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1° edição – julho 2021

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A ALINE PÁDUA


SUMÁRIO
SUMÁRIO

NOTA

PLAYLIST

SINOPSE

PARTE I

PRÓLOGO

CAPÍTULO I

CAPÍTULO II

CAPÍTULO III

CAPÍTULO IV

CAPÍTULO V

CAPÍTULO VI

CAPÍTULO VII

CAPÍTULO VIII

CAPÍTULO IX

CAPÍTULO X

PARTE II

CAPÍTULO XI

CAPÍTULO XII
CAPÍTULO XIII

CAPÍTULO XIV

CAPÍTULO XV

CAPÍTULO XVI

CAPÍTULO XVII

CAPÍTULO XVIII

CAPÍTULO XIX

CAPÍTULO XX

CAPÍTULO XXI

APEGUE-SE AS MEMÓRIAS

CEO INESPERADO: meu ex melhor amigo

O BEBÊ INESPERADO DO COWBOY

O melhor amigo do meu irmão (A REJEIÇÃO)

O irmão da minha melhor amiga (A REDENÇÃO)

CONTATOS DA AUTORA
NOTA

E a série baseada em músicas da loirinha só cresce. Para

quem não sabe, todos os álbuns da Taylor Swift me marcaram em


momentos diferentes da vida, e desde maio, tenho lançado livros
clichês baseados em álbuns dela. Já passamos por RED em “O

melhor amigo do meu irmão: A REJEIÇÃO”, e por Speak Now e


1989 em “O irmão da minha melhor amiga: A REDENÇÃO”. Não
é necessária a leitura dos livros anteriores para o
entendimento deste.

UMA GRAVIDEZ INESPERADA é baseado em vários

álbuns da Taylor, mas principalmente, em Reputation e Lover.


Entenderão que Mabi é uma bagunça, assim como, o seu amor
pelas eras musicais. Maria Beatriz e Inácio trazem consigo vários

clichês a sua própria maneira, e espero que esse casal te cative.

Enemies to lovers? Temos! Diferença de idade? Temos!


Casamento por contrato? Temos! Uma gravidez inesperada? SIM

SIM!

Se você é fã da Taylor, com toda certeza, pegará todas as

referências e crossovers de eras diferentes dela.


Mabi e Inácio tem por objetivo te levar a um clichê que a

gente passa nervoso, sua a camisa e se apaixona pelo casal


antes mesmo de ser um casal rs. Um toque de drama e comédia,

porque né, tendo Taylor Swift e Marília Mendonça na playlist de

uma história, não tem como ser diferente.

Espero que esse livro seja um respirar profundo durante

esse momento tão difícil.

Boa leitura,

Aline Pádua
PLAYLIST

Posicione a câmera do seu celular para ler o QrCode e conheça um

pouquinho das músicas que inspiraram este livro. Caso não consiga ter
acesso, clique aqui
SINOPSE

Se no meio do caminho de algumas pessoas tem uma

pedra, no meio do caminho de Maria Beatriz, sempre teve


Inácio. O herdeiro da fazenda que fica ao lado das antigas terras
de sua família, tornou-se um homem bruto e fechado, que quando

aparece na sua frente, ela já sabe que só pode ser problema ou


alguma proposta indecorosa. Maldito peão velho!

Inácio Torres é um homem de poucas palavras, mas que vê

em uma mulher tagarela, a oportunidade perfeita. Mabi precisa de


dinheiro, ele o tem. Ele precisa de um casamento falso, e ela é a

escolha perfeita. Porém, a única coisa que recebe de Mabi, como

sempre, é uma negativa. Maldita criança sonhadora!


No meio das voltas que a vida dá, uma noite de prazer os

marca. E a consequência será muito maior que o arrependimento:


UMA GRAVIDEZ INESPERADA.
PARTE I

“E ele me parece um pedaço daquilo que a vida tem de


mais charmoso. Ele não faz planos ou promessas, só surpresas,
te ensinou a gostar de surpresas. Ele é diferente.”

Tati Bernardi
PRÓLOGO

“Eu sabia que ele era um assassino

Na primeira vez que o vi

Imagino quantas garotas ele amou

E deixou assombradas”[1]

MABI

Eu estava cansada.

Depois de um dia todo atrás de um novo emprego, e ainda

mais, usando o dinheiro que nem tinha para ir em outras cidades


atrás do mesmo. Suspirei profundamente, e sorri para a
mensagem de minha melhor amiga. Ela estava se testando na

cozinha, e jurando que seria uma ótima cozinheira. Duvidava,


assim como, sabia que nós duas sabíamos no máximo fazer

sanduíches, fritar ovo e fazer miojo.

Deixei o celular de lado e caminhei até o meu quarto,

jogando-me contra o colchão. Vinha de uma maré de má sorte

terrível. Tanto no amor, quanto no jogo. Mal via o cara que era
apaixonada, e mal sabia onde conseguiria um emprego. Morava

no interior, e tudo estava devidamente ocupado. Não tinham

cargos para atuar como administradora ali, e não sabia mais ao


que recorrer.

Fechei os olhos por alguns segundos e tentei pensar em

Hugo. De repente, era melhor focar no amor ainda não realizado,


do que no emprego perdido e o outro nem encontrado. Os olhos

azuis me vieram em mente, e por um segundo, torci para que ele

batesse a minha porta. Ele era meu vizinho, mas mesmo assim,

era como se não o fosse, após tanto tempo sem nos esbarrarmos

casualmente pela rua.

Mesmo em uma cidade pequena, encontrá-lo, parecia

apenas impossível. Vê-lo sorrir, talvez me daria uma pequena

esperança, que alguma parte bagunçada da minha vida, se


consertaria. O pior, era tê-lo que ver sorrir para outras mulheres.
No casamento de Leti, minha melhor amiga, dias antes, foi

quando o vi, e infelizmente, o vira praticamente lamber o chão de

uma outra amiga. Era patético vê-lo fazer aquilo, e talvez, eu

fosse ainda mais patética por ser apaixonada por ele.

Contudo, algo me dizia que era ele.

Batidas na porta me fizeram dar um pulo na cama e pisquei


algumas vezes, levantando-me. Seria a sorte para um dia ruim me

encontrando? Parei à frente do espelho, e passei as mãos pelos

cabelos, tentando, ao menos, ficar apresentável. Era quase

madrugada, então, ninguém além de Leti estaria ali. Ao menos,

Leti nem bateria. Então, só poderia ser Hugo, certo?

