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Movimentos Seciais e Servico Social uma telagao necessaria Maria Beatriz Abramides Maria Liicia Duriguetto ons) Meat (ess Aconstrucao de pensamentos e de teorias guarda sua forca na contradicao. E diante da necessida- de de pensar saidas aos desafios impostos por nosso tempo, ao buscar produzir sinteses para as contradicoes da realidade no caminho da eman- cipacao humana, que o pensamento alicerca sua poténcia. Historicamente - como demonstram va- rios dos artigos desta coletanea - 0 Servico Social se deu a essa tarefa. A Historia nao comeca quando nos damos conta dela e, o futuro, embora possamos arriscar previ- sdes, tem como uma de suas determinacdes uma impressionante variavel: a a¢ao humana sobre a realidade. O que esta coletanea nos permite é exatamente tentar identificar em que momento estamos e 0 que houve antes de nds, nos dando ferramentas para melhor compreender o presente e com mais forca seguir nas trincheiras dos que. no front, disputam o futuro. fled (cle ot Militante do Movimento Luta Popular Tornou-se lugar comum a afir- macdo sobre um suposto ine- vitavel, inegavel e irreversivel descenso dos movimentos so- ciais no Brasil e no mundo. Esta apologia se assemelha e se alimenta de outra surgida nos idos da década de 1990 que alegava o fim da historia e cla- mava a perenidade indiscutivel do capitalismo. A irrup¢ao de agudas manifestacoes de crise do capital desde entdo e as lutas sociais que irromperam de norte a sul do globo arrastaram como enxurrada esse discurso, que s6 interessa ao enaltecimento da sociabilidade burguesa. Esta coletanea, que tenho a imensa satisfacao de apresentar, rea- firma de modo convincente a vitalidade das lutas coletivas nos marcos das lutas de classe. a perspectiva Mevimentes Seciais e Service Secial uma telac&éo necessétia no Ambito do movimento operario e sindical, como nos movimen- tas, étnico-raciais e pela liberdade de orientagao sexual, sem abrir mao da pers- pectiva de classe. S6 isso ja justificaria a leitura dos textos, de autoria de combativas/os pesquisadoras/es brasileiras/os. Mas o trabalho vai além e mostra a importante e imprescindivel relacdo entre o Servico Social e os Movimentos Sociais, tanto do ponto de vista do debate tedrico, quanto de sua dimensao mi tante e interventiva, que tem nos valores da emancipacao huma- na o fermento do Projeto Etico- -Politico Profissional. Este livro, ao dedicar-se a historica relacéo 7 entre Servico Social e Movimen- tos Sociais em diferentes verten- tes, constitui, assim, uma leitura obrigatoria e imprescindivel, tos fem Conselho Editorial da drea de Servigo Social Ademir Alves da Silva Dilséa Adeodata Bonetti (Conselheira Honorifica) Elaine Rossetti Behring Ivete Simionatto Maria Liicia Carvalho da Silva Maria Lucia Silva Barroco Dados Internacionais de Catalogacao na Publicacao (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) is e servigo social : uma relagio necesséria / Maria ymides, Maria Liicia Duriguetto, (orgs.).-Sio Paulo: Varios autores. ISBN 978-85-249-2303-6 1. Assisténcia social ~ Brasil 2. Brasil - Politica social 3. Luta de classes 4. Movimentos sociais 5. Se al = Brasil I. Abramides, Maria Beatriz. 11. Duriguetto, Mari 14-10682 Cpp361.981 indices para catlogo sistematico: 1, Brasil : Movimentos sociais : Servico social : Problemas sociais 361.981 Maria Beatriz Abramides Maria Liicia Dutiguetto ous) Movimentos Soci MOVIMENTOS SOCIAIS E SERVICO SOCIAL: uma relacao necessaria Maria Beatriz Abramides e Maria Luicia Duriguetto (Orgs.) Capa: de Sign Arte Visual Preparagio de ariginais: Jaci Dantas de Oliveira Revisfo: Maria de Lourdes de Almeida Composigao: Linea Editora Ltda Assessorit editorial: Maria Liduina de Oliveira e Silva Editorn assistente: Priscila Florio Augusto Coordenagte editorial; Danilo A. Q. Morales Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou duplicada sem autorizacio ‘expressa das organizadoras ¢ do editor © 2014 by Organizadoras Direitos para esta edigao CORTEZ EDITORA, Rua Monte Alegre, 1074 ~ Perclizes 0504-001 - Sio Paulo -SP (11) 38640111 Fas SONHO IMPOSSIVEL Letra e nuisica: Joe Darion/Mitch Lel Versio: Chico Buarque de Hollanda e Ruy Sonhar mas um sonho impossivel Lutar quando é facil ceder Vencer o inimigo invencivel Negar quando a regra 6 vender Sofrer a tortura implacavel Romper a incabivel prisio Voar num limite improvavel Tocar o inacessivel chao & minha lei, é minha questio Virar este mundo, cravar este chao ea Eo mundo vai ver uma flor Brotar do impossivel chao. Aassistente social, professora doutora Nobuko Kameyama pela trajetdria histérica de lutas junto aos movimentos: sociais € por seu Compromisso e dedicacdo ao projeto ético-politico profissional. Seu legado nos alimenta, anima e fortalece na perspectiva emancipatoria. Sumario Apresentaca Prefacio Ana Elizabete Mota... PARTE! Movimentos sociais e luta de classes na contemporaneidade Duas teses sobre a situagdo internacional M. B. ABRAMIDES © M, L, DURIGUETTO. Lutas sociais contemporaneas: entre os designios Ps ae pds-modernos e os imperativos