dinensdo do exercicie do poder =28- por um finico grupo-partide, nogho que conflitava com a ideologia da representacao politica com ba se nos pressupostos Liberais. ~ Por isso, 9 grupo dirigents recorria ao PRF, que, como partido de cobertura, ma verdade, constituia ue prolonganento do PR governista. Quanto A sua base de sustentagao politica, o PR si- tuacionista a extraia de duas fontes principais. A primeira , do controle dos aparatos do Estado pelos seus chefes; a segun- da, do apoio politico que estes recebiam de governo central. A essas fontes deve ser acrescentads, ainda, @ manipuiacgéo da “miguina eleitoral" pelo grape dirigente. Caracterizava também a pratica politica do grupo ma gaihdesista a quase nenhuna extensdo de beneficios ou conces— slo politica aos seus adversaries. A centralizagdo do poder do Estado ¢ da maioria dos municipios em torno dos integrantes do PR governista permitia a estes preservar o tipo de dominagdo mandonista, através da qual extrafan, sobretuda da massa camponesa dos latiffindios,o yoto munipulado, que assegurava x “Legitimidadel’ ea continua dade daquele grupo no poder. £ verdade que outros fatores também contribufam pa- ra a preservacdo daquele tipo de dominagdo. Entre eles, era relevante a alianga politica entre o grupo dirigente estadual eo governo central, através da quail ambas as partes se benefi ciavam: o primeiro, pela liberdade para exercer de node quase abgoluto 0 controle dos aparelhos de Estado; © segundo, para contar com 0 apoio do primeiro para a implementagdo das suas =29- politicas ~ tipo de pacto que caracterizava a “politica dos governadores® TD), porém, o fator determinante da dominagdo polftica oligdrquica ndo deve ser apreendido exclusivamente através da nsta@ncia polit Mas, antes, das condigdes em que se dava a reprodugde das relacées de produgdo entre as classes proprig tarias e as exploradas. Ou seja, dado que tais relagées, no caso maranhense, eram predominuntenmente pré-capitalistas, a envolver os grandes proprietarios fundidrios (os chamados "co ronéi: ") @ 08 camponeses (que constituian a maioria da popula gdo economicamente ativa do Estado — cerca de 80%, segundo o Recenseamento Geral de 1920), neias predominavam relagées de doninacdo ¢ dependéncia pessoai “1”. Com efeito, o sistema de dominag&o politica oli~ garquica se estruturava om instancias diversas @ articula~ das em todos os niveis (1), Assim, por exemplo, 0 controle quase absoiuto do aparelho estatal pelos magalhiesistas permitia a estes recor yer a uma constelacdo de recursos eleitorais que compreendiam alam do “yoto de cabresto”, o "bigo de pena", o falso alistar mento eleitoral ¢ as atas falsas, praticados em larga escala no interior do Estado, de onde os governistas extraiam sua ba se de sustentacdo eleitoral. Contude, 6 verdade que nfo se pode imputar — ¢ssas praticas apenas ao grupo dirigente, uma vez que também os apa sicionistas recorriam aos wesmos procedimentos em seus "redu~ tos" eleitorais, particularmente no interior, embora em pro- -30- porcées menores, dado que a quantidade de seus “redutos" era inferior 4 dos seus adversGrios governistas. De qualquer modo, eram praticas comuns aos agentes oligarcas na disputa pelo controle dos aparates estatais atra~ vés do processo eleitoral, fossem aqueles governistas ou oposi cionistas, constituindo um dos reflexos da prdtica politica pré-burguesa. Sobre tais praticas existe, inclusive, interessan- te relato de Marcelino Machado {chefe do PR opasicionista), no qual se encontram indicados alguns dos procedimentos dos gover nistas: ‘No Maranhio, a fraude 35 € igualada pels falsifica- cio das atas eleitorais! Delas nfo se pode dizer Guai seja a maior, a mais abjeta e perniciosa ... nao bhi comarca isenta de fraude no alistamento, (...} a faisificacdo do alistamento, em Sfo Iuis, fox realizada por dois meios: o primeiro consistia no chefe da Policia, tenente ZenGbio da Costa, ado despachar os requerimentos pedindo caderneta de identidade dos cleitores oposicionistas, sd 0 fa-~ zendo quando traziam uma indicagdo do cabo eleito— ral situacionista: o outro meio era o juiz de dired to sait para o interior do municipio, alistando @ yontade os candidatos a cleitor apresentados pelos correligiondrios do sr. Magalhaes! (de Almeida), Aos eleitores independentes ora despachavam as peti gdes ... ora tinham o deferimento, porém os interes fados nunca encontravam o encarregado de tirar fots grafias, indo dezenas de vezes ao Gabinete de Iden tificacdo, e, quando conseguiam encontra-lo desocu- pado, posavan diante da miquina sem chapat {...) Enquanto isso se passava com os eleitores in dépendentes, 05 situacionistas nem precisavam apre= sentar sequer oS documentos exigidos por lei" (14). -S1- A lideranga de Magalhdes de Almeida se ampliou ¢ se consolidou, sem diivida, quando esse ator esteve 4 frente do governo do