No momento em que abri a porta, meu sorriso estava tão

aberto quanto poderia, porém, logo se desfez. Não eram olhos

azuis, como o mar que eu não via há tempos. Na realidade, eram

olhos castanho-escuros, que me encaravam duros, como sempre.

— Bateu na porta errada, velho. — falei, e tentei fechar a

porta, mas como sempre, Inácio Torres me contrariava. Colocou


um pé entre o vão da porta entreaberta, e não me permitiu fechá-

la em sua cara. Velho!


Ele usava seu chapéu branco de cowboy e as roupas

costumeiras. A barba de um castanho-escuro, quase preto, cobria


grande parte do rosto, e poderia jurar que estava há dias sem

fazê-la. De algum jeito, combinava com ele. Assim como, o


maxilar quadrado, olhos duros e sem emoção, e a forma com os
lábios sempre pareciam não se inclinar, ou seja, aquele homem

não sorria.

Por que em todos os caminhos que eu seguia, ele sempre

era um rosto que encontrava? Vi-me perguntando ao universo e


odiando o fato de ter aberto a porta. Não era um bom dia para

discussões. E era tudo o que sabíamos fazer.

A gente mal se suportava. A gente sempre se via como cão


e gato. E a retrospectiva de como sempre parecíamos batalhar

um com o outro, não me divertia tanto naquele dia. Era aquilo,


nem mesmo suportar, ou melhor, não suportar Inácio parecia

animador.

— Preciso falar com você, criança. — soltou, e quis socar

sua bela cara pelo apelido ridículo. Revirei os olhos, e me


encostei contra o batente da porta, deixando claro que ele não

entraria ali. — Sabe que vão comentar que estou na sua porta no
meio da madrugada, não é?
— Os fofoqueiros do bairro devem estar a postos. — rebati,

revirando os olhos, e ele parecia sério sobre aquilo. — E eu tô


pouco me fodendo pra isso. Deixem pensar que sou a próxima

senhora Torres, já que tá todo mundo quase jogando as filhas


sobre você. — debochei, rindo sem vontade, e por um segundo,

vi-o me encarar como se estivesse certa. — O que faz aqui? Já


não basta te encontrar em cada esquina dessa cidade?

— Uma proposta. — respondeu, e franzi o cenho. Inácio


tinha esquecido que nós dois não éramos amigos? Aliás, que ele
adorava me infernizar e tirar o pior de mim? — Preciso que se

case comigo.

Arregalei os olhos, e foi impossível não dar um passo à


frente e puxar o ar com força. Procurei pelo cheiro de bebida

sobre ele, o qual, pareceu ficar ainda mais tenso no lugar. Apenas
o cheiro amadeirado e masculino se apoderou de mim, e fiquei

completamente perdida. A sensação do meu próprio corpo em


alerta, me assustando.

— Bateu a cabeça? — perguntei, completamente incrédula.


Dei outro passo à frente, fazendo-o tirar o pé do vão da porta. —

Acho que a idade, realmente, está te fazendo esquecer que eu


sou a sua inimiga declarada.
— Não somos inimigos. — rebateu, e seu olhar sequer
mudava. Como aquele homem poderia ser tão fechado? Por que?
E por que diabos eu sempre me via questionando aquilo?

— Está certo. — dei de ombros, cruzando os braços. —


Não somos nada um para o outro, velho. E da próxima vez, que

bater de madrugada aqui, como um maluco, vou ligar para Lucas


e pedir pra que te interne. — sorri falsamente, e dei um passo

rápido para trás, batendo a porta na sua cara.

Assim que o fiz, e a tranquei, vi-me segurando a


gargalhada. Inácio não insistiu e sabia que era um homem assim.

Ele não era do tipo que fazia escândalo ou socaria a porta. Ele
estava mais para uma emoção reservada, ou talvez, inexistente.

Talvez, completamente calculada. Dei-lhe dez segundos, e


gargalhei alto, sabendo que mesmo que fosse um dia ruim, ao
menos, eu tinha algo para sorrir.

Inácio Torres me ajudara com aquilo.


CAPÍTULO I

“Você sabe que não sou uma garota má, mas eu

Faço coisas ruins com você

E assim vai”[2]

MABI

Eu só queria perder minha mente um pouco.

Há anos alguns, apenas entendi que mesmo que meu


coração pertencesse a Hugo, eu não poderia parar de viver.

Precisava beijar. Precisava dançar. Precisava conhecer outros

corpos. Ele seria o meu conto de fadas, um dia. E eu sabia, que


de alguma forma, o destino me prenderia a ele. Ele era o meu

cara certo desde os quatorze, e depois de uma década, aquilo,


não mudara. Mesmo que ele não me enxergasse como tal.

Mesmo que a gente mal se falasse nos últimos anos.

Sabia que era no azul dos olhos dele, que eu mergulharia.

Sorri para o peão sentado no banco do motorista, e esperei

que ele levasse uma mão até a minha coxa, para apertá-la.

Naquela noite, eu só desejava o corpo quente e bonito de alguém.


Contudo, a cada segundo que se passava dentro do carro, o

desejo que sentia pelo desconhecido, se esvaía. Levei então, a

minha mão até a sua coxa e a apertei, dando-lhe um sorriso fatal.


Ele me encarou, parecendo desconfortável, e franzi o cenho.

Onde estava o cara quente que passei a noite inteira

dançando no bar?

— Tem algo errado? — perguntei, e ele negou de imediato,

retirando minha mão de sua perna. — Cara, qual o problema? —

insisti, porque não era uma pessoa, que simplesmente, aceitava


uma resposta silenciosa. Ao menos, só existia uma pessoa capaz

de me entregar apenas aquilo. Por que diabos eu estava

pensando em Inácio?
— Acho que não vai rolar. — respondeu, e eu pisquei
algumas vezes, incrédula. — Você parece animada demais para...

— Foder? — indaguei, olhando-o como se fosse um


alienígena. Qual era o problema de uma noite casual com algum

cara desconhecido? Por que nem os desconhecidos, naquela

cidadezinha, pareciam saber lidar? Inferno de interior que eu

amava!

— Eu estou me mudando pra cá, acho que...

— Vai se foder. — respondi no fim, revirando os olhos.


Ajeitei minha bolsa no ombro, e antes que ele falasse qualquer

coisa, levantei um dedo. Ele pareceu assustado, e assim percebi,

que com certeza, não nos daríamos bem na cama. Talvez,

fôssemos péssimos.

Que merda de escolha!

