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8 Ruth Benedict (1887-1948)' (rilmar Rocha* as fi pr eseniit, nc cua para ms dur (@ en muna Ruth Benedict, mai 1917. A antropologia como arte Ruch Benedict f1887-1948) nao € conhecida no mundo da antropologia pela quan- tidade de obras que produzitl, Se comparada a sua cantemporinea Margaret Mead (1901- 1978) (ef. ensaio neste livro), Benedict publicou poucos livros. No enlaniw, alguns de sens trabalhos a consagraram nu campo das ciéucias sociais ¢ humanas, posta que sc rornaram “clissicus” da liveracura antropoldgica, ganharam noteriedade internacivnal ares, de Padrivs ae calura, originalmente publicado em 1934, e 0 erisiniento ¢ a espada padnies da culmura japonesa, de 1946. Obras que merecerao atemgao especial neste ensain?, A importineia de Rurh Benedict pare a histéria da antropulogia moderna pode ser avaliada ginds pelo fui de se afigurar come uma “fundadora de discursividade”. Na interpretacao de Clifford Geertz (1926-2006), Benedict é, a0 lado de Brunislaw Ma- linowski (1884-1942), EEvans-Pritchard (1902-1973) e Claude Léwi-Srranss (1908-20119) fef. ensaios neste livre’, um desses “esrudinsos que an mesmo tempo tem estubelecidu suas obras com ecrta determinace ¢ construide lealros de linguagem a partir dos quais sendo traduzidos para varins idiomas. Sau ox casos, exemy toda uma série de outros wluam, de maneica mais on menos comyincente, c sem chivida seguirdo uluande ainda por um longo perioda de tempo” (1997: 317°. De futo, « contri- buigio de Benedict para a antropulugia nu periody enlreguetras ¢ para as cléncias socials ¢ humanas, ainda hoje, ¢ inegdvel. A verdade é que a leitura de Podnies de cudewra ¢ de O cristnenw ¢ a espads pednies de culnera japonesa conuinuam sende indispeasivers a formagio de qualquer aspirante & antrupologia hd uiais de meio sécule. * Ravine nm Aniny:clogias Cullural (Ciénelse Humenss) peta Universidade Federal ca Ric Professor oo Depansmento de Ames ¢ Estinins Culture (RAE) & to Programa Tecritnrialisiaries (PPCULT) uh uminane (UFFI. il4 A nova-iorquina Ruth “Fulton” Benedict estudou literatura inglesa ¢ ducante ale gum tempo tentou o caminhe da poesia, publicando alguns pormas com o pseudémimo de Anne Singleton, mas acabou se enveredando pela anteopolugia loge apés o Gm da Primeira Guerra, Em 1923, vbiém o seu PhD na Universidade de Colmbia com a tese O conceite de espinito guardite nct America do Norte, sub a orientacdo de Boas, tratado carinhosamente por Pupa Franz (cf. ensaio sobre Franz Boas neste livro}. Mas, a con- verso definitiva de Benedict 4 antrupolagia seomtecen semente a partir de suas viagens: etnugraficas, algumas supervisionadas por Alfred Krueber (1876-1960)', enue ox indins Serrano (1922), Cochin (1925), Pima (1926), Apache (19313 ¢ Blacktoor (1939), Com os. Zuni (fuehlas ocidentais} cla cealizou a sua principal etnografie entre 1924/1925. Poste- riormente, elu se tornaria professorn da Universidade de Colticabia; cargu que ocupuu aré cane de sua morte em 1948, Benedict participou ativamente da vida politica norte-a- menicana durante a Segunda Guerra atuande junio uo Servigo de Informucio de Guerra nos Estades Unidos. Um dos resultados dessa acao € 0 relandria de 1946; outro, si0 os escritas relarivas ao cendrio politico pos-guerra, editados por Mead. cusumento fracassado com Stanley Rossiter Benedict (1884-1936), brilbante professor dé Quimica da Universidade de Cornell, parcee ter acentuado o papel da es- crita na composigao de sta vida € obra. A obsessdo com a escrita se traduz na produgio poélicu ¢ no género narrative que invade ¢ atravessa a sia experiéncia antrupoldgica. A paixdo pela antrepologia surgiu com os curses minisrradns par Klsic Clews Parson {1873- 1941 )¢ Alexander Goldenweiser (1880-1940) nu New School for Social Research, em Nova York. Aos poucos, a escrita antropoldgica se revelou um caminbo capay de permitir y sua realizagio profissional ¢ alirmayaa pessoal, salienta Handler (199), entre ourres. Varios ensaistas rem chamado a atengio para a eli De few, » narrativa de Benedict ¢, sem divida alguma, um dos aspectos mais sa- lientes de sua obra, wlvez puryue se confunda com sua historia pessoal. A verdade é que sua vida e obra psrecem condensar, de certa forma, o espitite da tragéidia que carecteriza ® periodo entreguerras. Um lempo no qual os denses (Marte, Juno, Apolo ¢ Dionisio), na forma dos homens, mostram ora a face da guerra, urea face da criagdo. E subide que a tragédia, em Nielache (1844-1900), mais do que a dentncia pessimista de uma decadén- cia cultural (grega ou contemporines) ¢, du ponto de vista extético, a expression de uma ia persuasive de sua excrita antropoldgi visio