You are on page 1of 17
= S pés- Reginaldo Luiz Nunes Ronconi CANTeIRO €XPERIMENTAL — UMA (1 Lei de Dietrizes © Bases o2 cueagae| Necional n 9394, ce 20 de ceremroce 1906, PROPOSTA PeDAGOGICA PARA A FORMACAO, DO ARQUITETO @ URBANISTA Inrropugio Por intermédio da Let de Ditetrizes Basicas! (LDB), 0 cantelro experimental se tornou equipamento obrigetério nas faculdades de arquitetura e urbanisma. & preciso manter acesa a reflexdo sobre as possibilidades de sua conformagéo © a convergéncia pedagégica de seus objetivos para que sua existéncia nao se tone ‘apenas uma resposta burocratica & regulamentacéo. Essa possibilidade negative para a “assimilagao” da orientagao da legislacéo, isto 6, atender apenas 20 aspecto formal, pode acontecer de diversas maneiras: Instalagbes insuficientes, falta de manutengao, ou (e talvez a mais provavel) 0 canteiro existindo fisicamente, porém destacado da estrutura disciplinar © do projeto de formagao da escola No entanto, 0 uso do canteiro experimental 6 sempre uma relvindicagao de grande parte dos estudantes. Reivindicagao que pode ser observada em seu aspecto generalizante, em todos os encontros promovidos pelos estudantes de arquitetura e urbanismo, quando o tema, necessariamente, ilustra algumas atividades, A LDB recomenda um processo para atingir 0 formato considerado ideal, recomendagio adequada, haja vista a situagéo nova que o cantciro possibilta descortinar. Mas, a meu entender, 0 cardter do equipamento ¢ mais estrutural, diferente do que preconiza a lei. E menos complementar, pois nele é possivel trabalhar 2 construgao do olnar abrangente que interessa para 0 arquiteto urbanista E, som davida, um assunto para discussio e esse 6 0 principal objetivo deste artigo. EXPosiG¢A0 DE IDEIAS Em primeiro lugar, & importante apresentar algumas idéias as quais ajudarao @ compreender melnor © papel propesto para um canteiro experimental Nao posso ver o canteiro experimental sendo como uma proposi¢ao pedagdgica cuja meta sela colaborar na emancipacdo do estudante de arquitetura ® urbanism. Porém, com muita freqdéncia abservames @ proposta do canteiro ser confundida com outros “objetos” que, se parecidos na forma, so completamente diferentes nos objetivos. A primeira confusdo se dé com 0 cantelro de obras, © & facil faz8-la, pois ambos s80 espagos pare organizar o trabalho visando & rmaterializagao de projetos, utlizando os mesmos materials e exercitando as mesmas técnicas. Se aceitéssemos essa linha de pensemento para implanlar 0 canleiro nas escolas, este seria um local de treinamento de habilidades construtivas (e & claro que seré sempre desejavel para o arquiteto conhegé-las), porém sem uliizar sua potencialidade transformadora. Vemos aqui uma Important’ssima diferenga, enquanto 0 primeiro (na maioria absoluta dos casos) adota uma organizacao que aliena o trabslhador © atence 20 interesse da reprodugao do capital empregado na obra, 0 segundo liberta e dé ases pare que © estudante possa criar, com maior complexidade, uma visfo sobre sua profisséo, atendendo 20 interesse humano voltado para a produgao do conhecimento. Reintegra 0 saber e 0 fazer como conhecimento tinico e vital para a realizagao da capacicade transformadora do homem A segunde confuséo, também muito coum, consiste em avaliar que se 0 canteiro experimental nao pode ser encarado como qualquer canteiro de obras, entéo deveré ser dirigido @ pesquisa analltca, recebendo o formato complementar, necessério para apolar os laborat6rios caracteristicos da engenharia civil, os quals estudam resistencia dos materiais ¢ analisem suas propriedades, separacamente. Nao podemos trlher esse caminho, pois nos impediria de valorizar, no canleito experimental, atividaces especificamente talhadas para a formagdo dos arquitetos © urbanisias. Atividades que estimulam um proceso voltedo para 2 compreenstio das méltiplas relagdes a ligarem os diversos aspectos do conhecimento humane. Portanto, um esforco no sentido invarso, au seja, 0 de valorizar os propésitos pedagdgicas do cantelro experimental como suparte para 0 entendimento das relag6es sist@micas existentes no fazer