Desci da caminhonete puta, e não pude evitar bater à porta

do carro com força. Eu estava na seca há meses, e só queria, por

alguns minutos, perder a razão, com um corpo forte e másculo,

que soubesse me enlouquecer, nem que por alguns minutos.

De fato, só conseguia estar com alguém quando viajava

para outras cidades. Existia um certo pudor nos caras daquele


interior, que me deixava maluca. Eram peões lindos, fortes e

gostosos, mas no fim, sempre pareciam loucos para manter sua


reputação.

Eu pouco me fodia para a minha.

Caminhei até a conveniência 24 horas do posto de


gasolina, o único lugar aberto aquele horário na cidade. Olhei

rapidamente no meu celular, e eram cerca de três da manhã.

— Cacete. — reclamei, abrindo uma das geladeiras da

conveniência e pegando um refrigerante. Queria apenas beber


algo diferente de álcool e que me mantivesse acordada até

chegar em casa, dali uns três quilômetros andando. — Boa


madruga, Serginho. — gritei, já que não o encontrei em lugar

algum. Como sempre, deveria estar nos fundos.

— Tô nos fundos, maluca. — dito e feito quando me gritou

de volta. Ele deveria estar conferindo algo no estoque. O fato de


conhecer todo mundo em uma cidade pequena, tinha suas
vantagens. Sérgio foi meu colega de escola, e assumira,

recentemente, o posto do pai. Ele adorava trabalhar ali, e como


eu, por mais que reclamássemos sempre de sermos caipiras,

adorávamos o fato de morar naquela cidade.


— Eu vou pegar um pão de queijo. — gritei de volta, e

atravessei o balcão.

Praticamente, já conhecia o lugar todo. Em muitas noites

insones, onde eu só queria me sentar e esquecer o mundo


escrevendo, via-me ali. Tinha se tornado constante nos últimos

tempos, já que perdera o emprego, e o tempo dedicado ao que


era apenas um hobby, tornou-se parte de mim. Escrever

acalmava minha alma, e me fazia acreditar que tudo daria certo,


em algum momento. Ou estava correndo atrás de um emprego,
ou estava escrevendo por ali.

Ouvi o barulho da porta da frente da conveniência sendo


aberta e revirei os olhos. Deveria ser o tal Pablo, ótimo dançarino,
péssimo em manter qualquer fogo. Levantei com o pratinho limpo

em mãos e lhe olhei com o maior deboche que pudera. Contudo,


quando meus olhos azuis bateram nos castanho-escuros a minha

frente, soube que o mundo poderia dar quantas voltas fossem,


mas ele sempre parecia parar de frente para aquele bruto.

— Criança. — fez sinal com chapéu de cowboy, e lhe dei o


sorriso mais falso que eu tinha. O guardava especialmente para

ele, pois sabia, que em algum momento, aquele homem, que


parecia ter sido criado para tirar o pior de mim, apareceria.
— Velho. — rebati, porque existia algo naquele apelido que
ele odiava tanto quanto eu. Eu não era uma criança, tão pouco,
ele era velho. Nossa diferença de dez anos não era a real razão

para aquilo. No final, o fato de eu não o suportar, e a recíproca ser


verdadeira, ajudava na questão.

— Está trabalhando aqui agora? — perguntou, e eu franzi


o cenho, enquanto tentava pegar com cuidado, o pão de queijo de

dentro da estufa. — Soube que a fábrica que trabalhava faliu.

— Desde quando é fofoqueiro como a gente? — rebati, e


no momento que pensei que o pão de queijo cairia perfeitamente

em meu prato, vi-o cair um milímetro para o lado, e despencar no


chão. — Oh diacho! — xinguei, abaixando-me rapidamente e

pegando a comida. — Regra dos três segundos. — falei, e deixei


o prato sobre o balcão, pegando o pão de queijo com a mão e
mordendo.

Inácio me assistia, como sempre, com o olhar tão


misterioso quanto o fato de que eu não sabia o que se passava

na mente dele. O homem era uma muralha. Nunca sabia ao certo


o que ele sentia, só sabia que ele era bom em falar e demonstrar

o quanto gostava de me enlouquecer.


— Então? — insistiu, colocando o chapéu sobre o balcão e
passando as mãos pelos fios ondulados castanho-escuros. O
homem era bonito, e aquela constatação antiga, de repente,

parecia até boa demais. Não! Repeti internamente. Eu que


sossegasse meu fogo no rabo, porque Inácio jamais seria o cara

que o apagaria. Será?

— Eu não estou trabalhando aqui, e não sei o porquê de se


importar. — sorri falsamente, e mordi outro pedaço do pão de

queijo. — O que faz aqui?

— Venho sempre que não estou viajando, é um lugar que


posso ficar e ninguém fazer fofoca. — comentou.

— O herdeiro milionário e que precisa de uma esposa. —

zombei, e ele franziu o cenho, fazendo-me rir. Ao mesmo tempo

que, lembrei-me daquela proposta assombrosa no meio da


madrugada. Porém, não tocaria naquele tópico. — É o que

mandaram no grupo do zap da cidade depois que alguém te viu

almoçando na Neta, e daí, tiraram foto dos seus músculos e


falaram o dia todo sobre. — complementei.

— O que você achou? — perguntou, e fiquei sem entender,

enquanto abria a lata de coca que deixara perdida sobre o balcão.


— Uma perda de tempo para o grupo em que poderíamos

estar falando do gostoso da Gabi. — respondi, e dei de ombros.


Ele endureceu o maxilar e revirei os olhos. O homem sempre

tinha a mesma reação para tudo. Olhar duro. Maxilar duro.

Semblante duro. Inferno de homem duro. Os músculos seriam


duros também? Foco, Mabi. — Explicando, o cara gostoso da

Gabi, é um da cidade, que ela vai ter o seu conto de fadas. Mas

que a cidade inteira viu essa semana no centro e tá falando

sobre.

— E o seu conto de fadas com o moleque dos Avelar? —

indagou, fazendo-me olhá-lo de outra forma. Por que sempre

parávamos naquele ponto? — Ele te chutou e ignorou de novo,


ou...

— Não começa! — cortei-o, antes que tentasse falar, mais

uma vez, sobre Hugo.

— Uma hora, vai entender que contos de fadas não


existem. — rebateu, e olhou-me profundamente. — As pessoas

querem foder e serem felizes, mais nada. — simplesmente, não

consegui enxergar verdade nas suas palavras, e não entendi o


porquê.
— Eu queria foder com outro essa noite, e isso não me

impede de ter o conto de fadas com Hugo. — rebati por fim, e

sangue subiu para minha cabeça. Ao menos, eu ainda estava boa


para não o deixar ganhar alguma discussão.

