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a solução para o seu concurso!

CNU
CONCURSO NACIONAL UNIFICADO

Bloco 8 - Nível
Intermediário:
Técnico em Indigenismo, Técnico em Informações
Geográficas e Estatísticas, Agente de atividades
agropecuárias, Agente de inspeção sanitária e industrial de
produtos de origem animal, Técnico de laboratório

EDITAL N. º 08/2024 - CONCURSO PÚBLICO NACIONAL


UNIFICADO, 10 DE JANEIRO DE 2024.

CÓD: SL-116JN-24
7908433247692
INTRODUÇÃO

Como passar em um concurso público?


Todos nós sabemos que é um grande desafio ser aprovado em concurso público, dessa maneira é muito importante o concurseiro
estar focado e determinado em seus estudos e na sua preparação. É verdade que não existe uma fórmula mágica ou uma regra de como
estudar para concursos públicos, é importante cada pessoa encontrar a melhor maneira para estar otimizando sua preparação.

Algumas dicas podem sempre ajudar a elevar o nível dos estudos, criando uma motivação para estudar. Pensando nisso, a Solução
preparou esta introdução com algumas dicas que irão fazer toda a diferença na sua preparação.

Então mãos à obra!


• Esteja focado em seu objetivo: É de extrema importância você estar focado em seu objetivo: a aprovação no concurso. Você vai ter
que colocar em sua mente que sua prioridade é dedicar-se para a realização de seu sonho;

• Não saia atirando para todos os lados: Procure dar atenção a um concurso de cada vez, a dificuldade é muito maior quando você
tenta focar em vários certames, pois as matérias das diversas áreas são diferentes. Desta forma, é importante que você defina uma
área e especializando-se nela. Se for possível realize todos os concursos que saírem que englobe a mesma área;

• Defina um local, dias e horários para estudar: Uma maneira de organizar seus estudos é transformando isso em um hábito,
determinado um local, os horários e dias específicos para estudar cada disciplina que irá compor o concurso. O local de estudo não
pode ter uma distração com interrupções constantes, é preciso ter concentração total;

• Organização: Como dissemos anteriormente, é preciso evitar qualquer distração, suas horas de estudos são inegociáveis. É
praticamente impossível passar em um concurso público se você não for uma pessoa organizada, é importante ter uma planilha
contendo sua rotina diária de atividades definindo o melhor horário de estudo;

• Método de estudo: Um grande aliado para facilitar seus estudos, são os resumos. Isso irá te ajudar na hora da revisão sobre o assunto
estudado. É fundamental que você inicie seus estudos antes mesmo de sair o edital, buscando editais de concursos anteriores. Busque
refazer a provas dos concursos anteriores, isso irá te ajudar na preparação.

• Invista nos materiais: É essencial que você tenha um bom material voltado para concursos públicos, completo e atualizado. Esses
materiais devem trazer toda a teoria do edital de uma forma didática e esquematizada, contendo exercícios para praticar. Quanto mais
exercícios você realizar, melhor será sua preparação para realizar a prova do certame;

• Cuide de sua preparação: Não são só os estudos que são importantes na sua preparação, evite perder sono, isso te deixará com uma
menor energia e um cérebro cansado. É preciso que você tenha uma boa noite de sono. Outro fator importante na sua preparação, é
tirar ao menos 1 (um) dia na semana para descanso e lazer, renovando as energias e evitando o estresse.

A motivação é a chave do sucesso na vida dos concurseiros. Compreendemos que nem sempre é fácil, e às vezes bate aquele desânimo
com vários fatores ao nosso redor. Porém tenha garra ao focar na sua aprovação no concurso público dos seus sonhos.

Como dissemos no começo, não existe uma fórmula mágica, um método infalível. O que realmente existe é a sua garra, sua dedicação
e motivação para realizar o seu grande sonho de ser aprovado no concurso público. Acredite em você e no seu potencial.

A Solução tem ajudado, há mais de 36 anos, quem quer vencer a batalha do concurso público. Vamos juntos!

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Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Pesquisador-Tecnologista em Informações e Avaliações
50
Educacionais Anísio Teixeira- Educacionais
INEP
TOTAL

A L 24
I T 2 0
D
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S
PÒ CLUS
IN
TEMOS MATERIAL DO ESTRATEGIA CONCURSOS, ALFACON E
ETC
DIEGO ALVES - MATERIAL: Informação No Whatssap
Link WhatsApp - https://wa.me/message/NLS47D2PLJJBL1 GRUPO DE ESTUDO
NACIONAL UNIFICADO - 1

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📍🏦 Caixa Economia Federal:

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📍🏦Casa da Moeda:

📲Grupo para estudos do concurso Casa da Moeda: https://chat.whatsapp.com/IUuUXovGTwpJi3dIbxSHGL

📍🏦 Banco do Nordeste:

📲Grupo para estudos do concurso Banco do Nordeste:


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📍🏦 Banco Regional de Brasília S.A

📲Grupo para estudos do concurso BRB: https://chat.whatsapp.com/E7cNW8pMTsa3ebfQlOxVGF


📍🏦 Bacen

📲 Grupo para estudos do concurso BACEN: https://chat.whatsapp.com/DuQJywopuLS7NYB8IRJvez

GRUPO DE ESTUDO NACIONAL UNIFICADO 4 - TSE Unificado (Tribunal Superior Eleitoral)

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GRUPO DE ESTUDO NACIONAL UNIFICADO 5 - TSE Unificado (Tribunal Superior Eleitoral)

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AFT – AUDITOR _ FISCAL – 2024

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DIEGO ALVES - MATERIAL CURSOS *CONCURSO*

• Lançamentos 2024 -
• Pacote - EsFCEx e EsSEX (Direito) Pacote - (Pós-Edital)
• Pacote - BACEN (Analista - Área 3 - Política Econômica e Monetária) Pacotaço - Pacote
• Pacote - UFRJ (Assistente em Administração) Pacote -
• Pacote - 01.INSS (Técnico do Seguro Social) Pacote Completo - 2024 (Pré-Edital) -
• Pacote - SEFAZ-PI (Auditor Fiscal) Pacote - 2024 (Pré-Edital)
• Pacote - 4. SEMEC-Teresina (Professor - Matemática) Pacote - 2024 (Pré-Edital)
• SEE-SP (Professor Ensino Fundamental e Médio - Matemática) Conhecimentos
Específicos - 2023
• Pacote - UFPA (Técnico em Tecnologia da Informação) Pacote - 2024
• Pacote - Prefeitura de Olinda-PE (Guarda Municipal) Pacote - 2023
• Pacote - TRANSPETRO (Engenheiro(a) Júnior - Produção) Pacote - 2023
• Pacote - SME-Caruaru (Professor II - Matemática) Pacote - 2024
• Pacote - Prefeitura de Rio Branco-AC (Técnico Previdenciário) Pacote - 2024
• Pacote - ALE-MA (Técnico de Gestão Administrativa - Analista de Suporte de Rede)
• Pacote - SEED-PR (Professor - Matemática) Pacote - 2023
• Pacote - SME-Caruaru (Professor II - Educação Física) Pacote - 2023
• Pacote - UFJF (Assistente em Administração) Pacote - 2023
• Pacote - MAPA (Auditor Fiscal Federal Agropecuário - Médico Veterinário) Pacote
ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. Compreensão de textos. ............................................................................................................................................................ 7
2. A organização textual dos vários modos de organização discursiva........................................................................................... 10
3. Coerência e coesão..................................................................................................................................................................... 17
4. Ortografia. . ................................................................................................................................................................................ 18
5. Classe, estrutura, formação e significação de vocábulos. .......................................................................................................... 19
6. Derivação e composição............................................................................................................................................................. 34
7. A oração e seus termos. A estruturação do período.................................................................................................................. 34
8. As classes de palavras: aspectos morfológicos, sintáticos e estilísticos...................................................................................... 37
9. Linguagem figurada.................................................................................................................................................................... 37
10. Pontuação................................................................................................................................................................................... 37

Noções de Direito
1. I – DIREITO E GARANTIAS FUNDAMENTAIS: Direitos e deveres individuais e coletivos; direito à vida, à liberdade, à igualdade,
à segurança e à propriedade; direitos sociais; nacionalidade; cidadania; garantias constitucionais individuais; garantias dos
direitos coletivos, sociais e políticos........................................................................................................................................... 51
2. II – A ORGANIZAÇÃO DO ESTADO: Administração pública (artigos de 37 a 41, da Constituição Federal de 1988)..................... 61
3. III - Direito administrativo: conceito, fontes e princípios............................................................................................................ 67
4. Organização administrativa da União; administração direta e indireta...................................................................................... 70
5. Agentes públicos: poderes, deveres e prerrogativas; cargo, emprego e função públicos; Regime Jurídico Único (Lei nº
8.112/1990 e suas alterações): provimento, vacância, remoção, redistribuição e substituição; direitos e vantagens; regime
disciplinar; responsabilidade civil, criminal e administrativa...................................................................................................... 74
6. Poderes administrativos: poder hierárquico; poder disciplinar; poder regulamentar; poder de polícia; uso e abuso do
poder.......................................................................................................................................................................................... 115
7. Ato administrativo: validade, eficácia; atributos; extinção, desfazimento e sanatória; classificação, espécies e exteriorização;
vinculação e discricionariedade.................................................................................................................................................. 122
8. Serviços Públicos: conceito, classificação, regulamentação e controle; delegação: concessão, permissão, autorização........... 133
9. Controle e responsabilização da administração: controle administrativo; controle judicial; controle legislativo; responsabili-
dade civil do Estado. Sanções aplicáveis aos atos de improbidade administrativa (Lei nº 8.429/1992 e suas alterações)........ 145
10. Lei do Processo Administrativo (Lei nº 9.784/1999 e suas alterações)....................................................................................... 165

Matemática
1. Conjuntos numéricos: naturais, inteiros, racionais e reais; múltiplos, divisores, números primos............................................ 179
2. potências e raízes........................................................................................................................................................................ 193
3. Sistemas de Unidades de Medidas: comprimento, área, volume, massa e tempo.................................................................... 195
4. Razão e proporção: regra de três simples e regra de três composta.......................................................................................... 199
5. porcentagem............................................................................................................................................................................... 204
6. juros simples e juros compostos................................................................................................................................................. 205
7. Equação do 1º grau, equação do 2º grau, sistemas de equações; equações exponenciais e logarítmicas................................ 207
8. Funções: afins, quadráticas, exponenciais, logarítmicas............................................................................................................. 213
9. Progressões aritméticas e geométricas...................................................................................................................................... 221
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ÍNDICE

10. Análise combinatória: princípio fundamental da contagem, permutação, arranjo e combinação. Probabilidade..................... 223
11. Estatística básica: leitura e interpretação de dados representados em tabelas e gráficos......................................................... 227
12. medidas de tendência central (média, mediana, moda............................................................................................................. 232
13. Geometria plana: polígonos, circunferência, círculo, teorema de Pitágoras, trigonometria no triângulo retângulo; perímetros
e áreas........................................................................................................................................................................................ 234
14. Geometria espacial: prisma, pirâmide, cilindro, cone e esfera; áreas e volumes....................................................................... 238

Realidade Brasileira
1. Formação do Brasil contemporâneo: Da independência à República........................................................................................ 245
2. Primeira República: elite agrária e a política da economia cafeeira........................................................................................... 246
3. O Estado Getulista...................................................................................................................................................................... 252
4. Democracia e rupturas democráticas na segunda metade do século XX................................................................................... 254
5. A redemocratização e a busca pela estabilidade econômica...................................................................................................... 256
6. História dos negros no Brasil: luta antirracista, conquistas legais e desafios atuais................................................................... 257
7. História dos povos indígenas do Brasil: luta por direitos e desafios atuais................................................................................. 261
8. Dinâmica social no Brasil: estratificação, desigualdade e exclusão social................................................................................... 271
9. Manifestações culturais, movimentos sociais e garantia de diretos das minorias...................................................................... 274
10. Desenvolvimento econômico, concentração da renda e riqueza............................................................................................... 276
11. Desenvolvimento sustentável e meio ambiente.......................................................................................................................... 295
12. Biomas brasileiros: uso racional, conservação e recuperação..................................................................................................... 296
13. Matriz energética: fontes renováveis e não renováveis............................................................................................................... 303
14. Mudança climática....................................................................................................................................................................... 303
15. Transição energética.................................................................................................................................................................... 308
16. População: estrutura, composição e dinâmica............................................................................................................................ 310
17. Desenvolvimento urbano brasileiro: redes urbanas; metropolização; crescimento das cidades e problemas urbanos............. 313
18. Infraestrutura urbana e segregação socioespacial...................................................................................................................... 314
19. Desenvolvimento rural brasileiro: estrutura e concentração fundiária; sistemas produtivos e relação de trabalho no campo. 314
20. A inserção do Brasil no sistema internacional............................................................................................................................ 318
21. Estado Democrático de Direito: a Constituição de 1988 e a afirmação da cidadania................................................................. 328

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LÍNGUA PORTUGUESA

A imagem a seguir ilustra uma campanha pela inclusão social.


COMPREENSÃO DE TEXTOS

Definição Geral
Embora correlacionados, esses conceitos se distinguem, pois
sempre que compreendemos adequadamente um texto e o objetivo
de sua mensagem, chegamos à interpretação, que nada mais é
do que as conclusões específicas. Exemplificando, sempre que
nos é exigida a compreensão de uma questão em uma avaliação,
a resposta será localizada no próprio no texto, posteriormente,
ocorre a interpretação, que é a leitura e a conclusão fundamentada
em nossos conhecimentos prévios.

Compreensão de Textos
Resumidamente, a compreensão textual consiste na análise do
que está explícito no texto, ou seja, na identificação da mensagem.
“A Constituição garante o direito à educação para todos e a
É assimilar (uma devida coisa) intelectualmente, fazendo uso
inclusão surge para garantir esse direito também aos alunos com
da capacidade de entender, atinar, perceber, compreender.
deficiências de toda ordem, permanentes ou temporárias, mais ou
Compreender um texto é apreender de forma objetiva a mensagem
menos severas.”
transmitida por ele. Portanto, a compreensão textual envolve a
decodificação da mensagem que é feita pelo leitor. Por exemplo,
A partir do fragmento acima, assinale a afirmativa incorreta.
ao ouvirmos uma notícia, automaticamente compreendemos
(A) A inclusão social é garantida pela Constituição Federal de
a mensagem transmitida por ela, assim como o seu propósito
1988.
comunicativo, que é informar o ouvinte sobre um determinado
(B) As leis que garantem direitos podem ser mais ou menos
evento.
severas.
(C) O direito à educação abrange todas as pessoas, deficientes
Interpretação de Textos
ou não.
É o entendimento relacionado ao conteúdo, ou melhor, os
(D) Os deficientes temporários ou permanentes devem ser in-
resultados aos quais chegamos por meio da associação das ideias
cluídos socialmente.
e, em razão disso, sobressai ao texto. Resumidamente, interpretar
(E) “Educação para todos” inclui também os deficientes.
é decodificar o sentido de um texto por indução.
A interpretação de textos compreende a habilidade de se
Comentário da questão:
chegar a conclusões específicas após a leitura de algum tipo de
Em “A” o texto é sobre direito à educação, incluindo as pessoas
texto, seja ele escrito, oral ou visual.
com deficiência, ou seja, inclusão de pessoas na sociedade. =
Grande parte da bagagem interpretativa do leitor é resultado
afirmativa correta.
da leitura, integrando um conhecimento que foi sendo assimilado
Em “B” o complemento “mais ou menos severas” se refere à
ao longo da vida. Dessa forma, a interpretação de texto é subjetiva,
“deficiências de toda ordem”, não às leis. = afirmativa incorreta.
podendo ser diferente entre leitores.
Em “C” o advérbio “também”, nesse caso, indica a inclusão/
adição das pessoas portadoras de deficiência ao direito à educação,
Exemplo de compreensão e interpretação de textos
além das que não apresentam essas condições. = afirmativa correta.
Para compreender melhor a compreensão e interpretação de
Em “D” além de mencionar “deficiências de toda ordem”, o
textos, analise a questão abaixo, que aborda os dois conceitos em
texto destaca que podem ser “permanentes ou temporárias”. =
um texto misto (verbal e visual):
afirmativa correta.
FGV > SEDUC/PE > Agente de Apoio ao Desenvolvimento Escolar Espe-
Em “E” este é o tema do texto, a inclusão dos deficientes. =
cial > 2015
afirmativa correta.
Português > Compreensão e interpretação de textos
Resposta: Logo, a Letra B é a resposta Certa para essa questão,
visto que é a única que contém uma afirmativa incorreta sobre o
texto.

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LÍNGUA PORTUGUESA

IDENTIFICANDO O TEMA DE UM TEXTO IDENTIFICAÇÃO DE EFEITOS DE IRONIA OU HUMOR EM


O tema é a ideia principal do texto. É com base nessa ideia TEXTOS VARIADOS
principal que o texto será desenvolvido. Para que você consiga
identificar o tema de um texto, é necessário relacionar as diferen- Ironia
tes informações de forma a construir o seu sentido global, ou seja, Ironia é o recurso pelo qual o emissor diz o contrário do que
você precisa relacionar as múltiplas partes que compõem um todo está pensando ou sentindo (ou por pudor em relação a si próprio ou
significativo, que é o texto. com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem).
Em muitas situações, por exemplo, você foi estimulado a ler um A ironia consiste na utilização de determinada palavra ou ex-
texto por sentir-se atraído pela temática resumida no título. Pois o pressão que, em um outro contexto diferente do usual, ganha um
título cumpre uma função importante: antecipar informações sobre novo sentido, gerando um efeito de humor.
o assunto que será tratado no texto. Exemplo:
Em outras situações, você pode ter abandonado a leitura por-
que achou o título pouco atraente ou, ao contrário, sentiu-se atraí-
do pelo título de um livro ou de um filme, por exemplo. É muito
comum as pessoas se interessarem por temáticas diferentes, de-
pendendo do sexo, da idade, escolaridade, profissão, preferências
pessoais e experiência de mundo, entre outros fatores.
Mas, sobre que tema você gosta de ler? Esportes, namoro, se-
xualidade, tecnologia, ciências, jogos, novelas, moda, cuidados com
o corpo? Perceba, portanto, que as temáticas são praticamente in-
finitas e saber reconhecer o tema de um texto é condição essen-
cial para se tornar um leitor hábil. Vamos, então, começar nossos
estudos?
Propomos, inicialmente, que você acompanhe um exercício
bem simples, que, intuitivamente, todo leitor faz ao ler um texto:
reconhecer o seu tema. Vamos ler o texto a seguir?

CACHORROS
Os zoólogos acreditam que o cachorro se originou de uma
espécie de lobo que vivia na Ásia. Depois os cães se juntaram aos
seres humanos e se espalharam por quase todo o mundo. Essa ami-
zade começou há uns 12 mil anos, no tempo em que as pessoas
precisavam caçar para se alimentar. Os cachorros perceberam que,
se não atacassem os humanos, podiam ficar perto deles e comer a
comida que sobrava. Já os homens descobriram que os cachorros
podiam ajudar a caçar, a cuidar de rebanhos e a tomar conta da
casa, além de serem ótimos companheiros. Um colaborava com o
outro e a parceria deu certo.
Ao ler apenas o título “Cachorros”, você deduziu sobre o pos-
sível assunto abordado no texto. Embora você imagine que o tex-
to vai falar sobre cães, você ainda não sabia exatamente o que ele
falaria sobre cães. Repare que temos várias informações ao longo Na construção de um texto, ela pode aparecer em três mo-
do texto: a hipótese dos zoólogos sobre a origem dos cães, a asso- dos: ironia verbal, ironia de situação e ironia dramática (ou satírica).
ciação entre eles e os seres humanos, a disseminação dos cães pelo
mundo, as vantagens da convivência entre cães e homens. Ironia verbal
As informações que se relacionam com o tema chamamos de Ocorre quando se diz algo pretendendo expressar outro sig-
subtemas (ou ideias secundárias). Essas informações se integram, nificado, normalmente oposto ao sentido literal. A expressão e a
ou seja, todas elas caminham no sentido de estabelecer uma unida- intenção são diferentes.
de de sentido. Portanto, pense: sobre o que exatamente esse texto Exemplo: Você foi tão bem na prova! Tirou um zero incrível!
fala? Qual seu assunto, qual seu tema? Certamente você chegou à
conclusão de que o texto fala sobre a relação entre homens e cães. Ironia de situação
Se foi isso que você pensou, parabéns! Isso significa que você foi A intenção e resultado da ação não estão alinhados, ou seja, o
capaz de identificar o tema do texto! resultado é contrário ao que se espera ou que se planeja.
Exemplo: Quando num texto literário uma personagem planeja
Fonte: https://portuguesrapido.com/tema-ideia-central-e-ideias-se- uma ação, mas os resultados não saem como o esperado. No li-
cundarias/ vro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, a
personagem título tem obsessão por ficar conhecida. Ao longo da
vida, tenta de muitas maneiras alcançar a notoriedade sem suces-

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so. Após a morte, a personagem se torna conhecida. A ironia é que Interpretar um texto permite a compreensão de todo e qual-
planejou ficar famoso antes de morrer e se tornou famoso após a quer texto ou discurso e se amplia no entendimento da sua ideia
morte. principal. Compreender relações semânticas é uma competência
imprescindível no mercado de trabalho e nos estudos.
Ironia dramática (ou satírica) Quando não se sabe interpretar corretamente um texto pode-
A ironia dramática é um efeito de sentido que ocorre nos textos -se criar vários problemas, afetando não só o desenvolvimento pro-
literários quando o leitor, a audiência, tem mais informações do que fissional, mas também o desenvolvimento pessoal.
tem um personagem sobre os eventos da narrativa e sobre inten-
ções de outros personagens. É um recurso usado para aprofundar Busca de sentidos
os significados ocultos em diálogos e ações e que, quando captado Para a busca de sentidos do texto, pode-se retirar do mesmo
pelo leitor, gera um clima de suspense, tragédia ou mesmo comé- os tópicos frasais presentes em cada parágrafo. Isso auxiliará na
dia, visto que um personagem é posto em situações que geram con- apreensão do conteúdo exposto.
flitos e mal-entendidos porque ele mesmo não tem ciência do todo Isso porque é ali que se fazem necessários, estabelecem uma
da narrativa. relação hierárquica do pensamento defendido, retomando ideias já
Exemplo: Em livros com narrador onisciente, que sabe tudo o citadas ou apresentando novos conceitos.
que se passa na história com todas as personagens, é mais fácil apa- Por fim, concentre-se nas ideias que realmente foram explici-
recer esse tipo de ironia. A peça como Romeu e Julieta, por exem- tadas pelo autor. Textos argumentativos não costumam conceder
plo, se inicia com a fala que relata que os protagonistas da história espaço para divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas
irão morrer em decorrência do seu amor. As personagens agem ao entrelinhas. Deve-se ater às ideias do autor, o que não quer dizer
longo da peça esperando conseguir atingir seus objetivos, mas a que o leitor precise ficar preso na superfície do texto, mas é fun-
plateia já sabe que eles não serão bem-sucedidos. damental que não sejam criadas suposições vagas e inespecíficas.

Humor Importância da interpretação


Nesse caso, é muito comum a utilização de situações que pare- A prática da leitura, seja por prazer, para estudar ou para se
çam cômicas ou surpreendentes para provocar o efeito de humor. informar, aprimora o vocabulário e dinamiza o raciocínio e a inter-
Situações cômicas ou potencialmente humorísticas comparti- pretação. A leitura, além de favorecer o aprendizado de conteúdos
lham da característica do efeito surpresa. O humor reside em ocor- específicos, aprimora a escrita.
rer algo fora do esperado numa situação. Uma interpretação de texto assertiva depende de inúmeros fa-
Há diversas situações em que o humor pode aparecer. Há as ti- tores. Muitas vezes, apressados, descuidamo-nos dos detalhes pre-
rinhas e charges, que aliam texto e imagem para criar efeito cômico; sentes em um texto, achamos que apenas uma leitura já se faz sufi-
há anedotas ou pequenos contos; e há as crônicas, frequentemente ciente. Interpretar exige paciência e, por isso, sempre releia o texto,
acessadas como forma de gerar o riso. pois a segunda leitura pode apresentar aspectos surpreendentes
Os textos com finalidade humorística podem ser divididos em que não foram observados previamente. Para auxiliar na busca de
quatro categorias: anedotas, cartuns, tiras e charges. sentidos do texto, pode-se também retirar dele os tópicos frasais
presentes em cada parágrafo, isso certamente auxiliará na apreen-
Exemplo: são do conteúdo exposto. Lembre-se de que os parágrafos não es-
tão organizados, pelo menos em um bom texto, de maneira aleató-
ria, se estão no lugar que estão, é porque ali se fazem necessários,
estabelecendo uma relação hierárquica do pensamento defendido,
retomando ideias já citadas ou apresentando novos conceitos.
Concentre-se nas ideias que de fato foram explicitadas pelo au-
tor: os textos argumentativos não costumam conceder espaço para
divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas.
Devemos nos ater às ideias do autor, isso não quer dizer que você
precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que
não criemos, à revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas.
Ler com atenção é um exercício que deve ser praticado à exaustão,
assim como uma técnica, que fará de nós leitores proficientes.

Diferença entre compreensão e interpretação


A compreensão de um texto é fazer uma análise objetiva do
texto e verificar o que realmente está escrito nele. Já a interpreta-
ção imagina o que as ideias do texto têm a ver com a realidade. O
ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO DO TEXTO SEGUNDO O GÊ- leitor tira conclusões subjetivas do texto.
NERO EM QUE SE INSCREVE
Compreender um texto trata da análise e decodificação do que Gêneros Discursivos
de fato está escrito, seja das frases ou das ideias presentes. Inter- Romance: descrição longa de ações e sentimentos de perso-
pretar um texto, está ligado às conclusões que se pode chegar ao nagens fictícios, podendo ser de comparação com a realidade ou
conectar as ideias do texto com a realidade. Interpretação trabalha totalmente irreal. A diferença principal entre um romance e uma
com a subjetividade, com o que se entendeu sobre o texto.
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LÍNGUA PORTUGUESA

novela é a extensão do texto, ou seja, o romance é mais longo. No Interpretação


romance nós temos uma história central e várias histórias secun- É o ato de dar sentido ao fato, de entendê-lo. Interpretamos
dárias. quando relacionamos fatos, os comparamos, buscamos suas cau-
sas, previmos suas consequências.
Conto: obra de ficção onde é criado seres e locais totalmente Entre o fato e sua interpretação há uma relação lógica: se apon-
imaginário. Com linguagem linear e curta, envolve poucas perso- tamos uma causa ou consequência, é necessário que seja plausível.
nagens, que geralmente se movimentam em torno de uma única Se comparamos fatos, é preciso que suas semelhanças ou diferen-
ação, dada em um só espaço, eixo temático e conflito. Suas ações ças sejam detectáveis.
encaminham-se diretamente para um desfecho.
Exemplos de interpretação:
Novela: muito parecida com o conto e o romance, diferencia- A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
do por sua extensão. Ela fica entre o conto e o romance, e tem a tro país.
história principal, mas também tem várias histórias secundárias. O A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
tempo na novela é baseada no calendário. O tempo e local são de- do que com a filha.
finidos pelas histórias dos personagens. A história (enredo) tem um
ritmo mais acelerado do que a do romance por ter um texto mais Opinião
curto. A opinião é a avaliação que se faz de um fato considerando um
juízo de valor. É um julgamento que tem como base a interpretação
Crônica: texto que narra o cotidiano das pessoas, situações que que fazemos do fato.
nós mesmos já vivemos e normalmente é utilizado a ironia para Nossas opiniões costumam ser avaliadas pelo grau de coerên-
mostrar um outro lado da mesma história. Na crônica o tempo não cia que mantêm com a interpretação do fato. É uma interpretação
é relevante e quando é citado, geralmente são pequenos intervalos do fato, ou seja, um modo particular de olhar o fato. Esta opinião
como horas ou mesmo minutos. pode alterar de pessoa para pessoa devido a fatores socioculturais.

Poesia: apresenta um trabalho voltado para o estudo da lin- Exemplos de opiniões que podem decorrer das interpretações
guagem, fazendo-o de maneira particular, refletindo o momento, anteriores:
a vida dos homens através de figuras que possibilitam a criação de A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
imagens. tro país. Ela tomou uma decisão acertada.
A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
Editorial: texto dissertativo argumentativo onde expressa a do que com a filha. Ela foi egoísta.
opinião do editor através de argumentos e fatos sobre um assunto
que está sendo muito comentado (polêmico). Sua intenção é con- Muitas vezes, a interpretação já traz implícita uma opinião.
vencer o leitor a concordar com ele. Por exemplo, quando se mencionam com ênfase consequên-
cias negativas que podem advir de um fato, se enaltecem previsões
Entrevista: texto expositivo e é marcado pela conversa de um positivas ou se faz um comentário irônico na interpretação, já esta-
entrevistador e um entrevistado para a obtenção de informações. mos expressando nosso julgamento.
Tem como principal característica transmitir a opinião de pessoas É muito importante saber a diferença entre o fato e opinião,
de destaque sobre algum assunto de interesse. principalmente quando debatemos um tema polêmico ou quando
analisamos um texto dissertativo.
Cantiga de roda: gênero empírico, que na escola se materiali-
za em uma concretude da realidade. A cantiga de roda permite as Exemplo:
crianças terem mais sentido em relação a leitura e escrita, ajudando A mãe viajou e deixou a filha só. Nem deve estar se importando
os professores a identificar o nível de alfabetização delas. com o sofrimento da filha.

Receita: texto instrucional e injuntivo que tem como objetivo


de informar, aconselhar, ou seja, recomendam dando uma certa li- A ORGANIZAÇÃO TEXTUAL DOS VÁRIOS MODOS DE ORGA-
berdade para quem recebe a informação. NIZAÇÃO DISCURSIVA

DISTINÇÃO DE FATO E OPINIÃO SOBRE ESSE FATO


Existem várias formas de organizar um texto, seja ele um tex-
to argumentativo, descritivo, narrativo, entre outros. A organização
Fato
textual é importante para garantir a clareza e a coesão do texto,
O fato é algo que aconteceu ou está acontecendo. A existência
facilitando a compreensão do leitor. A seguir, apresentamos alguns
do fato pode ser constatada de modo indiscutível. O fato é uma
dos principais modos de organização discursiva:
coisa que aconteceu e pode ser comprovado de alguma maneira,
através de algum documento, números, vídeo ou registro.
Organização cronológica: é a forma mais comum de organizar
textos narrativos, em que os eventos são apresentados na ordem
Exemplo de fato:
em que ocorrem no tempo. Também pode ser utilizada em textos
A mãe foi viajar.
descritivos, em que as informações são apresentadas seguindo uma
sequência temporal.
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Exemplo: “No início, o personagem estava feliz. Depois, acon- Texto descritivo: esse tipo compreende textos que descrevem
teceu algo que mudou sua vida completamente. Por fim, ele apren- lugares ou seres ou relatam acontecimentos. Em geral, esse tipo de
deu uma grande lição.” texto contém adjetivos que exprimem as emoções do narrador, e,
em termos de gêneros, abrange diários, classificados, cardápios de
Organização por ordem de importância: nesta forma de orga- restaurantes, folhetos turísticos, relatos de viagens, etc.
nização, os elementos são apresentados em uma sequência que vai Texto expositivo: corresponde ao texto cuja função é transmitir
do menos importante para o mais importante, ou vice-versa. É bas- ideias utilizando recursos de definição, comparação, descrição,
tante utilizado em textos argumentativos, em que são apresentados conceituação e informação. Verbetes de dicionário, enciclopédias,
argumentos em ordem crescente ou decrescente de relevância. jornais, resumos escolares, entre outros, fazem parte dos textos
Exemplo: “Existem vários motivos pelos quais devemos preser- expositivos.
var o meio ambiente. Primeiramente, a natureza é fonte de recur- Texto argumentativo: os textos argumentativos têm o objetivo
sos essenciais para a nossa sobrevivência. Além disso, as alterações de apresentar um assunto recorrendo a argumentações, isto é,
climáticas podem trazer consequências devastadoras. Por fim, pre- caracteriza-se por defender um ponto de vista. Sua estrutura é
servar o meio ambiente é garantir um futuro sustentável para as composta por introdução, desenvolvimento e conclusão. Os textos
próximas gerações.” argumentativos compreendem os gêneros textuais manifesto e
abaixo-assinado.
Organização por comparação/contraste: nesta forma de orga- Texto injuntivo: esse tipo de texto tem como finalidade de
nização, são estabelecidas semelhanças e diferenças entre elemen- orientar o leitor, ou seja, expor instruções, de forma que o emissor
tos, possibilitando uma análise mais aprofundada. Pode ser utiliza- procure persuadir seu interlocutor. Em razão disso, o emprego de
do em textos argumentativos, expositivos ou até mesmo narrativos. verbos no modo imperativo é sua característica principal. Pertencem
Exemplo: “A cidade de São Paulo e a cidade do Rio de Janeiro a este tipo os gêneros bula de remédio, receitas culinárias, manuais
têm características muito distintas. Enquanto São Paulo é conhecida de instruções, entre outros.
por ser uma metrópole agitada e cosmopolita, com um ritmo de Texto prescritivo: essa tipologia textual tem a função de instruir
vida acelerado, o Rio de Janeiro é famoso por suas praias e pelo o leitor em relação ao procedimento. Esses textos, de certa forma,
estilo de vida mais descontraído.” impedem a liberdade de atuação do leitor, pois decretam que ele
siga o que diz o texto. Os gêneros que pertencem a esse tipo de
Esses são apenas alguns exemplos de modos de organização texto são: leis, cláusulas contratuais, edital de concursos públicos.
discursiva. É importante ressaltar que a organização do texto pode
variar de acordo com o objetivo e o gênero textual. O escritor deve Gêneros textuais predominantemente do tipo textual narra-
escolher uma estrutura que melhor se adeque às suas intenções e tivo
às características do texto que está produzindo.
Romance
Definições e diferenciação: tipos textuais e gêneros textuais É um texto completo, com tempo, espaço e personagens bem
são dois conceitos distintos, cada qual com sua própria linguagem definidosl. Pode ter partes em que o tipo narrativo dá lugar ao des-
e estrutura. Os tipos textuais gêneros se classificam em razão critivo em função da caracterização de personagens e lugares. As
da estrutura linguística, enquanto os gêneros textuais têm sua ações são mais extensas e complexas. Pode contar as façanhas de
classificação baseada na forma de comunicação. Assim, os gêneros um herói em uma história de amor vivida por ele e uma mulher,
são variedades existente no interior dos modelos pré-estabelecidos muitas vezes, “proibida” para ele. Entretanto, existem romances
dos tipos textuais. A definição de um gênero textual é feita a partir com diferentes temáticas: romances históricos (tratam de fatos li-
dos conteúdos temáticos que apresentam sua estrutura específica. gados a períodos históricos), romances psicológicos (envolvem as
Logo, para cada tipo de texto, existem gêneros característicos. reflexões e conflitos internos de um personagem), romances sociais
(retratam comportamentos de uma parcela da sociedade com vis-
Como se classificam os tipos e os gêneros textuais tas a realização de uma crítica social). Para exemplo, destacamos
As classificações conforme o gênero podem sofrer mudanças os seguintes romancistas brasileiros: Machado de Assis, Guimarães
e são amplamente flexíveis. Os principais gêneros são: romance, Rosa, Eça de Queiroz, entre outros.
conto, fábula, lenda, notícia, carta, bula de medicamento, cardápio
de restaurante, lista de compras, receita de bolo, etc. Quanto aos Conto
tipos, as classificações são fixas, e definem e distinguem o texto É um texto narrativo breve, e de ficção, geralmente em prosa,
com base na estrutura e nos aspectos linguísticos. Os tipos textuais que conta situações rotineiras, anedotas e até folclores. Inicialmen-
são: narrativo, descritivo, dissertativo, expositivo e injuntivo. te, fazia parte da literatura oral. Boccacio foi o primeiro a reproduzi-
Resumindo, os gêneros textuais são a parte concreta, enquanto -lo de forma escrita com a publicação de Decamerão.
as tipologias integram o campo das formas, da teoria. Acompanhe Ele é um gênero da esfera literária e se caracteriza por ser uma
abaixo os principais gêneros textuais inseridos e como eles se narrativa densa e concisa, a qual se desenvolve em torno de uma
inserem em cada tipo textual: única ação. Geralmente, o leitor é colocado no interior de uma ação
Texto narrativo: esse tipo textual se estrutura em: apresentação, já em desenvolvimento. Não há muita especificação sobre o antes
desenvolvimento, clímax e desfecho. Esses textos se caracterizam e nem sobre o depois desse recorte que é narrado no conto. Há a
pela apresentação das ações de personagens em um tempo e construção de uma tensão ao longo de todo o conto.
espaço determinado. Os principais gêneros textuais que pertencem Diversos contos são desenvolvidos na tipologia textual narrati-
ao tipo textual narrativo são: romances, novelas, contos, crônicas va: conto de fadas, que envolve personagens do mundo da fantasia;
e fábulas. contos de aventura, que envolvem personagens em um contexto
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mais próximo da realidade; contos folclóricos (conto popular); con- Outros exemplos de gêneros textuais pertencentes aos textos
tos de terror ou assombração, que se desenrolam em um contexto descritivos são: folhetos turísticos; cardápios de restaurantes; clas-
sombrio e objetivam causar medo no expectador; contos de misté- sificados; etc.
rio, que envolvem o suspense e a solução de um mistério.
Gêneros textuais predominantemente do tipo textual expo-
Fábula sitivo
É um texto de caráter fantástico que busca ser inverossímil. As
personagens principais não são humanos e a finalidade é transmitir Resumos e Resenhas
alguma lição de moral. O autor faz uma descrição breve sobre a obra (pode ser cine-
matográfica, musical, teatral ou literária) a fim de divulgar este tra-
Novela balho de forma resumida.
É um texto caracterizado por ser intermediário entre a longevi- Na verdade resumo e/ou resenha é uma análise sobre a obra,
dade do romance e a brevidade do conto. Esse gênero é constituído com uma linguagem mais ou menos formal, geralmente os rese-
por uma grande quantidade de personagens organizadas em dife- nhistas são pessoas da área devido o vocabulário específico, são
rentes núcleos, os quais nem sempre convivem ao longo do enredo. estudiosos do assunto, e podem influenciar a venda do produto de-
Como exemplos de novelas, podem ser citadas as obras O Alienista, vido a suas críticas ou elogios.
de Machado de Assis, e A Metamorfose, de Kafka.
Verbete de dicionário
Crônica Gênero predominantemente expositivo. O objetivo é expor
É uma narrativa informal, breve, ligada à vida cotidiana, com conceitos e significados de palavras de uma língua.
linguagem coloquial. Pode ter um tom humorístico ou um toque de
crítica indireta, especialmente, quando aparece em seção ou arti- Relatório Científico
go de jornal, revistas e programas da TV. Há na literatura brasileira Gênero predominantemente expositivo. Descreve etapas de
vários cronistas renomados, dentre eles citamos para seu conhe- pesquisa, bem como caracteriza procedimentos realizados.
cimento: Luís Fernando Veríssimo, Rubem Braga, Fernando Sabido
entre outros. Conferência
Predominantemente expositivo. Pode ser argumentativo tam-
Diário bém. Expõe conhecimentos e pontos de vistas sobre determinado
É escrito em linguagem informal, sempre consta a data e não assunto. Gênero executado, muitas vezes, na modalidade oral.
há um destinatário específico, geralmente, é para a própria pessoa
que está escrevendo, é um relato dos acontecimentos do dia. O Outros exemplos de gêneros textuais pertencentes aos textos
objetivo desse tipo de texto é guardar as lembranças e em alguns expositivos são: enciclopédias; resumos escolares; etc.
momentos desabafar. Veja um exemplo:
Gêneros textuais pertencentes aos textos argumentativos
“Domingo, 14 de junho de 1942
Vou começar a partir do momento em que ganhei você, quando Artigo de Opinião
o vi na mesa, no meio dos meus outros presentes de aniversário. (Eu É comum1 encontrar circulando no rádio, na TV, nas revistas,
estava junto quando você foi comprado, e com isso eu não contava.) nos jornais, temas polêmicos que exigem uma posição por parte
dos ouvintes, espectadores e leitores, por isso, o autor geralmen-
Na sexta-feira, 12 de junho, acordei às seis horas, o que não é te apresenta seu ponto de vista sobre o tema em questão através
de espantar; afinal, era meu aniversário. Mas não me deixam le- do artigo de opinião.
vantar a essa hora; por isso, tive de controlar minha curiosidade até Nos tipos textuais argumentativos, o autor geralmente tem
quinze para as sete. Quando não dava mais para esperar, fui até a a intenção de convencer seus interlocutores e, para isso, precisa
sala de jantar, onde Moortje (a gata) me deu as boas-vindas, esfre- apresentar bons argumentos, que consistem em verdades e opini-
gando-se em minhas pernas.” ões.
Trecho retirado do livro “Diário de Anne Frank”. O artigo de opinião é fundamentado em impressões pessoais
do autor do texto e, por isso, são fáceis de contestar.
Gêneros textuais predominantemente do tipo textual descri-
tivo Discurso Político
O discurso político2 é um texto argumentativo, fortemente per-
Currículo suasivo, em nome do bem comum, alicerçado por pontos de vista
É um gênero predominantemente do tipo textual descritivo. do emissor ou de enunciadores que representa, e por informações
Nele são descritas as qualificações e as atividades profissionais de compartilhadas que traduzem valores sociais, políticos, religiosos
uma determinada pessoa. e outros. Frequentemente, apresenta-se como uma fala coletiva
que procura sobrepor-se em nome de interesses da comunidade
Laudo e constituir norma de futuro. Está inserido numa dinâmica social
É um gênero predominantemente do tipo textual descritivo. que constantemente o altera e ajusta a novas circunstâncias. Em
Sua função é descrever o resultado de análises, exames e perícias, 1 http://www.odiarioonline.com.br/noticia/43077/VENDEDOR-BRASILEIRO-ESTA-MENOS-
tanto em questões médicas como em questões técnicas. -SIMPATICO
2 https://www.infopedia.pt/$discurso-politico
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períodos eleitorais, a sua maleabilidade permite sempre uma res- Outros Exemplos
posta que oscila entre a satisfação individual e os grandes objetivos
sociais da resolução das necessidades elementares dos outros. Carta
Hannah Arendt (em The Human Condition) afirma que o dis- Esta, dependendo do destinatário pode ser informal, quando é
curso político tem por finalidade a persuasão do outro, quer para destinada a algum amigo ou pessoa com quem se tem intimidade. E
que a sua opinião se imponha, quer para que os outros o admirem. formal quando destinada a alguém mais culto ou que não se tenha
Para isso, necessita da argumentação, que envolve o raciocínio, e intimidade.
da eloquência da oratória, que procura seduzir recorrendo a afetos Dependendo do objetivo da carta a mesma terá diferentes es-
e sentimentos. tilos de escrita, podendo ser dissertativa, narrativa ou descritiva. As
O discurso político é, provavelmente, tão antigo quanto a vida cartas se iniciam com a data, em seguida vem a saudação, o corpo
do ser humano em sociedade. Na Grécia antiga, o político era o da carta e para finalizar a despedida.
cidadão da “pólis” (cidade, vida em sociedade), que, responsável
pelos negócios públicos, decidia tudo em diálogo na “agora” (praça Propaganda
onde se realizavam as assembleias dos cidadãos), mediante pala- Este gênero aparece também na forma oral, diferente da maio-
vras persuasivas. Daí o aparecimento do discurso político, baseado ria dos outros gêneros. Suas principais características são a lingua-
na retórica e na oratória, orientado para convencer o povo. gem argumentativa e expositiva, pois a intenção da propaganda é
O discurso político implica um espaço de visibilidade para o ci- fazer com que o destinatário se interesse pelo produto da propa-
dadão, que procura impor as suas ideias, os seus valores e projetos, ganda. O texto pode conter algum tipo de descrição e sempre é
recorrendo à força persuasiva da palavra, instaurando um processo claro e objetivo.
de sedução, através de recursos estéticos como certas construções,
metáforas, imagens e jogos linguísticos. Valendo-se da persuasão e Notícia
da eloquência, fundamenta-se em decisões sobre o futuro, prome- Este é um dos tipos de texto que é mais fácil de identificar. Sua
tendo o que pode ser feito. linguagem é narrativa e descritiva e o objetivo desse texto é infor-
mar algo que aconteceu.
Requerimento A notícia é um dos principais tipos de textos jornalísticos exis-
Predominantemente dissertativo-argumentativo. O requeri- tentes e tem como intenção nos informar acerca de determinada
mento tem a função de solicitar determinada coisa ou procedimen- ocorrência. Bastante recorrente nos meios de comunicação em ge-
to. Ele é dissertativo-argumentativo pela presença de argumenta- ral, seja na televisão, em sites pela internet ou impresso em jornais
ção com vistas ao convencimento ou revistas.
Caracteriza-se por apresentar uma linguagem simples, clara,
Outros exemplos de gêneros textuais pertencentes aos textos objetiva e precisa, pautando-se no relato de fatos que interessam
argumentativos são: abaixo-assinados; manifestos; sermões; etc. ao público em geral. A linguagem é clara, precisa e objetiva, uma
vez que se trata de uma informação.
Gêneros textuais predominantemente do tipo textual injun-
tivo Editorial
O editorial é um tipo de texto jornalístico que geralmente apa-
Bulas de remédio rece no início das colunas. Diferente dos outros textos que com-
A bula de remédio traz também o tipo textual descritivo. Nela põem um jornal, de caráter informativo, os editoriais são textos
aparecem as descrições sobre a composição do remédio bem como opinativos.
instruções quanto ao seu uso. Embora sejam textos de caráter subjetivo, podem apresentar
certa objetividade. Isso porque são os editoriais que apresentam
Manual de instruções os assuntos que serão abordados em cada seção do jornal, ou seja,
O manual de instruções tem como objetivo instruir sobre os Política, Economia, Cultura, Esporte, Turismo, País, Cidade, Classifi-
procedimentos de uso ou montagem de um determinado equipa- cados, entre outros.
mento. Os textos são organizados pelos editorialistas, que expressam
as opiniões da equipe e, por isso, não recebem a assinatura do au-
Exemplos de gêneros textuais pertencentes aos textos injunti- tor. No geral, eles apresentam a opinião do meio de comunicação
vos são: receitas culinárias, instruções em geral. (revista, jornal, rádio, etc.).
Tanto nos jornais como nas revistas podemos encontrar os edi-
Gêneros textuais predominantemente do tipo textual prescri- toriais intitulados como “Carta ao Leitor” ou “Carta do Editor”.
tivo Em relação ao discurso apresentado, esse costuma se apoiar
em fatos polêmicos ligados ao cotidiano social. E quando falamos
Exemplos de gêneros textuais pertencentes aos textos prescri- em discurso, logo nos atemos à questão da linguagem que, mesmo
tivos são: leis; cláusulas contratuais; edital de concursos públicos; em se tratando de impressões pessoais, o predomínio do padrão
receitas médicas, etc. formal, fazendo com que prevaleça o emprego da 3ª pessoa do sin-
gular, ocupa lugar de destaque.

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Reportagem Ode (ou hino)


Reportagem é um texto jornalístico amplamente divulgado nos É o poema lírico em que o emissor faz uma homenagem à
meios de comunicação de massa. A reportagem informa, de modo pátria (e aos seus símbolos), às divindades, à mulher amada, ou a
mais aprofundado, fatos de interesse público. Ela situa-se no ques- alguém ou algo importante para ele. O hino é uma ode com acom-
tionamento de causa e efeito, na interpretação e no impacto, so- panhamento musical.
mando as diferentes versões de um mesmo acontecimento.
A reportagem não possui uma estrutura rígida, mas geralmen- Idílio (ou écloga)
te costuma estabelecer conexões com o fato central, anunciado no Poema lírico em que o emissor expressa uma homenagem à
que chamamos de lead. A partir daí, desenvolve-se a narrativa do natureza, às belezas e às riquezas que ela dá ao homem. É o poema
fato principal, ampliada e composta por meio de citações, trechos bucólico, ou seja, que expressa o desejo de desfrutar de tais belezas
de entrevistas, depoimentos, dados estatísticos, pequenos resu- e riquezas ao lado da amada (pastora), que enriquece ainda mais
mos, dentre outros recursos. É sempre iniciada por um título, como a paisagem, espaço ideal para a paixão. A écloga é um idílio com
todo texto jornalístico. diálogos (muito rara).
O objetivo de uma reportagem é apresentar ao leitor várias
versões para um mesmo fato, informando-o, orientando-o e contri- Sátira
buindo para formar sua opinião. É o poema lírico em que o emissor faz uma crítica a alguém
A linguagem utilizada nesse tipo de texto é objetiva, dinâmi- ou a algo, em tom sério ou irônico. Tem um forte sarcasmo, pode
ca e clara, ajustada ao padrão linguístico divulgado nos meios de abordar críticas sociais, a costumes de determinada época, assun-
comunicação de massa, que se caracteriza como uma linguagem tos políticos, ou pessoas de relevância social.
acessível a todos os públicos, mas pode variar de formal para mais
informal dependendo do público a que se destina. Embora seja im- Acalanto
pessoal, às vezes é possível perceber a opinião do repórter sobre os Canção de ninar.
fatos ou sua interpretação.3
Acróstico
Gêneros Textuais e Gêneros Literários Composição lírica na qual as letras iniciais de cada verso for-
mam uma palavra ou frase. Ex.:
Conforme o próprio nome indica, os gêneros textuais se refe-
rem a qualquer tipo de texto, enquanto os gêneros literários se re- Amigos são
ferem apenas aos textos literários. Muitas vezes os
Os gêneros literários são divisões feitas segundo características Irmãos que escolhemos.
formais comuns em obras literárias, agrupando-as conforme crité- Zelosos, eles nos
rios estruturais, contextuais e semânticos, entre outros. Ajudam e
- Gênero lírico; Dedicam-se por nós, para que nossa relação seja verdadeira e
- Gênero épico ou narrativo; Eterna
- Gênero dramático. https://www.todamateria.com.br/acrostico/

Gênero Lírico Balada


É certo tipo de texto no qual um eu lírico (a voz que fala no po- Uma das mais primitivas manifestações poéticas, são cantigas
ema e que nem sempre corresponde à do autor) exprime suas emo- de amigo (elegias) com ritmo característico e refrão vocal que se
ções, ideias e impressões em face do mundo exterior. Normalmente destinam à dança.
os pronomes e os verbos estão em 1ª pessoa e há o predomínio da
função emotiva da linguagem. Canção (ou Cantiga, Trova)
Poema oral com acompanhamento musical.
Elegia
Um texto de exaltação à morte de alguém, sendo que a mor- Gazal (ou Gazel)
te é elevada como o ponto máximo do texto. O emissor expressa Poesia amorosa dos persas e árabes; odes do oriente médio.
tristeza, saudade, ciúme, decepção, desejo de morte. É um poema
melancólico. Um bom exemplo é a peça Roan e Yufa, de William Soneto
Shakespeare. É um texto em poesia com 14 versos, dividido em dois quarte-
tos e dois tercetos.
Epitalâmia
Um texto relativo às noites nupciais líricas, ou seja, noites ro- Vilancete
mânticas com poemas e cantigas. Um bom exemplo de epitalâmia é São as cantigas de autoria dos poetas vilões (cantigas de escár-
a peça Romeu e Julieta nas noites nupciais. nio e de maldizer); satíricas, portanto.

Gênero Épico ou Narrativo


Na Antiguidade Clássica, os padrões literários reconhecidos
eram apenas o épico, o lírico e o dramático. Com o passar dos anos,
3 CEREJA, William Roberto & MAGALHÃES, Thereza Cochar. Texto e interação. o gênero épico passou a ser considerado apenas uma variante do
São Paulo, Atual Editora, 2000
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gênero literário narrativo, devido ao surgimento de concepções de Discurso Religioso4


prosa com características diferentes: o romance, a novela, o conto,
a crônica, a fábula. A Análise Crítica do Discurso (ADC) tem como fulcro a aborda-
gem das relações (internas e recíprocas) entre linguagem e socie-
Épico (ou Epopeia) dade. Os textos produzidos socialmente em eventos autênticos são
Os textos épicos são geralmente longos e narram histórias de resultantes da estruturação social da linguagem que os consome
um povo ou de uma nação, envolvem aventuras, guerras, viagens, e os faz circular. Por outro lado, esses mesmos textos são também
gestos heroicos, etc. Normalmente apresentam um tom de exalta- potencialmente transformadores dessa estruturação social da lin-
ção, isto é, de valorização de seus heróis e seus feitos. Dois exem- guagem, assim como os eventos sociais são tanto resultado quanto
plos são Os Lusíadas, de Luís de Camões, e Odisseia, de Homero. substrato dessas estruturas sociais.
O discurso religioso é “aquele em que há uma relação espon-
Ensaio tânea com o sagrado” sendo, portanto, “mais informal”; enquanto
É um texto literário breve, situado entre o poético e o didático, o teológico é o tipo de “discurso em que a mediação entre a alma
expondo ideias, críticas e reflexões morais e filosóficas a respeito de religiosa e o sagrado se faz por uma sistematização dogmática das
certo tema. É menos formal e mais flexível que o tratado. verdades religiosas, e onde o teólogo (...) aparece como aquele que
Consiste também na defesa de um ponto de vista pessoal e faz a relação entre os dois mundos: o mundo hebraico e o mundo
subjetivo sobre um tema (humanístico, filosófico, político, social, cristão”, sendo, assim, “mais formal”. Porém, podemos falar em DR
cultural, moral, comportamental, etc.), sem que se paute em for- de maneira globalizante.
malidades como documentos ou provas empíricas ou dedutivas de Assim, temos:
caráter científico. Exemplo: Ensaio sobre a tolerância, de John Lo- - Desnivelamento, assimetria na relação entre o locutor e o ou-
cke. vinte – o locutor está no plano espiritual (Deus), e o ouvinte está no
plano temporal (os adoradores). As duas ordens de mundo são to-
Gênero Dramático talmente diferentes para os sujeitos, e essa ordem é afetada por um
Trata-se do texto escrito para ser encenado no teatro. Nesse valor hierárquico, por uma desigualdade, por um desnivelamento.
tipo de texto, não há um narrador contando a história. Ela “aconte- Deus, o locutor, é imortal, eterno, onipotente, onipresente, onis-
ce” no palco, ou seja, é representada por atores, que assumem os ciente, em resumo, o todo-poderoso. Os seres humanos, os ouvin-
papéis das personagens nas cenas. tes, são mortais, efêmeros e finitos.
- Modos de representação. A voz no discurso religioso (DR) se
Tragédia fala em seus representantes (Padre, pastor, profeta), essa é uma
É a representação de um fato trágico, suscetível de provocar forma de relação simbólica. Essa apropriação ocorre sem explicitar
compaixão e terror. Aristóteles afirmava que a tragédia era “uma re- os mecanismos de incorporação da voz, aspecto que caracteriza a
presentação duma ação grave, de alguma extensão e completa, em mistificação.
linguagem figurada, com atores agindo, não narrando, inspirando - O ideal do DR é que o ‘representante’, o que se apropria do
dó e terror”. Ex.: Romeu e Julieta, de Shakespeare. discurso de Deus’, não o modifique. Ele deve seguir regras restritas
reguladas pelo texto sagrado, pela Igreja, pelas liturgias. Deve-se
Farsa manter distância entre ‘o dito de Deus’ e ‘o dizer do homem’.
A farsa consiste no exagero do cômico, graças ao emprego de - A interpretação da palavra de Deus é regulada. “Os sentidos
processos como o absurdo, as incongruências, os equívocos, a ca- não podem ser quaisquer sentidos: o discurso religioso tende forte-
ricatura, o humor primário, as situações ridículas e, em especial, o mente para a monossemia”.
engano. - Dualismos, as formas da ilusão da reversibilidade: plano hu-
mano e plano divino; ordem temporal e ordem espiritual; sujeitos e
Comédia Sujeito; homem e Deus. A ilusão ocorre na passagem de um plano
É a representação de um fato inspirado na vida e no sentimento para outro e pode ter duas direções: de cima para baixo, ou seja,
comum, de riso fácil. Sua origem grega está ligada às festas popu- de Deus para os homens, momento em que Ele compartilha suas
lares. propriedades (ministração de sacramentos, bênçãos); de baixo para
cima, quando o homem se alça a Deus, principalmente, através da
Tragicomédia visão, da profecia. Estas são formas de ‘ultrapassagem’.
Modalidade em que se misturam elementos trágicos e cômi- - Escopo do discurso religioso. A fé separa os fiéis dos não-fiéis,
cos. Originalmente, significava a mistura do real com o imaginário. “os convictos dos não-convictos. Logo, é o parâmetro pelo qual de-
limita a comunidade e constitui o escopo do discurso religioso em
Poesia de cordel suas duas formações características: para os que creem, o discurso
Texto tipicamente brasileiro em que se retrata, com forte apelo religioso é uma promessa, para os que não creem é uma ameaça.
linguístico e cultural nordestinos, fatos diversos da sociedade e da
realidade vivida por este povo. Os discursos religiosos, como já vimos, se mostram com estru-
turas rígidas quanto aos papéis dos interlocutores (a divindade e os
seres humanos). Os dogmas sagrados, por exemplos, fé e Deus, são
4 https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/soletras/article/downloa-
d/4694/3461#:~:text=O%20discurso%20religioso%20%C3%A9%20aquele,discur-
so%20(Orlandi%2C%201996).&text=locutor%20est%C3%A1%20no%20plano%20
espiritual,plano%20temporal%20(os%20adoradores).
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intocáveis. “Deus define-se (...) a si mesmo como sujeito por exce- Tais características se evidenciam formal e funcionalmente e
lência, aquele que é por si e para si (Sou aquele que É) e aquele que são percebidas, de maneira mais ou menos clara pelo leitor/ouvin-
interpela seu sujeito (...) eis quem tu és: é Pedro.” te. Afinal, todos os tipos de texto têm um público fiel, ao qual se
Outros traços do DR se configuram com o uso do imperativo e destinam.
do vocativo – características inerentes de discursos de doutrinação; Os autores que têm o texto técnico como objeto de estudo con-
uso de metáforas – explicitadas por paráfrases que indicam a leitura cordam que ele apresenta as seguintes características:
apropriada para as metáforas utilizadas; uso de citações no original • Linguagem monossêmica;
(grego, hebraico, latim) – traduzidas para a língua em uso através de • Vocabulário específico ou léxico especializado;
perífrases extensas e explicativas em que se busca aproveitar o má- • Objetividade;
ximo o efeito de sentido advindo da língua original; o uso de perfor- • Emprego de voz passiva;
mativos – uso de verbos em que o ‘dizer’ representa o ‘fazer’; o uso • Preferência pelo emprego do tempo verbal presente.
de sintagmas cristalizados – usadas em orações e funções fáticas.
Ainda em relação às unidades textuais, podemos acrescentar o As características apontadas acima coadunam-se com o obje-
uso de determinadas formas simbólicas do DR como as parábolas, a tivo principal de qualquer produção de cunho técnico: transmissão
utilização de certos temas, como a efemeridade da vida humana, a de conhecimentos de forma clara e imparcial. Embora a objetivida-
vida eterna, o galardão, entre outros. Acrescenta-se também como de e a neutralidade sejam fiéis parceiras do texto técnico, não se
marca a intertextualidade. pode afirmar que esse tipo textual seja isento das marcas de seu
autor, enquanto produtor de ideias e veiculador de informações.
Discurso Jurídico5 Quando há a troca da 3ª pessoa do singular pela 1ª pessoa do plu-
ral, por exemplo, o autor tem a intenção de conquistar o seu in-
O discurso legal caracteriza-se como um discurso hierárquico terlocutor, tornando-o um parceiro “na assunção das informações
e dominante, baseado numa estrutura de exclusão e discriminação dadas, numa forma de estratégia argumentativa.”
de várias minorias sociais, como os pobres, os negros, os homos- Todo tipo textual possui a argumentatividade, porém essa apa-
sexuais, as mulheres, etc. A especificidade da linguagem jurídica, rece de modo mais intenso e explícito em alguns textos e de modo
e as restrições educacionais quanto a quem pode militar na Área menos intenso e explícito em outros. Para complementar a afirma-
(advogados, promotores, juízes, etc.), são apenas algumas das es- ção dessas autoras, cita-se Benveniste para o qual, o sujeito está
tratégias utilizadas pelo sistema jurídico para manter o discurso le- sempre presente no texto, não havendo, portanto, texto neutro ou
gal inacessível à maioria das pessoas, e desta forma protege-lo de imparcial.
análises e críticas. Percebe-se, então, que o texto técnico possui características
Como em todo discurso dominante, as posições de poder cria- que o diferenciam dos demais tipos de textos. No entanto, não se
das para os participantes de textos legais são particularmente assi- deve afirmar que ele seja desprovido de marcas autorais. Tanto é
métricas, como é o caso num julgamento (e.g. entre o juiz e o réu; verdade, que alguns autores de textos técnicos não dispensam o
entre o juiz e as testemunhas; etc.). Os juízes, por exemplo, detêm uso de certos advérbios e conjunções, por exemplo, expedientes
um poder especial devido ao seu status social e ao seu acesso privi- que têm a função de modalizar o discurso.
legiado ao discurso legal (são eles que produzem a forma final dos A modalização, nesse tipo de texto, pode aparecer de forma
textos legais). Portanto, é a visão de mundo do juiz que prevalece implícita e/ou explícita. Sob essa última forma, verificam-se o apa-
nas sentenças, em detrimento de outras posições alternativas. recimento de construções específicas, tais como as nominalizações,
Além de relações de poder, os textos legais também expressam a voz passiva, o emprego de determinadas conjunções e preposi-
relações de gênero. A lei e a cultura masculina estão intimamen- ções.
te ligadas; o sistema jurídico é quase que inteiramente dominado
por homens (só recentemente as mulheres passaram a fazer parte Discurso Acadêmico/Científico7
de instituições jurídicas) e, de forma geral, ele expressa uma visão
masculina do mundo. As mulheres que são parte em processos le- O texto como objeto abstrato se configura no campo da lin-
gais (e.g. reclamantes, rés, testemunhas, etc.) estão expostas a um guística como teoria geral. Já discurso é uma realidade de intera-
duplo grau de discriminação e exclusão: primeiro, como leigas, elas ção-enunciação objeto de análises discursivas. Enquanto os textos,
ocupam uma posição desfavorecida se comparadas com militantes como objetos concretos, são aqueles que se apresentam completos
legais (advogados, juízes, promotores, etc.); segundo, elas são estig- constituídos de um ato de enunciação que visa à interação entre
matizadas também por serem mulheres, e têm seu comportamento produtor e interlocutor. Partindo dessas concepções, percebe- se
social e sexual avaliado e controlado pelo discurso jurídico. que texto e discurso se complementam, pois, para o autor, “a sepa-
ração do textual e do discursivo é essencialmente metodológica”,
Discurso Técnico6 o que leva à distinção entre os dois a anular-se. Neste caso, texto e
discurso são unidades complementares.
Para o desempenho de tal papel, eles contam com suas carac- A partir da compreensão de discurso, passa-se a refletir sobre
terísticas intrínsecas, as quais são responsáveis pelo “rótulo” que o que vem ser discurso científico. Para Guimarães é aquele em que
cada tipo textual carrega. “o autor pretende fazer o leitor saber.” Ou seja, a intenção do autor

7 http://www.repositorio.jesuita.org.br/bitstream/handle/UNISINOS/4823/
5 https://periodicos.ufsc.br/index.php/revistacfh/article/download/23353/21030/0 MARIA%20DE%20F%c3%81TIMA%20RIBEIRO%20DOS%20SANTOS_.pdf?se-
6 https://revistas.ufg.br/lep/article/download/32601/17331/ quence=1&isAllowed=y
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é fazer o leitor ou pesquisador saber como os resultados daquela estudo); fundamentação teórica; levantamento de dados da organi-
pesquisa foram alcançados, dando-lhe oportunidade de repetir os zação sob estudo; caracterização da organização; análise e interpre-
procedimentos metodológicos em outras pesquisas similares. tação das informações; conclusões e resultados.
Para Carioca, “o discurso científico é a forma de apresentação Observa-se que esses modelos possuem suas particularidades,
da linguagem que circula na comunidade científica em todo o mun- mas também aspectos que coincidem. Este é o caso da pesquisa
do. Sua formulação depende de uma pesquisa minuciosa e efetiva bibliográfica, que é imprescindível em qualquer trabalho científico.
sobre um objeto, que é metodologicamente analisado à luz de uma
teoria.” Outra posição é que o discurso científico não se dá apenas Discurso Literário8
pela comprovação ou refutação do que foi escrito, dá-se também
pela aceitabilidade dos pares que compõem a comunidade espe- O discurso literário pode não ser apenas ligado aos procedi-
cífica. mentos adotados pelo autor, mas também, e talvez mais direta-
Desse modo, pode-se dizer que a estrutura global da comunica- mente do que se pensa, ligado ao contexto sociocultural no qual
ção científica está respaldada em parâmetros normativos referen- está inserido, evidenciando-se, nem sempre claramente, uma influ-
tes à produção de gêneros e à produção da linguagem, ou seja, o ência das instituições que o cercam na escolha de determinados
discurso acadêmico se estabeleceu dentro de convenções instituí- procedimentos de linguagem.
das pela comunidade científica, que, ao longo do tempo, se expres- A ideia de que o discurso literário constrói-se a partir de ele-
sa por características, como impessoalidade, objetividade, clareza, mentos intrínsecos ao texto literário tomou corpo com os estudos
precisão, modéstia, simplicidade, fluência, dentre outros. realizados no início do século XX. Foram os formalistas russos que
É importante apresentar a posição de Charaudeau sobre a demonstraram uma preocupação com a materialidade do texto lite-
problemática entre o discurso informativo (DI) e discurso científico rário, recusando, num primeiro momento, explicações de base ex-
(DC). Para o autor, o que eles têm em comum é a problemática da traliterária. Neste sentido, o que importava para os integrantes do
prova. “[...] o primeiro se atém essencialmente a uma prova pela movimento era o procedimento, ou seja, o princípio da organização
designação e pela figuração (a ordem da constatação, do testemu- da obra como produto estético. Assim, a preocupação dos formalis-
nho, do relato de reconstituição dos fatos), o segundo inscreve a tas era investigar e explicar o que faz de uma determinada obra uma
prova num programa de demonstração racional.”. obra literária, nas palavras de Jakobson: “a poesia é linguagem em
Percebe-se que o interesse principal do discurso informativo é sua função estética. Deste modo, o objeto do estudo literário não é
transmitir uma verdade através dos fatos. Já o discurso científico se a literatura, mas a literariedade, isto é, aquilo que torna determina-
impõe pela prova da racionalidade que reside na força da argumen- da obra uma obra literária”. A questão da literariedade como pro-
tatividade. E mais, este deve se comprometer com a logicidade das cesso ou procedimento de elaboração está centrado nas estruturas
ideias para estas se tornem mais convincentes. que diferenciam o texto literário de outros textos.
Como se viu, o discurso acadêmico é produzido dentro de uma A literariedade é conceituada não só pela linguagem diferen-
esfera de comunicação relativamente definida chamada de comuni- ciada que gera o estranhamento, mas também histórica e cultural-
dade científica. Em geral, no ensino superior, vão se encontrar mo- mente. Uma obra literária não pode ser apenas uma construção
delos de discurso acadêmico que já se tornaram consagrados para bem elaborada, mas deve também retratar o homem de sua época
essa comunidade. Na subseção que segue se mostrará especifica- ou época anterior, com todas as suas angústias, desejos e forma de
mente alguns deles. pensar. Tornando-se, assim, não apenas um material para ser estu-
O primeiro modelo, monografia de análise teórica, evidencia dado linguisticamente, mas também e, principalmente, uma obra
uma organização de ideias advindas de bibliografias selecionadas viva em que toda vez que se relê encontre-se algo novo e represen-
sobre um determinado assunto. Nesse tipo, pode-se fazer uma aná- tativo do ser humano.
lise crítica ou comparativa de uma teoria ou modelo já consagrado
pela comunidade científica. O modelo metodológico indicado pelos
autores é: escolha do assunto/ delimitação do tema; bibliografia COERÊNCIA E COESÃO
pertinente ao tema; levantamento de dados específicos da área sob
estudo; fundamentação teórica; metodologia e modelos aplicáveis;
análise e interpretação das informações; conclusões e resultados. — Definições e diferenciação
No segundo modelo, monografia de análise teórico-empírica, Coesão e coerência são dois conceitos distintos, tanto que um
faz-se uma análise interpretativa de dados primários, com apoio de texto coeso pode ser incoerente, e vice-versa. O que existe em comum
fontes secundárias, passando-se para o teste de hipóteses, mode- entre os dois é o fato de constituírem mecanismos fundamentais
los ou teorias. A partir dos dados primários e secundários, o autor para uma produção textual satisfatória. Resumidamente, a coesão
/pesquisador mostrará um trabalho inovador. Quanto ao modelo textual se volta para as questões gramaticais, isto é, na articulação
metodológico, tem-se: realidade observável; pergunta problema e interna do texto. Já a coerência textual tem seu foco na articulação
objetivo proposto; bibliografia e dados secundários; teoria perti- externa da mensagem.
nente ao tema (conceitos, técnicas, constructos) e dados secundá-
rios; instrumentos de pesquisa (questionário); pesquisa empírica; — Coesão Textual
análise; conclusões e resultados. Consiste no efeito da ordenação e do emprego adequado
No terceiro modelo, monografia de estudo de caso, o autor/ das palavras que proporcionam a ligação entre frases, períodos e
pesquisador faz uma análise específica da relação existente entre parágrafos de um texto. A coesão auxilia na sua organização e se
um caso e hipóteses, modelos e teorias. O modelo metodológico realiza por meio de palavras denominadas conectivos.
adotado obedece aos seguintes passos: escolha do assunto/delimi- 8 http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/Lin-
tação do tema; bibliografia pertinente ao tema (área específica sob guaPortuguesa/artigo12.pdf
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As técnicas de coesão — Coerência Textual


A coesão pode ser obtida por meio de dois mecanismos A Coerência é a relação de sentido entre as ideias de um texto
principais, a anáfora e a catáfora. Por estarem relacionados à que se origina da sua argumentação – consequência decorrente
mensagem expressa no texto, esses recursos classificam-se como dos saberes conhecimentos do emissor da mensagem. Um texto
endofóricas. Enquanto a anáfora retoma um componente, a catáfora redundante e contraditório, ou cujas ideias introduzidas não
o antecipa, contribuindo com a ligação e a harmonia textual. apresentam conclusão, é um texto incoerente. A falta de coerência
prejudica a fluência da leitura e a clareza do discurso. Isso quer dizer
As regras de coesão que a falta de coerência não consiste apenas na ignorância por parte
Para que se garanta a coerência textual, é necessário que as dos interlocutores com relação a um determinado assunto, mas da
regras relacionadas abaixo sejam seguidas. emissão de ideias contrárias e do mal uso dos tempos verbais.
Observe os exemplos:
Referência “A apresentação está finalizada, mas a estou concluindo
– Pessoal: emprego de pronomes pessoais e possessivos. até o momento.” Aqui, temos um processo verbal acabado e um
Exemplo: inacabado.
«Ana e Sara foram promovidas. Elas serão gerentes de
departamento.” Aqui, tem-se uma referência pessoal anafórica “Sou vegana e só como ovos com gema mole.” Os veganos não
(retoma termo já mencionado). consomem produtos de origem animal.

– Comparativa: emprego de comparações com base em Princípios Básicos da Coerência


semelhanças. – Relevância: as ideias têm que estar relacionadas.
Exemplo: – Não Contradição: as ideias não podem se contradizer.
“Mais um dia como os outros…”. Temos uma referência – Não Tautologia: as ideias não podem ser redundantes.
comparativa endofórica.
Fatores de Coerência
– Demonstrativa: emprego de advérbios e pronomes – As inferências: se partimos do pressuposto que os
demonstrativos. interlocutores partilham do mesmo conhecimento, as inferências
Exemplo: podem simplificar as informações.
“Inclua todos os nomes na lista, menos este: Fred da Silva.” Exemplo:
Temos uma referência demonstrativa catafórica. “Sempre que for ligar os equipamentos, não se esqueça de que
voltagem da lavadora é 220w”.
– Substituição: consiste em substituir um elemento, quer seja
nome, verbo ou frase, por outro, para que ele não seja repetido. Aqui, emissor e receptor compartilham do conhecimento de
Analise o exemplo: que existe um local adequado para ligar determinado aparelho.
“Iremos ao banco esta tarde, elas foram pela manhã.”
– O conhecimento de mundo: todos nós temos uma bagagem
Perceba que a diferença entre a referência e a substituição é de saberes adquirida ao longo da vida e que é arquivada na nossa
evidente principalmente no fato de que a substituição adiciona ao memória. Esses conhecimentos podem ser os chamados scripts
texto uma informação nova. No exemplo usado para a referência, o (roteiros, tal como normas de etiqueta), planos (planejar algo
pronome pessoal retoma as pessoas “Ana e Sara”, sem acrescentar com um objetivo, tal como jogar um jogo), esquemas (planos de
quaisquer informações ao texto. funcionamento, como a rotina diária: acordar, tomar café da manhã,
sair para o trabalho/escola), frames (rótulos), etc.
– Elipse: trata-se da omissão de um componente textual – Exemplo:
nominal, verbal ou frasal – por meio da figura denominando eclipse. “Coelhinho e ovos de chocolate! Vai ser um lindo Natal!”
Exemplo:
“Preciso falar com Ana. Você a viu?” Aqui, é o contexto que O conhecimento cultural nos leva a identificar incoerência na
proporciona o entendimento da segunda oração, pois o leitor fica frase, afinal, “coelho” e “ovos de chocolate” são elementos, os
ciente de que o locutor está procurando por Ana. chamados frames, que pertencem à comemoração de Páscoa, e
nada têm a ver com o Natal.
– Conjunção: é o termo que estabelece ligação entre as orações.
Exemplo:
“Embora eu não saiba os detalhes, sei que um acidente ORTOGRAFIA.
aconteceu.” Conjunção concessiva.

– Coesão lexical: consiste no emprego de palavras que fazem — Definições


parte de um mesmo campo lexical ou que carregam sentido Com origem no idioma grego, no qual orto significa “direito”,
aproximado. É o caso dos nomes genéricos, sinônimos, hiperônimos, “exato”, e grafia quer dizer “ação de escrever”, ortografia é o nome
entre outros. dado ao sistema de regras definido pela gramática normativa que
Exemplo: indica a escrita correta das palavras. Já a Ortografia Oficial se refere
“Aquele hospital público vive lotado. A instituição não está às práticas ortográficas que são consideradas oficialmente como
dando conta da demanda populacional.”
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adequadas no Brasil. Os principais tópicos abordados pela ortografia são: o emprego de acentos gráficos que sinalizam vogais tônicas,
abertas ou fechadas; os processos fonológicos (crase/acento grave); os sinais de pontuação elucidativos de funções sintáticas da língua e
decorrentes dessas funções, entre outros.  
Os acentos: esses sinais modificam o som da letra sobre a qual recaem, para que palavras com grafia similar possam ter leituras
diferentes, e, por conseguinte, tenham significados distintos.  Resumidamente, os acentos são agudo (deixa o som da vogal mais aberto),
circunflexo (deixa o som fechado), til (que faz com que o som fique nasalado) e acento grave (para indicar crase).
O alfabeto: é a base de qualquer língua. Nele, estão estabelecidos os sinais gráficos e os sons representados por cada um dos sinais;
os sinais, por sua vez, são as vogais e as consoantes.  
As letras K, Y e W: antes consideradas estrangeiras, essas letras foram integradas oficialmente ao alfabeto do idioma português
brasileiro em 2009, com a instauração do Novo Acordo Ortográfico. As possibilidades da vogal Y e das consoantes K e W são, basicamente,
para nomes próprios e abreviaturas, como abaixo:  
– Para grafar símbolos internacionais e abreviações, como Km (quilômetro), W (watt) e Kg (quilograma).
– Para transcrever nomes próprios estrangeiros ou seus derivados na língua portuguesa, como Britney, Washington, Nova York.  

Relação som X grafia: confira abaixo os casos mais complexos do emprego da ortografia correta das palavras e suas principais regras:

«ch” ou “x”?: deve-se empregar o X nos seguintes casos:


– Em palavras de origem africana ou indígena. Exemplo: oxum, abacaxi.  
– Após ditongos. Exemplo: abaixar, faixa.
– Após a sílaba inicial “en”. Exemplo: enxada, enxergar.
– Após a sílaba inicial “me”. Exemplo: mexilhão, mexer, mexerica.   

s” ou “x”?: utiliza-se o S nos seguintes casos:


– Nos sufixos “ese”, “isa”, “ose”. Exemplo: síntese, avisa, verminose.
– Nos sufixos “ense”, “osa” e “oso”, quando formarem adjetivos. Exemplo: amazonense, formosa, jocoso.
– Nos sufixos “ês” e “esa”, quando designarem origem, título ou nacionalidade. Exemplo: marquês/marquesa, holandês/holandesa,
burguês/burguesa.
– Nas palavras derivadas de outras cujo radical já apresenta “s”. Exemplo: casa – casinha – casarão; análise – analisar.

Porque, Por que, Porquê ou Por quê?


– Porque (junto e sem acento): é conjunção explicativa, ou seja, indica motivo/razão, podendo substituir o termo pois. Portanto, toda
vez que essa substituição for possível, não haverá dúvidas de que o emprego do porque estará correto. Exemplo: Não choveu, porque/pois
nada está molhado.  
– Por que (separado e sem acento): esse formato é empregado para introduzir uma pergunta ou no lugar de “o motivo pelo qual”, para
estabelecer uma relação com o termo anterior da oração. Exemplos: Por que ela está chorando? / Ele explicou por que do cancelamento
do show.  
– Porquê (junto e com acento): trata-se de um substantivo e, por isso, pode estar acompanhado por artigo, adjetivo, pronome ou
numeral. Exemplo: Não ficou claro o porquê do cancelamento do show.  
– Por quê (separado e com acento): deve ser empregado ao fim de frases interrogativas. Exemplo: Ela foi embora novamente. Por quê?  

Parônimos e homônimos
– Parônimos: são palavras que se assemelham na grafia e na pronúncia, mas se divergem no significado. Exemplos: absolver (perdoar)
e absorver (aspirar); aprender (tomar conhecimento) e apreender (capturar).
– Homônimos: são palavras com significados diferentes, mas que divergem na pronúncia. Exemplos: “gosto” (substantivo) e “gosto”
(verbo gostar) / “este” (ponto cardeal) e “este” (pronome demonstrativo).

CLASSE, ESTRUTURA, FORMAÇÃO E SIGNIFICAÇÃO DE VOCÁBULOS

CLASSE DE PALAVRAS

— Definição
As classes gramaticais são grupos de palavras que organizam o estudo da gramática. Isto é, cada palavra existente na língua portuguesa
condiz com uma classe gramatical, na qual ela é inserida em razão de sua função. Confira abaixo as diversas funcionalidades de cada classe
gramatical.

— Artigo
É a classe gramatical que, em geral, precede um substantivo, podendo flexionar em número e em gênero.

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A classificação dos artigos


– Artigos definidos: servem para especificar um substantivo ou para se referirem a um ser específico por já ter sido mencionado ou
por ser conhecido mutuamente pelos interlocutores. Eles podem flexionar em número (singular e plural) e gênero (masculino e feminino).
– Artigos indefinidos: indicam uma generalização ou a ocorrência inicial do representante de uma dada espécie, cujo conhecimento
não é compartilhado entre os interlocutores, por se tratar da primeira vez em que aparece no discurso. Podem variar em número e gênero.
Observe:

NÚMERO/GÊNERO MASCULINO FEMININO EXEMPLOS


Preciso de um pedreiro.
Singular Um Uma
Vi uma moça em frente à casa.
Localizei uns documentos antigos.
Plural Umas Umas
Joguei fora umas coisas velhas.

Outras funções do artigo


– Substantivação: é o nome que se dá ao fenômeno de transformação de adjetivos e verbos em substantivos a partir do emprego do
artigo. Observe:  
– Em “O caminhar dela é muito elegante.”, “caminhar”, que teria valor de verbo, passou a ser o substantivo do enunciado.
– Indicação de posse: antes de palavras que atribuem parentesco ou de partes do corpo, o artigo definido pode exprimir relação de
posse. Por exemplo: “No momento em que ela chegou, o marido já a esperava.”  
Na frase, o artigo definido “a” esclarece que se trata do marido do sujeito “ela”, omitindo o pronomes possessivo dela.
– Expressão de valor aproximado: devido à sua natureza de generalização, o artigo indefinido inserido antes de numeral indica valor
aproximado. Mais presente na linguagem coloquial, esse emprego dos artigos indefinidos representa expressões como “por volta de” e
“aproximadamente. Observe: “Faz em média uns dez anos que a vi pela última vez.” e Acrescente aproximadamente umas três ou quatro
gotas de baunilha.”

Contração de artigos com preposições


Os artigos podem fazer junção a algumas preposições, criando uma única palavra contraída. A tabela abaixo ilustra como esse processo
ocorre:

— Substantivo
Essa classe atribui nome aos seres em geral (pessoas, animais, qualidades, sentimentos, seres mitológicos e espirituais). Os substantivos
se subdividem em:
– Próprios ou Comuns: são próprios os substantivos que nomeiam algo específico, como nomes de pessoas (Pedro, Paula) ou lugares
(São Paulo, Brasil). São comuns os que nomeiam algo na sua generalidade (garoto, caneta, cachorro).
– Primitivos ou derivados: se não for formado por outra palavra, é substantivo primitivo (carro, planeta); se formado por outra
palavra, é substantivo derivado (carruagem, planetário).
– Concretos ou abstratos: os substantivos que nomeiam seres reais ou imaginativos, são concretos (cavalo, unicórnio); os que nomeiam
sentimentos, qualidades, ações ou estados são abstratos.  
– Substantivos coletivos: são os que nomeiam os seres pertencentes ao mesmo grupo. Exemplos: manada (rebanho de gado),
constelação (aglomerado de estrelas), matilha (grupo de cães).  

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— Adjetivo Locução adjetiva


É a classe de palavras que se associa ao substantivo para alterar Uma locução adjetiva é formada por duas ou mais palavras,
o seu significado, atribuindo-lhe caracterização conforme uma que, associadas, têm o valor de um único adjetivo. Basicamente,
qualidade, um estado e uma natureza, bem como uma quantidade consiste na união preposição + substantivo ou advérbio. Exemplos:
ou extensão à palavra, locução, oração ou pronome. – Criaturas da noite (criaturas noturnas).
– Paixão sem freio (paixão desenfreada).
Os tipos de adjetivos – Associação de comércios (associação comercial).
– Simples e composto: com apenas um radical, é adjetivo
simples (bonito, grande, esperto, miúdo, regular); apresenta — Verbo
mais de um radical, é composto (surdo-mudo, afrodescendente, É a classe de palavras que indica ação, ocorrência, desejo,
amarelo-limão).   fenômeno da natureza e estado. Os verbos se subdividem em:
– Primitivo e derivado: o adjetivo que origina outros adjetivos – Verbos regulares: são os verbos que, ao serem conjugados,
é primitivo (belo, azul, triste, alegre); adjetivos originados de verbo, não têm seu radical modificado e preservam a mesma desinência do
substantivo ou outro adjetivo são classificados como derivados (ex.: verbo paradigma, isto é, terminado em “-ar” (primeira conjugação),
substantivo morte → adjetivo mortal; verbo lamentar → adjetivo “-er” (segunda conjugação) ou “-ir” (terceira conjugação).  Observe
lamentável). o exemplo do verbo “nutrir”:
– Pátrio ou gentílico: é a palavra que indica a nacionalidade ou – Radical: nutr (a parte principal da palavra, onde reside seu
origem de uma pessoa (paulista, brasileiro, mineiro, latino).   significado).
– Desinência: “-ir”, no caso, pois é a terminação da palavra e,
O gênero dos adjetivos tratando-se dos verbos, indica pessoa (1a, 2a, 3a), número (singular
– Uniformes: possuem forma única para feminino e masculino, ou plural), modo (indicativo, subjuntivo ou imperativo) e tempo
isto é, não flexionam seu termo. Exemplo: “Fred é um amigo leal.” (pretérito, presente ou futuro). Perceba que a conjugação desse
/ “Ana é uma amiga leal.”   no presente do indicativo: o radical não sofre quaisquer alterações,
– Biformes: os adjetivos desse tipo possuem duas formas, que tampouco a desinência. Portanto, o verbo nutrir é regular: Eu nutro;
variam conforme o gênero. Exemplo: “Menino travesso.”/”Menina tu nutre; ele/ela nutre; nós nutrimos; vós nutris; eles/elas nutrem.
travessa”. – Verbos irregulares: os verbos irregulares, ao contrário dos
regulares, têm seu radical modificado quando conjugados e/ou
O número dos adjetivos têm desinência diferente da apresentada pelo verbo paradigma.
Por concordarem com o número do substantivo a que se Exemplo: analise o verbo dizer conjugado no pretérito perfeito
referem, os adjetivos podem estar no singular ou no plural. Assim, do indicativo: Eu disse; tu dissestes; ele/ela disse; nós dissemos;
a sua composição acompanha os substantivos. Exemplos: pessoa vós dissestes; eles/elas disseram. Nesse caso, o verbo da segunda
instruída → pessoas instruídas; campo formoso → campos conjugação (-er) tem seu radical, diz, alterado, além de apresentar
formosos. duas desinências distintas do verbo paradigma”. Se o verbo dizer
fosse regular, sua conjugação no pretérito perfeito do indicativo
O grau dos adjetivos seria: dizi, dizeste, dizeu, dizemos, dizestes, dizeram.
Quanto ao grau, os adjetivos se classificam em comparativo
(compara qualidades) e superlativo (intensifica qualidades). FLEXÃO VERBAL
– Comparativo de igualdade: “O novo emprego é tão bom
quanto o anterior.”   1) Número: singular ou plural
– Comparativo de superioridade: “Maria é mais prestativa do Ex.: ando, andas, anda → singular
que Luciana.” andamos, andais, andam → plural
– Comparativo de inferioridade: “O gerente está menos atento
do que a equipe.”    2) Pessoas: são três.
– Superlativo absoluto: refere-se a apenas um substantivo, a) A primeira é aquela que fala; corresponde aos pronomes eu
podendo ser: (singular) e nós (plural).
• Analítico: “A modelo é extremamente bonita.” Ex.: escreverei, escreveremos.
• Sintético: “Pedro é uma pessoa boníssima.”
– Superlativo relativo: refere-se a um grupo, podendo ser de: b) A segunda é aquela com quem se fala; corresponde aos pro-
• Superioridade - “Ela é a professora mais querida da escola.” nomes tu (singular) e vós (plural).
• Inferioridade - “Ele era o menos disposto do grupo.”   Ex.: escreverás, escrevereis.

Pronome adjetivo c) A terceira é aquela acerca de quem se fala; corresponde aos


Recebem esse nome porque, assim como os adjetivos, esses pronomes ele ou ela (singular) e eles ou elas (plural).
pronomes alteram os substantivos aos quais se referem. Assim, Ex.: escreverá, escreverão.
esse tipo de pronome flexiona em gênero e número para fazer
concordância com os substantivos. Exemplos: “Esta professora é 3) Modos: são três.
a mais querida da escola.” (o pronome adjetivo esta determina o a) Indicativo: apresenta o fato verbal de maneira positiva, indu-
substantivo comum professora). bitável. Ex.: vendo.

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b) Subjuntivo: apresenta o fato verbal de maneira duvidosa, hi- 2) Negativo: sai do presente do subjuntivo mais a palavra não.
potética. Ex.: que eu venda. Ex.: beba
bebas → não bebas (tu)
c) Imperativo: apresenta o fato verbal como objeto de uma or- beba → não beba (você)
dem. Ex.: venda! bebamos → não bebamos (nós)
bebais → não bebais (vós)
4) Tempos: são três. bebam → não bebam (vocês)
a) Presente: falo Assim, temos: não bebas, não beba, não bebamos, não bebais,
não bebam.
b) Pretérito:
- Perfeito: falei Observações:
- Imperfeito: falava a) No imperativo não existe a primeira pessoa do singular, eu; a
- Mais-que-perfeito: falara terceira pessoa é você.

Obs.: O pretérito perfeito indica uma ação extinta; o imperfei- b) O verbo ser não segue a regra nas pessoas que saem do pre-
to, uma ação que se prolongava num determinado ponto do pas- sente do indicativo. Eis o seu imperativo:
sado; o mais-que-perfeito, uma ação passada em relação a outra - Afirmativo: sê, seja, sejamos, sede, sejam.
ação, também passada. Ex.: - Negativo: não sejas, não seja, não sejamos, não sejais, não
Eu cantei aquela música. (perfeito) sejam.
Eu cantava aquela música. (imperfeito)
Quando ele chegou, eu já cantara. (mais-que-perfeito) c) O tratamento dispensado a alguém numa frase não pode
mudar. Se começamos a tratar a pessoa por você, não podemos
c) Futuro: passar para tu, e vice-versa.
- Do presente: estudaremos Ex.: Pede agora a tua comida. (tratamento: tu)
- Do pretérito: estudaríamos Peça agora a sua comida. (tratamento: você)

Obs.: No modo subjuntivo, com relação aos tempos simples, d) Os verbos que têm z no radical podem, no imperativo afir-
temos apenas o presente, o pretérito imperfeito e o futuro (sem mativo, perder também a letra e que aparece antes da desinência s.
divisão). Os tempos compostos serão estudados mais adiante. Ex.: faze (tu) ou faz (tu)
dize (tu) ou diz (tu)
5) Vozes: são três.
a) Ativa: o sujeito pratica a ação verbal. e) Procure ter “na ponta da língua” a formação e o emprego do
Ex.: O carro derrubou o poste. imperativo. É assunto muito cobrado em concursos públicos.

b) Passiva: o sujeito sofre a ação verbal. Tempos Primitivos e Tempos Derivados


- Analítica ou verbal: com o particípio e um verbo auxiliar. 1) O presente do indicativo é tempo primitivo. Da primeira pes-
Ex.: O poste foi derrubado pelo carro. soa do singular sai todo o presente do subjuntivo.
Ex.: digo → que eu diga, que tu digas, que ele diga etc.
- Sintética ou pronominal: com o pronome apassivador se. dizes
Ex.: Derrubou-se o poste. diz
Obs.: isso não ocorre apenas com os poucos verbos que não
Obs.: Estudaremos bem o pronome apassivador (ou partícula apresentam a desinência o na primeira pessoa do singular.
apassivadora) na sétima lição: concordância verbal. Ex.: eu sou → que eu seja.
eu sei → que eu saiba.
c) Reflexiva: o sujeito pratica e sofre a ação verbal; aparece um
pronome reflexivo. Ex.: O garoto se machucou. 2) O pretérito perfeito é tempo primitivo. Da segunda pessoa
do singular saem:
Formação do Imperativo
1) Afirmativo: tu e vós saem do presente do indicativo menos a a) o mais-que-perfeito.
letra s; você, nós e vocês, do presente do subjuntivo. Ex.: coubeste → coubera, couberas, coubera, coubéramos,
Ex.: Imperativo afirmativo do verbo beber coubéreis, couberam.
Bebo → beba
bebes → bebe (tu) bebas b) o imperfeito do subjuntivo.
bebe beba → beba (você) Ex.: coubeste → coubesse, coubesses, coubesse, coubéssemos,
bebemos bebamos → bebamos (nós) coubésseis, coubessem.
bebeis → bebei (vós) bebais
bebem bebam → bebam (vocês) c) o futuro do subjuntivo.
Reunindo, temos: bebe, beba, bebamos, bebei, bebam. Ex.: coubeste → couber, couberes, couber, coubermos, couber-
des, couberem.

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3) Do infinitivo impessoal derivam: 4) Rever, prever, antever etc.: seguem integralmente o verbo
ver.
a) o imperfeito do indicativo. Ex.: vi → revi, previ etc.
Ex.: caber → cabia, cabias, cabia, cabíamos, cabíeis, cabiam. víssemos → prevíssemos, antevíssemos etc.

b) o futuro do presente. Observações:


Ex.: caber → caberei, caberás, caberá, caberemos, cabereis, - Como se vê nesses quatro itens iniciais, o verbo derivado se-
caberão. gue a conjugação do seu primitivo. Basta conjugar o verbo primitivo
e recolocar o prefixo. Há outros verbos que dão origem a verbos
c) o futuro do pretérito. derivados. Por exemplo, dizer, haver e fazer. Para eles, vale a mesma
Ex.: caber → caberia, caberias, caberia, caberíamos, caberíeis, regra explicada acima.
caberiam. Ex.: eu houve → eu reouve (e não reavi, como normalmente se
fala por aí).
d) o infinitivo pessoal.
Ex.: caber → caber, caberes, caber, cabermos, caberdes, cabe- - Requerer e prover não seguem integralmente os verbos que-
rem. rer e ver. Eles serão mostrados mais adiante.

e) o gerúndio. 5) Crer, no pretérito perfeito do indicativo: cri, creste, creu, cre-


Ex.: caber → cabendo. mos, crestes, creram.

f) o particípio. 6) Estourar, roubar, aleijar, inteirar etc.: mantém o ditongo fe-


Ex.: caber → cabido. chado em todos os tempos, inclusive o presente do indicativo. Ex.: A
bomba estoura. (e não estóra, como normalmente se diz).
Tempos Compostos
Formam-se os tempos compostos com o verbo auxiliar (ter ou 7) Aderir, competir, preterir, discernir, concernir, impelir, expe-
haver) mais o particípio do verbo que se quer conjugar. lir, repelir:
a) presente do indicativo: adiro, aderes, adere, aderimos, ade-
1) Perfeito composto: presente do verbo auxiliar mais particí- rimos, aderem.
pio do verbo principal.
Ex.: tenho falado ou hei falado → perfeito composto do indica- b) presente do subjuntivo: adira, adiras, adira, adiramos, adi-
tivo tenha falado ou haja falado → perfeito composto do subjuntivo. rais, adiram.

2) Mais-que-perfeito composto: imperfeito do auxiliar mais Obs.: Esses verbos mudam o e do infinitivo para i na primeira
particípio do principal. pessoa do singular do presente do indicativo e em todas do presen-
Ex.: tinha falado → mais-que-perfeito composto do indicativo. te do subjuntivo.
tivesse falado → mais-que-perfeito composto do subjuntivo.
8) Aguar, desaguar, enxaguar, minguar:
3) Demais tempos: basta classificar o verbo auxiliar. a) presente do indicativo: águo, águas, água; enxáguo, enxá-
Ex.: terei falado → futuro do presente composto (terei é futuro guas, enxágua.
do presente).
b) presente do subjuntivo: águe, águes, águe; enxágue, enxá-
Verbos Irregulares Comuns em Concursos gues, enxágue.
É importante saber a conjugação dos verbos que seguem. Eles
estão conjugados apenas nas pessoas, tempos e modos mais pro- 9) Arguir, no presente do indicativo: arguo, argúis, argúi, argui-
blemáticos. mos, arguis, argúem.
1) Compor, repor, impor, expor, depor etc.: seguem integral-
mente o verbo pôr. 10) Apaziguar, averiguar, obliquar, no presente do subjuntivo:
Ex.: ponho → componho, imponho, deponho etc. apazigúe, apazigúes, apazigúe, apaziguemos, apazigueis, apazi-
pus → compus, repus, expus etc. gúem.

2) Deter, conter, reter, manter etc.: seguem integralmente o 11) Mobiliar:


verbo ter. a) presente do indicativo: mobílio, mobílias, mobília, mobilia-
Ex.: tivermos → contivermos, mantivermos etc. mos, mobiliais, mobíliam.
tiveste → retiveste, mantiveste etc.
b) presente do subjuntivo: mobílie, mobílies, mobílie, mobilie-
3) Intervir, advir, provir, convir etc.: seguem integralmente o mos, mobilieis, mobíliem.
verbo vir.
Ex.: vierem → intervierem, provierem etc.
vim → intervim, convim etc.

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12) Polir, no presente do indicativo: pulo, pules, pule, polimos, polis, pulem.

13) Passear, recear, pentear, ladear (e todos os outros terminados em ear)


a) presente do indicativo: passeio, passeias, passeia, passeamos, passeais, passeiam.
b) presente do subjuntivo: passeie, passeies, passeie, passeemos, passeeis, passeiem.

Observações:
- Os verbos desse grupo (importantíssimo) apresentam o ditongo ei nas formas rizotônicas, mas apenas nos dois presentes.
- Os verbos estrear e idear apresentam ditongo aberto.
Ex.: estreio, estreias, estreia; ideio, ideias, ideia.

14) Confiar, renunciar, afiar, arriar etc.: verbos regulares.


Ex.: confio, confias, confia, confiamos, confiais, confiam.

Observações:
- Esses verbos não têm o ditongo ei nas formas rizotônicas.

- Mediar, ansiar, remediar, incendiar, odiar e intermediar, apesar de terminarem em iar, apresentam o ditongo ei.
Ex.: medeio, medeias, medeia, mediamos, mediais, medeiam, medeie, medeies, medeie, mediemos, medieis, medeiem.

15) Requerer: só é irregular na 1ª pessoa do singular do presente do indicativo e, consequentemente, em todo o presente do subjun-
tivo.
Ex.: requeiro, requeres, requer
requeira, requeiras, requeira
requeri, requereste, requereu

16) Prover: conjuga-se como verbo regular no pretérito perfeito, no mais-que-perfeito, no imperfeito do subjuntivo, no futuro do
subjuntivo e no particípio; nos demais tempos, acompanha o verbo ver.
Ex.: Provi, proveste, proveu; provera, proveras, provera; provesse, provesses, provesse etc.
provejo, provês, provê; provia, provias, provia; proverei, proverás, proverá etc.

17) Reaver, precaver-se, falir, adequar, remir, abolir, colorir, ressarcir, demolir, acontecer, doer são verbos defectivos. Estude o que
falamos sobre eles na lição anterior, no item sobre a classificação dos verbos. Ex.: Reaver, no presente do indicativo: reavemos, reaveis.

— Pronome
O pronome tem a função de indicar a pessoa do discurso (quem fala, com quem se fala e de quem se fala), a posse de um objeto
e sua posição. Essa classe gramatical é variável, pois flexiona em número e gênero. Os pronomes podem suplantar o substantivo ou
acompanhá-lo; no primeiro caso, são denominados “pronome substantivo” e, no segundo, “pronome adjetivo”. Classificam-se em:
pessoais, possessivos, demonstrativos, interrogativos, indefinidos e relativos.

Pronomes pessoais
Os pronomes pessoais apontam as pessoas do discurso (pessoas gramaticais), e se subdividem em pronomes do caso reto
(desempenham a função sintática de sujeito) e pronomes oblíquos (atuam como complemento), sendo que, para cada o caso reto, existe
um correspondente oblíquo.

CASO RETO CASO OBLÍQUO


Eu Me, mim, comigo.
Tu Te, ti, contigo.
Ele Se, o, a , lhe, si, consigo.
Nós Nós, conosco.
Vós Vós, convosco.
Eles Se, os, as, lhes, si, consigo.

Observe os exemplos:
– Na frase “Maria está feliz. Ela vai se casar.”, o pronome cabível é do caso reto. Quem vai se casar? Maria.  
– Na frase “O forno? Desliguei-o agora há pouco. O pronome “o” completa o sentido do verbo. Fechei o que? O forno.
Lembrando que os pronomes oblíquos o, a, os, as, lo, la, los, las, no, na, nos e nas desempenham apenas a função de objeto direto.  
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Pronomes possessivos
Esses pronomes indicam a relação de posse entre o objeto e a pessoa do discurso.

PESSOA DO DISCURSO PRONOME


1 pessoa – Eu
a
Meu, minha, meus, minhas
2 pessoa – Tu
a
Teu, tua, teus, tuas
3 pessoa – Ele / Ela
a
Seu, sua, seus, suas

Exemplo: “Nossos filhos cresceram.” → o pronome indica que o objeto pertence à 1ª pessoa (nós).

Pronomes de tratamento
Tratam-se de termos solenes que, em geral, são empregados em contextos formais — a única exceção é o pronome você. Eles têm a
função de promover uma referência direta do locutor para interlocutor (parceiros de comunicação).
São divididos conforme o nível de formalidade, logo, para cada situação, existe um pronome de tratamento específico. Apesar de
expressarem interlocução (diálogo), à qual seria adequado o emprego do pronome na segunda pessoa do discurso (“tu”), no caso dos
pronomes de tratamento, os verbos devem ser usados na 3a pessoa.

Pronomes demonstrativos
Sua função é indicar a posição dos seres no que se refere ao tempo, ao espaço e à pessoa do discurso – nesse último caso, o pronome
determina a proximidade entre um e outro. Esses pronomes flexionam-se em gênero e número.

PESSOA DO DISCURSO PRONOMES POSIÇÃO

Os seres ou objetos estão


1a pessoa Este, esta, estes, estas, isto.
próximos da pessoa que fala.

Os seres ou objetos estão


2a pessoa Esse, essa, esses, essas, isso. próximos da pessoa com
quem se fala.

Aquele, aquela, aqueles,


3a pessoa De quem/ do que se fala.
aquelas, aquilo.

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Observe os exemplos:
“Esta caneta é sua?”
“Esse restaurante é bom e barato.”

Pronomes Indefinidos
Esses pronomes indicam indeterminação ou imprecisão, assim, estão sempre relacionados à 3ª pessoa do discurso. Os pronomes
indefinidos podem ser variáveis (flexionam conforme gênero e número) ou invariáveis (não flexionam). Analise os exemplos abaixo:
– Em “Alguém precisa limpar essa sujeira.”, o termo “alguém” quer dizer uma pessoa de identidade indefinida ou não especificada.
– Em “Nenhum convidado confirmou presença.”, o termo “nenhum” refere-se ao substantivo “convidado” de modo vago, pois não se
sabe de qual convidado se trata.
– Em “Cada criança vai ganhar um presente especial.”, o termo “cada” refere-se ao substantivo da frase “criança”, sem especificá-lo.
– Em “Outras lojas serão abertas no mesmo local.”, o termo “outras” refere-se ao substantivo “lojas” sem especificar de quais lojas se
trata.
Confira abaixo a tabela com os pronomes indefinidos:

CLASSIFICAÇÃO PRONOMES INDEFINIDOS

Muito, pouco, algum, nenhum, outro, qualquer, certo,


VARIÁVEIS
um, tanto, quanto, bastante, vários, quantos, todo.

Nada, ninguém, cada, algo, alguém, quem, demais,


INVARIÁVEIS
outrem, tudo.

Pronomes relativos
Os pronomes relativos, como sugere o nome, se relacionam ao termo anterior e o substituem, ou seja, para prevenir a repetição
indevida das palavras em um texto. Eles podem ser variáveis (o qual, cujo, quanto) ou invariáveis (que, quem, onde).
Observe os exemplos:
– Em “São pessoas cuja história nos emociona.”, o pronome “cuja” se apresenta entre dois substantivos (“pessoas” e “história”) e se
relaciona àquele que foi dito anteriormente (“pessoas”).
– Em “Os problemas sobre os quais conversamos já estão resolvidos.” , o pronome “os quais” retoma o substantivo dito anteriormente
(“problemas”).

CLASSIFICAÇÃO PRONOMES RELATIVOS


O qual, a qual, os quais, cujo, cuja, cujos, cujas, quanto,
VARIÁVEIS
quanta, quantos, quantas.
INVARIÁVEIS Quem, que, onde.

Pronomes interrogativos
Os pronomes interrogativos são palavras variáveis e invariáveis cuja função é formular perguntas diretas e indiretas. Exemplos:
“Quanto vai custar a passagem?” (oração interrogativa direta)
“Gostaria de saber quanto custará a passagem.” (oração interrogativa indireta)

CLASSIFICAÇÃO PRONOMES INTERROGATIVOS


VARIÁVEIS Qual, quais, quanto, quantos, quanta, quantas.
INVARIÁVEIS Quem, que.

— Advérbio
É a classe de palavras invariável que atua junto aos verbos, aos adjetivos e mesmo aos advérbios, com o objetivo de modificar ou
intensificar seu sentido, ao adicionar-lhes uma nova circunstância. De modo geral, os advérbios exprimem circunstâncias de tempo, modo,
vlugar, qualidade, causa, intensidade, oposição, aprovação, afirmação, negação, dúvida, entre outras noções. Confira na tabela:

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CLASSIFICAÇÃO PRINCIPAIS TERMOS EXEMPLOS


Bem, mal, assim, melhor, pior,
“Coloquei-o cuidadosamente
depressa, devagar. Grande parte
no berço.”
ADVÉRBIO DE MODO das palavras que terminam em
“Andou depressa por causa
“-mente”, como cuidadosamente,
da chuva.”
calmamente, tristemente.
“O carro está fora.”
“Procurei pelas chaves aqui e
Perto, longe, dentro, fora, acolá, mas elas estavam aqui, na
ADVÉRBIO DE LUGAR
aqui, lá, atrás. gaveta”
“Demorou, mas chegou
longe.”
Antes, depois, hoje, ontem, “Sempre que precisar de
ADVÉRBIO DE TEMPO amanhã, sempre, nunca, cedo, algo, basta chamar-me.” “Cedo ou
tarde tarde, far-se-á justiça.”
“Eles formam um casal tão
Muito, pouco, bastante, tão, bonito!”
ADVÉRBIO DE INTENSIDADE
demais, tanto “Elas conversam demais!”
“Você saiu muito depressa.”
Sim e decerto; palavras
afirmativas com sufixo “-mente”
“Decerto passaram por aqui.”
(certamente, realmente). Palavras
ADVÉRBIO DE AFIRMAÇÃO “Claro que irei!”
como claro e positivo podem
“Entendi, sim.”
ser advérbio, dependendo do
contexto
Não e nem; palavras como
“Jamais reatarei meu namoro
negativo, nenhum, nunca, jamais,
com ele.”
ADVÉRBIO DE NEGAÇÃO entre outras, podem ser advér-
“Sequer pensou para falar.”
bio de negação, dependendo do
“Não pediu ajuda.”
contexto.
Talvez, quiçá, porventura, e “Quiçá seremos recebidas.”
palavras que expressem dúvida, “Provavelmente, sairei mais
ADVÉRBIO DE DÚVIDA
acrescidas do sufixo “: -mente”, cedo.”
como possivelmente. “Talvez eu saia cedo.”
“Por que vendeu o livro?”
(Oração interrogativa direta, que
Quando, como, onde, aonde,
indica causa)
donde, por que; esse advérbio
“Quando posso sair?” (oração
ADVÉRBIO DE INTERROGA- pode indicar circunstâncias de
interrogativa direta que indica
ÇÃO modo, tempo, lugar e causa; é
tempo)
usado somente em frases interro-
“Explica como você fez is-
gativas diretas ou indiretas.
so.”(oração interrogativa indireta,
que indica modo.

— Conjunção
As conjunções integram a classe de palavras que tem a função de conectar os elementos de um enunciado ou oração e, com isso,
estabelecer uma relação de dependência ou de independência entre os termos ligados. Em função dessa relação entre os termos
conectados, as conjunções podem ser classificadas, respectivamente e de modo geral, como coordenativas ou subordinativas. Em outras
palavras, as conjunções são um vínculo entre os elementos de uma sentença, atribuindo ao enunciado maior clareza e precisão.

– Conjunções coordenativas: observe o exemplo:


Eles ouviram os pedidos de ajuda. Eles chamaram o socorro.” – “Eles ouviram os pedidos de ajuda e chamaram o socorro.”
No exemplo, a conjunção “e” estabelece uma relação de adição ao enunciado, ao conectar duas orações em um mesmo período: além
de terem ouvido os pedidos de ajuda, chamaram o socorro. Perceba que não há relação de dependência entre ambas as sentenças, e que,
para fazerem sentido, elas não têm necessidade uma da outra. Assim, classificam-se como orações coordenadas, e a conjunção que as
relaciona, como coordenativa.
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– Conjunções subordinativas: analise este segundo caso:


Não passei na prova, apesar de ter estudado muito.”

Neste caso, temos uma locução conjuntiva (duas palavras desempenham a função de conjunção). Além disso, notamos que o sentido
da segunda sentença é totalmente dependente da informação que é dada na primeira. Assim, a primeira oração recebe o nome de oração
principal, enquanto a segunda, de oração subordinada. Logo, a conjunção que as relaciona é subordinativa.

Classificação das conjunções


Além da classificação que se baseia no grau de dependência entre os termos conectados (coordenação e subordinação), as conjunções
possuem subdivisões.
– Conjunções coordenativas: essas conjunções se reclassificam em razão do sentido que possuem cinco subclassificações, em função
o sentido que estabelecem entre os elementos que ligam. São cinco:

Conjunções subordinativas: com base no sentido construído entre as duas orações relacionadas, a conjunção subordinativa pode ser
de dois subtipos:
1 – Conjunções integrantes: introduzem a oração que cumpre a função de sujeito, objeto direto, objeto indireto, predicativo,
complemento nominal ou aposto de outra oração. Essas conjunções são que e se. Exemplos:
“É obrigatório que o senhor compareça na data agendada.”
“Gostaria de saber se o resultado sairá ainda hoje.”

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2 – Conjunções adverbiais: introduzem sintagmas adverbiais (orações que indicam uma circunstância adverbial relacionada à oração
principal) e se subdividem conforme a tabela abaixo:

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Numeral
É a classe de palavra variável que exprime um número determinado ou a colocação de alguma coisa dentro de uma sequência.
Os numerais podem ser: cardinais (um, dois, três...), ordinais (primeiro, segundo, terceiro...), fracionários (meio, terço, quarto...) e
multiplicativos (dobro, triplo, quádruplo...). Antes de nos profundarmos em cada caso, vejamos o emprego dos numerais e suas três
principais finalidades:
1 – indicar leis e decretos: nesses casos, emprega-se o numeral ordinal somente até o número nono; após, devem ser utilizados os
numerais cardinais. Exemplos: Parágrafo 9° (parágrafo nono); Parágrafo 10° (Parágrafo 10).
2 – indicar os dias do mês: nessas situações, empregam-se os numerais cardinais, sendo que a única exceção é a indicação do primeiro
dia do mês, para a qual deve-se utilizar o numeral ordinal. Exemplos: dezesseis de outubro; primeiro de agosto.
3 – indicar capítulos, séculos, reis e papas: após o substantivo emprega-se o numeral ordinal até o décimo; após o décimo utiliza-se o
numeral cardinal. Exemplos: capítulo X (décimo); século IV (quarto); Henrique VIII (oitavo), Bento XVI (dezesseis).

Os tipos de numerais
– Cardinais: são os números em sua forma fundamental e exprimem quantidades.
Exemplos: um dois, dezesseis, trinta, duzentos, mil.
– alguns deles flexionam em gênero (um/uma, dois/duas, quinhentos/quinhentas).
– alguns números cardinais variam em número, como é o caso: milhão/milhões, bilhão/bilhões, trilhão/trilhões, e assim por diante.
– a palavra ambos(as) é considerada um numeral cardinal, pois significa os dois/as duas. Exemplo: Antônio e Pedro fizeram o teste,
mas os dois/ambos foram reprovados.
– Ordinais: indicam ordem de uma sequência (primeiro, segundo, décimo, centésimo, milésimo…), isto é, apresentam a ordem de
sucessão e uma série, seja ela de seres, de coisas ou de objetos.
– os numerais ordinais variam em gênero (masculino e feminino) e número (singular e plural). Exemplos: primeiro/primeira, primeiros/
primeiras, décimo/décimos, décima/décimas, trigésimo/trigésimos, trigésima/trigésimas.
– alguns numerais ordinais possuem o valor de adjetivo. Exemplo: A carne de segunda está na promoção.
– Fracionários: servem para indicar a proporções numéricas reduzidas, ou seja, para representar uma parte de um todo. Exemplos:
meio ou metade (½), um quarto (um quarto (¼), três quartos (¾), 1/12 avos.
– os números fracionários flexionam-se em gênero (masculino e feminino) e número (singular e plural). Exemplos: meio copo de leite,
meia colher de açúcar; dois quartos do salário-mínimo.
– Multiplicativos: esses numerais estabelecem relação entre um grupo, seja de coisas ou objetos ou coisas, ao atribuir-lhes uma
característica que determina o aumento por meio dos múltiplos. Exemplos: dobro, triplo, undécuplo, doze vezes, cêntuplo.
– em geral, os multiplicativos são invariáveis, exceto quando atuam como adjetivo, pois, nesse caso, passam a flexionar número e
gênero (masculino e feminino). Exemplos: dose dupla de elogios, duplos sentidos.
– Coletivos: correspondem aos substantivos que exprimem quantidades precisas, como dezena (10 unidades) ou dúzia (12 unidades).
– os numerais coletivos sofrem a flexão de número: unidade/unidades, dúzia/dúzias, dezena/dezenas, centena/centenas.

— Preposição
Essa classe de palavras tem o objetivo de marcar as relações gramaticais que outras classes (substantivos, adjetivos, verbos e advérbios)
exercem no discurso. Por apenas marcarem algumas relações entre as unidades linguísticas dentro do enunciado, as preposições não
possuem significado próprio se isoladas no discurso. Em razão disso, as preposições são consideradas classe gramatical dependente, ou
seja, sua função gramatical (organização e estruturação) é principal, embora o desempenho semântico, que gera significado e sentido,
esteja presente, apenas possui um menor valor.

Classificação das preposições


Preposições essenciais: só aparecem na língua propriamente como preposições, sem outra função. São elas:

– Exemplo 1) ”Luís gosta de viajar.” e “Prefiro doce de coco.” Em ambas as sentenças, a preposição de manteve-se sempre sendo
preposição, apesar de ter estabelecido relação entre unidades linguísticas diferentes, garantindo-lhes classificações distintas conforme o
contexto.
– Exemplo 2) “Estive com ele até o reboque chegar.” e “Finalizei o quadro com textura.” Perceba que nas duas fases, a mesma preposição
tem significados distintos: na primeira, indica recurso/instrumento; na segunda, exprime companhia. Por isso, afirma-se que a preposição
tem valor semântico, mesmo que secundário ao valor estrutural (gramática).

Classificação das preposições


– Preposições acidentais: são aquelas que, originalmente, não apresentam função de preposição, porém, a depender do contexto,
podem assumir essa atribuição. São elas:

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Os tipos de interjeição
De acordo com as reações que expressam, as interjeições
podem ser de:
Exemplo: ”Segundo o delegado, os depoimentos do
suspeito apresentaram contradições.” A palavra “segundo”, que,
normalmente seria um numeral (primeiro, segundo, terceiro), ao
ser inserida nesse contexto, passou a ser uma preposição acidental,
por tem o sentido de “de acordo com”, “em conformidade com”.

Locuções prepositivas
Recebe esse nome o conjunto de palavras com valor e
emprego de uma preposição. As principais locuções prepositivas
são constituídas por advérbio ou locução adverbial acrescido da
preposição de, a ou com. Confira algumas das principais locuções
prepositivas.

ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PALAVRAS

As palavras são formadas por estruturas menores, com signifi-


cados próprios. Para isso, há vários processos que contribuem para
a formação das palavras.

Estrutura das palavras


As palavras podem ser subdivididas em estruturas significativas
menores - os morfemas, também chamados de elementos mórfi-
cos:
— Interjeição – radical e raiz;
É a palavra invariável ou sintagma que compõem frases que – vogal temática;
manifestam por parte do emissor do enunciado uma surpresa, uma – tema;
hesitação, um susto, uma emoção, um apelo, uma ordem, etc., – desinências;
por parte do emissor do enunciado. São as chamadas unidades – afixos;
autônomas, que usufruem de independência em relação aos demais – vogais e consoantes de ligação.
elementos do enunciado. As interjeições podem ser empregadas
também para chamar exigir algo ou para chamar a atenção do Radical: Elemento que contém a base de significação do vocá-
interlocutor e são unidades cuja forma pode sofrer variações como: bulo.
– Locuções interjetivas: são formadas por grupos e palavras Exemplos
que, associadas, assumem o valor de interjeição. Exemplos: “Ai de VENDer, PARTir, ALUNo, MAR.
mim!”, “Minha nossa!” Cruz credo!”.
– Palavras da língua: “Eita!” “Nossa!” Desinências: Elementos que indicam as flexões dos vocábulos.
– Sons vocálicos: “Hum?!”, “Ué!”, “Ih…!”
Dividem-se em:

Nominais
Indicam flexões de gênero e número nos substantivos.
Exemplos
pequenO, pequenA, alunO, aluna.
pequenoS, pequenaS, alunoS, alunas.

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Verbais
Indicam flexões de modo, tempo, pessoa e número nos verbos
Exemplos
vendêSSEmos, entregáRAmos. (modo e tempo)
vendesteS, entregásseIS. (pessoa e número)

Indica, nos verbos, a conjugação a que pertencem.


Exemplos
1ª conjugação: – A – cantAr
2ª conjugação: – E – fazEr
3ª conjugação: – I – sumIr

Observação
Nos substantivos ocorre vogal temática quando ela não indica oposição masculino/feminino.
Exemplos
livrO, dentE, paletó.

Tema: União do radical e a vogal temática.


Exemplos
CANTAr, CORREr, CONSUMIr.

Vogal e consoante de ligação: São os elementos que se interpõem aos vocábulos por necessidade de eufonia.
Exemplos
chaLeira, cafeZal.

Visão geral: a formação de palavras que integram o léxico da língua baseia-se em dois principais processos morfológicos (combinação
de morfemas): a derivação e a composição.
Derivação: é a formação de uma nova palavra (palavra derivada) com base em uma outra que já existe na língua (palavra primitiva ou
radical).

1 – Prefixal por prefixação: um prefixo ou mais são adicionados à palavra primitiva.

PREFIXO PALAVRA PRIMITIVA PALAVRA DERIVADA


inf fiel infiel
sobre carga sobrecarga

2 – Sufixal ou por sufixação: é a adição de sufixo à palavra primitiva.

PALAVRA
SUFIXO PALAVRA DERIVADA
PRIMITIVA
gol leiro goleiro
feliz mente felizmente

3 – Prefixal e sufixal: nesse tipo, a presença do prefixo ou do sufixo à palavra primitiva já é o suficiente para formação de uma nova
palavra.

PREFIXO PALAVRA PRIMITIVA SUFIXO PALAVRA DERIVADA


inf feliz – Infeliz
– feliz mente Felizmente
des igual – desigual
– igual dade igualdade

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4 – Parassintética: também consiste na adição de prefixo e sufixo à palavra primitiva, porém, diferentemente do tipo anterior, para
existência da nova palavra, ambos os acréscimos são obrigatórios. Esse processo parte de substantivos e adjetivos para originar um verbo.

PREFIXO PALAVRA PRIMITIVA SUFIXO PALAVRA DERIVADA


em pobre cer empobrecer
em trist ecer estristecer

5 – Regressiva: é a remoção da parte final de uma palavra primitiva para, dessa forma, obter uma palavra derivada. Esse origina
substantivos a partir de formas verbais que expressam uma ação. Essas novas palavras recebem o nome de deverbais. Tal composição
ocorre a partir da substituição da terminação verbal formada pela vogal temática + desinência de infinitivo (“–ar” ou “–er”) por uma das
vogais temáticas nominais (-a, -e,-o).”

VERBO RADICAL DESINÊNCIA VOGAL TEMÁTICA SUBSTANTIVO


debater debat er e debate
sustentar sustent ar o sustento
vender vend er a venda

6 – Imprópria (ou conversão): é o processo que resulta na mudança da classe gramatical de uma palavra primitiva, mas não modifica
sua forma. Exemplo: a palavra jantar pode ser um verbo na frase “Convidaram-me para jantar”, mas também pode ser um substantivo na
frase “O jantar estava maravilhoso”.

Composição: é o processo de formação de palavra a partir da junção de dois ou mais radicais. A composição pode se realizar por
justaposição ou por aglutinação.   
– Justaposição: na junção, não há modificação dos radicais. Exemplo: passa + tempo - passatempo; gira + sol = girassol.  
– Aglutinação: existe alteração dos radicais na sua junção. Exemplo: em + boa + hora = embora; desta + arte = destarte.

SIGNIFICAÇÃO DE VOCÁBULOS.

Visão Geral: o significado das palavras é objeto de estudo da semântica, a área da gramática que se dedica ao sentido das palavras e
também às relações de sentido estabelecidas entre elas.

Denotação e conotação
Denotação corresponde ao sentido literal e objetivo das palavras, enquanto a conotação diz respeito ao sentido figurado das palavras.
Exemplos:
“O gato é um animal doméstico.”
“Meu vizinho é um gato.”

No primeiro exemplo, a palavra gato foi usada no seu verdadeiro sentido, indicando uma espécie real de animal. Na segunda frase, a
palavra gato faz referência ao aspecto físico do vizinho, uma forma de dizer que ele é tão bonito quanto o bichano.

Hiperonímia e hiponímia
Dizem respeito à hierarquia de significado. Um hiperônimo, palavra superior com um sentido mais abrangente, engloba um hipônimo,
palavra inferior com sentido mais restrito.
Exemplos:
– Hiperônimo: mamífero: – hipônimos: cavalo, baleia.
– Hiperônimo: jogo – hipônimos: xadrez, baralho.

Polissemia e monossemia
A polissemia diz respeito ao potencial de uma palavra apresentar uma multiplicidade de significados, de acordo com o contexto em
que ocorre. A monossemia indica que determinadas palavras apresentam apenas um significado. Exemplos:
– “Língua”, é uma palavra polissêmica, pois pode por um idioma ou um órgão do corpo, dependendo do contexto em que é inserida.
– A palavra “decalitro” significa medida de dez litros, e não tem outro significado, por isso é uma palavra monossêmica.

Sinonímia e antonímia
A sinonímia diz respeito à capacidade das palavras serem semelhantes em significado. Já antonímia se refere aos significados opostos.
Desse modo, por meio dessas duas relações, as palavras expressam proximidade e contrariedade.

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Exemplos de palavras sinônimas: morrer = falecer; rápido = Pode ser modificada para, por exemplo, “Já vai falar a professora.” ,
veloz. sem que haja prejuízo de sentido. No entanto, a construção “Falar a
Exemplos de palavras antônimas: morrer x nascer; pontual x já professora vai.” , apesar da combinação das palavras, não poderá
atrasado. ser compreendida pelo interlocutor.

Homonímia e paronímia Oração


A homonímia diz respeito à propriedade das palavras É uma unidade sintática que se estrutura em redor de um
apresentarem: semelhanças sonoras e gráficas, mas distinção de verbo ou de uma locução verbal. Uma frase pode ser uma oração,
sentido (palavras homônimas), semelhanças homófonas, mas desde que tenha um verbo e um predicado; quanto ao sujeito, nem
distinção gráfica e de sentido (palavras homófonas) semelhanças sempre consta em uma oração, assim como o sentido completo. O
gráficas, mas distinção sonora e de sentido (palavras homógrafas). importante é que seja compreensível pelo receptor da mensagem.
A paronímia se refere a palavras que são escritas e pronunciadas de Analise, abaixo, uma frase que é oração com uma que não é.
forma parecida, mas que apresentam significados diferentes. Veja 1 – Silêncio!”: É uma frase, mas não uma oração, pois não
os exemplos: contém verbo.
– Palavras homônimas: caminho (itinerário) e caminho (verbo 2 – “Eu quero silêncio.”: A presença do verbo classifica a frase
caminhar); morro (monte) e morro (verbo morrer). como oração.
– Palavras homófonas: apressar (tornar mais rápido) e apreçar
(definir o preço); arrochar (apertar com força) e arroxar (tornar Unidade sintática (ou termo sintático): a sintaxe de uma
roxo). oração é formada por cada um dos termos, que, por sua vez,
– Palavras homógrafas: apoio (suporte) e apoio (verbo apoiar); estabelecem relação entre si para dar atribuir sentido à frase. No
boto (golfinho) e boto (verbo botar); choro (pranto) e choro (verbo exemplo supracitado, a palavra “quero” deve unir-se às palavras
chorar) . “Eu” e “silêncio” para que o receptor compreenda a mensagem.
– Palavras parônimas: apóstrofe (figura de linguagem) e Dessa forma, cada palavra desta oração recebe o nome de termo
apóstrofo (sinal gráfico), comprimento (tamanho) e cumprimento ou unidade sintática, desempenhando, cada qual, uma função
(saudação). sintática diferente.

Classificação das orações: as orações podem ser simples ou


DERIVAÇÃO E COMPOSIÇÃO compostas. As orações simples apresentam apenas uma frase; as
compostas apresentam duas ou mais frases na mesma oração.
Analise os exemplos abaixo e perceba que a oração composta tem
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado duas frases, e cada uma tem seu próprio sentido.
em tópicos anteriores. – Oração simples: “Eu quero silêncio.”
– Oração composta: “Eu quero silêncio para poder ouvir o
noticiário”.
A ORAÇÃO E SEUS TERMOS. A ESTRUTURAÇÃO DO PERÍ-
ODO
Período
É a construção composta por uma ou mais orações, sempre com
Definição: sintaxe é a área da Gramática que se dedica ao sentido completo. Assim como as orações, o período também pode
estudo da ordenação das palavras em uma frase, das frases em um ser simples ou composto, que se diferenciam em razão do número
discurso e também da coerência (relação lógica) que estabelecem de orações que apresenta: o período simples contém apenas uma
entre si. Sempre que uma frase é construída, é fundamental que oração, e o composto mais de uma. Lembrando que a oração é uma
ela contenha algum sentido para que possa ser compreendida pelo frase que contém um verbo. Assim, para não ter dúvidas quanto à
receptor. Por fazer a mediação da combinação entre palavras e classificação, basta contar quantos verbos existentes na frase.
orações, a sintaxe é essencial para que essa compreensão se efetive. – Período simples: “Resolvo esse problema até amanhã.” -
Para que se possa compreender a análise sintática, é importante apresenta apenas um verbo.
retomarmos alguns conceitos, como o de frase, oração e período. – Período composto: Resolvo esse problema até amanhã ou
Vejamos: ficarei preocupada.” - contém dois verbos.

Frase — Análise Sintática


Trata-se de um enunciado que carrega um sentido completo É o nome que se dá ao processo que serve para esmiuçar a
que possui sentido integral, podendo ser constituída por somente estrutura de um período e das orações que compõem um período.
uma ou várias palavras podendo conter verbo (frase verbal) ou Termos da oração: é o nome dado às palavras que atribuem
não (frase nominal). Uma frase pode exprimir ideias, sentimentos, sentido a uma frase verbal. A reunião desses elementos forma o
apelos ou ordens. Exemplos: “Saia!”, “O presidente vai fazer seu que chamamos de estrutura de um período. Os termos essenciais
discurso.”, “Atenção!”, “Que horror!”. se subdividem em: essenciais, integrantes e acessórios. Acompanhe
a seguir as especificidades de cada tipo.
A ordem das palavras: associada à pontuação apropriada,
a disposição das palavras na frase também é fundamental para a
compreensão da informação escrita, e deve seguir os padrões da
Língua Portuguesa. Observe que a frase “A professora já vai falar.”
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1 – Termos Essenciais (ou fundamentais) da oração – Verbo de ligação: servem para expressar características de
Sujeito e Predicado: enquanto um é o ser sobre quem/o qual estado ao sujeito, sendo eles: estado permanente (“Pedro é alto.”),
se declara algo, o outro é o que se declara sobre o sujeito e, por estado de transição (“Pedro está acamado.”), estado de mutação
isso, sempre apresenta um verbo ou uma locução verbal, como nos (“Pedro esteve enfermo.”), estado de continuidade (“Pedro continua
respectivos exemplos a seguir: esbelto.”) e estado aparente (“Pedro parece nervoso.”).
Exemplo: em “Fred fez um lindo discurso.”, o sujeito é “Fred”, – Predicados nominais: são aqueles que têm um nome
que “fez um lindo discurso” (é o restante da oração, a declaração (substantivo ou adjetivo) como cujo núcleo significativo da oração.
sobre o sujeito). Ademais, ele se caracteriza pela indicação de estado ou qualidade,
Nem sempre o sujeito está no início da oração (sujeito direto), e é composto por um verbo de ligação mais o predicativo do sujeito.
podendo apresentar-se também no meio da fase ou mesmo após – Predicativo do sujeito: é um termo que atribui características
o predicado (sujeito inverso). Veja um exemplo para cada um dos ao sujeito por meio de um verbo. Exemplo: em “Marta é
respectivos casos: inteligente.”, o adjetivo é o predicativo do sujeito “Marta”, ou seja,
“Fred fez um lindo discurso.” é sua característica de estado ou qualidade. Isso é comprovado pelo
“Um lindo discurso Fred fez.” “ser” (é), que é o verbo de ligação entre Marta e sua característica
“Fez um lindo discurso, Fred.” atual. Esse elemento não precisa ser, obrigatoriamente, um adjetivo,
mas pode ser uma locução adjetiva, ou mesmo um substantivo ou
– Sujeito determinado: é aquele identificável facilmente pela palavra substantivada.
concordância verbal. – Predicado Verbo-Nominal: esse tipo deve apresentar sempre
– Sujeito determinado simples: possui apenas um núcleo um predicativo do sujeito associado a uma ação do sujeito acrescida
ligado ao verbo. Ex.: “Júlia passou no teste”. de uma qualidade sua. Exemplo: “As meninas saíram mais cedo da
– Sujeito determinado composto: possui dois ou mais núcleos. aula. Por isso, estavam contentes.
Ex.: “Júlia e Felipe passaram no teste.” O sujeito “As meninas” possui como predicado o verbo “sair”
e também o adjetivo “contentes”. Logo, “estavam contentes” é o
– Sujeito determinado implícito: não aparece facilmente na predicativo do sujeito e o verbo de ligação é “estar”.
oração, mas a frase é dotada de entendimento. Ex.: “Passamos no
teste.” Aqui, o termo “nós” não está explícito na oração, mas a 2 – Termos integrantes da oração
concordância do verbo o destaca de forma indireta. Basicamente, são os termos que completam os verbos de uma
– Sujeito indeterminado: é o que não está visível na oração oração, atribuindo sentindo a ela. Eles podem ser complementos
e, diferente do caso anterior, não há concordância verbal para verbais, complementos nominais ou mesmo agentes da passiva.
determiná-lo. – Complementos Verbais: como sugere o nome, esses termos
completam o sentido de verbos, e se classificam da seguinte forma:
Esse sujeito pode aparecer com: – Objeto direto: completa verbos transitivos diretos, não
– Verbo na 3a pessoa do plural. Ex.: “Reformaram a casa velha”. exigindo preposição.
– Verbo na 3a pessoa do singular + pronome “se”: “Contrata-se – Objeto indireto: complementam verbos transitivos indiretos,
padeiro.”». isto é, aqueles que dependem de preposição para que seu sentido
– Verbo no infinitivo impessoal: “Vai ser mais fácil se você seja compreendido.
estiver lá.”
Quanto ao objeto direto, podemos ter:
– Orações sem sujeito: são compostas somente por predicado, – Um pronome substantivo: “A equipe que corrigiu as provas.”
e sua mensagem está centralizada no verbo, que é impessoal. – Um pronome oblíquo direto: “Questionei-a sobre o
Essas orações podem ter verbos que constituam fenômenos da acontecido.”
natureza, ou os verbos ser, estar, haver e fazer quando indicativos – Um substantivo ou expressão substantivada: “Ele consertou
de fenômeno meteorológico ou tempo. Observe os exemplos: os aparelhos.»
“Choveu muito ontem”.
“Era uma hora e quinze”. – Complementos Nominais: esses termos completam o sentido
de uma palavra, mas não são verbos; são nomes (substantivos,
– Predicados Verbais: resultam da relação entre sujeito e adjetivos ou advérbios), sempre seguidos por preposição. Observe
verbo, ou entre verbo e complementos. Os verbos, por sua vez, os exemplos:
também recebem sua classificação, conforme abaixo: – “Maria estava satisfeita com seus resultados.” – observe que
– Verbo transitivo: é o verbo que transita, isto é, que vai adiante “satisfeita” é adjetivo, e “com seus resultados” é complemento
para passar a informação adequada. Em outras palavras, é o verbo nominal.
que exige complemento para ser entendido. Para produzir essa – “O entregador atravessou rapidamente pela viela. –
compreensão, esse trânsito do verbo, o complemento pode ser “rapidamente” é advérbio de modo.
direto ou indireto. No primeiro caso, a ligação direta entre verbo e – “Eu tenho medo do cachorro.” – Nesse caso, “medo” é um
complemento. Ex.: “Quero comprar roupas.”. No segundo, verbo e substantivo.
complemento são unidos por preposição. Ex.: “Preciso de dinheiro.”
– Verbo intransitivo: não requer complemento, é provido de
sentido completo. São exemplos: morrer, acordar, nascer, nadar,
cair, mergulhar, correr.

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– Agentes da Passiva: são os termos de uma oração que praticam do discurso. Os vocativos são o receptor da mensagem, ou seja, a
a ação expressa pelo verbo, quando este está na voz passiva. Assim, quem ela é dirigida. Podem ser acompanhados de interjeições de
estão normalmente acompanhados pelas preposições de e por. apelo. Observe:
Observe os exemplos do item anterior modificados para a voz “Ei, moça! Seu documento está pronto!”
passiva: “Senhor, tenha misericórdia de nós!”
– “Os resultados foram motivo de satisfação de Maria.” “Vista o casaco, filha!”
– “O cachorro foi alvo do meu medo.”
– “A viela foi atravessada rapidamente pelo entregador.” — Estudo da relação entre as orações
Os períodos compostos são formados por várias orações.
3 – Termos acessórios da oração As orações estabelecem entre si relações de coordenação ou de
Diversamente dos termos essenciais e integrantes, os termos subordinação.
acessórios não são fundamentais o sentido da oração, mas servem – Período composto por coordenação: é formado por
para complementar a informação, exprimindo circunstância, orações independentes. Apesar de estarem unidas por conjunções
determinando o substantivo ou caracterizando o sujeito. Confira ou vírgulas, as orações coordenadas podem ser entendidas
abaixo quais são eles: individualmente porque apresentam sentidos completos.
– Adjunto adverbial: são os termos que modificam o sentido Acompanhe a seguir a classificação das orações coordenadas:
do verbo, do adjetivo ou do advérbio. Analise os exemplos: – Oração coordenada aditiva: “Assei os salgados e preparei os
“Dormimos muito.” doces.”
– Oração coordenada adversativa: “Assei os salgados, mas não
O termo acessório “muito” classifica o verbo “dormir”. preparei os doces.”
“Ele ficou pouco animado com a notícia.” – Oração coordenada alternativa: “Ou asso os salgados ou
preparo os doces.”
O termo acessório “pouco” classifica o adjetivo “animado” – Oração coordenada conclusiva: “Marta estudou bastante,
“Maria escreve bastante bem.” logo, passou no exame.”
– Oração coordenada explicativa: “Marta passou no exame
O termo acessório “bastante” modifica o advérbio “bem”. porque estudou bastante.”

Os adjuntos adverbiais podem ser: – Período composto por subordinação: são constituídos por
– Advérbios: pouco, bastante, muito, ali, rapidamente longe, etc. orações dependentes uma da outra. Como as orações subordinadas
– Locuções adverbiais: o tempo todo, às vezes, à beira-mar, etc. apresentam sentidos incompletos, não podem ser entendidas
– Orações: «Quando a mercadoria chegar, avise.” (advérbio de de forma separada. As orações subordinadas são divididas em
tempo). substantivas, adverbiais e adjetivas. Veja os exemplos:
– Oração subordinada substantiva subjetiva: “Ficou provado
– Adjunto adnominal: é o termo que especifica o substantivo, que o suspeito era realmente o culpado.”
com função de adjetivo. Em razão disso, pode ser representado – Oração subordinada substantiva objetiva direta: “Eu não
por adjetivos, locuções adjetivas, artigos, numerais adjetivos ou queria que isso acontecesse.”
pronomes adjetivos. Analise o exemplo: – Oração subordinada substantiva objetiva indireta: “É
“O jovem apaixonado presenteou um lindo buquê à sua colega obrigatório de que todos os estudantes sejam assíduos.”
de escola.” – Oração subordinada substantiva completiva nominal: “Tenho
– Sujeito: “jovem apaixonado” expectativa de que os planos serão melhores em breve!”
– Núcleo do predicado verbal: “presenteou” – Oração subordinada substantiva predicativa: “O que importa
– Objeto direto do verbo entregar: “um lindo buquê” é que meus pais são saudáveis.”
– Objeto indireto: “à amiga de classe” – Adjuntos adnominais:
no sujeito, temos o artigo “o” e “apaixonado”, pois caracterizam – Oração subordinada substantiva apositiva: “Apenas saiba
o “jovem”, núcleo do sujeito; o numeral “um” e o adjetivo “lindo” disto: que tudo esteja organizado quando eu voltar!”
fazem referência a “buquê” (substantivo); o artigo “à” (contração – Oração subordinada adverbial causal: “Não posso me
da preposição + artigo feminino) e a locução “de trabalho” são os demorar porque tenho hora marcada na psicóloga.”
adjuntos adnominais de “colega”. – Oração subordinada adverbial consecutiva: “Ficamos tão
felizes que pulamos de alegria.”
– Aposto: é o termo que se relaciona com o sujeito para – Oração subordinada adverbial final: “Eles ficaram vigiando
caracterizá-lo, contribuindo para a complementação uma para que nós chegássemos a casa em segurança.”
informação já completa. Observe os exemplos: – Oração subordinada adverbial temporal: “Assim que eu
“Michael Jackson, o rei do pop, faleceu há uma década.” cheguei, eles iniciaram o trabalho.”
“Brasília, capital do Brasil, foi construída na década de 1950.” – Oração subordinada adverbial condicional: “Se você vier logo,
espero por você.»
– Vocativo: esse termo não apresenta relação sintática nem – Oração subordinada adverbial concessiva: “Ainda que
com sujeito nem com predicado, tendo sua função no chamamento estivesse cansado, concluiu a maratona.”
ou na interpelação de um ouvinte, e se relaciona com a 2a pessoa – Oração subordinada adverbial comparativa: “Marta sentia
como se ainda vivesse no interior.”

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– Oração subordinada adverbial conformativa: “Conforme • No interior da sentença


combinamos anteriormente, entregarei o produto até amanhã.” 1 – Para separar elementos de uma enumeração e repetição:
– Oração subordinada adverbial proporcional: “Quanto mais
me exercito, mais tenho disposição.”
ENUMERAÇÃO
– Oração subordinada adjetiva explicativa: “Meu filho, que
passou no concurso, mudou-se para o interior.” Adicione leite, farinha, açúcar, ovos, óleo e chocolate.
– Oração subordinada adjetiva restritiva: “A aluna que esteve Paguei as contas de água, luz, telefone e gás.
enferma conseguiu ser aprovada nas provas.”

REPETIÇÃO
AS CLASSES DE PALAVRAS: ASPECTOS MORFOLÓGICOS, Os arranjos estão lindos, lindos!
SINTÁTICOS E ESTILÍSTICOS
Sua atitude foi, muito, muito, muito indelicada.

Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado 2 – Isolar o vocativo


em tópicos anteriores. “Crianças, venham almoçar!”
“Quando será a prova, professora?”

LINGUAGEM FIGURADA 3 – Separar apostos


“O ladrão, menor de idade, foi apreendido pela polícia.”
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado
4 – Isolar expressões explicativas:
em tópicos anteriores.
“As CPIs que terminaram em pizza, ou seja, ninguém foi
responsabilizado.”
PONTUAÇÃO
5 – Separar conjunções intercaladas
“Não foi explicado, porém, o porquê das falhas no sistema.”
— Visão Geral
O sistema de pontuação consiste em um grupo de sinais 6 – Isolar o adjunto adverbial anteposto ou intercalado:
gráficos que, em um período sintático, têm a função primordial “Amanhã pela manhã, faremos o comunicado aos funcionários
de indicar um nível maior ou menor de coesão entre estruturas do setor.”
e, ocasionalmente, manifestar as propriedades da fala (prosódias) “Ele foi visto, muitas vezes, vagando desorientado pelas ruas.”
em um discurso redigido. Na escrita, esses sinais substituem os 7 – Separar o complemento pleonástico antecipado:
gestos e as expressões faciais que, na linguagem falada, auxiliam a “Estas alegações, não as considero legítimas.”
compreensão da frase.
O emprego da pontuação tem as seguintes finalidades: 8 – Separar termos coordenados assindéticos (não conectadas
– Garantir a clareza, a coerência e a coesão interna dos diversos por conjunções)
tipos textuais; “Os seres vivos nascem, crescem, reproduzem-se, morrem.”
– Garantir os efeitos de sentido dos enunciados;
– Demarcar das unidades de um texto; 9 – Isolar o nome de um local na indicação de datas:
– Sinalizar os limites das estruturas sintáticas. “São Paulo, 16 de outubro de 2022”.

— Sinais de pontuação que auxiliam na elaboração de um 10 – Marcar a omissão de um termo:


enunciado “Eu faço o recheio, e você, a cobertura.” (omissão do verbo
“fazer”).
Vírgula
De modo geral, sua utilidade é marcar uma pausa do enunciado • Entre as sentenças
para indicar que os termos por ela isolados, embora compartilhem 1 – Para separar as orações subordinadas adjetivas explicativas
da mesma frase ou período, não compõem unidade sintática. Mas, “Meu aluno, que mora no exterior, fará aulas remotas.”
se, ao contrário, houver relação sintática entre os termos, estes
não devem ser isolados pela vírgula. Isto quer dizer que, ao mesmo 2 – Para separar as orações coordenadas sindéticas e
tempo que existem situações em que a vírgula é obrigatória, em assindéticas, com exceção das orações iniciadas pela conjunção “e”:
outras, ela é vetada. Confira os casos em que a vírgula deve ser “Liguei para ela, expliquei o acontecido e pedi para que nos
empregada: ajudasse.”

3 – Para separar as orações substantivas que antecedem a


principal:
“Quando será publicado, ainda não foi divulgado.”

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4 – Para separar orações subordinadas adverbiais desenvolvidas Saturno;


ou reduzidas, especialmente as que antecedem a oração principal: Urano;
Netuno.”
Reduzida Por ser sempre assim, ninguém dá atenção!
Dois Pontos
Porque é sempre assim, já ninguém dá 1 – Para introduzirem apostos ou orações apositivas,
Desenvolvida
atenção! enumerações ou sequência de palavras que explicam e/ou resumem
ideias anteriores.
5 – Separar as sentenças intercaladas: “Anote o endereço: Av. Brasil, 1100.”
“Querida, disse o esposo, estarei todos os dias aos pés do seu “Não me conformo com uma coisa: você ter perdoado aquela
leito, até que você se recupere por completo.” grande ofensa.”

• Antes da conjunção “e” 2 – Para introduzirem citação direta:


1 – Emprega-se a vírgula quando a conjunção “e” adquire “Desse estudo, Lavoisier extraiu o seu princípio, atualmente
valores que não expressam adição, como consequência ou muito conhecido: “Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma’.”
diversidade, por exemplo. 3 – Para iniciar fala de personagens:
“Argumentou muito, e não conseguiu convencer-me.” “Ele gritava repetidamente:
– Sou inocente!”
2 – Utiliza-se a vírgula em casos de polissíndeto, ou seja, sempre
que a conjunção “e” é reiterada com com a finalidade de destacar Reticências
alguma ideia, por exemplo: 1 – Para indicar interrupção de uma frase incompleta
“(…) e os desenrolamentos, e os incêndios, e a fome, e a sede; sintaticamente:
e dez meses de combates, e cem dias de cancioneiro contínuo; e o “Quem sabe um dia...”
esmagamento das ruínas...” (Euclides da Cunha)
2 – Para indicar hesitação ou dúvida:
3 – Emprega-se a vírgula sempre que orações coordenadas “Então... tenho algumas suspeitas... mas prefiro não revelar
apresentam sujeitos distintos, por exemplo: ainda.”
“A mulher ficou irritada, e o marido, constrangido.”
3 – Para concluir uma frase gramaticalmente inacabada com o
O uso da vírgula é vetado nos seguintes casos: separar sujeito objetivo de prolongar o raciocínio:
e predicado, verbo e objeto, nome de adjunto adnominal, nome “Sua tez, alva e pura como um foco de algodão, tingia-se nas
e complemento nominal, objeto e predicativo do objeto, oração faces duns longes cor-de-rosa...” (Cecília - José de Alencar).
substantiva e oração subordinada (desde que a substantivo não seja
apositiva nem se apresente inversamente). 4 – Suprimem palavras em uma transcrição:
“Quando penso em você (...) menos a felicidade.” (Canteiros -
Ponto Raimundo Fagner).
1 – Para indicar final de frase declarativa:
“O almoço está pronto e será servido.” Ponto de Interrogação
1 – Para perguntas diretas:
2 – Abrevia palavras: “Quando você pode comparecer?”
– “p.” (página)
– “V. Sra.” (Vossa Senhoria) 2 – Algumas vezes, acompanha o ponto de exclamação para
– “Dr.” (Doutor) destacar o enunciado:
“Não brinca, é sério?!”
3 – Para separar períodos:
“O jogo não acabou. Vamos para os pênaltis.” Ponto de Exclamação
1 – Após interjeição:
Ponto e Vírgula “Nossa Que legal!”
1 – Para separar orações coordenadas muito extensas ou
orações coordenadas nas quais já se tenha utilizado a vírgula: 2 – Após palavras ou sentenças com carga emotiva
“Gosto de assistir a novelas; meu primo, de jogos de RPG; “Infelizmente!”
nossa amiga, de praticar esportes.”
3 – Após vocativo
2 – Para separar os itens de uma sequência de itens: “Ana, boa tarde!”
“Os planetas que compõem o Sistema Solar são:
Mercúrio; 4 – Para fechar de frases imperativas:
Vênus; “Entre já!”
Terra;
Marte;
Júpiter;
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Parênteses Tratou-me com a dureza e o carinho que mereciam a rebeldia


a) Para isolar datas, palavras, referências em citações, frases e o verdor da minha meninice. Ensinou- me a ler as primeiras sen-
intercaladas de valor explicativo, podendo substituir o travessão ou tenças; me falava do Cura d’Ars e nos dois Franciscos, o de Sales e
a vírgula: o de Assis; apresentou-me aos contos de Edgar Poe e aos poemas
“Mal me viu, perguntou (sem qualquer discrição, como sempre) de Baudelaire; dizia-me sorrindo versos de Antônio Nobre que ha-
quem seria promovido.” via decorado quando menina; discutia comigo as ideias finais de
Tolstoi; escutava maternalmente meus contos toscos. Quando me
Travessão desgarrei nos primeiros envolvimentos adolescentes, Maria José,
1 – Para introduzir a fala de um personagem no discurso direto: com irônico afeto, me repetia a advertência de Drummond: “Paulo,
“O rapaz perguntou ao padre: sossegue, o amor é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã
— Amar demais é pecado?” não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém
sabe o que será”.
2 – Para indicar mudança do interlocutor nos diálogos:
Logo que me fiz homenzinho, deixou a dureza e se fez minha
“— Vou partir em breve.
amiga: nada me perguntava, adivinhava tudo.
— Vá com Deus!”
Terna e firme, nunca lhe vi a fraqueza da pieguice. Com o gosto
espontâneo da qualidade das coisas, renunciou às vaidades mais
3 – Para unir grupos de palavras que indicam itinerários:
“Esse ônibus tem destino à cidade de São Paulo — SP.” singelas. Sensível, alegre, aprendeu a encarar o sofrimento de olhos
lúcidos. Fiel à disciplina religiosa, compreendia celestialmente as al-
4 – Para substituir a vírgula em expressões ou frases explicativas: mas que perdiam o rumo. Fé, Esperança e Caridade eram para ela a
“Michael Jackson — o retorno rei do pop — era imbatível.” flecha e o alvo das criaturas.
Tornara-se tão íntima da substância terrestre – a dor – que se
Aspas fazia difícil para o médico saber o que sentia; acabava dizendo que
1 – Para isolar palavras ou expressões que violam norma culta, doía um pouco, por delicadeza.
como termos populares, gírias, neologismos, estrangeirismos, Capaz de longos jejuns e abstinências, já no final da vida, podia
arcaísmos, palavrões, e neologismos. acompanhar um casal amigo a Copacabana, passar do bar da moda
“Na juventude, ‘azarava’ todas as meninas bonitas.” ao restaurante diferente, beber dois cafés ou três uísques em santa
“A reunião será feita ‘online’.” serenidade e aceitar com alegria o prato exótico.
Gostava das pessoas erradas, consumidas de paixão, admirava
2 – Para indicar uma citação direta: São Paulo e Santo Agostinho, acreditava que era preciso se fazer
“A índole natural da ciência é a longanimidade.” (Machado de violência para entrar no reino celeste.
Assis) Poucas horas antes de morrer, pediu um conhaque e sorriu,
destemida e doce, como quem vai partir para o céu. Santificara-se.
Deus era o dia e a noite de seu coração, o Pai, a piedade, o fogo do
QUESTÕES espírito. Perdi quem me amava e perdoava, quem me encomen-
dava à compaixão do Criador e me defendia contra o mundo de
revólver na mão.
1. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLEAR/ Em “escutava maternalmente meus contos toscos” (parágrafo
Especialista em Proteção Radiológica/2022 4), a palavra toscos pode ser substituída, sem a alteração de seu
Assunto: Significação de vocábulo e expressões significado no contexto, por
Texto (A) criativos
Maria José (B) malfeitos
Paulo Mendes Campos (C) primorosos
Faz um ano que Maria José morreu. Era meiga quase sempre, (D) incompletos
violenta quando necessário. Eu era menino e apanhava de um com- (E) sofisticados
panheiro maior, quando ela me gritou da sacada se eu não via a
pedra que marcava o gol. Dei uma pedrada no outro e acabei com 2. CESGRANRIO - PNS (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLEAR/Ad-
a briga por milagre. ministrador/2022
Visitava os miseráveis, internava indigentes enfermos, devota- Assunto: Significação de vocábulo e expressões
va-se ao alívio de misérias físicas e morais do próximo, estudava o Texto
mistério teológico, exigia sempre o mais difícil de si mesma, comun- Entulho eletrônico: risco iminente para a saúde e o ambiente
gava todos os dias, ingressou na Ordem Terceira de São Francisco. Os resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (lixo eletroele-
Mas nunca deixou de ter na gaveta o revólver que havia recebido, trônico) são, por definição, produtos que têm componentes elétri-
menina- e-moça, das mãos do pai, e que empunhou no quintal no- cos e eletrônicos e que, por razões de obsolescência (perspectiva
turno, perseguindo um ladrão, para espanto de meus cinco anos. ou programada) e impossibilidade de conserto, são descartados
Já perto dos setenta anos, ela explicava para um amigo meu pelos consumidores. Os exemplos mais comuns são televisores e
que tinha chegado à humildade da velhice; já não se importava com equipamentos de informática e telefonia, mas a lista inclui eletro-
quem tentasse ofendê-la, mas conservava o revólver para a defesa domésticos, equipamentos médicos, brinquedos, sistemas de alar-
dos filhos e dos netos. me, automação e controle.
Editora
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Obsolescência programada é a decisão intencional de fabricar O lixo eletroeletrônico é mais um desafio que se soma aos pro-
um produto que se torne obsoleto ou não funcional após certo tem- blemas ambientais da atualidade. O consumidor raramente reflete
po, para forçar o consumidor a comprar uma nova geração desse sobre as consequências do consumo crescente desses produtos,
produto. Já a obsolescência perspectiva é uma forma de reduzir a preocupando- se em satisfazer suas necessidades. Afinal, eletroele-
vida útil de produtos ainda funcionais. Nesse caso, são lançadas no- trônicos são tidos como sinônimos de melhor qualidade de vida, e a
vas gerações com aparência inovadora e pequenas mudanças fun- explosão da indústria da informação é uma força motriz da socieda-
cionais, dando à geração em uso aspecto de ultrapassada, o que de, oferecendo ferramentas para rápidos avanços na economia e no
induz o consumidor à troca. desenvolvimento social. O mundo globalizado impõe uma constan-
O lixo eletroeletrônico é mais um desafio que se soma aos pro- te busca de informações em tempo real, e a sua interação com no-
blemas ambientais da atualidade. O consumidor raramente reflete vas tecnologias traz maiores oportunidades e benefícios, segundo
sobre as consequências do consumo crescente desses produtos, estudo da Organização das Nações Unidas (ONU). Tudo isso exerce
preocupando- se em satisfazer suas necessidades. Afinal, eletroele- um fascínio irresistível para os jovens.
trônicos são tidos como sinônimos de melhor qualidade de vida, e a Dois aspectos justificam a inclusão dos eletroeletrônicos entre
explosão da indústria da informação é uma força motriz da socieda- as preocupações da ONU: as vendas crescentes, em especial nos
de, oferecendo ferramentas para rápidos avanços na economia e no mercados emergentes (inclusive o Brasil), e a presença de metais
desenvolvimento social. O mundo globalizado impõe uma constan- e substâncias tóxicas em muitos componentes, trazendo risco à
te busca de informações em tempo real, e a sua interação com no- saúde e ao meio ambiente. Segundo a ONU, são gerados hoje 150
vas tecnologias traz maiores oportunidades e benefícios, segundo milhões de toneladas de lixo eletroeletrônico por ano, e esse tipo
estudo da Organização das Nações Unidas (ONU). Tudo isso exerce de resíduo cresce a uma velocidade três a cinco vezes maior que a
um fascínio irresistível para os jovens. do lixo urbano.
Dois aspectos justificam a inclusão dos eletroeletrônicos entre AFONSO, J. C. Revista Ciência Hoje, n. 314, maio 2014. São Paulo:
as preocupações da ONU: as vendas crescentes, em especial nos SBPC. Disponível em: https://cienciahoje.periodicos.capes. gov.br/
mercados emergentes (inclusive o Brasil), e a presença de metais storage/acervo/ch/ch_314.pdf. Adaptado.
e substâncias tóxicas em muitos componentes, trazendo risco à
saúde e ao meio ambiente. Segundo a ONU, são gerados hoje 150 No 3o parágrafo, no trecho “a explosão da indústria da infor-
milhões de toneladas de lixo eletroeletrônico por ano, e esse tipo mação é uma força motriz da sociedade”, a palavra destacada pode
de resíduo cresce a uma velocidade três a cinco vezes maior que a ser substituída, sem prejuízo de sentido, por
do lixo urbano. (A) infalível
No trecho “Tudo isso exerce um fascínio irresistível para os jo- (B) obrigatória
vens.” (parágrafo 3), a palavra que apresenta o sentido contrário ao (C) abrangente
da palavra destacada é (D) imprescindível
(A) atração (E) impulsionadora
(B) encanto
(C) repulsa 4. CESGRANRIO - Esc BB/BB/Agente Comercial/2021
(D) sedução Assunto: Predicado
(E) embevecimento O que é o QA e por que ele pode ser mais importante que o QI
no mercado de trabalho
3. CESGRANRIO - PNS (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLEAR/Ad- Há algum tempo, se você quisesse avaliar as perspectivas de al-
ministrador/2022 guém crescer na carreira, poderia considerar pedir um teste de QI,
Assunto: Significação de vocábulo e expressões o quociente de inteligência, que mede indicadores como memória
Texto e habilidade matemática.
Entulho eletrônico: risco iminente para a saúde e o ambiente Mais recentemente, passaram a ser avaliadas outras letrinhas:
Os resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (lixo eletroele- o quociente de inteligência emocional (QE), uma combinação de
trônico) são, por definição, produtos que têm componentes elétri- habilidades interpessoais, autocontrole e comunicação. Não só no
cos e eletrônicos e que, por razões de obsolescência (perspectiva mundo do trabalho, o QE é visto como um kit de habilidades que
ou programada) e impossibilidade de conserto, são descartados pode nos ajudar a ter sucesso em vários aspectos da vida.
pelos consumidores. Os exemplos mais comuns são televisores e Tanto o QI quanto o QE são considerados importantes para o
equipamentos de informática e telefonia, mas a lista inclui eletro- sucesso na carreira. Hoje, porém, à medida que a tecnologia rede-
domésticos, equipamentos médicos, brinquedos, sistemas de alar- fine como trabalhamos, as habilidades necessárias para prosperar
me, automação e controle. no mercado de trabalho também estão mudando. Entra em cena
Obsolescência programada é a decisão intencional de fabricar então um novo quociente, o de adaptabilidade (QA), que considera
um produto que se torne obsoleto ou não funcional após certo tem- a capacidade de se posicionar e prosperar em um ambiente de mu-
po, para forçar o consumidor a comprar uma nova geração desse danças rápidas e frequentes.
produto. Já a obsolescência perspectiva é uma forma de reduzir a O QA não é apenas a capacidade de absorver novas informa-
vida útil de produtos ainda funcionais. Nesse caso, são lançadas no- ções, mas de descobrir o que é relevante, deixar para trás noções
vas gerações com aparência inovadora e pequenas mudanças fun- obsoletas, superar desafios e fazer um esforço consciente para mu-
cionais, dando à geração em uso aspecto de ultrapassada, o que dar. Esse quociente envolve também características como flexibili-
induz o consumidor à troca. dade, curiosidade, coragem e resiliência.
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Amy Edmondson, professora de Administração da Harvard Bu- turno, perseguindo um ladrão, para espanto de meus cinco anos.
siness School, diz que é a velocidade vertiginosa das mudanças no Já perto dos setenta anos, ela explicava para um amigo meu
mercado de trabalho que fará o QA vencer o QI. Automatiza-se fa- que tinha chegado à humildade da velhice; já não se importava com
cilmente qualquer função que envolva detectar padrões nos dados quem tentasse ofendê-la, mas conservava o revólver para a defesa
(advogados revisando documentos legais ou médicos buscando o dos filhos e dos netos.
histórico de um paciente, por exemplo), diz Dave Coplin, diretor da Tratou-me com a dureza e o carinho que mereciam a rebeldia
The Envisioners, consultoria de tecnologia sediada no Reino Unido. e o verdor da minha meninice. Ensinou- me a ler as primeiras sen-
A tecnologia mudou bastante a forma como alguns trabalhos são tenças; me falava do Cura d’Ars e nos dois Franciscos, o de Sales e
feitos, e a tendência continuará. Isso ocorre porque um algoritmo o de Assis; apresentou-me aos contos de Edgar Poe e aos poemas
pode executar essas tarefas com mais rapidez e precisão do que um de Baudelaire; dizia-me sorrindo versos de Antônio Nobre que ha-
humano. via decorado quando menina; discutia comigo as ideias finais de
Para evitar a obsolescência, os trabalhadores que cumprem es- Tolstoi; escutava maternalmente meus contos toscos. Quando me
sas funções precisam desenvolver novas habilidades, como a criati- desgarrei nos primeiros envolvimentos adolescentes, Maria José,
vidade para resolver novos problemas, empatia para se comunicar com irônico afeto, me repetia a advertência de Drummond: “Paulo,
melhor e responsabilidade. sossegue, o amor é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã
Edmondson diz que toda profissão vai exigir adaptabilidade e não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém
flexibilidade, do setor bancário às artes. Digamos que você é um sabe o que será”.
contador. Seu QI o ajuda nas provas pelas quais precisa passar para Logo que me fiz homenzinho, deixou a dureza e se fez minha
se qualificar; seu QE contribui na conexão com um recrutador e de- amiga: nada me perguntava, adivinhava tudo.
pois no relacionamento com colegas e clientes no emprego. Então, Terna e firme, nunca lhe vi a fraqueza da pieguice. Com o gosto
quando os sistemas mudam ou os aspectos do trabalho são auto- espontâneo da qualidade das coisas, renunciou às vaidades mais
matizados, você precisa do QA para se acomodar a novos cenários. singelas. Sensível, alegre, aprendeu a encarar o sofrimento de olhos
Ter QI, mas nenhum QA, pode ser um bloqueio para as habili- lúcidos. Fiel à disciplina religiosa, compreendia celestialmente as al-
dades existentes diante de novas maneiras de trabalhar. No mundo mas que perdiam o rumo. Fé, Esperança e Caridade eram para ela a
corporativo, o QA está sendo cada vez mais buscado na hora da flecha e o alvo das criaturas.
contratação. Uma coisa boa do QA é que, mesmo que seja difícil Tornara-se tão íntima da substância terrestre – a dor – que se
mensurá-lo, especialistas dizem que ele pode ser desenvolvido. fazia difícil para o médico saber o que sentia; acabava dizendo que
Como diz Edmondson: “Aprender a aprender é uma missão doía um pouco, por delicadeza.
crítica. A capacidade de aprender, mudar, crescer, experimentar se Capaz de longos jejuns e abstinências, já no final da vida, podia
tornará muito mais importante do que o domínio de um assunto.” acompanhar um casal amigo a Copacabana, passar do bar da moda
A frase em que o verbo apresenta a mesma predicação que o ao restaurante diferente, beber dois cafés ou três uísques em santa
verbo ocorrer em “Isso ocorre porque um algoritmo pode executar serenidade e aceitar com alegria o prato exótico.
essas tarefas” (parágrafo 5) é: Gostava das pessoas erradas, consumidas de paixão, admirava
(A) “Entra em cena então um novo quociente”. (parágrafo 3) São Paulo e Santo Agostinho, acreditava que era preciso se fazer
(B) “Esse quociente envolve também características como flexi- violência para entrar no reino celeste.
bilidade, curiosidade, coragem e resiliência.” (parágrafo 4) Poucas horas antes de morrer, pediu um conhaque e sorriu,
(C) “A tecnologia mudou bastante a forma como alguns traba- destemida e doce, como quem vai partir para o céu. Santificara-se.
lhos são feitos”. (parágrafo 5) Deus era o dia e a noite de seu coração, o Pai, a piedade, o fogo do
(D) “você é um contador.” (parágrafo 7) espírito. Perdi quem me amava e perdoava, quem me encomen-
(E) “Seu QI o ajuda nas provas”. (parágrafo 7) dava à compaixão do Criador e me defendia contra o mundo de
revólver na mão.
5. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLEAR/ No trecho: “Mas nunca deixou de ter na gaveta o revólver que
Especialista em Proteção Radiológica/2022 recebera, menina-e-moça, das mãos do pai, e que empunhou no
Assunto: Orações subordinadas adverbiais quintal noturno, perseguindo um ladrão”, (parágrafo 2), a oração
Texto destacada pode ser substituída, sem prejuízo de seu significado, por
Maria José (A) por isso perseguia um ladrão.
Paulo Mendes Campos (B) enquanto perseguia um ladrão.
Faz um ano que Maria José morreu. Era meiga quase sempre, (C) embora perseguisse um ladrão.
violenta quando necessário. Eu era menino e apanhava de um com- (D) desde que perseguisse um ladrão.
panheiro maior, quando ela me gritou da sacada se eu não via a (E) por mais que perseguisse um ladrão.
pedra que marcava o gol. Dei uma pedrada no outro e acabei com
a briga por milagre.
Visitava os miseráveis, internava indigentes enfermos, devota-
va-se ao alívio de misérias físicas e morais do próximo, estudava o
mistério teológico, exigia sempre o mais difícil de si mesma, comun-
gava todos os dias, ingressou na Ordem Terceira de São Francisco.
Mas nunca deixou de ter na gaveta o revólver que havia recebido,
menina- e-moça, das mãos do pai, e que empunhou no quintal no-
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6. CESGRANRIO - Esc BB/BB/Agente de Tecnologia/2021 nossas finanças pessoais, tornando nossas vidas mais tranquilas e
Assunto: Orações subordinadas adverbiais equilibradas sob o ponto de vista financeiro.
Lições após um ano de ensino remoto na pandemia Se pararmos para pensar, estamos sujeitos a um mundo finan-
No momento em que se tornam ainda mais complexas as dis- ceiro muito mais complexo que o das gerações anteriores. No entan-
cussões sobre a volta às aulas presenciais, o ensino remoto conti- to, o nível de educação financeira da população não acompanhou
nua a ser a rotina de muitas famílias, atualmente. esse aumento de complexidade. A ausência de educação financeira,
Mas um ano sem precedentes na história veio acompanhado aliada à facilidade de acesso ao crédito, tem levado muitas pessoas
de lições inéditas para professores, alunos e estudiosos. Diante do ao endividamento excessivo, privando-as de parte de sua renda em
pouco acesso a planos de dados ou a dispositivos, a alternativa de função do pagamento de prestações mensais que reduzem suas ca-
muitas famílias e professores tem sido se conectar regularmente via pacidades de consumir produtos que lhes trariam satisfação.
aplicativos de mensagens. Infelizmente, não faz parte do cotidiano da maioria das pesso-
Uma pesquisa apontou que 83% dos professores mantinham as buscar informações que as auxiliem na gestão de suas finanças.
contato com seus alunos por meio dos aplicativos de mensagens, Para agravar essa situação, não há uma cultura coletiva, ou seja,
muito mais do que pelas próprias plataformas de aprendizagem. uma preocupação da sociedade organizada em torno do tema. Nas
Esse uso foi uma grande surpresa, mas é porque não temos outras escolas, pouco ou nada é falado sobre o assunto. As empresas, não
ferramentas de massificação. A maior parte do ensino foi feita pelo compreendendo a importância de ter seus funcionários alfabeti-
celular e, geralmente, por um celular compartilhado (entre vários zados financeiramente, também não investem nessa área. Similar
membros da família), o que é algo muito desafiador. problema é encontrado nas famílias, nas quais não há o hábito de
Outro aspecto a ser considerado é que, felizmente, mensagens reunir os membros para discutir e elaborar um orçamento familiar.
direcionadas são uma forma relativamente barata de comunicação. Igualmente entre os amigos, assuntos ligados à gestão financeira
A importância de cultivar interações entre os estudantes, mesmo pessoal muitas vezes são considerados invasão de privacidade e
que eles não estejam no mesmo ambiente físico, também é uma pouco se conversa em torno do tema. Enfim, embora todos lidem
forma de motivá-los e melhorar seus resultados. Recentemente, diariamente com dinheiro, poucos se dedicam a gerir melhor seus
uma pesquisadora afirmou que “Aprendemos que precisamos dos recursos.
demais: comparar estratégias, falar com alunos, com outros profes- A educação financeira pode trazer diversos benefícios, entre os
sores e dar mais oportunidades de trabalho coletivo, mesmo que quais, possibilitar o equilíbrio das finanças pessoais, preparar para o
seja cada um na sua casa. Além disso, a pandemia ressaltou a im- enfrentamento de imprevistos financeiros e para a aposentadoria,
portância do vínculo anterior entre escolas e comunidades”. qualificar para o bom uso do sistema financeiro, reduzir a possibi-
Embora seja difícil prever exatamente como o fechamento das lidade de o indivíduo cair em fraudes, preparar o caminho para a
escolas vai afetar o desenvolvimento futuro dos alunos, educado- realização de sonhos, enfim, tornar a vida melhor.
res internacionais estimam que estudantes da educação básica já No trecho do parágrafo 3 “As empresas, não compreendendo a
foram impactados. É preciso pensar em como agrupar esses alunos importância de ter seus funcionários alfabetizados financeiramen-
e averiguar os que tiveram ensino mínimo ou nulo e decidir como te, também não investem nessa área”, a oração destacada tem valor
enfrentar essa ruptura, com aulas ou encontros extras, com anos semântico de
(letivos) de transição. (A) causa
IDOETA, P.A. 8 lições após um ano de ensino remoto na pan demia. Dis- (B) proporção
ponível em: <https://educacao.uol.com.br/noticias/ bbc/2021/04/24/ (C) alternância
8-licoes-apos-um-ano-de-ensino-remoto-na- pandemia. htm>. Acesso (D) comparação
em: 21 jul. 2021. Adaptado. (E) consequência

No trecho “A importância de cultivar interações entre os estu- 8. CESGRANRIO - Tec Cien (BASA)/BASA/Tecnologia da Informa-
dantes, mesmo que eles não estejam no mesmo ambiente físico” ção/2021
(parágrafo 4), a expressão destacada estabelece com a oração prin- Assunto: Orações reduzidas
cipal a relação de Medo da eternidade
(A) condição Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a
(B) concessão eternidade. Quando eu era muito pequena ainda não tinha prova-
(C) comparação do chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia
(D) conformidade bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o di-
(E) proporcionalidade nheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro
eu lucraria não sei quantas balas. Afinal minha irmã juntou dinhei-
7. CESGRANRIO - TBN (CEF)/CEF/”Sem Área”/2021 ro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:
Assunto: Orações subordinadas adverbiais — Tome cuidado para não perder, porque esta bala nunca se
Relacionamento com o dinheiro acaba. Dura a vida inteira.
Desde cedo, começamos a lidar com uma série de situações — Como não acaba?
ligadas ao dinheiro. Para tirar melhor proveito do seu dinheiro, é — Parei um instante na rua, perplexa.
muito importante saber como utilizá-lo da forma mais favorável a — Não acaba nunca, e pronto.
você. O aprendizado e a aplicação de conhecimentos práticos de Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino
educação financeira podem contribuir para melhorar a gestão de de histórias de príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha cor-de-
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-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase 9. CESGRANRIO - Tec Ban (BASA)/BASA/2022
não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às Assunto: Pontuação (ponto, vírgula, travessão, aspas, parênte-
vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só ses etc)
para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de Maior fronteira agrícola do mundo está no bioma amazônico”,
aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do diz pesquisador da Embrapa
qual eu já começara a me dar conta. Com delicadeza, terminei afinal O Brasil é um dos poucos países no mundo com a possibilidade
pondo o chicle na boca. de ampliar áreas com a agropecuária. De fato, um estudo da ONU
— E agora que é que eu faço? mostra que o país será o grande responsável por produzir os ali-
— Perguntei para não errar no ritual que certamente deveria mentos necessários para atender os mais de 9 bilhões de pessoas
haver. que habitarão o planeta em 2050. De acordo com pesquisadores
— Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só da Embrapa, a região possui potencial e áreas para ampliação sus-
depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a tentável da agricultura. Portanto, a responsabilidade do agricultor
vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários. Perder a brasileiro é muito grande.
eternidade? Nunca. O adocicado do chicle era bonzinho, não podia A região amazônica se mostra promissora para a agricultura,
dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a pois ela é rica em um insumo fundamental, a água. Estados como
escola. Rondônia e Acre têm municípios que recebem até 2.800 milímetros
— Acabou-se o docinho. E agora? de chuvas por ano. E isso proporciona a qualidade e a possibilidade
— Agora mastigue para sempre. de semear mais de uma cultura por ano.
Assustei-me, não sabia dizer por quê. Comecei a mastigar e em Entretanto, as críticas internacionais, quanto ao uso e à am-
breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que pliação da agricultura na região amazônica, são um limitante para a
não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia con- exploração dessas áreas. Para cada nova área aberta para a agricul-
trafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem tura, parte deveria ser obrigatoriamente destinada à preservação
de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se ambiental, segundo as exigências dos países que compram nossos
tem diante da ideia de eternidade ou de infinito. Eu não quis con- produtos agrícolas.
fessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava afli- De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, o em-
ção. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar. Até prego adequado da vírgula está plenamente atendido em:
que não suportei mais, e, atravessando o portão da escola, dei um (A) A criação de animais para a produção de alimentos, é de
jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia. grande importância para o sustento de milhares de famílias.
— Olha só o que me aconteceu! (B) A floresta Amazônica, apesar de parecer homogênea, pos-
— Disse eu em fingidos espanto e tristeza. sui muitas diferenças na sua vegetação.
— Agora não posso mastigar mais! A bala acabou! (C) A melhor maneira de proteger as povoações situadas nas
— Já lhe disse, repetiu minha irmã, que ele não acaba nunca. margens dos rios, é procurar soluções que impeçam o comér-
Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigan- cio ilegal.
do, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. (D) O estado do Amazonas apresenta, a maior população in-
Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá. dígena do Brasil com aproximadamente trinta mil habitantes.
Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, en- (E) O número de estudiosos preocupados com o futuro do pla-
vergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra da neta, aumentou devido ao aquecimento global.
boca por acaso. Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.
LISPECTOR, Clarice. Medo da eternidade. 10. CESGRANRIO - Tec Cien (BASA)/BASA/Tecnologia da Infor-
mação/2022
A frase que guarda o mesmo sentido do trecho “Até que não Assunto: Pontuação (ponto, vírgula, travessão, aspas, parênte-
suportei mais, e, atravessando o portão da escola, dei um jeito de o ses etc)
chicle mastigado cair no chão de areia.” é: Uma cena
(A) Até que não suportei mais, e, como atravessei o portão da É de manhã. Não num lugar qualquer, mas no Rio. E não numa
escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia. época qualquer, mas no outono. Outono no Rio. O ar é fino, quase
(B) Até que não suportei mais, e, já que atravessei o portão da frio, as pedras portuguesas da calçada estão úmidas. No alto, o céu
escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia. já é de um azul escandaloso, mas o sol oblíquo ainda não conse-
(C) Até que não suportei mais, e, para que atravessasse o por- guiu vencer os prédios e arrasta seus raios pelo mar, pelas praias,
tão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão por cima das montanhas, longe dali. Não chegou à rua. E, naquele
de areia. trecho, onde as amendoeiras trançam suas copas, ainda é quase
(D) Até que não suportei mais, e, embora atravessasse o portão madrugada.
da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de Mesmo assim, ela já está lá – como se à espera do sol.
areia. É uma senhora de cabelos muito brancos, sentada em sua ca-
(E) Até que não suportei mais, e, quando atravessei o portão da deira, na calçada. Na rua tranquila, de pouco movimento, não passa
escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia. quase ninguém a essa hora, tão de manhãzinha. Nem carros, nem
pessoas. O que há mais é o movimento dos porteiros e dos pássa-
ros. Os primeiros, com suas vassouras e mangueiras, conversando
sobre o futebol da véspera. Os segundos, cantando – dentro ou fora
Editora
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das gaiolas. menina- e-moça, das mãos do pai, e que empunhou no quintal no-
Mas, mesmo com tão pouco movimento, a senhora já está sen- turno, perseguindo um ladrão, para espanto de meus cinco anos.
tada muito ereta, com seu vestido estampado, de corte simples, Já perto dos setenta anos, ela explicava para um amigo meu
suas sandálias. Tem o olhar atento, o sorriso pronto a cumprimentar que tinha chegado à humildade da velhice; já não se importava com
quem surja. No braço da cadeira de plástico branco, sua mão repou- quem tentasse ofendê-la, mas conservava o revólver para a defesa
sa, mas também parece pronta a erguer -se num aceno, quando dos filhos e dos netos.
alguém passar. Tratou-me com a dureza e o carinho que mereciam a rebeldia
É uma cena bonita, eu acho. Cena que se repete todos os dias. e o verdor da minha meninice. Ensinou- me a ler as primeiras sen-
Parece coisa de antigamente. tenças; me falava do Cura d’Ars e nos dois Franciscos, o de Sales e
Parece. Não fosse por um detalhe. A senhora, sentada placi- o de Assis; apresentou-me aos contos de Edgar Poe e aos poemas
damente em sua cadeira na calçada, observando as manhãs, está de Baudelaire; dizia-me sorrindo versos de Antônio Nobre que ha-
atrás das grades. via decorado quando menina; discutia comigo as ideias finais de
Meu irmão, que foi morar fora do Brasil e ficou 15 anos sem Tolstoi; escutava maternalmente meus contos toscos. Quando me
vir aqui, ao voltar só teve um choque: as grades. Nada mais o im- desgarrei nos primeiros envolvimentos adolescentes, Maria José,
pressionou, tudo ele achou normal. Fez comentários vagos sobre com irônico afeto, me repetia a advertência de Drummond: “Paulo,
as árvores crescidas no Aterro, sobre o excesso de gente e carros, sossegue, o amor é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã
tudo sem muita ênfase. Mas e essas grades, me perguntou, por que não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém
todas essas grades? E eu, espantada com seu espanto, eu que de sabe o que será”.
certa forma já me acostumara à paisagem gradeada, fiquei sem sa- Logo que me fiz homenzinho, deixou a dureza e se fez minha
ber o que dizer. amiga: nada me perguntava, adivinhava tudo.
Penso nisso agora, ao passar pela rua e ver aquela senhora. Terna e firme, nunca lhe vi a fraqueza da pieguice. Com o gosto
Todos os dias, o porteiro coloca ali a cadeira para que ela se sente, espontâneo da qualidade das coisas, renunciou às vaidades mais
junto ao jardim, em frente à portaria, por trás da proteção do gradil singelas. Sensível, alegre, aprendeu a encarar o sofrimento de olhos
pintado com tinta cor de cobre. E essa cena tão singela, de sabor tão lúcidos. Fiel à disciplina religiosa, compreendia celestialmente as al-
antigo, se desenrola assim, por trás de barras de ferro, que mesmo mas que perdiam o rumo. Fé, Esperança e Caridade eram para ela a
sendo de alumínio para não enferrujar são de um ferro simbólico, flecha e o alvo das criaturas.
que prende, constrange, restringe. Tornara-se tão íntima da substância terrestre – a dor – que se
Eu, da calçada, vejo-a sempre por entre as tiras verticais de fazia difícil para o médico saber o que sentia; acabava dizendo que
metal, sua figura frágil me fazendo lembrar os passarinhos que os doía um pouco, por delicadeza.
porteiros guardam nas gaiolas, pendurados nas árvores. Capaz de longos jejuns e abstinências, já no final da vida, podia
De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, o em- acompanhar um casal amigo a Copacabana, passar do bar da moda
prego adequado da vírgula está plenamente atendido em: ao restaurante diferente, beber dois cafés ou três uísques em santa
(A) O outono que o Rio nos oferece, tem um ar fino, quase frio. serenidade e aceitar com alegria o prato exótico.
(B) Uma senhora de cabelos muito brancos, ficava sentada, em Gostava das pessoas erradas, consumidas de paixão, admirava
uma cadeira. São Paulo e Santo Agostinho, acreditava que era preciso se fazer
(C) Ele se incomodou, com as grades do Rio. violência para entrar no reino celeste.
(D) Todos os dias que passo pelo Aterro vejo, as árvores cada Poucas horas antes de morrer, pediu um conhaque e sorriu,
vez mais crescidas. destemida e doce, como quem vai partir para o céu. Santificara-se.
(E) O porteiro, que prende passarinhos em gaiolas, não vê que Deus era o dia e a noite de seu coração, o Pai, a piedade, o fogo do
o outono fica mais lindo quando estamos livres. espírito. Perdi quem me amava e perdoava, quem me encomen-
dava à compaixão do Criador e me defendia contra o mundo de
11. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLE- revólver na mão.
AR/Especialista em Proteção Radiológica/2022 Considerando-se o emprego da vírgula, a frase que está de
Assunto: Pontuação (ponto, vírgula, travessão, aspas, parênte- acordo com o padrão formal escrito da língua é
ses etc) (A) Eu que era frágil, sentia-me seguro, em sua presença.
Texto (B) Todos os dias, Maria José lia poemas para seu filho.
Maria José (C) Seu desejo, era sempre, estar por perto para me proteger.
Paulo Mendes Campos (D) Maria José era uma mulher terna e, ao mesmo tempo firme.
Faz um ano que Maria José morreu. Era meiga quase sempre, (E) Nem ela, nem o médico, nem eu, esperávamos aquele des-
violenta quando necessário. Eu era menino e apanhava de um com- fecho, triste.
panheiro maior, quando ela me gritou da sacada se eu não via a
pedra que marcava o gol. Dei uma pedrada no outro e acabei com
a briga por milagre.
Visitava os miseráveis, internava indigentes enfermos, devota-
va-se ao alívio de misérias físicas e morais do próximo, estudava o
mistério teológico, exigia sempre o mais difícil de si mesma, comun-
gava todos os dias, ingressou na Ordem Terceira de São Francisco.
Mas nunca deixou de ter na gaveta o revólver que havia recebido,
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12. CESGRANRIO - PNS (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLEAR/ Assustei-me, não sabia dizer por quê. Comecei a mastigar e em
Administrador/2022 breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que
Assunto: Pontuação (ponto, vírgula, travessão, aspas, parênte- não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia con-
ses etc) trafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem
O emprego da vírgula está plenamente de acordo com as exi- de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se
gências da norma-padrão da Língua Portuguesa em: tem diante da ideia de eternidade ou de infinito. Eu não quis con-
(A) Caso sejam priorizadas medidas de proteção ao meio am- fessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava afli-
biente, a substituição dos lixões por uma forma adequada para ção. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar. Até
tratar o lixo será benéfica. que não suportei mais, e, atravessando o portão da escola, dei um
(B) Em todo o mundo há uma preocupação com a maneira de jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia.
descartar o lixo por isso, é sempre preferível corrigir nossos há- — Olha só o que me aconteceu!
bitos. — Disse eu em fingidos espanto e tristeza.
(C) O aterro sanitário apresenta inúmeras vantagens, como a — Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!
redução da poluição porém, há desvantagens, como o seu alto — Já lhe disse, repetiu minha irmã, que ele não acaba nunca.
custo. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigan-
(D) O lixo eletrônico encontrado, em televisores, rádios, gela- do, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama.
deiras, celulares, pilhas compromete a saúde pública. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.
(E) O lixo hospitalar decorrente do atendimento médico a se-
Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, en-
res humanos ou animais, acarreta muitos problemas de saúde
vergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra da
pública.
boca por acaso. Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.
A frase que apresenta todas as vírgulas corretamente emprega-
13. CESGRANRIO - Tec Cien (BASA)/BASA/Tecnologia da Infor-
das, de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, é:
mação/2021
(A) A menina que descobriu o chicle, também experimentou, a
Assunto: Pontuação (ponto, vírgula, travessão, aspas, parênte-
possibilidade da eternidade.
ses etc)
(B) São consideradas maravilhosas, aquelas histórias de prínci-
Medo da eternidade pes e fadas, que vivem eternamente.
Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a (C) Aproveitou, a textura, o sabor docinho do chicle, e ainda o
eternidade. Quando eu era muito pequena ainda não tinha prova- comparou com o mundo impossível da eternidade.
do chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia (D) Muitas crianças, quando se deparam com o desconhecido,
bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o di- passam a fantasiar sobre ele na tentativa de entendê-lo.
nheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro (E) Quando as crianças sonham, em serem príncipes, princesas
eu lucraria não sei quantas balas. Afinal minha irmã juntou dinhei- e fadas, elas fantasiam sobre viverem felizes para sempre.
ro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:
— Tome cuidado para não perder, porque esta bala nunca se 14. CESGRANRIO - Esc BB/BB/Agente Comercial/2021
acaba. Dura a vida inteira. Assunto: Pontuação (ponto, vírgula, travessão, aspas, parênte-
— Como não acaba? ses etc)
— Parei um instante na rua, perplexa. A palavra salário vem mesmo de “sal”?
— Não acaba nunca, e pronto. Vem. A explicação mais popular diz que os soldados da Roma
Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino Antiga recebiam seu ordenado na forma de sal. Faz sentido. O di-
de histórias de príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha cor-de- nheiro como o conhecemos surgiu no século 7 a.C., na forma de
-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase discos de metal precioso (moedas), e só foi adotado em Roma 300
não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às anos depois
vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só Antes disso, o que fazia o papel de dinheiro eram itens não
para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de perecíveis e que tinham demanda garantida: barras de cobre (fun-
aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do damentais para a fabricação de armas), sacas de grãos, pepitas de
qual eu já começara a me dar conta. Com delicadeza, terminei afinal ouro (metal favorito para ostentar como enfeite), prata (o ouro de
pondo o chicle na boca. segunda divisão) e, sim, o sal.
— E agora que é que eu faço? Num mundo sem geladeiras, o cloreto de sódio era o que ga-
— Perguntei para não errar no ritual que certamente deveria rantia a preservação da carne. A demanda por ele, então, tendia ao
haver. infinito. Ter barras de sal em casa funcionava como poupança. Você
— Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só poderia trocá-las pelo que quisesse, a qualquer momento.
depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a As moedas, bem mais portáteis, acabariam se tornando o gran-
vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários. Perder a de meio universal de troca – seja em Roma, seja em qualquer outro
eternidade? Nunca. O adocicado do chicle era bonzinho, não podia lugar. Mas a palavra “salário” segue viva, como um fóssil etimoló-
dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a gico.
escola. Só há um detalhe: não há evidência de que soldados romanos
— Acabou-se o docinho. E agora? recebiam mesmo um ordenado na forma de sal. Roma não tinha
— Agora mastigue para sempre. um exército profissional no século 4 a.C. A força militar da época
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era formada por cidadãos comuns, que abandonavam seus afaze- alguém passar.
res voluntariamente para lutar em tempos de guerra (questão de É uma cena bonita, eu acho. Cena que se repete todos os diasa.
sobrevivência). Parece coisa de antigamente.
A ideia de que havia pagamentos na forma de sal vem do his- Parece. Não fosse por um detalhe. A senhora, sentada placi-
toriador Plínio, o Velho (um contemporâneo de Jesus Cristo). Ele damente em sua cadeira na calçada, observando as manhãs, está
escreveu o seguinte: “Sal era uma das honrarias que os soldados re- atrás das grades.
cebiam após batalhas bem-sucedidas. Daí vem nossa palavra sala- Meu irmão, que foi morar fora do Brasil e ficou 15 anos sem
rium.” Ou seja: o sal era um bônus para voluntários, não um salário vir aqui, ao voltar só teve um choque: as grades. Nada mais o im-
para valer. Quando Roma passou a ter uma força militar profissional pressionou, tudo ele achou normal. Fez comentários vagos sobre
e permanente, no século 3 a.C., o soldo já era mesmo pago na for- as árvores crescidas no Aterro, sobre o excesso de gente e carros,
ma de moedas. tudo sem muita ênfase. Mas e essas grades, me perguntou, por que
VERSIGNASSI, A. A palavra salário vem mesmo de “sal” VC S/A, São todas essas grades? E eu, espantada com seu espanto, eu que de
Paulo: Abril, p. 67, Jun. 2021. Adaptado. certa forma já me acostumara à paisagem gradeadab, fiquei sem
saber o que dizer.
O período em que o sinal de dois pontos é empregado para Penso nisso agora, ao passar pela rua e ver aquela senhora.
introduzir uma enumeração, como no trecho que segue “demanda Todos os dias, o porteiro coloca ali a cadeira para que ela se sentec,
garantida” (parágrafo 2), é: junto ao jardim, em frente à portaria, por trás da proteção do gradil
(A) A remuneração faz parte do conjunto de ganhos de um pintado com tinta cor de cobre. E essa cena tão singela, de sabor tão
prestador de serviço; ou seja: todos os ganhos auferidos pela antigo, se desenrola assim, por trás de barras de ferro, que mesmo
pessoa compõem sua remuneração. sendo de alumínio para não enferrujar são de um ferro simbólico,
(B) As horas extras, o vale-transporte e o plano de saúde po- que prende, constrange, restringed.
dem fazer parte da remuneração: muitos trabalhadores esco- Eu, da calçada, vejo-a sempre por entre as tiras verticais de
lhem seus empregos com base nessas vantagens. metal, sua figura frágil me fazendo lembrar os passarinhos que os
(C) O gerente informou aos candidatos como seria a remune- porteiros guardam nas gaiolas, pendurados nas árvorese.
ração pelos serviços: “O valor mensal vai depender de diversos A frase na qual o que cumpre somente a função de promover
itens, a serem combinados.” a continuidade do texto sem acumular a função de retomar um an-
(D) Muitos itens já fizeram papel de dinheiro: o sal, usado até tecedente é:
hoje por tribos da Etiópia, a cachaça, utilizada no Brasil colo- (A) “Cena que se repete todos os dias”.
nial, e o bacalhau, antes usado na Escandinávia. (B) “eu que de certa forma já me acostumara à paisagem gra-
(E) O tabaco também já foi usado como moeda de troca: no sé- deada”.
culo XVIII, o estado americano de Virginia adotou esse método. (C) “Todos os dias, o porteiro coloca ali a cadeira para que ela
se sente”.
15. CESGRANRIO - Tec Cien (BASA)/BASA/Tecnologia da Infor- (D) “são de um ferro simbólico, que prende, constrange, res-
mação/2022 tringe.”
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conec- (E) “os passarinhos que os porteiros guardam nas gaiolas, pen-
tores - Pronomes relativos, Conjunções etc) durados nas árvores.”
Uma cena
É de manhã. Não num lugar qualquer, mas no Rio. E não numa 16. CESGRANRIO - PNS (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLEAR/
época qualquer, mas no outono. Outono no Rio. O ar é fino, quase Administrador/2022
frio, as pedras portuguesas da calçada estão úmidas. No alto, o céu Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conec-
já é de um azul escandaloso, mas o sol oblíquo ainda não conse- tores - Pronomes relativos, Conjunções etc)
guiu vencer os prédios e arrasta seus raios pelo mar, pelas praias, Texto
por cima das montanhas, longe dali. Não chegou à rua. E, naquele Entulho eletrônico: risco iminente para a saúde e o ambiente
trecho, onde as amendoeiras trançam suas copas, ainda é quase Os resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (lixo eletroele-
madrugada. trônico) são, por definição, produtos que têm componentes elétri-
Mesmo assim, ela já está lá – como se à espera do sol. cos e eletrônicos e que, por razões de obsolescência (perspectiva
É uma senhora de cabelos muito brancos, sentada em sua ca- ou programada) e impossibilidade de conserto, são descartados
deira, na calçada. Na rua tranquila, de pouco movimento, não passa pelos consumidores. Os exemplos mais comuns são televisores e
quase ninguém a essa hora, tão de manhãzinha. Nem carros, nem equipamentos de informática e telefonia, mas a lista inclui eletro-
pessoas. O que há mais é o movimento dos porteiros e dos pássa- domésticos, equipamentos médicos, brinquedos, sistemas de alar-
ros. Os primeiros, com suas vassouras e mangueiras, conversando me, automação e controle.
sobre o futebol da véspera. Os segundos, cantando – dentro ou fora Obsolescência programada é a decisão intencional de fabricar
das gaiolas. um produto que se torne obsoleto ou não funcional após certo tem-
Mas, mesmo com tão pouco movimento, a senhora já está sen- po, para forçar o consumidor a comprar uma nova geração desse
tada muito ereta, com seu vestido estampado, de corte simples, produto. Já a obsolescência perspectiva é uma forma de reduzir a
suas sandálias. Tem o olhar atento, o sorriso pronto a cumprimentar vida útil de produtos ainda funcionais. Nesse caso, são lançadas no-
quem surja. No braço da cadeira de plástico branco, sua mão repou- vas gerações com aparência inovadora e pequenas mudanças fun-
sa, mas também parece pronta a erguer -se num aceno, quando cionais, dando à geração em uso aspecto de ultrapassada, o que
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induz o consumidor à troca. pliação da agricultura na região amazônica, são um limitante para
O lixo eletroeletrônico é mais um desafio que se soma aos pro- a exploração dessas áreas. Para cada nova área aberta para a agri-
blemas ambientais da atualidade. O consumidor raramente reflete cultura, partedeveria ser obrigatoriamente destinada à preservação
sobre as consequências do consumo crescente desses produtos, ambiental, segundo as exigências dos países que compram nossos
preocupando- se em satisfazer suas necessidades. Afinal, eletroele- produtos agrícolas.
trônicos são tidos como sinônimos de melhor qualidade de vida, e a POPOV, Daniel. Canal Rural. Disponível em: https://www.canalrural.
explosão da indústria da informação é uma força motriz da socieda- com.br/projeto-soja-brasil/noticia/maior-fronteira-agricola- -mun-
de, oferecendo ferramentas para rápidos avanços na economia e no do-amazonia-embrapa/. 19 set. 2019. Acesso em: 30 nov. 2021.
desenvolvimento social. O mundo globalizado impõe uma constan- Adaptado.
te busca de informações em tempo real, e a sua interação com no-
vas tecnologias traz maiores oportunidades e benefícios, segundo De acordo com o texto, para atender às exigências internacio-
estudo da Organização das Nações Unidas (ONU). Tudo isso exerce nais, o país deve
um fascínio irresistível para os jovens. (A) conscientizar os agricultores da necessidade de ampliar
Dois aspectos justificam a inclusão dos eletroeletrônicos entre seus negócios.
as preocupações da ONU: as vendas crescentes, em especial nos (B) diversificar os tipos de culturas que exigem a utilização de
mercados emergentes (inclusive o Brasil), e a presença de metais muita água.
e substâncias tóxicas em muitos componentes, trazendo risco à (C) garantir a destinação de terras a atividades de preservação
saúde e ao meio ambiente. Segundo a ONU, são gerados hoje 150 ambiental.
milhões de toneladas de lixo eletroeletrônico por ano, e esse tipo (D) liberar as áreas de cultivo de produtos agrícolas na região
amazônica.
de resíduo cresce a uma velocidade três a cinco vezes maior que a
(E) restringir as terras amazônicas ao desenvolvimento da pe-
do lixo urbano.
cuária.
AFONSO, J. C. Revista Ciência Hoje, n. 314, maio 2014. São Paulo:
SBPC. Disponível em: https://cienciahoje.periodicos.capes. gov.br/
storage/acervo/ch/ch_314.pdf. Adaptado. 18. CESGRANRIO - Tec Cien (BASA)/BASA/Tecnologia da Infor-
mação/2022
No texto, o referente do termo ou expressão em destaque está Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
corretamente explicitado, entre colchetes, no trecho: Uma cena
(A) “Nesse caso, são lançadas novas gerações com aparência É de manhã. Não num lugar qualquer, mas no Rio. E não numa
inovadora e pequenas mudanças funcionais.” [obsolescência época qualquer, mas no outono. Outono no Rio. O ar é fino, quase
programada] - parágrafo 2 frio, as pedras portuguesas da calçada estão úmidas. No alto, o céu
(B) “O consumidor raramente reflete sobre as consequências já é de um azul escandaloso, mas o sol oblíquo ainda não conse-
do consumo crescente desses produtos”. [lixo eletroeletrônico] guiu vencer os prédios e arrasta seus raios pelo mar, pelas praias,
- parágrafo 3 por cima das montanhas, longe dali. Não chegou à rua. E, naquele
(C) “preocupando-se em satisfazer suas necessidades.” [consu- trecho, onde as amendoeiras trançam suas copas, ainda é quase
midor] - parágrafo 3 madrugada.
(D) “e sua interação com novas tecnologias traz maiores opor- Mesmo assim, ela já está lá – como se à espera do sol.
tunidades e benefícios”. [constante busca] - parágrafo 3 É uma senhora de cabelos muito brancos, sentada em sua ca-
(E) “e esse tipo de resíduo cresce a uma velocidade” [substân- deira, na calçada. Na rua tranquila, de pouco movimento, não passa
cias tóxicas] - parágrafo 4 quase ninguém a essa hora, tão de manhãzinha. Nem carros, nem
pessoas. O que há mais é o movimento dos porteiros e dos pássa-
17. CESGRANRIO - Tec Ban (BASA)/BASA/2022 ros. Os primeiros, com suas vassouras e mangueiras, conversando
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão) sobre o futebol da véspera. Os segundos, cantando – dentro ou fora
“Maior fronteira agrícola do mundo está no bioma amazônico”, das gaiolas.
diz pesquisador da Embrapa Mas, mesmo com tão pouco movimento, a senhora já está
O Brasil é um dos poucos países no mundo com a possibilidade sentada muito ereta, com seu vestidoestampado, de corte simples,
de ampliar áreas com a agropecuária. De fato, um estudo da ONU suas sandálias. Tem o olhar atento, o sorriso pronto a cumprimentar
mostra que o país será o grande responsável por produzir os ali- quem surja. No braço da cadeira de plástico branco, sua mão repou-
mentos necessários para atender os mais de 9 bilhões de pessoas sa, mas também parece pronta a erguer -se num aceno, quando
que habitarão o planeta em 2050. De acordo com pesquisadores alguém passar.
da Embrapa, a região possui potencial e áreas para ampliação sus- É uma cena bonita, eu acho. Cena que se repete todos os dias.
tentável da agricultura. Portanto, a responsabilidade do agricultor Parece coisa de antigamente.
brasileiro é muito grande. Parece. Não fosse por um detalhe. A senhora, sentada placi-
A região amazônica se mostra promissora para a agricultura, damente em sua cadeira na calçada, observando as manhãs, está
pois ela é rica em um insumo fundamental, a água. Estados como atrás das grades.
Rondônia e Acre têm municípios que recebem até 2.800 milímetros Meu irmão, que foi morar fora do Brasil e ficou 15 anos sem
de chuvas por ano. E isso proporciona a qualidade e a possibilidade vir aqui, ao voltar só teve um choque: as grades. Nada mais o im-
de semear mais de uma cultura por ano. pressionou, tudo ele achou normal. Fez comentários vagos sobre
Entretanto, as críticas internacionais, quanto ao uso e à am- as árvores crescidas no Aterro, sobre o excesso de gente e carros,
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tudo sem muita ênfase. Mas e essas grades, me perguntou, por que Parece coisa de antigamente.
todas essas grades? E eu, espantada com seu espanto, eu que de Parece. Não fosse por um detalhe. A senhora, sentada placi-
certa forma já me acostumara à paisagem gradeada, fiquei sem sa- damente em sua cadeira na calçada, observando as manhãs, está
ber o que dizer. atrás das grades.
Penso nisso agora, ao passar pela rua e ver aquela senhora. Meu irmão, que foi morar fora do Brasil e ficou 15 anos sem
Todos os dias, o porteiro coloca ali a cadeira para que ela se sente, vir aqui, ao voltar só teve um choque: as gradesd. Nada mais o im-
junto ao jardim, em frente à portaria, por trás da proteção do gradil pressionou, tudo ele achou normal. Fez comentários vagos sobre
pintado com tinta cor de cobre. E essa cena tão singela, de sabor tão as árvores crescidas no Aterro, sobre o excesso de gente e carros,
antigo, se desenrola assim, por trás de barras de ferro, que mesmo tudo sem muita ênfase. Mas e essas grades, me perguntou, por que
sendo de alumínio para não enferrujar são de um ferro simbólico, todas essas grades? E eu, espantada com seu espanto, eu que de
que prende, constrange, restringe. certa forma já me acostumara à paisagem gradeada, fiquei sem sa-
Eu, da calçada, vejo-a sempre por entre as tiras verticais de ber o que dizer.
metal, sua figura frágil me fazendo lembrar os passarinhos que os Penso nisso agora, ao passar pela rua e ver aquela senhorae.
porteiros guardam nas gaiolas, pendurados nas árvores. Todos os dias, o porteiro coloca ali a cadeira para que ela se sente,
SEIXAS, Heloisa. Contos mínimos. Rio de Janeiro: Record, 2001. junto ao jardim, em frente à portaria, por trás da proteção do gradil
pintado com tinta cor de cobre. E essa cena tão singela, de sabor tão
Esse texto, que se inicia a partir do cotidiano de uma velha se- antigo, se desenrola assim, por trás de barras de ferro, que mesmo
nhora que tem por hábito sentar-se na calçada observando as ma- sendo de alumínio para não enferrujar são de um ferro simbólico,
nhãs, constrói uma crítica que prende, constrange, restringe.
(A) ao abandono dos idosos que, na velhice, se veem sozinhos, Eu, da calçada, vejo-a sempre por entre as tiras verticais de
sem o apoio e o carinho de sua família. metal, sua figura frágil me fazendo lembrar os passarinhos que os
(B) ao excesso de pessoas e carros nas ruas, que somente é per- porteiros guardam nas gaiolas, pendurados nas árvores. O texto
cebido por quem se afasta da cidade por um tempo e retorna. apresenta-se dividido em dois momentos: o primeiro, em que o
(C) às cenas diárias que repetem costumes do passado, que há narrador descreve minuciosamente a cena observada; e o segundo,
muito já deveriam ter sido abandonados pela população. em que o narrador se aproxima mais do leitor, estabelecendo, com
(D) às grades, que hoje dominam o cenário das cidades e que ele, uma quase conversa e colocando-se explicitamente no texto. O
foram sendo colocadas aos poucos ao redor de todos nós. início do segundo momento se dá com o trecho:
(E) às autoridades de segurança pública, que não atuam em (A) “Mesmo assim, ela já está lá – como se à espera do sol.”
prol do direito de ir e vir, sem riscos, da população. (B) “No braço da cadeira de plástico branco, sua mão repousa,
mas também parece pronta a erguer-se num aceno, quando
19. CESGRANRIO - Tec Cien (BASA)/BASA/Tecnologia da Infor- alguém passar.”
mação/2022 (C) “É uma cena bonita, eu acho.”
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão) (D) “Meu irmão, que foi morar fora do Brasil e ficou 15 anos
Uma cena sem vir aqui, ao voltar só teve um choque: as grades.”
(E) “Penso nisso agora, ao passar pela rua e ver aquela senho-
É de manhã. Não num lugar qualquer, mas no Rio. E não numa
ra.”
época qualquer, mas no outono. Outono no Rio. O ar é fino, quase
frio, as pedras portuguesas da calçada estão úmidas. No alto, o céu
já é de um azul escandaloso, mas o sol oblíquo ainda não conse- 20. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLE-
guiu vencer os prédios e arrasta seus raios pelo mar, pelas praias, AR/Especialista em Proteção Radiológica/2022
por cima das montanhas, longe dali. Não chegou à rua. E, naquele Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
trecho, onde as amendoeiras trançam suas copas, ainda é quase Texto
madrugada. Maria José
Mesmo assim, ela já está lá – como se à espera do sol.a Paulo Mendes Campos
É uma senhora de cabelos muito brancos, sentada em sua ca- Faz um ano que Maria José morreu. Era meiga quase sempre,
deira, na calçada. Na rua tranquila, de pouco movimento, não passa violenta quando necessário. Eu era menino e apanhava de um com-
quase ninguém a essa hora, tão de manhãzinha. Nem carros, nem panheiro maior, quando ela me gritou da sacada se eu não via a
pessoas. O que há mais é o movimento dos porteiros e dos pássa- pedra que marcava o gol. Dei uma pedrada no outro e acabei com
ros. Os primeiros, com suas vassouras e mangueiras, conversando a briga por milagre.
sobre o futebol da véspera. Os segundos, cantando – dentro ou fora Visitava os miseráveis, internava indigentes enfermos, devota-
das gaiolas. va-se ao alívio de misérias físicas e morais do próximo, estudava o
Mas, mesmo com tão pouco movimento, a senhora já está sen- mistério teológico, exigia sempre o mais difícil de si mesma, comun-
tada muito ereta, com seu vestido estampado, de corte simples, gava todos os dias, ingressou na Ordem Terceira de São Francisco.
suas sandálias. Tem o olhar atento, o sorriso pronto a cumprimentar Mas nunca deixou de ter na gaveta o revólver que havia recebido,
quem surja. No braço da cadeira de plástico branco, sua mão repou- menina- e-moça, das mãos do pai, e que empunhou no quintal no-
sa, mas também parece pronta a erguer -se num aceno, quando turno, perseguindo um ladrão, para espanto de meus cinco anos.
alguém passar.b Já perto dos setenta anos, ela explicava para um amigo meu
É uma cena bonita, eu acho. Cena que se repete todos os dias. que tinha chegado à humildade da velhice; já não se importava com
quem tentasse ofendê-la, mas conservava o revólver para a defesa
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LÍNGUA PORTUGUESA

dos filhos e dos netos.


