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I (© PARADOXO DO IMAGINARIO NO OCIDENTE 1. Um iconoclasmo endémico Sem davida que nossa heranga ancestral mais antiga « incontestével & 9 monoteismo da Biblia. A proibicio de crise qualquer imagem (edélon) como wm substituto para o divino encontra-se impressa no segundo manda- ‘mento da lei de Moiss (Edo, XX. 4-5). Outrossim, co- ‘mo podemos constatar no Cristanismo (Jodo, V. 213 I Corfatioy VEIL 1-13; Atay XV. 29...) € no Islamismo (Condo, HI, 43; VI, 133-134; XX. 96 ete), a inluéncia do judafsmo nas religiSes monotefstas © que se origina- am nele foi enorme. O método da verdade, oriundo do socratismo e bateado numa légica bindria (com apenas eit lore Falea em werdaceia), snore dead 9 nicio a este iconoclasmo religioso, tornando-se com a heranga de Sécrates, primeiramente, e Plato ¢ Avist6- teles em seguida, o nico process eficaz paraa busca da renfade. Durante muitos séulos e especialmente a partir 9 0 imegindcio Jepsen (él 4a), de cen ee se an rnd cers 1 ene get dt pl aio in i OE dic Ma rae nl em trek" a ee, propend oer dus sles i Ceti vrs eon lanes rae dete alge rn ete = pom ee i agen que on ao PP sede neni contr 8 Sa com's age, qe ops rs Saipan er? 0 a fr re Eco, cea eb ra ele Pla oe prepa (8 sand eis propen verde” Ob sao" un Ste wa gaspar at ie Ne et Satins ame doe tr pene ear den de Tot do Cristo supicada. Grags&encarnagio do Cs. Sok hes mip vale Estate fel ont iri wn ld pre ban dan imagens no idem cristo, Pos, imagem do Ces, 2 imagem concretadasandade de Deus, bg acrescentar- per pesesiia ts gE US w pte (aquelas que tvessem ating uma certs semelhanga com Deus) da Vigem Mara ne de Cito (ho tafe de Des’) seguida plas do precunor Jofo Bats, dos apéstolse, por timo, de todos es santos. Por tanto, on crtandade,eparakamentecorrents to po- 4ei6t oseacaome sechaalpa geeaeRee 9 rcs v 0 imagindrio magern “santa” que a arte bi- estétca da imager “sana” que a ria durante viros séculos e bem depois ‘mariolatria (0 cule um culto sown ue sain pepe ech 1054 asim como coma oo aeugen) coher ds santos, um eto wat cues dade din oe por we Peedi om peo mens cd itn reat no meneame ent ogi Paar ko, oro dt dos ene reg rau acy do nfo cramer (Pi se nino elec dos armen) we oepssao sees? re sta Datna 3 destin da igen ae gals 13 e 14 da anda do O3- i go do culto & imagindrla sacra ene grain floras se (rsa pce suena, em gone pase, lo err entlidade dajorem ater ord Tso de an (220, A reponse” pe : ornament B Sa por io Berard, com ts de Pe estns, ik, aminures ete) evbtad ea pent eonocamno gen da exten c+ Pe aa 2, Aon pour cl sult no cee jase alana sutra dos monastis ae aa naps nove rural Os nc Peale ie Lin, ons\ comp imager TERR Msn oo edn amo, com.ag eer amon 2a (ar duet 18 0 poradoxo do tmagingrio no Ocidente ‘anos, monges nfo enclausurados, seo os propagado- res desta nova sensibilidade religosa — dewtio mera —€ os criadores de inimeras “traneposgbes para ima. gens” dos mistéros da FE (representagbes tetra dos *Mistérios", das quatorze stages do “Caminho da Cruz", criago da devogio a0 presépio da Natvidade, encenagSo no Sacro Monte dos episédis da vida do santo fandador,divlgscSo dss “bibias mordizadas” rcamen- te iustradas etc). Entrementes, no Ocidente, os pro- motores de uma das rarasfilosofies da imagem dario {fio com 0s “fore” de Séo Francisco & abertura