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12.º ANO
Fernando Pessoa - ortónimo
2018/2019
Os poemas “Autopsicografia” e “Isto” são considerados textos doutrinários, na medida em que apresentam o
processo de criação artística não só ao nível do trabalho do eu poético, mas também ao nível da receção do texto
pelo leitor.
O eu lírico defende que o poeta não pretende representar diretamente os seus sentimentos e as suas vivências
interiores tal como os viveu. Nesta sua conceção, o poeta parte das emoções que experienciou e representa-as
poeticamente, por palavras, transformando esses emoções em arte ao compor o poema.
A escrita poética resulta, portanto, de um processo de intelectualização dos sentimentos e da imaginação
artística do poeta. A poesia é um produto intelectual.
Quanto ao leitor, os sentimentos que este experiencia são resultantes da leitura e interpretação do poema.
Dor de pensar
Condenado ao vício de pensar que o impede de ser feliz, o sujeito poético procura o mundo onírico (do sonho).
O sonho surge como um refúgio e forma de evasão à realidade (tédio existencial, desalento, angústia,
frustração, desconhecimento de si próprio resultante, por vezes da fragmentação do “eu”…) que o dilacera.
Contudo, o sujeito poético constata que o sonho não soluciona os seus males porque o sonho é uma ilusão e a
felicidade aí procurada é quase sempre desilusão.
Nostalgia da infância
Dilacerado pela angústia, pela incapacidade de viver a vida, o sujeito poético procura um porto de abrigo na
infância remota que não é, propriamente, aquela que viveu, mas sim a representação de uma infância que ele
imagina como sua. Infância idealizada.
A infância surge, para o sujeito poético, como um paraíso perdido, como símbolo da inocência, da pureza, da
inconsciência e da felicidade.
O sujeito poético tem consciência de que a nostalgia que sente da infância decorre de um processo de
idealização deste período, já que, na realidade, nem enquanto era criança o “eu” parece ter sido feliz. Saudade
intelectual e literariamente trabalhada.
A evocação da infância não permite ao sujeito poético libertar-se da tristeza, do tédio e da angústia que o
atormentam, permitindo-lhe apenas ter breves momentos de felicidade.
Linguagem, estilo e estrutura
- Presença de formas da lírica tradicional portuguesa: preferência por estrofes curtas (quadras e quintilhas) e pelo
verso curto (redondilha maior e menor).
- Regularidade estrófica, métrica e rimática.
- Linguagem simples, mas, muitas vezes, simbólica e metafórica.
- Sintaxe simples (com alguns desvios sintáticos).
- Musicalidade da linguagem: rima, aliterações e assonâncias.
- Pontuação expressiva (frases interrogativas, exclamativas e reticentes).
- Recursos expressivos: metáfora, antítese, comparação, anáfora, apóstrofe, enumeração, gradação,
personificação…