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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

Relatório sobre o Programa de Volta para a Casa – Ministério da Saúde

Douglas Alexsandro Correa Petronilho


Aluno da disciplina de Financiamento e Orçamento
da Política de Saúde

2023
Este relatório tem por finalidade discorrer sobre o Programa De Volta para Casa.
A escolha deste Programa se deu basicamente porque tenho vivenciado de perto a
efetivação do cuidado em saude mental da população do município de São Paulo, no
processo de Desinstitucionalização de pessoas que viveram por longos anos em
hospitais psiquiátricos e que através de equipamentos de cuidado a saude mental nos
territórios puderam ter uma nova oportunidade de serem inseridos no convívio social.
O Programa de Volta para a Casa é regulamentado pela Lei 10708 de 2003 que
instituiu o auxilio psicossocial para a retomada ao lar para pessoas egressas das
internações de longa permanência em Hospitais psiquiátricos. O Programa foi pensado
para auxiliar a retomada de pessoas que passaram por dois anos ou mais em internação e
que a partir desta Lei foi-lhes garantido o direito a liberdade e o apoio financeiro do
Estado para a retomada da vida. Vale salientar que para este acompanhamento pós alta,
é necessário a aceitação do usuário , bem como autorização do representante legal em
caso de incapacidade mental grave.
Faz parte do processo advindo da Reforma Psiquiátrica, que visa reduzir
progressivamente os leitos em hospitais psiquiátricos, melhorar e fortalecer a Rede de
Atenção Psicossocial – como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Serviços
Residenciais Terapêuticos (SRTs) e leitos de saúde mental em Hospitais Gerais – e
incluir as ações da saúde mental na Atenção Básica.
Esta perspectiva de redução do tempo de internação e do cuidado em liberdade
ganhou força com a Reforma Psiquiátrica na Itália, e no Brasil decorre de processos de
mudanças no modo de pensar o cuidado em saude mental de pessoas com transtornos
mentais.
Com a aquisição deste Programa, é claro que muitos usuários tem se
beneficiado, e este auxilio, ainda que irrisório ajuda na manutenção da vida cotidiana
das pessoas, que muitas vezes já não tem mais condições para a geração de renda
própria. Em Serviços Residenciais Terapêuticos, por exemplo, este valor pode ajudar a
custear gastos com roupas, necessidades gerais, idas a cinemas, shows, teatro, uma
simples ida na praia, ou ainda na garantia de resolução de simples demandas de cuidado.
O custeio desse Programa é gerido pelo Ministério da Saúde, pela área técnica de
Saúde Mental , em processo de articulação e repasse para com os Estados e Municípios.
Porem o Programa ainda é enxuto e deveria ser ampliado afim de garantir direitos
básicos de acesso as condições de saude dessas pessoas.
Podemos observar pelo Portal da Transparência que houve pouco investimento
para que este Programa avance. Os investimentos nos últimos anos foram: 2014 - R$
21.375.865,72 ; 2015- R$ 21.749.106,63; 2016 - R$ 21.938.903,52; 2017 - R$
22.186.659,86; 2018 - R$ 20.599.060,00; 2019 - R$22.148.012,62; 2020 -R$
19.985.383,69; 2021 - R$ 22.294.613,46; 2022 - R$ 24.614.000,00.
Nota-se que não houve um aumento considerável destes valores e que ainda há
populações que não tem acesso a esta renda, uma vez que a concentração desses valores
tem se dado em Metrópoles e municípios de menor densidade demográfica não contam
com este investimento.
Faz-se necessário ampliar o Programa para acesso a toda a população brasileira,
para aqueles que por tanto tempo estiveram reclusos do convívio social e que por terem
sido afastados da convivência social e da inclusão, tem os seus direitos violados pelo
Estado. Faz-se necessário investir mais na Política Nacional de Saúde Mental e nos
CAPS e SRT`s que são serviços de grande impacto social nos territórios, para que os
investimentos em saude alcancem as populações mais vulneráveis.
Dentre os vários dispositivos criados pelo processo da Reforma, os serviços de
residência terapêutica - Portaria/GM nº 106 - de 11 de fevereiro de 2000 - podem ser
definidos como “moradias ou casas inseridas, preferencialmente, na comunidade,
destinadas a cuidar dos portadores de transtornos mentais, egressos de internações
psiquiátricas de longa permanência, que não possuam suporte social e laços familiares e,
que viabilizem sua inserção social.”
Associado e articulado às Residências Terapêuticas, o Programa "De Volta para
Casa", criado pelo Ministério da Saúde, oferta o auxílio reabilitação psicossocial para
assistência, acompanhamento e integração social, de pessoas acometidas de transtornos
mentais e desprovidos de meios de amparo social.
O benefício consiste no pagamento mensal de auxílio-pecuniário, no valor de R$
500,00 (quinhentos reais) – Portaria 1.108 de 2021 - ao beneficiário ou seu
representante legal, se for o caso, com duração de um ano. Pode ser renovado, a partir
da avaliação de equipe municipal e de parecer da Comissão de Acompanhamento do
Programa De Volta Para Casa (CAP-SES e CAP-MS).
A importância do recebimento deste auxilio pode ser compreendida ao se
analisar o tipo de população que o programa visa atender, geralmente desprovida de
qualquer outra fonte de renda, podendo contribuir para sua reestruturação e reintegração
na sociedade, como também garantir maior independência para comprar objetos
pessoais, e/ou realizar atividades desejadas pelo usuário.