de mundo na qual a dor, o sofrimento ¢ a murte Lornam-se Contes de reinvengao da vida, Mediundo essa operugdo simbilica, encontra-sc a arte, cuja fungéie precipua é a de reennciliara narnreza com a cullurs, o individuo com a sociedade, ns homens com scus deuses, promovendo um senso earético de totalidade da cultura — pressupusto epistemu- légico da antropulogix bossiana. Assim, a escrira antropolagica de Benedict mais do que uma extensio do campo ciendfioo, imaginade como objetive ¢ imparcial, an contraria, adguire os contornos de uma performance artistica’, © espirito do tempo © periodo cntregucrras assistiu a expansao da antropologia moderna nos duis lsdos do Atlinrico. Algumas das principais obras de releréneia serio publicadas entre os anos 1920/1940; a antropologia invade » academia; yma nova gerayiio de antrapo- logos, agura profissionais, fucem da etografia a sua pre cipal estratégin metodoligica e conterem 4 cultura o feitmotie de suas reflexdes teiricas. Nos termos de Stocking Jr. wma nova sensibilidade antropulégiva, éLaogritica, moderna, upolinea, no menos ‘de um lado, como a manifestacto de urn momento particular, de outro lada, como a expresso de um dos varios duulismes ine- pentes tradigio antropoldgica ncidemtal” (1996: 2691. Pode-se comecur lembrando oposigao entre rara ¢ cultura, tema discutide por Benedict no livru Raga: cee ¢ polirica (1941), & que dividiu, por algum tempo, com ag reflexdes sobre cultura ¢ civilizagio um lugar ao sol’. Ja em 1917, Alfred Kroeber (1876-1960) crazia au piblico uma das primeiras iniciativas de superaciu du decer- minismo hiolégioa com o texto C superorgdsice (1999). Contraponde-se a visdo evo- tomintica, era instituida nesse memento: luciunista predominance 4 épocu’, Kroeber pensa ser a civilizasia um fenfimeno que, sem romper os vinculus com o natural co orgdnico, constitui-se de outra naturezas qima ngtureze superior c mais compleaa. O quc, cm ultima instinela, ainda parece presu av imaginatio biolégice da virada do século. Apés constatar as dificuldades metodaligicas em analisar as onices entre o natural ¢ o cultural, conclu: o antro- pélogu: “O que todos somos cupuges de lager € dar conta deste hiato, ficar humilde- mente impressionades com ele ¢ seguir o nosso camino, de cada um dos seus ladus, sem nos vangloriarmos ilusoriamente de que u abismo foi rransposto” (1993; 78-79). Como outros antropélogns, Kroeber busea superar os limites colocados pela ciéncia du momenta ca necessidade de uma compreensiv mais qualificada dos fendmenos da matureza ¢ da culoura. A guerra deu um empurriio nessa diregin. “Os efeilus devastadores da Primeira Guerra pdem em divida o sentido do progresse apregoada pelos evoluciumistas” (RO- CITA & TOSTA, 2014: 44). De ucordo com Mead, “a Guerra Mundial foi para cla [Tke- nedict] um exemplo de como as esperancas dos homens padem ser destruidas impiedo- samente - um senliwento que cla expressaria no poema [dedicade a] “Rupert Brooke, 1914-19 18° Agora Deus suja louvado por t€-lo tamale fquela hosa, Par deixi-lo morzer no entusiasmio de uma hora de sombos. Nauka nunca tend a poder De despir dele w brilhunte escillha dessa aparéncia, Lie ¢ u mais hem-avencutada, Houve grunde esplendae mocrendo 116 Foi-se n tempo em que a nessa f# frada @ inferno de todos os homens ser puriticada, Favinse ten vounda, Vem que 8 nessa imaginagéo era veloz com thrtes peissarns Antes nis corhectumos uv suenificudo da vitdri, Nis agora estumus prudemtes ¢ cansuidos Hsperunges, cle sabia, Sao completamente pereefvcis como uma tempestade yuu se eval Tim esedrnin ainda vind oomu chumag que o vento traz Desves anos sombriog: desconbecendo 0 que eles faxcm, Nossos files cantarin ax palavras dele, ¢drio exultunies, murrer como ele; como ele mocreu com uma fé inabaldvel (MRA 1959: 348). Nowos desafios cram colocados aus homens da épnea. Numa bela formulacao, Ku- PET cuptou n espiring desse MOMento, pOuso, com previsde: “A culture foi invecada quan- do tormou-se necesirie explicar por que as pessoas cstavam adorande metas izracionais e carrarégias autodestimcivas” (2002; 31). A cultura pussavaa dividir com a civilizacao a dlengde dos antropélogas*. Nao por acasa, o texto que ird Saver da cultura um paradigma na antropologia ” (2012), de Edward Supir (1884-1939), oniginulmente publicade em 1925. Sapir apresencava trés semtides de cultura: 1) enquan- spirita” on “génio” de um pove. A jungéo dos dois (limes sentides forma o mucleo da “cultura AULénticu”, ou stja, “em Lermos ideais, é uma culrora com que nada ¢ espiritualmente sem significado, ¢ na qual nenhuua parte signifivaciva do funcinnamentn geral traz consign um sentido de frustragao, ou de esforgo inttil ¢ desarmonico” (2012: 42). Em cuntrapu- Sigho, a civilizagio expressa a sofislicacdn da sociedade c dos individues cm termes de norce-americana ¢ “Cultura auténtica e espiiri to tradigia herdada; 2) come relinamente individual, c, 3) expressiia do “ desenvolvimento material ¢ tesnolégico, conludy, nau signiica isso um processe hermn- fiivsu © cquilibrado. A percepean de Sapir sobre os Estados Unidos era ade que o mesma vivia “um crénice estade de desujustamento cultural” na qual a “vida mais clevada [cra teduzida] a uma exreriovidade cstéril” (2012: 483, Frente & [ukicia do mdustialismo, da alienugdo produzida pela division do trahalho, da tragicidad: vivida com a guerra, Sapir, numa inspiragio nietschiana, lembra que na culuura auténties o individun deve ele- var-se expiritualmente (nao no sentida religiosm), atingir a maestria ¢ s¢ reulizur ua ure, afinal, “a manilestagio mais alla da cultura, a verdadcira quintesséncia do génia de wma civilizngdo necessariamente s¢ sustenla na arte, porque 4 arte ¢ a expressdguténtica, de forma sutisfaréria, da experiéncia nie como algo logicamente ordenadu pela ciénvia, 117 mas come o que os ¢ direca e intuitivamente apresentady ua vida” (2012: 54). Durante muito tempo, acreditou-se que Greenwich Village, hairro nova-iorquino “alternative”, Tepresentou a porcau suléntica da cullura na geografia da antropologia modernists. Sapir exerceu grande influéncia sobre a antropulogia de Ruth Benedict, sobre- coda, no Livro Padries de cultura. Na verdade, Sapir ¢ Benedict estabeleceram esireita celagiv intelectual, © prinvipalmente de umizadee de confidénciu, Alem da antropologia, a pocsia os unia. Handler ohserva que “ambos, Sapir e Benedict, usavam a poesia para ex- pressar 8 agonia dt cosumentos fracussados” (1986: 143). E mais, além de poetas ¢ huma- ists, ambus sido colucudes juni come Ledrices dos padrées de culuure ¢ fundadores de “escola de culura c personalidade”. Acrescente o nome de Margaret Mead (1901-1978) 4a deles eo circulo dos: principais boasismos esta formado. Esabida que a trajetdria profissional de Benedict coincide com o periode entre- Buerras. Nese meio tempo, Boas* formaria toda uma geracio de novos antrapélogos profissivnais, couitos dus quais, inicialmente, lerao a ulen¢ao ¢ 4 stuaydo voliada para os eamidos de “cultura ¢ personalidade”, c, mais tarde, passariam a s¢ dedicar também aos estudns de “carder nacional” estimulados pelo ataque @ base naval de Pearl Harbour cm 1941, Benedict é uma das principais antropélogas que forma o circulo dus “bousianes”, composto por names como: Ruth Runael (1898-1990), Robert Redfield (1897-1958), Geolrey Gorer (1905-1985), Ralph Linton (1893-1953), Rhoda Merraux (1414-2003), entre auttos. Mas, serio Edward Sapir ¢ Margaret Mead os seus principsis interlncute- res intelectuais ¢ amigns confidentes Os estudus de culiura ¢ persunalidude umtes de formarem uma “escola” no sentido estrite do termo, parecem mais nos informar sobre certo “estilo de antrupologia™'. Para Roberta Cardose de liveirs, |...) a nogie de estilo nos remete 4 dimensio individualizante do cxeeel- ida disciplina, poréin sau se detésn na esferu prupriamente pessoal ou individual do trabalho incelectual, inde além, precusandn aprnprianse de un discurse comum fporuinio coletivo) de um grupe localizade de profissionsis: de uma comunidade antropoldgica siruada uo tempo 2 no espagn (1988: 156), Olestilo, portanto, €a porgiv singular das experiéncias etnograficas desenvolvidas no centro ¢ na periferia frente a rocagie metadisciplinar da Antrupolugia™. Ratificando essa ideia, o proprio Sapir recomhecia que a cultura, assim come a lingua, tem um estilo propria. Assim, apesar das dilerengas de méwdos, dos pressupnstos tedricos ¢ da ahnt- dagem dos objetos entre os ancropdlogos *, destaca-se nessa cultura antropuldgica: 13.0% conceitos de cultura ¢ de civi do que uma dispura tedrica, s¢ nie modelos de organizagdo social. 2) A cultura é vista coma roralidade, relacivamente, cocrenle ¢ integruda, mas ni necessuriumente funcional. aagdo expressam 1 118 3) No estudo da “culwwm viva” uv unbulho de carupo ¢ considerado o faboraniniv norural do antropblogo. 4) A comparacio constitui a principal cstrarégia metodalégica no extudo de siste- mas cullurais diferentes ou de uma determinada drea cultural. 3) Di-se éntase 4 interdisciplinaridade. sobremda com a psicologia social, que levou alguns a chamarem essa abordagem de Psicologia Culiural; mas nae se des- preza as contribuixves da Historia, da Sociologia etc, 6) A relagao individnosociedade, pensada nos termes da cultura ¢ da persona- lidade, resulta na caracterizagan de configuragées culturais © tipos privolégicos singulares. 