Estado (1926/1930). Sua administragdo se caracte ou pela implementa~ go de politicas que privilegiariam a construgéo de estradas para permitir o escoamento da produgdo (recorde-se, entre os anos de 1926 e 1928, as exportagées maranhenses aumentaram , conforme s¢ pode vorificar no quadro 3 da nota 1 deste capitu Jo), melhoramento dos equipamentos urhanos da Cupital e das tentativas de equilibrar o orgamento do Estado GO), Quanto aos seus adversdrios politicos, Magalhdes de Almeida recusava-se a fazer-lhes quaisquer concessées, nen os contemplava com beneficios através da sua politica adminis. trativa (rigor na cobranga dos impostos, dispensa de funciond rios piiblicos partiddvios dos oposicionistas e etc.). Nesse sentido, mantinha-se dentro dos limites do "cédigo” politico dos governos oligarcas: lealdade para com os seus partida- rios e hostilidade para com os inimiges politicos. Freqlente mente, também recorria 4 violéncia policial contra algums des tes. A frente dessa repressdo, encontrava~se o tenente Zend- bio da Costa, comandante da Porga Publica estadual durante tg do o governo de Magalies. © prestigio e¢ 0 poder de Zendbio da Costa junto a Magalhdes de Almeida foram comentados por Marcelino Machado: “zenébio, que parecia As vezes ser o verdadeiro ad- ministrador do Estado, tais ¢ tio variados © impor tantes eram os cargos por ele ocupados cumulatiy: mente (que, além) ‘dos efetivos de chefe de poli— cia e comandante do Batalhao Policial .., foi Se- -32- cretdrio Geral de Estado ¢ Prefeito de Sao Luis, tudg 20 mesmo tempo e, no final do governo, cra o dmico administrador’ de todas as obras’ pibli eas (16). ~ Ao £indar o seu governo, Magalhdes de Alweida,além de ter deixado relativamente consolidada a sua posicio de lide ranga proeminente do seu grupo (apesar de ter enfrentado a re- sist@ncia de Genésio Rego, seu vice-presidente do Estado, que pretendia sucedé-lo no governo, tendo sido preterido pela esco~ iha de José Pires Sexto}, conseguiu certa prestfgio politice entre as diferentes classes sociais do Estado, sobretudo por ter dinamizado as atividades econémicas que exploravam produtos pa~ ra a exportacdo e também por ter realizado obras urbanas de al~ gum vulte, tanto na Capital como no interior que, de certo mo- do, aunentaram as oportunidades de emprego para os setores S0~ ciais de rendas baixas, particularmente no setor de constru- cdo civil, # verdade que tais ewpreendimentos se fizeram & cus ta de vultosos empréstimos; mus, come as exportagbes estaduais haviam crescido o partir da sua posse no goyerno, justifica- va aqueles empréstimos com base na expansdo dagquelas exporta— gdes. pesse mode, ao sair do governo, em 28 de feverei-~ ro de 1930, deixou em seu lugar um sucessor de temperamento po litico diverse do seu, por suas tondéncias Liberais e concilia doras. Origindrio de familia de oligarcas, José Pires Sexta,no entanto, nao era Lideranga expressiva dentro dos quadros do. magathdesismo; advogado, sem experiéncia politica anterior, o substituto de Magaihdes de Almeida no governo, entretante, fora escolhido por este para sucedé-io, indicando o recelo daquele ~33- de que este filtimo viesse a tentar superd-lo ma chefia do gru- po. A saida de Magalhics de Almeida do governo mereceu, do editorialista do jornal de Marcelino Machado (0 Combate) os seguintes comentarios: “Rumo fis plagas sulinas seguird, hoje .. toso sr. José Maria Magalhdes de Aimeida. © calami- Partird cabisbaixo, proscrito de sua prépria terra e expulso da comunhio dos seus coestaduanos pela fatalisade inexoraével do julgamente impoluto da opinido pliblics. (...) Parte para o sul da Replica o mais desas— trado de todos os governadores do Maranhdo, o mari nheiro ousado ... mas levard na frente o estigma dos condenados” (17). © articulista previa o Tim da carreira politica do ex-presidente do Estado, por se encontrar este destituide de qualquer mandato, Contudo, a p ¢S0 da mais importante lide ranga do grupo dirigente de um mandato politico de relevo nie constituia cogitag’q dos integrantes daquele grupo. $ & iP Com efeito, ainda no comego de margo de 1930 0 — portanto, pouces dias depois de ter Magalhdes de Almeida doixa do 0 governo — apareceu na imprensa local (excetuando-se 0 Combate), manifesto do PR governista, cujo teor era o que se segue: “OQ Diretério do Partide Republicano apresenta e re~ comenda aos sufragios dos seus correligionarios 0 none do ilustre capitdo de corveta José Maria Maga Indes de Almeida, oficial da Armada Nacional, resi dente na Capital do Pais, para a vaga aberta no Se nado Federai, coma renéncia do sr. coronel Anto— nio Bricio de Aratijo. Sio Luis do Maranhdo, 11 de margo de 1930. =34= Anténio Pires da Fonseca, Teodoro Bernardino Rosa, Dr. Brasilio Franca de $8, Georgiano Horacio Gon- calves, Arthur Henrique Magalhdes de Almeida, Al- Gides Lima Pereira, Dr. Dialma