You are on page 1of 210

Copyright © 2022 Tamires Venâncio

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos, são produtos de
imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

Capa: Designer Ttenorio


Revisão: Patricia Suellen
Diagramação digital: Layce Design

Todos os direitos reservados.


Esta obra segue as regras da nova ortografia da língua portuguesa.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer
meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº. 9.610./98 e punido pelo artigo 184
do Código Penal.

Edição Digital | Criado no Brasil.


Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Epílogo
Outras obras
Contato
Toquei a lâmina afiada da navalha que sempre levava comigo para
qualquer lugar. Olhava sem parar as horas no relógio da parede do meu
quarto, era de madrugada e sabia que a qualquer momento Tommasso viria
até aqui a fim de consumar o nosso casamento. Eu não o queria como
marido. Tinha repulsa de pensar que ele já teve relações com a minha irmã e
naquele momento faria o mesmo comigo.
Passei boa parte da vida sendo diminuída, maltratada pelos meus pais.
Fui criada para ser uma garota exemplar que seguia as ordens sem
questionar. Estava cansada de tudo isso. De toda essa escuridão que nasci
carregando. O único ser humano por quem nutri amor na vida foi pela
minha irmã mais nova, Leone, além das minhas queridas aranhas. Somente
por ela eu não trouxe desonra a nossa famiglia, por ela que não fugi quando
tive oportunidade.

Fechei os olhos e inspirei profundamente, Aurora mais uma vez


entrou nos meus pensamentos. Minha irmã mais velha era muito bonita,
educada, graciosa e submissa. Tudo que eu não era. Éramos muito
diferentes. Nunca gostei da ideia de me casar com um completo
desconhecido e viver como a minha mãe, sendo humilhada, espancada e
maltratada o resto dos meus dias. No entanto, para quem nasceu em um
mundo como o nosso, repleto de escuridão e morte, não tinha muita escolha
a não ser acatar as regras.
Sinto como se estivesse substituindo a minha irmã na vida de
Tommasso. Ela esteve aqui nesse mesmo quarto, esperando-o na noite de
núpcias, assim como eu estava. Quando me lembrava da sua morte sentia
um estranho calafrio me tomar. Ela morreu da pior forma e eu poderia ter o
mesmo destino, caso uma guerra entre os Caccini e os Biachi fosse iniciada.
Ouvi barulhos de passos no corredor e me preparei, escondi a navalha
no sutiã. A porta rangeu quando foi aberta, então Tommasso apareceu.
Engoli em seco quando seu olhar parou em meu rosto, tão frio quanto gelo.

— Oi — cumprimentou-me, secamente. — Vamos acabar logo com


isto!
Senti-me estremecer por completo. Ele caminhou até a cama sem se
preocupar que pudéssemos ser vistos por algum funcionário, uma vez que
deixou a porta aberta. No entanto, antes que me alcançasse na cama, saí
dela, levantei-me e andei até o sofá, em seguida me encostei na parede perto
dele.
— Que porra é essa? Está tentando fugir de mim, Kiara? — Sua voz
ecoou pelo quarto como um trovão. Ele ficou furioso e veio até mim, dessa
vez não me movi.
— Estou sangrando. Não podemos transar — expliquei assim que ele
parou diante de mim. Tinha que levantar o queixo para enxergar o seu rosto,
pois Tommasso era muito mais alto que eu.
— Não me importo com sangue — respondeu ele para o meu total
desgosto. — Está com medo de mim, Kiara?

— Não tenho medo de você — cuspi, furiosa pelo seu olhar


dominador sobre mim.
— Mas deveria. — Travei quando desceu a mão até meu pescoço. —
Porque se eu gostar de você, garanto que serei um bom marido, caso
contrário você não terá paz até o final dos seus dias. Fui claro? — ameaçou
com os olhos presos aos meus. Conseguia enxergar o rancor neles.
— Por que você me escolheu? — bradei com ódio. — Você se deitou
com a minha irmã e agora fará o mesmo comigo. Isto é nojento!
Ele abriu um sorriso frio, que me causou um arrepio.

— Eu não te escolhi, você era a minha única opção no momento,


infelizmente. Você está longe de ser o meu desejo, Kiara, assim como sua
irmã também não era!
Furiosa, bati contra seu peito, tentando machucá-lo, mas o homem era
forte demais e parecia nem sentir nada. Ele segurou meus dois braços,
parando-me. Sua respiração pesada batia contra meu rosto. Ele não iria me
parar, não seria submissa a ele. Nunca!
— Não fale de Aurora. Ela morreu por culpa sua.
Seu aperto no meu braço ficou mais forte.
— Você é uma puta maldita! — vociferou em frente ao meu rosto.
Sem pensar duas vezes peguei a navalha de dentro do meu sutiã e cortei o
seu braço, fazendo-o me soltar rapidamente e me olhar surpreso, com os
olhos faiscando de enfurecimento enquanto o seu sangue escorria e
molhava o piso branco. Com o olhar afiado e dentes cerrados ameacei:

— Creio que você deve me respeitar e me tratar de forma cortês,


Tommasso. Pois não sou somente sua esposa e sim a salvação da máfia.
Com o nosso casamento você conseguiu o poder que precisava e com
minha morte pode perdê-lo.
Deixei o homem completamente atônito. Pensei que ele fosse me
matar ali no instante em que o desafiei, mas, ao invés disso, vi o seu olhar
mudar para obstinação.
E foi dessa forma que nossa relação começou, com uma guerra
iminente que eu iria vencer.
Só consegui sentir os meus batimentos cardíacos descompassados,
cada vez mais, as minhas veias saltavam, conforme a minha fúria
aumentava. Passei a mão pela testa limpando o sangue dos malditos Biachi.
Precisava ser ágil e astuto, precisava encontrar o que buscava logo, antes
que a nossa invasão em território inimigo fosse descoberta pelo maldito
Giuseppe.
— Tommasso, entramos. — Cessei meus passos ao escutar a voz de
Nicolo atrás de mim. Virei-me e vi o seu rosto. Senti um frio gélido subindo
pela minha coluna, conseguia pressentir o pior. — Venha comigo.
Segui-o, os soldados foram na nossa frente para garantir a nossa
proteção. Nicolo parou em frente a um dos cativeiros e informou:
— Aurora está aqui!
Aproximei-me das grades para poder vê-la, cerrei os punhos e trinquei
os dentes, sentindo-os ranger ao ver a situação do cativeiro em que ela se
encontrava. Farei essa máfia queimar pelo afronte.
Senti como se todo o sangue se esvaísse do meu corpo ao vê-la caída
no chão, com todo o rosto todo cortado, quase desfigurado por completo,
ela estava morta. Os malditos além de torturá-la, enfiaram uma faca na sua
barriga e deixaram escrito em uma sua pele em um tom preto.

Mais um maldito Caccini queimará.

Virei-me de costas não conseguindo olhar para ela sem vida. Aurora
era minha esposa e era meu dever protegê-la.
— Meus pêsames, fratello — pronunciou Nicolo em voz baixa. — O
que pretende fazer agora?
— Tragam o corpo — pedi aos soldados. — Vamos para casa. Tenho
uma esposa e um filho para velar.
Não esbocei emoção alguma, a única coisa que sentia era uma sede
inesgotável.
Sede de vingança

Sicília 2019.

O velório aconteceu logo após a nossa volta à Sicília. As pessoas


ficaram surpresas com a morte de Aurora e especularam sobre como
aconteceu, quem a matou. As únicas pessoas que sabiam do seu sequestro e
de como ocorreu a sua morte eram seus pais, Nicolo e meu consigliere.
Tudo aconteceu por conta de uma briga por poder. Nossa máfia estava
cada vez mais poderosa e inabalável, tanto que os Biachi não aceitavam que
nosso império estava maior, enquanto o deles declinaram. A guerra dos
Caccini com os Biachi era antiga. Desde quando meu pai era vivo e,
certamente, continuaria até uma das máfias entrar em ruína.
Mattia Caccini era o chefe da máfia italiana, o homem mais destemido
e impiedoso que alguém já conhecera. Ele nunca foi um bom pai, no
entanto, como Don era impecável. Qualquer pessoa tremia somente com
seu levantar de voz. Eu sempre pensei que ele fosse morrer em combate,
nunca sequer cogitaria que um AVC[1] seria a causa de sua morte. Após seu
enterro, soube que minha vida não seria mais a mesma. Logo após sua
morte, tive que me casar com Aurora, a filha de um dos capos mais ricos,
influentes e um amigo antigo do meu pai. No início, eu detestei a ideia do
matrimônio, não queria me prender a uma só mulher para o resto da vida,
mas fiz e faria tudo em nome da máfia.
Após o enterro todos se despediram e foram embora, só restou Nicolo
e eu.

— Ela morreu esperando um filho seu, não é?


— Sim.
— Que caralho. Temos que aumentar ainda mais o nosso poder,
somente assim poderemos acabar de vez com os Biachi — exclamou Nicolo
com raiva. Toquei a aliança de casamento no meu dedo, olhei-o por um
instante antes de tirá-la em frente ao seu caixão perto das rosas.
— Mesmo que eles tentem, nunca mais terão oportunidade para nos
atingir. Aurora foi sequestrada, porque desobedeceu à minha ordem e com
sua falha, acabou levando o meu filho junto.
Senti um gosto amargo na boca ao me lembrar do dia em que Aurora
foi sequestrada. Nós tínhamos discutido, fazia dois dias que ela tinha me
contado que estava grávida. Fiquei feliz em saber que teria um herdeiro ou
herdeira, mas não esbocei a emoção que ela queria, não demonstrei tamanha
felicidade. Aurora era romântica e tentava desesperadamente me fazer amá-
la, embora fosse uma tentativa falha, pois fui criado ouvindo meu pai falar
que o amor pela esposa nos tornava fraco. Presenciei tantas brigas dos meus
pais, muitas vezes minha mãe era agredida, quase morta. Em todas as vezes
que tentei defendê-la tive o braço quebrado pelo meu papà. Minha mãe
cansada daquela realidade acabou se suicidando, deixando a mim, Nicolo e
Giulia aos cuidados do meu pai.
Fazia muito tempo que tudo tinha acontecido. Naquele momento, eu
era o líder dos Caccini e tinha trinta e sete anos. Diferente do meu irmão,
que tinha acabado de completar trinta anos.
Casei-me com Aurora por conta de um acordo entre os nossos pais.
Ela foi prometida a mim assim que nasceu. Com o nosso casamento a máfia
ganharia ainda mais poder. E foi o que aconteceu. Ela não era a esposa
perfeita, mas estava satisfeito com seu jeito submisso de ser. A primeira vez
que ela me desobedeceu, foi no dia que foi sequestrada. Aurora infringiu a
minha ordem no mesmo dia em que os Biachi tentaram um ataque ao nosso
carregamento, por isso precisei deixá-la sozinha. Mandei que ela ficasse
somente na nossa casa, não saísse para nada, mas Aurora não me obedeceu,
despistou os soldados e saiu pela passagem secreta da nossa casa, que ela
nem deveria saber que existia, na tentativa chegar até os seus pais,
entretanto, acabou sendo raptada pelos nossos inimigos e teve um fim
trágico.

— Mal sua esposa foi enterrada e já vi os capos comentando que


deverá se casar novamente. Muitos vão oferecer acordo para unir as
famiglias — comentou Nicolo.
— Irei cumprir meu dever. Vou me casar novamente — respondi um
tanto ríspido. — Mas somente quando eu assim desejar. Não deixarei que
me pressionem.
— Você está certo. Precisa de um tempo sem comer uma só boceta.
Aliás, poderíamos ir juntos ao Alcouce hoje — convidou-me.
— Sexo vem depois dos negócios. Hoje farei um jantar em minha
casa, quero você e o Lorenzo lá para resolvermos problemas. Não deixarei
barato o que os Biachi fizeram.
— Você pretende guerrear contra eles?
— Se for necessário, sim. Por enquanto só quero destruir algo
importante para o maldito Giuseppe. Soube que a puta que ele se casou lhe
deu um herdeiro, que hoje está com três anos. — Abri um sorriso frio —
Vou fazê-lo pagar pela afronta a mim. Vou desmembrar o filho dele, esfolar
e enviar seu corpo desfigurado para o desgraçado.
— É este o seu verdadeiro desejo? — perguntou-me.

— Sim. E realizarei muito em breve!

Subi a grande escada até a parte de cima da minha casa. Resolvi ir até
o quarto de Giulia ver como ela estava, pois no meio do caminho para cá
recebi a mensagem da babá informando que ela estava acamada e com
febre. Comprovei que era verdade assim que entrei em seu quarto. Giulia
tinha oito anos e ela era uma garota complicada. Desde que meu pai
faleceu, ela ficou sob os meus cuidados. Tentava fazer o máximo para que
minha irmã crescesse bem e quando tivesse idade se casasse com o melhor
partido que tivesse na máfia.
— Fratello? — Ouvi sua voz chamar por mim. Aproximei-me da sua
cama.
— Como sabia que era eu?
— Nenhuma babá entra no meu quarto em silêncio como você —
respondeu, em seguida se sentou na cama. Seus olhos pareciam inchados,
como se não tivesse dormido direito. A pele estava suada e pálida. — Como
foi o enterro?
— Como qualquer um enterro é, maçante.
Ela revirou os olhos ao ouvir a minha resposta, depois desviou o olhar
para a janela do seu quarto. Dava para ver o mar.
— Eu não gostava de Aurora, mas não desejava sua morte —
sussurrou, monótona. Coloquei as mãos dentro dos bolsos da minha calça.
— Você sempre disse que não gostava de Aurora, mas nunca explicou
o motivo — pronunciei, calmamente, ela me olhou, os cabelos negros como
os meus balançaram, os olhos azuis pareciam mais escuros nesse final de
tarde.

— Ela parecia não gostar da minha presença nesta casa. Ninguém


parece gostar, na verdade.
— Como quer que gostem, Giulia, se você nem se esforça para fazer
amizades? Vive pregando peças nas pessoas e depois reclama que fica
sozinha — dei uma bronca nela. — Levante-se já da cama e pare de fazer
drama com tudo. Você é minha irmã, mas se for preciso farei com que tenha
o mesmo destino de nossa mãe.
Ela arregalou os olhos e, no mesmo instante, pulou da cama.
— Eu te odeio. Você é um desalmado — resmungou, fitando os
próprios pés.
— Deveria agradecer que sou eu que estou cuidando de você e ainda
tento ser piedoso. Te dou tudo que deseja e ainda reclama? Você precisa de
limites.

— E você de um coração, porque deve ter deixado o seu preso dentro


de uma gaveta a sete chaves — retrucou, levantando o queixo para me
encarar. — Você será um péssimo pai, tenho pena da sua próxima esposa e
do filho que tiver!
Cerrei os punhos sentindo meu sangue ferver. Sem falar mais nada,
me dirigi até a porta e peguei a chave, antes de passar por ela.
— Fratello, o que vai fazer? — ela gritou, apavorada. Fechei a porta
do quarto e a tranquei. — Seu desgraçado.
— Você só sai deste quarto de agora em diante quando aprender a me
respeitar, menina!
Andei pelo corredor em direção ao meu quarto, ouvindo os seus
chutes e socos na porta.
O jantar que havia marcado era para acontecer na minha casa, no
entanto, Lorenzo, meu consigliere avisou que fomos convidados para outro
jantar na casa dos pais da minha falecida esposa. Ao que parecia, Riccardo,
meu ex-sogro, tinha um assunto importante para tratar conosco. Resolvi
aceitar o seu convite, pois queria saber o que ele desejava comigo. Riccardo
era um homem de confiança, estava há anos na máfia e fazia qualquer coisa
por poder e dinheiro. Ele foi um dos melhores assassinos quando mais
novo. Quando contei que sua filha morreu ele pareceu ficar abalado. Aurora
era a filha que ele parecia mais gostar. Era sua primogênita.
Tomei um banho demorado, depois me sequei. Escolhi um terno
escuro como todos que tinha no meu closet. Coloquei minhas joias, o colar
com a cruz que sempre usava, a pulseira e o anel com o símbolo da máfia.
Sequei meu cabelo com a toalha aproveitando para organizar os fios e a
barba. Borrifei o perfume e, enfim, estava pronto. Deixei minha
propriedade. Meu motorista já me aguardava em frente à mansão. Lorenzo e
Nicolo já estavam na casa de Riccardo.
Fui bem recebido assim que cheguei à casa do meu ex-sogro. Ele
sabia bem como recepcionar seus convidados. Ainda mais se tratando do
chefe da máfia. Já me preparei para ser bajulado durante todo o jantar.
— Que bom que resolveram aceitar meu convite. É um prazer recebê-
lo na minha casa, senhor Caccini — falou Riccardo. Assim que entrei na
sala da casa, senti um arrepio me tomar. Lembrei-me do dia que vim
conhecer Aurora.
— Agradecemos pelo convite — respondi de forma cordial.
— Minha mulher que está cozinhando hoje. Ela sabe temperar uma
comida como ninguém. Acho que nem a comida da sua cozinheira,
Tommasso, deve ser tão boa quanto a da minha esposa — comentou
Riccardo, abrindo um sorriso presunçoso.
— Eu sigo uma dieta rigorosa, então a comida da minha cozinheira
nunca é tão agradável — refutei.
— Isto é verdade. Acho que foi esse o motivo que me fez ter mudado
de casa tão novo. Detesto seguir uma dieta e estando sob o mesmo teto que
Tommasso todos tem que seguir as regras que ele demanda — intrometeu-
se Nicolo, fazendo todos rirem, menos eu.

— Bem, pelo que Lorenzo me passou você, Riccardo, tem um assunto


importante a falar conosco. Aconteceu problema? — fui direto ao ponto.
Seu sorriso morreu e ele melhorou sua postura.
— Que tal jantarmos antes de falar sobre os negócios?
Olhei para meu consigliere que assentiu, então, também o fiz. Lorenzo
era o filho do consigliere do meu pai. Confiava nele e nos seus conselhos,
sempre tentava segui-los. Meu pai sempre disse que um mafioso que não
escutava os conselhos do consigliere não iria longe.
— Deixe-me apresentar uma de minhas filhas para vocês. Kiara
acabou de completar dezenove anos. Estou em busca de um casamento
vantajoso para ela — disse Riccardo. Estava demorando muito para isso
acontecer. Claro que o assunto que ele tinha para tratar conosco era óbvio.
Matrimônio. — Kiara, venha cá, querida.
Todos nós meneamos a cabeça em direção ao corredor da casa,
esperando a menina aparecer. De repente, a vi, olhando-nos com os olhos
azuis curiosos e tão ferozes. A primeira coisa que reparei nela foi no seu
tamanho. Ela era muito baixa, bem mais que Aurora. Estava usando um
vestido preto, justo e curto que mostrava as belas coxas.

A menina era bonita, tinha certeza de que ela sabia o quanto era
bonita, somente pela forma que me mediu de cima a baixo e desviou o
olhar, como se me olhar por mais alguns segundos a causasse repulsa.
— Olá, boa noite, senhores. — Finalmente sua voz foi ouvida. Era
grossa e autoritária.
— Boa noite — respondemos. E ela se preparou para sair, mas antes
um tom de voz alto chamou a atenção de todos.
— Aquilo é uma aranha!?
Parei de observar a filha de Riccardo e passei a olhar o chão. Vi duas
aranhas, enormes e de coloração escura, no piso. Riccardo pareceu ficar
furioso e pelo olhar dele para Kiara, compreendi de quem eram.
— Não pisem nelas, por favor! Elas são minhas! — implorou ela em
um tom de voz alto. Era de tamanha imbecilidade alguém se preocupar com
aranhas. No entanto, ninguém moveu um centímetro para matá-las. Seu pai
gritou com ela mandando tirar as pestes imundas dali e assim o fez. Uma
das pragas veio até mim e antes que subissem em meu sapato, Kiara se
inclinou para pegá-la. Dando-me o vislumbre do seu quadril erguido para
cima e a bunda enorme e empinada. Maldição.
— Não pisem nelas por favor! Elas são minhas! — berrei, apressando-
me para salvar as minhas aranhas. Merda. Como foi que elas escaparam do
aquário!? Certamente, Leone devia tê-las soltado. Inclinei-me rapidamente
na frente do Don e peguei uma que estava prestes a subir no seu sapato,
então me inclinei para pegar a outra. Segurei-as e só então fitei o olhar cruel
de Tommasso e depois meu pai, que parecia querer me estrangular. —
Desculpem por isso, vou levá-las para o aquário!
Saí da sala quase correndo, pensando por qual razão sempre me metia
em situações desastrosas como aquela. Entrei no meu quarto e as coloquei
no aquário seco.

— Vocês fiquem aí, meninas! Quase me mataram de susto hoje! —


falei com elas, suspirando aliviada por nada de mal ter acontecido. Espero
que meu pai não criasse caso por conta desse deslize.
— Sorella, o que aconteceu? — Ouvi a voz aflita de Leone e me virei
para fitá-la.
— As aranhas escaparam e surpreenderam os convidados do papà —
expliquei a ela, que colocou as duas mãos para trás e mordeu o lábio como
sempre fazia quando aprontava. — Foi você quem as soltou, Leone?
— Acho que sem querer, esqueci de trancar o aquário quando fui
alimentá-las — confessou, e eu cruzei os braços pronta para lhe dar uma
bela bronca.
— Você sabe bem que somente eu posso alimentá-las. Não gosto que
mexam com as minhas aranhas.

— Desculpe, sorella, não farei de novo, eu juro! — Ela fez uma


expressão de arrependimento, por isso tentei não ser tão dura.
— Certo, somente não faça novamente, caso contrário ficarei muito
brava com você. Entendido? — fiz a exigência.
— Entendido — concordou no exato momento em que nossa madre
entrou no quarto.
— Aí estão vocês! — exclamou ela, parecendo brava. — Venham
comigo, está na hora do jantar, não podemos deixar os convidados
esperando!
— Por que o papà convidou aquele homem? — questionei,
emburrada, minha mãe me olhou por um instante, fitando-me com irritação.

— Aquele homem é o Don, tenha mais respeito, menina!


Claro que ela defenderia o chefe da máfia. Mesmo ele tendo culpa
pela morte de sua filha. Minha irmã.
— Por culpa dele a Aurora não está mais aqui! — contestei, furiosa.
— Kiara, não me faça perder a paciência com você, maldita! —
vociferou minha madre, dando um passo na minha direção. — Não há uma
pessoa neste mundo que sentiu mais a dor com a perda da sua irmã do que
eu. No entanto, devemos respeito ao senhor Caccini, ele não teve culpa da
morte da sua irmã, os culpados são os nossos inimigos, os Biachi. Agora,
vamos para a sala de jantar e não quero que abra a boca em nenhum
momento para envergonhar a nossa famiglia, caso contrário será castigada.
Entendeu?
Ela puxou o meu braço, lançando-me um olhar ameaçador. Assenti,
concordando em ficar quieta.
Nós três fomos até a sala de jantar, em seguida nos juntamos ao meu
pai e seus convidados. Parecia que o olhar dos quatro homens caíram sobre
mim assim que apareci novamente diante deles. Encarei Tommasso,
sentindo meu sangue ferver no mesmo instante em que seu olhar e o meu se
prenderam. Arqueei o queixo, torcendo o nariz e desviei o olhar dele
rapidamente. Deixando bem claro que o detestava.

O jantar se iniciou. As empregadas começaram a trazer os aperitivos.


Todos nós sentamos à mesa. Sentei-me na mesma cadeira de sempre, mas
me amaldiçoei pela escolha, quando Tommasso se sentou bem à minha
frente. Inferno. Teria que encará-lo durante toda a refeição. Com certeza
teria uma indigestão.
Não imaginava a intenção de meu pai ao tê-los convidado para um
jantar, enquanto o corpo de Aurora sequer tinha esfriado no caixão. Não
queria olhar esses homens. Somente em pensar que podia acabar me
casando com Nicolo, o futuro subchefe sentia um ódio fatal me tomar.
Durante o jantar comi pouco, não consegui apreciar a refeição. Fui
tomada por sensações estranhas. Conseguia sentir a presença de Tommasso,
como se ele estivesse bem próximo a mim, toda vez que nossos olhares se
encontravam. Ele emanava poder e arrogância. Seus olhos eram frios e
pacatos. O maldito era dono de uma beleza que impressionaria qualquer
mulher, menos eu. Até mesmo eu não resistiria a ele, se não fosse o
maledetto que era.
Quando o jantar chegou ao fim, os homens foram para o escritório ter
uma conversa confidencial. Estava curiosa para saber o motivo pelo qual
meu pai os convidou, então esperei uma brecha, uma distração de minha
mãe para tentar ouvir a conversa atrás da porta. Assim que minha mãe foi
para seu quarto e Leone foi brincar, caminhei até o escritório do meu papà.
Parei em frente à porta, sentindo minhas mãos suando e o meu coração
acelerado.
— Você está me oferecendo sua outra filha. Riccardo? — Escutei
Tommasso falar. Senti meu corpo estremecer no mesmo instante.
— Pense bem, Tommasso, nossa união familiar foi incrível para a
Caccini. Rendeu muito poder e dinheiro a máfia — respondeu meu pai. —
É claro que nunca em meus piores pesadelos imaginei que teria que casar
outra filha com o mesmo homem. Achava que Kiara se casaria com Nicolo,
sendo assim teria duas filhas casadas com os mais poderosos da Caccini.
Não contava com a morte de Aurora, agora tenho que mudar a rota dos
meus planos.

— Caralho. Acabei de ficar viúvo e não pretendia selar nenhum


acordo de matrimônio agora. Tenho que avaliar as minhas opções antes —
rebateu o Don.
— Kiara é a melhor opção. Nossa famiglia é afortunada e respeitada
na máfia. Durante o seu casamento com a Aurora o poder cresceu em
grande escala. Foi um acordo vantajoso para ambas as partes e tenho
certeza de que seu casamento com Kiara não será diferente!
Nunca senti tanto ódio na vida. Queria poder entrar naquela sala e
gritar que não iria me casar com o Don. Nunca. Jamais.
Só podia ser um pesadelo. Não era possível que meu pai fosse tão
ruim a ponto de me entregar para o mesmo homem que entregou Aurora.
Correndo o risco de me perder, como a perdeu.
— Vou pensar na sua proposta e avaliar melhor as minhas opções
antes de selar um acordo — respondeu Tommasso, encerrando o assunto —
Agora precisamos ir, temos outro compromisso ainda hoje.

Apressei-me em sair dali, corri até meu quarto com o coração batendo
muito rápido. Fechei a porta e respirei fundo, em seguida já comecei a
pensar em um plano. Precisava arranjar um jeito para me salvar de tal
destino.
Era de madrugada quando ouvi um barulho na porta do meu quarto.
Levantei-me e pisei no chão frio com os pés descalços, andei até a porta e a
abri. Levei um susto ao ver alguém no escuro. Então, fui empurrada para
dentro do quarto e tive minha boca coberta pela mão do homem. Arregalei
os olhos ao ver Francesco à minha frente.
— Desculpe assustá-la, Kiara — falou baixo e cauteloso. — Estou
cuidando da segurança da casa hoje, então aproveitei para vir te ver.
Ele tirou a mão de minha boca, permitindo-me falar.
— Você enlouqueceu? Se alguém nos vir você será um homem morto!
— lembrei-o, furiosa. Ele segurou os dois lados do meu rosto, olhando-me
apaixonado.

— Me certifiquei antes de entrar aqui, estamos seguros. Estava


morrendo de saudades de você, Kiara.
Ele aproximou sua boca da minha, mas recuei.
— Não faça isto aqui. É perigoso! — mandei.
— Estamos sozinhos, preciso provar mais um beijo seu. Sinto que
morrerei se não sentir seu gosto novamente — ele implorou, sentia seu
hálito no meu rosto. Engoli em seco. Ele se inclinou, olhou-me nos olhos e
sem pedir permissão me beijou. Coloquei a mão no seu peito, sentindo seus
batimentos acelerados, deixando-me ser beijada.
Sentia-me bem nos braços de Francesco. Seu beijo e toque tinham o
poder de me acalmar. Esperei alguns minutos e o interrompi.

— Agora vá — ordenei, amedrontada pela possibilidade de sermos


pegos. — Já ficou tempo demais aqui.
— Estou apaixonado por você, Kiara. Precisa existir uma forma de
ficarmos juntos, de você ser minha — ele murmurou, tocando minha
cintura, deslizando a mão até meu quadril. Estremeci, por ele quase ter me
tocado em um local íntimo. Não podemos ultrapassar os limites. Nunca. —
Te desejo tanto. Noite e dia sonho com você, menina.
— Você sabe bem que nunca poderei ser sua — falei, fazendo seu
rosto se retorcer com indignação. — Meu pai já está propondo um acordo
de casamento para mim. Não demorará muito para que eu seja prometida a
algum membro da máfia.
— Isso não pode acontecer. Podemos fugir juntos, Kiara, para bem
longe daqui. Não posso sequer imaginar a dor de te perder para sempre. —
Sua voz saiu repleta de agonia. Toquei seu pescoço e fiquei nas pontas dos
pés para lhe dar um breve beijo. Seus olhos nublaram.

— Eu gosto muito de você, Francesco, mas não poderei fugir do meu


destino. Não trarei desonra para a minha famiglia. Não posso arruinar a
vida da minha irmã.
— Você vai sucumbir a uma vida de desgraça por causa da sua irmã?
— ele resmungou, contrariado.
— Se for necessário, sim.
Francesco me soltou e se distanciou, parecendo abalado por minha
escolha.
— Espero que mude de ideia enquanto pode — retrucou antes de sair
do meu quarto, deixando-me sozinha com o coração aos pedaços.

Fui até a janela e olhei o céu, fechei os olhos rezando por um futuro
feliz e não tão doloroso.
Alguns dias se passaram desde o jantar com Tommasso. Meu pai não
comentou nada sobre o acordo conosco, o que me fez pensar que não foi
feito e que, graças ao meu Deus, não vou ter que me casar com o chefe.
— Daqui a dois dias terá a festa na casa do Don. Todos os pais que
têm filhas solteiras vão levá-las para apresentar ao chefe — informou minha
mãe, enquanto penteava meu cabelo, ela gostava de prendê-los antes de
dormir de uma forma que o fazia ficar com cachos pela manhã. — Seu pai
irá levá-la. Temos que encontrar um vestido que fique magnífico em seu
corpo. Precisa ser a moça mais bonita da festa.
— Por que tenho que ser a mais bonita? Querem que eu chame a
atenção de Tommasso? — questionei com receio, minha mãe me olhou com
um leve franzir de cenho.

— Queremos que seja a mais bonita, porque assim arranjará um bom


casamento. Quem sabe não se casa com o subchefe?
— Acha que Nicolo se interessaria por mim? — perguntei,
desconfortável, imaginando-me casada com Nicolo. Ele era irmão de
Tommasso, bonito e misterioso. Antes quando pensava em me casar com
ele ficava triste, mas no momento acho que seria um destino melhor ser
esposa dele.
— Olhe para você, filha. — Minha madre ergueu minha cabeça para
que eu olhasse minha imagem no espelho. — Não haverá nenhuma outra
moça tão linda, de olhos tão azuis quanto os seus.
— Eu não queria colocar os pés no mesmo ambiente que Tommasso.
Agora pela segunda vez terei que suportar sua presença. Não quero ir a essa
festa. Por favor, convença o papà a não me levar…
— Você não pode odiar o Don, Kiara — ela me repreendeu,
impedindo-me de continuar falando. — Vamos deixar o passado para trás.
— Quer que eu esqueça Aurora?
Minha mãe bufou com raiva.
— Cansei de tentar ensiná-la o caminho certo a seguir. Não tenho
paciência para sua rebeldia. Detesto quando me lembra de Aurora e você
sabe, por isto sempre toca no nome dela.
Ela soltou meu cabelo após me responder e caminhou até a porta.
— Sempre é mais fácil varrer a sujeira para debaixo do tapete do que
limpá-la, no entanto, madre, a sujeira não fica para sempre escondida, uma
hora alguém tem que limpá-la para caber mais.

Ela meneou a cabeça em minha direção ao escutar as palavras, olhou-


me com rancor e, então, saiu do quarto.
Detestava ver meus pais agindo como se Aurora nunca tivesse
existido. Como se sua morte não os tivesse abalado. Sentia pena da minha
irmã, que parecia ser tão amada por nossos pais, mas naquele momento
estava enterrada e ninguém se recordava dela ou tocava em seu nome. Eu
sabia que Tommasso não tinha culpa de sua morte, mas se tinha alguém que
eu poderia culpar era ele.
E eu o odiaria até os fins dos meus dias.
Claro que sequer pensaria na proposta de casamento que Riccardo me
ofereceu. Uma de suas filhas já me causou problemas suficientes e ele ainda
tinha a coragem de me oferecer a outra? Se eu tivesse pelo menos um
motivo além do poder que ganharei com a união, talvez, poderia pensar em
aceitar o acordo.

Só eu sabia o quanto era ruim viver ao lado de uma mulher que sequer
sentia desejo. Quem me dera encontrar uma esposa que me despertasse um
tesão avassalador. Meus dias com certeza seriam mais intensos.
A filha de Riccardo, Kiara. Tinha um corpo que despertou o meu
interesse, isso não tinha como negar, ficou explícito no meu rosto que
pensei inúmeras putarias com ela, ainda mais quando se inclinou à minha
frente para pegar as malditas aranhas. Até Lorenzo notou a forma que comi
a maldita com os olhos. O desgramado riu, achando graça em me ver
olhando com malícia para a irmã de minha antiga esposa.
Naquele dia, depois que a conversa se encerrou e deixamos a
residência de Riccardo, fomos direto para o Alcouce, beber e comer umas
bocetas. Resolvi aproveitar muito e foder até sentir minhas bolas pedirem
descanso. Desde o meu casamento com Aurora que eu só comia a boceta
dela. A máfia repudiava traição dentro do sagrado matrimônio. Um homem
que traía e enganava a própria mulher não passava de um verme, que
queimaria nos mais terríveis dos infernos.
Apesar de não despertar tamanho desejo, Aurora servia para me
satisfazer. Muitas vezes eu trepava com ela, mas pensava em putas do
Alcouce. Essas sim sabiam trepar e enlouquecer um homem. Gostava de
mulher sem frescura, que estava aberta a qualquer tipo de perversão.
Alguns dias se passaram, o meu consigliere aconselhou que eu fizesse
uma festa em minha casa. Um evento para que as moças solteiras e
disponíveis ao matrimônio pudessem ser apresentadas a mim. Gostei da sua
ideia e resolvi acatar. Um dia antes da festa, passei no Alcouce para mais
um dia de diversão. Levei Nicolo comigo.

— Mais um drink? — perguntou Nicolo. Seus olhos estavam


vermelhos. O infeliz já tinha bebido demais.
— Sim — respondi, enquanto avistava uma das putas novatas olhando
para mim. Parecia tentada a se aproximar de nós, mas tantas já haviam
tentado ganhar a minha atenção essa noite e não conseguiram, ela devia ter
ficado receosa em vir até mim. Só conseguia reparar no quanto a infeliz era
bonita. Tinha um belo cabelo ondulado e loiro. Um corpo apetitoso que iria
lamber cada centímetro noite adentro.
Levantei-me da cadeira e nem precisei dar uma explicação para
Nicolo. Ele e todos me viram indo até a puta, com a intenção de abordá-la.
Ela sorriu maliciosa com as minhas palavras, parecia feliz por ter sido a
escolhida.
Levei-a para o quarto. Tranquei a porta e caminhei até ela, que estava
parada em frente à cama, olhando-me como se eu fosse um deus grego, o
homem mais bonito que já vi. Parei diante dela sem expressar nenhuma
emoção. Segurei o seu queixo, erguendo seu rosto. Ela piscou os longos
cílios, fitando-me com luxúria.
— Novata? — Ela assentiu. — Precisa saber que não gosto de
recusas. — Seus lábios tremeram, mas ela voltou a assentir. Empurrei-a
contra a cama, depois subi por cima dela, que inclinou as costas para tentar
me beijar, mas impedi, segurei seu pescoço e o apertei levemente. Não era
sua boca que eu queria naquele momento. Ela arregalou os olhos quando
sentiu minha mão entrando em sua calcinha, poucos segundos depois estava
em seu sexo. Meti dois dedos dentro de sua boceta, já a preparando para o
meu pau. Ela gemeu, olhando-me nos olhos, e eu sorri friamente, sentindo
meu pau enrijecer. Desfrutei do seu pescoço, beijando lentamente sua pele,
até sentir sua lubrificação escorrer pelos meus dedos. Adorava sentir a
boceta de uma mulher molhada. Era a confirmação que a cadela estava
sentindo tanto tesão quanto eu.

No dia da festa toda a decoração da minha casa mudou. O buffet mais


requintado de toda a Itália foi contratado. Não faltava comida e bebida. Os
convidados começaram a chegar. Várias famílias elegantes. Todos os capos
da máfia estavam presentes, os associados também vieram. A parte que
menos gostava em festas era ter que cumprimentar todos os convidados. Era
tedioso ter que ser gentil e caloroso com tanta gente que não tinha
importância para mim.
— É um prazer estar em mais uma festa na sua casa, Tommasso. Esta
é minha única filha, Sierra — um dos capos me cumprimentou e apresentou
a filha. Uma menina jovem, de cabelo comprido preto, bonita, mas parecia
tímida diante de mim.
— O prazer é meu em ter a sua presença e de sua família em minha
casa — respondi e, então, olhei a menina. — Como está, Sierra?

