You are on page 1of 97
‘icia Cobeto Bianca Elsabeth Thurm [Eduardo Wagner Aratangy Helena Bonadia Buonfiglio Michel Indalécio Souza Paula Costa Teixeira \VaressaPinzon “Taki Athandssioe Cordés Guia pratico Como lidar com os transtornos alimentares Guia pratico para famil e pacientes 3a. Edigac Como lidar com os transtornos alimentares Autores Alelocebelo Patoga pelcanastaarapeutateriar Mestre em Cidncas pia Factiddede Medicine ds Unions ‘tare Sop Pauls FAUSP, peorderad rac enulpe ce pstolg adoProgara ce eerdiontaE*sino ‘eesquegammranctornos Almortaresra fence alescancia(Ptadl go Pitt de Piqua Hesptoldee Ciuens db Faculdade de Meda ca Uritarsdade do Sto Palo [Py HPMUSF) Emambade Aetlemy fr Eating Dsrcers (EC, co Capttio isparovarercano Ua AED, ecodepar~ tamentodsfomagia empseanalse de nstuteSedes Saplertoe. Bianca Fleabath Thur Faotaraneta pala Uriesidade do Srence ABC, ese oucora om Eeucagao Fisica pola Usivars= ‘dadoSto Jaa iadauU8J9«pes-Joutore pele nteuts do Foils (Faldo HOPS pacquiao eaters de >ograna do Tansoros Aiontays Abin TPs HCHMUSY f= Coleradora do aoratonn de fersepgancorgo als Wowmerto 9 UST € Iharbreda amar oF Fetirg Cscraer lier dogiupa de osquica"Pecepvaa Corporate Movirrenig'doCorwale Rack, doDesomvalvmonte Closes Tecrolegtca (NPG. Eduarde Wagner Aratangy Madizo pela Faculdade dh Mescna de Universidade de Sea Pave (FMUSP),porquiota ooo Into tePeiquiaria(ie) Jot lesaitaldea Union da FMUSH 6 80-yacuadocrr Adrinistragso de Sores ‘deSmade pala Fundneto Sat vrgastEAESPIFOM, Emadinstpoieerdo ru mech Bnferrars deCartooranentoinentar (EL) dolPydo HCE MUSE. € proeesadeCentorasidra deer -gaaungsos|CENEFA),conrdenader da Liga ultisios nar do {rbnetomos Almantare da FWP 2 momar do ote Mana Py do HCE MISE odie pela fscaar de Medicina Uriveretiase do Sto Pavia GHUSP).psinuiata pe Instzuto tePsig iatradra) do HosplaldasCiniaeda FULSh es especlitaem Pigatria ds iXBreie 5- lesotnci ple Pa do HOFMUGE matics ealacoradora ce Amul (Pee HOFMUSEL ‘Moo indalécioSeuza Paitin ple Universidade Casson do Santa. Eapaialctaem Nourssiologlapoa qd HCFA fr tronstarneedimertarepelo Amul dolPa FlerMUstemn eas Cmportamenralcim Fri Cass yok Fonitica iri sdade Gaia do ‘eo Paulo PUL SP} on Medina Corporal ylaLi worsidode redersl e680 cue (Uni oe Eterspeutacogntia eompertamentals sleslege suparaar de amsulatricdeAnorava db Ambulin (ing NCrUSE, Paula CeotaTebra Eeuendora foe eomlcancarura para pola UnIPM0,Ogutors em Neureiénsas. Comps-tarranio pelo nertutode Patologia da US» especinlsta am Teorave Teenie pao Culdadgs letepraves 8 es. ‘nombre do Grup Eepesiizade en Taratorns Almostart Dbssidade BENTH, clabordoa ¢o ‘Ambul S12 MUSP)eialeagora do Exerc Plo PUegaUNO, Voneses Przsn ‘Mision pebyta most wn Clincias pla NUS Fcocrdensora grata *regrama de relent Esino o Pesquisa ern Wenonvos Aen Iplancine delesofac [retad = Pe-HOPMUSP) Eutorade epioles doves v atignecobre tractor allmanises, “Tak Atbantaslos Corehe sdb pekuatta, mest edoutor ple Insthute de Pintle HOFMUSE Ersoordanadar ia Aasistenca Clirica ede Programade Tanstcrnos ALimentares (muti du lessor Muse E prcfeser do pragramadapés-graduigto do cepartatrarta do Paula SaUS® edo programa de NeurlbneinzeComporiomerta fo matitviodePsicelega da IS? Alicia Cobelo Bianca Elisabeth Thurm Eduardo Wagner Aratangy Helena Bonadia Buonfiglio Michel Indalécio Souza Paula CostaTeixeira Vanessa Pinzon ‘Taki Athanassios Cordés Como lidar com os transtornos alimentares Guia pratico para familiares e pacientes Ba. edigao @® hogrefe Coppigit 2017 Hoprete CENERP Edom: CrilenaNegeio Gaga e dagramacio: Claudio Baghiedjenbe Prepaeaio: Joana Figueiredo Reviso:Zupénia sors {Crédit do poems dt pins 7-8:Catler Drummond de Andrade 2018), ‘As conteadis do corpo. Tn Corpo So Pale: Conpanbin das Ler Carlos Drunenil de Andrale® Grin Drammond wonscarloséremondcon br CIP-BRASIL. CATALOGAGAO NA PUBLICAGAO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DELIVROS, R) Asie ‘Arwangy:Bévarde Wagnes,1978- Comoligarcom es tansternsalaientaes Guia pritico para families epacents/Ecuardo Wagnet Aratingy, Helena Benadis Baonfige 3 ed. SioPanlo; Hogree, 2020, u acs ISBN 978 85.85899.58.3, 1 Rscelogia. 