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SUMÁRIO

1 BASES EPISTEMOLÓGICAS DA TERAPIA CONJUGAL E FAMILIAR 3

2 A TEORIA GERAL DOS SISTEMAS: CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS


E CONCEITUAIS ................................................................................................... 5

2.1 A Cibernética ................................................................................. 12

2.2 A Teoria da Comunicação ............................................................. 19

2.3 O Enfoque Sistêmico ..................................................................... 22

2.4 Escola Estrutural ........................................................................... 23

2.5 Escola Estratégica ......................................................................... 24

2.6 Escola de Milão ............................................................................. 26

2.7 Escola Construtivista ..................................................................... 27

2.8 O Enfoque Psicanalítico ................................................................ 29

3 OS NOVOS MODELOS DE FAMÍLIA .................................................. 33

3.1 Família Monoparental .................................................................... 33

3.2 Família Nuclear ............................................................................. 34

3.3 Família Reconstituída .................................................................... 34

3.4 União Estável ................................................................................ 34

3.5 Família Anaparental ...................................................................... 35

3.6 Família Eudemonistas ................................................................... 35

4 PSICOLOGIA CONJUGAL E FAMILIAR.............................................. 35

5 A FAMÍLIA E SUAS FASES ................................................................. 37

5.1 Biológicas ...................................................................................... 40

5.2 Psicológicas .................................................................................. 40

5.3 Sociais ........................................................................................... 41

6 ESTRATÉGIAS DE ATENDIMENTO DAS FAMÍLIAS ......................... 42

6.1 Entrevista Circular ......................................................................... 43

6.2 Entrevista familiar .......................................................................... 43

1
7 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO FAMILIAR APROVADO PELO CFP:
46

8 O QUE É UM CASAMENTO BOM OU UM BOM CASAMENTO ? ...... 48

9 SEGREDO NA FAMÍLIA ...................................................................... 51

9.1 Segredo e Privacidade .................................................................. 55

10 O TERAPEUTA ................................................................................ 57

11 BIBLIOGRAFIA ................................................................................. 59

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1 BASES EPISTEMOLÓGICAS DA TERAPIA CONJUGAL E FAMILIAR

Fonte: www.oficinadeervas.com.br

O campo da psicoterapia familiar é relativamente novo e vem se desenvol-


vendo desde a década de 1950 após a segunda guerra mundial, em um mundo
traumatizado pelas recentes experiências. Inicialmente seu objeto de atenção foi
com pacientes esquizofrênicos e com o trabalho com crianças. Não se trata apenas
de uma técnica terapêutica, já que apresenta uma forma diferente de compreender
a saúde e a doença mental, contribuindo para a ampliação de intervenções tera-
pêuticas.
O momento histórico que precedeu o “Movimento de Terapia Familiar”, ca-
racteriza-se por mudanças importantes na teoria e prática da psiquiatria. Nesta
época, a psicanálise já estava consolidada e reconhecida como método de trata-
mento e paralelamente novas abordagens e temas inovadores começaram a ga-
nhar força. A sociologia, a psicologia social, os crescentes trabalhos com grupos, o
psicodrama, as concepções de comunidade terapêutica como modalidade de tra-
tamento e a inclusão do atendimento paralelo aos pais de crianças em tratamento
psicoterapêutico, fizeram com que, na área clínica, houvesse um crescente inte-
resse pelas influências do campo interpessoal sobre as sintomatologias psiquiátri-
cas.

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A influência do desenvolvimento das ciências físicas e naturais no decorrer
do século XX foi significativa para a formulação de uma nova epistemologia, condi-
zente com as inquietações daquele momento, notadamente no campo interpessoal.
Destacamos aqui, a Teoria Geral dos Sistemas, de Von Bertallanffy, que tenta bus-
car os princípios válidos para todos os sistemas, com interesse por sua integração
e organização e cuja contribuição não se restringiu apenas ao campo das ciências
exatas. Ao contrário, foi ampliada e mostrada como poderia ser aplicada no campo
da psiquiatria ao tratar da dinâmica das relações a ao entender os fenômenos (físi-
cos, sociais, culturais, econômicos etc.) como interdependentes e inter-relaciona-
dos.
Destacamos também o trabalho de Norbert Wiener sobre Cibernética (teoria
do controle e comunicação de maquinas), cuja atenção é centrada nos processos
pelos quais, sistemas auto–reguladores, minimizam os efeitos dos distúrbios do
meio ambiente, através do conceito de reversibilidade, feedback negativo e ho-
meostase.
Os primeiros sinais de uma nova epistemologia para tratamento de distúrbios
mentais surgiram a partir dos estudos do antropólogo e etologista, Gregory Bate-
son. Considerado um dos pensadores mais influentes de nossa época, Bateson
desafiou os pressupostos básicos e os métodos de várias ciências, ao buscar os
padrões que se articulam em processos subjacentes às estruturas, “o padrão que
une”, ou seja, o princípio de organização em todos os fenômenos observáveis. Pro-
pôs que a mente fosse definida como um fenômeno sistêmico característica de or-
ganismos vivos, sociedades ecossistemas etc., sendo uma consequência necessá-
ria e inevitável de uma complexidade que começa muito antes dos organismos de-
senvolverem um cérebro e um sistema nervoso superior.
O trabalho de Bateson é central para o desenvolvimento das noções sistê-
micas com relação ao comportamento humano. As primeiras pesquisas que articu-
laram o pensamento batesoniano e os fenômenos psiquiátricos foram realizadas
com a colaboração, John Weakland, Don Jakson e Paul Watzlavick, todos psiquia-
tras, através de observações sobre os padrões de transições esquizofrênicas. Al-
gumas dessas ideias encontram-se no livro “Pragmática da Comunicação Hu-
mana”, dos autores referidos acima.
Os resultados destes estudos levam à conclusão de que não se pode com-
preender o indivíduo isolando-o de seu contexto e, uma vez que o indivíduo e o

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ambiente são intimamente dependentes e interligados, também o sintoma psiquiá-
trico não pode ser compreendido isoladamente, visto que o comportamento e as
emoções alterados são o resultado de disfunções em um sistema complexo.
A patologia pode estar simultaneamente ou não em diversos níveis, desde
o molecular, o intrapsíquico, o familiar e o social, porém, parece que o que a faz
aflorar é a falta de acomodação do sistema às peculiaridades de um dos níveis. Se
considerarmos, por exemplo, uma criança com distúrbio por déficit de atenção, ela
apresentará alterações de comportamento ou não, dependendo da resposta da fa-
mília e/ou da escola às suas dificuldades apresentadas.

2 A TEORIA GERAL DOS SISTEMAS: CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS E


CONCEITUAIS

Fonte: pisicosophia.webnode.com

Desde a década de 1920, quando inicia sua carreira como biólogo em Viena,
Ludwig Von Bertalanffy critica a predominância do enfoque mecanicista tanto na
teoria quanto na pesquisa científica. Em 1925, ele publica suas ideias em alemão
e, em 1930, lança alguns artigos na Inglaterra. Na década seguinte, o autor apre-
senta sua teoria do organismo considerado como sistema aberto. Em meio ao con-
texto da Segunda Guerra Mundial, as ideias de Bertalanffy não foram bem aceitas
em um primeiro momento. O biólogo conhece então, a Teoria da Cibernética que

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florescia nos Estados Unidos e passa a ser influenciado por ela. Em 1960, Berta-
lanffy começa a ministrar conferências nos Estados Unidos e em 1967 e 1968 pu-
blica a Teoria Geral dos Sistemas por meio de uma editora canadense e, em função
da maior propagação de suas ideias, que passam a estar disponíveis em língua
inglesa, a Teoria ganha visibilidade (Vasconcellos, 2010).

Fonte: pt.slideshare.net

A Teoria Geral dos Sistemas também é conhecida por Teoria Sistêmica.


Contudo, elas são diferentes, visto que a Teoria Geral dos Sistemas é mais ampla
e abarca todas as áreas do conhecimento (Física, Química, entre outras). Já a Te-
oria Sistêmica está mais voltada para a área da Psicologia. Para fins práticos, elas
serão utilizadas como sinônimos, o que não se mostra errôneo, mas faz-se essa
ressalva para fins didáticos e de esclarecimento (Costa, 2010).
Assinala-se que, em 1912, o pesquisador, médico, filósofo e economista
russo Alexander Bogdanov, também desenvolveu uma teoria, que se assemelha à
Teoria Geral dos Sistemas, a qual deu o nome de Tectologia. O principal objetivo
era esclarecer e generalizar os princípios de organização de todas as estruturas
vivas e não vivas e formular uma ciência universal da organização. Mesmo que tal
teoria seja anterior a Teoria Geral dos Sistemas e que, em 1928, tenha sido publi-
cada uma segunda edição elaborada em alemão, Bertalanffy não faz referências a
Bogdanov em seus livros (Capra, 2006).

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Bertalanffy confere importância ao Pensamento Sistêmico como um movi-
mento científico por meio de suas concepções de sistema aberto e de sua Teoria
Geral dos Sistemas. De acordo com o autor, organismos vivos são sistemas aber-
tos que não podem ser descritos pelas termodinâmica clássica, que trata de siste-
mas fechados em estado de equilíbrio térmico ou próximo dele. Os sistemas aber-
tos podem se alimentar de um contínuo fluxo de matéria e de energia extraídas e
devolvidas ao meio ambiente. Mantêm-se, portanto, afastados do equilíbrio em um
estado quase estacionário ou em equilíbrio dinâmico (Capra, 2006).