— E por que está aqui e não fodendo? — sua pergunta me

fez gelar, e sabia que não poderia responder. Seria lhe entregar

mais munição para me atacar. — Ele desistiu de última hora? Ou


foi tão ruim que...

— Por que você não vai a merda? — rebati, e terminei de

tomar minha coca. Abri minha bolsa rapidamente, e coloquei o


dinheiro sobre o balcão. — Serginho, uma coca e pão de queijo,

depois você me dá o troco!

Sérgio sequer respondeu ao meu grito, e deveria, no caso,

estar no banheiro. Não tinha ideia de como aquele homem


entrava nos fundos e simplesmente, desaparecia.

Dei a volta no balcão, e mantive-me altiva. Ninguém era

capaz de me fazer sair do pedestal, lutei muito por ele, e pela

minha autoestima, Inácio Torres até tentava, com muito afinco,


mas seguia inabalada.
— Onde vai? — perguntou, e senti sua mão em meu

antebraço, puxando-me.

Parei um passo, e me virei, encarando-o. Estávamos do

lado de fora da conveniência e apenas dei um passo à frente,

soltando-me. Dei-lhe o dedo do meio, ao mesmo tempo que, senti

um pingo de chuva sobre meu nariz. Diacho!

Foquei em seguir pelo caminho mais próximo até minha

casa, e torci para que a chuva fosse apenas um pingado. No fim,

dei dez passos, e a tempestade desabou. Talvez por aquilo eu


não tinha conseguido comprar um Iphone no ano passado –

minha mente considerou. Imaginava eu, ali, com o celular

daqueles em uma bolsa sem proteção para água. Foquei no meu


surto sobre algo que nem tinha, e deixei de lado o resfriado que

viria.

O vestido que usava colou em todo meu corpo, e o fato de

não usar sutiã, deixou-me praticamente exposta.

— Azar no emprego, azar na foda, azar no amor... —

praguejei, agradecendo aos céus por não ter uma alma viva por

aquela estrada, e sabendo que o lugar era tão seguro, que

poderia dormir ali, que acordaria muito bem no dia seguinte.


O problema seria quando chegasse ao fim da estrada, e

desse para a rua de casa. Os vizinhos fofoqueiros não tinham

horário, e então, a herdeira falida dos Gonçalo seria a sensação

do dia. Fazia tempo que não era falada, pois então, que falassem
dos meus peitos. Ao menos, era melhor do que o assunto ser

Inácio. Maldito velho que atormentava minha mente!

Ouvi o barulho de um carro parando ao meu lado e não


precisei sequer olhar para saber que era ele. Continuei andando,

e o ignorei por completo, mesmo quando abriu a janela do banco

do passageiro e praticamente ordenou que eu entrasse. Aquele

homem achava que mandava em todo mundo. Mas em mim, ele


não podia.

Ouvi o barulho do carro parando, e então, de uma porta

sendo fechada bruscamente. Dei um pulo no lugar e quando fui


me virar, apenas senti meu corpo sendo jogado para cima, e

fiquei de ponta cabeça. Demorou meio segundo para entender

que Inácio me colocara em suas costas, e antes que pudesse


socá-lo, ele já me colocava no banco estofado da sua Range

Rover.

— Nem pense. — falou, assim que levantei meu olhar,

tentando focar no que acontecia. Ele me encarou de forma dura,


mas existia algo por trás do seu olhar castanho. Pela primeira vez,

enxerguei algo nele. Seu olhar então desceu, e se focou em meus


seios, que marcavam por completo o vestido de tecido branco e

fino. Os traidores endureceram e pesaram diante do olhar, e eu

fiquei pensando se ainda estava bêbada, ou estava em meio a um

pesadelo.

Desde que momento meu corpo respondia ao de Inácio?

Antes que eu pudesse falar algo, ele apenas bateu a porta

na minha cara, e pisquei algumas vezes, sentindo-me péssima.


Estava toda encharcada, mas de repente, meu corpo estava

completamente quente. Algo dentro de mim cresceu, e pareceu

ainda mais forte, quando ele se sentou no banco do motorista e


me encarou duramente.

Ele deveria apenas me xingar de criança, ligar o carro e me

deixar em casa. Eu deveria apenas o xingar de velho, tentar abrir

a porta do carro, e no fim, chegar em casa de carona com ele.


Nós deveríamos apenas seguir o nosso protocolo padrão de ódio,

mas de repente, apenas cruzávamos uma linha que nunca,

jamais, e em hipótese alguma, pensei que tivéssemos como o

fazer. Sua mão veio para a minha nuca, ao mesmo tempo que
meu corpo subiu sobre o seu. E de repente, eu não sentia mais
frio algum, eu estava queimando, e com, o meu inimigo.
CAPÍTULO II

“Eu acho que ele sabe

Quando ficarmos completamente sozinhos

Eu me sentirei em casa

E ele irá querer que eu fique”[3]

MABI

Senti o peso de um corpo quente sobre o meu, e acabei

sorrindo. O meu humor estava maravilhoso e por um segundo,

fiquei apenas apegada a lembrança dos vários orgasmos em uma

noite que realmente precisava deles. Aquele toque sobre o meu


corpo, novamente, fazendo-me desejar o proibido. E então, um

estalo me veio em mente. Arregalei os olhos, virando-me e


encarando o homem deitado ao meu lado.

A gente tinha transado no carro, e não sei em que


momento, minha mente se perdeu por completo, e acabei ali, na

cama dele. O orgasmo incrível fora a motivação. Ao menos, era a

história que contava a mim mesma. Desvencilhei-me dele, e fiquei


apenas parada por alguns segundos, com o corpo nu no meio do

seu quarto.

Ele estava enrolado nos lençóis, os quais eu me joguei

com ele por uma noite, como se a gente... Como se a gente não
fosse a gente. Inácio era o homem que eu detestava. Não era?

Ao menos, eu pensava que era. Nunca conseguimos ter uma


simples conversa, de cortesia, e de repente, estávamos em uma

noite quente no carro, contra a porta de entrada da sua casa, na

escada... Diacho!

Peguei meu vestido jogado no chão e que agora, estava

em pedaços. Ele praticamente o partira no meio, ainda no carro.

Peguei então a camisa que ele usou na noite passada, de cor

preta, e que serviria perfeitamente como um vestido para mim.


