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“ Psicologia no contexto escolar: possíveis


intervenções com adolescentes na
prevenção ao suicídio

Luciane Melchiors
FSG

Camila de Freitas Moraes


FSG

Maria Gabriela Junqueira Pernambuco


Barboza Gomes
FSG

10.37885/201001910
RESUMO

O presente artigo é uma revisão bibliográfica que utilizou a obra ficcional “13 Reasons
Why”, traduzida para o português como “Os 13 Porquês”. Esta obra retrata o suicídio de
Hannah Becker, uma adolescente que expõe, por meio de gravações fitas cassetes, os
motivos que a levaram ao ato suicida. Considerando os altos índices de mortes de ado-
lescentes por auto-extermínio, tem-se que o suicídio de jovens se tornou uma questão
de Saúde Pública e Saúde Mental. Assim, buscou-se neste trabalho destacar a atuação
dos profissionais da Psicologia dentro do contexto escolar, em especial, na prevenção
do suicídio de adolescentes. Para isso, o artigo parte da compreensão de que o suicídio
transcende uma questão filosófica, sendo em si mais uma questão social. Desta forma,
o processo de escuta e acolhimento psicológico na escola pode favorecer o sujeito que,
além das angústias próprias da fase de desenvolvimento que caracteriza a adolescência,
apresenta uma inclinação suicida; oferecendo um espaço de escuta para falar aberta-
mente sobre seus afetos e, consequentemente, ressignificar seus desejos, prevenindo
a realização do ato suicida em si.

Palavras-chave: Suicídio, Psicologia do Adolescente, Psicologia Educacional, Saúde Mental.

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A Psicologia e Suas Interfaces na Saúde, Educação e Sociedade
INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho foi discutir a questão do suicídio, pensando a atuação dos
profissionais da Psicologia dentro do contexto escolar, em especial, na prevenção do suicídio
de jovens e adolescentes. Para tanto, buscou-se utilizar como pano de fundo alguns recortes
da obra ficcional “13 Reasons Why”, traduzida para o português como “Os 13 Porquês”.
Esta narrativa retrata a história de Hannah Baker, uma adolescente que antes de suicidar-
-se, expõe detalhadamente os motivos pelos quais decidiu cometer tal ato. A protagonista
expõe suas angústias, medos, as discriminações e abusos vivenciados por ela, através
de sete gravações em fitas cassetes endereçadas a seus amigos, pais e responsáveis da
escola. Esse trabalho buscou dar ênfase especialmente à fita endereçada ao Sr. Porter, o
Conselheiro da Escola.
Em alguns países, como Estados Unidos, profissionais da Psicologia podem ser cha-
mados de conselheiros. Assim como na série “13 Reasons Why”, a profissão do Sr. Porter
é conselheiro escolar, sendo que sua formação poderia ser em Psicologia, Pedagogia ou
Serviço Social. A função de Conselheiro Escolar será explicada mais adiante neste texto.
A partir dessa perspectiva, percorre-se o trilhar de alguns estudiosos para dar susten-
tação ao tema, entre eles: Ferreira Junior (2015), Botega (2014), Botega (2015), Glat (1999),
entre outros, para pensar os atravessamentos que envolvem o suicídio. Principalmente no
fazer (ofício da escuta) do profissional da Psicologia que pode estar relacionado às questões
de cunho social (tabus, medos e preconceitos) fazendo por vezes com que o dado profis-
sional não consiga dar conta de orientar, acolher e escutar o jovem ou o adolescente que
tenham inclinação para o ato suicida.
Ao fim, nota-se quão importante é pensar a temática do suicídio entre jovens e adoles-
centes, tendo em vista que, apesar dos avanços da Saúde Pública e Saúde Mental sobre o
tema, ainda há poucos estudos e pesquisas que o abordem. Sendo assim, pode-se supor
que a questão do suicídio, especialmente no contexto escolar, ainda está envolta em tabus,
misticismo e opiniões pré-concebidas (preconceitos) que tendem, por vezes, a generalizar
o sujeito suicida ou com a ideação suicida.
Diante disso, é necessário que haja discussões para que se possa construir possi-
bilidades, redes de apoio, prevenção, orientação e cuidado à saúde mental dos jovens e
adolescentes no ambiente escolar.
Glat (1995) coloca como ponto essencial a ausência de capacitação dos profissionais,
associado ao tabu sobre o suicídio e à frustração profissional frente ao sujeito que se suicida,
produzindo sentimento de onipotência frente ao paciente, o que acaba por gerar uma lacuna,
uma dificuldade de acolhê-lo e compreendê-lo em sua angústia. Ou seja, o psicólogo, deixa
uma brecha no atendimento, o que acaba por interferir na escuta.

