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AS TERAPIAS COGNITIVA-COMPORTAMENTAL NA ASSISTÊNCIA AO

TRATAMENTO DA CRIANÇA ONCOLÓGICA

COGNITIVE-BEHAVIORAL THERAPIES IN THE TREATMENT ASSISTANCE OF THE


ONCOLOGICAL CHILD

Gabriela dos SANTOS


Gabrielle Coutinho MUSSEL
Raquel de Cristo MANOEL
Sarah Pires Silva CORRÊA

Resumo
O câncer na infância é extremamente temido e fortemente associado à morte. Diagnóstico precoce e
tratamentos adequados são realizados por uma equipe multiprofissional, e proporcionam o aumento
da cura. A proposta deste trabalho é compreender a contribuição do tratamento psicoterápico, com
base nas terapias cognitiva-comportamental, para as crianças oncológicas. Foi realizada uma
investigação bibliográfica de artigos científicos nas bases de dados: Scielo, Google acadêmico, Site
do Instituto Nacional de Câncer (INCA), PUBmed e Livros em PDF no período de 2001 a 2022. A
análise da pesquisa permitiu considerar que existem muitos artigos sobre terapias cognitivo-
comportamentais, câncer infantil e atuação psicológica em hospitais, mas poucos sobre a contribuição
da terapia cognitivo comportamental no processo do tratamento do câncer. No ambiente hospitalar, o
psicólogo atua focado na escuta, apoio e assistência, facilitando o esclarecimento de dúvidas e
realizando a mediação entre paciente-família-equipe. Devido ao escasso material para análise e
conhecimento das contribuições das terapias cognitivo-comportamentais para o câncer infantil,
tornam-se necessários mais estudos e publicações na área.
Palavras-chaves: Câncer infantil, Psicólogo, Assistência, Família, Terapias cognitivo
comportamental

Abstract
Childhood cancer is largely feared and associated with death. Early and appropriate treatments,
performed by a multidisciplinary team, provide the diagnosis in the cure. This work's purpose is to
understand the contribution of psychotherapeutic treatment, based on cognitive behavioral therapy,
for oncological children. It was a literature investigation based on scientific articles obtained in Scielo,
Google databases of published data, the National Cancer Institute (INCA) website, and PDF books.
The cancer treatment analysis review considered many articles on cognitive youth cancer and
behavioral therapy in hospitals, but on the contribution of mental cancer therapy. In the environment,
the psychologist focused on care, support, hospital care, clarification of doubts, and realization of a
patient-focused psychologist. Due to a lack of material publications and knowledge of the
contribution of cognitive behavioral therapies to childhood cancer, more and more studies in the area
are necessary.
Keywords: Childhood cancer, Psychologist, Assistance, Family, Cognitive-behavioral therapie
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Introdução
O presente trabalho irá delinear uma contextualização acerca do câncer infantil bem como,
compreender quais são os benefícios da terapia cognitiva comportamental (TCC) no tratamento da
criança oncológica. Diante do contexto em que a criança se encontra, a TCC se mostra uma ferramenta
muito importante e visa uma mudança na cognição e no comportamento, proporcionando a essa
criança um melhor entendimento das condições hospitalares que enfrenta e ter a oportunidade de se
expressar abertamente sobre sua condição, ao mesmo tempo respeita suas limitações.
Este artigo propõe abordar a seguinte temática: qual a contribuição da terapia cognitiva
comportamental no tratamento da criança oncológica. É natural que durante o processo do tratamento,
desperte na criança sentimentos de incertezas e pensamentos automáticos disfuncionais em relação
ao seu tratamento. Em especial porque a criança se encontra em uma situação, distante do ambiente
de seu convívio social e da vida que costumava levar. Perante essa perspectiva, o terapeuta irá
trabalhar com base nesses pensamentos e levar, em tese, a validade das concepções distorcidas, na
resolução de problemas e modificação desses pensamentos automáticos e criar estratégias
compensatórias mais funcionais (Andersen, 2015), com base na realidade da criança oncológica.
Será discutido também, quais as implicações psicossociais do câncer na família. Tendo em
vista, que se trata de um momento delicado na vida dos pais, tendo que aprender a lidar com a nova
realidade de seu filho, e que pode ser um longo caminho a ser percorrido. Na maioria das vezes, os
pais tendem a ter um comportamento de superproteção, e, isso pode gerar um sentimento, que o câncer
está “sempre’’ ligado à morte. Entretanto, os pais têm uma reação de ocultar o diagnóstico, na
tentativa de defender o filho, do momento em que está passando. Contudo, isso pode ser
prejudicial ao tratamento (Gurgel & Lage, 2013).
Mesmo que o câncer seja de cunho biológico, a terapia se mostra um instrumento significativo
nesse enfrentamento, em razão que a partir da assistência psicológica, com as contribuições da TCC,
a criança juntamente com parentes, presentes em seu convívio, é possível ressignificar seus
pensamentos (Gurgel & Lage, 2013). O tema também se mostra importante, dado que muitas famílias
são desprovidas de informação, pois o assunto é pouco disseminado, e, consequentemente, as famílias
não são instruídas corretamente sobre o amparo psicológico à criança e aos seus familiares. Por este
motivo, pensando no apoio psicológico, a criança apresentará melhoras significativas e uma maior
assertividade em seu tratamento.

