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COPYRIGHT © 2023 BRUNA RODRIGUES

Título: Destinada aos Lobos

Todos os direitos desta edição reservados para a autora.

Revisão Ortográfica: Raquel Moreno e Vinícius Magalhães


Capa: L.A Capas
Diagramação: Bruna Rodrigues
Assessoria Literária: Fabiana Souza
Está é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos, são da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes,
acontecimentos e lugares reais é mera coincidência. Texto em conformidade
com as normas do novo acordo ortográfico da língua portuguesa (Decreto
Legislativo Nº 54 de 1995).
São proibidos o armazenamento e/ ou a reprodução de qualquer parte dessa
obra, através de quaisquer meios – tangível ou intangível – sem a permissão
da autora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela LEI No
9.610./98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
SUMÁRIO
SINOPSE
PLAYLIST
CARTA ABERTA DA AUTORA
NOTA DE UMA AUTORA TRAUMATIZADA
AGRADECIMENTOS
GLOSSÁRIO
EPÍGRAFE
PRÓLOGO
01
02
03
04
05
06
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08
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EPÍLOGO
O FUTURO
BÔNUS
SINOPSE

HARÉM REVERSO + FAST LOVE + FAST BURN + HOT SELVAGEM + FOUND


FAMILY

Havia uma profecia! Havia um destino! E havia nós!

Quando Willow entrou em um bar misterioso no dia do seu


aniversário, não imaginava que estava prestes a conhecer os seus
companheiros de alma e com isso viver uma história de magia, profecia,
destino, sacrifício e amor.

Raze, Deon e Griffin sendo lycans com o poder de se transformar em


lobos, escolheram se refugiar o mais distante que pudessem dos humanos.
Contudo, o que fazer quando o destino lhes prega uma peça trazendo uma
humana para dentro do seu bar? Uma humana que atiça seus lobos com um
cheiro que quase os coloca de joelhos.

Eles não serão capazes de lutar contra o que sentem por ela, assim
como ela não faz questão alguma de esconder o que sente por eles.
ESSA É UMA FANTASIA DE LOBOS COM HARÉM REVERSO.

LIVRO RECOMENDADO PARA MAIORES DE 18 ANOS.


PLAYLIST

Ou Clique aqui
CARTA ABERTA DA AUTORA

Acredito que esse é o meu lançamento mais doloroso e cansativo, não


porque a história dos lobos é pesada, triste ou por conter vários gatilhos,
mas por eu ter começado escrever este livro no pior momento da minha
vida pessoal. Estava e continuo feliz com a repercussão que os Pulgatti
trouxeram para minha carreira de autora, até tinha começado a trabalhar na
continuação, mas eu estava tão exausta emocional, física e mentalmente,
que quando os lobos surgiram na minha mente oferecendo uma folga de
tudo, um acalento, eu relutei, mas aceitei.
Para quem ainda não sabe, o lançamento de Aprisionada por Eles foi
uma semana depois de eu ter passado por uma cirurgia bariátrica. Eu estava
com dor, numa dieta líquida, tomando injeções na barriga para garantir que
não tivesse uma trombose. Contudo, eu estava feliz, pois foi pela minha
saúde. Ler as avaliações de Aprisionada por Eles me deixou muito feliz. Foi
o meu primeiro livro de máfia, algo que eu sempre desejei escrever. Eu me
sentia realizada.

No entanto, as minhas crises de ansiedade voltaram, depois de meses


sem sofrer nenhuma, elas voltaram e voltaram com tudo. Era horrível ter
que lutar com minha mente, foi difícil escrever qualquer coisa naquele
momento. Se não bastasse o que as crises estavam fazendo comigo, veio os
hematomas pelo meu corpo por conta da dosagem errada do meu
anticoagulante, então fui obrigada pelo meu médico a ficar de repouso, pois
qualquer acidente poderia ser fatal.

Eu me sentia desesperada. Queria tanto dar a todos a continuação de


Aprisionada por Eles, mas não conseguia. Fiquei triste, obriguei minha
mente a trabalhar ao meu favor, o que me fez ter ainda mais crises de
ansiedade. Depois de ter sido liberada pelo médico, voltei a abrir o arquivo
dos Pulgatti, sentava todos os dias na frente do computador e nada saía.

Estava frustrada, irritada e me sentia fracassada. Como minhas crises


poderiam ter tanto poder sobre mim? Lembro de fechar o arquivo e ficar
uns cinco dias sem pensar nos Pulgatti, eu queria esquecer eles, pois
naquele momento eu os associei com o meu pior, e eles não são. Eles estão
longe de ser meu pior. Para mim eles sempre serão o meu melhor: o meu
melhor enredo, a minha melhor escrita, o meu melhor momento.

Não era justo com eles, e eu não estava sendo justa comigo mesma.
Foi neste momento de incertezas que Raze sussurrou no meu ouvido pela
primeira vez e com seu jeito protetor me disse: Deite sua cabeça no meu
ombro e me deixa cuidar de você, eles vão entender. Eu poderia ter
aceitado, mas sentia que estava traindo meus leitores, meus personagens de
Aprisionada e por isso mandei Raze ir embora. Não queria ouvir o que ele
tinha para me dizer, mas ele sendo quem é (teimoso), voltou.

Ele voltou me oferecendo algo diferente, uma pulada por cima da


cerca. Foi assim que escrevi cinco capítulos de Destinada aos Lobos, estava
tão feliz, me sentia a Bruna, autora de antes, mas a culpa não demorou a me
visitar, o que me fez fechar o arquivo e voltar para os Pulgatti e novamente
a tristeza me abateu. Não podia escrever Liberta estando triste, ainda mais
quando eu escrevo com o coração. Foi só aí que tomei a decisão de deixar
meus Pulgatti em segundo plano, não era mais sobre eles, era sobre mim. E
eu queria escrever Destinada aos Lobos, e foi o que eu fiz.

Este livro não é apenas mais um lançamento, não é apenas mais um


harém reverso da rainha do harém reverso nacional, como sou
carinhosamente conhecida. Nestas páginas estão personagens que me
abraçaram no meu pior e não me cobraram nada, apenas me contaram uma
história e eu escolhi, mesmo com tudo que eu estava vivendo dentro de
mim, contá-la para vocês.

Aceitem meus lobos, aceitem este universo que é apresentado agora


para vocês. Porque mesmo que eu ainda esteja no meu pior, eu sempre lhes
darei o meu melhor.

Com todo o meu amor, respeito e carinho,

Bruna Rodrigues.
NOTA DE UMA AUTORA TRAUMATIZADA
Caraca, como esses lobos exigiram de mim! Eles vieram de mansinho
dizendo que seria uma história pequena e simples, e eu já aviso que DE
SIMPLES TEM A SÓ A CARA DE PAU DELES. Esse livro não tem nada
de simples. Esse livro foi tão fundo dentro de mim que tirei esse enredo das
entranhas do meu ser.

Esses lobões vieram ao mundo apenas para bater com os dois pés no
peito de qualquer desavisado que caia de paraquedas nesse livro. Eles
viciam, eles exigem, eles te consomem e, quando você menos se dá conta,
eles estão se intrometendo em tudo. ABSOLUTAMENTE TUDO. Foi
assim com o enredo, foi assim com a capa, foi assim com a diagramação,
foi assim com tudo que envolvesse eles.

Eles assumiram as rédeas da minha vida, me levando para um


universo que eu já tinha dito que NÃO exploraria, mas eu explorei. Eles me
fizeram explorar, viciar e ainda pedir por mais.

Brincadeiras à parte, eu sou muito grata por eles, pois se não fosse por
esses lobões e o modo intrometido deles de ser, eu não sei onde minha
mente estaria nesse momento. Eles vieram para me salvar, assim como eu
sei que eles vão salvar outras pessoas. Seja da depressão, seja de uma
ressaca literária, ou qualquer outra coisa que você esteja vivendo neste
momento e precise de uma fuga.

Saiba que apesar de eles serem intrometidos, fofoqueiros, apostadores


ilegais de vidas alheias, eles são incríveis.

ALERTA DE GATILHO: Esse livro irá te viciar, assim como os


personagens, e sinto informar que não tem o que fazer, por isso leia esse
livro por sua conta em risco.
MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE: ESSE LIVRO PODE CAUSAR EXCITAÇÃO,
NERVOSISMO, VONTADE DE MATAR A AUTORA, QUERER ENTRAR NO LIVRO
PARA VIVER SEU HARÉM REVERSO, CORRER NA FLORESTA QUERENDO SER
CAÇADA PELO SEU LOBÃO, E OUTRAS EMOÇÕES QUE A AUTORA NÃO SE
RESPONSABILIZA.

QUE DEUS TE AJUDE E BOA LEITURA!


AGRADECIMENTOS

Uau, vocês não imaginam o quanto foi difícil chegar aqui! Meu
coração fica leve por saber que cheguei, que mais uma vez venci minhas
incertezas, medos e dúvidas, mas principalmente venci minha mente que às
vezes gosta de me sabotar. Esse agradecimento é escrito com lágrimas nos
olhos.
Agradeço primeiramente a Deus pelo dom maravilhoso da escrita,
sem Ele acredito que não estaria onde estou. Agradeço aos meus filhos e
marido por me amarem incondicionalmente e entenderem o meu trabalho.
Não importa o quanto eu precise me dobrar, sempre darei meu melhor por
vocês.

Agradeço a minha assessora, que de assessora hoje não tem mais


nada: Fabi. Ela é a minha pessoa, a que segura na minha mão, mesmo
estando longe. Ela me conhece tão bem que quando não estou bem, eu não
preciso dizer nada, porque o meu silêncio diz tudo. Fabi, eu te amo. Você e
sua família são o presente que nunca pedi, mas que amei receber. (Edinho,
Douglas, Vini, Lais e Hércules.) Obrigada por vocês serem vocês.

Agradeço aos meus revisores, Raquel e Vinícius, que embarcaram


nessa nova jornada comigo. Vocês são incríveis.

Agradeço a minha capista Eliane que entendeu o que os meus lobões


queriam e conseguiu replicar com perfeição.

Agradeço a todas as minhas leitoras incríveis, vocês são as leitoras


mais maravilhosas que uma autora poderia ter. Amo a nossa relação de
ameaças e ameaças.

Obrigada a todos vocês que fazem da minha vida mais especial.


Dedico este livro a todas que não são a vovó da chapeuzinho vermelho,
mas amariam serem comidas pelo lobo mau.
Aos meus leitores que pediram incansavelmente
pelo harém reverso de lobos,
espero que vocês apreciem o poder destes lobos,
se encantem pela magia que os une,
e se apaixonem pelo universo que criei.
GLOSSÁRIO
(PARA TODO O UNIVERSO DE DESTINADA AOS LOBOS)

Reino de Symes: É uma dimensão mágica onde vivem muitos seres


mágicos. Symes foi construída e ocultada dos humanos depois da queda da
alcateia Calla e Allegra Roux. Quem governa o reino de Symes é Bayron
Barack, um dos senhores da casta dos vampiros.

Alcateia Calla: Foi a alcateia mais poderosa que existiu e seu antigo
alfa era Zander Calla.

Alcateia Os Primeiros Nascidos: São os primeiros lobos a nascerem


depois que a maldição de Allegra Roux foi quebrada. É uma alcateia
composta por Raze Ward, o alfa; Kaden e Kael Brooks, sendo Kaden o beta
de Raze; Beau Lafayette; Deon Ballard e Griffin Hayes.
Conselho dos Anciões: São compostos pelos mais poderosos de cada
casta mágica, que inclui:

Os oráculos: Magos com poder de prever o futuro. O senhor desta


casta é Kai Basset.
As mensageiras da morte: Magas com o poder de prever a morte,
ressuscitar e falar com os mortos. A senhora desta casta é Kalissa Basset,
irmã gêmea do senhor da casta dos oráculos.

Os feiticeiros da luz: Feiticeiros que usam seu poder para o bem. A


senhora desta casta é Brianna Werneck.

Os alfas das cinco alcateias mais poderosas:

Torment Mallet (Alfa da alcateia Lua Crescente.)

Zayn Cox (Alfa da alcateia Guerreiros de Sangue)

Raze Ward (Alfa da alcateia Os Primeiros Nascidos)


Fedra Price (Alfa da alcateia Luz da Manhã)

Isla Hall (Alfa da alcateia Lua de Pedra)

Os seres da noite: Vampiros. Os senhores desta casta são os três


irmãos Barack – Gan, Vis e Bayron –, os primeiros vampiros a existir.

Bruxos: São seres que praticam magia das trevas. Alguns se tornam
bruxos através de pactos e sacrifícios, e existem os que nascem feiticeiros
da luz, mas que quando usam da fonte das trevas se tornam bruxos.

Diferença entre os feiticeiros e os magos: Apenas os magos podem


prever o futuro e a morte. A magia deles vem dos elementos naturais: água,
fogo, vento e terra. Já a magia dos feiticeiros da luz vem da fonte da vida:
cada ser vivo que existe no universo.

Frenesi: É equivalente ao cio da fêmea, mas acontecesse apenas nos


machos. O macho só entra em frenesi quando encontra sua companheira de
alma e ela incita seu frenesi. Quando ocorre o frenesi o macho fica
dependente da sua fêmea, assim como possessivo, protetor e sexual. O
primeiro frenesi costuma durar até a companheira ficar prenhe.

Euforia: Se assemelha ao frenesi, contudo, é mais fraco e pode ser


sentido tanto pelos machos quanto pelas fêmeas.

Sonho de Alma: É um sonho real, mas não corpóreo. Tudo que


acontece nesse tipo de sonho é vivido entre a alma do que sonha, e a alma
do que incita. Apenas lobos e vampiros são capazes de incitar um sonho de
alma, pois possuem o poder de persuasão mental. Contudo, os feiticeiros da
luz criaram as pérolas do sonho, que são capazes de fazer o mesmo.

Julgamento Vindimar: Julgamento para decidir a aniquilação de um


ser mágico.
Fruta-lobo: Fruta capaz de simular o frenesi nos machos e o cio nas
fêmeas. Seu gosto e aspecto se assemelham a Romã.

As 10 leis decretadas pelo Conselho de Anciões há mais 300 anos

01 – É terminantemente proibida a relação entre seres de castas


diferentes.

02 – Os humanos nunca devem saber sobre os seres mágicos, nem da


existência do Reino de Symes.

03 – Lobos, feiticeiros, magos e vampiros estão proibidos de acasalar,


se vincular e se alimentar de humanos.

04 – É proibido se beneficiar da magia das trevas, ou se relacionar de


qualquer forma que seja com os bruxos.

05 – Qualquer infração que você presencie e não informe aos anciões,


você será tratado como cúmplice do transgressor.

06 – Os feiticeiros e magos são proibidos de abrir portais sem a


permissão prévia dos anciões.

07 – Cobrança de sangue é terminantemente proibida.

08 – É proibido ver o futuro, sem a permissão prévia dos anciões.

09 – É proibido ressuscitar ou/e praticar necromancia, sem a


permissão prévia dos anciões.

10 – Qualquer lei violada ocorrerá ao transgressor o julgamento


vindimar.
EPÍGRAFE

“Os encontros mais importantes já foram combinados pelas almas antes


mesmo que os corpos se vejam.”
Paulo Coelho
PRÓLOGO
Há muitos anos, a senhora da casta dos feiticeiros da luz se
apaixonou por um lobo alfa e, por ele, ela estava disposta a ir contra tudo e
todos. Foi o que ela fez. Para viver ao seu lado ela virou as costas para a
casta dos feiticeiros da luz, renegando ser para eles a protetora da fonte da
magia da vida e portadora do conhecimento elemental dos feiticeiros.

Tudo o que ela queria era ficar com seu companheiro, o poderoso
alfa, Zander Calla. Juntos eles se tornaram muito poderosos, ela com sua
magia vinda da fonte de todos os feiticeiros da luz e ele com sua força
extraída dos seus poderosos lobos, mas isso fez com que outros seres
poderosos se unissem contra ambos devido ao tamanho poder que juntos
eles possuíam.

A guerra que se instalou por causa disso fez com que a senhora da
casta dos feiticeiros da luz, Allegra Roux, lançasse um feitiço poderoso
sobre a alcateia do seu companheiro. Tornando-os ainda mais poderosos,
fazendo deles lobos mais fortes e indestrutíveis. A pelagem cinza daqueles
lobos mudou para branca, e com isso eles se tornaram a temida alcateia
Calla. Lobos enormes e brancos que não tinham misericórdia de ninguém.

A antiga senhora da casta dos feiticeiros da luz foi perdendo a


bondade que antigamente enchia seu coração. Para lançar o poderoso
feitiço sobre a alcateia, Allegra acessou a fonte da magia das trevas, a
tornando mais poderosa, sombria e perigosa. E com isso,
consequentemente, a transformando numa bruxa das trevas. Perdendo de
vez a sua conexão com a fonte da luz.

Os anos que se seguiram depois da ascensão da alcateia Calla não


foram fáceis. Muitas vidas foram perdidas pela maldade e soberba daquele
casal, até que um dia tudo mudou. O dia que Allegra descobriu que seu
companheiro tinha outra companheira, uma loba que esperava seu
primeiro filhote.
Allegra deixou que o resto de bondade que existia em seu coração se
esvaísse, deixando-o ser tomado pelo mais puro ódio. Enciumada e
sentindo-se traída pelo homem por quem ela abdicou de tudo, Allegra
lançou uma maldição.

Naquele dia, Allegra lançou a maldição para que nenhum lobo


conseguisse procriar, muito menos encontrar uma companheira. Seu
objetivo era que eles passassem a eternidade sozinhos até vir a extinção
dos homens que podiam se transformar em lobos.

Quando Allegra estava prestes a lançar o feitiço de morte contra a


nova companheira de Zander, o mesmo a pegou desprevenida e arrancou
seu coração, matando-a instantaneamente.

Os anos que vieram depois da maldição foram tortuosos para todos.


Muitas lobas que esperavam seus filhotes, quando Allegra lançou a
maldição, morreram junto de suas crias ainda em seus úteros. A única que
conseguiu gerar, e ter seu pequeno filhote, foi a companheira de Zander,
afinal o temido alfa usou de todo o seu poder para persuadir uma bruxa
das trevas a ajudá-lo a salvar seu filhote, e foi o que a bruxa fez, mas isso
não livrou a companheira de Zander, pois a mesma morreu ao dar à luz a
sua filha, Anyka Calla.

Cansados e sofrendo pela destruição que a alcateia Calla trouxe para


todos, os seres de cada casta mágica se uniram para caçar e matar toda a
alcateia de Zander. Não tinha nenhum lugar seguro para os Calla, e não
demorou para os lobos mais poderosos começarem a morrer, sobrando
apenas o alfa, Zander, seu beta, Soren, e a pequena herdeira de Zander,
Anyka.

A busca pelo maior culpado não parava. Todos queriam dar fim à
vida de Zander, e quando enfim conseguiram colocar as mãos no poderoso
alfa, deram a ele a morte mais cruel que se pode dar a um ser mágico: a
morte por remoção da fonte da sua magia interior, seu lobo.

O próximo a cair foi Soren. Anyka foi a única a não ser achada, mas
eles acreditavam que ela já estava morta, porque não sentiam mais a magia
das trevas que cercava a alcateia Calla prosperar através dela.

Depois da queda dos Calla, uma união entre os seres mágicos foi
forjada para manter o equilíbrio natural do mundo mágico, surgindo assim
o Reino de Symes, uma dimensão que tinha o objetivo de proteger os seres
mágico e, para manter a ordem, foi criado O Conselho dos Anciões,
composto pelos seres mais poderosos de cada casta.

Depois do que havia acontecido por culpa de Zander Calla e Allegra


Roux, foi decretado pelos anciões que não poderia mais existir
companheiros de castas diferentes, e se existissem, seriam punidos com a
morte.

Quando a nova senhora da casta dos feiticeiros da luz ascendeu, ela


usou de todo o seu conhecimento e poder para quebrar a maldição que
Allegra soltara há mais de trinta anos. Celeste Basset levou alguns anos
para obter sucesso, e quando conseguiu, descobriu que perdeu metade da
sua alma no processo. E inconsequentemente mais uma vez a magia mexeu
com a ordem natural.

Para quebrar a maldição de Allegra, Celeste precisou criar o


impensado, ela usou de toda a sua fonte de magia da luz para criar os
companheiros de alma. Seu feitiço não respeitava castas, nem as leis dos
anciões. Na noite da lua de sangue, Celeste sabia o que estava fazendo
quando quebrou a maldição de Allegra Roux. Ela não estaria viva para ver
a nova era que viria, mas ela sabia que precisava ser feito, e ela fez.
01
Willow
Tempos Atuais
Antes de entrar no bar misterioso, dou uma olhada para minha amiga
com as sobrancelhas arqueadas. Laila vai mesmo me fazer entrar neste bar
no meio do nada no dia do meu aniversário? Quando ela me disse que
íamos comemorar meus vinte e cinco anos de forma épica, pensei que ela
fosse me arrastar para uma balada, contudo, vendo esse bar no meio do
nada tenho lá minhas dúvidas.

Eu devia imaginar que quando ela usou as palavras “marcante e


inesquecível” meus alertas deviam estar desligados para não terem me
alertado para sua comemoração de aniversário secreta. Minha melhor amiga
é a pessoa mais leal, parceira, alegre que eu poderia ter, contudo, Laila
também é cabeça de vento, que tem o incrível dom de nos meter em
confusões.
— Low, mude essa carinha. — Pede ajeitando meus cabelos, uma
mania que ela tem desde que nos conhecemos no parquinho quando
tínhamos quatro anos. — Acredite em mim, seu aniversário tem que ser
comemorado aqui. — Dou uma olhada a minha volta e nem um mísero som
é ouvido.

— Devo ao menos perguntar o por quê? — provoco e ela dá sua


costumeira piscada, que significa:

Nos meti em mais uma confusão, mas se acalme, não é nada de mais.

— Não, apenas confie em mim. — Afirma e me deixo ser arrastada


por ela.
Eu sei que não adianta debater, se Laila coloca algo na sua cabeça,
nada e nem ninguém irá fazê-la mudar de ideia. E hoje ela colocou na sua
cabeça comemorar meu aniversário neste bar afastado e muito suspeito.
Eu nunca ouvi falar desse bar, e não conheço ninguém que já tenha
ouvido falar... Bem, agora eu conheço uma: Laila. Minha amiga ouviu dois
homens falando deste bar na faculdade e sua curiosidade aguçou, fazendo-a
nos arrastar para cá. Eu não me importo de embarcar nas loucuras dela de
vez em quando, mas tinha que ser no dia do meu aniversário?

Antes de entrar no estabelecimento, leio o nome do bar no letreiro de


madeira envelhecida: Wolf Pack[1]. Agora tudo faz sentido. Laila sabe da
fascinação que tenho por lobos desde pequena, e a decisão de nos trazer
para um bar desconhecido no dia do meu aniversário provavelmente se deve
a isso.

Assim que passamos pela velha porta de carvalho atraímos os olhares


de todos, fazendo o lugar cair num silêncio absoluto. Meus olhos percorrem
o bar analisando a decoração antiga e rústica do lugar, as mesas são de
madeira escura. Assim como o enorme balcão, as paredes são decoradas
com muitos quadros com fotos e desenhos de lobos, meus olhos vão e
voltam pelo ambiente e me sinto deslocada e indesejada no mesmo
segundo.

Os homens e mulheres sentados nas mesas nos encaram com uma


careta, que eu interpreto no mesmo instante: não somos bem-vindas.

— Laila, quem foi mesmo que você ouviu falando deste bar? —
pergunto pensando na possibilidade de dar as costas e sair sem olhar para
trás.
Minha amiga, que parece não notar os olhares desagradáveis dos
clientes, caminha até o balcão, e só agora percebo três homens atrás dele
secando copos. Eles nos encaram sérios, o que aumenta minha vontade de
dar o fora daqui o quanto antes.

— Laila. — Chamo minha amiga que não se importa de olhar para


trás.

Laila para na frente do balcão com um enorme sorriso. Minha amiga é


tão desligada que não nota o olhar aborrecido dos homens a sua frente.
Decidida a pegar minha amiga e dar o fora daqui, caminho até ela, porém
paro assim que sinto um cheiro gostoso de capim-limão. Vasculho o bar
querendo saber de onde vem esse cheiro que me lembra a infância e sou
acertada em cheio ao ver um lindo homem vir dos fundos.
Ele é alto, seus cabelos são castanhos com algumas mechas loiras, são
longos e ondulados, ele tem uma barba cheia, sua pele é bronzeada, seus
braços e pescoço destacam as muitas tatuagens que ele possui. Seu colete de
couro preto me lembra os motoqueiros que costumam vir à Sanches[2] para o
festival dos destilados.

Solto um suspiro trêmulo quando sou alvejada pelo seu olhar dourado
terroso, a cor dos seus olhos me lembra o pôr do sol do fim de outono,
fascinante e maravilhoso. Ele percorre meu corpo com seus olhos e sinto-
me sensível em cada lugar que sou alvo deles. Quando ele volta a me
encarar me sinto perdida, meus seios ficam pesados, meus mamilos duros e
minha calcinha molhada.

Logo que ele desvia seu olhar dos meus, me sinto liberta do seu
domínio, contudo, ainda continuo hipnotizada. Ele caminha até os três
homens e fala algo para eles, e eu não consigo prestar atenção em mais nada
que não seja nele.

Quem é ele?

Impactada por tudo que estou sentindo de apenas olhar para o homem
misterioso, me aproximo do balcão querendo vê-lo melhor de perto. Eu
nunca me senti assim, e isso me confunde. Paro ao lado de Laila, que
continua absorta com a cartela de bebidas, e foco no moreno intrigante à
minha frente.

— Eu decidi, quero experimentar essa cerveja artesanal. — Laila fala


animada fazendo minha atenção ir para ela. — E você, Low?

Abaixo meus olhos para a cartela que ela gentilmente coloca na


minha frente e pisco algumas vezes para afastar o frisson que estou
sentindo. Quando me sinto menos abalada, leio a cartela e opto por tomar o
mesmo que ela.

— Vou querer uma cerveja artesanal também.

Laila bate palmas e faz o pedido para o loiro de cabelo e barba


grande, sua fisionomia me lembra a de um viking. Ele arqueia uma
sobrancelha para ela e depois para mim. O homem um pouco mais distante
é exatamente igual a ele, o que me faz concluir que eles são gêmeos.

— Essa cerveja é muito forte para huma... Vocês. — Afirma sorrindo,


e leva um cutucão do homem ao seu lado.

Esse outro homem tem barba ruiva e olhos marrons. Seus cabelo
também é longo, mas ele o usa em forma de coque, fazendo seu rosto ficar
evidente. Ele é bonito, assim como os gêmeos, contudo, meus olhos voltam
para o moreno que faz meu coração bater mais rápido, e sou pega de
surpresa quando o vejo olhando para mim, porém logo ele desvia seus olhos
dos meus.

— Kaden, dê a elas o que estão pedindo.

Ele fala e ouvir sua voz faz meu coração errar uma batida. Sua voz
soa tão boa para meus ouvidos, não sei se é o timbre ou por ela estar tão
rouca. Não importa o que seja, eu só sei que eu gosto e quero que ele
continue falando, porém ele não continua. O tal do Kaden assente para ele,
enchendo duas canecas até a borda e batendo com elas no balcão
entregando uma para mim e outra para a Laila.

— Bom aproveito. — Fala e se afasta.

Dou uma olhada para o lado vendo que os clientes que antes estavam
nos encarando voltaram a se concentrar nas suas cervejas, me fazendo
suspirar de alívio, odeio chamar atenção. Seguro a caneca de madeira, que
me lembra algo medieval, e dou um gole generoso. Estava esperando o
sabor amargo que a cerveja tem, contudo, o sabor desta é esplêndido, quase
gemo em pura apreciação. Bebo mais um pouco e é impossível parar, não
levo nenhum um minuto para secar a minha caneca.

— Caramba, Low, vai com calma. — Laila pede e sorrio olhando para
ela.

— Estava uma delícia, foi difícil beber devagar. — Digo limpando o


bigode que a espuma provavelmente fez, Laila faz uma careta para minha
caneca vazia. — O que foi?

— Acho que vou querer uma cerveja normal. — diz empurrando a


caneca para longe, Kaden que acaba de retornar para atrás do balcão cai na
gargalhada, quando vê o que minha amiga está fazendo.
— Eu disse que era muito forte para vo... — Sua frase para quando
ele pega minha caneca e a vê vazia. — Você tomou a sua? — sua pergunta
me faz rir.

— Sim, e estava esplêndida. Pode deixar a caneca da minha amiga


comigo, porque eu vou querer mais dessa maravilha.

Kaden arqueia suas sobrancelhas loiras, mas faz o que peço. Seguro a
caneca da minha amiga e bebo metade do líquido fazendo o homem ficar
surpreso. Depois do show que faz Laila rir, decido beber devagar, pois não
quero ficar bêbada no dia do meu aniversário, mesmo que eu acredite que a
ideia da minha amiga tenha sido exatamente essa: me embebedar.

Depois de meia hora estou relaxada, curtindo meu aniversário de


forma mais tranquila, e agradeço imensamente a Laila por isso, talvez era
disso que eu estava precisando e minha amiga, sendo incrível como é,
percebeu. O moreno que me intrigou desapareceu depois que Kaden nos
serviu as cervejas e não voltou mais, o que me fez ficar um pouco
decepcionada por não poder continuar olhando para ele, mas, por outro
lado, foi perfeito ficar conversando e rindo com a Laila. Nossas vidas têm
sido tão corridas nos últimos dias que mal passamos tanto tempo juntas.

Kaden e seu irmão gêmeo, Kael, ficaram perto de nós, nos servindo e
conversando um pouco. O outro homem, que eu descobri se chamar Beau,
ficou responsável pelos outros clientes. Laila amou a atenção especial que
estava ganhando dos gêmeos, e optei em ficar na minha, tomando minha
cerveja tranquilamente.

A sensação que tomou meu coração, depois de algumas horas, foi de


êxtase. Eu sabia por algum motivo que vir neste bar no dia do meu
aniversário, foi o melhor presente que eu poderia ter ganhado, eu só não
entendia ainda o porquê.
02
Willow
Ainda estamos no bar comemorando meu aniversário e Laila achou
que é o momento perfeito para marcarmos uma visita em um dos pontos
turísticos de Leston[3], a cidade vizinha. Dou um gole na minha cerveja
artesanal, pensando naquela proposta maluca dela de irmos até lá para
participarmos do que ela chamou de “O melhor dia de todos.”

— Sério, Low, nós precisamos ir. — Laila reforça a oferta de irmos


ao restaurante temático da cidade vizinha. — Ia ser engraçado ver você pela
primeira vez fantasiada de vampira.

Caio na risada, isso me lembra a época que éramos fanáticas por


vampiros, lobos e bruxos e nos fantasiávamos no halloween. Dou de
ombros sem poder aceitar ou negar o seu convite. Tenho trabalho demais na
minha oficina, recebi muitos pedidos de desenhos e pinturas nas últimas
semanas, e apesar de amar o meu trabalho, eu sempre fico cansada e sem
ânimo para nada além de dormir quando encerro o dia.
— Tem certeza? — provoco, porque ambas sabemos quem é a
fanática por vampiros dentre nós.

— Você de vampira? — Laila pergunta alto demais chamando a


atenção dos clientes ao nosso redor, mas ela parece não se importar. — Não,
de jeito nenhum, você sempre será time lobos. Cancele o convite. —
Caímos na risada.

Na adolescência, Laila era time vampiros, e eu time lobos, os bruxos


eram um campo neutro para nós. Os livros de fantasia e filmes da época
foram o que me ajudaram a lidar com a descoberta de ter sido adotada pelos
Ray quando ainda era um bebê. Mamãe e papai não tinham pretensão de me
contar, mas devido a uma enfermidade que me fez ficar internada por
alguns meses, eles acabaram tendo que me explicar porque o sangue deles
não podia me ajudar.
Fiquei meses de cama, Laila me visitava todos os dias com seus livros
de fantasia, e quando as enfermeiras permitiam, assistíamos aos filmes no
quarto. Foi uma época conturbada por tudo estar acontecendo de uma vez,
mas tendo os pais que eu tinha eu consegui lidar com tudo de forma
madura, mesmo tendo apenas quinze anos na época.

Pensar nos meus pais me bate uma saudade e tristeza grande demais,
nunca superei a morte deles, ainda mais porque hoje há vinte e cinco anos
eu entrava na vida deles. Eles faleceram há cinco anos, primeiro foi meu
pai, que sofreu um infarto devido aos seus problemas cardiovascular,
mamãe tentou se manter forte depois de perder seu companheiro de uma
vida, mas a tristeza que se abateu nela, a fez ficar doente, e depois de sete
meses do falecimento do meu pai, foi a vez de me despedir da minha mãe.

Afasto a tristeza e sorrio olhando para a minha amiga.

— Considere cancelado. — Decreto e rimos.

Continuamos a beber e conversar que mal vemos as horas passarem,


quando dou por mim já passa das duas da madrugada, e eu preciso ir
embora porque amanhã cedo tenho encomendas de quadros para entregar,
por isso me coloco de pé e aviso a minha amiga que vou no banheiro e que
depois podemos ir embora.

Antes de me afastar pergunto a Kaden onde fica o banheiro feminino


e ele me aponta o corredor, explicando que é na terceira porta do lado
direito. Agradeço e me encaminho naquela direção.
Assim que chego no corredor, procuro pelo banheiro feminino e não
demoro a localizá-lo. Passo por duas portas fechadas entrando no reservado.
Rapidamente me alivio, quando lavo minhas mãos aproveito para refrescar
minha nuca e meu rosto. Não me sinto bêbada, contudo, sinto-me mais
quente, minha pele parece estar queimando. No reflexo do pequeno espelho
vejo meus olhos intensificarem a cor das minhas íris, algo que sempre
acontece, mas que hoje aparenta estar mais.

Ajeito meus cabelos e abro a porta para voltar, porém bato contra algo
duro que quase me faz cair, contudo, mãos fortes me seguram impedindo
minha queda. Levanto minha cabeça para agradecer e sou atingida por uma
floresta viva refletida nos olhos verdes mais lindos que já vi. O homem na
minha frente me olha de forma curiosa enquanto eu o olho com mais
atenção.

Seus cabelos são loiros e batem acima dos ombros, ele possui uma
barba cerrada de pelos loiros, na sua bochecha esquerda, um pouco abaixo
do seu olho, ele tem uma pinta, que por algum motivo me imagino
lambendo-a. O que acabo de pensar? Ele é tão lindo que, por alguns
segundos, perco a fala. O toque das suas mãos nos meus braços faz meu
corpo queimar ainda mais, deixando-me soterrada no que estou sentindo.

— Você... hum, está bem? — O som da sua voz deixa meu corpo
trêmulo, impossibilitando que eu consiga respondê-lo sem ficar evidente na
minha voz o que ele está me causando.

Tudo que consigo sentir é o impacto dos seus olhos nos meus, e o
cheiro de menta que vem dele até mim. Meu coração bate mais rápido,
meus lábios ficam secos obrigando-me a molhá-los com a língua. Meu
movimento não passa despercebido por ele, e ter seus olhos focados na
minha boca faz meus mamilos ficarem duros, e minha calcinha úmida.
Oh, santo Deus, de novo não!

— Está tudo bem? — ele volta a perguntar e limpo a garganta,


querendo que ao menos uma grama do meu juízo retorne para meu corpo e
desfaça as imagens indecentes que estar na sua presença está evocando.

— Si-sim. — Respondo abalada.

Ele me solta e quase gemo em protesto. Ele estreita seu olhar para
mim e começa a descer seus olhos pelo meu corpo. Meus mamilos estão tão
duros que se tornam perceptíveis para ele assim que sua atenção foca nos
meus seios. Aperto minhas coxas em busca de alívio. Enquanto sua
avaliação não termina, seus olhos percorrem meu corpo demoradamente e,
assim que ele para sua inspeção, seu nariz dilata, suas íris cintilam e um
sorriso se abre nos seus lábios.

Meu corpo se arrepia logo que ele volta com seus olhos verdes para
os meus, estou tão impactada que encontro dificuldades para respirar.

— Seu cheiro de... — ele começa a dizer avançando na minha


direção, dou um passo para trás encostando as costas na parede. Estou
respirando entrecortado quando ele para na minha frente com a boca a
milímetros da minha e com o seu cheiro de menta quase me deixando tonta.
— Cereja... — ele abaixa a cabeça e respira fundo na curva do meu
pescoço. — É maravilhoso, e eu estou louco para provar.

Fecho os olhos, quando o ar quente da sua boca toca minha pele


sensível. O aroma de menta fica mais forte me obrigando a respirar mais da
fragrância que está me entorpecendo.
— Estou tão duro por você. — Sua fala crua me faz abrir os olhos
para encarar os seus, e sou atingida duramente por seu cheiro, por seu rosto
e por sua voz. — Quem é você? — pergunta perto demais.
Seus olhos cintilam e um sorriso de covinhas faz meu coração bater
de forma descontrolada. Quando sua boca avança rumo à minha me
sobressalto o parando com a minha mão no seu peito.

— Eu... eu... preciso ir. — Digo nervosa, apressando meus passos


para longe dele.

Quando estou longe o suficiente, olho por cima do ombro, vendo-o


parado no mesmo lugar, olhando para mim e ainda sorrindo. Seguro a mão
que o tocou sentindo-a ardendo como se eu tivesse tocado em brasa. Ele faz
o mesmo que eu alisando seu peito. Desvio meus olhos no mesmo instante,
voltando para perto da minha amiga sem entender o que acabou de
acontecer.
03
Raze
Que cheiro maravilhoso de jasmim é esse?
Deixo a caneta sobre a mesa para sentir melhor o cheiro que deixa
meu lobo agitado, porém logo rosno em desgosto, assim que um novo
cheiro chega até meu olfato, mas ao contrário do outro, este é repugnante e
inconfundível. Humano. Faz meses desde a última vez que humanos vieram
ao bar, e eu esperava que nenhum deles voltasse nunca mais.

Quando eu e minha alcateia decidimos sair do reino de Symes para


viver entre os humanos, escolhemos morar em Sanches, perto da alcateia do
meu grande amigo Zayn, o alfa da alcateia guerreiros de sangue, que está
estabelecida na cidade vizinha, Leston.
Morar em Sanches, perto dos humanos, me fez comprar um terreno
que fica quase fora da cidade, onde construímos nossa casa e bar. Queremos
ter o mínimo possível de convívio com eles. Depois de presenciar de perto
do que eles são capazes, não quero e nem posso arriscar expor minha
alcateia a eles.

O passado não voltará a se repetir.

— Maldição!

Bato com o punho na mesa do escritório assim que escuto a animação


da humana. Toda a tranquilidade que estava sentindo foi substituída
rapidamente pela raiva. Levanto-me e vou em direção ao bar. Vou pedir
para Kaden, Beau e Kael, que são os que estão trabalhando hoje, para
lidarem com essa merda.
Não quero ter de expulsar novamente humanos bêbados que não
conseguem beber cervejas feitas especificamente para lobos. Assim que
entro na área do bar, meus olhos se prendem automaticamente na mulher
pequena que está me encarando. Seus olhos são de um azul translúcido
fascinante, seus cabelos são longos e ruivos, seu corpo tem curvas que
fantasio explorando enquanto ela me cavalga.

Quando volto a olhar para seu rosto, percebo a luxúria brilhar nos
seus olhos. O cheiro da sua excitação chega até mim como um soco,
fazendo meu lobo rosnar querendo a fêmea que parece tão disposta a estar
comigo. Contudo, meus pensamentos devassos são colocados de lado
quando um cheiro a mais exala da mulher que a pouco estava me
embriagando no seu aroma de jasmim.

Ela é uma humana.

Como se um balde de água fria houvesse sido derramado sobre minha


cabeça obrigo meu lobo a recuar. Desvio meus olhos dos dela, repudiando o
que acabo de sentir por uma humana, porém fico incomodado quando me
encaminho até meu beta, Kaden, que está atrás do balcão, sem dar um
segundo olhar para a ruiva que deixou meu coração acelerado.

Ele está olhando de forma engraçada para a humana na sua frente


assim que paro ao seu lado. Praguejo umas três maldições por ter que
suportar humanos empesteando meu bar novamente, da última vez eu tive
que me controlar muito para não os expulsar na minha forma de lobo. Beau
é o primeiro a falar assim que percebe minha presença.

— Humanas no bar, alfa. — Fala telepaticamente através do nosso


vínculo de alcateia.
— Eu senti o cheiro assim que elas passaram pela porta. —
Respondo em desgosto.

Opto por deixar de fora o fato de que uma delas mexeu com meu lobo
ao ponto de me deixar duro. Minha alcateia sabe o quanto não suporto os
humanos. A raça deles depois de Zander Calla e Allegra Roux são os mais
próximos a quererem nos extinguir. Eu ainda lembro muito bem do que os
humanos são capazes, e acredito que nada e nem ninguém me fará esquecer.

— Duas fêmeas lindas, vale mencionar. — Kaden se intromete na


nossa conversa tirando-me de lembranças dolorosas. — Fêmeas humanas
não pisam no bar em que... Vinte anos? Espero que elas voltem sempre.

Travo a mandíbula para não dar a resposta que eu quero. Dou uma
olhada para as duas, e a fêmea que deixa meu lobo ouriçado está com seus
olhos azuis presos em mim. Causando novamente aquela onda indesejada
pelo meu corpo, bufo desviando meu olhar do dela.

— Eu decidi, quero experimentar essa cerveja artesanal. E você,


Low? — A humana de cabelos escuros escolhe sua bebida e eu quase rosno.

Nossa cerveja artesanal não é para humanos!

A ruiva, que ainda continua me olhando, abaixa a cabeça para ler


nossa cartela de bebidas e eu controlo a fúria que começa a crescer dentro
de mim. Por que caralhos ela fica me olhando tanto? Enquanto ela gasta
alguns segundos escolhendo sua bebida, vagueio meus olhos por seu rosto,
cabelos, focando nas suas mãos delicadas, imaginando elas ao redor do meu
pau inchado. Ela conseguiria manuseá-lo ou sua pequena mão não fecharia
ao seu redor?
Mas que merda estou pensando?
— Vou querer uma cerveja artesanal também. — Ela fala e a sua voz
é um bálsamo que anseio escutar gemendo meu nome enquanto a fodo duro.

A outra humana começa a bater palmas animada, me obrigando a


respirar fundo e parar de pensar no que não vai acontecer. Eu nunca foderia
uma humana, ainda mais essa ruiva que...

— Só pode ser brincadeira. — Kael fala rindo, interrompendo minha


linha de pensamentos e quase o agradeço por isso. — Aposto cem dólares
que elas cospem assim que tomarem o primeiro gole.

Dou uma olhada para Kael, que está um pouco afastado, e nego com a
cabeça, não vou entrar nas apostas idiotas deles.

— Duzentos, que só o cheiro vai fazê-las desistirem. — Beau aumenta


a aposta escondendo o sorriso das humanas.

Kaden dá uma olhada para mim e volta sua atenção para elas,
aparentemente ele não participará da aposta. Dessa vez.

— Essa cerveja é muito forte para huma... vocês. — Ele diz e Beau
cutuca suas costelas.
— Que merda, Kaden, se não vai entrar na aposta não atrapalhe!

Mantenho meus olhos na ruiva e não demora para seus olhos se


prenderem nos meus. Ficamos por um seis segundos nos encarando, merda,
eu contei?, porém mais uma vez me obrigo a desviar o olhar.

— Kaden, dê a elas o que estão pedindo. — Determino, preciso me


afastar dela.

Dou uma última olhada para a humana e a vejo distraída com Kaden
enchendo as canecas. A cada passo que dou para longe dela o incômodo
dentro do meu peito fica mais forte, contudo, eu não fico pensando muito
para descobrir o porquê.

***

Estou terminando de fazer o pedido da próxima carga de bebidas, que


a alcateia de Zayn costuma nos enviar, já que trabalhamos para eles como
fornecedores, quando Deon entra no escritório. Pela expressão no seu rosto
ou ele fodeu alguém ou está prestes a foder, meu amigo ao contrário do
resto de nós necessita do sexo como necessita do oxigênio para viver.

— Alfa, permissão para foder uma humana? — paro de anotar o


pedido e levanto meu olhar sem acreditar nas palavras que acabaram de sair
da sua boca. — Eu sei que não devemos chegar perto dos humanos, mas
tem essa humana lá fora e... Porra, ela está molhada apenas porque eu a
toquei, seu cheiro de cereja é doce e eu preciso descobrir se o seu gosto
também é.

Deon sempre soube como me irritar, ele nunca precisou mais do que
algumas palavras para me deixar fervendo de raiva. A curiosidade de saber
qual das duas humanas ele está falando quase me faz questioná-lo, porém
decido não perguntar absolutamente nada.

Respiro fundo várias vezes antes de falar qualquer coisa, Deon apesar
de ser imoral, imprudente e pensar na maioria das vezes com o pau, é um
amigo leal, que sempre quer o melhor para a alcateia. Ele nunca se
importou de colocar sua vida depois da do Kaden, Kael, Griffin, Beau e a
minha.

— Deon, saia e entre novamente, vamos fingir que você não me


perguntou uma merda dessas. — Peço, contudo, não surte efeito nenhum,
ainda mais quando Deon passa a língua nos lábios e sorri.
— Raze, ela está pingando, imagina o quanto deve estar macia e
quente para me receber. — Grunhe. — Ah, é mesmo, você nem deve se
lembrar, já que não fode ninguém há tanto tempo. — A sua ofensa não me
atinge, mas eu sei que atinge a ele mesmo.

Fazer sexo por fazer não é tão prazeroso, é algo mecânico, e muitas
das vezes vazio. Os lobos machos só começam a sentir o prazer real depois
que acasalam e entram em frenesi pela primeira vez, algo que só acontece
depois que a companheira de alma aparece e incita o frenesi do seu
companheiro.

Infelizmente, foi o que aconteceu com Deon de certa forma, sua


companheira apareceu na sua vida há alguns anos, despertou o frenesi dele
e toda a alcateia sentiu o efeito, afinal o vínculo que nos une é tão forte e
único que podemos sentir o que o outro está sentindo.

Acontece que Calina, a loba que apareceu se passando pela


companheira de alma de Deon, na verdade não passava de uma loba
interesseira, que usou de magia das trevas para incitar o frenesi de um de
nós, e acabou atingido o Deon, que nunca mais foi o mesmo desde que
aquela maldita tirou dele o que nunca pertenceu a ela.

— Deon, até quando você vai buscar por algo que somente sua
companheira de alma pode lhe dar? — pergunto fazendo sua expressão
fechar. — Aquele prazer que a Ca...

— Não diga o nome daquela desgraçada! — me interrompe, e sinto


através do nosso vínculo sua raiva surgir. — Eu não vou passar a eternidade
acreditando numa felicidade fantasiosa!

— Deon, apenas lembre-se... — tento, porém ele não deixa.


— Eu não vou me privar de fazer sexo esperando por uma
companheira de alma que pode nem existir.

Logo a tristeza dele enche meu peito. Depois de Calina, meu amigo
nunca mais foi o mesmo. Suspiro sem saber o que dizer. Quando Calina foi
desmascarada pelo mago Kai Basset, os anciões decretaram-na ao
julgamento vindimar por usar magia das trevas, o que machucou ainda mais
Deon. Devido à ligação forjada pela magia das trevas, meu amigo sentiu a
perda dela como se estivesse perdendo sua companheira de alma de
verdade. Foi doloroso assistir, foi doloroso compartilhar daquela dor.

Desde então ele busca por prazeres vazios para preencher sentimentos
falsos causados por Calina.

— Ela existe, você sabe que sim. — Afirmo, fazendo-o bufar. — Kai
previu sua felicidade, previu seus filhotes. Você será feliz, Deon.

Quando Deon entrou numa espiral de destruição, Kai Basset previu o


futuro dele, garantindo que no dia que o azul mais brilhante surgisse na sua
vida, seria o dia que sua companheira de alma lhe traria a verdadeira
felicidade. E que eles seriam agraciados com muitos filhotes ao longo da
vida.
— Eu não tenho nada de bom para oferecer, não mais. Ela irá se
decepcionar com o companheiro que o destino lhe escolheu. — A tristeza
na sua voz me atinge, sendo o alfa da alcateia a felicidade dos meus lobos é
minha prioridade.

— Confie no destino. — Recito a frase que tenho falado desde que


tudo aconteceu. — Ele se encarregará de trazê-la no tempo certo.

Deon não fala nada, apenas acena saindo do escritório. Volto para os
papéis, porém me lembro da conversa que estávamos tendo antes de
trazermos o passado à tona.

— Não é para foder com nenhuma humana. Ou se esqueceu das leis


dos anciões?

— Estraga-prazeres, por pouco você me fez acreditar que eu podia. E


os anciões nunca falaram nada de não poder foder com humanos.

Gargalho através do nosso vínculo, voltando para meu trabalho, mas


logo sou interrompido com risos e uma conversa sussurrada entre as duas
humanas. Bufo, mas fico atento no que elas falam, a voz da ruiva continua
sendo um maldito canto para meus ouvidos.

— Low, eu poderia viver perigosamente e ser o recheio de Kaden e


Kael. — Reviro os olhos assim que as risadas dos gêmeos soam na minha
cabeça.
— Laila, fala baixo, ou quer que eles escutem? — Os idiotas riem
ainda mais. — Acho melhor irmos. — A amiga concorda e logo escuto elas
pedindo a conta para Kaden.

Ainda bem, espero que elas nunca mais voltem. No entanto, pensar
em nunca mais ver a ruiva faz meu lobo pular e rosnar dentro de mim.
Mas que merda isso significa?
04
Willow
Sinto meu corpo pegando fogo, o calor que me consome é tanto que
me reviro na cama em busca de alívio. Gemo assim que sinto algo molhado
ser passado na minha intimidade, ao mesmo tempo em que alivia um pouco
do meu tormento, me faz protestar querendo mais daquilo subindo e
descendo por toda a sua extensão.

— Mais. — Clamo, e escuto uma risada rouca.

Forço meus olhos a se abrirem e me deparo com o homem loiro do


corredor do bar completamente nu entre minhas coxas, seu sorriso de
dentes brancos é o mesmo que ele me deu naquele corredor. Fico sobre
meus cotovelos para assisti-lo me dando prazer. Não busco uma explicação
para o que está acontecendo, eu só quero que ele continue o que está
fazendo e não pare. Mantenho meus olhos presos nos seus gemendo baixo
com cada golpe da sua língua no meu clitóris.
Seus olhos verdes ficam presos nos meus assim que ele penetra sua
língua no meu interior. O brilho de satisfação no seu olhar faz eu me
contorcer querendo muito mais do que somente a sua língua dentro de mim.
Ele não demora para me tocar com seus dedos, espalhando a lubrificação
pelas minhas dobras. Meu clitóris pulsa querendo receber o seu toque,
implorando por sua atenção.

