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Direito Processual Penal
Direito Processual Penal
a
CONSTITUCIONA DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
SUMÁRIO
1. Dos Princípios do Direito Processual Penal .................................................................................... 02
2. Da Persecução. Da Investigação Preliminar..................................................................................... 16
3. Ação Penal ........................................................................................................................................ 33
4. Aspectos Jurisdicionais ..................................................................................................................... 43
5. Prova ................................................................................................................................................ 68
6. Questões e Processos Incidentes ..................................................................................................... 98
7. Sujeitos Processuais ....................................................................................................................... 108
8. Medidas Cautelares ........................................................................................................................ 115
9. Atos, Fatos e Prazos Processuais .................................................................................................... 130
10. Procedimentos Comuns e Especiais ............................................................................................. 141
11. Sentença ....................................................................................................................................... 168
12. Nulidades ...................................................................................................................................... 177
13. Recursos e Ações Autônomas de Impugnação ........................................................................... 182
14. Execução das Penas ...................................................................................................................... 205
15. Relações Jurisdicionais com autoridade estrangeira .................................................................. 227
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1Greco Filho, Vicente. Manual de processo penal. 10 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 87-88.
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b. Instrumental – característica inerente ao processo, por ser verdadeiro instrumento
de aplicação do direito material;
c. Autônomo – Apesar da sua instrumentalidade, tem sido reconhecida a autonomia
científica do direito processual, com tendência a um tratamento mais unificado, pelo
menos quanto aos institutos fundamentais, inerentes a todos os ramos. Ainda assim,
é reconhecida a validade da divisão dogmática da matéria, por haver princípios e
regras próprias do direito processual penal.
3. A busca da verdade real legitimou práticas autoritárias e abusivas dos poderes públicos,
a partir da ampliação da liberdade de iniciativa probatória do juiz;
4. O interrogatório do réu é encarado como meio de prova e realizado sem intervenção das
partes, podendo o juiz valorar negativamente o silêncio4.
Ao longo dos mais de setenta anos de vigência, o CPP sofreu diversas alterações, podendo se
destacar a Lei 6.416/77, que cuidou da reformulação da fiança e da liberdade provisória, seguindo-se
as leis5 promulgadas após a Constituição Federal de 1988, afastando-se gradualmente o fundamento6
que o inspirou, por ser claramente incompatível com o ordenamento em vigor.
2BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Processo Penal. 2ª ed. Rio de Janeiro: Elselvier, 2014, p. 47.
3OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de processo penal. 19ª ed. São Paulo: Atlas, 2015, p. 10
4OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de processo penal. 19ª ed. São Paulo: Atlas, 2015, p. 8
5Podem ser destacadas: Lei 9.271, de 17 de abril de 1996, que reformulou os artigos 366 a 370 do CPP, com destaque para a suspensão do
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Com efeito, a Constituição Federal de 1988 é de inspiração acusatória, instituindo um sistema
amplo de garantias individuais, as quais devem orientar a leitura do CPP reformado. O devido
processo penal constitucional busca realizar uma Justiça Penal submetida à exigência de igualdade
entre os litigantes, atentando para a desigualdade material que normalmente ocorre em toda
persecução penal. Trata-se de um processo a ser realizado sob instrução contraditória, sob os rigores
da lei e do direito, de maneira que a verdade processual seja resultado de atividade probatória
licitamente desenvolvida.
processo, prevista no art. 366, em consonância com o Pacto de São José da Costa Rica; Lei 10.792, de 1 de dezembro de 2003, que
contribuiu para concretizar o interrogatório do acusado como meio de defesa; Lei 11.689, de 9 de junho de 2008, que trouxe alterações no
procedimento dos crimes da competência do Tribunal do Júri; Lei 11.690, de 9 de junho de 2008, que tratou de modificações na parte que
trata da prova; Lei 11.719, de 20 de junho de 2008, com alterações relativas à suspensão do processo, emendatio libelli, mutatio libelli e aos
procedimentos; Lei 12.830, de 20 de junho de 2013, que dispõe sobre a investigação criminal conduzida por delegado de polícia; Lei 12.850,
de 2 de agosto de 2013, que define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção de prova, infrações
penais correlatas e o procedimento criminal.
6Recomenda-se a leitura da parte introdutória da exposição de motivos do Código de Processo Penal, a fim de que se possa conhecer e
contextualizar historicamente a sua inspiração antidemocrática.
7A discussão envolvendo os princípios inerentes ao Direito Processual Penal provoca debates na doutrina. Não há sinal de consenso. Há os
que, por exemplo, defendem a existência tão somente do princípio publicístico (DELMANTO JÚNIOR, Roberto. Inatividade no processo penal
brasileiro. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004, p. 36-54). Entretanto, a celeuma teórica foge do objetivo dessa obra.
8MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 11. ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 629-630.
9NUCCI, Guilherme de Souza. Princípios constitucionais penais e processuais penais. 3 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2013, p. 45.
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grande valor que fundamenta a própria existência do Estado, sem o qual este se tornaria um fim em
si mesmo, desprovido de conteúdo.
A dignidade da pessoa humana deve orientar toda a atuação estatal, qualquer que seja o
órgão ou o ato a ser praticado. O direito processual penal, com mais razão, em função da magnitude
do seu objeto, não se afasta dessa regra.
Não se quer dizer que a adoção de tal princípio impeça um provimento estatal que possa
restringir um direito, quando estritamente necessário e adequado à situação. Dessa forma, ao
contrário de ofendê-lo, realiza-o. Portanto, a efetivação de uma prisão, por exemplo, quando justa e
necessária, não constitui violação ao princípio da dignidade da pessoa humana.
Princípio da legalidade
O princípio da legalidade está previsto no art. 5º, caput e inc. II, da CF/88. Constitui um dos
alicerces do Estado de Direito, ao lado do princípio da segurança jurídica.
O direito processual penal, como já foi dito, é composto de normas de vários níveis, desde a
Constituição Federal, que se encontra no ápice do ordenamento, até os atos infralegais, como, por
exemplo, os regimentos internos dos tribunais. A norma será válida, do ponto de vista formal e
material, quando estiver compatível com a norma superior que lhe dá suporte.
10RECURSO EXTRAORDINÁRIO - MATÉRIA TRIBUTÁRIA - SUBSTITUIÇÃO LEGAL DOS FATORES DE INDEXAÇÃO - ALEGADA OFENSA ÀS
GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO ADQUIRIDO E DA ANTERIORIDADE TRIBUTÁRIA - INOCORRÊNCIA - SIMPLES ATUALIZAÇÃO
MONETÁRIA QUE NÃO SE CONFUNDE COM MAJORAÇÃO DO TRIBUTO - RECURSO IMPROVIDO. [...] - O Estado não pode legislar
abusivamente, eis que todas as normas emanadas do Poder Público - tratando-se, ou não, de matéria tributária - devem ajustar-se à
cláusula que consagra, em sua dimensão material, o princípio do "substantive due process of law" (CF, art. 5º, LIV). O postulado da
proporcionalidade qualifica-se como parâmetro de aferição da própria constitucionalidade material dos atos estatais. Hipótese em que a
legislação tributária reveste-se do necessário coeficiente de razoabilidade. Precedentes. (RE 200844 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO,
Segunda Turma, julgado em 25/06/2002, DJ 16-08-2002 PP-00092 EMENT VOL-02078-02 PP-00234 RTJ VOL-00195-02 PP-00635).
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Princípio da igualdade das partes
A garantia da igualdade processual reflete-se na atuação equilibrada das partes. Esse equilíbrio não
necessariamente estará ligado à atuação simétrica, formalmente paritária. A igualdade a ser buscada é a
substancial. Nesse sentido, pode e deve haver tratamento mais favorável à defesa, quando a situação o
exigir. Exemplos não faltam, como a aplicação do in dubio pro reo, a vedação da revisão pro societate,
sendo permitida apenas a revisão criminal em favor do condenado (art. 621 do CPP).
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A defesa técnica é a realizada por profissional devidamente habilitado, seja ele constituído,
designado (dativo) ou legalmente legitimado (defensor público) para tal tarefa. Não se permite a sua
dispensa (art. 261 do CPP).
Já a autodefesa, em que o réu a exerce pessoalmente, como o próprio nome evidencia, pode
ser compreendida não somente pelo direito de presença, isto é, de comparecimento aos atos
processuais, como também pelo direito de audiência, que se manifesta no interrogatório, quando o
réu tem a oportunidade de expor diretamente as suas alegações ao órgão judicante. Pode até ser
dispensada pela parte como estratégia de defesa, mas a sua não realização, em outras situações,
pode ser causa de nulidade.
A plenitude de defesa, prevista para os casos de crimes dolosos contra a vida, da competência
do Tribunal do Júri, amplia o feixe de opções defensivas, na medida em que se permite validamente a
utilização de argumentos metajurídicos na defesa do réu.
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Princípio da iniciativa das partes
A jurisdição deve ser inerte. O juiz, para não colocar em risco a sua imparcialidade, não deve
substituir ou tutelar as partes, notadamente o autor da ação penal. Essa perspectiva encontra maior
amparo no sistema acusatório, como se verá no capítulo próprio.
13HC 84078, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 05/02/2009, DJe-035 DIVULG 25-02-2010 PUBLIC 26-02-2010 EMENT
VOL-02391-05 PP-01048.
14A notícia será mais bem detalhada no item 6.1.
15 O tema será mais bem debatido no capítulo referente aos recursos.
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Isso porque os mecanismos de repressão aos crimes transnacionais não envolvem apenas a
definição de crimes e penas. É preciso que também se compartilhem ferramentas adequadas à
persecução penal, tendo como principal objetivo a correta e justa aplicação da lei penal. É cada vez
mais frequente, por exemplo, a adoção de medidas assecuratórias que possam incidir sobre bens e
direitos mantidos em território estrangeiro16.
A consequência imediata dessa nova realidade se reflete na difusão de normas oriundas de
tratados e convenções internacionais multilaterais que visam à repressão desses e de outros delitos,
sem prejuízo da adoção de tratados bilaterais, inclusive os que prevejam instrumentos de auxílio
direto.
A Constituição Federal mostrou-se sensível à nova realidade global. Tratou especificamente
dos tratados e convenções internacionais nos §§ 2º e 3º do art. 5º, ao estabelecer que “os direitos e
garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios
por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”
e que “os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em
cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”17.
Já não é mais novidade a controvérsia envolvendo a posição hierárquica de tratados e
convenções internacionais no plano interno, notadamente os que versam sobre direitos humanos.
Apesar de a doutrina especializada majoritariamente defender a constitucionalização de tais normas,
o Supremo Tribunal Federal mantivera posicionamento considerado conservador18. De qualquer
forma, a questão agora está positivada no sentido do parágrafo terceiro, atribuindo-se estatura
constitucional aos tratados e convenções que versem sobre direitos humanos, desde que observados
os requisitos ali previstos19.
Não é raro que tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos veiculem regras
de direito penal e, por consequência, de direito processual penal. Daí a importância do tema.
Os demais tratados e convenções internacionais situam-se no plano infraconstitucional,
aplicando-se a eles os critérios da especialidade e da cronologia para a solução de antinomias. O
próprio Código de Processo Penal expressamente traz essa possibilidade (art. 1º, I).
16A preocupação, entretanto, não repousa apenas sobre a efetividade da aplicação da lei punitiva. Na medida em que se adotam
instrumentos nessa direção, são também aperfeiçoadas normas que buscam a efetivação do justo processo.
17 Redação conforme EC n. 45/2004.
18 Aponta-se o RE 80.004/SE como o leading case: “CONVENÇÃO DE GENEBRA, LEI UNIFORME SOBRE LETRAS DE CÂMBIO E NOTAS
PROMISSÓRIAS - AVAL APOSTO A NOTA PROMISSÓRIA NÃO REGISTRADA NO PRAZO LEGAL - IMPOSSIBILIDADE DE SER O AVALISTA
ACIONADO, MESMO PELAS VIAS ORDINÁRIAS. VALIDADE DO DECRETO-LEI Nº 427, DE 22.01.1969. Embora a Convenção de Genebra que
previu uma lei uniforme sobre letras de câmbio e notas promissórias tenha aplicabilidade no direito interno brasileiro, não se sobrepõe ela
às leis do país, disso decorrendo a constitucionalidade e consequente validade do Dec-Lei nº 427/69, que institui o registro obrigatório da
nota promissória em repartição fazendária, sob pena de nulidade do título. Sendo o aval um instituto do direito cambiário, inexistente será
ele se reconhecida a nulidade do título cambial a que foi aposto. Recurso extraordinário conhecido e provido. (RE 80004, Relator(a): Min.
XAVIER DE ALBUQUERQUE, Tribunal Pleno, julgado em 01/06/1977, DJ 29-12-1977 PP-09433 EMENT VOL-01083-04 PP-00915 RTJ VOL-
00083-03 PP-00809)”.
19Como exemplo, cita-se a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova
Iorque, em 30 de março de 2007. A aludida convenção foi ratificada pelo Congresso Nacional, através do Decreto Legislativo n. 186, de 9 de
julho de 2008. A promulgação veio no ano seguinte, conforme Decreto n. 6.949, de 25 de agosto de 2009.
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Vale destacar o art. 8º da Convenção:
1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo
razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido
anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na
determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer
outra natureza.
2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto
não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em
plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:
a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente por um tradutor ou intérprete, caso não
compreenda ou não fale a língua do juízo ou tribunal;
g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada; e
4. O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido a novo
processo pelos mesmos fatos.
5. O processo penal deve ser público, salvo no que for necessário para preservar os
interesses da justiça.
Apesar de as normas estarem em vigor desde 1992, o cotidiano forense indicava o não
cumprimento satisfatório das regras ali contidas, o que revela um costume ainda recorrente de não
se atribuir a relevância jurídica que as normas oriundas de tratados e convenções internacionais
devidamente incorporadas ao ordenamento jurídico merecem20.
20 Como exemplo de não aplicação do Pacto de São José da Costa Rica, pode-se mencionar a condenação de réu citado por edital, prática
essa que somente veio a ser expurgada do cotidiano forense após o advento da Lei 9.271, de 17 de abril de 1996, que alterou a redação do
art. 366 do CPP, a partir de quando o prosseguimento da ação penal ficou condicionado à efetiva citação do denunciado.
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Os artigos 9, 10, 11 e 14 do Pacto de Direitos Civis e Políticos de Nova Iorque apresentam
extenso e importante rol de garantias processuais às pessoas presas e processadas pelo
cometimento de delitos.
Preste atenção no artigo 9.3, que contém disposição a respeito das audiências de custódia
enfrentada recentemente pelo Supremo Tribunal Federal, merecendo atenção nos próximos
concursos públicos:
ARTIGO 9
21 ARTIGO 9
1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais. Ninguém poderá ser preso ou encarcerado arbitrariamente. Ninguém
poderá ser privado de liberdade, salvo pelos motivos previstos em lei e em conformidade com os procedimentos nela estabelecidos.
2. Qualquer pessoa, ao ser presa, deverá ser informada das razões da prisão e notificada, sem demora, das acusações formuladas contra
ela.
3. Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá ser conduzi-da, sem demora, à presença do juiz ou de
outra autoridade habilitada por lei a exercer funções judiciais e terá o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade.
A prisão preventiva de pessoas que aguardam julgamento não deverá constituir a regra geral, mas a soltura poderá estar condicionada a
garantias que assegurem o comparecimento da pessoa em questão à audiência, a todos os atos do processo e, se necessário for, para a
execução da sentença.
4. Qualquer pessoa que seja privada de sua liberdade por prisão ou encarceramento terá o direito de recorrer a um tribunal para que
este decida sobre a legislação de seu encarceramento e ordene sua soltura, caso a prisão tenha sido ilegal.
5. Qualquer pessoa vítima de prisão ou encarceramento ilegais terá direito à repartição.
ARTIGO 10
1. Toda pessoa privada de sua liberdade deverá ser tratada com humanidade e respeito à dignidade inerente à pessoa humana.
2. a) As pessoas processadas deverão ser separadas, salvo em circunstâncias excepcionais, das pessoas condenadas e receber tratamento
distinto, condizente com sua condição de pessoa não-condenada.
b) As pessoas processadas, jovens, deverão ser separadas das adultas e julgadas o mais rápido possível.
3. O regime penitenciário consistirá num tratamento cujo objetivo principal seja a reforma e a reabilitação normal dos prisioneiros. Os
delinqüentes juvenis deverão ser separados dos adultos e receber tratamento condizente com sua idade e condição jurídica.
ARTIGO 11
Ninguém poderá ser preso apenas por não poder cumprir com uma obrigação contratual.
ARTIGO 14
1. Todas as pessoas são iguais perante os tribunais e as cortes de justiça. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida publicamente e com
devidas garantias por um tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido por lei, na apuração de qualquer acusação de
caráter penal formulada contra ela ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil. A imprensa e o público poderão ser
excluídos de parte da totalidade de um julgamento, quer por motivo de moral pública, de ordem pública ou de segurança nacional em uma
sociedade democrática, quer quando o interesse da vida privada das Partes o exija, que na medida em que isso seja estritamente necessário
na opinião da justiça, em circunstâncias específicas, nas quais a publicidade venha a prejudicar os interesses da justiça; entretanto, qualquer
sentença proferida em matéria penal ou civil deverá torna-se pública, a menos que o interesse de menores exija procedimento oposto, ou
processo diga respeito à controvérsia matrimoniais ou à tutela de menores.
2. Toda pessoa acusada de um delito terá direito a que se presuma sua inocência enquanto não for legalmente comprovada sua culpa.
3. Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em plena igualmente, a, pelo menos, as seguintes garantias:
a) De ser informado, sem demora, numa língua que compreenda e de forma minuciosa, da natureza e dos motivos da acusão contra ela
formulada;
b) De dispor do tempo e dos meios necessários à preparação de sua defesa e a comunicar-se com defensor de sua escolha;
c) De ser julgado sem dilações indevidas;
d) De estar presente no julgamento e de defender-se pessoalmente ou por intermédio de defensor de sua escolha; de ser informado, caso
não tenha defensor, do direito que lhe assiste de tê-lo e, sempre que o interesse da justiça assim exija, de ter um defensor designado ex-
offício gratuitamente, se não tiver meios para remunerá-lo;
e) De interrogar ou fazer interrogar as testemunhas de acusação e de obter o comparecimento e o interrogatório das testemunhas de
defesa nas mesmas condições de que dispõem as de acusação;
f) De ser assistida gratuitamente por um intérprete, caso não compreenda ou não fale a língua empregada durante o julgamento;
g) De não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada.
4. O processo aplicável a jovens que não sejam maiores nos termos da legislação penal em conta a idade dos menos e a importância de
promover sua reintegração social.
5. Toda pessoa declarada culpada por um delito terá direito de recorrer da sentença condenatória e da pena a uma instância superior,
em conformidade com a lei.
6. Se uma sentença condenatória passada em julgado for posteriormente anulada ou se um indulto for concedido, pela ocorrência ou
descoberta de fatos novos que provem cabalmente a existência de erro judicial, a pessoa que sofreu a pena decorrente desse condenação
deverá ser indenizada, de acordo com a lei, a menos que fique provado que se lhe pode imputar, total ou parcialmente, a não revelação dos
fatos desconhecidos em tempo útil.
7. Ninguém poderá ser processado ou punido por um delito pelo qual já foi absorvido ou condenado por sentença passada em julgado,
em conformidade com a lei e os procedimentos penais de cada país.
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exercer funções judiciais e terá o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em
liberdade. A prisão preventiva de pessoas que aguardam julgamento não deverá constituir a
regra geral, mas a soltura poderá estar condicionada a garantias que assegurem o
comparecimento da pessoa em questão à audiência, a todos os atos do processo e, se
necessário for, para a execução da sentença.
A ADPF 347 MC, julgada em setembro de 2015 pelo Plenário do STF, determinou ser
obrigatória a observância do referido artigo 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos, assim como do
artigo 7.5 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos, considerando obrigatório que juízes e
tribunais realizassem, em até noventa dias, audiências de custódia, viabilizando o comparecimento
do preso perante a autoridade judiciária no prazo máximo de 24 horas, contado do momento da
prisão. Dessa forma, a disposição não se submete ao livre convencimento do magistrado, sob pena
de cerceamento inconvencional, nos termos do voto relator.
22Há a possibilidade excepcional de delegação aos Estados, na forma do parágrafo único do art. 22: “Lei complementar poderá autorizar os
Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo”.
23Inclusive os tratados e convenções internacionais devidamente internalizados.
24É vedado o costume contra legem, ou seja, que vai de encontro a determinada norma em vigor, por não possuir eficácia revogatória.
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Em princípio, a interpretação da lei processual penal segue as mesmas regras de hermenêutica
que disciplinam a interpretação das leis em geral, previstas na LINDB. O legislador preocupou-se
apenas em demarcar a diferença entre o direito penal e o processo penal, prevendo no artigo 3º do
CPP que “a lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o
suplemento dos princípios gerais de direito”. Ao contrário do direito penal, que a restringe à
aplicação quando em favor do autor da infração penal (in bonam partem), não há tal limitação no
direito processual penal, podendo ser regularmente utilizada, desde que, obviamente, a omissão do
legislador não tenha sido voluntária. Não cabe a analogia, por exemplo, quando a lei fixa
taxativamente um determinado rol.
Na interpretação extensiva, conclui-se que a norma tem um conteúdo mais amplo do que
resultaria da simples aplicação do seu texto. A interpretação extensiva é o resultado de precisar
declarativamente a verdadeira vontade da lei, extraída de palavra não felizmente escolhida pelo
legislador25. A analogia é meio de integrar a norma, estendendo sua aplicação para casos
semelhantes não previstos pelo legislador. Difere-se de interpretação analógica, em que o caso em
que a norma será aplicada está previsto no seu âmbito de incidência, embora não de forma explícita.
Entretanto, a doutrina alerta que nem a interpretação extensiva nem a analogia podem ser
utilizadas para restringir a liberdade pessoal do acusado ou qualquer outro meio de defesa. Tais
disposições devem sempre receber interpretação restritiva.
As modalidades de interpretação admitidas pelo CPP situam-se no processo de autointegração
do ordenamento jurídico, por se referirem a soluções previstas no próprio ordenamento.
Contrapõem-se às formas de heterointegração, quando se utilizam elementos externos como outros
ordenamentos e fontes indiretas de Direito, como os costumes.
25 BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Processo Penal. 2ª ed. Rio de Janeiro: Elselvier, 2014, p. 62.
26As questões envolvendo a aplicação da lei penal no espaço são analisadas na parte geral da respectiva matéria – Direito Penal.
27 A despeito do fundamento antidemocrático que motivou a criação do CPP de 1941, houve um inegável avanço, no sentido de se unificar
o direito processual penal, saindo de cena os códigos de processo penal estaduais, de abrangência regional, conforme exposição de motivos
(itens II e III).
28 O tribunal especial e os processos por crimes de imprensa, previstos respectivamente nos incisos IV e V do art. 1º, não são mais
aplicados nos tempos atuais, tendo em vista a superveniência da Constituição Federal de 1988 e a decisão proferida pelo STF na ADPF
130/DF, que reconheceu a não recepção da Lei 5.250/67 (Lei de Imprensa).
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3. As causas de competência da Justiça Militar, nas quais se aplica o Código de
Processo Penal Militar (Decreto-Lei 1.002/69).
Como já foi dito, é perfeitamente possível que a legislação especial estabeleça regras
diferenciadas, conforme a necessidade, configurando-se mera aplicação do critério da especialidade,
a exemplo do rito previsto na nova lei de drogas, dos casos de ação penal originária da competência
dos tribunais, entre outros.
29Para resolver o problema dos processos que estão em curso quando do início de vigência de lei processual nova, cogita-se de três
sistemas: da unidade processual, das fases processuais e do isolamento dos atos processuais. Pelo sistema da unidade processual, uma
única lei deve reger todo o processo, de modo que a lei nova processual tornaria ineficaz todos os atos processuais praticados, pela sua
retroação. De acordo com o sistema das fases processuais, as fases postulatória, ordinatória, instrutória, decisória e recursal devem ser
consideradas autonomamente.
30Art. 2º. À prisão preventiva e à fiança aplicar-se-ão os dispositivos que forem mais favoráveis.
31 Alguns casos serão tratados ao longo da obra, tais como a modificação do art. 366 do CPP, em razão da vigência da Lei 9.271/96.
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Por fim, a vigência de leis processuais penais não discrepa das regras gerais previstas no
Decreto-Lei 4.657/42, atualmente denominada como Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro.
32"Para os pronunciamentos feitos no interior das Casas Legislativas não cabe indagar sobre o conteúdo das ofensas ou a conexão com o
mandato, dado que acobertadas com o manto da inviolabilidade. Em tal seara, caberá à própria Casa a que pertencer o parlamentar coibir
eventuais excessos no desempenho dessa prerrogativa. No caso, o discurso se deu no plenário da Assembleia Legislativa, estando, portanto,
abarcado pela inviolabilidade. Por outro lado, as entrevistas concedidas à imprensa pelo acusado restringiram-se a resumir e comentar a
citada manifestação da tribuna, consistindo, por isso, em mera extensão da imunidade material." (Inq 1.958, rel. p/ o ac. min. Ayres Britto,
julgamento em 29-10-2003, Plenário, DJ de 18-2-2005.) No mesmo sentido: Inq 2.295, rel. p/ o ac. min. Menezes Direito, julgamento em 23-
10-2008, Plenário, DJE de 5-6-2009.
33“A palavra 'inviolabilidade' significa intocabilidade, intangibilidade do parlamentar quanto ao cometimento de crime ou contravenção. Tal
inviolabilidade é de natureza material e decorre da função parlamentar, porque em jogo a representatividade do povo. O art. 53 da CF, com
a redação da Emenda 35, não reeditou a ressalva quanto aos crimes contra a honra, prevista no art. 32 da EC 1, de 1969. Assim, é de se
distinguir as situações em que as supostas ofensas são proferidas dentro e fora do Parlamento. Somente nessas últimas ofensas irrogadas
fora do Parlamento é de se perquirir da chamada 'conexão com o exercício do mandato ou com a condição parlamentar” (Inq 390 e 1.710).
34Art. 55º, § 1º, CF - É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas
asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepção de vantagens indevidas.
35Precedente do Plenario do STF. AP 396 QO/RO, AP 396 ED-ED/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 26/6/2013
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também as imunidades parlamentares não são extensíveis aos suplentes, que não estão no exercício
do cargo.
Finalmente, nos termos do §8º do artigo 53, se houver abuso da imunidade, com conduta
incompatível com o estado de sítio e houver autorização por 2/3, é possível a suspensão das
imunidades. Quanto às imunidades diplomáticas, por exceção, a lei penal não se aplicará ao crime
praticado no Brasil por pessoas que exerçam funções internacionais, isso devido às regras de Direito
Internacional Público.
A imunidade diplomática está prevista na Convenção de Viena, assinada em 18.4.1961,
aprovada no Brasil pelo Decreto Legislativo nº 103, de 1964, e ratificada em 23.12.1965. Funda-se no
respeito ao Estado que o infrator representa e na necessidade de proteger essa pessoa para que bem
exerça a sua missão.
Atinge qualquer delito praticado pelos agentes diplomáticos, aos componentes de suas
famílias, e aos funcionários da organização internacional, quando em serviço. Encampa, também, os
chefes de governo estrangeiro que visitem o país, bem como a sua comitiva. Não alcança os
empregados particulares dos agentes diplomáticos e os cônsules, embora possa haver tratado que
estabeleça a imunidade.Esses últimos possuem apenas imunidade de jurisdição administrativa e
judiciária, quando da realização de atos pertinentes ao exercício de suas funções consulares. Se o
delito ocorrer dentro das sedes diplomáticas, o autor será devidamente processado pela lei brasileira
se não possuir imunidade. Estes locais não são mais considerados extensão do país estrangeiro,
como se verá a seguir, embora possuem inviolabilidade em face do respeito devidos ao Estado.
DA PERSECUÇÃO. DA INVESTIGAÇÃO
PRELIMINAR
PERSECUÇÃO CRIMINAL. INQUÉRITO POLICIAL. NATUREZA. PRESIDÊNCIA.
FINALIDADE. DESTINATÁRIO. CARACTERÍSTICAS. INCOMUNICABILIDADE E
SIGILO. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. PRODUÇÃO DE PROVAS.
ATRIBUIÇÕES DAS POLÍCIAS. INSTAURAÇÃO. IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL.
INDICIAMENTO. PRAZOS. CONCLUSÃO. ARQUIVAMENTO. TRANCAMENTO.
PARTICIPAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO E INVESTIGAÇÕES CRIMINAIS
PRESIDIDAS PELO PROMOTOR DE JUSTIÇA. PROCEDIMENTO POLICIAL NOS
JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS. COMISSÕES PARLAMENTARES DE
INQUÉRITO.
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O inquérito policial é o instrumento mais utilizado pela polícia judiciária, mas a atuação desta,
ordinariamente pós-fato36, não exclui a de outros órgãos legalmente legitimados (art. 4º, parágrafo
único, do CPP)37. São exemplos:
1. Comissões Parlamentares de Inquérito (art. 58, § 3º, da CF).
2. Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF (arts. 14 e 15 da Lei
9.613/98).
3. Banco Central do Brasil (BACEN) e Comissão de Valores Mobiliários – CVM (art. 7º,
parágrafo único, da Lei Complementar 105/01).
4. Receita Federal (art. 83 da Lei 9.430/96)38.
5. Ministério Público (art. 26 da Lei 8.625/93 e art. 7º da LC 75/93)39.
36 A atuação preventiva basicamente é exercida pelas polícias militares, a quem a Constituição outorgou o exercício da polícia ostensiva e
da preservação da ordem pública (art. 144, § 5º).
37 Atenção: o inquérito policial é instrumento privativo da polícia judiciária. Os demais órgãos, no limite das suas atribuições, também
promovem investigações, mas as peças delas decorrentes recebem outra denominação.
38A representação fiscal para fins penais está regulamentada pelo Decreto 2.730/98 e pela Portaria RFB 2.439/2010.
39A controvérsia envolvendo a legitimidade do Ministério Público para promover investigações criminais será comentada no item 2.1.1.4.
40Greco Filho, Vicente. Manual de processo penal. 10 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 99.
41 [Constituição Federal] Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação
da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
[...]
IV - polícias civis;
[...]
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se
a:(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades
autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija
repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de
outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.
[...]
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.
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inobservância dos procedimentos previstos em regulamento da corporação que prejudique a eficácia
da investigação”.
De registrar a rejeição, ainda na Câmara dos Deputados, da PEC 37, restando induvidoso que o
monopólio da autoridade policial é exclusivamente do inquérito policial e não da investigação
criminal. Esta última não é, conforme apontado, exclusividade da autoridade policial.
A finalidade do inquérito policial é a de apurar a ocorrência de determinada infração penal,
bem como a sua autoria. Dessa forma, busca-se evitar o ajuizamento de demandas penais
temerárias, isto é, sem base probatória razoável (justa causa).
Os destinatários do inquérito policial variam conforme a natureza da futura demanda penal.
Quando se tratar de ação penal pública, destina-se privativamente ao Ministério Público42, nos
termos do inciso I do art. 29 da CF. Em caso de ação penal privada, coloca-se à disposição do
ofendido, nos termos do artigo 19 do CPP.
O artigo 10, § 1º, do CPP determina o envio do relatório ao juízo competente. A
constitucionalidade do dispositivo é duvidosa, porquanto sua aplicação direta e literal viola o sistema
acusatório. Não obstante, a questão não foi enfrentada diretamente pela Suprema Corte43,
permanecendo aplicável o referido dispositivo.
Como consequência lógica da ausência de exclusividade do inquérito como meio
investigatório, a denúncia ou queixa pode ser oferecida sem obrigatoriamente ser precedida de
inquérito policial, nos termos do art. 12 do CPP, que exige a sua apresentação apenas quando de fato
for utilizado44.
No que diz respeito às irregularidades ocorrentes no inquérito policial, predomina na doutrina
e na jurisprudência o entendimento segundo o qual tais irregularidades não têm o condão de
contaminar o processo criminal45. Excepcionalmente, todavia, a jurisprudência dos Tribunais
Superiores acolhe a teoria dos frutos da árvore envenenada no caso de a irregularidade se revelar
uma ilicitude grosseira e vincular-se fortemente às provas produzidas no inquérito policial. Nessa
42Pode acidentalmente servir ao ofendido, na hipótese em que for cabível a ação penal privada subsidiária da pública.
43A questão foi objeto de reflexão indireta pelo STF no julgamento da ADI 2886/RJ: “Ação direta de inconstitucionalidade. Incisos IV e V do
art. 35 da Lei Complementar nº 106/2003, do Estado do Rio de Janeiro. Necessidade de adequação da norma impugnada aos limites da
competência legislativa concorrente prevista no art. 24 da Constituição Federal. Ação julgada parcialmente procedente apenas para declarar
a inconstitucionalidade do inciso IV do art. 35 da Lei Complementar Estadual. A legislação que disciplina o inquérito policial não se inclui no
âmbito estrito do processo penal, cuja competência é privativa da União (art. 22, I, CF), pois o inquérito é procedimento subsumido nos
limites da competência legislativa concorrente, a teor do art. 24, XI, da Constituição Federal de 1988, tal como já decidido reiteradamente
pelo Supremo Tribunal Federal. O procedimento do inquérito policial, conforme previsto pelo Código de Processo Penal, torna
desnecessária a intermediação judicial quando ausente a necessidade de adoção de medidas constritivas de direitos dos investigados, razão
por que projetos de reforma do CPP propõem a remessa direta dos autos ao Ministério Público. No entanto, apesar de o disposto no inc. IV
do art. 35 da LC 106/2003 se coadunar com a exigência de maior coerência no ordenamento jurídico, a sua inconstitucionalidade formal não
está afastada, pois insuscetível de superação com base em avaliações pertinentes à preferência do julgador sobre a correção da opção feita
pelo legislador dentro do espaço que lhe é dado para livre conformação. Assim, o art. 35, IV, da Lei Complementar estadual nº 106/2003, é
inconstitucional ante a existência de vício formal, pois extrapolada a competência suplementar delineada no art. 24, §1º, da Constituição
Federal de 1988. Já em relação ao inciso V, do art. 35, da Lei complementar estadual nº 106/2003, inexiste infração à competência para que
o estado-membro legisle, de forma suplementar à União, pois o texto apenas reproduz norma sobre o trâmite do inquérito policial já
extraída da interpretação do art. 16 do Código de Processo Penal. Ademais, não há desrespeito ao art. 128, §5º, da Constituição Federal de
1988, porque, além de o dispositivo impugnado ter sido incluído em lei complementar estadual, o seu conteúdo não destoou do art. 129,
VIII, da Constituição Federal de 1988, e do art. 26, IV, da Lei nº 8.625/93, que já haviam previsto que o Ministério Público pode requisitar
diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial. Ação direta julgada parcialmente procedente para declarar a
inconstitucionalidade somente do inciso IV do art. 35 da Lei Complementar nº 106/2003, do Estado do Rio de Janeiro.” (ADI 2886,
Relator(a): Min. EROS GRAU, Relator(a) p/ Acórdão: Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 03/04/2014, DJe-150 DIVULG 04-
08-2014 PUBLIC 05-08-2014 EMENT VOL-02738-01 PP-00001)
44Art. 39. [...]
§ 5º O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover
a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias.
45Tal entendimento decorre principalmente do fato de o inquérito policial ser dispensável à instrução da ação penal. Por essa razão, pode-
se dizer que o mesmo se aplica aos procedimentos investigatórios criminais conduzidos pelo Ministério Público, conforme previsão da
Resolução nº 13 do CNMP: “Art. 1º. (...) Parágrafo único. O procedimento investigatório criminal não é condição de procedibilidade ou
pressuposto processual para o ajuizamento de ação penal e
não exclui a possibilidade de formalização de investigação por outros órgãos legitimados da Administração Pública.”
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hipótese, como, por exemplo, em confissão obtida mediante tortura, pode o inquérito contaminar o
processo.
Na fase investigativa a atuação do juiz é excepcional, ocorrendo apenas devido à cláusula de
reserva de jurisdição, por força do sistema acusatório determinado pela Constituição Federal.
2.1.1.2 CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL
De acordo com o que foi exposto, podem ser destacadas as seguintes características do
inquérito policial:
1. Oficialidade – O delegado de polícia, órgão oficial, preside o inquérito policial (art. 4º
do CPP; art. 2º da Lei 12.830/13).
2. Autoritariedade – À exceção das medidas constitucionalmente submetidas à
cláusula de reserva jurisdicional, o delegado de polícia poderá realizar as diligências
necessárias à apuração do fato criminoso (art. 6º do CPP), inclusive mediante
requisição de perícia, informações, documentos e dados pertinentes (art. 2º, § 2º, da
Lei 12.830/13).
3. Obrigatoriedade/oficiosidade/indisponibilidade – Ao tomar conhecimento da
prática de infração penal, o delegado de polícia deverá instaurar inquérito policial,
independentemente de provocação das partes (art. 5º, I, do CPP), à exceção dos
casos de ação penal pública condicionada (§ 4º) ou de ação penal privada (§ 5º), não
podendo ele mesmo determinar o arquivamento de inquérito policial (art. 17 do CPP),
atribuição essa do Ministério Público, fiscalizada pelo juiz (art. 28 do CPP).
4. Formalidade – O inquérito deve ser autuado e devidamente documentado (art. 9º do
CPP).
5. Sigilosidade – O sigilo poderá ser decretado quando imprescindível à investigação,
ou ainda quando o interesse público o exigir (art. 20 do CPP).
6. Prescindibilidade – Apesar de ser o instrumento mais utilizado, não é imprescindível
para o oferecimento da denúncia ou queixa (arts. 12 e 39, § 5º, ambos do CPP).
7. Inquisitoriedade – O inquérito policial, como mero procedimento administrativo
informativo, não é abrangido pelas garantias constitucionais do contraditório e da
ampla defesa.
46 Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.
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nos casos em que haja diligência pendente afasta-se a aplicação do enunciado, até que seja
devidamente documentada nos autos47.
O artigo 21 do CPP48, com a redação anterior à Constituição Federal de 1988, estabelece ainda
ser possível a incomunicabilidade do indiciado pelo prazo máximo de três dias. No entanto, o artigo
136, § 3º, inciso IV49 da Carta Constitucional veda a incomunicabilidade durante o estado de defesa.
A doutrina nesse ponto se divide, porém a corrente majoritária entende que o artigo 21 foi superado
pela disposição constitucional, não se admitindo a incomunicabilidade sequer durante o estado de
defesa, tampouco fora de sua vigência.
47EMENTA: PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ACESSO DOS ACUSADOS A PROCEDIMENTO
INVESTIGATIVO SIGILOSO. POSSIBILIDADE SOB PENA DE OFENSA AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. PRERROGATIVA
QUE SE RESTRINGE AOS ELEMENTOS JÁ DOCUMENTADOS REFERENTES AOS INVESTIGADOS. I - O direito assegurado ao indiciado (bem como
ao seu defensor) de acesso aos elementos constantes em procedimento investigatório que lhe digam respeito e que já se encontrem
documentados nos autos, não abrange, por óbvio, as informações concernentes à decretação e à realização das diligências investigatórias,
mormente as que digam respeito a terceiros eventualmente envolvidos. II - Enunciado da Súmula Vinculante 14 desta Corte. III - Embargos
de declaração rejeitados, com concessão da ordem de ofício. (HC 94387 ED, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma,
julgado em 06/04/2010, DJe-091 DIVULG 20-05-2010 PUBLIC 21-05-2010 EMENT VOL-02402-03 PP-00679).
48 Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho nos autos e somente será permitida quando o interesse da
sociedade ou a conveniência da investigação o exigir. Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de três dias, será decretada
por despacho fundamentado do Juiz, a requerimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério Público, respeitado, em qualquer
hipótese, o disposto no artigo 89, inciso III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil.
49Art. 136. (...) § 3º - Na vigência do estado de defesa: IV - é vedada a incomunicabilidade do preso.
50 Com a edição da recentíssima Lei 13.245/16, a possibilidade de acompanhamento por advogado foi ampliada: [...] XIV - examinar, em
qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer
natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou
digital; [...] XXI - assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo
interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados,
direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração: a) apresentar razões e quesitos b) VETADO.
51 Houve a tentativa de incluir a requisição como instrumento conferido ao advogado (alínea b), mas tal dispositivo foi vetado.
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se a produção de provas no curso do inquérito policial. São os casos de provas cautelares, irrepetíveis
e antecipadas.
A prova cautelar submete-se ao contraditório diferido ou postergado, que faculta à parte o seu
exercício em momento posterior. Para que seja autorizada a sua produção durante as investigações,
a autoridade policial deve requerê-la com base na necessidade e urgência, devendo o requerimento
ser autorizado judicialmente. Tem-se como exemplo o pedido de interceptação telefônica.
A prova irrepetível, por sua vez, prescinde de autorização judicial, e é justificada quando a
fonte de prova tenha prováveis chances de desaparecimento. Vincula-se à ideia de perícia,
submetendo-se também ao contraditório diferido. A autoridade policial pode requerer diretamente a
produção de prova pericial, sem representar antes ao juízo.
Por fim, na prova antecipada é antecipado o momento processual de colheita e produção da
prova. Deve ser autorizado com base na urgência e relevância da medida, em fase investigatória ou
judicial52. É produzida em um momento procedimental distinto, obedecendo ao contraditório
real.Portanto, é imprescindível a presença da defesa. São exemplos de prova antecipada as hipóteses
previstas nos artigos 36653 e 255 do CPP.
Nos termos do artigo 155 do CPP, não se admite a condenação baseada exclusivamente em
elementos colhidos durante a fase inquisitória, ressalvadas as provas cautelares, irrepetíveis e
antecipadas.
2.1.1.3 PROCEDIMENTO
2.1.1.3.1 ATRIBUIÇÕES DAS POLÍCIAS CIVIL, MILITAR, FEDERAL
A atribuição para a condução das investigações relaciona-se com a natureza do crime
investigado.
Dessa forma, temos que crime militar da competência da Justiça Militar da União é investigado
pelas Forças Armadas, presidindo o inquérito policial militar membro denominado “encarregado”.
Por sua vez, para a investigação de crime militar da competência da Justiça Militar Estadual é
indicado membro do Corpo de Bombeiros ou da Polícia Militar.
A atribuição para investigação de crimes eleitorais é da Polícia Federal, uma vez que a Justiça
Eleitoral integra a Justiça da União. Não obstante, o STF entende admissível a investigação pela
Polícia Civil quando não haja órgãos da Polícia Federal instalados no local do crime (HC/SP 43954).
Nos termos do artigo 144, § 1º, I, da CF55, cumpre à Polícia Federal a investigação dos crimes
cuja competência para processamento e julgamento seja da Justiça Federal.
Finalmente, tratando-se de crime comum de competência da Justiça Estadual, a atribuição
para as investigações será, em regra, da Polícia Civil, com exceção constitucional: a investigação será
52No informativo nº 549 do STJ, precedente isolado da 5ª Turma do Tribunal já considerou a situação dos agentes de segurança pública,
submetidos a várias situações iguais, pode vir a justificar a produção antecipada de provas.
53Súmula 455, STJ: “A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no artigo 366 do CPP deve ser concretamente
fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do tempo”.
54 Habeas corpus. Oferecimento. Denúncia. Ausência. Pronunciamento. Autoridade Judiciária. TRE. Crime eleitoral. Possibilidade. Investigá-
lo. Polícia estadual. Ausência. Órgão da Polícia Federal. Art. 290 do Código Eleitoral. Na investigação de crime eleitoral, não há·óbice para a
atuação da polícia estadual quando no local do crime não existir órgão da Polícia Federal. Ausência de constrangimento ilegal do paciente,
em razão de oferecimento da denúncia, quando presentes a tipicidade da conduta e indícios de autoria. O processo de habeas corpus não
admite o exame aprofundado das provas. Nesse entendimento, o Tribunal indeferiu o habeas corpus. Unânime. Habeas Corpus n 439/SP,
rel. Min. Carlos Velloso, em 15.5.2003.
55 Art. 144. (...) § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em
carreira, destina-se a: I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União
ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou
internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
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conduzida pela Polícia Federal, ainda que a competência seja da Justiça Estadual, se o caso tiver
repercussão interestadual ou internacional e exigir repressão uniforme, conforme dispõe lei
específica (artigo 144 CF).
Por seu turno, a Lei nº 10.446/02 lista rol exemplificativo de crimes em que essa disposição
tem lugar. Conforme a lei, preenchidos os dois pressupostos constitucionais, replicados em seu artigo
1º, é possível a investigação pela PF em quaisquer outros crimes desde que autorizada pelo
Ministério da Justiça:
Art. 1º Na forma do inciso I do § 1º do art. 144 da Constituição, quando houver repercussão
interestadual ou internacional que exija repressão uniforme, poderá o Departamento de Polícia
Federal do Ministério da Justiça, sem prejuízo da responsabilidade dos órgãos de segurança
pública arrolados no art. 144 da Constituição Federal, em especial das Polícias Militares e Civis
dos Estados, proceder à investigação, dentre outras, das seguintes infrações penais:
I – sequestro, cárcere privado e extorsão mediante sequestro (arts. 148 e 159 do Código Penal),
se o agente foi impelido por motivação política ou quando praticado em razão da função pública
exercida pela vítima;
II – formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4º da Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de
1990); e
III – relativas à violação a direitos humanos, que a República Federativa do Brasil se
comprometeu a reprimir em decorrência de tratados internacionais de que seja parte; e
IV – furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive bens e valores, transportadas em operação
interestadual ou internacional, quando houver indícios da atuação de quadrilha ou bando em mais
de um Estado da Federação.
V – falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou
medicinais e venda, inclusive pela internet, depósito ou distribuição do produto falsificado,
corrompido, adulterado ou alterado (art. 273 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 -
Código Penal). (Incluído pela Lei nº 12.894, de 2013)
VI – furto, roubo ou dano contra instituições financeiras, incluindo agências bancárias ou caixas
eletrônicos, quando houver indícios da atuação de associação criminosa em mais de um Estado
da Federação. (Incluído pela Lei nº 13.124, de 2015)
Parágrafo único. Atendidos os pressupostos do caput, o Departamento de Polícia Federal
procederá à apuração de outros casos, desde que tal providência seja autorizada ou determinada
pelo Ministro de Estado da Justiça.
2.1.1.3.2 INSTAURAÇÃO
Nos termos do art. 5º do CPP, quando se tratar de crime de ação pública incondicionada, o
inquérito policial será iniciado de ofício (inc. I), mediante requisição da autoridade judiciária56 ou do
Ministério Público (inc. II – primeira parte), ou ainda a requerimento do ofendido ou de quem tiver
qualidade para representá-lo (inc. II – parte final). Nos casos de ação penal pública condicionada,
instaura-se mediante requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem
tiver qualidade para representá-lo (§ 4º). Em caso de ação penal privada, como já foi dito, dependerá
de provocação do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo (§ 5º).
As peças normalmente encontradas são:
1. Portaria – normalmente utilizada quando a instauração se dá de ofício pelo delegado
de polícia.
2. Ofício requisitório – expediente direcionado ao delegado de polícia, estando este
compelido a proceder à abertura do inquérito. O CPP elenca o juiz, o membro do
56 Muito embora haja previsão expressa no CPP, recomenda-se o encaminhamento de eventual notícia do crime ao Ministério Público, em
razão da superveniência da Constituição Federal.
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Ministério Público e o Ministro da Justiça como autoridades detentoras do referido
poder de requisição.
3. Auto de prisão em flagrante – lavrado pela autoridade policial (arts. 301 a 310 do CPP).
4. Requerimento ou representação do ofendido ou representante – imprescindível
para os casos de ação penal privada (requerimento) ou de ação penal pública
condicionada (representação).
A notícia do crime – notitia criminis – representa a forma com que a autoridade policial
toma conhecimento da infração penal. A doutrina apresenta a seguinte classificação57:
1. Direta ou imediata – a própria autoridade policial espontaneamente toma
conhecimento da infração penal, sem que tenha havido qualquer tipo de provocação.
2. Indireta ou mediata – a autoridade policial é formalmente comunicada ou provocada
(requerimento, representação ou requisição).
3. De condução coercitiva - quando decorrente de prisão em flagrante.
Nos termos do art. 5º, § 2º, do CPP, do despacho que indeferir o requerimento de abertura de
inquérito caberá recurso para o chefe de polícia.
57Na primeira edição deste livro, o autor informou não concordar com a referida inclusão da notitia criminis de condução coercitiva na
classificação, porque fugiria do critério adotado (ciência ou não da autoridade policial). Entretanto, há a possibilidade de a apresentação do
autor do fato ser por servidor público ou até mesmo por particular, o que nos permite rever o posicionamento, pelo menos na parte em
que a prisão em flagrante não é efetivada pelo próprio delegado de polícia.
58 Lei 12.830, de 20 de junho de 2013, que dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo delegado de polícia:
[...]
Art. 2º As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica,
essenciais e exclusivas de Estado.
§ 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou
outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações
penais.
§ 2º Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição de perícia, informações, documentos e dados que
interessem à apuração dos fatos.
§ 3º (VETADO).
§ 4º O inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei em curso somente poderá ser avocado ou redistribuído por superior
hierárquico, mediante despacho fundamentado, por motivo de interesse público ou nas hipóteses de inobservância dos procedimentos
previstos em regulamento da corporação que prejudique a eficácia da investigação.
§ 5º A remoção do delegado de polícia dar-se-á somente por ato fundamentado.
§ 6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que
deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias.
[...]
59O art. 15 do CPP perdeu a sua utilidade após a redução da maioridade civil para 18 anos (art. 5º do CC).
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8. averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e
social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do
crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a
apreciação do seu temperamento e caráter.
9. colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem
alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos
filhos, indicado pela pessoa presa.
A Lei 12.830/13, que dispõe sobre a investigação criminal conduzida por delegado de polícia,
explicitou o poder de requisição de perícia, informações, documentos e dados que interessem à
apuração dos fatos (art. 2º, § 2º).
Também é possível a reconstituição simulada dos fatos, desde que não contrarie a ordem
pública e a moralidade (art. 7º do CPP). Apesar de o CPP não mencionar, deve-se observar a garantia
constitucional da não-autoincriminação.
O Ministério Público, como titular da ação penal pública, poderá requisitar diligências que
considere imprescindíveis ao oferecimento da denúncia, competindo à autoridade policial a sua
realização (art. 13, II, do CPP). Já o ofendido e o indiciado, poderão requerer à autoridade policial a
realização de diligências (art. 14).
2.1.1.3.5 INDICIAMENTO
60 Atentar para o fato de que a Súmula nº 568 do STF, em que pese não tenha sido formalmente cancelada pelo tribunal, é anterior à
Constituição Federal de 1988:
61BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Processo Penal. 2ª ed. Rio de Janeiro: Elselvier, 2014, p. 80.
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Trata-se de ato privativo e fundamentado da autoridade policial62, que aponta um
determinado investigado como provável autor/partícipe do delito. Pode ser promovido no início ou
no final da investigação, tendo como momento preclusivo o fim das investigações no inquérito. O
desindiciamento, que constitui o cancelamento da percepção de provável autor do delito, não é
exclusividade da autoridade policial.
Membros da magistratura e do Ministério Público não podem ser indiciados pela autoridade
policial, mas apenas pelos presidentes de suas respectivas investigações63. Por sua vez, quando se
tratar de agente público com prerrogativa de função cuja investigação esteja sendo conduzida por
Delegado de Polícia, o indiciamento só pode ocorrer com prévia autorização do órgão competente
para julgamento64.
Importante observar a alteração recente na Lei de Lavagem de Capitais: a nova redação do
artigo 17-D estabelece o afastamento imediato e automático da função pública do servidor indiciado.
A redação é questionável, sendo preferível a representação, pela autoridade policial, para juiz, em
aplicação do artigo 319, VI, do CPP.
2.1.1.3.6 PRAZO
Não há um prazo único para a conclusão do inquérito policial, podendo variar conforme o
crime praticado ou a competência do órgão judicante, ou ainda se se tratar de réu preso ou solto.
Aplica-se o critério da especialidade: não havendo prazo especial, vale o do CPP.
62Lei nº 12.830/13. Art. 2º As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são de
natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado. (...) § 6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato
fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias.
63 Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público) Art. 41. Constituem prerrogativas dos membros do Ministério Público, no
exercício de sua função, além de outras previstas na Lei Orgânica: II - não ser indiciado em inquérito policial, observado o disposto no
parágrafo único deste artigo; Parágrafo único. Quando no curso de investigação, houver indício da prática de infração penal por parte de
membro do Ministério Público, a autoridade policial, civil ou militar remeterá, imediatamente, sob pena de responsabilidade, os respectivos
autos ao Procurador-Geral de Justiça, a quem competirá dar prosseguimento à apuração.
Lei nº 35/79 (Lei Orgânica da Magistratura Nacional), art. 33: São prerrogativas do magistrado: Parágrafo único - Quando, no curso de
investigação, houver indício da prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os respectivos
autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga na investigação.
64“Questão de Ordem em Inquérito. 1. Trata-se de questão de ordem suscitada pela defesa de Senador da República, em sede de inquérito
originário promovido pelo Ministério Público Federal (MPF), para que o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) defina a legitimidade,
ou não, da instauração do inquérito e do indiciamento realizado diretamente pela Polícia Federal (PF). 2. Apuração do envolvimento do
parlamentar quanto à ocorrência das supostas práticas delituosas sob investigação na denominada "Operação Sanguessuga". 3. Antes da
intimação para prestar depoimento sobre os fatos objeto deste inquérito, o Senador foi previamente indiciado por ato da autoridade
policial encarregada do cumprimento da diligência. (...) 5. A Polícia Federal não está autorizada a abrir de ofício inquérito policial para
apurar a conduta de parlamentares federais ou do próprio Presidente da República (no caso do STF). No exercício de competência penal
originária do STF (CF, art. 102, I, b c/c Lei nº 8.038/1990, art. 2º e RI/STF, arts. 230 a 234), a atividade de supervisão judicial deve ser
constitucionalmente desempenhada durante toda a tramitação das investigações desde a abertura dos procedimentos investigatórios até o
eventual oferecimento, ou não, de denúncia pelo dominus litis. 6. Questão de ordem resolvida no sentido de anular o ato formal de
indiciamento promovido pela autoridade policial em face do parlamentar investigado.” (STF - Inq-QO: 2411 MT, Relator: GILMAR MENDES,
Data de Julgamento: 10/10/2007, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-074 DIVULG 24-04-2008 PUBLIC 25-04-2008)
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duplicação, mediante
(art. 51) requerimento justificado.
Nos casos em que seja permitida a prorrogação, a autoridade policial deve regularmente
solicitá-la, a fim de se possibilitar o controle temporal da investigação.
65Exceção importante a essa regra consta da Lei de Drogas, em seu art. 52, I. A autoridade policial, fundamentadamente, classificará a
conduta no artigo 28 ou no artigo 33 da referida lei, em razão da natureza e quantidade de produto apreendido, assim como das
circunstâncias do delito. Não obstante, o Ministério Público não precisa se vincular a tal classificação.
66Nos casos de crimes de menor potencial ofensivo, em que seja possível a transação penal, o Ministério Público não oferece a denúncia
diretamente, mas apenas se frustrada a possibilidade da aplicação da referida medida despenalizadora.
67O Ministério Público não postula o arquivamento do inquérito policial, porque a decisão final é da própria instituição.
68 O assunto será abordado com mais detalhes no item seguinte.
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ofereça a queixa-crime, sendo desnecessária qualquer providência objetivando o arquivamento do
inquérito (art. 19). Eventual requerimento nesse sentido seria interpretado como renúncia ao direito
de queixa.
Nesse caso, os autos serão encaminhados ao juiz competente, que, em caso de discordância,
deverá determinar a remessa do inquérito ao Procurador-Geral de Justiça (art. 28 do CPP)6970. Caso o
chefe da instituição concorde com o magistrado, deverá designar outro agente para oferecer a
denúncia71. Na hipótese inversa, o Procurador-Geral ratifica a promoção de arquivamento, que
vincula a autoridade judiciária72. A sistemática do art. 28 do CPP não se aplica no âmbito da
competência originária do STJ ou do STF73.Não obstante, caso o Procurador-Geral vise à formação de
coisa julgada material no processo – como nos casos de extinção da punibilidade -, deve submeter o
arquivamento ao Poder Judiciário.
Em recente julgamento, o STJ considerou não ter a vítima direito líquido e certo de impedir o
arquivamento do inquérito ou das peças de informação74.
O arquivamento pode ser fundamentado tanto nas hipóteses que ensejam a rejeição da
denúncia como naquelas de absolvição sumária, portanto: (i) na ausência dos pressupostos
processuais ou das condições da ação, incluindo a ausência de justa causa; (ii) na atipicidade formal
ou material da conduta; (iii) em causa excludente de ilicitude, desde que manifesta; (iv) em causa
excludente de culpabilidade, desde que manifesta, exceto na hipótese de inimputabilidade; (v) em
causa extintiva de punibilidade.
O fundamento da promoção de arquivamento determinará a formação de coisa julgada formal
ou material. Vejamos a seguinte tabela:
69 Na Justiça Federal, em caso de discordância, o juiz determina o encaminhamento dos autos para uma das Câmaras de Coordenação e
Revisão do Ministério Público Federal (art. 62, IV, da Lei Complementar 75/93).
70 Na Justiça Eleitoral, em caso de discordância, o juiz remete os autos também às Câmaras de Revisão e Coordenação do MPF, nos termos
do mencionado artigo 62 da Lei Orgânica do Ministério Público. O artigo 357 do Código Eleitoral foi derrogado pela Lei Orgânica do
Ministério Público, conforme o Enunciado nº 29 da Segunda Câmara de Coordenação e Revisão do MPF.
71 Essa solução preserva a independência funcional do agente que anteriormente promoveu o arquivamento; o designado age como longa
manus do procurador-geral, competindo-lhe apenas o ajuizamento da demanda penal, isto é, não se renovam as três opções já
mencionadas no início do tópico.
72O juiz, ao atuar como fiscal do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública, exerce função atípica. A solução não é livre de críticas,
principalmente após o advento da Constituição Federal de 1988, que adotou o sistema acusatório. Aqueles que criticam a atuação do juiz
nessa situação defendem a solução já prevista pelo ordenamento para o arquivamento de inquérito civil (Lei 7.347/85 – Art. 9º. Se o órgão
do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da inexistência de fundamento para a propositura da ação civil,
promoverá o arquivamento dos autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o fundamentadamente. § 1º Os autos do
inquérito civil ou das peças de informação arquivadas serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao
Conselho Superior do Ministério Público. § 2º Até que, em sessão do Conselho Superior do Ministério Público, seja homologada ou rejeitada
a promoção de arquivamento, poderão as associações legitimadas apresentar razões escritas ou documentos, que serão juntados aos autos
do inquérito ou anexados às peças de informação. § 3º A promoção de arquivamento será submetida a exame e deliberação do Conselho
Superior do Ministério Público, conforme dispuser o seu Regimento. § 4º Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de
arquivamento, designará, desde logo, outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação). Entretanto, a providência do art. 28
do CPP vem sendo normalmente aplicada.
73 PROCESSUAL PENAL. INQUÉRITO E QUEBRA DE SIGILO FISCAL. CRIME TRIBUTÁRIO MATERIAL. SÚMULA VINCULANTE 24/STF. AUSÊNCIA
DE LANÇAMENTO. ARQUIVAMENTO.[...] 4. A jurisprudência desta Corte é no sentido de que, nesta instância especial, os membros do
Ministério Público Federal atuam por delegação do Procurador-Geral da República, de sorte que não há falar em aplicação do art. 28 do
CPP, por isso que, nos feitos de competência originária, o pedido de arquivamento feito pelo Ministério Público é irrecusável. Precedentes
do STF.Inquérito arquivado. (Inq 967/DF, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, CORTE ESPECIAL, julgado em 18/03/2015, DJe 30/03/2015).
74 CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO JUDICIAL.INEXISTÊNCIA DE ILEGALIDADE, TERATOLOGIA OU ABUSO DE
PODER.DENEGAÇÃO DA ORDEM.1. A vítima de crime de ação penal pública incondicionada não tem direito líquido e certo de impedir o
arquivamento do inquérito ou peças de informação.2. Em regra, não há ilegalidade, teratologia ou abuso de poder, passível de correção via
mandado de segurança, na decisão judicial que, acolhendo promoção do Ministério Público, determina o arquivamento de inquérito
policial.3. A norma inserta no art. 28 do Código de Processo Penal concede ao Juiz a prerrogativa de, considerando os elementos trazidos
nos autos de inquérito ou nas peças de informações, anuir ou discordar do pedido de arquivamento formulado pelo órgão ministerial, não
sendo cabível, em caso de concordância, a prévia submissão do pedido ao Procurador-Geral.4. Segurança denegada.(MS 21.081/DF, Rel.
Ministro RAUL ARAÚJO, CORTE ESPECIAL, julgado em 17/06/2015, DJe 04/08/2015).
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Ausência de pressupostos processuais ou Formal
condições da ação
75PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. INQUÉRITO POLICIAL ARQUIVADO POR RECONHECIMENTO DA LEGÍTIMA DEFESA.
DESARQUIVAMENTO POR PROVAS NOVAS. IMPOSSIBILIDADE. COISA JULGADA MATERIAL. PRECEDENTES. 1. A permissão legal contida no
art. 18 do CPP, e pertinente Súmula 524/STF, de desarquivamento do inquérito pelo surgimento de provas novas, somente tem incidência
quando o fundamento daquele arquivamento foi a insuficiência probatória – indícios de autoria e prova do crime. 2. A decisão que faz juízo
de mérito do caso penal, reconhecendo atipia, extinção da punibilidade (por morte do agente, prescrição...), ou excludentes da ilicitude,
exige certeza jurídica – sem esta, a prova de crime com autor indicado geraria a continuidade da persecução criminal – que, por tal, possui
efeitos de coisa julgada material, ainda que contida em acolhimento a pleito ministerial de arquivamento das peças investigatórias. 3.
Promovido o arquivamento do inquérito policial pelo reconhecimento de legítima defesa, a coisa julgada material impede rediscussão do
caso penal em qualquer novo feito criminal, descabendo perquirir a existência de novas provas. Precedentes. 4. Recurso especial improvido.
(REsp 791.471/RJ, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 25/11/2014, DJe 16/12/2014).
76 “(...) A decisão que determina o arquivamento de inquérito policial, a pedido do Ministério Público e determinada por juiz competente,
que reconhece que o fato apurado está coberto por excludente de ilicitude, não afasta a ocorrência de crime quando surgirem novas
provas, suficientes para justificar o desarquivamento do inquérito, como autoriza a Súmula 524 deste Supremo Tribunal Federal. 2. Habeas
corpus conhecido e denegado.” (HC 95211, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 10/03/2009, DJe-160 DIVULG 19-
08-2011 PUBLIC 22-08-2011 EMENT VOL-02570-01 PP-00169).
“ Habeas corpus. Processual Penal Militar. Tentativa de homicídio qualificado (CP, art. 121, § 2º, inciso IV, c/c o art. 14, inciso II).
Arquivamento de Inquérito Policial Militar, a requerimento do Parquet Militar. Conduta acobertada pelo estrito cumprimento do dever
legal. Excludente de ilicitude (CPM, art. 42, inciso III). Não configuração de coisa julgada material. Entendimento jurisprudencial da Corte.
Surgimento de novos elementos de prova. Reabertura do inquérito na Justiça comum, a qual culmina na condenação do paciente e de
corréu pelo Tribunal do Júri. Possibilidade. Enunciado da Súmula nº 524/STF. Ordem denegada. 1. O arquivamento de inquérito, a pedido do
Ministério Público, em virtude da prática de conduta acobertada pela excludente de ilicitude do estrito cumprimento do dever legal (CPM,
art. 42, inciso III), não obsta seu desarquivamento no surgimento de novas provas (Súmula nº 5241/STF). Precedente. 2. (...) 3. Ordem
denegada.” (HC 125101, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Relator(a) p/ Acórdão: Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em
25/08/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-180 DIVULG 10-09-2015 PUBLIC 11-09-2015).
77Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade
policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia.
78Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem
novas provas.
79 Pode haver exceções, como há hipótese de fraude perpetrada pelo próprio investigado: “EMENTA HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL.
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE AMPARADA EM CERTIDÃO DE ÓBITO FALSA. DECISÃO QUE RECONHECE A NULIDADE ABSOLUTA DO DECRETO E
DETERMINA O PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO PENAL. INOCORRÊNCIA DE REVISÃO PRO SOCIETATE E DE OFENSA À COISA JULGADA.
PRONÚNCIA. ALEGADA INEXISTÊNCIA DE PROVAS OU INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA EM RELAÇÃO A CORRÉU. INVIABILIDADE DE
REEXAME DE FATOS E PROVAS NA VIA ESTREITA DO WRIT CONSTITUCIONAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE. ORDEM
DENEGADA. 1. A decisão que, com base em certidão de óbito falsa, julga extinta a punibilidade do réu pode ser revogada, dado que não
gera coisa julgada em sentido estrito. 2. Não é o habeas corpus meio idôneo para o reexame aprofundado dos fatos e da prova, necessário,
no caso, para a verificação da existência ou não de provas ou indícios suficientes à pronúncia do paciente por crimes de homicídios que lhe
são imputados na denúncia. 3. Habeas corpus denegado. (HC 104998, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em
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No caso de arquivamento homologado por juiz incompetente, do mesmo modo forma-se a
coisa julgada material80.
O arquivamento implícito ocorre quando o Ministério Público, no caso de concurso de agentes,
deixa de denunciar alguém (subjetivo), ou, na hipótese de concurso de crimes, silencia sobre
determinada conduta criminosa (objetivo).A jurisprudência do STJ e do STF não admitem o
arquivamento implícito, por duas razões: (i) ausência de previsão legal e (ii) necessidade de
justificação, pelo Ministério Público, da não apresentação da denúncia, em face do princípio da
obrigatoriedade da ação penal pública.
Criado pela jurisprudência, ocorreria o arquivamento indireto quando o Promotor entendesse
pela incompetência do juiz perante o qual oficia para apreciar a peça de acusação, deixando de
apresentar a denúncia. Em face da impossibilidade de o juiz o MP a apresentar denúncia, sob pena
de violação à independência funcional, o STF entende que se deveria virtualizar um pedido indireto
de arquivamento, aplicando o artigo 28 do CPP.
De outra banda, o trancamento do inquérito policial é uma medida de força, determinada pelo
órgão judiciário. Ocorre em razão da apresentação de habeas corpus ou de mandado de segurança,
na hipótese de se tratar de crime punido exclusivamente com multa.
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A questão foi resolvida no RE 593.727/MG, representativo de controvérsia, ocasião em que o STF
confirmou o poder de investigação criminal do Ministério Público82. Ficou assentado que “O
Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo
razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem
a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus
agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas
profissionais de que se acham investidos, em nosso País, os Advogados (Lei 8.906/94, artigo 7º,
notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no
Estado democrático de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente
documentados (Súmula Vinculante 14), praticados pelos membros dessa instituição”.
dentre outras, a atuação das comissões parlamentares de inquérito (CF, art. 58, § 3º), as investigações realizadas pelo Conselho de Controle
de Atividades Financeiras – COAF (Lei 9.613/98), pela Receita Federal, pelo Bacen, pela CVM, pelo TCU, pelo INSS e, por que não lembrar,
mutatis mutandis, as sindicâncias e os processos administrativos no âmbito dos poderes do Estado. Convém advertir que o poder de
investigar do Ministério Público não pode ser exercido de forma ampla e irrestrita, sem qualquer controle, sob pena de agredir,
inevitavelmente, direitos fundamentais. A atividade de investigação, seja ela exercida pela Polícia ou pelo Ministério Público, merece, por
sua própria natureza, vigilância e controle. O pleno conhecimento dos atos de investigação, como bem afirmado na Súmula Vinculante 14
desta Corte, exige não apenas que a essas investigações se aplique o princípio do amplo conhecimento de provas e investigações, como
também se formalize o ato investigativo. Não é razoável se dar menos formalismo à investigação do Ministério Público do que aquele
exigido para as investigações policiais. Menos razoável ainda é que se mitigue o princípio da ampla defesa quando for o caso de investigação
conduzida pelo titular da ação penal. Disso tudo resulta que o tema comporta e reclama disciplina legal, para que a ação do Estado não
resulte prejudicada e não prejudique a defesa dos direitos fundamentais. É que esse campo tem-se prestado a abusos. Tudo isso é resultado
de um contexto de falta de lei a regulamentar a atuação do Ministério Público. No modelo atual, não entendo possível aceitar que o
Ministério Público substitua a atividade policial incondicionalmente, devendo a atuação dar-se de forma subsidiária e em hipóteses
específicas, a exemplo do que já enfatizado pelo Min. Celso de Mello quando do julgamento do HC 89.837/DF: “situações de lesão ao
patrimônio público, [...] excessos cometidos pelos próprios agentes e organismos policiais, como tortura, abuso de poder, violências
arbitrárias, concussão ou corrupção, ou, ainda, nos casos em que se verificar uma intencional omissão da Polícia na apuração de
determinados delitos ou se configurar o deliberado intuito da própria corporação policial de frustrar, em função da qualidade da vítima ou
da condição do suspeito, a adequada apuração de determinadas infrações penais”. No caso concreto, constata-se situação,
excepcionalíssima, que justifica a atuação do Ministério Público na coleta das provas que fundamentam a ação penal, tendo em vista a
investigação encetada sobre suposta prática de crimes contra a ordem tributária e formação de quadrilha, cometido por 16 (dezesseis)
pessoas, sendo 11 (onze) delas fiscais da Receita Estadual, outros 2 (dois) policiais militares, 2 (dois) advogados e 1 (um) empresário. 2.
ILEGALIDADE DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL ANTE A FALTA DE CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. NÃO OCORRÊNCIA NA
ESPÉCIE. De fato, a partir do precedente firmado no HC 81.611/DF, formou-se, nesta Corte, jurisprudência remansosa no sentido de que o
crime de sonegação fiscal (art. 1º, incisos I a IV, da Lei 8.137/1990) somente se consuma com o lançamento definitivo. No entanto, o
presente caso não versa, propriamente, sobre sonegação de tributos, mas, sim, de crimes supostamente praticados por servidores públicos
em detrimento da administração tributária. Anoto que o procedimento investigatório foi instaurado pelo Parquet com o escopo de apurar o
envolvimento de servidores públicos da Receita Estadual na prática de atos criminosos, ora solicitando ou recebendo vantagem indevida
para deixar de lançar tributo, ora alterando ou falsificando nota fiscal, de modo a simular crédito tributário. Daí, plenamente razoável
concluir pela razoabilidade da instauração da persecução penal. Insta lembrar que um dos argumentos que motivaram a mudança de
orientação na jurisprudência desta Corte foi a possibilidade de o contribuinte extinguir a punibilidade pelo pagamento, situação esta que
sequer se aproxima da hipótese dos autos. 3. ORDEM DENEGADA.(HC 84965, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado
em 13/12/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-070 DIVULG 10-04-2012 PUBLIC 11-04-2012).
82 Repercussão geral. Recurso extraordinário representativo da controvérsia. Constitucional. Separação dos poderes. Penal e processual
penal. Poderes de investigação do Ministério Público. [...] Questão constitucional com repercussão geral. Poderes de investigação do
Ministério Público. Os artigos 5º, incisos LIV e LV, 129, incisos III e VIII, e 144, inciso IV, § 4º, da Constituição Federal, não tornam a
investigação criminal exclusividade da polícia, nem afastam os poderes de investigação do Ministério Público. Fixada, em repercussão geral,
tese assim sumulada: “O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável,
investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob
investigação do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as
prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em nosso País, os Advogados (Lei 8.906/94, artigo 7º, notadamente os incisos I, II, III,
XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado democrático de Direito – do permanente controle
jurisdicional dos atos, necessariamente documentados (Súmula Vinculante 14), praticados pelos membros dessa instituição”. Maioria. [...]
(RE 593727, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 14/05/2015,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-175 DIVULG 04-09-2015 PUBLIC 08-09-2015).
83 Referida Resolução é objeto de questionamento no STF na ADIn nº 4305, ainda pendente de julgamento.
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Cuida-se o procedimento investigatório criminal de instrumento de natureza administrativa e
inquisitorial, presidido por membro do Ministério Público com a finalidade de apuração de infrações
penais públicas. Poderá ser instaurado de ofício, por membro do Ministério Público, no âmbito de
suas atribuições criminais,ou mediante provocação.
O membro do Ministério Público tem prazo de 30 dias para dar andamento às representações
e peças de informação que lhe forem remetidas, prorrogáveis por 90 dias caso haja necessidade de
maiores investigações preliminares. No caso de o chefe do Ministério Público discordar da promoção
de arquivamento de peças de informação realizada por outro membro84, deverá ser instaurado o
procedimento investigatório criminal.
A portaria que instaura o procedimento deve conter sempre que possível, o nome e a
qualificação do autor da representação e a determinação das diligências iniciais, podendo ser aditada
caso constatada a necessidade de investigação de novos fatos. O chefe do Ministério Público deve
ser notificado da instauração de procedimento.
Quanto ao desenvolvimento do procedimento investigatório criminal, o artigo 6º da Resolução
prevê procedimentos que poderão ser adotados pelo membro do Ministério Público:
O referido artigo estabelece que as autoridades públicas não poderão opor ao Ministério
Público a exceção de sigilo e dispõe prazo de 10 dias úteis para resposta às requisições.
O membro do Ministério Público será responsável pelo uso indevido das informações colhidas.
Ademais, exige que as notificações para comparecimento mencionem o fato investigado, salvo na
hipótese de decretação de sigilo, e sejam realizadas com antecedência mínima de 48 horas,
ressalvadas as hipóteses de urgência.
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As notificações e requisições do Ministério Público que tenham como destinatário Presidente,
Vice-Presidente, membro do Congresso Nacional, Ministro do STF ou de Tribunal Superior, Ministro
de Estado, Ministro do TCU ou chefe de missão diplomática de caráter permanente serão levadas a
efeito pelo PGR ou órgão delegado do Ministério Público. Quando tiverem como destinatário
Governador de Estado, membros da Assembleia Legislativa ou desembargadores, as notificações
serão encaminhadas pelo PGJ. Tais autoridades poderão fixar data, hora e local para serem ouvidas.
O suposto autor do fato investigado pode prestar as informações que considerar adequadas e
ser acompanhado por advogado.
As diligências deverão ser registradas em auto circunstanciado, ainda que por mídias
audiovisuais. Quando realizadas fora dos limites territoriais da unidade em que se realizar a
investigação, serão deprecadas ao respectivo órgão do Ministério Público local, facultado ao membro
deprecado autorizar a participação do membro deprecante.
O procedimento deve ser concluído no prazo de 90 dias, permitidas prorrogações sucessivas,
por decisão fundamentada do membro do Ministério Público.
Os procedimentos serão, em regra, públicos no tocante (i) à expedição de certidão mediante
requerimento do investigado, da vítima ou de seu representante legal, do Poder Judiciário, do
Ministério Público ou de terceiro diretamente interessado; (ii) ao deferimento de pedidos de vista e
de extração de cópias, desde que fundamentados; (iii) na prestação de informações ao público, a
critério do presidente do procedimento, observados o princípio de presunção de inocência e as
hipóteses legais de sigilo. A sigilosidade pode ser decretada, fundamentadamente, pelo presidente
do procedimento.
No âmbito do procedimento investigatório criminal, a promoção de arquivamento poderá ser
realizada nos termos do artigo 28 do CPP ou ao órgão superior interno responsável por sua
apreciação, nos termos da legislação vigente. Da mesma forma, com a notícia de novas provas o
membro do Ministério Público pode requerer o desarquivamento dos autos, comunicando ao chefe
da instituição.
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Art. 13-B. Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados ao tráfico de
pessoas, o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderão requisitar,
mediante autorização judicial, às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações
e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como
sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do
delito em curso.
§ 1º Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento da estação de cobertura,
setorização e intensidade de radiofrequência.
§ 2º Na hipótese de que trata o caput, o sinal:
I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qualquer natureza, que dependerá
de autorização judicial, conforme disposto em lei.
II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel celular por período não superior a
30 (trinta) dias, renovável por uma única vez, por igual período:
III - para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será necessária a apresentação
de ordem judicial.
§ 3º Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial deverá ser instaurado no prazo
máximo de 72 (setenta e duas) horas, contado do registro da respectiva ocorrência policial.
§ 4º Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) horas, a autoridade
competente requisitará às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou
telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais,
informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em
curso, com imediata comunicação ao juiz.
O art. 13-A prevê os crimes em que o Delegado de Polícia e o Ministério Público estão
autorizados a requisitar dados e informações cadastrais de vítimas ou de suspeitos aos órgãos
públicos ou empresas da iniciativa privada:
1. Sequestro ou cárcere privado (art. 148 do CP);
2. Redução à condição análoga à de escravo (art. 149 do CP);
3. Tráfico de pessoas (art. 149-A do CP);
4. Extorsão com restrição da liberdade da vítima (art. 158, §3º do CP);
5. Extorsão mediante sequestro (art. 159 do CP);
6. Tráfico internacional de crianças (art. 239 do ECA)
O art. 13-B permite ao Delegado e membro do Ministério Público a requisição, mediante
autorização judicial, de dados que permitam a localização de vítima ou suspeitos de delitos em curso,
relacionados ao tráfico de pessoas.
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testemunhas e relato de investigações e diligências já realizadas. O termo será remetido aos Juizados
independentemente de perícia (art. 69, caput, Lei nº 9099/95). Não se lavra auto de prisão em
flagrante nem se exige fiança se o autor do fato for imediatamente encaminhado ao Juizado, ou, não
sendo possível o encaminhamento imediato, assume o compromisso de comparecer ao Juizado.
AÇÃO PENAL
AÇÃO PENAL.CONCEITO.CARACTERÍSTICAS. PRINCÍPIOS. CONDIÇÕES DA
AÇÃO E PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS. AÇÃO PENAL PÚBLICA.
INSTITUTOS CONDICIONANTES. AÇÃO PENAL PRIVADA. PRAZOS.
ASPECTOS FORMAIS. ADITAMENTO E REJEIÇÃO DA DENÚNCIA.AÇÃO CIVIL
EX DELICTO.
85Greco Filho, Vicente. Manual de processo penal. 10 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 123.
86 Apesar de não haver unanimidade na doutrina, tem sido razoavelmente aceita a justa causa como condição da ação no processo penal,
principalmente após a vigência da Lei 11.719/08.
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ressalvada a hipótese de ação penal privada subsidiária da pública. No caso da está-se
diante de substituição processual ou legitimidade extraordinária, uma vez que a vítima
exerce em nome próprio direito alheio, porquanto a pretensão punitiva continua sendo do
Estado. Já no polo passivo, a autoria é matéria ligada ao próprio mérito da causa87.
2. Interesse de agir – Traduz-se no trinômio88necessidade, utilidade e adequação. O
primeiro elemento é criticado, porque o provimento jurisdicional sempre será
necessário (nulla poena sine judicio). Diz-se que a pretensão é presumivelmente
insatisfeita, independentemente da vontade do réu. A utilidade está ligada à
viabilidade da demanda penal, sendo certo que a jurisprudência não tem aceitado a
tese da prescrição em perspectiva89. Já a adequação tem utilidade reduzida, em
razão dos institutos da emendatio e mutatio libelli. Não obstante, é relevante para a
ação de habeas corpus porque, não havendo risco remoto à liberdade de locomoção,
esta não é adequada90.
3. Possibilidade jurídica do pedido – Também tem aplicação reduzida no processo
penal, porque o princípio da correlação não possui a mesma abrangência do
processo civil. O próprio art. 41 do CPP não traz o pedido como elemento essencial
da denúncia ou queixa91. O juiz não está vinculado ao pedido formulado pelo autor da
demanda penal. A compreensão deste instituto se dá à luz da tipicidade, no sentido
de que se o fato descrito na peça acusatória não encontra qualquer adequação típica,
então a denúncia é inepta.
4. Justa causa – A denúncia ou queixa deve ser instruída com elementos probatórios
razoáveis para que a acusação possa ser sustentada. Sem um lastro mínimo, o
constrangimento ilegal seria evidente, a justificar a sua rejeição (art. 395, III, do CPP).
A Lei de Lavagem de Capitais exige a justa causa duplicada 92, isto é, o crime
antecedente à lavagem deve vir acompanhado de indícios de materialidade.
87Quanto ao tema, importante frisar que ambos STF e STJ entenderam superada a teoria da dupla imputação, de modo que é possível a
responsabilização exclusiva das pessoas jurídicas (art. 225, §3º, da CF; e art. 3º da Lei nº 9.605/98), sem apontar a pessoa física responsável:
“(...) 1. O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à
simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma constitucional não impõe a necessária
dupla imputação. (...) 3. Condicionar a aplicação do art. 225, §3º, da Carta Política a uma concreta imputação também a pessoa física
implica indevida restrição da norma constitucional, expressa a intenção do constituinte originário não apenas de ampliar o alcance das
sanções penais, mas também de evitar a impunidade pelos crimes ambientais frente às imensas dificuldades de individualização dos
responsáveis internamente às corporações, além de reforçar a tutela do bem jurídico ambiental.(...)” (RE 548181, Relator(a): Min. ROSA
WEBER, Primeira Turma, julgado em 06/08/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-213 DIVULG 29-10-2014 PUBLIC 30-10-2014)
88Apesar da controvérsia teórica, opta-se pela corrente mais abrangente.
89Súmula/STJ 438: “É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena
hipotética,independentemente da existência ou sorte do processo penal”.
90 Súmula 693 do STF – “Não cabe "habeas corpus" contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por
infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada”.
Súmula 694 do STF – “Não cabe "habeas corpus" contra a imposição da pena de exclusão de militar ou de perda de patente ou de função
pública”.
Súmula 695 do STF – “Não cabe "habeas corpus" quando já extinta a pena privativa de liberdade”.
91 Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou
esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.
92Art. 2º, § 1º: “A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência da infração penal antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei,
ainda que desconhecido ou isento de pena o autor, ou extinta a punibilidade da infração penal antecedente.” (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
93 Art. 525 do CPP: “No caso de haver o crime deixado vestígio, a queixa ou a denúncia não será recebida se não for instruída com o exame pericial dos
objetos que constituam o corpo de delito”.
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exemplo de condição de prosseguibilidade a comprovação da recuperação da higidez mental na
suspensão do processo por inimputabilidade superveniente.
3.3.2.2 OBJETIVOS
Os requisitos objetivos estão ligados à pretensão, ao próprio objeto da ação penal.
Citação válida – A citação está regulamentada a partir do art. 351 do CPP, e já foi
estudada em capítulo próprio. A sua não observância acarreta a nulidade absoluta do
processo. Entretanto, o comparecimento espontâneo supre eventual vício (art. 570).
94Deve-se atentar para a redação do art. 363 do CPP: “O processo terá completada a sua formação quando realizada a citação do acusado”.
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Regularidade formal do instrumento da demanda – Nos termos do art. 41 do CPP,
a denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas
circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa
identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol de testemunhas.
Inexistência de litispendência ou coisa julgada – São analisados negativamente.
5. Autoritariedade
6. Oficialidade -A ação penal deve ser manejada por órgão oficial do Estado, isto é,
membro do Ministério Público.
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A ação penal pública divide-se em:
1. Incondicionada – Como o próprio nome já evidencia, a atuação do Ministério Público
não está vinculada a qualquer manifestação de vontade prévia, devendo oferecer a
denúncia tão logo reúna as condições necessárias, sendo reflexo do princípio da
obrigatoriedade. É a regra geral.
2. Condicionada – O oferecimento da denúncia depende da prévia provocação do
ofendido ou representante (representação), ou ainda do Ministro da Justiça
(requisição). Cuida-se de autêntica condição de procedibilidade, conforme já
apontado. Vale lembrar que o agente ministerial não fica vinculado, porque possui
independência funcional para oferecer ou não a denúncia. Aqui, como na ação penal
privada, o fundamento é buscar evitar o strepius iudicii causado pelo processo,
buscando-se na ação pública condicionada conjugar os interesses da vítima e do
Estado na ação penal.
O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, é de cinco dias, contado da data
em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu
estiver solto ou afiançado (art. 46 do CPP). O exaurimento do prazo, em especial se tratando de réu
solto, configura mera irregularidade que não contamina a futura demanda, dando apenas ensejo ao
ajuizamento de queixa subsidiária, em caso de inércia.
A legislação especial estabelece alguns prazos diferenciados, valendo a mesma regra já
informada no item referente aos prazos do inquérito policial: se a legislação especial não dispuser de
modo diverso, vale o prazo estabelecido no CPP:
Regra geral
(art. 54)
Por fim, cabe ressaltar que as contravenções penais são processadas mediante ação penal pública,
conforme disposição do artigo 17 da Lei nº 3.688/1941.
3.4.1 REPRESENTAÇÃO
Já foi dito, no caso de ação penal pública condicionada à representação, que a denúncia
somente poderá ser oferecida quando houver a prévia provocação do ofendido ou de representante
(art. 24 do CPP). Até mesmo a instauração do inquérito policial dependerá da referida manifestação
(art. 5º, § 4º).
