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Caso prático n.

º 3
HIPÓTESE B

Resolução:
c. “Não ser C comproprietária do bem imóvel objeto da presente ação, posição jurídica de que era titular a
falecida mãe de C, Rita, cuja herança se encontra, ainda, por partilhar.”

A defesa acima assume duas modalidades:


• defesa por exceção dilatória (ou designada, doutrinalmente, por exceção processual);
• quanto à legitimidade, vejam-se os arts. 30.º a 39.º do CPC;
• relacionado com a legitimidade, refira-se, ainda, o incidente de habilitação (artigos 351.º e ss. do
CPC), que seria de admitir, aqui, excepcionalmente (mas, à partida, não seria esta hipótese o campo
preferencial de aplicação do art. 351.º, n.º 1 do CPC).
• quanto à qualificação como exceção dilatória, vejam-se os artigos 577.º, e) e 578.º, 1.ª parte do CPC,
• e a respeito da absolvição do réu da instância (que ocorreria, aqui, imediatamente), o artigo 278.º, n.º 1
d) do CPC.
• Mas poderia propor-se nova acção contra parte legítima aproveitando-se os efeitos civis da primeira
acção (art. 279.º, n.º 2 do CPC).
Caso prático n.º 3
HIPÓTESE B

(Cont.) Resolução:
c. “Não ser C comproprietária do bem imóvel objeto da presente ação, posição jurídica de que era titular a
falecida mãe de C, Rita, cuja herança se encontra, ainda, por partilhar.”

A defesa assume duas modalidades:


(2.ª modalidade, ainda que não seja a principal):

• defesa por impugnação de facto direta (art. 571.º, n.ºs 1 e 2 1.ª parte do CPC), na medida em que os
Réus contradisseram, frontalmente, a realidade factual alegada pela A., negando que a A. fosse
comproprietária do bem imóvel, a título pessoal.
Caso prático n.º 3
HIPÓTESE C

Glória (G) instaurou ação declarativa pedindo a declaração de nulidade de contrato de compra e venda de um
automóvel celebrado com Diogo (D), em 01.01.2021, com fundamento em que D, vendedor, teria, ilicitamente,
ameaçado G a fazê-lo, sob pena de lhe partir os vidros da sua casa, do seu carro e a persegui-la por onde G circulasse.

D contestou, invocando:
a. A falta de capacidade judiciária de G, maior acompanhada por sentença transitada em julgado, em 10.09.2019;
b. A não constituição obrigatória por G de advogado, que, a ser julgada procedente pelo tribunal, deveria redundar
na absolvição do réu da instância;
c. Ser, totalmente, falsa a alegação de G de que D a coagira a celebrar o contrato de compra e venda, nunca tendo
dito que lhe partiria os vidros da sua casa, carro ou que a perseguiria.
d. E que mesmo que assim fosse, os factos alegados por G, consubstanciando uma hipótese de coação moral (art.
255.º do CC), a ser julgados provados, seriam causa de anulação do negócio, e não de nulidade conforme
peticionado pela G.
Caso prático n.º 3
HIPÓTESE C
Glória (G) instaurou ação declarativa pedindo a declaração de nulidade de contrato de compra e venda de um automóvel
celebrado com Diogo (D), em 01.01.2021, com fundamento em que D, vendedor, teria, ilicitamente, ameaçado G a fazê-lo,
sob pena de lhe partir os vidros da sua casa, do seu carro e a persegui-la por onde G circulasse.

Enquadramento substantivo:
• Coação moral enquanto causa de anulação do contrato (e não de nulidade): arts. 255.º e 256.º do C.C.
(n.º 1 do artigo 255.º do C.C.) “Diz-se feita sob coacção moral a declaração negocial determinada pelo receio de um mal
de que o declarante foi ilicitamente ameaçado com o fim de obter dele a declaração.” (sublinhado e negrito nossos)
(artigo 256.º do C.C.) “A declaração negocial extorquida por coacção é anulável, ainda que esta provenha de terceiro;
neste caso, porém, é necessário que seja grave o mal e justificado o receio da sua consumação.” (negrito nosso)
- Estaria, em causa, uma errada qualificação jurídica por G.: é aplicável o artigo 5.º, n.º 3 do CPC ??? “O juiz não está
sujeito às alegações das partes no tocante à indagação, interpretação e aplicação das regras de direito.”
Critério é: se estiver dentro do pedido e da causa de pedir (e prazo de caducidade) pode; se não, não pode.
Sendo o efeito prático a inutilização do negócio e estando alegados os factos que integram a coacção, o tribunal pode,
se estivermos dentro do prazo de caducidade para a anulação, enquadrar como anulabilidade.
Caso prático n.º 3
HIPÓTESE C

Resolução:
a. “A falta de capacidade judiciária de G, maior acompanhada por sentença transitada em julgado, em
10.09.2019”:
• (breve referência ao quadro substantivo dos maiores acompanhados: artigos 138.º a 156.º do C.C.; em
particular, o artigo 145.º do C.C., que se refere ao “âmbito e conteúdo do acompanhamento” [veja-se o
artigo 145.º, n.º 2 b) do C.C.]).
• Processualmente, a ação para acompanhamento de maiores é uma ação de processo especial (artigos
891.º a 905.º do CPC)
• Agora, como se defendeu o R.?
• Defesa por exceção dilatória (ou designada, doutrinalmente, por exceção processual);
• Capacidade judiciária enquanto pressuposto processual – artigos 15.º e ss. do CPC (em particular, o
artigo 19.º do CPC: “Os maiores acompanhados que não estejam sujeitos a representação podem
intervir em todas as ações em que sejam partes e devem ser citados quando tiverem a posição de réus, sob
pena de se verificar a nulidade correspondente à falta de citação, ainda que tenha sido citado o
acompanhante.” (negrito nosso)
Caso prático n.º 3
HIPÓTESE C