— Calma, antes de lhe dar o que você tanto quer, eu quero vê-la
implorando, quero vê-la se contorcendo na minha boca enquanto sua
boceta pulsa ao redor da minha língua. — Declara abocanhando toda a
minha intimidade, fazendo-me gritar de prazer.
Meus gemidos e gritos são altos, eu não consigo controlar o que ele
está fazendo comigo, e eu não poderia me importar menos com isso. Sentir
seu toque, deixa meu corpo em estado de erupção, apenas ansiando o
instante em que eu vou explodir no melhor dos orgasmos.

— Por favor. — Imploro quando a tortura da sua boca se torna


insuportável.

Tudo que ele está fazendo com seus dedos e língua é demais. Eu
preciso gozar. Percebendo o meu desespero, ele concede o que eu tanto
quero, ele penetra dois dedos na minha boceta ao mesmo tempo em que
fecha seus lábios em torno do meu clitóris, mamando meu nervo sensível
como se fosse um mamilo.

Jogo minha cabeça para trás, levanto meu quadril e fecho os olhos
me deixando ser varrida pelo orgasmo mais avassalador que já senti.
Agarro os seus cabelos e me esfrego no seu rosto sem vergonha nenhuma
do que eu quero, sem me importar com nada além de alcançar minha
libertação.

— Não para, por favor, não para. — Gemo entorpecida. Me esfrego


mais rápido no seu rosto, fazendo sua barba arranhar a pele sensível das
minhas coxas. — Que delícia. — Deliro em total prazer.
Sem conseguir aguentar mais gozo forte, minhas pernas tremem e
quase desabo no colchão, porém, ele me ampara antes, segurando meu
quadril para continuar bebendo de mim. Abro meus olhos vendo-o me
lambendo devagar, limpando qualquer rastro do meu orgasmo.

— Delícia mesmo é vê-la gozando e quase me afogando nessa boceta


molhada do caralho. — Comenta vindo para cima de mim. — Lamba meu
rosto e sinta seu gosto. — Seu pedido soa como uma ordem indecente aos
meus ouvidos.

Não sei o que acontece, mas dentro de mim, eu quero fazer


exatamente o que ele pediu. Quero agradá-lo, quero deixá-lo louco. Não faz
sentido o que estou querendo, e não fico pensando muito para descobrir o
porquê, apenas faço. Lambo seu pescoço, seu rosto, seus lábios, sentindo
meu gosto e cheiro por toda a sua pele. Fazendo minha excitação aumentar,
mas não mais que minha satisfação por saber que é o meu cheiro
impregnado nele.

— Esse brilho nos seus olhos é perigoso. — Fala, mas não parece
nenhum pouco preocupado. — Está querendo me reivindicar? — enterra
seu rosto na curva do meu pescoço inalando meu cheiro profundamente. —
Humana, você não passa de uma humana.

Não entendo o que ele quer dizer com isso, contudo, logo sou
distraída com seus dentes escovando a pele do meu pescoço. Tremo nos
seus braços. Minha pele formiga. Meu sangue queima. Eu preciso ter mais
dele, ter apenas sua boca e dedos não foi o suficiente. Seguro nos seus
cabelos forçando seus olhos a se fixarem nos meus, a prova do meu
orgasmo ainda brilha no seu rosto, por isso, coloco a língua para fora
pegando mais do meu gosto na sua pele.

— Ainda está excitada. — Afirma. — Eu quero sentir sua pequena


boceta pulsando ao redor do meu pau igual fez com a minha língua.

Em segundos, ele se coloca de pé, seu pau fica diante de mim, muito
duro e grosso. A cabeça está melada e avanço no seu corpo querendo
chupá-lo, querendo desesperadamente fodê-lo. Contudo, ele me segura
parando meu avanço, protesto, mas ele se mantém convicto no que deseja:
me dominar. Ele me levanta da cama e gira meu corpo até eu estar como
ele quer, de quatro no colchão.

Sua mão grande força minhas costas para baixo, deixando minha
bunda para o alto. Minha respiração engata. A ansiedade pelo que virá a
seguir, quase me comendo viva. A expectativa de tê-lo atrás de mim me
fodendo na minha posição favorita deixa minha boca salivando e minha
boceta pingando.

— Assim, é assim que eu a quero. — Declara e estoca seu pau todo


dentro de mim.

Mesmo estando muito lubrificada, sinto ardência por causa da sua


grossura e seu tamanho. Ele espera um pouco até eu me acostumar, e assim
que pulso ao redor do seu membro ele começa a estocar. Seus movimentos
ficam cada vez mais rápidos, e suas estocadas curtas. Ele fecha sua mão na
minha nuca e me fode com ódio. Do jeito que eu gosto. Minha boceta
molha seu pau fazendo o som molhado preencher o quarto. O suor na
minha testa escorre pela lateral do meu rosto, meu clitóris é surrado por
suas bolas, e eu não poderia estar mais satisfeita.

Estou sendo muito bem fodida, e nem me lembro a última vez que isso
aconteceu, ou melhor, se é que já chegou a acontecer.

— Porra! — rosna, sua voz parece quase animalesca. — Tão


molhada, tão apertada, tão faminta.

Grito de prazer com as duras investidas do seu pau. Estou quase


gozando e ele nem ao menos tocou no meu clitóris, eu nunca gozei assim.
Meu corpo queima, a sua mão na minha nuca faz o excelente trabalho de
me manter parada, porque o que eu mais quero neste momento é brigar
com ele pela dominância.
Eu quero montá-lo.

— Continue me apertando assim e não vai demorar para eu enchê-la


com a minha porra. — Grunhe e arremete mais forte.

Gemo indo de encontro com suas estocadas, o som molhado da minha


boceta fica mais alto, duelando com os sons dos meus gemidos e os
rosnados dele.

— Estou tão... Perto. — Digo pulsando ao redor do seu pau que


parece ter ficado maior e mais grosso.

— Ordenha meu pau. — Ordena e geme selvagem.

Levo minha mão para o meio das minhas coxas, querendo gozar junto
com ele, porém antes que eu toque no meu clitóris sua outra mão segura
meu braço, imobilizando-o atrás das minhas costas. Sinto o peso do seu
corpo e logo sua boca está colada na minha orelha enquanto continua a me
foder.

— Você irá gozar sem se tocar. — Mais uma ordem.

Fecho os olhos, pois tudo está sendo demais para mim, Minhas
pernas bambeiam, meus gemidos ficam desesperados, e seguindo sua
ordem, gozo sem precisar estimular meu clitóris. Ele me acompanha
gemendo e rosnando alto demais, fazendo as estruturas do meu corpo virem
a baixo. Caio na cama com ele em cima de mim, ainda todo enterrado no
meu interior.

— Durma bem. — Murmura no meu ouvido alguns segundos depois e


logo o peso sobre mim é aliviado.

Tento virar meu corpo, mas estou sem forças. Tudo que consigo fazer
é virar meu rosto a tempo de vê-lo sair pela janela do meu quarto sem
roupa nenhuma.

Desperto assustada. Estou suada, ofegante, com minhas coxas


meladas e com o coração batendo rápido demais. Olho para a mesinha ao
lado da cama e vejo que ainda não são nem cinco horas da madrugada. Caio
de costas no colchão e fecho os olhos.

Respirando devagar, penso no sonho erótico que acabo de ter com um


desconhecido, e o meio das minhas coxas volta a pulsar. Levanto-me da
cama indo até a janela para receber um pouco de ar gelado no rosto. Preciso
acalmar o calor que está consumindo meu corpo.
Do outro lado da rua, vejo um urso escuro e grande olhando
diretamente para mim e fico assustada por ver o animal aqui tão longe da
floresta, por estar no segundo andar forço minhas vistas para olhar melhor
para ele, e arregalo os olhos assim que percebo que não se trata de um urso,
mas sim de um lobo.

Fico fascinada pelo animal e por ser tamanho que me assusto quando
o escuto uivar, ele mantém sua atenção em mim e uiva mais uma vez antes
de correr para longe. Debruço na janela para ver aonde ele foi, mas
infelizmente o perdi de vista. Suspiro e decido voltar para cama, preciso
descansar, o sonho foi intenso demais.
05
Willow
Eu sei que não deveria estar aqui, ainda mais depois de um dia
cansativo de trabalho, onde passei a maior parte do meu horário pintando os
olhos verdes fascinantes do homem que sonhei de novo, tenho feito muito
isso nos últimos cinco dias. No entanto, sou incapaz de ficar mais um dia
revivendo aquele sonho.

Dias se passaram e nada me faz esquecer o sonho que tive com ele.
Por isso eu sabia que precisava voltar ao bar, para quem sabe vê-lo de novo
e com isso acalmar meu corpo. Aquele sonho foi tão real que ainda sinto os
efeitos toda vez que repasso ele na minha mente.

— Vocês duas por aqui novamente? — Kaden nos cumprimenta


assim que nos sentamos nas banquetas. Dou uma olhadela para uma Laila
sorridente por revê-lo.
Aguentar minha amiga falando de Kaden e Kael, só não foi mais
difícil do que suportar as imagens daquele sonho surgindo na minha mente
a cada hora importuna do meu dia. Foi impossível me concentrar em
qualquer coisa quando pensava no rosto dele com aquela pinta charmosa, e
seu tronco tonificado por músculos.

Sim, definitivamente foi impossível me concentrar com a imagem dele


gravada na minha mente.
— Como não voltar para o melhor bar de Sanches? — minha amiga
declara animada como só ela consegue ser numa quarta-feira.

Fico na minha e olho para os lados procurando por alguém que eu só


vi uma vez, e que eu não sei absolutamente nada. O quão maluco pode ser
isso? Laila me garantiu que é normal, mas eu tenho minhas dúvidas.
Acredito que ela apenas concordou comigo para que eu lhe contasse cada
mínimo detalhe do sonho.

Depois de ser assombrada por aquele sonho durante dias, hoje criei
coragem de compartilhar com minha amiga a sina que tenho vivido desde
então, e Laila sendo Laila agarrou minha mão e me arrastou para o bar.
Minha amiga está convicta que aquele sonho é um prelúdio do que está por
vir, e que eu sou uma sortuda.

— Kaden, me conte uma coisa. — Laila se debruça no balcão ficando


mais perto dele. — Você conhece um homem de cabelos loiros que batem
um pouco acima dos ombros e que esteve aqui na semana passada?

Sinto meu rosto pegar fogo assim que Kaden olha de Laila para mim,
mas abaixo a cabeça envergonhada demais para encará-lo. Laila prometeu
que seria discreta e que me ajudaria a descobrir quem pode ser o homem
misterioso, o que me arrependo agora por ter aceitado.

— Bem, eu conheço muitos homens que se encaixam nessa descrição,


precisa ser mais específica. — Ele estreita os olhos para nós duas e limpo a
garganta, um código para Laila deixar para lá, mas é claro que não é isso
que ela faz.

— Cara de mau, olhos verdes brilhantes e... — A maluca vira a


cabeça para mim o que faz Kaden fazer o mesmo, o interesse está
estampado nos seus olhos. — O que mais amiga?

Por Deus, eu vou matar a Laila.

— Errr, me vê uma caneca de cerveja artesanal. — Mudo de assunto


fazendo os dois me olharem... aborrecidos? O que eles queriam, fofocar
mais sobre o tal homem? — Você vai querer o mesmo, amiga? — faço um
claro sinal para ela deixar para lá, que felizmente ela entende.
— Cerveja normal para mim. — Kaden se afasta e trato de puxar
minha amiga para perto. — Nada de contar para o Kaden sobre o sonho,
esquece esse assunto. — Murmuro.

Laila dá uma olhadinha para Kaden que está distraído pegando nossas
bebidas, depois suspira focando seus olhos escuros em mim.

— Low, o homem te fodeu no sonho e isso fodeu sua cabeça,


precisamos saber quem ele é para assim você...

— Eu nada, foi apenas um sonho. — Interrompo sentindo um arrepio


percorrer meu corpo.

Não posso lembrar daquele sonho agora, pelo amor de Deus.

— Um sonho bem quente. — Cantarola e a repreendo com o olhar. —


Tudo bem, vamos apenas ficar por aqui, preciso babar um pouco mais no
Kaden. Onde será que está o Kael?

Nego com a cabeça desacreditada na cara de pau da minha amiga e


tudo que ela faz é dar de ombros e rir. Logo uma caneca cheia até a borda é
posta na minha frente e sorrio. O sabor dessa cerveja é algo que deveria
estar entre as sete maravilhas do mundo.
— Eu ainda quero saber como você consegue beber isso e não querer
vomitar. — Laila fala fazendo uma careta.

— Eu também gostaria de saber. — Kaden concorda com os braços


cruzados em frente ao peito. — Ela é bem forte, não sente nenhum gosto
diferente?

Franzo a testa e dou um gole tentando descobrir a que gosto ele está
se referindo, porém tudo que sinto é o sabor magnífico explodindo na
minha boca.
— O gosto dos céus? — brinco limpando o canto da minha boca.

— Bem, isso é muito incomum e peculiar. — Ele coça o queixo,


parece estar pensando em voz alta e nem se dá conta. — Aproveitem, vou
atender algumas mesas, qualquer coisa peçam ao Griffin... — ele aponta
para atrás de nós, mas nem faço questão de olhar para continuar apreciando
minha cerveja, apenas Laila segue o seu movimento. — Hoje é ele que está
no turno do Kael. — Laila está prestes a falar, mas Kaden já se afastou.
Minha amiga faz bico e sorrio por trás da caneca.

Estou distraída olhando para as prateleiras lotadas de garrafas que não


percebo que alguém está falando comigo, e quando foco meus olhos na
pessoa sou golpeada fortemente pelo aroma de laranjeira que enche minha
narina das melhores recordações da minha infância no pomar que meu pai
costumava me levar.

O homem na minha frente continua a falar comigo, mas tudo que


consigo fazer é prestar atenção no seu rosto, nos seus olhos azuis que me
fazem pensar em inverno com uma xícara de chocolate quente como
companhia. Ele tem o cabelo claro, cortado no estilo militar, seu rosto tem
uma barba rala, seus ombros são largos, e o que chama minha atenção é o
tamanho da sua mão quando ele a coloca espalmada sobre o balcão.

— Low, está tudo bem? — A voz de Laila me faz piscar e virar meu
rosto devagar para ela, que me encara alarmada. — Amiga, você está me
preocupando.

Volto meu olhar para o homem e o pego olhando para mim. Engulo a
saliva com dificuldades quando um sorrisinho cretino se abre no canto da
sua boca. Meu coração bate descompassado sem acreditar que mais uma
vez um homem que frequenta esse bar mexe com o meu corpo e
principalmente com a minha cabeça.
— Eu... estou... — limpo a garganta com dificuldade. — Bem.

Mas era uma grande mentira, porque não, eu não estava.


06
Griffin
Estou distraído atendendo alguns lobos que estão de passagem por
Sanches, quando meu coração acelera, os pelos dos meus braços se
arrepiam e o cheiro divino de baunilha se infiltra no meu sistema deixando
meu lobo eufórico e ansioso. Procuro a fonte e quase rosno de excitação ao
ver a fêmea deslumbrante que entra no bar.

Seus cabelos são vermelhos, seus olhos são de um azul tão esplêndido
que por alguns segundos me questiono se estou presenciando o céu limpo
de um dia quente de verão. Seu corpo é pequeno e curvilíneo, me fazendo
imaginar ela dentro do meu abraço, enquanto provo dos seus lábios
volumosos.

Ela está acompanhada de outra fêmea, e ampliando meu olfato


concluo que as duas são humanas. Doce inferno. A fêmea que acaba de
deixar meu lobo excitado não passa de uma humana. Sou mesmo um cara
sem sorte. Decido desviar meus olhos da tentação em forma de mulher
mesmo sentindo meu lobo resistir dentro de mim. O melhor que eu faço é
ficar na minha até que meu lobo se acalme.

Mesmo distante presto atenção na conversa que a outra humana acaba


tendo com Kaden, estranho suas perguntas sobre um loiro que pela
descrição que ela dá me faz pensar que é o Deon, no entanto, Deon nunca se
aproximaria de humanas. Quando elas fazem seus pedidos resolvo
continuar meu trabalho, porém a conversa sussurrada entre as duas chega
até meus ouvidos:

— Nada de contar para o Kaden sobre o sonho, esquece esse assunto.


— Low, o homem te fodeu no sonho e isso fodeu sua cabeça,
precisamos saber quem ele é para assim você...

— Eu nada, foi apenas um sonho.

— Um sonho bem quente. Tudo bem, vamos apenas ficar por aqui,
preciso babar um pouco mais no Kaden. Onde será que está o Kael?

Um sonho? Se o homem que a humana descreveu para Kaden for


mesmo o Deon... Não, ele não incitaria um sonho de alma[4] em uma
humana, não é? Além de ser contra o que a nossa alcateia acredita, Deon
não se aproximaria de humanos sabendo o quanto isso afetaria o nosso alfa.

Fico alguns segundos perdido em pensamentos que não presto mais


atenção na conversa das humanas até ouvir meu nome.
— Qualquer coisa peçam ao Griffin. Hoje é ele que está no turno do
Kael.

Meu coração bate descontrolado dentro do peito ansiando que a


humana que me instigou com seu cheiro vire para olhar para mim, como
sua amiga acaba de fazer, porém ela não se vira. Meu lobo rosna por não
ganhar um mísero olhar da fêmea mais linda que nós já vimos na vida.

Agindo de forma imprudente, algo que nunca fiz, caminho até elas. O
objetivo de me manter afastado acaba de ir por água abaixo. Meu lobo se
recusa a não ter a atenção dela, por isso, dou passos decididos na sua
direção. Eu preciso contemplar a cor dos seus olhos mais de perto, e quem
sabe fazê-los olharem para mim?

Assim que vou para trás do balcão elaboro alguma desculpa para
conversar com ela, mas quando paro na sua frente fico hipnotizado no seu
rosto e por alguns segundos esqueço do meu objetivo, perdido demais na
sua beleza, tentando inutilmente contar as muitas sardas que ela tem
espalhadas por seu nariz e bochechas.

Perfeita demais.

Limpo minha garganta e pergunto se elas precisam de mais alguma


coisa. Uma desculpa esfarrapada para chamar a sua atenção, porém, é a
outra humana que responde: Não. Fico um pouco frustrado, contudo, meu
foco continua na ruiva que nem levantou a cabeça para me olhar. Meu lobo
rosna aceitando seu desafio, e volto a fazer outra pergunta, ela não
responde, entretanto dessa vez consigo ter seus olhos sobre mim, e... merda.

Eles são ainda mais lindos vistos de tão de perto, meu coração bate
tão rápido diante da mulher à minha frente, que seu cheiro de excitação
aflora o instinto de acasalamento do meu lobo. A humana ao seu lado
pergunta se ela está bem, e um sorriso se abre nos meus lábios por ver o
quanto ela aparenta estar afetada por mim.

Eu não sou o único nisso, baby.

O cheiro da sua excitação fica mais forte e sou obrigado a espalmar


minha mão no balcão de madeira para segurar a vontade insana do meu
lobo de morder a fêmea agora mesmo.

— Eu... estou... Bem. — Ela responde a amiga e quase sorrio.

Está claro como o dia, que não, ela não está nada bem. Mantenho
meus olhos sobre ela e é quando ela estende sua mão para mim. Eu demoro
uns três segundos para encostar minha mão na sua, mas quando acontece
uma corrente elétrica passa dela para mim, indo diretamente para meu
coração.

Eu não sinto meu coração bater tão rápido desde que os pais de Deon
me encontraram quase morto e me criaram como se eu fosse o filhote deles.
Eu tinha cinco anos, estava com medo, com fome e com frio. E neste
momento, meu coração bate da mesma forma que naquele dia, contudo, por
outro motivo.

Por ela.

— Meu nome é Willow. — Ela diz e aponta para a outra humana. —


E essa é a minha amiga, Laila.

— É um prazer. — E ela não imaginava o quanto eu estava sendo


sincero. — Meu nome é Griffin, mas podem me chamar de Griff. — Aperto
de leve sua mão e novamente sinto a corrente elétrica entre nós.

Willow abre um sorriso tímido e solta minha mão, que arde. Sorrio de
volta, e antes que eu continue conversando com ela, a voz de Deon soa na
minha cabeça:

— Griff? É sério essa porra?

— Está escutando minha conversa com as humanas? Deu para ser


um fofoqueiro como Kaden, Kael e Beau? — questiono e dou as costas para
as humanas para fingir que estou ocupado secando alguns copos.
— Ei, eu não sou fofoqueiro, eu apenas gosto de compartilhar as
informações. — Kaden diz se intrometendo onde não foi chamado.

Nossa, como pude esquecer como eles são? Quando um entra na sua
mente a porta fica aberta para todos os outros da alcateia entrarem também.

— Não é só as informações que você gosta de compartilhar. — Deon


implica e no mesmo segundo Kaden compartilha uma lembrança onde ele e
seu irmão fazem sexo com a mesma mulher.

— Saiam da minha cabeça! — ordeno fechando nosso vínculo.


Volto minha atenção para a humana e por um longo tempo fico
admirando sua beleza. Sua amiga percebe meus olhares, mas não diz nada,
tudo que ela faz é sorrir e piscar um olho para mim. O que será que isso
significa? Escuto baixinho a voz da Willow e constato que ela parece
chateada, penso em dizer alguma coisa que a faça sorrir, mas sou pego de
surpresa quando Deon aparece ao meu lado.

— Você por aqui? — pergunto e tudo que ele faz é rir na minha
cabeça.

Percebo na forma como ele olha para Willow que ele também foi
atingido pela beleza e o cheiro dela. Quando ela levanta sua cabeça e vê
Deon seus olhos se arregalam ligeiramente, escuto seu coração bater
acelerado, e o cheiro da sua excitação se torna mais forte. Ela se coloca de
pé e avisa a sua amiga que vai no banheiro, contudo, ela se encaminha até a
porta de saída do bar.

— O que está acontecendo com ela? — pergunto para um Deon que


começa a rir sem parar.

— Bom, me deixa te colocar a par de algumas coisas.


07
Willow
Eu não sei o que está acontecendo comigo, sinto como se eu estivesse
fora da minha própria pele. Meu corpo tem estado quente demais, causando
tremores que me fazem acreditar que eu possa estar com alguma doença.
Será que o que eu tive aos quinze anos está voltando, e talvez mais forte?
Descarto a hipótese no mesmo instante que vejo o homem do meu sonho
surgir atrás do balcão causando no meu corpo uma excitação tão forte que
sou obrigada a me curvar.
— O que está havendo comigo? Eu não entendo. — Murmuro para
mim mesma.

Tudo que estou sentindo vai além do natural, levanto a cabeça e


mordo os lábios para segurar a dor que me atinge por querer tocar nos dois
homens na minha frente, mas que eu sei que não devo. Luto contra mim
mesma o que faz a dor no meu peito aumentar, minha respiração fica
escassa me obrigando a fugir dali e ir para o mais longe que eu puder. Tudo
dentro de mim está incontrolável.

Fico de pé e antes que Laila perceba meu estado murmuro para ela
que vou ao banheiro. Eu só preciso ficar um pouco sozinha e acredito que
será o suficiente para ordenar meus pensamentos. Dou uma olhada por cima
do ombro e vejo minha amiga distraída tomando sua cerveja, enquanto
mexe no celular. Engulo em seco quando desvio os olhos para o Griffin e o
homem ao seu lado e os vejo olhando diretamente para mim.

Com passos apressados vou em direção à porta e saio para a noite.


Por alguns segundos, fico apenas sentindo o vento gelado no meu corpo que
está tão quente, porém logo busco refúgio debaixo de uma grande árvore
onde me curvo com as mãos nos joelhos respirando devagar. Sinto lágrimas
rolarem por meu rosto, uma tristeza profunda me toma e eu nem sei o
porquê.
— Eu sinto sua dor. — Escuto uma voz grossa e pulo assustada
virando-me para o homem misterioso atrás de mim.

Ele é alto, sua pele é escura, seus olhos são verdes, sua beleza é
estonteante. Nunca vi tal beleza até hoje. Ele usa uma capa preta com
capuz, contudo, eu não o conheço. Dou um passo para trás, e ele dá um para
frente. Olho para a porta do bar prestes a correr, mas ele levanta a mão me
fazendo ficar parada.

— Só mais alguns dias. — Declara e franzo a minha testa. — Eles


ainda não estão prontos para tudo que irá acontecer. Eu pensei que você
fosse aguentar quando os conhecesse, mas como posso ver a sua... Alma,
clama por eles.

Parece que alguém bebeu mais do que devia.

— Eu... eu... — olho novamente para a porta do bar. — Preciso voltar.

O homem acena e sorri para mim. Algo na forma que me olha me faz
relaxar. Parece loucura, mas eu simplesmente sei que ele não me fará mal.
Passo a mão no meu rosto limpando os resquícios das minhas lágrimas. Em
poucos dias me tornei uma confusão de sentimentos.

Sentimentos esses com os quais não estou sabendo lidar.

— O amor entre companheiros de alma é a magia mais pura, mais


forte e indestrutível que existe. — Franzo a testa não entendendo o que ele
quer dizer com isso. — Quando você se sentir perdida, desesperada, como
se seu coração estivesse sendo arrancado do seu peito, lembre-se do que eu
acabo de te dizer.
As palavras do homem misterioso me confundem. Eu não sei o que
ele quer dizer com elas, muito menos porque as está dizendo para mim. Não
faz sentido algum.

— Eu não entendi. — Confesso e ele me dá um olhar triste.

— Mas infelizmente você vai, Willow. — Ele dá uma olhada para a


porta do bar. — Entre, nós nos veremos em breve. — Ele me dá as costas,
mas antes que desapareça na noite crio coragem para perguntar:

— Como... Sabe o meu nome? — ele vira sua cabeça para mim e um
sorriso enfeita seu rosto.

— Eu sei de muitas coisas, e elas vivem em constante mudança. —


Volta a andar, mas antes de sumir das minhas vistas completa: — Eu sou o
Kai, e eu torço para que seu futuro mude.
Fico por um tempo olhando para onde o homem foi e sinto um alívio
preencher o meu coração. De algum modo, conversar com ele me fez
esquecer as coisas que estavam me sufocando. Quando retorno para dentro,
me sento na banqueta e começo uma conversa com a minha amiga, como se
nada tivesse acontecido. Algumas vezes dou uma olhada para o Griffin e
para o homem que eu ainda não sei o nome.

Algo que não demora para eu descobrir, já que Laila o chama com o
dedo pedindo mais uma cerveja. O homem coloca a garrafa aberta na sua
frente e olha para mim, fico por alguns segundos sem saber o que fazer,
muito menos o que dizer.

— Ainda não sabemos o seu nome. — Laila comenta chamando a


atenção dele para ela. — E acredito que conhecemos quase todos os que
trabalham aqui. — Minha amiga levanta o primeiro dedo. — Kaden, Kael,
Beau e Griffin. — Balança quatro dedos para ele. — Eu sou a Laila, e essa
é minha melhor amiga, Willow.

Pela alegria na sua voz, as cervejas que bebeu já começaram a fazer


seu efeito.

— Deon. — Ele responde, e só de ouvir seu nome sinto a queimação


voltando ainda mais forte no meu corpo. — E nós não apenas trabalhamos
aqui, nós somos os donos. — Declara e volta seus olhos para mim. — E
ainda tem o Raze, mas ele não fica na área do bar. Ele é o alfa por aqui, e
fica na administração da coisa.

Claro, Wolf pack.

Sinto meu rosto arder pelo modo que os olhos de Deon percorrem do
meu rosto até o vale entre meus seios. Engulo a saliva que enche minha
boca. Não posso pensar naquele sonho, não estando com ele parado na
minha frente, me encarando como se fosse capaz de ler meus pensamentos.

— Low, está me ouvindo? — viro meu rosto para minha amiga que
está apontando, sem nenhuma discrição, para o homem sentado algumas
mesas de nós. — Ele se encaixa na descrição do homem gostoso do seu
sonho.

Merda, Laila.

— Não é ele. — Me apresso em dizer assim que noto Deon ficar


interessado na nossa conversa, mas logo me recrimino. Não tem como ele
saber.

— Ah, que pena. — Laila volta sua atenção para Deon que olha para
nós duas de sobrancelhas em pé.
Termino de tomar minha cerveja em completo silêncio. Chega de
passar vergonha sentindo coisas por homens que eu só conheço o nome.
Laila logo me distrai mostrando as fotos que ela tirou do ensaio de hoje.
Minha amiga além de universitária é modelo fotográfica, algo que ela faz
desde a adolescência.

Porém seu sonho mesmo é se formar em medicina e se tornar uma


médica hematologista[5]. Ela quer ajudar os pacientes a combater as doenças
do sangue, ainda mais depois que eu fiquei internada por meses sem saber a
causa da minha doença sanguínea. Já era para ela ter se formado, mas seu
trabalho de modelo cobra muito do seu tempo, mas quisera eu que esse
fosse o real motivo.

— Você ficou linda em todas as fotos. — Digo devolvendo seu


celular.

— Obrigada, Low. — Ela faz uma cara triste e seguro sua mão
apertando de leve. — Eu sei que esse deve ser o sonho de quase todas as
mulheres da minha idade, mas não é o meu. Tem dias que é tão difícil ficar
em frente a uma câmera e sorrir.

Aperto mais forte a sua mão. Eu sei o que minha amiga vem passando
desde seus dezesseis anos quando foi descoberta por um fotógrafo de uma
grande agência de modelos da Califórnia. Seus pais não demoraram a
aceitar a proposta do dono da agência, eles nem perguntaram para a própria
filha o que ela queria, apenas aceitaram o contrato que continha uma soma
alta de dinheiro.

Eu presencio de perto o quanto esse mundo tóxico tira o seu sorriso e


o que me resta é ficar do seu lado até o momento que ela decidir que
acabou.
— Eu estou aqui para apoiá-la em qualquer decisão que decidir tomar.
— Afirmo. — A minha casa está de portas abertas para você, venha morar
comigo.

— Ainda não, eu aceitei continuar morando com eles até me formar, e


depois vou embora para fazer residência em qualquer hospital longe deles.

Sua tristeza me aflige. Laila não merecia ter que sustentar os próprios
pais desde seus dezesseis enquanto ambos vivem no luxo com o dinheiro da
exploração da imagem da filha.

Puxo minha amiga para um abraço e a aperto bem forte, mesmo


sabendo que eu vou sentir sua falta todos os dias, tudo o que eu mais quero
é que minha amiga consiga se livrar dos seus pais sanguessugas, mesmo
que isso signifique ela morar longe de mim. Nos afastamos e discretamente
ela limpa as lágrimas dos cantos dos seus olhos.

— Tudo bem por aqui, meninas? — A voz grave de Kaden me


assusta, e assim que viro meu rosto para ele, tanto ele quanto Deon e Griffin
estão sérios e de braços cruzados nos olhando.

— Está sim. — Laila limpa a garganta afastando a tristeza. — Está na


hora de irmos. — Ela se vira para mim e sei que esse é o momento que ela
prefere se isolar.

— Sim, precisamos descansar. — Concordo e vejo o alívio no seu


rosto.

Peço a conta e deixo as notas de dólares no balcão. Logo que fico de


pé, olho para Deon e Griffin, demorando alguns segundos em ambos. Deon
percebe meu olhar de interesse e desvio meus olhos no mesmo instante,
seguindo Laila para fora do bar.
Quando chego em casa e me deito para dormir, quase imploro em
desespero para meu subconsciente sonhar com os homens que não saem dos
meus pensamentos desde que os vi.

Raze, Deon e Griffin.


08
Deon
Sinto o cheiro de cereja chegar até mim assim que ela passa pela porta
do bar. Abro um sorriso convencido. De certa forma, eu sabia que ela viria
atrás do homem que a fez gozar duas vezes, mesmo que tenha sido num
sonho imposto e manipulado por mim. E se caso ela não viesse quem iria
atrás dela seria eu. Como Raze foi contra eu fodê-la, eu a segui até a sua
casa, precisava sentir seu gosto, mesmo que tivesse que ser através de um
sonho de alma.
O modo que ela correspondeu aos meus toques no sonho só provou o
quanto ela queria aquilo. Eu não precisei forjar uma ilusão para ter o que eu
queria, porque ela me deu tudo de boa vontade, contudo, não diminuiu a
culpa que senti depois que fui embora.

Depois de provar o gosto da sua boceta, que era o que eu buscava, eu


devia ter saído do seu sonho e tê-la deixado em paz, porém sua excitação e
a forma que seus olhos brilhavam foram um chamado para mim e para meu
lobo. Foi impossível ir sem senti-la pulsando ao redor do meu pau. Mesmo
sabendo que não devia, eu a tomei, a possuí com toda a ânsia que me
consumia por completo.

O que me surpreendeu, porque nunca foi assim, nem com a Calina...


Recrimino a merda do nome daquela loba desgraçada no mesmo segundo.
Não vou repensar tudo que já venho pensando desde que saí da frente da
casa da humana. Eu já aceitei que tem algo nela que faz o desejo dentro de
mim ser diferente de tudo que já senti, sem dizer a euforia na qual ela
coloca meu lobo.
Eu não sei como ela consegue me atingir e é o que eu quero descobrir,
mas para isso preciso entrar nos seus sonhos mais uma vez. Mesmo sabendo
que é errado, que eu nunca devia estar incitando sonhos de alma nela, eu
preciso desesperadamente estar mais uma vez com ela.

— Meu nome é Willow. — Escuto sua voz suave, e meu pau contrai
ao mesmo tempo em que meus batimentos aceleram. — E essa é a minha
amiga, Laila.

Mas que porra! Censuro meu corpo por ficar em estado de euforia
apenas por ouvir sua voz. Sinto meu lobo ficar ansioso por estar perto da
fêmea que queremos possuir, montar e... Morder. Não pode ser possível,
meu lobo não pode querer reivindicar uma fêmea depois de tudo que
aconteceu.

— É um prazer. Meu nome é Griffin, mas podem me chamar de Griff.

Gargalho assim que escuto o apelido pelo qual Griffin quer ser
chamado. Conheço muito bem meu irmão de criação, e sei que ele nunca
gostou desse apelido. O que me deixa interessado no mesmo instante para
saber o que mudou para ele querer ser chamado assim.

— Griff? É sério essa porra? — pergunto através do nosso vínculo de


alcateia.

— Está escutando minha conversa com as humanas? Deu para ser


um fofoqueiro como Kaden, Kael e Beau?

— Ei, eu não sou fofoqueiro, eu apenas gosto de compartilhar as


informações. — Kaden se defende claramente ofendido.

Começo a rir, não aguentando ouvir o que Kaden acaba de dizer,


afinal ele é o maior fofoqueiro que conhecemos, até mais que Kael e Beau.
— Não é só as informações que você gosta de compartilhar. —
Provoco ainda rindo e ele concorda colocando uma imagem de sexo onde
ele e Kael compartilham a mesma mulher na minha cabeça e na de Griffin.

Não digo nada, muito menos julgo. Eu e Griffin costumávamos fazer


muito isso quando éramos jovens lobos lidando com a sexualidade lycan.
Nossos pais uma vez ficaram horrorizados quando nos pegaram
compartilhando um loba no nosso quarto. Foi divertido, essa era uma época
feliz. A venda do reino de Symes ainda estava muito bem-posta nos nossos
olhos para acreditarmos naquela falsa felicidade.

— Saiam da minha cabeça. — Griffin ordena, nos expulsando.

Balanço a cabeça me livrando de lembranças indesejadas e tristes


demais. Desde que saímos de Symes não voltamos a colocar nossos pés lá,
e se depender de nós, nunca voltaremos. Aquele reino além de ser
governado por Bayron Barack, um grande desafeto de Beau, é onde as
piores lembranças da nossa alcateia estão gravadas.

Decidido a mudar o rumo dos meus pensamentos, me encaminho para


o bar, quero colocar meus olhos sobre a humana que faz meu lobo ficar
eufórico. Eu não entendo por que meu corpo arde e anseia pelo dela, eu só
sei que é insuportável me sentir assim. Talvez, ficar perto dela alivie um
pouco tudo o que está me atormentando.

***

Estar perto dela não aliviou o meu tormento como eu pensei que
aliviaria, pelo contrário, estar perto dela quase fez meu lobo pular sobre ela
e fazê-la minha em meio ao bar lotado. O cheiro da sua excitação
empesteou o ar, fazendo meus pensamentos se resumiram a sexo. Um sexo
quente, suado e selvagem.
Quando ela avisou que ia embora, foi um refresco para toda a
queimação que percorria meu corpo. Entretanto, vê-la ir quando, nas suas
íris azuis, o desejo cintilava olhando de Griffin para mim, deixou meu lobo
agitado e com o desejo de compartilhá-la com meu irmão, ainda mais
quando contei para ele o motivo de ela estar tão mexida na minha presença.

E assim que ela foi embora com sua amiga, deixando apenas seu
cheiro de cereja para trás, meu raciocínio se tornou escasso, tudo se resumiu
a querer ir atrás dela para dar vazão a tudo que está tragando minha paz.

Sem medir as consequências faço exatamente isso. Saio do bar indo


atrás dela, percebo Griffin vir atrás de mim e não digo nada. Assim que me
embrenho entre as árvores, arranco minha roupa me transformando em
lobo. Pelo acostamento da estrada, corro atrás do carro em que ela está.

Estou agindo como um perseguidor e pouco me importo com isso. Eu


só sei que preciso dela, do seu cheiro me sufocando ao mesmo tempo em
que sua pequena boceta ordenha meu pau como naquele sonho.

— Deon, você não deve fazer isso. — A voz de Griffin na minha


cabeça me faz olhar para o lado, vendo-o correndo na sua forma de lobo um
pouco atrás de mim.

Pela forma que disse, ele deve ter percebido minha intenção. Estou
indo atrás da Willow para incitar outro sonho de alma nela.

— Meu lobo a quer! — rosno correndo mais rápido. — Eu a quero!

O cheiro dela está tão forte que se torna a porra do combustível que
eu preciso. Percorro todo o caminho até a sua casa na completa agonia e
anseio, assim que ela desce do carro e se despede da sua amiga a excitação
já está me dominando. A tortura será esperar ela pegar no sono.
— Deon, isso é errado e vai contra tudo que acreditamos. — Griffin
declara e a culpa me faz rosnar.

Eu sei que não devemos brincar com a cabeça das pessoas, mas o
certo e errado se perdem quando meu lobo rosna e pula dentro de mim
querendo a fêmea que nos fez sentir depois de tantos anos. O que Calina
fez, mexeu com meu lobo, por meses eu não conseguia me transformar, sua
maldita mentira deixou feridas que nunca cicatrizaram.

— Eu não manipulei a mente dela. — Me defendo.

Trocamos um olhar que diz muito. Griffin sabe que estou sendo
sincero, eu nunca manipularia uma pessoa como fui manipulado. Eu apenas
preciso estar novamente com ela para saber se vou sentir aquilo novamente.

— Aquela felicidade que eu senti vir de você foi por causa dela? —
Griffin pergunta como se lesse meus pensamentos, e não há motivos para
mentir para ele.

— Sim, foi. — Olho para a janela do segundo andar, ansiando estar


com ela. — Assim como ela me fez sentir um prazer diferente de qualquer
outro que eu já senti.

Sinto seu lobo inquieto a cada pergunta que ele faz para mim. O que
significa que seu lobo quer a mesma fêmea que eu e não está gostando nem
um pouco de eu já ter estado com ela.

— O que vocês fizeram no sonho? — indaga, mas é óbvia a resposta.


— Deon, você sabe que não é certo, ela não tem ideia do que isso significa.
— Alerta.

Bato com as patas no chão irritado, porque Griffin está coberto de


razão. Dou outra olhada na direção da janela e amplio minha audição
escutando ela ressonar baixinho. Ela dormiu. Sento nas minhas patas
traseiras e penso se devo ir embora, porém só de considerar isso rosno
ensandecido.
Eu a quero!

— Vou ser honesto com ela. — Afirmo.

— O que você quer dizer com isso?

— Quando entrar no seu sonho direi a ela que sou um lobo, que
tenho sangue lycan correndo nas minhas veias. E que quando ela sonha
comigo não é um simples sonho, mas sim um encontro de almas.

Seu espanto e surpresa tocam o nosso vínculo de alcateia. Griffin


compartilha comigo seus receios e preocupações, fazendo-me pensar se o
que estou prestes a fazer é uma loucura. Contudo, sendo o inconsequente
que sou, não vou recuar, não até saber o que a Willow tem que faz toda dor
dentro de mim amortecer.

— Deon, isso é perigoso. Ainda mais por ela não ser sua
companheira, você sabe que...

— Por isso eu quero que você esteja comigo. — O interrompo. — Eu


quero sentir de novo o que ela me proporcionou.

— Deon, eu não posso estar perto dessa fêmea. — Declara convicto.

— Por quê? — questiono e Griffin olha para a janela do quarto dela.

Sinto sua ansiedade me acertar, ele também está nervoso, assim como
eufórico.

— Meu lobo a escolheu, se eu ficar perto dela vou reivindicá-la.

Agora tudo faz sentido, por isso eu estou sentindo seu cheiro mudar.
Seu lobo escolheu uma companheira, o que implica que ele é quase um lobo
acasalado. A única coisa que fará seu lobo mudar de ideia é se a
companheira de alma de Griffin aparecer, algo que eu não acredito que vá
acontecer. Afinal, companheira de alma não existe.

— Griffin, se seu lobo a escolheu é questão de tempo para você


reivindicá-la. — Ele não diz nada porque sabe que estou falando a verdade.
— Vamos, compartilhe um sonho de alma comigo e com ela. Eu prometo
que se não sentir nada sairei do sonho e deixarei sua fêmea em paz, porém
se... — fico calado, o peso do passando me sufocando só de cogitar tal
coisa.

— Se? — Griffin me incentiva a concluir a frase e eu a concluo.

— Se ela me fizer sentir, eu a farei minha também.


09
Willow
Meu corpo está ardendo, mais do que das outras vezes. Me viro de um
lado para o outro buscando uma posição que me faça conseguir dormir, mas
não consigo. O desejo não me abandona, assim com as lembranças do
sonho que tive com Deon. Sinto como se estivesse morrendo. Morrendo por
causa de um anseio ferrenho que me faz querer desesperadamente homens
que mal conheço.

— Willow. — Escuto uma voz rouca me chamar de tão perto que abro
os olhos sendo surpreendida por Griffin deitado ao meu lado
completamente nu.

Varro com os olhos seu corpo bronzeado, amando ver os gomos


marcados no seu abdômen, a trilha de pelos claros logo abaixo do seu
umbigo é o caminho da perdição que eu anseio percorrer. Foco meus olhos
no seu pau grande e grosso, a glande rosa faz minha boca salivar. Logo um
pensamento surge na minha mente: quero prová-lo para saber se é tão
gostoso quanto aparenta ser.

— Você é linda, e fica ainda mais linda quando seus olhos cintilam
prazer e um mundo de promessas que pretendo cobrar. — Fala me fazendo
lamber os lábios em antecipação para o que eu pretendo fazer, porém, uma
voz que bem conheço é sussurrada no meu ouvido:

— Estamos aqui para tomar o que você estiver disposta a nos dar.

Olho para Deon por cima do ombro vendo que ele também está nu, o
que me deixa ansiosa e carente. Preciso desesperadamente dos seus toques,
e Deon parece ler minha mente quando lambe e morde de leve minha
orelha, me fazendo ficar arrepiada.
— Mas antes precisamos conversar. — Ele vira meu rosto para si e
completa: — Foi real, Willow, tudo que compartilhamos naquela noite foi
real, não foi um simples sonho.
Suas palavras me confundem, não consigo prestar atenção nelas, tudo
o que eu sei é que preciso dar fim ao meu desespero. E olhar para seus
corpos nus não ajuda em nada, pelo contrário, faz minha concentração focar
apenas nos seus membros duros e melados. Eu preciso deles como nunca
precisei de algo ou alguém antes.

Volto meu olhar para Griffin. Minhas mãos tremem quando toco o seu
rosto. Sentir o calor da sua pele contra as palmas das minhas mãos me deixa
quase anestesiada depois de passar por dias de dor e agonia. Quero eles,
assim como quero algo que eu ainda não descobri o que é.

— Eu... Não entendo o que... Está acontecendo comigo. — Confesso,


sentindo meu interior contrair por apenas estar o tocando.

A mão de Griffin tira uma mecha de cabelo do meu rosto. Seus dedos
deslizam pela minha bochecha, fazendo meu corpo quase entrar em
combustão. Afasto minhas mãos do seu rosto aceitando seu carinho. Sinto
meus olhos arderem. Eu pedi tanto por isso e finalmente está acontecendo.
Estou sonhando com eles. O peso que sai do meu coração me faz gemer de
alívio.

— Este é um sonho de almas. Com o dom que a nossa magia lycan


nos proporciona podemos chamar a sua alma para se encontrar com a nossa.
O que estamos compartilhando não é carnal, mas não deixa de ser real.

O que ele acabou de dizer? Tento raciocinar, mas com eles tão perto
se torna difícil. Tudo em mim clama por seus corpos, seus paus e bocas. Eu
quero sexo, um sexo quente e selvagem, que me deixe marcada e exausta o
suficiente para conseguir dormir em paz, o que não tem acontecido nas
últimas noites.

— Willow, somos lobos. — é Deon quem fala, mas minha mente não
consegue mais prestar atenção. Tudo em mim está implorando por eles,
fazendo meu raciocínio se tornar limitado. — Somos a alcateia dos
primeiros nascidos.

Primeiros o quê? Mordo o lábio inferior quando o meio das minhas


coxas pulsa. Eu preciso deles. Eu preciso muito deles.

— Eu preciso de vocês. — Digo indo para cima de Griffin.

Seus braços grandes circulam meu corpo e sou puxada mais para
cima, onde sinto seu pau duro em contato com minha intimidade. Me
esfrego nele sentindo a fricção no meu clitóris. O sorriso que ele abre é tão
cafajeste, porém eu gosto, não lembra em nada o homem gentil do bar.
Deito sobre ele e busco sua boca. Dessa vez eu farei tudo que tiver vontade,
como beijá-los até sentir meus lábios dormentes.

— A fêmea está afoita? — Deon pergunta atrás de mim, seu membro


pressiona minha bunda me fazendo ir de encontro com o pau do Griffin.
Gemo amando estar vestida entre eles, ansiando o momento que eles me
deixarão nua também.

— Não, estou faminta. — Afirmo, me esfregando mais rápido em


ambos.

Estabeleço um ritmo que me faz arrancar gemidos dos lábios de


Griffin. Gemidos que faço questão de engolir. Colo nossas bocas e ele
separa seus lábios deixando que eu chupe sua língua, então choramingo de
prazer assim que sinto o seu gosto.
— Eu também quero. — O pedido de Deon me faz afastar a boca de
Griffin para beijar a sua, e ele captura meus lábios com os dentes.

Ele me beija esfomeado, fazendo meu centro pulsar pela forma carnal
que toma minha boca. Quando ele se afasta Griffin segura minha nuca me
beijando novamente, e retribuo seu beijo voraz, sentindo o cheiro de menta
e laranjeira em perfeita harmonia a minha volta.

— O gosto do seu beijo é maravilhoso, porém o da sua boceta é o céu.


— Deon murmura deixando-me completamente arrepiada.

Rebolo entre os dois afetada demais, quero seus paus latejando.


Quero eles tão desesperados para estar dentro de mim como meu centro
pulsa e anseia pelo mesmo. Estou tão encharcada que se continuar me
esfregando em ambos não vou demorar a gozar. Griffin se senta ficando
mais perto de mim, e não demora para nós três estabelecermos um ritmo
que torna tudo mais fácil. Intercalo lambidas, beijos e mordidas entre os
dois, os provocando, os deixando tão excitados quanto eu.

Deon segura a blusa do meu pijama e levanta o indicador fazendo


uma garra crescer diante de mim. Arregalo os olhos, mas sorrio assim que
ele rasga minha blusa, transformando-a num trapo. Sua garra desliza pelo
vale dos meus seios causando arrepios e tremores por onde passa,
choramingo quando ele faz círculos nos bicos dos meus seios, deixando-os
pesados e necessitados.

Fecho os olhos assim que sinto a boca de Griffin engolir meu mamilo
esquerdo. Separo os lábios e gemo entre suspiros. Quando abro meus olhos,
os verdes de Deon estão brilhando em deleite assistindo Griffin mamar em
mim com voracidade. Seguro sua mão e trago seu dedo com a garra para
minha boca. Imaginar sua garra brincando com meu clitóris me faz ficar
ainda mais molhada. Coloco a língua para fora e lambo seu dedo com
extrema calma, fazendo questão de passar a língua na sua garra longa e
afiada devagar.

— Porra! — rosna e grito quando Griffin puxa meu mamilo com os


dentes, exigindo minha atenção.

Na verdade, os dois disputam minha atenção, e isso eleva ainda mais


meu estado de excitação.

— Me dê seu dedo, Griffin. — Peço a ele. — Eu quero os dois na


minha língua. — Completo.

Griffin levanta sua mão e me oferece o dedo com a garra preta e


longa. Chupo ambos demoradamente, passo suas garras pelos meus lábios,
brincando com eles, instigando que eles façam comigo algo bestial. Se esse
é meu sonho, eu preciso realizar todos os meus desejos.

— Deite-se, Willow! Eu vou rasgar esse shortinho e descobrir o quão


pronta você está para nós. — A ordem de Deon faz a antecipação crescer
dentro de mim.

Griffin me ajuda a deitar e fico com a imagem devastadora de ter os


dois ajoelhados diante de mim. Os seus membros me deixam salivando,
quero cometer a loucura de tentar colocá-los juntos dentro da minha boca,
para assim poder sugar e engolir todo o líquido que ambos deixam vazar
das cabeças dos seus paus.