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A lei não traz qualquer exigência formal para a representação, desde que a intenção do
ofendido seja inequivocamente manifestada. Pode ser feita verbalmente ou por escrito. No primeiro
caso, deve ser reduzida a termo (art. 39). Desde que possível, também se recomenda que contenha
todas as informações que possam servir à apuração do fato e da autoria.
Ainda nos termos do art. 39 do CPP, o direito de representação poderá ser exercido,
pessoalmente ou por procurador com poderes especiais, e dirigido ao juiz95, ao órgão do Ministério
Público, ou à autoridade policial.
Em se tratando de vítima incapaz, o direito de representação deverá ser exercido pelo
representante legal. Quando houver conflito de interesses ou ausência de representante, o juiz
nomeará curador especial.A emancipação civil não legitima a vítima para representar, de modo que a
denunciação caluniosa nesse caso ocorreria sem possibilidade de repercussão penal.
No caso de morte do ofendido, ou ainda quando declarado ausente por decisão judicial, o
direito de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (art. 24, § 1º).Trata-
se de hipótese de sucessão processual. Pode também a companheira ocupar o pólo ativo da ação
penal, mediante interpretação analógica autorizada pelo Código de Processo Penal.
No caso de pessoa jurídica, seja para representar em ação pública condicionada, seja para
ajuizar queixa-crime, a legitimidade é da pessoa física indicada no estatuto da pessoa jurídica. Caso
este seja omisso, cabe aos diretores ou sócios administrativos.
Em regra, a representação é retratável até o oferecimento da denúncia (art. 25 do CPP), ampliando-se para o
recebimento, no caso da Lei 11.340/06, que trata da violência doméstica e familiar contra a mulher (art. 16). É
possível a retratação da retratação, porque equivaleria à representação propriamente dita. Contudo, deve-se
observar o prazo decadencial, em que a contagem se dá nos termos do art. 10 do CP, incluindo-se o dia do começo,
não havendo causas suspensivas ou interruptivas.O art. 38 estabelece o prazo de seis meses para o exercício do
direito de representação, a contar do dia em que o ofendido vier a saber quem é o autor do crime.A exceção é o caso
do art. 236 do CP, em que o prazo começa a contar a partir do trânsito em julgado da sentença que julga extinto o
casamento civil.
O Ministério Público não se vincula ao aspecto subjetivo da representação, que possui eficácia
objetiva. Pode investigar os autores descobertos durante a investigação instaurada pela representação,
assim como não é obrigado a apresentar denúncia em razão tão somente da representação.
95 Em razão da adoção do sistema acusatório pela Constituição Federal, recomenda-se que a representação seja dirigida aos órgãos
responsáveis pela persecução (polícia judiciária ou MP).
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Ação penal privada é aquela em que a legitimidade para a propositura da demanda é conferida
ao ofendido ou querelante, excluindo-se o Ministério Público. Atribui-se como fundamento principal
a cautela contra o strepitus iudicii (escândalo do processo), conferindo ao ofendido a opção de
processar ou não o autor do fato, sopesando as consequências da judicialização da questão96. Trata-
se de exceção dentro da sistemática processual brasileira.
São princípios norteadores da ação penal privada:
1. Oportunidade ou conveniência– Atribui-se ao ofendido a análise da conveniência e
da oportunidade de se deflagrar a persecução penal. É juízo discricionário exclusivo
da vítima, não submetido a qualquer tipo de controle, mas apenas a limitações lógicas
e temporais (prazo decadencial e renúncia).
2. Disponibilidadee iniciativa da parte– O querelante tem o controle da ação penal,
devendo reafirmar seu interesse na persecução, ao contrário da ação penal pública
condicionada à representação, podendo dela desistir, inclusive em grau de recurso.
Implica a possibilidade de perdão e de perempção.
3. Indivisibilidade – Em caso de concurso de agentes, não pode o ofendido escolher
contra quem irá oferecer a queixa-crime. Caso não tenha oferecido contra todos,
podendo fazê-lo, ficará configurada a renúncia tácita, que será estendida aos demais.
O Ministério Público velará pela indivisibilidade (arts. 48 e 49 do CPP).
4. Intranscendência – O processo penal não deve ultrapassar a pessoa do querelado.
RENÚNCIA PERDÃO
96 Há doutrina importante criticando o strepitus iudicii como fundamento principal da existência da ação penal privada, porque falho o
argumento. Como se explicar, por exemplo, o perdão do ofendido, quando a questão já se encontra irremediavelmente divulgada? O
“escândalo do processo” já teria ocorrido.
97Lei Complementar 80/94 - Art. 4º. São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:
[...]
XVI – exercer a curadoria especial nos casos previstos em lei;
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Indivisível Indivisível, salvo em caso de recusa
A desistência, conquanto não expressamente prevista, tem sido admitida. Pode ser requerida
durante a tramitação da demanda penal, inclusive em grau de recurso, não dependendo de aceitação
do querelado.
O art. 60 do CPP apresenta os casos de perempção da ação penal, que enumeram, na essência,
hipóteses de abandono da causa:
1. iniciada, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias
seguidos;
2. falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo,
para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das
pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;
3. o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do
processo a que deva estar presente98, ou deixar de formular o pedido de condenação
nas alegações finais;
4. sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.
Além da ação penal exclusivamente privada ou propriamente dita, tem-se ainda a ação penal
privada personalíssima, prevista no art. 236, § 1º, do CP, e a ação penal privada subsidiária da
pública.
Na ação penal privada personalíssima, não se permite a substituição em caso de morte ou
ausência do ofendido, iniciando-se o prazo decadencial de seis meses depois de transitar em julgado
a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento.
A ação penal privada subsidiária da pública está expressamente prevista no art. 5º, LIX, da CF;
art. 29 do CPP; art. 100, § 3º, do CP.
A queixa subsidiária somente é cabível no caso de inércia do Ministério Público, isto é, quando
não oferece a denúncia no prazo legal. Não se aplica quando o MP requisita diligência ou promove o
arquivamento do inquérito policial. O prazo, também de seis meses, conta-se a partir do
exaurimento do prazo para o oferecimento da denúncia (art. 38 do CPP).
O Ministério Público atua como interveniente adesivo obrigatório, interveniente obrigatório
subsidiário ou assistente litisconsorcial, sendo-lhe permitido aditar a queixa, repudiá-la pela ausência
de inércia e oferecer denúncia substitutiva, repudiá-la e oferecer parecer opinativo pela
desnecessidade de prosseguimento da ação penal, intervir em todos os termos do processo, fornecer
elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante,
retomar a ação como parte principal (caso de ação penal indireta, art. 29 do CPP).
3.6 ASPECTOS FORMAIS DA INICIAL ACUSATÓRIA
Nos termos do artigo 41 do CPP, a denúncia ou queixa deverá conter:
1. A exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias – não é
possível a denúncia genérica99, devendo a inicial conter informações fáticas
98 Não se aplica quando a audiência for apenas de conciliação, porque, nesse caso, presume-se apenas o desinteresse em conciliar.
99O STJ tem admitido a denúncia geral, em que se imputa a todos os acusados o mesmo fato delituoso, independentemente da função
exercida por cada um: “PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. FRAUDE À LICITAÇÃO. INÉPCIA DA
DENÚNCIA. INOCORRÊNCIA. FATOS ADEQUADAMENTE DESCRITOS. DENÚNCIA GERAL. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. IMPOSSIBILIDADE.
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suficientes para que o acusado possa compreender o crime a ele imputado. Do
mesmo modo, a imputação alternativa – seja objetiva ou subjetiva não encontra
ressonância constitucional, porque inviabiliza o direito ao contraditório ou ampla
defesa;
A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do
instrumento do mandato, quando possível, o nome do querelante e a menção do fato criminoso (art.
44). No caso de denúncia não assinada pelo Promotor de Justiça, sendo esta autêntica, constata-se
mera irregularidade.
PRESENÇA DOS INDÍCIOS DE AUTORIA E DA PROVA DA MATERIALIDADE. AUSÊNCIA DE ELEMENTAR DO TIPO. DESCRIÇÃO ADEQUADA DO
AJUSTE NA DENÚNCIA. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. REVOLVIMENTO DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA INVIÁVEL NA VIA ELEITA. RECURSO
ORDINÁRIO DESPROVIDO.
I - O recorrente foi denunciado pela suposta prática da conduta tipificada no art. 90, da Lei n. 8.666/93 e pretende o trancamento da ação
penal. II - Contudo, a exordial acusatória cumpriu todos os requisitos previstos no art. 41, do Código de Processo Penal, sem que a peça
incorresse em qualquer violação do que disposto no art. 395, do mesmo diploma legal. III - Ainda, é geral, e não genérica, a denúncia que
atribui a mesma conduta a todos os denunciados, desde que seja impossível a delimitação dos atos praticados pelos envolvidos,
isoladamente, e haja indícios de acordo de vontades para o mesmo fim (STF: Inq n. 2.688, Segunda Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia, Rel. p/
Acórdão: Min. Gilmar Mendes, DJe de 12/2/2015; STJ: RHC n. 36.651/RJ, Quinta Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe de 25/11/2013).(...)” (RHC
54.036/CE, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 20/10/2015, DJe 06/11/2015)
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independentemente de a rejeição fundamentar-se em questão formal ou material. Contra a rejeição
da peça acusatória cabe recurso em sentido estrito no prazo de dez dias.
Por outro lado, o recebimento da fase acusatória se dá na fase do artigo 396, CPP, antes da
apresentação de defesa preliminar, razão pela qual não precisa ser fundamentado. Na ausência da
previsão de recurso contra a decisão, cabível a apresentação de habeas corpus.
3.8 AÇÃO CIVIL EX DELICTO
Com fundamento em um mesmo fato, podem ser exercidas duas pretensões distintas: a
pretensão punitiva e a pretensão à reparação do dano que o suposto delito causou a vítima. Sobre o
relacionamento entre a ação civil para reparação do dano e a ação penal para punição do autor do
crime, a Lei nº 11.719/08 aproxima-se do sistema da solidariedade, em que há duas ações distintas,
uma penal e uma civil, exercidas no mesmo processo e perante o juiz criminal. Com o advento da
referida lei, o juiz, ao proferir a sentença condenatória, poderá fixar um valor mínimo para a
reparação de danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido.
A sentença penal irrecorrível produz efeitos principais e efeitos secundários, podendo-se citar
dentre os últimos o dever de reparar o dano causado pelo delito. A lei 11.719/08 estabeleceu que,
transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser efetuada pelo valor mínimo
fixado na sentença, sem prejuízo da liquidação para apuração dano efetivamente sofrido (art. 63,
parágrafo único, CPP).
Assim, a sentença penal condenatória irrecorrível faz coisa julgada no cível para efeito de
reparação dos danos decorrentes da infração, não podendo mais se discutir a respeito do dano, mas
apenas o quantum debeatur, na parte em que for ilíquida.
Já a sentença absolutória penal poderá obstar a ação civil de conhecimento, conforme a
natureza da absolvição.
Se o acusado é absolvido em função do reconhecimento de excludentes de ilicitude,
considera-se que o fato existiu, mas é lícito. Sendo lícito o fato, não há como reconhecer o dever de
indenizar na esfera cível. A exceção a esta regra é o caso de erro de execução, pois a aberratio ictus
autoriza reparação de danos na esfera cível, isto é, não obsta ação civil reparatória.
Da mesma forma, não impedem a ação de conhecimento para fins de reparação na esfera cível
a sentença que reconhece excludente putativa, a que concede perdão judicial e a que declara a
atipicidade do fato.
A sentença que absolve o réu por reconhecer a inexistência do fato delitivo obsta a ação civil
de conhecimento.
A sentença que absolve por insuficiência probatória em razão do in dubio pro reo não obsta a
ação civil. Por sua vez, a prova de que o réu não concorreu para a prática do crime obsta a ação civil
de conhecimento.
O exame da culpabilidade é o último a ser feito. As excludentes de culpabilidade isentam o
sujeito de pena, e a sentença é absolutória e obstará a ação civil de conhecimento.
ASPECTOS JURISDICIONAIS
JURISDIÇÃO.COMPETÊNCIA ABSOLUTA E COMPETÊNCIA RELATIVA.
CRITÉRIOS PARA FIXAÇÃO. JUSTIÇA COMUM E JUSTIÇA ESPECIALIZADA.
PRERROGATIVA DE FUNÇÃO. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO LUGAR.
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COMPETÊNCIA FUNCIONAL. CAUSAS MODIFICADORAS: PRORROGAÇÃO DE
COMPETÊNCIA. CONEXÃO E CONTINÊNCIA. FORO PREVALENTE.
PERPETUATIO JURISDICTIONIS.
100O aprofundamento do estudo acerca da jurisdição fugiria ao propósito deste trabalho. Por conta disso, questões mais ligadas à Teoria
Geral do Processo serão apenas tangenciadas, ainda assim quando estritamente necessário.
101 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pellegrini, DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. 13ª ed. rev. e
atual. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 129.
102Art. 26. A ação penal, nas contravenções, será iniciada com o auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria expedida pela
autoridade judiciária ou policial.
103 Exemplo comumente apontado pela doutrina está no art. 102 da Constituição Federal: “Compete ao Supremo Tribunal Federal,
precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: [...] m) a execução de sentença nas causas de
sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos processuais”. As cartas precatórias e rogatórias
seriam exemplos de delegação? O assunto é controvertido. Cintra, Grinover e Dinamarco sustentam que não, já que o juiz não pode delegar
aquilo que não possui. Tratar-se-ia, na realidade, de cooperação entre os órgãos judiciários, cada qual no limite de sua competência.
104 O princípio do juiz natural já foi abordado no item Capítulo 1, para o qual remetemos o leitor, a fim de evitar repetições inúteis.
105 Esse princípio será mais bem abordado quando do capítulo da sentença, nas hipóteses de emendatio e mutatio libelli.
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106OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 16. ed. atual. São Paulo: Atlas, 2012, p. 194.
107 Alguns julgados do STF sinalizam que a depender do caso concreto, não obstante a incompetência absoluta seria possível o
aproveitamento de atos decisórios, como a ratificação do recebimento da denúncia de juiz incompetente.
108 A Súmula 33 do STJ não se aplica ao processo penal, tendo se baseado exclusivamente em precedentes do processo civil.
109 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pellegrini, DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. 13ª ed. rev. e
atual. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 232-233.
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excluir a Justiça Militar, uma vez que no caso de conexão entre crime comum e de competência da
Justiça Militar a separação é de rigor.
Outrossim, segundo recente entendimento do Supremo Tribunal Federal, a Justiça Federal
possui primazia decorrente de sua previsão constitucional, sendo também de rigor a separação para
processo e julgamento de crimes conexos.
110 Também foge ao propósito deste trabalho a controvérsia envolvendo a existência ou não do crime político puro, diante da nova ordem
constitucional.
111EMENTA: CRIME POLÍTICO. COMPETÊNCIA. INTRODUÇÃO, NO TERRITÓRIO NACIONAL, DE MUNIÇÃO PRIVATIVA DAS FORÇAS ARMADAS,
PRATICADO POR MILITAR DA RESERVA (ARTIGO 12 DA LSN). INEXISTÊNCIA DE MOTIVAÇÃO POLÍTICA: CRIME COMUM. PRELIMINARES DE
COMPETÊNCIA: 1ª) Os juízes federais são competentes para processar e julgar os crimes políticos e o Supremo Tribunal Federal para julgar
os mesmos crimes em segundo grau de jurisdição (CF, artigos 109, IV, e 102, II, b), a despeito do que dispõem os artigos 23, IV, e 6º, III, c, do
Regimento Interno, cujas disposições não mais estão previstas na Constituição. 2ª) Incompetência da Justiça Militar: a Carta de 1969 dava
competência à Justiça Militar para julgar os crimes contra a segurança nacional (artigo 129 e seu § 1º); entretanto, a Constituição de 1988,
substituindo tal denominação pela de crime político, retirou-lhe esta competência (artigo 124 e seu par. único), outorgando-a à Justiça
Federal (artigo 109, IV). 3ª) Se o paciente foi julgado por crime político em primeira instância, esta Corte é competente para o exame da
apelação, ainda que reconheça inaplicável a Lei de Segurança Nacional. MÉRITO: 1. Como a Constituição não define crime político, cabe ao
intérprete fazê-lo diante do caso concreto e da lei vigente. 2. Só há crime político quando presentes os pressupostos do artigo 2º da Lei de
Segurança Nacional (Lei nº 7.170/82), ao qual se integram os do artigo 1º: a materialidade da conduta deve lesar real ou potencialmente ou
expor a perigo de lesão a soberania nacional, de forma que, ainda que a conduta esteja tipificada no artigo 12 da LSN, é preciso que se lhe
agregue a motivação política. Precedentes. 3. Recurso conhecido e provido, em parte, por seis votos contra cinco, para, assentada a
natureza comum do crime, anular a sentença e determinar que outra seja prolatada, observado o Código Penal. (RC 1468 segundo,
Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 23/03/2000, DJ 16-08-2000 PP-
00088 EMENT VOL-02078-01 PP-00041).
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excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral. Vê-se
que o foco é a Administração Pública Federal.
Antes de se delinear a noção de bens, serviços e interesses, é preciso esclarecer que a
competência surge quando o crime se dirige contra a União, suas entidades autárquicas ou empresas
públicas federais. Ficam de fora as sociedades de economia mista (Enunciado 42 da Súmula de
Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça), como é o caso, por exemplo, do Banco do Brasil112 e
da Petrobrás113. Da mesma forma, não se enquadram no conceito as agências de Correios exploradas
por particulares114 e as casas lotéricas, permissionárias de serviço público federal115.
No caso de fundações, ao contrário, quando possuírem natureza de pessoa jurídica de direito
público, equiparáveis às autarquias, a competência fica reservada à Justiça Federal116. Sobre o tema,
restou superado o entendimento segundo o qual a OAB possui natureza jurídica de autarquia pública
federal, sendo considerada serviço público independente, de categoria jurídica ímpar. Portanto,
desde o julgamento da ADI 3026, a OAB possui as prerrogativas das autarquias federais, e os crimes
praticados em seu detrimento serão processados e julgados pela Justiça Federal.
Em relação aos bens, não há grandes dificuldades, conforme ensina Pacelli: “Todas as infrações
penais, à exceção das contravenções, que atingirem o patrimônio da União, suas autarquias (inclusive
as chamadas autarquias especiais) e empresas públicas serão da competência federal. Dizemos que a
112PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. EMISSÃO DE DUPLICATAS SIMULADAS. CONDUTA PRATICADA EM DETRIMENTO DE SOCIEDADE DE
ECONOMIA MISTA. SÚMULA 42/STJ. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. 1. O art. 6º da Lei n. 7.492/1986 tutela, especificamente, a
inviolabilidade e a credibilidade do mercado de capitais, protegendo o Sistema Financeiro Nacional da disseminação de informações
fraudulentas, potencialmente lesivas a sua estabilidade. 2. Na espécie, a eventual conduta do empresário que emite e desconta títulos
fraudulentos não o qualifica como sujeito ativo do tipo, já que se trata de crime próprio, que só poderia ser cometido, via de regra, por
aqueles que, detendo informação relevante, administram ou controlam instituição financeira. 3. Excluída a hipótese de crime contra o
sistema financeiro, afasta-se a competência da Justiça Federal, sobretudo porque a suposta fraude foi praticada em detrimento do Banco do
Brasil (sociedade de economia mista), sem que ocorresse lesão a bens, serviços ou interesses da União. Inteligência da Súmula 42/STJ. 4.
Conflito conhecido para declarar a competência da Justiça estadual. (CC 111.961/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 26/10/2011, DJe 09/11/2011).
113CONSTITUCIONAL. PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME DE PERIGO PARA A VIDA OU SAÚDE DE OUTREM. TRABALHADORES DA
PETROBRÁS. INAPLICABILIDADE DO ART. 109, IV, DA CF. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL. SÚMULA Nº 42/STJ. - Não incide a
regra de competência disposta no art. 109, IV, da Carta Magna, na hipótese em que a prática delituosa envolve bens e serviços da
Petrobrás. - "Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte sociedade de economia mista e os
crimes praticados em seu detrimento". (Súmula nº 42/STJ). - Conflito conhecido. Competência da Justiça Estadual. (CC 34.575/SP, Rel.
Ministro VICENTE LEAL, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/08/2002, DJ 09/09/2002, p. 159).
114No caso da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT, a competência será da Justiça Estadual, caso o serviço seja prestado por
particular, mediante contrato de franquia. Por sua vez, será de competência da Justiça Federal quando se trate de agência comunitária,
constituída mediante convênio: “PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO PENAL. CRIME DE ROUBO PERPETRADO CONTRA AGÊNCIA
COMUNITÁRIA DOS CORREIOS, CONSTITUÍDA MEDIANTE CONVÊNIO ENTRE A ECT E O MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO BATISTA/SC. INTERESSE
RECÍPROCO NO SERVIÇO PRESTADO, INCLUSIVE DA EMPRESA PÚBLICA FEDERAL. DANO DE PEQUENO VALOR. IRRELEVÂNCIA. PERDA
MATERIAL E PREJUÍZO AO SERVIÇO POSTAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. Nos crimes praticados em detrimento das agências da
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT, esta Corte Superior já firmou o entendimento de que a fixação da competência depende
da natureza econômica do serviço prestado. Se explorado diretamente pela empresa pública – na forma de agência própria –, o crime é de
competência da Justiça Federal. De outro vértice, se a exploração se dá por particular, mediante contrato de franquia, a competência para o
julgamento da infração é da Justiça estadual. 2. A espécie, contudo, guarda peculiaridade, pois a agência alvo do roubo é tida como
"comunitária". Constituída sob a forma de convênio entre a ECT e a prefeitura municipal, ostenta interesse recíproco dos entes
contratantes, inclusive da empresa pública federal. 3. Embora noticiado que o ilícito importou em pequeno prejuízo à empresa pública, o
fato é que houve perda material e prejuízo ao serviço postal; logo é o caso de firmar a competência da Justiça Federal para conhecer do
feito, nos termos do art. 109, IV, da Constituição Federal. 4. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal e Juizado
Especial de Brusque - SJ/SC, o suscitante.” (CC 122.596/SC, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 08/08/2012,
DJe 22/08/2012).
115 “AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PENAL. CRIME DE ROUBO EM ESTABELECIMENTO CREDENCIADO
COMO CORRESPONDENTE BANCÁRIO. EMPRESA PRIVADA. INEXISTÊNCIA DE OFENSA A BENS, SERVIÇOS OU INTERESSES DA UNIÃO, DE
SUAS AUTARQUIAS OU EMPRESAS PÚBLICAS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. No caso, trata-se de roubo praticado contra empresa
privada permissionária de serviços bancários da Caixa Econômica Federal. Em se tratando de empresa privada permissionária de serviços
bancários da CEF, como é o exemplo de casas lotéricas, juridicamente análogo à presente hipótese, é assente o entendimento de que a
simples existência de contrato de permissão dos serviços não pressupõe a lesão a bens, serviços ou interesses da empresa pública, diante
de roubo perpetrado contra o particular contratante (CC 120.634/PB, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (Desembargador convocado do
TJ/RS, DJe 21/03/2012). Agravo regimental desprovido.” (AgRg no CC 137.550/SP, Rel. Ministro ERICSON MARANHO (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/SP), TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 08/04/2015, DJe 15/04/2015).
116 Cita-se o Enunciado 324 da Súmula do STJ como exemplo: “Compete à Justiça Federal processar e julgar ações de que participa a
Fundação Habitacional do Exército, equiparada à entidade autárquica federal, supervisionada pelo Ministério do Exército”. Apesar de o
enunciado espelhar decisões cíveis, os fundamentos são semelhantes.
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questão não oferece maiores dificuldades pelo fato de ser extremamente simples a identificação do
patrimônio de tais entes públicos, necessariamente objeto de registro e cadastramento
particularizado junto à respectiva Administração”117.
Nessa senda, serão de competência da Justiça Federal os delitos cometidos em detrimento de
bens tombados por autarquia federal, como o IPHAN. Por sua vez, restaram para a Justiça Estadual o
processamento e julgamento dos crimes contra bens tombados por outros órgãos não pertencentes
à Administração Pública Federal.
Cabe salientar que os delitos cometidos em detrimento do meio ambiente apenas serão de
alçada da Justiça Federal quando cometidos em local pertencente à União118, ou de qualquer outra
forma direta e concreta atinjam bem da União. De observar o cancelamento da Súmula nº 91 do STJ,
que atribuía à Justiça Federal a competência para julgamento de crimes contra a fauna. Da mesma
forma, os biomas que compõem patrimônio nacional – Mata Atlântica, Floresta Amazônica – são de
interesse da nação como um todo, e não especialmente da União.
Os serviços também estão ligados à Administração Pública Federal. Em regra, quando o crime
for cometido contra funcionário público federal, no exercício de suas funções ou em razão delas, a
competência será da Justiça Federal, ainda que a vida ou a integridade física do agente público
também seja atingida119. Ainda, nos termos do artigo 327, §1º do CPP, o empregado terceirizado
pode ser equiparado a funcionário público quando exerça atividade típica da Administração.
A cautela que se deve ter ao interpretar tal norma, nesse caso, é a de que nem sempre o
serviço será efetivamente violado, mas apenas aparentemente, tal como em alguns casos previstos
no Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/03), que permanecem sendo da competência da Justiça
Estadual, não obstante o registro seja submetido a controle de órgão federal. Uma dica importante é
observar a objetividade jurídica do crime120.
Na terceira hipótese, é bem provável que o legislador constituinte tenha recorrido à técnica da
criação de norma de extensão, ao se referir especificamente a interesses dos entes federais descritos
no inciso IV do art. 109. Isso porque, em caso de ofensa a bens ou serviços, o interesse é patente.
Busca-se abranger, portanto, as hipóteses que não se enquadrariam nas duas primeiras situações,
mas que ainda assim configurariam violação a interesse da União ou dos demais entes federais.
É recomendável verificar se a lei traz alguma norma sobre o assunto, como acontece, por
exemplo, no crime de moeda falsa e nos delitos contra o Sistema Financeiro Nacional. Não havendo
117 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 16. ed. atual. São Paulo: Atlas, 2012, p. 229.
118Caso da pesca ilegal do camarão em mar territorial e da extração ilegal de recursos minerais perpetrados em propriedade particular:
“Art. 20. São bens da União: (...) VI - o mar territorial; (...) IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo”.
119 Súmula 147 do STJ: “Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário público federal, quando
relacionados com o exercício da função”.
120A decisão a seguir reflete a necessidade de se ter cautela no momento da análise da competência: "Competência: Justiça Estadual:
processo por crime contra a ordem econômica previsto no art. 1º da Lei 8.176/1991 (venda de combustível adulterado); inexistência de
lesão à atividade de fiscalização atribuída à Agência Nacional do Petróleo – ANP e, portanto, ausente interesse direto e específico da União:
não incidência do art. 109, IV, da CF. Regra geral, os crimes contra a ordem econômica são da competência da Justiça comum, e, no caso,
como a Lei 8.176/1991 não especifica a competência para o processo e julgamento do fato que o recorrido supostamente teria praticado,
não há se cogitar de incidência do art. 109, VI, da CF. De outro lado, os crimes contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira
devem ser julgados pela Justiça Federal – ainda que ausente na legislação infraconstitucional nesse sentido –, quando se enquadrem os
fatos em alguma das hipóteses previstas no artigo 109, IV, da Constituição. É da jurisprudência do Tribunal, firmada em casos semelhantes –
relativos a crimes ambientais, que ‘o interesse da União para que ocorra a competência da Justiça Federal prevista no art. 109, IV, da Carta
Magna, tem de ser direto e específico’, não sendo suficiente o ‘interesse genérico da coletividade, embora aí também incluído
genericamente o interesse da União’. (REE 166.943, Primeira Turma, 3-3-1995, Moreira; 300.244, Primeira Turma, 20-11-2001, Moreira;
404.610, 16-9-2003, Pertence; 336.251, 9-6-2003, Pertence; HC 81.916, Segunda Turma, Gilmar, RTJ 183/3). No caso, não há falar em lesão
aos serviços da entidade autárquica responsável pela fiscalização: não se pode confundir o fato objeto da fiscalização – a adulteração do
combustível – com o exercício das atividades fiscalizatórias da ANP, cujo embaraço ou impedimento, estes sim, poderiam, em tese,
configurar crimes da competência da Justiça Federal, porque lesivos a serviços prestados por entidade autárquica federal. (CF, art. 109, IV)."
(RE 502.915, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 13-2-2007, Primeira Turma, DJ de 27-4-2007.) No mesmo sentido: RE 454.737,
Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 18-9-2008, Plenário, DJE de 21-11-2008.
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previsão expressa na lei, recorre-se à jurisprudência sobre a matéria, que deve ser sempre
atualizada, em razão da possibilidade de haver decisões conflitantes no tempo.
A casuística é bastante variada, cabendo comentar alguns casos já apreciados pela
jurisprudência. O cuidado principal a se ter em vista é no sentido de que a conduta afronte de forma
imediata, concreta e específica interesse da União121122.
Em relação aos crimes contra a fé pública, é importante distinguir três situações distintas: (i)
falsificação de documento público; (ii) uso de documento falso; (iii) uso de documento falso como
crime-meio. A falsificação de documento público será processada e julgada conforme a natureza da
entidade responsável pela sua fabricação123. De outra banda, quanto ao uso de documento falso, o
STJ recentemente editou enunciado sobre a questão, ao definir que a competência para processar e
julgar o crime de uso de documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi
apresentado o documento público, não importando a qualificação do órgão expedidor. (Súmula 546,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/10/2015, DJe 19/10/2015). Finalmente, quando o crime de falso for
considerado meio para a prática de outro delito, sendo absorvido pelo princípio da consunção, será
definida a competência pelo crime-fim124.
O crime de falso testemunho praticado na Justiça Trabalhista será processado e julgado pela
Justiça Federal conforme a Súmula nº 165 do STJ: “Compete à Justiça Federal processar e julgar crime
de falso testemunho cometido no processo trabalhista.”
Quanto ao desvio de verbas federais, as Súmulas nº 208 e 209 do STJ dispõem que a
competência para processamento e julgamento de tais delitos será determinada de acordo com a
121Dessa forma, conforme assentado no julgamento do CC 107.584/PR, julgado em 24/03/2010, e no AgRg no CC 133.092/RS, julgado em
23/04/2014, não serão julgados pela Justiça Federal os crimes praticados em detrimento de Consulado estrangeiro, que se trata de mera
representação administrativa do Estado estrangeiro em território nacional. “AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO NEGATIVO DE
COMPETÊNCIA. INQUÉRITO POLICIAL. INVASÃO DA EMBAIXADA AMERICANA. APURAÇÃO DOS DELITOS QUE TERIAM SIDO PRATICADOS.
HIPÓTESES PREVISTAS NO ART. 109, IV E V, DA CF. NÃO OCORRÊNCIA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.
1. De acordo com o disposto no art. 109, incisos IV e V, da Carta Magna, a competência penal da Justiça Federal impõe que haja ofensa a
bens, serviços ou interesses da União, ou que o crime praticado esteja previsto em tratados ou convenções internacionais, comprovada a
internacionalidade do fato.
2. No caso, não se verifica nenhuma daquelas hipóteses, uma vez que os crimes imputados estão previstos no Código Penal, não havendo
qualquer indício de internacionalidade do fato. De igual modo, as condutas ilícitas não ofenderam diretamente os bens, serviços ou
interesses da União, entidades autárquicas ou empresas públicas federais.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no CC 133.092/RS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 23/04/2014, DJe 28/04/2014)”
122"Competência. Homicídio qualificado. Formação de quadrilha. Crime praticado para evitar que a vítima prestasse depoimento no
Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana. Órgão vinculado ao Ministério da Justiça. Interesse da União comprovado.
Competência da Justiça Federal. A jurisprudência deste STF é firme no sentido de que a competência da Justiça Federal, em matéria penal,
só ocorre quando a infração penal é praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União, mormente quando os crimes teriam
sido praticados com o objetivo de evitar que a vítima prestasse declarações ao Conselho de Defesa dos Direitos Humanos". (HC 107.156, rel.
min. Cármen Lúcia, julgamento em 8-5-2012, Primeira Turma, DJE de 1º-8-2012).
123STJ Súmula nº 62 – “Compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na Carteira de Trabalho e Previdência
Social, atribuído à empresa privada.” Deve-se, no entanto, atentar para o §4º do artigo 297, que estabelece hipótese de competência da
Justiça Federal: “PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. INQUÉRITO POLICIAL. ART. 297, § 3º, II, E § 4º, DO CP. OMISSÃO DE ANOTAÇÃO DE
VÍNCULO EMPREGATÍCIO EM CTPS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL (ART. 109, IV, DA CF). PRECEDENTE RECENTE DA TERCEIRA SEÇÃO
(CC N. 127.706/RS). 1. No julgamento do CC n. 127.706/RS (em 9/4/2014), da relatoria do Ministro Rogerio Schietti Cruz, a Terceira Seção
desta Corte, por maioria, firmou o entendimento de que, no delito tipificado no art. 297, § 4º, do Código Penal, o sujeito passivo é o Estado
e, eventualmente, de forma secundária, o particular, terceiro prejudicado com a omissão das informações, circunstância que atrai a
competência da Justiça Federal, conforme o disposto no art. 109, IV, da Constituição Federal. 2. Conflito conhecido para declarar a
competência do Juízo Federal da 1ª Vara de Itapeva - SJ/SP, o suscitante. (CC 135.200/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Rel. p/ Acórdão
Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/10/2014, DJe 02/02/2015).”
124 Deve-se atentar para eventual absorção do crime-meio, a afastar a competência da Justiça Militar: “EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL.
MILITAR. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO MILITAR E USO COM O FIM DE OBTER VANTAGEM DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. CRIMES MEIOS
DO DELITO FIM DE ESTELIONATO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR. 1. Pelos elementos dos
autos, a falsificação de documento militar e o seu uso pelo Paciente teriam sido praticados com a finalidade de obter vantagem indevida de
instituição financeira, configurando a prática de estelionato. 2. Dessa forma, pelo princípio da consunção, os delitos de falsidade de
documento militar e uso desse documento, que isoladamente são crimes militares, são absorvidos pelo delito de estelionato contra
instituição financeira, pois são crimes meio deste. Competência da Justiça Comum definida pela vítima do crime fim de estelionato, a
instituição financeira. 3. Ordem concedida para reconhecer a incompetência da Justiça Militar e determinar a remessa dos autos do
inquérito policial militar para a Justiça Comum competente. (HC 113261, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado em
18/09/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-193 DIVULG 01-10-2012 PUBLIC 02-10-2012).
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sujeição para prestação de contas de tais verbas: “STJ Súmula nº 208 - Compete à Justiça Federal
processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão
federal”; “STJ Súmula nº 209 -Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de
verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal”.
Por fim, a própria Constituição Federal retira da Justiça Federal a competência para
julgamento de contravenções penais.
125CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PENAL. TRÁFICO E ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS. EXISTÊNCIA DE
INDICATIVOS CONCRETOS DA TRANSNACIONALIDADE DO DELITO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. PRECEDENTES. 1. Na fase em que se
encontra a persecução criminal – não houve ainda sequer o recebimento da denúncia – existem fortes elementos que apontam para a
transnacionalidade do tráfico – tais como a existência de mensagens, no celular de um dos acusados, em língua espanhola, dois dias antes
da apreensão da droga; a quantidade da substância apreendida (quase duas toneladas de "maconha"); bem como a inscrição "Industria
Paraguaya" em embalagem utilizada no transporte da droga – razão por que o feito deve ser processado perante a Justiça Federal. 2. Se,
exaurida a fase instrutória, e o Juízo Federal constatar a ausência de provas da internacionalidade do crime, deve reconhecer-se
incompetente, remetendo os autos para a Justiça Comum Estadual. 3. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da
1.ª Vara de Divinópolis - SJ/MG. (CC 115595/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/09/2011, DJe 10/10/2011).
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INTERNACIONALIDADE. ARTIGO 109, V, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. COMPETÊNCIA
DA JUSTIÇA FEDERAL RECONHECIDA. RECURSO DESPROVIDO.
8. Não se constata o caráter de internacionalidade, ainda que potencial, quando o panorama fático
envolve apenas a comunicação eletrônica havida entre particulares em canal de comunicação
fechado, tal como ocorre na troca de e-mails ou conversas privadas entre pessoas situadas no
Brasil. Evidenciado que o conteúdo permaneceu enclausurado entre os participantes da conversa
virtual, bem como que os envolvidos se conectaram por meio de computadores instalados em
território nacional, não há que se cogitar na internacionalidade do resultado.
(RE 628624, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. EDSON
FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 29/10/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-062 DIVULG 05-04-2016 PUBLIC 06-04-2016)
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4.2.2.3 AS CAUSAS RELATIVAS A DIREITOS HUMANOS A QUE SE REFERE O § 5º
DO ART. 109 DA CF (ART. 109, V-A E §5º)
A Emenda Constitucional 45/04 criou uma nova hipótese de competência da Justiça Federal,
ao instituir o denominando incidente de deslocamento de competência (art. 109, V-A, da CF).
Segundo dispõe o § 5º do art. 109, nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o
Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações
decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá
suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente
de deslocamento de competência para a Justiça Federal.
Eugênio Pacelli defende que não seria propriamente um deslocamento de competência, mas o
reconhecimento da competência originária da Justiça Federal, diferenciando-se da hipótese do inciso
V, por não exigir a internacionalidade da conduta: “a nosso aviso, quando se tratar de graves
violações a direitos humanos, e quando se revelar necessária a intervenção de instituições federais
para cumprir suas obrigações firmadas com Estados e organizações internacionais, a competência
será, originariamente, da Justiça Federal. É dizer: será da Justiça Federal em razão da matéria, do
mesmo modo que ocorre em relação aos tratados e convenções internacionais, com a diferença de
que, quanto aos demais (tratados), exige-se a internacionalização da conduta; em relação aos crimes
contra os direitos humanos, assim tipificados em tratados internacionais (ver, por exemplo, o
Tribunal Penal Internacional, ratificado e promulgado no Brasil por meio do Decreto Legislativo n.
112, de 6.6.2002, e Decreto n. 4.388, de 25.9.2002), não se exigirá a citada internacionalização da
conduta”126.
O primeiro caso de IDC que se tem notícia refere-se ao assassinato da missionária norte-
americana Dorothy Stang, tendo o Superior Tribunal de Justiça indeferido o pedido, sob o argumento
de que as autoridades estaduais estavam empenhadas na apuração dos fatos, não havendo
justificativa para remessa dos autos à Justiça Federal127. Mais recentemente, foi deferido o
deslocamento no caso envolvendo o assassinato de Manoel Bezerra de Mattos Neto128.
126 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 16. ed. atual. São Paulo: Atlas, 2012, p. 243.
127 CONSTITUCIONAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO DOLOSO QUALIFICADO. (VÍTIMA IRMÃ DOROTHY STANG). CRIME
PRATICADO COM GRAVE VIOLAÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS. INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA – IDC. INÉPCIA DA PEÇA
INAUGURAL. NORMA CONSTITUCIONAL DE EFICÁCIA CONTIDA. PRELIMINARES REJEITADAS. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL E À
AUTONOMIA DA UNIDADE DA FEDERAÇÃO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. RISCO DE DESCUMPRIMENTO DE
TRATADO INTERNACIONAL FIRMADO PELO BRASIL SOBRE A MATÉRIA NÃO CONFIGURADO NA HIPÓTESE. INDEFERIMENTO DO PEDIDO. 1.
Todo homicídio doloso, independentemente da condição pessoal da vítima e/ou da repercussão do fato no cenário nacional ou
internacional, representa grave violação ao maior e mais importante de todos os direitos do ser humano, que é o direito à vida, previsto no
art. 4º, nº 1, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário por força do Decreto nº 678, de 6/11/1992,
razão por que não há falar em inépcia da peça inaugural. 2. Dada a amplitude e a magnitude da expressão “direitos humanos”, é verossímil
que o constituinte derivado tenha optado por não definir o rol dos crimes que passariam para a competência da Justiça Federal, sob pena
de restringir os casos de incidência do dispositivo (CF, art. 109, § 5º), afastando-o de sua finalidade precípua, que é assegurar o
cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais firmados pelo Brasil sobre a matéria, examinando-se cada situação de
fato, suas circunstâncias e peculiaridades detidamente, motivo pelo qual não há falar em norma de eficácia limitada. Ademais, não é
próprio de texto constitucional tais definições. 3. Aparente incompatibilidade do IDC, criado pela Emenda Constitucional nº 45/2004, com
qualquer outro princípio constitucional ou com a sistemática processual em vigor deve ser resolvida aplicando-se os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade. 4. Na espécie, as autoridades estaduais encontram-se empenhadas na apuração dos fatos que
resultaram na morte da missionária norte-americana Dorothy Stang, com o objetivo de punir os responsáveis, refletindo a intenção de o
Estado do Pará dar resposta eficiente à violação do maior e mais importante dos direitos humanos, o que afasta a necessidade de
deslocamento da competência originária para a Justiça Federal, de forma subsidiária, sob pena, inclusive, de dificultar o andamento do
processo criminal e atrasar o seu desfecho, utilizando-se o instrumento criado pela aludida norma em desfavor de seu fim, que é combater
a impunidade dos crimes praticados com grave violação de direitos humanos. 5. O deslocamento de competência – em que a existência de
crime praticado com grave violação aos direitos humanos é pressuposto de admissibilidade do pedido – deve atender ao princípio da
proporcionalidade (adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito), compreendido na demonstração concreta de risco de
descumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais firmados pelo Brasil, resultante da inércia, negligência, falta de
vontade política ou de condições reais do Estado-membro, por suas instituições, em proceder à devida persecução penal. No caso, não há a
cumulatividade de tais requisitos, a justificar que se acolha o incidente. 6. Pedido indeferido, sem prejuízo do disposto no art. 1º, inc. III, da
Lei nº 10.446, de 8/5/2002. (IDC1/PA, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 08/06/2005, DJ 10/10/2005, p.
217).
128INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇAS ESTADUAIS DOS ESTADOS DA PARAÍBA E DE PERNAMBUCO. HOMICÍDIO
DE VEREADOR, NOTÓRIO DEFENSOR DOS DIREITOS HUMANOS, AUTOR DE DIVERSAS DENÚNCIAS CONTRA A ATUAÇÃO DE GRUPOS DE
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CONSTITUCIONA DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
4.2.2.4 OS CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E, NOS CASOS
DETERMINADOS POR LEI, CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO E A ORDEM
ECONÔMICO-FINANCEIRA (ART. 109, VI)
Em relação aos crimes contra a organização do trabalho, a primeira observação que se faz é a
de que a mera posição topográfica do tipo penal dentro do Título IV do Código Penal não acarreta
necessariamente a competência da Justiça Federal. É preciso analisar criteriosamente a objetividade
jurídica e o caso concreto129. A recíproca também é verdadeira, sendo possível haver casos em que a
competência seja fixada, mesmo que o tipo penal não se localize dentro do mencionado título130.
A jurisprudência tem apresentado oscilações. Apesar disso, tem-se convergentemente definido
que a Justiça Federal será competente para o julgamento de tais infrações penais, quando tenham
sido afetadas as instituições do trabalho ou os direitos dos trabalhadores coletivamente
considerados131. Tem sido utilizado o acórdão proferido nos autos do RE 398.041/PA132 como
paradigma, que tratava de infração penal tipificada no art. 149 do CP.
EXTERMÍNIO NA FRONTEIRA DOS DOIS ESTADOS. AMEAÇAS, ATENTADOS E ASSASSINATOS CONTRA TESTEMUNHAS E
DENUNCIANTES.ATENDIDOS OS PRESSUPOSTOS CONSTITUCIONAIS PARA A EXCEPCIONAL MEDIDA. 1. A teor do § 5.º do art. 109 da
Constituição Federal, introduzido pela Emenda Constitucional nº 45/2004, o incidente de deslocamento de competência para a Justiça
Federal fundamenta-se, essencialmente, em três pressupostos: a existência de grave violação a direitos humanos; o risco de
responsabilização internacional decorrente do descumprimento de obrigações jurídicas assumidas em tratados internacionais; e a
incapacidade das instâncias e autoridades locais em oferecer respostas efetivas. 2. Fatos que motivaram o pedido de deslocamento
deduzido pelo Procurador-Geral da República: o advogado e vereador pernambucano MANOEL BEZERRA DE MATTOS NETO foi assassinado
em 24/01/2009, no Município de Pitimbu/PB, depois de sofrer diversas ameaças e vários atentados, em decorrência, ao que tudo leva a crer,
de sua persistente e conhecida atuação contra grupos de extermínio que agem impunes há mais de uma década na divisa dos Estados da
Paraíba e de Pernambuco, entre os Municípios de Pedras de Fogo e Itambé. 3. A existência de grave violação a direitos humanos, primeiro
pressuposto, está sobejamente demonstrado: esse tipo de assassinato, pelas circunstâncias e motivação até aqui reveladas, sem dúvida,
expõe uma lesão que extrapola os limites de um crime de homicídio ordinário, na medida em que fere, além do precioso bem da vida, a
própria base do Estado, que é desafiado por grupos de criminosos que chamam para si as prerrogativas exclusivas dos órgãos e entes
públicos, abalando sobremaneira a ordem social. 4. O risco de responsabilização internacional pelo descumprimento de obrigações
derivadas de tratados internacionais aos quais o Brasil anuiu (dentre eles, vale destacar, a Convenção Americana de Direitos Humanos, mais
conhecido como "Pacto de San Jose da Costa Rica") é bastante considerável, mormente pelo fato de já ter havido pronunciamentos da
Comissão Interamericana de Direitos Humanos, com expressa recomendação ao Brasil para adoção de medidas cautelares de proteção a
pessoas ameaçadas pelo tão propalado grupo de extermínio atuante na divisa dos Estados da Paraíba e Pernambuco, as quais, no entanto,
ou deixaram de ser cumpridas ou não foram efetivas. Além do homicídio de MANOEL MATTOS, outras três testemunhas da CPI da Câmara
dos Deputados foram mortos, dentre eles LUIZ TOMÉ DA SILVA FILHO, ex-pistoleiro, que decidiu denunciar e testemunhar contra os outros
delinquentes. Também FLÁVIO MANOEL DA SILVA, testemunha da CPI da Pistolagem e do Narcotráfico da Assembleia Legislativa do Estado
da Paraíba, foi assassinado a tiros em Pedra de Fogo, Paraíba, quatro dias após ter prestado depoimento à Relatora Especial da ONU sobre
Execuções Sumárias, Arbitrárias ou Extrajudiciais. E, mais recentemente, uma das testemunhas do caso Manoel Mattos, Maximiano
Rodrigues Alves, sofreu um atentado a bala no município de Itambé, Pernambuco, e escapou por pouco. Há conhecidas ameaças de morte
contra Promotores e Juízes do Estado da Paraíba, que exercem suas funções no local do crime, bem assim contra a família da vítima Manoel
Mattos e contra dois Deputados Federais. 5. É notória a incapacidade das instâncias e autoridades locais em oferecer respostas efetivas,
reconhecida a limitação e precariedade dos meios por elas próprias. Há quase um pronunciamento uníssono em favor do deslocamento da
competência para a Justiça Federal, dentre eles, com especial relevo: o Ministro da Justiça; o Governador do Estado da Paraíba; o
Governador de Pernambuco; a Secretaria Executiva de Justiça de Direitos Humanos; a Ordem dos Advogados do Brasil; a Procuradoria-Geral
de Justiça do Ministério Público do Estado da Paraíba. 6. As circunstâncias apontam para a necessidade de ações estatais firmes e eficientes,
as quais, por muito tempo, as autoridades locais não foram capazes de adotar, até porque a zona limítrofe potencializa as dificuldades de
coordenação entre os órgãos dos dois Estados. Mostra-se, portanto, oportuno e conveniente a imediata entrega das investigações e do
processamento da ação penal em tela aos órgãos federais. 7. Pedido ministerial parcialmente acolhido para deferir o deslocamento de
competência para a Justiça Federal no Estado da Paraíba da ação penal n.º 022.2009.000.127-8, a ser distribuída para o Juízo Federal
Criminal com jurisdição no local do fato principal; bem como da investigação de fatos diretamente relacionados ao crime em tela. Outras
medidas determinadas, nos termos do voto da Relatora. (IDC. 2/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/10/2010, DJe
22/11/2010).
129 RE 449848 AgR, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 30/10/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-232 DIVULG 26-11-2012
PUBLIC 27-11-2012.
130 É o caso, por exemplo, do crime de redução à condição análoga à de escravo (art. 149 do CP).
131DIREITO PROCESSUAL PENAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CRIME DE LESÕES CORPORAIS DECORRENTE DE ACIDENTE DO TRABALHO.
AUSÊNCIA DE INTERESSE DIRETO E ESPECÍFICO DA UNIÃO. INEXISTÊNCIA DE CRIME CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. RECURSO IMPROVIDO. 1. A questão de direito tratada nestes autos diz respeito à alegada violação do
art. 109, IV e VI, da Constituição Federal. Cuida-se de possível malferimento da regra constitucional referente à competência da justiça
federal. 2. Da leitura da peça acusatória, verifica-se que não há interesse direto e específico da União capaz de atrair a competência do
julgamento da ação penal para a Justiça Federal. 3. O fato, por si só, da lesão corporal descrita na denúncia ser decorrente de acidente de
trabalho não é suficiente para transferir para a Justiça Federal o processamento e julgamento da ação penal. 4. Não se pode considerar o
delito descrito na denúncia como sendo crime contra a organização do trabalho, visto que esta espécie delitiva somente se configura
quando há ofensa ao sistema de órgãos e instituições destinados a preservar coletivamente o trabalho. 5. Ante o exposto, nego provimento
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Quanto aos crimes contra a ordem econômica e o sistema financeiro nacional, o constituinte
delegou à legislação ordinária a definição dos crimes de competência federal.
Nesse sentido, os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional estão definidos na Lei 7.492/86,
havendo previsão expressa no sentido de que a competência será da Justiça Federal (art. 26).
Os crimes contra a Economia Popular, definidos na Lei nº 1521/51, são julgados pela Justiça
Estadual, nos termos da Súmula º 498 do STF.
Os crimes contra a ordem econômica, definidos na Lei 8.176/91, não são em regra da
competência da Justiça Federal, salvo se, no caso concreto, se verificar a ocorrência de infração penal
praticada em detrimento de bens, serviços ou interesses da União ou de suas entidades autárquicas
ou empresas públicas, ocasião em que a competência se fixaria em razão do enquadramento das
hipóteses previstas no inciso IV do art. 109 da CF133. Do mesmo modo, em razão da magnitude da
abrangência de cartel é possível visualizar a necessidade de interferência da União e, assim, a
competência da Justiça Federal134. Os crimes contra a ordem econômico-financeira ainda estão
pendentes de regulamentação.
ao recurso extraordinário. (RE 588332, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 31/03/2009, DJe-075 DIVULG 23-04-2009
PUBLIC 24-04-2009 EMENT VOL-02357-07 PP-01417 RTJ VOL-00210-03 PP-01217 RT v. 98, n. 886, 2009, p. 525-530).
132DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. ART. 149 DO CÓDIGO PENAL. REDUÇÃO À CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO. TRABALHO
ESCRAVO. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. DIREITOS FUNDAMENTAIS. CRIME CONTRA A COLETIVIDADE DOS TRABALHADORES. ART. 109,
VI DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO. A Constituição de 1988 traz um
robusto conjunto normativo que visa à proteção e efetivação dos direitos fundamentais do ser humano. A existência de trabalhadores a
laborar sob escolta, alguns acorrentados, em situação de total violação da liberdade e da autodeterminação de cada um, configura crime
contra a organização do trabalho. Quaisquer condutas que possam ser tidas como violadoras não somente do sistema de órgãos e
instituições com atribuições para proteger os direitos e deveres dos trabalhadores, mas também dos próprios trabalhadores, atingindo-os
em esferas que lhes são mais caras, em que a Constituição lhes confere proteção máxima, são enquadráveis na categoria dos crimes contra
a organização do trabalho, se praticadas no contexto das relações de trabalho. Nesses casos, a prática do crime prevista no art. 149 do
Código Penal (Redução à condição análoga a de escravo) se caracteriza como crime contra a organização do trabalho, de modo a atrair a
competência da Justiça Federal (art. 109, VI da Constituição) para processá-lo e julgá-lo. Recurso extraordinário conhecido e provido. (RE
398041, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 30/11/2006, DJe-241 DIVULG 18-12-2008 PUBLIC 19-12-2008
EMENT VOL-02346-09 PP-02007 RTJ VOL-00209-02 PP-00869).
133 Competência: Justiça Estadual: processo por crime contra a ordem econômica, previsto no art. 1º da Lei 8.176/1991 (venda de
combustível adulterado); inexistência de lesão à atividade de fiscalização atribuída à Agência Nacional do Petróleo – ANP e, portanto,
ausente interesse direto e específico da União: não incidência do art. 109, IV, da CF. Regra geral, os crimes contra a ordem econômica são da
competência da Justiça comum, e, no caso, como a Lei 8.176/1991 não especifica a competência para o processo e julgamento do fato que o
recorrido supostamente teria praticado, não há se cogitar de incidência do art. 109, VI, da CF. De outro lado, os crimes contra o sistema
financeiro e a ordem econômico-financeira devem ser julgados pela Justiça Federal – ainda que ausente na legislação infraconstitucional
nesse sentido –, quando se enquadrem os fatos em alguma das hipóteses previstas no artigo 109, IV, da Constituição. É da jurisprudência do
Tribunal, firmada em casos semelhantes – relativos a crimes ambientais–, que ‘o interesse da União para que ocorra a competência da
Justiça Federal prevista no art. 109, IV, da Carta Magna, tem de ser direto e específico’, não sendo suficiente o ‘interesse genérico da
coletividade, embora aí também incluído genericamente o interesse da União’. (REE 166.943, Primeira Turma, 3-3-1995, Moreira; 300.244,
Primeira Turma, 20-11-2001, Moreira; 404.610, 16-9-2003, Pertence; 336.251, 9-6-2003, Pertence; HC 81.916, Segunda Turma, Gilmar, RTJ
183/3). No caso, não há falar em lesão aos serviços da entidade autárquica responsável pela fiscalização: não se pode confundir o fato
objeto da fiscalização – a adulteração do combustível – com o exercício das atividades fiscalizatórias da ANP, cujo embaraço ou
impedimento, estes sim, poderiam, em tese, configurar crimes da competência da Justiça Federal, porque lesivos a serviços prestados por
entidade autárquica federal (CF, art. 109, IV)". (RE 502.915, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 13-2-2007, Primeira Turma, DJ de
27-4-2007). No mesmo sentido: RE 454.737, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 18-9-2008, Plenário, DJE de 21-11-2008.
134HABEAS CORPUS PREVENTIVO. CRIME CONTRA A ORDEM ECONÔMICA. FORMAÇÃO DE CARTEL. COMPETÊNCIA. EMPRESAS DO RAMO
DE GÁS INDUSTRIAL. CONTROLE DO MERCADO NACIONAL. INTERESSE SUPRA-REGIONAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
PRECEDENTE DO STJ. INTELIGÊNCIA DA SÚMULA 150/STJ.(...) 1. A Lei 8.137/90, relativa aos crimes contra a ordem econômica, não contém
dispositivo expresso fixando a competência da Justiça Federal, competindo, em regra, à Justiça Estadual o julgamento dessa espécie de
delito; todavia, isso não afasta, de plano, a competência da Justiça Federal, desde que se verifique hipótese de ofensa a bens, serviços ou
interesses da União, suas autarquias ou empresas públicas, nos exatos termos do art. 109, inciso IV, da Carta Constitucional, ou que, pela
magnitude da atuação do grupo econômico ou pelo tipo de atividade desenvolvida, o ilícito tenha a propensão de abranger vários Estados
da Federação, prejudicar setor econômico estratégico para a economia nacional ou o fornecimento de serviços essenciais. 2. A diretriz para
a fixação dessa competência é dada pela denúncia; e, na hipótese em discussão, a inicial acusatória aponta para a existência de formação
de cartel por empresas do ramo de produção e comercialização de gás industrial, com atuação em todo o território brasileiro, visando ao
controle do mercado nacional, sugerindo, inclusive, que teria havido fraude à licitações de empresas públicas e privadas sediadas em
diferentes Estados. 3. A persecução criminal se iniciou por provocação da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça, que
vinha investigando inúmeras denúncias contra os acusados e forneceu os dados iniciais necessários para o início da Ação Penal, também
aludindo ao âmbito nacional da infração. 4. Já decidiu esta Corte que, quando a propensão ofensiva à ordem econômica se faz sentir em
localidades diversas e em territórios distintos, evidenciado o interesse supra-regional, exsurgem a necessidade de interferência da União e a
competência da Justiça Federal (HC 32.292/RS, Rel. Min. JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, DJU 03.05.04).
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Os crimes de lavagem capitais, conforme previsão da Lei nº 9.613/98, serão de competência da
Justiça Federal quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, ou
em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas entidades autárquicas ou
empresas públicas, bem como quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça
Federal.
5. Ressalte-se, ademais, que, nos termos do enunciado 150 da Súmula desta Corte, compete a Justiça Federal decidir sobre a existência de
interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da união, suas autarquias ou empresas publicas.(...) (HC 117.169/SP, Rel. Ministro
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 19/02/2009, DJe 16/03/2009)
135CONFLITO DE COMPETENCIA. HOMICÍDIO PRATICADO A BORDO DE NAVIO. INCIDÊNCIA DO ART. 109, IX, DA CF/88. COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA FEDERAL. Compete à Justiça Federal de primeiro grau processar e julgar os crimes comuns praticados, em tese, no interior de navio
de grande cabotagem, autorizado e apto a realizar viagens internacionais, ex vi do inciso IX, art. 109, da CF. - Conflito conhecido.
Competência do Juízo Federal, o suscitante. (CC 14.488/PA, Rel. Ministro Vicente Leal, Terceira Seção, julgado em 19/10/1995, DJ 11/12/1995,
p. 43174).
136 CRIMINAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. HOMICÍDIO E LESÃO CORPORAL CULPOSOS OCORRIDOS DURANTE OPERAÇÃO DE
CARREGAMENTO DE NAVIO.COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. I. Não basta, à determinação da competência da Justiça Federal, apenas
o fato de que o eventual delito tenha sido cometido no interior de embarcação de grande porte. Faz-se necessário que este se encontre em
situação de deslocamento internacional ou ao menos em situação de potencial deslocamento. II. Hipótese na qual a embarcação
encontrava-se ancorada, para fins de carregamento, o qual, inclusive, estava sendo feito por pessoas – no caso as vítimas – estranhas à
embarcação, visto que eram estivadores e não passageiros ou funcionários desta. III. Conflito conhecido para declarar a competência do
Juízo da 3.ª Vara Criminal de Guarujá/SP, o suscitado. (CC 116.011/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 23/11/2011,
DJe 01/12/2011).
137CONFLITO DE COMPETÊNCIA. DESENVOLVIMENTO CLANDESTINO DE ATIVIDADES DE TELECOMUNICAÇÃO. CRIME COMETIDO A BORDO
DE NAVIO ANCORADO NO PORTO DE PARANAGUÁ. SITUAÇÃO DE POTENCIAL DESLOCAMENTO.COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. A
Constituição Federal, em seu art. 109, IX, expressamente aponta a competência da Justiça Federal para processar e julgar "os crimes
cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar". 2. Em razão da imprecisão do termo "navio"
utilizado no referido dispositivo constitucional, a doutrina e a jurisprudência construíram o entendimento de que "navio" seria embarcação
de grande porte o que, evidentemente, excluiria a competência para processar e julgar crimes cometidos a bordo de outros tipos de
embarcações, isto é, aqueles que não tivessem tamanho e autonomia consideráveis que pudessem ser deslocados para águas
internacionais. 3. Restringindo-se ainda mais o alcance do termo "navio", previsto no art. 109, IX, da Constituição, a interpretação que se dá
ao referido dispositivo deve agregar outro aspecto, a saber, que ela se encontre em situação de deslocamento internacional ou em situação
de potencial deslocamento. 4. Os tripulantes do navio que se beneficiavam da utilização de centrais telefônicas clandestinas, para realizar
chamadas internacionais, pertenciam a embarcação que estava em trânsito no Porto de Paranaguá, o que caracteriza, sem dúvida, situação
de potencial deslocamento. Assim, a competência, vista sob esse viés, é da Justiça Federal. 5. Conflito conhecido para declarar competente
o Juízo Federal e Juizado Especial de Paranaguá – SJ/PR. (CC 118.503/PR, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado
em 22/04/2015, DJe 28/04/2015).
138 EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA JURISDICIONAL. CRIMES
DE ROUBO QUALIFICADO E FORMAÇÃO DE QUADRILHA PRATICADOS A BORDO DE AERONAVE. ART. 109, INC. IX, DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. PRECEDENTES. RECURSO DESPROVIDO. 1. É da Justiça Federal a competência para
processar e julgar crime praticado a bordo de aeronave (art. 109, inc. IX, da Constituição da República), pouco importando se esta encontra-
se em ar ou em terra e, ainda, quem seja o sujeito passivo do delito. Precedentes. 2. Onde a Constituição não distingue, não compete ao
intérprete distinguir. 3. Recurso desprovido. (RHC 86998, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. CÁRMEN LÚCIA,
Primeira Turma, julgado em 13/02/2007, DJe-004 DIVULG 26-04-2007 PUBLIC 27-04-2007 DJ 27-04-2007 PP-00070 EMENT VOL-02273-02 PP-
00223 RT v. 96, n. 863, 2007, p. 501-506).
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Estadual, conforme já sedimentou o Superior Tribunal de Justiça , porque a Constituição Federal faz
referência apenas a crimes no inciso IX, estando tal entendimento em sintonia com a exceção
existente no inciso IV, ambos do art. 109.
Eugênio Pacelli tem posição mais restritiva, sustentando que a interpretação mais adequada à
matéria é no sentido de limitar a competência federal apenas em relação aos delitos praticados no
interior de aeronaves que estejam realizando transporte aéreo entre aeroportos efetivamente
fiscalizados pela Administração Pública Federal140.
Resta ainda fazer referência ao julgamento do RE 463.500/DF, em que o Supremo Tribunal
Federal entendeu que “o fato de a droga haver sido transportada por via aérea não ocasiona, por si
só, a competência da Justiça Federal. Prevalece, sob tal ângulo, o local em que apreendida”. A droga
foi apreendida nas dependências do terminal de passageiros, após o desembarque da aeronave.
Levou-se em consideração que a imputação narrada na denúncia versava sobre transporte e posse, e
que, por se tratar de crime permanente, o fato de ter-se operado parte do iter criminis a bordo de
aeronave não justificaria a competência da Justiça Federal, já que a sua consumação também se
prolongou em solo, após o desembarque141.
139CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CONTRAVENÇÃO PENAL PRATICADA A BORDO DE AERONAVE. ARTIGO 109, INCISOS IV E IX, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. SÚMULA Nº 38/STJ. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. 1. A Justiça Federal não tem competência
para julgar contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, nos termos da Súmula nº 38
desta Corte. 2. O artigo 109, inciso IX, da Constituição Federal de 1988, utilizado pelo Juízo suscitado para embasar o declínio da
competência para o Juízo Federal, refere-se tão somente aos crimes cometidos a bordo de navios e aeronaves, excluídas, portanto, as
contravenções penais. 3. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito do Segundo Juizado Especial Criminal de
Itapuã/BA, o suscitado. (CC 117.220/BA, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/10/2011, DJe 07/12/2011).
140 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 16. ed. atual. São Paulo: Atlas, 2012,p. 248.
141 Esse acórdão confirmou a seguinte decisão proferida pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região: “PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO
DOMÉSTICO DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE. COMPETÊNCIA. TRANSPORTE AÉREO. PRISÃO NAS DEPENDÊNCIAS DO AEROPORTO. 1.
Inexistência de prova a determinar o tráfico internacional de drogas. O apelante foi preso no Aeroporto Internacional de Brasília, vindo da
cidade de Cuiabá com destino a São Paulo. 2. É da Justiça Estadual a competência para processar e julgar o tráfico doméstico de substância
entorpecente. 3. Recurso em sentido estrito não provido”. (RCCR 0028669-44.2004.4.01.3400 / DF, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL
TOURINHO NETO, TERCEIRA TURMA, DJ p.21 de 18/03/2005).
142Art. 125. Constitui infração, sujeitando o infrator às penas aqui cominadas: [...] XI - infringir o disposto no artigo 106 ou 107: Pena:
detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e expulsão. XII - introduzir estrangeiro clandestinamente ou ocultar clandestino ou irregular: Pena:
detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e, se o infrator for estrangeiro, expulsão. XIII - fazer declaração falsa em processo de transformação de
visto, de registro, de alteração de assentamentos, de naturalização, ou para a obtenção de passaporte para estrangeiro, laissez-passer, ou,
quando exigido, visto de saída: Pena: reclusão de 1 (um) a 5 (cinco) anos e, se o infrator for estrangeiro, expulsão.
143EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. DISPUTA DE TERRAS INDÍGENAS. CRIME PATRIMONIAL. JULGAMENTO. JUSTIÇA
ESTADUAL. COMPETÊNCIA. PRISÃO PREVENTIVA. REQUISITOS DO ARTIGO 312 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. INOBSERVÂNCIA.
REVOGAÇÃO. RECURSO PROVIDO. 1. O deslocamento da competência para a Justiça Federal somente ocorre quando o processo versar
sobre questões diretamente ligadas à cultura indígena e ao direito sobre suas terras, ou quando envolvidos interesses da União. [...] (RHC
85737, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 12/12/2006, DJe-152 DIVULG 29-11-2007 PUBLIC 30-11-2007 DJ
30-11-2007 PP-00129 EMENT VOL-02301-02 PP-00333).
144 EMENTA: COMPETÊNCIA CRIMINAL. Conflito. Crime praticado por silvícolas, contra outro índio, no interior de reserva indígena. Disputa
sobre direitos indígenas como motivação do delito. Inexistência. Feito da competência da Justiça Comum. Recurso improvido. Votos
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4.2.2.8 COMPETÊNCIA DELEGADA
A parte final do § 3° do art. 109 permite que a lei estabeleça casos de competência delegada,
sempre que a localidade não for sede de vara da Justiça Federal. Adotou-se tradicionalmente tal
solução para o crime de tráfico internacional de entorpecentes, de acordo com o disposto no art. 27
da Lei 6.368/76, ficando a persecução penal a cargo de autoridades estaduais, com recurso para o
respectivo tribunal federal.
Entretanto, com o advento da nova Lei de Drogas, houve não apenas a revogação expressa da
Lei 6.368/76, como também nova disciplina sobre a matéria, afirmando-se no parágrafo único do art.
70 que os crimes [de caráter transnacional] praticados nos Municípios que não sejam sede de vara
federal serão processados e julgados na vara federal da circunscrição respectiva.
vencidos. Precedentes. Exame. Inteligência do art. 109, incs. IV e XI, da CF. A competência penal da Justiça Federal, objeto do alcance do
disposto no art. 109, XI, da Constituição da República, só se desata quando a acusação seja de genocídio, ou quando, na ocasião ou
motivação de outro delito de que seja índio o agente ou a vítima, tenha havido disputa sobre direitos indígenas, não bastando seja aquele
imputado a silvícola, nem que este lhe seja vítima e, tampouco, que haja sido praticado dentro de reserva indígena. (RE 419528, Relator(a):
Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, julgado em 03/08/2006, DJ 09-03-2007 PP-00026 EMENT
VOL-02267-03 PP-00478). Nesse mesmo sentido, Enunciado n. 140 do Superior Tribunal de Justiça: “Compete à Justiça Comum Estadual
processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou vítima”.
145EMENTA: I. ADIn: [...] III. Foro especial por prerrogativa de função: extensão, no tempo, ao momento posterior à cessação da investidura
na função dele determinante. Súmula 394/STF (cancelamento pelo Supremo Tribunal Federal). Lei 10.628/2002, que acrescentou os §§ 1º e
2º ao artigo 84 do C. Processo Penal: pretensão inadmissível de interpretação autêntica da Constituição por lei ordinária e usurpação da
competência do Supremo Tribunal para interpretar a Constituição: inconstitucionalidade declarada. 1. O novo § 1º do art. 84 CPP constitui
evidente reação legislativa ao cancelamento da Súmula 394 por decisão tomada pelo Supremo Tribunal no Inq 687-QO, 25.8.97, rel. o em.
Ministro Sydney Sanches (RTJ 179/912), cujos fundamentos a lei nova contraria inequivocamente. 2. Tanto a Súmula 394, como a decisão do
Supremo Tribunal, que a cancelou, derivaram de interpretação direta e exclusiva da Constituição Federal. 3. Não pode a lei ordinária
pretender impor, como seu objeto imediato, uma interpretação da Constituição: a questão é de inconstitucionalidade formal, ínsita a toda
norma de gradação inferior que se proponha a ditar interpretação da norma de hierarquia superior. 4. Quando, ao vício de
inconstitucionalidade formal, a lei interpretativa da Constituição acresça o de opor-se ao entendimento da jurisprudência constitucional do
Supremo Tribunal – guarda da Constituição –, às razões dogmáticas acentuadas se impõem ao Tribunal razões de alta política institucional
para repelir a usurpação pelo legislador de sua missão de intérprete final da Lei Fundamental: admitir pudesse a lei ordinária inverter a
leitura pelo Supremo Tribunal da Constituição seria dizer que a interpretação constitucional da Corte estaria sujeita ao referendo do
legislador, ou seja, que a Constituição – como entendida pelo órgão que ela própria erigiu em guarda da sua supremacia –, só constituiria o
correto tido aos seus ditames. 5. Inconstitucionalidade do § 1º do art. 84, CPP, acrescido pela lei questionada e, por arrastamento, da regra
final do § 2º do mesmo artigo, que manda estender a regra à ação de improbidade administrativa. IV. Ação de improbidade administrativa:
extensão da competência especial por prerrogativa de função estabelecida para o processo penal condenatório contra o mesmo dignitário
(§ 2º do art. 84 do CPP introduzido pela L. 10.628/2002): declaração, por lei, de competência originária não prevista na Constituição:
inconstitucionalidade. 1. No plano federal, as hipóteses de competência cível ou criminal dos tribunais da União são as previstas na
Constituição da República ou dela implicitamente decorrentes, salvo quando esta mesma remeta à lei a sua fixação. 2. Essa exclusividade
constitucional da fonte das competências dos tribunais federais resulta, de logo, de ser a Justiça da União especial em relação às dos
Estados, detentores de toda a jurisdição residual. 3. Acresce que a competência originária dos Tribunais é, por definição, derrogação da
competência ordinária dos juízos de primeiro grau, do que decorre que, demarcada a última pela Constituição, só a própria Constituição a
pode excetuar. 4. Como mera explicitação de competências originárias implícitas na Lei Fundamental, à disposição legal em causa seriam
oponíveis as razões já aventadas contra a pretensão de imposição por lei ordinária de uma dada interpretação constitucional. 5. De outro
lado, pretende a lei questionada equiparar a ação de improbidade administrativa, de natureza civil (CF, art. 37, § 4º), à ação penal contra os
mais altos dignitários da República, para o fim de estabelecer competência originária do Supremo Tribunal, em relação à qual a
jurisprudência do Tribunal sempre estabeleceu nítida distinção entre as duas espécies. 6. Quanto aos Tribunais locais, a Constituição Federal
– salvo as hipóteses dos seus arts. 29, X e 96, III –, reservou explicitamente às Constituições dos Estados-membros a definição da
competência dos seus tribunais, o que afasta a possibilidade de ser ela alterada por lei federal ordinária. V. Ação de improbidade
administrativa e competência constitucional para o julgamento dos crimes de responsabilidade. 1. O eventual acolhimento da tese de que a
competência constitucional para julgar os crimes de responsabilidade haveria de estender-se ao processo e julgamento da ação de
improbidade, agitada na Rcl 2138, ora pendente de julgamento no Supremo Tribunal, não prejudica nem é prejudicada pela
inconstitucionalidade do novo § 2º do art. 84 do CPP. 2. A competência originária dos tribunais para julgar crimes de responsabilidade é
bem mais restrita que a de julgar autoridades por crimes comuns: afora o caso dos chefes do Poder Executivo – cujo impeachment é da
competência dos órgãos políticos – a cogitada competência dos tribunais não alcançaria, sequer por integração analógica, os membros do
Congresso Nacional e das outras casas legislativas, aos quais, segundo a Constituição, não se pode atribuir a prática de crimes de
responsabilidade. 3. Por outro lado, ao contrário do que sucede com os crimes comuns, a regra é que cessa a imputabilidade por crimes de
responsabilidade com o termo da investidura do dignitário acusado. (ADI 2797, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno,
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o que está expressamente definido no texto maior, salvo quando a própria Constituição permitir o
regramento legal.
A fim de manter a coerência do sistema, buscou-se o critério da simetria na distribuição da
competência por prerrogativa de função (ratione personae). As diversas autoridades foram
escalonadas conforme a posição que ocupam na esfera estatal. Assim, quanto mais relevante a
função pública desempenhada, mais alto será o posicionamento do órgão judicial responsável pelo
julgamento das infrações penais praticadas pelo ocupante do cargo, emprego ou função.
O Enunciado 394 do STF foi cancelado146. A competência por prerrogativa de função persiste
apenas enquanto o suposto autor do fato esteja ocupando o cargo, emprego ou função que lhe
garanta a aludida prerrogativa.
Nas hipóteses de designação ou de convocação de juiz para o exercício da função de
Desembargador, os Tribunais Superiores já entenderam não haver motivo para o deslocamento da
competência147.
Ainda, deve-se considerar a hipótese de oposição de exceção da verdade nos processos de
crime contra a honra, quando forem querelantes pessoas sujeitas à jurisdição por prerrogativa de
função, caberá ao tribunal de prerrogativa o julgamento daquela, quando admitida, nos termos do
artigo 85 do Código de Processo Penal.
Por fim, no que diz respeito à conexão ou continência entre réus com e sem prerrogativa de
função, o atual entendimento do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que a regra é a
separação dos processos, uma vez que a lei infraconstitucional (que determina conexão e
continência) não deveria alterar a regra constitucional que fixa a competência dos Tribunais para a
prerrogativa de função148. Não obstante, é possível a reunião dos processos de maneira excepcional
e casuística, quando a separação dos processos puder prejudicar a credibilidade para julgamento e
apuração149.
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(art. 96), ressalvada a competência da Justiça Eleitoral. No que toca à prerrogativa de função de
deputados estaduais para o Tribunal de Justiça, a jurisprudência majoritária dos Tribunais Superiores
entende que é extraída do artigo 27, §1º da Constituição Federal, tratando-se de previsão implícita
do texto constitucional.
Não há previsão para processo e julgamento de membros do Ministério Público dos Estados
que oficiem perante Tribunais de Justiça. Logo, os procuradores de justiça são processados e julgados
pelos tribunais locais, assim como ocorre com os membros que atuem na primeira instância,
configurando-se descompasso no critério da simetria.
Ademais, a Constituição Federal excepciona para juízes e membros do Ministério Público
apenas o caso da infração eleitoral, de modo que no caso de crime federal a competência para
julgamento permanece sendo dos tribunais de justiça, conforme entendimento prevalente na
jurisprudência. Já no caso de crime federal cometido por prefeito ou deputado estadual, o
julgamento caberá ao Tribunal Regional Federal.
A competência criminal dos Tribunais Regionais Federais está prevista no art. 108 da
Constituição Federal, podendo ser dividida em recursal e originária.
A competência recursal (inciso II), abrangendo as causas decididas pelos juízes federais e pelos
juízes estaduais no exercício da competência federal da área de sua jurisdição150, conforme disciplina
o art. 109 da CF, à exceção dos crimes políticos, cuja competência recursal foi constitucionalmente
atribuída ao Supremo Tribunal Federal (art. 102, II, b).
Nos casos de competência originária, como já foi dito, tem-se a adoção do critério da
competência ratione personae, já que ficou a cargo dos Tribunais Regionais Federais o julgamento
dos juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho,
nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, ressalvada a
competência da Justiça Eleitoral (art. 108, I, a).
Ficou expressamente ressalvada a competência da Justiça Eleitoral. Compete ao Tribunal
Regional Eleitoral da respectiva lotação do magistrado federal ou do membro do Ministério Público
da União o processo e julgamento das referidas autoridades, no caso de cometimento de crime
eleitoral. Caso o juiz federal esteja compondo o Tribunal Regional Eleitoral (art. 120, 1º, II, da CF)151,
da mesma forma ocorrendo com o procurador da república que atue perante a corte, a competência
passa a ser do Superior Tribunal de Justiça, desta vez sem a ressalva quanto aos crimes eleitorais (art.
105, I, a).
A Constituição Federal incluiu na competência dos Tribunais Regionais Federais não somente
os crimes comuns – todas as infrações de natureza penal –, mas também os de responsabilidade,
sendo estes de natureza eminentemente política.
Não houve ressalva quanto aos crimes militares. Por outro lado, a Constituição não atribuiu
essa competência aos órgãos da Justiça Militar da União. Dessa forma, pode-se concluir que compete
ao respectivo Tribunal Regional Federal o processo e o julgamento das referidas autoridades, na
hipótese de crime militar.
A jurisprudência assentou que o julgamento de habeas corpus contra ato imputado a membro
do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios compete ao Tribunal Regional Federal da 1ª
Região, a evidenciar que a competência criminal, em tais casos, também configura afastamento do
critério da simetria, em razão do princípio da especialidade152, porque a Constituição Federal
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expressamente fez referência a membros do Ministério Público da União, do qual fazem parte os
promotores e procuradores de justiça do Distrito Federal (art. 128, I, d). Portanto, não estão sujeitos
à competência do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios.
CONFLITO APARENTE DE NORMAS QUE SE RESOLVE PELA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. A DISCUSSÃO NA ESFERA CÍVEL DO
CRÉDITO TRIBUTÁRIO, PER SE, NÃO SERVE PARA ELIDIR A CARACTERIZAÇÃO DO CRIME DE SONEGAÇÃO FISCAL MORMENTE QUANDO SE
TEM NA FIGURA TÍPICA A DESCRIÇÃO DE FRAUDE. I - O aparente conflito de normas estabelecido entre o art. 96, III, e o art. 108, I, a, c/c art.
128, I, d, todos da CF, que se coloca quando se discute a quem compete apreciar e julgar habeas corpus impetrado contra ato atribuído à
membro do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, se resolve pela aplicação do princípio da especialidade. II - Não cabe ao e.
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, mas, sim, ao e. Tribunal Regional Federal da 1ª Região, conhecer de habeas corpus onde
se aponta como autoridade coatora membro do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. (Precedentes do Pretório Excelso e
desta Corte). [...] (HC 67.416/DF, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 26/06/2007, DJ 10/09/2007, p. 259).
153 EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. IMPUGNAÇÃO DA EXPRESSÃO "E JULGAR" [ART. 40, XX]; DO TRECHO "POR OITO
ANOS" [ART. 40, PARÁGRAFO ÚNICO]; DO ART. 73, § 1º, II, E §§ 3º E 4º, TODOS DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SANTA CATARINA.
IMPUGNAÇÃO DE EXPRESSÃO CONTIDA NO § 4º DO ARTIGO 232 DO REGIMENTO INTERNO DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA. PRECEITOS
RELATIVOS AO PROCESSO DE IMPEACHMENT DO GOVERNADOR. LEI FEDERAL Nº 1.079/50. CRIMES DE RESPONSABILIDADE. RECEBIMENTO
DO ARTIGO 78 PELA ORDEM CONSTITUCIONAL VIGENTE. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 22, I, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. 1. A expressão "e
julgar", que consta do inciso XX do artigo 40, e o inciso II do § 1º do artigo 73 da Constituição catarinense consubstanciam normas
processuais a serem observadas no julgamento da prática de crimes de responsabilidade. Matéria cuja competência legislativa é da União.
Precedentes. 2. Lei Federal nº 1.079/50, que disciplina o processamento dos crimes de responsabilidade. Recebimento, pela Constituição
vigente, do disposto no artigo 78, que atribui a um Tribunal Especial a competência para julgar o Governador. Precedentes. 3.
Inconstitucionalidade formal dos preceitos que dispõem sobre processo e julgamento dos crimes de responsabilidade, matéria de
competência legislativa da União. 4. A CB/88 elevou o prazo de inabilitação de 5 (cinco) para 8 (oito) anos em relação às autoridades
apontadas. Artigo 2º da Lei nº 1.079 revogado, no que contraria a Constituição do Brasil. 5. A Constituição não cuidou da matéria no que
respeita às autoridades estaduais. O disposto no artigo 78 da Lei n. 1.079 permanece hígido – o prazo de inabilitação das autoridades
estaduais não foi alterado. O Estado-membro carece de competência legislativa para majorar o prazo de cinco anos – artigos 22, inciso I, e
parágrafo único do artigo 85, da CB/88, que tratam de matéria cuja competência para legislar é da União. 6. O Regimento da Assembleia
Legislativa catarinense foi integralmente revogado. Prejuízo da ação no que se refere à impugnação do trecho "do qual fará chegar uma via
ao substituto constitucional do Governador para que assuma o poder, no dia em que entre em vigor a decisão da Assembleia", constante do
§ 4º do artigo 232. 7. Pedido julgado parcialmente procedente, para declarar inconstitucionais: i) as expressões "e julgar", constante do
inciso XX do artigo 40, e ii) "por oito anos", constante do parágrafo único desse mesmo artigo, e o inciso II do § 1º do artigo 73 da
Constituição daquele Estado-membro. Pedido prejudicado em relação à expressão "do qual fará chegar uma via ao substituto constitucional
do Governador para que assuma o poder, no dia em que entre em vigor a decisão da Assembleia", contida no § 4º do artigo 232 do
Regimento Interno da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina. (ADI 1628, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado
em 10/08/2006, DJ 24-11-2006 PP-00060 EMENT VOL-02257-02 PP-00311).
154 Enunciado 46 da Súmula Vinculante do STF: “A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas
de processo e julgamento são da competência legislativa privativa da União”.
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4.2.3.3 COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Segundo a Constituição Federal, compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar,
originariamente, nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros
do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República; nas infrações penais
comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do
Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente. Percebe-se que as
mais altas autoridades da República somente nos casos de infração penal comum estão submetidas à
jurisdição do Supremo Tribunal Federal. Em se tratando de crime de responsabilidade, observada a
simetria, vale o que já foi dito em relação ao primeiro escalão dos estados, aplicando-se a Lei 1.079/50. A
competência para processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República, bem como os
Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes de
responsabilidade conexos com os dos dirigentes do Poder Executivo, além dos Ministros do Supremo
Tribunal Federal, dos membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério
Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União é do Senado Federal (art. 52, I e II,
da CF). Nas demais situações descritas no parágrafo anterior, a competência do Supremo Tribunal Federal
engloba as duas modalidades de infrações.
4.2.3.4 QUADRO-RESUMO
Para facilitar a compreensão e a memorização da competência dos tribunais nas ações penais
originárias, eis o quadro-resumo155 que reflete a opção do constituinte:
155OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 16. ed. atual. São Paulo: Atlas, 2012,p. 208.
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Por fim, a respeito do foro por prerrogativa de função, o STF editou o Enunciado 45 da Súmula
Vinculante, segundo a qual a competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro
por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela constituição estadual.
Definidos os critérios de fixação da competência em razão da matéria e em razão da
pessoa,resta o estudo da competência de foro, juízo e interna, à luz do CPP e demais normas
pertinentes, e, após, o estudo das causas modificadoras de competência.
I - o lugar da infração;
IV - a distribuição;
V - a conexão ou continência;
VI - a prevenção;
Na verdade, o Código de Processo Penal é atécnico ao colocar como ordem para a fixação de
competência em primeiro lugar o lugar da infração, e apenas ao final a prerrogativa de função. Como
já apontado, no estudo da competência deve-se partir da competência em razão da matéria e em
seguida verificar a competência em razão da pessoa ou por prerrogativa de função, ambas fixadas
pela Constituição Federal. Após, passa-se ao estudo das regras infraconstitucionais de fixação de
competência, nas quais se incluem a competência em razão do lugar e por objeto do juízo.
Finalmente, deve-se observar que a conexão e continência não são causas de fixação, mas
antes modificadoras de competência ou hipóteses de prorrogação de competência.
156 A competência territorial, como se sabe, é de natureza relativa, cabendo à parte interessada a sua arguição no momento oportuno. Do
contrário, haverá a prorrogação de competência.
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Excepcionalmente, a jurisprudência tem permitido a fixação da competência no lugar em que
praticados os atos executórios, quando diverso do local da consumação, sempre que se demonstrar
concretamente haver mais facilidade na produção das provas pelas partes, tornando-se mais efetiva
a persecução penal. Relembre-se que a repartição de competências tem como um de seus principais
objetivos a racionalização da prestação jurisdicional. No caso de crime doloso contra a vida, há
também o argumento de que o Tribunal do Júri deva ser composto por pessoas da localidade onde se
deu a repercussão do crime.
Nos casos em que o iter criminis percorre o território de dois ou mais países, o CPP também
previu a solução. De acordo com os parágrafos do art. 70, se, iniciada a execução no território
nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver
sido praticado, no Brasil, o último ato de execução. Na situação invertida, quando o último ato de
execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime,
embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado.