— Feliz em conhecer o senhor. — Sua voz saiu baixa, ela sorriu


discretamente. Observei seu corpo, coberto por um vestido que ia até os
joelhos, branco e rosa. Não era tão atrativo.
— Qual a sua idade? — quis saber.
— Tenho vinte anos recém-completados — respondeu, depois colocou
uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.

— Andrea, você tem uma bela filha. Foi um prazer falar com vocês,
mas preciso cumprimentar os outros convidados. — Apressei-me em sair
dali. Eu já tinha todas as informações que precisava. Sierra com toda
certeza seria uma das primeiras a ser riscadas da minha lista de pretendentes
a esposa. Nada nela e nem nas outras presentes essa noite me fizeram sentir
algo diferente, nem uma sensação ou incômodo, simplesmente nada.
Um dos garçons da festa passou por mim, levando os drinks para
oferecer aos convidados. Peguei uma taça de champanhe e tomei em um só
gole, devolvi na bandeja a taça vazia, depois caminhei entre o salão sem
rumo, ouvindo somente o barulho da música e dos meus pensamentos.
— Novos convidados acabaram de chegar. Não vai cumprimentá-los?
— perguntou Nicolo assim que nos cruzamos.
— Faça as honras por mim, já estou cansado de ser anfitrião.
— Acho que é a última família convidada que chegou. A de Riccardo.
Meneei a cabeça em direção ao Nicolo, naquele momento mais
interessado. Pensava em meu íntimo se meu ex-sogro trouxe Kiara com ele?
Certamente sim.
— Ele trouxe a filha? — quis saber. Nicolo assentiu.
— Sim, e a garota está atraindo todos os olhares da festa. Até eu
confesso que fiquei impactado com a sua beleza — respondeu, em seguida
ajeitei a postura rapidamente, sentindo todos os meus sentidos se aguçando.
— Vou cumprimentar o Riccardo — avisei antes de sair de perto dele.
Andei pelo salão e encontrei Riccardo junto com a sua esposa, sem a filha
por perto. Estranhei. Fui até eles, que me avistaram e sorriram calorosos.
— Boa noite, Tommasso — cumprimentaram em uníssono.
— Boa noite, Riccardo, Ginevra. Obrigado por terem vindo.
— Não podíamos perder uma festa em sua residência — falou ele com
aquele sorriso bajulador de sempre, empertiguei-me no lugar curioso para
saber onde sua filha estava.

— Vieram somente vocês dois? — especulei, tentando obter


informações.
— Não. Nossa filha, Kiara, também veio conosco, no entanto, ela
precisou ir ao banheiro — explicou Riccardo.
— Entendi. Bom, fiquem à vontade. Desfrutem da festa e apreciem o
banquete. — Sorri para eles antes de me distanciar mais uma vez.
Meu instinto me dizia que Kiara não estava no banheiro e que usou
essa desculpa para não ficar perto dos pais, ou não me cumprimentar. Então,
procurei-a no lugar mais óbvio que poderia estar. Andei até o jardim, onde
havia poucos convidados, além de ser um canto discreto onde não seria
observada por todos.
Eu não deveria nem chegar perto de Kiara. A menina cheirava a
problema. E pior, a maldita era irmã da minha falecida esposa. Contudo,
algo nela despertou o meu interesse, ainda mais quando a vi se curvar
diante de mim. Excitação. Desejo proibido. Independentemente do que
fosse, eu não conseguia ficar imune a sua beleza. Aliás, nenhum puto
ficaria, até mesmo Nicolo babou pela diaba criadora de seres exóticos. A
infeliz era linda, igual à irmã, porém, de forma diferente. Aurora passava
uma beleza mais pura, fresca, boa de se apreciar. Já Kiara possuía uma
beleza diferente, não transmitia pureza e sim poder, intolerância e
dominância. Não conseguia esquecer o seu olhar para mim, de ódio, raiva e
repulsa. Confesso que achava bem mais excitante uma mulher que não
abaixava a cabeça para ninguém, nem mesmo para mim, mesmo que isso
me deixasse furioso. Preferia isso do que uma maldita submissa que me
lembrava a minha mãe.
Avistei Kiara parada, fitando o céu. Meu corpo se arrepiou por inteiro
ao pousar os olhos nela. Seu cabelo estava ondulado com cachos definidos
nas pontas. O rosto bem maquiado. Porém, a beleza da sua face era
esquecida quando pousei os olhos no seu corpo, coberto por um vestido de
comprimento médio, da cor lilás e branco, que ficava completamente
grudado em seu corpo, marcando a bunda avantajada e a cintura fina. Eu só
conseguia imaginar qual a cor da lingerie que estava usando por baixo dele.
Senti meu pau pulsar em pensar que poderia estar sem nada.
Aproximei-me dela, sem que percebesse, parei atrás de Kiara e
inclinei-me um pouco ao dizer:
— Contemplando a noite?

Ela se assustou e se virou rapidamente em minha direção. Pareceu


engolir em seco quando nossos olhares se cruzaram.
— Estava — disse de pronto. Sua voz saiu ligeiramente amarga.
— A festa está mais animada lá dentro — falei e reparei que seu
cenho se franziu. — Posso lhe tirar para dançar?
— Agradeço, senhor Caccini, mas creio que terei que recusar.
Nesse momento, foi a minha vez de franzir o cenho.

— Você está negando um pedido meu? — Minha voz saiu autoritária,


firme e gélida. No entanto, Kiara sequer se amedrontou.
— Estou. Desculpe, mas não sei dançar muito bem.
Ela sorriu com frieza e eu dei um passo na sua direção, chegando mais
perto dela.
— Duvido muito — retruquei com firmeza. Estendi o braço para ela,
que me olhou com raiva. — Venha, eu quero uma dança e não me importo
se não souber dançar.
A contragosto, ela entrelaçou o braço no meu e caminhamos em
direção ao salão de dança.
— Todos estão olhando para nós — sussurrou como se sermos vistos
juntos fosse um problema.
— Isto é normal, dado que você foi a primeira mulher nesta noite que
tirei para dançar.
Senti seu corpo ficar tenso ao ouvir minhas palavras. Ela virou a
cabeça e viu os seus pais nos olhando caminhar até o meio do salão.

Paramos na pista de dança. Segurei a cintura e o alto das costas de


Kiara, que ergueu o queixo e continuou a me olhar nos olhos sem desviar
por nenhum segundo sequer. E, então, começamos a dançar a música lenta e
clássica que estava tocando.
Seus olhos azuis pareciam brilhar com faíscas de raiva. Seu ódio por
mim estava explícito nela. Meu lado mais perverso amou ver seu
sofrimento por ter que aturar a minha presença e meu toque, mesmo que me
repugnasse. Inclinei-me para aproximar meu rosto de seu cabelo e assim
sentir seu cheiro. Amaldiçoei-me por ter feito isso, assim que o aroma de
seu cabelo e perfume se misturaram em meu olfato uma onda de desejo
percorreu em meu corpo. Que diaba feiticeira era essa garota. Enquanto
dançávamos e olhava seu rosto, perguntava-me o que ela podia ter de
especial para me causar sensações de deleite.
— O que você quer comigo? — ela resmungou franzindo os lábios.
Sorri com malícia.
— Neste momento? Somente dançar.
— O senhor precisa saber de um detalhe se está pensando em talvez
aceitar a proposta do meu pai. — Começou a dizer com o olhar repleto de
desespero.
Como ela descobriu a proposta que Riccardo me fez? Pois certamente
ele não contaria a ela. Diabos.
— Não tem nada no mundo que eu odeie mais do que o senhor. Eu sei
que posso estar entregando o meu pescoço de bandeja em confessar isso,
mas preciso fazê-lo. Porque prefiro a morte do que se casar com um diabo
igual a você, Tommasso.
Fiquei surpreso com sua atitude e, ao mesmo tempo, chocado com as
palavras. Por um momento desacreditei que teria ousadia suficiente para me
enfrentar. Ouvi-la dizer que preferiria morrer do que ser minha, fez meu
sangue ferver e minha raiva por ela aumentar. Desejei fazê-la sofrer em
níveis estratosféricos, assim nunca mais abriria a boca para me desafiar ou
falar comigo como se seu destino estivesse em minhas mãos.
E ali, naquele momento, fiz a minha escolha e decretei que ela seria
minha, me pertenceria, de uma forma ou de outra. Faria ela se render a
mim, ser submissa e nunca mais ousaria ter peito para me enfrentar.
Chegou o meu fim. Pelo olhar odioso de Tommasso sabia que
morreria ali ou seria escorraçada na frente de todos. Não consegui conter
minha própria língua, só fui me dar conta da besteira que fiz, quando as
palavras já tinham deixado minha boca em uma velocidade impressionante.
Apesar de saber que havia me fodido ali, no fundo, não me arrependia de
ter dito tudo que queria a ele e nem de tê-lo chamado de diabo, pois era isso
que ele era. Um diabo na terra.
— Quem você julga que é para achar que acataria um pedido seu? —
questionou com severidade. Sua voz saiu sussurrada no meu ouvido,
causando calafrios ao meu corpo. — Deveria saber que o diabo não faz
acordo com ninguém sem ter nada em troca. O que poderia me oferecer de
especial para aceitar te deixar livre de mim?
Olhei em seus olhos e engoli em seco ao ver as chamas brilhando em
sua íris escura.
— Faço qualquer coisa. O que desejar.
Ele riu gélido. Continuamos dançando tranquilamente. As pessoas que
nos observavam não faziam ideia sobre o que estávamos conversando.
— É uma pena que a única coisa que eu desejo ter de você, só
conseguirei indo contra o seu pedido — retrucou, fazendo-me arregalar os
olhos.
— Prefiro a morte — repeti, estremecendo por completo de pavor. Ele
voltou a rir, sarcasticamente.

— Também não me importo com a sua morte. Viva ou morta, você


não vale de nada para mim. Acha mesmo que sentiria piedade por você?
Ele parecia um monstro sem coração falando. Sentia vontade de eu
mesma matá-lo com as minhas próprias mãos. Maldito Caccini!
— Você é um monstro. Faz valer tudo que dizem sobre você. É
mesmo um demônio — resmunguei, furiosa, ele arqueou a sobrancelha com
deboche.
— A senhorita ainda não conheceu meu verdadeiro lado monstruoso,
mas graças a sua afronta, conhecerá em breve!
Dito isto, ele me soltou e a música terminou. Observei seu rosto,
perplexa, sem saber o que ele quis dizer com aquilo.

Voltei para perto dos meus pais e a festa continuava normalmente.


Muitas vezes peguei Tommasso me olhando. Em uma das vezes, ele ergueu
sua taça e tomou um gole, ao passo que me olhava de cima a baixo. Infeliz.
Daquele momento em diante, estava na sua mira. Inferno.
Bem perto do final da festa, meu pai me chamou para ir embora.
Fiquei aliviada pela maldita festa ter chegado ao fim. Essa noite foi uma das
mais chatas que já tive.
Antes de entrar em casa, vi Francesco parado na entrada de minha
casa. Seu olhar cruzou com meu pela janela do carro, ele não demonstrou
nenhum sentimento e nem poderia, se meu pai percebesse algo estranho
entre nós estaríamos ferrados. Senti minha pulsação aumentar após vê-lo.
Eu sentia algo bom por Francesco, um sentimento gostoso, instigante e
inexplicável.
— Boa noite, filha. Dorme bem! — falou minha mãe ao se despedir
de mim na sala, a respondi e então fui para meu quarto.
Tirei a maquiagem. Desajeitei o cabelo e, enfim, tirei o vestido e o
salto, ficando apenas de lingerie. Olhei-me no espelho e toquei a minha
cintura fina até chegar ao meu seio coberto pelo sutiã. Adorava olhar meu
corpo, eu gostava de como ele era. Apreciava cada curva que tinha. Depois
disso, fui até o guarda-roupa, escolhi um dos meus pijamas e vesti, antes de
ir para cama dormir.

Dois dias depois, fui com a minha mãe até as lojas da cidade. Ela disse
que eu precisava de roupas novas, de um guarda-roupa completo, nem sei o
motivo disso, dado que nem usei todas as minhas roupas antigas. Desde
anteontem, meu pai e ela estão estranhos, pareciam mais felizes, como se
tivessem visto um anjo da sorte. Eles estavam me escondendo algo, só não
conseguia imaginar o que poderia ser.
— Agora vamos comprar novas lingeries e pijamas — falou ela, ao
entrarmos em uma loja de lingeries sensuais.
— Para que tudo isso? — questionei.
— Logo saberá. Agora, vamos escolher as peças mais sexys da loja —
disse, pegando um conjunto vermelho na mão.
Depois que terminamos as compras, passamos em um restaurante para
almoçar e depois em um salão a fim de ajeitar o cabelo.
Quando voltamos para casa, meu pai nos esperava com um sorriso que
eu não via há tempos.
— Minha filha querida. Você está ainda mais bonita hoje — ele me
cumprimentou com um beijo na mão, nesse momento eu soube que algo
estava errado. — Preciso conversar com você. Um assunto importante e
particular, me acompanhe até o escritório.
Franzi o cenho e o segui até seu escritório. Minha mãe não se juntou a
nós.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei, repleta de curiosidade
assim que entramos no cômodo. Ele deu a volta na mesa, sentou-se, ajeitou
a gravata e, enfim, me olhou.

— Sim, mas não se preocupe, você vai amar a notícia que tenho para
lhe dar.
E abriu um sorriso amarelo, que me fez franzir o cenho. Queria dizer
que não tinha tanta certeza disso.
— Conte-me logo, o senhor está me deixando curiosa.
— Ok. Vou contar — disse, antes de inspirar profundamente. — Selei
um ótimo acordo de casamento para você. Em breve será uma mulher
casada e com o homem mais poderoso da máfia.
Meus ombros caíram e a minha boca se abriu em espanto. Senti como
se minha pressão tivesse baixado.

— O quê? — minha voz saiu impotente e baixa.


— Você vai se casar com o Don Tommasso, querida filha — decretou
por fim.
— O senhor não pode estar falando sério. — Sorri friamente
incrédula. — Não vou me casar com o mesmo homem que minha irmã se
casou.
— Você já foi prometida a ele, se casará sim e fique feliz por estar
fazendo um ótimo casamento!
— Você é louco, ainda pior do que pensei — bradei de pé, fora de
mim. — Vou transformar a vida de Tommasso em um inferno, não serei
nunca a esposa dele, não consumarei o casamento. Se precisar, eu mesma
tirarei minha vida só para não dar o gosto a vocês de conseguir o que
querem!
Ele se levantou furioso ao ouvir minhas palavras. Caminhou em
minha direção em passos rápidos, não me movi um centímetro mesmo
quando parou diante de mim e ergueu a sua enorme mão em direção ao meu
rosto.
Meu rosto virou instantaneamente com a força de seu tapa, que
estralou, mas não me fez sentir nenhuma dor e sim uma intensa vontade de
revidar. Olhei para o rosto do meu pai, fitando o monstro que ele era.

— Você vai fazer tudo que eu mandar pelo bem da famiglia. Eu te


criei, menina, te dei tudo que uma criança pode desejar e em troca recebo a
sua desobediência? — esbravejou. — Se ousar me desafiar outra vez ou
tentar um ato de rebeldia, eu acabarei com você, entendeu?
Senti pingos de sua saliva no meu rosto e respondi:
— Sim.
— Agora saia do escritório. O jantar de noivado acontecerá daqui a
dois dias, esteja preparada!
Ouvi-o dizer quando dei as costas e caminhei até a porta. Passei por
ela sentindo uma vontade imensa de desabar e chorar ali, até não ter mais
lágrimas.

Entrei no meu quarto e me lembrei das palavras que Tommasso me


disse na noite da sua festa: “A senhorita ainda não conheceu meu
verdadeiro lado monstruoso, mas graças a sua afronta conhecerá em
breve”.
O que parecia ser somente uma ameaça era, na verdade, uma
promessa. Maldição.
À noite, esperei que todos dormissem para ir atrás de Francesco. Ele
estava fazendo a guarda junto com mais três soldados, um em cada canto da
residência. Achei-o na segunda entrada. Estava distraído e se assustou
quando me viu.
— Kiara, o que faz aqui? — murmurou, vindo até mim e olhando para
os lados para conferir se ninguém estava nos observando.
— Preciso falar com você, Francesco, vou estar te esperando no meu
quarto — avisei.
— Não posso, é perigoso — respondeu, então segurei o seu braço e
apertei.

— Você não pensou no perigo da última vez em que esteve lá. Estarei
te esperando.
Dito isto, soltei-o e entrei na casa. Fui até meu quarto e o esperei lá.
Com o coração disparado e o corpo repleto de aflição.
Não demorou muito para Francesco vir até o quarto.
— Então, Kiara, o que quer falar comigo? — perguntou assim que
entrou no quarto. Aproximei-me dele e sem que ele esperasse, abracei-o.
— Aceito fugir com você — falei, derramando lágrimas de desespero.
— Meu pai me prometeu em casamento para Tommasso. Se ficar aqui irei
me casar com chefe da máfia.

Francesco me olhou horrorizado com a notícia. Ele segurou


firmemente meu rosto.
— Ele quer te entregar para o ex-marido da sua irmã? Não posso
acreditar nisto — falou, amargamente.
— Sim, ele vai me entregar àquele maldito. Não posso me casar com
ele. Eu o odeio…
— Você não vai se casar com ele, não vou deixar. Vamos fugir daqui
juntos — prometeu Francesco, sua voz saiu tão intensa. Nós nos olhamos
por alguns segundos antes de nos beijar. — Eu te amo. Kiara. Vou te
proteger sempre.

Sorri levemente e esfreguei meu nariz no dele.


— Fico triste, pois sei que trarei desonra à famiglia e a minha irmã —
sussurrei, ele suspirou.
— Eles vão conseguir dar um jeito. Sua irmã não será afetada.
Tentei pensar que ele tinha razão, mas, no fundo, sabia que não.
Tommasso destruiria minha famiglia assim que eu fugisse.
— Agora vá, e me informe amanhã como acontecerá a nossa fuga —
pedi ele, assentiu e saiu do quarto.

Apaguei a luz e voltei para cama, quando ouvi um barulho de porta se


abrindo, levantei-me assim que a luz foi acendida. Meu pai entrou no meu
quarto, furioso. Pulei da cama, assustada.
— Papà? — questionei, atônita. Ele parou diante de mim e puxou
meu cabelo, fiquei completamente sem reação, então minha mãe também
apareceu na porta do quarto gritando.
— Riccardo, não faça isto! Por favor! — implorava a minha mãe.
— Sua puta desgraçada. Eu sabia que tentaria algo, por isso coloquei
uma câmera no seu quarto para te manter sob meu olhar vinte e quatro
horas. Só não sabia que com isso descobriria seu caso com um maldito
soldado desprezível.
Ele cuspiu as palavras diante meu rosto puxando ainda mais meu
cabelo, até as lágrimas começarem a saltar de meus olhos, em seguida
comecei a gemer de dor.
— Papà, por favor, desculpe-me!
— Cale a sua maldita boca imunda. Se soubesse o que aconteceria se
fugisse com ele. A ruína que traria para a nossa família, para a sua irmã.
Não pensou nem em Leone.

— Mentiroso, sempre pensei em Leone, somente por ela estou aqui


até agora aturando isto! — gritei, possessa.
— Como ousa erguer a voz para mim, depois de articular pelas minhas
costas? Sua vadia! — ele vociferou, antes de soltar o meu cabelo e desferir
um tapa em meu rosto, meu corpo caiu no chão por conta do impacto.
— Riccardo! — ouço minha mãe gritar, apavorada.
— Agora você vai aprender a não me desafiar. Nunca mais ousará ser
rebelde!
Dito isto, foi que ele começou a me agredir, primeiro com um soco na
barriga que me fez parar no chão, depois com chutes. Sempre em lugares
que não eram visíveis. Senti o sangue deixar minha boca, a dor era tanta
que fui incapaz de ouvir os xingamentos do meu pai ou gritos de clemência
da minha mãe. Fechei os olhos e desmaiei ali, totalmente exausta e ferida.
Por dentro e por fora.
Queria ter visto a reação de Kiara ao descobrir que dali em diante era
minha noiva. No dia seguinte da festa, procurei Riccardo e selei o acordo de
casamento, mesmo com a dúvida se o que estava fazendo era certo ou não.
Só conseguia pensar no meu desejo que era a maldita Moretti. Kiara seria
minha e eu domaria aquela fera de uma forma ou de outra. Ela não devia ter
me desafiado, ninguém podia me desafiar e sair ileso. Ela entenderia de
uma vez por todas com quem estava lidando.

Estava contando os dias para o jantar de noivado, seria o dia que iria
vê-la antes de o casamento. E nada me deixaria tão contente quanto ver sua
íris azul brilhando com a tristeza de sua derrota.
Ainda teria aquela mulher aos meus pés. Suplicando por meu amor
assim como a sua irmã fazia.
— Então, você vai mesmo se casar com a filha de Riccardo? —
perguntou Nicolo entrando em meu escritório. Daqui vamos direto para o
jantar de noivado.
— Vou — respondi, secamente. — O acordo já foi selado, agora não
há maneira de voltar atrás.
— Não há mesmo. Mas o que me intriga é não saber o motivo de você
ter aceitado o acordo! — exclamou Nicolo, colocando as mãos no bolso da
calça. — É pelo poder que a máfia ganhará com a união? Ou tem um
motivo por trás da sua decisão…
— Os motivos pelos quais aceitei o acordo só interessam a mim e a
mais ninguém. O casamento foi aprovado por todos capos, a nossa união
vai trazer poder e segurança a Caccini, isto importa.
Nicolo se empertigou no lugar.
— Tudo bem, fratello. Não farei mais perguntas a você sobre o
casamento. Já vi que não está interessado em conversar sobre isso —
resmungou, irritado.
— Ótimo, melhor assim!
Ajeitei a gravata e conferi as horas no relógio de pulso.
— E a Giulia como está? — quis saber Nicolo, revirei os olhos.

— Intragável como sempre. Está de castigo dentro do quarto. Ela não


para de aprontar, estou farto, não vejo a hora de ela chegar a maior idade
para me livrar dela.
Nicolo riu e cruzou os braços.
— Ela só sente falta de carinho materno. Você parece uma pedra de
gelo com a coitada da menina.
— Se quer saber, eu tenho paciência até demais para lidar com a
Giulia. Faço todas as suas vontades, a não ser a alimentação, pois lá em
casa sou rígido com isto — falei, bruscamente.
— Ainda bem que eu não tenho que aturar mais seus gostos
alimentares. É horrível não poder comer nada saboroso e seguir sempre
uma dieta rígida. — Nicolo fez uma careta de desaprovação, bufei.
— Uma dieta que faz bem à saúde, fortalece o corpo e a mente. Tento
sempre estar um passo à frente dos nossos inimigos. Não posso me dar o
luxo de envelhecer e ficar fraco, por isso sigo uma alimentação balanceada
e treinos intensivos!
Nicolo inclinou a cabeça na minha direção e abriu um sorriso
sarcástico.
— Agradeço todos os dias por ser o subchefe e não o chefe da máfia.
Deus me livre ter que me cobrar tanto assim!

Voltei a bufar, impaciente.


— Já está perto da hora do jantar. Podemos já ir — falei e caminhei
até a porta, dando a conversa como encerrada.

— Boa noite, meu genro. É um prazer ter novamente a sua presença


em minha casa — cumprimentou-me Riccardo. Sorrindo animado, depois
fez o mesmo com o meu subchefe e consigliere. Cumprimentamos a
Ginevra em seguida. Em meio à conversa, olhei pela sala procurando por
Kiara, pois ela não havia aparecido ainda. — Kiara está terminando de se
arrumar e já vai se juntar a nós.
Riccardo avisou no mesmo instante em que Kiara entrou na sala.
Usando um vestido branco simples, de comprimento médio e com flores na
área do busto. Salto alto branco nos pés. O cabelo estava ondulado e a
maquiagem bem-feita. Os lindos olhos azuis brilhavam, mas com tristeza e
fúria, a raiva neles aumentou quando nossos olhares se cruzaram. Engoli em
seco sentindo meus sentidos se aguçando de maneira estranha e tentadora.
— Aí está ela. Venha cá, querida — falou Ginevra, chamando-a. Kiara
deu alguns passos à frente e parou diante de nós. O pai dela a olhou, então
ela sorriu, mas não parecia um sorriso feliz e sim puro fingimento.
— Boa noite, senhores — cumprimentou ela com a voz calma e
modulada.
— Boa noite — respondemos.

— Bom, agora que todos estamos aqui, podemos começar o jantar —


exclamou Riccardo, em seguida todos nos dirigimos à sala de jantar.
Novamente, sentei-me na cadeira em frente a Kiara. Dessa vez, ela não
desviou o olhar nenhuma vez. Seus olhos estavam vermelhos de raiva, e eu
sorri várias vezes friamente para ela saber que não me importava com o seu
sofrimento.
Comi e mastiguei a comida fitando-a, imaginando o que aconteceria
após o nosso casamento. Eu terei a minha pequena vingança e desejo
saciado, era possível me arrepender de tê-la escolhido somente por
capricho?
Olhei para seu busto, que mesmo com decote discreto dava para notar
um relevo, denunciando que por baixo daquele vestido ela escondia um
belo par de seios. Eu queria vê-la nua. Eu precisava tocar e sentir sua pele.
Seu cheiro, pelo que me lembrava do dia da festa, era incrivelmente sedutor.
Não me lembrava de nenhuma mulher que tivesse despertado meu desejo a
esse nível. Era como uma sereia e leoa ao mesmo tempo.
Um tempo depois, notei que o jantar estava perto de terminar e eu
ainda não havia feito o pedido formalmente, assim como manda os
costumes. Limpei a garganta e me levantei chamando a atenção de todos,
principalmente de Kiara que me olhava com os olhos arregalados.
— Desculpem por interromper o jantar, mas preciso de um minuto de
atenção. Tenho um pedido a fazer — falei e tentei sorrir, mas meu olhar
cruzou com o de Kiara e sua expressão de rancor fez com que não
conseguisse rir naquele momento. — Eu sei que todos já sabem do meu
casamento com Kiara, que já foi permitido pelo seu pai Riccardo, mas
quero fazer como manda os costumes.
— Não precisa — falou Kiara, parecendo agoniada.
— Sim preciso — retruquei e sorri devasso. Peguei de dentro do bolso
do paletó a caixinha com os anéis de noivado que comprei. — Riccardo,
quero pedir sua permissão para me casar com a sua filha. Garanto que a
farei feliz e realizada.
Kiara abriu um sorriso infeliz e revirou os olhos. Riccardo sorriu e
levantou sua taça.

— Vocês têm minha bênção — respondeu meu futuro sogro.


— Kiara, comprei este anel de noivado para nós, espero que goste.
Demorei muito tempo os escolhendo.
Eu poderia ser um ator. Tentei ao máximo parecer um homem
apaixonado, enquanto Kiara parecia querer me esfolar vivo.
Ela assentiu a contragosto. Dei a volta na mesa e fui até ela. Inclinei as
costas ao parar diante de Kiara e ela estendeu sua mão, mas desviou o olhar
do meu rosto, fitando o prato de comida em cima da mesa. Segurei sua mão
e passei o anel pelo seu dedo. Depois guardei a caixinha de volta e, enfim,
voltei para o meu lugar na mesa.
— Quero desejar um brinde a este lindo casal — sugeriu a mãe de
Kiara erguendo a taça.
— Um brinde — todos falamos, enquanto brindávamos.
Tomei um gole apreciando a visão de Kiara à minha frente, que
parecia querer chorar e correr dali, mas não poderia. Naquele momento em
diante, ela estava presa a mim para sempre.
— Veio buscar seu presente de casamento, senhor Caccini? — A
mesma puta que comi depois do falecimento da minha ex-esposa veio em
minha direção assim que entrei no Alcouce. Lembrei-me de que seu nome
era Anna. — Posso lhe proporcionar uma inesquecível despedida de
solteiro.
Ela tocou meu paletó se insinuando. Abri um sorriso devasso e agarrei
a sua cintura, levando a mão até a nuca da vadia.
— Foi isto que vim buscar, uma despedida de solteiro à altura. No
entanto, não quero somente você, escolherei mais duas putas para a minha
diversão — decretei, ela soltou um suspiro desgostoso, pois imaginava que
me teria só para ela.

— Posso te ajudar a escolher. Sei dos gostos de todas e sei as que são
mais abertas ao tipo de sexo que o senhor gosta — sugeriu, fazendo-me
soltá-la.
— Sinto muito, delícia, mas prefiro eu mesmo escolher. Me espere no
melhor quarto — ordenei, ela assentiu e saiu.
Escolhi as outras duas putas. Uma loira e outra morena. Levei-as para
o quarto onde Anna já nos esperava. Essa noite queria aproveitar o máximo
que pudesse, queria fazer isso até a data do meu casamento.
Em breve, seria um homem de uma mulher só mais uma vez. Só não
sabia se era infeliz ou felizmente.
Fitei o anel no meu dedo sentindo meu estômago se revirar. Não
conseguia acreditar que estava noiva. Naquele momento era para valer, não
tinha escapatória. Toquei meu braço, sentindo-o dolorido pela surra que
levei do meu pai. Ele me espancou. Senti tanta dor que até desmaiei,
quando acordei e vi as diversas marcas espalhadas pelo corpo fiquei
assustada, felizmente a única parte do meu corpo que ficou sem marcas foi
o rosto, mesmo com tapa que me dera. Estava toda dolorida, mas a minha
dor maior era não saber o que aconteceu com o Francesco. Tinha quase
certeza de que meu pai o matou ou mandou um de seus soldados fazerem.
Chorei tanto imaginando o fim trágico de Francesco. Meu papà era
conhecido por ser impiedoso. Se tinha coragem de quase me matar com a
surra, não conseguia imaginar o que faria com um homem que considerava
um traidor.
O pior de tudo foi ter que participar do jantar de noivado, meu e de
Tommasso. Olhar para ele sabendo que desgraçou a minha vida quando
aceitou se casar comigo. Ele pagaria pelo que fez a mim, não deixaria
barato. Ele não teria paz após o casamento, faria de sua vida um inferno.
Minha mãe precisou maquiar meu corpo para esconder as marcas do
espancamento. Ninguém percebeu nada no jantar de noivado. Mesmo com
as pernas à mostra, ninguém percebeu, esperava que até o dia do casamento
elas sumissem por completo.
Após o jantar de noivado os dias passaram rapidamente. Parecia que
quanto mais eu desejava que o tempo parasse, mais rápido ele passava. Tive
que fazer as provas do vestido de noiva quase todos os dias. Minha mãe que
escolheu tudo por mim, claro, inclusive os detalhes da festa.
Ouvi falar que todas as pessoas estavam comentando sobre o
casamento. Que seria uma das festas mais impressionantes, até mesmo que
o primeiro casamento de Tommasso. Eu só queria arranjar uma maneira de
me livrar de tudo. Em algumas noites tive pesadelos com o Tommasso. Em
um ele me beijava de maneira devassa na noite de núpcias e me possuía.
Acordei toda suada e pior, quando toquei minha intimidade ela estava
úmida. Passei os dias me odiando por me excitar com aquele maldito sonho.
Devia sentir vontade de vomitar ao imaginar o monstruoso Don me
tocando.
Semanas se passaram e o dia do casamento chegou. Minha madre
contratou maquiadores, cabeleireiros e massagistas. Tive um dia de SPA
praticamente. Cuidaram da minha pele e cabelo, depilaram-me. Mesmo
com toda a bajulação das pessoas à minha volta me tratando como se eu já
fosse a primeira-dama da máfia Caccini, só conseguia sentir angústia e
medo do que estava por vir.
— Você está tão linda, sorella — elogiou Leone com os olhos
brilhando. Já estava vestida de noiva. Com o penteado feito e a maquiagem
pronta. — Nem acredito que vai partir como a Aurora.

— Não vou sair da sua vida nunca, sempre virei vê-la e levá-la para
passear. Nada e nem ninguém nos separará. Eu garanto — assegurei,
inclinando-me e tocando seu ombro.
— Mas Aurora parou de vir aqui depois que se casou, achei que
também iria — argumentou a pequena.
— Jamais. Você tem que entender que Aurora e eu éramos muito
diferentes. Ela gostava da vida de poder que levava, sendo a primeira-dama.
E não sentia falta da famiglia.
Leone franziu o cenho.
— E você não vai gostar? — questionou, fazendo-me soltou um
suspiro.

— Não irei. Infelizmente esse casamento não era o destino que eu


desejava para mim, mas vou ser forte e resistir a tudo.
Ela assentiu e eu voltei o olhar para a porta, quando minha mãe
apareceu novamente no quarto.
— Pronta? O motorista já está esperando para te levar — falou.
— Não tenho escolha, não é? — perguntei baixinho, aproximando-me
de minha madre, que estava trajando um belo vestido cor rosa-claro. Ela
respondeu que não com a cabeça. — Então sim, estou pronta.
Sorri friamente e notei um pesar de dor no seu olhar.
— Sinto muito, filha. Eu queria sua felicidade, juro. Não podia ir
contra seu pai, você sabe que nós, mulheres, somos criadas para obedecer e
não para comandar.
Assenti fitando-a de cima a baixo, antes de comentar:
— Você pode não ter tentado interferir por medo do meu pai, quanto a
isso tudo bem. Agora não tente parecer uma mãe que se preocupa com a
felicidade da filha, porque no quesito boa mãe você falhou miseravelmente.
— Não fale assim, Kiara…
— Eu falo do jeito que eu quiser. E não se esqueça de que hoje eu me
tornarei a primeira-dama da máfia, mesmo que eu odeie o fardo, serei a
mulher mais poderosa da Sicília. E se eu souber que fará mal a minha irmã,
você ou meu pai, eu poderei defender Leone. E vou levar as minhas aranhas
comigo.
— Vai levar esses seres nojentos para a casa do seu marido? Ele não
vai aprovar isto…

Ela pareceu abismada com a minha atitude.


— Depois de casados a casa dele será minha também, então se eu
quiser enchê-la de aranhas e seres monstruosos eu vou.
Dito isto, passei por ela sem dizer mais nada, deixando-a parada e
boquiaberta.
A limusine estacionou em frente à igreja. Consegui ver pela porta
aberta inúmeros convidados, inclusive Tommasso no altar. Minha mãe me
entregou o buquê de noiva e entrou na igreja junto a minha irmã, depois foi
a minha vez e do meu pai. Segurei firme o buquê de flores, sentindo um frio
no estômago e minhas mãos suando. Meu pai sorriu para mim, dando-me
um sorriso vencedor, antes de estender o braço em minha direção.
Entrelacei o braço no dele, então caminhamos até a entrada da igreja. Assim
que pisei no tapete vermelho, a música começou a tocar. Ergui o queixo e
meu olhar cruzou com o de Tommasso, em seguida senti meu coração
disparar no mesmo instante. Sentia tanta raiva, não era ele que queria ali
naquele altar, podia ser qualquer um menos ele, de preferência Francesco.
Ignorei o fato do maldito estar bonito, até mais que os deuses
retratados nas revistas. Tommasso era um diabo, mas um diabo de aparência
impecável e perfeita.
Ele me olhou de cima a baixo, não expressava emoção alguma.
Caminhei com meu pai em direção ao altar e assim que chegamos, meu pai
me entregou para Tommasso e levou o meu buquê de flores.

Parei em frente de Tommasso no altar e a cerimônia foi iniciada.


Todos os convidados que ficaram de pé durante minha entrada, voltaram a
sentar.
Após alguns minutos, dissemos sim e trocamos as alianças, então
chegou a parte que mais temia: quando o padre mandava beijar a noiva.
Olhei apavorada para Tommasso querendo correr naquele instante. O
maldito sorriu e se aproximou de mim como um predador. Fechei os olhos
quando o vi se inclinar e inspirei seu perfume, que dava para ser sentido de
longe, o aroma combinava com o infeliz, pois era forte e másculo. Senti
meu corpo todo tremer, um arrepio se espalhou pela minha coluna assim
que senti sua boca sobre a minha e sua mão enlaçando minha cintura. Não
movi os lábios, fiquei parada, como uma estátua, fazendo com que o beijo
fosse rápido. Reabri os olhos e mais uma vez nossos olhares se cruzaram.
Vi um misto de felicidade misturada com depravação nos olhos negros de
Tommasso. Ele aproximou a boca da minha orelha e murmurou com a voz
grossa e rouca, fazendo-me arrepiar:
— Você um dia me disse que preferia a morte do que se casar comigo.
E mesmo assim está aqui, viva, e agora é minha mulher. Ainda pretende se
matar, meu anjo?
Ele me provocou disparadamente, filho da puta, desgraçado!
— Com a minha inteligência constatei que viva eu consigo me vingar.
Vou fazer da sua vida um delicioso tormento, meu marido. Estamos presos
um ao outro agora. Bem-vindo ao seu inferno particular.
Sorri demoníaca fitando seus olhos.
Após o casamento todos fomos para o local da festa, a mansão de
Tommasso. Durante todo o caminho fui em silêncio, olhando a paisagem
pela janela da BMW do Don. Dava para ver o mar durante o trajeto, Sicília
parecia um paraíso na terra, achava incrível as praias. A única coisa que
ainda achava que apreciaria na minha nova morada era a paisagem que era
belíssima. A mansão Caccini ficava em cima de uma montanha em frente à
praia, por isso nos proporcionava uma maravilhosa visão da Ilha.
Estava tão nervosa, minhas mãos tremiam o tempo todo e não
conseguia fitar Tommasso. Somente em imaginar o que poderia acontecer
conosco quando estivéssemos a sós depois da festa, já entrava em
desespero. Ainda bem que trouxe comigo uma navalha. Não sabia do que
era capaz se ele resolvesse me tocar sem meu consentimento.
— Kiara? — Assustei-me ao ouvir Tommasso me chamar, meneei a
cabeça em sua direção. — Chegamos — avisou e olhei para frente notando
que o carro acabou de adentrar a residência.
— Ok — respondi em tom seco. Ele impaciente tocou minha coxa,
fazendo-me empertigar no lugar.
— Melhore a expressão. Finja que está feliz com o casamento assim
como eu farei — ordenou curto e grosso, fazendo-me revirar os olhos.
Quando me lembrava de suas palavras assim que nos casamos, sentia
um ódio latente. Eu não menti para Tommasso. Faria de sua vida um
inferno, ele se arrependeria de ter escolhido se casar comigo.
Abro um sorriso cínico, olhando-o.