Métodos
O presente artigo se trata de uma revisão de literatura científica, com pesquisa teórica
fundamentada na abordagem qualitativa. O seu embasamento foi através de livros e artigos científicos
selecionados, sendo os livros com publicação de 1994 a 2021 e os artigos científicos a partir de 2001,
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até o ano atual de 2022. Sua pesquisa foi fundamentada na revista Mosaico, da faculdade de filosofia
e ciências humanas FAFICH, da universidade federal de Minas Gerais (UFMG). Foi realizada uma
pesquisa bibliográfica, através de fontes secundárias para iniciar a seleção da leitura. As bases de
dados foram Scielo, Google acadêmico, Site do Instituto Nacional de Câncer (INCA), PUBmed e
Livros em PDF.
Durante a coleta de literatura muitos resultados foram encontrados advindos das palavras
chaves deste artigo, como: “Câncer infantil”, “Terapias Cognitiva e Comportamental” e
“Assistência”. Portanto, foram adotados critérios de inclusão e exclusão da literatura, a fim de facilitar
as buscas. Para critérios de inclusão utilizamos apenas artigos escritos em Português, dentro da faixa
etária entre 6 e 12 anos e publicados dentro do período estipulado. Para critérios de exclusão; artigos
não condizentes ao tema, artigos repetidos, arquivos eletrônicos incompletos e publicados fora do
período de 2001 a 2022.
A amostra se deu a partir de uma avaliação inicial com a leitura dos materiais encontrados,
com a finalidade de selecionar os que atendiam as demandas dos assuntos e estavam dentro do
contexto da pesquisa. A seguir foi realizada a leitura dos materiais e a realização de “fichamentos”,
onde as informações que mais correspondiam ao tema eram separadas em fichas para ajudar na
elaboração do artigo. Após a leitura foram selecionados 15 artigos e 4 livros, que atendia aos objetivos
do estudo e excluídos 10 artigos, totalizando 25 artigos e 4 livros.

Fundamentação Teórica
O que é câncer infantil?
O câncer é uma doença genética caracterizada pela divisão e proliferação desordenada de
células que sofreram mutação em seu material genético. Ele ocorre em qualquer parte do organismo
e é o acúmulo das células que dá origem aos tumores. Os tumores são caracterizados pelo
agrupamento de células anormais, que uma vez formadas serão destruídas pelo organismo,
permanecerão como tumores benignos ou se transformarão em tumores malignos. Tudo dependerá
do sistema imunológico do indivíduo, que será influenciado por diversos fatores de risco (Associação
Brasileira do Câncer [ABC], 2007). No câncer infantil ainda não são definidos quais são os fatores
de risco que podem iniciar a doença, ao contrário do câncer em adultos, que podem ser por fatores
hereditários, biológicos, estilo de vida, hábitos alimentares e olhares emocionais. Diante dessa não
definição dos fatores de risco é de suma importância o diagnóstico precoce do câncer infantil (ABC,
2007).
Trata-se de uma doença que ainda nos dias de hoje, mesmo diante do avanço da medicina é
extremamente temida e fortemente associada à morte. Desde a descoberta da doença até o fim do
tratamento, os pacientes sofrem danos tanto físicos como psicológicos, pois além de passarem por
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todo procedimento, que na grande maioria das vezes, é bem invasivo e doloroso, tem sua vida e rotina
totalmente alteradas pela doença.
O tratamento é complexo e requer atenção especial que consiste em três etapas, que se inicia
pelo diagnóstico com foco no problema realizado a partir de uma reação indesejada frente a condições
de saúde. É o primeiro e grande passo, que é de suma importância, e, que seja feito de forma bem
precoce, no intuito de impossibilitar o avanço da doença, visando que não há exames preventivos para
a detecção do câncer na infância. Assim, ressaltando a importância de avaliações periódicas regulares
com pediatras. Deve-se ressaltar os procedimentos preventivos que podem ser utilizados na detecção
da doença. Os mais rotineiros são biópsia, hemograma, punção e ultrassonografia.
Em seguida inicia-se o tratamento, que consiste muitas vezes em várias etapas, e muitas delas
causando dor e desconforto, mas com intuito de cura e qualidade de vida para os pacientes. As
tecnologias para detecção do câncer infantil desenvolveram-se muito nos últimos anos. As condutas
terapêuticas mais utilizadas são as cirurgias, quimioterapias, radioterapias e o transplante de medula
óssea. Geralmente essas medidas são empregadas de forma associadas, e a escolha por cada uma delas
vem de aspectos como: o tipo do câncer, qual local está localizado o tumor, qual estágio e evolução
da doença, e assim por diante.
O prognóstico dirá a condição atual da doença após todo processo e permite visualizar as
próximas etapas. O que estipulará se o diagnóstico será positivo ou não, será a junção de alguns
fatores, como: a classificação do câncer (benigno ou maligno) e seu estágio, ressaltando que, o que
determinará tais fatores é o quão precoce foi realizado o diagnóstico.