O sol não estava a pino, e quando olhei para meu celular,
percebi que ainda eram oito da manhã. Minha sorte tinha que

funcionar naquela manhã, e conseguiria sair ilesa dali, sem

ninguém na sua enorme e imponente fazenda, me ver. Sem ser a

fofoca da cidade, de que teria passado a noite com o homem que

todo mundo queria casar.

Parei por um momento na porta e engoli em seco, vendo-o

respirando profundamente. Não queria pensar sobre, mas eu

pensava. Talvez em tudo. Talvez em nada. Só sabia que o homem

quente que me fizera queimar por todas as horas gastas juntos,


não se parecia nem um pouco com o homem que eu conhecia no

dia a dia. Pare de pensar!

Saí do seu quarto e agradeci aos céus por ele ter uma casa
enorme, e morar completamente só. Sua família era enorme,

porém, apenas ele parecia gostar daquelas terras. Ao menos, era

o que diziam por aquelas bandas.

Não saberia dizer como, ou se minha sorte voltara com

toda a força, mas consegui encontrar o velho buraco na cerca que

rodeava toda a propriedade, à qual, eu conhecia muito bem. Era a

cerca que eu rondava quando era criança, sonhando, junto com


meus pais, que um dia, construiríamos algo tão grande quanto os

Torres. Lego engano.

Nós tivemos as terras, ao menos, tentamos ter. Após o

falecimento deles, quando eu tinha apenas dezesseis, restara


apenas aquele buraco na cerca, que não sabia como, mas eu

ainda conseguia passar, e um mato alto com vários pedaços de


madeira espalhados.

Vi-me tirando os sapatos de salto não muito altos, e

sentindo a terra sob meus pés. Fechei os olhos por alguns


segundos, e foi como ser teletransportada para anos atrás. Eu

sentia falta de estar ali, naquela terra, naquele sonho. Sorri


sozinha, como se pudesse sentir meus pais ali. Contudo, sabia
que a vida tivera outros planos para eles, assim como, para mim.

De vez em quando, via-me apenas chegando naquelas terras,


que nem eram mais nossas, e apenas ficando. Sentindo que de

alguma forma, eu conseguiria recuperá-las.

Tinha sido leiloada há muitos anos, e não sabia como,

ninguém mexera. Minha busca de descobrir quem acabou


levando, fora em vão. Com toda certeza, alguma família

poderosa. Por um momento, considerei que fossem os Torres,


vizinhos, que adorariam expandir sua fazenda para ali. Ao menos,

eu imaginava que sim.

Contudo, o lugar seguia intacto. Do mesmo jeito que fora

deixado, anos atrás. Assim como, a marca que eu fizera na


macieira, perto de um pequeno lago. Sorri, tocando-a, e vendo

minha inicial. A de meus pais estavam acima, e eu me senti, como


se revivendo tudo o que sentia tanta falta.

Eles eram sonhadores, e me ensinaram a sonhar. O que

nem eles, e nem eu esperávamos, era que a vida nos separaria


tão cedo. Ela o fizera, e de repente, o sonho da fazenda Gonçalo,

fora praticamente embora. Não era um sobrenome grandioso


como o de muitos na região, e eu sabia, que eles sequer o
desejavam, eles apenas sentiam que aquele era o lugar para

estar. De alguma forma, talvez por nostalgia, eu sentia também.

Os pés sujos da terra e mato, e o sorriso no rosto.

— Um dia, eu vou construir a casa que sonhamos. — falei,

tocando as iniciais. — Vou conseguir um novo emprego, talvez o


livro que vou lançar seja um sucesso. Leti, Gabi e Ane leram, e
elas... Disseram que o público de e-books vai amar. Vocês, como

bons românticos, amariam também.


— Sabia que estaria aqui.

Paralisei com a voz, e me virei levemente. O tom alto e

imponente era conhecido, de repente, mais conhecido do que o


normal. Inácio caminhava em minha direção, sem camisa, e com
apenas o chapéu, calça jeans e botas. Como ele era tão

silencioso? Como poderia estar tão gostoso? Merda!

— O que faz aqui? — perguntei, cruzando os braços e o


olhando sem entender. A nossa noite tinha sido o bastante de

loucura para me deixar sem estribeira. Contudo, ainda assim, eu


não fugia de um bom embate. Mesmo sabendo o que aquele

corpo com seis gominhos, que eu contei enquanto os lambia...


Diacho!

— Invadindo a propriedade de alguém. — respondeu, e eu


assenti, engolindo em seco.

— Compraram, mas nunca mexeram. — comentei, sem


nem saber porque o fazia. Talvez, porque estar ali, me deixava

completamente fora de foco. Ou o fato de que, Inácio sem camisa


e muito bonito logo as oito da manhã, era algo que não esperava.
— Enfim, tô indo pra casa. — falei, e forcei-lhe um sorriso, dando-

lhe as costas.
— Aqui é sua casa, ou ao menos, era. — paralisei com o
corpo, sem saber o que ele queria dizer. — Descobri quem
comprou as terras, há alguns meses. — virei-me de uma vez, e o

encarei incrédula. — Podemos ter um acordo, criança.

O tom de implicância não me passou despercebido e o

olhei como se perdesse a sua mente.

— Se você acha que só porque a gente...

— Preciso de um casamento falso, mas que não pareça

falso. — falou, antes que terminasse a minha frase, e tudo

pareceu ainda pior. — Eu te falei sobre isso, da última vez que


nos vimos, mas você não quis ouvir.

— O que queria que eu ouvisse? — fiz um gesto com as

mãos, completamente incrédula. — Você apareceu, do nada, na

minha casa e me pediu em casamento. É claro que bati a porta na


sua cara! Achei que a idade tinha te deixado sem um parafuso.

— Devia então, ao menos, escutar os mais velhos. — sua

voz mal saiu e sabia que estava nervoso. — Eu não estava

maluco ou bêbado. — explicou, como se pudesse ler os


pensamentos que se passaram por minha mente, semanas atrás.
Jurei nunca nem tocar no assunto, porque, ele, com toda certeza,

tinha errado de casa. — Você é a escolha perfeita.

— Eu não vou me casar com você. — falei, abrindo os

braços, mostrando que era óbvio. — A gente mal se suporta,

Inácio. Como assim sou a escolha perfeita para um casamento


falso? Eu amo outra pessoa, diacho!

Vi-o endurecer ainda mais o maxilar, e odiei não conseguir

lê-lo. O homem ainda era uma muralha.