do arquiteto e urbanista, 6 que deve orientar nossa discusséo. A CONSTRUGAO DO ARQUITETO E URBANISTA, TEMA DO CANTEIRO EXPERIMENTAL Acredite que devemos buscar, no cantelro experimental a ser implantado nos processos de formagéo do arquiteto e urbanista, um desempenho completamente diferente desses casos (canleiro de obras e leboratérios analiticos), mas que permita @ compreenséo dos contedides que os tornam to préximos, @ ponte de possibiltarem essa confusto de papéis. pés- = z pés- ‘Ao canteiro experimental interessa que o esludante reconhega sua capacidace de trabalhar seus conhecimentos (adquiridos no curso de arquitetura undo) respondendo a situagdes as quais ainda nao foram por ele enfrentadas, Vale aqui lembrar que 0 conhecimento envolve a meméria de realizagbes bem ou malsucedicas (em qualquer campo), envolve e desenvolve a visdo da realidade, construindo-a e reconstruindo-a a cada momento, No canteiro experimental o estudante deve trabalhar apolado em seus projetos. E 0 nivel de indegendéncia pare a organizapo desse trabalho deve ser compativel com o momento do estudante no curso, Serd menor para o estudante do primeira semestre © ganharé liberdade (pelo reconhecimante da propria capacidade de elaborar e materializar idéias), & medida que o estudante avanga ra grade curricular. O canteiro experimental deve fazer parle da proposta pedagégica do curso «, portanto, acompanhar 0 desenvolvimento do curricula, Seu processo de implantagao deve valorizar essa ligagdo, mais que qualquer outra contingéncia relativa & infra-estrutura ideal. De nada adianta uma exposigéo de equloamentos de altima geragao, se sua aplicagdo néo apontar para o mesmo propsito pedagégico co restante do curso. A possibilidade que o estudante teré para trabalhar, a partir da propria escolha, iré auxiliar no estabelecimento de uma seguranga a qual poderiamos chamar de pré-ativa, ou seja, confianga na prépria capacidade de avalisr uma situago e agir conforme as possibilidades existentes naquele momento @ naquele contexto, Esse processo, de descoberta, invengéo ou reinvengdo, demanda 0 uso do tempo em uma dimenséo cujo controle nem sempre 6 téo direto, permite ou quase exige o erro para encontrar a construgao de solucdes satisfatérias. Permite desfazer e refazer iniimeras vezes, completando, no estudante, @ visdo do proceso laborioso que ¢ a transferéncia de um desejo para a realidade. Nao ha, nesse fazer, cobranga semelhante 4 existente no cantzira de obras. Neste 6 preciso néo errar, ganhar em produtividade, executar sempre com preciso, mesmo uma Gnica tarefa menétona e repetitive Nao podemos entender os dois espacos como iguais apenas porque trabalnam com cimento, areia, pecra e outros materials semelhantes. Nao podemos comparé-los porque em ambos encontramos prumos de centro, orumos de face, martelos, vibradores, betoneiras, etc. Nao podemos julgé-los iguais porque neles trabalham pessoas usando capacetes, luvas, proletores auriculares (existiré, de fato, essa siluagao em ambos?), ete. Determinados angulos de uma fotogratia (imegindria), certamente, poderiam deixar os contornas parecidos, mas o esclarecimento dos objetivos revela uma situagdo completamente diversa, Nao podemos aceitar que a principal {ung3o do canteito experimental seja limitada a treinar nossos esludantes nas habilidades necessérias & execugdo das técnicas construtivas, (2) “As squsigbes 280 corr ele ext de Fears es, come, 88 vores S078, mas im pola experienc, Fstudsr primera, reras ees 6 Colnat oat 9 frente fos bois "= FREINET (édigo da esveags0, a (alsin Fein = Uma edagosi destino cooperarae) A ABORDAGEM SISTEMICA No canteiro experimental o estudante deve encontrar apoio para estebelecer uma acao a qual privlegie seu olhar sistémico, para que possa compreender que 2 relagdo entre eventos diferentes na amplitude e significado é, muitas vezes, @ chave para construir 0 entendimento de situagdes complexas. 