da classe trabalhadora Séibara Paula Francelino Ribeiro. Movimentos urbanos: lutas e desafios contemporaneos Tatiana Dahmer Pereira a A questo agréria no Brasil ¢ os desafios contempordneos ao Movimento dos Sem Terra: uma andlise sobre estratégias produtivas e politicas do movimento Cristina Simdes Bezerra on Movimentos feministas e pela liberdade de orientagao e expressao sexual: relagdes com a luta de classes no Brasil de hoje Mirla Cisne e Silvana Mara Morais dos Santos. PARTE I Movimentos sociais e Servico Socia produgao de conhecimento, formagao, intervencao e organizacao politico-profissional Movimentos sociais ¢ Servigo Social no Brasil pos-anos 1990: desafios e perspectivas Maria Liicia Duriguetto 00 s O carater pedagégico da intervencao profissional e sua relagdo com as lutas sociais MOVIMENTOS SOCIAIS € SERVIC SOCIAL 3. Cotidiano, Servico Social e sua dimensao ideopolitica: prospectivas de agao Amanda Guozzelli e Ana Livia Adriano.. nn Movimento sindical e Servico Social: organizacao sindical por ramo de atividade ou por categoria profissional? Maria Beatriz Costa Abramides.. me Experiéncias profissionais do Servico Social nos movimentos sociais urbanos EDlin Farge cosecsnesecsnescsees A realidade agraria e 0 trabalho do assistente social na interface com os assentamentos rurais Raquel Santos Sant'Anc .. O que a universidade pode aprender quando coloca seus pés em um acampamento sem terra? Kaiti Tris Mar r0 ....ss..scessesesessesevsecesenes A insergao da tematica étnico-racial no processo de formagao em Servico Social e sua relagéo com a educacao antirracista Roseli da Fonseca Rocha. — Quilombos: cultura e resisténcia Juliana Abramides dos Santo: Apresentagao Esta coleténea vem contribuir com uma tematica que 6 Projeto Etico-Politico Profissional do Servico Social Brasileiro. | preendemos o compromisso com os interesses imediatos ¢ his da classe trabalhadora, expresso na relagao entre Movimento e Servico Social, como uma das objetivagdes centrais no proce ruptura com o conservadorismo. Assim, reafirmar a relagi Servigo Social e Movimentos Sociais é fortalecer 0 processo. vagdo continua da profissdo, objetivo central desta coletanea. A coletanea contempla 18 artigos escritos por intelec! quisacoras(es), militantes, assistentes sociais e outros pro ontra-se organizada em dois blocos: Movimentos Soci le classes na contemporaneidade e Movimentos Sociais cial: producio de conhecimento, formacao, interven @ politico-profissional. O primeiro bloco da coletanea apresenta artigos rel das lutas sociais desde a ditadura no Brasil até a at ocasionada pela crise de superprodug M. B. ABRAMIDES * M, L. DURIGUETTO Na esfera da cultura, houve uma investida ideopolitica da denomi- nada “pés-modernidade” que nega: a existéncia das classes sociais, 0 trabalho em sua centralidade, 0 protagonismo do proletariade no processo hist6rico da revolucao social. Nesse contexto, os(as) auto- res(as) analisam os desafios postos a classe trabalhadora para o seu projeto imediato e emancipatério a partir das contradicées antagéni- cas da relacao capital — trabalho e das diferentes concepgoes politi- co-organizativas existentes no interior da classe trabalhadora. Abrindo a coletanea, Valerio Arcary trata de duas teses sobre a situagao internacional do capitalismo em suas sucessivas crises até 2008, e seu aprofundamento com rebatimentos sobre a classe traba- Ihadora. Explicita os desafios postos ao marxismo revolucionario a partir das determinacSes hist6ricas fundadas no proceso internacio- nal de restauragao do capitalismo, pés-1989, com a destruicéo das conquistas de direitos sociais dos trabalhadores. Retrata a prevaléncia do projeto reformista no interior do proletariado, bem como a pro- gramatica dos governos latino-americanos que foram apoiados por setores populares e representam o projeto do capital. Denuncia a guerra civil na Siria, desde 2012, e a guerra genocida de Israel contra Gaza em 2014. No processo das lutas de classe, apresenta as intimeras greves desde 2008, bem como a explosio de mobilizacGes de rua, no plano internacional e no Brasil, em que se evidenciam tendéncias mais moderadas e revolucionérias na luta contra o capitalismo e suas me- didas destrutivas. Reafirma, ainda, 0 protagonismo hist6rico da clas- se e da necessidade de sua entrada em cena com mobilizacao revo- lucionaria, Mauro Iasi analisa as mobilizacdes explosivas de massas no pais a partir de junho de 2013, que se iniciaram pela reducao da tarifa de énibus e se expandiram para outras reivindicagdes como: satide, educacao, habitagao, contra os gastos com as obras da Copa do Mun- do em 2014, contra a violéncia da policia e pelo fim da eriminalizagao I 5 tenses exis \ ior do MOVIMENTOS SOCIAIS € SERVIGO SOCIAL partir de 2003, com o governo Lula. Identifica 0 processo de “trans formismo” do Partido dos Trabalhadores (PT), que se amoldou at limites da ordem burguesa. Para o autor, o “apassivamento” de di terminados setores sociais nao significa auséncia de Lutas. Para ilustt isso, destaca que em 2013 e 2014, houve um aumento significati greves no pajs (garis, rodoviarios, construgao civil, professore ensino publico federal e estadual, trabalhadores em servico pul metrovidrios, entre outros) que explicitam a luta de resisténcia t ploragao do capital e 4 dominagao de classe do Estado. Sambara Ribeiro trata da chamada quadra “pés-moderna’ ofensiva do capitalismo, em sua fase contemporanea, como expr de uma perspectiva ideolégica ao centrar sua andlise nos el tedricos, ideopoliticos e culturais implicitos no projeto de hey do capital de negacéo das teorias macroestruturais de an tealidade, da interpretagao da vida social de forma acritica, d caética e episédica que se configuram como elementos de a nos marcos do irracionalismo. A concepgdo dos “novos mo} sociais” articula-se as teorias pés-modernas ao considerart tionamentos a existéncia das classes sociais, a negacgao dos | classistas, o fim da centralidade do trabalho, a negagao do | nismo do proletariado no processo historico de transforma A autora afirma a necessidade de se reconhecer e se pel de 1964 até 1987, Analisa sua atuagdo nas grand ariado metalirgico da capital paulista (1978/79) e su M. B, ABRAMIDES ® M. L_DURIGUETTO revelia do movimento grevista que se encontrava em curso. Em 1968, a partir do AI n. 5, amplia-se a repressao e violéncia policial e militar de um regime fascista em que os operarios metaltirgicos Olavo Hansen e Luis Hirata sao assassinados. O operario Santo Dias da Silva também 6 assassinado em 30/10/1979, no segundo dia de greve. Em um de seus congressos, a OSM, em 1984, passa a se autodenominar movi- mento, 0 MOSM-SP. A OSM teve um papel decisivo na organizacdio do sindicalismo classista que culmina com a fundagéo da CUT em 1983. Uma de suas encruzilhadas é fruto dos retrocessos da CUT que inviabilizam a participagao das oposigoes sindicais. Em 1997, foi cria- do 0 Projeto de recuperacao da memGria da combativa OSM. Marcelo Badaré retrata o desafio da organizagao sindical no Brasil. Recupera a trajetoria hist6rica do sindicalismo classista, de luta dos anos 1980; 0 processo de acomodagao sindical dos anos 1990, com a evidéncia de um sindicalismo de cooptacao a partir do governo Lula, e apresenta os desafios atuais, a partir de 2013, com um novo ciclo das lutas sociais no pais com mobilizagdes massivas e greves que séo amplamente analisadas. Os anos 1980 sao lembrados pelas gteves operdrias no ABC paulista e pela greve geral em 1989. Os anos 1990 séo marcados pela ofensiva do capital com a retirada de direitos; a classe se coloca em uma acao sindical institucionalizada em cama- ras setoriais, notadamente no governo FHC. A partir de 2003, no governo Lula, os setores hegeménicos da CUT quebram sua autono- mia sindical na perspectiva estadista. Indica questes relacionadas a necessidade de reorganizagao da classe que nao aconteceu em 2010, entre Intersindical e Conlutas. Por fim, 0 autor defende e analisa a necessidade desta unificagao para a perspectiva classista. Cristina Bezerra debate as lutas e desafios politicos e organiza- tivos dos trabalhadores rurais sem terra, 0 MST, a partir da hegemo- nia do grande capital internacional, de financeirizagéo da economia que incide pp ptopiedade da tena) da products e dos! eps, agricolas. MOVIMENTOS SOCIAIS E SERVICO SOCIAL trabalho humano. Em resisténcia ao agronegécio, a autora desta que os trabalhadores rurais se organizam no MST, no Movimento di Atingidos por Barragens (MAB) e no Movimento dos Pequenos Agri cultores (MPA). Esses movimentos compéem a Via Campesina e com outros movimentos latino-americanos fortalecem a luta de politizag e formagao da consciéncia de classe para a emancipagao politi humana. Tatiana Dhamer Pereira trata dos desafios postos aos Movimeny tos Sociais Urbanos considerando as ofensivas do capital de coop cao e criminalizagao na quadra histérica contemporanea. Refer questao urbana desde a sociedade feudal e apresenta as novas ¢ tradigdes urbano-industriais com o desenvolvimento do capitalil ao impor extensa jornada de trabalho e precdrias condigdes d radia, Exp6e as diferentes correntes tedricas na tematica e enfat marxista no horizonte da emancipagaéo humana. Revela as lutas s¢ urbanas nos perfodos ditatorial, de redemocratizacao, pés-imp! cio do neoliberalismo que destréi direitos sociais conquistados, @ énfase no periodo a partir do governo Lula, em que se apro! 8 contradigGes postas aos movimentos sociais urbanos, base de ‘leitoral ao projeto democratico popular do PT que incorporamy grande parte, a légica das “reformas possiveis”. A autora / Novas rearticulacdes combatiyas nas lutas sociais par errando a primeira parte da coletinea, Mirla Cisne ; Santos: apresentam os prapmentos relatives as | M. B. ABRAMIDES * M. L, DURIGUETTO As autoras recuperam a origem e o desenvolvimento de movimentos feministas e pela liberdade sexual na concepgao classista, respectiva- mente; Articulagao de Mulheres Brasileiras (AMB) e a Marcha Mun- dial de Mulheres (MMM); a Associagao Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgéneros (ABGLT) e a Liga Brasileira de Lésbicas (LBL). As autoras chamam a atengao para que o Servico