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Capitulo de Livro Analise de Discurso Francesa
Capitulo de Livro Analise de Discurso Francesa
COMUNICAÇÃO
Introdução
A análise do discurso francesa (ADF) tem por objeto de estudo o discurso.
Na sua perspectiva, a língua não é tomada como um sistema abstrato
de signos ou como um sistema de regras formais. O sentido também
não é observado como estando escondido e à espera de ser desvelado
em um texto. A sua investigação teórica tem por objetivo compreender
como os objetos simbólicos, que são históricos e marcados por ideologia,
produzem efeitos de sentidos.
Neste texto, você vai explorar a ADF e conhecer algumas das noções
que fazem parte do seu dispositivo teórico, como língua/linguagem,
discurso e memória, ideologia e sujeito e formação discursiva (FD). Além
disso, será apresentado a alguns teóricos de destaque da ADF, como
Michel Pêcheux, Louis Althusser e Michel Foucault.
uma relativa (e não completa) autonomia. Além disso, história e sociedade não
são vistas de forma dissociada, mas de maneira interdependente. Os “fatos” ou
acontecimentos da história são evocados porque esta tem o seu real afetado pelo
simbólico, ou seja, o que acontece na história “reclama” por sentidos (ORLANDI,
2005). Compreender como um objeto simbólico produz sentidos, como ele está
investido de significância para os sujeitos e pelos sujeitos é ao que visa a AD.
Nessa perspectiva, os sentidos têm relação com o que foi ou com o que não foi dito.
É importante você ficar atento ao conceito de real que é articulado pela psicanálise.
Ele é trazido nas reflexões feitas pela AD sobre a língua/linguagem, o discurso e o
sujeito. De maneira geral, a noção do real desponta a partir da leitura que Jacques
Lacan (1901-1981) faz da obra de Sigmund Freud (1856-1939). Isso mostra que, embora
destacada pelo nome real por Lacan, essa ordem já era de alguma forma trazida na
discussão de Freud.
De acordo com Roudinesco e Plon (1998, p. 644-645), o real foi introduzido em 1953
e extraído, simultaneamente, do vocabulário da filosofia e do conceito de Freud de
realidade psíquica. Esse substantivo foi empregado “[...] para designar uma realidade
fenomênica que é imanente à representação e impossível de simbolizar.”. Conforme
Laberge (c2014), para entender tal noção é preciso partir da ordem simbólica e re-
conhecer essa anterioridade. Além disso, é necessário observar o real por meio de
sua articulação com o imaginário e o simbólico. De um lado, o simbólico é associado
e identificado à linguagem, condição do inconsciente; e, por outro lado, ao que o
inconsciente poderia ser reduzido. O simbólico é, assim, o ponto zero da partida; e o
imaginário, aquilo que está a simbolizar.
Nos primeiros seminários de Lacan, o real é trazido como o efeito dos limites da
simbolização primeira. Depois, como um ponto paradoxal, o real surge como o impos-
sível a penetrar em 1975. Ainda, por volta de 1972-1973, o real acaba tomando outro
nome: o impossível (LABERGE, c2014). Nessa época, Roudinesco e Plon (1998, p. 646)
apresentam que Lacan dá o nome de R.S.I. (Real, Simbólico, Imaginário) ao tríptico em
que o real é assimilado a um “resto” que é impossível de se transmitir e que escapa a
uma matematização dos discursos.
sujeito, FD, etc. Isso só para citar algumas delas. Muitas dessas noções são
consideradas nucleares para os estudos que fazem parte da AD. Assim, para
você ter uma compreensão mais ampla sobre essas noções, VAI conhecer
melhor algumas delas a seguir. Tal apresentação será feita em pares, uma vez
que é importante compreender a inter-relação entre esses conceitos.
Língua/linguagem
É importante você ficar atento ao que se entende por língua/linguagem na
perspectiva sócio-histórica tomada pela AD. A língua é uma forma de tratar
as experiências, as realidades, as sociedades, não uma maneira de retratá-las.
É muito importante, a esse respeito, entender a relação entre tratar e retratar.
Se, para Orlandi (2005), não há neutralidade nem no mais simples e aparente
uso cotidiano dos signos – uma vez que a língua é o espaço da opacidade
e não da transparência –, há, assim, muitas maneiras de se significar (e de
significar os outros, os objetos, as realidades, os mundos) e de construir
efeitos de sentidos. Todos estão sujeitos à linguagem, aos seus equívocos, às
suas opacidades. Desse modo, as pessoas se comprometem com os sentidos e
com o político, e é por isso que não existe a possibilidade de não interpretar.