2, Distrbosallnentere.L Buonfglo,Heteta Bona. I. Tle, epp.i3s 17-5696 cpu 15552 stelivo segues regrar da Nowa Ortgeati da Lingua Portes. “Todos os direitos desn allo rezervadoe edtoreHogrefe CRTED? R. Comendador Norberto org, 40 Brockin, S40 Paulo - SP, rast CEP 04602020 "The85 1 5508-4582 swonehogefeccm ir [Nauuma partedesta obra pode ser reprodadda ou tans ror qualque forma om gosegaee rei (lecénco on mecrice, inline fotoedpas gavage} ow akguirada er quae se sma eu bancode duos sem permisso pore, ISBN s78.85-85409.58-5 Inpreso-aa Bret Este lvto € dedicado a Vaclene Barbosa Ferreira ea Maria Aparecida Larino (Cida), que nos ensinaram 0 que significa decicagio «© competéncia no cuidado com o ser humano, Este livro fof escrito com 0 auxflio de uma antiga paciente, que softeu com a anorexia nervosa e superou a doeaga epés uma longa ita, Meu so1po no & meu corpo, uso de outto ser, Sebe a arte deeconderme “ede tal modo sagnz © que amim de mim ele ccutta, ‘Mea corpo, nfo’ meu agent, “neu envelope selaco, seu tovdlver de assuster, ornakr-se meu cercer¥iro, * mosabe mais cue me se, {Meu corpo epega alembranga 4que eu tinha de minha mente. | © Tnoculame seu patos, |» meataca, fee e condena por crimes nito cometidos. seu ardil mais disbstico esté em farerse doente. Jogs-me o peso dos males que ele (ece a cada instante ‘ome passa em revulsio. Meu compe inventou « dor fim de tornéta interna, infegrante do mes Id, ‘ofuscadora da luz. qe af tentavaespalharse, Outras vous ce diverte 50m que eu saiba ou que deseje, enesse prazer maligno, ive suas células impregna, do meu mutismo escarnece. ‘Moa compe ordena que cu sila em busca do que nio quero, ‘eme nega, a0 se afirmar como sentir do mou Ew convertto em cBo serv Meu prezer mais refinado, nao sou eu quem vai sentilo, Bele por mim, rapcea, dé mastigados restos minha fome absoluta. Se tento dele afastar-me, or abstraco ignortlo, volta 2 mim, com todo 0 peso de sua carne poluids, seu tédio, seu desconforio, Quero romper com meu corpo, vero enfrenttto, acusiio, por abolir minha esséncia, ‘mas ele soquer me eseuta © yal palo rumo posto, [a premigo por seu puko de inquebrantével rigor, 280 sou mais quem dantes era: com voltipie divigida, saio a bailas com meu corpo. Carlos Drummond ce Andrade, As conizadigées do corpo, 2015. Sumario Apresentapio .. 1 0 que sao transtornas alimentares?. 41 Quais'sa0 08 principais transtornos alientares? 4.1.1 Anorexia nervosa daostsnegesesavons esse sn senamesnnenn 112 Dolimia nervosa, 1.1.3 Transtorno de compulso @liMent]r.c.crnsssasn serene erie 1.2 Per que a pessoa com transtorno alimentar simplesmente nao come direite?, vee 20 4.3 Tada pessoa quese preocupe com corpo. alimentagao. tem transtomo atimentar?...... 2 14 Quando suspeitar que alguém soire de um transtorna alimenter?. 25 2 Quais sao as causas dos transtornos alimentares? 24 Fatores predisponentes. 22 Fatores desencadeantes..... 23 Fatores mantenedareo.. 23.1 — Alteragdes biolégicas. 2.3.2 Crengas distorcides..... 23.3 Uso de métodes purgativos... 2.3.4 — Aceitago soctal.. aces 24 Os transtornos alimentaras 3 Como 66 tratamento cos transtornos alimentares?..... 