You are on page 1of 23
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS Reitor lo Fernandes de Aquino, 5] Viee-reitor Pe, José Ivo Follonann, $) a EnToRA Unisinos CURSO DE Direwor DIREITOS HUMANOS Pe, Pedra Gilberto Gomes, S} Conselhe Editorial Alfeedo Culleton ‘Anna Maria Hecker Laz Carlos Alberto Gianow ; ; Alfredo Culleton Pe Lis Fermando Racigues, 5] ‘ Fernanda Frizzo Bragato f Sinara Porto Fajardo ‘Acediggo desta obra foi fein com recursos aférecses por FORD FOUNDATION Eedtora da Universidade do Vale do Rio des Sins i EDITORA UNISINOS Av, Unisinos, 950 193022-000 S40 Leopoléo RS Brasil Tele: 51.35908239 Bax: $1.35908238 editora@unisines EDITORA UNISINOS 2009 “A estratura do livro foi pensada com o objetivo de oferecer material de trabalho suficiente a uma atividade académica de 4 créditos (60 hotas- alas), distribuidas entre 15 a 20 encontros de 3 ou 4 horas-aula semanais. ‘O docente poderd selecionar as aulas ¢ tematicas mais adequadas ao perfil do curso ou Universidade aos quais pertence a atividade académica, is ca- racterfsticas dos estudantes c a0 seu proprio interesse pedagdgico, sendo, a maioria das aulas, unidades independentes que podem ser desenvolvidas separadamente, Este liveo sd foi possfvel por iniciativa do Nicleo de Direitos Hu- manos da Unisinos, gragas ao interesse ¢ apoio que a Fundagio Ford vem desenvolvende na consolidagao das Direitos Humanas no Ambito acadé~ mico e ao suporte editorial da Editora Unisinos. Porém, ado © conteddo intelectual do livro é de responsabilidade dos autores UNIDADE I: O CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS ‘CONTEUDO DA UNIDADE Nos unitasepretenderos aprosenar ao as tudano a problmitca dea dieios humanas desde uma perspoctva lea bfeo-espectlsivs,evien- ‘Gando a atualdade do problema, as princes abardagers da sua lurdamen- ‘gto ea evolupio ds cones, OBJETIVOS DA UNIDADE tativa da evolugia desse conceito, © objetivo é que o estudante entenda que os direitos humanos nao sio algo dado, como uma realidade objetiva, mas um pro: bblema instigado pela consciéncia, que ao longo do tempo os sere humans tem se Ppreocupado em formula, responder e ainda consideram pertinente © tual. ROTEIRO DA UNIDADE AULA 1: Quando pensamos direitos humanos, pensamos no «qué? AULA 2: Modos de fundamentagio dos direitos humanos Perspectiva histérica dos direitos hu ranos perspectiva naturalisea AULA 1: QUANDO PENSAMOS DIREITOS HUMANOS, PENSAMOS NO QUE? imtese da aula 3 diretlos humanas aio resuitado de um questonamenio que os sorts humanas farem sobre mesmos.¢ seu mao de iver om sociatade ‘desde uma perspecva dlica o erica, e& mode da foulareseas queskies ' as as respostas posses Lin mulls, gor ssa € serge necesssio fae somentay, iso @, daer desde cue lugar se est refotinda @ formusnd. as onceloe. Roteire da aula 1.1.0 problenia da fiendamentagato 1.2.0 que so os diveitas inareantos? 1.3 Atualidade das direitos buemanos 14 Delimitagio conceituad 1.4.1 Diveitos naturais 1.4.4 Diteitos priblicas subjetivas 1.4.3 Liberdades picblicas 14.4 Direitos morais Provavelmente pensamos em violagdes ¢ em abusos, em auterita ismo ¢ em prepoténcia, em vitimas ¢ em opressares, em organizagées stiminosas, em instituigbes. que historicamente se tém caracterizado pela violencia nas suas agGes, pensamos em organizagées de protecio, pensa- mos em relatérios e dendncias, pensamos em individuos, grupos sociais ¢ em povos inteitos sendo violentados nos seus direitos fundamentais, As perguntas que esses pensamentos suscitam so jgualmente mu- merosas: Quem sio as vitimas? Sera que as vitimas ndo tém responsabili- dade? Ser que cominuam sendo seres humanos, detentores de direitos, as Pessoas que