A criança com câncer


A infância é um período essencial na vida de todos. É na infância, que a partir das vivências
das relações com a família e o mundo como um todo, que o sujeito constrói sua relação com seu
próprio corpo. A partir daí é construída sua estrutura para personalidade que servirá como apoio para
todas suas próximas experiências ao longo da vida. (Santin, 1987).
Entende-se que a doença é um fato indesejado e inesperado pela maioria, dependendo do tipo
do câncer e detecção precoce do diagnóstico. Este pode causar sequelas físicas e psicológicas, que
serão descritas mais adiante. Além disso, haverá mudanças nas atividades de seu cotidiano, como,
estudar, brincar, viajar são arduamente afetadas, tornando o que era corriqueiro e prazeroso cada vez
mais distante, diante das limitações que no presente enfrenta. (Instituto Nacional do Câncer
[INCA],2007).
Quando o portador do câncer é uma criança, não há como desassociar tal fato a família, pois
os mesmos têm papel fundamental em todo tratamento, trazendo alterações também para suas vidas.
A reação da criança frente a descoberta da doença está diretamente ligada à reação da família. Dávila
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(2006) afirma que quando surge o diagnóstico, os pais devem ser os primeiros a receberem ajuda,
pois diante do fato da criança não reconhecer a doença, são eles que irão transmitir todos sentimentos
que lhes pertencerem. Pais bem orientados fazem com que os efeitos da doença sejam menores, pois
os mesmos saberão lidar de forma mais assertiva, com a criança. Para o autor, a criança somente
entende o que é de fato a doença quando inicia o tratamento e o mesmo começa a lhe impedir de
realizar suas atividades. Assim lhe trazendo prejuízo e sofrimento.
Mesmo quando a criança não sabe do seu diagnóstico, ela também não responderá bem ao
diagnóstico, pois sente a tensão vinda dos seus pais se instalar no ambiente, uma vez que eles sabem
da doença. Segundo Romano (1999, p.32) “a ignorância sobre a verdadeira condição é que alimenta
a fantasia dos doentes, mobilizando sentimentos irracionais, e até desproporcionais de medo.” O
conhecimento dos fatos, reforça sentimentos positivos como confiança e esperança. Essenciais no
enfrentamento do processo. Após a revelação do diagnóstico, vem com ele todas incertezas em
relação a um futuro desconhecido, a perda da autonomia e privacidade recém conquistadas. Isso tudo
trazia a ela muito desconforto e sensação de retrocesso, uma vez que precisará depender de outras
pessoas para realizar algumas atividades básicas, terá que se submeter a normas e tratamentos
impostos pela equipe médica e superproteção dos pais. (Pedreira & Palanca, 2007).
De acordo com Greer (2001 citado por Pedreira & Palanca, 2007) essas crianças também
passam por baixa autoestima, devido às alterações físicas que surgem ao longo do tratamento,
resultando em reações emocionais negativas como medo, raiva, culpa e depressão. Ocasionando,
também, alterações comportamentais, como isolamento, distanciamento dos amigos e familiares, se
recusando a realizar atividades que antigamente eram prazerosas, baixo rendimento acadêmico, entre
outros.
Segundo Silva, Teles & Valle (2005), estudos voltados para a compreensão das vivências das
crianças frente a doença, revelaram que em diferentes estágios e contexto do tratamento as questões
levantadas pelos pacientes diziam referente aos mesmos assuntos, entre eles: Identidade (o mundo e
seu corpo); a doença e o tratamento, os procedimentos, as consequências dos mesmos, a equipe, a
vida, relações, situações vividas e imaginadas, família, escola e a morte. Esses temas atravessam todo
desenvolvimento infantil, e com a presença da doença ficam ainda mais vivos, exigindo maior
elaboração, entendimento e compreensão.
Pedreira & Palanca (2007) descrevem as singularidades do tratamento de cada criança e todas
alterações psicossociais que esses eventos podem provocar, entre eles são:
- Hospitalizações: Provoca o distanciamento dos pacientes do ambiente familiar e escolar, causando
baixo rendimento acadêmico e problemas de socialização.
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- Procedimentos médicos: Devido ao caráter invasivo e doloroso, causam muita oscilação de humor
por parte do paciente, sentimento de impotência e falta de controle de agentes externos, podendo
resultar até mesmo em quadros psiquiátricos como fobias.
- Efeitos colaterais: O tratamento causa inúmeros efeitos colaterais, como náuseas, vômitos, queda de
cabelo, úlceras bucais, ganho de peso, atraso no crescimento, amputação entre outros. Os fatores de
risco para o surgimento de doenças psiquiátricas são os que causam comprometimento
neuropsicológico, podendo causar distúrbios de visão, memória, atenção e cognição.
- Acompanhamento a longo prazo: São consultas médicas que devem ser mantidas, mesmo diante a
remissão da doença. Pois se tratando do câncer, não se pode considerar a cura e suspender o
acompanhamento médico, frente a possibilidade da doença surgir em outros locais.
De acordo com Steinmuller (1999), apesar de haver uma significativa mudança, os hospitais
costumam oferecer o mesmo ambiente hospitalar para adultos e crianças, sem pensar na angústia que
isso pode trazer para os pacientes, consequências traumáticas, provocando impactos emocionais
negativos neles, fazendo com que possam criar atitudes negativas em relação aos serviços de saúde.
Eis a importância de um ambiente lúdico, com imagens coloridas trazendo leveza e acolhimento ao
ambiente.
A família da criança portadora de câncer
O diagnóstico da doença não afeta somente a criança, mas também sua família, que terá
também toda sua rotina afetada, no aspecto emocional, financeiro, doméstico, profissional e conjugal
(Cavicchioli, 2005). A forma com que cada família reagirá ao diagnóstico é singular. Será de acordo
com a subjetividade de cada sujeito.
Quando um integrante da família está enfermo, todos os outros são afetados, o que com
frequência gera tensão, estresse e fadiga dentro do contexto familiar, principalmente entre aqueles
responsáveis pela realização dos cuidados. A desestruturação na família desencadeia a luta diária pela
manutenção da vida de seu filho, gerando conflitos, desencontros e discussões. Os pais se sentem no
encargo de ficar a maior parte do tempo ao lado do filho, sem sair, nem mesmo para se alimentar.
Dessa forma, a criança e a família passam a fazer parte do mundo do hospital. Novos papéis são
assumidos pela família em função do cuidar da vida da criança (Duarte, 2012).
A doença é uma ocorrência na vida da criança e de seus familiares que provoca a ruptura em
sua rotina, forçando-os a se adaptarem à nova realidade ao ingressarem em outro mundo, o do
hospital, constituído de elementos diferentes da vida cotidiana. Muitas alterações ocorrem na
estrutura familiar desde de o momento em que se percebem diante de um membro doente. Essas
alterações afetam as relações familiares, da vida pessoal, do trabalho e até mesmo na própria relação
de pais e filhos, pois eles estão vivenciando uma nova fase de descobertas e inseguranças, onde o
principal foco é a preservação da vida (Duarte 2012).
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A mãe do paciente também está psiquicamente vulnerável, isso diz respeito a toda angústia de
passar pelo processo que envolve a doença, incluindo as inseguranças e possíveis crises familiares
devido a reestruturação do papel materno na família (Ortiz, 2003). Conforme citado por Cavicchioli
(2005, p.22). “A atenção aos filhos saudáveis é extremamente negligenciada e estes apresentam
sentimentos como depressão, raiva, ansiedade, ciúmes, culpa, e isolamento social.” Os irmãos
saudáveis quando percebem a atenção dada para o irmão portador da doença, começam a desenvolver
doenças psicossomáticas para chamarem a atenção desses pais ausentes.
Assim ressalta que se faz imprescindível, a importância da inserção da família no tratamento
e no cotidiano da hospitalização. A rotina dos pais de crianças com câncer e hospitalizadas, nesse
contexto, faz-se necessária a busca pelo equilíbrio entre o cuidado biológico e o cuidado humanizado,
uma vez que o tratamento do câncer exige a utilização de cuidados altamente técnicos os quais devem
ser acompanhados do cuidado humanizado. A desestrutura familiar causada pelo diagnóstico, é
inevitável, mas a forma com que cada família reage a tal situação é individual, não havendo padrão
de comportamento considerado típico ou não. Apesar de previsível, é de suma importância a união
familiar ao longo do tratamento, pois atinge diretamente a criança, e é essencial na organização
hospitalar (Cavicchioli, 2005).