Caldas Marques Carlos Neves” (18). A candidatura de Magalhdes de Almeida para o Sena~ do constitufa, efetivamente, um arranjo das forgas governamen tistas, para prover a lideranca do chefe do grupo magalhaesig ta de um mandato polftico, a fim de legabizar a sua militancia politica e legitim4-ia. Para essa eleigdo, contou o PR governista com 0 apoio do Partido Republicano Federal, seu aliado constante, cg no nas eleigdes de 12 de marge. Enfim, 0 controle dv apareiho de Bstado e a vité— ria obtida pelas forgas do PR governista nas eleigées de 1? de narco de 30, permitian aes situacionistas condigées para pro- por arranjos visande 2 nanutengdo da unidade do grupo politico dirigente ¢ a sua continuidade no governo em torno da chefia de Magalhaes de Almeida, sem incorrer em Tisces. quanto As eleigées de 1? de margo - conforme se po de observar a seguir ~ foi o PR governista 2 forge politica vi toriosa absoluta, dado que nenhum partido da eposigéo conse- gain eleger queiquer dos seus andidates para os cargos dispu~ tados no Estado (um senador @ sete deputados federais). Tabela T MARANHAO ~ RESULTADO GERAL DAS 1930 REALIZADAS CARGOS / CANDIDATOS Presidente da Repiblica JGlio Prestes Getiilio Vargas Minervino de Oliveira Luis Carios Prestes Jodo Pessoa Vice-Presidente Vital Soares Jodo Pessoa Gastdo Valentin Mauricio de Lacerda Getidlio Vargas Mal. I. Dias Lopes Raimundo Veloso Senador Cunha Machado Adolfo Soares Filho Yarquinio Lopes Fithe Henrique Coelho Neto Deputado Federal Ravl Machado Costa Fernandes Domingos Barbosa Agripino Azevedo Humberto de Campos Viriato Correia Clodomir Cardoso Marcelino Machado Pereira Jinior Teixeira Jinior Martinho Rodrigues Carlos Montelo Herculano Parga Carlos Humberto Reis Hermelindo C, Branco Luso Torres Raul Pereira Anténie Lopes Raimundo Silva yo PARTIDO PR gov. /PRE A. PR gov. /PRE ~35- GOES DE 1? DE MARCO DE N? DE VOTOS 34.668 fPRop./PD 4,548 10 L 34,669 ALL./PR op./PD 4.559 BOC PR gov./PRE PR op. PD PR gove PR gov. PR gov. PRE PR gov. PR gov. PRE PR op, PR gov. eb Avalso Avulso PD PR PR Ayulso Avulso Avulso Avulso HERES 34.245 2.845 1.876 27.895 27.487 27,405 27.129 27.405 26.768 26.419 18.855 ‘Obs. PR gov. = Partido Republican governista; PR op = Partido Republi- cano oposicionista; PRE = Partido Republicano Federal; AL, = Alian ga Liberal; PD = Partido Democratica do Maranhdo; BOC = Bloco Opera Tio ¢ Camponés. FONTE: Ata dos resultados eleitorais de 1° de marco de 1950 no Estado do =" Maranhao, Didrio Oficial, 05/04/30, pp. 2-3. Naquelas eleicées o PR governista ¢ o PRF aliaram-se no apoio As candidaturas de Jiilio Prestes e Vital Soares; 0 PR oposicionista e o PD wniram-se sob a legenda da Alianga Libe~ ral, para apolar Vargas e Jodo Pessoa. E ainda: somente o PR governista eo PRE elegeram candidatos para o Congresso Nacional: 0 Senador (Cunha Macha- do, apoiados pelos dois partidos situacionistas) e todos os se te representantes maranhenses na Camara dos Beputados. & PR go yernista elegeu cinco deputados (Ravi Mechado, Costa Fernandes, Domingos Barbosa, Huuberte de Campos © Viriato Correia) 8) | enquanto o PRE elegeu Agripino Azevedo e Clodomir Cardoso. As eleigées de 1? de marco diferiram, sem diivida,das anteriores, sobretudo porque as forcas de oposigde no Estado, organizadas em torno da Aliange Liberal, conseguiram uma mobi- lizagde ponderdvel do eleitorade urbano, que se apresentou pro. penso a conceder 0 seu apoio aos candidates oposicionistas.Con tudo, também as forgas govyernistas, do seu lado, arregimenta- yam-se, a fim de enfrentar o crescimento do eleitorado de epg sicko, através da recorréncia is priticas da fraude eleitoral, sobretudo no interior do Estado. Para enfrentar o grupo dirigente, os oposicionistas do PR concentraram sua campanha om torno da candidatura de Mar celine Machado (chefe desse partido) para a Clmara dos Deputa dos; atitude identicamente tomada pelo grupo do PD, quanto ao seu candidato a deputado federal (Teixeira Jinior). Observe se, esses dois partidos registraram poucos candidatos para a Camara federal, a fim de ser evitada a dispersdo dos votos do -37- seu eleitorade (co PR oposicionista registrou apenas trés candi datos, enquanto que o PD somente dois). Mesmo assim, a providéncia tomada pele PR oposicio— nista no conseguiu lograr o resultado pretendido: Marcelino Machado foi "degolado” pelas forcas governistas 7%), A disputa pelo poder entre magalhaesistas e marceli- nistas remontava ao inicio da década de vinte, quando os dois chefes desses grupos se firmaram em suas carreiras politicas (& verdade que a militancia politica de Marcelino Machado comegou antes da de Magalhies de Almeida, dado que o primeiro assumiu a chefia do PR de oposicdo em 1918, quando passou a ocupar 0 lugar deixado por Benedito Leite, seu sogro, depois de alguns anos da morte deste; enquanto que o iiltime ascendeu & cena