cometem crimes horrarosos? Deve ser tratado humanamen- te alguém que tratou desumanamente? Que tipos de direitos so esses? Quem as estipula? $0 os mesmos em todes os hugares independentemente da sta historia e condigio social? Par que motive a Declaragio de Dircitas rada pela ONU em Paris no ano de 1948 deve valer na periferia de Paulo em 2010? Valeria para uma comunidade aborigine do interior da Afeica? Nao poderiam os direitos humanos ser suspensos temporaria: e UUsinan 1-0 eavertro Be bimEtTOs HUMANOS L mente cm caso de necessidade ou razio de Estado? Os direitos humanos tém limites? Quem € responsivel pela efetivacio desscs direitos? Voc certamente tem uma lista ainda maiot de questionamentas, entre eles este ‘que creio dos mais importantes: o que € que eu tenho a ver carn isso? Os direitos humanos constituem hoje um dos temas que suscita maior interesse em razio da situagao de injustiga na qual as relagdes hu: manas se encontram atualmente. Muito ji se tem escrito sobre 0 tema, mas © primeiro passo que nos propamos é na diregdo de analisar o que se entende por direitos humanos, a comegar pela sua fundamentagio, pois entenclemos que a forga que se atribua 4s cxigéneias dos direitos humanos dependers da base que os sustente, A salider da sua justificagio garantira a firmera de tis direitos, assim como a sta reciprocidade. Perguntarmos nas pelo fundamento desses direitos ser também questianar & papel que desenvolve a pessoa na sua qualidade de sujeito responsdvel a0 mesmo tempo que berieficidrio dos mesmas. 1.1.0 problema da fundamentagao Fundamentar significa perguntarse pela otigem de onde brotam tais direitos. Por isso o termo fuadamentagao pode abarcar um duplo con- tetido: a significado e o objeco do tema. No que respeita ao primeito caso, assume a fungio de responder & pergunta central relativa 4 consisténcia dos direitos humanos, [sto é qual a sua origem? E 0 porqué dos direitos humanos? Intimamente ligado a0 primeito, © segundo aspecto versa sobre © caminho mais adlequado para chegar nao s6 4 mesma base dos direitos humanos, mas também, e sobretuda, para tentar justificd-la 1.2.0 que sie os dircitos humanos? ‘Vejamos esta definigio: Aquelas exigéneias que brotam da pripria condiciio natural da pes 0a hnanana e que, por isso, exigem seu recunhecitiente, sew respeitoe ain daa sua tuiela ¢ promocdo da parte de todos, mas espectahnente dagueles que estejarn instituddos em ancorictade. ‘Vamos tentar esclarecer alguns dos termos contidos nessa definigio para melhor encendé-la Aexpressio exigéncias denota o que & devido & pessoa no seu card ter individual, social ou transcendente, Essa exigéncia, esse 0 que é devido, € assim por estrita justiga, que numa definigio simples pode ser entendide somo: dar a cada urn o qice lhe & proprio. Dai que vais exigéncias estejamn associadas Acondigito natural da fressou humana, isto é, 4 sua n fntima de ser, “ (CURSO DF DiREFTOS HUMANS Naturalmente, toda exigéncia nio pode ser tal, se ndo tem sua le- gitimidade de sustentagio. Poderia ser comparada com a Ici da alavanca 0s direitos humanas, sem um ponta de apoio, néo teriam forga alguma, € esse ponto de apoio €a sua fundamentagao, 0 modo de ser mais préprio do ser hamano. Q reconbecimento € a exigéncia prioritéria, é @ primeiro pastor a aceitagio da sua existénciae a de um vinculo que obriga. E-um reconheci mento ndo s6 te6rico, mas prético, uma exigéncia de razio e condigio de possibilidade de uma sociabilidade justa. A atitude de respeito, exigida pelos direitos humanos na defi io que propusemos, acrescenta uma postura ativa, pois o resperto torna concreto o alcance do reconhecimento, jd que respeitar € reconhecer no ‘outro uma