A atuação do Psicólogo
A Psicologia Hospitalar vem ganhando cada vez mais espaço nos últimos anos, diante da
relevância dos aspectos psicológicos no processo do adoecer, principalmente no ambiente hospitalar.
O psicólogo hospitalar atua como um facilitador da comunicação através da fala, com intuito de
representar vivências, em internamentos e adoecimentos (Lazzaretti, 2007).
Todo esse atendimento deve ser realizado com muita cautela, pois por diversas vezes e não
intencionalmente os Psicólogos vêm realizando psicoterapia com seus pacientes hospitalares, o que
não é indicado, como em seus consultórios particulares. Isso também se deve ao fato que a maioria
das instituições de ensino focam na psicologia clínica, voltada para o consultório. Lembrando que
não são todos pacientes que têm a necessidade do atendimento psicológico, pois conseguem
atravessar todo processo de hospitalização sem reações emocionais negativas. Para realização desses
atendimentos, o psicólogo deve respeitar a rotina e estado físico do paciente infantil, sendo assim, por
diversas vezes, algo que já estava programado com algum paciente, deverá ser remanejado de acordo
com a necessidade dos pacientes, como por exemplo, exames agendados sem aviso prévio.

História da Terapia Cognitiva Comportamental e suas contribuições


A terapia cognitiva comportamental (TCC) é um mecanismo psicoterapêutico onde foi
firmado no modelo cognitivo, segundo o qual a emoção e o comportamento são influenciados pela
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forma como o indivíduo interpreta os acontecimentos (Rangé 2008, /2011). A terapia cognitiva
comportamental teve grande contribuições de Pavlov e Skinner, pensando na análise funcional do
comportamento, realizada a partir da observação direta, onde é o elemento principal desta abordagem.
Essa análise propõe identificar eventualidades antecedentes, consequentes, ambientais e contextuais
que eliciam ou mantêm padrões específicos de respostas. O processo de intervenção consiste em
identificar as funções das respostas desadaptativas e modificar suas contingências, alterando eventos
que precedem ou sucedem os comportamentos-problema (Saffi, Savoia & Neto 2008).
Em especial a terapia cognitiva comportamental foi elaborada por Aaron Beck no início da
década de 1960, buscando um pilar empírico para a teoria da melancolia de Freud, ele atendeu
pacientes com depressão, nos quais chamou a sua atenção, as características negativas dos
pensamentos depressivos. Ao estudar esses pacientes percebeu que em geral eles apresentaram o
mesmo esquema de processamento cognitivo negativo. A partir de então, tinha a proposta de levar
em tese a validade dos pensamentos, das cognições negativas e depressivas. Aos poucos, foi
estruturando um modelo cognitivo da depressão, que resultou no livro Terapia Cognitiva da
Depressão. (Beck, 1960/1997 citado por & Rangé, 2008).
Conforme as teses da terapia cognitiva comportamental iam se confirmando, Beck descobriu
que as pessoas desenvolvem e mantêm crenças básicas, ao longo da vida, a partir das quais têm a
visão de si próprio, do mundo e do futuro. Perante essa perspectiva, o terapeuta e o paciente trabalham
juntos para identificar distorções cognitivas que são pensamentos supostos antecipadamente, e
crenças a serem modificadas. A mudança interna de crenças que a pessoa tem sobre si próprio é o
principal objetivo da terapia cognitiva comportamental (Beck, J. 1960 citado por Falco 2017).
Certas características diferenciam a terapia cognitiva comportamental de outras abordagens
(Beck, A. 1997 citado por Sousa & Rangé, 2008). Os autores disseram que a terapia cognitiva
comportamental apresenta basicamente as seguintes características:
1. Ativa, visto que o terapeuta e paciente estão frequentemente atuando para solucionar o
problema para possibilitar que o paciente tenha sua própria autonomia para identificar e
modificar seus pensamentos.
2. Diretiva, em razão que é destinada aos problemas que são apresentados no presente, sendo
trabalhados em cima dos pensamentos, sentimentos e comportamentos atuais do paciente e se
baseando na história passada, quando for notado que interfere diretamente nas suas crenças.
3. Psico-educativa, quando o terapeuta mostra ao seu paciente, o modelo cognitivo a origem dos
seus problemas, o processo terapêutico e prevenção de uma possível recaída.
4. Estruturada, pois as sessões, já estabelece uma sequência determinada. O número de sessões
necessárias para o tratamento completo varia, dependendo do que irá ser trabalhado.
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5. Breve, dado que de uma maneira geral, dependerá da gravidade em que o paciente irá se
encontrar e o tipo de transtorno que será observado, normalmente na 16ª a 20ª sessão já é
possível ver uma melhora considerável.
6. Eficaz, em razão que o terapeuta irá propor tarefas, para ser realizada em casa, elas compõem
alguns exercícios feitos durante as sessões, com intuito de dar continuidade ao processo
terapêutico e mais efetividade.
A terapia cognitiva comportamental, propõe que entre a situação, emoção e comportamento,
existe um pensamento automático (PA), onde são denominados pensamentos automático
involuntários e podem ser frases e imagens, e na maioria das vezes é praticamente imperceptível.
Entretanto, as pessoas que apresentam um transtorno psicológico, tem esses pensamentos
disfuncionais, que consequentemente leva a reações disfuncionais e fora de contexto. Podem piorar
ou manter esse transtorno ou dificultar. A terapia cognitiva comportamental, irá auxiliar o paciente a
identificar esses pensamentos, a avaliar e responder a eles de uma maneira mais funcional.

