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N.° 236 — 12-10-1994 DIARIO DA REPUBLICA — I SERIE-A 6171 Didrio do Governo, n.° 82, de 8 de Abril de 1975, ¢ a Convengdo entrou em vigor para o nosso pais em 11 de Maio de 1975. Departamento de Assuntos Juridicos, 20 de Setem- bro de 1994. — O Director, José Maria Teixeira Leite Martins. ‘SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTICA Assonto n.° 15/94 Processo n.° 84332 — Visto n° 218 Acordam, em sesso plendria, no Supremo Tribunal de Justiga: ‘A Caixa Geral de Depésitos, Crédito ¢ Previdéncia recorre para o tribunal pleno do acérdao deste Supremo, Tribunal, certificado a fis. 9 € seguintes, sob a razio de ele se encontrar em oposi¢o com 0 acérdao deste mesmo Supremo constante a fl. 27 (acérdio funda- mento), € no que toca as razBes seguintes: © acérdao recorrido opinou no sentido de que o ter- ceiro (no caso a recorrente Caixa Geral de Depésitos) no pode invocar em juizo a nulidade do contrato- -promessa com base em falta de reconhecimento pre- sencial das assinaturas dos outorgantes de contrato- -promessa referente a prédio urbano de que fazia parte a fracedo auténoma objecto desse contr na falta de certificacdo pelo notério da existéncia da respectiva, licenga de construcdo, mesmo que seja (esse terceiro) beneficidrio de hipoteca sobre tal objecto. Por sua vez, 0 acérd&o fundamento seguin entendi- mento contrério. No acérdao preliminar, por unanimidade, decidiu- -se estar verificada a invocada oposig&o. © Ex."° Magistrado do Ministério Publico, no seu parecer sobre a solucdo a dar ao presente conflito ju- risprudencial, pronunciou-se favoravelmente & tese do acérdao recortido, propondo-se se lavre assento com. a seguinte redaccao: A omissdo dos requisitos constantes do ar- tigo 40.°, n.° 3, do Cédigo Civil ndo pode ser in- vocada por terceiros. Corridos os vistos, cumpre decidir. O reconhecimento jurisdicional da existéncia de opo- sigdo entre as decisdes postas em confronto néo im- pede que o tribunal pleno decida em sentido contrario (artigo 766.°, n.° 3, do Cédigo de Processo Civil). Reexaminando a questo, alcanga-se a conclusao de que a oposicao existe. Dado que os acérddos fundamento e recorrido fo- ram ditados com referéncia a situacSes verificadas no dominio da mesma legislacdo, qual fosse o ar- tigo 410.°, n.° 3, do Cédigo Civil, na redace&io dada pelo Decreto-Lei n.° 236/80, de 18 de Julho (0 contrato-promessa a que respeita 0 acérdio funda- ‘mento teve lugar em 18 de Junho de 1981 € o contrato teferido no acérdao recorrido ocorreu em 18 de De- zembro de 1985), resta indagar dos demais pressupos- tos da oposi¢aio entre ambos, quais sejam a identidade de situagdes versadas num ¢ noutro e a expressa opo- sigdo entre as solucdes neles encontradas. Que as situagdes versadas em ambos os acérdaos sic id@nticas nao restam dividas, pois ambas se referem 1 contratos-promessa carecidos de reconhecimento pre- sencial das assinaturas dos promitentes contraentes, além da falta de certificagdo notarial da licenca de uti- lizagio ou de construg&o para os objectos dos con- tratos. No que respeita as solucdes ditadas nos sobreditos acérdios (recorrido ¢ fundamento), hé que atentar no seguinte: © acérdao recorrido, de forma directa frontal, pronuncia-se no sentido de fenecer a terceiro nao parte no contra-promessa a possibilidade de invocar em juiz0, a nulidade do mesmo com assento na verificagéo de vicios de forma do contrato por omisséo dos requisi- tos postos no artigo 410.°, n.° 3, do Codigo Civil (re- dacgdo do Decreto-Lei n.° 236/80, de 18 de Julho), mesmo que beneficidrio fosse de hipoteca sobre o ob- jecto do contrato-promessa. Por seu lado, 0 acérdio fundamento, ostensivamente € de modo expiicito, refere ser licito a tal terceiro be- neficidrio de hipoteca sobre o dito objecto, ¢ portanto titular de relagdo cuja consisténcia pode ser afectada pelo negécio (contrato-promessa), invocar em defesa dos seus interesses a referenciada nulidade. Patente fica, pois, a oposigo encontrada nas solu- 98es ditadas pelos acérdios recorrido ¢ fundamento, justificativa de que sobre ela se pronuncie o tribunal leno com vista ao alcance da uniformizacdo jurispru- dencial sobre 0 ponto contravertido. Postos os antecedentes considerandos, avancemos. s artigos 410.