Já a definição da competência pelo domicílio ou residência do réu ocorre apenas
subsidiariamente, ou seja, quando não foi possível conhecer o lugar da infração (art. 72). O CPP traz
uma exceção a essa regra, que ocorre nos casos de ação penal privada, permitindo-se que o
querelante, mesmo quando conhecido o lugar da infração, opte pelo foro do domicílio ou da
residência do réu (art. 73). Essa regra não se aplica quando a ação penal privada for subsidiária da
pública.
Se o réu não tiver residência certa, ou for ignorado o seu paradeiro, será competente o juiz
que primeiro tomar conhecimento do fato.
Por fim, o STJ editou o Enunciado 528, segundo o qual compete ao juiz federal do local da
apreensão da droga remetida do exterior pela via postal processar e julgar o crime de tráfico
internacional. (Súmula 528, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/05/2015, DJe 18/05/2015).
157 Não se tem notícia da existência de varas com competência exclusiva para processar e julgar crimes dolosos contra a vida na Justiça
Federal, muito provavelmente por conta do reduzido número de infrações penas dessa natureza, que seriam da sua competência. Assim, a
formação do Tribunal do Júri Federal é esporádica.
158 “Ao aplicar o precedente firmado no julgamento do HC 88660/CE (j. em 15.5.2008), no sentido de que o Poder Judiciário tem
competência para dispor sobre especialização de varas, porque é matéria que se insere no âmbito da organização judiciária dos tribunais,
cujo tema não se encontra restrito ao campo de incidência exclusiva da lei, já que depende da integração dos critérios estabelecidos na
Constituição, nas leis e nos regimentos internos dos tribunais, a Turma indeferiu habeas corpus em que alegada ofensa ao princípio do juiz
natural ante a edição de resolução por tribunal de justiça. No caso, o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte sustentava que a
Lei de Organização e Divisão Judiciárias daquela unidade da federação não previa a fixação, por resolução do tribunal, de competência de
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A perpetuatio jurisdictionis será examinada em item próprio.
varas judiciais. Assim, inconstitucional e ilegal a Resolução 19/2005, do Tribunal de Justiça do referido Estado-membro, que determinara a
distribuição de ações penais envolvendo a prática de crimes sexuais contra crianças, adolescentes e idosos à determinada vara. De início,
ressaltou-se a legitimidade do Ministério Público para impetrar habeas corpus com fundamento na incumbência da defesa da ordem
jurídica e dos interesses individuais indisponíveis, bem como quando envolvido o princípio do juiz natural. No mérito, considerou-se que a
resolução impugnada estaria em consonância com o entendimento desta Corte. Asseverou-se que a regra prevista no art. 73, da
Constituição estadual, reproduziria o disposto no art. 96, II, d, da CF, ao prever que lei complementar, de iniciativa do tribunal de justiça,
dispusesse sobre a organização e divisão judiciárias do Estado. Ademais, enfatizou que a leitura interpretativa do artigo 96, I, a e d, e II, d,
da CF, admite que haja alteração da competência dos órgãos do Poder Judiciário por deliberação do tribunal de justiça, desde que sem
impacto orçamentário, eis que houve simples alteração promovida administrativamente, constitucionalmente admitida, visando a uma
melhor prestação da tutela jurisdicional, de natureza especializada. Outros precedentes citados: HC 84056/DF (DJU de 4.2.2005); HC
84103/DF (DJU de 6.8.2004). HC 91024/RN, rel. Min. Ellen Gracie, 5.8.2008. (HC-91024)”. (Informativo/STF 514).
159 EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL, PROCESSUAL PENAL E CONSTITUCIONAL. TRÁFICO INTERNACIONAL DE DROGAS E LAVAGEM DE
DINHEIRO PROVENIENTE DO TRÁFICO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. ESPECIALIZAÇÃO DE VARA POR RESOLUÇÃO.
CONSTITUCIONALIDADE: AUSÊNCIA DE OFENSA AO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL. TRÁFICO INTERNACIONAL DE DROGAS: CONTROVÉRSIA.
EXCESSO DE PRAZO DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. MATÉRIAS NÃO SUSCITADAS NAS INSTÂNCIAS PRECEDENTES. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. [...]
2. Especialização de Vara Federal por Resolução emanada do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Constitucionalidade afirmada pelo
Pleno desta Corte. Ausência de ofensa ao princípio do juiz natural. [...] (HC 94188, Relator(a): Min. EROS GRAU, Segunda Turma, julgado em
26/08/2008, DJe-197 DIVULG 16-10-2008 PUBLIC 17-10-2008 EMENT VOL-02337-03 PP-00540 RTJ VOL-00207-03 PP-01187 RT v. 98, n. 880,
2009, p. 468-472).
160A prevenção como critério de fixação de competência, quando o réu não tiver residência certa, ou seu paradeiro for ignorado, já foi
tratada no item relacionado à competência pelo domicílio ou residência do réu.
161RT 423/436
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O entendimento da jurisprudência é no sentido de que os atos praticados durante o plantão
não induzem a competência por prevenção.
Por fim, nos termos do Enunciado 706 da Súmula do STF, “é relativa a nulidade decorrente da
inobservância da competência penal por prevenção”.
4.3.1 CONEXÃO
A conexão pressupõe um vínculo entre duas ou mais infrações penais. O fenômeno não ocorre
quando se tratar apenas de um único crime ou contravenção, que poderá ensejar a continência
subjetiva, como será visto no item a seguir.
O Código de Processo Penal enumera os casos de conexão no art. 76, dividindo-os em três
grupos: a) subjetiva; b) objetiva; e c) instrumental ou probatória.
A conexão subjetiva enfoca os autores das infrações penais, sendo eles o elo (art. 76, I). Dá-se
a conexão subjetiva por uma das formas a seguir:
a) Simultaneidade ou ocasional – duas ou mais infrações penais são
praticadas por várias pessoas reunidas, no mesmo contexto fático, sem
que tenha havido qualquer acerto prévio.
b) Concurso – mesmo que diversos o tempo e o lugar, duas ou mais
infrações penais são praticadas por várias pessoas em concurso. O
diferencial dessa modalidade é justamente o liame subjetivo que une os
agentes, configurando-se o concurso de pessoas.
c) Reciprocidade – como o próprio nome já diz, duas ou mais pessoas
praticam crimes ou contravenções, umas contra as outras.
A conexão objetiva leva em consideração a própria motivação ou finalidade das infrações
penais, ligando-as entre si (art. 76, II). Pode ser:
a) Teleológica – A primeira infração penal é praticada com o objetivo de
garantir a execução da segunda.
b) Consequencial – A hipótese aqui é invertida: a segunda infração é
cometida para assegurar a ocultação, a impunidade ou a vantagem do
crime antecedente.
Há ainda a conexão probatória ou instrumental, que se verifica quando a prova de uma
infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares puder influir na prova de outra infração
(art. 76, III).
4.3.2 CONTINÊNCIA
A continência pode existir nas duas situações enumeradas no art. 77 do Código de Processo Penal:
a) Cumulação subjetiva – ocorre sempre que duas ou mais pessoas
cometerem a mesma infração penal, vale dizer, um único crime ou
contravenção (art. 77, I). Do contrário, será caso de conexão.
b) Cumulação objetiva – existirá a continência quando se verificar a
ocorrência de concurso formal de crimes, inclusive nas hipóteses de erro
na execução (aberratio ictus) e de resultado diverso do pretendido
(aberratio criminis), quando houver duplo resultado (art. 77, II).
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A perpetuatio jurisdicionis tem como principais objetivos o máximo aproveitamento dos atos
processuais já praticados e a preservação do princípio do juiz natural. A medida busca evitar a prática
de atos protelatórios ou inúteis que possam afetar a efetiva persecução penal. Contrapõe-se à noção
de modificação de competência, ou seja, uma impede o surgimento da outra.
Eugênio Pacelli afirma que a "perpetuatio jurisdicionis seria como uma companheira
inseparável do princípio da identidade física do juiz, uma vez que ambos destinam-se a preservar o
conhecimento judicial da causa já realizado pelo juiz a quem ela foi distribuída e que já realizou a
instrução probatória"162.
Também entendemos que há um liame que os liga, porque toda e qualquer medida que venha
a retirar a causa da apreciação de determinado juízo previamente definido como competente pode
configurar, em última análise, uma ofensa ao princípio do juiz natural, do qual a perpetuatio
jurisdicionis e o princípio da identidade física do juiz são protetores.
Entretanto, a questão não é de simples solução. Há situações que justificam a modificação de
competência, afastando-se excepcionalmente a perpetuatio jurisdicionis. O importante é que a
impessoalidade e a imparcialidade sejam preservadas, afastando-se qualquer possibilidade de
criação de juízo ou tribunal de exceção.
O art. 81 do CPP traz uma hipótese de perpetuação de jurisdição, quando determina que,
verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no processo da sua
competência própria, venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou que desclassifique a
infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará competente em relação aos
demais processos.
Há, ainda, a possibilidade de aplicação dos parágrafos do art. 492 do CPP163, com incidência
específica sobre os crimes da competência do Tribunal do Júri.
O Supremo Tribunal Federal tem entendido ser possível aplicar por analogia o disposto no art.
87 do CPC, naquilo em que não conflitar com as normas definidas pela legislação processual penal164.
O julgamento do RHC 83.181 tratou justamente do desdobramento da competência territorial em
razão da criação de nova comarca. Eis a ementa:
162 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 16. ed. atual. São Paulo: Atlas, 2012,p. 265.
163Art. 492 [...] §1º Se houver desclassificação da infração para outra, de competência do juiz singular, ao presidente do Tribunal do Júri
caberá proferir sentença em seguida, aplicando-se, quando o delito resultante da nova tipificação for considerado pela lei como infração
penal de menor potencial ofensivo, o disposto nos arts. 69 e seguintes da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995. §2º Em caso de
desclassificação, o crime conexo que não seja doloso contra a vida será julgado pelo juiz presidente do Tribunal do Júri, aplicando-se, no que
couber, o disposto no § 1º deste artigo.
164EMENTA: I. Júri: competência territorial: princípio da perpetuatio jurisditionis: incidência na fase anterior ao julgamento pelo Júri. 1.
Regra geral, aplica-se ao processo penal, por analogia, o princípio da perpetuatio jurisditionis estatuído no art. 87 do C. Pr. Civil (cf., RHC
83.181, Pleno, 6.8.03, red. p/acórdão Joaquim Barbosa, DJ 22.10.04). [...] (HC 89849, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira
Turma, julgado em 18/12/2006, DJ 16-02-2007 PP-00049 EMENT VOL-02264-03 PP-00478 RTJ VOL-00203-01 PP-00265).
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4.5 JULGAMENTO POR COLEGIADO DE JUÍZES (LEI 12.694/2012):
COMPETÊNCIA E ESTRUTURA DE FUNCIONAMENTO
A Lei 12.694, de 24 de julho de 2012, trouxe uma importante inovação, consistente na
possibilidade de julgamento de infrações penais, quando praticadas por organizações criminosas, por
um órgão colegiado formado por juízes de primeira instância.
O principal objetivo do legislador, ao prever a possibilidade de formação de um órgão
colegiado, nas situações em que normalmente a competência estaria concentrada na pessoa de um
único magistrado, foi o de trazer mais segurança para tais autoridades, em razão da própria
exposição a que se submetem, quando isoladamente responsáveis pela condução e julgamento de
infrações penais praticadas por organizações criminosas. Não são raros os casos de ameaças e até
mesmo de atentados contra a integridade física de tais juízes.
O legislador optou por uma solução considerada intermediária. Não foi adotado o modelo do
“juiz sem rosto”, muito criticado e taxado de ofensivo às garantias constitucionais dos acusados.
Como o próprio nome já evidencia, o juiz não tem a sua identidade revelada, seu rosto não é
conhecido, sua formação técnica também é ignorada pelo acusado e, o que é pior, não se sabe como
foi escolhido ou designado para aquele específico caso. Nada disso foi adotado pela Lei 12.694/12.
Ainda assim, a lei não está imune a críticas165.
Segundo dispõe o art. 1º, em processos ou procedimentos que tenham por objeto crimes
praticados por organizações criminosas, o juiz poderá decidir pela formação de colegiado para a
prática de qualquer ato processual, especialmente:
III - sentença;
165 Têm sido criticadas, principalmente, as normas que preveem a não divulgação de voto divergente [art. 1º, § 6º - As decisões do
colegiado, devidamente fundamentadas e firmadas, sem exceção, por todos os seus integrantes, serão publicadas sem qualquer referência a
voto divergente de qualquer membro] e a formação do colegiado apenas para a prática de atos decisórios, dispensando-se o
acompanhamento dos demais juízes na fase instrutória. Apesar de o autor não concordar com as críticas, fez-se referência a elas, para fins
de registro e reflexão.
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Atendendo, ainda, à finalidade principal da lei, torna-se possível a realização de reuniões
sigilosas, sempre que houver risco de que a publicidade resulte em prejuízo à eficácia da decisão
judicial. Não há qualquer inconstitucionalidade nesse procedimento. A tarefa de decidir pode ser
reservada, desde que os fundamentos da decisão sejam posteriormente divulgados. O controle da
legitimidade da decisão se dá através da análise dos seus fundamentos.
Nesse mesmo sentido de conferir proteção à pessoa física do juiz, a lei determina que as
decisões do colegiado, devidamente fundamentadas e firmadas, sem exceção, por todos os seus
integrantes, serão publicadas sem qualquer referência a voto divergente de qualquer membro.
Por fim, a formação do colegiado e a definição dos procedimentos a serem adotados
dependem da regulamentação pelos tribunais (§ 7º do art. 1º). No caso da Justiça Federal, o
Provimento CJF 11, de 15 de março de 2013, regulamentou o procedimento, outorgando-se aos
Tribunais Regionais Federais a realização de regulamentação pormenorizada sobre o assunto,
conforme as peculiaridades regionais.
PROVA
PROVAS. CONCEITO. OBJETO. CLASSIFICAÇÃO. PRINCÍPIO DA NÃO
AUTOINCRIMINAÇÃO. SISTEMAS DE APRECIAÇÃO DA PROVA. ÔNUS.
INICIATIVA PROBATÓRIA DO JUIZ. FASES DE PRODUÇÃO PROBATÓRIA.
PROVA EMPRESTADA. PROVAS ILÍCITAS. MEIOS DE PROVA EM ESPÉCIE.
MEIOS DE OBTENÇÃO DE PROVA.
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São objeto das provas as alegações de fato relevantes à compreensão da questão submetida a
solução no processo. Nessa senda, é objeto de prova a imputação deduzida na inicial acusatória, e
também: os costumes; o direito estrangeiro, estadual ou municipal; regulamentos e portarias, exceto
quando as últimas servirem de complemento à norma penal em branco; os fatos não contestados ou
incontroversos. Sinala-se aqui importante distinção entre o processo penal e o civil, haja vista que no
último dispensa-se a comprovação dos fatos incontroversos.
Não são objeto de prova os fatos notórios, axiomáticos e os presumidos legalmente. Da
mesma, serão inadmitidas as provas manifestamente irrelevantes ou impertinentes.
No que diz respeito à classificação, distingue-se a prova típica da atípica; a nominada da
inominada; trata-se ainda da prova anômala e da prova irritual.
A prova típica opõe-se à atípica por ter prevista na legislação um procedimento de extração e
produção de típico para determinado meio de prova. A segunda classificação diz respeito apenas à
nominação de prova, de modo que a prova será nominada quando o CPP faça referência nominal a
determinado meio probatório sem lhe prever um procedimento, o que ocorre na reprodução
simulada dos fatos. Ainda, a prova irritual é aquela produzida sem a observância de seu
procedimento probatório, o que ocorre, por exemplo, na oitiva de uma testemunha em que o juiz
não proporciona oportunidade de reperguntas das partes. Finalmente, prova anômala é uma prova
típica, utilizada para fins diversos daqueles que lhe são próprios, ou para fins característicos de
outras provas típicas.
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Nesse sentido, os princípios do contraditório e da ampla defesa têm especial importância
nessa área, porque é preciso permitir que as partes efetivamente possam influir na decisão do juiz.
Tal participação, não apenas formal, passa necessariamente pela possibilidade de se demonstrar em
juízo as suas alegações, sem prejuízo da correta distribuição do ônus da prova ao final do processo,
esta compreendida como mera técnica de julgamento, sob o influxo do princípio da presunção de
inocência.
Assim, o legislador, ao editar a norma, e o juiz, ao aplicá-la, devem se preocupar, repita-se,
com a efetiva participação das partes, principalmente do réu. Somente assim, a ampla defesa, que
abrange a defesa técnica e a autodefesa, e o contraditório estarão sendo corretamente observados.
Essas novas luzes que pairam sobre o processo penal, com vistas à adoção ou concretização do
sistema acusatório, provocaram modificações no código, com destaque para o art. 155, com a
redação dada pela Lei 11.690/08, ao prever que “o juiz formará sua convicção pela livre apreciação
da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente
nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis
e antecipadas”.
Portanto, a lei opera clara distinção entre os chamados elementos de informação e a prova,
marcando-se a última fundamentalmente pela incidência do contraditório e da ampla defesa na sua
produção.
Assinala-se ainda um importante princípio regente da produção probatória no processo penal.
Trata-se do nemo tenetur se detegere ou princípio da não autoincriminação, encartado na
Constituição Federal e no Pacto de São José da Costa Rica166.
Tal princípio implica na impossibilidade de o acusado realizar condutas ativas
autoincriminadoras167, bem como na impossibilidade de provas invasivas. Atualmente, a redação do
artigo 306168 do Código de Trânsito Brasileiro tipifica conduta de perigo abstrato que pode ser
comprovada mediante exame de corpo de delito direto ou indireto. Dessa forma, restou superada a
discussão existente à época da redação da Lei nº 11.705/08, em que se fazia imprescindível o exame
do bafômetro169.
166 Art. 8º, §2º, g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada.
Art. 5º, LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família
e de advogado;
167 O comportamento passivo do acusado não é abrangido pela não autoincriminação, sendo possível o reconhecimento de pessoas.
168Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância
psicoativa que determine dependência:
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
automotor.
§ 1º. As condutas previstas no caput serão constatadas por:
I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar
alveolar; ou
II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora.
§ 2º. A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo,
prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova.
§ 3º. O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia ou toxicológicos para efeito de caracterização do crime
tipificado neste artigo. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014)
169HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. AUSÊNCIA DE EXAME DE ALCOOLEMIA. AFERIÇÃO DA
DOSAGEM QUE DEVE SER SUPERIOR A 6 (SEIS) DECIGRAMAS. NECESSIDADE. ELEMENTAR DO TIPO. 1. Antes da edição da Lei nº 11.705/08
bastava, para a configuração do delito de embriaguez ao volante, que o agente, sob a influência de álcool, expusesse a dano potencial a
incolumidade de outrem. 2. Entretanto, com o advento da referida Lei, inseriu-se a quantidade mínima exigível e excluiu-se a necessidade
de exposição de dano potencial, delimitando-se o meio de prova admissível, ou seja, a figura típica só se perfaz com a quantificação
objetiva da concentração de álcool no sangue o que não se pode presumir. A dosagem etílica, portanto, passou a integrar o tipo penal que
exige seja comprovadamente superior a 6 (seis) decigramas. 3. Essa comprovação, conforme o Decreto nº 6.488 de 19.6.08 pode ser feita
por duas maneiras: exame de sangue ou teste em aparelho de ar alveolar pulmonar (etilômetro), este último também conhecido como
bafômetro. 4. Cometeu-se um equívoco na edição da Lei. Isso não pode, por certo, ensejar do magistrado a correção das falhas estruturais
com o objetivo de conferir-lhe efetividade. O Direito Penal rege-se, antes de tudo, pela estrita legalidade e tipicidade. 5. Assim, para
comprovar a embriaguez, objetivamente delimitada pelo art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro, é indispensável a prova técnica
consubstanciada no teste do bafômetro ou no exame de sangue. 6. Ordem concedida. (HC 166.377/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA
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Do princípio da não autoincriminação decorre o direito à advertência, também chamado
Miranda warning. O STF já entendeu que a inobservância do direito à advertênciaimplica prova
ilícita, que contamina todo o processo170, apenas não se aplicando a necessidade de advertência
entre particulares.
Deriva também da não autoincriminação o direito ao silêncio, plasmado no parágrafo único do
artigo 186 (“o silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser interpretado em prejuízo da
defesa”). Referido dispositivo revogou o artigo 198171 do mesmo diploma legal, que perdera a
validade desde o advento da Constituição Federal/1988. Também a reforma legal em 2008
preocupou-se em inserir dispositivo atinente ao procedimento do júri, restando claro que “Art. 478.
Durante os debates as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer referências: II – ao silêncio do
acusado ou à ausência de interrogatório por falta de requerimento, em seu prejuízo”.
O direito à não autoincriminação não engloba a falsa identidade, conforme jurisprudência já
consolidada do STF172 e do STJ, recentemente sumulada173.
A testemunha compromissada, embora não possa mentir sob pena de incorrer em falso
testemunho, pode fazer uso do silêncio na medida em que também tem direito à não
autoincriminação.
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A mencionada redação do artigo 155 do CPP procurou explicitar a opção do legislador pelo
livre convencimento motivado174como o sistema de apreciação de provas, ainda quea legislação faça
pequenas concessões à prova tarifada – nos artigos 158, 62 e no Parágrafo Único do artigo 155,
quando faz referência à prova do estado de pessoas. A opção por referido sistema é exigência desde
a Constituição Federal, conforme art. 93, IX.
174 Em relação ao sistema de apreciação de provas, a doutrina geralmente aponta a existência de três modelos: a) convicção íntima – o
julgador não precisa expor os fundamentos que o levaram a tomar determinada decisão. Cuida-se de modelo em desuso, notadamente nos
estados democráticos. Aponta-se, entretanto, um resquício desse modelo, que seria a decisão tomada pelo Tribunal do Júri; b) prova legal
ou tarifada – Ao contrário do anterior, buscou-se retirar a subjetividade do julgamento, sendo a própria lei a responsável pela valoração da
prova, em escala, conforme a sua relevância; c) livre convencimento motivado ou persuasão racional – restabelece-se a possibilidade de o
juiz livremente valorar a prova produzida. Contudo, a contrapartida exigida é a efetiva fundamentação da decisão, através da qual se
promove o devido controle. Trata-se do modelo genericamente adotado pelo ordenamento (art. 93, IX da CF).
175Já admitida pelo STF desde o julgamento do HC 73.351: “HABEAS CORPUS. ACUSAÇÃO VAZADA EM FLAGRANTE DE DELITO VIABILIZADO
EXCLUSIVAMENTE POR MEIO DE OPERAÇÃO DE ESCUTA TELEFÔNICA, MEDIANTE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. PROVA ILÍCITA. AUSÊNCIA DE
LEGISLAÇÃO REGULAMENTADORA. ART. 5º, XII, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. FRUITS OF THE POISONOUS TREE. O Supremo Tribunal Federal,
por maioria de votos, assentou entendimento no sentido de que sem a edição de lei definidora das hipóteses e da forma indicada no art. 5º,
inc. XII, da Constituição não pode o Juiz autorizar a interceptação de comunicação telefônica para fins de investigação criminal. Assentou,
ainda, que a ilicitude da interceptação telefônica -- à falta da lei que, nos termos do referido dispositivo, venha a discipliná-la e viabilizá-la --
contamina outros elementos probatórios eventualmente coligidos, oriundos, direta ou indiretamente, das informações obtidas na escuta.
Habeas corpus concedido. (HC 73351, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Tribunal Pleno, julgado em 09/05/1996, DJ 19-03-1999 PP-00009
EMENT VOL-01943-01 PP-00007).”
176Também admitida pelo STF: “HABEAS CORPUS. DENÚNCIA. RECEBIMENTO. BUSCA E APREENSÃO REALIZADA EM DESACORDO COM A
DETERMINAÇÃO JUDICIAL. EXISTÊNCIA DE PROVA AUTÔNOMA. Evidenciada a existência de prova autônoma, descabe a pretensão de
anular a decisão de recebimento da denúncia, sob a alegação ter sido o mandado de busca e apreensão cumprido em desacordo com a
determinação judicial de que os policiais se fizessem acompanhar de duas testemunhas. Ordem concedida. (HC 84679, Relator (a): Min.
MARCO AURÉLIO, Relator (a) p/ Acórdão: Min. EROS GRAU, Primeira Turma, julgado em 09/11/2004, DJ 12-08-2005 PP-00011 EMENT VOL-
02200-01 PP-00106)”
177 Segundo Paccelli: “A nosso aviso, essa é a definição de outra hipótese de aproveitamento da prova, qual seja, a teoria da descoberta
inevitável, muito utilizada no direito estadunidense. Na descoberta inevitável admite-se a prova, ainda que presente eventual relação de
causalidade ou de dependência entre as provas (a ilícita e a descoberta), exatamente em razão de se tratar de meios de prova
rotineiramente adotados em determinadas investigações. Com isso, evita-se a contaminação da totalidade das provas que sejam
subsequentes à ilícita”. (OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 16. ed. atual. São Paulo: Atlas, 2012,p. 354-355).
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qual as circunstâncias do caso concreto podem revelar que o nexo entre a prova ilícita e a dela
decorrente tornou-se muito frágil, sendo possível a utilização da prova derivada.
A lei não previu o chamado encontro fortuito de provas, que ocorre quando, a partir de busca
autorizada para a apuração de determinada infração penal, encontram-se provas da existência de
outro crime (fenômeno da serendipidade178). Para os adeptos dessa teoria, as provas desta última
infração penal não seriam consideradas válidas, porque a autorização não as abrangia. O Supremo
Tribunal Federal, entretanto, em situação semelhante, já admitiu a licitude da prova, desde que
houvesse alguma relação de pertinência com a infração penal que justificou a medida179.
Reconhecida a ilicitude da prova, deve-se proceder ao desentranhamento. O código inclusive
determina a sua inutilização, que pode ser acompanhada pelas partes, uma vez preclusa a decisão
que a invalidou (§ 3º). O Poder Executivo vetou o §4º do projeto de redação do artigo 157, que
determinava que o juiz que tivesse contato com a prova ilícita não pudesse proferir a sentença ou
acórdão.
Há situações em que a prova deixa de ser ilícita. Pode-se tomar de empréstimo, na essência, a
dogmática sobre as causas excludentes de ilicitude previstas no Código Penal, tais como a legítima
defesa, normalmente utilizada como exemplo. O Supremo Tribunal Federal, nesse sentido, já
reconheceu a possibilidade de gravação de conversa telefônica, ainda que não houvesse o
conhecimento do autor do crime180.
Também é possível validar a prova colhida durante a ocorrência do crime (flagrante), pois
nessa circunstância o agente não pode invocar, em seu favor, a proteção conferida pelo
ordenamento, já que ele mesmo está vulnerando-o181.
A proporcionalidade eventualmente tem sido utilizada para justificar a validade de
determinada prova produzida em detrimento de direito individual pertencente ao agente que
praticou a infração penal182. Entretanto, a sua aplicação ainda é controvertida183.
178 Informativo 539: "DIREITO PROCESSUAL PENAL. DESCOBERTA FORTUITA DE DELITOS QUE NÃO SÃO OBJETO DE INVESTIGAÇÃO. O fato
de elementos indiciários acerca da prática de crime surgirem no decorrer da execução de medida de quebra de sigilo bancário e fiscal
determinada para apuração de outros crimes não impede, por si só, que os dados colhidos sejam utilizados para a averiguação da suposta
prática daquele delito. Com efeito, pode ocorrer o que se chama de fenômeno da serendipidade, que consiste na descoberta fortuita de
delitos que não são objeto da investigação. Precedentes citados: HC 187.189-SP, Sexta Turma, DJe 23/8/2013; e RHC 28.794-RJ, Quinta
Turma, DJe 13/12/2012. HC 282.096-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/4/2014".
179HABEAS CORPUS. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. PRAZO DE VALIDADE. ALEGAÇÃO DE EXISTÊNCIA DE OUTRO MEIO DE INVESTIGAÇÃO.
FALTA DE TRANSCRIÇÃO DE CONVERSAS INTERCEPTADAS NOS RELATÓRIOS APRESENTADOS AO JUIZ. AUSÊNCIA DE CIÊNCIA DO MINISTÉRIO
PÚBLICO ACERCA DOS PEDIDOS DE PRORROGAÇÃO. APURAÇÃO DE CRIME PUNIDO COM PENA DE DETENÇÃO. [...] 5. Uma vez realizada a
interceptação telefônica de forma fundamentada, legal e legítima, as informações e provas coletas dessa diligência podem subsidiar
denúncia com base em crimes puníveis com pena de detenção, desde que conexos aos primeiros tipos penais que justificaram a
interceptação. Do contrário, a interpretação do art. 2º, III, da L. 9.296/96 levaria ao absurdo de concluir pela impossibilidade de
interceptação para investigar crimes apenados com reclusão quando forem estes conexos com crimes punidos com detenção. Habeas
corpus indeferido. (HC 83515, Relator(a): Min. NELSON JOBIM, Tribunal Pleno, julgado em 16/09/2004, DJ 04-03-2005 PP-00011 EMENT
VOL-02182-03 PP-00401 RTJ VOL-00193-02 PP-00609).
180"Habeas corpus". Utilização de gravação de conversa telefônica feita por terceiro com a autorização de um dos interlocutores sem o
conhecimento do outro quando há, para essa utilização, excludente da antijuridicidade. - Afastada a ilicitude de tal conduta – a de, por
legítima defesa, fazer gravar e divulgar conversa telefônica ainda que não haja o conhecimento do terceiro que está praticando crime –, é
ela, por via de consequência, lícita e, também consequentemente, essa gravação não pode ser tida como prova ilícita, para invocar-se o
artigo 5º, LVI, da Constituição com fundamento em que houve violação da intimidade (art. 5º, X, da Carta Magna). "Habeas corpus"
indeferido. (HC 74678, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Primeira Turma, julgado em 10/06/1997, DJ 15-08-1997 PP-37036 EMENT VOL-
01878-02 PP-00232).
181Excetuam-se as hipóteses de flagrante preparado, tido como sinônimo de crime impossível.
182PENAL – HABEAS CORPUS – PROVA ILÍCITA – PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE DOS VALORES CONTRASTANTES I - Apreensão de
documentos que se deu durante fiscalização levada a efeito por fiscais da Receita Federal, acompanhados por Policiais Federais; II –
Inexistência de prova de que houve invasão ou coação por parte dos agentes federais; III - Ainda que admitida a ilicitude do meio de
obtenção da prova, deve o magistrado, utilizando seu alto poder de discricionariedade, avaliar os valores contrastantes envolvidos,
considerando que “nenhuma garantia constitucional tem valor supremo e absoluto, de modo a aniquilar outra de equivalente grau de
importância”; IV - Ordem denegada. (HC 200602010088219, Desembargador Federal MESSOD AZULAY NETO, TRF2 - SEGUNDA TURMA
ESPECIALIZADA, DJU - Data:29/11/2006 - Página:98).
183No caso a seguir, a ordem foi indeferida basicamente por não estar demonstrada a oposição necessária à configuração da invasão de
domicílio. Entretanto, a proporcionalidade não foi admitida pelo relator: “EMENTA: Prova: alegação de ilicitude da obtida mediante
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5.5 ÔNUS DA PROVA NO PROCESSO PENAL
Segundo dispõe o art. 5º, LVII, da CF, ninguém será considerado culpado até o trânsito em
julgado da sentença penal condenatória. Esse status de inocente acompanha o réu desde o início da
persecução penal, por força da citada norma constitucional. É mais um instrumento de proteção do
indivíduo contra injunções abusivas do Poder Público.
A situação jurídica de inocência atua em duas frentes distintas, seja como proteção do autor
contra medidas invasivas, seja no campo probatório.
Especificamente na segunda hipótese, que é a que nos interessa neste momento, compete ao
autor da ação penal comprovar a existência do crime, bem como a autoria imputada ao acusado.
Incumbe-lhe, portanto, a prova do fato constitutivo do jus puniendi. O réu, ao contrário, não precisa
demonstrar a sua inocência.
Nesse sentido, não se exige uma atuação proativa do acusado. Mesmo que este permaneça
completamente inerte, do ponto de vista probatório, nada acontecerá, se o demandante não
comprovar a participação do acusado na infração penal.
Determinadas consequências processuais existentes no processo civil não têm aplicação no
processo penal, a exemplo do ônus da impugnação especificada e do efeito material da revelia, que
não atingem os acusados. O ônus da prova, como já foi dito anteriormente, não passa de mera
técnica de julgamento. Em outras palavras, em razão da não comprovação de determinado fato, o
juiz, ao sentenciar, atribuirá a responsabilidade pelo fracasso probatório à determinada parte que,
por lei, tinha o ônus demonstrá-lo.
Finda a instrução, se remanescerem dúvidas sobre a existência do crime, ou ainda acerca da
participação do acusado, o juiz deve absolvê-lo, por força do princípio do favor rei, já que, nessas
hipóteses, não haverá prova suficiente para condenação (art. 386, II, V e VII, do CPP).
Há casos excepcionais em que o ônus pode pesar sobre o réu, tal como nas hipóteses em que
se alegar a ocorrência de causa excludente de ilicitude, desde que provado o fato constitutivo do
direito do autor da ação penal. Mesmo assim, como será visto no capítulo referente à sentença
absolutória, há a possibilidade de aplicação do princípio do in dubio pro reo.
apreensão de documentos por agentes fiscais, em escritórios de empresa – compreendidos no alcance da garantia constitucional da
inviolabilidade do domicílio – e de contaminação das provas daquela derivadas: tese substancialmente correta, prejudicada no caso,
entretanto, pela ausência de qualquer prova de resistência dos acusados ou de seus prepostos ao ingresso dos fiscais nas dependências da
empresa ou sequer de protesto imediato contra a diligência. 1. Conforme o art. 5º, XI, da Constituição – afora as exceções nele
taxativamente previstas ("em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro") – só a "determinação judicial" autoriza, e
durante o dia, a entrada de alguém – autoridade ou não – no domicílio de outrem, sem o consentimento do morador. 1.1. Em
consequência, o poder fiscalizador da administração tributária perdeu, em favor do reforço da garantia constitucional do domicílio, a
prerrogativa da auto-executoriedade. 1.2. Daí não se extrai, de logo, a inconstitucionalidade superveniente ou a revogação dos preceitos
infraconstitucionais de regimes precedentes que autorizam a agentes fiscais de tributos a proceder à busca domiciliar e à apreensão de
papéis; essa legislação, contudo, que, sob a Carta precedente, continha em si a autorização à entrada forçada no domicílio do contribuinte,
reduz-se, sob a Constituição vigente, a uma simples norma de competência para, uma vez no interior da dependência domiciliar, efetivar as
diligências legalmente permitidas: o ingresso, porém, sempre que necessário vencer a oposição do morador, passou a depender de
autorização judicial prévia. 1.3. Mas, é um dado elementar da incidência da garantia constitucional do domicílio o não consentimento do
morador ao questionado ingresso de terceiro: malgrado a ausência da autorização judicial, só a entrada invito domino a ofende, seja o
dissenso presumido, tácito ou expresso, seja a penetração ou a indevida permanência, clandestina, astuciosa ou franca. 1.4. Não supre
ausência de prova da falta de autorização ao ingresso dos fiscais nas dependências da empresa o apelo à presunção de a tolerância à
entrada ou à permanência dos agentes do Fisco ser fruto do metus publicae potestatis, ao menos nas circunstâncias do caso, em que não se
trata das famigeradas "batidas" policiais no domicílio de indefesos favelados, nem sequer se demonstra a existência de protesto imediato.
2. Objeção de princípio – em relação à qual houve reserva de Ministros do Tribunal – à tese aventada de que à garantia constitucional da
inadmissibilidade da prova ilícita se possa opor, com o fim de dar-lhe prevalência em nome do princípio da proporcionalidade, o interesse
público na eficácia da repressão penal em geral ou, em particular, na de determinados crimes: é que, aí, foi a Constituição mesma que
ponderou os valores contrapostos e optou – em prejuízo, se necessário da eficácia da persecução criminal – pelos valores fundamentais, da
dignidade humana, aos quais serve de salvaguarda a proscrição da prova ilícita: de qualquer sorte – salvo em casos extremos de
necessidade inadiável e incontornável – a ponderação de quaisquer interesses constitucionais oponíveis à inviolabilidade do domicílio não
compete a posteriori ao juiz do processo em que se pretenda introduzir ou valorizar a prova obtida na invasão ilícita, mas sim àquele a
quem incumbe autorizar previamente a diligência. (HC 79512, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em
16/12/1999, DJ 16-05-2003 PP-00092 EMENT VOL-02110-02 PP-00308)”.
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5.6 INICIATIVA PROBATÓRIA DO JUIZ
Outra modificação introduzida no Código de Processo Penal, também pela Lei 11.690/08, foi a
contextualização da iniciativa probatória do juiz, em face desse novo ponto de vista, a partir do
sistema acusatório.
É certo que a redação do art. 156 não foi das mais felizes184 ao proporcionar ao julgador duas
oportunidades de iniciativa probatória. Aliás, doutrina e jurisprudência do STF tem entendido pela
inconstitucionalidade da iniciativa probatória durante o inquérito policial, em face do sistema
acusatório adotado pela Constituição Federal185.
Em todo caso, percebe-se que a intenção do legislador foi a de deixar o juiz mais “distante” da
colheita da prova, procedendo-a apenas em situações excepcionais. Não se deve admitir juiz tutor de
investigação. A parte, principalmente o autor, deve assumir as suas responsabilidades e, nesse
sentido, as consequências em razão da sua inércia ou ineficiência.
Gustavo Henrique Badaró186, ao distinguir entre fontes de prova e meios de prova, alerta que a
investigação de fontes de prova deve ser rigidamente fechada para o juiz, uma vez que tal atividade
de busca compromete psicologicamente o juiz, colocando em risco a sua imparcialidade.
184 Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: I – ordenar, mesmo antes de iniciada
a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e
proporcionalidade da medida; II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir
dúvida sobre ponto relevante.
185AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 9034/95. LEI COMPLEMENTAR 105/01. SUPERVENIENTE. HIERARQUIA SUPERIOR.
REVOGAÇÃO IMPLÍCITA. AÇÃO PREJUDICADA, EM PARTE. "JUIZ DE INSTRUÇÃO". REALIZAÇÃO DE DILIGÊNCIAS PESSOALMENTE.
COMPETÊNCIA PARA INVESTIGAR. INOBSERVÂNCIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. IMPARCIALIDADE DO MAGISTRADO. OFENSA. FUNÇÕES
DE INVESTIGAR E INQUIRIR. MITIGAÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES DO MINISTÉRIO PÚBLICO E DAS POLÍCIAS FEDERAL E CIVIL. 1. Lei 9034/95.
Superveniência da Lei Complementar 105/01. Revogação da disciplina contida na legislação antecedente em relação aos sigilos bancário e
financeiro na apuração das ações praticadas por organizações criminosas. Ação prejudicada, quanto aos procedimentos que incidem sobre
o acesso a dados, documentos e informações bancárias e financeiras. 2. Busca e apreensão de documentos relacionados ao pedido de
quebra de sigilo realizadas pessoalmente pelo magistrado. Comprometimento do princípio da imparcialidade e conseqüente violação ao
devido processo legal. 3. Funções de investigador e inquisidor. Atribuições conferidas ao Ministério Público e às Polícias Federal e Civil (CF,
artigo 129, I e VIII e § 2o; e 144, § 1o, I e IV, e § 4o). A realização de inquérito é função que a Constituição reserva à polícia. Precedentes.
Ação julgada procedente, em parte. (STF - ADI: 1570 DF, Relator: MAURÍCIO CORRÊA, Data de Julgamento: 12/02/2004, Tribunal Pleno, Data
de Publicação: DJ 22-10-2004)
186BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Processo Penal. 2ª ed. Rio de Janeiro: Elselvier, 2014, p. 266
187BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo Penal. 2ª Ed. Rio de Janeiro: El Selvier, 2014, p. 270.
188RECURSO EM HABEAS CORPUS. DIREITO PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. CITAÇÃO POR EDITAL. IMPRENSA OFICIAL.
AFIXAÇÃO DO EDITAL PELO ESCRIVÃO. MERA IRREGULARIDADE. DEFICIÊNCIA DA DEFESA TÉCNICA. PRONÚNCIA. FUNDAMENTAÇÃO. PROVA
EMPRESTADA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. INOCORRÊNCIA.
1. Sendo o Fórum no qual o paciente responde ao processo regional da Comarca da Capital, é no seu órgão da imprensa oficial que deve ser
publicada a peça editalícia, não havendo falar em necessidade de publicação em periódico de circulação local.
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5.9.1 INTERROGATÓRIO
Anteriormente concebido principalmente como meio de prova – o acusado era simplesmente
considerado um objeto –, o interrogatório ganhou novos contornos após o advento da Lei 11.719, de
20 de junho de 2008.
A grande modificação ficou por conta do momento da sua ocorrência, postergada para o final
da produção da prova oral (art. 400), tendência iniciada na Lei 9.099/95, que cuida dos crimes de
menor potencial ofensivo. O legislador ordinário deu ênfase ao interrogatório como meio de defesa,
na medida em que, ao ser realizado no final da audiência de instrução, permite que o acusado
dimensione eficazmente a conveniência e a oportunidade em participar do ato.
Essa mudança de perspectiva já havia iniciado com as alterações promovidas pela Lei
10.792/03, que passou, por exemplo, a permitir que as partes formulassem perguntas após o juiz
(art. 188). O direito ao silêncio e à entrevista pessoal e reservada com o defensor técnico também
evidenciam a modificação de paradigma acerca da finalidade precípua do interrogatório.
Em relação ao procedimento propriamente dito, depois de devidamente qualificado e
cientificado do inteiro teor da acusação, bem como facultada a possibilidade da entrevista pessoal e
reservada com o seu defensor, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório,
do seu direito de permanecer calado e de não responder às perguntas que lhe forem formuladas,
2. A afixação da peça editalícia pelo Escrivão e, não, pelo Oficial de Justiça no átrio do Fórum constitui-se mera irregularidade, eis que a
intenção do legislador é apenas o de assegurar que o Edital seja "afixado à porta do edifício onde funcionar o juízo" (artigo 365, parágrafo
único, do Código de Processo Penal).
3. Em tema de nulidades processuais, o nosso Código de Processo Penal acolheu o princípio pas de nullité sans grief, do qual se dessume
que somente há de se declarar a nulidade do feito, quando, além de alegada opportuno tempore, reste comprovado o efetivo prejuízo dela
decorrente.
4. A validade de prova produzida em outro processo deve ser decidida pelos jurados, na sessão plenária do Tribunal do Júri, mormente se se
mostra idônea a certificar a autoria do crime.
5. Recurso improvido.
(RHC 13.664/RJ, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em 24/02/2005, DJ 09/05/2005, p. 475)
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ficando expressamente visível o direito ao silêncio, revogando-se a vetusta regra até então prevista
no art. 186, ainda que em desuso após a Constituição Federal de 1988.
Nos termos do art. 187, o interrogatório é constituído de duas partes, sendo a primeira
também chamada de interrogatório de identificação, na qual o réu é inquirido sobre aspectos
pessoais (§ 1º), enquanto que na segunda, conhecida como interrogatório de mérito, o denunciado é
perguntado sobre os fatos narrados na denúncia (§ 2º).
Como já foi dito, é permitida a formulação de perguntas pelas partes, ainda vigorando, nesse
específico ponto, o sistema presidencialista189. Segundo entendemos, contudo, nada impede que o
juiz permita que as partes façam as perguntas diretamente ao acusado, na linha, aliás, do modelo
preconizado pela mais recente reforma do procedimento do Tribunal do Júri (art. 474, §1º).
Havendo mais de um acusado, os interrogatórios devem ser realizados separadamente. Deve-
se, contudo, permitir a participação dos defensores técnicos dos corréus, conforme precedentes da
Primeira190 e Segunda191 Turmas do Supremo Tribunal Federal.
Os artigos 192, 193 e 195 preveem a adoção de formalidades instrumentais, conforme as
necessidades de comunicação do acusado, que abrangem desde a forma como se procede ao
interrogatório de surdo, mudo ou surdo-mudo, até a intermediação de intérprete para os réus que
não compreendam o idioma pátrio. O art. 194 foi revogado, pois não há mais utilidade, diante da
redução da maioridade civil.
O art. 196 permite a qualquer tempo que o juiz proceda a novo interrogatório de ofício ou a
pedido fundamentado de qualquer das partes, caso entenda necessário.
A tendência jurisprudencial aponta para a ocorrência de nulidade absoluta, quando ao réu não
é oportunizado o interrogatório, pois, agora com mais razão, também considerado como meio de
defesa192, ainda que não se dispense a efetiva ocorrência de prejuízo (HC 81.510, Rel. Min. Sepúlveda
189 AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSO PENAL. INTERROGATÓRIO. INDEFERIMENTO DAS PERGUNTAS DA
DEFESA. NULIDADE RELATIVA. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DO PREJUÍZO. RECURSO DESPROVIDO. 1. O art. 188 do Código de Processo
Penal não faculta à defesa técnica direcionar perguntas diretamente à Ré. Com efeito, concluído o interrogatório, o Juiz indagará das partes
se algum fato deixou de ser esclarecido, formulando o próprio magistrado as perguntas correspondentes, se o entender pertinente e
relevante. 2. A não formulação de determinadas perguntas, pelo Advogado da Ré, na audiência de interrogatório, ao contrário do que se
alega, não demonstra, por si só, a vicissitude do ato processual, pois não se pode presumir eventual prejuízo à Defesa, mormente se a lei
assegura ao interrogado o direito de permanecer perante o juízo em silêncio – princípio do nemo tenetur se detegere. 3. Inexistindo
qualquer argumento apto a afastar as razões consideradas no julgado ora agravado, deve ser a decisão mantida por seus próprios
fundamentos. 4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no Ag 1018918/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em
20/08/2009, DJe 14/09/2009).
190EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO E ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO DE DROGAS. INDEFERIMENTO DE
REPERGUNTAS DE ADVOGADO DE UM DOS CORRÉUS AO OUTRO CORRÉU DURANTE O INTERROGATÓRIO. DECISÃO QUE VIOLA PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS. NULIDADE ABSOLUTA. PRECEDENTES. DEMONSTRAÇÃO DO PREJUÍZO SOMENTE QUANTO AO CRIME DE ASSOCIAÇÃO
PARA O TRÁFICO. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA PARA ANULAR A INSTRUÇÃO A PARTIR DO INTERROGATÓRIO. 1. A decisão que
impede que o defensor de um dos réus repergunte ao outro acusado ofende os princípios constitucionais da ampla defesa, do contraditório
e da isonomia, gerando nulidade absoluta. 2. O princípio do pas de nullité sans grief exige, sempre que possível, a demonstração de prejuízo
concreto à parte que suscita o vício, ainda que a sanção prevista seja a de nulidade absoluta do ato. Precedentes. 3. Prejuízo devidamente
demonstrado pela defesa quanto à imputação pelo crime de associação para o tráfico. Ausência de prejuízo com relação ao crime de tráfico
de drogas. 4. Ordem parcialmente concedida para anular a instrução a partir do interrogatório quanto ao crime de associação para o tráfico
de drogas. (HC 101648, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 11/05/2010, DJe-026 DIVULG 08-02-2011 PUBLIC 09-
02-2011 EMENT VOL-02460-02 PP-00264 RT v. 100, n. 908, 2011, p. 460-469 LEXSTF v. 33, n. 387, 2011, p. 370-381).
191 EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. INTERROGATÓRIO DE LITISCONSORTE PASSIVO. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DA DEFESA.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. 1. A certificação de que uma das defensoras da paciente teria manuseado os autos em data anterior à da
realização do interrogatório do corréu não supre a falta de intimação para o ato. 2. A ausência de intimação da defesa para o interrogatório
de litisconsorte passivo traduz constrangimento ilegal sanável em habeas corpus por violar o direito da defesa de formular reperguntas aos
corréus. Precedentes. Ordem concedida a fim de anular o interrogatório do corréu Luis Carlos Szymonowicz e determinar que outro se
realize com observância da prévia intimação da defesa da paciente. Ordem estendida, de ofício, aos demais corréus. (HC 93607, Relator(a):
Min. EROS GRAU, Segunda Turma, julgado em 04/05/2010, DJe-105 DIVULG 10-06-2010 PUBLIC 11-06-2010 EMENT VOL-02405-02 PP-
00448).
192DIREITO PROCESSUAL PENAL. CITAÇÃO EDITALÍCIA. IRREGULARIDADE. COMPARECIMENTO ESPONTÂNEO DO RÉU. VÍCIO SANADO.
AUSÊNCIA DE INTERROGATÓRIO. INVALIDADE DO PROCESSO. APROVEITAMENTO DOS ATOS INSTRUTÓRIOS. POSSIBILIDADE. I - Eventual
irregularidade na citação editalícia é sanada pelo comparecimento espontâneo do réu ao processo, incidindo o princípio "pas de nullité sans
grief", consagrado pelo art. 563, do Código de Processo Penal. II - Em que pese ao Enunciado nº 523 da Súmula do Supremo Tribunal
Federal, que estabelece que “No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver
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Pertence, 1ª Turma, unânime, DJ de 12/4/2002). Não ocorre, porém, se o réu opta por não participar
do ato, da mesma forma quando se opera a preclusão quanto à oportunidade de alegação da
nulidade193.
O advento da Lei 11.719/08 não acarretou a realização de novos interrogatórios, ao final da
audiência de instrução, em todos os processos em curso. Tratando-se de norma processual, a sua
aplicação deve considerar o estado em que a marcha procedimental se encontra, não havendo
direito subjetivo à repetição de ato regularmente realizado na vigência da lei anterior (art. 2º)194.
A Lei 11.900/09, que acrescentou parágrafos ao art. 185, possibilitou excepcionalmente a
realização de interrogatório por videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de
sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja necessária para atender a uma das
seguintes finalidades:
I - prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de que o preso integre
organização criminosa ou de que, por outra razão, possa fugir durante o deslocamento;
III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que não seja
possível colher o depoimento destas por videoconferência, nos termos do art. 217 deste
Código;
prova de prejuízo para o réu”, entendimento esse corroborado, inclusive, pelo Superior Tribunal de Justiça, a ausência do interrogatório
acarreta indiscutível prejuízo ao exercício de defesa do réu, dado o seu caráter indispensável, sendo certo que a não realização do referido
ato importa violação direta à garantia constitucional da ampla defesa, consectária do princípio maior do devido processo legal, além de
configurar verdadeiro cerceamento de defesa, impondo-se a invalidação do processo, sem, contudo, fulminar a instrução já realizada. III -
Recurso provido, para anular a sentença, devendo os autos retornar à vara de origem para realização do ato de interrogatório, sem prejuízo
dos demais atos instrutórios, que deverão permanecer incólumes, cabendo, se for o caso, a abertura de novo prazo para alegações finais às
partes. (ACR 199451010391297, Desembargador Federal ANDRÉ FONTES, TRF2 - SEGUNDA TURMA ESPECIALIZADA, DJU - Data:18/11/2008 -
Página:85.).
193 EMENTA HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA. INOBSERVÂNCIA DE PRAZO RAZOÁVEL
ENTRE A CITAÇÃO E O INTERROGATÓRIO DO RÉU. NULIDADE INEXISTENTE. ORDEM DENEGADA. 1 – Não existe violação ao princípio da
ampla defesa em razão da realização de interrogatório do réu antes do prazo de 48 horas, contado da citação, que o Tribunal a quo reputou
necessário à elaboração de estratégia de defesa pelo réu. Precedente. (HC nº 69.350/SP, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 26/3/93). 2 –
Assegurado ao paciente o direito à entrevista prévia e reservada com seu advogado (CPP, art. 185, § 2º) e não tendo havido qualquer
manifestação de inconformismo visando à redesignação do ato pela defesa, consumou-se preclusão sobre o tema (CPP, art. 571, inciso II).
Precedente. 3 – Ausência, ademais, de demonstração de prejuízo à defesa decorrente da realização do interrogatório, no qual o réu negou a
autoria do fato, o que enseja o não reconhecimento da invocada nulidade (CPP, art. 563). 4 – Ordem denegada. (HC 101455, Relator(a):
Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 31/08/2010, DJe-224 DIVULG 22-11-2010 PUBLIC 23-11-2010 EMENT VOL-02436-01 PP-
00036 RTJ VOL-00219- PP-00480).
194 EMENTA: PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. LEI 11.719/2008 QUE DEU NOVA REDAÇÃO AO ART. 400 DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL. NOVO INTERROGATÓRIO. REALIZAÇÃO. PRETENSÃO. DESCABIMENTO. NULIDADE. ALEGAÇÃO. PREJUÍZO. INEXISTÊNCIA. ORDEM
DENEGADA. I - O interrogatório do paciente ocorreu em data anterior à publicação da Lei 11.719/2008, o que, pela aplicação do princípio do
tempus regit actum, exclui a obrigatoriedade de renovação do ato validamente praticado sob a vigência de lei anterior. II - Esta Corte já
firmou entendimento no sentido de que não se declara a nulidade de ato processual se a alegação não vier acompanhada da prova do
efetivo prejuízo sofrido pelo réu. Precedentes. III - Ordem denegada. (HC 104555, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira
Turma, julgado em 28/09/2010, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-194 DIVULG 14-10-2010 PUBLIC 15-10-2010).
195 EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. MATÉRIA CRIMINAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
INTEMPESTIVIDADE. INTERROGATÓRIO REALIZADO POR VÍDEOCONFERÊNCIA. LEI PAULISTA 11.819/2005. INCONSTITUCIONALIDADE
FORMAL JÁ RECONHECIDA POR ESTA CORTE. HABEAS CORPUS CONCEDIDO DE OFÍCIO. PRECEDENTES. [...] No julgamento do HC 90.900, rel.
para o acórdão min. Menezes Direito, o Plenário do Supremo Tribunal Federal assentou, por maioria, a inconstitucionalidade formal da Lei
11.819/2005, do Estado de São Paulo, por entender que tal diploma legal ofende o art. 22, I, da Constituição Federal, na medida em que
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5.9.2 CONFISSÃO
Ocorre a confissão quando o acusado reconhece a veracidade do fato contra si narrado, não
abrangendo necessariamente a repercussão jurídica ou o pedido formulado pelo autor da ação
penal, tal como o reconhecimento jurídico do pedido, figura existente no processo civil.
Como meio de prova, a confissão é um importante instrumento, mas não o único. Não basta
em si. Segundo dispõe o art. 197, o valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os
outros elementos de prova, e para a sua apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas
do processo, verificando se entre ela e estas existe compatibilidade ou concordância. A cautela é
importante, a fim de evitar, por exemplo, a autoacusação falsa, que não é rara em infrações penais
praticadas por organizações criminosas.
Conforme entendia a jurisprudência, a confissão do indiciado na fase pré-processual não era
suficiente para, por si só, sustentar um decreto condenatório, porque não há contraditório no
inquérito policial. Esse entendimento levou o legislador a exigir a ratificação em juízo para que a
confissão seja válida como prova (art. 155).
A confissão pode ser efetivada até mesmo em outro momento que não o do interrogatório,
bastando que tal ato seja materializado por termo nos autos (art. 199).
Segundo dispõe o art. 200, a confissão será divisível e retratável, sem prejuízo do livre
convencimento do juiz, fundado no exame das provas em conjunto.
Por fim, o art. 198 não foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988.
disciplina matéria eminentemente processual. Ordem concedida, de ofício, para decretar a nulidade do interrogatório realizado por meio de
sistema de videoconferência, com base na Lei paulista 11.819/2005, e dos atos a ele subsequentes, à exceção das oitivas das testemunhas.
Agravo regimental a que se nega provimento. Concessão de habeas corpus de ofício. (AI 820070 AgR, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA,
Segunda Turma, julgado em 07/12/2010, DJe-020 DIVULG 31-01-2011 PUBLIC 01-02-2011 EMENT VOL-02454-15 PP-03846 LEXSTF v. 33, n.
386, 2011, p. 211-217).
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comunicado de determinados atos processuais (§2º), inclusive por meio eletrônico (§3º), além do
direito ao encaminhamento para atendimento multidisciplinar (§5º).
5.9.4 PROVA TESTEMUNHAL
A prova testemunhal é o meio de prova mais usado no cotidiano forense. A sua utilização em
larga escala decorre, entre outros motivos, da ineficiência do Estado em produzir provas técnicas
consistentes196.
O legislador não exige qualquer requisito subjetivo para que uma pessoa possa ser
testemunha. Menores, incapazes e até mesmo crianças têm aptidão para serem ouvidos em juízo,
não sendo necessária a capacidade civil para a prática do ato (art. 202). Caberá ao juiz valorar a
idoneidade da prova. Essa ausência de restrição decorre justamente do interesse público envolvido
nas demandas penais, não sendo conveniente que a lei delimite a priori o rol de pessoas que possam
colaborar com a reconstrução histórica do fato.
A partir do momento em que toda a pessoa possa servir como testemunha, surge então o
dever geral de prestar depoimento. Cuida-se de regra contida na primeira parte do art. 206.
Excepcionam-se somente as hipóteses em que a própria lei dispensa, ou até mesmo proíbe o
testemunho, que serão vistas a seguir.
O ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que separado ou
divorciado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado estão dispensados do dever de
depor. A regra é motivada pelo intenso envolvimento emocional que essas pessoas mantêm com o
denunciado, não se podendo delas exigir outra postura. Somente quando não for possível obter a
prova do fato e de suas circunstâncias, é que o dever de depor permanece íntegro (art. 206, parte
final).
Além dos casos de dispensa, o art. 207 proíbe as pessoas que, em razão de função, ministério,
ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem
dar o seu testemunho. O impedimento para depor não decorre do afeto, como nos casos de
dispensa, mas sim em razão do dever de segredo. Este, por sua vez, normalmente decorre de lei ou
de contrato. Entre os exemplos mais comuns de dever de sigilo, citamos a relação advogado/cliente e
o liame médico/paciente.
O dever de depor é acompanhado de perto pelo dever de dizer a verdade. O compromisso está
previsto no art. 203, determinando a lei que a testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de
dizer a verdade do que souber e lhe for perguntado [...]. As pessoas com doença ou deficiência
mental estão dispensadas do compromisso, assim como as pessoas a que se refere o art. 206, nos
termos do art. 208.
A testemunha que não cumpre o dever de dizer a verdade comete o crime de falso
testemunho, previsto no art. 342 do Código Penal. Mesmo que o juiz tenha esquecido, no caso
concreto, de colher o compromisso da testemunha, o dever de dizer a verdade permanece incólume,
porque decorre da lei197.
O art. 209 trata das testemunhas do juízo (caput) e das testemunhas referidas (§ 1º).
196 Essa ineficiência tem relação direta com a impunidade, já que o testemunho, como resultado de percepções humanas armazenadas no
cérebro, está sujeito a falhas, que são potencializadas pelo decurso do tempo. Como bem lembrado por Pacelli, “a verdade da razão é
apenas a representação que o homem tem e faz da realidade que apreende diuturnamente”. (OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de
Processo Penal. 16. ed. atual. São Paulo: Atlas, 2012,p. 404).
197PENAL. PROCESSUAL. FALSO TESTEMUNHO. IRRELEVÂNCIA QUANTO AO RESULTADO DO PROCESSO PRINCIPAL E DA FORMALIDADE DO
COMPROMISSO. DELITO NÃO CARACTERIZADO POR OUTRO FUNDAMENTO. 1. A caracterização do crime de falso não está condicionada à
decisão judicial condenatória no processo principal em que se verificou. Precedentes do STJ. 2. É irrelevante a formalidade do compromisso
para a caracterização do crime de falso testemunho. Precedentes do STF. 3. Nos termos de recente precedente do STF, o crime de falso
testemunho não se configura quando com a declaração da verdade o depoente assume o risco de ser incriminado. (HC n.º 73.035/DF, in DJ
de 19.12.96, p. 51.766). 4. Habeas corpus concedido para trancar a ação penal. (HC 20.924/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA,
julgado em 11/03/2003, DJ 07/04/2003, p. 302).
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Em relação ao procedimento propriamente dito, o código exige que, antes do início da
audiência, devam ser adotadas as providências necessárias para a garantia da incomunicabilidade
das testemunhas, mantendo-as em locais ou compartimentos distintos (art. 210, parágrafo único, do
CPP).
Antes ainda de iniciado o depoimento, surge a oportunidade para que a testemunha seja
contraditada, expondo as partes os argumentos que a tornem suspeita de parcialidade ou indigna de
fé. Não havendo procedimento específico no CPP para a solução do incidente, aplica-se
subsidiariamente o Código de Processo Civil.
Colhido ou não compromisso, o depoimento será prestado oralmente, não sendo permitido à
testemunha trazê-lo por escrito, sendo aceita apenas breve consulta a apontamentos. Os
depoimentos são colhidos separadamente, observando-se a regra da incomunicabilidade (art. 210).
A Lei 11.690/08 trouxe modificação substancial no procedimento de inquirição das
testemunhas, abandonando-se o sistema presidencialista e, com isso, aproximando-se do sistema
acusatório, na medida em que o juiz se mantém mais “afastado” da iniciativa probatória.
Segundo dispõe o art. 212, as perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à
testemunha, cabendo ao juiz a fiscalização do ato, a fim de que sejam evitadas as perguntas que
possam induzir a resposta, as que não tiverem relação com a causa ou as que importarem na
repetição de outra já respondida. Quanto aos pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a
inquirição198.
A não observância da regra prevista no art. 212 não tem ocasionado por si só a nulidade do
ato. O Supremo Tribunal Federal tem exigido a ocorrência de prejuízo199. Em acórdão mais recente, a
Suprema Corte afirmou tratar-se de mera irregularidade, não cabendo igualmente a alegação de
nulidade200. Há ainda o registro de decisão no sentido de que ao juiz não foi retirada a possibilidade
de fazer perguntas às partes em primeiro lugar201.
Com a gradativa adoção do sistema audiovisual de gravação de audiências (art. 405 do CPP), as
regras contidas nos artigos 215 e 216 estão caindo em desuso. Isso se explica não somente pela
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fidelidade que a captação digital proporciona, mas também pelo ganho em celeridade, já que a
duração da audiência é sensivelmente reduzida.
O juiz, autoridade que preside o processo, tem o poder jurídico de determinar a condução
coercitiva de testemunha faltosa (art. 218); a retirada do réu da sala de audiências, quando a sua
presença puder causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido,
desde que não seja possível a utilização do recurso da videoconferência (art. 217); o
encaminhamento dos autos à autoridade policial, para fins de instauração de inquérito policial (art.
211 do CPP), regra semelhante à prevista no art. 40 do CPP, em caso de falso testemunho.
Em regra, a colheita da prova testemunhal dá-se na sala de audiências, em uma única
oportunidade. Porém, as pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por velhice, de comparecer
para depor, serão inquiridas onde estiverem (art. 220).
Determinadas autoridades possuem a prerrogativa de serem ouvidas em local, dia e hora
previamente ajustados entre elas e o juiz (art. 221), a fim de que não haja prejuízo para o exercício
de suas funções, sendo ainda possível, no caso do Presidente e do Vice-Presidente da República, dos
presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal, a
prestação de depoimento por escrito.
Os militares devem ser requisitados à autoridade superior (§ 2º do art. 221), enquanto que os
funcionários públicos são intimados normalmente por mandado, mas com comunicação à chefia
imediata, com informação sobre o dia e hora marcados (§ 3º).
O art. 222 cuida das cartas precatórias, para fins de inquirição de testemunhas que não
residam na circunscrição territorial abrangida pela competência do juízo. Não há suspensão da
instrução criminal, devendo a carta ser juntada no estado em que se encontrar o procedimento,
inclusive em grau de recurso, se for o caso. A única cautela que se exige do juiz é a fixação de prazo
razoável para cumprimento da carta, procedendo-se ao julgamento somente após o exaurimento do
lapso.
A Lei 11.900/09 incluiu o art. 222-A, que trata especificamente das cartas rogatórias, exigindo-
se da parte requerente a demonstração prévia da sua imprescindibilidade, bem como o pagamento
das despesas de envio, salvo se não puder arcar com os custos da diligência, caso em que o juiz
dispensará o pagamento.
Por fim, o art. 225 permite cautelarmente a produção antecipada da prova testemunhal.
202HABEAS CORPUS. PACIENTE CONDENADO POR ROUBO CIRCUNSTANCIADO (USO DE ARMA E CONCURSO DE PESSOAS). PENA: 5 ANOS E
4 MESES DE RECLUSÃO, EM REGIME INICIAL SEMI-ABERTO. RECONHECIMENTO DO ACUSADO FEITO NA FASE INQUISITORIAL POR MEIO DE
FOTOGRAFIA. CONFIRMAÇÃO EM JUÍZO. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DAS FORMALIDADES LEGAIS. INEXISTÊNCIA DE
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5.9.6 ACAREAÇÃO
A acareação tem por finalidade o esclarecimento de contradições surgidas a partir de
depoimentos prestados por testemunhas entre si, ou também relação às respostas prestadas pelo
ofendido, e até mesmo entre vítimas. Em suma, serve para eliminar incoerências encontradas na
prova oral. A prática forense, entretanto, tem demonstrado que a utilidade desse procedimento é
reduzida.
Apesar de a lei em tese possibilitar a acareação com o próprio acusado, ou entre réus, trata-se
de evidente equívoco, porque o denunciado não tem compromisso com a verdade, sendo-lhe
resguardado o direito constitucional ao silêncio. Qualquer procedimento nesse sentido, então, não
passaria de mero constrangimento ou intimidação.
5.9.7 DOCUMENTOS
O código, seguindo a mesma linha de permitir, ao máximo, a efetiva reconstrução histórica dos
fatos, autoriza a apresentação de documentos em qualquer fase do processo, salvo quando houver
vedação expressa (art. 231 do CPP), como ocorre no procedimento do Tribunal do Júri, que exige a
apresentação do documento com antecedência mínima de três dias antes da sessão de julgamento
(art. 479 do CPP). O parágrafo único deste mesmo artigo também proíbe expressamente a leitura de
jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos, gravações, fotografias, laudos,
quadros, croqui ou qualquer outro meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato
submetida à apreciação e julgamento dos jurados.
O art. 232 do CPP traz definição ampla de documento, ou seja, considera-se qualquer escrito,
instrumento ou papel, público ou particular, sendo admissível a apresentação de cópias autenticadas
de documentos originais, preservando-se a sua eficácia probatória.
As declarações escritas provam apenas e tão somente a declaração, ainda que feitas perante
oficial com fé pública, mas não o fato declarado (art. 368 do CPC, analogicamente). Não se considera
como prova oral, por não terem sido produzidas em ambiente dialético.
Essas declarações, todavia, têm sido admitidas em juízo nas hipóteses em que se destinam a
atestar os bons antecedentes do acusado. Mais do que a eficácia probatória de tais documentos, na
realidade os magistrados as tem aceitado como medida de economia processual, a fim de se evitar
testemunho apenas para essa finalidade.
A medida, de certa forma, seria até desnecessária, pois o ônus pesa sobre a acusação. O réu
não precisa provar que tem bons antecedentes, ou, ainda, conduta social adequada. Cabe ao autor
da ação penal demonstrar o contrário.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. NULIDADE RELATIVA. PREJUÍZO NÃO CONFIGURADO. ORDEM DENEGADA. 1. A inobservância ao art. 226 do
CPP constitui nulidade relativa, sendo necessária, portanto, a efetiva demonstração de prejuízo, o que não aconteceu no caso sub judice. 2.
O reconhecimento fotográfico, se acompanhado de outras provas, justifica o regular processamento da ação penal e pode servir de
elemento de convicção do Juiz. Precedentes. 3. Eventual irregularidade cometida na fase inquisitorial restou sanada em juízo, porquanto o
Magistrado realizou novamente o reconhecimento pessoal do acusado sob o crivo do contraditório e das demais formalidades legais.
Precedentes do STF e do STJ. 4. Ademais, as provas de autoria e materialidade da infração advieram não apenas do reconhecimento
fotográfico do paciente, mas também de vasto conjunto probatório que serviu como elemento de convicção para o Magistrado a fim de
concluir pela condenação. 5. O MPF manifesta-se pelo não conhecimento do writ. 6. Ordem denegada. (HC 103.239/DF, Rel. Ministro
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 26/06/2008, DJe 04/08/2008).
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Quando o documento não estiver escrito em idioma nacional, deve-se providenciar a tradução,
nos termos do art. 236 do CPP, salvo se no caso concreto se verificar que não haverá prejuízo para o
acusado, quando, por exemplo, este domine a língua estrangeira203.
Permite-se que o juiz determine a juntada de determinado documento aos autos, se
considerado importante para o julgamento da causa. Essa iniciativa probatória, no entanto, deve ser
utilizada com cautela, em razão do sistema acusatório, exigindo-se uma adequada releitura do art.
234 do CPP.
203PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSOS ESPECIAIS. CORRUPÇÃO ATIVA E PASSIVA. PECULATO-DESVIO. ESTELIONATO CONTRA ENTE
PÚBLICO. FALSIDADE IDEOLÓGICA. USO DE DOCUMENTO FALSO. FORMAÇÃO DE QUADRILHA. VIOLAÇÃO DO ART. 619 DO CPP. NÃO
OCORRÊNCIA. PROVA PERICIAL. INDEFERIMENTO. POSSIBILIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA QUE NÃO SE VERIFICA NA HIPÓTESE. QUEBRA
DE SIGILO BANCÁRIO. AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. LEGALIDADE. IMPEDIMENTO DA TURMA JULGADORA A QUO POR PRÉ-JULGAMENTO DA
DEMANDA. NÃO OCORRÊNCIA. SUSPENSÃO DO FEITO. DESNECESSIDADE. CONEXÃO E CONTINÊNCIA. NÃO CONFIGURAÇÃO. AUSÊNCIA DE
OBRIGATORIEDADE DE TRADUÇÃO OFICIAL DE TODOS OS DOCUMENTOS ACOSTADOS AOS AUTOS. PREJUÍZO À DEFESA NÃO
DEMONSTRADO. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 236 DO CPP. TIPIFICAÇÃO DAS CONDUTAS IMPUTADAS AOS RÉUS. REEXAME DO ACERVO
PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 07/STJ. DOSIMETRIA DA PENA. ART. 59 DO CP. OBSERVÂNCIA. REEXAME DA QUESTÃO.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 07/STJ. RECURSOS DESPROVIDOS. [...] XII. A norma inserta no art. 236 do CPP não impõe que sejam
necessariamente traduzidos os documentos em língua estrangeira, autorizando a juntada dos mesmos, mesmo sem tradução, se a crivo do
julgador esta se revele desnecessária, ressalvando-se, obviamente, que tal medida não pode cercear a defesa dos acusados. [...] (REsp
1183134/SP, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), Rel. p/ Acórdão Ministro GILSON DIPP,
SEXTA TURMA, julgado em 21/06/2012, DJe 29/06/2012).
204 RECURSO DE "HABEAS CORPUS". EXAME APROFUNDADO DE PROVAS. LAUDO PERICIAL SUBSCRITO POR UM SÓ "EXPERT". SÚMULA Nº
361-STF. I - A análise de prova, no âmbito do "habeas corpus", só e possível quando absolutamente extreme de dúvidas e inteiramente
inequívoca. Se a matéria for de prova duvidosa ou controvertida, inviável o remédio heroico. II - Não é nulo o laudo pericial realizado por
um só perito oficial, sendo inaplicável a Súmula n.º 361 - STF. III - Recurso improvido. (RHC 2189/SC, Rel. Ministro Pedro Acioli, Sexta Turma,
julgado em 13/10/1992, DJ 21/06/1993, p. 12379).
205 “No processo penal, é nulo o exame realizado por um só perito, considerando-se impedido o que tiver funcionado, anteriormente, na
diligência de apreensão”.
206PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO DE HABEAS CORPUS. ESTUPRO. EXAME PERICIAL. PERITO NÃO OFICIAL. LAUDO ASSINADO
POR UM MÉDICO. NULIDADE RELATIVA. MATÉRIA NÃO APRECIADA NO TRIBUNAL DE ORIGEM. I – O fato do exame de corpo de delito ser
subscrito por apenas um perito oficial, conquanto caracterize nulidade, à luz do disposto no art. 159, § 1º, do CPP, é vício de natureza
relativa, que pressupõe a alegação no momento oportuno, bem como a verificação de prejuízo para a parte, sendo que este não houve no
caso. II – Impossibilidade de se apreciar o recurso no ponto em que se afirma que ainda não houve contra-razões à apelação da defesa,
porquanto esse tópico não fazia parte do pedido inicial, sendo introduzido apenas nas razões do apelo. Recurso conhecido em parte e,
nessa parte, desprovido. (RHC 11.278/MG, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 19/06/2001, DJ 20/08/2001, p. 494).
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A redação atual, conferida pela Lei 11.690/08, reduziu para um perito oficial, portador de
diploma superior. Na falta de perito oficial, o exame deve ser realizado por duas pessoas idôneas,
portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que
tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame. Quando a perícia for mais
complexa, que abranja mais de uma área de conhecimento, pode-se determinar a sua realização por
mais de um perito (§ 7º do art. 159 do CPP).
A maior alteração ficou por conta do procedimento envolvendo a produção da prova pericial
em juízo, aproximando-se da prevista no CPC, implantando-se o contraditório na fase judicial,
inclusive com a possibilidade de participação de assistentes técnicos indicados pelas partes.
O contraditório diferido nem sempre será eficaz, pois, em muitos casos, a prova não poderá
ser repetida, em virtude do perecimento do objeto ou pela alteração do estado das coisas. Do
contrário, deve-se permitir a repetição da prova pericial, sob o manto do contraditório (art. 155 do
CPP).
Com relação às demais perícias, o CPP prevê a realização de autópsia (art. 162), inclusive
quando antecedida de exumação (art. 163); de local de crime (art. 169); perícias de laboratório (art.
170); para a análise de rompimento de obstáculo à subtração de coisa, ou por meio de escalada (art.
171); para aferir a gravidade de lesões através de laudo complementar, a ser realizada no prazo de
trinta dias a contar do fato (§ 2º do art. 168); para os casos de incêndio (art. 173); para os casos de
reconhecimento de escritos (art. 174); dos instrumentos do crime (art. 175).
207“Na verdade, o indício mencionado no art. 239 do CPP não chega a ser propriamente um meio de prova. Trata-se, antes disso, da
utilização de um raciocínio dedutivo, para, a partir da valoração da prova de um fato ou de uma circunstância, chegar-se à conclusão da
existência de um outro ou de uma outra”. (OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 16. ed. atual. São Paulo: Atlas, 2012,p.
430).
208 Ementa: HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. PRESUNÇÃO HOMINIS. POSSIBILIDADE. INDÍCIOS. APTIDÃO PARA LASTREAR DECRETO
CONDENATÓRIO. SISTEMA DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO. REAPRECIAÇÃO DE PROVAS. DESCABIMENTO NA VIA ELEITA. ELEVADA
QUANTIDADE DE DROGA APREENDIDA. CIRCUNSTÂNCIA APTA A AFASTAR A MINORANTE PREVISTA NO ART. 33, § 4º, DA LEI Nº 11.343/06,
ANTE A DEDICAÇÃO DO AGENTE A ATIVIDADES CRIMINOSAS. ORDEM DENEGADA. 1. O princípio processual penal do favor rei não ilide a
possibilidade de utilização de presunções hominis ou facti, pelo juiz, para decidir sobre a procedência do ius puniendi, máxime porque o
Código de Processo Penal prevê expressamente a prova indiciária, definindo-a no art. 239 como “a circunstância conhecida e provada, que,
tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias”. Doutrina (LEONE, Giovanni.
Trattato di Diritto Processuale Penale. v. II. Napoli: Casa Editrice Dott. Eugenio Jovene, 1961. p. 161-162). Precedente (HC 96062, Relator(a):
Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 06/10/2009, DJe-213 DIVULG 12-11-2009 PUBLIC 13-11-2009 EMENT VOL-02382-02 PP-
00336). 2. O julgador pode, através de um fato devidamente provado que não constitui elemento do tipo penal, mediante raciocínio
engendrado com supedâneo nas suas experiências empíricas, concluir pela ocorrência de circunstância relevante para a qualificação penal
da conduta. [...] 6. O juízo de origem procedeu a atividade intelectiva irrepreensível, porquanto a apreensão de grande quantidade de droga
é fato que permite concluir, mediante raciocínio dedutivo, pela dedicação do agente a atividades delitivas, sendo certo que, além disso,
outras circunstâncias motivaram o afastamento da minorante. 7. Ordem denegada. (HC 101519, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma,
julgado em 20/03/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-081 DIVULG 25-04-2012 PUBLIC 26-04-2012).
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Porém, não há um critério ou marco seguro para se afirmar quando um conjunto de indícios
poderá permitir uma condenação. Vai depender das circunstâncias do caso concreto. O certo é que,
quanto mais corriqueiro e verossímil o nexo de causalidade entre o fato indiciante e o indiciado,
conforme as regras de experiência, maior a possibilidade de sua utilização.
As presunções podem ser legais ou comuns. Nas primeiras, a própria lei determina a
consequência, uma vez provado o fato conhecido. As presunções legais dividem-se em absolutas –
juris et de jure – ou relativas – juris tantum –, conforme respectivamente proíbam ou admitam prova
em contrário.
Já a presunção comum, também chamada de presunção hominis, decorre daquilo que
normalmente acontece, da ordem natural das coisas, sendo tal inferência realizada pelo juiz, não
pela lei.
O direito processual penal não é afeto ao uso de presunções legais. Por outro lado, não é rara
a utilização de presunção hominis, até mesmo porque o Código de Processo Penal, como já foi dito,
traz um capítulo sobre os indícios. Podemos citar dois exemplos específicos de presunções, que
ocorrem no quase flagrante e no flagrante presumido (art. 302, III e IV, do CPP).
209 COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO - PODERES DE INVESTIGAÇÃO (CF, ART. 58, §3º) - LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS - LEGITIMIDADE DO
CONTROLE JURISDICIONAL - POSSIBILIDADE DE A CPI ORDENAR, POR AUTORIDADE PRÓPRIA, A QUEBRA DOS SIGILOS BANCÁRIO, FISCAL E TELEFÔNICO -
NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DO ATO DELIBERATIVO - DELIBERAÇÃO DA CPI QUE, SEM FUNDAMENTAÇÃO, ORDENOU MEDIDAS DE RESTRIÇÃO A
DIREITOS - MANDADO DE SEGURANÇA DEFERIDO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO - COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. [...] A Constituição da República, ao outorgar às Comissões Parlamentares de Inquérito "poderes de investigação próprios das autoridades
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A noção de domicílio está definida no art. 246 do CPP, compreendendo qualquer
compartimento habitado ou aposento ocupado de habitação coletiva ou compartimento não aberto
ao público, onde alguém exercer profissão ou atividade.
O § 2° do art. 243 proíbe a apreensão de documento em poder do defensor do acusado, salvo
quando constituir elemento do corpo de delito.
Em se tratando de diligência a ser realizada em escritório de advocacia, a Lei 8.906/94 prevê
que, presentes indícios de autoria e materialidade da prática de crime por parte de advogado, a
autoridade judiciária competente poderá decretar a quebra da inviolabilidade, em decisão motivada,
expedindo mandado de busca e apreensão, específico e pormenorizado, a ser cumprido na presença
de representante da OAB, sendo, em qualquer hipótese, vedada a utilização dos documentos, das
mídias e dos objetos pertencentes a clientes do advogado averiguado, bem como dos demais
instrumentos de trabalho que contenham informações sobre clientes, salvo quando estes estejam
sendo formalmente investigados como partícipes ou coautores do advogado pela prática do mesmo
crime que deu causa à quebra da inviolabilidade (art. 7º, §§ 6º e 7º, da Lei 8.906/94).
A busca pessoal prescinde de autorização judicial, nos termos do art. 244 do CPP. A
jurisprudência reconhece a validade da norma210. Não é permitido, porém, que a fundada suspeita
esteja baseada em parâmetros inteiramente subjetivos211.
Em se tratando de veículos, o STJ entende que somente se mostra necessária a autorização
judicial quando for destinado à moradia212.
judiciais" (art. 58, § 3º), claramente delimitou a natureza de suas atribuições institucionais, restringindo-as, unicamente, ao campo da indagação
probatória, com absoluta exclusão de quaisquer outras prerrogativas que se incluem,
ordinariamente, na esfera de competência dos magistrados e Tribunais, inclusive aquelas que decorrem do poder geral de cautela
conferido aos juízes, como o poder de decretar a indisponibilidade dos bens pertencentes a pessoas sujeitas à investigação parlamentar. A
circunstância de os poderes investigatórios de uma CPI serem essencialmente limitados levou a jurisprudência constitucional do Supremo
Tribunal Federal a advertir que as Comissões Parlamentares de Inquérito não podem formular acusações e nem punir delitos (RDA 199/205,
Rel. Min. PAULO BROSSARD), nem desrespeitar o privilégio contra a auto-incriminação que assiste a qualquer indiciado ou testemunha (RDA
196/197, Rel. Min. CELSO DE MELLO - HC 79.244-DF, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE), nem decretar a prisão de qualquer pessoa, exceto nas
hipóteses de flagrância (RDA 196/195, Rel. Min. CELSO DE MELLO - RDA 199/205, Rel. Min. PAULO BROSSARD). [...] O postulado da reserva
constitucional de jurisdição importa em submeter, à esfera única de decisão dos magistrados, a prática de determinados atos cuja
realização, por efeito de explícita determinação constante do próprio texto da Carta Política, somente pode emanar do juiz, e não de
terceiros, inclusive daqueles a quem se haja eventualmente atribuído o exercício de "poderes de investigação próprios das autoridades
judiciais". A cláusula constitucional da reserva de jurisdição – que incide sobre determinadas matérias, como a busca domiciliar (CF, art. 5º,
XI), a interceptação telefônica (CF, art. 5º, XII) e a decretação da prisão de qualquer pessoa, ressalvada a hipótese de flagrância (CF, art. 5º,
LXI) - traduz a noção de que, nesses temas específicos, assiste ao Poder Judiciário, não apenas o direito de proferir a última palavra, mas,
sobretudo, a prerrogativa de dizer, desde logo, a primeira palavra, excluindo-se, desse modo, por força e autoridade do que dispõe a própria
Constituição, a possibilidade do exercício de iguais atribuições, por parte de quaisquer outros órgãos ou autoridades do Estado. Doutrina. -
O princípio constitucional da reserva de jurisdição, embora reconhecido por cinco (5) Juízes do Supremo Tribunal Federal - Min. CELSO DE
MELLO (Relator), Min. MARCO AURÉLIO, Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Min. NÉRI DA SILVEIRA e Min. CARLOS VELLOSO (Presidente) - não foi
objeto de consideração por parte dos demais eminentes Ministros do Supremo Tribunal Federal, que entenderam suficiente, para efeito de
concessão do writ mandamental, a falta de motivação do ato impugnado. (MS 23452, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno,
julgado em 16/09/1999, DJ 12-05-2000 PP-00020 EMENT VOL-01990-01 PP-00086).
210PENAL. MOEDA FALSA. ART. 289, § 1º, DO CÓDIGO PENAL. PROVA OBTIDA POR BUSCA PESSOAL. ADMISSIBILIDADE. APELAÇÃO
DESPROVIDA. 1. Materialidade comprovada pelo laudo de exame em moeda. 2. Autoria comprovada pela prova testemunhal. 3. Admite-se
a busca pessoal independentemente de mandado quando houver fundada suspeita de que o agente possua objetos que possam constituir
corpo de delito, nos termos do art. 244 do Código de Processo Penal. 4. Apelação desprovida. (ACR 200661810009101, JUIZ ANDRÉ
NEKATSCHALOW, TRF3 - QUINTA TURMA, DJF3 CJ1 DATA:17/08/2010 PÁGINA: 134).
211 EMENTA: HABEAS CORPUS. TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA LAVRADO CONTRA O PACIENTE. RECUSA A SER SUBMETIDO A
BUSCA PESSOAL. JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL RECONHECIDA POR TURMA RECURSAL DE JUIZADO ESPECIAL. Competência do STF para
o feito já reconhecida por esta Turma no HC n.º 78.317. Termo que, sob pena de excesso de formalismo, não se pode ter por nulo por não
registrar as declarações do paciente, nem conter sua assinatura, requisitos não exigidos em lei. A "fundada suspeita", prevista no art. 244
do CPP, não pode fundar-se em parâmetros unicamente subjetivos, exigindo elementos concretos que indiquem a necessidade da revista,
em face do constrangimento que causa. Ausência, no caso, de elementos dessa natureza, que não se pode ter por configurados na alegação
de que trajava, o paciente, um "blusão" suscetível de esconder uma arma, sob risco de referendo a condutas arbitrárias ofensivas a direitos
e garantias individuais e caracterizadoras de abuso de poder. Habeas corpus deferido para determinar-se o arquivamento do Termo. (HC
81305, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Primeira Turma, julgado em 13/11/2001, DJ 22-02-2002 PP-00035 EMENT VOL-02058-02 PP-00306
RTJ VOL-00182-01 PP-00284).
212 Informativo 505/STJ: “Prescinde de mandado judicial a busca por objetos em interior de veículo de propriedade do investigado fundada
no receio de que a pessoa esteja na posse de material que possa constituir corpo de delito, salvo nos casos em que o veículo é utilizado
para moradia, como é o caso de cabines de caminhão, barcos, trailers. Isso porque, nos termos do art. 244 do CPP, a busca nessa situação
equipara-se à busca pessoal. HC 216.437-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 20/9/2012”.