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Na série em questão, na cena em que Hannah, na ânsia de obter apoio e acolhimento
profissional, fala sobre a violência sexual que sofreu, além de expor sobre suas relações
familiares e sobre os colegas da escola com o Sr. Porter. Este personagem era a pessoa
de referência na escola e a pessoa com quem Hannah sentiu-se segura para falar sobre
seu sofrimento e pedir ajuda. Porém, Sr. Porter parece não acreditar na possibilidade de
Hannah suicidar-se, negligenciando assim, sua angústia e seu pedido de socorro. Glat (1995)
chama a atenção para estar sempre atentos às nuances que aparecem na fala do sujeito,
sendo preciso que o profissional da Psicologia se desnude dos seus preconceitos e da sua
onipotência de saber.

Psicólogo escolar e Conselheiro escolar: breve diferenciação

Historicamente nos anos 70, a função do Psicólogo Escolar passou a sofrer transfor-
mações. Este profissional já não estava apenas voltado para o atendimento individualizado
e familiar, nem tão pouco a atendimentos voltados a pessoas com problemas de aprendiza-
gem. Uma das mudanças é resultante da lei nº 5692/71, que determinou a obrigatoriedade e
gratuidade do ensino escolar para a população e com isso, o número de estudantes cresceu
significativamente. Em consequência, a demanda por atendimento a crianças e adolescentes
que apresentavam problemas de aprendizagem também teve aumento. E mais que isso,
problemas de cunho familiar começaram a se apresentar, como abuso sexual, violência
familiar, negligência, e assim, percebeu-se que tais questões estavam intimamente ligadas
à aprendizagem e a adaptação ou não dessas pessoas no contexto escolar.
A partir de então, o campo da Psicologia Escolar, conforme as perspectivas da Psicologia
enquanto área de conhecimento humano que visa compreender as dimensões subjetivas
do ser humano enquanto ser biopssicossocial, também foi se desenvolvendo. O psicólogo
escolar passou a não tão somente fazer atendimentos individualizados ou com familia-
res/responsáveis dos alunos, mas também atuar com questões do desenvolvimento infan-
til, por exemplo.
Ao Psicólogo Escolar couberam novas prerrogativas, dentre elas: inclusão de pessoas
com deficiência no contexto escolar; atuação em políticas públicas de educação; gestão psi-
coeducacional em instituições; avaliação psicológica; formação continuada de professores e
na atuação entre escola-alunos-familiares e comunidade. Pois acredita-se que o Psicólogo
Escolar só poderá atuar de forma eficaz se incluir às demandas escolares, a história familiar
do aluno e da comunidade ao qual este está inserido (GUZZO, 2003).
Como dito anteriormente, existem diferenças nos nomes dados aos profissionais
que cuidam da saúde mental de alunos e professores. No Brasil, é denominado Psicólogo
Escolar, que em conjunto com professores e demais funcionários devem possibilitar um

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A Psicologia e Suas Interfaces na Saúde, Educação e Sociedade
ambiente seguro e acolhedor. Por meio de dinâmicas, palestras, vídeos, teatros, grupos
educativos, rodas de conversa, os alunos adolescentes e jovens possam falar sobre suas
angústias, medos, traumas, expectativas, seus sentimentos de solidão, raiva, culpa, alegria,
etc. (NOVAES, 1980)
Em outros países como Estados Unidos, este profissional pode ser chama-
do de Conselheiro Escolar. Existe um manual com recursos de prevenção ao suicídio
para conselheiros:

A prática do aconselhamento profissional é definida como a aplicação de


princípios de saúde mental, psicológicos, ou do desenvolvimento humano,
através de estratégias cognitivas, afectivas, comportamentais ou de interven-
ção sistémica. Usando estas estratégias, os conselheiros profissionais lidam
com questões de bem-estar, de crescimento pessoal e de desenvolvimento
da carreira, assim como com a patologia da saúde mental. Os conselheiros
têm formação e educação ao nível superior e, frequentemente, trabalham
em escolas, institutos superiores e universidades, serviços de orientação da
carreira, centros de tratamento da toxicodependência, e clínicas e hospitais
(Organização Mundial de Saúde, OMS, 2006, p.1).