Tratou-me com a dureza e o carinho que mereciam a rebeldia GABARITO
e o verdor da minha meninice. Ensinou- me a ler as primeiras sen-
tenças; me falava do Cura d’Ars e nos dois Franciscos, o de Sales e
o de Assis; apresentou-me aos contos de Edgar Poe e aos poemas
de Baudelaire; dizia-me sorrindo versos de Antônio Nobre que ha- 1 B
via decorado quando menina; discutia comigo as ideias finais de 2 C
Tolstoi; escutava maternalmente meus contos toscos. Quando me
desgarrei nos primeiros envolvimentos adolescentes, Maria José,
3 E
com irônico afeto, me repetia a advertência de Drummond: “Paulo, 4 A
sossegue, o amor é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã
5 B
não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém
sabe o que será”. 6 B
Logo que me fiz homenzinho, deixou a dureza e se fez minha 7 A
amiga: nada me perguntava, adivinhava tudo.
Terna e firme, nunca lhe vi a fraqueza da pieguice. Com o gosto 8 E
espontâneo da qualidade das coisas, renunciou às vaidades mais 9 B
singelas. Sensível, alegre, aprendeu a encarar o sofrimento de olhos
lúcidos. Fiel à disciplina religiosa, compreendia celestialmente as al- 10 E
mas que perdiam o rumo. Fé, Esperança e Caridade eram para ela a 11 B
flecha e o alvo das criaturas.
Tornara-se tão íntima da substância terrestre – a dor – que se 12 A
fazia difícil para o médico saber o que sentia; acabava dizendo que 13 D
doía um pouco, por delicadeza.
Capaz de longos jejuns e abstinências, já no final da vida, podia 14 D
acompanhar um casal amigo a Copacabana, passar do bar da moda 15 C
ao restaurante diferente, beber dois cafés ou três uísques em santa
serenidade e aceitar com alegria o prato exótico. 16 C
Gostava das pessoas erradas, consumidas de paixão, admirava 17 C
São Paulo e Santo Agostinho, acreditava que era preciso se fazer
violência para entrar no reino celeste.
18 D
Poucas horas antes de morrer, pediu um conhaque e sorriu, 19 C
destemida e doce, como quem vai partir para o céu. Santificara-se.
Deus era o dia e a noite de seu coração, o Pai, a piedade, o fogo do
20 E
espírito. Perdi quem me amava e perdoava, quem me encomen-
dava à compaixão do Criador e me defendia contra o mundo de
revólver na mão.
ANOTAÇÕES
Disponível em: https://cronicabrasileira.org.br/cronicas/7173/maria-
jose. Acesso em: 05 fev. 2022. ___________________________________________
___________________________________________
No texto, o narrador apresenta Maria José ao leitor, descreven- ___________________________________________
do- a a partir de aspectos subjetivos, como em: ___________________________________________
(A) “Faz um ano que Maria José morreu.” (parágrafo 1)
(B) “Visitava os miseráveis, internava indigentes enfermos” (pa- ___________________________________________
rágrafo 2) ___________________________________________
(C) “comungava todos os dias” (parágrafo 2) ___________________________________________
(D) “apresentou-me aos contos de Edgar Poe e aos poemas de
Baudelaire” (parágrafo 4) ___________________________________________
(E) “Terna e firme, nunca lhe vi a fraqueza da pieguice.” (pará- ___________________________________________
grafo 6) ___________________________________________
___________________________________________
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NOÇÕES DE DIREITO

Direitos Metaindividuais
I – DIREITO E GARANTIAS FUNDAMENTAIS: DIREITOS E
DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS; DIREITO À VIDA, À Natureza Destinatários
LIBERDADE, À IGUALDADE, À SEGURANÇA E À PROPRIE- Difusos Indivisível Indeterminados
DADE; DIREITOS SOCIAIS; NACIONALIDADE; CIDADANIA;
GARANTIAS CONSTITUCIONAIS INDIVIDUAIS; GARAN- Determináveis
TIAS DOS DIREITOS COLETIVOS, SOCIAIS E POLÍTICOS Coletivos Indivisível ligados por uma relação
jurídica
Determinados
Individuais
Distinção entre Direitos e Garantias Fundamentais Divisível ligados por uma situação
Homogêneos
Pode-se dizer que os direitos fundamentais são os bens jurídi- fática
cos em si mesmos considerados, de cunho declaratório, narrados
no texto constitucional. Por sua vez, as garantias fundamentais são Os Direitos Fundamentais de Terceira Geração possuem as se-
estabelecidas na mesma Constituição Federal como instrumento de guintes características:
proteção dos direitos fundamentais e, como tais, de cunho assecu- a) surgiram no século XX;
ratório. b) estão ligados ao ideal de fraternidade (ou solidariedade),
que deve nortear o convívio dos diferentes povos, em defesa dos
Evolução dos Direitos e Garantias Fundamentais bens da coletividade;
c) são direitos positivos, a exigir do Estado e dos diferentes
– Direitos Fundamentais de Primeira Geração povos uma firme atuação no tocante à preservação dos bens de
Possuem as seguintes características: interesse coletivo;
a) surgiram no final do século XVIII, no contexto da Revolução d) correspondem ao direito de preservação do meio ambiente,
Francesa, fase inaugural do constitucionalismo moderno, e domina- de autodeterminação dos povos, da paz, do progresso da humani-
ram todo o século XIX; dade, do patrimônio histórico e cultural, etc.
b) ganharam relevo no contexto do Estado Liberal, em oposição
ao Estado Absoluto; – Direitos Fundamentais de Quarta Geração
c) estão ligados ao ideal de liberdade; Segundo Paulo Bonavides, a globalização política é o fator his-
d) são direitos negativos, que exigem uma abstenção do Estado tórico que deu origem aos direitos fundamentais de quarta gera-
em favor das liberdades públicas; ção. Eles estão ligados à democracia, à informação e ao pluralismo.
e) possuíam como destinatários os súditos como forma de pro- Também são transindividuais.
teção em face da ação opressora do Estado;
f) são os direitos civis e políticos. – Direitos Fundamentais de Quinta Geração
Paulo Bonavides defende, ainda, que o direito à paz represen-
– Direitos Fundamentais de Segunda Geração taria o direito fundamental de quinta geração.
Possuem as seguintes características:
a) surgiram no início do século XX; Características dos Direitos e Garantias Fundamentais
b) apareceram no contexto do Estado Social, em oposição ao São características dos Direitos e Garantias Fundamentais:
Estado Liberal; a) Historicidade: não nasceram de uma só vez, revelando sua
c) estão ligados ao ideal de igualdade; índole evolutiva;
d) são direitos positivos, que passaram a exigir uma atuação b) Universalidade: destinam-se a todos os indivíduos, indepen-
positiva do Estado; dentemente de características pessoais;
e) correspondem aos direitos sociais, culturais e econômicos. c) Relatividade: não são absolutos, mas sim relativos;
d) Irrenunciabilidade: não podem ser objeto de renúncia;
– Direitos Fundamentais de Terceira Geração e) Inalienabilidade: são indisponíveis e inalienáveis por não
Em um próximo momento histórico, foi despertada a preocu- possuírem conteúdo econômico-patrimonial;
pação com os bens jurídicos da coletividade, com os denominados f) Imprescritibilidade: são sempre exercíveis, não desparecen-
interesses metaindividuais (difusos, coletivos e individuais homogê- do pelo decurso do tempo.
neos), nascendo os direitos fundamentais de terceira geração.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

Destinatários dos Direitos e Garantias Fundamentais Direito à Igualdade


Todas as pessoas físicas, sem exceção, jurídicas e estatais, são A igualdade, princípio fundamental proclamado pela Constitui-
destinatárias dos direitos e garantias fundamentais, desde que ção Federal e base do princípio republicano e da democracia, deve
compatíveis com a sua natureza. ser encarada sob duas óticas, a igualdade material e a igualdade
formal.
Eficácia Horizontal dos Direitos e Garantias Fundamentais A igualdade formal é a identidade de direitos e deveres conce-
Muito embora criados para regular as relações verticais, de su- didos aos membros da coletividade por meio da norma.
bordinação, entre o Estado e seus súditos, passam a ser emprega- Por sua vez, a igualdade material tem por finalidade a busca
dos nas relações provadas, horizontais, de coordenação, envolven- da equiparação dos cidadãos sob todos os aspectos, inclusive o
do pessoas físicas e jurídicas de Direito Privado. jurídico. É a consagração da máxima de Aristóteles, para quem o
princípio da igualdade consistia em tratar igualmente os iguais e
Natureza Relativa dos Direitos e Garantias Fundamentais desigualmente os desiguais na medida em que eles se desigualam.
Encontram limites nos demais direitos constitucionalmente Sob o pálio da igualdade material, caberia ao Estado promover
consagrados, bem como são limitados pela intervenção legislativa a igualdade de oportunidades por meio de políticas públicas e leis
ordinária, nos casos expressamente autorizados pela própria Cons- que, atentos às características dos grupos menos favorecidos, com-
tituição (princípio da reserva legal). pensassem as desigualdades decorrentes do processo histórico da
formação social.
Colisão entre os Direitos e Garantias Fundamentais
O princípio da proporcionalidade sob o seu triplo aspecto (ade- Direito à Privacidade
quação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito) é a Para o estudo do Direito Constitucional, a privacidade é gênero,
ferramenta apta a resolver choques entre os princípios esculpidos do qual são espécies a intimidade, a honra, a vida privada e a ima-
na Carta Política, sopesando a incidência de cada um no caso con- gem. De maneira que, os mesmos são invioláveis e a eles assegura-
creto, preservando ao máximo os direitos e garantias fundamentais -se o direito à indenização pelo dano moral ou material decorrente
constitucionalmente consagrados. de sua violação.

Os quatro status de Jellinek Direito à Honra


a) status passivo ou subjectionis: quando o indivíduo se encon- O direito à honra almeja tutelar o conjunto de atributos perti-
tra em posição de subordinação aos poderes públicos, caracterizan- nentes à reputação do cidadão sujeito de direitos, exatamente por
do-se como detentor de deveres para com o Estado; tal motivo, são previstos no Código Penal.
b) status negativo: caracterizado por um espaço de liberdade
de atuação dos indivíduos sem ingerências dos poderes públicos; Direito de Propriedade
c) status positivo ou status civitatis: posição que coloca o indi- É assegurado o direito de propriedade, contudo, com
víduo em situação de exigir do Estado que atue positivamente em restrições, como por exemplo, de que se atenda à função social da
seu favor; propriedade. Também se enquadram como espécies de restrição do
d) status ativo: situação em que o indivíduo pode influir na for- direito de propriedade, a requisição, a desapropriação, o confisco
mação da vontade estatal, correspondendo ao exercício dos direi- e o usucapião.
tos políticos, manifestados principalmente por meio do voto. Do mesmo modo, é no direito de propriedade que se assegu-
ram a inviolabilidade do domicílio, os direitos autorais (propriedade
Os direitos individuais estão elencados no caput do Artigo 5º intelectual) e os direitos reativos à herança.
da CF. São eles: Destes direitos, emanam todos os incisos do Art. 5º, da CF/88,
conforme veremos abaixo:
Direito à Vida
O direito à vida deve ser observado por dois prismas: o direito TÍTULO II
de permanecer vivo e o direito de uma vida digna. DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
O direito de permanecer vivo pode ser observado, por exemplo,
na vedação à pena de morte (salvo em caso de guerra declarada). CAPÍTULO I
Já o direito à uma vida digna, garante as necessidades vitais DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
básicas, proibindo qualquer tratamento desumano como a tortura,
penas de caráter perpétuo, trabalhos forçados, cruéis, etc. Artigo 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
Direito à Liberdade residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
O direito à liberdade consiste na afirmação de que ninguém será igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de I- homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos
lei. Tal dispositivo representa a consagração da autonomia privada. termos desta Constituição;
Trata-se a liberdade, de direito amplo, já que compreende, II- ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coi-
dentre outros, as liberdades: de opinião, de pensamento, de loco- sa senão em virtude de lei;
moção, de consciência, de crença, de reunião, de associação e de III- ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desu-
expressão. mano ou degradante;
IV- é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o ano-
nimato;
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

V- é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, XXVI- a pequena propriedade rural, assim definida em lei, des-
além da indenização por dano material, moral ou à imagem; de que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para
VI- é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dis-
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na for- pondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;
ma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização,
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdei-
religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; ros pelo tempo que a lei fixar;
VIII- ninguém será privado de direitos por motivo de crença re- XXVIII- são assegurados, nos termos da lei:
ligiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e
eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades
prestação alternativa, fixada em lei; desportivas;
IX - é livre a expressão de atividade intelectual, artística, cientí- b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das
fica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intér-
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a ima- pretes e às respectivas representações sindicais e associativas;
gem das pessoas, assegurado o direito à indenização por dano ma- XXIX- a lei assegurará aos autores de inventos industriais privi-
terial ou moral decorrente de sua violação; légio temporário para sua utilização, bem como às criações indus-
XI- a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo triais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagran- signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvi-
te delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por mento tecnológico e econômico do País;
determinação judicial; XXX- é garantido o direito de herança;
XII- é inviolável o sigilo da correspondência e das comunica- XXXI- a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será
ções telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos
no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável à lei pessoal
lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução pro- do de cujus;
cessual penal; XXXII- o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do con-
XIII- é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, sumidor;
atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; XXXIII- todos têm direito a receber dos órgãos públicos informa-
XIV- é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado ções de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral,
o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,
XV- é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da
podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permane- sociedade e do Estado;
cer ou dele sair com seus bens; XXXIV- são a todos assegurados, independentemente do paga-
XVI- todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em lo- mento de taxas:
cais abertos ao público, independentemente de autorização, desde a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direi-
que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o tos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade com- b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defe-
petente; sa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;
XVII- é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada XXXV- a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
a de caráter paramilitar; ou ameaça a direito;
XVIII- a criação de associações e, na forma da lei, a de coope- XXXVI- a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico
rativas independem de autorização, sendo vedada a interferência perfeito e a coisa julgada;
estatal em seu funcionamento; XXXVII- não haverá juízo ou tribunal de exceção;
XIX- as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvi- XXXVIII- é reconhecida a instituição do júri, com a organização
das ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo- que lhe der a lei, assegurados:
-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado; a) a plenitude da defesa;
XX- ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a perma- b) o sigilo das votações;
necer associado; c) a soberania dos veredictos;
XXI- as entidades associativas, quando expressamente autori- d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra
zadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou a vida;
extrajudicialmente; XXXIX- não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena
XXII- é garantido o direito de propriedade; sem prévia cominação legal;
XXIII- a propriedade atenderá a sua função social; XL- a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
XXIV- a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação XLI- a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos
por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, me- e liberdades fundamentais;
diante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos XLII- a prática do racismo constitui crime inafiançável e impres-
previstos nesta Constituição; critível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
XXV- no caso de iminente perigo público, a autoridade com-
petente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao pro-
prietário indenização ulterior, se houver dano;

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

XLIII- a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de LXII- a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre
graça ou anistia a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecen- serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família
tes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hedion- ou à pessoa por ele indicada;
dos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, LXIII- o preso será informado de seus direitos, entre os quais o
podendo evitá-los, se omitirem; de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da famí-
XLIV- constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de gru- lia e de advogado;
pos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o LXIV- o preso tem direito a identificação dos responsáveis por
Estado Democrático; sua prisão ou por seu interrogatório policial;
XLV- nenhuma pena passará da pessoa do condenado, poden- LXV- a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autorida-
do a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de de judiciária;
bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles LXVI- ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;
XLVI- a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre LXVII- não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável
outras, as seguintes: pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimen-
a) privação ou restrição de liberdade; tícia e a do depositário infiel;
b) perda de bens; LXVIII- conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer
c) multa; ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberda-
d) prestação social alternativa; de de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;
e) suspensão ou interdição de direitos; LXIX- conceder-se-á mandado de segurança para proteger di-
XLVII- não haverá penas: reito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habe-
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do as data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder
artigo 84, XIX; for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
b) de caráter perpétuo; atribuições de Poder Público;
c) de trabalhos forçados; LXX- o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
d) de banimento; a) partido político com representação no Congresso Nacional;
e) cruéis; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legal-
XLVIII- a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de mente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em
acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado; defesa dos interesses de seus membros ou associados;
XLIX- é assegurado aos presos o respeito à integridade física e LXXI- conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta
moral; de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e
L- às presidiárias serão asseguradas condições para que possam liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionali-
permanecer com seus filhos durante o período de amamentação; dade, à soberania e à cidadania;
LI- nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em LXXII- conceder-se-á habeas data:
caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de com- a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à
provado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados
afins, na forma da lei; de entidades governamentais ou de caráter público;
LII- não será concedida extradição de estrangeiro por crime po- b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo
lítico ou de opinião; por processo sigiloso, judicial ou administrativo;
LIII- ninguém será processado nem sentenciado senão por au- LXXIII- qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
toridade competente; popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
LIV- ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa,
devido processo legal; ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o
LV- aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, da sucumbência;
com os meios e recursos a ela inerentes; LXXIV- o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita
LVI- são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por aos que comprovarem insuficiência de recursos;
meios ilícitos; LXXV- o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, as-
LVII- ninguém será considerado culpado até o trânsito em julga- sim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença;
do da sentença penal condenatória; LXXVI- são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na for-
LVIII- o civilmente identificado não será submetido à identifica- ma da lei:
ção criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei; a) o registro civil de nascimento;
LIX- será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se b) a certidão de óbito.
esta não for intentada no prazo legal; LXXVII- são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data
LX- a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais e, na forma da lei, os atos necessário ao exercício da cidadania;
quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; LXXVIII- a todos, no âmbito judicial e administrativo, são asse-
LXI- ninguém será preso senão em flagrante delito ou por or- gurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a
dem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, celeridade de sua tramitação.
salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente mi- LXXIX - é assegurado, nos termos da lei, o direito à proteção dos
litar, definidos em lei; dados pessoais, inclusive nos meios digitais. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 115, de 2022)
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

§1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral
têm aplicação imediata. ou no valor da aposentadoria;
§2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua
adotados, ou dos tratados internacionais em que a República retenção dolosa;
Federativa do Brasil seja parte. XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da re-
§3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos muneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empre-
humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso sa, conforme definido em lei;
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalha-
§4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal dor de baixa renda nos termos da lei;
Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão. XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas di-
O tratado foi equiparado no ordenamento jurídico brasileiro às árias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de
leis ordinárias. Em que pese tenha adquirido este caráter, o men- horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção
cionado tratado diz respeito a direitos humanos, porém não possui coletiva de trabalho;
característica de emenda constitucional, pois entrou em vigor em XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos
nosso ordenamento jurídico antes da edição da Emenda Constitu- ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva;
cional nº 45/04. Para que tal tratado seja equiparado às emendas
constitucionais deverá passar pelo mesmo rito de aprovação destas XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos do-
mingos;
Os direitos sociais são prestações positivas proporcionadas XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no míni-
pelo Estado direta ou indiretamente, enunciadas em normas cons- mo, em cinquenta por cento à do normal;
titucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos mais XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um
fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações so- terço a mais do que o salário normal;
ciais desiguais. São, portanto, direitos que se ligam ao direito de XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário,
igualdade. Estão previstos na CF nos artigos 6 a 11. Vejamos: com a duração de cento e vinte dias;
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
CAPÍTULO II XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante in-
DOS DIREITOS SOCIAIS centivos específicos, nos termos da lei;
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, mínimo de trinta dias, nos termos da lei;
o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previ- XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de
dência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência normas de saúde, higiene e segurança;
aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas,
pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015) insalubres ou perigosas, na forma da lei;
Parágrafo único. Todo brasileiro em situação de vulnerabilidade XXIV - aposentadoria;
social terá direito a uma renda básica familiar, garantida pelo poder XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nas-
público em programa permanente de transferência de renda, cujas cimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas;
normas e requisitos de acesso serão determinados em lei, observa- XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de
da a legislação fiscal e orçamentária. (Incluído pela Emenda Consti- trabalho;
tucional nº 114, de 2021) XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei;
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empre-
outros que visem à melhoria de sua condição social: gador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando
I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária incorrer em dolo ou culpa;
ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de
indenização compensatória, dentre outros direitos; trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalha-
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário; dores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do
III - fundo de garantia do tempo de serviço; contrato de trabalho;
IV - salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente unificado, a) (Revogada).
capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua fa- b) (Revogada).
mília com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de fun-
higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos ções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou
que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação estado civil;
para qualquer fim; XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência;
trabalho; XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção intelectual ou entre os profissionais respectivos;
ou acordo coletivo; XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis
percebem remuneração variável; anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos;

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo Os direitos sociais regem-se pelos princípios abaixo:
empregatício permanente e o trabalhador avulso. – Princípio da proibição do retrocesso: qualifica-se pela impos-
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhado- sibilidade de redução do grau de concretização dos direitos sociais
res domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, já implementados pelo Estado. Ou seja, uma vez alcançado deter-
XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII minado grau de concretização de um direito social, fica o legislador
e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a sim- proibido de suprimir ou reduzir essa concretização sem que haja
plificação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e a criação de mecanismos equivalentes chamados de medias com-
acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiarida- pensatórias.
des, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como – Princípio da reserva do possível: a implementação dos di-
a sua integração à previdência social. reitos e garantias fundamentais de segunda geração esbarram no
Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado óbice do financeiramente possível.
o seguinte: – Princípio do mínimo existencial: é um conjunto de bens e
I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação direitos vitais básicos indispensáveis a uma vida humana digna,
de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas intrinsecamente ligado ao fundamento da dignidade da pessoa
ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sin- humana previsto no Artigo 1º, III, CF. A efetivação do mínimo
dical; existencial não se sujeita à reserva do possível, pois tais direitos se
II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em encontram na estrutura dos serviços púbicos essenciais.
qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econô-
mica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalha- Os direitos sociais são divididos em:
dores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à
área de um Município; Direitos relativos aos trabalhadores
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coleti- Direitos relativos ao salário, às condições de trabalho, à liber-
vos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou dade de instituição sindical, o direito de greve, entre outros (CF, ar-
administrativas; tigos 7º a 11).
IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratan-
do de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio Direitos relativos ao homem consumidor
do sistema confederativo da representação sindical respectiva, in- Direito à saúde, à educação, à segurança social, ao desenvolvi-
dependentemente da contribuição prevista em lei; mento intelectual, o igual acesso das crianças e adultos à instrução,
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a à cultura e garantia ao desenvolvimento da família, que estariam no
sindicato; título da ordem social.
VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações
coletivas de trabalho; Os direitos referentes à nacionalidade estão previstos dos Ar-
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas tigos 12 a 13 da CF. Vejamos:
organizações sindicais;
VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a par- CAPÍTULO III
tir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação DA NACIONALIDADE
sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do
mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei. Art. 12. São brasileiros:
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à orga- I - natos:
nização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores, atendidas a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de
as condições que a lei estabelecer. pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos tra- país;
balhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasilei-
interesses que devam por meio dele defender. ra, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federa-
§1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá tiva do Brasil;
sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe bra-
§2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas sileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira com-
da lei. petente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e
Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e em- optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
pregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus inte- nacionalidade brasileira;
resses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão II - naturalizados:
e deliberação. a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira,
Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é as- exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas resi-
segurada a eleição de um representante destes com a finalidade dência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empre- b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na
gadores. República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterrup-
tos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade
brasileira.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

§1º Aos portugueses com residência permanente no País, se O quadro abaixo auxilia na memorização das diferenças entre
houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos as duas:
os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta
Constituição. Nacionalidade
§2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros
natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição. Primária Secundária
§3º São privativos de brasileiro nato os cargos: Nascimento + Requisitos Ato de vontade + Requisitos
I - de Presidente e Vice-Presidente da República; constitucionais constitucionais
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal; Brasileiro Nato Brasileiros Naturalizado
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática; • Critérios para Adoção de Nacionalidade Primária
VI - de oficial das Forças Armadas. O Estado pode adotar dois critérios para a concessão da nacio-
VII - de Ministro de Estado da Defesa. nalidade originária: o de origem sanguínea (ius sanguinis) e o de
§4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: origem territorial (ius solis).
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em O critério ius sanguinis tem por base questões de hereditarie-
virtude de fraude relacionada ao processo de naturalização ou de dade, um vínculo sanguíneo com os ascendentes.
atentado contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; O critério ius solis concede a nacionalidade originária aos nas-
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 131, de 2023) cidos no território de um determinado Estado, sendo irrelevante a
II - fizer pedido expresso de perda da nacionalidade brasileira nacionalidade dos genitores.
perante autoridade brasileira competente, ressalvadas situações A CF/88 adotou o critério ius solis como regra geral, possibili-
que acarretem apatridia. (Redação dada pela Emenda Constitucio- tando em alguns casos, a atribuição de nacionalidade primária pau-
nal nº 131, de 2023) tada no ius sanguinis.
a) revogada; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
131, de 2023) Portugueses Residentes no Brasil
b) revogada. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº O §1º do Artigo 12 da CF confere tratamento diferenciado aos
131, de 2023) portugueses residentes no Brasil. Não se trata de hipótese de natu-
§5º A renúncia da nacionalidade, nos termos do inciso II do §4º ralização, mas tão somente forma de atribuição de direitos.
deste artigo, não impede o interessado de readquirir sua nacionali-
dade brasileira originária, nos termos da lei. (Incluído pela Emenda Portugueses Equiparados
Constitucional nº 131, de 2023)
Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Fe- Igual os Direitos Se houver 1) Residência
derativa do Brasil. dos Brasileiros permanente no
§1º São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, Naturalizados Brasil;
o hino, as armas e o selo nacionais. 2) Reciprocidade
§2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão ter aos brasileiros em
símbolos próprios. Portugal.

A Nacionalidade é o vínculo jurídico-político de Direito Público Distinção entre Brasileiros Natos e Naturalizados
interno, que faz da pessoa um dos elementos componentes da di- A CF/88 em seu Artigo 12, §2º, prevê que a lei não poderá fa-
mensão pessoal do Estado (o seu povo). zer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, com exceção às
Considera-se povo o conjunto de nacionais, ou seja, os brasilei- seguintes hipóteses:
ros natos e naturalizados. Cargos privativos de brasileiros natos → Artigo 12, §3º, CF;
Função no Conselho da República → Artigo 89, VII, CF;
Espécies de Nacionalidade Extradição → Artigo 5º, LI, CF; e
São duas as espécies de nacionalidade: Direito de propriedade → Artigo 222, CF.
a) Nacionalidade primária, originária, de 1º grau, involuntá-
ria ou nata: é aquela resultante de um fato natural, o nascimento. Perda da Nacionalidade
Trata-se de aquisição involuntária de nacionalidade, decorrente do O Artigo 12, §4º da CF refere-se à perda da nacionalidade, que
simples nascimento ligado a um critério estabelecido pelo Estado apenas poderá ocorrer nas duas hipóteses taxativamente elencadas
na sua Constituição Federal. Descrita no Artigo 12, I, CF/88. na CF, sob pena de manifesta inconstitucionalidade.
b) Nacionalidade secundária, adquirida, por aquisição, de 2º
grau, voluntária ou naturalização: é a que se adquire por ato voliti- Dupla Nacionalidade
vo, depois do nascimento, somado ao cumprimento dos requisitos O Artigo 12, §4º, II da CF traz duas hipóteses em que a opção
constitucionais. Descrita no Artigo 12, II, CF/88. por outra nacionalidade não ocasiona a perda da brasileira, passan-
do o nacional a possuir dupla nacionalidade (polipátrida).

Polipátrida → aquele que possui mais de uma nacionalidade.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

Heimatlos ou Apátrida → aquele que não possui nenhuma na- II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela
cionalidade. autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato
da diplomação, para a inatividade.
Idioma Oficial e Símbolos Nacionais §9º Lei complementar estabelecerá outros casos de
Por fim, o Artigo 13 da CF elenca o Idioma Oficial e os Símbolos inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a
Nacionais do Brasil. probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato
considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e
Os Direitos Políticos têm previsão legal na CF/88, em seus Arti- legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou
gos 14 a 16. Seguem abaixo: o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração
direta ou indireta.
CAPÍTULO IV §10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça
DOS DIREITOS POLÍTICOS Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída
a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio univer- fraude.
sal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos §11. A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo
termos da lei, mediante: de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou
I - plebiscito; de manifesta má-fé.
II - referendo; §12. Serão realizadas concomitantemente às eleições
III - iniciativa popular. municipais as consultas populares sobre questões locais aprovadas
§1º O alistamento eleitoral e o voto são: pelas Câmaras Municipais e encaminhadas à Justiça Eleitoral até
I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos; 90 (noventa) dias antes da data das eleições, observados os limites
II - facultativos para: operacionais relativos ao número de quesitos. (Incluído pela
a) os analfabetos; Emenda Constitucional nº 111, de 2021)
b) os maiores de setenta anos; §13. As manifestações favoráveis e contrárias às questões
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. submetidas às consultas populares nos termos do §12 ocorrerão
§2º Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante as campanhas eleitorais, sem a utilização de propaganda
durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos. gratuita no rádio e na televisão. (Incluído pela Emenda Constitucional
§3º São condições de elegibilidade, na forma da lei: nº 111, de 2021)
I - a nacionalidade brasileira; Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou
II - o pleno exercício dos direitos políticos; suspensão só se dará nos casos de:
III - o alistamento eleitoral; I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; julgado;
V - a filiação partidária; II - incapacidade civil absoluta;
VI - a idade mínima de: III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto du-
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da Re- rarem seus efeitos;
pública e Senador; IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
do Distrito Federal; V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, §4º.
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor
ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até
d) dezoito anos para Vereador. um ano da data de sua vigência.
§4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.
§5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e De acordo com José Afonso da Silva, os direitos políticos, rela-
do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou cionados à primeira geração dos direitos e garantias fundamentais,
substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um consistem no conjunto de normas que asseguram o direito subjetivo
único período subsequente. de participação no processo político e nos órgãos governamentais.
§6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da São instrumentos previstos na Constituição e em normas infra-
República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os constitucionais que permitem o exercício concreto da participação
Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis do povo nos negócios políticos do Estado.
meses antes do pleito.
§7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o Capacidade Eleitoral Ativa
cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau Segundo o Artigo 14, §1º da CF, a capacidade eleitoral ativa é
ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de o direito de votar nas eleições, nos plebiscitos ou nos referendos,
Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os cuja aquisição se dá com o alistamento eleitoral, que atribui ao na-
haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se cional a condição de cidadão (aptidão para o exercício de direitos
já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. políticos).
§8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes
condições:
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se
da atividade;
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

Alistamento Eleitoral e Voto II – se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela
autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato
Obriga- Faculta- da diplomação, para a inatividade.
Inalistável – Artigo 14, §2º
tório tivo Observa-se que a norma restringe a elegibilidade aos militares
Maio- alistáveis, logo, os conscritos, que são inalistáveis, são inelegíveis. O
Estrangeiros (com exceção quadro abaixo serve como exemplo:
res de 16 e
aos portugueses equiparados,
Maio- menores de
constantes no Artigo 12, §1º da
res de 18 e 18 anos Militares – Exceto os Conscritos
CF)
menores de Maiores
Conscritos (aqueles con- Registro da candidatura →
70 anos de 70 anos Menos de 10 anos
vocados para o serviço militar Inatividade
Analfa-
obrigatório)
betos Registro da candidatura →
Agregado
Mais de 10 anos
– Características do Voto Na diplomação → Inativi-
O voto no Brasil é direito (como regra), secreto, universal, com dade
valor igual para todos, periódico, personalíssimo, obrigatório e livre.
Privação dos Direitos Políticos
Capacidade Eleitoral Passiva De acordo com o Artigo 15 da CF, o cidadão pode ser privado
Também chamada de Elegibilidade, a capacidade eleitoral pas- dos seus direitos políticos por prazo indeterminado (perda), sendo
siva diz respeito ao direito de ser votado, ou seja, de eleger-se para que, neste caso, o restabelecimento dos direitos políticos depende-
cargos políticos. Tem previsão legal no Artigo 14, §3º da CF. rá do exercício de ato de vontade do indivíduo, de um novo alista-
O quadro abaixo facilita a memorização da diferença entre as mento eleitoral.
duas espécies de capacidade eleitoral. Vejamos: Da mesma forma, a privação dos direitos políticos pode se dar
por prazo determinado (suspensão), em que o restabelecimento se
Capacidade Eleitoral Capacidade Eleitoral dará automaticamente, ou seja, independentemente de manifesta-
Ativa Passiva ção do suspenso, desde que ultrapassado as razões da suspensão.
Vejamos:
Alistabilidade Elegibilidade
Direito de votar Direito de ser votado Privação dos Direitos Políticos
Perda Suspensão
Inelegibilidades
A inelegibilidade afasta a capacidade eleitoral passiva (direito Privação por prazo Privação por prazo
de ser votado), constituindo-se impedimento à candidatura a man- indeterminado determinado
datos eletivos nos Poderes Executivo e Legislativo. Restabelecimento dos
Restabelecimento
direitos políticos depende
– Inelegibilidade Absoluta dos direitos políticos se dá
de um novo alistamento
Com previsão legal no Artigo 14, §4º da CF, a inelegibilidade ab- automaticamente
eleitoral
soluta impede que o cidadão concorra a qualquer mandato eletivo
e, em virtude de natureza excepcional, somente pode ser estabele-
A previsão legal dos Partidos Políticos de dá no Artigo 17 da CF.
cida na Constituição Federal.
Vejamos:
Refere-se aos Inalistáveis e aos Analfabetos.
CAPÍTULO V
– Inelegibilidade Relativa
DOS PARTIDOS POLÍTICOS
Consiste em restrições que recaem à candidatura a determi-
nados cargos eletivos, em virtude de situações próprias em que se
Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de
encontra o cidadão no momento do pleito eleitoral. São elas:
partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime de-
– Vedação ao terceiro mandato sucessivo para os Chefes do Po-
mocrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa
der Executivo (Artigo 14, §5º, CF);
humana e observados os seguintes preceitos:
– Desincompatibilização para concorrer a outros cargos, aplica-
I - caráter nacional;
da apenas aos Chefes do Poder Executivo (Artigo 14, §6º, CF);
II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entida-
– Inelegibilidade reflexa, ou seja, inelegibilidade relativa por mo-
de ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes;
tivos de casamento, parentesco ou afinidade, uma vez que não incide
III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;
sobre o mandatário, mas sim perante terceiros (Artigo 14, §7º, CF).
IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.
§1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir
Condição de Militar
sua estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação
O militar alistável é elegível, desde que atenda as exigências
e duração de seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua
previstas no §8º do Artigo 14, da CF, a saber:
organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha
I – se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se
e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias, vedada a
da atividade;
sua celebração nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, Trata-se de um privilégio aos ideais políticos, que devem estar
distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas acima das características pessoais do candidato.
de disciplina e fidelidade partidária. (Redação dada pela Emenda Segundo Dirley da Cunha Júnior, entende-se por partido polí-
Constitucional nº 97, de 2017) tico uma pessoa jurídica de Direito Privado que consiste na união
§2º Os partidos políticos, após adquirirem personalidade ou agremiação voluntária de cidadãos com afinidades ideológicas e
jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal políticas, organizada segundo princípios de disciplina e fidelidade.
Superior Eleitoral. Tal conceito vai ao encontro das disposições acerca dos parti-
§3º Somente terão direito a recursos do fundo partidário e dos políticos trazidas pelo Artigo 1º da Lei nº 9296/1995, para quem
acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos o partido político, pessoa jurídica de Direito Privado, destina-se a
políticos que alternativamente: (Redação dada pela Emenda assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do
Constitucional nº 97, de 2017) sistema representativo e a defender os direitos fundamentais defi-
I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no nidos na Constituição Federal.
mínimo, 3% (três por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo A Constituição confere ampla liberdade aos partidos políticos,
menos um terço das unidades da Federação, com um mínimo de 2% uma vez que são instituições indispensáveis para concretização do
(dois por cento) dos votos válidos em cada uma delas; ou (Incluído Estado democrático de direito, muito embora restrinja a utilização
pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) de organização paramilitar.
II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais dis-
tribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação. (In- Remédios e Garantias Constitucionais
cluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017) As ações constitucionais dispostas no Artigo 5º da CF também
§4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização são conhecidas como remédios constitucionais, porque servem
paramilitar. para “curar a doença” do descumprimento de direitos fundamen-
§5º Ao eleito por partido que não preencher os requisitos tais.
previstos no §3º deste artigo é assegurado o mandato e Em outras palavras, são instrumentos colocados à disposição
facultada a filiação, sem perda do mandato, a outro partido que dos indivíduos para garantir o cumprimento dos direitos fundamen-
os tenha atingido, não sendo essa filiação considerada para fins tais.
de distribuição dos recursos do fundo partidário e de acesso
gratuito ao tempo de rádio e de televisão. (Incluído pela Emenda – Habeas Corpus
Constitucional nº 97, de 2017) O habeas corpus é a ação constitucional que tutela o direito
§6º Os Deputados Federais, os Deputados Estaduais, os fundamental à liberdade ambulatorial, ou seja, o direito de ir, vir e
Deputados Distritais e os Vereadores que se desligarem do partido estar/permanecer em algum lugar.
pelo qual tenham sido eleitos perderão o mandato, salvo nos De acordo com o texto constitucional, o habeas corpus pode
casos de anuência do partido ou de outras hipóteses de justa ser:
causa estabelecidas em lei, não computada, em qualquer caso, a – Preventivo: “sempre que alguém se achar ameaçado de so-
migração de partido para fins de distribuição de recursos do fundo frer”;
partidário ou de outros fundos públicos e de acesso gratuito ao – Repressivo: “sempre que alguém sofrer”.
rádio e à televisão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 111,
de 2021) Ambos em relação a violência ou coação em sua liberdade de
§7º Os partidos políticos devem aplicar no mínimo 5% (cinco locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.
por cento) dos recursos do fundo partidário na criação e na
manutenção de programas de promoção e difusão da participação – Habeas Data
política das mulheres, de acordo com os interesses intrapartidários. O habeas data é a ação constitucional impetrada por pessoa
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 117, de 2022) física ou jurídica, que tenha por objetivo assegurar o conhecimento
§8º O montante do Fundo Especial de Financiamento de de informações sobre si, constantes de registros ou banco de dados
Campanha e da parcela do fundo partidário destinada a campanhas de entidades governamentais ou de caráter público, ou para retifi-
eleitorais, bem como o tempo de propaganda gratuita no rádio e na cação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,
televisão a ser distribuído pelos partidos às respectivas candidatas, judicial ou administrativo.
deverão ser de no mínimo 30% (trinta por cento), proporcional Esse remédio constitucional está regulamentado pela Lei
ao número de candidatas, e a distribuição deverá ser realizada 9.507/97, que disciplina o direito de acesso a informações e o rito
conforme critérios definidos pelos respectivos órgãos de direção e processual do habeas data.
pelas normas estatutárias, considerados a autonomia e o interesse
partidário. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 117, de 2022) – Mandado de Segurança
O mandado de segurança individual é a ação constitucional im-
De acordo com os ensinamentos de José Afonso da Silva, o par- petrada por pessoa física ou jurídica, ou ente despersonalizado, que
tido político é uma forma de agremiação de um grupo social que busca a tutela de direito líquido e certo, não amparado por habeas
se propõe a organizar, coordenar e instrumentar a vontade popular corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou
com o fim de assumir o poder para realizar seu programa de go- abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica
verno. no exercício de atribuições do Poder Público.
Os partidos são a base do sistema político brasileiro, pois a filia- Observa-se, portanto, que o mandado de segurança tem cabi-
ção a partido político é uma das condições de elegibilidade. mento subsidiário. É disciplinado pela Lei 12.016/09.

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NOÇÕES DE DIREITO

– Mandado de Segurança Coletivo – Garantias Constitucionais do Processo


O mandado de segurança coletivo é a ação constitucional im- No art. 5º da Constituição da República, entre os direitos fun-
petrada por partido político com representação no Congresso Na- damentais, estão estabelecidos os princípios constitucionais básicos
cional, organização sindical, entidade de classe ou associação legal- do processo justo, quais sejam: a garantia de pleno acesso à justiça,
mente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano (em a garantia do juiz natural (não haverá juízo ou Tribunal de exceção),
defesa dos interesses de seus membros ou associados), que busca ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
a tutela de direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus competente, a garantia do devido processo legal, do contraditório e
ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso da ampla defesa, a vedação das provas ilícitas, a garantia de publici-
de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no dade dos atos processuais (exigência de fundamentação de todas as
exercício de atribuições do Poder Público. decisões judiciais), o dever de assistência jurídica integral e gratuita
a todos que comprovarem insuficiência de recursos, a garantia de
– Mandado de Injunção duração razoável do processo e da adoção de meios para assegurar
O mandado de injunção é a ação constitucional impetrada por a celeridade de sua tramitação2.
pessoa física ou jurídica, ou ente despersonalizado, que objetive sa- Possível, ainda, apontar-se outros princípios constitucionais do
nar a falta de norma regulamentadora que torne inviável o exercício processo justo, como o direito à representação técnica e à paridade
dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas ineren- de armas.
tes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. O modelo mínimo de processo, no Estado Democrático de Di-
Basicamente, pode-se dizer que o mandado de injunção é ajui- reito, portanto, somente pode ser buscado na Constituição. A fiel
zado em face das normas de eficácia limitada, que são aquelas que observância do direito ao processo justo é condição indispensável
possuem aplicabilidade indireta, mediata e reduzida (não direta, para produzir decisões justas, ou seja, trata-se de elemento neces-
não imediata e não integral), pois exigem norma infraconstitucio- sário, embora não único e suficiente, para se assegurar justiça ao
nal, que, até hoje, não existe. caso concreto.
É regulado pela Lei 13.300/2016. O direito ao processo justo, portanto, constitui direito à orga-
nização de um processo justo, tarefa do legislador infraconstitucio-
– Ação Popular nal, do administrador da justiça e do órgão jurisdicional. Assim, a
A ação popular é o remédio constitucional ajuizado por qual- consecução do direito ao processo justo depende de sua própria
quer cidadão, que tenha por objetivo anular ato lesivo ao patrimô- viabilização pelo Estado Democrático de Direito, mediante a edição
nio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralida- de normas, a administração da estrutura judicante e pela própria
de administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e atuação jurisdicional.
cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas
judiciais e do ônus da sucumbência.
A ação popular será regulamentada infraconstitucionalmente II – A ORGANIZAÇÃO DO ESTADO: ADMINISTRAÇÃO PÚ-
pela Lei 4.717/65. BLICA (ARTIGOS DE 37 A 41, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
DE 1988)
Direitos Constitucionais-Penais e Garantias Constitucionais do
Processo
Disposições gerais e servidores públicos
– Direitos Constitucionais Penais A expressão Administração Pública em sentido objetivo traduz
A Constituição Federal de 1988, no capítulo referente aos direi- a ideia de atividade, tarefa, ação ou função de atendimento ao inte-
tos e deveres individuai e coletivos, definiu vários princípios consti- resse coletivo. Já em sentido subjetivo, indica o universo dos órgãos
tucionais penais, garantidores de garantias aos cidadãos quando o e pessoas que desempenham função pública.
Estado é obrigado a colocar em prática o jus puniendi, para que não Conjugando os dois sentidos, pode-se conceituar a Administra-
existam arbitrariedades e nem regimes de exceção1. São eles: ção Pública como sendo o conjunto de pessoas e órgãos que de-
Dignidade da pessoa humana, Igualdade ou isonomia, Legali- sempenham uma função de atendimento ao interesse público, ou
dade e anterioridade, Irretroatividade da lei penal, Personalidade seja, que estão a serviço da coletividade.
da pena, Individualização da pena, Humanidade, Intervenção míni-
ma, Alteridade, Culpabilidade, Proporcionalidade, Ofensividade ou Princípios da Administração Pública
lesividade, Insignificância e Adequação social. Nos termos do caput do Artigo 37 da CF, a administração públi-
Tais princípios são norteadores da atuação Estatal no campo ca direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
penal, para a garantia de um processo imparcial e justo, afastando do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
qualquer punição exacerbada e desmedida quando da aplicação da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
pena e garantidor do devido processo legal, amparado no contradi- As provas de Direito Constitucional exigem com frequência a
tório e na ampla defesa. Fundamentos de um Estado Democrático memorização de tais princípios. Assim, para facilitar essa memori-
de Direito. zação, já é de praxe valer-se da clássica expressão mnemônica “LIM-
Assim, a observância dos princípios constitucionais penais é de PE”. Observe o quadro abaixo:
suma importância para a garantia dos direitos fundamentais e para
a aplicação da lei penal, sendo, pois, repetido no Código Penal e nas 2 COSTA, Miguel do Nascimento. Das garantias constitucionais e o devido
demais leis, como forma de concretização da Justiça. processo no Estado liberal aos direitos fundamentais e o processo justo no Estado
1 http://iccs.com.br/dos-principios-constitucionais-penais-rodrigo-o- Democrático de Direito. Revista da AJURIS – Porto Alegre, v. 42, n. 139, dezem-
tavio-dos-reis-chediak/ bro, 2015.
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NOÇÕES DE DIREITO

Princípios da Administração Pública – Princípio da Eficiência


Segundo o princípio da eficiência, a atividade administrativa
L Legalidade deve ser exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional,
I Impessoalidade evitando atuações amadorísticas.
Este princípio impõe à Administração Pública o dever de agir
M Moralidade com eficiência real e concreta, aplicando, em cada caso concreto, a
P Publicidade medida, dentre as previstas e autorizadas em lei, que mais satisfaça
o interesse público com o menor ônus possível (dever jurídico de
E Eficiência
boa administração).
LIMPE Em decorrência disso, a administração pública está obrigada a
desenvolver mecanismos capazes de propiciar os melhores resul-
Passemos ao conceito de cada um deles: tados possíveis para os administrados. Portanto, a Administração
Pública será considerada eficiente sempre que o melhor resultado
– Princípio da Legalidade for atingido.
De acordo com este princípio, o administrador não pode agir
ou deixar de agir, senão de acordo com a lei, na forma determinada. Disposições Gerais na Administração Pública
O quadro abaixo demonstra suas divisões. O esquema abaixo sintetiza a definição de Administração Pú-
blica:
Princípio da Legalidade
Em relação à A Administração Pública Administração Pública
Administração Pública somente pode fazer o que a lei Direta Indireta
permite → Princípio da Estrita
Federal Autarquias (podem ser
Legalidade
Estadual qualificadas como agências
Em relação ao Particular O Particular pode fazer tudo Distrital reguladoras)
que a lei não proíbe Municipal Fundações (autarquias
e fundações podem ser
– Princípio da Impessoalidade qualificadas como agências
Em decorrência deste princípio, a Administração Pública deve executivas)
servir a todos, sem preferências ou aversões pessoais ou partidá- Sociedades de economia
rias, não podendo atuar com vistas a beneficiar ou prejudicar de- mista
terminadas pessoas, uma vez que o fundamento para o exercício de Empresas públicas
sua função é sempre o interesse público.
Entes Cooperados
– Princípio da Moralidade Não integram a Administração Pública, mas prestam
Tal princípio caracteriza-se por exigir do administrador público serviços de interesse público. Exemplos: SESI, SENAC, SENAI,
um comportamento ético de conduta, ligando-se aos conceitos de ONG’s
probidade, honestidade, lealdade, decoro e boa-fé.
A moralidade se extrai do senso geral da coletividade represen- As disposições gerais sobre a Administração Pública estão elen-
tada e não se confunde com a moralidade íntima do administrador cadas nos Artigos 37 e 38 da CF. Vejamos:
(moral comum) e sim com a profissional (ética profissional).
O Artigo 37, §4º da CF elenca as consequências possíveis, devi- CAPÍTULO VII
do a atos de improbidade administrativa: DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Sanções ao cometimento de atos de improbidade administra- SEÇÃO I


tiva DISPOSIÇÕES GERAIS
Suspensão dos direitos políticos (responsabilidade política)
Perda da função pública (responsabilidade disciplinar) Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer
Indisponibilidade dos bens (responsabilidade patrimonial) dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni-
Ressarcimento ao erário (responsabilidade patrimonial) cípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, mo-
ralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
– Princípio da Publicidade I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos
O princípio da publicidade determina que a Administração Pú- brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim
blica tem a obrigação de dar ampla divulgação dos atos que pratica, como aos estrangeiros, na forma da lei;
salvo a hipótese de sigilo necessário. II - a investidura em cargo ou emprego público depende de
A publicidade é a condição de eficácia do ato administrativo e aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e
tem por finalidade propiciar seu conhecimento pelo cidadão e pos- títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou em-
sibilitar o controle por todos os interessados. prego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para car-
go em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;

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III - o prazo de validade do concurso público será de até dois a) a de dois cargos de professor;
anos, prorrogável uma vez, por igual período; b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico;
IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de convo- c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de
cação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de pro- saúde, com profissões regulamentadas;
vas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursa- XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e fun-
dos para assumir cargo ou emprego, na carreira; ções e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, socieda-
V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por ser- des de economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas,
vidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a se- direta ou indiretamente, pelo poder público;
rem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e XVIII - a administração fazendária e seus servidores fiscais te-
percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atri- rão, dentro de suas áreas de competência e jurisdição, precedência
buições de direção, chefia e assessoramento; sobre os demais setores administrativos, na forma da lei;
VI - é garantido ao servidor público civil o direito à livre asso- XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia e
ciação sindical; autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de eco-
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites nomia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste úl-
definidos em lei específica; timo caso, definir as áreas de sua atuação;
VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a criação
para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior, assim
sua admissão; como a participação de qualquer delas em empresa privada;
IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo de- XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras,
terminado para atender a necessidade temporária de excepcional serviços, compras e alienações serão contratados mediante pro-
interesse público; cesso de licitação pública que assegure igualdade de condições a
X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações
trata o §4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos ter-
lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, asse- mos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação
gurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das
de índices; obrigações.
XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, fun- XXII - as administrações tributárias da União, dos Estados, do
ções e empregos públicos da administração direta, autárquica e Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funcio-
fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos namento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específi-
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de cas, terão recursos prioritários para a realização de suas atividades
mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, e atuarão de forma integrada, inclusive com o compartilhamento
pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativa- de cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio.
mente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer ou- §1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e
tra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo,
dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como li- informativo ou de orientação social, dela não podendo constar
mite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal
Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do de autoridades ou servidores públicos.
Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no §2º A não observância do disposto nos incisos II e III implicará a
âmbito do Poder Legislativo e o subsidio dos Desembargadores do nulidade do ato e a punição da autoridade responsável, nos termos
Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco cen- da lei.
tésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do §3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na
Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável administração pública direta e indireta, regulando especialmente:
este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos
aos Defensores Públicos; em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento
XII - os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Poder ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade
Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo Poder Execu- dos serviços;
tivo; II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a infor-
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer es- mações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X
pécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do e XXXIII;
serviço público; III - a disciplina da representação contra o exercício negligente
XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por servidor públi- ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração pública.
co não serão computados nem acumulados para fins de concessão §4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a
de acréscimos ulteriores; suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a
XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e
empregos públicos são irredutíveis, ressalvado o disposto nos inci- gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
sos XI e XIV deste artigo e nos arts. 39, §4º, 150, II, 153, III, e 153, §5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos
§2º, I; praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de
exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em ressarcimento.
qualquer caso o disposto no inciso XI:
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§6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito §16. Os órgãos e entidades da administração pública, individual
privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos ou conjuntamente, devem realizar avaliação das políticas públicas,
danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, inclusive com divulgação do objeto a ser avaliado e dos resultados
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos alcançados, na forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional
de dolo ou culpa. nº 109, de 2021)
§7º A lei disporá sobre os requisitos e as restrições ao ocupante Art. 38. Ao servidor público da administração direta, autárquica
de cargo ou emprego da administração direta e indireta que e fundacional, no exercício de mandato eletivo, aplicam-se as se-
possibilite o acesso a informações privilegiadas. guintes disposições:
§8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital,
órgãos e entidades da administração direta e indireta poderá ficará afastado de seu cargo, emprego ou função;
ser ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo,
administradores e o poder público, que tenha por objeto a fixação emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua remune-
de metas de desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei ração;
dispor sobre: III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibili-
I - o prazo de duração do contrato; dade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, emprego
II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, direi- ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não
tos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes; havendo compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior;
III - a remuneração do pessoal.” IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício
§9º O disposto no inciso XI aplica-se às empresas públicas e às de mandato eletivo, seu tempo de serviço será contado para todos
sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, que receberem os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento;
recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos V - na hipótese de ser segurado de regime próprio de previdência
Municípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio social, permanecerá filiado a esse regime, no ente federativo de ori-
em geral. gem. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§10. É vedada a percepção simultânea de proventos de
aposentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a Servidores Públicos
remuneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os Os servidores públicos são pessoas físicas que prestam serviços
cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos à administração pública direta, às autarquias ou fundações públi-
e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e cas, gerando entre as partes um vínculo empregatício ou estatutá-
exoneração. rio. Esses serviços são prestados à União, aos Estados-membros, ao
§11. Não serão computadas, para efeito dos limites Distrito Federal ou aos Municípios.
remuneratórios de que trata o inciso XI do caput deste artigo, as
parcelas de caráter indenizatório previstas em lei. As disposições sobre os Servidores Públicos estão elencadas
§12. Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste artigo, dos Artigos 39 a 41 da CF. Vejamos:
fica facultado aos Estados e ao Distrito Federal fixar, em seu âmbito,
mediante emenda às respectivas Constituições e Lei Orgânica, SEÇÃO II
como limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores do DOS SERVIDORES PÚBLICOS
respectivo Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte
e cinco centésimos por cento do subsídio mensal dos Ministros Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
do Supremo Tribunal Federal, não se aplicando o disposto neste instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único
parágrafo aos subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais e dos e planos de carreira para os servidores da administração pública
Vereadores. direta, das autarquias e das fundações públicas.
§13. O servidor público titular de cargo efetivo poderá Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
ser readaptado para exercício de cargo cujas atribuições e instituirão conselho de política de administração e remuneração de
responsabilidades sejam compatíveis com a limitação que pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos Po-
tenha sofrido em sua capacidade física ou mental, enquanto deres.
permanecer nesta condição, desde que possua a habilitação e o §1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais
nível de escolaridade exigidos para o cargo de destino, mantida componentes do sistema remuneratório observará:
a remuneração do cargo de origem. (Incluído pela Emenda I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos
Constitucional nº 103, de 2019) cargos componentes de cada carreira;
§14. A aposentadoria concedida com a utilização de tempo II - os requisitos para a investidura;
de contribuição decorrente de cargo, emprego ou função pública, III - as peculiaridades dos cargos.
inclusive do Regime Geral de Previdência Social, acarretará o §2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão escolas
rompimento do vínculo que gerou o referido tempo de contribuição. de governo para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) públicos, constituindo-se a participação nos cursos um dos
§15. É vedada a complementação de aposentadorias de requisitos para a promoção na carreira, facultada, para isso, a
servidores públicos e de pensões por morte a seus dependentes celebração de convênios ou contratos entre os entes federados.
que não seja decorrente do disposto nos §§14 a 16 do art. 40 ou que §3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o
não seja prevista em lei que extinga regime próprio de previdência disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX,
social. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados
de admissão quando a natureza do cargo o exigir.
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§4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os §3º As regras para cálculo de proventos de aposentadoria
Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão serão disciplinadas em lei do respectivo ente federativo. (Redação
remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, §4º É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados
prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, para concessão de benefícios em regime próprio de previdência
obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. social, ressalvado o disposto nos §§4º-A, 4º-B, 4º-C e 5º. (Redação
§5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
Municípios poderá estabelecer a relação entre a maior e a menor §4º-A. Poderão ser estabelecidos por lei complementar
remuneração dos servidores públicos, obedecido, em qualquer do respectivo ente federativo idade e tempo de contribuição
caso, o disposto no art. 37, XI. diferenciados para aposentadoria de servidores com deficiência,
§6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário publicarão previamente submetidos a avaliação biopsicossocial realizada por
anualmente os valores do subsídio e da remuneração dos cargos e equipe multiprofissional e interdisciplinar. (Incluído pela Emenda
empregos públicos. Constitucional nº 103, de 2019)
§7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos §4º-B. Poderão ser estabelecidos por lei complementar
Municípios disciplinará a aplicação de recursos orçamentários do respectivo ente federativo idade e tempo de contribuição
provenientes da economia com despesas correntes em cada diferenciados para aposentadoria de ocupantes do cargo de agente
órgão, autarquia e fundação, para aplicação no desenvolvimento penitenciário, de agente socioeducativo ou de policial dos órgãos
de programas de qualidade e produtividade, treinamento e de que tratam o inciso IV do caput do art. 51, o inciso XIII do caput
desenvolvimento, modernização, reaparelhamento e racionalização do art. 52 e os incisos I a IV do caput do art. 144. (Incluído pela
do serviço público, inclusive sob a forma de adicional ou prêmio de Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
produtividade. §4º-C. Poderão ser estabelecidos por lei complementar
§8º A remuneração dos servidores públicos organizados em do respectivo ente federativo idade e tempo de contribuição
carreira poderá ser fixada nos termos do §4º. diferenciados para aposentadoria de servidores cujas atividades
§9º É vedada a incorporação de vantagens de caráter sejam exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos
temporário ou vinculadas ao exercício de função de confiança ou e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes,
de cargo em comissão à remuneração do cargo efetivo. (Incluído vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação.
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
Art. 40. O regime próprio de previdência social dos servidores §5º Os ocupantes do cargo de professor terão idade mínima
titulares de cargos efetivos terá caráter contributivo e solidário, reduzida em 5 (cinco) anos em relação às idades decorrentes da
mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores aplicação do disposto no inciso III do §1º, desde que comprovem
ativos, de aposentados e de pensionistas, observados critérios que tempo de efetivo exercício das funções de magistério na
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. (Redação dada pela educação infantil e no ensino fundamental e médio fixado em lei
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) complementar do respectivo ente federativo. (Redação dada pela
§1º O servidor abrangido por regime próprio de previdência Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
social será aposentado: (Redação dada pela Emenda Constitucional §6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos cargos
nº 103, de 2019) acumuláveis na forma desta Constituição, é vedada a percepção
I - por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em de mais de uma aposentadoria à conta de regime próprio de
que estiver investido, quando insuscetível de readaptação, hipótese previdência social, aplicando-se outras vedações, regras e condições
em que será obrigatória a realização de avaliações periódicas para para a acumulação de benefícios previdenciários estabelecidas no
verificação da continuidade das condições que ensejaram a conces- Regime Geral de Previdência Social. (Redação dada pela Emenda
são da aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente federa- Constitucional nº 103, de 2019)
tivo; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) §7º Observado o disposto no §2º do art. 201, quando se
II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo tratar da única fonte de renda formal auferida pelo dependente, o
de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta benefício de pensão por morte será concedido nos termos de lei do
e cinco) anos de idade, na forma de lei complementar; respectivo ente federativo, a qual tratará de forma diferenciada a
III - no âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois) anos de idade, hipótese de morte dos servidores de que trata o §4º-B decorrente
se mulher, e aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, de agressão sofrida no exercício ou em razão da função. (Redação
e, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
idade mínima estabelecida mediante emenda às respectivas Cons- §8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para
tituições e Leis Orgânicas, observados o tempo de contribuição e os preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme
demais requisitos estabelecidos em lei complementar do respectivo critérios estabelecidos em lei.
ente federativo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, §9º O tempo de contribuição federal, estadual, distrital ou
de 2019) municipal será contado para fins de aposentadoria, observado
§2º Os proventos de aposentadoria não poderão ser inferiores o disposto nos §§9º e 9º-A do art. 201, e o tempo de serviço
ao valor mínimo a que se refere o §2º do art. 201 ou superiores correspondente será contado para fins de disponibilidade. (Redação
ao limite máximo estabelecido para o Regime Geral de Previdência dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
Social, observado o disposto nos §§14 a 16. (Redação dada pela §10 - A lei não poderá estabelecer qualquer forma de contagem
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) de tempo de contribuição fictício.

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§11 - Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma total §21. (Revogado). (Redação dada pela Emenda Constitucional
dos proventos de inatividade, inclusive quando decorrentes nº 103, de 2019)
da acumulação de cargos ou empregos públicos, bem como de §22. Vedada a instituição de novos regimes próprios de
outras atividades sujeitas a contribuição para o regime geral previdência social, lei complementar federal estabelecerá, para os
de previdência social, e ao montante resultante da adição de que já existam, normas gerais de organização, de funcionamento
proventos de inatividade com remuneração de cargo acumulável e de responsabilidade em sua gestão, dispondo, entre outros
na forma desta Constituição, cargo em comissão declarado em lei aspectos, sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de
de livre nomeação e exoneração, e de cargo eletivo. 2019)
§12. Além do disposto neste artigo, serão observados, em I - requisitos para sua extinção e consequente migração para o
regime próprio de previdência social, no que couber, os requisitos Regime Geral de Previdência Social; (Incluído pela Emenda Consti-
e critérios fixados para o Regime Geral de Previdência Social. tucional nº 103, de 2019)
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) II - modelo de arrecadação, de aplicação e de utilização dos re-
§13. Aplica-se ao agente público ocupante, exclusivamente, cursos; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
de cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e III - fiscalização pela União e controle externo e social; (Incluído
exoneração, de outro cargo temporário, inclusive mandato eletivo, pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
ou de emprego público, o Regime Geral de Previdência Social. IV - definição de equilíbrio financeiro e atuarial; (Incluído pela
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§14. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios V - condições para instituição do fundo com finalidade previ-
instituirão, por lei de iniciativa do respectivo Poder Executivo, denciária de que trata o art. 249 e para vinculação a ele dos recur-
regime de previdência complementar para servidores públicos sos provenientes de contribuições e dos bens, direitos e ativos de
ocupantes de cargo efetivo, observado o limite máximo dos qualquer natureza; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de
benefícios do Regime Geral de Previdência Social para o valor das 2019)
aposentadorias e das pensões em regime próprio de previdência VI - mecanismos de equacionamento do déficit atuarial; (Inclu-
social, ressalvado o disposto no §16. (Redação dada pela Emenda ído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
Constitucional nº 103, de 2019) VII - estruturação do órgão ou entidade gestora do regime, ob-
§15. O regime de previdência complementar de que trata o §14 servados os princípios relacionados com governança, controle in-
oferecerá plano de benefícios somente na modalidade contribuição terno e transparência; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103,
definida, observará o disposto no art. 202 e será efetivado por de 2019)
intermédio de entidade fechada de previdência complementar ou VIII - condições e hipóteses para responsabilização daqueles
de entidade aberta de previdência complementar. (Redação dada que desempenhem atribuições relacionadas, direta ou indireta-
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) mente, com a gestão do regime; (Incluído pela Emenda Constitucio-
§16 - Somente mediante sua prévia e expressa opção, o disposto nal nº 103, de 2019)
nos §§14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor que tiver ingressado IX - condições para adesão a consórcio público; (Incluído pela
no serviço público até a data da publicação do ato de instituição do Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
correspondente regime de previdência complementar. X - parâmetros para apuração da base de cálculo e definição
§17. Todos os valores de remuneração considerados para o de alíquota de contribuições ordinárias e extraordinárias. (Incluído
cálculo do benefício previsto no §3° serão devidamente atualizados, pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
na forma da lei. Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os ser-
§18. Incidirá contribuição sobre os proventos de aposentadorias vidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de
e pensões concedidas pelo regime de que trata este artigo que concurso público.
superem o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime §1º O servidor público estável só perderá o cargo:
geral de previdência social de que trata o art. 201, com percentual I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado;
igual ao estabelecido para os servidores titulares de cargos efetivos. II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegu-
§19. Observados critérios a serem estabelecidos em lei do rada ampla defesa;
respectivo ente federativo, o servidor titular de cargo efetivo III - mediante procedimento de avaliação periódica de desem-
que tenha completado as exigências para a aposentadoria penho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa.
voluntária e que opte por permanecer em atividade poderá fazer §2º Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor
jus a um abono de permanência equivalente, no máximo, ao estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante da vaga, se
valor da sua contribuição previdenciária, até completar a idade estável, reconduzido ao cargo de origem, sem direito a indenização,
para aposentadoria compulsória. (Redação dada pela Emenda aproveitado em outro cargo ou posto em disponibilidade com
Constitucional nº 103, de 2019) remuneração proporcional ao tempo de serviço.
§20. É vedada a existência de mais de um regime próprio de §3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o servidor
previdência social e de mais de um órgão ou entidade gestora estável ficará em disponibilidade, com remuneração proporcional
desse regime em cada ente federativo, abrangidos todos os ao tempo de serviço, até seu adequado aproveitamento em outro
poderes, órgãos e entidades autárquicas e fundacionais, que serão cargo.
responsáveis pelo seu financiamento, observados os critérios, os §4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é
parâmetros e a natureza jurídica definidos na lei complementar de obrigatória a avaliação especial de desempenho por comissão
que trata o §22. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, instituída para essa finalidade.
de 2019)

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

– Estabilidade
A estabilidade é a garantia que o servidor público possui de permanecer no cargo ou emprego público depois de ter sido aprovado
em estágio probatório.
De acordo com Celso Antônio Bandeira de Mello, a estabilidade poder ser definida como a garantia constitucional de permanência
no serviço público, do servidor público civil nomeado, em razão de concurso público, para titularizar cargo de provimento efetivo, após o
transcurso de estágio probatório.
A estabilidade é assegurada ao servidor após três anos de efetivo exercício, em virtude de nomeação em concurso público. Esse é o
estágio probatório citado pela lei.
Passada a fase do estágio, sendo o servidor público efetivado, ele perderá o cargo somente nas hipóteses elencadas no Artigo 41, §1º
da CF.
Haja vista o tema ser muito cobrado nas provas dos mais variados concursos públicos, segue a tabela explicativa:

Estabilidade do Servidor
Requisitos para aquisição Cargo de provimento efetivo/ocupado em razão de concurso público
de Estabilidade 3 anos de efetivo exercício
Avaliação de desempenho por comissão instituída para esta finalidade
Hipóteses em que o Em virtude de sentença judicial transitada em julgado
servidor estável pode perder Mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa
o cargo Mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei
complementar, assegurada ampla defesa
Em razão de excesso de despesa

III - DIREITO ADMINISTRATIVO: CONCEITO, FONTES E PRINCÍPIOS

Conceito
De início, convém ressaltar que o estudo desse ramo do Direito, denota a distinção entre o Direito Administrativo, bem como entre as
normas e princípios que nele se inserem.
No entanto, o Direito Administrativo, como sistema jurídico de normas e princípios, somente veio a surgir com a instituição do Estado
de Direito, no momento em que o Poder criador do direito passou também a respeitá-lo. Tal fenômeno teve sua origem com os movimentos
constitucionalistas, cujo início se deu no final do século XVIII. Por meio do novo sistema, o Estado passou a ter órgãos específicos para o
exercício da Administração Pública e, por isso, foi necessário a desenvoltura do quadro normativo disciplinante das relações internas da
Administração, bem como das relações entre esta e os administrados. Assim sendo, pode considerar-se que foi a partir do século XIX que
o mundo jurídico abriu os olhos para a existência do Direito Administrativo.
Destaca-se ainda, que o Direito Administrativo foi formado a partir da teoria da separação dos poderes desenvolvida por Montesquieu,
L’Espirit des Lois, 1748, e acolhida de forma universal pelos Estados de Direito. Até esse momento, o absolutismo reinante e a junção
de todos os poderes governamentais nas mãos do Soberano não permitiam o desenvolvimento de quaisquer teorias que visassem a
reconhecer direitos aos súditos, e que se opusessem às ordens do Príncipe. Prevalecia o domínio operante da vontade onipotente do
Monarca.
Conceituar com precisão o Direito Administrativo é tarefa difícil, uma vez que o mesmo é marcado por divergências doutrinárias, o
que ocorre pelo fato de cada autor evidenciar os critérios que considera essenciais para a construção da definição mais apropriada para o
termo jurídico apropriado.
De antemão, ao entrar no fundamento de algumas definições do Direito Administrativo,
Considera-se importante denotar que o Estado desempenha três funções essenciais. São elas: Legislativa, Administrativa e
Jurisdicional.
Pondera-se que os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário são independentes, porém, em tese, harmônicos entre si. Os poderes
foram criados para desempenhar as funções do Estado. Desta forma, verifica-se o seguinte:

Funções do Estado:
– Legislativa
– Administrativa
– Jurisdicional

Poderes criados para desenvolver as funções do estado:


– Legislativo
– Executivo
– Judiciário

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

Infere-se que cada poder exerce, de forma fundamental, uma das funções de Estado, é o que denominamos de FUNÇÃO TÍPICA.

PODER LEGISLATIVO PODER EXERCUTIVO PODER JUDICIÁRIO


Função típica Legislar Administrativa Judiciária
Redigir e organizar Julgar e solucionar conflitos
Administração e
Atribuição o regramento jurídico do por intermédio da interpretação e
gestão estatal
Estado aplicação das leis.

Além do exercício da função típica, cada poder pode ainda exercer as funções destinadas a outro poder, é o que denominamos de
exercício de FUNÇÃO ATÍPICA. Vejamos:

PODER LEGISLATIVO PODER EXERCUTIVO PODER JUDICIÁRIO


tem-se como função
atípica tem-se por função tem-se por função atípica
desse poder, por ser típica atípica desse poder, desse poder, por ser típica do
do Poder Judiciário: O por ser típica do Poder Poder Executivo: Fazer licitação
Função atípica
julgamento do Presidente Legislativo: A edição de para realizar a aquisição de
da República Medida Provisória pelo equipamentos utilizados em
por crime de Chefe do Executivo. regime interno.
responsabilidade.

Diante da difícil tarefa de conceituar o Direito Administrativo, uma vez que diversos são os conceitos utilizados pelos autores modernos
de Direito Administrativo, sendo que, alguns consideram apenas as atividades administrativas em si mesmas, ao passo que outros, optam
por dar ênfase aos fins desejados pelo Estado, abordaremos alguns dos principais posicionamentos de diferentes e importantes autores.
No entendimento de Carvalho Filho (2010), “o Direito Administrativo, com a evolução que o vem impulsionando contemporaneamente,
há de focar-se em dois tipos fundamentais de relações jurídicas, sendo, uma, de caráter interno, que existe entre as pessoas administrativas
e entre os órgãos que as compõem e, a outra, de caráter externo, que se forma entre o Estado e a coletividade em geral.” (2010, Carvalho
Filho, p. 26).
Como regra geral, o Direito Administrativo é conceituado como o ramo do direito público que cuida de princípios e regras que
disciplinam a função administrativa abrangendo entes, órgãos, agentes e atividades desempenhadas pela Administração Pública na
consecução do interesse público.
Vale lembrar que, como leciona DIEZ, o Direito Administrativo apresenta, ainda, três características principais:
1 – constitui um direito novo, já que se trata de disciplina recente com sistematização científica;
2 – espelha um direito mutável, porque ainda se encontra em contínua transformação;
3 – é um direito em formação, não se tendo, até o momento, concluído todo o seu ciclo de abrangência.

Entretanto, o Direito Administrativo também pode ser conceituado sob os aspectos de diferentes óticas, as quais, no deslindar desse
estudo, iremos abordar as principais e mais importantes para estudo, conhecimento e aplicação.
– Ótica Objetiva: Segundo os parâmetros da ótica objetiva, o Direito Administrativo é conceituado como o acoplado de normas que
regulamentam a atividade da Administração Pública de atendimento ao interesse público.
– Ótica Subjetiva: Sob o ângulo da ótica subjetiva, o Direito Administrativo é conceituado como um conjunto de normas que comandam
as relações internas da Administração Pública e as relações externas que são encadeadas entre elas e os administrados.

Nos moldes do conceito objetivo, o Direito Administrativo é tido como o objeto da relação jurídica travada, não levando em conta os
autores da relação.
O conceito de Direito Administrativo surge também como elemento próprio em um regime jurídico diferenciado, isso ocorre por que
em regra, as relações encadeadas pela Administração Pública ilustram evidente falta de equilíbrio entre as partes.
Para o professor da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Fernando Correia, o Direito Administrativo é o sistema de
normas jurídicas, diferenciadas das normas do direito privado, que regulam o funcionamento e a organização da Administração Pública,
bem como a função ou atividade administrativa dos órgãos administrativos.
Correia, o intitula como um corpo de normas de Direito Público, no qual os princípios, conceitos e institutos distanciam-se do Direito
Privado, posto que, as peculiaridades das normas de Direito Administrativo são manifestadas no reconhecimento à Administração Pública
de prerrogativas sem equivalente nas relações jurídico-privadas e na imposição, em decorrência do princípio da legalidade, de limitações
de atuação mais exatas do que as que auferem os negócios particulares.
Entende o renomado professor, que apenas com o aparecimento do Estado de Direito acoplado ao acolhimento do princípio da
separação dos poderes, é que seria possível se falar em Direito Administrativo.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

Oswaldo Aranha Bandeira de Mello aduz, em seu conceito São leis específicas do Direito Administrativo a Lei n. 8.666/1993
analítico, que o Direito Administrativo juridicamente falando, que regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal,
ordena a atividade do Estado quanto à organização, bem como institui normas para licitações e contratos da Administração Pública
quanto aos modos e aos meios da sua ação, quanto à forma da e dá outras providências; a Lei n. 8.112/1990, que dispõe sobre o
sua própria ação, ou seja, legislativa e executiva, por intermédio de regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias
atos jurídicos normativos ou concretos, na consecução do seu fim e das fundações públicas federais; a Lei n. 8.409/1992 que estima
de criação de utilidade pública, na qual participa de forma direta e a receita e fixa a despesa da União para o exercício financeiro de
imediata, e, ainda como das pessoas de direito que façam as vezes 1992 e a Lei n. 9.784/1999 que regula o processo administrativo no
do Estado. âmbito da Administração Pública Federal.
O Direito Administrativo tem importante papel na identificação
Observação importante: Note que os conceitos classificam do seu objeto e o seu próprio conceito e significado foi de grande
o Direito Administrativo como Ramo do Direito Público fazendo importância à época do entendimento do Estado francês em dividir
sempre referência ao interesse público, ao inverso do Direito as ações administrativas e as ações envolvendo o poder judiciário.
Privado, que cuida do regulamento das relações jurídicas entre Destaca-se na França, o sistema do contencioso administrativo
particulares, o Direito Público, tem por foco regular os interesses da com matéria de teor administrativo, sendo decidido no tribunal
sociedade, trabalhando em prol do interesse público. administrativo e transitando em julgado nesse mesmo tribunal.
Definir o objeto do Direito Administrativo é importante no sentido
Por fim, depreende-se que a busca por um conceito completo de compreender quais matérias serão julgadas pelo tribunal
de Direito Administrativo não é recente. Entretanto, a Administração administrativo, e não pelo Tribunal de Justiça.
Pública deve buscar a satisfação do interesse público como um todo, Depreende-se que com o passar do tempo, o objeto de estudo
uma vez que a sua natureza resta amparada a partir do momento do Direito Administrativo sofreu significativa e grande evolução,
que deixa de existir como fim em si mesmo, passando a existir como desde o momento em que era visto como um simples estudo
instrumento de realização do bem comum, visando o interesse das normas administrativas, passando pelo período do serviço
público, independentemente do conceito de Direito Administrativo público, da disciplina do bem público, até os dias contemporâneos,
escolhido. quando se ocupa em estudar e gerenciar os sujeitos e situações
que exercem e sofrem com a atividade do Estado, assim como
Objeto das funções e atividades desempenhadas pela Administração
De acordo com a ilibada autora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a Pública, fato que leva a compreender que o seu objeto de estudo
formação do Direito Administrativo como ramo autônomo, fadado é evolutivo e dinâmico acoplado com a atividade administrativa
de princípios e objeto próprios, teve início a partir do instante em que e o desenvolvimento do Estado. Destarte, em suma, seu objeto
o conceito de Estado de Direito começou a ser desenvolvido, com principal é o desempenho da função administrativa.
ampla estrutura sobre o princípio da legalidade e sobre o princípio
da separação de poderes. O Direito Administrativo Brasileiro não Fontes
surgiu antes do Direito Romano, do Germânico, do Francês e do Fonte significa origem. Neste tópico, iremos estudar a origem
Italiano. Diversos direitos contribuíram para a formação do Direito das regras que regem o Direito Administrativo.
Brasileiro, tais como: o francês, o inglês, o italiano, o alemão e Segundo Alexandre Sanches Cunha, “o termo fonte provém
outros. Isso, de certa forma, contribuiu para que o nosso Direito do latim fons, fontis, que implica o conceito de nascente de água.
pudesse captar os traços positivos desses direitos e reproduzi-los Entende-se por fonte tudo o que dá origem, o início de tudo. Fonte
de acordo com a nossa realidade histórica. do Direito nada mais é do que a origem do Direito, suas raízes
Atualmente, predomina, na definição do objeto do Direito históricas, de onde se cria (fonte material) e como se aplica (fonte
Administrativo, o critério funcional, como sendo o ramo do direito formal), ou seja, o processo de produção das normas. São fontes
que estuda a disciplina normativa da função administrativa, do direito: as leis, costumes, jurisprudência, doutrina, analogia,
independentemente de quem esteja encarregado de exercê-la: princípio geral do direito e equidade.” (CUNHA, 2012, p. 43).
Executivo, Legislativo, Judiciário ou particulares mediante delegação
estatal”, (MAZZA, 2013, p. 33). Fontes do Direito Administrativo:
Sendo o Direito Administrativo um ramo do Direito Público, o
entendimento que predomina no Brasil e na América Latina, ainda A) Lei
que incompleto, é que o objeto de estudo do Direito Administrativo A lei se estende desde a constituição e é a fonte primária e
é a Administração Pública atuante como função administrativa principal do DireitoAdministrativo e se estende desde a Constituição
ou organização administrativa, pessoas jurídicas, ou, ainda, como Federal em seus artigos 37 a 41, alcançando os atos administrativos
órgãos públicos. normativos inferiores. Desta forma, a lei como fonte do Direito
De maneira geral, o Direito é um conjunto de normas, Administrativo significa a lei em sentido amplo, ou seja, a lei
princípios e regras, compostas de coercibilidade disciplinantes da confeccionada pelo Parlamento, bem como os atos normativos
vida social como um todo. Enquanto ramo do Direito Público, o expedidos pela Administração, tais como: decretos, resoluções,
Direito Administrativo, nada mais é que, um conjunto de princípios incluindo tratados internacionais.
e regras que disciplina a função administrativa, as pessoas e os Desta maneira, sendo a Lei a fonte primária, formal e
órgãos que a exercem. Desta forma, considera-se como seu objeto, primordial do Direito Administrativo, acaba por prevalecer sobre
toda a estrutura administrativa, a qual deverá ser voltada para a as demais fontes. E isso, prevalece como regra geral, posto que as
satisfação dos interesses públicos. demais fontes que estudaremos a seguir, são consideradas fontes
secundárias, acessórias ou informais.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

A Lei pode ser subdividida da seguinte forma: D) Costumes


Costumes são condutas reiteradas. Assim sendo, cada país,
– Lei em sentido amplo Estado, cidade, povoado, comunidade, tribo ou população tem
Refere-se a todas as fontes com conteúdo normativo, tais os seus costumes, que via de regra, são diferentes em diversos
como: a Constituição Federal, lei ordinária, lei complementar, aspectos, porém, em se tratando do ordenamento jurídico, não
medida provisória, tratados internacionais, e atos administrativos poderão ultrapassar e ferir as leis soberanas da Carta Magna que
normativos (decretos, resoluções, regimentos etc.). regem o Estado como um todo.
Como fontes secundárias e atuantes no Direito Administrativo,
– Lei em sentido estrito os costumes administrativos são práticas reiteradas que devem
Refere-se à Lei feita pelo Parlamento, pelo Poder Legislativo por ser observadas pelos agentes públicos diante de determinadas
meio de lei ordinária e lei complementar. Engloba também, outras situações. Os costumes podem exercer influência no Direito
normas no mesmo nível como, por exemplo, a medida provisória Administrativo em decorrência da carência da legislação,
que possui o mesmo nível da lei ordinária. Pondera-se que todos consumando o sistema normativo, costume praeter legem, ou nas
mencionados são reputados como fonte primária (a lei) do Direito situações em que seria impossível legislar sobre todas as situações.
Administrativo. Os costumes não podem se opor à lei (contra legem), pois ela
é a fonte primordial do Direito Administrativo, devendo somente
B) Doutrina auxiliar à exata compreensão e incidência do sistema normativo.
Tem alto poder de influência como teses doutrinadoras nas
decisões administrativas, como no próprio Direito Administrativo. Exemplo:
A Doutrina visa indicar a melhor interpretação possível da norma Ao determinar a CFB/1988 que um concurso terá validade de
administrativa, indicando ainda, as possíveis soluções para até 2 anos, não pode um órgão, de forma alguma, atribuir por efeito
casos determinados e concretos. Auxilia muito o viver diário da de costume, prazo de até 10 anos, porque estaria contrariando
Administração Pública, posto que, muitas vezes é ela que conceitua, disposição expressa na Carta Magna, nossa Lei Maior e Soberana.
interpreta e explica os dispositivos da lei.
Ressalta-se, com veemente importância, que os costumes
Exemplo: podem gerar direitos para os administrados, em decorrência dos
A Lei n. 9.784/1999, aduz que provas protelatórias podem ser princípios da lealdade, boa-fé, moralidade administrativa, dentre
recusadas no processo administrativo. Desta forma, a doutrina outros, uma vez que um certo comportamento repetitivo da
explicará o que é prova protelatória, e a Administração Pública Administração Pública gera uma expectativa em sentido geral de
poderá usar o conceito doutrinário para recusar uma prova no que essa prática deverá ser seguida nas demais situações parecidas
processo administrativo.
– Observação importante: Existe divergência doutrinária
C) Jurisprudência em relação à aceitação dos costumes como fonte do Direito
Trata-se de decisões de um tribunal que estão na mesma Administrativo. No entanto, para concursos, e estudos correlatos,
direção, além de ser a reiteração de julgamentos no mesmo sentido. via de regra, deve ser compreendida como correta a tese no sentido
de que o costume é fonte secundária, acessória, indireta e imediata
Exemplo: do Direito Administrativo, tendo em vista que a fonte primária e
O Superior Tribunal de Justiça (STJ), possui determinada mediata é a Lei.
jurisprudência que afirma que candidato aprovado dentro do
número de vagas previsto no edital tem direito à nomeação, Nota - Sobre Súmulas Vinculantes
aduzindo que existem diversas decisões desse órgão ou tribunal Nos termos do art. 103 - A da Constituição Federal, ‘‘o Supremo
com o mesmo entendimento final. Tribunal Federal poderá, de ofício ou mediante provocação, por
decisão de dois terços de seus membros, após decisões reiteradas
— Observação importante: Por tratar-se de uma orientação aos que versam sobre matéria constitucional, aprovar súmulas que
demais órgãos do Poder Judiciário e da Administração Pública, a terão efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder
jurisprudência não é de seguimento obrigatório. Entretanto, com as Judiciário e à administração pública direta e indireta”.
alterações promovidas desde a CFB/1988, esse sistema orientador
da jurisprudência tem deixado de ser a regra.
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DA UNIÃO; ADMINIS-
Exemplo: TRAÇÃO DIRETA E INDIRETA
Os efeitos vinculantes das decisões proferidas pelo Supremo
Tribunal Federal na ação direta de inconstitucionalidade (ADI),
na ação declaratória constitucionalidade (ADC) e na arguição de Administração direta e indireta
descumprimento de preceito fundamental, e, em especial, com as A princípio, infere-se que Administração Direta é correspondente
súmulas vinculantes, a partir da Emenda Constitucional nº. 45/2004. aos órgãos que compõem a estrutura das pessoas federativas que
Nesses ocorridos, as decisões do STF acabaram por vincular e obrigar executam a atividade administrativa de maneira centralizada. O
a Administração Pública direta e indireta dos Poderes da União, dos vocábulo “Administração Direta” possui sentido abrangente vindo a
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nos termos dispostos compreender todos os órgãos e agentes dos entes federados, tanto
no art. 103-A da CF/1988.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

os que fazem parte do Poder Executivo, do Poder Legislativo ou do dispor sobre a organização e o funcionamento, denota-se que
Poder Judiciário, que são os responsáveis por praticar a atividade poderá ser utilizado ato normativo inferior à lei, que se trata do
administrativa de maneira centralizada. decreto. Caso o Poder Executivo Federal desejar criar um Ministério
Já a Administração Indireta, é equivalente às pessoas jurídicas a mais, o presidente da República deverá encaminhar projeto de
criadas pelos entes federados, que possuem ligação com as lei ao Congresso Nacional. Porém, caso esse órgão seja criado, sua
Administrações Diretas, cujo fulcro é praticar a função administrativa estruturação interna deverá ser feita por decreto. Na realidade,
de maneira descentralizada. todos os regimentos internos dos ministérios são realizados por
Tendo o Estado a convicção de que atividades podem ser intermédio de decreto, pelo fato de tal ato se tratar de organização
exercidas de forma mais eficaz por entidade autônoma e com interna do órgão. Vejamos:
personalidade jurídica própria, o Estado transfere tais atribuições – Órgão: é criado por meio de lei.
a particulares e, ainda pode criar outras pessoas jurídicas, de – Organização Interna: pode ser feita por DECRETO, desde
direito público ou de direito privado para esta finalidade. Optando que não provoque aumento de despesas, bem como a criação ou a
pela segunda opção, as novas entidades passarão a compor a extinção de outros órgãos.
Administração Indireta do ente que as criou e, por possuírem – Órgãos De Controle: Trata-se dos prepostos a fiscalizar e
como destino a execução especializado de certas atividades, são controlar a atividade de outros órgãos e agentes”. Exemplo: Tribunal
consideradas como sendo manifestação da descentralização por de Contas da União.
serviço, funcional ou técnica, de modo geral.
Pessoas administrativas
Desconcentração e Descentralização Explicita-se que as entidades administrativas são a própria
Consiste a desconcentração administrativa na distribuição Administração Indireta, composta de forma taxativa pelas
interna de competências, na esfera da mesma pessoa jurídica. Assim autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de
sendo, na desconcentração administrativa, o trabalho é distribuído economia mista.
entre os órgãos que integram a mesma instituição, fato que ocorre De forma contrária às pessoas políticas, tais entidades, nao
de forma diferente na descentralização administrativa, que impõe são reguladas pelo Direito Administrativo, não detendo poder
a distribuição de competência para outra pessoa, física ou jurídica. político e encontram-se vinculadas à entidade política que as criou.
Ocorre a desconcentração administrativa tanto na administração Não existe hierarquia entre as entidades da Administração Pública
direta como na administração indireta de todos os entes federativos indireta e os entes federativos que as criou. Ocorre, nesse sentido,
do Estado. Pode-se citar a título de exemplo de desconcentração uma vinculação administrativa em tais situações, de maneira que os
administrativa no âmbito da Administração Direta da União, os entes federativos somente conseguem manter-se no controle se as
vários ministérios e a Casa Civil da Presidência da República; em entidades da Administração Indireta estiverem desempenhando as
âmbito estadual, o Ministério Público e as secretarias estaduais, funções para as quais foram criadas de forma correta.
dentre outros; no âmbito municipal, as secretarias municipais e
as câmaras municipais; na administração indireta federal, as várias Pessoas políticas
agências do Banco do Brasil que são sociedade de economia mista, As pessoas políticas são os entes federativos previstos na
ou do INSS com localização em todos os Estados da Federação. Constituição Federal. São eles a União, os Estados, o Distrito Federal
Ocorre que a desconcentração enseja a existência de vários e os Municípios. Denota-se que tais pessoas ou entes, são regidos
órgãos, sejam eles órgãos da Administração Direta ou das pessoas pelo Direito Constitucional, vindo a deter uma parcela do poder
jurídicas da Administração Indireta, e devido ao fato desses órgãos político. Por esse motivo, afirma-se que tais entes são autônomos,
estarem dispostos de forma interna, segundo uma relação de vindo a se organizar de forma particular para alcançar as finalidades
subordinação de hierarquia, entende-se que a desconcentração avençadas na Constituição Federal.
administrativa está diretamente relacionada ao princípio da Assim sendo, não se confunde autonomia com soberania, pois,
hierarquia. ao passo que a autonomia consiste na possibilidade de cada um
Registra-se que na descentralização administrativa, ao invés dos entes federativos organizar-se de forma interna, elaborando
de executar suas atividades administrativas por si mesmo, o Estado suas leis e exercendo as competências que a eles são determinadas
transfere a execução dessas atividades para particulares e, ainda a pela Constituição Federal, a soberania nada mais é do que uma
outras pessoas jurídicas, de direito público ou privado. característica que se encontra presente somente no âmbito da
Explicita-se que, mesmo que o ente que se encontre distribuindo República Federativa do Brasil, que é formada pelos referidos entes
suas atribuições e detenha controle sobre as atividades ou serviços federativos.
transferidos, não existe relação de hierarquia entre a pessoa que
transfere e a que acolhe as atribuições. Autarquias
As autarquias são pessoas jurídicas de direito público interno,
Criação, extinção e capacidade processual dos órgãos públicos criadas por lei específica para a execução de atividades especiais e
Os arts. 48, XI e 61, § 1º da CFB/1988 dispõem que a criação típicas da Administração Pública como um todo. Com as autarquias,
e a extinção de órgãos da administração pública dependem de lei a impressão que se tem, é a de que o Estado veio a descentralizar
de iniciativa privativa do chefe do Executivo a quem compete, de determinadas atividades para entidades eivadas de maior
forma privada, e por meio de decreto, dispor sobre a organização especialização.
e funcionamento desses órgãos públicos, quando não ensejar As autarquias são especializadas em sua área de atuação, dando
aumento de despesas nem criação ou extinção de órgãos públicos a ideia de que os serviços por elas prestados são feitos de forma
(art. 84, VI, b, CF/1988). Desta forma, para que haja a criação e mais eficaz e venham com isso, a atingir de maneira contundente a
extinção de órgãos, existe a necessidade de lei, no entanto, para sua finalidade, que é o bem comum da coletividade como um todo.
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NOÇÕES DE DIREITO

Por esse motivo, aduz-se que as autarquias são um serviço público nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em
descentralizado. Assim, devido ao fato de prestarem esse serviço lei. § 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da
público especializado, as autarquias acabam por se assemelhar sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem
em tudo o que lhes é possível, ao entidade estatal a que estiverem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de
servindo. Assim sendo, as autarquias se encontram sujeitas ao prestação de serviços, dispondo sobre:
mesmo regime jurídico que o Estado. Nos dizeres de Hely Lopes I – sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela
Meirelles, as autarquias são uma “longa manus” do Estado, ou sociedade;
seja, são executoras de ordens determinadas pelo respectivo ente II – a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas,
da Federação a que estão vinculadas. inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais,
As autarquias são criadas por lei específica, que de forma trabalhistas e tributários;
obrigacional deverá ser de iniciativa do Chefe do Poder Executivo III – licitação e contratação de obras, serviços, compras e
do ente federativo a que estiver vinculada. Explicita-se também alienações, observados os princípios da Administração Pública;
que a função administrativa, mesmo que esteja sendo exercida IV – a constituição e o funcionamento dos conselhos de
tipicamente pelo Poder Executivo, pode vir a ser desempenhada, Administração e fiscal, com a participação de acionistas minoritários;
em regime totalmente atípico pelos demais Poderes da República. V – os mandatos, a avaliação de desempenho e a
Em tais situações, infere-se que é possível que sejam criadas responsabilidade dos administradores
autarquias no âmbito do Poder Legislativo e do Poder Judiciário,
oportunidade na qual a iniciativa para a lei destinada à sua criação, Vejamos em síntese, algumas características em comum das
deverá, obrigatoriamente, segundo os parâmetros legais, ser feita empresas públicas e das sociedades de economia mista:
pelo respectivo Poder. – Devem realizar concurso público para admissão de seus
empregados;
— Empresas Públicas – Não estão alcançadas pela exigência de obedecer ao teto
constitucional;
Sociedades de Economia Mista – Estão sujeitas ao controle efetuado pelos Tribunais de Contas,
São a parte da Administração Indireta mais voltada para o bem como ao controle do Poder Legislativo;
direito privado, sendo também chamadas pela maioria doutrinária – Não estão sujeitas à falência;
de empresas estatais. – Devem obedecer às normas de licitação e contrato
Tanto a empresas públicas, quanto as sociedades de economia administrativo no que se refere às suas atividades-meio;
mista, no que se refere à sua área de atuação, podem ser divididas – Devem obedecer à vedação à acumulação de cargos prevista
entre prestadoras diversas de serviço público e plenamente constitucionalmente;
atuantes na atividade econômica de modo geral. Assim sendo, – Não podem exigir aprovação prévia, por parte do Poder
obtemos dois tipos de empresas públicas e dois tipos de sociedades Legislativo, para nomeação ou exoneração de seus diretores.
de economia mista.
Ressalta-se que ao passo que as empresas estatais exploradoras Fundações e outras entidades privadas delegatárias
de atividade econômica estão sob a égide, no plano constitucional, Identifica-se no processo de criação das fundações privadas,
pelo art. 173, sendo que a sua atividade se encontra regida pelo duas características que se encontram presentes de forma
direito privado de maneira prioritária, as empresas estatais contundente, sendo elas a doação patrimonial por parte de um
prestadoras de serviço público são reguladas, pelo mesmo diploma instituidor e a impossibilidade de terem finalidade lucrativa.
legal, pelo art. 175, de maneira que sua atividade é regida de forma O Decreto 200/1967 e a Constituição Federal Brasileira de
exclusiva e prioritária pelo direito público. 1988 conceituam Fundação Pública como sendo um ente de direito
predominantemente de direito privado, sendo que a Constituição
– Observação importante: todas as empresas estatais, sejam Federal dá à Fundação o mesmo tratamento oferecido às Sociedades
prestadoras de serviços públicos ou exploradoras de atividade de Economia Mista e às Empresas Públicas, que permite autorização
econômica, possuem personalidade jurídica de direito privado. da criação, por lei e não a criação direta por lei, como no caso das
O que diferencia as empresas estatais exploradoras de atividade autarquias.
econômica das empresas estatais prestadoras de serviço público é Entretanto, a doutrina majoritária e o STF aduzem que
a atividade que exercem. Assim, sendo ela prestadora de serviço a Fundação Pública poderá ser criada de forma direta por meio
público, a atividade desempenhada é regida pelo direito público, de lei específica, adquirindo, desta forma, personalidade jurídica
nos ditames do artigo 175 da Constituição Federal que determina de direito público, vindo a criar uma Autarquia Fundacional ou
que “incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente Fundação Autárquica.
ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de – Observação importante: a autarquia é definida como
licitação, a prestação de serviços públicos.” Já se for exploradora serviço personificado, ao passo que uma autarquia fundacional é
de atividade econômica, como maneira de evitar que o princípio conceituada como sendo um patrimônio de forma personificada
da livre concorrência reste-se prejudicado, as referidas atividades destinado a uma finalidade específica de interesse social.
deverão ser reguladas pelo direito privado, nos ditames do artigo
173 da Constituição Federal, que assim determina: Vejamos como o Código Civil determina:
Art. 41 - São pessoas jurídicas de direito público interno:(...)
Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, IV - as autarquias, inclusive as associações públicas;
a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.
permitida quando necessária aos imperativos da segurança
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NOÇÕES DE DIREITO

No condizente à Constituição, denota-se que esta não faz III – promoção gratuita da educação, observando-se a forma
distinção entre as Fundações de direito público ou de direito complementar de participação das organizações de que trata esta
privado. O termo Fundação Pública é utilizado para diferenciar as Lei;
fundações da iniciativa privada, sem que haja qualquer tipo de IV – promoção gratuita da saúde, observando-se a forma
ligação com a Administração Pública. complementar de participação das organizações de que trata esta
No entanto, determinadas distinções poderão ser feitas, como Lei;
por exemplo, a imunidade tributária recíproca que é destinada V – promoção da segurança alimentar e nutricional;
somente às entidades de direito público como um todo. Registra-se VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente
que o foro de ambas é na Justiça Federal. e promoção do desenvolvimento sustentável; VII – promoção do
voluntariado;
— Delegação Social VIII – promoção do desenvolvimento econômico e social e
combate à pobreza;
Organizações sociais IX – experimentação, não lucrativa, de novos modelos
As organizações sociais são entidades privadas que recebem socioprodutivos e de sistemas alternativos de produção, comércio,
o atributo de Organização Social. Várias são as entidades criadas emprego e crédito;
por particulares sob a forma de associação ou fundação que X – promoção de direitos estabelecidos, construção de novos
desempenham atividades de interesse público sem fins lucrativos. Ao direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar;
passo que algumas existem e conseguem se manter sem nenhuma XI – promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos
ligação com o Estado, existem outras que buscam se aproximar do humanos, da democracia e de outros valores universais;
Estado com o fito de receber verbas públicas ou bens públicos com XII – estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias
o objetivo de continuarem a desempenhar sua atividade social. Nos alternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos
parâmetros da Lei 9.637/1998, o Poder Executivo Federal poderá técnicos e científicos que digam respeito às atividades mencionadas
constituir como Organizações Sociais pessoas jurídicas de direito neste artigo.
privado, que não sejam de fins lucrativos, cujas atividades sejam A lei das Oscips apresenta um rol de entidades que não podem
dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento receber a qualificação. Vejamos:
tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à
cultura e à saúde, atendidos os requisitos da lei. Ressalte-se que Art. 2º Não são passíveis de qualificação como Organizações
as entidades privadas que vierem a atuar nessas áreas poderão da Sociedade Civil de Interesse Público, ainda que se dediquem de
receber a qualificação de OSs. qualquer forma às atividades descritas no art. 3º desta Lei:
Lembremos que a Lei 9.637/1998 teve como fulcro transferir os I – as sociedades comerciais;
serviços que não são exclusivos do Estado para o setor privado, por II – os sindicatos, as associações de classe ou de representação
intermédio da absorção de órgãos públicos, vindo a substituí-los por de categoria profissional;
entidades privadas. Tal fenômeno é conhecido como publicização. III – as instituições religiosas ou voltadas para a disseminação
Com a publicização, quando um órgão público é extinto, logo, outra de credos, cultos, práticas e visões devocionais e confessionais;
entidade de direito privado o substitui no serviço anteriormente IV – as organizações partidárias e assemelhadas, inclusive suas
prestado. Denota-se que o vínculo com o poder público para que fundações;
seja feita a qualificação da entidade como organização social é V – as entidades de benefício mútuo destinadas a proporcionar
estabelecido com a celebração de contrato de gestão. Outrossim, bens ou serviços a um círculo restrito de associados ou sócios;
as Organizações Sociais podem receber recursos orçamentários, VI – as entidades e empresas que comercializam planos de
utilização de bens públicos e servidores públicos. saúde e assemelhados;
VII – as instituições hospitalares privadas não gratuitas e suas
Organizações da sociedade civil de interesse público mantenedoras;
São conceituadas como pessoas jurídicas de direito privado, sem VIII – as escolas privadas dedicadas ao ensino formal não
fins lucrativos, nas quais os objetivos sociais e normas estatutárias gratuito e suas mantenedoras;
devem obedecer aos requisitos determinados pelo art. 3º da Lei IX – as Organizações Sociais;
n. 9.790/1999. Denota-se que a qualificação é de competência do X – as cooperativas;
Ministério da Justiça e o seu âmbito de atuação é parecido com o da
OS, entretanto, é mais amplo. Por fim, registre-se que o vínculo de união entre a entidade e o
Vejamos: Estado é denominado termo de parceria e que para a qualificação de
uma entidade como Oscip, é exigido que esta tenha sido constituída
Art. 3º A qualificação instituída por esta Lei, observado em e se encontre em funcionamento regular há, pelo menos, três anos
qualquer caso, o princípio da universalização dos serviços, no nos termos do art. 1º, com redação dada pela Lei n. 13.019/2014. O
respectivo âmbito de atuação das Organizações, somente será Tribunal de Contas da União tem entendido que o vínculo firmado
conferida às pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, pelo termo de parceria por órgãos ou entidades da Administração
cujos objetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes Pública com Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público
finalidades: não é demandante de processo de licitação. De acordo com o
I – promoção da assistência social; que preceitua o art. 23 do Decreto n. 3.100/1999, deverá haver a
II – promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio realização de concurso de projetos pelo órgão estatal interessado
histórico e artístico;

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NOÇÕES DE DIREITO

em construir parceria com Oscips para que venha a obter bens e privado. Acontece que pelo fato de estas gozarem normalmente
serviços para a realização de atividades, eventos, consultorias, de algum incentivo do setor público, também podem lhes ser
cooperação técnica e assessoria. aplicáveis algumas normas de direito público. Esse é o motivo pelo
qual a conceituada professora afirma que o regime jurídico aplicado
Entidades de utilidade pública às entidades que integram o Terceiro Setor é de direito privado,
O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado trouxe podendo ser modificado de maneira parcial por normas de direito
em seu bojo, dentre várias diretrizes, a publicização dos serviços público.
estatais não exclusivos, ou seja, a transferência destes serviços para
o setor público não estatal, o denominado Terceiro Setor.
Podemos incluir entre as entidades que compõem o Terceiro AGENTES PÚBLICOS: PODERES, DEVERES E PRERROGA-
Setor, aquelas que são declaradas como sendo de utilidade pública, TIVAS; CARGO, EMPREGO E FUNÇÃO PÚBLICOS; REGIME
os serviços sociais autônomos, como SESI, SESC, SENAI, por exemplo, JURÍDICO ÚNICO (LEI Nº 8.112/1990 E SUAS ALTERAÇÕES):
as organizações sociais (OS) e as organizações da sociedade civil de PROVIMENTO, VACÂNCIA, REMOÇÃO, REDISTRIBUIÇÃO E
interesse público (OSCIP). SUBSTITUIÇÃO; DIREITOS E VANTAGENS; REGIME DISCI-
É importante explicitar que o crescimento do terceiro setor PLINAR; RESPONSABILIDADE CIVIL, CRIMINAL E ADMI-
está diretamente ligado à aplicação do princípio da subsidiariedade NISTRATIVA
na esfera da Administração Pública. Por meio do princípio da
subsidiariedade, cabe de forma primária aos indivíduos e às
organizações civis o atendimento dos interesses individuais e Conceito
coletivos. Assim sendo, o Estado atua apenas de forma subsidiária A Constituição Federal Brasileira de 1988 trouxe em seu bojo,
nas demandas que, devido à sua própria natureza e complexidade, várias regras de organização do Estado brasileiro, dentre elas, as
não puderam ser atendidas de maneira primária pela sociedade. concernentes à Administração Pública e seus agentes como um
Dessa maneira, o limite de ação do Estado se encontraria na todo.
autossuficiência da sociedade. A designação “agente público” tem sentido amplo e serve
Em relação ao Terceiro Setor, o Plano Diretor do Aparelho do para conceituar qualquer pessoa física exercente de função
Estado previa de forma explícita a publicização de serviços públicos pública, de forma remunerada ou gratuita, de natureza política ou
estatais que não são exclusivos. A expressão publicização significa administrativa, com investidura definitiva ou transitória.
a transferência, do Estado para o Terceiro Setor, ou seja um setor
público não estatal, da execução de serviços que não são exclusivos Espécies (classificação)
do Estado, vindo a estabelecer um sistema de parceria entre o Maria Sylvia Zanella Di Pietro, entende que quatro são as
Estado e a sociedade para o seu financiamento e controle, como um categorias de agentes públicos: agentes políticos, servidores
todo. Tal parceria foi posteriormente modernizada com as leis que públicos civis, militares e particulares em colaboração com o serviço
instituíram as organizações sociais e as organizações da sociedade público.
civil de interesse público. Vejamos cada classificação detalhadamente:
O termo publicização também é atribuído a um segundo sentido
adotado por algumas correntes doutrinárias, que corresponde à – Agentes políticos
transformação de entidades públicas em entidades privadas sem Exercem atividades típicas de governo e possuem a incumbência
fins lucrativos. de propor ou decidir as diretrizes políticas dos entes públicos.
No que condizente às características das entidades que Nesse patamar estão inclusos os chefes do Poder Executivo federal,
compõem o Terceiro Setor, a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro estadual e municipal e de seus auxiliares diretos, quais sejam,
entende que todas elas possuem os mesmos traços, sendo eles: os Ministros e Secretários de Governo e os membros do Poder
1. Não são criadas pelo Estado, ainda que algumas delas Legislativo como Senadores, Deputados e Vereadores.
tenham sido autorizadas por lei; De forma geral, os agentes políticos exercem mandato eletivo,
2. Em regra, desempenham atividade privada de interesse com exceção dos Ministros e Secretários que são ocupantes de
público (serviços sociais não exclusivos do Estado); cargos comissionados, de livre nomeação e exoneração.
3. Recebem algum tipo de incentivo do Poder Público; Autores como Hely Lopes Meirelles, acabaram por enfatizar
4. Muitas possuem algum vínculo com o Poder Público e, de forma ampla a categoria de agentes políticos, de forma a
por isso, são obrigadas a prestar contas dos recursos públicos à transparecer que os demais agentes que exercem, com alto grau de
Administração autonomia, categorias da soberania do Estado em decorrência de
5. Pública e ao Tribunal de Contas; previsão constitucional, como é o caso dos membros do Ministério
6. Possuem regime jurídico de direito privado, porém derrogado Público, da Magistratura e dos Tribunais de Contas.
parcialmente por normas direito público;
– Servidores Públicos Civis
Assim, estas entidades integram o Terceiro Setor pelo fato De forma geral, servidor público são todas as pessoas físicas
de não se enquadrarem inteiramente como entidades privadas e que prestadoras de serviços às entidades federativas ou as pessoas
também porque não integram a Administração Pública Direta ou jurídicas da Administração Indireta em função da relação de
Indireta. trabalho que ocupam e com remuneração ou subsídio pagos pelos
Convém mencionar que, como as entidades do Terceiro Setor cofres públicos, vindo a compor o quadro funcional dessas pessoas
são constituídas sob a forma de pessoa jurídica de direito privado, jurídicas.
seu regime jurídico, normalmente, via regra geral, é de direito
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NOÇÕES DE DIREITO

Depreende-se que alguns autores dividem os servidores públicos ser cometidas a um servidor”. Via de regra, podemos considerar
em civis e militares. Pelo fato de termos adotado a classificação o cargo como sendo uma posição na estrutura organizacional da
aludida por Maria Sylvia Zanella Di Pietro, trataremos os servidores Administração Pública a ser preenchido por um servidor público.
militares como sendo uma categoria à parte, designando-os apenas Em geral, os cargos públicos somente podem ser criados,
de militares, e, por conseguinte, usando a expressão servidores transformados e extinguidos por força de lei.
públicos para se referir somente aos servidores públicos civis. Ao Poder Legislativo, caberá, mediante sanção do chefe do
De acordo com as regras e normas pelas quais são regidos, Poder Executivo, dispor sobre a criação, transformação e extinção
os servidores públicos civis podem ser subdivididos da seguinte de cargos, empregos e funções públicas.
maneira: Em se tratando de cargos do Poder Legislativo, a criação não
depende de temos exatos de lei, mas, sim de uma norma que
– Servidores estatutários: ocupam cargo público e são regidos mesmo possuindo hierarquia de lei, não depende de sanção ou
pelo regime estatutário. veto do chefe do Executivo. É o que chamamos de Resoluções, que
– Servidores ou empregados públicos: são os servidores são leis sem sanção.
contratados sob o regime da CLT e ocupantes de empregos públicos. A despeito da criação de cargos, vejamos:
– Servidores temporários: são os contratados por determinado a) Cargos do Poder Executivo: a iniciativa é privativa do chefe
período de tempo com o objetivo de atender à necessidade desse Poder (CF, art. 61, § 1º, II, “a”).
temporária de excepcional interesse público. Exercem funções b) Cargos do Poder Judiciário: dos Tribunais de Contas e
públicas, mas não ocupam cargo ou emprego público. São regidos do Ministério Público a lei em questão, partirá de iniciativa dos
por regime jurídico especial e disciplinado em lei de cada unidade respectivos Tribunais ou Procuradores-Gerais em se tratando da
federativa. criação de cargos para o Ministério Público.
– Servidores militares: antes do advento da EC 19/1998, os c) Cargos do Legislativo: os cargos serão criados, extintos ou
militares eram tratados como “servidores militares”. Militares são transformados por atos normativos de âmbito interno desse Poder
aqueles que prestam serviços às Forças Armadas como a Marinha, (Resoluções), sendo sua iniciativa da respectiva Mesa Diretora.
o Exército e a Aeronáutica, às Polícias Militares ou aos Corpos de
Bombeiros Militares dos Estados, Distrito Federal e dos territórios, Embora sejam criados por lei, os cargos ou funções públicas, se
que estão sob vínculo jurídico estatutário e são remunerados pelos estiverem vagos, podem ser extintos por intermédio de lei ou por
cofres públicos. Por estarem submetidos a um regime jurídico decreto do chefe do Poder Executivo. No entanto, se o cargo estiver
estatutário disciplinado em lei por lei, os militares estão submetidos ocupado, só poderá ser extinto por lei.
à regras jurídicas diferentes das aplicadas aos servidores civis Os cargos podem ser organizados em carreira ou isolados.
estatutários, justificando, desta forma, o enquadramento em uma Vejamos:
categoria propícia de agentes públicos. – Cargos organizados em carreira: são cargos cujos ocupantes
Destaca-se que a Constituição Federal assegurou aos militares podem percorrer várias classes ao longo da sua vida funcional, em
alguns direitos sociais conferidos aos trabalhadores de forma geral, razão do regime de progressão do servidor na carreira.
são eles: o 13º salário; o salário-família, férias anuais remuneradas – Cargos isolados: não permitem a progressão funcional de
com acréscimo ao menos um terço da remuneração normal; seus titulares.
licença à gestante com a duração de 120 dias; licença paternidade
e assistência gratuita aos filhos e demais dependentes desde o Em relação às garantias e características especiais que lhe são
nascimento até cinco anos de idade em creches e pré-escolas. conferidas, os cargos podem ser classificados em vitalícios, efetivos;
Ademais, os servidores militares estão submetidos por força e comissionados. Vejamos:
da Constituição Federal a determinadas regras próprias dos – Cargos vitalícios e cargos efetivos: oferecem garantia de
servidores públicos civis, como por exemplo: teto remuneratório, permanência aos seus ocupantes. De forma geral, a nomeação
irredutibilidade de vencimentos, dentre outras peculiaridades. para esses cargos é dependente de prévia aprovação em concurso
Embora haja tais assimilações, aos militares são aplicadas público.
algumas vedações que constituem direito dos demais agentes – Cargos em comissão ou comissionados: de acordo com o
públicos, como por exemplo, os casos da sindicalização, bem como art. 37, V, da CF, os cargos comissionados se destinam apenas às
da greve e, quando estiverem em serviço ativo, da filiação a partidos atribuições de direção, chefia e assessoramento. São ocupados
políticos. de maneira temporária, em função da confiança depositada pela
autoridade nomeante. A nomeação para esse tipo de cargo não
— Cargo, Emprego e Função Pública depende de aprovação em concurso público, podendo a exoneração
Para que haja melhor organização na Administração Pública, do seu ocupante pode ser feita a qualquer tempo, a critério da
os servidores públicos são amparados e organizados a partir de autoridade nomeante.
quadros funcionais. Quadro funcional é o acoplado de cargos,
empregos e funções públicas de um mesmo ente federado, de uma Emprego
pessoa jurídica da Administração Indireta de ou de seus órgãos Os empregos públicos são entidades de atribuições com o fito
internos. de serem ocupadas por servidores regidos sob o regime da CLT, que
também chamados de celetistas ou empregados públicos.
Cargo A diferença entre cargo e emprego público consiste no vínculo
O art. 3º do Estatuto dos Servidores Civis da União da Lei que liga o servidor ao Estado. Ressalta-se que o vínculo jurídico do
8.112/1990 conceitua cargo público como “o conjunto de atribuições empregado público é de natureza contratual, ao passo que o do
e responsabilidades previstas na estrutura organizacional que devem servidor titular de cargo público é de natureza estatutária.
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NOÇÕES DE DIREITO

No âmbito das pessoas de Direito Público como a União, os Entretanto, uma vez realizada a nomeação do candidato, este
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, bem como em suas ato não lhe atribui a qualidade de servidor público, mas apenas
autarquias e fundações públicas de direito público, levando em a garantia de ocupação do referido cargo. Para que se torne
conta a restauração da redação originária do caput do art. 39 da servidor público, o particular deverá assinar o termo de posse, se
CF/1988 (ADIn 2135 MC/DF), afirma-se que o regime a ser adotado submetendo a todas as normas estatuárias da instituição.
é o estatutário. Entretanto, é plenamente possível a convivência O provimento do cargo ocorre com a nomeação, mas a
entre o regime estatutário e o celetista relativo aos entes que, investidura no cargo acontece com a posse nos termos do art. 7°da
anteriormente à concessão da medida cautelar mencionada, Lei 8.112/90.
tenham realizado contratações e admissões no regime de emprego De acordo com a Lei Federal, o prazo máximo para a posse
público. No tocante às pessoas de Direito Privado da Administração é de 30 (trinta) dias, contados a partir da publicação do ato de
Indireta como as empresas públicas, sociedades de economia mista provimento, nos termos do art. 13, §1°, sendo que, desde haja a
e fundações públicas de direito privado, infere-se que somente é devida comprovação, a legislação admite que a posse ocorra por
possível a existência de empregados públicos, nos termos legais. meio de procuração específica, conforme disposto no art. 13, §3°
da lei 8.112/90.
Função Pública Havendo a efetivação da posse dentro do prazo legal, o servidor
Função pública também é uma espécie de ocupação de agente público federal terá o prazo máximo de 15 (dias) dias para iniciar a
público. Denota-se que ao lado dos cargos e empregos públicos exercer as funções do cargo, nos trâmites do art. 15, §1° do Estatuto
existem determinadas atribuições que também são exercidas dos Servidores Públicos da União, das Autarquias e das Fundações
por servidores públicos, mas no entanto, essas funções não Públicas Federais, Lei 8112/90, sendo que não sendo respeitado
compõem a lista de atribuições de determinado cargo ou emprego este prazo, o agente poderá ser exonerado. Vejamos:
público, como por exemplo, das funções exercidas por servidores Art. 15. § 2º - O servidor será exonerado do cargo ou será
contratados temporariamente, em razão de excepcional interesse tornado sem efeito o ato de sua designação para função de
público, com base no art. 37, IX, da CFB/88. confiança, se não entrar em exercício nos prazos previstos neste
Esse tipo de servidor ocupa funções temporárias, artigo, observado o disposto no art. 18. (Redação dada pela Lei n.
desempenhando suas funções sem titularizar cargo ou emprego 9.527, de 10.12.97).
público. Além disso, existem funções de chefia, direção e Ademais, se o candidato for nomeado e não se apresentar para
assessoramento para as quais o legislador não cria o cargo posse, no prazo de determinado por lei, não ocorrerá exoneração,
respectivo, já que serão exercidas com exclusividade por ocupantes tendo em vista ainda não havia sido investido na qualidade de
de cargos efetivos, nos termos do art. 37, V, da CFB/88. servidor. Assim sendo, o ato de nomeação se torna sem efeito, vindo
– Observação importante: nos parâmetros do art. 37, V da a ficar vago o cargo que havia sido ocupado pelo ato de nomeação.
CFB/88, da mesma forma que previsto para os cargos em comissão,
as funções de confiança destinam-se apenas às atribuições de – Provimento Derivado: o cargo público deverá ser entregue a
direção, chefia e assessoramento. um servidor que já tenha uma relação anterior com a Administração
Pública e que se encontra exercendo funções na carreira em que
Regimente Jurídico pretende assumir o novo cargo. Denota-se que provimento derivado
somente será possível de ser concretizado, se o agente provier
– Provimento de outros cargos na mesma carreira em que houve provimento
Provimento é a forma de ocupação do cargo público pelo originário anterior. Não pode haver provimento derivado em outra
servidor. Além disso, é um ato administrativo por intermédio do carreira.
qual ocorre o preenchimento de cargo, por conseguinte, atribuindo Nesses casos, deverá haver a realização de concurso público
as funções a ele específicas e inerentes a uma determinada pessoa. de provas ou de provas e títulos, para que se faça novo provimento
Tanto a doutrina quanto a lei dividem as espécies de provimento de originário. A permissão para que o agente ingresse em nova carreira
cargos públicos em dois grupos. São eles: por meio de provimento derivado violaria os princípios da isonomia
– Provimento originário: é ato administrativo que designa um e da impessoalidade, mediante os benefícios oferecidos de forma
cargo a servidor que antes não integrava o quadro de servidores defesa. Nesse diapasão, vejamos o que estabelece a súmula
daquele órgão, ou seja, o agente está iniciando a carreira pública. vinculante nº 43 do Supremo Tribunal Federal
O provimento originário é a única forma de nomeação
reconhecida pelo Ordenamento Jurídico Brasileiro, isso, é claro, – Súmula 43 do STF: É inconstitucional toda modalidade
ressalte-se, dependendo de prévia habilitação em concurso público de provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia
de provas ou de provas e títulos, obedecidos, nos termos da lei, aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em
a ordem de classificação e o prazo de sua validade. Destaque- cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido.
se que o momento da nomeação configura discricionariedade
do administrador, na qual devem ser respeitados os prazos do Assim sendo, analisaremos as espécies de provimento derivado
concurso público, nos moldes do art. 9° e seguintes da Lei 8112/90, permitidas no ordenamento Jurídico Brasileiro e suas características
devendo, por conseguinte, ainda ser feita uma análise a respeito específicas. Vejamos:
dos requisitos para a ocupação do cargo.
– Provimento derivado vertical: é a promoção na carreira
ensejando a garantia de o servidor público ocupar cargos mais
altos, na carreira de ingresso, de forma alternada por antiguidade
e merecimento. Para que isso ocorra, é necessário que ele tenha
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NOÇÕES DE DIREITO

ingressado, mediante aprovação em concurso público no serviço da atividade, que a aposentadoria tenha se dado nos cinco anos
público, bem como mediante assunção de cargo escalonado em anteriores à solicitação e também que haja cargo vago, no momento
carreira. da petição de reversão.
Denota-se que a escolha do servidor a progredir na carreira
deve ser realiza por critérios de antiguidade e merecimento e de b) Reintegração: trata-se de provimento derivado que requer
forma alternada por critérios de antiguidade e merecimento. o retorno do servidor público estável ao cargo que ocupava
Destaque-se que, intermédio de promoção, não será possível anteriormente, em decorrência da anulação do ato de demissão.
assumir um cargo em outra carreira mais elevada. Como por Ocorre a reintegração quando tornada sem validade a
exemplo, ao ser promovido do cargo de técnico do Tribunal para o demissão do servidor estável por decisão judicial ou administrativa,
cargo de analista do mesmo órgão. Isso não é possível, uma vez que ponderando que o reintegrado terá o direito de ser indenizado por
tal situação significaria a possibilidade de mudança de carreira sem tudo que deixou de ganhar em consequência da demissão ilegal.
a realização de concurso público, o que ensejaria a ascensão que foi
abolida pela Constituição Federal de 1988. c) Recondução: conforme dispõe o art. 29, da lei 8.112/90, trata-
se a recondução do retorno do servidor ao cargo anteriormente
– Provimento derivado horizontal: trata-se da readaptação ocupado por ele, podendo ocorrer em duas hipóteses:
disposta no art. 24 da Lei 8112/90. É o aproveitamento do servidor – Inabilitação em estágio probatório relacionado a outro cargo:
em um novo cargo, em decorrência de uma limitação sofrida por quando o servidor público retorna à carreira anterior na qual já
este na capacidade física ou mental. Em ocorrendo esta hipótese, havia adquirido estabilidade, evitando assim, sua exoneração do
o agente deverá ser readaptado vindo a assumir um novo cargo, serviço público.
no qual as funções sejam compatíveis com as limitações que – Reintegração do anterior ocupante: cuida-se de situação
sofreu em sua capacidade laboral, dependendo a verificação desta exposta, na situação prática apresentada anteriormente, através
limitação mediante a apresentação de laudo laboral expedido por da qual, o servidor público ocupa cargo de outro servidor que é
junta médica oficial, que ateste demonstrando detalhadamente posteriormente reintegrado.
a impossibilidade de o agente se manter no exercício de suas – Observação importante: A recondução não gera direito à
atividades de trabalho. percepção de indenização, em nenhuma das duas hipóteses. Assim,
Na fase de readaptação ficará garantida o recebimento de o servidor público retornará ao cargo de origem, percebendo a
vencimentos, não podendo haver alteração do subsídio recebido remuneração deste cargo.
pelo servidor em virtude da readaptação.
d) Aproveitamento: é retorno do servidor público que se
– Observação importante: esta modalidade de provimento encontra em disponibilidade, para assumir cargo com funções
derivado independe da existência de cargo vago na carreira, compatíveis com as que anteriormente exercia, antes de ter extinto
porque ainda que este não exista, o servidor sempre terá direito o cargo que antes ocupava.
de ser readaptado e poderá exercer suas funções no novo cargo Isso ocorre, por que a Carta Magna prevê que havendo a extinção
como excedente. Caso não haja nenhum cargo na carreira, com ou declaração de desnecessidade de determinado cargo público, o
funções compatíveis, o servidor poderá ser aposentado por servidor público estável ocupante do cargo não deverá ser demitido
invalidez. Para que haja readaptação, não há necessidade de a ou exonerado, mas sim ser removido para a disponibilidade. Nesses
limitação ter ocorrido por causa do exercício do labor ou da função. casos, o servidor deixará de exercer as funções de forma temporária,
A princípio, independentemente de culpa, o servidor tem direito a mantendo o vínculo com a administração pública.
ser readaptado.
Destaque-se que não há prazo para o término da disponibilidade,
– Provimento derivado por reingresso: ocorre quando o porém, por lei, o servidor tem a garantia de que, surgindo novo
servidor de alguma forma, deixou de atuar no labor das funções cargo vago compatível com o que ocupava, seu aproveitamento
de cargo específico e retorna às suas atividades. Esse provimento será obrigatório.
pode ocorrer de quatro formas. São elas:
a) Reversão: nos termos do art. 25 da Lei 8.112/90, é o retorno – Observação importante: o aproveitamento é obrigatório
do servidor público aposentado ao exercício do cargo público. A tanto para o poder público quanto para o agente. Isso ocorre
reversão pode ocorrer por meio da aposentadoria por invalidez, porque a Administração Pública não pode deixar de executar o
quando cessarem os motivos da invalidez. Neste caso, por meio de aproveitamento para nomear novos candidatos, da mesma forma
laudo médico oficial, o poder público toma conhecimento de que que o servidor não poderá optar por ficar em disponibilidade, vindo
os motivos que ensejaram a aposentadoria do servidor se tornaram a recusar o aproveitamento.
insubsistentes, do que resulta a obrigatoriedade de retorno do
servidor ao cargo. – Vacância
Também pode ocorrer a reversão do servidor aposentado As situações de vacância são as hipóteses de desocupação do
de forma voluntária. Dessa maneira, atendidos os requisitos cargo público. Vacância é o termo utilizado para designar cargo
dispostos em lei, a legislação ordena que havendo interesse da público vago. É um fato administrativo que informa que o cargo
Administração Pública, que o servidor tenha requerido a reversão, público não está provido e poderá preenchido por novo agente.
que a aposentadoria tenha sido de forma voluntária, que o agente A lei dispõe sete hipóteses de vacância. São elas:
público já tivesse, antes, adquirido estabilidade quando no exercício

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

a) Aposentadoria: acontece quando mediante ato praticado por conseguinte, o poder público poderá instaurar, nos termos da
pela Administração Pública, o servidor público passa para a lei, processo administrativo sumário, pugnando na aplicação da
inatividade. No Regime Próprio de Previdência do Servidor Público, penalidade de demissão do servidor.
a aposentadoria pode-se dar voluntariamente, compulsoriamente
ou por invalidez, devendo ser aprovada pelo Tribunal de Contas – Efetividade
para que tenha validade. A aposentadoria pode ocorrer pelas A efetividade não se confunde com a estabilidade. Ao passo
seguintes maneiras: que a estabilidade é a garantia constitucional disposta no art.14,
que garante a permanência no serviço público outorgada ao
– Falecimento servidor que, no ato de nomeação por concurso público para cargo
Quando se tratar de fato administrativo alheio ao interesse de provimento efetivo, tenha transposto o período de estágio
do servidor ou da Administração Pública, torna inevitavelmente probatório e aprovado numa avaliação específica e especial de
inviável a ocupação do cargo. desempenho, a efetividade é a situação jurídica daquele servidor
que ocupa cargo de provimento efetivo.
– Exoneração Os cargos de provimento efetivo são aqueles que só podem ser
Acontece sempre que o desfazimento do vínculo com o poder titularizados por servidores estatutários. Sua nomeação depende
público ocorre por situação prevista em lei, sem penalidades, dando explicitamente da aprovação em concurso público.
fim à relação jurídica funcional que havia tido início com a posse. Ao ingressar no serviço público, o servidor ao ocupar cargo
de provimento efetivo, já é considerado um servidor efetivo.
Ressalte-se que a exoneração pode ocorrer a pedido do Entretanto, o mencionado servidor efetivo só terá garantida sua
servidor, situação na qual, por vontade do agente público, o vínculo permanência no serviço público, a estabilidade, depois de três anos
se restará desfeito e o cargo vago. de exercício, desde que seja aprovado no estágio probatório.
b) Demissão: será cabível todas as vezes em que o servidor
cometer infração funcional, prevista em lei e será punível com a – Criação, transformação e extinção de cargos, empregos e
perda do cargo público. A demissão está disposta na lei 8.112/90 funções
em forma de sanção aplicada ao servidor que cometer. Via de regra, os cargos públicos apenas podem ser criados,
Quaisquer das infrações dispostas no art. 132 que transformados ou extintos por determinação de lei. Cabe ao Poder
são configuradas como condutas consideradas graves. Em Legislativo, com o sancionamento do chefe do Poder Executivo,
determinados casos, definidos pelo legislador, a demissão proporá dispor sobre a criação, transformação e extinção de cargos,
de forma automática a indisponibilidade dos bens do servidor até empregos e funções públicas.Em se tratando de cargos do Poder
que esse faça os devidos ressarcimentos ao erário. Em se tratando Legislativo, o processo de criação não depende apenas de lei,
de situações mais extremas, o legislador vedará por completo a o mas sim de uma norma que mesmo apesar de possuir a mesma
retorno do servidor ao serviço público. hierarquia de lei, não está na dependência de deliberação executiva
A penalidade deverá ser por meio de processo administrativo com sanção ou veto do chefe do Executivo. Referidas normas, em
disciplinar no qual se observe o direito ao contraditório e a ampla geral, são chamadas de Resoluções.
defesa. Denota-se que é a norma criadora do cargo a responsável pela
denominação, as atribuições e a remuneração correspondentes aos
c) Readaptação: é a de investidura do servidor em cargo de cargos públicos, nos termos da lei.
atribuições e responsabilidades compatíveis com a limitação que Uma questão de suma relevância, é a iniciativa da lei que cria,
tenha sofrido em sua capacidade física ou mental, comprovada extingue ou transforma cargos. A despeito da criação de cargos,
em inspeção minuciosamente realizada por junta médica oficial do vejamos:
órgão competente.
O servidor que for readaptado, assumindo o novo cargo desde – Cargos do Poder Executivo: a iniciativa é privativa do chefe
que seja com funções compatíveis com sua nova situação, deverá desse Poder (CF, art. 61, § 1º, II, “a”).
retornar ao cargo anteriormente ocupado. Assim, a readaptação – Cargos do Poder Judiciário: dos Tribunais de Contas e
ensejará o provimento de um cargo e, por conseguinte, a vacância do Ministério Público a lei em questão, partirá de iniciativa dos
de outro, acopladas num só ato. respectivos Tribunais ou Procuradores-Gerais em se tratando da
criação de cargos para o Ministério Público.
d) Promoção: ocorre no momento em que o servidor público, – Cargos do Legislativo: os cargos serão criados, extintos ou
por antiguidade e merecimento, alternadamente, passa a assumir transformados por atos normativos de âmbito interno desse Poder
cargo mais elevado na carreira de ingresso. (Resoluções), sendo sua iniciativa da respectiva Mesa Diretora.
e) Posse em cargo inacumulável: todas as vezes que o servidor
tomar posse em cargo ou emprego público de carreira nova, Embora sejam criados por lei, os cargos ou funções públicas, se
mediante aprovação em concurso público de provas ou de provas estiverem vagos, podem ser extintos por intermédio de lei ou por
e títulos, de forma que o novo cargo não seja acumulável com o decreto do chefe do Poder Executivo. No entanto, se o cargo estiver
primeiro. ocupado, só poderá ser extinto por lei.
Ocorrendo isso, em decorrência da vedação estabelecida Os cargos podem ser organizados em carreira ou isolados.
pela Carta Magna de acumulação de cargos e empregos públicos, Vejamos:
será necessária a vacância do cargo anteriormente ocupado. Não – Cargos organizados em carreira: são cargos cujos ocupantes
fazendo o servidor a opção, após a concessão de prazo de dez dias, podem percorrer várias classes ao longo da sua vida funcional, em
razão do regime de progressão do servidor na carreira.
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NOÇÕES DE DIREITO

– Cargos isolados: não permitem a progressão funcional de representação ou outra espécie remuneratória”. No estudo desse
seus titulares. paramento legal, depreende-se que o subsídio é uma espécie
remuneração em sentido amplo.
Em relação às garantias e características especiais que lhe são Não obstante, a redação do inciso X do art. 3 7 não tenha
conferidas, os cargos podem ser classificados em vitalícios, efetivos; usado o termo “vencimento”, convém anotar que este é usado com
e comissionados. Vejamos: frequência para indicar a remuneração dos servidores estatutários
– Cargos vitalícios e cargos efetivos: oferecem garantia de que não percebem subsídio.
permanência aos seus ocupantes. De forma geral, a nomeação Nesse conceito, os “vencimentos”, também são considerados
para esses cargos é dependente de prévia aprovação em concurso um tipo de remuneração em sentido amplo. São compostos pelo
público. vencimento normal do cargo com o acréscimo das vantagens
pecuniárias estabelecidas em lei.
– Cargos em comissão ou comissionados: de acordo com o Portanto, o disposto no inciso X do art. 37 da CFB/88, ao
art. 37, V, da CF, os cargos comissionados se destinam apenas às determinar “a remuneração dos servidores públicos e o subsídio”,
atribuições de direção, chefia e assessoramento. São ocupados está, em síntese, acoplando as duas espécies remuneratórias,
de maneira temporária, em função da confiança depositada pela vencimentos e subsídios que os servidores públicos estatutários
autoridade nomeante. A nomeação para esse tipo de cargo não podem receber.
depende de aprovação em concurso público, podendo a exoneração Pondera-se que o termo “salário” não é alcançado pelo
do seu ocupante pode ser feita a qualquer tempo, a critério da citado dispositivo, posto que este trata-se do nome usado para
autoridade nomeante. o pagamento ou quitação de serviços profissionais prestados em
Ressalte-se que antes da EC 32/2001, os cargos e as funções uma relação de emprego quando a mesma é sujeita ao regime
públicas só podiam ser extintos por determinação de lei. Entretanto, trabalhista, que é controlado e direcionado pela Consolidação das
a mencionada emenda constitucional alterou a redação do art. 84, Leis do Trabalho. Assim sendo, entende-se que os empregados
VI, “b”, da CF, passando a legislar admitindo que o Presidente da públicos recebem salário.
República possa extinguir funções ou cargos públicos por meio de Dependerá do cargo conforme o dispositivo de lei que o rege,
decreto, quando estes se encontrarem vagos. para que a iniciativa privativa das leis que fixem ou alterem as
O resultado disso, é que, ao aplicar o princípio da simetria, remunerações e subsídios dos servidores públicos. De acordo com
a consequência é que os Governadores e Prefeitos, se houver a Constituição, atinente às principais hipóteses de iniciativa de leis
semelhante previsão nas respectivas Constituições Estaduais ou que tratem a respeito da remuneração de cargos públicos, podemos
Leis Orgânicas, também podem extinguir por decreto funções ou resumir das seguintes formas:
cargos públicos vagos nos Estados, Distrito Federal e Municípios.
Assim sendo, em se restando vagos, os cargos ou funções A iniciativa é privativa do
públicas, embora sejam criados por lei, poderão ser extintos por lei Cargo do Poder Executivo
Presidente da República
ou por decreto do chefe do Poder Executivo. Entretanto, se o cargo Federal
(CFB, art. 61, § 1.º, II, “a”);
estiver ocupado, só poderá ser extinto através de lei, uma vez que
não se admite a edição de decreto com essa finalidade. Cargos da Câmara dos a iniciativa é privativa
Deputados dessa Casa (CFB, art. 51, IV);
– Remuneração a iniciativa é privativa
A Constituição Federal Brasileira aduz no art. 37, inciso X do art. Cargos do Senado Federal
dessa Casa (CF, art. 52, XIII);
37, a seguinte redação:
X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que Compete de forma privativa ao Supremo Tribunal Federal, aos
trata o § 4.º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça propor ao Poder
por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, Legislativo a respectiva remuneração dos seus serviços auxiliares e
assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem dos juízos que lhes forem vinculados, e, ainda a fixação do subsídio
distinção de índices; de seus membros e dos Juízes, inclusive dos tribunais inferiores,
onde houver (CF, art. 48, XV, e art. 96, II, ‘b ).
Infere-se que a alteração mais importante trazida a esse Observe-se que a fixação do subsídio dos deputados federais,
dispositivo por meio da EC 19/1998, foi a exigência de lei específica dos senadores, do Presidente e do Vice-Presidente da República e
para que seja fixada ou que haja alteração na remuneração em dos Ministros de Estado é da competência exclusiva do Congresso
sentido amplo de todos os servidores públicos. Isso significa que Nacional e não se encontra sujeita à sanção ou veto do Presidente
cada alteração de remuneração de cargo público deverá ser feita da República. Nesse sentido específico, em virtude de previsão
através da edição de lei ordinária específica para tratar desse constitucional, a determinação dos aludidos subsídios não é
assunto. realizada por meio de lei, mas sim por intermédio de Decreto
O termo “subsídio”, o qual o texto do inciso X do art. 3 Legislativo do Congresso Nacional.
7 menciona, é um tipo de remuneração inserida em nosso Nesse sentido, em relação entendimento do Supremo Tribunal
ordenamento jurídico através da EC 19/1998, que é de medida Federal, esse órgão entende que a concessão da revisão geral
obrigatória para alguns cargos e facultativa para outros. anual” a que se refere o inciso X do art. 37 da Constituição deve
Nos parâmetros do § 4.º do art. 39 da Constituição Federal, o ser efetivada por intermédio de lei de iniciativa privativa do Poder
subsídio deverá ser “fixado em parcela única, vedado o acréscimo Executivo de cada Federação.
de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de

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NOÇÕES DE DIREITO

O inciso X do art. 37 da Constituição Federal em sua parte final, Referente ao limite máximo, foi estabelecido o teto
garante a” revisão geral anual” da remuneração e do subsídio dos remuneratório pelo art. 37, XI, da CF, com redação dada pela EC
“servidores públicos” sempre na mesma data e sem distinção de índices. 41/2003. Vejamos:
A Constituição da República em seu texto original, usava os
termos “servidor público civil” e “servidor público militar”. No XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos,
entanto, a partir da aprovação da EC 1811998, estas expressões funções e empregos públicos da administração direta, autárquica
deixaram de existir e o texto constitucional passou a se referir aos e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da
servidores civis, apenas como “servidores públicos” e aos servidores União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos
militares, apenas como “militares. detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os
Também em seu texto original e primitivo, a Constituição proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos
Federal de 1988 determinava a obrigatoriedade do uso de índices cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de
de revisão de remuneração idênticos para servidores públicos civis qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal,
e para servidores públicos militares (expressões usadas antes da EC em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-
18/1998). Acontece que no atual inciso X do art. 37, que resultou se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados
da EC 1911998, existe referência apenas a “servidores públicos”, e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito
o que leva a entender que o preceito nele contido não pode ser do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais
aplicado aos militares, uma vez que estes não se englobam mais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores
como espécie do gênero “servidores públicos”. do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco
A remuneração dos servidores públicos passa anualmente por centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos
período revisional. Esse ato também faz parte do contido na EC Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder
19/1998. Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público,
O objetivo da revisão geral anual, ao menos, em tese, possui o aos Procuradores e aos Defensores Públicos; (Redação dada pela
fulcro de recompor o poder de compra da remuneração do servidor, Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003).
devido a inflação que normalmente está em alta. Por não se tratar
de aumento real da remuneração ou do subsídio, mas somente de O art. 37, § 11, da CFB/88 também regulamenta o assunto
um aumento nominal, por esse motivo, é denominado, às vezes, de ao afirmar que estão submetidos ao teto a remuneração e o
“aumento impróprio”. subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da
Esclarece-se que a revisão geral de remuneração e subsídio que administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de
o dispositivo constitucional em exame menciona, não é implantada qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
mediante a reestruturação de algumas carreiras, posto que as dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais
reestruturações de carreiras não são anuais, nem, tampouco gerais, agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie
pois se limitam a cargos específicos, além de não manterem ligação remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as
com a perda de valor relativo da moeda nacional. Já a revisão geral, vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza. Referente às
de forma adversa das reestruturações de carreiras, tem o condão parcelas de caráter indenizatório, estas não serão computadas para
de alcançar todos os servidores públicos estatutários de todos os efeito de cálculo do teto remuneratório.
Poderes da Federação em que esteja efetuando e deve ocorrer a Perceba que a regra do teto remuneratório também e
cada ano. plenamente aplicável às empresas públicas e às sociedades de
Registre-se que a remuneração do servidor público é submetida economia mista, e suas subsidiárias, que percebem recursos da
aos valores mínimo e máximo. União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios para
Em relação ao valor mínimo, a Carta Magna predispõe aos pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em geral (art.
servidores públicos a mesma garantia que é dada aos trabalhadores 37, § 9º, da CF).No entanto, se essas entidades não vierem a
em geral, qual seja, a de que a remuneração recebida não pode ser receber recursos públicos para a quitação de despesas de custeio
inferior ao salário mínimo. No entanto, tal garantia se refere ao total e de pessoal, seus empregados não estarão submetidos ao teto
da remuneração recebida, e não em relação ao vencimento-base. remuneratório previsto no art. 37, XI, da CF.
Sobre o assunto, o STF deixou regulamentado na Súmula Vinculante Nos trâmites desse dispositivo constitucional, resta-se
16. existente um teto geral remuneratório que deve ser aplicado a
Ressalta-se que a garantia da percepção do salário mínimo todos os Poderes da União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
não foi assegurada pela Constituição Federal aos militares. Para o sendo este, o subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal.
STF, a obrigação do Estado quanto aos militares está limitada ao Além disso, referente a esse teto geral, existem tetos específicos
fornecimento das condições materiais para a correta prestação aplicáveis aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios.
do serviço militar obrigatório nas Forças Armadas. Para tanto, Em se tratando da esfera estadual e distrital, denota-se que
denota-se que os militares são enquadrados em um sistema que a remuneração dos servidores públicos não podem exceder o
não se confunde com o que se aplica aos servidores civis, uma vez subsídio mensal dos Ministros do STF, bem como, ainda, não pode
que estes têm direitos, garantias, prerrogativas e impedimentos ultrapassar os limites a seguir:
próprios (RE 570177/MG). – Na alçada do Poder Executivo: o subsídio do Governador;
Consolidando o entendimento, enfatiza-se que a Suprema – Na alçada do Poder Legislativo: o subsídio dos Deputados
Corte editou a Súmula Vinculante 6, por meio da qual afirma que Estaduais e Distritais;
“não viola a Constituição o estabelecimento de remuneração – Na alçada do Poder Judiciário: o subsídio dos
inferior ao salário mínimo para as praças prestadoras de serviço Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado este a 90,25% do
militar inicial”. subsídio dos Ministros do STF. Infere-se que esse limite também é
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NOÇÕES DE DIREITO

nos termos da Lei, aplicável aos membros do Ministério Público, Além de receber o valor pago pela ajuda de custo, todas as
aos Procuradores e aos Defensores Públicos, mesmo que estes não despesas de transporte do servidor e de sua família, deverão ser
integrem o Poder Judiciário. arcadas pela Administração Pública, compreendendo passagem,
bagagem e bens pessoais.
Em relação aos Estados e ao Distrito Federal, a Carta Magna, Falecendo o servidor estando lotado na nova sede, sua família,
no art. 37, § 12 com redação incluída pela EC 47/2005, facultou a por conseguinte, fará jus à ajuda de custo bem como de transporte
cada um desses entes fixar, em sua alçada, um limite remuneratório para retornar à localidade de origem, no prazo de um ano, contado
local único, sendo ele o subsídio mensal dos Desembargadores do do óbito.
respectivo Tribunal de Justiça que é limitado a 90,25% do subsídio Com o fito de evitar enriquecimento sem causa, a lei determina
dos Ministros do STF. Se os Estados ou Distrito Federal desejarem que o servidor ficará obrigado a restituir a ajuda de custo quando,
adotar o subteto único, deverão realizar tal tarefa por meio de sem se justificar, não se apresentar na nova sede no prazo de 30
emenda às respectivas Constituições estaduais ou, ainda, à Lei dias.
Orgânica do Distrito Federal. Entretanto, em consonância com a
Constituição Federal, o limite local único não deve ser aplicado aos — Observação importante: O STJ entende que a ajuda de custo
subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores. somente é devida aos servidores que, no interesse da Administração,
Finalizando, em relação à esfera municipal, a remuneração forem removidos ex officio, com fundamento no art. 36, parágrafo
dos agentes públicos não poder exceder o teto geral e também único, I, da Lei 8.112/1990. No entanto, quando a remoção ocorrer
não pode exceder o subsídio do Prefeito que cuida-se do subteto em decorrência de interesse particular do servidor, a ajuda de custo
municipal. não é devida. Assim, por exemplo, se o servidor público passar a
Registre-se ainda, que a Constituição Federal carrega em ter exercício em nova sede, com mudança de domicílio em caráter
seu bojo a regra de que “os vencimentos dos cargos do Poder permanente, por meio de processo seletivo de remoção, não terá
Legislativo e do Poder Judiciário não poderão ser superiores aos direito à percepção da verba de ajuda de custo (AgRg no REsp
pagos pelo Poder Executivo” (art. 37, XII, da CF). No entanto, esta 1.531.494/SC).
norma tem sido de pouca aplicação, pelo fato de possuir conteúdo
genérico, ao contrário da previsão inserida no art. 37, XI, da CFB/88, – Diárias
que explicitamente estabelece limites precisos para os tetos São devidas ao servidor que a serviço, se afastar da sede em
remuneratórios. caráter eventual ou transitório para outro ponto do território
nacional ou para o Exterior, que também fará jus a passagens
Direitos e deveres destinadas a indenizar as despesas extraordinárias com pousada,
Adentrando ao tópico dos direitos e deveres dos agentes alimentação e locomoção urbana.
públicos, com o amparo da Lei 8112/90, que dispõe sobre o regime As diárias são devidas apenas nas hipóteses de deslocamentos
jurídico único dos servidores públicos civis da União, das autarquias eventuais ou transitórios. Assim, o servidor não fará jus a diárias se
e das fundações públicas federais, é importante explanar que além o deslocamento da sede constituir exigência permanente do cargo
do vencimento-base, a lei prevê que o servidor federal poderá (art. 58, § 2º).
receber vantagens pecuniárias, sendo elas: Não terá direito a diárias o servidor que se deslocar dentro da
mesma região metropolitana, aglomeração urbana ou microrregião,
– Indenizações constituídas por municípios limítrofes e regularmente instituídas,
Têm como objetivo ressarcir aos servidores em razão de ou em áreas de controle integrado mantidas com países limítrofes,
despesas que tenham tido por motivo do exercício de suas funções. cuja jurisdição e competência dos órgãos, entidades e servidores
São previstos por determinação legal, os seguintes tipos de brasileiros consideram-se estendidas, salvo se houver pernoite fora
indenizações a serem pagas ao servidor federal: da sede, hipóteses em que as diárias pagas serão sempre as fixadas
a) Ajuda de custo: é destinada a compensar as despesas de para os afastamentos dentro do território nacional (art. 58, § 3º).
instalação do servidor que, a trabalho em prol do interesse do A diária será concedida por dia de afastamento, sendo devida
serviço público, passar a laborar em nova sede, isso com mudança pela metade quando o deslocamento não exigir pernoite fora da
de domicílio em caráter permanente. sede, ou quando a União custear, por meio diverso, as despesas
A ajuda de custo também será devida àquele agente que, não extraordinárias cobertas por diárias (art. 58, § 1º).
sendo servidor da União, for nomeado para cargo em comissão, Além disso, o servidor que receber diárias e porventura, não
com mudança de domicílio. Por outro ângulo, não será concedida se afastar da sede, será obrigado a restituí-las em valor integral no
ajuda de custo ao servidor que em virtude de mandato eletivo se prazo de cinco dias.
afastar do cargo, ou vier a reassumi-lo. Da mesma forma, retornando o servidor à sede antes do
O cálculo pecuniário da ajuda de custo é feito sobre a previsto, também ficará obrigado a devolver as diárias percebidas
remuneração do servidor, e não pode exceder a importância em excesso no prazo de cinco dias.
correspondente a três meses de remuneração. a) Indenização de transporte: é devida ao servidor que no
Referente a cônjuge ou companheiro do servidor beneficiado exercício de serviço de interesse público realizar despesas com
pela ajuda de custo que também seja servidor e, a qualquer tempo, a utilização de meio próprio de locomoção para a execução de
passe a ter exercício na mesma sede do seu cônjuge ou companheiro, serviços externos, por força das atribuições próprias do cargo (art.
não é permitido pela legislação que ocorra o pagamento de uma 60 da Lei 8.112/90).
segunda ajuda de custo.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

b) Auxílio-moradia: é o ressarcimento das despesas b) Gratificação natalina: equivale ao 13º salário do trabalhador
devidamente comprovadas e realizadas pelo servidor público com da iniciativa privada, ou pública sendo calculada à razão de 1/12
aluguel de moradia ou, ainda com outro meio de hospedagem da remuneração a que o servidor fizer jus no mês de dezembro,
devidamente administrado por empresa hoteleira, no decurso do por mês de exercício no respectivo ano. Para efeito de pagamento
prazo de um mês após a comprovação da despesa pelo servidor. da gratificação natalina, a fração igual ou superior a 15 dias de
Para fazer jus ao recebimento do auxílio-moradia, o servidor exercício será considerada como mês integral.
deverá atender a alguns requisitos cumulativos previstos na lei (art. c) Adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas
60-B). Vejamos: ou penosas: O adicional de insalubridade é devido aos servidores
Art. 60-B. Conceder-se-á auxílio-moradia ao servidor se que trabalhem com habitualidade em locais insalubres, que
atendidos os seguintes requisitos: (Incluído pela Lei nº 11.355, de provocam a deterioração da sua saúde. Em relação ao adicional de
2006). periculosidade, é devido ao servidor cujas funções que desempenha
I - não exista imóvel funcional disponível para uso pelo servidor; habitualmente colocam em risco a sua vida.
(Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006). d) Adicional pela prestação de serviço extraordinário: é aquele
II - o cônjuge ou companheiro do servidor não ocupe imóvel exercido além da jornada ordinária de trabalho do servidor.
funcional; (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006). Nos termos da Lei 8.112/1990, o serviço extraordinário será
III - o servidor ou seu cônjuge ou companheiro não seja ou tenha remunerado com acréscimo de 50% em relação à hora normal de
sido proprietário, promitente comprador, cessionário ou promitente trabalho.
cessionário de imóvel no Município aonde for exercer o cargo, (art. 73). No entanto, somente será permitido serviço
incluída a hipótese de lote edificado sem averbação de construção, extraordinário para atender a situações excepcionais e temporárias,
nos doze meses que antecederem a sua nomeação; (Incluído pela respeitado o limite máximo de duas horas por jornada (art. 74).
Lei nº 11.355, de 2006). e) Adicional noturno: é prestado no horário compreendido
IV - nenhuma outra pessoa que resida com o servidor receba entre 22 horas de um dia e cinco horas do dia seguinte. O servidor
auxílio-moradia; (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006). que exercer serviço noturno terá direito a perceber o adicional
V - o servidor tenha se mudado do local de residência para noturno, cujo valor corresponderá ao acréscimo de 25% sobre
ocupar cargo em comissão ou função de confiança do Grupo- a hora trabalhada no turno diurno. Além disso, será considerado
Direção e Assessoramento Superiores - DAS, níveis 4, 5 e 6, de como uma hora de serviço noturno o tempo de cinquenta e dois
Natureza Especial, de Ministro de Estado ou equivalentes; (Incluído minutos e trinta segundos (art. 75).
pela Lei nº 11.355, de 2006).
VI - o Município no qual assuma o cargo em comissão ou função f) Adicional de férias: é garantido pela Constituição Federal e
de confiança não se enquadre nas hipóteses do art. 58, § 3o, em disciplinado no art. 76 do estatuto funcional. Independentemente
relação ao local de residência ou domicílio do servidor; (Incluído de solicitação, será pago ao servidor, por ocasião das suas férias,
pela Lei nº 11.355, de 2006). um adicional correspondente a 1/3 da remuneração do período
VII - o servidor não tenha sido domiciliado ou tenha residido das férias. No caso de o servidor exercer função de direção, chefia
no Município, nos últimos doze meses, aonde for exercer o cargo ou assessoramento, ou ocupar cargo em comissão, a respectiva
em comissão ou função de confiança, desconsiderando-se prazo vantagem será considerada no cálculo do adicional de férias.
inferior a sessenta dias dentro desse período; e (Incluído pela Lei nº h) Gratificação por encargo de curso ou concurso: é direito
11.355, de 2006). assegurado ao servidor que, em caráter eventual, se encaixar nas
VIII - o deslocamento não tenha sido por força de alteração hipóteses do art.76-A, tais como: atuar como instrutor em curso
de lotação ou nomeação para cargo efetivo. (Incluído pela Lei nº de formação, de desenvolvimento ou de treinamento regularmente
11.355, de 2006). instituído no âmbito da administração pública federal; participar de
IX - o deslocamento tenha ocorrido após 30 de junho de 2006. banca examinadora ou de comissão para exames orais, para análise
(Incluído pela Lei nº 11.490, de 2007). curricular, para correção de provas discursivas, para elaboração de
Parágrafo único. Para fins do inciso VII, não será considerado o questões de provas ou para julgamento de recursos intentados por
prazo no qual o servidor estava ocupando outro cargo em comissão candidatos; participar da logística de preparação e de realização
relacionado no inciso V. (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006). de concurso público envolvendo atividades de planejamento,
coordenação, supervisão, incluídas entre as suas atribuições
– Gratificações permanentes e participar da aplicação, fiscalizar ou avaliar provas
São vantagens pecuniárias que constituem acréscimos de exame vestibular ou de concurso público ou supervisionar essas
de estipêndio, que acopladas ao vencimento constituem a atividades.
remuneração do servidor público. Vale a pena registrar que, em tempos remotos, a lei contemplava
Em consonância com o art. 61 da Lei 8.112/1990 depreende-se o pagamento do adicional por tempo de serviço. Entretanto, o
que, além do vencimento e das indenizações, poderão ser deferidas dispositivo legal que previa o mencionado adicional foi revogado.
aos servidores as seguintes retribuições em forma de gratificações Contemporaneamente, esta vantagem é paga somente aos
e adicionais: servidores que à época da revogação restavam munidos de direito
a) Retribuição pelo exercício de função de direção, chefia adquirido à sua percepção.
e assessoramento: “Ao servidor ocupante de cargo efetivo
investido em função de direção, chefia ou assessoramento, cargo
de provimento em comissão ou de Natureza Especial é devida
retribuição pelo seu exercício” (art. 62). O valor dessa retribuição
será fixado por lei específica.
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– Adicionais terá direito ao gozo de 20 dias consecutivos de férias semestrais


Adicionais são formas de remuneração do risco à vida e à de atividade profissional, sendo proibida em qualquer hipótese a
saúde dos trabalhadores com caráter transitório, enquanto durar acumulação desses períodos (art. 79).
a exposição aos riscos de trabalho do servidor. No serviço público,
podemos resumi-los da seguinte forma: – Observação importante: A lei proíbe que seja levada à conta
a) Adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas de férias qualquer falta ao serviço (art. 77, § 2º).
ou penosas: O adicional de insalubridade é devido aos servidores É interessante salientar que no primeiro período aquisitivo de
que trabalhem com habitualidade em locais insalubres, que férias serão exigidos 12 meses de exercício (art. 77, § 1º); a partir
provocam a deterioração da sua saúde. Em relação ao adicional de daí os períodos aquisitivos de férias são contados por exercício.
periculosidade, é devido ao servidor cujas funções que desempenha Infere-se que o gozo do período de férias é decisão
habitualmente colocam em risco a sua vida. exclusivamente discricionária da administração, que só o fará se
b) Adicional pela prestação de serviço extraordinário: é aquele compreender que o pedido atende ao interesse público.
exercido além da jornada ordinária de trabalho do servidor. No condizente à remuneração das férias, depreende-se que
Nos termos da Lei 8.112/1990, o serviço extraordinário será esta será acrescida do adicional que corresponda a 1/3 incidente
remunerado com acréscimo de 50% em relação à hora normal de sobre a remuneração original. Já o pagamento da remuneração de
trabalho. férias, com o acréscimo do adicional, poderá ser efetuado até dois
No entanto, somente será permitido serviço extraordinário dias antes do início do respectivo período do gozo (art. 78).
para atender a situações excepcionais e temporárias, respeitado o Havendo parcelamento de gozo do período de férias, o servidor
limite máximo de duas horas por jornada, nos ditames do art.74. receberá o adicional de férias somente após utilizado o primeiro
c) Adicional noturno: é prestado no horário compreendido período (art. 78, § 5º).
entre 22 horas de um dia e cinco horas do dia seguinte. O servidor Caso o servidor seja exonerado do cargo efetivo, ou em
que exercer serviço noturno terá direito a perceber o adicional comissão, terá o direito de receber indenização relativa ao período
noturno, cujo valor corresponderá ao acréscimo de 25% sobre das férias a que tiver direito, bem como ao incompleto, na exata
a hora trabalhada no turno diurno. Além disso, será considerado proporção de um doze avos por mês de efetivo exercício, ou, ainda
como uma hora de serviço noturno o tempo de cinquenta e dois de fração superior a quatorze dias (art. 78, § 3º). Ocorrendo isso, a
minutos e trinta segundos (art. 75). indenização poderá ser calculada com base na remuneração do mês
d) Adicional de férias: é disposto na Constituição Federal e em que for publicado o ato exoneratório (art. 78, § 4º).
disciplinado no art. 76 do estatuto funcional. Independentemente
de solicitação, será pago ao servidor, por ocasião das suas férias, – Observação importante: o STJ vem aplicando de forma
um adicional correspondente a 1/3 da remuneração do período pacífica o entendimento de que, ocorrendo vacância, por posse
das férias. No caso de o servidor exercer função de direção, chefia em outro cargo inacumulável, sem solução de continuidade no
ou assessoramento, ou ocupar cargo em comissão, a respectiva tempo de serviço, o direito à fruição das férias não gozadas nem
vantagem será considerada no cálculo do adicional de férias. indenizadas transfere-se para o novo cargo, ainda que este último
e) Adicional de atividade penosa: será devido aos servidores tenha remuneração maior (STJ, 5ª Turma, AgRg no Ag 1008567/
que estejam em exercício de suas funções em zonas de fronteira ou DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 18.09.2008, DJe
em localidades cujas condições de vida o justifiquem, nos termos, 20.10.2008).
condições e limites fixados em regulamento (art. 71). Via de regra, as férias dos servidores públicos devem ser
gozadas sem quaisquer tipos de interrupção. Entretanto, como
– Observação importante: O direito ao adicional de exceção, a lei estabelece dispositivo que determina que as férias
insalubridade ou periculosidade cessa com a eliminação das somente poderão ser interrompidas nas seguintes hipóteses art. 80
condições ou dos riscos que deram causa a sua concessão (art. 68, da Lei 8112/90:
§ 2º). a) calamidade pública;
O servidor que pelas circunstâncias fizer jus aos adicionais de b) comoção interna;
insalubridade e de periculosidade deverá optar por um deles, não c) convocação para júri, serviço militar ou eleitoral; ou
podendo perceber ditas vantagens cumulativamente (art. 68, § 1º). d) por necessidade do serviço declarada pela autoridade
máxima do órgão ou entidade.
– Férias
De modo geral, podemos afirmar que as férias correspondem – Licenças
ao direito do servidor a um período de descanso anual remunerado, São períodos por meio dos quais o servidor tem direito de se
por meio do qual, para a maioria dos servidores é de trinta dias. afastar das suas atividades, com ou sem remuneração, de acordo
Esse direito do servidor está garantido pela Constituição Federal, com o tipo de licença.
porém, a disciplina do seu exercício pelos servidores estatutários A Lei 8112/90 prevê várias espécies de licenças, são elas:
federais está inserida nos arts. 77 a 80 da Lei 8.112/1990. Art. 81.  Conceder-se-á ao servidor licença:
Normalmente, o servidor fará jus a trinta dias de férias a cada I - por motivo de doença em pessoa da família;
ano, que por sua vez, podem ser acumuladas até o máximo de II - por motivo de afastamento do cônjuge ou companheiro;
dois períodos, em se tratando de caso de necessidade do serviço, III - para o serviço militar;
com exceção das hipóteses em que haja legislação específica (art. IV - para atividade política;
77). Entretanto, o servidor que opera direta em permanência V - para capacitação;
constante com equipamentos de raios X ou substâncias radioativas, VI - para tratar de interesses particulares;
VII - para desempenho de mandato classista;
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NOÇÕES DE DIREITO

VIII - para tratamento de saúde; § 1o  O servidor candidato a cargo eletivo na localidade onde
IX - Licença por acidente em serviço (art. 211); desempenha suas funções e que exerça cargo de direção, chefia,
X - Licença à Gestante (art. 207); assessoramento, arrecadação ou fiscalização, dele será afastado, a
XI - Licença à Adotante (art. 210); partir do dia imediato ao do registro de sua candidatura perante a
XII – Licença Paternidade (art. 208). Justiça Eleitoral, até o décimo dia seguinte ao do pleito.
Nos parâmetros do referido Estatuto, temos a seguinte § 2o   A partir do registro da candidatura e até o décimo dia
explanação: seguinte ao da eleição, o servidor fará jus à licença, assegurados os
Art. 83. Poderá ser concedida licença ao servidor por motivo de vencimentos do cargo efetivo, somente pelo período de três meses.
doença do cônjuge ou companheiro, dos pais, dos filhos, do padrasto Art. 87.  Após cada quinquênio de efetivo exercício, o servidor
ou madrasta e enteado, ou dependente que viva a suas expensas e poderá, no interesse da Administração, afastar-se do exercício do
conste do seu assentamento funcional, mediante comprovação por cargo efetivo, com a respectiva remuneração, por até três meses,
perícia médica oficial. para participar de curso de capacitação profissional.
§ 1o  A licença somente será deferida se a assistência direta do Art. 91.  A critério da Administração, poderão ser concedidas
servidor for indispensável e não puder ser prestada simultaneamente ao servidor ocupante de cargo efetivo, desde que não esteja em
com o exercício do cargo ou mediante compensação de horário, na estágio probatório, licenças para o trato de assuntos particulares
forma do disposto no inciso II do art. 44. pelo prazo de até três anos consecutivos, sem remuneração.   
§ 2o A licença de que trata o caput, incluídas as prorrogações, Parágrafo único.  A licença poderá ser interrompida, a qualquer
poderá ser concedida a cada período de doze meses nas seguintes tempo, a pedido do servidor ou no interesse do serviço.
condições:   Art. 92. É assegurado ao servidor o direito à licença sem
I - por até 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não, mantida a remuneração para o desempenho de mandato em confederação,
remuneração do servidor; federação, associação de classe de âmbito nacional, sindicato
II - por até 90 (noventa) dias, consecutivos ou não, sem representativo da categoria ou entidade fiscalizadora da profissão
remuneração. ou, ainda, para participar de gerência ou administração em
§ 3o O início do interstício de 12 (doze) meses será contado a sociedade cooperativa constituída por servidores públicos para
partir da data do deferimento da primeira licença concedida.   prestar serviços a seus membros, observado o disposto na alínea c do
§ 4o A soma das licenças remuneradas e das licenças não inciso VIII do art. 102 desta Lei, conforme disposto em regulamento
remuneradas, incluídas as respectivas prorrogações, concedidas e observados os seguintes limites:
em um mesmo período de 12 (doze) meses, observado o disposto I - para entidades com até 5.000 (cinco mil) associados, 2 (dois)
no § 3o, não poderá ultrapassar os limites estabelecidos nos incisos servidores;
I e II do § 2o. II - para entidades com 5.001 (cinco mil e um) a 30.000 (trinta
§ 2o A licença de que trata o caput, incluídas as prorrogações, mil) associados, 4 (quatro) servidores;
poderá ser concedida a cada período de doze meses nas seguintes III - para entidades com mais de 30.000 (trinta mil) associados,
condições: 8 (oito) servidores.
I - por até 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não, mantida a § 1o Somente poderão ser licenciados os servidores eleitos para
remuneração do servidor; cargos de direção ou de representação nas referidas entidades,
II - por até 90 (noventa) dias, consecutivos ou não, sem desde que cadastradas no órgão competente.
remuneração. § 2o. A licença terá duração igual à do mandato, podendo ser
§ 3o O início do interstício de 12 (doze) meses será contado a renovada, no caso de reeleição.
partir da data do deferimento da primeira licença concedida. Art. 202.  Será concedida ao servidor licença para tratamento
§ 4o A soma das licenças remuneradas e das licenças não de saúde, a pedido ou de ofício, com base em perícia médica, sem
remuneradas, incluídas as respectivas prorrogações, concedidas prejuízo da remuneração a que fizer jus.
em um mesmo período de 12 (doze) meses, observado o disposto Art. 207.  Será concedida licença à servidora gestante por 120
no § 3o, não poderá ultrapassar os limites estabelecidos nos incisos (cento e vinte) dias consecutivos, sem prejuízo da remuneração.   
I e II do § 2o. § 1o . A licença poderá ter início no primeiro dia do nono mês de
§ 2o  No deslocamento de servidor cujo cônjuge ou companheiro gestação, salvo antecipação por prescrição médica.
também seja servidor público, civil ou militar, de qualquer dos § 2o  No caso de nascimento prematuro, a licença terá início a
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, partir do parto.
poderá haver exercício provisório em órgão ou entidade da § 3o   No caso de natimorto, decorridos 30 (trinta) dias do
Administração Federal direta, autárquica ou fundacional, desde que evento, a servidora será submetida a exame médico, e se julgada
para o exercício de atividade compatível com o seu cargo. apta, reassumirá o exercício.
Art. 85.  Ao servidor convocado para o serviço militar será § 4o  No caso de aborto atestado por médico oficial, a servidora
concedida licença, na forma e condições previstas na legislação terá direito a 30 (trinta) dias de repouso remunerado.
específica. Art. 208.  Pelo nascimento ou adoção de filhos, o servidor terá
Parágrafo único.   Concluído o serviço militar, o servidor terá direito à licença-paternidade de 5 (cinco) dias consecutivos.
até 30 (trinta) dias sem remuneração para reassumir o exercício do Art. 209.  Para amamentar o próprio filho, até a idade de seis
cargo. meses, a servidora lactante terá direito, durante a jornada de
Art. 86.   O servidor terá direito a licença, sem remuneração, trabalho, a uma hora de descanso, que poderá ser parcelada em
durante o período que mediar entre a sua escolha em convenção dois períodos de meia hora.
partidária, como candidato a cargo eletivo, e a véspera do registro
de sua candidatura perante a Justiça Eleitoral.
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Art. 210.  À servidora que adotar ou obtiver guarda judicial de – Direito de petição
criança até 1 (um) ano de idade, serão concedidos 90 (noventa) dias De acordo com o art. 104 da Lei 8.112/1990, é direito do
de licença remunerada.   servidor público, requerer junto aos Poderes Públicos, a defesa de
Parágrafo único. No caso de adoção ou guarda judicial de direito ou interesse legítimo.
criança com mais de 1 (um) ano de idade, o prazo de que trata este O direito de petição pode ser manifestado por intermédio de
artigo será de 30 (trinta) dias. requerimento, pedido de reconsideração ou de recurso.
Art. 211.  Será licenciado, com remuneração integral, o servidor Nos termos da Lei, o requerimento deverá ser dirigido
acidentado em serviço. à autoridade competente para decidi-lo e encaminhado por
intermédio daquela a que estiver imediatamente subordinado o
— Observação importante: a licença-prêmio não faz mais requerente (art. 105).
parte do rol dos direitos dos servidores federais e foi suprimida Além disso, nos trâmites do art. 106, caberá pedido de
pela Lei 9.527/1997. A licença-prêmio permitia que o servidor, reconsideração dirigido à autoridade que houver expedido o ato ou
encerrado cada quinquênio ininterrupto de serviço, pudesse proferido a primeira decisão, não podendo ser renovado.
gozar, como prêmio pela assiduidade de três meses de licença, De acordo com o art. 107 do Estatuto em estudo, caberá
com a remuneração do cargo efetivo. A legislação vigente à época recurso nas seguintes hipóteses: do indeferimento do pedido de
facultava ao servidor gozar a licença ou contar em dobro o período reconsideração e das decisões sobre os recursos sucessivamente
da licença para efeito de aposentadoria (o que atualmente não é interpostos.
mais possível, já que a EC 20/1998 proibiu a contagem de tempo Nos termos do art. 109, o recurso será dirigido à autoridade
de contribuição fictício para aposentadoria). Entretanto, em imediatamente superior à que tiver expedido o ato ou proferido
análise ao caso específico daqueles que adquiriram legitimamente a decisão, e, sucessivamente, em escala ascendente, às demais
o direito antes da supressão legal, o STJ entende pacificamente autoridades, sendo encaminhado por intermédio da autoridade
que “o servidor aposentado tem direito à conversão em pecúnia a que estiver imediatamente subordinado o requerente. Dando
da licença-prêmio não gozada e contada em dobro, sob pena de continuidade, o recurso poderá ser recebido com efeito suspensivo,
enriquecimento sem causa da Administração Pública” (AgRg no a juízo da autoridade competente e em caso de provimento do
AREsp 270.708/RN). pedido de reconsideração ou do recurso, os efeitos da decisão
retroagirão à data do ato impugnado, nos parâmetros do art. 109,
– Concessões parágrafo único da Lei 8112/90.
Três são as espécies de concessão: O prazo para interposição de recurso ou de pedido de
a) Primeira espécie de concessão: permite ao servidor se reconsideração é de 30 dias, a contar da publicação ou da ciência,
ausentar do serviço, sem qualquer prejuízo a sua remuneração, nas pelo interessado, da decisão recorrida (art. 108).
seguintes condições (art. 97): por um dia, para doação de sangue; Já o direito de requerer prescreve, nos termos do art. 110,
por dois dias, para se alistar como eleitor; por oito dias consecutivos em cinco anos, quanto aos atos de demissão e de cassação de
em razão de: casamento; falecimento do cônjuge, companheiro, aposentadoria ou disponibilidade, ou que afetem interesse
pais, madrasta ou padrasto, filhos, enteados, menor sob guarda ou patrimonial e créditos resultantes das relações de trabalho; em 120
tutela e irmãos. dias, nos demais casos, exceto quando outro prazo for fixado em lei.
b) Segunda espécie de concessão: relacionada à concessão
de horário especial, nas seguintes situações (art. 98): ao servidor Em relação à prescrição, merece também destaque:
estudante, quando comprovada a incompatibilidade entre o Art. 112: a prescrição é de ordem pública, não podendo ser
horário escolar e o da repartição, sendo exigida a compensação de relevada pela administração; o pedido de reconsideração e o
horário; ao servidor portador de deficiência, quando comprovada recurso, quando cabíveis, interrompem a prescrição (art. 111);
a necessidade por junta médica oficial, independentemente de o prazo de prescrição será contado da data da publicação do ato
compensação de horário;ao servidor que tenha cônjuge, filho ou impugnado ou da data da ciência pelo interessado, quando o ato
dependente com deficiência, quando comprovada a necessidade não for publicado (art. 110, parágrafo único da Lei 8112/90).
por junta médica oficial, independentemente da compensação de
horário; ao servidor que atue como instrutor em curso instituído no O procedimento administrativo disciplinar – PAD, é essencial
âmbito da administração pública federal ou que participe de banca para a apuração de infrações que acarretem penalidades mais se-
examinadora de concursos, vinculado à compensação de horário a veras, como demissão, cassação de aposentadoria, disponibilidade
ser efetivada no prazo de até um ano. ou destituição de cargo em comissão, superando a suspensão por
c) Terceira espécie de concessão: cuida dos casos relacionados trinta dias. Ressalta-se que o PAD é conduzido por uma comissão
à matrícula em instituições de ensino. Por amparo legal, “ao servidor composta por três servidores estáveis, designados por meio de por-
estudante que mudar de sede no interesse da administração é taria pela autoridade competente, sendo eles: um presidente e um
assegurada, na localidade da nova residência ou na mais próxima, secretário, nomeado pelo primeiro.
matrícula em instituição de ensino congênere, em qualquer Vale ressaltar que o presidente da comissão deve ocupar cargo
época, independentemente de vaga” (art. 99). Denota-se que esse efetivo superior ou equivalente, ou possuir nível de escolaridade
benefício se estende também “ao cônjuge ou companheiro, aos igual ou superior ao do indiciado.
filhos, ou enteados do servidor que vivam na sua companhia, bem Sobre o tema em estudo, o jurista Carlos Schmidt de Barros Jú-
como aos menores sob sua guarda, com autorização judicial” (art. nior (1972:158). aponta três sistemas por meio dos quais é possível
99, parágrafo único). fazer a repressão disciplinar.

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NOÇÕES DE DIREITO

Vejamos: Quando não há elementos suficientes para instaurar o proces-


a) Sistema hierárquico: no qual o poder disciplinar é exclusiva- so disciplinar, a autoridade competente pode determinar previa-
mente exercido pelo superior hierárquico, onde este é responsável mente a realização de sindicância.
por investigar a falta, bem como aplicar a penalidade correspon- Após a autuação do processo, este é encaminhado à comissão
dente. Esse sistema é ocasionalmente utilizado para a apuração de processante, que o instaura por meio de uma portaria que deve
infrações consideradas leves ou na aplicação do princípio da verda- conter as seguintes informações:
de sabida. a) Os nomes dos servidores envolvidos;
b) Sistema de jurisdição completa: é caracterizado pela deter- b) A infração de que são acusados;
minação estrita das faltas e penas em lei, com a decisão atribuída c) Descrição sucinta dos fatos; e
a um órgão de jurisdição que segue procedimentos jurisdicionais d) Indicação dos dispositivos legais infringidos.
específicos. Esse sistema não está presente no direito brasileiro. No A elaboração cuidadosa da portaria é crucial para garantir a
contexto jurídico nacional, a apuração de faltas e a imposição de pe- legalidade do processo disciplinar, sendo equivalente à denúncia
nalidades são regidas por sistemas específicos, não se enquadrando no processo penal, pois, uma portaria bem elaborada deve conter
no modelo de jurisdição completa. todos os elementos necessários para que os servidores acusados
c) Sistema misto ou de jurisdicionalização moderada: presen- compreendam as infrações administrativas imputadas a eles.
te no Brasil em relação aos processos administrativos disciplinares. Ademais, se o fato também constituir um ilícito penal, a comis-
Caracteriza-se pela participação de órgãos, geralmente com função são processante deve comunicar às autoridades policiais, fornecen-
opinativa, enquanto a aplicação da pena permanece sob respon- do os elementos de instrução disponíveis. A fase de instrução segue
sabilidade do superior hierárquico. Além disso, esse sistema man- os princípios da oficialidade e do contraditório, sendo este último
tém um certo grau de discricionariedade na análise dos fatos e na essencial para assegurar a ampla defesa.
escolha da penalidade adequada. Essa abordagem visa equilibrar Com base no princípio da oficialidade, a comissão processante
a participação de diferentes instâncias no processo disciplinar, com- toma a iniciativa para a coleta de provas, podendo realizar ou de-
binando elementos de jurisdição e hierarquia. terminar todas as diligências que julgue necessárias para esse fim.
No contexto jurídico brasileiro, os meios de apuração de ilíci- Já em conformidade com o princípio do contraditório, a comis-
tos administrativos abrangem o processo administrativo disciplinar, são deve proporcionar ao indiciado a oportunidade de acompanhar
juntamente com os meios sumários, que englobam a sindicância e a instrução, com ou sem defensor, permitindo que ele conheça e
a verdade sabida. responda a todas as provas apresentadas contra ele.
Esses instrumentos são utilizados para investigar e esclarecer Após a conclusão da instrução, é garantido o direito de vista
possíveis infrações cometidas por servidores ou agentes públicos, do processo, e o indiciado é notificado para apresentar sua defesa.
proporcionando diferentes abordagens conforme a gravidade e a Todavia, embora essa fase seja denominada de defesa, as normas
natureza dos casos. relacionadas à instauração e à instrução do processo já visam pro-
O processo administrativo disciplinar é compulsório, conforme porcionar uma ampla defesa ao servidor.
estabelecido no artigo 41 da Constituição, para a aplicação de pe- Nessa terceira etapa, o indiciado deve apresentar razões escri-
nalidades que resultem na perda do cargo para o servidor estável. tas, de forma pessoal, ou por meio de um advogado de sua escolha.
O art. 146 da Lei nº 8.112/90 estipula a necessidade desse pro- Havendo ausência de defesa, a comissão designará um funcionário,
cesso para a imposição de penalidades como suspensão por mais preferencialmente bacharel em direito, para defender o indiciado.
de 30 (trinta) dias, demissão, cassação de aposentadoria, disponibi- A citação do indiciado deve ocorrer previamente ao início da
lidade e destituição de cargo em comissão. instrução, sendo acompanhada da entrega de uma cópia da porta-
O processo administrativo disciplinar é conduzido por comis- ria, assegurando, desta forma, que o servidor tenha pleno acesso às
sões disciplinares, conhecidas como comissões processantes. Esse informações da denúncia.
sistema apresenta a vantagem de assegurar uma maior imparciali- Ademais, é facultado ao indiciado assistir ao depoimento das
dade na instrução do processo, tendo em vista que a comissão atua testemunhas e formular perguntas adicionais por meio da comis-
como um órgão independente no relacionamento entre o funcioná- são, devendo comparecer à sessão acompanhado de seu defensor.
rio e o superior hierárquico. Ao término da fase de instrução, os autos serão disponibiliza-
Com o objetivo de garantir essa imparcialidade, a jurisprudên- dos ao indiciado para que ele exerça seu direito de defesa, respei-
cia e entendimentos tem defendido que os membros da comissão tando integralmente o princípio do contraditório.
devem ser funcionários estáveis, não sujeitos a condições temporá- Após a apresentação da defesa, a comissão disciplinar elabora-
rias ou exoneração a qualquer momento. rá seu relatório, no qual deve ser proposta a absolvição do indiciado
O processo administrativo disciplinar percorre diversas fases. ou a aplicação de uma penalidade específica, embasando suas con-
São elas: clusões nas provas coletadas.
a) A instauração;
b) A instrução; • OBS. Importante: o relatório possui natureza opinativa, não
c) A defesa; vinculando a autoridade julgadora, que tem a prerrogativa de ana-
d) O relatório; e lisar os autos e formular uma conclusão divergente, se assim julgar
e) A decisão. adequado.

Desta forma, o procedimento tem início com o despacho da Em relação à etapa conclusiva do processo administrativo disci-
autoridade competente, que determina a instauração assim que plinar, denominada fase de decisão, a autoridade competente pode
toma conhecimento de alguma irregularidade e a autoridade age acatar a recomendação da comissão disciplinar, transformando o
de ofício, baseando-se no princípio da oficialidade. relatório em sua motivação.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

Caso decida não seguir a sugestão da comissão, é imperativo à exoneração que se trata de ato administrativo que coloca fim ao
que a autoridade justifique de maneira apropriada sua decisão, vínculo do servidor com a Administração Pública, encerrando seu
apontando os elementos do processo que fundamentam seu po- período no estágio probatório.
sicionamento, caso queira, buscar orientação em pareceres de ór- É importante ressaltar que a exoneração durante o estágio pro-
gãos jurídicos para embasar sua decisão. batório não exige a instauração de processo administrativo discipli-
Com respaldo no princípio da oficialidade, compete à autorida- nar, pois trata-se de uma medida decorrente da avaliação periódica
de julgadora realizar uma análise minuciosa do processo, verifican- do servidor nesse período inicial de sua carreira.
do sua conformidade com a legalidade. Nesse sentido, a autoridade Contudo, a decisão deve ser motivada e fundamentada, asse-
pode declarar a nulidade do processo, determinar o saneamento de gurando ao servidor o direito à ampla defesa e ao contraditório.
eventuais irregularidades ou solicitar novas diligências que julgue Os critérios para avaliação e a decisão de exoneração devem
cruciais para a produção de provas. estar de acordo com os princípios da legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência, e devem ser observados os
• OBS. Importante: O princípio da oficialidade confere à autori- procedimentos estabelecidos na legislação específica que rege o
dade julgadora a iniciativa de promover a regularidade e a legalida- quadro de servidores públicos, como a Lei nº 8.112/1990 no âmbito
de do procedimento, assegurando a imparcialidade e a correção na federal, por exemplo.
condução do processo administrativo disciplinar. Logo, sobre a exoneração de servidor em fase de estágio proba-
tório, temos o seguinte:
Encerrado o processo, seja com a absolvição do servidor ou
com a aplicação de penalidade, são cabíveis, neste último cenário, • Estágio probatório é o período de avaliação do desempe-
o pedido de reconsideração e os recursos hierárquicos. Além disso, nho do servidor recém-ingresso no serviço público;
a legislação estatutária pode prever a possibilidade de revisão do • Em geral, o estágio probatório tem a duração de três anos;
processo. • Durante o estágio probatório, o servidor é avaliado por:
Esses instrumentos oferecem ao servidor a oportunidade de assiduidade, disciplina, capacidade de iniciativa, produtividade e
questionar ou contestar as decisões tomadas, buscando a revisão responsabilidade;
ou a anulação da penalidade aplicada, desde que observados os • Não atendendo aos requisitos necessários à permanência
procedimentos e prazos estabelecidos pela normativa vigente. no cargo, o servidor poderá ser exonerado; e
• A exoneração durante o estágio probatório deve ser moti-
Dicas importantes: vada e fundamentada, assegurando ao servidor o direito à ampla
– O relatório conclusivo da comissão processante é uma mani- defesa e ao contraditório.
festação final quanto à inocência ou responsabilidade do servidor. • NOTA: Existem cargos em que o estágio probatório é de
– A decisão final sobre a aplicação, ou não, de sanção ao servi- apenas dois anos. Ex.: Promotores de Justiça.
dor não é de responsabilidade da comissão processante, pois, cabe
a esta encaminhar o relatório à autoridade competente, nos termos
— Inquérito Administrativo
da lei, para que esta realize o julgamento relativo à aplicação da
Após a fase de instauração, procede-se à fase do Inquérito Ad-
penalidade cabível.
ministrativo, a qual se subdivide em:
– A aplicação da pena de demissão a servidores da Administra-
a) Instrução Processual: nesta etapa, a comissão responsável
ção Direta da União é de competência exclusiva do Presidente da
pelo inquérito deve reunir documentos, proporcionando ao interes-
República, em âmbito federal.
sado o acesso a esses documentos. Além disso, é necessário realizar
– De maneira similar, nas demais entidades federativas, a com-
oitivas das testemunhas, garantindo a intimação prévia do notifica-
petência para demitir servidores da Administração Direta é exclusi-
do para acompanhamento das sessões.
va dos Governadores e Prefeitos, por simetria.
A comissão também pode solicitar a realização de perícia técni-
– O processo disciplinar pode ser revisto a qualquer momento,
ca, elaborando os quesitos necessários. Quando necessário, devem
seja por solicitação expressa ou de ofício, quando surgirem fatos
ser realizadas diligências para esclarecer situações factuais, incluin-
novos ou circunstâncias que possam justificar a inocência do puni-
do o ato crucial de interrogatório do envolvido.
do ou a inadequação da penalidade aplicada.
b) Defesa: durante esta fase, é assegurado ao acusado o direito
de apresentar sua defesa, podendo contestar as acusações e ofere-
Exoneração de Servidor em Estágio Probatório
cer elementos de prova em seu favor.
A exoneração de servidor em estágio probatório refere-se à dis-
c) Relatório Final: após a instrução e a defesa, a comissão ela-
pensa do servidor público que está em fase de estágio probatório.
bora um relatório final que resume os elementos coletados, analisa
O estágio probatório é um período de avaliação do desempenho do
as argumentações apresentadas e, se for o caso, sugere as penali-
servidor recém-ingresso no serviço público.
dades cabíveis.
Geralmente, esse estágio tem a duração de três anos, durante
Essas etapas garantem um processo disciplinar justo e transpa-
os quais o servidor é avaliado em diversos aspectos, como assidui-
rente, permitindo a participação do interessado e a devida análise
dade, disciplina, capacidade de iniciativa, produtividade e respon-
dos fatos.
sabilidade.
Uma vez comprovada, em uma fase de indícios robustos, a in-
Se durante o período do estágio probatório, a Administração
fração disciplinar, é imperativo redigir um termo devidamente tipi-
Pública constatar que o servidor não atende aos requisitos necessá-
ficado e expedir um mandado de citação, concedendo um prazo de
rios ou que apresenta desempenho insatisfatório, poderá proceder

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NOÇÕES DE DIREITO

10 dias para que o indiciado apresente sua defesa por escrito. No Ademais, é de extrema importância que o julgador atente para
caso de dois ou mais indiciados, o prazo para defesa escrita será o disposto no art. 168 do Estatuto, evitando assim a imposição de
duplicado, ou seja, vinte dias. penalidades desnecessárias. A Lei não utiliza palavras sem propósi-
Após a apresentação da defesa, a comissão encarregada deve to, e, portanto, se exige a concordância com as conclusões da Co-
analisar ponto a ponto a peça do indiciado, podendo resultar no missão de PAD, há um significado claro nessa disposição legal.
acatamento total ou parcial das razões apresentadas, ou na rejeição Logo, infere-se que a Comissão teve contato direto com as
total dos argumentos defensivos, caso não haja suporte fático-pro- provas, as testemunhas e o próprio acusado, assemelhando-se ao
batório adequado e/ou amparo legal. princípio da identidade física do Juiz, mutatis mutandis, conforme
A comissão tem um prazo de 60 dias para concluir a instru- estabelecido no art. 168 da Lei nº 8.112/90.
ção do processo, sendo permitida a prorrogação por um período
igual, se necessário. Este processo assegura um tratamento justo e — Sindicância
transparente, garantindo que todas as partes envolvidas tenham a A sindicância administrativa é um procedimento apuratório su-
oportunidade adequada de se manifestar e apresentar suas argu- mário, cujo propósito é investigar a autoria ou a ocorrência de irre-
mentações. gularidades no serviço público, passíveis de resultar na aplicação de
É relevante destacar que o prazo para a conclusão dos traba- penalidades como advertência ou suspensão por até 30 dias.
lhos da comissão não é rígido, permitindo prorrogação ou recondu- Sobre o tema. O art. 145 da Lei federal n.º 8.112/1990 deter-
ção por igual período de tempo. Dessa forma, a extrapolação desse mina o seguinte:
prazo não acarreta nulidade.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) também se posicionou so- Art. 145. Da sindicância poderá resultar:
bre o tema, afirmando que a não conclusão do processo adminis- I - Arquivamento do processo;
trativo disciplinar no prazo de 120 dias (compreendendo o prazo II - Aplicação de penalidade de advertência ou suspensão de até
original de 60 dias mais a prorrogação por igual período), conforme 30 (trinta) dias;
o art. 152 da Lei nº 8.112/90, não configura nulidade. III - Instauração de processo disciplinar.
Parágrafo único. O prazo para conclusão da sindicância não ex-
— Julgamento cederá 30 (trinta) dias, podendo ser prorrogado por igual período, a
A última etapa do Processo Administrativo Disciplinar - PAD, critério da autoridade superior.
conforme previsto na Lei nº 8.112/90, é o julgamento. Nessa fase,
que possui um prazo de 20 dias, a autoridade julgadora decide so- Ressalta-se que esse processo de natureza inquisitorial e des-
bre o arquivamento do processo ou a aplicação de penalidades. A provido de contraditório, busca apurar a existência de fatos irregu-
autoridade deve seguir o entendimento da comissão processante, a lares na Administração, determinando os responsáveis. Sua seme-
menos que haja incompatibilidade entre a penalidade sugerida e o lhança com um inquérito policial reside na natureza investigativa,
ilícito administrativo comprovado durante o PAD. servindo como base para a eventual instauração de um processo
Sobre o assunto, vejamos o que determina o art. 167 da Lei administrativo disciplinar.
federal n.º 8.112/1990: Os trabalhos da comissão têm prioridade sobre outras atribui-
ções dos seus membros, sendo vedado ao servidor designado para
Art. 167. No prazo de 20 (vinte) dias, contados do recebimento integrar a comissão recusar o encargo. A recusa pode acarretar a
do processo, a autoridade julgadora proferirá a sua decisão. abertura de um processo administrativo disciplinar, uma vez que
§1o Se a penalidade a ser aplicada exceder a alçada da autori- configuraria o não atendimento a uma ordem manifestamente legal
dade instauradora do processo, este será encaminhado à autorida- emitida por um superior hierárquico.
de competente, que decidirá em igual prazo. Quando um administrador toma conhecimento de irregulari-
§2o Havendo mais de um indiciado e diversidade de sanções, o dades na Administração Pública, é seu dever-poder constituir uma
julgamento caberá à autoridade competente para a imposição da comissão de sindicância para investigar o fato, especialmente quan-
pena mais grave. do a autoria é desconhecida ou duvidosa. Essa comissão será com-
§3o Se a penalidade prevista for a demissão ou cassação de posta por três servidores estáveis e terá um prazo inicial de 30 dias
aposentadoria ou disponibilidade, o julgamento caberá às autori- úteis, podendo ser prorrogado por igual período, para conduzir a
dades de que trata o inciso I do art. 141. investigação e apresentar um relatório conclusivo sobre a irregula-
§4o Reconhecida pela comissão a inocência do servidor, a auto- ridade e sua autoria. Após receber a documentação relacionada à
ridade instauradora do processo determinará o seu arquivamento, irregularidade a ser apurada, o presidente da comissão deve convo-
salvo se flagrantemente contrária à prova dos autos. (Incluído pela car os demais membros para participar de uma espécie de reunião
Lei nº 9.527, de 10.12.97) inaugural dos trabalhos.
Na mencionada reunião, o presidente da comissão deve infor-
É importante observar que, embora a lei estabeleça um prazo mar aos demais membros sobre a irregularidade a ser investigada,
de 20 dias para o julgamento, a ultrapassagem desse período não designar um dos membros como secretário e discutir e estabelecer
acarreta nulidade. A teoria das nulidades no processo disciplinar um cronograma de reuniões, para o qual todos devem ser devida-
admite irregularidades apenas quando configuram prejuízo para o mente intimados.
direito de defesa do acusado.