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213Art. 25. [...] § 2º Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou coautoria, o coautor ou partícipe que através de confissão
espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços. (Incluído pela Lei
nº 9.080, de 19.7.1995)
214Art. 159. [...] § 4º Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do
sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 9.269, de 1996)
215Art. 8º. [...] Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu
desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.
216 Art. 16. [...] Parágrafo único. Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou coautoria, o coautor ou partícipe que através
de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços.
(Parágrafo incluído pela Lei nº 9.080, de 19.7.1995)
217 Art. 6º. Nos crimes praticados em organização criminosa, a pena será reduzida de um a dois terços, quando a colaboração espontânea
do agente levar ao esclarecimento de infrações penais e sua autoria.
218Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos
demais coautores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida
de um terço a dois terços.
219 Art. 87. Nos crimes contra a ordem econômica, tipificados na Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e nos demais crimes
diretamente relacionados à prática de cartel, tais como os tipificados na Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, e os tipificados no art. 288
do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, a celebração de acordo de leniência, nos termos desta Lei, determina a
suspensão do curso do prazo prescricional e impede o oferecimento da denúncia com relação ao agente beneficiário da leniência. Parágrafo
único. Cumprido o acordo de leniência pelo agente, extingue-se automaticamente a punibilidade dos crimes a que se refere o caput deste
artigo.
220Art. 4º. O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de
liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o
processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:
I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas;
II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;
III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;
IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa;
V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.
221 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal: parte geral: parte especial. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 716.
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esclarecimentos à autoridade que possibilitem a identificação dos demais participantes ou a
elucidação da própria infração penal, podendo ainda ser exigida a recuperação total ou parcial do
produto do crime, tudo em troca de benefícios pessoais.
A natureza jurídica da delação premiada varia conforme a norma que a regula. Em regra, trata-
se de causa de diminuição de pena, de um a dois terços, aplicável na terceira fase da dosimetria.
Pode eventualmente até ser causa de extinção da punibilidade, conforme será visto adiante. Da
análise do direito posto, percebe-se que há várias normas regulando a delação premiada. Não
obstante, a convivência normativa é relativamente pacífica, porque incide, em princípio, o critério da
especialidade, afastando-se normalmente o cronológico. Cada regra ou o conjunto delas aplica-se às
infrações penais correlatas.
Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a
consequente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado
efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa
colaboração tenha resultado:
222PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO ESPECIAL DO PRIMEIRO RECORRENTE (ÂNGELO). DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. DOSIMETRIA
DA PENA. REEXAME FÁTICO-PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. ROUBO MAJORADO. EMPREGO DE ARMA DE FOGO.
APREENSÃO E PERÍCIA. DESNECESSIDADE. UTILIZAÇÃO DE OUTROS MEIOS DE PROVA. ERESP 961.863/RS. RECURSO ESPECIAL NÃO
CONHECIDO. [...] RECURSO ESPECIAL DO SEGUNDO RECORRENTE (CRISTIANO). CÂMARA FORMADA MAJORITARIAMENTE POR JUÍZES DE
PRIMEIRO GRAU CONVOCADOS. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL. INOCORRÊNCIA. REPERCUSSÃO GERAL. RE Nº 597.133/RS.
DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. VIOLAÇÃO AOS ARTS. 13 E 14 DA LEI 9.807/99. OCORRÊNCIA. BENEFÍCIOS DA DELAÇÃO PREMIADA. AUSÊNCIA
DE RESTRIÇÃO PELO TIPO DE DELITO. RECURSO ESPECIAL A QUE SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO. [...] 2. A Lei 9.807/99 (Lei de Proteção a
Vítimas e Testemunhas), que trata da delação premiada, não traz qualquer restrição relativa à sua aplicação apenas a determinados delitos.
3. Recurso especial a que se dá parcial provimento, para determinar o retorno dos autos à origem, para que seja analisado o preenchimento
dos requisitos legais para aplicação dos benefícios da delação premiada. (REsp 1109485/DF, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
SEXTA TURMA, julgado em 12/04/2012, DJe 25/04/2012)".
223 Posição pessoal do autor. Há decisão do Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que a Lei 9.807/99 não se aplicaria indistintamente a
qualquer infração penal, devendo ser aplicadas somente as normas específicas previstas na legislação especial, considerando-se o critério
da especialidade, ou seja, somente se aplicaria a delação premiada da Lei 9.807/99 se não houvesse norma específica para o delito em
questão: "O artigo tido por violado, previsto na Lei de Proteção à Vítima e às Testemunhas, não se aplica ao caso, tendo em vista a aplicação
da Lei de Drogas, pelos critérios hermenêuticos da especialidade, que prevê, no art. 41, o instituto da delação premiada. Dispõe essa norma,
in verbis: "O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos
demais coautores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida
de um terço a dois terços." (REsp 1102736/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 04/03/2010, DJe 29/03/2010).
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III - a recuperação total ou parcial do produto do crime.
Art. 14. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e
o processo criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes do crime, na
localização da vítima com vida e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no
caso de condenação, terá pena reduzida de um a dois terços.
Da leitura dos dispositivos acima transcritos, nota-se que a lei prevê duas hipóteses distintas
de delação premiada. A primeira delas traz uma possibilidade até então inédita no ordenamento,
que é o perdão judicial (art. 13). Já a segunda situação autoriza a aplicação de uma causa de
diminuição de pena, que varia de um terço a dois terços (art. 14).
A colaboração pode ocorrer tanto na fase investigativa, quanto na processual, desde que seja
efetiva. Caso o agente não traga qualquer informação relevante, que permita atingir os expressivos
resultados exigidos pela lei, a delação premiada não será aplicada225.
A lei também exige que o réu seja primário, podendo ser suficiente a primariedade técnica.
Também se exige que a colaboração seja voluntária, o que não se confunde com
espontaneidade. Vale dizer, não precisa ser da iniciativa do investigado, indiciado ou acusado,
bastando que voluntariamente colabore com a investigação.
224AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PERDÃO JUDICIAL.ART. 13 DA LEI 9.807/99. REQUISITOS NÃO CUMULATIVOS.
ROUBO CIRCUNSTANCIADO. APLICABILIDADE. – O artigo 13 da Lei 9.807/99, tratando da proteção aos réus colaboradores, elencou
requisitos para a concessão do perdão judicial. Entretanto, considerar indispensável a presença de todos os requisitos indistintamente
significa restringir a aplicação do benefício ao tipo penal extorsão mediante sequestro, quando tal restrição não encontra respaldo na citada
lei. Nessa linha de entendimento, não há óbice à concessão de perdão na hipótese em apreço – roubo circunstanciado, quando preenchidos
os requisitos compatíveis com o citado tipo penal.Agravo regimental não provido.(AgRg no AREsp 157.685/GO, Rel. Ministro LEOPOLDO DE
ARRUDA RAPOSO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PE), QUINTA TURMA, julgado em 05/05/2015, DJe 13/05/2015).
225 "HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. FIXAÇÃO DA PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. INCIDÊNCIA DA ATENUANTE. CAUSA DE
DIMINUIÇÃO DE PENA PREVISTA NO ART. 33, § 4º, DA LEI Nº 11.343/2006. REITERAÇÃO DE PEDIDO. DELAÇÃO PREMIADA. AUSÊNCIA DE
CARACTERIZAÇÃO DO BENEFÍCIO. REVOLVIMENTO DA PROVA. VIA INADEQUADA. IMPOSSIBILIDADE. ORDEM PARCIALMENTE CONHECIDA E
DENEGADA. [...] 2. O instituto da delação premiada consiste em ato do acusado que, admitindo a participação no delito, fornece às
autoridades informações eficazes, capazes de contribuir para a resolução do crime. Todavia, apesar de o paciente haver confessado sua
participação no crime, contando em detalhes toda a atividade criminosa e incriminando seus comparsas não há nenhuma informação nos
autos que ateste o uso de tais informações para fundamentar a condenação dos outros envolvidos, pois a materialidade, as autorias e o
desmantelamento do grupo criminoso se deram, principalmente pelas interceptações telefônicas legalmente autorizadas e pelos
depoimentos das testemunhas e dos policiais federais. [...] (HC 90.962/SP, Rel. Ministro HAROLDO RODRIGUES (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/CE), SEXTA TURMA, julgado em 19/05/2011, DJe 22/06/2011)".
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O parágrafo único também determina que o juiz leve em conta a personalidade do beneficiado
e a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato criminoso, para fins de
aplicação do perdão judicial.
A delação como causa de diminuição de pena tem requisitos mais brandos. Basta que o
indiciado ou acusado colabore voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na
identificação dos demais coautores ou partícipes do crime, na localização da vítima com vida e na
recuperação total ou parcial do produto do crime.
Relembrando que a delação premiada prevista na Lei 9.807/99 se aplica, em tese, a qualquer
infração penal, cabendo ao juiz a verificação de qual das modalidades será a mais benéfica para o
acusado, inclusive a eventualmente prevista na legislação especial, podendo até mesmo ser aplicada
retroativamente, se mais favorável.
§ 2º Será admitida a infiltração se houver indícios de infração penal de que trata o art. 1º e se
a prova não puder ser produzida por outros meios disponíveis.
§ 3º A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de eventuais
renovações, desde que comprovada sua necessidade.
226 Igualmente recebeu críticas expressivas da doutrina especializada. Recomenda-se a leitura do artigo do professor Diogo Malan, Agente
infiltrado no processo penal, disponível em Processo Penal, Constituição e Crítica – Estudos em Homenagem ao Dr. Jacinto Nelson de
Miranda, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p. 205-223, no qual o ilustre jurista faz uma análise crítica acerca do novel instrumento de
investigação.
227 Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei,
mediante autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios: I - a infiltração por agentes de
polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes; [...]
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Art. 11. O requerimento do Ministério Público ou a representação do delegado de polícia
para a infiltração de agentes conterão a demonstração da necessidade da medida, o alcance
das tarefas dos agentes e, quando possível, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas
e o local da infiltração.
Art. 12. O pedido de infiltração será sigilosamente distribuído, de forma a não conter informações
que possam indicar a operação a ser efetivada ou identificar o agente que será infiltrado.
§ 3º Havendo indícios seguros de que o agente infiltrado sofre risco iminente, a operação
será sustada mediante requisição do Ministério Público ou pelo delegado de polícia, dando-
se imediata ciência ao Ministério Público e à autoridade judicial.
Art. 13. O agente que não guardar, em sua atuação, a devida proporcionalidade com a
finalidade da investigação, responderá pelos excessos praticados.
Parágrafo único. Não é punível, no âmbito da infiltração, a prática de crime pelo agente
infiltrado no curso da investigação, quando inexigível conduta diversa.
II - ter sua identidade alterada, aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 9º da Lei no
9.807, de 13 de julho de 1999, bem como usufruir das medidas de proteção a testemunhas;
III - ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua voz e demais informações pessoais
preservadas durante a investigação e o processo criminal, salvo se houver decisão judicial
em contrário;
IV - não ter sua identidade revelada, nem ser fotografado ou filmado pelos meios de
comunicação, sem sua prévia autorização por escrito.
Diogo Malan define agente infiltrado como sendo o servidor da polícia judiciária que, ocultando
a sua verdadeira identidade e ocupação, ingressa em organização criminosa conquistando a
confiança dos demais membros, passando a acompanhar suas atividades, sem induzi-los a praticar
crimes, tudo com os objetivos de identificar fontes de prova e obter elementos informativos úteis para a
persecução penal228.
Distingue-se o agente infiltrado da figura do agente encoberto e do agente provocador. O
encoberto não se integra na organização criminosa, sendo a sua atuação mais passiva,
contemplativa, enquanto que o provocador busca induzir, convencer o indivíduo a praticar a infração
penal, o que não ocorre com o agente infiltrado.
228MALAN, Diogo. Agente infiltrado no processo penal, disponível em Processo Penal, Constituição e Crítica – Estudos em Homenagem ao
Dr. Jacinto Nelson de Miranda. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p. 205-223.
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Estabelecidos os contornos jurídicos do tema, a primeira observação que se faz envolve o
sujeito que efetua a infiltração. A lei permite que seja realizada por agentes de polícia, não mais
prevendo a participação de agentes de inteligência229.
O legislador optou por exigir prévia autorização judicial para a realização da operação de
infiltração, estabelecendo autêntica cláusula de reserva jurisdicional. Trata-se de escolha acertada,
pois a infiltração de agente em organização criminosa constitui verdadeira medida invasiva da esfera
jurídica do investigado, devendo, portanto, passar pelo crivo do juiz.
A diligência deve ser processada e realizada sigilosamente, sob pena de se colocar em risco a
integridade do próprio agente infiltrado.
Buscando evitar o erro cometido na lei anterior, a atual Lei do Crime Organizado trouxe uma
regulamentação mais detalhada, fixando prazo, hipóteses de prorrogação, limites de atuação do
agente infiltrado, eventual punibilidade em razão da prática de infrações penais, entre outros.
Por fim, parece não haver mais dúvidas sobre a possibilidade de se utilizar o agente infiltrado
como meio de prova, nos termos do art. 10, § 2º, e art. 12, § 2º, ambos da LCO.
229 A validade da utilização de agentes de inteligência na investigação de infrações penais comuns é tema extremamente controvertido, e a
sua análise foge do propósito deste trabalho. A título de aprofundamento, vale conferir o inteiro teor do acórdão proferido pelo Superior
Tribunal de Justiça, nos autos do HC 149.250/SP. Eis a ementa parcial: “PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. OPERAÇÃO
SATIAGRAHA. PARTICIPAÇÃO IRREGULAR, INDUVIDOSAMENTE COMPROVADA, DE DEZENAS DE FUNCIONÁRIOS DA AGÊNCIA BRASILEIRA DE
INFORMAÇÃO (ABIN) E DE EX-SERVIDOR DO SNI, EM INVESTIGAÇÃO CONDUZIDA PELA POLÍCIA FEDERAL. MANIFESTO ABUSO DE PODER.
IMPOSSIBILIDADE DE CONSIDERAR-SE A ATUAÇÃO EFETIVADA COMO HIPÓTESE EXCEPCIONALÍSSIMA, CAPAZ DE PERMITIR
COMPARTILHAMENTO DE DADOS ENTRE ÓRGÃOS INTEGRANTES DO SISTEMA BRASILEIRO DE INTELIGÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE PRECEITO
LEGAL AUTORIZANDO-A. PATENTE A OCORRÊNCIA DE INTROMISSÃO ESTATAL, ABUSIVA E ILEGAL NA ESFERA DA VIDA PRIVADA, NO CASO
CONCRETO. VIOLAÇÕES DA HONRA, DA IMAGEM E DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. INDEVIDA OBTENÇÃO DE PROVA ILÍCITA,
PORQUANTO COLHIDA EM DESCONFORMIDADE COM PRECEITO LEGAL. AUSÊNCIA DE RAZOABILIDADE. AS NULIDADES VERIFICADAS NA
FASE PRÉ-PROCESSUAL, E DEMONSTRADAS À EXAUSTÃO, CONTAMINAM FUTURA AÇÃO PENAL. INFRINGÊNCIA A DIVERSOS DISPOSITIVOS
DE LEI. CONTRARIEDADE AOS PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE, DA IMPARCIALIDADE E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL INQUESTIONAVELMENTE
CARACTERIZADA. A AUTORIDADE DO JUIZ ESTÁ DIRETAMENTE LIGADA À SUA INDEPENDÊNCIA AO JULGAR E À IMPARCIALIDADE. UMA
DECISÃO JUDICIAL NÃO PODE SER DITADA POR CRITÉRIOS SUBJETIVOS, NORTEADA PELO ABUSO DE PODER OU DISTANCIADA DOS
PARÂMETROS LEGAIS. ESSAS EXIGÊNCIAS DECORREM DOS PRINCÍPIOS DEMOCRÁTICOS E DOS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS
INSCRITOS NA CONSTITUIÇÃO. NULIDADE DOS PROCEDIMENTOS QUE SE IMPÕE, ANULANDO-SE, DESDE O INÍCIO, A AÇÃO PENAL. 1.Uma
análise detida dos 11 (onze) volumes que compõem o HC demonstra que existe uma grande quantidade de provas aptas a confirmar,
cabalmente, a participação indevida, flagrantemente ilegal e abusiva, da ABIN e do investigador particular contratado pelo Delegado
responsável pela chefia da Operação Satiagraha. 2. Não há se falar em compartilhamento de dados entre a ABIN e a Polícia Federal, haja
vista que a hipótese dos autos não se enquadra nas exceções previstas na Lei nº 9.883/99. [...]”. (HC 149250/SP, Rel. Ministro ADILSON
VIEIRA MACABU (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RJ), QUINTA TURMA, julgado em 07/06/2011, DJe 05/09/2011).
230Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei,
mediante autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios: [...] II - a não-atuação policial sobre
os portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no território
brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem
prejuízo da ação penal cabível. Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a autorização será concedida desde que sejam
conhecidos o itinerário provável e a identificação dos agentes do delito ou de colaboradores.
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§ 1º O retardamento da intervenção policial ou administrativa será previamente comunicado
ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará ao
Ministério Público.
§ 3º Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério
Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das investigações.
...
Art. 9º. Se a ação controlada envolver transposição de fronteiras, o retardamento da
intervenção policial ou administrativa somente poderá ocorrer com a cooperação das
autoridades dos países que figurem como provável itinerário ou destino do investigado, de
modo a reduzir os riscos de fuga e extravio do produto, objeto, instrumento ou proveito do
crime.
Trata-se de importante instrumento de investigação, através do qual a polícia pode retardar a
interrupção de determinada ação criminosa, desde que devidamente acompanhada, em busca do
melhor momento para a obtenção de provas ou fornecimento de informações, quando se tratar de
ação praticada por organizações criminosas ou por alguém a elas vinculado.
A higidez normativa da ação controlada já foi reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal, nos
autos do HC 102.819/DF231.
A ação controlada caracteriza-se como uma espécie de autorização legal para que o servidor
da polícia judiciária deixe de cumprir o disposto no art. 301 do Código de Processo Penal, sempre
com o objetivo maior de obter informações ou provas mais relevantes para que se possa
desconstituir a organização criminosa sob investigação.
As formas mais comuns de acompanhamento da ação controlada são a captação e a
interceptação ambiental de sinais eletromagnéticos, óticos ou acústicos.
231 AÇÃO CONTROLADA – AMBIVALÊNCIA – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. A denominada ação controlada surge ambivalente, não devendo ser glosada em
se tratando do dia a dia da Administração Pública, em que os desvios de conduta são escamoteados. INQUÉRITO – PUBLICIDADE. Norteia a Administração
Pública – gênero – o princípio da publicidade no que deságua na busca da eficiência, ante o acompanhamento pela sociedade. Estando em jogo valores, há
de ser observado o coletivo em detrimento, até mesmo, do individual.
(HC 102819, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 05/04/2011, DJe-102 DIVULG 27-05-2011 PUBLIC 30-05-2011 EMENT VOL-
02532-01 PP-00141 RTJ VOL-00219- PP-00490) .
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processo judicial, e especialmente nos seguintes crimes: I – de terrorismo; II – de tráfico ilícito de substâncias
entorpecentes ou drogas afins; III – de contrabando ou tráfico de armas, munições ou material destinado a
sua produção; IV – de extorsão mediante sequestro; V – contra o sistema financeiro nacional; VI – contra a
Administração Pública; VII – contra a ordem tributária e a previdência social; VIII – lavagem de dinheiro ou
ocultação de bens, direitos e valores; IX – praticado por organização criminosa. O rol é exemplificativo.
Provavelmente, a regra mais polêmica esteja assentada no art. 6º, que afirma que as
autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios somente poderão examinar documentos, livros e registros de instituições financeiras,
inclusive os referentes a contas de depósitos e aplicações financeiras, quando houver processo
administrativo instaurado ou procedimento fiscal em curso e tais exames sejam considerados
indispensáveis pela autoridade administrativa competente232. Assim, estaria dispensada a prévia
autorização judicial, desde que:
• haja a prévia instauração de processo administrativo ou procedimento
fiscal em curso;
• o exame das informações protegidas pelo sigilo seja considerado
indispensável pela autoridade administrativa competente.
232O art. 38 da Lei 4.595/64 tinha regra semelhante: “Art. 38. As instituições financeiras conservarão sigilo em suas operações ativas e
passivas e serviços prestados. [...] § 5º Os agentes fiscais tributários do Ministério da Fazenda e dos Estados somente poderão proceder a
exames de documentos, livros e registros de contas de depósitos, quando houver processo instaurado e os mesmos forem considerados
indispensáveis pela autoridade competente. § 6º O disposto no parágrafo anterior se aplica igualmente à prestação de esclarecimentos e
informes pelas instituições financeiras às autoridades fiscais, devendo sempre estas e os exames serem conservados em sigilo, não podendo
ser utilizados senão reservadamente”. A matéria encontra-se atualmente regulamentada pelo Decreto 3.724/2001, relativamente à
requisição, acesso e uso, pela Secretaria da Receita Federal, de informações referentes a operações e serviços das instituições financeiras e
das entidades a elas equiparadas.
233 EMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL. INQUÉRITO. QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO. COMPARTILHAMENTO DAS INFORMAÇÕES COM A
RECEITA FEDERAL. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO IMPROVIDO. I - Não é cabível, em sede de inquérito, encaminhar à Receita Federal
informações bancárias obtidas por meio de requisição judicial quando o delito investigado for de natureza diversa daquele apurado pelo
fisco. II - Ademais, a autoridade fiscal, em sede de procedimento administrativo, pode utilizar-se da faculdade insculpida no art. 6º da LC
105/2001, do que resulta desnecessário o compartilhamento in casu. III - Agravo regimental desprovido. (Inq 2593 AgR, Relator(a): Min.
RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 09/12/2010, DJe-030 DIVULG 14-02-2011 PUBLIC 15-02-2011 EMENT VOL-02464-01
PP-00040). Outro precedente: “EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TUTELA DE URGÊNCIA (PODER GERAL DE CAUTELA). REQUISITOS.
AUSÊNCIA. PROCESSUAL CIVIL. REFERENDO DE DECISÃO MONOCRÁTICA (ART. 21, V DO RISTF). CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. DADOS
BANCÁRIOS PROTEGIDOS POR SIGILO. TRANSFERÊNCIA DE INFORMAÇÕES SIGILOSAS DA ENTIDADE BANCÁRIA AO ÓRGÃO DE FISCALIZAÇÃO
TRIBUTÁRIA FEDERAL SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. LEI COMPLEMENTAR 105/2001. LEI 10.174/2001. DECRETO 3.724/2001. A
concessão de tutela de urgência ao recurso extraordinário pressupõe a verossimilhança da alegação e o risco do transcurso do tempo
normalmente necessário ao processamento do recurso e ao julgamento dos pedidos. Isoladamente considerado, o ajuizamento de ação
direta de inconstitucionalidade sobre o tema é insuficiente para justificar a concessão de tutela de urgência a todo e qualquer caso.
Ausência do risco da demora, devido ao considerável prazo transcorrido entre a sentença que denegou a ordem e o ajuizamento da ação
cautelar, sem a indicação da existência de qualquer efeito lesivo concreto decorrente do ato tido por coator (21.09.2001 – 30.06.2003).
Medida liminar não referendada. Decisão por maioria. (AC 33 MC, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. JOAQUIM
BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 24/11/2010, DJe-027 DIVULG 09-02-2011 PUBLIC 10-02-2011 EMENT VOL-02461-01 PP-00001)”.
234SIGILO DE DADOS – AFASTAMENTO. Conforme disposto no inciso XII do artigo 5º da Constituição Federal, a regra é a privacidade quanto
à correspondência, às comunicações telegráficas, aos dados e às comunicações, ficando a exceção – a quebra do sigilo – submetida ao crivo
de órgão equidistante – o Judiciário – e, mesmo assim, para efeito de investigação criminal ou instrução processual penal. SIGILO DE DADOS
BANCÁRIOS – RECEITA FEDERAL. Conflita com a Carta da República norma legal atribuindo à Receita Federal – parte na relação jurídico-
tributária – o afastamento do sigilo de dados relativos ao contribuinte.(RE 389808, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno,
julgado em 15/12/2010, DJe-086 DIVULG 09-05-2011 PUBLIC 10-05-2011 EMENT VOL-02518-01 PP-00218 RTJ VOL-00220- PP-00540).
235 EMENTA: CONSTITUCIONAL. SIGILO BANCÁRIO. FORNECIMENTO DE INFORMAÇÕES SOBRE MOVIMENTAÇÃO BANCÁRIA DE
CONTRIBUINTES, PELAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS, DIRETAMENTE AO FISCO, SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO JUDICIAL (LEI COMPLEMENTAR
105/2001). POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA LEI 10.174/2001 PARA APURAÇÃO DE CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS REFERENTES A EXERCÍCIOS
ANTERIORES AO DE SUA VIGÊNCIA. RELEVÂNCIA JURÍDICA DA QUESTÃO CONSTITUCIONAL. EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. (RE
601314 RG, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, julgado em 22/10/2009, DJe-218 DIVULG 19-11-2009 PUBLIC 20-11-2009 EMENT
VOL-02383-07 PP-01422)
236Até o fechamento desta edição, imediatamente após a suspensão do julgamento do RE 601.314, na Sessão de 17/02/2016, já existiam
seis votos favoráveis à constitucionalidade da norma, configurando-se a maioria absoluta. Nesse sentido, caso não haja alteração de votos
até a conclusão do julgamento, estará sacramentada a validade da regra. Conforme notícia extraída do sítio do STF na internet: “O Plenário
do Supremo Tribunal Federal (STF) deu prosseguimento na sessão desta quinta-feira (17) ao julgamento conjunto de cinco processos que
questionam dispositivos da Lei Complementar (LC) 105/2001, que permitem aos bancos fornecer dados bancários de contribuintes à Receita
Federal, sem prévia autorização judicial. Até o momento, já foram proferidos seis votos pela constitucionalidade da norma e um em sentido
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As Comissões Parlamentares de Inquérito, inclusive as estaduais237, têm permissão
constitucional para determinar o afastamento de sigilo, em caso de investigações em andamento,
desde que devidamente aprovada pela respectiva comissão (art. 4º).
contrário, prevalecendo o entendimento de que a lei não promove a quebra de sigilo bancário, mas somente a transferência de
informações das instituições financeiras ao Fisco. A análise do tema será concluída na sessão plenária da próxima quarta-feira (24), com os
votos dos ministros Luiz Fux, Gilmar Mendes, Celso de Mello e do presidente, ministro Ricardo Lewandowski.
[...]” (http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=310242> Acesso em 19/02/2016).
237 EMENTA: AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA. MANDADO DE SEGURANÇA. QUEBRA DE SIGILO DE DADOS BANCÁRIOS DETERMINADA POR
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO DE ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA. RECUSA DE SEU CUMPRIMENTO PELO BANCO CENTRAL DO BRASIL.
LEI COMPLEMENTAR 105/2001. Potencial conflito federativo (cf. ACO 730-QO). Federação. Inteligência. Observância obrigatória, pelos
estados-membros, de aspectos fundamentais decorrentes do princípio da separação de poderes previsto na Constituição federal de 1988.
Função fiscalizadora exercida pelo Poder Legislativo. Mecanismo essencial do sistema de checks-and-counterchecks adotado pela
Constituição Federal de 1988. Vedação da utilização desse mecanismo de controle pelos órgãos legislativos dos estados-membros.
Impossibilidade. Violação do equilíbrio federativo e da separação de Poderes. Poderes de CPI estadual: ainda que seja omissa a Lei
Complementar 105/2001, podem essas comissões estaduais requerer quebra de sigilo de dados bancários, com base no art. 58, § 3º, da
Constituição. Mandado de segurança conhecido e parcialmente provido. (ACO 730, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno,
julgado em 22/09/2004, DJ 11-11-2005 PP-00005 EMENT VOL-02213-01 PP-00020).
238 EMENTA: COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO - QUEBRA DE SIGILO ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADA - ATO PRATICADO EM
SUBSTITUIÇÃO A ANTERIOR QUEBRA DE SIGILO QUE HAVIA SIDO DECRETADA SEM QUALQUER FUNDAMENTAÇÃO - POSSIBILIDADE -
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O pedido de interceptação de comunicação telefônica poderá ser efetuado pela autoridade
policial, em caso de inquérito policial, e pelo Ministério Público, em qualquer fase (pré-processual e
judicial). Caso o requerimento tenha sido formulado pela autoridade policial, apesar de a lei não
exigir, recomenda-se, se for possível, ouvir previamente o Ministério Público, que é o titular da ação
penal pública.
Quanto ao procedimento, o pedido conterá a demonstração de que a sua realização é
necessária à apuração de infração penal, com indicação dos meios a serem empregados.
Excepcionalmente, o juiz poderá admitir seja o pedido formulado verbalmente, desde que estejam
presentes os pressupostos que autorizem a interceptação, caso em que a concessão será
condicionada à sua redução a termo.
O juiz deve proferir decisão, no prazo máximo de vinte e quatro horas, ocasião em que, além
da fundamentação pertinente, deverá ser fixada a forma de execução da diligência.
Deferido o pedido, faculta-se ao Ministério Público o acompanhamento da interceptação a ser
realizada pela polícia judiciária (art. 6º). O Superior Tribunal de Justiça já reconheceu a validade da
diligência realizada pelo Ministério Público, que, no caso, tinha estrutura própria239.
EXISTÊNCIA SIMULTÂNEA DE PROCEDIMENTOS PENAIS EM CURSO, INSTAURADOS CONTRA O IMPETRANTE - CIRCUNSTÂNCIA QUE NÃO
IMPEDE A INSTAURAÇÃO DA PERTINENTE INVESTIGAÇÃO PARLAMENTAR SOBRE FATOS CONEXOS AOS EVENTOS DELITUOSOS - REFERÊNCIA
À SUPOSTA ATUAÇÃO DE ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO ESTADO DO ACRE, QUE SERIAM RESPONSÁVEIS PELA PRÁTICA DE ATOS
CARACTERIZADORES DE UMA TEMÍVEL MACRODELINQÜÊNCIA (TRÁFICO DE ENTORPECENTES, LAVAGEM DE DINHEIRO, FRAUDE,
CORRUPÇÃO, ELIMINAÇÃO FÍSICA DE PESSOAS, ROUBO DE AUTOMÓVEIS, CAMINHÕES E CARGAS) - ALEGAÇÃO DO IMPETRANTE DE QUE
INEXISTIRIA CONEXÃO ENTRE OS ILÍCITOS PENAIS E O OBJETO PRINCIPAL DA INVESTIGAÇÃO PARLAMENTAR - AFIRMAÇÃO DESPROVIDA DE
LIQUIDEZ - MANDADO DE SEGURANÇA INDEFERIDO. A QUEBRA FUNDAMENTADA DO SIGILO INCLUI-SE NA ESFERA DE COMPETÊNCIA
INVESTIGATÓRIA DAS COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO. - A quebra do sigilo fiscal, bancário e telefônico de qualquer pessoa
sujeita a investigação legislativa pode ser legitimamente decretada pela Comissão Parlamentar de Inquérito, desde que esse órgão estatal o
faça mediante deliberação adequadamente fundamentada e na qual indique, com apoio em base empírica idônea, a necessidade objetiva
da adoção dessa medida extraordinária. Precedente: MS 23.452-RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO (Pleno). PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA
RESERVA DE JURISDIÇÃO E QUEBRA DE SIGILO POR DETERMINAÇÃO DA CPI. - O princípio constitucional da reserva de jurisdição - que incide
sobre as hipóteses de busca domiciliar (CF, art. 5º, XI), de interceptação telefônica (CF, art. 5º, XII) e de decretação da prisão, ressalvada a
situação de flagrância penal (CF, art. 5º, LXI) - não se estende ao tema da quebra de sigilo, pois, em tal matéria, e por efeito de expressa
autorização dada pela própria Constituição da República (CF, art. 58, § 3º), assiste competência à Comissão Parlamentar de Inquérito, para
decretar, sempre em ato necessariamente motivado, a excepcional ruptura dessa esfera de privacidade das pessoas. AUTONOMIA DA
INVESTIGAÇÃO PARLAMENTAR. - O inquérito parlamentar, realizado por qualquer CPI, qualifica-se como. procedimento jurídico-
constitucional revestido de autonomia e dotado de finalidade própria, circunstância esta que permite à Comissão legislativa - sempre
respeitados os limites inerentes à competência material do Poder Legislativo e observados os fatos determinados que ditaram a sua
constituição - promover a pertinente investigação, ainda que os atos investigatórios possam incidir, eventualmente, sobre aspectos
referentes a acontecimentos sujeitos a inquéritos policiais ou a processos judiciais que guardem conexão com o evento principal objeto da
apuração congressual. Doutrina. Precedente: MS 23.639-DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO (Pleno). O PROCESSO MANDAMENTAL NÃO
COMPORTA DILAÇÃO PROBATÓRIA. - O processo de mandado de segurança qualifica-se como processo documental, em cujo âmbito não se
admite dilação probatória, pois a liquidez dos fatos, para evidenciar-se de maneira incontestável, exige prova pré-constituída, circunstância
essa que afasta a discussão de matéria fática fundada em simples conjecturas ou em meras suposições ou inferências. (MS 23652,
Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 22/11/2000, DJ 16-02-2001 PP-00092 EMENT VOL-02019-01 PP-00106).
239HABEAS CORPUS IMPETRADO EM SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO PREVISTO NO ORDENAMENTO JURÍDICO. 1. NÃO CABIMENTO.
MODIFICAÇÃO DE ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL. RESTRIÇÃO DO REMÉDIO CONSTITUCIONAL. MEDIDA IMPRESCINDÍVEL À SUA
OTIMIZAÇÃO. EFETIVA PROTEÇÃO AO DIREITO DE IR, VIR E FICAR. 2. ALTERAÇÃO JURISPRUDENCIAL POSTERIOR À IMPETRAÇÃO DO
PRESENTE WRIT. EXAME QUE VISA PRIVILEGIAR A AMPLA DEFESA E O DEVIDO PROCESSO LEGAL. 3. CORRUPÇÃO PASSIVA E
FAVORECIMENTO REAL. INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS. CONDUÇÃO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. POSSIBILIDADE. ALEGAÇÃO DE QUE AS
ESCUTAS E AS TRANSCRIÇÕES FORAM EFETUADAS POR SERVIDORES DO MINISTÉRIO PÚBLICO. DILIGÊNCIA QUE SE MANTEVE SOB A
RESPONSABILIDADE DO PARQUET. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE PREJUÍZO. ILEGALIDADE MANIFESTA INEXISTENTE. 4. PRISÃO
PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. GRAVIDADE CONCRETA DA CONDUTA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. CONSTRANGIMENTO
ILEGAL EVIDENTE NÃO CARACTERIZADO. ORDEM NÃO CONHECIDA. [...] 3. É lícito ao Parquet promover, por autoridade própria, atos de
investigação penal, pois esses compõem o complexo de funções institucionais do Ministério Público e visam instrumentalizar e tornar
efetivo o exercício das competências que lhe foram expressamente outorgadas pelo próprio texto constitucional - poderes implícitos -,
respeitadas - não obstante a unilateralidade do procedimento investigatório - todas as limitações que incidem sobre o Estado em tema de
persecução penal. 4. Na espécie, além da possibilidade, em abstrato, da colheita da prova pelo Ministério Público, a medida foi justificada
nas peculiaridades da hipótese, acentuando o Tribunal Estadual que por tratar-se "de crime organizado, envolvendo servidores públicos que
sucumbem a pedidos de presos para introdução de celulares nas unidades penitenciárias para dar continuidade ao cometimento de crimes,
em troca de dinheiro, muito mais coerente que a atividade investigatória seja realizada pelo Ministério Público, por meio de um grupo de
Promotores especializados no combate a esse tipo de criminalidade (GAECO)". Frise-se que o Superior Tribunal de Justiça já decidiu acerca
da impossibilidade de se interpretar restritivamente o art. 6º da Lei 9.296/1996 - que cuida da condução das escutas pela autoridade policial
-, sob pena de se inviabilizar a efetivação das interceptações telefônicas, até mesmo porque o legislador não teria como efetuar a distinção
necessária entre as variadas condições de estrutura e aparelhamento das unidades da Federação no que concerne à investigação penal,
especialmente em época de criminalidade organizada, não raras vezes chefiada por agentes estatais, como é o caso dos autos. 5.
Entretanto, para que a possibilidade de colheita da prova diretamente pelo Ministério Público - em razão da necessidade de adequação dos
instrumentos de investigação penal à atual realidade criminal do país - seja não só legal, como também legítima no caso concreto, o
exercício da discricionariedade motivada no momento da valoração da prova não basta, pois se fará imprescindível que a atividade
jurisdicional adeque-se frente a esse moderno modelo de investigação, exercendo a fiscalização da prova com maior profundidade - isto é:
quando do deferimento, da colheita e da apreciação da prova -, a fim de impedir distorções e desigualdades em sua aquisição, ferindo de
morte o princípio da paridade de armas, que garante um processo penal justo e equilibrado. Para tanto, repita-se: exigir-se-á do hodierno
julgador - inclusive em maior grau e amplitude do que se exigia antes - elevado controle e rigor na admissão, produção (e introdução no
processo) e valoração da prova requerida e realizada pelo Parquet. 6. A eventual escuta e posterior transcrição das interceptações pelos
servidores do Ministério Público não têm o condão de macular a mencionada prova, pois não passa de mera divisão de tarefas dentro do
próprio órgão que, por assim dizer, apenas se refere à organização administrativa da instituição, divisão de tarefas essa que não retirou dos
promotores de justiça a responsabilidade pela condução das diligências, tanto que consta expressamente do acórdão atacado - e dos
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O prazo de duração da medida não poderá ser superior a quinze dias, renovável por igual
tempo, uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova.
As interceptações podem ser renovadas por quantas vezes forem necessárias à investigação,
não havendo quantidade predeterminada240. O que poderá ocorrer, em cada caso, é a análise acerca
da validade ou não de sucessivas renovações.
Para preservar o sigilo e a eficácia da medida, o procedimento deve tramitar em autos
apartados, sendo o apensamento realizado imediatamente antes do relatório da autoridade, quando
se tratar de inquérito policial, ou na conclusão do processo ao juiz.
Por fim, a lei criou um tipo especial de delito para quem realizar interceptação de
comunicações telefônicas, de informática ou telemática, ou violar sigilo, sem autorização judicial ou
com objetivos não autorizados em lei, com pena de reclusão, que varia de dois a quatro anos, e
multa (art. 10).
QUESTÕES E PROCESSOS
INCIDENTES
QUESTÕES PREJUDICIAIS. EXCEÇÕES. CONFLITO DE JURISDIÇÃO. MEDIDAS
ASSECURATÓRIAS: SEQUESTRO, HIPOTECA LEGAL E ARRESTO.
RESTITUIÇÃO DAS COISAS APREENDIDAS. INCIDENTES DE FALSIDADE E
DE INSANIDADE MENTAL DO ACUSADO.
demais documentos juntados aos autos - que as interceptações ficaram sob a responsabilidade de dois promotores de justiça
especialmente designados. [...] (HC 244.554/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 09/10/2012, DJe
17/10/2012).
240Ementa: HABEAS CORPUS. PENAL. PROCESSUAL PENAL. PROVA. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. VIOLAÇÃO DE SIGILO DA COMUNICAÇÃO
ENTRE O PACIENTE E O ADVOGADO. CONHECIMENTO DA PRÁTICA DE NOVOS DELITOS. ILICITUDE DA PROVA. TRANCAMENTO DA AÇÃO
PENAL. ALEGAÇÃO INSUBSISTENTE. ORDEM DENEGADA. 1. É lícita a escuta telefônica autorizada por decisão judicial, quando necessária,
como único meio de prova para chegar-se a apuração de fato criminoso, sendo certo que, se no curso da produção da prova advier o
conhecimento da prática de outros delitos, os mesmos podem ser sindicados a partir desse início de prova. Precedentes: HC nº 105.527/DF,
relatora Ministra Ellen Gracie, DJe de 12/05/2011; HC nº 84.301/SP, relator Ministro Joaquim Barbosa, Segunda Turma, DJ de 24/03/2006; RHC
nº 88.371/SP, relator Ministro Gilmar Mendes, DJ de 02.02.2007; HC nº 83.515/RS, relator Ministro Nélson Jobim, Pleno, DJ de 04.03.2005.
2. A renovação da medida ou a prorrogação do prazo das interceptações telefônicas pressupõem a complexidade dos fatos sob investigação
e o número de pessoas envolvidas, por isso que nesses casos maior é a necessidade da quebra do sigilo telefônico, com vista à apuração da
verdade que interessa ao processo penal, sendo, a fortiori, “lícita a prorrogação do prazo legal de autorização para interceptação telefônica,
ainda que de modo sucessivo, quando o fato seja complexo e exija investigação diferenciada e contínua” (Inq. Nº 2424/RJ, relator Ministro
Cezar Peluso, Dje de 25.03.2010). 3. A comunicação entre o paciente e o advogado, alcançada pela escuta telefônica devidamente
autorizada e motivada pela autoridade judicial competente, não implica nulidade da colheita da prova indiciária de outros crimes e serve
para a instauração de outro procedimento apuratório, haja vista a garantia do sigilo não conferir imunidade para a prática de crimes no
exercício profissional. 4. O artigo 40 do Código de Processo Penal, como regra de sobredireito, dispõe que os juízes ou tribunais, quando em
autos ou papéis de que conhecerem verificarem a existência de crime de ação pública, remeterão ao Ministério Público as cópias e os
documentos necessários ao oferecimento da denúncia. Desse modo, se a escuta telefônica trouxe novos elementos probatórios de outros
crimes que não foram aqueles que serviram como causa de pedir a quebra do sigiloso das comunicações, a prova assim produzida deve ser
levada em consideração e o Estado não deve quedar-se inerte ante o conhecimento da prática de outros delitos no curso de interceptação
telefônica legalmente autorizada. 5. Habeas corpus indeferido. (HC 106225, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min.
LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 07/02/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-059 DIVULG 21-03-2012 PUBLIC 22-03-2012).
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b) Heterogênea, jurisdicional ou perfeita – a questão prejudicial envolve ramo do direito
diverso do da questão principal. Há duas possibilidades:
a. Devolutiva absoluta ou obrigatória – o próprio nome já exprime a sua principal
característica, que é a de determinar a suspensão da ação penal enquanto não
solucionada a questão prejudicial. Segundo o art. 92 do CPP, se a decisão sobre
a existência da infração depender da solução de controvérsia, que o juiz repute
séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso da ação penal ficará
suspenso até que no juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença
passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da inquirição das testemunhas e
de outras provas de natureza urgente. Se for o crime de ação pública, o
Ministério Público, quando necessário, promoverá a ação civil ou prosseguirá na
que tiver sido iniciada, com a citação dos interessados.
b. Devolutiva relativa ou facultativa – ocorre quando o reconhecimento da existência
da infração penal depender de decisão sobre questão que não envolva o estado
civil das pessoas, mas que também seja da competência do juízo cível, e se
neste houver sido proposta ação para resolvê-la. Nesse caso, o juiz criminal
poderá, desde que essa questão seja de difícil solução e não verse sobre direito
cuja prova a lei civil limite, suspender o curso do processo, após a inquirição das
testemunhas e realização das outras provas de natureza urgente. Note-se que a
produção antecipada de provas aqui é regra. A suspensão, nesse caso, será por
prazo certo, sujeito à prorrogação, desde que a demora não seja imputável à
parte. Expirado o prazo, sem que o juiz cível tenha proferido decisão, o juiz
criminal fará prosseguir o processo, retomando sua competência para resolver,
de fato e de direito, toda a matéria da acusação ou da defesa. Tratando-se de
crime de ação pública, o Ministério Público pode e deve intervir imediatamente na
causa cível, para o fim de promover-lhe o rápido andamento.
O art. 94 do CPP autoriza que a decisão de suspensão seja tomada de ofício pelo juízo, ou
ainda por provocação das partes, ficando suspenso o prazo prescricional (art. 116, I, do CP).
Não há recurso cabível contra a decisão que indeferir a suspensão, devendo a questão ser
discutida em grau de apelação. No caso de deferimento, é possível a interposição de recurso em
sentido estrito (art. 581, XVI).
6.2 EXCEÇÕES
As exceções estão previstas a partir do Capítulo II. Nada mais são do que procedimentos
incidentais, os quais poderão retardar ou até mesmo impedir o prosseguimento da ação penal, por
isso são divididas respectivamente em dilatórias e peremptórias.
241 Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes: I - se for amigo íntimo ou inimigo
capital de qualquer deles; II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo
caráter criminoso haja controvérsia; III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar
demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes; IV - se tiver aconselhado qualquer das partes; V - se
for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes; VI - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no
processo.
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Por outro lado, a fim de evitar a recusa imotivada de juízes, a lei sabiamente oferece um
contraponto, que é a inexistência de suspeição quando a parte injuriar o juiz ou de propósito der
motivo para criá-la.
A análise da ocorrência ou não da suspeição precede às demais questões ou incidentes, o que
é correto, por se tratar de pressuposto processual subjetivo, exceto se for superveniente. De
qualquer forma, deve ser provocada na primeira oportunidade, sob pena de preclusão.
A suspeição pode ser reconhecida espontaneamente pelo juiz, caso em que remeterá o
processo ao substituto legal, ou mediante requerimento de pelo menos uma das partes.
Quando se der a arguição da suspeição, o requerimento deverá ser formalizado em petição
assinada pela própria parte (excipiente) ou por procurador com poderes especiais, aduzindo as suas
razões acompanhadas de prova documental ou do rol de testemunhas. Acatando-a, o juiz (excepto)
remeterá o processo ao substituto.
Em caso de recusa, o juiz mandará autuar em apartado a petição, dará sua resposta dentro de
três dias, podendo instruí-la e oferecer testemunhas, e, em seguida, determinará sejam os autos da
exceção remetidos, em vinte e quatro horas, ao tribunal a quem competir o julgamento (art. 100),
ocasião em que poderá ser liminarmente rejeitada pelo relator.
Não havendo rejeição liminar, o relator determinará a citação das partes, marcará dia e hora
para a inquirição das testemunhas, e prosseguirá com o julgamento da exceção.
Apesar de não estar expressamente determinada, é recomendável a suspensão do processo,
em sendo relevante a arguição, a fim de se evitar a prática de atos que posteriormente possam ser
declarados nulos (art. 101). Caso a parte contrária reconheça a exceção, também poderá formular
requerimento de suspensão do processo principal (art. 102).
O artigo 103 trata da exceção de juiz que compõe órgão colegiado, sem prejuízo da devida
complementação da regulamentação, conforme dispuser o regimento interno do respectivo tribunal.
É possível a arguição de exceção de membro do Ministério Público (art. 104), que se processa
perante o juízo condutor do feito242. Entretanto, a participação de membro do Ministério Público na
fase investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da
denúncia (Enunciado 234 da Súmula do STJ).
As partes também poderão arguir a suspeição dos peritos, dos intérpretes e dos serventuários
ou funcionários de justiça, devendo o juiz decidir a questão, contra a qual não cabe recurso. No caso
de jurados, deverá ser suscitada oralmente, decidindo de plano do presidente do Tribunal do Júri,
que a rejeitará se, negada pelo recusado, não for imediatamente comprovada.Nesse sentido,
consoante preceitua o art. 571, inciso VIII, do CPP, asnulidades ocorridas em plenário de
julgamento devem ser arguidas logo depois de ocorrerem, de modo que preclui a exceção de
suspeição após o plenário do tribunal do júri. Ademais, por não ter conteúdo decisório, da decisão
que acolhe exceção de suspeição não cabe recurso, sendo certo que apenas na hipótese de rejeição
da exceção que o juiz deverá remeter o feito ao Tribunal.
242 RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CRIME DE HOMICÍDIO QUALIFICADO. PROCEDIMENTO
INVESTIGATÓRIO. MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE. ARGUIÇÃO DE SUSPEIÇÃO DE MEMBRO DO MINISTÉRIO PUBLICO DE PRIMEIRO
GRAU. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DO FEITO PARA A APRECIAÇÃO E JULGAMENTO. 1. A legitimidade do Ministério Público para conduzir
diligências investigatórias decorre de expressa previsão constitucional, oportunamente regulamentada pela Lei Complementar nº 75/93. É
consectário lógico da própria função do órgão ministerial – titular exclusivo da ação penal pública –, proceder a coleta de elementos de
convicção, a fim de elucidar a materialidade do crime e os indícios de autoria. 2. A competência da polícia judiciária não exclui a de outras
autoridades administrativas. Inteligência do art. 4º, parágrafo único, do Código de Processo Penal. Precedentes do STJ. 3. A arguição de
suspeição de membro do Ministério Público de primeiro grau deve ser processada e julgada em Primeira Instância, pelo Juízo do feito, não
cabendo recurso contra a decisão proferida, conforme dispõe o art. 104 do Código de Processo Penal. Precedentes desta Corte. 4. Recurso
desprovido. (RHC 15.351/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 28/09/2004, DJ 18/10/2004, p. 297).
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Não cabe oposição de suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito, havendo
apenas recurso ao chefe de polícia, na hipótese de não haver reconhecimento espontâneo da suspeição
(art. 107).
243 Entretanto, nada impede que o juiz determine a suspensão do feito, até para evitar a prática de atos inúteis.
244 No cotidiano do magistrado, tem-se constatado ser mais comum a ocorrência de conflito negativo de competência, que normalmente
ocorre quando um juízo, ao se considerar incompetente para processar e julgar determinada demanda, remete-a para o órgão que entenda
competente. Este, por sua vez, discordando da decisão anterior, acaba suscitando o conflito, que será necessariamente endereçado ao
órgão competente para solucioná-lo.
245 Também está previsto no Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça – RISTJ (arts. 193 a 198) e no Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal – RISTF (arts. 163 a 168).
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A natureza do conflito definirá a forma de encaminhamento do incidente. Caso seja negativo,
poderá ser suscitado nos próprios autos do processo. Na hipótese contrária, seria incongruente a
remessa dos autos, pois, considerando-se competente, não faria sentido o juiz remetê-los ao órgão
responsável pela solução do conflito. De qualquer forma, o relator poderá determinar a suspensão
do feito, em sendo positivo o conflito, bem como designar um dos órgãos envolvidos para a prática
de atos urgentes, em ambos os casos, isso enquanto não resolvida a controvérsia.
Colhidas as informações do juízo suscitado ou transcorrido o prazo sem manifestação, os autos
serão encaminhados ao Ministério Público que oficie perante o tribunal. Após, o julgamento do
conflito se dará na sessão imediatamente posterior, salvo se houver necessidade de se realizar
alguma diligência.
A decisão pode ser comunicada antes mesmo da lavratura do acórdão, a fim de não prejudicar
o andamento do processo original.
246OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 16. ed. atual. São Paulo: Atlas, 2012, p. 296.
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6.3 MEDIDAS ASSECURATÓRIAS
As medidas assecuratórias estão disciplinadas a partir do art. 125 do Código de Processo Penal.
Como o próprio nome indica, são medidas de natureza cautelar, de conteúdo patrimonial, que visam
primordialmente garantir a futura reparação do dano causado à vítima da infração penal.
Eventualmente podem assegurar perdimento de bens em favor da União (art. 91, II, b, do CP).
Há uma estreita sintonia entre as medidas assecuratórias e a ação civil ex delito, cujas
modalidades estão previstas nos artigos 63 e 64 do CPP, tal como se verifica entre a cautelar e o
processo principal.
O código prevê três medidas específicas, ou seja, o sequestro, a especialização de hipoteca e o
arresto.
6.3.1 SEQUESTRO
O sequestro pode recair sobre os bens imóveis adquiridos pelo autor do fato com os proventos
da infração penal, mesmo que já tenham sido transferidos a terceiro. Este poderá interpor embargos,
se, de boa-fé, tiver adquirido o bem a título oneroso (art. 130, II).
É possível que o sequestro também incida sobre bens móveis, desde que não seja cabível a
busca e apreensão, esta específica para as situações em que o próprio bem é o produto da infração
penal.
Para tanto, como toda medida de natureza cautelar, bastará a existência de indícios
veementes da proveniência ilícita dos bens, em decorrência da infração penal, além do próprio risco
de ineficácia do provimento final (perigo da demora), este último inerente à medida acautelatória
em si.
A medida pode ser ordenada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou do
ofendido, ou mediante representação da autoridade policial, qualquer que seja a fase da persecução
penal, mesmo antes da denúncia ou queixa.
Quanto ao procedimento, o sequestro é autuado em separado, devendo o juiz decidir a
respeito.
Realizado o sequestro de bens imóveis, o juiz deverá determinar a devida averbação no
cartório competente, a fim de prevalecer contra terceiros. Em se tratando de bens móveis sujeitos a
qualquer tipo de controle ou registro, é recomendável que o magistrado proceda da mesma maneira,
muito embora a lei silencie a respeito.
É possível a interposição de embargos, tanto pelo acusado, quanto pelo terceiro
interessado247, sendo a cognição extremamente limitada. Compete ao autor do fato demonstrar que
os bens não foram adquiridos com os proventos da infração, enquanto que ao terceiro, como já
adiantado no início deste tópico, a comprovação de que os adquiriu a título oneroso, além de ter
atuado de boa-fé.
Apesar de o código afirmar que a decisão a respeito dos embargos deverá aguardar o trânsito
em julgado da sentença penal condenatória, há casos em que se deve permitir que a decisão seja
abreviada, principalmente quando for evidente o fato a ser provado, sob pena de causar prejuízos
para o interessado, pois é notório que as demandas penais, em sua grande maioria, possuem longo
tempo de tramitação. Contra a decisão que apreciar os embargos é cabível apelação.
De qualquer forma, o CPP traz algumas hipóteses em que se deve levantar o sequestro. São
elas:
247A mulher casada pode apresentar embargos de terceiro, a fim de defender a sua meação.
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• Se a ação penal não for intentada no prazo de sessenta dias, contado da
data em que ficar concluída a diligência. Trata-se de regra já presente no
processo civil, muito embora o prazo seja diverso. Obviamente, trata-se
de medida anterior à deflagração da ação penal (cautelar preparatória). É
uma forma de impedir o abuso de direito, a fim de que o bem fique
indefinidamente indisponível.
• Se o terceiro, a quem tiverem sido transferidos os bens, prestar caução
que assegure a aplicação do disposto no art. 74, II, b, segunda parte, do
Código Penal. A caução, como medida de contracautela, também é
prevista no processo civil. Dada a natureza acautelatória da medida, é
possível o levantamento do sequestro se o terceiro presta caução idônea,
hipótese em que não se mostra necessária a manutenção da medida. O
CPP faz remissão à revogada parte geral do CP, por sua vez equivalente
ao art. 91, II, b, do código atual.
• Se for julgada extinta a punibilidade ou absolvido o réu, por sentença
transitada em julgado. Basta que o encerramento da persecução penal
se dê de forma não prejudicial ao acusado. Vale dizer, mesmo que não
seja o caso de absolvição, mas tão somente de extinção da punibilidade,
qualquer que seja a razão desta, o sequestro também deverá ser
levantado. Um dos requisitos da cautelar terá desaparecido.
Transitada em julgado a sentença condenatória, o juiz, de ofício ou a requerimento do
interessado, determinará a avaliação e a venda dos bens em leilão público, tendo preferência a
vítima da infração penal ou o terceiro de boa-fé. Subsidiariamente, reverte-se em favor da União.
6.3.3 ARRESTO
Finalmente, com o advento da Lei 11.435, de 28 de dezembro de 2006, corrigiu-se o nome da
medida prevista no artigo 136 e seguintes do Código de Processo Penal, antes impropriamente
chamada de sequestro.
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Cuida-se efetivamente de arresto, porque a medida não recai sobre a coisa litigiosa, mas
indistintamente sobre o patrimônio do autor do fato, para fins de garantir a futura reparação do
dano causado pela infração penal. Vale dizer, não incide sobre objeto, produto ou proveito do crime
ou da contravenção de que trata a persecução penal.
No caso de coisas fungíveis e facilmente deterioráveis, é possível a venda antecipada dos bens,
depositando-se o valor arrecadado ou entregando-o ao terceiro que as detinha, se for pessoa idônea,
mediante assinatura de termo de responsabilidade.
Havendo o arresto prévio de imóvel (art. 136), deve-se proceder à inscrição da hipoteca legal,
no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de revogação.
É possível que o juiz determine a destinação de recursos provenientes das rendas dos bens
móveis para a manutenção do indiciado e de sua família.
Da mesma forma que o CPP disciplinou a respeito do sequestro, o arresto será levantado ou
será cancelada a hipoteca, se, por sentença irrecorrível, o réu for absolvido ou julgada extinta a
punibilidade.
Além do próprio interessado, caberá ao Ministério Público requerer as medidas assecuratórias
de arresto e hipoteca legal contra o autor do fato ou o responsável civil. Entretanto, a legitimidade
do Ministério Público somente surgirá se houver interesse da Fazenda Pública, ou ainda se o
ofendido for pobre e o requerer248.
O processo de especialização da hipoteca e o do arresto correrá em autos apartados. Passando
em julgado a sentença condenatória, serão os autos de hipoteca ou arresto remetidos ao juiz do cível
(art. 63).
As garantias do ressarcimento do dano alcançarão também as despesas processuais e as penas
pecuniárias, tendo preferência sobre estas a reparação do dano ao ofendido.
248Neste último caso, entendo aplicar-se o que o Supremo Tribunal Federal já denominou como inconstitucionalidade progressiva, na
medida em que, em sendo a vítima ou interessado economicamente necessitado, a atribuição constitucional para a defesa de seus
interesses foi outorgada à Defensoria Pública, e não ao Ministério Público. De qualquer forma, a instituição deve estar em efetivo
funcionamento.
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acusado. Essa última hipótese – conversão em renda – deve ser considerada subsidiária, pois o
Código de Processo Penal dá preferência ao lesado ou terceiro de boa-fé.
Dispõe o 4° que, quando a indisponibilidade recair sobre dinheiro, inclusive moeda
estrangeira, títulos, valores mobiliários249 ou cheques emitidos como ordem de pagamento, o juiz
deverá determinar a conversão do numerário apreendido em moeda nacional corrente, procedendo-
se ao depósito das correspondentes quantias em conta judicial.
Quando forem leiloados bens móveis sujeitos a registro ou controle, como veículos,
embarcações ou aeronaves, o arrematante ficará dispensado do pagamento de multas, encargos e
tributos anteriores, devendo a Fazenda Pública direcionar a cobrança contra o antigo proprietário.
249O valor dos títulos da dívida pública, das ações das sociedades e dos títulos de crédito negociáveis em bolsa será o da cotação oficial do
dia, provada por certidão ou publicação no órgão oficial (§ 6º).
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Em sendo duvidoso, somente o juiz criminal poderá resolver o incidente, caso em que deverá
ser autuado em separado, abrindo-se o prazo de cinco dias para que o interessado produza a sua
prova. Se as coisas forem apreendidas em poder de terceiro de boa-fé, este será intimado para
alegar e provar o fato constitutivo do seu direito, em prazo igual e sucessivamente ao do reclamante,
que é de dois dias para cada interessado.
Contudo, se houver dúvida relevante quanto ao verdadeiro proprietário, mesmo depois da
breve instrução, o juiz deve remeter as partes ao juízo cível, sendo possível o depósito das coisas em
mãos de depositário ou do próprio terceiro que as detinha, se for pessoa idônea. Há também a
possibilidade de alienação antecipada dos bens de fácil deterioração, depositando-se o dinheiro
apurado, ou ainda o entregando a terceira pessoa idônea que as detinha, mediante assinatura de
termo de responsabilidade.
O Ministério Público manifesta-se antes da decisão judicial. Contra esta é cabível o recurso de
apelação.
Já no caso de apreensão de coisa adquirida com os proventos da infração, procede-se ao
sequestro, tal como já mencionado no item anterior. Decorrido o prazo de 90 dias, após transitar em
julgado a sentença condenatória, o juiz decretará, se for caso, a perda, em favor da União, das coisas
apreendidas e ordenará que sejam vendidas em leilão público. Do dinheiro apurado, será recolhido
ao Tesouro Nacional o que não couber ao lesado ou a terceiro de boa-fé.
Não sendo caso de perdimento, se dentro no prazo de 90 dias, a contar da data em que transitar
em julgado a sentença final, condenatória ou absolutória, os objetos apreendidos não forem
reclamados ou não pertencerem ao réu, serão vendidos em leilão, depositando-se o saldo à disposição
do juízo de ausentes.
Em relação aos instrumentos do crime, cuja perda em favor da União for decretada, serão
inutilizados ou recolhidos a museu criminal, se houver interesse na sua conservação250.
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Regulamentado a partir do art. 149 do CPP, o incidente de insanidade mental do acusado ou
indiciado inicia-se por determinação do juiz, de ofício, ou ainda mediante requerimento do
Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do
acusado251. Quando ainda estiver na fase pré-processual, a instauração do incidente também pode
ser requerida pela autoridade policial.
O único requisito que a lei exige para a deflagração do incidente é a existência de fundada
dúvida sobre a integridade mental do acusado ou indiciado, o que nos parece correto, pelo fato de
haver interesse público na definição dessa condição pessoal do autor do fato, que é de relevante
importância para a eventual resposta penal (pena ou medida de segurança).
A decisão que determinar a instauração do incidente também será o marco inicial para a
suspensão da tramitação da ação penal, se já iniciada, ocasião em que será nomeado curador para o
acusado. O incidente é autuado em separado, podendo haver a liberação dos autos aos peritos, para
fins de realização do exame e confecção do respectivo laudo.
Uma vez realizado o exame médico-legal, que deve ser concluído no prazo de quarenta e cinco
dias, ampliável, caso seja estritamente necessário, se for constatado que o indiciado ou denunciado
era inimputável, ao tempo da ação ou omissão, a persecução penal prosseguirá, mantendo-se o
curador especial. Caso seja demonstrado, porém, que a doença é superveniente, a ação penal deverá
permanecer suspensa até a recuperação do denunciado, sem prejuízo da produção antecipada de
provas consideradas urgentes.
Não há previsão de recurso cabível contra a decisão que defere ou indefere a instauração do
incidente, admitindo-se, se for o caso, a impetração de habeas corpus ou a correição parcial.
Por fim, caso a doença ocorra na fase de execução da pena, a Lei de Execução Penal traz
regramento específico a partir do art. 183.
SUJEITOS PROCESSUAIS
SUJEITOS DO PROCESSO. JUIZ. MINISTÉRIO PÚBLICO. CONFLITO DE
ATRIBUIÇÕES. ACUSADO E SEU DEFENSOR. CURADOR DO RÉU MENOR.
ASSISTENTE. AUXILIARES DA JUSTIÇA. PERITOS E INTÉRPRETES.
IMPEDIMENTOS E SUSPEIÇÕES.
251Em face da proteção constitucional conferida à união estável, como entidade familiar, é recomendável incluir o companheiro ou
companheira no rol dos legitimados.
252OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de processo penal. 19ª ed. São Paulo: Atlas, 2015, p. 447
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longo do procedimento até o seu desfecho, variando a atuação conforme os papéis assumidos. São
comumente chamados de sujeitos do processo.
Vicente Greco253 divide os sujeitos do processo em três categorias: o juiz, as partes e os
auxiliares da justiça. Há ainda a classificação que leva em consideração o grau de importância ou de
relevância dos sujeitos, dividindo-se em principais e acessórios. Os primeiros (essenciais) são os que
compõem a relação jurídica processual, ou seja, o juiz (imparcial) e as partes254. Os últimos
(secundários) não compõem a relação, mas praticam atos indispensáveis no processo, como os
assistentes e auxiliares da justiça.
7.1 JUIZ
A imparcialidade do juiz, já foi dito, é uma garantia fundamental para o ideal do justo
processo. Não se pode conceber um instrumento que tenha, como figura central, um órgão de
qualquer forma comprometido com o resultado da demanda.
Nesse sentido, para que o juiz possa atuar de maneira independente e imparcial, livre de
pressões ou de ingerências indevidas, o ordenamento lhe assegura uma série de prerrogativas. As
mais relevantes estão na Constituição Federal (art. 95255). Da mesma forma, a Constituição Federal
estabelece uma série de vedações que se aplicam ao magistrado (art. 95, parágrafo único).
No plano infraconstitucional, especificamente no CPP, que é o que nos interessa, também são
listadas situações que possam indicar um comprometimento da imparcialidade do juiz. São os
impedimentos, a incompatibilidade e a suspeição.
Os impedimentos obstruem a participação do juiz no processo. São situações objetivamente
consideradas, independentemente do ânimo do magistrado. Portanto, o juiz estará
irremediavelmente impedido de atuar no processo em que (art. 252 do CPP):
1. tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou
colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do
Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;
2. ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como
testemunha;
3. tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito,
sobre a questão;
4. ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim em linha reta ou
colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.
253Greco Filho, Vicente. Manual de processo penal. 10 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 279.
254Há doutrina defendendo que o Ministério Público seria uma parte sui generis, porque atuaria com imparcialidade.
255Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:
I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de
deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado;
II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII;
III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)
Parágrafo único. Aos juízes é vedado:
I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério;
II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;
III - dedicar-se à atividade político-partidária.
IV receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as
exceções previstas em lei; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
V exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou
exoneração. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
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afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive (art. 253). Os jurados, no Tribunal do
Júri, também estão submetidos a regime semelhante (art. 448)256.
A suspeição, ao contrário das situações anteriores, não é aferida objetivamente. É preciso que
se demonstre concretamente que o ânimo do órgão julgador está comprometido, caso o juiz não a
reconheça espontaneamente (art. 254). Assim, o juiz indicará a sua suspeição, mas, se não o fizer,
poderá ser recusado por qualquer das partes, se:
1. for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;
2. ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por
fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;
3. ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive,
sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer
das partes;
4. tiver aconselhado qualquer das partes;
5. for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;
6. for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.
Apesar da taxatividade da lista, o juiz pode declarar-se suspeito, por motivo de foro íntimo,
não sendo necessário, nessa hipótese, decliná-lo nos autos257.
Nos termos do art. 255, o impedimento ou suspeição decorrente de parentesco por afinidade
cessará pela dissolução do casamento que lhe tiver dado causa, salvo sobrevindo descendentes; mas,
ainda que dissolvido o casamento sem descendentes, não funcionará como juiz o sogro, o padrasto,
o cunhado, o genro ou enteado de quem for parte no processo.
Não será possível, de qualquer forma, afastar um juiz por suspeição, quando a parte o injuriar
ou de propósito der motivo para criá-la (art. 256), sob pena de se beneficiar o interessado pela
própria torpeza e, em última análise, permitir que escolha o magistrado que irá julgá-lo.
Quanto aos poderes (deveres) do juiz, Vicente Greco258 elaborou a seguinte classificação:
a. Poderes instrutórios, como o de presidir a prova, determinar diligências, ouvir
testemunhas não numerárias e intervir nos exames periciais, instituídos, entre
outros, nos arts. 156, 209, 168 e 176;
b. Poderes de disciplina processual, como o de indeferir perguntas impertinentes às
testemunhas, o de formar a lista de jurados, o de determinar o saneamento de
irregularidades, nos arts. 212, 423 etc.;
c. Poderes de coerção, como o de determinar a condução de testemunhas, ofendido e
acusado, por exemplo nos arts. 201, 218 e 260, ou determinar a utilização de força;
d. Poder de velar pela defesa técnica e representação processual das partes, nomeando
advogado ao querelante (art. 32), ao acusado (arts. 149, 263, 266 e 396-A) e ao
ofendido (art. 33). O juiz, também, no júri pode declarar o réu indefeso, anulando o
julgamento (art. 497, V);
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e. Poderes decisórios, proferindo despachos, decisões e sentenças;
f. Poderes anômalos, de concessão de habeas corpus de ofício, de recorrer de ofício e
de requisitar inquérito.
O poder de polícia está expressamente previsto nos arts. 792, § 1º, e 794, ambos do CPP.
[...]
§ 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos
Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada
Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros:
I - as seguintes garantias:
a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por
sentença judicial transitada em julgado;
c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, § 4º, e ressalvado o disposto nos
arts. 37, X e XI, 150, II, 153, III, 153, § 2º, I; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
19, de 1998)
II - as seguintes vedações:
b) exercer a advocacia;
d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de
magistério;
112
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§ 6º Aplica-se aos membros do Ministério Público o disposto no art. 95, parágrafo único, V.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
Nos termos do art. 257, compete ao Ministério Público promover, privativamente, a ação
penal pública, além de fiscalizar a execução da lei, não somente quando atuar como parte, como
também quando intervier como fiscal da lei.
Ademais, conforme estabelece a Constituição Federal, cabe também ao Ministério Público
exercer o controle externo da atividade policial; requisitar diligências investigatórias e instauração de
inquérito, fundamentadamente; exercer o controle externo das atividades nos estabelecimentos
prisionais; assistir e defender os interesses das famílias atingidas pelo crime; exercer outras funções
que lhe forem conferidas, compatíveis com a sua finalidade.
Em relação aos impedimentos e à suspeição, os órgãos do Ministério Público não funcionarão
nos processos em que o juiz ou qualquer das partes for seu cônjuge, ou parente, consanguíneo ou
afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, e a eles se estendem, no que lhes for
aplicável, as prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos dos juízes (art. 258).
2591. COMPETÊNCIA. Atribuições do Ministério Público. Conflito negativo entre MP federal e estadual. Feito da competência do Supremo
Tribunal Federal. Conflito conhecido. Precedentes. Aplicação do art. 102, I, “f”, da CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal dirimir conflito
negativo de atribuição entre o Ministério Público federal e o Ministério Público estadual. 2. COMPETÊNCIA CRIMINAL. Atribuições do
Ministério Público. Ação penal. Formação de opinio delicti e apresentação de eventual denúncia. Fatos investigados atribuídos a ex-
Governador de Estado. Incompetência do Superior Tribunal de Justiça. Matéria de atribuição do Ministério Público estadual.
Inconstitucionalidade dos §§ do art. 84 do CPP, introduzidos pela Lei n° 10.628/2002. Conflito negativo de atribuição conhecido. É da
atribuição do Ministério Público estadual analisar procedimento de investigação de atos supostamente delituosos atribuídos a ex-
Governador e emitir a respeito opinio delicti, promovendo, ou não, ação penal. (ACO 853, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno,
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No entanto, a partir do julgamento de ACO 924/MG, o Supremo Tribunal Federal, modificando
seu anterior entendimento, consolidou a entendimento de que os conflitos de atribuição entre MPF
e MPE´s deverão ser resolvidos pelo Procurador Geral da República.
Apesar de o PGR não ser chefe institucional dos demais MPE´s, mas apenas do MPU, tais
conflitos de atribuição seriam interna corporis e, portanto, deveria ser resolvidos à luz do postulado
da unidade e indivisibilidade. Ademais, conforme destacou o Ministro Relator, não há que se cogitar
dessa conclusão qualquer superioridade hierárquica do MPU em detrimentos aos MPE´s. Para
justificar seu raciocínio, o ministro se valeu analogicamente da Súmula 150 do STJ pela qual se extrai
que compete ao juiz federal dizer se há interesse ou não da União em determinado processo judicial.
Assim, a partir desse julgamento o conflito entre MPF e MPE, assim como o conflito entre
MPE’s de diferentes unidades da federação deverá ser resolvido pelo Procurador Geral da República.
julgado em 08/03/2007, DJe-004 DIVULG 26-04-2007 PUBLIC 27-04-2007 DJ 27-04-2007 PP-00056 EMENT VOL-02273-01 PP-00025 RTJ VOL-
00202-01 PP-00032 RT v. 96, n. 863, 2007, p. 485-488 RMP n. 33, 2009, p. 185-189).
260Art. 173. [...]
§ 5º A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a
às punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular.
Art. 225. [...]
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
261 O defensor dativo não poderá ser parente do juiz, nos termos do art. 252.
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a
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forma da LC 80/94, que regulamentou o art. 134 da CF. Tal como o defensor dativo,
possui a prerrogativa de ser pessoalmente intimado, com vista dos autos (art. 4º, V,
da LC 80/94), podendo também ser afastado da defesa em caso de contratação de
advogado pelo acusado.
262 O representante não atua em nome próprio, mas em nome do ofendido, estando o CPP equivocado nesse ponto. No caso de morte ou
ausência do ofendido, abre-se a possibilidade sequencial de atuação do cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (art. 31 do CPP).
263 A assistência pode ser deferida excepcionalmente em ação privada, na hipótese do art. 530-H do CPP (As associações de titulares de
direitos de autor e os que lhes são conexos poderão, em seu próprio nome, funcionar como assistente da acusação nos crimes previstos no
art. 184 do Código Penal, quando praticado em detrimento de qualquer de seus associados). A Lei 9.099/95, que trata do rito sumaríssimo,
prevê a hipótese de assistência em favor do réu, a ser exercida pelo responsável civil.
264O recurso é de apelação.
265 RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CRIME DE LESÃO CORPORAL (ART. 129, § 2º, INCISOS III E IV, DO
CÓDIGO PENAL). CONDENAÇÃO. RECURSO DE APELAÇÃO AGITADO PELO ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO. LEGITIMIDADE. ENUNCIADO DA
SÚMULA Nº 210 DESTA CORTE. PRECEDENTES. 1. O julgado impugnado está em perfeita harmonia com a jurisprudência desta Suprema
Corte, que assentou a legitimidade do assistente de acusação para recorrer da sentença caso o Ministério Público se quede inerte (HC nº
100.243/BA, Primeira Turma, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe de 25/10/10). 2. Recurso não provido. (RHC 107714, Relator(a):
Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 10/05/2011, DJe-146 DIVULG 29-07-2011 PUBLIC 01-08-2011 EMENT VOL-02556-02 PP-
00328).
Súmula/STF 210 - O assistente do Ministério Público pode recorrer, inclusiveextraordinariamente, na ação penal, nos casos dos arts. 584, §
1º, e598 do Código de Processo Penal.
266 RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A HONRA. ADMISSÃO DA VÍTIMA COMO ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO. NÃO
CONHECIMENTO DO WRIT IMPETRADO NA ORIGEM. MATÉRIA NÃO APRECIADA PELA CORTE ESTADUAL. IMPOSSIBILIDADE DE EXAME DO
TEMA DIRETAMENTE POR ESTE SODALÍCIO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO À LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO DOS
RECORRENTES. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CARACTERIZADO. DESPROVIMENTO DO RECURSO. 1. O mérito da impetração, qual seja, a
ilegalidade ou não da decisão que admitiu a vítima como assistente de acusação, não foi apreciado pela autoridade apontada como coatora,
que não conheceu do writ ali impetrado, circunstância que impede qualquer manifestação deste Sodalício sobre o tema, sob pena de atuar
em indevida supressão de instância. 2. O habeas corpus não constitui meio idôneo para se pleitear a anulação da decisão que admitiu a
vítima como assistente de acusação, uma vez que ausente qualquer violação ou ameaça à garantia do direito à liberdade de locomoção. 3.
Ademais, o artigo 273 do Código de Processo Penal disciplina, de forma expressa, o não cabimento de qualquer recurso contra a decisão
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MEDIDAS CAUTELARES
MEDIDAS CAUTELARES PESSOAIS. PRISÃO PROVISÓRIA: PRISÃO EM
FLAGRANTE, PRISÃO PREVENTIVA, PRISÃO TEMPORÁRIA, PRISÃO
DECORRENTE DA PRONÚNCIA E DA SENTENÇA CONDENATÓRIA
RECORRÍVEL. PRISÃO ESPECIAL. O OFENDIDO. LIBERDADE PROVISÓRIA.
FIANÇA.
que admite ou não o assistente de acusação, sendo certo que, caso evidenciada flagrante ilegalidade no referido ato, lhe restaria a via do
mandado de segurança. Doutrina. 4. Recurso improvido. (RHC 31.667/ES, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em
28/05/2013, DJe 11/06/2013).
267 A Lei n. 5.349, de 03 de novembro de 1967, acabou com a prisão preventiva compulsória, modificando o art. 312 do CPP, que previa a
segregação obrigatória nas hipóteses em que a lei fixasse pena máxima igual ou superior a dez anos, o que foi criticado à época pela
doutrina: “A prisão preventiva compulsória é um dos exemplos dêsse autoritarismo processual que devemos à política direitista do Estado
Novo. Transladada do processo penal italiano da era de Mussolini, essa medida de coação é de profunda iniqüidade e pode dar margem à
prática de irreparáveis injustiças. [o autor referiu-se às hipóteses em que aplicáveis as dirimentes penais] [...] A única solução plausível, a
nosso ver, é de ordem legislativa. Que se revogue êsse malsinado art. 312, nódoa totalitária que ainda persiste na legislação que regula as
instituições da nossa justiça penal.” (MARQUES, José Frederico. op. cit. p. 227-8). “Fez bem o legislador em aboli-la. Primeiramente,
registre-se que o critério da lei fundava-se na quantidade da pena, o que era insubsistente. Basta dizer que suprimia a faculdade de que o
Juiz – que é quem orienta o processo e aplicará a pena afinal – deve gozar de apreciar a conveniência ou não da medida. [...] Compreende-
se, então, o dano irreparável que o ab-rogado art. 312 causava ao indivíduo: absolvido afinal, mas prêso durante meses, freqüentemente,
por mandamento do aludido artigo. Louvores merece, pois, a Lei n. 5.349 por haver dado nova redação ao art. 312”.(NORONHA, Edgard
Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 1969, p. 182).
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Federal de 1988. Não obstante, a legislação ordinária (leia-se: CPP) ainda mantinha regras oriundas
daquela primeira época, gerando um descompasso visível entre as normas situadas em planos
hierárquicos distintos.
Finalmente, foi aprovada a Lei 12.403/11, que entrou em vigor sessenta dias depois,
especificamente em 04 de julho268.
A nova sistemática em vigor incorporou as modificações já presentes no plano constitucional.
Como destaque, pode-se dizer que a principal mudança foi justamente de perspectiva: a prisão,
qualquer que seja a sua modalidade, antes de transitada em julgado a sentença penal condenatória,
ostenta natureza nitidamente cautelar, devendo, portanto, ser indispensável, imprescindível para a
tutela do processo, ademais de ser precedida de ordem escrita e fundamentada da autoridade
judiciária competente, salvo a hipótese transitória da prisão em flagrante.
Essa mudança de paradigma decorre basicamente do estado de inocência (art. 5º, LVII, da CF),
conforme já comentado no item referente ao ônus da prova no processo penal.
Outra mudança digna de nota foi a colocação da prisão cautelar, especialmente a preventiva,
como último recurso à disposição do juiz criminal. Vale dizer, a lei criou diversas medidas cautelares
alternativas à restrição da liberdade de locomoção, o que, aliás, não constitui propriamente uma
novidade no cotidiano forense. Juízes, antes mesmo da modificação legislativa, já determinavam, por
exemplo, a retenção de passaportes de acusados269 ou afastamentos de servidores públicos de suas
funções270, em vez de enviá-los ao cárcere. Apesar disso, a alteração normativa foi importante,
porque tais medidas eram adotadas principalmente em razão da criatividade dos magistrados, mas
não propriamente em decorrência de norma específica.
O que vai orientar o juiz, na adoção de uma ou outra medida, é o princípio da
proporcionalidade, nos termos do art. 282, I e II, do CPP, que determina seja observada a
necessidade da medida para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos
casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais; e a sua adequação à
gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado.
As medidas cautelares podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente pelo juiz, de ofício ou
a requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da
autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público. Note-se que não mais existe a
previsão legal de decretação de prisão cautelar de ofício pelo juízo na fase pré-processual, sendo esta
também uma importante modificação legislativa271.
268A referida lei também é fruto do pacote de projetos enviados pelo Poder Executivo no início deste século (PL 4.208/2001), na tentativa
de atualizar o CPP vigente, septuagenário, que há muito não consegue esconder um sem-número de normas ultrapassadas.
269HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL. CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL, SONEGAÇÃO
FISCAL E LAVAGEM DE DINHEIRO. PRISÃO PREVENTIVA. REVOGAÇÃO. IMPOSIÇÃO DE RETENÇÃO DE PASSAPORTE E IMPEDIMENTO JUDICIAL
PARA VIAJAR AO EXTERIOR. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. ILEGALIDADE. 1. A retenção do passaporte, quando admitida
como cautelar mínima, requisita, para a sua legalidade, demonstração efetiva de sua necessidade e suficiência, à luz dos motivos da prisão
preventiva. 2. Ordem concedida. (HC 43.492/SP, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em 03/10/2006, DJ
05/02/2007, p. 387).
270DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. DENÚNCIA POR CRIME FUNCIONAL. AFASTAMENTO DAS FUNÇÕES. LEGALIDADE.
SUSPENSÃO DE VENCIMENTOS. OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA IRREDUTIBILIDADE DE VENCIMENTOS E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL.
PRECEDENTE. 1 - Em razão de denúncia por suposta prática de crime, a ora Apelada sofreu afastamento do cargo e cancelamento de sua
senha de acesso ao sistema, em decorrência da decisão judicial proferida no bojo de ação penal, cujo fundamento principal foi o de serem
afastadas “todas as possibilidades de continuação das práticas delitivas descritas na denúncia”. 2 - Uma vez que o afastamento determinado
pelo Juízo objetivava retirar a Apelada e demais funcionários do seu local de trabalho, para evitar óbices à apuração do possível delito,
afigura-se descabida a suspensão de seus vencimentos pelo INSS, pois viola o princípio da irredutibilidade dos vencimentos, bem assim a
garantia da presunção de inocência, além do princípio do devido processo legal, consistindo numa penalidade antecipada de eventual
decisão judicial, que não ocorreu. 3 - É pacífica a orientação jurisprudencial no sentido de que o servidor público denunciado pela prática
de crime funcional, embora afastado de suas funções, faz jus à percepção de sua remuneração, ressalvada a supressão de parcelas
remuneratórias vinculadas ao efetivo exercício do cargo ou função. (STJ, ROMS n. 1.803, Rel. Min. Hélio Mosimann, DJ 29/11/93). 4 -
Apelação e Remessa Necessária, tida por interposta, conhecidas e improvidas. (AMS 200551040000110, Desembargador Federal
GUILHERME CALMON/no afast. Relator, TRF2 - OITAVA TURMA ESPECIALIZADA, DJU - Data:16/05/2006 - Página:168).
271Este assunto será abordado com mais detalhes no tópico referente à prisão preventiva.
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O Código de Processo Penal determinou a observância do contraditório prévio, salvo nos casos
de urgência ou de risco de ineficácia da medida. Não sendo o caso, o juiz, ao receber o pedido de
medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, acompanhada de cópia do
requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo.
É possível a substituição das medidas aplicadas, ou até mesmo nova acumulação, na hipótese
de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, inclusive a decretação da prisão
preventiva, esta, entretanto, como o último instrumento (§ 6º do art. 282 do CPP).
Da mesma forma que já previa o art. 316 do CPP em relação à prisão preventiva, o juiz poderá
revogar a medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem
como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.
A possibilidade de execução provisória da sentença penal condenatória, que era permitida
pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, quando cabíveis apenas os recursos de natureza
extraordinária, para os quais não se previa em regra o efeito suspensivo, foi excluída pelo art. 283 do
CPP, com a redação dada pela Lei 12.403/11, que acompanhou a mudança superveniente de
orientação jurisprudencial da Corte Suprema272. Assim, de acordo com a nova redação, ninguém
poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade
judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso
da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva. Porém, em
julgamento (HC 126.292 - 17/02/2016), o STF, retornando ao entendimento anterior ao julgamento
do HC 84.078 (2009), voltou a permitir o início da execução da pena após a confirmação da sentença
em segunda instância273.