O aconselhamento deve ser específico às necessidades de cada sujeito e inclui o uso


de terapias cognitivo-comportamentais, terapia psicodinâmica e aconselhamento familiar
(OMS, 2006). A utilização dessas terapias corrobora com a formação do conselheiro que
está pautada na área da saúde.

DESENVOLVIMENTO

SUICÍDIO

Conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), datado


no ano de 2014, o suicídio de modo geral, dar-se-á pela ideação, palavras e gestos de um
dado sujeito que manifesta o desejo de morrer, de retirar sua própria vida. Tais manifestações
podem estar relacionadas, associadas ou não, a alguns transtornos mentais. Na literatura
presente, sintomas e transtornos referentes à depressão, fatores estressores e a não reso-
lutividade de conflitos, a esquizofrenia e ansiedade, por exemplo, podem ser precursores a
manifestação do desejo de suicidar-se. Mas, compreende-se que o suicídio enquanto Saúde
Pública e Saúde Mental é uma questão multifatorial e engloba fatores como: aspectos sociais
e/ou culturais, econômicos, familiares, religiosos, etc.
Ratificando os ditos acima, a OMS ainda afirma que, além dos transtornos psiquiátricos
como depressão ou bipolaridade, outras causas estão inteiramente ligadas às questões do
ato de suicidar-se tais como: problemas de autoestima; grupos marginalizados socialmente
(negros, homossexuais, transexuais etc); mulheres em condição ou vítimas de violência

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sexual, doméstica e psicológica, oriundas de relacionamentos abusivos e o desemprego
também podem estar relacionados aos fatores percussores do suicídio (OMS, 2000).
Em conformidade com o DSM-5 (2014) sobre as questões multifacetadas da temática
do suicídio, Botega (2015) diz que o suicídio era considerado, no século passado, uma for-
ma de expressão da vontade e da liberdade moral e humana. Uma maneira que o sujeito
tinha de poder dar conta dos infortúnios de sua vivência, um escape existencial inerente à
condição humana.
Tratado como um problema filosófico e existencial, especialmente, para Schopenhauer
(2004), a morte era uma inspiração e/ou uma musa da filosofia. O autor afirma que a filosofia
e o suicídio estão intrinsecamente ligados, sendo que a morte ou a preparação para a morte
é uma condição importante para se filosofar, ou seja, para se fazer filosofia. Neste sentido:

O animal vive sem conhecimento verdadeiro da morte: por isso o indivíduo


animal goza imediatamente de todo caráter imperecível da espécie, na me-
dida em que só se conhece como infinito da espécie, na medida em que só
se conhece como infinito. Com a razão apareceu, necessariamente entre os
homens, a certeza assustadora da morte (SCHOPENHAUER, 2004, p.59).

Ou seja, após o advento da racionalidade humana é que o sujeito começa a com-


preender o suicídio como um tabu, como um ato a ser prevenido e não como uma ação da
vontade humana ou de um desejo moral.
Dito isso, Ferreira Junior (2015) aponta que há uma estimativa de que, a cada pessoa
que comete suicídio, seis a cinco indivíduos serão afetadas de maneira emocional, econô-
mica ou social. Também a cada suicídio ocorrem outras 20 tentativas, especialmente, em
adolescentes e em jovens adultos. Logo, estima-se então, que por ano, são quase cerca
de 800 mil pessoas no mundo que se suicidam, sendo assim, uma morte a cada 40 se-
gundos (WHO, 2017).
Como já dito anteriormente, o suicídio é ação multifatorial e que envolve diferentes
naturezas, sejam internas ou externas ao sujeito, que se combinam de forma complexa e
variável. É necessário analisar, porém, fatores predisponentes (causas do suicídio) e dos
fatores precipitantes (acontecimentos recentes), como afirma Botega (2015).
Segundo os autores Botega (2014) e Ferreira Júnior (2015), o Brasil é um país com
baixas taxas de suicídio comparado a outros países, como Guiana, Coreia do Sul e Lituânia.
Entretanto, alguns estados do extremo norte e do extremo sul do Brasil apresentam taxas
elevadas em comparação a alguns países da Europa.
Estas elevadas taxas geram grandes preocupações e impactos na saúde da socie-
dade contemporânea. Sendo assim, é de extrema importância discutir não só a temática,
mas especialmente, buscar meios de prevenir e também de atuar de forma mais efetiva

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com indivíduos que tem inclinação para a ação suicida. Pois, além de diminuir as taxas
de morte, se aposta primordialmente no cuidado e no acolhimento a esses indivíduos em
sofrimento mental.