Fonte: teoriadosistemas.blogspot.com.br

O objetivo da Teoria Geral dos Sistemas se constituía em estudar os princí-


pios universais aplicáveis aos sistemas em geral, sejam eles de natureza física,
biológica ou sociológica. Bertalanffy conceitua sistema como um complexo de ele-
mentos em estado de interação. A interação ou a relação entre os componentes
torna os elementos mutuamente interdependentes e caracteriza o sistema, diferen-
ciando-o do aglomerado de partes independentes (Vasconcellos, 2010). A Teoria
Geral dos Sistemas combina conceitos do Pensamento Sistêmico e da Biologia
(Costa, 2010), incidindo na generalização do Modelo Organicista, ou seja, na noção
de que o universo pode ser pensado como um grande organismo vivo (Pinheiro,
Crepaldi, & Cruz, 2012). Assim, pressupõem-se que os fenômenos não podem ser
considerados isoladamente, e sim, como parte de um todo.

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Fonte: terapiacasalefamilia.blogspot.com.br

Sendo assim, o todo emerge além da existência das partes e "as relações
são o que dá coesão ao sistema todo, conferindo-lhe um caráter de totalidade ou
globalidade, uma das características definidoras do sistema" (Vasconcellos, 2008,
p.199). Os conceitos básicos de sua teoria são: globalidade, não-somatividade, ho-
meostase, morfogênese, circularidade e equifinalidade (Vasconcellos, 2010). Se-
gue abaixo uma breve descrição de cada um desses conceitos.
De acordo com a globalidade, todos os sistemas funcionam como um todo
coeso e mudanças em uma das partes provocam mudanças no todo. O conceito
de não-somatividade afirma que o sistema não é a soma das partes, devendo-se
considerar o todo em sua complexidade e organização; assim, embora o indivíduo
faça parte da família, ele mantém sua individualidade.

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Fonte: slideplayer.com.br

A homeostase é o processo de autorregulação que mantém a estabilidade


do sistema preservando seu funcionamento. A morfogênese é o processo oposto a
homeostase, ou seja, é a característica dos sistemas abertos de absorver os as-
pectos externos do meio e mudar sua organização. A circularidade, também cha-
mada de causalidade circular, bilateralidade ou não-unilateralidade, diz respeito à
relação bilateral entre elementos, sendo que esta relação é não linear e obedece a
uma sequência circular. O último conceito, equifinalidade, refere que em um sis-
tema aberto, o resultado de seu funcionamento independe do ponto de partida, ou
seja, o equilíbrio é determinado pelos parâmetros do sistema; diferentes condições
iniciais geram igualdade de resultados e diferentes resultados podem ser gerados
por diferentes condições iniciais. Desta forma, nos sistemas fechados o estado de
equilíbrio é dado pelas condições iniciais (Barcellos &Moré, 2007; Osorio, 2002;
Vasconcellos, 2010).
A Teoria Geral dos Sistemas também fez uso do conceito de retroalimenta-
ção ou feedback que emergiu na cibernética (como será ressaltado adiante), o qual
garante a circulação de informações entre elementos do sistema. A retroalimenta-
ção pode ser negativa, o que acontece quando esse mantém a homeostase, ou
positiva, ocorre quando o sistema responde pela mudança sistêmica (morfogênese)
(Vasconcellos, 2010).
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Fonte: embu-sp.all.biz

Além desses conceitos, Bertalanffy dedicou-se a investigar os princípios bási-


cos interdisciplinares que pudessem constituir uma teoria interdisciplinar. Apontou
para a necessidade de categorias mais amplas de pensamento científico, de forma
que a Sociologia e a Biologia também pudessem ser abarcadas por uma ciência
mais rigorosa, além da Física e da Química. O autor não queria se afastar do refe-
rencial da ciência tradicional e por isso manteve-se preso ao pressuposto de obje-
tividade. Ele acreditava em um mundo hierarquicamente organizado, em uma rea-
lidade independente do observador (Capra, 2006).

De acordo com Bertalanffy, uma Teoria Geral dos Sistemas ofereceria um ar-
cabouço conceitual abrangente capaz de unificar várias disciplinas científicas que,
naquele momento, estavam isoladas e fragmentadas. Propõe, portanto, uma ciên-
cia da totalidade, da integridade ou de entidades totalitárias. O autor busca uma
síntese do conhecimento sem eliminar as diferenças por meio de um esquema claro
e consistente de conceitos, uma teoria unitária em torno de conceitos de sistema e
organização. O foco é deslocado da constituição das entidades para a organização
dos sistemas e para o conceito de interação (Grandesso, 2000).

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Fonte: www.minutopsicologia.com.br

A interação gera realimentações (feedbacks) que podem ser positivas ou ne-


gativas, criando assim uma autorregulação regenerativa, que, por sua vez, cria no-
vas propriedades, as quais podem ser benéficas ou maléficas para o todo indepen-
dente das partes.
A interação dos elementos do sistema é chamada de sinergia. Por outro lado,
a entropia é a desordem ou ausência de sinergia. Um sistema para de funcionar
adequadamente quando ocorre entropia interna. Os sistemas orgânicos em que as
alterações benéficas são absorvidas e aproveitadas sobrevivem, e os sistemas
onde as qualidades maléficas ao todo resultam em dificuldade de sobrevivência
tendem a desaparecer caso não haja outra alteração de contrabalanço que neutra-
lize aquela primeira mutação. Assim, de acordo com Bertalanffy, a mudança per-
manece ininterrupta enquanto os sistemas se autorregulam e se retroalimentam
(Vasconcellos, 2010).

Fonte: pt.slideshare.net

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Um sistema realimentado é necessariamente um sistema dinâmico, já que
deve haver uma causalidade implícita. Em um ciclo de retroação, uma saída é ca-
paz de alterar a entrada que a gerou, e consequentemente, a si própria. Se o sis-
tema fosse instantâneo, essa alteração implicaria uma desigualdade. Portanto, em
uma malha de realimentação deve haver certo retardo na resposta dinâmica. Esse
retardo ocorre devido a uma tendência do sistema de manter o estado atual mesmo
com variações bruscas na entrada, isto é, ele deve possuir uma tendência de resis-
tência a mudanças. Assim, uma organização realimentada e autogerenciada gera
um sistema cujo funcionamento é independente da substância concreta dos ele-
mentos que a formam. Dessa forma, elementos podem ser substituídos sem dano
ao todo, o que caracteriza o processo de autorregulação, no qual o todo assume as
tarefas da parte que falhou (Vasconcellos, 2010).
Na década de 1940, aportes teóricos se articularam à Teoria Geral dos Sis-
temas, quais sejam, a Cibernética e a Teoria da Comunicação. Embora Osório
(2002) afirme que a Teoria dos Jogos também influenciou a Teoria Geral dos Sis-
temas, optou-se aqui por tratar exclusivamente da Cibernética e da Teoria da Co-
municação, visto apenas estas são referenciadas nas obras como fundantes da
Teoria Geral dos Sistemas.

2.1 A Cibernética

A Teoria da Cibernética foi desenvolvida pelo matemático americano, e pro-


fessor do Massachussets Institute of Technology (MIT), Norbert Wiener (1894-
1964). No início da década de 1940, Wiener participava de reuniões vinculadas à
escola de Medicina de Harvard nas quais se discutia o método científico. Estas
reuniões tinham uma proposta interdisciplinar, pois participavam professores e pes-
quisadores de diversas áreas que se interessavam pelo tema. Assim, Wiener co-
nheceu Walter Cannon e Arturo Rosenblueth (fisiologistas), com os quais iniciou
discussões que deram início ao pensamento que originou a Cibernética (Vascon-
cellos, 2010).

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Fonte: slideplayer.com.br

Naquela época, o mundo vivia a Segunda Guerra Mundial e os Estados Uni-


dos começou a financiar pesquisas que pudessem contribuir para a melhoria das
máquinas de guerra. Com isso, Wiener, em parceria com Rosenblueth e com o
engenheiro eletrônico Julian Bigelow, criou um projeto que aprimorou a artilharia
antiaérea. Wierner desenvolveu programas e "máquinas computadoras" que ti-
nham conexão com o sistema nervoso humano.
A ideia de Wierner e dos pesquisadores com quem trabalhava era de projetar
máquinas que tivessem performance de funções humanas. Nas pesquisas realiza-
das para a execução do projeto, Wiener e Bigelow criaram o conceito de feedback,
também chamado de realimentação ou retroação (como já mencionado anterior-
mente), o qual foi desenvolvido para explicar de que forma pode-se corrigir desvios
a máquinas computadorizadas, os quais eram essenciais para a guerra e se fazia
analogia entre o funcionamento do sistema nervoso e o funcionamento das máqui-
nas de computação (Vasconcellos, 2010).

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Fonte: sistemica09.blogspot.com.br

Em 1944, houve um encontro em Princenton para discutir "Cibernética", do


qual participaram engenheiros, projetistas de máquinas computadorizadas, fisiolo-
gistas, neurocientistas e matemáticos. Em 1946, acontece a 1ª Conferência Macy
em Nova Iorque, a qual teve como tema "Feedback" e que contou com a presença
dos pesquisadores acima citados e de psicólogos, antropólogos, economistas e es-
pecialistas na Teoria dos Jogos.
O encontro pretendia reunir cientistas que pudessem ajudar na compreen-
são do sistema nervoso, comunidades sociais e meios de comunicação. Nos anos
subsequentes, houve várias conferências Macy e pode-se afirmar que o arcabouço
teórico da Cibernética foi construído nestes encontros.