Figura 1. Modelo cognitivo. Reimpresso de Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática (p.


36), por J. S. Beck, 2022, Porto Alegre: Artmed, 3º edição.

Figura 2. Exemplo do modelo cognitivo. Reimpresso de Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais


(p.24), por Bernard Rangé et al., 2011, Porto Alegre: Artmed, 2º edição.
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● Sua proposta
As crenças, é a base para entender o modelo cognitivo comportamental, elas são formadas,
através da interação que as pessoas têm com o mundo e com outros indivíduos. Elas podem ser
adquiridas pelo modelo de educação em que estamos inseridos ou no convívio em que nos
encontramos. Podem ser definidas da seguinte forma (Falco 2017 citado por Beck, J. 2010/2021):
1) Crenças centrais ou nucleares, é o entendimento mais básico da pessoa, sobre elas mesmas,
sobre o mundo, as outras pessoas e o futuro, e tendem a ser negativas, rígidas, generalizadas
e disfuncionais. elas estão divididas em três categorias:
● Crenças de desamparo = ela apoia na crença que o paciente é vulnerável ou
incompetente, para lidar com as situações. Por exemplo; ‘’Não sou capaz de me
defender’’.
● Crença de desamor = Se fundamenta na crença que o paciente possui sobre algo que
ele considera ‘’ pouco atraente’’ e por isso pouco amado. ‘’Não me considero uma
pessoa boa o suficiente para ser amada’’.
● Crença de desvalor = Ela se funda na ideia que o paciente tem de ser moralmente
ruim e desprezível ‘’ Não mereço esse presente’’.
2) Crenças intermediárias são atitudes, regras ou pressupostos, é baseada em uma relação de (se,
então), que conecta a crença central:
● Por exemplo: ‘’Se eu sou ruim em exatas, então não tentarei fazer a prova’’.

Portanto, considera-se que a terapia cognitiva comportamental, tem como um dos seus
objetivos finais, fazer com que a terapia ajude o paciente a se tornar seu “próprio terapeuta’’, aprenda
a lidar melhor com suas crenças desadaptativas e criar estratégias compensatórias mais funcionais e
realistas. As intervenções no ambiente hospitalar, diretamente com o paciente se compõe por
favorecer condições para que a criança se sinta o mais adaptado possível ao momento, efetuar
acompanhamento psicológico periodicamente com o paciente, inseri-lo em grupos de apoio com a
faixa etária semelhante à sua para maior adaptação e outros serviços que se estabelecem de acordo
com a necessidade e momento de cada criança (Francoso & Valle, 2001).