(Cont.) Resolução:
a. “A falta de capacidade judiciária de G, maior acompanhada por sentença transitada em julgado, em
10.09.2019”:
• quanto à qualificação como exceção dilatória, vejam-se os artigos 577.º, c) e 578.º, 1.ª parte do CPC;
• a respeito da absolvição do réu da instância (não sendo a falta sanada – ref.ª aos artigos 27.º e 28.º do
CPC), o artigo 278.º, n.º 1 c) do CPC (aplicação, em abstrato, do disposto no n.º 3, uma vez que é um
princípio destinado a proteger uma das partes).

b. “A não constituição obrigatória por G, autor, de advogado, que, a ser julgada procedente pelo tribunal, deveria
redundar na absolvição do réu da instância;”
• Defesa por exceção dilatória (ou designada, doutrinalmente, por exceção processual);
• Patrocínio judiciário, quando é obrigatória a constituição de advogado, funciona como pressuposto
processual: artigos 40.º a 52.º do CPC, para a ação declarativa (artigo 58.º do CPC, previsto quanto à
ação executiva).
• quanto à qualificação como exceção dilatória, vejam-se os artigos 577.º, h) e 578.º, 1.ª parte do CPC.
Caso prático n.º 3
HIPÓTESE C

(Cont.) Resolução:
b. “A não constituição obrigatória por G, autor, de advogado, que, a ser julgada procedente pelo tribunal, deveria
redundar na absolvição do réu da instância;”

• A respeito da absolvição do réu da instância (não sendo a falta sanada), o artigo 278.º, n.º 1 e) do CPC.
• Particular destaque para o artigo 41.º do CPC (e para as diferenças da falta de constituição obrigatória
de advogado, conforme imputável ao Réu ou ao Autor): “Se a parte não constituir advogado, sendo
obrigatória a constituição, o juiz, oficiosamente ou a requerimento da parte contrária, determina a sua
notificação para o constituir dentro de prazo certo, sob pena de o réu ser absolvido da instância, de não
ter seguimento o recurso ou de ficar sem efeito a defesa.” (negrito e sublinhado nossos)
Caso prático n.º 3
HIPÓTESE C

(Cont.) Resolução:
• c. “Ser, totalmente, falsa a alegação de G de que D o coagira a celebrar o contrato de compra e venda, nunca
tendo dito que lhe partiria os vidros da sua casa, carro ou que a perseguiria.” (negrito nosso)
• Defesa por impugnação da matéria de facto direta (art. 571.º, n.ºs 1 e 2 1.ª parte do CPC), na medida
em que o Réu contradisse, frontalmente, a realidade factual alegada pela A.

• d. “E que mesmo que assim fosse, os factos alegados por G, consubstanciando uma hipótese de coação moral (art.
255.º do CC), a ser julgados provados, seriam causa de anulação do negócio, e não de nulidade conforme
peticionado pela G.” (negrito nosso)
• Defesa por impugnação da matéria de Direito (art. 571.º, n.º2 do CPC, na parte “[…] ou quando
afirma que esses factos não podem produzir o efeito jurídico pretendido pelo autor […].”).
• Referência ao artigo 5.º, n.º 3 do CPC (sua aplicação ao caso, à partida, nos termos atrás indicados).
Referências Bibliográficas
• FREITAS, José Lebre de, “A ação declarativa comum, à luz do Código de processo civil de
2013”, 4.ª edição, Gestlegal, págs. 101 a 103 e 113 a 142 (excluindo o ponto 7.6., “Contestação
da Ação de Simples Apreciação Negativa”) – bibliografia já indicada na semana anterior.

• Em acréscimo, e a respeito dos artigos 5.º, n.º 3 e 278.º, n.º 3 do CPC, veja-se:
• Quanto ao artigo 5.º, n.º 3 do CPC: “Código de Processo Civil Anotado”, de José Lebre de Freitas
e Isabel Alexandre, Volume 1.º, Artigos 1.º a 361.º, 4.ª edição, Almedina, págs. 40 e 41 (ponto 7.) +
“Código de Processo Civil Anotado, Vol. I, Parte Geral e Processo de Declaração, Arts. 1.º a 702.º”,
de Abrantes Geraldes, Paulo Pimenta e Luís Pires de Sousa, 2.ª edição, Almedina, págs. 26, 27,
32 e 33 (pontos 3., 4., 18. e 19., ressalvando-se que, quanto ao conhecimento da anulabilidade pelo
Tribunal, Abrantes Geraldes defende posição diversa da do Professor Doutor Tiago Ramalho, por
não ser a anulabilidade de conhecimento oficioso).
• Quanto ao artigo 278.º, n.º 3 do CPC: “Código de Processo Civil Anotado”, de José Lebre de
Freitas e Isabel Alexandre, Volume 1.º, Artigos 1.º a 361.º, 4.ª edição, Almedina, pág. 565.

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