272EMENTA: HABEAS CORPUS. INCONSTITUCIONALIDADE DA CHAMADA "EXECUÇÃO ANTECIPADA DA PENA". ART. 5º, LVII, DA
CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. ART. 1º, III, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. 1. O art. 637 do CPP estabelece
que "[o] recurso extraordinário não tem efeito suspensivo, e uma vez arrazoados pelo recorrido os autos do traslado, os originais baixarão à
primeira instância para a execução da sentença". A Lei de Execução Penal condicionou a execução da pena privativa de liberdade ao trânsito
em julgado da sentença condenatória. A Constituição do Brasil de 1988 definiu, em seu art. 5º, inciso LVII, que "ninguém será considerado
culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória". 2. Daí que os preceitos veiculados pela Lei n. 7.210/84, além de
adequados à ordem constitucional vigente, sobrepõem-se, temporal e materialmente, ao disposto no art. 637 do CPP. 3. A prisão antes do
trânsito em julgado da condenação somente pode ser decretada a título cautelar. 4. A ampla defesa, não se a pode visualizar de modo
restrito. Engloba todas as fases processuais, inclusive as recursais de natureza extraordinária. Por isso a execução da sentença após o
julgamento do recurso de apelação significa, também, restrição do direito de defesa, caracterizando desequilíbrio entre a pretensão estatal
de aplicar a pena e o direito, do acusado, de elidir essa pretensão. 5. Prisão temporária, restrição dos efeitos da interposição de recursos em
matéria penal e punição exemplar, sem qualquer contemplação, nos "crimes hediondos" exprimem muito bem o sentimento que EVANDRO
LINS sintetizou na seguinte assertiva: "Na realidade, quem está desejando punir demais, no fundo, no fundo, está querendo fazer o mal, se
equipara um pouco ao próprio delinquente". 6. A antecipação da execução penal, ademais de incompatível com o texto da Constituição,
apenas poderia ser justificada em nome da conveniência dos magistrados – não do processo penal. A prestigiar-se o princípio
constitucional, dizem, os tribunais [leia-se STJ e STF] serão inundados por recursos especiais e extraordinários e subsequentes agravos e
embargos, além do que "ninguém mais será preso". Eis o que poderia ser apontado como incitação à "jurisprudência defensiva", que, no
extremo, reduz a amplitude ou mesmo amputa garantias constitucionais. A comodidade, a melhor operacionalidade de funcionamento do
STF não pode ser lograda a esse preço. 7. No RE 482.006, relator o Ministro Lewandowski, quando foi debatida a constitucionalidade de
preceito de lei estadual mineira que impõe a redução de vencimentos de servidores públicos afastados de suas funções por responderem a
processo penal em razão da suposta prática de crime funcional [art. 2º da Lei n. 2.364/61, que deu nova redação à Lei n. 869/52], o STF
afirmou, por unanimidade, que o preceito implica flagrante violação do disposto no inciso LVII do art. 5º da Constituição do Brasil. Isso
porque – disse o relator – "a se admitir a redução da remuneração dos servidores em tais hipóteses, estar-se-ia validando verdadeira
antecipação de pena, sem que esta tenha sido precedida do devido processo legal, e antes mesmo de qualquer condenação, nada
importando que haja previsão de devolução das diferenças, em caso de absolvição". Daí porque a Corte decidiu, por unanimidade,
sonoramente, no sentido do não recebimento do preceito da lei estadual pela Constituição de 1.988, afirmando de modo unânime a
impossibilidade de antecipação de qualquer efeito afeto à propriedade anteriormente ao seu trânsito em julgado. A Corte que
vigorosamente prestigia o disposto no preceito constitucional em nome da garantia da propriedade não a deve negar quando se trate da
garantia da liberdade, mesmo porque a propriedade tem mais a ver com as elites; a ameaça às liberdades alcança de modo efetivo as
classes subalternas. 8. Nas democracias mesmo os criminosos são sujeitos de direitos. Não perdem essa qualidade, para se transformarem
em objetos processuais. São pessoas, inseridas entre aquelas beneficiadas pela afirmação constitucional da sua dignidade (art. 1º, III, da
Constituição do Brasil). É inadmissível a sua exclusão social, sem que sejam consideradas, em quaisquer circunstâncias, as singularidades de
cada infração penal, o que somente se pode apurar plenamente quando transitada em julgado a condenação de cada qual Ordem
concedida. (HC 84078, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 05/02/2009, DJe-035 DIVULG 25-02-2010 PUBLIC 26-02-2010
EMENT VOL-02391-05 PP-01048).
273O acórdão encontra-se pendente de publicação. Segundo notícia extraída do sítio do STF na internet: “Ao negar o Habeas Corpus (HC)
126292 na sessão desta quarta-feira (17), por maioria de votos, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que a possibilidade
de início da execução da pena condenatória após a confirmação da sentença em segundo grau não ofende o princípio constitucional da
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A lei impôs um limite objetivo para a adoção das medidas cautelares, especialmente as
diversas da prisão, ao afirmar que elas não poderão ser aplicadas à infração penal a que não for
isolada, cumulativa ou alternativamente cominada, pena privativa de liberdade. Em se tratando de
prisão preventiva, o limite é mais rígido e será visto adiante.
8.1.1 PRISÃO
O Código de Processo Penal, a partir do art. 283, dedica-se especialmente à diligência de
prisão, estabelecendo procedimentos, limites e providências a serem adotadas pelas autoridades
envolvidas, tais como o dever de observância da inviolabilidade de domicílio, salvo nas exceções
constitucionalmente previstas, além da necessidade do imediato registro do mandado de prisão em
banco de dados mantido pelo Conselho Nacional de Justiça para essa finalidade, o que permitirá que
qualquer agente policial efetue a prisão determinada no respectivo mandado, ainda que fora da
competência territorial do juiz que o expediu.
Passa-se ao estudo individualizado das modalidades de encarceramento cautelar, a exemplo
da prisão em flagrante, temporária, preventiva e por pronúncia274.
presunção da inocência. Para o relator do caso, ministro Teori Zavascki, a manutenção da sentença penal pela segunda instância encerra a
análise de fatos e provas que assentaram a culpa do condenado, o que autoriza o início da execução da pena. [...] A decisão indica mudança
no entendimento da Corte, que desde 2009, no julgamento da HC 84078, condicionava a execução da pena ao trânsito em julgado da
condenação, mas ressalvava a possibilidade de prisão preventiva. Até 2009, o STF entendia que a presunção da inocência não impedia a
execução de pena confirmada em segunda instância. [...] O relator do caso, ministro Teori Zavascki, ressaltou em seu voto que, até que seja
prolatada a sentença penal, confirmada em segundo grau, deve-se presumir a inocência do réu. Mas, após esse momento, exaure-se o
princípio da não culpabilidade, até porque os recursos cabíveis da decisão de segundo grau, ao STJ ou STF, não se prestam a discutir fatos e
provas, mas apenas matéria de direito. “Ressalvada a estreita via da revisão criminal, é no âmbito das instâncias ordinárias que se exaure a
possibilidade de exame dos fatos e das provas, e, sob esse aspecto, a própria fixação da responsabilidade criminal do acusado”, afirmou. [...]
Como exemplo, o ministro lembrou que a Lei Complementar 135/2010, conhecida como Lei da Ficha Limpa, expressamente consagra como
causa de inelegibilidade a existência de sentença condenatória proferida por órgão colegiado. ‘A presunção da inocência não impede que,
mesmo antes do trânsito em julgado, o acórdão condenatório produza efeitos contra o acusado’. [...] No tocante ao direito internacional, o
ministro citou manifestação da ministra Ellen Gracie (aposentada) no julgamento do HC 85886, quando salientou que ‘em país nenhum do
mundo, depois de observado o duplo grau de jurisdição, a execução de uma condenação fica suspensa aguardando referendo da Suprema
Corte’. [...] Sobre a possiblidade de se cometerem equívocos, o ministro lembrou que existem instrumentos possíveis, como medidas
cautelares e mesmo o habeas corpus. Além disso, depois da entrada em vigor da Emenda Constitucional 45/2004, os recursos
extraordinários só podem ser conhecidos e julgados pelo STF se, além de tratarem de matéria eminentemente constitucional, apresentarem
repercussão geral, extrapolando os interesses das partes. [...] O relator votou pelo indeferimento do pleito, acompanhado pelos ministros
Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux, Dias Toffoli, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes [...]”.
(http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=310153> Acesso em 19/02/2016)
274Outras modalidades de prisão já foram previstas na legislação revogada. Pela validade histórica, transcrevo a seguinte passagem da
doutrina: “(...) a grande divisão da prisão é aquela em prisão processual e prisão administrativa: a primeira é decretada numa relação
processual, e a segunda no exercício de atividade administrativa. A prisão processual pode ser penal ou civil, conforme emane do juízo
penal ou do juízo civil. A prisão processual penal, por outra parte, pode ser prisão penal em sentido estrito, prisão cautelar ou prisão
compulsória. Prisão civil em sentido estrito será, finalmente, a prisão processual decretada na jurisdição civil, ou como providência
coercitiva, ou como providência disciplinar (é o caso do art. 35 da Lei de Falências)”. (MARQUES, José Frederico. Estudos de Direito
Processual Penal. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1960, p. 222).
275Não se admite analogia ou interpretação extensiva (RJDTACrimSP, 9/197).
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b) Flagrante impróprio (quase flagrante) – ocorre quando o sujeito é
perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer
pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração (inciso III).
c) Flagrante presumido – ocorre quando o sujeito é encontrado, logo depois,
com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele
autor da infração (inciso IV).
276 Enunciado 145 da Súmula de Jurisprudência do STF: “não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a
sua consumação”.
277A alegação de crime impossível, por flagrante preparado, tem sido reiteradamente repetida em habeas corpus perante o Superior
Tribunal de Justiça, nos casos envolvendo tráfico ilícito de entorpecentes, que a tem afastado não somente pela impossibilidade de incursão
sobre a matéria fática na via estreita do writ, como também pelo fato de se tratar de crime de ação múltipla, ou seja, de conteúdo variado.
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provisória, com ou sem fiança. Não há mais a possibilidade de o juiz simplesmente homologar o
flagrante, indeferir o pedido de liberdade provisória e, por consequência, manter o autor do fato
preso em flagrante durante toda a tramitação da ação penal. O fundamento jurídico do
encarceramento provisório deve ser alterado para prisão preventiva, se for o caso, expedindo-se o
respectivo mandado.
Determinadas autoridades, em razão do cargo ocupado ou da função pública exercida, não
estão sujeitas à prisão em flagrante, pelo menos em algumas situações. O presidente da República
não está sujeito à prisão, salvo se, em se tratando de infração penal comum, sobrevier sentença
penal condenatória. Logo, não pode ser preso em flagrante (art. 86, § 3º, da CF).
Os membros do Congresso Nacional têm prerrogativa de menor alcance, pois contra eles será
cabível a prisão em flagrante por crime inafiançável, devendo ser apresentados imediatamente à
respectiva casa, que deliberará a respeito (art. 53, § 2º, da CF).
Os juízes (art. 33, II, da LOMAN) e os membros do Ministério Público da União (art. 18, II, da LC
75/93) e dos Estados (art. 40, III, da Lei 8.625/93) têm regras semelhantes às previstas aos membros
do Congresso Nacional, não cabendo contra eles prisão em flagrante delito, salvo se por crime
inafiançável, ocasião em que deverão ser apresentados à chefia da instituição.
A lei enumera outras hipóteses nas quais não se imporá a prisão em flagrante, mas que não
estão diretamente ligadas ao cargo ou função pública desempenhada pelo agente, a exemplo do art.
69, parágrafo único, da Lei 9.099/95, que trata dos crimes de menor potencial ofensivo, e que
determina que, ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao
juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não imporá a prisão em flagrante. O art.
301 do Código de Trânsito brasileiro também traz regra semelhante, ao determinar que ao condutor
de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte vítima, não se imporá a prisão em
flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral socorro àquela.
278A Lei 7.960 é decorrente da conversão da MP 111, de 24 de novembro de 1989. Naquela época, ainda era possível a edição de medida
provisória versando sobre esse tipo de matéria, tendo a proibição surgido com a EC 32/2001 (art. 62, § 1º, b).
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e) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2°
e 3°);
f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223,
caput, e parágrafo único);
g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação
com o art. 223, caput, e parágrafo único);
h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223
caput, e parágrafo único);
i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou
medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, combinado
com art. 285);
l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal;
m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro
de 1956), em qualquer de suas formas típicas;
n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro de
1976);
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de junho
de 1986).
Discute-se se tais requisitos seriam cumulativos ou não, já que a lei nada dispôs nesse sentido.
Tem prevalecido a opinião de que o terceiro requisito deve estar presente em todos os casos,
não somente pela enumeração de infrações penais mais graves, a indicar que o legislador pretendeu
uma atuação seletiva da medida, como também por exigir um idôneo lastro probatório para a sua
decretação (fumus comissi delicti). Não faria sentido, por exemplo, a prisão cautelar em investigação
de infração penal a que a lei comine tão somente pena de multa. Igualmente seria desproporcional a
restrição à liberdade sem qualquer evidência de autoria ou participação do indiciado, ou até mesmo
da própria infração penal.
Além do requisito contido no inciso III, é adequado exigir a presença cumulada de pelo menos
um dos requisitos contidos nos incisos anteriores, que basicamente se resumem ao primeiro, ou seja,
quando a medida for imprescindível para as investigações do inquérito policial, porque esta hipótese
engloba a segunda (periculum libertatis). Do contrário, bastaria o indiciamento para que fosse
possível a prisão temporária, mesmo que completamente desnecessária para as investigações.
Faltaria a finalidade acautelatória, transformando-se a prisão em um fim em si mesma.
O procedimento é bastante simples, podendo a medida ser postulada pela autoridade policial,
por meio da representação, e pelo Ministério Público. Não é cabível a decretação de ofício pelo juiz.
Em caso de representação, colhe-se previamente a manifestação do Ministério Público, que é o
destinatário inicial da prova, além de deter a titularidade da ação penal pública.
A decisão deve ser proferida em até vinte e quatro horas, contadas a partir do recebimento da
representação ou do requerimento. Trata-se de prazo impróprio, porque a lei não prevê qualquer
sanção pelo seu descumprimento, muito embora exija a implantação de sistema de plantão
ininterrupto para esse fim (art. 5º da Lei 7.960/89).
A prisão temporária tem prazo certo. Em regra, terá a duração de cinco dias, podendo ser
prorrogada por uma única vez, em caso de extrema e comprovada necessidade (art. 2º da Lei
7.960/89). Em se tratando de crime hediondo, o prazo é aumentado para trinta dias, também
renovável da mesma forma e sob as mesmas condições (art. 2º, § 4º, da Lei 8.072/90).
Findo o prazo, o preso deverá ser posto imediatamente em liberdade, independentemente de
qualquer autorização judicial nesse sentido, exceto se contra si sobrevier a decretação da prisão
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preventiva (art. 2º, § 7º, da Lei 7.960/89). Isso se explica pelo fato de a prisão possuir termo certo,
prescindindo, portanto, de ato judicial posterior.
279EMENTA HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. PRISÃO PREVENTIVA. SÚMULA 691. [...] A
participação ou o envolvimento do paciente em grupo criminoso organizado dedicado à prática de crimes graves, entre eles tráfico de
drogas, é suficiente para indicar a periculosidade e o risco de reiteração delitiva, colocando em risco a ordem pública. Habeas corpus não
conhecido. (HC 113909, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 30/10/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-241 DIVULG
07-12-2012 PUBLIC 10-12-2012).
280 EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL. PROCESSUAL PENAL. QUESTÕES NÃO EXAMINADAS PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA ESTADUAL NEM
PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. DUPLA SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. LEGITIMIDADE DOS FUNDAMENTOS DA PRISÃO PREVENTIVA.
GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA E CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. EXCESSO DE PRAZO NÃO CONFIGURADO. IMPOSSIBILIDADE
DA CONCESSÃO DA ORDEM DE OFÍCIO. IMPETRAÇÃO NÃO CONHECIDA. [...] II – Por outro lado, a prisão cautelar, a princípio, se mostra
suficientemente motivada para a garantia da instrução criminal e preservação da ordem pública, ante a periculosidade do paciente,
verificada pela gravidade in concreto do crime, bem como pelo modus operandi mediante o qual foram praticados os delitos, além das
ameaças e intimidações feitas às testemunhas. [...] (HC 106991, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em
26/04/2011, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-092 DIVULG 16-05-2011 PUBLIC 17-05-2011).
281EMENTA: HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. DECRETO MULTIPLAMENTE FUNDAMENTADO: GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA;
CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL; NECESSIDADE DE ASSEGURAR A APLICAÇÃO DA LEI PENAL; GARANTIA DA ORDEM ECONÔMICA.
IDONEIDADE DOS FUNDAMENTOS. LASTRO FACTUAL IDÔNEO A JUSTIFICAR A CONSTRIÇÃO CAUTELAR DO PACIENTE. ORDEM DENEGADA.
1. A prisão preventiva pode ser decretada para evitar que o acusado pratique novos delitos. O decreto preventivo contém dados concretos
quanto à periculosidade do paciente e da quadrilha de cujo comando faz parte. Ordem pública a se traduzir na tutela dos superiores bens
jurídicos da incolumidade das pessoas e do patrimônio, constituindo-se explícito "dever do Estado, direito e responsabilidade de todos"
(art. 144 da CF/88). Precedentes: HC 82.149, Ministra Ellen Gracie; HC 82.684, Ministro Maurício Corrêa; e HC 83.157, Ministro Marco
Aurélio. [...] 3. A garantia da ordem econômica autoriza a custódia cautelar, se as atividades ilícitas do grupo criminoso a que,
supostamente, pertence o paciente repercutem negativamente no comércio lícito e, portanto, alcançam um indeterminando contingente
de trabalhadores e comerciantes honestos. Vulneração do princípio constitucional da livre concorrência. [...] (HC 91285, Relator(a): Min.
CARLOS BRITTO, Primeira Turma, julgado em 13/11/2007, DJe-074 DIVULG 24-04-2008 PUBLIC 25-04-2008 EMENT VOL-02316-04 PP-00816).
282HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRISÃO PREVENTIVA. REQUISITOS. PREENCHIMENTO. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA.
GRAVIDADE CONCRETA DO DELITO. MODUS OPERANDI. PERICULOSIDADE DA AGENTE. CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL.
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O último fundamento presente no caput do art. 312 do CPP também busca garantir a
efetividade do próprio processo, vale dizer da aplicação da lei penal. Cabível quando houver, no
mínimo, efetivo e concreto risco de fuga do indiciado ou acusado285.
O parágrafo único inovou, ao afirmar ser a preventiva cabível em caso de descumprimento de
qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4º).
Além dos fundamentos da prisão preventiva, ligados às circunstâncias de fato que envolvem o
caso, colocando em risco a persecução penal, o art. 312 também exige a prova da existência do crime
e indícios suficientes de autoria, que seria a fumaça do bom direito, ou, com mais precisão, o fumus
comissi delicti.
Mas não basta a presença dos fundamentos e requisitos previstos no art. 312. O art. 313 do
CPP traz uma limitação objetiva para a utilização da prisão preventiva. Da análise do inciso I, em
sentido contrário, pode-se concluir que não é cabível a segregação cautelar nos crimes culposos e
nas contravenções penais. Também não se aplica aos crimes dolosos com pena privativa de liberdade
de até quatro anos, não por coincidência o limite para a substituição de pena privativa de liberdade
(art. 44, I, do CP). A explicação repousa justamente na proporcionalidade. Em sendo em tese possível
a substituição de pena em caso de condenação por sentença transitada em julgado, seria
desproporcional permitir a prisão preventiva ao longo da tramitação da ação penal.
Caso o limite seja ultrapassado pela incidência de causa de aumento de pena, inclusive nas
hipóteses de concurso formal ou de crime continuado (arts. 70 e 71 do CP), ou ainda em razão de
concurso material de crimes (art. 69 do CP), torna-se possível a decretação da prisão preventiva do
autor do fato286.
Nos incisos seguintes do art. 313 do CPP, a lei estabelece exceções para autorizar a prisão
preventiva, mesmo quando a pena for inferior ao referido limite, especificamente quando houver
reincidência (inciso II), ou se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança,
adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas
APONTADA DESTRUIÇÃO DE PROVAS. AMEAÇA ÀS TESTEMUNHAS. SEGREGAÇÃO JUSTIFICADA E NECESSÁRIA. CONDIÇÕES PESSOAIS
FAVORÁVEIS. IRRELEVÂNCIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. ORDEM DENEGADA. [...] 2. Demonstrada está a
imprescindibilidade da custódia preventiva para a conveniência da instrução criminal, quando presentes elementos que revelam a
destruição de provas e a ameaça às testemunhas pela paciente. [...] (HC 240.781/MT, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado
em 28/08/2012, DJe 11/09/2012)
283 Ementa: Processual penal. Habeas corpus. Tráfico de entorpecentes e associação para tráfico de entorpecentes (Arts. 33 e 35). Prisão
em flagrante. Relaxamento. Prisão temporária. Convolação em Prisão preventiva: garantia da ordem pública e conveniência da instrução
criminal. Organização criminosa vinculada ao “PCC”. Periculosidade concreta. Ameaça a testemunhas. Fundamentação idônea. [...] 2. A
ameaça a testemunhas constitui base fática que se ajusta à necessidade da prisão cautelar por conveniência da instrução criminal.
Precedentes: HC 105614/RJ, rel. Min. Ayres Britto, 2ª Turma, DJ de 10/6/2011; HC 106236-AgR/RJ, rel. Min. Ayres Britto, 2ª Turma, DJ de
6/4/2011; HC 101934/RS, rel. Min. Joaquim Barbosa, DJ de 14/9/2010; e HC 101309/PE, Rel. Min. Ayres Britto, 1ª Turma, DJ de 7/5/2010. [...] 4.
Ordem denegada. (HC 108201, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 08/05/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-105 DIVULG
29-05-2012 PUBLIC 30-05-2012).
284 Ementa: PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR E CORRUPÇÃO DE MENORES. PRISÃO PREVENTIVA
PARA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. PERICULOSIDADE EVIDENCIADA PELO MODUS OPERANDI. AMEAÇA ÀS VÍTIMAS. FUNDAMENTOS
IDÔNEOS. GRAVIDADE CONCRETA. SENTENÇA CONDENATÓRIA. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE. PRECEDENTES. ORDEM DENEGADA. [...] 2. In
casu, o paciente foi preso preventivamente para garantia da ordem pública, diante das ameaças às vítimas e da periculosidade evidenciada
pelo modus operandi, porquanto, por mais de três anos, praticou atos libidinosos com crianças e adolescentes, em troca de dinheiro, doces,
passeios e outros presentes. [...] (HC 104522, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. LUIZ FUX, Primeira Turma,
julgado em 16/08/2011, DJe-178 DIVULG 15-09-2011 PUBLIC 16-09-2011 EMENT VOL-02588-01 PP-00127).
285EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME DE TRÁFICO INTERESTADUAL DE DROGAS E
FINANCIAMENTO AO TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO PREVENTIVA. PEDIDO DE LIBERDADE PROVISÓRIA. SUPERVENIÊNCIA DE SENTENÇA
PENAL CONDENATÓRIA MANTENDO A SEGREGAÇÃO CAUTELAR. GARANTIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. ENCERRAMENTO DA FASE
PROBATÓRIA. GARANTIA DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL. REAL POSSIBILIDADE DE FUGA. PRESERVAÇÃO DA ORDEM PÚBLICA. FUNÇÃO DE
CHEFIA EM ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA E QUANTIDADE DE DROGAS: CIRCUNSTÂNCIAS SUFICIENTES PARA A MANUTENÇÃO DA CUSTÓDIA
CAUTELAR. ORDEM DENEGADA. [...] 2. Existência de outro fundamento idôneo e suficiente para a manutenção da prisão preventiva,
consistente na aplicação da lei penal, evidenciada pelo risco de fuga do distrito da culpa. [...] (HC 104608, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA,
Primeira Turma, julgado em 24/05/2011, DJe-168 DIVULG 31-08-2011 PUBLIC 01-09-2011 EMENT VOL-02578-01 PP-00086).
286Os Enunciados 81 e 723, respectivamente das Súmulas de Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal,
podem ser adotados como fundamento, porque se cuida de argumento semelhante.
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protetivas de urgência (inciso III). Esta última hipótese pressupõe a aplicação anterior de medidas
protetivas, que se mostraram insuficientes287.
O parágrafo único do art. 313 também permite a prisão preventiva, quando houver dúvida
sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-
la, caso em que o preso deve ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se
outra hipótese recomendar a manutenção da medida.
Outra vedação imposta pelo Código de Processo Penal à prisão preventiva está prevista no art.
314, isto é, quando o fato típico vier acompanhado de causa excludente de ilicitude (art. 23 do CP).
Entretanto, pode acontecer que, no caso concreto, somente se tenha configurada a excludente após
regular instrução probatória, valendo, portanto, a prisão anterior. Em suma, se houver elementos
seguros sobre a existência da excludente desde o início, o juiz não poderá decretar a prisão. Caso
elas somente apareçam posteriormente, caberá ao juiz revogá-la (art. 316 do CPP).
À vista do mandado judicial, a captura poderá ser requisitada por qualquer meio de
comunicação, tomadas pela autoridade, a quem se fizer a requisição, as precauções necessárias para
averiguar a autenticidade desta.
287 Há o entendimento de que a decretação autônoma da prisão preventiva ainda seria possível, por força do art. 20 da Lei 11.340/2006,
que permanece em vigor, pelo princípio da especialidade.
288EMENTA HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRONÚNCIA E CONDENAÇÃO SUPERVENIENTE. PERDA DE
OBJETO. PRESSUPOSTOS E FUNDAMENTOS DA PRISÃO PREVENTIVA. RISCO À APLICAÇÃO DA LEI PENAL. 1. A superveniência de sentença de
pronúncia ou condenatória na qual é mantida a prisão cautelar, anteriormente decretada, implica a mudança do título da prisão e prejudica
o conhecimento de habeas corpus impetrado contra a prisão antes do julgamento. 2. Havendo risco à aplicação da lei penal, está justificada
a decretação ou a manutenção da prisão cautelar, desde que igualmente presentes boas provas da materialidade e da autoria como na
hipótese. 3. Habeas corpus prejudicado. (HC 104859, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 30/10/2012, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-241 DIVULG 07-12-2012 PUBLIC 10-12-2012).
289EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO. ELEMENTOS CONCRETOS PARA
CUSTÓDIA CAUTELAR. SENTENÇA CONDENATÓRIA. DIREITO DE RECORRER EM LIBERDADE. MANUTENÇÃO DA PRISÃO. FUNDAMENTOS
IDÔNEOS. PRECEDENTES. ORDEM DENEGADA. 1. A periculosidade do agente, delineada pela gravidade in concreto do crime, pelo modus
operandi e por sua personalidade, respalda a prisão preventiva para garantia da ordem pública. Precedentes. 2. A prisão decorrente de
sentença condenatória recorrível não afronta o princípio constitucional da não culpabilidade, desde que estejam ainda presentes os
requisitos necessários à custódia cautelar. Precedentes. 3. É firme a jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal no sentido de que as
condições subjetivas favoráveis do Paciente, tais como emprego lícito, residência fixa e família constituída, não obstam a segregação
cautelar. Precedentes. 4. Ordem denegada. (HC 111046, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado em 11/12/2012,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-022 DIVULG 31-01-2013 PUBLIC 01-02-2013).
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Assim, quanto aos fundamentos da prisão preventiva, o juiz deve reportar-se ao art. 312 do
CPP, adotando ainda as cautelas necessárias para verificar se, no caso concreto, não há norma
vedando a decretação da prisão.
Aqui também há mudança de título jurídico, mesmo na hipótese de manutenção da prisão.
Isso porque, em relação aos pressupostos, já haverá juízo definitivo sobre autoria e materialidade do
crime, o qual se encontra fundado em cognição exauriente, decorrente da sentença prolatada após o
término da fase instrutória.
290Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência particular quando se tratar de: I -
condenado maior de 70 (setenta) anos; II - condenado acometido de doença grave; III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou
mental; IV - condenada gestante.
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• homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 12
(doze) anos de idade incompletos
291 A base é constitucional: “art. 5º [...] XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão,
nos termos da lei; XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os
que, podendo evitá-los, se omitirem; XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra
a ordem constitucional e o Estado Democrático”.
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Porém, com a restauração da fiança, é possível que a interpretação literal das regras conduza o
intérprete a resultados incoerentes. Por exemplo, caso seja isoladamente aplicada a norma que
impede o arbitramento de fiança para os crimes inafiançáveis, a liberdade deverá ser concedida sem
a referida medida acautelatória. Já para os afiançáveis, o juiz poderá conceder a liberdade provisória
com fiança, ou seja, um tratamento mais rigoroso para quem cometera infração penal menos grave.
E, não raramente, aqueles que compõem as chamadas organizações criminosas, e que praticam
crimes inafiançáveis, são justamente os que possuem maior capacidade econômico-financeira para
suportar a fiança. A jurisprudência deverá equacionar o problema. Uma sugestão seria impor um
maior número de medidas cautelares nos casos de cometimento de crimes inafiançáveis.
Foram ampliadas as hipóteses nas quais a fiança poderá ser diretamente fixada pela
autoridade policial, vale dizer, nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não
seja superior a quatro anos (art. 322 do CPP). De qualquer forma, o interessado poderá peticionar ao
juiz, notadamente nas hipóteses de recusa ou demora (art. 335 do CPP), porque o controle judicial
permanece. Nas infrações com pena superior a quatro anos, a atribuição da autoridade judiciária é
exclusiva, que disporá do prazo de até quarenta e oito horas para decidir.
A fiança destina-se ao pagamento das custas, de indenização pelo dano, da prestação
pecuniária e da multa, em caso de condenação do acusado (art. 336 do CPP), e pode ser fixada até o
trânsito em julgado da sentença penal condenatória (art. 334 do CPP).
Além das vedações previstas no art. 323 do CPP, que basicamente espelham o que determina
a Constituição Federal, o art. 324 acrescenta as hipóteses de proibição de fiança: a) aos que, no
mesmo processo, tiverem quebrado fiança anteriormente concedida ou infringido, sem motivo justo,
qualquer das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 do CPP; b) em caso de prisão civil ou
militar; e c) quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva (art. 312),
sendo esta última decorrente da própria incongruência lógica que derivaria da tentativa de aplicação
simultânea dos institutos.
Os limites – mínimo e máximo – estão definidos no art. 325, devendo ser observadas, para o
seu arbitramento, a natureza da infração, as condições pessoais de fortuna e vida pregressa do
acusado, as circunstâncias indicativas de sua periculosidade, bem como a importância provável das
custas do processo, até o julgamento (art. 326 do CPP). O CPP autoriza a dispensa, a redução em até
2/3 e o aumento em até 1.000 (mil) vezes da fiança em vista da situação econômica do preso.
Fixado o valor, o art. 330 do CPP permite que o pagamento se dê através de depósito de
dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos da dívida pública, federal, estadual ou
municipal, ou em hipoteca inscrita em primeiro lugar. Se necessário, avalia-se o bem.
O Código de Processo Penal estabelece os casos de quebra, cassação e perdimento da fiança.
A quebra ocorrerá quando o beneficiário (arts. 327, 328 e 341 do CPP):
• não comparecer injustificadamente perante a autoridade, seja na fase
pré-processual ou judicial, sempre que exigida a sua presença;
• mudar-se ou afastar-se da residência, neste último caso por mais oito
dias, sem permissão ou comunicação à autoridade competente;
• deliberadamente praticar ato de obstrução ao andamento do processo;
• descumprir medida cautelar imposta cumulativamente com a fiança;
• resistir injustificadamente à ordem judicial;
• praticar nova infração penal dolosa.
O principal efeito da quebra é a perda de metade do valor afiançado, autorizando-se que o juiz
decida sobre a imposição de outras medidas cautelares, inclusive a prisão preventiva, se for o caso
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(art. 343 do CPP). O valor referente à quebra, após a dedução das custas e demais encargos a que o
acusado estiver obrigado, será recolhido ao fundo penitenciário. No caso de o tribunal dar
provimento ao recurso em sentido estrito contra a decisão que decretou a quebra da fiança, esta
será restaurada (art. 342 do CPP).
Dá-se a cassação quando:
• se reconheça não ser a fiança cabível no caso concreto, podendo
ocorrer em qualquer fase do processo (art. 338);
• reconhecida a existência de delito inafiançável, no caso de inovação na
classificação do delito (art. 339).
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• proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela
permanecer distante;
• proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja
conveniente ou necessária para a investigação ou instrução;
• recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando
o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;
• suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza
econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização
para a prática de infrações penais;
• internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados
com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser
inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco
de reiteração;
• fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento
a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso
de resistência injustificada à ordem judicial;
• monitoração eletrônica.
Muitas dessas medidas não são inovadoras. Três delas já estavam previstas no art. 89 da Lei
9.099/95, que trata da suspensão condicional do processo. A fiança, já no item anterior, também é
tradicional no nosso ordenamento. A Lei 11.340/06 também já previa a vedação de contato pessoal
com determinada pessoa (art. 22, III, a e b).
No entanto, sem prejuízo do princípio da especialidade, a utilidade da alteração legislativa
reside justamente no fato de estar posicionada no Código de Processo Penal, ampliando-se o seu
alcance para contemplar outras infrações penais que não eram atingidas pelas medidas contidas nas
leis especiais.
O recolhimento domiciliar noturno e nos dias de folga é uma novidade. Contudo, sabendo-se
previamente que se trata de medida de difícil fiscalização no cotidiano, somente o futuro poderá
confirmar ou não a sua utilização eficaz. O mais adequado seria a sua implementação em conjunto
com o monitoramento eletrônico.
De qualquer forma, o fato de o indiciado ou acusado possuir residência e trabalho fixos não
garante necessariamente a utilização da medida como alternativa à prisão. Não há direito subjetivo.
O caso concreto poderá justificar a prisão cautelar, na linha do que já vem sendo acolhido pela
jurisprudência292.
Por ser uma medida de restrição mais drástica do que as demais comentadas até este
momento, e que não se confunde com a prisão domiciliar (arts. 317 e 318 do CPP), o recolhimento
domiciliar deve ser usado com cautela. Pode-se dizer que, em uma escala de
necessidade/adequação, seria a medida imediatamente anterior à prisão preventiva.
A suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou
financeira já vinha sendo utilizada pelos juízes em determinadas situações. É necessário que haja
uma relação de pertinência entre o exercício da função ou atividade e a infração penal imputada ao
indiciado ou acusado.
292 EMENTA: Habeas Corpus. 2. Prisão cautelar. Sentença de pronúncia. 3. Alegação de inexistência dos requisitos autorizadores para a
decretação da prisão preventiva. 4. Primariedade e bons antecedentes. Elementos que, por si sós, não autorizam a revogação da medida
constritiva de liberdade. Precedentes. 5. Decisão que não se fundamentou em dados concretos. 6. Habeas corpus deferido (HC 83148,
Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 16/08/2005, DJ 02-09-2005 PP-00047 EMENT VOL-02203-01 PP-00150 RTJ
VOL-00195-03 PP-00960 LEXSTF v. 27, n. 323, 2005, p. 365-374).
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Muito embora a lei reduza as hipóteses de aplicação do afastamento cautelar, equiparando a
medida, de certa forma, à garantia da ordem pública, não se pode impedir o seu cabimento, quando
puder se evitar a prisão cautelar, como já foi dito anteriormente.
Tema recorrente nas hipóteses de afastamento de agentes públicos é a suspensão ou não do
pagamento das remunerações. O Supremo Tribunal Federal já afirmou que qualquer medida nesse
sentido seria incompatível com o princípio da presunção de inocência, mesmo que se cuidasse
apenas de redução293.
A internação provisória é novidade, pelo menos como medida acautelatória. Exige-se que o
crime tenha sido praticado com violência ou grave ameaça contra a pessoa, que haja efetivo risco de
reiteração, além de exame pericial que ateste a semi-imputabilidade ou inimputabilidade do acusado
(art. 149 do CPP). Esses requisitos são cumulativos.
Quanto ao semi-imputável, desde a reforma da parte geral do Código Penal, em 1984, que o
ordenamento jurídico abandonara o sistema duplo-binário, não sendo mais possível a aplicação
acumulada de pena e medida de segurança. Nesse sentido, incide apenas a causa de diminuição de
pena prevista no parágrafo único do art. 26 do CP. A medida de segurança, excepcionalmente e em
substituição à pena privativa de liberdade, será aplicada somente para a finalidade prevista no art. 98
do CP, isto é, quando o agente necessitar de especial tratamento curativo.
Portanto, deve-se ter cautela para não haver a decretação da internação provisória do semi-
imputável, caso não seja factível a futura substituição da pena privativa de liberdade por medida de
segurança. Em outras palavras, o juiz não deverá lançar mão da internação provisória, se não
vislumbrar a aplicação futura do art. 98 do CP.
As consequências da internação provisória são muito graves, por restringir a liberdade de
locomoção do acusado, equiparando-se, sob esse ponto de vista, à prisão preventiva, exigindo
bastante cautela na sua utilização.
Assim como a internação provisória, a monitoração eletrônica cautelar também é novidade,
pois, desde o advento da Lei 12.258/10, que alterou a Lei de Execução Penal – LEP, o monitoramento
se mostrava possível na fase de execução da pena (Título V, Capítulo I, Seção VI).
O Decreto 7.627/2011 regulamentou o uso da monitoração eletrônica, definindo-a como a
vigilância telemática posicional à distância de pessoas presas sob medida cautelar ou condenadas por
sentença transitada em julgado, executada por meios técnicos que permitam indicar a sua
localização (art. 2º).
A medida já vem sendo utilizada em outros países, sendo bastante útil para a fiscalização do
condenado ou acusado. Por esse motivo, é recomendável que seja aplicada em conjunto com outra
medida acautelatória, conforme Eugênio Pacelli: “Pensamos que o monitoramento eletrônico não
deverá ser aplicado isoladamente, mas como garantia de cumprimento de outras cautelares que,
pela natureza, demandem um grau mais sofisticado de fiscalização. É o caso do recolhimento
domiciliar (art. 319, V) e da proibição de acesso a determinados lugares (art. 319, II)”294.
Atenta ao princípio da dignidade da pessoa humana, a norma prevista no art. 5º do Decreto
7.627 determina que o equipamento de monitoração eletrônica deve ser utilizado de modo a
293EMENTA: ART. 2º DA LEI ESTADUAL 2.364/61 DO ESTADO DE MINAS GERAIS, QUE DEU NOVA REDAÇÃO À LEI ESTADUAL 869/52,
AUTORIZANDO A REDUÇÃO DE VENCIMENTOS DE SERVIDORES PÚBLICOS PROCESSADOS CRIMINALMENTE. DISPOSITIVO NÃO-
RECEPCIONADO PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988. AFRONTA AOS PRINCÍPIOS DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA E DA IRREDUTIBILIDADE DE
VENCIMENTOS. RECURSO IMPROVIDO. I - A redução de vencimentos de servidores públicos processados criminalmente colide com o
disposto nos arts. 5º, LVII, e 37, XV, da Constituição, que abrigam, respectivamente, os princípios da presunção de inocência e da
irredutibilidade de vencimentos. II - Norma estadual não recepcionada pela atual Carta Magna, sendo irrelevante a previsão que nela se
contém de devolução dos valores descontados em caso de absolvição. [...] (RE 482006, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal
Pleno, julgado em 07/11/2007, DJe-162 DIVULG 13-12-2007 PUBLIC 14-12-2007 DJ 14-12-2007 PP-00050 EMENT VOL-02303-03 PP-00473 RTJ
VOL-00204-01 PP-00402).
294OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 16. ed. atual. São Paulo: Atlas, 2012, p. 511.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
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CONSTITUCIONA DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
respeitar a integridade física, moral e social da pessoa monitorada. É proibido o uso de
equipamentos que possam causar constrangimento ao usuário.
Por fim, os dados, incluindo as informações sobre a pessoa monitorada, são sigilosos (art. 6º),
tendo a eles acesso somente servidores expressamente autorizados, e que tenham necessidade de
conhecê-los em virtude de suas atribuições (art. 7º).
É sabido que o procedimento se desenrola através da prática de atos processuais dos mais
diversos. Em regra, dividem-se em:
• Postulatórios – como o próprio nome já revela, são os atos praticados
pelas partes, que se destinam ao órgão julgador, contendo algum
requerimento.
• Instrutórios – em regra, são praticados pelas partes, notadamente pelo
autor da ação penal, em razão do estado constitucional de inocência do
acusado que, a rigor, nada precisará provar, se o titular da ação não se
desincumbir de seu ônus. O juiz, excepcionalmente, adotará alguma
iniciativa probatória, como já foi debatido no capítulo pertinente.
• Decisórios – são atos privativos do juiz. Dividem-se em decisões e
sentenças, já que os despachos não possuem o atributo de serem
decisórios.
Os atos processuais estão espalhados pelo Código de Processo Penal. Veremos as questões
envolvendo a forma, o tempo e o lugar dos atos processuais, além das comunicações, especialmente
as citações e intimações, e, por fim, os atos judiciais propriamente ditos – despachos, decisões e
sentenças.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
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CONSTITUCIONA DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
Não é isso que se busca atualmente.
A forma tem um propósito específico, que é o de dar segurança jurídica aos interessados,
garantir-lhes a fruição do direito ao contraditório e à ampla defesa, ou seja, que os atos praticados
sejam considerados idôneos, que cumpram a sua finalidade.
O processo penal também é regido pelo princípio da instrumentalidade das formas, cujo traço
característico pode ser encontrado no art. 572, II, do CPP, devendo o ato ser preservado sempre que
tenha atingido a sua finalidade, ainda que defeituoso na forma295.
Os atos processuais também devem ser públicos, sendo o sigilo a exceção, tal como previsto
no art. 792 do CPP, que determina que as audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra,
públicos e se realizarão nas sedes dos juízos e tribunais, com assistência dos escrivães, do secretário,
do oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e hora certos, ou previamente designados. Apenas
se da publicidade puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem,
o juiz, ou o tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou do
Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de
pessoas que possam estar presentes (§ 1º).
Segundo dispõe o art. 797 do Código de Processo Penal, as sessões de julgamento não serão
marcadas para domingo ou feriado. Todavia, os julgamentos iniciados em dia útil não se
interromperão pela superveniência de feriado ou domingo. Os demais atos do processo poderão ser
praticados nestes dias e também em período de férias.
Como não poderia deixar de ser, a polícia das audiências e das sessões compete aos
respectivos juízes ou ao presidente do tribunal, câmara, ou turma, que poderão determinar o que for
conveniente à manutenção da ordem. Para tal fim, requisitarão força pública, que ficará
exclusivamente à sua disposição (art. 794).
295PROCESSO PENAL. ESTUPRO E ATENTADO AO PUDOR PRATICADOS CONTRA VULNERÁVEL (ART. 214, C/C ART. 224, “A”, POR DUAS VEZES,
E ART. 213, § 1º, COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI N. 12.015/2009, C/C ART. 71, TODOS DO CÓDIGO PENAL). PENA DE 12 ANOS DE
RECLUSÃO, SEM DIREITO AO APELO EM LIBERDADE, POR PERSISTIREM OS FUNDAMENTOS DA PRISÃO CAUTELAR. TRÂNSITO EM JULGADO.
NULIDADE POR DEFICIÊNCIA DA DEFESA TÉCNICA. ALEGAÇÃO IMPROCEDENTE. NULIDADE QUE, SE EXISTENTE, SERIA RELATIVA.
NECESSIDADE DA DEMONSTRAÇÃO DE PREJUÍZO À DEFESA. SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO. IMPOSSIBILIDADE DE CONVOLAÇÃO DO
HABEAS CORPUS EM AÇÃO RESCISÓRIA. [...] 3. Ainda que se admitisse a deficiência da defesa, tratar-se-ia de nulidade relativa e, por
conseguinte, seria necessária a demonstração de prejuízo, in casu, inocorrente, por isso impor-se-ia atentar que a nulidade depende de
revelação de prejuízo, o que inocorre quando há ampla atuação do advogado em todas as fases processuais, revelando integral
cumprimento das garantias constitucionais processuais. É que o processo penal rege-se pelo princípio da instrumentalidade das formas, do
qual se extrai que as formas, ritos e procedimentos não existem como fins em si mesmos, mas como meios de se garantir um processo
justo, equânime, que confira efetividade aos postulados constitucionais da ampla defesa, do contraditório, e do devido processo legal. 4.
Deveras, é cediço na Corte que: a) no processo penal vigora o princípio geral de que somente se proclama a nulidade de um ato processual
quando há a efetiva demonstração de prejuízo, nos termos do que dispõe o art. 563 do CPP, verbis: Nenhum ato será declarado nulo, se da
nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa; b) nesse mesmo sentido é o conteúdo do Enunciado da Súmula nº 523 do
Supremo Tribunal Federal: No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver
prova de prejuízo para o réu; c) precedentes: HC 93.868/PE, Rel. Ministra Cármen Lúcia, Primeira Turma, Julgamento em 28/10/2008; HC
98.403/AC, Rel. Ministro Ayres Britto, Segunda Turma, Julgamento em 24/8/2010, HC 94.817, Rel. Ministro Gilmar Mendes, Segunda Turma,
Julgamento em 3/8/2010. 5. In casu, merece ainda considerar que a sentença penal transitou em julgado, a implicar indevida convolação do
habeas corpus em ação rescisória. 6. Ordem denegada. (HC 111582, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 17/04/2012,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-086 DIVULG 03-05-2012 PUBLIC 04-05-2012).
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
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CONSTITUCIONA DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E296
REGISTRAIS DO RS
a) Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não se
interrompendo por férias297, domingo298 ou feriado299300. Porém, se terminarem em tais
dias, os prazos ficam prorrogados até o dia útil imediato.
b) Excepcionalmente, não correrão os prazos, se houver impedimento do juiz, força maior,
ou obstáculo judicial oposto pela parte contrária.
c) Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento.
d) Salvo os casos expressos, os prazos correrão: a) da intimação301; b) da audiência ou
sessão em que for proferida a decisão, se a ela estiver presente a parte; c) do dia em que
a parte manifestar nos autos ciência inequívoca da sentença ou despacho.
Assim como nos prazos penais, os processuais também são contados considerando-se o
calendário comum.
9.4 CITAÇÕES
A citação é o mais importante ato de comunicação do processo. É através dela que o réu toma
conhecimento de que contra ele tramita uma demanda penal. Adotando-se por empréstimo a
definição prevista no art. 213 do CPC, com a devida adaptação, é o ato pelo qual se chama a juízo o
réu a fim de se defender.
Nos termos do art. 363 do CPP, o processo, isto é, a relação processual, terá completada a sua
formação quando realizada a citação do acusado.
296Entendemos que a regra do prazo correndo em cartório tem duvidosa constitucionalidade, porque pode gerar demasiado desequilíbrio
material entre as partes, na medida em que, como já foi visto, o Ministério Público tem a prerrogativa de intimação pessoal, normalmente
com vista dos autos. Recomenda-se, portanto, que, para os atos mais importantes, sejam concedidos prazos individualizados quando
houver pluralidade de réus, permitindo-se a retirada dos autos do cartório pelo defensor técnico, inclusive se constituído (art. 7º, XV, da Lei
8.906/94). Com a ampliação do processo eletrônico, tal problema deixa de existir, porque todos têm acesso simultâneo garantido pelo
sistema.
297Atentar para o fato de não haver mais férias coletivas para os juízes, mantidas apenas para os tribunais superiores (art. 93, XII, da CF,
com a redação dada pela EC 45/04).
298 Pode-se incluir o sábado na lista, porque não se tem notícia de expediente forense em tais dias, exceto na hipótese excepcional de
continuação de ato iniciado em dia de regular funcionamento. A propósito, conferir o Enunciado 310 da Súmula de Jurisprudência do STF:
“Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na
segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir”.
299No caso da Justiça Federal, o recesso de fim de ano, no período compreendido entre 20/12 e 06/01, é considerado feriado (art. 62, I, da
Lei 5.010/66) e, por conta disso, suspende-se a contagem dos prazos processuais.
300Em face do art. 219 do NCPC, que determina a contagem de prazos apenas em dias úteis, a corrente doutrinária majoritária tem, até o
momento, se inclinado a dizer que o dispositivo não se aplica ao processo penal.
301Não se considera a data da juntada do mandado, tal como ocorre no CPC. Nesse sentido, confira-se o Enunciado 710 da Súmula de
Jurisprudência do STF: “No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou da
carta precatória ou de ordem”. Para o Ministério Público, conta-se a partir da data de entrega ou de retirada dos autos, não sendo
descontado o período em que o órgão eventualmente consumira para a distribuição interna dos autos: “EMENTA: HABEAS CORPUS.
PROCESSO PENAL. INTIMAÇÃO PESSOAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. MOMENTO DE OCORRÊNCIA. ORDEM CONCEDIDA. 1. Na linha do
julgamento do HC 83.255 (rel. min. Marco Aurélio), a intimação pessoal do Ministério Público se dá com a carga dos autos na secretaria do
Parquet. 2. Se houver divergência entre a data de entrada dos autos no Ministério Público e a do "ciente" aposto nos autos, prevalece, para
fins de recurso, aquela primeira. 3. Ordem concedida, para cassar o acórdão atacado. (HC 83821, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA,
Primeira Turma, julgado em 01/06/2004, DJ 06-08-2004 PP-00041 EMENT VOL-02158-03 PP-00441 RF v. 101, n. 378, 2005, p. 345-346
RMDPPP v. 1, n. 2, 2004, p. 88-90)”.
302A lei não diferencia intimação de notificação, não havendo relevância prática na distinção doutrinária que se faz entre as duas formas de
comunicação. Caberia a intimação quando fosse para dar conhecimento ao interessado sobre ato já praticado, enquanto que a notificação
seria para as hipóteses de ato a praticar.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
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CONSTITUCIONA DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
Em razão da importância do ato de citação, o Código de Processo Penal impõe determinadas
formalidades, conforme o modelo adotado, a fim de assegurar a eficácia do ato.
303Em razão da redefinição do procedimento comum, este requisito está praticamente em desuso, porque o réu não é mais citado para
comparecer à audiência de qualificação e interrogatório.
304 Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta rogatória, suspendendo-se o curso do prazo de
prescrição até o seu cumprimento (art. 368). As citações que houverem de ser feitas em legações estrangeiras serão efetuadas mediante
carta rogatória (art. 369).
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
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Caso o denunciado se oculte para não ser encontrado, conforme certidão do oficial de justiça,
não mais se aplica a citação por edital (art. 355, § 2º), tratando-se de caso evidente de citação por
hora certa, instituída a partir da reforma implementada pela Lei 11.719/2008, que será vista a seguir.
305 CITAÇÃO POR HORA CERTA – ARTIGO 362 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL – CONSTITUCIONALIDADE DECLARADA NA ORIGEM –
RECURSO EXTRAORDINÁRIO – REPERCUSSÃO GERAL CONFIGURADA. Possui repercussão geral a controvérsia acerca da constitucionalidade,
ou não, da citação por hora certa, prevista no artigo 362 do Código de Processo Penal. (RE 635145 RG, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO,
julgado em 08/11/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-038 DIVULG 26-02-2013 PUBLIC 27-02-2013).
306 RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CITAÇÃO POR HORA CERTA. VALIDADE. ESGOTAMENTO DOS MEIOS.
ALEGADA AUSÊNCIA DOS REQUISITOS LEGAIS. VIA IMPRÓPRIA. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO.CONSTRANGIMENTO LEGAL NÃO EVIDENCIADO.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
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CONSTITUCIONA DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
9.4.4 CITAÇÃO POR EDITAL
A citação por edital não é modalidade de citação real. É ficta. Por isso mesmo, muito
provavelmente a menos eficaz, já que, de um modo geral, não há o hábito generalizado de se ler as
publicações oficiais do Poder Judiciário.
Em razão dessa ineficácia, constatável empiricamente no cotidiano forense, deve-se utilizar a
citação por edital somente como a última hipótese, ou seja, quando esgotadas as possibilidades de
localização do acusado. Isso porque, como se verá adiante, a consequência do não comparecimento
é a suspensão do processo e do prazo prescricional (art. 366), além de uma possível declaração de
nulidade307.
Uma boa alternativa é a pesquisa em bancos de dados administrados pelo Poder Público,
quando frustrada a localização do acusado no endereço contido nos autos308.
O prazo foi unificado pela Lei 11.719/2008, ficando estabelecido o interstício de 15 (quinze)
dias (art. 361).
Nos termos do § 3º do art. 364, comparecendo o acusado citado por edital, em qualquer
momento, será observado o disposto nos arts. 394 e seguintes do CPP, recomendando-se, caso ainda
seja possível, a reabertura do prazo para defesa preliminar.
Os requisitos intrínsecos do edital estão descritos no art. 365, quais sejam: a) os nomes do juiz
e do réu, ou, se este não for conhecido, os seus sinais característicos; b) residência e profissão do
réu, se constarem do processo; c) a finalidade da citação; d) o juízo e o dia, a hora e o lugar em que o
réu deverá comparecer309; e) o prazo, que será contado do dia da publicação do edital na imprensa,
se houver, ou da sua afixação.
1. Tem-se por válida a citação por hora certa realizada nos autos, diante da informação de que foram empreendidas as diligências
necessárias à localização do denunciado, bem assim de que havia indícios da sua ocultação para não ser citado. Precedentes. [...] (RHC
31.421/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 08/05/2012, DJe 21/05/2012).
307HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO E LAVAGEM DE DINHEIRO. CITAÇÃO POR EDITAL. NÃO ESGOTAMENTO DE
TODOS OS MEIOS PARA A LOCALIZAÇÃO DO ACUSADO. NULIDADE. ORDEM CONCEDIDA. 1. Pacífico o entendimento do Superior Tribunal de
Justiça de que devem ser esgotadas todas as diligências possíveis para a localização do réu antes de se determinar a citação por edital, sob
pena de nulidade. 2. No caso, apesar de declinada nos autos da ação penal de que se cuida a alteração de endereço do paciente, esta não
foi observada, o que ensejou a sua não localização e a citação por edital, restando evidenciado, assim, o alegado constrangimento ilegal. 3.
Ordem concedida para anular o processo a partir da citação do paciente, inclusive, determinando-se a expedição de carta rogatória para
citação e interrogatório, com posterior prosseguimento dos demais atos do processo. (HC 55.059/PR, Rel. Ministro HAROLDO RODRIGUES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/CE), SEXTA TURMA, julgado em 16/08/2011, DJe 26/10/2011).
308HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO (ART. 157, § 2º, I, II, E III, DO CP). CITAÇÃO POR EDITAL. ALEGADO NÃO ESGOTAMENTO
DOS RECURSOS DISPONÍVEIS PARA LOCALIZAR O PACIENTE. ACUSADO DEFENDIDO POR ADVOGADO DATIVO. POSTERIOR PRISÃO E
COMPARECIMENTO DO PACIENTE NO CARTÓRIO DO JUÍZO. NULIDADE NÃO CARACTERIZADA. ORDEM DENEGADA. 1. É por meio do ato
citatório que o acusado é chamado a integrar a relação processual, no seio da qual poderá usufruir de todas as garantias previstas na
Constituição Federal para exercer o seu direito de defesa. Restando infrutífera a tentativa de sua localização nos endereços conhecidos, o
legislador ordinário previu a utilização da chamada citação por edital, também conhecida por citação ficta, a fim de que o processo não
fique eternamente paralisado à espera da voluntariedade do acusado em submeter-se à persecução penal. 2. Estando o acusado em local
incerto e não sabido desde a fase investigatória, conforme relatório policial e denúncia, após resultar infrutífera a pesquisa na Rede
INFOSEG, ligada à Secretaria Nacional de Segurança Pública, a citação por edital do paciente, no caso concreto, não constitui qualquer
cerceamento à sua defesa. 3. A citação editalícia do paciente com a nomeação de um defensor dativo não impede de ser o réu
representado, posteriormente, por advogado de sua escolha. 4. Não há qualquer vício apto a inquinar de nulidade o processo penal,
tampouco prejuízo ao exercício da ampla defesa, quando o advogado regularmente constituído pelo acusado comparece em cartório e é
intimado para o oferecimento da defesa prévia. 5. Ordem denegada. (HC 200902351982, JORGE MUSSI, STJ - QUINTA TURMA, DJE
DATA:01/08/2011).
309Em razão da redefinição do procedimento comum, este requisito está praticamente em desuso, porque o réu não é mais citado para
comparecer à audiência de qualificação e interrogatório.
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Com a internalização do Pacto de São José da Costa Rica , intensificaram-se as críticas à
aplicação da revelia nos casos em que o réu, citado por edital, não comparecesse, tampouco
constituísse defensor técnico.
A situação somente foi parcialmente resolvida com a alteração do art. 366 do CPP, em função
da nova redação atribuída pela Lei 9.271/96. Assim, quando o acusado, citado por edital, não
comparecer, nem constituir advogado, deverão ficar suspensos o processo e o curso do prazo
prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e,
se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.
A intenção do legislador foi boa, mas não resolveu a questão completamente.
Se, por um lado, a norma era mais benéfica ao acusado, que não mais seria julgado à revelia,
de outro, teve a sua situação piorada, na parte em que passou a ter contra si uma suspensão
indefinida do prazo prescricional.
A norma é ao mesmo tempo favorável e prejudicial ao réu, tendo sido cogitado o recurso da
combinação de leis311, o que não foi, contudo, acolhido pela jurisprudência312.
A única solução viável para compatibilizar a norma com a Constituição Federal, porque apenas
esta pode estabelecer os casos de imprescritibilidade, foi considerar que a suspensão do prazo
prescricional perduraria durante o lapso previsto em lei para a prescrição pela pena máxima em
abstrato cominada à infração penal (art. 109 do CP). Após, sem prejuízo da continuidade da
suspensão do processo, o prazo prescricional voltaria a correr. A jurisprudência acabou acolhendo a
tese313.
Tentou-se, através do Projeto de Lei 4.207/2001, que deu origem à Lei 11.719/2008, incluir o
limite de suspensão do prazo prescricional, regulado pela pena máxima em abstrato, que seria o
inciso I do § 2º do art. 363.
Entretanto, o dispositivo acabou sendo vetado, em razão de não trazer a necessária suspensão
concomitante do processo, o que constituiria um inegável retrocesso, permanecendo a redação dada
pela Lei 9.271/96314.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
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CONSTITUCIONA DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS
A produção antecipada de provas, regulada no art. 366, não pode ser usada indistintamente,
devendo o juiz fundamentar concretamente a sua necessidade, não podendo justificá-la apenas em
razão do decurso do tempo315. Exige-se cautela, porque o réu não estaria participando da instrução,
sendo a sua defesa a cargo do defensor público ou dativo, os quais, por mais competentes que
sejam, não teriam contato prévio com a parte, o que poderia prejudicar a sua defesa. É por isso que
se recomenda bom senso na adoção da medida.
Em relação à prisão preventiva, deve-se ter o mesmo cuidado, não se podendo concluir, pelo
simples fato de o acusado não ter sido localizado, que a garantia de aplicação da lei estará
comprometida. Vale dizer, a decretação da prisão não pode ser automática316.
É importante esclarecer que a sistemática implementada pelo art. 366 não pôs fim à revelia,
que continua existindo. Apenas foi suprimida na hipótese de réu citado por edital que não
comparece e nem apresenta defensor técnico. O art. 367 do CPP é claro, ao afirmar que o processo
seguirá sem a presença do acusado que, citado ou intimado pessoalmente para qualquer ato, deixar
de comparecer sem motivo justificado, ou, no caso de mudança de residência, não comunicar o novo
endereço ao juízo.
Por fim, é sabido que o efeito material da revelia – presunção de veracidade dos fatos
narrados na inicial – não tem aplicação no processo penal.
defesa e do contraditório. [...] Em virtude da redação do § 3º do referido dispositivo remeter ao texto do § 2º há também que se indicar o
veto daquele. [...] Cumpre observar, outrossim, que se impõe ainda, por interesse público, o veto à redação pretendida para o art. 366, a fim
de se assegurar vigência ao comando legal atual, qual seja, a suspensão do processo e do prazo prescricional na hipótese do réu citado por
edital que não comparecer e tampouco indicar defensor. Ademais, a nova redação do art. 366 não inovaria substancialmente no
ordenamento jurídico pátrio, pois a proposta de citação por edital, quando inacessível, por motivo de força maior, o lugar em que estiver o
réu, reproduz o procedimento já previsto no Código de Processo Civil e já extensamente aplicado, por analogia, no Processo Penal pelas
cortes nacionais”. (Mensagem n. 421, de 20 de junho de 2008).
315 Enunciado 455 da Súmula de Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: “A decisão que determina a produção antecipada de
provas com base no art. 366 do CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do tempo”.
316EMENTA: PROCESSO PENAL. CRIMES DE FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO E USO DE DOCUMENTO FALSO (ARTS. 297 E 304 DO
CÓDIGO PENAL). PACIENTE NÃO LOCALIZADO NO ENDEREÇO CONSTANTE DOS AUTOS. CITAÇÃO POR EDITAL. RÉU QUE NÃO COMPARECEU
AO RESPECTIVO INTERROGATÓRIO E DEIXOU DE NOMEAR DEFENSOR PARA A CAUSA. SUSPENSÃO DO PROCESSO E DO CURSO DO LAPSO
PRESCRICIONAL. ART. 366 DO CPP. PRISÃO PREVENTIVA DECRETADA. ART. 312 DO CPP. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. ORDEM CONCEDIDA.
1. O art. 366 do Código de Processo Penal estabelece que, "se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado,
ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas
urgentes e, se for o caso, decretar a prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312". 2. Na concreta situação dos autos, o paciente
não foi localizado no endereço constante dos autos. Citado por edital, não compareceu a Juízo nem constituiu advogado para o patrocínio
da causa. Pelo que o magistrado processante decretou a suspensão tanto do processo quanto do respectivo lapso prescricional. Magistrado
que entendeu desnecessária a prisão cautelar. 3. Isso não obstante, o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais decretou a prisão
preventiva do paciente, ao acolher recurso em sentido estrito, manejado pelo Ministério Público. Prisão preventiva que se acha embasada
exclusivamente na citação editalícia do acusado, como fator de risco para a própria aplicação da lei penal e por conveniência da instrução
criminal. O que, segundo reiterada jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, não é o suficiente para atingir a finalidade do art. 312 do
Código de Processo Penal. Precedentes: HC 79.392, da relatoria do ministro Sepúlveda Pertence; HC 86.140, da relatoria do ministro Cezar
Peluso; e HC 86.599, da relatoria do ministro Marco Aurélio. É dizer: a prisão decretada pelo Tribunal mineiro não atende ao dever
jurisdicional de fundamentação real das decisões. Decisão que se embasou exclusivamente na suspensão do processo-crime e respectivo
lapso prescricional. Necessidade de uma concreta demonstração da imperiosidade da segregação processual, a partir de dados empíricos
convincentes. Quadro que não se extrai dos autos. 4. Em matéria de prisão preventiva, a garantia da fundamentação das decisões judiciais
implica a assunção do dever da demonstração de que o aprisionamento satisfaz pelo menos a um dos requisitos do art. 312 do Código de
Processo Penal. Sem o que se dá a inversão da lógica elementar da Constituição, segundo a qual a presunção de não culpabilidade
prevalece até o momento do trânsito em julgado da sentença penal condenatória. 5. Ordem concedida. (HC 100184, Relator(a): Min. AYRES
BRITTO, Primeira Turma, julgado em 10/08/2010, DJe-185 DIVULG 30-09-2010 PUBLIC 01-10-2010 EMENT VOL-02417-02 PP-00323).
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Já para o funcionário público, dispõe o art. 359 que, no dia designado para comparecer em
juízo, como acusado, será notificado assim a ele como à chefia.
A regra citada no parágrafo anterior deveria sofrer uma releitura, conforme o procedimento
atual, pois o réu não é mais citado para comparecer à audiência de qualificação e interrogatório.
Nesse sentido, entendemos que a referida comunicação não seria mais imprescindível, na hipótese
de o funcionário ser citado para a apresentação de defesa escrita, mas apenas quando a sua
presença perante o juízo for necessária, o que fatalmente acarretaria a sua ausência ao trabalho.
No caso de réu preso, o Enunciado 351 da Súmula de Jurisprudência do STF expressa que: “É
nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da federação em que o juiz exerce a sua
jurisdição”.
Entretanto, tratando-se de enunciado aprovado há mais de cinquenta anos (13/12/63), e
considerando-se o incremento das ferramentas de controle e de comunicação, inclusive após a
criação e a efetivação do BNMP317, não faria mais sentido a interpretação do enunciado em sentido
contrário, permitindo-se a conclusão de que seria possível a citação por edital, caso a prisão
ocorresse em outra unidade da federação. Pode-se vislumbrar uma mudança de entendimento da
Suprema Corte no futuro318.
9.7 INTIMAÇÕES
A regulamentação das intimações se encontra essencialmente nos arts. 370 a 372 do CPP, sem
prejuízo da aplicação de outras normas específicas, tais como as contidas nos arts. 391 e 392 do
código319.
Nas intimações dos acusados, das testemunhas e demais pessoas que devam tomar
conhecimento de qualquer ato, deve-se observar o disposto a respeito das citações, no que for
aplicável (art. 370).
Quando a intimação for destinada ao defensor constituído, ao advogado do querelante ou ao
assistente, a regra é a publicação no respectivo diário, veículo de publicação oficial dos atos judiciais,
salvo se não houver tal modalidade de publicação, caso em que será feita diretamente pelo escrivão,
por mandado, ou via postal com comprovante de recebimento, ou por qualquer outro meio idôneo.
A intimação dos membros do Ministério Público da União (art. 18, II, h, da LC 75/93), dos
Estados (art. 41, IV, da Lei 8.625/93), da Defensoria Pública da União (art. 44, I, da LC 80/94), dos
Estados (art. 89, I, da LC 80/94) e do defensor dativo (art. 370, § 4º, do CPP) deverá ser pessoal, em
alguns casos com vista dos autos320.
317O Banco Nacional de Mandados de Prisão – BNMP, criado pela Resolução/CNJ 137/2011, tem justamente a finalidade de auxiliar os juízes
criminais no exercício da jurisdição, ao disponibilizar a consulta e a recepção dos mandados de prisão emitidos pelas autoridades judiciárias
de todo o país.
318Conferir voto do ministro Ricardo Lewandowski no seguinte precedente: “PRISÃO PREVENTIVA - INSUBSISTÊNCIA - CHAMAMENTO
JUDICIAL - ACUSADO PRESO. Incumbe ao Estado aparelhar-se visando ao controle rígido de réus presos, não subsistindo ordem de prisão
preventiva formalizada em virtude de o custodiado não ter atendido chamamento judicial. (HC 97399, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA,
Relator(a) p/ Acórdão: Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 02/02/2010, DJe-050 DIVULG 18-03-2010 PUBLIC 19-03-2010
EMENT VOL-02394-02 PP-00274)”.
319As regras dos arts. 392 e 393 do CPP serão comentadas no item referente à sentença penal.
320O Supremo Tribunal Federal já admitiu a intimação do Ministério Público por mandado, conforme precedente a seguir: “EMENTA:
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIVERSAS FORMAS DE INTIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO: CONSIDERA-SE A QUE
PRIMEIRO OCORREU. INTEMPESTIVIDADE: AGRAVO REGIMENTAL DO QUAL NÃO SE CONHECE. 1. A intimação pessoal do Ministério Público
pode ocorrer por mandado ou pela entrega dos autos devidamente formalizada no setor administrativo do Ministério Público, sendo que,
para efeitos de comprovação da tempestividade do recurso, admite-se, excepcionalmente, a "aposição do ciente". 2. Ocorrendo a intimação
pessoal por diversas formas, há de ser considerada, para a contagem dos prazos recursais, a que ocorrer primeiro. Precedente. 3. No caso, o
Ministério Público foi intimado por mandado (Súmula n. 710 do Supremo Tribunal Federal) e interpôs o agravo fora do quinquídio legal. 4.
Agravo regimental intempestivo. Recurso do qual não se conhece. (AI 707988 AgR, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma,
julgado em 12/08/2008, DJe-177 DIVULG 18-09-2008 PUBLIC 19-09-2008 EMENT VOL-02333-12 PP-02441)”. O Superior Tribunal de Justiça
preconiza majoritariamente a prerrogativa do Ministério Público de ser intimado mediante remessa dos autos, não obstante o recente
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9.9 DESPACHOS
Os despachos não possuem carga decisória importante, pois o juiz, ao praticá-los,
simplesmente determina o prosseguimento do feito, sem que decida qualquer ponto controvertido
relevante posto sob sua apreciação. Por conta disso, não há previsão de recursos contra despachos.
Pode-se apenas utilizar a correição parcial, que visa corrigir erro de procedimento que possa
tumultuar a tramitação do feito.
Por outro lado, as decisões interlocutórias e as sentenças possuem carga decisória mais
proeminente, motivo pelo qual serão analisadas mais detalhadamente.
precedente a seguir, no qual confirmou a validade da intimação por qualquer outro meio, não sendo necessário que o ato de intimação e a
remessa dos autos ocorram concomitantemente: PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO,
ESPECIAL OU DE REVISÃO CRIMINAL. ART. 157, § 3º, CP.INÍCIO DO PRAZO RECURSAL PARA O MINISTÉRIO PÚBLICO. INTIMAÇÃO PESSOAL DO
PARQUET REALIZADA ANTES DA REMESSA DOS AUTOS AO ÓRGÃO MINISTERIAL. INÍCIO DO PRAZO RECURSAL CONTADO A PARTIR DA
PRIMEIRA INTIMAÇÃO. [...] 2. Nesse contexto, a contagem do prazo recursal ao Ministério Público inicia-se com a sua intimação pessoal,
nos termos do art.800, § 2º c/c art. 370, § 4º, ambos do CPP ante a ciência inequívoca da decisão, permitindo isonomia entre acusação e
defesa.3. No âmbito penal, o Ministério Público não possui a prerrogativa do prazo em dobro para recorrer, assegurada somente à
Defensoria Pública.4. Habeas corpus não conhecido, mas concedida a ordem, de ofício, para cassar o acórdão impugnado, restabelecendo a
sentença absolutória em razão da intempestividade do recurso de apelação interposto pelo Ministério Público.(HC 213.297/SP, Rel. Ministro
NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 04/08/2015, DJe 03/09/2015).
321Art. 162. Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos. § 1º Sentença é o ato do juiz que implica
alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei. § 2º Decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo,
resolve questão incidente. § 3º São despachos todos os demais atos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte, a
cujo respeito a lei não estabelece outra forma. § 4º Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, independem de
despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessários.
322 O art. 800 do CPP até apresenta algumas espécies de atos, mas não os define. Nesse sentido, a dificuldade de se classificar os atos
decisórios no processo penal é patente, porque nenhum dos critérios adotados estaria livre de críticas. O sistema recursal no processo
penal, por exemplo, por apresentar excessivo casuísmo, contribui para a dificuldade da sistematização da matéria.
323Por ser irrecorrível, a questão não se submete à preclusão, podendo ser deduzida em apelação ou em ação autônoma de impugnação.
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haveria extinção do processo ou de fase marcante do procedimento, mas apenas a remessa dos
autos ao juízo competente.
Já as interlocutórias mistas são comumente impugnáveis mediante recurso em sentido estrito,
como a decisão que não recebe a denúncia ou queixa (art. 581, I); a que acolhe as exceções, exceto a
de suspeição (art. 581, III); a que pronuncia o réu (art. 581, IV), entre outras.
PROCEDIMENTOS
COMUNS E ESPECIAIS
FINALIDADE. SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS. SISTEMAS.
PROCEDIMENTOS: COMUM E ESPECIAIS; JÚRI; CRIMES DE ABUSO
DE AUTORIDADE; CRIMES
DE RESPONSABILIDADE DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS; CRIMES
CONTRA O MEIO AMBIENTE; ENTORPECENTES; CRIMES CONTRA A
ECONOMIA POPULAR; CRIMES DE IMPRENSA; CRIMES CONTRA O
SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL; CRIMES CONTRA A HONRA;
CRIMES FALIMENTARES; CRIMES DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.OS
JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS NA JUSTIÇA FEDERAL. CRIMES EM
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. APURAÇÃO DE ATOS INFRACIONAIS.
324 Tanto é que o próprio CPP estabelece a regra de exclusão: “Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: [...] II - das decisões
definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no Capítulo anterior”.
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Enquanto instrumento, costuma-se dizer que a principal finalidade do processo é permitir a
aplicação do direito material, no caso, do direito penal. Mas essa aplicação envolve não somente a
condenação do culpado, como também a absolvição do inocente. Não deixa de ser, portanto, uma
garantia passiva do indivíduo em face do Estado, porquanto imprescindível para a escorreita
aplicação da lei penal. Para tanto, é essencial que o processo reflita os valores eleitos pela
Constituição Federal como fundamentais para o império do Estado Democrático de Direito. Na lição
de Vicente Greco, “o processo constitucionalmente estruturado, portanto, atua como indispensável
garantia passiva contra o arbítrio do que eventualmente representa o Estado, cabendo ao Poder
Judiciário a efetivação dessa garantia”325.
Segundo a doutrina, existem basicamente três sistemas processuais, em se tratando de
processo penal: a) inquisitório; b) acusatório; c) misto.
A principal característica que diferencia os modelos inquisitório e acusatório é a separação ou
não das funções de acusação e julgamento. No acusatório, tais tarefas são conferidas a órgãos
efetivamente distintos, enquanto que no inquisitório há concentração de funções. O sistema misto
tem traços dos dois modelos. A questão central gira basicamente em torno da imparcialidade do juiz.
Quanto maior a sua iniciativa, inclusive probatória, maior seria o seu comprometimento. Ao
contrário, quanto mais distante, menor a vinculação com o resultado326.
O nosso Código de Processo Penal adotava, sem dúvida, o sistema inquisitório, tanto é que
ainda prevê, pelo menos formalmente, o chamado procedimento judicialiforme, no qual a ação penal
poderia ser deflagrada mediante portaria da autoridade judiciária (art. 26).
Com o advento da Constituição Federal de 1988, a mudança no plano normativo veio de cima
para baixo, porque a Carta da República foi muito clara e enfática ao estabelecer que a titularidade
privativa da ação penal pública estaria, a partir de então, sob a responsabilidade de um órgão
autônomo e independente, não integrante das estruturas dos demais poderes estatais: o Ministério
Público. Resta, entretanto, a modificação da legislação infraconstitucional, o que vem
paulatinamente ocorrendo, muito embora haja um caminho importante a percorrer327.
Não há consenso quanto ao modelo adotado pelo Brasil, havendo corrente sustentando a
adoção do sistema misto, em razão de a fase pré-processual ser essencialmente inquisitorial, como
também entendimento no sentido da adoção do sistema acusatório, justamente porque a fase
investigativa é prévia à própria instauração do processo328.
10.2 PROCEDIMENTOS
Os procedimentos sofreram grandes modificações, após a reforma efetivada na década
passada. As alterações foram implementadas para que se pudesse potencializar o sistema acusatório,
aproximando-se a legislação infraconstitucional das diretrizes impostas pela Constituição Federal de
1988.
A Lei 11.689/08 modificou todo o Capítulo II, que trata do procedimento relativo aos processos
da competência do Tribunal do Júri (arts. 406 a 497).
325Greco Filho, Vicente. Manual de processo penal. 10 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 62.
326O modelo acusatório guarda estreita sintonia com os regimes democráticos, não se podendo falar o mesmo do modelo inquisitório, que
mantém maior proximidade dos regimes antidemocráticos.
327 O projeto de um novo Código de Processo Penal, que se encontra em tramitação no Congresso Nacional, se justificaria pelo fato de o
atual CPP estar defasado, sendo impossível o seu aproveitamento, em razão de estar estruturalmente vinculado ao modelo anterior. Apesar
disso, sofrera importantes alterações ao longo dos seus mais de setenta anos de vigência.
328 Na opinião deste autor, a discussão a respeito de qual seria o sistema adotado pelo ordenamento jurídico pátrio, ou seja, se acusatório
puro ou misto, ou ainda se inquisitivo garantista, com o devido respeito aos que entendem de forma diferenciada, pode ser considerada
uma controvérsia muito mais terminológica, sem profundidade ou substância a justificá-la. Importa, sobretudo, os parâmetros definidos
pela Constituição Federal para a existência de um processo justo, de partes, em que ambas atuem efetiva e equilibradamente para a
construção do resultado final, que é a decisão judicial.
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Posteriormente, com o advento da Lei 11.719/08, houve alterações no procedimento comum,
que também cuida do rito ordinário (arts. 396 a 405 do CPP) e do rito sumário (arts. 531 a 538 do
CPP). O rito sumaríssimo permanece regulamentado pela Lei 9.099/95, que versa sobre as infrações
de menor potencial ofensivo.
A adoção de determinado rito ou procedimento não mais observa a modalidade da pena
privativa de liberdade cominada (reclusão ou detenção), ou, ainda, a natureza da infração penal
(crime ou contravenção). De acordo com o art. 394 do CPP, adotar-se-á o rito ordinário, quando tiver
por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual ou superior a quatro anos de pena privativa
de liberdade, enquanto que o rito sumário será o efetivamente aplicado, quando a sanção for
inferior a quatro anos, desde que, obviamente, não seja o caso de aplicação do rito sumaríssimo,
inclusive nas hipóteses de declínio de competência (art. 538 do CPP).
Em resumo, o procedimento será comum ou especial. O primeiro subdivide-se em rito
ordinário, sumário e sumaríssimo, de acordo com a pena máxima cominada. O procedimento
especial engloba todos os demais, desde o previsto para os crimes dolosos contra a vida, da
competência do Tribunal do Júri, passando pelos crimes contra a honra, contra a propriedade
imaterial, os cometidos por funcionários públicos, entre outros previstos na legislação especial.
O § 2º do art. 394 diz o óbvio: que o procedimento comum será aplicado sempre que a lei não
dispuser de modo diverso, caso em que se observará o critério da especialidade. Nessa mesma linha,
tem-se a previsão do § 3°, relativa aos crimes da competência do Tribunal do Júri.
A norma contida no § 4º traz uma novidade, que é a adoção da prévia resposta escrita para
todos os procedimentos penais de primeiro grau, mesmo que não previstos no Código de Processo
Penal. Faz-se uma ressalva acerca da desnecessidade da sua aplicação, quando o procedimento
especial já possuir fase própria nesse mesmo sentido, a fim de se evitar repetições inúteis. As
disposições do rito ordinário são aplicáveis subsidiariamente, conforme dispõe o § 5º do art. 394 do
CPP.
Ainda, importante observar que os processos que apurem a prática de crime hediondo terão
prioridade de tramitação em todas as instâncias (art. 394-A do CPP).
329 Há uma exceção, nos crimes de lavagem de dinheiro, por força do art. 2º, § 2º da Lei 9.613/98, com a nova redação dada pela Lei
12.683/2012.
330 PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 396-A DO CPP. LEI nº 11.719/2008. DENÚNCIA. RECEBIMENTO. MOMENTO PROCESSUAL.
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Em relação à questão envolvendo o direito intertemporal, não se mostra necessária nova
citação do réu para oferecimento da resposta à acusação, prevista no art. 396 do Código de Processo
Penal, caso tal fase já tenha sido superada na vigência da sistemática anterior, em observância à
regra do tempus regit actum332.
Na defesa escrita, o acusado arguirá preliminares e alegará tudo o que interesse à defesa, além
de oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas,
qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário (art. 396-A do CPP). Nota-se uma
nítida diferença em relação à antiga defesa prévia. Essa substanciosa alteração justificou, inclusive, a
mudança de postura da jurisprudência333. Portanto, trata-se de defesa necessária, não mais optativa,
sujeita, inclusive, a preclusões em determinados casos.
As exceções continuam a ser processadas na forma própria (art. 396, § 1º, do CPP), mas nada
impede que as referidas questões sejam ventiladas na própria peça defensiva, pois, o que importa,
na realidade, é a tramitação em separado.
O Código de Processo Penal também determina que, não apresentada a resposta no prazo
legal, ou se o acusado, citado, não constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la,
concedendo-lhe vista dos autos por dez dias (art. 396, § 2º, do CPP). Essa mudança acompanha a
tendência no sentido da imprescindibilidade da defesa escrita.
O CPP não prevê, no procedimento ordinário, a oitiva do Ministério Público após a
apresentação de resposta à acusação. Não obstante, STF e STJ entendem que é possível a aplicação
análogica do artigo 409, que determina tal oitiva no procedimento do júri, podendo o juiz abrir vista
dos autos ao MP após a resposta à acusação.
Oferecida a resposta escrita, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:
a) a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; b) a existência manifesta de causa
excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; c) que o fato narrado evidentemente
não constitui crime; ou d) quando extinta a punibilidade do agente. Apesar da sequência legal, nada
ART. 396 DO CPP. RESPOSTA DO ACUSADO. PRELIMINARES. MOTIVAÇÃO. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. I - A par da divergência
doutrinária instaurada, na linha do entendimento majoritário (Andrey Borges de Mendonça; Leandro Galluzzi dos Santos; Walter Nunes da
Silva Junior; Luiz Flávio Gomes; Rogério Sanches Cunha e Ronaldo Batista Pinto), é de se entender que o recebimento da denúncia se opera
na fase do art. 396 do Código de Processo Penal. II - Apresentada resposta pelo réu nos termos do art. 396-A do mesmo diploma legal, não
verificando o julgador ser o caso de absolvição sumária, dará prosseguimento ao feito, designando data para a audiência a ser realizada. III -
A fundamentação referente à rejeição das teses defensivas, nesta fase, deve limitar-se à demonstração da admissibilidade da demanda
instaurada, sob pena, inclusive, de indevido prejulgamento no caso de ser admitido o prosseguimento do processo-crime. IV - No caso
concreto a decisão combatida está fundamentada, ainda que de forma sucinta. Ordem denegada. (HC 138089/SC, Rel. Ministro FELIX
FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 02/03/2010, DJe 22/03/2010).
331A falta de técnica ou de cuidado permitiu o surgimento da controvérsia, em razão do disposto no art. 399 do CPP, que igualmente fala
em recebimento da denúncia ou queixa. Bastaria que a lei determinasse que o recebimento da acusação, como marco interruptivo, pudesse
retroagir à data da propositura da demanda, tal como ocorre, em situação semelhante, no processo civil (art. 219, §1º, do CPC).
332HABEAS CORPUS. LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE. RESPOSTA ESCRITA À ACUSAÇÃO. DENÚNCIA RECEBIDA ANTES DA ENTRADA
EM VIGOR DA LEI Nº 11.719/08, QUE ALTEROU O ART. 396 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. PRINCÍPIO TEMPUS REGIT ACTUM. PREJUÍZO
NÃO DEMONSTRADO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE. ORDEM DENEGADA. 1. As normas exclusivamente processuais se
submetem ao princípio tempus regit actum, devendo a lei processual penal ser aplicada a partir de sua vigência, conforme preconizado no
art. 2º do Código de Processo Penal. 2. Já tendo o réu sido citado, interrogado e oferecido defesa prévia, antes da vigência da Lei n.º
11.719/08, que alterou o procedimento penal ordinário, não se há de falar em nova citação do réu para oferecimento da resposta à
acusação prevista no art. 396 do Código de Processo Penal. 3. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça. 4. Ordem denegada. (HC
168.052/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 10/04/2012, DJe 16/04/2012).
333 HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. TESE DE NULIDADE. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA SEM FUNDAMENTAÇÃO. VALIDADE. ATO
ANTERIOR À LEI N.º 11.719/2008. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO DEMONSTRADO. ORDEM DE HABEAS CORPUS DENEGADA. 1. Nos
termos da jurisprudência desta Corte Superior, oferecida a denúncia antes da edição da Lei n.º 11.719/2008, é perfeitamente admissível e
válido o recebimento da denúncia sem fundamentação. O ato do juízo processante que designa data para o interrogatório do réu e/ou
determina a oitiva de testemunhas equivale, tacitamente, ao recebimento da exordial acusatória. Precedentes. 2. O "ato judicial que
formaliza o recebimento da denúncia oferecida pelo Ministério Público não se qualifica e nem se equipara, para os fins a que se refere o art.
93, IX, da Constituição de 1988, a ato de caráter decisório. O juízo positivo de admissibilidade da acusação penal não reclama, em
consequência, qualquer fundamentação." (STF - HC 70.763/DF, 1.ª Turma, Rel Min. CELSO DE MELLO, DJ 23/09/1994). 3. Com o advento da
Lei n.º 11.719/2008, que instituiu a defesa escrita obrigatória no procedimento comum, passou-se a exigir fundamentação sucinta pelo
magistrado, após o mencionado ato processual defensivo, o que não se confunde com a hipótese dos autos. 4. Ordem de habeas corpus
denegada. (HC 166.337/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 12/06/2012, DJe 26/06/2012).
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impede que o juiz, antes mesmo da resposta preliminar, absolva sumariamente o acusado ou
querelado, caso constate uma das hipóteses acima elencadas, que reproduzem o disposto no art.
397 do CPP.
A absolvição sumária serve como óbice ao processamento de lides temerárias, abreviando-se o
constrangimento decorrente de tais situações. Entretanto, tal ferramenta somente poderá ser
utilizada nas situações em que não houver dúvidas acerca da ocorrência de uma das hipóteses
elencadas na lei. Permite-se a aplicação do in dubio pro societate.
Não sendo o caso de absolvição sumária, tampouco de rejeição da denúncia, o juiz designará,
no prazo máximo de sessenta dias, dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, ordenando
a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do
assistente. Na hipótese de réu preso, sua presença será requisitada pelo juiz.
Na referida audiência, em razão do princípio da concentração dos atos processuais, as provas
serão produzidas numa única oportunidade, devendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes,
impertinentes ou protelatórias (art. 400, § 1º, do CPP). Logo, a sequência dos atos se dará da
seguinte forma: a) tomada de declarações do ofendido; b) inquirição das testemunhas arroladas pela
acusação; c) inquirição das testemunhas arroladas pela defesa; d) esclarecimentos dos peritos, desde
que haja prévio requerimento da parte; e) acareações; f) reconhecimento de pessoas e coisas; e f)
interrogatório do acusado.
A ordem de inquirição das testemunhas, em primeiro lugar as apresentadas pela acusação,
deve-se ao princípio do contraditório. Apesar de haver ressalva expressa ao disposto no art. 222 do
CPP, que trata da expedição de carta precatória, recomenda-se cautela para que, na medida do
possível, seja observada a aludida sequência. Tal problema poderá ser evitado, se implementada a
oitiva da testemunha por videoconferência no momento da audiência de instrução e julgamento (art.
222, § 3º, do CPP).
O limite legal é de oito testemunhas arroladas por cada parte – acusação e defesa (art. 401 do
CPP). Segundo o § 1°, nesse número não se compreendem as que não prestem compromisso e as
referidas. No parágrafo seguinte, permite-se que a parte desista da inquirição de qualquer das
testemunhas arroladas, ressalvado o disposto no art. 209. Há entendimento no sentido de que a
desistência independe da concordância da parte contrária334.