Deon e Griffin rasgam a parte de baixo do meu pijama juntos, e logo


estou nua e aberta para os dois. Seus olhos estão presos na minha
intimidade e luto com a vontade de apertar minhas coxas para aliviar o
pulsar incessante. Deon deita em cima de mim passando seu pau por entre
minhas dobras, lambuzando seu membro na minha excitação. Gemo
aproveitando quando sua glande resvala algumas vezes no meu clitóris.
Logo ele se afasta e Griffin assume seu lugar, mas ao contrário de
Deon, Griffin pincela e esfrega seu membro diretamente no meu clitóris,
choramingo de tão sensível e excitada que estou. Eu preciso muito gozar,
porém Griffin não fica tanto tempo quanto eu gostaria e como Deon, ele se
afasta. Praguejo em protesto, mas não parece surtir efeito algum neles.

Os dois ficam ajoelhados lado a lado na minha frente, suas ereções


brilham com a minha excitação e o prazer que eu sinto é imensurável. Os
dois focam seus olhos em mim e abrem sorrisos predadores vindo com tudo
para cima de mim.
10
Willow
Estou trêmula enquanto Griffin e Deon se banqueteiam na minha
intimidade. Eles estabelecem um revezamento de passada de língua nas
minhas dobras que faz eu me contorcer de necessidade. Quero que suas
línguas atinjam o lugar certo, o lugar que preciso desesperadamente ser
chupada e lambida por eles: meu clitóris, contudo, eles o evitam de
propósito.

— Por favor. — Imploro perdida demais. — Eu preciso... Gozar. —


Choramingo quando a língua de Griffin atinge meu clitóris de leve.

Uma provocação para ele, um martírio para mim.


Suas mãos separam minhas pernas me deixando bem aberta diante
dos seus olhos famintos, Griffin baixa a cabeça lambendo suavemente meu
ânus. Seu toque inesperado faz meu interior se contrair antecipando o que
certamente ele e Deon pretendem fazer comigo. Porém, é a espera que me
enlouquece.

— Sua boceta está tão molhada que sua excitação está escorrendo
para... — os olhos dele são o reflexo da pura luxúria quando me penetra
com dois dedos no ânus. — Aqui. — Completa me fazendo arfar.

Gemo assim que ele também penetra dois dedos na minha boceta,
massageando meus dois pontos ao mesmo tempo.

— Está gostoso? — pergunta e aceno incapaz de dizer em palavras o


quanto está bom. — Posso colocar mais um dedo aqui? — pergunta tocando
suavemente meu ânus, seu cuidado faz meu coração bater mais rápido, e
meu tesão elevar.
— Si-sim. — Suspiro logo que ele acrescenta mais um dedo,
deixando-me cheia, mas também ansiosa.

Deon se mantém por perto, seus olhos não abandonam nenhum


momento os dedos de Griffin entrando e saindo de mim. Vejo a excitação
tremular no olhar de ambos. Eles estão tão excitados quanto eu. Quando
Griffin acelera seus dedos, a pressão no meu baixo ventre se torna
insuportável. O orgasmo está na borda, apenas esperando o momento para
explodir num poderoso clímax.

— Goze, Willow. — Griffin fala e depois cobre minha boceta com


sua boca. Chupando e me lambendo com avidez.

Prendo meus olhos em Deon logo que sou consumida pela minha
libertação. Seus olhos ampliam ficando mais brilhantes e verdes, suas
narinas dilatam, as garras saem dos seus dedos, suas presas ficam à mostra,
ele fica mais alto e seu membro está mais grosso e maior. Uma gota vaza da
sua glande, lambo meus lábios querendo aquela gota na minha língua.

— Willow, você está chamando meu lobo para algo que não está
pronta. — Sua voz soa animalesca, fazendo todo o meu corpo tremer.

Depois de dar o último golpe de língua no meu clitóris Griffin se


afasta e ele não está diferente de Deon. Ambos estão selvagens e sinto
dentro de mim uma alegria por ser eu a deixá-los neste estado. Deon passa o
dedo na sua ereção capturando a gota que está saindo da sua glande, e
oferece seu dedo para mim. Separo os lábios ansiosa para ter o seu gosto na
minha boca.

Assim que sua essência toca a minha língua, o sabor mais viciante e
maravilhoso rompe dentro de mim. Seguro seu pulso chupando seu dedo
com afinco, precisando de mais da sua essência. Ele percebe meu desespero
e esfrega seu dedo na glande que vaza mais. Griffin faz o mesmo, e não
demora para seus dedos estarem na minha boca.

Griffin segura meu rosto e lambe meus lábios, depois chupa minha
língua, para no final morder minha boca. Sou pega no colo com ele
invertendo nossas posições e monto nele encaixando seu pau monstruoso
dentro de mim. Sinto suas garras nas minhas costas, me arranhando, me
marcando.

Com sua ajuda subo e desço, encharcando seu membro com meus
líquidos. Seus olhos brilham fazendo o azul das suas íris ficarem mais
claros, suas presas ficam maiores e sinto suas garras se alongarem nas
minhas costas.

— Willow... — geme meu nome, mas rosna assim que eu pulso ao


redor do seu pau. — Eu te... Escolho...

Sua frase morre quando me debruço sobre ele o mordendo com força
logo acima do seu peito esquerdo. O rosnado dele é alto, e me regozijo no
som, fodendo-o mais rápido. Ele rasga minha pele com suas garras, mas não
sinto dor, e sim um prazer indescritível. Griffin se senta e agarra meus
cabelos com força, gemo pela dor bem-vinda montando-o mais duro, mais
rápido.

— Willow... — Deon se aproxima de mim, e tenta me puxar de cima


de Griffin, contudo, eu não permito e Griffin muito menos, suas garras
afundam na minha pele impedindo que eu vá a algum lugar.

Viro-me para trás e infiltro minhas mãos nos cabelos de Deon, o


puxando na minha direção, mordo seu pescoço com a mesma força e
intensidade que mordi Griffin. Eu me sinto tão selvagem quanto eles neste
momento, e tudo que eu mais quero é vê-los com a marca dos meus dentes
nas suas peles.

Quando afasto minha boca do pescoço de Deon, vejo seu olhar


cintilar, ele rapidamente se coloca atrás de mim, seus dedos conferem a
lubrificação do meu ânus e assim que ele vê que estou bem lubrificada sinto
seu pau lutar por espaço dentro de mim. Ele rosna, Griffin rosna, e eu grito
quando os dois estocam fundo dentro de mim.

Nós três nos fodemos com selvageria, arranho eles, e eles afundam
suas garras na minha pele em resposta. O prazer das estocadas
sincronizadas fazem meu corpo clamar por mais. Rebolo nos seus paus,
buscando incansavelmente pelo ápice do nosso sexo, contraio meu interior
dizendo a eles sem precisar usar as palavras que estou perto de alcançar o
que tanto quero.

O êxtase.

— Meus. — Afirmo me desfazendo entre eles.

As presas de Deon são as primeiras a cravarem no meu ombro direito,


as de Griffin vem longo em seguida mordendo meu seio esquerdo. Grito de
prazer, e tudo parece certo quando sinto uma euforia preencher meu
coração, os cheiros de menta e laranjeira estão por todo o meu corpo,
fazendo-me sentir bem pela primeira vez em dias.

— Nossa. — Os dois rosnam juntos enchendo-me até transbordar


com suas essências.

Quando deito entre eles me sinto tranquila, contudo, a certeza de que


ainda falta alguém para minha felicidade ser completa me traz o gosto
amargo à boca.

Raze, falta o Raze.


11
Raze
O que ele fez?
Pergunto a mim mesmo assim que sinto o vínculo de acasalamento
que foi criado entre Deon e uma fêmea e logo sou atingido por mais uma
criação de vínculo, Griffin e a mesma fêmea que Deon acabou de se
acasalar.

— O que vocês acabaram de fazer? — pergunto para eles através do


nosso vínculo de alcateia, contudo, nenhum deles responde. — Porra, vocês
acabaram de se acasalar com a mesma fêmea?

Investigo o vínculo de acasalamento que os dois criaram com a fêmea


e sinto a ligação fraca. Fico confuso por algum tempo buscando entender
por que não sinto o cheiro da companheira na essência deles, e logo
descubro o motivo. Eles acasalaram através de um sonho de alma.

Porra!
— Vocês não fizeram isso! — esbravejo, mas eles continuam quietos.

Mas que merda eles estavam pensando quando tomaram essa atitude?
Eles sabem que sonhos de almas são perigosos. Eles sabem que existem
alfas que usam dos sonhos de almas para manipular seus próprios lobos,
obrigando eles a fazerem tudo o que eles querem, seja para o bem ou para o
mau. Eles desprezam os lobos que usam dessa artimanha tanto quanto eu, e
mesmo assim eles incitaram um sonho de almas numa fêmea, e ainda por
cima se acasalaram com ela?

— Porra, Griffin e Deon.


Espero que eles não concluam o que eles começaram. Eles sabem que
depois que um lobo se acasala, seja por escolha ou por ter encontrado sua
companheira de alma, é para a vida toda. Acredito que o que eles fizeram se
trata de um acasalamento por escolha, afinal eles teriam reconhecido as
suas companheiras de alma no mesmo segundo que ela surgisse, e seria
impossível eles terem se contentado com apenas um sonho de almas. Um
lobo quando reconhece sua companheira de alma, a reivindica
instantaneamente.

Se eles se deixaram levar pelo momento e acabaram se vinculando


com a fêmea por engano é só eles esperarem a próxima lua cheia para o
vínculo inicial ser desfeito. Porque caso eles queiram concluir com o
acasalamento, eles terão que mordê-la antes da próxima lua cheia, que será
daqui a duas semanas.

Mas torço para que tudo tenha sido um engano, eu não quero que eles
percam a chance de serem verdadeiramente felizes com as suas
companheiras de alma. Tento mais uma vez falar com eles através do
vínculo e desisto quando nenhuma resposta vem.

***

Atrás do balcão do bar, eu ajudo Kaden e Beau a organizarem o


carregamento de bebidas que Zayn mandou. Ele não pôde vir dessa vez e
mandou seu beta, Elon. Eu esperava encontrar com o meu velho amigo.
Dentre os vários lobos que conheço, Zayn é o mais confiável para eu tirar
uma dúvida que anda rondando meus pensamentos.

Depois que Deon e Griffin retornaram para a casa, eles se mantiveram


na defensiva, não quiseram contar nada sobre a fêmea com a qual os dois
iniciaram um acasalamento de sonhos. Tentei descobrir mais através do
cheiro, mas seus cheiros continuam os mesmos, eles não se mesclaram com
o dela, o que fez uma dúvida surgir.

Se eles deram início a um acasalamento de sonho, por que eu não


sinto o cheiro da fêmea neles? Mesmo não sendo um acasalamento carnal,
meus amigos deviam estar exalando um pouco do cheiro da loba que eles
escolheram.

— Essa é a última caixa. — Elon avisa, tirando-me das minhas


dúvidas. — Essas vodcas foram destiladas com a fruta-lobo[6], aconselho a
quem se interessar a ir com calma. É uma nova bebida que estivemos
trabalho por meses.

Perfeito, tudo que eu precisava era uma bebida que tem o poder de
simular o frenesi e o cio.

— Agradeço o conselho. — é tudo que digo antes de pegar a caixa


com as vodcas e colocar na prateleira mais alta.

Não pretendo servir essa vodca a lobo nenhum, enquanto humanas


estiverem rondando o bar. Não preciso de mais lobos agindo de forma
irracional igual a Deon e Griffin que acasalaram sem ao menos pedir a
benção do seu alfa. Não sei por que Zayn criou essa bebida nova, ele sabe o
caos que acontece quando o lobo tem essa fruta correndo nas suas veias.

— Então é isso, preciso retornar para o moto clube. — Elon declara


animado e arqueio as sobrancelhas por curiosidade.

Depois que Zayn saiu do reino de Symes, vindo morar entre os


humanos, ele adotou outro modo de vida com sua alcateia, surgindo assim o
moto clube Road Wolves[7], no qual ele é o alfa e presidente, ou alguma
coisa nesse sentido.
— Teremos uma competição de luta. — Elon explica. — Gostamos
de lutar, isso traz recordações da época que éramos guerreiros e lutávamos
por um bem maior.

Sim, a guerra contra Allegra e Zander.

A alcateia de Zayn esteve lá. A companheira do meu velho amigo foi


uma das fêmeas atingidas pela maldição, depois da morte dela e do filhote
que ela esperava, Zayn nunca mais foi o mesmo, e acho que nunca mais
voltará a ser. Quando um lobo perde sua companheira, seja a escolhida ou
de alma, ele perde a alegria de viver.

— Bom divertimento.

— Acredite, vamos ter. — diz me dando as costas e saindo do bar.

Existem muitas alcateias pelo mundo, mas dentre todas elas a de Zayn
é a única que confio, pois os lobos das outras alcateias que costumam vir ao
meu bar, até mesmo os ômegas que não têm alcateia nenhuma, não me
trazem confiança, ainda mais pelo lado político que alguns deles buscam
vindo aqui. Eles acreditam que eu sou a porra da ponte que vai levá-los até
onde eles querem: o conselho de anciões e o reino de Symes.

Minha alcateia ter uma cadeira no conselho se deve mais ao fato de


nós sermos os seis primeiros nascidos depois da quebra da maldição, e não
porque aqueles metidos a aristocratas filhos da puta se importam com o que
pensamos ou deixamos de pensar, como muitos lobos que vêm ao bar
acreditam.

A verdade é que muitos daqueles anciões apenas nos suportam, e por


esse motivo faço questão de manter a mim e aos meus lobos longe deles. Só
nos reunimos com eles quando é estritamente necessário, como quando há
um julgamento vindimar[8], o que não acontece desde Calina.
Depois de ajudar Beau a organizar as bebidas, me encaminho para o
escritório, e assim que entro na sala encontro com Deon e Griffin em pé me
esperando. Depois de tentar conversar com eles nos últimos dias e eles me
evitarem, eu optei por esperar. Eu sabia que no momento certo eles me
procurariam para explicar que merda aconteceu, e eu sendo o alfa deles vou
escutá-los sem julgamentos. O bem-estar e felicidade deles sempre virão
antes de qualquer coisa.

Encarando os dois, declaro:

— Muito bem, podem começar a falar.


12
Willow
Espreguiço-me me sentindo bem e relaxada. Nem parece que o peso
dos últimos dias estava me deixando à beira da loucura. Abro os olhos
devagar e sorrio, vendo a luz do sol entrar pela janela do quarto. O sonho
dessa noite foi um bálsamo para todo o desespero que estava me
consumindo. Gostei que meu subconsciente trouxe a fantasia de que aqueles
lindos homens eram lobos, deixou o sonho ainda melhor, contudo, para ser
completo faltou o Raze.
Escondo meu rosto debaixo da coberta assim que recordo dos
detalhes do sonho. A língua deles explorando meu corpo, suas garras
rasgando minha pele, que ao invés de dor me faziam sentir mais prazer.
Inconscientemente, eu toco meu ombro e seio, sentindo no mesmo instante
cheiro de menta e laranjeira. Deon e Griffin. Gemo seus nomes e posso
jurar que escuto o rosnar baixo deles na minha cabeça.

— Só posso estar ficando louca.

Sem querer ficar na cama mais tempo que o necessário me levanto,


preciso tomar um banho para começar meu dia. Dou uma olhada rápida no
relógio e praguejo quando vejo que não tenho tanto tempo como imaginei.
Corro para o banheiro e tiro meu pijama apressadamente, olho meu reflexo
no espelho para prender meu cabelo e é quando eu vejo...

— MAS QUE PORRA É ESSA?! — grito vendo uma marca de


dentes ao redor do meu seio esquerdo.

Assustada, viro meu corpo de lado e reparo na marca enorme de


dentes no meu ombro direito. Nervosa, me aproximo do espelho para
analisar melhor meu corpo e busco por marcas de arranhões também, mas
não encontro nenhuma, apenas mordidas.

Mordidas feitas por Griffin e Deon.

— Não pode ser.... Não pode ser. — murmuro várias vezes querendo
achar algum sentido nisso.

Como posso estar com marcas de algo que aconteceu num sonho?

Enquanto tomo meu banho, tudo no que consigo pensar é que preciso
descobrir o que está acontecendo comigo, e Laila, como minha melhor
amiga, terá que me ajudar com isso.
***

— Como é que é? — Laila pergunta e olho em volta para ter certeza


de que ninguém no campus está ouvindo a nossa conversa.

Assim que saí de casa liguei para ela, precisava saber se ela já estava
na faculdade ou se dava tempo de dar um pulo na sua casa, contudo, como
eu imaginava ela já tinha ido. O que me restou fazer foi convencê-la a
perder o primeiro período com a desculpa que é caso de vida é morte.

— É isso mesmo que ouviu. — afirmo.

— Espera um minuto, me deixa ver se eu entendi certo. — pede


levantando sua mão para eu não falar mais nada. — Você teve outro sonho
erótico, mas dessa vez era com dois homens, Deon e Griffin, os donos do
bar que você nem queria ir. — seguro a vontade de revirar os olhos.

— Laila, não é... — levanta o indicador para eu ficar calada, voltando


ao seu raciocínio:
— No sonho eles contaram que são lobos, coisa que aparentemente
você nem se importou, porque logo depois vocês fizeram um sexo
selvagem, no qual você mordeu eles e eles te morderam de volta. E hoje,
depois que você acordou do seu sono de princesa, percebeu marcas de
mordida onde eles te morderam no sonho.
Nossa, ouvindo isso em voz alta parece loucura.

— Isso. — concordo.

Laila fica alguns segundos me fitando e por fim balança a cabeça para
cima e para baixo, o que eu interpreto como: ela sabe o que está
acontecendo comigo. Assim que ela segura na minha mão suspiro por saber
que posso contar com ela, porém, antes que eu pergunte qualquer coisa, a
maluca me puxa em direção à saída do campus.

— Aonde estamos indo? — questiono sendo arrastada por ela.

— Para a primeira igreja que encontrarmos.

— O QUÊ?! — grito, forçando meus pés a pararem, o que a obriga a


parar também. — Eu não quero ir a uma igreja, Laila. — A repreendo, não
entendendo o que raios ela quer fazer numa igreja a uma hora dessas.
— Low, você é minha melhor amiga, eu te amo como uma irmã, por
isso eu quero que você escute com atenção o que eu vou dizer. — me
segura pelos ombros me fazendo encarar seus olhos.

— Tudo bem, estou ouvindo.

Laila acaricia meus ombros, em seguida abre um sorriso, e fico ainda


mais aliviada por tê-la ao meu lado.
— Você precisa ser exorcizada. — solta a bomba e logo completa. —
Esses sonhos e agora essas marcas? — nega com a cabeça. — Amiga, você
tem um demônio a tiracolo te assombrando, precisamos o quanto antes nos
livrar dele.

Reviro meus olhos, não acreditando na besteira que Laila acaba de


dizer. Não tem demônio algum me assombrando. Ou tem? Nego no mesmo
segundo, pois não é nada disso, não posso me deixar levar pelas paranoias
da minha amiga.

— Laila, eu vim aqui para pedir sua ajuda como estudante de


medicina. — explico e ela esfrega o queixo me analisando.

— Bem, eu conheço dois ou três psiquiatras, podemos...

Tapo a sua boca para que mais nenhum absurdo saia dela.

— Laila, para com isso. Eu estou bem, não preciso de nenhum padre,
muito menos de psiquiatras. — afirmo. Contudo, algumas dúvidas
começam a crescer dentro de mim.

— Tem certeza?

Não!

— É claro que eu tenho! — exclamo, fazendo-a levantar os braços em


rendição. — Eu só preciso que você dê uma olhada nas mordidas e me diga
o que pode ser.

Laila suspira e acaba concordando, respiro de alívio e peço para irmos


ao banheiro. Quero privacidade, não quero nenhum curioso vendo as
marcas e fazendo perguntas para as quais não tenho respostas.

Assim que entramos no reservado, tiro minha blusa e sutiã,


aguardando sua reação, que eu acredito que será de espanto devido às
marcas, porém, ela se mantém com a expressão tranquila, como se não
estivesse vendo minha pele toda marcada.
— Amiga, agora é o momento para você falar: o que pode ser isso no
seu seio e ombro. — digo fazendo-a franzir a testa e olhar mais atentamente
para meu corpo.

Ela analisa meus seios para logo passar a mão nos meus ombros. Fica
tão concentrada no que está fazendo que fico preocupada que possa ser
alguma coisa mais séria do que imaginei.

— Laila, fala alguma coisa, estou enlouquecendo aqui. — peço aflita.

— Low, antes de eu dizer qualquer coisa, eu quero que saiba que


posso conseguir o contato de bons psiquiatras, basta uma ligação e...

— Laila, por favor, apenas me diga de onde pode ter vindo essas
marcas. — A interrompo nervosa e preocupada demais.

Eu sei que parece uma loucura, mas tem que existir uma resposta
lógica para essas marcas. Elas não podem ter surgido do nada por causa de
um sonho.

— Low, é aí que tá, você não tem nenhuma marca de mordida. —


Laila diz fazendo-me arregalar os olhos.

— O quê? Impossível!

Saio do reservado sem me importar que alguém entre no banheiro e


me veja seminua, olho meu reflexo no espelho confirmando que as marcas
ainda estão no mesmo lugar. Grandes o suficiente para qualquer um ver.

— Elas ainda estão aqui, Laila. — viro-me para ela. — Como pode
me dizer que não tem?
Ela olha novamente para meus seios e ombros fixando seus olhos
castanhos em mim.
— Amiga, não tem marca nenhuma. — afirma convicta.

Volto a olhar meu reflexo e fico ainda mais confusa. Como é possível
eu ver marcas que claramente minha amiga não vê? O que está acontecendo
comigo? Com a cabeça cheia de perguntas, e sem nenhuma resposta, chego
à conclusão de que devo retornar ao lugar que deu início a tudo: o bar.
13
Deon
Raze fica em silêncio assimilando o que Griffin e eu acabamos de
contar. Explicamos a ele que não tínhamos a intenção de nos acasalar dentro
de um sonho de alma. Nos vincularmos a Willow não foi algo premeditado,
pelo contrário, incitar o sonho de alma foi a saída que encontramos de estar
perto dela sem fazer nossos lobos a reivindicarem para o resto da vida.

Ela sendo uma humana, não tem ideia do que significaria estar
acasalada com dois lobos. Muitas das teorias que perduram na história não
são verdadeiras. Como o ato de se vincular ou se acasalar com um lycan
fazer o companheiro também ter a habilidade da transformação, porém, não
é assim que funciona.

Só pode se transformar em lobo, quem tem o sangue lycan, ou como


os nossos antepassados acreditavam, quem tem o espírito de lobo preso
dentro de si. Nossa linhagem licantropo existe há mais de dois mil anos,
fazendo de nós mais velhos do que os vampiros.

A estimativa de vida de um lycan é de setecentos anos, e lembro dos


meus pais contarem histórias de que quando os lycan alcançam essa idade,
eles se transformam uma última vez em lobo, vivendo assim até sua morte.
O que significa que se nos acasalássemos com a Willow vincularíamos sua
vida humana com a nossa. Como a estimativa de vida de um humano é de
no máximo noventa anos, a ligação do acasalamento tende a ir para o
companheiro mais poderoso. O que faria a Willow viver ao mesmo tempo
que nós.

Contudo, isso é algo que não vai acontecer, porque se Griffin e eu


concluirmos o que começamos no sonho de alma, quebraremos uma das leis
dos anciões, o que fará todos os envolvidos serem mortos. E eu não posso
colocar a nossa alcateia em perigo, muito menos a Willow, que não faz ideia
de nada disso.
Incitar o primeiro sonho nela foi a maneira que encontrei para saciar a
euforia do meu lobo, e quando decidi segui-la para incitar um novo sonho,
convidei Griffin, porque eu sabia o quanto ela também havia mexido com
seu lobo. Eu senti a euforia vir dele através do nosso vínculo, e não
demoraria para seu lado bestial tomar as rédeas.

Eu pensei que estivéssemos no controle, mas estava errado. Eu não


imaginava o poder que Willow teria sobre nossos lobos, a eu subestimei e
agora iniciamos uma ligação indevida de acasalamento. Não quero nem
imaginar quando Raze descobrir que a fêmea que Griffin e eu nos ligamos é
uma humana. A raça que ele mais odeia.

— Uma coisa levou a outra, e quando ela me mordeu, eu perdi o


controle do meu lobo. — Griffin diz depois de tanto silêncio. — Acredite,
Raze, não teve como parar.

E não tinha mesmo, Willow levou nossos lobos ao limite. Apesar de


ser apenas uma humana. A luxúria que ela exerceu sobre nós incitou o
nosso lado selvagem. Ficamos irracionais, havíamos perdido o controle dos
nossos lobos. E tudo que eles queriam era reivindicar a fêmea que os
mordeu, deixando ambos em um estado de euforia voraz.

— Não teve como parar? — Raze pergunta de testa franzida. —


Quem é essa loba que fez dois lobos poderosos como vocês perderem a
cabeça?

Dou uma olhada para Griffin, ambos sabemos que não devemos
compartilhar com ele que a fêmea que nos vinculamos em sonho é uma
humana, contudo, ele é nosso alfa, e o respeitamos demais para manter
qualquer segredo dele. Entretanto, revelar agora que a fêmea em questão é
uma humana não é uma escolha sábia.

— Vocês vão concluir com o acasalamento? — Raze pergunta e o que


eu mais queria era dizer que sim, mas não posso fazer isso.

Não sem colocar a alcateia em perigo e na mira do conselho. Meu


lobo rosna rejeitando minha decisão, porém, não há nada que eu possa fazer
para ficar com a Willow sem causar a ira dos anciões. Se houvesse ao
menos uma chance, eu a agarraria com tudo de mim, afinal, meu lobo a
escolheu. No entanto, ele não pode a ter.

— Sim. — Griffin responde e viro a cabeça na sua direção. Estou tão


surpreso quanto horrorizado.

— Do que você está falando? — pergunto baixo, Raze pode não


entender a minha pergunta, mas Griffin sim. — Eu pensei que fôssemos
esperar a próxima lua cheia para a ligação com... Ela se desfazer.

Griffin me encara e a resposta está no fundo dos seus olhos: ele não
vai deixar a ligação se desfazer. Conversamos sobre isso depois que fomos
embora da frente da casa da Willow. Ele havia dito que deixá-la era a
melhor decisão que poderíamos tomar. O que aconteceu para ele mudar de
ideia?

— Meu lobo a escolheu. Nada e nem ninguém poderá mudar isso. —


responde e fecho os olhos respirando fundo, porque agora eu sei o quanto
estamos encrencados. — Meu lobo se rendeu a ela e sua fidelidade pertence
a ela agora.
Merda!
Isso significa que o lobo de Griffin já a vê como companheira. E ele
está certo, nada e nem ninguém poderá mudar isso. A culpa logo enche meu
coração, fazendo-me sentir o pior dos lobos, o pior dos irmãos. Estou
travando uma luta tão cansativa com meu lobo ao longo dos anos, que eu
não pensei que Griffin não é como eu. Ele não rejeitaria o desejo do seu
lobo como eu tenho feito com o meu.

— E quanto a você, Deon? — viro-me para Raze, meu coração bate


rápido demais. Meu lobo rosna e finca suas garras dentro de mim.

Meu lobo está cobrando algo que jurei a mim mesmo que nunca faria.
Depois de Calina, eu jurei nunca me acasalar, nunca mais eu me doaria
como me doei, eu nunca mais amaria como eu a amei. Tudo não passou de
uma mentira e manipulação, e não eu permitiria viver algo parecido
novamente.

— Eu... — começo a falar, mas me calo com a dor que rasga meu
peito.

— Deon? — Raze me chama e sinto meus olhos arderem e meu


coração queimar.

Eu quero a Willow como nunca quis nada e nem ninguém. Eu quero


pela primeira vez ser o egoísta e inconsequente que todos pensam que eu
sou. Aquela humana linda é a única que me fez sentir qualquer outra coisa
além de raiva, culpa e tristeza. Me acasalar com ela é comprar uma briga
com meu alfa e uma guerra com todo o conselho dos anciões.

Meu lobo uiva querendo que eu tome essa escolha, porque quando eu
a mordi em seu sonho, meu coração se tornou seu, meu lobo a reverenciou
como sua companheira. E mesmo que eu não retribua o amor que ela pode
um dia sentir por mim, eu serei eternamente leal a ela, ao nosso
acasalamento.

— Eu a quero. — confesso por fim.

Raze parece surpreso com a minha resposta e faz uma pergunta que
não tinha sequer passado pela minha cabeça:

— Deon, mas se você se acasalar com outra, o que será da sua


companheira de alma? Ou se esqueceu do futuro que Kai vislumbrou para
você?

Lembrar da previsão que Kai me fez anos atrás, traz um gosto amargo
à minha boca. Escolher a Willow e abrir mão do meu futuro destinado, é
abrir mão de um dia ter filhotes, afinal quando um lobo se acasala é para
sempre. Não há como romper, nem mesmo com a morte, porque a lealdade
do meu lobo será para sempre da minha companheira.

— Raze, eu não sei nada sobre esse futuro que Kai descreveu, a única
coisa que sei é do aqui e agora, do que estou sentindo neste exato momento.
— fito os olhos do meu alfa e sou honesto. — E eu quero me acasalar com
a fêmea que meu lobo escolheu, mesmo que eu nunca tenha filhotes.

Raze apenas assente sem dizer mais nada, porém através do nosso
vínculo de alcateia sinto sua preocupação. Raze é um bom alfa e um ótimo
amigo, esteve ao meu lado quando Calina traiu a confiança do meu lobo,
me colocando numa espiral de dor. Raze pensa que eu não sei o que ele fez,
mas eu sei. Ele transferiu a maior parte da dor que eu sentia para si mesmo.

— Muito bem. — diz depois de alguns minutos. — Quero conhecer a


loba que fará parte da nossa família. — declara abrindo um sorriso, mas eu
e Griffin não compartilhamos da mesma felicidade.
Ambos sabemos que a pior parte ainda não contamos a ele, e eu sei
que ainda não é o momento para contar. Nosso alfa despreza os humanos.
Seus pais foram assassinados por humanos que descobriram sobre nós e
planejavam nos aprisionar e para evitar que o pior acontecesse seus pais se
sacrificaram para nos proteger.

Por isso eu imagino que Raze não aceitará a nossa escolha, para ele
todos os humanos são iguais. O que resta é provar para ele que a Willow
não é como os humanos que o tornaram órfão aos doze anos. E que por ela
vale a pena se opor contra as leis dos anciões que regem com mão de ferro
todos os seres mágicos.

— Precisamos nos preparar, não será fácil convencê-lo a nos apoiar


quando ele descobrir que ela é uma humana. — digo mentalmente para
Griffin.

— Sim, eu sei, mas podemos culpá-lo por isso?

Não preciso pensar muito para ter uma resposta:

— Não, não podemos.

Antes que continuássemos a conversar com o Raze, o cheiro que bem


conheço chega até nós impregnando o escritório. Meu lobo fica agitado e
incontrolável no mesmo segundo, e percebo que com o Griffin acontece o
mesmo. No entanto, o que chama minha atenção é olhar para o Raze e ver
seus olhos em vermelho vivo.
14
Willow
Antes de entrar no bar fico ansiosa. Eu demorei a me convencer a vir
em busca das respostas que enchiam meu coração de incertezas nos últimos
dias. Cheguei a questionar se o que estava acontecendo comigo não era uma
loucura, como Laila tentou me fazer enxergar, contudo, a cada dia que
passava depois daquele sonho, meu corpo ardia, implorava, e quando não
aguentei a dor que sentia no coração, eu decidi vir em busca do que anseio.

Eles.

Pensar neles faz meu corpo despertar, as marcas das mordidas


arderem e meu coração acelerar, porém pensar neles também faz a tristeza
me abater. Eu não voltei a sonhar com eles, o que fez o meu estado de
desespero piorar. Pensei que depois de uma semana as marcas fossem
sumir, mas me enganei, elas continuam comigo, e pelo que parece só eu
consigo vê-las.
Depois de Laila dizer com tanta convicção que não as via, me dei por
vencida e retornei ao bar. Foi aqui que tudo começou, e eu preciso descobrir
como fazer parar. Eu tenho uma teoria, mas, para ter certeza sobre ela, eu
preciso conversar com quem faz a cerveja artesanal. Preciso saber se ela
tem algum alucinógeno nos seus ingredientes, porque se tiver, preciso saber
o que posso fazer para tirar do meu sistema o quanto antes.

Eu preciso voltar para minha vida normal de antes, pois não aguento
mais me sentir fora da minha pele. Tudo mudou desde que estive aqui no
meu aniversário. E nos últimos dias fui bombardeada por imagens de lobos
e a única maneira que encontrei para extravasar a avalanche que me
consumia foi pintá-los, foi colocá-los em quadros.
Pintei três lobos enormes e ferozes que carregavam nos olhos as
mesmas cores marcantes das íris dos homens que não saem da minha
cabeça.
Tomada de coragem, entro no bar e meus olhos buscam
automaticamente por eles, mas os únicos que vejo são Kaden, Kael e Beau.
Os três levantam suas cabeças assim que me veem. Por alguns segundos
eles me olham fixamente e logo parecem espantados mirando meu ombro
desnudo. É como se eles conseguissem ver o que ninguém além de mim
viu.

Arregalo os olhos assim que um forte indício me acerta. Eles


conseguem ver? Instantaneamente, eu levo a mão para meu ombro, sentindo
na palma da minha mão a marca mais quente do que esteve nos últimos
dias. O cheiro de menta chega até mim fazendo meus olhos se fecharem,
minha boca ficar seca e meu coração atormentado.

— Deon. — murmuro.

O aroma de menta fica mais forte, e eu sorrio ainda de olhos fechados


quando o cheiro de laranjeira se mescla com ele. A mordida ao redor do
meu seio esquenta, causando arrepios por todo o meu corpo.

— Griffin.

O êxtase que sinto me faz abrir os olhos e procurar por eles, mas não
os vejo em lugar nenhum. Cansada de ficar parada no mesmo lugar,
atraindo os olhares curiosos dos clientes, caminho até o balcão, sendo
acompanhada por três pares de olhos que não me abandonam, Kaden, Kael
e Beau. Assim que me sento a atenção deles se prendem no meu ombro,
Kaden é o primeiro a abrir a boca, mas a fecha no mesmo segundo. Kael é o
segundo, porém como o irmão não diz nada, o que me faz olhar para Beau.
— Olá, Willow. — me cumprimenta e em seguida limpa a garganta.
— O mesmo de sempre?

Eles estão incomodados com minha presença ou é impressão minha?


Passo o olhar nos três que mantêm as mesmas expressões inquietas. Decido
não pensar nisso por ora, eu vim aqui em busca de respostas e acredito que
eles possam fornecê-las.

— Na verdade, eu gostaria de saber os ingredientes que têm na


cerveja artesanal? — pergunto logo, optando por ser direta.

Encontro-me em desespero por respostas para ter que estabelecer uma


longa conversa, ainda mais por ter vindo sozinha. Laila que é boa em puxar
assunto e conseguir se informar do que quer, porém ela não pôde me
acompanhar devido a uma sessão de fotos que ela faria num evento hoje. E
eu era incapaz de ficar em casa mais uma noite sentindo meu corpo arder e
meu coração doer, torcendo que meu subconsciente sonhasse mais uma vez
com eles.

Eu não suportaria.

O som da risada de Kaden e Kael me faz voltar minha atenção para os


três homens, lembrando-me o motivo de estar aqui: desvendar o que tem na
cerveja artesanal. Beau me encara sério, estreitando seus olhos para mim, e
não recuo, me mantenho firme no que quero descobrir. Enquanto espero a
resposta de um deles, o forte cheiro de capim-limão impregna o ar a minha
volta, gerando em mim o desconforto de saber que eu não estou completa.

Por que eu me sinto assim?

Levo a mão para o peito, quando o aperto no meu coração me faz


separar os lábios e deixar escapar um gemido de dor. Miro meus olhos nos
três homens e a risada de Kaden e Kael perde as forças quando deixo que
eles percebam o desespero que vivo.

— Por favor, me ajudem. — imploro, sentindo os cheiros que tanto


amo me sufocarem.

A agitação no meu interior dessa vez é diferente, ela dói, é como se


alguma coisa estivesse querendo rasgar minha carne para sair. Me curvo
sobre o balcão e seguro na madeira, esperando que o desconforto passe, que
algo alivie a necessidade que cada dia cresce assustadoramente dentro de
mim.

— Fechem o bar! — escuto Beau ordenar, mas não presto mais


atenção. Estou sendo consumida por dor e desespero — Agora!

Sinto mãos segurarem as minhas, levanto a cabeça vendo Beau as


apertar. Seus olhos marrons brilham, e eu franzo a testa não entendendo
porque aquilo me parece tão familiar. Cravo minhas unhas na madeira
assim que meu corpo sofre com espasmos dolorosos, respirando com
dificuldades faço uma pergunta a ele:

— O que... es-está acontecendo... co-comigo? — ele aperta minhas


mãos e no seu olhar vejo refletir uma preocupação que não estava ali antes.

Beau fica alguns segundos em silêncio apenas me encarando, suas


mãos apertam as minhas cada vez que me curvo de dor. Em meio a gemidos
de aflição, confesso:

— Eu... nã-não... su-suporto... mais.

Vejo a ternura refletir no seu olhar e sinto um pouco de alívio nas


minhas dores. Franzo a testa quando percebo Beau se curvar sobre o balcão,
como se estivesse sentindo as mesmas dores que as minhas. Mas é
impossível, certo?
— Você é quem tanto esperávamos. O que você sente está perto de
acabar, eu só preciso receber a autorização de...

Sua fala é interrompida quando um pedaço de papel chamuscado


surge em frente aos nossos rostos, por um segundo penso estar delirando,
mas quando Beau segura o papel, que até alguns segundos flutuava diante
de nós, eu arregalo os olhos assustada com o que estou presenciando.

— O que está acon... tecendo?

Ele abre um sorriso assim que termina de passar os olhos pelo papel,
Beau solta as minhas mãos para alcançar uma caixa no alto das prateleiras
de bebidas. Assisto sem entender quando ele puxa uma garrafa de vodca de
dentro dela. Abrindo rapidamente a garrafa ele despeja o conteúdo dentro
de um copo, assim que enche o copo até a borda, me oferece.

— Bebe. — pede, mas não bebo, ainda estou estarrecida pelo papel
mágico e queimado que apareceu ainda há pouco. Beau percebe minha
recusa e respira fundo antes de voltar a falar. — Você entenderá tudo depois
de beber.

Cheia de receios, eu decido não beber, contudo, assim que sinto uma
forte dor me atingir no peito fecho os olhos e seguro no copo virando o
líquido de uma vez. A primeira parte que sinto queimar é a minha garganta,
depois as minhas veias, e logo todo o meu corpo está tomado por um calor
abrasador.

Tudo queima, tudo dói, ao mesmo tempo em que tudo alivia, tudo me
excita, tudo me consome.

Abro meus olhos vendo Beau sorrir para mim, mas não retribuo,
porque tudo dentro de mim só consegue sentir os cheiros que me fazem
ficar eufórica, excitada e ansiosa. Meu interior anseia por seus toques, meu
corpo clama e implora por cada um deles.
Raze, Deon e Griffin.

Três rosnados vindo do fundo do bar chamam minha atenção,


levanto-me sabendo que é para lá que eu devo ir. Caminho sentindo o
desconforto da minha excitação molhar a calcinha, minhas coxas não
demoram a estarem ensopadas, o vestido que estou usando não ajuda em
nada, mas não me importo.

Tudo dentro de mim só quer eles e mais nada. Eu sinto que eles estão
aqui. Sem saber o que fazer, muito menos como agir, sigo meu instinto que
me faz caminhar em direção aos rosnados que ficam cada vez mais altos.
Os rosnados que fazem meu coração acelerar e minha boceta pulsar.
15
Griffin
Quando decidi procurar o Raze era para colocar todas as cartas na
mesa. Chega de querer evitar um assunto que eu sei que iria acontecer de
qualquer maneira. Meu lobo escolheu a Willow, e eu não vou desistir de tê-
la, de fazê-la minha. Quando concordei com o Deon, depois que saímos do
sonho e fomos embora, foi para tranquilizá-lo, já que através da nossa
ligação, eu senti o quanto ele estava agitado e mexido com o que
compartilhamos naquele sonho.
Foi intenso. Foi profundo. Foi tudo.

E agora aqui parado diante do nosso alfa, eu não posso esperar. Não
sou mais capaz de suportar ficar longe dela, assim como eu sei que Deon
também não consegue. Nós a queremos, nós precisamos dela.

Nossos lobos estão a chamando desde que nos ligamos a ela,


causando na Willow o desespero do acasalamento, que através do vínculo
frágil que criamos no sonho de almas, podemos senti-la sofrendo. Essa
demora está a fazendo enlouquecer, e tudo o que eu mais quero é dar fim a
isso.

Mas não sem antes Raze saber sobre ela, nosso alfa merece a nossa
honestidade, nossa lealdade e confiança. Se queremos que ele a aceite,
precisamos confiar que apesar do seu histórico com os humanos, ele nos
entenderá e a aceitará. E é pensando nisso que dou um passo à frente,
porém o cheiro que meu lobo vem ansiando há uma semana invade meus
sentidos dominando minha razão, gerando em mim uma desordem que
apenas a culpada pode arrumar.
— Willow. — murmuro seu nome, precisando dela o mesmo tanto
que eu sinto que ela precisa de mim e do Deon.

Rosno enraivecido assim que sinto pelo vínculo a tristeza se abater


sobre ela, Deon rosna como eu, mas somos surpreendidos quando
escutamos mais um rosnado. Alto e furioso. Olhamos para Raze e vemos
seus olhos cintilarem em vermelho fogo.

— Alfa? — O chamo e o vejo se descontrolar andando de um lado


para o outro.

— Ela não devia ter voltado! — esbraveja rosnando mais. — Não


com esse maldito cheiro que mexe com... Meu lobo! — declara entre
dentes.

— Ela? Ela quem? — Deon pergunta cautelosamente.

Raze continua andando de um lado para o outro, sua postura parece


perturbada ao mesmo tempo em que parece ter chegado no seu limite. Suas
garras se alongam e é estranho o ver tão descontrolado assim. Dentre todos
nós, ele sempre foi o que mais teve controle sobre seu lobo. Sua força de
alfa dá poder para ele ser o mais racional de nós quando nossos lobos
tentam assumir, contudo, vendo-o neste momento, ele parece prestes a
perder sua racionalidade.

— A humana lá fora. — grunhe espalmando as mãos sobre a mesa. —


Ela deixa meu lobo fissurado.

Olho para Deon, e ele parece tão surpreso quanto eu. Raze não
precisa dizer mais nada, está claro que a humana em questão é a Willow e
ela o afeta, assim como afetou Deon e a mim.

— O lobo do Raze a quer também. Olha o cheiro que ele está


exalando. — Deon declara na minha mente, e sinto o cheiro de
acasalamento exalar dele.

E eu entendo no mesmo segundo o que está acontecendo.

— O lobo dele a escolheu, mas ele ainda não se deu conta disso. —
concluo em pensamento e Deon assente concordando.

O cheiro de baunilha fica mais intenso, fazendo meu pau engrossar e


endurecer dentro da calça no mesmo instante. A excitação dela chega até
mim como uma deliciosa tortura, meu lobo fica agitado, querendo
reivindicar aquela que ele escolheu para ser sua companheira pro resto da
vida.

O desespero dela de concluir com o acasalamento, me faz questionar


se isso é normal. Eu não conheço nenhuma história de lobos que tenham se
acasalado com humanos, ainda mais depois que as leis foram decretadas
pelos anciões, porém o comportamento dela perante o início do nosso
acasalamento não está certo.

Ela não deveria estar tão afetada assim. Seu desespero se assemelha
ao de uma loba no cio que não concluiu o acasalamento com seu lobo
escolhido.

— Porra! — Raze ruge alto, em seguida bate com os punhos sobre a


mesa, desviando meus pensamentos. — Por que infernos eu sinto o cheiro
de vocês na humana lá fora?

Fito Raze nos olhos e palavras se tornam desnecessárias quando ele


compreende o que eu e Deon fizemos. O rosnado dele fica mais alto, mais
feroz e não recuo. Se é para sermos honestos, esse é o melhor momento. Eu
quero resolver isso o mais rápido que puder, Willow precisa de nós.

— Ela é a companheira que nossos lobos escolherem. — declaro, e a


fúria nos olhos de Raze cintila, fazendo seus olhos ficarem totalmente
vermelhos.

— O lobo dele está na borda para tomar o controle. — aviso a Deon


mentalmente.

— Vamos completar o vínculo, ela precisa de nós. — Deon completa


fazendo a fúria de Raze transcender, levando-o ao estado intermediário
entre lobo e homem. O estado que nenhum lobo consegue manter a parte
racional no controle, apenas a bestial.

— Minha! — O lobo de Raze ruge.

Meu lobo sente a ameaça que vem dele, e mesmo sendo nosso alfa
meu lobo não vai recuar. Willow é tão dele quanto minha e de Deon, então
eu não vou abrir mão de tê-la, e o lobo possessivo do Raze terá que
entender isso.

— Nossa, ela é nossa! — afirmo segurando meu lobo para não entrar
no estado intermediário.

Deon que estava em silêncio rosna alto para Raze, seu lobo ao
contrário do meu, não vai se manter controlado. Deon deixa suas garras se
alongarem e logo ele está no mesmo estado que o Raze.

— Nossa! — O lobo de Deon rosna, a voz soando animalesca.

Raze grunhe alongando seu corpo e Deon faz o mesmo. Ambos


prontos para um confronto.

— Raze, você não pode impedir nossos lobos de tomar a fêmea que
eles escolheram. — digo e ele de olhos completamente vermelhos, ri antes
de falar:

— Mas eu posso tentar.


Sim, ele pode. Contudo, ele sabe que quando o lobo escolhe sua
fêmea, nada o irá parar até ele reivindicar sua escolhida. Deon avança em
direção à porta, mas Raze o intercepta, empurrando-o para longe. Meu lobo
se empertiga diante do obstáculo que se coloca diante do meu lobo e do que
ele quer: Willow.

Deixo minhas garras saírem, e alongo meu corpo, lutando uma queda
de braço com meu lobo para ele não assumir o controle e transformar a
conversa que tínhamos planejado numa luta pela fêmea que nós três
queremos.

— Eu posso fazer isso a noite toda. — Raze grunhe, e Deon logo o


responde:

— Nós também.

Deon está prestes a avançar em Raze, porém, antes que ele faça isso,
a porta é aberta por Willow que nos atinge com o cheiro da sua excitação,
fazendo nós três rosnarmos juntos. Querendo e precisando da fêmea que
nossos lobos escolheram, chegamos a um entendimento em conjunto:

— Nossa! — anuncio a eles pelo vínculo.

— Nossa! — Deon concorda, e nós dois focamos em Raze que


sentencia:

— Definitivamente nossa!
16
Willow
Assim que paro em frente à porta de onde vem os rosnados, o frisson
dentro de mim fica mais intenso. Todo o meu corpo vibra querendo
desesperadamente que eu passe pela porta, que eu entre e tome para mim o
que está do outro lado. Seguro na maçaneta e seguindo meu instinto abro a
porta e sou recepcionada pelos três homens que não saem da minha cabeça.

Os três estão diferentes, mas um diferente bom, um diferente que


deixa minha boca salivando, meus mamilos duros e meu clitóris pulsando.
Eles rosnam quando meus olhos avaliam seus corpos, eles estão maiores,
seus braços estão inchados, suas expressões estão selvagens, perturbadas,
brutais. Meus olhos param nos volumes das suas calças, e eu quero o que
está dentro delas.

Levanto meus olhos devagar e sou atingida pela forma crua que eles
me olham, três rosnados soam alto retumbando dentro de mim como a mais
bela melodia, seus cheiros misturados me fazem ofegar, me deixam no
limite do desejo de tocá-los, de reclamá-los como meus.

Presto uma melhor atenção neles e percebo o quanto a respiração


deles está irregular, seus peitos sobem e descem rápido, quase se
comparando ao mesmo estado que o meu, porém os deles têm um apelo
selvagem, um apelo que me deixa cativa. Gemo quando um instinto
avassalador dentro de mim me implora para correr.

Eu não sei nomear o que estou sentindo, eu só sei que eu quero e


preciso correr para o mais longe que eu puder, não porque eu não quero
estar com eles, mas porque eu quero que eles me cacem. Que eles me
provem que querem tanto estar comigo quanto eu quero estar com eles.
Uma vontade de ser perseguida por eles faz a minha excitação aumentar, é
algo animal e selvagem que sinto nesse momento.

Uma loucura? Completamente. Contudo, para mim parece tão certo.

Meu corpo arde e o desejo desenfreado queima nas minhas veias com
a mera possibilidade deles correndo atrás de mim. O meio das minhas coxas
está melado da minha excitação ao mesmo tempo em que meus mamilos
perfuram meu vestido. Vendo os três homens na minha frente tudo que
estou sentindo é elevado ao máximo.

E sem pensar demais dou as costas a eles. Os rosnados que vêm em


seguida são altos, porém, eu não me viro. Começo a me afastar com passos
apressados, assim que chego ao bar percebo Kaden, Kael e Beau me
encarando. Os três estão sozinhos, pois os clientes que estavam aqui antes
já não são vistos em lugar nenhum.

Hesito por alguns segundos, mas logo sinto meu interior ser invadido
pelos aromas de capim-limão, laranjeira e menta, lembrando-me que eu
devo correr até eles me pegarem. Até eles me caçarem como eu tanto quero.
Uma caçada selvagem que terminará com eles me tomando.

— Willow, você incitou uma caçada de companheiros neles, acho


melhor você começar a correr, ou eles vão te pegar aqui e isso não irá
agradá-la. — Beau fala, mas não entendo ao que ele se refere, mas só de
pensar que Raze, Deon e Griffin possam me pegar antes do que eu quero,
me frusta e eu nem sei o porquê.

— Eu... Eu... Não entendo. — confesso.

— Você terá tempo para entender, por ora, apenas corra. — ele abre a
porta do bar para mim e sem olhar para trás começo a correr.
Sigo o meu instinto e vou para a floresta escura. Sinto meu peito se
encher de vida, um sorriso se abre nos meus lábios. Porque é isso que eu
quero, eu quero que os três homens me persigam, me tomem e façam tudo o
que eles quiserem. Logo escuto rosnados atrás de mim, me fazendo correr
mais rápido, o meu interior está clamando para eles me alcançarem,
contudo, ele também ordena para que eu não facilite para eles.

E eu escolho não facilitar.