7). infincia ¢ a educagio emergem como focos privilegiades na compreensia das processos de socializacdo ¢ de formacso dos padrées cultursis. 8) Enntase nos estudos decaniter naciumal no conterto da Segunda Guerra Mundial. ¥) Antropologia aplicada vista como antropologia a servico da nugdo ¢ da demo- crucia americana’ Deum mode geral, a obra de Benedict ¢ Mead condensa, de forma variada, todos eases elementos de estilo. James Clifford sintetiza case imagindrio destacando que |...] as histérias etnogrdficas que Med ¢ Benedict estuvarn mumilesta- mente Tigadas 4 situagin de wma cultura em Tura cam diversos valores, com um sparente colapso de tradigdes estubelecidas, com vases usdpi- caus de desagregacan, $uas cian gratias cram “tibulas de identidade” [...|. ‘lado o projet de inventur ¢ represenilar “culluras” era, para Mead ¢ Renedict, um emprcendimente pedagégicn ¢ ction £1998: 69). da males eus Pela primeira vez, a anwopologia assumia compromisso explicito, nem por isso isento de mocivagao imperialista, no cstudo dos estadios modernos culminando nas pro- postas da “antropologia aplicads” ¢ na quesléu de “curdler naciunal”, Durante a guerra, muitos antropélogas estiveram a servign da govermn ame- ricano promavendo catudos sohre a “cultura ¢ a personalidade” dos inimigos, bem como desenvolvends estratégias para a elevagdo du mural dos americanos ¢ de orga- nizagao mais eficaz da sociedade!*. Mas, o proprio tempa se cnearreparia de produsir mudangas, diversificands o campo da antropologia em termos ledricos, melodolégicos ¢ instilucionuis, De vertu forma, Benedict preconizon parte dessa histéria, afinal, a guerra nig aconceccy somente nos campos de batalha de outro lado do Athintico; in- termamente, muitos a viveram, dramalicumente, em sus hislorig pessual, Certamente, Ruth Benedict nao foi a tinica a sofrer essa tragédia, conmdo, sua sensibilidade artis- tica ¢ humanista, possivel mente, contrihui para que clas deixusse Quir de muneira Lio viva em seus escritus anirupoligicos™. Margaret Mead nus lurnece uma pista para 3c compreender o drama de Benedict — que mio € apenas seu - quando a enxerga como lg uma “figura de transigio” que buseava “ligar os fios quebradus du passadu, do qual era herdeira, com as incerlesas gue precedem a uma nova integragio do pensamento hu- 959: xii), Essa condigdo de relativa liminaridade — Thanner chega a dizer que Benedict experimenraya o sentimento de ser um “estrangeire mum Letra estranha” (2004: 64) - wilvez, a tenhe colocade numa posicio privilegiada, apesar da obsessiva busca pela autorrealizagao, cm que a ciéneia ¢ a arte, a antropulugia ¢ a poesia, forma- ram um caminhu possivel. A cultura como gente Ent uma faimesa passagem de Padniey de cultura, Ruth Benedict observa que “uma cultura, como um individug, é um modelo mais ou menus comsisente de pensamento © de ayfu” (ad: 59). A analogia enire a cultura co individuo nao climina o dualism, jd denunciade por Stocking Jf, “inerente 4 tradigiv antropuli mus i frente, Benedict apresenra uma solugdo: “ndo hd, propriamente, artagunismo entre o papel da soviedade ¢ uv papel do individuo” fs.d.: 276), a nda ser do ponto de vista tedrico. Nessa linha de reflexdo, também sua vida e vbra acabam por misturar-s Em Benedict, as interpretagées culturais carregam o genoma de sua historia pes- soal, Por exemplo, Handler (1990) chumu a ulencin para a visio trigica dos Serranos, aprescotada por Benedict, estar em sintonia com oi sua iugédia pessoul, 0 gue confere & ca ncideneal”. No cntanto, Sua elnogralia wm tum aulurreferencial. Barnnes comenia que a adagao das categurias anolinca ¢ dianisiaoa, de Nietzsche, descrevem também o seu Sen” {aclf| na medida em gue 0 “seu mundo de fantasia cra a munda de seu pai, ¢ foi apolinen — ordenado © ra ciunal. O mundu de sua mae, ‘o mundo de confusdo ¢ choro explosive’, era divnisiaco” (2014: 56), Margaret Mead (1959), por sua vee, ratificaria esse dualismo nietzschiano tendo por hase as memérias de infancia da propria Benedict, intitulads “A estiria da tuinha vida...” quando vbserva: u “xenlimento de viver diferenres vidas, reuninde es- tilos predeterminades de vida nem sempre intrinsecamente seu, de incompatibilidade enire seu lemperamento proprio ¢ uma versin particular da cultura americana, nunca abandanau® (1959; 83), De pesto, em sua releitura de infineis, Benedict apresenca uma vida dividida, sem umor pela mac, ¢ elerrizante paixde pelo pai cuja morte marcaria proliudamente seu sensu de reulidade, ricamente povoade de fantasias, medos, crises de véimniros, depressies, sentimento de rejeigiv, abuse ¢ culo da imagem de Cristo ¢ gosto pels Biblis. Ao final de suas memoérias, cla cscreve: “foi provavelmente v habito de ler a Biblia que me dev a ideia de aprender poemas” (1959: 112), dentre os quais figura “Ole ao vento neste”, de Perey Shellev (1792-1822), cuiu trecho sbaixn parece evacar algo de Sua Wapedia: Alma selvagem que te moves par tode a espacn 0 destruidor ¢ vivifieador, escuta, 6 escuta! 