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NOÇÕES DE DIREITO

Cada reunião subsequente deve ser registrada em ata. Vejamos abaixo, de forma mais aprofundada cada uma das
Se houver indícios de autoria, a comissão deve intimar o sus- mencionadas vias recursais:
peito e conduzi-lo a um interrogatório, documentando o procedi-
mento por meio de um termo. Além disso, a comissão deve buscar Direito de Petição e Requerimento
ouvir o depoimento de todas as testemunhas disponíveis para es- O direito de petição no âmbito administrativo é um instrumen-
clarecer a irregularidade em apuração. to garantido aos cidadãos e servidores públicos para que possam se
dirigir diretamente à administração, solicitando informações, escla-
— Destaques importantes (Recursos) recimentos ou requerendo a defesa de seus direitos particulares ou
Ao examinarmos as fases pelas quais passa o processo adminis- interesses legítimos. Esse direito está previsto na Lei nº 8.112/1990,
trativo disciplinar, torna-se mais acessível para o intérprete identifi- especialmente nos artigos 104 a 115.
car possíveis nulidades, compreender o princípio da busca pela ver- A essência do direito de petição está em permitir que o admi-
dade real e orientar-se pelos princípios do contraditório e da ampla nistrado se comunique com a administração, buscando uma respos-
defesa, garantidos constitucionalmente aos acusados em processo ta ou providência relacionada aos seus interesses. Essa comunica-
administrativo. ção pode abranger uma ampla gama de questões, desde pedidos de
Cabe salientar que é viável a reabertura de um procedimento esclarecimentos sobre procedimentos administrativos até solicita-
disciplinar após o cumprimento da penalidade pelos mesmos fatos, ções de revisão de decisões.
desde que novas informações, anteriormente desconhecidas pela O artigo 5º, XXXIII e XXXIV, da Constituição Federal, assegura o
Administração Pública, venham à tona por meio de inquérito po- direito de petição aos cidadãos e o direito à obtenção de certidões
licial. em repartições públicas, garantindo a transparência e o acesso à
A Lei nº 8.112/1990 possui dispositivos que regulam a revisão informação.
(ou reexame) de sindicância ou processo administrativo disciplinar Portanto, o direito de petição desempenha um papel importan-
já encerrado, conforme estabelecido nos artigos 174 e seguintes te na relação entre os cidadãos e a administração pública, permitin-
do Estatuto. Esse processo revisor representa a instauração de um do que se estabeleça um canal de comunicação direta para a defesa
novo procedimento, a ser apensado ao processo originário que se de direitos e interesses perante o poder público.
pretende rever, conduzido por uma comissão distinta.
A revisão do processo pode ser solicitada pela parte interessa- Pedido de Reconsideração
da ou realizada de ofício a qualquer momento, fundamentada em O pedido de reconsideração é uma modalidade de recurso
fatos novos ou circunstâncias que justifiquem o abrandamento da administrativo dirigida exclusivamente à autoridade que emitiu a
decisão original. decisão inicial que se pretende reformar, conforme estabelece o
artigo 106 da Lei nº 8.112/1990. Diferentemente de outros recur-
– NOTA: É importante destacar que a revisão não pode resultar sos, o pedido de reconsideração não é encaminhado para instâncias
no agravamento da penalidade imposta. superiores, sendo direcionado à mesma autoridade que proferiu a
decisão questionada.
Ademais, o artigo 54 da Lei nº 9.784/99 deve ser considerado. Este recurso oferece a oportunidade de apresentar argumen-
Sua aplicação, em tese, poderia resultar na reabertura de um pro- tos novos ou, pelo menos, reexaminar a decisão à luz de fatos ou
cesso após a declaração de nulidade do anterior, não se confundin- argumentos que não foram considerados inicialmente. Pode-se
do com a revisão mencionada anteriormente. alegar a existência de novas circunstâncias, trazer à tona fatos não
No âmbito do direito administrativo disciplinar, as vias recur- contemplados anteriormente ou discordar de interpretações jurídi-
sais disponíveis são: cas realizadas.
a) Direito de Petição e Requerimento: o interessado pode É importante ressaltar que o pedido de reconsideração não é
apresentar petições ou requerimentos à autoridade competente, uma via para repetir argumentos já apresentados, mas sim para
solicitando informações, esclarecimentos ou manifestando sua po- oferecer elementos adicionais que possam influenciar a autoridade
sição em relação ao processo. a rever sua decisão. Dessa forma, é uma oportunidade para com-
b) Pedido de Reconsideração: Após a decisão da autoridade plementar a análise da questão em debate.
competente, o interessado pode apresentar pedido de reconside- Cabe destacar que o pedido de reconsideração é uma etapa
ração, buscando a revisão da decisão com base em argumentos ou preliminar ao eventual recurso hierárquico, sendo uma forma de
fatos novos. revisão interna da decisão administrativa antes de buscar instâncias
c) Recurso Hierárquico: caso o pedido de reconsideração seja superiores.
indeferido ou não seja apreciado no prazo legal, o interessado pode
interpor recurso hierárquico, dirigindo-se à autoridade superior Recurso hierárquico
àquela que proferiu a decisão contestada. O recurso hierárquico, também conhecido simplesmente como
d) Revisão Processual: conforme previsto em legislação espe- “recurso”, consiste em uma modalidade de recurso administrativo
cífica, é possível solicitar a revisão do processo administrativo disci- direcionado à autoridade hierarquicamente superior àquela que
plinar, apresentando fatos novos ou circunstâncias que justifiquem proferiu a decisão que se busca reformar. Diferentemente do pedi-
uma nova análise do caso. do de reconsideração, no recurso hierárquico é possível apresentar
Cada uma dessas vias recursais serve como meio para que o argumentos já mencionados anteriormente, não havendo a exigên-
interessado possa questionar, contestar ou buscar a revisão das de- cia de inovação.
cisões tomadas no âmbito do processo administrativo disciplinar.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

Essa via recursal permite que a autoridade hierarquicamente Na fase de admissibilidade, o Ministro competente avalia se o
superior reavalie a decisão à luz de novos argumentos ou interpre- pedido atende aos pressupostos estabelecidos no artigo 174. Caso
tações diferentes, ainda que o conjunto probatório seja o mesmo. entenda que não há fundamentos para a admissibilidade da revi-
Em outras palavras, outra autoridade, mesmo sem apresentar no- são, o pedido é indeferido imediatamente, sendo arquivado. No
vos elementos, pode ter uma visão diversa da situação. entanto, mesmo com o arquivamento, os documentos relacionados
É importante destacar que, após o indeferimento do recurso ao pedido de revisão devem permanecer apensados aos autos do
hierárquico por uma autoridade superior, não cabe a interposição processo administrativo originário, uma vez que fazem parte da his-
de pedido de reconsideração à mesma autoridade. Assim, a sequ- tória desse processo. Isso significa que, mesmo arquivado, o pedido
ência usual é a interposição do recurso hierárquico e, em caso de de revisão continua vinculado ao processo original.
novo indeferimento, a possibilidade de recorrer a instâncias supe- No caso de deferimento da revisão, o processo revisor é enca-
riores, como o Poder Judiciário. minhado à autoridade instauradora competente, que deve designar
A Lei nº 8.112/1990, em seu artigo 109, prevê as disposições uma comissão revisora para conduzir o processo. Os requisitos para
gerais sobre o recurso no âmbito do regime jurídico dos servidores os integrantes da comissão revisora são os mesmos estabelecidos
públicos civis da União. para o rito ordinário, sendo que esta comissão será responsável por
analisar o mérito do pedido de revisão, considerando as circuns-
Revisão processual tâncias apresentadas e os fundamentos apresentados pelo servidor
A revisão no âmbito do direito administrativo disciplinar ocor- interessado.
re de maneira distinta do pedido de reconsideração e do recurso
hierárquico. Enquanto esses dois primeiros acontecem no mesmo O servidor Público, como pilastra da organização administrativa,
processo original antes de sua decisão definitiva, a revisão ocorre está sujeito à responsabilidade Civil, Penal e administrativa
contra uma sindicância ou PAD já encerrado. decorrente do exercício do cargo, emprego ou função.
A revisão implica a instauração de um novo processo, que será A responsabilidade civil do servidor público diz respeito ao
apensado ao processo originário que se pretende revisar. Essa nova ressarcimento dos prejuízos causados à Administração Pública ou a
etapa será conduzida por uma comissão diferente daquela que ana- terceiros em decorrência de ato omissivo ou comissivo, doloso ou
lisou o processo original. culposo, no exercício de suas atribuições (art. 122 da Lei nº 8.112/90
Vale ressaltar que, apesar da literalidade da lei, por questões e art. 37, §6º, da Constituição Federal). A responsabilidade Civil é
de simplificação formal e conciliação com registros informatizados, de ordem patrimonial e decorre do art. 186 do CC, segundo a qual
durante o processo de revisão, pode-se inverter a relação, conside- todo aquele que causa dano a outrem é obrigado a repará-lo.
rando como principal o processo revisor e como apensado o proces- Para se configurar o ilícito exige-se do Servidor Público a ação
so originário, ajustando-se após a decisão final. ou omissão antijurídica; culpa ou dolo; relação de causalidade
A revisão está prevista no Título V, Seção III da lei federal n.º entre a ação ou omissão e o dano verificado; ocorrência de um
8.112/1990, específico para o rito administrativo disciplinar. Impor- dano material ou moral. É necessário, quando o dano é causado
tante destacar que a revisão independe do exercício ou não das vias por servidor público, distinguir duas hipóteses: se o dano é causado
recursais no processo originário, ou seja, não está condicionada à ao Estado ou a terceiros.
utilização do pedido de reconsideração ou do recurso hierárquico,
que não são institutos previstos na matéria disciplinar do Estatuto. Importante esclarecer, que a responsabilidade civil do servidor
público perante a Administração é subjetiva e depende da prova da
– OBS. Importante: A revisão de inquérito não depende de pré- existência do dano, do nexo de causalidade entre a ação e o dano e
vio pedido de reconsideração. da culpa ou dolo da sua conduta, podendo o dano ser material ou
moral.
A revisão processual no âmbito do direito administrativo disci- Outrossim, quando se trata de dano causado a terceiros, aplica-
plinar pode ser solicitada pela parte interessada ou realizada de ofí- se o art. 37 §6◦ da CF, em decorrência da qual o Estado responde
cio a qualquer tempo. Esse pedido de revisão pode ocorrer median- objetivamente, ou seja, independente de culpa ou dolo, podendo
te a apresentação de fato novo ou circunstâncias que justifiquem o haver, todavia o direito de regresso.
abrandamento da decisão original. Dita a Lei 8.112/1990:
É importante salientar que mera manifestação de inconformis-
mo não é suficiente para justificar a revisão; é necessário apresen- [...]
tar elementos substanciais. CAPÍTULO IV
O fato novo não precisa ser necessariamente recente, mas DAS RESPONSABILIDADES
deve ser algo que não se tinha conhecimento durante o processo
originário. Mesmo que o fato seja antigo, ele pode ser considerado Art. 121. O servidor responde civil, penal e administrativamente
novo se não era conhecido no momento do processo administrativo pelo exercício irregular de suas atribuições.
disciplinar. A revisão pode resultar na inocentação do servidor ou Art. 122. A responsabilidade civil decorre de ato omissivo ou
na conclusão de que a infração é menos grave, sujeita a uma pena- comissivo, doloso ou culposo, que resulte em prejuízo ao erário ou
lidade mais branda. a terceiros.
O rito utilizado para a revisão processual no âmbito do direito §1o A indenização de prejuízo dolosamente causado ao erário
administrativo disciplinar é regulamentado pelo artigo 177 da Lei nº somente será liquidada na forma prevista no art. 46, na falta de
8.112/1990. A revisão só pode ser autorizada pelo respectivo Minis- outros bens que assegurem a execução do débito pela via judicial.
tro de Estado. Esse processo revisional possui duas fases distintas: a §2o Tratando-se de dano causado a terceiros, responderá o
admissibilidade e o mérito. servidor perante a Fazenda Pública, em ação regressiva.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

§3o A obrigação de reparar o dano estende-se aos sucessores §2º Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direi-
e contra eles será executada, até o limite do valor da herança to de se inscrever em concurso público para provimento de cargo
recebida. cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são
portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por
LEI Nº 8.112, DE 11 DE DEZEMBRO DE 1990 cento) das vagas oferecidas no concurso.
§3º As universidades e instituições de pesquisa científica e
Dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da tecnológica federais poderão prover seus cargos com professores,
União, das autarquias e das fundações públicas federais. técnicos e cientistas estrangeiros, de acordo com as normas e os
procedimentos desta Lei. (Incluído pela Lei nº 9.515, de 20.11.97)
PUBLICAÇÃO CONSOLIDADA DA LEI Nº 8.112, DE 11 DE DEZEM- Art. 6º O provimento dos cargos públicos far-se-á mediante ato
BRO DE 1990, DETERMINADA PELO ART. 13 DA LEI Nº 9.527, DE 10 da autoridade competente de cada Poder.
DE DEZEMBRO DE 1997. Art. 7º A investidura em cargo público ocorrerá com a posse.
Art. 8º São formas de provimento de cargo público:
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na- I - nomeação;
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: II - promoção;
III -(Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
TÍTULO I IV - (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
V - readaptação;
CAPÍTULO ÚNICO VI - reversão;
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES VII - aproveitamento;
VIII - reintegração;
Art. 1º Esta Lei institui o Regime Jurídico dos Servidores Públi- IX - recondução.
cos Civis da União, das autarquias, inclusive as em regime especial,
e das fundações públicas federais. SEÇÃO II
Art. 2º Para os efeitos desta Lei, servidor é a pessoa legalmente DA NOMEAÇÃO
investida em cargo público.
Art. 3º Cargo público é o conjunto de atribuições e responsabi- Art. 9º A nomeação far-se-á:
lidades previstas na estrutura organizacional que devem ser come- I - em caráter efetivo, quando se tratar de cargo isolado de pro-
tidas a um servidor. vimento efetivo ou de carreira;
Parágrafo único. Os cargos públicos, acessíveis a todos os brasi- II - em comissão, inclusive na condição de interino, para cargos
leiros, são criados por lei, com denominação própria e vencimento de confiança vagos. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
pago pelos cofres públicos, para provimento em caráter efetivo ou Parágrafo único. O servidor ocupante de cargo em comissão
em comissão. ou de natureza especial poderá ser nomeado para ter exercício,
Art. 4º É proibida a prestação de serviços gratuitos, salvo os interinamente, em outro cargo de confiança, sem prejuízo das atri-
casos previstos em lei. buições do que atualmente ocupa, hipótese em que deverá optar
pela remuneração de um deles durante o período da interinidade.
TÍTULO II (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
DO PROVIMENTO, VACÂNCIA, REMOÇÃO, REDISTRIBUI- Art. 10. A nomeação para cargo de carreira ou cargo isolado
ÇÃO E SUBSTITUIÇÃO de provimento efetivo depende de prévia habilitação em concurso
público de provas ou de provas e títulos, obedecidos a ordem de
CAPÍTULO I classificação e o prazo de sua validade.
DO PROVIMENTO Parágrafo único. Os demais requisitos para o ingresso e o de-
senvolvimento do servidor na carreira, mediante promoção, serão
SEÇÃO I estabelecidos pela lei que fixar as diretrizes do sistema de carreira
DISPOSIÇÕES GERAIS na Administração Pública Federal e seus regulamentos. (Redação
dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
Art. 5º São requisitos básicos para investidura em cargo públi-
co: SEÇÃO III
I - a nacionalidade brasileira; DO CONCURSO PÚBLICO
II - o gozo dos direitos políticos;
III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais; Art. 11. O concurso será de provas ou de provas e títulos, po-
IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do cargo; dendo ser realizado em duas etapas, conforme dispuserem a lei e o
V - a idade mínima de dezoito anos; regulamento do respectivo plano de carreira, condicionada a inscri-
VI - aptidão física e mental. ção do candidato ao pagamento do valor fixado no edital, quando
§1º As atribuições do cargo podem justificar a exigência de ou- indispensável ao seu custeio, e ressalvadas as hipóteses de isenção
tros requisitos estabelecidos em lei. nele expressamente previstas. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de
10.12.97) (Regulamento)
Art. 12. O concurso público terá validade de até 2 (dois ) anos,
podendo ser prorrogado uma única vez, por igual período.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

§1º O prazo de validade do concurso e as condições de sua rea- Art. 17. A promoção não interrompe o tempo de exercício, que
lização serão fixados em edital, que será publicado no Diário Oficial é contado no novo posicionamento na carreira a partir da data de
da União e em jornal diário de grande circulação. publicação do ato que promover o servidor.(Redação dada pela Lei
§2º Não se abrirá novo concurso enquanto houver candidato nº 9.527, de 10.12.97)
aprovado em concurso anterior com prazo de validade não expi- Art. 18. O servidor que deva ter exercício em outro município
rado. em razão de ter sido removido, redistribuído, requisitado, cedido ou
posto em exercício provisório terá, no mínimo, dez e, no máximo,
SEÇÃO IV trinta dias de prazo, contados da publicação do ato, para a retoma-
DA POSSE E DO EXERCÍCIO da do efetivo desempenho das atribuições do cargo, incluído nesse
prazo o tempo necessário para o deslocamento para a nova sede.
Art. 13. A posse dar-se-á pela assinatura do respectivo termo, (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
no qual deverão constar as atribuições, os deveres, as responsabi- §1º Na hipótese de o servidor encontrar-se em licença ou afas-
lidades e os direitos inerentes ao cargo ocupado, que não poderão tado legalmente, o prazo a que se refere este artigo será contado a
ser alterados unilateralmente, por qualquer das partes, ressalvados partir do término do impedimento. (Parágrafo renumerado e alte-
os atos de ofício previstos em lei. rado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
§1º A posse ocorrerá no prazo de trinta dias contados da pu- §2º É facultado ao servidor declinar dos prazos estabelecidos
blicação do ato de provimento. (Redação dada pela Lei nº 9.527, no caput. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
de 10.12.97) Art. 19. Os servidores cumprirão jornada de trabalho fixada em
§2º Em se tratando de servidor, que esteja na data de publi- razão das atribuições pertinentes aos respectivos cargos, respeitada
cação do ato de provimento, em licença prevista nos incisos I, III a duração máxima do trabalho semanal de quarenta horas e obser-
e V do art. 81, ou afastado nas hipóteses dos incisos I, IV, VI, VIII, vados os limites mínimo e máximo de seis horas e oito horas diárias,
alíneas “a”, “b”, “d”, “e” e “f”, IX e X do art. 102, o prazo será contado respectivamente. (Redação dada pela Lei nº 8.270, de 17.12.91)
do término do impedimento. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de §1º O ocupante de cargo em comissão ou função de confiança
10.12.97) submete-se a regime de integral dedicação ao serviço, observado o
§3º A posse poderá dar-se mediante procuração específica. disposto no art. 120, podendo ser convocado sempre que houver
§4º Só haverá posse nos casos de provimento de cargo por no- interesse da Administração. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de
meação. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) 10.12.97)
§5º No ato da posse, o servidor apresentará declaração de §2º O disposto neste artigo não se aplica a duração de traba-
bens e valores que constituem seu patrimônio e declaração quanto lho estabelecida em leis especiais. (Incluído pela Lei nº 8.270, de
ao exercício ou não de outro cargo, emprego ou função pública. 17.12.91)
§6º Será tornado sem efeito o ato de provimento se a posse Art. 20. Ao entrar em exercício, o servidor nomeado para cargo
não ocorrer no prazo previsto no §1º deste artigo. de provimento efetivo ficará sujeito a estágio probatório por perí-
Art. 14. A posse em cargo público dependerá de prévia inspe- odo de 24 (vinte e quatro) meses, durante o qual a sua aptidão e
ção médica oficial. capacidade serão objeto de avaliação para o desempenho do cargo,
Parágrafo único. Só poderá ser empossado aquele que for jul- observados os seguinte fatores: (vide EMC nº 19)
gado apto física e mentalmente para o exercício do cargo. I - assiduidade;
Art. 15. Exercício é o efetivo desempenho das atribuições do II - disciplina;
cargo público ou da função de confiança. (Redação dada pela Lei nº III - capacidade de iniciativa;
9.527, de 10.12.97) IV - produtividade;
§1º É de quinze dias o prazo para o servidor empossado em V- responsabilidade.
cargo público entrar em exercício, contados da data da posse. (Re- §1º 4 (quatro) meses antes de findo o período do estágio pro-
dação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) batório, será submetida à homologação da autoridade competen-
§2º O servidor será exonerado do cargo ou será tornado sem te a avaliação do desempenho do servidor, realizada por comissão
efeito o ato de sua designação para função de confiança, se não constituída para essa finalidade, de acordo com o que dispuser a lei
entrar em exercício nos prazos previstos neste artigo, observado o ou o regulamento da respectiva carreira ou cargo, sem prejuízo da
disposto no art. 18. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) continuidade de apuração dos fatores enumerados nos incisos I a V
§3º À autoridade competente do órgão ou entidade para onde do caput deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 11.784, de 2008
for nomeado ou designado o servidor compete dar-lhe exercício. §2º O servidor não aprovado no estágio probatório será exone-
(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) rado ou, se estável, reconduzido ao cargo anteriormente ocupado,
§4º O início do exercício de função de confiança coincidirá com observado o disposto no parágrafo único do art. 29.
a data de publicação do ato de designação, salvo quando o servi- §3º O servidor em estágio probatório poderá exercer quaisquer
dor estiver em licença ou afastado por qualquer outro motivo le- cargos de provimento em comissão ou funções de direção, chefia
gal, hipótese em que recairá no primeiro dia útil após o término do ou assessoramento no órgão ou entidade de lotação, e somente
impedimento, que não poderá exceder a trinta dias da publicação. poderá ser cedido a outro órgão ou entidade para ocupar cargos de
(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) Natureza Especial, cargos de provimento em comissão do Grupo-
Art. 16. O início, a suspensão, a interrupção e o reinício do exer- -Direção e Assessoramento Superiores - DAS, de níveis 6, 5 e 4, ou
cício serão registrados no assentamento individual do servidor. equivalentes. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
Parágrafo único. Ao entrar em exercício, o servidor apresenta- §4º Ao servidor em estágio probatório somente poderão ser
rá ao órgão competente os elementos necessários ao seu assenta- concedidas as licenças e os afastamentos previstos nos arts. 81,
mento individual. incisos I a IV, 94, 95 e 96, bem assim afastamento para participar
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de curso de formação decorrente de aprovação em concurso para e) haja cargo vago. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-
outro cargo na Administração Pública Federal.(Incluído pela Lei nº 45, de 4.9.2001)
9.527, de 10.12.97) §1º A reversão far-se-á no mesmo cargo ou no cargo resultante
§5º O estágio probatório ficará suspenso durante as licenças e de sua transformação. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-
os afastamentos previstos nos arts. 83, 84, §1º, 86 e 96, bem assim 45, de 4.9.2001)
na hipótese de participação em curso de formação, e será retoma- §2º O tempo em que o servidor estiver em exercício será con-
do a partir do término do impedimento. (Incluído pela Lei nº 9.527, siderado para concessão da aposentadoria. (Incluído pela Medida
de 10.12.97) Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
§3º No caso do inciso I, encontrando-se provido o cargo, o ser-
SEÇÃO V vidor exercerá suas atribuições como excedente, até a ocorrência
DA ESTABILIDADE de vaga. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
§4º O servidor que retornar à atividade por interesse da ad-
Art. 21. O servidor habilitado em concurso público e empossa- ministração perceberá, em substituição aos proventos da aposen-
do em cargo de provimento efetivo adquirirá estabilidade no servi- tadoria, a remuneração do cargo que voltar a exercer, inclusive
ço público ao completar 2 (dois) anos de efetivo exercício. (prazo 3 com as vantagens de natureza pessoal que percebia anteriormente
anos - vide EMC nº 19) à aposentadoria.(Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de
Art. 22. O servidor estável só perderá o cargo em virtude de 4.9.2001)
sentença judicial transitada em julgado ou de processo administra- §5º O servidor de que trata o inciso II somente terá os pro-
tivo disciplinar no qual lhe seja assegurada ampla defesa. ventos calculados com base nas regras atuais se permanecer pelo
menos cinco anos no cargo. (Incluído pela Medida Provisória nº
SEÇÃO VI 2.225-45, de 4.9.2001)
DA TRANSFERÊNCIA §6º O Poder Executivo regulamentará o disposto neste artigo.
Art. 23. (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
Art. 26. (Revogado pela Medida Provisória nº 2.225-45, de
SEÇÃO VII 4.9.2001)
DA READAPTAÇÃO Art. 27. Não poderá reverter o aposentado que já tiver comple-
tado 70 (setenta) anos de idade.
Art. 24. Readaptação é a investidura do servidor em cargo de
atribuições e responsabilidades compatíveis com a limitação que SEÇÃO IX
tenha sofrido em sua capacidade física ou mental verificada em ins- DA REINTEGRAÇÃO
peção médica.
§1º Se julgado incapaz para o serviço público, o readaptando Art. 28. A reintegração é a reinvestidura do servidor estável no
será aposentado. cargo anteriormente ocupado, ou no cargo resultante de sua trans-
§2º A readaptação será efetivada em cargo de atribuições afins, formação, quando invalidada a sua demissão por decisão adminis-
respeitada a habilitação exigida, nível de escolaridade e equivalên- trativa ou judicial, com ressarcimento de todas as vantagens.
cia de vencimentos e, na hipótese de inexistência de cargo vago, o §1º Na hipótese de o cargo ter sido extinto, o servidor ficará em
servidor exercerá suas atribuições como excedente, até a ocorrên- disponibilidade, observado o disposto nos arts. 30 e 31.
cia de vaga. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) §2º Encontrando-se provido o cargo, o seu eventual ocupante
será reconduzido ao cargo de origem, sem direito à indenização ou
SEÇÃO VIII aproveitado em outro cargo, ou, ainda, posto em disponibilidade.
DA REVERSÃO
(Regulamento Dec. nº 3.644, de 30.11.2000) SEÇÃO X
DA RECONDUÇÃO
Art. 25. Reversão é o retorno à atividade de servidor aposenta-
do: (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001) Art. 29. Recondução é o retorno do servidor estável ao cargo
I - por invalidez, quando junta médica oficial declarar insubsis- anteriormente ocupado e decorrerá de:
tentes os motivos da aposentadoria; ou (Incluído pela Medida Pro- I - inabilitação em estágio probatório relativo a outro cargo;
visória nº 2.225-45, de 4.9.2001) II - reintegração do anterior ocupante.
II - no interesse da administração, desde que: (Incluído pela Parágrafo único. Encontrando-se provido o cargo de origem, o
Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001) servidor será aproveitado em outro, observado o disposto no art.
a) tenha solicitado a reversão; (Incluído pela Medida Provisória 30.
nº 2.225-45, de 4.9.2001)
b) a aposentadoria tenha sido voluntária; (Incluído pela Medi- SEÇÃO XI
da Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001) DA DISPONIBILIDADE E DO APROVEITAMENTO
c) estável quando na atividade;(Incluído pela Medida Provisória
nº 2.225-45, de 4.9.2001) Art. 30. O retorno à atividade de servidor em disponibilidade
d) a aposentadoria tenha ocorrido nos cinco anos anteriores far-se-á mediante aproveitamento obrigatório em cargo de atribui-
à solicitação; (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de ções e vencimentos compatíveis com o anteriormente ocupado.
4.9.2001)

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Art. 31. O órgão Central do Sistema de Pessoal Civil determina- b) por motivo de saúde do servidor, cônjuge, companheiro ou
rá o imediato aproveitamento de servidor em disponibilidade em dependente que viva às suas expensas e conste do seu assentamen-
vaga que vier a ocorrer nos órgãos ou entidades da Administração to funcional, condicionada à comprovação por junta médica oficial;
Pública Federal. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
Parágrafo único. Na hipótese prevista no §3º do art. 37, o servi- c) em virtude de processo seletivo promovido, na hipótese em
dor posto em disponibilidade poderá ser mantido sob responsabili- que o número de interessados for superior ao número de vagas,
dade do órgão central do Sistema de Pessoal Civil da Administração de acordo com normas preestabelecidas pelo órgão ou entidade
Federal - SIPEC, até o seu adequado aproveitamento em outro ór- em que aqueles estejam lotados. (Incluído pela Lei nº 9.527, de
gão ou entidade.(Parágrafo incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) 10.12.97)
Art. 32. Será tornado sem efeito o aproveitamento e cassada a
disponibilidade se o servidor não entrar em exercício no prazo legal, SEÇÃO II
salvo doença comprovada por junta médica oficial. DA REDISTRIBUIÇÃO

CAPÍTULO II Art. 37. Redistribuição é o deslocamento de cargo de provimen-


DA VACÂNCIA to efetivo, ocupado ou vago no âmbito do quadro geral de pessoal,
para outro órgão ou entidade do mesmo Poder, com prévia aprecia-
Art. 33. A vacância do cargo público decorrerá de: ção do órgão central do SIPEC, observados os seguintes preceitos:
I - exoneração; (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
II - demissão; I - interesse da administração; (Incluído pela Lei nº 9.527, de
III - promoção; 10.12.97)
IV - (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) II - equivalência de vencimentos; (Incluído pela Lei nº 9.527,
V - (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) de 10.12.97)
VI - readaptação; III - manutenção da essência das atribuições do cargo; (Incluído
VII - aposentadoria; pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
VIII - posse em outro cargo inacumulável; IV - vinculação entre os graus de responsabilidade e complexi-
IX - falecimento. dade das atividades; (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
Art. 34. A exoneração de cargo efetivo dar-se-á a pedido do ser- V - mesmo nível de escolaridade, especialidade ou habilitação
vidor, ou de ofício. profissional; (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
Parágrafo único. A exoneração de ofício dar-se-á: VI - compatibilidade entre as atribuições do cargo e as finalida-
I - quando não satisfeitas as condições do estágio probatório; des institucionais do órgão ou entidade.(Incluído pela Lei nº 9.527,
II - quando, tendo tomado posse, o servidor não entrar em de 10.12.97)
exercício no prazo estabelecido. §1º A redistribuição ocorrerá ex officio para ajustamento de lo-
Art. 35. A exoneração de cargo em comissão e a dispensa de tação e da força de trabalho às necessidades dos serviços, inclusive
função de confiança dar-se-á: (Redação dada pela Lei nº 9.527, de nos casos de reorganização, extinção ou criação de órgão ou entida-
10.12.97) de. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
I - a juízo da autoridade competente; §2º A redistribuição de cargos efetivos vagos se dará mediante
II - a pedido do próprio servidor. ato conjunto entre o órgão central do SIPEC e os órgãos e entidades
Parágrafo único. (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) da Administração Pública Federal envolvidos. (Incluído pela Lei nº
9.527, de 10.12.97)
CAPÍTULO III §3º Nos casos de reorganização ou extinção de órgão ou enti-
DA REMOÇÃO E DA REDISTRIBUIÇÃO dade, extinto o cargo ou declarada sua desnecessidade no órgão ou
entidade, o servidor estável que não for redistribuído será coloca-
SEÇÃO I do em disponibilidade, até seu aproveitamento na forma dos arts.
DA REMOÇÃO 30 e 31. (Parágrafo renumerado e alterado pela Lei nº 9.527, de
10.12.97)
Art. 36. Remoção é o deslocamento do servidor, a pedido ou de §4º O servidor que não for redistribuído ou colocado em dispo-
ofício, no âmbito do mesmo quadro, com ou sem mudança de sede. nibilidade poderá ser mantido sob responsabilidade do órgão cen-
Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo, entende-se tral do SIPEC, e ter exercício provisório, em outro órgão ou entida-
por modalidades de remoção: (Redação dada pela Lei nº 9.527, de de, até seu adequado aproveitamento. (Incluído pela Lei nº 9.527,
10.12.97) de 10.12.97)
I - de ofício, no interesse da Administração; (Incluído pela Lei nº
9.527, de 10.12.97) CAPÍTULO IV
II - a pedido, a critério da Administração; (Incluído pela Lei nº DA SUBSTITUIÇÃO
9.527, de 10.12.97)
III - a pedido, para outra localidade, independentemente do in- Art. 38. Os servidores investidos em cargo ou função de dire-
teresse da Administração:(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) ção ou chefia e os ocupantes de cargo de Natureza Especial terão
a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, também servi- substitutos indicados no regimento interno ou, no caso de omissão,
dor público civil ou militar, de qualquer dos Poderes da União, dos previamente designados pelo dirigente máximo do órgão ou entida-
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, que foi deslocado no de. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
interesse da Administração;(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
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§1º O substituto assumirá automática e cumulativamente, Parágrafo único. As faltas justificadas decorrentes de caso
sem prejuízo do cargo que ocupa, o exercício do cargo ou função fortuito ou de força maior poderão ser compensadas a critério da
de direção ou chefia e os de Natureza Especial, nos afastamentos, chefia imediata, sendo assim consideradas como efetivo exercício.
impedimentos legais ou regulamentares do titular e na vacância do (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
cargo, hipóteses em que deverá optar pela remuneração de um de- Art. 45. Salvo por imposição legal, ou mandado judicial, ne-
les durante o respectivo período. (Redação dada pela Lei nº 9.527, nhum desconto incidirá sobre a remuneração ou provento. (Vide
de 10.12.97) Decreto nº 1.502, de 1995)(Vide Decreto nº 1.903, de 1996) (Vide
§2º O substituto fará jus à retribuição pelo exercício do cargo Decreto nº 2.065, de 1996) (Regulamento) (Regulamento)
ou função de direção ou chefia ou de cargo de Natureza Especial, §1º (Revogado pela Lei nº 14.509, de 2022)
nos casos dos afastamentos ou impedimentos legais do titular, su- §2º (Revogado pela Lei nº 14.509, de 2022)
periores a trinta dias consecutivos, paga na proporção dos dias de Art. 46. As reposições e indenizações ao erário, atualizadas até
efetiva substituição, que excederem o referido período. (Redação 30 de junho de 1994, serão previamente comunicadas ao servidor
dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) ativo, aposentado ou ao pensionista, para pagamento, no prazo
Art. 39. O disposto no artigo anterior aplica-se aos titulares de máximo de trinta dias, podendo ser parceladas, a pedido do inte-
unidades administrativas organizadas em nível de assessoria. ressado. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.225-45, de
4.9.2001)
TÍTULO III §1º O valor de cada parcela não poderá ser inferior ao corres-
DOS DIREITOS E VANTAGENS pondente a dez por cento da remuneração, provento ou pensão.
(Redação dada pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
CAPÍTULO I §2º Quando o pagamento indevido houver ocorrido no mês
DO VENCIMENTO E DA REMUNERAÇÃO anterior ao do processamento da folha, a reposição será feita ime-
diatamente, em uma única parcela. (Redação dada pela Medida
Art. 40. Vencimento é a retribuição pecuniária pelo exercício de Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
cargo público, com valor fixado em lei. §3º Na hipótese de valores recebidos em decorrência de cum-
Parágrafo único. (Revogado pela Medida Provisória nº 431, de primento a decisão liminar, a tutela antecipada ou a sentença que
2008). (Revogado pela Lei nº 11.784, de 2008) venha a ser revogada ou rescindida, serão eles atualizados até a
Art. 41. Remuneração é o vencimento do cargo efetivo, acres- data da reposição. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.225-
cido das vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei. 45, de 4.9.2001)
§1º A remuneração do servidor investido em função ou cargo Art. 47. O servidor em débito com o erário, que for demitido,
em comissão será paga na forma prevista no art. 62. exonerado ou que tiver sua aposentadoria ou disponibilidade cas-
§2º O servidor investido em cargo em comissão de órgão ou sada, terá o prazo de sessenta dias para quitar o débito. (Redação
entidade diversa da de sua lotação receberá a remuneração de dada pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
acordo com o estabelecido no §1º do art. 93. Parágrafo único. A não quitação do débito no prazo previsto
§3º O vencimento do cargo efetivo, acrescido das vantagens de implicará sua inscrição em dívida ativa. (Redação dada pela Medida
caráter permanente, é irredutível. Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
§4º É assegurada a isonomia de vencimentos para cargos de Art. 48. O vencimento, a remuneração e o provento não serão
atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo Poder, ou entre ser- objeto de arresto, seqüestro ou penhora, exceto nos casos de pres-
vidores dos três Poderes, ressalvadas as vantagens de caráter indi- tação de alimentos resultante de decisão judicial.
vidual e as relativas à natureza ou ao local de trabalho.
§5º Nenhum servidor receberá remuneração inferior ao salário CAPÍTULO II
mínimo. (Incluído pela Lei nº 11.784, de 2008 DAS VANTAGENS
Art. 42. Nenhum servidor poderá perceber, mensalmente, a
título de remuneração, importância superior à soma dos valores Art. 49. Além do vencimento, poderão ser pagas ao servidor as
percebidos como remuneração, em espécie, a qualquer título, no seguintes vantagens:
âmbito dos respectivos Poderes, pelos Ministros de Estado, por I - indenizações;
membros do Congresso Nacional e Ministros do Supremo Tribunal II - gratificações;
Federal. III - adicionais.
Parágrafo único. Excluem-se do teto de remuneração as vanta- §1º As indenizações não se incorporam ao vencimento ou pro-
gens previstas nos incisos II a VII do art. 61. vento para qualquer efeito.
Art. 43. (Revogado pela Lei nº 9.624, de 2.4.98) (Vide Lei nº §2º As gratificações e os adicionais incorporam-se ao venci-
9.624, de 2.4.98) mento ou provento, nos casos e condições indicados em lei.
Art. 44. O servidor perderá: Art. 50. As vantagens pecuniárias não serão computadas, nem
I - a remuneração do dia em que faltar ao serviço, sem motivo acumuladas, para efeito de concessão de quaisquer outros acrés-
justificado;(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) cimos pecuniários ulteriores, sob o mesmo título ou idêntico fun-
II - a parcela de remuneração diária, proporcional aos atrasos, damento.
ausências justificadas, ressalvadas as concessões de que trata o art.
97, e saídas antecipadas, salvo na hipótese de compensação de ho-
rário, até o mês subseqüente ao da ocorrência, a ser estabelecida
pela chefia imediata.(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)

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SEÇÃO I §2º Nos casos em que o deslocamento da sede constituir exi-


DAS INDENIZAÇÕES gência permanente do cargo, o servidor não fará jus a diárias.
§3º Também não fará jus a diárias o servidor que se deslocar
Art. 51. Constituem indenizações ao servidor: dentro da mesma região metropolitana, aglomeração urbana ou
I - ajuda de custo; microrregião, constituídas por municípios limítrofes e regularmente
II - diárias; instituídas, ou em áreas de controle integrado mantidas com países
III - transporte. limítrofes, cuja jurisdição e competência dos órgãos, entidades e
IV - auxílio-moradia.(Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006) servidores brasileiros considera-se estendida, salvo se houver per-
Art. 52. Os valores das indenizações estabelecidas nos incisos I noite fora da sede, hipóteses em que as diárias pagas serão sempre
a III do art. 51, assim como as condições para a sua concessão, serão as fixadas para os afastamentos dentro do território nacional. (In-
estabelecidos em regulamento. (Redação dada pela Lei nº 11.355, cluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
de 2006) Art. 59. O servidor que receber diárias e não se afastar da sede,
por qualquer motivo, fica obrigado a restituí-las integralmente, no
SUBSEÇÃO I prazo de 5 (cinco) dias.
DA AJUDA DE CUSTO Parágrafo único. Na hipótese de o servidor retornar à sede em
prazo menor do que o previsto para o seu afastamento, restituirá as
Art. 53. A ajuda de custo destina-se a compensar as despesas diárias recebidas em excesso, no prazo previsto no caput.
de instalação do servidor que, no interesse do serviço, passar a ter
exercício em nova sede, com mudança de domicílio em caráter per- SUBSEÇÃO III
manente, vedado o duplo pagamento de indenização, a qualquer DA INDENIZAÇÃO DE TRANSPORTE
tempo, no caso de o cônjuge ou companheiro que detenha também
a condição de servidor, vier a ter exercício na mesma sede. (Reda- Art. 60. Conceder-se-á indenização de transporte ao servidor
ção dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) que realizar despesas com a utilização de meio próprio de locomo-
§1º Correm por conta da administração as despesas de trans- ção para a execução de serviços externos, por força das atribuições
porte do servidor e de sua família, compreendendo passagem, ba- próprias do cargo, conforme se dispuser em regulamento.
gagem e bens pessoais.
§2º À família do servidor que falecer na nova sede são asse- SUBSEÇÃO IV
gurados ajuda de custo e transporte para a localidade de origem, DO AUXÍLIO-MORADIA
dentro do prazo de 1 (um) ano, contado do óbito. (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006)
§3º Não será concedida ajuda de custo nas hipóteses de re-
moção previstas nos incisos II e III do parágrafo único do art. 36. Art. 60-A. O auxílio-moradia consiste no ressarcimento das des-
(Incluído pela Lei nº 12.998, de 2014) pesas comprovadamente realizadas pelo servidor com aluguel de
Art. 54. A ajuda de custo é calculada sobre a remuneração do moradia ou com meio de hospedagem administrado por empresa
servidor, conforme se dispuser em regulamento, não podendo ex- hoteleira, no prazo de um mês após a comprovação da despesa pelo
ceder a importância correspondente a 3 (três) meses. servidor. (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006)
Art. 55. Não será concedida ajuda de custo ao servidor que se Art. 60-B. Conceder-se-á auxílio-moradia ao servidor se aten-
afastar do cargo, ou reassumi-lo, em virtude de mandato eletivo. didos os seguintes requisitos: (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006)
Art. 56. Será concedida ajuda de custo àquele que, não sendo I - não exista imóvel funcional disponível para uso pelo servi-
servidor da União, for nomeado para cargo em comissão, com mu- dor;(Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006)
dança de domicílio. II - o cônjuge ou companheiro do servidor não ocupe imóvel
Parágrafo único. No afastamento previsto no inciso I do art. 93, funcional;(Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006)
a ajuda de custo será paga pelo órgão cessionário, quando cabível. III - o servidor ou seu cônjuge ou companheiro não seja ou te-
Art. 57. O servidor ficará obrigado a restituir a ajuda de custo nha sido proprietário, promitente comprador, cessionário ou promi-
quando, injustificadamente, não se apresentar na nova sede no pra- tente cessionário de imóvel no Município aonde for exercer o cargo,
zo de 30 (trinta) dias. incluída a hipótese de lote edificado sem averbação de construção,
nos doze meses que antecederem a sua nomeação; (Incluído pela
SUBSEÇÃO II Lei nº 11.355, de 2006)
DAS DIÁRIAS IV - nenhuma outra pessoa que resida com o servidor receba
auxílio-moradia;(Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006)
Art. 58. O servidor que, a serviço, afastar-se da sede em caráter V - o servidor tenha se mudado do local de residência para ocu-
eventual ou transitório para outro ponto do território nacional ou par cargo em comissão ou função de confiança do Grupo-Direção
para o exterior, fará jus a passagens e diárias destinadas a indenizar e Assessoramento Superiores - DAS, níveis 4, 5 e 6, de Natureza
as parcelas de despesas extraordinária com pousada, alimentação e Especial, de Ministro de Estado ou equivalentes (Incluído pela Lei
locomoção urbana, conforme dispuser em regulamento. (Redação nº 11.355, de 2006)
dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) VI - o Município no qual assuma o cargo em comissão ou fun-
§1º A diária será concedida por dia de afastamento, sendo de- ção de confiança não se enquadre nas hipóteses do art. 58, §3º,
vida pela metade quando o deslocamento não exigir pernoite fora em relação ao local de residência ou domicílio do servidor;(Incluído
da sede, ou quando a União custear, por meio diverso, as despe- pela Lei nº 11.355, de 2006)
sas extraordinárias cobertas por diárias. (Redação dada pela Lei nº
9.527, de 10.12.97)
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VII - o servidor não tenha sido domiciliado ou tenha residido SUBSEÇÃO I


no Município, nos últimos doze meses, aonde for exercer o cargo DA RETRIBUIÇÃO PELO EXERCÍCIO DE FUNÇÃO DE DIRE-
em comissão ou função de confiança, desconsiderando-se prazo in- ÇÃO, CHEFIA E ASSESSORAMENTO
ferior a sessenta dias dentro desse período; e(Incluído pela Lei nº (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
11.355, de 2006)
VIII - o deslocamento não tenha sido por força de alteração Art. 62. Ao servidor ocupante de cargo efetivo investido em
de lotação ou nomeação para cargo efetivo.(Incluído pela Lei nº função de direção, chefia ou assessoramento, cargo de provimento
11.355, de 2006) em comissão ou de Natureza Especial é devida retribuição pelo seu
IX - o deslocamento tenha ocorrido após 30 de junho de 2006. exercício.(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
(Incluído pela Lei nº 11.490, de 2007) Parágrafo único. Lei específica estabelecerá a remuneração dos
Parágrafo único. Para fins do inciso VII, não será considerado o cargos em comissão de que trata o inciso II do art. 9º.(Redação dada
prazo no qual o servidor estava ocupando outro cargo em comissão pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
relacionado no inciso V. (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006) Art. 62-A. Fica transformada em Vantagem Pessoal Nominal-
Art. 60-C. (Revogado pela Lei nº 12.998, de 2014) mente Identificada - VPNI a incorporação da retribuição pelo exer-
Art. 60-D. O valor mensal do auxílio-moradia é limitado a 25% cício de função de direção, chefia ou assessoramento, cargo de pro-
(vinte e cinco por cento) do valor do cargo em comissão, função co- vimento em comissão ou de Natureza Especial a que se referem os
missionada ou cargo de Ministro de Estado ocupado. (Incluído pela arts. 3º e 10 da Lei no 8.911, de 11 de julho de 1994, e o art. 3º da
Lei nº 11.784, de 2008 Lei no 9.624, de 2 de abril de 1998. (Incluído pela Medida Provisória
§1º O valor do auxílio-moradia não poderá superar 25% (vinte nº 2.225-45, de 4.9.2001)
e cinco por cento) da remuneração de Ministro de Estado. (Incluído Parágrafo único. A VPNI de que trata o caput deste artigo so-
pela Lei nº 11.784, de 2008 mente estará sujeita às revisões gerais de remuneração dos servi-
§2º Independentemente do valor do cargo em comissão ou dores públicos federais. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-
função comissionada, fica garantido a todos os que preencherem 45, de 4.9.2001)
os requisitos o ressarcimento até o valor de R$ 1.800,00 (mil e oito-
centos reais). (Incluído pela Lei nº 11.784, de 2008 SUBSEÇÃO II
§3º (Incluído pela Medida Provisória nº 805, de 2017) (Vigência DA GRATIFICAÇÃO NATALINA
encerrada)
§4º (Incluído pela Medida Provisória nº 805, de 2017) (Vigência Art. 63. A gratificação natalina corresponde a 1/12 (um doze
encerrada) avos) da remuneração a que o servidor fizer jus no mês de dezem-
Art. 60-E. No caso de falecimento, exoneração, colocação de bro, por mês de exercício no respectivo ano.
imóvel funcional à disposição do servidor ou aquisição de imóvel, o Parágrafo único. A fração igual ou superior a 15 (quinze) dias
auxílio-moradia continuará sendo pago por um mês. (Incluído pela será considerada como mês integral.
Lei nº 11.355, de 2006) Art. 64. A gratificação será paga até o dia 20 (vinte) do mês de
dezembro de cada ano.
SEÇÃO II Parágrafo único. (VETADO).
DAS GRATIFICAÇÕES E ADICIONAIS Art. 65. O servidor exonerado perceberá sua gratificação nata-
lina, proporcionalmente aos meses de exercício, calculada sobre a
Art. 61. Além do vencimento e das vantagens previstas nesta remuneração do mês da exoneração.
Lei, serão deferidos aos servidores as seguintes retribuições, grati- Art. 66. A gratificação natalina não será considerada para cálcu-
ficações e adicionais:(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) lo de qualquer vantagem pecuniária.
I - retribuição pelo exercício de função de direção, chefia e as-
sessoramento; (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) SUBSEÇÃO III
II - gratificação natalina; DO ADICIONAL POR TEMPO DE SERVIÇO
III - (Revogado pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
IV - adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas Art. 67. (Revogado pela Medida Provisória nº 2.225-45, de
ou penosas; 2001, respeitadas as situações constituídas até 8.3.1999)
V - adicional pela prestação de serviço extraordinário;
VI - adicional noturno; SUBSEÇÃO IV
VII - adicional de férias; DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE, PERICULOSIDADE
VIII - outros, relativos ao local ou à natureza do trabalho. OU ATIVIDADES PENOSAS
IX - gratificação por encargo de curso ou concurso. (Incluído
pela Lei nº 11.314 de 2006) Art. 68. Os servidores que trabalhem com habitualidade em lo-
cais insalubres ou em contato permanente com substâncias tóxicas,
radioativas ou com risco de vida, fazem jus a um adicional sobre o
vencimento do cargo efetivo.
§1º O servidor que fizer jus aos adicionais de insalubridade e de
periculosidade deverá optar por um deles.
§2º O direito ao adicional de insalubridade ou periculosidade
cessa com a eliminação das condições ou dos riscos que deram cau-
sa a sua concessão.
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Art. 69. Haverá permanente controle da atividade de servido- SUBSEÇÃO VIII


res em operações ou locais considerados penosos, insalubres ou DA GRATIFICAÇÃO POR ENCARGO DE CURSO OU CON-
perigosos. CURSO
Parágrafo único. A servidora gestante ou lactante será afastada, (Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006)
enquanto durar a gestação e a lactação, das operações e locais pre-
vistos neste artigo, exercendo suas atividades em local salubre e em Art. 76-A. A Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso é
serviço não penoso e não perigoso. devida ao servidor que, em caráter eventual:(Incluído pela Lei nº
Art. 70. Na concessão dos adicionais de atividades penosas, de 11.314 de 2006) (Regulamento)(Vide Decreto nº 11.069, de 2022)
insalubridade e de periculosidade, serão observadas as situações Vigência
estabelecidas em legislação específica. I - atuar como instrutor em curso de formação, de desenvol-
Art. 71. O adicional de atividade penosa será devido aos servi- vimento ou de treinamento regularmente instituído no âmbito da
dores em exercício em zonas de fronteira ou em localidades cujas administração pública federal;(Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006)
condições de vida o justifiquem, nos termos, condições e limites II - participar de banca examinadora ou de comissão para exa-
fixados em regulamento. mes orais, para análise curricular, para correção de provas discur-
Art. 72. Os locais de trabalho e os servidores que operam com sivas, para elaboração de questões de provas ou para julgamento
Raios X ou substâncias radioativas serão mantidos sob controle per- de recursos intentados por candidatos; (Incluído pela Lei nº 11.314
manente, de modo que as doses de radiação ionizante não ultra- de 2006)
passem o nível máximo previsto na legislação própria. III - participar da logística de preparação e de realização de
Parágrafo único. Os servidores a que se refere este artigo serão concurso público envolvendo atividades de planejamento, coorde-
submetidos a exames médicos a cada 6 (seis) meses. nação, supervisão, execução e avaliação de resultado, quando tais
atividades não estiverem incluídas entre as suas atribuições perma-
SUBSEÇÃO V nentes;(Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006)
DO ADICIONAL POR SERVIÇO EXTRAORDINÁRIO IV - participar da aplicação, fiscalizar ou avaliar provas de exa-
me vestibular ou de concurso público ou supervisionar essas ativi-
Art. 73. O serviço extraordinário será remunerado com acrés- dades. (Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006)
cimo de 50% (cinqüenta por cento) em relação à hora normal de §1º Os critérios de concessão e os limites da gratificação de
trabalho. que trata este artigo serão fixados em regulamento, observados os
Art. 74. Somente será permitido serviço extraordinário para seguintes parâmetros: (Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006)
atender a situações excepcionais e temporárias, respeitado o limite I - o valor da gratificação será calculado em horas, observadas a
máximo de 2 (duas) horas por jornada. natureza e a complexidade da atividade exercida; (Incluído pela Lei
nº 11.314 de 2006)
SUBSEÇÃO VI II - a retribuição não poderá ser superior ao equivalente a 120
DO ADICIONAL NOTURNO (cento e vinte) horas de trabalho anuais, ressalvada situação de ex-
cepcionalidade, devidamente justificada e previamente aprovada
Art. 75. O serviço noturno, prestado em horário compreendido pela autoridade máxima do órgão ou entidade, que poderá autori-
entre 22 (vinte e duas) horas de um dia e 5 (cinco) horas do dia se- zar o acréscimo de até 120 (cento e vinte) horas de trabalho anuais;
guinte, terá o valor-hora acrescido de 25% (vinte e cinco por cento), (Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006)
computando-se cada hora como cinqüenta e dois minutos e trinta III - o valor máximo da hora trabalhada corresponderá aos se-
segundos. guintes percentuais, incidentes sobre o maior vencimento básico da
Parágrafo único. Em se tratando de serviço extraordinário, o administração pública federal: (Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006)
acréscimo de que trata este artigo incidirá sobre a remuneração a) 2,2% (dois inteiros e dois décimos por cento), em se tratando
prevista no art. 73. de atividades previstas nos incisos I e II do caput deste artigo;(Reda-
ção dada pela Lei nº 11.501, de 2007)
SUBSEÇÃO VII b) 1,2% (um inteiro e dois décimos por cento), em se tratando
DO ADICIONAL DE FÉRIAS de atividade prevista nos incisos III e IV do caput deste artigo. (Re-
dação dada pela Lei nº 11.501, de 2007)
Art. 76. Independentemente de solicitação, será pago ao servi- §2º A Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso somente
dor, por ocasião das férias, um adicional correspondente a 1/3 (um será paga se as atividades referidas nos incisos do caput deste ar-
terço) da remuneração do período das férias. tigo forem exercidas sem prejuízo das atribuições do cargo de que
Parágrafo único. No caso de o servidor exercer função de di- o servidor for titular, devendo ser objeto de compensação de carga
reção, chefia ou assessoramento, ou ocupar cargo em comissão, a horária quando desempenhadas durante a jornada de trabalho, na
respectiva vantagem será considerada no cálculo do adicional de forma do §4º do art. 98 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 11.314 de
que trata este artigo. 2006)
§3º A Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso não se
incorpora ao vencimento ou salário do servidor para qualquer efei-
to e não poderá ser utilizada como base de cálculo para quaisquer
outras vantagens, inclusive para fins de cálculo dos proventos da
aposentadoria e das pensões. (Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006)

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CAPÍTULO III §1º A licença prevista no inciso I do caput deste artigo bem
DAS FÉRIAS como cada uma de suas prorrogações serão precedidas de exame
por perícia médica oficial, observado o disposto no art. 204 desta
Art. 77. O servidor fará jus a trinta dias de férias, que podem Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.907, de 2009)
ser acumuladas, até o máximo de dois períodos, no caso de neces- §2º (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
sidade do serviço, ressalvadas as hipóteses em que haja legislação §3º É vedado o exercício de atividade remunerada durante o
específica. (Redação dada pela Lei nº 9.525, de 10.12.97) (Vide Lei período da licença prevista no inciso I deste artigo.
nº 9.525, de 1997) Art. 82. A licença concedida dentro de 60 (sessenta) dias do
§1º Para o primeiro período aquisitivo de férias serão exigidos término de outra da mesma espécie será considerada como pror-
12 (doze) meses de exercício. rogação.
§2º É vedado levar à conta de férias qualquer falta ao serviço.
§3º As férias poderão ser parceladas em até três etapas, desde SEÇÃO II
que assim requeridas pelo servidor, e no interesse da administração DA LICENÇA POR MOTIVO DE DOENÇA EM PESSOA DA
pública.(Incluído pela Lei nº 9.525, de 10.12.97) FAMÍLIA
Art. 78. O pagamento da remuneração das férias será efetuado
até 2 (dois) dias antes do início do respectivo período, observando- Art. 83. Poderá ser concedida licença ao servidor por motivo de
-se o disposto no §1º deste artigo. (Vide Lei nº 9.525, de 1997) doença do cônjuge ou companheiro, dos pais, dos filhos, do padras-
§1° e §2° (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) to ou madrasta e enteado, ou dependente que viva a suas expensas
§3º O servidor exonerado do cargo efetivo, ou em comissão, e conste do seu assentamento funcional, mediante comprovação
perceberá indenização relativa ao período das férias a que tiver di- por perícia médica oficial. (Redação dada pela Lei nº 11.907, de
reito e ao incompleto, na proporção de um doze avos por mês de 2009)
efetivo exercício, ou fração superior a quatorze dias. (Incluído pela §1º A licença somente será deferida se a assistência direta do
Lei nº 8.216, de 13.8.91) servidor for indispensável e não puder ser prestada simultanea-
§4º A indenização será calculada com base na remuneração do mente com o exercício do cargo ou mediante compensação de ho-
mês em que for publicado o ato exoneratório. (Incluído pela Lei nº rário, na forma do disposto no inciso II do art. 44. (Redação dada
8.216, de 13.8.91) pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
§5º Em caso de parcelamento, o servidor receberá o valor §2º A licença de que trata o caput, incluídas as prorrogações,
adicional previsto no inciso XVII do art. 7º da Constituição Fede- poderá ser concedida a cada período de doze meses nas seguintes
ral quando da utilização do primeiro período. (Incluído pela Lei nº condições: (Redação dada pela Lei nº 12.269, de 2010)
9.525, de 10.12.97) I - por até 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não, mantida a
Art. 79. O servidor que opera direta e permanentemente com remuneração do servidor; e (Incluído pela Lei nº 12.269, de 2010)
Raios X ou substâncias radioativas gozará 20 (vinte) dias consecuti- II - por até 90 (noventa) dias, consecutivos ou não, sem remu-
vos de férias, por semestre de atividade profissional, proibida em neração. (Incluído pela Lei nº 12.269, de 2010)
qualquer hipótese a acumulação. §3º O início do interstício de 12 (doze) meses será contado a
Parágrafo único. (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) partir da data do deferimento da primeira licença concedida. (Inclu-
Art. 80. As férias somente poderão ser interrompidas por mo- ído pela Lei nº 12.269, de 2010)
tivo de calamidade pública, comoção interna, convocação para júri, §4º A soma das licenças remuneradas e das licenças não remu-
serviço militar ou eleitoral, ou por necessidade do serviço declarada neradas, incluídas as respectivas prorrogações, concedidas em um
pela autoridade máxima do órgão ou entidade. (Redação dada pela mesmo período de 12 (doze) meses, observado o disposto no §3º,
Lei nº 9.527, de 10.12.97) (Vide Lei nº 9.525, de 1997) não poderá ultrapassar os limites estabelecidos nos incisos I e II do
Parágrafo único. O restante do período interrompido será go- §2º. (Incluído pela Lei nº 12.269, de 2010)
zado de uma só vez, observado o disposto no art. 77. (Incluído pela
Lei nº 9.527, de 10.12.97) SEÇÃO III
DA LICENÇA POR MOTIVO DE AFASTAMENTO DO CÔNJU-
CAPÍTULO IV GE
DAS LICENÇAS
Art. 84. Poderá ser concedida licença ao servidor para acompa-
SEÇÃO I nhar cônjuge ou companheiro que foi deslocado para outro ponto
DISPOSIÇÕES GERAIS do território nacional, para o exterior ou para o exercício de manda-
to eletivo dos Poderes Executivo e Legislativo.
Art. 81. Conceder-se-á ao servidor licença: §1º A licença será por prazo indeterminado e sem remunera-
I - por motivo de doença em pessoa da família; ção.
II - por motivo de afastamento do cônjuge ou companheiro; §2º No deslocamento de servidor cujo cônjuge ou companhei-
III - para o serviço militar; ro também seja servidor público, civil ou militar, de qualquer dos
IV - para atividade política; Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí-
V - para capacitação; (Redação dada pela Lei nº 9.527, de pios, poderá haver exercício provisório em órgão ou entidade da
10.12.97) Administração Federal direta, autárquica ou fundacional, desde que
VI - para tratar de interesses particulares; para o exercício de atividade compatível com o seu cargo.(Redação
VII - para desempenho de mandato classista. dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)

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SEÇÃO IV SEÇÃO VIII


DA LICENÇA PARA O SERVIÇO MILITAR DA LICENÇA PARA O DESEMPENHO DE MANDATO CLAS-
SISTA
Art. 85. Ao servidor convocado para o serviço militar será con-
cedida licença, na forma e condições previstas na legislação espe- Art. 92. É assegurado ao servidor o direito à licença sem re-
cífica. muneração para o desempenho de mandato em confederação,
Parágrafo único. Concluído o serviço militar, o servidor terá até federação, associação de classe de âmbito nacional, sindicato re-
30 (trinta) dias sem remuneração para reassumir o exercício do car- presentativo da categoria ou entidade fiscalizadora da profissão ou,
go. ainda, para participar de gerência ou administração em sociedade
cooperativa constituída por servidores públicos para prestar servi-
SEÇÃO V ços a seus membros, observado o disposto na alínea c do inciso VIII
DA LICENÇA PARA ATIVIDADE POLÍTICA do art. 102 desta Lei, conforme disposto em regulamento e obser-
vados os seguintes limites: (Redação dada pela Lei nº 11.094, de
Art. 86. O servidor terá direito a licença, sem remuneração, 2005) (Regulamento)(Regulamento)
durante o período que mediar entre a sua escolha em convenção I - para entidades com até 5.000 (cinco mil) associados, 2 (dois)
partidária, como candidato a cargo eletivo, e a véspera do registro servidores; (Redação dada pela Lei nº 12.998, de 2014)
de sua candidatura perante a Justiça Eleitoral. II - para entidades com 5.001 (cinco mil e um) a 30.000 (trinta
§1º O servidor candidato a cargo eletivo na localidade onde mil) associados, 4 (quatro) servidores; (Redação dada pela Lei nº
desempenha suas funções e que exerça cargo de direção, chefia, 12.998, de 2014)
assessoramento, arrecadação ou fiscalização, dele será afastado, a III - para entidades com mais de 30.000 (trinta mil) associados,
partir do dia imediato ao do registro de sua candidatura perante a 8 (oito) servidores. (Redação dada pela Lei nº 12.998, de 2014)
Justiça Eleitoral, até o décimo dia seguinte ao do pleito.(Redação §1º Somente poderão ser licenciados os servidores eleitos para
dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) cargos de direção ou de representação nas referidas entidades, des-
§2º A partir do registro da candidatura e até o décimo dia se- de que cadastradas no órgão competente.(Redação dada pela Lei nº
guinte ao da eleição, o servidor fará jus à licença, assegurados os 12.998, de 2014)
vencimentos do cargo efetivo, somente pelo período de três meses. §2º A licença terá duração igual à do mandato, podendo ser
(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) renovada, no caso de reeleição. (Redação dada pela Lei nº 12.998,
de 2014)
SEÇÃO VI
DA LICENÇA PARA CAPACITAÇÃO CAPÍTULO V
(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) DOS AFASTAMENTOS

Art. 87. Após cada qüinqüênio de efetivo exercício, o servidor SEÇÃO I


poderá, no interesse da Administração, afastar-se do exercício do DO AFASTAMENTO PARA SERVIR A OUTRO ÓRGÃO OU
cargo efetivo, com a respectiva remuneração, por até três meses, ENTIDADE
para participar de curso de capacitação profissional. (Redação dada
pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)(Vide Decreto nº 5.707, de 2006) Art. 93. O servidor poderá ser cedido para ter exercício em ou-
Parágrafo único. Os períodos de licença de que trata o caput tro órgão ou entidade dos Poderes da União, dos Estados, ou do
não são acumuláveis. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) Distrito Federal e dos Municípios, nas seguintes hipóteses:(Redação
Art. 88. (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) dada pela Lei nº 8.270, de 17.12.91) (Regulamento) (Vide Decreto
Art. 89. (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) nº 4.493, de 3.12.2002) (Vide Decreto nº 5.213, de 2004) (Vide De-
Art. 90. (VETADO). creto nº 9.144, de 2017)
I - para exercício de cargo em comissão ou função de confiança;
SEÇÃO VII (Redação dada pela Lei nº 8.270, de 17.12.91)
DA LICENÇA PARA TRATAR DE INTERESSES PARTICULARES II - em casos previstos em leis específicas. (Redação dada pela
Lei nº 8.270, de 17.12.91)
Art. 91. A critério da Administração, poderão ser concedidas ao §1º Na hipótese do inciso I, sendo a cessão para órgãos ou en-
servidor ocupante de cargo efetivo, desde que não esteja em está- tidades dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, o ônus
gio probatório, licenças para o trato de assuntos particulares pelo da remuneração será do órgão ou entidade cessionária, mantido o
prazo de até três anos consecutivos, sem remuneração. (Redação ônus para o cedente nos demais casos. (Redação dada pela Lei nº
dada pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001) 8.270, de 17.12.91)
Parágrafo único. A licença poderá ser interrompida, a qualquer §2º Na hipótese de o servidor cedido a empresa pública ou
tempo, a pedido do servidor ou no interesse do serviço. (Redação sociedade de economia mista, nos termos das respectivas normas,
dada pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001) optar pela remuneração do cargo efetivo ou pela remuneração do
cargo efetivo acrescida de percentual da retribuição do cargo em
comissão, a entidade cessionária efetuará o reembolso das despe-
sas realizadas pelo órgão ou entidade de origem. (Redação dada
pela Lei nº 11.355, de 2006)
§3º A cessão far-se-á mediante Portaria publicada no Diário
Oficial da União. (Redação dada pela Lei nº 8.270, de 17.12.91)
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§4º Mediante autorização expressa do Presidente da Repúbli- §2º Ao servidor beneficiado pelo disposto neste artigo não será
ca, o servidor do Poder Executivo poderá ter exercício em outro ór- concedida exoneração ou licença para tratar de interesse particular
gão da Administração Federal direta que não tenha quadro próprio antes de decorrido período igual ao do afastamento, ressalvada a
de pessoal, para fim determinado e a prazo certo. (Incluído pela Lei hipótese de ressarcimento da despesa havida com seu afastamen-
nº 8.270, de 17.12.91) to.
§5º Aplica-se à União, em se tratando de empregado ou servi- §3º O disposto neste artigo não se aplica aos servidores da car-
dor por ela requisitado, as disposições dos §§1º e 2º deste artigo. reira diplomática.
(Redação dada pela Lei nº 10.470, de 25.6.2002) §4º As hipóteses, condições e formas para a autorização de que
§6º As cessões de empregados de empresa pública ou de socie- trata este artigo, inclusive no que se refere à remuneração do servi-
dade de economia mista, que receba recursos de Tesouro Nacional dor, serão disciplinadas em regulamento.(Incluído pela Lei nº 9.527,
para o custeio total ou parcial da sua folha de pagamento de pes- de 10.12.97)
soal, independem das disposições contidas nos incisos I e II e §§1º Art. 96. O afastamento de servidor para servir em organismo
e 2º deste artigo, ficando o exercício do empregado cedido condi- internacional de que o Brasil participe ou com o qual coopere dar-
cionado a autorização específica do Ministério do Planejamento, -se-á com perda total da remuneração.(Vide Decreto nº 3.456, de
Orçamento e Gestão, exceto nos casos de ocupação de cargo em 2000)
comissão ou função gratificada. (Incluído pela Lei nº 10.470, de
25.6.2002) SEÇÃO IV
§7° O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, com (Incluído pela Lei nº 11.907, de 2009)
a finalidade de promover a composição da força de trabalho dos DO AFASTAMENTO PARA PARTICIPAÇÃO EM PROGRAMA
órgãos e entidades da Administração Pública Federal, poderá de- DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU NO PAÍS
terminar a lotação ou o exercício de empregado ou servidor, inde-
pendentemente da observância do constante no inciso I e nos §§1º Art. 96-A. O servidor poderá, no interesse da Administração, e
e 2º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 10.470, de 25.6.2002)(Vide desde que a participação não possa ocorrer simultaneamente com
Decreto nº 5.375, de 2005) o exercício do cargo ou mediante compensação de horário, afastar-
-se do exercício do cargo efetivo, com a respectiva remuneração,
SEÇÃO II para participar em programa de pós-graduação stricto sensu em
DO AFASTAMENTO PARA EXERCÍCIO DE MANDATO ELETI- instituição de ensino superior no País. (Incluído pela Lei nº 11.907,
VO de 2009)
§1º Ato do dirigente máximo do órgão ou entidade definirá,
Art. 94. Ao servidor investido em mandato eletivo aplicam-se em conformidade com a legislação vigente, os programas de capa-
as seguintes disposições: citação e os critérios para participação em programas de pós-gra-
I - tratando-se de mandato federal, estadual ou distrital, ficará duação no País, com ou sem afastamento do servidor, que serão
afastado do cargo; avaliados por um comitê constituído para este fim. (Incluído pela
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, Lei nº 11.907, de 2009)
sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração; §2º Os afastamentos para realização de programas de mestra-
III - investido no mandato de vereador: do e doutorado somente serão concedidos aos servidores titulares
a) havendo compatibilidade de horário, perceberá as vanta- de cargos efetivos no respectivo órgão ou entidade há pelo menos
gens de seu cargo, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo; 3 (três) anos para mestrado e 4 (quatro) anos para doutorado, in-
b) não havendo compatibilidade de horário, será afastado do cluído o período de estágio probatório, que não tenham se afastado
cargo, sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração. por licença para tratar de assuntos particulares para gozo de licença
§1º No caso de afastamento do cargo, o servidor contribuirá capacitação ou com fundamento neste artigo nos 2 (dois) anos an-
para a seguridade social como se em exercício estivesse. teriores à data da solicitação de afastamento.(Incluído pela Lei nº
§2º O servidor investido em mandato eletivo ou classista não 11.907, de 2009)
poderá ser removido ou redistribuído de ofício para localidade di- §3º Os afastamentos para realização de programas de pós-dou-
versa daquela onde exerce o mandato. torado somente serão concedidos aos servidores titulares de car-
gos efetivo no respectivo órgão ou entidade há pelo menos quatro
SEÇÃO III anos, incluído o período de estágio probatório, e que não tenham
DO AFASTAMENTO PARA ESTUDO OU MISSÃO NO EXTE- se afastado por licença para tratar de assuntos particulares ou com
RIOR fundamento neste artigo, nos quatro anos anteriores à data da soli-
citação de afastamento.(Redação dada pela Lei nº 12.269, de 2010)
Art. 95. O servidor não poderá ausentar-se do País para estudo §4º Os servidores beneficiados pelos afastamentos previstos
ou missão oficial, sem autorização do Presidente da República, Pre- nos §§1º, 2º e 3º deste artigo terão que permanecer no exercício
sidente dos Órgãos do Poder Legislativo e Presidente do Supremo de suas funções após o seu retorno por um período igual ao do
Tribunal Federal. (Vide Decreto nº 1.387, de 1995) afastamento concedido. (Incluído pela Lei nº 11.907, de 2009)
§1º A ausência não excederá a 4 (quatro) anos, e finda a missão §5º Caso o servidor venha a solicitar exoneração do cargo ou
ou estudo, somente decorrido igual período, será permitida nova aposentadoria, antes de cumprido o período de permanência pre-
ausência. visto no §4º deste artigo, deverá ressarcir o órgão ou entidade, na
forma do art. 47 da Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990, dos
gastos com seu aperfeiçoamento.(Incluído pela Lei nº 11.907, de
2009)
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NOÇÕES DE DIREITO

§6º Caso o servidor não obtenha o título ou grau que justificou Art. 102. Além das ausências ao serviço previstas no art. 97, são
seu afastamento no período previsto, aplica-se o disposto no §5º considerados como de efetivo exercício os afastamentos em virtude
deste artigo, salvo na hipótese comprovada de força maior ou de de: (Vide Decreto nº 5.707, de 2006)
caso fortuito, a critério do dirigente máximo do órgão ou entidade. I - férias;
(Incluído pela Lei nº 11.907, de 2009) II - exercício de cargo em comissão ou equivalente, em órgão
§7º Aplica-se à participação em programa de pós-graduação no ou entidade dos Poderes da União, dos Estados, Municípios e Dis-
Exterior, autorizado nos termos do art. 95 desta Lei, o disposto nos trito Federal;
§§1º a 6º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.907, de 2009) III - exercício de cargo ou função de governo ou administração,
em qualquer parte do território nacional, por nomeação do Presi-
CAPÍTULO VI dente da República;
DAS CONCESSÕES IV - participação em programa de treinamento regularmen-
te instituído ou em programa de pós-graduação stricto sensu no
Art. 97. Sem qualquer prejuízo, poderá o servidor ausentar-se País, conforme dispuser o regulamento; (Redação dada pela Lei nº
do serviço: 11.907, de 2009) (Vide Decreto nº 5.707, de 2006)
I - por 1 (um) dia, para doação de sangue; V - desempenho de mandato eletivo federal, estadual, munici-
II - pelo período comprovadamente necessário para alistamen- pal ou do Distrito Federal, exceto para promoção por merecimento;
to ou recadastramento eleitoral, limitado, em qualquer caso, a 2 VI - júri e outros serviços obrigatórios por lei;
(dois) dias; (Redação dada pela Lei nº 12.998, de 2014) VII - missão ou estudo no exterior, quando autorizado o afasta-
III - por 8 (oito) dias consecutivos em razão de : mento, conforme dispuser o regulamento; (Redação dada pela Lei
a) casamento; nº 9.527, de 10.12.97)(Vide Decreto nº 5.707, de 2006)
b) falecimento do cônjuge, companheiro, pais, madrasta ou pa- VIII - licença:
drasto, filhos, enteados, menor sob guarda ou tutela e irmãos. a) à gestante, à adotante e à paternidade;
Art. 98. Será concedido horário especial ao servidor estudante, b) para tratamento da própria saúde, até o limite de vinte e
quando comprovada a incompatibilidade entre o horário escolar e quatro meses, cumulativo ao longo do tempo de serviço público
o da repartição, sem prejuízo do exercício do cargo. prestado à União, em cargo de provimento efetivo; (Redação dada
§1º Para efeito do disposto neste artigo, será exigida a com- pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
pensação de horário no órgão ou entidade que tiver exercício, res- c) para o desempenho de mandato classista ou participação de
peitada a duração semanal do trabalho. (Parágrafo renumerado e gerência ou administração em sociedade cooperativa constituída
alterado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) por servidores para prestar serviços a seus membros, exceto para
§2º Também será concedido horário especial ao servidor por- efeito de promoção por merecimento; (Redação dada pela Lei nº
tador de deficiência, quando comprovada a necessidade por junta 11.094, de 2005)
médica oficial, independentemente de compensação de horário. d) por motivo de acidente em serviço ou doença profissional;
(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) e) para capacitação, conforme dispuser o regulamento; (Reda-
§3º As disposições constantes do §2º são extensivas ao servi- ção dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
dor que tenha cônjuge, filho ou dependente com deficiência. (Reda- f) por convocação para o serviço militar;
ção dada pela Lei nº 13.370, de 2016) IX - deslocamento para a nova sede de que trata o art. 18;
§4º Será igualmente concedido horário especial, vinculado à X - participação em competição desportiva nacional ou convo-
compensação de horário a ser efetivada no prazo de até 1 (um) ano, cação para integrar representação desportiva nacional, no País ou
ao servidor que desempenhe atividade prevista nos incisos I e II do no exterior, conforme disposto em lei específica;
caput do art. 76-A desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.501, de XI - afastamento para servir em organismo internacional de que
2007) o Brasil participe ou com o qual coopere. (Incluído pela Lei nº 9.527,
Art. 99. Ao servidor estudante que mudar de sede no interesse de 10.12.97)
da administração é assegurada, na localidade da nova residência ou Art. 103. Contar-se-á apenas para efeito de aposentadoria e
na mais próxima, matrícula em instituição de ensino congênere, em disponibilidade:
qualquer época, independentemente de vaga. I - o tempo de serviço público prestado aos Estados, Municípios
Parágrafo único. O disposto neste artigo estende-se ao cônjuge e Distrito Federal;
ou companheiro, aos filhos, ou enteados do servidor que vivam na II - a licença para tratamento de saúde de pessoal da família do
sua companhia, bem como aos menores sob sua guarda, com au- servidor, com remuneração, que exceder a 30 (trinta) dias em perí-
torização judicial. odo de 12 (doze) meses.(Redação dada pela Lei nº 12.269, de 2010)
III - a licença para atividade política, no caso do art. 86, §2º;
CAPÍTULO VII IV - o tempo correspondente ao desempenho de mandato ele-
DO TEMPO DE SERVIÇO tivo federal, estadual, municipal ou distrital, anterior ao ingresso no
serviço público federal;
Art. 100. É contado para todos os efeitos o tempo de serviço V - o tempo de serviço em atividade privada, vinculada à Pre-
público federal, inclusive o prestado às Forças Armadas. vidência Social;
Art. 101. A apuração do tempo de serviço será feita em dias, VI - o tempo de serviço relativo a tiro de guerra;
que serão convertidos em anos, considerado o ano como de trezen- VII - o tempo de licença para tratamento da própria saúde que
tos e sessenta e cinco dias. exceder o prazo a que se refere a alínea “b” do inciso VIII do art.
Parágrafo único. (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) 102.(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)

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§1º O tempo em que o servidor esteve aposentado será conta- Art. 115. São fatais e improrrogáveis os prazos estabelecidos
do apenas para nova aposentadoria. neste Capítulo, salvo motivo de força maior.
§2º Será contado em dobro o tempo de serviço prestado às
Forças Armadas em operações de guerra. TÍTULO IV
§3º É vedada a contagem cumulativa de tempo de serviço pres- DO REGIME DISCIPLINAR
tado concomitantemente em mais de um cargo ou função de órgão
ou entidades dos Poderes da União, Estado, Distrito Federal e Mu- CAPÍTULO I
nicípio, autarquia, fundação pública, sociedade de economia mista DOS DEVERES
e empresa pública.
Art. 116. São deveres do servidor:
CAPÍTULO VIII I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo;
DO DIREITO DE PETIÇÃO II - ser leal às instituições a que servir;
III - observar as normas legais e regulamentares;
Art. 104. É assegurado ao servidor o direito de requerer aos IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando manifesta-
Poderes Públicos, em defesa de direito ou interesse legítimo. mente ilegais;
Art. 105. O requerimento será dirigido à autoridade compe- V - atender com presteza:
tente para decidi-lo e encaminhado por intermédio daquela a que a) ao público em geral, prestando as informações requeridas,
estiver imediatamente subordinado o requerente. ressalvadas as protegidas por sigilo;
Art. 106. Cabe pedido de reconsideração à autoridade que hou- b) à expedição de certidões requeridas para defesa de direito
ver expedido o ato ou proferido a primeira decisão, não podendo ou esclarecimento de situações de interesse pessoal;
ser renovado.(Vide Lei nº 12.300, de 2010) c) às requisições para a defesa da Fazenda Pública.
Parágrafo único. O requerimento e o pedido de reconsideração VI - levar as irregularidades de que tiver ciência em razão do
de que tratam os artigos anteriores deverão ser despachados no cargo ao conhecimento da autoridade superior ou, quando houver
prazo de 5 (cinco) dias e decididos dentro de 30 (trinta) dias. suspeita de envolvimento desta, ao conhecimento de outra autori-
Art. 107. Caberá recurso: (Vide Lei nº 12.300, de 2010) dade competente para apuração; (Redação dada pela Lei nº 12.527,
I - do indeferimento do pedido de reconsideração; de 2011)
II - das decisões sobre os recursos sucessivamente interpostos. VII - zelar pela economia do material e a conservação do patri-
§1º O recurso será dirigido à autoridade imediatamente supe- mônio público;
rior à que tiver expedido o ato ou proferido a decisão, e, sucessiva- VIII - guardar sigilo sobre assunto da repartição;
mente, em escala ascendente, às demais autoridades. IX - manter conduta compatível com a moralidade administra-
§2º O recurso será encaminhado por intermédio da autoridade tiva;
a que estiver imediatamente subordinado o requerente. X - ser assíduo e pontual ao serviço;
Art. 108. O prazo para interposição de pedido de reconsidera- XI - tratar com urbanidade as pessoas;
ção ou de recurso é de 30 (trinta) dias, a contar da publicação ou da XII - representar contra ilegalidade, omissão ou abuso de poder.
ciência, pelo interessado, da decisão recorrida. (Vide Lei nº 12.300, Parágrafo único. A representação de que trata o inciso XII será
de 2010) encaminhada pela via hierárquica e apreciada pela autoridade su-
Art. 109. O recurso poderá ser recebido com efeito suspensivo, perior àquela contra a qual é formulada, assegurando-se ao repre-
a juízo da autoridade competente. sentando ampla defesa.
Parágrafo único. Em caso de provimento do pedido de reconsi-
deração ou do recurso, os efeitos da decisão retroagirão à data do CAPÍTULO II
ato impugnado. DAS PROIBIÇÕES
Art. 110. O direito de requerer prescreve:
I - em 5 (cinco) anos, quanto aos atos de demissão e de cassa- Art. 117. Ao servidor é proibido: (Vide Medida Provisória nº
ção de aposentadoria ou disponibilidade, ou que afetem interesse 2.225-45, de 4.9.2001)
patrimonial e créditos resultantes das relações de trabalho; I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia au-
II - em 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos, salvo quando torização do chefe imediato;
outro prazo for fixado em lei. II - retirar, sem prévia anuência da autoridade competente,
Parágrafo único. O prazo de prescrição será contado da data da qualquer documento ou objeto da repartição;
publicação do ato impugnado ou da data da ciência pelo interessa- III - recusar fé a documentos públicos;
do, quando o ato não for publicado. IV - opor resistência injustificada ao andamento de documento
Art. 111. O pedido de reconsideração e o recurso, quando cabí- e processo ou execução de serviço;
veis, interrompem a prescrição. V - promover manifestação de apreço ou desapreço no recinto
Art. 112. A prescrição é de ordem pública, não podendo ser da repartição;
relevada pela administração. VI - cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos casos pre-
Art. 113. Para o exercício do direito de petição, é assegurada vistos em lei, o desempenho de atribuição que seja de sua respon-
vista do processo ou documento, na repartição, ao servidor ou a sabilidade ou de seu subordinado;
procurador por ele constituído. VII - coagir ou aliciar subordinados no sentido de filiarem-se a
Art. 114. A administração deverá rever seus atos, a qualquer associação profissional ou sindical, ou a partido político;
tempo, quando eivados de ilegalidade.

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NOÇÕES DE DIREITO

VIII - manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica à remu-
confiança, cônjuge, companheiro ou parente até o segundo grau neração devida pela participação em conselhos de administração e
civil; fiscal das empresas públicas e sociedades de economia mista, suas
IX - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de ou- subsidiárias e controladas, bem como quaisquer empresas ou enti-
trem, em detrimento da dignidade da função pública; dades em que a União, direta ou indiretamente, detenha participa-
X - participar de gerência ou administração de sociedade priva- ção no capital social, observado o que, a respeito, dispuser legisla-
da, personificada ou não personificada, exercer o comércio, exceto ção específica. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.225-45,
na qualidade de acionista, cotista ou comanditário;(Redação dada de 4.9.2001)
pela Lei nº 11.784, de 2008 Art. 120. O servidor vinculado ao regime desta Lei, que acumu-
XI - atuar, como procurador ou intermediário, junto a reparti- lar licitamente dois cargos efetivos, quando investido em cargo de
ções públicas, salvo quando se tratar de benefícios previdenciários provimento em comissão, ficará afastado de ambos os cargos efe-
ou assistenciais de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou tivos, salvo na hipótese em que houver compatibilidade de horário
companheiro; e local com o exercício de um deles, declarada pelas autoridades
XII - receber propina, comissão, presente ou vantagem de qual- máximas dos órgãos ou entidades envolvidos. (Redação dada pela
quer espécie, em razão de suas atribuições; Lei nº 9.527, de 10.12.97)
XIII - aceitar comissão, emprego ou pensão de estado estran-
geiro; CAPÍTULO IV
XIV - praticar usura sob qualquer de suas formas; DAS RESPONSABILIDADES
XV - proceder de forma desidiosa;
XVI - utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em Art. 121. O servidor responde civil, penal e administrativamen-
serviços ou atividades particulares; te pelo exercício irregular de suas atribuições.
XVII - cometer a outro servidor atribuições estranhas ao cargo Art. 122. A responsabilidade civil decorre de ato omissivo ou
que ocupa, exceto em situações de emergência e transitórias; comissivo, doloso ou culposo, que resulte em prejuízo ao erário ou
XVIII - exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis a terceiros.
com o exercício do cargo ou função e com o horário de trabalho; §1º A indenização de prejuízo dolosamente causado ao erário
XIX - recusar-se a atualizar seus dados cadastrais quando solici- somente será liquidada na forma prevista no art. 46, na falta de
tado.(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) outros bens que assegurem a execução do débito pela via judicial.
Parágrafo único. A vedação de que trata o inciso X do caput §2º Tratando-se de dano causado a terceiros, responderá o ser-
deste artigo não se aplica nos seguintes casos: (Incluído pela Lei nº vidor perante a Fazenda Pública, em ação regressiva.
11.784, de 2008 §3º A obrigação de reparar o dano estende-se aos sucessores
I - participação nos conselhos de administração e fiscal de em- e contra eles será executada, até o limite do valor da herança rece-
presas ou entidades em que a União detenha, direta ou indireta- bida.
mente, participação no capital social ou em sociedade cooperativa Art. 123. A responsabilidade penal abrange os crimes e contra-
constituída para prestar serviços a seus membros; e(Incluído pela venções imputadas ao servidor, nessa qualidade.
Lei nº 11.784, de 2008 Art. 124. A responsabilidade civil-administrativa resulta de ato
II - gozo de licença para o trato de interesses particulares, na omissivo ou comissivo praticado no desempenho do cargo ou fun-
forma do art. 91 desta Lei, observada a legislação sobre conflito de ção.
interesses. (Incluído pela Lei nº 11.784, de 2008 Art. 125. As sanções civis, penais e administrativas poderão
cumular-se, sendo independentes entre si.
CAPÍTULO III Art. 126. A responsabilidade administrativa do servidor será
DA ACUMULAÇÃO afastada no caso de absolvição criminal que negue a existência do
fato ou sua autoria.
Art. 118. Ressalvados os casos previstos na Constituição, é ve- Art. 126-A. Nenhum servidor poderá ser responsabilizado civil,
dada a acumulação remunerada de cargos públicos. penal ou administrativamente por dar ciência à autoridade superior
§1º A proibição de acumular estende-se a cargos, empregos ou, quando houver suspeita de envolvimento desta, a outra autori-
e funções em autarquias, fundações públicas, empresas públicas, dade competente para apuração de informação concernente à prá-
sociedades de economia mista da União, do Distrito Federal, dos tica de crimes ou improbidade de que tenha conhecimento, ainda
Estados, dos Territórios e dos Municípios. que em decorrência do exercício de cargo, emprego ou função pú-
§2º A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica condicionada blica.(Incluído pela Lei nº 12.527, de 2011)
à comprovação da compatibilidade de horários.
§3º Considera-se acumulação proibida a percepção de venci- CAPÍTULO V
mento de cargo ou emprego público efetivo com proventos da ina- DAS PENALIDADES
tividade, salvo quando os cargos de que decorram essas remunera-
ções forem acumuláveis na atividade. (Incluído pela Lei nº 9.527, Art. 127. São penalidades disciplinares:
de 10.12.97) I - advertência;
Art. 119. O servidor não poderá exercer mais de um cargo em II - suspensão;
comissão, exceto no caso previsto no parágrafo único do art. 9º, III - demissão;
nem ser remunerado pela participação em órgão de deliberação IV - cassação de aposentadoria ou disponibilidade; (Vide ADPF
coletiva.(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) nº 418)
V - destituição de cargo em comissão;
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NOÇÕES DE DIREITO

VI - destituição de função comissionada. I - instauração, com a publicação do ato que constituir a co-
Art. 128. Na aplicação das penalidades serão consideradas a missão, a ser composta por dois servidores estáveis, e simultanea-
natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela mente indicar a autoria e a materialidade da transgressão objeto da
provierem para o serviço público, as circunstâncias agravantes ou apuração;(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
atenuantes e os antecedentes funcionais. II - instrução sumária, que compreende indiciação, defesa e re-
Parágrafo único. O ato de imposição da penalidade mencionará latório; (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
sempre o fundamento legal e a causa da sanção disciplinar.(Incluído III - julgamento. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) §1º A indicação da autoria de que trata o inciso I dar-se-á pelo
Art. 129. A advertência será aplicada por escrito, nos casos de nome e matrícula do servidor, e a materialidade pela descrição dos
violação de proibição constante do art. 117, incisos I a VIII e XIX, e cargos, empregos ou funções públicas em situação de acumulação
de inobservância de dever funcional previsto em lei, regulamenta- ilegal, dos órgãos ou entidades de vinculação, das datas de ingresso,
ção ou norma interna, que não justifique imposição de penalidade do horário de trabalho e do correspondente regime jurídico. (Reda-
mais grave. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) ção dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
Art. 130. A suspensão será aplicada em caso de reincidência §2º A comissão lavrará, até três dias após a publicação do ato
das faltas punidas com advertência e de violação das demais proibi- que a constituiu, termo de indiciação em que serão transcritas as
ções que não tipifiquem infração sujeita a penalidade de demissão, informações de que trata o parágrafo anterior, bem como promo-
não podendo exceder de 90 (noventa) dias. verá a citação pessoal do servidor indiciado, ou por intermédio de
§1º Será punido com suspensão de até 15 (quinze) dias o ser- sua chefia imediata, para, no prazo de cinco dias, apresentar defe-
vidor que, injustificadamente, recusar-se a ser submetido a inspe- sa escrita, assegurando-se-lhe vista do processo na repartição, ob-
ção médica determinada pela autoridade competente, cessando os servado o disposto nos arts. 163 e 164. (Redação dada pela Lei nº
efeitos da penalidade uma vez cumprida a determinação. 9.527, de 10.12.97)
§2º Quando houver conveniência para o serviço, a penalidade §3º Apresentada a defesa, a comissão elaborará relatório con-
de suspensão poderá ser convertida em multa, na base de 50% (cin- clusivo quanto à inocência ou à responsabilidade do servidor, em
qüenta por cento) por dia de vencimento ou remuneração, ficando que resumirá as peças principais dos autos, opinará sobre a licitude
o servidor obrigado a permanecer em serviço. da acumulação em exame, indicará o respectivo dispositivo legal e
Art. 131. As penalidades de advertência e de suspensão terão remeterá o processo à autoridade instauradora, para julgamento.
seus registros cancelados, após o decurso de 3 (três) e 5 (cinco) (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
anos de efetivo exercício, respectivamente, se o servidor não hou- §4º No prazo de cinco dias, contados do recebimento do pro-
ver, nesse período, praticado nova infração disciplinar. cesso, a autoridade julgadora proferirá a sua decisão, aplicando-se,
Parágrafo único. O cancelamento da penalidade não surtirá quando for o caso, o disposto no §3º do art. 167. (Incluído pela Lei
efeitos retroativos. nº 9.527, de 10.12.97)
Art. 132. A demissão será aplicada nos seguintes casos: §5º A opção pelo servidor até o último dia de prazo para defesa
I - crime contra a administração pública; configurará sua boa-fé, hipótese em que se converterá automatica-
II - abandono de cargo; mente em pedido de exoneração do outro cargo.(Incluído pela Lei
III - inassiduidade habitual; nº 9.527, de 10.12.97)
IV - improbidade administrativa; §6º Caracterizada a acumulação ilegal e provada a má-fé, apli-
V - incontinência pública e conduta escandalosa, na repartição; car-se-á a pena de demissão, destituição ou cassação de aposenta-
VI - insubordinação grave em serviço; doria ou disponibilidade em relação aos cargos, empregos ou fun-
VII - ofensa física, em serviço, a servidor ou a particular, salvo ções públicas em regime de acumulação ilegal, hipótese em que
em legítima defesa própria ou de outrem; os órgãos ou entidades de vinculação serão comunicados. (Incluído
VIII - aplicação irregular de dinheiros públicos; pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
IX - revelação de segredo do qual se apropriou em razão do §7º O prazo para a conclusão do processo administrativo disci-
cargo; plinar submetido ao rito sumário não excederá trinta dias, contados
X - lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio na- da data de publicação do ato que constituir a comissão, admitida
cional; a sua prorrogação por até quinze dias, quando as circunstâncias o
XI - corrupção; exigirem.(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
XII - acumulação ilegal de cargos, empregos ou funções públi- §8º O procedimento sumário rege-se pelas disposições deste
cas; artigo, observando-se, no que lhe for aplicável, subsidiariamen-
XIII - transgressão dos incisos IX a XVI do art. 117. te, as disposições dos Títulos IV e V desta Lei.(Incluído pela Lei nº
Art. 133. Detectada a qualquer tempo a acumulação ilegal de 9.527, de 10.12.97)
cargos, empregos ou funções públicas, a autoridade a que se refere Art. 134. Será cassada a aposentadoria ou a disponibilidade do
o art. 143 notificará o servidor, por intermédio de sua chefia ime- inativo que houver praticado, na atividade, falta punível com a de-
diata, para apresentar opção no prazo improrrogável de dez dias, missão. (Vide ADPF nº 418)
contados da data da ciência e, na hipótese de omissão, adotará pro- Art. 135. A destituição de cargo em comissão exercido por não
cedimento sumário para a sua apuração e regularização imediata, ocupante de cargo efetivo será aplicada nos casos de infração sujei-
cujo processo administrativo disciplinar se desenvolverá nas seguin- ta às penalidades de suspensão e de demissão.
tes fases: (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) Parágrafo único. Constatada a hipótese de que trata este artigo,
a exoneração efetuada nos termos do art. 35 será convertida em
destituição de cargo em comissão.

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Art. 136. A demissão ou a destituição de cargo em comissão, §3º A abertura de sindicância ou a instauração de processo dis-
nos casos dos incisos IV, VIII, X e XI do art. 132, implica a indisponi- ciplinar interrompe a prescrição, até a decisão final proferida por
bilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, sem prejuízo da ação autoridade competente.
penal cabível. §4º Interrompido o curso da prescrição, o prazo começará a
Art. 137. A demissão ou a destituição de cargo em comissão, correr a partir do dia em que cessar a interrupção.
por infringência do art. 117, incisos IX e XI, incompatibiliza o ex-ser-
vidor para nova investidura em cargo público federal, pelo prazo de TÍTULO V
5 (cinco) anos. (Vide ADIN 2975) DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR
Parágrafo único. Não poderá retornar ao serviço público fede-
ral o servidor que for demitido ou destituído do cargo em comissão CAPÍTULO I
por infringência do art. 132, incisos I, IV, VIII, X e XI. DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 138. Configura abandono de cargo a ausência intencional
do servidor ao serviço por mais de trinta dias consecutivos. Art. 143. A autoridade que tiver ciência de irregularidade no
Art. 139. Entende-se por inassiduidade habitual a falta ao ser- serviço público é obrigada a promover a sua apuração imediata,
viço, sem causa justificada, por sessenta dias, interpoladamente, mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, asse-
durante o período de doze meses. gurada ao acusado ampla defesa.
Art. 140. Na apuração de abandono de cargo ou inassiduidade §1º (Revogado pela Lei nº 11.204, de 2005)
habitual, também será adotado o procedimento sumário a que se §2º (Revogado pela Lei nº 11.204, de 2005)
refere o art. 133, observando-se especialmente que: (Redação dada §3º A apuração de que trata o caput, por solicitação da auto-
pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) ridade a que se refere, poderá ser promovida por autoridade de
I - a indicação da materialidade dar-se-á: (Incluído pela Lei nº órgão ou entidade diverso daquele em que tenha ocorrido a irre-
9.527, de 10.12.97) gularidade, mediante competência específica para tal finalidade,
a) na hipótese de abandono de cargo, pela indicação precisa do delegada em caráter permanente ou temporário pelo Presidente da
período de ausência intencional do servidor ao serviço superior a República, pelos presidentes das Casas do Poder Legislativo e dos
trinta dias; (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) Tribunais Federais e pelo Procurador-Geral da República, no âmbito
b) no caso de inassiduidade habitual, pela indicação dos dias de do respectivo Poder, órgão ou entidade, preservadas as competên-
falta ao serviço sem causa justificada, por período igual ou superior cias para o julgamento que se seguir à apuração.(Incluído pela Lei
a sessenta dias interpoladamente, durante o período de doze me- nº 9.527, de 10.12.97)
ses; (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) Art. 144. As denúncias sobre irregularidades serão objeto de
II - após a apresentação da defesa a comissão elaborará rela- apuração, desde que contenham a identificação e o endereço do
tório conclusivo quanto à inocência ou à responsabilidade do ser- denunciante e sejam formuladas por escrito, confirmada a auten-
vidor, em que resumirá as peças principais dos autos, indicará o ticidade.
respectivo dispositivo legal, opinará, na hipótese de abandono de Parágrafo único. Quando o fato narrado não configurar eviden-
cargo, sobre a intencionalidade da ausência ao serviço superior a te infração disciplinar ou ilícito penal, a denúncia será arquivada,
trinta dias e remeterá o processo à autoridade instauradora para por falta de objeto.
julgamento. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) Art. 145. Da sindicância poderá resultar:
Art. 141. As penalidades disciplinares serão aplicadas: I - arquivamento do processo;
I - pelo Presidente da República, pelos Presidentes das Casas do II - aplicação de penalidade de advertência ou suspensão de até
Poder Legislativo e dos Tribunais Federais e pelo Procurador-Geral 30 (trinta) dias;
da República, quando se tratar de demissão e cassação de aposen- III - instauração de processo disciplinar.
tadoria ou disponibilidade de servidor vinculado ao respectivo Po- Parágrafo único. O prazo para conclusão da sindicância não ex-
der, órgão, ou entidade; cederá 30 (trinta) dias, podendo ser prorrogado por igual período, a
II - pelas autoridades administrativas de hierarquia imediata- critério da autoridade superior.
mente inferior àquelas mencionadas no inciso anterior quando se Art. 146. Sempre que o ilícito praticado pelo servidor ensejar
tratar de suspensão superior a 30 (trinta) dias; a imposição de penalidade de suspensão por mais de 30 (trinta)
III - pelo chefe da repartição e outras autoridades na forma dos dias, de demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade,
respectivos regimentos ou regulamentos, nos casos de advertência ou destituição de cargo em comissão, será obrigatória a instauração
ou de suspensão de até 30 (trinta) dias; de processo disciplinar.
IV - pela autoridade que houver feito a nomeação, quando se
tratar de destituição de cargo em comissão. CAPÍTULO II
Art. 142. A ação disciplinar prescreverá: DO AFASTAMENTO PREVENTIVO
I - em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com demis-
são, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e destituição de Art. 147. Como medida cautelar e a fim de que o servidor não
cargo em comissão; venha a influir na apuração da irregularidade, a autoridade instau-
II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão; radora do processo disciplinar poderá determinar o seu afastamen-
III - em 180 (cento e oitenta) dias, quanto à advertência. to do exercício do cargo, pelo prazo de até 60 (sessenta) dias, sem
§1º O prazo de prescrição começa a correr da data em que o prejuízo da remuneração.
fato se tornou conhecido. Parágrafo único. O afastamento poderá ser prorrogado por
§2º Os prazos de prescrição previstos na lei penal aplicam-se às igual prazo, findo o qual cessarão os seus efeitos, ainda que não
infrações disciplinares capituladas também como crime. concluído o processo.
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CAPÍTULO III Art. 156. É assegurado ao servidor o direito de acompanhar o


DO PROCESSO DISCIPLINAR processo pessoalmente ou por intermédio de procurador, arrolar e
reinquirir testemunhas, produzir provas e contraprovas e formular
Art. 148. O processo disciplinar é o instrumento destinado a quesitos, quando se tratar de prova pericial.
apurar responsabilidade de servidor por infração praticada no exer- §1º O presidente da comissão poderá denegar pedidos consi-
cício de suas atribuições, ou que tenha relação com as atribuições derados impertinentes, meramente protelatórios, ou de nenhum
do cargo em que se encontre investido. interesse para o esclarecimento dos fatos.
Art. 149. O processo disciplinar será conduzido por comissão §2º Será indeferido o pedido de prova pericial, quando a com-
composta de três servidores estáveis designados pela autoridade provação do fato independer de conhecimento especial de perito.
competente, observado o disposto no §3º do art. 143, que indicará, Art. 157. As testemunhas serão intimadas a depor mediante
dentre eles, o seu presidente, que deverá ser ocupante de cargo mandado expedido pelo presidente da comissão, devendo a segun-
efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade da via, com o ciente do interessado, ser anexado aos autos.
igual ou superior ao do indiciado. (Redação dada pela Lei nº 9.527, Parágrafo único. Se a testemunha for servidor público, a expe-
de 10.12.97) dição do mandado será imediatamente comunicada ao chefe da re-
§1º A Comissão terá como secretário servidor designado pelo partição onde serve, com a indicação do dia e hora marcados para
seu presidente, podendo a indicação recair em um de seus mem- inquirição.
bros. Art. 158. O depoimento será prestado oralmente e reduzido a
§2º Não poderá participar de comissão de sindicância ou de termo, não sendo lícito à testemunha trazê-lo por escrito.
inquérito, cônjuge, companheiro ou parente do acusado, consan- §1º As testemunhas serão inquiridas separadamente.
güíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau. §2º Na hipótese de depoimentos contraditórios ou que se infir-
Art. 150. A Comissão exercerá suas atividades com indepen- mem, proceder-se-á à acareação entre os depoentes.
dência e imparcialidade, assegurado o sigilo necessário à elucida- Art. 159. Concluída a inquirição das testemunhas, a comissão
ção do fato ou exigido pelo interesse da administração. promoverá o interrogatório do acusado, observados os procedi-
Parágrafo único. As reuniões e as audiências das comissões te- mentos previstos nos arts. 157 e 158.
rão caráter reservado. §1º No caso de mais de um acusado, cada um deles será ouvido
Art. 151. O processo disciplinar se desenvolve nas seguintes separadamente, e sempre que divergirem em suas declarações so-
fases: bre fatos ou circunstâncias, será promovida a acareação entre eles.
I - instauração, com a publicação do ato que constituir a co- §2º O procurador do acusado poderá assistir ao interrogatório,
missão; bem como à inquirição das testemunhas, sendo-lhe vedado inter-
II - inquérito administrativo, que compreende instrução, defesa ferir nas perguntas e respostas, facultando-se-lhe, porém, reinquiri-
e relatório; -las, por intermédio do presidente da comissão.
III - julgamento. Art. 160. Quando houver dúvida sobre a sanidade mental do
Art. 152. O prazo para a conclusão do processo disciplinar não acusado, a comissão proporá à autoridade competente que ele seja
excederá 60 (sessenta) dias, contados da data de publicação do ato submetido a exame por junta médica oficial, da qual participe pelo
que constituir a comissão, admitida a sua prorrogação por igual pra- menos um médico psiquiatra.
zo, quando as circunstâncias o exigirem. Parágrafo único. O incidente de sanidade mental será processa-
§1º Sempre que necessário, a comissão dedicará tempo inte- do em auto apartado e apenso ao processo principal, após a expe-
gral aos seus trabalhos, ficando seus membros dispensados do pon- dição do laudo pericial.
to, até a entrega do relatório final. Art. 161. Tipificada a infração disciplinar, será formulada a indi-
§2º As reuniões da comissão serão registradas em atas que de- ciação do servidor, com a especificação dos fatos a ele imputados e
verão detalhar as deliberações adotadas. das respectivas provas.
§1º O indiciado será citado por mandado expedido pelo presi-
SEÇÃO I dente da comissão para apresentar defesa escrita, no prazo de 10
DO INQUÉRITO (dez) dias, assegurando-se-lhe vista do processo na repartição.
§2º Havendo dois ou mais indiciados, o prazo será comum e de
Art. 153. O inquérito administrativo obedecerá ao princípio do 20 (vinte) dias.
contraditório, assegurada ao acusado ampla defesa, com a utiliza- §3º O prazo de defesa poderá ser prorrogado pelo dobro, para
ção dos meios e recursos admitidos em direito. diligências reputadas indispensáveis.
Art. 154. Os autos da sindicância integrarão o processo discipli- §4º No caso de recusa do indiciado em apor o ciente na cópia
nar, como peça informativa da instrução. da citação, o prazo para defesa contar-se-á da data declarada, em
Parágrafo único. Na hipótese de o relatório da sindicância con- termo próprio, pelo membro da comissão que fez a citação, com a
cluir que a infração está capitulada como ilícito penal, a autoridade assinatura de (2) duas testemunhas.
competente encaminhará cópia dos autos ao Ministério Público, in- Art. 162. O indiciado que mudar de residência fica obrigado a
dependentemente da imediata instauração do processo disciplinar. comunicar à comissão o lugar onde poderá ser encontrado.
Art. 155. Na fase do inquérito, a comissão promoverá a tomada Art. 163. Achando-se o indiciado em lugar incerto e não sabido,
de depoimentos, acareações, investigações e diligências cabíveis, será citado por edital, publicado no Diário Oficial da União e em
objetivando a coleta de prova, recorrendo, quando necessário, a jornal de grande circulação na localidade do último domicílio co-
técnicos e peritos, de modo a permitir a completa elucidação dos nhecido, para apresentar defesa.
fatos. Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, o prazo para defesa
será de 15 (quinze) dias a partir da última publicação do edital.
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Art. 164. Considerar-se-á revel o indiciado que, regularmente Art. 171. Quando a infração estiver capitulada como crime, o
citado, não apresentar defesa no prazo legal. processo disciplinar será remetido ao Ministério Público para ins-
§1º A revelia será declarada, por termo, nos autos do processo tauração da ação penal, ficando trasladado na repartição.
e devolverá o prazo para a defesa. Art. 172. O servidor que responder a processo disciplinar só
§2º Para defender o indiciado revel, a autoridade instauradora poderá ser exonerado a pedido, ou aposentado voluntariamente,
do processo designará um servidor como defensor dativo, que de- após a conclusão do processo e o cumprimento da penalidade, aca-
verá ser ocupante de cargo efetivo superior ou de mesmo nível, ou so aplicada.
ter nível de escolaridade igual ou superior ao do indiciado. (Reda- Parágrafo único. Ocorrida a exoneração de que trata o parágra-
ção dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) fo único, inciso I do art. 34, o ato será convertido em demissão, se
Art. 165. Apreciada a defesa, a comissão elaborará relatório mi- for o caso.
nucioso, onde resumirá as peças principais dos autos e mencionará Art. 173. Serão assegurados transporte e diárias:
as provas em que se baseou para formar a sua convicção. I - ao servidor convocado para prestar depoimento fora da sede
§1º O relatório será sempre conclusivo quanto à inocência ou à de sua repartição, na condição de testemunha, denunciado ou in-
responsabilidade do servidor. diciado;
§2º Reconhecida a responsabilidade do servidor, a comissão in- II - aos membros da comissão e ao secretário, quando obriga-
dicará o dispositivo legal ou regulamentar transgredido, bem como dos a se deslocarem da sede dos trabalhos para a realização de mis-
as circunstâncias agravantes ou atenuantes. são essencial ao esclarecimento dos fatos.
Art. 166. O processo disciplinar, com o relatório da comissão,
será remetido à autoridade que determinou a sua instauração, para SEÇÃO III
julgamento. DA REVISÃO DO PROCESSO

SEÇÃO II Art. 174. O processo disciplinar poderá ser revisto, a qualquer


DO JULGAMENTO tempo, a pedido ou de ofício, quando se aduzirem fatos novos ou
circunstâncias suscetíveis de justificar a inocência do punido ou a
Art. 167. No prazo de 20 (vinte) dias, contados do recebimento inadequação da penalidade aplicada.
do processo, a autoridade julgadora proferirá a sua decisão. §1º Em caso de falecimento, ausência ou desaparecimento do
§1º Se a penalidade a ser aplicada exceder a alçada da autori- servidor, qualquer pessoa da família poderá requerer a revisão do
dade instauradora do processo, este será encaminhado à autorida- processo.
de competente, que decidirá em igual prazo. §2º No caso de incapacidade mental do servidor, a revisão será
§2º Havendo mais de um indiciado e diversidade de sanções, requerida pelo respectivo curador.
o julgamento caberá à autoridade competente para a imposição da Art. 175. No processo revisional, o ônus da prova cabe ao re-
pena mais grave. querente.
§3º Se a penalidade prevista for a demissão ou cassação de Art. 176. A simples alegação de injustiça da penalidade não
aposentadoria ou disponibilidade, o julgamento caberá às autorida- constitui fundamento para a revisão, que requer elementos novos,
des de que trata o inciso I do art. 141. ainda não apreciados no processo originário.
§4º Reconhecida pela comissão a inocência do servidor, a auto- Art. 177. O requerimento de revisão do processo será dirigido
ridade instauradora do processo determinará o seu arquivamento, ao Ministro de Estado ou autoridade equivalente, que, se autorizar
salvo se flagrantemente contrária à prova dos autos.(Incluído pela a revisão, encaminhará o pedido ao dirigente do órgão ou entidade
Lei nº 9.527, de 10.12.97) onde se originou o processo disciplinar.
Art. 168. O julgamento acatará o relatório da comissão, salvo Parágrafo único. Deferida a petição, a autoridade competente
quando contrário às provas dos autos. providenciará a constituição de comissão, na forma do art. 149.
Parágrafo único. Quando o relatório da comissão contrariar as Art. 178. A revisão correrá em apenso ao processo originário.
provas dos autos, a autoridade julgadora poderá, motivadamente, Parágrafo único. Na petição inicial, o requerente pedirá dia e
agravar a penalidade proposta, abrandá-la ou isentar o servidor de hora para a produção de provas e inquirição das testemunhas que
responsabilidade. arrolar.
Art. 169. Verificada a ocorrência de vício insanável, a autorida- Art. 179. A comissão revisora terá 60 (sessenta) dias para a con-
de que determinou a instauração do processo ou outra de hierar- clusão dos trabalhos.
quia superior declarará a sua nulidade, total ou parcial, e ordenará, Art. 180. Aplicam-se aos trabalhos da comissão revisora, no
no mesmo ato, a constituição de outra comissão para instauração que couber, as normas e procedimentos próprios da comissão do
de novo processo. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) processo disciplinar.
§1º O julgamento fora do prazo legal não implica nulidade do Art. 181. O julgamento caberá à autoridade que aplicou a pena-
processo. lidade, nos termos do art. 141.
§2º A autoridade julgadora que der causa à prescrição de que Parágrafo único. O prazo para julgamento será de 20 (vinte)
trata o art. 142, §2º, será responsabilizada na forma do Capítulo IV dias, contados do recebimento do processo, no curso do qual a au-
do Título IV. toridade julgadora poderá determinar diligências.
Art. 170. Extinta a punibilidade pela prescrição, a autoridade Art. 182. Julgada procedente a revisão, será declarada sem
julgadora determinará o registro do fato nos assentamentos indivi- efeito a penalidade aplicada, restabelecendo-se todos os direitos
duais do servidor. do servidor, exceto em relação à destituição do cargo em comissão,
que será convertida em exoneração.

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Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá resultar h) garantia de condições individuais e ambientais de trabalho
agravamento de penalidade. satisfatórias;
II - quanto ao dependente:
TÍTULO VI a) pensão vitalícia e temporária;
DA SEGURIDADE SOCIAL DO SERVIDOR b) auxílio-funeral;
c) auxílio-reclusão;
CAPÍTULO I d) assistência à saúde.
DISPOSIÇÕES GERAIS §1º As aposentadorias e pensões serão concedidas e mantidas
pelos órgãos ou entidades aos quais se encontram vinculados os
Art. 183. A União manterá Plano de Seguridade Social para o servidores, observado o disposto nos arts. 189 e 224.
servidor e sua família. §2º O recebimento indevido de benefícios havidos por fraude,
§1º O servidor ocupante de cargo em comissão que não seja, dolo ou má-fé, implicará devolução ao erário do total auferido, sem
simultaneamente, ocupante de cargo ou emprego efetivo na admi- prejuízo da ação penal cabível.
nistração pública direta, autárquica e fundacional não terá direito
aos benefícios do Plano de Seguridade Social, com exceção da as- CAPÍTULO II
sistência à saúde.(Redação dada pela Lei nº 10.667, de 14.5.2003) DOS BENEFÍCIOS
§2º O servidor afastado ou licenciado do cargo efetivo, sem
direito à remuneração, inclusive para servir em organismo oficial SEÇÃO I
internacional do qual o Brasil seja membro efetivo ou com o qual DA APOSENTADORIA
coopere, ainda que contribua para regime de previdência social no
exterior, terá suspenso o seu vínculo com o regime do Plano de Se- Art. 186. O servidor será aposentado:(Vide art. 40 da Consti-
guridade Social do Servidor Público enquanto durar o afastamento tuição)
ou a licença, não lhes assistindo, neste período, os benefícios do I - por invalidez permanente, sendo os proventos integrais
mencionado regime de previdência.(Incluído pela Lei nº 10.667, de quando decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional
14.5.2003) ou doença grave, contagiosa ou incurável, especificada em lei, e
§3º Será assegurada ao servidor licenciado ou afastado sem re- proporcionais nos demais casos;
muneração a manutenção da vinculação ao regime do Plano de Se- II - compulsoriamente, aos setenta anos de idade, com proven-
guridade Social do Servidor Público, mediante o recolhimento men- tos proporcionais ao tempo de serviço;
sal da respectiva contribuição, no mesmo percentual devido pelos III - voluntariamente:
servidores em atividade, incidente sobre a remuneração total do a) aos 35 (trinta e cinco) anos de serviço, se homem, e aos 30
cargo a que faz jus no exercício de suas atribuições, computando-se, (trinta) se mulher, com proventos integrais;
para esse efeito, inclusive, as vantagens pessoais. (Incluído pela Lei b) aos 30 (trinta) anos de efetivo exercício em funções de ma-
nº 10.667, de 14.5.2003) gistério se professor, e 25 (vinte e cinco) se professora, com proven-
§4º O recolhimento de que trata o §3º deve ser efetuado até o tos integrais;
segundo dia útil após a data do pagamento das remunerações dos c) aos 30 (trinta) anos de serviço, se homem, e aos 25 (vinte e
servidores públicos, aplicando-se os procedimentos de cobrança e cinco) se mulher, com proventos proporcionais a esse tempo;
execução dos tributos federais quando não recolhidas na data de d) aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e aos
vencimento.(Incluído pela Lei nº 10.667, de 14.5.2003) 60 (sessenta) se mulher, com proventos proporcionais ao tempo de
Art. 184. O Plano de Seguridade Social visa a dar cobertura aos serviço.
riscos a que estão sujeitos o servidor e sua família, e compreende §1º Consideram-se doenças graves, contagiosas ou incuráveis,
um conjunto de benefícios e ações que atendam às seguintes fina- a que se refere o inciso I deste artigo, tuberculose ativa, alienação
lidades: mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira posterior
I - garantir meios de subsistência nos eventos de doença, inva- ao ingresso no serviço público, hanseníase, cardiopatia grave, do-
lidez, velhice, acidente em serviço, inatividade, falecimento e re- ença de Parkinson, paralisia irreversível e incapacitante, espondi-
clusão; loartrose anquilosante, nefropatia grave, estados avançados do
II - proteção à maternidade, à adoção e à paternidade; mal de Paget (osteíte deformante), Síndrome de Imunodeficiência
III - assistência à saúde. Adquirida - AIDS, e outras que a lei indicar, com base na medicina
Parágrafo único. Os benefícios serão concedidos nos termos especializada.
e condições definidos em regulamento, observadas as disposições §2º Nos casos de exercício de atividades consideradas insalu-
desta Lei. bres ou perigosas, bem como nas hipóteses previstas no art. 71, a
Art. 185. Os benefícios do Plano de Seguridade Social do servi- aposentadoria de que trata o inciso III, “a” e “c”, observará o dispos-
dor compreendem: to em lei específica.
I - quanto ao servidor: §3º Na hipótese do inciso I o servidor será submetido à junta
a) aposentadoria; médica oficial, que atestará a invalidez quando caracterizada a in-
b) auxílio-natalidade; capacidade para o desempenho das atribuições do cargo ou a im-
c) salário-família; possibilidade de se aplicar o disposto no art. 24. (Incluído pela Lei
d) licença para tratamento de saúde; nº 9.527, de 10.12.97)
e) licença à gestante, à adotante e licença-paternidade;
f) licença por acidente em serviço;
g) assistência à saúde;
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Art. 187. A aposentadoria compulsória será automática, e de- §2º O auxílio será pago ao cônjuge ou companheiro servidor
clarada por ato, com vigência a partir do dia imediato àquele em público, quando a parturiente não for servidora.
que o servidor atingir a idade-limite de permanência no serviço ati-
vo. SEÇÃO III
Art. 188. A aposentadoria voluntária ou por invalidez vigorará a DO SALÁRIO-FAMÍLIA
partir da data da publicação do respectivo ato.
§1º A aposentadoria por invalidez será precedida de licença Art. 197. O salário-família é devido ao servidor ativo ou ao ina-
para tratamento de saúde, por período não excedente a 24 (vinte tivo, por dependente econômico.
e quatro) meses. Parágrafo único. Consideram-se dependentes econômicos para
§2º Expirado o período de licença e não estando em condições efeito de percepção do salário-família:
de reassumir o cargo ou de ser readaptado, o servidor será aposen- I - o cônjuge ou companheiro e os filhos, inclusive os enteados
tado. até 21 (vinte e um) anos de idade ou, se estudante, até 24 (vinte e
§3º O lapso de tempo compreendido entre o término da licen- quatro) anos ou, se inválido, de qualquer idade;
ça e a publicação do ato da aposentadoria será considerado como II - o menor de 21 (vinte e um) anos que, mediante autoriza-
de prorrogação da licença. ção judicial, viver na companhia e às expensas do servidor, ou do
§4º Para os fins do disposto no §1º deste artigo, serão consi- inativo;
deradas apenas as licenças motivadas pela enfermidade enseja- III - a mãe e o pai sem economia própria.
dora da invalidez ou doenças correlacionadas. (Incluído pela Lei nº Art. 198. Não se configura a dependência econômica quando o
11.907, de 2009) beneficiário do salário-família perceber rendimento do trabalho ou
§5º A critério da Administração, o servidor em licença para tra- de qualquer outra fonte, inclusive pensão ou provento da aposen-
tamento de saúde ou aposentado por invalidez poderá ser convoca- tadoria, em valor igual ou superior ao salário-mínimo.
do a qualquer momento, para avaliação das condições que enseja- Art. 199. Quando o pai e mãe forem servidores públicos e vi-
ram o afastamento ou a aposentadoria. (Incluído pela Lei nº 11.907, verem em comum, o salário-família será pago a um deles; quando
de 2009) separados, será pago a um e outro, de acordo com a distribuição
Art. 189. O provento da aposentadoria será calculado com ob- dos dependentes.
servância do disposto no §3º do art. 41, e revisto na mesma data e Parágrafo único. Ao pai e à mãe equiparam-se o padrasto, a
proporção, sempre que se modificar a remuneração dos servidores madrasta e, na falta destes, os representantes legais dos incapazes.
em atividade. Art. 200. O salário-família não está sujeito a qualquer tributo,
Parágrafo único. São estendidos aos inativos quaisquer bene- nem servirá de base para qualquer contribuição, inclusive para a
fícios ou vantagens posteriormente concedidas aos servidores em Previdência Social.
atividade, inclusive quando decorrentes de transformação ou re- Art. 201. O afastamento do cargo efetivo, sem remuneração,
classificação do cargo ou função em que se deu a aposentadoria. não acarreta a suspensão do pagamento do salário-família.
Art. 190. O servidor aposentado com provento proporcional ao
tempo de serviço se acometido de qualquer das moléstias especifi- SEÇÃO IV
cadas no §1º do art. 186 desta Lei e, por esse motivo, for conside- DA LICENÇA PARA TRATAMENTO DE SAÚDE
rado inválido por junta médica oficial passará a perceber provento
integral, calculado com base no fundamento legal de concessão da Art. 202. Será concedida ao servidor licença para tratamento
aposentadoria. (Redação dada pela Lei nº 11.907, de 2009) de saúde, a pedido ou de ofício, com base em perícia médica, sem
Art. 191. Quando proporcional ao tempo de serviço, o proven- prejuízo da remuneração a que fizer jus.
to não será inferior a 1/3 (um terço) da remuneração da atividade. Art. 203. A licença de que trata o art. 202 desta Lei será conce-
Art. 192.(Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) dida com base em perícia oficial. (Redação dada pela Lei nº 11.907,
Art. 193. (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) de 2009)
Art. 194. Ao servidor aposentado será paga a gratificação nata- §1º Sempre que necessário, a inspeção médica será realizada
lina, até o dia vinte do mês de dezembro, em valor equivalente ao na residência do servidor ou no estabelecimento hospitalar onde se
respectivo provento, deduzido o adiantamento recebido. encontrar internado.
Art. 195. Ao ex-combatente que tenha efetivamente participa- §2º Inexistindo médico no órgão ou entidade no local onde se
do de operações bélicas, durante a Segunda Guerra Mundial, nos encontra ou tenha exercício em caráter permanente o servidor, e
termos da Lei nº 5.315, de 12 de setembro de 1967, será concedida não se configurando as hipóteses previstas nos parágrafos do art.
aposentadoria com provento integral, aos 25 (vinte e cinco) anos de 230, será aceito atestado passado por médico particular. (Redação
serviço efetivo. dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
§3º No caso do §2º deste artigo, o atestado somente produzirá
SEÇÃO II efeitos depois de recepcionado pela unidade de recursos humanos
DO AUXÍLIO-NATALIDADE do órgão ou entidade. (Redação dada pela Lei nº 11.907, de 2009)
§4º A licença que exceder o prazo de 120 (cento e vinte) dias
Art. 196. O auxílio-natalidade é devido à servidora por motivo no período de 12 (doze) meses a contar do primeiro dia de afasta-
de nascimento de filho, em quantia equivalente ao menor venci- mento será concedida mediante avaliação por junta médica oficial.
mento do serviço público, inclusive no caso de natimorto. (Redação dada pela Lei nº 11.907, de 2009)
§1º Na hipótese de parto múltiplo, o valor será acrescido de
50% (cinqüenta por cento), por nascituro.

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§5º A perícia oficial para concessão da licença de que trata o Art. 210. À servidora que adotar ou obtiver guarda judicial de
caput deste artigo, bem como nos demais casos de perícia oficial criança até 1 (um) ano de idade, serão concedidos 90 (noventa) dias
previstos nesta Lei, será efetuada por cirurgiões-dentistas, nas hi- de licença remunerada. (Vide Decreto nº 6.691, de 2008)
póteses em que abranger o campo de atuação da odontologia. (In- Parágrafo único. No caso de adoção ou guarda judicial de crian-
cluído pela Lei nº 11.907, de 2009) ça com mais de 1 (um) ano de idade, o prazo de que trata este artigo
Art. 204. A licença para tratamento de saúde inferior a 15 será de 30 (trinta) dias.
(quinze) dias, dentro de 1 (um) ano, poderá ser dispensada de perí-
cia oficial, na forma definida em regulamento. (Redação dada pela SEÇÃO VI
Lei nº 11.907, de 2009) DA LICENÇA POR ACIDENTE EM SERVIÇO
Art. 205. O atestado e o laudo da junta médica não se referirão
ao nome ou natureza da doença, salvo quando se tratar de lesões Art. 211. Será licenciado, com remuneração integral, o servidor
produzidas por acidente em serviço, doença profissional ou qual- acidentado em serviço.
quer das doenças especificadas no art. 186, §1º. Art. 212. Configura acidente em serviço o dano físico ou mental
Art. 206. O servidor que apresentar indícios de lesões orgânicas sofrido pelo servidor, que se relacione, mediata ou imediatamente,
ou funcionais será submetido a inspeção médica. com as atribuições do cargo exercido.
Art. 206-A. O servidor será submetido a exames médicos perió- Parágrafo único. Equipara-se ao acidente em serviço o dano:
dicos, nos termos e condições definidos em regulamento. (Incluído I - decorrente de agressão sofrida e não provocada pelo servi-
pela Lei nº 11.907, de 2009) (Regulamento). dor no exercício do cargo;
Parágrafo único. Para os fins do disposto no caput, a União e II - sofrido no percurso da residência para o trabalho e vice-
suas entidades autárquicas e fundacionais poderão: (Incluído pela -versa.
Lei nº 12.998, de 2014) Art. 213. O servidor acidentado em serviço que necessite de
I - prestar os exames médicos periódicos diretamente pelo ór- tratamento especializado poderá ser tratado em instituição priva-
gão ou entidade à qual se encontra vinculado o servidor; (Incluído da, à conta de recursos públicos.
pela Lei nº 12.998, de 2014) Parágrafo único. O tratamento recomendado por junta médica
II - celebrar convênio ou instrumento de cooperação ou parce- oficial constitui medida de exceção e somente será admissível quan-
ria com os órgãos e entidades da administração direta, suas autar- do inexistirem meios e recursos adequados em instituição pública.
quias e fundações; (Incluído pela Lei nº 12.998, de 2014) Art. 214. A prova do acidente será feita no prazo de 10 (dez)
III - celebrar convênios com operadoras de plano de assistência dias, prorrogável quando as circunstâncias o exigirem.
à saúde, organizadas na modalidade de autogestão, que possuam
autorização de funcionamento do órgão regulador, na forma do art. SEÇÃO VII
230; ou (Incluído pela Lei nº 12.998, de 2014) DA PENSÃO
IV - prestar os exames médicos periódicos mediante contra-
to administrativo, observado o disposto na Lei no 8.666, de 21 de Art. 215. Por morte do servidor, os seus dependentes, nas hi-
junho de 1993, e demais normas pertinentes.(Incluído pela Lei nº póteses legais, fazem jus à pensão por morte, observados os limites
12.998, de 2014) estabelecidos no inciso XI do caput do art. 37 da Constituição Fede-
ral e no art. 2º da Lei nº 10.887, de 18 de junho de 2004. (Redação
SEÇÃO V dada pela Lei nº 13.846, de 2019)
DA LICENÇA À GESTANTE, À ADOTANTE E DA LICENÇA-PA- Art. 216. (Revogado pela Medida Provisória nº 664, de 2014)
TERNIDADE (Vigência) (Revogado pela Lei nº 13.135, de 2015)
Art. 217. São beneficiários das pensões:
Art. 207. Será concedida licença à servidora gestante por 120 I - o cônjuge;(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
(cento e vinte) dias consecutivos, sem prejuízo da remuneração. a) (Revogada);(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
(Vide Decreto nº 6.690, de 2008) b) (Revogada);(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
§1º A licença poderá ter início no primeiro dia do nono mês de c) (Revogada);(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
gestação, salvo antecipação por prescrição médica. d) (Revogada);(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
§2º No caso de nascimento prematuro, a licença terá início a e) (Revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
partir do parto. II - o cônjuge divorciado ou separado judicialmente ou de fato,
§3º No caso de natimorto, decorridos 30 (trinta) dias do even- com percepção de pensão alimentícia estabelecida judicialmente;
to, a servidora será submetida a exame médico, e se julgada apta, (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
reassumirá o exercício. a) (Revogada);(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
§4º No caso de aborto atestado por médico oficial, a servidora b) (Revogada);(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
terá direito a 30 (trinta) dias de repouso remunerado. c) Revogada);(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
Art. 208. Pelo nascimento ou adoção de filhos, o servidor terá d) (Revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
direito à licença-paternidade de 5 (cinco) dias consecutivos. III - o companheiro ou companheira que comprove união es-
Art. 209. Para amamentar o próprio filho, até a idade de seis tável como entidade familiar;(Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
meses, a servidora lactante terá direito, durante a jornada de tra- IV - o filho de qualquer condição que atenda a um dos seguin-
balho, a uma hora de descanso, que poderá ser parcelada em dois tes requisitos:(Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
períodos de meia hora. a) seja menor de 21 (vinte e um) anos; (Incluído pela Lei nº
13.135, de 2015)
b) seja inválido;(Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
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c)(Vide Lei nº 13.135, de 2015) (Vigência) §4º Julgada improcedente a ação prevista no §2º ou §3º deste
d) tenha deficiência intelectual ou mental; (Redação dada pela artigo, o valor retido será corrigido pelos índices legais de reajusta-
Lei nº 13.846, de 2019) mento e será pago de forma proporcional aos demais dependentes,
V - a mãe e o pai que comprovem dependência econômica do de acordo com as suas cotas e o tempo de duração de seus benefí-
servidor; e (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015) cios.(Incluído pela Lei nº 13.846, de 2019)
VI - o irmão de qualquer condição que comprove dependência §5º Em qualquer hipótese, fica assegurada ao órgão concessor
econômica do servidor e atenda a um dos requisitos previstos no da pensão por morte a cobrança dos valores indevidamente pagos
inciso IV.(Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015) em função de nova habilitação. (Incluído pela Lei nº 13.846, de
§1º A concessão de pensão aos beneficiários de que tratam os 2019)
incisos I a IV do caput exclui os beneficiários referidos nos incisos V Art. 220. Perde o direito à pensão por morte:(Redação dada
e VI. (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015) pela Lei nº 13.135, de 2015)
§2º A concessão de pensão aos beneficiários de que trata o I - após o trânsito em julgado, o beneficiário condenado pela
inciso V do caput exclui o beneficiário referido no inciso VI.(Redação prática de crime de que tenha dolosamente resultado a morte do
dada pela Lei nº 13.135, de 2015) servidor; (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
§3º O enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho me- II - o cônjuge, o companheiro ou a companheira se compro-
diante declaração do servidor e desde que comprovada dependên- vada, a qualquer tempo, simulação ou fraude no casamento ou
cia econômica, na forma estabelecida em regulamento.(Incluído na união estável, ou a formalização desses com o fim exclusivo de
pela Lei nº 13.135, de 2015) constituir benefício previdenciário, apuradas em processo judicial
§4º (VETADO).(Incluído pela Lei nº 13.846, de 2019) no qual será assegurado o direito ao contraditório e à ampla defesa.
Art. 218. Ocorrendo habilitação de vários titulares à pensão, (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
o seu valor será distribuído em partes iguais entre os beneficiários Art. 221. Será concedida pensão provisória por morte presumi-
habilitados.(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015) da do servidor, nos seguintes casos:
§1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015) I - declaração de ausência, pela autoridade judiciária compe-
§2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015) tente;
§3º (Revogado).(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015) II - desaparecimento em desabamento, inundação, incêndio ou
Art. 219. A pensão por morte será devida ao conjunto dos de- acidente não caracterizado como em serviço;
pendentes do segurado que falecer, aposentado ou não, a contar da III - desaparecimento no desempenho das atribuições do cargo
data: (Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019) ou em missão de segurança.
I - do óbito, quando requerida em até 180 (cento e oitenta dias) Parágrafo único. A pensão provisória será transformada em vi-
após o óbito, para os filhos menores de 16 (dezesseis) anos, ou em talícia ou temporária, conforme o caso, decorridos 5 (cinco) anos
até 90 (noventa) dias após o óbito, para os demais dependentes; de sua vigência, ressalvado o eventual reaparecimento do servidor,
(Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019) hipótese em que o benefício será automaticamente cancelado.
II - do requerimento, quando requerida após o prazo previs- Art. 222. Acarreta perda da qualidade de beneficiário:
to no inciso I do caput deste artigo; ou (Redação dada pela Lei nº I - o seu falecimento;
13.846, de 2019) II - a anulação do casamento, quando a decisão ocorrer após a
III - da decisão judicial, na hipótese de morte presumida. (Reda- concessão da pensão ao cônjuge;
ção dada pela Lei nº 13.846, de 2019) III - a cessação da invalidez, em se tratando de beneficiário in-
§1º A concessão da pensão por morte não será protelada pela válido, ou o afastamento da deficiência, em se tratando de benefici-
falta de habilitação de outro possível dependente e a habilitação ário com deficiência, respeitados os períodos mínimos decorrentes
posterior que importe em exclusão ou inclusão de dependente só da aplicação das alíneas a e b do inciso VII do caput deste artigo;
produzirá efeito a partir da data da publicação da portaria de con- (Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019)
cessão da pensão ao dependente habilitado. (Redação dada pela IV - o implemento da idade de 21 (vinte e um) anos, pelo filho
Lei nº 13.846, de 2019) ou irmão; (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
§2º Ajuizada a ação judicial para reconhecimento da condição V - a acumulação de pensão na forma do art. 225;
de dependente, este poderá requerer a sua habilitação provisória VI - a renúncia expressa; e(Redação dada pela Lei nº 13.135,
ao benefício de pensão por morte, exclusivamente para fins de ra- de 2015)
teio dos valores com outros dependentes, vedado o pagamento da VII - em relação aos beneficiários de que tratam os incisos I a III
respectiva cota até o trânsito em julgado da respectiva ação, ressal- do caput do art. 217: (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
vada a existência de decisão judicial em contrário. (Redação dada a) o decurso de 4 (quatro) meses, se o óbito ocorrer sem que
pela Lei nº 13.846, de 2019) o servidor tenha vertido 18 (dezoito) contribuições mensais ou se o
§3º Nas ações em que for parte o ente público responsável pela casamento ou a união estável tiverem sido iniciados em menos de 2
concessão da pensão por morte, este poderá proceder de ofício à (dois) anos antes do óbito do servidor; (Incluído pela Lei nº 13.135,
habilitação excepcional da referida pensão, apenas para efeitos de de 2015)
rateio, descontando-se os valores referentes a esta habilitação das b) o decurso dos seguintes períodos, estabelecidos de acordo
demais cotas, vedado o pagamento da respectiva cota até o trânsito com a idade do pensionista na data de óbito do servidor, depois de
em julgado da respectiva ação, ressalvada a existência de decisão vertidas 18 (dezoito) contribuições mensais e pelo menos 2 (dois)
judicial em contrário. (Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019) anos após o início do casamento ou da união estável: (Incluído pela
Lei nº 13.135, de 2015)
1) 3 (três) anos, com menos de 21 (vinte e um) anos de idade;
(Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
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2) 6 (seis) anos, entre 21 (vinte e um) e 26 (vinte e seis) anos de Art. 224. As pensões serão automaticamente atualizadas na
idade; (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015) mesma data e na mesma proporção dos reajustes dos vencimentos
3) 10 (dez) anos, entre 27 (vinte e sete) e 29 (vinte e nove) anos dos servidores, aplicando-se o disposto no parágrafo único do art.
de idade; (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015) 189.
4) 15 (quinze) anos, entre 30 (trinta) e 40 (quarenta) anos de Art. 225. Ressalvado o direito de opção, é vedada a percepção
idade; (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015) cumulativa de pensão deixada por mais de um cônjuge ou compa-
5) 20 (vinte) anos, entre 41 (quarenta e um) e 43 (quarenta e nheiro ou companheira e de mais de 2 (duas) pensões.(Redação
três) anos de idade; (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015) dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
6) vitalícia, com 44 (quarenta e quatro) ou mais anos de idade.
(Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015) SEÇÃO VIII
§1º A critério da administração, o beneficiário de pensão cuja DO AUXÍLIO-FUNERAL
preservação seja motivada por invalidez, por incapacidade ou por
deficiência poderá ser convocado a qualquer momento para avalia- Art. 226. O auxílio-funeral é devido à família do servidor faleci-
ção das referidas condições.(Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015) do na atividade ou aposentado, em valor equivalente a um mês da
§2º Serão aplicados, conforme o caso, a regra contida no inciso remuneração ou provento.
III ou os prazos previstos na alínea “b” do inciso VII, ambos do caput, §1º No caso de acumulação legal de cargos, o auxílio será pago
se o óbito do servidor decorrer de acidente de qualquer natureza somente em razão do cargo de maior remuneração.
ou de doença profissional ou do trabalho, independentemente do §2º (VETADO).
recolhimento de 18 (dezoito) contribuições mensais ou da compro- §3º O auxílio será pago no prazo de 48 (quarenta e oito) horas,
vação de 2 (dois) anos de casamento ou de união estável. (Incluído por meio de procedimento sumaríssimo, à pessoa da família que
pela Lei nº 13.135, de 2015) houver custeado o funeral.
§3º Após o transcurso de pelo menos 3 (três) anos e desde que Art. 227. Se o funeral for custeado por terceiro, este será inde-
nesse período se verifique o incremento mínimo de um ano inteiro nizado, observado o disposto no artigo anterior.
na média nacional única, para ambos os sexos, correspondente à Art. 228. Em caso de falecimento de servidor em serviço fora
expectativa de sobrevida da população brasileira ao nascer, pode- do local de trabalho, inclusive no exterior, as despesas de transpor-
rão ser fixadas, em números inteiros, novas idades para os fins pre- te do corpo correrão à conta de recursos da União, autarquia ou
vistos na alínea “b” do inciso VII do caput, em ato do Ministro de Es- fundação pública.
tado do Planejamento, Orçamento e Gestão, limitado o acréscimo
na comparação com as idades anteriores ao referido incremento. SEÇÃO IX
(Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015) DO AUXÍLIO-RECLUSÃO
§4º O tempo de contribuição a Regime Próprio de Previdência
Social (RPPS) ou ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS) será Art. 229. À família do servidor ativo é devido o auxílio-reclusão,
considerado na contagem das 18 (dezoito) contribuições mensais nos seguintes valores:
referidas nas alíneas “a” e “b” do inciso VII do caput.(Incluído pela I - dois terços da remuneração, quando afastado por motivo de
Lei nº 13.135, de 2015) prisão, em flagrante ou preventiva, determinada pela autoridade
§5º Na hipótese de o servidor falecido estar, na data de seu competente, enquanto perdurar a prisão;
falecimento, obrigado por determinação judicial a pagar alimentos II - metade da remuneração, durante o afastamento, em virtu-
temporários a ex-cônjuge, ex-companheiro ou ex-companheira, a de de condenação, por sentença definitiva, a pena que não deter-
pensão por morte será devida pelo prazo remanescente na data do mine a perda de cargo.
óbito, caso não incida outra hipótese de cancelamento anterior do §1º Nos casos previstos no inciso I deste artigo, o servidor terá
benefício. (Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019) direito à integralização da remuneração, desde que absolvido.
§6º O beneficiário que não atender à convocação de que trata §2º O pagamento do auxílio-reclusão cessará a partir do dia
o §1º deste artigo terá o benefício suspenso, observado o disposto imediato àquele em que o servidor for posto em liberdade, ainda
nos incisos I e II do caput do art. 95 da Lei nº 13.146, de 6 de julho que condicional.
de 2015.(Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019) §3º Ressalvado o disposto neste artigo, o auxílio-reclusão será
§7º O exercício de atividade remunerada, inclusive na condi- devido, nas mesmas condições da pensão por morte, aos depen-
ção de microempreendedor individual, não impede a concessão ou dentes do segurado recolhido à prisão.(Incluído pela Lei nº 13.135,
manutenção da cota da pensão de dependente com deficiência in- de 2015)
telectual ou mental ou com deficiência grave. (Incluído pela Lei nº
13.846, de 2019) CAPÍTULO III
§8º No ato de requerimento de benefícios previdenciários, DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE
não será exigida apresentação de termo de curatela de titular ou
de beneficiário com deficiência, observados os procedimentos a se- Art. 230. A assistência à saúde do servidor, ativo ou inativo, e
rem estabelecidos em regulamento. (Incluído pela Lei nº 13.846, de sua família compreende assistência médica, hospitalar, odonto-
de 2019) lógica, psicológica e farmacêutica, terá como diretriz básica o imple-
Art. 223. Por morte ou perda da qualidade de beneficiário, a mento de ações preventivas voltadas para a promoção da saúde e
respectiva cota reverterá para os cobeneficiários. (Redação dada será prestada pelo Sistema Único de Saúde – SUS, diretamente pelo
pela Lei nº 13.135, de 2015) órgão ou entidade ao qual estiver vinculado o servidor, ou median-
I - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015) te convênio ou contrato, ou ainda na forma de auxílio, mediante
II - (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015) ressarcimento parcial do valor despendido pelo servidor, ativo ou
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inativo, e seus dependentes ou pensionistas com planos ou seguros TÍTULO VIII


privados de assistência à saúde, na forma estabelecida em regula-
mento. (Redação dada pela Lei nº 11.302 de 2006) CAPÍTULO ÚNICO
§1º Nas hipóteses previstas nesta Lei em que seja exigida perí- DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
cia, avaliação ou inspeção médica, na ausência de médico ou junta
médica oficial, para a sua realização o órgão ou entidade celebra- Art. 236. O Dia do Servidor Público será comemorado a vinte e
rá, preferencialmente, convênio com unidades de atendimento do oito de outubro.
sistema público de saúde, entidades sem fins lucrativos declaradas Art. 237. Poderão ser instituídos, no âmbito dos Poderes Exe-
de utilidade pública, ou com o Instituto Nacional do Seguro Social - cutivo, Legislativo e Judiciário, os seguintes incentivos funcionais,
INSS. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) além daqueles já previstos nos respectivos planos de carreira:
§2º Na impossibilidade, devidamente justificada, da aplicação I - prêmios pela apresentação de idéias, inventos ou trabalhos
do disposto no parágrafo anterior, o órgão ou entidade promoverá a que favoreçam o aumento de produtividade e a redução dos custos
contratação da prestação de serviços por pessoa jurídica, que cons- operacionais;
tituirá junta médica especificamente para esses fins, indicando os II - concessão de medalhas, diplomas de honra ao mérito, con-
nomes e especialidades dos seus integrantes, com a comprovação decoração e elogio.
de suas habilitações e de que não estejam respondendo a processo Art. 238. Os prazos previstos nesta Lei serão contados em dias
disciplinar junto à entidade fiscalizadora da profissão. (Incluído pela corridos, excluindo-se o dia do começo e incluindo-se o do venci-
Lei nº 9.527, de 10.12.97) mento, ficando prorrogado, para o primeiro dia útil seguinte, o pra-
§3º Para os fins do disposto no caput deste artigo, ficam a zo vencido em dia em que não haja expediente.
União e suas entidades autárquicas e fundacionais autorizadas a: Art. 239. Por motivo de crença religiosa ou de convicção filo-
(Incluído pela Lei nº 11.302 de 2006) sófica ou política, o servidor não poderá ser privado de quaisquer
I - celebrar convênios exclusivamente para a prestação de ser- dos seus direitos, sofrer discriminação em sua vida funcional, nem
viços de assistência à saúde para os seus servidores ou empregados eximir-se do cumprimento de seus deveres.
ativos, aposentados, pensionistas, bem como para seus respectivos Art. 240. Ao servidor público civil é assegurado, nos termos da
grupos familiares definidos, com entidades de autogestão por elas Constituição Federal, o direito à livre associação sindical e os se-
patrocinadas por meio de instrumentos jurídicos efetivamente ce- guintes direitos, entre outros, dela decorrentes:
lebrados e publicados até 12 de fevereiro de 2006 e que possuam a) de ser representado pelo sindicato, inclusive como substitu-
autorização de funcionamento do órgão regulador, sendo certo to processual;
que os convênios celebrados depois dessa data somente poderão b) de inamovibilidade do dirigente sindical, até um ano após o
sê-lo na forma da regulamentação específica sobre patrocínio de final do mandato, exceto se a pedido;
autogestões, a ser publicada pelo mesmo órgão regulador, no prazo c) de descontar em folha, sem ônus para a entidade sindical a
de 180 (cento e oitenta) dias da vigência desta Lei, normas essas que for filiado, o valor das mensalidades e contribuições definidas
também aplicáveis aos convênios existentes até 12 de fevereiro de em assembléia geral da categoria.
2006; (Incluído pela Lei nº 11.302 de 2006) d) (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
II - contratar, mediante licitação, na forma da Lei no 8.666, de e) (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
21 de junho de 1993, operadoras de planos e seguros privados de Art. 241. Consideram-se da família do servidor, além do cônju-
assistência à saúde que possuam autorização de funcionamento do ge e filhos, quaisquer pessoas que vivam às suas expensas e cons-
órgão regulador; (Incluído pela Lei nº 11.302 de 2006) tem do seu assentamento individual.
III - (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.302 de 2006) Parágrafo único. Equipara-se ao cônjuge a companheira ou
§4º (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.302 de 2006) companheiro, que comprove união estável como entidade familiar.
§5º O valor do ressarcimento fica limitado ao total despendido Art. 242. Para os fins desta Lei, considera-se sede o município
pelo servidor ou pensionista civil com plano ou seguro privado de onde a repartição estiver instalada e onde o servidor tiver exercício,
assistência à saúde. (Incluído pela Lei nº 11.302 de 2006) em caráter permanente.

CAPÍTULO IV TÍTULO IX
DO CUSTEIO
Art. 231. (Revogado pela Lei nº 9.783, de 28.01.99) CAPÍTULO ÚNICO
DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS E FINAIS
TÍTULO VII
Art. 243. Ficam submetidos ao regime jurídico instituído por
CAPÍTULO ÚNICO esta Lei, na qualidade de servidores públicos, os servidores dos Po-
DA CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA DE EXCEPCIONAL INTE- deres da União, dos ex-Territórios, das autarquias, inclusive as em
RESSE PÚBLICO regime especial, e das fundações públicas, regidos pela Lei nº 1.711,
de 28 de outubro de 1952 - Estatuto dos Funcionários Públicos Civis
Art. 232.(Revogado pela Lei nº 8.745, de 9.12.93) da União, ou pela Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo
Art. 233.(Revogado pela Lei nº 8.745, de 9.12.93) Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, exceto os contratados
Art. 234.(Revogado pela Lei nº 8.745, de 9.12.93) por prazo determinado, cujos contratos não poderão ser prorroga-
Art. 235.(Revogado pela Lei nº 8.745, de 9.12.93) dos após o vencimento do prazo de prorrogação.

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NOÇÕES DE DIREITO

§1º Os empregos ocupados pelos servidores incluídos no regi- Art. 253. Ficam revogadas a Lei nº 1.711, de 28 de outubro de
me instituído por esta Lei ficam transformados em cargos, na data 1952, e respectiva legislação complementar, bem como as demais
de sua publicação. disposições em contrário.
§2º As funções de confiança exercidas por pessoas não inte- Brasília, 11 de dezembro de 1990; 169º da Independência e
grantes de tabela permanente do órgão ou entidade onde têm 102º da República.
exercício ficam transformadas em cargos em comissão, e mantidas
enquanto não for implantado o plano de cargos dos órgãos ou enti-
dades na forma da lei. PODERES ADMINISTRATIVOS: PODER HIERÁRQUICO; PO-
§3º As Funções de Assessoramento Superior - FAS, exercidas DER DISCIPLINAR; PODER REGULAMENTAR; PODER DE PO-
por servidor integrante de quadro ou tabela de pessoal, ficam ex- LÍCIA; USO E ABUSO DO PODER
tintas na data da vigência desta Lei.
§4º (VETADO).
§5º O regime jurídico desta Lei é extensivo aos serventuários Poder Hierárquico
da Justiça, remunerados com recursos da União, no que couber. Trata-se o poder hierárquico, de poder conferido à autoridade
§6º Os empregos dos servidores estrangeiros com estabilidade administrativa para distribuir e dirimir funções em escala de
no serviço público, enquanto não adquirirem a nacionalidade bra- seus órgãos, vindo a estabelecer uma relação de coordenação
sileira, passarão a integrar tabela em extinção, do respectivo órgão e subordinação entre os servidores que estiverem sob a sua
ou entidade, sem prejuízo dos direitos inerentes aos planos de car- hierarquia.
reira aos quais se encontrem vinculados os empregos. A estrutura de organização da Administração Pública é baseada
§7º Os servidores públicos de que trata o caput deste artigo, em dois aspectos fundamentais, sendo eles: a distribuição de
não amparados pelo art. 19 do Ato das Disposições Constitucionais competências e a hierarquia.
Transitórias, poderão, no interesse da Administração e conforme Em decorrência da amplitude das competências e das
critérios estabelecidos em regulamento, ser exonerados median- responsabilidades da Administração, jamais seria possível que toda
te indenização de um mês de remuneração por ano de efetivo a função administrativa fosse desenvolvida por um único órgão ou
exercício no serviço público federal.(Incluído pela Lei nº 9.527, de agente público. Assim sendo, é preciso que haja uma distribuição
10.12.97) dessas competências e atribuições entre os diversos órgãos e
§8º Para fins de incidência do imposto de renda na fonte e na agentes integrantes da Administração Pública.
declaração de rendimentos, serão considerados como indenizações Entretanto, para que essa divisão de tarefas aconteça de
isentas os pagamentos efetuados a título de indenização prevista maneira harmoniosa, os órgãos e agentes públicos são organizados
no parágrafo anterior. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) em graus de hierarquia e poder, de maneira que o agente que
§9º Os cargos vagos em decorrência da aplicação do disposto se encontra em plano superior, detenha o poder legal de emitir
no §7º poderão ser extintos pelo Poder Executivo quando conside- ordens e fiscalizar a atuação dos seus subordinados. Essa relação
rados desnecessários. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) de subordinação e hierarquia, por sua vez, causa algumas sequelas,
Art. 244. Os adicionais por tempo de serviço, já concedidos aos como o dever de obediência dos subordinados, a possibilidade de
servidores abrangidos por esta Lei, ficam transformados em anuê- o imediato superior avocar atribuições, bem como a atribuição de
nio. rever os atos dos agentes subordinados.
Art. 245. A licença especial disciplinada pelo art. 116 da Lei nº Denota-se, porém, que o dever de obediência do subordinado
1.711, de 1952, ou por outro diploma legal, fica transformada em não o obriga a cumprir as ordens manifestamente ilegais, advindas
licença-prêmio por assiduidade, na forma prevista nos arts. 87 a 90. de seu superior hierárquico. Ademais, nos ditames do art. 116,
Art. 246. (VETADO). XII, da Lei 8.112/1990, o subordinado tem a obrigação funcional
Art. 247. Para efeito do disposto no Título VI desta Lei, haverá de representar contra o seu superior caso este venha a agir com
ajuste de contas com a Previdência Social, correspondente ao perí- ilegalidade, omissão ou abuso de poder.
odo de contribuição por parte dos servidores celetistas abrangidos Registra-se que a delegação de atribuições é uma das
pelo art. 243. (Redação dada pela Lei nº 8.162, de 8.1.91) manifestações do poder hierárquico que consiste no ato de conferir
Art. 248. As pensões estatutárias, concedidas até a vigência a outro servidor atribuições que de âmbito inicial, faziam parte
desta Lei, passam a ser mantidas pelo órgão ou entidade de origem dos atos de competência da autoridade delegante. O ilustre Hely
do servidor. Lopes Meirelles aduz que a delegação de atribuições se submete a
Art. 249. Até a edição da lei prevista no §1º do art. 231, os ser- algumas regras, sendo elas:
vidores abrangidos por esta Lei contribuirão na forma e nos per- A) A impossibilidade de delegação de atribuições de um
centuais atualmente estabelecidos para o servidor civil da União Poder a outro, exceto quando devidamente autorizado pelo texto
conforme regulamento próprio. da Constituição Federal. Exemplo: autorização por lei delegada,
Art. 250. O servidor que já tiver satisfeito ou vier a satisfazer, que ocorre quando a Constituição Federal autoriza o Legislativo a
dentro de 1 (um) ano, as condições necessárias para a aposentado- delegar ao Chefe do Executivo a edição de lei.
ria nos termos do inciso II do art. 184 do antigo Estatuto dos Fun- B) É impossível a delegação de atos de natureza política.
cionários Públicos Civis da União, Lei n° 1.711, de 28 de outubro de Exemplos: o veto e a sanção de lei;
1952, aposentar-se-á com a vantagem prevista naquele dispositivo. C) As atribuições que a lei fixar como exclusivas de determinada
(Mantido pelo Congresso Nacional) autoridade, não podem ser delegadas;
Art. 251. (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) D) O subordinado não pode recusar a delegação;
Art. 252. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, com E) As atribuições não podem ser subdelegadas sem a devida
efeitos financeiros a partir do primeiro dia do mês subseqüente. autorização do delegante.
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NOÇÕES DE DIREITO

Sem prejuízo do entendimento doutrinário a respeito da – Observação importante: “revisão” do ato administrativo
delegação de competência, a Lei Federal 9.784/1999, que estabelece não se confunde com “reconsideração” desse mesmo ato. A
os ditames do processo administrativo federal, estabeleceu as revisão de ato é condizente à avaliação por parte da autoridade
seguintes regras relacionadas a esse assunto: superior em relação à manutenção ou não de ato que foi praticado
– A competência não pode ser renunciada, porém, pode ser por seu subordinado, no qual o fundamento é o exercício do
delegada se não houver impedimento legal; poder hierárquico. Já na reconsideração, a apreciação relativa
– A delegação de competência é sempre exercida de forma à manutenção do ato administrativo é realizada pela própria
parcial, tendo em vista que um órgão administrativo ou seu titular autoridade que confeccionou o ato, não existindo, desta forma,
não detém o poder de delegar todas as suas atribuições; manifestação do poder hierárquico.
– A título de delegação vertical, depreende-se que esta pode Ressalte-se, também, que a relação de hierarquia é inerente
ser feita para órgãos ou agentes subordinados hierarquicamente, e, à função administrativa e não há hierarquia entre integrantes
a nível de delegação horizontal, também pode ser feita para órgãos do Poder Legislativo e do Poder Judiciário no desempenho de
e agentes não subordinados à hierarquia. suas funções típicas constitucionais. No entanto, os membros
dos Poderes Judiciário e Legislativo também estão submetidos à
Não podem ser objeto de delegação: relação de hierarquia no que condiz ao exercício de funções atípicas
– A edição de atos de caráter normativo; ou administrativas. Exemplo: um juiz de Primeira Instância, não é
– A decisão de recursos administrativos; legalmente obrigado a adotar o posicionamento do Presidente
– As matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade; do Tribunal no julgamento de um processo de sua competência,
porém, encontra-se obrigado, por ditames da lei a cumprir ordens
Ressalta-se com afinco que o ato de delegação e a sua daquela autoridade quando versarem a respeito do horário de
revogação deverão ser publicados no meio oficial, nos trâmites da funcionamento dos serviços administrativos da sua Vara.
lei. Ademais, deverá o ato de delegação especificar as matérias e os Por fim, é de suma importância destacar que a subordinação não
poderes transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração se confunde com a vinculação administrativa, pois, a subordinação
e os objetivos da delegação e também o recurso devidamente decorre do poder hierárquico e existe apenas no âmbito da mesma
cabível à matéria que poderá constar a ressalva de exercício da pessoa jurídica. Já a vinculação, resulta do poder de supervisão
atribuição delegada. ou do poder de tutela que a Administração Direta detém sobre as
O ato de delegação poderá ser revogado a qualquer tempo entidades da Administração Indireta.
pela autoridade delegante como forma de transferência não Esquematizando, temos:
definitiva de atribuições, devendo as decisões adotadas por
delegação, mencionar de forma clara esta qualidade, que deverá
ser considerada como editada pelo delegado.
No condizente à avocação, afirma-se que se trata de
procedimento contrário ao da delegação de competência, vindo
a ocorrer quando o superior assume ou passa a desenvolver as
funções que eram de seu subordinado. De acordo com a doutrina,
a norma geral, é a possibilidade de avocação pelo superior
hierárquico de qualquer competência do subordinado, ressaltando-
se que nesses casos, a competência a ser avocada não poderá ser
privativa do órgão subordinado.
Dispõe a Lei 9.784/1999 que a avocação das competências
do órgão inferior apenas será permitida em caráter excepcional e Poder conferido à autoridade
temporário com a prerrogativa de que existam motivos relevantes e administrativa para distribuir e dirimir funções
impreterivelmente justificados. PODER em escala de seus órgãos, que estabelece
O superior também pode rever os atos dos seus subordinados, HIERÁRQUICO uma relação de coordenação e subordinação
como consequência do poder hierárquico com o fito de mantê-los, entre os servidores que estiverem sob a sua
convalidá-los, ou ainda, desfazê-los, de ofício ou sob provocação hierarquia.
do interessado. Convalidar significa suprir o vício de um ato
administrativo por intermédio de um segundo ato, tornando válido A edição de atos de caráter
o ato viciado. No tocante ao desfazimento do ato administrativo, normativo
infere-se que pode ocorrer de duas formas: Não podem ser A decisão de recursos
a) Por revogação: no momento em que a manutenção do ato objeto de delegação administrativos
válido se tornar inconveniente ou inoportuna;
b) Por anulação: quando o ato apresentar vícios. As matérias de competência
exclusiva do órgão ou autoridade
No entanto, a utilização do poder hierárquico nem sempre Por revogação: quando a
poderá possibilitar a invalidação feita pela autoridade superior dos manutenção do ato válido se tornar
atos praticados por seus subordinados. Nos ditames doutrinários, a Desfazimento do inconveniente ou inoportuna
revisão hierárquica somente é possível enquanto o ato não tiver se ato administrativo
tornado definitivo para a Administração Pública e, ainda, se houver Por anulação: quando o ator
sido criado o direito subjetivo para o particular. apresentar vícios
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NOÇÕES DE DIREITO

Poder Disciplinar legalmente cabíveis, tendo em vista que no direito administrativo


O poder disciplinar confere à Administração Pública o poder não é predominável o princípio da pena específica que se refere à
de autorizar e apurar infrações, aplicando as devidas penalidades necessidade de prévia definição em lei da infração funcional e da
aos servidores público, bem como às demais pessoas sujeitas à exata sanção cabível.
disciplina administrativa em decorrência de determinado vínculo Em resumo, temos:
específico. Assim, somente está sujeito ao poder disciplinar o
agente que possuir vínculo certo e preciso com a Administração, Poder Disciplinar
não importando que esse vínculo seja de natureza funcional ou – Apura infrações e aplica penalidades;
contratual. – Para que o indivíduo seja submetido ao poder disciplinar, é
Existindo vínculo funcional, infere-se que o poder disciplinar preciso que possua vínculo funcional com a administração;
é decorrente do poder hierárquico. Em razão da existência de – A aplicação de sanção disciplinar deve ser acompanhada de
distribuição de escala dos órgãos e servidores pertencentes a processo administrativo no qual sejam assegurados o direito ao
uma mesma pessoa jurídica, competirá ao superior hierárquico contraditório e à ampla defesa, devendo haver motivação para que
determinar o cumprimento de ordens e exigir daquele que lhe for seja aplicada a penalidade disciplinar cabível;
subordinado, o cumprimento destas. Não atendendo o subordinado – Pode ter caráter discricionário em relação à escolha entre
às determinações do seu superior ou descumprindo o dever sanções legalmente cabíveis e respectiva gradação.
funcional, o seu chefe poderá e deverá aplicar as sanções dispostas
no estatuto funcional. Poder regulamentar
Conforme dito, o poder disciplinar também detém o poder Com supedâneo no art. 84, IV, da Constituição Federal, consiste
de alcançar particulares que mantenham vínculo contratual com o poder regulamentar na competência atribuída aos Chefes do
o Poder Público, a exemplo daqueles contratados para prestar Poder Executivo para que venham a editar normas gerais e abstratas
serviços à Administração Pública. Nesse sentido, como não existe destinadas a detalhar as leis, possibilitando o seu fiel regulamento
relação de hierarquia entre o particular e a Administração, o e eficaz execução.
pressuposto para a aplicação de sanções de forma direta não é o A doutrina não é unânime em relação ao uso da expressão
poder hierárquico, mas sim o princípio da supremacia do interesse poder regulamentar. Isso acontece, por que há autores que,
público sobre o particular. assemelhando-se ao conceito anteriormente proposto, usam
Denota-se que o poder disciplinar é o poder de investigar e punir esta expressão somente para se referirem à faculdade de editar
crimes e contravenções penais não se referem ao mesmo instituto regulamentos conferida aos Chefes do Executivo. Outros autores,
e não se confundem. Ao passo que o primeiro é aplicado somente a usam com conceito mais amplo, acoplando também os atos
àqueles que possuem vínculo específico com a Administração de gerais e abstratos que são emitidos por outras autoridades, tais
forma funcional ou contratual, o segundo é exercido somente sobre como: resoluções, portarias, regimentos, deliberações e instruções
qualquer indivíduo que viole as leis penais vigentes. normativas. Há ainda uma corrente que entende essas providências
Da mesma forma, o exercício do poder de polícia também não gerais e abstratas editadas sob os parâmetros e exigências da
se confunde com as penalidades decorrentes do poder disciplinar, lei, com o fulcro de possibilitar-lhe o cumprimento em forma de
que, embora ambos possuam natureza administrativa, estas deverão manifestações do poder normativo.
ser aplicadas a qualquer pessoa que esteja causando transtornos ou No entanto, em que pese a mencionada controvérsia, prevalece
pondo em risco a coletividade, pois, no poder de polícia, denota- como estudo e aplicação geral adotada pela doutrina clássica, que
se que o vínculo entre a Administração Pública e o administrado utiliza a expressão “poder regulamentar” para se referir somente
é de âmbito geral, ao passo que nas penalidades decorrentes do à competência exclusiva dos Chefes do Poder Executivo para
poder disciplinar, somente são atingidos os que possuem relação editar regulamentos, mantendo, por sua vez, a expressão “poder
funcional ou contratual com a Administração. normativo” para os demais atos normativos emitidos por outras
Em suma, temos: espécies de autoridades da Administração Direta e Indireta, como
1º - Sanção Disciplinar: Possui natureza administrativa; advém por exemplo, de dirigentes de agências reguladoras e de Ministros.
do poder disciplinar; é aplicável sobre as pessoas que possuem Registra-se que os regulamentos são publicados através de
vínculo específico com a Administração Pública. decreto, que é a maneira pela qual se revestem os atos editados
2º - Sanção de Polícia: Possui natureza administrativa; advém pelo chefe do Poder Executivo. O conteúdo de um decreto pode ser
do poder de polícia; aplica-se sobre as pessoas que desobedeçam por meio de conteúdo ou de determinado regulamento ou, ainda,
às regulamentações de polícia administrativa. a pela adoção de providências distintas. A título de exemplo desta
3º - Sanção Penal: Possui natureza penal; decorre do poder última situação, pode-se citar um decreto que dá a designação de
geral de persecução penal; aplica-se sobre as pessoas que cometem determinado nome a um prédio público.
crimes ou contravenções penais. Em razão de os regulamentos serem editados sob forma
condizente de decreto, é comum serem chamados de decretos
Por fim, registre-se que é comum a doutrina afirmar que o poder regulamentares, decretos de execução ou regulamentos de
disciplinar é exercido de forma discricionária. Tal afirmação deve execução.
ser analisada com cuidado no que se refere ao seu alcance como Podemos classificar os regulamentos em três espécies
um todo, pois, se ocorrer de o agente sob disciplina administrativa diferentes:
cometer infração, a única opção que restará ao gestor será aplicar á A) Regulamento executivo;
situação a penalidade devidamente prevista na lei, pois, a aplicação B) Regulamento independente ou autônomo;
da pena é ato vinculado. Quando existente, a discricionariedade c) Regulamento autorizado.
refere-se ao grau da penalidade ou à aplicação correta das sanções
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NOÇÕES DE DIREITO

Vejamos a composição de cada em deles: Com o fulcro de regulamentar a matéria, foi editado o Decreto
8.282/2014, que possui como atributo, detalhar os requisitos
– Regulamento Executivo e estabelecer os devidos critérios para promoção dos Policiais
Existem leis que, ao serem editadas, já reúnem as condições Rodoviários Federais, dentre os quais se encontra a obtenção de
suficientes para sua execução, enquanto outras pugnam por “resultado satisfatório na avaliação de desempenho no interstício
um regulamento para serem executadas. Entretanto, em tese, considerado para a progressão”, disposta no art. 4.º, II, “b”. Da
qualquer lei é passível de ser regulamentada. Diga-se de passagem, mesma forma, a expressão “resultado satisfatório” também é
até mesmo aquelas cuja execução não dependa de regulamento. eivada de subjetividade, motivo pelo qual o § 3.º do mesmo
Para isso, suficiente é que o Chefe do Poder Executivo entenda dispositivo regulamentar designou que para o efeito de promoção,
conveniente detalhar a sua execução. seria considerado satisfatório o alcance de oitenta por cento das
O ato de regulamento executivo é norma geral e abstrata. metas estipuladas em ato do dirigente máximo do órgão.
Sendo geral pelo fato de não possuir destinatários determinados Assim sendo, verificamos que a discricionariedade do
ou determináveis, vindo a atingir quaisquer pessoas que estejam dirigente máximo da PRF continua a existir, e o exemplo disso, é
nas situações reguladas; é abstrata pelo fato de dispor sobre o estabelecimento das metas. Entretanto, ela foi reduzida no
hipóteses que, se e no momento em que forem verificadas no condizente à avaliação da suficiência de desempenho dos servidores
mundo concreto, passarão a gerar as consequências abstratamente para o efeito de promoção. O que nos leva a afirmar ainda que,
previstas. Desta forma, podemos afirmar que o regulamento possui diante da regulamentação, erigiu a existência de vinculação da
conteúdo material de lei, porém, com ela não se confunde sob o autoridade administrativa referente ao percentual considerado
aspecto formal. satisfatório para o efeito de promoção dos servidores, critério que
O ato de regulamento executivo é constituído por importantes inclusive já foi uniformizado.
funções. São elas: Embora exista uma enorme importância em termos de
praticidade, denota-se que os regulamentos de execução gozam
1.º) Disciplinar a discricionariedade administrativa de hierarquia infralegal e não detém o poder de inovar na ordem
Ocorre, tendo em vista a existência de discricionariedade jurídica, criando direitos ou obrigações, nem contrariando,
quando a lei confere ao agente público determinada quantidade de ampliando ou restringindo as disposições da lei regulamentada.
liberdade para o exercício da função administrativa. Tal quantidade São, em resumo, atos normativos considerados secundários que
e margem de liberdade termina sendo reduzida quando da editação são editados pelo Chefe do Executivo com o fulcro de detalhar a
de um regulamento executivo que estipula regras de observância execução dos atos normativos primários elaborados pelas leis.
obrigatória, vindo a determinar a maneira como os agentes devem Dando enfoque à subordinação dos regulamentos executivos
proceder no fiel cumprimento da lei. à lei, a Constituição Federal prevê a possibilidade de o Congresso
Ou seja, ao disciplinar por intermédio de regulamento Nacional sustá-los, caso exorbite do poder regulamentar nos
o exercício da discricionariedade administrativa, o Chefe do parâmetros do art. 49, inc. V da CF/88. É o que a doutrina chama
Poder Executivo, termina por voluntariamente limitá-la, vindo a de “veto legislativo”, dentro de uma analogia com o veto que o
estabelecer autêntica autovinculação, diminuindo, desta forma, o Chefe do Executivo poderá apor aos projetos de lei aprovados pelo
espaço para a discussão de casos e fatos sem importância para a Parlamento.
administração pública. Pondera-se que a aproximação terminológica possui limitações,
uma vez que o veto propriamente dito do executivo, pode ocorrer
2.º) Uniformizar os critérios de aplicação da lei em função de o Presidente da República entender que o projeto
É interpretada no contexto da primeira, posto que o de lei é incompatível com a Constituição Federal, que configuraria
regulamento ao disciplinar a forma com que a lei deve ser fielmente o veto jurídico, ou, ainda, contrário ao interesse público, que seria
cumprida, estipula os critérios a serem adotados nessa atividade, o veto político. Por sua vez, o veto legislativo só pode ocorrer
fato que impede variações significativas nos casos sujeitos à lei por exorbitância do poder regulamentar, sendo assim, sempre
aplicada. Exemplo: podemos citar o desenvolvimento dos servidores jurídico. Melhor dizendo, não há como imaginar que o Parlamento
na carreira de Policial Rodoviário Federal. venha a sustar um decreto regulamentar por entendê-lo contrário
Criadora da carreira de Policial Rodoviário Federal, a Lei ao interesse público, uma vez que tal norma somente deve
9.654/1998 estabeleceu suas classes e determinou que a investidura detalhar como a lei ao ser elaborada pelo próprio Legislativo, será
no cargo de Policial Rodoviário Federal teria que se dar no padrão indubitavelmente cumprida. Destarte, se o Parlamento entende
único da classe de Agente, na qual o titular deverá permanecer por que o decreto editado dentro do poder regulamentar é contrário
pelo menos três anos ou até obter o direito à promoção à classe ao interesse público, deverá, por sua vez, revogar a própria lei que
subsequente, nos termos do art. 3.º, § 2.º. lhe dá o sustento.
A antiguidade e o merecimento são os principais requisitos Ademais, lembremos que os regulamentos se submetem ao
para que os servidores públicos sejam promovidos. No entanto, controle de legalidade, de tal forma que a nulidade decorrente da
o vocábulo “merecimento” é carregado de subjetivismo, fato que exorbitância do poder regulamentar também está passível de ser
abriria a possibilidade de que os responsáveis pela promoção dos reconhecida pelo Poder Judiciário ou pelo próprio Chefe do Poder
servidores, alegando discricionariedade, viessem a agir com base Executivo no exercício da autotutela.
em critérios obscuros e casuístas, vindo a promover perseguições
e privilégios. E é por esse motivo que existe a necessidade de – Regulamento independente ou autônomo
regulamentação dos requisitos de promoção, como demonstra o Ressalte-se que esta segunda espécie de regulamento, também
próprio estatuto dos servidores públicos civis federais em seu art. adota a forma de decreto. Diversamente do regulamento executivo,
10, parágrafo único da Lei 8.112/1990. esse regulamento não se presta a detalhar uma lei, detendo o
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NOÇÕES DE DIREITO

poder de inovar na ordem jurídica, da mesma maneira que uma porque, como adverte Carlos Velloso: “é uma questão de opção.
lei. O regulamento autônomo (decreto autônomo) é considerado Hans Kelsen, no debate com Carl Schmitt, em 1929, deixou isso claro.
ato normativo primário porque retira sua força exclusivamente e E o Supremo Tribunal fez essa opção também no controle difuso,
diretamente da Constituição. quando estabeleceu que não se conhece de inconstitucionalidade
A Carta Magna de 1988, em sua redação original, deletou a indireta. Não há falar-se em inconstitucionalidade indireta reflexa. É
figura do decreto autônomo no direito brasileiro. No entanto, com uma opção da Corte para que não se realize o velho adágio: ‘muita
a Emenda Constitucional 32/2001, a possibilidade foi novamente jurisdição, resulta em nenhuma jurisdição’” (ADI 2.387-0/DF, Rel.
inserida na alínea a do inciso VI do art. 84 da CFB/88. Min. Marco Aurélio).
Mesmo havendo controvérsias, a posição dominante na doutrina Em suma, conforme dito anteriormente, convém relembrar
é no sentido de que a única hipótese de regulamento autônomo que que o art. 13, I, da Lei 9.784/1999 proíbe de forma expressa a
o direito brasileiro permite é a contida no mencionado dispositivo delegação de atos de caráter normativo. No entanto, com exceção
constitucional, que estabelece a competência do Presidente da a essa regra, o decreto autônomo, diversamente do que acontece
República para dispor, mediante decreto, sobre organização e com o decreto regulamentar que é indelegável, pode vir a ser
funcionamento da administração federal, isso, quando não implicar objeto de delegação aos Ministros de Estado, ao Procurador Geral
em aumento de despesa nem mesmo criação ou extinção de órgãos da República e ao Advogado
públicos. Geral da União, conforme previsão contida no parágrafo único
Por oportuno, registarmos que a autorização que está prevista do art. 84 da Constituição Federal.
na alínea b do mesmo dispositivo constitucional, para que o
Presidente da República, mediante decreto, possa extinguir cargos – Regulamento autorizado ou delegado
públicos vagos, não se trata de caso de regulamento autônomo. Denota-se que além das espécies anteriores de regulamento
Cuida-se de uma xucra hipótese de abandono do princípio do apresentadas, a doutrina administrativista e jurista também
paralelismo das formas. Isso por que em decorrência do princípio menciona a respeito da existência do regulamento autorizado ou
da hierarquia das normas, se um instituto jurídico for criado por delegado.
intermédio de determinada espécie normativa, sua extinção apenas De acordo com a doutrina tradicional, o legislador ordinário
poderá ser veiculada pelo mesmo tipo de ato, ou, ainda, por um de não poderá, fora dos casos previstos na Constituição, delegar de
superior hierarquia. forma integral a função de legislar que é típica do Poder Legislativo,
Nesse sentido, sendo os cargos públicos criados por lei, nos aos órgãos administrativos.
parâmetros do art. 48, inc. X da CFB/88, apenas a lei poderia Entretanto, em decorrência da complexidade das atividades
extingui-los pelo sistema do paralelismo das formas. Entretanto, técnicas da Administração, contemporaneamente, embora haja
deixando de lado essa premissa, o legislador constituinte derivado controvérsias em relação ao aspecto da constitucionalidade, a
permitiu que, estando vago o cargo público, a extinção aconteça doutrina maior tem aceitado que as competências para regular
por decreto. Poderíamos até dizer que foi autorizado um decreto determinadas matérias venham a ser transferidas pelo próprio
autônomo, mas nunca um regulamento autônomo, isso posto pelo legislador para órgãos administrativos técnicos. Cuida-se do
fato de tal decreto não gozar de generalidade e abstração, não fenômeno da deslegalização, por meio do qual a normatização sai
regulamentando determinada matéria. Cuida-se, nesse sentido, de da esfera da lei para a esfera do regulamento autorizado.
um ato de efeitos concretos, amplamente desprovido de natureza No entanto, o regulamento autorizado não se encontra limitado
regulamentar. somente a explicar, detalhar ou complementar a lei. Na verdade, ele
De forma diversa do decreto regulamentar ou regulamento busca a inovação do ordenamento jurídico ao criar normas técnicas
executivo, que é editado para minuciar a fiel execução da lei, não contidas na lei, ato que realiza em decorrência de expressa
destaca-se que o decreto autônomo ou regulamento independente, determinação legal.
encontra-se sujeito ao controle de constitucionalidade. O que Depreende-se que o regulamento autorizado não pode ser
justifica a mencionada diferenciação, é o fato de o conflito entre um confundido com o regulamento autônomo. Isso ocorre, porque,
decreto regulamentar e a lei que lhe atende de fundamento vir a ao passo que este último retira sua força jurídica da Constituição,
configurar ilegalidade, não cabendo o argumento de que o decreto aquele é amplamente dependente de expressa autorização contida
é inconstitucional porque exorbitou do poder regulamentar. na lei. Além disso, também se diverge do decreto de execução
Assim, havendo agressão direta à Constituição, a lei, com certeza porque, embora seja um ato normativo secundário que retira sua
pode ser considerada inconstitucional, mas não o decreto que a força jurídica da lei, detém o poder de inovar a ordem jurídica, ao
regulamenta. Agora, em se tratando do decreto autônomo, infere- contrário do que ocorre com este último no qual sua destinação é
se que este é norma primária, vindo a fundamentar-se no próprio apenas a de detalhar a lei para que seja fielmente executada.
texto constitucional, de forma a ser possível uma agressão direta Nos moldes da jurisprudência, não é admitida a edição de
à Constituição Federal de 1988, legitimando desta maneira, a regulamento autorizado para matéria reservada à lei, um exemplo
instauração de processo de controle de constitucionalidade. Assim disso é a criação de tributos ou da criação de tipos penais, tendo
sendo, podemos citar a lição do Supremo Tribunal Federal: em vista que afrontaria o princípio da separação dos Poderes, pelo
Com efeito, o que é necessário demonstrar, é que o decreto do fato de estar o Executivo substituindo a função do Poder Legislativo.
Chefe do Executivo advém de competência direta da Constituição, Entretanto, mesmo nos casos de inexistência de expressa
ou que retire seu fundamento da Carta Magna. Nessa sentido, caso determinação constitucional estabelecendo reserva legal, tem sido
o regulamento não se amolde ao figurino constitucional, caberá, por admitida a utilização de regulamentos autorizados, desde que a lei
conseguinte, análise de constitucionalidade pelo Supremo tribunal venha a os autorizar e estabeleça as condições, bem como os limites
Federal. Se assim não for, será apenas vício de inconstitucionalidade da matéria a ser regulamentada. É nesse sentido que eles têm sido
reflexa, afastando desta forma, o controle concentrado em ADI
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

adotados com frequência para a fixação de normas técnicas, como Acontece que em havendo eventuais atos de polícia que
por exemplo, daquelas condições determinadas pelas agências estejam eivados de vícios de legalidade ou que se demonstrem
reguladoras. desproporcionais devem ser, por conseguinte, anulados pelo
Poder Judiciário por meio do controle judicial, ou, pela própria
– Regulamentos jurídicos e regulamentos administrativos administração no exercício da autotutela.
A ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro, afirma que é possível
fazer a distinção entre os regulamentos jurídicos ou normativos e – Prescrição
os regulamentos administrativos ou de organização. Determina a Lei 9.873/1999 que na Administração Pública
Afirma-se que os regulamentos jurídicos ou normativos, criam Federal, direta e indireta, são prescritíveis em cinco anos a ação
regras ou normas para o exterior da Administração Pública, que punitiva para apuração da infração e a aplicação da sanção de
passam a vincular todos os cidadãos de forma geral, como acontece polícia, desde que contados da data da prática do ato ou, em se
com as normas inseridas no poder de polícia. No condizente aos tratando de infração de forma permanente ou continuada, do dia
regulamentos administrativos ou de organização, denota-se que em que tiver cessado (art. 1.º). Entretanto, se o fato objeto da
estes estabelecem normas sobre a organização administrativa ação punitiva da Administração também for considerado crime, a
ou que se relacionam aos particulares que possuem um vínculo prescrição deverá se reger pelo prazo previsto na lei penal em seu
específico com o Estado, como por exemplo, os concessionários de art. 1.º, § 2.º.
serviços públicos ou que possuem um contrato com a Administração.
De acordo com a ilustre professora, outra nota que merece Ademais, a Lei determina que prescreve em cinco anos a ação
destaque em relação à distinção entre os mencionados institutos, de execução da administração pública federal relativa a crédito não
é a de que os regulamentos jurídicos, pelo fato de se referirem à tributário advindo da aplicação de multa por infração à legislação
liberdade e aos direitos dos particulares sem uma relação específica em vigor, desde que devidamente contados da constituição
com a Administração, são, por sua vez, elaborados com menor grau definitiva do crédito, nos termos da Lei 9.873/1999, art. 1.º-A, com
de discricionariedade em relação aos regulamentos administrativos. sua redação incluída pela Lei 11.941/2009.
Esquematicamente, temos: Denota-se que a mencionada norma prevê, ainda, a possibilidade
de prescrição intercorrente, ou seja, aquela que ocorre no curso
Regulamentos jurídicos ou do processo, quando o procedimento administrativo vir a ficar
normativos paralisado por mais de três anos, desde que pendente de despacho
Espécies de ou julgamento, tendo em vista que os autos serão arquivados de
regulamento quanto aos Regulamentos ofício ou mediante requerimento da parte interessada, sem que
destinatários administrativos ou de haja prejuízo da apuração da responsabilidade funcional decorrente
organização da paralisação, se for o caso, nos parâmetros do art. 1.º, § 1.º.
Vale a pena mencionar com destaque que a prescrição da ação
Poder de Polícia punitiva, no caso das sanções de polícia, se interrompe no decurso
O poder de polícia é a legítima faculdade conferida ao Estado das seguintes hipóteses:
para estabelecer regras restritivas e condicionadoras do exercício de A) Notificação ou citação do indiciado ou acusado, inclusive por
direitos e garantias individuais, tendo sempre em vista o interesse meio de edital;
público. B) ocorrer qualquer ato inequívoco que importe apuração do
fato; pela decisão condenatória recorrível;
– Limites C)Por qualquer ato inequívoco que importe em manifestação
No exercício do poder de polícia, os atos praticados, assim expressa de tentativa de solução conciliatória no âmbito interno da
como todo ato administrativo, mesmo sendo discricionário, está Administração Pública Federal.
eivado de limitações legais em relação à competência, à forma, aos
fins, aos motivos ou ao objeto. Registramos que a Lei em estudo, prevê a possibilidade de
Ressalta-se de antemão com ênfase, que para que o ato de em determinadas situações específicas, quando o interessado
polícia seja considerado legítimo, deve respeitar uma relação interromper a prática ou sanar a irregularidade, que haja a
de proporcionalidade existente entre os meios e os fins. Assim suspensão do prazo prescricional para aplicação das sanções de
sendo, a medida de polícia não poderá ir além do necessário com polícia, nos parâmetros do art. 3.º.
o fito de atingir a finalidade pública a que se destina. Imaginemos Por fim, denota-se que as determinações contidas na Lei
por exemplo, a hipótese de um estabelecimento comercial que 9.873/1999 não se aplicam às infrações de natureza funcional e aos
somente possuía licença do poder público para atuar como revenda processos e procedimentos de natureza tributária, nos termos do
de roupas, mas que, além dessa atividade, funcionava como atelier art. 5º.
de costura. Caso os fiscais competentes, na constatação do fato,
viessem a interditar todo o estabelecimento, pondera-se que tal – Atributos
medida seria desproporcional, tendo em vista que, para por fim Segundo a maior parte da doutrina, são atributos do poder
à irregularidade, seria suficiente somente interditar a parte da de polícia: a discricionariedade, a autoexecutoriedade e a
revenda de roupas. coercibilidade. Entretanto, vale explicitar que nem todas essas
características estão presentes de forma simultânea em todos os
atos de polícia.

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NOÇÕES DE DIREITO

Vejamos detalhadamente a definição e atribuição de cada força pública. Imaginemos como exemplo, um depósito antigo de
atributo: carros que esteja ameaçado de desabar. Nessa situação específica,
a Administração pode ordenar que o proprietário promova a
— Discricionariedade sua demolição (exigibilidade). E não sendo a ordem cumprida, a
Consiste na liberdade de escolha da autoridade pública em própria Administração possui o poder de mandar seus servidores
relação à conveniência e oportunidade do exercício do poder de demolirem o imóvel (executoriedade).
polícia. Entretanto, mesmo que a discricionariedade dos atos de Ainda, pelos ensinamentos da ilustre professora, ao passo que
polícia seja a regra, em determinadas situações o exercício do a exigibilidade se encontra relacionada com a aplicação de meios
poder de polícia é vinculado e por isso, não deixa margem para que indiretos de coação, como a aplicação de multa ou a impossibilidade
a autoridade responsável possa executar qualquer tipo de opção. de licenciamento de veículo enquanto não forem pagas as multas
Como exemplo do mencionado no retro parágrafo, de trânsito, a executoriedade irá se consubstanciar no uso de meios
comparemos os atos de concessão de alvará de licença e de diretos de coação, como por exemplo dissolução de reunião, da
autorização, respectivamente. Em se tratando do caso do alvará apreensão de mercadorias, da interdição de estabelecimento e da
de licença, depreende-se que o ato é vinculado, significando que demolição de prédio.
a licença não poderá ser negada quando o requerente estiver Adverte-se, por fim, que a exigibilidade se encontra presente
preenchendo os requisitos legais para sua obtenção. Diga-se de em todas as medidas de polícia, ao contrário da executoriedade,
passagem, que isso ocorre com a licença para dirigir, para construir que apenas se apresenta nas hipóteses previstas por meio de lei ou
bem como para exercer certas profissões, como a de enfermagem, em situações de urgência.
por exemplo. Referente à hipótese de alvará de autorização, mesmo
o requerente atendendo aos requisitos da lei, a Administração — Coercibilidade
Pública poderá ou não conceder a autorização, posto que esse ato É um atributo do poder de polícia que faz com que o ato
é de natureza discricionária e está sujeito ao juízo de conveniência seja imposto ao particular, concordando este, ou não. Em outras
e oportunidade da autoridade administrativa. É o que ocorre, por termos, o ato de polícia, como manifestação do ius imperi estatal,
exemplo, coma autorização para porte de arma, bem como para a não está consignado à dependência da concordância do particular
produção de material bélico. para que tenha validade e seja eficaz. Além disso, a coercibilidade é
indissociável da autoexecutoridade, e o ato de polícia só poderá ser
— Autoexecutoriedade autoexecutável pelo fato de ser dotado de força coercitiva.
Nos sábios dizeres de Hely Lopes Meirelles, o atributo da Assim sendo, a coercibilidade ou imperatividade, definida
autoexecutoriedade consiste na “faculdade de a Administração como a obrigatoriedade do ato para os seus destinatários, acaba se
decidir e executar diretamente sua decisão por seus próprios meios, confundindo com a definição dada de exigibilidade que resulta do
sem intervenção do Judiciário”. Assim, se um estabelecimento desdobramento do atributo da autoexecutoriedade.
comercial estiver comercializando bebidas deteriorados, o Poder
Público poderá usar do seu poder para apreendê-los e incinerá- – Poder de polícia originário e poder de polícia delegado
los, sendo desnecessário haver qualquer ordem judicial. Ocorre, Nos parâmetros doutrinários, o poder de polícia originário é
também, que tal fato não impede ao particular, que se sentir aquele exercido pelos órgãos dos próprios entes federativos, tendo
prejudicado pelo excesso ou desvio de poder, de buscar o amparo como fundamento a própria repartição de competências materiais
do Poder Judiciário para fazer cessar o ato de polícia abusivo. e legislativas constante na Constituição Federal Brasileira de 1988.
Entretanto, denota-se que nem todas as medidas de polícia Referente ao poder de polícia delegado, afirma-se que este
são dotadas de autoexecutoriedade. A doutrina majoritária afirma faz referência ao poder de polícia atribuído às pessoas de direito
que a autoexecutoriedade só pode existir em duas situações, sendo público da Administração Indireta, posto que esta delegação deve
elas: quando estiver prevista expressamente em lei; ou mesmo ser feita por intermédio de lei do ente federativo que possua o
não estando prevista expressamente em lei, se houver situação poder de polícia originário.
de urgência que demande a execução direta da medida. O que Como uma das mais claras manifestações do princípio segundo
infere que, não sendo cumprido nenhum desses requisitos, o ato o qual o interesse público se sobrepõe ao interesse privado, no
de polícia autoexecutado será considerado abusivo. Cite-se como exercício do poder de polícia, o Estado impõe aos particulares
exemplo, o de ato de polícia que não contém autoexecutoriedade, ações e omissões independentemente das suas vontades. Tal
como o caso de uma autuação por desrespeito à normas sanitárias. possibilidade envolve exercício de atividade típica de Estado, com
Nesse caso específico, se o poder público tiver a pretensão de clara manifestação de potestade (poder de autoridade). Assim,
cobrar o mencionado valor, não poderá fazê-lo de forma direta, estão presentes características ínsitas ao regime jurídico de
sendo necessário que promova a execução judicial da dívida. direito público, o que tem levado o STF a genericamente negar a
A renomada Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, afirma possibilidade de delegação do poder de polícia a pessoas jurídicas
que alguns autores dividem o atributo da autoexecutoriedade de direito privado, ainda que integrantes da administração indireta
em dois, sendo eles: a exigibilidade (privilège du préalable) e a (ADI 1717/DF).
executoriedade (privilège d’action d’office). Nesse diapasão, a
exigibilidade ensejaria a possibilidade de a Administração tomar
decisões executórias, impondo obrigações aos administrados
mesmo sem a concordância destes, e a executoriedade, que
consiste na faculdade de se executar de forma direta todas essas
decisões sem que haja a necessidade de intervenção do Poder
Judiciário, usando-se, quando for preciso, do emprego direto da
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

Esquematizando, temos:

ATRIBUTOS DO PODER DE POLÍCIA


Discricionariedade Autoexecutoriedade Coercibilidade
Liberdade de escolha da autoridade Faculdade de a Administração
pública em relação à conveniência e decidir e executar diretamente sua Faz com que o ato seja imposto ao
oportunidade do exercício do poder de decisão por seus próprios meios, sem particular, concordando este, ou não.
polícia. intervenção do Judiciário.