Fonte: www.psicologia.pt

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A partir dessas reuniões, a área foi reconhecida por inúmeras realizações
tecnológicas, tais como: aparelho que permite aos cegos a leitura auditiva de um
texto impresso, computadores ultra rápidos, próteses para membros perdidos, má-
quinas artificiais com performances altamente elaboradas, pulmão artificial, má-
quina de jogar xadrez, aparelho auditivo para deficientes auditivos, máquinas para
atuarem em situações em que o trabalho implica risco para o homem, dentre outras
invenções (Vasconcellos, 2010).
Desta forma, no final de década de 1940, Wierner escreveu sobre a Teoria
da Cibernética, também chamada de "Ciência da Correção". O termo Cibernética
origina-se da palavra grega kybernetes que significa piloto, condutor. Desta forma,
tal teoria apresenta uma tendência mecanicista por sua associação com máquinas
ou sistemas artificiais. A preocupação do autor era com a construção de sistemas
que reproduzissem os mecanismos de funcionamento de sistemas vivos, isto é, ele
propôs a construção dos chamados autômatos simuladores de vida ou máquinas
Cibernéticas (Vasconcellos, 2010).
Para Wiener, o propósito da Cibernética era o de desenvolver uma lingua-
gem e técnicas que permitissem abordar o problema da comunicação e do controle
em geral. Portanto, considerava que a mensagem era o elemento central, tanto na
comunicação quanto no controle, ou seja, quando nos comunicamos enviamos uma
mensagem e, da mesma forma, quando comandamos. A mensagem pode ser
transmitida por meios elétricos, mecânicos ou nervosos e é considerada uma se-
quência de eventos mensuráveis, distribuídos no tempo (Vasconcellos, 2010). Por
esta razão, o antropólogo Gregory Bateson, que também participava das conferên-
cias Macy, desenvolve a Teoria da Comunicação que contribui de forma significa-
tiva para a melhoria das máquinas Cibernéticas. A Teoria da Cibernética divide-se
em Cibernética de 1ª ordem e de 2ª ordem. A Cibernética de 1ª ordem se subdivide
em 1ª e 2ª Cibernética.

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Fonte: pt.slideshare.net

A 1ª Cibernética trata dos processos morfoestáticos (manutenção da mesma


forma), resultantes da retroalimentação negativa ou retroação autorreguladora, a
qual conduz o sistema de volta a seu estado de equilíbrio homeostático, otimizando
a obtenção da meta. Assim, trata da capacidade de auto-estabilização ou de auto-
manutenção do sistema (Vasconcellos, 2010). Apresenta conceitos de input e ou-
tput, enfatiza a presença do observador fora do sistema e como expert (objetivi-
dade), e a compreensão dos fenômenos ainda está arraigada à causalidade linear
(estabilidade).
Assim, nesta 1ª Cibernética emerge o pressuposto da complexidade, que
reconhece que a simplificação obscurece as inter-relações e, portanto, busca-se
contextualizar os fenômenos e explorar os sistemas dos sistemas, entendendo que
não há uma causalidade linear e sim, circular (Vasconcellos, 2010).

Fonte: slideplayer.com.br

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Já a 2ª Cibernética trata dos processos morfogenéticos (gênese de novas
formas), resultantes de retroalimentação positiva ou retroação amplificadora de
desvios, amplificação que pode - caso não produza a destruição do sistema e se a
estrutura do mesmo permitir - promover sua transformação, levando-o a um novo
regime de funcionamento. Trata da capacidade de auto-mudança do sistema (Vas-
concellos, 2010). Os conceitos de input e output persistem, mas aparece o conceito
de feedback (criado por Wiener e Bigelow, como já mencionado anteriormente) e
de causalidade circular retroativa e recursiva. Assim, aqui tem origem o pressu-
posto da instabilidade, o qual baseia-se na noção do mundo como em um processo
de constante transformação, no qual há a indeterminação e, por isso, alguns fenô-
menos são imprevisíveis e irreversíveis, e, portanto, incontroláveis (Vasconcellos,
2010).

Fonte: slideplayer.com.br

A Cibernética de 2ª ordem também é chamada de Si-Cibernética porque Ed-


gar Morin propôs um movimento que ultrapassasse a Cibernética: a Si-Cibernética.
O prefixo si é o elemento da preposição grega sun que significa "estar junto", o que
marca a obrigação recíproca entre as partes. O físico Heinz Von Foster é conside-
rado uma figura central para o desenvolvimento da Si-Cibernética. Ele é responsá-
vel pela noção de sistemas observantes, de acordo com o qual o observador, inclu-
indo-se no sistema que observa, se observa observando (Vasconcellos, 2010). A
partir da noção de sistemas observantes, a Cibernética tomou a si mesma como
objeto de estudo e surgiu, então, a Cibernética de 2ª ordem, também chamada de

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construtivismo ou visão construtivista, pois pressupõe o observador como parte do
sistema observado (Osorio, 2002; Vasconcellos, 2010).
Então, a Cibernética de 2ª ordem, também chamada de Cibernética da Ci-
bernética, ou Cibernética novo-paradigmática, apresenta os três pressupostos da
ciência novo-paradigmática, quais sejam: complexidade, instabilidade e intersubje-
tividade. A noção de complexidade está ligada a sistemas, ecossistemas, causali-
dade circular, recursividade, contradições e pensamento complexo. A ideia de ins-
tabilidade está relacionada à desordem, evolução, imprevisibilidade, saltos qualita-
tivos, auto-organização e incontrolabilidade. O pressuposto da intersubjetividade
envolve a inclusão do observador, autorreferência, significação da experiência na
conversação e coconstrução (Vasconcellos, 2010).
A articulação dos desenvolvimentos da Cibernética que fazem emergir a Si-
Cibernética mudou os pressupostos epistemológicos da ciência tradicional (simpli-
cidade, instabilidade e objetividade), exigindo uma reorganização dos conceitos an-
teriormente elaborados (Barcellos &Moré, 2007). Fala-se então em Pensamento
Sistêmico, o qual também é chamado de epistemologia sistêmica, de novo para-
digma da ciência (ou paradigma da ciência contemporânea), ou ainda, de episte-
mologia da ciência novo-paradigmática (Vasconcellos, 2010). Todavia, nem tudo o
que é sistêmico e nem tudo o que se apresenta como Teoria Sistêmica ou Pensa-
mento Sistêmico, pode ser reconhecido como sendo da epistemologia da ciência
novo-paradigmática; para que seja novo-paradigmático, é necessário que tenha os
três pressupostos mencionados acima, quais sejam, complexidade, instabilidade e
intersubjetividade.

Fonte: www.newsrondonia.com.br

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2.2 A Teoria da Comunicação

Gregory Bateson (1904-1980), antropólogo inglês, se utilizou das teorias


acima citadas para desenvolver a Teoria da Comunicação. O autor, junto com seus
colaboradores de Palo Alto (Califórnia), descreveu a comunicação patogênica na
família do esquizofrênico e apresentou a hipótese do duplo vínculo, ou seja, uma
forma de comunicação paradoxal que tem profundas implicações nas relações in-
terpessoais. Bateson fazia uso de analogias, metáforas e histórias por acreditar que
esses recursos eram um caminho para o estudo das relações (Osório, 2002).
O processo de comunicação humana abrange uma complexidade de fatores,
tais como conteúdo, forma e linguagem, os quais estão sempre presentes nos pro-
cessos interrelacionais.
A Teoria da Comunicação humana, na sua origem, engloba três dimensões:
a sintaxe, a semântica e a pragmática. A sintaxe se refere à transmissão da infor-
mação; a semântica está relacionada ao significado dos símbolos; e a pragmática
diz respeito aos aspectos comportamentais da comunicação. A teoria também apre-
senta o conceito da metacomunicação (comunicação sobre a comunicação) e o uso
de mensagens congruentes ou incongruentes (Watzlawick, Beavin, & Jackson,
1973).

Fonte: 8m1sdf.blogspot.com.br

Segundo Watzlawick et al. (1973), invariavelmente as pessoas enviam e re-


cebem uma diversidade de mensagens, sejam elas pelos canais verbais ou não
verbais, e as mesmas necessariamente modificam ou afetam umas às outras.
Quando duas pessoas interagem constantemente, reforçam e estimulam o que está

19
sendo dito ou feito, de tal forma que o padrão de comunicação entre os participan-
tes de uma interação define o relacionamento entre eles. Percebe-se, assim, que a
importância das mensagens não está vinculada somente à questão de comunicar
algo, mas também, e especialmente, à influência que ela exerce no comportamento
e nas atitudes das pessoas em interação (Nieweglowski& More, 2008).
A Teoria da Pragmática da Comunicação Humana afirma que a comunica-
ção afeta o comportamento ocasionando implicações nas relações interpessoais.
De acordo com Watzlawick et al. (1973), "atividade ou inatividade, palavras ou si-
lêncio, tudo possui valor de mensagem, influencia os outros, e estes outros que,
por sua vez, não podem não responder a essas comunicações, estão, portanto,
comunicando também" (p. 45).

Fonte: pt.slideshare.net

Além disso, Bateson e Watzlawick preconizaram que a teoria também abarca


os cinco axiomas que são: 1) É impossível não comunicar; 2) Toda comunicação
tem aspecto de relato (conteúdo) e de ordem (relação); 3) A natureza de uma rela-
ção está na contingência da pontuação das sequências comunicacionais entre os

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comunicantes (cada comportamento é causa e efeito do outro); 4) Os seres huma-
nos se comunicam de maneira digital (comunicação verbal) e analógica (comunica-
ção não-verbal); e 5) Todas as permutas comunicacionais ou são simétricas ou
complementares, e estão baseadas na igualdade ou na diferença (Watzlawick et al.
1973).
Bateson concebeu um conceito novo e radical de mente, capaz de superar
a visão cartesiana. Mente é um fenômeno sistêmico característico dos seres vivos,
uma característica relacional. A mente não está no cérebro e sim nas relações.
Também nega a objetividade da realidade quando afirma que o observador traz a
marca de quem observa. Não existe, portanto, uma realidade objetiva, indepen-
dente do observador (Vasconcellos, 2010), conforme já explicitado no pressuposto
da intersubjetividade. A compreensão dos padrões comunicacionais que possibili-
tam ou dificultam as relações são de suma importância para aqueles que trabalham
dentro do paradigma sistêmico. A seguir, serão destacados os principais requisitos
para a formulação do Pensamento Sistêmico.