Social conhega as lutas contra a violagao de direitos ea exploragao e Opressao a esses segmen- tos na necessaria defesa da diversidade humana, de seus direitos imediatos e na luta por um projeto emancipatério. Os artigos que compoem a segunda parte da nossa coletanea tratam de tematizar, em desafios e perspectivas, as mediagdes que conectam a profissio as organizacdes, movimentos e lutas sociais por intermédio da produgao do conhecimento, formagao, intervencao e organizaco politica profissional. No artigo de Maria Lticia Duriguetto, sao retomados os elemen- tos constitutivos da restauracdo capitalista (padrao de acumulacdo flexivel e as contrarreformas estatais no campo das politicas sociais), materializados na realidade nacional a partir dos anos 1990, e seus impactos no campo das lutas sociais. E nesse contexto que a autora reflete acerca dos desafios e prospectivas da relacdo do Servigo Social com as lutas, movimentos e organizagées dos trabalhadores. Apre- senta o estado da arte dessa relacdo na produgao de conhecimento da area e os termos do debate, acumulados pela Profissio pés-anos 1980, que tratam de horizontes de possibilidade para o desenvolvi- mento de uma articulagao da interyengao profissional nos Pprocessos de mobilizacao e organizagéo popular. Josefa Lopes, Marina Maciel Abreu ¢ Franci Gomes Cardoso abordam os contetidos que conformam a funcao pedagégica da in- tervencao profissional, destacando a praxis e o Principio educativo, referenciados nos construtos teéricos gramscianos, como fundamentos dessa interyengao, E com este norte analitico, que sao ay fissional com is MOVIMENTOS SOCIAIS E SERVICO SOCIAL fonte de vitalizacéo de uma pedagogia emancipatéria. Um dos cam nhos reivindicados para o fortalecimento dessa pedagogia emancipi toria e de resisténcia é 0 investimento profissional nas instituicdes de organizagao politica da categoria no estabelecimento de vinculos partidos, movimentos e organizacdes que permanecem na resisténi contra o capital. Amanda Guazzelli e Ana Livia Adriano trazem reflexdes da d mensao ideopolitica do Servigo Social em articulagdo com as catey rias que conformam a vida cotidiana. Localizam, no campo dat ganizagdes ¢ lutas dos trabalhadores, a possibilidade aa constr de um cotidiano emancipador, Esse campo adquire, assim, cor rayel relevancia nos processos de construgao de alternativas téncias as relacGes e aces alienantes da vida cotidiana sob 0 jt capital. £ na sintonia com este cotidiano de resisténcias elut direcdo contida no projeto ético-politico pode constituir-se c véneia e resisténcia critica 4 singularidade alienada formada na‘ dianidade do mundo capitalista. A organizagao sindical dos trabalhadores e da categoria a profissional para o da organizagéo por ramo de associada a insercao das(os) assistentes sociais nica do trabalho. E apresentado, como desafio, que -Feprodugao social) deva incluir todos os s , independente das formas de uso, contr: | forga de trabalho, Com esta apreensao, r M. B. ABRAMIDES * M. L. DURIGUETTO. constitutivos do espago urbano ¢ da constituigéo das cidades, orien- tados pela segregacao sécio-espacial, econémica e cultural. Em ofen- sivaa essa logica segregativa, eclodem os movimentos sociais urbanos que inscrevem suas lutas & dimensao classista ou institucional (que aqui podem estar clivados pela colaboragao e/ou pela cooptagao). Defende-se a necessidade de avancos na organizacdo coletiva e auté- noma dos trabalhadores e da necessaria articulagdo do Servico Social com o campo das lutas urbanas — tanto nos espacos auténomos de organizacao dos trabalhadores como em espacos institucionais — condigao para ir além dos limites das politicas ptiblicas e sociais. Raquel Sant’ Ana tece os fios criticos do atual projeto de desen- volvimento agrario, que mantém a concentragao de terra e que trans- forma a reforma agraria em politica compensatdria. O beneficidrio da reforma agraria passa a ser usuario dos programas sociais destinados Aqueles que nao possuem renda, ou seja, demandatérios da politica de assisténcia social. A partir desses elementos, a autora apresenta desafios e horizontes de intervencdo do assistente social em assenta- mentos rurais, como a precarizacaéo dos contratos de trabalho e a necessaria interlocugao da profisséo com saberes e com as lutas esta- belecidas pelos segmentos profissionais e os movimentos sociais. Essa relagao € condigao para que nao restrinja sua intervenc¢ao nas politicas sociais, projetos institucionais e a imediaticidade posta pelo cotidiano profissional. O artigo de Katia Iris Marro traz-nos reflexdes acerca da relacao do Servigo Social com os movimentos sociais a partir de um trabalho extensao universitaria realizado junto ao Movimento dos Traba- Thadores Rurais Sem-Terra. A autora elucida que as praticas extensio- fas junto aos movimentos e lutas sociais contribuem para a forma- §0 profissional na perspectiva da diregao social do projeto Icorpolitico, para a fungao social da universidade ptiblica ¢ para a ypria qi iGAO clos processos de organizacao das classes subal- M Social com a MOVIMENTOS SOCIAIS