° ¢ 442.° do Cédigo Civil, na verséo af adoptada ¢ sancionada pelo Decreto-Lei n.° 47 344, de 25 de Novembro de 1966 (que 0 aprovou), ficaram sizados em moldes um tanto ou quanto simplistas, mas adaptados ao sistema sécio-econdmico entdo existente, caracterizado por regular estabilidade. ‘Assim se exigia para validade do contrato-promessa © simples documento particular assinado pelos promi- tentes, ¢ como saneo para a retratacdo injustificada do negécio apenas se previa a perda do sinal passado ou a restituicao dele, em dobro, consoante a violacdo do contrato proviesse de uma ou de outra parte, con- forme o definido quanto a tal pela lei. Nada mais seria preciso, j4 que as condigdes de es- tabilidade econémica ento vigentes eram de molde a sancionar o contratante relapso que sofreria as conse- quéncias da retratacdo injustificada do negécio a que se obrigara. Porém, as condigdes sofreram mutagdo a derivar de factos varios, como o aumento demografico gerador de procura de habitagio ¢ a explosio inflaciondria a in- fluir directamente no prego das habitagdes disponivei para negécio. Dai que, ¢ varios casos surgiram neste sentido; se pu- desse dar azo a que 0 promitente-vendedor se sentisse aliciado a retratar um negécio de contrato-promessa, sujeitando-se contudo ¢ simplesmente & restituigéo do dobro do sinal que recebera, prejufzo esse que & par- tida the seria largamente compensado com 0 prego pelo qual depois negociasse o objecto prometido vender, por valor altamente superior ao estipulado no contrato- -promessa que retratara. Para efeitos de pér termo a tais situagdes, ¢ com vista a dar mais consisténcia ¢ solenidade ao contrato- -promessa ¢ a prevenir a clandestinidade da constru- do, surgiu entéo 0 n.° 3 do artigo 410.° do Cédigo 6172 DIARIO DA REPUBLICA — I SERIE-A N.° 236 — 12-10-1994 Civil, introduzido pelo Decreto-Lei n.° 236/80, de 18 de Julho, a estatuir que: documento referido no mimero anterior deve conter o reconhecimento presencial das assinatu- ras dos outorgantes € a certificacdo, pelo notdrio, da existéncia da respectiva licenga de construcdo. A omissio destes requisitos nao é, porém, invo- cével pelo promitente-vendedor, salvo no caso de ter sido 0 promitente-comprador que directamente The dew causa. Esta planificagdo surge, pois, ¢ essencialmente, com vista a defesa do interesse do promitente-comprador, que por vezes, por menos avisado em assuntos de na- tureza juridica, pode vir a sentir-se frustrado quanto a negécio que realizou na melhor das boas fés. Tanto assim que s6 a ele, segundo o normativo ci- tado, cabe o direito de invocar a imperfeicko do negs- cio por falta das sobreditas correspectivas formali- dades de lei no devido instrumento (salvo se para tal directamente houver contribuido). —° Tudo isto ressurge do relatério do Decreto-Lei 1n.® 236/80 citado, como do expendido pelo Dr. Cal- vao da Silva, in «Sinal ¢ contrato-promessan, Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra, mimero especial, Estudos em Homenagem ao Prof. Eduardo Correia, 1, 1984, pp. 83 € seguintes. ‘Aqui chegados serd ocasifo de pronunciamento so- bre 0 ponto especifico em questo neste recurso, qual seja o de saber se a supra-indicada omisséo das for- malidades prescritas no n.° 3 do artigo 410.° do Cé- digo Civil — redacedo do Decreto-Lei n.° 236/80 — consubstanciard plena ¢ absoluta nulidade invocada por qualquer, ¢ de conhecimento oficioso, também, pelo tri- bunal, ou nao. acérdao fundamento pronuncia-se pela afirmativa, enquanto o recorrido envereda em contrério sentido. ‘Vamos afoitamente pelo expendido no acérdao re- corrido. Com feito, ndo esta em causa o interesse geral na invalidade do negécio por caréncia nele das devidas for- malidades, mas apenas o particular interesse do promitente-comprador, que a lei quis essencialmente proteger, como sobressai do jé atrds deixado dito. Em moldes de qualificagdo juridica, esté-se, pois, face a nulidade atipica, com vista & proteccdo apenas do promitente-comprador, e que por isso nao poderd ser invocdvel por terceiros, nem oficiosamente conhe- cida, como aliés 0 fez ressaltar 0 dito estudo do Dr. Calvao da Silva, «Sinal e contrato-promessa», ¢ 0 constante também do Acérdio deste Supremo de 29 de Novembro de 1989, in Boletim, n.