Ao mesmo tempo, essa autora sublinha que a língua, na AD, é compreendida
como um fato social, como trazida por Saussure. Todavia, o social é significado
pela sua ligação com a exterioridade, a ideologia e o inconsciente. Esse desloca-
mento – ou amplitude – na forma de tratar a língua produz uma importante reflexão
quanto à dicotomia saussuriana língua/fala. Nesse campo, a língua é tomada em
sua relação não dicotômica com o discurso. Sujeita a falhas, equívocos e desvios,
a língua não é uma estrutura fechada em si mesma (ORLANDI, 2003).
Ademais, a língua se manifesta como uma atividade social e histórica que
é desenvolvida pelos indivíduos para construir algum sentido. A língua não se
caracteriza como um sistema de representação, mas um sistema de apresentação
(de uma possibilidade entre muitas), de produção (de um efeito de sentido entre
muitos) e de projeção da realidade, como também afirma Marcuschi (2003).
Portanto, a linguagem é concebida pela AD como a mediação necessária entre
o homem e a realidade natural e social. Ora, a língua só faz sentido enquanto
observada pelo seu trabalho simbólico, trabalho este que também é social, hu-
mano, geral, e que constitui o homem e a sua(s) própria(s) história(s). Além disso,
a condição da linguagem é a da incompletude que atesta a abertura causada pela
ordem do simbólico, pois a falta também é o espaço do possível (ORLANDI,
2005). O estudo, assim, nessa perspectiva, toma o homem como um ser que é
especial pela sua capacidade de significar e de significar-se.
Discurso e memória
Conforme Orlandi (2005), etimologicamente, a expressão discurso apresenta
a ideia de curso, percurso. Dito de outro modo, o discurso é o movimento,
a palavra em movimento, a própria prática da linguagem: ora, é no discurso
que se observa a produção do sentido, o diverso, o homem se historicizando, o
homem falando. É no discurso que os sentidos se materializam e se cristalizam,
mas também se movimentam e se modificam: “[...] movimento dos sentidos,
errância dos sujeitos, lugares provisórios de conjunção e dispersão, de unidade
e de diversidade, de indistinção, de incerteza, de trajetos, de ancoragem e de
vestígios: isto é o discurso, isto é o ritual da palavra. Mesmo o das que não
se dizem.” (ORLANDI, 2005, p. 10).
A AD não trabalha com a língua COMO um sistema abstrato, mas com
a língua no mundo. Portanto, são as maneiras de significar, isto é, são os
discursos que os homens usam para falar que se tornam objeto de estudo. É
preciso ficar claro, assim, que o discurso não é um conjunto de textos, mas
uma prática que constitui a sociedade na história. Conforme afirma Orlandi
(2005), o discurso é uma dispersão de textos e o texto do sujeito. Então, para
o analista do discurso, o que interessa não é a organização linguística de um
texto, mas como tal texto estrutura a língua com a história. Esse é um trabalho
de significação do sujeito em sua relação com o mundo.
Também, o homem, enquanto membro de uma determinada sociedade,
produz e faz parte de práticas discursivas (imagem, som, letra, etc.) ou não – a
respeito deste último, é importante frisar que nem todas as práticas sociais
são discursivizadas, não é mesmo? Há práticas sociais e históricas que ainda
não se tornaram discursivizadas e, desse modo, não ingressaram na ordem
do discurso. Tais práticas são reproduzidas e parecem naturais para o sujeito,
tendo em vista que é muito difícil questionar aquilo que não está surgindo
num plano que possa ser nomeado e questionado. As práticas discursivas
se caracterizam por ser então práticas simbólicas. O analista do discurso as
analisa a partir da relação da linguagem com a sua exterioridade.