po Litica a partir de 1922, quando passou a preencher a posicio antes ocupada por Urbano Santos na lideranga do grupo dirigen te). A competicéo entre magalhdesistas © marcelinistas se acirrava sobretudo nos pericdos eleitorais, conforme se pide verificar, entre outros, na eleicio gue tinha por objetivo con feriry um mandato de senador a Magalhdes de Almeida, j@ anuncia da Linhas atras. para enfrentar a candidatura do chefe dos governis- tas, 0 PR gposicionista apresentou candidate. No manifesto de langamento dessa candidatura © PR marcelinista fazia referén- cia direta 4 “reniincia" do “coronel” Anténio Bricie de Araujo & sua cadeira no Senado, a fim de beneficiar politicamente chefe do magaihdesismo; ~38- "Q Partido Republicano, presidido pelo eminente Dr. Marcelino Machado, por secu DiretGrio, no fim assi- nado ... vem, pelo presente manifesto dirigide ao Pove Maranhense, apresontar aos sufragios do elei- torado ....0 sr. dr. Lino Rodrigues Machado, como candidato & senatdria federal, na vaga deixada por quem simplesmente guardava a Cadeira para servir as ordens de terceiro, aos indecentes conchavos que vém desmoralizando o regime. So Luis, 1% de maio de 1936. Adolfo &, Soares Filho, Carlos Humberto Reis, Ma- noel Vieira de Azeyedo, Gerson Correia Marques ,Rai mundo Golgaives da Siiva, Francisco F. Rabeio, Her melinde de G, Castelo Branco, Jofio Assis de Matos” e Nilo Ludgero Pinzon” (21). O grupo do PD também apresentou seu candidate — no caso, o chefe desse partido, Tarquinio Lopes Filho — embora al- guns dos integrantes do grupo ja estivessem envolvidos com a conspiracéo que visava a derrubsda do grupo dirigente do Esta do, depois da divalgagdo dos resultados, nacionais e estaduais das eleicdes de i? de marco. 0 envelvimento do chefe tarqui— nista e de alguns dos seus liderados na conspiragdo, consti~ tuiu fator determinante para o pouco empenho desse grupo naque ja eleigdo para senador. Resuitou da mesma ~ realizada em 4 de junho de 1930 - a vitéria de Magaihies de Almeida. 1,2. Os marcelinistas Constituia este o grupo de opesicio politica de maior peso eleitoral aos governos federal e estadual, no Maranhdo,dy rante toda a década de vinte. Representava, também, a forga de oposigdo oligarquica; ¢ era assim denominado porque seus inte grantes e adeptos se submetiam & lideranca politica de Marceli no Machado, chefe do PR oposicionista. =39- Originario de familia de grandes fazendeiros, do mi- nicipio de Buriti, Marcelino Ma chado formou-se em medicina, no Rio de Janeiro, em 1911. "Regressanda a $40 luis, casou-se em 30-3-1911 com Dy Ana Elvira Pires Ferreira Leite, fino ormamento da nossa sociedade e que era filha de Benedito Pereira Leite, ja falecido e de sua esposa D. Angélica Pires Ferreira Leite. (...} Em 1918, 0 partido politico que Benedito Leite organizara ¢ Chefiara até o seu falecimento em 1909, elegeu-o Deputado Federal por duas legislaturas''(22). Conservands a heranca politica deixada por seu sogro Benedito Leite (deputado federal, senador e presidente do Esta do, 1906/1910, cargo este cujo mandato nio chegou a conciuir , pois faleceria em 1909), Marcelino Machado conseguiu manter a eoesdo dos integrantes do PR oposicionista em torno do seu no- me @ tornar-se a principal lideranga das oposicgdes, sobretado para os setores médios e populares urbanos do Estado. Entre as medidas gue adotou para dinamizar a prati- ca de seu grupo-partide, Marcelino Machado adquiriu o diario O Combate, através do qual veiculava o pensamento do seu gru- po. Agrupava o marcelinismo o setor das classes dominaa- tes do Estado que criticava o situacionismo. Integrado por la tifundigrios {entre eles os “coronéis” Lourengo Coelho, de Ro~ sirio; Teoplistes Carvalho, de Pastos Bons; Paulo Ramos Rodri gues, de Sdo Vicente Ferrer e Const@ncio Carvalho, de Buriti), agro-industriais (como o “coronel" Luis Pereira da Silva, de Coroaté) e comerciantes importadores-exportadores (Aurino Cha gas e Penha, de S80 Luis, Gerson Correia Marques, também da Ca 406 pital, além de Manuel Lages Castelo Branco, grande proprieta— rie de terras em Pedreiras © de casas comerciais em vdrias ci- dades do Estado}. Ao lado de @8 agentes, encontravam-se atores de ex- tragdo social dos setores médios, que desfrutavam de certo prestigio cleitoral junto ae eleitorado das cidades do interior eda Capital: Antenor Amaral, funcionério p&blico (Pedreiras) Paulo de Arafijo Lima, farmacéutico (Brejo), Catdo Maranhio, jor nalista (Carelina), Manuel Tavares Neves Filho, médico ( Sao iufs}, José Nunes Arouche, advogado (Sao Luis) e Mauricio Jan sen Pereira, engenheiro agrénomo($i0 Luis). Apesar de ser um partido contre ado por um grupo oli garquico,o PR marcelinista recebia o apoio eleitoral dos seto~ res populares da Capital, incluindo-se entre estes as baixas classes médias (pequenos artesfos, funciondrios piblicos da ca