Fonte: www.youtube.com

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2.3 O Enfoque Sistêmico

Fonte: equipeat.com.br

Os Estados Unidos, que estão agora na terceira geração de terapeutas fa-


miliares, reclamam para si o pensamento sistêmico no trabalho clínico com famílias.
A partir da teoria geral dos sistemas e da teoria da comunicação surgiram várias
escolas de terapia familiar e vários institutos e centros de atendimento e de forma-
ção foram criados.
Para os teóricos da comunicação, qualquer comportamento verbal ou não
verbal, manifestado por uma pessoa - o emissor -em presença de outra - o receptor
- é comunicação. Ao mesmo tempo que a comunicação transmite uma informação,
ela define a natureza da relação entre os comunicantes. Estas duas operações
constituem, respectivamente, os níveis de relato (digital) e de ordem (analógico)
presentes em qualquer comunicação. Quando estes dois níveis se contradizem,
temos o paradoxo. A comunicação paradoxal está na origem da patologia familiar.
A família é vista como um sistema equilibrado e o que mantém este equilíbrio
são as regras do funcionamento familiar. Quando, por algum motivo, estas regras
são quebradas, entram em ação meta-regras para restabelecer o equilíbrio perdido.
A terapia desenvolvida a partir deste enfoque enfatiza a mudança no sistema
familiar, sobretudo pela reorganização da comunicação entre os membros da famí-
lia. O passado é abandonado como questão central, pois o foco de atenção é o

22
modo comunicacional no momento atual. A unidade terapêutica se desloca de duas
pessoas para três ou mais à medida em que a família é concebida como tendo uma
organização e uma estrutura. É dada uma ênfase a analogias de uma parte do
sistema com relação a outras partes, de modo que a comunicação analógica é mais
enfatizada que a digital.
Os terapeutas sistêmicos se abstêm de fazer interpretações na medida em
que assumem que novas experiências - no sentido de um novo comportamento que
provoque modificações no sistema familiar - é que geram mudanças. Neste sentido
são usadas prescrições nas sessões terapêuticas para mudar padrões de comuni-
cação, e prescrições, fora das sessões, com a preocupação de encorajar uma
gama mais ampla de comportamentos comunicacionais no grupo familiar. Há uma
certa concentração no problema presente, mas este não é considerado apenas
como um sintoma. O comportamento sintomático é visto como uma resposta ne-
cessária e apropriada ao comportamento comunicativo que o provocou.
A partir do enfoque sistêmico, várias escolas de terapia familiar se desenvol-
veram, entre elas a Escola Estrutural, a Estratégia, a de Milão e, mais recente-
mente, a Escora Construtivista.

2.4 Escola Estrutural

Minuchin é o principal teórico da Escola Estrutural e para ele a família é um


sistema que se define em função dos limites de uma organização hierárquica. O
sistema familiar diferencia-se e executa suas funções através de seus subsistemas.
As fronteiras de um subsistema são as regras que definem quem participa
de cada subsistema e como participa. Para que o funcionamento familiar seja ade-
quado, estas fronteiras devem ser nítidas. Quando as fronteiras são difusas, as
famílias são aglutinadas; fronteiras rígidas caracterizam famílias desligadas. Famí-
lias saudáveis emocionalmente possuem fronteiras claras.

23
Fonte: slideplayer.com.br
A estrutura não é, para Minuchin (1974), uma entidade imediatamente aces-
sível ao observador. É no processo de união com a família que o terapeuta obtém
os dados. A medida em que a terapia evolui, o terapeuta coloca questões, identifica
os padrões transacionais e as fronteiras, levanta hipóteses sobre os padrões dis-
funcionais e obtém assim um mapa familiar.
O terapeuta deve ajudar a transformação do sistema familiar, e para isto ele
se une à família desempenhando o papel de líder, identifica e avalia a estrutura
familiar, e cria circunstâncias que permitam a transformação da estrutura. As mu-
danças terapêuticas são alcançadas através das operações reestruturadoras, tais
como: a delimitação de fronteiras, a distribuição de tarefas, o escalonamento do
stress e a utilização dos sintomas. A terapia estrutural é uma terapia de ação, e o
sintoma é visto como um recurso do sistema para manter uma determinada estru-
tura.

2.5 Escola Estratégica

Jay Haley é um dos principais teóricos da Escola Estratégica juntamente com


Jackson, Bateson, Weakland e Watzlawick.

24
Para Haley (1976) o que caracteriza o sistema familiar é a luta pelo poder.
Ele utiliza o termo estratégico para descrever qualquer terapia em que o terapeuta
realiza ativamente intervenções para resolver problemas.
A visão estratégica define o sintoma como expressão metafórica ou analó-
gica de um problema representando, ao mesmo tempo, uma forma de solução in-
satisfatória para os membros do sistema em questão.

Fonte: biosom.com.br

Nesta abordagem há uma orientação franca para o sintoma e os problemas


são vistos como dificuldades interacionais que se desenvolvem através da supe-
rênfase ou da subênfase nas dificuldades de viver. A resolução dos problemas re-
quer a substituição dos padrões interacionais. A abordagem terapêutica é pragmá-
tica: trabalham-se as interações e evitam-se os porquês.
O principal objetivo é mudar o comportamento manifesto do paciente. São
utilizadas instruções paradoxais que consistem em prescrever comportamentos
que, aparentemente, estão em oposição aos objetivos estabelecidos, mas que vi-
sam a mudanças em direção a eles. A instrução paradoxal é mais freqüentemente
utilizada sob a forma de prescrição de sintoma, isto é, encorajando-se aparente-
mente o comportamento sintomático. Para Watzlawick et al (1967) o uso do para-
doxo leva à substituição do duplo vínculo patogênico por um duplo vínculo terapêu-
tico.

25
2.6 Escola de Milão

Fonte: pt.slideshare.net

A principal representante deste grupo é Mara Selvini Palazzoli que, junta-


mente com Boscolo, Ceccin e Prata, fundou em 1967 o Centro para o Estudo da
Família. Partindo dos mesmos pressupostos teóricos da Escola Estratégica, Palaz-
zoli et al (1980) consideram que os problemas que emergem quando os mapas
familiares não são mais adequados, ou seja, os padrões de comportamento desen-
volvidos não são mais úteis nas situações atuais. Dada a tendência à homeostase,
os problemas surgem quando as regras que governam o sistema são tão rígidas
que possibilitam padrões de interação repetitivos, homeostáticos e vistos como
"pontos nodais" do sistema.
Um princípio terapêutico fundamental para o grupo de Milão é a conotação
positiva dos comportamentos apresentados pela família. Quando se qualificam
como positivos os comportamentos sintomáticos, motivados pela tendência ho-
meostática do sistema e não os comportamentos.
Outro tipo de intervenção utilizada pelo grupo de Milão é o ritual familiar, ou
seja, uma ação ou uma série de ações das quais todos os membros da família são
levados a participar. A prescrição de um ritual visa evitar o comentário verbal sobre
as normas que perpetuam o jogo em ação. No ritual familiar novas regras substi-
tuem tacitamente as regras precedentes. Para elaborar um ritual o terapeuta deve

26
ser bastante observador e criativo. O ritual é rigorosamente específico a uma de-
terminada família.

2.7 Escola Construtivista

Fonte: www.educacaopublica.rj.gov.br

No final da década de 70, utilizando os conceitos da cibernética de segunda


ordem e de sua aplicação aos sistemas sociais, surge a Escola Construtivista. A
partir da concepção de retroalimentação evolutiva de Prigogine (1979), considera-
se que a evolução de um sistema ocorre através da combinação de acaso e história
em que, a cada patamar, surgem novas instabilidades que geram novas ordens, e
assim sucessivamente. Nesta perspectiva em que os sistemas vivos são conside-
rados como hipercomplexos e indeterminados, instabilidade e a crise ganham um
novo sentido no sistema familiar. A crise não é mais um risco, mas parte do pro-
cesso de mudanças, assim como o sintoma.

27
Fonte: www.psicologiaviva.com.br

Assim, os terapeutas de família da Escola Construtivista passam a conside-


rar a autonomia do sistema familiar partindo do estudo dos sistemas auto-organi-
zados, da cibernética de segunda ordem, e dos sistemas autopoéticos postulados
por Humberto Maturana (1990).
Ocorre, neste enfoque, uma ruptura entre o sistema familiar/observado e o
terapeuta/observador. O sistema surge como construção de seus participantes. O
terapeuta estará interessado não mais no comportamento a ser modificado, mas
no processo de construção da realidade da família e nos significados gerados no
sistema. A ênfase é deslocada do que é introduzido no sistema pelo terapeuta para
aquilo que o sistema permite a ele selecionar e compreender.
Alguns terapeutas estratégicos podem ser citados como tendo incluído pos-
teriormente na sua prática o modo de pensar construtivista; entre eles, os do grupo
de Milão. Palazzoli et al (1980) estabelecem três princípios indispensáveis ao tra-
balho terapêutico: a formação de uma hipótese, a circularidade e a neutralidade.
A hipótese formulada deve ser testada ao longo da sessão; se rejeitada, o
terapeuta procurará outras, baseando-se nos dados obtidos na verificação da pri-
meira hipótese. Todas as hipóteses devem ser sistêmicas, ou seja, devem incluir
todos os membros da família e fornecer uma conjetura que explique a função da
relação. A circularidade diz respeito à capacidade do terapeuta de conduzir a ses-
são baseando-se nos feedbacks recebidos da família como resposta à informação

28
que solicitou em termos relacionais. A neutralidade consiste numa atitude de im-
parcialidade do terapeuta que se alia a cada membro da família, neutralizando qual-
quer tentativa de coalizão ou sedução de qualquer componente do grupo familiar.