Ademais, saber como os discursos funcionam é se colocar em uma encru-
zilhada, que Orlandi (2005) apresenta como um duplo jogo da memória: o
da memória institucional que estabiliza, cristaliza; e, ao mesmo tempo, o da
memória que é formada pelo esquecimento, o qual possibilita o surgimento do
outro, da ruptura, do diverso. Ora, as palavras não são só minhas, suas, nossas;
elas significam pelo movimento da língua e pelo da história. O que é dito em
outro lugar também significa nas palavras que você diz, nas “suas palavras”. A
memória, também chamada de memória discursiva pela AD, tem essa caracte-
rização porque é pensada em relação ao discurso. Ela é, por esse modo, tratada
como interdiscurso. É daí que surge a noção de interdiscursividade: é o que
fala em outro lugar como se independentemente. Ou, em outras palavras, é o
saber discursivo que possibilita todo o dizer e que volta ao discurso sob a forma
do já dito (pré-construído). Esse já dito ou pré-construído tem importância
fundamental para esse campo de estudo, uma vez que está na base do dizível – é
por ele que se permite falar e compreender os usos que sustentam as palavras.
Portanto, os sentidos não se esgotam, nem permanecem no imediato. Todo
dizer tem história. Cada sentido faz parte de uma relação entre o sujeito, o qual
é afetado pela língua, e a história. Cada vez que você diz alguma coisa, seu dizer
está na confluência entre o eixo da memória (da sua constituição) e o da atualidade
(o da formulação do novo). Logo, há uma relação entre o já dito (pré-construído)
e aquilo que se está dizendo; ou entre o interdiscurso e o intradiscurso; ou entre
a constituição do sentido e a sua formulação (ORLANDI, 2005).
Segundo Orlandi (2005), os dizeres não devem ser vistos como mensagens que estão aí
para serem decodificadas. Os dizeres constituem efeitos de sentidos que são produzidos
em certas condições contextuais e que, de alguma forma, aparecem presentes, nem
que seja em forma de vestígios, nas formas de como se diz.
Ideologia e sujeito
Partindo da ideia de que a materialidade específica da ideologia é o discurso,
e a materialidade específica do discurso é a língua, o analista de discurso
observa a relação língua-discurso-ideologia. Em outras palavras, a ideologia
precisa de uma materialidade para se objetivar que é, do ponto de vista da
linguagem, o discurso. Por tudo isso, o discurso é apresentado como o lugar
fundamental de estudo do pesquisador, pois é nele que se observa essa relação
entre língua e ideologia (ORLANDI, 2005). Quanto à ideologia, esta pode
ser tomada, explica Althusser após uma de suas muitas leituras da obra de
Marx, como a relação imaginária que os homens mantêm com as suas reais
condições de existência (GREGOLIN, 2004).
Conforme afirmam Pêcheux e Fuchs (1990), não há discurso sem sujeito
e não há sujeito sem ideologia: o indivíduo é interpelado em sujeito (torna-se
sujeito) pela ideologia, e é desse modo que a língua produz sentido. Dito de
outro modo, o sujeito da linguagem é descentrado, pois é afetado pelo real da
língua e pelo real da história. E, assim sendo, não tem o controle sobre o modo
como o real da língua e o real da história o afetam. Isso implica afirmar que o
sujeito, para a AD, é estruturado pelo inconsciente e pela ideologia. Assim, o
sujeito diz ou pensa que sabe o que está dizendo, todavia ele não tem acesso
ou controle sobre o modo pelo qual os sentidos se constituem nele. O sujeito
é visto como assujeitado ao inconsciente e à ideologia.
Além disso, é necessário destacar que o sujeito do discurso é concebido
como uma posição (posição sujeito) ocupada por ele entre muitas outras.
Segundo Foucault (1969), o sujeito não é uma subjetividade, mas um lugar
que é ocupado para ser o sujeito daquilo que diz: os modos de enunciação se
referem à posição que o sujeito ocupa em relação aos objetos de que fala. Essa
posição é, assim, “[...] um lugar determinado e vazio que pode ser efetivamente
ocupado por indivíduos diferentes; mas esse lugar, em vez de ser definido de
uma vez por todas e de se manter uniforme ao longo de um texto, de um livro
Formação discursiva
Foucault (1969), em sua obra Arqueologia do Saber, se propõe a realizar um
estudo arqueológico e descritivo sobre as relações entre os enunciados no campo
dos próprios discursos e as relações a que eles são suscetíveis. Questionando
sobre o que é a ciência, a gramática etc., o pensador francês elabora hipóteses
para discutir o que essas “formas” ou “grupos” caracterizam, ou seja, parte de
hipóteses que poderiam explicar o agrupamento dos enunciados. Após discutir
suas hipóteses – tais como, (1) o agrupamento de enunciados se daria pelo objeto/
tema; (2) a forma dos enunciados definiria as relações entre eles; (3) o sistema de
conceitos estabeleceria grupos de enunciados; e (4) o enunciado se caracterizaria
pela identidade e persistência dos temas –, Foucault (1969) chega à noção de
FD. Ele a define como a existência de um sistema de dispersão entre um certo
número de enunciados e de uma ordem entre os objetos, os tipos de enunciação,
os conceitos e as escolhas temáticas. Em outras palavras, a FD corresponde,
para Foucault (1969), a um conjunto de enunciados dispersos, correspondentes
a uma regularidade de objetos, temas, conceitos e modos de enunciação.