tegoria “serventes’) além das populagées de ocupagdes pouco definidas, cuja sobrevivéncia variava entre os prestadores de pequenos services, até os vendedores ambulantes, empregados domésticos, ete, 0 discurso “radical mantido pelos marcelinistas con tra o grupo dirigente e a prdtica assistencialista e filantré- pica desenvelvida pelos oposicionistas do PR em diregdo as classes populares de SGo Luis, constituiam os fatores que le~ vavam os marcelinistas a contar com o apoio eleitoral das mas- sas da Capital, prdticas essas que encontravam ¢certa dificul- dade para se estender para o interior, dado o controle exerci- do pelos chefes governistas locais sebre as populagSes da maio. ria dos municipios. ~41- Com efeito, embora o discurso marcelinista nfo con- tivesse propostas que ultrapassassem a simples substituigdo do grupo dirigente do Estado, o PR oposicionista contava, efetiva mente, com o apoio eleitoral das classes populares de Sao luis, excetuande-se a pequena massa operdria, cooptada pelo grupo situacionista. Bssa observacio pode ser ilustrada através dos resul tados das eleigdes de 1° de margo na Capital, onde a votagao obtida por Marcelino Machado situou-se pouco abaixo do total de votos atribuidos a todos os candidatos a deputado federal, naquelas eleigdes. O total de votos obtidos por tod: os candidates a deputado federal pelos demais partidos (8.917) naquelas elei- ges em So luis foi pouco superior & votagdéo atribuida unica~ mente a Marceline Machado (6.104 votos). por outro lade, a votacde obtida pelo chefe da PR oposicionista na Capital correspondeu a 1/5 do total de votos por ele obtidos em todo o Estado nas mesmas eleigées, Observe-se, ainda, a diferenga do nimero de votos en tre Jiilio Prestes .¢ Getiilio Vargas foi de 146 votos, ¢ entre Vital Soares © Jofo Pessoa, de cente e quarenta e cinco, Esses n@meros indicam a receptividade e 0 apoio eleitoral oferecido pelas populagdes da Capital aos candidatos aliancistas, Da an@liso da tabela a seguir, pode-se ainda perce— ber a auséncia de candidatos populares como Minervino de 01i— veira e Gastdo Valentim, candidados do BOC a presidéncia e vi- ~§2- ce-presidéncia da Repiiblica, que nfo obtiveram qualquer vota- cao na Capital, embora fosse este o maior e mais importante centro urbano do Estado, além de se encontrar nele instalada a maioria das fabricas que compunham o parque manufatureiro mara nhense G3) . Tabela II SAO LUIS DO MARANHAO ~ RESULTADO FINAL DAS BLEIGOBS DE 1* DE MARCO DE 1930 REALIZADAS NA CAPITAL s 5 “Epos Ne DE N is CARGOS/CANDIDATOS . PARTIDOS voros Presidente da Repiiblica Jailio Prestes PR gov./PRE L314 Getillio Vargas A.L./PR op. /PD 1.168 Vice-Presidente Vital Soares PR gov. /PRE L.3LL Jodo Pessoa AL. /PR op./PB 4.406 Senador Cunha Machado PR gov./PRE 1.321 Adolfo Soares Filho PR op 715 Tarquinio Lopes Filho PD 447 Deputado Federal Marcelino Machado PR op. 6.104 Clodomir Cardoso PRE 2.629 Costa Fernandes PR gov. 1.219 Raul Machado PR gov. 944 Agripino Azevedo PRP 901 Domingos Barbosa PR gov. agg Viriato Correia PR gov. 782 Humberto de Campos PR gov. 778 Pereira Jr. PR pov. 498 Teixeira Jr. PD 277 PONTE: O fmparcial, 03/84/30, p. & A caracterizar o discurso marcelinista havia a au- séncia de referéncias explicitas is contradigdes derivadas da predominancia das relagdes de produgao pré-capitalistas no Bs tado, particularmente quanto & exploraca> do trabalho do cam pesinato, como também sobre a questao da dificuldade de aces- 50 & propriedade da terra pela forca de trabalho do campo. Com efeito, fatores como 1) a dificuldade de mani~ pular eleitoralmente o campesinato, dado que este se encontra va sob 0 controle ecendmico, politico e social dos chefes go- vernistas locais e 2) a relative dificuldade para formular propostas que contrariavam os interesses dos senhores da ter- ra que integravam o PR oposicionista (como nos outros parti— dos, onde estes agentes também se encontravam presentes), le varam os marcelinistas a desenvoiver sua pritica politica em diregdo 4 cooptagdo das massas da Capital. No discurso que os marcelinistas dirigiam aquelas massas ~ de forte contetido polftico-~jurisdicista — sobres— saia a censura As prdticas politicas do grupo dirigente, pon~ tuada por uma retérica que relevava a ‘noralizagado" dos costuy mes politicos. Por outro lado, havia ainda no referido discurso a condenacdo a qualquer proposta de aperfeigoamento do modelo politico Liberal vigente através da utilizagde de recursos sextra-sistémicos”. Ou seja, recusavam-se os marcelinistas a propor e@ a aceitar quaiquer alteragdo daquele modelo pela forca armada (9), -A4~ A reacao de Marcelino Michado ao Manifesto de maio de prestes ilustra o pensamento daquele ator em reiacgio a pro postas mais radicais para a transformag’o do capitalismo, da sociedade e do poder no Brasil: “Nao £ui propriamente correligiondrio do