— Não estamos falando de amor. Estamos falando de um


contrato de um ano, e depois disso, pode casar quantas vezes

quiser com o moleque, claro, se ele te quiser. — olhei-o com

ainda mais raiva, e sabia que não existia a possibilidade de aquilo


acontecer. — Minha família está me pressionando para casar.

— Um homem de trinta e seis anos, que segue o que a

família pede? Não tem nenhum dinheiro que vai receber ou...

— É vida real, criança. — cortou-me. — Não precisa saber


dos meus motivos pessoais, apenas, assinar um papel.

— Não tem nada que...

— As terras seriam suas. — pisquei algumas vezes,

completamente sem entender. — Descobri o comprador e sei que


está aberto a ofertas.

— Quem é? — perguntei, sem conseguir me segurar, e dei

um passo à frente. — Estou há anos...

— Precisa assinar os papéis antes. — cortou-me e sabia

que falava sério. Engoli em seco, mas não o meu orgulho. —

Podemos fazer isso funcionar. É só fingir estar apaixonada e eu,

faço o mesmo. Não podemos trair, porque todos descobririam,


mas sabemos, depois da noite de ontem, que ao menos na cama

somos bons.

— Não somos bons em nada. — pontuei cada palavra e

toquei seu peito a cada uma. — A noite não existiu e nós dois,
honestamente... Uma fodinha qualquer né?

— Que te fez gritar o meu nome? — falou, em um tom que

me deixou completamente atordoada com as lembranças do que


acontecera. Quando eu queria sair de uma saia justa, debochar,

sempre era a melhor escolha. E eu, era a melhor naquilo. Vi-me

rindo alto e negando com a cabeça.

— Tão velho mas tão... inexperiente. — debochei, a um fio


de cabelo de distância dele. — Sou ótima fingindo sorrisos, fingir

na cama, é ainda mais simples.


Ficamos apenas ali, por alguns segundos, em um embate

silencioso, como se fosse possível, o mesmo desejo que me


atingiu na noite passada, veio, ainda mais forte. Aquilo tinha que

passar!

Surpreendendo-me, ele me deu um vislumbre de sorriso,

que raramente, o via fazer. Deu um passo atrás, e segurei-me


firme porque minhas pernas quase falharam.

— Lucas vai te deixar em casa. — apenas comentou, e

deu-me as costas. — Ainda vai implorar para casar comigo,


criança.

— Maldito velho! — apenas gritei, vendo-o caminhar para

longe, e suspirei profundamente. Alguns segundos se passaram,


e eu fiquei presa, em olhar para o caminho que ele fazia,

completamente perdida. Como aquela história de casamento por

contrato era real?

— E aí, matraquinha?! — ouvi o grito de Lucas e me virei


em sua direção. Ele estava com uma caminhonete, estacionado

há alguns metros dali. Aquele apelido era terrível, mas o tivera a

vida toda na escola, e algumas pessoas, apenas, não se

desapegavam dele. Lucas, parecia apenas ser tão fofoqueiro


quanto todo mundo, já que tinha praticamente a idade de Inácio, e
no fim, parecia saber de tudo. Até mesmo, daquele apelido

horrível. Melhor do que criança – pensei.

— O patrão mandou? — rebati o grito, caminhando até ele,

e sabendo que se era ele que me levaria, ninguém saberia que de


fato passara a noite ali. Lucas era o homem de confiança de

Inácio, e como boa fofoqueira da vida alheia, tinha a certeza

daquilo.

— E ainda, me mandou roubar roupas da minha irmã mais

nova. — piscou um olho, assim que me aproximei, e o encarei

perplexa. — Estão no banco de trás, pode se trocar, que eu vou

ficar quietinho aqui, olhando para o mato. Ar condicionado ligado


e vidros totalmente escuros.

— O que aquele velho tem na cabeça? — indaguei, e ele

me encarou, como se eu fosse uma piada pronta. — Para de me


olhar assim, como se soubesse de algo! — apontei o dedo para

ele, que sorriu de lado.

— Vai logo, matraca.

Entrei no carro, e era real, tinham roupas ali, e por mais


que Lucas falasse que eram da sua irmã, era óbvio que tinham

acabado de sair de uma loja. As etiquetas ali e tudo mais. Neguei


com a cabeça para os pensamentos sem nexo que surgiram, e

sequer tentei ordená-los. Suspirei profundamente, cabendo


perfeitamente em um vestido florido na cor azul, e colocando um

chinelo, que sequer tinha marca na sola. Há quem eles queriam

enganar?

— Pode entrar, homem. — falei, descendo o vidro e ele se


virou, sorrindo. — Agora, vai me explicar por que comprou roupas

e chinelo do meu tamanho exato? Ou melhor, como?

— Sem palavras. — fez um sinal de zíper com os dedos à


frente da boca, e apenas subiu na caminhonete.

Tentei abrir a boca para perguntar novamente, ou

reformular a pergunta, mas ele aumentou o som no máximo. Ou

seja, eu ficaria revirando tudo aquilo em minha mente. E pior,


quando encostei contra o estofado do banco de trás, vi-me

repassando aquela noite, e de repente, eu queria apenas, poder

ter um mais um cadinho.


CAPÍTULO III

“Uma corda que me puxou

De todos os braços errados, direto para aquela lanchonete”[4]

Meses depois...

MABI

Positivo.

Olhei e reolhei para o teste, e jurei aos mil céus que estava

errado. Assim como, os outros cinco que indicavam o mesmo

resultado. Respirei uma, duas, talvez milhares de vezes, enquanto


encarava aquele pequeno pedaço de plástico. Vi-me sentada

sobre a tampa do vaso sanitário, e relembrando, talvez pela


quinquagésima vez o que acontecera há cerca de dois meses.

Repassara aquela noite tantas vezes em minha mente,


mas pela primeira vez, não era por deseja-lo e tentar entender o

desejo. Mas sim, porque tivera uma consequência. Como eu não

me lembrei da camisinha? Como ele não lembrou?

Não conseguia pensar em nada coerente. Vi-me pegando o


celular e pensando em ligar para minha melhor amiga e gritar. Vi-

me encarando a casa ao meu redor, que estava perto de perder,

porque não conseguira pagar o aluguel. Vi-me engolindo em seco,


e pensando em como Inácio iria reagir. A gente ia ter um filho.

Não era um conto de fadas. Não era como eu planejei

milimetricamente em minha cabeça. Não era como eu sonhava. E

de repente, eu me vi apenas sem saber o que fazer. Mas no


segundo seguinte, descobri exatamente do que precisava.