As residências terapêuticas constituem-se como alternativas de moradia para um


grande contingente de pessoas que estão internadas há anos em hospitais psiquiátricos
por não contarem com suporte adequado na comunidade. Além disso, essas residências
podem servir de apoio a usuários de outros serviços de saúde mental, que não contem
com suporte familiar e social suficientes para garantir espaço adequado de moradia.
Tais residências não são precisamente serviços de saúde, mas espaços de morar, de
viver, articulados à rede de atenção psicossocial de cada município. As Residências
podem ser divididas em dois tipos, um em que os moradores necessitam apenas do
auxilio de um cuidador, que serve apenas de suporte para eles, e o segundo, em que são
necessários cuidados 24 horas/dia.

Outro equipamento de saúde que surgiu como alternativa para substituir os


hospitais psiquiátricos foram os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). O CAPS deve
funcionar como mediador entre o paciente e a sociedade. Para isso deve conhecer bem
o território em que está inserido, e promover ações que incluam seus usuários dentro
deste. Assim, o serviço deve extrapolar os limites de seus muros, e agir muito além dos
recursos internos que possui. Suas ações devem se basear em auxiliar seus usuários a
encontrar novos rumos de vida, construir projetos e ganhar sentido para viver, garantindo
qualidade de vida e autonomia a estes. Além disso, deve acolher aquele paciente que está
em crise, de modo que não ocorram rupturas em sua vida, e não sejam necessários novos
períodos de internação.

O local pode funcionar para a convivência entre pacientes, no qual sejam


trocadas experiências, afetos, planos e projetos. O CAPS responsável pela residência
terapêutica deve ser de configuração de CAPS III: É o CAPS mais completo e aquele
que consegue responder a um número maior de situações. O fato de funcionar 24 horas
por dia, 7 dias na semana, possibilita que os pacientes acompanhados possam ser
acolhidos em momentos de crise e pernoitarem na unidade. Cabe ao CAPS, dentre
outras funções, acompanhar os moradores das residências terapêuticas e apoiar o
processo de apropriação da residência por parte deles. Esta tarefa exige uma intensa
articulação do CAPS junto aos cuidadores da casa e aos recursos do território, com o
intuito de ampliar a rede social e as experiências de troca social dos moradores.

Compreendendo que a Reforma Psiquiátrica trouxe consigo um novo modo de


pensar o cuidado em saude mental no Brasil, e sobretudo que a inclusão social deve
ocorrer pela aceitação das diferenças, como conceito e ferramenta de humanização do
cuidado em saude, os Centros de Atenção Psicossocial e os Serviços Residenciais
Terapêuticos são potentes equipamentos de saude que são capazes de fazer o vinculo
dos usuários com a sociedade.

A retomada da vida por aqueles que um dia foram privados de suas liberdades é
um processo de readaptação aos valores e modos de vida das pessoas que compõe os
espaços sociais, onde transitam, trabalham, produzem, consomem e vivem. Para que as
pessoas possam retomar o convívio em primeira instância precisam de um local para a
inserção na comunidade, por isso os CAPS e SRT`s devem ser construídos nos centros
das cidades, nas zonas mais urbanas e de acesso publico para não possamos mais excluir
e estigmatizar as pessoas. Nos tempos mais remotos do cuidado em saude mental, as
praticas de exclusão social eram justamente alicerçadas na ideia de que investir no
distanciamento dessas pessoas dos grandes centros e das cidades mais abastadas
financeiramente, era a solução para afastá-las da convivência com os ditos normais.

Em relação aos gastos públicos com o Programa, podemos observar no gráfico


abaixo a distribuição de beneficiários por Estados.
Fonte: Ministério da Saúde (2015)

Podemos observar pelo gráfico acima que os recursos estão sendo destinados
para as regiões Sul e Sudeste do País, notificando ainda mais uma falta de acesso das
regiões mais distantes do Brasil, principalmente a região Norte. Esta falta de
distribuição dos recursos deste Programa para Estados do Brasil que são originalmente
mais vulneráveis do ponto de vista do desenvolvimento social e, portanto, do cuidado
em saude mental, denotam uma falta de organização e de gestão dos recursos oriundos
do Programa.

Abaixo segue a serie histórica do financiamento dos Serviços Residenciais


Terapêuticos no Brasil.

Podemos observar que no período de pandemia pela COVID-19, os recursos


destinados ao custeio dos SRT`s permaneceram estáticos. Não houve incremento no
orçamento nos anos de pandemia, considerando 2020-2021. Esta falta de recursos se
deu devido ao congelamento dos gastos públicos orçamentários com a politica de saude
mental no Brasil, com grande retrocesso sobre os avanços obtidos coma criação dos
serviços de CAPS e SRTs. Deve-se considerar que o modelo higienista e de internação
psiquiátrica ganhou grande força neste último período da Historia do Brasil e quem vem
crescendo consideravelmente entre a população que considera o “louco”como incapaz
ao convívio em sociedade e que defende o manicômio como instituição de abrigamento
para os anormais.
Referências Bibliográficas

Desinstitucionalização. Acesso em 03 de outubro de 2023, disponível


em:<https://www.gov.br/saude/pt-br/acesso-a-informacao/acoes
eprogramas/caps/raps/atencao-psicossocial-estrategica/estrategias-de-
desinstitucionalizacao>

BRASIL. Lei nº 10.708, de 31 de julho de 2003. Institui o auxílio-


reabilitação psicossocial para pacientes acometidos de transtornos mentais
egressos de internações. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1º ago. 2003.

BRASIL. Ministério da Saúde. Reforma psiquiátrica e política de saúde


mental no Brasil: documento apresentado à Conferência Regional de Reforma
dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas. Brasília, DF, 2005.

CAMPOS, I. O. Programa “De Volta para Casa” em um município do


estado de São Paulo: suas possibilidades e limites. 2008. Dissertação
(Mestrado em Enfermagem Psiquiátrica) - Universidade de São Paulo,
Ribeirão Preto, 2008.

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