SUICÍDIO NA ADOLESCÊNCIA

Para a Psicologia do Desenvolvimento de Levy (2013), a adolescência em si já é um


processo de múltiplas mudanças corporais e emocionais, mas, sobretudo, mudanças so-
ciais nas quais o adolescente passa a assumir seu lugar na cultura “no mundo” a partir de
identificações grupais. Se por um lado os adolescentes estão em busca de uma identidade
própria, por outro, se sentem pertencentes a uma dada categoria e/ou grupo. Uma vez que
é por meio de seus grupos que os adolescentes se sentem seguros, obtém aprovação e,
sobretudo, demarcam um lugar social dentro e fora do grupo ao qual pertencem. A exem-
plo disso, algumas cenas da série mostram que Alex, Hannah e Jessica Davis se reuniam
todos os dias após as aulas numa lanchonete da cidade, para confidenciarem seus segre-
dos, dúvidas, anseios e sonhos. Com o passar do tempo, a amizade entre eles se desfaz
e isso se deu logo após Hannah descobrir que Jessica Davis e Alex estavam namorando.
Hannah sente-se triste, solitária, desamparada, ou seja, sem um grupo social, acredita-se
que Hannah se vê sem identificação social.
Saindo desse pressuposto, percebe-se que os casos noticiados nas redes sociais e
nas mídias em geral, assim como, aqueles que se apresentam no campo da clínica privada
e/ou nas redes de assistência à saúde mental não diferem muito daqueles apresentados
na série “13 Reasons Why”, principalmente, no que se refere ao bullying; às amizades que
se desfazem; ao uso de álcool e outras drogas; a problemas com os pais; à automutilação,
tidas como manifestações de agressividade, de apatia, de conflitos pessoais e interpes-
soais; às pressões escolares oriundas das competições referentes ao desempenho escolar,
especialmente, entre os grupos dentro da sala de aula (os nerds- estudiosos, os atletas,
os artistas, etc).
Vistas como maneiras que o sujeito encontra de dar voz a sua dor, isto é, o adolescente
se situa diante de conflitos e afetos entre os limiares da infância e da fase adulta, ficando
instável emocionalmente e psiquicamente. Desta forma:

A adolescência que é um período do desenvolvimento humano marcado por


intensas transformações. O adolescente precisa processar importantes mo-
dificações, tanto no nível físico quanto no emocional. Frente a este fluxo de
demanda, somam-se àqueles referentes ao ambiente no qual o jovem está
inserido, demarcando uma marcante característica adolescente: a instabilidade
psíquica e a vulnerabilidade (MACEDO, 2010, p.153).

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Contudo, o que se percebe em Hannah, assim como, nos adolescentes contemporâ-
neos, a ausência de suporte sócio familiar, somado aos fatores de bullying, a não aceitação
social, isolamento social, o despreparo dos profissionais no âmbito escolar com relação à
temática; todos estes podem ser gatilhos e precursores ao suicídio nesta fase. Como se
apresentam nas sete fitas, nas quais Hannah vai à busca de auxílio do Sr, Porter, supondo
talvez, que não precisasse tirar sua própria vida, este é um dos pontos cruciais da série.
Hannah dá sinais de seus conflitos internos, vai solicitar auxílio, porém não o tem.
Ao ser questionada pelo Sr, Porter sobre seus amigos, Hannah responde: “amigos,
que amigos!”, afirmando não os ter. A adolescente dá continuidade à sua fala e expõe: “eu
não sinto nada, eu não me importo com nada, com escola, comigo, com meus pais [...] eu
me importo com eles, mas, não sou o que eles precisam que eu seja [...] eles precisam de
alguém sem problemas”.
A intervenção do Conselheiro é que Hannah siga em frente, subentendendo que essas
angústias e conflitos passariam sem necessidade de tratamento, invalidando assim a fala da
adolescente. Nessa cena ficam notáveis as intenções suicidas de Hannah e a negligência
de escuta e acolhimento do Sr, Porter, evidente na distração dele ao deixar o telefone ligado
durante o atendimento.
Essa negligência pode estar atrelada a múltiplos fatores, a saber: o tabu a cerca
da temática do suicídio presente nos contextos familiar, social e escolar; a não qualifi-
cação dos profissionais da rede de educação e da saúde para uma escuta acolhedora e
livre de julgamentos. No Brasil, poder-se-ia pensar nos serviços de apoio como a Equipe
de Atenção Básica, NASF( Núcleo de Atenção a Saúde da Família), CAPS (Centro de
Atenção Psicossocial), CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), CREAS (Centro
de Referência Especializado de Assistência Socia) entre outros. Então, a partir dessa cena,
pode-se observar que o cuidado em Saúde Mental se volta primordialmente ao manejo da
escuta e da fala terapêutica acolhedora, atenta, humanizada e ética.
Após a conversa com Sr. Porter, a protagonista comete suicídio, porém, é impor-
tante constar uma crítica à série americana: a cena do suicídio é demasiadamente deta-
lhada do ato em si. Fato que vai à contramão das orientações do documento Prevenção
do Suicídio: Um manual para profissionais da mídia (OMS, 2000). A série desconsiderou
as orientações deste documento ao dar informações específicas sobre o método usado.
Infelizmente, houve um exagero dos produtores/diretores ao mostrar a cena do suicídio de
Hannah, bem como o fato a trama se utilizar do viés de culpabilização de terceiros para o
trágico desfecho da personagem.
Ressalta-se aqui a importância de falar sobre a temática do suicídio, porém algu-
mas formas de abordá-lo já são sabidas prejudiciais, como o que ocorreu com a obra de