— Assim está bom? — perguntei, irônica. Ele bufou, irritado.


— Não teste minha paciência, anjo, não queira me ver mais irritado do
que já estou — ameaçou, apertando minha coxa. Aproximei meu rosto do
seu, trazendo minha boca para perto da sua.
— Por quê? O que vai fazer se eu continuar a te irritar? — murmurei
as palavras com a voz calma e baixa. Os olhos de Tommasso faiscaram e
ele fitou minha boca furioso, sua respiração se aprofundou.
— Mulher infernal — praguejou, antes de sair do carro com
brusquidão. Voltei a respirar normalmente quando estava sozinha. Diabo.
Esse homem me fazia perder totalmente o controle, nunca senti tanta raiva
de alguém nem mesmo dos meus pais.
Saí do carro também, em seguida Tommasso colocou a mão em
minhas costas para me guiar casa adentro. Algum tempo depois, os
convidados começaram a chegar, fomos cumprimentados por todos. Já
estava cansada de sorrir e ser simpática. Sentia minha barriga roncar por
conta da fome, não comi nada o dia todo, pois não conseguia sequer pensar
em comer por culpa da ansiedade e nervosismo.

Olhei para Tommasso, que estava sorridente conversando com um dos


capos. Cheguei perto dele e puxei discretamente seu paletó para chamar sua
atenção, ele percebeu e me olhou.
— Desculpem, senhores, volto em um instante — ele avisou os capos
e se afastou comigo. — O que você quer?
— Estou faminta, ainda falta muita gente para cumprimentar? —
perguntei.
— Não. Pode ir comer algo, eu cuido do resto.
Assenti feliz por finalmente sair dali. Fui até a cozinha para comer à
vontade sem ser interrompida pelos convidados.

Depois de jantar, voltei para festa e me posicionei mais uma vez ao


lado de Tommasso. Toda hora ficava prestando atenção no relógio,
desejando que as horas passassem devagar.
Quando estava perto da meia-noite Tommasso me puxou para um
canto, na intenção de falar algo.
— A festa vai ser encerrada em breve, se quiser já pode subir para o
seu aposento — sussurrou em meu ouvido, fazendo-me estremecer.
— Posso continuar até o final dela, não me importo — retruquei, ele
segurou meu braço e ordenou:
— Quero que já suba e me espere no quarto.

Respirei fundo, buscando ter paciência para não surtar.


— Ok. — Desferi-me um olhar raivoso antes de sair dali e ir em
direção às escadas.
Seja o que Deus quiser.

Assim que cheguei ao quarto as empregadas vieram trazer um


presente de Tommasso para mim, era uma lingerie que ele desejava que eu
usasse nessa noite. Tive que tirar meu vestido de casamento e vestir
somente o traje íntimo que ele escolheu. Também soltaram meu penteado,
deixando meu cabelo solto e revolto. Estava suando frio, assim que as
empregadas saíram, fiquei ainda mais nervosa.
Toquei a lâmina afiada da navalha que sempre levava comigo para
qualquer lugar. Olhava sem parar as horas no relógio da parede do meu
quarto, era de madrugada e sabia que a qualquer momento Tommasso viria
até aqui a fim de consumar o nosso casamento. Eu não o queria como
marido. Tinha repulsa de pensar que ele já teve relações com a minha irmã e
naquele momento faria o mesmo comigo.
Passei boa parte da vida sendo diminuída, maltratada pelos meus pais.
Fui criada para ser uma garota exemplar que seguia as ordens sem
questionar. Estava cansada de tudo isso. De toda essa escuridão que nasci
carregando. O único ser humano por quem nutri amor na vida foi pela
minha irmã mais nova, Leone, além das minhas queridas aranhas. Somente
por ela eu não trouxe desonra a nossa famiglia, por ela que não fugi quando
tive oportunidade.

Fechei os olhos e inspirei profundamente, Aurora mais uma vez


entrou nos meus pensamentos. Minha irmã mais velha era muito bonita,
educada, graciosa e submissa. Tudo que eu não era. Éramos muito
diferentes. Nunca gostei da ideia de me casar com um completo
desconhecido e viver como a minha mãe, sendo humilhada, espancada e
maltratada o resto dos meus dias. No entanto, para quem nasceu em um
mundo como o nosso, repleto de escuridão e morte, não tinha muita escolha
a não ser acatar as regras.
Sinto como se estivesse substituindo a minha irmã na vida de
Tommasso. Ela esteve aqui nesse mesmo quarto, esperando-o na noite de
núpcias, assim como eu estava. Quando me lembrava da sua morte sentia
um estranho calafrio me tomar. Ela morreu da pior forma e eu poderia ter o
mesmo destino, caso uma guerra entre os Caccini e os Biachi fosse iniciada.
Ouvi barulhos de passos no corredor e me preparei, escondi a navalha
no sutiã. A porta rangeu quando foi aberta, então Tommasso apareceu.
Engoli em seco quando seu olhar parou em meu rosto, tão frio quanto gelo.
— Oi — cumprimentou-me, secamente. — Vamos acabar logo com
isto!
Senti-me estremecer por completo. Ele caminhou até a cama sem se
preocupar que pudéssemos ser vistos por algum funcionário, uma vez que
deixou a porta aberta. No entanto, antes que me alcançasse na cama, saí
dela, levantei-me e andei até o sofá, em seguida me encostei na parede perto
dele.
— Que porra é essa? Está tentando fugir de mim, Kiara? — Sua voz
ecoou pelo quarto como um trovão. Ele ficou furioso e veio até mim, dessa
vez não me movi.

— Estou sangrando. Não podemos transar — expliquei assim que ele


parou diante de mim. Tinha que levantar o queixo para enxergar o seu rosto,
pois Tommasso era muito mais alto que eu.
— Não me importo com sangue — respondeu ele para o meu total
desgosto. — Está com medo de mim, Kiara?
— Não tenho medo de você — cuspi, furiosa pelo seu olhar
dominador sobre mim.
— Mas deveria. — Travei quando desceu a mão até meu pescoço. —
Porque se eu gostar de você, garanto que serei um bom marido, caso
contrário você não terá paz até o final dos seus dias. Fui claro? — ameaçou
com os olhos presos aos meus. Conseguia enxergar o rancor neles.
— Por que você me escolheu? — bradei com ódio. — Você se deitou
com a minha irmã e agora fará o mesmo comigo. Isto é nojento!

Ele abriu um sorriso frio, que me causou um arrepio.


— Eu não te escolhi, você era a minha única opção no momento,
infelizmente. Você está longe de ser o meu desejo, Kiara, assim como sua
irmã também não era!
Furiosa, bati contra seu peito, tentando machucá-lo, mas o homem era
forte demais e parecia nem sentir nada. Ele segurou meus dois braços,
parando-me. Sua respiração pesada batia contra meu rosto. Ele não iria me
parar, não seria submissa a ele. Nunca!
— Não fale de Aurora. Ela morreu por sua culpa.
Seu aperto no meu braço ficou mais forte.

— Você é uma puta maldita! — vociferou em frente ao meu rosto.


Sem pensar duas vezes peguei a navalha de dentro do meu sutiã e cortei o
seu braço, fazendo-o me soltar rapidamente e me olhar surpreso, com os
olhos faiscando de enfurecimento enquanto o seu sangue escorria e
molhava o piso branco. Com o olhar afiado e dentes cerrados ameacei:
— Creio que você deve me respeitar e me tratar de forma cortês,
Tommasso. Pois não sou somente sua esposa e sim a salvação da máfia.
Com o nosso casamento você conseguiu o poder que precisava e com
minha morte pode perdê-lo.
Deixei o homem completamente atônito. Pensei que ele fosse me
matar ali no instante em que o desafiei, mas, ao invés disso, vi o seu olhar
mudar para obstinação.
E foi dessa forma que nossa relação começou, com uma guerra
iminente que eu iria vencer.
— Tenho que admitir, você é uma mulher corajosa — comentou,
distanciando-se de mim e abrindo um sorriso satânico. Ele tocou o
ferimento limpando o sangue com a mão, mas o corte foi profundo demais
para o sangue parar de jorrar. — Confesso que sua personalidade me excita
na mesma medida em que me enfurece.

Fitei-o de cima a baixo, percebendo uma certa rigidez da sua calça.


— Você é um depravado, Tommasso!
Ele sorriu demoníaco e voltou a se aproximar de mim.
— Tenha cuidado com o que fala, Kiara, até agora tenho levando suas
ameaças e rebeldia na brincadeira, mas você passou dos limites me
cortando. Onde diabos conseguiu essa navalha? — exigiu saber, parando
diante de mim. Segurou a minha mão e pegou a navalha.
— Era do meu pai, eu roubei — confessei.
— Acha que um simples corte me pararia se eu quisesse te possuir a
todo custo? — perguntou, cínico. Tocando a navalha como um sádico. —
Teria que me matar para isso, meu anjo.

— Se precisar eu mato — retruquei, em seguida o homem veio


parecendo uma fera para cima de mim. Segurou os meus ombros,
empurrando-me contra parede e colocando a faca no meu pescoço.
— Você é mais insolente do que imaginei, garota — bradou com a
boca perto da minha bochecha, virei o rosto e fechei os olhos. — E se eu te
machucasse de volta? Te cortasse como você me cortou?
— Vá em frente. Dores não me abalam mais.
Reabri os olhos e o fitei, ele parecia transtornado pela raiva. Foi sua
vez de fechar os olhos e respirar fundo. O maldito soltou meu ombro e
guardou a lâmina dentro do bolso do paletó.
— Tudo bem, Kiara, se quer jogar o jogo de implicância, vamos jogar
— falou, bruscamente. — Não vou te possuir sem sua permissão, fique
tranquila.

— Então, você nunca vai, pois eu nunca vou lhe dar minha permissão!
— bradei, desencostando da parede.
— Você não vai permitir e sim vai implorar para me ter dentro de
você. Anjo endemoniado.
Gargalhei alto, não sabia o que era mais engraçado, sua prepotência ou
ele me chamando de anjo endemoniado.
— Coitado de você, senhor Caccini. É muito iludido!
Ele mordeu o lábio inferior e fitou meu corpo com luxúria. Veio em
minha direção novamente e antes que eu pudesse correr de novo, agarrou a
minha cintura, segurando-me. Gritei e esperneei quando me segurou em
seus braços e me levou em direção à cama. Jogou-me sobre ela e, então,
tirou uma algema do bolso.
— Não vou te possuir, por completo, Kiara. No entanto, poderei tocar
seu corpo, apreciá-la quanto eu quiser, pois sou o seu marido e o Don da
Caccini. Portanto, não passo vontade nunca — declarou, deixando-me
boquiaberta.
— Se tentar fazer algo comigo, eu virarei uma estátua e não me
moverei um centímetro sequer ou emitirei algum som! — garanti,
arrancando um sorriso maléfico dele.
— Isto é o que veremos.
Engoli em seco quando o vi subir na cama. O seu sangue manchava o
lençol branco. Ele pegou os meus braços e os colocou em cima da cabeça.
Não conseguia acreditar no que estava prestes a fazer.
— Me solte, Tommasso! — gritei, furiosa.
— Achei que não emitiria nenhum som — lembrou, provocando-me,
senti meus dentes rangendo de tanta raiva.
Eu deveria ter enfiado a faca na sua clavícula ao invés de ter apenas
lhe cortado. Italiano maldito!
Kiara me olhou apavorada quando algemei suas mãos. Sentia-me
furioso e muito excitado com aquela situação. Foi a primeira vez que uma
mulher ousou me desafiar dessa forma e, ainda por cima, fez a estupidez de
tentar me ferir com uma navalha. Queria esfolar Kiara, mas não podia matá-
la, não quando acabamos de nos casar. A maldita era importante para máfia
e, infelizmente, para mim e não podia ficar viúvo pela segunda vez
consecutiva tão rápido.

Mesmo não podendo matar a cadela, eu poderia bater, maltratar e


ensiná-la a me respeitar da pior forma, no entanto, mesmo furioso ao
extremo com a desgraçada eu não conseguia fazer nada, só sentia
obstinação e desejo pela filha da puta. Quando entrei no quarto e a vi
trajando uma lingerie que ficou perfeita em seu corpo, um tesão
enlouquecedor tomou meu corpo inteiro. A puta era gostosa e pior que sabia
disso, ela entendia que mexia comigo, pois vi quando olhou a rigidez de
minha calça. Inferno de mulher.
O corte em meu braço foi profundo, dava para notar pelo sangue que
não parava de escorrer, mas naquele momento não sentia dor, para mim o
corte era apenas uma picada de inseto. Kiara precisaria de muito mais para
me parar.
— Tommasso, o que vai fazer comigo? — exigiu saber, tentando se
mover, mas falhando. Olhei em seus olhos e separei as suas pernas entrando
no meio delas, Kiara se contorceu.
— Calma, meu anjo, você logo vai descobrir — falei, sorrindo
devasso, deixando minha mão passear pelo seu corpo. Ela desviou o olhar
do meu rosto e sua bochecha ruborizou. Sorri satisfeito por ter conseguido
presenciar sua timidez. Levei a mão até perto do sutiã, quase alcançando o
seio, enquanto sentia minha ereção tocar sua perna. Seu cheiro estava
embriagando e confundindo os meus sentidos. — Você é virgem, Kiara?

Ela voltou a me olhar, com o cenho franzido.


— O que acha? — retribuiu a pergunta com indignação, o que me fez
sorrir.
— Eu lhe fiz uma pergunta. Preciso saber!
Eu não duvidava de que ela já tivesse se entregado a outro homem.
Sua personalidade me fez ter muitas dúvidas do que Kiara era capaz de
fazer e depois do que aconteceu, imaginava que fosse capaz de qualquer
coisa para lutar pelo que almejava. Seria ainda mais difícil para mim domar
essa pequena mulher feroz.
— Prefiro te deixar na incerteza, senhor Caccini — murmurou com a
voz provocadora e modulada, fazendo com que minha veia saltasse de furor.
— Você nunca vai descobrir se sou realmente virgem, Tommasso.

— Ah, Kiara, você precisa saber que sou um homem que nunca
desiste do que deseja — respondi, ao vê-la prender os lábios nos dentes,
deixando-os inchados com a mordida. Meu pau pulsou violentamente. — E
agora estou desejando muito sua boca, garota…
Kiara arregalou os olhos, à medida que minha boca se aproximava da
dela. Ela não tinha como fugir, portanto, se eu quisesse beijá-la, a beijaria.
Parecia que atearam fogo no meu corpo quando nossos lábios se
encostaram. Sua boca era macia e delicada, ao mesmo tempo em que os
lábios eram carnudos. Cacete. Entreabri a boca e tentei beijá-la, mas a
cadela não movia os lábios gostosos. Apoiei os cotovelos e deixei meu
corpo colar no de Kiara, todo seu calor passou para mim. Meu pau estava
tão duro que temia não conseguir controlar meu tesão. Nunca senti um
desejo tão violento como esse por nenhuma outra, somente por ela. Por
Kiara.
Quando percebi que independentemente do que eu fizesse ela não me
beijaria de volta, encostei minha testa na dela e respirei fundo, sentindo os
meus batimentos cardíacos descompassados.
— Me beije, Kiara — pedi baixinho. Minha voz saiu falha e rouca,
como uma súplica.

— Nunca.
Sua recusa doeu mais do que o corte que fez em meu braço. Eu já não
sabia mais como reagir diante dela. Era o chefe da máfia que tinha tudo que
desejava, mas naquele momento era diferente, pois não conseguia realizar o
meu maior desejo, que era ter Kiara entregue a mim. O que adiantava tanto
poder se não poderia tê-la por completo?
Não valia de nada!
— Por que me odeia tanto? — perguntei, olhando nos seus olhos.
Notei que eles estavam cheios de lágrimas. — É somente por causa da
morte de Aurora?
— Eu não te odeio somente pela Aurora, mas também por ter
implorado para não me escolher, eu disse que preferia a morte e, mesmo
assim, você preferiu me ver sofrer do que desistir. Você é um egotista e
provou isso quando escolheu se casar comigo.

Ela cuspiu as palavras com rancor em frente ao meu rosto.


— Mas eu não tinha escolha, você era minha melhor opção no
momento. Nenhuma outra era melhor que você, Kiara. Não desejei
nenhuma outra como você! — admiti, ela arqueou a sobrancelha e
entreabriu os lábios para soltar uma lufada de ar.
— E o que você quer que eu faça, agora, Tommasso? O que quer de
mim? Já sou a sua esposa, não entendo.
— Quero que você seja minha por completo. Que me deseje como eu
te desejo — falei, e ela travou, ficando em choque.

— Isto é impossível, Caccini!


— Não é tão impossível assim, senhorita Caccini — retruquei, ao
passo que passava a mão por dentro do seu sutiã, ela se contorceu em
resposta, querendo fugir. Meu tesão aumentou quando senti o seu mamilo
enrijecido. Segurei o seio e com o dedo indicador fiz o contorno do bico.
Kiara fechou os olhos e apertou o lábio, para não emitir nenhum som. —
Pode fingir que não, mas sei que meu toque te perturba tanto quanto seu
corpo a mim.
— Maldito — sussurrou, raivosa.
Inclinei o pescoço, sorrindo levemente, ao notar que ela tentava fechar
as pernas. Sim, pelos meus anos de experiência, conseguia notar que Kiara
estava sentindo tesão. Afastei alguns fios do seu pescoço e levei à boca até
ele, em seguida passei a língua na pele brilhosa e subi em direção à orelha.
Ela estremeceu, arrepiando-se.
— O que… Está… Fazendo… Pare!

Seu pedido saiu pausado. Parecia ter perdido o controle do próprio


corpo. Continuei instigando seu seio e beijando seu pescoço, soprando sua
orelha, excitando-a cada vez mais. Ela tentou ao máximo não falar nada ou
gemer, no entanto, não conseguia ficar sem se contorcer.
— Vou fazê-la gozar — garanti. Ela se empertigou ainda mais. Os
braços ainda algemados em cima da cabeça. Meu pau babava desesperado
por ela. Tirei a mão de seu mamilo e de dentro do sutiã, levei até o cós da
calcinha, fazendo-a reabrir os olhos.
— Isso não! — decretou, tentando se afastar de mim, mas era
impossível. Olhando-a nos olhos, passei a mão por dentro da sua calcinha
tocando sua intimidade. — Tommasso, não, por favor!
Seus olhos me fitavam amedrontados, por isso não consegui
ultrapassar seu limite, tirei a mão de dentro da sua calcinha rapidamente,
então tive uma ideia. Passei a tocá-la por cima da calcinha. Sentindo a
umidade do seu sexo no tecido. Meu pau latejou, quando senti seus lábios
vaginais se abrindo e meu polegar passando entre eles. Ela não estava
menstruada, usou esse argumento para me fazer desistir de fodê-la.
— Por cima da roupa é permitido, certo? — Sorri com malícia,
sussurrando as palavras, ela ofegou baixinho e ficou observando o
movimento que eu fazia com a mão. Enquanto a tocava por cima da
calcinha, apertei meu pau por cima da calça, estava excitado para um
caralho e não teria meu alívio naquele momento. — Que bocetinha
deliciosa, Kiara. Estou ansioso para provar seu sabor. — Tirei a mão da sua
calcinha, levei o dedo à boca sem desviar o olhar dela e lambi um por um,
olhando-a com intensidade, ela fechou os olhos e arfou.

Voltei a tocá-la, consegui sentir seu clitóris inchado por cima da pressa
íntima, suspirei de prazer, imaginando como seria sua boceta. Pelo que pude
notar, certamente era carnuda. E havia uma pequena quantidade de pelo,
conseguia sentir. Caralho. Fechei os olhos, imaginando-me fodendo Kiara
de quatro, enquanto ela gemia pedindo mais rápido… Reabri os olhos
quando a senti se contorcer e soltar um gemido incontrolável, tendo um
orgasmo com meu toque na sua boceta.
— Isso, safada, goza mais. — Continuei a tocando, contemplando a
bela visão que era ter suas pernas tremendo sem parar e os olhos revirando
de prazer.
Assim que sua respiração voltou a se normalizar e os espasmos
deixaram seu corpo, tirei a mão de sua intimidade e me levantei, buscando
forças para sair de perto dela. Diabo. Não queria deixá-la.
— Tenha uma maravilhosa noite, Kiara. Sonhe comigo, esposa! —
Usei meu tom mais sarcástico para provocá-la e deixei seu quarto sem olhar
para trás. Queria deixá-la com gosto de quero mais, ao mesmo tempo em
que se odiava por ter se permitido sentir prazer com o homem que dizia
odiar.
Entrei no meu quarto, fui direto para o banheiro tomar um banho bem
gelado para esfriar a cabeça. Tirei a roupa e entrei debaixo do chuveiro,
sentindo a água gélida me molhar. Toquei meu pau que não queria
amolecer. A imagem de Kiara não saía de minha mente. Comecei a me
masturbar, detestando ter que buscar o alívio dessa forma. Fazia muito
tempo que não tocava uma punheta, já que nunca precisava, porém, naquele
momento não tinha outra saída, estava com muito tesão e precisava aliviar
as bolas.
Maldita Kiara. Essa disputa entre nós acabou de começar e não estava
nem perto de acabar.

Quando o infeliz de Tommasso deixou o quarto, corri para o banheiro.


Peguei o primeiro sabonete que encontrei e passei na boca, lavei
literalmente minha boca com sabão. Sentia vontade de eu mesma me bater,
espancar-me por ter sentido o que senti por aquele homem. Que tipo de
mulher eu era? Uma fraca, cretina e sem palavra.
Eu não devia ter demonstrado que senti prazer, não devia ter chegado
ao orgasmo. Porra. Decerto eu não mandava mais no meu corpo. Ainda
estava irritada por não ter me controlado e ter gozado, que merda!
Tommasso vai se achar ainda mais.
Entrei no boxe, liguei o chuveiro e tomei banho, ainda sentindo a
adrenalina no meu corpo e o arrependimento, tudo junto e misturado.
Tentava levar em consideração o fato de que nunca tinha sido tocada de tal
forma por um homem, então foi isso que aflorou um instinto sexual e
desejoso em mim, o que poderia acontecer com qualquer homem, certo?
Infelizmente eu sabia que estava errada, aquilo que senti com o toque
de Tommasso não podia ser algo normal. Meu corpo se arrepiou dos pés à
cabeça, toda vez que me tocava meu íntimo queimava de tensão, mesmo
com o ódio que sentia dele, além do mais, tal sentimento não influenciou no
prazer que senti nos seus braços. Lembrei-me de Francesco. Às vezes,
sentia tesão por ele, mas nunca foi algo tão intenso assim. Naquele
momento, estava me sentindo suja e nojenta por sentir prazer com o
monstro de Tommasso.
Terminei o banho, desliguei o chuveiro e peguei a toalha, enrolei-me
nela e voltei para o quarto. Fui até o closet imaginando que não tinha
poucas roupas lá, só que quando entrei, além das minhas, que não eram
muitas, vi várias outras novas com etiqueta e tudo, incluindo sapatos,
bolsas, joias, acessórios e lingeries. Tudo novo. Fiquei chocada. Eram todas
do meu tamanho e do estilo que gostava. Peguei uma roupa confortável para
dormir e vesti, depois penteei o cabelo molhado.
Olhei-me no espelho pensando se conseguiria dormir nessa casa. Com
certeza, passaria a noite em claro.
Voltei para o quarto e resolvi passear pela casa, de preferência ir até a
cozinha. Toda a tensão me deu fome. Passei pelo corredor e estava prestes a
ir para a escada, quando vi a luz de um quarto acesa, mas a porta parecia
estar trancada, os gritos que vinham de dentro do quarto eram de uma
menina pedindo socorro. Lembrei-me de que Tommasso tinha uma irmã
mais nova que morava com ele. Era possível ele ter trancado a menina no
quarto? Não duvidaria nada que tivesse feito isso.
Desci a escada, caminhei até a cozinha e, por sorte, encontrei uma das
funcionárias da casa lá.
— Olá — falei, tentando ser simpática, a mulher que estava limpando
a cozinha se assustou quando me ouviu e se virou rapidamente.
— Boa noite, senhora Caccini. É um prazer, finalmente, conhecer a
senhora. Está precisando de algo?
A mulher parecia ser bem prestativa e simpática.
— Boa noite, o prazer é todo meu em conhecê-la, mas, por favor, não
me chame de senhora, tenho apenas dezenove anos. — Dei risada tentando
manter o clima agradável.
— Desculpe-me, força do hábito. Vou chamá-la de senhorita a partir
de agora.
— Melhor você me chamar pelo meu nome mesmo, Kiara — pedi. —
Tenho um pedido a fazer, preciso da chave da terceira suíte do corredor.
Ela arregalou os olhos com o meu pedido estranho…
— Por que a senhora, quer dizer, Kiara, precisa da chave do quarto da
Giulia?

Ah, então esse era o nome da garota. Giulia.


— Porque Tommasso me pediu para falar com ela, porém, notei que o
quarto está trancado, vou precisar da chave. Pode arranjá-la para mim?
Abri um sorriso convincente e a mulher pareceu acreditar. Ótimo!
— Vou pegar a chave.
Ela sorriu e saiu dali, voltando minutos depois com a chave. Peguei e
sorri agradecida. Voltei para o andar de cima da casa e fui em direção ao
quarto de Giulia. Coloquei a chave na trança e a destranquei. Depois virei a
maçaneta e abri a porta. Levei um susto ao entrar no quarto.
Parecia que tinha passado um furacão que bagunçou e destruiu todo o
ambiente. Meu susto piorou quando a menina apareceu saindo da varanda,
como uma assombração.
— Quem é você? — gritou ela, exigindo saber.
— Ei, garota, se acalme, está me assustando — pedi com cautela, a
menina baixinha se aproximou de mim com olhar maldoso, muito parecido
com do irmão, aliás.
— Eu perguntei quem você é — repetiu.

— Sou a nova esposa do seu irmão, satisfeita? Agora já pode relaxar,


Giulia!
Ela franziu o cenho e me fitou de cima a baixo.
— Ele que mandou você vir aqui me soltar? — questionou, balancei a
cabeça negando.
— Não, meu bem, eu ouvi seu pedido de socorro e vim te soltar.
Consegui a chave com uma das empregadas da casa.
— Hum — resmungou, desconfiada. — Você conheceu a antiga
esposa de Tommasso?
— Sim, sou irmã dela — confessei, ela pareceu ficar confusa. — Eu
sei que é estranho, mas Tommasso resolveu se casar com duas irmãs.
— Não é estranho — comentou. — É nojento.
Quis rir da expressão de nojo que ela fez.

— Acredite em mim, acho o mesmo. Não queria me casar com ele,


mas fui obrigada.
— Duvido, todas querem se casar com meu irmão. Ele é o chefe da
máfia. Sua irmã mesma adorou o casamento.
— Todas menos eu — retruquei e fitei a porta com preocupação. —
Por que Tommasso te prende aqui? Ter soltado vai causar algum tipo de
problema?
— Ele me prendeu aqui, porque andei aprontando muito nos últimos
tempos e acho que não vai gostar de você ter me soltado — confessou.
— Que se foda, não acho certo prender uma criança, não importa o
que tenha aprontado. Não pode ser cativa dentro da sua própria casa.
Seu olhar se iluminou ao escutar minhas palavras, em seguida vi um
meio-sorriso brotar em seu rosto.
— Também acho, mas meu irmão é um carrasco.
Olhei para a bagunça que estava o seu quarto, certamente ela que
bagunçou tudo para chamar atenção.
— Vou pedir para a funcionária vir limpar seu quarto, isto aqui está
uma completa desordem. Não pode dormir em um ambiente aqui, ocupe um
dos quartos de hóspedes.
— Sério mesmo? — questionou, surpresa, parecendo não estar
acostumada com gentileza.

— Sim, estou falando muito sério. Vá e durma tranquila. Você não


ficará mais presa, eu garanto!
Ela abriu um sorriso completo dessa vez, porém, não achei seu sorriso
totalmente sincero, ainda escondia desconfiança por trás dele.
— Obrigada. Qual seu nome?
— Kiara.
— Obrigada, Kiara, acho que nós daremos bem. — Sorriu
falsamente. Algo me diz que ela gostou um pouco de mim, mas não
totalmente.
— Com certeza, nos daremos! Agora vou tentar dormir, porque está
tarde. Boa noite, Giulia.
— Boa noite — respondeu, acenei e a deixei sozinha no quarto e
voltei para o meu.
Não sei por qual motivo, mas conhecer Giulia fez com que me
sentisse mais aliviada por não estar sozinha nessa casa com Tommasso. Ele
tinha uma irmã que me lembrava muito a minha Leone. Faria de tudo para
me dar bem com Giulia, sentia que a menina passou por muita coisa ruim e
seu comportamento era um espelho de todo o mal que já tinha presenciado.
Deitei-me na cama e fechei os olhos, tentava não pensar em tudo que
aconteceu, mas as preliminares com Tommasso adentraram em meus
pensamentos e era incapaz de não lembrar.

No dia seguinte, acordei estranhando o ambiente. A luz do sol que


adentrava pela janela me despertou, ontem me esqueci de fechar as cortinas.
Levantei-me, alonguei os ombros e a coluna. Depois fiz minha higiene
matinal, lavei o rosto e penteei o cabelo revolto. Passei um pouco de
maquiagem para melhorar o visual e escolhi uma roupa no closet. Uma saia
preta e blusa branca folgada, nos pés saltos baixos pretos.
Depois de andar de um lado para o outro no quarto, resolvi sair e
descer até a sala de jantar para ver se o café já tinha sido servido. Estava
com receio de me encontrar com Tommasso, não queria vê-lo depois do que
aconteceu ontem.
Cheguei à sala e não tinha ninguém. A sala de jantar ficava no mesmo
cômodo em que a de estar. A mesa grande estava repleta de alimentos,
estranhei ninguém estar presente para degustar a refeição. Ainda mais com
uma mesa farta assim. Quando me aproximei, notei que eram frutas e
torradas, tudo sem glúten ou lactose. Não tinha pão. Não tinha massa. Não
tinha nada que engordasse ali, até o suco era natural.
Sentei-me à mesa, peguei uma torrada e um pouco de geleia indiana,
coloquei um pouco de suco no copo e comecei a comer. Hum, estava tão
bom, mas a verdade era que qualquer comida ficava deliciosa quando
estávamos com fome. Comecei os pedaços de maçã partidos. Estava
distraída degustando do café da manhã que nem percebi que alguém se
aproximou.

— Gostando do café que mandei preparar para você? — Era a voz de


Tommasso, quase me engasguei com o pedaço da maçã, comecei a tossir
sem parar, por isso tive que beber um pouco do suco. Meneei a cabeça em
sua direção e notei os cantos dos olhos enrugados, denunciando que queria
rir de mim. — Desculpe, esposa, não quis assustá-la.
— Não quis, mas fez — retruquei. — Pensei que o café da manhã era
para um batalhão de pessoas, não só para mim, tem muita comida aqui, vai
estragar e tem tantas pessoas passando fome…
— Se déssemos comida para todos os mendigos da Sicília, ainda
assim não acabaríamos com a fome do mundo todo.
— Mas melhoraríamos o dia de algumas pessoas — rebati com
veemência, ele suspirou antes de se sentar em uma cadeira ao meu lado na
mesa, preparei-me para me levantar e sair.
— Fica — ordenou. — Termine de comer, Kiara.
— Minha fome já foi saciada — respondi, emburrada. Tommasso
bufou estressado, depois pegou um cacho de uva e levou até a minha boca.
— Coma — pediu, olhando-me com seu olhar mandão. Peguei uma
das uvas com a boca e o vi ficar satisfeito, mas ao invés de mastigar, cuspi a
uva nele, fazendo a fruta bater contra seu paletó caro antes de ir parar no
chão. — Que infantilidade, está quase parecendo a minha irmã, Giulia.
— Falando na sua irmã, eu a soltei do cativeiro ontem e não quero
mais que você a deixe presa por motivo nenhum. Entendeu?

— Quem você pensa que é para passar por cima de uma ordem minha.
Giulia estava de castigo e somente eu poderia tirá-la — bradou, conforme
dava de ombros fazendo cara de paisagem.
— Penso que sou sua esposa, portanto, também responsável por Giulia
e não vou deixar você maltratar a pobre criança — falei sem olhá-lo. Peguei
uma das frutas e continuei comendo como se ele não estivesse ali.
— Você vai mudar de ideia rapidamente, assim que ela aprontar com
você. A garota é uma peste, não se engane com o rosto de boa moça. Ela
finge bem.
Senti minha testa se enrugar, era óbvio que ele estava exagerando.
— Não importa, não irei me arrepender. Vou dar todo o carinho e
atenção que Giulia merece, para que no futuro ela não seja amarga igual a
você.

Fitei-o e percebi que ele me olhou curioso ao invés de irritado.


— Por que se preocupa com Giulia?
— Porque sou humana e tenho um bom coração Achou que iria fazer
o quê? Compras? Viagens? Agora que sou a primeira-dama da máfia?
Sorri cinicamente, ele suspirou desviando o olhar do meu.
— Foi o que sua irmã fez enquanto estava viva. Achei que não seria
muito diferente dela.
Sua resposta despertou em mim um sentimento ruim. Não gostava de
ser comparada a Aurora.
— Acontece que você, Tommasso, casou com duas irmãs bem
diferentes. As mil peças de roupa, acessórios e sapatos que você comprou
para mim já foram suficientes. Não me importo com nada disso, só quero
saber onde estão as minhas aranhas.
— Não sei dos seus aracnídeos, meu anjo. Sua mãe não as trouxe.

Bufei furiosa.
— Que inferno, eu pedi que ela as trouxesse.
— Você tem uma boca bem suja, menina. A cada cinco palavras que
fala deixa escapar um palavrão.
Ele estava mesmo me repreendendo como se fosse meu avô? Ou pai?
— Vai querer me dar aulas de bons modos agora, senhor Caccini?
Saiba que meu pai já tentou e falhou. — Pisquei para ele, que balançou a
cabeça indignado e ficou mudo por um tempo. Terminei de comer e me
levantei, sentindo que estava sendo observada por ele. Peguei uma bandeja
e comecei a escolher alguns alimentos, torcendo para que Giulia gostasse de
algum.

— O que está fazendo? — perguntou, quando me virei para olhá-lo,


ele estava com a mão no queixo, coçando a barba e me fitando com olhar
safado. — Gostei da sua escolha de roupa.
— Eu sei que tenho bom gosto, marido — respondi, irônica. — Vou
levar a bandeja com café da manhã para Giulia que não deve ter acordado
ainda.
— Pra quê? Mande uma das criadas.
Coloquei a bandeja em cima da mesa e cruzei os braços, em seguida
inclinei o queixo.
— Não as chame de criadas e sim de funcionárias. Porra. — Acabei
soltando um palavrão mais uma vez, não conseguia me segurar. — Não
preciso que ninguém leve por mim, tenho mão.
— Kiara… Kiara… Tem sorte que eu acordei de bom humor depois
de ontem. — Ele abriu um sorriso convencido, e eu desviei o olhar do seu
rosto. Filho da puta. Ele se levantou e veio até mim. — Terei que ir para o
trabalho agora, mas quando chegar eu passarei novamente no seu quarto.
Dei um passo para trás, quando chegou perto de mim e tentou agarrar
a minha cintura.

— Te esperarei com a porta trancada!