0 propésito & deixar explicta, para o estudante, a oportunidade de sua vivéncia e interagao com os eventos diversos poderem ser relacionadas com seus conhecimentos cientifices. Talvez seja a primeira oportunidade para valorizar ferramentas intelectuais | esquecidas. Uma oportunidade de retomar o sentida natural para a produgao do conhecimento? ‘A convivéncia com operarios da construgao (os técnicos que auxiliam no trabalho) permite conhecer oulras visbes, oulras organizagées de idéias dirigidas a0 mesmo problema, uma outra manelra de produzit, organizar e aplicar conhecimentes. Esse contato stimula a sensibilidade para diversas discussées. Ao carregar um carrinho com material para construir seu projeto, € possivel surgir 2 portunidade para discutir a situaga0 do trabalho na construgze civil, compreender (materializar, quase) 0 que, eventuaimente, j6 tenha ouvido em sala de aula, ou realizar a discussio pertinente, naquele preciso (e precioso) instante, Ha uma produga0 cooperada do conhecimento realizada pela participagao do professor, dos estudantes e dos tecnicos. Cada qual com suas vidas, construldas em situagoes e momentos diferentes, contribui (com a responsabilidade nascide no desejo de superar 0 mesmo problema), efetivamente, compartihando seus pontos de vista, As relag6es sistOmicas consideradas importantes, incluer, mas nao se limitam aquelas reiativas ao campo das técnicas construtives; devem abrir espago para descobrir aquelas que o catidiano encobre, a desigualdade social impbe como natural ¢ a estrutura tradicional de ensino reforce como separadas. 0 canteiro nao ¢ 0 lugar da atividade prética, em detrimento da atividade intelectual (tal separacéo nao existe), 6 o lugar da atividade plena Portanto, no podemas confundi-lo com um laboratério preparado para estudar separadamente, utilizando processos analiticas, os materials, os fendmenos, os processos, etc. f claro que tais laboratérios (e 0 conhecimento nneles produzidos) so essenciais para atividade humana (em varios campos), mas ro 0 so no processo de formacéo do arquiteto e urbanista, O CANTEIRO EXPERIMENTAL E A TECNOLOGIA Muito do jé dito acima ajuda a relativizer a visdo tradicional da area tecnolégica, mas é impossivel contestar que o canteiro experimental néo se estruture nessa diregéo, Alids, a expresséo tecnologia assume significados diversos; hoje 6 muito comum, a9 ouvi-a, termas um entendimento de algo relacionado @ tecnologia da pés- = & pés- 3) “Saber sempre) ssoloracera arom ésmicae psiquics, que Sabor naacepezomais, popular dome, eave st na raid ita do ene Ao mesmo emp0, ssbor# er, foer leur fe ia dears" D'AMBROSIO, irate Enomatamtica. Um enloque anropataice do Inatemaica# co ansin, In laiae mstemations de ‘vos cultursimants ‘sti. (8) “Por isso does js so Ssslonte a necessiade de lima permanent ste ualehomem reac Sua vocago natural de ‘tage a smpise Sjstamento ou ‘comodo, Spreendendo tomas fares sua space Est, por utr lado, 52 reali § propareao sm Sapteaos suas taetas resol. Ese suger na Imadiae em que temas « fareas nso ansciosemergentes, que agen, Ince, ua isto nova dos veto tomas "FREIRE, Paulo Edueapde coma prstice da fnendade, (5).Come posemos ve, esse ancora de LO: “het 42. A oaucagso tiataads estimutar sent {fesomvatumanto de pitta cientitce do bpensamentarefesive Informer aplomaaas as sferantes seas de onnecimente ptes pare 23 insereao om setores Dratssionas « poe a sedate traior, © rea de informatica. Sempre, quando queremos entender um pouco mais claramente, procurarmos adjetivar a expresso: tecnologia da medicina, tecnologia das comunicagbes, tecnologia da produgao (de alimentos, de tecidos, de energia, ete.) Cabe, entao, a possibilidade de amoliar 0 conceito da palavra', se para isso procurarmos compreender a tecnologia como a lente pela qual 0 homem observa algum problema existente na natureza (em qualquer rea de interesse), escolhende € organizand, com esse olhar, seus conhecimentos para resolvé-o. E essa lente ir4 variar através da historia, evolulr, ganhar novas propriedades, ampliar sua capacidade de definigao. £ 0 homem, apoledo na compreenséo co problema, possibiltada em oarte pelo uso da tal lente e em parte pelo uso que outros homens fizeram de suas lentes (pois 0 conhecimento se estabelece em um processo coletivo de ado atemporal), cria