Para Pêcheux e Fuchs (1990), a FD é o conceito que permite aos sujeitos
falantes, inseridos em uma dada conjuntura histórica, concordarem ou dis-
cordarem a respeito dos sentidos dos dizeres/das palavras. O sentido de uma
certa sequência linguística só é concebível materialmente na medida em que
tal sequência pertence a uma determinada FD. Logo, o sentido de uma palavra/
de um dizer não existe por si só ou em si mesmo. Tal colocação é fundamental
para a análise do discurso e deve ser destacada principalmente para aqueles que
ainda pressupõem uma relação transparente entre significante e significado. O
sentido é determinado pelas posições ideológicas que estão em jogo no processo
sócio-histórico em que as palavras/os dizeres são produzidos e reproduzidos.
Ora, é pela FD que os sentidos produzidos dos enunciados são interpretados.
Michel Pêcheux
Michel Pêcheux (1938-1983) é considerado um dos fundadores e representantes
fundamentais dessa “escola”. Na época em que a AD surge, por volta dos anos
1960, o marxismo, a psicanálise e o estruturalismo eram as três correntes de
pensamento de forte presença na Europa. O quadro epistemológico da AD, o
qual articula tais correntes de forma bem particular, é muito bem explicitado por
Pêcheux e Fuchs (1990, p. 163) quando estes apontam que a análise do discurso
francesa abarca estas três regiões do conhecimento: o materialismo histórico
(teoria das formações sociais e de suas transformações – teoria das ideologias),
a linguística (teoria dos mecanismos sintáticos e dos processos de enunciação)
e a teoria do discurso (teoria da determinação histórica dos processos semân-
ticos). Tais campos são ainda articulados às reflexões trazidas pela psicanálise.
Assim, Pêcheux e Fuchs (1990), influenciado pelo materialismo histórico
de Althusser, elabora uma teoria do discurso por meio de uma teoria não
subjetivista da enunciação. O autor busca fundar uma teoria materialista dos
processos discursivos. Desse modo, ele reordena a noção de condições de
produção de um discurso (CP) a fim de se afastar das concepções psicológicas
e sociais que são vistas como circunstâncias de um ato comunicativo. Além
disso, o discurso não é visto como “o palco” de indivíduos “físicos”: nele há
lugares determinados que podem ser ocupados pelos sujeitos. Tais lugares de
fala são representados pelo que chama de formações imaginárias, as quais
representam imaginariamente os lugares dos sujeitos envolvidos na comuni-
cação. Logo, no processo discursivo o enunciador antecipa as representações
do coenunciador para elaborar o seu discurso – procedimento esse também
chamado de antecipações pela AD (TEIXEIRA, 1999). Por isso, quando se fala
ou escreve, leva-se em conta a imagem do lugar que o outro e que o assunto
ocupam no discurso. Tais imagens não são quaisquer imagens, tendo em vista
que aparecem condicionadas pela história das formações sociais.
Um ponto a que você deve atentar acerca do que expõe esse estudioso
é a visão da língua/linguagem: observada como um sistema relativamente
autônomo, que é usado pelo materialista e pelo idealista, pelo revolucionário
e pelo reacionário, por qualquer enunciador que seja, a língua é a base comum
de processos discursivos diferenciados. Ela é, no entanto, a base comum
pois não significa para duas pessoas a mesma coisa, o mesmo discurso. Um
outro ponto necessário é o entendimento de Pêcheux e Fuchs (1990) acerca
do funcionamento da ideologia, reflexão que se baseia em Althusser: é pela
reprodução das relações de produção que o sujeito é interpelado (assujeitamento
ideológico). A interpelação ideológica do sujeito ou o seu assujeitamento
ideológico passa a impressão de que as pessoas são livres para fazerem o que
quiserem ou dizerem o que querem. Todavia, nos processos discursivos elas
são conduzidas a ocupar determinado lugar em um dos grupos ou classes de
uma formação social. Tal lugar é o determinante do que pode e deve ser dito
pelos sujeitos na enunciação.