dignidade e fazer © movimento para tornd-la passivel e efetiva. Assim, © direito a vida de toda pessoa implica uma dupla exigencia: no impedir que ela possa viver ¢ propiciar a sua viabilidade. Quitras duas palaveas-chave completam essa definigio: tutela e pro- mocdo. A mfela diz tespeito nao s6 a que cada um é responsével pela vie péncia dos direitos humanos, mas também cabe Aqueles que detém pod e autoridade, [sso porque os direitos humanos tém uma série de dimensées sociais, que supdem a tutela civil no nivel das relagdes dos cidadaos entre si, entre instituigdes e entre ot cidadias, as instituigdes ¢ 0 Estado. Tam- bem estio envolvidas relagdes internacionais, de mancira que os direitos humanos nao conseguiriam a sua protecdo sem o envelvimento de politi- sas internacionais. A promogdo dos direitos humanos representa a plena dimensio de suas exigéncias, porque exige a intervengio ativa dos responsiveis da sociedade € dos individuos. © fim prioritirio de uma sociedade civil € 2 protegio eficar dos membros que a constituem © a promogio do bem ‘comum e da justiga. Esse conceito de justiga pode serestreitado on amplia- do. Pode ser limitado a justiga no seu aspecto mais “juridico”, narmativo, positivista © pracessual; pade ser entendido como uma justica de carter “socioecondmico”, concebida como o dircito de todes a participar dos ‘ens do mundo; ou pode ser justiga no sentido ético, que aponta para wma ‘conscincia ética de solidariedade ¢ respeito miituo entre todas os sexes humanos. Os direitos humanos se reconhceem dentro dessa vertente, nio descartando os outros aspectas da justiga, mas ndo se limitande a nenhum dees. 1.3 Amalidade dos direitos hi lan A importancia dos direitos humanos na atualidade pode ser vista ‘sob dois aspectos: sob a perspectiva tebrica e sob as priticas. Ambos evi denciam a sua relevancia na atualidade, No primeiro aspecto, vemos que os direitos humanos figuram em quase todas as Constituigics dos Estados HuManos iw do mundo. A presenga dos direitos humanas nas leis fundamentais das nae 0es € considerada hoje uma pega fundamental da demactacia contempa- Finea, apesar de muitas vezes colocada de maneira pouco clara ¢ equivor como fachada sem conteddo real Mas esse esforgo de todas as Constituigbes de querer fazer aparecer na sua lei msixima um compromisso com os direitos humanos manifesta uma consciéncia universal acerca da sua relewancia. Ou, em outras pal vras, ninguém quer aparecer como refratério ao reconhecimento geral de tais direitos, porque equivaleria a se declarar cfimplice das priticas con trdrias. Os Estados que nao contavam com essa manifestagio nas suas leis fundamentais tém sc apressado em inclui-la como mode de entrar em sin tonia com os Estados mais avangados présperas cconomicamente, onde € consensual a sua importancia, ¢ essa adesio aos direitos humanos pode ser considerada sinal inequivoco da nova cultura do terceito milénio, No que se refere ao segundo aspecto, 0 pritico, podemos destacar ‘© progresso em duas frentes: por um lado, tém-se aprimorado as ages das Estados no sentido de sancionar legislagdes que visem & sua efetivagao, & institucionalizagio de secretarias especiais em nivel federal, estadual e mux nicipal, comissbes especiais nos legislativos ¢ destinacio de recursos; por outro lado, tem aumentado o némero de relatérios € pesquisas nacionais e internacionais denuncianda vislacoes ¢ a influéneia desses relatérios nas relagdes internacionais. Mas longe estamos dle que os direitos humanos se tornem uma consciéneia efctiva de um modo dignificante de relagao entre fs homens ¢ 0s povos entre si. 1.4 Delimitagio conceitual Sem diivida, o terme direitos bumanos € dos mais