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Goethe, O sofrimento do jovem Werther, que ficou conhecido como “Efeito Werther”, após
o suicídio de inúmeros jovens ao leram a obra (OMS, 2000). O livro foi proibido em muitos
países após esses incidentes.
A mídia pode e deve ser uma aliada ao levar informação de qualidade a todos, porém
pode ser extremamente prejudicial se não souber utilizar bem suas ferramentas. Além de
jornais, novelas, filmes, livros, temos a internet que faz com que as informações cheguem
com muito mais velocidade. A série trouxe a temática do suicídio na adolescência para dentro
das escolas, dos lares, para as rodas de conversa, apesar da crítica mencionada anterior-
mente, precisa-se falar sobre esse tema com os jovens, com os pais e com os professores.

CONCLUSÃO

A Psicologia enquanto saber científico baseia-se na compreensão e no estudo do com-


portamento humano e das suas funções mentais, respeitando as singularidades do sujeito,
assim como, o meio social ao qual este está inserido. Logo, não há como falar em Psicologia
sem estar atento às questões biopsicossociais do ser humano. Saindo desse pressuposto, o
papel do psicólogo, em especial, nos casos de ideação e/ou inclinação para o ato suicida é
o de identificar o sofrimento psíquico do sujeito a partir de sua vivência de mundo. Ou seja,
a partir de seus aspectos emocionais, familiares, religiosos, culturais, sociais e econômicos
respeitando o sigilo e a ética da escuta. Logo, pensar na atuação do Psicólogo Escolar é
estar atento a esses princípios norteadores da profissão.
Porém, cabe também ao Psicólogo Escolar propor avaliação diagnóstica e psicoedu-
cacional, aconselhamento psicológico no âmbito escolar e em volta da comunidade escolar,
intervenções com aqueles que participam do cenário escolar, como: alunos, pais, professores,
funcionários, coordenadores, diretores, pedagogos e a comunidade em geral. Tendo em
vista que as inter-relações existentes no cenário escolar são geradoras de Saúde Mental e
possibilitadoras de prevenção de cuidados daqueles que participam dessas inter-relações
e na ajuda da aprendizagem e no desenvolvimento criativo dos alunos. Isto é, o Psicólogo
Escolar de modo geral, está para além da escuta humanizada, sigilosa e ética, é aquele que
a partir dessa escuta pode também promover ações e cuidados de Saúde Mental através
de palestras, discussões, avaliações e etc.
É a possibilidade da escuta terapêutica e não discriminatória que promove a Saúde
Mental, por justamente se apostar na escuta qualificada e na fala da pessoa com ideação/
inclinação para o ato suicida, pois acredita-se que ao falar da dor, a mesma possa ser sig-
nificada, dando um novo sentindo a angústia. Vale lembrar que essa fala pode se dar tanto
pela via da oralidade e do atendimento individualizado no contexto escolar, assim como pela

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participação de grupos; rodas de conversas ou pela via da arte, por exemplo, onde a pessoa
poderá manifestar seus afetos pela poesia, teatro, etc.
Dito de outra maneira é de extrema importância falar abertamente sobre os afetos que
podem levar o sujeito ao ato suicida, assim como, sobre o próprio tema. Pois é, através
da fala que o sujeito com ideação suicida pode vir a reelaborar seus afetos, não come-
tendo o ato em si.

REFERÊNCIAS
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