O maldito não deu a mínima para o que eu disse. Tentei passar, mas
ele conseguiu me pegar antes que eu fugisse.
— Quando você vai entender que não pode fugir de mim? —
questionou com seu rosto perto do meu e o braço em volta da minha
cintura. Engoli em seco, irritada ao extremo, mas sentindo um pouco de
excitação e euforia me tomar. O maldito fitou a minha boca com desejo, o
seu olhar ficou ainda mais intenso e as pupilas dilatadas. Senti minha
pulsação acelerar violentamente. Algo em mim palpitava com um anseio
proibido.
— Quando vai entender, Tommasso, que não te quero?
Ele ofegou baixinho.
— Não é o que seu corpo e olhar demonstram — retrucou, fazendo-
me revirar os olhos — O que preciso fazer, Kiara, para que você deixe de
me odiar?
— Nasça de novo. Somente assim eu conseguirei aturar a sua presença
sem sentir repulsa.
Ele me soltou bruscamente, decerto furioso com as minhas palavras
secas. Ele merecia uma resposta ainda pior.
— À noite vou te levar para jantar. Vista seu melhor vestido!
— Como assim? Não quero jantar com você!
Tentei recusar, mas ele se fingiu de surdo e saiu, deixando-me sozinha
na sala de jantar. Só podia ser brincadeira. O que diabos ele estava tentando
fazer? Me fazer simpatizar com ele? Ou pior, gostar?
Era impossível. Nunca gostaria de um homem como ele. Só se fosse
em outra vida e em uma realidade oposta, aí sim até poderia ser.
Depois de me acalmar, peguei a bandeja e andei em direção às
escadas. Segui até o quarto de Giulia. Bati à porta, mas a menina não
respondeu ou abriu. Sei que era errado entrar sem permissão, mas tinha uma
boa intenção. Entrei no quarto, que estava bem iluminado pela luz do sol.
Fui em direção à cama e coloquei a bandeja em cima dela, no lugar livre.
Depois tentei acordar Giulia.
— Giulia querida… Acorde.
Toquei seu ombro e balancei levemente. A menina sobressaltou de
susto. Sentou-se na cama, com os olhos esbugalhados e a testa franzida, tão
arisca quanto um bicho.
— Desculpe se te assustei, não foi minha intenção. Só vim te trazer
seu café da manhã.
Apontei para a bandeja, ela a olhou com desgosto.

— Por que acha que quero essa merda de comida sem gosto algum?
Tentei manter a calma com seu compartimento arredio e grosseiro.
— Porque deve estar com fome. Trouxe frutas. Tem morango, uva,
maçã e pera.
— Não quero fruta, já estou cansada de comer só isto — bradou, antes
de empurrar a bandeja, fazendo-a ir parar no chão, assustei-me com a sua
atitude. Várias pessoas ao redor do mundo passando fome e a menina
desperdiçando comida assim.
— Olha aqui, menina… Paciência tem limite. Sabe quantas pessoas no
mundo estão implorando por um alimento agora e você me faz isto? —
vociferei, enfurecida. A menina deu de ombros não se importando com o
meu surto. Comecei a pegar as frutas do chão e tudo que ela tinha
derrubado.
— Não ligo. Duvido que quando você passar um mês aqui vai gostar
de seguir os gostos alimentares do meu irmão — retrucou.
— Posso até não gostar e aprovar, mas desprezar comida da forma que
você fez, com certeza, não vou!
Bufei e passei a mão pela têmpora, cansada.
— Não pedi que me trouxesse comida. Eu não quero que tente ser
minha amiga! — berrou a menina, com isso perdi totalmente a paciência.
— Estou tentando somente ser legal com você e trazer um pouco de
paz e felicidade para a escuridão desta casa, mas está difícil. Você é uma
garota linda, porém, tão complicada quanto Tommasso. E saiba que não é
só você que está presa aqui, tendo que suportar pessoas que não está
familiarizada e que são terríveis, eu também estou.
Deixei uma lágrima escapar. Seu olhar raivoso dissipou quando me
viu chorando.
— Não precisa chorar…
— Olha, Giulia, você pode até me detestar, mas não se esqueça de que
nunca fiz nada para merecer ser tratada assim.
Dito isso, peguei a bandeja e a deixei sozinha sem dizer mais nada.
Não estava mais suportando tudo, queria minha casa, queria Leone e
Francesco de volta. Queria retomar à minha vida antiga novamente. Era
infernal ter que aturar toda essa merda.
Precisava fazer algo de útil e não tinha nada para fazer nessa casa.
Andei pelos jardins. Fui até a piscina e nadei. Mesmo sabendo que os
soldados estavam lá me observando de biquíni. Não me importava mais, era
uma mulher casada, por mim poderia andar pela casa pelada. Estava deitada
na espreguiçadeira olhando a paisagem, quando uma das empregadas da
casa se aproximou.
— Senhorita Caccini. Desculpe atrapalhar seu momento relaxante.
— Não está atrapalhando nada. Pode falar. — Sentei-me na
espreguiçadeira rapidamente.

— Vim lhe informar que um soldado da sua casa veio entregar o


aquário seco com aranhas, disse que são suas.
Levantei-me em um pulo, sorrindo alegremente.
— Não acredito! Cadê? Onde elas estão?
— Me siga, senhorita!
Segui a mulher, que precisava urgentemente perguntar o nome, mas
estava mais interessada nas minhas aranhas naquele momento.

— Ali estão elas!


Ela apontou para a cômoda do meu quarto onde as colocou. Corri até
elas a fim de conferir se estavam bem. Sentindo uma alegria descomunal e
sensação de alívio me tomar. Por um momento cheguei a pensar que minha
mãe teria matado elas.
— Que saudade estava de vocês, meninas! — sussurrei, sentindo uma
lágrima molhar meu rosto. — Fico mais aliviada por ter vocês aqui comigo!

À noite, tomei um banho. Depois sequei o meu cabelo, ondulei as


pontas e fiz uma maquiagem bem discreta, destacando os olhos e boca com
um lindo batom vermelho. Escolhi o vestido mais curto e sexy que achei no
closet. Não queria impressionar Tommasso e sim fazê-lo desistir de me
levar para jantar. Quem sabe o ciúme não o faria me deixar em paz essa
noite.
Calcei um salto alto. Finalizei borrifando o perfume e escolhendo os
acessórios. Dois brincos brancos pesaram na minha orelha, era um conjunto
de colar e pulseira. Estava pronta para desafiar Tommasso. Se ele queria
seguir com esse jogo de tentar me excitar para me fazer ceder, quem
perderia o juízo seria ele. Vamos ver se ele tinha palavra, que só me
possuiria quando eu cedesse.
O jogo tinha começado e daria o xeque-mate!
Entrei no cativeiro da minha máfia. Busquei por Antônio, um dos
prisioneiros que Andrea, o caporegime, capturou em uma emboscada. O
verme de Antônio era um dos Biachi, que terei o prazer de destruir
pessoalmente. Minha sede de vingança não foi saciada, desde a morte de
Aurora nossa máfia estava se unindo e buscando por vingança contra a
máfia inimiga, estávamos começando a capturar os integrantes da máfia
Biachi, Antônio era um dos capos, próximos de Giuseppe. O filho da puta
foi capturado junto com soldados tentando acabar com a nossa frota de
balas, estavam tentando a todo custo acabar com os nossos negócios, mas
nossa segurança estava muito mais forte. Eles não seriam páreos contra nós.

Entrei no cativeiro e vi o homem amarrado, com o rosto repleto de


sangue. Aproximei-me sentindo meu sangue fervilhando de raiva.
— Ora, vejam só. Tommasso ao vivo e a cores — zombou ele, com os
olhos repletos de ódio, porém, não mais do que eu estava. Coloquei as mãos
no bolso da calça, parando à sua frente com tranquilidade. — Veio se vingar
pela morte da sua esposa? Ela era tão bonita, gostaria de ter a estuprado
antes que a matassem, porém, sou casado e não podia me aproveitar da
boneca.
Tentei buscar meu equilíbrio, para não matá-lo no mesmo momento.
Eu queria lhe dar uma morte merecida. Dolorosa e impiedosa. Lenta e
torturante!
— Matar você não seria vingança, ninguém se importa com você, será
somente um Biachi a menos. Nossa máfia está crescendo a cada dia, perto
do nosso perto vocês, Biachi, são meros tolos que acham que podem ganhar
esta guerra. Vou matar um por um. Vou dar uma morte terrível para toda a
sua família e de todos os Biachi. Nem que seja a última coisa que eu faça
em vida.

— Vocês podem ser fortes, mas nunca conseguirão destruir todos nós.
Sei que quer se vingar de Giuseppe por ter matado a putinha da sua esposa e
o filho que carregava na barriga, a única forma de se vingar a altura será
matando o herdeiro do Don e a esposa, no entanto, Tommasso, nós dois
sabemos que você não tem força para tal. Se fosse no tempo que seu pai
comandava, talvez, mas você é fraco e tolo comparado ao Mattia Caccini.
Abri um sorriso tão frio quanto gelo, tirei as mãos dos bolsos e toquei
a arma na cintura.
— Você se engana muito se pensa que não aprendi nada com meu pai.
Vocês, Biachi, estão cada vez mais descuidados, a prova é você aqui. —
Tirei a arma da cintura e apontei para sua cabeça, ele fingiu não ter medo,
mas seu olhar denunciava o contrário. — Eu poderia atirar agora mesmo na
sua cabeça e acabar com sua vida, Antônio, mas sabe que prefiro usar
métodos diferentes.
— Vá em frente, Tommasso. Eu não ligo de morrer aqui, estarei em
paz. Não ouvirá sequer um grito deixar minha boca!
O espaço escuro e pequeno fez minha gargalhada ecoar.
— Veremos — falei, jogando a arma no chão. Olhei para Andrea e
acenei, ele veio até mim, trouxe minha faca e me entregou. Passei a lâmina
pelo meu dedo. Sorrindo amargamente. — Diga-me, Antônio, você prefere
morrer, ou viver sem o pau?
— O quê? — Ele pareceu assombrado com a minha pergunta e já tive
a minha resposta.
— Desçam a calça dele. Acendam o fogo — ordenei, assim os
soldados fizeram. Antônio me fitava de olhos arregalados. Assim que
acenderam o fogo, passei a lâmina da faca nas chamas, deixando esquentar
bem. Fitei Antônio que estava nu. — Vou cortar o seu minúsculo pau e
enviar para sua esposa guardar de lembrança — disse ao me reaproximar
dele, vi-o engolindo em seco.

— Tommasso… Tenha piedade! — ele implorou.


— Ora. Cadê toda a sua coragem agora, Antônio? Tarde demais para
implorar. Desgramado.
— Não, por favor…
Abri um sorriso diabólico, ele não respondeu. Um dos soldados
segurou a sua genitália, enquanto cortava o órgão fora, ouvindo e me
deliciando com os gritos de pânico e dor do inimigo. Todos deixavam sua
coragem escapar enquanto eram torturados. Impressionante!

Cheguei em casa à noite, ansioso para sair com Kiara. Havia


decretado que jantaríamos juntos, não deixando escapatória para ela recusar
meu convite. Estava tentando usar de um jogo diferente com ela, mostrar
que não era o monstro mais terrível que conheceu, na tentativa que criasse
alguma afeição por mim.
Tudo isso me deixava irritado, precisar agradar uma mulher que já era
minha esposa, para que gostasse de mim e me deixasse fodê-la. Porém,
Kiara já estava me deixando louco. Meu desejo por ela era tão forte e
intenso que não conseguia parar de pensar na maldita. Eu precisava acalmar
minha fome por ela. Domar a felina. No entanto, não queria e nem iria
forçar qualquer intimidade. Se tinha uma coisa que eu repugnava era o
estrupo.
Entrei no meu quarto, fui até o banheiro e tomei um banho demorado.
Ao terminar o banho, enxuguei-me, escolhi um dos meus paletós e penteei
o cabelo, deixando-o bonito e alinhado. Finalizei borrifando o perfume e
colocando meu relógio de pulso. Olhei as horas e resolvi ver se Kiara já
estava pronta. Passei pelo corredor e avistei uma das babás de Giulia.
— Senhor Caccini, boa noite — cumprimentou a criada, quer dizer,
empregada. Lembrei-me da correção que Kiara me fez mais cedo.

— Boa noite. Como minha irmã está? — perguntei.


— Bem. Ela tem participado das aulas com a tutora particular que o
senhor contratou. — respondeu. — Por enquanto não tem se comportado
mal.
— Ótimo. Me mantenha informado, se ela aprontar qualquer arte que
seja.
— Está bem, Don. — A mulher assentiu e saiu.
Fui até o quarto de Kiara. Bati à porta e a esperei abrir. A minha
esposa não demorou muito para abrir a porta. Alarmei-me ao olhá-la. Senti
minha boca salivar, à medida que meu sangue fervia. Olhei o vestido que
ela estava usando, vermelho-escuro, curto e decotado. Minha vontade era
rasgar a maldita peça de roupa, que ficou incrivelmente sexy em Kiara. A
mulher ficou extremamente irresistível com o vestido. Senti meu corpo se
encher de excitação e desejo. Queria jogá-la contra a parede, capturar os
malditos lábios vermelhos, beijá-la ferozmente e fodê-la em seguida.

Fechei os olhos sentindo uma adrenalina descomunal me tomar. Que


diabo de mulher diabólica e sensual.
— Boa noite, marido. — Abri um sorriso feliz por conseguir deixar
Tommasso impressionado e com queixo caído. Aproximei-me dele,
encostando a mão no batente da porta, fazendo charme. — Estou
prontíssima para o jantar.
— Que porra de vestido é este, Kiara. Vá trocar de roupa agora
mesmo — ordenou, furioso, nem liguei para o seu rompante.
— Por quê? Este vestido ficou maravilhoso em mim, não vejo motivo
para não usá-lo se foi você mesmo que escolheu para mim.

Fiz minha melhor expressão cínica, feliz em ver o italiano cuspindo


fogo pelas ventas. Parecia não aguentar sequer me olhar.
— Você quer me provocar, não é? Se vestindo como uma puta,
caralho!
Quase recuei quando veio para cima de mim, em seguida segurou meu
queixo com uma mão, aproximando seu rosto do meu, seu olhar estava
ainda mais sombrio. Ele me empurrou com a mão livre para dentro do
quarto, depois me colocou contra a parede.
— Não sei por que está tão irritado, Tommasso. É apenas um vestido
— continuei debochada, não vou deixá-lo me intimidar.
— Você está brincando com a minha paciência. Maldita. Quer deixar
outros homens babando por você? Quer me provocar ciúme?
Nunca tinha visto Tommasso tão possesso assim, não estava apenas
com raiva, também sentia ciúme e orgulho ferido. Cretino!
— Jamais, querido marido, somente queria ficar bonita para você. —
Abri um sorriso, ele apertou mais firme meu queixo e molhou sua boca com
a saliva da língua, sua respiração batia contra meu rosto, quente e furiosa.
— Você quer me ver perder o controle, não é, menina? Vai acabar
conseguindo.
— Sua voz saiu rouca e intensa, ele usou a mão livre para segurar a
minha coxa desnuda e acariciou a pele exposta.

— Quero que se arrependa de ter se casado comigo. Vou te causar


tanta dor de cabeça que se arrependerá amargamente.
Sorri com rancor. Ele balançou a cabeça, não desgrudando seu olhar
do meu.
— Pobre garota ingênua. Não consegue perceber que com isso
consegue somente chamar mais a minha atenção para você? — Ele soltou o
meu queixo e se inclinou para falar em meu ouvido: — Olha como me
deixa, meu anjo endemoniado. Sinta o que me causa.
Senti sua ereção encostando na minha coxa, senti um calor crescente
em meu ventre, meu sexo molhou no mesmo instante.
— Pare!

— O que foi? Não gosta de provocar? — Mordeu minha orelha


lentamente, enquanto falava, seu hálito sobre ela me trazia arrepios. — Não
adianta se vestir para me deixar excitado e depois negar fogo, Kiara.
— Eu te odeio, Tommasso — murmurei, amarga, ele sorriu contra
minha pele. Passou a mão entre minhas coxas antes de responder.
— Ao que parece, você se esforça para me odiar, porém, quanto mais
tenta, mais falha. Nunca se esqueça, anjo, o ódio e o amor estão ligados. Os
dois sempre vivem misturados.
Senti seus dedos tocando minha intimidade, contorci-me em seus
braços tamanho era o tesão que sentia. Fechei os olhos e ofeguei baixinho.
Senti sua boca próxima à minha e sua mão subindo pelas minhas costas, até
alcançar a nuca. Seu corpo pressionou o meu, fazendo-me começar a suar,
sentindo um calor que não era normal. Reabri os olhos e fitei os seus.
— Fala que me quer — implorou Tommasso, rendido. Encostou a
testa minha, ofegante, sem deixar de tocar minha intimidade.
— Não quero. — Não podia admitir que estava queimando de desejo
por ele, nunca.

— Eu preciso provar seu beijo, Kiara, ceda e me beije. — Senti minha


boca salivar, aproveitei para molhar o lábio inferior, Tommasso viu o
movimento da língua e gemeu: — Foda-se tudo!
Ele não suportou esperar minha permissão e me beijou intensamente,
fazendo-me perder o total equilíbrio e pose que ainda mantinha. Tentei
brigar comigo mesma, mas pela primeira vez o desejo ganhou a batalha.
Meu corpo amoleceu e meus lábios se abriram, retribuí seu beijo com tanta
fome e volúpia quanto Tommasso. Nossas línguas se misturaram em uma
dança excitante, enquanto nossas bocas procuravam por alívio, estávamos
com uma fome insaciável.
Estava entregue ao inimigo, totalmente rendida em seus braços,
deveria fugir e não me entregar, mas não conseguia. A atração que
sentíamos era mais forte do que tudo.
Passei o braço pelo seu pescoço, ele tirou a mão da minha intimidade
para segurar minhas coxas e erguê-las, fazendo-me entrelaçar as coxas em
sua cintura, sem parar por um minuto sequer de me beijar. Com um chute
ele fechou a porta e me levou até a cama, em seguida me colocou sobre ela,
vi-o afrouxar a gravata e abrir o cinto, depois o botão da calça, porém, não
desceu o zíper. Tommasso era um homem bonito demais mesmo que eu
odiasse admitir. O homem era o próprio demônio, mas tinha o charme de
um deus grego. Suas tatuagens eram de um pecador. Tinha uma no pescoço
e nuca, nos braços eu não sabia, pois nunca o vi sem paletó ou despido,
entretanto, na minha imaginação ele tinha a metade do corpo tatuado.
— Abra as pernas para mim, esposa.
Não obedeci ao seu pedido, estava ofegante e suada, com certeza a
maquiagem estava borrada, principalmente o batom.
— Então faço eu — murmurou ele com a voz rouca. Na sua calça
havia uma enorme rigidez, tinha certeza de que as minhas bochechas
estavam rubras, por ter sido flagrada enquanto o observava. O filho da puta
sorriu. Aproximou-se da cama e de mim. Segurou os meus joelhos para
separá-los, até estar aberta e à mostra para ele. — Ah, Kiara, se soubesse o
que eu desejo fazer com você agora.
Seu olhar ficou devasso, lambi a minha boca que ficou seca.
Tommasso passou o dedo pela minha perna, depois se inclinou para beijar
minha pele, em seguida passou seu nariz por ela, deixando-me ainda mais
quente e desejosa. Seus beijos foram subindo até o joelho, depois a coxa e
quando percebi, estava próximo à minha boceta. Gemi baixinho, odiando-
me por sentir curiosidade em saber como era a sensação de ser chupada por
um homem.

— Sabe, daqui consigo ver bem sua boceta. Mesmo que escondida por
essa calcinha minúscula e sensual do caralho. Consigo ver seus lábios
inchados, o formato e o quanto está molhada — ele falou devagar, então
passou o dedo entre os lábios, estremeci por completo. Tommasso afastou a
calcinha para o lado e meu rosto queimou no mesmo momento. — Ah,
Kiara, eu já vi tantas bocetas na vida, e posso garantir que a sua foi a única
que fez minha boca salivar em excesso.
— Tommasso…
— Shhhh, calada — sussurrou. — Nada que fale vai me impedir de
realizar meu desejo neste momento, Kiara.
— Que desejo? — questionei. Ele rangeu os dentes. Olhei a sua mão
ao ver as veias saltadas. Ele respondeu me mostrando. Segurou com uma
das mãos em volta da minha coxa, Tommasso levou a boca até minha
boceta, usando a mão livre para manter a calcinha afastada. Arfei tão alto,
que eu mesma tive que cobrir a minha própria boca. Estava completamente
chocada com aquilo, com a sensação que tive com o contato de sua língua
em meu sexo.
Senti minha boceta latejando, pulsando de prazer. Sua língua passou
em cantos inimagináveis. Parecia que tentava me descobrir. Fitei seu rosto,
o cabelo bem-arrumado estava jogado para trás, enquanto Tommasso me
chupava de olhos fechados, como se percebesse que o observava, ele abriu
os olhos e me encarou, à medida que me devorava como se estivesse
provando sua fruta preferida. Seu olhar era tão devasso que me deixava
hipnotizada. Ele passou a língua para cima e vi a minha lubrificação nela.
Gemi baixinho.
— Você pode me odiar, Kiara, mas sua boceta me adora. — Sorriu
maliciosamente, cretino, queria xingá-lo, mas não conseguia falar uma
palavra sequer. Sentia uma pressão estranha na barriga, descendo cada vez
mais. Estava perto de gozar? Já? Não podia ser.
Minha boceta estava queimando de um jeito insano. Era indescritível a
miríade de sentimentos que estava tomando meu corpo.

Vi Tommasso passar os dedos por minha boceta ao parar de chupar,


molhando-os com a minha própria lubrificação, depois os deslizou pela
minha intimidade. Dois deles. Arqueei as costas, gritando pela dor que
senti, por ser invadida pela primeira vez. Era uma dor fina que me deixava
um pouco desconfortável.
— Está doendo muito? — perguntou, mas não respondi. — Responda!
— exigiu, rudemente.
— Sim. — Minha voz saiu falha, rouca e corrida. Ele tirou os dedos
de mim e sob o meu olhar os lambeu. Tudo isso era a cena mais pervertida
que já vi na vida. O líquido do meu prazer escorria pelo lençol.
— Queria que você sentisse um pouco de como será — falou
baixinho, em seguida voltou a me chupar. — Está tão molhada e deliciosa.
Porra.
Arquejei e por impulso segurei o seu cabelo, puxando os fios e
empurrando ainda mais sua cabeça contra a minha boceta. Senti o prazer
aumentar e não queria que ele parasse de chupar, queria que continuasse até
que eu tivesse o meu alívio.
Ele soube reter minha atenção. Continuou me chupando no mesmo
ritmo, lento e estimulante, até que minhas pernas começaram a tremer e,
enfim, derramei meu orgasmo em sua boca. Tive que cobrir meus lábios
para não gritar. Meu corpo convulsionou e parecia que tinha ido ao céu e
voltado em alguns segundos. Era a sensação mais viciante que já
experimentei na vida.
Olhei para Tommasso, ainda ofegante, ele limpou a boca e, então, se
levantou. Ajeitou o cinto e a calça.
— Vou esperar que você se recupere para irmos jantar. Estou faminto,
no entanto, pelo menos, a sobremesa eu já degustei — falou, sarcástico,
então andou em direção à porta.
O maldito desse momento em diante ficaria mais confiante do que
nunca! Droga!
Depois de recuperar meu equilíbrio e conseguir raciocinar direito,
ajeitei a calcinha, o vestido e a maquiagem, então saí do quarto para
encontrar Tommasso. Quando me viu, mediu-me de cima a baixo,
percebendo que não havia trocado o vestido. Pensei que fosse brigar, mas
não disse nada. Não iria mudar o vestido, só porque ele achou provocante.
Não dou a mínima para a opinião dele. Já bastava ele querer me obrigar a ir
nesse jantar e há pouco ter usado de sua sedução para me render.
— Vamos — chamou-me, assenti e passei em sua frente, indo em
direção à escada.

Quando chegamos em frente à mansão o motorista já nos esperava.


Tommasso e eu entramos no carro, minutos depois chegamos ao restaurante
que ficava próximo à residência Caccini. Reconheci o famoso restaurante.
Ele tinha uma decoração praiana e uma vista maravilhosa, por ser
localizado em frente ao mar. Era uma ótima escolha para quem desejava ter
um jantar romântico à beira-mar. Estranhei não ter ninguém, nenhum
cliente, ainda mais por ser final de semana. O carro parou e o motorista
abriu a porta para que eu e meu esposo saíssemos.
— Por que o restaurante está vazio? — questionei Tommasso, que
parou do meu lado e colocou a mão em minha lombar para poder me
acompanhar em direção ao restaurante.
— Mandei fechar para nós dois. Não quero plateia no nosso primeiro
encontro a sós — respondeu. Meneei a cabeça para olhá-lo, ele estava
sorrindo, droga, devia ser por isso que não ligou que eu viesse vestida
assim.
— Você não fez isso porque não queria plateia, mas para que ninguém
me visse assim — retruquei, estressada. Nós nos sentamos à melhor mesa e
sem demora o garçom veio nos atender. Tommasso olhou o cardápio e eu
também. Antes de escolher o prato ele já pediu um vinho branco. Olhei as
opções de pratos, gostei muito da sugestão do chefe. — Vou querer a
sugestão do chefe.

— Para mim o de sempre — pediu Tommasso. O garçom muito


simpático assentiu, educadamente, e saiu. Comecei a observar a paisagem
pela janela de vidro, pensando que se estivesse aberta conseguiríamos
aproveitar o ar puro e fresco da noite com a vista maravilhosa da praia. —
Me diga, Kiara, você já esteve aqui alguma vez?
— Sim. Umas duas vezes, com a minha família — respondi, voltando
a fitá-lo. Ele ajeitou a postura e passou a mão pela barba. — A comida
daqui é maravilhosa, aliás.
— Sim. Eu sei que é. Este é meu restaurante favorito.
— É mesmo? Por isso pediu o de sempre? O prato de sempre é bom?
Ele se inclinou um pouco para frente. Seu rosto branco, estava ainda
mais claro por conta da boa iluminação do lugar.

— É bom para mim, mas creio que não para você. É um prato que não
interfere na minha dieta.
Fiz uma careta desgostosa.
— Por que segue sempre à risca a dieta? De vez em quando deve
sentir vontade de comer algo gostoso, não é possível manter sempre uma
alimentação regrada.
Ele deu de ombros, antes de responder:
— Já me acostumei a seguir a dieta. Nunca mudo e nem sinto vontade
de comer algo diferente dela.

— Mas nem todos são como você. Sua irmã, por exemplo, é uma
criança que precisa de doce para ser feliz, todo ser humano precisa, menos
você, ao que parece. Percebi que na despensa da mansão não há nada
saboroso para Giulia comer.
— Eu não compro nada calórico e que faz mal à saúde na minha casa,
além das bebidas e cigarro, é claro. Sou rigoroso com alimentação e acho
justo minha irmã seguir o mesmo processo que eu, ela me agradecerá no
futuro.
Revirei os olhos, ele só podia ser louco. Submeter uma criança à sua
dieta maluca, coitada da Giulia.
— Eu não acho nada justo, todos deveriam poder escolher o que
comer. Eu mesma não vou seguir sua dieta. Deus me livre. Eu malho,
sempre que sinto vontade como algo diferente e nunca extrapolo, mas
também não sou uma máquina. Adoro comer doces, petiscos, massa de vez
em quando, sou italiana, porra, se eu não comer uma macarronada uma vez
no mês enlouqueço.
Os cantos dos olhos de Tommasso enrugaram quando ele sorriu.

— Agora que vive sob o mesmo teto que o meu, terá que comer das
mesmas coisas que como. Não acha que mudarei as regras da casa por você,
acha?
O maldito Don arqueou a sobrancelha rude.
— Isto não é negociável? Não tem como contratar duas cozinheiras,
uma para seguir sua dieta e outra para mim e Giulia?
— Não — respondeu, tranquilamente, antes de bebericar um gole de
água. — Quer dizer, o que poderia me oferecer em troca da cozinheira?
— Poderia oferecer minha gratidão. — Sorri azeda. — Já estaria de
bom grado.
— Não é a sua gratidão que estou desejando no momento — falou
com a voz repleta de malícia, descendo o olhar para o meu decote. — Não
tem nada melhor para me oferecer?

— Você quer me comprar por uma cozinheira? Que ridículo. Sou sua
esposa agora e também mando naquela casa, quero uma cozinheira
particular para mim e Giulia, isto não é um pedido é uma exigência.
Ele gargalhou e apoiou a mão no queixo, olhando-me com desdém.
— Exigência negada, querida esposa.
— Cretino — resmunguei, raivosa. Desviei o olhar de seu rosto no
mesmo momento em que o garçom veio até nós. Trazendo a garrafa de
vinho branco. Ele nos serviu e saiu.
— Kiara meu anjo, não vamos brigar pelo menos hoje. Trouxe você
aqui para conversarmos e nos conhecermos melhor.

— Eu não quero te conhecer melhor. Sei que não vou gostar de saber
mais sobre você — retruquei.
— Tem certeza? Pois, estou disposto a contar muitas coisas sobre
mim. Coisas que nunca abri para ninguém.
Virei meu rosto rapidamente para fitá-lo, ainda mais curiosa após suas
palavras.
— Sério?
— Sim — respondeu, simpático. — Pergunte o que quiser, mas saiba
que também vou querer descobrir tudo sobre você.
— Hum, deixe-me pensar — disse. — Como é ser o chefe da máfia?
Você sonhava com isto?
Ele suspirou e colocou a mão em cima da mesa. Parecia pensativo.
— Na verdade, não, nunca foi um sonho e sim uma responsabilidade.
Desde criança sabia que quando meu pai morresse e se eu tivesse idade
suficiente, teria que assumir seu lugar.

— E para ser o Don poderoso também precisa perder o coração no


percurso?
Ele se retraiu com a minha pergunta.
— O que quer dizer?
— Quero saber por que precisa ser tão frio e impiedoso assim? Tudo
bem ser desta forma com os inimigos e pessoas desconhecidas, mas por que
também com a famiglia?
— Eu não sou ruim para minha família se é o que está insinuando.
Tenho uma ótima relação com o meu irmão, Nicolo.

Balancei a cabeça, indignada.


— E com a Giulia, por que nunca tentou ter uma boa relação?
— Como sabe que não tentei? Estava lá para presenciar? Eu cuido de
Giulia desde a morte dos meus pais e tento ser o melhor tutor possível, mas
ela tem uma revolta que é difícil de ser suportada. O motivo de ela ser não é
minha culpa, meus pais não eram presentes ou amorosos conosco. Depois
que eles faleceram, a revolta de Giulia só aumentou. O que posso fazer para
lidar com ela?
Senti um calafrio me tomar, tentei pensar em uma solução.
— Pode começar não deixando ela presa no quarto quando aprontar e
deixá-la comer suas comidas favoritas, levá-la para passeios, viagens,
conversar com ela e não somente ignorá-la.
Ele revirou os olhos e bufou, impaciente.
— Nunca ninguém fez isso por mim e olha onde estou agora, aqui,
forte e inabalável. Seguindo os mandamentos da máfia.
— Você está se comparando com uma criança? — bradei, furiosa. —
E você não é inabalável como diz. Dá para notar o rancor que tem dos seus
pais de longe.

— Vamos mudar de assunto, ok, Kiara. Essa conversa está me


estressando.
— Sempre tem que ser da forma que quer, não é? Saiu do seu
controle, já fica irritado. Se enfurece se ouve uma verdade…
— Cale a porra da boca, Kiara. Não vou repetir outra vez. — Ele
bateu com as mãos na mesa, deixando-me assustada.
— Você é um louco. Como é que Aurora gostava de estar casada com
você? Seu entupido, mafioso arrogante!
Levantei-me da cadeira, deixando transparecer minha fúria.

— Aonde vai? — exigiu saber.


— Banheiro. Ou não posso fazer as minhas necessidades também?
Vossa majestade!
Usei todo meu sarcasmo e raiva para falar. Tommasso passou a mão
pelo cabelo e nuca, impaciente. Saí dali e fui até o banheiro, buscando me
acalmar. Eu o odiava tanto. Tommasso não tinha jeito, ele nasceu ruim e
morreria ainda pior.
Passei água da torneira na nuca para esfriar meu sangue. Encostei-me
na pia e esperei um tempo até conseguir voltar para a mesa. Fui até a porta
do banheiro e a abri, no mesmo minuto levei um susto ao me deparar com
Tommasso.
— Desculpe, somente vim ver se está bem, já que demorou para voltar
à mesa — falou ele, olhando-me com os olhos repletos de culpa e
arrependimento. Que homem bipolar. Meu Deus.
— Estou bem, só precisava de um tempo — respondi em tom seco,
em seguida tentei passar, porém, ele segurou meu braço e me puxou em sua
direção.
— Desculpe por tudo que falei, podemos esquecer isso e continuar
com o jantar normalmente? Não deveríamos estragar essa noite ficando
com raiva um do outro.

— Tudo bem, Tommasso.


Estava doida para retrucar e xingá-lo de idiota, pois ele achava que
podia mandar em todos à sua volta, mas em mim Tommasso nunca
mandaria, no entanto, preferi não prolongar a briga. Tommasso não merecia
que eu perdesse o apetite por conta dele.
— Ótimo. Vamos voltar à mesa, minha leoa brava.
Ele sorriu e as tocou as minhas costas, como sempre fazia quando
queria me levar para algum lugar. Voltamos para a mesa e nos sentamos. O
jantar foi servido minutos depois. Apreciei a comida devagar, degustando o
sabor. Era incrível. Fazia muito tempo que não comia algo tão saboroso.
— Não vai beber o vinho? — perguntou Tommasso, apontando para a
minha taça com vinho branco que estava intacta.

— Sou fraca para bebida — contentei-me em responder. Ainda estava


com raiva.
— Uma taça não fará efeito em você. Te garanto.
— Bom, então sendo assim, vou bebê-la. — Peguei a taça e sorvi um
gole, enquanto ele me observava. — Aqui ao lado do restaurante há um
hotel, não é?
— Sim.
— Seria interessante acordar e poder nadar no mar, curtir a praia —
falei como quem não queria nada. Ele me olhou, intrigado.
— Quer passar a noite aqui? Esposa? — perguntou.
— Acho que seria agradável — respondi.
— Então, passaremos a noite aqui — concordou ele de pronto. — Sei
que estou te devendo uma viagem de lua de mel, mas infelizmente essa
semana estou cheio de trabalho para realizar, porém, na próxima pode
escolher um lugar no mundo que queira conhecer que vou levá-la.
— Eu sempre quis conhecer o Caribe — comentei e beberiquei mais
um pouco de vinho. Nunca quis e nem me imaginei viajando com
Tommasso, contudo, se era para aturar o casamento indesejado que fosse
tirando todo o proveito que eu pudesse desse Don maldito. — Os resorts
são um sonho de tão lindos. Gosto de praia, sol e calor.
— Então ótimo, já escolhemos o primeiro destino. — Ele sorriu de
canto e ergueu a taça de vinho em minha direção, ergui de volta.

Depois do jantar, Tommasso foi resolver tudo com a recepcionista do


hotel para pegar uma suíte essa noite. Discutimos por ele querer reservar
apenas um quarto, não queria dividir a cama com ele em hipótese nenhuma,
mas meu esposo não aceitou minha recusa. Algum tempo depois, ele me
chamou e me levou até o quarto que seria nosso por essa noite. Era a
melhor suíte do hotel, tinha um bom banheiro e uma cama grande que
parecia bem confortável.
— Teremos que dividir a cama? — questionei, apavorada, ao ver
Tommasso começar a tirar o paletó e se despir à minha frente.
— Claro, só tem uma cama e somos marido e mulher — respondeu
com desdém.
— Posso dormir no sofá — proponho, tentando escapar de toda a
forma de dormir ao lado do inimigo.
— Dio mio me dê paciência. — Tommasso bufou, irritado. — Vamos
dividir a cama e pronto, Kiara. Ela é grande o suficiente para caber nós
dois.
— Se você encostar em mim — ameacei-o com o olhar.

— Basta encostar em você para abrir as pernas voluntariamente, meu


anjo endemoniado. Não adianta fingir que me odeia, já disse, você pode até
me odiar, mas a sua boceta me ama.
Filho de uma puta, queria estapear seu rosto. Minha bochecha pegou
fogo de vergonha.
— Seu maldito!
Ele sorriu e conferiu as horas no relógio.
— Vou precisar descer até a recepção, enquanto isso se prepare para
dormir, volto rápido — avisou, desejei perguntar o que iria fazer lá, mas
não o fiz.
Aproveitei que ele saiu para ir tomar um belo banho antes de dormir.
Lembrei-me de que antes do jantar gozei sendo chupada por Tommasso e
nem me lavei, somente me limpei a fim de me secar. Precisava de outra
calcinha e um pijama para dormir, nem sabia o que iria usar. O jeito era
ficar com vestido e a mesma calcinha.
Entrei no banheiro e na hora que fui trancar a porta, notei que tinha
um problema com a fechadura, essa droga não estava trancando. Bufei
frustrada, em seguida tirei a roupa rapidamente, prendi o cabelo e entrei
debaixo do chuveiro.
Tentei relaxar apesar de querer terminar o banho rápido. Minutos
depois, quando estava quase acabando o banho a porta se abriu, em seguida
o rosto de Tommasso apareceu no meu campo de visão.
— Kiara… — Sua voz morreu quando me viu nua, dentro do
chuveiro. Ele me contemplou de cima a baixo com os olhos escuros e
desejosos. Senti um pigarro se formar na minha garganta. — Caralho.
Ele tocou o pau descaradamente por cima da calça, deixando-me
excitada por ser olhada de forma tão devassa.
Meus olhos se arregalaram, quando ele abriu o botão da sua calça,
desceu o zíper e estava prestes a me mostrar sua genitália.
— O que está fazendo? — Minha voz saiu rouca e estranha.
— Quero que me veja nu por completo, Kiara — respondeu com a voz
intensa. — Não serei só eu que vou dormir excitado esta noite.
— Tommasso…
Antes que eu pudesse contestar, ele tirou a calça junto a cueca. Senti
meu ventre queimar no mesmo instante que vi seu pau. Como podia dizer…
era sexy demais. Ele tirou o paletó, revelando sua barriga, ficando inteiro
nu. Meus olhos percorreram seu corpo, apreciando as inúmeras tatuagens e
marcas que me fizeram sentir um nó na garganta.
Tommasso Caccini levava uma escuridão no olhar e o seu corpo era
ainda pior. As tatuagens tentavam esconder as cicatrizes, mas falharam
miseravelmente. Ele era um homem surrado de corpo e alma. Não pude
deixar de notar uma ligeira semelhança entre nós dois.
Kiara percorreu meu corpo com o olhar. Ela parecia assombrada,
assim como imaginei que ficaria, ao ver as marcas de um passado sombrio.
Não esperava que ao voltar para o quarto, a encontraria tomando banho com
a porta aberta e vê-la toda nua, molhada e gostosa demais, excitou-me de
uma maneira que já não podia mais aguentar. Precisava mostrar a ela como
me fazia sentir. Ela era minha mulher, porra, e eu detestava não poder tê-la
por completo, como eu desejava.