Disquei o número de minha melhor amiga e apenas pedi que

viesse com o carro. Eu sempre sonhei com aquele momento. Eu

sempre imaginei, que poderia, construir novamente, a família que

perdi.
Mas o que eu faria? Eu lançaria meu primeiro livro naquele
final de semana, e não tinha ideia de como seriam as vendas. E

pelo que entendi, só teria o dinheiro dali dois meses. Ou seja, eu

estaria grávida, pelas minhas contas rápidas, com quatro meses,

sem teto e sem emprego. De repente, tudo ficava ainda mais

perdido.

Passaram-se cinco minutos e ouvi batidas na porta do meu

banheiro. Assim que o abri, dei de cara com Letícia, minha melhor

amiga e companheira, mas que não tinha ideia de que estava

completamente falida.

Leti estava feliz, recém-casada, construindo o seu conto de

fadas. Como eu poderia apenas dizer que estava vendendo o

almoço para comprar a janta? Não era justo com ela. E eu não
queria, ser um peso para quem amava.

Ainda mais, para ela, que sempre foi a pessoa que me

segurou. Já fizera demais quando me emprestou o dinheiro para


pagar o primeiro aluguel que atrasei, e muito mais, quando

aparecia do nada, em casa, com uma compra do mês

basicamente dizendo: trouxe algumas coisas que vi no mercado e

sei que você ama.


Era o jeito de ela me ajudar e que eu não poderia negar.

Meu orgulho era grande demais para aquilo, mas ali, me


devastou.

— Cadê o corpo? — indagou, e eu tive que sorrir em meio


ao desespero. Agradeci por ela ser desatenta, e apenas focar em

meu rosto, e não nos testes sobre a pia ao meu lado. — Vamos
enterrar onde?

— Eu preciso de uma carona. — falei, e me levantei,

praticamente arrastando-a dali. Não me dera tempo, nem de jogar


os testes fora, e de repente, ali estávamos. Eu queria contar, mas

antes de tudo, precisava resolver as coisas. Não poderia lhe dar


mais uma responsabilidade. Já bastava o tanto que ela se
responsabilizava por mim.

— Ok. — apenas falou, e a segui em direção a saída de


casa. Assim que adentrei o seu carro, suspirei profundamente e

pensei em contar sobre, mas ela foi mais rápida. — Olha, se for
para ir na dona Lisandra, eu preciso te contar algo.

— O que? — indaguei, sabendo que Lisandra era a


proprietária da casa que eu alugava. — Leti, você não...
— Eu encontrei ela no supermercado e daí... Desculpa, eu

sei que vai ficar brava, mas Mabi... — olhou-me, tocando o


volante. — Você sabe o quanto eu ganho e que esse dinheiro

não...

— Não é meu. — cortei-a. Ela não precisava dizer mais

nada. Sabia que deveria ter pago os dois meses de aluguel


atrasados. — Eu te amo, mas não pode simplesmente resolver a

minha vida.

— É isso que amigas fazem. — falou, e o olhou-me do jeito


doce que apenas ela tinha. Ela era praticamente minha irmã, que

a vida me entregara. Éramos amigas há tanto tempo, que não me


lembrava de não a ter. Ela estava lá, até mesmo, quando eu ainda
tinha meus pais. — Faria o mesmo por mim, Mabi.

— Isso não vem ao caso. — neguei com a cabeça,


suspirando fundo. — Quero ir nas terras dos meus pais, eu só...

— Tudo bem. — respondeu-me, e felizmente, não

perguntou sobre.

Ela sabia, que eu apenas adorava ir naquele lugar, e ficar

lá, por algum tempo. Felizmente, era do lado da fazenda de


Inácio, o qual era meu real destino. Mas naquele instante, ela não
precisava saber. No fim, ela me entenderia. Vi-me levando a mão
sobre a barriga, e de repente, soube que eu me sentia mãe. E eu
sabia, qual era minha decisão a partir dali.

Leti gritava com a música e eu tentava acompanhá-la. Por


alguns segundos, tentei fingir que apenas estava andando de

carro com minha melhor amiga e gritando as músicas da nossa


cantora favorita. Mas nem mesmo Taylor Swift salvava minha

sanidade ali.

Na realidade, cada trecho de música, me vinha como um


soco no estômago. Todo o romance que sonhei, a cada

quilômetro, ficando para trás. Ao menos, por um tempo, tentei


dizer a mim mesma. Poderia criar um conto de fadas depois, não

era?

“Dirigindo em um carro de fuga

Eu estava chorando em um carro de fuga

Eu estava morrendo em um carro de fuga

Disse adeus em um carro de fuga...”


Notei, assim que a música parou e Leti estacionou o carro,
que eu estava realmente indo em direção ao meu carro de fuga.

— Precisa ficar sozinha? — perguntou, desligando o som e


me encarando. Assenti, odiando o fato de mentir para ela. — Eu
vou então ao centro e devo voltar...

— Eu vou ficar bem, apenas algum tempo aqui e... —

engoli em seco, forçando um sorriso.

— Está na sua cara que não está bem. — falou e desviei o

olhar. — Não está sendo sincera, e nem brigou comigo. O que

houve, Mabi?

Ela me conhecia tão bem quanto eu mesma. Suspirei


fundo, e tentei sorrir.

— Eu prometo te contar daqui a pouco, eu só... Só preciso

resolver comigo mesma.

— Quando eu voltar, sem chance de fugir.

Assenti, e ela me puxou para si, dando-me um abraço.

Apenas queria poder desabar ali, mas me segurei. Leti não

precisava que eu me tornasse, novamente, um peso para ela.


Sabia que ela enlouqueceria, porque seria madrinha, contudo,

não queria ter de fazê-la se sentir responsável. Eu precisava,


urgentemente, tomar as rédeas da minha vida. Sem mais atrasos.

Sem deixá-la assumir a dianteira.

Desci do carro, e caminhei até as terras que um dia foram

da minha família, e quando o veículo se afastou, apenas vi-me

mudando ligeiramente de direção e caminhando até a fazenda de


Inácio. Quando cheguei ali na frente, dei de cara com Lucas, e

parecia que o universo conspirava ao meu favor.

— Eu já disse que você é o melhor capataz da região? —

vi-me perguntando, forçando o meu melhor sorriso e fingindo que


não estava a ponto de surtar.

— O que faz aqui, matraca? — perguntou, sondando-me.

— Sei que o patrão chegou de viagem, mas assim... Você aqui,


de dia, pelo portão da frente...