capitdo Prestes, embora o tivesse em grande admiracdo.0 seu manifesto foi uma surpresa dolorosa ¢ uma decepcdo para a opinifo publica .., Como brasi- leiro, lamento, porém néc posso deixar de rea~- firmar a minha radical ¢ absoluta divergéncia com as solucées propostas pelo capitdo Luis Prestes para o problema brasileiro da atualida de" (25). ~ Essa posicgdo ideolégica seria mantida pelos marceli nistas também em relagdo ao grupo do PD estadual, dada a iden tificacdo desse partido com o pensamento tenentista. contudo, a linha ideolégica liberal mantida pelos marcelinistas néo obstaculizava a preservagdo das relacées desse grupo com as classes populares de Sao Luis, nem ameaga- ya o apoio politico-eleitoral dispensado pelas massas da Capi. tal ao PR opesicionista. Conforme narra um ex-militante desse partido, “a grande forga eleitoral dessa extraordinaria cor rente de opinido provinha dos bairros pobres de Séo Luis, da gente simples e humilde da ilha rebel de {assim denominada por suas classes populares in fringian constantes derrotas eleitorais ao grupo dirigente —- JRC), dos chamados 'Pés-Raspados’ da Capital maranhense, expressdo muite usada naquele tempo, tetirada das letras iniciais do Partide Re- publigano, pelos adversaries do marcelinisno, ao intulto de menosprezar os seus eleitores,cuja gren de maioria era constituida de homens do povo. (...) Bm cada 100 habitantes desta cidade, oitenta pelo menos, eram eleitores ou simpatizantes do P. R. Dai porque em todos os pleitos realizados en Sao Luis, o marcelinismo vencia por larga margem “45- de votos. Assim, para abafar a votacio macica obti- da pelo P.R, na Capital, os seus adversirios recor- rian, quase sempre, 4 fraude, no interior’ (26). Com efeito, o discurso e a pratica politica de PR oposicionista desenvolvidos em direcdo as classes populares de $40 Luis, permitem aproximi-lo da categoria “partido ndo~ elite’ apontado por Gramsci, no qual as massas constituem apenas um grupo de manobra, que & “conquistada" através de “pregagdes morais, estimulos sentimentais, mitos mes elanicos de expectativa de idades fabulosas, — nas quais as contradigées ¢ misérias do presente sordo resolvidas e sanadas" (27). Entretante, embora ¢ PR oposicionista se distancias se desse messianismo ¢ dos demais fetiches apentados naquele tipo de partido identificado por Gramsci, contudo, a aproximd los havia um cimento ideolégico mais ou menos comum a eles: as contradicdes sociais seriam solucionadas com @ substitui- cdo des agentes no poder. fm suma, a ideologia Interposta, © racteristica do partido "ndo-elite’ descrito por Gramsci, pg dia ser também ideatificada no discurso do PR oposicionista , enbora na verdade se tratasse de um partido de elite, que pro curava mascarar essa trago, a fim de manipular eleitoraimen- te as classes populares urbanas do Estado C8), Quanto as classes médias, também contava o PR oposi. clonists com o apoio politico-eleitoral da maior parcela des~- se setor no Estado. Divididas entre os partidos existentes (o PR situa- cionista, 0 PR oposicionista, o PRF @ o PD estadual), as clas ses nédias maranhenses deixavam~se cooptar, em sua maioria,pe lo PR marcelinista. nA6b= E verdade que tais classes nao eram numericamente ex pressivas ne conjunto da sociedade maranhense. Situadas nos in tersticios desta, apresentavam-se localizadas sobretudo na Ca pital e nas sedes dos maiores municipios, onde se dedicavam as profissées liberais, 4 administragdo piblica, ao nédio comér- cio @ poucas atividades mais. Admitindo-se ainda que a pequene burguesia se encon- trava nas cidades e que o tamanho destas, no Estado, era razoa velmente pequeno, dado que em 1920 nenhuma delas chegava a pos suir cem mil habitantes, dispde-se, a seguir, a distribuigio dos municipios maranhenses segundo a sua populagdo. Tabela IIT MARANHAO - GRUPAMENTO DOS MUNICIPIOS SEGUNDO A POPULACAO - 1920 No de mu GRUPOS DE POPULACAO nicipios” 4 Menos de 10.000 habitantes 24 38 De 10.001 a 20.000 habitantes 3h ag De 20.001 a 30,000 habitantes 7 as De 30.001 a 40.000 habitantes - - pe 40,001 a 50.000 habitantes - - De Gi a 60.0060 habitantes 2 3 TOTAL 64 106 EONTE: Recenseamento Geral de 1926. Enquanto a populagdo total do Estado era de 874.557 habitantes em 1920, distribufda em 64 municipios, em 1936 @ mesma populagde passou para 1.157.387 habitantes (estimati va do Instituto Nacional de Estatistica), distribuida em 65 nunicfpios, Entretanto, a composigdo dos municipios por gru “47~ pos de populagdo ndo sofreu alteragdo substantiva, conforme se pode observar pela tabela abaixo. Tabela IV MARANHAO ~ GRUPAMENTO DOS MUNICTPIOS SEGUNDO A POPULACAO - 1936 GRUPOS DE POPULAGAO No de me 4 nicipicd Menos de 10.000 habitantes 13 20 De 10.02 a 20,000 habitantes $3 50 Be 20,001 a 30.000 habitantes 2 20 De 30.001 a 40,000 habitantes 5 f Be 40,003 habitantes > - De 50.001 habitantes - . De 60,001 a habitantes i L De 70,001 habitantes - De 80.001 a 99,000 habitantes i 1 EONTE: Instituto Nacional de Estatistica, Anuario Estatistico do Brasil, ano TIT, 1937, p. 144 Com efeito, naquele intervalo de 16 anos, caiu o nii- mero de municipios com menos de 10,000 habitantes, porém, ne~ mhun deles atingiu o nimero de 100.000 habitantes; o centro urbano mais populoso do Estado contimuou a ser Sao Luis, com $4,353 habitantes em 1936, segundo a estimativa do Instituto Nacional de Estatistica. E ainda: a rigor, a maioria das sedes municipais ma- ranhenses nao contava com equipamentos & servicos que permitis gem caracterizi-las como centroS urbanos tout court, Antes , apresentavam-se como um prolongamento do campo, dada a predo- mindncia das atividades agricolas sobre as demais. Na verda— de, as atividades econdmicas existentes naquelas localidades no diretamente ligadas 4 economis agraria — comércio, alguns servicos © # burocracia piblica ~ gravitavam em torno da ati- ~48- vidade produtiva predominante, a exploragie agricola, dado que aqueles setores cresciam quando a agro-exportagao aumentava @ se restringiam quando a produgSo e a exportagae dos produtos primdrios se vetraian. Assim, admitinde-se 0 critério indice de urbanizagdo para apontar a presenga das classes na estrutura social mara nhense, deveri ele ser completado com as profissées para iden- tificar a composicdo das classes no Estado e dai se observar a presenca das Classes médias naguela estrutura, Tabela V MARANHAO ~ POPULACAG ECONOMECAMENTE ATIVA SEGUNDO AS PROFISSOES. 1920 ESPECTPICAGKO TOTAL 4 Produgdo de matérias~prinas Exploragdo do solo ws.eeesee eee weeeee 208.012 73, rxtragio de matériais minerals Transformagao ¢ 2 emprego da matéria-prima Indistrha coes ces ace ne een eer ec eer eres 2578 1264 COMBPETO viv ec eee e eee eee eee reve eeeececns 4,482 1.6 Frangportes ...ee eee peveevenessseeeenees 96910 3,8 Administracio ¢ profissdes liberals Forga Pilblica ..eveeseeeeeeeeee . we 2M? 0,4 Administragdo piblica .......- vs 2,209 o.8 Administragdo particular v1... canes 388 O4 ProfissGes Liberais vsvesececeeseeeecvees 2,438 0.9 TOTAL 262.582 190,0 PONT, Recenseamento Geral de 1920. nd9- Bas profissdes mais diretamente relacionadas com as classes médias — burocracia estatal, administragaéo particu (29) lar e profissées liberais pode ser observado que as mesmas nao alcangaram o percentual de 3% (antes, somaram ape~ nas 2,24). Assim, circundada, de um lado, pelos grupos deminan tes e, de outro, pelo campesinato e pele pequeno proletariado urbano, as pouco numerosas classes médias maranhenses nio dig punhan de muitas condigdes (materials e politicas) para se or ganizar autonomamente no plano politico. Com efeito, fatores como 1) seu tamanho reduzido, 2) a sua cooptagdo pelos partidos dos grupos dominantes ¢ 3} a sua relutdncia em se articular politicamente com os setores populares (fator decorrente do enunciado no item 2), consti-~ tuiem fatores que limitavam as classes médias maranhenses pa~ ra se ofganizarem como forga politica com projeto poiftico (50) proprio : Bm outras palavras, dadas as circunstancias aponta~ das, a pequena burguesia maranhense se distribufa majoritaria mente entre o magalhdesismo e 0 marcelinismo, sendo que nes- te filtimo em maior escala. Embora o marcelinismo no dispusesse de certos re- cursos politicos para atender a determinados interesses das classes médias por se encontrar fora do controle direto do aparato estatal (que permitisse Bquela facgéo conceder empre gos e outros beneficios extraidos do setor piblico), aquelas classes apolavam o PR oposicionista. Tal apoio derivava, sem “50 Mivida, da identificagko ideolégica de tais classes com o pen samento politico marcelinista, que apontava para a necessida- de de ser aperfeigoada a liberal~democracia, a fim de ser am- pliada a sua participagde ne jogo politico, Por outre Lado, porque @ proposta para a alteracHo daquele jogo, segundo fornulagdo marcelinista, deveriu processar-se sem a recoT— réncia a recursos "extra-sistémicos", ou seja, porque tal formulagdo, om filtima instancia, ndo continha ameacas a pre- servacio de cotablishnent. fnfim, o marcelinismo contava com 0 apoio politico e eleitoral de ponderavel parcela das classes médias do Esta do, porque correspondia & iinica facgao politica através da qual aquelas classes admitiam poder manifestar sua oposigao ao controle do aparelho estatel por um grupo que ado se volta va para ampliat a participacgéo de tais classes ne jogo politi co. Gon efeito, por contar com o apoio eleitoral da nator parcela das classes médias e populares urbanas do Esta do, 0 marcelinismo constituia o maior grupo politico de oposi gio no Maranho, nos Gitimos anos da Primeira Repiblica. Todavia, essa posic¢ao resultava de um modo de pre— servagio da politica oligdrquica (pré-burguesa), em que as relagdes entre as classes dominantes dissidentes e as doming- das refletiam também um tipo de relacionamento politico entre elas, no qual deveriam predominar os interesses dos grupos dominantes sobre os dos subalternos, de modo ponderavelmen- te assimétrico. E mais: tais relagGes nfo poderiam ser en~ trevistas como resuitantes de uma alianca politica entre clas ses heterogéneas (conforme o pretenderiam os analistas do po~ pulismo), mas como o produto de relagées sociais desiguais . refletidas através das priticas politicas da quelas classes. 