43 34 Doenga individuo sons aves 3) 32 Ciclo vicioso: por que otranstamno alimentar seMANEEM ye wsemsrnsnensmnns son 33 Etapas do tratamento dos transtornos elimentares..i..e0 45 331 Controle de riscos, 45 38.2 333 3.3.4 38 ao 310 4 a4 42 43 44 46 46 47 48 49 410 an 4a 4ae 442 4424 Renutrigao... Controle de sintornas.. sn Manutengao e prevencdio de recaidas.... wnt nee Modalidades de tratamiento. 60 Tratamentonutricional dos transtomosalimentarss..... 51 ‘Tratarnento médico dos transtornos alimentares .oeivne 52 Tratemento psicolégico dos transtornos alimentares oun. 63 ‘Terapia familiar 7 = 58 lorapias em grupo. ‘Terapias pela internet... 59 68 Anorexia nervosa . O que é aanorexia nervosa?... so Como se faz o diagnéstico de anorexia nervose?, Como c anoréxica castuma pensar?... Quem pode dasenvolver anorexia nervosa?, Guando desconfiar que alguém tem anorexia nervosa? Complicagées da anorexia nervosa Anorexia 8 MOP a... ~ Coma ccorre a busca por trstamrento para anorexia a wn 70. 7 nervosa?, ss 78 ‘Tratament. 78 Recuperagao. 7 Opapelda familar tatamentoda anorowanenoca.....78 Como os pais podem se sontir?.. 78 Como o filho pode se sentir? 0 Fases do tratarmento. 80 ‘Oque esperar em cada fase? a0 4.12.2 Fase do contrale de riscos.. 81 4.12.3 B Fase de renutrigaio Bt 4.12.4C Fase de controle desintomas nesta BA 4.12.5 D Fase de manutengao e prevencaode recaida oon 86 Ba 52 63 6h 641 642 643 5.44 65 66 87 58 59 5.10 bat 61 82 43 64 65 66 Bulimia nervosa.. O que Sa bulimia nervose? Como 6 o diagnéstice da bulimia nervosa?..... 0 que provoca os episédios de compulsae alimentar da bulimia nervose?.. rosea ‘Quem pode ceservolver bulimia nervosa? 93 Ceracteristicas psicologicas Particularidades ros edolescentes.. Particularidades nonermem... Perticularidades ro diabetes tipo 1 . {Quando desconflar que alguéi tem bulimia nervose? 96 Comorbidades...s.. Complcagies clinices... Como coorreatbusca por tratarnento?.. Tratarento RECUPETAGEO ene Quadros comporatives entre anorexia nervosa 0 101 bulimia nervosa ... 102 105 108 ‘Transtorne da compulséo a 0 queé otranstorno da compulséo alimentar?.. Come & 0 diagnéstice do transtorno da compuls8o alimentar?... 106 ‘Quem pode desenvotver TCA?. 107 Como funconaia mente de alguémn quo sofre do TOA?... 108 Compticagies clinicas doTCA... oon 10 Tratamento. 10 ‘Transtornos alimentares @ obesidade.... 113 Transtornos alimenteres relacionados a cirurgia bariatrica 114 Pic 9 Transtorno de ruminago .rvininen | 16.22 Epossival ter o mesmo sontimento proporcionado . i pela anarexia por mei¢ de outras FONLES assassin 1B? 10 Transtomo allmentar restritive evitative 182.3 Oquedizemsobreos efeitos da desnutrigaano 101 Ortorexia.. oérebrog verdade 168 10.1.1 Consequéncies clinicasda ortorexi 10.4.2 Tratamentods ortorexia. la gorde .. | 16.2.4 As pessoas nao querem deixa| 15.25 Em resuma sonnel 70 11 Sindrome atimentar noturna. 193. 183 Sevocd sabeque precisa de ajuda, nasteme nao 144 Tratamonto " 136 | conseguir suportar armudangano carpe cu 9 i ArEtEMENLO one 171 12 Exercicios fisicos e transtornos alimentares.. | 45.4 —_Asdificuldaces quo voo8 vei encontrar, 172, 12.1 Exercicios fisicos excessives, compulsivos € 5 45.4.1 Adoenga.. sone PD ‘compensatorios 199, 155 — Estratégias 178 12.2 Migorexia soe. 142 | 18.5.1 Pensealongo prazo wl 3 12.2.1 Compulsae por atividaclesfisicas. 142 185.2 Leve adecisao atéas ultimas conssqUENClAs.c.innumi124 12.2.2 _Dismnorfia musouler. “nomel43 | 16.5.3 NBo hd possibllidade dendocomer... 174 128 Complicegses elinicas davigorexia.... wenn 145 "455.4 Néoha mudanea ce escolha durante as rafeigoes ou 12.4 Yretamento da vigorexia... 