Os sons de galhos sendo quebrados me fazem saber que eles estão


perto, perto demais. Já estou ofegante e meus pulmões queimam
implorando para que eu pare de correr, porém eu sei que não posso. Ainda
não. Assim que eu avisto um campo limpo rodeado por árvores tendo
apenas o brilho da lua iluminando a escuridão da noite, eu sei que chegou o
momento de deixá-los me alcançar.

Corro tão devagar que estou quase andando, olho por cima do ombro
vendo perfeitamente os três homens surgirem por entre as árvores, uma
felicidade sem tamanho cresce dentro de mim, assim que os vejo correndo
na minha direção. A lua banha seus corpos seminus, porque em algum
momento da corrida eles tiraram suas camisas, evidenciando seus troncos
sarados. Minha boca saliva querendo provar o gosto de suas peles na minha
língua.

O primeiro a me alcançar é o Raze, ele rodeia meu corpo com seus


braços fortes tirando-me do chão. Solto um grito pega de surpresa pela
facilidade que ele me levanta, enquanto sua boca traça um caminho pelo
meu pescoço e ombro, fazendo meu âmago ansiar por uma mordida como a
que Deon e Griffin me deram em sonho.

Sou distraída do rumo dos meus pensamentos assim que os outros


dois chegam até nós. A forma devassa na qual os dois me olham faz um
calor infernal me consumir, deixando meus seios pesados, minha intimidade
sensível e minha respiração irregular.

— Nossa! — Os três rosnam.

Raze me coloca no chão e sou rodeada pelos três, os cheiros deles me


deixam intoxicada de luxúria. Capim-limão, menta e laranjeira. A língua de
Deon lambe minha orelha ao mesmo tempo em que Raze lambe meu
pescoço e choramingo quando Griffin aperta os bicos dos meus seios,
fazendo-me contorcer de necessidade entre eles.

— Nossa. — voltam a repetir, deixando meu interior ardendo por


eles.

A possessividade deles me deixa contente, envaidecida, fazendo a


pulsação entre minhas coxas se tornar insuportável. Fecho os olhos quando
Griffin, que apertava os bicos dos meus seios, abocanha meu seio esquerdo
sobre o vestido. Os grunhidos dos três ficam altos, minha excitação eleva ao
nível máximo, ouvir os sons animalescos que eles fazem provoca meu
interior, me fazendo querer algo que só havia vivido nos meus sonhos.

Eu quero eles.

Aqui e agora.

Eu quero os três dentro de mim.

De olhos fechados permito que eles manipulem meu corpo como bem
quiserem, trêmula e ansiosa é como me sinto quando o toque de um resvala
no meio das minhas pernas, choramingo logo que ele afasta sua mão de
onde anseio pelo toque dos três. Algo afiado traça o meu colo se perdendo
no vale entre meus seios, abro os olhos e assisto Deon percorrendo o
caminho de volta. Minha atenção se prende na sua mão e arregalo os olhos
assim que vejo o tamanho da sua unha.
Unha, não... Isso é uma garra? A garra longa e preta me faz dar um
passo para trás, contudo, bato contra algo duro. Sob meu ombro fito Raze
me estudando por alguns segundos, que para mim parecem ser horas, antes
de quebrar o contato mordendo meu pescoço com força. Grito antecipando
a dor, porém o que sinto é uma onda imensa de excitação percorrer todo o
meu corpo se alojando na minha intimidade que pinga e pulsa por eles.

— Raze. — gemo seu nome perdida na luxúria que ele desencadeou


no meu corpo com sua mordida.

O rosnado dele me faz quase alcançar o êxtase. A segunda mordida


vem de Deon, seus dentes cravam no meu ombro, no mesmo lugar que ele
havia me mordido no sonho, e o que sentia antes se torna duplamente mais
forte, duplamente mais desesperador.

— Deon. — choramingo seu nome, quando ele lambe onde mordeu.

Meus batimentos intensificam quando sinto a garra de Griffin puxar


meu vestido, o rasgando logo em seguida, deixando-o cair no chão. Ele não
encontra dificuldade em dar o mesmo destino para meu sutiã, na verdade, é
ainda mais fácil quando ele faz questão de usar suas outras garras para
rasgar e jogar longe.

Seus dentes são precisos em cravar no meu seio esquerdo, obrigando-


me a revirar os olhos em puro deleite. A sensação real de ter os dentes deles
perfurando minha pele é mais arrebatadora do que a do sonho, encaixando
perfeitamente cada peça no seu devido lugar dentro de mim. Porque antes
deste momento tudo era uma grande desordem e desespero.

— Griffin. — seu nome escapa por meus lábios como uma oração.

E em poucos segundos, os três estão lambendo onde me morderam.


Sinto meus dentes doerem e meu instinto clamando que eu faça o mesmo,
que eu os morda, que eu os reivindique como meus, porque dentro de mim
eu sei que a partir deste momento eu sou deles.
Sem pensar muito satisfaço a vontade que estou de reclamá-los de
forma primal. Raze é o primeiro em quem eu cravo meus dentes. Mordo seu
pescoço, sentindo o gosto do seu sangue encher minha boca, o rosnado dele
me enlouquece, fazendo o meio das minhas coxas melar de tamanho tesão
que estou sentindo.

Afasto meus dentes da sua pele e lambo o local, quando olho nos seus
olhos o dourado de antes não existe, seus olhos estão completamente
vermelhos. Seguro nos seus cabelos beijando sua boca, misturando o gosto
dos nossos sangues até se tornarem um só.

Griffin é o próximo, e eu nem preciso puxá-lo, ele mesmo vem até


mim apontando para seu coração, e eu entendo que ele quer que eu o morda
exatamente ali, e eu mordo. O rosnado que ele solta faz meu corpo tremer.
Ele segura minha cabeça e eu retiro meus dentes devagar e olhando para o
azul dos seus olhos, coloco a língua para fora lambendo sua pele ferida.

— Willow. — geme meu nome e eu gosto de ouvir como meu nome


soa na sua voz rouca e animalesca.

Deon é o último, e por conta disso meu tesão está no limite. E ao


contrário do que foi com os outros dois, me coloco de joelhos e seguro na
braguilha da sua calça. Eu vou reivindicá-lo, porém só quando estiver com
sua ereção na minha boca. Eu estou faminta e vou me alimentar no melado
do seu pau, e vou amar se ele encher minha boca com sua essência.

— Dê para mim. — digo a ele e não é um pedido.

Sinto que estou prestes a explodir, meu raciocínio se resume a eles, ao


que eu estou sentindo e o que necessito, e eu necessito deles dentro de mim,
me preenchendo com seus paus, me enchendo com suas essências.

Deon rosna retirando seu membro com pressa de dentro da calça. A


cabeça do seu pau melada enche minha boca d’água, e não demoro a sugá-
la, experimentando seu gosto e amando senti-lo salgado na minha língua.
Chupo com mais força, com mais fome. Os rosnados dele me deixam ainda
mais excitada, ainda mais esfomeada.

Engulo a glande, mamando com rapidez, eu quero e preciso da sua


essência, assim como preciso das essências de Raze e Griffin. Faço um
esforço comportando todo o seu membro na minha boca, tocando meus
lábios nos seus pelos aparados. Movo minha garganta com movimentos de
engolir, massageando seu pau, levando-o para perto da sua libertação.

Mexo minha cabeça para frente e para trás, fazendo-o bambear as


pernas, porém as mantenho paradas fincando minhas unhas nas suas coxas.
Engulo-o todo para logo quase retirá-lo da minha boca, mantenho esses
movimentos até que seus rosnados ficam mais altos, mais animalescos.
Quando o sinto perto da sua libertação, o afundo por completo dentro da
minha boca cravando meus dentes na base, o fazendo uivar pelo prazer que
eu sei que estou lhe proporcionando.

Minha garganta é tomada por seus jatos quentes, engulo tudo que
aguento sedenta por mais. Assim que ele para de gozar retiro minha boca do
seu membro ainda muito duro e muito inchado. Lambo ele por completo
fazendo questão de demorar na marca dos meus dentes. Logo que termino,
procuro Griffin e Raze, eu os quero, eu também preciso dos seus orgasmos.
— Meus. — declaro me deitando no chão de grama.

Me abro para eles, os convidando a terminar o que começamos. Raze


avança para cima de mim e me vira de bruços com rapidez, levantando
minha bunda. Grito quando sinto suas garras rasgarem a minha calcinha e
sua língua lamber minha boceta e clitóris, choramingo cada vez que ele usa
seus dentes elevando meu prazer e desespero ao extremo.

Seus dedos me invadem sem aviso e grito de prazer, perto demais do


meu clímax, contudo, insatisfeita por não tê-los dentro de mim. Os rosnados
de Deon e Griffin, que assistem a tudo que seu amigo faz comigo, fazem eu
rebolar na boca de Raze, querendo seu membro duro e grosso dentro do
meu interior quente e molhado.

Ele parece ouvir meus pensamentos, ou ler muito bem meu corpo que
quer desesperadamente ser fodido por ele, porque em algum momento ele
baixou sua calça para pincelar a cabeça do seu pau nas minhas dobras
encharcadas. Sinto algo gelado ser passado na minha intimidade que
queima, e me dobro como posso para ver o pequeno metal que brilha na sua
glande.
Um piercing.

Choramingo quando Raze não encontra dificuldade para escorregar


para dentro de mim. Tê-lo me pegando de quatro eleva minha excitação.
Grito e gemo quando começo a receber suas investidas duras e rápidas.
Foco meus olhos em Griffin e Deon, eles parecem ainda mais animalescos.
Seus rosnados estão mais altos, seus membros mais inchados e maiores.
Pulso ao redor de Raze precisando de mais deles dentro de mim,
quero os três me tomando, os três dando fim a aflição que me consome, que
me afugenta.

— Mais! — grito recebendo golpes duros de Raze. — Eu preciso


demais.
Sendo ágil, Raze me pega no colo invertendo nossas posições, eu fico
montada sobre ele, sentando de uma vez na sua ereção. Quico no seu colo
sendo amparada por suas mãos na minha cintura, deito no seu peito assim
que sinto Griffin se posicionar atrás de mim, por um segundo penso que ele
irá me preparar para o sexo anal, mas sou surpreendida quando sinto a sua
glande lutar por espaço na minha boceta, que neste momento já se encontra
preenchida por Raze.
Fecho os olhos, quando só a mera imaginação de ser tomada pelos
dois no mesmo lugar quase me faz gozar. A pressão que sinto me faz
choramingar, mas não de dor, e sim de um prazer anunciado, um prazer que
anseio sentir antes de alcançar o melhor orgasmo que já senti.

Sinto Raze sair de dentro de mim para Griffin entrar, e logo é Griffin
que sai e Raze que entra, eles continuam nesse ritmo por alguns minutos,
me alargando, me preparando para tê-los juntos no mesmo lugar. Estou
entorpecida e ansiosa demais para aguentar esperar, por isso imponho
minha vontade quando Griffin está prestes a sair de dentro de mim e uso a
musculatura da minha boceta para mantê-lo no lugar.
— Os dois, agora! — exclamo ensandecida demais.

Raze, que está embaixo de mim, penetra apenas a cabeça do seu


membro e sou eu que forço o restante dele para dentro, a ardência que sinto
logo é substituída pela plenitude do prazer. Os dois estabelecem uma
cadência que me faz perder o controle do meu corpo, me tornando apenas
uma mulher sedenta por seu orgasmo, desesperada pela sua libertação.

Irracional para qualquer outra coisa que não seja eles, que não seja
nós.
Grito assim que eu alcanço o êxtase, encharcando seus paus com meu
orgasmo e eles me acompanham me enchendo com a mistura das suas
essências. A ânsia de senti-los mais profundamente me faz pedir que me
mordam mais uma vez, contudo, antes que eles façam o que pedi, Deon se
aproxima se apossando da minha boca, tomando para ele todos os meus
gemidos e súplicas.

Sua língua traça da minha boca até meu ombro, e em seguida sou
mordida ao mesmo tempo pelos três. Grito assim que meu corpo queima e
meus ossos estalam como se estivessem sendo quebrados. A força que sinto
se alastrando pelas minhas veias me faz abrir os olhos e gritar de dor.

O que está acontecendo? Por que me sinto como se estivesse


morrendo?
17
Raze
Há mais de trezentos anos, a alcateia Calla foi dizimada pelos mais
poderosos de cada casta, que se uniram pelo bem maior. O alfa Zander e seu
beta, Soren, foram os últimos a serem capturados e mortos. A herdeira do
legado Calla, no entanto, nunca foi encontrada, viva ou morta, fazendo
assim os anciões acreditarem que ela não resistiu à maldição de Allegra,
mesmo seu pai usando da magia das trevas para trazê-la à vida.

Eu nasci há cento e cinquenta anos, sendo o primeiro filhote de lobo a


nascer depois da quebra da maldição; Kaden e Kael nasceram um ano
depois de mim; Beau depois de três anos; Deon e Griffin depois de sete
anos, fazendo de nós os primeiros nascidos. O fato do nosso nascimento
estar atrelado aos nossos pais serem companheiros de alma fez de nós lobos
muito poderosos.

Nossos pais para nos proteger entenderam que precisavam se unir,


criando assim a alcateia dos primeiros nascidos. Uma das mais poderosas
que existe. O que sabemos sobre a guerra que dizimou muitos lobos e quase
extinguiu as fêmeas foi por nossos pais. Foram eles que nos contaram como
os lobos Calla eram, qual era o diferencial deles comparado aos outros.

E agora vendo a companheira que meu lobo escolheu na forma mais


esplêndida e poderosa me faz ter certeza de que ela nunca foi uma humana,
mas sim a herdeira do legado Calla. A enorme loba branca uiva para a lua e
nos encara. Deon e Griffin se mantêm chocados, como eu fiquei há pouco
quando a mordemos juntos e sentimos a magia que ocultava seu poder de
loba ruir.
Entretanto, não foi apenas isso que a magia ocultou, Willow é nossa
companheira de alma. Descobri no exato momento que a mordemos pela
segunda vez. Seu aroma de jasmim banhou meu interior, nosso vínculo
mais forte do que companheiros de escolha. Meu lobo rosnou e uivou em
deleite por enfim ter encontrado aquela por quem seu coração esperou por
todos esses anos.

— Willow. — digo seu nome, chamando a atenção da loba com os


olhos azuis mais lindos e vibrantes que eu já vi na vida. — Minha loba. —
me declaro tendo meu coração tomado pelo amor puro de companheiros de
alma.

— Nossa. — Deon retruca se aproximando da loba que abaixa a


cabeça aceitando a carícia. — Nunca se esqueça que essa loba é nossa. —
fala e tenho que concordar com ele.

Quando nós a mordemos juntos, nossos lobos se vincularam mais


profundamente, nossos corações se tornando um só. A possessividade que
vinha do meu lobo deixou de existir no instante em que ele entendeu que a
Willow precisa do Deon e do Griffin para se sentir completa, se sentir feliz.

Griffin para ao lado de Deon e alisa os pelos dela também, sinto


através do vínculo de acasalamento a felicidade da loba de finalmente estar
livre. Me aproximo e nós três veneramos nossa companheira. Ela é linda, e
a magia que a cerca é poderosa demais. Troco um olhar rápido com Deon e
pela expressão do meu amigo ele também sente.

— Eles virão por ela. — comenta.

— Eu sei. — digo e tento me conectar mentalmente com a Willow,


porém ela ainda continua adormecida. — A loba dela está no controle, resta
a nós cuidar da sua segurança até que Willow assuma o controle.
Deon e Griffin assentem e continuamos a acariciar seus pelos, a
alegria que preenche meu coração me faz perceber como as coisas mudaram
em tão pouco tempo. Até ontem eu a queria o mais longe possível do bar, de
mim, contudo, agora? Eu não suportaria ficar longe dela.

— Ela é uma Calla, não é? — Griffin questiona e respiro fundo


sabendo o que minha afirmação acarretará.

Eu não me importo com seu legado, com seu sangue. Eu me importo


com ela, com sua segurança e felicidade. Willow é a companheira que o
destino escolheu para mim, é a metade da minha alma, é a mulher que fará
o futuro dos meus melhores amigos ser lindo, assim como o meu.

— Está vendo o azul mais brilhante, Deon? — pergunto ao invés de


responder o questionamento de Griffin.

— Sim, eu estou. — responde com um sorriso sincero no rosto.

— Eu também, e é o que importa. — determino. — Seja ela uma


Calla ou não, isso não mudará nada, ou mudará?

Deon e Griffin acariciam Willow por mais alguns segundos e logo


sorriem negando com a cabeça.
— Não, não muda merda nenhuma. — Deon diz e logo Griffin
completa:

— Ela é nossa companheira para cuidarmos e protegermos, nem que


seja com nossas vidas.

Não digo nada e nem preciso, pois eles sabem que compartilho dos
mesmos pensamentos. Iremos protegê-la nem que seja com nossas vidas,
porque eu sei que eles virão por ela, e teremos que lutar contra todos para
mantê-la viva e em segurança.
18
Willow
Gemo assim que me viro de lado. Meu corpo parece ter sido
atropelado por um caminhão. O que aconteceu? A última coisa que me
lembro é de estar no bar conversando com Kaden, Beau e Kael sobre os
ingredientes da cerveja artesanal. Abro os olhos devagar e a claridade do sol
incomoda meus olhos, levo um tempo para me acostumar, mas assim que
consigo olho a minha volta vendo que estou deitada em cima de uma pilha
de roupas, que não são minhas.
Sento-me e percebo que estou nua, puxo uma camisa da pilha para me
cobrir e sinto cheiro de laranjeira. Fecho os olhos assim que um flash de
Griffin toma meus pensamentos, seus beijos, seus toques e suas... Mordidas.
Abro os olhos rapidamente, a avalanche de lembranças me invade, me
fazendo recordar do sexo que tive com os três homens que não saíam da
minha cabeça.

Passo a mão nas áreas que eles morderam e um frisson me atinge. O


cheiro deles impregnado por todo o meu corpo, causando no meu coração
um sentimento que não lembro de já ter sentido por um homem, quem dirá
por três de uma vez.

Da mesma forma, com a mesma intensidade.

Raze, Deon e Griffin.


Suspiro querendo estar com eles novamente. Quero voltar a vivenciar
o que senti quando nos tornamos um só. Sinto meus batimentos acelerarem
quando recordo da felicidade e excitação que me encheram quando estive
nos braços deles, quando eles me morderam, quando... Toco meu peito
sentindo pela primeira vez o alívio, sem a sensação de algo estar querendo
me rasgar para sair.

— Olha quem acordou. — A voz atrás de mim me faz virar vendo os


três homens, também nus, me olhando com sorrisos nos rostos. —
Estávamos ficando preocupados, amamos correr com sua loba e morar no
ninho que você criou para nós, mas queríamos saber como você está se
sentindo depois de tudo? — A pergunta de Deon me faz franzir a testa.

— Do... Do que... Você está falando? — questiono, mas alguma coisa


no meu interior me diz que eu sei a resposta e basta eu buscar dentro de
mim mesma que eu a encontrarei.

— Willow, olhe para mim. — Raze pede e olho para ele que se
aproxima e toca gentilmente no meu rosto.

Seu toque aquece meu corpo ao mesmo tempo em que me passa uma
tranquilidade de que tudo irá ficar bem. Seu polegar acaricia minha
bochecha e fecho os olhos amando sentir o caminho que seu dedo percorre.

— Confie em mim. — abro os olhos focando nos seus que cintilam


avermelhados. — Eu vou te ajudar a entender tudo.

Assinto e mantenho meus olhos nos seus. Logo um mundo surge


dentro da minha cabeça e começo a ver e sentir flashes de lembranças que
não são minhas: Raze me vendo pela primeira vez; Raze lutando contra o
que estava sentindo por mim; Raze excitado pelo meu cheiro; Raze
correndo ao lado de Deon e Griffin para me pegar; Raze me mordendo;
Raze sendo mordido por mim; Raze assistindo a minha interação com
Deon; Raze me compartilhando com Griffin; Raze me assistindo me
transformar numa enorme loba branca.
— O que... O que é isso? — pergunto ainda com a lembrança na
minha cabeça.

— Se acalme! Apenas continue vendo.

A loba branca aceita o carinho dos três homens que parecem não ter
medo dela. Então uma nova lembrança me é mostrada: quatro lobos
correndo na floresta. Sinto a felicidade dos quatro em estarem juntos, e meu
coração se enche de amor. Depois de correr e brincar bastante, a loba
começa a pegar as peças de roupas espalhadas pela floresta e faz um ninho,
onde eles dormem juntos.

Quando Raze afasta sua mão do meu rosto, eu olho dele para os
outros dois que esperam eu dizer alguma coisa, contudo, não consigo
formular nada. O que acabo de ver é um absurdo. Isso não existe. Eu quero
me afastar deles para pensar no que acabo de descobrir, porém não posso.
Só de pensar em me afastar, sinto meu coração se apertar.

— O que está te entristecendo? Estamos aqui para ajudá-la a lidar


com qualquer dúvida que surja. — Griffin fala e respiro fundo tentando
assimilar tudo que acaba de ser jogado no meu colo.

Viro de costas para eles sem saber o que dizer. Eu mal consigo
raciocinar. Tudo que acabo de ver é demais até mesmo para mim que venho
sentindo tanta coisa maluca nos últimos dias. Sinto a mão de um deles tocar
no meu ombro me fazendo virar.

— Estamos aqui, fale conosco. — Griffin pede.

Passo meus olhos pelos três e aceno em concordância. Eu posso falar


com eles, eu posso desabafar e... Surtar um pouco. Isso. Acredito que eu
estou no meu direito de surtar por descobrir que posso me transformar
numa enorme loba branca, assim como ver e sentir as lembranças de outra
pessoa.

Normal, tudo absolutamente normal. Um surto por esse motivo é


aceitável, certo?

— Vocês… Vocês me transformaram? — pergunto já imaginando o


que vou ter que fazer nas luas cheias.

Eu preciso ter um porão para me prender? Porque eu não tenho um.


Meu Deus, o que eu vou fazer nas luas cheias? Eu vou sair uivando por aí?
Tem risco de eu sair dando dentada em todos? Vai ser um caos! Já vejo
Laila me matando com uma bala de prata e dizendo que é pelo bem maior.

— Respire, Willow, e faça uma pergunta por vez. — Deon fala e


franzo a testa para ele. — Você está gritando cada pergunta nas nossas
cabeças. — esclarece apontando para sua têmpora.

— Como... Como... Merda, não consigo lidar com isso agora. —


declaro andando de um lado para o outro. — Eu só queria fazer sexo com
vocês, eu não pedi nada disso. — digo e foco meus olhos neles. — Vocês
não poderiam apenas ter me fodido? Às vezes uma mulher só quer ser bem
comida, nada mais do que isso. Sem compromisso, sem ter que uivar para a
lua. — aponto o dedo na direção deles. — Era apenas terem feito sexo
comigo, não precisavam me fazer me tornar uma de vocês.

Solto um longo suspiro colocando para fora tudo que está entalado
dentro de mim. Estou tão nervosa que meu coração bate rápido demais,
porém, logo sinto uma calmaria se apossar de mim. Meus batimentos aos
poucos vão se normalizando, os três se aproximam de mim e me puxam
para ficar no meio deles.
— Tudo vai ficar bem. — Raze diz e no meu coração eu sinto que é
verdade. — Juntos somos mais fortes. Vamos ajudá-la a lidar com a
liberdade da sua loba, logo vocês serão uma só.

Não entendo muito o que ele está dizendo, porém, não digo nada,
apenas deito minha cabeça no seu peito aceitando seu carinho. Ficamos
assim por longos minutos, não dizemos nada e nem precisamos. Mesmo eu
tendo surtado um pouquinho com a revelação de agora ser uma loba, estar
nos braços deles, faz tudo parecer tão certo.

— Willow, só para você saber a prata não pode nos ferir como as
lendas fizeram todos acreditarem. — Deon afirma me fazendo olhar para
ele. — E você não precisa de um porão, podemos nos transformar em lobos
a hora que quisermos, pois temos o controle do lobo para não ferir ninguém,
e quanto a uivar para lua cheia? Bem, cada um com seus fetiches.

Deon pisca um olho para mim e acabo rindo da forma que fala. Um
pouco mais calma me afasto de Raze e aliso minhas mãos, meus braços,
minhas pernas, procurando qualquer coisa diferente, mas não encontro
nada.

— Vai doer todas as vezes que me transformar? Quero dizer, por ser
humana e ter sido mordida é normal doer mais? — pergunto, porque eu
lembro da dor que senti.

Percebo os três trocarem um olhar, e aguardo para mais um bomba


que eles provavelmente irão jogar no meu colo.

— Willow, só pode se transformar em lobo, quem já nasce com a


magia do lobo. — Raze declara e rio.

— O que está querendo me dizer com isso? Por acaso eu sou uma
loba desde que nasci? — indago rindo, mas paro de rir quando eles se
mantêm sérios.

— Você é uma loba porque provavelmente um dos seus pais é um


lobo, e aparentemente não qualquer lobo. — gargalho da informação.

— Impossível. — afirmo fazendo os três levantarem suas


sobrancelhas.

— Impossível, por quê? — é Griffin que pergunta e sou rápida na


resposta:

— Porque eu sou adotada.


19
Deon
— Adotada? — questiono em pensamento a Raze, que não me
responde focando na nossa companheira.

— Você foi adotada com quantos anos? — pergunta a ela, que fica
alguns segundos pensativa antes de responder:

— Meus pais só me contaram que eu era adotada quando tinha quinze


anos, falaram que eu fui deixada na varanda deles quando tinha uns quatro
meses de vida. — responde o que me deixa ainda mais intrigado.
Willow é com certeza uma descendente da alcateia Calla, sua forma
de loba deixou bem claro para quem a visse. No entanto, os Calla foram
dizimados há mais de trezentos anos, o que torna impossível que ela seja a
filha perdida de Zander. Olho para Raze e Griffin, e as minhas dúvidas
parecem ser as mesmas que as deles.

— Ela é uma Calla, mas como? — compartilho dos meus


pensamentos com ele e Griffin, e ambos ficam tão intrigados quanto eu.

— Willow, você precisa descobrir o que puder sobre sua adoção. —


Raze diz.

Ela olha em dúvida para cada um de nós, focando seus olhos em


Raze.
— Mas por quê?

Willow não sabe das suas origens. Se ela foi adotada ainda bebê por
humanos, ela não teve o conhecimento mágico da sua própria casta, o que
comprova que ela é uma presa fácil contra o conselho dos anciões. Pensar
nela em perigo faz meu lobo rosnar dentro de mim, pronto para morder e
estraçalhar qualquer um que pense em fazer algum mal a ela.

— Porque não é comum um filhote de lobo ser criado por humanos.


— esclareço, o que aguça sua curiosidade, e faço questão de explicar. —
Um lobo, macho ou fêmea, nunca abriria mão do seu filhote, a não ser que
fosse gravemente ferido tentando protegê-lo.

Seus olhos se arregalam e sinto meu coração começar a bater mais


rápido, o que indica que ela está com o seu acelerado. Eu já tinha ouvido
falar sobre isso, mas não imaginava que fosse real, que quando um lobo se
acasala com sua companheira de alma seus corações se tornam um só.

— Você está me dizendo que... que... — seu coração fica mais


acelerado, e sou atingido por sua tristeza. — Meus pais biológicos podem
estar mortos?

— Porra, Deon, você não devia ter dito isso. — Griffin briga comigo
e com razão.

— Não tem como ter certeza, por isso precisamos saber de tudo sobre
sua adoção. — Raze reforça e ela assente com os olhos cheios de lágrimas.

O sentimento de culpa logo preenche meu coração, pois eu não queria


fazê-la acreditar que seus pais biológicos estão mortos, eu apenas quis ser
sincero, contudo, chego à conclusão que eu não devia ter falado nada.
Temos muito a contar para Willow, nossa companheira não imagina o
perigo que nos cerca, e tudo do que não precisamos é tê-la triste por algo
que ainda não sabemos o desfecho.

***

Assim que passamos pela porta do bar, Kaden, Kael e Beau estão
atrás do balcão nos encarando. Sinto a alegria que vem de Beau, assim
como a de Kaden e Kael, contudo, dos gêmeos eu também sinto as dúvidas
que permeiam suas mentes. Kaden é o primeiro a vir na nossa direção
seguido por seu irmão, ambos param na frente da Willow e a cheiram sem
descrição nenhuma, fazendo minha companheira se sentir constrangida. E
rosno para os dois idiotas.
— Calma, lobão. — Kaden me provoca e eu rosno novamente. —
Você é uma loba. — ele comenta para ela e abre um sorriso convencido
logo em seguida. — No fundo eu sabia, nenhuma humana beberia a nossa
cerveja artesanal com tanta vontade como você bebeu.

— Eu... Não fazia ideia. — Willow comenta contida.

Kaden passa seus olhos por ela, depois por Raze e Griffin, e quando
olha para mim varre meu corpo com seus olhos curiosos e por um segundo
eu não entendo o que ele está fazendo, mas logo a compreensão me atinge e
começo a ranger os dentes, sabendo que Kaden nunca vai deixar isso passar
batido.

— Onde está? — pergunta para mim, e desvio meus olhos dos seus.

Filho de uma loba manca. Ainda bem que nos vestimos antes de
retornar, não suportaria ter que lidar com as merdas de Kaden a uma hora
dessas.

— Onde está o quê? — Kael questiona o irmão, e ambos parecem


entrar numa conversa mental, porque Kael logo volta a olhar para mim
estreitando seus olhos. — Sim, onde está, Deon?

Gêmeos fofoqueiros do caralho.

— Não é da maldita conta de vocês, mantenham seus focinhos nos


seus assuntos. — respondo rude, aguçando ainda mais a curiosidade deles.
Willow olha para mim confusa, enquanto Raze e Griffin riem sendo
acompanhados por Beau. Respiro fundo, para não perder minha paciência
com ninguém, ficar irritado não vai mudar o que já aconteceu. Quando
Willow ficou de joelhos na minha frente tomando meu pau na sua boca
pequena, eu não pensei no que sua atitude resultaria, porra.

No entanto, agora é tarde. A marca da sua reivindicação estará para


sempre marcada ao redor do meu pau. Onde todos os lobos poderão ver.

— Eles vão descobrir assim que você ficar nu na frente deles. —


Raze avisa mentalmente e rosno puto, porque eu já sei disso.

Fico mais tranquilo quando Beau começa a falar, tirando a atenção


indesejada dos gêmeos de mim:

— O cheiro de vocês misturados está tão forte que sentimos antes


mesmo de vocês entrarem. — fala fazendo Willow olhar para nós com as
bochechas vermelhas.

— Não é este tipo de cheiro. — esclareço para ela na sua mente. —


Ele está dizendo do cheiro do acasalamento. Você tem o nosso cheiro e nós
temos o seu.

Assim como as marcas de reivindicação. Porra, a minha tinha que ser


mesmo no pau?

— Ah. — é tudo que diz.

Sorrio, pois ela nem se deu conta de que me respondeu


telepaticamente, e isso só é mais uma demonstração do quanto é poderosa.
Por ter mantido sua loba presa dentro de si mesma, era para ela levar mais
tempo para aprender a usar seu poder telepático, o que prova não ser o caso.
A loba dela está se adaptando muito rápido, ao mesmo tempo em que me
surpreendo, me preocupo.
— Sim, posso sentir a magia poderosa que os une. — Beau afirma, se
aproximando de nós, seus olhos cintilam quando olha para Willow, porém
logo os desvia, focando em nós. — Ela tem um invólucro[9] de poder ao
redor dela, um invólucro que eu não via até agora. — avisa, me fazendo
olhar para ela mais atentamente, mas não vejo nada.

Apenas alguns seres mágicos conseguem ver o invólucro de poder ao


redor de outros seres mágicos. Dentre nós, apenas Beau consegue enxergá-
los.

— De que cor? — Raze pergunta, e o olhar preocupado de Beau me


deixa em alerta.

Apenas os seres mais poderosos e antigos costumam ter um invólucro


de poder os protegendo. O invólucro azul é a magia que protege os magos.
O invólucro amarelo é a magia que protege os feiticeiros. O invólucro
verde, protege os lobos mais antigos, e apenas um ainda tem essa proteção.
O vermelho protege os vampiros, e os únicos que possuem são os três
irmãos Barack. E o invólucro mais raro, e proibido entre os anciões, é o
roxo. Esse tipo de invólucro não existe mais, a magia que o fortalecia vinha
da morte.

Houve uma época onde os anciões dedicaram tempo e magia para


descobrir o motivo de existir esse tipo de proteção apenas para um certo
número de seres mágicos e eles nunca chegaram a uma resposta. Tudo que
descobriram é que os invólucros protegem seu detentor de ser atacado por
outros da sua casta.

— É impossível estabelecer uma cor. — Beau responde, me fazendo


prestar mais atenção.

— Como assim? — Griffin questiona, visivelmente apreensivo.


— O invólucro dela é um catalisador. — franzo a testa, recordo-me de
já ter ouvido algo sobre, contudo, não se referindo ao invólucro. — Ele se
adapta às necessidades dela. — fico confuso, e Beau logo explica: — As
cores mudam constantemente, mas a cor que predomina é a roxa.

Não pode ser!

— A roxa?! — os gêmeos exclamam surpresos.

— Não é possível. — Griffin fala, e sinto a preocupação que vem


dele.

Raze fica quieto, enquanto Willow olha para nós sem entender o que
isso significa. Fecho os olhos preocupado, porque apenas um ser tinha um
invólucro com tamanho poder, e ele sofreu imensamente quando foi
removido pelos anciões antes de ser morto.

Amoz de Zafar, era o senhor da casta dos feiticeiros da luz até se virar
contra todos quando sua companheira morreu. Ele acessou a magia das
trevas para ressuscitá-la, mas sem sucesso, tornando-se assim um bruxo das
trevas.

Amoz foi o feiticeiro mais poderoso que existiu, e seu destino é


conhecido por todos no reino de Symes por ter sido o mentor de Allegra
Roux, que com ele teve todo o conhecimento necessário para lançar a
maldição que quase extinguiu os lobos e, consequentemente, poder
suficiente para originar a alcateia mais poderosa de todas. A alcateia Calla.
20
Willow
Sinto minha cabeça prestes a explodir com tanta informação num
curto período de tempo. Depois da recepção de Kaden, Beau e Kael, eu
precisava ficar um pouco sozinha para descansar, até pensei em ir embora,
contudo, só de me imaginar me afastando de Raze, Deon e Griffin, meu
coração acelerou e o sentimento de aflição dominou meu corpo.

Griffin foi doce em me acompanhar até o seu quarto para que assim
eu pudesse descansar. Eu pensei em negar, mas aceitei, eu precisava ficar
sozinha e processar com mais calma tudo que eles me revelaram. Lembrar o
que eles falaram sobre os lobos nunca abandonarem seus filhotes, faz um
caroço crescer na minha garganta. O que será que aconteceu com meus pais
biológicos?

A tristeza se instala em mim antes que eu possa controlar. As lágrimas


queimam nos meus olhos quando penso o que seria de mim, se eu nunca
descobrisse sobre ser uma loba. Se eu não tivesse vindo com Laila até este
bar, eu nunca saberia a verdade, eu continuaria vivendo minha vida sentindo
que me faltava alguma coisa, com a sensação de algo querendo me rasgar
sem eu nunca descobrir o que poderia ser.

O medo do meu futuro me assola, como vou viver minha vida


sabendo que não sou e nunca fui uma humana? Pensar que meus queridos
pais me criaram e morreram sem saber quem eu realmente sou me alivia,
porque eu sei que eles não correram nenhum risco. E quanto a minha
amiga? O que Laila iria pensar se eu contasse que lobos existem e que eu
sou uma? Ela continuaria sendo minha amiga?
A ansiedade cresce dentro do meu peito, minha respiração fica
irregular, me fazendo sentir desespero. A porta do quarto é escancarada e
por ela passam os três homens que preciso para me ajudar a aliviar a
tristeza, medo e aflição que estão me consumindo.

— Estamos aqui, Willow. — Deon diz e me puxa para seus braços,


me dando um abraço forte.

Deito a cabeça no seu peito e deixo as lágrimas rolarem por meu


rosto. Logo sinto outros braços me tocarem, dois corpos se juntam a nós,
beijos são depositados na minha cabeça. O carinho deles transborda no meu
coração, a forma protetora que eles cuidam de mim me faz relaxar nos seus
braços, deixando que a tristeza se esvaia de mim através das lágrimas que
não param de cair.

— Tudo vai ficar bem, estamos com você. — Griffin declara e fecho
os olhos confiando nas suas palavras.

Sinto meu corpo ser erguido do chão e logo sou deitada na cama.
Abro os olhos vendo Raze se deitar acima de mim, me ajudando a apoiar a
minha cabeça no seu abdômen, Deon deita ao meu lado direito e Griffin ao
meu esquerdo. Estar rodeada por eles me traz segurança, me faz fechar os
olhos e confiar que sim, tudo vai ficar bem, ainda mais tendo eles do meu
lado.

— Durma, quando acordar ainda estaremos aqui. — Griffin afirma e


me dá um beijo na cabeça, e recebo mais dois logo em seguida, Deon e
Raze.

Aceitando sua sugestão suspiro e não demoro a pegar no sono.

***
Caminho pela campina linda, e sorrio fascinada pela beleza ter
continuado a mesma depois de tanto tempo, costumava vir aqui dos meus
oito aos catorze anos de idade. É um lugar lindo, enfeitado por muitas
flores e árvores de cerejeira, possui um lago com uma variedade incrível de
peixes, e é debaixo de uma árvore de cerejeira, perto do lago, que eu a
vejo.

A linda mulher que sempre me esperava neste mesmo lugar. Any. Ela
tinha o hábito de trançar meus cabelos, enquanto me contava muitas
histórias, e a que eu mais amava ouvir, era a do feiticeiro poderoso e sua
amada loba, que lutaram contra todos para ficarem juntos. E quando não
me contava histórias, brincava comigo de todos os tipos de brincadeiras.
Eu gostava muito da sua companhia, e vê-la depois de tanto tempo me faz
perceber o quanto senti sua falta.

— Any? — A chamo, e assim que ela se vira, abre um sorriso que


aquece meu coração, e retribuo sorrindo também. — Que saudades! —
digo. — Estou muito feliz de revê-la.

Seus olhos azuis estão cheios de lágrimas, e por um segundo fecho


meu sorriso preocupada com ela, mas logo ela volta a sorrir, limpando os
cantos dos olhos.

— Ah, minha Aurora, como senti sua falta.

Para Any, eu sempre fui Aurora, desde o dia que a conheci ela me
chama assim, mesmo eu já tendo dito que meu nome é Willow. No entanto,
eu não me importo como me chama, porque para mim, quando ela me
chama de Aurora, parece tão certo.

— Eu também senti muito a sua. — me abaixo e a abraço. — Faz


tanto tempo.
— Sim, minha menina, faz. — afasto meu corpo do seu, e foco no seu
rosto que aparenta aflição. — Eu sempre quis outro futuro para você, eu
sempre lutei para mudar seu destino. — aperta minhas mãos nas suas. —
Seu destino carrega tanta dor, tanta perda. Você é a Receptáculo[10] que os
anciões tanto temeram um dia existir.

Franzo a testa não entendendo suas palavras, e quando abro a boca


para perguntar do que ela está falando, ela não permite:

— Tempos difíceis estão chegando, minha menina, se prepare. Sua


ascensão de poder, já é de conhecimento dos anciões.

— Minha... Ascensão de poder? — pergunto sem entender ao que ela


se refere.

— Eu preciso ir, guardei minha última pérola do sonho [11]


para este
momento, para te dizer que por mais dolorosa que se torne sua jornada,
você é forte, sua força está dentro de você. — toca o meu rosto do mesmo
jeito de quando era criança. — Confie nos seus instintos, confie na sua
loba, ela saberá exatamente o que fazer para mudar o destino que seus
avós há muitos anos acabaram traçando para você.

Any me puxa para seus braços e me aperta forte, quando ela se afasta
suas lágrimas rolam por seu rosto, sua imagem começa a enfraquecer
diante dos meus olhos e eu seguro sua mão, não querendo que ela vá.

— Fique mais. — peço e ela nega chorando.

— Eu não posso. — sorri soltando minha mão com delicadeza. — Eu


te amo, minha menina, eu sempre amei. Tudo que fiz foi para protegê-la.

Antes que eu pudesse responder que também a amo, ela já


desapareceu.
Desperto do sonho com o coração tomado por angústia, quando era
pequena, eu nunca lembrava o rosto ou nome da mulher com quem eu
sonhava. Entretanto, dessa vez é diferente, pela primeira vez, acordo
lembrando-me de tudo.

Viro-me para o lado assim que sinto três pares de olhos sobre mim,
Raze, Deon e Griffin, que estavam deitados, me olham espantados enquanto
se sentam.

— Willow, como você fez isso? — Deon indaga, mas eu não sei sobre
o que ele está falando.

— Fiz o quê? — pergunto, e eles ficam aparentemente mais


espantados.

Os três trocam um olhar e não demoram a focar em mim. Sinto uma


agitação no meu coração e eu simplesmente sei que essa agitação vem
deles. Tudo sobre ser uma loba ainda é um mistério, porém eu sei que posso
contar com eles para me explicar quando estiver com dúvidas.

— Você compartilhou seu sonho de alma conosco. — é o Raze que


fala. — Quem era aquela mulher?

Eu compartilhei o sonho com eles? Como eu fiz isso?

— É o que queremos saber. — Deon fala e eu arregalo os olhos.

— Vocês também podem ouvir meus pensamentos? — pergunto


horrorizada.

— Não, apenas o que você diz ou quer que nós vejamos na sua mente.
— Griffin explica e suspiro aliviada.

Eu não saberia lidar com eles ouvindo meus pensamentos. Acredito


que ninguém poderia lidar com isso. Imagina o quanto isso poderia ser
invasivo e vergonhoso?

— Ainda bem, por um segundo pensei que vocês fossem capazes de


ouvir pensamentos. — comento.

Os três olham para mim sérios, e quando acho que não posso mais ser
surpreendida, descubro que estou equivocadamente errada:

— Lobos não podem fazer isso, mas os vampiros sim, mas para isso
eles precisam usar muito do seu poder, por esse motivo eles nunca usam
desse artifício. — Deon esclarece e fico de boca aberta.

Vampiros existem? Meu Deus, não posso nem imaginar o que Laila
faria com uma informação dessas.

— Mas isso não vem ao caso agora. — Raze fala, fazendo-me prestar
atenção nele, deixando meus questionamentos sobre o que mais existe para
depois. — Queremos saber mais sobre a mulher com quem você
compartilhou um sonho de almas.

Um sonho de almas? Eu sonho com a Any desde que era uma


garotinha. O que é estranho é eu lembrar disso depois de tanto tempo, é
como se minha mente houvesse desbloqueado todos os sonhos que tive com
ela somente agora.

— Há algo que eu deva saber? — questiono, e os três se entreolham


para logo fixarem seus olhos em mim.

— Quando você compartilhou conosco seu sonho, você nos cobriu


com seu invólucro de poder e pudemos assistir a tudo sem sermos
detectados por ela. — Raze explica, e fico chocada de ter feito algo que eu
nem sei como é possível. — E pelo que pude ver da interação dela com
você, cheguei a uma conclusão.
— Que conclusão? — pergunto sentindo meu coração acelerar,
porque eu sei a que conclusão ele chegou, foi a mesma que eu.

Any é minha mãe biológica.

— Essa mulher é Anika Calla, a filha e herdeira de Zander Calla, o


alfa da alcateia mais poderosa que existiu.

O impacto das palavras de Raze me faz levantar da cama assustada.


Zander Calla? Será possível que uma das histórias que Any costumava me
contar seja real? E se for, significa que... Molho meus lábios, que ficam
secos, e faço a pergunta que me faz temer até os ossos caso a resposta seja
sim:

— Amoz de Zafar existiu?


— Como você conhece esse nome? — A pergunta e surpresa de
Deon, me fazem fechar os olhos.

Se eu sou a filha de Anyka Calla, eu conheço meu destino. Ela passou


a minha vida inteira me preparando para ele, agora eu vejo isso. Quando
abro meus olhos compartilho com eles algo que eu sei que mudará tudo:

— Amoz de Zafar teve um filho. — declaro e os três homens na


minha frente arregalam seus olhos. — E ele é o companheiro de alma de
Anika Calla. — respiro fundo compartilhando com eles minha suspeita. —
E possivelmente eles são os meus pais biológicos.

O horror nas expressões dos meus companheiros só me prova que eles


sabem o que isso significa.

— Como você pode saber de tudo isso, se cresceu entre os humanos?


— Raze pergunta.
— Eu sonhava frequentemente com ela quando era pequena. —
explico. — Mas quando acordava, os sonhos eram confusos e não demorava
para eu esquecê-los. Contudo, o sonho de hoje me lembro perfeitamente,
assim como todos os outros que tive com ela ao longo da minha vida. —
troco um olhar com eles revelando mais. — É como se as memórias desses
sonhos houvessem sido desbloqueadas.
— Você se recorda de tudo? — Griffin pergunta, e confirmo com a
cabeça. — Por isso sabe quem foi Amoz de Zafar. — conclui.

— Sim, ela costumava me contar muitas vezes a mesma história.


— Que história? — Os três indagam juntos.

Suspiro pensando em como compartilhar com eles a história tão triste


e tão cheia de sacrifícios que ela me contava. Any nunca me contou o final,
e agora temo saber o porquê.
Aquela história era a minha.

— A história do Receptáculo de poder. — digo em voz alta, fechando


meus olhos em seguida.
21
Willow
Foi por volta dos meus oito anos de idade que comecei a sonhar com
a mulher loira e linda. Lembro-me de pensar nela como uma princesa, sua
voz era sempre doce, seus sorrisos eram sempre gentis. Ficar no seu colo
ouvindo ela contar uma história de amor impossível e cheia de aventuras,
enchia meus olhos e fazia minha mente viajar em expectativas de como ela
terminaria.

Entretanto, conforme fui crescendo a história também, ela foi


tomando um rumo mais obscuro, assim como mais triste. Quando estava
com catorze anos, alguns meses antes de eu completar quinze anos e ficar
doente, eu sonhei pela última vez com ela, e agora me lembro perfeitamente
do sonho, como se tivesse acabado de sonhar:

Eu caminhava pela campina perdida em pensamentos, e sorri assim


que avistei Any sentada debaixo da nossa árvore preferida. Ela estava linda
com seu vestido rosa claro, seus cabelos estavam soltos e encaracolados,
seus olhos azuis se iluminaram assim que ela os focou em mim.

— Minha doce, Aurora. — me cumprimentou, e quando cheguei


perto, tocou meu rosto ternamente. — Estava ansiosa por esse encontro,
minha menina.

Sorri, porque eu também estava. Me encontrar com a Any, era algo


que me deixava muito feliz. Ela era minha melhor amiga, assim como a
Laila. E eu gostaria muito que uma conhecesse a outra.

— Eu também estava. — disse animada. — Hoje é o dia que você me


contará o final da história?
Os olhos de Any perderam um pouco o brilho, porém ela logo abriu
um sorriso, que iluminou tudo à nossa volta. Sentei ao seu lado, e segurei
na sua mão, estava ansiosa demais para finalmente saber o final.
— Sim, hoje é o dia que te contarei toda a história da garotinha
especial, que um dia se tornará uma mulher bondosa, gentil, justa e muito
poderosa. — minha empolgação tinha aumentado ainda mais. — Mas
primeiro, preciso te contar novamente a história da loba e do seu feiticeiro.

Eu amava aquela história.

— Conta, Any. — pedi ansiosa demais.

Sua mão afagou meu rosto e um sorriso se abriu nos seus lábios
quando ela começou a contar:

“Era uma vez, uma loba muito poderosa e sozinha, seu nome era
Anyka Calla, ela passou anos vivendo escondida de lobos, magos e
feiticeiros. Eles procuravam por ela, porque acreditavam que ela era cruel
e má como seu pai, o alfa, Zander Calla.

Anyka foi escondida entre os humanos, e a mando do seu pai, ela foi
entregue para um bruxo das trevas muito poderoso, Amoz de Zafar. Ele a
criou como sua filha e ensinou tudo que ela precisava para sobreviver.

Amoz tinha um filho alguns anos mais velho que Anyka, Alaric de
Zafar. Alaric não gostava de Anyka, e ela acreditava que um dos motivos
para ele não gostar dela, era por seu pai criar uma loba como filha.
Contudo, não era esse o motivo.

Alaric era apaixonado por Anyka, mas se via compelido a esconder


seus sentimentos, pois seu pai queria que ele a enxergasse apenas como
irmã. E ele odiava isso. Os anos foram se passando e Alaric e Anyka foram
crescendo, as implicâncias deles se tornavam maiores, assim como o amor
que um sentia pelo outro, mas que não confessavam por temer magoar o
pai.

Quando o pior caiu sobre eles, com Amoz sendo capturado pelo
conselho de anciões, que o caçava há anos, os dois se viram perdidos. Eles
tentaram resgatar o pai que eles tanto amavam, contudo, Amoz os proibiu.

Amoz disse que aceitaria seu destino, e que era para eles aceitarem
também. Com isso, os dois ficaram escondidos enquanto o homem que eles
tanto amavam era cruelmente morto. Primeiro, veio a remoção do seu
invólucro de poder; depois, veio a remoção da sua magia, e por último, a
morte da sua carne.

Alaric e Anyka sofreram juntos, prometendo ao espírito do pai que


eles se afastariam para sempre do mundo mágico. Os dois seguiram com
suas vidas e quando o amor falou mais alto, eles se entregaram um para o
outro.

A magia que ocultava o poder de Anyka, foi liberada quando ela se


transformou em loba e reivindicou Alaric como seu companheiro de alma,
ele também a reconheceu como sua companheira de alma, compartilhando
sua magia pelas correntes sanguíneas dela.

Os tornando companheiros para sempre.

Os tornando uma só alma.

Os anciões sentiram a onda de poder que a união dos dois ocasionou.


E depois de descobrirem pelos oráculos de quem era aquela gama de
poder, foi decretada a busca e captura pelos dois herdeiros. Alaric, para
proteger sua companheira, usou a magia da ocultação nela e depois
prendeu uma grande quantidade de seu poder dentro de si mesmo.
Essa resolução durou até Anyka entrar no cio e engravidar. A bebê
que ela esperava era muito poderosa, metade feiticeira e metade loba.
Ainda no útero, a bebê começou a sugar a magia que ocultava Anyka do
conselho, e Alaric precisou acessar a magia que ele havia prendido dentro
de si para fortalecer o lacre de ocultação da sua companheira, mas isso
alertou mais uma vez o conselho.