para a natureza, cantando nosso irmao Sole nossa irm Lua, aque abrangeréo Izerartim ments a Daum (Lineritio da alma até Deus) de Si0 Boaventura, 0 Superior Geral da Order e sucessor de Sio Francisco. Aa ser contempla- da, a imagem da santidade fo apengsinstiga, como em. Joio, 0 Damasceno, ena tradigio platinica, a penetrar na Proprirsenidade (0 naturalismo empfrco aisote- lico jf passou por Tsol). Como toda representacio da natureza e da criagio, ela é um convite para seguir 0 ca- ‘minho até o Criador, Qualquer contemplaco, qualquer visio da Cracio, mesmo no sea grau mals balxo, & um “vestigo" (exigum) de Toda a Bondade do Criador. Mas 4 pela imagem (igo) que a alma humana representa ‘com maior exatidio ainda a vrtudes d santidade, Por ‘Bim atinge-e a etapa suprema do caminho: Deus tem 0 poder de conceder & alma santa uma "semelhanca” 19 CRITIC ETT OOO CCC Eee eo CeCe eer eee 0 imagindrio amie npn image alos ria srk Deas Ciao ssid on gs ds és ger igi 0 veo a IATA C= sae ac a semelbnge Pa dota propa cane adrian eat dena ita Chri © ae a deco ao ees os qs 8 domi 2 anccan rar com ss Tends set macrrees Ea part ase to dternian- ne niments aes da kongratae da citn- Toad ust este co w foe ses pan do Onente, De cet forma eat a eG iagen ade Boda e dacrisandde ae enveran-se em sentido iver, En- cme concer T&S re fmogr Romer ansiguradopels n= oe nen Crt 0 protsip iv, So Franco cha cama Roma potion seo” seem pintura sca dos pats elas (range Belg on Paes Bas « end a Es (ice) mera delice ne op, pols =~ Seid dnstgneara doce ies, + titre docs cdr maton dae dine a o- ayy mr, das tempest. Aprefertnla por [TEar i qn racing openly ne Se BPSdo Francsco Far nt et arches alin ce FAs eke US Pare ion a reli da ate, PF. 1982 20 0 poradoxo do imagindsio no Ocidente ‘cenas 20 ar live passaré a dominar paulatinamente nas pinturas de temas religiosos (a Fuga do Egito, o Sermio cla Montanha, as Pescas Milagrosas, os Jadeus no Deser- to, a Sarga Ardente etc) e predominaré progressivamen- te até invadir toda a superficie da imagem. A liberdade dda abertura voltada para.a natureza € suas representagies provocaré uma espécie de efeito perverso duplo: por um. lado, a imagem do homem apaga-se cada veo mais da palsagem natural das guas, florestas € montanhas; por ‘outro, paradoxalmente, o culto 4 natureza facilita 0 retorno das divindsdes elementais mas antropomérficas dos antigos paganismos. O humanismo do Renascimen- t0 do Quativcento (século 15) vers, sempre paradoxal- mente, a exaltagio 20 homem natural e sua palsagem agreste, mas, também, o retorno ao paganism € & teo- logia natural das forgas antropomérficas que regem a ‘Annecessidade de uma Reforma e 0 que denomina- rents de terceiraresistncia 3 imagindla sacra explodi- Fo neste momento de crise da teologia criste provoca- ‘lo a Contra-Reforma. A Reforma Luterana, sobretudo “a dos seus sucessores, como Calvino, representa uma ruptura com 0s maus habitos adqulridos pela Igreja a0 longo dos séculos, notadamente pela contaminacio hhumanista dos grandes papas do Renascimento (Pio I, Alexandre Borgia, Jilio Il, Leo X, filho de Lourengo, © Magnifico). A Reforma combaterd a estética da imagem 21 a 0 imaginétio dnt canner oe es Se ate cantons “dos quadros, Todavia, devemos assinalar que, no meio Ce ened dclmenlikaca culto ts Escrituras ¢ também & misical? — Latero, que também era