16 proximo.a elas, sosanonininnne 12.5 Apréticade exercicios fisicosintutives - 147 15.5.5 Aprendaacomemorar as pequonas concuistas.. 16.5.8 Busque ajuda com intelig6ACie.wnmnninnnsnn 18 Imagem corporal esuas alteracées 140 15.5.7 Devolva 3 comunidadeo bern que racebeu 15.5.8 Naodesiruao quejaconquistou.. Th, Quiros comportamentos alimentaresalterados 185 16.5.9 Conhega seus getilhose evite tornar rnais dificil o 14.1 Alcoorexia ou drunkorexia. 185 14.1.1 Tratamente da alccorexis ou drunkoroxia 158 tretemento. - 8 142 Diabulima =e 15.10 Lembre-se sempre de que’ temporario 178 14.21 Consaqusneias clinicas da dabulimnia., 169 158.11 Eocorpo? 78 14.2.2 Tratamonte da diabulimie . . 160 Nexo. 15 Relato de caso: 6 que eu; eaallsgretineten medito... 163. Enderocos iteis.. 181 Quomsoueu. on 163 Links... 15.2 Sevocé tem certezade qua nao precisa de ajuda Blogues. {2o menos nao 0 tipo que esto Ihe oferecendO)menenen 164 16.2.1 Oque demerei para agrendar e gostaria que voce Referéncias. su soubease! 6 anorexia é uma solugac temporaia vce. 166 Po Apresentacao Em sefembro de 2017, 0 Progrema de Transtornos Alimentares (Ambulim) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clinicas de Fa- culdade de Medicina da Universidade de Sao Paulo (IPq-HCFMUSP) ‘completou 25 anos de vida, © .Ambulim 0 primeire e maior grupo brasileiro dodicado ae ensino, a pesquisa ¢ uo tretamento dos trenstornos alimentares. Formado or quase cem profissionais ce uma equipe multidisciplinar e de vo- Luntétios, em sua esmagadora maioria, oferece tcalamento gratuito a pacientes em nivel ambulatorlal, internagio parcial e enfermaria (a tinice do pats). ‘Aproximadamente, trés mil pacientes foram atendidos ao longo Gesses anos, ¢ virias geragées de psiquistras, psicdlogos, autzi- cionistas e profissionais de varias areas da satide, do Brasil e de | outros paises da América Latina, foram treinados ¢ retornaram ao$ seus centros, Neste segunda edigio de Como lidar com os transiomos alimentares, cajos autores sio algrins dos mais destacados profissionais do pais a drea, continuamos acreditando firmemente que ensinar ¢ divulgar €0 caminho para diminuir o preconceito que impede tantas vezes a busca de ajuda, e anestesia a colaboragéo de familiares e amigos no tratamento, impossibilitando 2 reinseryo soc Desejar, como de praxe nas apresentagdes, uma agtadével leitura pa- eee estranhoem um livro que aborda doencas to dolorosas, embora tenha sido escrito de maneira muito esclarecedora, rigorost ¢ de fil Compreensio, Talvez. fosse melhor desejar que este bivro cumpra seu Papel camo agente de satide mobilizador ¢ divulgedor e que abra Portas do entendimento da giude. Como Lier com cs transiomes slimonterea Esperames que familiares, compenheiros e amigos de pessoas que soffem com os transtornos alimentares, assim como educadores e profissionais de satide, possam fazer bom uso das importantes infor- magées deste fivro. Prof. Dr. Taki Athanéssios Cordis Coordenador di Assistincia Clinica do Instituto de Pstaviatis do Howital des Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Sao Paulo (IPq:HCFMUSE) Coordenador do Frogrems ce Transtornos Alimentares (Ambuliny do TPOHCRMUS? Professor dos programas de pésgraduayio do Departamento de Psiqunitia da USP, do Programe de Neurociéncias e Comportamento do Instituto de Psicologia da USP © ‘do Programa de Fisfopatotogia Experimental ds FMUS? Pe 1 Oque sao transtornos alimentares? Os transtornos alimentares (TA) siio quadros psiquidtricas em que o comportement alimentar ea forma como a pessoa percebe o