usados no meio juridico e politico atual, tanto por cientistas, juristas, socidlogos fildsofos gue se acupam do ser humana, do Estado ¢ do Direito como pelo cidadao normal, Por sua fungdo reguladota da legitimidade dos sistemas politicos & dos ardenamentos juridicos ¢ pela conviegao de muitos de que constitwem toma garantia para a sua dignidade e sho responsiveis por garantir a si liberdade e igualdade, a compreensio adequada das dircitos humanas é luma tarefa teérica de aleance pratico. ‘Ao mesmo. tempo, é um termo emotive que suscita sentimentos entre seus destinatirios c capaz de se prestar a manipulagbes de todo tipo. Assim como outros conceites como democracia, liberdade, fascismo © res~ peito, para referir alguns clos mais importantes, estéio no nacleo da luta politica, na urgéncia das necessidades do momento: podem fazer com que ‘atengio seja centrada mais nas agdes e menos nas preocupagdes tedricay envolvidas, As veres se tem a sensagio de que militantes.e ativistas dos di humanos nia saben muito bem o qu L008 querem direr a0 usar essa palavra 16 CURSO DE pIRErTOS HUMANOS ou a usam entre si com diferentes sentidos, ou suponde que 0 outro sabe do que esti falando, Podemos até falar de uma retérica dos direitos hu- manos, uma instrumentalizagio ideoligica dos mesmos, Por isso a funcio do pensamento filos6fico-juridico ¢ centar esclarecer essas improcedéncias ¢ buscar uma fundamentagio ¢ uma conceituagao © mais universalizaveis possivel, A culcura dos direitos humanos, ¢ consequentemence a linguagem que a significa, inclina-se a visio subjetiva, ao referente individual, a titula- tidade-dos direitos, mais que ao sistema de normas que a sustentacampara, O sujeito e a sua protegio so o nicleo central necessirio para a compre: ensio do problema ¢ 0 clemento unificador iltimo que articula todos os ‘outros termos usadas camo sinGnimos de dircitos humanos, como: diveitos nnaturais, direitos pablicos subjetivos, linerdades pablicas, direitas morais ou direitos fundamentais, direitos individuais, direitos do eidadae eve, Nesse contexto, 0 termo mais usada € ode direitas humanos, ¢ en- contramos nele pelo menos dois uses diferentes: por um lado, as pessoas referem-se a uma pretensio moral forte, que deve ser atendida para fazer possivel una vida humana digna. Assim, se diz, no contexto de uma dita- dura, que temos direito a nos reunir, ou, de outea maneira, que a reuni 0 sio um direita humano, ainda que @ sistema juridico dessa ditadora nio incorpore como norma positiva un direit subjetivo ou wma iberdade para reunie-se ou associar-se Por outro lado, usa-se © terme para identificar um sistema de reito positive, um ordenamente juridico determinada, como quando se diz que sio direitos que estio contemplados na Constituigio e esto pro- tegidos. Sao dois sentidos quase antagGnicos o de uma pretensie moral © ode um direite subjetivo protegido por uma norma juridica, © fendmene los direitos humanos na realidade supde ambas as dimensbes: a dimensia moral ¢ a dimensio pasitiva. A sua separagio empobrece as dua 14,1 Direitos naturais © use do terme identifica-se com uma abordagem jusnatucalistay na origenn da histGria dos direitos humanos, esses apareciam como diecitos naturais, e nas primeiras declaragées liberals do século XVII nos modelos americano e francés encontramos consagrada essa expressio como a habi- tual para designar os dircitos do hamem. Como sindnimo de direitos natu- rais, alguns textos usam direitos iaatos’ ow direitos ina lie #s', Do direita natural no seu sentido subjetivo fala a Declaragio de Direitos © Normas Fundamentais de Delaware’, ¢ de direitos naturais, com os adjetivos ina- licndveis ¢ sagrados, a