Uso e abuso de poder


De antemão, depreende-se que o exercício de poder acontece de forma legítima quando desempenhado pelo órgão competente,
desde que esteja nos limites da lei a ser aplicada, bem como em atendimento à consecução dos fins públicos.
No entanto, é possível que a autoridade, ao exercer o poder, venha a ultrapassar os limites de sua competência ou o utilize para fins
diversos do interesse público. Quando isto ocorre, afirma-se que houve abuso de poder. Ressalta-se que o abuso de poder ocorre tanto
por meio de um ato comissivo, quando é feita alguma coisa que não deveria ser feita, quanto por meio de um ato omissivo, por meio do
qual se deixa de fazer algo que deveria ser feito.
Pode o abuso de poder se dividido em duas espécies, são elas:
– Excesso de poder: Ocorre a partir do momento em que a autoridade atua extrapolando os limites da sua competência.
– Desvio de poder ou desvio de finalidade: Ocorre quando a autoridade vem a praticar um ato que é de sua competência, porém, o
utiliza para uma finalidade diferente da prevista ou contrária ao interesse público como um todo.

Convém mencionar que o ato praticado com abuso de poder pode ser devidamente invalidado pela própria Administração por
intermédio da autotutela ou pelo Poder Judiciário, sob controle judicial.

ATO ADMINISTRATIVO: VALIDADE, EFICÁCIA; ATRIBUTOS; EXTINÇÃO, DESFAZIMENTO E SANATÓRIA; CLASSIFICAÇÃO, ESPÉ-
CIES E EXTERIORIZAÇÃO; VINCULAÇÃO E DISCRICIONARIEDADE

Conceito
Hely Lopes Meirelles conceitua ato administrativo como sendo “toda manifestação unilateral de vontade da Administração Pública
que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor
obrigações aos administrados ou a si própria”.
Já Maria Sylvia Zanella Di Pietro explana esse tema, como: “a declaração do Estado ou de quem o represente, que produz efeitos
jurídicos imediatos, com observância da lei, sob regime jurídico de direito público e sujeita a controle pelo Poder Judiciário”.
O renomado, Celso Antônio Bandeira de Mello, por sua vez, explica o conceito de ato administrativo de duas formas. São elas:
A) Primeira: em sentido amplo, na qual há a predominância de atos gerais e abstratos. Exemplos: os contratos administrativos e os
regulamentos.
No sentido amplo, de acordo com o mencionado autor, o ato administrativo pode, ainda, ser considerado como a “declaração do
Estado (ou de quem lhe faça as vezes – como, por exemplo, um concessionário de serviço público), no exercício de prerrogativas públicas,
manifestada mediante providências jurídicas complementares da lei a título de lhe dar cumprimento, e sujeitas a controle de legitimidade
por órgão jurisdicional”.

B) Segunda: em sentido estrito, no qual acrescenta à definição anterior, os atributos da unilateralidade e da concreção. Desta forma,
no entendimento estrito de ato administrativo por ele exposta, ficam excluídos os atos convencionais, como os contratos, por exemplo,
bem como os atos abstratos.
Embora haja ausência de uniformidade doutrinária, a partir da análise lúcida do tópico anterior, acoplada aos estudos dos conceitos
retro apresentados, é possível extrair alguns elementos fundamentais para a definição dos conceitos do ato administrativo.
De antemão, é importante observar que, embora o exercício da função administrativa consista na atividade típica do Poder Executivo,
os Poderes Legislativo e Judiciário, praticam esta função de forma atípica, vindo a praticar, também, atos administrativos. Exemplo: ao
realizar concursos públicos, os três Poderes devem nomear os aprovados, promovendo licitações e fornecendo benefícios legais aos
servidores, dentre outras atividades. Acontece que em todas essas atividades, a função administrativa estará sendo exercida que, mesmo
sendo função típica, mas, recordemos, não é função exclusiva do Poder Executivo.
Denota-se também, que nem todo ato praticado no exercício da função administrativa é ato administrativo, isso por que em inúmeras
situações, o Poder Público pratica atos de caráter privado, desvestindo-se das prerrogativas que conformam o regime jurídico de direito
público e assemelhando-se aos particulares. Exemplo: a emissão de um cheque pelo Estado, uma vez que a referida providência deve ser
disciplinada exclusivamente por normas de direito privado e não público.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

Há de se desvencilhar ainda que o ato administrativo pode ser A competência possui como fundamento do seu instituto
praticado não apenas pelo Estado, mas também por aquele que a divisão do trabalho com ampla necessidade de distribuição
o represente. Exemplo: os órgãos da Administração Direta, bem do conjunto das tarefas entre os agentes públicos. Desta
como, os entes da Administração Indireta e particulares, como forma, a distribuição de competências possibilita a organização
acontece com as permissionárias e com as concessionárias de administrativa do Poder Público, definindo quais as tarefas cabíveis
serviços públicos. a cada pessoa política, órgão ou agente.
Relativo à competência com aplicação de multa por infração
Destaca-se, finalmente, que o ato administrativo por não à legislação do imposto de renda, dentre as pessoas políticas,
apresentar caráter de definitividade, está sujeito a controle a União é a competente para instituir, fiscalizar e arrecadar o
por órgão jurisdicional. Em obediência a essas diretrizes, imposto e também para estabelecer as respectivas infrações e
compreendemos que ato administrativo é a manifestação unilateral penalidades. Já em relação à instituição do tributo e cominação de
de vontade proveniente de entidade arremetida em prerrogativas penalidades, que é de competência do legislativo, dentre os Órgãos
estatais amparadas pelos atributos provenientes do regime jurídico Constitucionais da União, o Órgão que possui tal competência, é o
de direito público, destinadas à produção de efeitos jurídicos e Congresso Nacional no que condizente à fiscalização e aplicação das
sujeitos a controle judicial específico. respectivas penalidades.
Em suma, temos: Em relação às fontes, temos as competências primária e
ATO ADMINISTRATIVO: é a manifestação unilateral de vontade secundária. Vejamos a definição de cada uma delas nos tópicos
proveniente de entidade arremetida em prerrogativas estatais abaixo:
amparadas pelos atributos provenientes do regime jurídico de a) Competência primária: quando a competência é estabelecida
direito público, destinadas à produção de efeitos jurídicos e sujeitos pela lei ou pela Constituição Federal.
a controle judicial específico. b) Competência Secundária: a competência vem expressa em
normas de organização, editadas pelos órgãos de competência
Atos administrativos em sentido amplo primária, uma vez que é produto de um ato derivado de um órgão
ou agente que possui competência primária.
Atos de Direito Privado
Atos materiais Entretanto, a distribuição de competência não ocorre de
forma aleatória, de forma que sempre haverá um critério lógico
Atos de opinião, conhecimento, juízo ou valor informando a distribuição de competências, como a matéria, o
Atos políticos território, a hierarquia e o tempo. Exemplo disso, concernente ao
critério da matéria, é a criação do Ministério da Saúde.
Contratos
Em relação ao critério territorial, a criação de Superintendências
Atos normativos Regionais da Polícia Federal e, ainda, pelo critério da hierarquia,
Atos normativos em sentido estrito e propriamente ditos a criação do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF),
órgão julgador de recursos contra as decisões das Delegacias da
Requisitos Receita Federal de Julgamento criação da Comissão Nacional da
A lei da Ação Popular, Lei nº 4.717/1965, aponta a existência Verdade que trabalham na investigação de violações graves de
de cinco requisitos do ato administrativo. São eles: competência, Direitos Humanos nos períodos entre 18.09.1946 e 05.10.1988, que
finalidade, forma, motivo e objeto. É importante esclarecer que a resulta na combinação dos critérios da matéria e do tempo.
falta ou o defeito desses elementos pode resultar. A competência possui como características:
De acordo com o a gravidade do caso em consideração, em a) Exercício obrigatório: pelos órgãos e agentes públicos, uma
simples irregularidade com possibilidade de ser sanada, invalidando vez que se trata de um poder-dever de ambos.
o ato do ato, ou até mesmo o tornando inexistente. b) Irrenunciável ou inderrogável: isso ocorre, seja pela vontade
No condizente à competência, no sentido jurídico, esta palavra da Administração, ou mesmo por acordo com terceiros, uma vez
designa a prerrogativa de poder e autorização de alguém que está que é estabelecida em decorrência do interesse público. Exemplo:
legalmente autorizado a fazer algo. Da mesma maneira, qualquer diante de um excessivo aumento da ocorrência de crimes graves e
pessoa, ainda que possua capacidade e excelente rendimento para da sua diminuição de pessoal, uma delegacia de polícia não poderá
fazer algo, mas não alçada legal para tal, deve ser considerada jamais optar por não mais registrar boletins de ocorrência relativos
incompetente em termos jurídicos para executar tal tarefa. a crimes considerados menos graves.
Pensamento idêntico é válido para os órgãos e entidades públicas, c) Intransferível: não pode ser objeto de transação ou
de forma que, por exemplo, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) acordo com o fulcro de ser repassada a responsabilidade a outra
não possui competência para conferir o passaporte e liberar a entrada pessoa. Frise-se que a delegação de competência não provoca a
de um estrangeiro no Brasil, tendo em vista que o controle de imigração transferência de sua titularidade, porém, autoriza o exercício de
brasileiro é atividade exclusiva e privativa da Polícia Federal. determinadas atribuições não exclusivas da autoridade delegante,
Nesse sentido, podemos conceituar competência como sendo que poderá, conforme critérios próprios e a qualquer tempo,
o acoplado de atribuições designadas pelo ordenamento jurídico às revogar a delegação.
pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos, com o fito de facilitar d) Imodificável: não admite ser modificada por ato do agente,
o desempenho de suas atividades. quando fixada pela lei ou pela Constituição, uma vez que somente
estas normas poderão alterá-la.
e) Imprescritível: o agente continua competente, mesmo que
não tenha sido utilizada por muito tempo.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

f) Improrrogável: com exceção de disposição expressa prevista § 2o O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela
em lei, o agente incompetente não passa a ser competente pelo autoridade delegante.
mero fato de ter praticado o ato ou, ainda, de ter sido o primeiro a § 3o As decisões adotadas por delegação devem mencionar
tomar conhecimento dos fatos que implicariam a motivação de sua explicitamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo
prática. delegado.

Cabem dentro dos critérios de competência a delegação e a Convém registrar que a delegação é ato discricionário, que
avocação, que podem ser definidas da seguinte forma: leva em conta para sua prática circunstâncias de índole técnica,
social, econômica, jurídica ou territorial, bem como é ato revogável
a) Delegação de competência: trata-se do fenômeno por a qualquer tempo pela autoridade delegante, sendo que o ato de
intermédio do qual um órgão administrativo ou um agente delegação bem como a sua revogação deverão ser expressamente
público delega a outros órgãos ou agentes públicos a tarefa de publicados no meio oficial, especificando em seu ato as matérias
executar parte das funções que lhes foram atribuídas. Em geral, a e poderes delegados, os parâmetros de limites da atuação do
delegação é transferida para órgão ou agente de plano hierárquico delegado, o recurso cabível, a duração e os objetivos da delegação.
inferior. No entanto, a doutrina contemporânea considera, quando
justificadamente necessário, a admissão da delegação fora da linha Importante ressaltar:
hierárquica. Súmula 510 do STF: Praticado o ato por autoridade, no exercício
Considera-se ainda que o ato de delegação não suprime a de competência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança
atribuição da autoridade delegante, que continua competente para ou a medida judicial.
o exercício das funções cumulativamente com a autoridade a que Com fundamento nessa orientação, o STF decidiu no julgamento
foi delegada a função. Entretanto, cada agente público, na prática de do MS 24.732 MC/DF, que o foro da autoridade delegante não
atos com fulcro nos poderes que lhe foram atribuídos, agirá sempre poderá ser transmitido de forma alguma à autoridade delegada.
em nome próprio e, respectivamente irá responder por seus atos. Desta forma, tendo sido o ato praticado pela autoridade delegada,
Por todas as decisões que tomar. Do mesmo modo, adotando todas e quaisquer medidas judiciais propostas contra este ato
cautelas parecidas, a autoridade delegante da ação também poderá deverão respeitar o respectivo foro da autoridade delegada.
revogar a qualquer tempo a delegação realizada anteriormente.
Desta maneira, a regra geral é a possibilidade de delegação de Seguindo temos:
competências, só deixando esta de ser possível se houver quaisquer a) Avocação: trata-se do fenômeno contrário ao da delegação
impedimentos legais vigentes. e se resume na possibilidade de o superior hierárquico trazer
para si de forma temporária o devido exercício de competências
É importante conhecer a respeito da delegação de competência legalmente estabelecidas para órgãos ou agentes hierarquicamente
o disposto na Lei 9.784/1999, Lei do Processo Administrativo inferiores. Diferentemente da delegação, não cabe avocação fora da
Federal, que tendo tal norma aplicada somente no âmbito federal, linha de hierarquia, posto que a utilização do instituto é dependente
incorporou grande parte da orientação doutrinária existente, de poder de vigilância e controle nas relações hierarquizadas.
dispondo em seus arts. 11 a 14: Vejamos a diferença entre a avocação com revogação de
delegação:
Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos – Na avocação, sendo sua providência de forma excepcional e
administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de temporária, nos termos do art. 15 da Lei 9.787/1999, a competência
delegação e avocação legalmente admitidos. é de forma originária e advém do órgão ou agente subordinado,
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se sendo que de forma temporária, passa a ser exercida pelo órgão ou
não houver impedimento legal, delegar parte da sua competência autoridade avocante.
a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam – Já na revogação de delegação, anteriormente, a competência
hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão já era de forma original da autoridade ou órgão delegante, que
de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou achou por conveniência e oportunidade revogar o ato de delegação,
territorial. voltando, por conseguinte a exercer suas atribuições legais por
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à cunho de mão própria.
delegação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos
presidentes. Finalmente, adverte-se que, apesar de ser um dever
Art. 13. Não podem ser objeto de delegação: ser exercido com autocontrole, o poder originário de avocar
I - a edição de atos de caráter normativo; competência também se constitui em regra na Administração
II - a decisão de recursos administrativos; Pública, uma vez que é inerente à organização hierárquica como
III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou um todo. Entretanto, conforme a doutrina de forma geral, o órgão
autoridade. superior não pode avocar a competência do órgão subordinado em
Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser se tratando de competências exclusivas do órgão ou de agentes
publicados no meio oficial. inferiores atribuídas por lei. Exemplo: Secretário de Segurança
§ 1o O ato de delegação especificará as matérias e poderes Pública, mesmo estando alguns degraus hierárquicos acima de
transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e os todos os Delegados da Polícia Civil, não poderá jamais avocar para si
objetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva a competência para presidir determinado inquérito policial, tendo
de exercício da atribuição delegada. em vista que esta competência é exclusiva dos titulares desses
cargos.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

Não convém encerrar esse tópico acerca da competência Destaca-se que o descumprimento de qualquer dessas
sem mencionarmos a respeito dos vícios de competência que finalidades, seja geral ou específica, resulta no vício denominado
é conceituado como o sofrimento de algum defeito em razão de desvio de poder ou desvio de finalidade. O desvio de poder é
problemas com a competência do agente que o pratica que se vício que não pode ser sanado, e por esse motivo, não pode ser
subdivide em: convalidado.
a) Excesso de poder: acontece quando o agente que pratica A Lei de Ação Popular, Lei 4.717/1965 em seu art. 2º, parágrafo
o ato acaba por exceder os limites de sua competência, agindo único, alínea e, estabelece que “o desvio de finalidade se verifica
além das providências que poderia adotar no caso concreto, vindo quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele
a praticar abuso de poder. O vício de excesso de poder nem sempre previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência”.
poderá resultar em anulação do ato administrativo, tendo em vista Destaque-se que por via de regra legal atributiva de competência
que em algumas situações será possível convalidar o ato defeituoso. estatui de forma explícita ou implicitamente, os fins que devem ser
b) Usurpação de função: ocorre quando uma pessoa exerce seguidos e obedecidos pelo agente público. Caso o ato venha a ser
atribuições próprias de um agente público, sem que tenha esse praticado visando a fins diversos, verificar-se-á a presença do vício
atributo ou competência. Exemplo: uma pessoa que celebra de finalidade.
casamentos civis fingindo ser titular do cargo de juiz.
c) Função de fato: ocorre quando a pessoa que pratica o ato O desvio de finalidade, segundo grandes doutrinadores, se
está irregularmente investida no cargo, emprego ou função pública verifica em duas hipóteses. São elas:
ou ainda que, mesmo devidamente investida, existe qualquer tipo a) o ato é formalmente praticado com finalidade diversa da
de impedimento jurídico para a prática do ato naquele momento. prevista por lei. Exemplo: remover um funcionário com o objetivo
Na função de fato, o agente pratica o ato num contexto que tem de punição.
toda a aparência de legalidade. Por esse motivo, em decorrência da b) ocorre quando o ato, mesmo formalmente editado com
teoria da aparência, desde que haja boa-fé do administrado, esta a finalidade legal, possui, na prática, o foco de atender a fim de
deve ser respeitada, devendo, por conseguinte, ser considerados interesse particular da autoridade. Exemplo: com o objetivo de
válidos os atos, como se fossem praticados pelo funcionário de fato. perseguir inimigo, ocorre a desapropriação de imóvel alegando
Em suma, temos: interesse público.
Em resumo, temos:
VÍCIOS DE COMPETÊNCIA
Em determinadas Específica ou Imediata e Geral
Finalidade Pública
Excesso de poder situações é possível a ou Mediata
convalidação Ato praticado com finalidade
Usurpação de função Ato inexistente diversa da prevista em Lei.
Desvio de finalidade e Ato praticado formalmente
Ato válido, se houver ou desvio de poder com finalidade prevista em Lei,
Função de fato
boa-fé do administrado porém, visando a atender a fins
ABUSO DE AUTORIDADE pessoais de autoridade.
Excesso de poder Vício de competência Concernente à forma, averígua-se na doutrina duas formas
Desvio de poder Desvio de finalidade distintas de definição como requisito do ato administrativo. São elas:
A) De caráter mais restrito, demonstrando que a forma é o
Relativo à finalidade, denota-se que a finalidade pública é modo de exteriorização do ato administrativo.
uma das características do princípio da impessoalidade. Nesse B) Considera a forma de natureza mais ampla, incluindo no
diapasão, a Administração não pode atuar com o objetivo de conceito de forma apenas o modo de exteriorização do ato, bem
beneficiar ou prejudicar determinadas pessoas, tendo em vista que como todas as formalidades que devem ser destacadas e observadas
seu comportamento deverá sempre ser norteado pela busca do no seu curso de formação.
interesse público. Além disso, existe determinada finalidade típica
para cada tipo de ato administrativo. Ambas as acepções estão meramente corretas, cuidando-se
Assim sendo, identifica-se no ato administrativo duas espécies simplesmente de modos diferentes de examinar a questão, sendo
de finalidade pública. São elas: que a primeira analisa a forma do ato administrativo sob o aspecto
a) Geral ou mediata: consiste na satisfação do interesse público exterior do ato já formado e a segunda, analisa a dinâmica da
considerado de forma geral. formação do ato administrativo.
b) Pública específica ou imediata: é o resultado específico
previsto na lei, que deve ser alcançado com a prática de determinado Via de regra, no Direito Privado, o que prevalece é a liberdade
ato. de forma do ato jurídico, ao passo que no Direito Público, a regra
é o formalismo moderado. O ato administrativo não precisa ser
Está relacionada ao atributo da tipicidade, por meio do qual a revestido de formas rígidas e solenes, mas é imprescindível que
lei dispõe uma finalidade a ser alcançada para cada espécie de ato. ele seja escrito. Ainda assim, tal exigência, não é absoluta, tendo
em vista que em alguns casos, via de regra, o agente público
tem a possibilidade de se manifestar de outra forma, como
acontece nas ordens verbais transmitidas de forma emergencial
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NOÇÕES DE DIREITO

aos subordinados, ou, ainda, por exemplo, quando um agente Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com
de trânsito transmite orientações para os condutores de veículos indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:
através de silvos e gestos. I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
Pondera-se ainda, que o ato administrativo é denominado II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
vício de forma quando é enviado ou emitido sem a obediência à III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção
forma e sem cumprimento das formalidades previstas em lei. Via pública;
de regra, considera-se plenamente possível a convalidação do IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo
ato administrativo que contenha vício de forma. No entanto, tal licitatório;
convalidação não será possível nos casos em que a lei estabelecer V - decidam recursos administrativos;
que a forma é requisito primordial à validade do ato. VI - decorram de reexame de ofício;
Devemos explanar também que a motivação declarada e VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão
escrita dos motivos que possibilitaram a prática do ato, quando ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;
for de caráter obrigatório, integra a própria forma do ato. Desta VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação
maneira, quando for obrigatória, a ausência de motivação enseja de ato administrativo.
vício de forma, mas não vício de motivo.
Porém, de forma diferente, sendo o motivo declinado pela Prevê a mencionada norma em seu § 1º, que a motivação deve
autoridade e comprovadamente ilícito ou falso, o vício consistirá no ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração
elemento motivo. de concordância com fundamentos de anteriores pareceres,
informações, decisões ou propostas, que, nesse caso, serão parte
Motivo integrante do ato. Tal hipótese é denominada pela doutrina de
O motivo diz respeito aos pressupostos de fato e de direito que “motivação aliunde” que significa motivação “em outro local”, mas
estabelecem ou autorizam a edição do ato administrativo. que está sendo admitida no direito brasileiro.
Quando a autoridade administrativa não tem margem para
decidir a respeito da conveniência e oportunidade para editar o ato A motivação dos atos administrativos
administrativo, diz-se que este é ato vinculado. No condizente ao É a teoria dos motivos determinantes. Convém explicitar a
ato discricionário, como há espaço de decisão para a autoridade respeito da motivação dos atos administrativo e da teoria dos
administrativa, a presença do motivo simplesmente autoriza a motivos determinantes que se baseia na ideia de que mesmo a lei
prática do ato. não exigindo a motivação, se o ato administrativo for motivado, ele
Nesse diapasão, existem também o motivo de direito que se só terá validade se os motivos declarados forem verdadeiros.
trata da abstrata previsão normativa de uma situação que ao ser
verificada no mundo concreto que autoriza ou determina a prática Exemplo
do ato, ao passo que o motivo de fato é a concretização no mundo A doutrina cita o caso do ato de exoneração ad nutum de
empírico da situação prevista em lei. servidor ocupante de cargo comissionado, uma vez que esse tipo de
Assim sendo, podemos esclarecer que a prática do ato ato não exige motivação. Entretanto, caso a autoridade competente
administrativo depende da presença adjunta dos motivos de fato venha a alegar que a exoneração transcorre da falta de pontualidade
e de direito, posto que para isso, são imprescindíveis à existência habitual do comissionado, a validade do ato exoneratório virá
abstrata de previsão normativa bem como a ocorrência, de fato a ficar na dependência da existência do motivo declarado. Já
concreto que se integre à tal previsão. se o interessado apresentar a folha de ponto comprovando sua
De acordo com a doutrina, o vício de motivo é passível de pontualidade, a exoneração, seja por via administrativa ou judicial,
ocorrer nas seguintes situações: deverá ser anulada.
a) quando o motivo é inexistente. É importante registrar que a teoria dos motivos determinantes
b) quando o motivo é falso. pode ser aplicada tanto aos atos administrativos vinculados quanto
c) quando o motivo é inadequado. aos discricionários, para que o ato tenha sido motivado.
Em suma, temos:
É de suma importância estabelecer a diferença entre motivo e
motivação. Vejamos: – Motivo do ato administrativo
– Motivo: situação que autoriza ou determina a produção do ato – Definição: pressuposto de fato e direito que fundamenta a
administrativo. Sempre deve estar previsto no ato administrativo, edição do ato administrativo.
sob pena de nulidade, sendo que sua ausência de motivo legítimo – Motivo de Direito: é a situação prevista na lei, de forma
ou ilegítimo é causa de invalidação do ato administrativo. abstrata que autoriza ou determina a prática do ato administrativo.
– Motivação: é a declinação de forma expressa do motivo, – Motivo de fato: circunstância que se realiza no mundo real
sendo a declaração das razões que motivaram à edição do que corresponde à descrição contida de forma abstrata na lei,
ato. Já a motivação declarada e expressa dos motivos dos atos caracterizando o motivo de direito.
administrativos, via de regra, nem sempre é exigida. Porém, se Vícios de motivo do ato
for obrigatória pela lei, sua ausência causará invalidade do ato administrativo
administrativo por vício de forma, e não de motivo.
Inexistente
Convém ressaltar que a Lei 9.784/1999, que regulamenta o Falso
processo administrativo na esfera federal, dispõe no art. 50, o
seguinte: Inadequado
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

– Teoria dos motivos determinantes presunção de veracidade dos atos administrativos que se cuida da
– O ato administrativo possui sua validade vinculada aos presunção de que o ato administrativo foi editado em conformidade
motivos expostos mesmo que não seja exigida a motivação. com a lei, gerando a desconfiança de que as alegações produzidas
– Só é aplicada apenas se o ato conter motivação. pela administração são verdadeiras.
– STJ: “Não se decreta a invalidade de um ato administrativo As presunções de legitimidade e de veracidade são elementos
quando apenas um, entre os diversos motivos determinantes, não e qualificadoras presentes em todos os atos administrativos. No
está adequado à realidade fática”. entanto, ambas serão sempre relativas ou juris tantum, podendo
ser afastadas em decorrência da apresentação de prova em sentido
Objeto contrário. Assim sendo, se o administrado se sentir prejudicado
O objeto do ato administrativo pode ser conceituado como por algum ato que refutar ilegal ou fundado em mentiras, poderá
sendo o efeito jurídico imediato produzido pelo ato. Em outras submetê-lo ao controle pela própria administração pública, bem
palavras, podemos afirmar que o objeto do ato administrativo como pelo Judiciário. Já se o órgão provocado alegar que a prática
cuida-se da alteração da situação jurídica que o ato administrativo não está em conformidade com a lei ou é fundada em alegações
se propõe a realizar. Desta forma, no ato impositivo de multa, por falsas, poderá proclamará a nulidade do ato, desfazendo os seus
exemplo, o objeto é a punição do transgressor. efeitos.
Para que o ato administrativo tenha validade, seu objeto deve Denota-se que a principal consequência da presunção
ser lícito, possível, certo e revestido de moralidade conforme os de veracidade é a inversão do ônus da prova. Nesse sentido,
padrões aceitos como éticos e justos. relembremos que em regra, segundo os parâmetros jurídicos,
Havendo o descumprimento dessas exigências, podem incidir o dever de provar é de quem alega o fato a ser provado. Desta
os esporádicos vícios de objeto dos atos administrativos. Nesse maneira, se o particular “X” alega que o particular “Y” cometeu ato
sentido, podemos afirmar que serão viciados os atos que possuam ilícito em prejuízo do próprio “X”, incumbe a “X” comprovar o que
os seguintes objetos, seguidos com alguns exemplos: está alegando, de maneira que, em nada conseguir provar os fatos,
a) Objeto lícito: punição de um servidor público com suspensão “Y” não poderá ser punido.
por prazo superior ao máximo estabelecido por lei específica.
b) Objeto impossível: determinação aos subordinados para – Imperatividade
evitar o acontecimento de chuva durante algum evento esportivo. Em decorrência desse atributo, os atos administrativos são
c) Objeto incerto: em ato unificado, a suspensão do direito de impostos pelo Poder Público a terceiros, independentemente da
dirigir das pessoas que por ventura tenham dirigido alcoolizadas concordância destes. Infere-se que a imperatividade é proveniente
nos últimos 12 meses, tanto as que tenham sido abordadas por do poder extroverso do Estado, ou seja, o Poder Público poderá
autoridade pública ou flagradas no teste do bafômetro. editar atos, de modo unilateral e com isso, constituir obrigações
d) Objeto moral: a autorização concedida a um grupo de para terceiros. A imperatividade representa um traço diferenciado
pessoas específicas para a ocupação noturna de determinado em relação aos atos de direito privado, uma vez que estes somente
trecho de calçada para o exercício da prostituição. Nesse exemplo, possuem o condão de obrigar os terceiros que manifestarem sua
o objeto é tido como imoral. expressa concordância.
Entretanto, nem todo ato administrativo possui imperatividade,
Atributos do Ato Administrativo característica presente exclusivamente nos atos que impõem
Tendo em vista os pormenores do regime jurídico de direito obrigações ou restrições aos administrados. Pelo contrário, se o
público ou regime jurídico administrativo, os atos administrativos ato administrativo tiver por objetivo conferir direitos, como por
são dotados de alguns atributos que os se diferenciam dos atos exemplo: licença, admissão, autorização ou permissão, ou, ainda,
privados. quando possuir conteúdo apenas enunciativo como certidão,
Acontece que não há unanimidade doutrinária no condizente atestado ou parecer, por exemplo, não haverá imperatividade.
ao rol desses atributos. Entretanto, para efeito de conhecimento,
bem como a enumeração que tem sido mais cobrada em concursos – Autoexecutoriedade
públicos, bem como em teses, abordaremos o conceito utilizado Consiste na possibilidade de os atos administrativos serem
pela Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro. executados diretamente pela Administração Pública, por
Nos dizeres da mencionada administrativista, os atributos dos intermédio de meios coercitivos próprios, sem que seja necessário
atos administrativos são: a intervenção prévia do Poder Judiciário.
Esse atributo é decorrente do princípio da supremacia do
– Presunção de legitimidade interesse público, típico do regime de direito administrativo, fato
Decorre do próprio princípio da legalidade e milita em favor dos que acaba por possibilitar a atuação do Poder Público no condizente
atos administrativos. É o único atributo presente em todos os atos à rapidez e eficiência.
administrativos. Pelo fato de a administração poder agir somente No entender de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a
quando autorizada por lei, presume-se, por conseguinte que se a autoexecutoriedade somente é possível quando estiver
administração agiu e executou tal ato, observando os parâmetros expressamente prevista em lei, ou, quando se tratar de medida
legais. Desta forma, em decorrência da presunção de legitimidade, urgente, que não sendo adotada de imediato, ocasionará, por sua
os atos administrativos presumem-se editados em conformidade vez, prejuízo maior ao interesse público.
com a lei, até que se prove o contrário.
De forma parecida, por efeito dos princípios da moralidade e
da legalidade, quando a administração alega algo, presume-se que
suas alegações são verdadeiras. É o que a doutrina conceitua como
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

Exemplos de Atos Administrativos Autoexecutórios de uma forma ou de outra se coloquem em situações concretas
que correspondam às situações reguladas pelo ato. Exemplo: o
apreensão de mercadorias impróprias para o consumo Regulamento do Imposto de Renda.
humano
demolição de edifício em situação de risco – Atos individuais ou especiais: são dirigidos a destinatários
individualizados, podendo ser singulares ou plúrimos. Sendo que
internação de pessoa com doença contagiosa será singular quando alcançar um único sujeito determinado e
dissolução de reunião que ameace a segurança será plúrimo, quando for designado a uma pluralidade de sujeitos
determinados em si.
Por fim, ressalta-se que o princípio da inafastabilidade da
prestação jurisdicional possui o condão de garantir ao particular Exemplo:
que considere que algum direito seu foi lesionado ou ameaçado, O decreto de desapropriação que atinja um único imóvel.
possa livremente levar a questão ao Poder Judiciário em busca da Por outro lado, como hipótese de ato individual plúrimo, cita-
defesa dos seus direitos. se: o ato de nomeação de servidores em forma de lista. Quanto
aos destinatários: ATOS GERAIS, ATOS INDIVIDUAIS, SINGULARES
– Tipicidade PLÚRIMOS
De antemão, infere-se que a maior parte dos autores não cita a
tipicidade como atributo do ato administrativo. Isso ocorre pelo fato b) Em relação ao grau de liberdade do agente, os atos podem
de tal característica não estabelecer um privilégio da administração, ser atos vinculados e discricionários.
mas sim uma restrição. Se adotarmos o entendimento de que – Os atos vinculados são aqueles nos quais a Administração
a título de “atributos” devemos estudar as particularidades dos Pública fica sem liberdade de escolha, nos quais, desde que
atos administrativos que os divergem dos demais atos jurídicos, comprovados os requisitos legais, a edição do ato se torna
deveremos incluir a tipicidade na lista. Entretanto, se entendermos obrigatória, nos parâmetros previstos na lei. Exemplo: licença para
que apenas são considerados atributos as prerrogativas que acabam a construção de imóvel.
por verticularizar as relações jurídicas nas quais a administração – Já os discricionários são aqueles em que a Administração
toma parte, a tipicidade não poderia ser considerada. Pública possui um pouco mais de liberdade para, em consonância
Nos termos da primeira corrente, para a Professora Maria com critérios subjetivos de conveniência e oportunidade, tomar
Sylvia Zanella Di Pietro, a “tipicidade é o atributo pelo qual o ato decisões quando e como o ato será praticado, com a definição de
administrativo deve corresponder a figuras definidas previamente seu conteúdo, destinatários, a motivação e a forma de sua prática.
pela lei como aptas a produzir determinados resultados”. Assim
sendo, em consonância com esse atributo, para cada finalidade que c) Em relação às prerrogativas da Administração, os atos
a Administração Pública pretender alcançar, deverá haver um ato administrativos podem ser atos de império, de gestão e de
previamente definido na lei. expediente.
Denota-se que a tipicidade é uma consequência do princípio – Atos de império são atos por meio dos quais a Administração
da legalidade. Esse atributo não permite à Administração praticar Pública pratica no uso das prerrogativas tipicamente estatais usando
atos em desacordo com os parâmetros legais, motivo pelo qual o o poder de império para impô-los de modo unilateral e coercitivo
atributo da tipicidade é considerado como uma ideia contrária à da aos seus administrados. Exemplo: interdição de estabelecimentos
autonomia da vontade, por meio da qual o particular tem liberdade comerciais.
para praticar atos desprovidos de disciplina legal, inclusive atos
inominados. d) Em relação aos atos de gestão, são atos por meio dos
Ainda nos trâmites com o entendimento exposto, ressalta-se quais a Administração Pública atua sem o uso das prerrogativas
que a tipicidade só existe nos atos unilaterais, não se encontrando provenientes do regime jurídico administrativo. Exemplo: atos de
presente nos contratos. Isso ocorre porque não existe qualquer administração dos bens e serviços públicos e dos atos negociais
impedimento de ordem jurídica para que a Administração venha com os particulares.
a firmar com o particular um contrato inominado desprovido de Quando praticados de forma regular os atos de gestão, passam
regulamentação legal, desde que esta seja a melhor maneira de a ter caráter vinculante e geram direitos subjetivos.
atender tanto ao interesse público como ao interesse particular.
Exemplo:
Classificação dos Atos Administrativos uma autarquia ao alugar um imóvel a ela pertencente, de
A Doutrina não é uniforme no que condiz à atribuição dada forma vinculante entre a administração e o locatário aos termos do
à diversidade dos critérios adotados com esse objetivo. Por esse contrato, acaba por gerar direitos e deveres para ambos.
motivo, sem esgotar o assunto, apresentamos algumas classificações
mais relevantes, tanto no que se refere a uma maior utilidade – Já os atos de expediente são tidos como aqueles que
prática na análise dos regimes jurídicos, tanto pela concomitante impulsionam a rotina interna da repartição, sem caráter vinculante
abordagem nas provas de concursos públicos. e sem forma especial, cujo objetivo é dar andamento aos processos
e papéis que tramitam internamente nos órgãos públicos.
a) Em relação aos destinatários: atos gerais e individuais. Exemplo:
Os atos gerais ou normativos, são expedidos sem destinatários Um despacho com o teor: “ao setor de contabilidade para as
determinados ou determináveis e aplicáveis a todas as pessoas que devidas análises”.

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NOÇÕES DE DIREITO

e) Quanto à formação, os atos administrativos podem ser atos O decreto é de suma importância no direito brasileiro, motivo
simples, complexos e compostos. pelo qual, de acordo com seu conteúdo, os decretos podem ser
– O ato simples decorre da declaração de vontade de apenas classificados em decreto geral e individual. Vejamos:
um órgão da administração pública, pouco importando se esse b) Decreto geral: possui caráter normativo veiculando regras
órgão é unipessoal ou colegiado. Assim sendo, a nomeação de um gerais e abstratas, fato que visa facilitar ou detalhar a correta
servidor público pelo Prefeito de um Município, será considerada aplicação da Lei. Exemplo: o decreto que institui o “Regulamento
como ato simples singular, ao passo que a decisão de um processo do Imposto de Renda”.
administrativo por órgão colegiado será apenas ato simples c) Decreto individual: seu objetivo é tratar da situação
colegiado. específica de pessoas ou grupos determinados, sendo que a sua
– O ato complexo é constituído pela manifestação de dois ou publicação produz de imediato, efeitos concretos.
mais órgãos, por meio dos quais as vontades se unem em todos os
sentidos para formar um só ato. Exemplo: um decreto assinado pelo Exemplo:
Presidente da República e referendado pelo Ministro de Estado. Decreto que declara a utilidade pública de determinado bem
É importante não confundir ato complexo com procedimento para fim de desapropriação.
administrativo. Nos dizeres de Hely Lopes Meirelles, “no ato
complexo integram-se as vontades de vários órgãos para a obtenção Nesse ponto, passaremos a verificar a respeito do decreto
de um mesmo ato, ao passo que no procedimento administrativo regulamentar, também designado de decreto de execução.
praticam-se diversos atos intermediários e autônomos para a A doutrina o conceitua como sendo aquele que introduz um
obtenção de um ato final e principal”. regulamento, não permitindo que o seu conteúdo e o seu alcance
possam ir além daqueles do que é permitido por Lei.
f) Em relação ao ato administrativo composto, pondera que Por sua vez, o decreto autônomo é aquele que dispõe sobre
este também decorre do resultado da manifestação de vontade de matéria não regulada em lei, passando a criar um novo direito.
dois ou mais órgãos. O que o diferencia do ato complexo é o fato de Pondera-se que atualmente, as únicas hipóteses de decreto
que, ao passo que no ato complexo as vontades dos órgãos se unem autônomo admitidas no direito brasileiro, são as disposta no art. 84,
para formar um só ato, no ato composto são praticados dois atos, VI, “a”, da Constituição Federal, incluída pela Emenda Constitucional
um principal e outro acessório. 32/2001, que predispõe a competência privativa do Presidente da
Ademais, é importante explicar a definição de Hely Lopes República para dispor, mediante decreto, sobre a organização e
Meirelles, para quem o ato administrativo composto “é o que funcionamento da administração federal, quando não incorrer em
resulta da vontade única de um órgão, mas depende da verificação aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos.
por parte de outro, para se tornar exequível”. A mencionada
definição, embora seja discutível, vem sendo muito utilizada – Atos ordinatórios
pelas bancas examinadoras na elaboração de questões de provas Os atos administrativos ordinatórios são aqueles que podem
de concurso público. Isso ocorreu na aplicação da prova para ser editados no exercício do poder hierárquico, com o fulcro
Assistente Jurídico do DF, elaborada pelo CESPE em 2001, que foi de disciplinar as relações internas da Administração Pública.
considerado correto o seguinte tópico: “Ao ato administrativo cuja Detalharemos aqui os principais atos ordinatórios. São eles: as
prática dependa de vontade única de um órgão da administração, instruções, as circulares, os avisos, as portarias, as ordens de
mas cuja exequibilidade dependa da verificação de outro órgão, dá- serviço, os ofícios e os despachos.
se o nome de ato administrativo composto”. Instruções: tratam-se de atos administrativos editados pela
autoridade hierarquicamente superior, com o fulcro de ordenar
Espécies a atuação dos agentes que lhes são subordinados. Exemplo:
O saudoso jurista Hely Lopes Meirelles propõe que os atos as instruções que ordenam os atos que devem ser usados de
administrativos sejam divididos em cinco espécies. São elas: atos forma interna na análise do pedido de utilização de bem público
normativos, atos ordinatórios, atos negociais, atos enunciativos e formalizado unicamente por particular.
atos punitivos. Circulares: são consideradas idênticas às instruções, entretanto,
de modo geral se encontram dotadas de menor abrangência.
– Atos normativos Avisos: tratam-se de atos administrativos que são editados
Os atos normativos são aqueles cuja finalidade imediata é por Ministros de Estados com o objetivo de tratarem de assuntos
esmiuçar os procedimentos e comportamentos para a fiel execução correlatos aos respectivos Ministérios.
da lei, posto que as dispostas e utilizadas por tais atos são gerais, Portarias: são atos administrativos respectivamente editados
não possuem destinatários específicos e determinados, e abstratas, por autoridades administrativas, porém, diferentes das do chefe
versando sobre hipóteses e nunca sobre casos concretos. do Poder Executivo. Exemplo: determinação por meio de portaria
determinando a instauração de processo disciplinar específico.
Em relação à forma jurídica adotada, os atos normativos Ordens de serviço: tratam-se de atos administrativos
podem ser: ordenadores da adoção de conduta específica em circunstâncias
a) Decreto: é ato administrativo de competência privativa dos especiais. Exemplo: ordem de serviço determinadora de início de
chefes do Poder Executivo utilizados para regulamentar situação obra pública.
geral ou individual prevista na legislação, englobando também de Ofícios: são especificamente, atos administrativos que se
forma ampla, o decreto legislativo, cuja competência é privativa das responsabilizam pela formalização da comunicação de forma escrita
Casas Legislativas. e oficial existente entre os diversos órgãos públicos, bem como
de entidades administrativas como um todo. Exemplo: requisição
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

de informações necessárias para a defesa do Estado em juízo por a) Pareceres: são atos administrativos que buscam expressar
meio de ofício enviado pela Procuradoria do Estado à Secretaria de a opinião do agente público a respeito de determinada questão de
Saúde. ordem fática, técnica ou jurídica. Exemplo: no curso de processo de
Despachos: são atos administrativos eivados de poder licenciamento ambiental é apresentado parecer técnico.
decisório ou apenas de mero expediente praticados em processos
administrativos. Exemplo: quando da ocorrência de processo De forma geral, a doutrina pondera a existência de três espécies
disciplinar, é emitido despacho especifico determinando a oitiva de de pareceres. São eles:
testemunhas. 1) Parecer facultativo: esta espécie não é exigida pela legislação
para formulação da decisão administrativa. Ao ser elaborado, não
– Atos negociais vincula a autoridade competente;
Também chamados de atos receptícios, são atos administrativos 2) Parecer obrigatório: é o parecer que deve ser necessariamente
de caráter administrativo editados a pedido do particular, com o elaborado nas hipóteses mencionadas na legislação, mas a
fulcro de viabilizar o exercício de atividade específica, bem como a opinião nele contida não vincula de forma definitiva a autoridade
utilização de bens públicos. Nesse ato, a vontade da Administração responsável pela decisão administrativa, que pode contrariar o
Pública é pertinente com a pretensão do particular. Fazem parte parecer de forma motivada;
desta categoria, a licença, a permissão, a autorização e a admissão.
Vejamos: 3) Parecer vinculante: é o parecer que deve ser elaborado
a) Licença: possui algumas características. São elas: de forma obrigatória contendo teor que vincule a autoridade
Ato vinculado: desde que sejam preenchidos os requisitos administrativa com o dever de acatá-lo.
legais por parte do particular, o Poder Público deverá editar a b) Certidões: tratam-se de atos administrativos que possuem
licença; o condão de declarar a existência ou inexistência de atos ou fatos
Ato de consentimento estatal: ato por meio do qual a administrativos. As certidões são atos que retratam a realidade,
Administração se torna conivente com o exercício da atividade porém, não são capazes de criar ou extinguir relações jurídicas.
privada como um todo;
Ato declaratório: ato que reconhece o direito subjetivo do *Nota importante: o art. 5, XXXIV, “b”, da Constituição Federal
particular, vindo a autorizar a habilitação do seu exercício. consagra o direito de certidão no âmbito de direitos fundamentais,
b) Permissão: trata-se de ato administrativo discricionário no qual assegura a todo e qualquer cidadão interessado,
dotado da permissão do exercício de atividades específicas independentemente do pagamento de taxas, “a obtenção de
realizadas pelo particular ou, ainda, o uso privativo de determinado certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e
bem público. Exemplo: a permissão para uso de bem público esclarecimento de situações de interesse pessoal”.
específico.
A permissão é dotada de características essenciais. São elas: c) Atestados: tratam-se de atos administrativos similares às
Ato de consentimento estatal: ato por meio do qual a certidões, posto que também declaram a existência ou inexistência
Administração Pública concorda com o exercício da atividade de fatos. Entretanto, os atestados não se confundem com as
privada, bem como da utilização de bem público por particulares; certidões, uma vez que nas certidões, o agente público utiliza-se do
Ato discricionário: ato por intermédio do qual a autoridade ato de emitir declaração sobre ato ou fato constante dos arquivos
administrativa é dotada de liberdade de análise referente à públicos, ao passo que os atestados se incumbem da tarefa de
conveniência e à oportunidade do ato administrativo; retratar fatos que não constam de forma antecipada dos arquivos
Ato constitutivo: ato por meio do qual, o particular possui da Administração Pública.
somente expectativa de direito antes da edição do ato, e não d) Apostilamento: tratam-se atos administrativos que possuem
apenas de direito subjetivo ao ato. o objetivo de averbar determinados fatos ou direitos reconhecidos
c)Autorização: é detentora de características iguais às da pela norma jurídica como um todo. Como exemplo, podemos citar
permissão, vindo a constituir ato administrativo discricionário o apostilamento, via de regra, feito no verso da última página dos
permissionário do exercício de atividade específica pelo particular contratos administrativos, da variação do valor contratual advinda
ou, ainda, o uso particular de bem público. Da mesma forma que de reajuste previsto no contrato, nos parâmetros do art. 65, § 8.°,
a permissão, a autorização possui como características: o ato de da Lei 8.666/1993, Lei de Licitações.
consentimento estatal, o ato discricionário e o ato constitutivo.
d)Admissão: trata-se de ato administrativo vinculado portador – Atos punitivos
do reconhecimento do direito ao recebimento de serviço público Também chamados de atos sancionatórios, os atos punitivos
específico pelo particular, que deve ser editado na hipótese na qual são aqueles que atuam na restrição de direitos, bem como de
o particular preencha devidamente os requisitos legais. interesses dos administrados que vierem a atuar em desalento com
a ordem jurídica de modo geral. Entretanto, exige-se, de qualquer
– Atos enunciativos forma, o devido respeito à ampla defesa e ao contraditório na
São atos administrativos que expressam opiniões ou, ainda, edição de atos punitivos, nos trâmites do art. 5.°, LV, da Constituição
que certificam fatos no campo da Administração Pública. A doutrina Federal Brasileira, bem como que as sanções administrativas
reconhece como espécies de atos enunciativos: os pareceres, as tenham previsão legal expressa cumprindo os ditames do princípio
certidões, os atestados e o apostilamento. Vejamos: da legalidade.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

Podemos dividir as sanções em dois grupos: Nesse tópico trataremos do condizente a outras situações por
1) Sanções de polícia: de modo geral são aplicadas com meio das quais a extinção do ato administrativo ou de seus efeitos
supedâneo no poder de polícia, bem como são relacionadas aos ocorre pelo fato do Poder Público ter emitido novo ato que surtiu
particulares em geral. Exemplo: multa de trânsito. efeito extintivo sobre o ato anterior. Isso pode ocorrer nas seguintes
2) Sanções funcionais ou disciplinares: são aplicadas com situações:
embasamento no poder disciplinar aos servidores públicos e às
demais pessoas que se encontram especialmente vinculadas – Cassação
à Administração Pública. Exemplo: reprimenda imposta à É a supressão do ato pelo fato do destinatário ter descumprido
determinada empresa contratada pela Administração. condições que deveriam permanecer atendidas com o fito de dar
Em relação aos atos punitivos, pode-se citar como exemplos, as continuidade à0situação jurídica. Como modalidade de extinção
multas, as interdições de atividades, as apreensões ou destruições do ato administrativo, a cassação relaciona-se ao ato que, mesmo
de coisas e as sanções disciplinares. Vejamos resumidamente cada sendo legítimo na sua origem e formação, tornou-se ilegal na sua
espécie: execução. Exemplo: cassação de uma licença para funcionamento
Multas: tratam-se de sanções pecuniárias que são impostas de hotel que passou a funcionar ilegalmente como casa de
aos administrados. prostituição.
Interdições de atividades: são atos que proibitivos ou
suspensivos do exercício de atividades diversas. Vale ressaltar que um dos principais requisitos da cassação
Apreensão ou destruição de coisas: cuidam-se de sanções de um ato administrativo é a preeminente necessidade de sua
aplicadas pela Administração relacionadas às coisas que colocam a vinculação obrigatória às hipóteses previstas em lei ou norma
população em risco. similar. Desta forma, a Administração Pública não detém o poder
Ressalta-se que em se tratando de perigo público iminente, de demonstrar ou indicar motivos diferentes dos previstos para
a autoridade pública deterá o poder de destruir as coisas nocivas justificar a cassação, estando, desta maneira, limitada ao que
à coletividade, havendo ou não, processo administrativo prévio, houver sido fixado nas referidas leis ou normas similares. Esse
situação hipotética na qual a ampla defesa será delongada para entendimento, em geral, evita que os particulares sejam coagidos
momento posterior. Entretanto, estando ausente a urgência da a conviver com extravagante insegurança jurídica, posto que, a
medida, denota-se que a sua aplicação dependerá da formalização qualquer momento a administração estaria apta a propor a cassação
feita de forma prévia no processo administrativo, situação por do ato administrativo.
intermédio da qual, a ampla defesa será postergada para momento Relativo à sua natureza jurídica, sendo a cassação considerada
ulterior. como um ato sancionatório, uma vez que a cassação só poderia
Sanções disciplinares: também chamadas de sanções ser proposta contra particulares que tenham sido flagrados pelos
funcionais, as sanções disciplinares são aplicadas aos servidores agentes de fiscalização em descumprimento às condições de
públicos e aos administrados possuidores de relação jurídica subsistência do ato, bem como por ato revisional que implicasse
especial com a Administração Pública, desde que tenha sido auditoria, acoplando até mesmo questões relativas à intercepção
constatada a violação ao ordenamento jurídico, bem como aos de bases de dados públicas.
termos do negócio jurídico. Um exemplo disso, é a demissão de Vale ressaltar que a cassação e a anulação possuem efeitos
servidor público que tenha cometido falta grave. parecidos, porém não são equivalentes, uma vez que a cassação
advém do não cumprimento ou alteração dos requisitos necessários
*Nota importante: Diferentemente das sanções aplicadas para a formação ou manutenção de uma situação jurídica, ao passo
aos particulares, de modo geral, no exercício do poder de polícia, que a anulação tem parte quando é verificado que o defeito do ato
as sanções disciplinares são aplicadas no campo das relações de ocorreu na formação do ato.
sujeição especial de administrados específicos do poder disciplinar
da Administração Pública, como é o caso dos servidores e – Anulação
contratados. Ao passo que as sanções de polícia são aplicadas para É a retirada ou supressão do ato administrativo, pelo motivo
o exterior da Administração - as chamadas sanções externas - as de ele ter sido produzido com ausência de conformidade com a lei
sanções disciplinares são aplicadas no interior da Administração e com o ordenamento jurídico. A anulação é resultado do controle
Pública, - as denominadas sanções internas. de legalidade ou legitimidade do ato. O controle de legalidade ou
legitimidade não permite que se aprofunde na análise do mérito
Extinção do ato administrativo do ato, posto que, se a Administração contiver por objetivo retirar
Diversas são as causas que causam e determinam a extinção o ato por razões de conveniência e oportunidade, deverá, por
dos atos administrativos ou de seus efeitos. No entendimento de conseguinte, revogá-lo, e não o anular.
Celso Antônio Bandeira de Mello, o ato administrativo eficaz poderá Diferentemente da revogação, que mantém incidência
ser extinto pelos seguintes motivos: cumprimento de seus efeitos, somente sobre atos discricionários, a anulação pode atingir tanto
vindo a se extinguir naturalmente; desaparecimento do sujeito, os atos discricionários quanto os vinculados. Isso que é explicado
vindo a causar a extinção subjetiva, ou sendo do objeto, extinção pelo fato de que ambos deterem a prerrogativa de conter vícios de
objetiva; retirada do ato pelo Poder Público e pela renúncia do legalidade.
beneficiário. Em relação à competência, a anulação do ato administrativo
viciado pode ser promovida tanto pela Administração como pelo
Poder Judiciário.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

Muitas vezes, a Administração anula o seu próprio ato. Quando Desta maneira, não havendo possibilidade de análise de mérito
isso acontece, dizemos que ela agiu com base no seu poder de para a edição do ato, essa abertura passará a não existir para que o
autotutela, devidamente paramentado nas seguintes Súmulas do ato seja desfeito pela revogação.
STF:
Mesmo não se submetendo a qualquer limite de prazo, a
PODER DE AUTOTUTELA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA princípio, a revogação do ato administrativo pode ser realizada a
qualquer tempo. Nesse sentido, a doutrina infere a existência de
a Administração Pública pode declarar certos limites ao poder de revogar. Nos dizeres de Maria Sylvia
Súmula 346
a nulidade dos seus próprios atos. Zanella Di Pietro12, não são revogáveis os seguintes atos:
a Administração pode anular seus a) Os atos vinculados, porque sobre eles não é possível a
próprios atos, quando eivados de vícios análise de conveniência e oportunidade;
que os tornam ilegais, porque deles não b) Os atos que exauriram seus efeitos, como a revogação não
se originam direitos; ou revogá-los, por retroage e os atos já produziram todos os efeitos que lhe seriam
Súmula 473 próprios, não há que falar em revogação; é o que ocorre quando
motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e transcorre o prazo de uma licença concedida ao servidor público,
ressalvada, em todos os casos, a apreciação após o gozo do direito, não há como revogar o ato;
judicial. c) Quando a prática do ato exauriu a competência de quem
o praticou, o que ocorre quando o ato está sob apreciação de
Assim, percebe-se que o instituto da autotutela pode autoridade superior, hipótese em que a autoridade inferior que o
ser invocado para anular o ato administrativo por motivo de praticou deixou de ser competente para revogá-lo;
ilegalidade, bem como para revogá-lo por razões de conveniência d) Os meros atos administrativos, como certidões, atestados,
e oportunidade. votos, porque os efeitos deles decorrentes são estabelecidos pela
A anulação do ato administrativo pode se dar de ofício ou por lei;
provocação do interessado. e) Os atos que integram um procedimento, porque a cada
Tendo em vista o princípio da inércia Poder Judiciário, no novo ato ocorre a preclusão com relação ao ato anterior;
exercício de função jurisdicional, este apenas poderá anular o ato f) Os atos que geram direitos a terceiros, (o chamado direito
administrativo havendo pedido do interessado. adquirido), conforme estabelecido na Súmula 473 do STF.
Destaque-se que a anulação de ato administrativo pela própria
Administração, somente pode ser realizada dentro do prazo – Convalidação
legalmente estabelecido. À vista da autonomia administrativa É a providência tomada para purificar o ato viciado, afastando
atribuída de forma igual à União, Estados, Distrito Federal e por sua vez, o vício que o maculava e mantendo seus efeitos,
Municípios, cada uma dessas esferas tem a possibilidade de, inclusive aqueles que foram gerados antes da providência
observado o princípio da razoabilidade e mediante legislação saneadora. Em sentido técnico, a convalidação gera efeitos ex tunc,
própria, fixar os prazos para o exercício da autotutela. uma vez que retroage à data da edição do ato original, mantendo-
Em decorrência do disposto no art. 54 da Lei 9.784/1999, no lhe todos os efeitos.
âmbito federal, em razão do direito de a Administração anular os Sendo admitida a convalidação, a convalidação perderia sua
atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os razão de ser, equivalendo em tudo a uma anulação, apagando os
destinatários de boa-fé, o prazo de anulação decai em cinco anos, efeitos passados, seguida da edição de novo ato que por sua vez,
contados da data em que foram praticados. Infere-se que como tal passaria a gerar os seus tradicionais efeitos prospectivos.
norma não possui caráter nacional, não há impedimentos para a Por meio da teoria dualista é admitida a existência de vícios
estipulação de prazos diferentes em outras esferas. sanáveis e insanáveis, bem como de atos administrativos nulos e
anuláveis.
– Revogação À vista da atual predominância doutrinária, a teoria dualista foi
É a extinção do ato administrativo válido, promovido pela incorporada formalmente à legislação brasileira. Nesse diapasão,
própria Administração, por motivos de conveniência e oportunidade, o art. 55 da Lei 9.784/1999 atribui à Administração pública a
sendo que o ato é suprimido pelo Poder Público por motivações de possibilidade de convalidar os atos que apresentarem defeitos
conveniência e oportunidade, sempre relacionadas ao atendimento sanáveis, levando em conta que tal providência não acarrete lesão
do interesse público. Assim, se um ato administrativo legal e perfeito ao interesse público nem prejuízo a terceiros. Embora tal regra seja
se torna inconveniente ao interesse público, a administração pública destinada à aplicação no âmbito da União, o mesmo entendimento
poderá suprimi-lo por meio da revogação. tem sido aplicado em todas as esferas, tanto em decorrência da
A revogação resulta de um controle de conveniência e existência de dispositivo similar nas leis locais, quanto mediante
oportunidade do ato administrativo promovido pela própria analogia com a esfera federal e também com fundamento na
Administração que o editou. prevalência doutrinária vigente.
É fundamental compreender que a revogação somente pode Assim, é de suma importância esclarecermos que a
atingir os atos administrativos discricionários. Isso ocorre por que jurisprudência tem entendido que mesmo o ato nulo pode, em
quando a administração está à frente do motivo que ordena a determinadas lides, deixar de ter sua nulidade proclamada em
prática do ato vinculado, ela deve praticá-lo de forma obrigatória, decorrência do princípio da segurança jurídica.
não lhe sendo de forma alguma, facultada a possibilidade de
analisar a conveniência e nem mesmo a oportunidade de fazê-lo.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

Decadência Administrativa Em resumo, é de grande importância o posicionamento


O instituto da decadência consiste na perda efetiva de um adotado pela Corte Suprema, levando em conta que ao mesmo só
direito existente, pela falta de seu exercício, no período de tempo tempo, propicia maior segurança jurídica e respeita a regra geral de
determinado em lei e também pela vontade das próprias partes contagem do prazo decadencial.
e, ainda no fim de um direito subjetivo em face da inércia de seu
titular, que não ajuizou uma ação constitutiva no prazo estabelecido
pela lei. SERVIÇOS PÚBLICOS: CONCEITO, CLASSIFICAÇÃO, REGU-
Celso Antônio Bandeira de Mello considera esse instituto como LAMENTAÇÃO E CONTROLE; DELEGAÇÃO: CONCESSÃO,
sendo a “perda do próprio direito, em si, por não o utilizar no prazo PERMISSÃO, AUTORIZAÇÃO
previsto para o seu exercício, evento, este, que sucede quando a
única forma de expressão do direito coincide conaturalmente
com o direito de ação”. Ou seja, “quando o exercício do direito se Conceito
confunde com o exercício da ação para manifestá-lo”. De modo geral, não havendo a existência de um conceito legal
Nos trâmites do artigo 54 da Lei 9.784/99, encontramos o ou constitucional de serviço público, a doutrina se encarregou de
disposto legal sobre a decadência do direito de a administração buscar uma definição para os contornos do instituto, ato que foi
pública anular seus próprios atos, a partir do momento em que esses realizado com a adoção, sendo por algumas vezes isolada, bem
vierem a gerar efeitos favoráveis a seus destinatários. Vejamos: como em outras, de forma combinadas, vindo a utilizar-se dos
critérios subjetivo, material e formal. Vejamos a definição conceitual
Artigo 54. O direito da administração de anular os atos de cada em deles:
administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os
destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram Critério subjetivo
praticados, salvo comprovada má-fé. Aduz que o serviço público se trata de serviço prestado pelo
§ 1° - No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de Estado de forma direta.
decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento.
§ 2° - Considera-se exercício do direito de anular qualquer Critério material
medida de autoridade administrativa que importe impugnação à Sob esse crivo, serviço público é a atividade que possui como
validade do ato.” objetivo satisfazer as necessidades coletivas.

O mencionado direito de anulação do ato administrativo decai Critério formal


no prazo de cinco anos, contados da data em que o ato foi praticado. Segundo esse critério, serviço público é o labor exercido sob
Isso significa que durante esse decurso, o administrado permanecerá o regime jurídico de direito público denegridor e desmesurado do
submetido a revisões ou anulações do ato administrativo que o direito comum.
beneficia. Passando o tempo, denota-se que o Estado foi se distanciando
Entretanto, após o encerramento do prazo decadencial, dos princípios liberais, passando a desenvolver também atividades
o administrado poderá ter suas relações com a administração comerciais e industriais, que, diga se de passagem, anteriormente
consolidadas contando com a proteção da segurança jurídica. eram reservadas somente à iniciativa privada. De outro ângulo,
Anote-se que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do foi verificado em determinadas situações, que a estrutura de
Mandado de Segurança 28.953, adotou o seguinte entendimento organização do Estado não se encontrava adequada à execução
sobre a matéria na qual o ministro Luiz Fux desta forma esclareceu: de todos os serviços públicos. Por esse motivo, o Poder Público
“No próprio Superior Tribunal de Justiça, onde ocupei durante veio a delegar a particulares com o intuito de responsabilidade,
dez anos a Turma de Direito Público, a minha leitura era exatamente a prestação de alguns serviços públicos. Em outro momento, tais
essa, igual à da ministra Carmen Lúcia; quer dizer, a administração serviços públicos também passaram a ter sua prestação delegada
tem cinco anos para concluir e anular o ato administrativo, e não a outras pessoas jurídicas, que por sua vez, eram criadas pelo
para iniciar o procedimento administrativo. Em cinco anos tem próprio Estado para esse fim específico. Eram as empresas públicas
que estar anulado o ato administrativo, sob pena de incorrer em e sociedades de economia mista, que possuem regime jurídico
decadência (grifo aditado). Eu registro também que é da doutrina de direito privado, cujo serviço era mais eficaz para que fossem
do Supremo Tribunal Federal o postulado da segurança jurídica e da executados os serviços comerciais e industriais.
proteção da confiança, que são expressões do Estado Democrático Esses acontecimentos acabaram por prejudicar os critérios
de Direito, revelando-se impregnados de elevado conteúdo ético, utilizados pela doutrina para definir serviço público como um todo.
social e jurídico, projetando sobre as relações jurídicas, inclusive, Denota-se que o elemento subjetivo foi afetado pelo fato de as
as de Direito Público. De sorte que é absolutamente insustentável pessoas jurídicas de direito público terem deixado de ser as únicas
o fato de que o Poder Público não se submente também a essa a prestar tais serviços, posto que esta incumbência também passou
consolidação das situações eventualmente antijurídicas pelo a ser delegada aos particulares, como é o caso das concessionárias,
decurso do tempo.” permissionárias e autorizatárias. Já o elemento material foi atingido
Destaca-se que ao afirmar que a Administração Pública dispõe em decorrência de algumas atividades que outrora não eram tidas
de cinco anos para anular o ato administrativo, o ministro Luiz Fux como de interesse público, mas que passaram a ser exercidas pelo
promoveu maior confiabilidade na relação entre o administrado e Estado, 8como por exemplo, como se deu com o serviço de loterias.
Administração Pública, suprimindo da administração o poder de usar O elemento formal, por sua vez, também foi bastante atingido, na
abusivamente sua prerrogativa de anulação do ato administrativo, o forma que aduz que nem todos os serviços públicos são prestados
que proporciona maior equilíbrio entre as partes interessadas. sob regime de exclusividade pública, como por exemplo, a aplicação
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

de algumas normas de direito do consumidor e de direito civil a fulcro de oferecer conveniência e utilidades, bem como de atender
contratos feitos entre os particulares e a entidade prestadora de as constantes necessidades da população que sempre acontecem
serviço público de forma geral. de forma mutante, a exemplo das parcerias público-privadas, das
Assim sendo, em razão dessas inovações, os autores passaram, OSCIPs e organizações sociais.
por sua vez, a comentar em crise na noção de serviço público. Nesse sentido, com o objetivo de reinterpretar o elemento
Hodiernamente, os critérios anteriormente mencionados continuam subjetivo em consonância com o atual estágio de evolução do direito
sendo utilizados para definir serviço público, porém, não é exigido administrativo, podemos afirmar que a caracterização de um serviço
que os três elementos se façam presentes ao mesmo tempo para como público, em tempos contemporâneos passou a não exigir
que o serviço possa ser considerado de utilidade pública, passando mais que a prestação seja realizada pelo Estado, mas apenas que ele
a existir no campo doutrinário diversas definições, advindas do uso passe a deter, nos termos legais dispostos na Constituição Federal
isolado de um dos elementos ou da combinação existente entre de 1988, a titularidade de tal serviço. Em relação a esse aspecto,
eles. destacamos a importância de não vir a confundir a expressiva
Registra-se, que além da enorme variedade de definições titularidade do serviço com sua efetiva prestação. Registe-se que o
advindas da combinação dos critérios subjetivo, material e formal, titular do serviço, trata-se do sujeito que detém a atribuição legal
é de suma importância compreendermos que o vocábulo “serviço constitucional para vir a prestá-lo. Via de regra, aquele que detém
público” pode ser considerado sob dois pontos de vista, sendo um a titularidade do serviço não se encontra obrigado a prestá-lo de
subjetivo e outro objetivo. Façamos um breve estudo de cada um forma direta através de seus órgãos, mas tem o dever legal de
deles: promover-lhe a prestação, de forma direta por meio de seu aparato
– Sentido objetivo administrativo, ou, ainda, mediante a legal delegação a particulares
Infere-se que tal expressão é usada para fazer alusão ao sujeito realizada por meio de concessão, permissão ou autorização.
responsável pela execução da atividade. Exemplo: determinada De maneira igual, contemporaneamente, o critério material
autarquia com o dever de prestar de serviços para a área da considerado de forma isolada não é suficiente para definir um serviço
educação. como público. Isso ocorre pelo fato de existirem determinadas
atividades relativas aos direitos sociais como saúde e educação, por
– Sentido objetivo ou material exemplo, que apenas podem ser enquadradas no conceito quando
Nesse sentido, a administração pública está coligada à diversas forem devidamente prestadas pelo Estado, levando em conta que
atividades que são exercidas pelo Estado, por intermédio de a execução desses serviços por particulares deve ser denominada
seus agentes, órgãos e entidades na diligência eficaz da função como serviço privado.
administrativa estatal. Finalmente, em relação ao critério formal, nos tempos
Destaque-se, por oportuno, que o vocábulo serviço público modernos, infere-se que não é mais necessário que o regime
sempre está se referindo a uma atividade, ou, ainda, a um conjunto jurídico ao qual está submetido o serviço público seja realizado
de atividades a serem exercidas, sem levar em conta qual o órgão de maneira integral de direito público, sendo que em algumas
ou a entidade que as exerce. situações, acaba existindo um sistema híbrido que é formado por
Mesmo com os aspectos expostos, boa parte da doutrina ainda regras e normas de direito público e privado, principalmente em se
usa de definições de caráter amplo e restrito do vocábulo serviço tratando de caso de serviços públicos nos quais sua prestação tenha
público. Para alguns, tal vocábulo se presta a designar todas as sido delegada a terceiros.
funções do Estado, tendo em vista que nesse rol estão inclusas as
funções administrativa, legislativa e judiciária. Já outra corrente – Observação importante: Com o entendimento acima
doutrinária, utiliza-se de um conceito com menor amplitude, vindo mencionado, a ilustre Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro
a incluir somente as funções administrativas e excluindo, por sua acaba por definir serviço público como sendo toda a atividade
vez, as funções legislativa e judiciária. Destarte, infere-se que dentre material que a lei atribui ao Estado, para que este a exerça de forma
aquelas doutrinas que adotam um sentido mais restrito, existem direta ou por intermédio de seus delegados, com o condão de
ainda as que excluem do conceito atividades importantes advindas satisfazer de forma concreta as necessidades da coletividade, sob
do exercício do poder de polícia, de intervenção e de fomento. regime jurídico total ou parcialmente público.
Denota-se com grande importância, que o direito brasileiro
acaba por diferenciar de forma expressa o serviço público e o poder Elementos Constitutivos
de polícia. Em campo tributário, por exemplo, no disposto em Os elementos do serviço público podem ser classificados sob os
seus arts. 77 e 78, o Código Tributário Nacional dispõe do ensino seguintes aspectos:
e determinação de duas atuações como fatos geradores diversos Subjetivo: Por meio do qual o serviço público está sempre sob
do tributo de nome taxa. Nesse diapasão de linha diferenciadora, a total responsabilidade do Estado. No entanto, registra-se que ao
a ESAF, na aplicação da prova para Procurador do Distrito Estado como um todo, é permitido delegar determinados serviços
Federal/2007, veio a considerar como incorreta a afirmação: “o públicos, desde que sempre por intermediação dos parâmetros da
exercício da atividade estatal de polícia administrativa constitui a lei e sob regime de concessão ou permissão, bem como por meio de
prestação de um serviço público ao administrado”. licitação. Denota-se que nesse caso, é o próprio Estado que escolhe
De forma geral, a doutrina entende que os elementos subjetivo, os serviços que são considerados serviços públicos. Como exemplo,
material e formal tradicionalmente utilizados para definir serviço podemos citar: os Correios, a radiodifusão e a energia elétrica,
público, continuam de forma ampla a servir a esse propósito, desde dentre outros serviços pertinentes à Administração Pública. Esse
que estejam combinados e harmonizados com o fito de acoplar de elemento determina que o serviço público deve ser prestado pelo
forma correta, as contemporâneas figuras jurídicas que vêm sendo
inseridas e determinadas pelo legislador com força de lei, com o
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

Estado ou pelos seus entes delegados, ou seja, por pessoas jurídicas Art. 32. O poder concedente poderá intervir na concessão,
criadas pelo Estado ou por concessões e permissões a terceiros com o fim de assegurar a adequação na prestação do serviço, bem
para que possam prestá-lo. como o fiel cumprimento das normas contratuais, regulamentares
Formal: A princípio, o regime jurídico é de Direito Público, ou e legais pertinentes.
parcialmente público, sob o manto do qual o serviço público deverá
ser prestado. No entanto, quando particulares prestam seus serviços Deve-se registrar também, que outro aspecto que deve ser
em conjunto com o Poder Público, ressalta-se que o regime jurídico enfatizado com destaque em relação à regulamentação e ao
é considerado como híbrido. Isso por que nesse caso, poderá haver controle dos serviços públicos, são os requisitos do serviço e
a permanência do Direito Público ou do Direito Privado nos ditames direito dos usuários, sendo que o primeiro deles é a permanência,
da lei. Porém, em ambas as situações, a responsabilidade será que possui como atributo, impor a continuidade do serviço. Logo
sempre objetiva. após, temos o requisito da generalidade, por meio do qual, os
Material: Por intermédio desse elemento, o serviço público serviços devem ser prestados de maneira uniforme para toda
deverá sempre prestar serviços condizentes a uma atividade de a coletividade. Em seguida, surge o requisito da eficiência, por
interesse público como um todo. Denota-se que por meio da intermédio do qual é exigida a eficaz atualização do serviço
aplicação desse elemento, o objetivo do serviço público será público. Em continuidade, vem a modicidade, por meio da qual,
sempre o de satisfazer de forma concreta as necessidades da infere-se que as tarifas que são cobradas dos usuários devem
coletividade. ser eivadas de valor razoável e por fim, a cortesia, que por seu
Esquematizando, temos: intermédio, entende-se que o tratamento com o usuário público
em geral, deverá ser oferecido com presteza.
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DOS SERVIÇOS PÚBLICOS Havendo descumprimento de quaisquer dos requisitos retro
Subjetivo: determina que o serviço público deve ser prestado mencionados, afirma-se que o usuário do serviço terá em suas
pelo Estado ou pelos seus entes delegados, ou seja, por pessoas mãos o direito pleno de recorrer ao Poder Judiciário para exigir
jurídicas criadas pelo Estado ou por concessões e permissões a a correta prestação desses serviços. Neste mesmo sentido,
terceiros para que possam prestá-lo. destaca-se que a greve de servidores públicos, não poderá jamais
Formal: o regime jurídico é de Direito Público, ou ultrapassar o direito dos usuários dos serviços essenciais, que se
parcialmente público, sob o manto do qual o serviço público tratam daqueles que por decorrência de sua natureza, colocam
deverá ser prestado. a sobrevivência, a vida e a segurança da sociedade em risco se
Material: o serviço público deverá sempre prestar serviços estiverem ausentes.
condizentes a uma atividade de interesse público como um todo.
Subjetivo: é o próprio Estado que escolhe os serviços que Formas de prestação e meios de execução
são considerados serviços públicos. Como exemplo, podemos O art. 175 da Constituição Federal de 1988 determina, que
citar: os Correios, a radiodifusão e a energia elétrica, dentre compete ao Poder Público, nos parâmetros legais, de forma direta
outros serviços pertinentes à Administração Pública. ou sob regime de concessão ou permissão a prestação de serviços
Formal: poderá haver a permanência do Direito Público públicos de forma geral. De acordo com esse mesmo dispositivo,
ou do Direito Privado nos ditames da lei. Porém, em ambas as as concessões e permissões de serviços públicos deverão ser
situações, a responsabilidade será sempre objetiva. sempre precedidas de licitação.
Material: por meio da aplicação desse elemento, o objetivo Entretanto, o parágrafo único do art. 175 da Carta Magna
do serviço público será sempre o de satisfazer de forma concreta dispõe a implementação de lei para regulamentar as seguintes
as necessidades da coletividade. referências:
I – o regime das empresas concessionárias e permissionárias
Regulamentação e Controle de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua
Tanto a regulamentação quanto o controle do serviço público prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização
são realizados de maneira regular pelo Poder Público. Isso e rescisão da concessão ou permissão;
ocorre em qualquer sentido, ainda que o serviço esteja delegado II – os direitos dos usuários;
por concessão, permissão ou autorização, uma vez que nestas III – política tarifária;
situações, deverá o Estado manter sua titularidade e, ainda que IV – a obrigação de manter serviço adequado.
haja situações adversas e problemas durante a prestação, poderá
o Poder Público interferir para que haja a regularização do seu Considera-se que a Lei Federal 8.987/1995, em obediência
funcionamento, com fundamento sempre na preservação do ao mandamento constitucional foi editada estabelecendo normas
interesse público. generalizadas como um todo em matéria de concessão e permissão
Ressalta-se que esses serviços são controlados e também de serviços públicos, devendo tais normas, ser aplicáveis à União,
fiscalizados pelo Poder Público, que deve intervir em caso de Estados, Distrito Federal e Municípios, da mesma forma que a Lei
má prestação, sendo que isso é uma obrigação que lhe compete Federal 9.074/1995, que, embora tenha o condão de estipular
segundo parâmetros legais. regras especificamente voltadas a serviços de competência da
A esse respeito, dispõe a Lei 8997 de 1995 em seus arts. 3º e União, trouxe também em seu bojo, pouquíssimas regras gerais que
32, respectivamente: podem ser aplicadas a todos os entes federados.
Art. 3º. As concessões e permissões sujeitar-se-ão à Em relação à forma de prestação dos serviços públicos,
fiscalização pelo poder concedente responsável pela delegação, depreende-se que estes podem ser prestados de forma centralizada
com a cooperação dos usuários. ou descentralizada, sendo a primeira forma caracterizada quando o
serviço público for prestado pela própria pessoa jurídica federativa
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

que detém a sua titularidade e a segunda forma, quando, em várias situações, o ente político titular de determinado serviço público,
embora continue mantendo a sua titularidade, termina por transferir a pessoas diferentes e desconhecida à sua estrutura administrativa,
a responsabilidade pela prestação.
Lembremos que o ente político, mesmo ao transferir a responsabilidade pela prestação de serviços públicos a terceiros, sempre
poderá conservar a sua titularidade, fato que lhe garante a manutenção da competência para regular e controlar a prestação dos serviços
delegados a outrem.
A descentralização dos serviços públicos pode ocorrer de duas maneiras:
1. Por meio de outorga ou delegação legal: por meio da qual o Estado cria uma entidade que poderá ser autarquia, fundação pública
sociedade de economia mista ou empresa pública, transferindo-lhe, por meios legais a execução de um serviço público.
2. Por meio de delegação ou delegação negocial: por intermédio da qual, o Poder Público detém o poder de transferir por contrato
ou ato unilateral a execução ampla do serviço, desde que o ente delegado preste o serviço em nome próprio e por sua conta e risco, sob o
controle do Estado e dentro da mesma pessoa jurídica.
Esclarece-se ainda, a título de conhecimento, que a delegação negocial admite a titularidade exclusiva do ente delegante sobre o
serviço a ser delegado. Em se tratando de serviços nos quais a titularidade não for exclusiva do Poder Público, como educação e saúde,
por exemplo, o particular que tiver a pretensão de exercê-lo não estará dependente de delegação do Estado, uma vez que tais atos de
exercício de educação e saúde, quando forem prestados por particulares, não serão mais considerados como serviços públicos, mas sim
como atividade econômica da iniciativa privada.
Em outras palavras, os serviços públicos podem ser executados nas formas:
– Direta: Quando é prestado pela própria administração pública por intermédio de seus próprios órgãos e agentes.
– Indireta: Quando o serviço público é prestado por intermédio de entidades da Administração Pública indireta ou, ainda, de particulares,
por meio de delegação, concessão, permissão e autorização. Esta forma de prestação de serviço, deverá ser sempre sobrepujada de
licitação, formalizada por meio de contrato administrativo, seguida de adesão com prazo previamente estipulado e que por ato bilateral,
buscando somente transferir a execução, porém, jamais a titularidade que deverá sempre permanecer com o poder outorgante.

Em resumo, temos:

Descentralização Transferência da execução do serviço para outra pessoa física ou jurídica.


Desconcentração Divisão interna do serviço com outros órgãos da mesma pessoa jurídica.

— Delegação

Concessão
Ocorre a delegação negocial de serviços públicos mediante: concessão, permissão ou autorização.
Nesse tópico, não esgotaremos todas as formas de concessões existentes e suas formas de aplicação e execução nos serviços públicos,
porém destacaremos as mais importantes e mais cobradas em provas de concursos públicos e áreas afins.
Conforme o Ordenamento Jurídico Brasileiro, as concessões de serviços públicos podem ser divididas em duas espécies:
1ª) Concessões comuns, que estão sob a égide das leis 8.987/1995 e 9.074/1995 e 2ª, que subdividem em: concessão de serviços
públicos e concessão de serviço público precedida da execução de obra pública.
2ª) Concessões especiais, que são as parcerias público-privadas previstas na Lei 11.079/2004, sujeitas a alguns dispositivos da Lei
8.987/1995. Se subdividindo em duas categorias: concessão patrocinada e concessão administrativa.

A concessão comum de serviço público é uma modalidade de contrato administrativo por intermédio do qual a Administração
Pública transfere delegação a pessoa jurídica ou, ainda, a consórcio de empresas a execução de certo serviço público pertencente à
sua titularidade, na qual o concessionário é obrigado, por meio de contratos legais a executar o serviço delegado em nome próprio, por

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NOÇÕES DE DIREITO

sua conta e risco, sendo sujeito a controle e fiscalização do poder Ademais, as concessionárias de serviços públicos, de direito
concedente e remunerado através de tarifa paga pelo usuário público e privado, nos Estados e no Distrito Federal, são legalmente
ou outra modalidade de remuneração advinda da exploração obrigadas a dispor ao consumidor e ao usuário, desde que dentro
do serviço. Exemplo: as receitas adquiridas por empresas de do mês de vencimento, o mínimo de seis datas como opção
transporte coletivo que cobram por comerciais constantes na parte para escolherem os dias de vencimento de seus débitos a serem
traseira dos ônibus. adimplidos, nos termos do art. 7º-A, da Lei 8.987/1995.
Conforme mencionado, existem duas modalidades de
concessão comum, quais sejam: a concessão de serviço público, 1. Serviço adequado
também conhecida como concessão simples e a concessão de Os usuários detêm o direito de receber um serviço público
serviço público antecedida de execução por meio de obra pública. adequado. Esse direito encontra-se regulamentado pelo seguinte
A concessão de serviço público ou concessão simples, pode ser dispositivo:
definida pela lei como a “delegação da prestação de serviço público, Art. 6º Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação
feita pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme
de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo
demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco contrato.
e por prazo determinado” (art. 2º, II). § 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de
Já a concessão de serviço público antecedida de execução regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade,
de obra pública pode ser como “a construção, total ou parcial, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.
conservação, reforma, ampliação ou melhoramento de quaisquer
obras de interesse público, delegada pelo poder concedente, Denota-se que além do conhecimento da previsão no citado
mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa dispositivo, é importante compreendermos o significado prático de
jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para cada condição citada, com o objetivo de garantir que cada exigência
a sua realização, por sua conta e risco, de forma que o investimento legal seja cumprida para a qualificação do serviço como adequado.
da concessionária seja remunerado e amortizado mediante a Desta forma, temos:
exploração do serviço ou da obra por prazo determinado” (art. 2º, 1 – Regularidade: exige que os serviços públicos sejam
III). Como hipótese de exemplo, citamos a concessão a particular, prestados de forma a garantir a estabilidade e a manutenção dos
vitorioso de processo licitatório por construção e conservação de requisitos essenciais, sendo prestados em perfeita harmonia com a
rodovia, com o consequente pagamento realizado mediante a lei e com o regulamento que disciplina a matéria.
cobrança de pedágio aos particulares que vierem a utilizar da via. 2 – Continuidade: impõe que o serviço público, uma vez
Pondera-se que a diferença entre as duas modalidades de instituído, seja prestado de forma permanente e sem interrupção,
concessão comum está apenas no objeto. Perceba que na concessão com exceção de situações de emergência, bem como a que advém
simples, o objeto do contrato é somente a execução de atividade de razões de ordem técnica ou de segurança das instalações
que foi caracterizada como sendo serviço público, ao passo que elétricas, por exemplo.
na concessão de serviço público antecedida da execução de obra 3 – Eficiência: refere-se à obtenção de resultados eficazes na
pública existe uma duplicidade de objeto, sendo que o primeiro prestação do serviço público, exigindo que o serviço seja realizado
deles se refere ao ajuste existente entre o poder concedente e de acordo com uma adequada relação de custo/benefício, para,
o concessionário para que certa obra pública seja executada. com isso, evitar desperdícios.
Em relação ao segundo, a prestação do serviço público existe na 4 – Segurança: deverão os serviços públicos respeitar padrões,
exploração amplamente econômica do serviço ou da obra. bem como normas de segurança, de forma a preservar a integridade
da população de modo geral e dos equipamentos utilizados.
– Direitos e obrigações dos usuários 5 – Atualidade: possui como foco o impedimento de que o
Nos ditames do art. 7º da Lei 8.987/1995, os direitos e prestador se encontre alheio às inovações tecnológicas, suprimindo
obrigações dos usuários dos serviços públicos delegados são os o investimento em termos de disponibilização aos usuários das
seguintes: melhorias de qualidade e amplitude do serviço.
a) Receber serviço adequado; 6 – Generalidade: deve oferecer a garantia de que o serviço
b) Receber do poder concedente e da concessionária seja ofertado da forma mais abrangente possível.
informações para a defesa de interesses individuais ou coletivos; 7 – Cortesia: o prestador do serviço deverá tratar o usuário de
forma educada e gentil.
c) Obter e utilizar o serviço, com liberdade de escolha entre
vários prestadores de serviços, quando for o caso, observadas as 8 – Modicidade das tarifas: aduz que o valora a ser pago
normas do poder concedente; pela prestação dos serviços, deverá, nos parâmetros legais,
d) Levar ao conhecimento do poder público e da concessionária ser estabelecido de acordo com os padrões de razoabilidade,
as irregularidades de que tenham conhecimento, referentes ao buscando evitar que os prestadores de serviços venham o obter
serviço prestado; lucros extraordinários causando prejuízo aos usuários econômico-
e) Comunicar às autoridades competentes os atos ilícitos financeiros do contrato firmado com a administração.
praticados pela concessionária na prestação do serviço;
f) Contribuir para a permanência das boas condições dos bens – Observação importante: A celebração de qualquer espécie
públicos pelos quais lhes são prestados os serviços. de contrato de concessão ou permissão de serviço público deve
ser realizada mediante licitação, conforme previsto no art. 175 da
Constituição Federal. Concernente às concessões, a Lei 8.987/1995
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NOÇÕES DE DIREITO

determinou que a delegação dependerá da realização de prévio VII – forma de fiscalização das instalações, dos equipamentos,
procedimento licitatório para que seja escolhido o concessionário, dos métodos e práticas de execução do serviço, bem como a
na modalidade obrigatória da concorrência. Sendo a modalidade indicação dos órgãos competentes para exercê-la; simples e nas
licitatória regulada pela Lei de Licitações e Contratos, Lei concessões de serviço público precedida da execução de obra
8.666/1993, e tema dos próximos tópicos de estudo, mais adiante, pública (art. 23,caput);
detalharemos com maior aprofundamento sobre este importante VIII – penalidades contratuais e administrativas a que se sujeita
tema. a concessionária e sua forma de aplicação;
IX – casos de extinção da concessão;
Passemos a abordar a respeito do prazo que a Administração X – bens reversíveis;
Pública permite à concessão na execução dos serviços públicos como XI – critérios para o cálculo e a forma de pagamento das
um todo. A Lei 8.987/1995 estabelece que a concessão simples de indenizações devidas à concessionária, quando for o caso;
serviço público ou a concessão de serviço público precedida de XII – condições para prorrogação do contrato;
obra pública deverá ser realizada por prazo determinado, mas não XIII – à obrigatoriedade, forma e periodicidade da prestação de
define quais seriam os limites desse prazo. Assim sendo, caberá à lei contas da concessionária ao poder concedente;
reguladora específica de cada serviço público, devidamente editada XIV – exigência da publicação de demonstrações financeiras
pelo ente federado detentor de competência para prestá-lo, aditar periódicas da concessionária; e
definindo qual o prazo de duração do contrato de concessão. Caso XV – o foro e o modo amigável de solução das divergências
o legislador competente não estabeleça qualquer prazo, deverá, contratuais.
por conseguinte, o poder concedente fixá-lo no ato da minuta do
contrato de concessão, que se encontra afixado como anexo no Cláusulas obrigatórias somente nas concessões de serviços
edital da licitação. públicos precedidas de obras públicas (art. 23, parágrafo único)
Denota-se que o prazo deve ser razoável, de forma a I – estipular os cronogramas físico-financeiros de execução das
permitir o abatimento dos investimentos a serem realizados pelo obras vinculadas à concessão; e
concessionário. II – exigir garantia do fiel cumprimento, pela concessionária,
Referente às concessões advindas de parceria público-privada, das obrigações relativas às obras vinculadas à concessão.
infere-se que a vigência de tais contratos deverá ser sempre
compatível com o abatimento dos investimentos realizados, Cláusulas facultativas (art. 23-A)
não podendo ser sendo inferior a 5 e nem superior a 35 anos, já I – o contrato de concessão poderá prever o emprego de
restando-se incluído nesse prazo eventual prorrogação nos termos mecanismos privados para resolução de disputas decorrentes ou
da Lei 11.079/2004, art. 5º, I. relacionadas ao contrato, inclusive a arbitragem, a ser realizada
no Brasil e em língua portuguesa, nos termos da Lei 9.307, de
– Cláusulas do contrato de concessão 23.09.1996;
Nos ditames dos arts. 23 e 23-A da Lei 8.987/1995, as II – qualquer outra que não seja obrigatória.
cláusulas do contrato de concessão tratam de modo geral sobre
o modo, a forma e as condições de prestação dos serviços; os É importante, demonstrar que o contrato de concessão é firmado
direitos e as obrigações do concedente, do concessionário e dos tendo em vista, não apenas oferecimento da melhor proposta,
usuários; os poderes de fiscalização do concedente; a obrigação mas incluindo também as características referentes à pessoa
do concessionário de prestar contas; ou e disciplinam aspectos contratada, devendo o concessionário demonstrar capacidade
relativos à extinção da concessão. técnica e econômico-financeira que faça haver a presunção de que
Infere-se que as cláusulas podem ser divididas em: cláusulas haverá a perfeita execução do serviço. A esse aspecto, a doutrina
essenciais obrigatórias em qualquer contrato de concessão, quer denomina de contrato firmado intuitu personae, que se trata da
seja concessão simples, quer seja concessão de serviço público prática de eventual transferência da concessão para outra pessoa
precedida de obra pública, cláusulas obrigatórias apenas nos jurídica, bem como do controle societário da concessionária, sem
contratos de concessão de serviço público precedida da execução prévia aviso ou autorização do poder concedente, vindo a implicar a
de obra pública e cláusulas facultativas. Vejamos, em síntese: caducidade que nada mais é do que a extinção da concessão.

(São obrigatórias nas concessões): – Intervenção na concessão


I – objeto, área e prazo da concessão; A intervenção na concessão encontra-se submetida a um
II – modo, forma e condições de prestação do serviço; procedimento formal. De antemão, o poder concedente, por meio
III – critérios, indicadores, fórmulas e parâmetros definidores de ato do Chefe do Poder Executivo, ao tomar conhecimento da
da qualidade do serviço; falta de adequação da prestação do serviço ou do descumprimento
IV – preço do serviço, critérios e procedimentos para o reajuste pela concessionária das normas pertinentes, edita o decreto de
e a revisão das tarifas; intervenção que deverá conter a designação do interventor, o prazo
V – direitos, garantias e obrigações do poder concedente e da da intervenção e os objetivos e limites da medida nos ditames do
concessionária, inclusive os relacionados às previsíveis necessidades legais pertinentes.
de futura alteração e expansão do serviço e consequente Declarada a intervenção por intermédio de decreto, o poder
modernização, aperfeiçoamento e ampliação dos equipamentos e concedente deverá, no prazo de até 30 dias, realizar a instauração
das instalações; de procedimento administrativo com o fito de comprovar as causas
VI – direitos e deveres dos usuários para obtenção e utilização determinadas na medida e apurar as responsabilidades. Esse
do serviço;
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NOÇÕES DE DIREITO

procedimento administrativo deverá ser concluído em até 180 dias, 4 – Anulação


sob pena de ser considerada inválida a intervenção, nos termos do Trata-se de hipótese de extinção do contrato de concessão
art. 33, § 2º da Lei 8987/95. em decorrência de vício de legalidade, que pode, via de regra, ser
declarado por via administrativa ou judicial.
– Extinção da concessão
A concessão pode ser extinta por várias causas, colocando 5 – Falência ou extinção da empresa concessionária e
fim à prestação dos serviços pelo concessionário. O art. 35 da Lei falecimento ou incapacidade do titular, no caso de empresa
8.987/1995, prevê de forma expressa algumas causas de extinção individual
da concessão. Sendo elas: o advento do termo contratual; a A Lei 8.987/1995, embora a Lei 8.987/95 mencione esse
encampação; a caducidade; a rescisão; a anulação; e a falência ou tópico como formas de extinção da concessão no art. 35, VI, nada
extinção da empresa concessionária e falecimento ou incapacidade dispõe em relação aos efeitos dessas hipóteses de extinção. No
do titular, em se tratando de empresa individual. entendimento de José dos Santos Carvalho Filho, tais fatos acabam
Pondera-se que além das causas anteriores, previstas na por provocar a extinção de pleno direito do contrato, pelo fato de
legislação e adotadas pela doutrina, a extinção da concessão de que tornam inviável a execução do serviço público objeto do ajuste.
serviço público também pode ocorrer por: desafetação do serviço;
distrato; ou renúncia da concessionária. 6 – Desafetação do serviço público
A Lei 8.987/1995 não se refere e nem minucia a desafetação de
Vejamos: serviço público como causa de extinção da concessão. Entretanto,
1 – Encampação (ou resgate) no entender de Diógenes Gasparini, a desafetação do serviço
Consiste na extinção da concessão em decorrência da retomada público em decorrência de lei também é hipótese de extinção da
do serviço pelo poder concedente durante o prazo da concessão, concessão, tendo em vista que a desafetação ocorre no momento
por motivos de interesse público. em que uma lei torna público um serviço.

2 – Caducidade (ou decadência) 7 – Distrato (acordo)


Consiste na extinção do contrato de concessão de serviço Mesmo não havendo referência legal à extinção da concessão
público em decorrência de inexecução total ou parcial do contrato, por intermédio de acordo ou distrato entre o poder concedente
por razões que devem ser imputadas à concessionária. Poderá ser e a concessionária, esta hipótese não foi vedada pela legislação.
declarada pelo poder concedente pelas seguintes maneiras, nos Por esse motivo, boa parte da doutrina vem admitindo a extinção
termos do art. 38, § 1º, I a VII: antecipada da concessão de forma amigável e também consensual.
A) O serviço estiver sendo prestado de forma inadequada
ou deficiente, tendo por base as normas, critérios, indicadores e 8 – Renúncia da concessionária
parâmetros definidores da qualidade do serviço; Nesse caso, a lei também não menciona essa hipótese como
B) A concessionária descumprir cláusulas contratuais ou maneira de extinção da concessão. Porém, o ilustre Diogo de
disposições legais ou regulamentares concernentes à concessão; Figueiredo Moreira Neto, a renúncia da concessionária será aceita
C) A concessionária paralisar o serviço ou concorrer para tanto, como forma de extinção da concessão, a partir do momento em
ressalvadas as hipóteses decorrentes de caso fortuito ou força que houver previsão contratual nesse sentido vindo a disciplinar-
maior; lhe as devidas consequências.
D) A concessionária perder as condições econômicas, técnicas
ou operacionais para manter a adequada prestação do serviço Nota importante acerca da concessão:
concedido; a concessionária não cumprir as penalidades impostas – Outro efeito da extinção da concessão é a assunção imediata
por infrações, nos devidos prazos; do serviço pelo poder concedente, ficando este autorizado a ocupar
E) A concessionária não atender a intimação do poder as instalações e a utilizar todos os bens reversíveis, tendo em vista a
concedente no sentido de regularizar a prestação do serviço; e necessidade de dar continuidade à prestação do serviço público nos
F) A concessionária não atender a intimação do poder parâmetros do art. 35, §§ 2º e 3º.
concedente para, em 180 dias, apresentar a documentação relativa – Independente da causa da extinção da concessão, os bens
à regularidade fiscal, no curso da concessão, na forma do art. 29 da reversíveis que ainda não se encontrem amortizados ou depreciados
Lei 8.666, de 21.06.1993. deverão ser indenizados ao concessionário, sob pena de, se não o
fizer, haver enriquecimento sem causa do poder concedente.
3 – Rescisão
De acordo com a Lei 8.987/1995 a rescisão é a forma de extinção — Permissão
da concessão, por iniciativa da respectiva concessionária, quando O art. 175 da Constituição Federal Brasileira determina que
esta se encontrar motivada pelo descumprimento de normas “incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob
contratuais advindas do poder concedente, nos ditames do art. 39. regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a
Nesta hipótese, sendo a autoexecutoriedade privilégio aplicável prestação de serviços públicos”.
somente à Administração Pública, para que o concessionário possa Passível de observação, o ditado dispositivo constitucional não
rescindir o contrato de concessão, deverá fazê-lo por intermédio de faz nenhum tipo de referência relativa à autorização de serviços
ação judicial, sendo que os serviços prestados pela concessionária públicos. Entretanto, denota-se que existe a admissão da delegação
não deverão ser interrompidos e nem mesmo paralisados em de serviços públicos por intermédio de autorização com fulcro nos
hipótese alguma, até que a decisão judicial que determine a art. 21, XI e XII, e art. 223 da Constituição Federal. Desta forma,
rescisão transite em julgado.
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infere-se que a delegação de serviços públicos pode ser realizada Infere-se que quando a rescisão do contrato de concessão não
por meio de concessão, permissão ou autorização. Tratada for causada pelo concessionário, acarretará em direito a percepção
anteriormente, passemos a explorar os demais institutos. de indenização pelos prejuízos sofridos, uma vez que a concessão
Infere-se que a Lei 8.987/1995 não traz em seu bojo muitos é impreterivelmente celebrada por prazo certo. No tocante à
dispositivos relacionados à permissão de serviços públicos, vindo permissão, existem contradições, pois existem doutrinadores que
a limitar-se a estabelecer o seu conceito. A permissão de serviço entendem que a permissão sempre ocorre, via de regra, por prazo
público, nos ditames da lei, pode ser conceituada como “a certo e determinado, ao passo que outros doutrinadores defendem
delegação, a título precário, mediante licitação, da prestação de que a permissão ocorre, de antemão, por prazo indeterminado,
serviços públicos, feita pelo poder concedente à pessoa física ou porém, também admitem que ocorre prazo determinado, desde
jurídica que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua que tal dispositivo esteja fixado no edital da correspondente
conta e risco” (art. 2º, IV). Já o art. 40 da mesma Lei dispõe: licitação. Essa última posição, é a que a Professora Maria Sylvia
Art. 40. A permissão de serviço público será formalizada Zanella Di Pietro defende, para quem a fixação de prazo de vigência
mediante contrato de adesão, que observará os termos desta Lei, da permissão faz com que desapareçam as diferenças existentes
das demais normas pertinentes e do edital de licitação, inclusive entre os institutos da permissão e da concessão. Por conseguinte,
quanto à precariedade e à revogabilidade unilateral do contrato em se tratando da permissão por prazo determinado, ressalta-
pelo poder concedente. se que não existe a precariedade do vínculo, vindo, desta forma,
Proveniente do exposto, podemos expor com destaque as o permissionário obter o direito de indenização quando não der
principais características da permissão de serviço público. São elas: causa à rescisão deste.
a) É uma forma de delegação de serviços públicos; Em síntese, vejamos as principais características da concessão
b) Deve ser precedida de licitação pública, mas a Lei não e da permissão de serviços públicos:
determina a modalidade licitatória a ser seguida (diferencia-se da
concessão de serviço público que exige a licitação na modalidade PERMISSÃO DE SERVIÇO CONCESSÃO DE SERVIÇO
concorrência); PÚBLICO PÚBLICO
c) É formalizada por meio de um contrato de adesão, de
natureza precária, uma vez que a lei prevê que pode ser revogado – Forma de delegação de
de maneira unilateral pelo poder concedente (diferencia-se das serviço público; – Forma de delegação de
concessões de serviço público que não possuem natureza precária); – Depende de licitação, serviço público;
e mas a lei não – Depende de licitação
d) Os permissionários podem ser pessoas físicas ou jurídicas – Predetermina a na modalidade obrigatória da
(diferencia-se das concessões de serviço público em razão de os modalidade licitatória; concorrência;
concessionários somente poderem ser pessoa jurídica ou consórcio – Possui natureza precária, – Não possui natureza
de empresas). havendo controvérsias na precária;
doutrina; – Os concessionários só
Por motivos importantes relacionados às características – Os permissionários podem ser pessoa jurídica ou
anteriores, destacamos algumas observações. podem ser pessoa física ou consórcio de empresas.
Relativo a primeira, aduz-se que todo contrato administrativo pessoa jurídica.
é um contrato de adesão, posto que a minuta do contrato deve ser
redigida pela Administração, bem como integra todos os anexos do — Autorização
edital de licitação apresentado. Desta maneira, aquele que vence a De acordo com o entendimento da doutrina, a autorização se
licitação e, por sua vez, assina o contrato, passa a aderir somente constitui em ato administrativo unilateral, discricionário e precário
ao que foi estipulado pela Administração Pública, não podendo por intermédio do qual, o poder público detém o poder de delegar
haver discussões sobre as cláusulas contratuais. Assim ocorrendo, a execução de um serviço público de sua titularidade, possibilitando
tanto a concessão quanto a permissão de serviço público estarão se que o particular o realize em seu próprio benefício. Nos ditames
constituindo em contrato de adesão, sendo que essa circunstância, de Hely Lopes Meirelles, “serviços autorizados são aqueles que o
não serve para diferenciar os dois institutos. Poder Público, por ato unilateral, precário e discricionário, consente
Direcionado à segunda observação a ser feita, trata-se de uma na sua execução por particular para atender a interesses coletivos
relação à precariedade do vínculo, que de antemão, pode vir a ser instáveis ou emergência transitória”.
extinto a qualquer tempo, havendo ou não indenização. Registra- Depreende-se que a autorização de serviço público não é
se que o texto da lei acabou por usar designação imprópria de dependente de licitação, posto que esta somente é exigível para
revogação do contrato, tendo em vista que este não é revogado, a realização de contrato. Sendo a autorização ato administrativo,
é rescindido, o que se dá de forma contrária do ato administrativo entende- se que não deverá ser precedida de procedimento
que é sujeito à revogação. De qualquer maneira, a precariedade do licitatório. Entretanto, se houver uma quantidade limitada
vínculo encontra-se relacionada à possibilidade de extinção sem o de autorizações a serem fornecidas e existindo determinada
pagamento de indenização. pluralidade de possíveis interessados, em atendimento ao princípio
Pondera-se que todo e qualquer tipo de contrato administrativo, da isonomia, é necessário que se faça um processo seletivo para
desde que esteja justificado pelo interesse público, pode ser facilitar a escolha dos entes que serão autorizados pelo Poder
rescindido de forma unilateral pela Administração Pública, não Público.
configurando esse aspecto apenas uma particularidade do contrato Caso o ato de autorização seja precário, pode de antemão,
de permissão de serviços públicos. ser revogado a qualquer tempo, desde que seja por motivo de
interesse público, suprimindo o direito à indenização por parte do
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NOÇÕES DE DIREITO

eventual prejudicado. No entanto, a exemplo de exceção, existindo públicas, sem delegação a particulares”. Por sua vez, os serviços
estabelecimento de prazo para a autorização, ressalta-se que o impróprios do Estado “são os que não afetam substancialmente
vínculo acaba por perder a precariedade, passando a ser cabível as necessidades da comunidade, mas satisfazem interesses
o direito de indenização em se tratando de caso de revogação da comuns de seus membros, e, por isso, a Administração os presta
autorização. remuneradamente, por seus órgãos ou entidades descentralizadas
Demonstramos, por fim, que embora seja tradição se definir (autarquias, empresas públicas, sociedades de economia
a autorização como ato administrativo discricionário, a Lei Geral mista, fundações governamentais), ou delega sua prestação a
de Telecomunicações determina que a autorização de serviço de concessionários, permissionários ou autorizatários”.
telecomunicações é ato administrativo vinculado, nos parâmetros
da Lei 9.472/1997, art. 131, § 1º, de forma a não existir possibilidade c) Serviços administrativos, econômicos (comerciais ou
de a administração denegar a prática da atividade para os industriais) e sociais
particulares que vierem a preencher devidamente as condições São constituídos por atividades promovidas pelo Poder Público
objetivas e subjetivas necessárias. com o fulcro de atender às necessidades internas requeridas pela
Administração. Também podem preparar outros serviços que
— Classificação deverão ser prestados ao público, como por exemplo, as estações
Existem vários critérios adotados para classificar os serviços, experimentais e a imprensa oficial.
dentre os quais, vale à pena destacar os seguintes: Nos ditames da lição de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, o serviço
comercial ou industrial é aquele que a Administração Pública
a) Serviços públicos propriamente ditos (essenciais) e serviços executa, direta ou indiretamente, com o objetivo de atender
de utilidade pública (não essenciais) às necessidades coletivas de ordem econômica, tendo como
Em relação aos serviços públicos propriamente ditos, afirma-se supedâneo no art. 175 da Constituição Federal, a exemplo dos
que são serviços classificados como essenciais à sobrevivência da serviços de telecomunicações, dentre outros.
sociedade e do próprio Estado. Como exemplo, podemos citar o Já o serviço público social, cuida-se daquele que atende
serviço de Polícia Judiciária e Administrativa. Tendo em vista que a necessidades coletivas, em áreas cuja atuação do Estado é
tais serviços exigem a prática de atos de império relacionados aos considerada de caráter essencial, a exemplo dos serviços de
administrados, denota-se que os mesmos só podem ser prestados educação, saúde e previdência. De acordo com a doutrina
de forma direta pelo Estado, sem a necessidade de delegação a dominante, tais serviços, quando são prestados pela iniciativa
terceiros. Concernente aos serviços de utilidade pública, aduz-se privada não são considerados como serviços públicos, mas sim
que são aqueles cuja prestação é de bom proveito à coletividade, como serviços de natureza privada.
tendo em vista que, mesmo que estes visem a facilitação da vida
do indivíduo na sociedade como um todo, não são considerados d) Serviços uti singuli (singulares) e uti universi (coletivos)
essenciais, podendo, por esse motivo, ser executados de forma Também chamados de serviços singulares ou individuais,
direta pelo Estado ou ter sua prestação delegada a particulares. os serviços uti singuli são aqueles cuja finalidade é a satisfação
Exemplo: a água tratada, o transporte coletivo, dentre outros. individual e direta das necessidades do indivíduo. Esses serviços
têm usuários determinados, sendo, por esse motivo, possível a
b) Serviços próprios e impróprios mensuração de forma individualizada da utilização de cada usuário.
A classificação de serviços públicos próprios e impróprios é São incluídos nessa categoria os serviços de fornecimento de água,
apresentada com variações de sentido na doutrina. energia elétrica, telefone, etc. que podem ser remunerados por
No entendimento de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a doutrina intermédio de taxa ou tarifa.
clássica classifica como serviços públicos próprios aqueles que, em Os serviços uti universi, também conhecidos como serviços
decorrência de sua importância, o Estado passa a assumir como universais, coletivos ou gerais, são os serviços prestados à
seus e os coloca em execução de forma direta por intermédio de coletividade, porém, são usufruídos somente de forma indireta
seus agentes, ou, ainda, indireta que ocorre mediante delegação pelos indivíduos. Exemplos: serviço de iluminação pública, defesa
a terceiros concessionários ou permissionários. Referente aos nacional, dentre outros. Denota-se que os serviços uti universi,
serviços públicos impróprios, são aqueles que, embora atendam de modo geral são prestados a usuários indeterminados e
às necessidades coletivas, não estão sendo executados pelo indetermináveis, não sendo por esse motivo, passíveis de ter seu
Estado, nas suas formas direta ou indireta, mas estão autorizados, uso individualizado. Além disso são custeados através de impostos
regulamentados e fiscalizados pelo Poder Público. Exemplo: as ou contribuições especiais. Por esse motivo, o STF editou a Súmula
instituições financeiras, de seguro e previdência privada, dentre 670 (posteriormente convertida na Súmula Vinculante 41), na qual
outros. Entretanto, a própria autora explica que os serviços predomina o entendimento de que “o serviço de iluminação pública
considerados impróprios pela retro mencionado corrente não pode ser remunerado mediante taxa”, uma vez que se trata de
doutrinária, em sentido jurídico, sequer poderiam ser considerados serviço uti universi.
serviços públicos, tendo em vista que a lei não atribui a sua Por fim, ressalta-se que há uma correlação entre a conceituação
prestação ao Estado. do serviço como uti universi ou uti singuli e o seu custeio, pois,
Hely Lopes Meirelles ensina que serviços próprios do Estado quando o serviço é uti singuli, é possível identificar o usuário e
“são aqueles que se relacionam intimamente com as atribuições do mencionar a utilização da expressão a “conta” deve ser paga pelo
Poder Público, como: segurança, polícia, higiene e saúde públicos próprio usuário, mediante o implemento de taxa, preço ou tarifa.
etc., sendo que para a execução destes, a Administração utiliza de Em se tratando de serviço uti universi, quando não é possível
seu poder de hierarquia sobre os administrados. Por esse motivo, saber quem são os usuários de forma individualizada, pois, o
infere-se que só devem ser prestados por órgãos ou entidades
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NOÇÕES DE DIREITO

usuário é a “coletividade”, nem quantificar o uso, a “conta” é Vejamos a definição e a importância de cada um deles:
paga pela coletividade, mediante o recolhimento de impostos ou
contribuições especiais. – Princípio da legalidade
Previsto no art. 37 da CRFB/1988, é conceituado como um
— Princípios produto do Liberalismo, que pregava a superioridade do Poder
Os princípios jurídicos solidificam os valores fundamentais Legislativo na qual a legalidade se divide em dois importantes
da ordem jurídica. Em razão de sua fundamentalidade e abertura desdobramentos:
linguística, os princípios se espalham sobre todo o sistema jurídico, a) supremacia da lei: a lei acaba por prevalecer e tem
vindo a garantindo-lhe harmonia e coerência. preferência sobre os atos da Administração;
Os princípios jurídicos são classificados a partir de dois b) reserva de lei: o tratamento de determinadas matérias deve
critérios. Partindo da amplitude de aplicação no sistema normativo, ser formalizado pela legislação, excluindo o uso de outros atos com
os princípios podem ser divididos em três espécies: caráter normativo.
a) Princípios fundamentais: são princípios que representam
as decisões políticas de estrutura do Estado, servindo de base Todavia, o princípio da legalidade deve ser conceituado
para todas as demais normas constitucionais, como por exemplo: como o principal conceito para a configuração do regime jurídico-
princípios republicanos, federativo, da separação de poderes, administrativo, tendo em vista que segundo ele, a administração
dentre outros; pública só poderá ser desempenhada de forma eficaz em seus atos
b) Princípios gerais: via de regra, se referem a importantes executivos, agindo conforme os parâmetros legais vigentes. De
especificações dos princípios fundamentais, embora possuam acordo com o princípio em análise, todo ato que não possuir base
menor grau de abstração e acabam por se espalhar sobre todo o em fundamentos legais é ilícito.
ordenamento jurídico. Exemplos: os princípios da isonomia e da
legalidade; – Princípio da impessoalidade
c) Princípios setoriais ou especiais: se destinam à aplicação de Consagrado de forma expressa no art. 37 da CRFB/1988, possui
certo tema, capítulo ou título da Constituição. Exemplos: princípios duas interpretações possíveis:
da Administração Pública dispostos no art. 37 da CRFB: legalidade, a) igualdade (ou isonomia): dispõe que a Administração Pública
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. deve se abster de tratamento de forma impessoal e isonômico aos
particulares, com o fito de atender a finalidade pública, vedadas
Já a segunda classificação, acaba por levar em conta a menção a discriminação odiosa ou desproporcional. Exemplo: art. 37, II,
expressa ou implícita dos princípios em seus textos normativos. São da CRFB/1988: concurso público. Isso posto, com ressalvas ao
eles: tratamento que é diferenciado para pessoas que estão se encontram
a) Princípios expressos: são os que se encontram em posição fática de desigualdade, com o fulcro de efetivar a
expressamente mencionados no texto da norma. Exemplos: igualdade material. Exemplo: art. 37, VIII, da CRFB e art. 5.0, § 2. °,
princípios da Administração Pública que são elencados no art. 37 da Lei 8.112/1990: reserva de vagas em cargos e empregos públicos
da CRFB); para portadores de deficiência.
b) Princípios implícitos: são os reconhecidos pela doutrina b) proibição de promoção pessoal: quem faz as realizações
e pela jurisprudência advindo da interpretação sistemática do públicas é a própria entidade administrativa e não são tidas como
ordenamento jurídico. Exemplos: princípios da razoabilidade e da feitos pessoais dos seus respectivos agentes, motivos pelos quais
proporcionalidade, da segurança jurídica. toda a publicidade dos atos do Poder Público deve possuir caráter
educativo, informativo ou de orientação social, nos termos do art.
Em relação ao processo administrativo, denota-se que estes 37, § 1.°, da CRFB : “dela não podendo constar nomes, símbolos
são regulados por leis infraconstitucionais e que também elencam ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou
outros princípios do Direito Administrativo. A nível federal, registra- servidores públicos” .
se que o art. 2. ° da Lei 9.784/1999 cita a existência dos seguintes
princípios: legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, – Princípio da moralidade
proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, Disposto no art. 37 da CRFB/1988, presta-se a exigir que a
segurança jurídica, interesse público e eficiência. atuação administrativa, respeite a lei, sendo ética, leal e séria.
Sem qualquer tipo de dependência da quantidade de princípios Nesse diapasão, o art. 2. °, parágrafo único, IV, da Lei 9.784/1999
elencados pelo ordenamento e pela doutrina, podemos destacar, ordena ao administrador nos processos administrativos, a autêntica
para fins de estudo os principais princípios do Direito Administrativo: “atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, fé”. Exemplo: a vedação do ato de nepotismo inserido da Súmula
razoabilidade, proporcionalidade, finalidade pública (supremacia Vinculante 13 do STF. Entretanto, o STF tem afastado a aplicação da
do interesse público sobre o interesse privado), continuidade, mencionada súmula para os cargos políticos, o que para a doutrina
autotutela, consensualidade/participação, segurança jurídica, em geral não parece apropriado, tendo em vista que o princípio da
confiança legítima e boa-fé. moralidade é um princípio geral e aplicável a toda a Administração
Pública, vindo a alcançar, inclusive, os cargos de natureza política.

– Princípio da publicidade
Sua função é impor a divulgação e a exteriorização dos atos
do Poder Público, nos ditames do art. 37 da CRFB/1988 e do art.
2. ° da Lei 9.784/1999). Ressalta-se com grande importância que a
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NOÇÕES DE DIREITO

transparência dos atos administrativos guarda estreita relação com na Alemanha, dignidade constitucional, a partir do momento
o princípio democrático nos termos do art. 1. ° da CRFB/1988), vindo em que a doutrina e a jurisprudência passaram a afirmar que a
a possibilitar o exercício do controle social sobre os atos públicos proporcionalidade seria um princípio implícito advindo do próprio
praticados pela Administração Pública em geral. Denota-se que a Estado de Direito.
atuação administrativa obscura e sigilosa é característica típica dos Embora haja polêmica em relação à existência ou não de
Estados autoritários. Como se sabe, no Estado Democrático de diferenças existentes entre os princípios da razoabilidade e da
Direito, a regra determinada por lei, é a publicidade dos atos estatais, proporcionalidade, de modo geral, tem prevalecido a tese da
com exceção dos casos de sigilo determinados e especificados fungibilidade entre os mencionados princípios que se relacionam
por lei. Exemplo: a publicidade é um requisito essencial para a e forma paritária com os ideais igualdade, justiça material e
produção dos efeitos dos atos administrativos, é uma necessidade racionalidade, vindo a consubstanciar importantes instrumentos de
de motivação dos atos administrativos. contenção dos excessos cometidos pelo Poder Público.
O princípio da proporcionalidade é subdividido em três
– Princípio da eficiência subprincípios:
Foi inserido no art. 37 da CRFB, por intermédio da EC 19/1998, a) Adequação ou idoneidade: o ato praticado pelo Estado será
com o fito de substituir a Administração Pública burocrática adequado quando vier a contribuir para a realização do resultado
pela Administração Pública gerencial. O intuito de eficiência pretendido.
está relacionado de forma íntima com a necessidade de célere b) Necessidade ou exigibilidade: em decorrência da proibição
efetivação das finalidades públicas dispostas no ordenamento do excesso, existindo duas ou mais medidas adequadas para
jurídico. Exemplo: duração razoável dos processos judicial e alcançar os fins perseguidos de interesse público, o Poder Público
administrativo, nos ditames do art. 5.0, LXXVIII, da CRFB/1988, terá o dever de adotar a medida menos agravante aos direitos
inserido pela EC 45/2004), bem como o contrato de gestão no fundamentais.
interior da Administração (art. 37 da CRFB) e com as Organizações c) Proporcionalidade em sentido estrito: coloca fim a uma
Sociais (Lei 9.637/1998). típica consideração, no caso concreto, entre o ônus imposto pela
Em relação à circulação de riquezas, existem dois critérios que atuação do Estado e o benefício que ela produz, motivo pelo qual a
garantem sua eficiência: restrição ao direito fundamental deverá ser plenamente justificada,
a) eficiência de Pareto (“ótimo de Pareto”): a medida se torna tendo em vista importância do princípio ou direito fundamental
eficiente se conseguir melhorar a situação de certa pessoa sem que será efetivado.
piorar a situação de outrem.
b) eficiência de Kaldor-Hicks: as normas devem ser aplicadas de – Princípio da supremacia do interesse público sobre o
forma a produzir o máximo de bem-estar para o maior número de interesse privado (princípio da finalidade pública)
pessoas, onde os benefícios de “X” superam os prejuízos de “Y”). É considerado um pilar do Direito Administrativo tradicional,
tendo em vista que o interesse público pode ser dividido em duas
Ressalte-se, contudo, em relação aos critérios mencionados categorias:
acima, que a eficiência não pode ser analisada apenas sob o prisma a) interesse público primário: encontra-se relacionado com a
econômico, tendo em vista que a Administração possui a obrigação necessidade de satisfação de necessidades coletivas promovendo
de considerar outros aspectos fundamentais, como a qualidade justiça, segurança e bem-estar através do desempenho de
do serviço ou do bem, durabilidade, confiabilidade, dentre outros atividades administrativas que são prestadas à coletividade, como
aspectos. por exemplo, os serviços públicos, poder de polícia e o fomento,
dentre outros.
– Princípios da razoabilidade e da proporcionalidade b) interesse público secundário: trata-se do interesse do
Nascido e desenvolvido no sistema da common law da Magna próprio Estado, ao estar sujeito a direitos e obrigações, encontra-
Carta de 1215, o princípio da razoabilidade o princípio surgiu no se ligando de forma expressa à noção de interesse do erário,
direito norte-americano por intermédio da evolução jurisprudencial implementado através de atividades administrativas instrumentais
da cláusula do devido processo legal, pelas Emendas 5.’ e 14.’ da que são necessárias ao atendimento do interesse público primário.
Constituição dos Estados Unidos, vindo a deixar de lado o seu Exemplos: as atividades relacionadas ao orçamento, aos agentes
caráter procedimental (procedural due process of law: direito ao público e ao patrimônio público.
contraditório, à ampla defesa, dentre outras garantias processuais)
para, por sua vez, incluir a versão substantiva (substantive due – Princípio da continuidade
process of law: proteção das liberdades e dos direitos dos indivíduos Encontra-se ligado à prestação de serviços públicos, sendo que
contra abusos do Estado). tal prestação gera confortos materiais para as pessoas e não pode
Desde seus primórdios, o princípio da razoabilidade vem ser interrompida, levando em conta a necessidade permanente de
sendo aplicado como forma de valoração pelo Judiciário, bem satisfação dos direitos fundamentais instituídos pela legislação.
como da constitucionalidade das leis e dos atos administrativos, Tendo em vista a necessidade de continuidade do serviço
demonstrando ser um dos mais importantes instrumentos de público, é exigido regularidade na sua prestação. Ou seja, prestador
defesa dos direitos fundamentais dispostos na legislação pátria. do serviço, seja ele o Estado, ou, o delegatório, deverá prestar o
O princípio da proporcionalidade, por sua vez origina-se das serviço de forma adequada, em consonância com as normas vigentes
teorias jusnaturalistas dos séculos XVII e XVIII, a partir do momento e, em se tratando dos concessionários, devendo haver respeito às
no qual foi reconhecida a existência de direitos perduráveis ao condições do contrato de concessão. Em resumo, a continuidade
homem oponíveis ao Estado. Foi aplicado primeiramente no âmbito pressupõe a regularidade, isso por que seria inadequado exigir que
do Direito Administrativo, no “direito de polícia”, vindo a receber, o prestador continuasse a prestar um serviço de forma irregular.
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NOÇÕES DE DIREITO

Mesmo assim, denota-se que a continuidade acaba por não poderá gerar tanto uma “atuação coadjuvante” como uma “atuação
impor que todos os serviços públicos sejam prestados diariamente determinante por parte de interessados regularmente habilitados à
e em período integral. Na realidade, o serviço público deverá ser participação” (MOREIRA NETO, 2006, p. 337-338).
prestado sempre na medida em que a necessidade da população Desta forma, o princípio constitucional da participação é o
vier a surgir, sendo lícito diferenciar a necessidade absoluta da pioneiro da inclusão dos indivíduos na formação das tutelas jurídico-
necessidade relativa, onde na primeira, o serviço deverá ser políticas, sendo também uma forma de controle social, devido aos
prestado sem qualquer tipo interrupção, tendo em vista que a seus institutos participativos e consensuais.
população necessita de forma permanente da disponibilidade
do serviço. Exemplos: hospitais, distribuição de energia, limpeza – Princípios da segurança jurídica, da confiança legítima e da
urbana, dentre outros. boa-fé
Os princípios da segurança jurídica, da confiança legítima e da
– Princípio da autotutela boa-fé possuem importantes aspectos que os assemelham entre si.
Aduz que a Administração Pública possui o poder-dever de O princípio da segurança jurídica está dividido em dois sentidos:
rever os seus próprios atos, seja no sentido de anulá-los por vício de – Objetivo: estabilização do ordenamento jurídico, levando em
legalidade, ou, ainda, para revogá-los por motivos de conveniência conta a necessidade de que sejam respeitados o direito adquirido,
e de oportunidade, de acordo com a previsão contida nas Súmulas o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (art. 5.°, XXXVI, da CRFB);
346 e 473 do STF, e, ainda, como no art. 53 da Lei 9.784/1999. – Subjetivo: infere a proteção da confiança das pessoas
A autotutela designa o poder-dever de corrigir ilegalidades, relacionadas às expectativas geradas por promessas e atos estatais.
bem como de garantir o interesse público dos atos editados pela
própria Administração, como por exemplo, a anulação de ato ilegal Já o princípio da boa-fé tem sido dividido em duas acepções:
e revogação de ato inconveniente ou inoportuno. – Objetiva: diz respeito à lealdade e à lisura da atuação dos
Fazendo referência à autotutela administrativa, infere-se que particulares;
esta possui limites importantes que, por sua vez, são impostos – Subjetiva: está ligada à relação com o caráter psicológico
ante à necessidade de respeito à segurança jurídica e à boa-fé dos daquele que atuou em conformidade com o direito. Esta
particulares de modo geral. caracterização da confiança legítima depende em grande parte da
boa-fé do particular, que veio a crer nas expectativas que foram
– Princípios da consensualidade e da participação geradas pela atuação do Estado.
Segundo Moreira Neto, a participação e a consensualidade
tornaram-se decisivas para as democracias contemporâneas, pelo Condizente à noção de proteção da confiança legítima, verifica-
fato de contribuem no aprimoramento da governabilidade, vindo se que esta aparece em forma de uma reação frente à utilização
a fazer a praticar a eficiência no serviço público, propiciando mais abusiva de normas jurídicas e de atos administrativos que terminam
freios contra o abuso, colocando em prática a legalidade, garantindo por surpreender os seus receptores.
a atenção a todos os interesses de forma justa, propiciando decisões Em decorrência de sua amplitude, princípio da segurança
mais sábias e prudentes usando da legitimidade, desenvolvendo a jurídica, inclui na sua concepção a confiança legítima e a boa-fé,
responsabilidade das pessoas por meio do civismo e tornando os com supedâneo em fundamento constitucional que se encontra
comandos estatais mais aceitáveis e mais fáceis de ser obedecidos. implícito na cláusula do Estado Democrático de Direito no art. 1.°
Desta forma, percebe-se que a atividade de consenso entre o da CRFB/1988, na proteção do direito adquirido, do ato jurídico
Poder Público e particulares, ainda que de maneira informal, veio perfeito e da coisa julgada de acordo com o art. 5.0, XXXVI, da
a assumir um importante papel no condizente ao processo de CRFB/1988.
identificação de interesses públicos e privados que se encontram Por fim, registra-se que em âmbito infraconstitucional, o
sob a tutela da Administração Pública. princípio da segurança jurídica é mencionado no art. 2. ° da Lei
Assim sendo, com a aplicação dos princípios da consensualidade 9.784/1999, vindo a ser caracterizado por meio da confiança
e da participação, a administração termina por voltar-se para a legítima, pressupondo o cumprimento dos seguintes requisitos:
coletividade, vindo a conhecer melhor os problemas e aspirações a) ato da Administração suficientemente conclusivo para gerar
da sociedade, passando a ter a ter atividades de mediação para no administrado (afetado) confiança em um dos seguintes casos:
resolver e compor conflitos de interesses entre várias partes ou confiança do afetado de que a Administração atuou corretamente;
entes, surgindo daí, um novo modo de agir, não mais colocando confiança do afetado de que a sua conduta é lícita na relação
o ato como instrumento exclusivo de definição e atendimento do jurídica que mantém com a Administração; ou confiança do afetado
interesse público, mas sim em forma de atividade aberta para a de que as suas expectativas são razoáveis;
colaboração dos indivíduos, passando a ter importância o momento b) presença de “signos externos”, oriundos da atividade
do consenso e da participação. administrativa, que, independentemente do caráter vinculante,
De acordo com Vinícius Francisco Toazza, “o consenso na orientam o cidadão a adotar determinada conduta;
tomada de decisões administrativas está refletido em alguns c) ato da Administração que reconhece ou constitui uma
institutos jurídicos como o plebiscito, referendo, coleta de situação jurídica individualizada (ou que seja incorporado ao
informações, conselhos municipais, ombudsman, debate público, patrimônio jurídico de indivíduos determinados), cuja durabilidade
assessoria externa ou pelo instituto da audiência pública. Salienta- é confiável;
se: a decisão final é do Poder Público; entretanto, ele deverá d) causa idônea para provocar a confiança do afetado (a
orientar sua decisão o mais próximo possível em relação à síntese confiança não pode ser gerada por mera negligência, ignorância ou
extraída na audiência do interesse público. Nota-se que ocorre tolerância da Administração); e
a ampliação da participação dos interessados na decisão”, o que
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NOÇÕES DE DIREITO

e) cumprimento, pelo interessado, dos seus deveres e controle interno” é organizado por lei incumbida de lhe definir as
obrigações no caso. atribuições, não dependendo de hierarquia para o exercício de suas
prerrogativas.

CONTROLE E RESPONSABILIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO: – Controle externo: é realizado por órgão estranho à estrutura
CONTROLE ADMINISTRATIVO; CONTROLE JUDICIAL; CON- do Poder controlado. Verificamos tal fato, em termos práticos,
TROLE LEGISLATIVO; RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTA- quando por exemplo, um Tribunal de Contas Estadual passa a julgar
DO. SANÇÕES APLICÁVEIS AOS ATOS DE IMPROBIDADE as contas no âmbito dos poderes legislativo ou judiciário.
ADMINISTRATIVA (LEI Nº 8.429/1992 E SUAS ALTERA-
ÇÕES) Controle Judicial
Registremos, a princípio, que o controle judicial da
Administração Pública, trata-se daquele exercido pelo Poder
Controle exercido pela Administração Pública (controle Judiciário, quando em exercício de função jurisdicional, sobre os
interno) atos administrativos do Poder Executivo, do Poder Legislativo e
A princípio, infere-se que a teoria da separação dos poderes do próprio Poder Judiciário. O controle judicial é aquele por meio
possui em sua essência, de acordo com Montesquieu, o objetivo do qual, o Poder Judiciário, ao exercer de a função jurisdicional,
certo de limitar arbítrios de maneira que venha a proteger os aprecia a juridicidade que engloba a regularidade, a legalidade e a
direitos individuais. Isso por que, grande parte dos detentores do constitucionalidade da conduta administrativa.
Poder tende a adquirir mais poder, situação tal, que, caso não esteja Denota-se que o controle externo da Administração por meio
sujeita a controle, culminará no abuso, ou até no absolutismo. do Poder Judiciário foi majorado e fortalecido pela Constituição
Para evitar esse tipo de distorção, Montesquieu propôs a teoria Federal de 1988, tendo previsto novos instrumentos de controle,
dos freios e contrapesos, por meio da qual os poderes constituídos como por exemplo, o mandado de segurança coletivo, o mandado
possuem a incumbência de controlar, freando e contrabalanceando de injunção e o habeas data.
as atuações dos demais poderes, de maneira que cada um deles O Brasil, contemporaneamente adota o sistema de unidade
tenha autonomia, possua liberdade, porém, uma liberdade sob de jurisdição, também conhecido por sistema de monopólio de
vigilância. Nesse sentido, o Poder Legislativo edita leis que podem jurisdição ou sistema inglês, por intermédio do qual o Poder
ser vetadas ou freadas pelo Poder Executivo, que poderá ter seu Judiciário possui a exclusividade da função jurisdicional, vindo a
veto derrubado ou freado pelo Poder Legislativo. Ou seja, não inferir que somente as decisões judiciais fazem coisa julgada em
concordando o Executivo com a derrubada de um veto vindo a sentido próprio, vindo a tornar-se juridicamente insuscetíveis de
entender que a lei aprovada seja inconstitucional, deterá o poder serem modificadas.
de incumbir a matéria à análise do Poder Judiciário que irá dirimir Desta maneira, percebe-se que a decisão que é proferida
o conflito, como por exemplo, uma ADI ajuizada pelo Presidente da pela Administração Pública ou, ainda, qualquer ato administrativo
República. O Judiciário contém os membros de sua cúpula (STF), encontram-se passíveis de revisão pelo Poder Judiciário.
que são indicados pelo chefe de outro Poder, no caso, o Presidente É importante registrar que o fundamento da adoção do
da República, sendo a indicação restrita à aprovação de uma das sistema de unidade jurisdicional no Brasil é a previsão que se
Casas do Parlamento (Senado Federal), o que acaba por ser uma encontra inserida no art. 5º, XXXV, da CFB/1988, por meio da qual
espécie de controle prévio. ficou estabelecido que “a lei não excluirá da apreciação do Poder
Desta maneira, percebe-se que no Estado Democrático de Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
Direito, o próprio ordenamento jurídico dispõe de mecanismos Há países, que de forma diferente do Brasil, adotam o
que possibilitam o controle de toda a atuação do Estado. Tais sistema de dualidade de jurisdição ou sistema do contencioso
instrumentos tem como objetivo, garantir que tal atuação se administrativo ou sistema francês. Denota-se que nesses países, a
mantenha sempre consolidada com o direito, visando ao interesse função jurisdicional é exercida por duas estruturas orgânicas que
público e mantendo o respeito aos direitos dos administrados. são regidas de forma independente, sendo elas a Justiça Judiciária
Em relação à localização do órgão de controle, infere-se que e a Justiça Administrativa, posto que cada uma profere decisão com
pode ser interno ou externo. Vejamos: força de coisa julgada no âmbito de suas competências.
– Controle interno: é realizado por órgãos de um Poder Referente à Justiça Administrativa, explica-se que no sistema
sobrepondo condutas que são praticadas na direção desse de dualidade de jurisdição, esta é composta por juízes e tribunais
mesmo Poder, ou, ainda, por um órgão de uma pessoa jurídica administrativos cuja competência cuida-se em geral, de resolver
da Administração indireta sobre atos que foram praticados pela litígios nos quais o Poder Público seja parte. Pareando a Justiça
própria pessoa jurídica da qual faz parte. No controle interno o Administrativa, está a Justiça Judiciária, composta por órgãos do
órgão controlador encontra-se inserido na estrutura administrativa Poder Judiciário, tendo competência para julgar com definitividade
que deve ser controlada. conflitos que envolvam somente particulares.
Em alguns casos, o controle interno decorre da hierarquia, Pondera-se que o controle exercido pelo Poder Judiciário, via
pois esta possibilita aos órgãos hierarquicamente superiores de regra, será sempre um controle de legalidade ou legitimidade
controlar os atos praticados pelos que lhe são subordinados. Em do ato administrativo. No exercício da função jurisdicional, os
resumo, o controle interno que venha a depender da existência de Magistrados não apreciam o mérito do ato administrativo, não
hierarquia entre controlador e controlado, é aquele exercido pelas analisando a conveniência e a oportunidade da prática do ato.
chefias sobre seus subordinados, sendo o tradicional “sistema de Devido ao fato de se tratar de um controle de legalidade ou
de legitimidade, sempre que o ato estiver eivado de algum vício,
a decisão judicial será revertida no sentido de anulação do ato
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NOÇÕES DE DIREITO

administrativo que se encontra viciado. Vale enfatizar que não De acordo com o sistema constitucional, o controle parlamentar
é cabível no exercício da função jurisdicional a revogação do ato pode ser exercido: a) por uma das Casas isoladamente; b) pelas
administrativo, tendo em vista que esta pressupõe a análise do duas Casas reunidas em sessão conjunta; c) pela mesa diretora
mérito do ato. do Congresso Nacional ou de cada Casa; d) pelas comissões do
É de suma importância destacar que o controle judicial possui Congresso Nacional ou de cada Casa.
abrangência tanto em relação aos atos vinculados quanto aos Levando em conta o princípio da simetria de organização,
discricionários, posto que ambos devem obedecer aos requisitos de as regras mencionadas também devem ser aplicadas, no que
validade como a competência, a forma e a finalidade. Desta forma, lhes couber, ao Poder Legislativo em âmbito estadual, municipal
é possível que tanto os atos administrativos vinculados quanto e distrital, desde que realizadas as devidas adaptações,
os discricionários venham a apresentar vícios de legalidade ou principalmente aquelas que advém do fato de nos planos estadual,
ilegitimidade, em decorrência dos quais poderão vir a ser anulados municipal e distrital a organização do Poder Legislativo serem do
pelo Poder Judiciário quando estiver no exercício do controle tipo unicameral.
jurisdicional. Com fundamento no princípio da autotutela, o Poder Legislativo
Explicita-se que o controle judicial da Administração, de modo também possui o poder de exercer o controle interno sobre os seus
geral, é sempre provocado, isso por que ele depende da iniciativa de próprios atos. Nessa situação, aduz-se que o Poder Legislativo estará
alguma pessoa, que poderá ser física ou jurídica. Qualquer pessoa realizando um controle administrativo interno. Esse é o motivo pelo
que tenha a pretensão de provocar o controle da administração qual quando falamos no controle parlamentar, estamos abordando
pelo Poder Judiciário, deverá, de antemão, propor judicialmente a somente o controle externo exercido pelo Poder Legislativo.
ação cabível para o alcance desse objetivo. Destaca-se que o controle que o Poder Legislativo detém
Por fim, diga-se de passagem, que existem várias espécies sobre a Administração Pública, encontra-se limitado às hipóteses
de ações judiciais que permitem ao Judiciário apreciar lesão ou previstas na Constituição Federal. Isso ocorre, por que porque
ameaça a direito decorrente de ato administrativo. Exemplos: caso contrário, haveria inferiorização do princípio da separação
o habeas corpus, o habeas data, o mandado de injunção, etc. A dos poderes. Acontece que em razão disso, não podem leis
relação das ações que dão possibilidade ao controle judicial da ordinárias, complementares ou Constituições Estaduais predispor
Administração será sempre a título de exemplificação, tendo em outras modalidades de controle diversas das que são previstas na
vista que o controle pode ser exercido, inclusive, por intermédio Constituição Federal, sob risco de ferir o mesmo princípio.
de ação judicial ordinária sem denominação especial ou específica. De modo geral, a doutrina diferencia dois tipos de controle
legislativo: o político e o financeiro.
– Nota: a Emenda Constitucional 45/2004 ao introduzir no O controle financeiro é exercido com o auxílio dos tribunais
direito brasileiro o instituto das súmulas vinculantes, inaugurou um de contas. Já o controle político, alcança aspectos de legalidade
novo mecanismo de controle judicial da Administração Pública, ato e de mérito, vindo a ser preventivo, concomitante ou repressivo,
por meio do qual passou-se a admitir o cabimento de reclamação conforme o caso.
ao STF contra ato administrativo que contrarie súmulas vinculantes
editadas pela Corte Suprema. – Formas de controle político:
1. Da competência exclusiva do Congresso Nacional (CF,
Controle Legislativo art. 49): resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou
O controle legislativo é aquele executado pelo Poder Legislativo atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos
sobre as autoridades e os órgãos dos outros poderes, como ocorre gravosos ao patrimônio nacional; autorizar o Presidente da
por exemplo, nos casos de convocação de autoridades com o República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que
objetivo de prestar esclarecimentos ou, ainda, do controle externo forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele
exercido pelo Poder Legislativo auxiliado pelo Tribunal de Contas. permaneçam temporariamente, ressalvados os casos previstos
O controle legislativo, também denominado de controle em lei complementar; autorizar o Presidente e o Vice-Presidente
parlamentar, se refere àquele no qual o Poder Legislativo exerce da República a se ausentarem do País, quando a ausência exceder
poder sobre os atos do Poder Executivo e sobre os atos do Poder a quinze dias; aprovar o estado de defesa e a intervenção federal,
Judiciário, sendo este último somente no que condiz ao desempenho autorizar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas
da função administrativa. Trata-se assim, o controle parlamentar de medidas; sustar os atos normativos do Poder Executivo que
um controle externo sobre os demais Poderes. exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação
Infere-se que a estrutura do Poder Legislativo Brasileira deve legislativa; julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente
ser verificada com atenção às peculiaridades de cada ente federado, da República e apreciar os relatórios sobre a execução dos planos
posto que não somente o princípio da simetria, como também as de governo; fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de
regras específicas que a Constituição Federal predispõe para os suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração
âmbitos federal, estadual, municipal e distrital. indireta; apreciar os atos de concessão e renovação de concessão
Em análise ao plano federal, verifica-se que vigora o de emissoras de rádio e televisão; aprovar iniciativas do Poder
bicameralismo federativo, sendo o Poder Legislativo Federal Executivo referentes a atividades nucleares; autorizar, em terras
composto por duas Casas: a Câmara dos Deputados que é composta indígenas, a exploração e o aproveitamento de recursos hídricos
por representantes do povo e o Senado Federal que é composto por e a pesquisa e lavra de riquezas minerais; aprovar, previamente, a
representantes dos Estados-membros e do Distrito Federal. alienação ou concessão de terras públicas com área superior a dois
mil e quinhentos hectares.

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NOÇÕES DE DIREITO

2. Da competência privativa do Senado Federal (CF, art. 52): De acordo com a Constituição Federal, as comissões
processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos parlamentares de inquérito possuem poderes de investigação que
crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os são próprios das autoridades judiciais, além de outros poderes que
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes estão previstos nos regimentos das Casas Legislativa. As CPIs são
da mesma natureza conexos com aqueles; processar e julgar os criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, seja em
Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho conjunto ou de forma separada mediante pugnação de um terço
Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, de seus membros, com o objetivo de apurar fato determinado e
o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União por prazo certo, sendo que as suas conclusões, quando for preciso,
nos crimes de responsabilidade; autorizar operações externas de serão encaminhadas ao Ministério Público, para que este órgão
natureza financeira, de interesse da União, dos Estados, do Distrito promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores, nos
Federal, dos Territórios e dos Municípios; fixar, por proposta termos dispostos no art. 58, § 3º da CFB/1988.
do Presidente da República, limites globais para o montante da Em decorrência do exercício dos seus poderes de investigação,
dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e a CPI é dotada de ato próprio, sem a necessidade de autorização
dos Municípios; dispor sobre limites globais e condições para as judicial para:
operações de crédito externo e interno da União, dos Estados, – Realizar as diligências que entender necessárias;
do Distrito Federal e dos Municípios, de suas autarquias e demais – Convocar e tomar o depoimento de autoridades, inquirir
entidades controladas pelo Poder Público federal; dispor sobre testemunhas sob compromisso e ouvir indiciados;
limites e condições para a concessão de garantia da União em – Requisitar de órgãos públicos informações e documentos de
operações de crédito externo e interno; estabelecer limites globais qualquer natureza;
e condições para o montante da dívida mobiliária dos Estados, do – Requerer ao Tribunal de Contas da União a realização de
Distrito Federal e dos Municípios; aprovar, por maioria absoluta e inspeções e auditorias que entender necessárias.
por voto secreto, a exoneração, de ofício, do Procurador-Geral da
República antes do término de seu mandato; aprovar previamente, Ademais, conforme decisão do STF, por autoridade própria, a
por voto secreto, após arguição pública, a escolha de: CPI pode sem necessidade de intervenção judicial, porém, sempre
– Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição; por meio de decisão fundamentada e motivada, observadas todas
– Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo as formalidades da legislação, determinar a quebra de sigilo fiscal,
Presidente da República; bancário e de dados do investigado. (MS 23.452/RJ).
– Governador de Território; Em esquema básico, temos:
– Presidente e diretores do Banco Central;
– Procurador-Geral da República; Financeiro: é exercido com
– Titulares de outros cargos que a lei determinar; o auxílio dos tribunais de contas.
– Aprovar previamente, por voto secreto, após arguição em
sessão secreta, a escolha dos chefes de missão diplomática de CONTROLE LEGISLATIVO Político: alcança aspectos
caráter permanente. ESPÉCIES de legalidade e de mérito, vindo
a ser preventivo, concomitante
3. Da competência privativa da Câmara dos Deputados (CF, ou repressivo.
art. 51): autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração
de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e Controle pelos Tribunais de Contas
os Ministros de Estado; proceder à tomada de contas do Presidente Previstos na Constituição Federal, os Tribunais de Contas são
da República, quando não apresentadas ao Congresso Nacional órgãos com a finalidade de auxiliar o Poder Legislativo na execução
dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa. do exercício do controle externo da Administração Pública. São
4. Outros controles políticos (CF, art. 50): a Câmara dos órgãos especializados e não integram a estrutura administrativa
Deputados e o Senado Federal, ou qualquer de suas Comissões, do Parlamento e também não mantém com ele mantém qualquer
poderão convocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares de espécie de relação hierárquica.
órgãos diretamente subordinados à Presidência da República para Denota-se que a Carta Magna de 1988 preservou a estrutura
prestarem, pessoalmente, informações sobre assunto previamente de organização dos Tribunais de Contas vigente nos diversos entes
determinado, importando crime de responsabilidade a ausência da federação à época de sua promulgação. Com isso, nos termos
sem justificação adequada; as Mesas da Câmara dos Deputados do art. 31, § 4º da CFB/1988, tornou-se proibida a criação de novos
e do Senado Federal poderão encaminhar pedidos escritos de tribunais, conselhos ou órgãos de contas municipais.
informações a Ministros de Estado ou a quaisquer titulares de órgãos Em seguimento a essa diretriz, em âmbito federal, temos o
diretamente subordinados à Presidência da República, importando TCU (Tribunal de Contas da União); no plano estadual, os Tribunais
em crime de responsabilidade a recusa, ou o não atendimento, no de Contas dos Estados; no Distrito Federal, o TCDF (Tribunal
prazo de trinta dias, bem como a prestação de informações falsas. de Contas do Distrito Federal), sendo que na esfera municipal,
Por fim, em relação ao controle político legislativo, cabe percebe-se a organização dos tribunais de contas não ocorre de
especial destaque referente ao controle exercido pelas comissões maneira uniforme. Devido ao fato da maioria dos municípios ter
parlamentares de inquérito (CPIs). criado até a CF/1988 o seu próprio Tribunal de Contas, a função
As CPIs são comissões temporárias designadas a investigar fato de prestar auxílio ao Poder Legislativo municipal no exercício do
certo e determinado e fazem parte do contexto de uma das funções controle externo é normalmente repassada ao Tribunal de Contas
típicas do Parlamento que é a função de fiscalização. do respectivo Estado que é dotado de atribuições de controle ao
das administrações estadual e municipal.
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NOÇÕES DE DIREITO

Em relação à sua composição, verificamos com afinco que os Em continuidade, o controle de economicidade é relativo à
Tribunais de Contas são órgãos colegiados, com quadro de pessoal utilização dos recursos de forma racional, uma vez que com ele,
próprio (inspetores, procuradores, analistas, técnicos etc.), sendo pretende-se averiguar se a despesa realizada atende aos aspectos
o TCU composto por nove ministros, ao passo que os demais da melhor relação custo-benefício.
Tribunais de contas são compostos, em regra, por sete conselheiros, Destaca-se que o controle externo também investiga se houve
número sempre observado nos Estados, com exceção do Tribunal a aplicação de forma correta das subvenções, que se tratam de
de Contas do Município de São Paulo que conta com apenas cinco transferências de recursos feitas pelo governo com o fito de cobrir
conselheiros, nos parâmetros do art. 49 da Lei Orgânica daquele despesas de custeio das entidades beneficiadas.
Município. As subvenções podem ser de duas espécies. São elas:
Embora, não obstante a existência dos chamados “tribunais” subvenções sociais e subvenções econômicas.
de contas, as cortes de contas também não exercem jurisdição em A) Subvenções sociais: são destinadas ao custeio de instituições
sentido próprio, isso por que suas decisões não possuem o caráter públicas ou privadas de caráter assistencial ou cultural, que não
de definitividade, vindo a sofrer a possibilidade de serem anuladas possuem finalidade lucrativa, nos ditames da Lei 4.320/1964, art.
pelo Poder Judiciário. Entretanto, o processo ajuizado com o fito 12, § 3º, I.
de anular a decisão da corte de contas é distinto do processo de B) Subvenções econômicas: são as destinadas ao custeio de
natureza administrativa em que foi proferida tal decisão. Desta empresas públicas ou privadas de caráter industrial, comercial,
forma, o interessado não poderá interpor um recurso para o agrícola ou pastoril, nos termos da Lei 4.320/1964, art. 12, § 3º, II.
Judiciário em desfavor da decisão final do Tribunal de Contas com Registra-se, que o controle externo também se incumbe
o fulcro de reformá-la, mas sim ajuizar processo autônomo perante de apreciar a regularidade da renúncia de receita. Há vários
o órgão jurisdicional competente com o objetivo de anular o mecanismos que tornam possível a renúncia de receita, como
mencionado julgado. por exemplo: a remissão, o subsídio, a isenção e a modificação da
Registra-se que em relação ao controle externo financeiro e alíquota ou da base de cálculo de tributo que implique sua redução.
as atribuições dos tribunais de contas, a Constituição Federal criou Nos ditames constitucionais, a cargo de Congresso Nacional, o
um sistema harmonizado de controle, que prevê a existência de um controle externo, será exercido com a ajuda do Tribunal de Contas
controle externo associada a um controle interno executado por da União, ao qual compete, nos parâmetros do art. 71 da CFB/1988:
cada órgão sobre seus agentes e seus atos. A) Apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da
O controle exercido pelo Poder Legislativo é uma forma de República, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em
controlar de maneira externa os atos dos órgãos dos outros Poderes sessenta dias a contar de seu recebimento;
e das entidades da administração indireta. Esse controle, além de B) Julgar as contas dos administradores e demais responsáveis
controlar a parte financeira dos outros órgãos, também abrange por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e
de forma ampla o controle contábil, financeiro, orçamentário, indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas
operacional e patrimonial, levando em conta os aspectos da pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa
legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao
e renúncia de receitas. erário público; apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos
No campo contábil a análise abrange o registro dos fatos de admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta
contábeis e a elaboração de demonstrativos. Em âmbito financeiro, e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder
é verificado o verdadeiro ingresso das receitas, através de Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em
comprovantes de depósito ou transferência de recursos, bem como comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas
a realização de forma efetiva de despesas, vindo a comprovar os e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o
seus tradicionais estágios de licitação, empenho, liquidação e fundamento legal do ato concessório;
pagamento. Por sua vez, o controle orçamentário é aquele que C) Realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados,
acompanha a execução do orçamento, que é a legislação em do Senado Federal, de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções
que se encontram as receitas previstas e também as despesas e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária,
fixadas. Em referência ao controle operacional, ressaltamos que operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos
o mesmo trata de diversos aspectos do desempenho da atividade Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades
administrativa, como por exemplo, numa auditoria operacional, referidas na letra b;
pode ser computado o tempo médio que o usuário usa esperando D) fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais
por atendimento médico em uma unidade do sistema público de de cujo capital social a União participe, de forma direta ou indireta,
saúde. Finalmente, temos o controle patrimonial, que cuida da nos termos do tratado constitutivo;
fiscalização do patrimônio público. E) Fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela
Analisando a legalidade do controle externo, observamos que União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos
este investiga se a conduta administrativa está de acordo com as congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município;
diversas normas jurídicas. F) Prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional,
O controle de legitimidade atua complementando o controle por qualquer de suas Casas, ou por qualquer das respectivas
de legalidade, permitindo a apreciação de outros aspectos além Comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária,
da adequação formal da conduta à legislação pertinente. Nesse operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e
diapasão, são passíveis de averiguação aspectos como a finalidade inspeções realizadas;
do ato e a obediência aos princípios constitucionais como a
moralidade administrativa, por exemplo.

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NOÇÕES DE DIREITO

G) Aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa De outro ângulo, o parecer antecedente emitido pela Corte
ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que de Contas é indispensável ao julgamento das contas anuais
estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano dos Prefeitos. Foi justamente por esse motivo que o STF julgou
causado ao erário; inconstitucional dispositivo de constituição estadual que permitia
H) Assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as às Câmaras Legislativas apreciarem as contas anuais prestadas
providências necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada pelos prefeitos, independentemente do parecer do Tribunal de
ilegalidade; Contas do Estado, quando este não fosse oferecido no prazo de 180
I) sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, dias. (ADI 3.077/SE).
comunicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Os Tribunais de Contas possuem competência distinta para
Federal; julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por
J) Representar ao Poder competente sobre irregularidades ou verba pública, bens e valores públicos da administração direta
abusos apurados. e indireta, inclusive das fundações e sociedades instituídas e
mantidas pelo Poder Público, e ainda, as contas dos entes que
Observação: As normas retro mencionadas acima relativas ensejarem e derem causa à perda, extravio ou outra irregularidade
ao Tribunal de Contas da União aplicam-se, no que couber, à de que resulte prejuízo ao erário público, nos termos do disposto no
organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos art. 71, III da CFB/1988.
Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos Outro ponto importante a ser destacado, é o fato de que
de Contas dos Municípios, onde houver, nos termos do art.75 da ao julgar as contas dos gestores públicos e demais agentes que
CFB/1988. causarem danos ao erário, em diversos casos, os tribunais de contas
imputam débito com o objetivo de ressarcir o dano, ou multa com
– Aspectos importantes sobre as atribuições dos Tribunais de caráter de punição. Denota-se que decisões das Cortes de Contas
Contas que imputam débito ou multa terão validade de título executivo nos
Vejamos a diferença entre os atributos de “apreciar contas” e termos do art. 71, § 3º da CFB/198. Ou seja, caso a pessoa a quem
“julgar contas”. foi imputada a multa ou o débito não vier a adimplir a referida
Em relação às contas do chefe do Poder Executivo, os Tribunais importância dentro do prazo estipulado por lei, poderá sofrer a
de Contas têm atribuição para “apreciá-las”, desde que haja a cobrança judicial da importância diretamente por intermédio de
emissão de parecer conclusivo, que deverá ser elaborado no prazo uma ação de execução, sendo desnecessário o ajuizamento de uma
de 60 dias a contar de seu recebimento (art. 71, I), sendo que é ação de conhecimento para rediscutir a matéria que já foi objeto de
competência do Poder decisão da corte de contas.
Legislativo julgar as contas de cada ente federado. Desta Pelo fato das decisões definitivas dos tribunais de contas
maneira, as contas anuais do Presidente da República são julgadas que imputam débito ou aplicam multa terem, por si só, força de
pelo Congresso Nacional nos ditames do art. 49, IX, CF/1988; as dos título executivo, sua execução independe da inscrição em dívida
Governadores, pela Assembleia Legislativa do respectivo Estado; ativa. Entretanto, os entes federados têm o costume de inscrever
a do Governador do Distrito Federal, pela Câmara Legislativa do todos os seus créditos passíveis de execução em dívida ativa, o que
Distrito Federal; e as contas dos Prefeitos, pelas respectivas câmaras ocorre por dois motivos. Em primeiro lugar, por que a inscrição
municipais. dá possibilidade para que a execução siga o rito estabelecido na
Existe uma particularidade em relação ao parecer que o Lei 6.830/1980, Lei das Execuções Fiscais, trazendo uma série de
tribunal de contas do Estado ou do município emite a respeito vantagens para o exequente. Em segundo lugar, a inscrição acaba
das contas anuais do chefe do Poder Executivo municipal. Nos por submeter o crédito a um controle mais amplo, na medida em
termos do previsto no art. 31, § 2º, da CF/1988, o parecer prévio, que ele fica registrado em sistemas informatizados criados para a
emitido pelo tribunal de contas sobre as contas que o Prefeito administração, controle de prazos e cobrança dos valores inscritos.
deve anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão
de dois terços dos membros da Câmara Municipal. Assim sendo, — Controle Administrativo3
é por essa razão que grande parte da doutrina afirma que nessa O Controle da Administração pode ser interno ou externo,
hipótese, o parecer prévio é relativamente vinculante, não sendo administrativo, legislativo e judiciário, conforme seja realizado
absolutamente vinculante pelo fato de poder ser superado, porém, ou não pela própria Administração ou pelos Poderes Executivo,
como a superação depende de quórum qualificado, tem-se uma Legislativo e Judiciário.
vinculação relativa. O Controle Administrativo é aquele realizado pela própria
Em relação a esse assunto, o STF explicou que a expressão “só Administração Pública. Esse controle decorre do princípio da
deixará de prevalecer”, contida no mencionado § 2º, não quer dizer autotutela, ou seja, do poder que possui a Administração de anular
que o parecer conclusivo do tribunal de contas poderia produzir os atos ilegais e de revogar os atos inconvenientes ou inoportunos
efeitos imediatos, que se poderiam se tornar permanentes em caso ao interesse público. Ë denominado como o poder de fiscalização
do silêncio da casa legislativa. Para a Suprema Corte, o parecer do e correção que a Administração Pública (em sentido amplo) exerce
Tribunal de Contas que rejeita as contas do chefe do executivo possui sobre sua própria atuação, sob os aspectos de legalidade e mérito,
natureza opinativa, só podendo produzir o efeito de inelegibilidade por iniciativa própria ou mediante provocação.
do prefeito (LC 64/1990, art. 1º, I, alínea “g”) após transcorrido o É o controle exercido pelos órgãos com função administrativa
julgamento das contas pela respectiva Câmara de Vereadores (RE sobre seus próprios atos, no desempenho da autotutela. Portanto,
729.744/MG e RE 848.826/DF). cabe ao Poder Executivo o amplo controle sobre suas próprias
3 Almeida, Fabrício Bolzan D. Manual de direito administrativo. Dispo-
nível em: Minha Biblioteca, (5th edição). Editora Saraiva, 2022.
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NOÇÕES DE DIREITO

funções administrativas, extroversas e introversas, e aos demais Revisão Recursal


Poderes do Estado, bem como aos órgãos constitucionalmente Como instrumento de controle administrativo, a revisão
independentes, exercer o autocontrole no que toca às suas recursal significa a possibilidade de eventuais interessados se
respectivas funções administrativas. insurgirem formalmente contra certos atos da Administração,
Em relação ao objetivo, esta modalidade de controle visa, lesivos ou não a direito próprio, mas sempre alvitrando a reforma
genericamente, à juridicidade da ação administrativa pública, de determinada conduta.
destacadamente quanto à sua legitimidade e legalidade. Esse meio de controle é processado através dos recursos
Abrange os órgãos da Administração Direta ou centralizada administrativos, matéria que, marcada por muitas singularidades,
e as pessoas jurídicas que integram a Administração Indireta ou será estudada em separado a seguir.
descentralizada.
Controle Social
A Súmula n. 473 do STF prevê: As normas jurídicas, tanto constitucionais como legais, têm
A Administração pode anular seus próprios atos, quando contemplado a possibilidade de ser exercido controle do Poder
eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se Público, em qualquer de suas funções, por segmentos oriundos
originam direitos, ou revogá-los, por motivo de conveniência ou da sociedade. É o que se configura como controle social, assim
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em denominado justamente por ser uma forma de controle exógeno do
todos os casos, a apreciação judicial. Poder Público nascido das diversas demandas dos grupos sociais.

Esse controle pode ser iniciado de ofício pela Administração Objetivos


(independentemente de provocação do particular) ou mediante São três os objetivos do controle administrativo:
requerimento do interessado. 1 – O primeiro deles é o de confirmação, pelo qual atos e
comportamentos administrativos são dados pela Administração
Existem instrumentos utilizados pelos particulares para como legítimos ou adequados. Exemplo: o ato de confirmação de
provocar o controle administrativo, entre eles estão: autuação fiscal, quando o autuado alega ilegalidade do ato.
– Representação (denúncia de ilegalidade ou abuso de poder 2 – O segundo é o de correção, em que a Administração,
perante a Administração); considerando ilegal ou inconveniente a conduta ou o ato,
– Reclamação administrativa (manifestação de discordância em providencia a sua retirada do mundo jurídico e procede à nova
razão de atuação administrativa que atingiu direito do particular); conduta, agora compatível com a legalidade ou com a conveniência
– Recurso hierárquico próprio e impróprio; administrativas. Se o Poder Público, para exemplificar, revoga
– Pedido de revisão; e autorização de estacionamento, está corrigindo o ato anterior
– Pedido de reconsideração (quanto aos três últimos quanto às novas condições de conveniência para a Administração.
instrumentos, vide a seguir no Capítulo “Processo Administrativo”). 3 – Objetivo de alteração, através do qual a Administração
ratifica uma parte e substitui outra em relação ao que foi produzido
Meios de Controle por órgãos e agentes administrativos. Exemplo: portaria que altera
O controle administrativo pode ser hierárquico ou não local de atendimento de serviço público, mas mantém o mesmo
hierárquico. horário anterior.

O Controle Hierárquico entre os órgãos da administração Responsabilidade civil do Estado


direta que sejam escalonados verticalmente, em cada Poder, e Evolução histórica
existe controle hierárquico entre os órgãos de cada entidade da De início, adentraremos esse módulo respaldando sobre
administração indireta que sejam escalonados verticalmente, no o conceito de responsabilidade civil do Estado. Consiste esse
âmbito interno da própria entidade. instituto na obrigação estatal de indenizar os danos patrimoniais,
morais ou estéticos que os seus agentes, agindo nessa qualidade,
Controle Ministerial causarem a terceiros. A responsabilidade civil do Estado pode ser
De outra parte, existe controle administrativo não hierárquico. dividida em dois grupos: a contratual, que advém da ausência de
Também chamado de controle finalístico, de supervisão ministerial, cumprimento de cláusulas inclusas em contratos administrativos,
de tutela administrativa, é o controle exercido pela administração e a extracontratual ou aquiliana, que alcança as demais situações.
direta aos atos praticados pela administração indireta. É um Em relação à evolução histórica, de acordo com o Professor
controle interno exercido sem que haja subordinação. Celso Antônio Bandeira de Mello, a tese da responsabilidade civil
O Controle ministerial é o exercido pelos Ministérios sobre os do Estado sempre foi aceita em forma de princípio amplo. Isso
órgãos de sua estrutura administrativa e também sobre as pessoas ocorreu mesmo no período em que não existia dispositivo de
da Administração Indireta federal. norma específica. Para o mencionado autor, desde os primórdios,
predominou no Brasil a tese da responsabilidade do Estado com
O Direito de Petição, a doutrina em geral menciona diversos base na teoria da culpa civil. Logo após, houve o avanço para que
meios ou instrumentos passíveis de ser utilizados pelo administrado houvesse a admissão da culpa pela ausência de serviço. Por fim,
para provocar o controle administrativo, todos eles espécie do chegou-se à aprovação da responsabilidade objetiva do Estado.
abrangente direito fundamental previsto no art. 5.º, XXXIV, a, da Nos tempos imperiais, a Constituição de 1824 vigente à época,
Constituição Federal, conhecido como “direito de petição”. previa somente a responsabilidade pessoal do agente público,
conforme disposto no art. 179, XXIX: “Os empregados públicos

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NOÇÕES DE DIREITO

são estritamente responsáveis pelos abusos e omissões praticados determina de forma expressa que elas sejam regidas pelas mesmas
no exercício de suas funções e por não fazerem efetivamente normas aplicáveis às empresas privadas. Por consequência, tais
responsáveis aos seus subalternos”. entidades estão sujeitas à responsabilidade subjetiva, sendo
Ressalta-se, que nesse período, mesmo não existindo previsão controladas pelas normas comuns pertinentes ao Direito Civil.
constitucional a respeito da responsabilidade do Estado, a doutrina Aduz-se que a aglutinação do art. 37, § 6º, com o art. 5º, X,
e a jurisprudência compreendiam que existia solidariedade do ambos da CF/1988, leva à conclusão de que a responsabilização
Estado em alusão aos atos de seus agentes. estatal tem ampla abrangência tanto no condizente ao dano
No art. 82 da Constituição Federal de 1891, no seu art. 82, material como o dano moral. Entretanto, a jurisprudência achou
carregou e trouxe em seu bojo, dispositivo semelhante ao da por bem ampliar as espécies de danos indenizáveis, passando a
Constituição de 1824. determinar que o dano estético se constituiria em uma espécie de
Em âmbito civilista, o Código Civil de 1916, em seu art. 15, dano autônomo no qual a indenização poderia ser expressamente
dispôs: “As pessoas jurídicas de Direito Público são civilmente cumulada com a reparação pelos danos materiais e morais.
responsáveis por atos de seus representantes que nessa qualidade Ressalta-se que a responsabilidade objetiva do Estado deve
causem danos a terceiros, procedendo de modo contrário ao direito seguir a teoria do risco administrativo, conforme previsto na
ou faltando a dever prescrito em lei, salvo o direito regressivo contra CF/1988 e a teoria do risco integral jamais recebeu acolhimento
os causadores do dano”. Para a doutrina, o entendimento é de que como norma ou regra em nenhuma das constituições brasileiras.
o referido dispositivo legal consagrava a responsabilidade subjetiva No entanto, no ordenamento jurídico brasileiro algumas
do Estado tanto no sentido de culpa civil, quanto por ausência de hipóteses em que se aplica a teoria do risco integral foram
serviço. inseridas. A título de exemplo disso, temos os casos de danos
Referente à Constituição de 1934, depreende-se que esta causados por acidentes nucleares (CF, art. 21, XXIII, “d”, disciplinado
manteve a responsabilidade civil subjetiva do Estado, determinando pela Lei 6.453/1977), e, ainda, de danos decorrentes de atentados
no art. 171, o seguinte: “Os funcionários públicos são responsáveis terroristas ou atos de guerra contra aeronaves de empresas aéreas
solidariamente com a Fazenda Nacional, Estadual ou Municipal, por brasileiras (Leis 10.309/2001 e 10.744/2003).
quaisquer prejuízos decorrentes de negligência, omissão ou abuso Finalmente, após inúmeras delongas ao longo da história,
no exercício dos seus cargos”. chega-se ao Código Civil de 2002 que, em seu art. 43, reitera
A Carta Magna de 1937, por sua vez, reiterou no art. 158 o a mesma orientação inserida na Constituição Federal de 1988,
mesmo dispositivo da Constituição de 1934. suprimindo, no entanto, a alusão à responsabilidade das pessoas
No condizente à Constituição de 1946, aduz-se que esta jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público.
representou uma importante e grande inovação no assunto ao Entretanto, ressalta-se que a omissão, nesse caso, não impede a
introduzir, por sua vez, a teoria da responsabilidade objetiva do responsabilização objetiva dessas pessoas jurídicas, posto que está
Estado, conforme ditado no dispositivo a seguir: prevista no texto constitucional.
Art. 194. As pessoas jurídicas de Direito Público Interno são Ante o exposto, aduz-se que as conclusões a respeito da
civilmente responsáveis pelos danos que os seus funcionários, nessa matéria podem ser resumidas da seguinte maneira:
qualidade, causem a terceiros. – A teoria da irresponsabilidade civil do Estado nunca foi aceita
Parágrafo único. Caber-lhes-á ação regressiva contra os no direito brasileiro.
funcionários causadores do dano, quando tiver havido culpa destes.
A Constituição de 1967, acoplada à Emenda 1, de 1969, foi – A evolução legislativa mostra que o ordenamento jurídico
audaz e manteve a responsabilidade objetiva do Estado, fazendo o pátrio previu de início a responsabilidade civil do Estado com base
acréscimo referente de que a ação regressiva contra o funcionário na culpa civil, vindo a evoluir para a responsabilidade pela ausência
ocorreria também nos casos de dolo, e não somente nos casos de de trabalho até chegar à responsabilidade objetiva.
culpa, como era disposto na Constituição de 1946. – A responsabilidade objetiva do Estado foi inserida no
Em âmbito contemporâneo, a Constituição Federal de 1988, no ordenamento jurídico brasileiro a partir da Constituição Federal de
art. 37, § 6º, determina: “As pessoas jurídicas de Direito Público e 1946.
as de Direito Privado prestadoras de serviços públicos responderão – A Constituição Federal de 1988, veio a ampliar a
pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a responsabilidade objetiva do Estado, vindo a responsabilizar
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos objetivamente as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras
casos de dolo ou culpa”. de serviço público.
O referido dispositivo constitucional em alusão, trouxe – A Constituição Federal de 1988 consagrou a responsabilidade
informação inovadora ao ampliar a responsabilidade civil objetiva por danos morais ou extrapatrimoniais.
do Estado, que por sua vez, passou também a alcançar as pessoas – A responsabilidade objetiva do Estado adotada pela Carta
jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos, como Magna de 1988, segue a teoria do risco administrativo, sendo que a
por exemplo: as fundações governamentais de direito privado, teoria do risco integral foi acolhida apenas em situações e hipóteses
as empresas públicas, sociedades de economia mista, e, ainda excepcionais.
qualquer pessoa jurídica de direito privado, desde que estejam – Divergindo da Constituição Federal de 1988, pelo fato de
devidamente paramentadas sob delegação do Poder Público e a não haver feito referência à responsabilidade objetiva das pessoas
qualquer título para a prestação de serviços públicos. jurídicas que prestam serviços ao poder público, o Código Civil de
Esclarece-se, nesse sentido, que a regra da responsabilidade 2002, prevê também a responsabilidade objetiva do Estado.
civil objetiva não pode ser aplicada aos atos das empresas públicas
e das sociedades de economia mista exploradoras de atividade
econômica, tendo em vista que o art. 173, § 1º, da CF/1988,
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NOÇÕES DE DIREITO

Responsabilidade por ato comissivo do Estado Prevalece entre os doutrinadores, apesar de não haver
De antemão, convém respaldar que responsabilidade civil pacificidade doutrinária e nem tampouco nos tribunais, o
do Estado é passível de advir de atos comissivos ou omissivos entendimento de que a redação do art. 37, § 6º, da CFB/88, só
praticados por seus agentes. consagra a responsabilidade objetiva nos atos comissivos.
Em consonância com o estudo em questão, aduz-se que atos Destaque-se que não é qualquer ato omissivo praticado por
comissivos são aqueles por meio dos quais o agente público atua agente público que intitula a responsabilidade civil do Estado. A
de forma positiva causando danos a um terceiro. Exemplo: um responsabilização estatal em função de omissivos, ocorre somente
condutor de veículo automotor e servidor do Estado, embriagado quando o agente público omisso possui o dever legal de praticar
e sob o efeito de drogas, dirigindo a serviço, atropela um pedestre. um determinado ato, e deixa de fazê-lo. Exemplo: em situação
Cumpre ressaltar que a teoria adotada em relação à hipotética, um agente salva-vidas que ao se deparar diante de
responsabilidade civil do Estado por prática de conduta omissa, não situação na qual um banhista está se afogando, permanece inerte,
é a mesma a ser aplicada à responsabilização por atos comissivos. permitindo que o banhista venha a falecer sem ser socorrido. Nesta
Infere-se que o artigo 37, § 6º da Constituição Federal de 1988 é situação, o Estado explicitamente será responsabilizado pelo ato de
de aplicação restrita em relação aos atos comissivos, sendo, assim, omissão do agente público, tendo em vista que este tinha o dever
incorreta a sua invocação nos casos específicos de responsabilidade legal de agir, ao menos tentando salvar a vida do banhista e não o
por omissão estatal. fez. Em outro ângulo, aproveitando o mesmo exemplo, se, ao invés
Para melhor entendimento do raciocínio, o artigo 37, § 6º, da do guarda salva-vidas, a mencionada omissão fosse praticada por
Constituição Federal, em relação à responsabilidade civil do Estado, um Analista Judiciário do Tribunal de Justiça de algum Estado da
dispõe: Federação, o Estado não poderia ser responsabilizado, tendo em
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado vista que ao Analista, não era incumbido o dever legal de tentar
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus salvar o banhista.
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o Não obstante, afirma-se que é inaplicável o uso do artigo 37,
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. § 6º da Constituição Federal de 1988, bem como da teoria do risco
O mencionado dispositivo, sob plena concordância unânime administrativo às lides de responsabilidade civil por omissão do
da doutrina e jurisprudência, consagra de forma expressa a Estado.
responsabilidade civil objetiva do Estado. No entendimento desse Registre-se ainda, que a responsabilidade civil por omissão
parâmetro Constitucional, a vítima se encontra de forma ampla, estatal é subjetiva. Isso ocorre, também, devido à inaplicabilidade
dispensada do ônus da prova da culpa da Administração, tendo do artigo 37, § 6º da Constituição Federal, que é a instituidora
a incumbindo-lhe somente comprovar o nexo causal entre o ato da responsabilidade objetiva aos casos de omissão estatal, o que
desta e o prejuízo sofrido. enseja ao entendimento de que a responsabilização do mesmo
Contudo, ressalta-se que o dispositivo se reporta apenas aos apenas poderá ser invocada se sua ausência de ação houver sido
danos causados pelos agentes das pessoas jurídicas de direito culposa.
público ou, ainda, das pessoas jurídicas de direito privado que Em outras palavras, aduz-se que a responsabilidade civil
prestam serviço público, não tendo qualquer espécie de alcance às do estatal por conduta omissa é subjetiva. Ressalte-se que tal
situações nas quais o dano tenha decorrido de ato de terceiro ou de posicionamento já foi referendado por muitos de nossos mais
fatos advindos de caso fortuito ou força maior. renomados e importantes administrativistas. Ótimos exemplos
Assim sendo, afirma-se que o artigo 37, § 6º, Constituição disso, são Hely Lopes Meirelles e Celso Antônio Bandeira de Mello,
Federal de 1988, não enseja ao alcance das hipóteses de omissão sendo desse último, o esclarecedor ensinamento de que a partir
estatal, posto que, nestas situações, o dano não decorre, do momento em que o dano foi constatado em decorrência de
exatamente da ação de um agente do Estado, mas sim da atitude de uma omissão do Estado, sendo pelo serviço que não funcionou, ou,
um terceiro, denotando que a omissão do Estado apenas contribui funcionou de forma ineficientemente ou tardia, aduz-se que caberá
para o resultado. a aplicabilidade da teoria da responsabilidade subjetiva. Entretanto,
Adverte-se que a conduta omissa do Estado não é o que causa se o Estado não agiu, não será, por conseguinte, ser ele o autor do
diretamente o dano, uma vez que este é proveniente de ato de dano. E, não sendo ele o autor, só será responsabilizado se caso
terceiro, razão pela qual pode-se afirmar que o dano à vítima não estivesse obrigado a impedir o dano.
foi consequência de forma direta da conduta omissa do agente Em alusão ao retro ensinamento, afirma-se que a teoria
do Estado, o que faz inaplicável o artigo 37, § 6º, da CFB/88 às aplicada não poderia ser a objetiva, isso porque tal teoria admite
hipóteses de omissão do Estado, restando incabível a teoria da a cobrança de responsabilização até mesmo quando o dano é
responsabilidade objetiva com base no risco administrativo. advindo de atuação lícita do Estado.
Nos casos relacionados à omissão estatal, o Estado não é
Responsabilidade por omissão do Estado o verdadeiro autor do dano, uma vez este o advém de atividade
Atos omissivos são aqueles por meio dos quais o agente de terceiro. Assim sendo, sua responsabilidade somente poderá
público deixa de agir e sua omissão, ainda que não venha a causar ser invocada caso esteja obrigado a agir com o fulcro de impedir
diretamente o dano, possibilita sua ocorrência. que o dano ocorra, isso, em havendo ilegalidade na sua omissão.
Quando o Estado é omisso no seu dever de agir de acordo com Resta registrar também, inclusive, que a responsabilidade estatal
os parâmetros legais, terá o dever de reparar o prejuízo causado. não poderá ser invocada quando existir a impossibilidade real de
No entanto, a responsabilidade será aplicada na forma subjetiva, impedimento do dano mediante atuação aplicadora do Estado.
posto que deverá ser demonstrada a culpa do Estado, ou seja, a Por fim, devido ao fato de a responsabilização estatal ocorrer
omissão estatal. apenas quando sua omissão for caracterizada por uma atitude ilícita,
a Administração não será responsabilizada se houver utilizado e
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NOÇÕES DE DIREITO

esgotado suas possibilidades e formas de amparo no limite máximo que explicitamente atenua ou diminui a responsabilidade civil
e, mesmo desta forma, não tiver conseguido impedir o dano, posto estatal é a existência de culpa concorrente da vítima, comprovando
que a Administração Pública somente poderá ser responsabilizada assim a inexistência de culpa exclusiva do Estado. Desta forma, na
por danos que estava obrigada a impedir. situação hipotética de colisão entre veículo que pertence a ente
público e a um particular, na qual tenha ocorrido imprudência de
Requisitos para a demonstração da responsabilidade do ambos os condutores, o Estado não responde pela integralidade do
estado dano, o que faz por força de lei, com que os prejuízos deverão ser
Os requisitos que compõem a estrutura e demarcam o rateados na proporção da culpa de cada responsável pelo ato.
perfil da responsabilidade civil objetiva do Poder Público, são: a Em relação às circunstâncias excludentes da responsabilidade
alteridade do dano; a causalidade material entre o eventus damni do Estado, a doutrina e a jurisprudência consideram as seguintes:
e o comportamento positivo por ação, ou negativo por omissão do culpa ou dolo exclusivo da vítima ou de terceiros, caso fortuito e
agente público; a oficialidade da atividade causal e lesiva, imputável força maior.
a agente público que tenha, nessa condição de servidor, incidido Vejamos:
em conduta comissiva ou omissiva, isso, independentemente da
licitude, ou não, do comportamento funcional e a inexistência de – Culpa ou dolo exclusivo da vítima ou de terceiros
causa excludente da responsabilidade do Estado. É excludente da responsabilidade do Estado, uma vez que
Em suma, os requisitos para a demonstração da afasta o nexo causal entre a conduta do agente público e o dano
responsabilidade do Estado são necessariamente a conduta a ser existente. A esse respeito, é de suma importância ressaltarmos que
praticada pelo agente que poderá ser lícita ou ilícita. Veja-se por não é cabível a invocação de culpa ou de dolo exclusiva da vítima
exemplo, no caso de odontologista que realiza cirurgia pertinente à na hipótese de suicídio de detento. Isso ocorre pelo fato do preso
sua área de atuação em hospital público e venha a cometer algum se encontrar sob a custódia do Estado que tem o dever de manter-
erro, caracterizado como ato ilícito, ou em campanha de aplicação lhe a integridade física e moral, buscando sua total proteção,
de flúor contra cáries, quando a substância vem a causar situação inclusive do suicídio. Nesse sentido, o STF entende que o suicídio
adversa irreversível caracterizada como ato lícito, são atos que de detento é motivo de omissão ilegítima, que por sua vez, gera
acabam por gerar danos passíveis de reparação, na forma objetiva. responsabilidade civil objetiva do Estado, que passará a ter o dever
Para que a responsabilidade objetiva estatal seja configurada, de indenizar por meio de danos morais os familiares do falecido.
deve haver um dano, tendo em vista que indenizar é “suprimir o Em algumas situações ocorrem no mundo dos fatos eventos
dano” por meio do adimplemento de uma contraprestação de imprevisíveis, extraordinários e de força irresistível, externos à
natureza pecuniária. Isso pode ser tanto dano de efeito moral administração pública e que causam danos aos administrados.
como a violação à dignidade e à honra, por exemplo, quanto dano Tendo em vista a inexistência de qualquer nexo de causalidade
material que cause prejuízo financeiro a outrem. entre a atuação administrativa e o prejuízo sofrido pelo terceiro,
Assegura-se ainda, que quando houver mera possibilidade de ter-se-á por excluída a responsabilidade civil do Estado, não lhe
dano, esta não será passível de indenização. Exemplo: a construção sendo imputado qualquer dever de indenizar.
de um presídio perto de pré-escola. Isso é fato que pode vir a causar
danos irreparáveis tanto aos alunos, como às suas famílias. Pondera- – Caso fortuito e força maior
se também que deve haver o nexo causal, que se trata da necessária Boa parte dos doutrinadores denominam consideram esta
e importante relação de causa e efeito entre a conduta praticada excludente como sendo os eventos naturais, a exemplo das
pelo agente e o dano causado. Não existindo o nexo causal, ou for tempestades, dos furacões, dos raios, dentre outros, vindo a
disseminado por algum fator, estará afastada a responsabilidade do reservar a expressão “caso fortuito” para os acontecimentos
Estado. humanos, como os arrastões, as guerras, as greves, etc., ao passo
No contexto acima, compreende-se que é insuficiente a que outros possuem conceitos opostos, designando a “força maior”
demonstração somente do dano e da conduta do Estado. É para os eventos que podem ser imputados aos homens e o “caso
necessário e devido também que se prove o nexo causal. fortuito” para os eventos naturais.
– Observação importante: O STF tem entendido que, havendo Pondera-se que o Supremo Tribunal Federal e o Superior
fuga de preso na qual o detento se encontre há muito tempo Tribunal de Justiça tem atribuído aos eventos extraordinários,
foragido e venha a cometer algum crime, com a geração de dano a imprevisíveis e de força irresistível, ocorridos de forma externa à
particular, não existe a responsabilidade do Estado, pelo fato de não administração pública com causídico de danos aos administrados,
haver mais nexo causal, interrompido pelo prolongado período de a especificidade de excludentes do nexo causal ocorridas entre a
fuga. Entende o STF que o longo período do tempo entre a fuga atuação administrativa e o evento danoso, de modo a impedir a
e o crime faz com que o nexo causal deixe de existir, não sendo responsabilização estatal pelos prejuízos causados.
mais possível imputar ao Estado o dano causado. O tempo que o Desta maneira, nos julgados de ambos os Tribunais, não existe
STF entende como longo, pondera-se que não existe uma tabela de a preocupação em diferenciar caso fortuito de força maior, mas
prazos que regule tal entendimento. O que a Suprema Corte faz é a somente a tentativa de averiguar a presença deles em cada caso
análise de casos concretos e específicos. específico do objeto de exame.
Nesse entendimento, o STJ já validou que “somente se afasta
Causas Excludentes e Atenuantes da Responsabilidade do a responsabilidade se o evento danoso resultar de caso fortuito ou
Estado força maior, ou decorrer de culpa da vítima” (REsp 721.439/RJ),
Dentro do instituto da responsabilidade civil do Estado existem enquanto o STF asseverou que “o princípio da responsabilidade
algumas causas que excluem ou atenuam a sua obrigação de acatar objetiva não se reveste de caráter absoluto, eis que admite o
ou não com tais prerrogativas. Pondera-se que a única circunstância abrandamento e, até mesmo, a exclusão da própria responsabilidade
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NOÇÕES DE DIREITO

civil do Estado, nas hipóteses excepcionais configuradoras de De qualquer maneira, o Estado, ao indenizar a vítima, deterá o
situações liberatórias – como o caso fortuito e a força maior – ou dever de cobrar, de forma regressiva, o valor desembolsado perante
evidenciadoras de ocorrência de culpa atribuível à própria vítima” o agente público que causou o dano efetivo e que agiu com dolo ou
(RE109.615/RJ). culpa.
Esquematizando, temos: Entende-se que o direito de regresso do Estado em face do
agente público nasce com o pagamento da indenização à vítima.
Culpa ou dolo exclusivo Assim sendo, não basta o que ocorra o trânsito em julgado da
Caso fortuito e força maior sentença que condena o Estado na ação indenizatória, posto que o
da vítima ou de terceiros
interesse jurídico para propor a ação regressiva depende em grande
O STF e o STJ tem atribuído parte do efetivo desfalque nos cofres públicos. Denota-se que
aos eventos extraordinários, caso ocorra a propositura da ação regressiva antes do pagamento,
imprevisíveis e de força poderia denotar e ensejar o enriquecimento sem causa do Estado.
irresistível, ocorridos de forma Pondera-se que em fase inicial, a cobrança regressiva em face
É excludente da
externa à administração pública do agente público deve ocorrer na esfera administrativa. Em se
responsabilidade do Estado,
com causídico de danos aos tratando de caso de acordo administrativo, o agente deverá, nos
uma vez que afastam o
administrados, a especificidade trâmites legais, providenciar o ressarcimento aos cofres públicos.
nexo causal entre a conduta
de excludentes do nexo causal Restando ausente o acordo, o Poder Público terá o dever de propor
do agente público e o dano
ocorridas entre a atuação a ação regressiva contra o agente público culpado.
existente
administrativa e o evento Apesar de grande parte da doutrina e jurisprudência
danoso, de modo a impedir a compreender que a ação de ressarcimento proposta pelo Poder
responsabilização estatal pelos Público em face de seus agentes é definitivamente imprescritível,
prejuízos causados. à vista do disposto na parte final do § 5.° do art. 37 da Constituição
Federal, o Supremo Tribunal Federal, em sede de repercussão geral,
Infere-se que o Código Civil brasileiro, no parágrafo único do art. acabou por decidir que é prescritível nos trâmites do art. 206, §
393, determina que “O caso fortuito ou de força maior verifica-se 3.°, V, do Código Civil, no prazo de três anos, a ação de reparação
no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.” de danos à Fazenda Pública advinda de ilícito civil e de origem de
Percebe-se que, à semelhança das decisões do STF e do STJ, a acidente de trânsito, o que não alcança à primeira vista, os ilícitos
referência é a “caso fortuito ou de força maior”, com as expressões relacionados às infrações ao direito público, como por exemplo, os
objeto de tanta discussão acadêmica citadas em conjunto, separadas de natureza penal e os atos de improbidade.
apenas pela partícula “ou”, como que querendo demonstrar que, se
as consequências são semelhantes, estando regidas pelo mesmo Direito de regresso
regime jurídico, não há relevância na tentativa de diferenciação. O parágrafo 6º do art. 37 da Constituição Federal Brasileira
prenuncia a responsabilidade civil objetiva das pessoas jurídicas
Reparação do dano de direito público e das pessoas jurídicas de direito privado
Em sentido geral, a reparação do dano pode ser viabilizada na prestadoras de serviços públicos pelos danos que seus agentes,
esfera administrativa por meio de acordo administrativo, ou na via nessa qualidade, causarem a terceiros. Assegura ainda ao Estado ou
judicial. a seus prestadores de serviços públicos, o direito de regresso contra
O agente estatal, na qualidade de agente público, em se o agente responsável, nos casos em que este aja com dolo ou culpa.
tratando de caso de dolo ou culpa, pode causar danos ao Estado Levando em conta os princípios constitucionais da ampla defesa
ou a terceiros. e do contraditório, o direito de regresso deve ser desempenhado
Na primeira situação, a responsabilidade deverá ser apurada e exercido sob o manuseio de ação própria e regressiva, não
por intermédio de processo administrativo, garantidos a ampla admitindo ao Estado efetuar de forma direta o desconto nos
defesa e o contraditório. Comprovada a responsabilidade subjetiva subsídios do servidor, sem o consentimento deste.
do agente, o adimplemento poderá ser feito de forma espontânea Existe ainda, a possível hipótese de o servidor reconhecer a
ou, caso contrário, por medida judicial. sua responsabilidade vindo a optar por recolher espontaneamente
No entanto, ressalte-se, que é ilegal usar com imposição o a quantia devida aos cofres públicos e até mesmo autorizar que
desconto em folha de pagamento dos agentes públicos de valores o valor venha a ser descontado de seus vencimentos, desde que
referentes ao ressarcimento ao erário, exceto se houver autorização respeitados os percentuais máximos previstos em lei para essa
prévia do agente ou procedimento administrativo com a aplicação espécie de desconto.
da ampla defesa e do contraditório. Sobre o assunto, é importante destacar alguns pontos:
Na segunda situação, o terceiro, como vítima do dano, poderá A) A ação de responsabilização do agente público deduz que o
ajuizar ação em face do Estado, aplicando a responsabilidade Poder Público tenha indenizado o particular, tanto em virtude de
objetiva, ou do próprio agente público, se valendo nesse caso acordo com o reconhecimento da responsabilidade civil estatal,
da responsabilidade subjetiva, exceto nos casos em que houver como em decorrência de condenação em ação ajuizada pelo lesado.
a adoção da teoria da dupla garantia, por meio da qual, a única B) Em ação regressiva, a responsabilidade do agente público é
medida cabível seria o direcionamento da pugnação de reparação de natureza subjetiva, às expensas da comprovação de que ele agiu
em face do Estado. com culpa ou dolo. Desta forma, é possível que o Estado venha a
indenizar o particular e não reconheça o direito de ser ressarcido
pelo servidor responsável. Para isso, basta que não seja comprovado
dolo ou culpa advinda desse agente público.
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NOÇÕES DE DIREITO

C) A parte final do § 5º do art. 37 da CFB/88, pode levar ao Art. 37 - A administração pública direta e indireta de qualquer
entendimento precípuo de que quaisquer e todos as espécies dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
de ações de ressarcimento movidas pelo Poder Público são Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
imprescritíveis. Entretanto, o STF, no julgamento do RE 669.069/ moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
MG, decidiu, com repercussão geral, que “é prescritível a ação de [...]
reparação de danos à fazenda pública decorrentes de ilícito civil. § 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão
D) É transmitida aos herdeiros a qualquer tempo, a obrigação a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a
de ressarcir o Estado, respeitada, sem dúvidas, a possibilidade de indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e
prescrição na hipótese de danos decorrentes de ilícito civil, tendo gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
como limite o valor do patrimônio transferido (art. 5º, XLV, da
CF/1988). Entretanto, ocorrendo a prescrição da ação regressiva, Trata-se o referido artigo, de norma constitucional com eficácia
beneficiará também aos herdeiros, que não poderão mais ser limitada, que requer regulamentação para que produza efeitos
demandados pelos danos advindos pelo falecido. jurídicos.
E) O servidor responde pelos seus atos, inclusive após a Assim sendo, a Lei nº 8.429/1992, Lei da Improbidade
extinção de seu vínculo com a Administração Pública, desde a Administrativa - LIA, que passou por alterações através da Lei nº
ação regressiva não esteja prescrita. Desta forma, o agente que foi 14.230/2021, se trata de normativo legal de observância obrigatória
exonerado ou demitido, pode, nos trâmites legais, ser obrigado a por parte da administração direta e indireta de todos os entes
ressarcir os prejuízos causados ao ente público. federativos, por meio do qual, o legislador infraconstitucional veio a
estabelecer as regras e procedimentos a serem observados quando
Nota – Sobre Súmulas Vinculantes ocorrer a prática de atos de improbidade.
Súmula 187, STF: A responsabilidade contratual do
transportador, pelo acidente com o passageiro, não é elidida por Sujeitos da Ação de Improbidade – sujeitos ativos, sujeitos
culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva. passivos
Súmula 188, STF: O segurador tem ação regressiva contra Sujeitos ativos da ação de improbidade administrativa são
o causador do dano, pelo que efetivamente pagou, até ao limite aqueles que estão sujeitos à prática de atos de improbidade no
previsto no contrato de seguro. âmbito da Administração Pública, vindo a figurar no polo passivo
da correspondente ação. Já os sujeitos passivos, são as pessoas
– Lei da improbidade administrativa jurídicas vítimas dos atos de improbidade que figuram no polo ativo
da ação.
Conceito Assim, temos:
Preliminarmente, para melhor entendimento acerca das
disposições relativas à lei da improbidade administrativa, é • Praticam atos de improbidade; e
necessário adentrar à origem da prática dos atos ímprobos SUJEITOS ATIVOS • Figuram no polo passivo da
concernentes ao tema. ação.
No condizente ao princípio da moralidade, relembremo-nos
que este comporta em seu bojo, os seguintes subprincípios: • Sofrem as consequências dos
a) Boa-fé; SUJEITOS PASSIVOS atos de improbidade administrativa; e
b) Probidade; e • Figuram no polo da ação.
c) Decoro.
— Sujeitos Ativos
A moralidade é um princípio estabelecido pela Constituição O artigo 2º da Lei n. 8.429/1992, com redação dada pela Lei nº
federal de 1.988, de forma que deverá ser cumprido pelos órgãos e 14.230/2021, apresenta a relação de pessoas vinculadas ao Poder
entidades de todos os entes federativos. Público que são passíveis de se tornarem sujeitos ativos na ação de
Desse modo, havendo desrespeito à moralidade ou aos seus improbidade.
subprincípios, de consequência, deverá o ato administrativo Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se agente público
ímprobo ser anulado. o agente político, o servidor público e todo aquele que exerce, ainda
Assim, podemos conceituar a improbidade administrativa que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação,
como um designativo técnico que aduz corrupção administrativa designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura
contrário à boa-fé, à honestidade, à correção de atitude e contra ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades
a honradez. referidas no art. 1º desta Lei.
Nem sempre o ato de improbidade será um ato administrativo, Parágrafo único. No que se refere a recursos de origem pública,
podendo ser configurado como qualquer tipo de conduta comissiva sujeita-se às sanções previstas nesta Lei o particular, pessoa física
ou omissiva praticada no exercício da função ou, ainda, fora dela. ou jurídica, que celebra com a administração pública convênio,
Nesse diapasão, auferindo um pouco mais de segurança ao contrato de repasse, contrato de gestão, termo de parceria, termo
respeito do subprincípio da probidade, a Carta Magna paramentou, de cooperação ou ajuste administrativo equivalente.
em seu artigo 37, § 4º, as consequências a seguir, elencadas, para
configurar a prática dos atos de improbidade:

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

Cuida-se de um conceito amplo de agente público, de maneira b) Pela publicação de decisão ou acórdão de Tribunal de Justiça
que mesmo os que exerçam atribuições em caráter transitório ou ou Tribunal Regional Federal que confirma sentença condenatória
mesmo sem remuneração, como os estagiários voluntários, por ou que reforma sentença de improcedência;
exemplo, são considerados, para efeitos legais, como possíveis c) Pela publicação de decisão ou acórdão do Superior Tribunal
sujeitos ativos. de Justiça que confirma acórdão condenatório ou que reforma
Desse modo, entende-se que duas são as classes de pessoas acórdão de improcedência; e
passíveis de figurar como sujeito ativo dos atos de improbidade d) Pela publicação de decisão ou acórdão do Supremo Tribunal
administrativa, sendo elas: as que mantenham algum vínculo com Federal que confirma acórdão condenatório ou que reforma
o Poder Público, mesmo que transitório ou sem remuneração, bem acórdão de improcedência.
como os particulares que induzam ou concorram para a prática de
improbidade Além disso, é importante destacar que:
Para que o agente público atue na condição de sujeito ativo, – A suspensão e a interrupção da prescrição produzem efeitos
deverá ter agido com dolo. relativamente a todos os que concorreram para a prática do ato de
No condizente ao particular que tenha induzido ou concorrido improbidade. (Art. 23, §6º, LIA).
para a improbidade figurar como sujeito ativo, é preciso que ele – Nos atos de improbidade conexos que sejam objeto do
tenha agido com dolo. mesmo processo, a suspensão e a interrupção relativas a qualquer
No condizente aos atos de improbidade administrativa, deles estendem-se aos demais. (Art. 23, §7º, LIA)
ressalta-se que todos os agentes administrativos se encontram – O juiz ou o tribunal, depois de ouvido o Ministério Público,
subordinados às disposições da Lei nº 8.429/1992. Além disso, deverá, de ofício ou a requerimento da parte interessada,
destaca-se o seguinte: reconhecer a prescrição intercorrente da pretensão sancionadora
– Em consonância com o entendimento do STF, os agentes e decretá-la de imediato, caso, entre os marcos interruptivos
políticos estão sujeitos à dupla responsabilização no crime de referidos no § 4º, transcorra o prazo previsto no § 5º deste artigo.
responsabilidade e nos atos de improbidade administrativa. (Art. 23, §8º, LIA).
– O Presidente da República, em exceção, não está sujeito Por fim, vejamos importantes dispositivos que merecem
à dupla responsabilização, mas responde ao regulamento destaque em relação à prescrição na LIA
estabelecido na Constituição Federal de 1.988. :
Art. 23-A. É dever do poder público oferecer contínua
Ressalta-se que o Ministério Público, mesmo não sendo uma capacitação aos agentes públicos e políticos que atuem com
das entidades relacionadas pela Lei n. 8.429/1992, é passível de prevenção ou repressão de atos de improbidade administrativa.
figurar como polo ativo da lide da mesma forma que as demais Art. 23-B. Nas ações e nos acordos regidos por esta Lei, não
pessoas jurídicas. haverá adiantamento de custas, de preparo, de emolumentos, de
honorários periciais e de quaisquer outras despesas.
— Sujeitos Passivos § 1º No caso de procedência da ação, as custas e as demais
Os sujeitos passivos são as pessoas jurídicas lesadas pela despesas processuais serão pagas ao final.
prática de improbidade administrativa, vindo a figurar no polo ativo § 2º Haverá condenação em honorários sucumbenciais em
da lide. São exemplos de sujeitos passivos: caso de improcedência da ação de improbidade se comprovada
a) A Administração direta e indireta de todos os Poderes; má-fé.
b) As entidades privadas recebedoras de incentivos, benefícios Art. 23-C. Atos que ensejem enriquecimento ilícito, perda
e subvenções do poder público; patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação
c) As entidades privadas para as quais houve concorrência do de recursos públicos dos partidos políticos, ou de suas fundações,
erário na criação ou custeio de modo geral. serão responsabilizados nos termos da Lei nº 9.096/1995

PRESCRIÇÃO NA LIA LEI Nº 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992


– Para a aplicação das sanções previstas na LIA, prescreve
em 8 anos, contados a partir da ocorrência do fato ou, no caso de Dispõe sobre as sanções aplicáveis em virtude da prática de
infrações permanentes, do dia em que cessou a permanência; atos de improbidade administrativa, de que trata o § 4º do art. 37
– Para instauração de inquérito civil ou de processo da Constituição Federal; e dá outras providências. (Redação dada
administrativo para apuração dos ilícitos, suspende o curso do prazo pela Lei nº 14.230, de 2021)
prescricional por, no máximo, 180 dias corridos, recomeçando a
correr após a sua conclusão ou, caso não concluído o processo, CAPÍTULO I
esgotado o prazo de suspensão; DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
– O inquérito civil para apuração do ato de improbidade será
concluído no prazo de 365 dias corridos, prorrogável uma única vez Art. 1º O sistema de responsabilização por atos de improbidade
por igual período. administrativa tutelará a probidade na organização do Estado e no
exercício de suas funções, como forma de assegurar a integridade
Vale ressaltar que o prazo da prescrição de 8 (oito) anos, do patrimônio público e social, nos termos desta Lei. (Redação dada
contados a partir da ocorrência do fato pelo ajuizamento da ação pela Lei nº 14.230, de 2021)
de improbidade administrativa, interrompe-se nos seguintes casos: Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230,
a) Pela publicação da sentença condenatória; de 2021)

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NOÇÕES DE DIREITO

§1º Consideram-se atos de improbidade administrativa as con- comprovadamente, houver participação e benefícios diretos, caso
dutas dolosas tipificadas nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, ressalvados em que responderão nos limites da sua participação. (Incluído pela
tipos previstos em leis especiais. (Incluído pela Lei nº 14.230, de Lei nº 14.230, de 2021)
2021) §2º As sanções desta Lei não se aplicarão à pessoa jurídica,
§2º Considera-se dolo a vontade livre e consciente de alcan- caso o ato de improbidade administrativa seja também sanciona-
çar o resultado ilícito tipificado nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, não do como ato lesivo à administração pública de que trata a Lei nº
bastando a voluntariedade do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, 12.846, de 1º de agosto de 2013. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
de 2021) 2021)
§3º O mero exercício da função ou desempenho de competên- Art. 4° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021)
cias públicas, sem comprovação de ato doloso com fim ilícito, afasta Art. 5° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021)
a responsabilidade por ato de improbidade administrativa. (Incluí- Art. 6° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021)
do pela Lei nº 14.230, de 2021) Art. 7º Se houver indícios de ato de improbidade, a autoridade
§4º Aplicam-se ao sistema da improbidade disciplinado nesta que conhecer dos fatos representará ao Ministério Público compe-
Lei os princípios constitucionais do direito administrativo sanciona- tente, para as providências necessárias. (Redação dada pela Lei nº
dor. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) 14.230, de 2021)
§5º Os atos de improbidade violam a probidade na organização Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230,
do Estado e no exercício de suas funções e a integridade do patri- de 2021)
mônio público e social dos Poderes Executivo, Legislativo e Judici- Art. 8º O sucessor ou o herdeiro daquele que causar dano ao
ário, bem como da administração direta e indireta, no âmbito da erário ou que se enriquecer ilicitamente estão sujeitos apenas à
União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. (Incluído obrigação de repará-lo até o limite do valor da herança ou do pa-
pela Lei nº 14.230, de 2021) trimônio transferido. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§6º Estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbida- Art. 8º-A A responsabilidade sucessória de que trata o art. 8º
de praticados contra o patrimônio de entidade privada que receba desta Lei aplica-se também na hipótese de alteração contratual, de
subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de entes pú- transformação, de incorporação, de fusão ou de cisão societária.
blicos ou governamentais, previstos no §5º deste artigo. (Incluído (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
pela Lei nº 14.230, de 2021) Parágrafo único. Nas hipóteses de fusão e de incorporação, a
§7º Independentemente de integrar a administração indireta, responsabilidade da sucessora será restrita à obrigação de repara-
estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbidade pratica- ção integral do dano causado, até o limite do patrimônio transferi-
dos contra o patrimônio de entidade privada para cuja criação ou do, não lhe sendo aplicáveis as demais sanções previstas nesta Lei
custeio o erário haja concorrido ou concorra no seu patrimônio ou decorrentes de atos e de fatos ocorridos antes da data da fusão
receita atual, limitado o ressarcimento de prejuízos, nesse caso, à ou da incorporação, exceto no caso de simulação ou de evidente
repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. (In- intuito de fraude, devidamente comprovados. (Incluído pela Lei nº
cluído pela Lei nº 14.230, de 2021) 14.230, de 2021)
§8º Não configura improbidade a ação ou omissão decorrente
de divergência interpretativa da lei, baseada em jurisprudência, ain- CAPÍTULO II
da que não pacificada, mesmo que não venha a ser posteriormente DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
prevalecente nas decisões dos órgãos de controle ou dos tribunais
do Poder Judiciário. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADI SEÇÃO I
7236) DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE
Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se agente público IMPORTAM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO
o agente político, o servidor público e todo aquele que exerce, ainda
que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa importan-
designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou do em enriquecimento ilícito auferir, mediante a prática de ato do-
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades referi- loso, qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do
das no art. 1º desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) exercício de cargo, de mandato, de função, de emprego ou de ati-
Parágrafo único. No que se refere a recursos de origem pública, vidade nas entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:
sujeita-se às sanções previstas nesta Lei o particular, pessoa física (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
ou jurídica, que celebra com a administração pública convênio, con- I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou
trato de repasse, contrato de gestão, termo de parceria, termo de imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indire-
cooperação ou ajuste administrativo equivalente. (Incluído pela Lei ta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de
nº 14.230, de 2021) quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido
Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do
àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra agente público;
dolosamente para a prática do ato de improbidade. (Redação dada II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para fa-
pela Lei nº 14.230, de 2021) cilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou
§1º Os sócios, os cotistas, os diretores e os colaboradores de a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por
pessoa jurídica de direito privado não respondem pelo ato de im- preço superior ao valor de mercado;
probidade que venha a ser imputado à pessoa jurídica, salvo se,

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III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para fa- II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica pri-
cilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o forne- vada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo
cimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a
mercado; observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis
IV - utilizar, em obra ou serviço particular, qualquer bem móvel, à espécie;
de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades referidas III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente desper-
no art. 1º desta Lei, bem como o trabalho de servidores, de empre- sonalizado, ainda que de fins educativos ou assistências, bens, ren-
gados ou de terceiros contratados por essas entidades; (Redação das, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entidades
dada pela Lei nº 14.230, de 2021) mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das formalidades
V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta legais e regulamentares aplicáveis à espécie;
ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de
de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qual- bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas
quer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem; no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas,
VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta por preço inferior ao de mercado;
ou indireta, para fazer declaração falsa sobre qualquer dado técni- V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem
co que envolva obras públicas ou qualquer outro serviço ou sobre ou serviço por preço superior ao de mercado;
quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercado- VI - realizar operação financeira sem observância das normas
rias ou bens fornecidos a qualquer das entidades referidas no art. legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidô-
1º desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) nea;
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de manda- VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a obser-
to, de cargo, de emprego ou de função pública, e em razão deles, vância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à es-
bens de qualquer natureza, decorrentes dos atos descritos no caput pécie;
deste artigo, cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimô- VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo
nio ou à renda do agente público, assegurada a demonstração pelo seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins lucra-
agente da licitude da origem dessa evolução; (Redação dada pela tivos, ou dispensá-los indevidamente, acarretando perda patrimo-
Lei nº 14.230, de 2021) nial efetiva; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de con- IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autoriza-
sultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que te- das em lei ou regulamento;
nha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou X - agir ilicitamente na arrecadação de tributo ou de renda,
omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio públi-
atividade; co; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
IX - perceber vantagem econômica para intermediar a libera- XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas
ção ou aplicação de verba pública de qualquer natureza; pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irre-
X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta gular;
ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou declara- XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enri-
ção a que esteja obrigado; queça ilicitamente;
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veí-
rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das en- culos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza,
tidades mencionadas no art. 1° desta lei; de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencio-
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores nadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidor público,
integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no empregados ou terceiros contratados por essas entidades.
art. 1° desta lei. XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por
objeto a prestação de serviços públicos por meio da gestão associa-
SEÇÃO II da sem observar as formalidades previstas na lei; (Incluído pela Lei
DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE nº 11.107, de 2005)
CAUSAM PREJUÍZO AO ERÁRIO XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem sufi-
ciente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar as formali-
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa dades previstas na lei. (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)
lesão ao erário qualquer ação ou omissão dolosa, que enseje, efe- XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incorpo-
tiva e comprovadamente, perda patrimonial, desvio, apropriação, ração, ao patrimônio particular de pessoa física ou jurídica, de bens,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administração
referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente: (Redação dada pela pública a entidades privadas mediante celebração de parcerias,
Lei nº 14.230, de 2021) sem a observância das formalidades legais ou regulamentares apli-
I - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a indevida cáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)
incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica
de bens, de rendas, de verbas ou de valores integrantes do acervo privada utilize bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos
patrimonial das entidades referidas no art. 1º desta Lei; (Redação pela administração pública a entidade privada mediante celebração
dada pela Lei nº 14.230, de 2021) de parcerias, sem a observância das formalidades legais ou regula-
mentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014)
(Vigência)
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XVIII - celebrar parcerias da administração pública com entida- VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de tercei-
des privadas sem a observância das formalidades legais ou regula- ro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou
mentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço.
(Vigência) VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização
XIX - agir para a configuração de ilícito na celebração, na fisca- e aprovação de contas de parcerias firmadas pela administração pú-
lização e na análise das prestações de contas de parcerias firmadas blica com entidades privadas. (Vide Medida Provisória nº 2.088-35,
pela administração pública com entidades privadas; (Redação dada de 2000) (Redação dada pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)
pela Lei nº 14.230, de 2021) IX - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
XX - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração X - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
pública com entidades privadas sem a estrita observância das nor- XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta,
mas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autori-
irregular. (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014, com a redação dada dade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido
pela Lei nº 13.204, de 2015) em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de
XXI - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada
XXII - conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou tribu- na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes
tário contrário ao que dispõem o caput e o §1º do art. 8º-A da Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, com-
Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. (Incluído pela Lei nº preendido o ajuste mediante designações recíprocas; (Incluído pela
14.230, de 2021) Lei nº 14.230, de 2021)
§1º Nos casos em que a inobservância de formalidades legais XII - praticar, no âmbito da administração pública e com recur-
ou regulamentares não implicar perda patrimonial efetiva, não sos do erário, ato de publicidade que contrarie o disposto no §1º
ocorrerá imposição de ressarcimento, vedado o enriquecimento do art. 37 da Constituição Federal, de forma a promover inequívoco
sem causa das entidades referidas no art. 1º desta Lei. (Incluído enaltecimento do agente público e personalização de atos, de pro-
pela Lei nº 14.230, de 2021) gramas, de obras, de serviços ou de campanhas dos órgãos públi-
§2º A mera perda patrimonial decorrente da atividade econô- cos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
mica não acarretará improbidade administrativa, salvo se compro- §1º Nos termos da Convenção das Nações Unidas contra a
vado ato doloso praticado com essa finalidade. (Incluído pela Lei nº Corrupção, promulgada pelo Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro
14.230, de 2021) de 2006, somente haverá improbidade administrativa, na aplica-
ção deste artigo, quando for comprovado na conduta funcional do
SEÇÃO II-A agente público o fim de obter proveito ou benefício indevido para
(Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021) si ou para outra pessoa ou entidade. (Incluído pela Lei nº 14.230,
Art. 10-A. (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021) de 2021)
§2º Aplica-se o disposto no §1º deste artigo a quaisquer atos de
SEÇÃO III improbidade administrativa tipificados nesta Lei e em leis especiais
DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE e a quaisquer outros tipos especiais de improbidade administrativa
ATENTAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO instituídos por lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
PÚBLICA §3º O enquadramento de conduta funcional na categoria de
que trata este artigo pressupõe a demonstração objetiva da prática
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta de ilegalidade no exercício da função pública, com a indicação das
contra os princípios da administração pública a ação ou omissão normas constitucionais, legais ou infralegais violadas. (Incluído pela
dolosa que viole os deveres de honestidade, de imparcialidade e de Lei nº 14.230, de 2021)
legalidade, caracterizada por uma das seguintes condutas: (Reda- §4º Os atos de improbidade de que trata este artigo exigem
ção dada pela Lei nº 14.230, de 2021) lesividade relevante ao bem jurídico tutelado para serem passíveis
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) de sancionamento e independem do reconhecimento da produção
II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) de danos ao erário e de enriquecimento ilícito dos agentes públicos.
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
das atribuições e que deva permanecer em segredo, propiciando §5º Não se configurará improbidade a mera nomeação ou indi-
beneficiamento por informação privilegiada ou colocando em risco cação política por parte dos detentores de mandatos eletivos, sen-
a segurança da sociedade e do Estado; (Redação dada pela Lei nº do necessária a aferição de dolo com finalidade ilícita por parte do
14.230, de 2021) agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
IV - negar publicidade aos atos oficiais, exceto em razão de sua
imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado ou CAPÍTULO III
de outras hipóteses instituídas em lei; (Redação dada pela Lei nº DAS PENAS
14.230, de 2021)
V - frustrar, em ofensa à imparcialidade, o caráter concorrencial Art. 12. Independentemente do ressarcimento integral do dano
de concurso público, de chamamento ou de procedimento licitató- patrimonial, se efetivo, e das sanções penais comuns e de respon-
rio, com vistas à obtenção de benefício próprio, direto ou indireto, sabilidade, civis e administrativas previstas na legislação específica,
ou de terceiros; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo, cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamen-
desde que disponha das condições para isso, com vistas a ocultar te, de acordo com a gravidade do fato: (Redação dada pela Lei nº
irregularidades; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) 14.230, de 2021)
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I - na hipótese do art. 9º desta Lei, perda dos bens ou valores §6º Se ocorrer lesão ao patrimônio público, a reparação do
acrescidos ilicitamente ao patrimônio, perda da função pública, sus- dano a que se refere esta Lei deverá deduzir o ressarcimento ocorri-
pensão dos direitos políticos até 14 (catorze) anos, pagamento de do nas instâncias criminal, civil e administrativa que tiver por objeto
multa civil equivalente ao valor do acréscimo patrimonial e proibi- os mesmos fatos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
ção de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou §7º As sanções aplicadas a pessoas jurídicas com base nesta
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que Lei e na Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, deverão observar
por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, o princípio constitucional do non bis in idem. (Incluído pela Lei nº
pelo prazo não superior a 14 (catorze) anos; (Redação dada pela Lei 14.230, de 2021)
nº 14.230, de 2021) §8º A sanção de proibição de contratação com o poder público
II - na hipótese do art. 10 desta Lei, perda dos bens ou valores deverá constar do Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Sus-
acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstân- pensas (CEIS) de que trata a Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013,
cia, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos até 12 observadas as limitações territoriais contidas em decisão judicial,
(doze) anos, pagamento de multa civil equivalente ao valor do dano conforme disposto no §4º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 14.230,
e proibição de contratar com o poder público ou de receber bene- de 2021)
fícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, §9º As sanções previstas neste artigo somente poderão ser
ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio ma- executadas após o trânsito em julgado da sentença condenatória.
joritário, pelo prazo não superior a 12 (doze) anos; (Redação dada (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
pela Lei nº 14.230, de 2021) §10. Para efeitos de contagem do prazo da sanção de suspen-
III - na hipótese do art. 11 desta Lei, pagamento de multa civil são dos direitos políticos, computar-se-á retroativamente o inter-
de até 24 (vinte e quatro) vezes o valor da remuneração percebida valo de tempo entre a decisão colegiada e o trânsito em julgado da
pelo agente e proibição de contratar com o poder público ou de sentença condenatória. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide
receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou in- ADI 7236)
diretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual
seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 4 (quatro) anos; CAPÍTULO IV
(Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) DA DECLARAÇÃO DE BENS
IV - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam condicio-
de 2021) nados à apresentação de declaração de imposto de renda e proven-
§1º A sanção de perda da função pública, nas hipóteses dos in- tos de qualquer natureza, que tenha sido apresentada à Secretaria
cisos I e II do caput deste artigo, atinge apenas o vínculo de mesma Especial da Receita Federal do Brasil, a fim de ser arquivada no ser-
qualidade e natureza que o agente público ou político detinha com viço de pessoal competente. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de
o poder público na época do cometimento da infração, podendo o 2021)
magistrado, na hipótese do inciso I do caput deste artigo, e em ca- §1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
ráter excepcional, estendê-la aos demais vínculos, consideradas as §2º A declaração de bens a que se refere o caput deste artigo
circunstâncias do caso e a gravidade da infração. (Incluído pela Lei será atualizada anualmente e na data em que o agente público dei-
nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7236) xar o exercício do mandato, do cargo, do emprego ou da função.
§2º A multa pode ser aumentada até o dobro, se o juiz conside- (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
rar que, em virtude da situação econômica do réu, o valor calculado §3º Será apenado com a pena de demissão, sem prejuízo de
na forma dos incisos I, II e III do caput deste artigo é ineficaz para outras sanções cabíveis, o agente público que se recusar a prestar a
reprovação e prevenção do ato de improbidade. (Incluído pela Lei declaração dos bens a que se refere o caput deste artigo dentro do
nº 14.230, de 2021) prazo determinado ou que prestar declaração falsa. (Redação dada
§3º Na responsabilização da pessoa jurídica, deverão ser con- pela Lei nº 14.230, de 2021)
siderados os efeitos econômicos e sociais das sanções, de modo §4º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
a viabilizar a manutenção de suas atividades. (Incluído pela Lei nº
14.230, de 2021) CAPÍTULO V
§4º Em caráter excepcional e por motivos relevantes devida- DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO E DO PROCESSO
mente justificados, a sanção de proibição de contratação com o JUDICIAL
poder público pode extrapolar o ente público lesado pelo ato de
improbidade, observados os impactos econômicos e sociais das Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autoridade ad-
sanções, de forma a preservar a função social da pessoa jurídica, ministrativa competente para que seja instaurada investigação des-
conforme disposto no §3º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 14.230, tinada a apurar a prática de ato de improbidade.
de 2021) §1º A representação, que será escrita ou reduzida a termo e
§5º No caso de atos de menor ofensa aos bens jurídicos tute- assinada, conterá a qualificação do representante, as informações
lados por esta Lei, a sanção limitar-se-á à aplicação de multa, sem sobre o fato e sua autoria e a indicação das provas de que tenha
prejuízo do ressarcimento do dano e da perda dos valores obtidos, conhecimento.
quando for o caso, nos termos do caput deste artigo. (Incluído pela §2º A autoridade administrativa rejeitará a representação, em
Lei nº 14.230, de 2021) despacho fundamentado, se esta não contiver as formalidades es-
tabelecidas no §1º deste artigo. A rejeição não impede a represen-
tação ao Ministério Público, nos termos do art. 22 desta lei.