Aproximei-me do boxe e entrei nele, ficando à sua frente. Ela não se


moveu, nossos olhos estavam conectados um no outro. Fitando-a de perto,
notei marcas que nunca tinha visto no seu corpo, roxos e machucados. Senti
minha fúria atacar no mesmo instante.
— Quem fez isso com você? — quis saber, ela olhou para o canto em
que apontei, na barriga.
— Eu mesma — respondeu, desviando o olhar do meu rosto,
certamente mentindo.
— Me conte — mandei, aproximando-me dela e colocando seu rosto
entre minhas mãos. — Quem te bateu, Kiara?
— Não posso contar — murmurou.
— Se não contar, vou usar meus métodos para descobrir e quando eu
colocar a mão na pessoa que fez isso em você, vou fazê-lo se arrepender
amargamente.

Estava extremamente furioso somente em imaginar alguém batendo


nela. Mesmo que eu não amasse Kiara, ela era minha, portanto, a defenderia
e me vingaria de qualquer pessoa que quisesse lhe fazer mal. Nem que
custasse minha própria morte ou honra.
— Foi o meu pai — contou-me com custo. — Mas, por favor, não
faça nada a ele. Eu o desobedeci, por isso ele me castigou…
— Desobedeceu como? — exigi saber, Kiara olhou para baixo e
contorceu os dedos, parecendo nervosa.
— Não queria me casar, então briguei com ele e isso acabou
acontecendo.
Ela tocou a ferida, indicando.

— Tem certeza de que ele te bateu somente por não querer se casar?
Ela assentiu, mas não ousou me olhar. Soltei seu rosto e agarrei a sua
cintura, puxando-a para mim. Ela encostou a cabeça em meu peito.
— E você, quem fez isto com você? — perguntou baixinho, referindo-
se às marcas que tinha no corpo.
— Digamos que tenho um passado obscuro, Kiara. Não gosto de
lembrar.
— Foi o seu pai? — perguntou, acertando na mosca.

— Vamos deixar o passado no passado. Não gosto de falar sobre ele


— respondi em tom áspero, ela se afastou um pouco para me olhar nos
olhos.
— Você deveria experimentar desabafar de vez em quando, faz bem,
sabia?
Ela arqueou a sobrancelha enquanto proferia sua opinião.
— Não estou acostumado a desabafar e confiar em ninguém, levarei
um tempo até conseguir este feito. Um passo de cada vez, Kiara.
— Um passo de cada vez, Tommasso — repetiu. Desliguei o chuveiro
e saí do boxe, peguei a toalha e entreguei para Kiara.
— Te vejo no quarto.
Recolhi as roupas e saí do banheiro, deixando-a sozinha.

Voltei para o quarto depois de estar vestida e seca, mas ainda


completamente atordoada pelo que aconteceu no banheiro. Tommasso já
estava deitado de barriga para cima, assim que me viu, seu olhar se fixou
em mim. A elevação do seu membro na cueca era evidente. Aproximei-me
da cama e me deitei ao seu lado, sem falar nada. Virei-me para o lado
contrário e fechei os olhos, somente os reabri quando ouvi Tommasso
declarar:
— Precisa saber que vou defender você até o fim agora, Kiara. A
partir do momento que coloquei uma aliança no seu dedo, te fiz minha
mulher, esposa e protegida. Seus inimigos são os meus e quem um dia
encostou o dedo em você de forma imprópria, sofrerá as devidas
consequências. E se um dia eu descobrir que mentiu ou escondeu algo de
mim, será o dia que perderá todo o privilégio que tem sobre mim, custará a
minha confiança e respeito.
— Por que está me falando isto agora? — quis saber, estremecendo ao
me lembrar de Francesco. Meu pai sabia do meu caso com ele e se
Tommasso descobrisse estaria morta.
— Porque eu preciso deixar as coisas claras desta vez. Perdi a sua
irmã por uma tolice dela. Você precisa saber que sua rebeldia e atitude é
algo que me excita e admiro sua coragem, mas se lembre de que me
desobedecer pode custar a sua vida, como custou a de Aurora e do meu fi…

Ele pigarreou, parando de falar. Franzi o cenho curiosa, para saber o


restante que iria falar.
— Aurora não mereceu ter o fim que teve — falei, amargamente. —
Mesmo que eu tente, acho que nunca vou lhe perdoar pela morte dela, nem
por ter me colocado no seu lugar, como uma maldita substituta. Um estepe.
— Sobre a morte de Aurora, eu não tive culpa, ela me desobedeceu,
por isso teve aquele fim — rebateu Tommasso. — Você não é minha
substituta, Kiara, e nunca será, pois é a minha preferida e a que escolhi em
meio à tantas outras. Nunca desejei ou tive uma relação intensa com Aurora
como estamos tendo, mesmo em tão pouco tempo.
— Está me dizendo que não gostou de trepar com ela? — Indignada
me virei na cama, para fitá-lo.
— Foi bom, não vou negar. Sexo para homem até quando é ruim é
bom — falou em tom cafajeste. — Mas você, seu beijo e o seu corpo, são
mais viciantes que qualquer droga, Kiara. Nunca desejei tanto uma mulher
como a desejo.

— Seu desejo por mim vai acabar no exato momento que me possuir
por completo. Você quer a minha virgindade e como estou sendo difícil,
acha o desafio excitante, mas no final serei igual à Aurora ou qualquer
mulher para você. Insignificante.
— Isso somente o futuro dirá — respondeu ele. — E eu espero e
imploro aos céus que esteja certa, que você seja apenas um capricho para
mim, pois seria um alívio e assim teria certeza de que não correria o risco
de me apaixonar por você.
— Você tem medo de se apaixonar? — questionei, sentindo minha
garganta seca.

— Meu pai me ensinou que amor é uma fraqueza, e eu não posso


fraquejar nunca.
Sua resposta foi um baque absurdo. Dei-lhe as costas novamente. Só
queria dormir para que esse dia acabasse logo.
— Chega de conversa. Boa noite, Tommasso!
— Boa noite, Kiara!

Estava em um lugar escuro, estranho e assombroso. Parecia um


calabouço. Caminhei pelo corredor sentindo a água gelada e suja nos meus
pés, à medida que ouvia o barulho das minhas passadas na água. De
repente, vi uma luz em uma das celas, parecia que era alguém tentando me
mostrar o caminho. Eu gritava por ajuda, chamava por alguém que pudesse
me ajudar, mas não era ouvida. Estava sozinha e perdida.
Quanto mais me aproximava da cela iluminada, mais ouvia barulhos
estranhos que pareciam vozes e, ao mesmo tempo, resmungos de dor. Parei
diante da cela e de repente a luz se apagou.
— Kiara. — Ouvi uma voz conhecida, então olhei para o chão. Era
Francesco. Ele estava jogado no chão, todo ensanguentado à beira da morte.
— Francesco! — gritei, desesperada, tentei entrar na cela, mas as
grades não tinham entrada.
— Me ajude, Kiara — implorou ele, fazendo-me ficar desesperada.

— Não consigo entrar… Não morra, por favor, não se vá, Francesco.
Minha visão ficou embaçada pelas lágrimas. Então, meu pai apareceu,
do nada, com uma arma na mão e o olhar impiedoso. Ele se posicionou em
frente ao Francesco e apontou a arma para ele.
— Você vai pagar com a vida a honra da minha filha, seu maldito!
— Pai, não! — gritei, mas era tarde demais, ele disparou e a bala
atravessou a testa de Francesco, tirando sua vida.
Na hora em que ele se virou para apontá-la em minha direção, senti
algo estranho, um zumbido que não parava nunca de tocar na minha orelha.

— Kiara, acorde!
Sobressaltei, sentando-me na cama, com o coração acelerado, as mãos
trêmulas e com corpo suado. Olhei para Tommasso, que me fitava
preocupado.
— Você está bem? — perguntou, neguei com a cabeça. — Está toda
suada, Kiara.
Ele tocou meu pescoço, enquanto eu tentava respirar, mas parecia
impossível.
— Tive um pesadelo.

— Deu para notar — respondeu ele. — Você não parou de gritar,


chamando por Francesco.
Arregalei os olhos, ele não devia ter ouvido, não acreditava que tinha
gritado o nome de Francesco…
— Não me lembro de nada — menti.
— Quem é Francesco? Por que teve pesadelo com ele? — Tommasso
exigiu saber. Estava ferrada.
— Não sei, não faço ideia de quem seja Francesco, muito menos o
motivo de ter gritado seu nome enquanto dormia — menti mais uma vez. —
Preciso tomar um banho, estou muito suada.

Levantei-me da cama e Tommasso também. Ele estava desconfiado,


portanto, não me deixaria sem dar explicações.
— Kiara, não minta para mim! Quem é Francesco, porra?
Andei rapidamente para o banheiro e antes de fechar a porta, disse:
— Me deixe em paz, Tommasso!
Tomei um banho demorado, pois sabia que assim que saísse, ele iria
começar um interrogatório. Somente depois de muito tempo saí do
banheiro, mas estranhei não encontrá-lo no quarto. Olhei para cama e vi um
bilhete escrito por ele.

Fui à nossa casa buscar algumas coisas que iremos precisar,


volto rápido.

Aliviada, voltei a me deitar na cama. Meu coração ainda disparava


somente em me lembrar do sonho. Era possível meu sonho ser real? Meu
pai teria mesmo matado Francesco?
Se fosse verdade levaria a culpa pela sua morte pelo resto da vida.
Estava furioso e desconfiado. Convenhamos que ouvir sua esposa
chamando o nome de outro homem enquanto dormia não era algo aceitável.
Precisava saber quem era Francesco. E por que diabos Kiara tinha
pesadelos com ele? E somente uma pessoa poderia me dar a resposta.
Riccardo.
Fui até a propriedade dos Moretti essa manhã, sem nem ter avisado
Riccardo que iria visitá-lo. Seus seguranças o notificaram da minha
presença, sendo assim ele permitiu a minha entrada. Mandou que fosse até
seu escritório, o que eu fiz.
— Meu querido genro. Que honra recebê-lo, mesmo que a visita seja
inesperada. Sente-se.
O maldito pai de Kiara estava sorridente, sentado atrás da sua mesa,
olhando-me com um sorriso receptivo. Senti vontade de quebrar os dentes
somente em lembrar as marcas que deixou em Kiara.
— Desculpe aparecer aqui sem nem ter avisado, mas preciso falar com
você sobre um assunto urgente.
— Urgente? Sem o seu consigliere?
— Sim. Este assunto só cabe a nós dois, é sobre a Kiara.

Quando ouviu o nome da filha sua expressão mudou da água para o


vinho.
— O que Kiara fez? — perguntou, ajeitando a postura, seu rosto
transbordava raiva.
— Nada que eu possa reclamar, mas hoje aconteceu algo que me
deixou intrigado. Preciso que seja sincero comigo.
— Diga, garanto que serei sincero.
— Você sabe quem caralhos é Francesco? Kiara conhecia algum
homem com o mesmo nome? Ou teve algum envolvimento com ele?

O rosto de Riccardo ficou pálido no mesmo instante. Tinha algo de


errado e não adiantaria negar.
— Por que a pergunta? O que houve?
— Me responda logo, Riccardo. Quero saber quem é este Francesco e
por qual motivo minha esposa sonha com ele.
Ele tentou disfarçar a expressão de choque, mas notei. Riccardo
afrouxou a gravata e limpou a garganta, antes de me responder.
— Francesco era um amigo que Kiara tinha.

Cerrei os punhos sentindo o ciúme me dilacerar.


— Amigo? — bradei, friamente.
— Sim, Tommasso. Amigo de infância. Eles se conheceram quando
tinham sete para oito anos, por ele ser filho de um amigo meu, mas o garoto
sofreu um acidente e acabou falecendo. Kiara guarda a lembrança dele e
não se esqueceu de sua morte, por isso ainda tem pesadelos.
— Entendi. — Passei a mão pela barba enquanto observava seu rosto.
— Confesso que tinha imaginado que este Francesco pudesse ter tido algum
envolvimento com a minha esposa antes de mim.
Riccardo sorriu.

— Jamais, meu caro. Kiara se casou pura e intocada.


— Ótimo. Então nossa conversa está encerrada.
— Veio aqui somente para me fazer essa pergunta? — questionou.
— Não — respondi. — Riccardo, pode se levantar e vir até mim?
Ele franziu o cenho confuso, no entanto, fez o que pedi. Quando parou
à minha frente, ajeitei as mangas da camisa com calma.

— O que houve?
— Também vim aqui para isto — vociferei, antes de desferir um
murro no seu rosto, pegando-o desprevenido. Ele cambaleou e tocou o local
que bati, então me olhou espantado.
— Você enlouqueceu, caralho!? — gritou, furioso.
— O soco é por você ter machucado a Kiara. Você merecia ser
espancado como ela foi, mas por ora, esse soco está de bom tamanho.
— Ela disse que eu a espanquei? — perguntou, atordoado.

— Ela não precisou dizer, eu vi as marcas que deixou em seu corpo.


Saiba que agora Kiara é minha, portanto, quem ousar tocar ou fazer mal a
ela terá uma morte dolorosa e impiedosa.
— Tommasso, eu não bati nela por capricho, ela me fez perder a
cabeça. Amo minha filha mais que tudo no mundo.
Ele poderia ser ator, de tão falso que era.
— Não tente me enganar, Riccardo. Sei que para você, suas filhas são
como mercadorias, só servem para serem vendidas como éguas. A única
coisa que importa para você é o poder!
Ele me fitou com raiva.
— Você não sabe o que diz, Tommasso. E nem tem o direito de me
julgar, visto que casou com as minhas duas filhas por conta do dinheiro e
poder que a máfia ganharia com o acordo. É tão ruim quanto eu.

— Sim, Riccardo, eu posso até não ser um santo, mas nunca serei
como você.
— Você deveria ser grato a mim, pois tem uma dívida que nunca
pagará, a morte da minha primogênita, seu italiano fodido.
Perdi totalmente a paciência e encostei na arma, que sempre levava
comigo na cintura.
— Não tive culpa na morte de Aurora e você sabe disso. É melhor
abaixar a crista diante de mim se não quiser morrer, Riccardo. Sabe que não
hesitaria em te matar se precisasse.
Ele enrugou a testa e recuou um passo.

— Saia da minha casa, Tommasso. Você deixou de ser bem-vindo


aqui. Vá embora!
— Vou e com prazer, sogro. E não se esqueça das minhas palavras.
Kiara agora me pertence e se alguém encostar nela, será a última vez que a
pessoa terá mão.
Ele abriu um sorriso frio antes de falar amargamente:
— Minha filha te enredou mesmo, não é? Se tornou o cachorrinho
dela. Seu pai deveria ter te ensinado que um mafioso que deixa a mulher
comandá-lo não é um mafioso de verdade.
— Que bom que lembrou deste ditado, suas palavras me fazem
lembrar do dia que meu pai me contou a história de vocês. — Abri um
sorriso sarcástico que fez sua postura firme desmoronar. — Que você era
atraído, na verdade, apaixonado pela minha mãe no passado. Não o julgo,
pois dizem que ela era a jovem mais linda da máfia. No entanto, quem se
casou com ela foi meu pai, você a perdeu para ele e se casou com Ginevra,
a irmã da minha mãe, sua segunda opção. Tenho certeza de que desde então
você vive uma vida vazia e sem graça, tendo que lidar com o fato de que
nunca terá minha mãe nos seus braços um dia. Porém, isso deve ser bom,
mas como você mesmo disse: um mafioso que deixa a mulher comandá-lo
não é um mafioso de verdade. Esse ditado pode até estar certo, mas prefiro
mil vezes deixar Kiara me dominar do que perdê-la para sempre.
Seu rosto ficou vermelho de raiva, caminhei até a porta com um
sorriso vencedor. Kiara era meu ponto fraco, ali tive certeza disso.

Tommasso estava demorando demais, então resolvi descer até a


recepção do hotel e procurar alguma loja de moda praia, que certamente
devia ter por aqui. Ignorei os olhares das pessoas que estavam curtindo uma
manhã de sol e as que estavam na recepção do hotel. Todas me conheciam,
sabiam quem eu era e com quem me casei, decerto estavam se perguntando
o que eu fazia ali sozinha e para piorar, com roupa de noite.
Tommasso iria me matar quando soubesse que saí do quarto usando o
vestido de ontem.
Andei muito até encontrar uma pequena loja perfeita para o que eu
queria. Peguei dois biquínis e uma saída de praia. Estava sem dinheiro e
tive que pôr na conta de Tommasso, claro que eles permitiram.
Estava esperando a vendedora embalar a minha compra, quando ouvi
uma voz grossa me chamar.
— Kiara. — Era Andrea, o caporegime de Tommasso. — Tommasso
está à sua procura, venha comigo.
Coloquei a mão na cintura e empinei o queixo.

— Não posso nem sair para fazer umas compras que meu marido
enlouquece? Espere pelo menos a vendedora trazer os biquínis que
comprei!
— Não. Venha comigo agora.
Ele se aproximou de mim. Andrea era alto, um pouco mais jovem que
Tommasso. Era mal-encarado e parecia estressado. Ouvi dizer que assumiu
há pouco tempo o lugar do pai.
— Espere e não ouse me tocar, caso contrário Tommasso ficará
sabendo — ameacei com o olhar, fazendo-o parar bruscamente os passos.
— Não ousaria — resmungou e esperou a vendedora voltar. Ela me
entregou a sacola e com um sorriso me despedi dela.

— Obrigada!
— De nada, volte sempre!
Chegando em frente à loja, vi vários soldados que iriam me escoltar
de volta ao hotel, achei um exagero.
— Qual o motivo de toda essa proteção? Não é exagero? — reclamei
a Andrea.
— Considerando o sequestro de Aurora, não. Tommasso não quer
você andando sozinha, nem mesmo por um breve momento. De agora em
diante, também vou cuidar de sua proteção, senhora Caccini.

— Olha, continuo achando um exagero, mas não vai adiantar nada ir


contra o meu marido — resmunguei, enquanto andava ao seu lado. — Me
conte, Andrea, você não pretende se casar por agora?
— Estou esperando as ordens do Don. Eu sigo os mandamentos da
máfia, se ele quiser que eu me case, assim o farei.
— Hum. Acho que ainda faltam Nicolo e Lorenzo na frente, você terá
um tempo a mais para curtir a vida de solteiro.

Ele ficou mudo e não falou mais nada, pois estávamos chegando à
entrada do hotel. Tommasso me esperava em frente ao carro, andando de
um lado para o outro, bravo.
— Aqui está ela, chefe.
Parei na frente de Tommasso, ele me olhou como se quisesse me
enforcar.
— Ótimo. Iremos para casa, podem nos seguir no outro carro —
ordenou Tommasso, eles obedeceram de pronto. Franzi o cenho, quando um
dos soldados pegou a sacola com os biquínis da minha mão e levou. Achei
que ficaríamos e aproveitaríamos a praia. Tommasso segurou meu braço,
abriu a porta e me conduziu carro adentro.
— Que merda é essa? Por que já vamos embora? — questionei, estava
furiosa por não poder aproveitar o dia na praia.
— Não quero ouvir sua voz no caminho, Kiara, estou muito puto com
você, então não comece a reclamar.
Ele sequer me olhava, não entendia a razão de estar tão bravo comigo.
— Está assim somente por que eu saí do hotel sem avisá-lo? —
questionei.
— Você não podia ter saído sozinha, era para me esperar. E ainda
desfilou por aí com este vestido para um bando de filha da puta olhar.
— Eu precisava comprar um traje de banho, você estava demorando
— argumentei, ele virou o rosto em minha direção e segurou o meu queixo,
assustando-me.
— Nunca mais faça isto, anjo. Não passe por cima de uma ordem
minha. — Sua voz saiu baixa e fria, ele soltou meu queixo bruscamente,
senti meu coração acelerar. O trajeto de volta foi feito em silêncio.
Quando o carro entrou na garagem da mansão, Tommasso finalmente
quebrou o silêncio.
— Resolvi adiantar a viagem. Nós viajaremos hoje para o Caribe.
Partiremos depois de o pôr do sol, esteja pronta.

Dito isto, ele saiu do carro o motorista abriu a porta do carro para que
eu saísse, mas Tommasso ficou dentro dele, estranhei ele não vir junto, mas
que se foda.
Cheguei à sala e encontrei Giulia tendo aula com uma professora
particular.
— Bom dia — cumprimentei-as. — Olá, Giulia.
— Bom dia — cumprimentou a professora.
— Oi — respondeu a garota.

— Desculpe atrapalhar a aula, mas preciso falar com você, Giulia.


Pode ir comigo até meu quarto?
A menina me olhou emburrada, mas se levantou e veio em minha
direção.
— O que quer comigo? — perguntou, enquanto subíamos a escada.
— Você já vai descobrir.
Entramos no meu quarto e então falei:

— Conversei com seu irmão ontem, sobre contratar uma cozinheira


para nós duas. Acho que vou acabar conseguindo convencê-lo e você
poderá escolher os pratos que mais gosta para a cozinheira preparar.
A expressão da garota mudou totalmente para alívio.
— Sério que pode conseguir isto? — perguntou baixinho.
— Sim. Nós vamos viajar para o Caribe hoje e quando voltarmos
resolvo tudo, te prometo! — falei sorridente. — Também gostaria que me
ajudasse a escolher roupas para eu levar na viagem. Assim conseguirei ver
seu gosto para roupas e trarei muitos presentes quando voltarmos.
Quase vi um meio-sorriso na menina, percebi que estava no caminho
certo para conquistar seu afeto.

— Tudo bem, eu ajudo.


— Obrigada, querida — agradeci.
— Você não é a chata que pensei que fosse, Kiara. Não estou falando
que já gosto de você e confio, mas se conseguir transformar o coração do
meu irmão serei eternamente grata — pediu como uma adulta de mais de
vinte anos. Giulia era inteligente e apesar de pequena entendia bem as
coisas.
— Vou fazer o possível para tornar sua vida nesta casa bem mais feliz,
pequena. Te juro!
Fui até ela e passei a mão no alto da sua cabeça, ela assentiu um pouco
tímida.

— Então vamos lá, cadê seu closet para eu te ajudar a escolher as


roupas?
— Por aqui!

De mala pronta, esperei Tommasso chegar para que viajássemos. Ele


chegou por volta das 17h. Fomos juntos até o seu jatinho particular.
Somente três soldados viajariam conosco, para cuidar da nossa segurança.
Gostei da ajuda de Giulia para escolher as roupas, ela tinha um gosto ótimo,
era bem feminina e escolheu muitos vestidos rodados, bem estilo praiano.
Os biquínis eu escolhi. Não gostava de usar cor-de-rosa em peças de praia,
preferia branco, preto, vermelho, azul-claro e roxo-claro, enfim, tons mais
sexys. Para viajar, escolhi uma saia curta rodada na cor branca, na parte de
cima uma blusa simples, sapato confortável e prendi o cabelo em um rabo
de cavalo.
Tommasso estava vestindo uma camisa branca com os primeiros
botões abertos, mostrando o peito e sua tatuagem. Na parte de baixo, uma
calça preta elegante. O cabelo estava bem alinhado como sempre.
Entramos no avião e ele se sentou na poltrona à minha frente.

— Você está linda, esposa — disse ele, depois de ouvir só seu silêncio
gostei do seu elogio. — Estou ansioso para chegar ao Caribe.
— Também estou ansiosa. Não vejo a hora de entrar no mar.
— Não vejo a hora de te ver desfilar de biquíni — falou com a voz
repleta de malícia. Lambi o lábio e ele acompanhou o movimento. Maldito
cafajeste. Levantei a perna despida somente para provocar e passei o pé em
sua perna, em seguida notei que sua respiração desregulou. Ele inclinou as
costas e pegou meu pé, começando a acariciar minha panturrilha. — Espero
que a viagem te faça ficar mais aberta. — Engoli em seco pensando
besteira. — Aberta para vivermos aventuras novas.
Sua boca se moveu mostrando um sorriso safado. Estava pronta para
responder, quando seu celular tocou e atrapalhou a nossa conversa.
— Cacete — resmungou. — Só um instante, tesoro.
Assenti e ele começou a conversar ao celular em uma língua diferente
do italiano, decerto fez isso para que eu não entendesse o que eles estavam
conversando. Até que Tommasso sem querer deixou escapar algo em nossa
língua materna.
— Mate-o, acabe com ele, Nicolo, e envie os ossos para Mattia. É
uma ordem.
Estremeci no mesmo instante. Precisava saber quem era que ele queria
matar.
Antes de viajar, recebi uma ligação de Lorenzo e Nicolo, ao que
parecia um traidor da máfia dos Biachi percebeu que a guerra deles estava
perdida, e resolveu tentar ganhar dinheiro nos entregando nada mais, nada
menos que o filho de Mattia. O menino de três anos estava sob o nosso
domínio, o compramos do traidor por milhões de euros. Estava prestes a ter
minha vingança e nada me pararia.
Resolvi adiantar a viagem com Kiara, por isso deixei Lorenzo e
Nicolo cuidando de todos os negócios. Precisava de um tempo a sós com a
minha esposa, longe de todos os problemas que nos cercavam e não queria
esperar.
Acabei recebendo uma ligação de Nicolo, ele perguntava o que era
para fazer com o garoto, estava falando em uma língua diferente da italiana
para que Kiara não entendesse, mas em um momento de distração acabei
confundindo e falando o que não deveria em nossa língua materna.
— Mate-o, acabe com ele, Nicolo, e envie os ossos para Mattia. É
uma ordem.
Só percebi que tinha feito besteira quando olhei para o rosto de Kiara
e a vi pálida, precisava contornar essa situação urgentemente.
— Não se preocupe, Kiara, se trata de um traidor dos Biachi — menti,
sua expressão de pânico se suavizou.
— A guerra contra os Biachi vai demorar muito tempo para acabar?
— quis saber ela.

— Talvez demore um pouco.


— Acha que eles têm chance contra nós? — perguntou, aflita.
— Não, eles nunca terão chance contra nós, não se preocupe. Estamos
protegidos.
Tirei do bolso um cigarro e o acendi. Kiara ficou me olhando fumar
com ar de julgamento.
— Você fuma há quanto tempo? — ela perguntou.

— Há muito tempo — respondi, tranquilamente, entre uma tragada e


outra.
— Sabe que cigarro faz mal à saúde, né?
— A maioria das coisas nesta terra faz mal à saúde — argumentei. —
O cigarro pelo menos me acalma.
— Já tentou fazer terapia? — ela foi sarcástica e isso me fez abrir um
sorriso. Kiara tinha os olhos azuis mais lindos que já vi, não me cansava de
olhar para eles.
— Tenho um jeito diferente de lidar com as complicações da minha
mente.

— Matando pessoas? — retrucou, cínica.


— Também. Gritos de dor me causam uma grande excitação,
confesso.
— Você é perturbador, Tommasso.
Gargalhei e cruzei os braços.
— Esqueci de te contar que estive na casa do seu pai hoje.

Ela franziu o cenho, curiosa.


— O que foi fazer lá?
— Fui saber quem é Francesco.
Seus olhos se arregalaram, ficando amedrontada.

Meu corpo gelou por inteiro quando Tommasso falou que foi até a
casa dos meus pais falar com meu pai sobre Francesco. Diabos, não podia
ser. Era possível ser verdade? Ele não seria capaz. Além do mais,
Tommasso não me traria nessa viagem se soubesse, exceto se estivesse
planejando me matar. Caralho.
— Está assustada, Kiara? — Sua voz saiu baixa e gélida, ele percebeu
que fiquei assustada ao ouvir o nome de Francesco.
— Não, somente não sei o motivo de você estar procurando
informações desnecessárias. Francesco, era…
Estava pronta para inventar uma mentira, até que ele me interrompeu.
— Seu amigo de infância que morreu em um acidente e sua morte a
traumatizou. Seu pai me contou — falou Tommasso, fiquei chocada, pois
meu pai mentiu para ele como imaginei que faria. — Sinto muito por isso.
Pela morte do menino.
Abaixei a cabeça e funguei. Devia ganhar o prêmio de melhor atriz.
— A memória dele ainda está aqui. — Toquei a minha testa indicando
minha mente. — Foi uma morte tão inesperada, terrível…

— Você precisa se livrar desse peso e seguir em frente — aconselhou


ele quando voltei a olhá-lo, meus olhos ficaram cheios de lágrimas. —
Francesco está em um bom lugar agora, garanto a você!
Deixei uma lágrima escapar.
— Sim, tenho certeza de que está — respondi. — Você só foi fazer
isso na casa do meu pai? Perguntar sobre Francesco?
— Também lhe dei o que ele merecia. Um soco para vingar o que ele
fez a você.
Abri a boca, abismada.

— Você bateu no meu pai?


Tommasso desviou o olhar, que destilava veneno e ódio do meu pai.
— Ele merecia bem mais, mas por enquanto é o que bastará para ele
saber que você não está mais sozinha. Agora tem a mim para te defender.
— Não preciso que me defenda, sei fazer isto sozinha — rebati de
pronto um tanto ríspida, então percebi que estava sendo ingrata. Eu odiava
Tommasso, porém, ele teve uma boa intenção quando bateu no meu pai por
mim. Na vida nunca tive ninguém que intercedesse em meu favor. Minha
mãe nunca iria contra meu pai. Sempre fui a única que podia me defender.
— Desculpe, Tommasso. Eu agradeço que tenha me defendido, reagi mal
por não estar acostumada a ser defendida por alguém.
— Tudo bem, Kiara. Já estou acostumado com seu gênio explosivo.
Sorri levemente e fitei seus olhos escuros, perguntando-me se seria
possível começar a me afeiçoar por uma pessoa de caráter duvidoso que
jurava odiar.
Com certeza, não era possível.

Chegamos ao Caribe quando o dia estava quase amanhecendo.


Pousamos e logo veio um carro que Tommasso alugou para nos levar até o
resort. Assim que chegamos, pegamos a chave do quarto que Tommasso
havia reservado. Era a melhor suíte com uma vista incrível. Durante todo o
caminho fui apreciando a paisagem. Tudo aqui era incrível. Somente em
pensar que depois de três dias iríamos embora, já batia uma saudade.
Assim que entramos no quarto fui explorá-lo inteiro. A cama era
enorme e estava repleta de pétalas de rosas, além de algumas velas
espalhadas pelo quarto. Tudo muito romântico.

— Você pediu que fizessem isso? — questionei Tommasso, virando-


me para olhá-lo. Ele estava parado em frente à porta.
— Não pedi, mas avisei que estamos de lua de mel — respondeu. —
Preciso agradecê-los por terem feito uma linda decoração. Acho que nunca
pensaria em fazer algo desse tipo, mesmo que você mereça cada pétala que
está aqui.
Tommasso se aproximou de mim devagar. Senti o vento que vinha da
janela tocar minha pele, fazendo meu cabelo balançar. Minha pele se
arrepiou por conta da brisa fria.
— Você sabe que não vai acontecer nada entre nós nessa viagem, não
é? — Minha voz saiu um pouco trêmula. Tommasso parou à minha frente e
inclinou a cabeça para baixo a fim de me olhar nos olhos, em seguida sua
mão tocou meu rosto, acariciando-o, só pude fechar os olhos e aceitar o
carinho de bom grado.
— Por que tenta fugir do que sente, meu anjo?
— Não estou fugindo de nada — sussurrei, estremecendo levemente.

— Está sim. Você é orgulhosa demais e o orgulho te impede de


vivenciar momentos incríveis.
Suas palavras fizeram meu estômago se revirar. De fato, eu era
bastante orgulhosa, na verdade, estava com medo de deixar Tommasso me
arrebatar, pois estaria indo contra a tudo que disse sobre ele e os
julgamentos que fiz. Estaria cuspindo na minha própria comida.
Reabri os olhos e o fitei, Tommasso estava bem próximo, seu olhar era
de puro fogo e fome.
— Preciso tomar um banho — falei, tentando fugir da tentação de tê-
lo tão perto de mim, o seu cheiro estava me deixando zonza e com tesão.
Saí de perto dele e caminhei até o banheiro, mas ele veio atrás de mim e
entrou comigo. — O que está fazendo, Tommasso?
— Também preciso tomar um banho, querida esposa.

Ele me olhou com malícia e começou a tirar sua roupa.


— Espere eu terminar o meu primeiro — ordenei.
— Não. Vamos tomar um juntos nesta banheira — decretou e ligou a
água da banheira.
— Está exigindo que eu tome banho com você?
— Estou — respondeu com tranquilidade e continuou tirando a roupa.
Sentia-me uma boba, porque não conseguia parar de olhar para o corpo de
Tommasso. A forma que seus músculos se contraíam e as tatuagens se
destacavam era sexy demais. Sua barriga trincada também não ajudava a
acalmar a minha excitação. — Gosta do que vê?
O maldito sorriu convencido.
— Não é nada de mais — menti.
— Sei — zombou. — Dispa-se. — Balancei a cabeça negando. — Ou
eu mesmo faço — ameaçou, então me vi sem saída. Desci primeiro a saia,
depois a blusa com calma. Tommasso observava cada movimento meu, seus
olhos mostravam luxúria enquanto perscrutavam meu corpo.

Quando fiquei inteiramente nua, fui até a banheira e entrei na água,


sem esperar por ele. Tommasso não demorou a se juntar a mim, ele se
sentou atrás de mim e fiquei na sua frente, em meio às suas pernas. A
banheira estava enchendo, a água estava morna e gostosa. Tentei me
esquecer de que Tommasso estava atrás de mim e nós dois estávamos nus.
— Seu cabelo é lindo — elogiou Tommaso fazendo uma onda de
arrepio tomar meu corpo. Ele pegou um pouco de água com a mão e deixou
cair alguns pingos em meu ombro. — Sua pele é maravilhosa, Kiara.
Não sabia o que dizer, então fiquei muda.
— Parece tensa, baby. Deixe-me fazer uma massagem para te relaxar.
Ele sabia que estava à beira de perder o controle. E quando começou a
tocar minhas costas quase desmoronei em seus braços. A água morna tinha
me relaxado e deixado meus sentidos mais aguçados. Senti meus mamilos
ficando rijos quando ele começou a me massagear. Suas mãos grandes
faziam pressão em meus ombros, foi preciso colocar meu cabelo para frente
para ter acesso a eles. Sentia o rosto de Tommasso bem perto, a boca estava
perto da minha nuca e isso fazia cada célula do meu corpo se movimentar.

— Está gostando, meu anjo? — sussurrou em meu ouvido, senti meu


corpo estremecer. Senti sua língua passando pela ponta da minha orelha,
ofeguei baixinho. Ele tirou a mão dos meus ombros e passou uma pela
barriga indo em direção aos meus seios enquanto a outra seguia o destino
contrário, entre as minhas pernas. — Posso te deixar ainda mais relaxada,
Kiara.
— Tommas…
Não consegui falar seu nome completo. Senti-o me tocando entre as
pernas, perdi o total juízo. Encostei a cabeça no seu peito e voluntariamente
abri mais as pernas.
— Isto, amor, deixe-as bem abertas para mim. — Sua voz saiu rouca e
acelerada. Ele sabia como enlouquecer uma mulher. Seus dedos se
movimentavam sem pressa na minha boceta, masturbando-me, enquanto
usava sua outra mão para apalpar meu seio esquerdo e acariciar o mamilo
rijo. — Você é muito gostosa, Kiara, porra.
— Não pare, Tommasso… Não pare.
Estava sentindo o meu orgasmo próximo. Ele começou a beijar meu
pescoço e isso acelerou meu tesão. Estava quase alcançando as estrelas
quando ele tirou as mãos de mim, deixando-me completamente atônita e
sedenta por mais.
— Por que parou?
Não consegui esconder a minha decepção.
— Desta vez, amor, ou os dois ganham prazer, ou nada feito.
Fiquei chocada, ele estava tentando negociar comigo. Queria que o
fizesse gozar assim como me faz?

— Isto não é justo — resmunguei.