Declaragic Francesa dos Direitos do Homem ¢ do {Tau expresso-ceencapnea na Declaragiode Dhtetox do Kom Fava da Vinginia, de 12 de jumble 11776, no 6 artip pime 2 Dielaragio da Independencia Bas Estados Unidos, de 4 de jatho de 1776 3 IW de setembeo de 1776, artigo 2, UNInADE| =O CONCEITO Be DiKETOS MUNLANOS a Cidade no preimbule © no artigo segundo, ‘Também serd parte da terminologia usada pele jusnaturalismo ra cionalista de Lacke' ¢ do Huminismo em autores come Condoreet ¢ Ro. bespierre na sua enciclopédia nos vetbetes “Direito Natural ou Direito da Natureza” e “Likerdade Natural”, entre outros, Em todos os casos, a expressio dircitos natrais supe o seguinte: a) Direitos prévios ao poder e ao dit natural € direita, tem uma dimensia juridica, b) Sao evidenciados pela razio na natureza humana, __£),_Impéem-se a todas as normas do Dircito ctiade pelo soberano e sia o limite da sua agio. positive, que como o ditcito 1.4.2 Direitos puiblicos subjetivos Essaé uma nomenclatura mais técnica, de dificil eamprecnsio- para quem nio é relacionado com o Direito, O termo vem da Escola de Direito piiblico alemio no século XIX, como especificagio do conceito mais pe- nérico da direito subjetivo, expressio do individualismo no pensamento positivisea. De alguim modo, os direitos subjetivos sie a versio positivista dos direitos naturais, amparadas ambos no mesme marco cultural antro- pocéntrico. Esse termo circunscreve os direitos como limites a0 poder ¢ s6 defensiveis diante dos poderes, autoridades ¢ funciondrios, mas nio na relagao entre particulares, enquanto que © conceite anteriormente anali- sado de direitos naturais se propde, na sua origem, sempre entre iguais emt estado de natureza, onde nao existe poder. 14.3 Liberdades puiblicas Na sua formulacio precisa, esse terme se situa no Ambito da dow trina francesa ¢ também, como ne caso de direitos publicos subjetivos, em uma dimensie positivisia, Frente ao espirito, sem forga, as liberdacles expressam um espirito, uma moralidade apoiada pela forea do direito po sitive. A expressdo, no singular, encontra-se na Constituigio Francesa de 1793, artigo 9, ¢ é usada no chamamento do principe presidente e future Napoleio it! em 1851, para justifiear o seu golpe de Estado ¢ explicar os prineipios: da sua proposta constitucional, ¢ esti presente ainda hoje na Constituigio de 1958, artigo 34.2. Pode-se supor uma ideia de direitos situada no dircito positivo, ainda que as suas raizes se encontrem no plane da moralidade. Mesmo assim, estamos diante de uma expresso que nao aban todas as possiveis facetas dos direitos humanos, tal coma tém sido for: mulados no mundo moderno, mas que se identifica com ama cate Face, Je Sep td wre poner al 1" {Cumso De DIRETTOS HUMANOS dagueles dircitos que chamamos direitos de autonomia parque sapoem a ciagio per parte do dircito de um Ambito isento para a livre ago da von tade, Trata-se de uma terminologia situada na filosofia liberal, que reflete 0 direitos civis individuais. 1.44 Direitos morais Essa terminologia tem alcangado ultimamente uma grande difusio, coriginalmente na tradig4o anglo-saxénica e depois espanhola, mais do que francesa ou germinica. O sentido desea concepcio € que estamos diante de direitos antetiores.ao Estado e a seu Direito, que sao truntos frente a0 Fstado, na terminologia de um dos seus grandes impulsionadores: Ronald Dworkin. ‘Trata-se de um conceito de direitos que se pade esgrimir frente a0 poder, mesmo frente ao poder demacratico, que sobrevive as leis ¢ senten: 8 contririas, Ter um direito moral & conceher os direitos como possuidos por ou como pertencentes a individuos, c essas expressdes reflerem aquela concep¢io das regras morais, de acordo com a qual essas nao se limitam 4 prescrever condutas, mas que, ademais, constituem um tipo de proprieds- de moral dos individuos, Atividades complementares Diserte acerca das seguintes perguntas 1} O que Eque eu tenho a ver com a temsitiea dos direitos humanos? 