uma solugo qual julge acequada que estard (na maioria das vezes) inserida em sua época* Cada técnica (em cada area) define um momento dessa caminhada Ha uma definigao interessante, nessa diregdo: “Entender a ordem césmica, psiquica e criar sao coisas que, aparentemente, nada tém a ver umas com as outras. Mas levam & ciéncia, que é 0 ato puro do saber, assim como a arte © a técnica sao atos do fazer. A ciéncia ndo materializa da mesma forma que a arte pois esta nunca se toma arte se no for transmitida, Essa complementaridade entre ciéncia e arte, que encontra na tecnologia resultados que causam maior Jmpacto no mundo modemo, &, na verdade a complementaridade de saber = fazer. Se alguém sabe, faz. E para fazer & preciso saber. Fsse é 0 mais alto nivel de conscientizagao do individuo como Homo sapiens." (D’AMBROSIO, 2000) 0 importante ¢ conhecer como se posicionar nesse proceso ao mesmo tempo universal e profundamente pessoal. Po's & @ posture diante do problema desconhecido que iré determinar a capacidade de superacao, Ha, entdo, uma preocupagao ética no canteito experimental E € natural que assim o seja, pois & preciso preparar o jovem chegado & Universidade para uma agéo responsével com a realidad social, © nao apenas trelné-lo para atender ao modo como o mercade organiza © consumo de sua profisséo. A agdo pedagogica correspande @ visdo politica com a qual a escola enxerga seu papel na sociedade. A idéia do comoromisso para com o bem da coletividade & de entendimento eral, aparece na le! que fornece as diretrizes para o ensina® e ganha vor nos |uramentos pronunciados nas colacbes de grau. Mas em que medida, de fato, 2 formago envolveu os estudantes em processos que Ihes permitissem agir com seguranca para defender seus pontos de vista, mesmo em situapdes dasfavordveis? A presenca de um cantelro experimental em uma faculdade de arquitetura & urbanismo $6 se concretizaré, plenamente, quando sua presenga também se tornar nitida no plano curricular daquela. E pare que isso aconlega € necessério discutir 0 propésite pedagdgico ¢ o interesse institucional, para encontrar a forma ‘mais favoravel 8 implantagao da alividade. colabarar ne sue fomagso continu, se pasquisae Invesngseao cinta, visanao a desenvoimento eis onap80 6 tivalgagae oe cemtfcos tecnicos gue onsite patimdnio 39 humancac @comtnicar te publeapées ov de Vosusctaro dessjo permanente de ‘porteigcamento cults! ® proisiona» postr Coneratiarao, integrand esconhecimentos que 0 Sendo acquinos numa strata nttectuat Sstomatizaora do connecimenta se e289 gerara, ine estimvior 0 conncimente doe Droblemss domurdo resent, om paricular os restr serigos speci 3 comunidad eesabslecer com sis uno reaeso.de reciprocidace: i= promover sexensio, stertad partoipagto Je opus, wsande fituszaaasconguisas & tenetcosrsuiontes de criageacutural ede © CANTEIRO E SUAS POSS{VETS RELAGOES possivel visualizar 2 operagao do canteira exoerimental no proceso de formagao do arquiteto © urbanista, mas & preciso enxergar que esse processo também seré mais rico se oulres inserg6es forem viabilizadas. Por exemplo, 0 apoio aos projetos de pesquisa, sejam eles oriundos das atividades da p6s-graduacao, de trabalhos de iniciacao cientifica, seje de outra aglutinagdo de interesses. A convivéncia entre pesquisadores e estudantes da graduagao possibilta uma dinamica diferente daquela contida na previséo das disciplinas, estimula © ddescortina passos e saltos, possveis para todos os envolvidos, Outra possibilidade 6 0 uso do equipamento para incluso dos funcionérios fem atividaces desenvolvidas com ofopésilos especiais, o que também abre a possibilidade para identificar novos canais @ fundamental comunicacao entre os diversos representantes de uma comunidade universitaria Da mesma forma, exister alividades de cultura e exlenséo que podem encontrar, no canteiro experimental, o espago adequado para seu desenvolvimento, incentivanda formas de contato ¢ troca de experiéncias com @ comunidade externa Existe um potencial de uso que justiica o esforgo necessério para sua implantagao © a correspondente interagao institucional O