E SERVICO SOCIAL a reprodugao das relagGes sociais, nos conflitos de classe e para pautar a produgao de conhecimento em sintonia com a agenda de luta e reivindicagio desses sujeitos. Roseli Rocha apresenta os resultados de sua pesquisa sobre a insergdo da questao étnico-racial na formagao profissional e sua rela- cdo com a construgaéo de uma educacdo antirracista. A autora desen- valve varios aspectos da importancia da discussdéo deste tema na formacao, como, por exemplo: 0 necessdrio conhecimento dos sujeitos sociais que sao historicamente discriminados; quem mais demanda a intervengao profissional e sobre quem mais sao dirigidas as politicas repressivas estatais. Esse conhecimento contribui para desocultar as resisténcias individuais e coletivas que esses sujeitos acionam. Segun- do Roseli, o projeto profissional, ao ter como diregéo politica a cons- trugdo de uma nova sociabilidade, esta em consonancia com as lutas hist6ricas da populacdo negra. Todavia, permanece um hiato entre as conquistas legais da profissio no que se refere a incorporagao do tema 6tnico-racial e a sua consolidacao na realidade concreta dos processos de formagao e de intervencio profissional. Este convite ao mergulho no conhecimento dos sujeitos com os quais trabalhamos também € feito nas linhas tecidas por Juliana Abramides, que aqui nos revela o mundo dos quilombolas no Estado lo Para. A autora demonstra que a investigagao do cotidiano, das falicas culturais ¢ artisticas, da experiéncia, dos saberes e das resis- ieias sao elementos fundamentais para pensar estratégias de tra- lho profissional na direcio da sua dimensao ético-politica. Discor- i as muisicas e dancas como a capoeira, 0 samba, as festas de rua is roclas de batuque sao afirmagGes do universo cultural africano contrapGem as diversas formas de opressao e exploragao a que submetidos negros, afrodescendentes e trabalhadores. Julia- mvida a desyelar e a tornar visivel a memGria e as represen- dos que foram e sao ocultas e reprimidas. 1 con go que trata das expe- MM, B. ABRAIMIDES # M. L. DURIGUETTO: movimentos e lutas sociais em trés universidades da Argentina, a partir dos anos 1990. Carolina Mamblona, Silvia Mansilla e Andrea Oliva apresentam-nos relatos de experiéncias dessa articulagao por meio das particularidades dos processos de formagao profissional e de constituigao dos movimentos sociais nas realidades em que estao inseridas, especialmente sindicatos, fbricas recuperadas, organizacdes de desempregados e movimentos de bairro. Afirmam que a articula- cao da profissao com as organizacées Populares deve ser desenvol- vida nos diferentes espagos sécio-ocupacionais, nos quais 0 profissio- nal deve visibilizar suas lutas e necessidades, indo além dos atendimentos individuais e familiares, As autoras reconhecem a inexisténcia de estudos sistematicos do trabalho social com @ mundo das lutas na Argentina e pretendem contribuir com esse debate com 0 Servico Social brasileiro. Um fio reflexivo e propositivo é tecido nas varias maos presentes nesta Coletanea, que alinham rigor analitico e en \gajamento militante: © necessario conhecimento e investimento teérice e pratico-politico no mundo das lutas, movimentos ¢ organizacées dos trabalhadores. E neste mundo que criaremos cotidianos cheios de sentido! Agradecemos aos(as) autores(as), ag colaboradoras do prefacio, orelha e quarta pagina, a assessora da editoria da drea de Servigo Social e Cortez a pronta acolhida e a adesio ao nosso Projeto. Maria Beatriz Costa Abramides Maria Liicia Duriguetto Sao Paulo e¢ Juiz de Fora, agosto de 2014 Prefacio organica com a renovacao tedrica, ética e politica do Serviga brasileiro. As Organizadoras — Bia Abramides e Malu Durigut como sao carinhosamente chamadas— nos brindam com 18 capiti tradicionais e emergentes, além da relacdo entre 0 05 diversos movimentos, praticas e lutas sociais no M. B. ABRAMIDES # M, L. DURIGUETTO. mente a incrivel capacidade de antecipar as mudangas conservadoras € os acertos dentro da ordem, para evitar que a eclosao da luta dos trabalhadores possa se tornar uma alternativa real de poder e amea- ce sua ordem de dominagao”. Ainda o mesmo Iasi, encetando uma anillise da diregio politica e das caracteristicas das “jornadas de junho” no Brasil, em 2013, aponta outras mediacGes dos processos de domi- nagao: os aparelhos de coercao e a ado dos aparelhos privados de hegemonia (meios de comunicacao, instituigdes da sociedade civil burguesa, aparelhos ideoldgicos e organizagoes culturais) que desen- volvem pedagogias ¢ estratégias para tornar subjetiva a objetividade da ordem burguesa. Sobre a relacgdo entre os Movimentos Sociais e 0 Servigo Social no Brasil, predominante nos ensaios da Parte II, identificamos como eixo das sistematizagGes e debates as relagdes entre as iniciativas restauradoras do capital e do Estado, a partir dos anos 1990 do sé- culo passado, e as mudangas na direcao das praticas sindicais, par tidarias e de alguns movimentos sociais. Igualmente, atravessam todos 0s textos os desafios do denominado projeto ético-politico do Servico Social ¢ as mediagées