2} Por que a problematica dos direizos humanos depende de canceitos? 3) 0 gue Sa.0s direitos humanos? Saiba mais BOBBIO, Norberto. Teoria Geral da Politica: a filosofia politica © as licdes das essi- eo, Rigs de Janeiro: Campus, 2002 DOUZINAS, Costas, O fire doz direitos huomaros. Si Leopoldo: Unisinos, 2009 MARTINEZ DE PISON, José, Derechos Mumanos: historia, fundamsento y realidad. Zaragora: Egido, 1997. MONDAINI, Marca, Diteitos Hiamanos, Sio Paulo: Contexto, 2006. PECES-HARBA MARTINEZ, Gregorio, Curso de derechos flndamentules, Madi Universidad Carlos Il, 1995. SODER, José. Direitos do Hantem., Sio Paulo: Companhia Editora Nasional, 1960. SYMONIDES, Janusz, (ong) Huma Rigihs: Concepts and Standards. Aldershot: Dart- mouth, 2002, “TOSI, Giuseppe. (org) Diretos Humanos. Jotw Pessoa: Editora Universitiria, 2008. VERGES RAMIREZ, Salvador, Derechos Hraveos: Fundavnentacion, Madi: Tecnos, 1997. fundemeniar a vaidade dos diraios humanos o a necessifede de serem Tespetados. Essas ldorenqas 0 de parspoctva ou aberdagem idecleicn ‘ufc, mae ats es eincdem nu ecnbecinr Bl vars lucamentas. ' AULA 2; MODOS DE FUNDAMENTACAQ P DOS DIREITOS HUMANOS i ee Sintese da aula i Eso uma vaiedade muito grande de perspectas © mosos do Roteiro da aula "21 Religiosa® 22 Let metural clasica 2.3 Pasitivismo 24 Marsismo BS Socialigico : Depois de ver a imporsincia ¢ a atualidade dos direitos humanos “ede reconhecer papel indispensivel de uma fundamentagio, vamos \ "0m isso pode ser possivel. Parece que as teorias que versam sobre o tema Slo tantas ¢ tio diversas, sobretudo sobre a natureza do ser humano, que __Sttia invidvel a sua justificacio. ‘Tudo ¢ muito relativo, mas nem tanto, Vejamos algumas fontes que fundamentam teoricamente os direitos humanos, A maneira como nds en tendemos o sentido de direitos humanos vai influeneiar 6 nosse julgamer to sobre que direitos podem ser considerados absolutamente inalicnsv-eis quuais sio universais, quais devem ser priorizados, quais podem ser relati- Virados por outros interesses coletives, quais exigem pressio internacio- Aa, quais demandam programas especiais de implementagao ou ‘efetivas. Analiscmos entao algumas das fontes mais classieas das direitos hus manos. $ nais 20 {Cunso Me DEREITOS HUMIANOS. © termo direitos humanas como tal nao aparece nas fontes das re- ligides tradicionais, mas as diferentes tealogias apresentam bases para uma teoria dos direitos humanos, fandadas numa lei superior cuja fonte thtima €o Suprema Ber. Fvidentemente, essas teorias pressupdem a accitagio da revelacao como base de tais direitos. ‘Se for aecita a premissa do Antigo Testamento de que Adio foi criado @ imagem e semelbanca de Deus, isso implica que a divina imagem «i aos seres humanos um valor superior de dignidade em relagio ao resto da criagio. Num sentido semelhante, o Alcorie digs com certesa tems dado drgnidade ao Filho do Homent, Também no Bhagavad-Gita, 0 texto religiose indu, ¢ emi OUtTOS textos religiosos vemos passagens que desta- cam a dignidade do ser humano. Visto de outra maneira, em um contexto religiosa, todo homem ¢ considerado sagrado. A aceitagio de um pai co- mum dd origem a uma humanidade comum e disso nasce a universalidade de certos dircitos, Dado que os direitos provém de uma fonte slivina, eles nag podem ser alienados por nenhuma auraridade mortal, Esse conceito é encontrado ido 36 na sradigao judaico-erista, mas na