CANTEIRO EXPERIMENTAL DA FAUUSP Ao falar sobre 0 Canteira Experimental da FAUUSP, procurarel indicar os ppontos considerados importantes para 0 estabelecimento desse equipamento em qualquer insttuigao. Nao hd, nessa indicagao, @ intengao de estabelecer uma receita ou modelo, trata-se de uma contribuigéo a0 debate, ariunda do trabalho exercida nesses Ultimos sete anos como responsével pelo Canteiro Experimental. Outras tentativas de trabalhar um canteiro na FAU foram vitais para estabelecer, na faculdade, a compreenséo e @ disposigéo institucional para receber a proposta do atual canteiro experimental A origem conceitual da atual proposta encontra suporte na reflexéo apresentada até aqui. Seu projeto institucional ainda se encontra em processo de implantagao, pois a possibilidade pedagégica ainda nao foi plenamente compreendiaa, Muito hn& por fazer, acertando, erranda, revisando, dentro de uma dinémica coerente com a propasta para a qual convida os estudantes, pés- 148 3 a Siuagso do Cantera Experimental 05 osauerda para a iri Eaton Via Nove Arges LAME, canto Experimenta Cras cadastral realoage pela Lebiab ~ Gieu (Rotien de Told Vieinc, Roaigo Guedes do Azovode, Isadora Tam lamer Teukure, Wala i oka7u), ecentado por Repinaico Lue Nunes O CANTEIRO FOI INAUGURADO EM 1998 A definigaa de seu projeto arquitetOnico e de infra-estrutura foi objeto de um trabalho especttice e realizado de acordo com a disponibilidade de recursos existentes na acai. 0 canteiro foi implantado préximo das instalagbes do Laboratério de Modelos © Ensaios, 0 que the confere uma situago muito favordvel, pois se trata de uma oficina muito completa, com técnicos especializados de evidente habilidade profissional Essa € uma necessidade que deve ser considerade em qualquer projeto, pois as atividades que irao ocorrer exigirao apoios civersos, especializados e, na maioria das vezes, urgentes. Como 0 canteiro ndo iré trabalhar com um Unico projeto (so varios alunos, ou equipes), o uso dessa estrutura de apoia tenderd @ ser Intenso, O partido adotado procura organizar a citculacéo, érea de “processos” & estocagem de material a grane!, dafinindo éree coberta © outra 20 ar live para garantir uma versatiidade no uso Procura néo estabelecer nenhuma técnica como determinants na operagao do canteiro, assim no corre o risco de tornar-se 0 cantelro de conereto armado, ou © canteiro de estruturas de madeira, ou o laboratério de tecnologias de terra, otc Pare amparar a rea de processos, foram implantacos, nessa fase, os seguintes itens: betoneiras, mesa vibradora, trturador de entulhos, tanques para cura submersa, preparades para receber cura a vapor e prensa para produgo de blocos de terra compactada. (Nas oficinas de apoio existentes no LAME & possivel lidar com madeira, metais, resinas e tintas.) Projo do implantarae, com # pravsao de Instalagoes cos quipamentos béseas (Crédit: Roginaleo Luie Nunes Reneon © esenho de Alexandra Frasson Vista goral do Centro Experiments. No primelo plano, a5 Dass (colois) pare queda (fe materal a grare! radio: Regnalao Lie Nunes Roneon 150 3 a (6) Para moines dettes, ver ateee do coutorado do ute, A rea coberta, no Canteiro Experimental, possui iluminagao, pontos de fornecimenta de energia e ce agua © duas bancadas fixas para apoio geral A cobertura, respeitando os limites orgamentér'os, procurou alcangar @ maior {rea e fol definida com a intengao de apresentar, em sua solugdo estrutural, uma facil leiture para propésites didéticos. 0 canteiro ocupa uma area total de 3,000 m? e conta com 380 m? de area covert. 0 acesso a0 canteiro € disciplinada por um elambrado instalado em seu perimetro, que conduz para uma Gnica entrada, procurando, com isso, evitar acidentes com usuarios do campus. 