120 O irresistivell Sean means Eu pudesse voltar a sero que cra cm minha intincia |...). Numea eu te teria suplicndo, come fag enn nina alice, OO! levanra-me como uma vega, coma uma tolbs, come uma nuvem, Albuto-me sob os espintios da vic! Sangro!"* 1934. Ano de publicagao de Padnier de culuera - para Gore, essa obra marca 0 nascimenta do estude cientificu sobre o caniter nacional -, é cambém quando Benedict publica seu dltime poema. O descio de realizagio pessoal, iniciado com a literatura, serd obtide com a antrepalogia. Dai, Kuper afirmar que “em Padries de cultura, sua imagem preduminante de cultura exibia wm estilo artistico” (2002: 94). E mais, para Henedicr a cultura nao se reduza um conjunto de padroes narmarizadares do comportamento e de- fnidores da personalidade, com certa “licenca poélica”, penso que ela entende a “cultura come gente”, Cultura é um “conceito torémice" na antropologia de Benedict. Culuura evoca um conjunte de outras calegorias que sie fundamentais 4 sua interpretagdo. Hm Hene- dict, a nogdo de cultura munca ests sozinha, fazcm companhia 4s cateporiss: espirilo, configuracao, padroes, ethos, escolhas, acao, penssmento, emoyiv, Lotalidade, diversi- dade, personalidade, educayiu —cerlamente a lista 240 esti completa. Kssa é, sem du- vida, sua primeira qualidade, ow seja, como na lingua, a cultura é, ela mesma, parle do repernirio fornecide pela nossa suciedade. Numa deliniyiv, lembrando que a detinicao fornece os cumtornes do objeto e nao a coisa cm si, “em cultm mos que imaginar um grande aren em que alinham os interesses pussiveis que a ciclo da vids humans, ou u ambiente, ou us varias actividades do homem tornecent™ fs.d.: 36). Considerando, condo, a extensie do arco “a primeira requisite de ume cultura “urce™ sob o qual observa Benedict, “te- € fazer uma cscalha® (s.d.: 262). A cultura é vista, entao, como uw se enconiram us componentes (valores, comporlamentos, pensamentos, emogaes cre.) cujo alinhamento, resultanre das escolhas ¢ dos mreresacs dos individuos efou dos gru- pos sociais, possibilita a formacio das configurapies que a persundliza, Com certo tom de exugerv, pode-se dizer que a cultura, em Benedict. é sinénima de personalidade, pois ac falar da cultura dos dobuanos, ou dos kwalkiucl, por exemple, ela os classifica como parandides ¢ megalucmaniacus, respeclivamente, Nessa perspectiva, cultura san “individuus coletivos”, peasa Handler (1990), parafrascando Dumont (cf. ensaio sobre Louis Dumont neste livre). Gam ctcicn, a ideia da “cultura come gente” gana corpo. A concepcan de cultura de Benedict ¢ portadera de uma cuga subjcriva, psicalngica- mente informada, poste que revela dimensées aferivas, cmocionais © cognilivas, na medida em que envolve as experiéncius ¢ escolhas dos individuos. De resto, pode-se dizer que 4 cultura nao se separa dos individuos, pois nos tormamos “pessnasx” quando aprendemos a nos emocionar ca pensar acgundo cerros padres de sensibilidade, de comparramento c de pensamento. 121 Essas consideragies de Benedict nos levam para frente © para trds na histéria da antropologia, pois, ao imestau Lempo em que parecer antecipar as proposiyies Ledricas, de Geerts ¢ Wagner, de um lado, remetem-nos ao passade com Wissler, Boas ¢ Sapir, du. ourra. “Assim, se cuda cultura seleciona ¢ reinterpreta a material que escolheu incorporar, aproximamo-nos da visto de Geert (1989), para quem sao os individues os interpretes Primeiros de sux cultura, restando ao elndgrafo interpretar interpretacSes. K aqui io earamos longe de Wagner (2012) com sua ideia de ques culruraé wma invencéo. Ns outra ponla, Mercier (s.4.) lembra que Wissler, com o conceitu de pudries culturais, Boas com a imagem do “areo culroral” ¢ Sapir com 4 nogao de configuraytes, cads qual logaram a Benedict og pressupusios de sua ideia de cultura. Mas, esses autores néu foram os t cos a alimencarem a reoria da cultury de Benedict. E conhecida a influéneia que alguns pensadotes alemaes, de inclinagia hermengutica, exercem sobre ela: Wilhelm Dilthey (1833-1911), Oswald Spengler (18811-1996), Friedrich Nietzsche (1844-1900), além ¢ cla- to, do “Pups Franz? Provavelmente, dos alemics, Benedict herdow ainda certo ar de romantismo, hem como a nogin de espirina, Essa caleporia ocupa um lugar especial em seu pensamento antropolugico, huja vista sua tese de doutoramento sobre O expirite gpuardigg mas cule ras indigenas norw-emericunas. Aliés, Mead (1959) comenta que a primeira puhlicacio de Benedict, em 1922, sobre “A visio nas culcuras da plunicie", apresenta as eoncepydes biisicas que inio orientar todo o seu tabulbe posterior, Neste, cumo em mtros rextos, Benedict procede 4 aizilise comparada, o que Ihe permite destacar de maneira exemplar © “espirito” de cada enituca em andlise. Na linha sugerids por Sapir, 0 espiti que se husca ¢ 0 ethos da cultura, o “pénio do pave”, ou ej, 0 pada yue singulariza. Em apresenragas 308 Padrier de cultura, Boas adverte: “an espirito de cada cultura chama a Dra. Benedict 2 sua configuragio” (s.d.: 9). Numa bela formulacin Benedict apresenta 0 seguinte arguumenio sobre as configuragiies culturais: ‘O que se passou nos gramules estiles de arte sucalen também mas cul- Turas coin conjunto, lede multiline compertamenro orientade mo sentido de conguistar um modo de viver, de constiquir familia, de fazer a gue sistemues de neordo com eanany i que se desenvolvem dentro da culturw. A certas culiumis, oom a cercos periodns ca urbe, falta tal integrarao, c acenca de muitas ourras kabemox muito pouce para que pussimos comproendornins us mutives que as movem. Mas culturas, em todos os cstados de cumplexidade, mesmo as mais simples, atingirac essa integrugio. ‘Ikis culluras so realizagocs mais Comportaiienty inlegrudo, 0 que epanta é que possa haw sus pussiveds comfiguragtes (sc: 61) de adorar os denscs, se organizou em padrées cx uecientes de prefentneia menos felizes de ity des Padrdes, cultura, espirico, configuragées, cstia entrelagados na antropologia de Benedict, 0 que inuilas veres sugere certa imprecisio conceitual, mas, par onrra lado, 122 nos oferece a ideia de uma “teia de senuidus” na construgde de sua tevria da culcura, ‘lo- mundo emprestady a Geerts a sua concepgae da cultura come teia de significados, para Benedict também a cultura é.o resultado de uma “teia de semtides” tecida tanto pelos na- tives quanro pelo antropdloge. A cneréncia ou consisténcia de ume culuuira é 0 resultado: das escolhas ¢ da costura claburada pur seus agentes na produgic de sua inregracan, o que nav exclui a presenga dos comflitos, O sentido de uma culrurs, enti, reside nessa urlesa- nia, Hem sempre consciente, clahorada por seus spentes. Assim, Wwanando como exempla o papel da visdo na busca pelo espirite guardiie entre os indios da planicie, Benedict “QO compleza da viséo, os ritos de puberdade, 2 organizu¢io em cla, e muitas outras feicdes que cntram também em relurio com a visiiu, stio os fios que se entrelacam em muiias combinayies” (sd: 54), Mas, como lembra Benedict, a interpretaydo desse process cabe ao antropélogo, que deve buscar apreender 4 totulidade da cultura, Aqui, entin, é onde entram as carsclerizagiies sugeridas por Benedict em torno des deuses € dos homens apoliness ¢ dionisiacos. Benedict cira O declinio do Ocidente, de Spengler, para ineroduzir as imagens do apolineo ¢ do dionisiace que sabemos ter sido Nietzsche quem primeiro as retomou da mitologia grega para pensar a civilizagio ocidental. A justificativa enogrilica para a intradugin dessas divindades no estudo das sociedudes primitivas, nao cxcluindo as modernas, Benedici a forneve ulegande que “o material é nesta demasiadamente observa inextricdvel e esti demasiadamente proximo da nossa visla para o podermos traba- Ibar com éxita" fs.d.: 69). Assim, lancande mao da comparagao”, diferentemente de mélade comparalive, de inspiragio evolucianista (GLTVETRA, 2008}, Benedict ird colocar cm destaque os padrées apolinens ¢ dionisiacos nu estude das culturas Puc- hlos, Tkohu c Kwakiult. Au curacterizar os Pueblos como apolincos, os Dobuanos os Kwakiuli como distintes dionisiacos {paranoicos ¢ megalomaniacus, respecliva- mente), Benedict uma vex mais evocd o “tipo-ideal” weberiano, alinal. o estudo das culturas ¢ das persunalidades nus fornece o “modelo” de coma os individuns vendem wugir em deverminada simuagio ¢ quais os mecanismos que guruniem a sua eficicia. Ralph Linton exemplifica dizendo que “o modo pelo qual uma pessoa reage a uma situacio particular farnece melhor indicia da naturcan de scu ensinamenty de que de sua personalidade™ (197%, 37). Nao sendn fendmenos maluruis, avivicos, culturas ¢ personalidades sao como “planes de ugde” que orientam nossos comportamentos, OSKOS Pensamenlos, LUssas eMOgbES, € que sho expressos cm sistemas magicus, ele licos, religiosos, politicos etc. A cducagdn, nesse caso, adquire uma importincia fundamental na formagao dos padrdes culiurais. Dilerentemente de Mead (ROCHA, 2012), o tema da educugiu emerge de mancira mais difusa no pensamento de Benedict, mas sinda assim ganha destaque em sua andlise do racismo ¢ dus padroes da culuwra japonesa. Em GC crisdintemo ¢ a espada, @ yuestio da educagaa aparece ao longo de tode livra, muito embora um capitulo seja 123 dedicado ao assunto especificamenre Nele encontramos a hela imagem do espelho que, ameu ver, ¢ ilustrative de sentido da educacao para o japoné ‘Certos simbolos usados pelos japonesey ajudam a elucidar os dois lads de seu carirer, csiribados na descontinuidade de sux educugio intamil. 