islamica e em outras religides de base ra. Mesmo aceitando a verdade revelada sla paternidade de Deus ¢ a irmandade de todos os seres humanos, @ problema permanece em saber quais direitos humanos derivany disco. A igualdade de todos os seres hu- manos aos alhos de Deus pode parecer um necessirio desenvolvimento da ctiagio comum de Deus, mas a liberdade de viver como bem entende nio é. Pelo contrério, geralmente as rcligiGes impdem severas limitagbes a liberdade individual. Para a maioria das religiOes a énfase recat mais nas obrigagées do que nos direitos. E mais, a revelagio pode vir a ter diversas interpretagoes acerca do que deve ser considerado igualdade, © algumas religides tém sido bastante restritivas em respeito a mulheres, eseravos, nio-crentes, entre outros, mesmo sendo todos eles criaturas ce Deus. No ininimo, ha sérias incompatibilicades entre as praticas de varias religides ¢ 4 formulagao des direitos estruturada pelas Nacies Unidas. Assim mesmo, filésofos religiosos de quase todas as religities tém se engajado na tentativa de interpretar as douteinas religiosas, buscando re lizar uma aproximagio com as prescrigdes dos direitos humanos bisicos. Isso desde os tempos dos santos padres, Toms de Aquina, Maimdnides e muitos dos tedlogos contempordneos, Esse processo se desenvolve num exercicio hermenéutico, mais precisamente a interpretagao das textos sa- grados com o auxilio de explicagoes histéricas € uma espécie de aplicagio profética as condigdes modetnas. Apesar das dificuldades que a abordagem tcolégica passa ter, a doutrina religiosa € uma promissora, mesmo que ainda pouco desenvolyi- da, possibilidade de selecionar elementos de varias tradigGes religiosas no usin es Cconctrro DE DIREFTOS HUMANS a sentido de construir uma base de acordo intercultural que dé saporte aos virios principios fundamentais de igualdade ¢ justica, que estio na base dos dircitos humanos internacionais. Uma vez dado-o pulo da fé,a religiio pode ser a abordagem tedrica mais atrativa. Quando os seres humanos nio ‘sio vistos como imagem de Deus, consequentemente seus direitas basicos podem perder a sua rasion d'étre mais metafisica, Por outto lado, © con » de ser humana criado & imagem de Deus certamente pravé homens ¢ mulheres com um valor ¢ uma dignidade de que se podem desprender os elementos de wm sistema de direitos humanos compreensivel. 2.2 Lei natural classica Na famosa discussto entre o que ¢ por natureza e a que é por lei au por convengio, desde a chamada segunda geracio de sofistas, um dos seus mais ilustres representantes, Antifono, jd alirmava que as prescrigoes da lei Sao da institnigaa, enguanto aquetas da natureza sito necesstrias (Fragmen- to44 A), Isso manifesta a necessidade que tinha o ser humano de instituir uma determinada ordem que the permitisse livrar-se do dominio d tureza, 0 qual era regido pot leis ineNordveis € necessirias. Essas leis sito entdo convencionais, no sentido de que clas ide so outorgadas aos indi ‘viduos (pelos deuses on pela natureza) ¢, dessa forma, nao comportam ne- nhuma necessidade, No entanto, nessa tensio entre natureza e convengio, poderfamos reconhecer que a condigio humana necessita atrelar-se a una determinada regularidade ¢ universalidade, no momento em que propug: ha uma certa relagio enere Ici ¢ natuteza, estabilidade esta que a mera lei dacidade, particular e instavel, nao proporsiona, Na Antigona de S6focles encontramos a exemplo chissico desse dilema entre as duas ordens de notmatividade, natureza e convencao. S6- focles narra, tragicamente, os conflitos entre a existéncia humana (finita © efémera) e a lei natural ( Dias passagens de Aristétcles fazem mengio a esse impasse: a