Fonte: www.psicologicamentevincular.com

O enfoque construtivista, proposto a partir de uma ótica sistêmica de se-


gunda ordem, questiona portanto o poder do terapeuta na terapia familiar e as in-
tervenções terapêuticas diretivas. A ênfase não é colocada na pergunta, mas na
construção da interação e a ação do terapeuta pretende explorar as construções
onde surgem os problemas.

2.8 O Enfoque Psicanalítico

Fonte: psicologado.com

29
A terapia familiar de enfoque psicanalítico dá ênfase ao passado, à história
da família tanto como causa de um sintoma, quanto como um meio de transformá-
lo. Os sintomas são vistos como decorrência de experiências passadas que foram
recalcadas fora da consciência. O método utilizado, na maior parte das vezes, é
interpretativo com o objetivo de ajudar os membros da família a tomar consciência
do comportamento passado, assim como do presente e das relações entre eles.
Influenciados pelo trabalho estritamente psicanalítico, desenvolvido na Clí-
nica Tavistock de Londres, Pincus&Dare (1978) formulam suas hipóteses que fun-
damentam a prática clínica com famílias e casais a partir de um grande interesse
na trama inconsciente dos sentimentos, desejos, crenças e expectativas que unem
os membros de uma família entre si e aos passados individuais e familiar.
Estes autores interessam-se particularmente pelos efeitos dos segredos e
dos mitos na dinâmica familiar. Ressaltam que os segredos podem pertencer a um
membro da família, ou serem, tacitamente, compartilhados com outros; ou, incons-
cientemente, endossados pelos membros da família, de geração para geração, até
se tornarem um mito. Quando um membro da família desafia um segredo familiar,
a atitude dos outros membros também muda em relação ao segredo, o conluio é
rompido e novos fatos e fantasias vêm à tona. A partir da prática clínica Pin-
cus&Dare mostram como os segredos mais freqüentes e mais cuidadosamente es-
condidos são aqueles que nascem de sentimentos ou fantasias incestuosas.
O enfoque psicanalítico em terapia familiar é denominado por Ruffiot (1981)
de grupalista e é inspirado na sua teoria e na sua prática, por uma representação
fantasmática e grupal do indivíduo no seio de sua família. Assim, Ruffiot formula a
hipótese de um aparelho psíquico familiar a partir do modelo de aparelho psíquico
grupai de Kaës (1976). Ele estabelece uma relação entre aparelho psíquico do
grupo familiar e o aparelho psíquico primitivo do recém-nascido, considerando que
a natureza do psiquismo primário é o fundamento do psiquismo familiar e de todo
psiquismo grupai. Esta abordagem se baseia numa escuta do funcionamento da
fantasmática familiar no aparelho psíquico da família, um inconsciente a várias vo-
zes que aparece na associação livre dos membros da família reunidos na sessão.

30
Fonte: pt.dreamstime.com

Eiguer (1984) postula que a família compõe-se de membros que têm, em


grupo, formas típicas de funcionamento psíquico inconsciente que se diferenciam
do funcionamento de cada membro. Ele formula o conceito de organizadores gru-
pais para explicar os investimentos recíprocos que ocorrem entre os membros da
família e, ressalta a fantasia original de castração como determinante da definição
de diferença sexual, derivando daí a delimitação dos papéis de pai, mãe, irmão,
irmã. Para Eiguer a fantasia original está na base dos vínculos, sendo portanto ati-
vadora como os investimentos narcísicos e objetais, e favorecendo o reagrupa-
mento interfantasioso.

Critérios fundamentais do Pensamento Sistêmico

Fonte: www.casulepsicologia.com.br

31
A palavra "sistema" deriva do grego synhistanai que significa colocar junto.
O entendimento sistêmico requer uma compreensão dentro de um contexto, de
forma a estabelecer a natureza das relações. A principal característica da organi-
zação dos organismos vivos é a natureza hierárquica, ou seja, a tendência para
formar estruturas multiniveladas de sistemas dentro de sistemas. Cada um dos sis-
temas forma um todo com relação as suas partes e também é parte de um todo. A
existência de diferentes níveis de complexidade com diferentes tipos de leis ope-
rando em cada nível forma a concepção de "complexidade organizada" (Vascon-
cellos, 2010).
O primeiro dos critérios fundamentais do Pensamento Sistêmico se refere à
mudança das partes para o todo, a partir do entendimento de que as propriedades
essenciais são do todo de forma que nenhuma das partes as possui, pois estas
surgem justamente das relações de organização entre as partes para formar o todo.
Outro critério diz respeito à capacidade de deslocar a atenção de um lado para o
outro entre níveis sistêmicos (Vasconcellos, 2010).

Fonte: pt.slideshare.net

O pensamento é contextual, pois a análise das propriedades das partes não


explica o todo. É ambientalista porque considera o contexto. A ênfase está nas
relações e não nos objetos, ou seja, os próprios objetos são redes de relações,

32
embutidas em redes maiores. O mundo vivo é entendido como uma rede de rela-
ções. O conhecimento científico é tido como uma rede de concepções e de modelos
sem fundamentos firmes e sem que um deles seja mais importante do que outros.
O mundo material é visto como uma teia dinâmica de eventos interrelacionados
(Vasconcellos, 2010).
Por fim, o último critério se refere à mudança da ciência objetiva para a epis-
têmica; o método de questionamento torna-se parte integral das teorias científicas.
A compreensão do processo de conhecimento precisa ser explicitamente incluída
na descrição dos fenômenos naturais, de forma que tais descrições não são obje-
tivas (Capra, 2006; Grandesso, 2000; Vasconcellos, 2010).

3 OS NOVOS MODELOS DE FAMÍLIA

http://aunipedag.com.br

3.1 Família Monoparental

É a família constituída por uma pessoa, independente de sexo, que encon-


tra-se sem companheiro, porém vive com um ou mais filhos. Pode ocorrer do fim

33
de uma família bioparental, ou seja, como ocorre com as viúvas, separadas, ado-
ção, divorciadas e solteiras que a princípio viviam em união estável, ou até mesmo
em casos de ser por opção.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, ECA, prevê a possibilidade, inde-
pendente do estado civil uma pessoa sozinha, tanto o homem quanto a mulher,
poderá adotar uma criança, e assim se tornar uma família, está disposto no art. 42
do ECA.

3.2 Família Nuclear

Era considerado como único e legítimo modelo de família, onde tinha o ho-
mem, a mulher e seus descendentes. Era o modelo inspirado na Revolução Indus-
trial.
Refletia a ideia de sociedade dinâmica e mais produtiva. Pois era como um
núcleo pequeno, onde um chefe provedor do lar, poderia com facilidade resolver
questões geográficas ou sociais.
Representando assim, um modelo de sociedade capitalista.

3.3 Família Reconstituída

Quando ocorre o divórcio, surge então a chance de uma nova família. Além
de juntar marido e mulher, também os filhos provenientes de relações anteriores,
vivendo todos sobre o mesmo teto. Seja proveniente de um novo casamento ou
uma união estável, os filhos possuem origens distintas quanto a paternidade bioló-
gica. Diante da realidade atual, este modelo tende a aumentar sua incidência.

3.4 União Estável

Com advento da Constituição Federal de 1988, a união estável, no passado


estigmatizada pela expressão de concubinato, em que a mulher era classificada
vulgarmente como amante ou amásia, foi equiparada à figura de entidade familiar.
É definida como aquela formada por um homem e uma mulher livre de for-
malidades legais do casamento, com o animus de conviverem e constituir família.

34
Em assim sendo, se a união estável é entidade familiar, como também o
casamento, não há como se fugir da conclusão de que as regras do instituto da
guarda devem ser aplicadas à união estável.

3.5 Família Anaparental

É a convivência de pessoas sem vínculos parentais que convivem por algum


motivo, possuindo uma rotina e dinâmica que os aproximaram, podendo ser estas
afinidades sociais, econômicas ou outra qualquer.

3.6 Família Eudemonistas

A princípio pode ter uma formação convencional, pais, filhos, mas ao obser-
var sua constituição, nota-se que em seus indivíduos existe pouco apego a regras
sociais que formulam as famílias mais tradicionais, religião, moral ou política.

4 PSICOLOGIA CONJUGAL E FAMILIAR

Fonte: acessepsicologia.blogspot.com.br

A terapia familiar e de casal baseia-se no princípio de que os indivíduos e os


seus problemas são melhor entendidos em contexto relacional e é precisamente

35
neste contexto que podem surgir as soluções para o que não está a acontecer da
melhor forma.
Acredita-se, pois, que se surge um problema no contexto familiar ou conju-
gal, é nele mesmo que emergem as soluções para que uma família e um casal
continuem a evoluir.
Assim, a terapia familiar e de casal é uma modalidade de psicoterapia que
procura ajudar os elementos de uma família a identificar e solucionar as dificulda-
des das dinâmicas e comunicação familiar, quando sozinhos já não estão a conse-
guir fazê-lo.

Fonte: www.daquidali.com.br

O contexto da consulta de terapia familiar e de casal decorre num espaço


em que na mesma consulta estão presentes vários elementos da família em simul-
tâneo, na tentativa de colocar em comum aquelas que são as dificuldades da famí-
lia/casal, de acordo com a perspectiva de cada elemento para chegar a conclusões
e soluções comuns.
Todo este processo é mediado por terapeutas familiares que alinham num
modelo de psicoterapêutico mais rápido e orientado para os resultados.