° 391, p. 610. Tanto assim que a protec¢ao ao promitente-comprador vai ao ponto de 0 artigo 442.°, n.° 3, do Cédigo Civil (redacedo do Decreto-Lei n.° 236/80) Ihe conceder ver- dadeiro direito de retenco sobre 0 objecto da promessa [regime actualmente consagrado em moldes gerais no ar- tigo 775.°, n.° 1, alinea ), do Cédigo Civil, redacgio do Decreto-Lei n.° 379/86, de 11 de Novembro}. Nem o credor hipotecério sobre 0 objecto da pro- messa pode queixar-se de eventuais prejuizos; por um lado, porque a hipoteca tem a consisténcia que a lei Ihe confere, ¢, por outro, porque sempre tem melho- res meios técnicos, que os particulares, permissiveis de ponderada selectividade do crédito, ¢ ainda porquanto a prevaléncia do direito de retencio, preferencial so- bre a hipoteca (artigo 759.° resulta directamente da lei. Pelo exposto, acorda-se em negar provimento ao re- curso, ¢, confirmando 0 acérdao recorrido, formula-se © seguinte assento: No dominio do n.° 3 do artigo 410.° do Cédigo Ci- vil (redacc4o do Decreto-Lei n.° 236/80, de 18 de Julho), a omissdo das formalidades previstas nesse numero nao pode ser invocada por terceiros. 2, do Cédigo Civil), Custas pelo recorrente, Lisboa, 28 de Junho de 1994. — Miguel Montene- ‘gro — Cura Mariano — Dias Simao — Chichorro Ro- drigues — Figueiredo de Sousa — Martins da Fon- seca — Mério de Noronha — Fernando Fabiéo — César Marques — Sd Nogueira — Calixto Pires — Gongalves Pereira — Roger Lopes — Ramiro Vidi gal — Costa Raposo (com a declaragao de que alterei a minha posigZo do problema aqui em causa) — Mar- tins da Costa — Pais de Sousa — Henrique de Ma- tos — Miranda Gusmao — Arailjo Ribeiro — Raul Mateus — Sd Couto — Costa Pereira — Santos Mon- teiro — Carlos Caldas — Faria de Sousa — Pereira Cardigos — Sd Ferreira — Silva Cancela — Machado Soares — Cardona Ferreira — Amado Gomes — Cor- reia de Sousa — Silva Reis — Oliveira Branquinho — Geldsio Rocha — Castanheira da Costa — Ferreira da Silva (com a declaragéo de que ja segui a orientacdo distinta) — Pedro Macedo — Lopes de Melo — Coeiho Ventura — Afonso de Melo (com a declaracao que op- tava pela formulagdo do Ministério Puiblico) — Vitor Rocha — Costa Marques — Sousa Inés (votei no sen- tido de o assento ser tirado exclusivamente em relacdo as duas hipéteses em confronto, em que descontério € credor hipotecdrio; repugna-me que 0 assento abranja terceiros imediatamento interessados) — Sampaio da Névoa, ‘SUPREMO TRIBUNAL ADMINISTRATIVO Aninelo n.° 4/94 Faz-se saber que, no dia 16 de Setembro de 1993, foi instaurado na 1." Secgdo do Supremo Tribunal Ad- ministrativo, pelos requerentes Lindaura Gracinda San- tos Lima, Maria Francisca Calvério Figueira Pacheco, Maria Isabel Falcoeiras Miranda, Maria Clotilde Jesus Pombo Lopes, Maria Alzira Marques Dias Campea, Deolinda Santos Correia Amaral, Anténio Alves An: dré Santos ¢ Augusta das Dotes Peralta Patronilho Ro- drigues de Queiroz, ao abrigo do disposto na alinea i) don.” 1 do artigo 26.° do Estatuto dos Tribunais Ad- ministrativos ¢ Fiscais ¢ do artigo 66.°, n.° 1, da Lei de Processo nos Tribunais Administrativos, e que corre seus termos pela 2.* Subseceo, sob o n.° 32 590, um proceso de pedido de declaracéo de ilegalidade da norma do n° 2 do artigo 3.° do Decreto-Lei n.° 61/92, de 15 de Abril, do Primeiro-Ministro e do Ministro das Finangas, publicada no Didrio da Republica, 1.* série, pelo que os eventuais interessados podem intervir no referido proceso, nos termos ¢ prazos fixados na lei. Lisboa, 16 de Setembro de 1994, — O Juiz Conse- Iheiro Relator, Ifdio José Pereira da Silva. — O Escrivio-Adjunto, Manuel Miguel Farinha Figuei- redo.

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