proprio corpo estio comprometidos. Os pensamentos e as emogées ligados 40 corpo © & alimentagdo provovam softimenty e difiwullades nus atividades cotidianas do individuo. Embora niio sejam diagnésticos to comuns como a depressiio 2 os transtornos ansiosos, os transtornos alimentares se destacem por sua gravidade ¢ impacto na qualidade ce vida dos pacientes acometidos de seus familiares, Algumas pessoas poder confizndir um transtorno alimentar com es- colhas 0 estilo de vida, mas isso néo 86 ¢ falso, como também pert ‘g080. Quem softe com: TA niio consegue fazer escolhas livremente em, relagio & sua allmentegio e ao seu corpo, sendo “refém" de medos e obsessées cue scebam governando sua vida, 1.1 Quais sao os principais transtornos alimentares? Os trés prineipais'TA sfo a anorexia nervosa (AN), a bulimia nervosa {BN) € 0 transtomno de compulsdo alimentar (TCA). Embora cada uum desses diagnésticos tenha caracteristicas espectficas quanto aos, sintomes e & populagéo alingida, todos compartiibam 0 mesmo eon junto de problemas: dificuldedes graves para manter urna alimentagdo adequada, angistia relacionada ao peso ou 2 forma do earpo e risco de complicagées clinicas graves, cre {Como lidar com 98 trahstornos alimentares © paciente compulsivo come grandes quantidades de uma vez, em ‘um eurto intervalo de tempo e coma sensagiia de que no consegue controlar esse comportamento. Muitas vezes, esse paciente come es- condido, por vergonha da quentidade e da forma como se alimenta. © TCA € 0 transtorno alimentar mais comum, chegando a 3% da populagao geral. Em grupos especifices, especialmente entre odesos, 1 aumento dessa porcentagem. Hoje se sebe que quanto mais obeso ‘um paciente for, maior a chance de ele ter o diagnostico de TCA, © quanto mais grave fot o TCA, mais grave sera a obesidade. No TCA no hi tanta diferenga entre os géneros, € a proporgio é estimada de trés mulheres para cada dois homens acometiéos, OTA esta relacionado ao surgimento de doengas metabdlicas - como diabetes, hipertensio arterial, aumento do colesterol ~ ¢ também a questdes psiquieas - como ansiedede, retraimento sovial e dopressii, 1.2 Por que a pessoa com transtorno alimentar simplesmente nao come direito? A ligagéo dos transtornos alfimentares com 0 corpo faz com que mut tos 08 associem & moda, & beleza e até a futiidade, Nao podemos esquecet de que 0 sofrimento desses pacientes ¢ autEntico e, muitas vvezes, desesperador, Nao ¢ a simples insatisfagio com o corpo que 2 maioria de nés vive eventualmente, mas esse paciente tem uma preo- cupagio impossivel de eviter, que invade todos os pensamentos eo ineapacite de ter uma vide normal. Uma forma de cuxiliar a compreensio dos transtornos alimentares & eompanilos com outros transtornos psiquidtricos mais conhecidos, como o transtome obsessive compulsive (TOC) ou as fobias. Muitos de nés temos, por exémplo, medo de baratas. Na fobie, um pavor 20 1.que sho ranstarnos alimentares! desproporcionl faz com que a pessoa evite entrar em umn lugar onde cla jé viu uma barata anteriormente, Bla sabe que isso & irracional, que nfo faz sertido, mas nfo consegue evitar esse sentimento, Agora imagine se a imagem de uma berata invacisse a mente desse pessoa, de modo inevitével, sepetitiva e absurdamente desconfortével. Em parte, isso é 0 que um paciente com transtorno alimentar vive, mas am relegéo ao seu préptio corpo. Outra comparagéo posstvel é com as dependéncias quimicas. O in- gividio sabe que aquele “vicio” faz mal, que o prejudica, mas néo consegue evitélo, Ele acaba abrindo mao de outras atividades que trazem satisfagio e fica refém de uma substincia. Por