Os dois precisaram se esconder entre os humanos, fugindo quase


todos os dias para se manterem vivos. E quando a filha deles nasceu, Alaric
criou outro lacre de ocultação, mas diferente do que seu pai havia criado
para sua companheira, esse era poderoso demais para ser quebrado caso
sua filha um dia viesse a se transformar em loba. Pois, a intenção de Alaric
era inibir o espírito de loba que sua filha tinha dentro de si, para que assim
o conselho nunca tivesse conhecimento da sua existência.

Anyka e Alaric continuaram vivendo entre os humanos e longe dos


anciões. A filha deles se desenvolvia muito bem, no entanto, a alegria deles
não durou muito. No dia da lua de sangue, eles foram surpreendidos com
um mago batendo na sua porta, Alaric não sabia como o mago descobriu
onde eles estavam, já que a magia dele estava os mantendo ocultos de
todos os seres mágicos, mas logo isso não importou.

Quando o mago começou a contar sobre o futuro da filha deles, e


quem ela viria a ser dali a alguns anos, deixou Alaric temeroso, e Anyka
chorosa. O mago contou que a filha deles era um receptáculo de poder, a
pequena absorvia uma quantidade enorme de poder, o que a tornava mais
forte, mais poderosa. Seu poder um dia se tornaria supremo perante a
todos.

No entanto, o mago também contou que mesmo ela se tornando a


mais poderosa dentre todos, aquela bebê teria o coração mais doce e
bondoso de todos. E que somente ela poderia trazer a Nova Era que um dia
a feiticeira que quebrou a maldição de Allegra havia previsto.

Para aquela bebê cumprir com o seu destino, Alaric e Anyka


precisaram deixá-la partir, precisaram confiar no que o mago lhes disse. E
quando Anyka se despediu da sua bebê de quatro meses, ela fez um pedido
para Alaric, um pedido que doeu na alma do seu companheiro, mas que ele
concedeu.

Anyka pediu para ele trancar para sempre o espírito da sua loba,
garantindo assim que eles nunca mais tivessem filhotes. O mago antes de
partir havia lhes confidenciado que todos os filhos que eles viessem a ter,
sempre seriam alvos dos anciões pelo tanto de poder que Alaric e Anyka
possuíam juntos.

Anyka para proteger ainda mais sua filha, convenceu Alaric que eles
precisavam viver em Symes, infiltrados entre os anciões, apenas esperando
o destino trazer sua pequena de volta, garantindo assim que eles estariam
do seu lado quando ela mais precisasse.”

Assim que Any para de contar a história, cruzo os braços, ela não
contou o final de novo. Tudo bem que dessa vez ela contou mais coisas que
das outras vezes, porém eu ainda quero saber o final desta história.

Anyka e Alaric voltaram a ver a filha?

— Acabou? — perguntei apenas para ter certeza.

— Sim, só posso te contar até aí. — soltei a respiração, sentindo-me


frustrada.

— Eu só queria saber se a bebê volta a ver seus pais. — disse


olhando para nossas mãos unidas.
Any acariciou minhas mãos, as soltando em seguida, para levantar o
meu queixo para olhar para ela.
— Uma mãe sempre dará um jeito de ver sua filha. — declarou,
ajeitando meus cabelos atrás da orelha. — Está na hora, minha menina.

— Já? Pensei que fôssemos ficar um pouco mais. Nós nos veremos de
novo amanhã? — perguntei, mas o semblante abatido de Any me deixou
preocupada.

— Não. — seus olhos se encheram de lágrimas, e senti os meus


arderem.

— Por quê?

— Porque eles estão indo morar perto de você. E o poder deles será
um farol para você. — franzi a testa confusa com suas palavras.

— Eles?

Any ficou quieta por alguns segundos, e logo respondeu:

— Seus companheiros. — enroscou nossas mãos, e olhou nos meus


olhos. — Por isso, eu quero que sugue tudo o que puder de mim. É a única
maneira dos anciões não te encontrarem antes do tempo.

Arregalei os olhos assim que percebi as veias dos seus braços


brilharem, saindo dela uma luz verde e vindo diretamente para mim. Tentei
soltar nossas mãos, mas ela não permitiu.
— O que você está fazendo, Any? — perguntei assustada.

— Protegendo você. Eu sempre vou protegê-la.

Assisti horrorizada, quando ela começou a ficar apática, seus olhos


estavam se fechando, continuei tentando soltar nossas mãos, mas não
consegui. Comecei a chorar quando ela tombou para trás, com suas mãos
ainda presas nas minhas.

— Anyka! — me assustei assim que um homem ruivo apareceu na


campina, correndo na nossa direção. — O que você fez, meu amor? —
perguntou para Any, que não era capaz de responder.

O homem olhou para mim por alguns segundos e tocou nas nossas
mãos unidas, ele murmurou alguma coisa que fez a Any me soltar no
mesmo instante. Ele a segurou contra o peito, ainda apagada e me fitou
sem dizer nada. Pensei em me levantar e ir embora, mas lembrei o nome
que ele a chamou quando veio correndo na nossa direção.

— Você a chamou de Anika. — comentei, fazendo-o olhar para mim


mais atentamente.

É possível que...

— Meu nome é Alaric. — ele disse, e em seguida tocou minha testa


murmurando algo. — Quando você acordar, não se lembrará de nada
disso, é para seu bem, meu amor.

Ele se levantou com a Any no seu colo, e começou a se afastar, mas


eu segui atrás deles. Uma certeza explodindo dentro do meu coração.

— Espere! — gritei, mas ele não parou. — Vocês são os meus...

Abro os olhos assim que a memória do sonho acaba. Eu nunca tive a


minha resposta vinda deles, não até agora. Foco meus olhos nos meus
companheiros, com quem acabei de dividir essa lembrança, sabendo quem
eu sou:
— Eu sou... Aurora Calla de Zafar... A Receptáculo de poder.
22
Griffin
Eu tinha cinco anos quando ouvi pela primeira vez a profecia do
receptáculo de poder: um ser mágico que nasceria depois da junção de uma
quantidade exorbitante de poder. Esse receptáculo teria o poder de
armazenar qualquer magia que não devesse existir no mundo natural. Quem
me contou essa profecia foram meus pais, alguns meses antes de serem
brutalmente assassinados pelo alfa da alcateia Lua Crescente, Torment
Mallet.
Com o passar dos anos, a profecia foi sendo esquecida, os anciões
faziam questão de rechaçar qualquer um que voltasse a comentar sobre algo
que nunca existiria. Era benéfico para eles não permitir que mais ninguém
enaltecesse um ser tão poderoso, um ser que traria a queda de tudo que eles
criaram.

A chegada do receptáculo traria uma nova era para todos, uma era
sem os mandos e desmandos de um grupo de seres mágicos, que com o
passar dos anos se tornaram ambiciosos demais, e que se intitulavam os
portadores da verdade e justiça absoluta: o conselho de anciões.

E depois de ver e ouvir tudo o que a Willow compartilhou conosco,


fico ainda mais preocupado. O conselho não virá atrás dela por ser uma
Calla, como eu, Raze e Deon pensamos a princípio, mas sim, por ela ser a
Receptáculo que a profecia diz que um dia irá destruí-los.

— Any... ou melhor Anyka, nunca me contou o destino do


Receptáculo, mas me contava da sua importância no futuro. — Willow
aperta seus dedos, visivelmente nervosa. — Eu temo não ser o que todos
esperam, eu sou só a Willow. — ela declara, e sinto pelo nosso vínculo de
acasalamento seu medo e incertezas.

Caminho até ela devagar e a puxo para meus braços. Sua cabeça vem
para a curva do meu pescoço instantaneamente, e seus braços ao redor do
meu corpo. Fecho os olhos compartilhando através do nosso vínculo
sentimentos positivos e absorvendo um pouco dos seus temores.

— Então, seja somente a Willow. — digo dando um beijo na sua


cabeça. — Para nós é mais do que suficiente.

Sinto a alegria e o alívio que enche seu coração, trazendo leveza para
o meu. Por cima da sua cabeça percebo Raze e Deon me agradecendo com
o olhar. Em momentos tensos e de crises como esses, Beau e eu sempre
fomos os que acalmaram a alcateia, enquanto os outros sempre foram os
brutais, Raze e Deon principalmente.

E neste momento, sabendo quem é a Willow e os perigos que a


cercam, nossos lobos estão no modo protetores, e qualquer um que se
aproxime dela para lhe fazer mal, será estraçalhado sem nenhuma
misericórdia.

— Para tocá-la eles terão que passar por nós. — Raze afirma.

— E eles não imaginam do que nossa alcateia é capaz para proteger


aqueles que são importantes para nós. — Deon reforça.

— Não, eles não imaginam. — concluo por fim.

***

Depois que Willow voltou a dormir, devido às últimas descobertas,


Raze, Deon e eu a deixamos sozinha rapidamente para conversar com
Kaden, Kael e Beau. Mesmo indo contra o desejo do meu lobo de estar com
ela, eu caminho ao lado de Raze e Deon, para conversar com os outros
sobre o que estamos prestes a enfrentar. Nossa alcateia sempre foi muito
unida, depois de tantas perdas que sofremos, descobrimos que juntos somos
mais fortes.

Assim que chegamos na sala de estar, avistamos os três, Kaden e Kael


estão sentados lado a lado, enquanto Beau está em pé, encostado na parede.
Eu imagino que eles ouviram nossa conversa com a Willow, porém não se
manifestaram nas nossas mentes, enquanto conversávamos com ela.

Quando nos aproximamos, os três estão com seus olhos presos em


nós, Kaden e Kael não mascaram a preocupação nas suas expressões como
Beau, que mantém seu rosto inexpressivo. Os gêmeos sempre foram muito
transparentes, acredito que dentre nós, eles nunca se importaram de deixar
evidente o que pensam e muito menos o que sentem.

— A Receptáculo de poder? — Kaden pergunta, assoviando logo em


seguida. — Eu devia imaginar que para ser a companheira de vocês não
poderia ser qualquer uma.

— Não mesmo. — Kael concorda. — Nosso erro foi não ter apostado,
provavelmente teríamos feito uma boa grana com eles.

Sim, eles teriam. Sento-me perto deles, e o mesmo fazem Deon e


Raze. Beau se mantém no mesmo lugar, sabemos que essa não será uma
conversa fácil, porque apesar da hierarquia que nossa alcateia possui, nos
importamos demais com o que cada um pensa.

Eu sei que Raze nunca usaria do seu poder de alfa para impor a
Kaden, Kael e Beau a nos apoiar contra os anciões, assim como eu sei que
para eles não seria necessário. Eles vão estar ao nosso lado lutando contra
quem for. Antes de sermos uma alcateia, somos família, esse sempre foi o
nosso lema.

— Pelo sonho que a Willow compartilhou conosco, os anciões já


sabem que ela ascendeu. — Raze começa, pelo tom na sua voz, eu imagino
que o que virá a seguir não será bom.

— Nós sentimos a onda de poder, chegamos a pensar que foi porque


ela se acasalou com três lobos poderosos. — Kaden comenta. — Mas não
foi esse o caso.

— Não, não foi! — Deon responde, visivelmente transtornado. — A


magia que a ocultava dos anciões não era por ela ser uma loba Calla, mas
sim por ela ser a Receptáculo. E aqueles velhos putos virão atrás dela por
causa de uma profecia que ninguém sabe porra nenhuma.

Os olhos de Deon cintilam verde escuro, e eu sei que seu lobo está
mais irritado e bravo do que eu senti pelo nosso vínculo. Deon nunca foi
bom em lidar com os sentimentos, e eu consigo enxergar o que talvez os
outros também já perceberam: Deon está com medo de perder a Willow.

Quando Calina foi morta pelo conselho por usar de magia das trevas,
isso quase o destruiu, pois ele ainda estava ligado a ela. O que manteve o
resquício de esperança no seu lobo foi a revelação de Kai Basset. Foi sútil,
mas eu vi quando seus olhos cintilaram ao ouvir o que Kai vislumbrou do
seu futuro.

Ao longo dos meus mais de cento e quarenta anos, eu já presenciei


muita dor e muita perda. Testemunhei o assassinato dos meus pais enquanto
estava escondido num buraco de árvore, coberto de barro para encobrir meu
cheiro dos lobos que nos perseguiam a mando do seu alfa, Torment Mallet.
O alfa cruel e egocêntrico, que nunca aceitou que sua prometida,
minha mãe, o havia trocado por um ômega. Torment nunca parou de me
caçar, ele queria dar fim a tudo que eu representava, a tudo que eu o fazia
lembrar: o meu pai. Contudo, quando eu fui achado por Ronan e Nara
Ballard, o maldito alfa teve que me deixar em paz.

Os Ballard sempre foram uma família muito respeitada no reino de


Symes, e quando eles anunciaram que eu era seu filhote, ninguém se opôs,
ninguém falou nada. O que torna a dor como tudo terminou ainda mais
fresca na minha memória e coração. Fecho os olhos por alguns segundos,
mas logo eu os abro focando em Raze que sentencia sua decisão olhando
para Kaden, Kael e Beau:

— Eu não quero que vocês tomem parte nisso.

O silêncio recai sobre a sala, porém ele não dura muito, Kaden, como
beta de Raze, também toma sua decisão:

— É uma pena que eu não dou a mínima para o que você quer.

— Kaden...

— Nem comece, Raze. — Kaden o interrompe, e acredito que essa é


a primeira vez que o vejo tão sério. — Ela é a companheira de alma de
vocês, e se vocês vão enfrentar tudo por ela, eu também vou.

— Idem. — Kael afirma. — Ela faz parte de vocês, e vocês fazem


parte de nós. — Kael fica em pé e para na frente de Raze, que também se
coloca de pé, tocando no seu ombro. — Antes de sermos uma alcateia,
somos...

— Família. — Raze completa nosso lema.


— Sim, e ela agora é parte dessa família, o que a torna parte de nós
também.
As palavras de Kaden e Kael me tocam, porque eu sei o que família
significou para eles por muito tempo. Eu fito Beau que está quieto e não
falou nada. E eu estranho quando seus olhos focam em nós transmitindo...
Culpa?

— Por vocês, eu estou disposto a lutar e morrer. — ele diz, focando


em cada um de nós. — Mas acima disso, eu faria qualquer coisa para que
vocês pudessem ser felizes.
— Beau, o que você quer dizer com isso? — pergunto, e seus olhos
focam em mim revelando algo que eu nunca imaginaria:

— Fui eu que deixei a Willow na varanda dos humanos quando ela


ainda era uma bebê. — A onda de surpresa corre por todos, e Beau não
espera nós assimilarmos a notícia, ele apenas continua: — Fui impelido a
cuidar dessa menina desde que meus olhos recaíram sobre ela ainda no colo
de Kai Basset, há vinte e cinco anos.

— Kai Basset? — Kaden questiona de sobrancelhas arqueadas.

Desde que fomos embora do reino há dez anos, a amizade de Beau e


Kai se rompeu. Não dava para eles continuarem sendo amigos depois que
decidimos nos afastar dos anciões e de toda aquela doença que se tornou o
reino de Symes.

— Ainda morávamos em Symes quando vi Kai com essa menina no


colo. — explica, aguçando ainda mais minha curiosidade para entender
melhor essa história. — Perguntei quem era ela e ele desconversou, me
contando apenas que ela era uma humana e que devia ser protegida. E foi
quando aconteceu. — conclui.
— Aconteceu o quê? — indago com cautela.

— Meu lobo olhou para ela e a tornou sua protegida.

Porra!

— Beau, o que você está querendo me dizer com isso? — Raze


questiona, mas ele sabe o que Beau fez.

Quando um lobo escolhe proteger alguém, existe apenas algo que ele
pode fazer para garantir que nada aconteça ao seu protegido. Fecho os olhos
assim que escuto da boca de Beau o que eu já imaginava:

— Eu vinculei a minha vida à dela. Se alguém tentar matá-la, quem


morrerá será eu.
23
Raze
Para provar meu valor e o quanto estava pronto para assumir o lugar
do meu pai, como alfa da alcateia, eu precisei deixar a criança de doze anos
e órfã de lado. Assumindo a postura de homem e alfa perante todos,
precisava que eles depositassem sua confiança em mim, numa criança que
estava disposta a morrer e sacrificar tudo para não acontecer com eles o que
aconteceu aos meus pais, e eles depositaram.

Mesmo hoje restando apenas seis de nós, numa alcateia que antes era
formada por doze lobos, eu mantive minha promessa. O que aconteceu aos
outros estava além do que eu podia fazer, porém nada me impediu de tentar.
E eu tentei.

Tentei por Beau, que não conseguia aceitar a decisão dos seus pais e
sua irmã, de irem para outra alcateia. Tentei por Deon e Griffin, que não
suportaram ver seus pais se virando contra eles e ficando a favor do
conselho. Tentei por Kaden e Kael, que não sabiam o que fazer quando o
avô deles me desafiou pelo posto de alfa, sendo rechaçado da alcateia
depois de perder.

Eu deveria tê-lo matado, mas não matei. Não poderia fazer isso
depois do que Kaden e Kael passaram com a morte da mãe, e
consequentemente a morte do pai logo depois.

Minha alcateia teve muitas perdas e eu tive que assistir de perto cada
uma sem poder fazer nada. E agora ouvindo da boca de Beau que ele
vinculou sua vida a da minha companheira, quando a mesma ainda era uma
bebê, me deixa novamente na posição que eu mais odeio. A posição que
não há nada que eu possa fazer para mudar.
— Eu não tive como controlar a decisão do meu lobo. — explica
olhando diretamente para mim. — É possível que meu lobo já soubesse o
que aquela bebê significaria no futuro para vocês? — pergunta e eu sinto o
impacto das suas palavras.

Porque eu imagino qual é a sua dúvida. Antes das leis dos anciões
existirem, era comum seres mágicos de outras castas se relacionarem e
terem filhos, e foi o que aconteceu com os avós paternos de Beau. A união
de um mago e uma loba, resultou num lobo poderoso, seu pai. Mas depois
que veio a maldição de Allegra tudo mudou.

Os anciões obrigaram o afastamento desses companheiros, não


permitindo mais que eles ficassem juntos. A avó de Beau morreu alguns
anos depois de tristeza, ela se transformou em loba, e nunca mais voltou
para a forma humana. Quanto ao avô de Beau, ele foi obrigado a ficar longe
do filho, e consequentemente dos netos que nunca conheceu.

Às vezes Beau consegue sentir a vibração de algo, ou ver o que mais


nenhum de nós consegue. Uma vez ele me perguntou se isso poderia se dar
ao fato de seu avô ser um mago, eu neguei no mesmo segundo. Eu temia
que se essa informação caísse nas mãos erradas o conselho viria atrás dele,
alegando que ele é um híbrido. Algo raro e visto como abominável.

Troco um olhar rápido com Kaden, como meu beta, ele sabe o que eu
acho sobre isso, e como eu, também teme que o conselho venha atrás do
nosso amigo. Caminho até Beau, e assim que paro na sua frente, eu aperto
seu ombro.

— Eu agradeço o que fez, e saiba que farei de tudo para quebrar esse
vínculo. — é uma promessa. — Vou perguntar para Zayn se ele já ouviu
sobre isso em algum lugar e se sabe como desvincular.
Beau não expressa nenhuma reação, o que me faz chegar à conclusão
que ele não acabou.

— Tem mais uma coisa que vocês devem saber, principalmente você,
alfa.

Sabia.
— O que foi agora? — Deon pergunta sem muita paciência.

— Eu nunca parei de falar com o Kai como vocês pensam, apenas nos
afastamos por uma boa causa. — Beau olha em direção ao corredor que
leva aos quartos. — Por Willow. — ele me encara. — Kai não me contou
muito, apenas que ela precisava ser protegida, e assim que ele soube que
meu lobo se tornou seu protetor, disse que chegaria um dia que eu teria que
fazer algo por ela.
— O quê? — pergunto, quero saber para o que vou precisar estar
preparado.

— Eu não sabia até Kai me enviar uma mensagem de fogo há dois


dias. — me surpreendo por ouvir isso, mas não falo nada. — Na mensagem
ele pedia que eu desse a vodca com a fruta-lobo para a Willow, que o resto
o destino se encarregava de fazer.

Puta merda! Por isso meu lobo ficou ensandecido com sua loba, ela
estava simulando um cio por causa da fruta-lobo, fazendo o cheiro da sua
excitação ser um afrodisíaco para mim, que não fazia sexo com uma fêmea
há anos.

Kaden dá um tapa forte no braço da poltrona pegando-me de surpresa,


ele parece visivelmente chateado, aperta a ponta do nariz e solta uma
respiração pesada. Em seguida, tira uma nota de cem dólares do bolso da
calça passando-a para seu gêmeo.
— Merda, Beau, eu morri em cem por sua causa. — olho sério para
Kaden, que dá de ombros. — O que eu podia fazer se Kael me desafiou a
apostar? — só pode ser brincadeira. — Ele apostou que Beau ia soltar mais
umas três bombas, e eu apostei que seria apenas mais uma. Contudo, me
ferrei outra vez. Essa merda está virando rotina.

Prendo a risada, mas se torna impossível. Caio na gargalhada, porque


somente Kaden e Kael para tornarem um momento tenso como esse em
uma aposta. Griffin, Deon, e até mesmo o Beau, acabam rindo. Porém, logo
os sons das risadas começam a cessar, deixando apenas uma troca de
olhares entre nós.

Uma troca que diz tudo:

Antes de sermos uma alcateia, somos família.

Lutaremos se for necessário, e morreremos se for preciso.

— Obrigado. — agradeço mentalmente, pois isso significa muito


para mim, assim como imagino que significa para Griffin e Deon.

— Não por isso, você nos salvou mais vezes do que podemos contar.
— Beau declara, fazendo Kaden, Kael, Deon e Griffin concordarem. —
Salvar a companheira de alma de vocês não será nada de mais.

Mas era, e eu sabia muito bem disso, e eles também.


24
Willow
Bufo pela milésima vez, tentando me transformar em loba e não
obtendo o sucesso esperado pelos meus companheiros, que continuam a me
ensinar como me conectar com o meu espírito animal incansavelmente.

Desde que tivemos a conversa sobre Anyka, minha linhagem e


destino, meus companheiros insistiram que eu ficasse com eles, que esse é o
único modo deles terem certeza de que eu estou segura. Eu pensei em dizer
não, porém a partir do momento em que eles me morderam e eu os mordi,
cogitar ir embora, ou sequer me afastar por muito tempo faz meu interior
ficar agitado, raivoso, e muito possessivo.

Estou morando com eles há uma semana. Sete dias que eles me
ensinam e explicam tudo sobre ser uma loba, tento fazer o que eles pedem,
mas não tenho êxito. Quando e como são duas coisas que minha loba e eu
ainda não chegamos a um entendimento.
Quando estou querendo me transformar, eu não consigo de jeito
nenhum, quando estou querendo compartilhar pensamentos com meus
companheiros, eu também não consigo.

No entanto, quando eu não quero fazer nenhuma dessas coisas, eu


faço. Faço nos momentos indevidos, como aconteceu há três dias, eu estava
sentada jantando com todos e simplesmente me transformei numa enorme
loba branca. Todos me olhavam de olhos arregalados, Kaden, Kael e Beau
principalmente, eles não chegaram a me ver transformada.

Quando vi meu reflexo no espelho fiquei fascinada, eu era uma loba


gigantesca, os pelos eram de um branco tão límpido e chamativo, que por
alguns segundos fiquei me admirando, meus olhos cintilavam um azul tão
brilhante, que demorei a assimilar que aquela loba linda e exótica, era eu.

E ao contrário da minha primeira transformação, dessa vez eu fiquei


racional. Eu sabia o que estava acontecendo, e foi por esse motivo que
enlouqueci logo depois, quando do nada, absolutamente do nada, voltei a
minha forma humana na frente de todos. Meu rosto ardia de tanta vergonha,
por isso corri para o quarto do Griffin para esconder minha nudez de Kaden,
Kael e Beau, e não demorou para meus companheiros estarem ao meu lado,
me acalmando e me dizendo que eu e minha loba precisávamos nos
entender.

Como? É o que venho me perguntando desde então, e ainda não


descobri. Já me transformei em cinco ocasiões indevidas, e em três delas, eu
tive que presenciar Kaden, Kael e Beau apostando às minhas custas,
enquanto eu corria para o quarto para me vestir com mais uma peça de
roupa de um dos meus companheiros, já que na minha transformação, eu
acabo destruindo todas.
Raze e Deon até confiscaram as notas de dólares que seus amigos
apostaram, dando a Griffin, que gentilmente foi na cidade comprar alguns
vestidos e calcinhas para mim. Todos eles têm sido gentis e atenciosos
comigo, contudo, isso não ameniza a decepção por eu não ser capaz de
controlar a minha loba.

Eu sei que meus companheiros estão me preparando, garantindo que


eu saiba me proteger caso seja preciso, como por exemplo: se o conselho de
anciões vier atrás de mim. E é por causa disso que nos últimos dias tenho
feito o meu melhor, contudo, as coisas não estão indo muito bem. Eu sinto
um bloqueio muito grande que me impede de me conectar com o meu lado
animal.
Tenho tentado tanto, que a frustração por não conseguir tem me
deixado muito, mas muito irritada.

— Você consegue, apenas confie na sua loba e deixe que ela faça o
resto. — Deon diz e eu praguejo baixo.

Estamos na parte de trás da casa, onde os três me fitam esperando que


eu consiga controlar a minha loba e me transformar nela. O que se provou
há mais de uma hora ser impossível, minha loba é teimosa e está óbvio para
mim que ela não quer me ajudar.

— Respire devagar e deixe que a magia as envolva, e quando menos


esperar serão uma só. — Griffin aconselha, e quase perco a cabeça o
xingando, porém é só olhar para seus olhos gentis que engulo o palavrão.

Estou tão cansada, que tudo que eu quero é entrar, tomar um banho.
Desde que decidi ficar com os meus companheiros, não tenho ido mais para
minha oficina, onde amava passar o dia trabalhando nas minhas pinturas. E
o que torna tudo ainda mais difícil é não poder conversar com a minha
amiga pessoalmente. Tenho evitado fazer ligações de vídeos para a Laila,
para que assim ela não estranhe o ambiente e faça perguntas, que eu ainda
não sei como vou responder.

As ligações que tenho feito para ela acabam sendo rápidas e as


conversas rasas. Minha amiga me conhece tão bem, que basta ela fazer a
pergunta certa que vai descobrir tudo e, como já me foi avisado pelos meus
companheiros, eu não posso contar a nenhum humano o que sou.

— Podemos nos transformar, e mostrar para você como fazer. —


Raze oferece, e solto o ar dos meus pulmões devagar, estou tão chateada
que não sei como dizer a eles que não vai acontecer.
Suspiro derrotada e decido entrar, não vou continuar me forçando.
Passo pelos três sem vontade nenhuma de conversar, só quero alguns
segundos sozinha, no entanto, a mão de Griffin me para no lugar, e seus
olhos se fixam nos meus e várias perguntas refletem neles.

— Está tudo bem? — sua pergunta faz meus olhos arderem.

— Está. — minto, e ele me puxa para seu peito, onde enterro minha
cabeça e lamento baixinho.

Sinto suas mãos nas minhas costas, me afagando, enquanto me


mantém no seu abraço caloroso. Ficamos assim por alguns minutos e
quando me sinto melhor, levanto minha cabeça e vejo que agora estamos
sozinhos, Raze e Deon entraram em algum momento.

— Como se sente? — sua pergunta é tão simples, mas tem um


significado tão grande para mim.

— Me sinto bem melhor. — respondo, e é a mais pura verdade. —


Seu abraço ajudou muito. — um sorriso lindo se abre nos seus lábios,
fazendo meu coração acelerar no peito.

Ele aproxima seu rosto do meu, e molho meus lábios com a língua,
me preparando para receber seu beijo, contudo, uma voz que eu conheço
soa alta e furiosa, vindo do bar:

— Cadê a minha amiga? Eu sei que ela está aqui em algum lugar, e
eu não vou sair até fazer uma varredura nessa espelunca! — grita, e eu
arregalo os olhos fitando Griffin.

— A Laila está aqui? — pergunto aflita.


Tento ouvir a voz dela novamente, mas não consigo. Parece que
minha superaudição de loba durou apenas alguns segundos, tempo
suficiente para me alertar da sua visita inesperada. Me afasto de Griffin com
a intenção de ir até minha amiga, entretanto, Griffin segura a minha mão,
me fazendo ficar no mesmo lugar.

— Alguma chance de ela ir embora, sem você precisar intervir? —


pergunta, e a resposta já está na ponta da língua.

— Eu conheço a minha amiga, ela não vai embora até ter certeza de
que eu não estou aqui. — explico, porque sei que Laila irá revirar todo esse
lugar me procurando.

Havia combinado com meus companheiros que até que eu tivesse


controle da minha loba, eu evitaria estar em contato com os humanos, o que
significa voltar a trabalhar e ver Laila, porém, isso neste momento é
impossível. Ando apressadamente em direção ao bar, e logo volto a ouvir a
voz dela perfeitamente, como se ela estivesse ao meu lado.

Entro na casa e passo pela sala de estar, em direção à porta que separa
a casa do bar. Assim que abro a porta, a voz da minha amiga se torna muito
mais alta e clara, e consigo entender com quem ela discute.

Raze e Deon.

— Ela não está aqui! — Raze rosna e apresso meus passos.

Quando piso no bar, analiso a cena que desenrola diante de mim,


Laila batendo de frente com Raze e Deon, enquanto Kaden, Kael e Beau
estão assistindo a tudo de trás do balcão. Logo que todos percebem a minha
presença, Laila vem correndo na minha direção ao mesmo tempo em que
Raze e Deon rosnam alto. Minha amiga nem se abala jogando seus braços
ao meu redor e me puxando contra seu peito.

— Low, sua maluca, você tem noção do quanto me deixou louca de


preocupação? — pergunta e a culpa enche meu coração. — Eu pensei que
você tivesse sido sequestrada, e que suas ligações esquisitas fossem apenas
para me despistar, o que é óbvio que não aconteceu, sou muito inteligente
para ser enganada assim de forma tão inexperiente.

— Me desculpe. — peço abraçando-a forte, porque tecnicamente foi


quase isso.

Assim que se afasta de mim me encara nos olhos, e em poucos


segundos minha amiga me lê o suficiente para saber que algo está
acontecendo. Laila olha para Raze, Deon e Griffin, que está atrás de mim, e
engulo em seco, sabendo que não posso enganá-la.
— Conte-me tudo, estou aqui para o que precisar. — declara e eu a
abraço mais forte.

Ter Laila aqui comigo após eu saber tantas coisas sobre mim, me faz
fechar os olhos e soltar um suspiro de alívio. Minha amiga é o meu normal,
tê-la aqui é o que eu precisava. Eu sei que posso contar com Laila para
qualquer coisa, e é por ter essa certeza que decido ser sincera com ela.

— Laila, acho melhor você se sentar. — peço e troco um olhar com


Raze e Deon que estão na defensiva. — Eu preciso te contar uma história.

— É tão sério assim? — pergunta, se afastando.

— Ela é uma humana, não pode saber sobre nós. É perigoso. —


escuto a voz zangada de Raze soar na minha cabeça.

— Raze está certo. — Deon concorda.

— A escolha que tomar, iremos apoiá-la. — Griffin diz, e sorrio para


ele, Raze e Deon rosnam, mas logo escuto suas vozes soarem juntas:

— Vamos apoiá-la.
Laila pode não ser uma loba, mas eu sei que ela irá guardar o meu
segredo com a sua vida se preciso for. Ela sempre esteve do meu lado
quando eu precisei, e tenho certeza de que agora não será diferente. Laila é
mais que minha amiga, eu a considero a minha irmã.

— Sim, e eu quero que você preste atenção em tudo que eu vou lhe
contar. — digo determinada a falar tudo a ela.

***
Estamos na sala de estar, estou sentada no sofá com Raze, Deon e
Griffin sentados ao meu lado, Laila está logo a nossa frente sentada na
poltrona. Kaden, Kael e Beau optaram por nos dar privacidade, o que não
foi o caso dos meus companheiros. Raze e Deon foram taxativos em me
dizer que eles não iam a lugar nenhum, Griffin se ofereceu a ficar, caso
Laila passasse mal ou algo parecido.

Concordei com eles e Laila me acompanhou até a sala de estar, onde


eu contei tudo a ela. Contei sobre minha linhagem lycan, contei sobre eu ser
companheira de alma de Raze, Deon e Griffin, contei sobre a profecia do
receptáculo de poder, assim como contei toda a história da minha família e
toda a desgraça que ela carrega.
O que me preocupa é que contei tudo a Laila há meia hora, e ela
segue estática sem dizer nada. Estou aflita que ela possa surtar como foi
comigo assim que a ficha cair, porque ela segue calada, de pernas cruzadas
e mãos sobre os joelhos olhando fixamente de mim para meus
companheiros.

Fico nervosa esperando por qualquer reação negativa vir dela, e


quando ela tira seu celular da bolsa fico apreensiva para saber para quem
ela está ligando, e logo a resposta para a pergunta que não fiz vem:
— Preston, sabe aquele meu pedido de camisa-de-força e hospício?
— ela prende seus olhos em mim enquanto franzo a testa. — Pode cancelar,
minha amiga não está louca não. — ela ri balançando a mão no ar. — Foi
apenas um equívoco da minha parte.
Abro a boca chocada pelo que ela estava planejando fazer comigo e
tudo que ela faz é dar de ombros e se despedir do tal Preston, guardando seu
celular de volta na bolsa. Ela descruza as pernas, para logo cruzá-las de
novo, seus olhos se mantêm presos em mim, até que finalmente ela diz
alguma coisa:

— Low, depois de ouvir tudo isso. — Laila faz um círculo no ar com


seu indicador. — Eu tenho uma única pergunta para fazer.

Certo, eu já esperava por isso.

— Pode me perguntar qualquer coisa. — respondo pronta para


elucidar qualquer dúvida que possa ter surgido.

Laila ajeita seus cabelos, jogando-os para trás, dá uma olhada nas
unhas da sua mão esquerda, passa seus olhos demoradamente nos meus
companheiros e para o seu olhar interrogativo em mim, fazendo a única
pergunta que eu não imaginava que ela fosse fazer depois de tudo que eu
contei para ela:

— Vampiros também existem?


25
Willow
Alguns dias depois
Estou tomando banho no banheiro do Griffin quando a porta é aberta,
e por ela passa Deon que percorre meu corpo com seu olhar devasso sem
nenhuma descrição. A mesma fome que venho sentindo está refletida nas
suas íris esverdeadas, seu cheiro de menta enche meus pulmões, fazendo no
mesmo segundo a luxúria e devassidão se alastrar por mim.
Ele não fala nada, apenas se encosta na porta de braços cruzados e
fica me assistindo ensaboar meu corpo. Mantenho-me focada no que estou
fazendo, mas não indiferente a sua presença. Minha respiração engata assim
que passo a mão entre as coxas para me lavar e ele rosna. Um rosnado que
me faz ficar ansiosa, excitada e perdidamente ferrada.

Porque é isso que tem acontecido comigo desde que os vi pela


primeira vez.

Por que quando estou perto dele, do Raze e do Griffin, eu perco meu
raciocínio, e me torno um poço de necessidade e desejo? Será que me
transformar em loba ativou algo safado dentro de mim? Igual quando se
perde a virgindade e fica propensa a querer sexo sempre que vê alguém
atraente? Lembro-me de Laila falar sobre isso quando tínhamos dezoito
anos e ainda éramos virgens, enquanto as outras garotas da nossa idade já
tinham tido sua primeira vez. O que ela me dizia mesmo? Ah, é claro:

“— Amiga, vai por mim, o melhor é não sabermos o quanto dar é


bom, porque o que nossas vaginas não veem e não sentem, elas não ficam
querendo.”
Pulo no lugar assim que o som da gargalhada de Deon explode no
banheiro, me assustando.

— Deon! — O recrimino, levando a mão para o peito, onde meu


coração bate rápido demais.

— Puta que pariu! — exclama, gargalhando ainda mais. — Não


acredito que você compartilhou essa lembrança comigo.

Ah, merda. De novo, não.

Quantas vezes mais eu vou passar por situações constrangedoras


desse tipo? Ontem, depois de tomarmos café da manhã, meus olhos
beberam gulosos os corpos de Raze e Griffin, que estavam se exercitando
no fundo de casa. Seus corpos brilhavam pelo suor, e tudo que eu conseguia
pensar era em querer lambê-los, o que eu não imaginava é que estava
compartilhando minha vontade com eles em suas mentes.

Quando Raze e Griffin se aproximaram de mim com seus olhos


brilhando, eu não entendi o que estava acontecendo, mas assim que vi seus
membros duros sob suas bermudas, eu entendi. Eles me prenderam entre
eles, seus cheiros me enlouquecendo, e o que fiz foi me desvencilhar deles,
e entrar para tomar um banho gelado.

Eu tenho evitado ficar intimamente com eles para que assim eu me


conecte apenas com a minha loba. Essa ideia foi da Laila. Após toda a
conversa sobre eu ser uma loba e eles meus companheiros, compartilhei
com a minha amiga o que está havendo comigo, já que ela queria me ver
em forma de loba.

Laila garantiu que me ajudaria, que ela seria minha wolf personal
trainer[12], e desde então tenho seguido os seus conselhos. Sua primeira
ideia para ajudar com a minha loba foi: pular de um penhasco e me
transformar no ar, como nos vários filmes que assistíamos juntas, mas Raze,
Deon e Griffin, foram contra no mesmo segundo que a ideia saiu da sua
boca, e por isso ela acabou descartando essa ideia.

A segunda ideia foi: ela pular do penhasco e eu me transformar no ar


para salvá-la, Raze e Deon concordaram rapidamente, mas Griffin e eu não.
Laila revirou os olhos, desistindo da sua ideia suicida. Quando ela foi na
minha casa buscar roupas para mim e trazer meus materiais de pintura para
distrair minha cabeça, ela trouxe consigo um livro sobre como se abster do
sexo faz nosso espírito e alma evoluir, ela me garantiu que isso talvez fosse
ajudar.

Por esse motivo, tenho evitado fazer qualquer coisa sexual com os
meus companheiros, o que tem afetado o humor de Deon e Raze. Soube
ontem por Griffin, que uma nova aposta está sendo feita pelos outros, dessa
vez eles estão apostando para ver quanto tempo vai demorar para Raze e
Deon surtarem.

Fiquei com meu rosto ardendo quando Griffin disse que lobos são
muito sexuais e que quando eles se acasalam só querem fazer uma coisa:
sexo.

Muito sexo.

Sexo selvagem.

Sexo selvagem que envolve mordidas, garras e...

— Porra, Willow!

Arregalo os olhos quando Deon desencosta da porta e avança na


minha direção, sua mão se infiltra nos meus cabelos molhados, puxando-me
para ele. Sua boca fica perto da minha, e o hálito de menta é assoprado no
meu rosto, fazendo meu interior queimar em antecipação.
— Deon. — gemo seu nome, não suportando mais ficar perto deles e
fingir que não me abalo, fingindo que a ideia maluca da minha amiga está
fazendo alguma coisa além de nos torturar.

Mesmo minha boca falando não, eles sabem que meu corpo diz sim.
Eu percebo como eles ficam quando estou com minha intimidade molhada e
pulsando por causa deles: Griffin fica agitado, enquanto Raze e Deon ficam
irritados.

— Você está me enlouquecendo, e o que eu mais quero fazer neste


momento é te curvar nesse box e te foder com força. — suas palavras têm
destino certo quando se alojam onde eu tanto anseio.

— Eu...

Tento falar, contudo, ele não deixa, sua boca captura a minha,
esfomeada, selvagem, cruel. Deon morde, lambe e suga minha língua, me
deixando perdida em toda a excitação que corre por cada fibra do meu ser.
Dentro de mim, sinto a vontade de montá-lo me corroer, de subjugá-lo
como ele faz comigo apenas com um beijo.

— Sua loba está atiçando meu lobo, e eu vou adorar montá-la,


companheira. — rosna lambendo a água que escorre pela minha pele. —
Quero fincar minhas garras na sua bunda enquanto permito que sua boceta
se alimente do meu pau.

Se tem algo que descobri de Deon, no pouco tempo que convivo com
ele, é que ele não joga limpo. Eu tenho muito que aprender sobre meus
companheiros, mas tem algumas coisas que já ficaram bem claras para
mim: Raze não tem paciência, e é possessivo com qualquer outro que não
seja Griffin e o Deon; Griffin é doce e gentil, se preocupa sempre em saber
como eu estou; Deon, bem... Deon é diferente.
Enquanto Raze me confronta, fazendo um lado meu sempre querer
bater de frente com ele; Griffin me tranquiliza, trazendo uma calma
reconfortante ao meu interior; Deon, porém, me incendeia. Ele faz meu
corpo queimar, o que consequentemente me faz querer o confronto e
autoridade de Raze me desafiando, para logo depois vir a calmaria de
Griffin me confortando.

— Raze e Griffin estão sentindo a onda de luxúria que estamos


envolvidos. — declara, atiçando minha excitação ao imaginar Raze e
Griffin sentindo o mesmo que ele.

Eles me explicaram sobre a ligação única que a alcateia deles possui:


o que um sente, o outro também acaba sentindo. Arregalo os olhos assim
que me dou conta dos outros, tento me afastar de Deon, porém ele não
permite, agarrando meus cabelos com mais força.

— Deon... os outros...

— Eles sentem a minha euforia, sentem que estou com tesão, apenas
isso. — me interrompe. — Com Raze e Griffin é diferente, depois que nós
nos vinculamos como seus companheiros, descobrimos recentemente que a
nossa ligação ficou mais forte. — lambe meu pescoço descendo até meu
ombro, onde a marca da sua mordida está. — Eles sentem o prazer que nós
sentimos, então por que não os aliviarmos enquanto nos aliviamos um no
outro?

Desce a mão pelas minhas costas devagar, fazendo os pelos dos meus
braços se arrepiarem. A água continua a cair sobre meu corpo quando seus
olhos travam nos meus, suas garras fincam na minha bunda e ele cola
nossos corpos, molhando suas roupas no processo. Choramingo perto da
sua boca, o tesão que estou sentindo está tão grande que fico tonta, apenas
esperando que ele alivie tudo que está me consumindo.
— O cheiro da sua excitação é maravilhoso. — diz rouco, suas garras
perfuram minha pele, elevando tudo ao máximo.
— Todos podem nos ouvir. — declaro receosa. Os últimos resquícios
da minha sanidade estão lembrando que não estamos sozinhos.

— Raze foi com o Kaden para Leston. Ele tem uma reunião com o
alfa de lá. — conta no meu ouvido, deixando-me preocupada com o que
motivou a ida deles até Leston.

— Está tudo bem? — pergunto, a agitação dentro de mim crescendo


em pensar que Raze possa estar com problemas.

— Sim, está. — me tranquiliza e suspiro, sentindo um peso sair do


meu coração. — Griffin foi na cidade com o Kael e Beau, foram comprar
mais comida para deixar a despensa bem abastecida. — me puxa mais
perto, colando ainda mais meu corpo nu ao seu completamente vestido e
molhado. — Então, fique tranquila ninguém vai ouvi-la gemer, rosnar,
muito menos implorar.

Termina de falar enfiando dois dedos no meu interior molhado ao


mesmo tempo em que sua boca se apossa da minha com voracidade e
selvageria. Gemo nos seus braços, enquanto rebolo na sua mão, comendo
seus dedos com afinco e desespero, os sugando cada vez mais para dentro
da minha quentura. Sua outra mão, que está com as garras fincadas na
minha bunda, me estimula a rebolar mais rápido.

— Ah, minha doce Willow. — me provoca acelerando as estocadas


dos seus dedos. — Seja uma boa companheira e fique de joelhos, faça por
merecer seu orgasmo.

A fúria dentro de mim cresce, não gosto nenhum pouco de ter meu
orgasmo negado. Deon retira seus dedos e os leva para sua boca, os
chupando devagar, limpando qualquer resquício do meu cheiro e gosto. Isso
deveria me excitar, porém me deixa zangada. Eu o quero com meu cheiro,
para que todos saibam a quem ele pertence.

Percebo seus olhos se prenderem nos meus, sua postura muda


totalmente, seus olhos cintilam e um sorriso se abre nos seus lábios.

— Seus olhos possuem o azul mais brilhante que já vi. — declara, e


meu coração começa a bater acelerado no peito. — Eles são lindos, Willow.
— seus dedos tocam meu rosto, onde ele acaricia e segura meu queixo com
delicadeza. — Mas não mais do que você. Uma linda promessa de futuro
que meu lobo acreditou e eu não. Não até vê-la pela primeira vez.

Suas palavras tocam meu coração, elas são profundas, elas são
sinceras, e Deon está me entregando uma parte sua que eu não conhecia até
este momento.

— Seu coração está batendo muito rápido. — murmuro, sentindo o


meu batendo do mesmo jeito.

— Sim. — diz e resvala seus lábios nos meus. — Cada batida é por
você e para você. — arregalo meus olhos pela sua declaração inesperada.
— Antes de você, tudo dentro de mim era dor. Eu sei que temos um grande
caminho a percorrer até nos conhecermos, mas quero que saiba que...

Ele fica quieto e sinto a sua agitação, assim como sua aflição e
tristeza, e não gosto nem um pouco disso. Toco seu rosto querendo que ele
me conte o que o está afligindo, o que o está incomodando, porque sua dor
rasga meu peito. Viro-me rapidamente e desligo o chuveiro, voltando a
olhar para seu rosto que carrega tantas emoções.

— Deon, eu estou aqui. — afirmo, para que ele saiba que não vou a
lugar nenhum. — Você pode me contar qualquer coisa, assim como pode
não me contar nada, apenas saiba que independente do que escolher, eu
ainda vou estar aqui, por você.

Suas íris cintilam, iluminando a floresta viva que me fascinou quando


a admirei pela primeira vez, contudo, logo essa floresta é tomada por uma
tempestade, fazendo os olhos de Deon se encherem de lágrimas. Engulo em
seco quando sou afogada em todos os seus sentimentos de uma vez: tristeza,
culpa e solidão.

— Deon. — murmuro seu nome, querendo que suas dores se tornem


minhas. Vê-lo assim está fazendo meu coração doer.
Ele fecha os olhos e encosta sua testa na minha, sua boca cobre a
minha e devagar, sem pressa alguma, me beija. Nossos lábios logo ficam
molhados, e quando abro os olhos descubro que é por causa das suas
lágrimas que rolam por seu rosto. Tento me afastar, mas ele não permite.
Tomando meus lábios com mais desespero, com mais dor.

Uma onda forte de lembranças e sentimentos me invade e logo


descubro que nenhuma delas é minha, mas sim de Deon. Fecho os olhos e
aceito cada uma delas, sendo golpeada por vê-lo feliz com outra mulher,
uma loba. Logo em seguida, outra lembrança de Deon descobrindo que ela
não era sua companheira de alma, a próxima lembrança me faz soluçar. A
dor está consumindo Deon depois de assisti-la morrer.
Os meses seguintes se passam em câmera lenta diante dos meus
olhos: Deon sem conseguir se conectar com seu lobo; ele se sentindo
incompleto e sozinho; seus amigos tentando ajudá-lo, mas ele se afastando
ainda mais deles; a sua promessa depois de voltar a ser um só com seu lobo,
prometendo nunca mais se acasalar com ninguém; sua vida se tornando
apenas cinza, até o azul mais brilhante surgir diante dos seus olhos, fazendo
seu lobo ficar eufórico e seu coração voltar a bater.
Quando as lembranças acabam, abro meus olhos devagar e encontro
Deon sorrindo para mim. Mesmo estando abalada por tudo que ele
compartilhou comigo, sorrio, fazendo a floresta que eu amo, voltar a ficar
viva.

— Minha luz, Willow, é isso que você é para mim. — diz rouco. — É
você quem faz eu me sentir vivo depois de ficar anos me sentindo morto.

Toco no seu peito, e ainda olhando nos seus olhos, beijo seus lábios
devagar, tendo à nossa volta um emaranhado de sentimentos que estão
tomando meu coração, corpo e alma, e apenas um acaba se sobressaindo a
todos: o amor.
26
Raze
Assim que eu estaciono a caminhonete em frente ao clube de
motoqueiros de Zayn, onde vim para conversar com ele em busca do seu
apoio contra o conselho, sinto uma pressão forte no meu peito, fazendo meu
lobo ficar preocupado e ansioso. Respiro fundo, sentindo o vínculo do
acasalamento se tornar uma corrente forte de emoções. Busco a fonte e logo
eu chego ao Deon e à Willow.

Investigo a mente dele querendo saber o que está acontecendo. Deon


compartilha a imagem da nossa fêmea sorrindo e chorando. A emoção dele
também é compartilhada. E fico feliz por ver meu amigo finalmente
vivendo e aceitando o que Kai previu. Deon merece ser feliz depois de tudo.
Saio da sua mente mais decidido do que nunca em conseguir o apoio de
Zayn contra o conselho.

— Está tudo bem? — Kaden pergunta, e apenas assinto.


Eu estava em dúvidas sobre vir pedir o apoio do Zayn e da sua
alcateia, mas depois de ter sentido o poder que cerca a Willow ficar mais
forte a cada dia, eu sabia que precisava ter mais lobos do meu lado,
dispostos a lutar para defender minha companheira quando os anciões
vierem atrás dela. Porque eu sei que eles virão.

Apesar da Willow ser uma loba poderosa, ela não consegue controlar
sua magia lycan e, quando o momento chegar, temo que ela não consiga se
defender dos anciões. Tenho a ajudado como posso, mas enquanto ela não
confiar na sua loba e no seu instinto, isso não vai acontecer. Ela precisa
aceitar quem é.
Depois de dizer seu verdadeiro nome em voz alta, eu percebi como
aquilo a atingiu. Eu senti a confusão e tristeza que dominaram seu interior,
Willow pensa que seu poder a tornará cruel como seus descendentes. Ela
não perguntou em voz alta, mas nos perguntou mentalmente sem se dar
conta.

Eu posso me tornar como eles? Eu posso ser cruel?

O sonho de alma que ela teve com Anyka me deixou preocupado,


Anyka lhe avisou que o conselho já tem conhecimento da sua ascensão, que
aconteceu quando ela se transformou em loba pela primeira vez. Willow
ainda não percebeu, porque não consegue sentir sua loba, mas ela é a alfa
da alcateia Calla, me dei conta disso no segundo que Anika mencionou a
pérola do sonho.