A criança oncológica e o tratamento com a TCC


Segundo o INCA (2018), estima-se 12.500 novos casos de câncer infantil, e 2.704 mortes. Em
todo o mundo, segundo a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC, na sigla em inglês),
estima-se que, todos os anos, 215.000 casos são diagnosticados em crianças menores de 15 anos, e
cerca de 85.000 em adolescentes entre 15 e 19 anos. É evidente que o número de casos em crianças é
maior e um fator que contribui para esse aumento é que muitos sintomas dessas crianças são
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semelhantes aos de doenças comuns da idade, logo, não são observadas com a devida atenção,
tornando-se, um desafio, já que muitas crianças chegam aos hospitais com a doença em estado
avançado.
A atuação do psicólogo no âmbito do hospital se faz imprescindível por ser uma fase de
dificuldades e incertezas, gerando sentimentos de ansiedade, depressão e/ou comportamentos
disfuncionais que afetam o processo de tratamento da criança com câncer. Essas dificuldades variam
de faixa etária e é papel do psicólogo identificar as técnicas que podem ser utilizadas no amparo do
paciente, podendo inicialmente apoiar e aconselhar a criança e os pais a respeito da doença. Ainda
durante este processo, a criança pode apresentar um enorme sofrimento psíquico, e devido ao não
desenvolvimento integral de sua capacidade de compreensão e expressão de sentimentos e
comportamentos, o paciente pode sinalizar através de palavras ou comportamentos inadequados ao
seu habitual (Mença, 2013 citado por Rios, 2017).
Embora o câncer seja de cunho biológico, a psicologia adentra com uma responsabilidade
nesse contexto em que as crianças estão inseridas e expostas a uma nova realidade. Um profissional
da área da psicologia auxilia na identificação dos incômodos físicos e psíquicos buscando amenizar
os sintomas gerados pela doença. Por meio da escuta qualificada, o psicólogo busca identificar as
demandas específicas de cada paciente, realizando psico-educação, acolhendo, psicoterapias, sendo
mediador na comunicação médico e família, além de esclarecer dúvidas sobre os procedimentos que
serão realizados e suas reações adversas (Gurgel & Lage, 2013).
Segundo Judith Beck (2013/2022), a terapia cognitivo-comportamental está baseada no
modelo cognitivo, que levanta a hipótese de que as emoções, os comportamentos e a fisiologia das
pessoas são influenciados pela sua percepção dos acontecimentos. Por conseguinte, a terapia
cognitiva propõe a elaboração de uma mudança do comportamento do indivíduo através da
modificação de seus pensamentos. A fala, a cognição e o comportamento nesta situação se tornam
um meio de proporcionar ao paciente entendimento diante das situações hospitalares e ter a
oportunidade de se expressar livremente sobre sua condição.
A influência de fatores psicológicos sobre o desenvolvimento e a manifestação do câncer
infantil gera impactos na forma de enfrentamento. Quando ocorrem os procedimentos invasivos do
tratamento de câncer, a intervenção psicológica auxilia o paciente na preparação, Júnior (1999 citado
por Rios, 2017) divide este momento em quatro partes:
1- informações precedentes ao paciente com a finalidade de controle do
comportamento instrucional; 2- prática da modificação de comportamentos
que possam influenciar ou inibir o procedimento estipulado; 3- composição
de um roteiro no auxílio aos comportamentos que possam vir ater paciente e
profissional; e 4- identificação de características intrínsecas da personalidade
(p.16).
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É de fundamental importância correlacionar o doente de câncer com sua família, em razão de
que existe uma mudança drástica na rotina, na organização familiar e nas necessidades de todos.
Sentimentos negativos são comuns nos pais, gerando um sentimento de impotência e fracasso diante
da situação do paciente. Baseado nas afirmativas de Silva & Melo (2015) existe a necessidade de
compreender as formas de enfrentamento, principalmente quanto ao processo do adoecimento, uma
vez que, podem despontar dificuldades entre os familiares e o paciente. A partir disso, é essencial a
intervenção junto às famílias, buscando assim, reduzir a dor e o impacto da doença.
Ao receber o diagnóstico de um câncer, o paciente tem sua qualidade de vida modificada
significativamente, essa notícia acarreta uma série de mudanças em suas rotinas, principalmente do
indivíduo portador da doença, que para realização dos devidos procedimentos e tratamentos é
necessário a internação hospitalar pois, existe a necessidade de um acompanhamento contínuo do
seu quadro de saúde. De acordo com Menezes et al. (2007) a criança que adoece de câncer mesmo
não obtendo uma compreensão cognitiva completa de todo o processo percebe a intensa
transformação que acontece em sua vida. O tratamento do câncer pode provocar diferentes reações
físicas e psicológicas nos pacientes, como insônia, isolamento, perda de apetite, mudanças no corpo
e outros (Oliveira, Marques, 2016 citado por Rios, 2017).
De acordo com o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), nos termos do art. 2º da Lei
8.069/90: Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade
incompletos, e adolescente é aquela entre doze e dezoito anos de idade. Parágrafo único. Nos casos
expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos
de idade.
Durante a fase de tratamento do câncer a criança é subitamente retirada do seu convívio social,
por um período indefinido de tempo, causando um distanciamento de hábitos e dos conhecidos. Esse
é um momento onde essa criança se vê em uma situação atípica e pode surgir dúvidas. O paciente
diante das incertezas pode apresentar sinais de ansiedade, estresse, raiva, medo e principalmente
depressão (Andersen, 2015).
Pacientes diagnosticados com câncer demonstram uma inclinação maior a sinais de depressão,
em relação a indivíduos saudáveis. Como a depressão pode ser um fator de influência nos resultados
do tratamento, deve ser antecipadamente avaliada e tratada. Lourenção, Santos Junior & Luiz (2009).
O diagnóstico de câncer ainda tem uma associação à morte, e na intenção de proteger o filho
doente do sofrimento, alguns pais se mantêm na angústia em silêncio, se esforçando para ocultar-lhe
o diagnóstico. Não se deve omitir nem enganar a criança como forma de defendê-la do sofrimento,
pois o fato de ser enganada e submetida à ignorância cria uma dor muito maior, que poderá ser
manifestada através de sintomas (Gurgel &Lage, 2013).
13
Outro ponto importante é que os pais limitam mais às atividades dos filhos; superprotegendo-
os, entretanto, isso pode gerar “sentimentos de insegurança, vulnerabilidade, egocentrismo,
fragilidade e autoritarismo” (Espíndula & Valle, 2002, p. 2 citado por Gurgel & Lage, 2013). Como
base metodológica para intervenções, as sessões da terapia cognitiva são curtas, diretas, focadas no
presente, na resolução de problemas e modificação dos pensamentos e comportamentos tidos como
disfuncionais, ou seja, inadequados à situação. No que cabe à criança, as intervenções são
direcionadas a adaptação ao ambiente, reconhecimento das emoções, através da escuta qualificada,
enfrentamento e apoio nos exames e nos tratamentos médicos, buscando proporcionar uma maior
serenidade e entendimento ao paciente.
Estima-se que 20% dos pacientes, apenas, precisem do atendimento de psico-educação
(transmissão de informações); 30% necessitam da abordagem psico-oncológica; 35% a 40% carece
do tipo de serviço ofertado no hospital e 10% a 15% se faz necessário cuidados mais restritos.
(Bergerot, 2013 citado por Rios, 2017). Em relação a família, o psicólogo trabalha com o foco na
psico-educação sobre o quadro do paciente, realizando a mediação entre família - criança - médicos,
além de frisar a importância da identificação e entendimento dos sentimentos vivenciados. Ainda,
cabe a terapia cognitivo-comportamental (TCC), ensinar o indivíduo a desenvolver uma reflexão
sobre “pensar sobre o pensamento” trazendo à tona cognições autônomas para sua consciência e a
partir deste ocorrido, trabalhar-se com as cognições e comportamentos através de técnicas (Wright,
Basco & Thase, 2009 citado por Rios, 2017).