Em relação ao interrogatório do acusado, trata-se de ato postergado pelo código para o final
da instrução, ressaltando-se a sua proeminente natureza defensiva. Nesse sentido, a sua presença é
importante.
O Código de Processo Penal prevê apenas a realização do interrogatório de réus presos através
de videoconferência, ainda assim em determinadas hipóteses (art. 185 do CPP). Contudo, para o
acusado que responde ao processo em liberdade, se assim o requerer, não haveria maiores
problemas para a realização do ato à distância, já que ele mesmo poderia solicitar o não
comparecimento à audiência. Não haveria, pois, que se falar em nulidade.
334CRIMINAL. HC. HOMICÍDIO QUALIFICADO. ESTELIONATO. OCULTAÇÃO DE CADÁVER. DOCUMENTO FALSO. QUADRILHA. PREJUÍZO À
DEFESA PELA IMPOSSIBILIDADE DE NOMEAÇÃO DE DEFENSOR PARA ACOMPANHAR OITIVA DE TESTEMUNHAS DE ACUSAÇÃO. CRIME DE
DOCUMENTO FALSO QUE DEVERIA SER ABSORVIDO PELO DE ESTELIONATO. INÉPCIA DA DENÚNCIA. OFENSA AO CONTRADITÓRIO.
SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. NÃO-CONHECIMENTO. NULIDADES. CITAÇÃO POR EDITAL. PACIENTE PRESO E CITADO PESSOALMENTE.
DISPENSA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. FACULDADE DA PARTE. POSSIBILIDADE DE ARROLAMENTO NA CONTRARIEDADE
AO LIBELO. FALTA DE EXAME DE CORPO DE DELITO NA VÍTIMA. TROCA DE DADOS PESSOAIS. INEXISTÊNCIA DE LAUDO COMPROBATÓRIO DE
DOCUMENTO FALSO E DA PRÁTICA DE CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO. IRRELEVÂNCIA. OUTRAS PROVAS QUE EVIDENCIAM A PRÁTICA
DELITUOSA. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO DA SENTENÇA DE PRONÚNCIA. MERO JUÍZO DE SUSPEITA. LEGALIDADE DO DECISUM.
ORDEM PARCIALMENTE CONHECIDA E DENEGADA. [...] A desistência da oitiva das testemunhas anteriormente arroladas pelo Ministério
Público não depende da concordância do réu, pois constitui faculdade da parte. Ausência de constrangimento ilegal na dispensa de
testemunhas do Parquet, pois a defesa poderá arrolá-las quando do oferecimento da contrariedade ao libelo. [...] (HC 24.480/MT, Rel.
Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 25/03/2003, DJ 28/04/2003, p. 220).
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Concluída a instrução, ao final da audiência, o Ministério Público, o querelante e o assistente e,
a seguir, o acusado poderão requerer diligências cuja necessidade se origine de circunstâncias ou
fatos apurados na instrução (art. 402 do CPP). O requerimento de diligências somente será acolhido
se se verificar, por exemplo, que a necessidade surgira durante a realização da instrução, devendo o
juiz indeferir as diligências protelatórias, irrelevantes e impertinentes, principalmente se pudesse ter
sido providenciada anteriormente pela parte.
Em sendo deferida a diligência, a prática tem demonstrado que a audiência acaba sendo
finalizada, atraindo-se a solução prevista no art. 404 do CPP, salvo se a diligência puder ser
imediatamente cumprida.
Não havendo requerimento de diligências, ou em caso de indeferimento do pedido, serão
oferecidas alegações finais orais por vinte minutos, respectivamente, pela acusação e pela defesa,
prorrogáveis por mais dez minutos, proferindo o juiz, a seguir, a sentença. Conforme dispõe o § 1°,
havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será individual. O
assistente do Ministério Público disporá do prazo de dez minutos, após a manifestação ministerial,
prorrogando-se automaticamente o tempo da defesa pelo mesmo período, a fim de se preservar a
paridade de armas (art. 403, § 2º, do CPP).
Considerando-se a complexidade do caso ou o número de acusados, o juiz poderá conceder às
partes o prazo sucessivo de cinco dias para a apresentação de alegações finais em forma de
memoriais, caso em que disporá do prazo de dez dias para proferir a sentença.
Todos os atos e fatos ocorridos durante a audiência devem ser devidamente documentados,
lavrando-se o respectivo termo (art. 405 do CPP).
A novidade fica por conta da possibilidade do registro dos depoimentos do investigado,
indiciado, ofendido e testemunhas pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia,
digital ou técnica similar, inclusive audiovisual (art. 405, § 1º, do CPP). Com isso, obtém-se maior
fidelidade das informações, valendo ressaltar que, no caso de registro por meio audiovisual, não há
necessidade de transcrição, competindo ao juízo apenas o fornecimento às partes de cópia do
registro original (§ 2º), conforme jurisprudência335. A desnecessidade, do ponto de vista disciplinar,
também pode ser oposta pelo juiz ao órgão recursal336.
335RECURSO EM HABEAS CORPUS. AÇÃO PENAL INSTAURADA PARA APURAÇÃO DA PRÁTICA DO CRIME DE TRÁFICO DE ENTORPECENTES E
ASSOCIAÇÃO AO TRÁFICO. PEDIDO DE DEGRAVAÇÃO DA PROVA ORAL COLHIDA POR MEIO AUDIOVISUAL. ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO DE
DEFESA. INEXISTÊNCIA. RECURSO DESPROVIDO. I - O artigo 405 do Código de Processo Penal afasta expressamente a exigência de
transcrição do registro da audiência por meio audiovisual. II - O pedido de degravação das audiências é incompatível com o objetivo da
norma, que é viabilizar mais agilidade e fidelidade na colheita da prova, sem ferir direitos e garantias individuais. Precedentes. III - Recurso
desprovido. (RHC 30.611/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 18/08/2011, DJe 31/08/2011).
336PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS. DEPOIMENTOS COLHIDOS EM AUDIÊNCIAS CRIMINAIS
REGISTRADAS POR MEIO AUDIOVISUAL. DETERMINAÇÃO DE DEGRAVAÇÃO À JUIZ DE PRIMEIRO GRAU EM PROCESSO ORIGINÁRIO DO
TRIBUNAL. ILEGALIDADE. ART. 405 DO CPP. RESOLUÇÃO Nº 105 CNJ. 1. Caracteriza ofensa à independência funcional do juiz de primeiro
grau a determinação, por magistrado de segundo grau, da transcrição de depoimentos tomados pelo sistema audiovisual, seja em
processos em grau de recurso, seja em processos de competência originária do Tribunal. 2. A transcrição da gravação da audiência configura
faculdade, e não dever do magistrado. Se o desembargador defere o pedido de transcrição requerido pelo MP, deve disponibilizar sua
própria equipe técnica para o desempenho da tarefa, e não obrigar o magistrado de 1º grau a fazê-lo. Pedido que se conhece e julga
procedente. (CNJ - PP - Pedido de Providências - Conselheiro - 0001602-36.2012.2.00.0000 - Rel. NEY JOSÉ DE FREITAS - 149ª Sessão - j.
19/06/2012).
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• O prazo máximo para a realização da audiência de instrução em
julgamento foi reduzido para 30 (trinta) dias.
• Não se aplica o disposto nos arts. 402 a 404 do CPP, havendo efetiva
concentração de todos os atos em audiência.
• Houve a redução do número máximo de testemunhas a serem
arroladas pelas partes para 5 (cinco).
As regras do art. 534 do CPP assemelham-se às contidas no art. 403, à exceção da contida no §
3° deste último, que prevê a apresentação das alegações finais em forma de memoriais.
De qualquer forma, caso o juiz entenda excepcionalmente pela imprescindibilidade do
fracionamento das fases instrutória e decisória, poderá aplicar subsidiariamente o rito ordinário,
diante do permissivo contido no art. 394, § 5º, do CPP. Não haveria qualquer nulidade, até porque
teria sido adotado rito mais extenso do que o legalmente previsto, afastando-se eventual
cerceamento de defesa.
O princípio da concentração está refletido nos arts. 535 e 536 do CPP, no sentido de que
nenhum ato será adiado, salvo quando a prova faltante for imprescindível, caso em que o juiz
determinará a condução coercitiva de quem deva comparecer, além de que, em relação à
testemunha conduzida, esta será inquirida, independentemente da suspensão da audiência,
observada em qualquer caso a ordem estabelecida no art. 531 do CPP.
O art. 538 do CPP determina a aplicação do rito sumário quando, nas infrações penais de
menor potencial ofensivo, houver declínio de competência do juizado especial criminal em favor do
juízo comum, a exemplo das hipóteses previstas no art. 66, parágrafo único, e art. 77, § 2º, ambos da
Lei 9.099/95.
337“Nesse ponto, a Lei n° 11.719/08 comete uma imprecisão. Trata o rito sumaríssimo, aplicável apenas às infrações de menor potencial
ofensivo, como se fosse procedimento comum. É dizer: pela nova legislação, o procedimento será comum ou especial, sendo que o
primeiro, o comum, se subdividiria em ordinário, sumário e sumaríssimo, enquanto o segundo, o especial, seria o do Tribunal do Júri (arts.
406 a 497, CPP), bem como aqueles previstos, ou no próprio Código de Processo Penal ou em leis especiais (art. 394, § 2º). [...] Então, a
menos que, no futuro, os Juizados especiais Criminais sejam extintos, o rito sumaríssimo seguirá sendo reservado apenas àquela espécie de
jurisdição, com o que parece equivocado dar tratamento conceitual unitário a procedimentos tão distintos, sendo que um deles (o
sumaríssimo) mereceu até a instituição de um Juizado específico”. (OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 16. ed. atual. São
Paulo: Atlas, 2012,p. 692).
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Nas ações penais de iniciativa privada e nas ações penais públicas sujeitas à representação do
ofendido, a composição civil dos danos implicará renúncia ao direito de queixa e de representação. A
composição deverá ser conduzida pelo juiz ou por conciliadores sob sua orientação e ser a mais
ampla possível, envolvendo todo o dano moral e material. Não sendo realizada a composição civil,
abre-se a oportunidade para que o ofendido ofereça representação.
Quanto à suspensão condicional do processo, a lei a admite em relação aos crimes, previstos
ou não na lei, em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano338, devendo o
Ministério Público propor a suspensão por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo
processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que
autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).
10.3.3.2 PROCEDIMENTO
O rito sumaríssimo está regulamentado pela Lei 9.099/95, e possui uma fase preliminar, nos
arts. 69 a 76, que compreende o momento em que se tenta a composição civil dos danos, quando
cabível, ou a transação penal, no caso de frustração da primeira medida.
Para tanto, a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao juizado, com o suposto autor do fato e a vítima,
providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários. Nessa situação, não se imporá
prisão em flagrante ao autor do fato, nem se exigirá fiança, inclusive quando for o caso de assinatura
de termo de compromisso de comparecimento ao JECr339.
Apesar de a lei buscar a realização imediata da audiência preliminar, caso isso não seja
possível, deve-se agendar data próxima.
Na audiência preliminar, presente o Ministério Público, o suposto autor do fato e a vítima e, se
possível, o responsável civil, acompanhados por seus advogados ou defensores públicos, se for o
338Súmula nº 243 do STJ: “o benefício da suspensão condicional do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em
concurso material, formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pela incidência da majorante, seja no somatório,
ultrapassar o limite de um ano”.
339A hipótese da violência doméstica foge da competência da Justiça Federal.
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caso, o juiz esclarecerá sobre a possibilidade da composição dos danos e da aceitação da proposta
de transação penal.
Em caso de composição dos danos civis, esta será reduzida a escrito e homologada pelo juiz
mediante sentença irrecorrível, valendo como título executivo judicial (art. 74 da Lei 9.099/95). A
novidade é que, tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública
condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou
representação (parágrafo único).
Frustrada a tentativa de composição dos danos civis, o ofendido poderá oferecer a devida
representação, caso ainda não a tenha feito, devendo observar-se, em qualquer caso, o prazo
decadencial.
Em seguida, tratando-se de ação penal pública, não sendo caso de arquivamento, o Ministério
Público poderá propor a transação penal, que consiste na aplicação imediata de pena restritiva de
direitos ou multa, a ser especificada na proposta (art. 76).
Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação do juiz,
que, acolhendo-a, aplicará a pena restritiva de direitos ou multa. Neste último caso (multa), o juiz
poderá reduzi-la até a metade (art. 76, § 1º, da Lei 9.099/95).
Apesar de a lei falar expressamente em pena, não se trata de sanção penal propriamente dita,
na medida em que a aceitação da proposta pelo suposto autor do fato não importará em
reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco
anos. Também não constará de certidão de antecedentes criminais e não terá efeitos civis, cabendo
aos interessados propor a demanda cabível no juízo competente. A maior prova disso é que o
descumprimento da transação não poderá ocasionar a imposição de pena privativa de liberdade341,
cabendo tão somente a restauração da persecução penal342.
De acordo com o § 2°, não se admitirá a proposta se ficar comprovado: a) ter sido o suposto
autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença
definitiva; b) ter sido o agente beneficiado anteriormente pela transação, no prazo de cinco anos; ou
c) não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os
motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.
O recurso contra a decisão que aprecia a transação penal é a apelação (art. 82 da Lei
9.099/95).
Não sendo o caso de transação penal, passa-se à segunda fase do procedimento, que cuida do
contencioso propriamente dito.
Segundo dispõe o art. 77 da Lei 9.099/95, quando não for possível a transação penal, o
Ministério Público oferecerá, de imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de diligências
imprescindíveis. Para tanto, dispensa-se o inquérito policial, sendo suficiente o termo de ocorrência,
da mesma forma ocorrendo com o exame de corpo de delito, que será dispensável quando a
materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente.
340É possível a utilização de conciliadores para esse fim (art. 73 da Lei 9.099/95). O assunto será mais bem examinado em item próprio.
341 EMENTA: CRIMINAL. CONDENAÇÃO À PENA RESTRITIVA DE DIREITO COMO RESULTADO DA TRANSAÇÃO PREVISTA NO ART. 76 DA LEI Nº
9.099/95. CONVERSÃO EM PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE. DESCABIMENTO. A conversão da pena restritiva de direito (art. 43 do Código
Penal) em privativa de liberdade, sem o devido processo legal e sem defesa, caracteriza situação não permitida em nosso ordenamento
constitucional, que assegura a qualquer cidadão a defesa em juízo, ou de não ser privado da vida, liberdade ou propriedade, sem a garantia
da tramitação de um processo, segundo a forma estabelecida em lei. Recurso não conhecido. (RE 268319, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO,
Primeira Turma, julgado em 13/06/2000, DJ 27-10-2000 PP-00087 EMENT VOL-02010-04 PP-00775).
342Enunciado 35 da Súmula Vinculante do STF: “A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa
julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da
persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito policial”.
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Na hipótese de a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a formulação da
denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao juiz o encaminhamento das peças existentes ao
juízo comum, na forma do parágrafo único do art. 66 da Lei 9.099/95. O juiz procederá da mesma
forma quando se tratar de ação penal privada. No juízo comum, como visto anteriormente, adotar-
se-á o rito sumário.
Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a termo, na própria audiência preliminar,
entregando-se cópia ao acusado, que com ela ficará citado e imediatamente cientificado da
designação de dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, da qual também tomarão
ciência todos os presentes, entre eles o Ministério Público, o ofendido, o responsável civil e
respectivos advogados. Caso o acusado não esteja presente, será citado por mandado e, na mesma
diligência, cientificado da data da audiência de instrução e julgamento.
Em regra, as testemunhas deverão ser apresentadas independentemente de intimação,
havendo a possibilidade, porém, de se apresentar requerimento nesse sentido, no mínimo cinco dias
antes da realização da audiência, caso em que serão intimadas na forma do art. 67 da Lei 9.099/95,
ou seja, por carta, mandado, se necessário, ou qualquer outro meio idôneo. Comunicação
semelhante será feita ao ofendido e ao responsável civil, se for o caso, quando não se fizerem
presentes à audiência preliminar.
Na audiência de instrução e julgamento, poderá ser renovada a tentativa de aplicação das
medidas despenalizadoras já vistas anteriormente, porque esse é o objetivo maior da existência dos
juizados: a aplicação de um novo modelo de justiça penal consensual.
Frustrada a nova tentativa, será dada a palavra ao defensor para responder à acusação, após o
que o juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa.
Em sendo recebida a denúncia ou queixa, a instrução será desenvolvida na seguinte ordem: a)
oitiva da vítima; b) inquirição das testemunhas de acusação; c) inquirição das testemunhas de
defesa; e d) interrogatório do acusado. Portanto, muito antes da reforma dos procedimentos do
Código de Processo Penal, a Lei 9.099/95 já enfatizava o interrogatório como meio precípuo de
defesa do réu.
De acordo com o princípio da concentração dos atos processuais, todas as provas serão
produzidas na audiência de instrução e julgamento, inclusive com possibilidade de condução
coercitiva, evitando-se, quando possível, o adiamento do ato, havendo ainda a possibilidade de o juiz
limitar ou excluir as provas que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias.
Na sequência, passa-se imediatamente aos debates orais e à prolação da sentença. Este ato
judicial prescinde de maiores formalidades, dispensando-se a feitura de relatório. O importante é
que o juiz mencione concretamente os elementos de convicção que o levaram a decidir naquele
sentido.
De todo o ocorrido na audiência será lavrado o respectivo termo, que conterá breve resumo
dos fatos relevantes ocorridos, além da própria sentença.
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ponto de se fulminar os direitos do acusado, nem tão extenso, porque comprometeria a eficiência da
atividade jurisdicional, igualmente alçada a princípio constitucional expresso (art. 5º, LXXVIII).
Comparada ao procedimento comum, a especialização pode-se dar parcialmente, quando são
normalmente aproveitadas etapas do rito ordinário, conjuntamente com normas específicas que
compõem o procedimento especial; ou em sua totalidade, quando não há qualquer identidade entre
os ritos.
Estabelecidas tais premissas, far-se-á o estudo individualizado dos procedimentos previstos no
Código de Processo Penal e na legislação especial.
343O prazo será contado a partir do efetivo cumprimento do mandado ou do comparecimento, em juízo, do acusado ou de defensor
constituído, no caso de citação inválida ou por edital.
344O novo Código de Processo Civil modifica o prazo de cinco dias para quinze: “Art. 465. O juiz nomeará perito especializado no objeto da
perícia e fixará de imediato o prazo para a entrega do laudo. § 1o Incumbe às partes, dentro de 15 (quinze) dias contados da intimação do
despacho de nomeação do perito: I - arguir o impedimento ou a suspeição do perito, se for o caso; II - indicar assistente técnico; III -
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Concluída a instrução preliminar, serão oferecidas alegações finais orais por vinte minutos,
respectivamente, pela acusação e pela defesa, prorrogáveis por mais dez minutos (art. 411, § 4º).
Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será individual (art. 411, §
5º). O assistente do Ministério Público disporá do prazo de dez minutos, após a manifestação
ministerial, prorrogando-se automaticamente o tempo da defesa pelo mesmo período (art. 411, §
6º).
Encerrados os debates, o juiz proferirá a sua decisão, ou o fará em dez dias, ordenando que os
autos para isso lhe sejam conclusos (art. 411, § 9º).
Encerrada a instrução, inclusive após eventual mutatio libelli (art. 411, § 3º), o magistrado
deverá proferir decisão, adotando-se uma das alternativas previstas na Seção II:
a) Pronúncia (art. 413) – dá-se a pronúncia quando o juiz se convencer da materialidade do
fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação do acusado.
Nessa fase, deve-se ter cautela na fundamentação, porque a atuação do juiz sumariante
não poderá induzir o futuro Conselho de Sentença. Evita-se, portanto, excesso de
linguagem345, pré-julgamentos346, entre outros vícios. A própria lei determina que a
fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação da materialidade do fato e da
existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, devendo o juiz declarar o
dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias
qualificadoras e as causas de aumento de pena (§ 1º). Em razão de não haver mais libelo
e a respectiva contrariedade, a decisão de pronúncia servirá como limite para os debates
em plenário.Da decisão de pronúncia cabe recurso em sentido estrito, conforme previsão
expressa do artigo 581, IV, CPP.
b) Impronúncia (art. 414) – quando o juiz sumariante não se convencer da materialidade do
fato ou da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, deverá
impronunciar o acusado. Neste caso, verificou-se não haver lastro probatório suficiente
para submeter o caso a julgamento perante o Tribunal do Júri. Não havendo coisa
julgada material, enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade, poderá ser formulada
nova denúncia ou queixa se houver prova nova. Na hipótese de a instância superior
impronunciar o acusado, em grau de recurso contra a decisão de pronúncia, ocorre a
chamada despronúncia.
apresentar quesitos.”
345HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO SIMPLES. TRIBUNAL DO JÚRI. PRONÚNCIA. EXCESSO DE LINGUAGEM. JUÍZO DE VALOR ACERCA DO
CONJUNTO PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. EXCESSO DE LINGUAGEM. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM CONCEDIDA. 1.
Embora uma das alterações significantes no procedimento do julgamento dos crimes dolosos contra a vida, com o advento da Lei n.
11.689/2008, tenha sido a proibição das partes se referirem em Plenário à decisão de pronúncia (art. 478, I, do CPP), é certo que os jurados,
caso solicitem, terão acesso aos autos e, consequentemente, à provisional objurgada (art. 480, § 3º, do CPP), razão pela qual vislumbra-se o
risco de influência no ânimo do Tribunal Popular. 2. Para a pronúncia, que encerra simples juízo de admissibilidade da acusação, exige o
ordenamento jurídico somente o exame da ocorrência do crime e de indícios de sua autoria, não se demandando aqueles requisitos de
certeza necessários à prolação de um édito condenatório, sendo que as dúvidas, nessa fase processual, resolvem-se contra o réu, ou pela
sociedade. É o mandamento do antigo art. 408 e atual art. 413 do Código Processual Penal. 3. Na hipótese, o juízo singular teceu
manifestações diretas acerca do mérito da acusação – que deveriam ser submetidas a julgamento pelo Tribunal do Júri –, ao expressar
claramente que seria impossível o acolhimento das teses defensivas de legítima defesa e de inexigibilidade da conduta diversa,
considerações estas capazes de exercer influência no ânimo dos integrantes do Conselho de Sentença, principalmente em razão da falta de
cuidado no emprego dos termos, sendo constatado, assim, o alegado excesso de linguagem na decisão de pronúncia, caracterizando o
aventado constrangimento ilegal. 4. Ordem concedida para anular a decisão de pronúncia, devendo outra ser proferida com observância
dos limites legais. (HC 142803/SC, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 17/06/2010, DJe 09/08/2010).
346HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. TRIBUNAL DO JÚRI. 1. PEDIDO DE REALIZAÇÃO DE DILIGÊNCIAS. ENFRENTAMENTO DA
MATÉRIA NO HC Nº 75.792/GO. IMPOSSIBILIDADE DE REAPRECIAÇÃO DO PLEITO. 2. OITIVA DO ACUSADO EM SEDE POLICIAL. AUSÊNCIA DO
DELEGADO DE POLÍCIA. NULIDADE. NÃO CONFIGURAÇÃO. 3. SENTENÇA DE PRONÚNCIA. JUÍZO DE VALOR ACERCA DA AUTORIA DO FATO.
EXCESSO DE LINGUAGEM. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. 4. ORDEM PARCIALMENTE CONHECIDA E, NESSA EXTENSÃO,
PARCIALMENTE CONCEDIDA. [...] 3. Na sentença de pronúncia, deve o magistrado conciliar a impossibilidade de imersão no mérito da
causa, vedada a incursão em pré-julgamento da acusação, sob pena de invasão da competência constitucional do Tribunal do Júri – juiz
natural da causa –, com a necessidade de indicação de elementos seguros onde se encontrem a prova da materialidade e os indícios de
autoria, não dando ensejo à nulidade da decisão por ausência de fundamentação. 4. No caso, o magistrado exarou convicção no sentido de
ser o paciente o autor do fato em questão, inclusive rebatendo a tese defensiva relativa à participação de terceiros, considerações essas que
exprimem juízo de valor capaz de influenciar a competente e soberana Corte popular, configurando-se o excesso de linguagem. [...] (HC
117.652/GO, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 22/11/2011, DJe 01/02/2012).
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c) Absolvição sumária (art. 411) – ocorre quando estiver provada a inexistência do fato, a
não participação do acusado (autoria e participação), a atipicidade da conduta ou a
existência de causa de isenção de pena ou de exclusão do crime. Houve uma ampliação
das situações que autorizam a absolvição sumária, porque a legislação revogada previa
apenas para as situações atualmente descritas no atual inciso IV do art. 411. O parágrafo
único busca evitar a imposição imediata de medida de segurança, já que o inimputável
poderia ser absolvido na sessão de julgamento.
d) Desclassificação (art. 419) – adota-se quando o juiz se convencer, em discordância com
a acusação, da existência de crime que não seja doloso contra a vida – desclassificação
própria –, ocasião em que, não sendo competente para o julgamento, remeterá os autos
ao juiz que o seja. Este, se discordar, poderá suscitar o conflito negativo de competência.
Caso aceite, o magistrado poderá determinar a repetição da instrução, por força do
princípio da identidade física do juiz347.
A primeira fase do procedimento deve ser concluída em até noventa dias (art. 412 do CPP).
347 No caso de desclassificação própria pelo conselho de sentença, o juiz presidente será o competente para julgar a demanda, inclusive na
hipótese de crimes conexos com o então tido como doloso contra vida, tendo em vista a necessidade de se promover a racionalidade da
prestação jurisdicional, já que haverá sido observado o princípio da identidade física do juiz.
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pode ser modificada de ofício ou em virtude de reclamação de qualquer do povo. Após, até o dia 10
de novembro, é publicada a lista definitiva.
Conforme o artigo 426, o jurado que tiver integrado o conselho de sentença nos doze meses
que antecedem à publicação da lista geral fica dela excluído. Da decisão cabe recurso em sentido
estrito (art. 581, XIV) no prazo de vinte dias, contados da data da publicação definitiva de jurados
(art. 586, parágrafo único).
Quanto ao julgamento propriamente dito, aberta a sessão, quando o juiz já haverá decidido os
casos de isenção e dispensa de jurados, além de rejeitado eventual pedido de adiamento, e estando
presentes as partes, devidamente representadas, testemunhas348 e jurados, estes em número
mínimo de quinze, serão iniciados os trabalhos, a fim de se constituir o Conselho de Sentença.
A constituição do colegiado dá-se através de sorteio, cujas regras estão definidas a partir do
art. 463 do CPP. Antes do sorteio do Conselho de Sentença, no entanto, o juiz advertirá os jurados
dos impedimentos, suspeições e incompatibilidades. Os impedimentos, a suspeição e as
incompatibilidades dos jurados, próprias do tribunal do júri, estão previstas nos arts. 448 e 449.
Além dos impedimentos, suspeições e incompatibilidades, antes mesmo de proceder ao
sorteio, o juiz também advertirá os jurados de que, uma vez sorteados, não poderão se comunicar
entre si e com terceiros, nem manifestar sua opinião sobre o processo, sob pena de exclusão e
dissolução do conselho de sentença e pagamento de multa. A finalidade é garantir a ausência de
interferência de um jurado ou de terceiros na formação da convicção de (outro) jurado349350. A lei não
veda a comunicação entre jurados, desde que sob a fiscalização do juiz e sobre assuntos alheios ao
julgamento. Relativamente a terceiros, a incomunicabilidade é absoluta, isto é, sobre qualquer
assunto.
Formado o Conselho de Sentença, e prestado o compromisso pelos jurados, será iniciada a
instrução plenária, ocasião em que o juiz presidente, o Ministério Público, o assistente, o querelante
e o defensor do acusado (1) tomarão, sucessiva e diretamente, as declarações do ofendido, se
348 As situações e providências envolvendo a ausência de partes, advogados ou testemunhas estão regulamentadas nos arts. 455 a 461 do
CPP.
349“RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO. TRIBUNAL DO JÚRI. NULIDADE.
INCOMUNICABILIDADE DOS JURADOS. COMENTÁRIO QUE NÃO INFLUENCIOU NO MÉRITO DA CAUSA. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO AFIRMADA
PELA CORTE DE ORIGEM. DOSIMETRIA. BIS IN IDEM.INOCORRÊNCIA. MAJORAÇÃO DA PENA-BASE FUNDAMENTADA NAS CIRCUNSTÂNCIAS
DO CASO CONCRETO NÃO INERENTES AO TIPO PENAL. SÚM. 7/STJ.DESPROVIMENTO DO RECURSO.1. Em observância ao princípio pas de
nullité sans grief, a jurisprudência do STJ e STF firmou-se no sentido de ser necessária a demonstração de prejuízo concreto à parte que
suscita o vício, independentemente de ser a nulidade absoluta ou relativa.2. Inexiste quebra de incomunicabilidade quando o jurado
eventualmente se comunica com outro membro do Conselho de Sentença, sem exteriorizar opinião acerca da causa, provas ou o mérito
da imputação.3. Concluindo o Tribunal a quo que não houve quebra de incomunicabilidade a comprometer a imparcialidade dos
jurados, tampouco prejuízo à defesa, inviável desconstituir tal conclusão sem o exame aprofundado de provas, vedado a teor da Súm. n.
7/STJ.4. Reconhecidas pelo Corpo de Jurados a existência duas qualificadoras, inexiste bis in idem, em face da utilização de uma
delas para qualificar o delito e da outra para majorar a pena-base.5. Na hipótese, o motivo torpe foi considerado, apenas, para
qualificar o delito. Não foi reconhecida a existência de circunstância agravante e a pena-base foi fixada acima do mínimo legal,
após a análise de dados concretos que circunscreveram à violenta ação criminosa a evidenciar a anormalidade do modus operandi,
sem correspondência com os elementos inerentes ao tipo penal, em estrita observância aos princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade.6. O recorrente valendo-se de um cabo coaxial de TV, de madrugada, ceifou a vida de sua ex-esposa, no imóvel onde
estava presente a filha do casal, à época com 5 (cinco) anos de idade, suspendendo-a pelo pescoço no cano do chuveiro, forjando a
prática de suicídio. O delito resultou grave sequelas à criança.
7. Recurso especial a que se nega provimento.”(REsp 1222356/PR, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado
em 10/05/2016, DJe 16/05/2016)
350“PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. TRIBUNAL DO JÚRI. QUEBRA DE
INCOMUNICABILIDADE ENTRE OS JURADOS. NÃO OCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE OPINIÃO POR PARTE DO JURADO.RITO DO ART. 212 DO CPP.
AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO.NULIDADE RELATIVA. SÚMULA 83/STJ. CONSELHO DE SENTENÇA. JULGAMENTO CONTRÁRIO À
PROVA DOS AUTOS. SOBERANIA. ACOLHIMENTO DE UMA DAS TESES. CONJUNTO PROBATÓRIO. SÚMULA 7/STJ. OMISSÃO. VIOLAÇÃO DO
ART.619 DO CPP. NÃO OCORRÊNCIA. FUNDAMENTAÇÃO ADEQUADA. 1. Nos limites estabelecidos pelo art. 619 do Código de Processo Penal,
os embargos de declaração destinam-se a suprir omissão, obscuridade ou contradição ou ambiguidade eventualmente existentes no
julgado, o que não ocorreu na presente hipótese. 2. Se a decisão do Júri se encontra amparada em uma das versões constantes nos autos,
deve ser respeitada, consagrando-se o princípio da soberania dos veredictos do Tribunal do Júri (art. 50, XXXVIII, CF). 3. Não houve
exteriorização alguma de opinião por parte do jurado, que apenas indagou o recorrente a respeito de um fato. O jurado não emitiu a sua
opinião e também não se dirigiu a nenhum outro jurado. Não há, assim, ilegalidade no presente caso. 4. Agravo regimental improvido.”
(AgRg no AREsp 403.800/MG, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 16/04/2015, DJe 29/04/2015)
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possível, e (2) inquirirão as testemunhas arroladas pela acusação. Em seguida, o juiz presidente, o
defensor do acusado, o Ministério Público, o assistente e o querelante (3) inquirirão as testemunhas
arroladas pela defesa. Após, o Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor, nessa
ordem, (4) interrogarão o acusado, através da formulação direta de perguntas351. Os jurados poderão
formular perguntas ao ofendido, às testemunhas e ao acusado, por intermédio do juiz presidente.
No curso da instrução, não é possível a utilização das provas colhidas no inquérito policial ou
mesmo no iudicium accusationis, com exceção das colhidas em carta precatória, bem como das
provas cautelares, antecipadas ou irrepetíveis.
Encerrada a instrução, os debates observarão a seguinte ordem:
351 Apesar de não haver menção ao juiz presidente, nada impede que ele formule perguntas, em razão da remissão ao Capítulo III do Título
VII do Livro I do CPP, que trata do interrogatório.
352 Art. 477. [...] § 1º Havendo mais de um acusador ou mais de um defensor, combinarão entre si a distribuição do tempo, que, na falta de
acordo, será dividido pelo juiz presidente, de forma a não exceder o determinado neste artigo.
353 Tratando-se de ação penal privada subsidiária da pública, é possível que o querelante faça a acusação antes do Ministério Público, caso
este não tenha retomado a sua titularidade.
354 Recurso ordinário em habeas corpus. 2. Tribunal do júri. Art. 478, I, do CPP. Vedação de referências “à decisão de pronúncia, às decisões
posteriores que julgaram admissível a acusação ou à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou
prejudiquem o acusado”. Interpretação do dispositivo. A lei não veda toda e qualquer referência às peças. Apenas sua utilização como
argumento de autoridade é vedada. No caso da pronúncia, é vedada sua utilização como forma de persuadir o júri a concluir que, se o juiz
pronunciou o réu, logo este é culpado. 3. Negado provimento ao recurso ordinário. (RHC 120598, Relator(a): Min. GILMAR MENDES,
Segunda Turma, julgado em 24/03/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-151 DIVULG 31-07-2015 PUBLIC 03-08-2015)
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A sentença, que respeitará a soberania dos vereditos, observará o disposto no art. 492 do CPP.
O Código de Processo Penal veda o uso de algemas durante o período em que o acusado
permanecer no plenário do júri, salvo se absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à
segurança das testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes (art. 474, § 3º)355.
O sistema audiovisual, adotado como regra no rito ordinário, e que dispensa a respectiva
transcrição, não está expressamente previsto no art. 475. Este dispositivo enumera outros meios de
gravação, inclusive que a transcrição do registro, depois de feita a degravação, deverá constar dos
autos356.
10.4.2 ABUSO DE AUTORIDADE
Apesar de a Lei 4.898/65 trazer procedimento próprio para os crimes de abuso de autoridade,
especificamente a partir do art. 12, tem-se entendido que o rito a ser adotado deverá ser o
sumaríssimo, a partir da vigência da Lei 10.259/2001, que ampliou o conceito de crimes de menor
potencial ofensivo, afastando-se a norma que determinava a não aplicação da Lei 9.099/95 aos
crimes que estivessem vinculados a procedimento especial (art. 61)357. Essa antinomia somente foi
solucionada, no plano do direito positivo, com a vigência da Lei 11.313/2006, que alterou a redação
do art. 61, colocando-a em sintonia com o art. 2º, parágrafo único, da Lei 10.259/2001.
157
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A primeira advertência que se faz é a de que tal rito apenas se aplica aos chamados delitos
funcionais típicos, ou seja, aqueles tipificados nos arts. 312 a 326 do Código Penal359.
O traço diferenciador desse procedimento é a fase da notificação prévia, aplicável aos crimes
afiançáveis, em que o acusado será notificado, para responder por escrito, dentro do prazo de quinze
dias.
O objetivo da norma é o de evitar lides temerárias, protegendo-se o agente público contra
acusações totalmente infundadas, fruto não raras vezes de divergências políticas. Salvaguarda-se,
indiretamente, a atividade administrativa. O próprio código exige que a queixa ou a denúncia seja
instruída com documentos ou justificação que façam presumir a existência do delito ou com
declaração fundamentada da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas (art. 513
do CPP).
A jurisprudência do STJ tem entendido que, quando a petição inicial vier acompanhada de
inquérito policial, não haverá nulidade no caso de supressão dessa fase preliminar360. Contudo,
atenção para a decisão do STF, nos autos do HC 89.686/SP361, a indicar uma possível mudança de
entendimento. Há acórdão da Primeira Turma, em que não se dispensou a defesa preliminar362.
Não se aplica o procedimento especial, se houver conexão com crimes de natureza diversa363.
resposta preliminar [...], o juiz notificará o acusado para apresentá-la e, caso receba a denúncia ou queixa, deverá adotar o disposto nos
arts. 395 a 399 deste Código (vide art. 394, § 4º). Em seguida, deverá o magistrado aplicar o procedimento comum ordinário ou sumário,
conforme a pena máxima cominada ao delito (JESUS, Damásio E. de. Código de processo penal anotado. 23 ed. rev., atual. e ampl. de acordo
com a reforma do CPP – São Paulo: Saraiva, 2009, p. 423).
359 RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA PRATICADO POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO (ARTIGO
1º, INCISO II, COMBINADO COM OS ARTIGOS 11 E 12 DA LEI 8.137/1990, NA FORMA DO ARTIGO 71 DO CÓDIGO PENAL). ALEGAÇÃO DE
VIOLAÇÃO AO ARTIGO 514 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA SEM NOTIFICAÇÃO PARA APRESENTAÇÃO DE
DEFESA PRELIMINAR. DELITO QUE NÃO SE QUALIFICA COMO FUNCIONAL. DESNECESSIDADE. RECURSO IMPROVIDO. 1. O procedimento
especial previsto nos artigos 513 a 518 do Código de Processo Penal só se aplica aos delitos funcionais típicos, descritos nos artigos 312 a
326 do Código Penal. Precedentes. 2. No caso dos autos, o recorrente, na qualidade de funcionário público, teria concorrido para a prática
de crime fiscal, consistente em fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer natureza,
em documento ou livro exigido pela lei fiscal. 3. Hipótese que não se enquadra no conceito de "crimes de responsabilidade dos funcionários
públicos", para fins de notificação para apresentação de resposta preliminar, nos termos do artigo 514 da Lei Processual Penal. 4. Recurso
improvido. (RHC 22.118/MT, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 01/06/2010, DJe 09/08/2010).
360Enunciado 330 da Súmula do STJ: “É desnecessária a resposta preliminar de que trata o artigo 514 do Código de Processo Penal, na ação
penal instruída por inquérito policial”.
361 EMENTA: [...] IV. Nulidade processual: inobservância do rito processual específico no caso de crimes inafiançáveis imputados a
funcionários públicos. Necessidade de notificação prévia (CPP, art. 514). 1. É da jurisprudência do Supremo Tribunal (v.g. HC 73.099, 1ª T.,
3.10.95, Moreira, DJ 17.5.96) que o procedimento previsto nos arts. 513 e seguintes do CPP se reserva aos casos em que a denúncia veicula
tão somente crimes funcionais típicos (C.Penal, arts. 312 a 326). 2. No caso, à luz dos fatos descritos na denúncia, o paciente responde pelo
delito de concussão, que configura delito funcional típico e o corréu, pelo de favorecimento real (C. Penal, art. 349). 3. Ao julgar o HC
85.779, Gilmar, Inf.STF 457, o plenário do Supremo Tribunal, abandonando entendimento anterior da jurisprudência, assentou, como obter
dictum, que o fato de a denúncia se ter respaldado em elementos de informação colhidos no inquérito policial, não dispensa a
obrigatoriedade da notificação prévia (CPP, art. 514) do acusado. 4. Habeas corpus deferido, em parte, para, tão somente quanto ao
paciente, anular o processo a partir da decisão que recebeu a denúncia, inclusive, a fim de que se obedeça ao procedimento previsto nos
arts. 514 e ss. do CPP e, em caso de novo recebimento da denúncia, que o seja apenas pelo delito de concussão. (HC 89686, Relator(a):
Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma, julgado em 12/06/2007, DJe-082 DIVULG 16-08-2007 PUBLIC 17-08-2007 DJ 17-08-2007 PP-
00058 EMENT VOL-02285-04 PP-00638).
362EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. NECESSIDADE DE DEFESA PRÉVIA. ART. 514 DO CPP. DENÚNCIA QUE IMPUTA AO
PACIENTE, ALÉM DE CRIMES FUNCIONAIS, CRIMES DE QUADRILHA E DE USURPAÇÃO DE FUNÇÃO PÚBLICA. PROCEDIMENTO RESTRITO AOS
CRIMES FUNCIONAIS TÍPICOS. ORDEM DENEGADA. I - A partir do julgamento do HC 85.779/RJ, passou-se a entender, nesta Corte, que é
indispensável a defesa preliminar nas hipóteses do art. 514 do Código de Processo Penal, mesmo quando a denúncia é lastreada em
inquérito policial (Informativo 457/STF). II - O procedimento previsto no referido dispositivo da lei adjetiva penal cinge-se às hipóteses em
que a denúncia veicula crimes funcionais típicos, o que não ocorre na espécie. Precedentes. III - Habeas corpus denegado.(HC 95969,
Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 12/05/2009, DJe-108 DIVULG 10-06-2009 PUBLIC 12-06-2009 EMENT
VOL-02364-01 PP-00143 RTJ VOL-00222-01 PP-00334).
363HABEAS CORPUS. CONCUSSÃO E FORMAÇÃO DE QUADRILHA. NOTIFICAÇÃO PARA DEFESA PRÉVIA DO ACUSADO. ART. 514 DO CPP. NÃO
APLICAÇÃO. DENÚNCIA INSTRUÍDA POR INQUÉRITO POLICIAL E PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO CRIMINAL. SÚMULA 330/STJ.
IMPUTAÇÃO DE CRIMES FUNCIONAL E NÃO FUNCIONAL. AFASTAMENTO DO RITO DO ART. 514 DO CPP. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO
CONFIGURADO. ORDEM DENEGADA. 1. Na hipótese em que a ação penal é precedida de inquérito policial, incide o entendimento
consagrado na Súmula 330 deste Superior Tribunal de Justiça, segundo a qual "é desnecessária a resposta preliminar de que trata o artigo
514 do Código de Processo Penal, na ação penal instruída por inquérito policial." 2. No caso em apreço, da leitura da exordial acusatória,
denota-se que a persecução penal teve por embasamento Inquérito Policial e procedimento administrativo criminal, a implicar, portanto, a
incidência da Súmula 330/STJ. 3. Ademais, o paciente foi denunciado por crimes funcional (art. 316 do CP) e não funcional (art. 288 do CP),
158
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Em suma, sem prejuízo do entendimento de que o procedimento comum deveria ser
integralmente aplicado, afastando-se o especial, o fato é que, após o recebimento da denúncia, a
persecução penal deverá prosseguir pelo rito ordinário ou sumário, conforme a pena máxima
cominada à infração penal.
10.4.4 CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE
No caso de crimes praticados contra o meio ambiente, a Lei 9.605/98 não estabelece qualquer
procedimento especial. Segue-se a regra geral, conforme a pena máxima cominada à infração penal.
Na realidade, a lei se limita a adicionar outros requisitos para a transação penal e para a
suspensão condicional do processo.
Segundo o art. 27, nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de
transação penal somente poderá ser formulada desde que tenha havido a prévia composição do
dano ambiental, de que trata o art. 74 da Lei 9.099/95, salvo em caso de comprovada
impossibilidade.
Para os demais crimes, o art. 28 determina que a suspensão condicional do processo (art. 89
da Lei 9.099/95) seja aplicada com as seguintes alterações:
• A declaração de extinção de punibilidade, após o período de prova,
dependerá de laudo de constatação de reparação do dano ambiental,
salvo comprovada impossibilidade do agente.
• Na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido
completa a reparação, o prazo de suspensão do processo será
prorrogado, até o período máximo previsto (quatro anos), acrescido de
mais um ano, com suspensão do prazo da prescrição.
• No período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos
II, III e IV do § 1° do art. 89 da Lei 9.099/95.
• Findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à lavratura de novo laudo
de constatação de reparação do dano ambiental, podendo, conforme
seu resultado, ser novamente prorrogado o período de suspensão, até
cinco anos, observada mesma regra que suspende o cumprimento das
demais condições dos incisos II, III e IV do § 1° do art. 89 da Lei
9.099/95.
• Esgotado o prazo máximo de prorrogação, a declaração de extinção de
punibilidade dependerá de laudo de constatação que comprove ter o
acusado tomado as providências necessárias à reparação integral do
dano.
10.4.5 ENTORPECENTES
A atual Lei de Drogas – Lei 11.343/06 – traz um procedimento especial para apuração dos
crimes nela contidos (Capítulo III), determinando-se a aplicação subsidiária do Código de Processo
Penal e da Lei de Execução Penal (art. 48).
A questão envolvendo a aplicação ou não do procedimento comum, em face da norma
prevista no art. 394, § 4º, do CPP, neste caso também ganha relevo, especialmente porque o
Superior Tribunal de Justiça tem entendimentos nos dois sentidos, seja para acatar364 ou recusar365 o
critério da especialidade.
de forma "que não se aplica o rito previsto para o processamento dos crimes de responsabilidade do funcionário público, o que afasta a
determinação do art. 514 do Código de Processo Penal" (REsp 670.739/RJ). 4. Ordem denegada. (HC 160.332/SP, Rel. Ministro JORGE
MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 13/03/2012, DJe 30/03/2012).
364 HABEAS CORPUS. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. LEI 11.719/08. ART. 400 DO CPP. APLICAÇÃO AO RITO ESPECIAL DA LEI DE
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O nosso entendimento é o de que deve prevalecer a norma especial, pois, conforme
mencionado quando do estudo do rito ordinário, a intenção do legislador parece ter sido a de
estabelecer uma fase preliminar de defesa efetiva para o acusado, o que não ocorria em diversos
ritos, inclusive na legislação especial. Porém, essa defesa efetiva já se encontra devidamente
preservada na atual Lei de Drogas, inclusive com maior alcance, segundo pensamos, porque a
notificação e a apresentação da defesa preliminar ocorrem antes do recebimento da denúncia.
Por outro lado, a aplicação mesclada dos dois procedimentos importaria em inútil
redundância, na medida em que o acusado seria citado para o oferecimento de defesa preliminar
(art. 396), não obstante já o tenha feito anteriormente (art. 55 da Lei 11.343/06).
De qualquer forma, exposto o problema, analisar-se-á o procedimento regulamentado pela lei.
A fase pré-processual está prevista nos arts. 50 a 53, com destaque para o prazo para a
conclusão do inquérito policial, que será de trinta ou noventa dias, conforme se trate de indiciado
preso ou solto, respectivamente, podendo o prazo ser duplicado, quando devidamente justificado.
Além disso, a lei contempla a possibilidade de adoção de técnicas mais modernas de investigação.
O Ministério Público, ao receber o inquérito ou peças de informação, terá o prazo de dez dias
para: a) requerer o arquivamento; b) requisitar as diligências que entender necessárias; ou (c)
oferecer denúncia, arrolar até cinco testemunhas e requerer as demais provas que entender
pertinentes (art. 54).
Oferecida a denúncia, o juiz ordenará a notificação do acusado para oferecer defesa prévia,
por escrito, no prazo de dez dias, ocasião em que todas as razões de defesa deverão ser expostas, de
mérito ou não, sem prejuízo da apresentação e da especificação das provas que o acusado pretenda
produzir. No caso de prova testemunhal, a lei impõe o limite de cinco testemunhas.
Seguindo a determinação legal que assenta a imprescindibilidade da defesa técnica, caso o
acusado permaneça inerte, será nomeado ao denunciado defensor público ou dativo, este na falta do
primeiro, que então disporá do prazo de dez dias, mediante vista dos autos.
O juiz, caso receba a denúncia, designará dia e hora para a audiência de instrução e
julgamento366, devendo ordenar a citação pessoal do acusado, a intimação do Ministério Público, do
DROGAS. INAPLICABILIDADE. AUSÊNCIA DE NULIDADE. PROCEDIMENTO ESPECIAL. PREVALÊNCIA AO RITO COMUM DO CPP.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CONFIGURADO. 1. O artigo 394 da Lei Processual Penal dispõe que "o procedimento será comum ou
especial", o que significa dizer que o procedimento comum é o utilizado, como regra, para a maioria das infrações penais, salvo quando
existir, seja em lei especial, seja no próprio Código, procedimento específico, que é o caso em apreço, porquanto o paciente responde pelo
delito de tráfico de entorpecentes, cujo rito processual é atualmente disciplinado na Lei nº 11.343/06. 2. Em estrita observância ao princípio
da especialidade, existindo procedimento próprio para a apuração do delito cometido pelo paciente – tráfico de substância entorpecente –,
afastam-se as regras do procedimento comum ordinário previstas no Código de Processo Penal, cuja aplicação pressupõe, por certo, a
ausência de regramento específico para a hipótese. 3. Não há que se falar no presente caso em aplicação das alterações promovidas pela
Lei nº 11.719/08 a ensejar eventual nulidade do processo por inversão no rito processual. [...] (HC 201000759868, JORGE MUSSI, STJ -
QUINTA TURMA, DJE DATA:29/08/2011).
365HABEAS CORPUS. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. NULIDADES NÃO-APRECIADAS PELA CORTE DE ORIGEM. SUPRESSÃO DE
INSTÂNCIA. RITO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE DEFESA PRÉVIA ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. PREJUÍZO NÃO-DEMONSTRADO.
ADOÇÃO DO RITO ORDINÁRIO PREVISTO NA LEI Nº 11.719/2008. MAIOR DENSIDADE AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DO DEVIDO
PROCESSO LEGAL. NULIDADE NÃO-RECONHECIDA. DIREITO DE APELAR EM LIBERDADE. VEDAÇÃO LEGAL. INCONSTITUCIONALIDADE. RISCO
À ORDEM PÚBLICA. GRANDE QUANTIDADE DE DROGA. RÉU PERTENCENTE A QUADRILHA FORTEMENTE ARMADA E ESTRUTURADA.
REVELIA MANIFESTADA DURANTE A PERSECUÇÃO PENAL. ORDEM PARCIALMENTE CONHECIDA E NESTA EXTENSÃO DENEGADA. [...] 2.
Tráfico ilícito de entorpecentes. Rito ordinário. Inviável acolher-se a pretensão de anulação do feito devido ao descumprimento do rito
previsto na Lei nº 11.343/06, que prescreve a notificação para a apresentação de defesa prévia antes do recebimento da denúncia pelo
magistrado, se no curso do processo for garantido ao réu oportunidade de ampla defesa, em respeito ao princípio constitucional do devido
processo legal, e não restou demonstrado o prejuízo. 3. A roupagem do rito ordinário adotado na persecução penal, em análise, é a prevista
na Lei nº 11.719/2008, que concedeu maior densidade aos princípios do contraditório e do devido processo legal, especialmente, por
prever o oferecimento de resposta prévia antes do recebimento da denúncia, bem como por projetar o interrogatório à condição de último
ato de instrução processual. 4. O art. 394, § 4°, do Código de Processo Penal, com a redação dada pela Lei nº 11.719/2008, preceitua que
"as disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados
neste Código", razão pela qual a adoção do rito ordinário, na espécie, não pode ensejar nulidade, haja vista que o procedimento do Código
de Processo Penal aplica-se, inclusive, pelo menos neste aspecto, aos ritos das Leis Especiais. [...] (HC 201101363062, VASCO DELLA
GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), STJ - SEXTA TURMA, DJE DATA:17/11/2011).
366A audiência deverá ser realizada em até trinta dias, salvo se determinada a realização de avaliação para atestar dependência de drogas,
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assistente, se for o caso, além de requisitar os laudos periciais pertinentes (art. 56). Essa iniciativa
probatória do magistrado deve ser adotada com parcimônia.
A instrução deve seguir a seguinte ordem: a) interrogatório do acusado; b) inquirição das
testemunhas de acusação; c) inquirição das testemunhas de defesa.
A lei, nesse particular, afastou-se da tendência de se considerar o interrogatório como meio
eminentemente de defesa, colocando-o em primeiro lugar. Apesar disso, a jurisprudência tem
aceitado a aplicação do rito especial, mesmo após a minirreforma produzida no CPP, em atenção ao
princípio da especialidade367. O STF conta com decisões recentes nesse sentido368.
Concluída a instrução, passa-se à fase das alegações finais, dispondo as partes, primeiro a
acusação, de vinte minutos, prorrogável por mais dez minutos, a critério do juiz. Encerrados os
debates, a sentença deve ser proferida de imediato, ou em até dez dias, neste caso, em gabinete.
A Lei 12.961, de 4 de abril de 2014, revogou os §§ 1º e 2º do art. 58 da Lei 11.343/2006,
visando a aprimorar a destinação das drogas apreendidas, estabelecendo prazos diferenciados para a
destruição, conforme tenha ou não ocorrido prisão em flagrante369.
A Lei de Drogas também prevê a possibilidade da adoção de medidas cautelares, visando à
apreensão e arrecadação de bens do acusado, nos termos dos arts. 60 a 62, devendo o juiz, se for o
caso, decretar o respectivo perdimento dos bens em favor da União, dando a eles a destinação
necessária, conforme determina o art. 63 da Lei 11.343/06. Nesses casos, a prova acerca da origem
lícita caberá ao réu, conforme disposição dos §§ 1º e 2º do artigo 60.
Por fim, o art. 59 trouxe regra inconstitucional, semelhante à anteriormente prevista no art.
594 do CPP, atualmente revogado, razão pela qual não pode ser aplicada.
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Os crimes contra a economia popular estão definidos na Lei 1.521, de 26 de dezembro de 1951370.
Segundo dispõe o art. 10, deverá ser adotado o rito sumário previsto no Código de Processo Penal.
Apesar da remissão ao CPP, a Lei 1.521/51 fixou prazos diferenciados para a conclusão do
inquérito policial (dez dias), o oferecimento de denúncia (dois dias) e a tramitação da ação penal até
a sentença (trinta dias)371.
370 Vale lembrar que algumas das infrações penais ali previstas já foram posteriormente tipificadas em outras leis, tais como a Lei 7.492/86,
que trata dos crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, o CDC, ou, ainda, a Lei 8.137/90, que cuida dos crimes contra a ordem
econômica. Portanto, deve-se ter cuidado na sua análise.
371A lei também criou o Júri de Economia Popular, instituído para julgar as infrações penais descritas no art. 2º, cuja organização e
funcionamento estão disciplinados a partir do art. 13. Apesar de a CF de 1946 ter permitido que a lei estabelecesse outras hipóteses de
competência do júri popular (art. 141, § 28), além dos crimes dolosos contra a vida, o JEP não foi recepcionado pela EC 1/69, que limitou a
competência do júri aos crimes dolosos contra a vida.
372EMENTA: ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF). LEI DE IMPRENSA. ADEQUAÇÃO DA AÇÃO. REGIME
CONSTITUCIONAL DA "LIBERDADE DE INFORMAÇÃO JORNALÍSTICA", EXPRESSÃO SINÔNIMA DE LIBERDADE DE IMPRENSA. A "PLENA"
LIBERDADE DE IMPRENSA COMO CATEGORIA JURÍDICA PROIBITIVA DE QUALQUER TIPO DE CENSURA PRÉVIA. A PLENITUDE DA LIBERDADE
DE IMPRENSA COMO REFORÇO OU SOBRETUTELA DAS LIBERDADES DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO, DE INFORMAÇÃO E DE
EXPRESSÃO ARTÍSTICA, CIENTÍFICA, INTELECTUAL E COMUNICACIONAL. LIBERDADES QUE DÃO CONTEÚDO ÀS RELAÇÕES DE IMPRENSA E
QUE SE PÕEM COMO SUPERIORES BENS DE PERSONALIDADE E MAIS DIRETA EMANAÇÃO DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA
HUMANA. O CAPÍTULO CONSTITUCIONAL DA COMUNICAÇÃO SOCIAL COMO SEGMENTO PROLONGADOR DAS LIBERDADES DE
MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO, DE INFORMAÇÃO E DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA, CIENTÍFICA, INTELECTUAL E COMUNICACIONAL.
TRANSPASSE DA FUNDAMENTALIDADE DOS DIREITOS PROLONGADOS AO CAPÍTULO PROLONGADOR. PONDERAÇÃO DIRETAMENTE
CONSTITUCIONAL ENTRE BLOCOS DE BENS DE PERSONALIDADE: O BLOCO DOS DIREITOS QUE DÃO CONTEÚDO À LIBERDADE DE IMPRENSA
E O BLOCO DOS DIREITOS À IMAGEM, HONRA, INTIMIDADE E VIDA PRIVADA. PRECEDÊNCIA DO PRIMEIRO BLOCO. INCIDÊNCIA A
POSTERIORI DO SEGUNDO BLOCO DE DIREITOS, PARA O EFEITO DE ASSEGURAR O DIREITO DE RESPOSTA E ASSENTAR RESPONSABILIDADES
PENAL, CIVIL E ADMINISTRATIVA, ENTRE OUTRAS CONSEQUÊNCIAS DO PLENO GOZO DA LIBERDADE DE IMPRENSA. PECULIAR FÓRMULA
CONSTITUCIONAL DE PROTEÇÃO A INTERESSES PRIVADOS QUE, MESMO INCIDINDO A POSTERIORI, ATUA SOBRE AS CAUSAS PARA INIBIR
ABUSOS POR PARTE DA IMPRENSA. PROPORCIONALIDADE ENTRE LIBERDADE DE IMPRENSA E RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS
MORAIS E MATERIAIS A TERCEIROS. RELAÇÃO DE MÚTUA CAUSALIDADE ENTRE LIBERDADE DE IMPRENSA E DEMOCRACIA. RELAÇÃO DE
INERÊNCIA ENTRE PENSAMENTO CRÍTICO E IMPRENSA LIVRE. A IMPRENSA COMO INSTÂNCIA NATURAL DE FORMAÇÃO DA OPINIÃO
PÚBLICA E COMO ALTERNATIVA À VERSÃO OFICIAL DOS FATOS. PROIBIÇÃO DE MONOPOLIZAR OU OLIGOPOLIZAR ÓRGÃOS DE IMPRENSA
COMO NOVO E AUTÔNOMO FATOR DE INIBIÇÃO DE ABUSOS. NÚCLEO DA LIBERDADE DE IMPRENSA E MATÉRIAS APENAS
PERIFERICAMENTE DE IMPRENSA. AUTORREGULAÇÃO E REGULAÇÃO SOCIAL DA ATIVIDADE DE IMPRENSA. NÃO RECEPÇÃO EM BLOCO DA
LEI Nº 5.250/1967 PELA NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL. EFEITOS JURÍDICOS DA DECISÃO. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO. [...] 12. PROCEDÊNCIA
DA AÇÃO. Total procedência da ADPF, para o efeito de declarar como não recepcionado pela Constituição de 1988 todo o conjunto de
dispositivos da Lei federal nº 5.250, de 9 de fevereiro de 1967. (ADPF 130, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em
30/04/2009, DJe-208 DIVULG 05-11-2009 PUBLIC 06-11-2009 EMENT VOL-02381-01 PP-00001 RTJ VOL-00213- PP-00020).
373QUEIXA-CRIME. INJÚRIA. DIFAMAÇÃO. IMPRENSA. NOVO ENQUADRAMENTO LEGAL. ARTIGOS 139 E 140 DO CÓDIGO PENAL. EXTINÇÃO
DA PUNIBILIDADE PELA PRESCRIÇÃO. 1. Diante da declaração de inconstitucionalidade da Lei 5.250/67 (ADPF 130, Rel. Min. Ayres Britto), os
fatos passaram a ter enquadramento legal exclusivamente nos artigos 139 e 140 do Código Penal. 2. O período de suspensão da vigência
dos dispositivos da lei de imprensa pelo Plenário não correspondeu à suspensão dos prazos prescricionais dos crimes nela estabelecidos.
Assim, diante do decurso de mais de quatro anos desde a data dos fatos narrados na inicial, e tendo em vista os prazos do art. 109, V e VI,
do Código Penal, consumou-se a prescrição. 3. Decretada a extinção da punibilidade dos delitos imputados ao querelado, nos termos do
art. 107, IV, do Código Penal. (Inq 2672, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 01/03/2012, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-041 DIVULG 01-03-2013 PUBLIC 04-03-2013).
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quando o crime tiver sido praticado no âmbito de atividade sujeita à disciplina e à fiscalização da
respectiva instituição. Também determina a esses órgãos que ofereçam representação perante o
Ministério Público Federal, quando verificarem a ocorrência de crime, remetendo os documentos
necessários à persecução penal (art. 28). Providência semelhante deverá ser tomada pelo
interventor, liquidante ou síndico, no curso de intervenção, liquidação extrajudicial ou falência
(parágrafo único).
Não há possibilidade de oferecimento de ação penal privada subsidiária, em razão de o art. 27
determinar que, em caso de inércia do agente ministerial, caberá ao ofendido a representação junto
ao Procurador-Geral da República, para que este a ofereça, designe outro órgão do Ministério
Público para oferecê-la ou determine o arquivamento das peças de informação recebidas.
O poder de requisição do Ministério Público Federal, como resultado do seu poder-dever
investigatório, está previsto no art. 29, a ser utilizado sempre que imprescindível às investigações,
resguardadas as diligências que são submetidas à cláusula constitucional de reserva de jurisdição.
A prisão preventiva deverá observar a nova sistemática prevista no Código de Processo Penal,
não bastando, tão somente, a magnitude da lesão causada para justificá-la. Da mesma forma, impõe-
se uma releitura constitucional das vedações contidas no art. 31 da Lei 7.492/86.
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conforme ementa nela contida, a Lei 8.658, de 26 de maio de 1993, ampliou a abrangência da Lei
8.038, para que também seja aplicada nos Tribunais de Justiça e nos Tribunais Regionais Federais.
A outra advertência é que, em razão das recentes alterações legislativas que levaram à
reformulação dos procedimentos previstos no CPP, tem-se entendido que tais mudanças não
necessariamente se aplicariam às ações penais originárias da competência dos tribunais, tendo em
vista o princípio da especialidade374. Note-se que o art. 2º determina a incidência subsidiária do
código e dos regimentos internos dos tribunais, nessa ordem. Porém, segundo sustentamos, nada
impede que determinadas alterações possam ser implementadas, notadamente se em benefício da
defesa, a exemplo do interrogatório do acusado ao final da instrução.
Em relação ao procedimento propriamente dito, o Ministério Público terá o prazo de quinze
dias para oferecer denúncia ou pedir375 arquivamento do inquérito ou das peças informativas. Se o
indiciado estiver preso, o prazo para oferecimento da denúncia é reduzido para cinco dias. A queixa
não tem prazo específico, aplicando-se o prazo decadencial comum para os crimes de ação penal
privada.
Apresentada a denúncia ou a queixa, o acusado será notificado376 para oferecer resposta no
prazo de quinze dias. Caso esteja em local incerto e não sabido, ou ainda houver tentativa de se
esquivar da diligência, a notificação será por edital, com prazo de cinco dias. Havendo apresentação
de novos documentos com a resposta, caberá a manifestação da parte autora em cinco dias. Se o
Ministério Público estiver atuando como fiscal da lei, nas hipóteses de crime de ação penal privada,
fará seu pronunciamento após as partes, em igual prazo.
Em seguida, o tribunal deliberará o recebimento, a rejeição da denúncia ou da queixa, ou a
improcedência da acusação, se a decisão não depender de outras provas, sendo facultada
sustentação oral pelo prazo de quinze minutos, primeiro à acusação, depois à defesa.
Deve-se ressaltar que a interrupção do prazo prescricional ocorre com a proclamação do
resultado do julgamento na própria sessão, não se aplicando, para esse fim, a data de publicação do
acórdão na imprensa oficial377.
Superada a fase inicial com o recebimento da denúncia ou da queixa, o relator378 designará dia
e hora para o interrogatório, mandando citar o acusado ou querelado e intimar o órgão do Ministério
374 Informativo 505/STJ: “Não é cabível, em se tratando de ação penal originária submetida ao procedimento especial da Lei nº 8.038/1990,
que seja assegurado ao acusado citado para a apresentação da defesa prévia prevista no art. 8º da Lei nº 8.038/1990 o direito de se
manifestar nos moldes preconizados no art. 396-A do CPP, com posterior deliberação acerca de absolvição sumária prevista no art. 397 do
CPP. As regras dos arts. 395 a 397 do CPP já se encontram implícitas no procedimento previsto na Lei nº 8.038/1990, considerando que, após
o oferecimento da denúncia e a notificação do acusado para resposta preliminar (art. 4º), o relator pedirá dia para que o Tribunal delibere
sobre o recebimento, a rejeição da denúncia ou da queixa, ou a improcedência da acusação, se a decisão não depender de outras provas
(art. 6º). Assim, nenhum prejuízo sofre a defesa, já que o referido art. 6º impõe ao órgão colegiado o enfrentamento de todas as teses
defensivas que possam culminar na improcedência da acusação (igual ao julgamento antecipado da lide; art. 397 do CPP) ou na rejeição da
denúncia (art. 395 do CPP). Noutras palavras, o acusado, em sua resposta preliminar (art. 4º), poderá alegar tudo o que interesse à sua
defesa, juntar documentos e apresentar justificações. Não é por outra razão que o art. 5º da Lei nº 8.038/1990 estabelece que, se, com a
resposta, forem apresentados novos documentos, será intimada a parte contrária para sobre eles se manifestar. Nessa linha de
consideração, o Plenário do STF, no julgamento do AgRg na AP 630-MG, DJe 22/3/2012, registrou que "tanto a absolvição sumária do art. 397
do CPP, quanto o art. 4º da Lei nº 8.038/1990, em termos teleológicos, ostentam finalidades assemelhadas, ou seja, possibilitar ao acusado
que se livre da persecução penal". Dessa forma, não se justifica a superposição de procedimentos – comum e especial – visando a
finalidades idênticas. Precedente citado do STF: AP 630 AgR-MG, DJe 21/3/2012. AgRg na APN 697-RJ, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado
em 3/10/2012”.
375Como já foi dito, o Ministério Público não “pede” arquivamento de inquérito policial. A decisão final sobre oferecer ou não a denúncia é
sempre sua, cabendo ao juiz apenas a função de fiscal do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública. Aliás, cuida-se de atribuição
completamente anômala e sem fundamento constitucional na vigência da atual Carta. Poder-se-ia simplesmente adotar a solução já
existente no ordenamento para os casos de arquivamento de inquérito civil (art. 9º da Lei 7.347/85). De qualquer forma, a providência do
art. 28 do CPP ainda faz parte do cotidiano forense.
377O Supremo Tribunal Federal tem reiteradamente entendido nesse sentido. Um dos precedentes mais antigos, talvez o primeiro, foi o
julgamento do HC 49.763, relatado pelo então Ministro Bilac Pinto (RTJ 62/56).
378 O relator é escolhido conforme disciplinar o regimento interno do tribunal. Na sua atuação, como juiz da instrução, terá as atribuições que a legislação
processual confere aos juízes singulares, tais como decretar prisões e outras medidas cautelares. A lei ainda permite que o relator possa
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Público, bem como o querelante ou o assistente, se for o caso. Segundo defendemos no início deste
tópico, é possível postergar o interrogatório para o final, medida que potencializaria o princípio do
contraditório, porque o acusado teria maiores condições de dimensionar a sua autodefesa, conforme
o desencadeamento das provas até então produzidas.
O prazo para defesa prévia será de cinco dias, contado do interrogatório ou da intimação do
defensor dativo.
Segundo dispõe o art. 9º, a instrução obedecerá, no que couber, o procedimento comum do
Código de Processo Penal, sendo permitida a delegação da realização do interrogatório ou de outro
ato da instrução ao juiz ou membro de tribunal com competência territorial no local de cumprimento
da carta de ordem379.
Concluída a produção de prova oral, serão intimadas a acusação e a defesa, para requerimento
de diligências no prazo de cinco dias. Apesar de a lei silenciar, o prazo deve ser sucessivo. O relator
também pode determinar de ofício a realização de diligências, caso as considere necessárias.
Superada a fase de diligências, a acusação e a defesa serão intimadas para apresentarem, no
prazo de quinze dias, alegações escritas. Havendo pluralidade no polo ativo ou passivo, o prazo será
comum. Apesar disso, nada impede que o relator discipline de modo diverso, desde que mantenha a
paridade de armas e não diminua os prazos previstos em lei. Se a ação penal for privada, o Ministério
Público emitirá seu parecer após as alegações das partes, em igual prazo.
Mesmo após a fase de alegações, ainda é possível a realização de provas reputadas
imprescindíveis para o julgamento da causa.
O julgamento seguirá o que for determinado pelo regimento interno, devendo ser observado
que a acusação e a defesa disporão do prazo sucessivo de uma hora para sustentação oral,
assegurado ao assistente um quarto do tempo da acusação.
Em relação à publicidade do ato, apesar de a lei conferir ao presidente o poder de limitar a
presença no recinto às partes e seus advogados, ou somente a estes, se o interesse público exigir,
deve-se interpretar tal regra com parcimônia, a fim de se evitar julgamentos secretos, sem que não
haja razão idônea para tanto.
monocraticamente determinar o arquivamento do inquérito ou de peças informativas, e decretar a extinção da punibilidade, nos casos previstos no
ordenamento.
379 Fruto de inovação da Lei 12.019/2009, poderá haver a convocação de desembargadores de Turmas Criminais dos Tribunais de Justiça ou
dos Tribunais Regionais Federais, bem como de juízes de varas criminais da Justiça dos Estados e da Justiça Federal, pelo prazo de 6 (seis)
meses, prorrogável por igual período, até o máximo de 2 (dois) anos, para a realização do interrogatório e de outros atos da instrução, na
sede do tribunal ou no local onde se deva produzir o ato.
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No caso específico dos juizados especiais criminais, o art. 73 da Lei 9.099/95 estabelece que a
conciliação será conduzida pelo juiz ou por conciliador380 sob sua orientação. Já o art. 60 fala em
juízes togados e leigos. Eis a grande controvérsia que gira em torno do tema: o limite de atuação do
conciliador e do juiz leigo381.
Em relação ao conciliador, entende-se que o limite foi fixado pelo legislador, ao permitir, ainda que
implicitamente, a atuação do conciliador no juizado criminal apenas na fase de conciliação.
Nesse sentido, havida a conciliação, o conciliador deverá submetê-la à apreciação do juiz,
porque a consequência imediata da homologação da conciliação é a renúncia ao direito de queixa ou
de representação (art. 74, parágrafo único, da Lei 9.099/95), enquanto que a consequência mediata
é a própria extinção da punibilidade do suposto autor do fato. Este ato, de conteúdo nitidamente
decisório, não pode ser praticado pelo conciliador. Somente ao juiz foi atribuído o poder-dever de
declarar a extinção da punibilidade.
Superada sem sucesso a fase da composição dos danos civis, o juiz então deveria
necessariamente assumir o controle da audiência. Isso porque, a partir da transação penal, já se
discute a possibilidade de aplicação imediata de pena restritiva de direitos, nos termos do art. 76 da
Lei 9.099/95.
A Lei 10.259/01 pouco dispôs sobre o conciliador nos juizados especiais federais. Limitou-se a
determinar que o juiz presidente do juizado designará os conciliadores pelo período de dois anos,
admitida a recondução (art. 18). Isso, entretanto, não seria necessariamente um empecilho, porque
o propósito da lei foi justamente o de regulamentar apenas as questões que diferenciariam o juizado
especial federal do estadual. Logo, se a lei silenciou, busca-se a fonte normativa na Lei 9.099/95.
Quanto ao juiz leigo, figura não expressamente contemplada pela Lei 10.259/01382, haveria a
possibilidade de a audiência preliminar ser conduzida pelo referido auxiliar até o final, ficando a
decisão acerca da homologação da transação penal restrita ao magistrado, tal como já ocorre na
composição civil.
O principal argumento utilizado é o de que, tendo a lei silenciado acerca do papel do juiz leigo
no juizado criminal (art. 60), valeria o disposto nos arts. 37 e 40 da Lei 9.099/95, ficando as decisões
mais relevantes submetidas ao crivo do juiz. Somente dessa forma estaria havendo, de fato, a
multiplicação da força de trabalho do magistrado, objetivo maior do legislador, ao permitir a atuação
do conciliador e do juiz leigo.
Pretendia-se que ao juiz leigo fosse permitido, inclusive, conduzir atos de instrução, o que
contribuiria para um maior alcance dos objetivos da lei. Porém, a sua atuação estaria circunscrita à
audiência preliminar383.
380 Os conciliadores são auxiliares da justiça, recrutados, na forma da lei local, preferentemente entre bacharéis em Direito, excluídos os
que exerçam funções na administração da justiça criminal.
381 A diferença entre o conciliador e o juiz leigo está prevista no art. 7º: “Os conciliadores e Juízes leigos são auxiliares da Justiça,
recrutados, os primeiros, preferentemente, entre os bacharéis em Direito, e os segundos, entre advogados com mais de cinco anos de
experiência”.
382 Há projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional, visando à alteração do art. 18 da Lei 10.259/01, que estabelece os requisitos
para designação de juízes leigos e conciliadores nos juizados especiais. Trata-se do PL 1.320/2011, que, na época do acesso,encontrava-se na
Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP), com parecer pela aprovação. Link para acompanhamento:
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=501800. Quando da realização da 2ª edição desta obra,
constatou-se que houve aprovação na CTASP. Atualmente encontra-se na CCJC.
383 A Resolução CNJ 174, de 12 de abril de 2013, atualmente regulamenta o assunto no âmbito dos Juizados Especiais dos Estados e do
Distrito Federal, estabelecendo diretrizes gerais, tais como forma de recrutamento, remuneração, duração do vínculo, com destaque para o
fato de tais profissionais estarem expressamente autorizados a apresentar projeto de sentença, sujeito à homologação pelo juiz togado,
sempre sob a supervisão deste. Entretanto, permanece a celeuma envolvendo a possibilidade de atuação do juiz leigo no juizado criminal.
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Sob os auspícios da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência
contra a Mulher, a Lei nº 11.340/06 dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e
Familiar contra a Mulher e institui regras e procedimentos destinados à proteção da mulher.
Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgão da jurisdição comum
ordinária, terão competência cível e criminal para o processo, o julgamento e a execução das causas
decorrentes da prática desse tipo de violência.
As normas protetivas da Lei nº 11.340/06 aplicam-se às mulheres vítimas de violência
doméstica e familiar, que é conceituada pela lei como qualquer ação ou omissão baseada no gênero
que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial (i)
no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas,
com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; (ii) no âmbito da família,
compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados,
unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; (iii) em qualquer relação íntima de
afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de
coabitação.
O artigo 41 dispõe que aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a
mulher não se aplicam as disposições da Lei nº 9099/95. Disso decorre a desnecessidade de
representação para a apuração de crime de lesões corporais leves e a inaplicabilidade de suspensão
condicional do processo e transação penal aos delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha384.
A lei prevê ainda medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor e que protegem a
ofendida.
Dentre as medidas destinadas ao agressor, encontram-se: a suspensão da posse ou restrição
do porte de armas; o afastamento do local de convivência com a ofendida; a proibição de
aproximação e contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas, e de frequentação de
determinados lugares; a restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores; a prestação de
alimentos provisionais ou provisórios.
Como medidas para a proteção da vítima, menciona a lei a possibilidade de encaminhar a
ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento;
determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após
afastamento do agressor;determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos
relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;determinar a separação de corpos.
384Súmula 542 do STJ. A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública
incondicionada.
Súmula 536 do STJ. A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei
Maria da Penha.
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constatadas autorizarão a internação provisória do adolescente. Caso
contrário, o adolescente será prontamente liberado pela autoridade policial,
sob termo de compromisso e responsabilidade de sua apresentação ao
representante do Ministério Público, no mesmo dia ou, sendo impossível, no
primeiro dia útil imediato (art. 174).
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SENTENÇA
SENTENÇAS. SENTENÇA ABSOLUTÓRIA E
CONDENATÓRIA.MUTATIO LIBELLI E EMENDATIO LIBELLI.
PUBLICAÇÃO E INTIMAÇÃO DA SENTENÇA. FIXAÇÃO DA PENA.
A sentença é o ato judicial mais relevante a ser praticado pelo juiz. É a resposta efetiva à
demanda penal posta sob a apreciação do órgão judicial. Vale dizer, o mérito da pretensão punitiva é
analisado, concluindo o juiz pela condenação ou absolvição385 do acusado386.
Tratando-se efetivamente de apreciação do caso penal, a fundamentação necessariamente
passará pela análise da existência da infração penal e da autoria, bem como pelas consequências
jurídico-penais dela decorrentes.
A estrutura formal da sentença está disciplinada no art. 381 do Código de Processo Penal,
segundo o qual conterá: a) os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações necessárias
para identificá-las; b) a exposição sucinta da acusação e da defesa; c) a indicação dos motivos de fato
e de direito em que se fundar a decisão; d) a indicação dos artigos de lei aplicados; e) o dispositivo; e
f) a data e a assinatura do juiz.
Em razão de apreciar efetivamente o mérito da ação penal, o recurso cabível será
necessariamente a apelação (art. 593, I).
385A sentença absolutória imprópria também pode ser incluída na referida classificação, tendo em vista que o juiz necessariamente deverá
analisar a questão de fundo propriamente dita.
386 Nesse sentido, não é correto adotar a nomenclatura de sentença de pronúncia, porque o juiz não estará definindo a condenação ou a
absolvição do acusado. Não há coisa julgada.
387Poder-se-ia até dizer que houve um pequeno equívoco do legislador, na medida em que determinou a inclusão de fundamento da
decisão no próprio dispositivo. Contudo, a utilidade é patente, por conta da repercussão da sentença penal em outras esferas, como se verá
adiante, facilitando-se também a correta manutenção dos registros criminais.
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• Não constituir o fato infração penal – A absolvição, nesse caso, não advém da
atividade probatória eficiente ou deficiente. O fato foi devidamente esclarecido. O
juiz absolve o acusado por ausência de repercussão na esfera penal, pela
atipicidade formal ou material da conduta. Contudo, poderá haver consequências
em outras instâncias não penais, vale dizer, o mesmo fato pode ser qualificado
como um ilícito civil ou administrativo, por exemplo.
• Estar provado que o réu não concorreu para a infração penal – Neste caso, o
magistrado também emite juízo de certeza, mas que recai sobre a não
participação do réu na infração penal. Essa hipótese é nova, tendo sido instituída
pela Lei 11.690/2008. Trata-se da negativa de autoria, em que a defesa consegue
demonstrar a não participação do acusado. Havendo juízo de certeza, a decisão
do juízo criminal também faz coisa julgada no juízo cível.
• Não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal – As observações
que foram feitas para a não comprovação do fato também servem para esta
situação. A diferença reside tão somente no ponto em que houve a ineficiência
probatória, ou seja, em relação à autoria. Também não há repercussão em outras
esferas.
• Existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20,
21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver
fundada dúvida sobre sua existência – Na primeira parte, fica reconhecida a
ocorrência de causa excludente da ilicitude (legítima defesa, estado de
necessidade, estrito cumprimento de dever legal, exercício regular de direito e o
consentimento do ofendido, este quando causa supralegal) ou da culpabilidade
(imputabilidade, potencial consciência da ilicitude do fato e exigibilidade de
conduta diversa). A novidade ficaria por conta da parte final do dispositivo, incluída
pela Lei 11.690/08, referente à fundada dúvida sobre a existência de tais
excludentes, em decorrência do in dubio pro reo. Logo, haveria uma relativização
do ônus da defesa, especificamente quanto à comprovação das excludentes de
ilicitude ou das dirimentes penais, permitindo-se a absolvição quando houver
dúvida fundada sobre a ocorrência delas no caso concreto. É errado afirmar que o
juízo de certeza sobre a ocorrência da excludente de ilicitude não faria coisa
julgada no cível. O juízo cível não poderá imiscuir-se nesta questão. Entretanto, a
definição jurídica poderá ser distinta, ou seja, mesmo atuando sob uma daquelas
excludentes, o autor do fato não se eximiria da responsabilização civil (arts. 929 e
930 do Código Civil).
• Não existir prova suficiente para a condenação – Apesar de também versar sobre
a insuficiência probatória, tal como nas hipóteses em que não houver prova da
existência da infração penal (inciso II) ou da respectiva autoria (inciso V), trata-se
de cláusula mais genérica, aplicável subsidiariamente sempre que o juiz entender
que a prova produzida não se mostra suficiente para a condenação do acusado.
Também não faz coisa julgada no juízo cível.
O parágrafo único do art. 386 determina a adoção de outras providências pelo juízo, no caso
de sentença absolutória, entre elas, a cessação imediata da privação de liberdade imposta ao
acusado. Nesse mesmo sentido, outras medidas cautelares eventualmente aplicadas também
deverão ser cessadas.
Também é prevista a aplicação de medida de segurança, no caso de sentença absolutória
imprópria (art. 386, parágrafo único, III, do CPP).
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• mencione as circunstâncias agravantes ou atenuantes definidas no
Código Penal, e cuja existência reconhecer;
• mencione as outras circunstâncias apuradas e tudo o mais que deva
ser levado em conta na aplicação da pena, de acordo com o disposto
nos arts. 59 e 60 do Código Penal;
• aplique as penas de acordo com essas conclusões;
• fixe valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido.
A respeito das circunstâncias agravantes, o art. 385 do CPP autoriza que o juiz as reconheça,
mesmo que não tenham sido alegadas. Apesar de haver entendimento no sentido da
inconstitucionalidade da referida norma, o Supremo Tribunal Federal tem pelo menos um
precedente em sentido contrário388. De qualquer forma, parece não haver dúvidas quando a
agravante decorrer de causas eminentemente jurídicas, como, por exemplo, a reincidência, ou
quando estiver contida na narrativa da denúncia389.
No caso das atenuantes, não há qualquer vedação à aplicação de ofício, porque se daria em
benefício do acusado.
A Lei 11.719/08 atualizou a norma contida no inciso II, para corrigir a remissão à revogada
Parte Geral do Código Penal, especificamente aos arts. 59 e 60, em razão da reforma de 1984.
No caso do inciso III, não há mais referência às antigas penas acessórias.
Porém, a modificação mais relevante operou-se no inciso IV, que trata da fixação de valor
mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando-se os prejuízos sofridos pelo
ofendido. Por outro lado, surgiram diversos questionamentos a respeito da aplicação da referida
norma.
O primeiro deles refere-se à incidência sobre os processos em curso à época da vigência da Lei
11.719/08. O Superior Tribunal de Justiça registra decisões em ambos os sentidos, seja pela
aceitação390, seja pela rejeição391. Na primeira hipótese, acolhida pela Sexta Turma, defende-se que
se trata de norma de direito processual, exigindo-se, entretanto, que existam nos autos elementos
388EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. ANULAÇÃO DA SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO NA PARTE DA FIXAÇÃO
DA PENA. MANUTENÇÃO DA EXECUÇÃO PENAL. AGRAVANTE DO ART. 62, I DO CP. DEMONSTRAÇÃO DA RESPONSABILIDADE DA PACIENTE
NA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. [...] 2. As agravantes, ao contrário das qualificadoras, sequer precisam constar da denúncia para serem
reconhecidas pelo Juiz. É suficiente, para que incidam no cálculo da pena, a existência nos autos de elementos que as identifiquem. No caso
sob exame, consta na sentença que a paciente organizou a cooperação no crime, dirigindo a atividade criminosa. Ordem denegada. (HC
93211, Relator(a): Min. EROS GRAU, Segunda Turma, julgado em 12/02/2008, DJe-074 DIVULG 24-04-2008 PUBLIC 25-04-2008 EMENT VOL-
02316-06 PP-01294 LEXSTF v. 30, n. 356, 2008, p. 449-454).
389EMENTA: - "Habeas corpus". - Improcedência das alegações de nulidade quanto à fixação da pena pela decisão condenatória. "Habeas
corpus" indeferido. (HC 74526, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Primeira Turma, julgado em 04/02/1997, DJ 21-03-1997 PP-08508 EMENT
VOL-01862-02 PP-00328).
390PROCESSUAL PENAL. INDENIZAÇÃO DO ART. 387, IV, DO CPP. APLICABILIDADE À AÇÃO PENAL EM CURSO QUANDO A SENTENÇA
CONDENATÓRIA FOR PROFERIDA EM DATA POSTERIOR À VIGÊNCIA DA LEI N. 11.719/2008. 1. A regra estabelecida pelo art. 387, IV, do
Código de Processo Penal, por ser de natureza processual, aplica-se a processos em curso. 2. Inexistindo nos autos elementos que permitam
a fixação do valor, mesmo que mínimo, para reparação dos danos causados pela infração, o pedido de indenização civil não pode prosperar,
sob pena de cerceamento de defesa. 3. Recurso especial conhecido, mas improvido. (REsp 1176708/RS, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS
JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 12/06/2012, DJe 20/06/2012) (Informativo nº 499).
391RECURSO ESPECIAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL. REPARAÇÃO CIVIL MÍNIMA. ART. 387, IV, DO CPP. IRRETROATIVIDADE. NORMA DE
DIREITO MATERIAL. FIXAÇÃO DE OFÍCIO. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE PEDIDO DO OFENDIDO E OPORTUNIDADE DE DEFESA AO RÉU.