As pérolas do sonho de alma são feitas por feiticeiros da luz. Os lobos


e vampiros são os únicos seres mágicos que conseguem incitar um sonho
desse tipo sem recorrer à magia dos feiticeiros. E Anyka sendo uma loba
Calla não precisaria usar essas pérolas, mas eu entendi o porquê ela usou
assim que ampliei meu olfato e não senti o cheiro da sua loba.

As pérolas provavelmente vieram do seu companheiro, o filho de


Amoz, quem eu imagino que o conselho não faça ideia que exista, assim
como eles nunca souberam que Anyka esteve viva por todos esses anos.

Encaro Kaden ao meu lado, meu beta sabe os perigos que estão
prestes a bater à nossa porta. Quando eu disse a ele o que pensava em fazer,
ele concordou comigo. E aqui estamos nós, buscando o apoio de Zayn, um
grande amigo, um grande guerreiro, porém também um dos muitos lobos
que sofreram por causa da alcateia Calla e Allegra Roux.
— Mantenha seu lobo sob controle. — aviso a Kaden, saindo da
caminhonete e ele faz o mesmo.

Caminho em direção à sede do moto clube, e Kaden me acompanha


em silêncio, mas antes de chegarmos ao portão do clube, ele pergunta:

— Por quê?
— Porque não será bonito, Kaden. — alerto mentalmente.

Andamos mais um pouco, e logo paramos em frente ao clube que leva


o nome Road Wolves. Dois lobos, que pelo cheiro chuto terem no máximo
dezessete anos, estão parados em frente ao portão grande que tem o desenho
enorme de um lobo de pelagem cinza e preta com os pelos cobertos de
sangue.

Depois de sair de Symes, Zayn quis deixar quem ele foi no passado,
porém vendo a imagem desse lobo, posso ver que ele manteve a essência da
sua alcateia. Guerreiros de Sangue.

Os dois lobos olham de Kaden para mim, eles nos cheiram e


arregalam os olhos assim que sentem o cheiro dos nossos lobos. Acredito
que eles devam estar surpresos de lobos de fora da alcateia de Zayn
aparecerem por aqui, afinal, eles se entrosaram muito bem entre os
humanos, que na maioria do tempo fingem ser como eles.

De todas as decisões de Zayn, essa é a única que nunca vou entender.


Os dois alongam suas garras, e antes que eles cometam o erro de nos atacar,
digo logo quem sou:

— Meu nome é Raze Ward, alfa da alcateia Primeiros Nascidos, e


esse é meu beta, Kaden Brooks, viemos falar com seu alfa.
Os dois arregalam ainda mais seus olhos, guardando suas garras no
mesmo segundo. Eles não demoram a abrir o portão para nós, e agradeço
entrando pela primeira vez no clube do meu amigo. Assim que passo pelo
portão avisto uma garagem cheia de motos Harley Davidson, umas vinte,
pela minha contagem rápida.

Eu nunca soube ao certo a quantidade de lobos que Zayn tem na sua


alcateia, meu amigo assim como eu, faz de tudo para proteger seus lobos do
radar dos anciões. Continuo a andar e logo avisto um casarão de três
andares, uma piscina grande, ao lado uma área destinada a um bar, onde
cinco lobos estão sentados bebendo, enquanto três fêmeas, que pelo cheiro
descubro serem humanas, conversam com eles.

Eles estão rindo e param assim que sentem nossos cheiros, se viram e
ficam em pé em posição de ataque. Reconheço Elon, o beta de Zayn, entre
eles, que rapidamente diz quem somos, os lobos recolhem suas garras,
contudo, continuam em pé nos encarando. Mesmo sabendo quem sou eu,
percebo a inquietação de Elon em me ver ali.

— Raze, Kaden, que visita inesperada! — nos cumprimenta, forçando


uma simpatia que claramente ele não sente, e logo descubro o motivo.

Atrás dele, tem uma humana que está com o seu cheiro por todo o
corpo, e a marca de reivindicação de Elon é bem visível no seu pescoço.
Algo proibido e que vai contra as leis dos anciões.

— Aquela fêmea humana está acasalada com o Elon? — A pergunta


que Kaden me faz mentalmente, alerta Elon que percebe nossos olhares em
direção a sua companheira humana.

O beta de Zayn dilata as narinas, seus olhos cintilam, suas garras


ficam aparentes, seu lobo se tornando protetor no mesmo instante por saber
que sua companheira está sob a mira de dois lobos que não fazem parte da
alcateia. Não nos movemos, muito menos falamos qualquer coisa que possa
fazer Elon pensar que vamos atacar sua companheira. O instinto protetor de
um lobo acasalado pode ser fatal.

— Elon! — A voz de Zayn, faz seu beta sair do modo de ataque,


tirando seus olhos de nós. — Leve Sophie para o quarto, ela precisa
descansar.

Elon apenas assente indo até a humana que sai de trás do balcão de
mármore. Fico surpreso quando vejo sua barriga: ela está prenha. O coração
do filhote dentro da sua barriga bate acelerado e o cheiro dele é o mesmo de
Elon, o que me faz concluir que aquela humana é sua companheira de alma.

Troco um olhar rápido com Kaden, que entende no mesmo segundo o


que está acontecendo. Volto a olhar para Zayn, que está dispensando os
lobos e as humanas, pedindo que eles nos deixem sozinhos. Zayn não vai
permitir que eu entre na sua casa e ele deixa isso muito claro para mim
quando aponta para as banquetas do bar.

Dou um passo na sua direção, e Kaden me segue sem dizer nada.


Assim que me sento, Zayn dá a volta no balcão, seus olhos ficam presos em
nós, não desviando nenhuma vez. Zayn se tornou um alfa precavido devido
ao tanto de perdas que sua alcateia sofreu, e eu o entendo. Mesmo me
conhecendo, ele não quer arriscar e eu não posso culpá-lo. Ser irmão de
Soren, ensinou uma dura lição a ele.

— O que bebem? — indaga, intercalando seu olhar entre Kaden e eu.

Fito Zayn por alguns segundos, meu amigo sabe que não doso as
palavras, muito menos faço o tipo de querer agradar qualquer pessoa. O
tempo que passamos juntos em Symes me mostrou o quanto ele é prático e
direto como eu. Por esse motivo, decido ser direto sobre a minha visita, não
há motivos para prolongar minha estadia, ainda mais quando vejo que
minha presença está agitando seus lobos, que sussurram dentro da casa,
acreditando que não consigo ouvi-los.

— Eu não vim para beber com um velho amigo. — aviso, fazendo sua
postura de cordialidade mudar. — Vim para pedir seu apoio como alfa. —
declaro.

Zayn olha na direção da casa e logo volta a olhar para mim. Seus
olhos acendendo o vermelho sangue, uma característica da sua alcateia.
Uma alcateia em que eu fazia parte quando era criança, mas que meu pai
decidiu abandonar para se unir aos pais dos outros primeiros nascidos,
Zayn, sendo o seu alfa, aceitou em prol de algo maior.

Isso ainda foi em Symes e depois que meu pai deixou de ser beta de
Zayn, Elon assumiu. E quando meus pais foram mortos, eu tive toda a ajuda
vinda da alcateia de Zayn. Ele chegou a perguntar se eu queria voltar a fazer
parte da sua alcateia, mas eu disse não. Eu assumi o lugar do meu pai,
assumi seu legado, e assim continuarei fazendo até que um dia o meu
filhote assuma o meu legado depois que eu morrer.

— Apoio para o quê? — Zayn pergunta, fazendo-me sair das


lembranças.

— Acredito que você consiga sentir o cheiro do meu acasalamento.


— falo e ele ri de lado.

— Senti o cheiro da sua fêmea no instante que você pisou no meu


clube. — claro que sentiu.

Zayn é poderoso e provavelmente foi a magia do meu acasalamento


que ele sentiu primeiro, mas eu sei que ele não dirá nada sobre isso. Ele é
cauteloso, gosta de saber onde está pisando.

— Então consegue sentir a magia que me une a ela? — pergunto, mas


eu já sei a resposta.

— Sim, bem poderosa e rara. — coça o queixo, e não prolonga o


enigma. — Sinto o poder de união de Deon e Griffin em você também.

O quê? Fico surpreso pelo que fala, isso só poderia ter acontecido se
eu tivesse me acasalado com Deon e Griffin, o que não aconteceu. Zayn
balança a cabeça me fitando.

— Você não sabia, não é?


— Do que ele está falando, Raze? — Kaden me pergunta
mentalmente, mas eu não respondo, porque eu não sei.

— Sabia do quê? — questiono, ficando inquieto por não ter percebido


algo que Zayn parece ter percebido assim que olhou para mim.
— A magia da sua fêmea flui entre vocês três, e a magia de vocês três
flui de volta, passando de um para o outro, os tornando assim um só. —
Puta merda! — Isso só tinha acontecido uma vez na história e não foi
bonito como acabou. Espero que você saiba o que fez.

Não me lembro de ter ouvido sobre um acasalamento assim, porém


Zayn parece que já. Seu alerta me preocupa ainda mais, porque ao mesmo
tempo em que sermos um só nos torna forte, também nos torna fracos.

— O que aconteceu? — Quem pergunta é Kaden, já que ele percebeu


como a revelação de Zayn me pegou desprevenido.
— Foi há muitos anos. — começa a dizer, e presto atenção em cada
palavra. — O que sei é que ela era uma feiticeira muito poderosa, e que se
envolveu com três humanos, acabou gerando um filho para cada
companheiro, e quando os humanos começaram a suspeitar do que ela era...

— Já sei, eles a mataram. — Kaden o interrompe, e Zayn nega.

— Não, mataram seus três companheiros por serem convenientes com


o que ela fazia. — meu lobo rosna, por não conseguir pensar em algo assim
acontecendo a Willow. — E quando ela tentou revivê-los, não teve sucesso,
e com o coração tomado de ódio dos humanos, criou uma magia nova e
diferente, dando aos seus filhos humanos a imortalidade, mas também
dando a eles a maldita sede de sangue.
— Espera, você está nos dizendo, que...

— Fedra Barack criou a linhagem dos vampiros depois que humanos


mataram seus companheiros. E após tornar seus filhos indestrutíveis e
poderosos, se matou, porque não conseguia viver sem seus companheiros.
A revelação de Zayn me surpreende, pois não se sabe muito da
linhagem dos vampiros, eles vivem suas vidas o mais discretamente
possível. A única vez que vi os três irmãos Barack juntos, foi quando Calina
sofreu o julgamento vindimar, depois disso, o único irmão Barack que vi,
foi o Bayron, já que o desgraçado estava querendo a morte de Beau, por
alegar que ele estava violando uma das leis.

A de se acasalar com um ser de outra casta.

Ele queria a morte do meu amigo, porque acreditava que Beau e Kai
estavam prestes a se acasalar. O que meu amigo me garantiu não ser
verdade, Beau me disse que ele e Kai eram apenas amigos. Uma amizade
que teve que ser interrompida por causa de Bayron. E esse foi o motivo
decisivo que me fez sair de Symes.

— Como você sabe de tudo isso? — pergunto, querendo saber mais.


— Ouvi do meu pai, que ouviu do meu avô. — esclarece. — Esse tipo
de acasalamento vai além da reivindicação. Vocês mesclaram a essência de
vocês, a tornando apenas uma, que pulsa em cada um da mesma forma, com
a mesma intensidade. Quando algo assim é interrompido, é pior do que a
morte.
As palavras de Zayn me preocupam, eu nunca tinha ouvido falar de
algo assim. Será por causa dessa mescla de essência que eu sinto o Deon e
Griffin de outra forma dentro de mim? Eles não são meus companheiros
como Willow, contudo, é o que sinto quando investigo o vínculo de
acasalamento.

É como se eles também tivessem me mordido, e eu os mordido. Porra!


— Ela é a nossa companheira de alma. — declaro, e as sobrancelhas
de Zayn arqueiam.

— Então é ainda mais profundo do que você pensa. — alerta. —


Vocês uniram as partes das suas almas, as tornando uma só. Vocês não se
completaram, como é o comum entre companheiros de alma, vocês a
uniram e a expandiram para dentro de cada um.

Franzo a testa com os olhos presos em Zayn, querendo entender em


que momento fizemos isso. Porque não me lembro de nada além da
reivindicação em conjunto que fizemos, que consequentemente fez Willow
se transformar em loba.

— Um de vocês teria que ser muito poderoso para fazer algo assim,
que eu saiba, apenas feiticeiros têm poder para tanto. Afinal, para eles
completarem um vínculo de acasalamento, eles precisam fluir sua magia
pela corrente sanguínea do seu companheiro. — completa, e respiro fundo.
Chegou o momento de dizer ao meu amigo o motivo da minha visita.
— Eu vim pedir o seu apoio e o da sua alcateia, porque minha
companheira está na mira do conselho dos anciões. E toda ajuda será bem-
vinda, principalmente a sua, por quem tenho tanto respeito.
— Por qual motivo ela estaria na mira do conselho? — É direto na
pergunta, enquanto espera minha resposta cruza os braços e estreita seus
olhos para mim.

— Fique na sua, Kaden. — ordeno mentalmente ao meu beta, e


começo a contar a verdade para Zayn:

— Minha companheira é filha de Anyka Calla. — digo, focando no


meu amigo, que em um milésimo de segundo está com os olhos
completamente tomados pela cor de fogo e sangue. — E seu pai, é um
feiticeiro da luz, filho de Amoz de Zafar.

Como eu imaginava que fosse acontecer, Zayn muda para sua forma
intermediária, pulando o balcão e vindo para cima de mim. Eu escolho
apenas amortecer a nossa queda, e não revidar sua raiva, porque eu a
entendo. E não posso culpá-lo por agir assim.
Zayn rosna no meu rosto com a fúria do seu lobo cintilando no seu
olhar.

— COMO TEM CORAGEM?! — indaga com a voz animalesca. —


DEPOIS DE TUDO QUE EU PERDI POR CULPA DOS MALDITOS
CALLA, ME RESPONDA, COMO TEM CORAGEM?!

Seus olhos se enchem de lágrimas e Zayn os fecha rosnando sua dor


no meu rosto, agitando meu lobo, que compadece da sua perda. Pela minha
visão periférica, vejo Kaden se levantar, e Elon retornar apressado. Os dois
betas prontos para estarem ao lado dos seus alfas numa possível luta,
contudo, nada irá acontecer, porque eu nunca lutaria contra Zayn.
— Ela é minha companheira de alma. É doce, ingênua e não tem
culpa pelo que seu sangue fez no passado. — declaro, mas Zayn continua
com seus olhos fechados, rosnando sua dor. — Você mais do que ninguém
deveria entendê-la e apoiá-la contra os anciões.
Zayn abre seus olhos no mesmo segundo, e a fúria que vejo no seu
olhar, não lembro de um dia sequer ter presenciado. Ele rosna e soca o chão
ao lado da minha cabeça. Em nenhum momento penso em revidar, apenas
espero por sua decisão, e ela vem, não do modo que eu imaginava:

— Saia do meu clube e nunca mais volte! E eu espero que sua


companheira tenha o mesmo destino que Zander e Amoz.

Zayn sai de cima de mim, mas continuo deitado, ainda absorvendo


suas palavras, ainda absorvendo sua ira. Kaden me oferece sua mão e eu a
aceito, me coloco de pé, e ainda olhando para Zayn, assinto. Eu não posso
obrigá-lo a ficar do meu lado, não depois de tudo. Porém, eu não vou
aceitar o que ele falou.

— Eu não vou perder minha cabeça em consideração a tudo que você


foi e continua sendo para mim, mas se você falar qualquer coisa sobre
minha companheira novamente, eu o farei engolir. — afirmo, e Zayn ri.
— Apenas saia. — pede. — Espero que você saiba que merda está
fazendo com a sua vida e com a sua alcateia.

Dou as costas para Zayn e Elon, disposto a ir embora e chegar numa


solução que me faça proteger a todos que são importantes para mim sem
que nenhuma vida seja ceifada. No entanto, meus pés param e volto o meu
olhar para Zayn e Elon, que deixam claro nas suas expressões que não
somos mais amigos.
— Quando os anciões vierem atrás de vocês pelas leis quebradas,
porque vocês sabem que eles virão, sabem onde me encontrar. — encaro
Elon. — Estarei do seu lado, protegendo e lutando por sua companheira e
filhote, assim como minha alcateia.
Elon parece surpreso pelas minhas palavras, mas não diz nada. Zayn
continua exalando raiva, seu lobo se mantém na borda, cego demais para
enxergar qualquer coisa com clareza agora. Aceno uma última vez para
Zayn e Elon, e dou as costas aos dois, querendo voltar para a casa, querendo
desesperadamente voltar para a minha companheira.
27
Willow
Algo de ruim aconteceu!
É a primeira coisa que penso assim que vejo Kaden passar pela porta
da sala sozinho. Deon, que está sentado ao meu lado no sofá, se levanta no
mesmo segundo indo na direção de Kaden, que tem no rosto uma expressão
que me preocupa. Me coloco de pé e me aproximando devagar, querendo
saber onde está o Raze, já que eles estavam juntos.

— Como foram as coisas em Leston? — Deon pergunta, e a


expressão de Kaden fica mais séria.

Sinto meu coração bater rápido, algo no seu rosto está me alertando
para algo que ainda não consigo entender.

— Bem, na medida do possível. — Kaden olha para mim


rapidamente, e volta seu olhar para Deon. — A conversa não terminou
como o esperado.
Alguma coisa está acontecendo. Chego a essa conclusão pela troca de
olhares rápida que Kaden troca com Deon, deixando-me mais ansiosa, com
a sensação de que tem a ver com o Raze.

— Onde está o Raze? — A pergunta de Deon, faz meu coração falhar


uma batida. É como se ele soubesse que preciso saber onde está o Raze,
para que toda essa angústia que sinto dominar meu interior aplaque.

Kaden foca em mim e fica em silêncio. Um nó se forma na minha


garganta pela espera, contudo, logo vem a resposta:

— No lugar habitual que fica quando precisa pensar. — é tudo que


diz, e sinto a apreensão me comendo viva.
Que lugar habitual? Quero perguntar, mas fico quieta com a vontade
de enchê-lo de perguntas me consumindo.

A porta da sala é novamente aberta, e Griffin está sorrindo quando


passa por ela, mas não demora para o seu sorriso se fechar, quando foca em
Deon e em mim. Percebo a postura de Beau e Kael mudar, confirmando o
que eu estou sentindo desde que Kaden chegou: algo de ruim aconteceu.

Meu instinto pede para ir à procura de Raze, mesmo não sabendo


onde ele está. Tudo dentro de mim está agitado, irritado e temeroso, quando
foco em cada um desses sentimentos sinto o cheiro de capim-limão
impregnando tudo.

Raze.

Agoniada por tudo que estou sentindo, dou as costas a todos e começo
a caminhar em direção ao bar. Eu não sei aonde estou indo, só sei que
preciso estar onde meu corpo e alma clamam neste momento, e é estar com
o Raze. Sinto uma mão tocar meu ombro, me fazendo parar. Olho para trás
e tenho os olhos preocupados de Deon sobre mim.

Após o momento que compartilhamos no banheiro, decidimos tomar


um banho juntos, sem qualquer ato sexual, apenas cuidando um do outro e
fortalecendo nosso vínculo de companheiros. E em cada segundo que
estivemos juntos, senti meu coração bater mais rápido e uma alegria sem
tamanho me envolver. Contudo, neste momento tudo que compartilhei com
ele está distante.

É como se uma parte de mim soubesse que um dos meus


companheiros não se sente como nós, e não é justo. Eu quero que nós
quatro desfrutemos de toda felicidade e amor que merecemos. E é com esse
pensamento em mente que sei o que devo fazer.
— Ele precisa de mim. — Afirmo, sem nenhuma dúvida.

Griffin se aproxima, e ambos ficam parados na minha frente. Temos


uma troca de olhares que diz tudo: eles também estão preocupados com o
Raze. A vontade de sair à procura dele cresce preocupantemente dentro de
mim, meu interior se resume a todos os sentimentos que ele possivelmente
está sentindo. E saber que ele está sozinho lidando com cada um, faz uma
parte minha se rebelar, exigindo que eu vá atrás dele.

— Sim, precisa. — Deon concorda. — Sinto o lobo dele agitado, ele


quer estar com você, porém se afastou porque tem receio de te assustar. —
Completa, me deixando alarmada.

— Me assustar? — pergunto, olhando de Deon para Griffin, em busca


de uma resposta que acalme a enxurrada de emoções dentro de mim.

— Quando um lobo está assim, ele precisa se isolar para colocar para
fora toda a sua fúria. — Griffin responde, mas sua resposta não me faz
sentir bem.

Minha pele queima, meu corpo se revolta, uma sensação esmagadora


me consumindo, me deixando quase de joelhos. Eu preciso ter certeza de
que Raze está bem, eu só preciso estar com ele.

— Somos companheiros, sempre vamos priorizar seu bem-estar e


felicidade, e nesse momento sua loba está agitada e infeliz vendo um dos
seus companheiros precisando dela. — Deon diz e a inquietação aumenta
dentro de mim.

— O que eu estou sentindo é ela? — pergunto, colocando a mão


sobre o peito, onde a queimação está mais forte. — É a minha loba?

— Ela sente que o lobo de Raze está precisando dela e quer estar com
ele. — Deon me explica e uma emoção diferente me toma.
Escuto um rosnado alto, forte, feroz e desesperado dentro de mim. É
minha loba. Ela está se debatendo no meu interior, querendo que eu a escute
e vá atrás de Raze o quanto antes. Apesar de esse não ser o momento
propício para estar feliz, eu sorrio. Sorrio, pois essa é a primeira vez que a
escuto, que a consigo compreender.

Tomada de confiança, respiro fundo e deixo que tudo aconteça


naturalmente. Com os olhos fixos nos meus companheiros deixo que a
magia da minha loba comande, pela primeira vez deixando-a assumir,
confiando nela, confiando em nós. As peças de roupas rasgam indo para o
chão, e assim que olho para os meus pés vejo patas enormes e brancas.

Sou tomada de emoção, quando volto a olhar para Deon e Griffin, e


vejo o orgulho cintilar nos seus olhos. Meus olhos ardem, e pisco deixando
que duas lágrimas rolem pelo meu pelo. Meu coração acelera quando o
cheiro de capim-limão fica tão forte que parece que Raze está ao meu lado.

Rosno e uivo, tudo ao mesmo tempo, viro-me para a porta dos fundos,
querendo ir até Raze o quanto antes, e me surpreendo por ver Kaden, Kael e
Beau parados ao lado da porta, a segurando aberta para eu passar. Com um
sorriso no rosto eles acenam com a cabeça para que eu vá.

— Eu preciso ir. — Digo, virando-me para meus companheiros.

Percebo os olhares que Deon e Griffin dão para mim, e eles fazem
meu coração acelerar. A emoção de finalmente me sentir pertencente a algo,
a alguém, faz o nó na minha garganta apertar. Desde que me descobri uma
loba Calla, tudo tem sido demais, contudo, agora... Agora nunca pareceu tão
certo.

Eu nasci para ser uma loba. Eu nasci para pertencer a eles.


— Então vá, estaremos aqui quando vocês voltarem. — Deon declara,
e sinto uma queimação gostosa no meu interior e logo a queimação dá
espaço para uma carícia, que me faz quase suspirar.

Deon e Griffin.

Quando passo pela porta dos fundos, olho para o céu vendo que o sol
está quase se pondo. Dou uma olhada rápida ao meu redor, buscando a
direção que o cheiro de capim-limão está mais forte e eu não demoro a
seguir a trilha que exala o aroma inconfundível de Raze.

Assim que chego aonde meu olfato de loba me trouxe, avisto um lobo
grande e marrom sentado em frente à nascente do rio que percorre Sanches,
a destruição a sua volta me traz preocupação. Muitos troncos de árvores
estão marcados por garras, alguns estão estraçalhados, com muitas lascas de
madeira por todo chão de terra.

Ele respira de forma rápida, como se estivesse tentando controlar a


miríade de sentimentos que o consome, e vê-lo assim me causa uma dor
insuportável no peito. Antes que eu me aproxime, ele se vira para mim.
Seus olhos me analisam com cuidado e quando eles cintilam em tons
avermelhados, sinto-me como se estivesse admirando a lava de um vulcão
depois da sua erupção.

Dou um passo mais próximo e ele rosna, um rosnado de alerta, uma


advertência para que eu não me aproxime. No entanto, eu não lhe dou
ouvidos, o que o faz se levantar e vir até mim. Admiro o tamanho do seu
lobo e a beleza do animal selvagem que para diante de mim, mas quase
curvo minhas patas dianteiras quando suas dúvidas e dores quase me
sufocam.
Raze compartilha comigo suas emoções sem perceber, a dor e
cobrança que ele inflige a ele mesmo, rasgam meu peito. Um passado que
está tão vivo no seu presente. Eu sinto o medo que congela seus ossos, a
impotência de mais uma vez ser incapaz de evitar o inevitável.

Sem saber como fazer, apenas confiando na minha loba, adentro na


sua mente, desbravando suas emoções, entendendo suas dúvidas,
compreendendo seus receios. Por fim, a morte dos seus pais fica na minha
mente, como a captura de uma imagem macabra que nenhuma criança
deveria ver aos doze anos, muito menos um filho presenciar em qualquer
momento da vida.

A onda de emoções que nos cerca, me faz querer uivar de dor, mas
me mantenho parada o olhando, e quando todas as suas emoções se tornam
demais, esfrego minha cabeça lentamente na sua, tomando para mim cada
uma.

Um carinho para acalmá-lo. Uma certeza de que vou ficar e aceitar


uma parte do seu fardo.

— Acalme seu caos em mim, Raze. — Digo mentalmente. — Eu estou


aqui por você. — Declaro, e o uivo dele quase me rasga.

Encostamos nossas cabeças na curva do pescoço um do outro e


ficamos assim por não sei quanto tempo. Apenas escutando o som das
nossas respirações, o som dos nossos corações que batem numa mesma
batida. De olhos fechados, sinto a magia que nos envolve se desfazer, e
quando volto a abrir meus olhos, meus braços estão ao redor de Raze, e
seus braços estão à minha volta.

Quando afastamos nossas cabeças, as suas íris não cintilam mais as


emoções que o sufocavam ainda há pouco. Tudo que elas refletem é o mais
lindo pôr do sol que já presenciei, ou vou presenciar na vida. Aliso sua
bochecha e um sorriso discreto se abre nos seus lábios, fazendo nossos
corações acelerarem.

— Obrigado. — diz rouco, e sua gratidão enche meu peito de amor.

— Não por isso. — respondo.

Mantemos nossos olhares conectados. O som da natureza à nossa


volta sendo uma bela melodia. Sua mão toca meus cabelos, e ele enrola uma
mecha nos seus dedos. Nossos batimentos aceleram ainda mais, separo os
lábios e sugo o ar com força, sendo atingida por tudo que estamos
compartilhando, tudo que estamos sentindo. Sinto uma carícia sútil no meu
interior, e eu simplesmente sei que é ele.

— Quando a vi pela primeira vez, foi como ver um farol. — diz,


ainda enrolando a mecha nos seus dedos. — O farol mais belo que eu
poderia colocar meus olhos.

— Raze. — digo emocionada.

— Eu quero que saiba que farei o possível e impossível para dar a


você um futuro feliz. — aproxima seus lábios da minha testa, depositando
um beijo suave na minha pele. — Como meu farol, tudo que lhe peço é que
nunca pare de brilhar, para que assim eu possa achar o caminho de casa
quando me sentir perdido, como ainda há pouco.
Arfo pelas suas palavras, mas Raze não me deixa falar nada, sua boca
se cola na minha e sou bombardeada por todos os sentimentos que nos
rodeiam. Dentro do seu abraço, eu me entrego, deixando que nosso laço de
companheiros se fortaleça ainda mais.

***
Desperto com a cabeça apoiada no peito de Raze, com um sorriso nos
lábios me espreguiço e levanto com cuidado para não acordá-lo. Depois do
nosso momento, Raze me convidou para correr com ele em nossas formas
de lobo, e confiando na minha loba, eu me transformei.
Juntos corremos, nadamos e brincamos, foi mágico, foi incrível, foi
um dos melhores dias da minha vida. Como Raze ainda não queria voltar
para a casa, decidimos dormir debaixo de uma árvore, e em algum
momento enquanto dormíamos voltamos às nossas formas humanas.

Feliz e sentindo a felicidade da minha loba, me afasto um pouco de


Raze, estou determinada a passar mais tempo em minha forma animal,
fortalecendo minha conexão com a minha loba. Sorrindo encantada pela
magia que sinto percorrer meu corpo, me transformo.

Conforme vou andando, sinto uma ligação mais forte com a terra sob
as minhas quatro patas sendo construída, despertando em mim uma conexão
com a natureza que antes não havia.

Consigo diferenciar os cheiros ao meu redor, absorvendo cada


descoberta intensamente. Minha visão se torna clara e adaptável,
permitindo-me enxergar perfeitamente e mais longe. Identificar os sons a
minha volta se torna fácil e, finalmente, compreendo o que está
acontecendo: estou em perfeita harmonia com a minha loba.
Contente, começo a correr entre as árvores, sentindo o vento balançar
os meus pelos. Salto sobre alguns galhos, abraçando e aceitando
plenamente quem sou. No entanto, meu momento é interrompido
abruptamente quando um homem de sobretudo, com o rosto oculto por um
capuz, surge diante de mim, me assustando e me forçando a dar alguns
passos para trás.
— Nos encontramos novamente, Willow. — diz ele, retirando seu
capuz e revelando seu rosto. Kai. — Você se lembra de mim?

É claro que me lembro, assim como das suas palavras que não faziam
nenhum sentido, mas que agora eu compreendo. Assustada procuro uma
direção para correr. Contudo, correntes saem das mãos dele vindo para cima
de mim e aprisionando minhas patas. Rosno, tentando me soltar, mas não
consigo.

— Não lute, as correntes são feitas de estanho[13]. — não lhe dou


ouvidos e continuo a lutar para me soltar, mas choramingo quando sinto as
correntes ferirem minhas patas. — Estanho é perigoso e fatal para sua
espécie, aconselho a não lutar.

Rosno para ele, que não se abala, percebo ele olhar por cima do seu
ombro e mais cinco homens aparecem por entre as árvores, dois estão
vestidos como ele, mas os outros três estão nus, o que me faz concluir que
são lobos. Dos três que estão nu, o mais alto me encara com um sorriso
cruel que deixa os meus pelos ouriçados.

— Olha o que temos aqui. — ele diz, e sua voz causa uma revolta
dentro de mim. — Quando eu terminar com você, será um prazer ter as suas
presas como prêmio. — aponta para o cordão que está ao redor do seu
pescoço.
O cordão tem várias presas, e sinto um agouro de apenas olhar para
ele. Eu não sei explicar o que sinto, mas apenas sei que esse cordão carrega
muita dor, muitas perdas.

— Chega, Torment, viemos aqui para buscá-la. — Kai diz, tento me


soltar mais uma vez, mas não consigo. — Willow Ray, por decisão do
conselho de anciões do reino de Symes, você passará pelo julgamento
vindimar, onde terá que responder aos seus crimes perante o reino.
Dito isso, ele move suas mãos e um círculo pequeno surge, ganhando
tamanho rapidamente, onde os homens começam a atravessar. Rosno e uivo
quando Kai começa a me puxar para atravessar, tento conversar com meus
companheiros mentalmente, mas não consigo. Grito nas suas mentes e tudo
que escuto de volta é o silêncio.

Um silêncio que me causa medo.

Um silêncio que me dá calafrios


28
Griffin
Desde que meus pais foram tirados de mim de forma tão cruel e vil,
eu não sabia o que seria da minha vida. Fiquei dentro do buraco na árvore,
onde minha mãe me colocou para me proteger, por dez dias e durante esse
tempo eu desejei morrer, desejei viver, tudo ao mesmo tempo. Passei fome,
passei frio, tive medo do escuro, tive medo que Torment me encontrasse e
desse a mim o mesmo destino dos meus pais.

Eu chorei, eu orei, eu implorei para que alguém ouvisse as minhas


orações, para que assim, eu não morresse sozinho, sujo e com medo.
Quando Ronan e Nara me encontraram, eu tinha medo do que eles fariam
comigo, contudo, quando Nara me pegou no colo e me envolveu nos seus
braços, eu chorei.

Deixei que toda a angústia que preenchia meu coração de criança


fosse colocada para fora. E desde o dia que os Ballard entraram na minha
vida, eu aprendi a ser grato, porque na minha cabeça, eu acreditava que se
não fosse um bom garoto, eu poderia voltar a ser sozinho, esquecido num
buraco de árvore, apenas esperando pela morte.

Eu nunca almejei grandes coisas da vida, pois na minha cabeça que


viu de perto tudo de mais valioso ser arrancado de mim, eu não poderia
correr o risco de mais uma vez me sentir perdido se algo parecido viesse
acontecer.

No entanto, o vazio que preenche meu coração agora, me faz lembrar


a sensação de mais uma vez ser colocado dentro daquele buraco, não pela
minha mãe como foi há mais de cento e trinta e oito anos, mas sim pela
Willow. O que quase se compara, pois ela é uma parte da minha alma, ela é
a felicidade que eu nunca pensei um dia ser possível.

Meu lobo está agitado, buscando incansavelmente algum resquício do


seu cheiro de baunilha, porém, o desespero de não sentir absolutamente
nada, faz meu coração quase parar de bater. Tento conversar
telepaticamente com ela, mas tudo está silencioso. Tento buscá-la através do
nosso vínculo, mas não consigo. É como se nosso acasalamento nunca
tivesse existido.

Eu não a sinto mais.


A constatação disso me deixa em estado de desespero. Há poucos
segundos eu sentia a sua felicidade, o seu amor e confiança com sua loba, e
de repente, mais nada. Saio do meu quarto alucinado e esbarro com Deon
no corredor, pela expressão no seu rosto, ele também está sentindo o mesmo
que eu. Nada.

— Eu não a sinto, Griffin. — diz agoniado. — Por que eu não a


sinto?

A aflição em seus olhos, me desperta para a dor que ele costumava


levar no seu coração, uma dor que só venho conhecer a cura, quando
Willow entrou nas nossas vidas. Empurro os meus temores para o fundo do
meu coração, focando na única que importa agora: Willow.

— Precisamos encontrar o Raze e ela, talvez assim podemos


descobrir o que está acontecendo. — digo, querendo acreditar que tenha um
motivo do porque não conseguimos mais senti-la.

Entretanto, não compartilho com o Deon as minhas dúvidas e medos,


não com ele visivelmente transtornado, não com sua dor e medo me
golpeando várias vezes através do nosso vínculo de alcateia.
— Tudo bem. — Deon concorda, mas percebo ele remoendo
lembranças, e se fechando dentro de sua mente.

Caminhamos apressadamente para fora da casa, e enquanto isso tento


me comunicar com Raze, porém, como Willow, sua mente está quieta e
inacessível. A única coisa que os difere, é que ainda consigo senti-lo.

Em frente à entrada do bar, prestes a sair à procura de Raze e Willow,


somos surpreendidos por Kaden, Kael e Beau, nos esperando em suas
formas de lobos.

— Precisamos encontrar o Raze. — Beau fala apressadamente em


nossas mentes, deixando-me no mesmo instante aflito.

— O que você sabe? — Deon pergunta angustiado.

Beau rosna, andando na sua forma de lobo de um lado para o outro,


dá para ver que algo o está incomodando assim como o preocupando. Fico
refém dos sentimentos que entranham no meu interior, causando em mim a
mesma sensação de anos atrás, o mesmo desespero de que tudo está prestes
a mudar. De que mais uma vez estou prestes a perder tudo.

— Kai mandou outra mensagem de fogo. — Beau conta, e seu lobo


rosna visivelmente transtornado.

Deon olha para mim, e o medo refletido nos seus olhos, me faz focar
em Beau. Nesse momento um de nós tem que manter a razão, abafando
qualquer sentimento desnecessário dentro de si, e eu prefiro que seja eu.

— O que a mensagem dizia? — pergunto, prevendo que a resposta


tem a ver com a Willow, devido a inquietação do lobo de Beau.

— Eles a têm. — responde, fazendo meu coração desacelerar. — O


conselho a pegou. Ela sofrerá o julgamento vindimar.
Meu coração para ao mesmo tempo em que a dor de Deon o consome.
Seu grito agoniado e desesperado faz o meu lobo lutar dentro de mim para
sair, para amenizar sua dor, enquanto quer ir até os anciões resgatar nossa
companheira. Assistir o sofrimento de Deon mais uma vez, parte meu
coração. Perder Calina, mesmo ela não sendo sua companheira de alma
verdadeira, quase o fez sucumbir, eu não sei o que a perda de Willow
causará a ele, muito menos a nós.

— Torment veio pessoalmente buscá-la. — assim que Beau fala o


nome que nunca esqueci, que permaneceu gravado na minha mente por
todos esses anos, a certeza do que devo fazer ilumina na minha mente,
clara, objetiva e determinante:

Nosso acerto de contas finalmente chegou.

Raze
Desperto sentindo uma forte dor de cabeça, como se tivesse sido
nocauteado. Abrir os olhos faz a dor piorar, mesmo assim, eu forço as
minhas vistas a se adaptarem à claridade. Procuro por Willow logo que
consigo manter os olhos abertos e não a vejo em lugar nenhum. Tento
conversar com ela mentalmente, mas não tenho acesso a sua mente, é como
se ela tivesse fechado a porta do nosso vínculo de acasalamento, me
mantendo fora.

Franzo a testa sem entender o que está acontecendo, tento sentir seu
cheiro de jasmim, para assim saber onde encontrá-la, mas não sinto seu
cheiro em lugar nenhum. Meu lobo fica perturbado instantaneamente. Ele
rosna e se move dentro de mim em desespero. Tento mais uma vez
conversar com ela, para assim aquietar a desolação que se alastra por cada
poro do meu corpo, porém não consigo.

As emoções que antes me sufocavam retornam, mais poderosas,


fazendo-me sentir impotente no mesmo segundo. Me transformo em lobo e
saio correndo, buscando minha companheira em todas direções, entretanto,
a cada segundo que não sinto o seu cheiro e nem a sua presença, sinto uma
parte minha morrer.

Corro mais rápido, a agonia que estou sentindo me deixa apavorado, a


sensação de que algo aconteceu a Willow, deixa o meu lobo desolado. Meu
coração parece oco dentro do meu peito, suas batidas são lentas, como se a
qualquer momento ele fosse parar.

— WILLOW! — grito na sua mente, mas recebo apenas o silêncio.

O desespero aumenta quando minhas patas param, e na minha frente


me deparo com Deon e Griffin em suas formas de lobos, eles respiram com
dificuldades, como se estivessem correndo sem parar por muito tempo.
Quando seus olhos focam em mim, a dor deles se liga à minha, causando
em nós três uma sensação esquisita, uma sensação que eu nunca senti antes.

— Cadê ela? — questiono, sentindo o tormento pulsar dentro de


Deon, depois pulsar em Griffin, para logo se concentrar dentro de mim.

O uivo doloroso de Deon, me faz sentir um desalento muito grande. E


esse sentimento traz um gosto amargo à minha boca, uma sensação que me
faz sentir tudo e nada ao mesmo tempo. É como ser jogado no limbo, sem
saber como voltar para a casa e essa constatação me coloca na borda da
razão.

Meu lado animal sobrepujando o limite entre o certo e errado,


disposto a qualquer coisa para arrancar do coração essa dor que paralisa,
esse sofrimento que dói na alma. Meu interior neste momento é escuro e
frio, o medo que meu farol nunca mais volte a brilhar, faz meu lobo querer
rasgar e estraçalhar qualquer um que se coloque entre minha companheira e
eu.

— O conselho a pegou, ela será julgada. — Griffin responde, e a


devastação que sinto correr por meu corpo quase me coloca de joelhos.

Uivo alto, rosno, a ira correndo e incendiando tudo dentro de mim,


um destino inevitável, uma sentença irreversível e apenas uma escolha a ser
tomada.
— O conselho não a libertará. — afirmo, meus olhos ardem, meu
coração deixando de bater pela certeza do que acontecerá a ela. — Eles irão
matá-la, eles farão disso um grande show, e ela não estará sozinha. —
decreto.

Os olhos de Deon e Griffin se prendem nos meus, a nossa escolha


sendo definida nessa troca de olhar. Faremos o possível e o impossível para
salvá-la e caso não tenhamos sucesso, estaremos ao seu lado, dispostos a
morrer com ela, como deve ser.

Willow é o nosso destino, e estaremos ao seu lado quando o seu for


concretizado.

Deon
Tudo em mim doía, tudo em mim voltava a ser cinza. O azul mais
brilhante sendo apagado, um futuro que não será vivido, e uma certeza
esmagadora sendo concretizada dentro de mim: Eu iria a Symes, eu lutaria
ao lado de Raze e Griffin para salvar a nossa companheira, e quando o
momento chegasse eu me sacrificaria se preciso fosse.

Tenho mais de cento e quarenta anos, e em mais de cem anos, eu


nunca me senti vivo. Tudo mudou quando Willow esbarrou em mim no
corredor do bar, e se consolidou quando a segurei para não cair. Ali eu não
imaginava que segurava minha vida nas mãos. Se eu fizesse ideia quem era
ela e o que significava, eu a teria tomado ali mesmo, a teria reivindicado e
fugido para qualquer lugar onde o futuro que Kai previu para mim pudesse
ser vivido.

No entanto, agora é tarde para isso, porém eu vou lutar para que ao
menos o futuro dela com Griffin e Raze se realize. Meu lobo rosna em
acordo. Morrer por eles é dar um final digno a uma vida que por anos nunca
foi vivida.
Volto a encarar Raze e Griffin, e ambos assentem. Cada um certo do
que deve fazer. Sinto através do nosso vínculo as decisões deles formadas e
tomadas, e faço o meu melhor para esconder as minhas. Eles não precisam
saber o que pretendo. O foco deve ser a nossa companheira.

Nós nos viramos para a mesma direção quando escutamos galhos


sendo quebrados e rosno vendo Kai Basset ao lado de Beau. O desgraçado
tem a coragem de erguer suas mãos, querendo nos dizer que veio em paz.
No entanto, não me importo com seu gesto. Ensandecido e tomado de ódio,
salto sobre ele, pronto para estraçalhar sua carne, contudo, Beau pula na
frente do filho da puta, o defendendo do meu ataque.
— Saia, Beau! — rosno enfurecido na sua mente, Raze e Griffin
ficam ao meu lado, prontos para começar a salvar a nossa companheira com
a morte de Kai Basset, um dos anciões que a querem morta.
— Não! — rosna de volta. — Apenas o escute, vocês precisam ouvi-lo
antes de mais nada.

Encaro Kai, e ele não faz nada para se defender do meu possível
ataque, se mantém parado nos encarando, como se o meu futuro não
estivesse prestes a ser mudado, e o vislumbre do futuro que ele previu sobre
mim nunca irá acontecer.

— BEAU, RECUE E NOS DEIXE MATÁ-LO! — Raze grita, usando


da sua posição de alfa para fazer Beau mudar de ideia, mas nosso amigo
continua defendendo o inimigo.
— NÃO! — Beau grita de volta. — Escutem o que ele tem a dizer, não
temos tempo para isso. — Beau foca em nós e seu desespero nos acerta em
ondas. — A Willow não tem tanto tempo.

Sua fala me faz paralisar. O pavor de perder minha companheira faz


meu ódio abrandar no mesmo instante. Meu lobo fica em silêncio dentro de
mim, pois seu medo de perder sua companheira de alma está o deixando
mudo.

— Como assim ela não tem tanto tempo? — Griffin pergunta,


voltando para sua forma humana, e eu faço o mesmo, assim como o Raze.

Encaro Kai, que dá um passo à frente. Sinto a vibração que vem dele,
ele aparenta estar tão preocupado com a Willow quanto nós, mas isso não
faz o menor sentido. Por que ele iria se preocupar com ela? Ainda mais por
ela ser a Receptáculo, aquela que irá trazer a ruína dos anciões?
— Como vocês bem sabem, eu sou o filho de Celeste Basset, a
feiticeira que quebrou a maldição de Allegra. — ele começa a falar, e
ficamos quieto escutando o que ele tem a dizer, e como isso vai ajudar a
salvar a Willow. — Minha mãe era uma feiticeira diferente... — estreito
meus olhos e ele é direto. — Ela era uma mestiça, metade feiticeira, metade
maga, o que lhe dava poder para prever o futuro.

— E o que isso tem a ver conosco? — Raze o corta, seu lobo na borda
para pular sobre Kai a qualquer momento.

— Minha mãe profetizou que uma Nova Era viria a partir de Aurora
Calla de Zafar. — dou um passo para trás, tentando assimilar o que ele está
dizendo. — Eu tinha quinze anos quando minha mãe me chamou no seu
leito de morte e me contou sobre essa Nova Era. Ela contou sobre tudo, e eu
sabia cada coisa que ia acontecer, e tudo que ela pediu é que eu não
interferisse para que assim o futuro não fosse mudado.
Olho para Raze, e ele parece tão chocado quanto eu. Griffin fica
quieto, apenas o escutando sem dizer nada. Volto meus olhos para Kai
querendo saber de tudo, saber qualquer coisa que nos ajude a salvar a
Willow.

— Mas eu interferi, foram coisas sutis, nada que mudasse o futuro,


apenas que o acelerasse. — seus olhos focam em Beau. — Eu sabia que no
futuro Beau e Willow seriam grandes amigos, e por isso fiz Beau a
conhecer ainda bebê, para que assim seu lobo a escolhesse como protegida.
E peço desculpas por isso.
Beau volta a sua forma humana e, na sua expressão, eu noto como
fica mexido por saber disso. Sinto como o lobo dele está apavorado com o
que pode acontecer com a sua protegida e essa revelação, ao invés de
ajudar, apenas o lembra de tudo que pode acontecer.

— Eu não sei o que dizer. — Beau diz, e logo fica quieto pensativo.
— Willow seria criada num orfanato até ter a maior idade, e quando
decidisse se mudar para Sanches, ela teria trinta anos. Mas, como quem se
encarregou de escolher o melhor lugar para ela ser criada foi Beau, vocês a
conheceram no seu aniversário de vinte e cinco anos.
No mesmo segundo compreendo o que Kai fez, ele manipulou o
tempo, para que assim a profecia do receptáculo acontecesse antes do
previsto. A minha dúvida é quanto tempo ele está avançando?

— O que eu não imaginava é que acelerar os acontecimentos do


destino de vocês mudaria outros destinos. — diz, e me deixa em alerta no
mesmo segundo.

— Do que você está falando? — pergunto entre dentes.

— Infelizmente, eu não posso dizer, não sem mudar o futuro. —


rosno, e sou acompanhado por Raze, Griffin e Beau. — Mesmo tendo
acelerado muitos anos para o momento que minha mãe previu, o destino
continua o mesmo, e Willow sendo julgada perante o conselho é a ruptura
que muitos seres mágicos, como eu, tem esperado. Vocês saíram de Symes
há dez anos, não fazem ideia do que está acontecendo, de como as coisas se
tornaram difíceis e cruéis por lá.
Troco um olhar com o Griffin que diz muito. Saber sobre o reino não
deveria me importar, porque eu odeio tudo o que ele representa, porém,
meus pais ainda vivem lá, e eu me importo com eles, mesmo eles não se
importando mais comigo, muito menos com o Griffin.

— O que está acontecendo lá? — Raze pergunta, e Kai fica


visivelmente abatido.

— O conselho de anciões se tornou cruel. Eles caçam e matam por


qualquer motivo, com isso, muitas vidas estão sendo perdidas todos os dias.
— seus olhos focam em Griffin. — Liderados sempre por Torment.
Rosno no mesmo segundo que o nome do desgraçado que causou
tanta dor em Griffin é dito, Raze rosna também, sabemos o quanto Torment
é cruel. Foco meus olhos em Beau, que abaixa a cabeça, sua dor sendo tão
visível que não sei o que dizer a ele, já que sua irmã é a companheira de
Torment. Foi para a alcateia de Tormet que seus pais e irmã foram viver.

— E o que o grande rei tem feito sobre isso? — Raze pergunta com
asco na voz.

— Bayron, tem se mantido recluso. A última vez que o vi foi há três


meses. — percebo uma troca de olhar rápida entre ele e Beau. — Ele estará
hoje no julgamento de Willow, e é por isso que estou aqui. — seus olhos
passam por cada um de nós. — Eu peço que vocês fiquem aqui e confiem
que eu a protegerei.
— Você só pode estar louco, se pensa que não vamos até Symes
salvar nossa companheira. — digo, e Kai suspira focando em Griffin e
Raze. — Eu a protegerei com a minha vida se preciso for, porque ela estar
viva também é do meu interesse.

— Nós iremos, e não será você que irá impedir. — Raze afirma,
fazendo Kai assentir derrotado.
— Tudo bem, mas vocês precisam saber que assim que pisarem em
Symes, serão presos e julgados junto da sua companheira. Estão prontos
para isso? — me aproximo de Kai, até estar a milímetros do seu rosto.

— Estamos prontos para matar e morrer por ela. — declaro.


— Ela é nossa companheira e não existe outro lugar para estar que
não seja ao lado dela. — Griffin afirma, e concordo no mesmo segundo.

Raze está prestes a falar quando o som de uivo rasga o vento, alto,
feroz e conhecido. Olhamos na direção de onde vem o uivo e fico
estarrecido quando Zayn em sua forma de lobo, pula em cima de uma pedra
e uiva mais forte, e não demora para muitos uivos virem na sequência.

Mais de vinte lobos param ao lado de Zayn, que mantém seus olhos
presos em nós. E ali eu entendo que ele está aqui para nos apoiar. Raze dá
um passo para frente, o sentimento de gratidão está por todo nosso vínculo.
Kaden e Kael abrem espaço entre os lobos da alcateia de Zayn e uivam para
nós.

Raze se virá para Kai, que mantém uma expressão que não entrega
nada, mas algo me diz que ele já sabia que isso ia acontecer, e fala:
— Abra um portal para nós! Estamos indo buscar a Willow.

Raze se transforma em lobo, Griffin, Beau e eu fazemos o mesmo. E


quando nosso alfa uiva, o acompanhamos, uivando alto e forte. Kai move as
mãos e abre um portal, e antes de passarmos por ele, entrando no reino de
Symes, dou uma olhada para Raze e Griffin.

— Só saímos de lá com ela viva e bem! — afirmo.

— Nada menos do que isso. — Griffin concorda.