36
5 A FAMÍLIA E SUAS FASES

Fonte: www.belasmensagens.com.br

A família é o lugar de origem da história pessoal de cada um, é o espaço


privado onde se emergem as relações mais espontâneas. Não podemos escolher
nossa qualidade de membro na família a não ser, talvez, pelo casamento. Ainda
que possamos acreditar que é possível deixar de pertencer a uma família, rom-
pendo os laços com a família de origem e não nos enveredando na constituição de
outra, mesmo assim as lembranças e memórias de um convívio familiar ficarão
como marcas em nossas histórias, podendo ser acessadas a qualquer momento.
O ciclo de vida de uma pessoa acontece dentro do ciclo de vida familiar, que
é o contexto primário do desenvolvimento humano, e suas intersecções vão cons-
tituir a trama da vida familiar. Com isto não há um ponto de partida predeterminado
para compreender o ciclo familiar. Devemos levar em conta que afamília é como
um sistema movendo-se através do tempo, não de forma linear, mas como uma
espiral.
É possível reconhecer diferentes padrões na organização das famílias ao
longo do tempo, assim como diversas formas de relacionamento entre seus mem-
bros. Apesar destas diversidades, podemos também observa rmuitas característi-
cas semelhantes ao longo do ciclo de vida das famílias.
Estas características semelhantes costumam ser chamadas de Fases do Ci-
clo de Vida das Famílias. Conhecer melhor o modo como as famílias enfrentam e
superam cada fase, tornando visíveis as dificuldades encontradas. O estudo destas

37
Fases aos profissionais e também às famílias com quem trabalham, colaboram no
entendimento e na busca de ações que contribuam para o seu desenvolvimento.
Segundo Nahas:

... quando a abordagem se focaliza também sobre as transições, sobre as


mudanças descontinuas necessárias para enfrentar novas si
tuações de vida, há uma escuta. As pessoas percebem que ou podem
ficar paradas, estacionadas em determinado momento da vida, e isso pro-
voca dor, sintomas em uma pessoa ou disfuncionalidade em toda a famí-
lia. Ou então podem viver as mudanças como coisas previsíveis, aceitá-
veis, e então se tranquilizar (Nahas,1995, p.265).

Desde o começo da década de 50, os estudos de terapia familiar têm utili-


zado conceitos vindos da sociologia para explicar o desenvolvimento do ciclo de
vida das famílias, tal qual a psicologia o fez com relação ao desenvolvimento do
indivíduo. Foi em 1980que Mônica McGoldrick e Betty Carter “escreveram sobre a
sucessão de estágios do ciclo de vida na família americana de classe média, inclu-
indo um enfoque tri-geracional, e descrevendo não só as tarefas de desenvolvi-
mento inerentes a cada estágio, mas também as dificuldades de transição.
As famílias contemporâneas guardam muitas nuances do que se pode ca-
racterizar como modelo burguês de família: patriarcal, autoritário, monogâmico, pri-
mando pela privacidade, a domesticidade e os conflitos entre sexo e idade.
Os modos de vida nas famílias contemporâneas vêm se modificando, ocor-
rendo novas configurações de gênero e gerações, onde se elaboram novos códi-
gos, mas mantem-se certo substrato básico de gerações anteriores (Motta,1998).
Estas mudanças guardam relação com algumas tendências que emergiram na dé-
cada de 1960 (Castells,2006):
 O crescimento de uma economia informacional global,
 Mudanças tecnológicas no processo de reprodução da espécie e
 O impulso promovido pelas lutas da mulher e pelo movimento femi-
nista.

38
Fonte: www.cefatef.com.br

Destacam-se ainda algumas tendências globais recentes que refletem signi-


ficativas transformações no âmbito familiar (Rizzini,2001):

 As famílias tendem a ser menores,


 Há menos mobilidade para as crianças, com redução de espaço de
autonomia das crianças em locais urbanos;
 As famílias ficam menos tempo juntas, fato associado ao aumento
significativo do número de integrantes da família que trabalham;
 As famílias tendem a ser menos estáveis socialmente, como exemplo
temos o declínio das uniões formais, o aumento dos índices de divór-
cios e separações, assim como de novas uniões;
 A dinâmica dos papeis parentais e da relação de gênero está mu-
dando intensamente. Homens e mulheres são chamados a desempe-
nhar, cada vez mais, papeis e funções que sempre foram fortemente
delimitados como sendo dos pais ou das mães.

A tendência atual da família moderna é ser cada vez mais simétrica na dis-
tribuição dos papeis e obrigações, sujeita a transformações constantes, devendo
ser portanto flexível para poder enfrentar e se adaptar às rápidas mudanças sociais
inerentes ao momento histórico em que vivemos.

39
Fonte: institutomindcare.com.br

A família possui um papel primordial no amadurecimento e desenvolvimento


biopsicossocial dos indivíduos, apresentando algumas funções primordiais, as
quais podem ser agrupadas em três categorias que estão intimamente relaciona-
das:

5.1 Biológicas

A função biológica principal da família é garantir a sobrevivência da espécie


humana, fornecendo os cuidados necessários para que o bebê humano possa se
desenvolver adequadamente.

5.2 Psicológicas

Em relação às funções psicológicas podem- se citar três grupos centrais:

 Proporcionar afeto, aspecto fundamental para garantir a sobrevivên-


cia emocional do indivíduo;
 Servir de suporte e continência para as ansiedades existenciais dos
seres humanos durante seu desenvolvimento, auxiliando-os na supe-
ração das crises vitais pelas quais todos os seres humanos passam
no decorrer do seu ciclo vital (ex:adolescência);

40
 Criar um ambiente adequado que permita a aprendizagem empírica
que sustenta o processo de desenvolvimento cognitivo dos seres hu-
manos.

5.3 Sociais

O cerne da função social da família está na transmissão da cultura de uma


dada sociedade aos indivíduos, bem como na preparação dos seus membros para
o exercício da cidadania.
É a partir do processo socializador que o indivíduo elabora sua identidade e
sua subjetividade, adquirindo, no interior da família, os valores, as normas, as cren-
ças, as ideias, os modelos e os padrões de comportamento necessários para a sua
atuação na sociedade.
As normas e os valores que introjetamos no interior da família permanecem
conosco durante toda a vida, atuando como base para a tomada de decisões e
atitudes que apresentamos no decorrer da fase adulta.
Além disso a família continua mesmo na etapa adulta a dar sentido às rela-
ções entre os indivíduos, funcionando como um espaço no qual as experiências
vividas são elaboradas.
As mudanças que ocorrem no mundo globalizado afetam a dinâmica familiar
como um todo e de forma particular em cada família considerando seus valores,
história, composição, cultura e pertencimento social.
A partir da constituição da família como grupo social, são estabelecidas as
relações com a sociedade a que ela pertence. Os modos de vida das famílias con-
temporâneas vão se transformando, são criadas novas articulações de gênero e
geracional, elaborando novos códigos e ao mesmo tempo mantendo certo substrato
básico de tradição.
Como cada sociedade tem sua história e sua cultura, são diversas as formas
de ser família, de criar os filhos, como também são diversos os costumes relativos
ao matrimônio e aos papeis do homem e da mulher.

41
6 ESTRATÉGIAS DE ATENDIMENTO DAS FAMÍLIAS

Fonte: setorsaude.com.br

A avaliação psicológica da família deve ser baseada, como qualquer outro


processo de avaliação psicológica, em hipóteses desenvolvidas pelo profissional
sobre o funcionamento do sistema familiar.
Os métodos de avaliação e entrevista familiar foram desenvolvidos à medida
que diversas teorias sobre a família surgiram em diferentes paradigmas psicológi-
cos, embora todos se fundamentem na hipótese da influência dos grupos sociais
na construção do sujeito e no agenciamento de seu comportamento.
Segundo Féres- Carneiro e Diniz Neto (2012), a entrevista psicológica é a
técnica mais antiga e a mais valiosa no contexto de investigação, avaliação e inter-
venção clínica.
A abordagem psicodinâmica foi a primeira a desenvolver e aplicar o olhar
clinico psicológico em uma situação de entrevista. Autores como Freud, Adler e
Jung apontaram para a importância do ambiente e do relacionamento familiar para
a constituição psicológica do indivíduo.
A terapia de família surgiu orientando-se inicialmente por dois paradigmas:
a abordagem psicanalítica e a abordagem sistêmica. Conceitos sistêmicos foram
desenvolvidos à medida que a técnica de entrevista de diagnóstico sistêmico e a
entrevista evoluíram.

42
6.1 Entrevista Circular

A abordagem sistêmica nos trouxe a entrevista circular, técnica que permite


interagir com a família, revelando aspectos do seu funcionamento ao focar seus
aspectos ecossistêmicos.
A entrevista circular refere-se a um modo específico de desenvolver um pa-
drão de interação entre o terapeuta e a família. Nessa técnica, as questões são
formuladas com o objetivo de revelar as conexões recorrentes, levando tanto a fa-
mília quanto o terapeuta a desenvolver uma compreensão da situação problema
em uma visão sistêmica.
Segundo Féres- Carneiro e Diniz Neto (2012), os terapeutas sistêmicos do
grupo de Milão esboçaram três princípios para orientar a conduta do:
Neutralidade: refere-se a atitude do terapeuta de família que não se alia a
nenhum membro específico, procurando manter –se curioso e aberto sobre os pa-
drões de funcionamento.
Circularidade: denota a busca de compreensão do enlaçamento dos diver-
sos aspectos de funcionamento da família que revelam a multiplicidade de olhares
e vivências.
Hipotetização: refere-se a construção constante de hipóteses centradas na
circularidade, mantendo uma atitude de curiosidade e abertura, apoiando a neutra-
lidade.