O período de internação do paciente oncológico é indefinido, e consequentemente é
importante lidar com o presente. Objetivamente com o adoecimento e a hospitalização da maneira
mais qualificada. Logo, um dos primeiros objetivos do psicólogo cognitivo-comportamental no
hospital é identificar as interpretações do paciente acerca de seu processo saúde-doença para iniciar
um trabalho de reestruturação de pensamentos disfuncionais.
Em suma, podemos listar, pelo menos, cinco vantagens da TCC com crianças oncológicas: (1)
o fato de ser uma abordagem diretiva, estruturada e focada no aqui-agora, faz com que se torne
adequada ao setting hospitalar; (2) a atitude empática, adotada como um de seus elementos
fundamentais, favorece o suporte emocional ao paciente; (3) a adoção de uma linguagem clara e
objetiva e a técnica da psicoeducação auxiliam a diminuir a ansiedade e a melhorar a comunicação
entre paciente, equipe e família; (4) o uso de técnicas específicas para manejo da dor, ansiedade e
depressão, ajuda a preparação do paciente para o pré e pós-operatório; e (5) a identificação e correção
de crenças disfuncionais do indivíduo em relação a sua saúde/doença, que podem prejudicar sua
recuperação, o que contribui para uma boa adesão ao tratamento (Pereira & Penido, 2010).
Tendo em vista o fato que no ambiente hospitalar ocorrem várias mudanças e transformações,
as crianças estão submetidas a desenvolverem sentimentos negativos. Essas mudanças podem fazer
14
com que o desespero e a depressão prevaleçam (Braga, 2022). A depressão é um problema
psicológico altamente prevalente em crianças e adolescentes. É preciso lembrar que a depressão se
manifesta de formas diferentes nas crianças e o quanto mais rápido reconhecer os sintomas e sinais,
melhor será a eficácia do tratamento.
A terapia cognitiva-comportamental (TCC) proporciona ao paciente a possibilidade de
analisar a situação de forma mais orientada e fundamentada em fatos. Ainda assim, crianças
deprimidas e ansiosas apresentam alterações de humor, crenças disfuncionais, dicotomia
comportamental e fisiológica, além do retraimento social. Apesar de terem sentimentos que muitas
vezes são exteriorizados em conjunto, atividades específicas para cada um são desenvolvidas para
tranquilizar o paciente e consequentemente enfrentar as situações vividas (Del Prette & Del Prette,
2017).
Sendo assim, como forma de intervenção cognitivo-comportamental, as técnicas são utilizadas
de maneira objetiva, podendo ser eficazes para o tratamento de diversas questões psicossociais do
indivíduo e se tratando de pacientes oncológicos. Durante a psicoterapia, as técnicas utilizadas
possibilitam um autoconhecimento e um entendimento maior sobre as emoções e sentimentos que
podem surgir durante a internação. No tratamento junto à criança as estratégias interventivas devem
ter como foco as emoções e o comportamento, em detrimento dos pensamentos automáticos e outros
níveis de cognição (Caminha, 2013 citado por Paula & Mognon, 2017).
As técnicas comportamentais minimizam a frequência e gravidade de comportamentos
indesejados, ao mesmo tempo em que aumentam a frequência de comportamentos desejados,
portanto, para que seja escolhido a técnica mais assertiva a ser utilizada e que tenha um impacto
positivo, é de extrema importância identificar como o paciente interpreta a doença e todo o processo
que a envolve, e como isso pode afetar sua saúde mental. Conforme Cardoso et al. (2009), diversos
aspectos característicos do câncer são susceptíveis de desencadear reações psicológicas intensas que,
se não tratadas, podem causar sofrimento clínico significativo ao paciente, resultando em depressão
e ansiedade.
Diante disso, uma técnica bastante utilizada para identificar e corrigir os pensamentos
automáticos, bem como as distorções cognitivas, que podem gerar pensamentos negativos,
desesperança e sofrimento ao paciente, é o “Questionamento Socrático”, onde será feito, dentro do
entendimento da criança, um exame de evidências, buscando uma reestruturação cognitiva. O método
socrático é utilizado para ajudar o paciente a desenvolver um raciocínio autônomo (Lima, 2003 citado
por Cordioli et al., 2008).
Rios (2017) salienta que a técnica de reestruturação cognitiva foi praticada através de
desenhos no estudo realizado por Costa Júnior et al. (2000), onde a proposta era obter os pensamentos
15
e percepções que as crianças possuíam sobre tal momento em suas vidas, obtendo os temas: família,
equipe, tratamento, doença, autoimagem e outros, trabalhando suas cognições e as reestruturando.
A reestruturação cognitiva mostra a criança que, se é possível mudar seus pensamentos,
também é possível mudar as sensações. Segundo Motta & Enumo (2002, 2004) o brincar corresponde
a 78,6% das respostas relacionadas ao desejo da criança hospitalizada justificando o uso intenso da
intervenção lúdica.
As distorções cognitivas podem ser prejudiciais para o tratamento e dentre elas podemos
mencionar a Catastrofização, que é pensar que irá acontecer a pior possibilidade no futuro, excluindo
outros possíveis desfechos. O pensamento tudo ou nada, que refere-se a interpretar a situação de
forma polarizada, em dois extremos ao invés de um continuum. É como se a pessoa enxergasse “o
preto ou o branco”, sem considerar escalas de cinza, e a adivinhação, que relaciona com o fato de
achar que sabe o que irá acontecer no futuro, antecipando situações que talvez não cheguem a ocorrer
(Pereira & Penido, 2010).
Outra técnica utilizada pela TCC é a Psico-educação, que tem uma importante função de
orientar o paciente em diversos aspectos, seja a respeito das consequências de um comportamento, na
construção de crenças, valores, sentimentos e como estes repercutem em sua vida e na dos outros,
bem como nortear o paciente e sua família quanto à existência ou prevalência de doenças, sejam elas
de ordem física, genética ou psicológica (Beck, J. 2013).
Um instrumento utilizado para trabalhar a psico-educação com crianças é o “Baralho das
Emoções” (Caminha, 2011) onde através de cartas ilustradas, com explicações e funções das emoções
universais, tais como; alegria, medo, nojo, raiva e tristeza, vão ajudar a criança a observar, identificar
e reconhecer os sentimentos que as permeiam. Assim, a psico-educação pode ser bastante útil,
também em conjunto com outras técnicas para auxiliar no tratamento e na saúde do paciente.
Cabe salientar que o contexto em que a criança está inserida durante a internação, pode deixá-
la exposta a um desencadeador de reações como o medo e o estresse. Segundo Petersen et al., (2011)
situações de estresse podem servir como gatilho para a expressão de psicopatologia não existente até
a exposição do estressor.
Ao falar de estresse é importante que a criança consiga identificar o fator que resulta essa
resposta, é uma técnica que pode ser utilizada é a “ Resposta de Luta e Fuga” onde o terapeuta conta
uma história com imagens e pergunta para criança se ela vai correr (fuga) ou ficar e se defender (luta),
assim, poderá identificar na resposta de luta ou fuga o aumento das emoções e os sinais de ansiedade,
ajudando a criança a normatizar seus sintomas e questionando assim como as suas crenças (Stallard,
2010 citado por Silveira, Conceição, 2020).
O campo de estudo das habilidades sociais é um campo recente que vem recebendo cada vez
mais atenção, principalmente pela relação existente entre o repertório de habilidades sociais e a saúde,
16
a satisfação pessoal, a realização profissional e a qualidade de vida (Del Prette e& Del Prette, 2001
citado por Pereira & Penido, 2010). Por meio da técnica de treinamento de habilidades sociais
procura-se enfatizar a questão da responsabilidade individual do paciente em relação aos problemas,
promovendo um entendimento da comunicação efetiva e buscando melhorar a transmissão de seus
sentimentos e emoções por meio de jogos e brincadeiras.
As técnicas podem ser eficazes quando aplicadas paralelo ao tratamento medicamentoso, pois
diversas formas de intervenção podem ser utilizadas e aprendidas no contexto hospitalar, podendo ser
treinadas fora dele pelo paciente, como método de autoajuda cognitivo e comportamental, durante
momentos de crise, o tornando seu próprio terapeuta em momentos de recaídas (Ferreira, 2015).