— Vamos, porque nossa companheira precisa de nós. — Raze
completa, entrando no portal, e em seguida cada lobo que ali está, passa
pelo portal. Escolho ser o último, porque uma sensação ruim domina meu
interior, mas decido não pensar muito nisso.

Estamos indo buscar nossa companheira e nada mais importa.


29
Willow
Grito assim que sou despertada por algo que fura a minha carne ao
mesmo tempo em que queima a minha pele. Levanto do chão frio e encaro
o homem do outro lado da grade e ele segura uma lança, que parece ser de
metal, com a ponta molhada com o meu sangue. Baixo o olhar para meu
abdômen, onde ele perfurou, e sinto a pele ao redor arder. Estranhamente
não sangra, mas dói, e muito.

Depois que Kai me puxou contra a minha vontade por aquela coisa
que ele criou com as suas mãos, fui colocada dentro dessa cela de pedras
escuras e com grades que me machucam se eu as toco. Eu não sei o que está
havendo com a minha loba, porque desde que eles me trouxeram para onde
quer que seja, eu não consigo me transformar, muito menos me conectar
com ela. Eu não a sinto mais, é como há alguns dias, quando ela e eu não
chegávamos a um entendimento.

O homem do outro lado das grades me encara com ódio, olhando para
meu corpo nu de uma forma que me faz encolher no lugar, com vergonha e
pavor do que ele possa fazer. Eu estou com tanto medo, eu não sei o que
eles pretendem fazer comigo, e devido ao modo que me trouxeram, e estão
me tratando, não será bom.
Fico encolhida no canto, longe suficiente do homem mal-encarado,
evitando que ele enfie aquele metal de novo em mim. Tremo de frio, ou de
medo, não dá para ter certeza. A única coisa que sinto é uma solidão e
desesperança enorme. Eu tento me convencer que tudo acabará bem, mas
essa sensação incômoda alojada no meu coração, me faz ter certeza de que
não.
Suspiro de forma controlada, me obrigando a me manter firme e não
me entregar. Eu não sei em que momento começará o meu julgamento, a
única coisa que sei é que quando o momento chegar, estarei de cabeça
erguida, os encarando nos olhos e pronta para receber a minha sentença.

***

Sou empurrada por uma passarela longa, cheia de pessoas, que me


olham em sua grande maioria com nojo, ódio e raiva. As emoções delas me
atingem tão forte que sinto meu estômago embrulhar. O caminho que
percorro não me permite ter uma visão clara de onde estou, tudo que
consigo ver são as pessoas e duas enormes portas douradas no final da
passarela.

As correntes nos meus pulsos e tornozelos pesam e queimam. Um


vestido branco e simples foi me oferecido para cobrir minha nudez e quase
respirei aliviada por isso. Contudo, assim que o coloquei no meu corpo,
senti meu corpo arder de dentro para fora. Tudo que consegui entender,
entre os sussurros de ódio, era que aquele tecido anularia meu invólucro de
poder.

As pessoas que estavam me preparando para o julgamento, não foram


gentis, a todo momento me xingavam, me diziam que hoje seria o melhor
dia das suas vidas desde que os Calla surgiram. Eu estava morrendo de
medo, meu interior sangrava e chorava, mas me mantive quieta, sem dizer
que ter o sangue Calla correndo nas minhas veias não me fazia ser como
eles.

Que ódio e crueldade estavam muito longe de ser e representar quem


eu sou. Aceitei tudo calada, e quando me foi anunciado que me encontraria
com os anciões, eu bambeei por um segundo, contudo, logo me estabeleci.
Mesmo não sentindo minha loba, ou meus companheiros, eu confiava neles,
confiava nos meus instintos que imploravam para eu suportar tudo e aceitar
o meu destino. E é isso que estou fazendo agora, caminhando para um
destino incerto, confiando nos meus instintos, acreditando em mim mesma.

Assim que paro em frente às enormes portas douradas, escuto vozes


alteradas virem do lado de dentro. Uma sobressai às outras, ordenando que
me levem para dentro. As portas logo se abrem diante de mim, e olho
assustada a quantidade pessoas dentro do salão que se viram na minha
direção, muitas estão sentadas em bancos, que estão voltados para a frente
do salão, onde tem cadeiras dispostas ao redor de um trono.

Passo meus olhos por cada pessoa sentada naquelas cadeiras, assim
como por cada canto daquele enorme salão, e antes que eu possa absorver
mais do que acontece à minha volta, sou empurrada com brusquidão, assim
perco o equilíbrio caindo de joelhos. A dor percorre meu corpo, e demoro
um pouco olhando para o chão. Naquele momento o entendimento do que
está prestes a acontecer está pesando sobre meus ombros por alguns
segundos.

Eu posso fazer isso, penso me colocando de pé. Levanto minha


cabeça e caminho até parar diante do trono, onde um homem grande e de
olhos muito azuis está sentado. Seus olhos são tão frios e não demonstram
qualquer empatia ou piedade. Do seu lado direito está um homem de
cabelos brancos e compridos, que me olha do mesmo jeito. E assim eu vou
fazendo, percorrendo meus olhos por cada um.

Quando paro no último, Kai, respiro fundo, me preparando para tudo


que está prestes a acontecer. Eu desvio meus olhos dele e volto a fitar o
homem sentado no trono. Para estar ali, ele deve ser o rei, o que significa
que qualquer que seja o resultado do meu julgamento, será ele que me dará
o veredito final.
— Que comece o julgamento! — é tudo que diz, e fica em silêncio.

Meus batimentos aceleram com o medo crescendo de forma


assustadora dentro de mim. Meus olhos são atraídos para o homem com o
cordão cheio de presas, cujo nome se bem lembro é Torment. Ele fica de pé,
caminhando até mim em silêncio e uma sensação de alerta grita dentro de
mim. Engulo em seco quando ele para na minha frente e coloca sua mão ao
redor do meu pescoço.

— Uma maldita Calla. — rosna no meu rosto, enquanto suas garras


perfuram meu pescoço e gemo pela dor. — Achou mesmo que seu poder
ficaria escondido de nós? — me joga no chão, e o impacto me faz machucar
as costas. — Seu sangue imundo trouxe muita desgraça a todos nós, e não
vamos permitir que viva.

Busco os olhos de outras pessoas, pedindo ajuda em silêncio, mas


todas se mantêm indiferentes, apenas assistindo. Fito o chão quando o pavor
me consome, me fazendo vacilar na minha decisão de manter a cabeça
erguida. Entretanto, eu penso em Laila, nos meus companheiros, e isso me
dá forças para ficar de pé e contestar a declaração dele.

— O que eu fiz contra vocês para merecer a morte? — pergunto em


voz alta, trazendo surpresa a algumas pessoas, que dê certo imaginavam que
eu ia ficar calada. — Eu não posso pagar por crimes que não são meus. —
afirmo, e escuto algumas pessoas ofegar. — Eu posso ter o sangue deles
correndo nas minhas veias. — bato no meu antebraço. — Mas eu não sou
eles, eu não busco poder, muito menos quero que se curvem a mim.
Quando termino de falar estou ofegante, puxando ar para os meus
pulmões. Percebo a troca de olhar entre alguns anciões e torço para que eles
fiquem ao meu favor. Contudo, sou surpreendida quando recebo um tapa de
Torment no meu rosto, fazendo minha face arder e lágrimas caírem sem
meu consentimento.

— MENTIROSA! — grita, e me encolho, esperando por outro tapa.

Toda a confiança que estava sentindo ainda pouco está morrendo, se


apagando dentro de mim. Tremo incontrolavelmente e envolvo meus braços
em mim mesma, querendo me proteger, querendo me esquecer, desejando
estar em qualquer outro lugar que não seja aqui.

Levanto meu rosto com a intenção de pedir que ele acabe logo com
isso, mas os sons do lado de fora me assustam ao mesmo tempo em que me
dão esperança. Gritos, uivos e rosnados. Altos, fortes, e ferozes, fazendo o
meu coração bater descontrolado quando uma fagulha dentro de mim
acende.

Será que são eles?

A resposta não demora a vir quando as portas são abertas por Raze.
Ao seu lado estão Deon e Griffin, eles percorrem o salão com seus olhos
cravados em mim. Meus olhos ardem por vê-los. Eu pensei que morreria
sem vê-los uma última vez. Como estão nus, percebo as marcas de luta, e
manchas de sangue por seus corpos, fico preocupada e dou um passo para ir
até eles, mas sou puxada para trás por Torment, que agarra os meus cabelos.

— Onde pensa que está indo? — grunhe no meu ouvido.

Assisto alarmada aos meus companheiros cintilarem seus olhos e se


transformarem em lobos enormes e selvagens, correndo na minha direção.
Temo por eles assim que vejo correntes serem colocadas em suas patas,
fazendo os três caírem no chão. Meu coração para quando homens os
cercam, com lanças em suas mãos, igual a que me machucou.
— Por favor, não os machuque! — grito, sentindo um medo pungente
me consumir.
Quando os três voltam para suas formas humanas eles estão presos,
suas expressões estão carregadas de fúria, e elas só abrandam quando eles
olham para mim, mas não dura muito, logo eles focam no homem que
mantém sua mão nos meus cabelos. Três rosnados preenchem o salão. E nas
portas, parados em posições de ataque, estão três lobos, e um deles eu
reconheço no mesmo segundo.

O lobo marrom e de manchas amareladas.


É o mesmo lobo com o qual eu sonhava quando era pequena, o
mesmo lobo que passei anos pintando. Seus olhos focam em mim, e ele
uiva, um uivo que rompe uma parede que minha mente parece que havia
levantado, mas que agora desmorona: Eu pequena em cima dele enquanto
corria comigo em meus sonhos; ele sempre me protegendo; ele me
visitando no hospital quando tinha quinze anos e puxando minha dor para
ele; me prometendo que cuidaria de mim como um irmão mais velho; ele
sabendo quem era eu desde o primeiro momento que pisei no bar. Lágrimas
rolam pelo meu rosto, quando murmuro seu nome:

— Beau. — ele uiva novamente, e corre para ajudar Raze, Deon e


Griffin, e o mesmo faz os outros dois lobos, que eu tenho certeza serem
Kaden e Kael.

Olho para Torment que tem um sorriso cruel no rosto, como se


gostasse deles estarem aqui, como se já esperasse por eles. Tento me soltar
do seu agarre, mas ele mantém sua mão firme nos meus cabelos, me
fazendo gemer de dor. Então, força minha cabeça a voltar a olhar para meus
companheiros, e quando volto a olhar para eles, assisto ao mesmo que
aconteceu com os meus companheiros acontecer com Kaden, Kael e Beau.
Mesmo conseguindo desviar de algumas correntes, eles acabam sendo
pegos, sendo forçados a voltarem para suas formas humanas. E assim que
vejo o sangue que cobre todo o abdome de Beau, tremo horrorizada. Ele
sangra muito, deve ter se ferido e eu não sou a única a me preocupar, pois
vejo a reação dos seus amigos olhando para o mesmo lugar que eu.

Quando os olhos dos meus companheiros voltam para mim, vejo


refletido neles algo que não estava ali antes: Pavor.
30
Griffin
Foram anos longe de Symes, foram anos nos esquecendo do que os
anciões são capazes. Quando passamos pelo portal duas alcateias nos
esperava, a alcateia Lua Crescente e a alcateia Luz da manhã, seus alfas não
estavam com eles, mas a ordem já havia sido dada: matar qualquer um que
tentasse interferir no julgamento.

Se não fosse pelo apoio de Zayn e sua alcateia, teríamos sido mortos
no instante que atravessamos o portal. Estavam preparados para nossa
possível chegada, como Kai disse, mas ficaram visivelmente abalados
quando viram Zayn liderando o ataque com seus lobos, tomando a frente
para que Raze, Deon e eu conseguíssemos chegar ao castelo, onde acontece
o julgamento da nossa companheira.

Kaden, Kael e Beau ficaram cobrindo nossa retaguarda, garantindo


que não fossemos atacados até chegar a Willow. Tudo estava correndo
perfeitamente bem. Zayn estava lidando muito bem com as duas alcateias,
que por mais que estivessem em um número maior, não eram páreas para os
lendários guerreiros de sangue. Estávamos nos aproximando do castelo, nos
livrando de qualquer um que se colocasse entre nossa companheira e nós,
quando passamos pela multidão, ninguém se atreveu a nos parar, alguns
guardas reais recuaram, não dificultando nossa passagem.
Algo na postura deles devia ter nos alertado, para que assim nos
preparássemos melhor para o que estava prestes a acontecer. Quando
entramos no grande salão, nossos olhos foram automaticamente para o
centro, onde nossa companheira estava. Vê-la presa nas correntes de
estanho e vestida nas vestimentas que inibem seu invólucro, nos fez chegar
a uma conclusão rápida: vamos tirar aquelas correntes e vestido dela.
Quando ela deu um passo querendo vir até nós, foi parada por
Torment que agarrou seus cabelos. Presenciar aquilo deixou meu lobo
enfurecido e antes que eu pudesse ser racional, meu lobo rosnou e assumiu
sua forma, querendo sua companheira protegida, mas as correntes
conjuradas pelos magos, me parou, me fazendo ir ao chão, inibindo minha
conexão com o meu lobo.

Assim que voltei à minha forma humana, notei que o mesmo


acontecia com Raze e Deon. Os guardas de Bayron logo nos cercaram, com
suas lanças de estanho apontadas para nós. Eu estava furioso, mas minha
fúria acalmou quando olhei para Willow.

Ela estava viva. Chegamos a tempo.

Quando Kaden, Kael e Beau entraram, eu estava certo que fossemos


conseguir, mas quando eles foram presos e voltaram para suas formas
humanas, o ferimento de Beau me alertou que a ligação que ele tem com a
Willow estava cobrando o preço.

O sangue em seu abdome não parava. Algumas linhas pretas estavam


ao redor do ferimento, o que significa que ele foi infectado com estanho. E
eu sabia que Beau não tinha sido infectado desde que chegamos, o que
indicava que a Willow foi e, por esse motivo, meu amigo estava
envenenado. Era questão de horas para ele morrer.

Saber disso me desestabilizou, eu não fazia ideia de quanto tempo


Beau estava assim, e pelo sorriso pequeno que ele abriu, eu simplesmente
soube que ele não tinha muito tempo. Quando os guardas nos empurram em
direção à frente do poderoso conselho de anciões e do rei, eu sabia que
também seríamos julgados pelas nossas transgressões, mas naquele
momento nada mais importava além da Willow.
Torment ainda está com as mãos na minha fêmea. A minha ira me
consome para arrancar as suas mãos dela, e ele percebe meu olhar que lhe
promete a morte mais lenta e dolorosa de todas. O desgraçado apenas ri e
faz questão de segurar o cordão cheio de presas ao redor do seu pescoço e
balançar para mim.
As presas dos meus pais estão naquele cordão, assim como de muitos
outros lobos e eu sei disso porque ele fez questão de me contar quando
ainda era pequeno e vim morar em Symes. Desvio meus olhos dele logo
que Raze dá um passo à frente, seus olhos presos em Bayron.

— Solte a minha companheira, assim como a minha alcateia. — Raze


declara, mas Bayron se mantém quieto, seus olhos focados em Beau, a
quem ele tanto odeia. — Não quebramos lei alguma. Esse julgamento é
errado e você sabe disso.

As pessoas exclamam surpresas pela forma com que Raze fala com o
rei deles. Eu mantenho meus olhos atentos a Willow e a Raze, pronto para
intervir caso seja necessário.

— Sua companheira é uma Calla! — Torment interfere, fazendo os


olhos de Raze se prenderem nele. — Ela é uma híbrida, o cheiro mestiço
dela é uma desonra para todos nós.

Me empertigo quando vejo Willow baixar a cabeça. Sua dor é visível


para mim, o que me faz tentar ir até ela, mas os guardas de Bayron puxam
as correntes, me obrigando a ficar no lugar.

— Sim, ela é uma Calla, assim como também é uma híbrida poderosa.
— Raze afirma, e abre um sorriso, completando: — Não é à toa que ela é a
Receptáculo de poder.
Arregalo os olhos por Raze dar algo que os anciões poderão usar para
justificar matá-la, Deon fica agitando, tentando se livrar das correntes e
Raze nos olha pedindo com o olhar para confiar nele. Fico parado
assimilando sua decisão, que pode custar a vida da nossa companheira caso
algo dê errado, mas logo o entendimento do porquê ele fez isso fica claro
para mim.

— A Receptáculo? — escuto alguns sussurros, que veem em sua


grande maioria dos seres que estão sentados assistindo ao julgamento,
apenas alguns anciões ficam surpresos com a revelação de Raze.

— Ela é a Receptáculo que irá trazer a Nova Era aos seres mágicos?
— Torment pergunta e empurra a Willow para mais perto dos outros
anciões. — Olhem para ela, acreditam mesmo na mentira vinda de um
companheiro desesperado? — muitos não são ouvidos. — Ela é uma Calla.
O quanto poderia o destino ser cruel para escolher logo ela para nos trazer a
Nova Era?

A desconfiança que Torment traz, faz todos rechaçarem a ideia de que


a Willow possa ser a Receptáculo no mesmo segundo. Ele puxa uma lança
de estanho das mãos de um dos guardas, e a enfia com força na sua barriga,
no mesmo segundo Beau cai de joelhos.

Por alguns milésimos de segundos, um silêncio absoluto recai sobre o


salão. Mal sinto meu coração bater diante do que isso significa, prendo a
respiração me concentrando nos batimentos de Beau, meus olhos queimam
quando lembro que não posso usar a minha audição de lobo para saber se
ele está bem.

Quando percebo a intenção de Torment ao levantar novamente a


lança, luto contra as correntes. Preciso impedi-lo, porque se ele usar a lança
mais uma vez contra a Willow, eu sei que Beau não irá resistir. Entretanto,
antes que Torment conclua seu ataque covarde, Bayron se levanta e usando
sua velocidade de vampiro pega Beau no colo, sumindo rapidamente do
salão. Os outros dois irmãos Barack também usam a sua velocidade de
vampiro sumindo tão rápido quanto o irmão.

Todos começam a sussurrar pela atitude do rei e de seus irmãos, mas


fico concentrado em Willow, dizendo a ela com os meus olhos que tudo
acabará bem. Cego de ódio por tudo que está acontecendo, luto mais uma
vez contra as correntes, as forçando o máximo que posso e estranho quando
vejo uma magia reluzir nas correntes, as enfraquecendo, procuro de onde
aquela magia vem, e vejo Kai acenar para mim, permitindo que eu escape e
me transforme em lobo.

Antes que algum feiticeiro possa me parar, já estou pulando sobre


Torment, o mordendo e jogando para longe de Willow. Escuto o grito de
Deon e Raze, mas não paro. Mordo e enfio minhas garras nele, querendo
rasgar ele de dentro para fora. Fazê-lo pagar por tudo de ruim que já fez.

— Fiquem de fora, ele é meu! — Torment ordena aos guardas que


estavam vindo na minha direção.

Ele se transforma em lobo e pula em mim, porém sou ágil em desviar,


o pegando por trás e fincando minhas garras nas suas costas. Ele rosna de
dor, mas rapidamente se recupera, cravando suas presas no meu pescoço.
Tento me livrar dele, contudo, não consigo. Escuto os gritos desesperados
de Willow, e meu lobo fica ainda mais furioso. Nossa companheira não
deveria estar passando por isso.

— Por favor, façam alguma coisa! Ele vai matá-lo! — escuto seu
grito, sinto sua dor e isso me dá forças para me livrar de Torment.
Me afasto um pouco dele, respirando com dificuldades, meu pescoço
está sangrando e minhas costelas estão fraturadas. Olho na direção dos
meus amigos e vejo o desespero de Deon, a ordem de Raze para eu parar,
mas é ao olhar para a Willow, que eu sei que não posso parar, não até todos
estarem seguros, principalmente ela.

Uivo para eles, e vou em direção a Torment. Ele precisa morrer, essa
é a única certeza que tenho. Quando salto sobre ele, Torment age rápido e
volta para sua forma humana, cravando a lança de estanho, que estava no
chão, no meu peito, acertando em cheio o meu coração. Arregalo os olhos
pego de surpresa, e os milésimos de segundos que me restam, me dão
tempo apenas para olhar para a Willow e morrer com sua imagem na minha
mente e coração.

Morrer não dói, o que dói é partir sabendo que eu não tive tempo de
dizer adeus. Eu não sabia quantos beijos um olhar podia dar, mas eu a
beijei muitas vezes enquanto meus olhos se mantiveram nos seus.
31
Willow
Sinto meu peito doer, o sofrimento de ver os olhos abertos e sem vida
de Griffin, fazem meu interior chorar e gritar. Uma parte minha luta para
me fazer acreditar que tudo não passa de um pesadelo, que quando eu
acordar ainda terei seus olhos doces e gentis me encantando enquanto seu
sorriso faz meu coração sorrir.

No entanto, a angústia e revolta que se apossa do meu interior, me faz


curvar de dor e gritar desolada por ter um companheiro arrancado de mim
sem nenhuma piedade, sem nenhuma misericórdia.

Meu doce Griffin.


Quando Torment puxa a lança do peito do meu companheiro, ele sorri
vitorioso, fazendo-me ficar de pé, fazendo uma energia desconhecida
aquecer meu interior, dominado tudo, se alastrando por cada fibra do meu
ser, fazendo-me tornar consciente daquele poder. Um poder que não vem da
minha loba, mas de outro lugar.

Assim que Griffin volta a sua forma humana, meus olhos se prendem
na ferida exposta do seu peito, onde seu coração batia ainda pouco, onde a
marca da minha reivindicação ficava. Contudo, eu não a vejo mais. Eu o
perdi. Essa constatação me inflama, me nocauteia, me mata.
Torment vibra, tocando nele como se tivesse permissão para isso.
Uma parte minha, que até então, eu não conhecia, rasga meu interior para
encontrar sua liberdade, incendiando minhas veias, fazendo meu corpo
queimar, fazendo as correntes ao redor dos meus pulsos e tornozelos irem
ao chão.
O vestido se torna cinzas em segundos assim que meu corpo se torna
uma chama viva, uma bola de fogo de destruição, que tem um único alvo.
Quando meus olhos focam em Torment, eu consigo ver claramente a magia
sombria que o envolve como uma capa, meus olhos percorrem essa magia e
a vejo ao redor de várias pessoas que olham para mim de olhos arregalados.

Fico alarmada quando vejo essa magia antiga e sombria ao redor de


Raze e, no mesmo instante, meu interior protesta querendo
desesperadamente protegê-lo, querendo fazer por ele o que não pude fazer
por Griffin. Sinto meus olhos queimarem pelas novas lágrimas, ao mesmo
tempo em que meu coração continua a sangrar pela sua perda. Eu quero
deitar ao seu lado e me manter quieta, chorando sua morte, contudo, sei que
não posso.

Meus instintos pedem que eu absorva toda a magia sombria que está
em Raze, assim como em muitos que estão no salão, e assim eu faço.
Levanto meu braço na direção de Raze e chamo a magia sombria para mim,
e ela vem, forte, poderosa e repugnante. Cada linha de memória que ela
modificou na mente do meu companheiro se torna clara diante dos meus
olhos, assim como nos de Raze, que fica abalado com o que ela revela, e na
de todos que estão no salão, pois faço questão de compartilhá-la em suas
mentes:

Seus pais sendo caçados por Torment e outro homem que não
reconheço. Os dois sendo emboscados numa cabana e depois sendo mortos
da forma mais cruel possível. Quando Raze chega na cabana, pega
Torment desprevenido e, por isso, Torment ao invés de matá-lo, manipula
sua mente para ver o que ele quer.

E foi nesse dia que Raze começou a odiar e repudiar os humanos,


acreditando que eles foram os culpados pela morte dos seus pais, quando o
culpado sempre esteve aqui. Logo que me viro para Torment, continuo a
sorver a magia sombria que age como uma teia prendendo muitos nela.
Corto cada ligação, arrancando as pessoas que estão sob a influência dele há
anos. Noto as veias do meu braço ficarem pretas, mas não paro, apenas
continuo absorvendo aquela quantidade assustadora de magia das trevas.
Torment vem para cima de mim quando percebe o que estou fazendo,
porém é arremessado para longe pelo meu invólucro assim que tenta me
tocar. Quando sinto meu braço queimar, levanto o outro, e grito de pavor
assim que uma enxurrada de dor e desespero me atinge. É como se a magia
quisesse me contar uma história, uma história cheia de mortes e sofrimento,
e eu permito que ela conte, mas não apenas para mim, para todos também:

Há muitos anos, a senhora da casta dos feiticeiros da luz se


apaixonou por um lobo alfa e, por ele, ela estava disposta a ir contra tudo e
todos. Foi o que ela fez. Para viver ao seu lado ela virou as costas para a
casta dos feiticeiros da luz, renegando ser para eles a protetora da fonte da
magia da vida e portadora do conhecimento elemental dos feiticeiros.

Tudo o que ela queria era ficar com seu companheiro, o poderoso
alfa, Zander Calla. Juntos eles se tornaram muito poderosos, ela com sua
magia vinda da fonte de todos os feiticeiros da luz e ele com sua força
extraída dos seus poderosos lobos, mas isso fez com que outros seres
poderosos se unissem contra ambos devido ao tamanho poder que juntos
eles possuíam.

A guerra que se instalou por causa disso fez com que a senhora da
casta dos feiticeiros da luz, Allegra Roux, lançasse um feitiço poderoso
sobre a alcateia do seu companheiro. Tornando-os ainda mais poderosos,
fazendo deles lobos mais fortes e indestrutíveis. A pelagem cinza daqueles
lobos mudou para branca, e com isso eles se tornaram a temida alcateia
Calla. Lobos enormes e brancos que não tinham misericórdia de ninguém.

O que ninguém sabia, é que a magia de Allegra fez mais por Zander,
o transformando em metade bruxo das trevas depois que ambos selaram um
pacto. E quando iniciou a caçada por Zander, depois que o mesmo havia
matado Allegra dando-a como sacrifício para manter seu poder de bruxo.
Zander acessou a fonte de magia das trevas para conseguir remover sua
alma do seu corpo e transferi-la para outro corpo.

Para ter sucesso no seu plano, ele convenceu uma bruxa das trevas a
ajudá-lo, e assim Zander Calla transferiu sua alma para outro alfa. O
escolhido foi o honrado Torment Mallet, um alfa justo e muito querido pela
sua alcateia. Zander trancou a alma de Torment dentro do seu antigo corpo
e, quando entregou Torment para o conselho, garantiu que ele não pudesse
falar nada, cortando sua língua fora.

Torment sofreu e morreu calado, não podendo avisar a ninguém o


perigo que os cercava. Quando as coisas começaram a se acalmar depois
da queda dos Calla, Zander caçou e matou a bruxa que o havia ajudado.
Depois foi a vez do seu beta, Soren. Ele entregou Soren ao conselho para
ter o mesmo fim que Torment, garantindo assim que ninguém soubesse
quem ele realmente era.

O plano de Zander estava funcionando como ele esperava. Contudo,


quando a profecia de um receptáculo surgiu, ele sabia que precisava caçar
sua filha e matá-la, para que assim a profecia não acontecesse, já que a
receptáculo seria a sua neta.

Porque ao contrário do que todos sabiam, a profecia do receptáculo


era sobre a magia que não devia existir no mundo, e que um dia ela
voltaria a pertencer a seu lugar de origem. O nascimento do receptáculo
era para dar fim a ela e só alguém que descende de tal magia é capaz de
destruí-la ou absorvê-la sem ser destruído no processo.

Um grupo secreto, composto por alguns lobos, feiticeiros e magos,


sabiam sobre a verdadeira profecia, e eles haviam se unido para ajudar a
receptáculo quando ela nascesse, porque somente ela poderia dar fim a
uma magia que causou tanta destruição e dor.

No entanto, quando Zander soube do grupo secreto, ele caçou e


matou alguns dos seus membros, os outros que ele não matou, ele
manipulou usando do seu poder das trevas. O grupo acabou sendo
dissolvido, mas a esperança que um dia a receptáculo viesse para enfrentar
o Zander se manteve viva dentro deles, presa num lugar que Zander fez
questão de fazê-los esquecer.

Quando saio da miríade de sentimentos e sensações que a magia me


concedeu, eu apenas sei o que preciso fazer. Seguindo meus instintos, ergo
os meus braços acima da cabeça e fecho as palmas das minhas mãos,
recebendo uma quantidade maior daquela magia. Grito, choro, rosno, é
tanta dor, é tanta morte que fecho os olhos aceitando quem eu sou, deixando
que meu corpo se torne o que ele é: um receptáculo. Um lugar seguro para
aprisionar aquela magia tão antiga e poderosa.

Quando a última gama de magia me invade, abro os olhos e encaro o


homem, que me olha abalado, porque ele sabe que agora eu sei quem ele é,
assim como todos no salão. Todos sabemos o que ele fez por poder e todas
as transgressões que ele causou na busca incansável de se tornar o mais
poderoso de todos.

— Sabemos quem você é. — afirmo, indo até ele, que recua um passo
para trás. — Sabemos tudo o que você fez por um poder que custou a vida
de muitos, sabemos quantos inocentes você matou, e quantos você enganou.
Você podia estar escondido, mas não mais.
O poder reluz a minha volta, minha loba ainda se mantém chorando a
morte do seu companheiro, deixando que meu lado feiticeiro assuma,
deixando que meu poder de receptáculo faça aquilo que ela ainda não está
pronta para fazer: justiça.

— Cala a sua boca, você não sabe de nada. — rosna para mim, porém
ele sabe que não há nada mais que possa fazer.

Sua magia não funciona contra mim para ele querer manipular a
minha mente, como fez com a grande maioria que está dentro do salão. Ele
está prestes a se transformar em lobo, porém seguro a magia do espírito do
lobo que está dentro dele, não permitindo que esse homem tão cruel
continue fazendo o que está fazendo há tantos anos.

— Você aprisionou esse lobo inocente a sua alma sombria. — digo,


ouvindo o lobo chorar e rosnar.

Com todo o cuidado que posso, retiro a alma do lobo de dentro dele,
fazendo-o ir ao chão no mesmo segundo se contorcendo em dor. Sustento o
espírito do lobo nas minhas mãos, cuidando dele com amor, dando a esse
espírito o que ele sempre quis desde que perdeu sua metade humana, sua
verdadeira metade humana: liberdade.

— Agora você é livre. — sussurro para o espírito, o soltando para ir


para o mundo espiritual, onde minha magia sussurra para mim que todos os
espíritos de lobos vivem depois que morrem.

Volto minha atenção para o homem caído e ele abre um sorriso,


finalmente revelando quem ele realmente é. Ele se levanta do chão e joga
contra mim um feitiço, que bate contra meu invólucro, não me causando
nada. Seu rosto se contorce no mais puro ódio, agora ele sabe que não pode
contra mim, ainda mais por eu descender da mesma magia que a dele.

— Sua crueldade acaba hoje, Zander Calla. — digo, e alguns que


estão no salão ainda choram depois de ter visto a verdade que a magia lhes
mostrou, enquanto outros pedem o seu julgamento vindimar. Contudo, o
que eu estranho é eles continuarem parados, nenhum deles se mexeu depois
de descobrir tudo que Zander fez contra eles.

Estreito meus olhos, buscando de onde vem essa sensação familiar, e


é quando eu vejo a magia arroxeada e poderosa que mantém todos dentro
do salão presos nos seus lugares, não permitindo que eles se mexam. Franzo
a testa não entendendo o motivo daquilo, e quando eu sigo a fonte de tanto
poder, meus olhos param no homem de cabelos escuros, sentado entre os
anciões.
— Quem é você? — pergunto, e percebo os olhos do homem se
encherem de lágrimas, sua emoção me atinge, retorcendo o meu estômago
por parecer tão familiar.

— Ainda não. — murmura emocionado. — Apenas acabe com isso.


A sensação de um beijo na minha testa me invade, continuo a olhar
para o homem de cabelos escuros, porém, eu decido fazer o que ele disse:
acabar com isso. Volto meus olhos para Zander, que continua tentando
lançar um feitiço contra mim, mas sem sucesso.

— Acabou, Zander. — digo, chamando a sua magia de bruxo das


trevas.

Seus olhos se arregalam quando a sua magia me obedece, saindo dele


e vindo em minha direção. A aceito, sentindo meu corpo queimar, chorar. O
cansaço começa a me atingir, a perda de Griffin retornando ainda mais forte
dentro de mim. As lágrimas rolam pelo meu rosto e grito quando eu
englobo todo o poder de Zander dentro de mim. Dando finalmente o fim
que tantos anos de magia sombria causou a todos.

Caio de joelhos com tudo sendo demais para suportar, me arrasto pelo
chão e vou até Griffin, coloco sua cabeça no meu colo e finalmente fecho
seus olhos. Dentro de mim minha loba chora sua dor, a vontade de morrer
com o Griffin me domina, porque não posso viver sem uma parte de mim.
Levanto a cabeça e vejo nos olhos dos meus companheiros a mesma
vontade que a minha.

Morrer para quem sabe nos encontrarmos com o Griffin.


— Ele é de vocês. — murmuro para Raze e Deon, e movo minhas
mãos no ar, arrancando as correntes deles, dando a eles a justiça que Griffin
merece. — Façam Zander pagar por tudo.

Sinto a onda de fúria deles me atingir. Agora eles sabem a verdade


sobre os seus pais, sabem que eles faziam parte do grupo secreto em prol da
proteção do receptáculo, sabem que foi Zander quem matou os pais de
Raze, Griffin, Kaden e Kael, assim como ocasionou o afastamento dos pais
de Deon e Beau. Olho para os gêmeos e uso minha magia para soltá-los das
correntes.
— Procurem Beau, descubram se ele está bem. — peço, lembrando
do tanto de sangue que estava saindo dele.

Kaden e Kael olham para Raze que fala alguma coisa em suas mentes,
fazendo os dois assentirem e saírem do salão em suas formas de lobo indo
atrás dele. Quando volto a olhar para Raze e Deon vejo os olhos dos dois
cintilarem e seus lobos rosnando e uivando para mim.
— Por Griffin, pelos nossos pais, por todos. — Raze declara
mentalmente para mim e para Deon.

— Por Griffin, pelos nossos pais, por todos. — Deon concorda, e


ambos se transformam em lobos, indo para cima de Zander.

Com o corpo sem vida de Griffin no meu colo, eu choro, sentindo a


dor da sua perda me rasgar. Ela dói, ela me destrói. Junto minha testa à dele
e deixo toda a dor dentro de mim sair, preenchendo aquele salão com o meu
choro, fazendo que todos sintam a minha perda.

Dou um beijo nos seus lábios e deixo que minha loba assuma, e assim
que eu me transformo nela, uivo alto e forte, fazendo as estruturas do salão
protestarem, fazendo todos gemerem por sentir a minha dor.

A dor de perder uma parte da minha alma.


32
Raze
Poucas coisas foram capazes de me desestabilizar nos meus mais de
cento e cinquenta anos, e apenas uma havia sido decisiva para me fazer ser
quem eu sou: a morte dos meus pais. Quando cheguei naquela cabana que
costumava me encontrar com eles para visitarmos o mundo humano, onde
Zayn vivia, encontrei apenas os seus corpos sem vida.

Eles estavam cobertos de sangue, alguns dentes lhes faltavam, e eu


nos meus doze anos não entendi porque eles haviam sido mortos de forma
tão cruel. Tudo que vi e senti foi o cheiro de humanos impregnando aquela
cabana misturado com o cheiro do sangue deles. Um cheiro que nunca
esqueci.

O avô de Kaden e Kael, Galen, me explicou que meus pais morreram


nos protegendo dos humanos. Contudo, no instante que a Willow removeu a
venda que cobria meus olhos, eu me lembrei de tudo que realmente
aconteceu: eu chegando e vendo Torment, que agora sei que se sempre foi
Zander, junto de Galen os matando.

Anos odiando quem nunca teve culpa, enquanto os verdadeiros


culpados continuavam soltos. Eu não sei onde Galen está, depois de
expulsá-lo da alcateia, eu nunca mais soube dele, porém eu sei onde o
desgraçado do Zander está. Miro o homem que trouxe tanta desgraça e tudo
que vem na minha mente é ele retirando a lança do coração de Griffin.

Pensar no meu amigo traz uma sensação de sufocamento que não


passa e a sua morte rasga meu interior. Perder Griffin é perder uma metade
de mim. E eu sei que é o mesmo para Deon, e pior ainda para a Willow.
Sentimos e sofremos sua morte, mas ela logo passará quando nós três nos
unirmos a ele.

Eu rosno enfurecido e parto para cima de Zander, abocanhando um


lado do seu corpo e Deon o outro. Juntos, puxamos com força, destroçando
Zander com facilidade, enquanto seus gritos preenchem o salão. Reduzindo-
o ao que ele é: nada.

Uivo alto e forte assim que a cabeça de Zander rola para longe do seu
corpo, finalmente a justiça por tudo que ele fez chegou. No entanto, aquilo
não ameniza toda dor que ele causou. Quando me afasto do que restou do
seu corpo, olho para Willow, que está na sua forma de loba chorando pela
perda do seu companheiro.

Sinto a sua dor e isso me rasga, pois estou me sentindo tão perdido
quanto ela. As emoções de Deon estão ainda mais bagunçadas, ainda mais
dolorosas, tornando o vínculo do nosso acasalamento uma tortura.

Caminho devagar e me aproximo dela com cuidado, percebo Deon


fazer o mesmo, e sem nos importar com quem assiste ou não. Deitamos por
cima da nossa companheira e juntos choramos a perda de Griffin. Ficamos
assim por não sei quanto tempo, tudo à nossa volta se tornando irrelevante a
cada segundo que a compreensão de que Griffin morreu fica mais real
dentro de nós.

Uma comoção chama minha atenção e por esse motivo levanto minha
cabeça, vendo muitas pessoas apontando para Kalissa, a irmã gêmea de Kai
Basset, a senhora da casta das mensageiras da morte. Meu coração acelera
com o entendimento do que isso representa.

— Ressuscite-o Kalissa, a Receptáculo nos salvou de Zander, ela


merece ter seu companheiro de volta! — alguém grita, o que me faz
levantar e rosnar para Kalissa, exigindo que ela faça isso, exigindo que ela
traga de volta o Griffin.

Percebo muitos anciões confusos, alguns se mantém calados, outros


partiram em algum momento. Deon e Willow continuam sobre o corpo de
Griffin, sem se darem conta que há grandes chances de ele voltar para nós.
Vendo tanta dor, decido empurrar a minha para o mais fundo dentro de mim
e lutar pela felicidade da minha companheira, pela felicidade da minha
alcateia.

Volto para minha forma humana e me ajoelho em frente a Kalissa,


pronto para implorar se preciso for.

— Por favor, traga-o de volta. — sussurro, a voz muito embargada


para soar mais alta. — Ao longo das nossas vidas perdemos muito e
sofremos tanto, que agora me pergunto, por que perpetuar esse ciclo? —
indago, olhando diretamente para seu rosto. — Se tem alguém que pode
fazer desse dia tão triste, voltar a ser feliz, esse alguém é você, Kalissa.

Percebo ela negar com a cabeça, e o que ainda restava inteiro dentro
de mim se parte de vez. Retorno meu olhar para Willow e Deon, e sinto a
certeza deles em se unir a Griffin ainda mais definida em suas mentes e
corações. Dou as costas a Kalissa, pronto para me transformar em lobo e me
juntar a eles, mas a voz dela me para:

— Eu não posso... Pois não consigo. — volto a olhar para ela e noto a
sua aflição. — Eu só posso ressuscitar almas que tenham assuntos
inacabados, e ele não tem, porque aceitou seu destino quando morreu. — eu
quase rio da sua fala.

— Ele tinha um assunto inacabado sim. — digo, olhando rapidamente


para Willow em sua forma de loba e voltando a olhar para Kalissa. — Ser
feliz.

Me transformo em lobo e volto para Willow e Deon que precisam de


mim, assim como eu preciso desesperadamente deles. Passo minha cabeça
na de Willow, e repito o mesmo gesto em Deon. Querendo que eles sintam
que independente do que acontecer ou da decisão que tomarem, eu vou
estar com eles. Pois somos um.

— Eu... Eu... Não posso viver sem... Ele. — Willow diz através do
nosso vínculo. — Só de... Pensar que não o verei mais, eu...

Sou golpeado fortemente por sua dor. As emoções dela me ferindo


ainda mais. Eu rosno inconformado, não aceitando que as nossas vidas
sejam sempre marcadas por tragédias e perdas.

— Levante-se, minha filha. — A voz rouca ao nosso lado, me faz


levantar rapidamente, querendo proteger minha companheira de mais dor.

Um homem alto e de cabelos escuros está parado na minha frente. O


reconheço no mesmo segundo, lembro-me de quando a Willow questionou
quem era ele. Ele me olha com respeito, mas sua atenção está na minha loba
que continua a choramingar e uivar baixinho.

— Me deixe lhe dar a felicidade que merece. — rosno, não deixando-


o que se aproxime, muito menos que toque nela. — Tudo agora será
diferente. — ele continua a falar com a Willow, mas ela continua perdida
demais na sua dor. — Chega de segredos, chega de sofrimento. Agora é o
momento da Nova Era surgir. — dito isso, o homem levanta uma mão a
passando em frente ao rosto, revelando outra imagem diante dos meus
olhos.

Um homem ruivo e de olhos verdes.


Lembro-me dele no mesmo instante, recordando-me das lembranças
que Willow compartilhou conosco dos sonhos de alma que teve com Anyka
Calla... Esse é o seu pai, Alaric de Zafar.
33
Willow
— Me deixe lhe dar a felicidade que merece. — escuto uma voz falar
comigo, mas não quero dar ouvido a ela, tudo que quero é ficar aqui com
Griffin e fingir que nada disso está acontecendo. — Tudo agora será
diferente. Chega de segredos, chega de sofrimento. Agora é o momento da
Nova Era surgir.

Sinto meu interior aquecer, fazendo-me ficar consciente da sensação


tão familiar, uma magia que meu corpo reconhece. Me levanto e olho para o
homem em pé e sinto meu coração sobrecarregado de tanta dor aliviar por
alguns segundos vendo quem está diante de mim com um sorriso brilhante.

— Aurora, minha Aurora. — meu pai vem até mim, e toca meu pelo,
beijando-me na testa.

A emoção que percorre meu corpo é um bálsamo, contudo, de efeito


rápido. Quando ele se afasta, mantém seu sorriso. Tento ficar feliz, mas não
consigo. Vejo uma mulher morena se aproximando de nós e, quando meu
pai a vê, toca sua mão a puxando para ele, com a outra mão ele toca no seu
rosto, removendo a magia que esconde sua verdadeira identidade. Meus
olhos ardem e deixo que as lágrimas caiam livremente, quando vejo meus
pais biológicos diante de mim, bem e vivos.

Minha mãe me abraça, e sinto seu amor me envolver e me confortar.


Eu recebo seu carinho de coração aberto, mesmo que ele não tenha parado
de sangrar desde que Griffin foi morto. Logo que ela se afasta de mim,
volto a minha forma humana e, quando os olhos dos meus pais caem sobre
mim, vejo a dor refletida em seus olhos.
— Tudo vai ficar bem, meu amor. — minha mãe fala, afagando meu
rosto como sempre fez quando eu sonhava com ela.

— Não, não vai. — murmuro quebrada demais.

— Confie em nós. — meu pai diz, e move sua mão envolvendo meu
corpo num manto quente e confortável. — É apenas o começo da sua
felicidade.

Meu pai olha para Griffin e se aproxima. Deon que se mantém no


mesmo lugar, rosna assim que percebe a intenção do meu pai em tocar em
Griffin. Meu pai olha para mim me pedindo permissão e, por um milésimo
de segundo, eu temo em deixar a esperança preencher meu coração e no fim
nada mudar. Contudo, eu faria absolutamente qualquer coisa para ter meu
doce companheiro de volta

— Deixe-o, Deon. — peço, e meu companheiro tempestuoso, que


está com o coração quebrado pela perda do irmão de criação, se levanta
vindo para meu lado, voltando para sua forma humana e envolvendo suas
mãos ao redor do meu corpo de forma protetiva.

Meu pai se abaixa ao lado do corpo de Griffin e toca onde ele foi
atingido por Zander. Testemunho uma magia poderosa que se infiltra na
ferida dele restaurando seu corpo instantaneamente. O tempo parece ter
parado, e fico com a respiração presa, orando silenciosamente que o
impossível se torne possível, porque não posso viver num mundo que não
tenha meus três companheiros comigo.

Minha mãe fica ao meu lado sorrindo para mim, fazendo a esperança
dentro de mim florescer. Raze que estava um pouco afastado se aproxima
envolvendo suas mãos junto das de Deon, ambos unidos pela expectativa de
termos Griffin de volta.
Estou tão focada na oração que estou fazendo que começo a chorar
sem parar assim que um som sutil vem do peito de Griffin, ganhando força
a cada segundo, um dos cheiros que tanto amo preenche o ar a minha volta,
me fazendo ir ao chão para senti-lo de perto.

Paro ao lado do meu pai que sorri olhando para mim, e se afasta
deixando que eu me jogue em cima de Griffin, que ainda continua
desacordado, mas é o som que vem do seu peito que me faz ter certeza que
ele voltou para mim. Encosto meu ouvido no seu peito, ouvindo sem cansar
as batidas do seu coração. O cheiro de laranjeira volta a se infiltrar no meu
ser, em cada parte do meu corpo, mente e coração.

— Griffin. — digo seu nome tomada de emoção como nunca senti. —


Você voltou para mim. — murmuro, e beijo a marca de reivindicação que
retorna para seu peito.

Levanto a cabeça vendo Raze e Deon sorrirem para mim, seus olhos
estão tomados de tantas emoções que transbordam rolando por seus rostos.
Quando volto a olhar para Griffin, noto uma mecha dos seus cabelos
totalmente branca, viro-me para meu pai, que rapidamente me explica:

— Ele foi marcado pela magia. Para trazê-lo de volta, eu precisei usar
muita magia, eu precisei acessar o núcleo dela. — seus olhos focam em
mim, quando ele murmura: — Mas não se preocupe, eu fiz isso com a
benção da protetora da fonte da magia. — ele percebe minha confusão e
completa: — Você, é a protetora, quando você ascendeu como feiticeira
entendeu como a magia funciona, como ela conta a história por trás dos
feitiços, mas você tem muito ainda para aprender, assim como precisamos
conversar sobre muitas outras coisas. — ele olha para Griffin e sorri. —
Mas não agora.
Estou prestes a perguntar mais, contudo, escuto um resmungo vir de
Griffin, e tudo a minha volta deixa de ser importante, neste momento tudo
se resume a Griffin, que quando abre seus olhos traz de volta o ar para meus
pulmões e um alívio para minha alma.

— Willow? — diz rouco meu nome e choro, puxando-o para mim e


tomando seus lábios em pura necessidade.

Griffin retribui meu beijo, tocando minha língua com a sua devagar,
revivendo tudo dentro de mim, cada mínima coisa que morreu junto com
ele. Escuto algumas pessoas comemorarem, mas não presto atenção nelas,
assim que paro de beijar Griffin, olho para Raze e Deon, que se aproximam
de nós, ambos envolvem seus braços ao redor de mim e de Griffin e suspiro
sabendo que tudo ficará bem agora que estamos juntos.
34
Deon
Morrer pode durar segundos, minutos, horas, dias e assim por diante.
No entanto, para mim, a morte durou tortuosos minutos, os minutos nos
quais eu lutava com as correntes para me soltar e salvar o Griffin da morte e
proteger a Willow com minha vida se preciso fosse. Mesmo estando com os
braços ao redor deles, sabendo que agora eles estão bem, que tudo acabou,
eu ainda não consigo voltar a respirar. Não até saber do estado do Beau, não
até meu coração voltar a bater.
Respiro devagar tentando encher meus pulmões de ar, porém não
consigo, ao menos ainda não. O medo que senti me paralisou, me
destroçou, e eu não sei quanto tempo vai levar para eu esquecer a imagem
de Griffin morto e a Willow gritando de dor por sua morte.

Continuo dizendo a mim mesmo repetidas vezes que eles estão bem,
que eles estão seguros, mas isso não arranca de mim o meu pavor, continuo
com medo de piscar e tudo mudar diante dos meus olhos. Percebo minhas
mãos tremerem e controlo minha respiração ao mesmo tempo em que tento
controlar as batidas do meu coração, que estão retornando furiosas.

A dor que me golpeou quando Griffin foi morto por Zander, me fez
reviver tudo que passei e senti como quando aconteceu com Calina, apenas
para chegar à conclusão de que aquela dor não era nada perto da que senti
vendo ele ser morto e eu não podendo fazer nada além de assistir.

Olhar para meu irmão, porque é isso que Griffin é para mim mesmo
não tendo o mesmo sangue que o meu, morto me destruiu, assim como ver
Beau sangrando quase à beira da morte. Eles são os meus irmãos, todos
eles: Raze, Griffin, Kaden, Kael e Beau. Sermos uma alcateia não construiu
o laço forte e inquebrável que temos, o que fez isso acontecer, foi termos
nos aceitado como irmãos, foi nós termos nos apoiado e decidirmos sermos
uma família quando tudo mudou e éramos apenas nós.
— Encontramos o Beau. — A voz de Kaden surge na minha mente, e
fico em alerta no mesmo segundo.

— Como ele está? — Raze pergunta, e vendo sua expressão ele teme
o mesmo que eu.

Que Beau não resistiu ao envenenamento de estanho, ou que Bayrou


fez o que sempre quis quando vivíamos em Symes, matá-lo. O que me faz
voltar a pensar no modo que ele pegou Beau e saiu apressado. Eu não
entendi o porquê ele fez isso e continuo não entendendo.

— Não chegamos a vê-lo, os irmãos de Bayron, Gan e Vis, não nos


deixaram entrar no quarto. — Kaden responde, e me preparo para ir até
eles, os irmãos Barack não vão me impedir de chegar até o meu amigo. —
Mas garantiram que ele está bem... E... Bom, vocês ainda não sentiram o
que houve pelo nosso vínculo de alcateia? — completa, e não entendo ao
que ele se refere.

— Não sentimos o quê? — indago nervoso.

Olho para Raze que franze a testa, Griffin faz o mesmo. Concluo que
estão fazendo isso agora mesmo, sentindo o nosso vínculo de alcateia, e
decido fazer o mesmo. Sou pego de surpresa assim que sinto o vínculo de
acasalamento forte entre Beau e...