— Claro que é — retrucou e se levantou, antes de sentar em cima do
apoio da banheira. Fitei seu pau, estava tão duro e era tão grande… Por
Deus, como poderia caber dentro de mim?
Minhas bochechas coraram. Detestava agir como uma virgem
inocente, mas era essa a minha realidade. Nunca toquei em um homem e
olhando para a ereção de Tommasso sentia muita vontade de experimentar
seu gosto. Olhando-me, ele tocou seu pau e começou a se masturbar. Senti
minha boceta queimar de tesão, ouvindo seu gemido másculo e seu olhar
repleto de fogo misturado com o meu.
— Diga-me, Kiara. Já tinha visto outro pau antes? Sem ser por vídeo
ou foto?
Balancei a cabeça negando. Tommasso arfou.
— Tão inocente… Porra. — Ele fechou os olhos e perguntou: — Quer
tocá-lo?
Engoli em seco, sentindo todo meu corpo queimar de vergonha. Ele
reabriu os olhos quando viu que não iria respondê-lo.
— Responda-me, baby.
— Sim…
— Me dê a sua mão — pediu, ergui a mão e ele com maestria colocou
em volta do seu membro, segurando-a minha por cima. Era estranho a
sensação de tocar um homem pela primeira vez. Era quente, mole e, ao
mesmo tempo, duro. Não sabia o que fazer. Tommasso me mostrou como
masturbá-lo, tinha que subir e descer a mão lentamente. — Molhe-o.
Fiquei sem entender seu pedido.
— Quanto mais lubrificado, mais gostoso fica — explicou ele,
olhando-o fiquei de joelhos, levei a boca até a ponta do seu pau e cuspi.
Tommasso o espalhou com minha mão e a sua, percebi que deslizava
melhor. — Agora passe a língua na ponta.
Olhei-o como se fosse louco. No entanto, se precisava lhe dar prazer
para ele me retribuir, não seria nenhum sacrifício. Passei a língua em cima
da cabeça do seu pau, pegando a mim mesma e Tommasso de surpresa, pois
ele não achou que acataria seu pedido. O mafioso gemeu tão alto que senti
meu ventre queimar de tesão. Senti um gosto diferente, era da sua
lubrificação. Não achei ruim, acho até que me acostumaria fácil com isso.
Resolvendo ir mais afundo, coloquei a boca, chupando somente a
cabeça do seu membro. Foi aí que Tommasso me parou. Ele segurou meus
ombros, afastando-me.
— O que foi? Não está bom? — questionei.
— Está demais, este é o problema — revelou antes de se levantar e
sair da banheira. — Venha, vamos até a cama.
Tommasso me ajudou a levantar. Ele pegou a toalha e me entregou,
enxuguei-me e depois ele fez o mesmo. Antes que eu conseguisse sair do
banheiro, ele me pegou nos braços, arfei pela surpresa, mas deixei que ele
me carregasse até a cama.
Quando entramos no quarto, Tommasso desligou a luz deixando
apenas as velas iluminando o ambiente, dando ao local um clima romântico.
Não sei o porquê, mas estava mais nervosa que o habitual. Ele me colocou
em cima da cama, com cuidado e ficou por cima de mim. Seu olhar estava
ainda mais intenso que o comum. Meu coração disparou quando senti seu
pau entre as minhas pernas.

— Está nervosa, amore? — Sua voz saiu baixa e calma. Senti um


arrepio percorrer meu corpo.
— Um pouco — respondi.
— Deixa que eu te relaxo — murmurou, em seguida o senti passar a
glande do seu pau em mim, ofeguei baixinho, sentindo uma sensação
gostosa e quase viciante. — Você me quer, Kiara?
Sua pergunta me pegou de surpresa.
— Não quero. — Claro que não admitiria que desejava fazer sexo
com ele.

— E suas pernas se abriram sem nem precisar insistir?


Ele tocou a minha coxa e me olhou com um sorriso pervertido. Só
nesse momento reparei que estava de pernas bem abertas, meu corpo era um
maldito traidor. Tommasso passou a cabeça do seu pau bem na minha vulva,
por isso gemi e estremeci de prazer.
— Só me responda com a cabeça, Kiara, sem julgamentos. Você quer
que vá até o fim?
Minha boceta estava encharcada e eu precisava continuar, mesmo que
me arrependesse amargamente no dia seguinte. Portanto, assenti com a
cabeça, ao ver o olhar de Tommasso se iluminar.
Nem acreditei quando Kiara consentiu que a fizesse minha. O tanto
que desejava essa mulher era inexplicável. Beijei-a com intensidade,
tentando prolongar o tempo com ela, não queria fazer nada com pressa.
Nunca fiz sexo romântico, sempre foi carnal, brutal e ligado ao prazer de
ambos, mas com Kiara era diferente. Queria que ela se sentisse bem em sua
primeira vez.
Senti-a tocar os meus ombros e subir em direção ao meu o pescoço
onde acariciou até chegar ao meu cabelo. Parecia necessidade em sentir a
minha pele. Tinha algo físico entre nós, incompreensível. Passei o nariz
pelo seu pescoço sentindo seu cheiro.
— Eu amo o seu cheiro — admiti.
— Por que está sendo gentil comigo? — perguntou e levantei um
pouco o rosto para olhá-la.
— Não gosta da minha gentileza? Prefere quando sou grosso?
— Prefiro que não tente ganhar a minha afeição — murmurou
piscando demais, afetada. Mordi o lábio inferior, quase perdendo o
equilíbrio, pois estava com pau encostado na boceta de Kiara. Um
movimento para frente e estaria dentro dela. Porra, como desejava essa
mulher.
— Teme que eu consiga? — perguntei, abrindo um meio-sorriso. Usei
os dentes para morder seu queixo, antes de sussurrar: — Eu não vou apenas
conquistar sua afeição, Kiara, como também o seu amor.
Senti sua respiração se descompassar. Continuei aos poucos a
excitando. Aumentando sua libido para que fosse fácil a penetração e não
gerasse dor. Ela estava muito excitada, sua lubrificação molhava meu pau,
escorria por ele. Sentia meu pau latejando de tesão por minha esposa.
Diabo, ela era pior que qualquer droga, viciante.

Beijei seu pescoço enquanto sussurrava sacanagens, ela gemia


baixinho embaixo de mim, cada vez mais. Percebi que estava preparada
para mim quando ela tentou se masturbar. Nesse momento peguei sua mão e
a coloquei no alto de sua cabeça.
— Hoje somente eu posso tocá-la e beijá-la. Somente eu poderei lhe
dar prazer, pequena.

Tommasso estava me deixando louca, parecia querer tirar todo meu


juízo e me fazer implorar para que fizesse mulher. E o maldito italiano
estava quase conseguindo me ver implorar. Seus toques, beijos e as palavras
sacanas estavam me deixando encharcada. Nunca tinha ficado tão molhada
assim, nem nas outras vezes em que ele me chupou. Minha boceta parecia
uma cachoeira, escorria sem parar.
— Você quer me fazer implorar? — questionei, minha voz saiu rouca
e falha.
— Quero que implore, Kiara, implore para ser minha.

Mordi o lado interno da boca tão fortemente que quase chegou a


sangrar. Tinha que ser forte, mas lutar contra o tesão era difícil.
— Nunca — respondi, determinada, então Tommasso fez o que nunca
imaginei. Soltou-me. E se distanciou. — Onde você vai, Tommasso?
— Só quando você fizer o que mandei.
Respirei fundo, buscando ter paciência naquele momento. Estava tão
frustrada.
— Eu te quero. Pronto. Isso já não basta? — bradei, cheia de furor.
Estressada por ele ter saído de cima de mim. O olhar arrepiante do mafioso
foi destinado a mim e ele me mediu com um olhar sacana, como se tivesse
acabado de vencer uma guerra. Filho da puta.

— Sim, isso basta, meu anjo. — Ele voltou e eu suspirei de alívio.


Posicionou seu pau entre as minhas pernas pronto para romper meu hímen.
Senti o medo me invadir. Minha mãe nunca conversou comigo sobre isso e
nem precisou. Eu sabia que doía, mas que a dor era somente uma vez. —
Você precisa saber que depois que eu te foder não seremos mais dois
estranhos e sim um só.
Não entendi o que ele queria dizer, então só assenti. Fechei os olhos e
foi quando o senti romper minha pureza, era como se uma faca adentrasse
meu sexo me cortando por dentro. Meus lábios tremeram e comecei a
chorar. Ouvi o gemido rouco escapar dos lábios de Tommasso.
— Você está chorando, porra! Quer que eu pare?
Neguei com a cabeça. Ele não podia parar, precisava mandar a dor
embora.
— Continue… rápido, por favor.
— Kiara…

— É uma ordem, Tommasso. Me fode sem pena.


Reabri os olhos e o vi me olhar com submissão.
— Seu desejo é uma ordem, esposa.
Ele seguiu o meu pedido, aumentou o ritmo das estocadas. Abri ainda
mais as pernas e tentei relaxar o corpo. Tommasso distribuía beijos pelo
meu pescoço, subindo até a orelha e acariciava meu seio com a mão. Isso
foi me excitando cada vez mais. Aos poucos a dor não era tão incômoda,
mas ainda não tinha sumido, estava ali, mas conseguia aproveitar.
Passei a mão pelas costas tatuadas de Tommasso, arranhando a pele
dele, e ele que gemeu em resposta. Beijei seu pescoço também, ele estava
começando a ficar suado. Olhava-me com tanto desejo e tesão que me
deixou de pernas bambas.

— Que bocetinha mais apertada você tem, amor, vou encher ela de
porra.
Revirei os olhos sentindo minhas pernas tremendo, sentia uma
sensação deliciosa crescer em minha intimidade e baixo-ventre. Estava à
beira do orgasmo. Tommasso continuou me fodendo até o limite, enquanto
nossas respirações se misturavam eufóricas e unidas. Encostamos a testa um
no outro e ele ordenou:
— Goza no meu pau, Kiara.
— Ah… Tommasso, continue… assim — gemia como uma gata no
cio. Estava ansiosa para gozar. E quando o orgasmo veio, foi como se uma
explosão de sentimentos me tomasse.
— Gostosa do caralho — resmungou antes de gozar logo depois de
mim. Tommasso rosnou, expressando totalmente o prazer que sentia. Só
conseguia olhar para o homem de mais de um metro e noventa, pensando o
quanto ele era sexy e bonito.
E o quanto eu teria que me esforçar para não me viciar nele. Cacete.
Ele saiu da minha intimidade e se deitou ao meu lado. Estava ofegante
e nem conseguia raciocinar sobre o que tinha acontecido. Somente sentia
um alívio tão grande que quando fechei os olhos a minha mente se apagou
por completo.

Despertei sentindo o sol batendo em meu rosto. Parecia que um ônibus


tinha passado por cima de mim. Meu corpo estava dolorido por completo,
era como se eu tivesse feito exercício. Abri os olhos e olhei em volta, então
vi Tommasso na varanda observando a paisagem. Percebi que estava
coberta, mas não me lembrava de ter feito. Passei a mão por baixo do
cobertor e toquei a minha intimidade, percebi que estava dolorida, tirei a
mão e vi o sangue.

A prova que eu tinha me entregado para Tommasso Caccini estava


bem à minha frente, tinha várias evidências, nem poderia dizer que fui
induzida a me entregar, porque seria mentira.
Se ele já me considerava dele, dali em diante teria certeza.
— Que bom que acordou. — Assustei-me ao ouvir sua voz, ele tinha
voltado para o quarto, estava parado à minha frente, mais lindo do que
nunca usando uma roupa praiana e óculos escuros. — Temos cinco horas
antes de escurecer para curtirmos a praia juntos. Pule da cama, anjo, vou
esperar você se arrumar.
— Está bem…
Era só o que conseguia falar. Sentia-me estranha, tímida e, ao mesmo
tempo, uma safada que mesmo dolorida sentia a boceta pulsar somente ao
lembrar do que fizemos.
Depois de pronta, nós saímos para curtir o Caribe. Nem acreditava que
estava realmente aqui. Tudo aqui era tão maravilhoso, guardaria cada
momento na memória.

Para curtir melhor o dia eu escolhi um biquíni e vesti uma saída de


praia por cima dele.
— Como você está, sente dor? — perguntou Tommasso, enquanto
passeávamos na praia.
— Estou um pouco dolorida, mas não é nada de mais — respondi.
Olhei o mar, sentindo vontade de mergulhar. O calor era tanto que estava
começando a suar. — Você costuma viajar muito?
— Não tanto quanto gostaria — respondeu, calmamente. Chegamos à
parte das espreguiçadeiras, onde tinha várias pessoas descansando e
tomando sol. Algumas fazendo até topless. Sentei-me em uma
espreguiçadeira ao lado de Tommasso, enquanto os nossos seguranças
ficavam ao longe. Logo um dos garçons veio me trazer um drink de cortesia
da casa. Tomei um gole da bebida adorando o sabor e a refrescância que ela
proporcionava. — Já pensou como seria a vida se não tivesse nenhuma
preocupação, a não ser escolher o próximo destino de viagem?
Minha pergunta deixou Tommasso encabulado. Ele ainda estava de
óculos escuros, não conseguia ver seus olhos.

— Acho que seria incrível no começo, mas depois de um tempo seria


tedioso. Ter um lugar fixo e responsabilidades, faz com que férias e viagens
pareçam uma maravilha, porém, acho que todos nós precisamos de
equilíbrio, seja nas coisas boas ou ruins.
O que ele falou fazia sentido.
— Tem razão, acho que o que deixa tudo mais emocionante é saber
que uma hora acabará. As pessoas não se encantam mais com o para
sempre.
O Don ficou mudo depois de ouvir minha resposta, após alguns
minutos, falou:
— Já passou protetor solar hoje? Tem que tomar cuidado com a pele.

Fiquei boquiaberta, não acreditava que havia me esquecido de fazer o


essencial. Peguei o protetor solar que ficava disponível perto da
espreguiçadeira, mas antes que eu começasse a passar, Tommasso o tirou da
minha mão.
— Deixa que eu passo — disse. Dei de ombros e me virei, sentada na
espreguiçadeira, Tommasso veio para trás de mim e começou a passar o
protetor solar na minha pele. Passou em minhas costas, depois tive que me
virar para que passasse na frente. Mesmo no meio de tanta gente que,
certamente, não estava prestando atenção em nós, ele passou o protetor por
dentro da parte de cima do meu biquíni, no seio. — Não quero que se
queime, somente eu posso te deixar ardendo.
Senti minhas bochechas pegando fogo. Não me lembrava de ser
tímida assim.
— Tommasso, posso te fazer uma pergunta?
Ele subiu os óculos e deixou o protetor solar no mesmo lugar que
pegou. Fitando-me com curiosidade.

— Desde quando você pede permissão antes de fazer alguma


pergunta?
— É que a pergunta que quero fazer é importante e desejo que seja
sincero o máximo possível.
Seu cenho se franziu, então assentiu.
— Pergunte o que quiser, minha felina — permitiu.
— O que você deseja de mim a partir de agora? Mudará alguma coisa
na nossa relação quando voltarmos à Itália?
Ele mordiscou o lábio inferior.
— Mudou tudo, Kiara. Ou acha mesmo que depois de ter tido você
por completo vou abrir mão de algo? — sua resposta me causou um
calafrio. — Eu cheguei a pensar que o que eu sentia por você era apenas
uma atração e que acabaria depois que eu te fodesse. No entanto, não é,
quanto mais eu te beijo e te toco, mais sinto vontade de você, garota. Você é
um tipo de droga para mim, tão viciante quanto. Agora que nosso
matrimônio foi consumado, dividiremos o mesmo quarto e eu farei tudo que
estiver ao meu alcance para te agradar.

— Inclusive contratar a cozinheira para mim e Giulia?


— Inclusive isto — respondeu.
— Você quer ter filhos? — perguntei antes que eu não tivesse
coragem. Tommasso entreabriu os lábios e desviou o olhar.
— É claro. Preciso de um herdeiro, mas não tenho pressa. Sei que virá
quando Deus mandar.
— Herdeiro? Somente ficará feliz se for menino?

Ele bufou ao ouvir minha pergunta.


— Ficarei feliz se vir ambos, Kiara! — respondeu, ríspido.
— E se eu não quiser ser mãe?
Tommasso sorriu como quem não acreditava no que tinha acabado de
falar.
— Você não quer? — questionou, franzindo os lábios.
— Não acho que estou preparada e não quero ter um filho com você…
Pelo menos não durante esta guerra, pois sei que ele seria um alvo fácil para
os seus inimigos. E outra… não vou dormir no mesmo quarto em que você
dormia com minha irmã.
Tommasso aproximou seu rosto do meu e segurou meu queixo.
— Você não pode escolher, Kiara, entre engravidar ou não. Não se
preocupe com os meus inimigos, vou te proteger, eles não chegarão perto de
você nem do meu filho.

— Vai me proteger igual fez com Aurora?


Ele se afastou bruscamente, seus olhos ficaram avermelhados pela
raiva.
— Chega de lembrar de Aurora, caralho. Já estou cansado dessa
merda, me culpo o suficiente pela morte da sua irmã e acha que me sinto
bem em lembrar o que aconteceu com ela? Que eu falhei em protegê-la? —
cuspiu, furioso, as pessoas em volta olhavam para nós ao perceber que
estávamos discutindo. — Se eu pudesse voltar no tempo escolheria nunca
ter te olhado, Kiara, naquele maldito jantar que seu pai me convidou para
me propor o acordo. Nem teria dançado com você e sentido o cheiro do seu
perfume. Assim eu não teria que lidar com o fato de que estou me
apaixonando pela irmã da minha falecida esposa.
— Chega de lembrar de Aurora, caralho. Já estou cansado dessa
merda, me culpo o suficiente pela morte da sua irmã e acha que me sinto
bem em lembrar o que aconteceu com ela? Que eu falhei em protegê-la? —
cuspiu, furioso, as pessoas em volta olhavam para nós ao perceber que
estávamos discutindo. — Se eu pudesse voltar no tempo escolheria nunca
ter te olhado, Kiara, naquele maldito jantar que seu pai me convidou para
me propor o acordo. Nem teria dançado com você e sentido o cheiro do seu
perfume. Assim eu não teria que lidar com o fato que estou me apaixonando
pela irmã da minha falecida esposa.
Dito isso, levantei-me e a deixei sozinha. Estava puto de raiva, não
queria mais olhar para Kiara. Os meus seguranças me seguiram, alguns
ficaram a observando de longe. Estava cansado de me sentir culpado pela
morte de Aurora e do meu filho, que Kiara não sabia da existência.
Toda vez que me lembrava, sentia vontade de matar Mattia com as
minhas próprias mãos, Kiara parecia insistir em me lembrar do passado.
Porra. Não foi minha escolha me atrair por ela e acabar me casando. Eu
mentia para mim mesmo quando nos casamos, dizendo que era para domá-
la e me vingar por Kiara me afrontar, mas a verdade sempre foi que eu a
queria, desejava aquela maldita leoa mais que tudo no mundo. Em toda
minha vida fodida eu nunca me senti tão frágil e impotente, porque eu
estava apaixonado.
Se apaixonar era a maior fraqueza de um mafioso, já dizia meu pai. E
se eu chegasse a amá-la? Se era que isso já não estava acontecendo.
Eu cresci sem conhecer o amor. Sabia que a famiglia vinha em
primeiro lugar e mesmo odiando meu pai, honrei-o depois da morte. Nunca
experimentei o amor e achava que nunca iria. Porém, Kiara entrou na minha
vida como um trovão, derrubando todas as malditas muralhas que construí
em volta do coração. E em poucos dias de casados, ela me arrebatou de um
modo inexplicável e de certo modo também mexi com os seus sentimentos.

— Senhor Caccini, está precisando de algo? — perguntou um dos


soldados.
— Sim. Alugue um iate para passarmos a noite e cuidem da segurança
de Kiara. Vou me ausentar e não quero que me sigam.
— Mas, senhor…
— É uma ordem.
Eles, obviamente, acataram minha ordem. Andei sem rumo pela praia
até escurecer e encontrei um pequeno bar. Entrei nele e pedi uma garrafa de
uísque. Acendi meu cigarro e comecei a beber. De repente uma mulher que
parecia americana se aproximou de mim.

— Olá, senhor, posso te fazer companhia? — perguntou, apontei para


o banco ao meu lado, onde ela se sentou em seguida.
Precisava beber para esquecer e era o que iria fazer essa noite.
Quando Tommasso saiu com raiva pensei que fosse esfriar a cabeça e
depois voltaria, mas não foi o que ele fez. Olhei em volta e vi os soldados
ainda na mesma posição, cuidando da minha segurança. Eu não deveria ter
jogado na sua cara novamente a morte de Aurora, mas não consegui me
controlar, ainda sentia muita raiva dele. Não iria me esquecer tudo de uma
noite para a outra. Já abri mão do meu orgulho, da minha palavra e de tudo
quando me entreguei para ele. Precisava dar um passo de cada vez, caso
contrário surtaria.
Tirei a saída de praia e fui até o mar mergulhar um pouco para ver se
esfriava a cabeça e parava de pensar em Tommasso. Aquele italiano ainda
iria me enlouquecer.
Entrei na água que não estava muito gelada por conta do tempo quente
e só saí quando o sol começou a se pôr. Andei até a espreguiçadeira onde
estava. Senti meu estômago roncar, ainda não tinha me alimentado só estava
com o drink no estômago. Peguei as minhas coisas pronta para voltar ao
hotel quando me assustei ao ser parada por um jovem rapaz.
— Olá.
Era espanhol, o que facilitou o meu entendimento, já que eu era
fluente em espanhol, inglês e francês.

— Oi?
O homem tinha uma aparência jovial, cabelos loiros e barba rala, era
alto e malhado. Tinha um sorriso gentil no rosto, mas não entendi o que
queria comigo.
— Deixe eu adivinhar… italiana? — Ele arqueou a sobrancelha.
— Exato — falei. — Conhece a Itália?
— Pouca coisa.
— Desculpe, mas o que quer comigo? Por que me parou? —
questionei, colocando a mão na cintura.

— Sei que pode parecer esquisito, mas fiquei te observando nadar e


não consegui desviar o olhar de você, te achei muito linda e precisava tentar
uma apresentação, sei lá, vai que dá certo, né?
Não consegui resistir e sorri por conta de suas palavras.
— Sinto informar, mas eu sou casada. — Mostrei a aliança em meu
dedo para ele, que suspirou pesadamente. Olhei para os soldados notando
que eles nos observavam de longe. — E digamos que meu marido não é um
homem comum.
— Ele é o quê? Um bilionário?
— Não somente um bilionário — respondi. — Como também um dos
homens mais poderosos da Sicília.

— Nossa! Mesmo assim, ele parece ser um imbecil.


Franzi o cenho, confusa.
— Por quê? — questionei
— Porque só sendo mesmo um imbecil para deixar uma mulher
lindíssima como você sozinha. Se eu fosse seu marido não te largaria por
um segundo sequer, princesa.
Estalei a língua. Ele era bom na paquera, no entanto, já estava
acostumada com os padrões maiores.

— Ah, mas pena que você não é.


Tentei passar por ele após respondê-lo, mas o homem segurou o meu
braço e me impediu de passar, agarrando a minha cintura.
— Deixa eu te levar ao céu, linda, aproveita que seu marido não está
aqui — sussurrou, ao passo que sentia meu estômago se revirar com as suas
palavras.
— Eu vou te levar ao inferno se não me soltar agora mesmo —
retruquei, rudemente, o homem nem se mexeu. Minutos depois, os soldados
vieram até nós.
— Solte-a agora mesmo — ordenaram, em seguida o rapaz me soltou
ao perceber que estava cercado. Os homens sacaram a arma e apontaram
para o jovem, que estremeceu e levantou as mãos. — Mais um passo e você
morre.

— Desculpe… Eu não queria fazer mal a moça, eu juro….


— Senhorita Caccini, qual a sua ordem?
Os soldados me olharam esperando que eu decretasse o destino do
rapaz.
— Deixe o livre, não quero que o machuquem! Acho que ele já
aprendeu a lição — disse e olhei para o homem que até parecia simpático,
mas que tinha caído do meu conceito. — Cuidado, rapaz. Aprenda que um
homem não pode tocar a mulher sem o seu consentimento. Na próxima vez
você pode não ter tanta sorte.
Dito isso, deixei o homem ali todo amedrontado e saí com os
soldados, um deles veio me avisar que Tommasso alugou um iate para que
passássemos a noite.

— E sabe onde ele está neste momento? — perguntei.


— Não, senhorita.
Suspirei, pensando mil bobagens. Onde Tommasso se meteu? Por
Deus.
Eles me levaram até o iate, que era enorme e lindo. Mostraram-me
tudo por dentro inclusive a suíte que passaríamos a noite.
— O chefe preparou uma refeição especial para a senhorita — avisou
um dos soldados.
Desfrutei o jantar, depois aproveitei a calmaria para tomar um banho
demorado e vesti um pijama. Fiquei sentada na sala do iate, observando a
paisagem. Era tudo tão lindo, mas faltava uma presença aqui para ficar
melhor, a de Tommasso.
Revirei os olhos, parecia uma boba. Fui até o bar e enchi uma taça
com vinho, depois me sentei no sofá e fiquei esperando. As horas iam
passando e nada do meu marido voltar.

Depois de um tempo, acabei pegando no sono no sofá, acordei com


um barulho estranho. Quando abri os olhos, vi Tommasso cambaleante,
quase caindo de bêbado. Levantei-me rapidamente e fui ajudá-lo.

— Meu Deus, Tommasso, quanto você bebeu? — questionei, irritada,


passei a mão pela sua cintura, tentando mantê-lo em pé, mas ele era pesado
demais. Conseguia sentir o odor etílico de longe.
— N-não finja que se preocupa comigo. — Sua voz saiu muito
estranha, quase não entendi o que ele falou. Coloquei-o no sofá e ele caiu
deitado.
— Onde você estava? — exigi saber. — Fala!
— Não me lembro… cacete!
— Você não pode me deixar sozinha assim e só voltar agora, ainda
mais nesse estado.

— E por que não? Agora quer agir como uma esposa preocupada? —
cuspiu as palavras tentando se sentar, senti meus olhos se encherem de
lágrimas. — Estou cansado de tentar ser um bom marido para você e só ter
o seu desprezo, Kiara.
— Você está dizendo isto porque está bêbado, durma e amanhã
conversaremos.
Ele riu friamente, senti meu sangue esquentar no mesmo instante.

— Estou cansado de toda essa merda, a verdade é essa. Eu odeio estar


apaixonado por uma mulher como você.
Arregalei os olhos sentindo toda minha paciência se esvair.
— Uma mulher como eu como? De atitude? Não submissa? —
vociferei indo até ele. — A verdade, Tommasso, é que você está
acostumado com todos aceitando os seus desejos e caprichos, mas como eu
não faço, você fica todo revoltado.
— Você deveria me agradecer, Kiara, por ter tirado você da casa dos
seus pais e te tornado a mulher poderosa que é hoje.
Suas palavras me baquearam.

— Agradecer a você? Que se foda você, seu maldito. Nunca serei


grata a você, nunca!
Dou meia-volta, sentindo meu coração começar a disparar,
violentamente.
— Não me dê as costas.
Senti-o atrás de mim, ele puxou meu braço, virando-me rapidamente,
estava pronta para estapeá-lo, mas ele me segurou antes que fizesse.
Inclinou-se trazendo seu rosto para perto do meu, senti seu hálito e fitei
seus olhos avermelhados, depois sua boca. Meu sangue estava fervilhando,
mas estar tão próxima de Tommaso despertou algo em mim.
— Foda-se porra — resmungou antes de atacar minha boca, acabei
retribuindo ao beijo violento, cheio de raiva e luxúria. Passei o braço pelo
seu pescoço e ele conseguiu me levantar, passei as pernas em volta da sua
cintura, permitindo-me ser levada até o sofá. Sou colocada sobre ele, mas
como não conseguia ficar sobre mim no estado em que estava, empurrei-o e
fiquei por cima.
— Onde você estava? — perguntei, enquanto desafivelava seu cinto e
abria sua calça.
— Em um bar.
— Sozinho?
— Uma mulher que veio falar comigo, mas não aconteceu nada entre
nós. Estava puto e senti vontade de descontar a raiva que estava de você,
mas não desejava aquela mulher, meu pau só sente tesão por você, leoa. E
não sou um maldito traidor.
Sua confissão me pegou de surpresa e me fez ficar ainda com mais
vontade dele. Sentei-me no colo de Tommasso, em seguida subi meu pijama
e afastei minha calcinha. Deslizei pelo seu membro de uma vez só,
ouvindo-o grunhir. Segurei o seu pescoço e ele minha cintura, passando a
mão pelo meu corpo até alcançar a bunda.
— Que delícia, amor, rebola no meu pau, vai. — Ele estapeou minha
bunda, e eu gemi.
Aumentei o ritmo da sentada, sentindo meu corpo ficar cada vez mais
quente.
— Você só vai gozar quando eu permitir — falei, fazendo seu olhar
ficar ainda mais malicioso. — Somente quando eu estiver saciada de tanto
gozar no seu pau.
Estava dormindo no sofá sobre o peito de Tommasso. Depois que
acabamos o sexo deitamos e dormimos no mesmo instante, estávamos
exaustos. Despertei com um barulho de celular vibrando, tinha sono leve
então notei rapidamente. Não era o meu, era de Tommasso. Tirei o celular
do bolso de sua calça e olhei a mensagem através da notificação. Não devia
olhar as suas mensagens escondida, mas o que ele poderia querer esconder
de mim?
— O quê!? — Quase gritei ao ver uma foto de uma criança, era um
menino e ele estava preso em um lugar estranho, a mensagem era de
Nicolo.

Vou perguntar pela última vez, fratello. Quer mesmo que eu mate o filho de
Mattia Biachi?

Fiquei chocada, o menino era tão pequeno, decerto tinha entre três e
quatro anos ou até menos. Não podia ser, Tommasso não podia ser tão ruim
assim a ponto de matar uma criança…
Eu não podia deixá-lo fazer isso. O menino podia ser o herdeiro dos
Biachi, mas era apenas uma criança. Merda, por isso resolvi tomar uma
atitude que poderia custar a minha relação apaziguada com Tommasso. Usei
seu dedo para desbloquear seu celular e digitei uma mensagem para Nicolo.

Não o mate, mudei de ideia. O plano agora é outro, portanto, envie o garoto
de volta para Mattia.

Não demorou para Nicolo respondê-lo.

É sério, Tommasso? Tem certeza? Perderemos uma carta contra Mattia.


Tenho certeza sim. Envie-o o mais rápido possível, é uma ordem.
Despertei sentindo uma forte dor de cabeça e o corpo estranho. Que
maldita ressaca. Percebi que estava no sofá, sozinho. Lembrei-me de que
dormi com Kiara, mas onde ela estava nesse momento?

Fui à procura de um banheiro para jogar água no rosto, achei um


dentro da suíte. Não me lembrava de muita coisa que aconteceu ontem,
somente de estar no bar, dispensar uma americana que deu em cima de
mim. Beber muitas doses de uísque e depois ser trazido por um dos
soldados até o iate, de brigar com Kiara e na sequência transar com ela.
Peguei meu celular do bolso e chequei as mensagens, tinha algumas
de Nicolo, mas optei por conferir a de um segurança que me enviou uma
foto de Kiara com outro homem a segurando pela cintura perto da
espreguiçadeira. Senti todo o meu desconforto se transformar em ciúme.
Caralho. Que merda era essa. O maldito filho da puta encostou na minha
mulher, senti vontade de cortar suas duas mãos.
Cerrei os punhos, sentindo a adrenalina me tomar. Saí possesso em
busca de Kiara. Ela não estava em canto algum, porra. Resolvi ler a
mensagem de Nicolo, mas me surpreendi.
O garoto está livre, como você pediu.

Não entendi o que ele queria dizer com aquilo, então li a conversa
percebendo que tinha várias falas que não me lembrava de ter escrito.
Nelas, eu ordenei que devolvesse o garoto a Mattia, nunca mandaria isso.
Que inferno.
Senti minha cabeça arder ao entender o que aconteceu. Kiara…
Busquei pela filha da pura pelo iate e, finalmente, a encontrei tomando
sol na parte maior da embarcação.
— Quem te deu o direito de mexer no meu celular? — esbravejei,
assustando-a. Ela me olhou com os olhos esbugalhados e se levantou
rapidamente.
— Tommasso, se acalme.
Ela deu dois passos para trás, receosa, estava sentindo tanta raiva que
só conseguia pensar em enforcar Kiara. Dessa vez ela passou de todos os
limites.
— Me acalmar, porra! — Atirei meu celular no piso, fazendo-a pular
de susto. Parecia mais amedrontada que nunca. Fui até ela e segurei seu
braço. — Você não tinha o direito de fazer o que fez. Somente eu posso
decidir se libero ou não um prisioneiro. Você passou de todos os limites,
Kiara — berrei em frente ao seu rosto.
— Um prisioneiro de três anos que já tinha destino certo, a morte?
Não podia permitir que fizesse isso, que matasse o garoto. Você
enlouqueceu?
Soltei seu braço rapidamente, senti meu sangue ferver de modo
insano, levantei a mão desejando esmurrar algo, mas não tinha parede por
perto, Kiara fechou os olhos pensando que iria machucá-la.
— Você… Não é nada mais para mim… Sua maldita intrometida.
Passei semanas tentando ter a minha vingança e quando consigo, você faz
isso?
— Sua vingança deve ser contra Mattia, não contra um garoto, mesmo
que ele seja filho dele — gritou ela começando a derramar lágrimas. Não
conseguia olhar em sua direção, estava com muito ódio.
— Você está com dó de um Biachi? Vá se foder!

— Ele é uma criança — retrucou ela, furiosa. Apontei um dedo em


frente do seu rosto antes de falar.
— Meu filho também era, um feto que nem havia se desenvolvido
direito ainda e, mesmo assim, Mattia o matou.
O rosto de Kiara se contorceu, demonstrando pavor, sua pele ficou
pálida de imediato.
— Aurora estava grávida? — Sua voz saiu quase inaudível.
— Sim, estava — respondi. Virei-me de costas, sentindo minhas veias
saltadas. Fechei os olhos e chorei. — Meus inimigos mataram meu filho
para me atingir, Kiara. Eu deveria matar o deles para sentirem na pele a
mesma dor que senti.

— Tommasso, sinto muito. — Ela tentou me tocar, mas não deixei.


— Vamos voltar para a Sicília, a viagem acaba aqui — decretei e saí
dali, antes que falasse ou fizesse algo que me arrependesse depois.
Não sabia o que sentir após Tommasso me contar que Aurora estava
grávida quando a mataram. Isso só podia ser um pesadelo… Tentei me
beliscar para ver se eu acordava, mas não estava sonhando, era real. Tudo
isso era demais para mim. Meu estômago se revirou e corri em direção ao
parapeito para vomitar.
Minha irmã morreu esperando um filho de Tommasso…

Minha cabeça não parava de girar.


Não conseguia respirar, estava tendo uma crise de ansiedade. Minha
vista escureceu, em seguida perdi a noção de tudo.
Sentia minha pálpebra dolorida quando abri os olhos. Dei de cara com
Tommasso sentado do meu lado na cama.
— O que houve? — questionei.
— Você desmaiou e te trouxeram para o quarto.

— Droga — resmunguei sentindo a boca seca.


— Chamei um médico do resort para ver como você está — avisou
ele. Seu olhar estava ainda mais frio e parecia perdido.
— Não precisa, já estou bem. Vamos voltar para a Sicília hoje ainda?
Ele se levantou da cama e colocou as mãos no bolso.
— Sim.

— Ótimo — falei.
— Vou precisar sair por algumas horas antes de o embarque —
informou.
— Aonde vai?
— Preciso esfriar a cabeça — respondeu, desviando o olhar do meu
rosto, era como se não conseguisse me olhar mais. — Te vejo na hora do
embarque.
— Tommasso, espere…
Ele não me deu ouvidos e saiu, deixando-me sozinha.

Algumas horas depois, pegamos o voo de volta para a Sicília. Durante


toda a viagem Tommasso não falou comigo. E quando chegamos à Itália foi
a mesma coisa. Ele continuava mudo e nem me olhava. Assim que saímos
do avião pegamos um carro e fomos direto para a Sicília.

Durante a ida tomei coragem para falar com ele.


— Vai continuar mudo até quando? — perguntei, ele abriu o notebook
que estava em seu colo e começou a checar seus e-mails, era nítido que
estava disfarçando.
— Não estou mudo, Kiara, somente não tenho o que falar.
— Ainda está bravo comigo? — perguntei.
— Não. — Sua resposta saiu ríspida. Revirei os olhos e resolvi deixá-
lo quieto, já que não queria conversar e estava irritado comigo, não seria eu
que correria atrás para fazer as pazes.

Assim que chegamos em casa, Tommasso e eu fomos em direções


diferentes. Estava louca para conversar com Giulia e lhe entregar os
presentes que tinha comprado. Passei nas lojas antes de embarcarmos só
para comprar os presentes que prometi. Peguei as sacolas e fui procurá-la.
Também comprei alguns presentes para Leone. Iria visitá-la, estava com
muitas saudades.
Encontrei Giulia na piscina, curtindo o dia.
— Kiara — gritou antes de correr até mim. Pensei que fosse me
abraçar, mas ela parou alguns passos antes de ter coragem para fazer. —
Vocês já voltaram?
— Tivemos que voltar mais cedo. Cadê o meu abraço?

Abri os braços e sorri, ela fez uma careta, mas se aproximou de mim e
me abraçou.
— É bom ter você de volta aqui — disse. — Usou as roupas que
escolhi?
— Não todas, pois não deu tempo, mas a maioria sim — respondi,
sincera. — Trouxe alguns presentes para você e espero que goste.
Entreguei três sacolas para ela, que pegou parecendo contente.
— Você se lembrou mesmo de mim?

Franzi o cenho, ao observar sua face surpresa.


