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Na Natureza Selvagem é um filme estadunidense do gênero aventura dramático-biográfica

lançado em 2007. Dirigido por Sean Penn, o filme é baseado no livro homônimo do escritor e
montanhista Jon Krakauer. A história é baseada na odisseia real de um jovem chamado
Christopher Maccdanless, que morreu aos 24 anos de inanição dentro de um ônibus
abandonado no Alasca, depois de passar dois anos sozinho na selva da região. Mas Christopher
não era um sobrevivente de algum acidente aéreo que se perdeu na floresta após a catástrofe.
Christopher, no exercício de seu poder de escolha, optou por abandonar sua carreira em
história e antropologia, sua família abastada que vivia na Califórnia, as relações tradicionais
com a sociedade e abraçou a vida de andarilho.

Eu conheci o filme em 2013 e já fiquei empolgado pela sua atmosfera e ritmo contemplativos.
A história é não linear. Há muitos flashbacks. O espectador embarca diversas vezes nos
pensamentos do protagonista e vai conhecendo suas motivações. A trilha sonora é bucólica e
potencializa a sensação de solitude. Eu já vi o filme umas cinco vezes e li o livro duas vezes. E o
que desperta em mim? Curiosidade. Até que ponto a busca por sentido de vida ou
conhecimento de si justifica atitudes extremas de rompimento com a sociedade, sacrifício e
renúncia materiais? A via da solidão extrema, a ruptura das relações com as pessoas, o contato
e dependência radical da natureza, a simplicidade e o minimalismo como formas de vida são
caminhos seguros e eficazes para alcançar a liberdade e a individualidade? Pensar nessas
perspectivas fez-me enxergar o valor filosófico do filme Na Natureza Selvagem e sua
contribuição para uma discussão a respeito dos conceitos de identidade, liberdade e vida em
sociedade.

IDENTIDADE

É emblemática a cena em que Chris antes de iniciar sua expedição, após um jantar pouco
digestivo em família, queima seus documentos e cartões de crédito e doa todo o dinheiro da
sua poupança, cerca de 24000 dólares para uma instituição de caridade. É ritualístico, assim
como a cena em que abandona seu carro no deserto e queima o restante dos dólares que
estavam no seu bolso e adota um novo nome: Alexander Supertramp. Tudo isso é carregado
de significado e podemos assim exprimir a mensagem que nosso jovem aventureiro desejava
passar: eu não sou este que está nos documentos, este nome inscrito nesse pedaço de papel
não me define. Ao assumir um novo nome, para além da intenção de não ser encontrado,
Christopher busca uma nova identidade desapegada das convenções familiares e que possa
expressar de verdade quem ele é. A jornada de Chris, portanto, não é busca por conhecimento
intelectivo a respeito da natureza somente. Como diz Krakauer: “

A jornada de Chris, portanto, é uma jornada de busca pela consciência de seus valores,
pensamentos, crenças e sensações. É autoconhecimento: questão que tem sido uma constante
para muitos pensadores, poetas e escritores ao longo da história. A partir daí podemos fazer
referência a diversos teóricos como Sócrates, Platão, Aristóteles, Foucalt (hermenêutica do
sujeito), Agostinho (no interior do homem habita a verdade), Rousseau (o mais útil e menos
avançado de todos os conhecimentos humanos reside justamente no conhecimento de si
mesmo), Freud e Jung e diversos outros.

Mas vamos manter a concentração sobre o pensamento de Henry David Thoreau, filósofo
transcendentalista americano, cujas obras serviram de inspiração para Christopher. Os livros
Walden e Desobediência Civil de Thoreau foram encontrados no ônibus onde estava o corpo
de Christopher Maccdenless. Podemos assim concluir que muitos pensamentos de Thoreau
inspiraram o jovem Chris em sua aventura. Thoreau foi um dos maiores críticos da civilização
da história. E com a sua obra Walden, publicada em 1854, ele apresenta um intrigante
experimento social: buscando apartar-se de uma sociedade cada vez mais complexa, Thoreau
passa a viver isoladamente na propriedade de um amigo, às margens do lado Walden.

“O que um homem pensa de si, é isso o que determina, ou, melhor, indica o seu destino.” Aí
podemos perceber o lugar que o autoconhecimento ocupa no pensamento do
transcendentalista americano. E mais: o conhecimento de si visa o aprimoramento pessoal, o
melhoramento da consciência. Thoreau chama isso de despertar de consciência, despertar
para uma vida verdadeira.

LIBERDADE

Outra cena do filme é quando Chris decide navega de caiaque pelas águas turbulentas do rio
Colorado d forma clandestina. ‘’Licença para navegar no rio? ‘’ Ele acha aquilo um absurdo. E
dentro da experiência de liberdade do jovem aventureiro, transgredir leis era

O que aprendi com Christopher Maccdanless

Aprendi que a vida é uma expedição e é necessário muitas vezes sair do lugar, mudar de
perspectiva, olhar de baixo, ou olhar de cima. Aprendi que a solidão só serve para não servir
mais, só tem sentido para que em algum momento, próximo ou distante, não tenha mais
sentido nenhum. Mas sobretudo aprendi que há em mim uma sede lânguida por verdade, por
liberdade, por beleza. E em menor escala, eu vou me aventurando e descobrindo mais sobre
mim mesmo a cada dia e que no fim das contas ‘’a felicidade é real quando é compartilhada.’’

“Leis injustas existem: devemos contentar-nos em obedecer-lhes até


triunfarmos ou transgredi-las desde logo?”.

– Henry David Thoreau

Chris procura no filme

A personalidade se desenvolve no decorrer da vida, a partir de germes, cuja


interpretação é difícil ou até impossível; somente pela nossa ação é que se torna
manifesto quem somos de verdade. Somos como o Sol que alimenta a Terra e produz
tudo o que há de belo, de estranho e de mau; somos também como as mães que
carregam no seio a felicidade desconhecida e o sofrimento. De início não sabemos o
que está contido em nós, que feitos sublimes ou que crimes, que espécie de bem ou
mal. Somente o outono revela o que a primavera produziu, e somente a tarde
manifesta o que a manhã iniciou (JUNG, 1991, § 290).

Leia mais: https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/o-conhecimento-de-si-


mesmo/

Adotar um novo nome.

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