da pratica politico-organizativa (pro- fissional e académica) dos assistentes sociais, estudantes e docentes da area do Servico Social, “particularmente as que se relacionam com a construgao do projeto ético-politico do Servigo Social”, tese que compartilho. ‘Trés ensaios despertaram nossa especial atengao: os de Lopes, abreu & Cardoso, o de Duriguetto ¢ o de Beatriz Abramides. E insti- gante o ensaio de Lopes et al. quando aborda a funcéo pedagégica do Servigo Social em relagao a dimensao interventiva da profissao e ao lugar “da organizacao politica profissional como mediadora na formacio do sujeito coletivo, articulador aut6nomo frente ao merea- do de trabalho na relacdo profissional com as lutas sociais, sob a orientacao do projeto histérico de emancipagao da « ta e de toda a humanidade” MOVIMENTOS SOCIAIS E SERVICO SOCIAL 25 “uma das possibilidades para o enfrentamento dessa subtracao i dimensio intelectual 6 0 fomento de intervencées profissionais no processos de mobilizacao e organizagao popular — que compdem dos elementos da dimensao ideopolitica da ago profissional”; 0 0 tro, de que existe um processo contraditério, posto que, no mesn periodo em que se consolida o projeto ético-politico, ocorre a retragiit da relagao entre o Servico Social e os movimentos sociais. Referindo “f aos aportes constitutivos do projeto ético-politico, afirma que “implicam no vinculo politico e profissional com as lutas das class Subalternas”. O texto de Bia Abramides também estimula reflexGes, espi nente quando enfoca o percurso histérico da organizacao sind los assistentes sociais, ressaltando o posicionamento de vangul | categoria nos anos 1980 do século XX — a organizagao po je atividade / produgéo — que a Autora defende, sem deixar conhecer as contradig6es (em processo) dessa transicéo, na qu insolidagdo de novas racionalidades ainda nao permitiu Dentre essas contradicdes em processo, ainda que nao aj JN, destaca Abramides 0 peso politico-organizativo = idical ¢ partidario — de entidades como 0 Conjunto ¢ 185 e ABEPSS, ambas com profunde enraizamento na . Afirma ela que, a despeito dessas distintas m “ CRESS e a ABEPSS tém uma concepgao e- 26 M. B. ABRAMIDES * M. L. DURIGUETTO. Esta afirmagao, longe de uma mera constatacdo, segundo meu ponto de vista, evidencia um dos meios diretos ou mediatos através dos quais se da relagdo da profissiio.com os movimentos e litas sociais, particularmente na conjuntura vigente nessa quadra hist6rica, tio bem descrita neste livro. Sob meu ponto de vista, a relagéo entre os Movimentos Sociais e 0 Servigo Social nao é apenas necessaria; ela foi e é determinante da construgao do que hoje denominamos como projeto ético-politico profissional. Embora esta nominacao surja nos anos 1990, sua consti- tuigdo remonta aos finais dos anos 1970 do século passado, quando se inicia um movimento politico, teérico e académico-profissional de tuptura com o conservadorismo no Servico Social. Sua referéncia temporal € 0 III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, realizado em Sao Paulo, em 1979, ocasido em que uma parcela significativa da categoria profissional declara publicamente sua articulagio com os interesses, necessidades e projetos da classe trabalhadora. Desde entao, a mediagao dos movimentos sociais foi definitiva para 0 projeto profissional do Servigo Social brasileiro, que inaugura uma tendéncia radicalmente nova na profissao ao superar sua funcao pedagégica tradicional em favor da construgao de uma cultura (no sentido gramsciano) emancipatoria das classes subalternas. Segundo Lopes, Abreu e Cardoso, em capitulo publicado nesta coletanea, “através do exercicio desta fungao, a profissao inscreve-se no campo das atividades formadoras da cultura, constituindo-se como elemen- to integrante da dimensao politico-ideolégica das relagdes de hege- monia, base em que gesta e desenvolvea prépria cultura profissional”. Este processo, ao longo dos tiltimos 35 anos, deu direcio teérica, ético-politica e operativa a formagao e ao exercicio profissionais, com reflexos significatives na pesquisa, na pés-graduagao e na producdo intelectual do Servigo Social. Foi fortalecido pe peg bento: politi- co-organizativo da Profisséo 6 i intime MOVIMENTOS SOCIAIS E SERVICO SOCIAL 2 Partimos da constatagdo de que o Servigo Social brasileiro vive, processualmente, metamorfoses/alteracGes que se relacionam media- ta ou imediatamente com os rumos da realidade, razéo do surgimen- to de novos espagos ocupacionais e de competéncias profissionais que convivem com os tradicionais, revelando significativas alteragdes no mercado de trabalho, nas demandas e nos contetidos das ages dos assistentes sociais. Ouso afirmar nao ter havido um afastamento politico do Servigo Social em relacao as pautas dos movimentos sociais e das lutas mais gerais da sociedade. Ocorreu sim, em alguns setores, uma retracao dos movimentos sindical e social, mas também houve uma ampliacao e transversalidade das lutas sociais nos movimentos emergentes. Segundo Sambara Ribeiro, em ensaio ora publicado, “incorporar a diversidade humana no enfrentamento