— É claro, princesa. Agora somos da mesma família e espero que
sejamos como irmãs ou melhores amigas. Nunca me esqueceria dos seus
presentes.
Seus olhos demonstraram emoção, ela fungou levemente e me
surpreendeu ao me abraçar mais uma vez.
— Ainda bem que meu irmão te escolheu para se casar, Kiara.
Que fofa… Fiquei sem palavras.

— Olha, pare com isso se não vai me fazer chorar. — Afastei-a


levemente e gargalhei. — Também tenho uma novidade, seu irmão
contratará uma cozinheira só para nós e talvez mudaremos desta casa.
— Por que vamos se mudar? — questionou.
— Porque é estranho morar na mesma casa que minha irmã também já
foi a dona. Dormir no mesmo quarto que ela já dormiu, entende?
Giulia assentiu levemente, mas pareceu chateada ao ouvir falar da
minha irmã.
— Você gostava da sua irmã? — perguntou baixinho, e eu assenti.

— Sim. Não tanto como gosto de Leone, mas Aurora era minha irmã e
tínhamos um laço de sangue.
— Hum — resmungou e percebi que tinha algo que estava
escondendo.
— Por que, Giulia? Tem algo sobre Aurora que queira me contar?
— Acho que não vai acreditar em mim. — Sua resposta me deixou
encabulada.
— É claro que vou confiar em você. Pode me falar qualquer coisa,
querida.
Inclinei-me e toquei seu ombro, ela suspirou antes de confessar:
— Eu odiava a Aurora. Ela não era uma boa pessoa, na verdade,
parecia aquelas vilãs dos filmes. Quando chegou aqui, eu achei que pudesse
ser boa, pois era carinhosa comigo na frente do meu irmão, entretanto,
quando ele saía ou não estava por perto, ela mudava totalmente. Ficava
grossa e chata, não me tratava bem. Começou inventar que eu implicava
com ela para o meu irmão, acabei ficando de castigo muitas vezes por culpa
dela — falou. — Tem algo que nunca contei para ninguém, mas algumas
vezes eu a vi batendo na própria barriga e xingando o bebê que ela estava
esperando.
Fiquei perplexa com tudo que ela me contou. Não podia acreditar que
era de Aurora que ela estava falando.
— Meu Deus. Será que ela tinha transtorno de bipolaridade? —
Estava perplexa com esse relato.
— Não sei, mas ela não era normal.
— Estou horrorizada com essa história, Giulia. Obrigada por me
contar — disse. — Sinto muito que tenha passado por isso, mas agora será
diferente, eu garanto.
Ela abriu um sorriso tão verdadeiro, por isso sorri também.
— Fico feliz em ouvir isso, Kiara. Agora vou para o meu quarto abrir
os presentes.
Ela saiu saltitando feliz, enquanto fiquei ali sozinha, sentindo os meus
batimentos descompassados. Então, Aurora não era uma boa moça como
todos pensavam… Que ela era ambiciosa eu já sabia, mas suas malvadezas
com Giulia era inimagináveis.
Tommasso deveria saber disso.
— Como você acreditou naquela mensagem estúpida que recebeu de
mim? Acha mesmo que iria permitir que soltasse justo o filho de Mattia? —
esbravejei com Nicolo. Estávamos no meu escritório. Ele olhou para
Lorenzo antes de me responder.
— Como podia imaginar que não foi você quem escreveu aquela
maldita mensagem? Você tem que aprender a controlar a sua esposa e não
descontar a sua raiva em nós — retrucou ele, tão bravo quanto eu. — O que
vai fazer para castigar Kiara pelo que fez? Hein?
— O que farei com a minha esposa só diz respeito a mim. Uma ordem
como aquela só pode ser dada pessoalmente ou por ligação, você deveria
saber disso.
— Ah, tá, caralho, agora tenho que ser adivinha. Vá se foder,
Tommasso, e leve sua esposa junto. Essa Kiara só está causando dor de
cabeça para nós, ela não agrega em nada. Perdemos a chance de uma
vingança por culpa dela!
Soquei a mesa de madeira fazendo o silêncio pairar pelo ambiente.
— Se abrir essa sua maldita boca novamente para me mandar se foder
e falar da minha esposa, vou me esquecer de que somos irmãos, Nicolo.
Não responderei por mim — ameacei, friamente.
— Acha que tenho medo de você? Estou cansado de toda essa porra
de vida. Pode vir, Tommasso, se quer briga, aqui você encontra fácil, fácil.
Meu sangue que já estava quente, ferveu por completo, até que
Lorenzo decidiu apaziguar.

— Chega disso, rapazes. Brigar só nos enfraquece — bradou. —


Tommasso errou em não controlar a esposa e Nicolo em seguir a ordem sem
desconfiar de nada. E está tudo bem, somos seres humanos, portanto,
propensos a errar. Agora só nos resta buscar vingança de outro modo. E já
sei uma forma de distrairmos o império dos Biachi.
— Se sabe, então diga — ordenou Nicolo, estressado.
— Só tem uma pessoa tão importante para Mattia quanto o filho —
contou Lorenzo. — A irmã dele, Sienna.
Abri um sorriso sarcástico.
— Por que acha que uma irmã derrubaria o império dos Biachi?
Enlouqueceu, Lorenzo?

— Porque ela não é uma qualquer irmã. Aliás, o desgraçado tem três
irmãs além dela. Contudo, os boatos que rolam é de que Sienna é sua irmã
preferida, o seu braço direito e é como se fosse sua filha. Tanto que a
menina tem vida de rainha, além de ter mais poder até do que a esposa do
filho da puta. Ou seja, se colocarmos as mãos nela, poderemos usar de um
pouco de tortura para sabermos as fraquezas do Biachi e seus planos. Tudo.
Era um bom plano, não podia negar.
— E como faremos para pôr as mãos na mulher? — questionei.
— Já estou resolvendo isso, fique tranquilo — disse Lorenzo.
— Ótimo, me avisem quando conseguir.
Quando cheguei em casa estranhei o silêncio, até que subi as escadas e
me deparei com uma cena que jamais imaginei. Kiara e Giulia, juntas,
conversando e rindo, parecendo íntimas. Kiara era a primeira pessoa que vi
Giulia se dando bem depois de muito tempo. Não pretendia interromper a
conversa das duas, mas acabei sendo visto por elas.
— Olá — falei.
— Oi — as duas falaram e se levantaram da cama. Giulia me olhava
como sempre, com a mesma expressão brava.
— Como vocês estão? Passaram bem o dia?

— Sim, passamos, e como foi o seu? — perguntou Kiara.


— Bem, na medida do possível. — Olhei para Giulia. — Como você
está, irmã?
— Estou bem, que milagre se preocupar — resmungou.
— Pode não parecer, mas me preocupo muito com você, Giulia. — A
menina desviou o olhar ao me ouvir falar. — Kiara, preciso conversar com
você. Venha comigo.
Saí do quarto e esperei que Kiara me acompanhasse. Ela o fez. Levei-
a para uma das suítes de hóspedes. Estava tentando não reparar no quanto
minha esposa estava linda hoje, vestindo um short e blusa simples, mas que
ficaram incríveis no seu corpo. Seria difícil resistir a ela, mas precisava ser
firme, não aguentava mais correr atrás de Kiara e só receber ódio em troca.

— Gosta deste quarto? — perguntei, mostrando a ela o cômodo.


— É bonito e menor de onde estou instalada, mas é aconchegante. Por
quê?
— Porque enquanto não decidirmos se vamos nos mudar de casa
mesmo, dormiremos neste quarto. Já que não deseja dormir no meu quarto.
Virei-me para olhá-la notando que ela franziu o cenho.

— Você ainda quer que eu durma no mesmo quarto que você? —


Parecia surpresa.
— É claro, pois somos marido e mulher.
Tentei parecer frio. Kiara colocou uma mão na cintura e levantou a
cabeça.
— Está bem. Por mim tanto faz!
Ela estava segura de si, sabia que não seria um tormento só para ela
dividir a cama comigo. A maldita tinha noção do quanto mexia comigo e ao
invés de tentar fazer as pazes, ela queria usar a melhor arma que uma
mulher tinha.

A sedução.
— Ótimo, era só isso que eu tinha para falar com você. Pode ir agora
— falei assim que ela começou a se aproximar de mim, abrindo um sorriso
lascivo.
— Quer mesmo que eu vá, senhor Caccini? — Sua voz saiu baixa e
modulada, de repente senti meu corpo ficar quente. Afrouxei a gravata.
— Sim.
— Não é o que parece — sussurrou a maldita. Ela passou a mão em
minha camisa, por baixo do paletó, enquanto me olhava com expressão
safada no rosto, senti meu pau endurecer no mesmo instante. — Dá para
notar que você está lutando contra o seu desejo, sei que me deseja em seus
braços. Me pergunto se você é forte o bastante para tal.
Ela sorriu novamente e eu ofeguei baixinho, quando se aproximou
ainda mais de mim. Ficando na ponta dos pés, Kiara trouxe a boca até o
meu pescoço, ficando bem perto da orelha. Cerrei os punhos, sentindo todo
o meu ar se esvair.
— Imagine só, Don, você podendo fazer qualquer coisa comigo. —
Fechei os olhos sentindo meu pau latejar, maldição. — Depois que eu me
entreguei a você, percebi o quanto bom é transar e não consigo parar de
desejar ser fodida por você. Acho que estou virando uma puta.
Inclinei o pescoço para tirá-la nos olhos. Ergui a mão e segurei o seu
queixo.

— Discordo, você não está virando e sim já é uma puta!


Ela piscou muito rápido e desenhou a linha dos lábios com a língua,
senti uma vontade quase incontrolável de beijá-la.
— E como você costuma tratar as putas, senhor Caccini?
Respirei fundo buscando autocontrole, estava prestes a cometer o erro
de beijá-la e acabar com a minha pose austera. Meu desejo por ela ainda
seria a minha ruína.
— Eu as fodo somente quando estou necessitado, o que não é o caso
no momento — falei, afastando-me dela, que resmungou algo
incompreensível e revirou os olhos, irritada.

— Está bem, Tommasso, só tome cuidado para o feitiço não virar


contra o feiticeiro. Passar muito mal!
Ela caminhou até a porta após me ameaçar.
— Feche a porta ao sair, amor.
— Vá para o inferno — retrucou e bateu fortemente a porta ao sair.
Kiara não estava acostumada a recusas, ela me queria aos seus pés,
mas dessa vez seria diferente.
Sentia meu sangue quente, fervilhando de raiva. Como ele ousava me
dispensar daquele modo. Como se não sentisse um pingo de atração por
mim. Que raiva. Ele só podia estar querendo me perturbar, quer me ver
rastejar por ele, mas isso nunca aconteceria! Queria ver até quando ele
conseguiria resistir.
Até que dividir o quarto não seria tão ruim assim… Possuía pijamas
ótimos que fariam Tommasso ficar de queixo caído.

Fui até a cozinha, minha frustração com Tommasso me deu fome.


Entrei na cozinha já em busca de algo gostoso para comer, de preferência
uma tigela de sorvete de morango e creme. Na geladeira quase tudo era
light. Droga!
— Precisa de algo, senhora Caccini? — Levei um susto ao ouvir a voz
de uma mulher, virei-me rapidamente para saber de quem era essa voz.
— Oi? Eu te conheço? — questionei, pois nunca a vi por aqui. Porém,
tinha um rosto que aparentava simpatia.
— Não, sou a nova cozinheira contratada — respondeu. — O senhor
Caccini falou que vou cozinhar especialmente para você e a senhorita
Giulia.
— Nossa, é muito bom conhecê-la, de verdade. Estava com medo de
meu marido desistir de contratá-la — falei suspirando em alívio. — Você
precisa urgentemente ir ao mercado fazer compras, porque aqui a maioria
das coisas são light e eu estou louca para comer um sorvete.
— Pode deixar, senhora, o seu marido já me entregou uma quantia em
dinheiro para fazer compras para a casa. Vou incluir sorvete na lista, pode
deixar.
Ela riu e piscou para mim, conspiratória.

— Certo, foi um prazer conhecê-la…


— Antonella.
— Foi um prazer conhecê-la, Antonella — corrigi. — Agora já que
não tem sorvete vou ir visitar a casa dos meus pais. Preciso ver a minha
irmã. Até mais tarde, meu bem!
— Até, senhora, qualquer coisa que precisar pode contar comigo.
— Pode deixar!

Pedi que o motorista me levasse até a casa dos meus pais escondida de
Tommasso. Precisava ver Leone, queria entregar os presentes que comprei
para ela e checar se estavam a tratando bem. Não demorou muito para
chegarmos à minha antiga residência.
Assim que o carro adentrou a garagem senti meu coração acelerar,
estava de volta à minha antiga casa onde passei tantas coisas. Minha cabeça
voltou ao passado, nas vezes que me sentia sozinha e só tinha as minhas
aranhas e Leone comigo. Tinha tanto medo de a minha irmã sofrer como eu
sofri. Era tão ruim ser mulher nesse mundo que vivemos, era ainda pior ser
mulher e fraca ao mesmo tempo, por isso eu sempre tentava me manter
forte e resistente.
Olhei para os soldados do meu pai e só conseguia pensar em
Francesco. O coitado devia estar me olhando lá do céu e me julgando uma
traidora. Se ele soubesse que me entreguei justo para Tommasso, com
certeza me repugnaria.
Assim que saí do carro, um dos soldados veio até mim.
— Seu pai deseja vê-la — avisou. — Siga-me.
Engoli em seco, claro que Riccardo sabia que estava aqui assim que
passei pelos portões. Inferno. Segui o soldado em direção ao interior da
casa e fui até o escritório do meu pai, sabia que ele estava lá, pois sempre
passava boa parte do dia trancafiado no cômodo. Abri a porta e ele estava
de pé, mas de costas para mim.
— A boa filha à casa torna — comentou, então se virou para mim,
recuei ao ver seu rosto e senti meu estômago se revirar. — Como vai,
querida filha?
— Incrivelmente bem — respondi. — Vim ver Leone, cadê ela?
— Ela está no quarto, entretanto, peço que espere um pouco, pois
antes de ir vê-la quero falar com você, filha.
Cruzei os braços e empinei o queixo.

— O que o senhor deseja falar comigo? — questionei, demonstrando


irritação.
— É sobre seu marido — disse. — Sabia que ele esteve aqui?
— Sim, ele me disse.
— Ele veio perguntar sobre Francesco — contou meu pai, rindo em
seguida friamente. — Deveria ter lhe contado a verdade, visto que ganhei
um soco após mentir por você.
— Você não contou, pois sabe que não é só a minha pele que está em
jogo — retruquei. — O senhor só se importa consigo mesmo, as pessoas
que se danem. Matou Francesco por pura diversão.
— Ele era um traidor.
— Ele fez tudo por amor a mim — rebati, furiosa.
— Amor? Acha que Francesco te amava? Como é ingênua, filha. Ele
só queria seduzi-la e levá-la embora para suprir a necessidade de subjugá-
la, pois você era a mulher que ele não podia ter. Muitos homens importantes
da máfia desejavam se casar com você, filha. Ele só queria brincar com
você, sua besta ingênua.

Balancei a cabeça sentindo minha garganta ficar seca e meus olhos se


encherem de lágrimas.
— Você não conheceu Francesco como eu conheci…
— Você que pensa — retrucou. — Não pensava que era tão ingênua
assim, Kiara.
— Vá se foder, seu espancador de merda! — berrei entredentes.
— Olha só a maneira que fala com o seu pai, menina. Posso te
expulsar daqui e não permitir que veja a sua irmã nunca mais na sua vida
miserável.
Recuei um passo, arregalando os olhos, ele não podia fazer isso.
— Não pode fazer isto… Tommasso não vai permitir.
Ele riu friamente.
— Tommasso não pode fazer nada, quem manda nesta casa sou eu. E
na sua irmã também.
— Você não pode me proibir de ver Leone, sabe o quanto ela é
importante para mim — falei, tentando ser cautelosa. Pela minha irmã faria
qualquer coisa, até mesmo aturar meu pai.
— Ótimo, então tenha respeito comigo e nunca mais ouse me desafiar,
caso contrário, Kiara, você se arrependerá amargamente.
Coloquei as mãos para o alto em sinal de redenção.
— Tudo bem, não o desafiarei de novo, Riccardo Moretti.
Senti minha boca amargar ao falar seu nome e sobrenome. O homem
de cabelo grisalho e marcas da idade na pele sorriu e assentiu.
— Agora pode ir ver sua irmã!
Aquiesci e saí o mais rápido que pude do escritório. Se ficasse falando
com ele por mais um tempo, com certeza, surtaria e falaria o que não devia.
Corri até o quarto de Leone. Encontrei-a no computador e com fone
de ouvido, jogando um jogo qualquer.
— Sorella! — chamei, feliz em vê-la, parecia que fazia uma
eternidade. Ela meneou a cabeça em minha direção assustada, mas quando
me viu sua expressão ficou aliviada. Ela tirou o fone, levantou-se e correu
até mim.
— Kiara… Nem acredito que está aqui, sorella.
Ela abraçou a minha cintura, e eu senti um alívio tão grande dentro do
peito.
— Prometi que nunca te abandonaria, lembra?
Ela assentiu, sorrindo.
— Sim, mas o papai disse que depois de casada você não viria me ver
mais, porque tem muito o que fazer agora que é a primeira-dama da máfia.
— Nosso pai não sabe o que diz, esqueceu-se de que não sou como
Aurora? — Arqueei a sobrancelha e ela riu. — Agora vem cá, preciso te
mostrar os presentes que comprei para você. Tenho certeza de que vai amar.
E quero que me conte tudo, todas as novidades.
— Tenho tanta coisa para te contar, sorella!

— Ótimo, pois estou com tempo livre e quero ouvir tudo com
detalhes.
Pisquei para ela, que pulou de alegria.
— Mas você não vai ver nossa mãe? Ela está cozinhando agora… Sei
que vai adorar revê-la — disse baixinho.
— Prefiro deixar a dona Ginevra no canto dela, irmã, só vim ver você
— admiti e ela assentiu.
Se eu pudesse não veria minha mãe e pai nunca mais na vida. Não iria
mentir e dizer que não sinto nada pela minha mãe, Ginevra, pois o cordão
umbilical mesmo que cortado nunca separava o amor de uma mãe e filha,
no entanto, acreditava que demoraria a perdoá-la. Porque a função de uma
mãe era proteger seus filhos, até os animais protegiam suas crias.
Entretanto, algumas mulheres não nasceram para ser mãe. Infelizmente.

À noite, já em casa, aproveitei para tomar banho e me preparei para


dormir. Vesti um pijama, que era um conjunto de short e blusa, o tecido era
de veludo na cor branca. Penteei o cabelo, alinhando bem os fios, deixando-
os soltos. Deixei meu rosto natural mesmo. Minha pele era clara e tinha
algumas pintas espalhadas pelo corpo. Não podia dizer que tinha uma pele
perfeita, ainda tinha algumas acnes e cravos, mas graças ao meu cuidado
diário com sabonete próprio para pele facial e vitaminas que ajudavam no
crescimento do cabelo e na beleza da cútis, sentia minha pele melhor a cada
dia.

Saí do banheiro relaxada e dei de cara com Tommasso. Não tinha


ouvido barulho dele no quarto. Nem pensei que voltaria para casa cedo.
Travei quando seu olhar se encontrou e ele me mediu de cima a baixo. O
mafioso pareceu engolir em seco.
— Delizioso — resmungou rouco, e eu me senti empertigar, um calor
se espalhou entre as minhas coxas. — Belo pijama, esposa.
Ele levou a mão até a barba e a coçou, parecendo afetado.
— Obrigada, esposo — agradeci, abrindo um sorriso modesto.
Levantei os braços e me alonguei. — Nossa estou morrendo de sono, vou
dormir — comentei, antes de passar por ele, fazendo questão de deixar as
minhas costas eretas e o quadril empinado, mesmo sem conseguir ver, sabia
que olhava para a minha bunda. Italiano safado!
Deitei-me na cama de bruços e com as pernas bem separadas, sabendo
que metade da minha bunda estava à mostra. Sorri ao ouvir um ruído deixar
a garganta de Tommasso. O jogo estava apenas começando. A vingança era
um prato que se comia frio e a noite estava apenas começando.
Kiara estava tentando me deixar cheio de tesão de uma maneira
descarada e o pior, ela conseguiu. Eu estava imaginando que iria entrar no
quarto e tomar meu banho, depois deitar na cama e tentar dormir, mesmo
com ela cheirosa e gostosa ao meu lado. Caralho, isso seria mais difícil do
que eu pensava. A filha da puta só jogava para ganhar. Escolheu logo um
pijama que deveria ser proibido, pois era a própria tentação. O pijama
branco ficou incrivelmente sexy na minha esposa. Destacou a sua pele e
deixou o decote à mostra, assim como a metade da bunda. Para piorar ao se
deitar de bruços, consegui ver a marcação da sua boceta na peça minúscula.
Meu pau se agitou no mesmo instante e latejou de desejo.
Precisava urgentemente de um banho frio, portanto, corri para o
banheiro, tirei a roupa e entrei debaixo da água. Mas quem disse que banho
frio resolveria? Pois não resolveu!
Meu pau só ficava cada vez mais rijo ao me lembrar da bunda
deliciosa e empinada da maldita. Ela merecia uns belos tapas naquele rabo
delicioso. Não conseguia parar de pensar em Kiara, parecia que a mulher
me colocou um feitiço.
Maldita feiticeira.
Saí do banho, peguei a toalha e enxuguei meu corpo. Depois segui em
direção ao quarto, larguei a toalha e andei nu até o closet. Peguei uma calça
e a vesti, sem cueca por baixo. Fui até a cama, amaldiçoando a Deus por
Kiara ser tão gostosa.
Deitei-me ao seu lado, com o corpo virado para frente. Não conseguia
parar de olhar para a sua bunda, o short parecia ter subido ainda mais.
Percebendo que eu não tirava os olhos dela, a cadela empinou mais ainda a
bunda para cima e separou mais as pernas. Cacete.
— Desse jeito fica difícil, Kiara — resmunguei, minha voz saiu rouca
e não conseguia disfarçar o tesão. — Está querendo me provocar?
— Estou querendo dormir, baby. — Sua voz saiu tão baixa e
modulada, meu pau pulsou ao imaginá-la gemendo.
— Não é o que parece — reclamei. Ela virou a cabeça em minha
direção usando o braço como apoio, seu olhar só fazia meu tesão aumentar.
Malditos olhos azuis. — Assim é a sua maneira de querer fazer as pazes?
Apelando para o desejo?
— Hã? Não sei do que está falando, marido! — Ela se fez de cínica.
— Estou falando disso. — Desci a mão pelas suas costas até alcançar
a bunda, ela sorriu maliciosa.

— Só estou dormindo de bruços, não pode?


Sorri com firmeza.
— Pode, mas dessa forma somente um de nós conseguirá dormir —
falei e apontei para o meu pau, que estava com a ereção à mostra graças a
calça de seda. — Pois irei ficar bem acordado.
— Que pena que não posso fazer nada por você, senhor Caccini —
respondeu, sarcástica.
— Claro que pode. — Toquei meu pau com a mão livre, agarrando-o.
— E você sabe bem o quê.
— Não posso. Lembra-se de que me dispensou mais cedo?
— Está fazendo isso por vingança, Kiara?
Sorri completamente desejoso.
— Talvez.
— E se eu quiser fazer as pazes? — perguntei, não conseguindo mais
resistir a ela. Passei a mão pela sua bunda e coxa sentindo a pele macia ficar
arrepiada.
— Vai ficar querendo — retrucou, petulante. — Agora sou eu quem
não quero.
— Pare com isso, pequena — sussurrei, desejoso, aproximando-me
dela, nossos rostos ficaram próximos e tirei uma mecha da sua franja, em
seguida a coloquei atrás da orelha. — Eu estava bravo com você e com o
que aconteceu… perdoe-me.

— Vai precisar ser mais convincente se quiser que eu o perdoe.


— É mesmo? — Abri um sorriso devasso e mordi o lábio inferior. —
O que quer que faça para te convencer?
— Não sei, use a sua criatividade. — Piscou para mim e passou a
língua pela boca rosada.
Posicionei-me sobre ela, que ainda estava de costas, esfreguei meu
pau em sua bunda enquanto afastava os fios de cabelo de suas costas,
deixando sua nuca livre.
— Vou começar te relaxando, querida esposa. Acho que está
precisando de uma massagem.

Ela gemeu baixinho. Passei a mão por dentro da sua blusa, subindo-a,
deixando as costas nuas e comecei a massagem. Sentia sua pele se
arrepiando a cada toque, as costas de Kiara eram muito sensíveis.
Massageei os ombros e ela pareceu cada vez mais relaxada. Seus suspiros
eram a comprovação disso.
— Isto está muito bom — murmurou.
— Está, mas agora ficará ainda melhor.

Inclinei-me e comecei a passar os lábios pela sua pele desnuda,


enquanto a ouvia gemer e suspirar. Passei os lábios na nuca, ela estremeceu
se arrepiando violentamente.
— Assim não… Tenho muito arrepio na nuca — resmungou.
— Shhhh, eu que comando!
Segurei um punhado de cabelo dela e beijei a nuca, distribuindo beijos
até o pescoço. Kiara se excitava cada vez mais. Ela não sabia, mas tinha
muita gente que sentia tesão em arrepios e com ela não era diferente. Usei a
mão livre para passar dentro do seu short e tocar sua bunda. Passei as unhas
pela pele branca, arranhando, desejando marcá-la de algum modo.
— Ah, que delícia, Tommasso…

— Preciso te foder, Kiara, não consigo mais esperar.


Estava com tanto tesão que não conseguia mais me segurar.
— Me fode, agora!
Ela abriu as pernas. Afastei seu short para o lado notando que estava
usando apenas ele. Rosnei feroz, sentindo cada célula do meu corpo se
aguçar. Toquei sua boceta, sentindo sua lubrificação molhar meus dedos.
— Está encharcada, sua putinha — sussurrei o xingamento devasso no
seu ouvido e ela gemeu.

Desci rapidamente o meu pijama e pincelei a sua boceta com meu pau,
esfregando-me nela. Vi seus olhos se revirando de prazer, enquanto meu
pau estava em sua vulva, introduzi somente a cabeça a fim de lhe dar um
gostinho do que estava por vir. Ela mordeu o lábio e gemeu manhosa, Kiara
parecia uma gata no cio, estava sempre pronta e disposta a me receber, com
uma bocetinha molhada e quente. Seu jeito me excitava muito. O fato de ela
ter se casado comigo pura e virgem, mas ter se viciado no sexo após
experimentá-lo só provava o quanto éramos parecidos e combinávamos.
Passei o dedo pelos seus lábios antes de ordenar:
— Chupe-os!

Ela ofegou, seu peito subia e descia, conforme a respiração


descompassava. Ela me olhou com as íris azuladas perfeitas, parecendo
faiscar de desejo, então chupou meus dois dedos passando a língua ao redor,
o que enviou uma onda de prazer ao meu pau.
— Eu quero você dentro de mim — suplicou. — Preciso de você,
Tommasso.
Sorridente, coloquei somente a cabeça mais uma vez em sua
intimidade, brincando com sua boceta, deixando-me ainda mais com o
desejo aflorado.
— Gosta assim? — Arqueei a sobrancelha e ela suspirou rangendo os
dentes. Kiara estava cansada do meu jogo, por isso segurou o meu quadril e
o puxou, fazendo com que entrasse nela por completo. A puta gemeu
loucamente, à medida que me sentia completo dentro da sua boceta gostosa.
— Gosto assim! — retrucou, petulante, em meio aos gemidos. Segurei
seu queixo e não deixei de observar nenhum momento o seu rosto. — Me
fode, Tommasso! Rápido!

— Seu pedido é uma ordem, meu amor.


Segurei as suas coxas e aumentei o ritmo das estocadas, enquanto
sentia meu corpo começar a suar e o tesão ficar cada vez mais desenfreado.
Cansado de meter naquela posição, coloquei Kiara de quatro. Não tinha
visão melhor do que ver sua bunda linda empinada em minha direção,
graças as pernas abertas podia ver sua boceta e seu orifício anal ansiosos
por mim. Segurei seu quadril, sentindo-a um pouco tensa. Toquei suas
costas arranhando com as unhas, descendo até sua bunda, onde depositei
um tapa forte que a fez gritar.
— Tente ficar relaxada, meu anjo.
Um ruído deixou sua garganta, quando me inclinei e comecei a chupá-
la naquela posição. Lambi tudo que estava ao meu alcance, sem fazer
distinção. Estava com tanto tesão que sentia meu pau molhar cada vez mais.
Passei o dedo pelo cuzinho de Kiara, enquanto observava suas reações.
Inseri somente a ponta do dedo, fazendo com que ela gemesse de dor.

— Aí não, Tommasso… Este lugar é proibido!


— Por quê? — questionei achando graça.
— Porque dói muito!
— Com a dor vem o prazer, esposa, achei que já havia aprendido isso
— retruquei e continuei chupando-a, ela estremecia cada vez mais.
— Tem certeza de que a dor passa? — perguntou, receosa, ela estava
muito molhada e completamente entregue. Não seria difícil fazê-la aceitar
algo novo, tipo o sexo anal.

— Não posso dizer com certeza, terá que tentar para saber!
Ela suspirou e meneou a cabeça em minha direção. Os lábios estavam
inchados e as bochechas vermelhas.
— Vamos tentar — decretou. — Não tem coisa que eu ache pior do
que ficar na curiosidade.
Sorri malicioso
— Antes, quero que goze na minha boca — ordenei. — Quero
encharcar ainda mais essa boceta gostosa.

Ela gemeu baixinho ofegante, à medida que chupava sua boceta,


lambendo com fome e volúpia. Desferi vários tapas enquanto a devorava.
Kiara não demorou muito para derramar seu prazer em minha boca,
deixando-me completamente satisfeito. Depois disso me levantei da cama e
fui em busca do lubrificante que estava guardado.
— O que está procurando? — perguntou ela.
— Já vai saber.

Achei-os em uma gaveta, dentro dela também tinha outros brinquedos


que poderíamos usar durante o sexo. Peguei a camisinha, tinha também uma
algema, mas ao invés dela preferi usar uma das minhas gravatas. Voltei para
cama e segurei os braços de Kiara atrás das costas.
— O que está fazendo? Vai me amarrar?
— Sim. Hoje você estará à minha mercê. Irei fazer tudo o que eu
desejar com você.
Ela me olhou um pouco receosa. Terminei de prender os seus braços e
falei:
— Você tem sido uma garota teimosa e desobediente, Kiara. Merece
um castigo.

Ela me olhou agora com um sorrisinho perverso no rosto.


— E como pretende me castigar? — perguntou como a garota levada
que era.
— Assim. — Desferi um tapa no seu lado esquerdo da bunda, ela
gritou ao recebê-lo. — E assim.
Posicionei-me atrás dela e segurei meu pau, abri o preservativo e
deslizei o látex pela extensão dele, que estava mais duro que uma pedra.
Passei o lubrificante no seu ânus e a vi recuar com medo.
— Vai doer, mas fique à vontade para gritar, pois ninguém pode nos
escutar lá fora.
Dito isso, posicionei a cabeça do meu pau em seu ânus, enquanto
segurava seu quadril para ela não se mexer. Seus braços estavam presos nas
costas. Senti todo meu corpo oscilar de prazer. Era tão apertado… Porra.
— Está doendo muito? — perguntei com um misto de preocupação.
— Sim… — Estava pronto para parar, mas ela acrescentou: — Mas
pode continuar!

Rosnei, gemendo de prazer. Entrei mais fundo nela, enquanto ouvia


seus gemidos de dor. Era a sensação mais gostosa e viciante do mundo.
— Me dá vontade de nunca mais sair de dentro de você, Kiara —
disse, ela suspirou e me olhou com seus olhos cheios de lágrimas não
derramadas.
— Então não saia — murmurou.
Balancei a cabeça sentindo meu rosto se contorcer de desejo. Eu
amava aquela mulher com todas as minhas forças, caralho. Aumentei o
ritmo da penetração enquanto tocava sua boceta e a masturbava. Kiara
começou a gemer e suas pernas ficaram trêmulas, ela estava prestes a gozar
com o meu pau dentro do seu cuzinho. Caralho!
— Ah, Tommasso… eu te amo.
Freei buscaremos os movimentos, sentindo meu coração disparar no
mesmo instante. Foi muito baixo, quase inaudível, mas eu ouvi.
— O que disse?
— Hum? — ela se fingiu de desentendida.
— Você falou que me ama, Kiara?
Seu rosto ficou vermelho como um pimentão, mas ela assentiu.

— Acho que estou começando a te amar, Tommasso. E este será o


meu maior erro, amar um monstro.
— Acha mesmo que sou um monstro? — perguntou Tommasso
enquanto estabelecia uma distância entre nós, deitei-me na cama e ele veio
para cima de mim, tocou o meu rosto, seu olhar escuro estava intenso e
firme. Assenti em resposta. — Pois saiba que posso ser um monstro, até
mesmo um diabo na terra, como você já deve ter pensado ou se referido a
mim, mas até um monstro é capaz de amar, intensa e eternamente, pois você
me mudou, garota, fez o impossível acontecer. E sei que tenho que
amadurecer bem mais e mudar muito para chegar a um dia te merecer, mas
lutarei para ser um homem que você terá orgulho de chamar de amor e
marido. Te juro.
Fiquei completamente sem palavras, derramei lágrimas e beijei
calmamente seus lábios.
— Nossa história se inicia aqui, Tommasso. Vamos esquecer tudo que
passou. Também tentarei ser melhor para você. Eu quero muito poder
superar tudo que já passou um dia e me orgulhar de dizer que sou sua e
você é meu.
Ele acariciou meu rosto com ternura e carinho.
— Eu te amo, Kiara. Você me surpreende a cada dia. Não consigo
resistir a você, pequena. Já enfrentei diversos inimigos na vida e nunca
abaixei a guarda, mas para você eu me ajoelho se for preciso. Por você eu
mato e morro, menina!
Ele me beijou tão ferozmente depois de ter falado que fiquei até
zonza. Estava completamente apaixonada por ele e não tinha escapatória,
não podia negar meus sentimentos mais.

2 meses depois

— Podíamos ir à praia depois daqui — falou Giulia.


— Verdade, vamos! — disse Leone batendo palmas, animada.
— Não, meninas, vamos deixar para próxima, hoje é dia de compras e
amanhã de praia. Não estou passando muito bem hoje, preciso descansar —
respondi.
— Por quê? O que você tem? — perguntou Giulia, preocupada.
— Sei lá, estou me sentindo enjoada — justifiquei. — Até acho
melhor já irmos.

— Tudo bem, mas antes gostaria que passasse em casa para ver o
papà — lembrou minha irmã. — Ele está tão mal, Kiara, a gripe dele não
passa de jeito nenhum, os médicos disseram que está com uma pneumonia
resistente e na idade dele é arriscado…
Contorci o rosto. Queria dizer que vaso ruim não quebrava fácil, mas
não queria traumatizar minha irmã. Ela não tinha culpa do ódio que sentia
pelo nosso pai.
— Desculpe, Leone, mas não vou passar lá, não quero ver o nosso pai.
— Por favor, Kiara, ele não para de chamar seu nome…

— Já disse que não — falei. — Agora vamos para casa.

Assim que entrei em casa, recebi uma mensagem de Tommasso me


mandando ir à empresa, pois tinha um assunto urgente para tratar comigo.
Deixei as compras e as meninas em casa e segui até lá. Assim que cheguei,
fui recebida e encaminhada até a sala do meu marido.
— Oi, o que houve? — perguntei assim que entrei em sua sala.
Estavam lá Tommasso, Lorenzo, Nicolo e Andrea. Ou seja, vários mafiosos
lindos. Entretanto, para mim o meu Tommasso era o mais lindo de todos.
— Te chamei aqui, esposa, porque havia prometido que a informaria
tudo sobre a guerra contra os Biachi. Tem algumas novidades que precisa
saber.
Franzi o cenho, olhando o meu marido.
— Conte-me, estou curiosa.

Cruzei os braços, em seguida foi a vez de Nicolo falar após limpar a


garganta.
— Estamos com uma nova prisioneira da família Biachi — contou
Nicolo, olhando-me com aquele olhar rancoroso, ele me detestava por ter
livrado o filho de Giuseppe Biachi de suas garras. — A irmã dele, Sienna.
Finalmente conseguimos capturá-la.
Fiquei sem reação, respirei fundo buscando o que dizer.
— E o que pretendem falar com ela?
— Torturá-la até que conte tudo sobre o irmão. A guerra está prestes a
acabar, já podemos comemorar.
Nicolo sorriu como um maldito psicopata.

— Eu não sei se essa ideia é a mais adequada — argumentei com pena


da mulher. Ela não tinha culpa de ser irmã de quem era.
— É claro que não iria concordar, isso que dá ter que informar sobre
os nossos passos para uma mulher bondosa. Pelo amor de Deus, Tommasso.
Que merda está fazendo de sua vida — grunhiu Nicolo.
— Deixem-me a sós com Kiara — ordenou Tommasso em um
estrondo.
— Sua mulher parece uma sirena[2], você faz tudo que ela quer. Isso é
patético… Um homem não pode se deixar ser comandado por uma mulher!
— Vamos ver se vai dizer isto quando finalmente se apaixonar de
verdade por uma — retruquei com raiva.