0 laclo erigide no periodn mais antige ¢ du “sec sem vergonha”, text. do eles até que poniu u conseryaram ao fiterein im espelho os préprias rusts. Q espelho, dizem eles, “reflete a pureza eterna”. Nao aliments a vaidade, nem reflete 0 “ser perturbador”. Reflereas prufundezus da aluna. A pessoa deveria ver ali o seu “ser sem yexgonbs". Ne espelho ely 68 us Prépries olhes cumo u “porta” da alma ¢ iste a ajudu a viver como unt “ser em vergonha”, Vé cls ali a imagem idealizada ds pais. [...] Durunte 3 gucrra, a midis jupooesa canamitiu um hinu especial de louver para uma classe de slugs que comprare um espelho. Nio se cugitava fosse um sinal de vaidade, sendo antes apresentady come uma nova forma de dedicugio a screnos propdsituy gas profundezas de euas almas. Qlher necle cnastin har a virtude de acu cepivine (1972: 241). ura ri externa, a tesien Com o fim da guerra o Japao iniciaria um processo de reconstrugdo nacional, a que SUgCTC, POF 3Ua Ved, A TevOMSstTUCEN do carter nu em novas bases. Reromande as imagens que dia title ao ciunal japonés, agora, provarelmente, ru, Benedicr conclui: L108 japuneses do Japdo podem, iguilmente, numa nova ers, organizar uma nova maneira de viver que ndo exijs os antigos requisilus da res- trigae individual, (Os crisaatemos podem ser belos sem a5 armacnes de arame ¢ a dréstica pada Neata aris péem de cerras antigas virtudes tradicionais que pudem ujndé-los a con- alesuibilidade, Uma delas ¢ aqueli quiorrespensabilidade, por eles cxpresss come a sua cunsidenigin pela “feerugem dn meu corpo” — sque~ la figura de Hnguagem que idearificn 0 proprie corpo com uma expadas Lud Hoie em dian propas-se "par de lade a1 espuda” no searide eeidentail. No seu sencide japonés, conseryac eles com censcidade inuby em munter uma cspada ininma, livre di ferrugem que sempre u umeaga. Na sua fraseulugiy de virtude, a espada constitud um simbolo que wles pudem conservar num mandy tnaiy livre ¢ mais pacificu (1972: 247), Oestilo da narrativa nao deixa divida quanto 4 sua qualidade literiria, a sua “arte de esctever® hem. Segundo Geertz (1989) 0 que o eldégrafo fax € eserever; e Bene dict o feg com maestria cspirimal e artist cultura auténtica. Da ponte de vista episteculégicn, o primeira capitulu de O crisdetemia ¢ ot expen apresenia de mancira exemplar 4s priticipais morivacies para o esuudo dos padrdes da cul- Tura japonesa, bem come os pressupostos metoduldgicos urilizados nesse empreendimen- 124 civ pure uma maior liherdade psiquica, os japoneses dis. ldvel a sua proocup: ,, como Sapir (2012) wm dia imaginon na to, Assim, aléin da valorizacau das experiéacias cotidianus, a revisio critica do “exwudu da arte”, a uliliagdo de fomtes até entio nd usuais como Gilmes, romances etc. — estratégia defendida no “manual” du Botefo de cultors a discincie 9 ctungrafia realizada cm casa, o reenrse da comparagio, cade ixso permiliria a Benedict chegar & seguinte propasigay: “uma vez endo cu verificado unde meus enfoques ocidemtais nao sc enquadravam na sua visio de existéncia, ublendo assim alguma ideia das categorias siribulos por cles wtili- zados, muitas vonttadighes que os ocidentais acostumaram-se a ver na condula japonesa deixaram de ser contradighes” (1972: 23), Benedict vblinha com cssas estralégias a pos- sibilidade de promover um conhecimento sobre o “outro” em sintonia com o espiriw da antropologiv’. Aqui, como também ew Padrées de cultura, Benedict se dirigia w um pu- blica mais amplo, nao restrito aos seus pares académicos, Isso permitin que cla obtivesse uma eficécis mais ou menos parecida cum a de Sir James George Frazer (1854-1941), aulur do chissico 0 rama de ure (ef, ensaio nesce livre). Strathern (2003) chama a atengao para a mancira como as eliogratias sao apresentadas, pois muito de sua pers sultado da capacidade do autor em convener o leiror de que v que esti lendo faz sentido. “Assim, cmbora Benedict mio tomasse o trabalho de campo como a sua principal tonte de auroridade etnogréfica, a exemplo de Meud, u sua estratégia de recleserigao onmstitui uma forma de legitimagio do imagingriv anteopolégico. Fato esse que tem estimulude a ima- ginugio de muitos antropélogos, ditos pas-modernos, a estahelecerem esireitas rclacies sao é ore da crnografia com a Literatura™. Ressondncias O noine