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§3º Atendidos os requisitos da representação, a autoridade §9º Da decisão que deferir ou indeferir a medida relativa à in-
determinará a imediata apuração dos fatos, observada a legislação disponibilidade de bens caberá agravo de instrumento, nos termos
que regula o processo administrativo disciplinar aplicável ao agen- da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
te. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao Minis- §10. A indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem ex-
tério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas da existência de clusivamente o integral ressarcimento do dano ao erário, sem in-
procedimento administrativo para apurar a prática de ato de im- cidir sobre os valores a serem eventualmente aplicados a título de
probidade. multa civil ou sobre acréscimo patrimonial decorrente de atividade
Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou Conselho lícita. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
de Contas poderá, a requerimento, designar representante para §11. A ordem de indisponibilidade de bens deverá priorizar ve-
acompanhar o procedimento administrativo. ículos de via terrestre, bens imóveis, bens móveis em geral, semo-
Art. 16. Na ação por improbidade administrativa poderá ser ventes, navios e aeronaves, ações e quotas de sociedades simples
formulado, em caráter antecedente ou incidente, pedido de indis- e empresárias, pedras e metais preciosos e, apenas na inexistência
ponibilidade de bens dos réus, a fim de garantir a integral recompo- desses, o bloqueio de contas bancárias, de forma a garantir a sub-
sição do erário ou do acréscimo patrimonial resultante de enrique- sistência do acusado e a manutenção da atividade empresária ao
cimento ilícito. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) longo do processo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) §12. O juiz, ao apreciar o pedido de indisponibilidade de bens
§1º-A O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere do réu a que se refere o caput deste artigo, observará os efeitos
o caput deste artigo poderá ser formulado independentemente da práticos da decisão, vedada a adoção de medida capaz de acarre-
representação de que trata o art. 7º desta Lei. (Incluído pela Lei nº tar prejuízo à prestação de serviços públicos. (Incluído pela Lei nº
14.230, de 2021) 14.230, de 2021)
§2º Quando for o caso, o pedido de indisponibilidade de bens a §13. É vedada a decretação de indisponibilidade da quantia de
que se refere o caput deste artigo incluirá a investigação, o exame e até 40 (quarenta) salários mínimos depositados em caderneta de
o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações financeiras man- poupança, em outras aplicações financeiras ou em conta-corrente.
tidas pelo indiciado no exterior, nos termos da lei e dos tratados (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
internacionais. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) §14. É vedada a decretação de indisponibilidade do bem de fa-
§3º O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere o mília do réu, salvo se comprovado que o imóvel seja fruto de van-
caput deste artigo apenas será deferido mediante a demonstração tagem patrimonial indevida, conforme descrito no art. 9º desta Lei.
no caso concreto de perigo de dano irreparável ou de risco ao re- (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
sultado útil do processo, desde que o juiz se convença da probabili- Art. 17. A ação para a aplicação das sanções de que trata esta
dade da ocorrência dos atos descritos na petição inicial com funda- Lei será proposta pelo Ministério Público e seguirá o procedimento
mento nos respectivos elementos de instrução, após a oitiva do réu comum previsto na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código
em 5 (cinco) dias. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) de Processo Civil), salvo o disposto nesta Lei. (Redação dada pela Lei
§4º A indisponibilidade de bens poderá ser decretada sem a nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043)
oitiva prévia do réu, sempre que o contraditório prévio puder com- §1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
provadamente frustrar a efetividade da medida ou houver outras §2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
circunstâncias que recomendem a proteção liminar, não podendo a §3º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
urgência ser presumida. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) §4º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§5º Se houver mais de um réu na ação, a somatória dos valores §4º-A A ação a que se refere o caput deste artigo deverá ser
declarados indisponíveis não poderá superar o montante indicado proposta perante o foro do local onde ocorrer o dano ou da pessoa
na petição inicial como dano ao erário ou como enriquecimento ilí- jurídica prejudicada. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
cito. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) §5º A propositura da ação a que se refere o caput deste ar-
§6º O valor da indisponibilidade considerará a estimativa de tigo prevenirá a competência do juízo para todas as ações poste-
dano indicada na petição inicial, permitida a sua substituição por riormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o
caução idônea, por fiança bancária ou por seguro-garantia judicial, mesmo objeto. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
a requerimento do réu, bem como a sua readequação durante a §6º A petição inicial observará o seguinte: (Redação dada pela
instrução do processo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Lei nº 14.230, de 2021)
§7º A indisponibilidade de bens de terceiro dependerá da de- I - deverá individualizar a conduta do réu e apontar os elemen-
monstração da sua efetiva concorrência para os atos ilícitos apu- tos probatórios mínimos que demonstrem a ocorrência das hipóte-
rados ou, quando se tratar de pessoa jurídica, da instauração de ses dos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei e de sua autoria, salvo impossi-
incidente de desconsideração da personalidade jurídica, a ser pro- bilidade devidamente fundamentada; (Incluído pela Lei nº 14.230,
cessado na forma da lei processual. (Incluído pela Lei nº 14.230, de de 2021)
2021) II - será instruída com documentos ou justificação que con-
§8º Aplica-se à indisponibilidade de bens regida por esta Lei, no tenham indícios suficientes da veracidade dos fatos e do dolo
que for cabível, o regime da tutela provisória de urgência da Lei nº imputado ou com razões fundamentadas da impossibilidade de
13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). (Incluí- apresentação de qualquer dessas provas, observada a legislação
do pela Lei nº 14.230, de 2021) vigente, inclusive as disposições constantes dos arts. 77 e 80 da Lei
nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). (In-
cluído pela Lei nº 14.230, de 2021)

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

§6º-A O Ministério Público poderá requerer as tutelas provisó- §15. Se a imputação envolver a desconsideração de pessoa ju-
rias adequadas e necessárias, nos termos dos arts. 294 a 310 da Lei rídica, serão observadas as regras previstas nos arts. 133, 134, 135,
nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil (Inclu- 136 e 137 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de
ído pela Lei nº 14.230, de 2021), (Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043) Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§6º-B A petição inicial será rejeitada nos casos do art. 330 da §16. A qualquer momento, se o magistrado identificar a exis-
Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), tência de ilegalidades ou de irregularidades administrativas a se-
bem como quando não preenchidos os requisitos a que se referem rem sanadas sem que estejam presentes todos os requisitos para
os incisos I e II do §6º deste artigo, ou ainda quando manifestamen- a imposição das sanções aos agentes incluídos no polo passivo da
te inexistente o ato de improbidade imputado. (Incluído pela Lei nº demanda, poderá, em decisão motivada, converter a ação de im-
14.230, de 2021) probidade administrativa em ação civil pública, regulada pela Lei nº
§7º Se a petição inicial estiver em devida forma, o juiz mandará 7.347, de 24 de julho de 1985. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
autuá-la e ordenará a citação dos requeridos para que a contestem §17. Da decisão que converter a ação de improbidade em ação
no prazo comum de 30 (trinta) dias, iniciado o prazo na forma do civil pública caberá agravo de instrumento. (Incluído pela Lei nº
art. 231 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Pro- 14.230, de 2021)
cesso Civil). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) §18. Ao réu será assegurado o direito de ser interrogado sobre
§8º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) os fatos de que trata a ação, e a sua recusa ou o seu silêncio não
§9º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) implicarão confissão. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§9º-A Da decisão que rejeitar questões preliminares suscitadas §19. Não se aplicam na ação de improbidade administrativa:
pelo réu em sua contestação caberá agravo de instrumento. (Incluí- (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
do pela Lei nº 14.230, de 2021) I - a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor em
§10. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) caso de revelia; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§10-A. Havendo a possibilidade de solução consensual, pode- II - a imposição de ônus da prova ao réu, na forma dos §§1º e
rão as partes requerer ao juiz a interrupção do prazo para a contes- 2º do art. 373 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de
tação, por prazo não superior a 90 (noventa) dias. (Incluído pela Lei Processo Civil); (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
nº 13.964, de 2019) III - o ajuizamento de mais de uma ação de improbidade admi-
§10-B. Oferecida a contestação e, se for o caso, ouvido o autor, nistrativa pelo mesmo fato, competindo ao Conselho Nacional do
o juiz: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Ministério Público dirimir conflitos de atribuições entre membros
I - procederá ao julgamento conforme o estado do processo, de Ministérios Públicos distintos; (Incluído pela Lei nº 14.230, de
observada a eventual inexistência manifesta do ato de improbida- 2021)
de; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) IV - o reexame obrigatório da sentença de improcedência ou
II - poderá desmembrar o litisconsórcio, com vistas a otimizar a de extinção sem resolução de mérito. (Incluído pela Lei nº 14.230,
instrução processual. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) de 2021)
§10-C. Após a réplica do Ministério Público, o juiz proferirá de- §20. A assessoria jurídica que emitiu o parecer atestando a le-
cisão na qual indicará com precisão a tipificação do ato de improbi- galidade prévia dos atos administrativos praticados pelo adminis-
dade administrativa imputável ao réu, sendo-lhe vedado modificar trador público ficará obrigada a defendê-lo judicialmente, caso este
o fato principal e a capitulação legal apresentada pelo autor. (Inclu- venha a responder ação por improbidade administrativa, até que a
ído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043) decisão transite em julgado. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§10-D. Para cada ato de improbidade administrativa, deverá (Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043)
necessariamente ser indicado apenas um tipo dentre aqueles pre- §21. Das decisões interlocutórias caberá agravo de instrumen-
vistos nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, to, inclusive da decisão que rejeitar questões preliminares suscita-
de 2021) das pelo réu em sua contestação. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
§10-E. Proferida a decisão referida no §10-C deste artigo, as 2021)
partes serão intimadas a especificar as provas que pretendem pro- Art. 17-A. (VETADO): (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
duzir. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) I - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§10-F. Será nula a decisão de mérito total ou parcial da ação II - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
de improbidade administrativa que: (Incluído pela Lei nº 14.230, de III - (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
2021) §1º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - condenar o requerido por tipo diverso daquele definido na §2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
petição inicial; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) §3º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - condenar o requerido sem a produção das provas por ele §4º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
tempestivamente especificadas. (Incluído pela Lei nº 14.230, de §5º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
2021) Art. 17-B. O Ministério Público poderá, conforme as circuns-
§11. Em qualquer momento do processo, verificada a inexis- tâncias do caso concreto, celebrar acordo de não persecução civil,
tência do ato de improbidade, o juiz julgará a demanda improce- desde que dele advenham, ao menos, os seguintes resultados: (In-
dente. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) cluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043)
§12. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) I - o integral ressarcimento do dano; (Incluído pela Lei nº
§13. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) 14.230, de 2021)
§14. Sem prejuízo da citação dos réus, a pessoa jurídica interes- II - a reversão à pessoa jurídica lesada da vantagem indevida
sada será intimada para, caso queira, intervir no processo. (Incluído obtida, ainda que oriunda de agentes privados. (Incluído pela Lei nº
pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043) 14.230, de 2021)
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

§1º A celebração do acordo a que se refere o caput deste ar- IV - considerar, para a aplicação das sanções, de forma isolada
tigo dependerá, cumulativamente: (Incluído pela Lei nº 14.230, de ou cumulativa: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
2021) a) os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade; (Inclu-
I - da oitiva do ente federativo lesado, em momento anterior ído pela Lei nº 14.230, de 2021)
ou posterior à propositura da ação; (Incluído pela Lei nº 14.230, de b) a natureza, a gravidade e o impacto da infração cometida;
2021) (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - de aprovação, no prazo de até 60 (sessenta) dias, pelo ór- c) a extensão do dano causado; (Incluído pela Lei nº 14.230,
gão do Ministério Público competente para apreciar as promoções de 2021)
de arquivamento de inquéritos civis, se anterior ao ajuizamento da d) o proveito patrimonial obtido pelo agente; (Incluído pela Lei
ação; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) nº 14.230, de 2021)
III - de homologação judicial, independentemente de o acordo e) as circunstâncias agravantes ou atenuantes; (Incluído pela
ocorrer antes ou depois do ajuizamento da ação de improbidade Lei nº 14.230, de 2021)
administrativa. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) f) a atuação do agente em minorar os prejuízos e as consequên-
§2º Em qualquer caso, a celebração do acordo a que se refere cias advindas de sua conduta omissiva ou comissiva; (Incluído pela
o caput deste artigo considerará a personalidade do agente, a natu- Lei nº 14.230, de 2021)
reza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do ato de g) os antecedentes do agente; (Incluído pela Lei nº 14.230, de
improbidade, bem como as vantagens, para o interesse público, da 2021)
rápida solução do caso. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) V - considerar na aplicação das sanções a dosimetria das san-
§3º Para fins de apuração do valor do dano a ser ressarcido, ções relativas ao mesmo fato já aplicadas ao agente; (Incluído pela
deverá ser realizada a oitiva do Tribunal de Contas competente, que Lei nº 14.230, de 2021)
se manifestará, com indicação dos parâmetros utilizados, no prazo VI - considerar, na fixação das penas relativamente ao terceiro,
de 90 (noventa) dias. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide quando for o caso, a sua atuação específica, não admitida a sua
ADI 7236) responsabilização por ações ou omissões para as quais não tiver
§4º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá ser concorrido ou das quais não tiver obtido vantagens patrimoniais
celebrado no curso da investigação de apuração do ilícito, no curso indevidas; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
da ação de improbidade ou no momento da execução da sentença VII - indicar, na apuração da ofensa a princípios, critérios obje-
condenatória. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) tivos que justifiquem a imposição da sanção. (Incluído pela Lei nº
§5º As negociações para a celebração do acordo a que se refere 14.230, de 2021)
o caput deste artigo ocorrerão entre o Ministério Público, de um §1º A ilegalidade sem a presença de dolo que a qualifique não
lado, e, de outro, o investigado ou demandado e o seu defensor. (In- configura ato de improbidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
cluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7042) (Vide ADI 7043) §2º Na hipótese de litisconsórcio passivo, a condenação ocor-
§6º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá con- rerá no limite da participação e dos benefícios diretos, vedada qual-
templar a adoção de mecanismos e procedimentos internos de in- quer solidariedade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
tegridade, de auditoria e de incentivo à denúncia de irregularidades §3º Não haverá remessa necessária nas sentenças de que trata
e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito esta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
da pessoa jurídica, se for o caso, bem como de outras medidas em Art. 17-D. A ação por improbidade administrativa é repressiva,
favor do interesse público e de boas práticas administrativas. (Inclu- de caráter sancionatório, destinada à aplicação de sanções de ca-
ído pela Lei nº 14.230, de 2021) ráter pessoal previstas nesta Lei, e não constitui ação civil, vedado
§7º Em caso de descumprimento do acordo a que se refere o seu ajuizamento para o controle de legalidade de políticas públicas
caput deste artigo, o investigado ou o demandado ficará impedido e para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente
de celebrar novo acordo pelo prazo de 5 (cinco) anos, contado do e de outros interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos.
conhecimento pelo Ministério Público do efetivo descumprimento. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7042) (Vide ADI Parágrafo único. Ressalvado o disposto nesta Lei, o controle
7043) de legalidade de políticas públicas e a responsabilidade de agentes
Art. 17-C. A sentença proferida nos processos a que se refere públicos, inclusive políticos, entes públicos e governamentais, por
esta Lei deverá, além de observar o disposto no art. 489 da Lei nº danos ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor
13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil): (Incluí- artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, a qualquer ou-
do pela Lei nº 14.230, de 2021) tro interesse difuso ou coletivo, à ordem econômica, à ordem urba-
I - indicar de modo preciso os fundamentos que demonstram nística, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos
os elementos a que se referem os arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, que e ao patrimônio público e social submetem-se aos termos da Lei nº
não podem ser presumidos; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) 7.347, de 24 de julho de 1985. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - considerar as consequências práticas da decisão, sempre Art. 18. A sentença que julgar procedente a ação fundada nos
que decidir com base em valores jurídicos abstratos; (Incluído pela arts. 9º e 10 desta Lei condenará ao ressarcimento dos danos e à
Lei nº 14.230, de 2021) perda ou à reversão dos bens e valores ilicitamente adquiridos, con-
III - considerar os obstáculos e as dificuldades reais do gestor forme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo ilícito.
e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
direitos dos administrados e das circunstâncias práticas que houve-
rem imposto, limitado ou condicionado a ação do agente; (Incluído
pela Lei nº 14.230, de 2021)

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

§1º Se houver necessidade de liquidação do dano, a pessoa I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo
jurídica prejudicada procederá a essa determinação e ao ulterior quanto à pena de ressarcimento e às condutas previstas no art. 10
procedimento para cumprimento da sentença referente ao ressar- desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
cimento do patrimônio público ou à perda ou à reversão dos bens. II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) interno ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas.
§2º Caso a pessoa jurídica prejudicada não adote as providên- §1º Os atos do órgão de controle interno ou externo serão con-
cias a que se refere o §1º deste artigo no prazo de 6 (seis) meses, siderados pelo juiz quando tiverem servido de fundamento para a
contado do trânsito em julgado da sentença de procedência da conduta do agente público. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
ação, caberá ao Ministério Público proceder à respectiva liquidação §2º As provas produzidas perante os órgãos de controle e as
do dano e ao cumprimento da sentença referente ao ressarcimento correspondentes decisões deverão ser consideradas na formação
do patrimônio público ou à perda ou à reversão dos bens, sem pre- da convicção do juiz, sem prejuízo da análise acerca do dolo na con-
juízo de eventual responsabilização pela omissão verificada. (Incluí- duta do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
do pela Lei nº 14.230, de 2021) §3º As sentenças civis e penais produzirão efeitos em relação à
§3º Para fins de apuração do valor do ressarcimento, deverão ação de improbidade quando concluírem pela inexistência da con-
ser descontados os serviços efetivamente prestados. (Incluído pela duta ou pela negativa da autoria. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
Lei nº 14.230, de 2021) 2021)
§4º O juiz poderá autorizar o parcelamento, em até 48 (quaren- §4º A absolvição criminal em ação que discuta os mesmos fa-
ta e oito) parcelas mensais corrigidas monetariamente, do débito tos, confirmada por decisão colegiada, impede o trâmite da ação da
resultante de condenação pela prática de improbidade adminis- qual trata esta Lei, havendo comunicação com todos os fundamen-
trativa se o réu demonstrar incapacidade financeira de saldá-lo de tos de absolvição previstos no art. 386 do Decreto-Lei nº 3.689, de
imediato. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal). (Incluído pela Lei
Art. 18-A. A requerimento do réu, na fase de cumprimento da nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7236)
sentença, o juiz unificará eventuais sanções aplicadas com outras §5º Sanções eventualmente aplicadas em outras esferas deve-
já impostas em outros processos, tendo em vista a eventual con- rão ser compensadas com as sanções aplicadas nos termos desta
tinuidade de ilícito ou a prática de diversas ilicitudes, observado o Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
seguinte: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta Lei, o Minis-
I - no caso de continuidade de ilícito, o juiz promoverá a maior tério Público, de ofício, a requerimento de autoridade administrati-
sanção aplicada, aumentada de 1/3 (um terço), ou a soma das pe- va ou mediante representação formulada de acordo com o disposto
nas, o que for mais benéfico ao réu; (Incluído pela Lei nº 14.230, no art. 14 desta Lei, poderá instaurar inquérito civil ou procedimen-
de 2021) to investigativo assemelhado e requisitar a instauração de inquérito
II - no caso de prática de novos atos ilícitos pelo mesmo sujeito, policial. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
o juiz somará as sanções. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Parágrafo único. Na apuração dos ilícitos previstos nesta Lei,
Parágrafo único. As sanções de suspensão de direitos políticos será garantido ao investigado a oportunidade de manifestação por
e de proibição de contratar ou de receber incentivos fiscais ou cre- escrito e de juntada de documentos que comprovem suas alegações
ditícios do poder público observarão o limite máximo de 20 (vinte) e auxiliem na elucidação dos fatos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
anos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) 2021)

CAPÍTULO VI CAPÍTULO VII


DAS DISPOSIÇÕES PENAIS DA PRESCRIÇÃO

Art. 19. Constitui crime a representação por ato de improbida- Art. 23. A ação para a aplicação das sanções previstas nesta Lei
de contra agente público ou terceiro beneficiário, quando o autor prescreve em 8 (oito) anos, contados a partir da ocorrência do fato
da denúncia o sabe inocente. ou, no caso de infrações permanentes, do dia em que cessou a per-
Pena: detenção de seis a dez meses e multa. manência. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante está su- I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
jeito a indenizar o denunciado pelos danos materiais, morais ou à II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
imagem que houver provocado. III - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos §1º A instauração de inquérito civil ou de processo administra-
políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença con- tivo para apuração dos ilícitos referidos nesta Lei suspende o curso
denatória. do prazo prescricional por, no máximo, 180 (cento e oitenta) dias
§1º A autoridade judicial competente poderá determinar o corridos, recomeçando a correr após a sua conclusão ou, caso não
afastamento do agente público do exercício do cargo, do emprego concluído o processo, esgotado o prazo de suspensão. (Incluído
ou da função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida for pela Lei nº 14.230, de 2021)
necessária à instrução processual ou para evitar a iminente prática §2º O inquérito civil para apuração do ato de improbidade será
de novos ilícitos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) concluído no prazo de 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias corri-
§2º O afastamento previsto no §1º deste artigo será de até 90 dos, prorrogável uma única vez por igual período, mediante ato fun-
(noventa) dias, prorrogáveis uma única vez por igual prazo, median- damentado submetido à revisão da instância competente do órgão
te decisão motivada. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica. (Incluído
Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei independe: pela Lei nº 14.230, de 2021)

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

§3º Encerrado o prazo previsto no §2º deste artigo, a ação de- CAPÍTULO VIII
verá ser proposta no prazo de 30 (trinta) dias, se não for caso de ar- DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
quivamento do inquérito civil. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§4º O prazo da prescrição referido no caput deste artigo inter- Art. 24. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
rompe-se: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Art. 25. Ficam revogadas as Leis n°s 3.164, de 1° de junho de
I - pelo ajuizamento da ação de improbidade administrativa; 1957, e 3.502, de 21 de dezembro de 1958 e demais disposições
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) em contrário.
II - pela publicação da sentença condenatória; (Incluído pela Lei Rio de Janeiro, 2 de junho de 1992; 171° da Independência e
nº 14.230, de 2021) 104° da República.
III - pela publicação de decisão ou acórdão de Tribunal de Jus-
tiça ou Tribunal Regional Federal que confirma sentença condena-
tória ou que reforma sentença de improcedência; (Incluído pela Lei LEI DO PROCESSO ADMINISTRATIVO (LEI Nº 9.784/1999 E
nº 14.230, de 2021) SUAS ALTERAÇÕES)
IV - pela publicação de decisão ou acórdão do Superior Tribu-
nal de Justiça que confirma acórdão condenatório ou que reforma
acórdão de improcedência; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) — Conceito4
V - pela publicação de decisão ou acórdão do Supremo Tribunal Processo administrativo é a possibilidade que tem o
Federal que confirma acórdão condenatório ou que reforma acór- administrado de ver revistos os atos impostos pela Administração.
dão de improcedência. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Consiste no conjunto de atos administrativos concatenados
§5º Interrompida a prescrição, o prazo recomeça a correr do (ordenados) e preparatórios de uma decisão da Administração.
dia da interrupção, pela metade do prazo previsto no caput deste
artigo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Em sentido amplo
§6º A suspensão e a interrupção da prescrição produzem efei- Trata-se do conjunto de medidas jurídicas e materiais praticadas
tos relativamente a todos os que concorreram para a prática do ato com certa ordem e cronologia, necessárias ao registro dos atos
de improbidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) da Administração Pública, ao controle do comportamento dos
§7º Nos atos de improbidade conexos que sejam objeto do administrados e de seus servidores, a compatibilizar, no exercício
mesmo processo, a suspensão e a interrupção relativas a qualquer do poder de polícia, os interesses público e privado, a punir seus
deles estendem-se aos demais. (Incluído pela Lei nº 14.230, de servidores e terceiros, a resolver controvérsias administrativas e a
2021) outorgar direitos a terceiros.
§8º O juiz ou o tribunal, depois de ouvido o Ministério Público, O processo administrativo, que pode ser instaurado
deverá, de ofício ou a requerimento da parte interessada, reconhe- mediante provocação do interessado ou por iniciativa da própria
cer a prescrição intercorrente da pretensão sancionadora e decre- Administração, estabelece uma relação bilateral, “inter partes”,
tá-la de imediato, caso, entre os marcos interruptivos referidos no ou seja, de um lado, o administrado, que deduz uma pretensão
§4º, transcorra o prazo previsto no §5º deste artigo. (Incluído pela e, de outro, a Administração que, quando decide, não age como
Lei nº 14.230, de 2021) terceiro, estranho à controvérsia, mas como parte que atua no
Art. 23-A. É dever do poder público oferecer contínua capacita- próprio interesse e nos limites que lhe são impostos por lei. É
ção aos agentes públicos e políticos que atuem com prevenção ou toda e qualquer autuação efetivada pela Administração Pública no
repressão de atos de improbidade administrativa. (Incluído pela Lei interesse e segurança da função administrativa.
nº 14.230, de 2021) Ademais, importante destacar que uma das espécies de
Art. 23-B. Nas ações e nos acordos regidos por esta Lei, não processo administrativo é o PAD (processo administrativo
haverá adiantamento de custas, de preparo, de emolumentos, de disciplinar), que visa apurar infrações funcionais praticadas pelos
honorários periciais e de quaisquer outras despesas. (Incluído pela servidores públicos e que foi estudado no capítulo Agentes Públicos.
Lei nº 14.230, de 2021)
§1º No caso de procedência da ação, as custas e as demais des- Dita a Lei n. 9.784/99 em seu art. 2º que:
pesas processuais serão pagas ao final. (Incluído pela Lei nº 14.230, A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos
de 2021) princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade,
§2º Haverá condenação em honorários sucumbenciais em caso proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório,
de improcedência da ação de improbidade se comprovada má-fé. segurança jurídica, interesse público e eficiência.
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 23-C. Atos que ensejem enriquecimento ilícito, perda patri-
monial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação de re-
cursos públicos dos partidos políticos, ou de suas fundações, serão
responsabilizados nos termos da Lei nº 9.096, de 19 de setembro de
1995. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Vide ADI 7236)

4 Almeida, Fabrício Bolzan D. Manual de direito administrativo. Dispo-


nível em: Minha Biblioteca, (5th edição). Editora Saraiva, 2022.
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NOÇÕES DE DIREITO

— Princípios do Processo Administrativo5 administrativo como única forma de tutelar o interesse coletivo. Se
o particular que requereu a instauração desapareceu, isso em nada
Princípio da Legalidade interfere no dever de a Administração dar andamento ao processo.
O processo administrativo deve ser conduzido na forma da lei.
A legalidade está relacionada ao dever de submissão Princípio do Informalismo ou Formalismo Moderado
estatal à vontade popular, já que as normas são feitas pelos Os atos praticados no processo, especialmente aqueles
representantes eleitos pelos cidadãos. Com isso, pode-se afirmar realizados pelo administrado, não possuem maiores exigências
que o Poder Público, em virtude principalmente dos princípios da formais e deverão ser sempre aproveitados.
indisponibilidade do interesse público e da legalidade, deverá agir Esse princípio legitima formas simples na composição do
de acordo com a vontade da coletividade, evitando, assim, excessos processo administrativo, bastando que sejam suficientes para
por parte dos administradores. garantir a segurança e o respeito aos direitos dos administrados. Ex.:
Leciona Hely Lopes Meirelles: “Enquanto na administração deve ser escrito, datado e assinado pela autoridade competente.
particular é lícito fazer tudo que a lei não proíbe, na Administração
Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza”. Perceba que, Princípio da Verdade Material
enquanto o particular preserva a autonomia de sua vontade, o Para o Princípio da Verdade Material, o que importa saber
administrador encontra-se subordinado aos termos da lei. dentro de um processo administrativo é o fato que se deu no
mundo real.
Princípio da Moralidade Em razão de a Administração tutelar o interesse público, não
O princípio da moralidade no artigo 37 da Constituição Federal pode ficar aguardando as provas trazidas pelos administrados
e na Lei 9.784/99 traduz a ideia de que a Administração e seus (verdade formal), devendo buscar o que realmente aconteceu
agentes devem pautar-se pelos princípios éticos na condução do (verdade material) durante o processo administrativo.
processo administrativo, devendo observar, outrossim, a probidade, Princípio da Celeridade Processual ou Duração Razoável do
honestidade, respeito aos valores éticos e jurídicos da sociedade. Processo
Logo, a moralidade aplicada ao processo impõe ao administrador O art. 5º, LXXVIII, da CF estabelece que tanto o processo
o dever de conduzir o processo de forma íntegra, imparcial e administrativo como o processo judicial deverão ter duração
impessoal. razoável. A celeridade processual deverá ser interpretada em
O princípio da moralidade, prevista na Constituição Federal e conjunto com o princípio do contraditório e da ampla defesa,
na Lei 9784/99, é quando a Administração e seus agentes devem se porque processo rápido pode não ser justo. Assim, imprescindível
pautar pelos princípios éticos no processo administrativo, contidos analisarmos alguns requisitos para saber se o processo teve ou não
também a probidade, honestidade, respeito aos valores éticos e duração razoável.
jurídicos da sociedade. São eles:
– Comportamento das partes no feito (se a atuação é
Princípio da Eficiência protelatória ou não);
A eficiência no que concerne ao processo administrativo – A atuação das autoridades judiciais;
significa não somente a prestação estatal célere, mas, eficiente, de – A complexidade do caso.
acordo com os melhores instrumentos que realizem, plenamente, o
fim pretendido. A Administração deve atuar de forma mais eficiente Princípio do Contraditório e Ampla Defesa
e célere para assegurar a justiça processual. Por contraditório, entenda-se a possibilidade que é dada ao
O princípio da eficiência estabelece que a Administração administrado de ter conhecimento de que está sendo acusado e
deve atingir os resultados práticos almejados com o mínimo de poder se manifestar sobre tal acusação, enquanto ampla defesa é a
desperdício, utilizando-se apropriadamente dos seus recursos. possibilidade que tem o administrado de utilizar todos os meios e
recursos para efetivar sua mais ampla defesa. Ambos decorrem do
Princípio da Finalidade due process of law.
Na visão dominante, adotada por Hely Lopes Meirelles,
o princípio da finalidade seria apenas uma faceta do princípio Princípio da Razoabilidade
constitucional da impessoalidade. Isto ocorre em virtude de os dois Impõe que o administrador atue dentro de critérios aceitáveis
buscarem o bem-estar coletivo. do ponto de vista racional. Augustin Gordillo8 define que um ato
será irrazoável quando:
Princípio da Oficialidade ou do Impulso Oficial – Não existirem fundamentos para ampará-los;
Informa tal princípio que, mesmo o processo sendo iniciado por – Desconsiderar fatos ou circunstâncias;
motivação do administrado, compete à Administração movimentar – Não guardar proporcionalidade entre meios utilizados e fins
o processo até o fim. buscados pela lei com o ato (ou para prática do ato).
Esse princípio tem por fundamento a finalidade pública
da atuação administrativa, que exige a satisfação do interesse Por certo, o princípio da razoabilidade se relaciona com o
público e, consequentemente, a movimentação de ofício princípio da proporcionalidade, havendo quem entenda que este
(independentemente de requerimento do particular) do processo integra aquele.

5 Pessoa, Erick A. Direito Administrativo. (Coleção Método Essencial).


Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

Princípio da Proporcionalidade
Exige que o administrador se paute por critérios de
ponderabilidade e de equilíbrio entre o ato praticado, a finalidade
perseguida e as consequências do ato. Afinal, mesmo o ato que
cumpre sua finalidade, poderá ser desproporcional se trouxer
consequências que contrariem ou esvaziem a finalidade buscada.
Juarez de Freitas pondera, com muita felicidade, que o princípio
da proporcionalidade exige sacrificar o mínimo para preservar o
máximo.
A Lei Federal nº 9.784/99, no artigo 2º, Parágrafo Único, Inciso
VI, consagra o princípio da proporcionalidade ao:
a) exigir adequação de fins e meios; e
b) vedar o estabelecimento de obrigações, restrições e sanções
superiores ao estritamente necessário. – Início do Processo
O processo tem início com despacho de autoridade
Princípio da Publicidade competente, determinando a instauração, assim que tiver ciência
Esse princípio, agora previsto expressamente no artigo 37, de alguma irregularidade; ela age ex officio, com fundamento no
caput, da Constituição, aplica-se ao processo administrativo. Por princípio da oficialidade.6
ser pública a atividade da Administração, os processos que ela Não havendo elementos suficientes para instaurar o processo,
desenvolve devem estar abertos ao acesso dos interessados. determinará previamente a realização de sindicância.
Esse direito de acesso ao processo administrativo é mais amplo
do que o de acesso ao processo judicial; neste, em regra, apenas – Instauração
as partes e seus defensores podem exercer o direito; naquele, Determinada a instauração e já autuado o processo, é este
qualquer pessoa é titular desse direito, desde que tenha algum encaminhado à comissão processante, que o instaura, por meio
interesse atingido por ato constante do processo ou que atue na de portaria em que conste o nome dos servidores envolvidos, a
defesa do interesse coletivo ou geral, no exercício do direito à infração de que são acusados, com descrição sucinta dos fatos e
informação assegurado pelo artigo 5º, inciso XXXIII, da Constituição. indicação dos dispositivos legais infringidos.
É evidente que o direito de acesso não pode ser exercido A portaria bem elaborada é essencial à legalidade do processo,
abusivamente, sob pena de tumultuar o andamento dos serviços pois equivale à denúncia do processo penal e, se não contiver
públicos administrativos; para exercer esse direito, deve a pessoa dados suficientes, poderá prejudicar a defesa; é indispensável que
demonstrar qual o seu interesse individual, se for o caso, ou qual o ela contenha todos os elementos que permitam aos servidores
interesse coletivo que pretende defender. conhecer os ilícitos de que são acusados.
O direito de acesso ao processo não se confunde com o direito Se, além da infração administrativa, a fato constituir ilícito
de “vista”, que somente é assegurado às pessoas diretamente penal, deve a comissão processante comunicar às autoridades
atingidas por ato da Administração, para possibilitar o exercício do policiais, fornecendo os elementos de instrução de que dispuser.
seu direito de defesa.
O direito de acesso só pode ser restringido por razões de – Instrução
segurança da sociedade e do Estado, hipótese em que o sigilo deve A instrução rege-se pelos princípios da oficialidade e do
ser resguardado (art. 5º, XXXIII, da Constituição); ainda é possível contraditório, este último essencial à ampla defesa. Com base no
restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da primeiro, a comissão toma a iniciativa para levantamento das provas,
intimidade ou o interesse social o exigirem (art. 5º, LX). podendo realizar ou determinar todas as diligências que julgue
necessárias a essa finalidade. O princípio do contraditório exige,
Princípio da Gratuidade em contrapartida, que a comissão dê ao indiciado oportunidade
Sendo a Administração Pública uma das partes do processo de acompanhar a instrução, com ou sem defensor, conhecendo e
administrativo, não se justifica a mesma onerosidade que existe no respondendo a todas as provas contra ele apresentadas.
processo judicial (v. item 14.1). O STJ, pela Súmula nº 591, decidiu que “é permitida a prova
A regra da gratuidade está agora expressa no artigo 2º, emprestada no processo administrativo disciplinar desde que
parágrafo único, inciso XI, da Lei nº 9.784, que proíbe “cobrança devidamente autorizada pelo juízo competente e respeitados o
de despesas processuais, ressalvadas as previstas em lei”. A menos contraditório e a ampla defesa”.
que haja leis específicas exigindo cobrança de determinados atos, a Concluída a instrução, deve ser assegurado o direito de “vista”
regra é a da gratuidade dos atos processuais. do processo e notificado o indiciado para a apresentação da sua
Inclusive para fins de propositura de recurso na esfera defesa. Embora esta fase seja denominada de defesa, na realidade
administrativa, o STJ sumulou o entendimento de que “é ilegítima as normas referentes à instauração e à instrução do processo já têm
a exigência de depósito prévio para admissibilidade de recurso em vista propiciar a ampla defesa ao servidor. Nesta terceira fase,
administrativo” (Súmula nº 373). Esse também é o entendimento deve ele apresentar razões escritas, pessoalmente ou por advogado
do Supremo Tribunal Federal, conforme visto no Capítulo 17 da sua escolha; na falta de defesa, a comissão designará funcionário,
(item 17.3.2.1), agora objeto da Súmula Vinculante nº 21: “É de preferência bacharel em direito, para defender o indiciado.
inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de
dinheiros ou bens para admissibilidade de recurso administrativo.” 6 Pietro, Maria Sylvia Zanella D. Direito Administrativo. Disponível em:
Minha Biblioteca, (36th edição). Grupo GEN, 2023.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

A citação do indiciado deve ser feita antes de iniciada a A Constituição de 1988 não prevê o contencioso administrativo
instrução e acompanhada de cópia da portaria para permitir-lhe e mantém, no artigo 5º, XXXV, a unidade de jurisdição, ao determinar,
pleno conhecimento da denúncia; além disso, é permitido a ele que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
assistir a inquirição das testemunhas e reperguntar às mesmas, por ameaça a direito”.
intermédio da comissão, devendo comparecer acompanhado do Portanto, no direito brasileiro, falar em processo
seu defensor. Terminada a instrução, será dada vista dos autos a administrativo significa falar em processo gracioso.
indiciado e aberto o prazo para a defesa. O princípio do contraditório Ainda se pode falar em duas outras modalidades de processo
é, pois, assegurado em toda a sua extensão. administrativo: o técnico e o jurídico.
Alguns autores restringem o conceito de processo
– Relatório administrativo para abranger somente os que envolvem interesses
Terminada a defesa, a comissão apresenta o seu relatório, no de particulares, criando controvérsia entre Administração e
qual deve concluir com proposta de absolvição ou de aplicação de administrado. Hely Lopes Meirelles, por sua vez, só considera
determinada penalidade, indicando as provas em que baseia a sua como processos administrativos propriamente ditos “aqueles que
conclusão. O relatório é peça apenas opinativo, não obrigando a encerram um litígio entre a Administração e o administrado ou o
autoridade julgadora, que poderá, analisando os autos e apresentar servidor”; os demais, ele designa de processos de expediente, “que
conclusão diversa. tramitam pelos órgãos administrativos, sem qualquer controvérsia
entre os interessados”.
– Decisão No entanto, partindo-se da ideia de processo como instrumento
A fase final é a de decisão, em que a autoridade poderá indispensável para exercício da função administrativa, não há como
acolher a sugestão da comissão, hipótese em que o relatório deixar de enquadrar os processos técnicos e os chamados “de
corresponderá à motivação; se não aceitar a sugestão, terá que expediente”, por aquele autor, entre os processos administrativos,
motivar adequadamente a sua decisão, apontando os elementos considerados em seu sentido mais amplo. Nem sempre, quando
do processo em que se baseia. É comum a autoridade julgadora o particular deduz uma pretensão perante a Administração, surge
socorrer-se de pareceres de órgãos jurídicos antes de adotar a sua uma controvérsia; nem por isso deixa de haver um processo
decisão. administrativo.
A autoridade julgadora deve fazer exame completo do processo O processo administrativo está hoje disciplinado, no âmbito
para verificar a sua legalidade, podendo declarar a sua nulidade, federal, pela Lei nº 9.784, de 29-1-99. A respectiva Lei estabelece
determinar o saneamento do processo ou a realização de novas normas básicas sobre o processo administrativo no âmbito da
diligências que considere essenciais à prova. Tudo com base no Administração Federal Direta e Indireta, visando à “proteção dos
princípio da oficialidade. direitos dos administrados e ao melhor cumprimento dos fins da
Administração”. Estados e Municípios que queiram dispor sobre a
— Modalidades7 matéria têm competência para promulgar as suas próprias leis.
Nos países que acolhem a dualidade de jurisdição, ou seja, a A lei federal disciplina os processos administrativos em geral,
existência de um contencioso administrativo ao lado da jurisdição que tramitam perante a Administração Pública federal, direta e
comum, é possível falar em dois tipos de processo administrativo: o indireta, abrangendo, além do Poder Executivo, também os órgãos
gracioso e o contencioso. administrativos dos demais Poderes, conforme artigo 1º, § 1º.
No processo gracioso, os próprios órgãos da Administração Contudo, teve o cuidado de respeitar as normas que disciplinam
são encarregados de fazer atuar a vontade concreta da lei, com os processos específicos, aos quais a nova lei se aplicará apenas
vistas à consecução dos fins estatais que lhe estão confiados e que subsidiariamente (art. 69). Assim, por exemplo, as normas legais
nem sempre envolvem decisão sobre pretensão do particular. Para que disciplinam o processo disciplinar, o processo de licitação ou
chegar à prática do ato final pretendido pela Administração, pratica- o processo administrativo tributário prevalecem, nessas matérias,
se uma série de atos precedentes necessários para apuração sobre as normas da Lei nº 9.784/99.
dos fatos, averiguação da norma legal aplicável, apreciação dos A lei federal contém normas sobre os princípios da
aspectos concernentes à oportunidade e conveniência. Essa série Administração Pública, direitos e deveres do administrado,
de atos constitui o processo, que vai culminar com a edição de competência, impedimento e suspeição, forma, tempo e lugar dos
um ato administrativo. É nesse sentido que se fala em processo atos do processo, comunicação, instrução, decisão, motivação,
administrativo no direito brasileiro. anulação, revogação e convalidação, recursos administrativos
O processo administrativo contencioso é o que se desenvolve e prazos. Em regra, o que a lei faz é colocar no direito positivo
perante um órgão cercado de garantias que asseguram a sua conceitos, regras, princípios já amplamente defendidos pela
independência e imparcialidade, com competência para proferir doutrina e jurisprudência. Define algumas questões controvertidas,
decisões com força de coisa julgada sobre as lides surgidas entre como a dos prazos para a Administração praticar determinados atos,
Administração e administrado. Esse tipo de processo administrativo proferir decisões, emitir pareceres, anular atos administrativos. As
só existe nos países que adotam o contencioso administrativo; normas da lei serão mencionadas nos itens pertinentes aos temas
nos demais, essa fase se desenvolve perante o Poder Judiciário, nela tratados.
porque só este pode proferir decisão com força de coisa julgada;
a Administração Pública, sendo “parte” nas controvérsias que ela
decide, não tem o mesmo poder, uma vez que ninguém pode ser
juiz e parte simultaneamente.
7 Pietro, Maria Sylvia Zanella D. Direito Administrativo. Disponível em:
Minha Biblioteca, (36th edição). Grupo GEN, 2023.
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NOÇÕES DE DIREITO

— Espécies de Processo Administrativo8 LEI Nº 9.784 , DE 29 DE JANEIRO DE 1999.

Processo de Expediente Regula o processo administrativo no âmbito da Administração


O processo de expediente é aquele que tramita pelo interior Pública Federal.
da Administração Pública, instaurado por sua determinação ou
mediante provocação de terceiros, e que não se caracteriza como de CAPÍTULO I
outorga, de polícia, de controle ou de punição. Assim, são processos DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
dessa espécie, por exemplo, os que objetivam a desapropriação, a
licitação, a implantação de um novo serviço, a elaboração de uma Art. 1º Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processo ad-
lei e a abertura de concurso público de admissão de servidores, ministrativo no âmbito da Administração Federal direta e indireta,
todos instaurados, pela Administração Pública. Não possuem visando, em especial, à proteção dos direitos dos administrados e
procedimento próprio nem rito sacramental, seguindo pelos canais ao melhor cumprimento dos fins da Administração.
rotineiros para informações, pareceres, despacho final da chefia §1º Os preceitos desta Lei também se aplicam aos órgãos dos
competente e subsequente arquivamento. Poderes Legislativo e Judiciário da União, quando no desempenho
de função administrativa.
Processo de Outorga §2º Para os fins desta Lei, consideram-se:
Processo administrativo de outorga é o que permite à I - órgão - a unidade de atuação integrante da estrutura da Ad-
Administração Pública atribuir, a quem o requer, um direito. É ministração direta e da estrutura da Administração indireta;
aquele em que se pleiteia algum direito ou situação individual II - entidade - a unidade de atuação dotada de personalidade
perante a Administração. Possui rito especial, mas não contraditório, jurídica;
salvo quando há oposição de terceiros ou impugnação da própria III - autoridade - o servidor ou agente público dotado de poder
Administração. Em tais casos, deve-se dar oportunidade de defesa de decisão.
ao interessado, sob pena de nulidade da decisão final. São exemplos Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos
desse tipo os processos de licenciamento de edificações, de licença princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, pro-
de habite-se, alvará de funcionamento, de isenção tributária e porcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, seguran-
outros que consubstanciam pretensões de natureza negocial entre ça jurídica, interesse público e eficiência.
o particular e a Administração ou abranjam atividades sujeitas à Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observa-
fiscalização do Poder Público. dos, entre outros, os critérios de:
I - atuação conforme a lei e o Direito;
Processo de Controle II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia to-
Processo administrativo de controle é aquele que permite tal ou parcial de poderes ou competências, salvo autorização em lei;
à Administração Pública verificar o comportamento ou situação III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada
de administrados ou servidores e declarar a sua regularidade ou a promoção pessoal de agentes ou autoridades;
irregularidade ante os termos e condições da legislação pertinente. IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e
Tais processos, normalmente, têm rito próprio e, quando neles se boa-fé;
deparam irregularidades puníveis, exigem oportunidade de defesa V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as
ao interessado, antes do seu encerramento, sob pena de invalidade hipóteses de sigilo previstas na Constituição;
do resultado da apuração. VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obri-
gações, restrições e sanções em medida superior àquelas estrita-
Processo Punitivo mente necessárias ao atendimento do interesse público;
É o promovido pela Administração Pública com o objetivo VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que deter-
de apurar infração à lei ou contrato, cometida por servidor, minarem a decisão;
administrado, contratado ou por quem estiver submetido a um VIII – observância das formalidades essenciais à garantia dos
vínculo especial de sujeição, e aplicar a correspondente penalidade. direitos dos administrados;
Esses processos devem ser necessariamente contraditórios, com IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar ade-
oportunidade de defesa e estrita observância do devido processo quado grau de certeza, segurança e respeito aos direitos dos admi-
legal, sob pena de nulidade da sanção imposta. nistrados;
A sua instauração há que se basear em auto de infração, X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de ale-
representação ou peça equivalente, iniciando-se com a exposição gações finais, à produção de provas e à interposição de recursos,
minuciosa dos atos ou fatos ilegais ou administrativamente ilícitos, nos processos de que possam resultar sanções e nas situações de
atribuídos ao indiciado e indicação da norma ou convenção litígio;
infringida. XI - proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas
O processo punitivo poderá ser realizado por um só as previstas em lei;
representante da Administração ou por comissão. XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem preju-
ízo da atuação dos interessados;
XIII - interpretação da norma administrativa da forma que me-
lhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada
aplicação retroativa de nova interpretação.
8 Gasparini, Diogénes. Direito administrativo. Disponível em: Minha
Biblioteca, (17th edição). Editora Saraiva, 2011.
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NOÇÕES DE DIREITO

CAPÍTULO II CAPÍTULO V
DOS DIREITOS DOS ADMINISTRADOS DOS INTERESSADOS

Art. 3º O administrado tem os seguintes direitos perante a Ad- Art. 9º São legitimados como interessados no processo admi-
ministração, sem prejuízo de outros que lhe sejam assegurados: nistrativo:
I - ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores, que I - pessoas físicas ou jurídicas que o iniciem como titulares de
deverão facilitar o exercício de seus direitos e o cumprimento de direitos ou interesses individuais ou no exercício do direito de re-
suas obrigações; presentação;
II - ter ciência da tramitação dos processos administrativos em II - aqueles que, sem terem iniciado o processo, têm direitos
que tenha a condição de interessado, ter vista dos autos, obter có- ou interesses que possam ser afetados pela decisão a ser adotada;
pias de documentos neles contidos e conhecer as decisões profe- III - as organizações e associações representativas, no tocante a
ridas; direitos e interesses coletivos;
III - formular alegações e apresentar documentos antes da deci- IV - as pessoas ou as associações legalmente constituídas quan-
são, os quais serão objeto de consideração pelo órgão competente; to a direitos ou interesses difusos.
IV - fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo Art. 10. São capazes, para fins de processo administrativo, os
quando obrigatória a representação, por força de lei. maiores de dezoito anos, ressalvada previsão especial em ato nor-
mativo próprio.
CAPÍTULO III
DOS DEVERES DO ADMINISTRADO CAPÍTULO VI
DA COMPETÊNCIA
Art. 4º São deveres do administrado perante a Administração,
sem prejuízo de outros previstos em ato normativo: Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos
I - expor os fatos conforme a verdade; administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de
II - proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé; delegação e avocação legalmente admitidos.
III - não agir de modo temerário; Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não
IV - prestar as informações que lhe forem solicitadas e colabo- houver impedimento legal, delegar parte da sua competência a ou-
rar para o esclarecimento dos fatos. tros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquica-
mente subordinados, quando for conveniente, em razão de circuns-
CAPÍTULO IV tâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
DO INÍCIO DO PROCESSO Parágrafo único. O disposto nocaputdeste artigo aplica-se à
delegação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos
Art. 5º O processo administrativo pode iniciar-se de ofício ou a presidentes.
pedido de interessado. Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:
Art. 6º O requerimento inicial do interessado, salvo casos em I - a edição de atos de caráter normativo;
que for admitida solicitação oral, deve ser formulado por escrito e II - a decisão de recursos administrativos;
conter os seguintes dados: III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autori-
I - órgão ou autoridade administrativa a que se dirige; dade.
II - identificação do interessado ou de quem o represente; Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publi-
III - domicílio do requerente ou local para recebimento de co- cados no meio oficial.
municações; §1º O ato de delegação especificará as matérias e poderes
IV - formulação do pedido, com exposição dos fatos e de seus transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e os ob-
fundamentos; jetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva
V - data e assinatura do requerente ou de seu representante. de exercício da atribuição delegada.
Parágrafo único. É vedada à Administração a recusa imotivada §2º O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela au-
de recebimento de documentos, devendo o servidor orientar o in- toridade delegante.
teressado quanto ao suprimento de eventuais falhas. §3º As decisões adotadas por delegação devem mencionar ex-
Art. 7º Os órgãos e entidades administrativas deverão elaborar plicitamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo dele-
modelos ou formulários padronizados para assuntos que importem gado.
pretensões equivalentes. Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos
Art. 8º Quando os pedidos de uma pluralidade de interessados relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de
tiverem conteúdo e fundamentos idênticos, poderão ser formula- competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior.
dos em um único requerimento, salvo preceito legal em contrário. Art. 16. Os órgãos e entidades administrativas divulgarão publi-
camente os locais das respectivas sedes e, quando conveniente, a
unidade fundacional competente em matéria de interesse especial.
Art. 17. Inexistindo competência legal específica, o processo
administrativo deverá ser iniciado perante a autoridade de menor
grau hierárquico para decidir.

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NOÇÕES DE DIREITO

CAPÍTULO VII I - identificação do intimado e nome do órgão ou entidade ad-


DOS IMPEDIMENTOS E DA SUSPEIÇÃO ministrativa;
II - finalidade da intimação;
Art. 18. É impedido de atuar em processo administrativo o ser- III - data, hora e local em que deve comparecer;
vidor ou autoridade que: IV - se o intimado deve comparecer pessoalmente, ou fazer-se
I - tenha interesse direto ou indireto na matéria; representar;
II - tenha participado ou venha a participar como perito, teste- V - informação da continuidade do processo independente-
munha ou representante, ou se tais situações ocorrem quanto ao mente do seu comparecimento;
cônjuge, companheiro ou parente e afins até o terceiro grau; VI - indicação dos fatos e fundamentos legais pertinentes.
III - esteja litigando judicial ou administrativamente com o inte- §2º A intimação observará a antecedência mínima de três dias
ressado ou respectivo cônjuge ou companheiro. úteis quanto à data de comparecimento.
Art. 19. A autoridade ou servidor que incorrer em impedimen- §3º A intimação pode ser efetuada por ciência no processo, por
to deve comunicar o fato à autoridade competente, abstendo-se via postal com aviso de recebimento, por telegrama ou outro meio
de atuar. que assegure a certeza da ciência do interessado.
Parágrafo único. A omissão do dever de comunicar o impedi- §4º No caso de interessados indeterminados, desconhecidos
mento constitui falta grave, para efeitos disciplinares. ou com domicílio indefinido, a intimação deve ser efetuada por
Art. 20. Pode ser argüida a suspeição de autoridade ou servidor meio de publicação oficial.
que tenha amizade íntima ou inimizade notória com algum dos inte- §5º As intimações serão nulas quando feitas sem observância
ressados ou com os respectivos cônjuges, companheiros, parentes das prescrições legais, mas o comparecimento do administrado su-
e afins até o terceiro grau. pre sua falta ou irregularidade.
Art. 21. O indeferimento de alegação de suspeição poderá ser Art. 27. O desatendimento da intimação não importa o reco-
objeto de recurso, sem efeito suspensivo. nhecimento da verdade dos fatos, nem a renúncia a direito pelo
administrado.
CAPÍTULO VIII Parágrafo único. No prosseguimento do processo, será garanti-
DA FORMA, TEMPO E LUGAR DOS ATOS DO PROCESSO do direito de ampla defesa ao interessado.
Art. 28. Devem ser objeto de intimação os atos do processo
Art. 22. Os atos do processo administrativo não dependem de que resultem para o interessado em imposição de deveres, ônus,
forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir. sanções ou restrição ao exercício de direitos e atividades e os atos
§1º Os atos do processo devem ser produzidos por escrito, em de outra natureza, de seu interesse.
vernáculo, com a data e o local de sua realização e a assinatura da
autoridade responsável. CAPÍTULO X
§2º Salvo imposição legal, o reconhecimento de firma somente DA INSTRUÇÃO
será exigido quando houver dúvida de autenticidade.
§3º A autenticação de documentos exigidos em cópia poderá Art. 29. As atividades de instrução destinadas a averiguar e
ser feita pelo órgão administrativo. comprovar os dados necessários à tomada de decisão realizam-se
§4º O processo deverá ter suas páginas numeradas seqüencial- de ofício ou mediante impulsão do órgão responsável pelo proces-
mente e rubricadas. so, sem prejuízo do direito dos interessados de propor atuações
Art. 23. Os atos do processo devem realizar-se em dias úteis, probatórias.
no horário normal de funcionamento da repartição na qual tramitar §1º O órgão competente para a instrução fará constar dos au-
o processo. tos os dados necessários à decisão do processo.
Parágrafo único. Serão concluídos depois do horário normal os §2º Os atos de instrução que exijam a atuação dos interessados
atos já iniciados, cujo adiamento prejudique o curso regular do pro- devem realizar-se do modo menos oneroso para estes.
cedimento ou cause dano ao interessado ou à Administração. Art. 30. São inadmissíveis no processo administrativo as provas
Art. 24. Inexistindo disposição específica, os atos do órgão ou obtidas por meios ilícitos.
autoridade responsável pelo processo e dos administrados que dele Art. 31. Quando a matéria do processo envolver assunto de
participem devem ser praticados no prazo de cinco dias, salvo mo- interesse geral, o órgão competente poderá, mediante despacho
tivo de força maior. motivado, abrir período de consulta pública para manifestação de
Parágrafo único. O prazo previsto neste artigo pode ser dilatado terceiros, antes da decisão do pedido, se não houver prejuízo para
até o dobro, mediante comprovada justificação. a parte interessada.
Art. 25. Os atos do processo devem realizar-se preferencial- §1º A abertura da consulta pública será objeto de divulgação
mente na sede do órgão, cientificando-se o interessado se outro for pelos meios oficiais, a fim de que pessoas físicas ou jurídicas pos-
o local de realização. sam examinar os autos, fixando-se prazo para oferecimento de ale-
gações escritas.
CAPÍTULO IX §2º O comparecimento à consulta pública não confere, por si,
DA COMUNICAÇÃO DOS ATOS a condição de interessado do processo, mas confere o direito de
obter da Administração resposta fundamentada, que poderá ser
Art. 26. O órgão competente perante o qual tramita o processo comum a todas as alegações substancialmente iguais.
administrativo determinará a intimação do interessado para ciência Art. 32. Antes da tomada de decisão, a juízo da autoridade,
de decisão ou a efetivação de diligências. diante da relevância da questão, poderá ser realizada audiência pú-
§1º A intimação deverá conter: blica para debates sobre a matéria do processo.
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NOÇÕES DE DIREITO

Art. 33. Os órgãos e entidades administrativas, em matéria re- Art. 44. Encerrada a instrução, o interessado terá o direito de
levante, poderão estabelecer outros meios de participação de ad- manifestar-se no prazo máximo de dez dias, salvo se outro prazo for
ministrados, diretamente ou por meio de organizações e associa- legalmente fixado.
ções legalmente reconhecidas. Art. 45. Em caso de risco iminente, a Administração Pública
Art. 34. Os resultados da consulta e audiência pública e de ou- poderá motivadamente adotar providências acauteladoras sem a
tros meios de participação de administrados deverão ser apresen- prévia manifestação do interessado.
tados com a indicação do procedimento adotado. Art. 46. Os interessados têm direito à vista do processo e a ob-
Art. 35. Quando necessária à instrução do processo, a audiên- ter certidões ou cópias reprográficas dos dados e documentos que
cia de outros órgãos ou entidades administrativas poderá ser reali- o integram, ressalvados os dados e documentos de terceiros prote-
zada em reunião conjunta, com a participação de titulares ou repre- gidos por sigilo ou pelo direito à privacidade, à honra e à imagem.
sentantes dos órgãos competentes, lavrando-se a respectiva ata, a Art. 47. O órgão de instrução que não for competente para emi-
ser juntada aos autos. tir a decisão final elaborará relatório indicando o pedido inicial, o
Art. 36. Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha ale- conteúdo das fases do procedimento e formulará proposta de deci-
gado, sem prejuízo do dever atribuído ao órgão competente para a são, objetivamente justificada, encaminhando o processo à autori-
instrução e do disposto no art. 37 desta Lei. dade competente.
Art. 37. Quando o interessado declarar que fatos e dados estão
registrados em documentos existentes na própria Administração CAPÍTULO XI
responsável pelo processo ou em outro órgão administrativo, o ór- DO DEVER DE DECIDIR
gão competente para a instrução proverá, de ofício, à obtenção dos
documentos ou das respectivas cópias. Art. 48. A Administração tem o dever de explicitamente emitir
Art. 38. O interessado poderá, na fase instrutória e antes da decisão nos processos administrativos e sobre solicitações ou recla-
tomada da decisão, juntar documentos e pareceres, requerer dili- mações, em matéria de sua competência.
gências e perícias, bem como aduzir alegações referentes à matéria Art. 49. Concluída a instrução de processo administrativo, a Ad-
objeto do processo. ministração tem o prazo de até trinta dias para decidir, salvo prorro-
§1º Os elementos probatórios deverão ser considerados na gação por igual período expressamente motivada.
motivação do relatório e da decisão.
§2º Somente poderão ser recusadas, mediante decisão fun- CAPÍTULO XI-A
damentada, as provas propostas pelos interessados quando sejam DA DECISÃO COORDENADA
ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou protelatórias. (Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
Art. 39. Quando for necessária a prestação de informações ou
a apresentação de provas pelos interessados ou terceiros, serão Art. 49-A. No âmbito da Administração Pública federal, as de-
expedidas intimações para esse fim, mencionando-se data, prazo, cisões administrativas que exijam a participação de 3 (três) ou mais
forma e condições de atendimento. setores, órgãos ou entidades poderão ser tomadas mediante deci-
Parágrafo único. Não sendo atendida a intimação, poderá o ór- são coordenada, sempre que:(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
gão competente, se entender relevante a matéria, suprir de ofício a I - for justificável pela relevância da matéria; e(Incluído pela Lei
omissão, não se eximindo de proferir a decisão. nº 14.210, de 2021)
Art. 40. Quando dados, atuações ou documentos solicitados ao II - houver discordância que prejudique a celeridade do proces-
interessado forem necessários à apreciação de pedido formulado, o so administrativo decisório.(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
não atendimento no prazo fixado pela Administração para a respec- §1º Para os fins desta Lei, considera-se decisão coordenada a
tiva apresentação implicará arquivamento do processo. instância de natureza interinstitucional ou intersetorial que atua
Art. 41. Os interessados serão intimados de prova ou diligência de forma compartilhada com a finalidade de simplificar o proces-
ordenada, com antecedência mínima de três dias úteis, mencionan- so administrativo mediante participação concomitante de todas as
do-se data, hora e local de realização. autoridades e agentes decisórios e dos responsáveis pela instrução
Art. 42. Quando deva ser obrigatoriamente ouvido um órgão técnico-jurídica, observada a natureza do objeto e a compatibilida-
consultivo, o parecer deverá ser emitido no prazo máximo de quin- de do procedimento e de sua formalização com a legislação perti-
ze dias, salvo norma especial ou comprovada necessidade de maior nente.(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
prazo. §2º (VETADO).(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
§1º Se um parecer obrigatório e vinculante deixar de ser emiti- §3º (VETADO).(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
do no prazo fixado, o processo não terá seguimento até a respectiva §4º A decisão coordenada não exclui a responsabilidade origi-
apresentação, responsabilizando-se quem der causa ao atraso. nária de cada órgão ou autoridade envolvida.(Incluído pela Lei nº
§2º Se um parecer obrigatório e não vinculante deixar de ser 14.210, de 2021)
emitido no prazo fixado, o processo poderá ter prosseguimento e §5º A decisão coordenada obedecerá aos princípios da legali-
ser decidido com sua dispensa, sem prejuízo da responsabilidade dade, da eficiência e da transparência, com utilização, sempre que
de quem se omitiu no atendimento. necessário, da simplificação do procedimento e da concentração
Art. 43. Quando por disposição de ato normativo devam ser das instâncias decisórias.(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
previamente obtidos laudos técnicos de órgãos administrativos e §6º Não se aplica a decisão coordenada aos processos adminis-
estes não cumprirem o encargo no prazo assinalado, o órgão res- trativos:(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
ponsável pela instrução deverá solicitar laudo técnico de outro ór- I - de licitação;(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
gão dotado de qualificação e capacidade técnica equivalentes. II - relacionados ao poder sancionador; ou(Incluído pela Lei nº
14.210, de 2021)
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NOÇÕES DE DIREITO

III - em que estejam envolvidas autoridades de Poderes distin- CAPÍTULO XII


tos.(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) DA MOTIVAÇÃO
Art. 49-B. Poderão habilitar-se a participar da decisão coorde-
nada, na qualidade de ouvintes, os interessados de que trata o art. Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com
9º desta Lei.(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:
Parágrafo único. A participação na reunião, que poderá incluir I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
direito a voz, será deferida por decisão irrecorrível da autoridade II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
responsável pela convocação da decisão coordenada.(Incluído pela III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção
Lei nº 14.210, de 2021) pública;
Art. 49-C. (VETADO).(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo lici-
Art. 49-D. Os participantes da decisão coordenada deverão ser tatório;
intimados na forma do art. 26 desta Lei.(Incluído pela Lei nº 14.210, V - decidam recursos administrativos;
de 2021) VI - decorram de reexame de ofício;
Art. 49-E. Cada órgão ou entidade participante é responsável VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão
pela elaboração de documento específico sobre o tema atinente à ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;
respectiva competência, a fim de subsidiar os trabalhos e integrar VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalida-
o processo da decisão coordenada.(Incluído pela Lei nº 14.210, de ção de ato administrativo.
2021) §1º A motivação deve ser explícita, clara e congruente, poden-
Parágrafo único. O documento previsto nocaputdeste artigo do consistir em declaração de concordância com fundamentos de
abordará a questão objeto da decisão coordenada e eventuais pre- anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que,
cedentes.(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) neste caso, serão parte integrante do ato.
Art. 49-F. Eventual dissenso na solução do objeto da decisão §2º Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode
coordenada deverá ser manifestado durante as reuniões, de forma ser utilizado meio mecânico que reproduza os fundamentos das
fundamentada, acompanhado das propostas de solução e de alte- decisões, desde que não prejudique direito ou garantia dos inte-
ração necessárias para a resolução da questão.(Incluído pela Lei nº ressados.
14.210, de 2021) §3º A motivação das decisões de órgãos colegiados e comis-
Parágrafo único. Não poderá ser arguida matéria estranha ao sões ou de decisões orais constará da respectiva ata ou de termo
objeto da convocação.(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) escrito.
Art. 49-G. A conclusão dos trabalhos da decisão coordenada
será consolidada em ata, que conterá as seguintes informações:(In- CAPÍTULO XIII
cluído pela Lei nº 14.210, de 2021) DA DESISTÊNCIA E OUTROS CASOS DE EXTINÇÃO DO
I - relato sobre os itens da pauta;(Incluído pela Lei nº 14.210, PROCESSO
de 2021)
II - síntese dos fundamentos aduzidos;(Incluído pela Lei nº Art. 51. O interessado poderá, mediante manifestação escrita,
14.210, de 2021) desistir total ou parcialmente do pedido formulado ou, ainda, re-
III - síntese das teses pertinentes ao objeto da convocação;(In- nunciar a direitos disponíveis.
cluído pela Lei nº 14.210, de 2021) §1º Havendo vários interessados, a desistência ou renúncia
IV - registro das orientações, das diretrizes, das soluções ou das atinge somente quem a tenha formulado.
propostas de atos governamentais relativos ao objeto da convoca- §2º A desistência ou renúncia do interessado, conforme o caso,
ção;(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) não pre judica o prosseguimento do processo, se a Administração
V - posicionamento dos participantes para subsidiar futura atu- considerar que o interesse público assim o exige.
ação governamental em matéria idêntica ou similar; e(Incluído pela Art. 52. O órgão competente poderá declarar extinto o proces-
Lei nº 14.210, de 2021) so quando exaurida sua finalidade ou o objeto da decisão se tornar
VI - decisão de cada órgão ou entidade relativa à matéria sujei- impossível, inútil ou prejudicado por fato superveniente.
ta à sua competência.(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021)
§1º Até a assinatura da ata, poderá ser complementada a fun- CAPÍTULO XIV
damentação da decisão da autoridade ou do agente a respeito de DA ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO
matéria de competência do órgão ou da entidade representada.(In-
cluído pela Lei nº 14.210, de 2021) Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quan-
§2º (VETADO).(Incluído pela Lei nº 14.210, de 2021) do eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de
§3º A ata será publicada por extrato no Diário Oficial da União, conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.
do qual deverão constar, além do registro referido no inciso IV do- Art. 54. O direito da Administração de anular os atos adminis-
caputdeste artigo, os dados identificadores da decisão coordenada trativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários
e o órgão e o local em que se encontra a ata em seu inteiro teor, decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados,
para conhecimento dos interessados.(Incluído pela Lei nº 14.210, salvo comprovada má-fé.
de 2021) §1º No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de deca-
dência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento.
§2º Considera-se exercício do direito de anular qualquer me-
dida de autoridade administrativa que importe impugnação à vali-
dade do ato.
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NOÇÕES DE DIREITO

Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão §2º O não conhecimento do recurso não impede a Administra-
ao interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresen- ção de rever de ofício o ato ilegal, desde que não ocorrida preclusão
tarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria Ad- administrativa.
ministração. Art. 64. O órgão competente para decidir o recurso poderá con-
CAPÍTULO XV firmar, modificar, anular ou revogar, total ou parcialmente, a deci-
DO RECURSO ADMINISTRATIVO E DA REVISÃO são recorrida, se a matéria for de sua competência.
Parágrafo único. Se da aplicação do disposto neste artigo puder
Art. 56. Das decisões administrativas cabe recurso, em face de decorrer gravame à situação do recorrente, este deverá ser cientifi-
razões de legalidade e de mérito. cado para que formule suas alegações antes da decisão.
§1º O recurso será dirigido à autoridade que proferiu a decisão, Art. 64-A. Se o recorrente alegar violação de enunciado da
a qual, se não a reconsiderar no prazo de cinco dias, o encaminhará súmula vinculante, o órgão competente para decidir o recurso ex-
à autoridade superior. plicitará as razões da aplicabilidade ou inaplicabilidade da súmula,
§2º Salvo exigência legal, a interposição de recurso administra- conforme o caso. (Incluído pela Lei nº 11.417, de 2006).Vigência
tivo independe de caução. Art. 64-B. Acolhida pelo Supremo Tribunal Federal a reclama-
§3º Se o recorrente alegar que a decisão administrativa contra- ção fundada em violação de enunciado da súmula vinculante, dar-
ria enunciado da súmula vinculante, caberá à autoridade prolatora -se-á ciência à autoridade prolatora e ao órgão competente para o
da decisão impugnada, se não a reconsiderar, explicitar, antes de julgamento do recurso, que deverão adequar as futuras decisões
encaminhar o recurso à autoridade superior, as razões da aplicabili- administrativas em casos semelhantes, sob pena de responsabiliza-
dade ou inaplicabilidade da súmula, conforme o caso. (Incluído pela ção pessoal nas esferas cível, administrativa e penal. (Incluído pela
Lei nº 11.417, de 2006).Vigência Lei nº 11.417, de 2006).Vigência
Art. 57. O recurso administrativo tramitará no máximo por três Art. 65. Os processos administrativos de que resultem san-
instâncias administrativas, salvo disposição legal diversa. ções poderão ser revistos, a qualquer tempo, a pedido ou de ofício,
Art. 58. Têm legitimidade para interpor recurso administrativo: quando surgirem fatos novos ou circunstâncias relevantes suscetí-
I - os titulares de direitos e interesses que forem parte no pro- veis de justificar a inadequação da sanção aplicada.
cesso; Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá resultar
II - aqueles cujos direitos ou interesses forem indiretamente agravamento da sanção.
afetados pela decisão recorrida; CAPÍTULO XVI
III - as organizações e associações representativas, no tocante a DOS PRAZOS
direitos e interesses coletivos;
IV - os cidadãos ou associações, quanto a direitos ou interesses Art. 66. Os prazos começam a correr a partir da data da cienti-
difusos. ficação oficial, excluindo-se da contagem o dia do começo e incluin-
Art. 59. Salvo disposição legal específica, é de dez dias o prazo do-se o do vencimento.
para interposição de recurso administrativo, contado a partir da ci- §1º Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil se-
ência ou divulgação oficial da decisão recorrida. guinte se o vencimento cair em dia em que não houver expediente
§1º Quando a lei não fixar prazo diferente, o recurso adminis- ou este for encerrado antes da hora normal.
trativo deverá ser decidido no prazo máximo de trinta dias, a partir §2º Os prazos expressos em dias contam-se de modo contínuo.
do recebimento dos autos pelo órgão competente. §3º Os prazos fixados em meses ou anos contam-se de data a
§2º O prazo mencionado no parágrafo anterior poderá ser data. Se no mês do vencimento não houver o dia equivalente àque-
prorrogado por igual período, ante justificativa explícita. le do início do prazo, tem-se como termo o último dia do mês.
Art. 60. O recurso interpõe-se por meio de requerimento no Art. 67. Salvo motivo de força maior devidamente comprovado,
qual o recorrente deverá expor os fundamentos do pedido de ree- os prazos processuais não se suspendem.
xame, podendo juntar os documentos que julgar convenientes.
Art. 61. Salvo disposição legal em contrário, o recurso não tem CAPÍTULO XVII
efeito suspensivo. DAS SANÇÕES
Parágrafo único. Havendo justo receio de prejuízo de difícil ou
incerta reparação decorrente da execução, a autoridade recorrida Art. 68. As sanções, a serem aplicadas por autoridade compe-
ou a imediatamente superior poderá, de ofício ou a pedido, dar tente, terão natureza pecuniária ou consistirão em obrigação de fa-
efeito suspensivo ao recurso. zer ou de não fazer, assegurado sempre o direito de defesa.
Art. 62. Interposto o recurso, o órgão competente para dele
conhecer deverá intimar os demais interessados para que, no prazo CAPÍTULO XVIII
de cinco dias úteis, apresentem alegações. DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 63. O recurso não será conhecido quando interposto:
I - fora do prazo; Art. 69. Os processos administrativos específicos continuarão a
II - perante órgão incompetente; reger-se por lei própria, aplicando-se-lhes apenas subsidiariamente
III - por quem não seja legitimado; os preceitos desta Lei.
IV - após exaurida a esfera administrativa. Art. 69-A. Terão prioridade na tramitação, em qualquer órgão
§1º Na hipótese do inciso II, será indicada ao recorrente a auto- ou instância, os procedimentos administrativos em que figure como
ridade competente, sendo-lhe devolvido o prazo para recurso. parte ou interessado: (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009).
I - pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos;
(Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009).
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

II - pessoa portadora de deficiência, física ou mental; (Incluído (D) locais


pela Lei nº 12.008, de 2009). (E) órgãos
III –(VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009).
IV - pessoa portadora de tuberculose ativa, esclerose múltipla, 3. CESGRANRIO - 2019 - UNIRIO - Técnico de Assuntos Educa-
neoplasia maligna, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitan- cionais
te, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anqui- O servidor público W foi demitido do serviço público, após pro-
losante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da cesso administrativo disciplinar. Inconformado, ele propôs ação ju-
doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação, dicial, buscando o retorno ao serviço público, tendo obtido decisão
síndrome de imunodeficiência adquirida, ou outra doença grave, favorável, após dez anos de duração do processo.
com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a Nos termos da Lei no 8.112/1990, quando invalidada a demis-
doença tenha sido contraída após o início do processo.(Incluído são por decisão judicial, ocorre a denominada
pela Lei nº 12.008, de 2009). (A) reinclusão
§1º A pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando (B) reintegração
prova de sua condição, deverá requerê-lo à autoridade administra- (C) recondução
tiva competente, que determinará as providências a serem cumpri- (D) revisão
das. (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009). (E) repristinação
§2º Deferida a prioridade, os autos receberão identificação
própria que evidencie o regime de tramitação prioritária. (Incluído 4. CESGRANRIO - 2019 - UNIRIO - Técnico de Assuntos Educa-
pela Lei nº 12.008, de 2009). cionais
§3º (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009). P obtém aprovação para ingressar no serviço público federal,
§4º (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009). tendo tomado posse e entrado em exercício nos prazos legais. Sen-
Art. 70. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. do profissional altamente qualificado na sua área de conhecimento,
Brasília 29 de janeiro de 1999; 178º da Independência e 111º logo após entrar em exercício, também logra aprovação para cur-
da República. sar mestrado no exterior do país. Baseado na Lei nº 8.112/1990,
P requer licença com vencimentos para manter seu vínculo com o
serviço público.
QUESTÕES O referido estatuto do servidor, no caso de período em que
ocorre o estágio probatório, veda a concessão de licença para
(A) capacitação
1. CESGRANRIO - 2019 - UNIRIO - Assistente em Administração (B) acompanhar cônjuge
Um cidadão deseja comunicar que um certo servidor público (C) tratar doença
está exercendo de forma negligente o cargo que ocupa. (D) serviço militar
Nos termos da Constituição Federal, a lei disciplinará as formas (E) atividade política
de participação do usuário na administração pública direta e indi-
reta, regulando especialmente a disciplina contra o exercício negli- 5. CESGRANRIO - 2018 - LIQUIGÁS - Assistente Administrativo I
gente ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração É juridicamente viável que um órgão público edite portaria ou
pública, através de uma qualquer outro ato normativo para regular internamente como se
(A) delação dará a movimentação de seu pessoal.
(B) representação No entanto, essa normatização interna não pode ofender as
(C) notificação leis vigentes e deve respeitar os entendimentos das jurisprudências
(D) acusação que atualmente explicitam que
(E) indicação (A) o deslocamento de cargo de provimento efetivo, ocupado
ou vago no âmbito do quadro geral de pessoal, para outro ór-
2. CESGRANRIO - 2019 - UNIRIO - Assistente em Administração gão ou entidade do mesmo Poder, é denominado redistribui-
Um médico ortopedista, exercendo suas atividades em deter- ção, demandando a vinculação entre os graus de responsabili-
minado município, com horário livre, resolveu realizar concurso dade, equivalência de vencimentos e manutenção da essência
para ocupar cargo no Estado. Após aprovação no certame, ele passa das atribuições do cargo.
a exercer atividades nos dois órgãos, o municipal e o estadual, ocu- (B) o servidor não poderá ser cedido para ter exercício em ou-
pando cargos de médico. Em determinado momento, o serviço de tro órgão ou entidade dos Poderes da União, dos Estados, ou
medicina do Estado passa por uma troca de chefia. Esse novo che- do Distrito Federal e dos Municípios, para exercício de cargo
fe exige que o ortopedista modifique os seus dias de plantão para em comissão ou função de confiança.
melhor atender ao interesse público. Ocorre que os dias indicados (C) a permuta é o deslocamento do servidor para exercer fun-
coincidem com os realizados no município. O ortopedista, então, ção distinta da exercida no órgão de origem, a pedido ou de
requer que seus dias de plantão sejam mantidos para poder exercer ofício, com mudança de sede, observados os interesses da ad-
seu direito de acumulação de cargos. ministração e a equivalência de vencimentos.
Nos termos da Constituição Federal, a cumulação, quando pre-
vista, é possível, desde que haja compatibilidade de
(A) conhecimentos
(B) horários
(C) gerentes
Editora
175
a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

(D) a remoção do servidor implica seu deslocamento dentro 10. CESGRANRIO - 2019 - UNIRIO
do mesmo órgão ou entidade, e determina a alteração em seu Um gerente administrativo de determinado órgão público rece-
cargo, mudança no nível de escolaridade, especialidade, habi- be treinamento para diminuir os equívocos na atuação do Estado na
litação profissional e efeito pecuniário positivo direto para o relação com os administrados.
servidor. Em uma das aulas do curso, são abordados os atributos do ato
(E) os servidores movimentados não possuem assegurados os administrativo que, segundo a doutrina, inclui a
seus direitos e vantagens a que faziam jus no órgão ou entidade (A) condicionalidade
de origem, e devem estar conscientes de que, com a movimen- (B) estabilização
tação de pessoal, há risco de prejuízo para o servidor na con- (C) certeza de origem
tagem de seu tempo de férias e concessão de licença prêmio. (D) presunção de legitimidade
(E) simplicidade
6. CESGRANRIO - 2019 - UNIRIO - Assistente em Administração
Um servidor público, ao tomar posse no cargo, apresentou sua 11. CESGRANRIO - 2018 - LIQUIGÁS - Profissional Júnior
declaração de bens. No denominado controle jurisdicional, é assente que não se
Além da declaração anual, a Lei n° 8.429/1992 e suas altera- pode substituir o administrador quanto ao aspecto da decisão mais
ções determina que o servidor deve apresentar declaração atuali- conveniente.
zada quando Isso restringe o âmbito de atuação dessa espécie de controle à
(A) mudar de sede. (A) legalidade
(B) for promovido. (B) oportunidade
(C) for transferido para o exterior. (C) reanálise
(D) deixar o exercício do cargo. (D) modificabilidade
(E) houver processo administrativo. (E) primazia

7. CESGRANRIO - 2019 - UNIRIO - Assistente em Administração 12. CESGRANRIO - 2023 - AGERIO


O presidente de comissão de sindicância e processo adminis- A banca organizadora de um concurso para o cargo de agente
trativo de determinado órgão público competente para julgar todos de saúde em um determinado município decide estabelecer, como
os servidores que pratiquem atos contrários ao Estatuto do Servi- etapa necessária para o certame, a realização de avaliação psicoló-
dor deseja abdicar dessa função. gica.
Nos termos da Lei n° 9.784/1999 e suas alterações, a compe- Para sujeitar o candidato a cargo público a exame psicotécnico
tência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a antes mesmo da publicação do ato em que se organiza o certame, é
que foi atribuída como própria, salvo os casos de delegação e indispensável a previsão
(A) transferência (A) no edital
(B) modificação (B) em aviso
(C) conexão (C) em portaria
(D) avocação (D) em lei
(E) continência (E) em resolução

8. CESGRANRIO - 2018 - Petrobras 13. CESGRANRIO - 2019 - UNIRIO


Nos termos da Constituição de 1988, o direito de propriedade J é portador de necessidades especiais e pretende ingressar no
é um direito serviço público. Nos termos da Lei n° 8.112/1990, às pessoas por-
(A) social, cabendo ao proprietário respeitar os limites da fun- tadoras de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em
ção social. concurso público para provimento de cargo cujas atribuições sejam
(B) social, pois não possibilita ao proprietário dispor conforme compatíveis com a deficiência de que são portadoras.
o seu próprio e exclusivo interesse. Para tais pessoas, serão reservadas, das vagas oferecidas no
(C) individual, que impede qualquer tipo de intervenção do Es- concurso, até
tado. (A) 5%
(D) individual absoluto, que possibilita ao proprietário sempre (B) 10%
dispor conforme o seu próprio e exclusivo interesse. (C) 15%
(E) individual relativo, cabendo ao proprietário respeitar os li- (D) 20%
mites da função social. (E) 30%

9. CESGRANRIO - 2018 - Transpetro 14. CESGRANRIO - 2019 - UNIRIO


Quando um ato administrativo é revogado por conveniência e Q é servidor público e postulou readaptação por ter sofrido
oportunidade da Administração, deve ser observado, quanto à for- limitações que impediriam o exercício no cargo público originário
ma, o princípio da que ocupava. Ao submeter-se à inspeção de saúde, foi diagnostica-
(A) simetria do como totalmente incapaz para o serviço público.
(B) motivação Nesse caso, nos termos da Lei no 8.112/1990, o servidor Q será
(C) vinculação (A) exonerado
(D) acidentalidade (B) demitido
(E) essencialidade (C) disponibilizado
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176
176
a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

(D) aposentado ______________________________________________________


(E) retornado
______________________________________________________
15. CESGRANRIO - 2019 - UNIRIO
As regras de acumulação de cargos previstas no sistema jurídi- ______________________________________________________
co pátrio são rígidas. Nos casos em que não é possível a acumulação
______________________________________________________
de cargos ou quando o limite de acumulação já foi atingido, como
no caso de médico que acumula dois cargos públicos de médico, ______________________________________________________
para evitar ilegalidade, a Lei n° 8.112/1990 estabelece que no ato
da posse, o empossando apresente declaração de não exercício de ______________________________________________________
outra(o)
(A) inserção comunitária ______________________________________________________
(B) atividade filantrópica
(C) função social ______________________________________________________
(D) emprego privado
______________________________________________________
(E) cargo público
______________________________________________________
GABARITO ______________________________________________________

______________________________________________________
1 B
______________________________________________________
2 B
3 B ______________________________________________________
4 A ______________________________________________________
5 A
______________________________________________________
6 D
7 D ______________________________________________________

8 E ______________________________________________________
9 A ______________________________________________________
10 D
______________________________________________________
11 A
12 D ______________________________________________________
13 D ______________________________________________________
14 D
______________________________________________________
15 E
______________________________________________________
ANOTAÇÕES
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO

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a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA

— Conjunto dos Números Naturais (N)


CONJUNTOS NUMÉRICOS: NATURAIS, INTEIROS, RACIO- O conjunto dos números naturais é simbolizado pela letra N
NAIS E REAIS; MÚLTIPLOS, DIVISORES, NÚMEROS PRIMOS e abrange os números que utilizamos para realizar contagem,
incluindo o zero. Esse conjunto é infinito. Exemplo: N = {0, 1, 2, 3,
4…}
— Conjuntos Numéricos1 O conjunto dos números naturais pode ser dividido em
O agrupamento de termos ou elementos que associam subconjuntos:
características semelhantes é denominado conjunto. Quando N* = {1, 2, 3, 4…} ou N* = N – {0}: conjunto dos números
aplicamos essa ideia à matemática, se os elementos com naturais não nulos, ou sem o zero.
características semelhantes são números, referimo-nos a esses Np = {0, 2, 4, 6…}, em que n ∈ N: conjunto dos números naturais
agrupamentos como conjuntos numéricos. pares.
Em geral, os conjuntos numéricos podem ser representados Ni = {1, 3, 5, 7..}, em que n ∈ N: conjunto dos números naturais
graficamente ou de maneira extensiva, sendo esta última a ímpares.
forma mais comum ao lidar com operações matemáticas. Na P = {2, 3, 5, 7..}: conjunto dos números naturais primos.
representação extensiva, os números são listados entre chaves {}.
Caso o conjunto seja infinito, ou seja, contenha uma quantidade
incontável de números, utilizamos reticências após listar alguns
exemplos. Exemplo: N = {0, 1, 2, 3, 4…}.
Existem cinco conjuntos considerados essenciais, pois são
os mais utilizados em problemas e questões durante o estudo da
Matemática. Esses conjuntos são os Naturais, Inteiros, Racionais,
Irracionais e Reais.
Operações com Números Naturais
Praticamente, toda a Matemática é edificada sobre essas duas
operações fundamentais: adição e multiplicação.

Adição de Números Naturais


A primeira operação essencial da Aritmética tem como objetivo
reunir em um único número todas as unidades de dois ou mais
números.
Exemplo: 6 + 4 = 10, onde 6 e 4 são as parcelas e 10 é a soma
ou o total.

Subtração de Números Naturais


É utilizada quando precisamos retirar uma quantidade de outra;
é a operação inversa da adição. A subtração é válida apenas nos
números naturais quando subtraímos o maior número do menor,
ou seja, quando quando a-b tal que a≥b.
Exemplo: 200 – 193 = 7, onde 200 é o Minuendo, o 193
Subtraendo e 7 a diferença.

Obs.: o minuendo também é conhecido como aditivo e o


subtraendo como subtrativo.

Multiplicação de Números Naturais


É a operação que visa adicionar o primeiro número, denominado
multiplicando ou parcela, tantas vezes quantas são as unidades do
segundo número, chamado multiplicador.
1 IEZZI, Gelson – Matemática - Volume Único
IEZZI, Gelson - Fundamentos da Matemática – Volume 01 – Conjuntos
e Funções
Editora
179
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA

Exemplo: 3 x 5 = 15, onde 3 e 5 são os fatores e o 15 produto. Considerando que, ao se imprimir um lote com 5 000
- 3 vezes 5 é somar o número 3 cinco vezes: 3 x 5 = 3 + 3 + 3 + 3 calendários, os cinco primeiros saíram perfeitos e o sexto saiu com
+ 3 = 15. Podemos no lugar do “x” (vezes) utilizar o ponto “. “, para defeito e que essa mesma sequência se manteve durante toda a
indicar a multiplicação). impressão do lote, é correto dizer que o número de calendários
perfeitos desse lote foi
Divisão de Números Naturais (A) 3 642.
Dados dois números naturais, às vezes precisamos saber (B) 3 828.
quantas vezes o segundo está contido no primeiro. O primeiro (C) 4 093.
número, que é o maior, é chamado de dividendo, e o outro (D) 4 167.
número, que é menor, é o divisor. O resultado da divisão é chamado (E) 4 256.
quociente. Se multiplicarmos o divisor pelo quociente, obtemos o
dividendo. Solução: Resposta: D.
No conjunto dos números naturais, a divisão não é fechada, Vamos dividir 5000 pela sequência repetida (6):
pois nem sempre é possível dividir um número natural por outro 5000 / 6 = 833 + resto 2.
número natural, e, nesses casos, a divisão não é exata. Isto significa que saíram 833. 5 = 4165 calendários perfeitos,
mais 2 calendários perfeitos que restaram na conta de divisão.
Assim, são 4167 calendários perfeitos.

2) João e Maria disputaram a prefeitura de uma determinada


cidade que possui apenas duas zonas eleitorais. Ao final da sua
apuração o Tribunal Regional Eleitoral divulgou a seguinte tabela
com os resultados da eleição. A quantidade de eleitores desta
cidade é:

Princípios fundamentais em uma divisão de números naturais 1ª Zona Eleitoral 2ª Zona Eleitoral
– Em uma divisão exata de números naturais, o divisor deve ser João 1750 2245
menor do que o dividendo. 45 : 9 = 5
– Em uma divisão exata de números naturais, o dividendo é o Maria 850 2320
produto do divisor pelo quociente. 45 = 5 x 9 Nulos 150 217
– A divisão de um número natural n por zero não é possível,
Brancos 18 25
pois, se admitíssemos que o quociente fosse q, então poderíamos
escrever: n ÷ 0 = q e isto significaria que: n = 0 x q = 0 o que não é Abstenções 183 175
correto! Assim, a divisão de n por 0 não tem sentido ou ainda é dita
impossível. (A) 3995
(B) 7165
Propriedades da Adição e da Multiplicação dos números (C) 7532
Naturais (D) 7575
Para todo a, b e c ∈N (E) 7933
1) Associativa da adição: (a + b) + c = a + (b + c)
2) Comutativa da adição: a + b = b + a Solução: Resposta: E.
3) Elemento neutro da adição: a + 0 = a Vamos somar a 1ª Zona: 1750 + 850 + 150 + 18 + 183 = 2951
4) Associativa da multiplicação: (a.b).c = a. (b.c) 2ª Zona: 2245 + 2320 + 217 + 25 + 175 = 4982
5) Comutativa da multiplicação: a.b = b.a Somando os dois: 2951 + 4982 = 7933
6) Elemento neutro da multiplicação: a.1 = a
7) Distributiva da multiplicação relativamente à adição: a.(b +c — Conjunto dos Números Inteiros (Z)
) = ab + ac O conjunto dos números inteiros é denotado pela letra
8) Distributiva da multiplicação relativamente à subtração: a .(b maiúscula Z e compreende os números inteiros negativos, positivos
–c) = ab – ac e o zero.
9) Fechamento: tanto a adição como a multiplicação de um
número natural por outro número natural, continua como resultado Exemplo: Z = {-4, -3, -2, -1, 0, 1, 2, 3, 4…}
um número natural.

Exemplos:
1) Em uma gráfica, a máquina utilizada para imprimir certo
tipo de calendário está com defeito, e, após imprimir 5 calendários
perfeitos (P), o próximo sai com defeito (D), conforme mostra o
esquema.

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180
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA

Observação: O sinal (+) antes do número positivo pode ser


omitido, mas o sinal (–) antes do número negativo nunca pode ser
dispensado.

Subtração de Números Inteiros


A subtração é utilizada nos seguintes casos:
– Ao retirarmos uma quantidade de outra quantidade;
– Quando temos duas quantidades e queremos saber a
diferença entre elas;
– Quando temos duas quantidades e desejamos saber quanto
falta para que uma delas atinja a outra.
O conjunto dos números inteiros também possui alguns
subconjuntos: A subtração é a operação inversa da adição. Concluímos que
Z+ = {0, 1, 2, 3, 4…}: conjunto dos números inteiros não subtrair dois números inteiros é equivalente a adicionar o primeiro
negativos. com o oposto do segundo.
Z- = {…-4, -3, -2, -1, 0}: conjunto dos números inteiros não
positivos. Observação: todos os parênteses, colchetes, chaves, números,
Z*+ = {1, 2, 3, 4…}: conjunto dos números inteiros não negativos etc., precedidos de sinal negativo têm seu sinal invertido, ou seja,
e não nulos, ou seja, sem o zero. representam o seu oposto.
Z*- = {… -4, -3, -2, -1}: conjunto dos números inteiros não
positivos e não nulos. Multiplicação de Números Inteiros
A multiplicação funciona como uma forma simplificada de
Módulo adição quando os números são repetidos. Podemos entender
O módulo de um número inteiro é a distância ou afastamento essa situação como ganhar repetidamente uma determinada
desse número até o zero, na reta numérica inteira. Ele é representado quantidade. Por exemplo, ganhar 1 objeto 15 vezes consecutivas
pelo símbolo | |. significa ganhar 30 objetos, e essa repetição pode ser indicada pelo
O módulo de 0 é 0 e indica-se |0| = 0 símbolo “x”, ou seja: 1+ 1 +1 + ... + 1 = 15 x 1 = 15.
O módulo de +6 é 6 e indica-se |+6| = 6 Se substituirmos o número 1 pelo número 2, obtemos: 2 + 2 +
O módulo de –3 é 3 e indica-se |–3| = 3 2 + ... + 2 = 15 x 2 = 30
O módulo de qualquer número inteiro, diferente de zero, é Na multiplicação, o produto dos números “a” e “b” pode ser
sempre positivo. indicado por a x b, a . b ou ainda ab sem nenhum sinal entre as
letras.
Números Opostos
Dois números inteiros são considerados opostos quando sua Divisão de Números Inteiros
soma resulta em zero; dessa forma, os pontos que os representam
na reta numérica estão equidistantes da origem.
Exemplo: o oposto do número 4 é -4, e o oposto de -4 é 4, pois
4 + (-4) = (-4) + 4 = 0. Em termos gerais, o oposto, ou simétrico, de
“a” é “-a”, e vice-versa; notavelmente, o oposto de zero é o próprio
zero.

Divisão exata de números inteiros


Considere o cálculo: - 15/3 = q à 3q = - 15 à q = -5
No exemplo dado, podemos concluir que, para realizar a divisão
exata de um número inteiro por outro número inteiro (diferente de
zero), dividimos o módulo do dividendo pelo módulo do divisor.
— Operações com Números Inteiros No conjunto dos números inteiros Z, a divisão não é comutativa,
Adição de Números Inteiros não é associativa, e não possui a propriedade da existência do
Para facilitar a compreensão dessa operação, associamos a elemento neutro. Além disso, não é possível realizar a divisão por
ideia de ganhar aos números inteiros positivos e a ideia de perder zero. Quando dividimos zero por qualquer número inteiro (diferente
aos números inteiros negativos. de zero), o resultado é sempre zero, pois o produto de qualquer
Ganhar 3 + ganhar 5 = ganhar 8 (3 + 5 = 8) número inteiro por zero é igual a zero.
Perder 4 + perder 3 = perder 7 (-4 + (-3) = -7)
Ganhar 5 + perder 3 = ganhar 2 (5 + (-3) = 2)
Perder 5 + ganhar 3 = perder 2 (-5 + 3 = -2)
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a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA

Regra de sinais

Potenciação de Números Inteiros


A potência an do número inteiro a, é definida como um produto de n fatores iguais. O número a é denominado a base e o número n é
o expoente.an = a x a x a x a x ... x a , a é multiplicado por a n vezes.

– Qualquer potência com uma base positiva resulta em um número inteiro positivo.
– Se a base da potência é negativa e o expoente é par, então o resultado é um número inteiro positivo.
– Se a base da potência é negativa e o expoente é ímpar, então o resultado é um número inteiro negativo.

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a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA

Radiciação de Números Inteiros


A radiciação de números inteiros envolve a obtenção da raiz n-ésima (de ordem n) de um número inteiro a. Esse processo resulta em
outro número inteiro não negativo, representado por b, que, quando elevado à potência n, reproduz o número original a. O índice da raiz
é representado por n, e o número a é conhecido como radicando, posicionado sob o sinal do radical.
A raiz quadrada, de ordem 2, é um exemplo comum. Ela produz um número inteiro não negativo cujo quadrado é igual ao número
original a.
Importante observação: não é possível calcular a raiz quadrada de um número inteiro negativo no conjunto dos números inteiros.
É importante notar que não há um número inteiro não negativo cujo produto consigo mesmo resulte em um número negativo.
A raiz cúbica (de ordem 3) de um número inteiro a é a operação que gera outro número inteiro. Esse número, quando elevado ao cubo,
é igual ao número original a. É crucial observar que, ao contrário da raiz quadrada, não restringimos nossos cálculos apenas a números
não negativos.

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a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA

Propriedades da Adição e da Multiplicação dos números Inteiros


Para todo a, b e c ∈Z
1) Associativa da adição: (a + b) + c = a + (b + c)
2) Comutativa da adição: a + b = b +a
3) Elemento neutro da adição : a + 0 = a
4) Elemento oposto da adição: a + (-a) = 0
5) Associativa da multiplicação: (a.b).c = a. (b.c)
6) Comutativa da multiplicação : a.b = b.a
7) Elemento neutro da multiplicação: a.1 = a
8) Distributiva da multiplicação relativamente à adição: a.(b +c ) = ab + ac
9) Distributiva da multiplicação relativamente à subtração: a .(b –c) = ab –ac
10) Elemento inverso da multiplicação: Para todo inteiro z diferente de zero, existe um inverso z –1 = 1/z em Z, tal que, z x z–1 = z x
(1/z) = 1
11) Fechamento: tanto a adição como a multiplicação de um número natural por outro número natural, continua como resultado um
número natural.

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184
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA

Exemplos:
1) Para zelar pelos jovens internados e orientá-los a respeito do
uso adequado dos materiais em geral e dos recursos utilizados em
atividades educativas, bem como da preservação predial, realizou-
se uma dinâmica elencando “atitudes positivas” e “atitudes
negativas”, no entendimento dos elementos do grupo. Solicitou-se
que cada um classificasse suas atitudes como positiva ou negativa,
atribuindo (+4) pontos a cada atitude positiva e (-1) a cada atitude
negativa. Se um jovem classificou como positiva apenas 20 das 50
atitudes anotadas, o total de pontos atribuídos foi
(A) 50.
(B) 45.
(C) 42.
(D) 36. Representação na reta:
(E) 32.

Solução: Resposta: A.
50-20=30 atitudes negativas
20.4=80
30.(-1)=-30
80-30=50

2) Ruth tem somente R$ 2.200,00 e deseja gastar a maior Também temos subconjuntos dos números racionais:
quantidade possível, sem ficar devendo na loja. Q* = subconjunto dos números racionais não nulos, formado
Verificou o preço de alguns produtos: pelos números racionais sem o zero.
TV: R$ 562,00 Q+ = subconjunto dos números racionais não negativos,
DVD: R$ 399,00 formado pelos números racionais positivos.
Micro-ondas: R$ 429,00 Q*+ = subconjunto dos números racionais positivos, formado
Geladeira: R$ 1.213,00 pelos números racionais positivos e não nulos.
Q- = subconjunto dos números racionais não positivos, formado
Na aquisição dos produtos, conforme as condições pelos números racionais negativos e o zero.
mencionadas, e pagando a compra em dinheiro, o troco recebido Q*- = subconjunto dos números racionais negativos, formado
será de: pelos números racionais negativos e não nulos.
(A) R$ 84,00
(B) R$ 74,00 Representação Decimal das Frações
(C) R$ 36,00 Tomemos um número racional a/b, tal que a não seja múltiplo
(D) R$ 26,00 de b. Para escrevê-lo na forma decimal, basta efetuar a divisão do
(E) R$ 16,00 numerador pelo denominador.
Nessa divisão podem ocorrer dois casos:
Solução: Resposta: D. 1º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula, um
Geladeira + Micro-ondas + DVD = 1213 + 429 + 399 = 2041 número finito de algarismos. Decimais Exatos:
Geladeira + Micro-ondas + TV = 1213 + 429 + 562 = 2204, 2/5 = 0,4
extrapola o orçamento 1/4 = 0,25
Geladeira + TV + DVD = 1213 + 562 + 399 = 2174, é a maior
quantidade gasta possível dentro do orçamento. 2º) O numeral decimal obtido possui, após a vírgula, infinitos
Troco:2200 – 2174 = 26 reais algarismos (nem todos nulos), repetindo-se periodicamente
Decimais Periódicos ou Dízimas Periódicas:
— Conjunto dos Números Racionais (Q) 1/3 = 0,333...
Os números racionais são aqueles que podem ser expressos na 167/66 = 2,53030...
forma de fração. Nessa representação, tanto o numerador quanto
o denominador pertencem ao conjunto dos números inteiros, e é Existem frações muito simples que são representadas por
fundamental observar que o denominador não pode ser zero, pois formas decimais infinitas, com uma característica especial: existe
a divisão por zero não está definida. um período.
O conjunto dos números racionais é simbolizado por Q.
Vale ressaltar que os conjuntos dos números naturais e inteiros
são subconjuntos dos números racionais, uma vez que todos os
números naturais e inteiros podem ser representados por frações.
Além desses, os números decimais e as dízimas periódicas também
fazem parte do conjunto dos números racionais.

Editora
185
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA

Para converter uma dízima periódica simples em fração, é Módulo ou valor absoluto
suficiente utilizar o dígito 9 no denominador para cada quantidade Refere-se à distância do ponto que representa esse número até
de dígitos que compõe o período da dízima. o ponto de abscissa zero.
Exemplos:
1) Seja a dízima 0, 333....
Veja que o período que se repete é apenas 1(formado pelo 3),
então vamos colocar um 9 no denominador e repetir no numerador
o período.

Inverso de um Número Racional

3
Assim, a geratriz de 0,333... é a fração .
9
2) Seja a dízima 1, 23434...
O número 234 é formado pela combinação do ante período — Operações com números Racionais
com o período. Trata-se de uma dízima periódica composta, onde
há uma parte não repetitiva (ante período) e outra que se repete Soma (Adição) de Números Racionais
(período). No exemplo dado, o ante período é representado pelo Como cada número racional pode ser expresso como uma fra-
número 2, enquanto o período é representado por 34. ção, ou seja, na forma de a/b, onde “a” e “b” são números inteiros
Para converter esse número em fração, podemos realizar a e “b” não é zero, podemos definir a adição entre números racionais
seguinte operação: subtrair o ante período do número original (234
- 2) para obter o numerador, que é 232. O denominador é formado
por tantos dígitos 9 quanto o período (dois noves, neste caso) e um
a c
da seguinte forma: e , da mesma forma que a soma de fra-
dígito 0 para cada dígito no ante período (um zero, neste caso). ções, através de: b d
Assim, a fração equivalente ao número 234 é 232/990

Subtração de Números Racionais


A subtração de dois números racionais, representados por a e
b, é equivalente à operação de adição do número p com o oposto
de q. Em outras palavras, a – b = a + (-b)

a c ad − b
c
- =
b d bd
Multiplicação (Produto) de Números Racionais
O produto de dois números racionais é definido considerando
que todo número racional pode ser expresso na forma de uma
fração. Dessa forma, o produto de dois números racionais,
611 representados por a e b é obtido multiplicando-se seus
Simplificando por 2, obtemos x = , a fração geratriz da
dízima 1, 23434... 495 numeradores e denominadores, respectivamente. A expressão
geral para o produto de dois números racionais é a.b. O produto
dos números racionais a/b e c/d também pode ser indicado por a/b
× c/d, a/b.c/d. Para realizar a multiplicação de números racionais,
devemos obedecer à mesma regra de sinais que vale em toda a
Matemática:
Podemos assim concluir que o produto de dois números com o
mesmo sinal é positivo, mas o produto de dois números com sinais
diferentes é negativo.

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186
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MATEMÁTICA

Divisão (Quociente) de Números Racionais 10) Distributiva da multiplicação: Para todos a, b, c em Q: a × (


A divisão de dois números racionais p e q é a própria operação b+c)=(a×b)+(a×c)
de multiplicação do número p pelo inverso de q, isto é: p ÷ q = p × q-1
Exemplos:
Potenciação de Números Racionais 1) Na escola onde estudo, ¼ dos alunos tem a língua portuguesa
A potência qn do número racional q é um produto de n como disciplina favorita, 9/20 têm a matemática como favorita e
fatores iguais. O número q é denominado a base e o número n é o os demais têm ciências como favorita. Sendo assim, qual fração
expoente. Vale as mesmas propriedades que usamos no conjunto representa os alunos que têm ciências como disciplina favorita?
dos Números Inteiros. (A) 1/4
qn = q × q × q × q × ... × q,    (q aparece n vezes) (B) 3/10
(C) 2/9
Radiciação de Números Racionais (D) 4/5
Se um número é representado como o produto de dois ou (E) 3/2
mais fatores iguais, cada um desses fatores é denominado raiz do
número. Vale as mesmas propriedades que usamos no conjunto Solução: Resposta: B.
dos Números Inteiros. Somando português e matemática:

O que resta gosta de ciências:

2) Simplificando a expressão abaixo

Obtém-se :

(A) ½
(B) 1
Propriedades da Adição e Multiplicação de Números Racionais (C) 3/2
1) Fechamento: o conjunto Q é fechado para a operação de (D) 2
adição e multiplicação, isto é, a soma e a multiplicação de dois (E) 3
números racionais ainda é um número racional.
2) Associativa da adição: para todos a, b, c em Q: a + ( b + c ) = Solução: Resposta: B.
(a+b)+c 1,3333...= 12/9 = 4/3
3) Comutativa da adição: para todos a, b em Q: a + b = b + a 1,5 = 15/10 = 3/2
4) Elemento neutro da adição: existe 0 em Q, que adicionado a
todo q em Q, proporciona o próprio q, isto é: q + 0 = q
5) Elemento oposto: para todo q em Q, existe -q em Q, tal que
q + (–q) = 0
6) Associativa da multiplicação: para todos a, b, c em Q: a × ( b
×c)=(a×b)×c
7) Comutativa da multiplicação: para todos a, b em Q: a × b = — Conjunto dos Números Irracionais (I)
b×a O conceito de números irracionais está vinculado à definição
8) Elemento neutro da multiplicação: existe 1 em Q, que de números racionais. Dessa forma, pertencem ao conjunto dos
multiplicado por todo q em Q, proporciona o próprio q, isto é: q × números irracionais aqueles que não fazem parte do conjunto dos
1=q racionais. Em outras palavras, um número é ou racional ou irracional,
não podendo pertencer a ambos os conjuntos simultaneamente.
Portanto, o conjunto dos números irracionais é o complemento
a do conjunto dos números racionais no universo dos números
9) Elemento inverso da multiplicação: Para todo q = em Q, q
diferente de zero, existe : b reais. Outra maneira de identificar os números que compõem o
conjunto dos números irracionais é observar que eles não podem
ser expressos na forma de fração. Isso ocorre, por exemplo, com
b a b decimais infinitos e raízes não exatas.
q-1 = em Q: q × q-1 = 1 x =1
a b a

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187
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MATEMÁTICA

A combinação do conjunto dos números irracionais com o – A soma de um número racional com um número irracional é
conjunto dos números racionais forma um conjunto denominado sempre um número irracional.
conjunto dos números reais, representado por R. – A diferença de dois números irracionais pode ser um número
A interseção do conjunto dos números racionais com o racional.
conjunto dos números irracionais não possui elementos em comum
e, portanto, é igual ao conjunto vazio (∅). Exemplos:
De maneira simbólica, temos: 1) Considere as seguintes afirmações:
I. Para todo número inteiro x, tem-se

II.

III. Efetuando-se obtém-se um


número maior que 5.

Relativamente a essas afirmações, é certo que


(A) I,II, e III são verdadeiras.
Q I=R (B) Apenas I e II são verdadeiras.
(C) Apenas II e III são verdadeiras.
Q I= (D) Apenas uma é verdadeira.
(E) I,II e III são falsas.
Classificação dos Números Irracionais
Os números irracionais podem ser classificados em dois tipos Solução: Resposta: B.
principais:
– Números reais algébricos irracionais: Esses números são
raízes de polinômios com coeficientes inteiros. Um número real é I
considerado algébrico se puder ser expresso por uma quantidade
finita de operações como soma, subtração, multiplicação, divisão e
raízes de grau inteiro, utilizando os números inteiros. Por exemplo:

II

É importante observar que a recíproca não é verdadeira; 10x = 4,4444...


ou seja, nem todo número algébrico pode ser expresso usando - x = 0,4444.....
radicais, conforme afirmado pelo teorema de Abel-Ruffini. 9x = 4
x = 4/9
– Números reais transcendentes: esses números não são raízes
de polinômios com coeficientes inteiros. Constantes matemáticas
como pi (π) e o número de Euler (e) são exemplos de números
transcendentes. Pode-se dizer que há mais números transcendentes III
do que números algébricos, uma comparação feita na teoria dos
conjuntos usando conjuntos infinitos.
A definição mais abrangente de números algébricos e
transcendentes envolve números complexos.
Portanto, apenas as afirmativas I e II são verdadeiras.
Identificação de números irracionais
Com base nas explicações anteriores, podemos afirmar que: 2) Sejam os números irracionais: x = √3, y = √6, z = √12 e w
– Todas as dízimas periódicas são números racionais. = √24. Qual das expressões apresenta como resultado um número
– Todos os números inteiros são racionais. natural?
– Todas as frações ordinárias são números racionais. (A) yw – xz.
– Todas as dízimas não periódicas são números irracionais. (B) xw + yz.
– Todas as raízes inexatas são números irracionais. (C) xy(w – z).
(D) xz(y + w).
Solução: Resposta: A.
Editora
188
188
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MATEMÁTICA

Vamos testar as alternativas:


A)

— Conjunto dos Números Reais (R)


O conjunto dos números reais, representado por R, é a fusão do conjunto dos números racionais com o conjunto dos números
irracionais. Vale ressaltar que o conjunto dos números racionais é a combinação dos conjuntos dos números naturais e inteiros. Podemos
afirmar que entre quaisquer dois números reais há uma infinidade de outros números.

R = Q U I, sendo Q ∩ I = Ø ( Se um número real é racional, não irracional, e vice-versa).

Lembrando que N Ϲ Z Ϲ Q, podemos construir o diagrama abaixo:

Entre os conjuntos números reais, temos:


R*= {x ∈ R│x ≠ 0}: conjunto dos números reais não-nulos.
R+ = {x ∈ R│x ≥ 0}: conjunto dos números reais não-negativos.
R*+ = {x ∈ R│x > 0}: conjunto dos números reais positivos.
R– = {x ∈ R│x ≤ 0}: conjunto dos números reais não-positivos.
R*– = {x ∈ R│x < 0}: conjunto dos números reais negativos.

Valem todas as propriedades anteriormente discutidas nos conjuntos anteriores, incluindo os conceitos de módulo, números opostos
e números inversos (quando aplicável).
A representação dos números reais permite estabelecer uma relação de ordem entre eles. Os números reais positivos são maiores
que zero, enquanto os negativos são menores. Expressamos a relação de ordem da seguinte maneira: Dados dois números reais, a e b,
a≤b↔b–a≥0

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MATEMÁTICA

Operações com números Reais


Operando com as aproximações, obtemos uma sequência de intervalos fixos que determinam um número real. Assim, vamos abordar
as operações de adição, subtração, multiplicação e divisão.

Intervalos reais
O conjunto dos números reais possui subconjuntos chamados intervalos, determinados por meio de desigualdades. Dados os números
a e b, com a < b, temos os seguintes intervalos:
– Bolinha aberta: representa o intervalo aberto (excluindo o número), utilizando os símbolos:
> ;< ; ] ; [

– Bolinha fechada: representa o intervalo fechado (incluindo o número), utilizando os símbolos:


≥;≤;[;]

Podemos utilizar ( ) no lugar dos [ ] para indicar as extremidades abertas dos intervalos:
[a, b[ = (a, b);
]a, b] = (a, b];
]a, b[ = (a, b).

a) Em algumas situações, é necessário registrar numericamente variações de valores em sentidos opostos, ou seja, maiores ou
acima de zero (positivos), como as medidas de temperatura ou valores em débito ou em haver, etc. Esses números, que se estendem
indefinidamente tanto para o lado direito (positivos) quanto para o lado esquerdo (negativos), são chamados números relativos.
b) O valor absoluto de um número relativo é o valor numérico desse número sem levar em consideração o sinal.
c) O valor simétrico de um número é o mesmo numeral, diferindo apenas no sinal.

— Operações com Números Relativos

Adição e Subtração de Números Relativos


a) Quando os numerais possuem o mesmo sinal, adicione os valores absolutos e conserve o sinal.
b) Se os numerais têm sinais diferentes, subtraia o numeral de menor valor e atribua o sinal do numeral de maior valor.

Multiplicação e Divisão de Números Relativos


a) Se dois números relativos têm o mesmo sinal, o produto e o quociente são sempre positivos.
b) Se os números relativos têm sinais diferentes, o produto e o quociente são sempre negativos.

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MATEMÁTICA

Exemplos: Isso resulta nos seguintes múltiplos de 2: 2,4,6,…,24


1) Na figura abaixo, o ponto que melhor representa a diferença 2·1=2
na reta dos números reais é: 2·2=4
2·3=6
2·4=8
2 · 5 = 10
2 · 6 = 12
2 · 7 = 14
(A) P. 2 · 8 = 16
(B) Q. 2 · 9 = 18
(C) R. 2 · 10 = 20
(D) S. 2 · 11 = 22
Solução: Resposta: A. 2 · 12 = 24

Portanto, os múltiplos de 2 são:


M(2) = {2, 4, 6, 8, 10, 12, 14, 16, 18, 20, 22, 24}

Observe que listamos somente os 12 primeiros números, mas


2) Considere m um número real menor que 20 e avalie as poderíamos ter listado quantos fossem necessários, pois a lista
afirmações I, II e III: de múltiplos é gerada pela multiplicação do número por todos os
I- (20 – m) é um número menor que 20. inteiros. Assim, o conjunto dos múltiplos é infinito.
II- (20 m) é um número maior que 20. Para verificar se um número é múltiplo de outro, é necessário
III- (20 m) é um número menor que 20. encontrar um número inteiro de forma que a multiplicação entre
eles resulte no primeiro número. Em outras palavras, a é múltiplo
É correto afirmar que: de b se existir um número inteiro k tal que a=b⋅k. Veja os exemplos:
A) I, II e III são verdadeiras. – O número 49 é múltiplo de 7, pois existe número inteiro que,
B) apenas I e II são verdadeiras. multiplicado por 7, resulta em 49. 49 = 7 · 7
C) I, II e III são falsas. – O número 324 é múltiplo de 3, pois existe número inteiro
D) apenas II e III são falsas. que, multiplicado por 3, resulta em 324.
324 = 3 · 108
Solução: Resposta: C.
I. Falso, pois m é Real e pode ser negativo. – O número 523 não é múltiplo de 2, pois não existe número
II. Falso, pois m é Real e pode ser negativo. inteiro que, multiplicado por 2, resulte em 523.
III. Falso, pois m é Real e pode ser positivo. 523 = 2 · ?”

— Múltiplos e Divisores – Múltiplos de 4


Os conceitos de múltiplos e divisores de um número natural Como observamos, para identificar os múltiplos do número 4, é
podem ser estendidos para o conjunto dos números inteiros2. Ao necessário multiplicar o 4 por números inteiros. Portanto:
abordar múltiplos e divisores, estamos nos referindo a conjuntos 4·1=4
numéricos que satisfazem certas condições. Múltiplos são obtidos 4·2=8
pela multiplicação por números inteiros, enquanto divisores são 4 · 3 = 12
números pelos quais um determinado número é divisível. 4 · 4 = 16
Esses conceitos conduzem a subconjuntos dos números 4 · 5 = 20
inteiros, pois os elementos dos conjuntos de múltiplos e divisores 4 · 6 = 24
pertencem ao conjunto dos números inteiros. Para compreender 4 · 7 = 28
o que são números primos, é fundamental ter uma compreensão 4 · 8 = 32
sólida do conceito de divisores. 4 · 9 = 36
4 · 10 = 40
Múltiplos de um Número 4 · 11 = 44
Sejam a e b dois números inteiros conhecidos, o número 4 · 12 = 48
a é múltiplo de b se, e somente se, existir um número inteiro k
tal que a=b⋅k. Portanto, o conjunto dos múltiplos de a é obtido ...
multiplicando a por todos os números inteiros, e os resultados
dessas multiplicações são os múltiplos de a. Portanto, os múltiplos de 4 são:
Por exemplo, podemos listar os 12 primeiros múltiplos de 2 M(4) = {4, 8, 12, 16, 20. 24, 28, 32, 36, 40, 44, 48, … }
da seguinte maneira, multiplicando o número 2 pelos 12 primeiros
números inteiros: 2⋅1,2⋅2,2⋅3,…,2⋅12

2 https://brasilescola.uol.com.br/matematica/multiplos-divisores.htm
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MATEMÁTICA

Divisores de um Número – Propriedade 1: A diferença entre o dividendo e o resto (N−r)


Sejam a e b dois números inteiros conhecidos, vamos dizer que é um múltiplo do divisor, ou seja, o número d é um divisor de N−r.
b é divisor de a se o número b for múltiplo de a, ou seja, a divisão – Propriedade 2: A soma entre o dividendo e o resto, acrescida
entre b e a é exata (deve deixar resto 0). do divisor (N−r+d), é um múltiplo de d, indicando que d é um divisor
Veja alguns exemplos: de (N−r+d).
– 22 é múltiplo de 2, então, 2 é divisor de 22.
– 121 não é múltiplo de 10, assim, 10 não é divisor de 121. Alguns exemplos:
Ao realizar a divisão de 525 por 8, obtemos quociente q = 65 e
Critérios de divisibilidade resto r = 5.
Critérios de divisibilidade são diretrizes práticas que permitem Assim, temos o dividendo N = 525 e o divisor d = 8. Veja que as
determinar se um número é divisível por outro sem realizar a propriedades são satisfeitas, pois (525 – 5 + 8) = 528 é divisível por
operação de divisão. 8 e: 528 = 8 · 66
– Divisibilidade por 2 ocorre quando um número termina em 0,
2, 4, 6 ou 8, ou seja, quando é um número par. Exemplos:
– A divisibilidade por 3 ocorre quando a soma dos valores 1) O número de divisores positivos do número 40 é:
absolutos dos algarismos de um número é divisível por 3. (A) 8
– Divisibilidade por 4: Um número é divisível por 4 quando seus (B) 6
dois últimos algarismos formam um número divisível por 4. (C) 4
– Divisibilidade por 5: Um número é divisível por 5 quando (D) 2
termina em 0 ou 5. (E) 20
– Divisibilidade por 6: Um número é divisível por 6 quando é
divisível por 2 e por 3 simultaneamente. Solução: Resposta: A.
– Divisibilidade por 7: Um número é divisível por 7 quando Vamos decompor o número 40 em fatores primos.
o dobro do seu último algarismo, subtraído do número sem esse 40 = 23 . 51 ; pela regra temos que devemos adicionar 1 a cada
algarismo, resulta em um número múltiplo de 7. Esse processo é expoente:
repetido até verificar a divisibilidade. 3 + 1 = 4 e 1 + 1 = 2 ; então pegamos os resultados e
– Divisibilidade por 8: Um número é divisível por 8 quando seus multiplicamos 4.2 = 8, logo temos 8 divisores de 40.
três últimos algarismos formam um número divisível por 8.
– Divisibilidade por 9: Um número é divisível por 9 quando a 2) Considere um número divisível por 6, composto por 3
soma dos valores absolutos de seus algarismos é divisível por 9. algarismos distintos e pertencentes ao conjunto A={3,4,5,6,7}.A
– Divisibilidade por 10: Um número é divisível por 10 quando o quantidade de números que podem ser formados sob tais condições
algarismo da unidade termina em zero. é:
– Divisibilidade por 11: Um número é divisível por 11 quando a (A) 6
diferença entre a soma dos algarismos de posição ímpar e a soma (B) 7
dos algarismos de posição par resulta em um número divisível por (C) 9
11, ou quando essas somas são iguais. (D) 8
– Divisibilidade por 12: Um número é divisível por 12 quando é (E) 10
divisível por 3 e por 4 simultaneamente.
– Divisibilidade por 15: Um número é divisível por 15 quando é Solução: Resposta: D.
divisível por 3 e por 5 simultaneamente. Para ser divisível por 6 precisa ser divisível por 2 e 3 ao mesmo
tempo, e por isso deverá ser par também, e a soma dos seus
Para listar os divisores de um número, devemos buscar os algarismos deve ser um múltiplo de 3.
números que o dividem. Veja: Logo os finais devem ser 4 e 6:
– Liste os divisores de 2, 3 e 20. 354, 456, 534, 546, 564, 576, 654, 756, logo temos 8 números.
D(2) = {1, 2}
D(3) = {1, 3} — Números Primos
D(20) = {1, 2, 4, 5, 10, 20} Os números primos3 pertencem ao conjunto dos números
naturais e são caracterizados por possuir apenas dois divisores: o
Propriedade dos Múltiplos e Divisores número um e ele mesmo. Por exemplo, o número 2 é primo, pois é
Essas propriedades estão associadas à divisão entre dois divisível apenas por 1 e 2.
inteiros. É importante notar que quando um inteiro é múltiplo de Quando um número tem mais de dois divisores, é classificado
outro, ele é também divisível por esse outro número. como composto e pode ser expresso como o produto de números
Vamos considerar o algoritmo da divisão para uma melhor primos. Por exemplo, o número 6 é composto, pois possui os
compreensão das propriedades: divisores 1, 2 e 3, e pode ser representado como o produto dos
N=d⋅q+r, onde q e r são números inteiros. números primos 2 x 3 = 6.
Lembre-se de que:
N: dividendo;
d, divisor;
q: quociente;
r: resto. 3 https://www.todamateria.com.br/o-que-sao-numeros-primos/
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192
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA

Algumas considerações sobre os números primos incluem: Fatoração numérica


– O número 1 não é considerado primo, pois só é divisível por A fatoração numérica ocorre por meio da decomposição em
ele mesmo. fatores primos. Para decompor um número natural em fatores
– O número 2 é o menor e único número primo par. primos, realizamos divisões sucessivas pelo menor divisor primo.
– O número 5 é o único primo terminado em 5. Em seguida, repetimos o processo com os quocientes obtidos
– Os demais números primos são ímpares e terminam nos até alcançar o quociente 1. O produto de todos os fatores primos
algarismos 1, 3, 7 e 9. resultantes representa a fatoração do número.
Exemplo:
Uma maneira de reconhecer um número primo é realizando
divisões com o número investigado. Para facilitar o processo
fazemos uso dos critérios de divisibilidade:
Se o número não for divisível por 2, 3 e 5 continuamos as
divisões com os próximos números primos menores que o número
até que:
– Se for uma divisão exata (resto igual a zero) então o número
não é primo.
– Se for uma divisão não exata (resto diferente de zero) e o
quociente for menor que o divisor, então o número é primo. Exemplos:
– Se for uma divisão não exata (resto diferente de zero) e o 1) Escreva três números diferentes cujos únicos fatores primos
quociente for igual ao divisor, então o número é primo. são os números 2 e 3.
Exemplo: verificar se o número 113 é primo. Solução: Resposta “12, 18, 108”.
Sobre o número 113, temos: A resposta pode ser muito variada. Alguns exemplos estão na
– Não apresenta o último algarismo par e, por isso, não é justificativa abaixo.
divisível por 2; Para chegarmos a alguns números que possuem por fatores
– A soma dos seus algarismos (1+1+3 = 5) não é um número apenas os números 2 e 3 não precisamos escolher um número e
divisível por 3; fatorá-lo. O meio mais rápido de encontrar um número que possui
– Não termina em 0 ou 5, portanto não é divisível por 5. por únicos fatores os números 2 e 3 é “criá-lo” multiplicando 2 e 3
quantas vezes quisermos.
Como vimos, 113 não é divisível por 2, 3 e 5. Agora, resta saber Exemplos:
se é divisível pelos números primos menores que ele utilizando a 2 x 2 x 3 = 12
operação de divisão. 3 x 3 x 2 = 18
2 x 2 x 3 x 3 x 3 = 108.
Divisão pelo número primo 7:
2) Qual é o menor número primo com dois algarismos?

Solução: Resposta “número 11”.

POTÊNCIAS E RAÍZES

Divisão pelo número primo 11:


Potenciação
Multiplicação de fatores iguais

2³=2.2.2=8
Casos
1) Todo número elevado ao expoente 0 resulta em 1.

Observe que chegamos a uma divisão não exata cujo quociente


é menor que o divisor. Isso comprova que o número 113 é primo.

2) Todo número elevado ao expoente 1 é o próprio número.

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193
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA

3) Todo número negativo, elevado ao expoente par, resulta em Exemplos:


um número positivo. (52)3 = 52.3 = 56

4) E uma multiplicação de dois ou mais fatores elevados a um


4) Todo número negativo, elevado ao expoente ímpar, resulta expoente, podemos elevar cada um a esse mesmo expoente.
em um número negativo. (4.3)²=4².3²

5) Na divisão de dois fatores elevados a um expoente, podemos


elevar separados.

5) Se o sinal do expoente for negativo, devemos passar o sinal


para positivo e inverter o número que está na base.
Radiciação
Radiciação é a operação inversa a potenciação

6) Toda vez que a base for igual a zero, não importa o valor do
expoente, o resultado será igual a zero.
Técnica de Cálculo
A determinação da raiz quadrada de um número torna-se mais
fácil quando o algarismo se encontra fatorado em números primos.
Veja:

Propriedades 64 2
1) (am . an = am+n) Em uma multiplicação de potências de mesma 32 2
base, repete-se a base e soma os expoentes.
16 2
Exemplos: 8 2
24 . 23 = 24+3= 27 4 2
(2.2.2.2) .( 2.2.2)= 2.2.2. 2.2.2.2= 27
2 2
1

64=2.2.2.2.2.2=26
2) (am: an = am-n). Em uma divisão de potência de mesma base. Como é raiz quadrada a cada dois números iguais “tira-se” um
Conserva-se a base e subtraem os expoentes. e multiplica.
Exemplos:
96 : 92 = 96-2 = 94

Observe:

1 1 1
3) (am)n Potência de potência. Repete-se a base e multiplica-se 3.5 = (3.5) = 3 .5 = 3. 5
2 2 2
os expoentes.
De modo geral, se

a ∈ R+ , b ∈ R+ , n ∈ N * ,

Editora
194
194
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MATEMÁTICA

Então: Para fazer esse cálculo, devemos fatorar o 8 e o 20.

n
a.b = n a .n b 8 2 20 2
4 2 10 2
O radical de índice inteiro e positivo de um produto indicado é
2 2 5 5
igual ao produto dos radicais de mesmo índice dos fatores do radi-
cando. 1 1

Raiz quadrada de frações ordinárias

1 1
Caso tenha:
2  2 2 22 2
Observe: =  = 1 =
3 3 3 Não dá para somar, as raízes devem ficar desse modo.
32
a n
a
* *
De modo geral, se a ∈ R+ , b ∈ R , n ∈ N , então: n =n Racionalização de Denominadores
+
b b Normalmente não se apresentam números irracionais com
O radical de índice inteiro e positivo de um quociente indicado radicais no denominador. Ao processo que leva à eliminação dos
é igual ao quociente dos radicais de mesmo índice dos termos do radicais do denominador chama-se racionalização do denominador.
radicando. 1º Caso: Denominador composto por uma só parcela

Raiz quadrada números decimais

Operações
2º Caso: Denominador composto por duas parcelas.

Operações Devemos multiplicar de forma que obtenha uma diferença de


quadrados no denominador:

Multiplicação

Exemplo

SISTEMAS DE UNIDADES DE MEDIDAS: COMPRIMENTO,


ÁREA, VOLUME, MASSA E TEMPO.
Divisão
As unidades de medida são modelos estabelecidos para medir
diferentes grandezas, tais como comprimento, capacidade, massa,
tempo e volume4.
Exemplo O Sistema Internacional de Unidades (SI) define a unidade
padrão de cada grandeza. Baseado no sistema métrico decimal, o SI
surgiu da necessidade de uniformizar as unidades que são utilizadas
na maior parte dos países.
Adição e subtração
— Medidas de Comprimento
Existem várias medidas de comprimento, como por exemplo a
jarda, a polegada e o pé.

4 https://www.todamateria.com.br/unidades-de-medida/
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195
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MATEMÁTICA

No SI a unidade padrão de comprimento é o metro (m). Note que dividir por 1000 é o mesmo que “andar” com a vírgula
Atualmente ele é definido como o comprimento da distância três casa diminuindo o número.
percorrida pela luz no vácuo durante um intervalo de tempo de
1/299.792.458 de um segundo. b) 5 daL em dL
Assim, são múltiplos do metro: quilômetro (km), hectômetro Seguindo o mesmo raciocínio anterior, identificamos que para
(hm) e decâmetro (dam)5. converter de decalitro para decilitro devemos multiplicar duas
Enquanto são submúltiplos do metro: decímetro (dm), vezes por 10, ou seja, multiplicar por 100.
centímetro (cm) e milímetro (mm). 5 . 100 = 500 dL
Os múltiplos do metro são as grandes distâncias. Eles são
chamados de múltiplos porque resultam de uma multiplicação que c) 400 cL em L
tem como referência o metro. Para passar de centilitro para litro, vamos dividir o número
Os submúltiplos, ao contrário, como pequenas distâncias, duas vezes por 10, isto é, dividir por 100:
resultam de uma divisão que tem igualmente como referência o 400 : 100 = 4 L
metro. Eles aparecem do lado direito na tabela acima, cujo centro é
a nossa medida base - o metro. Medida de Volume
As medidas de volume representam o espaço ocupado por um
corpo. Desta forma, podemos muitas vezes conhecer a capacidade
de um determinado corpo conhecendo seu volume.
A unidade de medida padrão de volume é o metro cúbico
(m³), sendo ainda utilizados seus múltiplos (km³, hm³ e dam³) e
submúltiplos (dm³, cm³ e mm³).
— Medidas de Capacidade Em algumas situações é necessário transformar a unidade de
As medidas de capacidade representam as unidades usadas medida de volume para uma unidade de medida de capacidade ou
para definir o volume no interior de um recipiente6. A principal vice-versa. Nestes casos, podemos utilizar as seguintes relações:
unidade de medida da capacidade é o litro (L). 1 m³ = 1 000 L
O litro representa a capacidade de um cubo de aresta igual a 1 1 dm³ = 1 L
dm. Como o volume de um cubo é igual a medida da aresta elevada 1 cm³ = 1 mL
ao cubo, temos então a seguinte relação:
Exemplo: Um tanque tem a forma de um paralelepípedo
1 L = 1 dm³ retângulo com as seguintes dimensões: 1,80 m de comprimento,
0,90 m de largura e 0,50 m de altura. A capacidade desse tanque,
Mudança de Unidades em litros, é:
O litro é a unidade fundamental de capacidade. Entretanto, A) 0,81
também é usado o quilolitro(kL), hectolitro(hL) e decalitro que B) 810
são seus múltiplos e o decilitro, centilitro e o mililitro que são os C) 3,2
submúltiplos. D) 3200
Como o sistema padrão de capacidade é decimal, as
transformações entre os múltiplos e submúltiplos são feitas Para começar, vamos calcular o volume do tanque, e para isso,
multiplicando-se ou dividindo-se por 10. devemos multiplicar suas dimensões:
Para transformar de uma unidade de capacidade para outra, V = 1,80 . 0,90 . 0,50 = 0,81 m³
podemos utilizar a tabela abaixo:
Para transformar o valor encontrado em litros, podemos fazer
a seguinte regra de três:

Exemplo: fazendo as seguintes transformações:


a) 30 mL em L Assim, x = 0,81 . 1000 = 810 L.
Observando a tabela acima, identificamos que para transformar Portanto, a resposta correta é a alternativa b.
de ml para L devemos dividir o número três vezes por 10, que é o
mesmo que dividir por 1000. Assim, temos: Medidas de Massa
30 : 1000 = 0,03 L No Sistema Internacional de unidades a medida de massa é o
quilograma (kg)7. Um cilindro de platina e irídio é usado como o
5 https://www.todamateria.com.br/medidas-de-comprimento/ padrão universal do quilograma.
6 https://www.todamateria.com.br/medidas-de-capacidade/ 7 https://www.todamateria.com.br/medidas-de-massa/
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MATEMÁTICA

As unidades de massa são: quilograma (kg), hectograma (hg), c) Transformando 350 g em mg.
decagrama (dag), grama (g), decigrama (dg), centigrama (cg) e Para transformar de grama para miligrama devemos multiplicar
miligrama (mg). o valor dado por 1.000 (10 x 10 x 10).
São ainda exemplos de medidas de massa a arroba, a libra, a 350 g → mg
onça e a tonelada. Sendo 1 tonelada equivalente a 1000 kg. 350 x 10 x 10 x 10 = 350 x 1000 = 350.000 mg

• Unidades de medida de massa — Medidas de Tempo


As unidades do sistema métrico decimal de massa são: Existem diversas unidades de medida de tempo, por exemplo
quilograma (kg), hectograma (hg), decagrama (dag), grama (g), a hora, o dia, o mês, o ano, o século. No sistema internacional de
decigrama (dg), centigrama (cg), miligrama (mg). medidas a unidades de tempo é o segundo (s)9.

Utilizando o grama como base, os múltiplos e submúltiplos das Horas, Minutos e Segundos
unidades de massa estão na tabela a seguir. Muitas vezes necessitamos transformar uma informação que
está, por exemplo, em minuto para segundos, ou em segundos para
hora.
Para tal, devemos sempre lembrar que 1 hora tem 60 minutos
e que 1 minuto equivale a 60 segundos. Desta forma, 1 hora
corresponde a 3.600 segundos.
Assim, para mudar de hora para minuto devemos multiplicar
Além das unidades apresentadas existem outras como a por 60. Por exemplo, 3 horas equivalem a 180 minutos (3 . 60 =
tonelada, que é um múltiplo do grama, sendo que 1 tonelada 180).
equivale a 1 000 000 g ou 1 000 kg. Essa unidade é muito usada
para indicar grandes massas. O diagrama abaixo apresenta a operação que devemos fazer
A arroba é uma unidade de medida usada no Brasil, para para passar de uma unidade para outra.
determinar a massa dos rebanhos bovinos, suínos e de outros
produtos. Uma arroba equivale a 15 kg.
O quilate é uma unidade de massa, quando se refere a pedras
preciosas. Neste caso 1 quilate vale 0,2 g.

— Conversão de unidades
Como o sistema padrão de medida de massa é decimal,
as transformações entre os múltiplos e submúltiplos são feitas
multiplicando-se ou dividindo-se por 108.
Para transformar as unidades de massa, podemos utilizar a
tabela abaixo:

Em algumas áreas é necessário usar medidas com precisão


maior que o segundo. Neste caso, usamos seus submúltiplos.
Assim, podemos indicar o tempo decorrido de um evento em
décimos, centésimos ou milésimos de segundos.
Por exemplo, nas competições de natação o tempo de um
atleta é medido com precisão de centésimos de segundo.
Exemplos:
a) Quantas gramas tem 1 kg? Instrumentos de Medidas
Para converter quilograma em grama basta consultar o quadro Para medir o tempo utilizamos relógios que são dispositivos
acima. Observe que é necessário multiplicar por 10 três vezes. que medem eventos que acontecem em intervalos regulares.
1 kg → g Os primeiros instrumentos usados para a medida do tempo
1 kg x 10 x 10 x 10 = 1 x 1000 = 1.000 g foram os relógios de Sol, que utilizavam a sombra projetada de um
objeto para indicar as horas.
b) Quantos quilogramas tem em 3.000 g? Foram ainda utilizados relógios que empregavam escoamento
Para transformar grama em quilograma, vemos na tabela que de líquidos, areia, queima de fluidos e dispositivos mecânicos como
devemos dividir o valor dado por 1.000. Isto é o mesmo que dividir os pêndulos para indicar intervalos de tempo.
por 10, depois novamente por 10 e mais uma vez por 10.
3.000 g → kg Outras Unidades de Medidas de Tempo
3.000 g : 10 : 10 : 10 = 3.000 : 1.000 = 3 kg O intervalo de tempo de uma rotação completa da terra
equivale a 24h, que representa 1 dia.

8 https://www.todamateria.com.br/medidas-de-massa/ 9 https://www.todamateria.com.br/medidas-de-tempo/
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MATEMÁTICA

O mês é o intervalo de tempo correspondente a determinado número de dias. Os meses de abril, junho, setembro, novembro têm 30
dias.
Já os meses de janeiro, março, maio, julho, agosto, outubro e dezembro possuem 31 dias. O mês de fevereiro normalmente têm 28
dias. Contudo, de 4 em 4 anos ele têm 29 dias.
O ano é o tempo que a Terra leva para dar uma volta completa ao redor do Sol. Normalmente, 1 ano corresponde a 365 dias, no
entanto, de 4 em 4 anos o ano têm 366 dias (ano bissexto).
Na tabela abaixo relacionamos algumas dessas unidades:

Tabela de Conversão de Medidas


O mesmo método pode ser utilizado para calcular várias grandezas.
Primeiro, vamos desenhar uma tabela e colocar no seu centro as unidades de medidas bases das grandezas que queremos converter,
por exemplo:
Capacidade: litro (l)
Comprimento: metro (m)
Massa: grama (g)
Volume: metro cúbico (m3)

Tudo o que estiver do lado direito da medida base são chamados submúltiplos. Os prefixos deci, centi e mili correspondem
respectivamente à décima, centésima e milésima parte da unidade fundamental.
Do lado esquerdo estão os múltiplos. Os prefixos deca, hecto e quilo correspondem respectivamente a dez, cem e mil vezes a unidade
fundamental.

Exemplos:
a) Quantos mililitros correspondem 35 litros?

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198
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MATEMÁTICA

Para fazer a transformação pedida, vamos escrever o número na tabela das medidas de capacidade. Lembrando que a medida pode
ser escrita como 35,0 litros. A virgula e o algarismo que está antes dela devem ficar na casa da unidade de medida dada, que neste caso
é o litro.

Depois completamos as demais caixas com zeros até chegar na unidade pedida. A vírgula ficará sempre atrás dos algarismos que
estiver na caixa da unidade pedida, que neste caso é o ml.

Assim 35 litros correspondem a 35000 ml.


b) Transformando 700 gramas em quilogramas.
Lembrando que podemos escrever 700,0 g. Colocamos a vírgula e o 0 antes dela na unidade dada, neste caso g e os demais algarismos
nas casas anteriores.

Depois completamos com zeros até chegar na casa da unidade pedida, que neste caso é o quilograma. A vírgula passa então para atrás
do algarismo que está na casa do quilograma.

Então 700 g corresponde a 0,7 kg.

RAZÃO E PROPORÇÃO: REGRA DE TRÊS SIMPLES E REGRA DE TRÊS COMPOSTA;

A razão estabelece uma comparação entre duas grandezas, sendo o coeficiente entre dois números10.
Já a proporção é determinada pela igualdade entre duas razões, ou ainda, quando duas razões possuem o mesmo resultado.
Note que a razão está relacionada com a operação da divisão. Vale lembrar que duas grandezas são proporcionais quando formam
uma proporção.
Ainda que não tenhamos consciência disso, utilizamos cotidianamente os conceitos de razão e proporção. Para preparar uma receita,
por exemplo, utilizamos certas medidas proporcionais entre os ingredientes.
Para encontrar a razão entre duas grandezas, as unidades de medida terão de ser as mesmas.
A partir das grandezas A e B temos:

Razão

ou A : B, onde b ≠ 0.

10 https://www.todamateria.com.br/razao-e-proporcao/
Editora
199
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MATEMÁTICA

Proporção — Propriedades da Proporção


1. O produto dos meios é igual ao produto dos extremos, por
exemplo:

onde todos os coeficientes são ≠ 0.

Exemplo: Qual a razão entre 40 e 20?


Logo: A · D = B · C.

Essa propriedade é denominada de multiplicação cruzada.

2. É possível trocar os extremos e os meios de lugar, por


Lembre-se que numa fração, o numerador é o número acima e exemplo:
o denominador, o de baixo.

é equivalente

Se o denominador for igual a 100, temos uma razão do tipo


porcentagem, também chamada de razão centesimal.

Logo, D. A = C . B.

— Regra de três simples e composta


A regra de três é a proporção entre duas ou mais grandezas, que
Além disso, nas razões, o coeficiente que está localizado acima podem ser velocidades, tempos, áreas, distâncias, cumprimentos,
é chamado de antecedente (A), enquanto o de baixo é chamado de entre outros11.
consequente (B). É o método para determinar o valor de uma incógnita quando
são apresentados duas ou mais razões, sejam elas diretamente ou
inversamente proporcionais.

As Grandezas
Dentro da regra de três simples e composta existem grandezas
Qual o valor de x na proporção abaixo? diretamente e inversamente proporcionais.
Caracteriza-se por grandezas diretas aquelas em que o
acréscimo ou decréscimo de uma equivale ao mesmo processo na
outra. Por exemplo, ao triplicarmos uma razão, a outra também
será triplicada, e assim sucessivamente.
x = 12 . 3
x = 36 Exemplo: Supondo que cada funcionário de uma microempresa
com 35 integrantes gasta 10 folhas de papel diariamente. Quantas
Assim, quando temos três valores conhecidos, podemos folhas serão gastas nessa mesma empresa quando o quadro de
descobrir o quarto, também chamado de “quarta proporcional”. colaboradores aumentar para 50?
Na proporção, os elementos são denominados de termos. A
primeira fração é formada pelos primeiros termos (A/B), enquanto
a segunda são os segundos termos (C/D).
Nos problemas onde a resolução é feita através da regra de três,
utilizamos o cálculo da proporção para encontrar o valor procurado.

11 https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/matematica/regra-de-
-tres-simples-e-composta
Editora
200
200
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA

Ao analisarmos o caso percebemos que o aumento de Exemplo 1: Para fazer um bolo de limão utiliza-se 250 ml do
colaboradores provocará também um aumento no gasto de papel. suco da fruta. Porém, foi feito uma encomenda de 6 bolos. Quantos
Logo, essa é uma razão do tipo direta, que deve ser resolvida através limões serão necessários?
da multiplicação cruzada:

35x = 50 . 10
35x = 500
x = 500/35
x = 14,3

Portanto, serão necessários 14,3 papéis para suprir as Reparem que as grandezas são diretamente proporcionais, já
demandas da microempresa com 50 funcionários. que o aumento no pedido de bolos pede uma maior quantidade
de limões. Logo, o valor desconhecido é determinado pela
Por outro lado, as grandezas inversas ocorrem quando o multiplicação cruzada:
aumento ou diminuição de uma resultam em grandezas opostas.
Ou seja, se uma é quadruplicada, a outra é reduzida pela metade, x = 250 . 6
e assim por diante. x = 1500 ml de suco
Exemplo: Se 7 pedreiros constroem uma casa grande em 80 Exemplo 2: Um carro com velocidade de 120 km/h percorre um
dias, apenas 5 deles construirão a mesma casa em quanto tempo? trajeto em 2 horas. Se a velocidade for reduzida para 70 km/h, em
quanto tempo o veículo fará o mesmo percurso?

Nesta situação, é preciso inverter uma das grandezas, pois


a relação é inversamente proporcional. Isso acontece porque Observa-se que neste exemplo teremos uma regra de três
a diminuição de pedreiros provoca o aumento no tempo de simples inversa, uma vez que ao diminuirmos a velocidade do carro
construção. o tempo de deslocamento irá aumentar. Então, pela regra, uma das
razões deverá ser invertida e transformada em direta.

5x = 80 . 7
5x = 560 70x = 120 . 2
x = 560/5 70x = 240
x = 112 x = 240/70
x = 3,4 h
Sendo assim, serão 112 dias para a construção da casa com 5
pedreiros. Regra de Três Composta
A regra de três composta é a razão e proporção entre três ou
Regra de Três Simples mais grandezas diretamente ou inversamente proporcionais, ou
A regra de três simples funciona na relação de apenas seja, as relações que aparecem em mais de duas colunas.
duas grandezas, que podem ser diretamente ou inversamente
proporcionais. Exemplo: Uma loja demora 4 dias para produzir 160 peças
de roupas com 8 costureiras. Caso 6 funcionárias estiverem
trabalhando, quantos dias levará para a produção de 300 peças?

Editora
201
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA

Inicialmente, deve-se analisar cada grandeza em relação ao Divisão Inversamente Proporcional


valor desconhecido, isto é: • Divisão em duas partes inversamente proporcionais: para
- Relacionando os dias de produção com a quantidade de peças, decompor um número M em duas partes A e B inversamente pro-
percebe-se que essas grandezas são diretamente proporcionais, porcionais a p e q, deve-se decompor este número M em duas par-
pois aumentando o número de peças cresce a necessidade de mais tes A e B diretamente proporcionais a 1/p e 1/q, que são, respecti-
dias de trabalho. vamente, os inversos de p e q. Assim basta montar o sistema com
- Relacionando a demanda de costureiras com os dias de duas equações e duas incógnitas tal que A + B = M:
produção, observa-se que aumentando a quantidade de peças
o quadro de funcionárias também deveria aumentar. Ou seja, as
grandezas são inversamente proporcionais.

Após análises, organiza-se as informações em novas colunas:


O valor de K proporciona a solução pois: A = K/p e B = K/q.

• Divisão em várias partes inversamente proporcionais: para


decompor um número M em n partes x1, x2, ..., xn inversamente pro-
porcionais a p1, p2, ..., pn, basta decompor este número M em n
partes x1, x2, ..., xn diretamente proporcionais a 1/p1, 1/p2, ..., 1/pn. A
montagem do sistema com n equações e n incógnitas, assume que
4/x = 160/300 . 6/8 x1 + x2 + ... + xn= M:
4/x = 960/2400
960x = 2400 . 4
960x = 9600
x = 9600/960
x = 10 dias
Divisão em partes direta e inversamente proporcionais
DIVISÃO PROPORCIONAL • Divisão em duas partes direta e inversamente proporcio-
nais: para decompor um número M em duas partes A e B direta-
Quando realizamos uma divisão diretamente proporcional es- mente proporcionais a, c e d e inversamente proporcionais a p e q,
tamos dividindo um número de maneira proporcional a uma sequ- deve-se decompor este número M em duas partes A e B diretamen-
ência de outros números. A divisão pode ser de diferentes tipos, te proporcionais a c/q e d/q, basta montar um sistema com duas
vejamos: equações e duas incógnitas de forma que A + B = M
Divisão Diretamente Proporcional
• Divisão em duas partes diretamente proporcionais: para de-
compor um número M em duas partes A e B diretamente propor-
cionais a p e q, montamos um sistema com duas equações e duas
incógnitas, de modo que a soma das partes seja A + B = M:
O valor de K proporciona a solução pois: A = K.c/p e B = K.d/q.

• Divisão em n partes direta e inversamente proporcionais:


para decompor um número M em n partes x1, x2, ..., xn diretamente
proporcionais a p1, p2, ..., pn e inversamente proporcionais a q1, q2,
..., qn, basta decompor este número M em n partes x1, x2, ..., xn dire-
tamente proporcionais a p1/q1, p2/q2, ..., pn/qn.
O valor de K é que proporciona a solução pois: A = K.p e B = K.q A montagem do sistema com n equações e n incógnitas exige
que x1 + x2 + ... + xn = M:
• Divisão em várias partes diretamente proporcionais: para
decompor um número M em partes x1, x2, ..., xn diretamente pro-
porcionais a p1, p2, ..., pn, deve-se montar um sistema com n equa-
ções e n incógnitas, sendo as somas x1 + x2 + ... + xn= M e p1 + p2 + ...
+ pn = P:
Exemplos:
(PREF. PAULISTANA/PI – PROFESSOR DE MATEMÁTICA – IMA)
Uma herança de R$ 750.000,00 deve ser repartida entre três her-
deiros, em partes proporcionais a suas idades que são de 5, 8 e 12
anos. O mais velho receberá o valor de:
(A) R$ 420.000,00
(B) R$ 250.000,00
Editora
202
202
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA

(C) R$ 360.000,00 Ou ainda, simplificando os denominadores:


(D) R$ 400.000,00
(E) R$ 350.000,00

Resolução:
5x + 8x + 12x = 750.000 (Apenas dividi cada denominador por 300).
25x = 750.000
x = 30.000 Agora vamos escrever as incógnitas y e z em função de x:
O mais velho receberá: 12⋅30000=360000
Resposta: C

(TRF 3ª – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC) Quatro funcionários di-


vidirão, em partes diretamente proporcionais aos anos dedicados
para a empresa, um bônus de R$36.000,00. Sabe-se que dentre
esses quatro funcionários um deles já possui 2 anos trabalhados,
outro possui 7 anos trabalhados, outro possui 6 anos trabalhados e Ainda, sabemos que:
o outro terá direito, nessa divisão, à quantia de R$6.000,00. Dessa
maneira, o número de anos dedicados para a empresa, desse últi-
mo funcionário citado, é igual a
(A) 5.
(B) 7. Substituindo pelas expressões de y e z:
(C) 2.
(D) 3.
(E) 4.

Resolução:
2x + 7x + 6x + 6000 = 36000
15x = 30000
x = 2000
Como o último recebeu R$ 6.000,00, significa que ele se dedi-
cou 3 anos a empresa, pois 2000.3 = 6000
Resposta: D Resposta: A

(CÂMARA DE SÃO PAULO/SP – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – (SABESP – ATENDENTE A CLIENTES 01 – FCC) Uma empresa
FCC) Uma prefeitura destinou a quantia de 54 milhões de reais para quer doar a três funcionários um bônus de R$ 45.750,00. Será feita
a construção de três escolas de educação infantil. A área a ser cons- uma divisão proporcional ao tempo de serviço de cada um deles. Sr.
truída em cada escola é, respectivamente, 1.500 m², 1.200 m² e 900 Fortes trabalhou durante 12 anos e 8 meses. Sra. Lourdes trabalhou
m² e a quantia destinada à cada escola é diretamente proporcional durante 9 anos e 7 meses e Srta. Matilde trabalhou durante 3 anos
a área a ser construída. e 2 meses. O valor, em reais, que a Srta. Matilde recebeu a menos
Sendo assim, a quantia destinada à construção da escola com que o Sr. Fortes é
1.500 m² é, em reais, igual a (A) 17.100,00.
(A) 22,5 milhões. (B) 5.700,00.
(B) 13,5 milhões. (C) 22.800,00.
(C) 15 milhões. (D) 17.250,00.
(D) 27 milhões. (E) 15.000,00.
(E) 21,75 milhões.
Resolução:
Resolução: * Fortes: 12 anos e 8 meses = 12.12 + 8 = 144 + 8 = 152 meses
Chamemos de x, y e z as quantias destinadas às áreas de 1.500 * Lourdes: 9 anos e 7 meses = 9.12 + 7 = 108 + 7 = 115 meses
m2, 1.200 m2 e 900 m2, respectivamente. * Matilde: 3 anos e 2 meses = 3.12 + 2 = 36 + 2 = 38 meses
Sendo as quantias diretamente proporcionais às áreas, tere- * TOTAL: 152 + 115 + 38 = 305 meses
mos: * Vamos chamar a quantidade que cada um vai receber de F,
L e M.

Editora
203
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA

Agora, vamos calcular o valor que M e F receberam: O termo por cento é abreviado usando o símbolo %, que
significa dividir por 100 e, por isso, essa razão também é chamada
de razão centesimal ou percentual12.
Saber calcular porcentagem é importante para resolver
problemas matemáticos, principalmente na matemática financeira
para calcular descontos, juros, lucro, e assim por diante.
M = 38 . 150 = R$ 5 700,00 — Calculando Porcentagem de um Valor
Para saber o percentual de um valor basta multiplicar a razão
centesimal correspondente à porcentagem pela quantidade total.
Exemplo: para descobrir quanto é 20% de 200, realizamos a
seguinte operação:

F = 152 . 150 = R$ 22 800,00

Por fim, a diferença é: 22 800 – 5700 = R$ 17 100,00


Resposta: A

(SESP/MT – PERITO OFICIAL CRIMINAL - ENGENHARIA CIVIL/


ENGENHARIA ELÉTRICA/FÍSICA/MATEMÁTICA – FUNCAB/2014)
Maria, Júlia e Carla dividirão R$ 72.000,00 em partes inversamen- Generalizando, podemos criar uma fórmula para conta de
te proporcionais às suas idades. Sabendo que Maria tem 8 anos, porcentagem:
Júlia,12 e Carla, 24, determine quanto receberá quem ficar com a
maior parte da divisão.
(A) R$ 36.000,00
(B) R$ 60.000,00
(C) R$ 48.000,00 Se preferir, você pode fazer o cálculo de porcentagem da
(D) R$ 24.000,00 seguinte forma:
(E) R$ 30.000,00 1º passo: multiplicar o percentual pelo valor.
Resolução: 20 x 200 = 4.000

2º passo: dividir o resultado anterior por 100.

A maior parte ficará para a mais nova (grandeza inversamente


proporcional).
Assim: Calculando Porcentagem de Forma Rápida
Alguns cálculos podem levar muito tempo na hora de fazer uma
prova. Pensando nisso, trouxemos dois métodos que te ajudarão a
fazer porcentagem de maneira mais rápida.

Método 1: Calcular porcentagem utilizando o 1%


8.M = 288 000 Você também tem como calcular porcentagem rapidamente
M = 288 000 / 8 utilizando o correspondente a 1% do valor.
M = R$ 36 000,00
M + J + C = 72000 Vamos continuar usando o exemplo do 20% de 200 para
Resposta: A aprender essa técnica.
1º passo: dividir o valor por 100 e encontrar o resultado que
representa 1%.
PORCENTAGEM,

A porcentagem representa uma razão cujo denominador é 100,


ou seja, .

12 https://www.todamateria.com.br/calcular-porcentagem/
Editora
204
204
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA

2º passo: multiplicar o valor que representa 1% pela Um acréscimo de 25% fará com que o valor final da mercadoria
porcentagem que se quer descobrir. seja R$ 125.

2 x 20 = 40 Fator multiplicativo para desconto em um valor


Para calcular um desconto de um produto, a fórmula do fator
Chegamos mais uma vez à conclusão que 20% de 200 é 40. multiplicativo envolve uma subtração.
Fator de multiplicação = 1 - 0,25.
Método 2: Calcular porcentagem utilizando frações
equivalentes Exemplo: Ao aplicar um desconto de 25% em uma mercadoria
As frações equivalentes representam a mesma porção do todo que custa R$ 100, qual o valor final da mercadoria?
e podem ser encontradas dividindo o numerador e o denominador 1º passo: encontrar a taxa de variação.
da fração pelo mesmo número natural.

Veja como encontrar a fração equivalente de .

2º passo: aplicar a taxa na fórmula do fator multiplicativo.


Fator de multiplicação = 1 - 0,25.
Fator de multiplicação = 0,75.

3º passo: multiplicar o valor inicial pelo fator multiplicativo.


Se a fração equivalente de é , então para calcular 20%
de um valor basta dividi-lo por 5. Veja como fazer: 100 x 0,75 = 75 reais.

JUROS SIMPLES E JUROS COMPOSTOS.

Os juros simples e compostos são cálculos efetuados com


o objetivo de corrigir os valores envolvidos nas transações
— Calcular porcentagem de aumentos e descontos financeiras, isto é, a correção que se faz ao emprestar ou aplicar
Aumentos e descontos percentuais podem ser calculados uma determinada quantia durante um período de tempo13.
utilizando o fator de multiplicação ou fator multiplicativo. O valor pago ou resgatado dependerá da taxa cobrada pela
Fator espaço de espaço multiplicação espaço igual a espaço operação e do período que o dinheiro ficará emprestado ou
1 espaço mais ou menos espaço ⅈ, onde i corresponde à taxa de aplicado. Quanto maior a taxa e o tempo, maior será este valor.
variação.
Essa fórmula é diferente para acréscimo e decréscimo no preço — Diferença entre Juros Simples e Compostos
de um produto, ou seja, o resultado será fatores diferentes. Nos juros simples a correção é aplicada a cada período e
considera apenas o valor inicial. Nos juros compostos a correção é
Fator multiplicativo para aumento em um valor feita em cima de valores já corrigidos.
Quando um produto recebe um aumento, o fator de Por isso, os juros compostos também são chamados de juros
multiplicação é dado por uma soma. sobre juros, ou seja, o valor é corrigido sobre um valor que já foi
Fator de multiplicação = 1 + i. corrigido.
Exemplo: Foi feito um aumento de 25% em uma mercadoria Sendo assim, para períodos maiores de aplicação ou
que custava R$ 100. O valor final da mercadoria pode ser calculado empréstimo a correção por juros compostos fará com que o valor
da seguinte forma: final a ser recebido ou pago seja maior que o valor obtido com juros
simples.
1º passo: encontrar a taxa de variação.

2º passo: aplicar a taxa na fórmula do fator multiplicativo.


Fator de multiplicação = 1 + 0,25.
Fator de multiplicação = 1,25.

3º passo: multiplicar o valor inicial pelo fator multiplicativo.

100 x 1,25 = 125 reais.


13 https://www.todamateria.com.br/juros-simples-e-compostos/
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205
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MATEMÁTICA

Agora que fizemos a identificação de todas as grandezas,


podemos substituir na fórmula dos juros:

Entretanto, observe que essa taxa é mensal, pois usamos


o período de 1 mês. Para encontrar a taxa anual precisamos
multiplicar esse valor por 12, assim temos:

A maioria das operações financeiras utiliza a correção pelo i = 2,5.12= 30% ao ano
sistema de juros compostos. Os juros simples se restringem as
operações de curto período. — Fórmula de Juros Compostos
O montante capitalizado a juros compostos é encontrado
— Fórmula de Juros Simples aplicando a seguinte fórmula:
Os juros simples são calculados aplicando a seguinte fórmula:

Sendo:
Sendo: M: montante.
J: juros. C: capital.
C: valor inicial da transação, chamado em matemática i: taxa de juros.
financeira de capital. t: período de tempo.
i: taxa de juros (valor normalmente expresso em porcentagem).
t: período da transação. Diferente dos juros simples, neste tipo de capitalização, a fórmula
para o cálculo do montante envolve uma variação exponencial.
Podemos ainda calcular o valor total que será resgatado (no Daí se explica que o valor final aumente consideravelmente para
caso de uma aplicação) ou o valor a ser quitado (no caso de um períodos maiores.
empréstimo) ao final de um período predeterminado.
Esse valor, chamado de montante, é igual a soma do capital Exemplo: Calcule o montante produzido por R$ 2 000,00
com os juros, ou seja: aplicado à taxa de 4% ao trimestre, após um ano, no sistema de
juros compostos.

Solução: Identificando as informações dadas, temos:


Podemos substituir o valor de J, na fórmula acima e encontrar
a seguinte expressão para o montante: C = 2 000
i = 4% ou 0,04 ao trimestre
t = 1 ano = 4 trimestres
M=?

Substituindo esses valores na fórmula de juros compostos,


A fórmula que encontramos é uma função afim, desta forma, o temos:
valor do montante cresce linearmente em função do tempo.

Exemplo: Se o capital de R$ 1 000,00 rende mensalmente R$


25,00, qual é a taxa anual de juros no sistema de juros simples?
Solução: Primeiro, vamos identificar cada grandeza indicada no
problema.
Observação: o resultado será tão melhor aproximado quanto o
C = R$ 1 000,00
número de casas decimais utilizadas na potência.
J = R$ 25,00
Portanto, ao final de um ano o montante será igual a
t = 1 mês
R$ 2 339,71.
i=?

Editora
206
206
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MATEMÁTICA

O número que está do mesmo lado de x é o 12 e ele está


EQUAÇÃO DO 1º GRAU, EQUAÇÃO DO 2º GRAU, SISTEMAS subtraindo. Nesse exemplo, ele vai para o outro lado da igualdade
DE EQUAÇÕES; EQUAÇÕES EXPONENCIAIS E LOGARÍTMI- com a operação inversa, que é a soma:
CAS.

— Equação do 1° Grau
Na Matemática, a equação é uma igualdade que envolve uma 3° exemplo:
ou mais incógnitas14. Quem determina o “grau” dessa equação é
o expoente dessa incógnita, ou seja, se o expoente for 1, temos a
equação do 1º grau. Se o expoente for 2, a equação será do 2º grau;
se o expoente for 3, a equação será de 3º grau. Exemplos:
4x + 2 = 16 (equação do 1º grau) Vamos analisar os números que estão no mesmo lado da
x² + 2x + 4 = 0 (equação do 2º grau) incógnita, o 4 e o 2. O número 2 está somando e vai para o outro
x³ + 2x² + 5x – 2 = 0 (equação do 3º grau) lado da igualdade subtraindo e o número 4, que está multiplicando,
passa para o outro lado dividindo.
A equação do 1º grau é apresentada da seguinte forma:

É importante dizer que a e b representam qualquer número real


e a é diferente de zero (a 0). A incógnita x pode ser representada por
qualquer letra, contudo, usualmente, utilizamos x ou y como valor
a ser encontrado para o resultado da equação. O primeiro membro
da equação são os números do lado esquerdo da igualdade, e o
segundo membro, o que estão do lado direito da igualdade.

Como resolver uma equação do primeiro grau


Para resolvermos uma equação do primeiro grau, devemos 4° exemplo:
achar o valor da incógnita (que vamos chamar de x) e, para que isso Esse exemplo envolve números negativos e, antes de passar
seja possível, é só isolar o valor do x na igualdade, ou seja, o x deve o número para o outro lado, devemos sempre deixar o lado da
ficar sozinho em um dos membros da equação. incógnita positivo, por isso vamos multiplicar toda a equação por -1.
O próximo passo é analisar qual operação está sendo feita no
mesmo membro em que se encontra x e “jogar” para o outro lado
da igualdade fazendo a operação oposta e isolando x.
1° exemplo:
Passando o número 3, que está multiplicando x, para o outro
lado, teremos:

Nesse caso, o número que aparece do mesmo lado de x é o 4 e


ele está somando. Para isolar a incógnita, ele vai para o outro lado
da igualdade fazendo a operação inversa (subtração):

— Propriedade Fundamental das Equações


A propriedade fundamental das equações é também chamada
2° exemplo: de regra da balança. Não é muito utilizada no Brasil, mas tem
a vantagem de ser uma única regra. A ideia é que tudo que for
feito no primeiro membro da equação deve também ser feito no
segundo membro com o objetivo de isolar a incógnita para se obter
o resultado. Veja a demonstração nesse exemplo:

14 https://escolakids.uol.com.br/matematica/equacao-primeiro-grau.
htm#:~:text=Na%20Matem%C3%A1tica%2C%20a%20equa%C3%A7%-
C3%A3o%20%C3%A9,equa%C3%A7%C3%A3o%20ser%C3%A1%20
de%203%C2%BA%20grau.
Editora
207
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA

Começaremos com a eliminação do número 12. Como ele equações do segundo grau, que é: ax2 + bx + c = 0. Observe que
está somando, vamos subtrair o número 12 nos dois membros da o coeficiente “a” multiplica x2, o coeficiente “b” multiplica x, e o
equação: coeficiente “c” é constante.
Por exemplo, na seguinte equação:
x² + 3x + 9 = 0

O coeficiente a = 1, o coeficiente b = 3 e o coeficiente c = 9.


Para finalizar, o número 3 que está multiplicando a incógnita Na equação:
será dividido por 3 nos dois membros da equação: – x² + x = 0

O coeficiente a = – 1, o coeficiente b = 1 e o coeficiente c = 0.


2) Encontrar o discriminante
O discriminante de uma equação do segundo grau é
representado pela letra grega Δ e pode ser encontrado pela seguinte
fórmula:
Δ = b² – 4·a·c
EQUAÇÃO DO 2° GRAU
Nessa fórmula, a, b e c são os coeficientes da equação do
Toda equação que puder ser escrita na forma ax2 + bx + c = 0
segundo grau. Na equação: 4x² – 4x – 24 = 0, por exemplo, os
será chamada equação do segundo grau15. O único detalhe é que
coeficientes são: a = 4, b = – 4 e c = – 24. Substituindo esses números
a, b e c devem ser números reais, e a não pode ser igual a zero em
na fórmula do discriminante, teremos:
hipótese alguma.
Δ = b² – 4 · a · c
Uma equação é uma expressão que relaciona números
Δ= (– 4)² – 4 · 4 · (– 24)
conhecidos (chamados coeficientes) a números desconhecidos
Δ = 16 – 16 · (– 24)
(chamados incógnitas), por meio de uma igualdade. Resolver uma
Δ = 16 + 384
equação é usar as propriedades dessa igualdade para descobrir
Δ = 400
o valor numérico desses números desconhecidos. Como eles
são representados pela letra x, podemos dizer que resolver uma
— Quantidade de soluções de uma equação
equação é encontrar os valores que x pode assumir, fazendo com
As equações do segundo grau podem ter até duas soluções
que a igualdade seja verdadeira.
reais17. Por meio do discriminante, é possível descobrir quantas
soluções a equação terá. Muitas vezes, o exercício solicita isso em
— Como resolver equações do 2º grau?
vez de perguntar quais as soluções de uma equação. Então, nesse
Conhecemos como soluções ou raízes da equação ax² + bx + c =
caso, não é necessário resolvê-la, mas apenas fazer o seguinte:
0 os valores de x que fazem com que essa equação seja verdadeira16.
Se Δ < 0, a equação não possui soluções reais.
Uma equação do 2º grau pode ter no máximo dois números reais
Se Δ = 0, a equação possui apenas uma solução real.
que sejam raízes dela. Para resolver equações do 2º grau completas,
Se Δ > 0, a equação possui duas soluções reais.
existem dois métodos mais comuns:
- Fórmula de Bhaskara;
Isso acontece porque, na fórmula de Bhaskara, calcularemos a
- Soma e produto.
raiz de Δ. Se o discriminante é negativo, é impossível calcular essas
raízes.
O primeiro método é bastante mecânico, o que faz com
que muitos o prefiram. Já para utilizar o segundo, é necessário o
3) Encontrar as soluções da equação
conhecimento de múltiplos e divisores. Além disso, quando as
Para encontrar as soluções de uma equação do segundo
soluções da equação são números quebrados, soma e produto não
grau usando fórmula de Bhaskara, basta substituir coeficientes e
é uma alternativa boa.
discriminante na seguinte expressão:
— Fórmula de Bhaskara

1) Determinar os coeficientes da equação


Os coeficientes de uma equação são todos os números que não
são a incógnita dessa equação, sejam eles conhecidos ou não. Para
isso, é mais fácil comparar a equação dada com a forma geral das

15 https://escolakids.uol.com.br/matematica/equacoes-segundo-grau.
htm#:~:text=Toda%20equa%C3%A7%C3%A3o%20que%20puder%20
ser,a%20zero%20em%20hip%C3%B3tese%20alguma.
16 https://www.preparaenem.com/matematica/equacao-do-2-grau. 17 https://mundoeducacao.uol.com.br/matematica/discriminante-u-
htm ma-equacao-segundo-grau.htm
Editora
208
208
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA

Observe a presença de um sinal ± na fórmula de Bhaskara. 2º passo: substituir os valores de a, b e c na fórmula.


Esse sinal indica que deveremos fazer um cálculo para √Δ positivo
e outro para √Δ negativo. Ainda no exemplo 4x2 – 4x – 24 = 0,
substituiremos seus coeficientes e seu discriminante na fórmula de
Bhaskara:

3º passo: encontrar o valor de x1 e x2 analisando a equação.


Nesse caso, estamos procurando dois números cujo produto
seja igual a 6 e a soma seja igual a 5.
Os números cuja multiplicação é igual a 6 são:
I. 6 x 1 = 6
II. 3 x 2 =6
III. (-6) x (-1) = 6
IV. (-3) x (-2) = 6

Dos possíveis resultados, vamos buscar aquele em que a soma


Então, as soluções dessa equação são 3 e – 2, e seu conjunto de seja igual a 5. Note que somente a II possui soma igual a 5, logo as
solução é: S = {3, – 2}. raízes da equação são x1 = 3 e x2 = 2.

— Soma e Produto — Equação do 2º Grau Incompleta


Nesse método é importante conhecer os divisores de um Equação do 2º grau é incompleta quando ela possui b e/ou c
número. Ele se torna interessante quando as raízes da equação são iguais a zero4. Existem três tipos dessas equações, cada um com um
números inteiros, porém, quando são um número decimal, esse método mais adequado para sua resolução.
método fica bastante complicado. Uma equação do 2º grau é conhecida como incompleta quando
A soma e o produto é uma relação entre as raízes x1 e x2 da um dos seus coeficientes, b ou c, é igual a zero. Existem três casos
equação do segundo grau, logo devemos buscar quais são os possíveis de equações incompletas, que são:
possíveis valores para as raízes que satisfazem a seguinte relação: - Equações que possuem b = 0, ou seja, ax² + c = 0;
- Equações que possuem c = 0, ou seja, ax² + bx = 0;
- Equações em que b = 0 e c = 0, então a equação será ax² = 0.

Em cada caso, é possível utilizar métodos diferentes para


encontrar o conjunto de soluções da equação. Por mais que seja
possível resolvê-la utilizando a fórmula de Bhaskara, os métodos
específicos de cada equação incompleta acabam sendo menos
trabalhosos. A diferença entre a equação completa e a equação
Exemplo: Encontre as soluções para a equação x² – 5x + 6 = 0. incompleta é que naquela todos os coeficientes são diferentes de 0,
1º passo: encontrar a, b e c. já nesta pelo menos um dos seus coeficientes é zero.
a=1
b = -5 Como Resolver Equações do 2º Grau Incompletas
c=6 Para encontrar as soluções de uma equação do 2º grau, é
bastante comum a utilização da fórmula de Bhaskara, porém
existem métodos específicos para cada um dos casos de equações
incompletas, a seguir veremos cada um deles.

Quando c = 0
Quando o c = 0, a equação do 2º grau é incompleta e é uma
equação do tipo ax² + bx = 0. Para encontrar seu conjunto de
soluções, colocamos a variável x em evidência, reescrevendo essa
equação como uma equação produto. Vejamos um exemplo a
seguir.

Editora
209
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA

Exemplo: Encontre as soluções da equação 2x² + 5x = 0. EQUAÇÃO LOGARÍTMICA


1º passo: colocar x em evidência.
Reescrevendo a equação colocando x em evidência, temos que: Existem equações que não podem ser reduzidas a uma igual-
2x² + 5x = 0 dade de mesma base pela simples aplicação das propriedades das
x · (2x + 5) = 0 potências. A resolução de uma equação desse tipo baseia-se na de-
finição de logaritmo.
2º passo: separar a equação produto em dois casos.
Para que a multiplicação entre dois números seja igual a zero,
um deles tem que ser igual a zero, no caso, temos que:
x · (2x + 5) = 0
Existem quatro tipos de equações logarítmicas:
x = 0 ou 2x + 5 = 0
1º) Equações redutíveis a uma igualdade entre dois logarit-
3º passo: encontrar as soluções.
mos de mesma base:
Já encontramos a primeira solução, x = 0, agora falta encontrar
o valor de x que faz com que 2x + 5 seja igual a zero, então, temos
que:
2x + 5 = 0 A solução pode ser obtida impondo-se f(x) = g(x) > 0.
2x = -5
x = -5/2 Exemplo

Então encontramos as duas soluções da equação, x = 0 ou x = Temos que:


-5/2. 2x + 4 = 3x + 1
2x – 3x = 1 – 4
Quando b = 0 –x=–3
Quando b = 0, encontramos uma equação incompleta do tipo x=3
ax² + c = 0. Nesse caso, vamos isolar a variável x até encontrar as Portanto, S = {3}
possíveis soluções da equação. Vejamos um exemplo:
Exemplo: Encontre as soluções da equação 3x² – 12 = 0. 2º) Equações redutíveis a uma igualdade entre dois logarit-
Para encontrar as soluções, vamos isolar a variável. mos e um número real:
3x² – 12 = 0
3x² = 12
x² = 12 : 3
A solução pode ser obtida impondo-se f(x) = ar.
x² = 4
Exemplo
Ao extrair a raiz no segundo membro, é importante lembrar que
existem sempre dois números e que, ao elevarmos ao quadrado,
encontramos como solução o número 4 e, por isso, colocamos o Pela definição de logaritmo temos:
símbolo de ±. 5x + 2 = 33
x = ±√4 5x + 2 = 27
x = ±2 5x = 27 – 2
Então as soluções possíveis são x = 2 e x = -2. 5x = 25
x=5
Quando b = 0 e c = 0 Portanto S = {5}.
Quando tanto o coeficiente b quanto o coeficiente c são iguais
a zero, a equação será do tipo ax² = 0 e terá sempre como única 3º) Equações que são resolvidas por meio de uma mudança
solução x = 0. Vejamos um exemplo a seguir. de incógnita:
Exemplo:
3x² = 0 Exemplo
x² = 0 : 3
x² = 0 Vamos fazer a seguinte mudança de incógnita:
x = ±√0
x = ±0
x=0

Editora
210
210
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA

Substituindo na equação inicial, ficaremos com: Para resolução, precisamos encontrar os valores da variável
que a torna uma sentença numérica verdadeira. Vamos relembrar
algumas das propriedades da potenciação para darmos continuida-
de:

4º) Equações que envolvem utilização de propriedades ou de


mudança de base:

Exemplo

Vamos ver o passo a passo para resolução de uma equação ex-


Usando as propriedades do logaritmo, podemos reescrever a ponencial:
equação acima da seguinte forma:
Exemplos

1) 2x = 8
Note que para isso utilizamos as seguintes propriedades: 1º) Algumas equações podem ser transformadas em outras
equivalentes, as quais possuem nos dois membros potências de
mesma base. Neste caso o 8 pode ser transformado em potência de
Vamos retornar à equação: base 2. Fatorando o 8 obtemos 23 = 8.

2º) Aplicando a propriedade da potenciação: • base


iguais, igualamos os expoentes, logo
Como ficamos com uma igualdade entre dois logaritmos, segue x=3
que:
(2x + 3)(x + 2) = x2 2) 2m . 24 = 210
ou 2 m + 4 = 210 • m + 4 = 10 • m = 10 - 4 • m = 6
2x2 + 4x + 3x + 6 = x2 S = {6}
2x2 – x2 + 7x + 6 = 0
x2 + 7x + 6 = 0 3) 6 2m – 1 : 6 m – 3 = 64
6 (2m – 1 ) – (m – 3) = 64 • 2m – 1 – m + 3 = 4 • 2m – m = 4 + 1 – 3 • m
=5–3•m=2
S = {2}

x = -1 ou x = - 6 4) 32x - 4.3x + 3 = 0.
A expressão dada pode ser escrita na forma:
Lembre-se que para o logaritmo existir o logaritmando e a base (3x)2 – 4.3x + 3 = 0
devem ser positivos. Com os valores encontrados para x, o logarit- Criamos argumentos para resolução da equação exponencial.
mando ficará negativo. Sendo assim, a equação não tem solução Fazendo 3x = y, temos:
ou S = ø. y2 – 4y + 3 = 0, assim y = 1 ou y = 3 (Foi resolvida a equação do
segundo grau)
EQUAÇÃO EXPONENCIAL Como 3x= y, então
Chama-se equação exponencial18, toda equação onde a variá- 3x = 1
vel x se encontra no expoente. x = 0 ou

Exemplos 3x = 3 1
x=1

S = {0,1}

18 colegioweb.com.br
BIANCHINI, Edwaldo; PACCOLA, Herval – Matemática – Volume 1
IEZZI, Gelson – Matemática Volume Único
Editora
211
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MATEMÁTICA

EQUAÇÕES TRIGONOMÉTRICAS - cos x = cos α


Para que exista uma equação qualquer é preciso que tenha Para que x e α possuam o mesmo cosseno, é necessário que
pelo menos uma incógnita e uma igualdade. suas extremidades coincidam ou sejam simétricas em relação ao
Agora, para ser uma equação trigonométrica é preciso que, eixo dos cossenos, ou, em outras palavras, que ocupem no ciclo a
além de ter essas características gerais, é preciso que a função tri- mesma vertical.
gonométrica seja a função de uma incógnita.
sen x = cos 2x
sen 2x – cos 4x = 0
4 . sen3 x – 3 . sen x = 0

São exemplos de equações trigonométricas, pois a incógnita


pertence à função trigonométrica.
x2 + sen 30° . (x + 1) = 15
Esse é um exemplo de equação do segundo grau e não de uma
equação trigonométrica, pois a incógnita não pertence à função tri-
gonométrica.