este razio, « bu- Jimia eo TCA sic compatados a um *vicio” em comida ¢ a anorexia um “viejo” em magreza, A grande diferenga entre ales ¢ que, no tratamento das dependéncias quimicas, ¢ melhora ocorre por mefo da interrupgio do uso da substincia que causa dependéncla, E.nos trans- tornos alimentares? Como se trata 0 “vfeio” em algo tio essencial para a sobrevivéncia do individvo como a comida e o préprio corpo? Apesar de semelhangas com outtos cuadros psiquistricos, os transtor- nos alimentares necessitam de um foco especializado, pois sues cau sas, sou desenvolvimento, suas especificidaces psicolégicas, a forma como interferem na mente € no corpo dos pacientes acometides, ¢ 0 impacto nos familiares requerem profissioneis de yArias Sreas para o tratamento ideal. 1.3 Toda pessoa que se preocupa com corpo e alimentacac tem transtorno alimentar? ‘Nao! Todos sabemos o que & sentit medo ou ter preocupecio. Ima- Sine uma preocupacdo normal, como manter sua satide. Multiplique a Comelidar comostransterrasalimenteres por mil a angtistia que vocé sente por causa dessa preocupagio, Faga com que ela invada sua mente virias vezes por dia, de modo que vocé nao consiga ficar um minuto livre dela, ndo importa o que vocé tente fazer para eviti-la, Agora, some & essa angustia sintomas fisicos que seu corpo produ ¢ que o lembram da preocupagfo e fortalecem @ convicgao de que ela é reel e que ameaga sua vida. Pronto: agora voce tom uma ideia do que é uma preocupagio patolégica, doentia, Em diversos quadros psiquistricos ha case funcionameto. Ja felon oTOC ¢ das dependéncias quimicas. Mas, se mudarmos 0 foce dessa preocupagio, haverd outros transtornos, No transtorno do panico, 0 medo é de morter ou de ficat louco, com fortes sintomas fisicos que fazem a pessoa ter certeza de que estd tendo um grave problema de sate. Na hipocondrla, existe 0 pavor de ficar doente, e cada sinal do corpo 6 vivide como um sintoma fisico ligado @ alguma docnea grave, Podemos dizer que os mecanismas que produzem medo, preo- cupagiio ¢ sensibilidade aos sinais corporais es:do desregulados na hipocondria e no transtorno éo pénico. Note que as preocupagdes que dio origem a esses transtornos slo rnormais ¢ até benéficas, pois fazem o individvo se cxidar melhor, O problema ocorte quando tais preocapagées tomamn dimensdes pato- Iégicas, quando elas préprias se tornam doenga, infestam a mente do individuo, fazer com que ete sofa e rio consiga meis desempenhar siuas fungdes na vida, Podemos imaginar um modelo semelhante paza difecencier as preo- cupagées normais com a alimentagio € com 0 corpo dos transtor- nos alimentares. E natural que nos preocupemos com nossa alimentagdo ¢ com nosso corpo. O problema née ¢ ter hébitos alimentares balanceados e saudé- vyeis, um coro em boa forma, Uma trenstorno alimeatar surge quando 22 1.0 questo trenstomes alimentares?” eaon preocupagio tornase obsessive, quando a pessoa comega a cor- ta os elimentos “engordativos" ¢ a controler sua alimentagéo como ¢ isso Zosse o principal aspecto de sua vida. Curiosamente, a preocu- ‘pago excessive C011 0 compo e com 4 alimentayo provoca resultados gontrdsios, Em busca de controle alimentar & comum que os pacientes injoiem dictas extremas, restringindo nutrientes fundamentals para o ‘corpo ou aderindo as modas que elegem algum alimento como vilao, Para a matoria das pessuas, esve ciclu eeuba quando um sinal fisico thuito antigo se manifests e toca o alerme para que se intercompa a 0 alirrentar: a fome. Quando a fome eperta, grande parte das pessoas vai comer, ¢ isso € étimo. Este instinto que conhecemos como fome tem garantido a sobrevivéncia