— Bayron se acasalou com o Beau? — Griffin pergunta surpreso,


fazendo Willow estreitar os olhos entre nós que continuamos conversando
através do nosso vínculo de alcateia.
Nossa companheira nos olha preocupada. Ver nos seus olhos o medo
de que algo ruim tenha acontecido, faz meu coração bater rápido demais,
porque eu não gosto de ver isso refletido no azul mais brilhante que são
suas íris.

— Aconteceu alguma coisa? — pergunta aflita e troco um olhar com


Raze e Griffin.

— Não, é apenas Kaden e Kael nos dizendo que Beau está bem. —
respondo e seus olhos acendem, intensificando a cor que mais amo.

— Ainda bem. — o sorriso que ela abre me faz prometer que não
importa o que aconteça, eu sempre darei o meu melhor para fazê-la sorrir.

Estou distraído olhando para seu rosto tomado por alívio que não
percebo uma movimentação ao meu lado e assim que viro meu rosto
encontro meus pais em pé. Minha mãe está com o rosto molhado de
lágrimas e meu pai está ao seu lado, e ele a ampara assim que ela se joga de
joelhos diante de mim e Griffin.

— Me perdoem, meus filhos, por favor! Me perdoem. — implora e


assistir seu desespero me faz segurar nos seus braços, colocando-a de pé.

— Não há nada para perdoar. — digo, puxando-a para um abraço que


eu esperei anos para acontecer.

Griffin se afasta de Willow e abraça a nossa mãe, que continua


implorando por perdão, logo nosso pai está com seus braços ao redor de nós
e como minha mãe, ele pede perdão por tudo. Não passou um dia nesses
mais de dez anos que eu não quisesse reencontrá-los, que eu não desejasse
que voltássemos a ser uma família e sabendo que foi Zander que fez eles se
afastarem de nós, eu compreendi que será questão de tempo para toda a
mágoa ficar no passado, afinal aqueles que nos negaram não eram os nossos
pais.

***

Quando entramos em casa respiro aliviado por finalmente termos


saído de Symes, por mais que agora Symes esteja livre de todo mal de
Zander, lá ainda é o lugar que guarda as minhas piores lembranças, e eu vou
evitar ao máximo ter que voltar para lá. A cada segundo que passei naquele
salão a morte de Griffin foi revivida na minha mente.

O que me ajudou a suportar foi saber que ele está vivo e bem, assim
como Beau, que depois que despertou, nos avisou mentalmente que passará
um tempo em Symes. Ele não entrou em detalhes sobre seu acasalamento
com Bayron, mas garantiu que nos contaria sobre tudo pessoalmente e em
breve.

Antes de virmos embora nos encontramos rapidamente com o


Bayron, que nos absolveu de todas as acusações, dizendo que estávamos
livres para ir, ou morar novamente em Symes caso fosse da nossa vontade,
o que negamos no mesmo instante. Sanches é onde queremos continuar
morando.

Quando estávamos prestes a passar pelo portal que o pai da Willow


criou, eu vi o desejo nos olhos da minha companheira de estreitar os laços
com seus pais biológicos, assim como Raze e Griffin também perceberam,
por esse motivo Raze estendeu um convite a eles, dizendo que são bem-
vindos na nossa casa a hora que desejarem. O mesmo que Raze fez aos
meus pais, contudo, eles disseram que ainda não estão prontos para
conviver conosco depois de tudo.
Eu os entendi, e Griffin também, precisamos respeitar o espaço que
eles querem, assim como eu acredito que precisamos de um tempo para
superar tudo que aconteceu no dia de hoje.

Quando Raze passa pela porta do seu quarto, carregando Willow no


colo, Griffin e eu seguimos logo atrás, nossa companheira precisa de
cuidado e muito amor. Sinto o quanto sua loba ficou fragilizada depois de
tudo e precisamos mostrar a ela que estamos ao seu lado para o que precisar
e que não vamos a lugar nenhum.

Raze vai em direção ao banheiro e vamos juntos. Ele a coloca no


chão, a empurrando gentilmente para mim, que a puxo para os meus braços,
abraçando-a e beijando sua testa, olhos, bochechas e boca.

— Vamos cuidar de você, companheira. — digo, despindo o manto


que ela está usando.

Troco um olhar com Griffin e Raze, assim que um cheiro maravilhoso


começa a permear o ar à nossa volta. Meu lobo rosna pelo aroma
arrebatador que nossa fêmea está exalando.

— Estão sentindo? — Griffin pergunta, mas nem precisa de uma


resposta, logo que Willow nos olha seus olhos estão brilhando, confirmando
que nossa companheira acaba de entrar no cio.

Acredito que todas as emoções de hoje, acionou o cio da sua loba, que
quer estar conectada com seus companheiros do único modo que seu lado
animal precisa e deseja neste momento, através do sexo, através da certeza
de que nossa relação gerará filhotes, dando a ela uma família, dando a ela
uma extensão dos seus machos.

— Meus. — geme, buscando meu pau, que começa a endurecer por


causa do seu cheiro que cada vez se torna mais viciante.
Suas mãos estimulam meu membro e em segundos estou pulsando
nas suas palmas. Suas garras aparecem e ela as crava nas minhas coxas,
provocando meu lobo, incitando em mim o frenesi. Eu rosno quando me
olha nos olhos ao mesmo tempo em que alisa minhas bolas, me deixando
louco para estar dentro da sua boceta que aposto estar quente, molhada e
pronta.

Raze liga o chuveiro e puxa Willow, mas nossa companheira protesta


rosnando, não querendo soltar meu pau, e por isso caminho com ela,
querendo lavar seu corpo, tirar qualquer marca do que aconteceu em Symes
da sua pele.

Enquanto eu ensaboo seu corpo, ela aproveita para tomar meus lábios
nos seus. Seu beijo tem pressa, tem fome, e logo Raze e Griffin se juntam a
nós, tornando o box menor. Willow para de me beijar e para agarrar os
cabelos de Raze, fazendo-o beijá-la, Griffin e eu nos ocupamos de lavá-la,
mas seu cheiro torna nosso trabalho difícil, pois Willow está deliciosa e
muito apetitosa para toda a fome que estou sentindo dela.

Quando ela olha para Griffin e Raze seus olhos cintilam mais, e
somos atingidos por uma onda de luxúria, que no mesmo segundo faz
nossos lobos rosnarem. Minhas garras começam a crescer enquanto meu
pau incha ainda mais, a ponta baba melaço de frenesi, o que eu já ouvi dizer
que deixa a fêmea louca e faminta, já que acalma o desejo desenfreado que
sua loba fica sentindo.

— Willow, vamos terminar de lhe dar banho e... — Raze é


interrompido quando uma onda ainda mais forte de luxúria nos atinge.

— Eu preciso de vocês. — murmura nos seduzindo.


O cheiro da sua excitação domina o banheiro, fecho os olhos lutando
para controlar meu lobo, mas fracasso quando ela compartilha seu desejo
conosco, chamando seus companheiros para satisfazê-la. Nossa fêmea quer
sexo, mas não qualquer tipo de sexo. Sua loba está exigindo o sexo
selvagem, ela quer que nós a montemos duro, forte e rápido.

— Willow. — gemo, agarrando seus cabelos e fazendo-a me encarar.


— Queremos apenas cuidar de você, depois de tudo que passou precisa
descansar. — digo, mas ela parece não ouvir quando compartilha na nossa
mente seu desejo de ser pega por trás.

— Eu não preciso descansar. Eu preciso de vocês. — rosna


animalesca.

Tento lutar contra minha vontade de tê-la, mas perco o restante do


meu controle quando seu cheiro de cereja fica mais forte e mais inebriante.
Rosno querendo minha companheira, querendo estar dentro dela. O cheiro
do seus feromônios são irresistíveis, eu quero lambê-la, montá-la e fazer
tudo o que eu quiser.

Raze e Griffin pensam o mesmo que eu, já que Raze desliga o


chuveiro e pega Willow no colo a levando para o quarto. Caminhamos logo
atrás e fico louco quando Raze a joga na cama e ela abre as pernas, nos
deixando ver o quanto está pronta para nós.

Meu lobo uiva dentro de mim rendido e encantado por ela. Ela sorri e
senta na beirada da cama nos chamando. Griffin vai até ela, e beija sua
boca, meu pau baba ainda mais gostando de ver a expressão de prazer que
ela tem no rosto. Ela continua a beijar Griffin enquanto suas mãos
acariciam eu e Raze, manipulando nossos paus ao mesmo tempo.
Os olhos dela ficam mais azuis, brilhando de satisfação. A luxúria que
exala dela é forte demais para resistir. Minhas garras estão completamente
alongadas, meu pau está inchado e latejando. Preciso da minha fêmea
lambendo a essência que vaza pela glande do meu membro.
— Willow. — rosno seu nome.

Meu lado selvagem a quer desesperadamente. Ela para de me


acariciar e passa a acariciar Raze e Griffin, sua boca se aproxima da minha
e seguro na sua nuca consumindo sua boca no mesmo segundo. Sua língua
brinca com a minha, fazendo o anseio de tê-la crescer mais e mais.
— Preciso de você. — afirmo e ela para de me beijar. Seus olhos
cintilam de forma espetacular e em poucos segundos o frenesi se torna
desesperador no meu interior.

A coloco de pé e a puxo para meus braços, agarro um seio e começo a


sugar o seu mamilo com força, com fome, logo solto o bico muito vermelho
e assisto ela gemer quando Griffin agarra seu outro seio para fazer o
mesmo. Raze fica de joelhos levantando uma perna e enterrando seu rosto
entre suas coxas. O cheiro do seu cio fica mais forte, quase me colocando
de joelhos ao lado de Raze para saciar minha excitação nas suas dobras
encharcadas.
— Eu preciso... De vocês. — choraminga rebolando no rosto de Raze.

Willow mal consegue manter os olhos abertos. Seu aroma está me


deixando louco de tesão. Eu preciso estar dentro dela, me afundando
incontáveis vezes na sua boceta muito molhada e convidativa. Lambo seus
lábios, seu queixo e uso minha língua para explorar sua pele que está tão
quente. Engulo seu mamilo novamente e eu o sugo com força, fazendo-a
choramingar mais.
Nossos gemidos e rosnados ficam cada vez mais altos e selvagens. A
luxúria nos consumindo. Sinto a ardência no meu peito assim que Willow
usa suas garras para me marcar, e assim que ela vê o seu feito, o brilho nos
seus olhos é uma chama de devassidão.

A mistura dos nossos cheiros se torna um afrodisíaco, e sem


conseguir mais aguentar, seguro meu pau e o manipulo para cima e para
baixo, aliviando um pouco a excitação que me consome. Os olhos de
Willow focam na minha ereção inchada e melada, ela esfrega seus dedos na
glande molhando eles no melaço do meu pau para logo levá-los para sua
boca.

— Tão gostoso. — geme e meu pau pulsa produzindo mais melaço de


frenesi para ela.
Willow olha para nossos paus e seu sentimento de satisfação reflete
na nossa ligação de acasalamento. Ela gosta de ver seus machos duros e
prontos para ela. Uma carícia é feita através do nosso vínculo de
acasalamento, e logo ela se ajoelha à nossa frente, contando nas nossas
mentes a sua intenção.

Matar sua fome de nós.

Ela sorri antes de segurar meu pau com uma mão e o de Griffin com a
outra, seus lábios não demoram a se fechar na minha glande, onde ela
começa a mamar devagar meu melaço, mas logo ela estabelece um ritmo,
sugando cada vez mais forte, bebendo de mim com sede e fome, quando ela
se dá por satisfeita faz o mesmo com o Griffin, e logo parte para Raze.

Sua expressão demonstra o puro deleite, bebendo dos seus machos


com anseio e, quando ela se afasta de Raze, seu rosto brilha com a mistura
dos nossos melaços. Nosso cheiro está nela fazendo o frenesi ficar mais
forte não somente em mim, mas neles também. A nossa fêmea está nos
deixando loucos, e saber que ela está com o nosso cheiro aumenta o desejo
de vê-la coberta do nosso gozo.
— Nossa para montarmos! — rosno animalesco e tudo que Willow
faz é se posicionar de quatro na cama e nos olhar por cima dos ombros.

Nos chamando, nos atiçando a tomá-la.


Sua boceta está toda melada, o cheiro do seu cio está deixando meu
lobo ensandecido. Sinto meu frenesi aumentar e não consigo pensar em
mais nada que não seja em estar dentro dela, adorando seu corpo, enquanto
a faço minha incontáveis vezes. Sem pensar demais, eu me posiciono atrás
dela e coloco minha cabeça entre suas pernas, lambendo-a, degustando
lentamente o seu gosto.

Seguro nas bandas da sua bunda separando-as, deixando-a


completamente aberta para mim, passo minha língua entre elas, descendo
até seu clitóris e repito o mesmo caminho incontáveis vezes. Ter a nossa
fêmea a nossa mercê gemendo e se contorcendo, querendo os paus dos seus
machos faz o meu pau pulsar e melar ainda mais por ela.
— Willow! — rosno no seu ouvido, quero que ela saiba o que está
fazendo comigo.

Seguro meu pau e entro nela devagar, devido aos seus feromônios de
cio, meu membro está maior e mais grosso, é meu frenesi automaticamente
preparando meu corpo para fazer um filhote na minha companheira. Finco
minhas garras na sua cintura e estabeleço um ritmo que deixa nós dois
rosnando de prazer. O cheiro do seu cio fica mais forte, fazendo meu corpo
se tornar um escravo do seu desejo.
— Minha luz. — chamo ela de forma carinhosa, o que faz ela
choramingar e rebolar no meu pau.
Reviro os olhos quando o prazer se torna enlouquecedor e a fodo
duro, montando nela como um verdadeiro animal, seus rosnados ficam
ferozes, e quando não suporto mais segurar, gozo abundantemente dentro
dela. Willow me acompanha rosnando e rasgando o lençol com suas garras.
Ela continua a rebolar e abro meus olhos para prestigiar minha fêmea
prolongando nosso prazer. Abaixo dela percebo que uma poça do meu gozo
se formou. Sua boceta pequena demais para comportar toda a essência que
meu pau produziu dentro de si.

Assim que ela me olha por cima do ombro, contemplo seus olhos
brilhando incrivelmente. Seu sorriso aquece meu coração, fazendo-me
debruçar sobre ela e tomar seus lábios vermelhos nos meus. A beijo com
carinho e logo me retiro do seu interior devagar. Enquanto Raze se
posiciona atrás dela continuo a beijando, não sei quanto tempo o cio da
nossa fêmea irá durar, tudo que sei por ora é que estamos apenas
começando.
35
Willow
Abro meus olhos devagar, sinto meu corpo tão leve, que todos os
últimos acontecimentos parecem terem sido retirados de mim num passe de
mágica. Tudo se resumiu apenas aos meus companheiros, a forma que eles
me tomaram incontáveis vezes e o modo que eles cuidaram de mim a cada
vez que senti meu corpo arder querendo recomeçar tudo de novo.

Não me lembro muito, minha mente estava coberta de luxúria e tudo


que eu conseguia pensar era neles e nos seus paus dentro de mim. Minha
consciência só começou a retornar a mim nas últimas vezes que fizemos
sexo, o que me faz sentar na cama e olhar em volta à procura deles.

Ainda posso sentir os toques deles, assim como seus cheiros por todo
o meu corpo. Escuto a porta do quarto se abrir e foco minha atenção nela.
Raze entra com uma bandeja recheada de comida. Ele sorri para mim e se
senta na minha frente, seus olhos percorrem meu corpo acendendo dentro
de mim o fogo que eu pensei que eles houvessem apagado.

— Bom dia, meu farol.

Meu farol.

Sempre que escuto um apelido carinhoso vindo de um deles sinto meu


coração inchar. E o que mais eles têm feito é me encher de apelidos e
carinhos. Não sei quanto o meu coração vai aguentar sem explodir de amor
por eles.

— Bom dia... — será que devo? — meu lobão. — completo e sinto


meu rosto esquentar, porém assim que vejo o seu sorriso com uma
sobrancelha arqueada abro um sorriso também.
— Trouxe esse café da manhã para você começar a repor toda a
energia que você gastou. — diz e sinto meu rosto ficar ainda mais quente.

— Errr... — limpo a garganta, desviando meus olhos dos dele. —


Fizemos muito... Sexo, né? — escuto sua risada o que me faz voltar a olhá-
lo.

— Você estava no cio e normalmente dura dias até você começar a


voltar a si. — explica. — Deon, Griffin e eu começamos a voltar a nós há
quatro dias, mas você ainda queria mais de nós, por isso continuamos nos
revezando e compartilhando você, porque você sempre exigia dois de nós
para tomá-la.

— O quê?! — berro fazendo Deon e Griffin entrarem no quarto no


mesmo instante olhando de mim para Raze. — Estivemos fazendo sexo por
quatro dias inteiros?

Deon ri, sendo seguido por Griffin e Raze. Franzo minha testa não
entendendo o motivo, mas Raze faz questão de me explicar.

— Willow, seu cio durou uma semana.

Nego levantando da cama. Como assim meu cio durou uma semana?
Eu não lembro de ter passado tanto tempo assim. Tudo bem que minha
memória está um pouco afetada devido ao tanto de sexo que fizemos, ainda
assim, eu saberia se uma semana houvesse passado.

— Nosso frenesi começou a cessar há três dias, o que nos fez


suspeitar do porquê, mas só tivemos nossa confirmação nesta madrugada.

— Confirmação do quê? — pergunto olhando de um para o outro.

— Você não sente o cheiro deles? — Griffin pergunta com um sorriso


enorme no rosto.
Franzo a testa tentando juntar o que eles estão falando para chegar a
uma conclusão, contudo, eu não consigo chegar a conclusão nenhuma. Os
três continuam me olhando de forma afetuosa e uma dúvida começa a
crescer dentro de mim.

— Que... Que cheiro? — pergunto e Griffin olha para Raze que troca
um olhar com Deon para logo olhar para mim.

— O cheiro dos nossos filhotes. — Raze anuncia olhando para minha


barriga e a última coisa que vejo é ele correr na minha direção antes de tudo
ficar escuro.

***

Sinto um calor gostoso me aquecer, ao mesmo tempo em que o cheiro


de laranjeira está impregnado à minha volta. Sorrio sabendo que só pode
significar que Griffin está por perto. Suspirando e sentindo meu coração ser
tomado de amor abro meus olhos devagar e sou presenteada com a visão
linda de Griffin deitado ao meu lado me olhando.

— Está tudo bem? — pergunta, mas fico perdida na cor dos seus
olhos, no modo que me olha.

Depois de olhar para seus olhos abertos e sem vida, eu tenho a


necessidade de tocá-lo, de sentir sua pele quente sempre que posso, só para
garantir que ele está vivo e bem. E é o que faço, tocando-o, sentindo o calor
da sua pele nas minhas mãos.

Ele toca meu rosto, acariciando minha bochecha devagar, e em


seguida me dá um beijo casto nos lábios. O jeito carinhoso dele me faz ter
certeza de que não poderia viver sem isso, viver sem ele, assim como eu sei
que não posso viver sem o Raze ou o Deon.
— Tudo aconteceu rápido demais, intenso demais, desde que eu os
conheci. — digo dando vazão aos meus pensamentos. — Há um tempo, eu
era apenas uma humana, trabalhando no que eu amo e, em um único dia,
tudo mudou. — fecho os olhos, pensando no dia do meu aniversário, e
Griffin toca sua testa na minha.

— Eu imagino que tudo esteja sendo demais, e quero que saiba que
além de sermos seus companheiros, somos unidos, somos alcateia, somos
família. Vamos lidar com tudo. Confie em nós! Vamos cuidar de você e dos
nossos filhotes. — sua declaração faz a emoção por tudo que aconteceu
escorrer pelos meus olhos.

Sutilmente levo minha mão para meu ventre, e respiro fundo


buscando sentir algum cheiro, de princípio não sinto nada, mas logo o
cheiro fraco de menta chega até meu nariz, seguido dos cheiros de laranjeira
e capim-limão. Arregalo os olhos e fito Griffin, um sorriso se abre nos seus
lábios.

— Como? — pergunto sem acreditar que estou grávida de três bebês


de pais diferentes ao mesmo tempo.

— Seu cio e o nosso frenesi. — diz e eu franzo a testa sem entender.


— O frenesi do macho só acaba quando sua fêmea fica grávida. O frenesi
do Deon foi o primeiro a começar a cessar, o que significa que você
engravidou primeiro dele, Raze foi o segundo e eu o terceiro. — abro a
boca sem acreditar como isso é possível. — A diferença foi de horas.

Um sentimento novo começa a aquecer meu interior e levemente


acaricio minha barriga pensando nos meus bebês, pensando no futuro que
vou viver com os meus companheiros e filhos. Esse é apenas o início de
uma longa vida cheia de felicidade, amor e união.
36
Willow
Um tempo depois
Estou levando a travessa de salada para a mesa, já que Raze decidiu
dar um almoço para agradecer formalmente tudo que a alcateia de Zayn fez
quando nos apoiaram em Symes. Quando noto Laila cochichando com
Kael, enquanto ele guarda algumas notas de dólares no bolso da calça.
Sorrio vendo a interação de amizade que eles têm criado a cada dia, e fico
feliz por minha amiga estar fazendo novos amigos.

Depois que as coisas se acalmaram, chamei ela para vir me visitar e


contei tudo que aconteceu em Symes, e quando falei sobre a minha
gravidez, ela sorriu, me abraçou, e em seguida perguntou se toda vez que eu
engravidasse dos meus companheiros viria em ninhada. Eu não respondi,
porque eu mesma não sabia o que responder. Mas de qualquer forma, Raze,
Deon e Griffin me perguntaram se isso importava, e eu respondi que não.
Afinal, a única coisa que importa é a nossa felicidade.

Depois de tudo que passamos, eu só quero ser feliz com eles, gozando
de uma vida cheia de filhos, felicidade e amor. Por esse motivo, recusei o
pedido do rei de Symes, Bayron, de viver no reino sendo a Receptáculo e
portadora da fonte da magia. Eu posso ajudar todas as vezes que eles
precisarem, contudo, não posso viver lá quando o meu lugar é em Sanches
com a minha amiga e os meus companheiros.

O rei entendeu meu posicionamento e aceitou a minha recusa. Ele me


garantiu que algumas das leis serão revistas e mudadas, começando pelo
acasalamento entre outras castas de seres mágicos, ainda mais agora que ele
se acasalou com Beau e uma humana.
Pensar em Beau enche meu coração de amor e gratidão, eu nunca
imaginaria que o lobo que eu sonhava quando era pequena era meu protetor,
e que ele havia ligado sua vida a minha para me manter segura. Sou muito
feliz por tê-lo como um irmão, assim como Kaden e Kael, pois são o que
eles se tornaram para mim.

Busco meus companheiros com os olhos e sorrio vendo os três rindo e


conversando com Zayn e Elon. Quando Raze me contou tudo que Zayn
perdeu por causa de Allegra e Zander, meu coração foi tomado pela tristeza
e empatia pelo alfa que perdeu sua companheira e bebê, porém eu tive um
vislumbre do seu futuro, algo que ainda não sei se vi certo, mas devido aos
recentes acontecimentos, acredito fielmente que o que eu vi irá acontecer,
só não sei dizer quando.

Uma forte luz no canto do gramado chama atenção e todos olham


para ela, e logo um portal surge, Beau, Bayron e Rachel, são os primeiros a
passarem por ele, os três companheiros caminham na direção de Raze, e
fico encantada por ver a felicidade que os cerca.
Os próximos a passarem pelo portal são os pais de Deon e Griffin,
que caminham em direção a eles, os abraçando e os beijando. Deon e
Griffin os convidou a se juntarem à alcateia novamente, mas eles disseram
que ainda não estão prontos, não depois de tudo que eles fizeram a mando
da manipulação de Zander.

Assim que Nara e Ronan me veem seus rostos se iluminam, vindo até
mim no mesmo instante junto de Deon e Griffin. Quando Nara para na
minha frente, pede com os olhos para tocar na minha barriga e é claro que
permito, fazendo seu sorriso se tornar ainda maior no seu rosto.

— Como estão esses pequenos? — pergunta, alisando minha barriga


que começa a mexer.
— Agitados. — eu comento, sorrindo para meus companheiros. —
Igualzinho aos pais.

Troco um olhar com Deon e Griffin, que sorriem para mim e logo
busco por Raze, o encontrando com seus olhos sobre mim.

— Você está linda, meu farol.


— Está mesmo. — Deon concorda.

— Linda, e esperando os nossos filhotes, tem como sermos mais


felizes do que já somos? — Griffin completa.

Toco o nosso vínculo de acasalamento, enchendo os três de beijos, e


seus sorrisos se abrem. Recebo de volta três beijos na testa e outros três na
boca. Volto a me concentrar na conversa que Nara e Ronan estão tendo
sobre os netos, que não percebo meus pais saírem do portal e vir na minha
direção.

Eu sorrio encantada por tê-los aqui com suas aparências reais, sem
precisarem mais se esconder atrás da magia. Bayron não se importa de
quem eles são filhos, mas sim com os sacrifícios que ambos fizeram para
trazer a Nova Era e os habitantes de Symes pensam o mesmo. A cada dia,
temos nos aproximado mais, a nossa relação tem ficado mais forte e mais
íntima e isso me deixa completamente feliz.

— Minha Aurora. — minha mãe dá uma beijo no meu rosto, e outros


três na minha barriga. — Oi, meus amores.

Meu pai se aproxima e beija minha testa, sua mão toca minha barriga
e sinto o calor da sua magia brincar com os meus bebês. Percebi que meu
pai tem feito muito isso quando nos visita.
— Há algo que devo saber? — pergunto, e como das outras vezes ele
dá a mesma resposta:

— Não, eles estão bem e são muito especiais, é o que importa. — ele
cruza os braços atrás das costas e se afasta indo ficar perto de Zayn, com
quem ele acabou retomando uma amizade antiga de quando o lobo ainda
vivia no reino.

Dou de ombros e foco na minha mãe, que me conta animada o


carinho e aceitação que tem recebido a cada dia, já que ela e meu pai
decidiram continuar morando em Symes e fazendo parte do conselho, que
como ela mesma me disse tem passado por muitas mudanças positivas.

Minha mãe passou anos se escondendo, anos sem poder ser ela
mesma, mal reconhecendo seu próprio reflexo no espelho, e muito me
alegra saber que ela está feliz, assim como o meu pai.

Meus olhos são atraídos para o portal que se fecha assim que Kai
Basset atravessa, depois que meu cio acabou recebemos sua visita, na qual
ele me contou tudo que precisou fazer e me agradeceu por ter ajudado a sua
irmã gêmea, que estava sendo manipulada por Zander há anos, a se libertar.
E eu garanti a ele que não foi nada, saber que tudo agora está bem é o que
importa.

Quando o almoço é servido, me afasto um pouco com o coração cheio


de gratidão por tudo que aconteceu com a minha vida. Entrar num bar
misterioso no dia do meu aniversário foi o melhor presente que eu ganhei.
Conheci meus companheiros de alma e eles me trouxeram uma felicidade
sem tamanho e um amor sem medida. E saber que é apenas o começo, faz
meu coração bater acelerado, ansiosa para tudo o que ainda viveremos
juntos.
— Está tudo bem, meu luar? — escuto a voz de Griffin e olho para o
lado vendo ele, Deon e Raze se aproximarem.

— Por que você está chorando? — Deon pergunta protetor, e eu


sorrio em meio as minhas lágrimas de emoção que eu nem percebi que
rolavam por meu rosto.

— Estou chorando porque estou feliz. — declaro, olhando nossa


família e amigos rindo e confraternizando. — Estou feliz como nunca estive
e quero que esse sentimento nunca acabe.

Raze me puxa para seus braços, e logo Deon e Griffin também estão
me abraçando. Ambos beijando minha cabeça enquanto Raze beija a minha
testa. A emoção que enche meu interior me faz soluçar.

— Nunca irá acabar. — Raze afirma.

— É uma promessa. — Deon diz, e por fim Griffin completa:

— Uma promessa que passaremos a vida cumprindo.

No meio deles, escuto nossos corações batendo juntos, como um só, o


amor que eu sinto por eles nos unindo e fortalecendo ainda mais. Olho
dentro dos olhos de cada um e digo uma verdade que nunca vai mudar:

— Eu amo vocês. Eu amo tudo que estamos construindo e


descobrindo juntos. — acaricio nossos filhotes e eles fazem o mesmo.

Sinto minha alma completa e em perfeita harmonia com os cheiros de


capim-limão, laranjeira e menta.

— Eu te amo, meu azul mais brilhante. — Deon diz e beija meus


lábios, quando afasto meus lábios dos seus, Raze segura na minha nuca
puxando-me para ele.
— Eu te amo, meu farol. — beija minha boca consumindo todo o ar
dos meus pulmões.
Quando olho para Griffin ele está sorrindo, sua mão toca com carinho
os nossos bebês, e suas palavras param o meu coração:

— Enquanto eu morria, me perguntava quantos beijos um olhar podia


dar, eu não cheguei a uma resposta, mas a beijei por todo o momento que
meu coração continuou batendo. — olho para a mecha branca nos seus
cabelos, apenas para confirmar que ele está bem e vivo. — E agora estando
aqui, olhando para você, acredito que tenho uma resposta para a minha
pergunta.

— E qual é ela? — pergunto com a voz embargada.

— Indefinido. — responde, juntando sua boca na minha. — Mas


passarei a vida adorando descobrir não somente essa resposta, mas tudo que
envolva você. — beija meus lábios com carinho e devoção, me fazendo
desmanchar nos seus braços. — Eu te amo, meu luar.

Quando me afasto dos três sorrio, feliz por saber que a nossa história
está apenas começando, e eu sei que ela será incrível.
EPÍLOGO
Willow
Estou ofegante, suando muito, e as dores não diminuem, elas ficam
cada vez mais fortes e intensas, me fazendo gemer e rosnar de dor. Os olhos
dos meus companheiros são de puro amor olhando para mim, e retribuo
como posso, pois nesse momento tudo que eu quero é que nossos bebês
nasçam.

— Amiga, força! Faça força que eu já consigo ver a cabecinha de um.


— Laila pede, e faço toda força que posso.

Ao lado da minha mãe, ambas me ajudam a trazer meus bebês ao


mundo. Meus companheiros estão ao meu redor me amparando e puxando a
minha dor para eles. Escuto a aglomeração no corredor, Beau, Kaden, Kael
e meu pai andam um do lado do outro. Estão nervosos, todos muito
ansiosos para o nascimento dos trigêmeos.
— Agora, minha filha, faça força agora. — minha mãe pede e eu
rosno fazendo toda a força que posso, e logo escuto o choro do meu
primeiro bebê.

Os olhos da minha mãe e de Laila se iluminam, fico ansiosa para


pegar o meu bebê no colo e não demora para elas o enrolar no cobertor e
entregar para mim. Quando o seguro, eu choro sentindo o cheiro de capim-
limão na sua pele. Seus olhos avermelhados me encaram, e eu sorrio
admirada por ele ser tão lindo, beijo seus cabelos dourados com todo o
amor. O sorriso dos meus companheiros ficam enormes e seus olhos
cintilam olhando para nosso bebê lindo e perfeito.

— É um menino. — digo emocionada.


Desde que descobri que estava grávida não quis saber o sexo de
nenhum dos bebês, deixando esse momento para o nascimento, Raze, Deon
e Griffin amaram a ideia, o que frustrou Laila, Kaden e Kael, que já
acionavam as apostas entre a alcateia de Zayn, e alguns clientes que
frequentam o bar.

— Meu pequeno futuro alfa. — Raze declara emocionado.

Passo o bebê para Raze e deixo que ele faça o ritual que apenas os
pais podem fazer pelo filho. Ele sorri e rosna no ouvido do nosso bebê,
acordando o espírito de lobo do nosso pequeno. Fico emocionada quando
vejo Raze entregar nosso bebê para que Deon faça o mesmo, e Deon repete
o rosnado emocionado, passando para Griffin que faz o mesmo.

Pelo que eles me explicaram, apenas o pai pode despertar o espírito


lobo do seu filhote, e como eu me acasalei com os três, eles me disseram
que só o pai biológico poderia fazer aquilo. Contudo, ver a cumplicidade
desse momento enche meu coração de amor, e eu os amo ainda mais por
isso.

Quando Griffin me entrega o nosso bebê, eu sorrio murmurando seu


nome, que já havíamos pensado os quatro juntos:

— Seja bem-vindo, Calum Calla de Zafar Ballard Hayes Ward.

Busco os olhos dos meus companheiros que sorriem e depois busco o


da minha mãe que me olha emocionada. Colocar o sobrenome Calla nos
meus filhos é para mostrar a todos que não é um nome ou sobrenome que
diz quem você é, mas sim as escolhas e atitudes que você toma.

— Coitada dessa criança na escola. — Laila comenta, fazendo todos


sorrirem.
Meu sorriso se fecha quando sinto outra contração, Raze pega Calum
do meu colo, e Griffin e Deon seguram minhas mãos, me dando força para
o nascimento do nosso segundo bebê. Faço força assim que Laila e minha
mãe pedem.

— Ai meu Deus, o que é isso?! — Laila exclama e eu fico nervosa no


mesmo segundo.

— O que foi, Laila? Está tudo bem com o meu bebê? — fico
desesperada, Deon e Griffin já estão se levantando, enquanto Raze já está
ao lado da minha mãe e de Laila procurando saber o que está acontecendo.

— Que coisa mais lindinha da titia. — Laila diz animada e logo


escuto um choro baixinho, mais suave. — Ela tem os cabelinhos
completamente brancos. — Laila enrola a minha bebê no cobertor e logo a
coloca no meu colo.

O cheiro de laranjeira e os cabelos brancos me fazem olhar para


Griffin que olha emocionado para nossa bebê. Beijo a testa dela e a entrego
para Griffin que rosna no seu ouvido a fazendo choramingar, quando ele
passa ela para Deon, ele repete o mesmo que fez com Calum e logo Raze
está ao lado deles, entregando nosso filho para Griffin para pegar a nossa
filha e rosnar no seu ouvido.

Quando ela retorna para meu colo, sorrio dizendo seu nome:

— Seja bem-vinda, Moon[14] Calla de Zafar Ward Ballard Hayes!

Entrego-a para Griffin que me beija nos lábios.

As últimas contrações são fortes demais, grito e rosno, muito cansada


agora. Deon se mantém segurando a minha mão, Griffin e Raze ficam
sentados ao nosso lado com os resmungos baixinhos dos nossos filhos.
— Amiga, força, porque é o último, graças a Deus. — Laila me
motiva com seu jeitinho especial e faço força. — Já estou vendo a
cabecinha e... — Laila fica quieta e busco o olhar da minha mãe que está
sorrindo. — Meu Deus, amiga, cada filho de cabelo de cor diferente,
realmente uma ninhada de lobo.

Não me prendo ao que ela fala sobre a ninhada, mas ao fato de que os
cabelos do meu terceiro bebê são de outra cor. Assim que Laila levanta o
bebê chorando, eu vejo a cabeça avermelhada e sorrio emocionada sentindo
o cheiro que faltava: menta.

— Outra menina. — ela diz me entregando a bebê.

Quando eu a beijo ela abre seus olhos enormes, e as cores das suas
íris são iguais as minhas, o mesmo tom, as mesmas manchas. A passo para
um Deon que está com os olhos cheios de lágrimas e sentir sua emoção me
faz engolir em seco, pois eu sei que para ele essa é a realidade de um futuro
que ele não pensou que fosse acontecer.

Ele rosna no seu ouvido ao mesmo tempo em que lágrimas rolam por
seu rosto, Raze me entrega Calum para segurar nossa bebê, e ele rosna no
seu ouvido fazendo a emoção no meu peito triplicar e quando é a vez de
Griffin ele me entrega Moon, rosnando para nossa filha.

Logo que ele a coloca no meu colo, olho para meus três bebês com o
peito transbordando de amor. Deon senta ao meu lado, Griffin do outro e
Raze atrás de mim, beijo a testa de cada um dos nossos filhos, e murmuro o
nome da nossa terceira filha:

— Seja bem-vinda, Blue[15] Calla de Zafar Ward Hayes Ballard.

Os três envolvem seus braços à minha volta e ficamos assim


compartilhando algo mais forte, mais intenso. Estamos tão envolvidos que
não percebemos minha mãe e Laila saindo do quarto, mas ainda consigo
ouvir a voz da minha amiga no corredor.

— De verdade, eu estou com pena dessas crianças na escola.

— Um menino e duas meninas, hein. — escuto Kaden falar animado.


— Acho que ganhamos um bom dinheiro da alcateia do Zayn.

— Ainda bem, estou de olho numa bolsa muito linda e muito cara,
preciso de todo o... — A voz da minha amiga vai ficando mais baixa, e eu
deixo de prestar atenção no que eles conversam.

Olho para meus companheiros e Raze está com uma expressão de


desaprovação no seu rosto. Meu lobão não detesta mais os humanos, mas
como ele sempre diz: apenas a Laila.

— Eu sabia que essa amizade não ia dar em boa coisa. — comenta, e


eu sorrio da sua implicância.

— Isso não ficou óbvio naquela noite onde eles falavam sobre nosso
acasalamento como dois fofoqueiros? — Deon pergunta irritado. — Vocês
viram o quanto eles riam de mim quando começaram a comentar sobre o
fato de onde fica minha marca de acasalamento?

Mordo os lábios para não rir, porque mesmo que eu morra de


vergonha de saber que todos os lobos conseguem ver minha marca de
reivindicação ao redor do pau de Deon, ainda é muito engraçado ver Kaden,
Kael e Laila o provocando com isso.

Os choros dos nossos filhos fazem a conversa ficar para depois, pois
agora toda a atenção se volta a eles, a extensão do nosso amor na forma
mais perfeita. Nosso amor agora além de ser sentido, pode ser tocado.
— Obrigado por me fazerem felizes. — digo, ajeitado Moon no meu
seio, fazendo seu choro cessar assim que ela abocanha o meu mamilo.
— É apenas o começo, meu amor. — Griffin diz, me ajudando a
colocar a Blue no meu outro seio. — Mesmo que passe anos e anos, sempre
será apenas o começo para nós.

Olho para Calum que continua a chorar, e Raze o pega com cuidado
falando baixo com ele:

— Primeiro as suas irmãs, meu pequeno alfa. — beija sua testa,


fazendo seu choro cessar. — Você será o protetor delas quando nós não
estivermos ao lado de vocês.

Continua conversando com Calum, que parece entender cada palavra,


pois ele fica quieto ouvindo o que o pai fala. Quando olho para meus filhos
e para os meus companheiros, sinto o meu peito transbordar de amor, tendo
cada dia mais certeza de que eu estava destinada a ser deles, assim como
eles estavam destinados a serem meus.

FIM.

(Kaden) Fim porra nenhuma! Bruna, pode voltar aqui! E os outros


assuntos? Como assim não vamos comentar sobre Beau estar acasalado
com um vampiro e uma humana? E a mordida de acasalamento de Deon no
pau? Como posso deixar isso passar em branco e não rir dele em mais uns
cinco livros?

(Laila) Você está preocupado com o Beau e o pau do Deon? Eu estou


preocupada comigo que não conheci meu vampirão ainda. Eu me recuso a
terminar assim. Quero ser mordida, me preparei a vida toda para viver esse
momento.
(Beau) Vocês deviam cuidar da vida de vocês, Bayron não admite que
falem...

(Kaden) Pois Bayron que aprenda a lidar, se ele se acasalou com você
precisa aceitar que somos fofoqueiros. Eu hein!

(Kael) Irmão, você mesmo sempre diz que não somos fofoqueiros.

(Kaden) Eu sou fofoqueiro, não tem porque mentir. Esses podem ser
nossos últimos segundos.

(Kael) Verdade! Bruna, não faça isso, eu tenho muitas apostas ainda
para organizar. E não se esqueça que Kaden e eu compartilhamos tudo.
(Autora Bruna Rodrigues) Parem com essa merda, me esqueçam e me
deixem finalizar essa porra que me deixou à beira da loucura de uma vez
por todas. BRUNA RODRIGUES ESCREVENDO FANTASIA ACABOU!

(Laila) Eu sabia, ela tem seus preferidos, é só porque não somos tão
especiais, muito menos porque não temos a intenção de viver um harém
reverso.
(Autora Bruna Rodrigues revirando os olhos e falando muitos
palavrões) Essa porra de tortura continuará, estão felizes?

(Kaden, Kael, Laila e Beau) Sim, aeeeeeeeeeeeeeeeee.

Continua em...

Não sei, só peço a Deus que me dê forças.


O FUTURO
Kai Basset
Eu tinha quinze anos quando minha mãe me chamou para me contar
do futuro de Symes, para me contar cada mínima coisa importante que
implicaria na vida de todos dali a muitos anos. Minha mãe estava à beira da
morte, seu poder elemental estava escasso depois da quebra da maldição de
Allegra Roux, que culminou na perda de metade da sua alma. Ela não tinha
muito tempo, então me contou tudo que eu deveria saber.

Eu estava no início dos meus ensinamentos elementais, aprendendo a


lidar com os meus poderes de oráculo, pois eu sabia que no futuro me
tornaria o senhor da casta dos oráculos. Eu sabia todas as obrigações futuras
que teria, assim como todos os sacrifícios que teria que fazer, e para mim
estava tudo bem, isso até descobrir o maior sacrifício que eu teria que
cometer pelo bem da Receptáculo, pelo bem da magia elemental e do
futuro.

No entanto, eu não poderia fazer isso, não aceitaria um futuro onde eu


assistiria minha irmã gêmea morrer sem poder fazer nada, e para isso eu
tive que manipular o futuro, correndo o risco de mudar tudo, correndo o
risco de condenar todos para um futuro incerto. E foi o aconteceu quando
decidi acelerar os acontecimentos e mudar drasticamente outros.

Willow seria criada por mim e por Kalissa, até que estivesse pronta
para ser a Receptáculo, pronta para conhecer seus companheiros e se
vincular a eles, ativando assim sua magia lycan e sua magia de feiticeira
com a morte de um deles, que viria acontecer no seu julgamento vindimar.
Essa era parte primordial e imutável para ela ascender como Receptáculo,
essa era a única coisa que eu não poderia mudar de jeito nenhum.
Quando fui atrás dos seus pais, Anyka e Alaric, foi para me certificar
que Willow vivesse seu destino e concluísse sua profecia. Alaric por ser um
feiticeiro poderoso estava mudando o futuro da filha sem se dar conta,
condenando a todos a muitas perdas no futuro, porque se Willow
continuasse sobre os cuidados dos pais não se tornaria a Receptáculo,
fazendo assim a profecia morrer com ela.

E pelo bem da magia elemental e de todos os seres que se beneficiam


dela, interferi, garantindo que a profecia acontecesse. Contei aos seus pais o
mínimo possível do futuro da filha, mas deixei que eles soubessem quem
ela viria a ser e tudo que ela perderia por ser quem é. Não contei de
propósito essa parte, mas algo nos olhos de Alaric me disse que ele faria
qualquer coisa pela filha e pela companheira, e foi o que me fez contar o
destino final da sua filha.

E por esse motivo Alaric passou vinte e cinco anos se preparando


para o momento que sua filha precisasse dele.

Depois de seus pais confiaram em mim e me entregarem ela, eu sabia


o lugar perfeito para ela ser criada até estar pronta para ser a receptáculo:
comigo e com a minha irmã. Porém quando vi o futuro da minha irmã
mudar por se afeiçoar a ela, eu precisei pensar em outro lugar para enviá-la
e foi quando cheguei à conclusão que viver entre os humanos seria o lugar
perfeito, até facilitaria para conhecer seus companheiros no futuro.

Contudo, esse futuro mudou quando Beau apareceu no momento


indevido, olhando para Willow no meu colo, e seu lobo automaticamente se
vinculando a ela, escolhendo ela para proteger, porque sua metade que
descende do seu avô, soube quem ela seria dali alguns anos.

Meu melhor amigo não sabia, mas vincular seu lobo a ela, o
condenou à morte, Beau morreria no julgamento de Willow por receber os
golpes destinados a ela, e para mudar o destino de Beau, eu tive que mudar
o destino de outras pessoas novamente.

O acasalamento de Beau com Bayron era para ter acontecido há anos,


eu sabia o futuro lindo e grandioso que meu amigo teria ao lado do rei e da
companheira humana que ambos conheceriam, mas mudou quando ele
olhou para Willow e condenou sua vida.

Eu não podia assistir a sua morte, sabendo que eu era o culpado, e por
isso tentei acelerar seu acasalamento com Bayron, mas eu não esperava pela
negação do vampiro, eu não imaginava que a possessividade de Bayron o
fizesse recusar o acasalamento.

Por causa das minhas escolhas e pelo ciúme possessivo de Bayron,


que eu não contava, meu amigo ficou afastado do seu companheiro de alma
por dez anos. Beau morreria nunca sabendo disso, pois ele não fazia ideia
que Bayron usa um amuleto de sangue que impede que o lobo de Beau o
reconheça.

Por causa disso interferi novamente, eu precisava que Beau fosse para
Symes junto de Raze, Deon e Griffin, eu precisava que Bayron soubesse
que seu companheiro de alma estava gravemente ferido, e agradeço o meu
plano ter dado certo. Para levá-los para Symes eu tive que contar algumas
coisas, e mentir sobre outras. O fardo de ser o oráculo me impede de contar
um futuro preciso, afinal cada mínima ação muda um futuro drasticamente.

Eu percebi isso quando descobri que era a alma de Zander o tempo


todo no corpo de Torment, e isso me pegou de surpresa, assim como a
manipulação que ele colocou em quase todo o conselho, inclusive na minha
irmã. Isso nunca apareceu nas minhas visões, e temo ter sido de propósito,
pois Zander de alguma forma faz parte do meu futuro, e meu futuro é o
único que nunca poderei prever.
E olhando agora para os bebês de Willow, no almoço de batismo
deles, acabo de descobrir o porquê. Os três bebês carregam a marca da lua
crescente igual à que a mãe carregava. As marcas de profecias que ainda
não aconteceram. Tento ver o futuro deles, mas eu não consigo. Tudo é
muito obscuro e difícil de ser lido, mas seja o que for, eu sei que não
acabou.
BÔNUS
Bayron
Meu coração bate devagar demais, sentado no meu trono eu olho para
Beau, o cheiro do seu sangue se assemelha ao cheiro da morte, ele vai
morrer. Ter essa constatação me fez levantar e não pensar demais, vou até
ele e o pego no colo saindo dali em direção ao meu quarto. Eu preciso ser
rápido se eu quero salvá-lo.

E eu quero.

Me manter afastado do meu companheiro de alma foi por segurança,


foi para protegê-lo com tudo que acontecia em Symes. Contudo, eu não
imaginava que ele houvesse se vinculado a Receptáculo, se eu soubesse o
teria feito meu há dez anos. Garantindo assim que ele não fosse mais
afetado pelo estanho.

Deito ele na minha cama e agindo rápido deito sobre ele e mordo seu
pescoço, bebendo seu sangue, limpando o estanho da sua corrente
sanguínea. O gemido de prazer dele faz meu pau endurecer, mesmo usando
o amuleto que me esconde do seu lobo, a minha mordida o fez ficar ciente
de quem eu sou. Me reconhecendo como seu companheiro de alma.

— Bayron. — grunhe meu nome, bêbado de prazer.

O gosto do seu sangue começa a me deixar louco, tento focar em tirar


o estanho do seu corpo, mas já não consigo ficar indiferente a sua ereção
dura abaixo de mim. Beau rosna agarrando minha bunda, me fazendo
esfregar meu pau coberto pelas minhas roupas no seu sem nada.

Seus rosnados ficam mais altos, mais urgentes. Chupo seu sangue
liberando mais prazer nas suas correntes sanguíneas, suas garras me
perfuram, me obrigando a usar minha força e velocidade de vampiro para
virar ele de bruços, mantendo-o parado.

— Eu preciso limpar seu sangue, então coopere. — ordeno e ele


rosna, não aceitando ser dominado por mim.

Agindo rápido Beau inverte nossas posições, rosnando no meu


ouvido, me enlouquecendo com seu jeito selvagem. Seus dentes mordicam
meu pescoço e tento me afastar, não podemos nos acasalar agora, não sem
eu ter certeza de que ele está fora de perigo, porque o acasalamento de um
vampiro é diferente dos de lobos, e talvez eu surpreenda meu companheiro
quando ele se dar conta disso.

— Meu! — exclama possessivo, empurrando minha cabeça contra o


colchão e mordendo meu pescoço com força, me marcando como dele.

No mesmo segundo as veias dos meus braços engrossam, meus


caninos ficam maiores, meu corpo entrando em frenesi, tirando meu
raciocínio, e fazendo meu companheiro entrar num campo novo e que ele
ainda não sabe nada.

— Porra, você não devia ter feito isso. — afirmo, segurando seu pau e
o apertando com força, fazendo Beau rosnar de dor e desejo.

Inverto mais uma vez nossas posições e quando ele me olha com seus
olhos brilhando, eu sei que ele está tão afetado quanto eu. Entro na sua
mente e compartilho o que irá acontecer com ele:

Você será meu.

Eu serei seu.

E quando terminamos seremos um.

Continua...
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Sua opinião é muito importante para mim e para aquele leitor que está
pensando em baixar o livro. Quero muito saber a sua opinião, só tome
cuidado com os spoilers.

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Autorabrunarodrigues

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Lobas da Bruna

[1]
Alcateia.
[2]
Cidade fictícia.
[3]
Cidade fictícia.
[4]
É um sonho real, mas não corpóreo, tudo que acontecesse nesse tipo de sonho é vivido entre a
alma do que sonha, e a alma do que incita. Apenas lobos e vampiros são capazes de incitar um sonho
de alma, pois possuem o poder de persuasão mental. Contudo, os feiticeiros da luz criaram as pérolas
do sonho, que são capazes de fazer o mesmo.

[5]
O hematologista é o especialista responsável pelo diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças
e distúrbios do sangue.
[6]
Fruta capaz de simular o frenesi nos machos e o cio nas fêmeas, seu gosto e aspecto se
assemelham a Romã.
[7]
Lobos da Estrada.
[8]
Julgamento para decidir a aniquilação de um ser mágico.
[9]
Escudo mágico.
[10]
Ser mágico capaz de armazenar muita magia.
[11]
As pérolas do sonho foram criadas pelos feiticeiros da luz, para que assim eles conseguissem
incitar um sonho de almas, já que diferente dos lobos e vampiros eles não possui poder para tal feito.

[12]
Treinadora pessoal de lobo.
[13]
O estanho é um metal que é fatal para os lobos.
[14]
Lua.
[15]
Azul.

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