0 alambrado nao fazia parte do projeto; durante o periodo inicial de operagao do Canteiro Experimental sua necessidade se fez evidente, pois o risco que os trabalhos em desenvolvimento representavam para quem no percebesse sua condigao de experimento era muito grande. Infelizmente, a insercéo do Cantciro Experimental na pracesso pedagégico da escola ainda € muito pequena, esta vinculada direlamente a trés disciplinas no Departamenta de Tecnologia da Arquitetura Positivamente, jé esteve presente em trabalhos de iniciagao cientifica, rmestradas, doutorados @ projetos de cultura e extenséo. Sua absorcao institucional pode ser considerada avancada, porém falta ainda receber uma dotagSo orgamentéria, mas utiliza, sem restriggo especial, parte dos poucos recursos que @ unidade possui. Por essa razdo, considerd-lo ainda em fase de implantagéo. Acredito que essa descrigao permite compreender 0 projelo de equipamento didético ¢ sua relagéo pedagbgica® Portanto, pademos sugerir, nesta altura do artigo, um resumo dos principais ppontos desejéveis, para a implantagéo de um canteiro experimental 1. A coeréncia de vincular o canteiro experimental a0 projeto didético pedagégico do curso. 2. A necessidade do local escolhido para essa atividade, considerando todas suas implicagbes: descarga de material, geragao de entulhos, etc. (no pode ser um cantinfo que sobrou no jardim da lanchonete). 3. A obrigagao de um projeto considerando a instalago ce equipamentos basicos e @ possivel base para o alendimenta de necessidades especiais, sem vincular os equipamentos e ferramentas @ uma tinica técnica construtiva 4, Considerar a implantacdo de oficinas de apoio come imprescindivels para 2 operagso do cantelro experimental, valorizando sua versatilidade 5. Um dimensionamento espacial coerente com o universo de estudantes do curso. 6, Prever e implantar procedimentos visando a seguranga dos usuarios. 7. Existéncia de previséo orgamentéria para manulengao do espago, Independente de recursos provenientes de financiamentos para pesquisas. 7 Todos os estudantes, 2 inci de curso, rival culos de ALGUNS TRABALHOS REALIZADOS NO CANTEIRO Hoje, trés disciplinas incluem, oficiaimente, o Canteiro Experime programas, Duas disciplinas obrigatérias que acon! disciplina optative a trabalhar com estudantes do final do curso, Mosttarei, no transcorrer do texto, algumas imagens de alguns dos exercicios | realizados, apenas come ilustrago das possibilidades até agora expioradas. Vamos explicar, sucintame objetivos, com no primeiro ano © uma Construgao de modelos No primeiro semestre 0s estudantes organizadas em equipes s4o estimulados a construfrem um modelo que parte dos mesmos prinefpios para toda a classe. Utlizemos pequenos blocos de gesso, moldedos no préprio canteira, 0 exercicio prope a reflexdo sobre 0 uso do modelo proposto e a definigéio de lum programa preiiminar que iré determinar, por exemplo, a localizagéo de aberturas rar um “sistema programa”, devem el construtivo" (considerando a viabilidade de idéia para adapté-la ao uso real. ‘ebemos que muitos esludantes fazem, nessa opartunidade, seu primeiro contato com ferramentas @ material de uso muito comum, Per Comega, aqui, uma discussdo sobre conceltos basicos de organizagao como cuidado com a seguranga’ (propria e dos demais usuarios do espaco), limpeza do local de trabalho, cuidado com as ferramentas, etc. £ 0 inicio de um longo pracesso que ligard 2 organizagao do projeta & organizago (de pelo menos uma das formas) do espago necessério para sua materializagao. A lransferéncia da idéia, (6 regsstrade no projeto (einda que precariam para a materialidade do madelo, confere ao ambiente das oficinas e do canteiro uma atmosfera de reconstrugo de conhecimentas, a qual para alguns toca a inven: para outros 4 corregao e aprimoramento de tentativas anteriores, mas 0 que, certamente, resulta da propria dinamica um proceso de mativagao pessoal e dnico, eS pés- Por outro lado, o trabalho em equipe demanda um tipo de atengao especial € configura um espaco de transigo, ao mesmo tempo ldico e patente com 0 reconhecimento da capacidade de transformagdo, explicitando a interagéo entre 0 Individuo e 0 coletivo, Depois de pronto, 0 modelo é submetida a um ensaio de ruptura, realizado ‘no pr6prio Canteiro Experimental, com um processo que pretence (no minimo) abrir possibilidades para a discussao de alguns fenomenos estruturais. A organizagao de um ensaio, sem os usuais equipamentos pare ruptura de amostras, pretende demonstrar néo apenas as questdes da forma e do processo consirutivo, mas evidenciar a possibilidade de “ensaiar", com critérios, em qualquer situagao. Ou seja, submeter a prépria idéia @ uma avaliagao critica hhonesta e produtive. Busca, no exercicio, recolocar a ocorréncia do erra dentro da perspectiva da construggo do conhecimento, No segundo semestre Os estudantes ido escolher, dentre um leque de lécnicas construtives (apresentado pelos orientadores), e com esse parametro cefinido elaboraréo um projeto com dimensées maiores que aquelas trabalhadas no primeiro exercicio. 