de todas as geragSes que nos antecederam e continua sendo o methor indicador de que precisamos comer, No entanto, nos transtornos alimentares @ preocupagdo com calo~ ras, gordura, corpo e peso & obsessiva, muito acima dos pardmetros onmais. A mente no consegue se livrar desse pensamento e essa recossidade de controle elimentar ¢ tio extrema que pode ser meis forte que o instinto de forme e sobrevivéncia, Podemos dizer que na niorexia nervosa a obstinagdo com a alimen- tagic © o peso predomina sobre a fone, Dessa forma, o paciente restcinge violentamente sua dieta. Além disso, o8 sistemas de sinais corporais também esto prejudi- cados, Saciedade, apetite, percepgao corporal deixem de fanctonar corretamente. Fendmenos como a distorgdio da imagem corporal déo 4 paciente a conviegiio de que ee esté gordo, deformado, com partes do corpo muito aumentadas, Tal viveneia reforge & conviegdo de que © individuo precisa emagrever, comer menos, ¢ assim se forma um iclo que mantém a anorexia, 7 Comotidarcamostransternns alimentares ae 4 na bulimia e ne TCA, temos a preocupagio patolégica com 0 corpo menos promunciada, mas também com sinais corporais desregulados Na bulimia, temos grande insatisfagéio com o corpo. Tal insatisfagio © E oxeessiva, sofvida, mes néo costuma chegar & distorgao de imagem corporal, que é mais comum na ancrexia. No TCA, a preocupacéo com o corpo ¢ com a alimentagio é muito préxima do normal, A questiio equi é 0 descontrole alimentar, ou a desregulagdo nos sinals fisicos Higados a alimentagto ome, ape- tite e saciedede), Quando o paciente com bulimia ou TCA cede & fome, normelmente depois de tentar restringir sua dieta, ele tem um descontrole alimentar que chamamos anteriormente de com- pulsio alimentar, Quando o individuo comega @ comer, ele perde © controle, comendo muito mais de que protendia, devorando 0 que estiver na sua frente. 8 comum o paciente s6 parar de comer quando sente dor abdominal ou quando ndo hé mais o que comer. Os sinais corporais que normalmente auxiliam no controle ali- mentar falham, como s¢ 0 apetite, 0 paladar e a saciedade fossem desligados durante 0 episédio compulsive. Durante os episédios compulsives, ¢ frequente que o paciente nao sinta o sabor do que comeu, nem saiba o quanto comeu ou coma coisas que no come- ria normalmente. Quando o episédio compulsive termina, o paciente se dé conta de seu desconirole, sente culpa, vergonha, raiva e frustragiio. No caso da bulimia, 0 individuo busea uma forma de compensar esse excesso alimentar, provocando vémito, por exemiplo. Jé quem softe com TCA néio se utiliza de nenbum método compensatério, Resumindo, podemos dizer que es preccupagdes ¢ vivéncias corpo- rais Gos pacientes com TA tém sua origem em medos ¢ experinctas normais, presentes na maioria das pessoas, mas que sto excessivos, distorcidos ¢ transformados em elterages graves da corporeidade, Tais pensamentos obsessivos e comportamentos repetitivos ligedos 2 1.0 que sao transtomnos limentares? zo comrole do peso ttazem enorme sofrimento e eriam cielos que mantm esses transtornos. Nos préximos capitulos, discutiremos com mais detalles cade um dos transtornos alimentares, Uma forma de compreender esses trenstor- fos & representélos graficamente com quadrantes determinados por meio de caracterfsticas opostas, Em urn dos eixos, hi as variagées en- tre controle obsessivo, ex um extremo, ¢ falta de controle alimentar Gmpulsividade alimentar), no outro. No outro eixo, hd um extremo de preocupagio doentia com o corpo, de um lddo, e um extremo de pteocupagao excessiva com os alimentos, de outro. 