Grande parte das equações trigonométricas é escrita na forma Nessas condições, com α dado, os valores de x que resolvem a
de equações trigonométricas elementares ou equações trigonomé- equação cos x = cos α são: x = a ou x = 2π- α.
tricas fundamentais, representadas da seguinte forma:
sen x = sen α - tg x = tg α
cos x = cos α Dois arcos possuem a mesma tangente quando são iguais ou
tg x = tg α diferem π radianos, ou seja, têm as extremidades coincidentes ou
simétricas em relação ao centro do ciclo.
Cada uma dessas equações acima possui um tipo de solução,
ou seja, de um conjunto de valores que a incógnita deverá assumir
em cada equação.

Resolução da 1ª equação fundamental


- sen x = sen α
Para que dois arcos x e α da primeira volta possuam o mesmo
seno, é necessário que suas extremidades estejam sobre uma única
horizontal. Podemos dizer também que basta que suas extremida-
des coincidam ou sejam simétricas em relação ao eixo dos senos.
Assim, os valores de x que resolvem a equação sen x = sen α
(com α conhecido) são x = α ou x = π- α. Veja a figura: Assim temos x = α ou x = α ±π como raízes da equação tg x =
tg α

Solução geral de uma equação


Quando resolvemos uma equação considerando o conjunto
universo mais amplo possível, encontramos a sua solução geral.
Essa solução é composta de todos os valores que podem ser atribu-
ído à incógnita de modo que a sentença se torne verdadeira.
Exemplo:
Ao resolver a equação sen x = ½ no conjunto dos reais ( U=R),
fazemos:
sen x = ½ • sen x = sen π/6 •

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212
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MATEMÁTICA

Obtendo todos os arcos x (por meio da expressão geral dos ar- A Constante de Euler
cos x) que tornam verdadeira a sentença sen x = ½ É definida por :
e = exp(1)

O número e é um número irracional e positivo e em função da


definição da função exponencial, temos que:
Ln(e) = 1

Este número é denotado por e em homenagem ao matemático


suíço Leonhard Euler (1707-1783), um dos primeiros a estudar as
propriedades desse número.
Portanto: S = { x ϵ R | x = π/6 + 2kπ ou x = 5π/6 + 2kπ, k ϵ Z) O valor deste número expresso com 10 dígitos decimais, é:
e = 2,7182818284
FUNÇÃO EXPONENCIAL Se x é um número real, a função exponencial exp(.) pode ser
A expressão matemática que define a função exponencial é escrita como a potência de base e com expoente x, isto é:
uma potência. Nesta potência, a base é um número real positivo e ex = exp(x)
diferente de 1 e o expoente é uma variável.
Propriedades dos expoentes
Função crescente Se a, x e y são dois números reais quaisquer e k é um número
Se a > 1 temos uma função exponencial crescente, qualquer racional, então:
que seja o valor real de x. - ax ay= ax + y
No gráfico da função ao lado podemos observar que à medida - ax / ay= ax - y
que x aumenta, também aumenta f(x) ou y. Graficamente vemos - (ax) y= ax.y
que a curva da função é crescente. - (a b)x = ax bx
- (a / b)x = ax / bx
- a-x = 1 / ax

FUNÇÕES: AFINS, QUADRÁTICAS, EXPONENCIAIS, LOGA-


RÍTMICAS.

Na Matemática, função corresponde a uma associação dos


elementos de dois conjuntos, ou seja, a função indica como os
elementos estão relacionados19.
Por exemplo, uma função de A em B significa associar cada
elemento pertencente ao conjunto A a um único elemento que
Função decrescente compõe o conjunto B, sendo assim, um valor de A não pode estar
ligado a dois valores de B.
Se 0 < a < 1 temos uma função exponencial decrescente em
todo o domínio da função.
Neste outro gráfico podemos observar que à medida que x au-
menta, y diminui. Graficamente observamos que a curva da função
é decrescente.

Notação para função: f: A → B (lê-se: f de A em B).

— Representação das Funções


Em uma função f: A → B o conjunto A é chamado de domínio
(D) e o conjunto B recebe o nome de contradomínio (CD).

19 https://www.todamateria.com.br/funcao/
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MATEMÁTICA

Um elemento de B relacionado a um elemento de A recebe Função Injetora


o nome de imagem pela função. Agrupando todas as imagens Na função injetora todos os elementos de A possuem
de B temos um conjunto imagem, que é um subconjunto do correspondentes distintos em B e nenhum dos elementos de A
contradomínio. compartilham de uma mesma imagem em B. Entretanto, podem
existir elementos em B que não estejam relacionados a nenhum
Exemplo: observe os conjuntos A = {1, 2, 3, 4} e B = {1, 2, 3, 4, 5, elemento de A.
6, 7, 8}, com a função que determina a relação entre os elementos
f: A → B é x → 2x. Sendo assim, f(x) = 2x e cada x do conjunto A é Exemplo:
transformado em 2x no conjunto B.

Para a função acima:


Note que o conjunto de A {1, 2, 3, 4} são as entradas, “multiplicar - O domínio é {0, 3, 5};
por 2” é a função e os valores de B {2, 4, 6, 8}, que se ligam aos - O contradomínio é {1, 2, 5, 8};
elementos de A, são os valores de saída. - O conjunto imagem é {1, 5, 8}.
Portanto, para essa função:
- O domínio é {1, 2, 3, 4}; Função Bijetora
- O contradomínio é {1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8}; Na função bijetora os conjuntos apresentam o mesmo número
- O conjunto imagem é {2, 4, 6, 8}. de elementos relacionados. Essa função recebe esse nome por ser
ao mesmo tempo injetora e sobrejetora.
Tipos de Funções
As funções recebem classificações de acordo com suas Exemplo:
propriedades. Confira a seguir os principais tipos.

Função Sobrejetora
Na função sobrejetora o contradomínio é igual ao conjunto
imagem. Portanto, todo elemento de B é imagem de pelo menos
um elemento de A.
Notação: f: A → B, ocorre a Im(f) = B

Exemplo:

Para a função acima:


- O domínio é {-1, 1, 2, 4};
- O contradomínio é {2, 3, 5, 7};
- O conjunto imagem é {2, 3, 5, 7}.

Função Afim
A função afim, também chamada de função do 1º grau, é uma
função f: ℝ→ℝ, definida como f(x) = ax + b, sendo a e b números
reais20. As funções f(x) = x + 5, g(x) = 3√3x - 8 e h(x) = 1/2 x são
exemplos de funções afim.
Para a função acima: Neste tipo de função, o número a é chamado de coeficiente de
- O domínio é {-4, -2, 2, 3}; x e representa a taxa de crescimento ou taxa de variação da função.
- O contradomínio é {12, 4, 6}; Já o número b é chamado de termo constante.
- O conjunto imagem é {12, 4, 6}.
20 https://www.todamateria.com.br/funcao-afim/
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MATEMÁTICA

Gráfico de uma Função do 1º grau Quando uma função afim apresentar o coeficiente angular
O gráfico de uma função polinomial do 1º grau é uma reta igual a zero (a = 0) a função será chamada de constante. Neste caso,
oblíqua aos eixos Ox e Oy. Desta forma, para construirmos seu o seu gráfico será uma reta paralela ao eixo Ox.
gráfico basta encontrarmos pontos que satisfaçam a função. Abaixo representamos o gráfico da função constante f (x) = 4:

Exemplo: Construa o gráfico da função f (x) = 2x + 3.


Para construir o gráfico desta função, vamos atribuir valores
arbitrários para x, substituir na equação e calcular o valor
correspondente para a f (x).
Sendo assim, iremos calcular a função para os valores de
x iguais a: - 2, - 1, 0, 1 e 2. Substituindo esses valores na função,
temos:
f (- 2) = 2. (- 2) + 3 = - 4 + 3 = - 1
f (- 1) = 2 . (- 1) + 3 = - 2 + 3 = 1
f (0) = 2 . 0 + 3 = 3
f (1) = 2 . 1 + 3 = 5
f (2) = 2 . 2 + 3 = 7

Os pontos escolhidos e o gráfico da f (x) são apresentados na


imagem abaixo:

Ao passo que, quando b = 0 e a = 1 a função é chamada de


função identidade. O gráfico da função f (x) = x (função identidade)
é uma reta que passa pela origem (0,0).
Além disso, essa reta é bissetriz do 1º e 3º quadrantes, ou seja,
divide os quadrantes em dois ângulos iguais, conforme indicado na
imagem abaixo:

No exemplo, utilizamos vários pontos para construir o gráfico,


entretanto, para definir uma reta bastam dois pontos.
Para facilitar os cálculos podemos, por exemplo, escolher os
pontos (0,y) e (x,0). Nestes pontos, a reta da função corta o eixo Ox
e Oy respectivamente.

Coeficiente Linear e Angular Temos ainda que, quando o coeficiente linear é igual a zero
Como o gráfico de uma função afim é uma reta, o coeficiente (b = 0), a função afim é chamada de função linear. Por exemplo as
a de x é também chamado de coeficiente angular. Esse valor funções f (x) = 2x e g (x) = - 3x são funções lineares.
representa a inclinação da reta em relação ao eixo Ox. O gráfico das funções lineares são retas inclinadas que passam
O termo constante b é chamado de coeficiente linear e pela origem (0,0).
representa o ponto onde a reta corta o eixo Oy. Pois sendo x = 0,
temos:

y = a.0 + b ⇒ y = b

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MATEMÁTICA

Representamos abaixo o gráfico da função linear f (x) = - 3x:

Função Crescente e Decrescente


Uma função é crescente quando ao atribuirmos valores cada vez maiores para x, o resultado da f (x) será também cada vez maior.
Já a função decrescente é aquela que ao atribuirmos valores cada vez maiores para x, o resultado da f (x) será cada vez menor.
Para identificar se uma função afim é crescente ou decrescente, basta verificar o valor do seu coeficiente angular.
Se o coeficiente angular for positivo, ou seja, a é maior que zero, a função será crescente. Ao contrário, se a for negativo, a função será
decrescente.
Por exemplo, a função 2x - 4 é crescente, pois a = 2 (valor positivo). Entretanto, a função - 2x + - 4 é decrescente visto que a = - 2
(negativo). Essas funções estão representadas nos gráficos abaixo:

FUNÇÃO QUADRÁTICA

A função quadrática, também chamada de função polinomial de 2º grau, é uma função representada pela seguinte expressão21:
f(x) = ax² + bx + c

Onde a, b e c são números reais e a ≠ 0.

Exemplo:
f(x) = 2x² + 3x + 5,

21 https://www.todamateria.com.br/funcao-quadratica/
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MATEMÁTICA

sendo, Sendo assim, os coeficientes da função quadrática dada são:


a=2 a=1
b=3 b=-3
c=5 c=4

Nesse caso, o polinômio da função quadrática é de grau 2, pois — Raízes da Função


é o maior expoente da variável. As raízes ou zeros da função do segundo grau representam aos
valores de x tais que f(x) = 0. As raízes da função são determinadas
— Como resolver uma função quadrática pela resolução da equação de segundo grau:
Confira abaixo o passo-a-passo por meio um exemplo de
resolução da função quadrática: f(x) = ax² +bx + c = 0

Exemplo: Determine a, b e c na função quadrática dada por: f(x) Para resolver a equação do 2º grau podemos utilizar vários
= ax² + bx + c, sendo: métodos, sendo um dos mais utilizados é aplicando a Fórmula de
f (-1) = 8 Bhaskara, ou seja:
f (0) = 4
f (2) = 2

Primeiramente, vamos substituir o x pelos valores de cada


função e assim teremos:
f (-1) = 8 Exemplo: Encontre os zeros da função f(x) = x2 – 5x + 6.
a (-1)² + b (–1) + c = 8 Sendo:
a - b + c = 8 (equação I) a=1
b=–5
f (0) = 4 c=6
a . 0² + b . 0 + c = 4
c = 4 (equação II) Substituindo esses valores na fórmula de Bhaskara, temos:

f (2) = 2
a . 2² + b . 2 + c = 2
4a + 2b + c = 2 (equação III)

Pela segunda função f (0) = 4, já temos o valor de c = 4.


Assim, vamos substituir o valor obtido para c nas equações I e
III para determinar as outras incógnitas (a e b):

(Equação I)
a-b+4=8
a-b=4
a=b+4 Portanto, as raízes são 2 e 3.
Já que temos a equação de a pela Equação I, vamos substituir Observe que a quantidade de raízes de uma função quadrática
na III para determinar o valor de b: vai depender do valor obtido pela expressão: Δ = b² – 4. ac, o qual é
chamado de discriminante.
(Equação III)
4a + 2b + 4 = 2 Assim,
4a + 2b = - 2 - Se Δ > 0, a função terá duas raízes reais e distintas (x1 ≠ x2);
4 (b + 4) + 2b = - 2 - Se Δ < 0, a função não terá uma raiz real;
4b + 16 + 2b = - 2 - Se Δ = 0, a função terá duas raízes reais e iguais (x1 = x2).
6b = - 18
b=-3 — Gráfico da Função Quadrática
O gráfico das funções do 2º grau são curvas que recebem
Por fim, para encontrar o valor de a substituímos os valores de o nome de parábolas. Diferente das funções do 1º grau, onde
b e c que já foram encontrados. Logo: conhecendo dois pontos é possível traçar o gráfico, nas funções
quadráticas são necessários conhecer vários pontos.
(Equação I) A curva de uma função quadrática corta o eixo x nas raízes ou
a-b+c=8 zeros da função, em no máximo dois pontos dependendo do valor
a - (- 3) + 4 = 8 do discriminante (Δ). Assim, temos:
a=-3+4 - Se Δ > 0, o gráfico cortará o eixo x em dois pontos;
a=1 - Se Δ < 0, o gráfico não cortará o eixo x;
- Se Δ = 0, a parábola tocará o eixo x em apenas um ponto.
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217
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MATEMÁTICA

Existe ainda um outro ponto, chamado de vértice da parábola, que é o valor máximo ou mínimo da função. Este ponto é encontrado
usando-se a seguinte fórmula:

O vértice irá representar o ponto de valor máximo da função quando a parábola estiver voltada para baixo e o valor mínimo quando
estiver para cima.
É possível identificar a posição da concavidade da curva analisando apenas o sinal do coeficiente a. Se o coeficiente for positivo, a
concavidade ficará voltada para cima e se for negativo ficará para baixo, ou seja:

Assim, para fazer o esboço do gráfico de uma função do 2º grau, podemos analisar o valor do a, calcular os zeros da função, seu vértice
e o ponto em que a curva corta o eixo y, ou seja, quando x = 0.
A partir dos pares ordenados dados (x, y), podemos construir a parábola num plano cartesiano, por meio da ligação entre os pontos
encontrados.

FUNÇÃO EXPONENCIAL

Função Exponencial é aquela que a variável está no expoente e cuja base é sempre maior que zero e diferente de um22.
Essas restrições são necessárias, pois 1 elevado a qualquer número resulta em 1. Assim, em vez de exponencial, estaríamos diante de
uma função constante.
Além disso, a base não pode ser negativa, nem igual a zero, pois para alguns expoentes a função não estaria definida.
Por exemplo, a base igual a - 3 e o expoente igual a 1/2. Como no conjunto dos números reais não existe raiz quadrada de número
negativo, não existiria imagem da função para esse valor.

Exemplos:
f(x) = 4x
f(x) = (0,1)x
f(x) = (⅔)x

Nos exemplos acima 4, 0,1 e ⅔ são as bases, enquanto x é o expoente.

— Gráfico da Função Exponencial


O gráfico desta função passa pelo ponto (0,1), pois todo número elevado a zero é igual a 1. Além disso, a curva exponencial não toca
no eixo x.
Na função exponencial a base é sempre maior que zero, portanto, a função terá sempre imagem positiva. Assim sendo, não apresenta
pontos nos quadrantes III e IV (imagem negativa).

22 https://www.todamateria.com.br/funcao-exponencial/
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MATEMÁTICA

Abaixo representamos o gráfico da função exponencial. Calculamos a imagem de alguns valores de x e o resultado
encontra-se na tabela abaixo.

— Função Crescente ou Decrescente Notamos que para esta função, enquanto os valores de x
A função exponencial pode ser crescente ou decrescente. aumentam, os valores das respectivas imagens diminuem. Desta
Será crescente quando a base for maior que 1. Por exemplo, a forma, constatamos que a função f(x) = (1/2)x é uma função
função y = 2x é uma função crescente. decrescente.
Com os valores encontrados na tabela, traçamos o gráfico
Para constatar que essa função é crescente, atribuímos valores dessa função. Note que quanto maior o x, mais perto do zero a
para x no expoente da função e encontramos a sua imagem. Os curva exponencial fica.
valores encontrados estão na tabela abaixo.

— Função Logarítmica
A função logarítmica de base a é definida como f (x) = loga x,
com a real, positivo e a ≠ 123. A função inversa da função logarítmica
é a função exponencial.
Observando a tabela, notamos que quando aumentamos o O logaritmo de um número é definido como o expoente ao qual
valor de x, a sua imagem também aumenta. Abaixo, representamos se deve elevar a base a para obter o número x, ou seja:
o gráfico desta função.

Exemplos:
f (x) = log3 x

Por sua vez, as funções cujas bases são valores maiores que g (x) =
zero e menores que 1, são decrescentes. Por exemplo, f(x) = (1/2)x é h (x) = log10 x = log x
uma função decrescente. — Gráfico da Função Logarítmica
De uma forma geral, o gráfico da função y = loga x está localizado
no I e IV quadrantes, pois a função só é definida para x > 0.
Além disso, a curva da função logarítmica não toca o eixo y e
corta o eixo x no ponto de abscissa igual a 1, pois y = loga 1 = 0, para
qualquer valor de a.
23 https://www.todamateria.com.br/funcao-logaritmica/
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MATEMÁTICA

Abaixo, apresentamos o esboço do gráfico da função Calculamos a imagem de alguns valores de x desta função e o
logarítmica. resultado encontra-se na tabela abaixo:

Notamos que, enquanto os valores de x aumentam, os valores das


— Função Crescente e Decrescente
respectivas imagens diminuem. Desta forma, constatamos que a
Uma função logarítmica será crescente quando a base a for maior
função é uma função decrescente.
que 1, ou seja, x1 < x2 loga x1 < loga x2. Por exemplo, a função f
(x) = log2 x é uma função crescente, pois a base é igual a 2. Com os valores encontrados na tabela, traçamos o gráfico
Para verificar que essa função é crescente, atribuímos valores dessa função. Note que quanto menor o valor de x, mais perto do
para x na função e calculamos a sua imagem. Os valores encontrados zero a curva logarítmica fica, sem, contudo, cortar o eixo y.
estão na tabela abaixo.

Observando a tabela, notamos que quando o valor de x


aumenta, a sua imagem também aumenta. Abaixo, representamos
— Funções Trigonométricas
o gráfico desta função.
As funções trigonométricas são as funções relacionadas aos
triângulos retângulos, que possuem um ângulo de 90°. São elas:
seno, cosseno e tangente.

Por sua vez, as funções cujas bases são valores maiores que zero
As funções trigonométricas estão baseadas nas razões
e menores que 1 são decrescentes, ou seja, x1 < x2 loga x1 > loga existentes entre dois lados do triângulo em função de um ângulo.
x2. Por exemplo, é uma função decrescente, pois a base é igual a Elas são formadas por dois catetos (oposto e adjacente) e a
. hipotenusa:

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MATEMÁTICA

Lê-se cateto oposto sobre a hipotenusa. — Progressão Aritmética (PA)

Uma progressão aritmética é uma sequência formada por


termos que se diferenciam um do outro por um valor constante,
que recebe o nome de razão, calculado por25:
r = a2 – a1
Lê-se cateto adjacente sobre a hipotenusa.
Onde:
r é a razão da PA;
a2 é o segundo termo;
a1 é o primeiro termo.

Sendo assim, os termos de uma progressão aritmética podem


Lê-se cateto oposto sobre cateto adjacente.
ser escritos da seguinte forma:

PROGRESSÕES ARITMÉTICAS E GEOMÉTRICAS.


Note que em uma PA de n termos a fórmula do termo geral (an)
— Sequência Numérica da sequência é:
Na matemática, a sequência numérica ou sucessão numérica an = a1 + (n – 1) . r
corresponde a uma função dentro de um agrupamento de números.
De tal modo, os elementos agrupados numa sequência Alguns casos particulares são: uma PA de 3 termos é
numérica seguem uma sucessão, ou seja, uma ordem no conjunto24. representada por (x - r, x, x + r) e uma PA de 5 termos tem seus
componentes representados por (x - 2r, x - r, x, x + r, x + 2r).
— Classificação
As sequências numéricas podem ser finitas ou infinitas, por Tipos de PA
exemplo: De acordo com o valor da razão, as progressões aritméticas são
SF = (2, 4, 6, ..., 8). classificadas em 3 tipos:
SI = (2,4,6,8...). 1. Constante: quando a razão for igual a zero e os termos da
PA são iguais.
Note que quando as sequências são infinitas, elas são indicadas Exemplo: PA = (2, 2, 2, 2, 2, ...), onde r = 0
pelas reticências no final. Além disso, vale lembrar que os elementos
da sequência são indicados pela letra a. Por exemplo: 2. Crescente: quando a razão for maior que zero e um termo a
1° elemento: a1 = 2. partir do segundo é maior que o anterior;
4° elemento: a4 = 8. Exemplo: PA = (2, 4, 6, 8, 10, ...), onde r = 2

O último termo da sequência é chamado de enésimo, sendo 3. Decrescente: quando a razão for menor que zero e um termo
representado por an. Nesse caso, o an da sequência finita acima a partir do segundo é menor que o anterior.
seria o elemento 8. Exemplo: PA = (4, 2, 0, - 2, - 4, ...), onde r = - 2
Assim, podemos representá-la da seguinte maneira:
SF = (a1, a2, a3,...,an). As progressões aritméticas ainda podem ser classificadas em
SI = (a1, a2, a3, an...). finitas, quando possuem um determinado número de termos, e
infinitas, ou seja, com infinitos termos.
— Lei de Formação
A Lei de Formação ou Termo Geral é utilizada para calcular Soma dos Termos de uma PA
qualquer termo de uma sequência, expressa pela expressão: A soma dos termos de uma progressão aritmética é calculada
an = 2n² - 1 pela fórmula:

— Lei de Recorrência
A Lei da Recorrência permite calcular qualquer termo de uma
sequência numérica a partir de elementos antecessores:
an = an-1, an-2,...a1
Onde, n é o número de termos da sequência, a1 é o primeiro
termo e an é o enésimo termo. A fórmula é útil para resolver
questões em que são dados o primeiro e o último termo.

24 https://www.todamateria.com.br/sequencia-numerica/ 25 https://www.todamateria.com.br/pa-e-pg/
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MATEMÁTICA

Quando um problema apresentar o primeiro termo e a razão Onde,


da PA, você pode utilizar a fórmula: q é a razão da PG;
a2 é o segundo termo;
a1 é o primeiro termo.

Uma progressão geométrica de n termos pode ser representada


da seguinte forma:
Essas duas fórmulas são utilizadas para somar os termos de
uma PA finita.

Termo médio da PA
Para determinar o termo médio ou central de uma PA com Sendo a1 o primeiro termo, o termo geral da PG é calculado
um número ímpar de termos calculamos a média aritmética com o por a1.q(n-1).
primeiro e último termo (a1 e an):
Tipos de PG
De acordo com o valor da razão (q), podemos classificar as
Progressões Geométricas em 4 tipos:
1. Crescente: com a razão q > 1 e termos positivos ou, 0 < q < 1
e termos negativos;
Já o termo médio entre três números consecutivos de uma PA
corresponde à média aritmética do antecessor e do sucessor. Exemplos:
Exemplo: Dada a PA (2, 4, 6, 8, 10, 12, 14) vamos determinar a PG: (3, 9, 27, 81, ...), onde q = 3.
razão, o termo médio e a soma dos termos. PG: (-90, -30, -15, -5, ...), onde q = 1/3.
1. Razão da PA
2. Decrescente: com a razão q > 1 e termos negativos ou, 0 < q
< 1 e os termos positivos;

Exemplo:
PG: (-3, -9, -27, -81, ...), onde q = 3.
PG: (90, 30, 15, 5, ...), onde q = 1/3.
2. Termo médio
3. Oscilante: a razão é negativa (q < 0) e os termos são números
negativos e positivos;
Exemplo: PG: (3, -6, 12, -24, 48, -96, …), onde q = - 2.

4. Constante: a razão é sempre igual a 1 e os termos possuem


o mesmo valor.

Exemplo: PG: (3, 3, 3, 3, 3, 3, 3, ...), onde q = 1.

Soma dos Termos de uma PG


3. Soma dos termos A soma dos termos de uma progressão geométrica é calculada
pela fórmula:

Sendo a1 o primeiro termo, q a razão comum e n o número de


termos.
— Progressão Geométrica (PG) Se a razão da PG for menor que 1, então utilizaremos a fórmula
Uma progressão geométrica é formada quando uma sequência a seguir para determinar a soma dos termos.
tem um fator multiplicador resultado da divisão de dois termos
consecutivos, chamada de razão comum, que é calculada por:

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MATEMÁTICA

Essas fórmulas são utilizadas para uma PG finita. Caso a soma pedida seja de uma PG infinita com 0 < q < 1, a fórmula utilizada é:

Termo Médio da PG
Para determinar o termo médio ou central de uma PG com um número ímpar de termos calculamos a média geométrica com o
primeiro e último termo (a1 e an):

Exemplo: Dada a PG (1, 3, 9, 27 e 81) vamos determinar a razão, o termo médio e a soma dos termos.
1. Razão da PG

2. Termo médio

3. Soma dos termos

ANÁLISE COMBINATÓRIA: PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA CONTAGEM, PERMUTAÇÃO, ARRANJO E COMBINAÇÃO. PROBA-


BILIDADE.

A análise combinatória ou combinatória é a parte da Matemática que estuda métodos e técnicas que permitem resolver problemas
relacionados com contagem26.
Muito utilizada nos estudos sobre probabilidade, ela faz análise das possibilidades e das combinações possíveis entre um conjunto de
elementos.
26 https://www.todamateria.com.br/analise-combinatoria/
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223
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— Princípio Fundamental da Contagem


O princípio fundamental da contagem, também chamado de princípio multiplicativo, postula que:
“quando um evento é composto por n etapas sucessivas e independentes, de tal modo que as possibilidades da primeira etapa é x e as
possibilidades da segunda etapa é y, resulta no número total de possibilidades de o evento ocorrer, dado pelo produto (x) . (y)”.

Em resumo, no princípio fundamental da contagem, multiplica-se o número de opções entre as escolhas que lhe são apresentadas.
Exemplo: Uma lanchonete vende uma promoção de lanche a um preço único. No lanche, estão incluídos um sanduíche, uma bebida
e uma sobremesa. São oferecidas três opções de sanduíches: hambúrguer especial, sanduíche vegetariano e cachorro-quente completo.
Como opção de bebida pode-se escolher 2 tipos: suco de maçã ou guaraná. Para a sobremesa, existem quatro opções: cupcake de cereja,
cupcake de chocolate, cupcake de morango e cupcake de baunilha. Considerando todas as opções oferecidas, de quantas maneiras um
cliente pode escolher o seu lanche?

Solução: Podemos começar a resolução do problema apresentado, construindo uma árvore de possibilidades, conforme ilustrado
abaixo:

Acompanhando o diagrama, podemos diretamente contar quantos tipos diferentes de lanches podemos escolher. Assim, identificamos
que existem 24 combinações possíveis.
Podemos ainda resolver o problema usando o princípio multiplicativo. Para saber quais as diferentes possibilidades de lanches, basta
multiplicar o número de opções de sanduíches, bebidas e sobremesa.
Total de possibilidades: 3.2.4 = 24.
Portanto, temos 24 tipos diferentes de lanches para escolher na promoção.

— Tipos de Combinatória
O princípio fundamental da contagem pode ser usado em grande parte dos problemas relacionados com contagem. Entretanto, em
algumas situações seu uso torna a resolução muito trabalhosa.
Desta maneira, usamos algumas técnicas para resolver problemas com determinadas características. Basicamente há três tipos de
agrupamentos: arranjos, combinações e permutações.
Antes de conhecermos melhor esses procedimentos de cálculo, precisamos definir uma ferramenta muito utilizada em problemas de
contagem, que é o fatorial.
O fatorial de um número natural é definido como o produto deste número por todos os seus antecessores. Utilizamos o símbolo ! para
indicar o fatorial de um número.
Define-se ainda que o fatorial de zero é igual a 1.
Exemplo:
0! = 1.
1! = 1.
3! = 3.2.1 = 6.
7! = 7.6.5.4.3.2.1 = 5.040.
10! = 10.9.8.7.6.5.4.3.2.1 = 3.628.800.

Note que o valor do fatorial cresce rapidamente, conforme cresce o número. Então, frequentemente usamos simplificações para
efetuar os cálculos de análise combinatória.

Editora
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MATEMÁTICA

— Arranjos Exemplo: A fim de exemplificar, podemos pensar na escolha de


Nos arranjos, os agrupamentos dos elementos dependem da 3 membros para formar uma comissão organizadora de um evento,
ordem e da natureza dos mesmos. dentre as 10 pessoas que se candidataram.
Para obter o arranjo simples de n elementos tomados, p a p (p De quantas maneiras distintas essa comissão poderá ser
≤ n), utiliza-se a seguinte expressão: formada?
Note que, ao contrário dos arranjos, nas combinações a ordem
dos elementos não é relevante. Isso quer dizer que escolher Maria,
João e José é equivalente a escolher João, José e Maria.

Exemplo: Como exemplo de arranjo, podemos pensar na


votação para escolher um representante e um vice-representante
de uma turma, com 20 alunos. Sendo que o mais votado será o
representante e o segundo mais votado o vice-representante. Observe que para simplificar os cálculos, transformamos
Dessa forma, de quantas maneiras distintas a escolha poderá o fatorial de 10 em produto, mas conservamos o fatorial de 7,
ser feita? Observe que nesse caso, a ordem é importante, visto que pois, desta forma, foi possível simplificar com o fatorial de 7 do
altera o resultado. denominador.
Assim, existem 120 maneiras distintas formar a comissão.

— Probabilidade e Análise Combinatória


A Probabilidade permite analisar ou calcular as chances de
obter determinado resultado diante de um experimento aleatório.
Logo, o arranjo pode ser feito de 380 maneiras diferentes. São exemplos as chances de um número sair em um lançamento de
dados ou a possibilidade de ganhar na loteria.
— Permutações A partir disso, a probabilidade é determinada pela razão entre
As permutações são agrupamentos ordenados, onde o número o número de eventos possíveis e número de eventos favoráveis,
de elementos (n) do agrupamento é igual ao número de elementos sendo apresentada pela seguinte expressão:
disponíveis.
Note que a permutação é um caso especial de arranjo, quando
o número de elementos é igual ao número de agrupamentos.
Desta maneira, o denominador na fórmula do arranjo é igual a 1
na permutação.
Sendo:
Assim a permutação é expressa pela fórmula:
P (A): probabilidade de ocorrer um evento A.
n (A): número de resultados favoráveis.
n (Ω): número total de resultados possíveis.

Exemplo: Para exemplificar, vamos pensar de quantas maneiras Para encontrar o número de casos possíveis e favoráveis,
diferentes 6 pessoas podem se sentar em um banco com 6 lugares. muitas vezes necessitamos recorrer as fórmulas estudadas em
Como a ordem em que irão se sentar é importante e o número análise combinatória.
de lugares é igual ao número de pessoas, iremos usar a permutação: Exemplo: Qual a probabilidade de um apostador ganhar o
prêmio máximo da Mega-Sena, fazendo uma aposta mínima, ou
seja, apostar exatamente nos seis números sorteados?

Logo, existem 720 maneiras diferentes para as 6 pessoas se Solução: Como vimos, a probabilidade é calculada pela razão
sentarem neste banco. entre os casos favoráveis e os casos possíveis. Nesta situação, temos
apenas um caso favorável, ou seja, apostar exatamente nos seis
— Combinações números sorteados.
As combinações são subconjuntos em que a ordem dos Já o número de casos possíveis é calculado levando em
elementos não é importante, entretanto, são caracterizadas pela consideração que serão sorteados, ao acaso, 6 números, não
natureza dos mesmos. importando a ordem, de um total de 60 números.
Assim, para calcular uma combinação simples de n elementos Para fazer esse cálculo, usaremos a fórmula de combinação,
tomados p a p (p ≤ n), utiliza-se a seguinte expressão: conforme indicado abaixo:

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MATEMÁTICA

Assim, existem 50 063 860 modos distintos de sair o resultado. Solução: Sendo o dado perfeito, todas as 6 faces têm a mesma
A probabilidade de acertarmos então será calculada como: chance de caírem voltadas para cima. Vamos então, aplicar a
fórmula da probabilidade.
Para isso, devemos considerar que temos 6 casos possíveis (1,
2, 3, 4, 5, 6) e que o evento “sair um número menor que 3” tem 2
possibilidades, ou seja, sair o número 1 ou 2. Assim, temos:
— Probabilidade
A teoria da probabilidade é o campo da Matemática que estuda
experimentos ou fenômenos aleatórios e através dela é possível
analisar as chances de um determinado evento ocorrer27.
Quando calculamos a probabilidade, estamos associando
um grau de confiança na ocorrência dos resultados possíveis de
experimentos, cujos resultados não podem ser determinados
antecipadamente. Probabilidade é a medida da chance de algo
acontecer.
Desta forma, o cálculo da probabilidade associa a ocorrência de Para responder na forma de uma porcentagem, basta
um resultado a um valor que varia de 0 a 1 e, quanto mais próximo multiplicar por 100.
de 1 estiver o resultado, maior é a certeza da sua ocorrência.
Por exemplo, podemos calcular a probabilidade de uma pessoa
comprar um bilhete da loteria premiado ou conhecer as chances de
um casal ter 5 filhos, todos meninos.
Portanto, a probabilidade de sair um número menor que 3 é
de 33%.
— Experimento Aleatório
Um experimento aleatório é aquele que não é possível
— Ponto Amostral
conhecer qual resultado será encontrado antes de realizá-lo.
Ponto amostral é cada resultado possível gerado por um
Os acontecimentos deste tipo quando repetidos nas mesmas
experimento aleatório.
condições, podem dar resultados diferentes e essa inconstância é
atribuída ao acaso.
Exemplo: Seja o experimento aleatório lançar uma moeda e
Um exemplo de experimento aleatório é jogar um dado não
verificar a face voltada para cima, temos os pontos amostrais cara e
viciado (dado que apresenta uma distribuição homogênea de
coroa. Cada resultado é um ponto amostral.
massa) para o alto. Ao cair, não é possível prever com total certeza
qual das 6 faces estará voltada para cima.
— Espaço Amostral
Representado pela letra Ω(ômega), o espaço amostral
— Fórmula da Probabilidade
corresponde ao conjunto de todos os pontos amostrais, ou,
Em um fenômeno aleatório, as possibilidades de ocorrência de
resultados possíveis obtidos a partir de um experimento aleatório.
um evento são igualmente prováveis.
Por exemplo, ao retirar ao acaso uma carta de um baralho,
Sendo assim, podemos encontrar a probabilidade de ocorrer
o espaço amostral corresponde às 52 cartas que compõem este
um determinado resultado através da divisão entre o número de
baralho.
eventos favoráveis e o número total de resultados possíveis:
Da mesma forma, o espaço amostral ao lançar uma vez um
dado, são as seis faces que o compõem:
Ω = {1, 2, 3, 4, 5, 6}.

A quantidade de elementos em um conjunto chama-se


Sendo: cardinalidade, expressa pela letra n seguida do símbolo do conjunto
P(A): probabilidade da ocorrência de um evento A. entre parênteses.
n(A): número de casos favoráveis ou, que nos interessam Assim, a cardinalidade do espaço amostral do experimento
(evento A). lançar um dado é n(Ω) = 6.
n(Ω): número total de casos possíveis.
— Espaço Amostral Equiprovável
O resultado calculado também é conhecido como probabilidade Equiprovável significa mesma probabilidade. Em um espaço
teórica. amostral equiprovável, cada ponto amostral possui a mesma
Para expressar a probabilidade na forma de porcentagem, probabilidade de ocorrência.
basta multiplicar o resultado por 100.
Exemplo: Em uma urna com 4 esferas de cores: amarela, azul,
Exemplo: Se lançarmos um dado perfeito, qual a probabilidade preta e branca, ao sortear uma ao acaso, quais as probabilidades de
de sair um número menor que 3? ocorrência de cada uma ser sorteada?

Sendo experimento honesto, todas as cores possuem a mesma


27 https://www.todamateria.com.br/probabilidade/ chance de serem sorteadas.
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MATEMÁTICA

— Tipos de Eventos Como evento de probabilidade condicional, podemos associar


Evento é qualquer subconjunto do espaço amostral de um a probabilidade de sortear uma mulher (evento A) dado que seja
experimento aleatório. francesa (evento B).
Neste caso, queremos saber a probabilidade de ocorrer A (ser
Evento certo mulher), apenas se for francesa (evento B).
O conjunto do evento é igual ao espaço amostral.
Exemplo: Em uma delegação feminina de atletas, uma ser
sorteada ao acaso e ser mulher. ESTATÍSTICA BÁSICA: LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DA-
DOS REPRESENTADOS EM TABELAS E GRÁFICOS
Evento Impossível
O conjunto do evento é vazio.
— Gráficos
Os gráficos são representações que facilitam a análise de
Exemplo: Imagine que temos uma caixa com bolas numeradas
dados, os quais costumam ser dispostos em tabelas quando se
de 1 a 20 e que todas as bolas são vermelhas.
realiza pesquisas estatísticas28. Eles trazem muito mais praticidade,
principalmente quando os dados não são discretos, ou seja, quando
O evento “tirar uma bola vermelha” é um evento certo, pois
são números consideravelmente grandes. Além disso, os gráficos
todas as bolas da caixa são desta cor. Já o evento “tirar um número
também apresentam de maneira evidente os dados em seu aspecto
maior que 30”, é impossível, visto que o maior número na caixa é
temporal.
20.
Elementos do Gráfico
Evento Complementar
Ao construirmos um gráfico em estatística, devemos levar em
Os conjuntos de dois eventos formam todo o espaço amostral,
consideração alguns elementos que são essenciais para sua melhor
sendo um evento complementar ao outro.
compreensão. Um gráfico deve ser simples devido à necessidade
de passar uma informação de maneira mais rápida e coesa, ou seja,
Exemplo: No experimento lançar uma moeda, o espaço
em um gráfico estatístico, não deve haver muitas informações,
amostral é Ω = {cara, coroa}.
devemos colocar nele somente o necessário.
As informações em um gráfico devem estar dispostas de
Seja o evento A sair cara, A = {cara}, o evento B sair coroa é
maneira clara e verídica para que os resultados sejam dados de
complementar ao evento A, pois, B={coroa}. Juntos formam o
modo coeso com a finalidade da pesquisa.”
próprio espaço amostral.
Tipos de Gráficos
Evento Mutuamente Exclusivo
Em estatística é muito comum a utilização de diagramas para
Os conjuntos dos eventos não possuem elementos em comum.
representar dados, diagramas são gráficos construídos em duas
A intersecção entre os dois conjuntos é vazia.
dimensões, isto é, no plano. Existem vários modos de representá-
los. A seguir, listamos alguns.
Exemplo: Seja o experimento lançar um dado, os seguintes
eventos são mutuamente exclusivos
• Gráfico de Pontos
A: ocorrer um número menor que 5, A = {1, 2, 3, 4}.
Também conhecido como Dotplot, é utilizado quando
B: ocorrer um número maior que 5, A = {6}.
possuímos uma tabela de distribuição de frequência, sendo ela
absoluta ou relativa. O gráfico de pontos tem por objetivo apresentar
— Probabilidade Condicional
os dados das tabelas de forma resumida e que possibilite a análise
A probabilidade condicional relaciona as probabilidades entre
das distribuições desses dados.
eventos de um espaço amostral equiprovável. Nestas circunstâncias,
a ocorrência do evento A, depende ou, está condicionada a
Exemplo: Suponha uma pesquisa, realizada em uma escola de
ocorrência do evento B.
educação infantil, na qual foram coletadas as idades das crianças.
A probabilidade do evento A dado o evento B é definida por:
Nessa coleta foi organizado o seguinte rol:

Rol: {1, 1, 2, 2, 2, 2, 3, 3, 4, 4, 4, 4, 4, 4, 5, 5, 6}

Onde o evento B não pode ser vazio.

Exemplo de caso de probabilidade condicional: Em um encontro


de colaboradores de uma empresa que atua na França e no Brasil,
um sorteio será realizado e um dos colaboradores receberá um
prêmio. Há apenas colaboradores franceses e brasileiros, homens
e mulheres.

28 https://brasilescola.uol.com.br/matematica/graficos.htm
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MATEMÁTICA

Podemos organizar esses dados utilizando um Dotplot.

Observe que a quantidade de pontos corresponde à frequência de cada idade e o somatório de todos os pontos fornece-nos a
quantidade total de dados coletados.

• Gráfico de linha
É utilizado em casos que existe a necessidade de analisar dados ao longo do tempo, esse tipo de gráfico é muito presente em análises
financeiras. O eixo das abscissas (eixo x) representa o tempo, que pode ser dado em anos, meses, dias, horas etc., enquanto o eixo das
ordenadas (eixo y) representa o outro dado em questão.
Uma das vantagens desse tipo de gráfico é a possibilidade de realizar a análise de mais de uma tabela, por exemplo.

Exemplo: Uma empresa deseja verificar seu faturamento em determinado ano, os dados foram dispostos em uma tabela.

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MATEMÁTICA

Veja que nesse tipo de gráfico é possível ter uma melhor noção a respeito do crescimento ou do decrescimento dos rendimentos da
empresa.

• Gráfico de Barras
Tem como objetivo comparar os dados de determinada amostra utilizando retângulos de mesma largura e altura. Altura essa que deve
ser proporcional ao dado envolvido, isto é, quanto maior a frequência do dado, maior deve ser a altura do retângulo.

Exemplo: Imagine que determinada pesquisa tem por objetivo analisar o percentual de determinada população que acesse ou tenha:
internet, energia elétrica, rede celular, aparelho celular ou tablet. Os resultados dessa pesquisa podem ser dispostos em um gráfico como
este:

• Gráfico de Colunas
Seu estilo é semelhante ao do gráfico de barras, sendo utilizado para a mesma finalidade. O gráfico de colunas então é usado quando
as legendas forem curtas, a fim de não deixar muitos espaços em branco no gráfico de barra.

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MATEMÁTICA

Exemplo: Este gráfico está, de forma genérica, quantificando e comparando determinada grandeza ao longo de alguns anos.

• Gráfico de Setor
É utilizado para representar dados estatísticos com um círculo dividido em setores, as áreas dos setores são proporcionais às
frequências dos dados, ou seja, quanto maior a frequência, maior a área do setor circular.

Exemplo: Este exemplo, de forma genérica, está apresentando diferentes variáveis com frequências diversas para determinada
grandeza, a qual pode ser, por exemplo, a porcentagem de votação em candidatos em uma eleição.

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MATEMÁTICA

• Histograma
O Histograma é uma ferramenta de análise de dados que apresenta diversos retângulos justapostos (barras verticais)29.
Por esse motivo, ele se assemelha ao gráfico de colunas, entretanto, o histograma não apresenta espaço entre as barras.

• Infográficos
Os infográficos representam a união de uma imagem com um texto informativo. As imagens podem conter alguns tipos de gráficos.

29 https://www.todamateria.com.br/tipos-de-graficos/
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MATEMÁTICA

— Tabelas
As tabelas são usadas para organizar algumas informações ou dados. Da mesma forma que os gráficos, elas facilitam o entendimento,
por meio de linhas e colunas que separam os dados.

Sendo assim, são usadas para melhor visualização de informações em diversas áreas do conhecimento. Também são muito frequentes
em concursos e vestibulares.

MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL (MÉDIA, MEDIANA, MODA)

Média aritmética de um conjunto de números é o valor que se obtém dividindo a soma dos elementos pelo número de elementos do
conjunto.
Representemos a média aritmética por .
A média pode ser calculada apenas se a variável envolvida na pesquisa for quantitativa. Não faz sentido calcular a média aritmética
para variáveis quantitativas.
Na realização de uma mesma pesquisa estatística entre diferentes grupos, se for possível calcular a média, ficará mais fácil estabelecer
uma comparação entre esses grupos e perceber tendências.
Considerando uma equipe de basquete, a soma das alturas dos jogadores é:

1,85 + 1,85 + 1,95 + 1,98 + 1,98 + 1,98 + 2,01 + 2,01+2,07+2,07+2,07+2,07+2,10+2,13+2,18 = 30,0

Se dividirmos esse valor pelo número total de jogadores, obteremos a média aritmética das alturas:

A média aritmética das alturas dos jogadores é 2,02m.

Média Ponderada
A média dos elementos do conjunto numérico A relativa à adição e na qual cada elemento tem um “determinado peso” é chamada
média aritmética ponderada.

Mediana (Md)
Sejam os valores escritos em rol: x1 , x2 , x3 , ... xn

Sendo n ímpar, chama-se mediana o termo xi tal que o número de termos da sequência que precedem xi é igual ao número de termos
que o sucedem, isto é, xi é termo médio da sequência (xn) em rol.

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MATEMÁTICA

Sendo n par, chama-se mediana o valor obtido pela média arit- Seja o conjunto de números x1 , x2 , x3 , ... xn, tal que é sua
mética entre os termos xj e xj +1, tais que o número de termos que média aritmética. Chama-se variância desse conjunto, e indica-se
precedem xj é igual ao número de termos que sucedem xj +1, isto é, por , o número:
a mediana é a média aritmética entre os termos centrais da sequ-
ência (xn) em rol.

Exemplo 1:
Determinar a mediana do conjunto de dados:
{12, 3, 7, 10, 21, 18, 23} Isto é:

Solução:
Escrevendo os elementos do conjunto em rol, tem-se: (3, 7, 10,
12, 18, 21, 23). A mediana é o termo médio desse rol. Logo: Md=12
Resposta: Md=12.
Exemplo 2: E para amostra
Determinar a mediana do conjunto de dados:
{10, 12, 3, 7, 18, 23, 21, 25}.

Solução:
Escrevendo-se os elementos do conjunto em rol, tem-se: Exemplo 1:
(3, 7, 10, 12, 18, 21, 23, 25). A mediana é a média aritmética Em oito jogos, o jogador A, de bola ao cesto, apresentou o se-
entre os dois termos centrais do rol. guinte desempenho, descrito na tabela abaixo:

Logo: JOGO NÚMERO DE PONTOS


1 22
Resposta: Md=15
2 18
Moda (Mo) 3 13
Num conjunto de números: x1 , x2 , x3 , ... xn, chama-se moda
aquele valor que ocorre com maior frequência. 4 24
5 26
Observação:
A moda pode não existir e, se existir, pode não ser única. 6 20
7 19
Exemplo 1:
8 18
O conjunto de dados 3, 3, 8, 8, 8, 6, 9, 31 tem moda igual a 8,
isto é, Mo=8.
a) Qual a média de pontos por jogo?
b) Qual a variância do conjunto de pontos?
Exemplo 2:
O conjunto de dados 1, 2, 9, 6, 3, 5 não tem moda.
Solução:
Medidas de dispersão
a) A média de pontos por jogo é:
Duas distribuições de frequência com medidas de tendência
central semelhantes podem apresentar características diversas.
Necessita-se de outros índices numéricas que informem sobre o
grau de dispersão ou variação dos dados em torno da média ou de
qualquer outro valor de concentração. Esses índices são chamados
medidas de dispersão.

Variância b) A variância é:
Há um índice que mede a “dispersão” dos elementos de um
conjunto de números em relação à sua média aritmética, e que é
chamado de variância. Esse índice é assim definido:

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MATEMÁTICA

Desvio médio Para geometria plana, é importante saber calcular a área, o


Definição perímetro e o(s) lado(s) de uma figura a partir das relações entre os
Medida da dispersão dos dados em relação à média de uma ângulos e as outras medidas da forma geométrica.
sequência. Esta medida representa a média das distâncias entre Algumas fórmulas de geometria plana:
cada elemento da amostra e seu valor médio.
— Teorema de Pitágoras
Uma das fórmulas mais importantes para esta frente
matemática é o Teorema de Pitágoras.
Em um triângulo retângulo (com um ângulo de 90º), a soma
Desvio padrão dos quadrados dos catetos (os “lados” que formam o ângulo reto) é
Definição igual ao quadrado da hipotenusa (a aresta maior da figura).
Seja o conjunto de números x1 , x2 , x3 , ... xn, tal que é sua média Teorema de Pitágoras: a² + b² = c²
aritmética. Chama-se desvio padrão desse conjunto, e indica-se
— Lei dos Senos
por , o número:
Lembre-se que o Teorema de Pitágoras é válido apenas para
triângulos retângulos. A lei dos senos e lei dos cossenos existe para
facilitar os cálculos para todos os tipos de triângulos.
Veja a fórmula abaixo. Onde a, b e c são lados do triângulo.
Para qualquer triângulo ABC inscrito em uma circunferência de
Isto é: centro O e raio R, temos que:

Exemplo:
As estaturas dos jogadores de uma equipe de basquetebol são:
2,00 m; 1,95 m; 2,10 m; 1,90 m e 2,05 m. Calcular:
a) A estatura média desses jogadores.
b) O desvio padrão desse conjunto de estaturas.

Solução:

Sendo a estatura média, temos:

Sendo o desvio padrão, tem-se:

— Lei dos Cossenos


A lei dos cossenos pode ser utilizada para qualquer tipo de
triângulo, mesmo que ele não tenha um ângulo de 90º. Basta
conhecer o cosseno de um dos ângulos e o valor de dois lados
(arestas) do triângulo.
GEOMETRIA PLANA: POLÍGONOS, CIRCUNFERÊNCIA, CÍR-
CULO, TEOREMA DE PITÁGORAS, TRIGONOMETRIA NO
TRIÂNGULO RETÂNGULO; PERÍMETROS E ÁREAS.

— Geometria Plana
É a área da matemática que estuda as formas que não possuem
volume. Triângulos, quadriláteros, retângulos, circunferências são
alguns exemplos de figuras de geometria plana (polígonos)30.
30 https://bityli.com/BMvcWO
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MATEMÁTICA

Veja a fórmula abaixo. Onde a, b e c são lados do triângulo.


Para qualquer triângulo ABC, temos que:

— Relações Métricas do Triângulo Retângulo


As relações trigonométricas no triângulo retângulo são fórmulas simplificadas. Elas podem facilitar a resolução das questões em que
o Teorema de Pitágoras é aplicável.
Para um triângulo retângulo, sua altura relativa à hipotenusa e as projeções ortogonais dos catetos, temos o seguinte:
- Onde a é hipotenusa;
- b e c são catetos;
- m e n são projeções ortogonais;
- h é altura.

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— Teorema de Tales
O Teorema de Tales é uma propriedade para retas paralelas.

Se as retas CC’, BB’ e AA’ são paralelas, então:

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236
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— Fórmulas Básicas de Geometria Plana

Polígonos
O perímetro é a soma de todos os lados da figura, ou seja, o comprimento do polígono.
Onde A é a área da figura, veja as principais fórmulas:

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MATEMÁTICA

Fórmulas da Circunferência

Conversão para radiano, comprimento e área do círculo:


Conversão de unidades: π rad corresponde a 180°.
Comprimento de uma circunferência: C = 2 · π · R.
Área de uma circunferência: A = π · R²

GEOMETRIA ESPACIAL: PRISMA, PIRÂMIDE, CILINDRO, CONE E ESFERA; ÁREAS E VOLUMES.

— Geometria Espacial
É a frente matemática que estuda a geometria no espaço. Ou seja, é o estudo das formas que possuem três dimensões: comprimento,
largura e altura.
Apenas as figuras de geometria espacial têm volume.
Uma das primeiras figuras geométricas que você estuda em geometria espacial é o prisma. Ele é uma figura formada por retângulos,
e duas bases. Outros exemplos de figuras de geometria espacial são cubos, paralelepípedos, pirâmides, cones, cilindros e esferas. Veja a
aula de Geometria espacial sobre prisma e esfera.

— Fórmulas de Geometria Espacial


Fórmula do Poliedro: Relação de Euler
Para saber a quantidade de vértices e arestas de uma figura espacial, utilize a Relação de Euler:
Onde V é o número de vértices, F é a quantidade de faces e A é a quantidade de arestas, temos:

V+F=A+2

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MATEMÁTICA

Fórmulas da Esfera

Fórmulas do Cone
Onde r é o raio da base, g é a geratriz e H é a altura.
Área lateral do cone: Š = π · R . g
Área da base do cone: A = π · R²
Área da superfície total do cone: S = Š + A
Volume do cone: V = 1/3 . A . H

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Fórmulas do cilindro Fórmulas da Pirâmide Regular

Área da base de um cilindro: Ab = π · r².


Área da superfície lateral de um cilindro: Al = 2 · π · r · h.
Volume de um cilindro: V = Ab · h = π · r² · h.
Secção meridiana: corte feito na “vertical”; a área desse corte
será 2r · h. Para uma pirâmide regular reta, temos:
Área da Base (AB): área do polígono que serve de base para a
Fórmulas do Prisma pirâmide.
O prisma é um sólido formado por laterais retangulares e duas Área Lateral (AL): soma das áreas das faces laterais, todas
bases. Na imagem a seguir, o prisma tem base retangular, sendo um triangulares.
paralelepípedo. O cubo é um paralelepípedo e um prisma. Área Total (AT): soma das áreas de todas as faces: AT = AB + AL.

Volume (V): V = . AB . h.

E sendo a (apótema da base), h (altura), g (apótema da


pirâmide), r (raio da base), b (aresta da base) e t (aresta lateral),
temos pela aplicação de Pitágoras nos triângulos retângulos.

h² + r² = t²

h² + a² = g²

Diagonal de um paralelepípedo: . Fórmulas do Tetraedro Regular


Área total de um paralelepípedo: Para o tetraedro regular de aresta medindo a, temos:
.
Volume de um paralelepípedo: .
Prismas retos são sólidos cujas faces laterais são formadas por
retângulos.
Volume de um prisma:

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MATEMÁTICA

2. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLE-


Altura da face = AR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE NU-
CLEAR/2022
Assunto: Números inteiros (propriedades, operações, módulo
Altura do tetraedro = etc)
Sejam a, b e c números reais tais que a ≠ 0 e a < b < c.
É necessariamente verdadeiro que
(A) a . b < b . c
Área da face: AF =
(B) b - a < c - b

Área total: AT = (C)


(D) a . b < a . c
(E) a + b < a + c
Volume do tetraedro:
3. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLE-
AR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE NU-
QUESTÕES CLEAR/2022
Assunto: Frações e dízimas periódicas
M = 6,6666... é uma dízima periódica de período 6;
1. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLE- N = 2,3333... é uma dízima periódica de período 3.
AR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE NU- Dividindo M por N, encontra-se o mesmo resultado que divi-
CLEAR/2022 dindo
Assunto: Adição, subtração, multiplicação e divisão de núme- (A) 20 por 7
ros naturais (B) 65 por 23
Um jogo de estratégia é jogado por dois jogadores num tabu- (C) 29 por 9
leiro quadriculado com 10 linhas e 10 colunas, conforme a Figura a (D) 66 por 23
seguir. (E) 37 por 13

4. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLE-


AR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE NU-
CLEAR/2022
Assunto: Frações e dízimas periódicas
Em certa escola técnica, cada estudante só pode fazer um curso
de cada vez. Do total de estudantes, 1/4 cursa enfermagem, e 1/6
dos restantes cursa eletrônica. Além desses estudantes de enfer-
magem e de eletrônica, a escola possui 350 estudantes em outros
cursos.
Sendo X o total de estudantes dessa escola, qual é a soma dos
algarismos de X?
(A) 11
(B) 12
(C) 13
Cada jogador recebe 16 fichas que devem ser colocadas nas ca- (D) 14
sas do tabuleiro e, após a colocação de todas as fichas de ambos os (E) 15
jogadores, um jogador é sorteado para colocar uma peça especial
em qualquer uma das casas não ocupadas. 5. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLE-
Quantas são as casas não ocupadas nas quais o jogador escolhi- AR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE NU-
do pode colocar a peça especial? CLEAR/2022
(A) 78 Assunto: Números reais (propriedades e operações; intervalos)
(B) 72 Sejam x1, x2 e x3 números reais.
(C) 68 A média aritmética desses três números é maior que zero se,
(D) 64 e apenas se,
(E) 62 (A) X2 > 0
(B) X1 + X2 + X3 > 0
(C) X1 > 0 ; X2 > 0 ; X3 > 0
(D) X1 . X2 . X3 > 0
(E) XI < 0 para, no máximo, um valor de i entre 1, 2 e 3

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241
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA

6. CESGRANRIO - ESC BB/BB/AGENTE COMERCIAL/2021 9. CESGRANRIO - TEC BAN (BASA)/BASA/2022


Assunto: Análise combinatória (princípio fundamental da con- Assunto: Interpretação de gráficos e tabelas
tagem, arranjos, combinações, permutações) A Tabela a seguir apresenta as cotações, em dólares america-
De quantas formas diferentes, em relação à ordem entre as nos, de 6 criptomoedas no dia 18 de novembro de 2021.
pessoas, dois homens e quatro mulheres poderão ser dispostos em
fila indiana, de modo que entre os dois homens haja, pelo menos,
Criptomoeda Ticker Preço
uma mulher? Bitcoin BTC $58.685,62
(A) 10
Ethereum ETH
(B) 20
(C) 48 4.111,28
(D) 480 Binance Coin NB $553,42
(E) 720
Tether USDT $1,00
7. CESGRANRIO - TEC BAN (BASA)/BASA/2022 Solana SOL $197,32
Assunto: Porcentagem
Em outubro de 2021, segundo dados do Banco Central, os sa- Cardano ADA $1,80
ques nas cadernetas de poupança superaram os depósitos em cerca Disponível em: <https://www.seudinheiro.com/2021
de R$7,4 bilhões. Foram R$278 bilhões em depósitos e R$285,4 bi- /bitcoin/bitcoin -btc-criptomoedas-hoje-18-11/>. Acesso em:
lhões em saques, aproximadamente, no período. 25 nov. 21.
Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/ noti- O valor de 1 Bitcoin corresponde a
cia /2021/11/05/saques-na-poupanca-superam-depositos-em- (A) mais de 10 Ethereums
-r-743-bilhoes-em-outubro.ghtml>. Acesso em: 12 nov. 21. Adap- (B) menos de 100 Binance Coins
tado. (C) aproximadamente 58 Tethers
Tomando-se como base o valor total dos depósitos, a diferença (D) mais de 400 Solanas
percentual entre os totais de retirada e de depósitos, no mês de (E) menos de 30.000 Cardanos
outubro de 2021,
(A) foi de menos de 2%. 10. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONU-
(B) ficou entre 2% e 8%. CLEAR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE
(C) ficou entre 8% e 14%. NUCLEAR/2022
(D) ficou entre 14% e 20%. Assunto: Proporções. Grandezas proporcionais. Divisão em
(E) foi superior a 20%. partes proporcionais
Todo ano, os organizadores de uma festa encomendam copos
8. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLE- de 300 mL em formato de prisma regular hexagonal reto. Para a fes-
AR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE NU- ta do próximo ano, os organizadores pediram que a fábrica também
CLEAR/2022 confeccionasse copos de 500 mL, mantendo o mesmo formato e a
Assunto: Porcentagem mesma proporção do copo de 300 mL, ou seja, os dois copos devem
Na tentativa de atrair clientela, um hotel passou a cobrar por 4 ser semelhantes.
diárias o mesmo valor que cobrava por 3 diárias, o que implica um
desconto, no preço da diária, de
(A) 20%
(B) 25%
(C) 30%
(D) 33%
(E) 75%

Desprezando-se a espessura do material do copo, qual deve ser


a razão entre o lado do hexágono da base do copo de 500 mL e do
copo de 300 mL?

(A)

(B)

(C)

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242
242
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA

14. CESGRANRIO - ESC BB/BB/AGENTE DE TECNOLO-


(D) GIA/2021
Assunto: Unidades de Medida (distância, massa, volume, tem-
po, etc)
Um escriturário mantém um desempenho de preencher 30 re-
(E) latórios por hora e faz uma pausa de 10 minutos às 13h. Durante a
pausa, seu chefe pergunta a que horas receberá todos os relatórios
preenchidos.
11. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONU- Se falta apenas 1 relatório e meio, e o escriturário pretende
CLEAR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE manter seu desempenho, a partir de que horas o chefe pode contar
NUCLEAR/2022 com todos os relatórios preenchidos?
Assunto: Regra de três simples (A) 13h02min
Uma bomba d’água esvazia uma piscina em 10 horas. (B) 13h03min
Se a vazão promovida pela bomba fosse 25% maior, em quanto (C) 13h10min
tempo ela esvaziaria a piscina? (D) 13h12min
(A) 8h (E) 13h13min
(B) 7h30min
(C) 6h 15. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONU-
(D) 5h CLEAR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE
(E) 2h30min NUCLEAR/2022
Assunto: Equações de segundo grau e equações biquadradas
12. CESGRANRIO - ESC BB/BB/AGENTE DE TECNOLO- Para b ∈ R, considere a equação 2x + b = x² - 2x - 4.
GIA/2021 A equação dada possui 2 raízes reais distintas quando, e apenas
Assunto: Regra de três simples quando,
André, Bianca e Carol precisam pintar um painel de 50m². Para (A) b < 8
pintar 1m², André gasta 12 minutos, Bianca gasta 20 minutos, e Ca- (B) b > -8
rol, 15 minutos. (C) b = -8
Supondo-se que os três pintaram, juntos, o mesmo painel, sem (D) b < 0
fazer pausas e a velocidades constantes, quanto tempo eles leva- (E) b ≠ -4
ram para a conclusão da tarefa?
(A) 3h 40min 16. CESGRANRIO - TBN (CEF)/CEF/”SEM ÁREA”/2021
(B) 4h 10min Assunto: Progressão aritmética
(C) 5h 50min Preocupado com sua saúde, um professor decidiu começar a
(D) 6h correr. O profissional que o orientou estabeleceu como meta correr
(E) 6h 20min 5 km por dia. Entretanto, como o professor está fora de forma, terá
de seguir um programa de treinamento gradual. Nas duas primei-
13. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONU- ras semanas, ele correrá, diariamente, 1 km e caminhará 4 km; na
CLEAR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE terceira e na quarta semanas, correrá 1,5 km e caminhará 3,5 km
NUCLEAR/2022 por dia. A cada duas semanas, o programa será alterado, de modo
Assunto: Regra de três composta a reduzir a distância diária caminhada em 0,5 km e a aumentar a
Enchentes trazem tragédias não somente às pessoas, mas tam- corrida em 0,5 km. Desse modo, se o professor não interromper o
bém aos animais. Um abrigo de gatos gastava, em 30 dias, 72 kg de programa de treinamento, ele começará a correr 5 km diários na
ração, alimentando igualmente seus 28 gatos. Porém, recebeu mais (A) 9a semana
alguns novos gatos, vítimas de enchente. Com esse acréscimo no (B) 12a semana
número de animais e adotando a recomendação de um veterinário (C) 17a semana
para aumentar em 40% a quantidade de ração para cada gato, 24 kg (D) 18a semana
de ração passaram a ser suficientes para apenas 5 dias. (E) 20a semana
Quantos novos gatos o abrigo recebeu?
(A) 6
(B) 8
(C) 9
(D) 12
(E) 15

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243
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MATEMÁTICA

17. CESGRANRIO - PNS (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLE- 20. CESGRANRIO - PNMO (ELETRONUCLEAR)/ELETRONU-


AR/ECONOMISTA/2022 CLEAR/ESPECIALISTA EM SEGURANÇA DE ÁREA PROTEGIDA DE
Assunto: Função de primeiro grau NUCLEAR/2022
O salário líquido (S), em reais, de um determinado profissional Assunto: Geometria espacial
é o salário bruto menos os descontos. O salário bruto é a soma de A Figura a seguir ilustra um aquário que tem a forma de um
uma parcela fixa, igual a R$5.000,00, com uma parcela variável (a paralelepípedo retângulo, cujas dimensões internas são 50 cm, 30
comissão) que é sempre igual a 5% do valor total de suas vendas cm e 30 cm. Esse aquário está apoiado em uma mesa horizontal e já
(v), em reais. Ele desconta um total de 10% para previdência, sobre possui uma quantidade de água cujo nível é de 18 cm. Um peixe foi
o valor total do salário bruto e paga (desconta) 20% de Imposto de colocado no aquário e, estando totalmente submerso, fez com que
Renda sobre a diferença entre o salário bruto e a previdência. Ele o nível da água subisse 0,2 cm.
ainda desconta R$ 2.000,00 de plano de saúde.
O salário líquido S, em função do valor total vendido v, em re-
ais, pode ser, algebricamente, expresso por:
(A) S = 0,72v + 3600
(B) S = 0,36v + 4500
(C) S = 0,36v + 1600
(D) S = 0,036v + 1600
(E) S = 0,072v + 3600

18. CESGRANRIO - ESC BB/BB/AGENTE COMERCIAL/2021 Qual o volume, em cm³, do peixe?


Assunto: Função de segundo grau (A) 300
Para os seis primeiros meses de um investimento, a evolução, em (B) 500
milhares de reais, de um certo investimento de R$ 3.000,00 é ex- (C) 5400
(D) 9000
pressa pela fórmula , onde M(x) indica
(E) 27000
quantos milhares de reais a pessoa poderá retirar após x meses
desse investimento. Um cliente pretende deixar esse investimento
por seis meses.
GABARITO
Nesse caso, de quanto será a sua perda, em reais, em relação
ao máximo que ele poderia ter retirado?
(A) 1.000 1 C
(B) 3.000
(C) 4.000 2 E
(D) 5.000 3 A
(E) 6.000
4 A
19. CESGRANRIO - PNS (ELETRONUCLEAR)/ELETRONUCLE- 5 B
AR/ENGENHARIA AMBIENTAL/2022 6 D
Assunto: Função exponencial e inequações exponenciais
Ao representar a função y = x0,5 em um sistema de eixos or- 7 B
togonais com escalas logarítmicas (escala log-log), obtém- se um 8 B
gráfico que é uma
(A) parábola com concavidade positiva 9 A
(B) hipérbole com concavidade negativa 10 E
(C) reta com coeficiente angular positivo
11 A
(D) reta com coeficiente angular negativo
(E) reta com coeficiente angular nulo 12 B
13 D
14 E
15 B
16 C
17 D
18 A
19 C
20 A

Editora
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a solução para o seu concurso!
REALIDADE BRASILEIRA

e o Erário Régio (que depois se tornou Ministério da Fazenda), que


FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO: DA INDEPEN- garantiam o funcionamento burocrático do Estado e proporciona-
DÊNCIA À REPÚBLICA vam emprego para muitos portugueses.
Ainda em 1808, foram criados o Banco do Brasil, o Real Hos-
pital Militar e o Jardim Botânico. Dom João autorizou também o
— A Chegada da Família Real ao Brasil funcionamento de tipografias e a publicação de jornais. Com os li-
Em 1806, Portugal foi afetado pelo Bloqueio Continental da vros da Biblioteca Real trazidos de Lisboa foi organizada a Biblioteca
França contra a Inglaterra, que ocorreu graças à impossibilidade Nacional do Rio de Janeiro.
das tropas de Napoleão de anexar a Inglaterra por meios militares. Para interligar a capital com as demais regiões da colônia e po-
Caso não aderisse ao Bloqueio, as tropas de Napoleão invadiriam o voar o interior, o governo doou sesmarias e autorizou o Banco do
território português. Entretanto, Portugal decidiu não seguir esse Brasil a oferecer créditos aos colonos para que pudessem plantar
caminho porque tinha fortes ligações comerciais com a Inglaterra1. e criar gado. Essa política de povoamento estimulou a imigração.
Em novembro de 1807, dom João, príncipe regente de Portugal Em 1815, um grupo de 45 colonos oriundo de Macau e Cantão, na
desde 1799 - a rainha dona Maria, sua mãe, sofria de distúrbios China, estabeleceu-se na cidade do Rio de Janeiro.
mentais -, diante da ameaça de invasão, decidiu transferir a família Em 1818, cerca de dois mil suíços fundaram Nova Friburgo, na
real e a Corte lusa para a colônia na América, deixando os súditos província do Rio de Janeiro (as capitanias passaram a se chamar
expostos ao ataque francês. províncias a partir de 1815). Na política externa, o governo joanino
Os ingleses garantiram a proteção da mudança da monarquia adotou uma linha de ação franca- mente expansionista, ocupando a
para o Brasil. Nobres da Corte e familiares do príncipe recolheram Guiana Francesa, em 1809, e anexando a Banda Oriental (atual Uru-
às pressas tudo o que podiam carregar - joias, obras de arte, milha- guai), em 1816. Em 1818, dois anos após a morte da rainha dona
res de livros, móveis, roupas, baixelas de prata, animais domésticos, Maria, o príncipe regente foi coroado rei com o título de dom João
alimentos, etc. - e zarparam em 29 de novembro rumo ao Rio de Vl.
Janeiro.
Além da família real e dos nobres, viajaram altos funcionários, — A Promoção à Reino Unido
magistrados, sacerdotes, militares de alta patente, etc. Estima-se Para gerar recursos para a administração, o governo joanino
que nos 36 navios viajaram entre 4,5 mil e 15 mil pessoas. Parte teve de aumentar a carga tributária. O dinheiro dos impostos foi
da esquadra, incluindo o navio ocupado por dom João, atracou em utilizado para cobrir os gastos da Corte, custear as obras de urbani-
Salvador no dia 22 de janeiro de 1808, seguindo semanas depois zação do Rio de Janeiro e financiar intervenções militares. Essa si-
para o Rio de Janeiro, onde já se encontrava o restante da frota, e lá tuação, somada à carestia e ao aumento dos preços, gerou enorme
chegando em 8 de março de 1808. insatisfação da população, que começou a questionar os privilégios
concedidos aos portugueses, detentores dos principais cargos buro-
— Sede do Governo Português cráticos e dos mais altos postos da Academia Real Militar.
Agora que boa parte da elite lusa encontrava-se em terras Começaram a ocorrer agitações de rua que culminavam em
brasileiras, o desenvolvimento da colônia não poderia continuar ações violentas da polícia principalmente (mas não exclusivamente)
cerceado. Como afirma a historiadora Maria Odila Silva Dias, pela no Rio de Janeiro. A situação em Portugal também era de descon-
primeira vez iria se configurar “nos trópicos portugueses preocupa- tentamento popular. Com a queda de Napoleão em 1815, os portu-
ções de uma colônia de povoamento e não apenas de exploração gueses passaram a exigir o retorno imediato de dom João a Portu-
ou de feitoria comercial”. Assim, seis dias depois de desembarcar gal. Ele, entretanto, assinou um decreto criando o Reino Unido de
em Salvador, o príncipe regente dom João decretou a abertura dos Portugal, Brasil e Algarves. Com isso, o Brasil deixava de ser colônia
portos brasileiros às nações amigas, ou seja, às nações com as e ganhava o mesmo status político de Portugal.
quais Portugal mantinha relações diplomáticas amigáveis. E o Reino passava a ter dois centros políticos: Lisboa, em Por-
tugal, e Rio de Janeiro, no Brasil, onde dom João exercia o governo.
O Governo de D. João no Brasil Para muitos historiadores, a elevação do Brasil a Reino Unido foi o
Dom João — cuja gestão é conhecida como governo joanino marco inicial do processo de emancipação política e administrativa
- adotou medidas que afetaram diretamente a vida econômica, po- do Brasil.
lítica, administrativa e cultural do Brasil. No plano administrativo,
dom João procurou reproduzir na colônia a estrutura burocrática do — Revolução Pernambucana
reino. Foram criados órgãos públicos, como o Conselho de Estado Na província de Pernambuco, no início de 1817, o debate de
ideias emancipacionistas e republicanas deu origem a um movi-
1 Azevedo, Gislane. História: passado e presente / Gislane Azevedo, mento conspiratório, que ficou conhecido como Insurreição Per-
Reinaldo Seriacopi. 1ª ed. São Paulo. Ática. nambucana ou Revolução de 1817.
Editora
245
a solução para o seu concurso!
REALIDADE BRASILEIRA

Inspirados na Revolução Francesa, os líderes redigiram o esbo- -assinado subscrito por oito mil assinaturas, que foi entregue a Dom
ço de uma Constituição que garantia a igualdade de direitos entre Pedro, no qual era pedido que o príncipe permanecesse no Brasil.
os indivíduos, a liberdade de imprensa e a tolerância religiosa. No Em 9 de janeiro de 1822, o príncipe anunciou sua decisão de ficar
entanto, o movimento enfraqueceu-se com as divergências entre no Brasil. O episódio, conhecido como Dia do Fico, foi o primeiro
os proprietários de escravos e os rebeldes abolicionistas. Em maio, de uma série de atos que levariam à ruptura definitiva entre Brasil
tropas enviadas da Bahia e do Rio de Janeiro cercaram o Recife. e Portugal.
Alguns líderes foram executados e muitos outros, encarcera- dos Em maio de 1822, o príncipe regente determinou que todos
em Salvador. os decretos vindos das Cortes de Lisboa deveriam passar por sua
aprovação. Em junho, dom Pedro aprovou a convocação de uma
— Revolução do Porto Assembleia Constituinte no Brasil. No começo de setembro, des-
Por volta de 1818, alguns monarquistas liberais da cidade do pachos vindos de Lisboa desautorizavam a convocação da Assem-
Porto defendiam a ideia de que o monarca deveria governar obe- bleia Constituinte e ordenavam o imediato retorno de dom Pedro
decendo a uma Constituição. Em agosto de 1820 uma guarnição do a Portugal. José Bonifácio enviou os despachos ao príncipe, que se
Exército do Porto se rebelou e deu início a uma revolução liberal e encontrava em São Paulo, aconselhando-o a romper com Portugal,
anti-absolutista conhecida como Revolução do Porto. Rapidamen- pois já não considerava mais possível uma conciliação.
te, o movimento se espalhou pelas demais cidades portuguesas. No dia 7 de setembro, o mensageiro alcançou dom Pedro nas
Em Lisboa, uma junta provisória assumiu o poder e convocou proximidades do riacho do Ipiranga. Ao receber os decretos, o prín-
as Cortes, que não se reuniam desde 1689, para elaborar uma Cons- cipe proclamou a independência do Brasil, declarando a ruptura
tituição. A junta exigia também o retorno da família real e da Corte dos laços com Portugal. No dia 12 de outubro, já de volta ao Rio de
a Portugal e a restauração do monopólio comercial com o Brasil. Janeiro, foi aclamado com grande pompa imperador constitucional
com o título de dom Pedro I.
A volta da família real a Portugal
Nesse período irromperam no Pará, na Bahia e em Pernambu- Guerras de Independência
co várias revoltas apoiando o movimento constitucional de Portu- Proclamada a independência, teve início a luta por sua conso-
gal. Em fevereiro de 1821, o rei dom João VI concordou em jurar lidação, que envolveria conflitos e derramamento de sangue em
fidelidade à Constituição que estava ainda para ser elaborada e em diversas regiões do novo país.
convocar eleições para a escolha dos deputados que iriam repre- Em fevereiro de 1822, ainda antes da declaração de indepen-
sentar o Brasil nas Cortes de Lisboa. dência, houve na Bahia um longo conflito armado entre as forças
brasileiras que lutavam pela independência e queriam manter um
Temendo perder o trono, dom João VI anunciou também seu brasileiro no cargo de governador - no lugar de um general portu-
retorno a Portugal. No dia 26 de abril, a família real e mais quatro guês. A guerra entre as duas facções se prolongaria até 2 de julho
mil pessoas (nobres e funcionários) zarparam rumo a Portugal. Em de 1823, com destaque para a figura de Maria Quitéria de Jesus
seu lugar, o rei deixou o filho, dom Pedro, que assumiu o poder no Medeiros, que se alistou ao lado das tropas brasileiras.
Brasil como príncipe regente. No Maranhão, no Ceará, no Pará, na Província Cisplatina e no
Piauí houve revoltas de portugueses, que viviam nessas regiões,
As Cortes de Lisboa contra a independência. Para derrotar os revoltosos, dom Pedro
Após o embarque de dom João VI, foram realizadas eleições recrutou mercenários estrangeiros. A vitória das tropas brasileiras
para a escolha dos 71 representantes do Brasil nas Cortes de Lisboa. nessas regiões, além da obtida na Bahia, impediu a fragmentação
Embora a maior parte dos eleitos fosse a favor da independência do do Brasil em diversas províncias autônomas e garantiu a unidade
Brasil, apenas 56 viajaram para Lisboa, onde começaram a chegar territorial da jovem nação.
em agosto de 1821, oito meses depois do início dos trabalhos.
Eles enfrentaram uma forte oposição dos parlamentares lusos,
que já tinham adotado diversas medidas desfavoráveis ao Brasil PRIMEIRA REPÚBLICA: ELITE AGRÁRIA E A POLÍTICA DA
com a intenção de reduzir o Brasil à sua antiga condição de colônia. ECONOMIA CAFEEIRA
Para os parlamentares lusos, Brasil e Portugal deveriam se subme-
ter a uma mesma autoridade: as Cortes de Lisboa. Ao final de 1821,
as Cortes ordenaram que Dom Pedro, príncipe regente do Brasil, — Consolidação da República
retornasse a Portugal. Em 15 de novembro de 1889, o marechal Deodoro da Fonseca
proclamou a República. Apesar das divergências que existiam sobre
— A Independência do Brasil o tipo de república a ser construída no país, as elites que domina-
Enquanto a determinação das Cortes de Lisboa não chegava, vam a política em São Paulo, Minas Gerais e no Rio Grande do Sul
dom Pedro era apoiado, no Brasil, por pessoas da elite político-e- defendiam o federalismo, em oposição à centralização imperial2.
conômica, com experiência administrativa, como José Bonifácio Paulistas e mineiros defendiam propostas inspiradas no libe-
de Andrada e Silva (1763-1838). Na opinião de José Bonifácio e de ralismo e tinham, sobretudo os paulistas, o modelo estadunidense
outros políticos do período, o Brasil deveria manter-se unido a Por- como referência, em relação à autonomia dos estados e às liberda-
tugal, mas com um governo próprio e autônomo. Havia também des individuais.
quem defendesse o rompimento completo com Portugal.
Ambas as correntes, contudo, concordavam que dom Pedro de-
veria resistir às pressões das Cortes de Lisboa e recursar-se a voltar 2 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São Paulo.
a Portugal. No final de 1821, José Bonifácio organizou um abaixo- Saraiva.
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246
a solução para o seu concurso!
REALIDADE BRASILEIRA

No Rio Grande do Sul, havia um importante grupo de políticos Nesse mesmo dia, Floriano Peixoto, seu vice, assumiu a presi-
liderado por Júlio de Castilhos. Esse grupo defendia, com base nos dência da República.
ideais positivistas, a instauração de uma ditadura republicana que, A posse do novo presidente foi muito questionada. De acordo
ao garantir a ordem, levaria o país ao progresso. Já no Rio de Janei- com a Constituição, o vice assumiria somente se o presidente hou-
ro, a capital da República, existia um grupo de republicanos radicais, vesse cumprido metade de seu mandato, ou seja, dois anos. Caso
chamados de jacobinos. Eram civis e militares, alguns deles positi- contrário, ela previa a realização de uma nova eleição. Mas Floriano
vistas, que defendiam de maneira exaltada o regime republicano e estava decidido a permanecer no poder, com o apoio dos florianis-
opunham-se de maneira contundente à volta da monarquia. tas, que alegavam que o dispositivo constitucional só valeria para o
Havia também os monarquistas, que desejavam o retorno do próximo mandato presidencial.
antigo sistema. Entre os militares, predominavam os republicanos. Treze generais do Exército contestaram sua posse e, por meio
E, mesmo entre estes, havia divergências: enquanto alguns oficiais de um manifesto, exigiram eleições presidenciais. Floriano ignorou
seguiam a liderança de Deodoro, outros preferiam a de Floriano o protesto e mandou prender os generais. Receosas com a instabi-
Peixoto. Mas havia também os positivistas, que tinham Benjamin lidade da República, as elites políticas de São Paulo, representadas
Constant como líder, e alguns monarquistas, sobretudo na Marinha, pelo Partido Republicano Paulista (PRP), apoiaram o novo presiden-
que tinham fortes ligações com o Império. te. Floriano, por sua vez, percebeu que o suporte do PRP era fun-
Nesse emaranhado de projetos políticos, no início de 1890 o damental.
Governo Provisório convocou uma Assembleia Nacional Constituin- Ele também contou com o apoio de importantes setores do
te para institucionalizar o novo regime e elaborar o conjunto de leis Exército e da população do Rio de Janeiro. Oficiais da Marinha de
que o regeriam. Guerra (Armada) tornaram-se a sua principal oposição. Em 6 de
Assim, em 24 de fevereiro de 1891, foi promulgada a primeira setembro de 1893, posicionaram os navios de guerra na baía de
Constituição republicana do país, a Constituição dos Estados Uni- Guanabara, apontaram os canhões para o Rio de Janeiro e Niterói e
dos do Brasil. Inspirada no modelo vigente nos Estados Unidos, ela dispararam tiros contra as duas cidades - era o início da Revolta da
era liberal e federativa, concedendo aos estados prerrogativas de Armada. Em março do ano seguinte a situação tornou-se insusten-
constituir forças militares e estabelecer impostos. tável nos navios - não havia munição, alimentos, água nem o apoio
Além disso, ela instaurou o presidencialismo como regime po- da população. Parte dos revoltosos pediu asilo político a Portugal,
lítico, com a separação dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciá- a outra foi para o Rio Grande do Sul participar de um conflito que
rio, e oficializou a separação entre Estado e Igreja. Os deputados eclodira um ano antes: a Revolução Federalista.
constituintes também elegeram o marechal Deodoro da Fonseca
para a presidência e o marechal Floriano Peixoto para a vice-pre- — Revolução Federalista
sidência da República. Mas o novo regime republicano enfrentaria A instalação da República alterou a política do Rio Grande do
crises muito sérias até se consolidar definitivamente. Sul. Com ela, o Partido Republicano Rio-Grandense alcançara o po-
der. Apoiada por Floriano Peixoto e liderada por Júlio de Castilhos,
— República de Espadas a agremiação de orientação positivista tornou-se dominante no es-
Na área econômica, comandada por Rui Barbosa, então minis- tado em que passou a governar de maneira autoritária.
tro da Fazenda, a República começou com grande euforia. Com o A principal força de oposição ao Partido Republicano era o Par-
objetivo de estimular o crescimento econômico e a industrialização tido Federalista, liderado por Gaspar Silveira Martins, que defendia
do país, o governo autorizou que os bancos concedessem crédito a o parlamentarismo e a predominância da União Federativa sobre
qualquer cidadão que desejasse abrir uma empresa. E, para cobrir o poder estadual - enquanto os republicanos pregavam o sistema
esses empréstimos, permitiu a impressão de uma imensa quantida- presidencialista e a autonomia dos estados.
de de papel-moeda. Diante da violência e das fraudes eleitorais, os federalistas uni-
Como a moeda brasileira tinha como referência a libra inglesa, ram-se a outras forças de oposição, dando origem a uma sangren-
as emissões de dinheiro sem lastro (sem garantia em ouro) provo- ta guerra civil, que ficou conhecida como Revolução Federalista
caram o aumento acelerado da inflação. Muitos dos empréstimos (1893-1895). Os conflitos não se limitaram ao estado do Rio Grande
concedidos foram usados para abrir empresas que existiam apenas do Sul, estendendo-se aos de Santa Catarina e do Paraná, e só ter-
no papel, mas cujas ações, ainda assim, eram negociadas na Bolsa minaram em junho de 1895 com a vitória dos republicanos sobre os
de Valores. Como resultado, muitos investidores perderam seu di- federalistas. A Revolução Federalista causou muito sofrimento ao
nheiro e a inflação aumentou, atingindo toda a sociedade brasileira. sul do país. Somente no Rio Grande do Sul, que contava com cerca
Essa medida, que visava estimular a economia, mas resultou em de 900 mil habitantes, morreram de 10 a 12 mil pessoas, muitas
desvalorização da moeda e especulação financeira, recebeu o nome delas degoladas.
de Encilhamento. Passados cinco anos da proclamação da República, chegava ao
Na área política, assistia-se a graves conflitos envolvendo o fim o governo de Floriano Peixoto. No dia 15 de novembro de 1894,
presidente e os militares que o apoiavam, de um lado, e políticos o marechal passou a faixa presidencial ao paulista Prudente de Mo-
liberais e a imprensa, do outro. Oito meses após ser eleito, em no- rais, conferindo novos ares à República. Pela primeira vez, um civil
vembro de 1891, Deodoro da Fonseca determinou o fechamento do ligado às elites agrárias, em especial aos cafeicultores, assumia o
Congresso Nacional e decretou estado de sítio no país. Os oficiais poder. Com a eleição de Prudente de Morais, encerrava-se o perío-
que seguiam a liderança de Floriano Peixoto não apoiaram o golpe do conhecido como República da Espada.
de Estado; assim como a Marinha, que considerou autoritária a ati-
tude do presidente, e diversas lideranças civis. Sem apoio político, o
presidente renunciou no dia 23.

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— Modelo Político mesmo com o controle do voto, havia alguma mobilização do elei-
A Constituição de 1891 estabeleceu eleições diretas para todos torado - com o qual as elites, mesmo dispondo de grande poder
os cargos dos poderes Legislativo e Executivo. Também determinou político, precisavam manter alguma interlocução.
que, excetuando os mendigos, os analfabetos, os praças de pré, os
religiosos, as mulheres e os menores de 21 anos, todos os cidadãos Política do Café com Leite
brasileiros eram eleitores e elegíveis. A política dos governadores inaugurada por Campos Salles fun-
Apesar de suprimir a exigência de renda mínima constante da damentou a chamada República Oligárquica. Ela reforçou os pode-
Constituição imperial, a primeira Constituição da República tam- res das oligarquias - sobretudo as dos estados de São Paulo e Minas
bém excluía a maioria da população brasileira do direito de votar. O Gerais. Como o número de representantes por estado no Congresso
voto foi decretado aberto, mas, como não havia Justiça Eleitoral, na era proporcional à sua população, São Paulo e Minas Gerais, que
prática as eleições eram caracterizadas pela fraude. A organização eram os estados mais populosos e ricos - da federação, elegiam as
da eleição dos municípios, bem como a redação da ata da seção maiores bancadas na Câmara dos Deputados.
eleitoral, ficava a cargo dos chefes políticos locais, os chamados co- Vale lembrar que, à época, os partidos políticos eram estaduais
ronéis. e proliferavam siglas como Partido Republicano Mineiro, Partido
Isso lhes permitia registrar o que bem quisessem nas atas - daí Republicano Paulista, Partido Republicano Rio-Grandense etc. Ex-
o nome “eleições a bico de pena” - e também controlar as escolhas pressão simbólica da aliança entre o Partido Republicano Paulista e
dos eleitores, por meio da violência ou do suborno. Era comum, por o Partido Republicano Mineiro foi a chamada política do café com
exemplo, que nas atas das seções eleitorais constassem votos de leite, que funcionava no momento da escolha do sucessor presi-
eleitores já mortos para o candidato dos coronéis. dencial.
Ou então que os coronéis reunissem os eleitores em um de- As oligarquias dos dois estados escolhiam um nome comum
terminado lugar para receber as cédulas eleitorais já preenchidas. para presidente, ora filiado ao partido paulista, ora ao mineiro. A
Esses locais eram chamados de “curral eleitoral”. De modo geral, os cada sucessão presidencial, a aliança entre Minas Gerais e São Pau-
eleitores votavam no candidato do coronel por vários motivos: obe- lo precisava ser renovada, muitas vezes com conflitos e interesses
diência, lealdade ou gratidão, ou em busca de algum favor, como divergentes. Por serem fortes em termos políticos e econômicos,
dinheiro, serviços médicos e até mesmo proteção. Afinal, sem a ga- formaram-se duas oligarquias dominantes no país: a de São Paulo e
rantia dos direitos civis e políticos, grande parte da população rural a de Minas Gerais. Embora em posição inferior à aliança entre pau-
- vale lembrar que a imensa maioria dos brasileiros então vivia no listas e mineiros, destacavam-se também a do Rio Grande do Sul, a
campo - buscava a proteção de um coronel e acabava se inserindo da Bahia e a do estado do Rio de Janeiro.
em uma rede de favores e proteção pessoal. Houve eleições em que os vitoriosos não estavam comprometi-
dos com a política do café com leite, caso de Hermes da Fonseca em
— O Poder dos Coronéis 1910 e de Epitácio Pessoa em 1919. O importante é considerar que
Também conhecida como coronelismo, a chamada “República as oligarquias dos estados que se encontravam fora da política do
dos coronéis” era um sistema político que resultou da Constituição café com leite passaram a questionar o sistema político na década
de 1891 e marcou a Primeira República. Se no Império os presiden- de 1920.
tes de estado (hoje denominados governadores) eram nomeados
pelo poder central, com a República eles passaram a ser eleitos pe- — Aspectos Econômicos
los coronéis. Nos municípios, eram os coronéis que, por meio da Por volta de 1830, o café tornou-se o principal produto de ex-
violência e da fraude eleitoral, controlavam os votos que elegiam o portação do Brasil, superando o açúcar. Com a expansão das lavou-
presidente de estado, e também os deputados estaduais e federais, ras cafeeiras para o Oeste Paulista, a partir da década de 1870, a
os senadores e até mesmo o presidente da República. cafeicultura estimulou a economia do país, cujo dinamismo atraiu
Por outro lado, eles dependiam do governante estadual para investidores estrangeiros, sobretudo britânicos.
nomear parentes e protegidos a cargos públicos ou liberar verbas Ela propiciou a construção e o reaparelhamento de ferrovias,
para obras nos municípios. Assim, criava-se uma ampla rede de estradas, portos e o surgimento de bancos, casas de câmbio e de
alianças e favores, em que coronéis, presidentes de estado, parla- exportação. Também foram criados estaleiros, empresas de nave-
mentares e o próprio presidente da República estavam atados por gação e moinhos. O café mudou o país, inclusive incentivando a sua
fortes laços de interesses. Esse esquema se consolidou na presi- industrialização. Surgiram, por exemplo, fábricas de tecidos, cha-
dência de Campos Sanes (1898-1902), idealizador do que veio a ser péus, calçados, velas, alimentos, utensílios domésticos etc. Trata-
chamado de política dos governadores Ou dos esta- dos. va-se de um tipo de indústria, a de bens de consumo não duráveis,
Nela, o governo federal apoiava as oligarquias dominantes nos que não exigia grande tecnologia ou altos investimentos de capital,
estados, que em troca sustentavam politicamente o presidente da mas que empregava grande quantidade de mão de obra.
República no Congresso Nacional, controlando a eleição de senado- A riqueza gerada pelas exportações de café possibilitou, ainda,
res e deputados federais - e evitando, dessa forma, que os candida- o aumento das importações e a expansão das cidades, com a ins-
tos da oposição se elegessem. Ainda assim, caso isso acontecesse, a talação de serviços públicos (como iluminação a gás e sistema de
Comissão de Verificação de Poderes da Câmara Federal, responsá- transporte urbano), novas práticas de diversão e até mesmo maior
vel por aprovar e confirmar a vitória dos candidatos eleitos, impug- circulação de jornais e livros. A cidade que mais cresceu foi a de São
nava a posse, sob a alegação de fraude. Paulo, principalmente a partir de 1886, com a chegada de milhares
Apesar das fraudes eleitorais, as eleições periódicas foram de imigrantes.
importantes para a configuração do sistema político brasileiro. Pri-
meiro, porque exigiam o mínimo de competição no jogo eleitoral,
permitindo a renovação das elites dirigentes. Segundo, porque,
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Crise do Café bondes elétricos, serviços de telefonia e de distribuição de água).


Na década de 1920, o café, que era então responsável por mais A partir de 1910, contudo, a entrada da borracha de origem asiá-
da metade das exportações brasileiras, sustentava a economia do tica no mercado internacional provocou um drástico declínio na
país. Por consequência, a oligarquia paulista tornara-se dominante produção amazónica. Extraída em colônias inglesas e holandesas,
na política brasileira - dos 12 presidentes eleitos entre 1894 e 1930, a borracha asiática tinha maior produtividade, melhor qualidade e
seis eram filiados ao Partido Republicano Paulista. menor preço.
A crescente produção cafeeira, contudo, acabou provocando
graves problemas. O consumo do café brasileiro, que nesse período — Disputas por Território
atendia a 70% da demanda mundial, estabilizou-se, mas os fazen- Os primeiros governos republicanos enfrentaram problemas de
deiros continuaram expandindo suas plantações. Com uma produ- disputas territoriais com os vizinhos latino-americanos.
ção maior do que a capacidade de consumo, os preços internacio- O primeiro deles foi sobre a região oeste dos atuais estados
nais caíram, causando prejuízos e gerando dívidas. de Santa Catarina e Paraná. que era reclamada pelos argentinos.
A primeira crise de superprodução ocorreu em 1893. Ao as- A questão foi resolvida pela arbitragem internacional dos EUA em
sumir a presidência em 1894, Prudente de Morais teve de lidar 1895, confirmando a posse brasileira.
com grave crise econômica. Campos Salles, que o sucedeu na pre- Outra pendência foi com a França, sobre a demarcação das
sidência em 1898, fez um acordo com os credores internacionais fronteiras do Brasil com a Guiana Francesa. Com arbitragem in-
conhecido como funding loan. Pelo acordo, que transformou todas ternacional do governo suíço, o Brasil venceu a disputa em 1900,
as dívidas brasileiras em uma única, cujo credor era a casa bancária impondo sua soberania sobre as terras que hoje integram o estado
britânica dos Rothschild, o Brasil recebeu como empréstimo 10 mi- do Amapá.
lhões de libras esterlinas. Além de oferecer as rendas da alfândega No ano seguinte, o Brasil entrou em disputa com a Grã-Breta-
do Rio de Janeiro como garantia, o governo se comprometeu a rea- nha sobre os limites territoriais entre a Guiana Britânica (ou Inglesa)
lizar uma política económica deflacionária, retirando papel-moeda e o norte do então estado do Amazonas - que hoje corresponde ao
do mercado, o que gerou recessão, falências e desemprego e não estado de Roraima.
resolveu os problemas da superprodução de café e da queda dos O rei da Itália. Vítor Emanuel II, foi convocado como árbitro
preços no mercado internacional. internacional, e em 1904 ele decidiu a favor dos britânicos. Desse
Para evitar maiores prejuízos, representantes das oligarquias modo, o Brasil perdeu parte do território conhecido como Pirara, e
cafeeiras dos estados de São Paulo, Minas Gerais e do Rio de Janeiro a Grã-Bretanha obteve acesso à bacia Amazônica por meio de al-
reuniram-se na cidade paulista de Taubaté e elaboraram, em 1906, guns de seus afluentes.
um plano para a defesa do produto, que, a princípio, não contou Outra disputa, bem mais complexa. foi travada em torno da
com o apoio do governo federal. região onde hoje se localiza o Acre. que então pertencia à Bolívia
Pelo Convénio de Taubaté - como ficou conhecido esse encon- e ao Peru. Muitos nordestinos, em particular cearenses, que so-
tro - estabeleceu-se a política de valorização do café, pela qual os friam com a seca. haviam se estabelecido ali para explorar o látex,
governos dos estados conveniados recorreriam a empréstimos ex- gerando conflitos armados com tropas bolivianas. Os brasileiros
ternos para comprar e estocar o excedente da produção de café, até chegaram a declarar a independência política do Acre. Em 1903, a
que seu preço se estabilizasse no mercado internacional, de modo diplomacia brasileira conseguiu uma vitória com o Tratado de Pe-
a garantir o lucro dos cafeicultores. Para o pagamento dos juros da trópolis, que incorporava o Acre ao território brasileiro em troca de
dívida, seria cobrado um imposto sobre as exportações de café. indenizações à Bolívia e ao Peru.
Dois anos depois, na presidência de Afonso Pena, o governo Cabe destacar a relevante atuação de José Maria da Silva Para-
federal deu garantias aos empréstimos. A política de valorização do nhos Júnior, o barão do Rio Branco. responsável pelas relações in-
café foi benéfica apenas para os cafeicultores, em especial os pau- ternacionais do Brasil entre 1902 e 1912. Ele não só esteve à frente
listas, em detrimento dos produtores de açúcar, algodão, charque, das negociações que envolviam disputas territoriais do país como
cacau etc. Além de acentuar as desigualdades regionais, grande fez do Ministério das Relações Exteriores uma instituição profissio-
parte dos custos dessa política acabou recaindo sobre a sociedade nalizada e aproximou o Brasil dos EUA.
brasileira, que teve de arcar com os prejuízos.
— Movimentos e Revoltas
Economia da Borracha
No começo da República, outro importante produto de exporta- Revolta da Vacina
ção era a borracha da Amazônia, que alcançou seu auge entre 1890 e Além de modernizar a cidade, era necessário erradicar as
1910. Em meados do século XIX, desenvolveu-se o processo de vulcani- doenças epidêmicas da capital da República. Com base nas então
zação da borracha, por meio do qual ela se tornava endurecida, porém recentes descobertas sobre os microrganismos e a capacidade de
flexível, perfeita para ser usada em instrumentos cirúrgicos e de labo- mosquitos, moscas e pulgas transmitirem doenças, o médico sani-
ratório. O sucesso do produto aconteceu mesmo ao ser empregado na tarista Oswaldo Cruz, a quem coube essa tarefa, estava decidido a
fabricação de pneus tanto de bicicletas como de automóveis. Em 1852, erradicar a febre amarela, com o combate aos mosquitos, a varíola,
o Brasil exportava 1 600 toneladas de borracha (2,3% das exportações com a vacinação, e a peste bubónica, com a caça aos ratos, cujas
nacionais). Em 1900, já ultrapassava os 24 milhões de toneladas, o que pulgas transmitiam a doença.
equivalia a quase 30% das exportações. Em junho de 1904, Rodrigues Alves enviou um projeto de lei ao
Além de empregar cerca de 1 10 mil pessoas que trabalhavam Congresso que propunha a obrigatoriedade da vacinação contra a
nos seringais, a extração do látex na região Norte fez com que as varíola. Havia grande insatisfação popular contra as reformas urba-
cidades de Belém e Manaus passassem por grandes transforma- nas do prefeito Pereira Passos. Mas a obrigatoriedade de introduzir
ções: expansão urbana, instalação de serviços (iluminação pública,
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líquidos desconhecidos no corpo, imposta de maneira autoritária que passou a ser idolatrado na região. Além das funções de padre,
pelo governo e sem esclarecimentos à população, que à época des- ele desempenhava as de juiz e conselheiro, ensinava práticas de hi-
conhecia os benefícios da vacinação, gerou forte resistência. giene, acolhia doentes e criminosos arrependidos.
Havia também razões morais contra a vacinação obrigatória. À Seu prestígio era tamanho que a alta hierarquia da Igreja che-
época, os homens não admitiam que, em sua ausência, suas resi- gou a ficar incomodada e temerosa de que essa veneração estimu-
dências fossem invadidas por estranhos que tocassem no corpo de lasse práticas religiosas fora de seu controle - o que, de fato, aconte-
suas esposas e filhas para aplicar vacinas. Como a maioria das mu- ceu. Em 1892, o padre foi impedido de pregar e ouvir em confissão.
lheres partilhava desses mesmos valores, quando a lei da vacinação Dois anos depois, a Congregação para a Doutrina da Fé decretou a
obrigatória foi publicada nos jornais, estourou uma revolta no Rio falsidade do milagre em Juazeiro do Norte, provocando a reação da
de Janeiro. população. Movimentos de solidariedade se formaram e irmanda-
Inicialmente, militares tentaram depor Rodrigues Alves, mas des se mobilizaram a favor do padre Cícero. Imensas romarias pas-
logo foram dominados por tropas fiéis ao governo. A maior reação, saram a se dirigir à cidade. Beatas diziam ter visões que anunciavam
entretanto, ficou por conta da população mais pobre. Entre os dias a proximidade do fim do mundo e o retorno de Cristo. Surgia um
10 e 13 de novembro de 1904, a cidade foi tomada por manifes- movimento que desafiava as autoridades eclesiásticas da região.
tantes populares: as estreitas ruas do centro foram bloqueadas por Em 1911, inserido na política oligárquica local, padre Cícero foi
barricadas e os policiais, atacados com pedradas. eleito prefeito de Juazeiro do Norte e se tornou o principal articula-
A repressão policial foi violenta. Qualquer suspeito de haver dor de um pacto entre os coronéis da região do vale do Cariri. Padre
participado da revolta foi jogado em porões de navios e manda- Cícero lutou em vão até o ano de sua morte, 1934, para provar que
do para o Acre. A vacinação obrigatória acabou sendo suspensa, e, o milagre em Juazeiro do Norte havia ocorrido. Apenas em 2016, a
quatro anos depois, uma epidemia de varíola matou mais de 6 mil Igreja Católica se reconciliou com o padre, suspendendo todas as
pessoas no Rio de Janeiro. Foram necessários muitos anos para que punições que havia lhe imposto.
os governantes reconhecessem que nada conseguiam com Imposi-
ções e práticas autoritárias sobre a população. Nos anos 1960, com Guerra de Canudos
campanhas de esclarecimento, a vacinação em massa tornou-se co- Antônio Vicente Mendes Maciel andava pelos sertões nordes-
mum no país. Em 1971, ocorreu o último caso de varíola no Brasil. tinos pregando a fé católica. Tornou-se um beato conhecido como
Antônio Conselheiro e passou a ser seguido por muitas pessoas.
Revolta da Chibata Em 1877, fixou-se com centenas delas no arraial de Canudos, um
Os marujos da Marinha de Guerra brasileira viviam sob péssi- lugarejo abandonado no interior da Bahia, às margens do rio Vaza-
mas condições de trabalho: soldos miseráveis, má alimentação, tra- -Barris, ao qual renomearam Belo Monte. A comunidade cresceu
balhos excessivos e opressão da oficialidade. Mas os castigos físicos rapidamente. Famílias, que fugiam da exploração dos latifundiários
aos quais eram submetidos, principalmente com o uso da chibata, da região ou abandonavam suas terras de origem devido à seca,
eram ainda mais graves. foram para Canudos.
Em 22 de novembro de 1910, marinheiros do encouraçado Também foi o caso de jagunços, que serviam aos coronéis, mas
Minas Gerais se revoltaram contra a punição de um colega conde- haviam caído em desgraça. Estima-se que em poucos anos o arraial
nado a receber 250 chibatadas. Liderados por João Cândido, eles recebeu entre 20 e 30 mil pessoas pobres, em sua grande maioria,
tomaram a embarcação, prenderam e mataram alguns oficiais e mas que em Canudos tinham ao menos uma casa para morar e ter-
apontaram os canhões para a cidade do Rio de Janeiro. Os marujos ra para plantar.
do encouraçado São Paulo e de outras seis embarcações, também Canudos tinha uma rígida organização social. No comando es-
ancoradas na baía de Guanabara, aderiram à revolta. Os revoltosos tava António Conselheiro, também chamado de chefe, pastor ou
exigiam melhores condições de trabalho e o fim dos castigos cor- pai. Doze homens, denominados apóstolos, assumiram as chefias
porais. dos setores de guerra, economia, vida civil, vida religiosa etc. O
O Congresso negociou com os revoltosos e, somente após sua arraial contava com uma guarda especial formada pelos jagunços,
rendição, concedeu-lhes anistia. Mas o ambiente na Armada con- chamada Companhia do Bom Jesus ou Guarda Católica. Havia tam-
tinuou tenso. Em 4 de dezembro, diante de novas punições, outra bém comerciantes.
revolta eclodiu na ilha das Cobras. Os oficiais reagiram de maneira Em 1896, um incidente alterou a paz do arraial. Comerciantes
dura e bombardearam a ilha. de Juazeiro não entregaram madeiras compradas por Conselheiro
Depois, prenderam 600 marinheiros, inclusive os que participa- para a construção de uma nova igreja. Os jagunços se vingaram sa-
ram da primeira revolta, entre eles João Cândido, apelidado de “al- queando a cidade. Em resposta, o governador baiano enviou duas
mirante negro”. Jogados em prisões solitárias por vários dias, mui- expedições punitivas a Canudos, ambas derrotadas pelos conselhei-
tos deles morreram. Os demais foram detidos em porões de navios ristas.
e mandados para a Amazónia - ou executados durante a viagem. Denúncias de que Canudos e António Conselheiro faziam parte
de um amplo movimento que visava restaurar a monarquia no país
Revolta em Juazeiro do Norte chegavam nas capitais dos estados. A imprensa do Rio de Janeiro e
Em 1889, no povoado de Juazeiro do Norte, no sul do estado de São Paulo, sobretudo, insistia na existência de um complô mo-
do Ceará, durante uma missa celebrada pelo padre Cícero Romão narquista. Na capital da República, estudantes, militares, escritores,
Batista, uma beata teria sangrado pela boca logo após receber a jornalistas, entre outros grupos sociais, responsabilizavam o presi-
hóstia. A notícia do suposto milagre - da hóstia que teria se transfor- dente Prudente de Morais por não reprimir Canudos.
mado em sangue - espalhou-se, aumentando o prestígio do padre, Nesse contexto foi então organizada uma terceira expedição,
chefiada pelo coronel Moreira César, veterano na luta contra os
federalistas gaúchos. Formada por 1.300 homens do Exército bra-
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sileiro e seis canhões, ela foi derrotada pelos conselheiristas, que Era o movimento modernista, que se manifestou com grande
mataram o coronel. O fato tomou proporções nacionais, e Canudos impacto em São Paulo. Entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, o
passou a ser visto como uma real ameaça à República. Formou-se, Teatro Municipal de São Paulo abrigou a Semana de Arte Moderna.
assim, uma quarta expedição, que contava com 10 mil homens. Em Em três noites de apresentação, artistas e intelectuais exibiram suas
outubro de 1897, o arraial foi destruído e sua população, massacra- obras: houve música, poesia, pintura, escultura, palestras e debates.
da - mesmo aqueles que se renderam foram degolados. Nas artes plásticas, destacaram-se Anita Malfatti, Di Cavalcanti
- responsável pela arte da capa do catálogo da exposição - e Lasar
Guerra do Contestado Segall (pintura); Vitor Brecheret (escultura); e Oswaldo Goeldi (gra-
Em 1911, um pregador itinerante de nome José Maria apa- vura). Oswald de Andrade apresentou as revistas Papel e Tinta e
receu na região central de Santa Catarina. Ele afirmava que tinha Pirralho, leu textos e poemas.
sido enviado pelo monge João Maria, morto alguns anos antes. Mário de Andrade, Ronald de Carvalho e Graça Aranha tam-
Na região Sul do país, monge tinha o mesmo significado que bea- bém leram seus trabalhos. O maestro Villa-Lobos impressionou o
to no Nordeste. João Maria, quando vivo, fora contra a instaura- público quando, na orquestra que regia, incluiu instrumentos de
ção da República e acreditava que somente a lei da monarquia era congada, tambores e uma folha de zinco. O público vaiou.
verdadeira. Apresentando-se como um continuador de suas ideias, Acostumada ao padrão europeu de música, a audiência rejei-
José Maria organizou uma comunidade formada por milhares de tava os instrumentos musicais das culturas africanas e indígenas.
homens e mulheres em Taquaruçu, nas proximidades do município Para os modernistas, era preciso mostrar às elites que essas cultu-
catarinense de Curitibanos. Armados e sob a liderança de José Ma- ras também eram formadoras da cultura nacional.
ria, eles criticavam a República.
Muitos homens e mulheres que participavam desse movimen- — O Tenentismo
to conhecido como Contestado, por ter ocorrido em uma área dis- Enquanto isso, setores da média oficialidade do Exército - como
putada entre os estados do Paraná e de Santa Catarina, eram pe- tenentes e capitães - atacavam o governo com armas, em um movi-
quenos proprietários expulsos de suas terras devido à construção mento conhecido como tenentismo. Alguns criticavam o liberalismo
de uma ferrovia, a Brazil Railway Company, que ligaria os estados e defendiam um Estado forte e centralizado, expressando um nacio-
de São Paulo e do Rio Grande do Sul. A empresa pertencia a um dos nalismo não muito bem definido. Exigiam a moralização da política
homens mais ricos do mundo, o estadunidense Percival Farquhar. e das eleições e defendiam a adoção do voto secreto. Muitos se
Como parte do pagamento à empresa construtora, o governo mostravam ressentidos com os políticos, pelo papel secundário do
estadual doou 15 quilômetros de terras de cada lado da linha, pre- Exército na política nacional. A primeira revolta tenentista ocorreu
judicando os camponeses que ali viviam. A situação era agravada no Rio de Janeiro, em 1922. Após os rebelados tomarem o Forte de
pela presença de madeireiras. Atacados pela polícia, em 1912, des- Copacabana, canhões foram disparados contra alvos considerados
locaram-se para Palmas, no Paraná. estratégicos. O objetivo era impedir posse do presidente eleito Ar-
thur Bernardes e, no limite, derrubar o governo.
O governo do estado, que considerou se tratar de uma inva- O presidente Epitácio Pessoa, com o apoio do Exército e da
são dos catarinenses, atacou a comunidade e matou José Maria, Marinha, ordenou o bombardeamento do forte. Muitos desistiram
dispersando a multidão de homens e mulheres que o seguia. Um da luta, mas 17 deles decidiram resistir. Com fuzis nas mãos, mar-
ano depois, cerca de 12 mil fiéis se reagruparam em Taquaruçu. A charam pela avenida Atlântica. Um civil se juntou a eles. Ao final,
liderança do movimento ficou a cargo de um conselho de chefes, sobraram apenas os militares Siqueira Campos e Eduardo Gomes.
que difundiu a crença de que José Maria regressaria à frente de A rebelião ficou conhecida como a Revolta dos 18 do Forte.
um exército encantado para vencer as forças do mal e implantar o Em 1924, eclodiu outra revolta tenentista, dessa vez em São
paraíso na Terra. Em fins de 1916, forças do Exército e das polícias Paulo. Os revoltosos tomaram o poder na capital paulista. O objeti-
estaduais, com o apoio de aviões, reprimiram o movimento, matan- vo era incentivar revoltas todo o país até a derrubada do presiden-
do milhares de rebeldes. te Arthur Bernardes. A reação do governo federal foi bombardear
a cidade. Acuados, os revoltosos resolveram marchar para Foz do
— O Modernismo Iguaçu.
No Brasil, como em grande parte do mundo ocidental, a vida
cultural era fortemente influenciada pelos europeus. No vestuário, A Coluna Prestes
na culinária, na literatura, na pintura, no teatro e em outras mani- Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, o jovem capitão Luís
festações artístico-culturais, adorava-se, sobretudo, o padrão fran- Carlos Prestes liderava uma coluna militar que, partindo de Santo
cês como modelo. Ângelo, marchava ao encontro dos rebelados paulistas em Foz do
Com o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, isso começou Iguaçu. Quando se encontraram, em abril de 1925, formaram a
a mudar. A guerra resultou no declínio econômico e político dos Coluna Prestes-Miguel Costa e partiram em direção ao interior do
países envolvidos no conflito e suscitou, ao menos nas Américas, a país, para mobilizar a população contra o governo e as oligarquias.
dúvida quanto à superioridade da cultura europeia. Nos anos 1920, Com cerca de 1500 homens, atravessaram 13 estados. Perse-
em diversas cidades do Brasil, principalmente em São Paulo e no guido pelo Exército, Prestes, com táticas militares inteligentes, im-
Rio de Janeiro, surgiram jornais, revistas e manifestos publicados pôs várias derrotas às tropas governistas - que nunca o derrotaram.
por artistas e intelectuais que, preocupados com a modernização Após marcharem 25 mil quilômetros, cansados e sem perspectivas,
do país, discutiam o que era ser brasileiro. Recusavam-se a copiar em 1927 os soldados da coluna entraram no território boliviano,
padrões europeus e propunham uma nova maneira de pensar e de- onde conseguiram asilo político. Por sua luta e capacidade de co-
finir o Brasil, valorizando a memória nacional e a pesquisa das raízes mando, Luís Carlos Prestes passou a ser considerado um herói e
culturais dos brasileiros. conhecido como “Cavaleiro da Esperança “.
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— A Revolução de 1930
No início da década de 1920, o sistema político da Primeira Re- O ESTADO GETULISTA
pública começava a apresentar sinais de esgotamento. A realização
da Semana de Arte Moderna, a fundação do Partido Comunista do
Brasil e a eclosão da Revolta dos 18 do Forte eram indícios desse — Governo Provisório
esgotamento. A própria sucessão presidencial, também no ano de Ao assumir a chefia do governo provisório em 1930, apoiado
1922, foi marcada por uma forte disputa entre os grupos políticos pelos militares, Getúlio Vargas aboliu a Constituição de 1891, dis-
estaduais. solveu o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas estaduais
Paulistas e mineiros haviam concordado em apoiar o mineiro e as Câmaras municipais e instituiu um regime de emergência. Com
Arthur Bernardes. Mas as lideranças políticas do Rio de Janeiro, do exceção do governador Olegário Maciel, de Minas Gerais, todos os
Rio Grande do Sul, da Bahia e de Pernambuco optaram por lançar demais (na época, chamados de presidentes de estado) foram subs-
Nilo Peçanha como candidato. O movimento, conhecido como Rea- tituídos por interventores, pessoas da confiança do presidente, es-
ção Republicana, não propunha romper com o sistema oligárquico, colhidos por ele entre os egressos do movimento tenentista3.
mas abrir espaço para os grupos dominantes de outros estados, de- Em São Paulo, a nomeação do tenentista pernambucano João
safiando o domínio de paulistas e mineiros. No entanto, os resulta- Alberto Lins de Barros para interventor provocou descontentamen-
dos das eleições eram previsíveis e Arthur Bernardes saiu vitorioso. to entre as elites, que passaram a exigir um interventor civil e pau-
Os líderes da Reação Republicana não aceitaram a derrota e lista. Os desdobramentos do descontentamento da população em
apelaram para os militares - o que fez eclodir a revolta tenentista relação a Vargas levaram à deflagração da Revolução Constituciona-
no Forte de Copacabana, em 5 de julho de 1922. Arthur Bernardes lista, em julho de 1932.
governou sob estado de sítio, perseguiu o movimento operário e Devido à debilidade de suas convicções ideológicas, o tenentis-
atuou de maneira bastante impopular nas cidades. Em 1926, dissi- mo perdeu muito de sua influência junto ao governo Vargas. Vários
dentes do PRP fundaram o Partido Democrático (PD), em São Paulo. de seus representantes voltaram para os quartéis, outros se aliaram
O novo partido defendia a adoção do voto secreto e obrigatório, a ao comunismo ou a grupos simpatizantes do fascismo. Os que con-
criação da Justiça Eleitoral e a independência dos três pode tinuaram no governo permaneceram subordinados ao presidente.
O sucessor de Arthur Bernardes, Washington Luís, suspendeu o
estado de sítio e as perseguições ao movimento sindical. No entan- — Legislação Trabalhista
to, não concedeu a anistia política aos tenentes, como exigiam as A obra pela qual o governo de Getúlio Vargas é mais lembra-
oposições. Em 1929, começaram as articulações para a nova suces- do é a legislação trabalhista, iniciada com a criação do Ministério
são presidencial. O presidente Washington Luís, do Partido Repu- do Trabalho, Indústria e Comércio, em novembro de 1930. As leis
blicano Paulista, indicou para sucedê-lo o presidente do estado de de proteção ao trabalhador regularam o trabalho de mulheres e
São Paulo, Júlio Prestes. Inconformadas, as oligarquias mineiras se crianças, estabeleceram jornada máxima de oito horas diárias de
aliaram aos gaúchos e aos paraibanos, lançando o nome do gaúcho trabalho, criaram o descanso semanal remunerado e garantiram o
Getúlio Vargas para a presidência e do paraibano João Pessoa para direito a férias (já concedido anteriormente, em 1923, porém nunca
a vice-presidência. colocado em prática) e à aposentadoria, entre outras novidades.
O Partido Democrático, de São Paulo, apoiou a candidatura de Esse conjunto de leis seria sistematizado em 1943, com a Con-
Vargas. Os dissidentes então formaram a Aliança Liberal, cuja pla- solidação das Leis do Trabalho (CLT). Ao mesmo tempo, em 1931
taforma política defendia o voto secreto, a criação de uma Justiça 0 governo aprovou a Lei de Sindicalização, que estabelecia o con-
Eleitoral, a moralização da prática política, a anistia para os militares trole do Ministério do Trabalho sobre a ação sindical. Os sindica-
revoltosos dos anos 1920 e o estabelecimento de leis trabalhistas. tos passaram a ser órgãos consultivos do poder público; só podiam
funcionar com autorização do Ministério do Trabalho, que, por sua
Nas eleições ocorridas em março de 1930, Júlio Prestes venceu, vez, tinha poderes de intervenção tão importantes nas atividades
mas os políticos da Aliança Liberal não aceitaram a derrota, alegan- sindicais que podia até afastar diretores.
do fraudes eleitorais. Mineiros e gaúchos conseguiram o apoio dos Assim, anarquistas e comunistas foram afastados do movimen-
tenentes na luta contra o governo. No exilio argentino, Luís Carlos to sindical pelo governo e reagiram à lei, considerada autoritária,
Prestes tinha aderido ao comunismo e recusou-se a participar das por meio de greves e manifestações. Aos poucos, porém, diversos
conversações. A crise eclodiu com o assassinato de João Pessoa, setores sindicais passaram a acatá-la.
em julho de 1930. Apesar de se tratar de um crime que misturava A legislação trabalhista - apresentada à população como uma
razões políticas locais e passionais, os políticos da Aliança Liberal “dádiva do governo” - e a aproximação em relação aos sindicatos
transformaram o episódio em questão nacional e deflagraram uma faziam parte de um tipo de política que seria caracterizado como
revolução. populista, anos mais tarde. Apresentado como autor magnânimo
Iniciada em 3 de outubro de 1930, em Minas Gerais e no Rio das leis trabalhistas, Getúlio era chamado de “pai dos pobres”, uma
Grande do Sul, ela se alastrou rapidamente pelo Nordeste. Diante espécie de protetor da classe trabalhadora, desconsiderando as
da possibilidade de uma guerra civil, altos oficiais do Exército e da conquistas como resultado das lutas dos trabalhadores.
Marinha depuseram o presidente Washington Luís e formaram uma
Junta Militar. Com a chegada das tropas rebeldes ao Rio de Janeiro,
entregaram o poder a Getúlio Vargas. O movimento político-militar
conhecido como Revolução de 1930 saía vitorioso. Era o início da
Era Vargas.
3 Azevedo, Gislane. História: passado e presente / Gislane Azevedo,
Reinaldo Seriacopi. 1ª ed. São Paulo. Ática.
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a solução para o seu concurso!
REALIDADE BRASILEIRA

— A Constituição de 1934 nacionalista e anti-imperialista. Entre suas principais bandeiras es-


Em 1932, Getúlio Vargas ainda governava sob um regime de tavam a suspensão do pagamento da dívida externa, a nacionaliza-
exceção. Em fevereiro do mesmo ano, o governo aprovou um novo ção de empresas estrangeiras e a reforma agrária.
Código Eleitoral que trazia algumas novidades: A ANL cresceu rapidamente, chegando a reunir entre 70 mil e
– criava a Justiça Eleitoral, para coibir as fraudes eleitorais; 100 mil filiados, segundo estimativas do historiador Robert Levine.
– instituía o voto secreto, principalmente para minar a influên- Quatro meses depois de fundada, foi declarada ilegal pelo presi-
cia dos coronéis sobre os eleitores (releia o Capítulo 3); dente Vargas.
– reduzia de 21 anos para 18 a idade mínima do eleitor; A partir de então, seus militantes passaram a agir na clandes-
– garantia o direito de voto às mulheres, antiga reivindicação tinidade. Em novembro de 1935, setores da ANL ligados ao PC do
dos grupos feministas, que tinham entre suas principais militantes a B lideraram, sob orientação da Internacional Comunista, insurrei-
enfermeira Bertha Lutz (1894-1976). ções mi- litares nas cidades de Natal, Recife e Rio de Janeiro, com
o intuito de tomar o poder e implantar o comunismo no Brasil. Mal
Pressionado por diversos setores da sociedade, juntamente articulados, os levantes fracassaram e a Intentona Comunista, como
com a divulgação do novo Código Eleitoral, o governo convocou ficou conhecido o episódio, levou o presidente a decretar estado de
eleições para maio de 1933, visando à formação de uma Assembleia sítio e determinar a prisão de mais de 6 mil pessoas - entre as quais
Constituinte. Entre os 254 constituintes eleitos encontrava-se a mé- um senador e quatro deputados.
dica Carlota Pereira de Queirós, candidata por São Paulo e primeira Entre os detidos encontravam-se Luís Carlos Prestes (posterior-
deputada do Brasil. mente condenado a dezesseis anos de reclusão) e sua mulher, a
Promulgada em julho de 1934, a nova Constituição incorporou judia alemã Olga Benário. Ela, grávida de sete meses, foi deportada
a legislação trabalhista em vigor, acrescentando a ela a instituição para a Alemanha nazista em setembro de 1936, onde morreu em
do salário mínimo (que seria criado somente em 1940) e criou o um campo de concentração em 1942.
Tribunal do Trabalho. Pela nova Carta, analfabetos e soldados conti-
nuavam proibidos de votar. — Eleições Canceladas
Ainda em julho de 1934 os constituintes elegeram Getúlio Var- Em meio a esse clima de repressão à esquerda, teve início, em
gas para a Presidência da República, pondo fim ao governo provisó- 1937, a campanha eleitoral para a escolha do sucessor de Getúlio
rio. De acordo com a Constituição, o mandato presidencial se esten- Vargas. O presidente, contudo, articulava sua permanência no po-
deria até 1938, quando um novo presidente escolhido por voto livre der junto às Forças Arma das e aos governadores. No final de 1937,
e direto assumiria o cargo. o capitão integralista Olímpio Mourão Filho elaborou um plano de
uma conspiração comunista para a tomada do poder e o entregou à
— Governo Constitucional de Vargas cúpula das Forças Armadas.
Os anos 1930 foram marcados por uma forte polarização po- Era o Plano Cohen, nome de seu suposto autor. O documen-
lítica, com o surgimento de dois movimentos antagônicos: a Ação to era falso, mas serviu de pretexto para um golpe de Estado. No
Integralista Brasileira (AIB), de direita, e a Aliança Nacional Liber- dia 10 de novembro de 1937, o presidente ordenou o fechamento
tadora (ANL), de esquerda. do Congresso por tropas do Exército. Pelo rádio, Vargas declarou
A exemplo do que acontecia na Europa, onde a população geral canceladas as eleições presidenciais e anunciou a instauração do
estava desacreditada da democracia liberal - o que favorecia o sur- Estado Novo, que ele definiu como “um regime forte, de paz, justiça
gimento de regimes totalitários em diversos países -, surgiram no e trabalho”.
Brasil grupos que reivindicavam a implantação de uma ditadura de A seguir, foi outorgada uma nova Constituição, que logo pas-
direita, semelhante à de Mussolini na Itália. saria a ser chamada de Polaca, em alusão a suas semelhanças com
Em 1932, foi formada a Ação Integralista Brasileira, de inspi- a Constituição polonesa, de inspiração fascista. As garantias indivi-
ração fascista, liderada pelo escritor Plínio Salgado e composta de duais foram suspensas e o direito de reunião, abolido. A população
intelectuais, religiosos, alguns ex-tenentistas e setores das classes ficou proibida de se organizar, reivindicar seus direitos e de ma-
médias e da burguesia. Tendo como lema “Deus, Pátria e Família”, o nifestar livremente suas opiniões. Sem reação popular, começava
integralismo era um movimento de caráter nacionalista, antiliberal, uma nova fase do governo getulista: a de uma ditadura declarada,
anticomunista e contrário ao capitalismo financeiro internacional. centralizada em torno da figura de Getúlio Vargas.
Os integralistas defendiam o controle do Estado sobre a eco-
nomia e o fim de instrumentos democráticos, como a pluralidade — O Estado Novo
partidária e a democracia representativa. Nas eleições municipais Vargas passou a governar por meio de decretos-lei. Todos os
de 1936, os integralistas elegeram vereadores em diversos municí- partidos políticos foram extintos, incluindo a Ação Integralista, que
pios brasileiros e conquistaram várias prefeituras, entre elas as de apoiara o golpe. A ideologia do Estado Novo enfatizava principal-
Blumenau (SC) e Presidente Prudente (SP). mente a ideia de reconstrução da nação - pautada na ordem, na
A Aliança Nacional Libertadora surgiu em março de 1935, e obediência à autoridade e na aceitação das desigualdades sociais
tinha como presidente de honra o líder comunista Luís Carlos Pres- - e a de tutela do Estado sobre a nacionalidade brasileira.
tes. O Partido Comunista do Brasil (PC do B) tinha grande ascendên-
cia sobre a ANL, mas o movimento reunia em suas fileiras grupos Departamento de Imprensa e Propaganda
de variadas tendências: socialistas, liberais, anti-integralistas, inte- Em 1939, foi criado o Departamento de Imprensa e Propagan-
lectuais independentes, estudantes e ex-tenentistas descontentes da (DIP), inspirado no serviço de comunicação da Alemanha nazista.
com o autoritarismo do governo Vargas. Seu programa político era Os agentes do DIP controlavam os meios de comunicação por meio
da censura a jornais, revistas, livros, rádio e cinema. Eles também

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elaboravam a propaganda oficial do Estado Novo, produzindo peças


publicitárias que mostravam o presidente como uma figura pater- DEMOCRACIA E RUPTURAS DEMOCRÁTICAS NA SEGUNDA
nal, bondosa, severa e exigente a fim de agradar à opinião pública. METADE DO SÉCULO XX
O DIP elaborava também cine documentários, como o Cine-
jornal Brasileiro - exibido obrigatoriamente em todos os cinemas,
antes do início dos filmes -, livros e cartilhas escolares enaltecendo — A Experiência Democrática no Brasil
a figura de Vargas e transmitindo noções de patriotismo e civismo. Eurico Gaspar Dutra assumiu a presidência em janeiro de 1946.
Em meio ao ambiente de controle e repressão, a Polícia Espe- O início de seu governo foi marcado pela posse da Assembleia Na-
cial de Getúlio Vargas ganhou força. Comandada pelo ex-tenentista cional Constituinte, encarrega da de elaborar uma nova Constitui-
Filinto Müller, ela ficou conhecida por suas prisões arbitrárias e pela ção para o Brasil. Promulgada ainda em 1946, a Carta restabelecia
prática de tortura contra os presos. a democracia, a organização do Estado em três poderes (Executivo,
Legislativo e Judiciário) e a autonomia dos estados e municípios, co-
— O Brasil e a Segunda Guerra Mundial locando fim ao centralismo político que caracterizou a Era Vargas4.
Em 1940, Vargas fez um discurso elogiando o sucesso das tropas No entanto, a nova Constituição manteve a exclusão do direito
nazistas na Europa. Entretanto, embora se aproximasse dos países de voto aos analfabetos (mais da metade da população), inúmeras
do Eixo por suas posturas autoritárias, o governo de Getúlio Vargas restrições ao direito de greve e a não incorporação dos trabalhado-
manteve uma postura ambígua sobre a Segunda Guerra Mundial, res do campo à legislação trabalhista.
pois mantinha relações econômicas com os Estados Unidos. Na área econômica, Dutra deu uma orientação liberal ao seu
Para impedir a influência europeia sobre o Brasil, o governo governo, afastando-se da política nacionalista adotada por Getúlio
estadunidense pôs em prática a política de boa vizinhança, que se Vargas. Com a abertura do mercado aos produtos importados, as
manifestou por meio do fim do intervencionismo político e da cola- reservas nacionais em moedas estrangeiras acumuladas durante a
boração econômica e militar. O rompimento definitivo com o bloco Segunda Guerra esgotaram-se.
nazifascista ocorreu em 1942, quando navios mercantes brasileiros Em 1948, foi anunciado o Plano Salte, abreviatura de Saúde,
foram afundados por submarinos alemães. Alimentação, Transporte e Energia, considerados setores prioritá-
Em agosto daquele ano, após manifestações populares e es- rios. O plano só foi aprovado pelo Congresso em 1950, no final do
tudantis exigindo que o governo entrasse no conflito ao lado das governo Dutra, e abandonado pelo governo seguinte. Assim, foi
democracias, Getúlio declarou guerra aos países do Eixo. Em julho implementado apenas em parte, como a pavimentação da rodovia
de 1944, aproximadamente 25 mil soldados, integrantes da Força Rio-São Paulo (atual Via Dutra), a abertura da rodovia Rio-Bahia e o
Expedicionária Brasileira (FEB) desembarcaram na Itália. início das obras da Hidrelétrica do São Francisco. Aderindo ao clima
da Guerra Fria, o governo Dutra estreitou relações com os Estados
— O Fim do Estado Novo Unidos e, em 1947, rompeu relações diplomáticas com a União So-
Em 1942, as manifestações estudantis e populares lideradas viética. Esse posicionamento acabou provocando um recuo na frágil
pela União Nacional dos Estudantes (UNE), a favor da participação e recente democracia brasileira: o governo decretou a ilegalidade
do Brasil na guerra contra o nazifascismo, deram início a um lento do Partido Comunista Brasileiro (PCB), cassando o mandato de de-
processo de distensão no clima sufocante do Estado Novo. Outras putados, senadores e vereadores do partido que foram eleitos em
manifestações ocorreram, agora pelo fim do Estado Novo e pela 1945.
volta da democracia. Além disso, o governo também ordenou a intervenção estatal
Em 1943, houve o Manifesto dos Mineiros, de um grupo de po- em mais de 400 sindicatos.
líticos e intelectuais de Minas Gerais durante um congresso da Or-
dem dos Advogados do Brasil (OAB). No início de 1945, foi a vez dos — O Retorno de Getúlio Vargas
participantes do Primeiro Congresso Brasileiro de Escritores. Ainda Getúlio Vargas foi vitorioso nas eleições para a sucessão de Du-
em 1945, Getúlio pôs fim à censura da imprensa, anistiou presos tra em outubro de 1950. Ele candidatou-se pelo Partido Trabalhista
políticos - entre eles, Luís Carlos Prestes - e convocou eleições para Brasileiro (PT B), com o apoio do Partido Social Democrático (PSD).
uma Assembleia Constituinte. Assim, o pai dos pobres, como ficou conhecido, reassumia a
Surgiram então diversos partidos políticos, entre os quais a Presidência do Brasil em janeiro de 1951, mas, desta vez, democra-
União Democrática Nacional (UDN), formada por setores das clas- ticamente. Sua atuação política junto às camadas mais carentes do
ses médias e altas, o Partido Social Democrático (PSD), composto de país, no estilo populista, foi decisiva para sua vitória. Meses depois
antigos coronéis e interventores nos estados e o Partido Trabalhista da eleição de Getúlio, a marchinha mais cantada no Carnaval de
Brasileiro (PTB), constituído por líderes sindicais ligados ao Ministé- 1951 era Retrato do velho, de Haroldo Lobo e Marino Pinto, gravada
rio do Trabalho, além do Partido Comunista do Brasil (PC do B), que em outubro de 1950 por Francisco Alves, para comemorar o resul-
voltou a ser legalizado. tado das eleições.
Durante a campanha eleitoral, líderes do PTB e de alguns sin- Com a volta de Getúlio Vargas, o governo passou a seguir a cor-
dicatos, com o apoio do Partido Comunista e com o aval do presi- rente nacionalista, com o Estado atuando de maneira intervencio-
dente, passaram a defender a permanência de Getúlio Vargas na nista e paternalista.
Presidência. A expressão “Queremos Getúlio!”, repetida em coro
pelos partidários desse grupo, deu nome ao movimento: queremis-
mo. Para evitar a permanência de Vargas no poder, os generais Góis
Monteiro e Eurico Gaspar Dutra exigiram sua renúncia. 4 Vicentino, Cláudio. Olhares da História Brasil e Mundo. Cláudio
Com o afastamento de Getúlio em Outubro de 1945, o Estado Vicentino. José Bruno Vicentino. Savério Lavorato Júnior. 1ª ed. São
Novo chegava ao fim. Paulo. Scipione.
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REALIDADE BRASILEIRA

As importações foram restringidas e os investimentos estran- Nas eleições de outubro de 1955, Juscelino Kubitschek de Oli-
geiros foram limitados, dificultando as remessas de lucros de em- veira (1902-1976), ex-governador de Minas Gerais, teve uma vitó-
presas transnacionais para seus países de origem. Para incentivar a ria apertada, de 36%, contra 30% dos votos dados a Juarez Távora,
indústria nacional, em 1952, foi criado o Banco Nacional de Desen- candidato da UDN.
volvimento Econômico (BNDE) e, no ano seguinte, a Petrobras, em- JK, como era popularmente conhecido, foi o candidato da coli-
presa estatal com o monopólio da exploração e refino do petróleo gação PSD-PTB. Como na época os eleitores votavam separadamen-
no Brasil. Foi proposta também a criação da Eletrobrás, uma em- te para presidente e para vice-presidente, João Goulart, o Jango,
presa para controlar a geração e a distribuição de energia elétrica. ex-ministro do Trabalho de Vargas, venceu a eleição para Vice-presi-
dência, com mais votos (3 591.409) do que o próprio JK (3 077.411).
Vargas nomeou João Goulart (1919-1976) para ministro do
Trabalho, em 1953, para enfrentar as rei- vindicações e a onda de — De Jk a João Goulart
greves. Sob a orientação do presidente, o novo ministro propôs, em O governo de Juscelino Kubitschek foi marcado pelo desen-
janeiro de 1954, dobrar o valor do salário mínimo, que recuperou volvimentismo. Apoiando-se no Plano de Metas, divulgado sob o
seu valor em relação à crescente inflação. slogan “50 anos em 5”, Juscelino prometia desenvolver o país em
Em fevereiro, 42 coronéis e 39 tenentes-coronéis emitiram um tempo recorde. O programa priorizava investimentos em setores de
manifesto - o Manifesto dos Coronéis - criticando o governo, o aumen- energia, indústria, educação, transporte e alimentos.
to do salário mínimo e as desordens que corriam pelo país. Entre eles Para alcançar as metas, o governo favoreceu a entrada de capi-
estava o coronel Golbery do Couto e Silva e vários outros militares que, tais estrangeiros e a presença de empresas transnacionais no país.
mais tarde, foram protagonistas da ditadura iniciada em 1964. Esse modelo abandonava o nacionalismo do período Vargas e ade-
Diante do manifesto, Getúlio demitiu o ministro da Guerra, o ria ao capitalismo internacional. Como resultado dessa política, fá-
general Espírito Santo Cardoso, e acordou com Goulart a sua de- bricas de caminhões, tratores, automóveis, produtos farmacêuticos
missão, acalmando os ânimos. Contudo, no feriado de 19 de maio e cigarros foram instaladas no Brasil.
de 1954, Vargas anunciou o aumento de 100% do salário mínimo, Destacam-se também a construção das usinas hidrelétricas de
conquistando ainda mais apoio dos trabalhadores. Furnas e Três Marias; e a pavimentação de milhares de quilômetros
A política populista de Vargas atraiu a oposição de liberais, de estradas. Grandes mudanças ocorriam em diversos setores. No
como os membros da UDN (União Democrática Nacional, partido dia a dia de muitas cidades e regiões.
político de orientação liberal), oficiais das Forças Armadas e empre- Na música, foi a época em que surgiu a bossa Nova, um novo
sários, especialmente os ligados aos interesses estrangeiros. estilo de tocar e cantar samba com influência do jazz, juntando-se
Em 5 de agosto de 1954, o jornalista Carlos Lacerda (1914- aos tangos, boleros, valsas e sambas de então. No futebol, 1958
1977), um dos principais oponentes de Vargas, dono do jornal Tri- foi o ano da conquista do primeiro campeonato mundial. Passaram
buna da Imprensa, sofreu um atentado no qual morreu seu segu- a fazer parte dos hábitos dos brasileiros o consumo de produtos
rança, o major da Aeronáutica Rubens Vaz (1922-1954). O episódio industriais, como eletrodomésticos (máquina de lavar roupas, rádio
ficou conhecido como o atentado da rua Toneleros. de pilha, etc.)
As investigações apontaram a participação de Gregório Fortu- No entanto, esse desenvolvimentismo era basicamente diri-
nato (1900-1962), chefe da guarda pessoal de Getúlio. Isso acirrou gido a partes do mundo urbano moderno. O enorme fosso social,
os ânimos dos oposicionistas, desdobrando-se numa grande cam- pleno de desigualdades e carências (saneamento básico, escolas,
panha pela renúncia de Vargas. saúde), e um mundo rural que ainda reunia a maioria da população
A campanha contou com os meios de comunicação, que ali- brasileira sem a proteção de uma legislação trabalhista continua-
mentavam e impulsionavam o aprofundamento da crise. Pressiona- vam a existir.
do, Vargas suicidou-se em 24 de agosto de 1954. A notícia da morte A maior obra do governo JK, entretanto, foi a construção de
e a divulgação de sua carta-testamento estimularam manifestações Brasília, a nova capital federal, planejada pelo urbanista Lúcio Costa
populares por todo o país. Jornais de oposição foram invadidos e e pelo arquiteto Oscar Niemeyer.
depredados, assim como os diretórios da UDN e a embaixada dos A cidade foi inaugurada em 21 de abril de 1960. Localizada no
Estados Unidos no Rio de Janeiro. Planalto Central, estava bem distante das cidades do Rio de Janeiro
Com o suicídio de Getúlio, o vice-presidente Café Filho (1899- e de São Paulo, os principais centros de pressão popular da época.
1970) assumiu o poder. Inconformados com o resultado das elei- A abertura da economia brasileira ao capital estrangeiro e os vários
ções, a UDN de Lacerda e setores militares tramavam um golpe, empréstimos contraídos junto às instituições estrangeiras deixaram
com apoio discreto de Café Filho e outros ministros, mas esbarra- o país numa séria crise financeira, com a inflação chegando, em
ram no legalista ministro da Guerra, o general Henrique Teixeira 1960, ao índice de 25% ao ano.
Lott (1894-1984). Nas eleições de 1960, a coligação PSD-PTB indicou o marechal
A saída de Café Filho da presidência por problema de saúde oca- Henrique Teixeira Lott para concorrer à Presidência e João Goulart
sionou a transferência do cargo ao presidente da Câmara dos Deputa- à Vice-presidência. Na oposição, a UDN e outros partidos meno-
dos, Carlos Luz (1894-1961), aliado da UDN. Este, mais favorável aos res apoiaram a candidatura do ex-governador de São Paulo, Jânio
golpistas, tentou se livrar do legalista Lott, que reagiu e o depôs. Quadros (1917-1992). Seu candidato à Vice-presidência era Mílton
O cargo foi entregue então ao presidente do Senado, Nereu Ra- Campos, ex-governador de Minas Gerais. Jânio pregava uma limpe-
mos (1888-1958), que governou como presidente da República até za na vida política nacional com o combate à corrupção. Para sim-
a posse de Juscelino Kubitschek, em janeiro de 1956. bolizar a ideia, usava uma vassoura na campanha eleitoral. Como
votava-se separadamente para presidente e para vice-presidente,

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Jânio Quadros se tornou presidente com 5,6 milhões de votos. João Seu objetivo era conter a inflação e promover o desenvolvimento
Goulart foi eleito vice-presidente com 4,5 milhões de votos. Era for- do país. No entanto, os efeitos do plano foram mínimos, principal-
mada a dupla “Jan-Jan”. mente quanto ao custo de vida. As pressões populares cresceram,
levando Jango a defender amplas reformas nos setores agrário, ad-
Jânio Quadros no Poder ministrativo, fiscal e bancário. Conhecidas como reformas de base,
Como presidente, Jânio Quadros primou pela ambiguidade. Na essas medidas foram vistas pelos seus opositores como uma amea-
economia atuava deforma mais próxima aos conservadores liberais: ça à ordem liberal vigente.
cortou gastos e congelou salários em meio à contínua elevação dos Três dessas medidas ajudam a entender os interesses que es-
preços dos produtos. Por outro lado, sua política externa aproxi- tavam ameaçados. Contra a inflação, foi criada a Superintendência
mava-se da esquerda, ao reatar relações diplomáticas com países Nacional do Abastecimento (Sunab), ligada ao governo e encarre-
socialistas a fim de ampliar mercados. gada de controlar os preços dos produtos, interferindo, portanto,
Um episódio reforçou essa política de independência em rela- nos lucros dos produtores e comerciantes.
ção ao bloco capitalista. Em 1961, o argentino Ernesto Che Guevara, Para oferecer melhores condições de vida a milhões de traba-
então ministro da Economia em Cuba, foi condecorado por Jânio lhadores rurais e ampliar a oferta de alimentos, uma proposta de
Quadros com a Ordem do Cruzeiro do Sul. reforma agrária nos latifúndios improdutivos foi apresentada ao
Essa atitude provocou reações contrárias, inclusive do próprio Congresso. Os latifundiários, porém, não concordavam com os me-
partido do presidente. Em agosto de 1961, após sete meses de go- canismos de cálculos para se chegar aos valores das indenizações
verno, Jânio surpreendeu a todos ao renunciar ao cargo, numa ma- a serem pagas pelas terras, alegando grandes perdas caso fossem
nobra política fracassada. A renúncia fazia parte de um plano que efetivamente aplicados.
contava com o temor de setores da sociedade diante da possibilida- Outra questão polémica foi a restrição da remessa de lucros das
de de João Goulart assumir a Presidência para fortalecer seu poder. empresas estrangeiras para o exterior; a proposta teve oposição de
grupos ligados ao capital internacional. Diante de tantos embates,
O vice, que se encontrava na China Popular, em missão de go- João Goulart aproximou-se de setores populares organizados por
verno, era considerado comprometido com as causas trabalhistas operários, camponeses, estudantes e militantes de esquerda, como
- e até acusado de ser um comunista - por vários militares e políti- o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), a União Nacional dos
cos. Ao que parece, a expectativa de Jânio era que a população se Estudantes (UNE), a União Brasileira de Estudantes Secundaristas
mobilizasse contra seu pedido de renúncia e o Congresso Nacional (UBES), a Confederação dos Trabalhadores Agrícolas (CONTAC) e as
o rejeitasse, o que o levaria a exigir plenos poderes para continuar Ligas Camponesas.
na Presidência. No lado oposto, contra Jango, os conservadores juntavam or-
A renúncia, porém, foi aceita imediatamente e nenhum gru- ganizações sociais e políticas. Entre eles, destacava-se o Instituto
po movimentou-se para convencer Jânio Quadros a permanecer de Pesquisas Econômicas e Sociais (PES), que reunia diretores de
no poder. O presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzil- empresas multinacionais, jornalistas, intelectuais, militares e a nata
li (1910-1975), assumiu a Presidência da República até a posse de do empresariado nacional.
Jango. Entre outros opositores a João Goulart estavam o Instituto Bra-
sileiro de Ação Democrática (Ibad), a Confederação Nacional das
— A Crise Política no Governo Jango Indústrias (CNI) e a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).
A renúncia de Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961 amplifi- Num comício realizado em 13 de marco de 1964, no Rio de Janeiro,
cou as divergências entre as forças políticas. Alguns ministros mili- o presidente prometeu o aprofundamento das reformas para diver-
tares e políticos da UON, contrariando a Constituição, tentaram im- sas entidades de trabalhadores e estudantes.
pedir a posse de João Goulart. O novo presidente era visto como um Em resposta, os conservadores organizaram uma grande pas-
herdeiro de Getúlio Vargas e acusado de simpatizante da esquerda. seata em São Paulo, chamada Marcha da Família com Deus pela
Em defesa de Jango, Leonel Brizola (1922-2004), então gover- Liberdade. Os participantes da passeata declaravam estar se posi-
nador do Rio Grande do Sul, lançou a Campanha da Legalidade, cionando contra o que era visto como ameaça da transformação do
conquistando o apoio de boa parte da população brasileira. A posse país numa república comunista, representada pelo presidente, suas
de Jango ocorreu somente após debates e negociações que levaram propostas e seu grupo de apoio. Setores da Igreja e do empresaria-
à alteração da Constituição. Com uma emenda, em 2 de setembro do participaram da manifestação.
de 1961, foi implantado o parlamentarismo no país. Era o acordo
para se evitar uma guerra civil: Jango assumiria a presidência, mas o
governo de fato ficaria a cargo do primeiro-ministro, escolhido pelo A REDEMOCRATIZAÇÃO E A BUSCA PELA ESTABILIDADE
Congresso Nacional. Definiu-se também que, após algum tempo, o ECONÔMICA
parlamentarismo deveria ser ratificado ou não por um plebiscito.
Em janeiro de 1963, o plebiscito sobre o parlamentarismo mo-
bilizou o país. O sistema político estava em vigência há pouco mais Definição
de um ano e era muito criticado e impopular. Com intensa cam- “Abertura Política” é a denominação de uma sequência de ati-
panha pelo seu fim, os brasileiros decidiram pela restauração do vidades cuja finalidade era promover uma lenta, gradual e segura
regime presidencialista. Enquanto o presidencialismo era restabe- transição do regime militar que para o regime democracia nos últi-
lecido, a situação econômica do país deteriorava-se. mos dois mandatos da ditadura.
A inflação, que em 1962 atingira 52%, chegou aos 80% em 1963
e afetou gravemente o poder aquisitivo dos trabalhadores. Para en-
frentar a crise, o governo lançou o Plano Trienal, no final de 1962.
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REALIDADE BRASILEIRA

• “Lenta, gradual e segura”: o lema que definiu o início da Assim, com o fim da perseguição, a cultura africana começou a
abertura política foi criado no governo do general Ernesto Geisel ser mais valorizada, até que, em 2003, é promulgada a lei nº 10.639
indicava o modo como o líder pretendia conduzir o processo de res- (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), exigindo as escolas brasilei-
tauração da democracia. ras de ensino fundamental e médio que abarquem em seus currícu-
– Lenta: devido a não haver conformidade nas Forças Armadas los o ensino da história e cultura afro-brasileira.
com relação à abertura política. Enquanto uns não concordavam Devido à quantidade de escravos recebidos e também pela mi-
com a adoção de medidas mais radicais e extremistas, outros de- gração interna destes, os estados de Maranhão, Pernambuco, Ala-
fendiam (e empreendiam) tentados terroristas contra instituições. goas, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo
– Gradual: conforme o Pacote de Abril (nome atribuído pela e Rio Grande do Sul foram os mais influenciados. A maioria dos po-
a um conjunto de medidas impostas por Ernesto Geisel, abril de vos veio trazido da Angola, Congo e Moçambique, eles formavam
1977), ainda não era o momento ideal para que os militantes abris- os Bantos. Já os Sudaneses, vieram da África ocidental, Sudão e da
sem mão das eleições majoritárias indiretas. Costa da Guiné.
– Segura: tinha o objetivo de assegurar o controle da ascen-
são da esquerda ao poder, para que o processo democratização não I. Aspectos da Cultura Afro-Brasileira
eclodisse em uma revolução semelhante às que ocorreram na China
e em Cuba. Ainda, por meio da Lei Falcão, conseguiu-se dificultar a Podemos dizer que a cultura afro-brasileira compõe os costu-
divulgação das propostas dos candidatos oponentes. mes, as tradições, a mitologia, o folclore, a língua, a culinária, a mú-
sica, a dança, a religião, enfim, o imaginário cultural brasileiro.
• Lei da Anistia: promulgada no Governo de João Figueiredo, Um exemplo de como a cultura africana esta presente na nossa
essa lei isentou os militares de seus crimes cometidos no decorrer sociedade estão nas festividades, como o Carnaval, a maior festa
da ditadura, além de dispensar, também, aqueles que tinham sido popular brasileira, a festa de São Benedito, principal festa do Con-
condenados por crimes políticos e os militares e agentes que atua- gado (expressão da cultura afro-brasileira), comemorada no final de
ram ilegalmente durante o regime. semana após a Páscoa; e a festa de Iemanjá, realizada no dia 2 de
• “Diretas Já»: o impulso que avançou o movimento também fevereiro.
recuperou o pluripartidarismo. Mesmo que sua aprovação tenha Na música influência afro-brasileira está patente em expres-
ocorrido em função de fragmentar a esquerda, o pluripartidarismo sões como Samba, Jongo, Carimbo, Maxixe, Maculelê, Maracatu e
permite representação política aos mais diversos grupos, sendo, utilizam instrumentos variados, com destaque para Afoxé, Ataba-
assim, um fator essencial em um regime democrático. O retorno que, Berimbau e Tambor. Por conseguinte, não podemos perder de
pelo à democracia somente seria possível por meio da eleição dire- vista que estas expressões musicais são também corporais, uma vez
ta para presidente da República, assim, o movimento “Diretas Já”, que refletem formas de dançar, como no caso do Maculelê, uma
em contrapartida à divisão provocada pelo pluripartidarismo, gerou dança folclórica brasileira, e do samba de roda, uma variação mu-
o engajamento político desses grupos em busca de desse ideal co- sical do samba. Podemos ressaltar outras expressões de música e
mum. dança como as danças rituais, o Tambor de Crioula, e os estilos mais
• Revogação do AI-5: outra medida indispensável na luta pela contemporâneos como o samba-reggae e o axé baiano. Finalmente,
democracia, decretada no Governo de Ernesto Geisel. merecendo um destaque especial a Capoeira, uma mistura de dan-
• Eleição de Tancredo Neves: o marco da transição de regimes ça, música e artes marciais proibida no Brasil durante muitos anos
aconteceu em 1985, de forma indireta, e o candidato eleito contava e declarada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade em 2014.
com aprovação de boa parte da bancada governamental, ou seja, A culinária é outro elemento típico da cultura afro-brasileira.
agradou os militares. E, mesmo que Neves não tenha assumido o Ela introduziu as panelas de barro, o leite de coco, o feijão preto,
cargo, o governo que se seguiu reafirmou o êxito dos militares, já o quiabo, dentre muitos outros. Entretanto, os alimentos mais co-
que a esquerda só chegaria à Presidência da República quase vinte nhecidos são aqueles da culinária baiana, preparados com azeite
anos depois. dendê e pimentas, como Abará, Vatapá e o Acarajé, bem como o
Quibebe nordestino, preparado com carne-de-sol ou charque; além
dos doces de pamonha e cocada. Por fim, o prato brasileiro mais
HISTÓRIA DOS NEGROS NO BRASIL: LUTA ANTIRRACISTA, conhecido de todos é a Feijoada, criada pelos escravos como uma
CONQUISTAS LEGAIS E DESAFIOS ATUAIS apropriação da feijoada portuguesa e produzida a partir dos restos
de carne que os senhores de engenho não consumiam.
A religião afro-brasileira se caracterizou pelo sincretismo com o
A formação da cultura afro-brasileira remonta ao período co- catolicismo, união de aspectos do cristianismo às suas tradições re-
lonial, quando milhares de africanos vieram para o Brasil através ligiosas para que pudessem realizar as práticas religiosas africanas
do trafico negreiro. O grande número de negros vindo no período secretamente. Assim, nasceram do sincretismo o Batuque, o Xam-
colonial acabou por formar a maior população de origem africana bá, a Macumba e a Umbanda, enquanto se preservaram algumas
fora da África. A cultura afro-brasileira foi marcada pelas referências variações africanas da Quimbanda, Cabula e o Candomblé.
culturais europeia e indígena.
É importante ressaltar que essa manifestação cultural não se
deu de forma homogênea, já que os africanos que vieram ao Bra-
sil tinham distintas origens, forçando a apropriação e a adaptação
para que suas práticas culturais sobrevivessem. Os rituais e costu-
mes africano apenas deixaram de ser proibidos em 1930, durante o
governo de Getúlio Vargas.
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REALIDADE BRASILEIRA

Influência Africana no Brasil5 De acordo com Kavinajé (2009, p. 3):


Os bantos, depois de um primeiro período de autonomia reli-
A influência africana no processo de formação da cultura afro- giosa, que se conhece através de documentos históricos, assistiram
-brasileira começou a ser delineada a partir do tráfico negreiro. à transformação de seus cultos. Por um lado, esses deram lugar
Quando milhões africanos “deixaram” forçadamente o continente á macumba; por outro, amoldaram-se às regras dos condomblés
africano e despontarem no Brasil para exercer o trabalho compul- nagôs, não se distinguindo deles senão por uma maior tolerância.
sório. Os cultos bantos em gradativo declínio acolheram os espíritos dos
O escravo africano era um elemento de suma importância no índios, o que iria levar ao surgimento de um “condomblé de cablo-
campo econômico do período colonial sendo considerado “as mãos cos”, e adotaram cantos em língua portuguesa, ao passo que os
e os pés dos senhores de engenho porque sem eles no Brasil não condomblés nagôs só usam cantos em língua africana.
é possível fazer, conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho Já os sudaneses provenientes da África ocidental, Sudão e da
corrente” (ANTONIL, 1982, p.89). Contudo, a contribuição africana Costa da Guiné, contribuíram culturalmente para a formação de
no período colonial foi muito além do campo econômico, uma vez uma identidade afro-brasileira, visto que muito de suas práticas
que, os escravos souberem reviver suas culturas de origem e recria- culturais imperam atualmente como, por exemplo, o candomblé,
rem novas práticas culturais através do contato com outras culturas. prática religiosa dos escravos sudaneses.
É importante salientar que não houve uma homogeneidade No Brasil estes grupos: bantos e sudaneses misturaram-se re-
cultural praticada pelos negros africanos, visto que imperava uma sultando em cruzamentos biológicos, culturais e religiosos.
heterogeneidade favorecida pelas origens distintas dos africanos, De acordo com Paiva (2001, p.36):
que apesar de oriundos do continente africano, geralmente os Misturavam-se informações, assim como etnias, tradições e
escravos apresentava uma prática cultural diferenciada em alguns práticas culturais. Novas cores eram forjadas pela sociedade colo-
aspectos devido à região que pertencia, pois a África caracteriza- nial e por ela apropriadas para designar grupos diferentes de pes-
se em um continente dividido em países com línguas e culturas soas, para indicar hierarquização das relações sociais, para impor a
diversas. diferença dentro de um mundo cada vez mais mestiço. Da cor da
Além da prática cultural diferenciada ressaltada, os africanos, pele à dos panos que a escondia ou a valorizava até a pluralidade
ainda, incorporaram algumas práticas europeias e indígenas, além multicor das ruas coloniais, reflexo de conhecimentos migrantes,
de, influenciá-los culturalmente. O intercâmbio cultural entre os aplicados à matéria vegetal, mineral, animal e cultural.
elementos citados contribuiu para uma formação cultural afro - bra- Nota-se que o cruzamento cultural entre estes povos africanos
sileira híbrida e bastante peculiar. propiciou a construção de uma identidade cultural brasileira, ou
Ao longo do período colonial e monárquico brasileiro foi gran- cultura afro-brasileira. Uma vez que, eles não temeram em “inven-
de o contingente de escravos africanos no Brasil, visto que, cons- tar códigos de comportamentos e de recriarem práticas de socia-
tituía a maior mão - de - obra do período. A contribuição desses bilidade e culturais” (Paiva 2001, p.23). Assim, este cruzamento foi
escravos foi além da participação econômica, uma vez que, foram resultado de um longo processo que propiciou uma riqueza cultural
inserindo suas práticas, seus costumes e seus rituais religiosos na peculiar ao Brasil.
sociedade Brasileira contribuindo, dessa forma para uma formação De acordo com Paiva (2001, p.27), pode-se caracterizar este
cultural peculiar no Brasil. cruzamento cultural como resultante de uma aproximação entre
Importante, ressaltar que as práticas desses escravos africanos universos geograficamente afastados, em hibridismos e em imper-
eram diferenciadas, pois eles eram oriundos de pontos diferentes meabilidades, em (re) apropriações, em adaptações e em sobrepo-
do continente africano. De acordo com VAINFAS (2001 p.66), du- sição de representações e de práticas culturais.
rante o período colonial, quase nada se sabia sobre a origem étnica Assim, a influência africana foi se tornando visível em vários
dos africanos traficados para o Brasil. Porém, ao longo do período seguimentos da sociedade colonial, tais como culinária, práticas re-
passou-se a designá-los a partir da região ou porto de embarque, ligiosas, danças, dentre outros valores culturais que foram incorpo-
ou seja, das áreas de procedência. rados pela população brasileira.
Apesar da origem diversa dos escravos africanos, dois grupos Sobre a influência africana Freire (2001, p. 343) destaca que:
se destacaram no Brasil: os Bantos e os Sudaneses. Os bantos foram Quantas “mães-pretas”, amas de leite, negras cozinheiras e qui-
assim, classificados devido à relativa unidade linguística dos africa- tandeiras influenciaram crianças e adultos brancos (negros e mes-
nos oriundos de Angola, Congo e Moçambique. tiços também), no campo e nas áreas urbanas, com suas histórias,
Vainfas (2001, p. 67) destaca que: com suas memórias, com suas práticas religiosas, seus hábitos e
Os povos bantos predominaram entre os escravos traficados seus conhecimentos técnicos? Medos, verdades, cuidados, forma
para o Brasil desde o século XVII, concentrando-se na região su- de organização social e sentimentos, senso do que é certo e do que
deste, mas espalhados por toda a parte, inclusive na Bahia. (...) Os é errado, valores culturais, escolhas gastronômicas, indumentárias
Bantos oriundos do Congo eram chamados de congo, muxicongo, e linguagem, tudo isso conformou-se no contato cotidiano desen-
loango, cabina, monjolo, ao passo que os de Angola o eram de mas- volvido entre brancos, negros, indígenas e mestiços na Colônia.
sangana, cassange, loanda, rebolo, cabundá, quissamã, embaca, Ainda de acordo com Freyre (2001, p. 346), a nossa herança
benguela. cultural africana é visível no jeito de andar e no falar do brasileiro,
Essa diversidade fez com os Bantos apresentassem uma es- pois:
pecificidade cultural, notadamente na lingüística, nos costumes e, Na ternura, na mímica excessiva, no catolicismo em que se de-
principalmente, no campo religioso, que mesclou aspectos do cris- liciam nossos sentidos, na música, no andar, na fala, no canto de
tianismo com suas tradições religiosas. ninar menino pequeno, em tudo que é expressão sincera de vida,
5 http://www.acordacultura.org.br/artigos/29082013/a-influencia-africana-no-pro- trazemos quase todos a marca da influência negra. Da escrava ou
cesso-de-formacao-da-cultura-afro-brasileira sinhama que nos embalou. Que nos deu de mamar. Que nos deu de
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REALIDADE BRASILEIRA

comer, ela própria amolegando na mão o bolão de comida. Da ne- filho do senhor branco. Os nomes próprios foram dos que mais se
gra velha que nos contou as primeiras histórias de bicho e de mal- amaciaram, perdendo a solenidade, dissolvendo-se deliciosamente
-assombrado. Da mulata que nos tirou o primeiro bicho- de- pé de na boca dos escravos. Freyre (2001, p. 382)
uma coceira tão boa. De que nos iniciou no amor físico e nos trans- Nota-se que o intercâmbio cultural entre os negros africanos,
mitiu, ao ranger da cama- de- vento, a primeira sensação completa indígenas e portugueses foram intensos, notadamente na língua,
de homem. Do muleque que foi o nosso primeiro companheiro de costumes, modos, comidas, forma de pensar e práticas religiosas.
brinquedo. (Freyre (2001, p. 348) De acordo com Paiva (2001, p. 185) As trocas culturais e os contatos
Observa-se que de acordo com a citação acima a influência afri- entre povos de origem muito diversa é algo que, então, fazia parte
cana foi além cozinha e da mesa, chegando até a cama, pois era co- do dia - a – dia colonial, desde a chegada dos portugueses. Isto,
mum a iniciação sexual do “senhorzinho” branco ocorrer com uma porque, era ampla a vivência cultural da população negra no Brasil
escrava.Comum também era a prática de feitiços sexuais e afrodi- colonial, refletindo amplamente na sociedade do período.
síacos pelos escravos, pois foi na “perícia e no preparo de feitiços Deste intercâmbio cultural formou-se a cultura afro-brasileira,
sexuais e afrodisíacos que deu tanto prestigio a escravos macum- sendo visível à influência africana em todos os aspectos da socieda-
beiros juntos a senhores brancos já velhos e gastos.” Freyre (2001, de brasileira, não sendo possível desvincular a cultura brasileira da
p. 343), africana, da indígena ou da europeia.
A influência do escravo negro na vida sexual da família brasilei- Para Paiva (2001, p.39) a formação cultural não se deu de
ra é destacada por, Freyre (2001, p. 381), assim: forma linear, uniforme e harmônica. Muitos foram os conflitos, as
(...) O grosso das crenças e práticas da magia sexual que se de- adaptações e os arranjos ao longo do período.
senvolveram no Brasil foram coloridas pelo intenso misticismo do É evidente que não estou sugerindo uma formação linear desse
negro; algumas trazidas por ele da África, outras africanas apenas universo cultural, nem estou emprestando-lhe uma harmonia, que,
na técnica, servindo-se de bichos e ervas indígenas. Nenhuma mais de fato, pouco existiu. Tanto seu processo de formação quanto
característica que a feitiçaria do sapo para apressar a realização de a convivência no interior dele se deram (e se dão) de maneira
casamentos demorados. O sapo tornou-se também, na magia se- conflituosa na maioria das vezes, embora haja, também, adaptações
xual afro-brasileira, o protetor da mulher infiel que, para enganar constantes, arranjos e acordos que visam a sua preservação. Paiva
o marido, basta tomar uma agulha enfiada em retrós verde, fazer (2001, p. 41)
com ela uma cruz no rosto do indivíduo adormecido e coser depois A preservação dessas práticas culturais ocorreu através de
os olhos do sapo. aproximações e afastamentos conforme ideia defendida por Paiva
Além da influência na vida sexual destacado no clássico Casa (2001, p.40):
Grande e Senzala, merecem ênfase as canções que foram modifica- A conformação e a preservação do universo cultural dão-se, en-
das pelas negras. tão, através das aproximações e afastamentos, das interseções, da
Também as canções de berço portuguesas, modificou-se a boca intervenção de espaços individuais e coletivos, privados e comuns,
da ama negra, alterando nelas palavras; adaptando-as às condições que envolvem dimensões do viver tão diversas quanto à do mate-
regionais; ligando-as às crenças dos índios e às suas. Assim a velha rial, da utensilagem e das técnicas; dos costumes e tradições, das
canção “escuta, escuta menino” aqui amoleceu-se em “durma, dur- práticas e das representações culturais; da mitologia e da religião;
ma, meu filhinho”, passando Belém de “fonte” portuguesa, a “ria- do físico e concreto, do psicológico e imaginário; da linguagem e
cho” brasileiro. Freyre (2001, p. 380) das escritas; da dominação, da resistência e do transito entre elas:
Observa-se que as amas apropriaram-se das canções de origem da temporalidade e da espacialidade; das continuidades e das des-
portuguesa e as recriaram, dando um toque especial, o toque afri- continuidades; da memória e da história. Tudo implicado com os
cano. Isso é perceptível na “infantilização” das palavras das canções. campos da política e do econômico, provocando mutuamente con-
“A linguagem infantil também aqui se amoleceu ao contato da tínuas reordenações e construções sociais.
criança com a ama negra. Algumas palavras, ainda hoje duras ou Desse modo, observa-se a formação e a preservação de uma
acres quando pronunciadas pelos portugueses, se amaciaram no identidade cultural, bastante plural devido às influências: europeia,
Brasil por influência da boca africana. Da boca africana aliada ao africana e indígena, favorecendo uma riqueza cultural bastante pe-
clima - outro corruptor das línguas europeias, na fervura por que culiar. Estas peculiaridades multiculturais manifestaram-se, princi-
passaram na América tropical e subtropical. Freyre (2001, p. 382) palmente, na língua, culinária, música, dança, religião, dentre ou-
Deste modo, foi se delineando a língua falada no Brasil, a língua tros.
portuguesa que foi amplamente influenciada pelo modo de falar
dos escravos africanos. Resistência
A ama negra fez muitas vezes com as palavras o mesmo que Onde quer que tenha existido escravidão, houve resistência
com a comida: machucou-as, tirou-lhes as espinhas, os ossos, as du- escrava. No Brasil os escravizados criaram diversas maneiras de re-
rezas, só deixando para a boca do menino branco as sílabas moles. sistência ao sistema escravista durante os quase quatro séculos em
Daí esse português de menino que no norte do Brasil, principalmen- que a escravidão existiu entre nós. A resistência poderia assumir
te, é uma das falas mais doces deste mundo. Sem rr nem ss; as síla- diversos aspectos: fazendo “corpo mole” na realização das tarefas,
bas finas moles; palavras que só faltam desmanchar-se na boca da sabotagens, roubos, sarcasmos, suicídios, abortos, fugas e forma-
gente. A linguagem infantil brasileira, e mesmo a portuguesa, tem ção de quilombos. Qualquer tipo de afronta à propriedade senho-
um sabor quase africano: cacá, bumbum, tentén, nenén, tatá, papá, rial por parte do escravizado deve ser considerada como uma forma
papapo, lili, mimi (...) Amolecimento que se deu em grande parte de resistência ao sistema escravista.
pela ação da ama negra junto à criança; do escravo preto junto ao Perdigão Malheiro, que foi um importante jurista do século XIX,
entendia a fuga como parte essencial do sistema escravista. Existe
uma concordância geral entre os estudiosos da escravidão com a
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opinião de Malheiro, de que a fuga foi um aspecto típico do escra- O quilombo mais conhecido no Brasil foi Palmares. Palmares
vismo. Onde quer que tenha existido escravidão, foram comuns as foi um quilombo formado no século XVII, na Serra da Barriga, região
fugas, os anúncios nos jornais buscando fugitivos e também a figura entre os estados de Alagoas e Pernambuco. Localizado numa área
do capitão-do-mato. Após a fuga, o escravizado poderia tentar se de difícil acesso, os aquilombados conseguiram formar um Estado
esconder nas matas, onde frequentemente formavam quilombos, com estrutura política, militar, econômica e sociocultural, que tinha
ou ainda tentar se misturar na densa população africana e afrodes- por modelo a organização social de antigos reinos africanos. Cal-
cendente que habitava os núcleos urbanos, tentando se passar por cula-se que Palmares chegou a possuir uma população de 30 mil
livre ou por liberto. Tendo fugido um escravizado, o seu senhor acio- pessoas.
nava toda uma rede de informantes para descobrir o seu paradeiro. Depois da abolição definitiva da escravidão no Brasil, em 1888,
Anunciava a fuga nos jornais locais, oferecendo recompensas àque- as comunidades negras deram outro sentido ao termo “Quilom-
le que desse notícias precisas sobre o esconderijo ou localização do bo”, não sendo mais utilizado como forma de luta e resistência ao
fugitivo e, frequentemente, pagava um capitão-do-mato para trazer cativeiro, mas sim como morada e sobrevivência da família negra
o escravizado de volta. em pequenas comunidades, onde seus valores culturais eram pre-
A fuga representou um modo significativo no processo de re- servados. Tais comunidades receberam diferentes nomeações: re-
sistência ao cativeiro e de autoafirmação da condição humana do manescentes de quilombos, quilombos, mocambos, terra de preto,
escravizado em oposição ao sistema escravista. Em primeiro plano comunidades negras rurais, ou ainda comunidades de terreiro.
provocava um abalo do ponto de vista econômico, tanto de posse
quanto de produção, por vários motivos: porque o escravizado dei- Religião e Cultura
xava de trabalhar enquanto estava fugido, deixando, portanto, de Religiosidade Negra As diferentes origens dos africanos trazi-
gerar lucro para o seu senhor; também por não haver garantia de dos para o Brasil fizeram com que aqui se desenvolvessem diferen-
que o escravizado fosse ser apreendido e, caso não fosse, o senhor tes tradições religiosas, que variaram de acordo com as localidades
perdia o capital nele investido; e, por último, porque pagar as diá- para as quais eles foram levados. No Sudeste brasileiro, por exem-
rias de um Capitão-do-Mato não era barato. Em segundo plano, a plo, a maior parte da população escrava anterior ao fim do tráfico,
fuga não era apenas um simples ato de rebeldia, significava a ten- em 1850, era composta de africanos oriundos da região centro-o-
tativa de usufruir de um espaço de liberdade, ainda que, na maior cidental, vindos principalmente do Congo e de Angola. Daí ter se
parte das vezes, fosse passageira. Sendo uma afronta direta ao po- desenvolvido uma religiosidade de matriz africana que cultuava os
der senhorial, os escravizados fugitivos, quando apreendidos, rece- ancestrais e os inquices (como eram chamados genericamente as
biam um castigo exemplar. As punições aos escravizados apreendi- entidades dos cultos congo-angolanos no Brasil). Já o Maranhão e
dos após uma fuga eram extremamente severas, podendo, às vezes, a Bahia, receberam muitos africanos da região do reino do Daomé,
o castigo exemplar recebido resultar em sua morte. chamados de jejes na Bahia e de minas no Maranhão. Estes grupos
As motivações que levavam um escravizado a fugir eram varia- cultuavam deuses chamados de voduns. Para a Bahia vieram tam-
das e nem todas as fugas tinham por objetivo se livrar do domínio bém grupos que falavam a língua iorubá, que cultuavam deuses de-
senhorial. Existiam as fugas reivindicatórias, como aquelas que fi- nominados orixás. A fusão de elementos das tradições jejes e nagôs
zeram os escravos do engenho Santana de Ilhéus, nas quais os es- deu origem ao candomblé baiano.
cravizados buscaram mudanças no exercício da escravidão dentro As irmandades religiosas constituíam outro aspecto da religio-
do engenho, ou quando o escravizado fugia após ser vendido para sidade negra do Brasil escravista. Alguns africanos vindos de regiões
um outro senhor. Fazendo isto, o escravizado pressionava o seu da África, onde o catolicismo já havia penetrado, como o Congo e
comprador para devolvê-lo ao seu antigo senhor, pois sabia que ne- Angola, já chegaram ao Brasil como católicos. Outros se convertiam
nhum senhor gostaria de ter entre os seus escravizados um fugitivo no Brasil quando, por imposição da cultura senhorial, padres católi-
contumaz. De forma contrária, às vezes, o escravizado fugia à pro- cos eram contratados pelos senhores para iniciarem os escravizados
cura de um outro senhor que o comprasse; caso o seu senhor não no cristianismo.
aceitasse a negociação, ele poderia continuar fugindo e, portanto, Possuidores de suas próprias crenças, os escravizados se deixa-
dando prejuízos e maus exemplos, até que seu senhor resolvesse vam converter de forma superficial, e quando adotavam o catolicis-
vendê-lo. mo, o faziam através de seu próprio repertório religioso e cultural.
Existiam também as fugas temporárias. Era comum a fuga por O que fez com que o catolicismo praticado pelos africanos e des-
alguns dias, quando em geral o escravizado ficava nas imediações cendentes possuísse muitas características das religiões de matriz
da moradia de seu senhor, às vezes para cumprir obrigações reli- africana, como as músicas e danças, as oferendas, as promessas e
giosas, outras para visitar parentes separados pela venda, outras, as festas. Além do que, para a maior parte dos escravizados, adotar
ainda, para fazer algum “bico” e, com o dinheiro, completar o valor o catolicismo não significava abandonar as religiões africanas, pra-
da alforria. ticava-se o catolicismo na frente do senhor e as religiões africanas
pelas costas.
Os Quilombos O exercício da prática católica pelos negros foi feito através das
irmandades religiosas. Estas organizavam festas em homenagem
Os quilombos ou mocambos existiram desde a época colonial aos padroeiros, os mais comuns eram Nossa Senhora do Rosário
até os últimos anos do sistema escravista e, assim como as fugas, e São Benedito. Além das festas e obrigações religiosas as irman-
foram comuns em todos os lugares em que existiu escravidão. A for- dades juntavam dinheiro para compra de alforria e se constituíam
mação de quilombos pressupõe um tipo específico de fuga, a fuga em importantes espaços de fortalecimento de laços de união entre
rompimento, cujo objetivo maior era a liberdade. Essa não era uma escravos e libertos.
alternativa fácil a ser seguida, pois significava viver sendo persegui-
do não apenas como um escravo fugido, mas como criminoso.
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Entre as contribuições mais expressivas da cultura africana es- Origem: não existe um consenso sobre a origem das
tão o samba, o carnaval, o futebol, a capoeira e o candomblé (este populações indígenas. Pesquisas apontam migrações vindas do
mais diretamente associado à cultura baiana). À exceção do fute- norte da América, da Polinésia e de outras áreas do planeta.
bol, todos fazem parte do repertório cultural afro-brasileiro. Porém, Essas populações foram chamadas de nativas ou originárias por já
o marcante estilo do futebol brasileiro, com seu molejo e criativida- habitarem o lugar antes da chegada dos europeus.
de, também é inseparável da influência afro. Sambas, batucadas,
candomblés e o exercício da capoeira foram práticas duramente Permanência: muitos dos grupos que habitam o território bra-
reprimidas pelo Estado brasileiro em épocas anteriores à década sileiro possuem vínculos com os primeiros povos aqui estabeleci-
de 1930. A partir da década de 1920, começou a ganhar corpo en- dos.
tre a intelectualidade brasileira a ideia da miscigenação como algo
positivo. História: o ser humano surgiu na África, aproximadamen-
Essas ideias da intelectualidade brasileira ganhariam uma fei- te 3 milhões de anos atrás. A partir de então vem adaptando-se
ção prática com a chegada de Getúlio Vargas ao poder e os ideais ao ambiente, até resultar no Homo sapiens sapiens, que data de
nacionalistas do Estado Novo. Ao longo dos quinze anos do governo 40.000 anos. Durante todo esse período, chamado de pré-história,
Vargas (1930-1945), várias medidas foram tomadas no sentido de ocorreram migrações para diversas partes do mundo, até chegar à
valorização de uma cultura nacional. Dentre essas medidas devem América. As fontes de informação sobre esse período são de origem
ser citadas a valorização do samba e a descriminalização da capoei- arqueológica, visto que as populações que habitavam o Brasil eram
ra e do candomblé. ágrafas (não possuíam sistema de escrita). A partir de 1500 esses
grupos que haviam se separado pelos fluxos migratórios entram em
contato novamente, com a chegada dos portugueses.
HISTÓRIA DOS POVOS INDÍGENAS DO BRASIL: LUTA POR
DIREITOS E DESAFIOS ATUAIS Cultura: como qualquer outro grupo humano, os povos indíge-
nas possuem culturas resultantes da história e das relações entre
os homens e o ambiente que os cerca. Essa cultura sofreu diversas
• Indígena: em 1492, quando chegou à América, Colombo transformações por conta dos contatos realizados nos últimos 500
achou que tinha desembarcado nas Índias e chamou de índios os anos, de maneira nem sempre pacífica.
habitantes da região. O nome resultou de um erro e contém a falsa
visão de que todos os habitantes da América nesse período eram Limites Geográficos: os limites entre países, estados ou muni-
iguais, com a mesma cultura. Portanto hoje se prefere empregar o cípios muitas vezes são criados a partir de referências que não coin-
termo indígena. cidem com os limites de habitação dos povos indígenas. Em muitos
casos, os povos que hoje vivem em uma região de fronteiras inter-
História dos Povos Indígenas e a Formação Sociocultural Bra- nacionais já ocupavam essa área antes da criação das divisões entre
sileira6 os países; é por isso que faz mais sentido dizer povos indígenas no
Brasil do que do Brasil.
Segundo o censo do IBGE de 20107, o Brasil conta com uma
população de 896.917 pessoas que consideram-se indígenas. Des- Discussões
tes, 324.834 vivem em cidades e 572.083 em áreas rurais, o que Sobre os povos indígenas, pela visão dos portugueses “eles
corresponde aproximadamente a 0,47% da população total do país. eram selvagens e muito cruéis”. Essa visão, construída com base
A maior parte dessa população distribui-se por milhares de al- nos valores europeus da época marcou o processo de colonização.
deias, situadas no interior de 700 Terras Indígenas, de norte a sul do Alguns arqueólogos afirmam que a ocupação da América
território nacional. ocorreu há cerca de 15.000 anos. Outros, porém, dizem que isso
Esses números representam os sobreviventes da colonização ocorreu antes, por volta de 50.000 anos atrás.
do território brasileiro ao longo de 500 anos de exploração. Ao pon- Seja como for, o fato é que boa parte do território hoje conheci-
to que estima-se que, na época da chegada dos europeus, fossem do como Brasil já era ocupado por grupos humanos há 10.000 anos.
mais de 1.000 povos, somando entre 2 e 4 milhões de pessoas. A cultura e as formas de organização social desses grupos eram di-
Sendo que, nos dias hoje, encontramos no território brasileiro 246 ferentes umas das outras.
povos falantes de mais de 150 línguas diferentes. Alguns desses grupos são chamados atualmente de povos de
Contudo para tratar o assunto na atualidade, é necessário ter tradição Humsitá. Eles ocupavam o que é hoje a região Sul do Brasil
em mente seis pontos: e eram habilidosos fabricantes de instrumentos de pedra.
Haviam os sambaquis que habitavam principalmente o litoral.
Ocupação: populações humanas já habitavam a terra hoje de- Viviam, sobretudo, da pesca e da coleta de moluscos, como o ca-
nominada Brasil antes da chegada dos europeus, com ocupações ranguejo.
que variam entre 40.000 e 2.000 anos antes do presente, e que ain- Outros grupos eram os que habitavam a atual região amazô-
da se mantinham por volta de 1.500. Essas populações habitavam nica e produziam objetos de cerâmica. O grupo dos Itararé, que
territórios que interagiam com seu modo de vida e seus costumes. ocupavam as regiões Sul e Sudeste do Brasil atual e faziam suas ha-
bitações abaixo do solo, além de diversos outros grupos com carac-
terísticas próprias.
A relação entre os povos indígenas e os europeus sempre foi
6 http://pib.socioambiental.org/ bastante agitada. Durante os primeiros anos do contato foram esta-
7 https://indigenas.ibge.gov.br/graficos-e-tabelas-2.html belecidas relações de comércio, principalmente do Pau-Brasil, com
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portugueses e franceses. Percebendo a concorrência, esses países Kaingang: São um dos grupos indígenas mais numerosos do
buscaram aliados nos grupos que habitavam o litoral e que já pos- Brasil, com uma população estimada em aproximadamente 30 mil
suíam histórico de rivalidade com outras tribos. pessoas. Habitam os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e
Com a decisão de Portugal de ocupar e colonizar efetivamente Rio Grande do Sul. Desde o século XVI possuem contato com euro-
o Brasil, muitos índios acabaram aprisionados e escravizados, utili- peus, quando eram denominados Guaianazes.
zados como mão-de-obra principalmente nas plantações de cana- Eram também conhecidos por coroados, devido ao corte de ca-
-de-açúcar. belo que utilizavam, semelhante a uma coroa. Sua relação com os
Como havia a necessidade de cada vez mais terras para o cul- colonizadores e funcionários do governo sempre adquiriram caráter
tivo da cana, os portugueses adentravam cada vez mais para o in- hostil, até que em meados do século XIX seus líderes resolveram
terior, o que gerava sempre novos conflitos ao tentar expulsar os aliar-se aos não índios, auxiliando na pacificação dos diversos gru-
índios de suas terras. A busca por ouro e pedras preciosas empreen- pos espalhados pelo interior dos estados que ainda habitam.
dida pelas bandeiras de exploração também resultou na captura de Kayapó: habitantes da região da floresta amazônica. Atualmen-
muitos indígenas. te vivem nos estados de Mato Grosso e Pará.
A situação amenizou-se com a chegada dos padres da Compa- Timbira: entram em contato com os não índios a partir do início
nhia de Jesus ao Brasil, que condenavam o trabalho forçado dos do século XVIII, na capitania do Piauí. Atualmente habitam os esta-
índios. Os padres construíram colégios e reduções, onde buscavam dos de Tocantins, Pará e Maranhão.
converter os índios para a fé católica. Muito mais do que um local Xokleng: habitantes do sul do Brasil, os primeiros registros de
para a conversão, os índios enxergavam nessas construções formas contatos datam do século XVIII. Vivem atualmente no estado de
de fugir da exploração do trabalho forçado e de seus inimigos. Santa Catarina.
Com a expansão para o interior do Brasil, principalmente du-
rante os séculos XIX e XX, a situação indígena piorava cada vez mais. - Povos do tronco Tupi
Aqueles que não eram mortos durante os conflitos por terras aca- Caetés: ficaram conhecidos pelo episódio em que teriam su-
bavam confinados em aldeamentos e reservas, que representavam postamente feito um banquete com a tripulação que naufragou
uma pequena parte do território que habitavam e de onde tiravam juntamente com Pero Fernandes Sardinha, primeiro bispo portu-
seu sustento. guês a chegar no Brasil. Habitavam a região dos estados de Alagoas
Muitos índios acabaram também sendo expulsos dessas re- e Pernambuco.
servas, obrigados a migrarem para as cidades ou sendo realocados Potiguaras: povo que tinha no caráter guerreiro seu valor fun-
em reservas com povos totalmente diferentes, em alguns casos até damental. Praticavam a antropofagia (ato de comer partes de um
mesmo povos em que existia uma relação de conflito. ser humano) ritual. Foram inimigos dos portugueses durante o pro-
cesso de conquista do território, formando alianças com franceses.
Os Indígenas em 1500 Viviam do litoral do atual estado da Paraíba ao estado do Ceará.
Por volta de 1500, quando os portugueses aqui chegaram, al- Eram inimigos dos Tabajaras.
guns desses povos ainda existiam; outros já tinham desaparecido Tabajaras: viviam no litoral dos estados de Alagoas e Sergipe,
havia algum tempo. Estudos atuais revelam que por essa época, vi- migrando para a Paraíba, território de domínio Potiguara, o que ge-
viam no atual território brasileiro mais de 1.000 povos diferentes, rou grandes conflitos entre os povos. Os Tabajaras acabaram alian-
com crenças, hábitos, costumes e formas de organização específi- do-se aos portugueses após os primeiros contatos.
cas. Tamoios: também eram praticantes da antropofagia. Habita-
Esses povos falavam cerca de 1.300 línguas distintas, agrupadas vam o litoral norte de São Paulo e o Vale do Paraíba, sendo inimigos
em dois troncos linguísticos: o Tupi e o Macro-Jê. Mas havia muitas dos portugueses.
outras famílias linguísticas, como a dos Aruaque e a dos Caraíba, da Tupinambás: habitaram porções de terra no norte da Bahia,
atual região amazônica. Sergipe e também do litoral norte do Rio de Janeiro até São Sebas-
De modo geral, os povos do tronco linguístico Tupi viviam no tião em São Paulo. Foram inimigos dos Tupiniquim e também dos
litoral. Estre eles estavam povos como os Guarani, os Tupinambá e portugueses.
os Tabajara. Tupiniquins: viviam na região do atual estado da Bahia e pos-
Já os povos do tronco Macro-Jê – como os Bororó, os Carajá, suíam uma grande concentração de pessoas no território do atual
os Tarairu, os Cariri – viviam, em grande parte, mais para o interior estado de São Paulo. Foram aliados dos portugueses.
do território, ou no sertão, como os portugueses diziam na época.
Influências na Formação da Sociedade Brasileira
- Povos do tronco Jê Muitas das práticas sociais e culturais do Brasil atual têm ori-
Xavantes: autodenominados Akwén, entraram em contato gem nas sociedades indígenas, a começar pela alimentação. Ao
com mineradores na província de Goiás, no início do século XVIII. chegarem ao Brasil em 1500, os portugueses saborearam os ali-
Atualmente habitam o estado do Mato Grosso. mentos nativos da América, conhecidos e cultivados há muito tem-
Apinayé: entram em contato com jesuítas no Tocantins em po pelos indígenas.
1633, sendo contrários à ideia de pacificação. Estiveram em conflito Assim, iniciou-se o consumo pelos portugueses da mandioca,
com portugueses e com o governo brasileiro ao longo de vários sé- do milho, da batata-doce, do amendoim, da abóbora, do abacaxi,
culos. Atualmente habitam o estado de Tocantins. do caju, da pimenta, do mamão, entre outros. O hábito de assar os
alimentos, o hábito de dormir em redes, tão difundido, sobretudo
no Nordeste, o consumo de bebidas preparadas a partir de guaraná
e mate também tem origem nos costumes indígenas.

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Técnicas como a pesca utilizando tarrafa (rede), a coivara (quei- lho composto dos chefes das grandes famílias e as decisões eram
mada dos campos para limpeza) e o mutirão, originado da práti- tomadas coletivamente. O morubixaba – líder da aldeia – era o
ca tupi de realização coletiva de determinada atividade necessária conselheiro encarregado de ajudar as pessoas a resolver pequenos
para a manutenção da organização da tribo, foram também incor- conflitos.
poradas. Podemos dizer, portanto, que nas sociedades indígenas não ha-
A medicina também utilizou-se da sabedoria indígena para au- via privilégios nem desigualdades sociais.
xiliar na cura dos homens. A quinina, empregada para a malária, A educação das crianças era tarefa de toda a comunidade,
ainda hoje é utilizada como medicamento básico. A copaíba, que e não só da família. As crianças eram muito bem tratadas e não
os tupis utilizavam para curar feridas, igualmente continua a ser uti- havia castigos físicos. Da mesma forma, os idosos eram respeitados
lizada. Podemos citar, ainda, o curare, usado como anestésico, e a como guardiões da história e do saber de seu povo. Eram eles que
pajelança (invocação dos espíritos para efetivar a cura de doenças), transmitiam aos mais jovens os valores e as crenças do grupo.
praticada mediante a intermediação dos pajés. Os indígenas que viviam nas terras que hoje formam o Brasil
Também o folclore foi e ainda é marcado por influências indí- desconheciam a escrita. Assim, o conhecimento e os saberes acu-
genas. Destacamos o curupira, que protegia a caça e a natureza, mulados pelos grupos eram transmitidos de geração em geração
garantindo um permanente equilíbrio entre as necessidades do por meio de histórias narradas oralmente.
homem e a preservação do ambiente natural; o boto-tucuxi, que, Além da arte de contar histórias, muitos grupos desenvolve-
no folclore amazônico, era o responsável pela gravidez de jovens ram habilidades como produtores de arte plumária, que consiste na
virgens e de mulheres cujos maridos costumavam ausentar-se por criação de enfeites e adornos de penas coloridas em combinações
longos períodos. de grande beleza. Também na cerâmica, nos traçados e nas pinturas
Nosso vocabulário teve uma grande contribuição de diversas corporais alguns desses povos produziram obras belíssimas.
etnias em sua formação. Até hoje muitos nomes de lugares, pes- As tarefas que garantiam a sobrevivência do grupo eram fei-
soas, objetos e práticas do dia tem sua origem em palavras indíge- tas por todos. Assim também era dividido o resultado do trabalho
nas. coletivo. Derrubar árvores, caçar, pescar, preparar a terra para o
plantio, construir malocas, armas e canoas, em geral, era trabalho
Organização dos Índios dos homens. As mulheres, além de cuidar das crianças pequenas e
cozinhar, trabalhavam na coleta de frutos, na plantação de roças e
Relações Familiares na colheita.
Os documentos produzidos pelos portugueses e outras evidên- Os alimentos variavam conforme a disponibilidade dos recur-
cias históricas revelam que boa parte dos povos indígenas viviam sos naturais e as características de cada povo indígena. Grupos que
em pequenas aldeias. Cada aldeia era formada por um conjunto de moravam próximo a rios e mares tinham na pesca sua principal fon-
quatro a sete malocas (tipo de cabana comunitária). te de alimento. Já os que viviam no interior do território, além da
Essas aldeias eram circulares, em forma de ferradura ou linea- caça, se dedicavam muitas vezes à prática da agricultura. Plantavam
res, como por exemplo, duas fileiras de casas, formatos ainda hoje principalmente milho, mandioca, abóbora, inhame e batata-doce.
utilizados pelos indígenas. As malocas eram feitas de galhos de ár- Com o grande conhecimento que tinham da natureza, alguns
vores e cobertas com palha. povos indígenas aprenderam a extrair o veneno de certas varieda-
Uma característica comum às aldeias é a existência de um es- des de mandiocas. Feita a extração do veneno, transformavam a
paço central entre as habitações onde se organizam cerimônias re- raiz em farinha seca, tapioca, beiju e outros produtos. Vários ali-
ligiosas e festas, e onde as crianças brincam. Em tupi, esse espaço mentos que consumimos hoje no Brasil são uma herança direta das
é chamado de ocara. culturas indígenas.