1.3, Os tarquinistas © terceiro grupo que atuava na cena politica do Es- tado — € verdade, com peso eleitoral menor que os magalhae- sistas e que os marcelinistas, dada a sua relativamente peque na quantidade de adeptos - eram os tarquinistas, do Parti do Democratico estadual, chefiedo pelo médico Tarquinio Lopes Filho. A principal caracteristica do tarquinismo, contudo, era a sua identificag#o ideolégica com o movimento tenentista (combate & corrupgdo administrativa, centralizagdo do poder ao nivel federal, oposicio & dominacgdo politica oligdrquica , verdade eleitoral, independéncia da magistratura, etc.). For outre lado, constitufa-se em corrente de oposic¢ao politica tanto ao magalhdesismo e ao marcelinismo, por identificar nes ses grupos a predomindncia dos interesses oligarquicos. Nesse sentido, apresentava~se o tarquinismo como o grupo politico cuja ideologia tinha, entre os seus principais traces {como no pensamentoa tenentista), 4 intengdo de superar a predomi— nancia politica olig@rquica sob qualquer forma, inclusive atra vés de recursos “extra-sistémicos", a fim de ser implantado © poder burgués strictu sensu. Tendo como adepta apenas pequena parte da burgue— sia © pequena parcela das classes médias do Estado que se ~$2- opunham politicamente @s5 oligarquias, pretendia o tarqui— nismo reprodnzir, no Estado, 3 linha politica do Partido Demo crdtico paulista (observe-se, o PD maranhense foi fundado em 1927 por Tarquinio Filho, um ano depois da fundagio do PD pau Lista) « Com efeito, o PD maranhense conseguin formar-se organizar-se com uma parcela bastante reduzida da burguesia e das classes médias dissidentes do marcelinismo, por entre yer neste apenas uma faccdo de opesigio formal ao magalhdesis mo. Entretanto, a intengao dos tarquinistas de conquis- tar toda a pequena burguesia do Estado e de se transformar no "braco armado" dessa classe era dificultada pela recusa desta em aderir ao PD, sobretude porque a militdncia politi- ca de Tarquinio fitho SY — orientada por uma oposigéo polL tica radical Zs oligarquias ~ e¢ o receio pela “excessiva" ra dicalizagdo do grupo dos democraticos (que incluia, entre ou- tros, a possibilidade da conquista do governo pela via arma— da) constitulam fateres que determinavan a continuidade do atrelamento polftico da pequena burguesia oposicionista no PR marcelinista, que ndo formulava, em seu discurso, a viabilida de do uso da forga para 2 derrubada do grupo dirigente. © grupo demecrético era integrado por uma composi- clo social heterogénea tanto quanto os PRs governista e oposi cionista, Além da componente burguesa ¢ da parcela das clas, ses médias, #Iguns atores oligarcas integravam o PD maranhen~ se, Entre os agentes desse partido, incluiam-se Genésio Ber~ trand, de Pedreiras, José Cavalcanti Fernandes, da Capital , tuis Pires e Mariano de Matos, também de Sdo Luis,Dida@cio San tos, de Balsas ¢ Pedro Ledo, de icatu, que exploravam o comér cio. Quanto A pequena burguesia, podem ser incluidos José Alcides de Carvalho (m8dico}, de Carolina; Raimundo Simas (jornalista}), de Grajau; José Mata Roma (professor), de Sao Luis; Carvalho Guimardes (adyogado ¢ jornalista), de Sao Luis; Manoel de Macedo Filho {académico de Direito}, de Sao lufs @ Lednidas Leda (comerciante médio), de Pedreiras. Entre os cligarcas, ineluiam-se senhores da terra e proprietarios de prédios na Capital, come os “coronéis” Janud rio Moreira, de Rarra de Corda; Gerson Milhomem, de Porto Franco; Lugo Rocha, de Riachiio e Indcio Parga, de Séo Luis, alén de agro-industriais, com José de Ribamar Teixeira Lei-~ te, da Capital. Besde o comego da década de vinte, os tarquinistas constituiam o grupo que se identificava, no Estado, com o mo~ vimento tenentista, mas que fo tinha conitigées de formar seu proprio partido, Por isso, filiaram-se os integrantes daque- te grupo ao PR marcelinista, embora através de ligagdes mui- to débeis. Tais ligagées se romperam, definitivamente, em 1927, quando fundaram o PD estadual, sob a chefia de Tarqui nio Filho. Com efeito, o rompimento marcelinistas-tarquinistas se definiu quando da passagem da Coluna Prestes pelo Maranhdo, cm novembro de 1925, quando Tarqufnio Filho ficara encarrega do de coordenar os movimentos dos simpatizantes da Coluna no

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