— Vocês três ouviram o meu marido, saiam agora mesmo! — ordenei


entredentes.
— Uma coisa temos que admitir, rapazes, a nossa primeira-dama tem
voz de comando — falou Lorenzo com ar zombeteiro.
Assim que Tommasso e eu ficamos a sós, caminhei até ele como uma
predadora, observando-o acender um cigarro. Sentei-me em seu colo e ele
entrelaçou a mão livre na minha cintura.
— Acha mesmo que é uma ideia ruim? Precisamos acabar com a
guerra e confio em Nicolo, ele não machucará muito a menina Biachi! —
disse, olhando-me paciente.
— Olha, eu já me intrometi muito nesse assunto. A verdade é que
estou com pena da garota, não quero que a machuquem, mas se precisam
fazer para acabar com a guerra, tudo bem, mas não me informe nada. Não
quero nem imaginar a pobre moça sofrendo — falei, soltando um suspiro.
— Obrigado por compreender, precisamos dar um fim nisso logo.
— Sim, também acho, ainda mais agora.

Que estava grávida… Queria falar, mas me calei.


— Por que ainda mais agora? — questionou Tommasso, preocupado.
— Porque estamos tão bem, detesto ter que sair de casa com medo e
também ter medo de algo te acontecer… Entende?
— Nada vai me acontecer, te garanto, meu amor — assegurou antes
de dar uma tragada no cigarro, ergui a mão e tomei o cigarro dele. — Kiara,
me devolva!
— Não. Você me disse que tentaria parar de fumar, sabe que faz mal à
saúde.

— Estou tentando, mas é difícil, mulher. — Ele suspirou, cansado,


então se lembrou. — Em falar em saúde ruim, sabe que seu pai está à beira
da morte, não é?
— Não exagera.
— Não estou exagerando — garantiu de pronto. — Conversei com o
médico que está cuidando dele, ele disse que o estado do seu pai é muito
grave e que os remédios não estão dando resultado.
— Leone disse a mesma coisa — sussurrei, sentindo um nó na
garganta. — Acha que deveria ir vê-lo?
— Acho, nem que seja para se despedir — aconselhou Tommasso.

Toda minha vida pensei que nada derrubaria meu pai, quando poderia
imaginar que uma pneumonia destruiria um homem tão forte como ele…
Cheguei em casa depois de conversar com meu marido, estava tão
enjoada que só queria vomitar e tentar dormir. A gravidez estava me
deixando exausta. Eu tinha descoberto há pouco tempo. Depois de tanto
vomitar, resolvi fazer o teste e deu positivo. Fiquei tão surpresa ao
descobrir, mas também me senti amedrontada, seria mãe de um filho de
Tommasso. Demorei muito a assimilar tudo, naquele momento só precisava
achar uma maneira de contar a ele, porém, tinha medo da sua reação.
Alimentei minhas aranhas, em seguida vomitei, escovei os dentes e
lavei o rosto. Saí do quarto, pois me deu fome e segui até a cozinha
procurar algo para comer. Mas acabei trombando com um homem assim
que saí do quarto, por isso acabei indo parar no chão. Droga. Que
desastrada eu era, senti um cheiro familiar e não era de Tommasso…
Parecia o do…
Ergui o olhar no mesmo instante, meus batimentos descompassaram
ao dar de cara com Francesco.
— Meu Deus! — gritei, levantando-me e correndo de volta para o
quarto. Fechei a porta, sentindo-me trêmula, como se tivesse acabado de ver
uma assombração.
— Kiara, abra. — Era a voz de Francesco. Ele estava aqui mesmo?
Vivo? Ou era mais um sonho? — Preciso falar com você.

Abri a porta com a mão trêmula e novamente vi seu rosto. Ele tinha
mudado o corte do cabelo e ostentava uma enorme cicatriz em seu rosto.
— Como… você… está… aqui. — Minha voz saiu estranha e
trêmula. Estava mais nervosa que nunca, ele parecia uma miragem, uma
assombração.
— É uma longa história, mas o que precisa saber é que estou vivo e
morrendo de saudades, meu amor. — Ele tentou me tocar, mas me afastei
rapidamente. Francesco me olhou magoado. — O que houve? Não está feliz
em me rever, Kiara?
— Estou muito feliz em saber que está vivo. Me sentia culpada por
sua morte, Francesco. No entanto, tudo mudou, então, por favor, não me
toque.
— Achei que tivesse sentido minha falta como senti a sua, meu amor.
Pensei que correria para os meus braços quando me visse…

Mordi o lábio inferior não sabendo o que responder. Como podia dizer
que não queria que me chamasse de amor e que meu coração pertencia a
outro?
— Você sabe que estou casada agora? — questionei, cautelosa. Sua
expressão mudou para raiva.
— Sim, eu soube, e senti vontade de te buscar e levá-la comigo para
longe do maldito Tommasso. Nem acredito que seu pai a obrigou a se casar
com esse maldito. Sei o quanto o odeia, deve estar sendo um tormento viver
sob o mesmo teto que ele.
— Na verdade… — tentei contar a verdade, mas ele me interrompeu.
— Shhhh, Kiara, não precisa falar mais nada, sei que você não seria
capaz de se entregar a um homem como Tommasso. Preciso te contar tanta
coisa, fui contratado para ser um dos seus soldados, ou seja, estarei por
perto sempre e vou dar um jeito de te resgatar das garras daquele maldito,
fique tranquila.

Engoli em seco, meu Deus, como iria contar tudo para Francesco.
— Como conseguiu escapar do meu pai? Me conte!
— É uma longa história, vou começar do início — começou. — Seu
pai queria me matar, mas seu desejo era me torturar antes, então ele me
trancou em um cativeiro e me torturou, como pode ver. — Apontou para
cicatriz no rosto. — Mas ele esqueceu do fato de que era soldado há muitos
anos e fiz muitos amigos, foi aí que consegui escapar com a ajuda dos meus
parceiros soldados. Me refugiei em outro país por um tempo, esperando
tudo ser esquecido para voltar. As últimas notícias que tive foi que havia se
casado com o chefe da máfia. Fiquei puto de raiva, Kiara, pois não pude
fazer nada para te salvar.
— E agora você voltou por quê? — questionei.
— Para te levar comigo. — Ele se aproximou e segurou a minha mão.
— Vamos comigo embora daqui. Tommasso não poderá nos alcançar, eu
prometo!

Senti minha garganta ficar seca.


— Não posso, Francesco. — Larguei a sua mão. — Agora tudo é
diferente, o tempo passou para mim, eu mudei, na verdade, tudo mudou.
— O que quer dizer com isto? — Ele enrugou a testa.
— Quero dizer que estou grávida de Tommasso, o meu marido, e que
não pretendo deixá-lo. Minha vida está aqui, nesta casa, ao lado dele, de
Giulia e do meu filho. Sinto muito.
Toquei a minha barriga e o olhar que Francesco destinou a mim estava
como nunca vi antes, repleto de ódio.
— Ele te engravidou? — murmurou com nojo.
— Sim.
Francesco esmurrou a parede, deixando-me assustada, então respirou
fundo e me olhou, seus olhos estavam avermelhados.
— Eu vou matá-lo por te estuprar, eu vou…
— Ele não me estuprou — berrei, furiosa. — Eu permiti que fizesse…
Eu queria.
Francesco me olhou, chocado.
— Não, está mentindo, você não permitiria isto. Nunca!

— Você não me conhece bem, Francesco. Eu quis sim transar com


Tommasso — admiti deixando as lágrimas deixarem meus olhos. — Eu me
apaixonei por ele…
— Não! — esbravejou, tampando os ouvidos. — Não posso ouvir
isso, você só pode ter enlouquecido, Kiara.
— Sinto muito, Francesco, mas essa é a verdade. Eu amo Tommasso
como nunca amei nenhum homem e estou feliz por estar esperando um
filho dele. Quero que você vá embora, siga sua vida, pois não quero ser
culpada por mais uma desgraça na sua vida. Por favor, me deixe em paz
aqui.
Ele me olhava como se eu tivesse acabado de falar algo incoerente ou
impossível.
— Eu voltei para te buscar, Kiara, e não sairei daqui sem você, nem
que para isso eu tenha que matar seu marido…
Fui para cima dele e bati em seu peito como uma leoa brava
defendendo o homem que amava.
— Nunca ouse encostar um dedo em Tommasso, caso contrário serei
eu a te matar.
Ele me olhou surpreso, então riu friamente.
— Está mesmo gostando daquele maldito, Kiara? Não posso acreditar
que pensei que você não era do tipo que sucumbia ao poder e dinheiro…
— Eu não ligo para poder e dinheiro, eu somente me importo com o
amor. Já disse que me apaixonei, Francesco!

— Desgraçada — murmurou ele e então ouvimos passos na escada.


Francesco logo saiu da porta do quarto e se posicionou no corredor, ao
mesmo tempo em que entrei no quarto e fechei a porta. Enxuguei as
lágrimas rapidamente, segundos depois a porta se abriu. Tommasso entrou
por ela, virei-me para olhá-lo.
— Oi, meu anjo, resolvi vir mais cedo do trabalho — disse ele, alegre,
vindo em minha direção a fim de me beijar.
— Oi, amor.
Olhei a porta entreaberta, sabendo que Francesco escutava tudo o que
estávamos falando.
— Está tudo bem, Kiara? Perece estranha. — Tommasso acariciou
meu rosto.
— Impressão sua…
— Que bom. Estou louco por um banho, vem tomar comigo.
Aproveitamos e damos uma rapidinha antes do jantar — disse com a voz
safada que tanto adorava. Depois mordeu a ponta da minha orelha. Olhei
para a porta e percebi que Francesco estava nos espiando. Se Tommasso se
virasse e o visse, seria morte na certa.

— Sim, vou adorar — sussurrei, Tommasso agarrou a minha cintura


antes de me beijar intensamente. Grudei os braços no seu pescoço e me
entreguei ao beijo, queria que Francesco visse e, enfim, desencanasse de
mim e fosse embora.
Tommasso me pegou nos braços e me levou para cama ao invés do
banheiro.
— Preciso de você agora, depois finalizamos no banho — grunhiu
entre os beijos. Ele já foi tirando sua roupa e depois a minha. Engoli em
seco, olhando toda a hora para a porta aberta.
— Não é melhor fechar a porta, amor? — perguntei.
— Não é necessário, Giulia foi ao mercado com a cozinheira. Estamos
sozinhos.

— Não totalmente sozinhos. — Apontei em direção ao soldado.


Tommasso sorriu como se não fosse importante.
— Meus soldados são discretos e não ficam prestando atenção no que
estamos fazendo aqui dentro, não são pagos para isso.
Dito isso, Tommasso voltou a me beijar. Eu deixei rolar tudo, mesmo
apreensiva, não podia deixar que percebesse nada, até porque nunca me
importei em transar com a porta aberta ou fechada. Ele desconfiaria se eu
falasse mais uma vez sobre isso.
De madrugada ainda estava acordada, enquanto Tommasso dormia um
sono pesado. Não conseguia pregar o olho pensando em Francesco. Estava
morrendo de medo de ele fazer algo com Tommasso. E pior foi que torci
para ele estar vivo. Pensando com calma, era melhor que tivesse ficado
longe, pois seu retorno só me trouxe preocupação.
Peguei minha navalha que havia deixado escondida durante todo esse
tempo, coloquei escondida no meu sutiã, levantei-me da cama e fui até o
corredor ver se ele estava lá, mas não o encontrei.
— Me procurando, Kiara? — Pulei de susto ao ouvir sua voz atrás de
mim. Meu coração disparou. Quase gritei, tive que cobrir a boca para não
fazê-lo. — Não está conseguindo dormir, não é?
— Francesco, vim te pedir mais uma vez para ir embora. É perigoso
você estar aqui, se Tommasso descobrir…
— Dane-se o Tommasso. Está preocupada com o seu marido —
resmungou, aproximando-se de mim, mas recuei. — Saiba que cheguei a
vomitar ao vê-lo te comendo e pior, você gostando como uma maldita
putinha. Engraçado é que quando ficava comigo, fazia jogo duro e com
ele…

Ele riu friamente.


— Ele é meu marido, é normal transarmos… tente entender,
Francesco!
Encostei-me na parede e ele me encurralou.
— Você me trocou por aquele monstro, Kiara, nunca vou perdoá-la. E
nem por isto. — Tocou a minha barriga indicando meu bebê, senti meu
sangue ferver. — Se quer que eu vá embora eu vou, amanhã já terei sumido,
mas somente se me der algo que desejo há muito tempo.
Mesmo com medo, perguntei:
— O que você quer?
— Um beijo seu — disse, fazendo-me arregalar os olhos. — E te
foder, Kiara. Não posso morrer sem antes provar o sabor da sua boceta.

Meu estômago se revirou, senti vontade de vomitar. Empurrei seu


peito, mas ele sequer se moveu.
— Eu não sou uma traidora, a máfia não admite isto! Você
enlouqueceu.
— Eu não me importo com os mandamentos da máfia. Eu quero você
— cuspiu as palavras antes de me pegar a força, tentando me beijar, apertei
os lábios um no outro sentindo vontade de gritar, mas não podia. E o pior
aconteceu, a voz de Tommasso interrompeu-nos, tão alta como um trovão.
— Tire suas mãos sujas da minha mulher agora mesmo, seu verme —
ele mandou, nós dois o olhamos. Meu corpo tremeu ao ver Tommasso com
a arma apontada diretamente para Francesco, que recuou saindo de perto de
mim. — Um passo em falso e eu te mato, maldito!
— Tommasso, não faça nenhuma besteira, por favor, amor! —
implorei com um tom de voz alto.

— Quem é você? — exigiu saber Tommasso, ignorando-me,


dirigindo-se a Francesco.
— Francesco — falou, o olhar de Tommasso recaiu sobre mim tão frio
quanto gelo, senti meu corpo estremecer.
— Eu posso explicar, meu amor — disse, desesperada.
— Não me chame de amor, sua traidora. Eu vou matar o seu amante e
depois darei o mesmo destino a você.
Estava tão apavorada que nem vi quando Francesco também sacou
uma arma e apontou para Tommasso.
— Quem vai morrer é você, seu Don de merda. Vai pagar por ter
tomado de mim a mulher que amo!
Francesco se preparou para atirar e eu sem pensar duas vezes, sentindo
a adrenalina e o medo de perder Tommasso adentrando minhas veias, tirei a
navalha de dentro do sutiã e a enfiei no pescoço de Francesco, que me
olhou surpreso. O homem que um dia pensei que amava caiu de joelhos no
chão, o barulho da arma caindo sobre o piso estrondou, ele começou a soltar
sangue pela boca, enquanto me olhava e tentava falar algo. Parecia um
filme de terror.
— Me perdoa — sussurrei, olhando em seus olhos, então ele caiu
deitado no chão e morreu. Comecei a chorar convulsivamente. Ajoelhei no
chão do lado de Francesco e toquei seu corpo morto. — Me perdoa, meu
Deus. Me perdoa! — gritei sem parar. — Sou uma assassina, sou uma
assassina. — Minhas mãos e corpo tremiam sem parar, minha voz quase
não saía. Sentei-me no chão e cobri o rosto.

— Levante-se, Kiara! — ordenou Tommasso, mas não conseguia me


mexer. Então, ele veio em minha direção e pegou nos meus braços,
levantando-me com brusquidão, sem nenhuma gentileza. — Mandei
levantar!
— Me deixe! — gritei. — Pare com isto!
Tentei me afastar dele, mas fui impedida e tudo piorou quando
apontou a arma para mim.
— Quieta. Você vai me contar tudo que escondeu de mim, traidora,
caso contrário morrerá aqui mesmo.
Nunca tinha visto o olhar de Tommasso assim, repleto de mágoa,
misturado com fúria e desonra.

— Quer me matar, Tommasso? — perguntei em prantos. — Então


mate! Eu mereço, sou uma traidora, não é?
— Cale a boca, Kiara. — Seu rosto se contorceu com ódio e ele
segurou o gatilho. Ergui a mão e toquei a sua que segurava a arma,
descendo-a, para que ficasse apontada para minha barriga.
— Atire, Tommasso, assim matará dois Caccini de uma só vez.
Seu rosto ficou branco como papel ao ouvir a minha confissão.
— Atire, Tommasso, assim matará dois Caccini de uma só vez.

Kiara estava grávida?


Sua resposta me deixou em choque, completamente atônito. Deixei a
arma cair no chão no mesmo instante, sendo que segundos antes queria
matá-la. Não tinha certeza se teria coragem mesmo para isso. Para matar a
mulher que amava, mas vi tudo vermelho em minha frente ao vê-la sendo
agarrada por outro homem e pior, saber que mentiu para mim. Que ele era o
Francesco, seu amante.
Ela me traiu, traiu os mandamentos da máfia. No entanto, estava
esperando um filho meu, e não mataria o bebê. O meu herdeiro.
— Você está grávida? — perguntei, ela assentiu, limpando as lágrimas
com a mão.
— Sim.
— Desde quando sabia da gravidez e não me contou? — questionei,
furioso.
— Faz alguns dias, estava esperando o momento certo para te contar.
— Ele é meu filho? — Olhei para a barriga ao perguntar, estava
descontrolado.
— Você não está me perguntando isto, está? — ela cuspiu com ódio,
parecendo uma fera brava.
— Como posso saber? Mentiu sobre tanta coisa, isso também pode ser
uma mentira.
— Seu infeliz! Eu menti sobre Francesco, pois sabia como reagiria.
Não sou uma traidora, eu acabei de salvar a sua vida! — vociferou
entredentes.
— Eu quero saber toda a verdade, Kiara, toda. Se tem uma coisa que
não suporto é traição, e se eu descobrir que mentiu uma segunda vez para
mim, nosso relacionamento acabará para sempre!
Ela arregalou os olhos e colocou a mão no peito.
— Acabará não, já acabou! — decretou, deixando-me sem reação. —
Sabe quem Francesco era? Um ex-soldado do meu pai que conheci há
muitos anos. Ele gostava de mim e tentava me conquistar, eu acabei o
beijando algumas vezes sim, planejávamos ficar juntos e até fugir. No
entanto, não deu certo, meu pai nos descobriu e me obrigou a casar com
você, cheguei a pensar que meu pai o tinha matado, mas ele conseguiu
escapar e reapareceu ontem à noite.
Cerrei os punhos.
— Você amava este verme? Tem certeza de que era pura quando se
casou comigo?
— Vá se foder, Tommasso. Você sabe que me casei virgem. Francesco
e eu somente trocamos beijos, nada mais, e se não quiser acreditar o
problema é todo seu! — respondeu ela em um estrondo. — Sobre amá-lo,
eu gostava dele, isso é verdade, mas nunca o amei. O único homem que
amei, infelizmente, foi você. No entanto, agora percebi que foi um erro,
pois você dizia tanto me amar, mas na primeira oportunidade ameaçou me
matar.
— Eu ameacei lógico, estava ferido e pensando que fui traído. Se não
tivesse mentido para mim nada disso teria acontecido…
— Foi bom isso ter acontecido para eu perceber o quanto sou boba.
Matei Francesco para te defender… E você aponta a arma para mim! Seu
doente!

Ela tentou sair, mas segurei seu braço.


— Me perdoe, Kiara, estava fora de mim. Você não pode ficar
nervosa, pense no nosso filho…
— Nosso filho? O filho que você duvida que é seu?
— Pare com isto! — implorei.
— Não vou parar, Tommasso. Estou cansada, na verdade, exausta.

Ela me olhou com os olhos avermelhados de tanto chorar.


— Eu sinto muito, Kiara, não quero te perder por conta do meu jeito
explosivo. Fica comigo, por favor.
— Tommasso… Não!
— Por favor, amor.
Seu rosto ficou confuso e admirado quando me ajoelhei diante dela.
Não a culpava, até eu mesmo me surpreendi com a minha atitude.
Quase não acreditei que Tommasso estava mesmo ajoelhado diante de
mim, jamais acreditaria se alguém me contasse. Estava não nervosa com
ele, querendo jogar tudo para o alto. Abandoná-lo por desconfiar tanto de
mim. Realmente eu menti, mas o fiz por medo do que poderia fazer a mim
se descobrisse sobre Francesco.
— Levante-se daí, Tommasso — pedi, ele estava cabisbaixo e negou,
como sou coração mole me ajoelhei e segurei seus ombros. — Pare com
isto, levante-se!
— Só se me perdoar — apelou.
— Tudo bem, mas preciso de um tempo para me acalmar antes. Tudo
que aconteceu é demais para mim. Tenho que sair daqui, senão vou
vomitar!
Meu estômago estava embrulhado, não conseguia mais olhar para
Francesco e seu sangue espalhado pelo chão.

— Está bem, vamos sair daqui. Vou pedir para os soldados limparem a
sujeira — disse, como se Francesco não passasse de um lixo a ser recolhido.
Fomos para meu antigo quarto, entrei no banheiro e vomitei, enquanto
Tommasso segurava meu cabelo.
— Nem acredito que serei pai — murmurou.
— Pois pode acreditar. Tem um Caccini dentro de mim, só espero que
ele puxe a mãe — sussurrei. Levantei-me depois de vomitar tudo que tinha
no estômago, passei água no rosto e olhei no espelho. — Estou me sentindo
suja. Eu matei uma pessoa, Tommasso… Sou uma assassina.

Ele se aproximou de mim e tocou o meu rosto.


— Você está longe de ser uma assassina, Kiara, só agiu em minha
defesa, embora não precisasse. Eu daria conta daquele desgraçado. Não
quero que se culpe. Está bem?
Assenti e coloquei a cabeça no seu peito.
— Ainda estou com muita raiva de você — disse e funguei.

— Eu também estou com raiva de você. Mas vai passar, pequena. —


Ele afagou meus cabelos. — Tente ficar tranquila, pense no nosso filho.
— É só nele que penso desde que descobri que estou grávida.
— Temos que tentar ficar em paz por ele, amor. Não quero correr o
risco de perder vocês, desta vez não deixarei meu filho ou minha esposa
caírem nas garras dos inimigos. Este bebê vai nascer e será meu substituto
daqui a alguns anos. E serei para ele o que nunca tive, um bom pai.
— Ah, Tommasso. — Fiquei emocionada. — Tudo que eu quero é
criar meu filho em paz. Lutarei por ele feito uma leoa, isto eu lhe garanto.
Tommasso sorriu e beijou a minha testa.

— Olha em meus olhos, Kiara — pediu e assim o fiz. — Jure que


nunca mais mentirá para mim.
— Eu juro.
— Detesto mentira, você pode me contar qualquer coisa, não importa
o que seja, está bem, amor?
Assenti e então nos beijamos, selando a paz entre nós.

2 semanas depois
O dia estava chuvoso, o tempo parecia triste e depressivo, nada mais
conveniente para o enterro do meu pai. Sim, Riccardo Moretti faleceu na
noite anterior. Deixando minha mãe e duas filhas. Há três dias o médico
havia nos informado que ele não duraria mais uma noite, somente depois
disso que tomei coragem e fui visitá-lo. Ele estava dormindo e nem estava
mais falando. Eu mesma só conseguia chorar ao vê-lo naquele estado.
Apesar de tudo que aconteceu entre nós, Riccardo era meu pai, portanto,
sussurrei em seu ouvido, antes de deixá-lo para sempre: “eu te perdoo, pai,
por tudo”.
Deus nos ensinava a perdoar as pessoas que nos fizeram mal, guardar
rancor não traria a felicidade e alívio que tanto necessitava. Então, se meu
pai morresse, queria que soubesse que de algum modo o perdoei.

Fazia muito tempo que não ia em um velório, ver minha mãe e irmã
chorando, vestindo preto, deixou-me sensível. Aproximei-me da minha
mãe, ela me olhou sem demonstrar emoção alguma com os olhos
avermelhados de tanto chorar.
— Eu sinto muito, mãe — falei antes de abraçá-la. — Espero que
Deus consiga confortar seu coração e lhe dar forças para seguir em frente.
Sei o quanto dependia do papà, mas você tem que despertar a mulher forte
que existe dentro de você neste momento, não pode deixar o luto te
derrubar…
— Sempre pensei que eu seria a primeira a ser enterrada e que
Riccardo que me veria morrer. Não estou preparada para viver sem o seu
pai, Kiara. Passei metade da minha vida seguindo as ordens dele,
batalhando para ser a melhor esposa. Eu o amei de verdade, mesmo
sabendo que não era recíproco. Agora meu marido descansa, enquanto eu
continuo vivendo em um tormento.
Meus lábios tremeram, meus olhos se encheram de lágrimas.
— Você não está mais vivendo em tormento, agora está livre para
seguir a sua vida. Precisa ser forte por Leone, ela vai precisar agora mais
que nunca de você ao lado dela.
Minha mãe assentiu e tocou a minha mão. Seu olhar estava
emocionado e triste.
— Espero que agora possamos pelo menos fazer as pazes, filha. Eu
sinto muito por não ser a mãe que você merecia, Kiara. Eu juro que te amo
mais que tudo no mundo, filha.

— Eu te amo também, mãe. Vamos deixar tudo que aconteceu no


passado, está bem.
Ela abriu um meio-sorriso.
— Obrigada, isso era tudo que precisava ouvir — sussurrou, tirando
sua mão da minha e voltando a fitar meu pai dentro do caixão.
Olhei para o lado e vi Tommasso me observando. Ele tentou me
consolar depois que meu pai faleceu, porém, a morte de Riccardo não me
abalou. Aproximei-me dele, em seguida ele me puxou e beijou minha testa.
— Está bem? — perguntou.

— Sim, já podemos ir embora?


— Claro, querida, vamos.

— Qual nome pretende dar ao nosso filho? — quis saber. Estava na


banheira de hidromassagem com a cabeça encostada no peito de Tommasso.
Há poucos dias descobrimos que estava grávida de um menino.
— Não faço ideia.
— Pensei em Alessandro, Luigi ou Santino.
Meneei a cabeça em direção ao Tommasso e o vi sorrir.
— O melhor entre os três, na minha opinião, é Alessandro — disse. —
Alessandro, o chefe da máfia, até combina.
— Tem razão — concordei. — Só espero que ele não seja tão
complicado como o pai.
Ela tocou a minha cintura, fazendo-me cócegas.
— Nem sou tão complicado, você que é estranha.

Gargalhei e bati no seu braço para que tirasse a mão da minha cintura.
— Eu estranha? Por quê?
— Você cria aranhas, meu Deus!
Dou risada.
— Isto é muito normal, tá…
— Em que planeta? — retrucou, revirando os olhos. — Eu te trucido,
se um dia uma delas se soltar e subir em cima de mim durante a noite.
— Relaxa, eu sempre as prendo muito bem. — Pisquei para ele.
Passamos um tempinho em silêncio, até que ele tocou a minha barriga.
— Ela já está grandinha — murmurou. — Os meses estão demorando
tanto para passar, estou ansioso para o nascimento do meu filho.
— Você vai perceber que os meses vão passar correndo se parar de
ficar tão ansioso assim — rebati. — Sabe que estou adorando estar grávida?
Achei que ia ser horrível, mas percebi que minha pele melhorou e a minha
libido está maravilhosa — falei com malícia e toquei seu peito em cima da
tatuagem. Tommasso suspirou e acariciou meu seio, deixando o mamilo
eriçado.
— Você está ainda mais safada grávida, me lembre de fazer outro filho
em você assim que este nascer, esposa. — Sua voz saiu rouca e senti seu
pau começar a se animar. Era assim que eu gostava, sempre pronto para
mim.
— Pois então temos que aproveitar a gestação e a minha libido
apurada, porque depois de dar à luz ficarei um tempo de resguardo, marido.
Beijei sua boca, mordendo o lábio inferior e arranhando a pele de seus
braços. Tommasso agarrou minha cintura e levou a boca ao meu pescoço. A
água estava morna o que deixava tudo mais gostoso.
— Já quer de novo, safada? Faz menos de duas horas que transamos,
Kiara.
— Está me rejeitando, mafioso? Achei que era ativo — provoquei,
fazendo-o me apertar em seus braços.
— Nunca. Sempre estou pronto para você, amor. No entanto, desta
vez, irei te fazer gozar tanto que dormira é só acordará bem mais tarde.
— Pronta para transar de novo — brinquei.
Ele atacou a minha boca me beijando com tanta intensidade que me
fez perder o equilíbrio. Que delícia.

Eu amava tanto Tommasso e me perguntava qual seria minha reação


se me contassem antigamente que me apaixonaria logo por meu inimigo.
Não acreditaria. Mesmo sabendo que nossa relação começou errada, ainda
assim percebi que estávamos destinados um ao outro, não tinha escapatória.
Não me arrependia de nada que fiz, de deixar meu desejo e vontades se
sobressaírem. Era melhor viver intensamente do que morrer arrependida por
não ter vivido tudo que queria. Sobre Francesco sentia muita culpa pela sua
morte e nunca me perdoaria por tê-lo matado, sei que um dia pagaria por
isso, fosse viva ou morta, mas estava pronta para arcar com as
consequências. Não podia deixá-lo matar o homem que amava. Então, não
me arrependia de ter enfiado aquela navalha no seu pescoço e acabado com
sua vida.
Sobre a guerra, ela não estava perto de acabar. Sienna ainda estava em
cativeiro, a irmã do Biachi, o inimigo de Tommasso, não pretendia
colaborar conosco tão cedo.
A menina parecia ser mais rebelde que eu, ou até pior. Era bom Nicolo
se cuidar, ele precisaria de muito mais que uma tortura para convencer
Sienna a colaborar com os Caccini…
Meses depois

Depois de meses de lutas e atentados da parte dos Biachi, para que


Giuseppe Biachi conseguisse ter a irmã de volta, finalmente a paz foi selada
de uma maneira que nunca pensei ser possível. Com um matrimônio que
uniria dois membros de máfias inimigas.
Todos esses meses escondi a gravidez de todos, Tommasso sequer me
deixava sair de casa, ninguém além da minha mãe, irmã e Giulia sabiam da
minha gravidez. Era arriscado se os inimigos descobrissem e quisessem
fazer comigo o mesmo que fizeram com a Aurora. Eu estava parecendo um
balão de tão gorda, a barriga enorme e as minhas costas doíam como o
inferno. Seria a primeira vez que me mostraria a sociedade italiana depois
de meses, estava muito receosa.
Escolhi um vestido solto e longo que não escondia a barriga, mas que,
ao mesmo tempo, era elegante. Tommasso contratou maquiadores e um
cabeleireiro. Fiquei linda, porém, o inchaço me incomodava. Teria que
treinar muito e fazer muita dieta após dar à luz para recuperar meu antigo
corpo. Às vezes olhava para Tommasso e me perguntava se ele ainda me
achava bonita, apesar de ter mudado tanto em poucos meses. Todas as vezes
via ele me olhando com aquele olhar apaixonado de sempre. Meu marido
não perdia uma oportunidade sequer de me beijar e se declarar. Ele parecia
mais ansioso do que eu para a chegada do nosso bebê.
Depois de pronta, desci as escadas e o encontrei na sala, lindo demais,
bem-vestido como sempre. Tommasso continuava charmoso, quase um deus
grego. Não tinha como não babar por um homem desses. Seu olhar cruzou
com o meu, ele me olhou de cima a baixo e ofegou.
— Linda demais, porra — resmungou e veio até mim, ele segurou a
minha mão e a beijou. — Parece que a gravidez só conseguiu te deixar
ainda mais linda, amor.

— Estou parecendo uma baleia isso sim — zombei, ele balançou a


cabeça discordando
— Está uma puta gostosa, já te disse — retrucou e beijou minha testa.
— Então, está pronta para finalmente sair de casa?
— Prontíssima — disse de pronto. — É tudo que preciso.
— Finalmente o inferno acabou, pelo menos por um tempo acredito
— falou Tommasso, soltando um suspiro de alívio. — Saiba que só aceitei
este acordo de paz com os Biachi por você e o nosso filho. Não podia correr
o risco de perdê-los em uma guerra.
— Eu sei, amor. E foi sua melhor escolha — sussurrei e lhe dei um
selinho.
O casamento estava lindo, só conseguia lembrar do meu e o quanto
estava com raiva naquele dia por ter sido obrigada a me casar com o meu
inimigo. Quando Tommasso e eu chegamos à igreja toda a atenção se
voltou para nós. Todos ficaram surpresos por me verem grávida e vieram
nos cumprimentar.
Tommasso e eu estávamos no altar, junto ao Nicolo que era o noivo. O
irmão de Tommasso e subchefe da máfia, parecia inquieto. Ele não se opôs
ao casamento com a irmã de Giuseppe, como meu marido achou que faria.
Não sei se ele se sentiu atraído por ela ou simplesmente achou que era a
hora de se casar. Se Nicolo não aceitasse o acordo, Sienna se casaria com
Lorenzo ao invés dele.
A noiva entrou acompanhada pelo irmão. Senti Tommasso apertar
minha mão ao ver Giuseppe acompanhando Sienna, meu marido encarou o
mafioso da máfia rival com ódio. Mesmo com acordo, tudo que passou não
seria facilmente esquecido. Tanto por nós, como pelas pessoas. Todos os
convidados fitaram Sienna com raiva, mesmo que tentassem disfarçar era
nítido o ódio de todos pela moça. A coitada sofreria muito na sociedade
siciliana até que se acostumassem com ela. Não queria estar na sua pele.

O casamento aconteceu muito rápido. Depois disso, era a hora de


irmos para a festa de casamento. Eu não conseguia parar de reparar em
Nicolo e Sienna, os dois estavam lado a lado, mas pareciam incomodados
com a presença um do outro. Assim que Tommasso e eu saímos da igreja
comecei sentir uma dor estranha em meu baixo-ventre.
— Ai — gemi de dor e Tommasso cessou os passos, preocupado.
— O que houve, Kiara? — perguntou de pronto.
— Senti uma dor estranha — falei — Ai! — gritei sentindo outra
contração forte, então senti um líquido quente escorrendo pelas minhas
pernas. — Ah, meu Deus, a bolsa estourou.
— Como assim? — questionou Tommasso, pálido e perplexo, olhando
meu vestido todo molhado.
— Quer dizer que seu filho vai nascer, Tommaso! — gritei, irritada,
sentindo as contrações aumentando de maneira gradativa.
— Meu filho vai nascer! — gritou sorridente, chamando atenção das
pessoas. — Preparem o carro, soldados, temos que ir para o hospital.
Tommasso me pegou no colo, meu olhar cruzou com o de Sienna, que
estava olhando em minha direção com os olhos arregalados.

— Nicolo, não vamos poder participar da festa, mas se divirtam


bastante por nós — disse Tommasso antes de me posicionar no carro.
— Boa sorte, fratello. Que meu sobrinho venha com saúde — gritou
Nicolo e todos se alegraram.
Eu tentava respirar para ver se a dor passava, em seguida comecei a
suar frio. Tommasso se sentou ao meu lado e o motorista deu partida no
carro saindo dali.
— Calma, amor, respira fundo. A dor vai passar. — Tommasso
segurou a minha mão, enquanto tentava me acalmar.

— Empurra, Kiara! — gritava o médico, enquanto lutava para fazer


força. — Já estou vendo a cabeça, continue fazendo força!
Só queria que tudo acabasse logo, que meu filho finalmente nascesse.
Essa era a dor mais terrível que já senti na vida. Fiz tanta força que me
sentia exausta e tinha a impressão de que sucumbiria ao cansaço a qualquer
momento. Tommasso estava ao meu lado assistindo o parto e segurando a
minha mão.

— Você consegue, meu amor. Só mais um pouco — incentivou


Tommasso, então respirei fundo e impus mais força. Um choro de bebê
ecoou pelo quarto, fazendo-me sentir uma emoção tão grande que não
parecia caber em meu peito. — Você conseguiu, Kiara… conseguiu.
— Eu consegui — sussurrei entre lágrimas. Os médicos cortaram o
cordão umbilical e colocaram uma manta no meu filho antes de o
colocarem em meus braços. — Meu filho…
Alisei seu rostinho sujo de sangue, ele era tão pequeno, tinha pouco
cabelo, mas era escuro e os olhos eu não conseguia ver a cor. Meu coração
se encheu de amor e proteção no mesmo instante.

— Ele se parece com você — falei para Tommasso, que estava


emocionado.
— E com você — respondeu.
— Segure-o um pouco, amor — pedi a ele, que pareceu receoso. —
Não se preocupe, é só ter cuidado.
— Ok. — Ele pegou o nosso filho com todo cuidado do mundo, olhou
para o seu rosto cheio de encantamento. — O primeiro herdeiro dos Caccini
a nascer.
— Um dos muitos que virão — assegurei, chorando. Era um momento
único.

— Obrigado, meu amor, por me dar este presente. E por ser uma
esposa maravilhosa — sussurrou Tommasso. — Eu amo vocês!
— Eu amo vocês — disse, colocando minha mão em cima da dele e
da pequena mãozinha de Alessandro.
O fruto do nosso amor.

Fim.
Para saber mais sobre meus outros e-books, aponte a câmera do seu celular para o QR Code abaixo e
acesse a minha loja na Amazon:

Ou clique aqui -> Amazon


Para saber mais sobre as obras e a autora, aponte a câmera do seu celular para o QR Code abaixo e
fique por dentro dos lançamentos, eventos, sorteios e muito mais em suas redes sociais:

Instagram: @ autoratamivenancio

Gostou do livro? Compartilhe seu comentário nas redes sociais e na Amazon indicando-o para
futuros leitores. Obrigada!
[1]
Acidente Vascular Cerebral.
[2]
Sereia em italiano.

You might also like