1. A inovação legislativa introduzida pela Lei nº 11.719/2008, que alterou a redação do inciso IV, do art. 387 do Código de Processo Penal,
possibilitando que na sentença seja fixado valor mínimo para a reparação dos prejuízos sofridos pelo ofendido em razão da infração, ao
contemplar norma de direito material mais rigorosa ao réu, não pode ser aplicada a fatos praticados antes de sua vigência, como no caso
dos autos, em que a conduta delituosa ocorreu em 15/5/2003. 2. A permissão legal de cumulação de pretensão acusatória com a
indenizatória não dispensa a existência de expresso pedido formulado pelo ofendido, dada a natureza privada e exclusiva da vítima. 3. A
fixação da reparação civil mínima também não dispensa a participação do réu, sob pena de frontal violação ao seu direito ao contraditório e
à ampla defesa. 4. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp 1206635/RS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA,
julgado em 02/10/2012, DJe 09/10/2012).
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seguros para a fixação do valor mínimo. No segundo caso, a Quinta Turma atualmente392 entende
que se trata de norma de direito material, não podendo ter aplicação retroativa.
Entendemos que o posicionamento da Sexta Turma é o mais correto. Com efeito, não houve
qualquer inovação no campo do direito material, ou seja, a Lei 11.719/08 não criou um novo direito
para a vítima, tendo em vista que a obrigação de reparar o dano já estava prevista, nos termos do
art. 91, I, do Código Penal.
O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da AP 396/RO, aplicou o disposto no art. 387, IV,
do CPP, conforme voto da então relatora, ministra Cármen Lúcia393, não obstante os fatos e a própria
denúncia terem sido anteriores à vigência da Lei 11.719/08. É possível, portanto, que se confirme o
entendimento da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça.
A outra controvérsia gira em torno da necessidade de haver ou não a manifestação do
ofendido. A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça tem precedente em que se exigiu a
referida iniciativa394.
Em se tratando de infração penal cometida contra bens, serviços ou interesses de determinado
ente público, parece não haver dúvidas quanto à desnecessidade da referida manifestação, porque o
próprio ordenamento impõe ao ente o dever de agir, com vistas à reparação do dano sofrido.
Mesmo na hipótese de crime cometido contra particular, entendemos ser desnecessária a
manifestação formal da vítima. Isso porque, trata-se de fixação de valor mínimo, de tutela mínima, a
qual não dispensará a provocação posterior da vítima, caso pretenda futuramente cobrar tais
valores, tal como já ocorria quando o juiz reconhecia a obrigação de reparar o dano causado pela
infração penal.
Em suma, o que importa é que o réu tenha tido a oportunidade efetiva de se defender395,
havendo parâmetros nos autos da ação penal para a fixação do valor.
A Lei 11.719/08 criou o parágrafo único do art. 387 do CPP, para determinar que o juiz deve
decidir, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o caso, a imposição de prisão
392 A Quinta Turma mudou o seu entendimento, porque já houve decisão no mesmo sentido do adotado pela Sexta Turma: “PENAL.
PROCESSUAL PENAL. FURTO QUALIFICADO. ABUSO DE CONFIANÇA. CONFIGURAÇÃO. AGRAVANTE. CRIME COMETIDO CONTRA VÍTIMA
COM MAIS DE 60 ANOS. INDENIZAÇÃO DO ART. 387, IV, DO CPP. INCIDÊNCIA. NORMA PROCESSUAL PENAL. AÇÃO PENAL EM CURSO.
SENTENÇA PROFERIDA APÓS A VIGÊNCIA DA LEI 11.719/2008. RECURSO PROVIDO. [...] VII. No presente caso, na sentença, proferida em
10/09/2008, isto é, quando já vigente a norma em questão, o Juiz reconheceu a incidência da nova redação do inciso IV do art. 387 do
Código de Processo Penal, fixando valor para reparação de danos causados pela infração.VIII. A norma de Direito Processual Penal se aplica
imediatamente às sentenças proferidas após a sua entrada em vigor. Sendo assim, a norma do art. 387, IV, do CPP deve ser aplicada ao
presente caso, em que a sentença condenatória foi proferida quando já vigente a lei que modificou os dispositivos da lei adjetiva penal. [...]
(REsp 1208510/RS, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 24/05/2011, DJe 15/06/2011)”.
393QUESTÃO DE ORDEM NA AÇÃO PENAL. DEPUTADO FEDERAL. RENÚNCIA AO MANDATO. ABUSO DE DIREITO: RECONHECIMENTO DA
COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA CONTINUIDADE DO JULGAMENTO DA PRESENTE AÇÃO PENAL. DENÚNCIA. CRIMES
DE PECULATO E DE QUADRILHA. ALEGAÇÕES DE NULIDADE DA AÇÃO PENAL, DE INVESTIGAÇÃO PROMOVIDA POR ÓRGÃO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO DE PRIMEIRO GRAU, DE OFENSA AO PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL, DE CRIME POLÍTICO, DE INÉPCIA DA DENÚNCIA, DE
CONEXÃO E DE CONTINÊNCIA: VÍCIOS NÃO CARACTERIZADOS. PRELIMINARES REJEITADAS. PRECEDENTES. CONFIGURAÇÃO DOS CRIMES DE
PECULATO E DE QUADRILHA. AÇÃO PENAL JULGADA PROCEDENTE. [...] (AP 396, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado
em 28/10/2010, DJe-078 DIVULG 27-04-2011 PUBLIC 28-04-2011 EMENT VOL-02510-01 PP-00001).
394 AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. FURTO. ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO. NULIDADE DO LAUDO
PERICIAL. NOMEAÇÃO DE PERITOS SEM DIPLOMA DE CURSO SUPERIOR. REPARAÇÃO PELOS DANOS CAUSADOS À VÍTIMA PREVISTA NO ART.
387, INCISO IV, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. NECESSIDADE DE SUBMISSÃO AO CONTRADITÓRIO. RECURSO ESPECIAL A QUE SE NEGOU
SEGUIMENTO. DECISÃO MANTIDA EM SEUS PRÓPRIOS TERMOS. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. [...] 3. Para que seja fixado na
sentença o valor mínimo para reparação dos danos causados à vítima, com base no art. 387, inciso IV, do Código Penal, deve haver pedido
formal nesse sentido pelo ofendido e ser oportunizada a defesa pelo réu, sob pena de violação aos princípios da ampla defesa e do
contraditório. [...] (AgRg no REsp 1186956/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 18/12/2012, DJe 01/02/2013).
395Ementa: REVISÃO CRIMINAL. ALEGAÇÕES DE OFENSA À LEI PENAL, ILEGITIMIDADE E INSUFICIÊNCIA DE PROVA PARA O DECRETO
CONDENATÓRIO, INCONFORMISMO COM APLICAÇÃO DA PENA. FIXAÇÃO DE VALOR MÍNIMO DA REPARAÇÃO DE DANOS DECORRENTES DO
DELITO (ART. 387, IV, CÓDIGO DE PROCESSO PENAL). PEDIDO ACOLHIDO APENAS EM PARTE. [...] 3. Afasta-se a estipulação de valor mínimo
prevista no art. 387, IV, do Código de Processo Penal, sem prejuízo da persecução correspondente em procedimento autônomo, quando
fora de dúvida a ausência de contraditório a respeito. (RvC 5437, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 17/12/2014,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-052 DIVULG 17-03-2015 PUBLIC 18-03-2015).
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preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do conhecimento da apelação que
eventualmente vier a ser interposta.
Recentemente, a Lei 12.736, de 30 de novembro de 2012, acrescentou um novo parágrafo,
para assentar que o tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil
ou no estrangeiro, será computado para fins de determinação do regime inicial de pena privativa de
liberdade. Trata-se de uma espécie de detração para fins de fixação do regime inicial do
cumprimento de pena, que deverá ser considerada pelo juiz da causa na própria sentença
condenatória.
396 O prazo do edital será de noventa dias, se tiver sido imposta pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, e de
sessenta dias, nos outros casos (§ 1º). O prazo para apelação correrá após o término do fixado no edital, salvo se, no curso deste, sobrevier
a intimação real (§ 2º).
397PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. ART. 392 DO CPP. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO PESSOAL DO
RÉU. NÃO OCORRÊNCIA DE NULIDADE. RECURSO MINISTERIAL. TEMPESTIVIDADE. REGULARIDADE RECONHECIDA PELA DEFESA. CAUSA DE
DIMINUIÇÃO DA PENA. ART. 33, § 4º, DA LEI 11.343/06. JULGAMENTO DO RECURSO EM PERÍODO DA VACATIO LEGIS. RETROAÇÃO PARCIAL
DE ARTIGO DE LEI PENAL NOVA MAIS BENÉFICA. IMPOSSIBILIDADE. ORDEM DENEGADA. 1. Nos termos do art. 392 do CPP, a intimação da
sentença só será pessoal se o réu estiver preso (inciso I). No caso de o réu se livrar solto ou nos crimes afiançáveis, sendo prestada a fiança,
a intimação será feita pessoalmente ao réu ou ao defensor por ele constituído (inciso II). 2. "Frustrada a intimação pessoal do condenado
solto, que não foi localizado no endereço constante dos autos, não configura constrangimento ilegal, passível de anulação, a intimação feita
na pessoa de seu defensor constituído" (HC 91.021/SP). [...] (HC 100692/PR, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado
em 15/06/2010, DJe 02/08/2010).
398 HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO (ARTIGO 157, § 2º, INCISOS I E II, DO CÓDIGO PENAL). SENTENÇA CONDENATÓRIA.
INTIMAÇÃO PESSOAL INFRUTÍFERA. COMUNICAÇÃO POR EDITAL. TRÂNSITO EM JULGADO. ACUSADO. SERVIDOR PÚBLICO. DOMICÍLIO
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se a adoção do posicionamento que potencializa os princípios constitucionais do contraditório e da
ampla defesa, ou seja, intimando-se o acusado e o defensor em qualquer hipótese.
A intimação por edital deve ser utilizada apenas se forem frustradas as tentativas de
localização do réu.
Em sendo intimado o acusado e seu defensor, o prazo para interpor recurso inicia-se a partir
da última intimação.
NECESSÁRIO. MEIOS DE LOCALIZÁ-LO NÃO ESGOTADOS. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTOS PARA
A SEGREGAÇÃO CAUTELAR. ORDEM CONCEDIDA. 1. O acusado que respondeu solto ao processo, ainda que possua defensor constituído,
deve ser intimado pessoalmente da condenação, sob pena de nulidade por violação ao princípio da ampla defesa. 2. Sendo de
conhecimento do Juízo que o acusado era servidor público estadual, nula é a sua intimação acerca da sentença condenatória realizada via
edital quando infrutífera a tentativa de intimá-lo pessoalmente no endereço declinado nos autos, já que era possível localizá-lo no local de
exercício das suas funções, mormente por se tratar do seu domicílio necessário, nos termos do artigo 76 do Código Civil. [...] (HC
163.179/ES, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 14/08/2012, DJe 30/08/2012).
399A capitulação jurídica também não vincula o juízo.
400Enunciado 696 da Súmula do STF: “Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se
recusando o promotor de justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao procurador-geral, aplicando-se por analogia o art. 28
do Código de Processo Penal”.
401EMENTA: "HABEAS CORPUS". LEI Nº 9.099/95. DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO PELO JUÍZO DE PRIMEIRO GRAU. SENTENÇA REFORMADA
EM GRAU DE APELAÇÃO. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO, SEM PROPOSTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO: INAPLICABILIDADE DO ART.
89 DA LEI Nº 9.099/95. 1. A suspensão condicional do processo, nos termos do art. 89 da Lei nº 9.099/95, não é aplicável às hipóteses em
que ocorre a desclassificação para delito em tese passível de aplicação do benefício. 2. Tem esta Corte já decidido que o direito à suspensão
do processo não se traduz em prerrogativa subjetiva do réu, mas sim faculdade processual ínsita ao Ministério Público (HC nº 75.343-4). 3.
Impossível a suspensão do processo ex officio, sem que tenha sido detonada pelo Ministério Público. Ao Juiz não cabe substituir o órgão
ministerial para a agilização do mecanismo de suspensão do processo, competindo-lhe o controle da legalidade da respectiva suspensão
que tenha sido promovida por quem de direito. 4. Habeas corpus indeferido. (HC 75441, Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA, Segunda
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Registre-se, contudo, recentes decisões do Superior Tribunal de Justiça em sentido contrário,
nas quais se reconheceu o direito subjetivo do réu, cabendo ao juiz implementá-lo, em decorrência
da recusa indevida402, após a aplicação do art. 28 do CPP403.
Na segunda hipótese, caso a alteração da definição jurídica acarrete a perda de competência
do juízo, caberá a este apenas a remessa ao juízo competente404.
Por fim, não havendo necessidade de reabertura de instrução, como já foi dito, a emendatio
libelli pode ser aplicada em qualquer grau de jurisdição, devendo apenas haver cuidado para se evitar
a reformatio in pejus.
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A primeira delas é a de que o juiz, em qualquer hipótese, não poderá sentenciar
imediatamente o feito. Será necessária a reabertura de fases do procedimento até então superadas,
tais como aditamento da acusação405, defesa, instrução probatória e debates. Do contrário, o
cerceamento de defesa seria flagrante, pois o réu estaria sendo condenado por incriminação até
então inexistente.
A segunda, no sentido de que a mutatio não constitui nova demanda penal. A alteração deve
estar adstrita à realidade histórica contextualizada na denúncia. Agrega-se algo novo ao fato
principal. Logo, aproveitam-se os atos até então praticados. Do contrário, tratar-se-ia do aditamento
propriamente dito, com total reabertura do procedimento.
Tornando-se necessário o aditamento, caso o Ministério Público não o promova, ao juiz caberá
a remessa dos autos ao órgão de revisão, analogicamente ao art. 28 do CPP (art. 384, § 1º),
atribuição essa que, no caso do Ministério Público Federal, recai sobre as Câmaras de Coordenação e
Revisão (art. 62 da LC 75/93). Persistindo o não aditamento, o juiz julgará o processo no estado em
que se encontra, podendo até, se for o caso, absolver o acusado.
Quanto ao procedimento propriamente dito, efetuado o aditamento, o juiz mandará ouvir o
defensor do acusado, no prazo de cinco dias, e em seguida decidirá sobre o recebimento ou não do
aditamento. Admitindo-o, o juiz, a requerimento de qualquer das partes, designará dia e hora para
continuação da audiência, com inquirição de testemunhas, até três para cada parte, novo
interrogatório do acusado, realização de debates e julgamento. Nesse caso, ficará o juiz, na sentença,
adstrito aos termos do aditamento.
O § 2º do art. 384 do CPP manda aplicar as hipóteses previstas nos parágrafos do art. 383 –
sursis processual e desclassificação, acima já comentadas no item referente à emendatio libelli. Para
tanto, recomenda-se, se possível, primeiramente aguardar o aditamento.
Ao contrário da emendatio, entende-se não ser possível a aplicação da mutatio em grau de
recurso406.
A Lei 11.719/08 excluiu as ações penais privadas do alcance da mutatio libelli, à exceção da
ação penal privada subsidiária da pública.
11.2.3 FIXAÇÃO DA PENA
Na fixação da pena, o juiz deverá observar o sistema trifásico407, adotado pelo Código Penal. As
circunstâncias judiciais estão listadas no art. 59408; as agravantes e atenuantes situam-se entre os
arts. 61 e 67; as causas de aumento e diminuição de pena estão espalhadas pela legislação, ou seja,
no Código Penal (parte geral e especial) e na legislação especial.
Em obediência ao princípio constitucional da individualização da pena, deve-se atentar para a
necessidade de se efetuar a dosimetria de cada réu, em relação a cada infração penal praticada.
405Com o advento da Lei 11.719/08, foi extinta a mutatio libelli sem aditamento, modalidade muito criticada pela doutrina especializada.
Agora, do ponto de vista do direito positivo, independentemente da gravidade da infração penal, o procedimento será único, ou seja,
caberá ao Ministério Público, em qualquer hipótese, o aditamento.
406 Enunciado 453 da Súmula do STF: “Não se aplicam à segunda instância o art. 384 e parágrafo único do Código de Processo Penal, que
possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente,
na denúncia ou queixa”.
407 Art. 68 do CP. A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código; em seguida serão consideradas as
circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as causas de diminuição e de aumento.
Parágrafo único - No concurso de causas de aumento ou de diminuição previstas na parte especial, pode o juiz limitar-se a um só aumento
ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua.
408 Art. 59 do CP. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às
circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para
reprovação e prevenção do crime: I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; III
- o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de
pena, se cabível.
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11.2.4 NULIDADES409
A sentença, como ato judicial formal, pode conter vícios que afetem a sua validade. Vai
depender do grau de comprometimento. Há ainda defeitos que podem ser corrigidos de ofício, ou
mediante embargos de declaração.
Em regra, a ausência de adequada fundamentação é causa de nulidade (art. 93, IX da CF). Mas
isso não significa que o juiz deva analisar cada um dos argumentos ou alegações das partes, bastando
que a motivação do ato seja suficiente para compreendê-lo410.
NULIDADES
NULIDADES. PRINCÍPIOS. CLASSIFICAÇÃO DOS VÍCIOS
PROCESSUAIS. NULIDADES RELATIVAS E ABSOLUTAS. ROL LEGAL.
SÚMULAS DOS TRIBUNAIS SUPERIORES.
12.2 PRINCÍPIOS
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Princípio do prejuízo (pas de nullité sans grief) – De acordo com o art. 563 do CPP, nenhum ato
será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa. Trata-se
do princípio mais importante que orienta o sistema das nulidades. De fato, não faz o menor sentido
reconhecer-se a nulidade de determinado ato, se dele não resulta qualquer prejuízo para a parte a
quem aproveitaria a sua invalidação. A jurisprudência do STF tem afirmado que a ocorrência do
prejuízo é necessária até mesmo em caso de nulidade absoluta412.
Princípio da instrumentalidade das formas – Está expressamente previsto no art. 572, II, do
CPP, segundo o qual não se pronunciará a nulidade se, praticado por outra forma, o ato tiver atingido
o seu fim. Decorre da própria noção de processo como instrumento. Privilegia-se o conteúdo. O vício
formal, tão somente, não justifica a invalidação.
Princípio da causalidade – Nos termos do art. 573, § 1º, do CPP, a nulidade de um ato, uma
vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente dependam, ou que sejam consequência. A
explicação decorre do próprio encadeamento dos atos que compõem o rito. Assim, o juiz, ao
pronunciar a nulidade, esclarecerá até onde ela se estenderá (§ 2º). Existe, desse modo, a nulidade
originária e a derivada, quando entre ambas houver uma relação de causa e efeito.
Princípio do interesse – Conforme já foi estudado quando da análise das condições da ação, a
parte, no processo, é movida pelo interesse. É preciso demonstrá-lo concretamente, porque o Poder
Judiciário não é órgão de consulta. Tratamento semelhante é encontrado no sistema das nulidades.
Assim, a parte não poderá arguir nulidade que interesse somente à parte contrária (art. 565 do CPP).
Princípio da convalidação – O princípio da convalidação está intimamente ligado ao instituto
da preclusão. Em determinadas situações, considerando-se a própria noção de processo (caminhar
para frente), o ordenamento estabelece limites para a arguição da nulidade. A convalidação pode se
operar em virtude da superação de determinada fase do procedimento (art. 572, I), ou quando a
parte, ainda que tacitamente, tiver aceitado os seus efeitos (III). Mas a convalidação não ocorre em
todos os casos, estando ligada às nulidades relativas, porque as absolutas são insuscetíveis de
convalidação.
12.3 CLASSIFICAÇÃO
As nulidades são classificadas conforme o grau de intensidade do vício que acomete o ato.
12.3.1 IRREGULARIDADE
Quando o vício é de pequena monta, não compromete a finalidade do ato e não prejudica a
parte diretamente interessada, pode-se dizer que o ato é meramente irregular. Dessa forma, não
está sujeito à invalidação.
412Ementa: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. DIREITO DE REPERGUNTAS PELO DEFENSOR DO RÉU AOS DEMAIS
CORRÉUS. POSSIBILIDADE. INTELIGÊNCIA DO ART. 188 DO CPP. NULIDADE ABSOLUTA. EFETIVO PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO.
NECESSIDADE. EXCESSO DE PRAZO. NÃO CARACTERIZAÇÃO. COMPLEXIDADE DA AÇÃO PENAL. INEXISTÊNCIA DE INÉRCIA OU DESÍDIA DO
PODER JUDICIÁRIO. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM DENEGADA. I – O art. 188 do Código de Processo Penal, com a
redação dada pela Lei 10.792/2003, passou a dispor que, após as perguntas formuladas pelo juiz ao réu, podem as partes, por intermédio do
magistrado, requerer esclarecimentos ao acusado. II – O indeferimento de reperguntas pelo defensor de um dos réus aos demais corréus
ofende os princípios constitucionais da ampla defesa, do contraditório e da isonomia, gerando nulidade absoluta. Precedentes. III –
Contudo, o entendimento desta Corte também é no sentido de que, para o reconhecimento de eventual nulidade, ainda que absoluta, faz-
se necessária a demonstração do efetivo prejuízo, o que não ocorre na espécie. Precedentes. IV – A jurisprudência desta Corte é firme no
sentido de que não procede a alegação de excesso de prazo quando a complexidade do feito, as peculiaridades da causa ou a defesa
contribuem para eventual dilação do prazo. Precedentes. V – Ordem denegada. (HC 116132, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI,
Segunda Turma, julgado em 17/09/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-194 DIVULG 02-10-2013 PUBLIC 03-10-2013).
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No caso da nulidade relativa, o vício que contamina o ato é mais grave do que o que configura
a mera irregularidade. Já é possível falar-se em prejuízo, mesmo que não seja evidente. O
reconhecimento da nulidade, nesses casos, não prescinde da efetiva demonstração do prejuízo, além
de necessariamente ter sido arguida no momento oportuno. Nos termos do art. 571 do CPP, as
nulidades deverão ser arguidas:
1. as da instrução criminal dos processos da competência do júri, até a fase das
alegações finais do sumário da culpa;
2. as da instrução criminal dos processos de competência do juiz singular e dos
processos especiais, salvo os dos Capítulos V e VII do Título II do Livro II, até as
alegações finais;
3. as do processo sumário, no prazo a que se refere o art. 537, ou, se verificadas depois
desse prazo, logo depois de aberta a audiência e apregoadas as partes;
4. as ocorridas posteriormente à pronúncia, logo depois de anunciado o julgamento e
apregoadas as partes (art. 447);
5. as de instrução criminal dos processos de competência do Supremo Tribunal Federal
e dos Tribunais de Apelação, até as alegações finais;
6. se verificadas após a decisão da primeira instância, nas razões de recurso ou logo
depois de anunciado o julgamento do recurso e apregoadas as partes;
7. as do julgamento em plenário, em audiência ou em sessão do tribunal, logo depois de
ocorrerem.
Já foi dito que, nos termos do art. 572, determinados vícios serão considerados sanados se não
arguidos no momento oportuno, ocorrendo a convalidação. Problemas envolvendo a representação
podem ser sanados a qualquer tempo, mediante ratificação (art. 568).
A falta ou a nulidade da citação, da intimação ou notificação estará sanada, desde que o
interessado compareça, antes de o ato consumar-se, embora declare que o faz para o único fim de
argui-la. O juiz ordenará, todavia, a suspensão ou o adiamento do ato, quando reconhecer que a
irregularidade poderá prejudicar direito da parte (art. 570 do CPP). Normalmente, vícios ligados às
comunicações processuais, principalmente a citação, ocasionam o retorno da marcha processual até
o momento de sua ocorrência.
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incompetente, mas coberta pelo manto da coisa julgada, não poderá ser invalidada. Nesse caso, os
efeitos do ato nulo permanecerão intangíveis413.
12.3.4 ATO INEXISTENTE
Em razão do que já foi lido até aqui, é possível traçar um paralelo entre a classificação das
nulidades e a categorização dos pressupostos processuais, porque a lógica empregada é semelhante.
O ato processual, como tal, é um componente do processo, realidade mais ampla, havendo entre
ambos uma inegável relação.
Assim, pode-se deslocar, com as devidas adaptações, o que foi dito sobre os pressupostos de
existência do processo para a categoria dos atos inexistentes. Um ato praticado por um órgão que
não esteja investido de jurisdição, para exemplificar, é inexistente, um não-ato.
O ato inexistente não gera efeitos e não está sujeito a qualquer tipo de preclusão.
413HABEAS CORPUS. SENTENÇA ABSOLUTÓRIA PROFERIDA POR JUIZ ABSOLUTAMENTE INCOMPETENTE. OCORRÊNCIA DE TRÂNSITO EM
JULGADO. NE REFORMATIO IN PEJUS. ORDEM CONCEDIDA.1. De acordo com a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, a
declaração de incompetência absoluta do Juízo se enquadra nas hipóteses de nulidade absoluta do processo. Todavia, a sentença prolatada
por juiz absolutamente incompetente, embora nula, após transitar em julgado, pode acarretar o efeito de tornar definitiva a absolvição do
acusado, uma vez que, apesar de eivada de nulidade, tem como consequência a proibição da reformatio in pejus.2. O princípio ne
reformatio in pejus, apesar de não possuir caráter constitucional, faz parte do ordenamento jurídico complementando o rol dos direitos e
garantias individuais já previstos na Constituição Federal, cuja interpretação sistemática permite a conclusão de que a Magna Carta impõe a
preponderância do direito à liberdade sobre o Juiz natural. Assim, somente se admite que este último - princípio do juiz natural - seja
invocado em favor do réu, nunca em seu prejuízo.3. Sob essa ótica, portanto, ainda que a nulidade seja de ordem absoluta, eventual
reapreciação da matéria, não poderá de modo algum ser prejudicial ao paciente, isto é, a sua liberdade. Não se trata de vinculação de uma
esfera a outra, mas apenas de limitação principiológica.4. Ordem concedida para tornar sem efeito a decisão proferida nos autos da ação
penal que tramita perante a 1ª Vara Federal da Seção Judiciária da Paraíba.(HC 146.208/PB, Rel. Ministro HAROLDO RODRIGUES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/CE), SEXTA TURMA, julgado em 04/11/2010, DJe 16/05/2011).
414 Com a redução da maioridade civil, esvaziou-se a exigência de curador para o “réu menor”, como era conhecido o acusado com idade
entre 18 e 21 anos.
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523:“No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua
deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu”.
d) A intervenção do Ministério Público – Causa de nulidade absoluta, por atentar
contra o contraditório, que também é garantido ao autor da demanda. A falta de
intervenção da defesa também gera nulidade.
e) A citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e
os prazos concedidos à acusação e à defesa – O primeiro reparo que se deve
efetuar é quanto ao procedimento, porque o réu não é mais citado para comparecer à
audiência de qualificação e interrogatório, mas sim para apresentar defesa escrita.
Quanto ao descumprimento de prazos, a gravidade do vício irá orientar a nulidade
aplicável.
f) A sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da respectiva cópia, com o rol de
testemunhas nos processos perante o Tribunal do Júri – Não há mais previsão de
libelo e sua contrariedade no rito escalonado do júri (422 do CPP).
g) A intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a
lei não permitir o julgamento à revelia415; a intimação das testemunhas arroladas
no libelo e na contrariedade nos termos estabelecidos pela lei 416; a presença pelo
menos de 15 jurados para a constituição do júri; o sorteio dos jurados do
conselho de sentença em número legal e sua incomunicabilidade; os quesitos e
as respectivas respostas417; a acusação e a defesa na sessão de julgamento – Em
regra, são hipóteses de nulidade absoluta.
h) A sentença – A falta de sentença não é causa de nulidade, porque não pode ser
invalidado aquilo que sequer existe. O CPP quis se referir a algum vício existente na
sentença, a comprometer ou não a sua validade, a depender da gravidade.
i) O recurso de ofício, nos casos em que a lei o tenha estabelecido – Apesar da
terminologia utilizada, trata-se de hipótese de reexame necessário, atraindo-se a
aplicação do Enunciado 423 da Súmula do STF: Não transita em julgado a sentença
por haver omitido o recurso "ex-oficio", que se considera interposto "ex-lege".
j) A intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e
despachos de que caiba recurso – Por configurar ofensa ao contraditório, enquadra-
se como vício caracterizador de nulidade absoluta.
k) No Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apelação, o quorum legal para o
julgamento – Hipótese de nulidade absoluta, inclusive em relação ao Superior Tribunal
de Justiça.
IV – Por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato – Segue a regra
geral: o nível ou gravidade do vício, além da essencialidade do ato, orientarão o juiz no
reconhecimento da nulidade, podendo ser absoluta ou relativa.
415Art. 457. O julgamento não será adiado pelo não comparecimento do acusado solto, do assistente ou do advogado do querelante, que
tiver sido regularmente intimado. (Redação dada pela Lei nº 11.689/08)
§ 1º Os pedidos de adiamento e as justificações de não comparecimento deverão ser, salvo comprovado motivo de força maior,
previamente submetidos à apreciação do juiz presidente do Tribunal do Júri. (Incluído pela Lei nº 11.689/08)
§ 2º Se o acusado preso não for conduzido, o julgamento será adiado para o primeiro dia desimpedido da mesma reunião, salvo se houver
pedido de dispensa de comparecimento subscrito por ele e seu defensor. (Incluído pela Lei nº 11.689/08)
416Não existindo mais as referidas peças, aplica-se o art. 422.
417Ocorrerá ainda a nulidade, por deficiência dos quesitos ou das suas respostas, e contradição entre estas (art. 564, parágrafo único).
418[Regimento Interno do TRF/1] Art. 186. A publicação da pauta de julgamento, que poderá vir a ser aditada, antecederá em quarenta e
oito horas, pelo menos, a sessão em que os processos serão julgados.
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§ 1º A pauta de julgamentos será afixada em lugar acessível do Tribunal e divulgada em sua página eletrônica.
§ 2º Sempre que, ao final da sessão, restarem, em pauta ou em mesa, mais de vinte feitos sem julgamento, o presidente fará realizar uma
ou mais sessões extraordinárias destinadas ao julgamento desses processos, ou suspenderá a sessão para continuar no dia seguinte.
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13.1 CONCEITO
Grinover, Gomes Filho e Fernandes conceituam recurso como o “meio voluntário de
impugnação de decisões, utilizado antes da preclusão e na mesma relação jurídica processual, apto a
propiciar a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração da decisão”419.
419 GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antônio Magalhães; FERNANDES, Antônio Scarance. Recursos no processo penal. 3. ed. rev.
atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p. 31.
420 É óbvio que esse argumento não pode servir para justificar a interposição sucessiva e interminável de recursos, tal como tem se
verificado no cotidiano. Bem diferente de se garantir à parte o direito de ter a referida decisão reanalisada por outro órgão judicial, é
prolongar ad infinitum a discussão de determinada decisão. A ineficiência da atividade jurisdicional também pode ser atribuída ao excesso
de recursos e meios de impugnação de decisões judiciais.
421A exceção fica por conta do efeito regressivo encontrado em alguns recursos, conforme será visto no momento próprio.
422 GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antônio Magalhães; FERNANDES, Antônio Scarance.Recursos no processo penal. 3. ed. rev.
atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p. 23.
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de recurso de ofício, ainda admitidos pela jurisprudência quando (a) a sentença conceder habeas
corpus (art. 574 do CPP) ou quando (b) houver a reabilitação (art. 746 do CPP)423.
Havendo divergência de vontades entre o acusado e o defensor quanto à interposição do
recurso, dependerá da análise do caso concreto, para se aferir qual a situação que mais favoreça o
réu.
Como corolário da voluntariedade, encontra-se a disponibilidade, em razão da qual se permite
que a parte desista de eventual recurso interposto, independentemente da concordância da parte
contrária424. Exige-se, entretanto, no caso de defensor constituído, que haja poderes específicos
nesse sentido425. A desistência ocorre quando o recurso já fora interposto. Na renúncia, a
manifestação de desinteresse se dá antes mesmo da interposição.
Em relação ao Ministério Público, porém, o Código de Processo Penal proíbe expressamente a
desistência (art. 576). Essa vedação se justifica pelo princípio da obrigatoriedade da ação penal
pública. Pode-se até não recorrer. Contudo, uma vez praticado o ato, não poderá haver desistência.
O Código de Processo Penal adotou o princípio da fungibilidade, ao permitir que, salvo a
hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por outro, ocasião
em que o juiz, reconhecendo a impropriedade do recurso interposto, mandará processá-lo de acordo
com o rito do recurso cabível (art. 579 do CPP).
No entanto, em razão da dificuldade de se aferir a má-fé, tem prevalecido o entendimento de
que a aplicação da fungibilidade está condicionada à observância do prazo do recurso cabível, além
da inexistência de erro grosseiro426. Também não seria possível aplicar a fungibilidade no caso de
recurso com fundamentação vinculada, como nos recursos especial e extraordinário.
A proibição da reformatio in pejus também está disciplinada no Código de Processo Penal,
especificamente no art. 617, segundo a qual o tribunal, câmara ou turma atenderá, nas suas
decisões, ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser
agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da sentença.
423 Não mais existe o reexame necessário para a hipótese originalmente prevista no art. 411, que trata de absolvição sumária (art. 574, II
do CPP).
424 HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. RECURSO DE APELAÇÃO. MANIFESTAÇÃO DE DESISTÊNCIA EXERCIDA POR RÉU DEVIDAMENTE
ASSISTIDO POR SEU DEFENSOR. LEGALIDADE. INEXISTÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL A REPARAR. DENEGAÇÃO DA ORDEM. 1. À luz
do que dispõe o artigo 574 do Código de Processo Penal, o recurso de apelação consubstancia direito disponível, cujo exercício se subordina
à vontade do titular, inexistindo vício qualquer na desistência do réu ao recurso, manifestada juntamente com o patrono constituído. [...]
(HC 17.158/PR, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em 07/08/2001, DJ 29/10/2001, p. 274).
425 AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO. PEDIDO DE DESISTÊNCIA DO RECURSO.
SUBSCRITOR DO PEDIDO NÃO POSSUI PODERES ESPECÍFICOS EM PROCURAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. ACÓRDÃO A QUO EM CONSONÂNCIA
COM A JURISPRUDÊNCIA DESTE TRIBUNAL. SÚMULA 83/STJ. 1. O Superior Tribunal de Justiça considera inválido o pedido de desistência do
recurso se o subscritor do pedido não possui poderes para tanto, seja em relação ao direito sobre o qual se funda a demanda, seja em
relação ao próprio recurso. 2. A desistência do prazo recursal, efetivada pelo patrono dos assistentes da acusação - que consistiria na
renúncia ao direito de apelar -, necessita da anuência expressa dos próprios assistentes, o que, in casu, não se efetivou, razão por que
resulta inválida. 3. Importante salientar que não se deve desvirtuar os institutos jurídicos controvertidos nos presentes autos, porquanto, na
desistência, existe a interposição prévia de um recurso; na renúncia, não há. 4. A ninguém é dado ignorar que a parte pode renunciar ou
desistir do recurso ou da ação, sendo a renúncia e a desistência de caráter irrevogável. Mas a doutrina e a jurisprudência têm exigido
cautela quando a renúncia parte do próprio réu, que deveria formalizá-la em termo próprio ou perante o próprio juízo. 5. Incidência da
Súmula 83/STJ. [...] (AgRg nos EDcl no REsp 1230482/CE, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 29/05/2012, DJe
11/06/2012).
426 HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. SENTENÇA DE IMPRONÚNCIA PROLATADA APÓS A VIGÊNCIA DA LEI
Nº 11.689/2008. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO RECEBIDO COMO APELAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. PREVISÃO EXPRESSA QUANTO AO
RECURSO CABÍVEL. ART. 416 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. NÃO INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. ERRO GROSSEIRO.
INSUFICIÊNCIA DE PROVAS PARA A PRONÚNCIA. PREJUDICIALIDADE DA ALEGAÇÃO. ORDEM PARCIALMENTE PREJUDICADA E, NO RESTANTE,
CONCEDIDA. 1. "A fungibilidade recursal, a teor do art. 579 do CPP, é possível desde que observado o prazo do recurso que se pretenda
reconhecer e a inexistência de erro grosseiro e de má-fé" (REsp 109.8670/SP, 5.ª Turma, Rel. Min. ARNALDO ESTEVES LIMA, DJe de
13/10/2009). 2. Nos termos do art. 416 do Código de Processo Penal, com redação dada pela Lei n.º 11.689/2008, "contra a sentença de
impronúncia ou de absolvição sumária caberá apelação". 3. A indicação expressa, no Estatuto Processual Penal quanto ao recurso cabível na
espécie, afasta a aplicação do princípio da fungibilidade recursal, diante da constatação do erro grosseiro. [...] (HC 172.515/MG, Rel.
Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 20/03/2012, DJe 29/03/2012).
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Muito embora esteja localizada no capítulo referente às disposições sobre o processo e o
julgamento dos recursos em sentido estrito e das apelações, a vedação à reformatio in pejus se aplica
a todo o sistema recursal.
Ainda sobre o tema, vale relembrar o Enunciado 160 da Súmula de Jurisprudência do STF, que,
inspirada no aludido princípio, afirma que “é nula a decisão do tribunal que acolhe, contra o réu,
nulidade não arguida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício”.
Outro princípio normalmente citado é o da taxatividade dos recursos, exigindo-se que haja
previsão legal de sua existência, bem como as hipóteses de cabimento. A taxatividade guarda íntima
relação com o princípio da legalidade, e, por consequência, com a segurança jurídica.
O Código de Processo Penal também deu um sinal evidente de adoção do princípio da
unirrecorribilidade das decisões, ao determinar, no art. 593, § 4º, que, quando cabível a apelação,
não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que somente de parte da decisão se
recorra. Portanto, cada decisão deve ser impugnada por um único recurso.
Mesmo nas hipóteses em que a decisão aparentemente comportaria mais de um recurso, na
realidade não se configura exceção ao aludido princípio, porque se considera individualmente cada
capítulo que a integra, a exemplo do que ocorre nos casos de interposição simultânea de recurso
especial e extraordinário.
13.3 EFEITOS
A interposição do recurso impede a preclusão da matéria, além de autorizar a sua reapreciação
pelo órgão recursal. Dá-se a este último efeito o nome de devolutivo, isto é, a interposição do recurso
devolve ao órgão ad quem o conhecimento da matéria.
De nada adiantaria a postergação da preclusão, se a instância recursal não pudesse conhecer
da matéria decidida pelo juízo responsável pela decisão impugnada. Daí porque todos os recursos
possuem o efeito devolutivo.
Há também os casos em que o ordenamento permite não somente a devolução da matéria,
mas também que se prolongue a ineficácia da decisão427 até que o recurso seja apreciado. A esse
efeito de impedir a eficácia imediata da decisão atribui-se o nome de efeito suspensivo.
No caso do processo penal, o efeito suspensivo deve ser aplicado em consonância com o
princípio da presunção de inocência, a exigir posturas distintas a depender da situação. Por exemplo,
no caso da apelação, dar-se-á o seu recebimento nos dois efeitos se se tratar de sentença
condenatória (art. 597 do CPP). No caso de sentença absolutória, o recurso será recebido tão
somente no efeito devolutivo (art. 596 do CPP).
O art. 580 do Código de Processo Penal contempla uma hipótese de extensão subjetiva dos
efeitos do recurso no caso de concurso de agentes, na medida em que autoriza que a decisão do
recurso interposto por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter
exclusivamente pessoal, aproveite aos demais acusados. Cuida-se do efeito extensivo do recurso.
Por fim, tem-se o efeito regressivo, em razão do qual a reapreciação da matéria será efetuada
pelo mesmo órgão que proferiu a decisão, como ocorre com os embargos de declaração. Cuida-se de
427 O tema a respeito da natureza da decisão sujeita a recurso é controvertido. Reproduzimos o entendimento de Grinover, Gomes Filho e
Fernandes: “Prefere-se a posição, muito aceita entre nós, no sentido de a decisão sujeita a recurso ser ato subordinado a condição
suspensiva: a sentença nasce com todos os requisitos necessários à sua existência, mas, de ordinário, privada de sua eficácia. A não
superveniência de outro pronunciamento, na instância recursal, permite à decisão recorrida irradiar os efeitos próprios. Mas se o órgão ad
quem emite nova decisão (confirmatória ou de reforma), a condição vem a faltar e a decisão da jurisdição superior substitui a de grau
inferior”. (GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antônio Magalhães; FERNANDES, Antônio Scarance. Recursos no processo penal. 3. ed.
rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p. 50).
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situação excepcional, a ser prevista pela lei, porque, como regra, o recurso deve ser apreciado por
órgão distinto.
428 Há uma corrente doutrinária que sustenta que o direito de recorrer estaria intimamente ligado ao direito de ação e de defesa. Poder-
se-ia dizer, portanto, que os pressupostos recursais estariam para os pressupostos processuais, assim como as condições do recurso
estariam para as condições da ação, com as devidas adaptações. (GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antônio Magalhães;
FERNANDES, Antônio Scarance. Recursos no processo penal. 3. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p. 72-
75).
429A adequação como requisito autônomo é criticada por parte da doutrina, porque poderia ser enquadrada no próprio cabimento.
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13.5 JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE
Para que um recurso seja conhecido, é necessário que o juízo de admissibilidade tenha sido
favorável, vale dizer, que os pressupostos tenham sido regularmente preenchidos. A hipótese
invertida também é válida: não havendo o cumprimento daqueles requisitos, o recurso não será
conhecido.
Esse juízo de admissibilidade é prévio à apreciação do mérito recursal430. Este, se analisado,
levará ao provimento ou não do recurso. Na sequência lógica, portanto, a análise do mérito é
posterior à admissibilidade.
O juízo de admissibilidade é exercido não somente pelo órgão encarregado de apreciar o
recurso, como também pelo órgão responsável pela decisão impugnada. A existência dessa dupla
filtragem tem por objetivo conferir maior racionalidade ao sistema. Em outras palavras, o juízo
responsável pela decisão atacada faz a análise inicial do recurso quanto aos seus pressupostos,
ocasião em que verificará, em juízo de prelibação, se a sua tramitação é viável. Neste caso,
encaminhará o recurso ao órgão ad quem.
O juízo de admissibilidade passa pela análise de normas cogentes, de ordem pública, sendo
permitida a sua aplicação independentemente de provocação das partes. A única advertência que se
faz é que essa atividade está limitada pelos princípios informativos ou superiores do sistema recursal,
tal como a reformatio in pejus, por exemplo.
430Não há coincidência necessária entre o objeto da demanda e o objeto do recurso. Este pode até mesmo versar sobre questão processual
referente à demanda penal, mas não deixará de ser o mérito do recurso.
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dita. O Tribunal deverá readequar a sentença, de modo a sintonizá-la com a
decisão do júri, ou ainda para adequá-la ao ordenamento.
• Houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de
segurança – Da mesma forma que o item anterior, a apelação também se volta
contra a sentença proferida pelo juiz-presidente, não podendo atingir a decisão
dos jurados. A soberania dos vereditos também se mantém preservada. A
diferença reside no fato de que o erro ou a injustiça na aplicação da pena estará
especificamente relacionado à dosimetria, isto é, concentra-se na operação que o
juiz togado efetuou para se chegar à quantidade da pena aplicável ao caso
concreto. O erro indica equívoco de natureza objetiva, enquanto que a injustiça
estará mais ligada à subjetividade, normalmente conectada à discricionariedade
conferida ao julgador para aferição das circunstâncias judiciais.
• For a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos – Este é,
sem dúvida, o fundamento mais utilizado. E aqui poderia cogitar-se eventual
ofensa à soberania dos vereditos, já que o recurso modificaria a decisão dos
jurados. O Código, entretanto, desenvolveu um mecanismo para pelo menos
minimizar a intromissão. De acordo com o § 3º do art. 593 do CPP, se o tribunal
ad quem se convencer de que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à
prova dos autos, dará provimento ao recurso para sujeitar o réu a novo
julgamento. Não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação. Assim,
qualquer que seja a decisão do Tribunal do Júri no segundo julgamento, não há
mais como o tribunal modificá-la, sob o mesmo fundamento, independentemente
de o recurso ter sido interposto pela acusação ou pela defesa. Mesmo que haja
crimes conexos, e em apenas um deles o julgamento tenha sido manifestamente
contrário à prova dos autos, renova-se, por uma única vez, o julgamento por
completo431.
Já foi dito no item anterior que a incidência do efeito suspensivo pode variar de acordo com o
resultado do julgamento. No caso da apelação, somente haverá efeito suspensivo se a sentença for
condenatória, em razão do princípio da presunção de inocência, ficando afastadas as hipóteses
previstas no art. 597 que disponham em sentido contrário. No caso de absolvição, o réu deverá ser
colocado imediatamente em liberdade (art. 596 do CPP).
Quanto ao procedimento, o prazo para interpor o recurso de apelação é de cinco dias,
podendo o recorrente optar entre a interposição por petição ou por termo nos autos (art. 600 do
CPP).
Não há obrigação de o recorrente apresentar as razões desde logo, caso em que será intimado
para apresentá-las, no prazo de oito dias, concedendo-se posteriormente o mesmo prazo ao
recorrido432. O Código de Processo Penal ainda permite a apresentação de razões na instância
superior (art. 600, § 4º, do CPP). Havendo assistente, este disporá de três dias, após o Ministério
Público.
Há entendimento no sentido de que a falta de razões poderia configurar nulidade433. Porém, o
STF já entendeu diferentemente, considerando suficiente a intimação da defesa técnica434. Quando o
431HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO E FORMAÇÃO DE QUADRILHA. PRETENSÃO DE NOVO JULGAMENTO PERANTE O TRIBUNAL DO JÚRI
SOMENTE COM RELAÇÃO ÀS QUALIFICADORAS E AO CRIME DE QUADRILHA. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE SUBMISSÃO AO JÚRI DE
TODO O CASO E NÃO SOMENTE PARTE DELE. 1. Conforme a jurisprudência desta Corte, é inviável a anulação parcial da sentença proferida
pelo Tribunal Popular quanto às qualificadoras ou circunstâncias atenuantes e demais crimes conexos, determinando submissão do réu a
novo julgamento somente em relação a essas questões, quando a decisão dos jurados for manifestamente contrária à prova dos autos. 2. O
novo julgamento significa um novo corpo de jurados, a quem caberá a apreciação de toda a acusação, pois o reconhecimento, por exemplo,
de qualquer qualificadora, sendo elementar do tipo penal, implica, necessariamente, em revolvimento do fato em sua integralidade. [...]
(HC 96.414/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em 16/12/2010, DJe 01/02/2011).
432 Segundo o código, o prazo será reduzido para três dias na hipótese de contravenção, situação atualmente de difícil ocorrência, diante
do rito sumaríssimo.
433 PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS-CORPUS. AUSÊNCIA DE RAZÕES AO RECURSO DE APELAÇÃO. NULIDADE ABSOLUTA. - Interposta
apelação, constitui nulidade absoluta a ausência das razões pelo defensor constituído, ainda que intimado. - Para a efetiva aplicação das
garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditório, a doutrina e jurisprudência têm se orientado no sentido de não aplicação
literal da regra contida no artigo 601 do Código de Processo Penal, na medida em que, não sendo apresentadas as razões de apelação pelo
patrono constituído, seja o réu intimado para substituí-lo ou, havendo indiferença do acusado, lhe seja nomeado defensor dativo pelo
magistrado. - Habeas corpus concedido. (HC 21.633/ES, Rel. Ministro VICENTE LEAL, SEXTA TURMA, julgado em 15/08/2002, DJ 02/09/2002, p.
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réu figurar como recorrente, há também o entendimento no sentido de que a falta de apresentação
das razões devolve totalmente a matéria ao tribunal.
Por fim, tratando-se de infração penal a que a lei comine pena de reclusão, o Código de
Processo Penal impõe a atuação de revisor (art. 613, I), dispensada quando se tratar de detenção
(art. 610).
250).
434 EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. INÉRCIA DA DEFESA INTIMADA PARA APRESENTAÇÃO DAS RAZÕES E CONTRA-RAZÕES
RECURSAIS: CERCEAMENTO DE DEFESA: NÃO CARACTERIZAÇÃO. PRECEDENTES. HABEAS CORPUS DENEGADO. 1. A jurisprudência deste
Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento de que a ausência de razões de apelação e de contra-razões à apelação do Ministério
Público não é causa de nulidade por cerceamento de defesa, se o defensor constituído pelo réu foi devidamente intimado para apresentá-
las. Precedentes. 2. Habeas corpus denegado. (HC 91251, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 19/06/2007, DJe-082
DIVULG 16-08-2007 PUBLIC 17-08-2007 DJ 17-08-2007 PP-00059 EMENT VOL-02285-04 PP-00824 RT v. 96, n. 866, 2007, p. 580-583).
435PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. DECISÃO QUE DEFERIU PEDIDO DE SUBSTITUIÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA
DO RECORRIDO POR PRISÃO DOMICILIAR. NÃO CABIMENTO. CPP, ART. 581. ROL TAXATIVO. RECURSO NÃO CONHECIDO. 1. O elenco de
hipóteses de cabimento do recurso em sentido estrito a que se refere o art. 581 do Código de Processo Penal é taxativo, não sendo
pertinente este instrumento recursal contra decisão que deferiu o pedido de substituição da prisão preventiva do recorrido por prisão
domiciliar. 2. Recurso não conhecido. (RSE, DESEMBARGADOR FEDERAL HILTON QUEIROZ, TRF1 - QUARTA TURMA, e-DJF1 DATA:08/02/2013
PÁGINA:1334).
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Apesar da imprecisão técnica, pelo fato de se tratar de ação autônoma de impugnação, e não
de um recurso propriamente dito, o Código de Processo Penal mantém a sentença436 que nega ou
concede a ordem de habeas corpus como impugnável mediante RSE.
436Segundo Grinover, Gomes Filho e Fernandes, “a sentença é o ato do juiz que põe fim ao processo e soluciona a lide, decidindo,
portanto, o mérito da causa. Evidente, portanto, que a decisão final proferida em habeas corpus se inclui nessa categoria” (GRINOVER, Ada
Pellegrini; GOMES FILHO, Antônio Magalhães; FERNANDES, Antônio Scarance. Recursos no processo penal. 3. ed. rev. atual. e ampl. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p. 377).
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Após, o juiz poderá retratar-se ou manter a decisão impugnada, podendo ainda determinar a
juntada de outras peças que entenda necessárias à formação do instrumento (art. 589). Em caso de
retratação, poderá ser interposto novo RSE, mas desta vez sem nova possibilidade de retratação
(parágrafo único).
Portanto, não caberiam embargos infringentes em ação penal originária437, sendo este
entendimento recentemente reafirmado pelo Superior Tribunal de Justiça438.
437PROCESSO PENAL. EMBARGOS INFRINGENTES. AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. NÃO-CABIMENTO. RECURSOS NÃO CONHECIDOS. 1. Já é
pacífica a jurisprudência desta Corte, bem como a do Supremo Tribunal Federal, no sentido de que os embargos infringentes, em matéria
penal, são cabíveis de decisão não unânime de Tribunal de segundo grau, no julgamento de apelação ou recurso em sentido estrito, sendo,
portanto, inadmissíveis contra decisões proferidas em ação penal de competência originária de Tribunal. 2. Recursos especiais não
conhecidos. (REsp 351.383/SC, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 03/10/2006, DJ 30/10/2006, p. 372).
438 PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. SÚMULAS 315 E
168/STJ. PRETENSÃO DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL, PARA QUE OS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA SEJAM
RECEBIDOS COMO PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. INAPLICABILIDADE. INDEFERIMENTO LIMINAR. ART. 266, § 3º, DO
RISTJ. DESCABIMENTO DE EMBARGOS INFRINGENTES, EM SEDE DE AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA DE TRIBUNAL DE 2º GRAU. JURISPRUDÊNCIA
DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. [...] V. Ademais, ainda que assim não fosse, quanto à matéria de fundo, objeto do próprio
Recurso Especial, melhor sorte não socorre ao agravante, pela aplicação também da Súmula 168/STJ. Com efeito, segundo a jurisprudência
do STJ, "é inadmissível a interposição de embargos infringentes contra acórdão não unânime que julgou, na Corte Estadual, ação penal
originária" (STJ, AgRg no Ag 1321228/MS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, DJe de 04/04/2011). No mesmo sentido: "embora o
acórdão recorrido tenha sido proferido por decisão majoritária, não cabe cogitar, na espécie, de eventual incidência do enunciado nº 281
do Supremo Tribunal Federal, já que o cabimento dos embargos infringentes - necessários, em regra, para o esgotamento das instâncias - se
restringe a julgamentos não unânimes "de 2ª instância", ou seja, "não alcança a hipótese", como a dos presentes autos, "de o tribunal atuar
originariamente para processar e julgar a ação penal" (v.g., REsp 80.032/RJ, Rel. Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO, SEXTA TURMA,
julgado em 24/09/1997, DJ 17/11/1997)" (STJ, REsp 297.569/RJ, Rel. Ministro CELSO LIMONGI (Desembargador Convocado do TJ/SP), SEXTA
TURMA, DJe de 09/03/2011). Incidência da Súmula 168/STJ. VI. Agravo Regimental desprovido. (AgRg nos EAg 1321228/MS, Rel. Ministra
ASSUSETE MAGALHÃES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/02/2013, DJe 05/03/2013).
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Ocorre que, mais recentemente, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento da AP 470,
popularmente conhecida como o caso do “Mensalão”, admitiu expressamente os embargos
infringentes em ação penal originária439.
Caso o desacordo seja parcial, os embargos serão restritos à matéria objeto de divergência.
439Segundo o Informativo/STF 720: “Em conclusão de julgamento de agravos regimentais, o Plenário, por maioria, admitiu a interposição
de embargos infringentes em face de decisão que condenara diversas pessoas pela prática de esquema a abranger, dentre outros crimes,
peculato, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e gestão fraudulenta — v. Informativos 718 e 719. Preliminarmente, por decisão majoritária,
o Tribunal rejeitou questão suscitada pelo Ministro Marco Aurélio, que assentava a preclusão consumativa, tendo em vista a oposição
simultânea de embargos declaratórios e embargos infringentes, pelas mesmas partes. A Corte reputou que os recursos interpostos
cumulativamente teriam âmbito de cognição e objetos diferentes um do outro, e que incidiria o princípio da eventualidade, aplicado
subsidiariamente ao CPP. Vencido o suscitante. No mérito, o Ministro Celso de Mello proferiu voto de desempate no sentido de admitir a
possibilidade de utilização, na espécie, dos embargos infringentes (RISTF, art. 333, I), desde que existentes, pelo menos, quatro votos
vencidos, acompanhando a divergência iniciada pelo Ministro Roberto Barroso. Considerou, em sua manifestação, que o art. 333, I, do
RISTF não sofrera, no ponto, derrogação tácita ou indireta em decorrência da superveniente edição da Lei 8.038/90, que se limitara a dispor
sobre normas meramente procedimentais concernentes a causas penais originárias, indicando-lhes a ordem ritual e regendo-as até o
encerramento da instrução probatória. Afirmou que o tema deveria ser examinado à luz de dois critérios: o da reserva constitucional de lei,
de um lado, e o da reserva constitucional do regimento, de outro. Explicou que a Constituição delimitaria o campo de incidência da
atividade legislativa, e vedaria ao Congresso a edição de normas que disciplinassem matérias reservadas, com exclusividade, à competência
normativa dos tribunais. Aduziu que, por essa razão, o STF teria julgado inconstitucionais normas que transgrediriam a cláusula de reserva
constitucional de regimento. Esta qualidade, segundo o Ministro Celso de Mello, transformaria o texto regimental em sedes materiae no
que concerne aos temas sujeitos ao exclusivo poder de regulação normativa dos tribunais. Afirmou, portanto, que o art. 333, I, do RISTF,
embora de natureza formalmente regimental, teria caráter material de lei, e fora recebido pela nova ordem constitucional com essa
característica. Assinalou, entretanto, que, atualmente, faleceria ao STF o poder de derrogar normas regimentais veiculadoras de conteúdo
processual, que somente poderiam ser alteradas mediante lei em sentido formal, nos termos da Constituição. AP 470 AgR - vigésimo
quinto/MG, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki. (AP-470)”.
440PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CARTA TESTEMUNHÁVEL. EFEITO SUSPENSIVO. AUSÊNCIA
DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. A devida comprovação do direito líquido e certo é condição intransponível à concessão do mandado de
segurança. Na hipótese vertente, tal circunstância não se encontra evidenciada em razão da não concessão de efeito suspensivo a carta
testemunhável, pois há, inclusive, dispositivo legal (art. 646 do CPP) neste sentido. (Precedente do STF). Recurso desprovido. (RMS
23.152/MG, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 27/03/2008, DJe 12/05/2008).
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Trata-se inegavelmente de recurso de natureza extraordinária, ao lado do recurso
extraordinário propriamente dito, este da competência do Supremo Tribunal Federal, porque neles
não se analisa a matéria fática, que encontra a sua definição nas cortes inferiores, responsáveis pelo
julgamento dos recursos de natureza ordinária. Essa é a primeira e talvez a mais importante
característica do recurso especial: todos os esforços são direcionados à solução da controvérsia
acerca do direito infraconstitucional.
Assim, compete ao STJ julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última
instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e
Territórios, quando a decisão recorrida:
• Contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência - A primeira
hipótese é mais difícil de ser visualizada, apesar de muito utilizada, por
não haver um critério seguro de aferição da ocorrência da
contrariedade. Ao revés, não se tem a mesma dificuldade quando
ocorre a negativa de vigência, porque, nessas situações, tribunal
explicitamente recusa a aplicabilidade de determinada norma federal.
• Julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal - A
EC 45/04 deslocou para o STF a competência para julgar a validade de
lei local em face de lei federal, porque, em última análise, a questão é
constitucional. A partir de então, somente o ato de governo local,
obviamente excluído o legislativo, é submetido à análise do STJ.
• Der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído
outro tribunal - A questão aqui envolve a uniformização da
jurisprudência, isto é, da interpretação que os tribunais derem a
determinada norma federal.
No âmbito do processo penal, o efeito suspensivo não era em regra admitido (art. 27, § 2º, da
Lei 8.038/90 – dispositivo atualmente revogado). O Supremo Tribunal Federal possuía precedentes
nesse sentido441, afastando-o somente em situações excepcionais, e que justificavam, quando
cabível, o ajuizamento de demanda cautelar para esse fim442. Esse também era o entendimento do
Superior Tribunal de Justiça para os recursos especiais443. Mas, no julgamento do HC 84.078/MG, o
441 EMENTA Habeas corpus. Constitucional. Processual penal. Execução provisória da pena. Pendência de julgamento dos Recursos especial
e extraordinário. Ofensa ao princípio da presunção da inocência: não ocorrência. Precedentes. 1. A jurisprudência desta Corte é no sentido
de que a pendência do recurso especial ou extraordinário não impede a execução imediata da pena, considerando que eles não têm efeito
suspensivo, são excepcionais, sem que isso implique em ofensa ao princípio da presunção da inocência. 2. Habeas corpus indeferido. (HC
90645, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MENEZES DIREITO, Primeira Turma, julgado em 11/09/2007, DJe-142
DIVULG 13-11-2007 PUBLIC 14-11-2007 DJ 14-11-2007 PP-00051 EMENT VOL-02299-02 PP-00227 RTJ VOL-00205-01 PP-00260 RMP n. 36,
2010, p. 233-236).
442 DIREITO PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL. ATRIBUIÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO AO RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
EXCEPCIONALIDADE. IMPROVIMENTO. [...] 3. Excepcionalidade da atribuição de efeito suspensivo ao recurso extraordinário exige,
concomitantemente, o juízo positivo de admissibilidade do recurso extraordinário no tribunal de origem, a viabilidade processual do
recurso extraordinário devido à presença dos pressupostos extrínsecos e intrínsecos do referido recurso, a plausibilidade jurídica da
pretensão de direito material deduzida no recurso extraordinário e a comprovação da urgência da pretensão cautelar. [...] (AC 1420 MC-
AgR, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 24/06/2008, DJe-157 DIVULG 21-08-2008 PUBLIC 22-08-2008 EMENT VOL-
02329-01 PP-00025).
443 HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. ROUBO. PENA-BASE FIXADA NO MÍNIMO. INEXISTÊNCIA DE CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS
DESFAVORÁVEIS. RÉU PRIMÁRIO. REGIME INICIAL FECHADO PARA CUMPRIMENTO DA PENA. IMPROPRIEDADE. INOBSERVÂNCIA DO
DISPOSTO NO ART. 33, § 2.º, ALÍNEA B, E § 3.º DO CÓDIGO PENAL. APELAÇÃO JULGADA. EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA. EXPEDIÇÃO
IMEDIATA DE MANDADO DE PRISÃO. POSSIBILIDADE. RECURSOS ESPECIAL E EXTRAORDINÁRIO. AUSÊNCIA DE EFEITO SUSPENSIVO. [...] 2.
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entendimento passou a ser o oposto. Entendeu-se não ser possível a execução provisória da pena na
pendência de recurso especial ou extraordinário, exigindo-se o trânsito em julgado da sentença penal
condenatória. Entretanto, como já mencionado no item 6.1, em recentíssimo julgamento (HC
126.292 – 17/02/2016), o STF restabeleceu o entendimento acerca da possibilidade do início do
cumprimento da pena.
Houve o deslocamento da competência do STJ para o STF quando a decisão recorrida julgar
válida lei local contestada em face de lei federal, o que se deu com a vigência da EC 45/04.
Não há qualquer ilegalidade no superveniente acórdão do Tribunal a quo que determina a prisão do Paciente, dando início à execução
provisória da pena. A custódia atacada constitui-se mero efeito da condenação, já que os recursos eventualmente interpostos, quais sejam,
o recurso extraordinário e o especial, não têm efeito suspensivo, não se cogitando, por conseguinte, de reformatio in pejus. Precedentes do
Superior Tribunal de Justiça. [...] (HC 67.984/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 20/11/2007, DJ 17/12/2007, p. 239).
444 O NCPC revogou expressamente os artigos 13 a 18, 26 a 29 e 38, todos da Lei 8.038/90. Portanto, atentar-se para tal fato a partir da
entrada em vigor do novo código.
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O recorrido será intimado para, no mesmo prazo, apresentar as suas razões, findo o qual o
órgão competente do tribunal deverá (i) negar seguimento em caso de inexistência de repercussão
geral ou de conformidade do acórdão com o entendimento do órgão ad quem; (ii) encaminhar o
processo ao órgão julgador para realização do juízo de retratação, se o acórdão recorrido divergir do
entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça exarado, conforme o
caso, nos regimes de repercussão geral ou de recursos repetitivos; (iii) sobrestar o recurso que versar
sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não decidida pelos Tribunais Superiores; (iv) selecionar
o recurso como representativo de controvérsia constitucional ou infraconstitucional; (v) realizar o
juízo de admissibilidade (art. 1030).
Em caso de denegação, cabe agravo em recurso especial ou extraordinário, nos termos do
artigo 1.042.
Se houver a interposição simultânea de recursos, compete ao STJ, em regra, apreciar o
especial em primeiro lugar, após o que os autos serão remetidos ao STF para apreciação do recurso
extraordinário, se este não estiver prejudicado. A ordem de apreciação pode ser invertida em caso
de prejudicialidade.
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Supremo Tribunal Federal:
• 727 - Não pode o magistrado deixar de encaminhar ao Supremo Tribunal Federal o
agravo de instrumento interposto da decisão que não admite recurso extraordinário,
ainda que referente a causa instaurada no âmbito dos juizados especiais.
• 640 - É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro
grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal.
• 636 - Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao princípio constitucional da
legalidade, quando a sua verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas
infraconstitucionais pela decisão recorrida.
• 635 - Cabe ao presidente do tribunal de origem decidir o pedido de medida cautelar
em recurso extraordinário ainda pendente do seu juízo de admissibilidade.
• 634 - Não compete ao Supremo Tribunal Federal conceder medida cautelar para dar
efeito suspensivo a recurso extraordinário que ainda não foi objeto de juízo de
admissibilidade na origem.
• 456 - O Supremo Tribunal Federal, conhecendo do recurso extraordinário, julgará a
causa, aplicando o direito à espécie.
• 400 - Decisão que deu razoável interpretação à lei, ainda que não seja a melhor, não
autoriza recurso extraordinário pela letra "a" do art. 101, III, da Constituição Federal.
• 369 - Julgados do mesmo tribunal não servem para fundamentar o recurso
extraordinário por divergência jurisprudencial.
• 356 - O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos
declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do
prequestionamento.
• 355 - Em caso de embargos infringentes parciais, é tardio o recurso extraordinário
interposto após o julgamento dos embargos, quanto à parte da decisão embargada que
não fora por eles abrangida.
• 287 - Nega-se provimento ao agravo, quando a deficiência na sua fundamentação, ou
na do recurso extraordinário, não permitir a exata compreensão da controvérsia.
• 286 - Não se conhece do recurso extraordinário fundado em divergência
jurisprudencial, quando a orientação do plenário do Supremo Tribunal Federal já se
firmou no mesmo sentido da decisão recorrida.
• 283 - É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em
mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles.
• 282 - É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão
recorrida, a questão federal suscitada.
• 281 – É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber na justiça de origem,
recurso ordinário da decisão impugnada.
• 279 - Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.
445 HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. COMUTAÇÃO. AGRAVO EM EXECUÇÃO. DECISÃO MONOCRÁTICA DO DESEMBARGADOR RELATOR.
APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 557 DO CPC. IMPOSSIBILIDADE. MESMO RITO DO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. PRECEDENTES DO STJ.
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O prazo para a sua interposição é de cinco dias: “É de cinco dias o prazo para interposição de
agravo contra decisão do juiz da execução penal” (Súmula 700 do STF).
Quanto aos efeitos, o art. 197 é expresso ao determinar que o agravo não possui efeito
suspensivo. Sobre o tema, há precedentes tanto no sentido da sua admissibilidade, em casos
excepcionais, através de mandado de segurança446, como também pela sua impossibilidade,
notadamente se em desfavor do condenado447. Esta última posição é majoritária no Superior Tribunal de
Justiça.
Há apenas uma exceção, que consiste na hipótese de agravo contra a decisão que autoriza a
desinternação ou a liberação do agente submetido à medida de segurança, uma vez que o art. 179 da
LEP expressamente condiciona a emissão da respectiva ordem ao trânsito em julgado448.
13.7 REVISÃO CRIMINAL
13.7.1 COISA JULGADA E REVISÃO CRIMINAL
A coisa julgada é, sem dúvida, um vital instrumento de estabilização das relações ou situações
jurídicas. As demandas não podem ser eternizadas. Uma vez julgada a causa, não cabendo mais
recurso, a regra é a imutabilidade do que ali ficou decidido.
Porém, no processo penal, em nome de um valor não menos relevante, que é a liberdade,
permite-se excepcionalmente o afastamento da segurança jurídica, quando houver efetivo
tensionamento entre ambos.
A revisão criminal serve justamente para se questionar a decisão condenatória já coberta sob o
manto da coisa julgada, a fim de se reverter uma situação de ilegalidade ou de injustiça.
Tamanha é a preocupação do ordenamento, nessa seara, que a própria Constituição Federal
determina que o Estado indenize o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além
do tempo fixado na sentença (art. 5º, LXXV).
1. As Turmas que compõem a Eg. Terceira Seção tem reiteradamente decidido, de maneira uniforme, no sentido de que se aplicam ao
recurso de agravo em execução, previsto no art. 197 da Lei de Execução Penal, as disposições acerca do rito do recurso em sentido estrito,
sendo, portanto, inviável a utilização analógica do art. 557 do Código de Processo Civil. [...] (HC 27.454/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ,
QUINTA TURMA, julgado em 10/06/2003, DJ 04/08/2003, p. 348).
446PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS PARA CASSAR ACÓRDÃO QUE, EM MS DO MP, ATRIBUIU EFEITO SUSPENSIVO AO AGRAVO DO ART.
197 DA LEP. AUSÊNCIA DE TERATOLOGIA NA DECISÃO JUDICIAL MONOCRÁTICA AGRAVADA E OBJETO DAQUELE MS. HABEAS CORPUS
CONCEDIDO. 1. O MP detém legitimidade subjetiva ativa e interesse processual para interpor MS visando obter efeito suspensivo ao Agravo
em Execução (art. 197 da CEP), ou qualquer outra medida capaz de produzir tal efeito, mas o seu deferimento depende da presença dos
elementos que autorizam a concessão do feito mandamental, quais sejam a plausibilidade de provimento do recurso e o perigo de dano
irreversível, o que não ocorre no caso sub judice. [...] (HC 90.107/RJ, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado
em 11/03/2008, DJe 07/04/2008).
447 RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. LATROCÍNIO. PROGRESSÃO DE REGIME. INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO EM
EXECUÇÃO PELO PARQUET VISANDO À OBTENÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO POR MEIO DE MANDADO DE SEGURANÇA. IMPROPRIEDADE.
DECLARAÇÃO DA INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 2.º, § 1.º, DA LEI N.º 8.072/90, PELO PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
ÓBICE AFASTADO. RESTABELECIMENTO DA DECISÃO CONCESSIVA DA PROGRESSÃO PARA O REGIME SEMI-ABERTO. 1. O Superior Tribunal de
Justiça tem aplicado reiteradamente o entendimento de que não é possível, por meio de mandado de segurança, emprestar efeito
suspensivo a recurso de agravo em execução interposto pelo Ministério Público – em razão de sua ilegitimidade ativa ad causam –, com o
fim de desconstituir a decisão do juízo das execuções criminais que assegura ao condenado o direito à progressão carcerária. [...] (RMS
25.736/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 18/03/2008, DJe 22/04/2008).
448 RMS. AGRAVO EM EXECUÇÃO. MANDADO DE SEGURANÇA. CONCESSÃO. EFEITO SUSPENSIVO. AUSÊNCIA. FUMUS BONI JURIS E
PERICULUM IN MORA. DECISÃO TERATOLÓGICA. MINISTÉRIO PÚBLICO. ILEGITIMIDADE ATIVA. 1. O agravo em execução, previsto no artigo
197 da Lei de Execuções Penais, não tem efeito suspensivo, exceto quando tirado de decisão determinando a desinternação ou liberação de
quem cumpre medida de segurança. 2. Embora a jurisprudência admita a impetração de mandado de segurança para atribuir efeito
suspensivo a recurso que não o prevê, é necessária a presença dos requisitos indispensáveis, quais sejam, o periculum in mora, o fumus
boni juris ou a teratologia da decisão, inexistentes na espécie, porquanto o trânsito do réu do regime semi-aberto para o aberto não
acarreta dano irreparável ou de difícil reparação, máxime se esta Corte tem entendimento firmado no sentido de configurar
constrangimento ilegal a permanência do acusado em regime mais gravoso, devendo aguardar a vaga em estabelecimento prisional
adequado em regime aberto ou domiciliar. [...] (RMS 13.815/SP, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, SEXTA TURMA, julgado em
03/12/2002, DJ 19/12/2002, p. 428).
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Logicamente, a revisão somente se dá em benefício do réu – princípio do favor revisionis –,
não cabendo a revisão pro societate. No caso de absolvição “incorreta”, os bens jurídicos segurança e
liberdade não entram em rota de colisão.
A linha é tênue, porque também não se pode permitir a reabertura infinita e ilimitada de
demandas penais já julgadas. A lei estabelece requisitos para que a via da revisão seja aberta, os
quais devem ser interpretados com cautela.
13.7.3 CABIMENTO
Nos termos do art. 621 do CPP, a revisão dos processos findos será admitida quando:
• a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou
à evidência dos autos;
• a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou
documentos comprovadamente falsos;
• após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do
condenado ou de circunstância que determine ou autorize diminuição
especial da pena.
449GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antônio Magalhães; FERNANDES, Antônio Scarance. Recursos no processo penal. 3. ed. rev.
atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p. 307.
450RECURSO ESPECIAL. PENAL. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA. REVISÃO CRIMINAL. IMPOSSIBILIDADE ANTE A CONTROVERTIDA
INTERPRETAÇÃO JURISPRUDENCIAL. VIOLAÇÃO DO ART. 621, I DO CPP. PARCELAMENTO. CONTRIBUIÇÕES. EMPREGADORES. VEDAÇÃO. O
art. 621, inciso I, do Código de Processo Penal, determina que caberá revisão criminal "quando a sentença condenatória for contrária a
texto expresso da lei", o que não pode ser confundido com mudança de orientação jurisprudencial a respeito da interpretação de
determinado dispositivo legal. [...] (REsp 706.042/RS, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 28/09/2005, DJ
07/11/2005, p. 363).
O Supremo Tribunal Federal tem precedentes antigos nesse mesmo sentido, a exemplo de: “PROCESSUAL PENAL. 1) REVISÃO CRIMINAL.
MUDANCA DE ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL NÃO AUTORIZA, POR SI SÓ, REVISÃO CRIMINAL. 2) CRIME CONTINUADO. O ACRÉSCIMO
PELA CONTINUIDADE DELITIVA INCIDE SOBRE A PENA QUE O JUIZ FIXARIA, SE NÃO HOUVESSE ESSE AUMENTO, E NÃO SOMENTE SOBRE A
PENA-BASE. (RE 99584, Relator(a): Min. DÉCIO MIRANDA, Segunda Turma, julgado em 05/04/1983, DJ 13-05-1983 PP-06508 EMENT VOL-
01294-05 PP-01161 RTJ VOL-00105-03 PP-01301)”.
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Entende-se por prova nova não somente aquela produzida cronologicamente após o trânsito
em julgado, mas também a que não esteve acessível ao réu no momento oportuno, mesmo sendo
anterior451.
No caso de prova testemunhal nova que possa modificar o julgamento, tem-se exigido o prévio
ajuizamento de justificação judicial, a fim de submetê-la ao crivo do contraditório452.
O Supremo Tribunal Federal, em acórdão proferido na década de 1950, já havia assentado a
possibilidade de a revisão criminal abranger julgados do Tribunal do Júri453. Tal entendimento foi
reafirmado mais recentemente454.
13.7.5 PROCEDIMENTO
O procedimento inicia-se com o requerimento do interessado, que será instruído com a
certidão de haver passado em julgado a sentença condenatória e com as peças necessárias à
comprovação dos fatos arguidos (art. 625, § 1º), sem prejuízo de eventual apensamento dos autos
originais, a critério do relator, se daí não advier dificuldade à execução penal.
451“Uma interpretação ainda mais aberta do texto processual penal pode levar ao entendimento de que a prova, conhecida e apresentada
no primeiro processo, e que chegou a ser apreciada pelo juiz, pode ser reexaminada como prova nova, com argumentação diversa da
desenvolvida na sentença: é o que pode ocorrer, por exemplo, com a reapreciação da prova em virtude de novos conhecimentos
científicos”. (GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antônio Magalhães; FERNANDES, Antônio Scarance. Recursos no processo penal. 3.
ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p. 320).
452HABEAS CORPUS. REVISÃO CRIMINAL. NOVAS PROVAS. DEPOIMENTO DE TESTEMUNHA. RETRATAÇÃO. PEDIDO DE JUSTIFICAÇÃO.
INDEFERIMENTO. PROVA TESTEMUNHAL QUE FUNDAMENTOU ÉDITO CONDENATÓRIO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CONFIGURADO.
ORDEM DENEGADA. 1. Quando se trata de ação revisional proposta com fundamento na existência de novas provas testemunhais capazes
de infirmar o édito condenatório (art. 621, inciso III, do CPP), estas devem ser previamente produzidas sob o manto do contraditório e da
ampla defesa, por meio do procedimento da justificação criminal, a ser conduzido perante o primeiro grau de jurisdição, nos termos do
artigo 861 e seguintes do Código de Processo Civil, aplicável subsidiariamente conforme o disposto no artigo 3º do CPP. Precedentes. 2. O
pedido revisional fundado na existência de provas novas demanda, conforme magistério de Júlio Fabbrini Mirabete, a apresentação de
"elementos probatórios que desfaçam o fundamento da condenação, como, por exemplo, a retratação da vítima" (Processo Penal, 15ª ed.
São Paulo: Atlas, 2003, p. 724). [...] (HC 140.618/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 02/08/2011, DJe 29/08/2011)
453TRIBUNAL DO JÚRI; O REEXAME DOS SEUS VEREDITOS PELOS TRIBUNAIS TOGADOS, ATRAVÉS O RECURSO "EXTRAORDINÁRIO" DA
REVISÃO CRIMINAL, QUANDO CONTRARIOS AS PROVAS DOS AUTOS, NÃO IMPLICA EM VIOLAÇÃO DO ART. 141, PAR 28, DA CONSTITUIÇÃO,
QUE ESTABELECEU A SOBERANIA DAQUELES VEREDITOS. (RE 23816, Relator(a): Min. EDGARD COSTA, SEGUNDA TURMA, julgado em
03/11/1953, DJ 02-06-1955 PP-06473 EMENT VOL-00213-01 PP-00311).
454EMENTA: - HABEAS CORPUS - JÚRI - ALEGAÇÃO DE COMPATIBILIDADE DA DECISÃO PROFERIDA PELO TRIBUNAL DO JÚRI COM A PROVA
DOS AUTOS - INVIABILIDADE JURÍDICO-PROCESSUAL DESSA ANÁLISE EM SEDE DE HABEAS CORPUS - ALEGADA OFENSA AO POSTULADO
CONSTITUCIONAL DE SOBERANIA DOS VEREDICTOS DO JÚRI - INOCORRÊNCIA - PEDIDO INDEFERIDO. - A jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal tem acentuado que o exame aprofundado das provas não encontra sede juridicamente adequada no processo de "habeas
corpus". A postulação dos impetrantes, que objetivam ingressar na análise, discussão e valoração da prova, será plenamente admissível na
via recursal ordinária, de espectro mais amplo (RTJ 87/84 - 98/669 - 109/540), ou, ainda, na via revisional, eis que a condenação penal
definitiva imposta pelo Júri e passível, também ela, de desconstituição, mediante revisão criminal (RTJ 115/1114), não lhe sendo oponível a
cláusula constitucional da soberania do veredicto do Conselho de Sentença (RT 475/352 - 479/321 - 488/330 / 548/331). - A soberania dos
veredictos do Júri - não obstante a sua extração constitucional - ostenta valor meramente relativo, pois as manifestações decisórias
emanadas do Conselho de Sentença não se revestem de intangibilidade jurídico-processual. A competência do Tribunal do Júri, embora
definida no texto da Lei Fundamental da República, não confere a esse órgão especial da Justiça comum o exercício de um poder
incontrastável e ilimitado. As decisões que dele emanam expõem-se, em consequência, ao controle recursal do próprio Poder Judiciário, a
cujos Tribunais compete pronunciar-se sobre a regularidade dos veredictos. - A apelabilidade das decisões emanadas do Júri, nas hipóteses
de conflito evidente com a prova dos autos, não ofende o postulado constitucional que assegura a soberania dos veredictos desse Tribunal
Popular. Precedentes. (HC 68658, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Primeira Turma, julgado em 06/08/1991, DJ 26-06-1992 PP-10105
EMENT VOL-01667-01 PP-00164 RTJ VOL-00139-03 PP-00891).
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Caso não haja indeferimento liminar da revisional, abrir-se-á vista dos autos ao Ministério
Público, para manifestação no prazo de dez dias. Com o retorno, o relator e o revisor examinarão os
autos, após o que se procederá ao julgamento da revisão.
A decisão que defere a revisão pode alterar a classificação da infração, absolver o réu,
modificar a pena ou anular o processo. Em qualquer caso, veda-se a reformatio in pejus.
Especialmente no caso de absolvição, restaura-se completamente a situação jurídica anterior
do interessado, apagando-se todos os efeitos penais e extrapenais decorrentes da sentença penal
condenatória.
13.8.3 ESPÉCIES
A Constituição Federal, ao permitir a utilização do habeas corpus, não somente por aquele que
esteja sofrendo restrição ilegal do seu direito de ir e vir, mas também por quem se encontre na
iminência de sofrê-la, acabou por instituir as duas espécies hoje existentes.
O habeas corpus liberatório, que pressupõe a materialização do cerceamento da liberdade de
locomoção do indivíduo, ou seja, quando o seu direito de ir e vir já se encontrar limitado,
comprometido, e o habeas corpus preventivo, quando a ilegalidade ou o abuso de poder esteja
prestes a acontecer. Na primeira hipótese, o efeito imediato é a restauração da liberdade, mediante
expedição de alvará de soltura. No segundo caso, expede-se o salvo-conduto, que impedirá a prisão
do interessado em razão daquele motivo determinado.
13.8.4 CABIMENTO
Apesar da magnitude e da importância do habeas corpus, o que se tem verificado atualmente
é uma banalização do instrumento. O resultado disso é uma sobrecarga nos tribunais. Na realidade,
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as hipóteses de cabimento deveriam ser restritas à ameaça concreta e imediata ao direito de ir e
vir455.
A jurisprudência vem estabelecendo limites à utilização do habeas corpus. Destacam-se os
seguintes enunciados:
• 695/STF - Não cabe "habeas corpus" quando já extinta a pena privativa
de liberdade.
• 694/STF - Não cabe "habeas corpus" contra a imposição da pena de
exclusão de militar ou de perda de patente ou de função pública.
• 693/STF - Não cabe "habeas corpus" contra decisão condenatória a
pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a
que a pena pecuniária seja a única cominada.
Existe também a tendência de se evitar o habeas corpus como sucedâneo recursal456, como
também nas situações que possam acarretar a supressão de instância. Neste último caso, foi editado
o Enunciado 691/STF457, o qual tem sido contornado apenas em situações excepcionais de flagrante
ilegalidade.
Feitas essas observações, o art. 648 do CPP relaciona algumas situações em que se caracteriza
a coação como ilegal:
• não houver justa causa;
• alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei;
• quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo;
• houver cessado o motivo que autorizou a coação;
• não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a
autoriza;
• o processo for manifestamente nulo;
• extinta a punibilidade.
O rol não é taxativo. Qualquer outro ato que comprometa ou que ameace a liberdade de
locomoção do indivíduo pode justificar a impetração do habeas corpus.
A Constituição Federal veda expressamente a utilização do habeas corpus contra transgressões
disciplinares militares (art. 142, § 2º, da CF). Porém, há possibilidade de controle judicial quanto à
regularidade formal do procedimento administrativo disciplinar militar, ou em caso de manifesta
teratologia458.
455 Confira-se o Enunciado 6 do Fonacrim: “O habeas corpus não deve ser admitido para impugnação de decisão interlocutória, quando o
risco de restrição à liberdade de locomoção for remoto, ou para antecipar a discussão de questões de direito ou de fato cuja resolução é
apropriada na sentença ou nos recursos cabíveis contra esta”.
456HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO COMO SUCEDÂNEO RECURSAL. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. TRÁFICO DE ENTORPECENTE E
ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. CONDENAÇÃO. PRETENSÃO ABSOLUTÓRIA E DE DESCLASSIFICAÇÃO. REVOLVIMENTO DE PROVAS NÃO
CONDIZENTE COM O WRIT. APLICAÇÃO DA CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO DO TRÁFICO. IMPOSSIBILIDADE. DEDICAÇÃO A ATIVIDADE
CRIMINOSA. ALTERAÇÃO DO REGIME E SUBSTITUIÇÃO DA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVAS DE DIREITOS. DESCABIMENTO.
AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE PATENTE. NÃO CONHECIMENTO. 1. É imperiosa a necessidade de racionalização do emprego do habeas corpus,
em prestígio ao âmbito de cognição da garantia constitucional, e, em louvor à lógica do sistema recursal. In casu, foi impetrada
indevidamente a ordem contra acórdão de apelação, como se fosse um sucedâneo recursal inominado. 2. O intento de absolver o paciente
pelos delitos aos quais foi condenado e de desclassificar o delito de tráfico para uso de substância entorpecente não se coaduna com a via
angusta do writ, pois depende de aprofundamento probatório. [...] (HC 172.717/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA
TURMA, julgado em 16/04/2013, DJe 24/04/2013).
457 “Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de "habeas corpus" impetrado contra decisão do relator que, em "habeas
corpus" requerido a tribunal superior, indefere a liminar”.
458CONSTITUCIONAL. HABEAS CORPUS. PROCESSO DISCIPLINAR. MILITAR. TRANCAMENTO. INTERPRETAÇÃO DO ART. 142, § 2º, DA CF.
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13.8.5 COMPETÊNCIA
A competência para processar e julgar o habeas corpus, em regra, vem disciplinada na
Constituição Federal, conforme quadro a seguir:
CABIMENTO DA AÇÃO CONSTITUCIONAL SOMENTE PARA EXAME PELO PODER JUDICIÁRIO DA REGULARIDADE FORMAL DO PROCESSO.
HIPÓTESE NÃO CONFIGURADA NOS AUTOS. IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO DO MÉRITO DA IMPOSIÇÃO DA PUNIÇÃO DISCIPLINAR MILITAR.
PRECEDENTES DO STF E DO STJ. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. [...] 2. Efetivamente, não obstante o disposto no art. 142, § 2º, da
Constituição Federal, os Tribunais Superiores admitem a impetração de habeas corpus para trancamento de processo administrativo
disciplinar militar. Entretanto, as hipóteses de cabimento estão restritas à regularidade formal do procedimento administrativo disciplinar
militar ou aos casos de manifesta teratologia. 3. Sobre o tema, os seguintes precedentes: STF - RHC 88.543/SP, 1ª Turma, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, DJ de 3.4.2007; STF - RE 338.840/RS, 2ª Turma, Rel Min. Ellen Gracie, DJ de 12.9.2003; STJ - RHC 27.897/PI, 1ª Turma, Rel.