Louis Althusser
Louis Althusser (1918-1990) foi um teórico marxista de influência estrutura-
lista que dialogou com os estudos da psicanálise. É importante destacar que
Althusser realiza várias leituras da obra de Marx e faz críticas a algumas
de suas ideias, em especial àquelas trazidas por um jovem Marx que é mais
humanista, racionalista e que não se afasta do idealismo hegeliano. Um Marx
posterior, por volta de 1845, mais maduro, é tomado como fundamental para
Althusser. Isso pois agora o alemão substitui o tema da alienação por uma
teoria científica da história, esvazia as categorias de sujeito e de essência, faz
uma crítica radical ao humanismo – que é um conceito ideológico proveniente
das filosofias burguesas iluministas – e instaura o modo de produção como
um novo objeto. A história, assim, deve ser compreendida como a história
dos modos de produção. O marxismo, portanto, representa a luta de classes
na teoria. Desse modo, o conceito de Marx do modo de produção não pode
ser lido no nível da consciência. Como um fenômeno da estrutura, o modo de
produção existe de maneira supradeterminada na formação social em questão.
Nesse sentido, as contradições no sistema são supradeterminadas; não são
imediatas, visíveis de tal modo, mas podem e devem ser visibilizadas pela
ciência (GREGOLIN, 2004).
Para Althusser (1969), a constituição do sujeito deve ser buscada no bojo
da ideologia, pois este é interpelado por ela. Ora, o sujeito se constitui como
sujeito pela língua. Dito de outra maneira, ele é assujeitado, pois para se cons-
tituir como sujeito precisa se submeter a sua língua e, desse assujeitamento,
torna-se sujeito de algo. É importante você lembrar que a ideologia constitui
a relação imaginária que os homens mantêm com as suas condições reais de
existência. Os homens transpõem imaginariamente as condições reais de sua
Em sua obra Aparelhos Ideológicos do Estado, Althusser (1969; GREGOLIN, 2004) apresenta
uma excelente discussão sobre a ideologia e os aparelhos que a alimentam (e dela se
alimentam) na sociedade, como o religioso, o escolar, o familiar, o jurídico, o político,
o sindical, o da informação, o do entretenimento, entre outros. Alguns funcionam pela
ordem da persuasão (o aparelho religioso, por exemplo), enquanto outros pela ordem
da correção (o aparelho policial, por exemplo). Assim, a materialidade da ideologia
pode ser notada por meio das práticas desses aparelhos.
Michel Foucault
Michel Foucault (1926-1984) é um filósofo de grande notoriedade nos estudos
no campo dos discursos da comunicação. Entre as reflexões trazidas por esse
pensador, estão as relacionadas ao fim do humanismo, isto é, ao fim da ideia do
homem livre e racional. Além disso, a problemática da subjetivação, isto é, da
produção subjetiva (como as pessoas se tornam sujeitos?) é levantada ao longo
de todas as suas obras, embora por meio de pontos relativamente distintos,
mas articulados: em primeiro lugar, o sujeito é estudado como objeto de saber
(ser-saber); em segundo, o sujeito é analisado como objeto de poder (ser-poder);
em terceiro, o sujeito é investigado como objeto e construção identitária (ser-
-si). Assim, na trajetória teórica de Foucault, há uma busca pela história dos
diferentes modos de subjetivação do ser humano na cultura ocidental. Afinal,
o sujeito não é uma essência, mas uma fabricação, uma construção histórica
das práticas discursivas, ou seja, é tomado pela articulação entre o discurso,
a sociedade e a história (GREGOLIN, 2004), articulação esta que o constrói.
Geralmente, seus comentadores dividem (didaticamente) os estudos desse
teórico em três fases, a saber: a arqueológica, a genealógica e a relativa à
ética e estética da existência. Segundo Gregolin (2004), na primeira, há um
Leituras recomendadas
FERREIRINHA, I. M. N.; RAITZ, T. R. As relações de poder em Michel Foucault: reflexões
teóricas. RAP, Rio de Janeiro, v. 44, n. 2, p. 367-383, mar./abr. 2010. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rap/v44n2/08.pdf>. Acesso em: 13 set. 2017.