das opressées sociais nao significa suprimir a compreensao da realidade social pautada nas contradig6es da totalidade histérica. Implica, sobretudo, alargar 0 conhecimento na perspectiva de apreensdo da esséncia do ser social em sua materialidade”. Ora, se mudancas objetivas afetaram tanto a composigao como "dimensao e as estratégias dos histéricos movimentos sociais, também podemos especular se houve uma mudanca nos meios e formas de ago da profissao com os movimentos sociais. Defendo que 0 estatuto intelectual do Servigo Social brasileiro é 0 inconteste, como demonstram a qualidade da sua produgao bi- grafica, as pesquisas desenvolvidas, bem como as escolhas que deiro do pensamento social critico, de inspiragao marxia- al conjuntura responde pela possibilidade de interlocugao as do saber e geuaaesimente, com os: pbietoe das 28 M, B. ABRAMIDES + M. L. DURIGUETTO. constru¢ao de alternativas coletivas, para além da intervengao e da execu¢ao de politicas sociais. Mesmo sem os subsidios de um levantamento quantitative (Mota, 2013), € notéria a interlocucdo ea incorporagao da bibliografia pro- duzida pelos intelectuais da area do Servigo Social nas producées (mais 4 esquerda) das Ciéncias Humanas e Sociais no Brasil, assim como a formacao de quadros intelectuais que migram de outras areas para a do Servico Social, em busca do pensamento critico. Aestes, acrescenta-se a abertura do mercado editorial as produ- goes de assistentes sociais, inclusive de editoras vinculadas ao movi- mento social, como é 0 caso da Expressao Popular. Ademais, verifica-se a incorporagao de quadros docentes e intelectuais do Servico Social como formadores de massa critica no Ambito dos movimentos sociais, populares e sindicais, como revelam 0 caso do ANDES, de outras associagGes dacentes como a APROPUC, dos quadros intelectuais de partidos politicos, das parcerias intelectuais, profissionais e académi- cas com o MST a partir da criago dos PRONERA, da Participagao. no movimento de mulheres e no LGBT (Lésbicas, Bissexuais, Traves- tis e Transgénero), inclusive como formuladores referenciados pelas bases, da participagdo na Universidade Popular dos Movimentos Sociais (Escola Florestan Fernandes), além da Frente Nacional contra a Privatizacao da Satide, da Frente Nacional de Drogas e Direitos Humanos, do tréfico de pessoas e do Férum da Reforma Urbana, dentre outros. Isso sem falar no peso intelectual dos profissionais do Servigo Social na participagao direta e/ou na instrumentalizacao politica dos participantes de conferéncias municipais, estaduais e nacionais, ligados aos movimentos organizados de diversas Areas. Este movimento aqui identificado, na minha perspectiva, revela uma ampliacao do ambito da atuagao da profissao, desta feita através de uma ativa participagao na formagéo de uma massa eritica no cam- Ges tedrica, I 29 MOVIMENTOS SOCIAIS & SERVIGO SOCIAL te dos movimentos sindicais ¢ sociais, apresenta-se como um vasto campo de resisténcia teérico-politico e ideoldgico. ; Sob o influxo do projeto ético-politico profissional, o ene Social ampliou sua fungao intelectual, sendo tributaria da formagao de uma cultura que se contrapde 4 hegemonia ominarite: protaBoe nizada pela esquerda marxista e pelos movimentos anticapitalistas e revoluciondrios no Brasil. E o faz sem perder a relagao. ae unidade com 0 exercicio profissional, mas expondo o protagonismo intelectual do Servigo Social. Por isso, caberia indagar se a relacao entre o Servigo Social ¢ oe tradicionais movimentos sociais e os sindicatos rurais e unbanos nao se teria tornado menos executiva e mais no campo da pee or a formagio politica, da montagem de cenarios e discussio de estratégias. Note-se que ocorre até mesmo a ampliagao de quadros prouesinats em moyimentos emergentes no campo sociojuridico, socioambiental, urbano, da discriminagao sexual, racial e de mulheres, dentre outros. Essas questGes me levaram a trabalhar a hipdtese ae que o Servico Social brasileiro adensa a sua intervengao na realidade e redesenha a sua relagdo com os movimentos sociais através da cone: trugéo de uma cultura intelectual de cariz te6rico-metodolégico ‘eritico, redefinindo, inclusive, a representacao da profissao, até entao ‘caracterizada, prioritariamente, pelo exercicio profissional, no qual 4 dimensao interventiva tinha primazia sobre o estatuto intelectual -@ tedrico da profissao. Ressalto, ainda, outra mediacao da relagao entre 05 Movimentos \is, 0 Servico Social e o projeto ético-politico profissional: a possi- |e de estarmos diante uma nova composigao do coletivo profis- dos assistentes sociais brasileiros (a exemplo do que ocorre com ia classe operdria no Brasil) mediada pela existéncia de uma profissional até entao desconhecida na categoria, resultado. 