1.4 Quando suspeitar que alguém sofre de um transtorno alimentar? © habito de fazer dietas sem qualquer orientagio de um profissio- nal é muito comum, Muitos fazem dietas sem conhecer os riseos @ as consequéncias de tal comportamento, A maioria das pessoas ‘que iniciam uma diete néo vai desenvolver um transtorno alimentar, ras, como alerta a nutricionista Sophie Dheram, “nem toda dicta leva a um transtorno alimentar, mes todo transtorno alimentar co- ‘mega com uma dieta” ‘Mesmo com maior divulgagie nos meios de comunicagio; nie raro, hhomens ¢ mulheres que apresentam (al diegnéstico no sabem 0 que ‘tém cu apresemtam vergonha de seus comportamentos e, consequea- temente, no procuram ajuda. Em muitos casos, sic os familiares que buscam o teatamento para Aqueles que custam a accitar ou acteditar que tém algum problema, Por este razio, listamos a seguir as principais alteragées de compor- famento que devem eauser suspeltas sobre a presenga de um trans- torno alimentar: Commo titer com 08 transtornos alimentares 28 1. Due séo transtornos shimentares? Faz dieta frequentemente, Preocupa-se excessivamente com peso e alimentagdo, Imeressa-se muito por tuo que ¢ relacionade a dietas ¢ calorias, 739 lanantes © “formulas” sem incicagio de profissionsl competense, Demonstra ineatisfagdo intznsa ¢ constante com peso e corpo. { clocermes 08 transornosaimentates em um gues, teremos a Evidencia episddios de compulsio alimentat; como desapareci- iribuigdo apresentada na Figura 1. mento de grande quantidade de cornida em um eurto intetvalo de : tempo ou presenga de vérins embalagons vazias no lixo Cenitate arnentar Frequentemente, vai ao banheiro apés as refeigdes ou hé sinais Sere chemi de vomitos, Geralmente, come pouco e nfo come determinados tipos de ali: f menios (geralmente, 06 mais caléricos). | I | ‘Apresenta dentes degpastados¢ inchago nes vegies laterais do. queixo (provayel aumento das glandulas parétidas, provocado | por vmitos frequentes} Evita grupos alimentares especificos ou fez dietas bizarras, serrocupsgto sicecsha cory galmerro Normelments, diz. que jé se alimentou, sem que ninguém veja. Preceupacis| Categoria of alimentos entre "permitidos” “proihi¢o: ‘Tem crengas rigidas ¢ estranhas sobre 4 alimentasiio (por exe plo: acredita que a gordura ingerida se transforma imediatemente em gordura corporal) Costuma comer sozinho, parece se sentir incomodado ou enver: gonhado ao se alimentar com outras pessoas, Impulsivdede deseantioee compuisioatinentar Frequentemente, esté com digrreia. Figura 1. Diagramados Tade acordo com o tips de preceuperao Predomninente lalirrentacao x corpo) e nivel da controle alimentar {ebsessividadeximpulsividade). ‘Mantém uma rotina intonsa e rigida de exereicio fisico, Fonts Artangs (2017) i i ji ! Bebe muita égua durante o dia ou nas releigées, Masca chicletes e bales constentemente, ” 2 Quais sao as causas dos transtornos alimentares? Qs transtornos mentais, incluindo os transtornos alimeatares (TA), jo surgem eri decorréneia de um nico fator, Muitos tentam com- preonder o surgimento de doengas procurando sua “causa” ¢ isso funciona bem na wedicina de forme geral, mus no nu psiquiztria, Quando se pensa em uma gripe, por exemple, acausa ¢ relativamente infectou um organismo que estava vulnerdvel a ele. simples: um virut Conforme o virus se propaga pelo corpo, infectando diferentes oélu- Ig, ele provoca sintomas e uma reago do sistema de defesa do corpo. Quando o corpo “vira ¢ jogo”, a infeecio 6 controleda ¢ a gripe ter- sina, Resumindo: ¢ cause da gripe ¢ 0 virus, sem virus nao hé gripe. Em psiquiatria no é possivel fazer esse tipo de ligagdo causal por

You might also like