6.2 Entrevista familiar

O processo de avaliação e diagnóstico da entrevista familiar é guiado pela


orientação teórica do clínico.
Os objetivos de uma entrevista familiar inicial incluem (Féres-Carneiro e Di-
niz Neto,2012):
 Identificar as variáveis familiares e individuais que podem ter influên-
cia decisiva na situação familiar problemática,
 Abordar o funcionamento da família, assim como sua dinâmica e de
seus membros;
 Conduzir a sessão de tratamento inicial, quando necessário.

43
 A entrevista diagnóstica é dividida em três momentos:

Estágio Social- o profissional age criando um setting social e culturalmente


adequado à família, possibilitando a investigação e a intervenção psicoterapêutica
inicial. Os aspectos de interação e enquadre são tão importantes quanto o ambiente
físico, que pode ter o aspecto de uma sala de visita, com mesa, material de brin-
quedo e cadeira para as crianças pequenas, caso necessário (Féres-Carneiro e
Diniz Neto,2012).
O rapport inicial pode incluir um tempo de conversação informal e o estabe-
lecimento de relacionamento através de comunicação verbal e não verbal amistosa
Féres-Carneiro e Diniz Neto,2012).

Estágio de questionamento multidimensional- o profissional investiga o


motivo da consulta tanto quanto o modo como a família o descreve.
A apresentação da problemática inicial é frequentemente um estágio confor-
tável para a família que tenderá a descrever a imagem oficial do problema.
A exploração de visões alternativas dos outros membros da família deve ser
feita respeitosamente, buscando-se a neutralidade sistêmica.
Áreas potencialmente problemáticas não repostadas devem ser investiga-
das, pois podem relacionar –se retroativamente com as dificuldades da família na
área da queixa.
A resistência em explorar outras áreas talvez esteja presente e surja na
forma de convite à aliança com o terapeuta ou com a injunção para que ele aplique
soluções preestabelecidas para o problema. É importante evitar confronto, já que a
resistência pode ser compreendida como a comunicação silenciosa de áreas pro-
blemáticas de tensão que estão acima da possibilidade de manejo da família.
A abordagem de áreas problemáticas deve ser realizada com cuidado e res-
peito, apontando- se a necessidade de compreender amplamente o problema e de
demonstrar que o ponto de vista de todos é importante.

Desenvolvimento- diversas técnicas podem ser utilizadas para explorar a


estrutura, o desenvolvimento e as questões emergentes do ciclo familiar. Elas cor-
respondem às condições nas quais se realiza a entrevista, bem como à orientação
teórica e à habilidade técnica do entrevistador.
44
Féres-Carneiro e Diniz neto (2012), ao estudar os métodos de avaliação fa-
miliar propõe a classificação em métodos objetivos, subjetivos e mistos, apontando
ainda a possibilidade de utilização de testes psicológicos que, por sua constituição
poderiam ser adequadamente utilizados em processos de atendimento familiar.

Os métodos objetivos classificam-se em dois grupos:


 Métodos que utilizam questionários
 Métodos que utilizam jogos

Os métodos subjetivos por sua vez se classificam em três grupos:


 Métodos que utilizam técnicas de desenhos
 Métodos que se baseiam em técnicas psicodramáticas,
 Métodos que utilizam testes projetivos.

Entre as técnicas mistas, estão:


 A tarefa familiar
 A entrevista estruturada de watzlawick
 A primeira entrevista de Satir
 A entrevista familiar via videoteipe
 A entrevista diagnóstica conjunta
 A entrevista familiar estruturada

Fonte: www.pharmadouro.com

45
A atuação terapêutica apropriada deriva-se de um diagnóstico compreendido
como um conjunto de hipóteses úteis e produtivas. À medida que um diagnóstico
familiar emerge distinções de condições permitem ao terapeuta realizar indicações
gerais de tratamento conforme o universo possível.
A avaliação familiar é, contudo um processo continuo que orienta o clinico
em cada sessão.
Cabe ressaltar que a construção de hipóteses na prática clínica é sempre
um processo de reavaliação, já que as hipóteses podem sempre se alterar, por não
refletirem a especificidade da família ou por serem transformadoras, levando a no-
vas dinâmicas e reestruturações.

7 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO FAMILIAR APROVADO PELO CFP:

Fonte: www.clinicaalamedas.com.br

Entrevista familiar estruturada(EFE): constitui-se em um processo de ava-


liação intergeracional entre o entrevistador e os membros da família.
O avaliador procura durante a entrevista, investigar dimensões relativas a
comunicação, regras, papéis, liderança, conflitos etc., por meio de tarefas verbais
e não verbais. Trata-se de um método clínico que busca realizar um diagnóstico
interacional da família (Teodoro,2012).

Inventário de Estilos parentais(IEP): visa avaliar as práticas educativas e


está disponível em três versões: do filho em relação à mãe, do filho em relação ao

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pai e dos pais em relação ao filho. As questões do IEP são respondidas por meio
da seguinte escala: nunca (0), às vezes(1) e sempre (2).
Esse instrumento é composto por 42 questões, abordando sete práticas edu-
cativas, sendo duas positivas (monitoria positiva e comportamental moral) e cinco
negativas (negligência, punição inconsistente, monitoria negativa, abuso físico e
disciplina relaxada).

Inventário de percepção de suporte familiar(IPSF): Escala do tipo likert


de três pontos que investiga três características de suporte familiar (Teodora,2012):
 Afetivo consistente- avalia a expressão de afetividade entre os membros
familiares, incluindo proximidade, clareza nas regras intra-familiares, consis-
tência de comportamentos e verbalizações na resolução de problemas.
 Adaptação familiar- composto por itens referentes a sentimentos e compor-
tamentos negativos em relação à família.
 Autonomia- investiga relações de confiança, liberdade e privacidade entre
os membros.

Roteiro de entrevista de habilidades sociais educativas parentais: re-


fere-se ao conjunto de habilidades sociais dos pais utilizado na prática educativa
dos filhos e engloba comportamentos como comunicação, expressão dos senti-
mentos e estabelecimento de limites.
O roteiro é apresentado no formato de escala likert de três pontos e visa a
identificar as habilidades de familiares de crianças na pré-escola, sendo composto
por categorias de comportamentos, incluindo temas como manter conversação, ex-
pressar sentimentos, demonstrar carinho, etc. (Teodoro,2012).

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8 O QUE É UM CASAMENTO BOM OU UM BOM CASAMENTO ?

Fonte: www.zankyou.com

A ideia do que seja efetivamente uma boa união, se transforma através dos
tempos. No período dos povos nômades e mais tarde, no período da agricultura os
conceitos de família eram totalmente diferentes. No século XVIII, no período do
romantismo, por razões econômicas e políticas começa a surgir o modelo do casal
onde o homem é o provedor e a mulher é a que cuida dos assuntos relacionados a
afetos e emoções. Aí se iniciam as construções sociais como: a rainha do lar, o
instinto materno, etc., que estão muito bem representados e apresentados em fil-
mes da década de 50. Aquele era e “é” ainda o casamento perfeito, ao menos em
nosso imaginário. E, nós ficamos desesperadamente tentando realizá-lo da ma-
neira que, em verdade, só existe nos filmes.
Isto ocorre através das transmissões de valores culturais atualizada princi-
palmente pelas mães. Mas somente a partir da decepção na relação com o cônjuge
é que se torna possível uma nova construção. Uma nova narrativa.

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Fonte: revistamarieclaire.globo.com

Um grande marco na mudança de padrões ocorre na década de 70 com a


revolução sexual e o advento da pílula anticoncepcional. É quando a mulher con-
segue separar o sexo da reprodução. O feminismo surge com força total. A partir
daí também começa a crescer o homossexualismo. Surge a fertilização in vitro, a
fecundação artificial, enfim as novas, diferentes e variadas formas de procriação.
Nos últimos 10 anos a ciência e a tecnologia avançaram mais que em toda
a história da humanidade! Mas, com todas estas mudanças e transformações, pa-
rece que a narrativa permanece na década de 50. O modelo de família ideal.
Na verdade os problemas não existem! Existem os fatos. É a maneira de
lidar com eles que vai torná-los ou não um problema. Que vai permitir a transfor-
mação ou a dissolução do problema. O trabalho do terapeuta está em criar novas
narrativas, isto é, ampliar o campo perceptual e transformar a gestalt, possibilitando
ao cliente novas alternativas. Novas escolhas.
Somente as pessoas que conseguem fugir do padrão podem criar. Seguir o
modelo é extremamente castrador e desvitalizante.