miisico, colocava a Senhora Masica (Frau oe eee eee eagle ete a aeemeeaees a ues eae ee ee nee ae Teen ea kee gee ieee Spee ce et epee, gas oa ee een Erie een Cle Hafiz, Saadi), a pritica de recitais sagrados da musica eT tetas vlad” parma de de eg tren de econo (ori “antidade inefivel, Da mesma forma hé no Judaismo, a0 Tado das exegeses paramente legals, uma exegese “pos int aobae a: came sceae TE Webs, La Musiue protestant en fngue allemand (A mosica ‘rset lend), Champion, 1980, 2 © paradoxo do imagindrio no Ocidente dos Cinco) sobre, um meinen rego sm misia do eutoe mesno ma manen denon prolie Goo ponto de compar com ea “ages? dos monte jueac piano, ge peace Senominr “epinaepolemaclar ine ee sc mused —e tho poral dab de ae Seton Bch (185750 o malo compastor setae Dah ma potter fe Reo imine inact npc ater cen dee, {Osten a mics de us dur cnn “Pass otters magus dents He um inaglnio® prota de uma prof rr masque des npurc ono dea Iga de ergo do ul tages vu orga dhe aca otter enpl ’ Con Reino d lice Romans too xt mente a atude ops 4 en dca onodns de Reformers Net prince momenta lance f° esque, cep means «mp da npn: t Senor Miso oilers Hansen meta dinar das imagens ces eS & Fula" on Mars Js), ds son DoutoreseConfesore age que scope 3705 Grades at emo orate) de so Felis Neri inpuieram 4 misc religiosa como um padres ntument de conwesto’s Dretacto Conta a Cots ern 23 ‘ ‘ ‘ ‘ ‘ ‘ ‘ ‘ ‘ ‘ ‘ ‘ e e ‘ « | 0 imagindrio nfvio “espiritual” protestante do culto, Com a codifica- Gao do famos0 Coneilio de Trento, no século 16, 0 Srunfo da Contra-Reforma pode ser considerado como f rerceiro grande momento da resisténcia 20 iconoclas- sno do Ocidente. A partir de agora, esta resistncia pos tat um alvo preciso. El oporé aos excessos da Reforma ve excessos inversos da arte e da espiritualidade barro- tas, Dois famosos especialistas neste perfodo'* deram 5 as andlises subtitulos que circunscrevem em duas ima~ gens as quilidades deste novo imaginéro. O Barroco € Felsente “um banquet dos ajos” — suo que une dduas imagens antitticas (ou “oximoros"): as dos seres de expiito puro, os anjos, € aquela do banquete,rotl- nente carnal — mas, 20 mesmo tempo, é a “profundi- dade da aparéncia” (ilo nto menos enigmético, pois a profundidade nos é sugerida pelo que hé de mals super~ ficial: apesar de toda pompa a aparéncia nega em mos trar-te..), Estas sio a8 qualidades da imagem propostas pelo Barroco: uma pletora profundamente carnal tivial tesmo, da representagéo, mas que também di acesso & profundidade do sentido por meio destes efeitos super~ Ficais de jogos de epiderme e vituosismos triunfalistas ante desse imagingrio protestante voltado para 0 TELE Dhol, Le Baraue, profondeur de Fapparence (© baroco o Sprtundizde da aparencia, Laveasse, 1973; D.Femander, Le Thangor des arses Europe barca de Rome 2 Prague (O ban anaes Sion 2 Eiopa bareca Je Rome’ Pagal Pin, Par 24 0 paradoxo do tmaginério no Osidente texto Iterério ou musical, a Contra-Reforma também ira exagerar 0 papel espiritual conferido is imagens e 20 cclto 20s santos. As Imagens esculpidas ou pintadas, ou 4s veres as imagens pintadas que imitam esculturas & trompe-'otil, invade 0 vasto espaco desocupado das, raves das novas basilcas de “estilo jesufa” e 0s virtuo- sismos arquiteturais com 08 quais 0 Barroco beneficiaré a Europa — 0 famoso “crescente barroco"!5—, e