Considerações Finais
O presente artigo buscou apresentar os principais pontos referente ao câncer infantil,
baseando-se na revisão de literatura científica, com pesquisa teórica fundamentada na abordagem
qualitativa. Observou-se que a terapia cognitiva comportamental (TCC) pode ser uma grande aliada
nesse processo de tratamento à criança e seus familiares, uma vez que trabalha com as principais
aplicações como: Manejo do estresse, manejo da dor e efeitos adversos do tratamento.
Os fatores psicológicos são de suma importância em todo processo de adoecimento devido a
constante interação entre corpo e mente. Diante disso, a importância dos aspectos emocionais terem
a mesma importância que os aspectos biológicos, conforme ressalta Judith Beck (2013/2022) quando
diz que a TCC está baseada no modelo cognitivo, que levanta a hipótese de que as emoções, os
comportamentos e a fisiologia das pessoas são influenciados pela sua percepção dos acontecimentos.
Com grande destaque ressaltou-se as questões que permeiam todo processo de hospitalização,
por ser o momento mais crítico de toda doença, devido a toda fragilidade que rodeia o paciente e sua
família, devido a mudança brusca de rotina e a chegada de novos sintomas e limitações. Com
relevância enfatizou a importância da especialização do Psicólogo em Psico-Oncologia, para que seu
trabalho possa ser melhor compreendido, uma vez que se diferencia muito do atendimento prestado
em consultório e outros serviços.
Salientou-se que o presente trabalho não teve a empáfia de esgotar o assunto, somente abrir
algumas discussões referente ao tema, enfatizando a importância do Psicólogo hospitalar em conjunto
com os profissionais que atuam na oncologia pediátrica, contribuindo com a humanização dos
atendimentos e do ambiente hospitalar, acolhendo a subjetividade e singularidade de cada sujeito.

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