0 trabalho continua sendo realizado por equipes. Dependendo do projeto desenvolvido, o resultado poders ser um protétipo, ‘ou um modelo em maior escala, Sogunco someste do curso (eens) = Segundo semeste do cuso (agamassa armada) & pés- Dessa vez os materials pertencem, explicitamente, a0 universo da construgéo, Os alunos ido trabalhar com tijolos, blaces cerdmicas, cimento, area, bartas e telas de ago, espagadores pisticos, ete. 0s projetos demandam servigos auxilares para a confecgao de formas, gabaritos, estruturas de apoio. Utlizam colheres de pedreiro, mangueira e nivel, carrinhas ara transporte, prumos, etc Ha, com certeza, um aprendizado inicial das atividades da construgao, porém todo esse contato com o manejo das ferramentas e as técnices para sua correta ullizagao aparece como necessidade natural para atingir 0 ‘bjetive principal, © qual consiste em materializar © projato da melhor maneira possivel Trabalnamos até agora com técnicas como: argamassa armada, alvenaria portante, alvenaria armada e ferro cimenio, mas nada imgede que outras técnicas sejam escolhidas futuramente. Cada equipe recebe a orientagdo dos orofessores e dos técnicos do Canteiro Experimental @ do LAME. € muito importante resseltar que 2 responsabilidade do técnico deve ser considerada como a de um instrutor ¢ ndo como a de um executor. 0 estudante no apresenta ao técnica ume encomenda, mas sim um problema e juntos trabalham uma proposta para superé-lo, Atingindo outra escala A discipina optativa prope um tema para ser desenvovido pelos estudantes que ja se encontram no final do curso. Esse tema é aprasentado com refardncas @ exercicios a orgenizarem os subsidios para o desenvolvimento de um projet. © trabalho 6 nico para a classe toda, que possui um nimero previamente limitado de vagas. Além do projeto, 0 qual deve conter informagdes suficientes para orientar sua execugéo, os estudantes séo estimulados a plenejar 0 desenvolvimento da obra utilizanco um cronograms. AMé hoje, 0 suporte para essa atividade foi a curve catendria; os projetos realizados polos estudantes sao diferentes © construidos com diferentes materais € diferentes processos de organizacéo produtiva Em alguns casos explorou-se questies ligedes ao interesse da pré- fabricagéo; em outros, @ raclonalzagao de técnicas tradicionais; ¢ ainda em outros 2 (redleitura de trabalhos signiticatives; e, em alguns, a exploraggo de novos, caminhos. uma ativdade que provoca muita satisfagéo 4s pessoas envalvidas. Tanto 0s estudantes quanto os funcionérios e professores trabalham configurando uma equipe que nao ests repetindo uma solugso 0s projetos $30 diferentes, no fazem parte do repertério de ninguém, © basta isso para que a atengao de todos estea intera © valor que cada pessoa atribui para a descoberta de suas possiblidades fica evidente nesse curso () Osemnério, acoeo speci! da arguteto aso Figueras Lina, "le (9 retro univarstade, fxpenncie decanter de (2) arquiteto «professor Eni Lasovisra coordena ss propos. (10) Oesntere fxoerimenal da PLC ce ‘Campinas fi planta el orautetos professor tora. Lette, que se Cesligau do net tug no ‘ia! do 2002 0 proceso ¢ organizatia em um relatério, cujo espirito & registrar e propor questées para discussao e eventual aplicaggo em outra turma. Todos os estudantes freqlentadores do Cantelro Experimental sdo tocados pela curlosidade despertada pelas construgbes realizadas nessa disciplina (talvez devido & escala), 2 de uma forma mais ou menos significativa, eles iniciam uma interagéo entre