de Ruth Benedict ecoa, ainda hnje, em diversas areas du conhecimento. Seus livros sfin dos por estudantes c profissionais da antropologia, soviologia, histaria, psioologia, relugies internacionais. Cunsiderando a importincia de sua narrative antro~ poldgica, talvez se posse acrescentar a essa lista os estudos de linguagem, considerando a sua extensio nos Estades Unidos. A verdade é que, direta ou indiseiamente, a sntropologia de Benedict em se dis- inado no tempo € no espago, Eo que sugere Clifford Geert quando fala de Podrdes dé cultura: “um vexvo adequado a0 momento adequado” (1997: 120), Dirigido ao piiblica nao iniviado, o livre atingiu a aarca de mais de duis milboes de vendas, tendo sido aduzido para quase duas dezenas de idiomas ¢, ainda hoje. considecado “Ieitura obri- gardria” das novas geragées de aspiranies a antropologia, O proprio Clifford Geertz, sob varios aspectos, sc rende 4 antopologia de Benedicl. Nao sf par ver emt Benedict um “Hundador de discursividade”, mas também retomar o espiria dus conccitns de padroes de cultura, ether, eios, significado, por exemplo, utilizadus em suas andlises da religiao em A inverpretagdo das cultura: (1989). Ainda para Geertz, o aspecto mais saliente ma vide e obra de Benedict é 0 lato dela ter feito antropologia com estilo, ou seja, com um estilo Ee 125 nucrativo (marcado pela clareza, objetividade, justaposigio, distanciamento ¢, com certs dose de “exugero”, no sentido weberiano), cujo modelo liteririv é.ds viagens de Cretiver, de Jonathan Swift (1667-1745), Nesse sentido, Pudrdes de cultura pode ser vista também cumu 8 propesicao de tim “padriia de escrita” antropolégica”. Sua eficécia persuasivu re- side, entio, ma capacidade de justapor o familiar eo exérico, promuvendo a mudanga de lugar (¢ de sentido) entre o “eu” ¢0 Sourro”, Nesse casu, O crindauenen e a eapeedia erma-se oetemplu mais hem acahado de telaivizecio, enquanto estranhament, na medida em que 0 cstudo da cultura japonesa acaba por revelar, por concraposigia, # cultura umeri- cung. Na verdade, wna eficienle estratégia metodulégica que, como nos diz Geertz, “an término de sua leitura, came ocortia em [Padrdes de cultura), somos nds que terminamos interrogados” (1997: 131). Benedict tornava claro ¢ eficaz, de maneita persuasivamente diddlica, o pressupasca epistemolégico do conhecimentu antrupolégica: o exdticy (resul- fade de un olbur externo sobre 6 outre) torna-se conhecide e o familiar, nda ncecssaria- mente conhecido, torna-se, ald certo PANTO, exdtico. Em pelo menos rrés estudes, de nouivel valor epistemoldgico, os aurores reconhe- sem a importincia da obra de Benedict cm suas etnogrsfias ¢ para aautrupologia cm ge- tal. Naven, de Gregory Bateson (1904-1980), € um estude sobre o rirual de travestimenwo dos homens ¢ mulheres armel” para celebrar os atos ou feitos do dae (filhora da irma), ed cidade das mulheres, de Ruth 1 andes (1908-1991), no qual se analisa os vandomblés da Bubig. Ambos os estudos jogam luz subre a ctnografia a cultura na medida em que prow blemati subre os objeros em estude, Denure varias questées conceituais, c numa clara evideéncia da influencia de Benedict, Batesun destaca s dimensae dos sentiments com a toga de ethos, por éle enlendids como “a expressiu de wm sistema culturulmente padronizada de organizacao dos instintos ¢ das emocées dos individuos” (2008: 171). Nu Epilage de 1936, anu da primeira edigio de Naven, Bateson notitica o parentesco entre os conceiwe de confignragio, na formulacin de Benedict, € o de ethos, por ele utilizado, Ruth Landes, pur sua vex, além de contrariar alzumas auroridades ne campo dos cscudos alru-ame- rindios como Melville Herskovits (1895-1963), quescionando a suposta homogencida- de religinsa do candomble, » predominio masculine e 4 presenga do homussexualisma nesse universo, Manteye Um Pelaciunamento mais da que profissional com g foleloriswa Edison Carneiro (1912-1972), sen guia pelus terreiros de candomblé da Bahia durante seu trahalho de campo entre us anos 1938-1959, A exemplo de Nowa, também.d cidade ato, @ Ing das comsideragécs da antropelogia pds-mnderna, como woe “emogratia experimental”, ahserva Colle (2006). Sem tradne3o para o portugues, The sw dy of culture av a distance (1959), livro organizado por Margaret Mead ¢ Rhoda Metraux, sera dedicade » Ruth Benedict por ter imsugurado a campo de estudos em Cultures con- temipordneas na Universidade de Cohimbia, Traw-se de um “manual” voltudo uns *mé todns que tém sido desenvelvides durante a fillims década na andlise dus regularidades a radio cientifica dos antropéloges, assim come ampliam o conheeimenta das mulheres sera 126

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