Crenças e Costumes Antropofagia na Cultura Indígena


As crenças religiosas dos povos indígenas estavam estreita- A antropofagia praticada pelos povos indígenas fazia parte de
mente relacionadas com a natureza. Para eles, a chuva ou a seca, sua cultura, e é sob esse prisma que precisamos compreender o
uma boa caçada ou uma pescaria bem-sucedida deviam-se à ação fenômeno. Os indígenas não comiam outros seres humanos por es-
de várias entidades e espíritos ligados à natureza. tarem com fome ou por não terem comida.
O boitatá, por exemplo, protegia o campo dos incêndios, repre- Para algumas etnias, comer o corpo de um ente querido cons-
sentado por uma serpente de fogo; o curupira, descrito como um tituía um ato de amor: mães e pais, por exemplo, poderiam comer
indígena de cabelos vermelhos com os pés virados para trás, era o restos mortais de seus filhos.
protetor da fauna e da flora. Outra forma de antropofagia era aquela em que grupos ou
A figura central dos ritos religiosos era o pajé, mediador entre povos comiam o corpo de um guerreiro aprisionado. Esse costu-
o mundo terreno e o espiritual. Ele entrava em contato com os espí- me fazia parte de um ritual mais amplo: o prisioneiro poderia viver
ritos da floresta para curar as doenças e era um grande conhecedor muito tempo junto ao grupo que o aprisionou, era bem alimentado
dos remédios naturais extraídos das plantas. e chegava mesmo a se casar com uma mulher da aldeia. No dia da
Na época da chegada dos portugueses à América, os indígenas execução, aldeias vizinhas eram convidadas para a festa. Por meio
conheciam mais de 3 mil diferentes espécies de ervas, que usavam dessa morte e da ingestão do corpo do guerreiro, a aldeia vingava
para combater os mais variados problemas de saúde. Na Europa, o simbolicamente os parentes mortos pela aldeia inimiga. Em outros
número de remédios não passava de cem. casos, julgavam adquirir a força e a coragem do inimigo ao ingerir
Para os indígenas, a terra, a floresta, a água e os animais eram partes do corpo do prisioneiro morto.
de todos, não havia propriedade privada. Para resolver situações
importantes – como decidir uma guerra -, formava-se um conse-
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Papel dos Jesuítas O primeiro dicionário da língua Guarani foi escrito no ano de
1639 pelo padre António Ruiz Montoya. Publicado em Madrid, no
Muitos padres da Companhia de Jesus, conhecidos por Jesuítas dicionário de 814 páginas traz cerca de 8.100 palavras. Não por aca-
condenavam as ações praticadas pelos colonos portugueses em re- so a publicação que traduz para o castelhano recebeu o nome “Te-
lação aos escravos indígenas, já que a rotina de trabalho nos cana- souro da Língua Guarani”.
viais era árdua e durava longas horas diárias. Sobre a relação dos indígenas com os aldeamentos, como
Por pressão dos Jesuítas, a Coroa portuguesa estabeleceu bem destacam Mota e Chagas8, ao tratar das reduções jesuíticas
que os escravos fossem liberados de suas atividades durante os na região do Guairá (atual Paraná), os índios guarani, por seu lado,
domingos para praticar a fé cristã e frequentar a missa. Apesar da fizeram alianças, acordos e guerras, no sentido de garantir sua li-
determinação real, a medida não era seguida por muitos senhores berdade.
de engenhos e quando era praticada, muitos indígenas acabavam É preciso lembrar que, quando fizeram aliança com os jesuítas,
usando o dia para descansar ou praticar outras atividades que lhes eles buscaram uma forma de não ser submetidos, por exemplo, à
rendessem uma alimentação complementar, deixando de lado as servidão (encomiendas). Para entender a história da ocupação dos
obrigações religiosas. territórios do Guairá, é preciso considerar as relações entre os di-
Os Jesuítas criaram aldeamentos com o objetivo de batizar os versos grupos: conquistadores e seus interesses, os Guarani, os
índios na fé católica. Com a ideia de que poderiam alcançar o paraí- Kaingang (inimigos).
so e praticar a fé cristã, os índios eram catequizados. Para conseguir Com expedições denominadas de descimentos, os missioná-
uma aproximação e conquistar os interesses indígenas, os Jesuítas rios convenciam os índios através da retórica a descerem de suas
aprenderam sua linguagem e seus costumes, para pouco a pouco aldeias para se juntarem a novos aldeamentos. Pela legislação, o
incorporar elementos religiosos em sua cultura e finalmente torná- aldeamento garantia a liberdade indígena, no entanto, nesse am-
-los completamente cristãos. biente, os indígenas foram forçados a adaptar-se a novos elementos
O abandono das antigas crenças e aceitação da fé cristã, mes- culturais, sofrendo interferência religiosa e moral. Eram obrigados a
mo quando imposta, era considerada pelos jesuítas, como a forma trabalhar e por lei deveriam receber pagamento, uma nova realida-
mais eficiente para torná-los mais pacíficos, além de facilitar a vida de completamente diferente da sua tradição.
dos colonos pois auxiliariam em guerras contra tribos consideradas Os jesuítas nunca foram contrários ao trabalho indígena e, mui-
perigosas e hostis, além dos invasores franceses e holandeses que to menos, à sua inserção no mundo colonial. O que eles não sus-
possuíam grande interesse pelo território brasileiro. tentavam era a servidão natural dos mesmos e a sua escravização,
É importante notar o ponto de vista indígena, muitas vezes salvo por motivo de “guerra justa”.
atraídos para os aldeamentos com o objetivo de fugir da escravidão Para os jesuítas, o objetivo final da catequização e conversão
imposta pelos colonos e das guerras praticadas por seus rivais. começava a mostrar seu sucesso a partir da destruição e da perda
dos costumes dos povos indígenas.
Aldeamentos Indígenas O modelo, tal como inaugurado pelos jesuítas, perdurou ao lon-
Os aldeamentos foram os locais de trabalho dos missionários, go de todo o período colonial, embora tenha sofrido significativas
que buscavam catequizar as populações indígenas. Utilizados como alterações com a política indigenista pombalina, inaugurada com o
forma de atração, os aldeamentos normalmente estavam localiza- Diretório dos Índios (1757-1758), que já apostava na secularização
dos próximos às povoações coloniais, para incentivar o contato com das aldeias, e reforçada após a expulsão dos jesuítas em 1759-60.
os portugueses.
Entre os vários exemplos de estudo da língua indígena para a Diretoria-Geral e Diretorias Parciais dos Índios.9
utilização como ferramenta de conversão é possível citar os padres
José de Anchieta e António Ruiz de Montoya. A criação das Diretorias Gerais e Parciais dos Índios por todo
O primeiro dicionário conhecido da língua Tupi foi escrito pelo o território brasileiro foi originada por meio do Regulamento das
padre José de Anchieta e publicado em 1595, com o nome de “Arte Missões de Catequese e Civilização dos Índios criado pelo Decreto
de Gramática da Língua Mais Falada na Costa do Brasil”. n° 426 de 24 de julho de 1845.
Anchieta, que missionou no Brasil desde 1553, notava (como As Diretorias dos Índios tinham como responsabilidade as me-
seus contemporâneos) a grande semelhança da língua falada pelos diações entre os índios e os Governos Imperial e Provincial.
indígenas do litoral: os tupis. Em uma carta de 1584, ele observa Segundo o Regulamento, cada Província teria um Diretor Geral
que todos os povos do litoral “têm uma mesma língua que é de de Índios, nomeado pelo Imperador que deveria interagir com o
grandíssimo bem para a sua conversão”. respectivo Presidente da Província para algumas questões, como
Seriam assim povos cuja identidade estaria associada à língua por exemplo, requisitar os objetos que o Governo Imperial enviasse
geral, como os jesuítas chamavam o “tupi universal” que inventa- para os índios, a fim de distribuí-los pelos Diretores das Aldeias e
ram. Ao lado da inegável semelhança de todos os dialetos tupis, o pelos Missionários.
agrupamento das diversas “castas” resolveu-se na necessidade ho- Com relação à Assembleia Provincial, deveria propor “a criação
mogeneizadora que os primeiros missionários viam para lidar com de Escolas de primeiras Letras para os lugares, onde não baste o
os grupos nativos. Missionário para este ensino”. As Aldeias eram controladas por um
Tratava-se de entender para transformar, compreender as cul- Diretor, nomeado pelo Diretor Geral.
turas indígenas para substituí-las pelo Evangelho. Os jesuítas, desde
cedo, determinaram que a catequese, ou a conquista das almas, 8 Chagas, Nádia Moreira; Mota, Lúcio Tadeu. O Guairá nos Séculos XVI e XVII
seria mais facilmente realizada se usassem da língua dos naturais. – As Relações Interculturais http://projetos.unioeste.br/projetos/cidadania/images/
Assim, a Gramática da língua mais usada na costa do Brasil surge stories/ArquivosPDF/biblioteca/O_Guair_nos_sec._XVI_e_XVII_.pdf
com um instrumento da conversão do indígena. 9 http://www.ambienteterra.com.br/paginas/indio/seusdireitos.html
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Tanto o Governo Imperial e quanto o Governo Provincial se- As atividades das Comissões de Linhas Telegráficas em Mato
riam juridicamente responsáveis pela Diretoria. Essa divisão de res- Grosso deram notoriedade a Cândido Mariano da Silva Rondon.
ponsabilidade apenas aconteceu a partir do Ato Adicional de 12 de Ele e outros militares positivistas que integravam redes de relações
agosto de 1834, que alterou a constituição e, dentre outros, criou políticas regionais e nacionais, vinculadas a instituições civis e apa-
as Assembleias Legislativas Provinciais, delegando-lhes competên- relhos governamentais, sediados na Capital Federal, se envolveram
cias legislativas e materiais, ou seja, competência de editar leis e de numa polêmica pública relativa à “capacidade ou não de evolução
colocá-las em prática, incluindo a de elaborar as leis orçamentárias dos povos indígenas”.
e a de “promover, cumulativamente com a assembleia e o governo A partir de 1908, Rondon propôs que fosse criada uma agência
geral, a organização da estatística da província, a catequese, a civili- indigenista do Estado brasileiro tendo por finalidades:
zação dos indígenas e o estabelecimento de colônias”. a) estabelecer de uma convivência pacífica com os índios;
Na Província de São Paulo, o Diretor Geral dos Índios nomeado b) garantir a sobrevivência física dos povos indígenas;
pelo Imperador foi o Brigadeiro José Joaquim Machado de Oliveira, c) estimular os índios a adotarem gradualmente hábitos “civi-
que, por sua vez, deveria nomear diretores leigos para cada aldeia lizados”;
indígena da província. d) influir “amistosamente” na vida indígena;
Machado de Oliveira se posicionava a favor da vertente que via e) fixar o índio à terra;
a catequese e civilização como saída do estado de barbárie, con- f) contribuir para o povoamento do interior do Brasil;
trariando aqueles que não acreditavam ser possível qualquer mu- g) possibilitar o acesso e a produção de bens econômicos nas
dança. Mesmo que o Regulamento das Missões fosse um passo a terras dos índios;
favor dessa vertente, ainda assim, era composto por ideias bastante h) empregar a força de trabalho indígena no aumento da pro-
diversificadas. dutividade agrícola;
O aldeamento de Itariri-SP chama atenção, por ser um dos i) fortalecer as iniciativas cívicas e o sentimento indígena de
poucos que Machado de Oliveira considerava ter dado certo. Ele foi pertencer à nação brasileira.
criado em 21 de janeiro de 1847, no município de Iguape, porque,
segundo o diretor geral, existiram famílias de indígenas Guarani As iniciativas do SPI envolviam a intervenção na vida indíge-
Nhandeva, que deixaram as matas, em 1837 e ali se asilaram, viven- na através de um ensino informal, a partir das necessidades cria-
do do trabalho braçal onde era este exigido, e talvez sob a condição das, evitando-se influenciar a organização familiar. O objetivo era
de escravos. impedir conflitos entre diferentes povos enquanto o SPI introduzia
inovações culturais, prevendo possíveis mudanças nos locais de ha-
Criação do Serviço de Proteção aos Índios (SPI)10 bitação dos índios.
Foram estimuladas mudanças no trabalho indígena com a di-
O Serviço de Proteção aos Índios (SPI), instituição criada pelo fusão de novas tecnologias agrícolas e o ensino da pecuária, além
decreto nº 8.072, de 20 de junho de 1910 com o nome de Serviço da arregimentação de índios para os trabalhos de conservação das
de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais linhas telegráficas.
(SPILTN). Tinha por tarefa a pacificação e proteção dos grupos in- A experiência de Rondon no trato com povos indígenas e suas
dígenas, bem como o estabelecimento de núcleos de colonização ideias positivistas sobre os índios, convergentes com os projetos de
com base na mão de obra sertaneja. colonização e povoamento definidos na criação do MAIC, origina-
As duas instituições foram separadas em 6 de janeiro de 1918 ram o convite que o tornou primeiro diretor do SPI. Dessa forma,
pelo decreto Lei nº 3.454, e a instituição passou a ser denominada foi instaurado um novo poder estatizado que assegurava o controle
SPI, que foi extinta em 1967 quando da criação da Fundação Nacio- legal das ações incidentes sobre os povos indígenas. Esse poder foi
nal do Índio (FUNAI). formalizado na malha administrativa do SPI, a partir de um código
A origem do SPI estava nas redes sociais que ligavam os inte- legal (regimentos, decretos, código civil, etc.).
grantes do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio (MAIC), Para a administração da vida indígena foi formalizada uma de-
Apostolado Positivista no Brasil e Museu Nacional, pois o MAIC pre- finição legal de índio, através do Código Civil de 1916 e do Decreto
viu desde a sua criação a instituição de uma agência de civilização nº 5.484, de 1928. Os indígenas tornaram-se tutelados do Estado
dos índios. brasileiro, um direito que implicava num aparelho administrativo
10 BRASIL. Legislação indigenista. Brasília: Senado Federal/Subsecretaria de único, mediando as relações índios/Estado/sociedade nacional.
Edições Técnicas, 1993. A terra, a representação política e o ritmo de vida foram admi-
Ministério da Agricultura. Serviço de Proteção aos Índios. SPI/1953. Relatório nistrados por funcionários estatais, com os índios adotando uma
das atividades do Serviço de Proteção aos Índios durante o ano de 1953. Rio de indianidade genérica.
Janeiro: Serviço de Proteção aos Índios, 1953. Os indigenistas do SPI trabalharam em diferentes tipos de pos-
Ministério da Agricultura. Serviço de Proteção aos Índios. SPI/1954. Relatório tos indígenas (de atração, de criação, de nacionalização, etc.), assim
das atividades do Serviço de Proteção aos Índios durante o ano de 1954. Rio de como em povoações e centros agrícolas. Dependendo de recursos
Janeiro: Serviço de Proteção aos Índios, 1954. financeiros e políticos, o SPI adotou um quadro funcional heterogê-
FREIRE, Carlos Augusto da Rocha. Saudades do Brasil: Práticas e representa- neo, envolvendo desde militares positivistas a trabalhadores rurais
ções do campo indigenista no século XX. Tese (Doutorado em Antropologia Social) sem qualquer formação. A pedagogia nacionalista empregada por
– PPGAS/MN, UFRJ, Rio de Janeiro, 2005. esses agentes controlava as demandas indígenas, mas podia resul-
LIMA, Antonio Carlos de Souza. Sobre indigenismo, autoritarismo e nacionalidade: tar em situações de fome, doenças e de população, contrárias aos
considerações sobre a constituição do discurso e da prática da “proteção fraternal” objetivos do Serviço.
no Brasil. In: OLIVEIRA, João Pacheco de (Org.). Sociedades indígenas e indige-
nismo no Brasil. Rio de Janeiro: Marco Zero: Ed. UFRJ, 1987.
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REALIDADE BRASILEIRA

A ação do SPI foi marcada por contradições identificadas como O SPI dificilmente conseguia controlar, estabilizar e melhorar
“paradoxos indigenistas”, pois tinha por objetivo respeitar as terras a condição sanitária de povos indígenas que enfrentavam surtos
e a cultura indígena, mas agia transferindo índios e liberando ter- epidêmicos. Em campo, no início dos anos 50, o antropólogo Dar-
ritórios indígenas para colonização, impondo uma pedagogia que cy Ribeiro foi testemunha da morte de dezenas de índios Urubu
alterava todo o sistema produtivo indígena. Kaapor dizimados por sarampo e coqueluche. Os postos indígenas
De 1910 a 1930, o SPI fez parte do então Ministério da Agricul- possuíam alguns medicamentos, mas a maioria de seus encarrega-
tura, Indústria e Comércio; de 1930 a 1934, esteve ligado ao Minis- dos eram leigos em assistência sanitária.
tério do Trabalho; de 1934 a 1939, foi integrado ao Ministério da
Guerra, como parte da Inspetoria de Fronteiras; em 1940 voltou ao Assistência Educacional
Ministério da Agricultura e, mais tarde, passou para o Ministério Dos antigos aldeamentos missionários aos postos indígenas do
do Interior. Em 1939, foi criado o Conselho Nacional de Proteção SPI, a alfabetização de crianças e adultos indígenas visava consoli-
aos Índios (CNPI) com o objetivo de atuar como órgão formulador e dar a sedentarização de um povo. Esse processo pedagógico envol-
consultor da política indigenista brasileira. via cultos cívicos, aprendizado de trabalhos manuais, técnicas da
A ideia seria a de que o SPI daí por diante teria somente atri- pecuária e novas práticas agrícolas. Pressupunha também novos
buições executivas, o que não ocorreu. A atuação do SPI se concen- cuidados corporais, como o uso de vestimentas e o ensino de prá-
trou na pacificação de grupos indígenas em áreas de colonização ticas higiênicas.
recente. Em São Paulo, Paraná, Espírito Santo, Mato Grosso e outras Os postos indígenas instalavam oficinas mecânicas, engenhos
regiões foram instalados postos indígenas. de cana e casas de farinha, treinando os índios em diversos ofícios,
Após a consolidação da pacificação eram feitas negociações além de investir na educação para transformar os índios em traba-
com os governos estaduais para a criação de reservas de terras para lhadores nacionais. Desde o século XIX, crianças indígenas eram en-
a sobrevivência física dos índios. Progressivamente eram introduzi- viadas para as escolas de artífices existentes nas capitais estaduais
das atividades educacionais voltadas para a produção econômica e como ocorreu em Manaus na gestão do SPI.
ações destinadas a atender as condições sanitárias dos índios. A política de “nacionalização” dos índios esteve presente em
O SPI buscou garantir a posse de terras aos índios através da quase todos os postos, onde a professora das crianças indígenas
concessão de terras devolutas. Inúmeras propostas foram feitas era quase sempre a esposa do encarregado, orientando essas crian-
pelo SPI de criação de terras indígenas e que foram negadas pelos ças para a integração à população regional à medida que aceitavam
governos estaduais. também como alunos os filhos de colonos, dos empregados do pos-
Nos postos indígenas eram instaladas oficinas mecânicas, en- to e de fazendas vizinhas. Essas escolas não se diferenciavam das
genhos de cana-de-açúcar e casas de farinha, e os índios treinados escolas rurais, do método de ensino precário à falta de formação
em diversos ofícios. As crianças eram enviadas as escolas dos pos- do professor, predominando a formação de índios como produtores
tos, sendo que estas também recebiam filhos de colonos de empre- rurais voltados para o mercado regional.
gados dos postos e crianças da população vizinha, o que permitia
um processo de integração da população. Assimilacionismo Cultural
O SPI enfrentou durante toda a sua existência problemas de No dicionário a palavra assimilacionismo recebe a seguinte de-
carência de recursos e dificuldades de qualificação de seu pessoal. finição: “corrente que preconiza a assimilação de culturas periféri-
A atuação do órgão acabou por gerar resultados opostos a sua pro- cas pelas culturas dominantes”11.
posta. Eram frequentes as denúncias de casos de fome, doenças, Por assimilacionismo entendemos que um determinado grupo
assassinatos e escravização. No início da década de 1960, sob a acu- cultural minoritário num processo de “deculturação” esquecem os
sação de genocídio, corrupção e ineficiência o SPI foi investigado traços da sua cultura de origem e, simultaneamente, adquirem os
por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). da cultura dominante.
O processo levou à demissão ou suspensão de mais de cem Tem como base uma perspectiva ideológica que considera uma
funcionários de todos os escalões. Em 1967, durante o regime mili- cultura superior à outra e supõe um papel passivo das culturas mais
tar, o SPI e o CNI (Confederação Nacional da Industria) foram extin- fracas: muitas vezes, ao grupo mais fraco exige-se mesmo que adote
tos e substituídos pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). os traços do grupo dominante. Neste caso, uma das culturas elimina
efetivamente a outra (ajustamento por eliminação). Na prática, no
Assistência Sanitária entanto, verifica-se que só alguns aspectos da cultura subordinada
A disseminação de doenças e a ocorrência de epidemias para são eliminados em favor da cultura dominante.
as quais os povos em guerra ou dominados tinham baixa imunidade Em termos de comunidades migrantes, culturalmente diferen-
contribuiu para a conquista dos povos indígenas do Brasil na época tes e minoritárias, portanto mais fracas, a forma de reação a esta
colonial. O contágio da varíola, gripe, tuberculose, pneumonia, co- situação parece depender de duas condições:
queluche, sarampo e outras viroses levaram à dizimação de inúme- - primeiro, que haja uma opção clara e vigorosa dos indivíduos
ros povos indígenas, à mortandade de milhares de índios. candidatos à integração, de se inserirem na sociedade de acolhi-
Nas primeiras décadas do século XX, essa realidade não foi alte- mento;
rada: nos grupos recém-contatados pelo SPI, aldeias inteiras foram - segundo, que haja uma opção coletiva suficientemente clara e
destruídas por doenças pulmonares. Ao causar alta mortalidade, o explícita da sociedade de acolhimento para reconhecer a identidade
pós-contato iniciava o desequilíbrio das condições de sobrevivência cultural própria e um estatuto de igualdade aos novos integrados.
de um povo que já enfrentava doenças endêmicas como vermino-
ses e malárias, passando a conviver com a desnutrição, a dificulda-
de de produção de alimentos e a falta de cuidados sanitários.
11 https://bit.ly/2v73uqH
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Museu do Índio (anos 1950)12 A história e trajetória do Museu do Índio é peculiar, por ter sur-
gido de um órgão voltado à proteção das populações indígenas, que
O Museu do Índio foi criado, em 1953, no Serviço de Proteção desenvolveu uma seção de estudos, que não tinha como finalidade
aos Índios – SPI, agência do Governo encarregada de dar assistência a pesquisa acadêmica; e sim pesquisas para dar um respaldo ao SPI.
aos índios no Brasil. Essas pesquisas acabaram construindo um acervo, que gerou um
No início da década de 60, o Museu foi transferido para o Con- processo museológico. Desde sua existência o museu esteve vin-
selho Nacional de Proteção aos Índios – CNPI, órgão responsável culado às pesquisas, salvo alguns momentos em que mudanças na
pelo assessoramento e formulação da política indigenista oficial da estrutura impediram essa aproximação.
época. Em 1967, o Governo militar resolveu reunir o SPI, o CNPI e o
Museu em um único órgão, a Fundação Nacional do Índio - FUNAI, Parque Nacional do Xingu (anos 1960)
onde a instituição está inserida até hoje.
Atualmente, o Museu do Índio é uma importante instituição A criação do Parque do Xingu resultou de um longo processo de
de pesquisa sobre línguas e culturas indígenas. Tem sob sua guar- luta entre instituições do Estado brasileiro e setores da sociedade
da documentos relativos à maioria das sociedades indígenas con- civil envolvendo o controle territorial e/ou privatização de terras.
temporâneas, constituídos de 15.840 peças etnográficas e 15.121 Sua superfície corresponde a uma pequena parcela da vasta região
publicações nacionais e estrangeiras, especializadas em etnologia e onde se encontrava presente, já no início do século XX, uma varie-
áreas afins. Seus diversos Serviços são responsáveis pelo tratamen- dade significativa de etnias indígenas localizadas na bacia do alto rio
to técnico de 76.821 registros audiovisuais e 833.221 documentos Xingu no estado brasileiro de Mato Grosso.
textuais de valor histórico e contemporâneo. A partir dos anos 40 foi sendo sistematizado o contato entre
Sob a direção do antropólogo Darcy Ribeiro, o Museu do Índio setores da sociedade nacional, mais precisamente indigenistas com
foi inaugurado no dia 19 de abril de 1953, no Rio de Janeiro. os grupos indígenas. Um posto de assistência do órgão oficial en-
O prédio já foi residência oficial na época do império e abrigou, carregado da tutela aos grupos indígenas no Brasil - o Serviço de
entre outras figuras políticas, o marechal Rondon, pioneiro na polí- Proteção aos Índios (SPI) foi criado e instalado no Alto Xingu.
tica indigenista no País. Em 1865 o imóvel foi doado para abrigar um Em 1952 foi apresentado ao Congresso Nacional um Antepro-
órgão de pesquisas sobre as culturas indígenas brasileiras. Em 1910, jeto para a criação de um parque nacional na referida região. Neste
se tornou sede do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e, entre 1953 e projeto estava previsto um perímetro bem maior que o atual, in-
1978, foi sede do Museu do Índio. Em 1978, o museu foi transferido cluindo uma zona tampão de amortecimento do contato com as
para o bairro de Botafogo, na zona sul. frentes de expansão, de proteção às nascentes da bacia hidrográfica
A abertura do Museu do Índio não representou apenas um e da preservação do meio ambiente imediatamente circunvizinho à
novo espaço para divulgação da cultura indígena. Ele exibia a te- região ocupada pela população indígena.
mática indígena conjugada a um novo estilo museográfico, carac- Em 1961 foi criado pelo governo federal no alto Xingu o Parque
terizado pela elaboração de um projeto prévio, onde tanto o tema Nacional do Xingu. Em 1973 é, por força do Estatuto do Índio, alte-
quanto os equipamentos expositivos foram pensados de modo que rado na sua condição jurídica para parque indígena. A lei 6.001 de
o resultado agradasse ao usuário. 1973 em seu artigo 28 define:
Para tanto o prédio passou por uma reforma, assinada por um
arquiteto de renome que criou um novo sistema de iluminação, Parque Indígena é a área contida em terra para posse dos ín-
projetou as vitrines, distribuiu os espaços inserindo nele objetos e dios, cujo grau de integração permita assistência econômica, edu-
fotografias concatenados com o tema. O Museu do Índio abre suas cacional e sanitária dos órgãos da União, em que se preservem as
portas atraindo o público devido ao grande apelo visual, abrigando reservas de flora e fauna e as belezas naturais da região.
em sua dependência arquivo textual, audiovisual e espaços para di-
nâmicas educativas. O novo status remeteu o Parque do Xingu à subordinação da
Provido de uma infraestrutura que conjugava conforto e con- FUNAI – Fundação Nacional do Índio e, portanto, não mais subor-
teúdo documental, o Museu do Índio, representado por Ribeiro, se dinado ao IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
lança como um novo fórum de debates para as políticas indigenis- Recursos Naturais Renováveis, caso permanecesse como parque
tas até centrada no Museu Nacional marcadamente pela atuação nacional.
de Heloisa Alberto Torres. Ribeiro não apenas assina a Certidão de
Nascimento do Museu do Índio como é também responsável pelas Segundo a legislação ambiental brasileira parques nacionais
primeiras coleções etnográficas autorais daquela instituição. correspondem a áreas geográficas extensas e delimitadas, dotadas
O casarão que abriga, atualmente, o Museu do Índio/FUNAI foi de atributos naturais excepcionais, objeto de preservação perma-
tombado como patrimônio de preservação cultural do país em 22 nente, submetidas à condição de inalienabilidade e indisponibilida-
de fevereiro de 1967. Vinte anos depois, a construção também pas- de de seu todo.
sou a ser considerada patrimônio do município do Rio de Janeiro,
pelo decreto 6.934, de 9 de setembro de 1987. Considerando-se a configuração do PIX (Parque Indígena do
Xingu) em relação ao território mato-grossense constata-se que
este se encontra “ilhado”. Isto porque o Parque do Xingu sofre pres-
12 LEFEBVRE, H. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2001. sões constantes sobre sua geografia e população, ao situar-se em
MOREIRA, Ruy. A Nova Divisão Territorial do Trabalho e as Tendências de meio à ocupação do seu entorno, por grandes fazendas do agro-
Configuração do Espaço Brasileiro. In: LIMONAD, Ester; HAESBAERT, Rogério & negócio, pela mobilidade dos trabalhadores rurais e pelas novas
MOREIRA, Ruy (org.) Brasil Século XXI, por uma nova regionalização. São Paulo: cidades.
Max Limonad, 2004.
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REALIDADE BRASILEIRA

Ao longo desses últimos 60 anos, a consolidação do espaço ru- Tendo em vista os povos que lá habitam, pode-se dividir o Par-
ral e urbano do estado de Mato Grosso resultou na expansão espa- que Indígena do Xingu em três partes:
cial da economia para o interior do Brasil, resultando em impactos - uma ao norte (conhecida como Baixo Xingu);
socioambientais, especialmente para o conjunto de etnias localiza- - uma na região central (o chamado Médio Xingu); e
das no Parque Indígena do Xingu. - outra ao sul (o Alto Xingu).
A ampliação do PIX é atualmente uma das principais reivindi-
cações de líderes indígenas endereçadas a FUNAI - Fundação Na- Na parte sul ficam os formadores do rio Xingu; a região cen-
cional do Índio. O parque tem quase 30 mil quilômetros quadra- tral vai do Morená (convergência dos rios Ronuro, Batovi e Kulue-
dos, embora seu território atualmente seja muito menor do que o ne, identificada pelos povos do Alto Xingu como local de criação do
inicialmente previsto. Nas quatro décadas seguintes a sua criação, mundo e início do Rio Xingu) à Ilha Grande; seguindo o curso do Rio
incorporou algumas pequenas áreas, porém não suficiente para in- Xingu, encontra-se a parte norte do Parque.
cluir as nascentes da bacia hidrográfica e evitar a pressão do desma- Na década de 80, tiveram início as primeiras invasões de pes-
tamento e da progressiva influência do complexo do agronegócio. cadores e caçadores no território do PIX. Ao final dos anos 90, as
A leitura do atual mapa de uso e ocupação do Mato Grosso queimadas em fazendas pecuárias localizadas a nordeste do Parque
revela a vulnerabilidade do Parque do Xingu e de seus habitantes ameaçavam atingi-lo e o avanço das madeireiras instaladas a oeste
sobre o entorno ligado ao uso das terras pelo agronegócio. Esta pes- começou a chegar perto dos limites físicos definidos pela demar-
quisa está se iniciando e apresenta uma primeira leitura da análise cação.
geográfica sobre o Parque Indígena do Xingu nos tempos atuais. Ademais, a ocupação do entorno começava a poluir as nascen-
Recentemente uma série de fatos e eventos circunscritos à tes dos rios que abastecem o Parque e que ficaram fora da área
área de localização e influência da terra indígena está relacionada demarcada. Nesse processo, fortaleceu-se entre os moradores do
aos equipamentos do território e à mobilidade da força de traba- PIX a percepção de que está a caminho um incômodo: o Parque
lho, fatos estes que se inserem no grande projeto da Infraestrutura vem sendo cercado pelo processo de ocupação de seu entorno e
Regional Sul-Americana (IRSA). Consolidando-se como liderança já se evidencia como uma “ilha” de florestas em meio ao pasto e a
regional, o Brasil passa a investir e coordenar um programa de inte- monocultura na região do Xingu.
gração da infraestrutura regional (IRSA) com apoio das instituições A questão da fiscalização do território é presença certa na
multilaterais: BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), agenda dos assuntos políticos do Parque, sendo discutida tanto
BIRD (Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento), em encontros de lideranças e assembleias da ATIX (Associação Ter-
CAF (Bando de Desenvolvimento da América Latina) e agências de ra Indígena Xingu) como na interlocução com a FUNAI e os órgãos
desenvolvimento europeias, japonesas etc. ambientais federal (IBAMA) e estadual (Fundação Estadual do Meio
Tal processo é mutuamente reforçado pelo aumento da inte- Ambiente - FEAM).
gração econômica regional, comercial, financeira e produtiva. E o Para tanto, foi montada uma infraestrutura dos citados onze
Parque do Xingu está bem no âmago e no centro destas territoriali- postos de vigilância para proteger as áreas que propiciam um aces-
dades. O efeito mais imediato conforme dados que serão apresen- so direto ao Parque, como a intersecção dos principais rios com os
tados é o da urbanização do território. limites do PIX e o ponto em que a BR-080 margeia esses limites.
Assim, argumenta-se com base nos dados referentes aos im- No entanto, o sistema de postos, por si só, não é suficiente
pactos socioambientais presentes na atualidade do território indí- para enfrentar as situações criadas pelo entorno e vem sendo com-
gena sobre três condições: plementado por outras ações, desenvolvidas no âmbito do Projeto
- a geografia do território oficial do parque do Xingu; Fronteiras, uma parceria da ATIX com o ISA (Instituto Socioambien-
- o significado da transformação de parque nacional em parque tal).
indígena; e O projeto compreende o mapeamento da dinâmica de desma-
- os efeitos do processo de urbanização extensiva e da consoli- tamentos, através de fotos de satélite, e da identificação in loco de
dação do agronegócio sobre as etnias e seus descendentes localiza- novos vetores de ocupação no entorno do PIX. Também inclui um
dos no referido território indígena. trabalho de capacitação dos Chefes de Postos, a restauração e ma-
nutenção dos marcos que estabelecem os limites físicos do territó-
A ideia de criação do Parque tomou forma numa mesa-redon- rio e um banco de dados georreferenciados de todos os fazendeiros
da convocada pela Vice-Presidência da República em 1952, da qual cujas propriedades fazem fronteira com o PIX.
resultou um anteprojeto de um Parque muito maior do que o que Dessa maneira, torna-se possível que os índios acompanhem
veio finalmente a se concretizar. A despeito dos poderes legislativo de perto o que acontece nas fronteiras do Parque e mobiliza as co-
e executivo do Mato Grosso estarem representados nessa mesa-re- munidades acerca das ameaças externas, tanto em discussões in-
donda, inclusive por seu governador, o estado começou a conceder, ter-aldeias, como junto aos órgãos públicos responsáveis (FUNAI,
dentro desse perímetro, terras a companhias colonizadoras. IBAMA e o Governo Estadual).
Por isso, quando foi finalmente criado o Parque Nacional do
Xingu, pelo Decreto nº 50.455, de 14/04/1961, assinado pelo pre- O Indigenismo no Regime Militar (anos 1960 a 1980)13
sidente Jânio Quadros, sua área correspondia a apenas um quarto
da superfície inicialmente proposta. O Parque foi regulamentado Após o golpe civil-militar de 1964, um novo período econômi-
pelo Decreto nº 51.084, de 31/07/1961; ajustes foram feitos pe- co se iniciou no Brasil. Construções de grandes obras (hidrelétricas,
los Decretos nº 63.082, de 6/08/1968, e nº 68.909, de 13/07/1971, estradas e desmatamento de áreas para a criação de grandes lati-
tendo sido finalmente feita a demarcação de seu perímetro atual fúndios para pecuária) se espalharam por todas as regiões do país,
em 1978. 13 Adaptado de http://memoriasdaditadura.org.br/indigenas/ e http://pib.socioam-
biental.org/pt/c/politicas-indigenistas/orgao-indigenista-oficial/funai
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e no caminho desses projetos inúmeros povos com suas terras, re- Durante a ditadura, as comunidades indígenas encontraram
conhecidas ou não, passaram a ser tratados como obstáculos para entre os antropólogos, sertanistas e missionários ligados ao Conse-
o desenvolvimento. lho Indigenista Missionário (CIMI) seus principais apoiadores para
Nas regiões de fronteira agrícola, como a Amazônia e o Centro- resistir às violências e às ameaças cometidas pelo regime, pelos do-
-Oeste, as terras indígenas eram invadidas por criadores de gado, nos de terras e pelos colonos e trabalhadores do garimpo.
madeireiros ou garimpeiros. O Estado tinha pouco controle nessas
regiões, e as violências contra os indígenas tinham, frequentemen- Os Índios e a Tecnologia14
te, a conivência das autoridades locais.
As políticas indigenistas foram integralmente subordinadas aos A população indígena é formada por diferentes povos com
planos de defesa nacional, construção de estradas e hidrelétricas, hábitos, costumes e línguas distintas. Atualmente o rápido avanço
expansão de fazendas e extração de minérios. Sua atuação foi man- tecnológico tem permitido a aproximação entre os índios que ainda
tida em plena afinidade com os aparelhos responsáveis por imple- vivem em reservas e o restante da população. O contato com os
mentar essas políticas: Conselho de Segurança Nacional (CSN), Pla- meios de comunicação, especialmente a televisão, o telefone e a
no de Integração Nacional (PIN), Instituto Nacional de Colonização internet, colabora na busca pela adoção de um novo estilo de vida
e Reforma Agrária (INCRA) e Departamento Nacional de Produção e na perda de antigos valores.
Mineral (DNPM). Há cerca de quatro anos, foi destaque na imprensa nacional e
A ação da FUNAI durante a ditadura foi fortemente marcada estrangeira a história de índios suruís que vivem na reserva indíge-
pela perspectiva assimilacionista. O Estatuto do Índio (Lei nº 6.001) na Sete de Setembro, na divisa entre os Estados de Rondônia e Acre,
aprovado em 1973, e ainda vigente, reafirmou as premissas de inte- fazendo uso das novas tecnologias para defender a terra na qual
gração que permearam a história do SPI. eles vivem do desmatamento. Com a ajuda de GPS, eles passaram a
Com recursos escassos e mal contabilizados, a FUNAI conti- monitorar a posição de madeireiros ilegais.
nuou a operar, assim como o SPI, com profissionais pouco qualifi- Os dados são enviados para autoridades competentes, como
cados. Não se concretizou a proposta de se realizar planejamentos Polícia Federal e Fundação Nacional do Índio (FUNAI), para que as
antropologicamente orientados, conduzidos por profissionais de providências cabíveis sejam tomadas. Foi quando os arcos e flechas
formação sólida, bem pagos e comprometidos com o futuro dos po- deixaram de ser as únicas ferramentas de defesa do território, e as
vos indígenas. O órgão foi permeado, em todos os níveis, por redes novas tecnologias passaram a fazer parte do dia a dia de muitas
de relações pessoais, clientelistas e corporativas, que remetem ao tribos indígenas.
paternalismo e ao voluntarismo que dominaram o velho SPI. A proximidade das comunidades indígenas aos centros urba-
Projetos como a construção das hidrelétricas de Itaipu e de Tu- nos faz com que os índios acessem os instrumentos disponíveis das
curuí, no Rio Tocantins, e a criação do maior latifúndio do mundo tecnologias de informação e comunicação, trazendo esses recursos
no norte do Mato Grosso, em terra indígena Xavante, expulsaram e os incluindo no seu dia a dia e nas suas relações de sociabilidade.
centenas de comunidades e provocaram milhares de mortes nas Essas mídias são adaptadas não levando em conta o fazer dessa co-
aldeias. A abertura da rodovia Transamazônica BR- 230, planejada munidade, ou seja, a formação do povo.
para cortar o Brasil transversalmente, da fronteira com o Peru até Muitas crianças e jovens são expostas desde cedo à televisão e
João Pessoa na Paraíba, afetou de maneira trágica 29 grupos indí- à internet, o que pode ser considerado natural para quem vive nas
genas, dentre eles, 11 etnias que viviam completamente isoladas. fronteiras culturais. O problema é que grande parte destas crianças
Documentos e relatos colhidos durante as investigações recen- só tem acesso às produções culturais do ocidente. O conhecimento
tes da Comissão Nacional da Verdade (CNV) apontam que cerca de produzido pelos povos indígenas, nestes espaços que se constituem
8 mil indígenas foram mortos, em conflitos, crises de abastecimen- com as novas tecnologias, fica do lado de fora.
to ou epidemias trazidas pelos trabalhadores, em consequência da Por outro lado, essas mídias têm servido para dar visibilidade
construção de quatro rodovias: e ‘guardar’ a história e a memória da comunidade indígena, dentro
- a Transamazônica; de recursos tecnológicos que atraem o olhar do índio e também
- a BR-174, que liga Manaus a Boa Vista; que fazem com que os mesmos sintam-se incluídos no mundo, pois
- a BR-210, conhecida com Perimetral Norte; e a cultura deles também é difundida para a sociedade.
- a BR 163, que liga Cuiabá a Santarém. Guardadas as devidas proporções, assim como nas outras re-
giões do mundo, do Brasil e da Amazônia, as tecnologias invadiram
Essas estradas faziam parte do Plano de Integração Nacional o dia a dia das pessoas, seja pela mera cópia de um CD pirata, seja
(PIN), instituído em 1970, pelo presidente Emílio Garrastazu Médici. pelos aparelhos sofisticados que passaram a fazer parte da vida
O PIN previa que 100 quilômetros em cada lado das estradas a se- pessoal e profissional dos indivíduos na contemporaneidade. Da
rem construídas deveriam ser destinados à colonização. A intenção mesma maneira, os índios foram atraídos pelos encantos desses
do governo era assentar cerca de 500 mil pessoas em agrovilas que aparatos tecnológicos, levado pela proximidade de suas aldeias, as-
seriam fundadas nesses locais. sim como sua inserção no convívio com as cidades urbanas.
O processo civilizatório imposto pela ditadura civil-militar in-
cluía perseguição, criminalização, prisão e tortura de lideranças in-
dígenas que lutavam por seus territórios ou que tivessem compor- 14 CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair da
tamento considerado inadequado pela FUNAI. Modernidade.3ª. Edição. São Paulo: Edusp, 2000.
COSTA, Alda Cristina. O embate entre o visível e o invisível: a construção social
da violência no jornalismo e na política. 2010. Universidade Federal do Pará,
Belém.
http://www.videonasaldeias.org.br/2009/.
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Esse contato com as mídias foi incorporado à cultura indígena. de índios, quer seja por processos de violência, quer seja por ques-
Hoje é comum encontrar nas comunidades Indígenas aparelhos de tões de saúde, representa quase sempre uma grande desestrutura-
TV, filmadoras, DVDs, rádios, telefones celulares, câmeras e compu- ção política e cultural para estas sociedades.
tadores. Algumas populações indígenas passaram a utilizar e consu- Este contato, no entanto, uma vez realizado estabelece uma
mir produtos dessa sociedade informacional. nova e irreversível ordem para as sociedades indígenas. Se as ge-
Não que isso seja um crime, pelo contrário, pode representar rações mais velhas não dominavam a língua portuguesa, hoje, na
uma oportunidade de “capturar” as informações, os relatos e socia- realidade de muitas sociedades, o que se observa é o fato de que as
lizá-los de vez aos conhecimentos e a cultura indígena não somente crianças falam apenas a língua portuguesa. Não podemos perder de
para os índios mais jovens, mas com toda a sociedade que desco- vista que existem grupos indígenas que não falam mais uma língua
nhecem a riqueza dos primeiros habitantes do Brasil. tradicional.
O jovem/adolescente Suruí transita por outros espaços e se Ao se trabalhar a questão da tecnologia deve-se levar em conta
constitui também em outras identidades, já que ele pode ser um que seus avanços produzem transformações na experiência cotidia-
eleitor, um estudante, pode receber uma bolsa assistencial do go- na, estabelecendo novas relações de sociabilidade.
verno, ter um número de celular, conviver com jovens da sociedade É interessante destacar que algumas experiências já vêm sen-
envolvente. Portanto, se essa tecnologia é uma realidade e aden- do realizadas com resultados positivos com relação a inserção dos
trou a vida dos índios Suruí, é preciso conciliar sua utilização com índios no mundo digital. Desde 1987 vem sendo realizado o projeto
as tradições do povo, do mesmo modo que deve ser aplicada como denominado Vídeo nas Aldeias, na área de produção audiovisual in-
recurso didático na educação, levando em conta a memória e histó- dígena no Brasil, com o objetivo de apoiar as lutas dos povos indíge-
ria do povo indígena. nas para fortalecer suas identidades e seus patrimônios territoriais
Nem sequer pode-se atribuir aos meios eletrônicos a origem da e culturais, por meio de recursos audiovisuais.
massificação das culturas populares. Esse equívoco foi apropriado O uso do vídeo permite que as comunidades indígenas selecio-
pelos primeiros estudos sobre a comunicação, segundo os quais a nem e fortaleçam manifestações culturais que elas desejam tanto
cultura massiva substituiria o culto e o popular tradicionais. conservar para as futuras gerações quanto apresentar como parte
É interessante destacar que a noção de popular é reforçada nas de sua identidade. Ele é um instrumento adaptado a formas tra-
mídias ainda levando em conta uma lógica de mercado, ou seja, a dicionais de produção e transmissão cultural apoiado na força da
mídia tem um papel central já que as pessoas necessitam do seu palavra e na memória oral.
discurso para que possam construir o sentido social da realidade. O Vídeo nas Aldeias surgiu como proposta das atividades da
E não é diferente com a comunidade indígena Suruí que passa ONG Centro de Trabalho Indigenista, como um experimento reali-
compreender como importante ter sua história e tradições serem zado por Vincent Carelli entre os índios Nambiquara, depois abran-
narradas pelos diversos meios de comunicação. A mídia, neste sen- gendo outras aldeias brasileiras. Hoje o projeto criou um importan-
tido, não é apenas um suporte tecnológico, mas uma instituição te acervo com mais de 70 filmes sobre os povos indígenas no Brasil.
responsável por criar uma lógica de mundo, muitas vezes, não mui- A utilização das mídias também passa na concepção dos índios
ta clara, mas que exerce sentido na vida humana, pois influencia as como instituições importantes de divulgação de identidades e de
relações sociais ou até cria novas formas de sociabilidade. visibilidades. É interessante destacar que os indivíduos e as formas
Hoje, a imagem midiática começa na primeira idade das crian- de relação entre eles são alimentados pela mídia porque a maior
ças e vai até o fim da sua vida, ditando as intenções daqueles que parte dos conhecimentos acerca do mundo, dos modelos de papel,
trabalham para construir esses sentidos, sejam produtores anôni- dos valores e dos estilos de comportamento chega à mente humana
mos ou ocultos: no despertar pedagógico da criança, nas escolhas não pela experiência direta do mundo físico e das relações com os
econômicas e profissionais do adolescente, nas escolhas tipológicas outros, mas cada vez mais pela mediação dos meios de comunica-
(a aparência) de cada pessoa, até nos usos e costumes públicos ou ção. E diversas questões passam a habitar a mente humana, a partir
privados, às vezes como “informação”, às vezes velando a ideologia da discussão por esses meios. Esses meios se tornam fundamentais
de uma escolha ou persuadindo os comportamentos. As crianças como suportes de inclusão e exclusão sociais e de controle das coi-
começam a desenvolver algumas lógicas de pensamento a partir de sas que acontecem no mundo.
uma programação televisiva. Com o surgimento da Internet e seus adventos, o homem se
Muitas crianças indígenas, mesmo vivendo com suas famílias, deparou com um espaço que antes era difícil de imaginar: um lu-
bem cedo são expostas à escola ocidental, à televisão e até mesmo gar onde pudesse exprimir suas ideias, pensamentos, opiniões, sua
à internet, o que é natural para quem vive nas fronteiras culturais. vida cotidiana, e ao mesmo tempo, um lugar onde tudo isso poderia
O problema é que grande parte destas crianças só tem acesso às ser visto.
produções culturais do ocidente. O conhecimento produzido pelos Dessa maneira, uma perspectiva onde a cultura ocidental ainda
povos indígenas, nestes espaços que se constituem com as novas se sobrepõe sobre a indígena, é possível hoje utilizar os recursos
tecnologias, fica do lado de fora. Ainda que existam sociedades iso- tecnológicos em benefício da comunidade, pois eles abrem novas
ladas dentro da Amazônia, no Brasil, lembra a antrópologa Ivânia possibilidades, principalmente no sentido de que podem servir
Neves, a maioria dos povos indígenas mantém relações efetivas também para atrair e seduzir o mundo indígena, ou seja, contando
com a sociedade envolvente. a história e memória do povo nos artefatos. Não é possível excluir
Já estabelecem, portanto, uma fronteira cultural com as insti- esses recursos, mas é possível adaptá-los para que sejam utilizados
tuições ocidentais (igreja, escola, televisão, rádio, secretarias públi- como instrumentos para comunidade, já que eles podem produzir o
cas, ONGs, entre outras). Nascidas dentro deste cenário, a grande mundo deles e divulgá-los para sociedade como um todo.
maioria das crianças indígenas vive hoje nestas fronteiras. Histori-
camente, o início do contato entre as sociedades indígenas e as ins-
tituições ocidentais, além de terem resultado na morte de milhares
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Tipos de Sociedades Estratificadas


DINÂMICA SOCIAL NO BRASIL: ESTRATIFICAÇÃO, DESI-
GUALDADE E EXCLUSÃO SOCIAL Castas Sociais:
Existem sociedades em que os indivíduos nascem numa cama-
da social mais baixa e podem alcançar, com o decorrer do tempo,
Todos sabemos, pela própria experiência do dia-a-dia, que nos- uma posição social mais elevada. Esse fenômeno conhecido como
sa sociedade apresenta contradições: e desigualdades. Nas grandes mobilidade social.
cidades por exemplo, ao lado de mansões luxuosas encontramos Em contrapartida, existem sociedades em que, mesmo usando
favelas e pessoas morando embaixo de viadutos. toda a sua capacidade e empregando todos os esforços, o indivíduo
Vivemos, portanto, em uma sociedade profundamente desi- não consegue alcançar uma posição social mais elevada. Nesses ca-
gual. Se quisermos fazer uma descrição desse tipo de sociedade, sos, a posição social lhe atribuída por ocasião do nascimento, inde-
podemos trabalhar com o conceito de estratificação social. Mas se pendentemente de sua vontade. Ele carrega consigo, pelo resto da
nosso objetivo for analisar historicamente os conflitos entre os di- vida, a posição social herdada.
versos grupos que a compõem, devemos recorrer ao conceito de A sociedade indiana é estratificada dessa maneira. Há séculos,
classes sociais. a população da Índia está distribuída em um sistema de estratifica-
Seja qual for o método escolhido, é preciso levar em conta tam- ção social rígido e fechado, que não oferece a menor possibilidade
bém que alguns indivíduos ou mesmo grupos de pessoas podem de mobilidade social. É o sistema de castas
mudar de posição social. Para estudar esses casos utilizamos o con- Enquanto nas sociedades ocidentais pessoas de níveis sociais
ceito de mobilidade Social diferentes podem se casar - o que não raro possibilita a ascensão
social de um dos cônjuges -, na Índia o casamento só é permitido
Estratificação social entre pessoas da mesma casta.
As castas são grupos sociais fechados, cujos membros seguem
A expressão estratificação deriva de estrato, que quer dizer ca- rigorosamente as tradições familiares. Um indivíduo nascido em
mada. Por estratificação social entende-se a distribuição de indiví- determinada casta deve permanecer nela pelo resto da vida. Sua
duos e grupos em camadas hierarquicamente superpostas dentro posição social é definida ao nascer. Além de direitos e deveres es-
de uma sociedade. Essa distribuição se dá pela posição social dos pecíficos, as pessoas não podem ascender socialmente mediante
indivíduos, das atividades que eles exercem e dos papéis que de- qualidades pessoais, mérito ou realizações profissionais.
sempenham na estrutura social. Pode-se esquematizar a estratificação social indiana por meio
Na sociedade capitalista contemporânea, as posições sociais da seguinte pirâmide de castas:
são determinadas basicamente pela situação dos indivíduos no de- No topo da pirâmide estão os brâmanes, que são os sacerdotes
sempenho de suas atividades produtivas (capitalistas X proletários). e os mestres da erudição sacra. Segundo sua crença, a eles compete
Contudo, nessa mesma sociedade os indivíduos podem de- preservar a ordem social, estabelecida por orientação divina.
sempenhar outros papéis e alcançar novas posições sociais como A seguir, distribuídos pela segunda casta, vem os Xátrias guer-
na religião que praticam, o partido político em que militam, as fun- reiros que formam a aristocracia militar.
ções sociais que desempenham, a profissão que exercem (médico A terceira grande casta – a dos vaixas - é formada pelos comer-
x pedreiro). ciantes, artesãos e camponeses.
Os sudras, por sua vez, executam os trabalhos manuais e di-
Principais tipos de Estratificação Social versas tarefas servis. São uma casta depreciada, tendo o dever de
servir as três castas superiores.
1. Estratificação política. Estabelecida pela posição de mando Na base da pirâmide social ficam os parias, grupo de miserá-
na sociedade (grupos que têm poder e grupos que não têm). veis, desprovidos de direitos e sem profissão definida. Totalmente
2. Estratificação profissional. Baseada nos diferentes graus de desprezados pelas demais castas, vivem da caridade alheia. Os pa-
importância atribuídos a cada profissional pela sociedade. P.E., em rias não podem banhar-se nas águas sagradas do rio Ganges (o que
nossa sociedade a profissão de médico é muito mais valorizada que é permitido as outras castas), nem ler os Vedas, que são os livros
a de pedreiro, motorista. sagrados dos hindus.
3. Estratificação econômica. É definida pela posse de bens ma- Embora o sistema de castas tenha sido abolido oficialmente em
teriais, cuja distribuição pouco equitativa faz com que haja pessoas 1947, quando a Índia conquistou a independência sob a liderança
ricas, pobres e em situação intermediária. de Mahatma Gandhi, basta percorrer o pais para constatar que, na
prática, o antigo regime sobrevive. Os indianos das castas superio-
Estratificação Econômica de uma Sociedade Capitalista res não aceitam perder seus privilégios, e os membros das castas
inferiores e os “sem castas” continuam sendo excluídos, rejeitados,
Dependendo do tipo de sociedade, esses estratos podem ser privados de educação formal e de outras oportunidades.
organizados em: Cabem a eles as piores tarefas, como limpar fossas e lavar ca-
• Castas dáveres.
• Estamentos Na segunda metade do século XX, reformas sociais e mudanças
• Classes sociais. na economia da Índia, impulsionadas pela industrialização, começa-
ram a romper o sistema de divisão em castas.

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Assim, nos grandes centros urbanos do pais, como Nova Delhi, ses do capitalismo - a burguesia e o proletariado -, está designando
Bombaim e Calcutá, a abolição do sistema vem ocorrendo grada- duas forças motrizes e concretas do modo de produção capitalista,
tivamente. Entretanto, ele ainda perdura na maior parte da Índia um sistema econ6mico historicamente determinado.
rural. O próprio Marx, no entanto, não reivindicava a descoberta das
classes sociais nem da luta de classes, mas sim a “demonstração de
Estamentos ou Estados que a existência das classes só se liga a determinadas fases histó-
Um exemplo típico de sociedade estratificada em estamentos ricas de desenvolvimento da produção”. Marx atribula uma impor-
pode ser encontrado na Europa ocidental durante a Idade Média tância particular aos conflitos entre as classes. Para ele, são esses
(476-1453), sob a vigência do modo de produção feudal. conflitos que constituem o principal fator de mudança social. Esses
Estamento ou estado e uma camada social semelhante a casta, movimentos, portanto, imprimiriam movimento e dinamismo à so-
porém um pouco mais aberta. Na sociedade estamental, a mobili- ciedade.
dade social é difícil mas não impossível, como na sociedade estra- Por outro lado, as classes sociais mudam ao longo do tempo,
tificada em castas. conforme as circunstâncias econômicas, políticas e sociais. As con-
Na sociedade feudal, a ascensão era possível nos raros casos tradições que mantêm entre si forjam e estruturam a própria socie-
em que a Igreja recrutava seus membros entre os mais pobres; dade. Quando os conflitos chegam a um ponto insuportável, ocorre
quando os servos eram emancipados por seus senhores; no caso uma revolução que transforma a sociedade, modificando o modo
de o rei conferir um título de nobreza a um homem do povo; ou, de produção.
ainda, se a filha de um rico comerciante se casasse com um nobre, Foi o que aconteceu, com o feudalismo: uma nova classe (a
tornando-se, assim, membro da aristocracia. burguesia) derrubou um velho estamento (a nobreza), gerando a
A pirâmide social da sociedade estamental durante o feudalis- sociedade capitalista. A Revolução Francesa de 1789 foi uma das
mo europeu apresentava-se da seguinte maneira: expressões dessa transformação.
No vértice da pirâmide encontravam-se nobreza e no alto clero. Mas a nova sociedade capitalista, na concepção de Marx, já co-
Eram os donos da terra da qual obtinham renda explorando o traba- meçou dividida em duas grandes classes conflitantes: a burguesia
lho dos servos. Os nobres dedicavam-se à guerra à caca, cuidavam (proprietária dos meios de produção) e o proletariado, ou classe
da administração do feudo e exerciam o poder judiciário em seus operária, que só tem de seu a torça de trabalho.
feudos. Essa divisão baseada no regime de propriedade faz com que
O alto clero (cardeais, arcebispos, bispos, abades) era uma elite uma classe seja dominante, e a outra, dominada, numa relação sis-
eclesiástica e intelectual. temática de dominação e exploração.
Seus membros vinham da nobreza. Constituíam também a úni- Assim, a teoria das classes não se limita a descrever as divisões
ca camada letrada na primeira a fase do período medieval, desem- da sociedade em camadas, como faz o modelo da estratificação so-
penhando importantes funções administrativas. cial, mas procura explicar como e por que elas ocorrem historica-
Abaixo da camada dos nobres, encontravam-se os comercian- mente. As classes sociais só existem a partir da relação que estabe-
tes. Embora ricos, muitas vezes eles não tinham os mesmos privilé- lecem entre si. Nesse sentido, as classes são, além de antagônicas,
gios da nobreza. Além disso, suas atividades sofriam uma série de necessariamente complementares. A burguesia, por exemplo, não
restrições legais. Tais restrições foram desaparecendo à medida que pode existir sem o proletariado.
o feudalismo entrou em declínio. Complementares, porque são elas que fazem funcionar o sis-
Mais abaixo estavam os artesãos, os camponeses livres e o tema. Antagônicas, porque uma delas (a burguesia) se apropria do
baixo clero. Os artesãos viviam nas cidades, reunidos em associa- trabalho da outra (o proletariado), o que gera o conflito permanen-
ções profissionais, as corporações de ofício; os camponeses livres te.
trabalhavam a terra e vendiam seus produtos agrícolas nas vilas e As classes médias
cidades; o baixo clero, originário da população pobre, convivia com Entre a burguesia e o proletariado existem outros grupos que
os pobres, com o povo, prestando-lhe assistência religiosa se movem entre as duas classes fundamentais, oscilando de uma
Abaixo de todos estavam os servos, que trabalhavam a terra para a outra. Alguns desses grupos são denominados genericamen-
para si e para seus senhores, vivendo em condições precárias; esta- te de classes medias, ou pequena burguesia.
vam ligados à terra, passando a ter novo se quando a terra mudava A pequena burguesia constitui um setor muito numeroso, que
de dono. abrange desde a dona de um pequeno armazém até os pequenos e
A divisão da estrutura social em estamentos - tipo intermediá- médios proprietários de terra, passando por todos os assalariados
rio entre a casta e a classe – era encontrada na Europa até fins do que trabalham em escritórios, funcionários públicos e profissionais
século XVIII. liberais.
Ao contrário da burguesia e do proletariado, que atuam dire-
Classe Social tamente na produção social entre as classes médias misturam-se
Desenvolvido pelo pensador alemão Karl Marx, o conceito de múltiplos papeis. Não se trata, portanto, de uma classe política e
classe social parte de premissas próprias, segue critérios específicos socialmente homogênea.
e sua aplicação leva a conclusões totalmente diferentes das que po- Segundo Karl Marx, essa heterogeneidade das classes médias
dem ser encontradas nos estudos que analisam a sociedade segun- explica por que, nos conflitos sociais e políticos, elas oscilam tanto,
do o modelo descritivo da estratificação social. ora apoiando os interesses da grande burguesia, ora apoiando os
Para Marx, a história da humanidade é “a história da luta de interesses dos trabalhadores.
classes”. Segundo ele, portanto, a classe social é acima de tudo uma
categoria histórica. Quando Marx se refere as duas grandes clas-

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Mobilidade Social No Brasil, a chegada do ex-metalurgico Luiz lnácio Lula da Silva


Em maio de 1953, Lourenço Carvalho de Oliveira, nascido na à Presidência da República, em janeiro de 2003, é expressão dessa
pequena aldeia de Vigia, no norte de Portugal, desembarcou no mobilidade. Com ele, passaram a integrar o governo diversas pes-
porto de soas provenientes das camadas mais baixas da sociedade. É o caso,
Santos, no litoral de São Paulo, depois de onze dias de viagem por exemplo, de Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, que foi
na terceira classe do transatlântico Vera Cruz. Em sua terra, deixara seringueira no Acre e só pode estudar a partir dos 17 anos.
a mulher e três filhos pequenos vivendo graças à solidariedade de
parentes e vizinhos. Mobilidade Social Horizontal
Foi morar de favor na casa de um primo e arrumou emprego Uma pessoa se muda do interior para a capital. No interior, ela
como ajudante num bar. Economizou muito, mandou buscar a famí- defendia ideias políticas conservadoras; agora, na capital, sob novas
lia e conseguiu, depois de anos de trabalho e privações, abrir uma influências, passa a defender as ideias de um partido progressis-
pequena venda em sociedade com um amigo. ta. Seu nível de renda, porém, não se alterou substancialmente. A
O negócio foi crescendo: primeiro uma mercearia, depois um situação mostra uma pessoa que experimentou alguma mudança
mercado, a seguir um supermercado. Em 1988, 35 anos depois de de posição social mas que, apesar disso, permaneceu no mesmo
chegar ao Brasil, o Sr. Lourenço era dono de uma grande rede de estrato social.
supermercados, tendo se tornado um dos mais influentes membros Assim, a mudança de uma posição social dentro da mesma ca-
da Associação Comercial de São Paulo. Seus filhos têm curso supe- mada social caracteriza-se como mobilidade social horizontal.
rior e um deles é professor na Universidade de São Paulo.
Essa história de vida mostra que os indivíduos, numa sociedade Democracia e Mobilidade Social
capitalista, podem chegar a ocupar diferentes posições sociais - ou
estratos - durante a vida. É possível que alguns deles, que integram O fenômeno da mobilidade social varia de uma sociedade para
o estrato de baixa renda (camada C), passem a integrar o de renda outra. Em algumas sociedades ela ocorre mais facilmente; em ou-
média (camada B) ou mesmo o de renda alta (camada A). tras, praticamente inexiste no sentido vertical ascendente. É mais
Por outro lado, alguns indivíduos da camada A podem ter sua fácil ascender socialmente nos Estados Unidos, por exemplo, do
renda diminuída, passando a integrar as camadas B ou C. Do ponto que no interior da índia, ainda dominado pela estratificação social
de vista sociológico, os dois fenômenos são caracterizados como em castas.
manifestações de mobilidade social. A mobilidade social ascendente é mais frequente numa socie-
Mobilidade social é a mudança de posição social de uma pes- dade democrática aberta, que enaltece a escalada rumo ao topo de
soa (ou grupo de pessoas) num determinado sistema de estratifi- indivíduos de origem humilde - como nos Estados Unidos -, do que
cação social. numa sociedade de tradição aristocrática, como a Inglaterra.
Entretanto, é bom esclarecer que, mesmo numa sociedade
Tipos de Mobilidade Social capitalista mais aberta, a mobilidade social vertical não se dá de
maneira igual para todos os indivíduos. A ascensão social depende
Quando as mudanças de posição social ocorrem no sentido as- muito da origem de classe de cada indivíduo.
cendente ou descendente na hierarquia social, dizemos que a mo- Alguém que nasce e vive numa camada social elevada tem mais
bilidade social é vertical. Quando a mudança de uma posição social oportunidades e condições de se manter nesse nível, ascender ain-
a outra se opera dentro da mesma camada social, diz-se que houve da mais e se sair melhor do que os originários das classes inferiores.
mobilidade social horizontal. Isso pode ser facilmente verificado no caso dos jovens que pre-
tendem fazer o curso superior. Aqueles que, desde o início de sua
Mobilidade Social Vertical vida escolar, frequentaram boas escolas e, além disso, estudaram
A mobilidade social vertical pode ser: em cursinhos preparatórios de boa qualidade, têm mais possibili-
- ascendente ou de ascensão social - quando a pessoa melhora dades de aprovação nos vestibulares das universidades públicas e
sua posição no sistema de estratificação social, passando a integrar privadas do que os jovens provenientes das classes de baixa renda.
um grupo economicamente superior a seu grupo anterior;
- descendente ou de queda social- quando a pessoa piora de Mobilidade Social no Brasil
posição no sistema de estratificação, passando a integrar um grupo A chance de uma criança de baixa renda de ter um futuro me-
economicamente inferior. lhor que a realidade em que nasceu está, em maior ou menor grau,
O filho de um operário que, por meio do estudo, passa a fazer relacionada à escolaridade e ao nível de renda de seus pais. Nos
parte da classe média é um exemplo de ascensão social. A falência países ricos, o “elevador social” anda mais rápido. Nos emergentes,
e o consequente empobrecimento de um comerciante, em contra- mais devagar - no Brasil, ainda mais lentamente.
partida, é um exemplo de queda social. O país ocupa a segunda pior posição em um estudo sobre mo-
Assim, tanto a subida quanto a descida na hierarquia social são bilidade social feito pela OCDE (Organização para a Cooperação e
manifestações de mobilidade social vertical. Desenvolvimento Econômico) com dados de 30 países15.
Em uma sociedade aberta e democrática, é comum pessoas de De acordo com o estudo o elevador social está quebrado. Para
um grupo social passarem para outro grupo, mais ou menos eleva- promover mobilidade social, seriam necessárias nove gerações para
do na escala social. que os descendentes de um brasileiro entre os 10% mais pobres
A esse fenômeno, que tanto pode ser ascendente como des-
cendente, dá-se o nome de mobilidade social. 15 Camila Veras Mota. Brasil é o segundo pior em mobilidade social em ranking
de 30 países. Instituto Humanitas Unisinos. http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/
579960-brasil-e-o-segundo-pior-em-mobilidade-social-em-ranking-de-30-paises.
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atingissem o nível médio de rendimento do país. A estimativa é a Classe Média


mesma para a África do Sul e só perde para a Colômbia, onde o Quando se analisa a mobilidade apenas do indivíduo, e não de
período de ascensão levaria 11 gerações. uma geração a outra, o estudo da OCDE verifica que, de forma geral,
O indicador da OCDE foi construído levando em consideração a a classe média é o estamento com maior flexibilidade - para cima
“elasticidade intergeracional de renda”. Ou seja, quanto o nível de e para baixo.
rendimento dos filhos é determinado pelo dos pais. A instituição No Brasil, a mobilidade da base da pirâmide para a classe mé-
ressalta no estudo que a simulação tem finalidade ilustrativa - para dia é maior do que em vários emergentes. Essa ascensão, contudo,
dar dimensão da dificuldade de ascensão social - e que não deve ser é frágil.
interpretada como o tempo preciso para que um domicílio de baixa A estrutura do mercado de trabalho, com uma participação ele-
renda atinja a renda média. vada do emprego informal, intensifica os efeitos negativos das cri-
Na média entre os países membros da OCDE, a chamada “per- ses sobre a população mais vulnerável. Como aconteceu com parte
sistência” da renda intergeracional é de 40%. Isso significa que, se da “nova classe média” durante a última recessão, o desemprego
uma família tem rendimento duas vezes maior o que de outra, o pode ser um caminho de retorno à pobreza.
filho terá, em média, renda 40% mais alta que a da criança que veio
da família de menor renda. Mobilidade Social e Crescimento Econômico
Nos países nórdicos, a persistência é de 20%. No Brasil, de 70%,
conforme a pesquisa. O nível baixo de mobilidade social tem implicações negativas
Mais de um terço daqueles que nascem entre os 20% mais po- sobre o crescimento da economia como um todo, diz o estudo da
bres no Brasil permanece na base da pirâmide, enquanto apenas OCDE. Talentos em potencial podem ser perdidos ou subaprovei-
7% consegue chegar aos 20% mais ricos. Na média da OCDE, 31% tados, com menos iniciativas na área de negócios e menos inves-
dos filhos que crescem entre 20% mais pobres permanecem nesse timentos.
grupo e 17% ascendem ao topo da pirâmide. “Isso debilita a produtividade e crescimento econômico poten-
cial em nível nacional”, ressalta o texto.
Pai Pobre, Filho Pobre Um elevador social “quebrado” também se manifesta sobre o
bem-estar social.
Isso é o que o estudo chama de “chão pegajoso” (sticky floor): a A percepção de que a oportunidade de ascensão depende de
dificuldade das famílias de baixa renda de sair da pobreza. fatores que estão fora do alcance - como a renda dos pais ou o aces-
Filhos de pais na base da pirâmide têm dificuldade de acesso à so a educação - gera desesperança e sentimento de exclusão. Isso
saúde e maior probabilidade de frequentar uma escola com ensino aumenta a probabilidade de conflitos sociais, diz a pesquisa.
de baixa qualidade.
A educação precária, em geral, limita as opções para esses Tendência Global
jovens no mercado de trabalho. Sobram-lhes empregos de baixa O problema não é exclusivo dos países emergentes. Mesmo
remuneração, em que a possibilidade de crescimento salarial para países ricos, com desempenho expressivamente superiores ao do
quem tem pouca qualificação é pequena - e a chance de perpetua- Brasil nos indicadores de educação - França, Alemanha - estão aci-
ção do ciclo de pobreza, grande. ma da média da OCDE entre as estimativas do número de gerações
Nesse sentido, a desigualdade social e de renda, destaca o le- necessário para que os 10% mais pobres atinjam a renda média.
vantamento, é definidora do acesso às oportunidades que podem “Por mais que esses países tenham bom desempenho no PISA
fazer com que alguém consiga ascender socialmente. (avaliação global do desempenho escolar), esses índices são uma
“Além do chão pegajoso, países como o Brasil têm também te- média. Países como a França, por exemplo, são bastante heterogê-
tos pegajosos (sticky ceilings)”, acrescenta Stefano Scarpetta, dire- neos”, ressalta Scarpetta.
tor de emprego, trabalho e assuntos sociais da OCDE, referindo-se
às famílias de alta renda.
O nível elevado de desigualdade também se manifesta sobre a MANIFESTAÇÕES CULTURAIS, MOVIMENTOS SOCIAIS E
mobilidade no topo da pirâmide. Aqui, é pequena a probabilidade GARANTIA DE DIRETOS DAS MINORIAS
de que as crianças mais abastadas eventualmente se tornem adul-
tos de classes sociais mais baixas que a dos pais.
Scarpetta pondera que, ao contrário da tendência global de — Contracultura
aumento da desigualdade, o Brasil conseguiu reduzir suas dispari- Nos Estados Unidos e nos países da Europa Ocidental, entre as
dades na última década, até o início da recessão. O país fez pouco, décadas de 1950 e 1960, muitos jovens passaram a criticar os mo-
entretanto, para corrigir os problemas estruturais que mantêm em dos de vida tradicionais e a criar novos estilos de vida e de relações
movimento o ciclo da pobreza - a qualidade precária da educação e sociais. Esse conjunto de contestações da juventude daquela época
da saúde e a falta de treinamento para os milhões de trabalhadores ficou conhecido como contracultura16.
de baixa qualificação. O movimento da contracultura começou nos EUA, quando uma
“O Brasil fez um bom trabalho tirando milhões de famílias da geração de intelectuais e poetas dos anos 1950 - a beat generation
extrema pobreza, com o Bolsa Família, por exemplo. Falta agora - passou a criticar os valores conservadores da sociedade estaduni-
fazer a ‘segunda geração’ de políticas”, disse o economista à BBC dense. Eles negavam o individualismo e o consumismo do chamado
News Brasil. american way ofl ife. Allen Ginsberg, William Burroughs e Jack Ke-
rouac são os nomes mais conhecidos desse movimento.
16 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São
Paulo. Saraiva.
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O último escreveu um livro bastante divulgado, On the road, Em alguns estados sulistas, os negros encontravam dificulda-
de 1957 - que no Brasil foi lançado como Pé na estrada. Na década des para exercer seus direitos políticos. Em 1954, a Suprema Corte
de 1960, a contracultura continuou a expressar a rebeldia de jo- dos EUA reconheceu que as escolas públicas para brancos recebiam
vens das classes médias contra o consumismo, a cultura de massa, mais recursos dos governos estaduais, e ofereciam um ensino de
a sociedade industrial e a padronização dos comportamentos. Eles melhor qualidade do que as escolas para negros. Os juízes, então,
também se mostravam insatisfeitos com o autoritarismo de seus declararam a inconstitucionalidade da segregação racial nas esco-
pais e dos governantes. las: todas as crianças, brancas ou negras, podiam frequentar qual-
Estudantes e intelectuais passaram a incorporar reivindicações quer escola.
de grupos considerados minoritários, como os negros, os homos- Naquele ano, o negro Martin Luther King foi nomeado pastor
sexuais e as mulheres - todos em busca de seus direitos. Grande de uma igreja batista em Montgomery, no estado do Alabama. Em
número de jovens se engajou no movimento hippie. Usando roupas seu curso de pós-graduação, ele defendera uma tese sobre o mo-
largas e coloridas e cabelos compridos e sem corte, os hippies recu- vimento de resistência pacífica liderado por Mahatma Gandhi, na
savam a sociedade industrial, massificante e de consumo. Índia. Ele já tinha se tornado o maior defensor dos direitos da po-
Eles valorizavam o indivíduo, as ideias de paz, amor e liberda- pulação negra quando, em 1955, uma mulher negra, Rosa Parks, foi
de e a vida comunitária. “Paz e amor” era o lema deles. Pacifistas, presa em um ônibus. Rosa estava sentada e, pelas leis segregacio-
eram contra a guerra e a violência e protestavam distribuindo flo- nistas, deveria ceder seu lugar a um passageiro branco.
res. Em geral, defendiam o amor livre, rejeitando o casamento mo- Ela se negou a fazê-lo e acabou detida pela polícia. Luther King,
nogâmico tradicional. em represália, organizou um boicote da população negra aos trans-
Muitos não estudavam nem tinham emprego, viviam em co- portes urbanos em Montgomery. Foi preso e sua casa, atacada. A
munidades onde comiam o que plantavam e produziam artesanato Suprema Corte declarou, então, a inconstitucionalidade da segre-
para vender. Alguns se aproximaram das religiões orientais. gação racial nos transportes públicos de todo o país. Foi um avanço
na luta contra a discriminação.
— 1968 Em resposta à resistência da população negra, a organização
O auge do movimento da contracultura foi em 1968. Protes- racista Ku Klux Klan empregou táticas de terror. Mas o movimento
tos de jovens e trabalhadores ocorreram nos Estados Unidos, na contra a discriminação prosseguiu firme. Recorrendo à resistência
Europa e na América Latina. Muitos estavam entusiasmados com pacífica, no início de 1963, Luther King liderou grandes protestos
a Revolução Cubana (1959), a Independência da Argélia (1962) e a dos negros por seus direitos civis. Em 1964, Luther King foi vence-
Revolução Cultural na China (1966). dor do Prêmio Nobel da Paz. Em abril de 1968, ele foi assassinado
Com o desejo de mudar o mundo, jovens de vários países pas- a tiros.
saram a recusar o consumismo capitalista e o modelo de socialismo A luta dos negros estadunidenses continuou e resultou no re-
soviético. Nos EUA, milhões de jovens protestaram contra a Guerra conhecimento de seus direitos civis e na abolição da discriminação
do Vietnã. Nas universidades, os estudantes organizaram protestos; em todos os estados do país.
fora delas, os hippies também defendiam o fim do conflito.
Na Europa, o movimento de rebeldia mais conhecido foi o que — Malcolm X e os panteras negras
aconteceu na França e ficou conhecido como Maio de 1968. Em 22 Apesar de bem-sucedido na sua estratégia de luta, a lideran-
de março, estudantes ocuparam a Universidade de Nanterre para ça de King começou a ser contestada por setores mais radicais do
protestar contra a prisão de alguns colegas. Depois, tomaram o movimento negro, sobretudo sua proposta de integração e convívio
Quartier Latin, famoso bairro universitário em Paris, erigindo bar- pacífico com os brancos. Outras lideranças surgiram, como Malcolm
ricadas. Em 13 de maio, as centrais sindicais comunista e socialista X. Filho de família pobre, tornou-se líder de um templo muçulmano
declararam greve. em Detroit e passou a pregar a dignidade dos negros. Era contra a
Trabalhadores e estudantes uniram-se a elas, organizando um estratégia da resistência pacífica. Em fevereiro de 1965, foi assas-
comando operário-estudantil. Em 20 de maio, 10 milhões de traba- sinado.
lhadores estavam em greve. Para contornar a situação, o governo Na segunda metade dos anos 1960, setores do movimento ne-
Charles de Gaulle convocou eleições, nas quais os chamados gaul- gro aderiram a propostas ainda mais radicais. Entre elas estava a do
listas saíram vitoriosos. De Gaulle acionou a polícia para recuperar Partido Pantera Negra para Autodefesa, fundado no final de 1966
fábricas e universidades que haviam sido tomadas pelos revoltosos, em Oakland, na Califórnia. Sua maneira de luta era muito diferente
perseguiu e prendeu líderes estudantis. da liderada por Luther King ou Malcolm X.
A partir daí, o movimento de Maio de 1968 recuou. Os protes- Os panteras negras não se amparavam na religião. Declaravam-
tos estudantis e operários de 1968 também ocorreram no Brasil, no -se marxistas e maoistas e recorriam à violência em confrontos ar-
México, na Polônia, na Iugoslávia e na Tchecoslováquia. A repressão mados com a polícia. Foram duramente reprimidos e a maioria de
pôs fim à mobilização em toda parte. seus líderes, presa. O movimento desapareceu nos anos 1980.

— Conquista dos Direitos Civis — O Movimento Feminista


Até meados dos anos 1950, vigorou a segregação racial contra Nos anos 1960, não eram apenas os negros estadunidenses
os negros nos estados do sul dos EUA. Havia escolas para brancos e que lutavam por direitos civis. As mulheres também reivindicavam
escolas para negros, restaurantes e bares para brancos e restauran- igualdade perante os homens. Em 1963, elas constituíam 51% da
tes e bares para negros, banheiros públicos para brancos e banhei- população e um terço da força de trabalho. Mas ganhavam menos,
ros públicos para negros. Nos ônibus e nas praças públicas, havia inclusive quando exerciam um trabalho igual ou ocupavam o mes-
assentos reservados para os brancos e para os negros. mo cargo que um homem.

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Algumas funções pareciam impossíveis de serem ocupadas por • Movimento sanitarista: naquele sistema, a saúde pública es-
uma mulher, em particular cargos de gerência e direção. As mulhe- tava limitada a poucos e respaldada no Instituto Nacional de Assis-
res, além disso, eram minoria nos cursos superiores de graduação tência Médica da Previdência Social (INAMPS), fundado em 1974,
e pós-graduação. Apesar das conquistas no campo político, em es- para dar assistência apenas aos trabalhadores das zonas urbanas e
pecial o direito de voto, obtido em 1918, o movimento feminista que possuíam registro em carteira, ou seja, previdenciários.
perdeu o ímpeto a partir da década de 1920. • Movimento estudantil: Impulsionados pela Reforma Univer-
O renascimento ocorreu nos anos 1960. Em 1963, a ativista sitária de 1968 e pelo Decreto no 477, que suspendeu quaisquer
Betty Friedan publicou o livro The feminine mystique (A mística manifestações estudantis, e, ainda pelo Ato Institucional n. 5 (AI5),
feminina), em que atacava as ideias que reservavam para a mu- os estudantes se encarregaram da principal atuação no enfrenta-
lher apenas o papel de dona de casa e mãe. As feministas foram mento à ditadura. A União dos Estudantes (UNE) teve papel funda-
hostilizadas, insultadas e ridicularizadas. Muitos alegavam que a mental nesse movimento.
igualdade entre os sexos destruiria a instituição do casamento e da
família. Mas o movimento feminista enfrentou todos os obstáculos
com sucesso. DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, CONCENTRAÇÃO DA
Em 1964, a legislação federal proibiu qualquer discriminação RENDA E RIQUEZA
no trabalho por motivo de raça e também de sexo. Nos anos seguin-
tes, uma série de leis garantiu às mulheres direitos civis e a igual-
dade perante os homens, a exemplo da criminalização do assédio O Estado na década de 197017
sexual no trabalho e da abertura da carreira militar para elas.
O movimento se expandiu por diversas partes do mundo, resul- A década de 1970 foi marcada por uma intensa participação
tando em campanhas e leis específicas contra a violência doméstica do Estado na economia em todo o mundo, especialmente no Bra-
e a favor da equiparação das mulheres aos homens no tocante aos sil. Isso se deu, em grande parte, em virtude de empresas públicas
direitos civis. oferecerem infraestrutura para o setor privado. O Estado brasileiro
durante 50 anos (1930–1970) criou e absorveu empresas do setor
Características privado por vários motivos, como nacionalismo econômico, socor-
• Política fundamentada na profunda centralização de poder e ro a empresas privadas, recursos insuficientes por parte do setor
no autoritarismo privado em setores estratégicos da economia nacional e riscos ele-
• Controle da nação por meio dos Atos Institucionais, dispositi- vados em investimentos de infraestrutura com grandes períodos de
vos contrários à Constituição Federal maturação.
• Intervenção estatal na economia, com desenvolvimento eco- Martins (1985) aponta que a participação do Estado brasileiro
nômico nos padrões capitalista e tecnoburocrático, com dependên- na economia durante a década de 1970 foi caracterizada por um
cia monetária internacional movimento de forças centrípetas – de concentração de recursos
• Princípios da Escola Monetarista (Industrialização Excluden- no governo federal – e de forças centrífugas – de disseminação de
te) agências e empresas independentes e relativamente autônomas
• Modernização da infraestrutura (transporte, comunicação, para a alocação dos recursos supramencionados. Conforme o autor,
energia e saneamento) somente de 1971 a 1976 foram criadas 131 empresas estatais, sen-
• Ampliação da linha de crédito para classes média e média- do 67 pela União, 59 pelos estados e 5 pelos municípios.
-alta Havia cerca de 300 empresas estatais, somente no âmbito fe-
deral, em 1979. Essas empresas variavam desde bancos até siderúr-
Movimentos sociais gicas, empresas de petróleo, hotéis e outros setores. Segundo Pêgo
• Movimento Sindical: ressurgiu a partir de 1974, confrontan- Filho et al. (1999), entre 1970 e 1981, a poupança bruta do setor
do a ditadura de forma mais direta e caracterizando o fim dos anos produtivo estatal federal correspondeu a 3,68% do PIB, em média,
1970 como uma intensa onda de greves, que sofreram fortes re- representando 18,68% de toda a poupança bruta do setor privado.
pressões. Além disso, a década de 1970 caracterizou-se como um perío-
• Vanguarda Popular Revolucionária (VPR): movimento de do de déficit público elevado para o equilíbrio macroeconômico e
guerrilha formado por militares dissidentes, criado em 1966, con- de níveis de inflação acima do que seria desejado. Ademais, o ex-
trário à postura do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e à sua inope- pansionismo estatal levou a grandes projetos de infraestrutura sob
rância diante ao Golpe de 1964. a responsabilidade do Estado, o que exigiu montantes de capital
• Movimentos das comunidades eclesiais de base: articulados para sua implementação.
pela Igreja Católica, especialmente pelos adeptos à Teologia da Li- A partir da primeira e, principalmente, da segunda crise do pe-
bertação, esses grupos denunciavam episódios de prisões políticas tróleo em 1973 e 1978, respectivamente, houve uma deterioração
e torturas, reivindicando direitos humanos mínimos. das contas públicas da maioria dos países, gerando graves desequilí-
• Associações de moradores: esses grupos se multiplicavam no brios macroeconômicos. Nesse contexto, o Estado brasileiro perdeu
período do regime militar, com o objetivo de lutar por melhores praticamente toda sua capacidade de investimento, o que adveio
condições de vida, principalmente em relação à saúde, educação e do progressivo endividamento público. No âmbito microeconômi-
saneamento. 17 ARAÚJO, Wagner Frederico Gomes de. As estatais e as parcerias público-
privadas: o Project Finance como estratégia de garantia de investimentos em
infraestrutura e seu papel na reforma do estado brasileiro. in: PRÊMIO DEST MO-
NOGRAFIAS: EMPRESAS ESTATAIS. Embrapa Informação Tecnológica, Brasília,
DF.2009 - Adaptado
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co, ocorreu uma forte contração dos empréstimos e financiamentos simplesmente delega os serviços públicos ao setor privado sob con-
externos a empresas nacionais, tanto estatais quanto privadas. As dições e prazos acordados, tendo o setor privado a obrigação de
empresas estatais, portanto, não possuíam mais recursos disponí- investimentos previamente definidos (MOREIRA; CARNEIRO, 1994).
veis para grandes empreendimentos de infraestrutura. Essa redu- As estatais remanescentes tiveram seu papel estratégico exal-
ção de despesas implicou uma deterioração do estoque de capital tado, assumindo um papel seletivo, mas importante na economia
em infraestrutura e, consequentemente, gerou estrangulamentos brasileira, como é o caso da Embraer ou da Petrobras. Ademais, sua
em setores importantes para a retomada do desenvolvimento eco- gestão foi profissionalizada, uma vez que se trata instituições de di-
nômico. reito privado.
Em vários países, a reação às crises da década de 1970 foi se- Dessa forma, a interação entre o setor público e o setor priva-
guida por processos de reforma do Estado, com a diminuição de do, inclusive as estatais, tem que ser contínua, pois a partir dessa
seu papel como provedor de infraestrutura, gerando uma onda de interação será consolidada a posição do setor privado em infraes-
privatizações e concessões ao setor privado. Na Grã-Bretanha, o trutura. O fato de o Estado brasileiro ainda ocupar um papel fun-
lema tornou-se o rolling back the State durante o governo That- damental na economia nacional e a melhora do cenário macroe-
cher quando, além das privatizações, foram disseminados contratos conômico na década de 1990 criam condição para que se efetive a
de desempenho para os prestadores de serviços de infraestrutura parceria público-privada nos setores de infraestrutura.
ou de utilidade pública (MACEDO; ALVES, 1997). Na Nova Zelândia,
considerado um dos países com reformas mais radicais, foram im- O Plano Metas e Bases Para a Ação do Governo (1970-1973)18
plementadas grandes mudanças macroeconômicas, com um agres-
sivo programa de privatizações, além da terceirização de várias ati- O plano Metas e Bases para a Ação do Governo (MBAG), foi
vidades estatais (CARVALHO, 1997). adotado pelo governo federal durante o período em que Médici es-
A estratégia das privatizações surgiu como tentativa de ajus- tava na presidência, divulgado em outubro de 1970. O governo não
te nas contas públicas, por meio da venda de ativos produtivos do pretendia criar um novo plano imediatamente e, assim, o MBAG
Estado, seja para redução do estoque da dívida pública, seja para complementou-se com outros dois documentos: o Orçamento
redução da demanda de recursos fiscais para gastos em infraestru- Plurianual de Investimentos de 1971 a 1973 e o I Plano Nacional de
tura. Dessa forma, uma das principais justificativas para a privatiza- Desenvolvimento Econômico e Social (1972 a 1974). Neste plano
ção, no âmbito macroeconômico, foi o ajuste fiscal. Mais empresas ficaria estabelecida a sistemática segundo a qual cada governo exe-
privadas significavam, igualmente, maior arrecadação tributária cutaria o último ano do Plano Nacional de Desenvolvimento, com as
para o governo, o que também poderia contribuir para a melho- correções que julgasse necessárias.
ra das contas públicas. No plano microeconômico, as privatizações O MBAG estabeleceu como prioridades nacionais para o perío-
foram justificadas pelos ganhos de eficiência das empresas sob o do de 1970 a 1973 (auge do Milagre Econômico) as seguintes: in-
controle privado e sua maior capacidade de investir. Giambiagi e vestimentos em educação, saúde, saneamento, agricultura e abas-
Além (2000) apontam que não se pode garantir maior eficiência tecimento e o avanço no desenvolvimento científico e tecnológico.
apenas pela transferência ao setor privado, não havendo diferenças O documento identificava como objetivo síntese o ingresso do
significativas entre ambos, sendo que o principal contraste é que Brasil no mundo desenvolvido até o final do século (Brasil, 1970).
as empresas estatais também têm um papel importante na política Este objetivo síntese incorporava os seguintes objetivos básicos:
econômica do governo. - crescimento econômico com elevação da taxa de crescimento
No Brasil, pode-se identificar três fases da privatização (PINHEI- do produto real para no mínimo 7 a 9% a.a., evoluindo para 10%
RO; GIAMBIAGI,1997): a.a.;
- expansão do emprego para a ordem de 3,3% a.a.;
a) Década de 1980 – A primeira fase se deu por um processo de - controle da taxa de inflação;
reprivatizações, com o objetivo de sanear a carteira do BNDES5, o - expansão das receitas de exportação;
que ocorreu sem a privatização de grandes empresas estatais. Essa - progresso social e melhoria na distribuição de renda;
fase permitiu ao BNDES adquirir know-how para se tornar o princi- - correção gradual de desequilíbrios regionais e setoriais;
pal agente de privatizações posteriormente. - estabilidade política e segurança nacional.
b) De 1990 a 1995 – Em 1990, foi lançado o Plano Nacional
de Desestatização (PND). Nessa fase ocorreu a venda de empresas O Plano Trienal (1963-1964)19
tradicionalmente estatais, além da privatização de setores inteiros.
A privatização significava ainda uma peça importante na estratégia Em 1961 o presidente Jânio Quadros criou a Comissão Nacio-
do governo de ajuste macroeconômico. Grandes empresas, como a nal de Planejamento (COPLAN) que coexistiu por algum tempo com
Usiminas, escolhida para inaugurar o processo, foram privatizadas. o Conselho de Desenvolvimento. Posteriormente, Celso Furtado,
c) A partir de 1995 – Em 1995 foi aprovada a Lei de Concessões, como Ministro Extraordinário para o Planejamento, preparou o Pla-
estabelecendo regras para a exploração de serviços públicos pelo no Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social para o período
setor privado, abrindo caminho para um processo de maciça pri- de 1963 a 1965, já durante o regime parlamentarista do governo de
vatização, principalmente nos setores de infraestrutura e serviços João Goulart. O plano foi criado com os objetivos básicos de promo-
públicos, como telecomunicações e energia elétrica. ver um desenvolvimento econômico rápido e estabilizar o nível de
Com a privatização dos serviços públicos, a partir de 1995, foi preços. Foram propostas as seguintes metas:
necessário um esquema de regulação das empresas privadas que 18 MATOS, Patrícia de Oliveira. Análise dos planos de desenvolvimento elabora-
atendiam aos cidadãos, pois, a despeito de ser de iniciativa privada, dos no Brasil após o II PND. Dissertação (mestrado) Escola Superior de Agricultu-
os serviços públicos têm que ser garantidos pelo Estado. O Estado ra Luiz de Queiroz, 2002. Adaptado
19 Idem
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- crescimento de 7% do PNB que deveria ser repassado aos sa- Segundo Rossetti (1991), o Plano Trienal não descuidou da cor-
lários reais com o objetivo de distribuir melhor a renda; reção de desajustamentos, ao estabelecer objetivos para o controle
- promoção das Reformas de Base (principalmente a Reforma progressivo da pressão inflacionária, para a atenuação dos custos
Agrária); sociais do crescimento econômico e para a redução das desigualda-
- refinanciamento da dívida externa do país; des regionais de níveis de vida.
- redução progressiva da pressão inflacionária, de modo que Contudo, o Plano Trienal não logrou êxito, como o Plano de
em 1965 a elevação do nível de preços não fosse superior a 10%; Metas, devido principalmente às pressões exercidas por grupos po-
- redução das desigualdades regionais dos níveis de vida; pulistas que impediam a implantação de medidas mais rigorosas de
- melhoria da qualidade do ensino. controle da inflação e às pressões exercidas por classes economi-
Para o governo da época, a realização destas metas só seria camente dominantes que tentavam impedir as Reformas de Base.
possível mediante o controle do processo inflacionário, que se tor- Mesmo assim, o Plano Trienal contribuiu significativamente
nou o objetivo prioritário do plano. A origem da inflação foi asso- para o aprimoramento dos instrumentos de política econômica.
ciada ao período de crescimento econômico de 1957 a 1961 com o
aumento da participação do setor público na economia e também O Plano de Ação Econômica do Governo (1964-1967)
devido aos problemas estruturais do setor externo vinculados ao
processo de substituição de importações. O Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG) teve a sua im-
O plano continha as seguintes metas para o controle inflacio- plantação a partir do início do regime militar em 1964. Ele surgiu
nário: como uma reação das classes conservadoras contra as posições re-
- redução do dispêndio público programado; formistas contidas no Plano Trienal, porém atingiu níveis de agrega-
- captação de recursos do setor privado no mercado de capitais; ção tão amplos quanto este. O plano procurava dar consistência às
- política fiscal com aumentos progressivos da carga tributária. estratégias de reformas econômicas do primeiro governo militar, o
governo do general Castelo Branco.
O Plano Trienal possuía uma maior abrangência, programa e O PAEG assumiu uma posição menos reformista, com traços
metodologia e modificou as concepções a respeito da política e predominantemente liberais e propostas de caráter ortodoxo, mas
programação econômica no Brasil. Este plano é considerado um sem abandonar a interferência governamental na economia, justi-
marco histórico uma vez que foi além da concepção plurissetorial, ficando a ação estatal contida no plano a partir das deficiências do
determinando linhas de ação com projeções globais da economia e sistema de preços. As deficiências apontadas pelo plano foram as
tendo como objetivo amplas modificações estruturais como: a dis- seguintes: o livre jogo das forças de mercado não garante neces-
tribuição de renda, melhoria de recursos humanos, correção das sariamente a formação de um volume desejável de poupança, o
disparidades regionais, organização do setor governamental e eli- sistema de preços nem sempre incentiva investimentos em setores
minação de entraves institucionais. Os tipos de investimento prio- essenciais como por exemplo, educação, transportes; e o sistema
rizados no Plano Trienal incluíam a ampliação da base de recursos de preços não leva necessariamente a uma distribuição de renda
naturais economicamente utilizáveis, o aperfeiçoamento do fator razoável entre pessoas e regiões.
humano, investimentos sociais, estes da alçada do setor público, e Apesar disso, segundo o PAEG, o Estado não elimina o papel
investimentos estruturais e infraestruturas como indicativos para o da livre empresa e do mecanismo de preços, ele age apenas como
setor privado. regulamentador e tem um caráter meramente indicativo.
O Plano Trienal caracterizou-se ainda pelo seu caráter globa- O PAEG foi elaborado pelos ministros Roberto Campos e Otávio
lista e pelo fato de ter se ajustado ao quadro das motivações que Gouvêa de Bulhões com base na ortodoxia e no arrocho salarial,
levam o Estado a participar diretamente do processo de formação mas conseguiu realizar reformas importantes que os outros gover-
de capital em suplementação ao setor privado. Alinhou-se também nos não puderam implantar, tais como: a reforma bancária, com
às motivações decorrentes do processo de coordenação geral da a criação do Banco Central; a reforma do mercado de capitais; a
economia, formulando diretrizes básicas para a orientação do cres- criação do FGTS e do BNH e a instituição da correção monetária.
cimento econômico. O fato mais relevante a ser comentado sobre o PAEG é o de que
Contudo, Singer (1977) considera que o Plano Trienal não era este marca um período de transição na vida política e econômica
um plano de desenvolvimento econômico e social do país, mas ape- do país. Contudo, o PAEG não teve a pretensão de apresentar-se
nas uma plataforma de ação do governo federal. como um plano global de desenvolvimento, mas apenas como um
Para Bresser Pereira (1998), o Plano Trienal não teve condições programa de ação coordenada do governo no campo econômico.
políticas para ser aplicado, dada a crise que o país atravessava no Estes traços liberais no entanto não correspondem às medidas im-
início dos anos 60 e que acabou culminando com o golpe militar plementadas no período de 1964 a 1966. Nesta época, o número
em 1964. O Plano Trienal conseguiu sobreviver apenas até meados de empresas estatais aumentou muito (em 1966 35% das estatais
de 1963, quando todo o ministério de João Goulart foi substituído. existentes haviam sido criadas sob a vigência do PAEG).
Segundo Sandroni (2000), com relação aos planos anteriores, o As principais medidas do PAEG referem-se às destinadas ao
Plano Trienal apresentou a vantagem de partir de uma visão global controle da inflação que vinha aumentando muito desde 1959, che-
da economia, mas a sua parte setorial não obedeceu a um esquema gando a atingir 90% em 1963. Estas medidas englobam a reforma
uniforme de apresentação e muitos dos seus objetivos não foram tributária, com elevação da tributação para reduzir a renda disponí-
definidos quantitativamente, sendo apresentados sob a forma de vel, a redução das emissões monetárias, o estímulo às exportações
diretrizes gerais.

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e redução das importações e um severo controle dos salários e dos juros. O diagnóstico da economia brasileira como uma economia
inflacionária também gerou a criação das Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTN) que permitiu ao governo a captação de
recursos por via não inflacionária.
A inflação durante o período de vigência do PAEG foi diagnosticada como tendo componentes de demanda e de custos e, segundo
Sandroni (1999), a inflação de custos foi localizada no processo de substituição de importações, incentivado por barreiras alfandegárias.
Para este autor, o protecionismo permitia um aumento espiral nos custos dos setores substitutivos.
O PAEG atingiu seus objetivos no que se refere à redução da inflação, melhoria do saldo das contas públicas e recuperação das expor-
tações agrícolas, não conseguiu porém, evitar a recessão e o aumento do desemprego.
Segundo Tavares (1972), durante o período de 1964 a 1967 foram modificadas em profundidade as regras do jogo institucional. Não
só do setor público, como no que se refere aos mecanismos de acumulação interna das empresas e aos esquemas de seu financiamento
externo. Assim, a economia brasileira pôde voltar a crescer em novas condições de financiamento, mantendo aparentemente, o mesmo
padrão estrutural de crescimento, apenas mais acentuadamente desequilibrado e concentrador. A natureza do problema central da acu-
mulação naquele período de transição consistia na necessidade de transferir excedentes dos setores atrasados ou pouco dinâmicos para
os de maior potencial de expansão.
O Plano previa uma taxa anual de investimento bruto de 17% do produto, que, associada a taxas anuais de depreciação de 5%, cresci-
mento populacional de 3,5% e a uma relação incremental capital-produto de 2:1, permitiria uma elevação da renda per capita de 2,5 % a.a.
Neste período também foi realizada a Reforma Administrativa, na qual foram introduzidas modificações de largo alcance na estrutura
do planejamento do país. Um dos objetivos da Reforma foi a institucionalização do planejamento governamental, firmando a norma de
que a ação do governo obedeceria a programas gerais e setoriais de duração plurianual, elaborados através dos órgãos de planejamento,
sob a orientação e coordenação geral do presidente da república. A Reforma estabeleceu que o planejamento constituiria um dos princí-
pios fundamentais da administração federal, compreendendo a elaboração e atualização dos seguintes instrumentos básicos:
- plano geral do governo;
- programas setoriais e regionais de duração plurianual;
- orçamento programa anual;
- programação financeira de desembolso.
A Constituição de 24/01/67 estabeleceu a competência do Congresso Nacional para dispor sobre os “planos e programas nacionais,
regionais e orçamento plurianuais” estipulando também que “as despesas de capital obedecerão ainda a orçamentos plurianuais de in-
vestimento, na forma prevista em lei complementar” e que “o orçamento consignará dotações plurianuais para a execução dos planos de
valorização das regiões menos desenvolvidas do país.”
Alguns dos resultados macroeconômicos durante o período de vigência do PAEG podem ser analisados na tabela:
Tabela. Brasil - variáveis macroeconômicas nos anos 60.

Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) (2002)


PIB*- Taxa de crescimento;
Taxa de Investimento* - Formação Bruta de Capital Fixo/PIB;
Inflação* - variação do IGP- DI;
Déficit Público* - Gov. Federal e Banco Central (títulos). Em R$ Milhões (deflator:
IGP-DI).

O primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento (1972-1974)

Em 15 de setembro de 1971 foi encaminhada ao Congresso, juntamente com o segundo Orçamento Plurianual de Investimentos, a
proposta do I Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND). O I PND definiu os seguintes objetivos nacionais:

- colocar o Brasil, no espaço de uma geração, na categoria de nação desenvolvida;


- duplicar, até 1980, a renda per capita do país (em comparação com 1969)
- expandir o PIB de Cr$ 222,8 bilhões em 1972 para Cr$ 314,5 bilhões em 1974 (a preços de 1972);
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- investimentos nas áreas de siderurgia, petroquímica, trans- Segundo Holanda (1983), pretendia-se fazer com que esse pro-
porte, construção naval, energia elétrica e mineração; grama viesse a contribuir para a efetiva institucionalização de um
- prioridades sociais: agricultura, programas de saúde, educa- sistema integrado de planejamento. Com base no programa, o rela-
ção, saneamento básico e incremento à pesquisa técnico- científica; tório de acompanhamento do I PND relativo ao exercício de 1972,
- ampliação do mercado consumidor e da poupança interna mostrou que das 34 metas setoriais mais importantes, 19 haviam se
com os recursos do PIS e do PASEP; enquadrado na faixa de execução de 90 a 99% e apenas 6 apresen-
- aumento da taxa de investimento bruto de 17% em 1970 para tavam um índice de execução de menos de 80%.
19% em 1974; O I PND, concedeu maior ênfase à indústria de bens de consu-
mo duráveis, liderada pela indústria automobilística. Mas, apesar
Para isto, pressupunha a manutenção de taxas anuais de cres- de haver um intenso crescimento econômico neste período, o plano
cimento do PIB de 8 a 10%; taxa de expansão do nível de emprego acabou intensificando as distorções distributivas do país.
de 3,2%, redução da taxa de inflação até o nível de 10%; dissemi- Tavares (1972) considera que o desenvolvimento do período
nação dos resultados do progresso econômico em termos sociais e se fez com graves pressões inflacionárias e com o aumento do de-
regionais; estabilidade política e segurança interna e externa (Bra- sequilíbrio externo e das desigualdades regionais, embora não seja
sil, 1971). menos significativo, o fato de que o Brasil foi um dos poucos países
O I PND foi elaborado durante a gestão do ministro do plane- da América Latina que conseguiu manter um ritmo de crescimento
jamento Reis Velloso, ainda no governo Médici, e coincidiu com a elevado na época e em que o processo de substituição de importa-
expansão cíclica do período do Milagre Econômico. Segundo Fur- ções avançou até níveis de integração industrial maiores.
tado (1981), o extraordinário crescimento da produção manufa- Tem-se assim, um grande avanço no processo de substituição
tureira brasileira, no período em que se convencionou chamar de de importações neste período. No entanto, em fins de 1973, a ma-
“milagre”, ocorreu sem que operassem modificações significativas nutenção do ciclo expansionista dependeria cada vez mais de uma
na estrutura do sistema, ou sem que este alcançasse níveis altos de situação externa favorável. O Choque do Petróleo no final deste
capacidade de autotransformação. ano, veio tornar esta situação mais adversa e elevar a taxa de in-
O I PND foi baseado no binômio político ideológico de segu- flação interna. Diante da condição externa desfavorável e da dimi-
rança e desenvolvimento e representou uma ampla formulação do nuição da capacidade de financiamento do setor público, o modelo
“modelo brasileiro de organizar o Estado e moldar as instituições”. de crescimento do Milagre se esgotou e o governo se viu obrigado
Os projetos de desenvolvimento do I PND seriam completados com a optar entre uma política de ajustamento ou de financiamento.
o PIN (Programa de Integração Nacional), cujos objetivos eram a A política de ajustamento causaria a contenção da demanda
construção da Rodovia Transamazônica e colonização das regiões interna e evitaria que o choque do setor externo se transformasse
por ela cortadas; ampliar para 40 mil hectares a área irrigada do em inflação permanente. A política de financiamento manteria o
Nordeste e distribuir 70 mil títulos de propriedades rurais a possei- crescimento em níveis elevados, fazendo ajustes graduais de preços
ros e agricultores sem-terra. relativos, enquanto houvesse financiamento externo abundante.
Segundo Sandroni (2000), ao final do triênio 72/74, confir- Inicialmente o governo da época escolheu o ajustamento, mas não
mou-se o elevado grau de execução do I PND, sobretudo na área conseguiu atingir os efeitos desejados. O governo então optou pela
econômica. Contudo, alguns projetos sociais tiveram um grau de continuidade do processo de desenvolvimento lançando, em fins
execução bem abaixo do previsto. Dos 40 mil hectares estipulados de 1974, o II PND.
para a irrigação no Nordeste foram irrigados apenas 5674 hectares.
No saneamento básico, a rede de esgoto assegurou o atendimen- O segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (1975-1979)
to a 500 mil pessoas em lugar dos 5 milhões constantes do I PND.
No campo industrial o maior crescimento ocorreu no setor de bens O segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), do
de consumo duráveis o que acabou gerando um aumento nas im- período de 1975 a 1979, constituiu a mais ampla e articulada expe-
portações de meios de produção. A inflação prevista para 10% a.a. riência de planejamento no Brasil após o Plano de Metas. Foi elabo-
Atingiu os 35%. rado durante o governo Geisel, pelo ministro do planejamento Reis
Para a avaliação dos resultados dos planos de desenvolvimento, Velloso, permanecendo em vigor até o primeiro ano do governo
foi implementado, em 1972, o Programa de Acompanhamento dos Figueiredo.
Planos Nacionais de Desenvolvimento que constituía a atividade O II PND mudou a ênfase do desenvolvimento para a indústria
permanente dos órgãos que integravam o sistema de planejamento de bens de capital, mas foi considerado um fracasso pois coinci-
e tinha por objetivo a avaliação da execução, revisão, complemen- diu com a fase de retração cíclica da economia. O plano buscava a
tação e aperfeiçoamento dos Planos Nacionais de Desenvolvimento preservação do modelo de desenvolvimento, admitindo que a con-
e os respectivos instrumentos de controle e implementação. tinuidade do crescimento exigiria uma “reconstrução estrutural”
Este trabalho era realizado por meio de: com um esforço bem maior de acumulação por unidade adicional
- análise do desempenho total da economia e do comporta- de produto. Assim, o II PND foi lançado apesar de o governo reco-
mento de seus setores prioritários; nhecer as dificuldades para manter taxas de crescimento da ordem
- avaliação do progresso alcançado na execução dos programas de 10%, face à crise externa. Mesmo assim, optava pelo crescimen-
e projetos; to acelerado como “política básica”.
- identificação dos pontos de estrangulamento e obstáculos O plano realizou alterações nas prioridades de industrialização
institucionais que dificultam a consecução das metas e a execução brasileira: do setor de bens de consumo duráveis para o setor pro-
de programas e projetos. dutor de meios de produção, principalmente a indústria siderúrgi-
ca, máquinas, equipamentos e fertilizantes, sendo as empresas es-
tatais o agente central destas transformações. O plano enfatizou a
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abertura na política externa, o mercado interno e a empresa privada nacional, o combate à inflação, a exploração do potencial hidrelétrico
e a continuação do processo de substituição de importações. A principal meta do II PND era a manutenção da taxa de crescimento econô-
mico em torno de 10% ao ano, com crescimento industrial em torno de 12%.
Segundo Sandroni (2000), o II PND propunha transformar o Brasil em uma “potência emergente” deslocando-o do Terceiro Mundo
para o espaço dos países altamente industrializados. Para isto propunha substituir importações, elevar as exportações e ampliar o merca-
do interno consumidor. O investimento total seria de 1 trilhão e 750 bilhões de cruzeiros, para assim atingir um PIB da ordem de US$120
bilhões e uma renda per capita de US$ 1000,00. O nível de crescimento industrial deveria situar-se em torno de 12% a.a., as exportações
deveriam crescer a 20% a.a. e a agricultura a 7%. Quanto à ampliação do mercado consumidor, as diretrizes do II PND, não eram claras.
Isto decorria da política salarial que reduzia o poder de compra dos assalariados. Assim, o crescimento do mercado interno estaria mais
relacionado ao aumento populacional e à expansão do emprego.
Para Furtado (1981), os objetivos estratégicos do II PND podem ser sintetizados em 2 pontos: ampliar a base do sistema industrial e
aumentar o grau de inserção da economia no sistema de divisão internacional do trabalho. Estes objetivos refletiam a percepção da neces-
sidade de reestruturação do sistema produtivo, que requeria a elevação da taxa de investimento e, com intensidade ainda maior, da taxa
de poupança. No entanto, os resultados da execução do plano ficaram bem aquém do esperado. De 1975 a 1979 a produção manufatureira
cresceu a 6,8% ao ano, a produção de bens de capital a 7% e a de bens de consumo duráveis a 7,4% ao ano.
O Conselho de Desenvolvimento Econômico (CDE) foi o principal órgão de implementação do plano, visando dar garantias de de-
manda e incentivos ao setor privado. Já a sustentação política do plano assentou-se no capital financeiro nacional, nas empreiteiras e nas
oligarquias arcaicas. Desta forma, o governo buscava dar suporte ao plano, restando para isso equacionar a questão do financiamento.
Assim, as empresas estatais foram forçadas ao endividamento externo para cobrir o hiato de divisas. Além disso, houve uma estatiza-
ção da dívida externa e ampliação da mesma devido, entre outros aspectos, à facilidade de obtenção de recursos no exterior. Esta facilida-
de decorria da ampla liquidez no mercado internacional.
Para realizar o II PND, o Estado foi assumindo um passivo para manter o crescimento econômico e o funcionamento da economia (Vas-
concellos et al., 1999). O endividamento do governo nesta época teve como consequência a deterioração da capacidade de financiamento
do setor público na década de 80, uma vez que socializaram-se todos os custos do II PND (aumento nos gastos sem criar mecanismos ade-
quados de financiamento). O endividamento direto externo foi estimulado paralelamente ao aumento da dívida interna, impossibilitando
progressivamente os grandes projetos governamentais. Este fato exigiu constantes revisões nas metas do II PND.
Segundo Sandroni (2000), durante a vigência do plano ocorreu uma variável não prevista: a necessidade de desaquecimento da eco-
nomia. Este autor fez o seguinte balanço do plano: significativos avanços na geração de bens de capital, de energia, prospecção de petróleo
e produção de álcool, mas o alcance dos objetivos estaria muito aquém do que foi traçado para o aumento do PIB, da renda per capita, das
exportações e da ampliação do mercado consumidor.
A crise mundial está entre as causas da desaceleração do II PND, além dos limites estruturais do próprio plano. Segundo Lessa (1981),
o II PND era impossível de ser implementado, em função do seu gigantismo e da crise econômica mundial, uma vez que se tratava de um
verdadeiro projeto de Nação-Potência, não apoiado pelas bases de sustentação do regime militar. Já Castro (1985), considerava que os
grandes projetos do II PND, pela sua complexidade e longo prazo de maturação teriam começado a produzir resultados visíveis somente
a partir de 1983 e 1984, e as dificuldades acima mencionadas teriam apenas levado à diminuição do ritmo de investimentos a partir de
1976, mas não à sua paralisação total.
Para Bresser Pereira (1998), o plano não reconheceu que o Brasil (e o mundo) entravam naquele momento em uma fase de declínio ou
desaceleração cíclica que tornavam inviáveis a maioria de suas metas. No entanto, este foi importante para estimular de forma definitiva
a implantação da indústria de bens de capital no Brasil.

Tabela. Resultados macroeconômicos durante o II PND.

Fonte: IPEA (2002)


PIB* - Taxa de Crescimento;
Indústria* - Taxa de Crescimento;
Formação Bruta de Capital Fixo/ Produto Interno Bruto* - (Taxa de Investimento);
Inflação* - Variação do IGP-DI;
Dívida Externa* - US$ (Bilhões).
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O terceiro Plano Nacional de Desenvolvimento (1980 - 1985) e - a saída do ministro Reis Velloso da SEPLAN (Secretaria de Pla-
a nova realidade econômica nejamento) e a ascensão de Delfim Neto, representando uma mu-
dança de mentalidade, uma vez que Velloso sempre foi um grande
O terceiro Plano Nacional de Desenvolvimento foi elaborado defensor do planejamento, enquanto Delfim Neto não depositava o
em 1979, em plena crise econômica, durante o governo do presi- mesmo crédito no processo;
dente Figueiredo, pelo ministro Delfim Neto que, paradoxalmente, - a distância entre os números previstos no II PND e os realiza-
era considerado um descrente do planejamento econômico. dos, gerando uma reação contra o planejamento;
O plano foi projetado para o período de 1980 a 1985, embora - as dificuldades enfrentadas pelo segundo choque do petróleo
tenha sido interrompido já no segundo semestre de 1980. Neste e pela alta das taxas de juros internacionais limitando as funções
período, já não existia o clima de “euforia desenvolvimentista” que do III PND.
marcou os PND’s anteriores. Segundo Giacomoni (1996), o país co- Segundo Lopes (1990), o III PND foi preparado, aprovado e pu-
meçava a sofrer as consequências da crise econômica internacional blicado apenas devido à imposição legal e, à época em que o plano
e o governo federal, alegando que a instabilidade impedia qualquer deveria estar sendo implementado, a convicção geral era de se tra-
programação de mais longo prazo, passou a governar com medidas tar de um documento de reduzida utilidade em face dos desafios
de curto e curtíssimo prazo. enfrentados pela economia brasileira.
O III PND reconheceu como setores prioritários da economia
brasileira a agricultura e o desenvolvimento de novas fontes de O primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova Re-
energia. Quanto aos seus objetivos, o III PND pouco se diferenciava pública (1986 - 1989)
dos planos anteriores mantendo como objetivo síntese a constru-
ção de uma sociedade desenvolvida, livre, equilibrada e estável, em A Nova República encontrou, em 1985, apesar da grave situa-
benefício de todos os brasileiros, no menor prazo possível. Segundo ção de endividamento, uma posição de relativo ajuste após as crises
o documento oficial do III PND, foram considerados os seguintes de 1981 a 1983, graças aos pesados investimentos em energia e à
objetivos prioritários: recuperação dos superávits na balança comercial. A recuperação do
- acelerado crescimento da renda e do emprego; crescimento, no entanto, associou-se à explosão das taxas de infla-
- melhoria da distribuição da renda, com redução dos níveis de ção ocasionando o Plano Cruzado em 1986.
pobreza absoluta e elevação dos padrões de bem-estar das classes O Plano Cruzado gerou uma economia com preços congelados
de menor poder aquisitivo; por tempo excessivo, provocando desabastecimento geral e dese-
- redução das disparidades regionais; quilíbrio dos fatores de produção, que levaram ao abandono do pla-
- contenção da inflação; no e a um novo surto inflacionário em 1987. Segundo Lopes (1990),
- equilíbrio do Balanço de Pagamentos e controle do endivida- este conturbado cenário deflagrou a decadência do processo de
mento externo; planejamento que o Brasil vinha desenvolvendo há décadas. Neste
- desenvolvimento do setor energético; sentido, o lançamento do I Plano Nacional de Desenvolvimento da
- aperfeiçoamento das instituições políticas. Nova República (I PND-NR) acentuou a crise do planejamento para
o desenvolvimento no Brasil, presente desde o III PND.
No entanto, estes objetivos não foram alcançados, até porque Este primeiro plano de desenvolvimento do governo de José
não houve qualquer implementação do plano. Sarney foi publicado pela SEPLAN, com metas para o período de
Na realidade, o III PND não pode ser considerado como um 1986 a 1989 e elaborado sob a coordenação do ministro João Sayad.
plano de desenvolvimento, mas como uma simples declaração de O I PND-NR se concentrou nos seguintes aspectos:
intenções pelo governo. Segundo Lopes (1990), o plano foi prepa-
rado apenas para o cumprimento de uma determinação legal, sob a - crescimento econômico;
égide de um ministério cujo comandante não via qualquer utilidade - combate à pobreza, às desigualdades e ao desemprego;
prática no processo de planejamento e, sendo assim, o III PND viu- - educação, alimentação, saúde, saneamento, habitação, previ-
-se logo relegado ao esquecimento. dência e assistência social;
Para Bresser Pereira (1998), o III PND refletiu não apenas a crise - justiça e segurança pública.
econômica como também a própria crise do governo, incapaz de
formular um plano de ação coerente. Quanto à parte econômica o I PND-NR evitou quantificações
Holanda (1983), considera que o III PND foi influenciado pelo que pudessem representar compromissos mensuráveis. Enfatizou,
impacto do choque do petróleo e dos juros internacionais que tor- principalmente, a mudança no padrão de negociação da dívida ex-
naram precárias quaisquer projeções econômicas. Para este autor, terna e a necessidade de reduzir as transferências de recursos ao
o plano se caracterizava como um documento basicamente quali- exterior. Quanto ao setor público, priorizou a reestruturação do
tativo, definindo diretrizes, critérios e instrumentos de ação. E, em aparelho estatal por meio de medidas que iam desde a privatização
função das incertezas e das restrições decorrentes da crise energé- seletiva de empresas estatais à reforma administrativa.
tica, da dívida externa e das pressões inflacionárias não apresentou Segundo Lopes (1990), o I PND-NR representou um inútil exer-
metas quantitativas. cício, da mesma forma que seu antecessor, e não foi sequer consi-
Assim, o III PND marca o fim do processo de planejamento derado como instrumento de suporte ou indicador de tendências
como efetivo instrumento de controle da política econômica do seja pelo governo, seja pelo setor privado.
país. Foram apontados os seguintes motivos para o fim do processo:

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No entanto, a argumentação dos mentores do plano era a de tiva, e para atender à parcela do serviço da dívida não incluída no
que este se diferia dos anteriores, assim como as condições da eco- referido OGU. A despeito da separação de funções e da criação da
nomia brasileira nos anos 80 se diferiam das condições da década Secretaria do Tesouro Nacional, este mesmo Decreto-Lei nº 2.376
anterior. Esta diferença apresentava-se na própria concepção do estabeleceu que: “[...] se o Tesouro Nacional não fizer colocação de
plano: títulos junto ao público, em valor equivalente ao montante dos que
“Em virtude da circunstância em que vivemos no campo econô- forem resgatados, o Banco Central do Brasil poderá subscrever a
mico-social e devido à nova orientação do governo sobre as funções parcela não colocada”. Em outras palavras, embora fosse um avan-
do setor público, associada ao decisivo estímulo para que o setor ço institucional em relação à prática anterior, qualquer que fosse a
privado assuma o papel de liderança no processo de crescimento, necessidade de rolagem, esta seria passível de financiamento via
este não é um plano de investimentos públicos, nem uma proposta Banco Central, bastando para isso que o mercado se recusasse a
acabada e compulsória de direcionamento dos investimentos em- dar o financiamento.
presariais” (Brasil, 1985b). O insucesso das políticas levadas a cabo pelo governo até en-
Segundo Giacomoni (1996), em função das dificuldades de tão para o combate à inflação conduziu o governo a tentativas mais
reorientar a questão financeira no âmbito do setor público e dos “heterodoxas”, que acabaram por influenciar as estratégias de ad-
problemas de administração da dívida externa e interna, o país, ao ministração da dívida nos anos seguintes. Logo no início de 1986, o
longo desse período, conviveu com inúmeras crises que se refleti- país viveu a primeira experiência heterodoxa de combate à inflação.
ram na substituição de ministros da área econômica e na adoção No início daquele ano, a elevação das taxas de inflação e do endi-
de medidas de curtíssimo prazo. Estes fatos dificultaram o planeja- vidamento público eram motivo de preocupação para o governo,
mento de médio e longo prazo no país e, portanto, a implementa- levando-o a adotar, em 28 de fevereiro, o Plano Cruzado, o qual
ção do I PND-NR. congelou preços, decretou o fim da correção monetária e reduziu
as taxas reais de juros. Essas medidas, aliadas à necessidade de re-
A dívida pública interna após 1986 e as mudanças institucio- duzir os déficits fiscais, levaram o Banco Central, e não o mercado,
nais20 a absorver as novas emissões da dívida, conforme permitido pela
legislação em vigor, antes descrita.
As dificuldades fiscais existentes em meados da década de Tendo em vista a dificuldade na colocação de LTNs e a impos-
1980 acarretaram a necessidade de mudanças na estrutura institu- sibilidade de colocação de ORTNs (agora denominadas OTNs) em
cional da área fiscal. O ano de 1986 representou um marco funda- mercado, dada a desindexação da economia por conta da extinção
mental no aspecto institucional da administração da dívida pública da correção monetária, o Banco Central optou por criar um título
brasileira, com a adoção de medidas profundas visando a um maior de sua responsabilidade. Assim, em maio de 1986, a falta de opções
controle fiscal, como a extinção da Conta Movimento – utilizada de instrumento levou o Conselho Monetário Nacional a autorizar
para o suprimento dos desequilíbrios de fundos do Banco do Brasil a autoridade monetária a emitir títulos próprios para fins de polí-
pelo Banco Central. Decidiu-se ainda pela criação da Secretaria do tica monetária. Foi então criada a Letra do Banco Central (LBC), a
Tesouro Nacional, por meio do Decreto nº 92.452, de 10/08/1986, qual tinha como característica ímpar o fato de ser remunerada pela
visando a centralizar o controle dos gastos públicos e, especialmen- taxa Selic, com indexação diária. A ideia era limitar as emissões de
te, a viabilizar seu controle mais efetivo. A maior preocupação com LBCs ao volume de títulos de responsabilidade do Tesouro Nacional
a necessidade de controle e monitoramento da dívida interna, a existente na carteira do Banco Central. Naturalmente, dadas as ca-
qual vinha apresentando elevado crescimento nos anos anteriores racterísticas do novo título e a conjuntura econômica da época, sua
em virtude da precária situação fiscal, aliada à percepção de que se aceitação pelo mercado foi enorme.
fazia necessária uma distinção institucional entre as políticas mone- Considerando o sucesso na colocação das LBCs, aliado à referi-
tária e de dívida acarretaram a transferência da administração da da falta de opção de instrumentos de financiamento, e consideran-
dívida pública do Banco Central para o Ministério da Fazenda. do a nova diretriz de separação das atividades fiscais e monetárias,
O Decreto nº 94.443, de 12/06/1987 determinou a transferên- o governo aproveitou a edição do já citado Decreto-Lei nº 2.376/87
cia das atividades relativas à colocação e ao resgate da dívida públi- e criou as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs). Tais títulos possuíam
ca para o Ministério da Fazenda, onde essa função ficou a cargo da características idênticas às da LBC, sendo de responsabilidade do
Secretaria do Tesouro Nacional. Entre as funções dessa secretaria, Tesouro Nacional e destinados especificamente para financiamento
regulamentadas pela Portaria MF nº 430, de 22/12/1987, estava dos déficits orçamentários.
explicitamente: É importante avaliar sob uma perspectiva histórica o impacto
[...] efetuar o controle físico/financeiro da dívida emitida [...] da iniciativa de emitir títulos atrelados à taxa de juros diária. Como
determinar os títulos e os volumes das Ofertas Públicas, inclusive será mencionado adiante, esses títulos passariam a representar
elaborando e publicando os editais, em estreito relacionamento parcela considerável da DPFi, funcionando como um importante
com o Banco Central do Brasil [...] e [...] administrar o limite de co- instrumento do governo na manutenção de sua capacidade de fi-
locação dos títulos [...] nanciamento.
Com o insucesso do Plano Cruzado, o ano de 1987 marca o iní-
Nesse contexto, e visando a separar ainda mais as atribuições cio de dificuldades ainda maiores na condução da política econô-
de autoridade monetária e fiscal, foi elaborado o Decreto-Lei nº mica, com o déficit público saindo do controle, além de problemas
2.376, de 25/11/1987, que estabelecia medidas de controle sobre na área externa. De fato, a moratória da dívida externa ocorrida em
a dívida pública, a qual só poderia ser elevada para cobrir déficit fevereiro daquele ano gerou maior necessidade de financiamento
no Orçamento Geral da União (OGU), mediante autorização legisla- via dívida interna.
20 PEDRAS, Guilherme Binato Villela. História da dívida pública no Brasil: de
1964 até os dias atuais
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Com a promulgação da Constituição em 1988, o Banco Cen- primário obtido no primeiro ano do novo governo (mais de 4% do
tral, que naquele momento estava proibido de emitir títulos, ficou PIB), acabaram por conduzir a uma queda histórica no estoque da
também impedido de financiar o governo. Pela nova sistemática, o dívida em poder do público, de 82,5% em 1990.
Banco Central só poderia adquirir títulos diretamente do Tesouro Em 1991, com a inflação ascendente e dificuldade para emis-
Nacional em montante equivalente ao principal vencendo em sua são de LTNs, dada a credibilidade perdida pelo governo por conta
carteira. Tinha-se chegado assim à clássica forma de relacionamen- do congelamento de ativos representado pelo Plano Collor, o Banco
to entre autoridade monetária e autoridade fiscal. Posteriormente, Central optou por criar um instrumento com características idênti-
em 2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal tornou ainda mais rígida cas para fins de política monetária, o Bônus do Banco Central (BBC),
a legislação, ao estabelecer que as colocações para a carteira do instituído pela Resolução nº 1.780, de 21/12/1990. Nos primeiros
Banco Central só poderiam ser efetuadas à taxa média do leilão rea- meses de 1991, apenas esse título era ofertado ao público.
lizado, no dia, em mercado, regra esta que permanece até os dias A partir de setembro de 1991, os valores referentes aos ativos
atuais. congelados começaram a ser devolvidos, e, a partir de outubro, os
A despeito dos sucessivos choques heterodoxos introduzidos recursos para pagá-los eram obtidos com novas emissões de títulos.
na economia desde 1986, as taxas de inflação permaneciam em ní- Ao final do ano de 1991 foi criado um novo instrumento, regula-
veis bastante elevados, assim como a incerteza em relação ao futu- mentado pelo Decreto nº 317, de 30/10/1991 e denominado Notas
ro próximo. Dessa maneira, em 1988 e 1989 praticamente não hou- do Tesouro Nacional (NTNs), com diversas séries, a depender do
ve colocação de LTNs nem mesmo para a carteira do Banco Central, indexador utilizado. Dentre os mais comuns destacam-se o dólar
ilustrando o difícil momento pelo qual passava o país. Por sua vez, (NTN-D), o IGP-M (NTN-C) e a TR (NTN-H). Buscava-se diversificar
o financiamento público começou a ser efetuado com emissão de os instrumentos para tentar ampliar a base de investidores, tentan-
LFTs, sendo tal título durante esses dois anos praticamente a única do garantir os recursos para pagamento das BTN-Es vincendas. A
forma de arrecadação de recursos, via emissão de títulos, para o go- criação dessa diversidade de instrumentos reflete não apenas as
verno. Nesse período, é interessante notar que esse instrumento de turbulências passadas pela economia doméstica ao longo dos anos
origem heterodoxa passava a ser fundamental para a solvência do 1980 e início dos anos 1990, mas também a heterodoxia então do-
país. Sua inexistência implicaria a necessidade de emissão de LTNs minante no plano macroeconômico.
em prazos cada vez menores, o que levaria a aumento considerável Buscando dar mais um passo na direção da separação entre as
no risco de refinanciamento da dívida. atividades fiscais e monetárias iniciada na década anterior, em 1993
A criação das LBCs, primeiramente, e a seguir das LFTs mostra foram propostas algumas medidas, conhecidas como “Operação
que a busca por soluções não tradicionais para os problemas eco- Caixa-Preta”. Tais medidas buscavam propiciar maior transparên-
nômicos foi usada também na administração da dívida pública. A cia no relacionamento entre o Tesouro Nacional e o Banco Central,
despeito disso, o prazo da dívida não foi alterado com a emissão efetuando, entre outras mudanças, a reestruturação da carteira de
desse instrumento de repactuação diária, de forma que, ao final da títulos de responsabilidade do Tesouro Nacional no Banco Central,
década, o prazo médio da dívida continuou reduzido, enquanto o dotando a autoridade monetária de instrumentos mais adequados
percentual desta sobre o PIB representava o maior valor registrado à condução da política monetária. Outra medida foi o resgate ante-
até aquela data, indicando o crescente grau de vulnerabilidade do cipado de títulos do Tesouro Nacional na carteira do Banco Central,
país ante as necessidades de refinanciamento. com recursos obtidos via emissão de títulos do Tesouro em merca-
Ao se iniciar o novo governo, em 1990, a situação do endivi- do, sendo um dos fatores responsáveis pela queda de 24% no esto-
damento público era crítica, com o estoque de títulos em mercado que da carteira de títulos em poder do Banco Central naquele ano.
representando 15% do PIB, recorde histórico, sendo a dívida com- Ao longo desses anos da década de 1990, o governo continuava
posta praticamente por LFTs e com prazo médio de apenas cinco tentando debelar a inflação, que, naquele momento, já superava
meses. Além disso, a inflação encontrava-se em níveis superiores a casa dos 1.000% ao ano. Enquanto isso, as taxas de crescimento
a 1.000% ao ano, e o déficit primário havia atingido 1% do PIB no da economia continuavam muito baixas, com o país apresentando
ano anterior. crescimento médio real negativo de 1,3% de 1990 a 1993. Buscan-
Tendo em vista esse pano de fundo, o governo do presidente do dar um fim a essa situação, em 1994 era lançado mais um pla-
Collor iniciou-se com o objetivo explícito de dar fim ao processo no heterodoxo, conhecido como Plano Real. Este partia do mesmo
inflacionário e ao descontrole fiscal vivido pelo país nos últimos princípio dos planos anteriores, isto é, que existia um componente
anos. O desgaste da política econômica mencionado anteriormen- inercial na inflação brasileira, mas dessa vez buscava-se conciliar a
te e a crítica situação da dívida pública daí decorrente conduziram esse aspecto alguns componentes da cartilha ortodoxa, como a ma-
às drásticas medidas representadas pelo Plano Collor em 1990, o nutenção de elevadas taxas reais de juros. Dessa vez a receita foi
qual, entre outras, determinou o congelamento de 80% dos ativos bem-sucedida e o país pôde, após muitos anos, viver momentos de
financeiros do país, representando, para a dívida pública, impacto inflação em níveis razoáveis e cadentes. A partir de 1995, a previsi-
sem precedentes. bilidade começava a voltar a fazer parte do cotidiano dos agentes
Com esse artifício, o governo promoveu a troca compulsória econômicos. Certamente, esse aspecto iria impactar, de alguma for-
da dívida em poder do mercado por outra, retida por 18 meses no ma, a estrutura da dívida pública interna.
Banco Central, rendendo BTN + 6% a.a. Ou seja, o estoque, antes Entretanto, a despeito do relativo sucesso na estabilização da
remunerado pela taxa Selic, passou a ser remunerado a uma taxa inflação, a partir daquele ano a dívida começou a apresentar traje-
muito inferior, gerando ganhos consideráveis para o governo. Além tória forte de elevação, o que pode ser explicado pela conjugação
disso, a medida causou uma profunda redução na liquidez da eco- de alguns fatores, dentre eles: (I) a rígida política monetária da épo-
nomia, de forma que o Banco Central se viu forçado a recomprar ca, a qual acarretou uma taxa real de juros média no período extre-
as LFTs ainda em mercado. Esses dois fatos, aliados ao superávit mamente elevada; (II) o reduzido superávit primário, que se apre-
sentava até negativo para alguns entes de governo; e (III) a política
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de propiciar maior transparência às contas públicas, reconhecendo dívida pública crescesse brutalmente no período. Esse fato gerou a
vários passivos que antes se encontravam disfarçados, como, por necessidade de que seu prazo médio fosse elevado para evitar que
exemplo, o programa de saneamento das finanças estaduais e mu- o risco de refinanciamento a cada período ficasse muito grande.
nicipais e a capitalização de alguns bancos federais. De fato, nessa Também a partir de 1999 o governo voltou a emitir títulos in-
segunda metade da década de1990, a DPMFi em mercado cresceu dexados a índices de preços (IGP-M). O objetivo era reforçar o pro-
em média, em termos reais, à taxa de 24,8% a.a. cesso de alongamento da dívida pública, aproveitando uma elevada
Na segunda metade da década de 1990, o reduzido prazo mé- demanda potencial representada pelos fundos de pensão. Desde
dio da dívida, aliado à política de maior transparência fiscal (con- então, tem-se observado um esforço no sentido de obter contínua
tabilização dos “esqueletos” no estoque da dívida), fazia com que melhoria no perfil da dívida federal interna, seja em termos de au-
o alongamento passasse a ser parte fundamental na estratégia de mento do prazo, seja de uma maior qualidade na composição desta,
endividamento. Por essa razão, em que pese o sucesso na estabili- buscando-se a redução na participação de títulos indexados à taxa
zação econômica, as mudanças na estratégia de endividamento ao de câmbio e à taxa Selic, o que vem acontecendo com sucesso des-
longo dos anos seguintes foram reflexo preponderantemente das de 2003.
turbulências por que passou a economia internacional no período.
Nos primeiros anos após o Plano Real, o governo logrou melho- Consenso de Washington
rar substancialmente a composição da dívida. Com a estabilidade Em novembro de 1989, reuniram-se na capital dos Estados
econômica, ele elevou os volumes emitidos de LTNs, assim como Unidos funcionários do governo norte-americano e dos organismos
paulatinamente buscou aumentar seus prazos ofertados em leilão, financeiros internacionais ali sediados - FMI, Banco Mundial e BID
que passaram de um mês para dois e três meses de prazo. Em 1996, - especializados em assuntos latino-americanos. O objetivo do en-
apenas LTNs de seis meses de prazo passaram a ser ofertadas em contro, convocado pelo Institute for International Economics, sob o
mercado. Os prazos desses títulos continuaram a ser elevados até título “Latin American Adjustment: How Much Has Happened?”, era
que, ao final de 1997, o Tesouro Nacional conseguiu colocar em proceder a uma avaliação das reformas econômicas empreendidas
mercado títulos prefixados com dois anos de prazo. Após a eclo- nos países da região. Para relatara experiência de seus países tam-
são da crise da Ásia, a opção imediata foi pela redução nos prazos, bém estiveram presentes diversos economistas latino-americanos.
quando voltaram a ser ofertadas LTNs de três meses. Até esse mo- Às conclusões dessa reunião é que se daria, subsequentemente, a
mento, o governo tinha resistido a recorrer às LFTs. Apenas após denominação informal de “Consenso de Washington”.
a crise da Rússia o Tesouro Nacional decidiu voltar a emitir esse A mensagem neoliberal que o Consenso de Washington regis-
instrumento, interrompendo, momentaneamente, a emissão de tí- traria vinha sendo transmitida, vigorosamente, a partir do come-
tulos prefixados. ço da Administração Reagan nos Estados Unidos, com muita com-
Ao longo desse período, a participação das LTNs, que se encon- petência e fartos recursos, humanos e financeiros, por meio de
trava em menos de 1% ao final de 1994, passou para 27% em 1996, agências internacionais e do governo norte-americano. Acabaria
enquanto o estoque das LFTs chegou a desaparecer nesse mesmo cabalmente absolvida por substancial parcela das elites políticas,
ano. Entretanto, já a partir de 1997, com a eclosão da crise asiática empresariais e intelectuais da região, como sinônimo de moderni-
e a despeito do sucesso na manutenção da estabilidade econômica, dade, passando seu receituário a fazer parte do discurso e da ação
os avanços obtidos foram sendo revertidos, de forma que, ao final dessas elites, como se de sua iniciativa e de seu interesse fosse.
de 1998, o estoque de prefixados chegaria a apenas 2% do estoque Exemplo desse processo de cooptação intelectual é o documento
total, enquanto as LFTs voltavam a representar quase metade desse publicado em agosto de 1990 pela Fiesp, sob o título “Livre para
estoque total. crescer - Proposta para um Brasil moderno”, hoje na sua 5ª edição,
Um dos motivos que explicam a não recuperação dos papéis no qual a entidade sugere a adoção de agenda de reformas virtual-
prefixados na participação da dívida é, como esta cresceu muito, o mente idêntica à consolidada em Washington.
aumento da percepção de risco de refinanciamento, de forma que A proposta da Fiesp inclui, entretanto, algo que o Consenso
o prazo médio desta teve de ser aumentado para não prejudicar a de Washington não explicita mas que está claro em documento
percepção do mercado quanto à sustentabilidade da dívida pública. do Banco Mundial de 1989, intitulado “Trade Policy in Brazil: the
Dessa forma, evitou-se colocar títulos prefixados com prazos infe- Case for Reform”. Aí se recomendava que a inserção internacional
riores a seis meses, privilegiando instrumentos pós-fixados (em es- de nosso país fosse feita pela revalorização da agricultura de ex-
pecial as LFTs) mais longos. Tal processo foi ajudado com a mudança portação. Vale dizer, o órgão máximo da indústria paulista endossa,
no regime cambial em 1999, que, ao reduzir a volatilidade das taxas sem ressalvas, uma sugestão de volta ao passado, de inversão do
de juros, fez com que o risco de mercado da dívida pública, sob a processo nacional de industrialização, como se a vocação do Bra-
ótica do governo, fosse também reduzido. De fato, a partir de 1999, sil, às vésperas do século XXI, pudesse voltar a ser a de exportador
o prazo das LFTs ofertadas em leilão foi aumentado para dois anos, de produtos primários, como o foi até 1950. Uma área em que os
enquanto as LTNs voltaram a ser emitidas com prazos de três e seis preços são cadentes - são hoje, em termos reais, 40% em média
meses. inferiores aos de 1970 - em virtude do notável volume de subsídios
O ponto a destacar quanto a esse período é que, apesar do concedidos a seus produtores agrícolas pelos países desenvolvidos,
grande avanço representado pela estabilização da economia, seus da ordem de US$ 150 bilhões de dólares por ano, e da revolução no
efeitos sobre a dívida pública em termos de composição dos instru- setor de materiais que vem reduzindo substancialmente o uso de
mentos não se fizeram sentir tão fortemente como seria esperado. matérias-primas naturais por unidade de produto obtido.
As expressivas emissões diretas representadas pelo reconhecimen- Ao final da década de 1980, dada a precária situação fiscal do
to dos passivos contingentes (fundamental para um saneamento país, o governo federal possuía dívidas contratuais vencidas com
definitivo das contas públicas), aliadas às altas taxas de juros neces- diversos credores. O processo de saneamento das contas públicas
sárias à consolidação da estabilidade, fizeram com que o estoque da implicava encontrar uma solução para essa situação. No início dos
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anos 1990, o governo deu início a um processo de reestruturação no americano e dos organismos multilaterais de crédito. Resistiria,
dessas dívidas por meio de sua securitização. Nesse processo, dé- inclusive, às pretensões americanas no GATT, em matéria de servi-
bitos oriundos da assunção de dívidas de estados e de empresas ços e de propriedade intelectual, posição que só começaria a ser
estatais foram repactuados e transformados em títulos públicos erodida ao final do governo Sarney.
emitidos para os credores originais. Enquanto representou um be- Com Collor é que se produziria a adesão do Brasil aos postula-
nefício para o governo, na medida em que permitiu a adaptação dos dos neoliberais recém-consolidados no Consenso de Washington.
fluxos de pagamentos à sua capacidade de pagamento, contribuiu Comprometido na campanha e no discurso de posse com uma pla-
para o resgate da credibilidade do setor público como devedor. Para taforma essencialmente neoliberal e de alinhamento aos Estados
o credor, representou transformar uma dívida contratual, portanto Unidos, o ex-presidente se disporia a negociar bilateralmente com
sem liquidez, em instrumento passível de negociação em mercado aquele país uma revisão, a fundo, da legislação brasileira tanto
secundário. O Tesouro Nacional registrou os títulos emitidos para sobre informática quanto sobre propriedade industrial, enviando
refinanciamento da dívida dos estados no Sistema Especial de Li- subsequentemente ao Congresso projeto de lei que encampava as
quidação e de Custódia, do Banco Central (Selic) e os referentes à principais reivindicações americanas. Com base em recomendações
assunção da dívida das empresas estatais, denominados Créditos do Banco Mundial, procederia a uma profunda liberalização do regi-
Securitizados, na Central de Custódia e de Liquidação Financeira de me de importações, dando execução por atos administrativos a um
Títulos (Cetip), onde estão custodiados, sendo livremente negocia- programa de abertura unilateral do mercado brasileiro. Concluiria,
dos em mercado secundário. Ainda nos anos 1990, os Créditos Se- ainda, negociações com a Argentina a respeito de um mecanismo
curitizados foram, em conjunto com outros títulos da dívida pública, de salvaguardas das respectivas instalações nucleares, mediante o
utilizados como moeda de pagamento no programa de privatização qual nosso país, sem aderir ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear,
das empresas estatais, sendo, portanto, parte daquele conjunto de aceitaria de fato o regime de salvaguardas abrangentes que nele se
instrumentos que ficou conhecido como “moedas de privatização”. prevê.
Em 1999, e dentro do processo de padronização dos instrumentos
de dívida pública, o Tesouro Nacional passou a aceitar tais títulos Plano Collor22
como meio de pagamento na segunda etapa dos leilões de NTN-C e,
mais recentemente, nos leilões de NTN-B. Não obstante essa possi- A inflação em um ano de março de 1989 a março de 1990 che-
bilidade, o estoque dos Créditos Securitizados tem aumentado, em gou a 4.853%, e no governo anterior teve vários planos fracassados
virtude, principalmente, da emissão regular de CVS, título que tem de conter a inflação. Depois de sua posse, Collor anuncia um pa-
como origem a securitização de dívidas decorrentes do Fundo para cote econômico no dia 15 de março de 1990, o Plano Brasil Novo.
Compensação das Variações Salariais (FCVS). Esse plano tinha como objetivo por fim a crise, ajustar a economia
e elevar o país do terceiro para o Primeiro Mundo. O cruzado novo
O Brasil e o Consenso de Washington21 é substituído pelo “cruzeiro”, bloqueia por 18 meses os saldos das
contas correntes, cadernetas de poupança e demais investimentos
Os princípios neoliberais consolidados no Consenso de Washin- superiores a Cr$ 50.000,00. Os preços foram tabelados e depois li-
gton batem de frente com alguns dos pressupostos do modelo de berados gradualmente. Os salários foram pré-fixados e depois ne-
desenvolvimento brasileiro e da política econômica externa que lhe gociados entre patrões e empregados. Os impostos e tarifas aumen-
dava apoio. Em particular com a liberdade de ação que o Brasil de- taram e foram criados outros tributos, são suspensos os incentivos
sejava manter para prosseguir em seu processo de industrialização, fiscais não garantidos pela Constituição. É Anunciado corte nos gas-
mediante reserva de mercado para indústrias de capital nacional no tos públicos, também se reduz a máquina do Estado com a demis-
campo da informática assim como pela exclusão do patenteamen- são de funcionários e privatização de empresas estatais. O plano
to na área químico-farmacêutica. O Brasil tampouco se dispunha a também prevê a abertura do mercado interno, com a redução gra-
aceitar restrições ao pleno desenvolvimento tecnológico no setor dativa das alíquotas de importação. As empresas foram surpreendi-
nuclear e aeroespacial. das com o plano econômico e sem liquidez pressionam o governo.
Golpeado pela crise da dívida externa e pela forma como esta A ministra da economia Zélia Cardoso de Mello, faz a liberação gra-
foi tratada, o Brasil, graças a sua base industrial e ao esforço feito dativa do dinheiro retido, denominado de “operação torneirinha”,
pela Petrobrás para aumentar substancialmente a produção nacio- para pagamento de taxas, impostos municipais e estaduais, folhas
nal de petróleo, conseguiria acumular substanciais saldos de ba- de pagamento e contribuições previdenciárias. O governo libera os
lanço comercial, criando condições para honrar o serviço daquela investimentos dos grandes empresários, e deixa retido somente o
dívida. Em consequência, só lograria fazê-lo à custa do equilíbrio dinheiro dos poupadores individuais.
das contas públicas. Sucessivas cartas de intenção ao FMI foram as-
sinadas sem que o país pudesse cumprir as metas acordadas em Recessão - No início do Plano Collor a inflação foi reduzida por-
matéria fiscal e monetária. Para dominar a inflação resultante desse que o plano era ousado e radical, tirava o dinheiro de circulação,
descontrole, gerado em sua maior parte pelo serviço da dívida ex- porem com a redução da inflação iniciava-se a maior recessão da
terna e interna, sucessivos planos, heterodoxos e ortodoxos, foram história no Brasil, houve aumento de desemprego, muitas empre-
tentados sem êxito, produzindo um sentimento generalizado de sas fecharam as portas e a produção diminui consideravelmente,
frustração que abalaria a confiança na ação do Estado. tem uma queda de 26% em abril de 1990, em relação a abril de
A despeito da vulnerabilidade resultante do endividamento ex- 1989. As empresas são obrigadas a reduzirem a produção, jornada
terno e dos percalços na luta contra a inflação, o Brasil não parou. de trabalho e salários, ou demitir funcionários. Só em São Paulo nos
Teria, por isso mesmo, condições para resistir às pressões do gover- primeiros seis meses de 1990, 170 mil postos de trabalho deixaram
21 Batista, Paulo Nogueira. O CONSENSO DE WASHINGTON: A visão neolibe- de existir, foi o pior resultado, desde a crise do início da década de
ral dos problemas latino-americanos. 1994 22 LENARDUZZI, Cristiano, Et al. PLANO COLLOR. Adaptado
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REALIDADE BRASILEIRA

80. O Produto Interno Bruto diminui de US$ 453 bilhões em 1989 Plano Real23
para US$ 433 bilhões em 1990. Collor parecia alheio a sua política
econômica desastrosa, procurava passar uma imagem de super- O Plano Real teve como base teórica: o Consenso de Washin-
-homem, sempre aparecendo na mídia se exibindo, pilotando uma gton, que deu as direções que deveriam ser tomadas e o Plano
aeronave, fazendo caminhadas, praticando esportes etc. Mostrava Cruzado e as discussões relativas à sua criação, tomados como um
uma personalidade forte, vaidoso, arrojado, combativo e moderno. exemplo dos erros que não deveriam ser repetidos.
Em novembro de 1989, em congresso convocado pelo Instituto
Privatizações - Em 16 de agosto de 1990 o Programa Nacio- de Economia Internacional, reuniram-se em Washington funcioná-
nal de Desestatização que estava previsto no Plano Collor é regula- rios do governo dos EUA, FMI, BIRD, BID e economistas latino-a-
mentado e a Usiminas é a primeira estatal a ser privatizada, através mericanos para debater o seguinte tema: “Ajustamento latino-a-
de um leilão em outubro de 1991. Depois mais 25 estatais foram mericano, o que tem ocorrido?”. O congresso afirmou a excelência
privatizadas até o final de 1993, quando Itamar Franco já estava à das medidas neoliberais que vinham sendo adotadas pelos países
frente do governo brasileiro, com grandes transferências patrimo- latino-americanos até então, com exceção do Brasil e do Peru. A
niais do setor público para o setor privado. Sendo que o processo conferência apontou a importância do combate à inflação através
de privatização dos setores petroquímico e siderúrgico já está prati- da dolarização da economia, valorização das moedas nacionais,
camente concluído. Então se inicia a negociação do setor de teleco- ajuste fiscal, aceleração das privatizações, mudanças na seguridade
municações e elétrico, há uma tentativa de limitar as privatizações social, desregulamentação dos mercados e liberalização comercial
à construção de grandes obras e à abertura do capital das estatais, e financeira.
mantendo o controle acionário pelo Estado. A segunda referência importante, a experiência do Plano Cru-
zado, forneceu um aporte teórico relacionado ao debate entre as
Plano Collor II propostas de uma “moeda indexada” e um “choque heterodoxo”.
Devido à inoperância do Plano Cruzado, que foi identificado
A inflação entra em cena novamente com um índice mensal como um “choque heterodoxo”, a outra sugestão ganhou força no
de 19,39% em dezembro de 1990 e o acumulado do ano chega desenvolvimento do Plano Real. A ideia de uma “moeda indexada”
a 1.198%, o governo se vê obrigado a tomar algumas medidas. É ao dólar e a outra moeda nacional paralela, ganhou força durante
decretado o Plano Collor II em 31 de janeiro de 1991. Tinha como o desenvolvimento do Plano Cruzado e influenciou fortemente o
objetivo controlar a ciranda financeira, extingue as operações de Plano Real.
overnight e cria o Fundo de Aplicações Financeiras (FAF) onde cen- Brasil, Argentina e México enfrentaram vários desafios comuns
traliza todas as operações de curto prazo, acaba com o Bônus do no final da década de 1980 e início da década de 1990, os principais
Tesouro Nacional fiscal (BTNf), o qual era usado pelo mercado para deles sendo a inflação que implicava em sérios problemas sociais,
indexar preços, passa a utilizar a Taxa Referencial Diária (TRD) com necessidade de reorganização das economias e alinhamento às mu-
juros prefixados e aumenta o Imposto sobre Operações Financeiras danças internacionais nestes países que ainda estavam vinculados
(IOF). Pratica uma política de juros altos, e faz um grande esforço aos programas de desenvolvimentos fortemente estatais que, no
para desindexar a economia e tenta mais um congelamento de pre- Brasil, foram implementados pelo governo militar a partir de 1964
ços e salários. Um deflator é adotado para os contratos com venci- e ganhando força na década de 1970.
mento após 1º de fevereiro. O governo acreditava que aumentando O processo de desenvolvimento da uma economia liberal no
a concorrência no setor industrial conseguiria segurar a inflação, México, entre 1988 e 1994, assim como no Brasil, teve como ob-
então se cria um cronograma de redução das tarifas de importa- jetivo diminuir a participação do Estado na economia e avançar na
ção, reduzindo a inflação de 1991 para 481%. A recuperação da liberalização do comércio externo, com destaque para as relações
economia iniciou-se no final de 1992, após um grande processo de comerciais com os Estados Unidos e o Canadá que foram favore-
reestruturação interna das industrias. Foi fundamental a abertura cidas com a entrada do país no Nafta (North American Free Trade
do mercado brasileiro para produtos importados, a qual obrigou a Agreement). O processo de reformas no início da década de 90 con-
indústria nacional a investir alto na modernização do processo pro- tribui para o crescimento da economia baseado nas exportações e
dutivo, qualidade e lançamento de novos produtos no mercado. As apoiado por uma política de desvalorização do Peso. No entanto, o
empresas que queriam permanecer no mercado tiveram que rever crescimento foi quebrado por uma crise cambial motivada pela des-
seus métodos administrativos, bem como da organização, reduzin- confiança do capital internacional, provocando uma instabilidade
do os custos de gerenciamento, as atividades foram centralizadas, que se refletiu na saída maciça de capital e na queda abrupta das
muitos setores terceirizados. As empresas são obrigadas a investir reservas do país.
pesado na automação, reduz a hierarquia interna nas industrias, en- Na Argentina, durante o governo do presidente Carlos Menem,
tão cresce a produtividade. Toda essa modernidade era necessária o Ministro da Economia Domingo Cavallo apresentou seu plano
para as empresas se tornarem mais competitiva, tanto no mercado para combater a inflação, que se reverteu na Lei da Convertibilida-
interno quanto no mercado externo. O aumento de produtividade de, que tinha como uma de suas bases o câmbio fixo, atrelado ao
foi fundamental para a sobrevivência das empresas, porem para os dólar, o que restringia a emissão de moeda ao aumento do Tesouro
trabalhadores, significava perdas de postos de trabalho, quer di- Nacional. Em um primeiro momento, a medida proporcionou uma
zer com menos funcionários se produziam mais, então aumenta o estabilidade econômica sem inflação significativa que favoreceu o
desemprego dos brasileiros, que em 1993 só na Grande São Paulo ingresso de capitais estrangeiros produzindo um forte crescimento
chega a um milhão e duzentos mil trabalhadores desempregados. do PIB. No entanto, uma recessão que teve início em 1998 e chegou
ao seu auge em 2001, em parte relacionada às crises internacio-
23 IPOLITO, Danilo Bueno. História do Plano Real. Universidade de São Paulo,
Jornalismo.
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nais e, em parte resultado da política de câmbio fixo, terminou por este valor corresponderia a R$ 1,00 que, por sua vez, foi fixada pelo
provocar o fim da Lei de Convertibilidade com altas sequelas para o Banco Central em US$ 1,00, com a garantia das reservas em dólar
país, nos níveis político, social e econômico. acumuladas desde 1993.
A economia brasileira repetiria a trajetória mexicana e argen- No entanto, apesar de amarrar a moeda ao dólar, o Governo
tina em alguns pontos importantes, combinando sucesso inicial no não garantiu a conversibilidade das duas moedas, como ocorreu
combate à inflação com elevados déficits externos e forte depen- na Argentina. Dessa forma, o Real conseguiu corresponder de uma
dência de fluxos voláteis de capital internacional. forma mais adequada às turbulências desencadeadas pela crise do
Algumas diferenças entre os três planos são claras: o Plano Real México, que começou a se intensificar no final de 1994.
era mais flexível e cauteloso com relação ao câmbio do que a lei de A política de juros altos, que promoveu a entrada de capitais de
conversibilidade argentina; o plano mexicano recorreu intensamen- curto prazo, e a abertura do país aos produtos estrangeiros, com a
te a políticas de preços e salários, que dependeu de negociações queda do Imposto de Importação, foram fundamentais para com-
com os representantes das classes trabalhistas, diferente do que plementar a introdução da nova moeda e para combater a inflação
aconteceu com os planos argentino e brasileiro. No caso do Plano e elevar os níveis de emprego.
Real, a criação da URV (Unidade Real de Valor), que funcionou por
quatro meses, foi uma medida original para evitar medidas de cho- Reformas do Estado
que como confiscos e congelamentos, possibilitando a estabilização
da moeda. Considerada uma quarta fase da reforma econômica proposta
No entanto, as diferenças não superam as convergências entre pelo Plano Real, as reformas no Estado propiciaram o habitat ideal
os três planos que buscavam a estabilização da economia e sua in- para a moeda criada em sintonia com o conceito de neoliberalismo,
serção nos padrões internacionais do neoliberalismo, que passava a ao contrário do Estado que, como visto anteriormente, ainda carre-
ditar as novas normas do capitalismo mundial. gava fortes resquícios do modelo pré-crise do petróleo, caracteriza-
Nas semelhanças entre os planos estão: o uso da taxa de câm- do pela regulamentação do mercado, a instituição de monopólios
bio como instrumento de combate à inflação, de acordo com o con- estatais e o forte investimento em infraestrutura.
ceito de monetary standard approach que considera a importân- Desta forma, os defensores do Plano Real insistiram na neces-
cia da harmonização das políticas monetárias como uma forma de sidade das reformas das áreas econômicas como a quebra dos mo-
combate à inflação; a abertura da economia às importações, por nopólios estatais, tratamento igualitário entre empresas nacionais
meio da drástica redução das barreiras tarifárias e não-tarifárias; a e estrangeiras e desregulamentação das atividades e mercados con-
abertura financeira externa, com o estímulo à entrada de capitais siderados até então estratégicos ou de segurança nacional. Além
de curto prazo e medidas de desindexação da economia. disso, foram empreendidas reformas tributárias, administrativas e
previdenciárias.
Implantação do Plano Real A importância destas reformas para a estabilização do país e a
inserção internacional brasileira era ressaltada e abrandada nos pe-
O Plano de Fernando Henrique Cardoso, que era ministro da ríodos mais estáveis da economia nacional. As mudanças de ordem
Fazenda do governo de Itamar Franco, consistia em três fases: o econômica foram aprovadas com relativa facilidade no Congresso
ajuste fiscal, o estabelecimento da URV (Unidade de Referência de Nacional, sendo extintos o monopólio estatal na área de prospec-
Valor) e a instituição de uma nova moeda, o Real. De acordo com os ção, exploração e refino de petróleo e na distribuição, transmissão
autores do plano, as reformas liberais do Estado, que estavam em e geração de energia.
andamento naquele período seriam fundamentais para efetividade As reformulações nas estruturas do Estado foram mais com-
do plano. plicadas. A reforma fiscal só começou a ser discutida no Congresso
A primeira fase, o “ajuste fiscal” procurava criar condições fis- com a crise cambial em janeiro de 1999. Na reforma administrativa,
cais adequadas para diminuir o desequilíbrio orçamentário do Es- aprovou-se a possibilidade de demissão de funcionários públicos
tado, principalmente sua fragilidade com financiamento, que seria por excesso de quadros (quando os salários ultrapassarem 60% das
um dos principais problemas relacionados à inflação. A criação do receitas), e por ineficiência. As privatizações, que já estavam enca-
FSE (Fundo Social de Emergência), que tinha por finalidade diminuir minhadas desde o governo Collor, com o PND (Programa Nacional
os custos sociais derivados da execução do plano e dos cortes de de Desestatização), foram ampliadas e aceleradas.
impostos, foi uma das principais iniciativas do governo. Nesse sentido, pode-se perceber a importância do Plano Real
A URV, o embrião da nova moeda, que terminou quando o para a implementação do projeto liberal no Brasil e como, de fato,
Real começou a funcionar em 1º de julho de 1994, era um índice não foi apenas um plano solitário de estabilização monetária e sim
de inflação formado por outros três índices: O IGP-M, da Fundação um conjunto de medidas para impulsionar a internacionalização da
Getúlio Vargas, o IPCA do IBGE e o IPC da FIPE/USP. O objetivo do economia brasileira.
governo era amarrar o URV ao dólar, preparando o caminho para
a “âncora cambial” da moeda e também evitar o caráter abrupto A Euforia do Consumo - A queda da inflação de 46,60% em
dos outros planos, com esta ferramenta transitória. Dessa forma, junho para 3,34% em agosto e a manutenção desta abaixo desse va-
ao contrário da proposta de “moeda indexada” e da criação de duas lor nos meses seguintes provocou um aumento imediato no poder
moedas, apenas separaram-se duas funções da mesma moeda, pois aquisitivo da população de mais baixa renda, conduzindo uma ex-
o URV servia como uma “unidade de conta”. plosão dos níveis de consumo que resultou em um crescimento de
A terceira fase do plano consistiu na implementação da nova 5,4% no PIB de 1994. Colaborou para isso o aumento das compras
moeda, que substituiria o Cruzeiro de acordo com a cotação da URV a prazo e a baixa remuneração nominal das aplicações financeiras
que, naquele momento, valia CR$ 2.750,00. O governo instituiu que com a realocação dos recursos para o consumo.

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As crises Mexicana, Asiática e Russa Os Ciclos Diferenciados e o Desafio da Política Monetária Pró-
-Cíclica24
A partir de dezembro de 1994 eclodiu a crise cambial mexicana,
e a saída de capital especulativo relacionada à queda da cotação do A crise financeira internacional de 2008 provocou uma queda
dólar nos mercados internacionais começou a colocar em xeque a consistente da inflação nas economias desenvolvidas, mas nos paí-
estabilização da economia nacional e o Plano Real, que dependia ses emergentes foram registradas divergências acentuadas no ci-
em grande parte do capital estrangeiro. A crise mostrou que a po- clo inflacionário, que tem prevalecido nos anos recentes. O Chile
lítica de contenção da inflação com a valorização das moedas na- e o México iniciaram um ciclo de flexibilização monetária em 2012
cionais frente ao dólar não poderia ser sustentável no longo prazo. e 2013, respectivamente, com a desaceleração do ritmo de cres-
Negando sempre à similaridade entre o Brasil e o México e a cimento econômico, enquanto o Brasil elevou sua taxa básica de
Argentina, o governo passou a desacelerar a atividade econômica juros em 375 pontos base entre abril de 2013 e abril de 2014 de
e a frear a abertura internacional com a elevação da taxa de juros, 7,25% para 11,0%, a despeito da redução no ritmo da expansão da
aumento das restrições às importações e com estímulos à expor- atividade industrial e do consumo privado.
tação. Com a necessidade de opor a situação econômica brasileira O estabelecimento do regime de metas de inflação em 1999
à mexicana, como um sinal ao capital especulativo, o governo quis marcou o início de um novo arcabouço institucional da política mo-
mostrar que corrigiria a trajetória de sua balança comercial, atingin- netária no Brasil. Com a combinação do regime de câmbio flutuan-
do saldo positivo. te, as expectativas inflacionárias assumiram um papel relevante
Após retomada do crescimento entre abril de 1996 e junho de na convergência da inflação para a meta central, que passou ser
1997, a crise dos “Tigres Asiáticos”, que começou com a desvalori- o principal objetivo do Banco Central e a taxa de juros, o principal
zação da moeda da Tailândia, se alastrou para Indonésia, Malásia, instrumento.
Filipinas e Hong Kong e acabou por atingir Nova York e os mercados Entretanto, para a boa consecução do regime de metas de in-
financeiros mundiais. flação é crucial a convergência e a coordenação das políticas fiscal e
A crise obrigou o governo a elevar novamente as taxas de juros monetária. Após registrar superávits primários consolidados na mé-
e decretar um novo ajuste fiscal. Novamente a fuga de capitais vol- dia de 1,93% do PIB entre 1999-2002 e de 2,42% entre 2003-2008, a
tou a assolar a economia brasileira e o Plano Real. política fiscal brasileira tem sido posta em cheque nos últimos anos
A consequência foi a demissão de 33 mil funcionários públicos quanto à sua neutralidade na inflação e a sua influência nas ações
não estáveis da União, suspensão do reajuste salarial do funciona- da política monetária. Os desvios consistentes da inflação à meta
lismo público, redução em 15% dos gastos em atividades e corte de central nos últimos anos e sobretudo, o timming e a intensidade
6% no valor dos projetos de investimento para 1998, o que resultou do ajuste da taxa de juros levantaram questionamentos entre os
em uma diminuição de 0,12% do PIB naquele ano. analistas em relação ao ciclo da política monetária, que estaria mais
A crise se intensificou em agosto com o aumento da instabilida- associado a um padrão pró-cíclico.
de financeira na Rússia, com a desvalorização do rublo e a decreta- As economias em desenvolvimento tradicionalmente imple-
ção da moratória por parte do governo. mentaram políticas fiscais pró-cíclicas, com expansão de gastos
A resposta brasileira foi a mesma de sempre, a elevação da taxa públicos em períodos de elevação das taxas de crescimento eco-
de juros básica para até 49% e um novo pacote fiscal para o período nômico e ajustes contracionistas nas contas públicas nos períodos
1999/2001. No entanto, diferentemente das outras duas crises, o recessivos ou de desaceleração, reforçando a deterioração dos
governo recorreu ao FMI em dezembro de 1998, com quem obteve ciclos de negócios. O comportamento pró-cíclico da política fiscal
cerca de US$ 41,5 bilhões, comprometendo-se a manter o mesmo estaria associado às dificuldades de acesso ao financiamento do
regime cambial, desvalorizando gradativamente o Real, acelerar as mercado internacional de capitais e também às pressões políticas
privatizações e as reformas liberais, realizar o pacote fiscal e assu- por aumento de gastos em períodos do ciclo de alta do crescimento
mir metas com relação ao superávit primário. econômico.
Entretanto, nos últimos anos, aumentou o número de econo-
O fim da âncora cambial mias emergentes que tem acionado políticas fiscais anticíclicas, ou
seja, tem priorizado a recuperação da poupança fiscal em anos de
Nos primeiros dias do segundo governo de Fernando Henrique bom crescimento para utilizar essa poupança de forma anticíclica
Cardoso, em janeiro de 1999, a repercussão da crise cambial russa nos períodos de contração ou desaceleração econômica, via am-
chegou ao seu limite no Brasil. As elevadas taxas de juros começa- pliação dos gastos fiscais e crédito público subsidiado. Esse movi-
vam a perder força como ferramenta de manutenção do capital ex- mento estaria associado à qualidade institucional e regulatória e ao
terno na economia brasileira e um novo déficit recorde na conta de aprofundamento das reformas econômicas estruturais, reforçando
transações correntes obrigou o governo a mudar a banda cambial, a credibilidade do cumprimento das metas de superávit primário.
que foi ampliada para R$ 1,32. No caso da economia brasileira, os números apontam caracte-
Logo no primeiro dia, o Real atingiu o limite máximo da ban- rísticas de uma política fiscal anticíclica (em alguns períodos, o go-
da, sendo desvalorizado em 8,2%, o que influenciou na queda do verno não formalizou a política anticíclica como objetivo, sobretudo
valor dos títulos brasileiros no exterior e das bolsas de valores do antes de 2012) após a crise financeira internacional, considerando
mundo todo. O Banco Central tentou defender o valor da moeda, o indicador de superávit primário consolidado do setor público es-
vendendo dólares, mas a saída de capitais continuou ameaçando trutural acumulado em quatro trimestres como proporção do PIB.
se aproximar do limite de 20 bilhões, que foi acordado com o FMI Para citar um exemplo, esse superávit recuou de 3,4% no primeiro
no ano anterior. Nesse momento, o governo não teve outra escolha 24 VELHO, Eduardo. Os Ciclos Diferenciados e o Desafio da Política Monetária
senão deixar o câmbio flutuar livremente, alcançando a cotação de Pró-Cíclica. Disponível em: http://agriforum.agr.br/os-ciclos-diferenciados-e-o-de-
R$ 1,98 em 13 dias. safio-da-politica-monetaria-pro-ciclica/
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trimestre de 2008 para 2,2% no terceiro trimestre de 2009, quando reservas internacionais atingiram US$ US$ 62,7 bilhões, aumentan-
a taxa real de crescimento acumulada em quatro trimestres recuou do em praticamente US$ 30 bilhões desde o nível mínimo atingido
de 6,37% para uma variação negativa de -1,4% na mesma compara- em 2000. Como se pode ver no Anexo 1, essa melhoria no quadro
ção. Entre 2010 e 2013, também ocorreu a deterioração do superá- externo pode ser percebida em todos os demais indicadores de
vit primário durante o ciclo de desaceleração do PIB. solvência externa da economia brasileira. A redução da vulnerabili-
Entretanto, a recuperação da poupança fiscal na economia dade externa foi acompanhada pelo fortalecimento financeiro das
brasileira em períodos de expansão econômica tem sido puxada de empresas brasileiras.
forma preponderante pelo aumento das receitas tributárias e não A partir de 2002, a dívida bruta das companhias abertas, a pre-
por corte e/ou maior eficiência dos gastos. Nesse panorama, a po- ços de dezembro de 2005 [Nascimento (2006)], caiu de R$ 366,8
lítica fiscal pressiona a inflação de custos e no último triênio 2011- bilhões para R$ 286,5 bilhões: uma redução de aproximadamente
2013, apresentou novo impulso fiscal de demanda, o que também R$ 80 bilhões. Com isso, ao final daquele último ano, a dívida total
demandou a necessidade de retomada de um novo ciclo de aperto era 21,9% menor do que em 2002, ano em que atingiu seu valor
monetário em 2013. máximo.
No passado, em diversas economias emergentes que apre- Do ponto de vista do endividamento líquido, a queda foi ainda
sentavam déficits elevados de transações correntes no balanço de maior. O saldo de R$ 253 bilhões a preços de 2005, registrado ao fi-
pagamentos e pressão de desvalorização de suas moedas, como o nal de 2002, se viu reduzido, no final de 2005, a R$ 130,7 bilhões, ou
Brasil nas décadas de 80 e 90, os governos acionavam o aumento seja, quase a metade. Além da redução da dívida bruta, colaborou
das taxas internas de juros para atenuar esse movimento, mas que para esse resultado o aumento das disponibilidades e aplicações
por outro lado, limitava ou mesmo impedia a adoção de política líquidas dessas empresas, que passaram de R$ 132 bilhões para R$
monetárias anticíclicas. 156 bilhões nesse período.
Nos últimos cinquenta anos, cerca de 40% dos países em de- Com relação ao equilíbrio entre receitas e obrigações em moe-
senvolvimento sancionaram políticas monetárias pró-cíclicas, en- da estrangeira, também se observou uma redução importante na
quanto países industrializados praticaram políticas monetárias fragilidade das empresas. A participação do endividamento em
anticíclicas no mesmo período. Ao comparar os ciclos da política moeda estrangeira no endividamento total das empresas analisa-
monetária, através da taxa básica de juros e da taxa real de cresci- das começou a declinar ainda em 2001 quando atingiu o máximo de
mento econômico medida pelo PIB (para uma amostra de 69 eco- 46%. Desde então, a redução das dívidas em moeda estrangeira se
nomias entre os anos de 1960 a 2009), constatou-se que todas as acentuou, fazendo com que sua participação declinasse para 30%
economias consideradas industrializadas adotaram taxas de juros em 2005. Foi uma queda de 12 pontos percentuais em apenas três
mais elevadas em períodos de maior crescimento. anos.
Esses resultados sinalizam um cenário de fortalecimento fi-
Crescimento econômico25 nanceiro das empresas, tanto em termos de menor endividamento
líquido quanto de maior equilíbrio entre suas receitas e seus paga-
A economia internacional registrou uma aceleração do cres- mentos em moeda estrangeira. Esse comportamento corresponde,
cimento a partir de 2002. A exemplo do que havia ocorrido entre no plano microeconômico, à redução da vulnerabilidade externa da
1982 e 2001. As regiões que mais se destacaram foram a Ásia Oci- economia como um todo.
dental e Pacífico e a China. Nesse último país, a média anual do
período foi de quase 10%. A economia da Rússia, que conseguiu sair Crescimento do mercado interno26
da recessão pós-socialista graças ao aumento dos preços do petró-
leo, se expandiu a 6,4% ao ano. No ano 2000, o Brasil voltou a apresentar uma aceleração do
Os países da União Europeia e o Japão tiveram comportamento crescimento, o PIB cresceu 4,3%. O aquecimento da economia es-
inverso. Suas economias reduziram o crescimento a níveis inferiores tava relacionado com a diminuição das taxas de juros, imposta rigi-
a 2%. A América Latina apresentou uma recuperação, chegando a damente para ficar no patamar de 15% no ano anterior, o grande
quase 4% ao ano a despeito de o Brasil ter mantido sua trajetória período em que o Real manteve-se estabilizado nos anos anteriores
anual de 2,4%. Os EUA também mantiveram seu crescimento em e com a recuperação da confiança, consequência do comprimento
torno de 3%. do acordo com FMI.
A economia brasileira, apesar do crescimento relativamente O ano de 2001 foi marcado por uma desaceleração econômica,
lento, apresentou, nesse período, uma mudança em relação às duas a taxa de crescimento do PIB foi de apenas 1,3%. Isso aconteceu
décadas anteriores. Houve uma substancial redução da fragilidade devido à crise energética vivenciada pelo país e pela insegurança
externa da economia, graças à acumulação de elevados superávits nos mercados externos, provocados pela crise da Argentina e pelos
comerciais – US$ 32 bilhões, em média, entre 2001 e 2006, dos pelo atentados terroristas contra os Estados Unidos.
aumento das exportações. O resultado foram os sucessivos saldos Com isso, o mercado de câmbio passou por algumas oscilações,
positivos nas transações correntes, da ordem de 1,5% do PIB na qual o Real sofreu uma depreciação média de 28,3% ao ano e a
Esses elevados superávits externos se refletiram muito positi- taxa cambial variou de R$1,95/US$, em Janeiro para R$2,36/US$
vamente nos indicadores de dívida e de reservas externas. A dívida em Dezembro.
externa líquida até setembro de 2006 havia sido reduzida para US$ Apesar disso, o impacto da desvalorização cambial sobre os
70,8 bilhões, o equivalente a 35% do valor máximo alcançado em preços não foi tão acentuado, o IPCA cresceu 6,8% no ano, justifica-
1999, US$ 205,1 bilhões. Já a dívida externa bruta registrou uma do pela diminuição da demanda do consumidor e pela paralisação
redução de US$ 84,8 bilhões nesse mesmo período, enquanto as do mercado de trabalho, em relação a novas contratações e a ren-
25 CRUZ, Adriana inhudes Gonçalves, Et al. A Economia Brasileira: Conquistas 26 Ribeiro, Francielle Camila Santos, Et al. A EVOLUÇÃO DO PRODUTO
dos Últimos dez anos e perspectivas para o futuro. Adaptado INTERNO BRUTO BRASILEIRO ENTRE 1993 E 2009
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tabilidade real. Além disso, a crise energética também impactaria o a taxa de câmbio voltou a valorizar-se. Além disso, a queda da in-
nível de preços, e assim, o país operou com uma política monetária flação, a partir da metade do ano de 2003, fez com que o Banco
retrativa, através do aumento da taxa básica de juros e dos depó- Central reduzisse a meta da taxa Selic em 10 pontos percentuais,
sitos compulsórios, para permanecer dentro da meta inflacionária. atingindo, em janeiro de 2004, 16,5% a.a.
O colapso energético ocorrido no Brasil neste período compro- De janeiro a abril, o Comitê de Política Monetária (COPOM) de-
meteu o fornecimento e distribuição de energia elétrica do país. cidiu diminuir a taxa Selic em meio ponto percentual para prorrogar
Esta crise interna, que obrigou os brasileiros a racionar energia, o crescimento econômico e o pequeno nível da inflação. Porém, no
aconteceu por dois principais motivos: a pequena quantidade de segundo semestre, o aumento da pressão inflacionária acarretou
chuva, que deixou inúmeras represas vazias, e pela carência de pla- um aumento desta taxa, que passou para 17,5% ao ano.
nejamento e de investimento, tanto na geração como na distribui- Em 2005, o país apresentou crescimento de 3,2%, desempe-
ção da energia elétrica. nho menor que o verificado em 2004, devido à desaceleração dos
Em 2001, a economia da Argentina, que estava atrelada ao investimentos, da indústria de transformação e da agropecuária.
câmbio fixo, no qual um peso era equivalente a um dólar, tentou Segundo Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE, este
negociar suas dívidas, porém só aprofundou ainda mais a crise. Em resultado foi puxado pelo consumo das famílias, influenciado prin-
dezembro, o país declarou a moratória de sua dívida, neste mês, cipalmente pelo aumento do crédito e dos salários reais, da ordem
o Presidente Fernando de La Rua renunciou, e em seguida, outros de 3,1%, enquanto que o gasto do governo cresceu 1,6% em relação
quatro presidentes assumiram o cargo e renunciaram em 12 dias. ao ano anterior.
A taxa de crescimento em 2002 foi de 2,7%, ocasionada devi- De acordo com o IBGE, a participação dos componentes da
do a vitória nas eleições presidenciais do país pelo candidato de demanda, no resultado do PIB deste ano, foi de 55,5% consumo
oposição, Luiz Inácio Lula da Silva, que trouxe incerteza quanto à das famílias, 20,6% investimento, 19,5% consumo do governo e ex-
sustentação da política econômica, o chamado risco-Lula, nome portações líquidas de 4,4%, sendo que as exportações contribuíram
que faz alusão ao risco-país. O risco-país tenta medir a instabilidade com 16,8%, contra 18,0% de 2004, queda justificada pela aprecia-
econômica em um país e assim o risco que você assume ao investir ção do Real frente ao dólar, enquanto as importações alcançaram
nele, quanto maior, menores serão as chances de atrair investidores 12,4%, contra 13,4% em 2004.
estrangeiros. Os investimentos registraram alta de apenas 1,6%, em relação
Esse fator, aliado à degradação da economia e da política da a 2004, pois a crise de confiança, motivada pelas incertezas quanto
Argentina, resultou na queda do fluxo de capitais e aumentou risco às políticas do governo, fez com que empresários e consumidores
dos países emergentes, pelo provável ataque ao Iraque pelos EUA, adiassem projetos para 2006. A taxa de juros mais elevadas e o
que provocou instabilidade nos preços internacionais do petróleo e câmbio contribuíram com esse resultado.
afetou os preços internos de seus derivados. A participação setorial no valor adicionado foi da ordem de
Em consequência desses fatores, o aumento da taxa cambial R$ 145,8 bilhões para a agropecuária, redução na participação de
não só continuou como passou a influenciar os preços internos e 1,70% em relação a 2004, totalizando 8,4% do PIB 2005. A indús-
elevar a dívida pública, pois parte dela estava acoplada à moeda tria e os serviços apresentaram desempenhos positivos, 40% e
estrangeira, terminando o ano com a cotação de R$3,63/US$ e com 57%, respectivamente. O PIB per capita a preços correntes, definido
uma depreciação de 52% do Real. Mesmo com a moeda deprecia- como a divisão do total do PIB a preços correntes pela população
da e com o aumento da inflação, o Banco Central decidiu reduzir residente atingiu R$ 10.520,00 em 2005.
para 18% a taxa Selic em julho, agosto e setembro, porém no em Para o ano de 2006, o crescimento registrado foi de 4,0%, pe-
outubro teve início um aumento sucessivo da taxa, concluindo o quena recuperação frente a 2005. O PIB per capita apresentou cres-
ano em 25%. cimento real de 1,4% e o consumo das famílias 3,8% ante 2005.
Em 2002, o que aumentou o nível desta taxa foi o risco-Lula, Com base em dados do IBGE, o setor agropecuário cresceu
que trouxe insegurança quanto à política econômica que iria em- 3,2% em 2006, a indústria brasileira avançou 3%, puxada pela in-
pregar. dústria extrativa mineral (5,6%) e pela construção civil (4,5%). O
Em 2003 o governo adotou política fiscal e monetária contra- ano foi marcado pelos reflexos da crise do agronegócio iniciada em
cionista, fazendo com que a taxa de crescimento do PIB voltasse a 2005, determinada pela ausência de investimentos e de incentivos
desacelerar e alcançasse a marca de 1,1%. A insegurança do perío- por parte dos governos e, pela preocupação mundial com a gripe
do foi caracterizada pelo aumento do risco-país, pela depreciação do frango, febre aftosa, transgenia, que comprometeram as expor-
da taxa de câmbio, pela saída de capitais e pela queda do crédito tações brasileiras do setor.
internacional. O resultado de 2007 mostra crescimento de 5,7%, conquistado
Com o objetivo de controlar a inflação, o governo optou por pela recuperação do setor do agronegócio, atividade que apresen-
aumentar a taxa Selic para 26,5% ao ano em fevereiro, mantendo-a tou o maior crescimento no ano com 5,3%, baseado no bom desem-
assim até junho. Esta política econômica resultou em maior con- penho da lavoura de trigo, algodão herbáceo, milho em grão, cana e
fiança dos mercados e na baixa do câmbio, que passou de R$3,59/ soja. O bom desempenho da economia também foi motivado pelo
US$ em fevereiro para R$2,93/US$ ao final do ano. Com a aprecia- volume de investimentos (16,0%).
ção do câmbio e com ferramentas monetárias restritivas, o governo A indústria cresceu 4,9%, com destaque para a indústria de
conseguiu obter certo controle sobre a inflação e assim voltou a transformação com participação de 5,1%, e da construção civil
diminuir a taxa básica de juros. Mesmo assim, a inflação acumulada 5,0%, enquanto o setor de serviços apresentou alta de 4,7% em
do período alcançou 9,3% (IPCA). relação a 2006, desempenho determinado pelo subsetor de inter-
O ano de 2004 foi marcado pela retomada do crescimento do mediações financeiras e seguros (13,0%), seguido por serviços de
PIB brasileiro, alcançando a taxa de 5,7%. Com um ambiente exter- informações (8,0%) e comércio (7,6%).
no favorável e o contínuo aumento do saldo da balança comercial,
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O PIB cresceu 5,1% em 2008, enquanto o PIB per capita cresceu 2003 e 2006, numa média de variação anual do produto da ordem
4,0% em relação a 2007. A taxa de investimento de 2008 chegou a de 4,2% -, inaugurou um período de considerável estruturação no
18,5% - a mais alta da série iniciada em 2000. Comparando o quarto mercado de trabalho brasileiro, o que também contribuiu para a
trimestre de 2008 com o terceiro, o PIB apresentou queda de 3,6%, criação de um contexto favorável à implementação de uma política
se comparado ao mesmo período de 2007 a economia brasileira do salário mínimo.
registrou expansão de 1,3% A maior liquidez internacional no pós 2003, devido, em gran-
Os modestos resultados do último trimestre do ano foram mo- de medida, à política americana de juros baixos, ampliação do gas-
tivados pela precipitação da crise mundial, iniciada nos Estados Uni- to público e do déficit comercial, juntamente à forte demanda da
dos, que foi negligenciada pelo governo brasileiro, que se limitou a economia chinesa, contribuiu para um movimento mais favorável
reduzir os depósitos compulsórios e preferiu não alterar a taxa Se- do comércio mundial, se traduzindo em melhoras crescentes das
lic. A indústria foi o setor que mais padeceu, registrando queda de nossas exportações – via aumento de preços e quantidades, prin-
7,4%, enquanto a agropecuária e serviços apresentaram resultados cipalmente em commodities, mas também em manufaturados –,
de – 0,5% e – 0,4%, respectivamente no período. mais competitivas devido ao câmbio desvalorizado, significando ex-
Em 2009, a variação do PIB ficou em - 0,2%, totalizando R$ pressivos aumentos dos saldos anuais da balança comercial e em
3.143 bilhões. Os resultados setoriais também apresentaram que- conta corrente. O aumento das exportações, por sua vez, rebateu
da, sendo o pior desempenho da indústria - 5,5%, no qual todos positivamente na atividade econômica e, consequentemente, na
os subsetores apresentaram queda, com destaque para a indústria dinâmica da demanda doméstica, reforçada, posteriormente, pelo
e transformação (- 7,0%) e construção civil (-6,3%). O agronegócio aumento do crédito às empresas e ao consumidor pelas transfe-
recuou – 5,2%, devido à redução da produção de trigo, milho, café rências de renda do programa Bolsa Família, e pelo movimento de
e soja. O setor de serviços apresentou alta de 2,6%. recuperação do salário mínimo acima da inflação, o qual foi bene-
Os componentes da demanda interna agregada apresentaram ficiado pela gradual ativação da economia, bem como um contexto
valores positivos para consumo das famílias (4,1%) e gastos do go- político mais favorável.
verno (3,7%), enquanto que a formação bruta de capital fixo recuou Embora com a continuidade de um arranjo restritivo de política
9,9%. econômica, marcada pelos juros elevados - priorizando o contro-
A renda per capita caiu em 1,2%, ficando em R$ 16.414,00, re- le inflacionário -, câmbio flutuante e a busca dos recorrentes su-
sultado maior que em 2008, devido à baixa taxa de crescimento da perávits primários - para pagar o custo da dívida pública e reduzir
população (0,99%) e não ao desempenho da economia. a relação dívida/PIB -, com o aquecimento da economia os níveis
A taxa de investimento recuou para 16,7%, resultado direta- absolutos e relativos de desemprego pararam de subir no mesmo
mente relacionado à crise de confiança, que rondava a economia ritmo anterior e, a partir de 2004, com o PIB crescendo em média
mundial no primeiro semestre de 2009, “recessão pronunciada, 3,5% ao ano, entre 2004-2006, houve um gradativo aumento da
acontecida no 1º semestre do ano, reflexo da penetração da crise elasticidade do emprego em relação ao produto, com as ocupações
internacional no front doméstico, que atingiu de forma profunda os aumentando cerca de 2% ao ano – ver tabela 2. A informalidade e
ramos mais articulados ao comércio externo, pela via perversa da o grau de desproteção previdenciária arrefeceram, e a massa dos
diminuição da demanda, dos preços e do crédito”. rendimentos do trabalho, captada pela PNAD, cresceu considera-
No segundo semestre, a economia se recuperou, em função velmente entre 2004-2006, mas, sobretudo entre 2005-2006, tanto
do bom desempenho do mercado interno aquecido pelas reduções pelo aumento das ocupações formais, como devido ao crescimento
do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para automóveis, da renda média do trabalho – ver tabela 4 -, a qual se encontrava
eletrodomésticos da linha branca e materiais de construção, e da em níveis bastante baixos em 2004. Sendo assim, tal cenário aca-
pequena melhora apresentada pelo comércio internacional. bou significando melhores condições para a continuidade do pro-
O PIB do primeiro semestre, se comparado ao mesmo período cesso de recuperação do valor real do salário mínimo.
de 2008, recuou 1,9% e, no segundo período de 2009, apresentou Com a recuperação da atividade econômica ocorreu um maior
alta de 1,5%, seguindo a mesma base comparativa. estímulo às contratações formais, sobretudo em razão do aumento
As medidas para mitigação dos efeitos da crise foram intensi- de capacidade produtiva nas médias e grandes empresas - domi-
ficadas entre 2008 até meados de 2009, período no qual a política nantes no setor exportador – revertendo a tendência de pequena
monetária promoveu uma diminuição gradativa na taxa Selic de elasticidade emprego-renda dos anos 90. Dessa forma, inaugu-
13,75% a.a. em dezembro/2008 para 8,75 a.a. em julho/2009. Por- rou-se um período de aumento das ocupações, principalmente o
tanto, a recuperação demonstra que as medidas adotadas pelo go- emprego assalariado formal. Esse quadro de aumento do emprego
verno promoveram a reação econômica, fazendo com que o Produ- e formalização foi sendo realimentado pela continuidade do bom
to Interno Bruto crescesse nos últimos seis meses do ano anterior. desempenho do produto, reforçado pelo aumento dos gastos das
famílias e empresas, devido à ampliação do crédito de mais longo
A Evolução do Salário Mínimo27 prazo. Outra fonte de ampliação dos empregos formais se deu a
partir do setor público, devido aos avanços das políticas sociais, so-
O primeiro mandato do governo Lula, marcado pelo começo bretudo em saúde, educação, previdência e assistência social, sen-
de uma nova fase da inserção internacional da economia brasileira, do que esses dois últimos setores passaram a contratar mais, como
a partir da melhora da demanda do mercado externo, determinan- reflexo do maior dinamismo da atividade econômica. Portanto, a
do grande parte das condições favoráveis ao bom desempenho do dinâmica econômica e do mercado de trabalho, no pós 2003, foram
crescimento do PIB, o qual foi realimentado pela subsequente am- fundamentais para a ampliação do emprego formal. Contudo, tam-
pliação do investimento e consumo - resultando, entre os anos de bém é necessário sublinhar que uma fonte de estímulo da melhora
27 SOUEN, Jacqueline Aslan. A Política de Valorização do Salário Mínimo e seus do nível de formalização está relacionada ao maior empenho do go-
Determinantes no Contexto da Retomada Econômica, 2003 – 2010. Adaptado verno no sentido de aumentar a fiscalização nos estabelecimentos
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e contratos de trabalho. Tal postura do poder público, através do governos se voltem para atender as necessidades da população. O
Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério Público do Trabalho desenvolvimento do país deve envolver a participação da sociedade
e Justiça do Trabalho, tinha como principal objetivo a elevação da civil, do poder público e das instituições financeiras, enquanto orga-
arrecadação de impostos e contribuições sociais, para contrabalan- nismos liberadores de crédito.
çar os crescentes gastos sociais, e as necessidades de ajuste fiscal, Sempre que o poder público oportuniza a liberação do crédi-
decorrentes da política macroeconômica conservadora, iniciada em to, o reflexo é o aumento do consumo. Saliente-se que pode haver
1999. maior inserção econômica e social, através da geração de emprego
Sendo assim, tais mudanças significativas na economia e no e renda.
mercado de trabalho brasileiro, como reflexo de um ciclo virtuoso É importante ressaltar que a concessão do crédito através das
inaugurado em 2003 - com a forte demanda do mercado interna- instituições financeiras baseia-se na análise de fatores operacionais
cional, num ambiente de relativo controle inflacionário e redução e financeiros da empresa, no caso de pessoa jurídica, bem como
da vulnerabilidade externa e tendência à queda nas taxas de juros nas garantias pessoais, no caso de liberação de crédito à pessoa
-, foram primordiais à trajetória ascendente do valor do salário mí- física, ligado principalmente ao salário. O volume de crédito é
nimo, que acumulou crescimento real de 27,87%, entre 2002-2006. diretamente proporcional à política econômica implantada pelo
A ampliação do número de pessoas ocupadas com rendimento, poder público, isto é, numa economia equilibrada, pode-se liberar
aumento da formalização, crescimento da massa salarial - sobretu- o crédito sem maiores riscos. Salientando-se que quanto maior
do entre 2005 e 2006 -, em virtude do aumento das ocupações, mas o endividamento, maiores são os riscos de inadimplência, assim
também pela elevação da renda média do trabalho, relacionada, como provoca a elevação das taxas de juros.
por sua vez, com a recuperação do piso mínimo, foram fundamen- No entender de Securato (2002), toda operação de crédito se
tais para realimentar o ciclo virtuoso e, portanto, a continuidade caracteriza por ser uma forma de obtenção de empréstimo, cujo
do processo de recomposição do salário mínimo. Na medida em custo está representado na forma de juros. Já Schrickel (2000, p.
que o ritmo de crescimento da economia e do emprego se man- 25) apresenta uma definição de operação de crédito como sendo
teve, foram nítidos os efeitos positivos sobre as contas públicas e “[...] todo ato de vontade ou disposição de alguém destacar ou ce-
da previdência, realimentando o quadro favorável para a sequência der temporariamente parte de seu patrimônio a um terceiro, com
de reajustes do mínimo, rebatendo nos aumentos do salário médio a expectativa de que esta parcela volte à sua posse integralmente
real que, somados aos ajustes dos pisos das categorias - como resul- após decorrer o tempo estipulado”. No momento da liberação do
tado das negociações coletivas -, e à ampliação dos empregos for- crédito, ocorre o que Santos (2003, p.15) determina como sendo “a
mais, implicou em substancial crescimento da massa salarial real, troca de um valor presente por uma promessa de reembolso futuro,
conforme dados da PNAD e assim sucessivamente, reproduzindo as não necessariamente certa em razão do fator risco”.
condições para o contexto positivo. As operações de crédito têm sua classificação de acordo com
a origem dos recursos, dividindo-se em: operações de crédito com
Ampliação de credito28 recursos direcionados, aquelas que apresentam taxas e recursos
previamente estabelecidos pelas normas governamentais e desti-
Dentro do contexto econômico, pode-se dizer que o crédito nadas fundamentalmente a setores como o rural, habitacional e de
oportuniza a realização de investimentos e conquistas, sendo ob- infra-estrutura; assim como as operações de crédito com recursos
tido por meio de uma relação de confiança entre duas ou mais livres, as que têm sua formalização por meio de taxas de juros de-
partes, com as devidas garantias de operação, cujo propósito é a finidas entre os tomadores e os estabelecimentos financeiros (OR-
compra e venda de produtos ou serviços. TOLANI, 2000).
O acesso das populações carentes ao crédito é resultado das
políticas públicas contra a pobreza, impactando a economia local. Entre as principais operações de crédito com recursos livres,
Pode-se dizer que o crédito é a chave que abre a porta para o cres- pode-se destacar:
cimento dos negócios em todos os setores da economia.
O sistema financeiro do Brasil tem como características certo - Capital de giro: modalidade de empréstimo cujo objetivo é
conservadorismo, apoiando-se numa visão de curto prazo e privile- atender as necessidades de capital de giro das empresas. O emprés-
giando a ideia de que capital atrai mais capital, às vezes, numa razão timo tem sua vinculação por meio de um contrato específico em
direta de seu tamanho e inversa com relação às suas necessidades. que fica estabelecido o prazo, taxas, valores e as garantias necessá-
A oferta de crédito tem uma elevada importância no desenvol- rias. Comumente, a garantia se realiza por meio de duplicatas, e os
vimento econômico do país, uma vez que possibilita o investimento prazos giram em torno de 180 dias.
na aquisição de produtos, máquinas, equipamentos, bem como na - Conta garantida: caracteriza-se por se tratar de uma conta de
contratação de mão-de-obra, impulsionando a economia nacional. crédito aberta com valor limite pré-estabelecido e o movimento
Com a oferta de crédito a médio e longo prazo, tanto as pessoas ocorre a partir dos cheques emitidos pelo cliente, se não houver
físicas como empresas participam de forma mais direta da econo- saldo na conta corrente de movimentação. Havendo saldo disponí-
mia, participação observada pelo aumento do consumo, aplicações vel na conta movimento, há a transferência dos valores para a conta
em maquinários e abertura de novos estabelecimentos comerciais. garantida, cobrindo o saldo devedor da mesma.
O crédito tem um importante papel no desenvolvimento local - Desconto de títulos (notas promissórias e duplicatas): o banco
e este irá se refletir no desenvolvimento de uma forma mais ampla, libera aos clientes, de forma imediata, recursos que serão recebi-
ou seja, reflete-se na sociedade como um todo e faz com que os dos quando do vencimento das promissórias e duplicatas entregues
28 BURIN, Roberto. AS CONSEQUÊNCIAS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA à instituição financeira. O cliente recebe os valores, antecipa seu
AMPLIAÇÃO DO CRÉDITO COMO ESTRATÉGIA PARA O DESENVOLVIMENTO fluxo de caixa e transfere ao banco os documentos que seriam re-
ECONÔMICO. Adaptado cebidos no futuro.
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- Aquisição de bens: operação que se destina a possibilitar a As discussões em torno das causas do crescimento e desen-
aquisição de bens, tanto a pessoas físicas como jurídicas, ficando volvimento de uma nação são das mais diversas. Enquanto alguns
o bem adquirido como garantia da operação de crédito realizada. economistas compartilham a ideia de que crescimento e desen-
- Financiamento imobiliário: caracteriza-se por não estar inte- volvimento são sinônimos, outra corrente de teóricos diferenciam
grado ao Sistema Financeiro de Habitação e seu objetivo é o finan- ambos, propondo ser o crescimento condição indispensável, mas
ciamento para adquirir, construir ou reformar imóveis. não suficiente ao desenvolvimento. Há também uma nova proposta
- Cheque especial: tipo de crédito em que há a vinculação de de desenvolvimento sustentada no princípio da justiça social, com
um determinado limite à conta bancária da pessoa física. O saldo a equalização das oportunidades, contrapondo-se ao modelo con-
desse limite é abatido sempre que houver saldo na conta bancária vencional de desenvolvimento econômico predominante.
do devedor. Daí a importância de não se confundir crescimento com de-
- Crédito pessoal: tradicional operação de crédito destinada às senvolvimento, fazendo-se necessário a compreensão de ambos
pessoas físicas, mas ressalta-se que a concessão não se caracteriza os processos, pois em algumas situações associado ao crescimen-
pela vinculação de um bem ou de algum serviço. to ocorrem queda dos indicadores sociais. O crescimento estaria
- Cartão de crédito: modalidade de crédito que disponibiliza, relacionado ao aumento da renda per capita, enquanto que, o
entre outros, serviços como pagamentos à vista entre consumidor desenvolvimento contemplaria o aumento da produção nacional
e empresa, bem como permite a liberação de dinheiro de forma acompanhado de melhorias no nível de vida da população e de
direta ao consumidor por meio de uma operação de saque. transformações sociais e econômicas ocorridas na sociedade, o que
- Crédito consignado: representa uma modalidade de crédito evidencia a complexidade da relação existente entre crescimento e
muito utilizada atualmente. Trata-se de um empréstimo em que os desenvolvimento.
débitos das parcelas serão realizados diretamente no salário do to- As análises mais completas acerca das questões do desenvolvi-
mador do empréstimo, ou seja, diretamente em seu contracheque. mento, além avaliarem as variações quantitativas do produto e as
No entanto, essa modalidade deve obedecer aos limites de endivi- melhorias em educação, saúde, nível de bem estar, entre outros,
damento do trabalhador, conforme o valor de seu salário (FORTU- consideram a questão ambiental, pois “Com o tempo, o crescimen-
NA, 1999; BACEN, 2007). to econômico tende a esgotar os recursos produtivos escassos, atra-
A liberação de crédito através da utilização das políticas pú- vés de sua utilização indiscriminada.”
blicas, especificamente no período de 2002 a 2009, possibilitou o Daí a relevância do gasto social e das rendas monetárias para as
acesso ao crédito das chamadas populações de baixa renda, urba- pequenas economias, pois em muitos casos, eles são direcionados
nas e rurais; bem como a elevação do consumo e a consequente aqueles que não possuem renda, implicando na ampliação do con-
geração de emprego e renda. Conforme Torres Filho (2006), a partir sumo destes beneficiários, e em ganhos econômicos. O gasto social
do ano 2000, evidencia-se um crescimento do crédito para a pessoa teria efeitos sobre o produto e a renda da economia, o que pode ser
física em razão da consolidação do sistema financeiro no que diz atribuído ao princípio da demanda efetiva. Outro efeito concentra-
respeito ao enfrentamento das constantes crises financeiras e da -se na promoção autônoma da redistribuição da renda que o gasto
capacidade de manter a economia nacional num patamar de estabi- pode promover aos beneficiários. No Brasil, o avanço em gasto so-
lidade e segurança, a partir de alguns ajustes e redirecionamentos. cial começa a ocorrer a partir da Constituição de 1988, momento de
Conforme Slomp (2012), percebe-se, no país, a instalação da grandes demandas sociopolíticas em todo o país.
chamada cultura do endividamento, em face do aumento no nú- O programa Bolsa Família é uma representação bastante plau-
mero de pessoas endividadas junto às instituições financeiras, bem sível nesta proposta de desenvolvimento equitativo, haja vista que,
como pela elevação do crédito direto ao consumidor em lojas e além de atender parcela significativa da população brasileira em
departamentos; fazendo com que o endividamento se caracterize situação de pobreza e extrema pobreza, o programa conta com
como um reflexo da sociedade. Assim sendo, a dívida é parte inte- condicionalidades nas áreas de saúde e educação, o que acaba por
grante do contexto econômico e está diretamente relacionada às contribuir com igualdade, e com a oportunidade de inclusão.
atuações internacionais, nacionais, regionais e até familiares, em As políticas sociais se definem como a intervenção do Estado
face disso, o governo e os órgãos de controle devem estar atentos nas questões sociais do país, com vista a melhorar as condições de
para que o endividamento não se torne um problema de irreversí- vida de seus habitantes, e oferecer direitos, como educação, saú-
vel solução. de e assistência social. Dentre os objetivos das políticas, a redução
das desigualdades, pode ser considerada como um dos mais impor-
Transferência de Renda29 tantes, se constituindo em uma forma de ampliar o bem estar da
sociedade.
No Brasil, país de grande dimensão continental, a acumulação
ocorre de forma heterogênea. Em algumas áreas estão concen- A crise econômica 2008 - Abalos na economia mundial
trados setores dinâmicos da economia, que promovem cada vez
mais a expansão produtiva daquele espaço, enquanto em outras A crise que mais abalou a economia mundial desde a crise de
ocorrem fragilidades econômicas. Buscar a integração do processo 1929 foi a que eclodiu nos EUA a partir de uma bolha (uma situação
produtivo entre as regiões do Brasil para promover o acúmulo de de super demanda que estimula a especulação financeira) no setor
excedentes e a redução das desigualdades sociais rumo a um pos- imobiliário e se alastrou para todos os outros setores econômicos
terior desenvolvimento, deveria estar entre os principais objetivos e países do mundo. Ocorreram várias outras crises econômicas en-
das ações governamentais. tre 29 e 2008, mas foram menos violentas. Como outras crises que
29 SILVA. Audileia Rodrigues. PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIAS DE REN- ocorreram neste intervalo podemos citar as crises do petróleo, na
DA E DESENVOLVIMENTO: UMA ANÁLISE DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA década de 70 (1973 e 1979). A crise atingiu os setores financeiros
NO MUNICÍPIO DE PLANALTO – BA, NO PERÍODO DE 2004 A 2010. Adaptado (de créditos financiamentos e negociações na bolsa de valores) e
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REALIDADE BRASILEIRA

produtivos (retração na produção das indústrias, desemprego e di- (oferta maior que a demanda) os preços desabam. Como as dividas
minuição no consumo de bens e serviços.). Se alastrou rapidamente foram transformadas em títulos os bancos comercializaram estes
e de forma notável atingiu com mais profundidade os países mais títulos nas bolsas de valores. Estes títulos na bolsa (com base nos
desenvolvidos. EUA, UE, e Japão foram os mais impactados. Uma empréstimos dados como garantia) despencou causando prejuízos
razão para isso é que devemos nos lembrar que na Globalização à bancos e a empresas imobiliárias. O resultado: Efeito dominó. Mi-
todas as grandes economias do mundo são muito interligadas e in- lhares de pessoas perdem a moradia, bancos quebram e o setor de
terdependentes, podendo gerar um efeito dominó. construção civil entrou em paralisia.
Ainda nos dias de hoje, idos de 2015, alguns países europeus
estão passando por uma forte crise econômica e a união europeia Consequências da crise
corre risco de se desmantelar e o Euro de se enfraquecer. Há vá-
rias propostas nos PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda/Eire, Grécia e - Adoção de medidas Keynesianas, ou seja, os Estados passam a
Espanha), os mais atingidos pela crise europeia, de abandonar a intervir na economia. Os bancos no mundo todo injetam em torno
moeda e a UE. Nos mais industrializados também há convicções de de 400 bilhões nos mercados financeiros através de empréstimos
abandonar a organização. Foi marcado no Reino Unido um plebis- de curto prazo para os bancos manterem as transações financeiras.
cito para decidir se ficam ou não na EU. A crise atingiu também os O dinheiro emprestado é público. O governo norte americano inje-
Emergentes. Como dependem do capital das economias centrais e tou muito dinheiro para salvar bancos e estimular fusões entre eles.
exportam matérias primas para lá, foram atingidos e tiveram um Os bancos que não receberam ajuda estatal quebraram e levaram
crescimento econômico menor. Lembre-se que países desenvolvi- junto outros bancos e fundos de pensão.
dos param de produzir e de comprar commodities (matérias pri- - Os investidores (por segurança param de investir em títulos
mas negociadas nas bolsas internacionais. Fique ligado, pois quem imobiliários) e migram seus investimentos para as commodities o
determina o preço é o mercado e não os produtores.) e no caso que provocou aumento na cotação internacional dos grãos. Mais
do Brasil, exportamos menos minérios e produtos agrícolas. Como de 20 nações pobres passaram por uma crise alimentar no primeiro
tudo isso começou? semestre de 2008, causando protestos populares.
A crise estourou nos EUA e é importante lembrarmos uma de - As medidas Keynesianas são adotadas pelas potências
suas características: Seu banco central o FED (federal reserve) tem industriais para evitar uma maré de empresas quebradas. Investem
total autonomia para mexer nas taxas de juros. E como não há inter- trilhões de dólares nas instituições bancárias e grandes empresas.
venção estatal, quando um consumidor adquire um financiamento, As eficácias das medidas neoliberais passam a ser questionadas. Os
os valores das parcelas podem oscilar de acordo com a oscilação governos estatizam empresas e garantem os depósitos bancários
dos juros. Em 2001 ocorre o atentado do 11/09 que estimula a de investidores
política de Guerra ao Terror do então presidente George Bush de - Recessão (retração da economia)
invadir o Afeganistão em 2001 e o Iraque e os gastos militares au- - Desemprego
mentam muito. - Diminuição do crescimento econômico mundial
Nos anos de 2001 o FED diminuiu a taxa básica de juros que
ficou em torno de 1,75% a 1%. O objetivo desta medida é estimu-
lar a economia através do consumo. Os financiamentos ficam mais DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MEIO AMBIENTE.
baratos e vendem mais mercadorias. O valor do financiamento de
casas caiu e impulsionou a construção civil e o mercado imobiliário,
que passa a oferecer créditos a muitas pessoas. No linguajar corpo- A relação entre meio ambiente e desenvolvimento sustentável
rativo americano denominava-se como “Sub prime” os setores tra- é um dos temas mais prementes da atualidade, refletindo a necessi-
balhadores mais frágeis da economia (trabalhadores assalariados e dade urgente de reavaliar as práticas econômicas e sociais à luz dos
pequenos empreendedores), que por possuírem uma baixa renda, impactos ambientais. O conceito de desenvolvimento sustentável
há um risco maior de calote no caso de aumento das prestações). surge como uma resposta à crescente consciência de que o mode-
Multiplicam-se os empréstimos imobiliários e a emissão de títulos lo de desenvolvimento econômico vigente, muitas vezes baseado
na bolsa de valores, dando como garantia as prestações a serem pa- na exploração excessiva de recursos naturais, não é viável a longo
gas, ou seja, em caso de inadimplência perde o imóvel. Com a super prazo. Assim, busca-se um equilíbrio entre crescimento econômico,
demanda forma-se uma bolha especulativa, e aumentam os valores conservação ambiental e equidade social.
dos imóveis e aplicações financeiras na construção civil.
Devidos aos altos gastos militares e políticas neoliberais em A Crise Ambiental Global
que o governo retirou os impostos das rendas mais altas ocorre au- Atualmente, enfrentamos uma série de crises ambientais, in-
mento da inflação (aumento no preço dos produtos) no país. Para cluindo as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade, a polui-
tentar conter a inflação o FED aumentou a taxa básica de juros e ção e a degradação dos solos e dos recursos hídricos. As mudanças
tentar incentivar a procura internacional por dólares. A principal climáticas, impulsionadas principalmente pelas emissões de gases
consequência é o aumento do valor dos financiamentos e presta- de efeito estufa resultantes de atividades humanas, como a quei-
ções. As taxas foram aumentadas até 5,25%, cinco vezes maior que ma de combustíveis fósseis, representam uma ameaça significativa
2001. Como as prestações multiplicaram seu valor, aquele grupo para ecossistemas, economias e comunidades em todo o mundo.
mais frágil da economia designado “sub prime” pelos bancos não A perda de biodiversidade, por sua vez, resulta da destruição de
conseguiram pagar suas dívidas e ocorreram vários calotes. habitats, poluição, práticas agrícolas insustentáveis e mudanças
Lembra-se que o próprio imóvel era dado como garantia da climáticas, comprometendo os serviços ecossistêmicos dos quais
dívida? Então. Ocorre uma grande onda de despejos e muitas pes- dependemos.
soas foram parar nas ruas. Com o aumento da oferta de imóveis
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Desenvolvimento Sustentável como Solução as Pradarias, os Desertos e as Tundras. Em escala planetária, os


O desenvolvimento sustentável propõe um modelo em que o biomas são unidades que evidenciam grande homogeneidade nas
crescimento econômico é alcançado sem esgotar os recursos natu- características de seus elementos.
rais e prejudicar o meio ambiente. Essa abordagem enfatiza a im- Assim, há Florestas Tropicais na América, África, Ásia e Ocea-
portância de atender às necessidades do presente sem comprome- nia que, embora semelhantes, possuem comunidades ecológicas
ter a capacidade das gerações futuras de atender às suas próprias com exemplares distintos. Alguns desses exemplares são chama-
necessidades. Isso envolve a integração de políticas ambientais, dos de endêmicos, ou seja, não ocorrem em nenhuma outra área
econômicas e sociais, a promoção de tecnologias limpas e renová- do mundo. Entre outros fatores, isso se explica pela separação dos
veis, e a adoção de práticas de consumo e produção responsáveis. continentes: o afastamento físico fez com que as espécies vivessem
evoluções paralelas, apesar de distintas, processo que é chamado
Economia Verde e Energias Renováveis especiação.
Uma parte crucial do desenvolvimento sustentável é a tran- As plantas e os animais de um mesmo bioma não estão presen-
sição para uma economia verde, caracterizada por ser inclusiva e tes, necessariamente, em diferentes regiões do planeta. Exemplo: o
geradora de baixas emissões de carbono. Isso inclui investimentos chimpanzé é encontrado na Floresta Tropical de Uganda, mas não
em energias renováveis, como solar, eólica e hidrelétrica, que são compõe a fauna das Florestas Tropicais sul-americanas. Por outro
fundamentais para reduzir a dependência de combustíveis fósseis. lado, várias espécies endêmicas de nosso continente não são en-
Além disso, a economia verde envolve a criação de empregos “ver- contradas nas florestas africanas, como é o caso do mico-leão-dou-
des” que contribuem para preservar ou restaurar o meio ambiente, rado, originário da Mata Atlântica brasileira.
seja na agricultura, indústria, serviços ou administração pública.
Principais Características das Formações Vegetais
Sustentabilidade Social e Equidade
O desenvolvimento sustentável também aborda questões de A formação vegetal é o elemento mais evidente na classifica-
equidade social e sustentabilidade. Isso envolve garantir que todos ção dos ecossistemas e biomas, por isso, e dependendo da escala
tenham acesso aos recursos básicos, educação e saúde, e que as utilizada em sua representação, são feitas grandes generalizações.
comunidades tenham voz nas decisões que afetam seus ambientes Os elementos climáticos, em especial a temperatura e a umida-
e seus meios de subsistência. A promoção da igualdade de gêne- de, são determinantes para o tipo de vegetação de uma área. Eles
ro, a proteção dos direitos dos povos indígenas e das comunidades definem diversas características das plantas, necessárias à adapta-
locais, e a garantia de práticas comerciais justas são fundamentais ção aos diferentes climas. Com base nessas características é possí-
para alcançar a sustentabilidade em todas as suas dimensões. vel classificar as plantas em:
Perenes (do latim perene, “perpétuo, imperecível”): plantas
Desafios e Caminhos a Seguir que apresentam folhas durante o ano todo;
A implementação efetiva do desenvolvimento sustentável re- Caducifólias, decíduas (do latim deciduus, “que cai, caduco”)
quer ação coletiva global, envolvendo governos, empresas e socie- ou estacionais: plantas que perdem as folhas em épocas muito frias
dade civil. Acordos internacionais, como o Acordo de Paris sobre ou secas do ano;
mudanças climáticas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentá- Esclerófilas (do grego sklerós, “duro, seco, difícil”): plantas com
vel das Nações Unidas, são passos importantes nessa direção. No folhas duras, que têm consistência de couro (coriáceas);
entanto, ainda há desafios significativos, incluindo a necessidade de Xerófilas (do grego xêrós, “seco, descarnado, magro”): plantas
financiamento adequado, o desenvolvimento de políticas eficazes adaptadas à aridez;
e a promoção de mudanças comportamentais em nível individual Higrófilas (do grego hygrós, “úmido, molhado”): plantas, geral-
e coletivo. mente perenes, adaptadas a muita umidade;
O caminho para o desenvolvimento sustentável não é simples Tropófilas (do grego tropos, “volta, giro”): plantas adaptadas a
nem fácil, mas é essencial para garantir um futuro onde o progres- uma estação seca e outra úmida;
so econômico, a conservação ambiental e o bem-estar social cami- Aciculifoliadas (do latim acicula, “alfinete, agulhinha”): pos-
nhem lado a lado. Assim, cada ação que tomamos hoje para apoiar suem folhas em forma de agulhas, como os pinheiros. Quanto me-
este objetivo é um passo em direção a um mundo mais equitativo, nor a superfície das folhas, menos intensa é a transpiração e maior
saudável e sustentável para todos. é a retenção de água pela planta;
Latifoliadas (do latim lato, “lrgo, amplo”): plantas de folhas lar-
gas, que permitem intensa transpiração; são geralmente nativas de
BIOMAS BRASILEIROS: USO RACIONAL, CONSERVAÇÃO E regiões muito úmidas.
RECUPERAÇÃO Os índices termopluviométricos, associados a outros fatores
de variação espacial menor e que também influem no tipo de ve-
getação, como maior ou menor proximidade de curso de água, os
As formações vegetais são tipos de vegetação facilmente iden- diferentes tipos de solo, a topografia e as variações de altitude,
tificáveis na paisagem e que ocupam extensas áreas. É o elemento determinam a existência de diferentes ecossistemas não contem-
mais evidente na classificação dos biomas. Estes, por sua vez, são plados nos mapas-múndi. Todas as formações vegetais têm grande
sistemas em que solo, clima, relevo, fauna e demais elementos da importância para a preservação dos variados biomas e ecossiste-
natureza interagem entre si formando tipos semelhantes de cober- mas da Terra.
tura vegetal, como as Florestas Tropicais, as Florestas Temperadas,

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REALIDADE BRASILEIRA

Cobertura Vegetal Original Pradarias


Compostas basicamente de gramíneas, são encontradas prin-
Tundra cipalmente em regiões de clima temperado continental. Desen-
Vegetação rasteira, de ciclo vegetativo extremamente curto. volvem-se na Rússia e Ásia central, nas Grandes Planícies norte-a-
Por encontrar-se em regiões subpolares, desenvolve-se apenas du- mericanas, nos Pampas argentinos, no Uruguai, na região Sul do
rante os três meses de verão, nos locais onde ocorre o degelo. Um Brasil e na Grande Bacia Artesiana (Austrália). Muito usada como
exemplo disso é o rio na Groelândia que se forma nessa estação, pastagem, essa formação é importante por enriquecer o solo com
com o derretimento da neve. As espécies típicas são os musgos, matéria orgânica.
nas baixadas úmidas, e os líquens, nas porções mais elevadas do
terreno, onde o solo é mais seco, aparecendo raramente pequenos Estepes
arbustos. Nessas formações a vegetação é herbácea, como nas Pradarias,
porém mais esparsa e ressecada. As Estepes desenvolvem-se em
Floresta Boreal (Taiga) uma faixa de transição entre climas tropicais e desérticos, como na
Formação florestal típica da Zona temperada. Ocorre nas altas região do Sahel, na África, e entre climas temperados e desérticos,
latitudes do hemisfério norte, em regiões de climas temperados como na Ásia central. Essa vegetação foi muito degradada por ativi-
continentais, como Canadá, Suécia, Finlândia e Rússia. Neste últi- dades econômicas, como o pastoreio.
mo país, cobre mais da metade do território e é conhecida como
Taiga. É uma formação bastante homogênea, na qual predominam Deserto
coníferas do tipo pinheiro. As coníferas são espécies adaptadas à Bioma cujas espécies vegetais estão adaptadas à escassez de
ocorrência de neve no inverno; são aciculifoliadas e com árvores água em regiões de índice pluviométrico inferior a 250 mm anuais,
em forma de cone, o que facilita o deslizamento da neve por suas como nos desertos da América, África, Ásia e Oceania. Apresenta
copas. Essa formação florestal foi largamente explorada para espécies vegetais xerófilas, destacando-se as cactáceas. Algumas
ser usada como lenha e para a fabricação de papel e móveis. dessas plantas são suculentas (armazenam água no caule) e não
Atualmente, a madeira é obtida de árvores cultivadas (silvicultura). possuem folhas ou evoluíram para espinhos, reduzindo a perda de
água pela evapotranspiração. No Saara, em lugares em que a água
Floresta Subtropical e Temperada aflora à superfície, surgem os oásis.
Esta formação florestal caducifólia, típica dos climas tempe-
rados e subtropicais, é encontrada em latitudes mais baixas e sob Savana
maior influência da maritimidade. Estendia-se por grandes porções Em regiões onde o índice de chuvas é elevado, porém concen-
da Europa centro-ocidental, mas por causa de atividades agrope- trado em poucos meses do ano, podem desenvolver-se as Savanas,
cuárias, atualmente subsiste na Ásia, na América do Norte e em formação vegetal complexa que apresenta estratos arbóreo, arbus-
pequenas extensões da América do Sul e da Oceania. Na Europa, tivo e herbáceo. As Savanas são encontradas em grandes extensões
restam apenas pequenas extensões, com a floresta Negra, na Ale- da África, na América do Sul (no Brasil, corresponde ao domínio
manha, e a floresta de Sherwood, na Inglaterra. dos Cerrados) e em menores porções na Austrália e na Índia. Sua
área de abrangência tem sido muito utilizada para a agricultura e
Floresta Equatorial e Tropical a pecuária, o que acentuou sua devastação, como tem ocorrido no
Nas regiões tropicais quentes e úmidas, encontramos florestas Brasil central. No continente africano, esse bioma abriga animais
que se desenvolvem graças aos elevados índices pluviométricos. de grande porte, como leões, elefantes, girafas, zebras, antílopes
São, por isso, formações higrófilas e latifoliadas, extremamente e búfalos.
heterogêneas, que se localizam em baixas latitudes na América,
na África e na Ásia. Nessas regiões predominam climas tropicais e Vegetação de Altitude
equatoriais e espécies vegetais de grande e médio portes, como o Em regiões montanhosas há uma grande variação altitudinal da
mogno, o jacarandá, a castanheira, o cedro, a imbuia e a peroba, vegetação. À medida que aumenta a altitude e diminui a tempera-
além de palmáceas, arbustos, briófitas e bromélias. As Florestas tura, os solos ficam mais rasos e a vegetação, mais esparsa. Nessas
Tropicais possuem a maior biodiversidade do planeta, com muitas condições, surgem as florestas nas áreas mais baixas e, nas mais
espécies ainda desconhecidas. altas, os campos de altitude.