estudantes que estdo em diversos momentos da formagao. Essa € outra possibilidade ainda @ ser explorada mais efetivamente no trabalho. J realizamos uma pesquisa, amparada por "bolsas trabalho", que reuniy quatro estudantes os quais estavam no meio do curso com 0 compromisso de ptojetar e construir um gabarito para construgdo de cupulas catendiias. Esse gabarito foi utiizado, posteriormente, por estudantes do primeira semesire e, & claro, com a orientaggo dos “inventores” do gabarit. ENCERRANDO O ARTIGO, MAS DE FORMA NENHUMA A DISCUSSAO, 0 canteiro experimental é assunto fundamental pare a formago dos arquitetos © urbanistas @ as possibilidades para sua configuragdo sao inimeras. Aqul apresentei para discusso um dos caminhos possiveis, evidentemente aquele ‘com 0 qual tenho trabalhado na FAUUSP, 0 entusiasmo (contido) em alguns momentos é decorréncia natural da observacdo do comprometimento dos estudantes durante sua permanéncia no canteiro experimental e da descoberta cotidiana de novas possibilidades para estruturar discussdes que admitam essa érbite E muito importante elaborarmos propostas para fortalecer 0 espaco pedagégico existente nos canteiros experimentais. Recentemente, a Universidade Federal de Pernambuco realizou um grande semindrio®, seguido de uma reunige técnica, como parte da programagao cujo objetivo ¢ estabelecer um suporte para 2 implantagéo de uma reforma pedagégica®, propondo que o canteiro experimental defina um relevante ponte articulador na futura estrutura dlsciplinar, Propoem-se trabalhar, com o canteiro experimental, ¢ busca por praticas que levem 0 estudante 20 processo de integragao com as demandas socials da regis. Naquele eventa a discusséo sobre 0 conhecimento integrado foi a tOnica e, com isso, 0 proceso de renovagao do curso fica evidente e atraente, para professores e estudantes. Infelizmente, por outro lado, 2 Pontificia Universidade Catélica, em Campinas, destruiu 0 espago em que havia um canteira experimental desde 1978", e jé contava com diversas experiéncias realizadas as quais constitulam lum acervo, um testemuntio dessa prética na escola, mas esse episédio comprova a necessidade de acertar os rel6gios das instituigdes 20s dos interesses pedagégicos. pés- © | -sod Felizmente, 0 ocorrido ndo desmonta @ proposta que @ FAU-PUC de Campinas vem organizando, estabelecenda camo centralidade para a formagéo do arquiteto e urbanista 0 espaco dos laboratérios, E sobre essa tensdo que chamo nossa atengéo, porque 6 responsabilidade dos arquitetos, e, principsimente, daqueles que s4o professores de arquitetura © rbanismo, definir como se dard a inser¢ao dos canteiros experimentais em nossas faculdades. BIBLIOGRAFIA ELIAS, Marsa de Cionpa. CoéstinFrenet — Uns peda de cocperacse,Peudpais. Vozes, 1997 FERREIRA, Mariana Kava Lal (Org). sies matamstias ae povoe cuturalmente astints, S32 Paulo: Facesp; Global Ediora, 2002, FREINET, Celistn, A scucapéo do tranalhe, Sto Paula; Martins Forts, 1998 FREIRE, Paulo; SHOR, ita, Mede e ousadie 0 cotiano do profesor So Paulo: Pax Tera, 1986. FREIRE, Paulo, Pedogops do autonomia - Saberes necessérios 8 price educative, Sto Paulo: Paz Terra, 1996, PIMENTA, Salma Gara: ANASTASIOU, Lea das Gra;as C. Decéneiz no ensno superior. S30 Paulo Corte Estrs, 2002 RONCONI, Reginaldo Lulz Nunes. Insereio do canto experimental nas faculdodes de arqutatua urbanisma, 2002. Toso (Doutraco) ~ Faculdads do Arquttura © Urbarismo, Universidade oo S30 Paulo, Sio Paulo, 2002 _— Canter experimental, mals uma pesinicacs para pao, informatio FAUUSP, S20 Pau FaLUSe, 1999, 0 canteto experimental es formagio do arquteto © urbanisia, In: XX! ENSER ~ ENCONTRO ‘NACIONAL SOBRE ENSINO DE ARQUITETURA, 2003, SaWedor. Anas. SaNscor ENSEA, 2004, Crédito das imagens Foto} (pigine 153) Leandro Martins Foto 2 (pds 156), Eason Kijsh Tsutsumi Foto 3 (pigine 156) Maria Inas Sugai Foto (pagina 158) Jae Saragoga Domats ‘ots: Regina Luiz Nunos Rerconi Reginalde Luiz Nunes Renconi ‘Arquiteto, professor coutor da FAUUSP, coordenador do Cantelto Experimental da FAUUSP e do Laboratério de Modelos e Ensaios - LAME.

You might also like