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Adam Grant
Não era esgotamento —nós ainda tínhamos energia. Não era depressão —não nos
sentíamos impotentes. Apenas nos sentíamos um pouco sem alegria e sem objetivo. Mas
existe um nome para isso: definhamento.
É um sentimento de estagnação e vazio. Parece que você está se arrastando pelos dias,
vendo sua vida através de uma janela embaçada. E poderá ser a emoção predominante
em 2021.
Pandemia tem aprofundado questões de saúde mental - Ilustração Estela May
Enquanto cientistas e médicos trabalham para tratar e curar os sintomas físicos da Covid
persistente, muitas pessoas estão lutando com a persistência emocional da pandemia.
Ela pegou alguns de nós despreparados, quando o medo e a dor intensos do ano passado
se dissiparam.
O termo foi cunhado por um sociólogo chamado Corey Keyes, que ficou impressionado
pelo fato de muitas pessoas que não estavam deprimidas também não estarem
prosperando. Sua pesquisa sugere que as pessoas com maior probabilidade de
experimentar grande depressão e transtornos de ansiedade na próxima década não são
aquelas que têm esses sintomas hoje. São as pessoas que estão definhando neste
momento.
Parte do perigo é que quando você está definhando pode não perceber o embaçamento
do prazer ou a diminuição do impulso. Você não se pega escorregando lentamente para
a solidão; você é indiferente à própria indiferença. Quando alguém não pode ver o
próprio sofrimento, não busca ajuda ou faz alguma coisa para se ajudar.
Mesmo que você não esteja definhando, provavelmente conhece pessoas que estão.
Compreender melhor isso pode ajudar você a ajudá-las.
Os psicólogos acham que uma das melhores estratégias para lidar com as emoções é
lhes dar nomes. Na última primavera [outono no hemisfério Sul], durante a angústia
aguda da pandemia, a postagem mais viral na história da Harvard Business Review foi
um artigo que descreveu nosso desconforto coletivo como sofrimento.
Embora não tivéssemos enfrentado uma pandemia antes, a maioria das pessoas tinha
experimentado perdas. Isso nos ajudou a cristalizar lições de nossa antiga resiliência —e
ganhar confiança em nossa capacidade de enfrentar a adversidade atual.
Ainda temos muito a aprender sobre o que causa definhamento e como curá-lo, mas
nomeá-lo pode ser um primeiro passo. Pode nos ajudar a desembaçar a visão, dando-nos
uma janela mais clara para o que era uma experiência borrada. Pode nos lembrar de que
não estamos sós: o definhamento é comum e compartilhado.
E pode nos dar uma resposta socialmente aceitável para "Como você está?".
No último verão, a jornalista Daphne K. Lee tuitou sobre uma expressão chinesa que
significa "procrastinação vingativa na hora de dormir". Ela a descreveu como ficar
acordada até tarde da noite para recuperar a liberdade que perdemos durante o dia.
Então o que podemos fazer a respeito disso? Um conceito chamado "fluxo" pode ser um
antídoto para o definhamento. Fluxo é aquele fugidio estado de absorção em um desafio
importante ou uma ligação momentânea, em que sua sensação de tempo, lugar e self se
dilui.
No último ano, muitas pessoas também estiveram lutando com interrupções desse tipo
com crianças dentro de casa, colegas do mundo todo e chefes 24 horas por dia. "Meh."
Isso significa que precisamos definir limites. Anos atrás, uma grande empresa de
software da Índia testou uma política simples: nada de pausas na terça, quarta e quinta-
feiras antes do meio-dia. Quando os engenheiros cuidaram do limite eles próprios, 47%
tiveram produtividade acima da média. Mas, quando a companhia definiu um tempo de
silêncio como política oficial, 65% conseguiram produtividade acima da média.
Produzir mais não foi melhor só para o desempenho no trabalho; sabemos hoje que o
fator mais importante na alegria e motivação diárias é a sensação de progresso.
Não acho que haja algo mágico em terça, quarta e quinta antes do meio-dia. A lição
dessa ideia simples é tratar blocos de tempo ininterrupto como tesouros a se proteger.
Eles eliminam distrações constantes e nos dão liberdade para nos concentrarmos.
Podemos encontrar alívio em experiências que captam toda a nossa atenção.
Pequeno objetivo
Isso significa encontrar tempo diário para se concentrar em um desafio que é importante
para você —um projeto interessante, um objetivo válido, uma conversa significativa. Às
vezes, é um pequeno passo na direção de redescobrir parte da energia e do entusiasmo
que lhe fizeram falta durante todos esses meses.
"Não deprimido" não significa que você não sente dificuldades. "Não esgotado" não
significa que você está totalmente ligado. Ao admitir que tantas pessoas estão
definhando, podemos começar a dar voz ao desespero silencioso e iluminar um caminho
para sair do vazio.
Adam Grant