30 M. B. ABRAMIDES # lM. L. DURIGUETTO. trabalho precarizados e, possivelmente, encontra-se mais permedvel a ofensiva tecnicista, pragmatica, anti-intelectual e alienante, derivada do complexo contexto da formacao profissional 4 distancia, da inte- riorizagao do exercicio profissional (afastada dos centros urbanos que vivem em ebulicao politica permanente) e das pedagogias e metodo- logias de acdes institucionais municipais. E nesse contexto que problematizo a relacio do Servigo Social com os movimentos sociais, reafirmando que houve uma mudanga nos meios e formas de relagdo da profissao com as lutas e os movi- mentos sociais no Brasil dos anos 2000, mas nao um afastamento das bandeiras e pautas de luta das classes trabalhadoras ¢ subalternas, reiterando a direcao social estratégica que marcam os princfpios dos nossos codigos de ética, os contetidos e abordagens das diretrizes curriculares e 0 protagonismo politico da esquerda marxista do Ser- vigo Social. Encerro agradecendo a confianga das organizadoras pelo convite para prefaciar o livro e deixo aqui um convite ao debate que esta coletanea nos estimula a fazer. Recife, agosto, 2014 Ana Elizabete Mota PARTE | Movimentos sociais Juta de classes na ontemporaneidade «dugao pode sobreviver, continuar a crescer sem obstécul ode desenvolver as forcas produtivas ilimitadamente, ‘Mais fortes pilares do socialismo de Marx. deduzir 0 socialisme somente da | decisdio revolucionaria das classes trabalhadoras. 34 MB. ABRAMIDES « M1. 1. DURIGUETTO Primeira tese: a vitoria de revolucées sociais anticapitalistas no século XX transformou-se em derrota Com a restauracao capitalista, mas nao inverteu o signo da época histérica A tiltima crise do capitalismo aberta em 2007/2008 foi mais grave que a anterior de 1999/2001 que, por sua vez, foi mais severa que a de 1991/1992, que ja tinha sido pior que a de 1987, A préxima sera, provavelmente, mais destrutiva. Este 6 um dos fundamentos “graniticos” do marxismo que Rosa Luxemburgo menciona nesta citagao que serve de epigrafe. Foi Rosa quem cunhou a frase de que © caminho da luta dos trabalhadores era uma via techeada de der- rotas parciais que preparavam a vit6ria final. A dialética da historia se manifestou, todavia, como uma via de vit6rias nacionais bloquea- das que prepararam, com a restauragdo capitalista, uma derrota internacional. Um bom ponto de partida da andlise da etapa internacional é tentar ndo nos enganarmos a nés mesmos. Ehé mais de uma manei- ra de nos enganarmos. Podemos ver as circunstancias do presente com lentes que aumentam ou diminuem as dificuldades, se perdemos © sentido das proporcées. Se a alternancia dos ciclos de expansao e contragdo do capitalismo demonstra que © sistema se aproxima de seus limites hist6ricos, revela, também, que o capitalismo nao tera uma morte “natural”. O sistema precisa ser derrotado pela mobiliza- Gao revolucionaria da classe trabalhadora, Sem a entrada em cena de um sujeito social capaz de unir explorados e oprimidos, 0 capitalismo ganha tempo histérico de sobrevivéncia. O que aconteceu entre 1989/91 foi uma mudanga de situacdo ou etapa, nao uma inversao da época. Sao niveis distintos de abstragao para a compreensao da fase hist6rica que vivemos, | definir 0 sentido da época, a natureza da etapa MOWIMENTOS SOCIAIS E SERVICO SOCIAL Ela se abriu ha cem anos coma deflagragao da Primeira Cue Mun: dial, e permanece aberta. Uma etapa deve ser comprcenichdg no} marcos de um quadro internacional relativamente estavel. Ug : etapa se abriu ao final da Segunda Guerra Mundial entre 1945/198! Desde entao, estamos em outra etapa. j ___ Neste intervalo histérico entre 1989 e 2014 nao nos faltaram § tuagdes revoluciondrias. Entre 2000 e 2005, NI, ag Equi dor, Argentina, Venezuela e Bolivia, a dominacao capitalista - imeagada na América Latina. Depois de 2012, uma cua ra witia atravessou 0 Magreb e 0 Médio Oriente. Estas situagées fi 4 ialmente, vitoriosas, com importantes ee democral ném, depois, revertidas. Oportunidades extraordinarias de ava . Ftapas internacionais se abrem ou se encerram em Fungio de desfechos mais _ i douros na luta de classes, vitorias ou derrotas de significado ueEea La a tim novo quadro na relaio de forges por todo um period. As elagies de ona | entre revolugdo ¢ contrarrevolugdo que delas decorrem traduzem-se, tal Nga Ho sistema internacional de Estados. Referencias para o tema podem ser en ‘Any, Valerio. As esqrtinas perigosas da histéria. Sd0 Paulo: Xama, 2004. ‘ “trinta anos gloriosos” entre 1945/75, nem a Nem © crescimento sustentado dos ” 8 ka, em Msi aber pela restaura co capitalist na URS a partir da Perestro puis de importéncia erucial,justifcam a conelusio de que uma an va do eapitalismo teria se aberto, Com menos razdo, as apressadas fan acto de desenvolvimento irefresvel da microeletrOnica, part nso fazer nismos ainda menos razodveis sobre o impacto econémico mais rece nética, podem sustentar, seriamente, a defesa de uma inversao do sentid “erescentes As conquistas do Welfare State nos paises contrais, assim 6 Bt ioe pales depencentes remetem A contmotenstva ete } quanclo a necessiciade de inverter a tendencia a queda di o prolongada permitiu unir as fileiras burguesas em toma | fiscal, oriodoxia monetdria, privatizagdes etc, Nao tive s40 de época, Ao menos, nao no sentido atributdo a ‘lo interrompem a dinamica de decadéneia. A.

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