que se estenderé durante quase tr@s séculos pela Itslia, Europa Central e.. América do Sul. Por tis das obras de arquitetos tis como Borromini e © cavaheiro Bernin € pintores como Veronese, Ticiano e Tintoretto, Rubens € ‘Andréa Pozzo encontram-se os Euwritiasinevlio (1548) de Santo Inicio de Loyola, o fundador da sociedade — ‘ou Companhia — de Jesus. Trata-se de um verdadero tratado de contemplagio imaginativa que, com 0 Ine rartum de Séo Boaventura, tornou-se umz das duas Car~ tas mais importantes apoiadas primeiro pelos francisca- nos e depois pelos jesuftas, as duas ordens religiosas mais poderosas da devogio moderna e do imaginério ristico do Ocidente cristo. O compankeiro de Jesus é submetido a exercicios de imaginacio siseméticos des- de 0 noviciado: vsuaizagio seguida de contemplacio de ‘cenas do Inferno, da Natividade, da fuga do Egito, da TEP, Chepenat, earoque (© areca, Ofce as Lie, Fribus 25 0 imaginério eri iit epee dpi de fess Was aL pret cone gio tt Cece departs) Ne mea ec gi naam Seg spac 5A prt ai pa coe cl $a is to were pn pre ng pind sd hares pla ppt praca plo esd cella pita broca compra tena mullite ds spent pornos No enc, apne ca concerti th proves dh imaginri a Reformn a Conte Reform, ap- fur dite com a crtandade rede o “Gueret tas Relies" a Guera dos 30 Anos prelrnnte srt ass sul demigsek opabo te ‘ato da Wea (18) — obgo o aloes song Hos do mugnro a procure fig longed con tates face aij Erm lore el vindcando a indzpendtnca, hotlidades contra ot ef x canto on mvt magn de al Foor rdsu elie. Caro que ese imagndto Texter fn com a dealvingo doses porn ae sft erent noge co ae dads tna APE ghia, meen. falswe dos laos qu no slo 18, retomara + wimeae ir a et rutrolgie (515, 0 ma de Frets, $15, leu du ii ee lugar do expen, da ae ds mumeraoga), Abin ical 26 CC EES' © paradoxo do imagindrio no Ocidente ‘estética de um ideal cissico, © neoclassiciamo reintro- dluz o desequifbrioiconoclasta entre os poderes da Razio ea parte devida a imaginagio no aécule das Lures, Objedvando desde logo uma Funcionalidade pura,” 6 Ximbolo das anquteturas austerasésubstituido pele ale, sora inspida Contudo, no século das Luzes, os movimentos co- to 0 pré-romantismo (Surm und Drang na Alemanha) ¢ ‘© Romantismo foram portos prvilegiados ¢triunfantes A estética pré-roméntica e 0s movimentos romfnticos —cafdecorrentes demarcam perfetamente a quarta resis, ‘éncia do magindri aos ataques macigos do raconalis. imo € do-posttivismo. Pela segunda vez, esta estética econece ¢ descreve um “sexto sentido” além dos cin. £2. que apéiom classivautence a percepgio.1® Mas este “sexto sentido", que possuiafacukdade de ating o belo, ria, is fcte, a0 lado da rario e da pereepcio costume "uma terceia via de conheclmento, permitindo a en. treda de uma nova ordem de realidades. Ua via que Drivilegia mais intuigia pela imagem do que a demons- “cdo pela sintaxe, Seré com a Razio pura e pita que Emmanuel Kant iré teorizar este procedimento de 1 Dura, "Notes pour Pétude de a vrmanomanie” (Notas pare endo ca romanomani) in Les Iago Ges Las fos fa Bins anon, EPL, Unive ce Perpignan, 1992, IME Basch, Es erigue sur Feige de Kant (Ess6 citi sobre a eteica de Kant Vin 1939, a 0 imagindrio sonecimento plo “jutn de onto” Mat nfo apenas con ocean do acon da Rado Pum Ne eae ep

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