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Fonte: somostodosum.ig.com.br

Cabe ao terapeuta conseguir intervir nas narrativas ao modo da família e


não partindo do padrão dele, terapeuta. O terapeuta não deve funcionar como re-
gulador social, mas sim como um facilitador das possibilidades e dos novos arranjos
plausíveis de serem criados pela família ou pelo casal.
Para tanto, passeamos juntos com a família pelas construções individuais de
saúde, dinheiro, fidelidade, decepção, gênero, filhos, ciclo-vital, idade, família de
origem, cultura, raça, religião, etc.
Trabalhamos então com os estressores verticais e horizontais:

 Estressores Verticais:
Padrões
Mitos
Segredos e legados familiares
 Estressores Horizontais:
Desenvolvimentais (Transições do Ciclo de Vida)
Imprevisíveis (Morte, doença crônica, acidente)

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9 SEGREDO NA FAMÍLIA

Fonte: pensandoemfamilia.com.br

O segredo familiar aprisiona os indivíduos nas histórias por não se poder


falar sobre elas. Paralisa o tempo familiar.
O segredo nas palavras de Bernstein (apud Fernández, 1990, p. 101), “trata-
se de informações vinculadas com a história do grupo familiar ou aspectos particu-
lares de um de seus membros que, em geral, são ocultados parcialmente, com a
certeza de que não são desconhecidos por outros integrantes”. “Complementando,
IMBER-BLACK (1994) afirma que” é um fenômeno sistêmico. Ele está ligado ao
relacionamento, molda as díades, forma triângulos, aliança encoberta, divisões,
rompimentos, define limites de quem está ‘dentro’ e de quem está ‘fora’.
O segredo traz em si dualidades inseparáveis. Ele é ao mesmo tempo indis-
pensável e temido, colore e sufoca, protege e invade, nutre e consome. Existem
diversos temas que podem se transformar em grandes segredos num núcleo fami-
liar. Podem estar relacionados a: nascimento, adoção, origem familiar, infertilidade,
aborto, doenças físicas ou mentais, orientação sexual e sexualidade, incesto, estu-
pro, violência, adicções, religião, casamento com pessoas de diferentes raças ou
religiões, terrorismo, comportamento em tempo de guerra, divórcio, situação como
imigrante, suicídio, morte.

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Não existe garantia quanto ao resultado na revelação de um segredo. Esta
pode ser de efeito curativo ou de risco, assim como promover reconciliação ou di-
visão.

Fonte: emsegredo.blogs.sapo.pt

A postura quanto a revelação de um segredo varia de terapeuta para tera-


peuta. Os segredos têm efeitos físicos intra e interpessoais extremamente nocivos
ao bem-estar individual. Mas sem dúvida ele impõe o grande desafio da escolha
entre a revelação ou a não revelação e tudo que pode advir de qualquer uma das
escolhas.
Por ser um fenômeno sistêmico, está ligado ao relacionamento, moldam dí-
ades, formam triângulos, alianças encobertas, divisões, rompimentos. Definem li-
mites de quem está dentro e quem está fora. Calibram a intimidade e o distancia-
mento nos relacionamentos. Eles também envolvem um grande conflito de leal-
dade, se tornando extremamente restritivo.
Neste caso, a terapia permite aos participantes desenvolverem definições
novas e expandidas de lealdade tanto cognitiva quanto experiencialmente.
Existem segredos que podem ser considerados como positivos ou negativos.
Chamaremos de segredos positivos os segredos temporários como os relaciona-
dos a presentes que serão oferecidos ou os que antecedem a rituais. Também se
enquadram nesta categoria os segredos dos adolescentes que objetivam autono-
mia e diferenciação. Um outro caso seria os segredos “carinhosos” que visam pou-
par vulnerabilidades.

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Fonte: formulasdaimaginacao.blogspot.com.br

Os segredos negativos são os segredos nocivos ou que envolvem riscos


como o abuso físico ou sexual. São também segredos de longa duração e envolvem
ações ocorridas no passado, que permanecem vivas no presente. É importante res-
saltar que os segredos que envolvem risco necessitam de ação imediata
do terapeuta. Os segredos negativos exigem trabalho cuidadoso e senso de opor-
tunidade para o momento de revelação e possibilidade da família em lidar com as
consequências.
Qualquer segredo pode ter múltiplos significados para os diferentes mem-
bros da família. Podem significar proteção, traição, diferenciação, autonomia, etc.
Podemos citar como exemplo um caso de infidelidade conjugal que pelo marido
pode ser entendido como autonomia e pela mulher, percebido como traição. Outro
exemplo seria num caso de adoção não revelada que pode ser sentido pela mãe
como proteção, pelo pai como insegurança e pelo filho adotivo como traição.

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Fonte: regisaeculorumimmortali.wordpress.com

Na revelação, se faz necessária a criação de um ambiente capaz de conter


e possibilitar a expressão dos significados múltiplos e disparatados vinculados ao
segredo e à sua manutenção. O segredo afeta diretamente a comunicação na fa-
mília e desta com o mundo. O estilo de comunicação da família pode se tornar
marcado pelo fato de precisar manter o segredo até em áreas distantes do segredo
original. Um exemplo disso seria uma mãe, numa roda de amigas, conversando
sobre a gestação e o parto de um filho que sigilosamente é adotado.
Sendo assim, a manutenção da mentira fomenta mentiras deliberadas, infor-
mações retidas, sentimento de culpa, sentimento de desconfiança, distorce os pro-
cessos de comunicação tornando os indivíduos “cegos, surdos e mudos”, afeta a
aprendizagem/curiosidade e finalmente, o que é de suma importância, dificulta o
acesso aos recursos necessários e disponíveis para transformação da situação ou
manejo do sintoma.
Os sintomas mais frequentemente encontrados na situação de segredo são:
 O próprio sintoma como segredo. Neste caso se incluem o alcoolismo,
as drogas, as doenças mentais, a anorexia. A negação do sintoma
dificulta a busca de recursos para manejo do sintoma e dos efeitos.
 Sintoma como disfarce. Objetiva deslocar o foco do problema do se-
gredo propriamente dito para o sintoma.

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 O sintoma da ansiedade e da culpa sempre presentes como resul-
tante da manutenção do segredo, com todo custo que esta manuten-
ção envolve. Como exemplo podemos pensar no esforço exigido no
controle do rumo das conversas para que o assunto não chegue pró-
ximo à questão em segredo.

Fonte: www.sobrerelacionamento.com

9.1 Segredo e Privacidade

Fonte: www.curapessoal.com

É importante destacar a diferença entre segredo e privacidade. Estas defini-


ções variam também de acordo com o contexto. Variam com a época, a cultura, de
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família para família, de pessoa para pessoa. A grosso modo poderíamos pensar
que segredo envolve medo e ansiedade frente à sua revelação enquanto privaci-
dade seria mais uma questão de se sentir ou não confortável em revelar uma situ-
ação. Podemos também nos nortear pelo fato de que o que é íntimo pertence a
uma pessoa só e que o segredo envolve outros também. Eu diria que meu nortea-
dor seria a pergunta: “Quem tem direito à informação?
A Prática
Alguns norteadores podem se tornar extremamente úteis.

Passo 1 - Localização do Segredo


Quantas pessoas participam do segredo? Duas ou mais pessoas? Quem
são?
Duas ou mais pessoas da família nuclear. Localização de triângulos e obri-
gações de lealdade.
Uma pessoa da família e alguém de fora. Ex: 1- Um caso extraconjugal. 2-
Uma pessoa e um profissional de saúde.
Somente entre os membros da família nuclear. Neste caso o segredo molda
a relação com o mundo externo, contribui para o senso de unidade e isola de mai-
ores possibilidades de relações e recursos.
Entre os membros, mas todos “fingem” que não sabem. Distância e divide
as pessoas.
De fora do núcleo familiar para dentro. Ex: 1- Diagnósticos médicos ocultos.
2- Registros de saúde de uma criança adotada que não são passados para a família
adotiva. 3- Questões políticas de instituições ou governamentais.

Passo 2 - Revelação do segredo


Construção de ambiente suficientemente seguro.
Saber quem mais conhece e qual seria sua posição em revelar o segredo.
Saber as consequências imaginadas. Dificilmente há este espaço de discus-
são anterior ao espaço terapêutico. Geralmente o que pensam a este respeito é
mantido em segredo. Ouvir tais previsões cheias de temor permite ao terapeuta
trabalhar no sentido de oferecer potencial para resultados mais positivos.

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A partir do momento em que resultados mais positivos possam ser conside-
rados o terapeuta pode então realizar uma intervenção direta com relação à reve-
lação. Saber sobre os temores permite ao terapeuta propor o planejamento de es-
tágios subsequentes do trabalho pensando junto com a família sobre onde, como,
quando, com quem e por quem a revelação pode se dar.

Passo 3 - Restauração das consequências


Após a revelação é necessário ainda um trabalho visando a possibilidade de
expressão e contenção das diferentes respostas e reações relativas a este desve-
lamento. Se isto não for feito, corre-se o risco de um novo segredo se formar com
relação a como os membros da família sentem-se acerca do conteúdo do segredo.
É sempre muito mais fácil recuperar a confiança quando existe a intenção
de proteção por trás do segredo. O oposto ocorre nos casos onde a intenção passa
pelo abuso do poder ou pelo dano físico. De uma maneira geral, a revelação de um
segredo facilita a emergência de outros.
Não se pode pensar de uma maneira simplista que apenas a revelação de
um segredo oferece a dissolução do problema. Quando certos segredos são reve-
lados, precisamos estar disponíveis a longo prazo para atender as demandas que
possam vir a surgir.

10 O TERAPEUTA

Fonte: www.relacoessaudaveis.com.br

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 O terapeuta necessita antes de tudo afirmar sua própria posição ética
com relação a manter ou revelar um segredo familiar.
 A família também tem direito a conhecer a posição do terapeuta não
devendo esta conter um segredo em si mesma.
 O terapeuta precisa ter flexibilidade e estar constantemente desafi-
ando suas próprias posições.
 Quando o segredo é nocivo ou perigoso, se faz necessário estar
atento a um presumível direito de esconder que pode emergir do ilici-
tamente poderoso da família, como se fosse em benefício do mais
vulnerável.
 É a equidade nos relacionamentos que toda terapia almeja, que res-
palda o direito de saber o que afeta nossas vidas e o direito de dar
voz à dor mais profunda.

Fonte: pt.dreamstime.com

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11 BIBLIOGRAFIA

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famílias em situação de violência intrafamiliar: Como a abordagem sistêmica
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