lei comum que ¢é conforme a natureza (Retériesr, 1, 1373b 6) ¢ 0 dircita (to di Agion) natural, aquele que tem a mesma forga em toda parte, pois que ele € independence da voncade do legislador, e de outro lado a dlireite legal, o qual deve sua existéncia simplesmente ao fato de ter sido positivado (Ftica a Nicémaco, V, 10, 1134b 18-22). Diversos autores que formaram a tradi¢io ocidental, tais como Aristéxeles, Crcero, Santo Agostinko e Tomds de Aquino, falaram de lei de diversas formas. Santo Agostinho nia se ocupou muito da nagio de Iei humana. Cicero, impregnado do naturalismo estoico, explicitamente aproximou a lei eterna da natureza humana, Em sew sentide popular, ex , bem entendido, a lei escrita, Mas @ fildsafo deve na e eterna). transcender esse sentido. As leis escritas, retiradas da vontade dos homens, podem ser injustas. E necessirio, pois, uma norma superior que se impo~ tnha As instituigdes e as leis humanas, Essa regra est na propria natureza ¢ € obra de uma razio soberana: Esta regra é a lei. Essa lei € a suprema Tazo, que é natural ao homem (De Legibus, LI, C.6.}. E ela que determina fo que deve ser feito e o que deve ser evitado, Isse significa que ela ¢ inata ao ser humana, que é, por definigdo, raciona © ponto central que est4 em discussio no tacante a lei natural € 6 seu cardter analigico de natura. Os autores que defendem a existéncia de uma “lei natural” podem assumie diversas matizes, tais como pleitear ‘que determinadas deliberagées sio “irracionais”, contra os “direitos hu- manos” ou contra a “natureza humana”. Isso-significa postular uma tcoria acerea do bem e do mal, da possibilidade de existéncia de um critério diferenciador entre as decisis e agées boas © mas, Defender wma teoria da [ci natural significa, entio, que temos condigdes de explicar ¢ funda- ‘mentar racionalmente as nossas acdes, baseados numa teoria sobre o que £0 “hem” propriamente humano e que tipo de escolhas e decisies devem ser realizadas para a stia consecucio. Sem divida, pretender identificar Iei natural com “ordem do ser” ou “ordem da natureza”, ou tentar detivé-la do conceit de uma “nacureza metafisica”, significa perder de vista a analogia do conceito. Isso porque no encontrariamos em definitiva, no plano de uma ontologia de inspi ragao racionalista-essencialista, a caracterizagao da lei natural come uma cordem racional a ser seguida. Sob essa perspec aherto 0 acesso 4 compreensio da lei na- tural, tal camo foi pensada por Tonnis de Aquino. Pois essa lei natural é, ne sentido proprio, uma lei da razao pritica; isso significa também que uma tcoria da lei natural € parte integrante, em Gltima instaneia, de uma teoria da razdo pritica. Para Tomas de Aquino, o papel da lei natural na ética essencialmente racianal busear um conhecimento o mais perfeito possivel dos principios pr: da agao humana. Nessc sentido, Tomés de Aquino afirma que a lex natvralis & cons tuida pela razdo € & desse modo, uma obra da raziio, Nesse ponto, Tomas de Aquino reforga 0 papel que a razio pritica desempenha camo principio constitutive da fei natural. © importante a sublinhar nese ponto é que, segunda Tomas de Aquino, a razdo pritica refere-s¢ a uma ordem que cla mesma institui cognitivamente através de seus atos voli 4. Essa nogio de um uso pritico da razio foi estabelecida por Aristteles em sua obra Etica a Nicémaco (liveo V1), onde ele afirma que esse uso pratico da razio é algo mais do que mero raciocinio tedrico aplicado 4s situagdes priticas. Desa forma, Aristorelcs argumenta que a razio pratica € estruturalmente diferen- re da razio tedrica ou especulativa como a matematica ou a ligi Positivism 03 filésofos positivistas

You might also like