Mediterrânea A Vegetação e os Impactos do Desmatamento


Desenvolve-se em regiões de clima mediterrâneo, que apre-
sentam verões quentes e secos e invernos amenos e chuvosos. É Impacto ambiental é um desequilíbrio provocado pela ação dos
encontrada em pequenas porções da Califórnia (Estados Unidos, seres humanos sobre o meio ambiente ou por acidentes naturais,
onde é conhecida como Chaparral), do Chile, da África do Sul e da como a erupção de um vulcão (que pode provocar poluição atmos-
Austrália. As maiores ocorrências estão no sul da Europa, onde foi férica), o choque de um meteoro (destruição de espécies animais e
largamente desmatada para o cultivo de oliveiras (espécie nativa vegetais), um raio (incêndio numa floresta), etc.
dessa formação vegetal) e videiras (nativas da Ásia), e norte da Áfri- Quando os ecossistemas sofrem impactos ambientais, geral-
ca. mente a vegetação é o primeiro elemento a ser atingido, pois é re-
flexo das condições naturais de solo, relevo e clima do lugar em que
ocorre.

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REALIDADE BRASILEIRA

Atualmente, todas as formações vegetais, em maior ou menor grau, encontram-se modificadas. Em muitos casos, sobraram apenas
alguns redutos em que a vegetação original é encontrada, nos quais, embora com pequenas alterações, ainda preserva suas características
principais. Essa devastação deve-se basicamente a interesses econômicos.
A primeira consequência do desmatamento é o comprometimento da biodiversidade, por causa da diminuição ou, muitas vezes, da
extinção de espécies vegetais e animais, muitas delas ainda nem descobertas e estudadas.
Na Floresta Amazônica, há uma grande quantidade de espécies endêmicas. Parte desse patrimônio genético é conhecida pelas várias
etnias indígenas que ali habitam. No entanto, a maioria dessas comunidades nativas está sofrendo um processo de integração à sociedade
urbano-industrial que tem levado à perda do patrimônio cultural desses povos, dificultando a preservação dos seus conhecimentos. Outro
ponto importante que afeta os interesses nacionais dos países onde há florestas tropicais, incluindo o Brasil, é a biopirataria, por meio da
qual muitas empresas assumem práticas ilegais para garantir o direito de explorar, futuramente, uma possível matéria-prima para a indús-
tria farmacêutica e de cosméticos, entre outras.
No Brasil, os incêndios ou queimadas de florestas, que consomem uma quantidade incalculável de biomassa30 todos os anos, são pro-
vocados para o desenvolvimento de atividades agropecuárias, muitas vezes em grandes projetos que recebem incentivos governamentais
e, portanto, sob o amparo da lei. Podem também ser resultado de práticas criminosas ou ainda de acidentes, incluindo naturais.
As consequências socioambientais das interferências humanas em regiões de florestas são várias. Uma das principais é o aumento do
processo erosivo, o que leva a um empobrecimento dos solos, podendo ampliar ou formar áreas desertificadas em regiões de clima árido,
semiárido e subúmido.

Biomas e Formações Vegetais do Brasil

Nosso país apresenta grande variedade de ecossistemas. Essa variedade relaciona-se à grande diversidade da fauna e da flora brasi-
leiras, das quais muitas espécies são nativas do Brasil, como a jabuticaba, o amendoim, o abacaxi e a castanha-do-pará. No entanto, esses
ecossistemas já sofreram grandes impactos negativos desde o início da colonização, com o desenvolvimento das atividades econômicas e
a consequente ocupação do território, como se pode constatar ao comparar os dois mapas abaixo.

Brasil: vegetação nativa

http://www.inf.furb.br/sisga/educacao/ensino/mapaVegetacao.php
30 Biomassa é a quantidade total de matéria viva de um ecossistema, geralmente expressa em massa por unidade de área ou de volume.
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REALIDADE BRASILEIRA

Brasil: retratação da vegetação e da cobertura atual31

https://www.nerdprofessor.com.br/mapa-vegetacao-do-brasil/

Características das Formações Vegetais Brasileiras

As principais formações vegetais no território brasileiro são:


Floresta Amazônica (floresta pluvial equatorial): é a maior floresta tropical do mundo, totalizando cerca de 40% das florestas pluviais
tropicais do planeta. No Brasil, ela se estende por 3,7 milhões de km² e 10% dessa área constitui unidades de conservação. Cerca de 15%
da vegetação da Floresta Amazônica foi desmatada, sobretudo a partir da década de 1970 com a construção de rodovias e a instalação de
atividades mineradoras, garimpeiras, agrícolas e de exploração madeireira. Em razão do predomínio das planícies e dos planaltos de baixa
altitude, a topografia não provoca modificações profundas na fisionomia da floresta, que apresenta três estratos de vegetação:
→ Caaigapó (do tupi-guarani, “mata molhada”) ou igapó: desenvolveu-se ao longo dos rios, numa área permanentemente alagada.
Em comparação com os outros estratos da floresta é o que possui menos quantidade de espécies e é constituído por árvores de menor
porte, incluindo palmeias e plantas aquáticas, destacando-se a vitória-régia;
→ Várzea: área sujeita a inundações periódicas, com a vegetação de médio porte raramente ultrapassando os 20 m de altura, como o
pau-mulato e a seringueira. Como se situa entre a matas de igapó e de terra firme, possui características de ambas;
→ Caaetê (do tupi-guarani, “mata seca”) ou terra firme: área que nunca inunda, na qual se encontra vegetação de grande porte, com
árvores chegando aos 60 m de altura, como a castanheiro-do-pará e o cedro. O entrelaçamento das copas das árvores forma um dossel
que dificulta a penetração da luz, propiciando um ambiente não exposto ao sol e úmido no interior da floresta.

31 Em geografia e ecologia, a antropização é a conversão de espaços abertos, paisagens e ambientes naturais pela ação humana.
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REALIDADE BRASILEIRA

Mata Atlântica (floresta pluvial tropical): originalmente cobria Pantanal: estende-se, em território brasileiro, por 140 mil km²
uma área de 1 milhão de km², estendendo-se ao longo do litoral dos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, em planícies
desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul e alargando- sujeitas a inundações. No Pantanal há vegetação rasteira, floresta
-se para o interior em Minas Gerais e São Paulo. É um dos biomas tropical e até mesmo vegetação típica do Cerrado nas regiões de
mais importantes para a preservação da biodiversidade brasileira maior altitude. Por isso caracteriza-se não como uma formação ve-
e mundial, mas é também o mais ameaçado. Restam apenas 7%de getal, mas como um complexo que agrupa várias formações, com
sua área original e, desses remanescentes, quatro quintos estão lo- fauna muito rica. Esse bioma vem sofrendo diversos problemas
calizados em propriedades privadas. As unidades de conservação ambientais, decorrentes principalmente da ocupação em regiões
abrangendo esse bioma constituem apenas 2%. mais altas, onde nasce a maioria dos rios. A agricultura e a pecuária
provocam erosão dos solos, assoreamento e contaminação dos rios
Mata de Araucárias ou Mata dos Pinhais (floresta pluvial por agrotóxicos.
subtropical): nativa do Brasil, é uma floresta na qual predomina a Campos Naturais: formações rasteiras ou herbáceas constituí-
araucária (Araucaria angustifolia), também conhecida como pinhei- das por gramíneas que atingem até 60 cm de altura. Sua origem
ro-do-paraná ou pinheiro brasileiro, espécie adaptada a climas de pode estar associada a solos rasos ou temperaturas baixas em re-
temperaturas moderadas a baixas no inverno, solos férteis e índice giões de altitude elevada, áreas sujeitas à inundação periódica ou
pluviométrico superior a 1000 mm anuais. Nesse bioma é comum a ainda solos arenosos. Os campos mais expressivos do Brasil loca-
ocorrência de erva-mate, além de grande variedade de espécies va- lizam-se no Rio Grande do Sul, na chamada Campanha Gaúcha,
lorizadas pela indústria madeireira, como os ipês. Originariamente, apropriados inicialmente como pastagem natural, atualmente são
essa floresta dominava vastas extensões dos planaltos da região Sul amplamente cultivados tanto dessa forma quanto para a produção
e pontos altos da serra da Mantiqueira nos estados de São Paulo, agrícola mecanizada. Destacam-se, ainda, os campos inundáveis da
Rio de Janeiro e Minas Gerais. Foi desmatada, sobretudo, para a ilha de Marajó (PA) e do Pantanal (MT e MS), utilizados, respectiva-
retirada de madeira utilizada na fabricação de móveis. mente, para criação de gado bubalino e bovino, além de manchas
isoladas na Amazônia, com destaque ao estado de Roraima, e nas
Mata dos Cocais: esta formação vegetal se localiza no estado regiões serranas do Sudeste.
do Maranhão, encravada entre a Floresta Amazônica, o Cerrado e
a Caatinga, caracterizando-se como mata de transição entre forma- Vegetação Litorânea: a restinga e os manguezais são conside-
ções bastante distintas. É constituída por palmeiras, com grande radas formações vegetais litorâneas. A restinga se desenvolve no
predominância do babaçu e ocorrência esporádica de carnaúba; cordão arenoso formado junto à costa, com predominância da ve-
desde o período colonial, a região é explorada economicamente getação rasteira, chamada de pioneira por possibilitar a fixação do
pelo extrativismo de óleo de babaçu e cera de carnaúba. Atualmen- solo e permitir a ocupação posterior de arbustos e algumas árvores.
te, porém, vem sendo desmatada para o cultivo de grãos destina- Os manguezais são nichos ecológicos responsáveis pela reprodução
dos à exportação, com destaque para a soja. de grande número de espécies de peixes, moluscos e crustáceos.
Desenvolvem-se nos estuários, e a vegetação, arbustiva e arbórea,
Caatinga: vegetação xerófila, adaptada ao clima semiárido do é halófila (adaptada ao sal da água do mar), podendo apresentar
Sertão nordestino, na qual predominam arbustos caducifólios e es- raízes que, durante a maré baixa, ficam expostas. As principais
pinhosos; ocorreram também cactáceas, como o xique-xique e o ameaças à preservação dessas formações vegetais são o avanço da
mandacaru. A palavra “caatinga” significa, em tupi-guarani, “mata urbanização, a pesca predatória, a poluição dos estuários e o turis-
branca”, cor predominante da vegetação durante a estação seca. mo desordenado, incentivando a instalação de aterros.
No verão, em razão da ocorrência de chuvas, brotam folhas verdes
e flores. Sua área original era de 740 mil km², mas já teve 50% de Matas de Galeria (Ciliar) e Capão
sua área devastada e menos de 1% faz parte de unidades de con- Podemos encontrar pequenas formações florestais em meio a
servação. outros tipos de vegetação, tai como:
Mata de Galeria ou Mata Ciliar: tipo de formação vegetal que
Cerrado: originalmente cobria cerca de 2 milhões de km² do acompanha o curso de rios do Cerrado, onde é muito frequente,
território brasileiro, mas cerca de 40% de sua área foi desmatada. e da Caatinga. Nas áreas próximas às margens dos rios perenes, o
É constituído por vegetação caducifólia, predominantemente ar- solo é permanentemente úmido, criando condições para o desen-
bustiva, de raízes profundas, galhos retorcidos e casca grossa (que volvimento dessa mata, mais densa do que o bioma onde está en-
dificulta a perda de água). Duas das espécies mais conhecidas são cravada.
o pequizeiro e o buriti. A vegetação próxima ao solo é composta de Capão: em locais que correspondem a pequenas depressões,
gramíneas, que secam no período de estiagem. É uma formação com baixos índices de chuvas, o nível hidrostático (ou lençol freáti-
adaptada ao clima tropical típico, com chuvas abundantes no ve- co) aflora ou chega muito próximo à superfície. Aí se desenvolvem
rão e inverno seco, desenvolvendo-se, sobretudo, no Centro-Oeste os capões, formações arbóreas geralmente arredondadas em meio
brasileiro e em porções significativas do estado de Roraima. Nas re- à vegetação mais rala ou rasteira.
giões Sudeste e Nordeste do país aparecem em manchas isoladas,
cercadas por outro tipo de vegetação. Em regiões mais úmidas, essa
formação se torna mais densa e com árvores maiores, caracterizan-
do o chamado “cerradão”.

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Domínios Morfoclimáticos Durante o período da ditadura militar (1964-1985), foram cria-


dos projetos de ocupação humana e econômica das regiões Nor-
Brasil: Domínios Morfoclimáticos te e Centro-Oeste que provocaram grandes impactos negativos ao
meio ambiente. Esses projetos previam a expansão da agricultura e
a criação de gado em áreas de floresta e a prática de garimpo, mine-
ração e extração de madeira, instituída com a abertura das rodovias
de integração.
Como os impactos, principalmente na Floresta Amazônica,
trouxeram repercussão negativa em escala mundial, em 1974 o
governo brasileiro promoveu mudanças de estratégia, implantan-
do ações de proteção ambiental: combate à erosão, criação das
Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental, metas para o
zoneamento industrial e criação da Secretaria Especial do Meio Am-
biente.
Em 1979, foi criado o Conselho Nacional do Meio Ambiente
(Conama), que instituiu, em 1981, a Política Nacional do Meio Am-
biente (PNMA, Lei nº 6.938). Essa lei promoveu um grande avanço
ao apresentar as bases para a proteção ambiental e conceituar ex-
pressões como “meio ambiente”, “poluidor”, “poluição” e “recursos
naturais”. A PNMA busca a preservação e a recuperação das áreas
ambientalmente degradadas, visando garantir condições de desen-
volvimento social e econômico, e segurança nacional e a proteção
da dignidade da vida humana. A partir de sua publicação se instituiu
que o meio ambiente é um bem público a ser resguardado e prote-
gido, em prol da coletividade.
Em 1986, o Conama publicou uma resolução sobre o tema, em
que se destaca a exigência de elaboração do Estudo de Impacto Am-
biental (EIA), de caráter técnico e detalhista, e do seu respectivo Re-
http://educacao.globo.com/geografia/assunto/geografia-fisica/domi- latório de Impacto Ambiental (Rima), menos detalhado e acessível
nios-morfoclimaticos.html aos que não são especialistas na área. Esses dois documentos são
necessários para o licenciamento e a autorização expedidos pelo
Em 1965, o geógrafo Aziz Ab’Sáber (1924-2012) estabeleceu Ibama para a realização de qualquer obra ou atividade que provo-
uma classificação dos domínios morfoclimáticos brasileiros, na qual que impactos ambientais.
cada domínio corresponde a uma diferente associação das condi- Outro grande destaque na evolução do Direito Ambiental Bra-
ções de relevo, clima e vegetação. Assim, por exemplo, o domínio sileiro foi atingido com a Constituição Federal de 1988, a primeira
equatorial amazônico é formado por terras baixas (relevo), floresta- de nossa história a dedicar um capítulo ao esse tema e a incorporar
das (vegetação) e equatoriais (clima). o conceito de desenvolvimento sustentável. Ela estabelece, no arti-
go 225, que “Todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente
Legislação Ambiental e Unidades de Conservação equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia quali-
dade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever
A expressão “meio ambiente” envolve todas as dimensões que de defende-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
tornam a vida das pessoas mais saudáveis e equilibrada, como a O parágrafo terceiro desse mesmo artigo estipula que: “As condu-
qualidade do ar e o conforto acústico. Essa expressão, portanto, en- tas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão
globa tanto o meio ambiente natural quanto o cultural. aos infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e admi-
A legislação brasileira relativa ao meio ambiente é ampla e nistrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
bem elaborada. Os problemas ambientais que observamos com fre- causados”.
quência, amplamente divulgados pelos meios de comunicação, não A previsão de sanções penais significa a criminalização das ati-
resultam da limitação da legislação, mas da ineficiência de ações vidades prejudiciais ao meio ambiente, o que foi regulamentado
educativas e de fiscalização. somente dez anos depois, em 1998, com a Lei nº 9.605. Conhecida
como a Lei dos Crimes Ambientais, ela define os crimes contra a
Histórico das Leis Ambientais Brasileiras fauna e aflora, além dos relacionados à poluição, ao ordenamento
Ao longo dos períodos colonial e imperial de nossa história, urbano, ao patrimônio cultural e outros. Quem comete agressões
foram elaboradas algumas leis voltadas à proteção do meio am- ambientais como desmatamento, poluição do ar ou de águas, ou
biente, mas elas tinham abrangência restrita, como a proteção ao falsificação de Relatório de Impacto Ambiental, é punido com mul-
pau-brasil e a algumas espécies animais. Já no período republicano, ta, proibição de exercício de certas atividades e até mesmo prisão.
em 1911, foi criada a primeira reserva florestal do país, onde atual-
mente se encontra o estado do Acre; em 1921 foi criado o Serviço Código Florestal
Florestal do Brasil, que hoje é o Instituto do Meio Ambiente e dos O Código Florestal foi criado em 1934 e reformulado duas ve-
Recursos Naturais Renováveis (Ibama); e em 1934 foi aprovada a zes: em 1965 e em 2012 (Lei nº 12.561/12). Neste ano houve mui-
primeira versão do Código Florestal. tos embates entre ambientalistas, que queriam ampliar as áreas de
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preservação e a obrigação de recompor o que foi desmatado irregularmente, e grandes proprietários, que queriam autorização para
ampliar as áreas de agricultura e pecuária sem recompor os biomas. Esta é uma das mais importantes leis ambientais do país e estabelece
a normas de ocupação e uso do solo em todos os biomas brasileiros. Os incisos II e III do artigo 1º, parágrafo 2º, merecem destaque, pois
definem as áreas de preservação e as reservas legais:
Áreas de Preservação Permanente (APPs): só podem ser desmatadas com autorização do Poder Executivo Federal e em caso de uso
para utilidade pública ou interesse social, como a construção de uma rodovia, por exemplo. São a margens de rios, lagos ou nascentes,
várzeas, encostas íngremes, mangues e outros ambientes. A principal função das APPs é preservar a disponibilidade de água, a paisagem,
o solo e a biodiversidade.
Reservas Legais: em cada um dos sete biomas brasileiros, os proprietários de terras são obrigados a preservar uma parte da vegeta-
ção nativa. Na Amazônia, são obrigados a manter 80% da propriedade com floresta nativa, índice que cai para 35% no Cerrado localizado
dentro da Amazônia a 20% em todas as demais regiões e biomas do país. É importante notar que o Código Florestal rege apenas as pro-
priedades que podem ser utilizadas para atividades agrícolas, e não se aplica, portanto, no interior das unidades de conservação, como os
parques e as reservas ecológicas.

As Unidades de Conservação
As unidades de conservação são doze áreas de preservação agrupadas conforme a restrição ao uso. As unidades classificadas como
de restrição total são denominadas Unidades de Proteção Integral, como o Parque Nacional da Serra dos Órgãos, em Teresópolis, Rio de
Janeiro, por exemplo. Aquelas cujo nível de restrição é menor e têm uso voltado ao desenvolvimento cultural, educacional e recreacional
são denominadas Unidades de Uso Sustentável.

Unidades de Conservação conforme a Restrição ao Uso


Unidades de Proteção Integral Unidades de Uso Sustentável
Estação Ecológica Área de Proteção Ambiental
Reserva Biológica Área de Relevante Interesse Ecológico
Parque Nacional Floresta Nacional
Monumento Natural Reserva Extrativista
Refúgio de Vida Silvestre Reserva de Fauna
Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Reserva Particular do Patrimônio Natural

Existem unidades de conservação definidas pela Ibama em todos os biomas brasileiros, inclusive nos biomas marinhos. Há também
unidades de conservação mantidas por estados e até por municípios, criadas por leis estaduais e municipais.
É importante destacar que a criação de leis, decretos e normas voltados à questão ambiental ao longo da história brasileira é conse-
quência do aumento da importância do tema no mundo e no Brasil. Essa evolução deu-se de forma lenta, mas contínua. Esse processo foi
influenciado pelas conquistas obtidas em âmbito internacional nas diversas conferências mundiais voltadas ao meio ambiente, e parte da
sociedade civil brasileira cumpriu um importante papel ao pressionar os governos legisladores em aprovar leis eficazes e incluir o tema na
própria Constituição do país.

Objetivos das Unidades de Conservação


O Código Florestal, como várias outras leis que se seguiram, serviu de base para a criação do Sistema Nacional de Unidades de Con-
servação da Natureza, que têm como propósitos:
Contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais;
Proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional;
Contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais;
Promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais;
Promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento;
Proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica;
Proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural;
Proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;
Recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;
Proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental;
Valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;
Favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico;
Proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e
sua cultura e promovendo-as social e economicamente.

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MATRIZ ENERGÉTICA: FONTES RENOVÁVEIS E NÃO RENOVÁVEIS

As fontes de energia são de grande importância para o desenvolvimento de um país. No Brasil, as principais fontes de energia são a
energia hidrelétrica, petróleo, biocombustíveis e carvão mineral.
• Hidrelétrica: utiliza usinas hidrelétricas para a produção de eletricidade.
• Petróleo: utilizado para produzir combustíveis como a gasolina e óleo diesel e abastecer usinas termelétricas.
• Carvão Mineral: utilizado para produzir energia termelétrica e é a matéria prima para as indústrias siderúrgicas.
• Biocombustíveis: são combustíveis alternativos originados de produtos vegetais e renováveis.

— Fontes de Energia Renováveis e não renováveis


As fontes de energia não renováveis são aquelas que podem se esgotar do planeta, por não terem regeneração. As renováveis podem
se regenerar e portanto, não agridem tanto o meio ambiente.
• Fontes de Energia não Renováveis: petróleo, carvão mineral, energia nuclear e gás natural.
• Fontes de Energia Renováveis: energia solar, energia eólica, biocombustíveis, energia hidráulica e energia geotérmica.

MUDANÇA CLIMÁTICA

Efeito Estufa

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Sempre ouvimos falar que o efeito estufa é o grande vilão do O meio ambiente transforma-se numa questão estratégica
aquecimento global, que não deixa de ser verdade. Mas uma coisa para a vida econômica, social e cultural, e o desenvolvimento tem
precisa ficar clara: é graças a ele que existe vida em nosso planeta. de ser sustentável, ou seja, deve incluir em seus pressupostos a ma-
O efeito estufa é um fenômeno natural que faz com que a tempe- nutenção de recursos naturais e o bem-estar dos cidadãos.
ratura média do globo se conserve nos limites necessários para a No início dos anos 90, durante a Conferência Eco 92, realizada
manutenção da vida, em torno de 14,5 graus Celsius. no Rio de Janeiro, os temas da sustentabilidade e da preservação
Ele ocorre em razão da existência de gases, como o carbono, ambiental ganharam mais força e o reconhecimento de diversos
que estão naturalmente na atmosfera e impedem a dissipação para países. Em 2012, vários líderes mundiais voltaram a se reunir na
o espaço de parte da radiação vinda do Sol, que é absorvida e re- Rio+ 20, com o objetivo de fazer um balanço do que foi feito e dis-
fletida pela Terra32 cutir novas formas de equilibrar as atividades econômicas com a
O problema é que, por causa da ação do homem, esse bené- preservação do meio ambiente.
fico “cobertor” atmosférico está se transformando num forno. O Para boa parte dos governos do mundo e dos cientistas reu-
intenso uso de combustíveis fósseis, especialmente carvão e petró- nidos por eles, organizados no Painel Intergovernamental sobre
leo, e a utilização predatória da terra (desmatamento, queimadas, Mudanças Climáticas (IPCC), o clima da Terra está passando por
depósitos de lixo) liberam na atmosfera uma imensa quantidade de um aquecimento global, que estaria sendo provocado pela ação
gases que retêm calor, como dióxido de carbono, metano e óxidos humana, com a liberação de poluentes na atmosfera que acen-
de nitrogênio, intensificando o efeito estufa. tuam o efeito estufa. Também estava na pauta a preservação da
O IPCC defende a tese de que essas atividades teriam causado biodiversidade do planeta, que implica equilíbrio e estabilidade de
um aumento de 0,7 grau no século XX. ecossistemas e seu aproveitamento pela humanidade de forma a
preservá-las.
Aumento das emissões O uso descontrolado de matérias-primas, o crescimento caóti-
Desde a Revolução Industrial, há mais de 200 anos, nossas co das cidades e o desmatamento são temas que integraram toda
atividades econômicas são baseadas na queima de combustíveis essa discussão.
fósseis. A energia que consumimos para gerar eletricidade e aque- Mais difícil do que apontar os erros em relação à forma de tra-
cimento, para nos locomovermos em viagens de carro, avião ou na- tar o meio ambiente era achar soluções possíveis dentro de realida-
vios e para mover a atividade manufatureira contribui com cerca de des tão diversas. Na hora de aplicar medidas concretas, esbarra-se
metade das emissões dos gases de efeito estufa. em diferentes interesses de cada país ou grupo social, e a grande
Outras atividades, como a agricultura, a derrubada de flores- questão de quem arca com o ônus das políticas de preservação.
tas e a manutenção de aterros sanitários, também despejam no ar No plano mundial, os países mais desenvolvidos alegavam que
enorme quantidade de gás carbônico, metano e óxido nitroso. a crise econômica impedia a implementação de medidas em larga
Todas essas atividades são realizadas mais intensamente nos escala, pois afetariam ainda mais sua economia, já fragilizada. Por
países desenvolvidos. Estados Unidos, Japão e muitas nações eu- sua vez, as nações em desenvolvimento, que apresentavam cresci-
ropeias apresentam elevada produção de gases estufa per capita, mento, não queriam prejudicar sua economia, em expansão.
principalmente por causa do uso de automóveis e da elevada in-
dustrialização. Contudo, países em desenvolvimento, como China Como tudo começou
e Brasil, vêm aumentando significativamente as emissões desses Há quatro décadas discutem-se as questões ambientais em
gases nos últimos anos. âmbito global. Em 1972, na Conferência Mundial de Estocolmo,
Os chineses já ultrapassaram os norte-americanos como os abordou-se pela primeira vez a produção (principalmente indus-
maiores poluidores do planeta, sendo responsáveis por um quarto trial) dos países ricos como causa importante da degradação da na-
das emissões mundiais. No Brasil, 61% das emissões de gases-estu- tureza. Essa perspectiva marcou uma nova etapa da preocupação
fa estão ligadas ao desmatamento. ambiental.
Depois, em 1987, o Relatório Nosso Futuro Comum, da Co-
Em busca de uma economia verde missão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento, retomou a
Apesar de parecer um palavrão, a sustentabilidade está pre- questão, lançando o conceito de desenvolvimento sustentável, cuja
sente no cotidiano de todos nós. Separar o lixo em casa, economi- proposta visava a compatibilizar o crescimento econômico com o
zar água, desligar as luzes quando desnecessário, não jogar lixo no equilíbrio ambiental, de maneira a garantir a satisfação das neces-
chão, escolher eletrodomésticos que economizem energia, cuidar sidades das gerações presentes e futuras.
de plantas e animais. Essas ações nos parecem muitas vezes natu- Outro marco foi a Eco 92, a conferência mundial sobre meio
rais, mas nem sempre foi assim. ambiente realizada no Rio de Janeiro, em 1992. O encontro apro-
Faz apenas algumas décadas que os primeiros ambientalistas, vou o documento Convenção sobre a Mudança do Clima, que trata
cientistas e pesquisadores passaram a defender a preservação dos do aquecimento global, e a Convenção sobre a Diversidade Biológi-
mananciais e dos biomas, a redução no consumo de energia, a de- ca, que trata da preservação dos ecossistemas e hábitats.
posição adequada do lixo e a reciclagem de materiais. O documento mais abrangente elaborado pelo encontro foi a
A diferença, agora, é que essa visão ambientalista contamina a Agenda 21, um plano que estabelece estratégias globais, nacionais
economia globalizada, levando empresas e governos a reconsiderar e locais para promover o desenvolvimento sustentável no mundo.
seu modelo econômico. Isso faz com que sejam promovidas cam- A Agenda 21 traduz os compromissos com o desenvolvimento
panhas de conscientização que atingem largamente a população. sustentável em 27 princípios, calcados em três premissas:
→ os países desenvolvidos devem mudar seu padrão de produ-
ção e consumo e, portanto, seu modelo econômico;
32 http://www.mundoedu.com.br/uploads/pdf/554aaa4b0e16e.pdf
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→ os países em desenvolvimento devem manter as metas de Também foi aprovada a criação do mecanismo de Redução
crescimento, mas adotar métodos e sistemas de produção susten- de Emissões e Degradação Florestal (Redd, sigla em inglês), que
táveis; permitirá a países como o Brasil receber compensações financeiras
→ as nações desenvolvidas devem apoiar o crescimento das para preservar suas florestas.
mais pobres, com recursos financeiros, transferência de tecnologia A primeira etapa do Protocolo de Kyoto venceu em 2012 sem
e reformas nas relações comerciais e financeiras internacionais. alcançar seus objetivos. Ainda se tentava chegar a uma nova fase
do acordo, na COP-17, realizada em Durban, na África do Sul, em
A partir de então, cada país signatário é considerado parte des- dezembro de 2011. Apesar da recusa das nações desenvolvidas em
sa convenção e indica representantes para as discussões, realizadas assinar qualquer compromisso, chegou-se a um consenso: o prazo
uma vez por ano, numa Conferência Geral das Partes (cuja sigla é de validade da primeira etapa do protocolo teve seu final prorroga-
COP). do por mais cinco anos, até 2017.
Amais importante delas, até hoje, foi a terceira conferência (a Com esse acordo, as nações assinaram um documento que de-
COP-3), que ocorreu em 1977, em Kyoto, no Japão. Criado no en- via servir de base para um futuro novo protocolo. Esse documen-
contro, o Protocolo de Kyoto é um importante documento por ter to-base, chamado Plataforma Durban, fixou uma agenda que cul-
sido o primeiro acordo oficial com metas e prazos para reduzir as minou na criação, em 2015, de um novo acordo, que obriga todas
emissões de gases do efeito estufa. as nações, e não apenas aquelas listadas no Protocolo de Kyoto, a
O documento estabeleceu diferenças entre os países ricos, que cumprir metas de redução nas emissões a partir de 2020.
tinham metas percentuais de redução por ser os principais respon- Na prática, a plataforma foi só uma promessa. Mas, no mundo
sáveis pelos gases emitidos nos últimos dois séculos, e aqueles em das políticas globais, significou um avanço na luta contra as mudan-
desenvolvimento e industrialização recentes, entre os quais Brasil, ças climáticas, ainda mais levando em conta que os dois maiores
China e Índia, que se comprometiam a adotar medidas sem metas poluidores do mundo, China e Estados Unidos, concordaram em
pré-estabelecidas. integrar esse pré-acordo.
O protocolo, porém, demorou para entrar em vigor, pois de- Aqui no Brasil, a lei que institui a Política Nacional de Mudan-
veria ter a adesão de um número de países que representasse pelo ças Climáticas, sancionada pelo então presidente da época, Lula, no
menos 55% das emissões globais (relativas a 1990). Isso só aconte- início de 2010, estabeleceu a meta brasileira de redução nas emis-
ceu em 2005, quando superou esse patamar com a adesão da Rús- sões de CO² entre 36% e 39% até 2020, usando como parâmetro as
sia, valendo a princípio para o período de 2008 até o fim de 2012. emissões projetadas para esse período se nada fosse feito.
No entanto, qualquer redução significativa continuou depen- Como o desmatamento é responsável por cerca de 75% das
dendo dos grandes emissores, e nem todos ratificaram o acordo. emissões brasileiras, essa meta implicava diminuir o índice do país.
A principal ausência foi dos Estados Unidos, que se recusam a assi-
nar o protocolo se não houver metas de redução obrigatórias para Ao organizar a Rio+20, a intenção das Nações Unidas era deba-
todos os países em desenvolvimento. Eles alegaram, ainda, que a ter também como a crise econômica mundial poderia ser uma boa
economia do país seria bastante afetada. oportunidade para rever o modelo econômico atual. As mudanças
Mais tarde, com a não participação norte-americana, outras propostas deveriam se apoiar sobre três pilares: sociedade, econo-
nações também abandonaram os compromissos firmados no pro- mia e meio ambiente.
tocolo. Assim, à lista de questões ambientais, a ONU acrescentou o
Os governos de Canadá, Japão, Austrália e Rússia passaram a combate à pobreza e à fome e a crise econômica mundial. Por isso,
fazer coro com os Estados Unidos na reclamação contra as econo- o documento final da conferência abordava formas de promover
mias emergentes, que passaram a ter grande peso no balanço de uma “economia verde”, que não prejudicasse o meio ambiente,
emissões. promovendo a eficiência no uso dos recursos naturais e, ao mesmo
Países como China, Índia e Brasil não são considerados ricos e, tempo, promovendo a erradicação da pobreza e da fome.
portanto, não têm metas obrigatórias. No entanto, o crescimento Há quem critique o documento por apresentar uma pauta am-
econômico dessas nações nos últimos anos, principalmente das su- pla demais, que pode não resultar em avanços concretos. Segundo
perpopulosas China e Índia, aumentou muito a emissão de carbono os críticos, seria melhor tratar apenas das questões do meio am-
global, sem que eles tenham que cumprir metas. biente, que já são suficientemente complexas.
Para evitar que a questão se mantenha no terreno do debate
Novas perspectivas teórico, seria preciso estabelecer metas específicas para cada ação,
Havia expectativa de que um novo acordo fosse acertado na com valores claros a ser alcançados dentro de prazos determina-
COP-15, que aconteceu em 2009, em Copenhague (Dinamarca), dos.
mas ela fracassou. Na conferência seguinte, a COP-16, realizada em Mas as propostas das conferências exigem políticas de governo
2010, em Cancún (México), os participantes priorizaram a regula- para que saiam do papel e sejam postas em prática, o que não é
mentação de medidas já discutidas para enfrentar ou amenizar as tarefa fácil. Esse desafio é o que chamamos de Governança Glo-
consequências do aquecimento global. bal, ou seja, como os países se organizarão, em termos de metas,
A principal delas foi a criação de um Fundo Verde, no qual os acordos, protocolos e instituições, para colocar a economia verde
países ricos se comprometeram a depositar 30 bilhões de dólares, em prática.
até o fim de 2012, para ajudar os países pobres a adotar medidas
na área ambiental.

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REALIDADE BRASILEIRA

As nações desenvolvidas deixaram a desejar quanto a promover a igualdade de oportunidades. A transferência de tecnologia ficou
aquém do esperado. A ajuda financeira prometida às nações pobres pelos 22 países mais ricos do planeta também está longe de atingir o
compromisso assumido, em parte devido à crise econômica global.

Camada de Ozônio

Diversas mudanças climáticas bruscas já ocorreram no mundo, como as ondas de calor nos anos 1980, considerada a década mais
quente do século XX. Embora as ondas de calor possam estar relacionadas a processos naturais, não há dúvida de que os gases produzidos
pela atividade humana e lançados na atmosfera contribuem para o aumento da temperatura média da Terra.
O gás ozônio, presente naturalmente na estratosfera, desempenha uma função de extrema importância: ele filtra cerca de 70% a 90%
dos raios ultravioletas emitidos pelo Sol.
Não fosse a presença da camada de ozônio, os raios ultravioletas atingiriam diretamente a Terra e, em consequência, teríamos uma
elevação de temperatura tão violenta que destruiria qualquer forma de vida aqui existente.
No entanto, é preciso lembrar que, no nível do solo, o ozônio é uma forma perigosa de poluição, exercendo ação tóxica sobre vegetais
e seres humanos.

Atualmente, muito se discute o problema da destruição da camada de ozônio. A diminuição desta camada ameaça a saúde humana,
podendo provocar doenças, como câncer de pele, queimaduras, envelhecimento precoce, catarata ocular e imunodeficiência. Mas ela
também afeta a flora e a fauna, além de influir no clima do planeta.
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REALIDADE BRASILEIRA

Desde 1974, estudos associam a destruição do ozônio estratosférico ao maciço e descontrolado uso dos CFCs, um grupo de gases
utilizados principalmente nos sistemas de refrigeração e na produção de aerossóis (sprays), solventes, isopor etc.
Uma vez presentes na atmosfera e submetidos a reações químicas (liberação de íons de cloreto na estratosfera) e a reações com
outros gases, os CFCs - compostos de cloro (Cl), adquirem a propriedade de destruir o ozônio.
Estudos recentes comprovaram uma diminuição de 3% a 4% da camada de ozônio na Antártida, originando o chamado buraco na
camada de ozônio. A quase totalidade dos CFCs presentes na atmosfera dessa região provém dos países industrializados e é transportada
pela circulação atmosférica (massas de ar).
Em 1987, no Protocolo de Montreal (Canadá), 24 países desenvolvidos assinaram um compromisso de redução da produção de CFC,
substituindo-o por gases menos nocivos. De fato, o uso desses gases tem se reduzido e o buraco na camada de ozônio pode diminuir ou
mesmo desaparecer se forem mantidas as providências estabelecidas também em outras convenções mundiais (Estocolmo, na Suécia,
1972; Rio de Janeiro, 1992; Kyoto, no Japão, 1997 etc.).
O buraco na camada de ozônio é detectável por meio de imagens de satélites, como podemos observar na figura.

Imagem de setembro de 2004, feita por satélite de monitoramento da NASA que mostra o buraco na camada de ozônio sobre a Antártida. Este
buraco é consequência da emissão de gases ao longo de anos, em todo o planeta.

Chuva Ácida

Trata-se de chuva, neve ou neblina com alta concentração de ácidos em sua composição. Com a denominação genérica de chuva
ácida, sua origem são os óxidos de nitrogênio (NOx) e o dióxido de enxofre (SO²) liberados na atmosfera pela queima de combustíveis
fósseis (principalmente o carvão mineral).
Esses compostos reagem com o vapor de água presente na atmosfera, formando o ácido nítrico (HNO³) e o ácido sulfúrico (H²SO4),
que, mais tarde, se precipitam e alteram as características do solo e da água, prejudicando lavouras, florestas e a vida aquática. Também
danificam edifícios e monumentos históricos.

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Inversão Térmica

Os grandes centros urbanos, principalmente os localizados em áreas de serras ou montanhas são as regiões comumente mais afeta-
das pela inversão térmica. Essa inversão acontece quando o ar frio e mais denso não consegue circular por uma camada de ar mais quente
e menos densa. Sem essa circulação ocorrem alterações significativas na temperatura do local33.
Um dos agravantes dessa situação é que com a impossibilidade de circulação, o ar mais denso (frio) fica retido nas regiões mais pró-
ximas da superfície retendo junto a ele uma grande quantidade de gases poluentes. Essa camada de ar denso é facilmente verificada ao
apresentar uma cor acinzentada decorrente da alta concentração de gases emitidos pelas indústrias e pelos automóveis, principalmente.

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

Você sabe o que é a “transição energética”? Essa palavra está cada vez mais em evidência com a mudança climática em todo o mundo.
A necessidade de ações mais focadas na redução de emissão de gases do efeito estufa (GEE), como na utilização de geração energia com
fontes renováveis, é essencial para o planeta.

Desde os primórdios da civilização humana passamos por algum tipo de transição energética. Seja ela humana, animal ou até mesmo
aquela vinda da queima dos combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão. A evolução de uma comunidade ou região pode ser anali-
sada com base na forma de controlar e consumir energia.

33 https://querobolsa.com.br/enem/biologia/problemas-ambientais
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Atualmente, quando falamos de transição energética, estamos destacando a mudança de uma fonte de energia para outra de forma
mais sustentável, ou seja, uma matriz que reduza as emissões de gases de efeito estufa.

Além disso, a transição energética tem sido apontada como um dos grandes pilares para o crescimento econômico e social dos países,
de forma justa e inclusiva.

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Transição energética consiste em passar de uma matriz de fonte de energia que utiliza combustíveis fósseis, como Petróleo, gás natu-
ral e carvão, que são grandes emissores de Carbono (CO2) na atmosfera, para fontes renováveis, como sol, água, vento e biomassa, que
emitem menos gases de efeito estufa.

O Ministério de Minas Energia (MME) é um dos protagonistas mundiais deste tema e é o principal responsável pela Política Nacional
de Transição Energética, que poderá levar o Brasil para outro nível mundial em fontes renováveis de energia. Hoje, o país já utiliza 48% de
energia renovável, acima da média mundial que é de 15%. Contudo, ainda tem grande potencial de recursos hídricos, solar e eólico para
ser explorado de forma estável e eficiente para o sistema.

A transição energética é um conjunto de políticas fundamentais para o setor energético e para o desenvolvimento socioeconômico do
país. O grande desafio é conciliar geração de emprego, renda, inclusão social, combate às desigualdades, melhoria da qualidade de vida
do brasileiro, reindustrialização, preservação da biodiversidade e da qualidade ambiental, entre outros.

INDÚSTRIA E TRANSPORTE

Os setores da indústria e de transportes tiveram um papel importante na trajetória dos últimos 50 anos no consumo de energia no
Brasil. Cerca de dois terços de toda energia consumida pelo brasileiro *se deu* nesses segmentos.

Na questão do consumo, 18% da energia foi na forma de eletricidade e 82% a partir da queima de combustíveis, sejam em biocom-
bustíveis ou combustíveis fósseis.

Portanto, a política de transição no Brasil busca a eletricidade renovável e ampliar essa participação para ajudar os setores industriais
e de transportes a reduzir a pegada de carbono. Além de serem competitivos, ao mesmo tempo em que também usa os combustíveis de
Baixo Carbono para cobrir o restante dessa oferta.

Fonte: https://www.gov.br/mme/pt-br/assuntos/noticias/transicao-energetica-a-mudanca-de-energia-que-o-planeta-precisa

POPULAÇÃO: ESTRUTURA, COMPOSIÇÃO E DINÂMICA.

O crescimento da população brasileira, nas últimas décadas, está ligado principalmente ao crescimento vegetativo (ou natural). A
queda nesse crescimento apresenta outras justificativas que merecem atenção.
• Maior custo para criar filhos;
• Acesso a métodos anticoncepcionais;
• Trabalho feminino extradomiciliar;
• Acesso a tratamento médico;
• Saneamento básico.

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Para conhecer a população de um país, devemos, primeiramente, definir dois conceitos demográficos básicos:
– População absoluta: corresponde ao número total de pessoas de uma área. No Brasil, por exemplo, a população absoluta era de
190.755.799 pessoas, pelo censo de 2010.
– População relativa: é também chamada de densidade demográfica e é dada pelo número de habitantes por quilômetro quadrado
de uma determinada região.
O declínio da mortalidade deve-se, em grande parte, à diminuição da mortalidade infantil, isto é, dos óbitos de crianças com menos de
um ano de idade. Em 1970, a taxa era de cem mortes em cada mil nascimentos vivos; em 1980, caiu para setenta por mil; em 1991, para
45 por mil; e no ano de 2000, para 35 por mil.
Em relação aos países desenvolvidos, este índice ainda é elevado. Por isso, programas de combate à mortalidade vêm sendo imple-
mentados tanto pelo governo quanto por entidades privadas
A taxa de mortalidade infantil no Brasil está baixando, conforme indicadores. A queda da mortalidade infantil indica aumento no per-
centual de adultos e melhorias na expectativa de vida, que em 1950 era de mais ou menos 46 anos e, em 2018, chegou a 76 anos (IBGE).

Migrações populacionais
As migrações populacionais remontam aos tempos pré-históricos. O homem parece estar constantemente à procura de novos ho-
rizontes. As razões que justificam as migrações são inúmeras (político-ideológicas, étnico-raciais, profissionais, econômicas, catástrofes
naturais, entre outras), ainda que as razões econômicas sejam predominantes.
A grande maioria das pessoas migra em busca de melhores condições de vida. Todo ato migratório apresenta causas repulsivas (o
indivíduo é forçado a migrar) e/ou atrativas (o indivíduo é atraído por determinado lugar ou país).
Considera-se emigração como a saída de uma área para outra; imigração é a entrada de pessoas em uma área. As migrações podem
ser internas, quando ocorrem dentro do país, e externas, quando ocorrem de um país para outro. Ainda podem ser permanentes ou tem-
porárias.

Movimentos migratórios no Brasil

Externos
Até 1934, foi liberada a entrada de estrangeiros no Brasil. A partir dessa data, ficou estabelecido que só poderiam imigrar 2% de cada
nacionalidade dos estrangeiros que haviam migrado entre 1884 e 1934.
Os fatores que mais favoreceram a entrada de imigrantes no Brasil foram:
– A dificuldade de encontrar escravos após a extinção do tráfico, depois de 1850;
– O ciclo do café, que exigia mão de obra numerosa;
– Abundância de terras.

Para a maior parte dos imigrantes, a adaptação foi muito difícil, pois além das diferenças climáticas, da língua e dos costumes, não
havia no país uma política firme que assegurasse garantias as pessoas que aqui chegavam. As regiões sul e sudeste foram as que receberam
maior contingente de imigrantes, principalmente por causa do ciclo do café e povoamento da região sul.

Internos
Em nossa história, os principais movimentos migratórios foram:
– Migração de nordestinos da Zona da Mata para o sertão, séculos XVI e XVII (gado);
– Migração de nordestinos e paulistas para Minas Gerais, século XVII (ouro);
– Migração de mineiros para São Paulo, século XIX (café);
– Migração de nordestinos para a Amazônia, devido ao ciclo da borracha;
– Migração de nordestinos para Goiás, na década de 1950 (construção de Brasília);
– Migrações de paulistas para Rondônia e Mato Grosso, na década de 1970.

Fonte: www.sogeografia.com.br

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Os movimentos migratórios mais intensos nas décadas de 1980 e 1990 foram nas regiões:
– Centro-oeste: Brasília e arredores; áreas do interior do MT, MS e GO, onde ocorre a expansão da pecuária e da agricultura comercial.
– Norte: zonas de extrativismo mineral em RO, AP e PA; zonas madeireiras no PA e AM; áreas agrícolas em RO e AC.
– Sudeste: migrações das capitais para o interior dos estados de SP, RJ e MG.
– Sul: até o final da década de 1980, os movimentos emigratórios para o centro-Oeste e norte foram muito significativos. Na década
de 1990, houve forte migração intraestadual, principalmente das metrópoles para o interior.
– Nordeste: tradicionalmente, o Nordeste era uma área de evasão populacional, principalmente do sertão para a Zona da Mata ou
outras regiões do país, como sudeste e centro-oeste. Atualmente, há uma atração devido os incentivos fiscais dos estados às empresas
de fora, mão de obra barata e turismo.

Estrutura etária da população brasileira


Avalia-se a estrutura da população através da sua distribuição etária, condição socioeconômica e sua posição no IDH (Índice de Desen-
volvimento Humano). Em relação aos critérios de avaliação dos países, desde 1950 até o final da década de 1980, a classificação comum
era aquela que enquadrava os países da seguinte forma:

1º mundo: países capitalistas desenvolvidos;


2º mundo: países socialistas de economia planificada;
3º mundo: países subdesenvolvidos.
Acontecimentos na geopolítica internacional, como a queda do Muro de Berlim, fim da Guerra Fria, ressurgimento da Europa como
potência econômica e o fim da experiência socialista soviética, marcam uma nova disposição da ordem mundial, em que se menciona o
mundo multipolar e a globalização da economia.
A partir daí, tornou-se necessário um novo entendimento para classificar os países. A ONU passou a utilizar o IDH (Índice de Desenvol-
vimento Humano), que tem por objetivo avaliar a qualidade de vida através de alguns critérios:
– Expectativa de vida;
– Renda per capita;
– Grau de instrução.
O IDH avalia e aplica uma nota que varia de 0 a 1. Quanto mais próximo do 1, melhor o IDH de uma país, ou de uma região. Veremos
mais informações sobre o IDH nos próximos tópicos.

Essa organização é apresentada em gráficos cartesianos, em que na abscissa (horizontal) são colocadas as populações por milhões,
divididas em homens e mulheres, cada qual ficando de um lado da ordenada (vertical), onde é colocada uma tabela de idades, dividida em
faixas de 5 em 5 ou de 10 em 10 anos. Esses gráficos cartesianos são chamados de pirâmides etárias. Normalmente, as faixas resultantes
são divididas em três partes ou faixas etárias:
– População jovem: 0 a 19 anos.
– População adulta: de 20 a 59 anos.
– População idosa: acima de 60 anos.
A pirâmide etária do Brasil tem sua base larga e vai estreitando-se até atingir o topo. Isso significa que o número de idosos é relativa-
mente pequeno. O gráfico do Brasil demonstra que, mesmo com todo o crescimento, continuamos a ser um país jovem, pois no caso dos
países mais desenvolvidos, a base da pirâmide costuma ser menos larga e o topo mais amplo.

Fonte: IBGE
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Fonte: IBGE

PEA (População Economicamente Ativa)


É a população que exerce atividade remunerada nas formas da lei. Nos países desenvolvidos, os ativos são predominantemente a
população adulta, enquanto nos subdesenvolvidos tanto os jovens quanto os idosos trabalham juntamente com os adultos.

DESENVOLVIMENTO URBANO BRASILEIRO: REDES URBANAS; METROPOLIZAÇÃO; CRESCIMENTO DAS CIDADES E PROBLE-
MAS URBANOS

— Definição e função

Cidade
Area industrializada e povoada com zonas residenciais e comerciais. A cidade é uma zona urbana, o contrário de zona rural, ou seja, é
a parte do município em que há uma grande concentração de pessoas e estruturas industriais.
As zonas rurais, também denominadas de campo, são partes de um município em que são utilizadas para atividades da agricultura e
agropecuária, onde há pouquíssima industrialização, e são áreas que abrigam paisagens naturais.
As zonas urbanas e rurais coexistem, são dependentes umas das outras, pois a zona urbana utiliza produtos produzidos nas zonas
rurais e as zonas rurais comercializam com as zonas urbanas.

— Industrialização e Urbanização
Os processos de industrialização e urbanização são interligados, desde a revolução industrial as cidades começaram a se desenvolver
de forma que o movimento de pessoas aumentou e consequentemente, a urbanização se desenvolveu. Quanto maior o número de pes-
soas, mais consumiam e produziam, movimentando assim, a indústria e ocasionando também deu rápido desenvolvimento.
O crescimento da Indústria em todos os países do mundo, mas principalmente na Inglaterra, proporcionou diversas transformações
no espaço geográfico. Além de um maior movimento de pessoas, estruturas relacionadas ao transporte, como trens, metrô, veículos em
geral, ruas asfaltadas, grandes centros comerciais, entre outros, foram criadas e desenvolvidas. Isso, mas principalmente o fator de em-
pregos na área industrial, acabou causando o êxodo rural, que é quando as pessoas que residem nas zonas rurais se mudam para a zona
urbana a fim de encontrar empregos e condições melhores de vida, o que ocorreu bastante no processo da revolução Industrial.

— Urbanização Brasileira e Regiões Metropolitanas


A urbanização brasileira iniciou-se no século XX, com o desenvolvimento da indústria o êxodo rural começou a acontecer, em meados
de 1950, e portanto, a urbanização a se desenvolver principalmente no Sudeste do país. Algo que influenciou bastante esse desenvolvi-
mento foi a política de desenvolvimento dos governos Getúlio Vargas e Juscelino Kubistchek que prometiam “50 anos em 5”. Nos anos 60,
a urbanização começa a se desenvolver no centro-oeste do país. Hoje, mais de 70% da população do Brasil reside em áreas urbanas, por-
tanto as regiões diferem bastante em relação a infraestruturas. As regiões do Sudeste e do Sul são mais desenvolvidas, enquanto o Nordes-
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te ainda tem uma grande carência. Assim, a urbanização junto da transformações que ocorrem no espaço geográfico em decorrência
industrialização causou buracos na sociedade, como a desigualdade das relações sociais, econômicas, políticas, culturais e ambientais
social e falta de oportunidades para as pessoas. que nele se desenvolvem.
As dinâmicas socioespaciais nas cidades envolvem diversos as-
— A Questão Agrária e Conflitos no Campo no Brasil pectos, como:
A questão agrária diz respeito a conflitos que ocorrem no meio – Aspectos econômicos: referem-se às atividades produtivas
rural, nos meios de produção agrícolas e a relação entre o capita- que se realizam nas cidades, como indústria, comércio, serviços
lismo e o trabalho rural. Com a modernização deste espaço rural, e finanças. Essas atividades geram empregos, renda, impostos e
problemas como a desigualdade, concentração de terras e êxodo desenvolvimento para as cidades, mas também podem provocar
rural acabaram se intensificando. A urbanização causou um aumen- desigualdades sociais, concentração de riquezas e dependência ex-
to na demanda de produtos agrícolas, e como consequência, meios terna.
de acelerar essa produção, como o uso de agrotóxicos. Isso diminui – Aspectos políticos: referem-se às formas de organização e
o preço dos produtos enquanto produtos industrializados tem seu gestão das cidades, como os poderes públicos, os partidos políticos,
preço elevado. os movimentos sociais e as instituições participativas. Esses atores
influenciam nas decisões sobre o planejamento urbano, as políticas
— Rede e Hierarquia Urbana Brasileira públicas, a distribuição de recursos e a garantia de direitos para os
Hierarquia Urbana é a organização de cidades em níveis hie- cidadãos urbanos.
rárquicos de subordinação, ou seja, cidades médias têm influência – Aspectos culturais: referem-se às manifestações artísticas,
sobre as menores. Dizemos maior em relação a produtividade, bens religiosas, linguísticas, gastronômicas e outras que expressam a di-
e serviços oferecidos, e não em relação a seu tamanho físico. A hie- versidade e a identidade dos grupos sociais que vivem nas cidades.
rarquia também integra as cidades em uma rede urbana, uma rede Essas manifestações contribuem para a valorização da cultura urba-
que as conecta econômica, social e culturalmente. Pode ser cate- na, mas também podem gerar conflitos, preconceitos e exclusões.
gorizada em: – Aspectos ambientais: referem-se às condições naturais e an-
• Metrópole: cidade de grande porte que exerce influência so- trópicas que afetam a qualidade de vida nas cidades, como o clima,
bre outras cidades. Uma metrópole pode ser nacional (grande cen- a vegetação, a poluição, o saneamento básico e o uso do solo. Essas
tro urbano) ou regional (uma cidade em que habitam mais de um condições podem gerar benefícios ou problemas para os habitantes
milhão de habitantes e exerce influência em todo o estado). urbanos, como conforto térmico, áreas verdes, enchentes, ilhas de
• Centros Regionais: cidades de médio porte, exercem influên- calor e deslizamentos.
cia na região e produzem bens para outras cidades. As dinâmicas socioespaciais nas cidades também estão rela-
• Cidade local: cidades de porte pequeno que dependem de cionadas aos riscos e desastres urbanos, que são eventos adversos
cidades maiores. que podem causar danos materiais e humanos nas áreas urbanas.
• Vilas: pequena concentração urbana que não atinge critérios Esses eventos podem ser de origem natural ou antrópica (causados
para se considerar uma cidade, e depende muito das grandes me- ou agravados pela ação humana), como terremotos, furacões, in-
trópoles. cêndios, explosões e acidentes. Os riscos e desastres urbanos estão
associados à vulnerabilidade social e ambiental das populações ur-
— Concentração e Desconcentração das Indústrias no Brasil banas, especialmente as mais pobres e marginalizadas.
Concentração e Desconcentração Industrial é o processo de As políticas públicas de planejamento urbano são instrumentos
migração das indústrias dentro de um certo país. No Brasil, a indus- que visam ordenar o espaço urbano e promover o desenvolvimento
trialização ocorreu tarde, mas não demorou muito para se solidifi- sustentável das cidades. Elas envolvem a elaboração de planos dire-
car, nos anos 70, a região do Sudeste já estava bem industrializada tores, leis de uso do solo, zoneamentos ambientais e outras normas
e com boa infraestrutura urbana. Há muito tempo, o Sudeste lidera que regulam as atividades urbanas. Elas também envolvem a imple-
o processo industrial no Brasil, porém atualmente tem acontecido mentação de obras e serviços públicos que atendam às demandas
uma mudança nessa concentração, a partir de planejamentos go- da população urbana em áreas como habitação, transporte, saúde,
vernamentais de democratizar a indústria pelas regiões do país. São educação e lazer.
Paulo continua sendo o estado de maior concentração industrial,
porém o desenvolvimento desse setor nas outras regiões tem cres-
cido e possivelmente causará em breve uma desconcentração das DESENVOLVIMENTO RURAL BRASILEIRO: ESTRUTURA E
Indústrias no Brasil. CONCENTRAÇÃO FUNDIÁRIA; SISTEMAS PRODUTIVOS E
RELAÇÃO DE TRABALHO NO CAMPO

INFRAESTRUTURA URBANA E SEGREGAÇÃO SOCIOESPA-


CIAL O Brasil, com sua extensa área territorial e vasta diversidade
de biomas, é uma potência agrícola global. O desenvolvimento do
setor agrícola não foi apenas resultado de seus recursos naturais,
A urbanização é o processo de crescimento das cidades em mas também de práticas, inovações e esforços para transferir co-
população e extensão territorial, que ocorre principalmente pela nhecimentos técnicos aos agricultores. Nesse cenário, a extensão
migração do campo para a cidade, chamada de êxodo rural. A ur- rural se consolidou como uma ponte entre a pesquisa agropecuária
banização está relacionada às dinâmicas socioespaciais, que são as e o campo, desempenhando um papel central na modernização da
agricultura brasileira.

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A agricultura brasileira, desde o período colonial, foi marcada Desafios e limitações


por distintas formas produtivas, desde latifúndios monocultores até Apesar de haver uma crescente percepção da importância da
pequenas propriedades familiares. Porém, a falta de acesso à infor- extensão rural neste período, o Brasil enfrentou desafios. A vasti-
mação e tecnologia foi por muito tempo um limitador do desenvol- dão territorial, as diferenças regionais, a variedade de cultivos e a
vimento agrícola, principalmente para pequenos e médios produ- falta de infraestrutura (como estradas e meios de comunicação efi-
tores. Nesse contexto, a extensão rural surgiu como um mecanismo cientes) tornaram a implementação de programas de extensão uma
para diminuir essa lacuna, propondo uma relação mais próxima e tarefa complexa. Além disso, havia resistência cultural e desconfian-
direta com o homem do campo, visando sua capacitação e empo- ça por parte de muitos agricultores em relação a novas técnicas e
deramento. práticas.
Apesar de ser reconhecido primordialmente por sua impor- A fase inicial da extensão rural no Brasil, até a década de 1940,
tância política e administrativa como sede do governo federal, o foi marcada por tentativas, aprendizados e adaptações. Embora
Distrito Federal tem uma relevante parcela rural, que abriga desde fosse um período de estruturação e consolidação da ideia de ex-
produções familiares até experimentações agrícolas. Estas áreas tensão, as sementes plantadas nessa época forneceram a base para
rurais, por estarem próximas ao centro político, acabam por vezes o desenvolvimento de programas mais robustos e sistemáticos nas
refletindo as dinâmicas e transformações das políticas agrícolas do décadas subsequentes. A extensão rural começava a se firmar como
país de maneira mais imediata. uma ferramenta essencial para a modernização da agricultura bra-
A extensão rural se apresenta não apenas como transmissão de sileira.
técnicas, mas como uma via de mão dupla, na qual extensionistas e
agricultores trocam experiências, adaptam soluções e co-criam es- — Institucionalização (1940 - 1960)
tratégias para enfrentar os desafios do campo. Ao longo da história
brasileira, essa prática tem passado por diversas metamorfoses, es- O cenário pós Segunda Guerra
pelhando os desafios socioeconômicos e ambientais de cada época. O período pós Segunda Guerra Mundial marcou um momento
Assim, ao explorar a trajetória da extensão rural no Brasil e no de reconstrução e transformação global. O mundo presenciou um
Distrito Federal, mergulhamos em uma narrativa sobre desenvolvi- boom tecnológico, com inovações que passaram a influenciar diver-
mento, inovação, desafios e adaptações, reconhecendo a centra- sas áreas, incluindo a agricultura. O Brasil, imerso nesse contexto e
lidade do setor agrícola na formação socioeconômica do país e a buscando modernizar sua produção agrícola, viu na extensão rural
importância de conectar ciência, prática e tradição no campo. um mecanismo fundamental para essa transformação.

— Origens (até a década de 1940) Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR)
Em 1948, foi fundada a Associação Brasileira de Crédito e Assis-
Um país de base agrária tência Rural (ABCAR), um marco na institucionalização da extensão
Ao longo de sua história colonial e nos primeiros momentos rural no Brasil. Com apoio do governo e cooperação internacional,
como nação independente, o Brasil teve sua economia fortemen- principalmente dos Estados Unidos, a ABCAR atuou como principal
te ancorada na agricultura. Grandes ciclos econômicos, como o do entidade de extensão, focando inicialmente em regiões de maior
açúcar, café e borracha, deram forma à nossa paisagem econômica desenvolvimento agrícola, como o Sudeste.
e social. No entanto, a produção agrícola era muitas vezes baseada A ABCAR não só introduziu técnicas agrícolas modernas, mas
em práticas tradicionais, com pouca intervenção tecnológica. também buscou promover uma mudança cultural no campo. Seu
trabalho envolveu a introdução de práticas de gestão, incentivo à
Os primeiros passos da extensão rural cooperação entre agricultores e a promoção da cidadania e educa-
Antes da oficialização da extensão rural como uma prática sis- ção rural.
temática, já existiam iniciativas isoladas que buscavam levar conhe-
cimentos mais avançados ao campo. Estas iniciativas eram frequen- A extensão e a modernização agrícola
temente conduzidas por escolas agrícolas, sociedades rurais e até A década de 1950 foi marcada pelo desejo de modernização da
mesmo por missionários. Era uma fase onde a extensão estava mais agricultura brasileira. Sob influência do “Milagre Verde”, que pro-
ligada à ideia de educação rural e alfabetização do que à transmis- moveu o uso intensivo de insumos químicos e variedades de alto
são de técnicas agrícolas avançadas. rendimento em diversos países, o Brasil buscou atualizar suas práti-
cas agrícolas. A extensão rural desempenhou um papel chave, sen-
Influência internacional e modelos iniciais do o veículo para introduzir essas novas técnicas aos agricultores.
O conceito de extensão rural, como é entendido hoje, teve suas
raízes em modelos desenvolvidos principalmente nos Estados Uni- Desafios e críticas
dos no final do século XIX e início do século XX. O “Modelo Smi- Apesar do crescimento e fortalecimento da extensão rural
th-Lever”, por exemplo, instituído nos EUA em 1914, teve grande durante este período, também surgiram críticas. Muitos alegavam
influência na forma como o Brasil começou a perceber a necessi- que a abordagem adotada era muito top-down, impondo técnicas
dade de uma ação organizada de extensão. A ideia de conectar uni- sem considerar a realidade e o conhecimento local dos agricultores.
versidades, pesquisadores e agricultores começou a ganhar força, Além disso, a forte ênfase na modernização às vezes levava a práti-
reconhecendo-se que a pesquisa agrícola não seria efetiva sem uma cas insustentáveis e à marginalização de pequenos agricultores em
ponte direta com o produtor. benefício da agricultura de grande escala.
A fase de institucionalização da extensão rural no Brasil entre
1940 e 1960 foi fundamental para estabelecer a prática como um
pilar da política agrícola nacional. Foi um período de rápido apren-
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dizado, expansão e adaptação, onde a extensão rural começou a — Descentralização e redefinição (1980 - 2000)
moldar a face da agricultura brasileira. Contudo, os desafios enfren-
tados e as críticas levantadas nesse período também sinalizavam a O contexto socioeconômico
necessidade de uma abordagem mais inclusiva e sustentável para a A década de 1980, muitas vezes chamada de “década perdi-
extensão no futuro. da”, trouxe consigo desafios econômicos significantes para o Bra-
sil, incluindo inflação elevada, dívidas externas e crises fiscais. No
— Expansão e consolidação (1960 - 1980) entanto, foi também um período de transição política, com o fim
do regime militar e a redemocratização do país. Essas mudanças
O Brasil em transformação tiveram impactos diretos na maneira como a extensão rural foi con-
A década de 1960 viu o Brasil passar por intensas mudanças so- duzida e percebida.
ciopolíticas. O Golpe Militar de 1964 levou à instauração de uma di-
tadura que perduraria até 1985. Durante este período, houve uma Descentralização das políticas de extensão
busca intensiva pelo desenvolvimento econômico, sendo a agricul- Durante a década de 1980, a extensão rural começou a ser
tura uma das áreas focais. Com o objetivo de transformar o país descentralizada. A responsabilidade pela prestação de serviços de
em uma potência agrícola e garantir a segurança alimentar, houve extensão, anteriormente centralizada em agências federais como a
uma massiva mobilização de recursos para a pesquisa e extensão EMBRATER, foi gradualmente transferida para as unidades federati-
agrícola. vas. Isso levou a uma maior participação dos estados e municípios
na formulação e implementação de políticas de extensão.
Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural
(EMBRATER) A ascensão da agricultura familiar
Criada em 1973, a EMBRATER surgiu como parte desse impulso Nesse período, houve um reconhecimento crescente da im-
modernizador. Absorvendo as funções da ABCAR, a EMBRATER se portância da agricultura familiar. Ao contrário do modelo anterior,
tornou o principal órgão nacional de extensão rural, atuando em focado em grandes propriedades e monoculturas, a década de 1990
parceria com as empresas estaduais de extensão. Seu papel não era viu esforços para apoiar pequenos agricultores. Programas como o
apenas transferir tecnologia, mas também coordenar e formular PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Fa-
políticas de extensão em nível nacional. miliar) foram criados, e a extensão rural desempenhou um papel
vital na transferência de tecnologias apropriadas para essa modali-
A Era da revolução verde no Brasil dade de agricultura.
Inspirado pelo sucesso da Revolução Verde em outros países, o
Brasil adotou muitas de suas práticas durante as décadas de 1960 O movimento pela agroecologia
e 1970. Com o apoio da extensão rural, foram introduzidos no país Junto com a valorização da agricultura familiar, surgiu um mo-
variedades de cultivos de alto rendimento, fertilizantes químicos e vimento pela agroecologia, buscando uma agricultura mais susten-
pesticidas. Este período viu um aumento significativo na produção tável e integrada ao meio ambiente. A extensão rural começou a
agrícola, solidificando a posição do Brasil como uma potência agrí- explorar e promover práticas agroecológicas, enfatizando a diversi-
cola global. dade, rotação de culturas, e uso mínimo de insumos químicos.

Impactos sociais e ambientais Desafios financeiros e institucionais


Porém, a intensa modernização da agricultura teve seus custos. A despeito das mudanças positivas na abordagem da extensão
O foco em grandes propriedades e monoculturas levou a uma con- rural, o período foi marcado por restrições financeiras. Com as cri-
centração de terras, marginalizando pequenos agricultores. As prá- ses econômicas e a descentralização, muitas entidades de extensão
ticas intensivas da Revolução Verde também levaram a problemas enfrentaram falta de recursos e tiveram que se reestruturar. Isso
ambientais, como erosão do solo, contaminação da água e perda levou a debates sobre a eficácia e eficiência da extensão rural e so-
de biodiversidade. bre como melhor atender às necessidades dos agricultores em um
ambiente de recursos limitados.
A busca por sustentabilidade e participação A extensão rural, nas décadas de 1980 e 1990, passou por uma
Reconhecendo os problemas emergentes, começaram esforços redefinição significativa em suas práticas e objetivos. De um mode-
na década de 1970 para tornar a agricultura mais sustentável. A ex- lo centralizado e voltado para a agricultura de larga escala, migrou-
tensão rural começou a promover práticas como rotação de cultu- -se para uma abordagem mais descentralizada, inclusiva e ambien-
ras, manejo integrado de pragas e conservação do solo. Também talmente consciente. Embora tenham surgido novos desafios, esse
houve uma crescente consciência da importância da participação período lançou as bases para uma extensão rural mais adaptada às
dos agricultores no processo de extensão, levando a métodos mais realidades e diversidades do Brasil.
participativos.
A fase de expansão e consolidação da extensão rural entre — Século XXI: inovação, sustentabilidade e participação
1960 e 1980 foi marcada por conquistas significativas em termos de
produção agrícola. No entanto, também trouxe à luz os desafios da O novo milênio: Desafios e oportunidades
modernização rápida e sem reflexão. O papel da extensão rural foi O início do século XXI foi marcado por um cenário globalizado,
fundamental nesse processo, tanto na promoção de novas tecnolo- onde a tecnologia e a informação passaram a ter um papel cen-
gias quanto na reorientação em direção a práticas mais sustentáveis tral. O Brasil, inserido neste contexto, experimentou crescimento
e inclusivas. Esta fase preparou o terreno para as transformações e econômico, mas também enfrentou desafios como as mudanças
descentralizações que ocorreriam nas décadas seguintes.
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climáticas e a necessidade de produção agrícola sustentável. A ex- Desafios e particularidades


tensão rural, mais uma vez, se viu na encruzilhada entre tradição e Diferente de regiões agrícolas tradicionais, o DF possui uma
inovação. proximidade única entre zonas rurais e urbanas. Isso traz vantagens,
como acesso a mercados e facilidade de comunicação, mas também
A revolução digital no campo desafios, como conflitos de uso da terra, pressões urbanísticas e
Com o advento das tecnologias de informação e comunicação questões de manejo de recursos hídricos.
(TICs), a extensão rural começou a se beneficiar de ferramentas Inovação e sustentabilidade
como softwares de gestão agrícola, drones, satélites e plataformas A EMATER-DF tem desempenhado um papel proativo na in-
online. Isso permitiu uma extensão mais eficaz, alcançando um nú- trodução de tecnologias inovadoras para os agricultores da região.
mero maior de agricultores e oferecendo soluções personalizadas. Projetos de agricultura de precisão, uso eficiente de água e produ-
ção orgânica são alguns exemplos. Há também um forte incentivo
Foco na sustentabilidade e agroecologia à agroecologia, com a promoção de práticas que respeitem o meio
Reconhecendo os impactos negativos da agricultura intensiva, ambiente e promovam a biodiversidade.
houve um movimento contínuo em direção à sustentabilidade. A
extensão rural passou a promover ainda mais práticas agroecológi- Participação e integração com a comunidade
cas, manejo integrado de recursos e conservação da biodiversidade. A proximidade da zona rural com o ambiente urbano permitiu
Além disso, com a crescente preocupação global com as mudanças uma maior integração entre produtores e consumidores. A EMA-
climáticas, a extensão rural teve papel crucial na difusão de práticas TER-DF promoveu diversas iniciativas, como feiras agroecológicas,
agrícolas resilientes ao clima. que aproximaram o público urbano da realidade dos agricultores,
valorizando o produto local e promovendo uma alimentação sau-
Participação ativa dos agricultores dável.
A abordagem de extensão rural no século XXI tornou-se mais A extensão rural no Distrito Federal reflete a singularidade de
participativa. Valorizando o conhecimento local, as agências de ex- uma região que combina características urbanas e rurais. Através da
tensão passaram a envolver mais os agricultores no processo de atuação da EMATER-DF, os agricultores do DF têm sido capazes de
decisão, reconhecendo-os como parceiros e não apenas como re- enfrentar desafios específicos e aproveitar as oportunidades ofere-
ceptores de tecnologia. Isso resultou em soluções mais adaptadas cidas por sua localização única. A história da extensão rural no DF é
às realidades locais. um testemunho da capacidade de adaptar práticas agrícolas às cir-
cunstâncias locais, buscando sempre a sustentabilidade, inovação e
Parcerias e colaborações integração com a comunidade.
Neste período, observou-se um aumento nas parcerias entre
órgãos de extensão, instituições de pesquisa, universidades e o se- — Do passado ao futuro
tor privado. A natureza multidisciplinar dos desafios agrícolas exigiu A extensão rural no Brasil possui uma rica e dinâmica história,
uma abordagem colaborativa, onde diferentes entidades trabalha- refletindo as transformações sociais, políticas e econômicas que o
ram juntas para fornecer soluções holísticas. país experimentou ao longo do século XX e início do século XXI. Des-
O século XXI trouxe consigo um conjunto de desafios e oportu- de seus primórdios voltados para a difusão de técnicas agrícolas,
nidades para a extensão rural no Brasil. Com foco em inovação, sus- até a valorização da agricultura familiar e práticas agroecológicas, a
tentabilidade e participação, a extensão rural continuou a evoluir, extensão rural tem desempenhado um papel fundamental na pro-
buscando soluções que não apenas aumentassem a produtividade moção do desenvolvimento agrícola sustentável.
agrícola, mas que também fossem ambientalmente sustentáveis e A trajetória da extensão rural no país pode ser vista como um
socialmente justas. Adaptando-se às realidades em constante mu- espelho das prioridades nacionais: a busca por segurança alimentar
dança, a extensão rural reafirmou seu papel vital na paisagem agrí- nas décadas de 1960 e 1970, a redefinição e descentralização nos
cola brasileira. anos 1980 e 1990, e o foco na inovação e sustentabilidade no século
XXI.
— Extensão rural no Distrito Federal O Distrito Federal, por sua vez, oferece um interessante micro-
cosmo da extensão rural. A EMATER-DF, ao longo de sua história,
O cenário particular do Distrito Federal enfrentou desafios específicos, mas também aproveitou as oportu-
O Distrito Federal (DF), criado em 1960 para ser a sede da ca- nidades únicas apresentadas pela proximidade entre zonas urbanas
pital federal, Brasília, apresenta uma particularidade em relação a e rurais.
outros estados brasileiros. Embora a maioria das atividades esteja Olhando para o futuro, a extensão rural no Brasil e no Distrito
centrada na administração pública e em serviços, a região também Federal tem o potencial de continuar a desempenhar um papel cru-
possui uma zona rural ativa, com uma diversidade de pequenos e cial. Com os crescentes desafios das mudanças climáticas, da neces-
médios produtores que cultivam desde hortaliças até grãos. sidade de alimentar uma população em crescimento e da conserva-
ção da biodiversidade, a extensão rural será essencial para conectar
A criação da EMATER-DF pesquisa, inovação e as realidades no campo.
A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Assim, a história da extensão rural no Brasil e no Distrito Fede-
Federal (EMATER-DF) foi criada em 1977 com a missão de promover ral não é apenas um registro do passado, mas uma fonte de inspira-
o desenvolvimento rural sustentável no DF. Desde o início, sua abor- ção e orientação para as futuras gerações de agricultores, técnicos,
dagem foi voltada para a agricultura familiar, focando em práticas pesquisadores e formuladores de políticas. Através da colaboração,
sustentáveis e na melhoria da qualidade de vida dos agricultores.

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inovação e respeito ao meio ambiente e às comunidades rurais, a hobbesiana, dá-se a partir do surgimento da propriedade privada
extensão rural pode continuar a moldar um futuro agrícola próspe- que o leva à violência e escravidão. Para Rousseau, o contrato so-
ro e sustentável para o Brasil. cial ideal seria aquele que a soberania popular, expressa na forma
da democracia direta, fosse o pilar principal sobre o qual se esta-
beleceria o Estado. As ideias de Rousseau são identificadas como
A INSERÇÃO DO BRASIL NO SISTEMA INTERNACIONAL. embrionárias do pensamento comunista.
É importante perceber que o debate acerca da legitimação do
Estado como instituição gestora de conflitos e interesses domésti-
Origens, Conceitos Básicos e Fundamentos Teóricos34 cos não acontece de forma autônoma em relação aos eventos ex-
ternos às fronteiras nacionais. Assim, na medida em que os grupos
O Início políticos dominantes encontram certo grau de coesão doméstica, a
Levando-se em consideração a centralidade do Estado no de- própria manutenção da estrutura do poder estatal torna-se paula-
bate dos estudos de Relações Internacionais, faz-se necessário en- tinamente sensível à dinâmica política e comercial no âmbito das
tender a evolução teórica acerca desse tema. Nesse sentido, a Ciên- relações interestatais.
cia Política, de forma geral, concentra sua literatura nos trabalhos O período de consolidação das monarquias europeias deu-se,
de Nicolau Maquiavel, Thomas Hobbes, John Locke, Montesquieu e então, no contexto da articulação dos agrupamentos humanos em
Jean-Jacques Rousseau. torno de Estados que respondessem por suas demandas políticas,
Pode-se dizer que, de uma forma ou de outra, as teorias das econômicas e sociais. Alcançada a legitimação do poder doméstico,
Relações Internacionais utilizam esses autores como base para di- os Estados passaram, em maior ou menor grau, a se projetar inter-
versas de suas argumentações, principalmente quando se trata das nacionalmente, no sentido de garantir recursos que assegurassem
correntes liberal e realista. sua sobrevivência ou expansão territorial.
Ao trabalhar a ideia de interesse nacional, Nicolau Maquiavel Essa dinâmica de poder entre os Estados absolutistas europeus
(1469-1527), autor de O Príncipe, defendeu o argumento de que fomentou a consolidação do sistema estatal moderno. Na medida
para defender os interesses do Estado, a política não pode sub- em que o Estado absolutista ia sendo substituído pelo Estado liberal
meter-se aos valores morais. É sabido que as ideias de Maquiavel (legitimado pela soberania popular), o sistema internacional con-
influenciaram profundamente o surgimento e a consolidação do solidou-se como palco de luta de interesses nacionais divergentes.
absolutismo europeu. Vale ressaltar que o sistema internacional surge antes mesmo
Para Thomas Hobbes (1588-1679), o homem é um ser mau por da consolidação do capitalismo como um sistema de alcance global.
natureza, que não mede esforços para garantir sua sobrevivência e Argumenta-se que, na verdade, o sistema capitalista beneficiou-se
defender seus interesses. Assim, nessa luta incessante de homem das diversas estruturas estatais anteriormente estabelecidas. Desse
contra homem, a morte é uma ameaça constante à vida dos indiví- modo, o processo de acumulação capitalista passou a ser paulati-
duos. Partindo-se, então, do medo da morte, surge a necessidade namente instrumentalizado como recurso de poder nas Relações
de todos abrirem mão de seus direitos em benefício de um Estado Internacionais. Ainda que o dinamismo do processo de acumulação
(Leviatã) que garanta paz, segurança e prosperidade. Isso posto, capitalista seja, para muitos, a principal fonte de atrito do sistema
Hobbes utiliza a figura do Leviatã para legitimar o Estado como ator internacional, vale ressaltar que o ambiente conflituoso entre as
que age em benefício de todos. Discute-se que os postulados de potências europeias é anterior ao surgimento do capitalismo.
Hobbes embasam os estudos sobre o contrato social.
Trabalhando na releitura dos conceitos de Hobbes, John Locke Sistema Internacional, Geopolítica e Relações Internacionais
(1632-1704) ponderou sobre os limites ao poder das monarquias Estudos sistêmicos, a partir das dinâmicas e circunstâncias his-
absolutistas. Nesse sentido, Locke defende a ideia de que a liberda- tóricas, geográficas, políticas e econômicas do sistema internacio-
de não pode ser entendida como o preço a ser pago pela instituição nal, impulsionaram o surgimento de conceitos e teorias que com-
do poder estatal. Nesse caso, ficaria estabelecido o direito da socie- põem, hoje, o campo de estudo das Relações Internacionais.
dade rebelar-se contra o Estado, pois sua liberdade seria o contra- Já é de amplo conhecimento que o atual sistema internacional
ponto ao próprio poder do soberano. É dentro desse contexto que é fruto dos desdobramentos da Guerra dos Trinta Anos (1618-48) e
surge a separação entre as esferas públicas e privadas. dos Tratados de Vestefália, que puseram fim ao conflito. De 1648 a
A partir das ideias de John Locke, Barão de Montesquieu (1689- 1792, o sistema de Estados europeus consolidou-se com uma dinâ-
1755) tratou da separação dos poderes (Legislativo, Executivo e Ju- mica própria de equilíbrio de poder. No entanto, as guerras impul-
diciário) em sua obra O Espírito das Leis. O contrato social ganhou sionadas pela Revolução Francesa (1792-1815) provocaram mudan-
forma na estrutura de uma democracia representativa. Edificaram- ças fundamentais no equilíbrio de poder até então estabelecido.
-se, então, os pilares do Estado liberal que rivalizaria com o poder Após a derrocada de Napoleão Bonaparte, o Congresso de Paz
absolutista dos reis. de Viena (1815) estabeleceu um período de aproximadamente um
Por fim, Jean Jacques Rousseau (1712-78), na contramão do século de “paz” no continente europeu. A razoável estabilidade, no
pensamento hobbesiano, embasou seu pensamento na figura do continente, ficou comprometida com os acontecimentos que prece-
bom selvagem. Enquanto para Thomas Hobbes o homem era um deram a eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914-18).
ser mau e egoísta por natureza, inserido em um contexto de anar- Nesse sentido, a defesa do equilíbrio de poder europeu pela
quia e caos, Rousseau argumentou que, na verdade, o homem é um Grã-Bretanha, entre França, Prússia, Áustria e Rússia, favoreceu a
ser originalmente bom. Desse modo, sua transformação, na figura adoção de uma política externa, ao mesmo tempo, isolacionista na
34 JUBRAN, Bruno Mariotto. Relações internacionais: conceitos básicos e aspec- Europa e imperialista no âmbito global. Torna-se importante ressal-
tos teóricos. Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional. Fundação tar que a supremacia mundial britânica (Pax Britannica) represen-
de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuse. Porto Alegre: 2015. tou a vitória do seu poder naval sobre o poder terrestre do Império
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Napoleônico. A marinha britânica não só contribuiu para a derrota interesses do Kremlin, no sentido de dificultar qualquer tentativa
de Napoleão e do expansionismo francês, como manteve o ímpeto de expansionismo por parte dos países ocidentais. Igualmente, na
expansionista dos demais impérios europeus, em especial o russo. visão das potências ocidentais, a expansão e a influência do poder
Adicionalmente, a frota naval britânica foi fundamental na conso- terrestre soviético, no coração da Eurásia, era um forte argumento
lidação de seu império ultramarino e de seu poder sobre as rotas da necessidade de se encampar este tipo de estratégia. Isso posto,
comerciais mundiais. coube à influência do poder naval norte-americano a criação de Es-
A expansão territorial dos Estados nacionais e o controle sobre tados-tampões nas fronteiras soviéticas, assim como a instalação
recursos naturais existentes em territórios além das fronteiras na- de bases militares, navais e terrestres, para conter o expansionismo
cionais são os ingredientes latentes, em grande parte, dos conflitos soviético por terra e mar.
interestatais. Nesse sentido, muitas vezes, negar o acesso a recur- A ideia da rivalidade secular entre poder terrestre e naval in-
sos estratégicos, ou conter a expansão imperialista de um Estado fluenciou e segue influenciando as análises internacionais. Nesse
(ou grupo de Estados), no interior do sistema internacional, torna- sentido, é comum o uso da metáfora da luta secular entre o país
-se a lógica dos grandes players da política internacional. baleia (supremacia do poder naval) e o país urso (supremacia do
Foi dentro desse debate sobre os recursos de poder, território poder terrestre). Tal metáfora é bastante utilizada para retratar o
e acesso a recursos naturais que surgiram as primeiras observações conflito entre os Estados Unidos da América e a União das Repúbli-
teóricas no campo das relações interestatais. Trata-se, mais espe- cas Socialistas Soviéticas (EUA-URSS) no âmbito da Guerra Fria e nos
cificamente, da geopolítica, campo de estudos que analisa as rela- posteriores contenciosos envolvendo a Rússia e os Estados Unidos.
ções entre Estados a partir da perspectiva histórica e geográfica. A Desse modo, como a teoria do poder terrestre foi importante
geopolítica, que precedeu a consolidação das Relações Internacio- para os estudos do poder naval, as obras de Mackinder e Mahan,
nais como um campo de estudo científico, estruturou-se a partir da consideradas pilares dos estudos geopolíticos, também contribuí-
teoria do poder terrestre e, posteriormente, das teorias do poder ram para trabalhos que passaram a enfatizar a influência do poder
naval e aéreo. aéreo para o equilíbrio de poder no sistema internacional. O pró-
Em 1904, o geógrafo britânico Halford John Mackinder argu- prio termo geopolítica traz em si a ideia da influência de questões
mentou, a partir do estabelecimento de um nexo de causalidade geográficas na política. Isso posto, faz-se necessário ressaltar, tam-
entre Geografia e História, que havia uma secular disputa pela bém, que os estudos pioneiros na área das Relações Internacionais
supremacia mundial entre dois poderes antagônicos: o poder ter- se beneficiaram tanto da análise histórica do sistema internacional,
restre e o marítimo. Segundo Mello (1999), Mackinder acreditava a partir dos desdobramentos da Paz de Vestefália até os dias atuais,
na existência de um poder terrestre eurasiano que buscava, por como das primeiras análises geopolíticas encampadas por Mackin-
meio de uma expansão centrífuga, dominar as regiões periféricas der e Mahan.
da Europa com o objetivo de garantir acesso aos mares quentes.
Já o poder antagônico, marítimo, situado em ilhas próximas e re- O Campo de Estudo das Relações Internacionais: Atores e Ní-
giões marginais à Eurásia, controlava a linha costeira dessa região veis de Análise
com o intuito de manter o poder terrestre no interior eurasiano,
recorrendo ao exercício de uma força centrípeta. Apesar de tratar o O estudo das Relações Internacionais visa à compreensão de
poder marítimo como força antagônica ao poder terrestre, Mackin- eventos pertinentes às relações entre os Estados dentro de um
der notabilizou-se como o principal intelectual da teoria do poder recorte temporal determinado. Nesse sentido, faz-se necessária a
terrestre. Ao defender a existência da disputa secular entre poder construção do contexto ou da realidade em que se dão os temas
terrestre e poder marítimo, Mackinder pôs fim à dominante visão — objetos de estudo das RI. Partindo do pressuposto de que as RI
eurocêntrica das análises internacionais. iniciam suas abordagens mediante a construção de conjunturas
No que diz respeito ao poder marítimo, em que pese à supre- e estruturas em que seus objetos de pesquisa estão inseridos, o
macia naval britânica, foi um almirante norte-americano quem, em primeiro desafio do pesquisador do campo das Relações Interna-
1880, deu inteligibilidade à teoria do poder marítimo. Alfred Thayer cionais é o de construir tal realidade. Esse desafio é potencializado
Mahan elaborou importante trabalho sobre a influência do poder pelo fato de cada pesquisador observar seu objeto de pesquisa a
marítimo na história no período de 1660 a 1783. O impacto dos es- partir de sua própria perspectiva, podendo, facilmente, divergir de
tudos de Mahan foi decisivo na consolidação do Destino Manifesto seu colega que, por coincidência, estuda o mesmo tema. Nesse sen-
como política de expansão do poderio norte-americano na região tido, as questões que se impõem são ontológicas, epistemológicas e
do Caribe e do Pacífico (Porto Rico, Filipinas e Cuba). teórico-metodológicas.
A teoria do poder naval, na política estadunidense, propunha Ao se aprofundar nessas questões, Sarfati (2005) busca identi-
o completo controle do território norte-americano, a contenção do ficar os elementos, atores e proposições que compõem a realidade
expansionismo japonês na região do Pacífico e a retirada da supre- dos estudos das Relações Internacionais (ontologia). O autor ques-
macia dos mares dos britânicos mundialmente. tiona a forma como o conhecimento, na área das RI, é gerado, no
Mello (1999) ressalta que as ideias de Mackinder e Mahan fo- sentido de identificar aquilo que pode ou não ser privilegiado nas
ram muito influentes na configuração do sistema mundial no pe- análises (epistemologia). Por fim, Sarfati pondera sobre as formas
ríodo imediatamente posterior à Primeira Guerra Mundial, assim de pesquisar Relações Internacionais (metodologia quantitativa e/
como no período da Guerra Fria (194591). Após a Primeira Guer- ou qualitativa). Enquanto a abordagem quantitativa busca elemen-
ra, o ocidente acreditava na necessidade de se estabelecer um tos mensuráveis para explicar uma realidade, a qualitativa vale-se
cordão sanitário no entorno da União Soviética com o objetivo de de elementos não necessariamente quantificáveis, mas que ajudam
conter a influência e o avanço bolchevique no resto da Europa. Já a compreender a realidade do objeto de estudo. Daí a pertinên-
no pós Segunda Guerra Mundial (1939-45), a consolidação de Es-
tados-tampões junto às fronteiras soviéticas atendiam mais aos
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cia, no estudo das Relações Internacionais, das teorias que buscam do governo), onde os protagonistas (atores) seriam a burocracia es-
explicar, identificando relações de causa e efeito, e de outras que tatal, como, por exemplo, o Banco Nacional do Desenvolvimento
buscam entender a realidade. (BNDES), o partido do governo, as grandes empresas nacionais e o
Outro aspecto relevante no estudo das Relações Internacionais Estado brasileiro.
refere-se ao nível de análise. Nesse caso, trata- -se do foco dado à
pesquisa. Assim, para Sarfati (2005), a análise pode buscar a expli- Conceitos Pertinentes ao Estudo das Relações Internacionais
cação ou a compreensão de determinado evento internacional a
partir de determinados níveis, quais sejam: o individual, o societal, Nas Relações Internacionais, o processo de entendimento dos
o estatal, o supraestatal e o do sistema internacional. eventos internacionais passa pelo debate acerca de conceitos que
O nível individual apropria-se do estudo da natureza humana são transversais às teorias desse campo do conhecimento. O uni-
para explicar/compreender seu objeto de estudo. verso conceitual das RI, longe de esgotar as possibilidades analíti-
Nesse caso, poder-se-ia, por exemplo, buscar a explicação de cas, trabalha com definições e conceitos inerentes à dinâmica das
um evento internacional a partir da análise cognitivo-comporta- relações interestatais. Nesse sentido, é comum a discussão sobre o
mental de um presidente ou autoridade governamental e sua res- comportamento individual de Estados em relação aos demais.
pectiva influência sobre os processos decisórios do país. No nível Faz-se necessária uma explanação sobre o que se entende
societal, por outro lado, consideram-se os interesses de segmentos acerca das expressões sistema estatal ou sistema internacional. O
da sociedade ou da burocracia estatal como foco da pesquisa em RI. sistema internacional é caracterizado pela não existência de um Go-
No nível estatal, tem-se o estudo dos interesses e sistemas de verno central. Não existe um governo supranacional, pelo menos
governo (democracias, ditaduras, economia, segurança, política) em tese, que determine as regras de governança globais, ou que
dos Estados como um ente unitário nas relações interestatais. Já seja capaz de impor punições a Estados que “descumpram” tais re-
no nível supraestatal, o pesquisador privilegia o estudo de organiza- gras. Entende-se que o sistema internacional é composto por Esta-
ções internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU) dos soberanos, política e territorialmente constituídos, que buscam
ou a Organização Mundial do Comércio (OMC), assim como orga- maximizar seus interesses de forma legítima.
nismos internacionais não governamentais (multinacionais, organi- A ideia de que Estados soberanos buscam maximizar interesses
zações terroristas, grupos ambientalistas, etc.) como foco de seu nacionais em um sistema internacional marcado pela inexistência
trabalho. de um governo central leva à constatação de que a política interna-
Finalmente, tem-se o nível do sistema internacional. Nesse tipo cional opera em um ambiente anárquico. Dessa forma, a anarquia
de análise, a pesquisa avalia os padrões sistêmicos das relações mú- seria a principal característica do sistema internacional.
tuas entre todos os atores das Relações Internacionais. A análise Ainda que alguns teóricos das RI percebam a anarquia do sis-
sistêmica argumenta que os Estados são entidades políticas sobera- tema internacional como característica secundária, para muitos, a
nas, não existindo um governo central nas Relações Internacionais, primazia da mesma parte da convicção generalizada de que a maxi-
o que daria a característica anárquica do sistema. Porém é comum mização dos interesses nacionais é reflexo da característica egoísta
a contra-argumentação de que, na verdade, a aparente anarquia do ser humano. Assim, da mesma forma que o homem é um ser
esconde a hierarquia dos países dentro do sistema internacional. egoísta que busca, acima de tudo, a garantia da própria sobrevi-
A hierarquia desse sistema seria determinada pelo exercício dos vência, os Estados nacionais também agem de forma egoísta para
recursos de poder dos Estados (território, população, exércitos, tec- assegurar sua existência no sistema internacional.
nologia, riqueza, etc.) no interior do mesmo. No entanto, é importante ressaltar que, ainda que o sistema
Vale ressaltar, porém, que o nível de análise não se confunde internacional seja anárquico, existe um conjunto de imposições,
com os atores das Relações Internacionais, outro conceito relevante sanções e regras implícitas que norteiam o comportamento dos Es-
abordado pelas teorias de RI. Tem-se como consenso, entre as cor- tados no sistema internacional. Adicionalmente, chama a atenção o
rentes teóricas das RI, que os atores são os protagonistas em cada fato de que o ambiente anárquico do sistema não restringe possibi-
um dos níveis analisados. Contudo o debate em torno do tema recai lidades de cooperação bi ou multilateral entre os Estados.
sobre a primazia dos atores (protagonistas) no estudo das Relações A análise do sistema internacional abre, ainda, espaço para a
Internacionais. Desse modo, como foi colocado na discussão sobre abordagem de outros dois conceitos importantes das Relações In-
os níveis de análise das pesquisas de RI, o rol de atores engloba ternacionais, quais sejam, soberania e recursos de poder. A sobera-
indivíduos, órgãos governamentais, Estados, Organizações Inter- nia diz respeito à legitimidade política e territorial do Estado sobre
nacionais (OI), organizações internacionais não governamentais suas ações no âmbito doméstico e internacional. Desse modo, o
(ONGs) e atores não estatais como grupos terroristas ou empresas conceito de soberania trata do exercício da autonomia do Estado
multinacionais. sobre a condução de sua política interna ou externa, assim como
Percebe-se, então, uma diferenciação clara entre níveis de aná- seus efeitos sobre a dinâmica do sistema internacional como um
lise e atores no estudo das Relações Internacionais. Ainda que se todo. Já os recursos de poder tratam das capacidades dos Estados
queira compreender, por exemplo, o apoio do Governo Federal no em exercitar seu poder soberano dentro e fora de suas fronteiras
processo de internacionalização de empresas brasileiras a partir da nacionais. Em RI, o exercício do poder diz respeito ao gerenciamen-
análise do nível sistêmico das Relações Internacionais (oligopoli- to das capacidades assimétricas dos países dentro do sistema in-
zação de setores da economia mundial e reordenação do sistema ternacional, seja por meio da coerção hard power (poder duro), da
produtivo global), os protagonistas, nesta análise, podem ser as influência soft power (poder brando) ou da combinação de ambos.
grandes empresas brasileiras, o Estado brasileiro e os países onde A dinâmica, no interior do sistema internacional, é, na verda-
atuam as empresas nacionais. De outra forma, pode-se analisar de, reflexo do gerenciamento das estratégias de maximização dos
esse objeto a partir do nível societal, levando-se em conta os in- interesses dos Estados. Tais estratégias levam em consideração a
teresses de segmentos sociais (empresários) e políticos (o partido disposição assimétrica dos recursos de poder dos países no sistema
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internacional. Nesse contexto, Keohane (2001) constata graus dife- tros Estados considerados potências locais utilizem sua influência
rentes de sensibilidade e vulnerabilidade dos países em relação a hegemônica regional como forma de atingir seus respectivos inte-
tudo que acontece no interior do sistema internacional. resses em suas relações globais.
Em vista disso, a sensibilidade de um país em relação ao cená- Percebe-se, então, que a configuração do atual sistema inter-
rio externo pode revelar sua dificuldade para formular novas polí- nacional reflete os interesses de polos de poder consolidados: Es-
ticas em um curto espaço de tempo, dado o comprometimento de tados Unidos, Europa, China, Japão e Rússia. Por conseguinte, os
sua política interna ou acordos internacionais. No tocante à vulne- demais Estados buscam maximizar seus interesses a partir de aná-
rabilidade, evidencia-se a capacidade dos países em efetivamente lises estruturais e conjunturais do sistema. Nesse panorama, torna-
formular novas políticas e encontrar alternativas, em curto espaço -se compreensível o agrupamento de países sob a lógica de grupos
de tempo, frente a uma situação adversa no contexto internacional. de geometria variável (VIZENTINI, 2006). A estratégia de inserção
Assim, observa-se que, enquanto a sensibilidade identifica o grau internacional por meio desse tipo de aliança estratégica está laten-
de dependência do país em relação às dinâmicas do sistema inter- te na formação de grupos como o Fórum de diálogo Índia, Brasil e
nacional, sua vulnerabilidade trata de sua efetiva capacidade de África do Sul (IBAS), o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do
reação em cenários internacionais desfavoráveis (KEOHANE, 2001). Sul), o G4 (Alemanha, Brasil, Índia e Japão) e o G20 (Grupo dos 20
A observação das capacidades sistêmicas dos Estados, no sis- no âmbito do sistema financeiro internacional).
tema internacional, levou ao surgimento de conceitos que caracte- Principal Debate Teórico: Realismo Versus Liberalismo
rizam a dinâmica das interações dos países em diferentes recortes A discussão teórica nas Relações Internacionais está, tradicio-
temporais. Isso posto, os estudiosos das RI entendem que o sistema nalmente, pautada pela disputa entre duas correntes principais e
internacional pode operar sob a lógica da hegemonia ou dos polos suas variações: o realismo e o liberalismo. Naturalmente, não se
de poder. trata de duas escolas perfeitamente coesas e cristalizadas, mas sim
Para Arrighi (1996), a hegemonia trata da capacidade de um de tradições de pensamento que evoluem e se modificam com o
Estado soberano exercer, simultaneamente, seu poder de coerção e tempo e com as circunstâncias. Essa oposição, em larga medida,
de liderança moral e intelectual no núcleo do sistema internacional. começou com o surgimento do debate sobre as Relações Inter-
O país hegemônico mobiliza esse poder por meio da possibilidade nacionais após o término da I Guerra Mundial. Nessa conjuntura,
ou ameaça de uso combinado de seus recursos de poder (território, um grupo de pensadores vinculados à tradição liberal começou a
população, recursos naturais, tecnologia, exércitos, finanças) com pensar em alternativas para dirimir as possibilidades de uma nova
o fim de garantir o consentimento dos demais Estados em relação guerra acontecer. Esse pensamento bebia do liberalismo econômi-
às suas políticas dentro do sistema internacional. Ainda que discor- co e político, que apregoava o direito natural à vida, à liberdade e
dem, os demais Estados sentem-se coagidos a aceitar as políticas à propriedade, e reputava o Estado como um potencial destruidor
do país hegemônico. De forma complementar, o país hegemônico desses direitos. Destaca-se, portanto, o interesse na construção de
pode obter o consentimento dos demais Estados por meio de sua uma sociedade calcada no indivíduo, que lhe pudesse assegurar as
liderança dentro do sistema internacional, que se dá pela sua influ- melhores condições para a fruição de sua liberdade.
ência cultural, moral e intelectual. Consequentemente, as políticas No tocante à política internacional, a grande preocupação
encampadas pelo país hegemônico podem ser percebidas como be- dos liberais era em relação à criação de um ambiente propício à
néficas pela totalidade dos países. Consequentemente, a existência paz mundial. Esse panorama tornar-se-ia possível na medida em
de um país hegemônico, no interior do sistema internacional, fo- que fossem criadas e impulsionadas instituições que coibissem os
menta o debate sobre polos de poder. vícios e os maus costumes, de forma a promover uma sociedade
Os polos de poder, nas RI, referem-se à percepção generalizada mais equilibrada e bem ordenada. Na visão liberal, o Estado era,
de que alguns países, isolada ou conjuntamente, possuem capaci- muitas vezes, responsável por perpetrar distorções nocivas ao bem
dades para influenciar e liderar a política internacional de forma comum, que acabavam fazendo com que se sobrepusessem inte-
sistêmica. Destarte, pode-se dizer que a análise das Relações Inter- resses individuais à vontade geral. A guerra, por exemplo, seria
nacionais leva em consideração a uni, a bi ou a multipolaridade do fruto desse processo, uma vez que ela decorria da disputa política
sistema internacional. de determinados grupos, ainda que fosse travada em parâmetros
No caso de um sistema unipolar, pode-se usar como exemplo nacionais. Para os liberais, o uso da razão — que todos possuímos
os contextos históricos do império romano (Pax-Romana) e do im- — viabilizaria a construção de uma ordem internacional mais pací-
pério britânico (Pax-Britânica). Nesses exemplos, ainda que outros fica, pois os custos da guerra excederiam largamente os seus even-
Estados possuíssem capacidades, Roma e Inglaterra exerciam a he- tuais benefícios. Seria imperativo, logo, propiciar mecanismos que
gemonia do sistema internacional (MAGNOLI, 2004). dessem vazão aos desejos dos indivíduos, que atentariam mais à
Quando se percebe que a hegemonia do sistema é exercida prosperidade moral e material do que às rusgas interestatais.
de forma compartilhada entre dois Estados, tem-se a bipolaridade A percepção dos liberais a respeito da guerra pode ser sinte-
como característica patente do sistema. Em vista disso, é consolida- tizada pela afirmação do filósofo Immanuel Kant (1989), que dizia
da a ideia de que o período da Guerra-Fria foi marcado pela bipola- que esta era “o esporte dos reis”, pois era praticada sem levar em
ridade (URSS/EUA) do sistema internacional. consideração os benefícios da população. Assim, considerava-se
Por fim, as últimas três décadas têm sido caracterizadas pelo que o sistema de Estados era caracterizado pela anarquia, aqui en-
debate recorrente sobre a multipolaridade, a unipolaridade ou uni- tendida não como sinônimo de caos, mas de ausência de autorida-
-multipolaridade do sistema internacional. Essa constatação dá-se de superior aos Estados. Pairava no ar a possibilidade de que um
pelo fato de que embora os Estados Unidos sejam a maior potência simples desentendimento pudesse desencadear um conflito arma-
militar e econômica do planeta, os custos financeiros e políticos do do. Desse modo, se, por um lado, era prerrogativa estatal a defesa
exercício da hegemonia sobre o conjunto do sistema internacional da integridade física do seu território e de seus habitantes, também
são muito elevados. Dessa forma, abrem-se espaços para que ou- era verdade que muitas das violações partiam dos próprios Esta-
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dos, configurando um dilema de segurança. No entanto, esse qua- atores precípuos das Relações Internacionais. Ainda que empresas,
dro poderia ser alterado se os cidadãos fossem ativos na política e organizações não governamentais (ONGs), organizações internacio-
propusessem soluções que tornassem o sistema internacional mais nais, fóruns multilaterais, etc. tenham alguma pressão sobre o sis-
cooperativo e pacífico. tema internacional, é somente no âmbito interestatal que se dão as
A perspectiva liberal — que considerava o mundo como um am- lutas por poder. A fim de esclarecer seu ponto de vista, os realistas
biente hostil em virtude da anarquia, mas plenamente possível de frequentemente recorrem à imagem do jogo de bilhar para explicar
ser aperfeiçoado pelas instituições e pelas ideias adequadas — foi o comportamento estatal: os Estados seriam como bolas de bilhar
duramente criticada por um grupo de analistas que veio a constituir no tabuleiro geopolítico mundial, ou seja, até poderiam variar em
a escola rival: o realismo. De acordo com os realistas, o componente termos de tamanho e cor, mas desempenhariam basicamente as
anárquico da sociedade internacional não só potencializa as chan- mesmas funções. À primeira vista, essa perspectiva soa imprecisa,
ces de guerras, mas também as garante. A inexistência de uma ins- uma vez que se admite que há conflitos internos nos Estados sobre
tância supranacional, que coordene e limite a ação estatal, faz com o que constituiria o interesse nacional. No entanto, para os realis-
que cada um seja livre para perseguir os seus próprios objetivos. tas, esses antagonismos seriam resolvidos internamente, de modo
Eventualmente, então, é inevitável que ocorram disputas entre as que, ao final, somente uma posição tivesse primazia.
nações, uma vez que frequentemente os interesses são conflitivos. O entendimento liberal sobre o Estado diverge, em muitos as-
Ademais, ressalta-se o fato de que a anarquia é também um desin- pectos, da visão realista. Acima de tudo, observa-se que, para os
centivo à cooperação, pois há sempre um elevado risco de que um pensadores liberais, as Relações Internacionais estão compostas por
lado trapaceie, o que acabaria com a colaboração mútua. Cientes inúmeros atores expressivos, não somente os Estados. Enfatiza-se,
desse cenário, segundo o realismo, os Estados seriam reticentes às então, que as instituições estatais são palcos de grandes contendas,
iniciativas de promoção da paz e tratariam de priorizar sua própria o que faz com que nem sempre seja possível visualizar uma postura
segurança. única em relação a temas complexos. Enquanto alguns grupos de
A crítica realista em relação à abordagem liberal era bastan- pressão atuam em um sentido, outros vão em direção oposta, e o
te dura, na medida em que essas interpretações eram reputadas Estado, muitas vezes, não consegue escapar a essa dubiedade. Na
como normativas e não avaliativas. Edward Carr (1981), por exem- mesma linha, frisam os liberais, as organizações internacionais tam-
plo, dizia que os pensadores de Relações Internacionais se dividiam bém são mecanismos indispensáveis, pois limitam a atuação dos
entre os idealistas — termo vulgarmente utilizado para denominar Estados (punindo os transgressores de regras e recompensando
os liberais — e os realistas. Para Carr, enquanto estes estariam pre- quem as obedece) e facilitam a cooperação, pois a presença de um
ocupados em entender o mundo tal como era, aqueles teriam uma canal de comunicação poderia diminuir a descrença generalizada e
“visão rósea” da política internacional, ignorando dinâmicas essen- favorecer o entendimento mútuo.
ciais que eram fonte de disputas entre as grandes potências. Funda- Ainda sobre o tema do Estado, nota-se que os realistas não
mentalmente, Carr assentava suas premissas no contexto histórico fazem distinção entre o sistema político-econômico que cada país
em que vivia, quando o mundo rumava para a II Guerra Mundial, adota, não observando diferenças entre socialismo e capitalismo,
pondo um termo definitivo à ideia de que a Grande Guerra pudesse ditadura e democracia. Na ótica realista, todos os Estados têm as
ter sido a “guerra para acabar com todas as guerras”. Além disso, a mesmas funções: garantir sua sobrevivência e velar por seus pró-
falência da Liga das Nações em acomodar interesses distintos e im- prios interesses. O regime político pode ser importante para deter-
pedir o uso da força como recurso de poder também ia de encontro minar os meios pelos quais uma nação escolhe agir, mas não altera
às premissas liberais, sinalizando a necessidade de problematizar o suas funções básicas. Na Guerra Fria, por exemplo, Estados Unidos
tema de maneira menos normativa. e União Soviética, a despeito de suas discrepâncias institucionais e
Embora tanto o realismo quanto o liberalismo tenham mudado econômicas, eram sempre colocados em um mesmo patamar: am-
significativamente ao longo dos anos, é possível observar, com a bos eram superpotências e procuravam expandir sua área de influ-
classificação proposta por Carr, algumas diferenças importantes nas ência no mundo. Novamente, portanto, os realistas retomam a me-
duas tradições. Em primeiro lugar, salienta-se que realistas e liberais táfora das bolas de bilhar, que até podem não ser iguais em termos
concordam em relação ao ordenamento do sistema internacional, de tamanho e coloração, mas comportam-se de modo idêntico.
entendido como anárquico. Novamente, ressalta-se que a anarquia Na visão liberal, caso haja uma dessemelhança representativa
contrapõe-se à hierarquia e não implica uma condição de caos per- no que tange à política e à economia, não é correto considerar todos
manente. Malgrado esse ponto de encontro, é elementar recordar os países como se fossem iguais. Em alguma medida, para os libe-
que a anarquia do sistema não tem os mesmos efeitos para as duas rais, existem Estados melhores e piores: aqueles são democráticos
escolas. Para os realistas, dada a inexistência de uma instância su- e encampam o livre-comércio, ao passo que estes se comportam
pranacional capaz de acomodar interesses e solucionar contendas, de maneira contrária. Essa distinção não se deve apenas a ques-
trata-se de um elemento causador de desequilíbrios e de confron- tões morais e normativas, mas também dizem respeito à conduta
tos: como os Estados só têm a si mesmos para atingir seus objeti- empregada pela nação para resolver os seus conflitos. Isso porque,
vos, não há como evitar a ocorrência de guerras. Já os liberais, por segundo os liberais, as democracias não tendem a entrar em guerra
outro lado, não negam a relevância da anarquia como motivador de entre si, ainda que eventualmente possam entrar em um confronto
disputas, mas lembram que instituições desenhadas com base na armado com uma ditadura. Essa análise remete à paz republicana
racionalidade humana têm condições de atenuar desconfianças e de Immanuel Kant, que via nas repúblicas as virtudes necessárias
promover a cooperação. para a concórdia mundial, em oposição ao belicismo das monar-
À desavença em relação às consequências da anarquia, soma- quias absolutistas. Em virtude disso, convencionou-se chamar de
-se a discórdia sobre o papel do Estado nas Relações Internacionais. “paz democrática” essa faceta do pensamento liberal.
Esse ponto é absolutamente basilar para realistas e liberais e pauta
suas discussões até hoje. Na perspectiva realista, os Estados são os
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A ideia de que democracias não guerreiam entre si merece al- outra. A política internacional, logo, seria um jogo de soma zero,
gum crédito, uma vez que, de fato, não se registram muitos confli- pois o ganho que um país tem seria uma perda em comparação ao
tos armados entre Estados com regimes democráticos. De acordo outro: o poder é a capacidade de influenciar o sistema mais do que
com os liberais, esse fenômeno ocorre em função do peso da opi- ser influenciado por ele. Destaca-se, ainda, o caráter político-militar
nião pública nesses países, que teria muito mais importância para a da noção de poder para os realistas. Isso porque, como vivemos em
formulação da política externa do que nas ditaduras. Desse modo, uma sociedade anárquica e a sobrevivência é o objetivo último de
enquanto governos autoritários podem prescindir do apoio popu- todos os Estados, os recursos disponíveis que cada um tem para
lar para se aventurar em uma investida militar, as democracias são assegurar sua integridade territorial são os seus meios de exercer
muito mais responsivas às demandas da população, o que seria um pressão no sistema internacional.
desincentivo à guerra. Entretanto, embora a hipótese liberal tenha Sendo a política internacional um campo de disputa por poder,
respaldo empírico, o elo causal apresentado é frágil em termos de como pensam os realistas, a chave para entendê-la seria analisar
coerência interna. Afinal, questionam os realistas, se a opinião pú- a balança de poder entre as grandes potências, a qual resultaria,
blica desempenha um papel proeminente na manutenção da paz, sobretudo, da capacidade militar de cada um. Os liberais, no entan-
por que países democráticos iniciaram inúmeras vezes guerras con- to, não compactuam com aspectos fundamentais dessas premissas,
tra ditaduras? Ademais, muitas vezes as hostilidades começaram ainda que não discordem de tudo. Estão de acordo, por exemplo,
com o apoio da opinião pública, como atesta a Guerra do Iraque com a ideia de que todos os Estados buscam aumentar seu poder
(2003). na esfera internacional, cientes de que isso é crucial para a obten-
Como o realismo trata os Estados independentemente de seu ção de suas metas. Não obstante, os liberais creem que a preocu-
regime político, a teoria da paz democrática é terminantemente re- pação com a segurança nem sempre é prioritária para os países,
chaçada por expoentes realistas, que argumentam não haver qual- que só dariam relevância ao tema quando realmente ameaçados
quer incompatibilidade para uma guerra entre dois países democrá- por um competidor. Na maioria dos casos, o propósito principal te-
ticos. Os realistas salientam a incapacidade dos liberais em explicar ria um fundo econômico. Assim, nem seria o poder um conceito
o nexo causal entre a paz e o sistema de governo, objetando que predominantemente militar, nem seria um jogo de soma zero, pois
o peso da opinião pública não é suficiente para legitimar a paz de- benefícios econômicos podem ser usufruídos por todas as partes,
mocrática. Todavia, ainda que os realistas tenham êxito em apontar sem que ninguém saia prejudicado. Por fim, o liberalismo prevê que
as falhas teórico-metodológicas nas explicações dos liberais sobre a interdependência gera ganhos de margem de manobra para os
o assunto, não têm o mesmo sucesso no tocante à refutação da Estados teoricamente mais fracos, que se podem valer de suas van-
hipótese per se. Dada a intransigência do realismo em apontar, tagens comparativas para pressionar as grandes potências, como
nas diferenças internas de cada Estado, a razão para seu compor- atesta a crise do petróleo de 1973.
tamento externo, é lógico que os autores dessa corrente não veem Em termos cronológicos, nota-se que o primeiro autor que do-
nenhuma impossibilidade em uma guerra entre duas democracias. tou o realismo de um senso teórico organizado e bem acabado foi
Porém, como inexistem exemplos significativos que demonstrem o o germano-americano Hans Morgenthau (2003), em seu livro Polí-
contrário, a paz democrática permanece inexplicada pelo realismo. tica entre as Nações. Nessa obra, considerada o ponto de partida
Outra aposta dos liberais para dirimir os riscos de um conflito para o estudo da teoria de Relações Internacionais, o autor subli-
armado interestatal é o livre-comércio. Esse seria um mecanismo nha seis princípios básicos que norteariam o sistema internacional:
fundamental porque criaria estímulos para que empresários e con- (a) a política, tal como a sociedade, é regida por leis objetivas, que
sumidores pressionassem seus Estados a não entrarem em guer- espelham a natureza humana; (b) o poder é o objetivo comum de
ra, com receio de que a contenda desvirtuasse o fluxo de bens e todos os Estados; (c) o poder é um conceito universalmente defini-
serviços, prejudicando a economia local. Mais uma vez, essa inter- do, mas que se expressa diferentemente de acordo com o tempo e
pretação é rejeitada pelos pensadores realistas, que asseveram que o espaço; (d) os princípios morais são fundamentais para as Rela-
as questões de segurança nacional têm primazia sobre os aspectos ções Internacionais, mas são subordinados aos interesses da ação
econômicos, o que reduziria drasticamente os efeitos positivos de política e à prudência do estadista; (e) os princípios morais não são
uma interdependência comercial. A esse respeito, realça-se que universais, mas particulares; (f) a esfera política é autônoma em re-
esse assunto pode ser analisado de duas formas, cada uma favo- lação a outras esferas sociais.
rável a uma escola. De fato, a história documenta fartamente guer- O estudo seminal de Morgenthau sobre as Relações Interna-
ras entre países que tinham intenso fluxo comercial, com destaque cionais foi, naturalmente, alvo de apreciações, elogios e críticas,
para a I Guerra Mundial, o que parece corroborar o pressuposto mesmo entre pensadores realistas que o sucederam. John Herz
realista. Contudo, os liberais sublinham a dificuldade para se esta- (1950), por exemplo, enalteceu o esforço de Morgenthau para le-
belecer uma contraprova, visto que muitos conflitos podem ter sido var adiante o realismo, mas também apontou as fraquezas de sua
evitados por pretextos comerciais, sem que isso possa ser definiti- obra. Herz acreditava que Política entre nações pecava ao tratar a
vamente provado. busca por poder como variável residual das ambições humanas: na
Realistas e liberais também discordam em um elemento-chave visão de Morgenthau, os Estados queriam ser poderosos porque as
das Relações Internacionais: o poder. Enquanto o realismo costuma pessoas têm essa característica. Herz concordava com a premissa
tratar o poder como a variável máxima da disputa interestatal, o de que a procura por poder era um elemento definidor das Rela-
liberalismo ressalta que esse conceito tem de ser problematizado ções Internacionais, mas argumentava que a causa não derivava de
à luz da crescente interdependência econômica e política entre os questões psicológicas, e sim do componente anárquico do sistema
Estados. Assim, observa-se que os realistas veem o poder como a internacional. Afinal, como todos os Estados somente dependem
soma relativa das capacidades dos países em termos políticos, mi- de si para garantir sua sobrevivência, é natural que exista uma cor-
litares, econômicos e tecnológicos, enfatizando o poder em seus rida para obter os meios necessários para tanto. O problema é que
aspectos relativos, ou seja, o poder que uma nação tem sobre a a única maneira de se proteger é se armar, e, naturalmente, isso é
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percebido como uma ameaça pelos demais. Essa situação configu- que diminui as incertezas e a assimetria de informações; (b) agenda
ra um dilema da segurança, pois o sucesso individual depende do múltipla: contrariamente a outros períodos, os temas de segurança
mal-estar coletivo. já não são hierarquicamente superiores às questões econômicas,
A crítica de Herz foi assimilada por outro realista, Kenneth sociais, ambientais e tantas outras, fazendo com que as vantagens
Waltz, em O Homem, o Estado e a Guerra (1959). Esse trabalho, sob comparativas de cada Estado não sejam absolutas, mas relativas;
o ponto de vista metodológico, é de suma relevância para as Rela- (c) utilidade decrescente do uso da força: dado o envolvimento e a
ções Internacionais, pois reúne e categoriza um conjunto de visões intensa comunicação entre os atores globais, a possibilidade de re-
sobre as origens da guerra no sistema interestatal. Na perspectiva correr à força torna-se cada vez menor, ainda que não desapareça.
de Waltz (1959), a literatura costuma dividir as razões pela disputa Essa situação aumenta os recursos à disposição dos Estados mais
de poder em três imagens. A primeira, enunciada por Morgenthau fracos militarmente, reforçando sua margem de manobra perante
e outros autores, pressupõe que há conflitos porque os seres hu- as grandes potências.
manos têm uma necessidade inata e insaciável de obter mais poder, O estudo de Keohane e Nye (2001) suscitou um grande inte-
impedindo a manutenção da paz entre as nações. A segunda, por resse por parte dos acadêmicos de Relações Internacionais, que os
sua vez, vê os Estados como responsáveis pelas guerras, dadas as classificaram como neoliberais, na medida em que sua teoria, ain-
suas necessidades e interesses individuais. Finalmente, a terceira da que compartilhasse do legado da tradição liberal, acrescentava
imagem (que se baseia no dilema da segurança) dá conta da anar- elementos novos à análise, aproximando-a da vertente realista em
quia do sistema internacional como a motivação básica pela qual os alguns pontos. Curiosamente, na sequência, deu-se um processo
países têm de acumular poder, uma vez que a ausência de um órgão semelhante no realismo, com o lançamento da Teoria da Política In-
supranacional capaz de garantir a ordem faria com que os Estados ternacional, de Kenneth Waltz (1979). Esse autor dedicou-se a res-
tivessem de elevar os recursos à sua disposição, não por veleidades ponder às críticas que a vertente realista vinha sofrendo ao longo
individuais, mas devido à insegurança estrutural do sistema. dos anos 70, quando a teoria da interdependência complexa ganha-
O avanço do realismo deveu-se, em boa medida, à conjuntura va força na academia. Para tanto, Waltz (1979) realizou um estudo
internacional dos anos 1950-60, quando a hostilidade entre Estados cujo objetivo era dar uma base mais sólida e científica ao realismo,
Unidos e União Soviética acentuou-se vigorosamente. Esse pano- com a ideia de que a teoria ainda tinha uma grande capacidade de
rama conflituoso parecia confirmar as principais hipóteses dos re- explicação das Relações Internacionais, desde que adequadamente
alistas, que viam com desconfiança as perspectivas de cooperação estruturada. Há, então, discordâncias em relação aos realistas clás-
entre os Estados e davam especial relevância aos temas de poder e sicos, razão pela qual Waltz (1979) é considerado o fundador do
de competição militar. Contudo, esse cenário se alterou substancial- neorrealismo.
mente na década de 70, quando a détente entre Moscou e Washin- O intuito de Waltz (1979) era fazer uma análise estrutural do
gton começou a dar frutos, dirimindo as tensões e abrindo margem realismo, com a perspectiva de que a causa das guerras está no as-
para o diálogo entre as grandes potências. Além disso, esse período pecto anárquico do sistema internacional. O autor, assim, rejeita a
foi profícuo em termos de parcerias interestatais, e a crise do petró- primeira e a segunda imagem da política internacional, asseveran-
leo de 1973 indicava que os liberais estavam certos ao enfatizar as do que é a terceira a fonte de conflitos entre as grandes potências.
questões econômicas e o tema de interdependência como um eixo Em sua ótica, toda estrutura era composta de três atributos básicos:
basilar das Relações Internacionais, que sempre foi menosprezado princípio ordenador, características de suas unidades e distribuição
pelos teóricos realistas. de capacidades. O primeiro, segundo Waltz (1979), diz respeito à
Foi nessa conjuntura favorável que, em 1977, os liberais Robert natureza do sistema: anárquica ou hierárquica. Nas Relações Inter-
Keohane e Joseph Nye publicaram Poder e Interdependência: políti- nacionais, portanto, é a anarquia que rege os Estados. Já o segundo
ca mundial em transição (2001), no qual argumentavam que os pro- está relacionado à produção de recursos. Diferentemente de uma
cessos transnacionais estavam alterando as dinâmicas do sistema economia de mercado, onde cada um se especializa no que faz de
internacional. Em sua visão, os países cada vez mais se deparavam melhor, a política internacional é marcada pela autoajuda: cada Es-
com problemas que se originavam em espaços que estavam fora do tado conta somente consigo mesmo para realizar suas tarefas. En-
seu controle. Na mesma linha, os atores não estatais tornaram-se fim, a distribuição das capacidades trata dos meios relativos que
mais relevantes para a política internacional, complexificando as cada país tem, ou seja, quantas são as grandes potências. Nesse
Relações Internacionais. Esse quadro acelerava a interdependência livro, Waltz (1979) afirma que o sistema é bipolar ou multipolar,
entre os Estados, o que proporcionava uma nova agenda de discus- não abrindo espaço para a unipolaridade que se seguiu à queda da
sões sobre conflito e cooperação. Diferentemente dos liberais an- União Soviética.
teriores, porém, Keohane e Nye (2001) tinham uma interpretação Como vimos, o debate nas Relações Internacionais está forte-
menos normativa da interdependência, que sempre fora reputada mente ligado à conjuntura, com o avanço e o retrocesso das esco-
como um fator de estabilidade e concórdia pelo liberalismo. Para las refletindo o clima político entre as grandes potências. Assim, os
esses acadêmicos, embora a interdependência pudesse favorecer a anos 80 foram de predomínio realista, em decorrência da Segunda
cooperação, ela também era um fator de disputa e um recurso de Guerra Fria. No entanto, com a derrocada da União Soviética, viu-se
poder. Observa-se, portanto, uma tentativa de conciliar aspectos da um refluxo do realismo, acompanhado de um progresso do ideário
teoria realista com os preceitos liberais. liberal. Isso porque o triunfo do bloco ocidental foi perseguido pelos
A obra de Keohane e Nye (2001) está assentada em três fun- liberais como um sintoma da superioridade do capitalismo e da de-
damentos que norteiam a configuração da política internacional a mocracia, que nunca mais seriam seriamente questionados. Então,
partir da interdependência complexa: (a) existência de múltiplos seria inaugurada uma nova era das Relações Internacionais, na qual
canais de comunicação e negociação: os Estados não têm o mo- os países não mais lutariam entre si, mas competiriam por merca-
nopólio das negociações internacionais, que são feitas com vários dos e investimentos. Essa perspectiva foi consubstanciada no livro
atores (estatais ou não) em circunstâncias formais e informais, o O Fim da História e o Último Homem, de Francis Fukuyama (1992),
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que via no êxito dos Estados Unidos uma vitória da civilização oci- críticas, inclusive de autores não liberais, mas tem seguidores nas
dental, que seria emulada por todos os países que aspirassem ao teorias pós-modernas como o construtivismo e a teoria crítica. Do
desenvolvimento econômico e social. mesmo modo, os pensadores liberais também parecem anestesia-
Na década de 90, por conseguinte, floresceram teorias que dos com os principais eventos políticos do século XXI, que mostra-
pressupunham o fim dos conflitos militares, na medida em que os ram que o seu otimismo em relação à paz entre as nações e a inter-
Estados se tornavam capitalistas e democráticos. Nesse quadro, as dependência era precipitado, na medida em que os conflitos ainda
guerras ficariam circunscritas a regiões “atrasadas”, que ainda não estavam na agenda dos Estados.
haviam tomado o rumo do “progresso”. Essa hipótese se assenta-
va nas noções anteriormente mencionadas, para as quais, os con- Visões Alternativas: Marxismo, Teoria da Dependência, Teoria
frontos armados se deviam às características internas dos Estados. Crítica e Construtivismo
Desse modo, como todos os países teriam o interesse em aderir ao
capitalismo e à democracia, acentuar-se-ia o processo de interde- O marxismo, no campo das Relações Internacionais, procurou
pendência. Esse, por sua vez, não implicaria ausência de tensões estabelecer-se como um contraponto tanto ao realismo como ao
interestatais, mas dirimiria os riscos de uma guerra, dado o cres- liberalismo. Curiosamente, seja exatamente por esse motivo, seja
cente peso das instituições internacionais, o papel dos atores extra- por questões metodológicas, essa corrente jamais logrou o status
estatais e a convergência de interesses, fazendo com que o recurso de mainstream nas discussões sobre teoria das Relações Internacio-
à força passasse a ser contraproducente. Ou seja, seria inevitável o nais, especialmente nos Estados Unidos. Como veremos, o pensa-
crescimento dos Estados “bons”, que fariam do sistema internacio- mento marxista, em Relações Internacionais, teve maior repercus-
nal um ambiente mais pacífico. são nas academias fora do eixo América do Norte-Europa Ocidental.
Com o passar dos anos, a crença liberal em um mundo sem É o caso do marxismo-leninismo, que chegou a ser a doutrina oficial
guerras foi-se diluindo — movimento acompanhado por um ressur- de nações de orientação socialista e da teoria da dependência, que
gimento da tradição realista. Em 2001, John Mearsheimer publicou teve expoentes em vários pontos do chamado Terceiro Mundo.
A Tragédia das Grandes Potências, que foi considerado por muitos Apesar de não ter elaborado análises diretas sobre as Relações
como o exemplo mais bem acabado do realismo em termos teóri- Internacionais, e de ter dado pouca atenção ao papel do Estado
cos. Nessa obra, Mearsheimer tratou de demonstrar que sua cor- no plano mundial, Karl Marx inspirou um abrangente e bastante
rente ainda era muito útil para as Relações Internacionais, ainda diversificado conjunto de visões em diversos campos das Ciências
que não fosse a única capaz de explicar fenômenos políticos rele- Sociais. Um aspecto comum a quase todos os desdobramentos
vantes. Mais do que criticar o liberalismo, porém, o autor procurou do pensamento marxista, especificamente nas RI, é o primado em
levar adiante o neorrealismo de Kenneth Waltz (1979), que Mear- pensá-los como um produto do desenvolvimento das relações de
sheimer definia como um realismo defensivo. Isso porque, embora produção em dado período histórico. Nessa leitura, o sistema de
Waltz, em Teoria da Política Internacional, tivesse dado uma grande Estados contemporâneo seria apenas uma forma peculiar de orga-
contribuição ao realismo nos aspectos metodológico e científico, nização das comunidades políticas, calcadas no princípio da territo-
sua visão não explicava por que as grandes potências iniciavam rialidade e no conceito de nação, e não na formação “natural” de
guerras. Para Mearsheimer, Waltz (1979) havia adotado uma pos- entidades políticas com base na comunhão de valores, como etnia,
tura conservadora, que não dava conta de que os Estados tinham, raça ou história comum.
muitas vezes, motivos para encetar um confronto armado. Os autores marxistas, em RI, não compartilham da visão predo-
Segundo esse acadêmico, as Relações Internacionais são mar- minantemente benigna dos liberais acerca do capitalismo e do co-
cadas pela anarquia internacional e são estruturadas em torno de mércio internacional como um jogo de soma positiva para os atores
atores racionais, os Estados. Assim, há uma competição entre eles, envolvidos. De forma semelhante aos realistas, são, em geral, bas-
e o principal objetivo é a sobrevivência. Esse ponto é chave, pois tante céticos em relação à possibilidade de cooperação equânime e
considera que o poder não é uma meta, mas sim um meio para atin- mutuamente benéfica entre os agentes que a praticam. Em relação
gir um propósito. Além disso, Mearsheimer salienta que o elemento aos realistas, os marxistas questionam a premissa de que os Estados
que representa uma grande potência é sua capacidade militar. Des- agem autonomamente no sistema internacional, sem considerar as
sa forma, ainda que os recursos tecnológicos e econômicos sejam disputas e os interesses das classes sociais. Esses conflitos sociais,
importantes, eles somente o são quando podem ser convertidos ademais, não necessariamente se limitam às fronteiras nacionais, e
em termos militares. Nessa linha, Mearsheimer também é cético podem-se alastrar em compasso com a conformação do capitalis-
quanto às possibilidades da diplomacia na política internacional, mo global. As classes sociais, assim, precedem os Estados na escola
que é insuficiente quando há um risco de intervenção militar. Na marxista.
realidade, em sua interpretação, o que ocorre é que todas as gran- A seguir, abordaremos algumas das principais subdivisões do
des potências querem ser únicas no cenário internacional, o que faz marxismo nas RI, tendo-se em mente o contexto em que surgiram:
com que elas balanceiem o poder com suas rivais, a fim de eliminá- o leninismo, as teorias da dependência e, mais recentemente, a te-
-las e certificar sua sobrevivência. oria crítica. Apresentaremos algumas visões mais representativas
A teoria de Mearsheimer, que ficou popularizada como o re- de cada uma dessas divisões, e, na medida do possível, contrasta-
alismo ofensivo, constitui o último esforço de grande repercussão remos com outras teorias, tanto com as de outras escolas de pen-
de sua escola, por mais que muitos artigos realistas tenham sido samento (realismo e liberalismo), como com as de outros ramos do
publicados desde então. A corrente, conquanto seja respeitada e próprio marxismo.
replicada cotidianamente nas Relações Internacionais, já não goza Como vimos anteriormente, tanto liberais como realistas ten-
do mesmo prestígio que teve ao longo do século XX, sobretudo nos dem a caracterizar o sistema internacional como anárquico, em fun-
períodos em que havia uma crise aguda entre as grandes potências ção da inexistência de uma autoridade central que se sobreponha
do sistema internacional. Atualmente, o realismo é alvo de duras aos Estados. No marxismo, premissas como a inexistência de um
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governo mundial, ou a preeminência dos Estados como principais forma de garantir a sobrevivência do sistema social, a URSS bus-
atores não seriam suficientes para entender a ordem global. Tam- cou, com diferentes graus de intensidade, a defesa do princípio da
pouco seria útil, nessa visão, o emprego da categoria analítica anar- coexistência pacífica entre os diferentes sistemas socioeconômicos.
quia internacional. Quase todos os autores marxistas compartilham Essa postura seria alvo de fortes críticas na China, especialmen-
da visão de que a ordem global é essencialmente hierárquica, co- te a partir de meados da década de 50. Com a chegada ao poder
abitada por atores mais poderosos (ou centrais) que restringem o de Nikita Khrushev em 1953, a URSS passou a defender mais cla-
campo de ação dos mais fracos (ou periféricos). ramente a tese da coexistência pacífica com os países capitalistas,
enquanto a China sob o mando de Mao Zedong passou a arguir
Lênin e a Teoria do Imperialismo a necessidade de ampliar a luta anti-imperialista nos países peri-
féricos, favorecendo, inclusive, a aliança entre os comunistas e a
Vladimir I. Lênin elaborou aquilo que se tornaria a primeira e burguesia local mais progressista . Como resultado, já em 1959 ob-
decisiva contribuição marxista ao pensamento nas serva-se uma deterioração progressiva das relações entre os dois
Relações Internacionais. Sua principal contribuição teórica, a países, a ponto de colocá-los à beira de uma confrontação militar
obra Imperialismo como a Fase Superior do Capitalismo, foi publi- aberta em 1969.
cada em 1917 , meses antes da Revolução de Outubro na Rússia, e
pouco menos de um ano antes da anunciação dos 14 Pontos pelo As RI na Periferia: a Teoria da Dependência
então presidente americano Woodrow Wilson, os quais embasa-
riam a vertente liberal nas RI. Na análise leninista, a fase mono- Parte dos autores da chamada teoria da dependência, tam-
polista do capital (a que ele chama de imperialismo), visível já no bém chamados de dependentistas radicais, tinha como referência
final do século XIX, envolve a expansão das empresas monopolistas teórica o marxismo, dentre os quais se situam, entre outros, Andre
nacionais para o exterior, cujo resultado é a contradição observada Gunder-Frank, Theutônio dos Santos, Samir Amin e Immanuel Wal-
entre os Estados que as representam. lerstein. Diferentemente de Lênin e Marx, esses autores têm uma
Podemos destacar alguns pontos de contato do leninismo posição em geral mais cética sobre o efeito civilizador do capitalis-
com outras grandes tradições teóricas em RI. Com o realismo, Lê- mo nas economias coloniais. Nesse sentido, a própria inserção das
nin poderia concordar que o sistema internacional é composto por colônias e dos países recém-emancipados no capitalismo interna-
Estados nacionais, detentores de diferentes capacidades de poder. cional é um fator para o subdesenvolvimento da periferia ou posi-
No entanto, suas divergências são mais relevantes: a desigualdade ção dependente desta em relação ao centro.
entre os Estados, para Lênin, é explicada pela evolução desigual do Embora a preocupação central desses autores tenha a ver com
sistema econômico e dos meios de produção. O interesse nacional, os desdobramentos internos da condição de subdesenvolvimento,
além disso, deve ser entendido conforme os interesses econômi- e não exatamente com sua política externa, observa-se a importan-
cos dos grandes conglomerados e dos monopólios nacionais, e não te análise da relação entre os países do centro e da periferia como
como algo dado. O autor russo vai além: os principais Estados mo- uma relação de dependência. As análises desses autores convergem
nopolistas disputam entre si colônias e áreas de influência como parcialmente com o estruturalismo realista de Waltz (1979), espe-
consequência da expansão de suas atividades econômicas; por esse cialmente no que se refere à premissa de que a ação dos atores é
motivo, as relações entre eles tendem ao conflito. Esse aspecto foi condicionada pelo sistema internacional. As divergências, no entan-
a principal disputa travada com outro autor influenciado por Marx, to, são bastante evidentes: se, para os realistas, o que diferencia os
Karl Kautsky, para quem as potências capitalistas poderiam evitar a países são, sobretudo, seus recursos materiais, para os dependen-
guerra e cooperar, de maneira a reduzirem os gastos com defesa e tistas, a dialética centro-periferia, na economia mundial, funciona
se contraporem ao movimento revolucionário dos trabalhadores. como um ponto de partida. Em linhas gerais, os países periféricos
Analisado tanto por Lênin como pelos primeiros autores libe- permanecerão explorados pelo centro devido à deterioração dos
rais, o conceito de autodeterminação significava a luta dos povos termos de troca no comércio internacional e à ampliação dos in-
contra a dominação ou opressão por parte de potências estran- fluxos de investimentos externos diretos, o que gera desequilíbrios
geiras. Mas a autodeterminação, para Lênin, era expressão da luta crescentes em seu balanço de pagamentos.
nacionalista (que visava à emancipação política) e anti-imperialista Os teóricos dependentistas radicais rejeitam a concepção típi-
(refratária à dominação econômica), ao passo que na linha de ra- ca dos realistas, a de que os Estados se comportam racionalmente
ciocínio liberal significava apenas a conquista da soberania política no sistema internacional, de acordo com sua agenda de interesses
por parte dos povos que tivessem alcançado determinado grau de nacionais. Samir Amin (1987), por exemplo, argumenta que a de-
maturidade e civilização. pendência é construída entre o capital internacional e a burguesia
O leninismo tornou-se a ideologia oficial com a vitória da re- nacional governante, e é a partir dessa relação entre classes sociais
volução socialista na Rússia, em novembro de 1917 , ainda que seu de diferentes países que se deve entender a exploração das massas
legado tenha sido alvo de importantes disputas após a morte de no Terceiro Mundo. Para estancar o processo de transferência de
Lênin, em 1924. No que se refere à política externa da URSS, com a valor da periferia para o centro, ele defende a ruptura dos países
chegada de Josef Stalin ao poder em 1929, coube ao governo sovi- periféricos com o capitalismo central por meio de uma revolução
ético a tarefa de atenuar o isolamento internacional imposto pelas socialista. Esse é um contraponto em relação às teorias menos radi-
potências ocidentais e precaver-se do anticomunismo das potên- cais, como as de Celso Furtado e Raúl Prebisch, os quais defendiam
cias fascistas, especialmente Alemanha e Japão. A Guerra Fria era o desencadeamento da industrialização, principalmente pelo me-
vista, na academia soviética, não apenas como um conflito interes- canismo de substituição de importações, como forma de superar o
tatal, mas também — e, principalmente —, como interclassista: os subdesenvolvimento econômico.
países capitalistas representavam os interesses burgueses, ao passo
que os socialistas, o do proletariado no poder. No entanto, como
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A teoria do sistema-mundo de Immanuel Wallerstein (1974) é nuclear pouco havia alterado; mas um exame mais aprofundado
uma das mais influentes na escola marxista. O conceito de siste- acerca da quebra da legitimidade de instituições soviéticas, como
ma-mundo proposto é uma estrutura econômica integrada, a qual o Partido Comunista, por exemplo, poderia dar pistas acerca das
apresenta um componente dinâmico, a lógica da acumulação de mudanças que se sucederam no final daquela década.
capital. Por meio dessa lógica dinâmica, os espaços diferenciam-se O principal alvo dos autores críticos é, entretanto, a tradição
ao longo do tempo em três categorias: os centros de poder econô- realista. Robert Cox (1987), autor canadense, questiona o caráter
mico, as periferias, e as semiperiferias, as quais se estabelecem em científico tanto do realismo como do liberalismo (tidos por ele
uma posição intermediária entre as duas anteriores. Enquanto as como visões positivistas). Segundo esse autor, o realismo acabou
regiões centrais apresentam atividades econômicas mais intensivas tornando-se uma teoria “resolução de problemas”, isto é, realiza o
em capital e tecnologia, as periféricas acabam por se especializar diagnóstico da situação internacional e prescreve sugestões para o
na produção e na exportação de produtos básicos. A semiperiferia poder constituído dos Estados, no sentido de fortalecê-los. É uma
atinge determinado grau de industrialização e estabelece uma re- teoria conservadora, uma vez que não se compromete com o ideal
lação de dependência sobre a periferia, da qual importa insumos de emancipação humana, algo que toda teoria social deveria consi-
básicos. Porém, tanto a tecnologia como o capital permanecem de- derar. O realismo, assim como qualquer outra teoria social, deve ser
pendentes do centro. Alguns países da América Latina, que haviam contextualizado no tempo e espaço, e serve aos interesses de de-
passado por um significativo processo de industrialização, como o terminada audiência. Por esse motivo, jamais pode ser considera-
Brasil e o México, já eram enquadrados como semiperiféricos na do neutro e universal. Por outro lado, Cox e outros autores críticos
década de 70, quando a teoria foi proposta. reconhecem que suas teorias têm abrangência limitada, decorrente
Alguns analistas argumentam que a teoria da dependência da própria condição de ciência social das mesmas.
falhou em não prever a ascensão econômica dos chamados Tigres Os críticos retomam o raciocínio comum a quase todos marxis-
Asiáticos (Coreia do Sul, Taiwan, Singapura e Hong Kong), que te- tas das RI, de que não faz sentido pensar o sistema de Estados atual
riam deixado para trás o fardo do subdesenvolvimento por meio de como uma realidade dada, sem considerar os processos históricos
uma estratégia de promoção das exportações e de integração nas que o configuraram. No entanto, um dos focos de disputas com o
cadeias produtivas globais. É possível concordar com esse questio- marxismo ortodoxo refere-se à importância das ideias e de outros
namento na assertiva de que a estratégia de desenvolvimento au- elementos não materiais para o exercício da liderança de determi-
tárquico (ou voltado para dentro) apresenta limites, especialmen- nado polo de poder. Nesse caso, os autores reabilitam o conceito
te em se tratando de países com mercado interno reduzido. Além gramsciano de hegemonia, o qual relaciona o poder físico ou bélico
disso, em uma economia internacional bastante interconectada e com a construção da legitimidade. Transplantado para as Relações
dinâmica, essa estratégia de desenvolvimento pode comprometer Internacionais, a força militar dos Estados é levada a se justificar
a competitividade do país que a adota por um período muito ex- constantemente, mesmo nos casos menos defensáveis: a Alemanha
tenso, especialmente em uma economia global cada vez mais inte- nazista, por exemplo, conduziu uma linha de argumentação para
grada. Entretanto as teorias da dependência foram (e continuam) atacar a Polônia, em 1939, com base na defesa de seus cidadãos
pródigas ao apontarem que países ou regiões que se especializam frente a um crescente militarismo polonês. Outra disputa com as
em exportar insumos básicos correm o risco de perpetuar ou mes- demais correntes marxistas é o questionamento ao determinismo
mo acentuar seu subdesenvolvimento face aos demais players da e ao excessivo materialismo nas análises sobre a realidade social.
economia mundial. E, mais além, países que se industrializam por Sobre o conceito de hegemonia, os autores realistas a associam
meio da estratégia de internalização da produção de itens de médio com a noção de supremacia militar de determinado poder sobre os
valor agregado, como sugere Wallerstein, não deverão atingir os ní- demais; para os críticos, o termo envolve também o consentimento
veis de desenvolvimento dos países mais avançados. geral de que a ordem dada, imposta pelo agente hegemônico, é
benéfica a todos os partícipes. Assim, a construção do sistema de
A Teoria Crítica Bretton Woods, sob a hegemonia dos EUA, foi possível não apenas
graças à supremacia militar sobre seus aliados ocidentais, mas tam-
Ainda que a leitura dos sistemas-mundo de Wallerstein per- bém graças ao esforço de convencimento de que aquela ordem era
maneça bastante atual, a partir dos anos 80, observa- -se o apa- do interesse não apenas de seu líder, os EUA, mas também de todos
recimento de trabalhos de inspiração marxista, mas que se apre- seus membros.
sentavam críticos tanto às escolas realista e liberal das RI, como às A análise de Cox, especificamente, não aposta na predominân-
próprias proposições mais clássicas do marxismo. Esses autores, in- cia do componente material, ou do componente das ideias para en-
fluenciados pela chamada Escola de Frankfurt, vieram a constituir o tender a política internacional. Para ele, existe certa circularidade
que se denomina teorias críticas das RI. Diferentemente dos demais entre formas de produção (ou forças sociais), organizações políticas
subgrupos do marxismo, as teorias críticas têm seu epicentro em nacionais e política internacional: elas influenciam-se reciproca-
universidades da América do Norte e da Europa Ocidental. É inte- mente, e não de forma unidirecional, como defendem as teorias
ressante frisar que essas teorias reflexivas de forma alguma foram tradicionais (realistas, liberais e marxistas clássicos).
e são peculiaridades das RI; mas integram um movimento que já As teorias críticas denunciam a falta de componente dinâmico
encontrava ampla ressonância em outras Ciências Sociais décadas nas teorias positivistas de RI, porquanto estas apresentam compro-
antes. No entanto, é apenas com o fim da Guerra Fria e o súbito misso com a manutenção dos mecanismos de dominação social do
desmonte dos regimes comunistas na Europa Oriental que elas ga- Estado-nação, que são reproduzidos em âmbito global via a formu-
nharam adeptos na academia ocidental. Os críticos sustentam que lação analítica do sistema internacional interestatal. O poder, na vi-
o realismo teria falhado ao observar apenas a questão da distribui- são das teorias mais tradicionais, tem como compromisso apenas a
ção das capacidades materiais, sobretudo bélicas, entre as duas su- segurança (ou sobrevivência) daqueles que o exercem, os Estados,
perpotências. Na década de 80, com efeito, a paridade estratégica e não para a promoção de mudanças sociais.
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Um aspecto comum a vários autores críticos é o de pensar as mento dos agentes para precisar possíveis tendências de conflito ou
Relações Internacionais não como um campo autônomo nas Ciên- cooperação; ou seja, a anarquia, como diz o nome de seu famoso
cias Sociais, como outros campos também não o são. Economia e artigo, é o que os Estados fazem dela. Outro aspecto fundamental,
política, por exemplo, não devem ser dissociadas ao se analisar de- nessa visão, é o papel da identidade como variável para entender a
terminado contexto social e histórico. Essa visão é compartilhada política externa. Wendt aponta que as cerca de 200 armas nuclea-
por autores críticos como Cox, e por autores da chamada Economia res do Reino Unido são consideradas bem menos ameaçadoras para
Política Internacional (EPI), como Susan Strange. os EUA do que uma única ogiva em posse da Coreia do Norte. A
Demais autores críticos reforçam o argumento de que o atual razão para esse problema seria o compartilhamento de uma identi-
sistema de Estados não é perene, tampouco natural: é fruto de pro- dade comum entre EUA e Reino Unido, estabelecida a partir de um
cessos históricos complexos, marcados pela superposição de lutas histórico de amizade e confiança recíproca, algo não imputável às
sociais. A noção de soberania territorial, como defendem alguns au- relações EUA-Coreia do Norte.
tores, é algo bastante recente e tem seu início datável no século XIX, Nicholas Onuf, ao rejeitar o primado da realidade não como
após a Revolução Francesa. A premissa dos neorrealistas (corrobo- dada, mas socialmente concebida por meio da construção de dis-
rada por parcela considerável dos liberais) de que os Estados são cursos, representa a parcela mais crítica dentro do construtivismo.
funcionalmente semelhantes seria falaciosa, como indicam estudos Com o conjunto desses discursos predominantes, tem-se a hege-
empíricos de História e de Sociologia. monia cultural, termo que o aproxima das teorias críticas neomar-
Os teóricos críticos, em virtude de seus posicionamentos bas- xistas, que veremos adiante.
tante desafiadores, apesar das inovações colocadas em prática, so- Mais próximos à abordagem de Wendt, outros autores ofe-
bretudo a partir da década de 90, permanecem bastante marginali- recem visões construtivistas para entender o comportamento de
zados na academia dos países ocidentais. Com raríssimas exceções, determinados Estados. Peter Katzenstein, por exemplo, defende a
têm sido empregados como professores em universidades de me- necessidade de se entenderem a cultura e as normas internas acer-
nor prestígio acadêmico, seus trabalhos sofrem menor divulgação ca da segurança nacional — essa é a explicação para entender a
nas revistas mais bem avaliadas, e seus projetos de pesquisa têm passagem de uma política militarista para uma pacifista por parte
mais dificuldades em obter recursos de financiamento. do Japão no pós-II Guerra. Outra abordagem construtivista aplica-
da a países específicos é levada a cabo por Ted Hopf, que analisa a
A “Virada” Construtivista política externa soviética e russa. Para esse autor, as visões internas
sobre o próprio país e sobre seus “rivais” externos, compartilhadas
A partir dos anos 90, tem havido um grande debate em torno tanto pela elite quanto pela sociedade em geral, são um ponto de
das chamadas teorias construtivistas em Relações Internacionais, partida para entender a política externa em dado momento.
especialmente na América do Norte e, em menor grau, na Euro- Os autores construtivistas têm fornecido interessantes análises
pa. São dois os autores considerados pioneiros nessa agenda de sobre o fenômeno da integração econômica e da formação de blo-
estudos: Nicholas Onuf, por meio da obra World of Our Making: cos regionais, em especial o caso europeu no pós-II Guerra Mundial.
rules and rule in social theory and International Relations, de 1989, De acordo com a referida visão, a crescente integração política e
cunhou o termo construtivista, e Alexander Wendt, autor do artigo econômica, no caso europeu, foi possível não apenas tomando em
Anarchy is What States Make of It, de 1992. Esses autores confi- consideração o interesse nacional dos Estados, mas também graças
gurar-se-ão, também, em duas das principais subdivisões do cons- aos processos de interação social. As estruturas criadas no âmbito
trutivismo: a primeira, mais à esquerda, detém maior aproximação dos esquemas de integração, sejam elas formais ou não, ajudam a
com as visões pós- -modernas ou pós-coloniais, enquanto a segun- ampliar o espaço de comunhão da intersubjetividade não apenas
da apresenta uma agenda de pesquisa mais próxima às visões mais entre os Estados, mas também entre as próprias sociedades a que
tradicionais (realismo e liberalismo). essa integração se dirige, como alegado nessa perspectiva.
A questão fundamental que veio à tona, com o advento do É interessante destacar que o construtivismo, e mais especi-
construtivismo nas Ciências Sociais, foi o papel das ideias e dos va- ficamente o da vertente mais pragmática de Wendt, conseguiu
lores na realidade social, e as Relações Internacionais não passaram atingir o status de mainstream na academia norte-americana em
incólumes a esse debate. O fim da Guerra Fria e o súbito desmonte períodos recentes, diferentemente das outras visões alternativas
dos sistemas socialistas, no Leste Europeu, certamente deram im- ao debate realismo/liberalismo. Em uma recente pesquisa publica-
pulso às visões não realistas, em especial ao construtivismo, ao libe- da pelo jornal Foreign Policy, Alexander Wendt foi considerado, de
ralismo e, em menor grau, às teorias genuinamente pós-modernas. longe, o autor estadunidense mais influente nas RI nas últimas duas
De acordo com essas visões, o realismo falhou não apenas em não décadas, superando, inclusive, nomes bastante consagrados, como
prever os acontecimentos do início dos anos 90, como também te- Kenneth Waltz e Robert Keohane.
ria sido incapaz de observar tendências internas desses países que,
ao menos em parte, foram responsáveis pelas transformações na
ordem global. ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO: A CONSTITUIÇÃO DE
Apesar de ser uma tarefa bastante difícil agrupar e caracterizar 1988 E A AFIRMAÇÃO DA CIDADANIA
o construtivismo como se fosse um grupo único, dadas as divergên-
cias marcantes entre os autores, um aspecto que os aproxima é, jus-
tamente, seu viés crítico em relação ao realismo (mesmo que, como O Estado Democrático de Direito
veremos, o tom das críticas varie bastante). Wendt, considerado um
autor mais moderado do construtivismo, questiona a ideia de a es- O Estado Democrático de Direito é um sistema institucional
trutura anárquica levar, inexoravelmente, ao conflito ou à competi- que designa que qualquer Estado deve garantir o respeito das liber-
ção entre os seus agentes. Seria necessário observar o comporta- dades civis dos indivíduos que nele se abrigam.
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Deste modo, podemos dizer que o Estado Democrático de Di- Características do Estado Democrático de Direito
reito significa a exigência do Estado reger-se pelo Direito e por nor- Para que o Estado Democrático de Direito funcione, é fun-
mas democráticas, com eleições livres, periódicas e pelo povo, bem damental que exista a distinção dos poderes executivos e que os
como o respeito das autoridades públicas aos direitos e garantias tribunais sejam independentes, assim como os legisladores, para
fundamentais, proclamado no caput do artigo 1º da Constituição garantir a imparcialidade das decisões. Foi a partir desta concepção
Federal de 1988, sendo que a norma máxima adotou, igualmente que surgiu a divisão dos três poderes: o poder judiciário, o poder
em seu parágrafo único, o denominado princípio democrático, ao legislativo e o poder executivo.
afirmar que “todo poder emana do povo, que o exerce por meio O funcionamento desta divisão de poderes estabelece então
de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Cons- que em uma democracia parlamentar, o legislativo, representado
tituição”. pelo parlamento, limita o poder do executivo, que é o governo. Este
Em sua origem grega, “democracia” quer dizer “governo do não estará livre para agir à vontade, porém deve constantemente
povo”. No sistema moderno, no entanto, não é possível que o povo garantir o apoio parlamentar, uma vez que ele representa a vonta-
governe propriamente (o que significaria uma democracia direta). de do povo. Desta mesma forma, o poder judiciário pode fazer um
Assim, os atos de governo são exercidos por membros do povo di- contraponto a determinadas decisões governamentais.
tos “politicamente constituídos”, por meio de eleição.
Princípio Constitucional Democrático35
A concepção teórica de Estado de direito cumpre a missão de
No Estado democrático de direito, as autoridades políticas estão
limitar o poder político para estabelecer o império do direito, o “go-
sujeitas ao poder do povo, uma vez que é a população quem
verno das leis e não dos homens”, o que pode aparentar mero atre-
escolhe seus representantes para criarem as leis, os legisladores
lar-se à “liberdade dos modernos” assente no distanciamento e na
(soberania popular).
restrição do poder, na defesa contra o mesmo.
Por sua vez, a concepção teórica de Estado democrático busca
No Estado Democrático Brasileiro, as funções típicas e indele-
um poder, uma ordem de domínio legitimada pelo povo na sua titu-
gáveis do Estado são exercidas por indivíduos eleitos pelo povo para
laridade e no seu exercício, organizada e exercida em uma dinâmica
tanto, de acordo com regras pré-estabelecidas que regerão o pleito
que não se desvincula do povo (na formulação de Lincoln: governo
eleitoral. O aspecto do termo “de Direito” refere-se a que “tipo de
do povo, pelo povo, para o povo), o que pode aparentar mero atre-
direito” exercerá o papel de limitar o exercício do poder estatal.
lar-se à “liberdade dos antigos”, amiga da convivência com o poder.
No Estado democrático de direito, apenas o direito positivo
Ocorre, no entanto, que o princípio constitucional democrá-
(isto é, aquele que foi codificado e aprovado pelos órgãos estatais
tico renova estas concepções, ao estabelecer para a democracia
competentes, como o Poder Legislativo) poderá limitar a ação esta-
uma dimensão substancial (legitimidade) e duas procedimentais
tal, e somente ele poderá ser invocado nos tribunais para garantir o
(legitimação). A legitimidade está atrelada à prossecução concre-
chamado “império da lei”. Todas as outras fontes de direito, como
ta e participativa de determinados fins e valores positivados (Es-
o Direito Canônico ou o Direito natural, ficam excluídas, a não ser
tado de direito democrático – renovação sensivelmente diversa
que o direito positivo lhes atribua esta eficácia, e apenas nos limites
da fórmula “para o povo”). A legitimação está vinculada a escolha
por ele estabelecidos.
dos governantes (teoria da democracia representativa) e a formas
Neste contexto, destaca-se o papel exercido pela Constituição.
procedimentais de exercício do poder que permitem atuar em sua
Nela delineiam-se os limites e as regras para o exercício do poder
concretização e renovar o controle popular (teoria da democracia
estatal (onde se inscrevem os chamados “Direitos e Garantias fun-
participativa).
damentais”), e, a partir dela, e sempre a tendo como baliza, redige-
A dimensão positivada pela Constituição da legitimidade de-
-se o restante do chamado “ordenamento jurídico”, isto é, o con-
monstra que o atual Estado de direito limita o exercício não demo-
junto das leis que regem uma sociedade.
crático do poder, assim como a democracia, em sua dimensão subs-
Nota-se que é imprescindível no Estado democrático de di-
tancial, deslegitima o poder exercido contra os valores positivados
reito a existência de uma Constituição. No entanto, não devemos
pelo direito, contra o direito.
restringir o elemento democrático à limitação do poder estatal e
Estas facetas da democracia demonstram que esta constitui
a democracia ao instituto da representação política, uma vez que
princípio jurídico informador, “impulso dirigente” do Estado e da
o princípio democrático não se reduz a um método de escolha dos
sociedade, fundamento radical e funcional de qualquer organização
governantes pelos governados.
do poder. Desdobra-se em diversas normas principiológicas: sobe-
Nos dias atuais o Estado Democrático de Direito tem um signi-
rania popular, renovação dos titulares de cargos públicos, sufrágio
ficado de fundamental importância no desenvolvimento das socie-
universal, liberdade de propaganda, igualdade de oportunidades
dades, sendo um dos fundamentos essenciais de organização das
nas campanhas eleitorais, separação e interdependências dos ór-
sociedades políticas do mundo moderno, tendo em vista que é um
gãos de soberania, entre outros.
sistema institucional em que há previsão e proteção aos direitos
fundamentais.
Diante de todo o exposto, em linhas gerais, podemos definir
como requisitos para a caracterização de um “Estado Democráti-
co de Direito”: o império das leis; a forma federativa de Estado;
o enunciado de garantia de direitos individuais; governo legitima-
mente eleito pelo povo.
35 Marcelo Lamy. Princípio Constitucional do Estado Democrático e Direito Natu-
ral. http://www.hottopos.com/rih9/lamy.htm
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QUESTÕES

1.(CESGRANRIO - 2016 - Agente de Pesquisas e Mapeamento (IBGE)

Disponível em: <http://www.atlassocioeconomico.rs.gov.br/upload/mapa_popula%C3%A7%C3%A3o_absoluta_brasil_2010.gif>. Acesso em: 31


maio 2016.

O estado do Sudeste com menor população absoluta é


(A) Rio Grande do Sul
(B) São Paulo
(C) Rio de Janeiro
(D) Minas Gerais
(E) Espírito Santo

2. (CESGRANRIO - 2016 - Agente de Pesquisas e Mapeamento (IBGE)


No gráfico a seguir, é apresentada a evolução das populações urbana e rural no Brasil.

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A partir da década de 1970, verifica-se a ultrapassagem do contingente de população urbana em relação à rural, que decorre do se-
guinte fator estrutural:
(A) Expansão da agroecologia
(B) Redução do analfabetismo
(C) Regressão do rodoviarismo
(D) Avanço da industrialização
(E) Realização de megaeventos

3.(CESGRANRIO - 2016 - Agente de Pesquisas por Telefone (IBGE)


A diminuição da razão de dependência permite que o país comece a mudar suas prioridades em termos de políticas públicas. É preciso
lembrar, contudo, que essa queda não é homogênea entre as regiões, os estados e os diferentes grupos de renda.
LACERDA, Antônio Corrêa de. [et al.] Economia Brasileira. São Paulo: Saraiva, 2013, p.266.

O conteúdo do trecho acima envolve o conceito de Razão de Dependência Total.


Esse conceito tem relação direta com a razão
(A) de uma situação populacional de altas taxas de mortalidade e natalidade para uma de baixas taxas
(B) da população entre 0 e 14 anos sobre a população em idade ativa
(C) da população dependente (0 a 14 anos e 65 anos ou mais) sobre a população em idade ativa
(D) da quantidade da população economicamente ativa sobre o número de desempregados
(E) do número médio de nascidos vivos de mulheres entre 14 e 49 anos

4.(CESGRANRIO - 2014 - Agente de Pesquisas e Mapeamento (IBGE)


Banhada por importantes rios e com abundância de ventos, a região Sul é um dos maiores polos de geração de energia do País. É lá
que se encontra a maior usina hidrelétrica do planeta em geração por MW/hora, Itaipu Binacional, localizada em Foz do Iguaçu (PR), res-
ponsável pelo fornecimento de 17,3% da energia consumida no Brasil e 72,5% do consumo no Paraguai.
O Globo. Suplemento Especial Sul, 12 dez. 2013, p. 2. Adaptado

A usina hidrelétrica mencionada no texto, localiza-se na bacia hidrográfica do rio


(A) Paraná
(B) Uruguai
(C) Paraguai
(D) Tocantins
(E) Parnaíba

5.(CESGRANRIO - 2011 - Professor (SEEC RN)/Geografia)


Estabelecendo-se uma relação entre espaço urbano/industrial e problemas ambientais, um dos desafios a ser enfrentado no mundo
é gerar cada vez mais energia, ampliando a participação de fontes renováveis e limpas.
Sobre a matriz energética brasileira, reconhece-se que, comparada à matriz energética mundial, ela apresenta
(A) mais equilíbrio, apesar de a participação do petróleo ultrapassar a média mundial.
(B) muito desequilíbrio, por ser mais dependente do petróleo que a maioria dos países.
(C) pouca expressão do setor renovável em relação ao setor não renovável.
(D) menor representação das fontes de energia limpa.
(E) participação inexpressiva do álcool combustível.

6.(CESGRANRIO - 2016 - Agente de Pesquisas e Mapeamento (IBGE)


O Atlas Geográfico Escolar do IBGE de 2002 apresenta uma classificação de cidades no Brasil, tais como: centros regionais, metrópoles
regionais, metrópoles nacionais e metrópoles globais.
Sendo assim, com base nesse Atlas, Rio de Janeiro e Belo Horizonte são cidades classificadas, respectivamente, como:
(A) metrópole global e metrópole regional
(B) metrópole nacional e metrópole regional
(C) metrópole global e metrópole nacional
(D) metrópole nacional e centro regional
(E) metrópole global e centro regional

7.(CESGRANRIO - 2016 - Agente de Pesquisas por Telefone (IBGE)


No Censo do IBGE de 2010, o país possuía uma população de aproximadamente 191 milhões de habitantes. Desses, cerca de 161
milhões viviam nas zonas urbanas, enquanto apenas 29 milhões viviam na zona rural. Mas nem sempre foi assim. Até a década de 1960, a
maioria da população morava no campo e a quantidade de cidades era bem menor do que a atual. [...] Na década de 1970, o número de
habitantes morando nas cidades foi, pela primeira vez, maior do que a população que vivia na zona rural. Esse crescimento do meio urbano
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proporcionalmente maior do que o do meio rural recebe o nome de Urbanização [...]


Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/brasil/urbanizacao-no-brasil.htm>. Acesso em: 09 maio 2016.

A partir de 1990, especialmente, há novas tendências no processo de urbanização brasileiro.


Uma dessas tendências é a(o)
(A) redução do custo de vida nas metrópoles
(B) retração das áreas de ocupação irregular
(C) alteração do ritmo de crescimento das grandes cidades
(D) aumento na velocidade das migrações inter-regionais
(E) colapso das políticas de planejamento urbano a favor das classes média e alta

8.(CESGRANRIO - 2014 - Agente de Pesquisas e Mapeamento (IBGE)

O tipo climático predominante na porção setentrional do território brasileiro representado no climograma acima é o
(A) temperado continental
(B) equatorial
(C) tropical de altitude
(D) subtropical
(E) tropical semiárido

9.(CESGRANRIO - 2013 - Técnico em Informações Geográficas e Estatísticas A I (IBGE)


No Brasil, ocorre um tipo climático com aspectos bem definidos: médias elevadas de temperatura de 25 a 28 oC e pequena amplitude
térmica anual, em torno de 3 oC. Nesse tipo de clima, as chuvas são abundantes e bem distribuídas ao longo do ano, favorecidas direta-
mente pela convergência dos ventos alísios e pela dinâmica de uma massa de ar continental.
Os aspectos acima mencionados caracterizam o tipo climático
(A) equatorial
(B) subtropical
(C) semiárido
(D) tropical de altitude
(E)tropical com duas estações

10.(CESGRANRIO - 2018 - Técnico Bancário (BASA)


Um domínio natural do Brasil se destaca na parte setentrional do país pela extraordinária extensão de terras baixas florestadas, dis-
posto em anfiteatro, com fortíssima entrada de energia solar, ausência de estações secas prolongadas pronunciadas em quase todos os
subespaços regionais, com elevado abastecimento de umidade. É o domínio que menos sofreu com o desmatamento.
AB’SÁBER, A. N. Os Domínios de Natureza no Brasil. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. Adaptado.

As características acima descrevem qual domínio natural brasileiro?


(A) Caatinga
(B) Araucárias
(C) Amazônico
(D) Cerrado
(E) Mares de Morros
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11.(CESGRANRIO - 2013 - Técnico em Informações Geográficas 13.(CESGRANRIO - 2009 - Professor de Educação Básica (SEDUC
e Estatísticas A I (IBGE) TO)/História)
“(...) a adoção de uma solução monárquica no Brasil, a manu-
tenção da unidade da ex-colônia e a construção de um governo civil
estável foram em boa parte consequência do tipo de elite política
existente à época da Independência, gerado pela política colonial
portuguesa”.
CARVALHO. José Murilo de Carvalho. A construção da ordem: a elite
política imperial. Teatro de sombras: a política imperial.
Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 2003. p. 21.

De acordo com o autor do texto, as particularidades do pro-


cesso de independência do Brasil em relação aos seus vizinhos da
América Espanhola devem ser atribuídas, principalmente, à homo-
geneidade cultural da elite política que conduziu a emancipação da
América Portuguesa e a formação do Estado imperial brasileiro. En-
tre outras evidências históricas, esta tese é fundamentada na
(A) união das elites criollas da América Espanhola em torno do
bolivarismo.
Disponível em: <vivaterra.org.br.> Acesso em: 03 ago. 2013. (B) restrição da Coroa lusitana à criação de universidades na
América Portuguesa.
(C) adoção da forma republicana de governo por todas as ex-
Na imagem acima, está registrada uma vegetação típica do am-
-colônias espanholas.
biente natural denominado
(D) ampla participação dos criollos nos altos cargos da buro-
(A) caatinga
cracia espanhola.
(B) manguezal
(E) predominância de analfabetos entre os conselheiros de Es-
(C) campo limpo
tado do Império.
(D) campo rupestre
(E) mata de cocais
14.(CESGRANRIO - 2010 - Analista (IBGE)/História)
Em 15 de novembro de 1890, foi instalada a Assembleia Na-
12.(CESGRANRIO - 2011 - Professor (SEEC RN)/Pedagogia/Sem
cional Constituinte encarregada de elaborar a primeira Constituição
Especialidade)
republicana. O tema principal da discussão foi a relação entre o po-
A segunda viagem ao interior do país, rumo a São Paulo, come-
der central e os estados. Ao fim e ao cabo, a Constituição de 1891
çou no dia 14 de agosto, três semanas antes do Grito do Ipiranga.
definiu que
O objetivo, como na vez anterior, era apaziguar os ânimos na pro-
(A) as rendas advindas da exportação ficariam com os gover-
víncia, dividida entre dois grupos políticos, um ligado à família do
nos estaduais.
ministro José Bonifácio e outro, ao coronel Francisco Inácio, coman-
(B) as forças armadas ficariam sob o comando do Congresso
dante da força pública e aliado da João Carlos Oeynhausen, presi- Nacional.
dente da junta provisória local. (C) o ensino primário deveria ficar a cargo da União.
GOMES, Laurentino. 1822. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010. (D) o sistema de saúde deveria ficar a cargo dos governos es-
taduais.
Sobre o período da história do Brasil referido no texto, analise (E) o orçamento participativo favoreceria a representação mu-
as afirmações a seguir. nicipal.
I – Os movimentos revoltosos tinham o objetivo de efetivar a
Proclamação da República. 15.(CESGRANRIO - 2010 - Analista (IBGE)/História)
II – As viagens foram realizadas por D. Pedro I como parte do Os anos iniciais da República no Brasil foram caracterizados
processo que levou à Independência do Brasil. por uma intensa instabilidade política. O governo de Campos Sales
III – As mudanças nos regimes políticos no Brasil foram feitas à (1898-1902) é visto como o construtor de um pacto político que
custa de embates, gerados, muitas vezes, pela contradição de inte- garantiu certa estabilidade ao regime. Esse pacto, conhecido como
resses entre grupos sociais. a política dos estados, consistiu num sistema de compromissos po-
É correto o que se afirma em líticos por meio do qual o governo federal garantia a autonomia dos
(A) I, apenas. grupos oligárquicos dominantes em cada estado, em troca de apoio
(B) II, apenas. das bancadas estaduais no Congresso Nacional. Entre os efeitos da
(C) I e III, apenas. política dos estados, identifica-se o(a)
(D) II e III, apenas. (A) fortalecimento do poder Executivo Estadual, em detrimen-
(E) I, II e III. to do poder Executivo Federal e o do Legislativo.
(B) fortalecimento do poder Legislativo que ampliou sua auto-
nomia em relação ao poder Executivo.
(C) equilíbrio de poder entre os estados da federação que al-
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ternavam a liderança do Poder Executivo de forma igualitária. 19.(CESGRANRIO - 2010 - Professor (Pref Salvador)/História)
(D) neutralização das oposições, pois o Congresso era contro-
lado pelos partidos republicanos hegemônicos.
(E) fraude eleitoral, pois o voto aberto e não obrigatório favo-
recia o controle das eleições por parte das oligarquias locais.

16.(CESGRANRIO - 2014 - Agente de Pesquisas por Telefone


(IBGE)
Desde que o jornal integralista A Offensiva estampara as pri-
meiras convocações para o evento na praça da Sé, esquerdistas dos
mais variados matizes idealizaram uma contramanifestação, combi-
nada propositadamente para o mesmo dia (7 de outubro de 1934),
horário e local. “És amigo da liberdade? Queres que o Brasil mar-
che para a paz e o progresso? Repugna-te o crime e a bandalheira?
És amante da arte, da ciência e da filosofia? Pois, então, guerra ao
integralismo com todas as suas energias”, incitava um panfleto da
Federação Operária de São Paulo, de orientação anarquista.
NETO, Lira. [ ] Do Governo Provisório à Ditadura do Estado Novo (1930
-1945). São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p.193.
Trabalhadores homenageiam Vargas pelos seus 10 anos de governo na
O embate previamente anunciado entre esquerdistas e integra- Esplanada do Castelo. Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1940.
listas foi fatal e ocorreu no governo do presidente Disponível em: http://novahistorianet.blogspot.com Acesso em: 17
(A) Café Filho set. 2010.
(B) Getúlio Vargas
(C) Jânio Quadros No que se refere à política trabalhista, Getúlio Vargas conjugou
(D) Washington Luís com bastante sucesso uma forte repressão ao movimento operário
(E) Juscelino Kubitschek com a criação de um conjunto de leis que representaram avanço
para os trabalhadores.
17.(CESGRANRIO - 2010 - Analista (IBGE)/História) No dia 1o de maio de 1943, foi assinado o Decreto-Lei no 5.452
Ao longo da república, na sociedade brasileira, o exercício da ci- que instituía a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e unificava
dadania sofreu transformações associadas a ações estatais promo- toda a legislação trabalhista já existente no país. Desde então, a CLT
toras de maior inclusão política e social, dentre as quais cita-se o(a) sofreu alterações, mas, tendo em vista o Decreto de 1943, registra-
(A) voto feminino, a partir de 1934. -se que, naquela ocasião, os trabalhadores obtiveram as seguintes
(B) seguro desemprego, por meio da Consolidação das Leis do conquistas:
Trabalho (CLT). I - adoção no território nacional da Carteira Profissional, que
(C) direito de voto para os analfabetos, a partir de 1946. passou a ser obrigatória para o exercício de qualquer emprego as-
(D) reconhecimento da liberdade sindical, a partir de 1937. salariado;
(E) proteção dos direitos indígenas, a partir de 1891. II - estabelecimento do limite máximo de 8 horas diárias para a
jornada de trabalho do empregado; III - direito a todo empregado
18.(CESGRANRIO - 2010 - Professor (Pref Salvador)/História) de um descanso semanal de 24 horas consecutivas.
Nas cidades gregas da Antiguidade, a democracia limitava-se IV - aprovação do salário mínimo, pago diretamente pelo em-
à minoria da população. Os escravos e as mulheres não tinham di- pregador a todo trabalhador do sexo masculino.
reitos políticos. Além disso, só aqueles que nasciam na cidade de V - liberação para a formação de mais de um Sindicato repre-
Atenas podiam ser cidadãos. sentativo da mesma categoria econômica ou profissional, ou pro-
De acordo com a Constituição Brasileira de1988, quem NÃO fissão liberal, sem restrições por parte do Ministério do Trabalho,
pode votar no Brasil atualmente são os Indústria e Comércio.
(A) maiores de 70 anos. Estão corretas APENAS as conquistas apresentadas em
(B) maiores de dezesseis anos. (A) I, II e III.
(C) estrangeiros naturalizados. (B) I, III e IV.
(D) analfabetos. (C) I, III e V.
(E) que estão cumprindo o serviço militar obrigatório. (D) II, IV e V.
(E) III, IV e V.

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20.(CESGRANRIO - 2010 - Analista (IBGE)/História)


A criação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ANOTAÇÕES
(IBGE), em 1938, durante a presidência de Getúlio Vargas, objetivou
a produção e a sistematização de informações e dados sobre o povo ___________________________________________
e o território brasileiros de modo a conhecer o país e a instrumenta- ___________________________________________
lizar o poder público em suas ações destinadas ao desenvolvimento ___________________________________________
e à modernização nacional. ___________________________________________
PORQUE
Na conjuntura política da época da criação do Instituto Brasilei- ___________________________________________
ro de Geografia e Estatística (IBGE) – o Estado Novo – ampliaram-se ___________________________________________
as atribuições do governo federal por meio de ações centralizado- ___________________________________________
ras e intervencionistas, cuja eficácia em muito dependia de saberes
___________________________________________
tecnicamente especializados e confiáveis.
Analisando as afirmações acima, conclui-se que ___________________________________________
(A) as duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda justifica a ___________________________________________
primeira. ___________________________________________
(B) as duas afirmativas são verdadeiras, mas a segunda não jus-
tifica a primeira. ___________________________________________
(C) a primeira afirmativa é verdadeira, e a segunda é falsa. ___________________________________________
(D) a primeira afirmativa é falsa, e a segunda verdadeira. ___________________________________________
(E) as duas afirmativas são falsas.
___________________________________________
___________________________________________
GABARITO ___________________________________________
___________________________________________
___________________________________________
1 E
___________________________________________
2 D
___________________________________________
3 C ___________________________________________
4 A ___________________________________________
5 A ___________________________________________
6 C ___________________________________________
7 C ___________________________________________
8 B ___________________________________________
9 A ___________________________________________
10 C
___________________________________________
___________________________________________
11 B
___________________________________________
12 D
___________________________________________
13 B
___________________________________________
14 A ___________________________________________
15 E ___________________________________________
16 B ___________________________________________
17 A ___________________________________________
18 E ___________________________________________
19 A ___________________________________________
20 A ___________________________________________
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