Min. Hamilton Carvalhido, DJe de 8.10.2010; HC 129.466/RO, 5ª Turma, Rel. Min. Felix Fischer, DJe de 1º.2.2010; STJ - HC 80.852/RS, 5ª
Turma, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe de 28.4.2008. [...] (HC 211.002/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 01/12/2011, DJe 09/12/2011).
459 À exceção do disposto no Enunciado 691/STF.
460Sobre a competência do TRT, em sede de habeas corpus, conferir o seguinte julgado: “EMENTA: Habeas corpus contra decreto de prisão
civil de Juiz do Trabalho: coação atribuída ao Tribunal Regional do Trabalho: coexistência de acórdãos diversos para o mesmo caso,
emanados de tribunais de idêntica hierarquia (STJ e TST): validade do acórdão do STJ, no caso, dado que as impetrações foram julgadas
antes da EC 45/04. Até a edição da EC 45/04, firme a jurisprudência do Tribunal em que, sendo o habeas corpus uma ação de natureza penal,
a competência para o seu julgamento "será sempre de juízo criminal, ainda que a questão material subjacente seja de natureza civil, como
no caso de infidelidade de depositário, em execução de sentença"; e, por isso, quando se imputa coação a Juiz do Trabalho de 1º Grau,
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Das disposições indicadas no quadro acima, nota-se que a competência para o julgamento do
habeas corpus normalmente observa a prerrogativa de foro da autoridade. Isso porque, no momento
em que se analisa o ato coator propriamente dito, pode-se vislumbrar a eventual prática de crime
pela referida autoridade, que seria naturalmente da competência do referido tribunal.
compete ao Tribunal Regional Federal o seu julgamento, dado que a Justiça do Trabalho não possui competência criminal (v.g., CC 6.979,
15.8.91, Velloso, RTJ 111/794; HC 68.687, 2ª T., 20.8.91, Velloso, DJ 4.10.91). (HC 85096, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira
Turma, julgado em 28/06/2005, DJ 14-10-2005 PP-00011 EMENT VOL-02205-2 PP-00307)”. Posteriormente, o STF, em medida cautelar,
ratificou a inexistência de atribuição de competência criminal à Justiça do Trabalho, por força da EC 45/04, não obstante tenha enunciado
ser possível o processamento de habeas corpus contra ordem de prisão civil emanada de juiz do trabalho:“EMENTA: COMPETÊNCIA
CRIMINAL. Justiça do Trabalho. Ações penais. Processo e julgamento. Jurisdição penal genérica. Inexistência. Interpretação conforme dada
ao art. 114, incs. I, IV e IX, da CF, acrescidos pela EC nº 45/2004. Ação direta de inconstitucionalidade. Liminar deferida com efeito ex tunc. O
disposto no art. 114, incs. I, IV e IX, da Constituição da República, acrescidos pela Emenda Constitucional nº 45, não atribui à Justiça do
Trabalho competência para processar e julgar ações penais. (ADI 3684 MC, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, julgado em
01/02/2007, DJe-072 DIVULG 02-08-2007 PUBLIC 03-08-2007 DJ 03-08-2007 PP-00030 EMENT VOL-02283-03 PP-00495 RTJ VOL-00202-02
PP-00609 LEXSTF v. 29, n. 344, 2007, p. 69-86 RMP n. 33, 2009, p. 173-184)”.
461Até mesmo em razão de não se exigir a capacidade postulatória do impetrante, a petição inicial não pode ser analisada com o mesmo
rigor das peças produzidas por profissionais devidamente habilitados.
462Apesar de não haver previsão legal de manifestação do Ministério Público na primeira instância, recomenda-se a adoção de tal
providência, sempre que possível.
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O mandado de segurança está previsto no art. 5º, LXIX, da CF. Destina-se à proteção de direito
líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do Poder Público.
Atualmente, o mandado de segurança está regulamentado pela Lei 12.016, de 7 de agosto de
2009, tendo a Lei 1.533/51 sido completamente revogada.
Enquanto instrumento, o simples fato de veicular matéria criminal não traz qualquer traço
característico diferenciador ao writ. Logo, as questões atinentes à natureza jurídica, requisitos,
competência, legitimidade, procedimento, entre outros, são as mesmas já estudadas em direito
constitucional, administrativo e processual civil. Na realidade, a peculiaridade do mandado de
segurança em matéria criminal está relacionada à natureza do ato coator, quase sempre jurisdicional.
A respeito do cabimento do mandado de segurança contra ato jurisdicional, dispõe o
Enunciado 267 da Súmula do STF que: “Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível
de recurso ou correição”. Esse entendimento, contudo, encontra-se relativamente superado. A
jurisprudência atual tem considerado ser necessária a presença de ilegalidade manifesta ou abuso de
poder, demonstrável de plano, ou seja, sem dilação probatória, além da inexistência de recurso para
o qual o ordenamento possibilite a concessão de efeito suspensivo463.
O mandado de segurança, dada a sua natureza residual em relação ao habeas corpus, será
cabível quando o ato coator não colocar em risco a liberdade de locomoção do indivíduo, mas puder
violar determinado direito conferido pelo ordenamento, não havendo outro remédio processual
eficaz.
Alguns casos já enfrentados pelos tribunais podem ser citados, tais como: a) terceiro que se
insurge contra medida cautelar de sequestro464; b) réu que postula a exclusão de dados do registro
de identificação criminal465; c) Ministério Público que contesta o indeferimento de produção
antecipada de provas (art. 366 do CPP)466; d) busca e apreensão em escritório de advocacia467.
463 A atual Lei do Mandado de Segurança adotou essa regra nos dois primeiros incisos do art. 5º: “Não se concederá mandado de
segurança quando se tratar: I - de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente de caução; II - de
decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo”.
464 RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. MATÉRIA CRIMINAL. SEQUESTRO DE BEM UTILIZADO NA PRÁTICA DE
HOMICÍDIO. TERCEIRO PREJUDICADO. APLICAÇÃO DA SÚMULA N.º 202 DO STJ. EXISTÊNCIA DE DÚVIDAS QUANTO À PROPRIEDADE DO
BEM. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. É lícito ao
terceiro prejudicado impetrar mandado de segurança contra ato judicial, por ter o direito potestativo de se insurgir contra o referido
decisum e almejar a restituição do veículo que alegadamente lhe pertence, cujo perdimento foi decretado em feito no qual não era parte.
Incidência do enunciado da Súmula n.º 202 desta Corte. 2. Entretanto, diante da existência de dúvidas no que diz respeito à propriedade do
bem, não se verifica qualquer vulneração ao direito líquido e certo da Recorrente, terceira na relação processual, que deverá se valer da via
processual própria nas hipóteses de apreensão de bem em sede de processo penal, cuja propriedade não restar, de plano, comprovada,
qual seja: o pedido de restituição de coisas apreendidas, nos termos do disposto no art. 118 e seguintes do Código de Processo Penal. 3.
Recurso desprovido. (RMS 32.654/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 06/11/2012, DJe 16/11/2012).
465 PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. REGISTRO DE DADOS CRIMINAIS. MANUTENÇÃO PELO INSTITUTO DE
IDENTIFICAÇÃO. VIOLAÇÃO À DIREITO LÍQUIDO E CERTO. SIGILOSIDADE. ARQUIVOS DE ACESSO EXCLUSIVO VIA AUTORIZAÇÃO JUDICIAL.
INTELIGÊNCIA DO ART. 748 DO CPP. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. É uníssono o entendimento do Superior Tribunal de Justiça no
sentido de que, "por analogia aos termos do art. 748 do Código de Processo Penal, devem ser excluídos dos terminais dos Institutos de
Identificação Criminal os dados relativos a inquéritos arquivados, a ações penais trancadas, a processos em que tenha ocorrido a
reabilitação do condenado e a absolvições por sentença penal transitada em julgado ou, ainda, que tenha sido reconhecida a extinção da
punibilidade do acusado decorrente da prescrição da pretensão punitiva do Estado" (RMS 24.099/SP, Rel. Min. ARNALDO ESTEVES LIMA,
Quinta Turma, DJe 23/6/08). 2. “Tais dados, entretanto, não deverão ser excluídos dos arquivos do Poder Judiciário, tendo em vista que, nos
termos do art. 748 do CPP, pode o Juiz Criminal requisitá-los, de forma fundamentada, a qualquer tempo, mantendo-se, entretanto, o sigilo
quanto às demais pessoas. (Precedente)" (RMS 19501/SP, Rel. Min. FELIX FISCHER, Quinta Turma, DJ 1/7/05) 3. Recurso ordinário
parcialmente provido para, concedendo em parte a segurança, determinar a vedação de acesso aos registros constantes dos bancos de
dados do Instituto de Identificação, salvo pelo Poder Judiciário para efeito de consulta fundamentada de Juízes Criminais. (RMS 33.300/RJ,
Rel. Ministra LAURITA VAZ, Rel. p/ Acórdão Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 23/10/2012, DJe 30/11/2012).
466RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. MATÉRIA CRIMINAL. RÉU REVEL. SUSPENSÃO DO PROCESSO. PRODUÇÃO
ANTECIPADA DE PROVA TESTEMUNHAL. POSSIBILIDADE. ARTIGO 366 DO CPP. 1. Na linha da jurisprudência predominante nesta Corte,
mostra-se razoável ter como de natureza urgente a prova testemunhal a ser produzida em processo penal suspenso, pela revelia do réu,
com base no artigo 366 do CPP, redação dada pela Lei nº 9.271/96, tendo em conta a possibilidade da inquirição em época muito distante
no tempo do fato delituoso ficar comprometida em seu conteúdo, prejudicando a apuração da verdade real. 2. Recurso em mandado de
segurança provido. (RMS 14.283/SP, Rel. Ministro PAULO GALLOTTI, SEXTA TURMA, julgado em 13/08/2002, DJ 07/10/2002, p. 300).
467 MANDADO DE SEGURANÇA - MATÉRIA CRIMINAL - BUSCA E APREENSÃO EM ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA EMANADA DE AUTORIDADE
JUDICIAL - REPRESENTAÇÃO OFERECIDA PELA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - ALEGAÇÃO DE OFENSA A DIREITO LÍQUIDO E CERTO
DO EXERCÍCIO DA ADVOCACIA - INOCORRÊNCIA - SEGURANÇA DENEGADA. O mandado de segurança é cabível "somente quando se trata de
decisão teratológica, de flagrante ilegalidade ou abuso de poder, em que se torne patente a irreparabilidade do dano". Improvimento do
recurso. (RMS 9.882/SC, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 29/06/2000, DJ 04/12/2000, p. 55).
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A respeito da legitimidade, quando o impetrante for o Ministério Público, exige-se a inclusão
do réu no polo passivo, nos termos do Enunciado 701 da Súmula do STF468.
A petição inicial conterá os requisitos do art. 282 do CPC, além das formalidades exigidas no
art. 6º da Lei 12.016/2009, e deverá estar acompanhada de prova pré-constituída do ato apontado
como coator. Após, a autoridade é notificada para prestar informações, no prazo de dez dias, ocasião
em que poderá apresentar documentos. O Ministério Público terá vista dos autos para emissão de
parecer, também no prazo de dez dias (art. 12). Por fim, o juiz proferirá sentença em até trinta dias.
A sentença que concede a ordem estará sujeita ao reexame necessário, sem prejuízo de
eventual apelação (art. 14).
468 “No mandado de segurança impetrado pelo Ministério Público contra decisão proferida em processo penal, é obrigatória a citação do
réu como litisconsorte passivo”.
469 Abreviatura de Processo de Execução Penal - PEP, utilizada pelo Conselho Nacional de Justiça na Resolução 113/2010.
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E REGISTRAIS DO RS
Não há citação na execução penal . Como já foi dito, expede-se a guia de recolhimento, em
caso de pena privativa de liberdade, ou as comunicações necessárias aos órgãos perante os quais o
condenado cumprirá a pena substitutiva. Este será comunicado, quando for o caso, mediante
intimação pessoal ou em audiência admonitória.
No caso do ordenamento jurídico pátrio, tem-se reconhecido que a execução penal é híbrida,
complexa, isto é, realiza-se a partir da conjugação de atos de órgãos pertencentes ao Poder Judiciário
e ao Poder Executivo. Forma-se por atos judiciais e administrativos. Em geral, o juiz da execução
penal determina providências que deverão ser cumpridas pela administração do estabelecimento
penal. Esta também possui atribuições administrativas específicas conferidas pela lei. Apesar das
divergências, pelo menos não há dúvidas na parte em que se reconhece a competência exclusiva da
autoridade judiciária para solucionar definitivamente os incidentes que possam surgir durante o
processo de execução.
Em relação à competência, especificamente em se tratando de pena privativa de liberdade
sujeita à jurisdição ordinária, não há necessariamente uma simetria entre os órgãos judiciais
responsáveis pelos processos de conhecimento e execução. É necessário verificar a qual ente o
estabelecimento prisional está vinculado; se ao Estado, a execução penal ficará a cargo da autoridade
judiciária estadual; se à União, será de responsabilidade do juízo federal competente.
Em geral, os condenados por crimes federais ficam sujeitos ao juízo estadual, em razão de o
sistema ser formado, em sua grande maioria, por estabelecimentos administrados pelos Estados.
Logo, transitada em julgada a sentença penal condenatória, a regra é que o condenado seja
encaminhado ao juízo das execuções penais da Justiça Estadual, que ficará responsável pelo
acompanhamento da pena imposta pela Justiça Federal471. Assim, os incidentes de execução que
eventualmente possam existir serão dirimidos pelos juízes de direito.
A exceção ocorre quando o condenado estiver confinado em estabelecimento penal mantido
pela administração federal, caso em que a execução será supervisionada por juízes federais.
Uma vez definida a autoridade judiciária responsável, o art. 66 da LEP elenca as atribuições do
juízo da execução:
a) aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer modo favorecer o
condenado;
b) declarar extinta a punibilidade;
c) decidir sobre:
i. soma ou unificação de penas;
ii. progressão ou regressão nos regimes;
iii. detração e remição da pena;
iv. suspensão condicional da pena;
v. livramento condicional;
vi. incidentes da execução.
d) autorizar saídas temporárias;
e) determinar:
i. a forma de cumprimento da pena restritiva de direitos e fiscalizar sua
execução;
470Haveria uma única hipótese em que ocorreria a citação. Tratar-se-ia da cobrança da pena de multa, a qual será vista adiante.
471 Enunciado 192 da Súmula do STJ: “Compete ao juízo das execuções penais do estado a execução das penas impostas a sentenciados
pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos a administração estadual”.
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ii. a conversão da pena restritiva de direitos e de multa em privativa de
liberdade;
iii. a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos;
iv. a aplicação da medida de segurança, bem como a substituição da
pena por medida de segurança;
v. a revogação da medida de segurança;
vi. a desinternação e o restabelecimento da situação anterior;
vii. o cumprimento de pena ou medida de segurança em outra comarca;
viii. a remoção do condenado na hipótese prevista no § 1º, do artigo 86,
desta Lei.
f) zelar pelo correto cumprimento da pena e da medida de segurança;
g) inspecionar, mensalmente, os estabelecimentos penais, tomando
providências para o adequado funcionamento e promovendo, quando for o
caso, a apuração de responsabilidade;
h) interditar, no todo ou em parte, estabelecimento penal que estiver
funcionando em condições inadequadas ou com infringência aos
dispositivos desta Lei;
i) compor e instalar o Conselho da Comunidade;
j) emitir anualmente atestado de pena a cumprir. (Incluído pela Lei nº 10.713,
de 2003)
Ao contrário do que se possa extrair de uma leitura mais desavisada, a LEP também se aplica
aos presos provisórios (art. 3º), que devem ficar separados dos condenados por sentença transitada
em julgado (art. 84). Com o advento da Lei 13.167/15, determinou-se também a separação conforme
a gravidade da infração penal praticada.
Tratando-se de processo, em que nitidamente se mostra presente a atividade jurisdicional do
magistrado, os princípios constitucionais do contraditório, da ampla defesa e do devido processo
legal, entre outros relacionados à matéria, devem ser observados.
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O Conselho Nacional de Justiça editou a Resolução 113, de 20 de abril de 2010, que dispõe
sobre o procedimento relativo à execução de pena privativa de liberdade, de medida de segurança e
dá outras providências. Pode-se destacar, do referido ato normativo, a previsão de outros
documentos considerados relevantes, a serem remetidos juntamente com a guia de recolhimento
(art. 1º)472, além da exigência de expedição da referida guia provisória, destinada aos presos
provisórios com pendência recursal, independentemente de haver ou não trânsito em julgado para a
acusação473.
Nos termos do art. 3º da Resolução 113, o juiz competente para a execução da pena ordenará
a formação do Processo de Execução Penal – PEP, sendo um para cada réu condenado, reunindo-se
todas as condenações impostas, inclusive aquelas que vierem a ocorrer no curso da execução, caso
em que se realizara a soma ou unificação da pena ao restante da que está sendo cumprida, fixando-
se novo regime de cumprimento, quando for o caso, sem prejuízo de eventual detração ou remição.
Se a condenação for posterior ao cumprimento ou extinção da pena, será formado novo processo de
execução penal.
Tão logo seja formado o PEP, que se dá com a respectiva autuação da guia de recolhimento,
imediatamente deverá ser providenciado o cálculo de liquidação de pena com informações quanto
ao término e provável data de benefício, tais como progressão de regime e livramento condicional
(art. 5º).
Em seguida, o Ministério Público e a defesa deverão se pronunciar sobre os cálculos de
liquidação de pena, sendo posteriormente os autos encaminhados para homologação judicial.
Homologado o cálculo de liquidação, a secretaria deverá providenciar o agendamento da data
do término do cumprimento da pena e das datas de implementação dos prazos para postulação dos
benefícios previstos em lei, bem como o encaminhamento de duas cópias do cálculo ou seu extrato
ao diretor do estabelecimento prisional, a primeira para ser entregue ao executado, servindo como
atestado de pena a cumprir e a segunda para ser arquivada no prontuário do executado (§ 2º).
472Art. 1º A sentença penal condenatória será executada nos termos da Lei 7.210, de 11 de julho de 1984, da lei de organização judiciária
local e da presente Resolução, devendo compor o processo de execução, além da guia, no que couber, as seguintes peças e informações: I -
qualificação completa do executado; II - interrogatório do executado na polícia e em juízo; III - cópias da denúncia; IV - cópia da sentença,
voto(s) e acórdão(s) e respectivos termos de publicação, inclusive contendo, se for o caso, a menção expressa ao deferimento de detração
que importe determinação do regime de cumprimento de pena mais benéfico do que seria não fosse a detração, pelo próprio juízo do
processo de conhecimento, nos termos do art. 387, § 2º, do Código de Processo Penal, acrescentado pela Lei 12.736/12; (Redação dada pela
Resolução nº 180, de 03.10.13) V - informação sobre os endereços em que possa ser localizado, antecedentes criminais e grau de instrução;
VI - instrumentos de mandato, substabelecimentos, despachos de nomeação de defensores dativos ou de intimação da Defensoria Pública;
VII - certidões de trânsito em julgado da condenação para a acusação e para a defesa; VIII - cópia do mandado de prisão temporária e/ou
preventiva, com a respectiva certidão da data do cumprimento, bem como com a cópia de eventual alvará de soltura, também com a
certidão da data do cumprimento da ordem de soltura, para cômputo da detração, caso, nesta última hipótese, esta já não tenha sido
apreciada pelo juízo do processo de conhecimento para determinação do regime de cumprimento de pena, nos termos do art. 387, § 2º, do
Código de Processo Penal, acrescentado pela Lei 12.736/12; (Redação dada pela Resolução nº 180, de 03.10.13) IX - nome e endereço do
curador, se houver; X - informações acerca do estabelecimento prisional em que o condenado encontra-se recolhido e para o qual deve ser
removido, na hipótese de deferimento de detração que importe determinação do regime de cumprimento de pena mais benéfico do que
haveria não fosse a detração, pelo próprio juízo do processo de conhecimento, nos termos do art. 387, § 2º, do Código de Processo Penal,
acrescentado pela Lei 12.736/12; (Redação dada pela Resolução nº 180, de 03.10.2013) XI - cópias da decisão de pronúncia e da certidão de
preclusão em se tratando de condenação em crime doloso contra a vida; XII - certidão carcerária; XIII - cópias de outras peças do processo
reputadas indispensáveis à adequada execução da pena.
473 Art. 8° Tratando-se de réu preso por sentença condenatória recorrível, será expedida guia de recolhimento provisória da pena privativa
de liberdade, ainda que pendente recurso sem efeito suspensivo, devendo, nesse caso, o juízo da execução definir o agendamento dos
benefícios cabíveis. Art. 9º A guia de recolhimento provisória será expedida ao Juízo da Execução Penal após o recebimento do recurso,
independentemente de quem o interpôs, acompanhada, no que couber, das peças e informações previstas no artigo 1º. § 1° A expedição da
guia de recolhimento provisória será certificada nos autos do processo criminal. § 2° Estando o processo em grau de recurso, sem expedição
da guia de recolhimento provisória, às Secretarias desses órgãos caberão expedi-la e remetê-la ao juízo competente. Art. 10 Sobrevindo
decisão absolutória, o respectivo órgão prolator comunicará imediatamente o fato ao juízo competente para a execução, para anotação do
cancelamento da guia. Art. 11 Sobrevindo condenação transitada em julgado, o juízo de conhecimento encaminhará as peças
complementares, nos termos do artigo 1º, ao juízo competente para a execução, que se incumbirá das providências cabíveis, também
informando as alterações verificadas à autoridade administrativa”. Como já afirmado no item referente à prisão (6.1), em razão da
restauração jurisprudencial da possibilidade de início de execução da pena após a confirmação da condenação pelo tribunal, tal hipótese
também pode ser indicada como causa de expedição de guia provisória.
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Na medida em que ocorra o cumprimento da pena, diversos procedimentos incidentais
poderão ocorrer, tais como progressão ou regressão de regime, livramento condicional, remição,
entre outros.
Cumprida ou extinta a pena, o juiz determinará a expedição de alvará de soltura (art. 109 da
LEP).
O art. 7º da Resolução preceitua que, no caso de modificação da competência do juízo da
execução, os autos deverão ser remetidos ao juízo competente, excetuada a hipótese de agravo
interposto e em processamento, caso em que a remessa dar-se-á após eventual juízo de retratação.
474 Atenção para o disposto no art. 387, § 2º do CPP, com a redação dada pela Lei 12.736/2012: “Art. 387. O juiz, ao proferir sentença
condenatória: [...]
§ 2º O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro, será computado para fins de
determinação do regime inicial de pena privativa de liberdade. (Incluído pela Lei nº 12.736, de 2012).
475 EMENTA DIREITO PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. DOSIMETRIA. REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DA PENA.
INCONSTITUCIONALIDADE DO § 1º DO ARTIGO 2º DA LEI Nº 8.072/90. POSSIBILIDADE DE IMPOSIÇÃO DE REGIME INICIAL DIVERSO DO
FECHADO. 1. Em sessão realizada em 27.6.2012, no HC 111.840/ES, rel. Min. Dias Toffoli, o Pleno desta Suprema Corte declarou a
inconstitucionalidade do § 1º do artigo 2º da Lei 8.072/90, com a redação dada pela Lei 11.464/07, que consagrara a obrigatoriedade de
imposição do regime inicial fechado para o cumprimento da pena de crimes hediondos e equiparados. 2. Em absoluto ignorou-se o caráter
danoso do tráfico de drogas na sociedade moderna, a reclamar, em geral, tratamento jurídico mais rigoroso, permitindo apenas, forte no
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O regime inicial será fixado na sentença, após o término da dosimetria, mas antes da análise
de eventual cabimento de substituição da pena privativa de liberdade (art. 59, III do CP).
Considera-se regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima
ou média. Destina-se, em regra, aos condenados à pena de reclusão (art. 33, caput, do CP), sendo o
regime inicialmente obrigatório para os condenados a pena superior a oito anos (art. 33, § 2º, a, do
CP). Também deve ser fixado para os condenados reincidentes, cuja pena seja superior a quatro anos
e não exceda a oito anos.
Nos termos do art. 34 do Código Penal, o condenado ao cumprimento de pena em regime
fechado será submetido, no início, a exame criminológico para individualização da execução.
Quanto ao trabalho do preso476 no regime fechado, exerce-se o labor no período diurno,
ficando sujeito a isolamento durante o repouso noturno. Esse trabalho deve ser desenvolvido dentro
do próprio estabelecimento477, na conformidade das aptidões ou ocupações anteriores do
condenado, desde que compatíveis com a execução da pena. O trabalho externo é admissível, se em
serviços ou obras públicas478.
A Lei 10.792/2003 instituiu o Regime Disciplinar Diferenciado – RDD, dispondo o art. 52 da LEP
que o aludido regime é aplicável quando da prática, pelo preso provisório ou condenado, de fato
previsto como crime doloso que ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sem prejuízo da
sanção penal cabível. Também é cabível o RDD para os presos, inclusive estrangeiros, que
apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade, além
daqueles sob os quais recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer
título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando.
O RDD possui as seguintes características:
• Duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de
repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o
limite de um sexto da pena aplicada.
• Recolhimento em cela individual.
• Visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com
duração de duas horas.
• O preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de
sol.
Apesar de ter sido muito criticado, o RDD vem sendo aplicado no cotidiano forense. Há
precedente do STF em que se considerou a higidez do regime, ainda que incidentalmente479. O
Superior Tribunal de Justiça tem reiteradamente considerado o instrumento como válido.
postulado constitucional da individualização das penas, a concessão de regime inicial de cumprimento de pena diverso do fechado, quando
circunstancialmente viável. 3. A fixação do regime inicial de cumprimento da pena não está condicionada somente ao quantum da
reprimenda, mas também ao exame das circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código Penal, conforme remissão do art. 33, §3º, do mesmo
diploma legal. Em tese, viável a imposição de regime inicial fechado mesmo para o cumprimento de pena inferior a oito anos em
condenações por tráfico de drogas. Se a decisão atacada fixou, porém, o regime fechado tão somente com base no dispositivo reputado
inconstitucional, impõe-se a revisão. 4. Habeas corpus concedido. (HC 107407, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em
25/09/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-200 DIVULG 10-10-2012 PUBLIC 11-10-2012).
476 Para o preso provisório, o trabalho não é obrigatório (art. 31, parágrafo único, da LEP), não obstante seja recomendável, já que, assim,
o interessado poderá antecipar benefícios, em caso de condenação, principalmente a remição.
477As regras referentes ao trabalho interno estão previstas nos arts. 31 a 35 da LEP.
478As regras referentes ao trabalho externo estão previstas nos arts. 36 e 37 da LEP.
479 EMENTA: AÇÃO PENAL. Condenação. Execução. Prisão. Regime disciplinar diferenciado. Sanção disciplinar. Imposição. Repercussão no
alcance dos benefícios de execução penal. Indispensabilidade de procedimento administrativo prévio. Não instauração. Violação ao devido
processo legal. Ordem concedida de ofício para que a sanção já cumprida não produza efeitos na apreciação de benefícios na execução
penal. O regime disciplinar diferenciado é sanção disciplinar, e sua aplicação depende de prévia instauração de procedimento
administrativo para apuração dos fatos imputados ao custodiado. (HC 96328, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Segunda Turma, julgado em
02/03/2010, DJe-062 DIVULG 08-04-2010 PUBLIC 09-04-2010 EMENT VOL-02396-01 PP-00167 RTJ VOL-00217- PP-00340).
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No caso do regime semiaberto, a execução da pena se dá em colônia agrícola, industrial ou
estabelecimento similar (art. 33, § 1º, b, do CP). Destina-se aos condenados à pena de reclusão ou
detenção, sendo em regra o regime inicial para os não reincidentes, cuja pena seja superior a quatro
anos e não exceda a oito anos (art. 33, § 2º, b, do CP). Também pode ser fixado para os condenados
reincidentes, cuja pena seja igual ou inferior a quatro anos, desde que as circunstâncias judiciais
sejam favoráveis480.
Ao contrário do regime fechado, a realização de exame criminológico é facultativa no semiaberto.
Quanto ao trabalho, o condenado fica sujeito a labor em comum durante o período diurno, no
mesmo estabelecimento, sendo o trabalho externo admissível, bem como a frequência a cursos
supletivos profissionalizantes, de instrução de segundo grau ou superior.
Já no regime aberto, a execução da pena ocorre em casa de albergado ou estabelecimento
adequado (art. 33, § 1º, c, do CP). Destina-se aos condenados à pena de reclusão ou detenção, sendo
em regra o regime inicial para os não reincidentes, cuja pena seja igual ou inferior a quatro anos (art.
33, § 2º, c, do CP).
Não há previsão de exame criminológico.
A essência do regime aberto está na autodisciplina e no senso de responsabilidade do
condenado, que deverá, fora do estabelecimento e sem vigilância, trabalhar, frequentar curso ou
exercer outra atividade autorizada, permanecendo recolhido durante o período noturno e nos dias
de folga.
A LEP também traz disposições específicas sobre o regime aberto, entre elas a que permite ao
juiz estabelecer condições especiais481 para a sua concessão, sem prejuízo das seguintes condições
gerais e obrigatórias (art. 115):
• permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias
de folga;
• sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados;
• não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;
• comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades,
quando for determinado.
480Enunciado 269/STJ.
481Enunciado 493 da Súmula de Jurisprudência do STJ: “É inadmissível a fixação de pena substitutiva (art. 44 do CP) como condição
especial ao regime aberto”.
482PENA – EXECUÇÃO – REGIME. Ante a falência do sistema penitenciário a inviabilizar o cumprimento da pena no regime menos gravoso a
que tem jus o reeducando, o réu, impõe-se o implemento da denominada prisão domiciliar. Precedentes: Habeas Corpus nº 110.892/MG,
julgado na Segunda Turma em 20 de março de 2012, relatado pelo Ministro Gilmar Mendes, 95.334-4/RS, Primeira Turma, no qual fui
designado para redigir o acórdão, 96.169-0/SP, Primeira Turma, de minha relatoria, e 109.244/SP, Segunda Turma, da relatoria do Ministro
Ricardo Lewandowski, com acórdãos publicados no Diário da Justiça de 21 de agosto de 2009, 9 de outubro de 2009 e 7 de dezembro de
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não se mostra obrigatório que o estabelecimento esteja situado na mesma comarca, podendo o
preso ser compelido a cumprir a pena em casa de albergado existente na mesma região
metropolitana484.
Atenção: “É inadmissível a fixação de pena substitutiva (art. 44 do CP) como condição especial
ao regime aberto” (Súmula 493 do STJ).
2011, respectivamente. (HC 107810, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 17/04/2012, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-085 DIVULG 02-05-2012 PUBLIC 03-05-2012).
483HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. DESCABIMENTO. EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO AO REGIME ABERTO.
AUSÊNCIA DE VAGAS. PACIENTE MANTIDO EM ESTABELECIMENTO INADEQUADO. MANIFESTA ILEGALIDADE. WRIT NÃO CONHECIDO.
ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. [...] - O fato de o paciente, beneficiado com a progressão prisional, aguardar o surgimento de vaga em
estabelecimento adequado no regime mais gravoso constitui situação excepcional a autorizar o uso do habeas corpus, dado o evidente
constrangimento imposto à liberdade de locomoção do apenado. - Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para que o
paciente aguarde em prisão domiciliar, o surgimento de vaga em estabelecimento compatível com o regime aberto. (HC 211.557/MG, Rel.
Ministra MARILZA MAYNARD (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/SE), QUINTA TURMA, julgado em 07/03/2013, DJe 12/03/2013).
484 HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO PARA O REGIME PRISIONAL ABERTO. ALEGAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE
ESTABELECIMENTO ADEQUADO NA COMARCA. PLEITO DE PRISÃO DOMICILIAR. CASA DE ALBERGADO EM CIDADE DA MESMA REGIÃO
METROPOLITANA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE. HABEAS CORPUS DENEGADO. 1. É pacífica a jurisprudência desta Corte no
sentido de que, na falta de vagas em estabelecimento compatível ao regime fixado na condenação, configura constrangimento ilegal a
submissão do réu ao cumprimento de pena em regime mais gravoso, devendo o mesmo cumprir a reprimenda em regime aberto, ou em
prisão domiciliar, diante da inexistência de Casa de Albergado no local de cumprimento da pena. 2. Na hipótese dos autos, contudo, ao
contrário do alegado na inicial, o fato de o apenado morar em Belford Roxo não impede o apenado cumprir o restante de sua pena em casa
de albergado localizada na cidade do Rio de Janeiro, pois as Comarcas integram a mesma região metropolitana. 3. Habeas Corpus
denegado. (HC 261.207/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 05/03/2013, DJe 12/03/2013).
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Essa progressão, contudo, não é automática, dependendo essencialmente do comportamento
do condenado. A sua boa conduta e aproveitamento o permitirão evoluir de regime ao longo do
cumprimento da pena. O Código Penal e a Lei de Execução Penal claramente adotaram o sistema
progressivo, ressaltando-se o mérito do condenado.
485 O art. 33, § 2º do CP também prevê que as penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o
mérito do condenado, observados os critérios ali contidos.
486Uma leitura desatenta poderia indicar justamente o contrário, já que a norma revogada exigia o cumprimento da pena em regime
integralmente fechado (art. 2º, § 1º da Lei 8.072/90). Porém, o Supremo Tribunal Federal considerou inconstitucional a aludida norma (HC
82.959/SP), não mais se aplicando o Enunciado 698. Assim, passou-se a considerar o prazo fixado pelo art. 112 da LEP, que é de um sexto da
pena no regime anterior. Portanto, a Lei 11.464/2007 endureceu a resposta penal.
487 Enunciado 471 da Súmula do STJ: “Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da vigência da Lei n.
11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a progressão de regime prisional”.
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mudança foi, em nosso entender, péssima para o processo de
individualização executória da pena. E, nessa ótica, inconstitucional. Não se
pode obrigar o magistrado, como se pretendeu com a edição da Lei
10.792/2003, a conceder ou negar benefícios penais somente com a
apresentação do frágil atestado de conduta 488.
488 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 10. ed. rev., atual e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2013, p. 1032.
489Nesse sentido, confira-se o Enunciado 439 da Súmula de Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: “Admite-se o exame
criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada”. Em adição, cita-se o seguinte precedente: “HABEAS CORPUS.
EXECUÇÃO PENAL. PENA TOTAL DE 23 ANOS 4 DIAS DE RECLUSÃO, EM REGIME INICIAL FECHADO. ROUBOS CIRCUNSTANCIADOS.
PROGRESSÃO DE REGIME PRISIONAL INDEFERIDA. EXIGÊNCIA DE EXAME CRIMINOLÓGICO. MÉRITO SUBJETIVO NÃO COMPROVADO. FALTAS
GRAVES NO DECORRER DO CUMPRIMENTO DE PENA (POSSE DE FACA, TENTATIVA DE FUGA, SUBVERSÃO À ORDEM, DESACATO, AMEAÇA E
DANOS). SÚMULA 439/STJ. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. PARECER DO MPF PELA DENEGAÇÃO DO WRIT. ORDEM DENEGADA.
1. Conforme entendimento cristalizado nesta Corte Superior, a realização do exame criminológico pode ser solicitada quando as
peculiaridades da causa assim o recomendarem. Súmula 439/STJ. [...] 3. O exame criminológico constitui um instrumento necessário para a
formação da convicção do Magistrado, de maneira que deve sempre ser realizado como meio de se obter uma avaliação mais aprofundada
acerca dos riscos do deferimento da progressão de regime, ocasião em que o apenado terá maior contato com a sociedade. De outra parte,
é procedimento que não constrange quem a ele se submete, pois se trata de avaliação não invasiva da pessoa, já que se efetiva por meio de
entrevista com técnico ou especialista, não produzindo qualquer ofensa física ou moral. 4. Ordem denegada, em consonância com o
parecer ministerial. (HC 194.536/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 05/04/2011, DJe 12/05/2011)”
490Enunciado 26 da Súmula Vinculante do STF: “Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou
equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar
se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo
fundamentado, a realização de exame criminológico”.
491 Enunciado 491/STJ: “É inadmissível a chamada progressão per saltum de regime prisional”.
492CRIMINAL. HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO PARA REGIME SEMIABERTO. AUSÊNCIA DE VAGA NO REGIME
INTERMEDIÁRIO. MANUTENÇÃO EM REGIME FECHADO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. [...]
II. Entretanto, é pacífica a jurisprudência desta Corte no sentido de que, na falta de vagas em estabelecimento compatível ao regime fixado
na condenação, configura constrangimento ilegal a submissão do réu ao cumprimento de pena em regime mais gravoso, devendo o mesmo
cumprir a reprimenda em regime aberto, ou em prisão domiciliar, na hipótese de inexistência de Casa de Albergado. III. Deve ser permitido
à paciente o desconto de sua reprimenda em regime aberto ou prisão domiciliar, até que surja vaga em estabelecimento adequado ao
regime semiaberto, exceto se por outro motivo estiver presa em regime fechado. IV. Ordem concedida de ofício, nos termos do voto do
Relator. (HC 210.448/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 19/04/2012, DJe 24/04/2012).
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Já foi visto que a execução penal é essencialmente dinâmica. Assim como se mostra possível a
progressão de regime, levando-se em consideração o mérito do condenado, a situação invertida
também é possível: o demérito do condenado poderá levá-lo à regressão de regime.
O art. 118 da LEP enumera as situações que justificam a regressão do regime, com
transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, isso quando o condenado praticar fato
definido como crime doloso, falta grave ou sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada
ao restante da pena em execução, torne incabível o regime (art. 111). Especificamente em relação ao
regime aberto, poderá também haver regressão se o condenado frustrar os fins da execução ou não
pagar, podendo, a multa ser cumulativamente imposta.
A lei dispensa a oitiva do preso no caso de condenação, por crime anterior, que, após o
somatório, inviabilize a manutenção do regime atual (§ 2º do art. 118).
No caso de falta disciplinar, o STJ recentemente editou enunciados sobre o tema:
• O reconhecimento de falta grave decorrente do cometimento de fato
definido como crime doloso no cumprimento da pena prescinde do
trânsito em julgado de sentença penal condenatória no processo penal
instaurado para apuração do fato. (Súmula 526, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 13/05/2015, DJe 18/05/2015)
• Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da
execução penal, é imprescindível a instauração de procedimento
administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional, assegurado o
direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor
público nomeado. (Súmula 533, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
10/06/2015, DJe 15/06/2015)
Assim, a falta grave é um dos motivos listados para a regressão de regime. A Lei 11.466/2007
possibilitou tipificar, como falta grave, a conduta de possuir, utilizar ou fornecer aparelho telefônico,
de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo (art.
50, VII, da LEP). Com isso, buscou-se coibir a utilização de aparelhos de telefonia celular em presídios.
Antes, porém, foi reconhecida a ilegalidade da tentativa de se enquadrar a hipótese em outras
normas493.
14.1.1.3.5 REMIÇÃO
O capítulo da LEP que trata da remição foi integralmente reformulado pela Lei 12.403/11.
Entre as alterações mais relevantes, destacam-se a possibilidade da remição pelo estudo494 e a
limitação da revogação do tempo remido em caso de falta grave. Também se destaca a possibilidade
de remição aos presos que cumpram pena no regime aberto, além dos que usufruem o benefício do
livramento condicional, bem como para os presos provisórios.
Em resumo, a remição será feita à razão de: a) um dia de pena a cada doze horas de frequência
escolar – atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda
493HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO PARA REGIME SEMIABERTO. PEDIDO PREJUDICADO. FALTA GRAVE. PERDA DOS DIAS
REMIDOS. POSSE DE APARELHO CELULAR ANTES DA LEI Nº 11.466/2007. CONDUTA NÃO TIPIFICADA. PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E
IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS RIGOROSA. INCOMPETÊNCIA ESTADUAL PARA LEGISLAR SOBRE FALTAS GRAVES. ORDEM
PREJUDICADA EM PARTE E CONCEDIDA. 1. Antes do advento da Lei nº 11.466 de 29 de março de 2007, a posse de aparelho telefônico não
constava do rol taxativo previsto no art. 50 da Lei de Execuções Penais, onde estão previstas as condutas caracterizadoras de falta disciplinar
de natureza grave, razão pela qual não está autorizado o reconhecimento da falta por este motivo, sob pena de violação do princípio da
legalidade e da irretroatividade da lei penal mais rigorosa. 2. Resolução da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São
Paulo tipificando a conduta como falta grave não é suficiente para legitimar a decisão, pois nos termos do art. 49 da Lei nº 7.210/1984, a
legislação local somente está autorizada a especificar as condutas que caracterizem faltas leves ou médias e suas respectivas sanções. [...]
(HC 155.372/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 02/08/2012, DJe 15/08/2012).
494A jurisprudência já havia acenado nesse sentido, a exemplo do Enunciado 341/STJ: “A frequência a curso de ensino formal é causa de
remição de parte do tempo de execução de pena sob regime fechado ou semi-aberto”.
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de requalificação profissional – divididas, no mínimo, em três dias; ou b) um dia de pena a cada 3 três
dias de trabalho. O tempo a remir, em caso de estudo, poderá ser acrescido de um terço se houver a
conclusão do curso, na forma do § 5º do art. 126 da LEP. A Lei 13.163/2015 instituiu o ensino médio
nas penitenciárias.
No caso de falta grave, o juiz poderá revogar até um terço do tempo remido, observado o
disposto no art. 57 da LEP, recomeçando-se a contagem a partir da data da infração disciplinar. Essa
norma, por ser mais benéfica, aplica-se retroativamente495.
O tempo remido deverá ser declarado como pena cumprida, para todos os efeitos, e não
apenas para fins de livramento condicional ou indulto (art. 128 da LEP).
A remição será declarada pelo juízo da execução, ouvidos previamente o Ministério Público e a
defesa.
495DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. DESCABIMENTO. COMPETÊNCIA DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E DESTE SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. MATÉRIA DE DIREITO ESTRITO. MODIFICAÇÃO DE ENTENDIMENTO
DO STJ, EM CONSONÂNCIA COM O DO STF. IMPOSSIBILIDADE DE CONHECIMENTO DA IMPETRAÇÃO. EXECUÇÃO PENAL. FALTA DISCIPLINAR
DE NATUREZA GRAVE. POSSIBILIDADE DE INTERRUPÇÃO DO PRAZO PARA PROGRESSÃO DE REGIME. INCIDÊNCIA DO ENTENDIMENTO
FIXADO PELA TERCEIRA SEÇÃO DESTA CORTE NO JULGAMENTO DO ERESP 1.176.486/SP. INEXISTÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL.
WRIT NÃO CONHECIDO. REMIÇÃO. SUPERVENIÊNCIA DA LEI N.º 12.433/2011. NOVA REDAÇÃO AO ART. 127 DA LEI DE EXECUÇÕES PENAIS.
PERDA DE ATÉ 1/3 (UM TERÇO) DOS DIAS REMIDOS. PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS BENÉFICA. APLICABILIDADE.
ORDEM DE HABEAS CORPUS CONCEDIDA DE OFÍCIO, NESSE PONTO. [...] 4. A constitucionalidade do art. 127 da Lei de Execução Penal, que
impõe a perda dos dias remidos pelo cometimento de falta grave, foi reafirmada, por diversas vezes, pelo Supremo Tribunal Federal,
ensejando a edição da Súmula Vinculante n.º 9. 5. A partir da vigência da Lei n.º 12.433, de 29 de junho de 2011, que alterou a redação ao
art. 127 da Lei de Execuções Penais, a penalidade consistente na perda de dias remidos pelo cometimento de falta grave passa a ter nova
disciplina, não mais incidindo sobre a totalidade do tempo remido, mas apenas até o limite de 1/3 (um terço) desse montante, cabendo ao
Juízo das Execuções, com certa margem de discricionariedade, aferir o quantum, levando em conta "a natureza, os motivos, as
circunstâncias e as conseqüências do fato, bem como a pessoa do faltoso e seu tempo de prisão", consoante o disposto no art. 57 da Lei de
Execuções Penais. 6. Por se tratar de norma penal mais benéfica, deve a nova regra incidir retroativamente, em obediência ao art. 5.º, inciso
XL, da Constituição da República. [...] (HC 215.243/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 23/10/2012, DJe 31/10/2012).
496 A lei especial pode eventualmente fixar prazo para o livramento condicional, tal como ocorreu com a nova Lei de Drogas (art. 44,
parágrafo único, da Lei 11.343/2006). Contudo, fixou-se o mesmo lapso do CP.
497HABEAS CORPUS – LIVRAMENTO CONDICIONAL – PRAZO PARA CONCESSÃO – PACIENTE PRIMÁRIO COM MAUS ANTECEDENTES –
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O art. 84 do Código Penal exige que as penas que correspondam a infrações diversas devam
somar-se para efeito do livramento. Para fins de cálculo para a obtenção do benefício, considera-se o
tempo total, e não o resultante da unificação prevista no art. 75 do CP, conforme Enunciado 715 da
Súmula de Jurisprudência do STF498.
No caso de cometimento de falta grave, não se interrompe a contagem do prazo para o
livramento condicional499.
Com o advento da Lei 10.792/2003, que incluiu o § 2° ao art. 112 da LEP, o único requisito
subjetivo exigido é o bom comportamento carcerário. Logo, as mesmas observações a respeito da
exigência do exame criminológico para fins de progressão de regime podem ser aplicadas para o
livramento condicional, não se mostrando mais necessária a oitiva do Conselho Penitenciário500.
As condições para o cumprimento do livramento condicional estão descritas no art. 132 da LEP
e dividem-se em obrigatórias e facultativas.
As obrigatórias são (§ 1º):
• obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o
trabalho;
• comunicar periodicamente ao juiz sua ocupação;
• não mudar do território da comarca do juízo da execução, sem prévia
autorização deste.
SITUAÇÃO NÃO TRATADA PELO CÓDIGO – APLICAÇÃO DO ARTIGO 83, I, DO CÓDIGO PENAL – PRECEDENTES – ORDEM CONCEDIDA. 1- No
caso de paciente primário, de maus antecedentes, como o Código não contemplou tal hipótese, ao tratar do prazo para concessão do
livramento condicional, não se admite a interpretação em prejuízo do réu, devendo ser aplicado o prazo de um terço. 2- O paciente
primário com maus antecedentes não pode ser equiparado ao reincidente, em seu prejuízo. Precedentes.
[...] (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), SEXTA TURMA, julgado em 03/04/2008, DJe 22/04/2008)
498 “A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado pelo art. 75 do código penal, não é considerada
para a concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime mais favorável de execução”.
499 Enunciado 441 da Súmula de Jurisprudência do STJ: “A falta grave não interrompe o prazo para obtenção de livramento condicional”.
500EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS. LIVRAMENTO CONDICIONAL. PRÉVIA OITIVA DO CONSELHO PENITENCIÁRIO. DESNECESSIDADE.
ART. 112 DA LEP, COM NOVA REDAÇÃO DADA PELA LEI N.º 10.792/2003. I - Para a concessão do benefício do livramento condicional, deve o
acusado preencher os requisitos de natureza objetiva (lapso temporal) e subjetiva (bom comportamento carcerário), nos termos do art. 112
da LEP, com redação dada pela Lei nº 10.792/2003, podendo o Magistrado, excepcionalmente, determinar a realização do exame
criminológico, diante das peculiaridades da causa, desde que o faça em decisão concretamente fundamentada (cf. HC 88052/DF, Rel.
Ministro Celso de Mello, DJ de 28/04/2006). (Precedentes). II - Dessa forma, muito embora a nova redação do art. 112 da Lei de Execução
Penal não mais exija o exame criminológico, esse pode ser realizado, se o Juízo da Execução, diante das peculiaridades da causa, assim o
entender, servindo de base para o deferimento ou indeferimento do pedido (Precedentes desta Corte e do Pretório Excelso/Informativo-STF
nº 439). III - Evidenciado, in casu, que o Juízo de 1º grau dispensou a realização do exame criminológico, concedendo o benefício do
livramento condicional ao paciente, não é permitido ao e. Tribunal a quo reformar esta decisão, e, por conseguinte, determinar prévia oitiva
do Conselho Penitenciário, sem a devida fundamentação, ou condicionar o benefício a requisitos que não os constantes no texto legal.
(Precedentes) Habeas Corpus concedido. (HC 93.416/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 21/02/2008, DJe
24/03/2008).
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condenado esteve solto, devendo retomá-la pelo tempo que restava quando do início do benefício,
cabendo novo livramento apenas pela segunda condenação, se for o caso. No caso de crime anterior,
permite-se o desconto do tempo em que o condenado estivera solto, além de o restante poder ser
computado para, juntamente com o montante do segundo crime, obter-se novo livramento no
futuro (art. 88 do CP).
A revogação facultativa poderá ocorrer quando o liberado deixar de cumprir qualquer das
obrigações constantes da sentença, ou for irrecorrivelmente condenado, por crime ou contravenção,
à pena que não seja privativa de liberdade. Nessa última hipótese – sentença condenatória
irrecorrível –, aplica-se o art. 88 do CP. Em qualquer dos casos de revogação, o liberado deverá ser
ouvido previamente antes da decisão final. Nos casos de suspensão, contudo, o contraditório poderá
ser diferido, em conformidade com o art. 145 da LEP501.
Nos termos do art. 144 da LEP, com a redação dada pela Lei 12.313/10, o juiz, de ofício, a
requerimento do Ministério Público, da Defensoria Pública ou mediante representação do Conselho
Penitenciário, e ouvido o liberado, poderá modificar as condições especificadas na sentença,
devendo o respectivo ato decisório ser lido ao liberado por uma das autoridades ou funcionários
indicados no inciso I do caput do art. 137, observado o disposto nos incisos II e III e §§ 1º e 2º do
mesmo artigo. Tal se deve ao caráter dinâmico da execução penal. O Código Penal elenca um caso de
prorrogação do período de prova, prevendo o art. 89 que o juiz não poderá declarar extinta a pena,
enquanto não passar em julgado a sentença em processo a que responde o liberado, por crime
cometido na vigência do livramento. Apesar de o agente ficar desobrigado durante o período de
prorrogação, a pena será extinta apenas se houver absolvição. Do contrário, dá-se a revogação do
benefício.
501PENAL E PROCESSO PENAL. LIVRAMENTO CONDICIONAL. PRÁTICA DE NOVO DELITO. SUSPENSÃO CAUTELAR DO LIVRAMENTO
CONDICIONAL DURANTE O PERÍODO DE PROVA. AUSÊNCIA DE OITIVA PRÉVIA DO CONSELHO PENITENCIÁRIO. INEXISTÊNCIA DE
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. 1. A prática de nova infração penal no curso do livramento condicional gera a suspensão cautelar da benesse e
prescinde da oitiva prévia do condenado ou do Conselho Penitenciário, a teor dos arts. 89 e 145 da LEP. 2. No presente caso, a suspensão
revelou-se necessária e a dispensa da oitiva prévia do Conselho Penitenciário em caso de suspensão cautelar da benesse não acarreta
ofensa ao princípio do contraditório, pois se trata apenas de uma postergação e de não uma supressão do ato, que será realizado por
ocasião da revogação do benefício. 3. Ordem denegada. (HC 232.827/RJ, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em
22/03/2012, DJe 11/04/2012).
502Não se aplica às penas restritivas de direito ou de multa.
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• No primeiro ano do prazo, deverá o condenado prestar serviços à
comunidade (art. 46) ou submeter-se à limitação de fim de semana (art.
48).
• Se o condenado houver reparado o dano, salvo impossibilidade de
fazê-lo, e se as circunstâncias do art. 59 do CP lhe forem inteiramente
favoráveis, o juiz poderá substituir a exigência do parágrafo anterior
pelas seguintes condições, aplicadas cumulativamente:
o proibição de frequentar determinados lugares;
o proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem
autorização do juiz;
o comparecimento pessoal e obrigatório a juízo,
mensalmente, para informar e justificar suas atividades.
Nesta última situação (art. 78, § 2º, do CP), a doutrina denomina como sursis especial.
O art. 79 permite que o juiz fixe outras condições, às quais fica subordinada a suspensão,
desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do condenado.
Em seguida, o CP trata das situações em que haverá revogação obrigatória do benefício, ou
seja, quando houver: a) condenação, em sentença irrecorrível, por crime doloso; b) frustração,
embora solvente, da execução de pena de multa ou, sem motivo justificado, não houver a reparação
do dano; ou c) descumprimento da prestação de serviços à comunidade ou da limitação de fim de
semana.
As causas que permitem a revogação facultativa são: a) descumprimento das condições
judiciais eventualmente impostas, nos termos do art. 79 do CP; b) condenação, irrecorrível, por crime
culposo ou por contravenção, à pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos, exceto a pena de
multa; ou c) descumprimento do sursis especial (art. 78, § 2º).
Nos termos do art. 81, § 2º, do CP, se o beneficiário, durante o período de prova, vier a ser
processado por outro crime ou contravenção, considera-se prorrogado o prazo da suspensão até o
julgamento definitivo. Na hipótese de condenação, revoga-se o sursis; no caso de absolvição,
extingue-se a pena. Durante o período de prorrogação, o condenado fica desobrigado de cumprir as
condições impostas. O Código Penal também permite que o juiz, nos casos de revogação facultativa,
em vez de determinar a cessação do benefício, prorrogue o período de prova até o máximo, se este
não havia sido fixado (art. 81, § 3º).
Por fim, o código criou o sursis humanitário, que consiste na suspensão da execução da pena
privativa de liberdade não superior a quatro anos, por período de quatro a seis anos, desde que o
condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a aludida suspensão (art.
77, § 2º).
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regime de cumprimento da prestação de serviços, lembrando que o trabalho terá a duração de oito
horas semanais e será realizado aos sábados, domingos e feriados, ou em dias úteis, de modo a não
prejudicar a jornada normal de trabalho do reeducando. Conta-se o início da execução a partir da
data do primeiro comparecimento (art. 149, § 2º, da LEP). Para fins de controle do cumprimento da
pena, a entidade beneficiada encaminhará relatórios mensais ao juízo (art. 150).
Já foi estudado que a execução penal é essencialmente dinâmica, havendo em toda sentença
penal condenatória uma cláusula rebus sic stantibus, permitindo-se, por conta disso, que haja
alterações posteriores no cumprimento da pena. No caso da prestação de serviços, não poderia ser
diferente, havendo previsão expressa nesse sentido (art. 149, III, da LEP).
Cumprida a pena, após a manifestação do Ministério Público e da defesa, será declarada a sua
extinção, oficiando-se à entidade beneficiada.
Quando a pena restritiva de direitos consistir na limitação de fim de semana, também haverá
formalidade semelhante à já mencionada para os casos de prestação de serviços à comunidade, tais
como a cientificação do condenado, o termo inicial do cumprimento a partir da data do primeiro
comparecimento, o encaminhamento de relatórios mensais pela entidade e a extinção após o
cumprimento da pena. O art. 152 da LEP permite que sejam ministrados ao condenado, durante o
tempo de permanência, cursos e palestras, ou atribuídas atividades educativas.
A interdição temporária de direitos, apesar de praticamente em desuso, mantém previsão na
LEP. Caberá ao juízo da execução comunicar à autoridade competente a pena aplicada, intimando-se
o condenado (art. 154, caput). Em alguns casos, serão necessárias outras providências (art. 154, §§
1º e 2º).
A prestação pecuniária encontra-se disciplinada no art. 45, §§ 1º e 2º do CP, consistindo no
pagamento em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidade pública ou privada com
destinação social, de importância fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo nem superior
a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos, podendo, ainda, se houver aceitação do beneficiário,
consistir em prestação de outra natureza. O valor pago será deduzido do montante de eventual
condenação em ação de reparação civil, se coincidentes os beneficiários503.
503Sobre o tema, o CNJ editou a Resolução 154/2012, que define a política institucional do Poder Judiciário na utilização dos recursos
oriundos da aplicação da pena de prestação pecuniária. Tal resolução, apesar da louvável finalidade, é alvo de críticas, com destaque para o
Enunciado 42 do Fonacrim: “A adoção da prestação pecuniária depositada em conta única, em substituição de pena (art. 44 do CP), assim
como em propostas de transação penal e suspensão condicional do processo, é decisão de conteúdo jurisdicional, cabendo exclusivamente
ao juiz da ação penal decidir por sua adoção ou não. Da mesma forma, caberá ao juiz da execução penal, quando remetida a ele a decisão
sobre a destinação dos recursos, decidir se será adotado o procedimento de conta única ou não”.
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qualquer restrição de liberdade em face do inadimplemento , inclusive, em tese, o manejo de
habeas corpus, conforme entendimento já sedimentado da Suprema Corte505.
A legitimidade da Fazenda Pública foi recentemente objeto de Enunciado do Superior Tribunal
de Justiça:
• A legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de pagamento
imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da
Fazenda Pública. (Súmula 521, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
25/03/2015, DJe 06/04/2015).
504Ementa: Execução penal. Agravo regimental no habeas corpus. Crimes financeiros – arts. 4º e 22 da Lei n. 7.492/86. Pena privativa de
liberdade cumulada com pena de multa. Indulto da primeira e inscrição da segunda na dívida ativa da União. Juízo da execução penal
incompetente para analisar o pedido de indulto da multa. Competência da autoridade Fiscal. Impetração de HHCC no TJ/SP e no STJ. Não
conhecimento. Ausência de ameaça ao direito de locomoção. Objeto único da tutela em HC (CF, art. 5º, inc. LXVIII). Impossibilidade da
reconversão da multa em pena privativa de liberdade. Fundamento não atacado. Insistência nos temas de fundo (competência do Juízo da
Execução Penal e prescrição da pena de multa). Art. 51 do Código Penal: Pena multa convertida em dívida de valor. Regência pela legislação
atinente à Fazenda Pública. Dupla supressão de instância. Inviabilidade do writ. [...] 4. Não obstante a higidez do fundamento do ato
impugnado, e apenas ad argumentandum tantum, é consensual que a pena de multa pode ser alcançada pela prescrição da pretensão
punitiva, nos termos do art. 114, I e II, do Código Penal, tanto a pena cominada in abstracto quanto a concretamente fixada na sentença
ainda não transitada em julgado, ao passo que a prescrição da pretensão executória da pena de multa, vale dizer, da pena resultante de
sentença transitada em julgado, há de ser questionada junto à autoridade fiscal à luz do Código Tributário Nacional, por expressa disposição
do art. 51 do Código Penal. 5. Ainda a título argumentativo, não há falar em competência do Juízo da Execução Penal para decidir a respeito
da pena de multa convertida em dívida de valor. Destarte, independentemente da origem penal da sanção, a multa restou convolada em
obrigação de natureza fiscal e, por essa razão, a competência para passou a ser da autoridade fiscal, por força da Lei n. 9.268/96, que deu
nova redação ao art. 51 do Código Penal. 6. Agravo regimental desprovido. (HC 115405 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma,
julgado em 13/11/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-246 DIVULG 14-12-2012 PUBLIC 17-12-2012).
505EMENTA: "Habeas corpus". - Em face de se tratar de condenação exclusivamente a pena de multa, e tendo em vista que a redação dada
ao art. 51 do Código Penal pela Lei 9.268, de 1º de abril de 1996, não mais admite a conversão da pena de multa em pena privativa de
liberdade, não é cabível o "habeas corpus" por inexistir qualquer risco ao direito de ir, vir e permanecer. "Habeas corpus" não conhecido.
(HC 73882, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Primeira Turma, julgado em 18/06/1996, DJ 22-11-1996 PP-45688 EMENT VOL-01851-03 PP-
00545).
506 PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO TENTADO. INIMPUTABILIDADE. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. INEXISTÊNCIA DE ALEGAÇÃO
DE CAUSAS EXCLUDENTES DO CRIME PELA DEFESA. COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUMARIANTE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO-
CONFIGURADO. ORDEM DENEGADA. 1. A absolvição sumária por inimputabilidade do acusado constitui sentença absolutória imprópria, a
qual impõe a aplicação de medida de segurança, razão por que, ao magistrado, incumbe proceder à análise da pretensão executiva,
apurando-se a materialidade e autoria delitiva, de forma a justificar a imposição da medida preventiva. [...] (HC 38.500/MG, Rel. Ministro
ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 26/04/2005, DJ 01/07/2005, p. 574).
507 PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ROUBO DUPLAMENTE MAJORADO. SUBSTITUIÇÃO DA PENA POR MEDIDA DE SEGURANÇA EM
SEDE DE APELAÇÃO. ALEGAÇÃO DE REFORMATIO IN PEJUS E EXTRA PETITA. INOCORRÊNCIA. ART. 149 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
VIOLAÇÃO SÚMULA 525-STF. INOCORRÊNCIA. ORDEM DENEGADA. O art. 149 do Código de Processo Penal não estabelece o momento
processual para a realização do exame médico legal, devendo ele ser realizado com o surgimento de dúvida razoável sobre a integridade
mental do acusado. Não constitui reformatio in pejus o fato de o Tribunal substituir a pena privativa de liberdade por medida de segurança,
com base em laudo psiquiátrico que considerou o acusado inimputável, vez que a medida de segurança é mais benéfica do que a pena, vez
que objetiva a proteção da saúde do acusado. Não se aplica a Súmula 525/STF ao caso, vez que a referida súmula foi editada quando vigia o
sistema duplo binário, isto é, quando havia possibilidade de aplicação simultânea de pena privativa de liberdade e de medida de segurança.
A reforma penal de 1984, autoriza a substituição da pena privativa de liberdade por medida de segurança ao condenado semi-imputável
que necessitar de especial tratamento curativo, aplicando-se o mesmo regramento da medida de segurança para inimputáveis (art. 97 e
98). V. Ordem denegada. (HC 187.051/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 06/10/2011, DJe 14/10/2011).
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Transitada em julgado a sentença que aplicou a medida de segurança, expede-se guia de
internação ou de tratamento ambulatorial em duas vias, remetendo-se uma delas à unidade
hospitalar incumbida da execução e outra ao juízo da execução penal (art. 15), dando-se ciência ao
Ministério Público, que acompanhará todo o processo de execução.
O juiz competente para a execução da medida de segurança ordenará a formação do processo
de execução a partir das peças referidas no artigo 1º, no que couber (art. 16).
Completando-se o prazo mínimo de duração da medida de segurança, procede-se à verificação
da cessação de periculosidade do agente, devendo a autoridade administrativa ter encaminhado ao
juízo da execução o respectivo relatório, contendo o laudo psiquiátrico, pelo menos um mês antes do
término do prazo.
Após a juntada do relatório ou realizadas as diligências necessárias, serão ouvidos,
sucessivamente, o Ministério Público e o curador ou defensor constituído ou dativo, no prazo de três
dias para cada um. As partes poderão formular requerimentos de diligências a serem submetidas à
apreciação do juiz.
Realizadas as diligências, se for o caso, o magistrado deverá decidir em até cinco dias, ocasião
em que poderá determinar a desinternação ou liberação condicional do internado (arts. 178 da LEP e
art. 97, § 3º, do CP).
Em caso de não cessação da periculosidade, deve-se repetir o procedimento tantas vezes
quantas forem necessárias, tendo como limitação temporal o máximo em abstrato cominado para a
infração penal, não podendo superar, em qualquer caso, o prazo de trinta anos508. A esse respeito,
veja-se o seguinte enunciado do STJ:
• O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o
limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado.
(Súmula 527, 3ª Seção, j. em 13/05/2015, DJe 18/05/2015).
Por fim, em conformidade com o artigo 17 da Resolução CNJ 113/2010, o juiz competente para
a execução da medida de segurança, sempre que possível, buscará implementar políticas
antimanicomiais, conforme sistemática da Lei 10.216, de 06 de abril de 2001.
508 HABEAS CORPUS. PENAL. INIMPUTÁVEL. APLICAÇÃO DE MEDIDA DE SEGURANÇA. PRAZO INDETERMINADO. PERSISTÊNCIA DA
PERICULOSIDADE. IMPROPRIEDADE DO WRIT. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. DECRETO N.º 7.648/2011. VERIFICAÇÃO DE INCIDÊNCIA.
NECESSIDADE. VEDAÇÃO CONSTITUCIONAL DE PENAS PERPÉTUAS. LIMITAÇÃO DO TEMPO DE CUMPRIMENTO AO MÁXIMO DA PENA
ABSTRATAMENTE COMINADA. ORDEM CONCEDIDA, DE OFÍCIO, PARA DETERMINAR O RETORNO DOS AUTOS AO JUÍZO DAS EXECUÇÕES. [...]
2. Por outro lado, nos termos do atual posicionamento desta Corte, o art. 97, § 1.º, do Código Penal, deve ser interpretado em consonância
com os princípios da isonomia, proporcionalidade e razoabilidade. Assim, o tempo de cumprimento da medida de segurança, na
modalidade internação ou tratamento ambulatorial, deve ser limitado ao máximo da pena abstratamente cominada ao delito perpetrado e
não pode ser superior a 30 (trinta) anos. 3. Além disso, o art. 1.º, inciso XI, do Decreto n.º 7.648/2011, concede indulto às pessoas, nacionais
e estrangeiras "submetidas a medida de segurança, independentemente da cessação da periculosidade que, até 25 de dezembro de 2011,
tenham suportado privação de liberdade, internação ou tratamento ambulatorial por período igual ou superior ao máximo da pena
cominada à infração penal correspondente à conduta praticada ou, nos casos de substituição prevista no art. 183 da Lei de Execução Penal,
por período igual ao tempo da condenação". [...] (HC 208.336/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 20/03/2012, DJe
29/03/2012).
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frequente, ou seja, a conversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade, também
conhecida como reconversão.
Conforme dispõe o art. 44, §§ 4º e 5º, do Código Penal, incluídos pela Lei 9.714/98, a pena
restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento
injustificado509 da restrição imposta. Para tanto, no cálculo da pena privativa de liberdade a executar,
será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta
dias de detenção ou reclusão. A outra situação que pode determinar a conversão ocorre quando
sobrevier condenação à pena privativa de liberdade, por outro crime. É possível, entretanto, que o
juiz da execução penal deixe de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva
anterior.
O art. 183 da LEP trata da chamada medida de segurança substitutiva, resultante da conversão
da pena privativa de liberdade em razão da superveniência de doença mental. O Superior Tribunal de
Justiça já firmou posicionamento pela sua admissibilidade, ressaltando, porém, que o tempo de
internação não poderá superar o montante da pena fixada na sentença510.
509 O descumprimento injustificado praticamente substitui todas as hipóteses descritas no art. 181 da LEP.
510 HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. DESCABIMENTO. COMPETÊNCIA DAS CORTES SUPERIORES. MATÉRIA DE
DIREITO ESTRITO. MODIFICAÇÃO DE ENTENDIMENTO DESTE TRIBUNAL, EM CONSONÂNCIA COM A SUPREMA CORTE. EXECUÇÃO CRIMINAL.
SUPERVENIÊNCIA DE DOENÇA MENTAL. MEDIDA DE SEGURANÇA SUBSTITUTIVA. CUMPRIMENTO INTEGRAL DA PENA PRIVATIVA DE
LIBERDADE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM DE HABEAS CORPUS CONCEDIDA, DE
OFÍCIO. [...] 3. Se no curso da execução da pena privativa de liberdade sobrevier doença mental ou perturbação da saúde mental do
condenado, o Juiz das Execuções poderá determinar a substituição da pena por medida de segurança, a teor do disposto no art. 183, da Lei
de Execuções Penais. A duração dessa medida substitutiva não pode ser superior ao tempo restante para cumprimento da pena, sob pena
de ofensa à coisa julgada. Precedentes do STJ. 4. Assim, ao término do referido prazo, se o sentenciado, por suas condições mentais, não
puder ser restituído ao convívio social, o Juízo das Execuções Penais o colocará à disposição do Juízo cível competente para serem
determinadas as medidas de proteção adequado à sua enfermidade (art. 682. § 2.º, do Código de Processo Penal). [...] (HC 249.790/MG,
Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 25/09/2012, DJe 02/10/2012).
511A anistia e o indulto também são incidentes de execução, conforme expressamente dispõe a Lei de Execução Penal - LEP.
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No caso de graça, também conhecida como indulto individual, haverá instauração de
procedimento, a ser deflagrado por provocação do condenado, do Ministério Público, do Conselho
Penitenciário ou da autoridade administrativa (art. 188).
A petição, acompanhada dos documentos que a instruírem, será entregue ao Conselho
Penitenciário, que, à vista dos autos do processo e do prontuário, promoverá as diligências que
entender necessárias e fará, em relatório, a narração do ilícito penal e dos fundamentos da sentença
condenatória, a exposição dos antecedentes do condenado e do procedimento deste depois da
prisão, emitindo seu parecer sobre o mérito do pedido e esclarecendo qualquer formalidade ou
circunstâncias omitidas na petição. Posteriormente, encaminham-se os autos ao Ministério da
Justiça.
Processada no Ministério da Justiça, com documentos e o relatório do Conselho Penitenciário,
a petição será submetida a despacho do Presidente da República, a quem serão apresentados os
autos do processo ou a certidão de qualquer de suas peças, se ele o determinar (art. 191).
Concedida a graça, e anexada aos autos cópia do decreto, o juiz declarará extinta a pena ou
ajustará a execução aos termos do decreto, no caso de comutação.
No caso de indulto, se o sentenciado for contemplado pelo benefício, o juiz, de ofício, a
requerimento do interessado, do Ministério Público, ou por iniciativa do Conselho Penitenciário ou da
autoridade administrativa, declarará extinta a pena ou também ajustará a execução aos termos do
decreto.
Por fim, a prática de falta grave não interrompe o prazo para fim de comutação de pena ou
indulto (Súmula 535, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 10/06/2015, DJe 15/06/2015).
14.4 REABILITAÇÃO
O objetivo da reabilitação é o retorno à situação anterior à condenação, com ênfase nos
registros criminais (art. 93 do CP), os quais não mais constarão na folha de antecedentes, exceto se
requisitada por juiz criminal (art. 748 do CPP). Os efeitos extrapenais específicos da condenação
também são atingidos (art. 92), à exceção da perda de cargo, função pública ou mandato eletivo,
além da incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos,
sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado, que permanecem
intangíveis.
O Código Penal exige o transcurso do lapso de dois anos da extinção da pena, durante o qual o
interessado deverá ter sido domiciliado no país e ter dado demonstração efetiva e constante de bom
comportamento público e privado. Também deverá ter ressarcido o dano causado pelo crime até o
dia do pedido, salvo impossibilidade material, ou exiba documento que comprove a renúncia da
vítima ou novação da dívida.
O pedido processa-se perante o juízo do processo de conhecimento, uma vez que a
competência do juízo da execução já estará extinta.
O requerimento será instruído com (art. 744 do CPP):
• certidões comprobatórias de não ter o requerente respondido, nem
estar respondendo a processo penal, em qualquer das comarcas em
que houver residido durante o biênio a que se refere o Código Penal;
• atestados de autoridades policiais ou outros documentos que
comprovem ter residido nas comarcas indicadas e mantido,
efetivamente, bom comportamento;
• atestados de bom comportamento fornecidos por pessoas a cujo
serviço tenha estado;
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• quaisquer outros documentos que sirvam como prova de sua
regeneração;
• prova de haver ressarcido o dano causado pelo crime ou persistir a
impossibilidade de fazê-lo.
O juiz poderá ordenar as diligências necessárias para apreciação do pedido, cercando-as do
sigilo possível e, antes da decisão final, ouvirá o Ministério Público.
A decisão que recusa a reabilitação não faz coisa julgada material, podendo ser renovada à
vista de novas provas (art. 93, parágrafo único, do CP). Por outro lado, poderá haver revogação se o
reabilitado for condenado, como reincidente, por decisão definitiva, à pena que não seja de multa
(art. 95 do CP)512.
Contra a decisão que indefere a reabilitação, é cabível o recurso de apelação (art. 593, II, do
CPP). No caso de concessão, haverá reexame necessário (art. 746 do CPP).
512PENAL. PROCESSUAL. ESTELIONATO. REABILITAÇÃO. REINCIDÊNCIA. 1. Não é possível a declaração da reabilitação do condenado quando
configurada a reincidência, haja vista o fato desta ser causa de revogação daquela (CP, art. 95). 2. Como não transcorreu prazo superior a
cinco anos entre a data do cumprimento ou extinção da pena da primeira condenação e a data do fato criminoso abordado pela última
condenação, não há falar-se em afastamento dos efeitos da reincidência (CP, art. 64, I). 3. "Habeas Corpus" conhecido. Pedido indeferido.
(HC 14.202/SP, Rel. Ministro EDSON VIDIGAL, QUINTA TURMA, julgado em 24/04/2001, DJ 13/08/2001, p. 182).
513Não havendo a especificação dos parentes, consideram-se ainda legitimados os ascendentes e os irmãos, da mesma forma já prevista
no Código de Processo Penal (art. 24, parágrafo único, e art. 31).
514De acordo com o parágrafo único do art. 4º da Resolução 113/CNJ, no Roteiro de Penas serão elaborados e atualizados os cálculos de
liquidação da pena, juntadas certidões de feitos em curso, folhas de antecedentes e outros documentos que permitam o direcionamento
dos atos a serem praticados, tais como requisição de atestado de conduta carcerária, comunicação de fuga e recaptura.
515 HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. COMUTAÇÃO. AGRAVO EM EXECUÇÃO. DECISÃO MONOCRÁTICA DO DESEMBARGADOR RELATOR.
APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 557 DO CPC. IMPOSSIBILIDADE. MESMO RITO DO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. PRECEDENTES DO STJ.
1. As Turmas que compõem a Eg. Terceira Seção tem reiteradamente decidido, de maneira uniforme, no sentido de que se aplicam ao
recurso de agravo em execução, previsto no art. 197 da Lei de Execução Penal, as disposições acerca do rito do recurso em sentido estrito,
sendo, portanto, inviável a utilização analógica do art. 557 do Código de Processo Civil. [...] (HC 27.454/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ,
QUINTA TURMA, julgado em 10/06/2003, DJ 04/08/2003, p. 348)
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A LEP já previa, originalmente, a possibilidade de a União construir presídios federais, em local
distante da condenação, para recolher os condenados, quando a medida se justificasse no interesse
da segurança pública ou do próprio condenado. A exigência de pena superior a quinze anos foi
suprimida pela Lei 10.792/2003 (art. 86, § 1º). Atualmente, a inclusão e a transferência de presos
para estabelecimentos penais federais de segurança máxima estão disciplinadas na Lei 11.671, de 08
de maio de 2008516.
Segundo dispõe o art. 2º da Lei 11.671/08, a atividade jurisdicional de execução penal, nos
estabelecimentos penais federais, será desenvolvida pelo juízo federal da seção ou subseção
judiciária em que estiver localizado o estabelecimento penal federal de segurança máxima ao qual
for recolhido o preso, condenado ou provisório.
A manutenção do preso no estabelecimento penal federal de segurança máxima não é
permanente. Deverá constar da decisão judicial o período de permanência (art. 5º, § 5º, da Lei
11.671/08).
Sendo excepcional a manutenção do preso em estabelecimento penal federal, o art. 10
estabelece que a sua inclusão será extraordinária e por prazo determinado, sendo que o período de
permanência não será superior a trezentos e sessenta dias, renovável, excepcionalmente, quando
solicitado motivadamente pelo juízo de origem, observados os requisitos da transferência517.
Expirado o prazo sem requerimento, o preso deve ser reencaminhado ao juízo de origem, que ficará
obrigado a recebê-lo.
O Código de Processo Penal, no Livro V, trata especificamente das relações jurisdicionais com
autoridade estrangeira, resumindo-se basicamente à carta rogatória e à homologação de sentenças
estrangeiras.
516 A Lei 11.671/2008 foi regulamentada pelo Decreto 6.877, de 18 de junho de 2009. Para maiores informações sobre estabelecimentos
penais federais, também se recomenda a leitura do Decreto 6.047, de 27 de fevereiro de 2007, que trata do Regulamento Penitenciário
Federal.
517 Recomenda-se cautela na apreciação de tais pedidos, sob pena de incorrer em inegável excesso de prazo: “CONFLITO DE COMPETÊNCIA.
EXECUÇÃO PENAL. TRANSFERÊNCIA DE PRESO PARA PRESÍDIO FEDERAL. NOVA SOLICITAÇÃO DE PRORROGAÇÃO DE PRAZO DE PERMANÊNCIA.
NECESSIDADE NÃO DEMONSTRADA. PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E HUMANIDADE DAS PENAS. 1. Segundo a Lei nº 11.671/08, a inclusão
do preso em presídio federal de segurança máxima será excepcional. Também excepcional é a renovação do prazo de permanência, consoante
preceitua o § 1º do art. 10. 2. O condenado foi transferido para o sistema prisional federal em 30/11/2007 e lá se encontra até hoje aguardando a
solução de possível recambiamento. São, portanto, mais de três anos submetido às condições típicas das unidades penitenciárias de segurança
máxima, com rigoroso regime de isolamento diário e distanciamento da família. Condições essas que, segundo a própria lei, determinam o caráter
excepcional da prorrogação do prazo. 3. Se é verdade que a segurança pública deve ser resguardada, não menos importante é que a nossa Carta
Política erige como direito fundamental o Princípio da Humanidade das Penas, consectário de um dos fundamentos da República: a dignidade da
pessoa humana. 4. A medida de inserção do apenado, a essa altura, no Presídio Federal, não anda em consonância com a proporcionalidade em
sentido estrito. Isso porque, realizada a ponderação dos valores, da segurança pública, de um lado, e, de outro, o direito individual à humanidade das
penas - este agregado ao caráter excepcional do cumprimento em regime penitenciário federal -, tem-se que o primeiro cede lugar ao segundo, uma
vez que, no caso concreto, o condenado já ultrapassa três anos de permanência no rigoroso regime de segurança máxima. [...] (CC 113.271/RS, Rel.
Ministro OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/04/2011, DJe 21/03/2012)”.
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O art. 780 contempla regra semelhante à prevista no art. 1º, I, do CPP, já comentada
anteriormente. Salvo disposição diversa contida em tratado ou convenção, aplica-se o Código de
Processo Penal.
Com o advento da EC 45/04, a competência para a homologação de sentenças estrangeiras e a
concessão de exequatur às cartas rogatórias foi deslocada do Supremo Tribunal Federal para o
Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, i, da CF). Foi então editada a Resolução 9, de 04 de maio de
2005. Portanto, todas as referências que o Código de Processo Penal faz ao STF deverão ser
interpretadas como sendo direcionadas ao STJ.
Apesar de o art. 781 do CPP fixar que as sentenças estrangeiras não serão homologadas, nem
as cartas rogatórias cumpridas, se contrárias à ordem pública e aos bons costumes, tem prevalecido
a utilização de terminologia mais abrangente, ligada à soberania nacional. Inclusive, o art. 6º da
Resolução 9/2005 do STJ utiliza o referido termo518, da mesma forma que previa o RISTF519.
A propósito do tema, vige o sistema da contenciosidade limitada tanto para as cartas
rogatórias passivas, como também para a homologação de sentença estrangeira. Compete ao
interessado apenas impugnar: a) a autenticidade dos documentos; b) a inteligência da decisão; c) a
inobservância dos requisitos da Resolução 9/STJ; d) e afronta à soberania nacional e à ordem
pública520.
O Código de Processo Penal dispensa a prova da autenticidade se os documentos transitarem
pela via diplomática (art. 782).
518Art. 6º. Não será homologada sentença estrangeira ou concedido exequatur a carta rogatória que ofendam a soberania ou a ordem
pública.
519Art. 226 [...] § 2º A impugnação só será admitida se a rogatória atentar contra a soberania nacional ou a ordem pública, ou se lhe faltar
autenticidade.
520 AGRAVO REGIMENTAL. CARTA ROGATÓRIA. EXEQUATUR CONCEDIDO. IMPUGNAÇÃO REJEITADA. QUESTÕES DE MÉRITO. APRECIAÇÃO
PELA JUSTIÇA ROGANTE. Observados os critérios objetivos e não atentando o pedido contra a ordem pública e a soberania nacional,
concede-se o exequatur para inquirição de testemunha em processo criminal de competência da justiça estrangeira. Questões de mérito
não comportam apreciação em sede de carta rogatória, ficando o exame a cargo da justiça rogante. Agravo regimental não provido. (AgRg
na CR .733/IT, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, CORTE ESPECIAL, julgado em 19/12/2005, DJ 10/04/2006, p. 106).
521 Sobre a carta rogatória ativa, dispõe o art. 222-A do CPP, incluído pela Lei 11.900/2009, que elas só serão expedidas se demonstrada
previamente a sua imprescindibilidade, arcando a parte requerente com os custos de envio. No parágrafo único, determina-se que não
haverá suspensão da instrução criminal, ficando o juiz autorizado a julgar a causa após o prazo fixado. A posterior juntada da carta é
permitida, no estado em que se encontrar a ação penal (§§ 1º e 2º do art. 222).
522 Resolução 9/2005/STJ - Art. 2º É atribuição do Presidente homologar sentenças estrangeiras e conceder exequatur a cartas rogatórias,
ressalvado o disposto no artigo 9º desta Resolução (Art. 9º Na homologação de sentença estrangeira e na carta rogatória, a defesa somente
poderá versar sobre autenticidade dos documentos, inteligência da decisão e observância dos requisitos desta Resolução. § 1º Havendo
contestação à homologação de sentença estrangeira, o processo será distribuído para julgamento pela Corte Especial, cabendo ao Relator os
demais atos relativos ao andamento e à instrução do processo. § 2º Havendo impugnação às cartas rogatórias decisórias, o processo
poderá, por determinação do Presidente, ser distribuído para julgamento pela Corte Especial. § 3º Revel ou incapaz o requerido, dar-se-lhe-á
curador especial que será pessoalmente notificado).
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Verificada a regularidade da documentação, o presidente determinará a intimação da parte
interessada para, querendo, impugnar a carta rogatória, no prazo de quinze dias (art. 8º). O
contraditório pode ser diferido se a intimação prévia colocar em risco a efetividade da medida
(parágrafo único). O Ministério Público também terá vista dos autos para manifestação em dez dias.
Em seguida, será proferida a decisão, contra a qual cabe agravo regimental (art. 11, Res. 9/2005).
Confirmado o exequatur, a carta será remetida ao TRF, para posterior encaminhamento ao
juízo federal do local onde será cumprida a finalidade da carta, cabendo embargos de declaração a
serem apreciados pelo presidente. Contra esta decisão ainda é cabível o agravo regimental (art. 13).
Cumprida a carta rogatória, será devolvida ao presidente do STJ, no prazo de dez dias, e por
este remetida, em igual prazo, por meio do Ministério da Justiça ou do Ministério das Relações
Exteriores, à autoridade judiciária de origem (art. 14).
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Nos termos do art. 12, a sentença estrangeira homologada será executada por carta de
sentença, a ser remetida ao juízo federal competente.
523Dar-se-á ênfase ao aspecto procedimental, uma vez que o direito material se encontra incluído no programa de Direito Constitucional.
524Art. 5º [...] XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar,
permanecer ou dele sair com seus bens; [...] LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum,
praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei; LII -
não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião.
525Decreto 86.715/81: “Art. 98 - Nos casos de entrada ou estada irregular, o estrangeiro, notificado pelo Departamento de Polícia Federal,
deverá retirar-se do território nacional: I - no prazo improrrogável de oito dias, por infração ao disposto nos artigos 18, 21, § 2º, 24, 26, § 1º,
37, § 2º, 64, 98 a 101, §§ 1º ou 2º do artigo 104 ou artigos 105 e 125, Il da Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980; II - no prazo improrrogável
de três dias, no caso de entrada irregular, quando não configurado o dolo. § 1º - Descumpridos os prazos fixados neste artigo, o
Departamento de Polícia Federal promoverá a imediata deportação do estrangeiro. § 2º Desde que conveniente aos interesses nacionais, a
deportação far-se-á independentemente da fixação dos prazos de que tratam os incisos I e II deste artigo. Art. 99 - Ao promover a
deportação, o Departamento de Polícia Federal lavrará termo, encaminhando cópia ao Departamento Federal de Justiça”.
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Art. 210. No interrogatório, ou logo após, intimar-se-á o defensor do extraditando
para apresentar defesa escrita no prazo de dez dias.
§ 1º O Relator dará advogado ao extraditando que não o tiver, e curador, se for o
caso.
§ 2º Será substituído o defensor, constituído ou dativo, que não apresentar a defesa
no prazo deste artigo.
Art. 211. É facultado ao Relator delegar o interrogatório do extraditando a juiz do
local onde estiver preso.
Parágrafo único. Para o fim deste artigo, serão os autos remetidos ao juiz delegado,
que os devolverá, uma vez apresentada a defesa ou exaurido o prazo.
Art. 212. Junta a defesa e aberta vista por dez dias ao Procurador-Geral, o Relator
pedirá dia para julgamento.
Parágrafo único. O Estado requerente da extradição poderá ser representado por
advogado para acompanhar o processo perante o Tribunal.
Art. 213. O extraditando permanecerá na prisão, à disposição do Tribunal, até o
julgamento final.
Art. 214. No processo de extradição, não se suspende no recesso e nas férias o
prazo fixado por lei para o cumprimento de diligência determinada pelo Relator ou
pelo Tribunal.
A decisão do STF sobre a legalidade da extradição autoriza a sua concretização, mas não
vincula o Presidente da República526. Na situação inversa, não poderá haver a extradição.
526Rcl 11243, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Relator(a) p/ Acórdão: Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 08/06/2011, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-191 DIVULG 04-10-2011 PUBLIC 05-10-2011.
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