— Lembra que eu te ajudei com Gustavo. — falei, e ele

piscou algumas vezes, surpreso. Ele era maluco por Gustavo, a

ponto de que a história de amor deles, era uma das quais me


inspiravam a sonhar com o meu conto de fadas. Porém, de

repente, ia por água abaixo.

— Estamos comparando o homem que eu amo, com você

e o patrão? É isso?
— Lucas! — falei, e mordi o lábio inferior. — Apenas me diz

se Inácio está e se posso encontrá-lo aqui.

— Só porque me apresentou para Gustavo, naquela festa

da faculdade de vocês. — piscou um olho, e fez uma indicação


com a cabeça, para o carro que, meses atrás, eu estivera.

O carro em que ele me tirara dali, na surdina, e me deixara

próxima à minha casa. De algum jeito, funcionara. Ninguém


soubera que transei com Inácio. Porém, eram minutos contados.

No segundo em que o adentrei o veículo, vi-me presa a

cena ao redor do caminho que fizemos, até chegar a imponente

entrada. Não reparara de fato na fazenda, não da última vez que


estivera ali. Parecia maior do que nunca, e a casa que eu dormira,

era de fato, a mansão que me recordava na infância. Porém,

completamente reformada e bonita. Suspirei fundo, tomando


coragem. Vamos lá, Mabi!

— O patrão deve estar nos fundos, mas...

Apenas assenti, dando um beijo na bochecha de Lucas

que se calou, e eu pulei do carro. Vi-me dando a volta por onde


acreditei que seria o lado de trás do lugar. Me recordava bem

pouco de como era ali. Na realidade, apenas estivera daquele


lado das terras quando criança/adolescente, porque meus pais

adoravam passar um tempo com os Torres, e depois de anos, na


cama de Inácio. E agora, a gente teria um filho. O destino ria da

minha cara, e do meu descuido.

Quando me aproximei mais do que parecia ser um jardim,

ao fundo da casa, notei uma criança, que deveria ter no máximo


sete anos, sorrindo em direção a uma roseira. Ela tinha os

cabelos castanho-escuros e ondulados, típico dos Torres. Quando

me olhou, e um sorriso lindo apareceu em seu rosto, soube que


só poderia ser a filha de Olívia Torres – a irmã mais nova de

Inácio, e que em certa época, até foi uma colega durante os

intervalos do colégio.

— Tia. — falou, e eu a encarei, franzindo o cenho. — Vem!

Tá todo mundo esperando.

Pisquei algumas vezes, e sem saber porque, apenas

aceitei o toque de sua mão, e ela me levou consigo, por um


caminho que de repente, deixou-me de cara com uma mesa

gigante, e cheia de pessoas.

Todos os Torres estavam ali. Todos eles concentrados em

olhar para Inácio, e parecendo falar de algo que o desagradava.


Ele passou as mãos pelos cabelos, levantando o chapéu, e eu

fiquei paralisada por alguns segundos.

— E onde está a sua noiva? — notei Olívia perguntar,

quase na ponta da mesa, e eu ainda ali, sem ser notada. — Sabe


que a gente não vai...

— Achei a tia. — o grito da garotinha, de mãos dadas

comigo, fez todos se virarem. E de repente, cinco pares de olhos


idênticos bateram nos meus. Sorri, sem saber o que fazer.

— Então, é verdade! — Heloísa, a mãe de Inácio falou, e

eu me vi apenas sendo guiada pela garotinha, que sequer sabia o

nome, e ficando à sua frente. — Como você está bonita, querida!

— Eu... É ótimo vê-los. — falei, entrando na personagem

que de repente, vi que deveria desempenhar. Talvez, fosse o

momento de mostrar para Inácio, que eu seria uma ótima noiva

por contrato, e depois, uma esposa. O que diabos acontecia?

Recebi um leve abraço dela, e me senti horrível, porquê de

repente, estava mentindo para toda uma família. Eles pareciam

genuinamente felizes. Assim, sem conseguir mais evitar, e


sentindo a garotinha soltar minha mão, levantei meu olhar para

Inácio.
Ele parecia incrédulo, e eu, estava ainda mais.

Apenas vi-me levando uma mão a barriga, e caminhando


até ele, dizendo a mim mesma, que em algum momento, tudo

ficaria simples. Mentir para todos, seria simples. E de alguma

forma, o era.

— Oi, cowboy. — soltei, e senti o exato momento em que


sua mão parou em minha cintura. Não poderia chamá-lo pelo

apelido de sempre, não é? De repente, encontrei algo em seu

olhar: incredulidade. Levei meus lábios até os seus, e pelo breve


momento que eles se tocaram, quase me perdi na personagem.

Desci minha mão para seu peito, e sorri, fingindo que estava no

dia mais feliz da minha vida. — Desculpem o atraso. — anunciei,


sem saber o que fazer diante do silêncio de todos, que pareciam

analisar cada ação nossa.

Meu olhar pousou no pai de Inácio, que mantinha um

sorriso aberto, como se de fato, fosse o melhor dia dele. O que


estava acontecendo ali? De repente, eu era a peça perfeita em

um jogo? Talvez, realmente fosse, a escolha perfeita para ele?

— Finalmente, irmãozinho. — senti Júlio quase pular sobre

as costas do irmão mais velho, fazendo-me cambalear junto, e


torci para que não ficasse zonza ali. Todos bateram palmas e eu,
sorri como se entendesse a piada. Talvez eu fosse a piada? —
Bem-vinda, cunhadinha.

Júlio me puxou para si, e eu fui, sem saber de fato, como

tudo acontecia. Apenas... acontecia. O olhar que Inácio me deu,


dizia tudo, e de repente, consegui lê-lo completamente.

Vai me explicar tim tim por tim tim.

Eu estava lascada... noiva e... grávida... Ele conseguia ler

aquilo no meu olhar?


CAPÍTULO IV

“Eu gosto de coisas brilhantes

Mas eu me casaria com você com anéis de papel

Uhum, é isso aí”[5]

MABI

Daniela girava ao meu redor, fazendo-me sorrir a cada


passo dela. De repente, o almoço de domingo se foi, e por mais

que comera basicamente nada, porque poderia de repente parar

em algum banheiro e colocar tudo para fora, e já revelar para


todos que estava grávida, felizmente, o nosso filho parecia não

querer alarmar, ao menos, não ali. E por sorte, não tivera tantos
episódios de vômito até o momento. Torcia para que continuasse

assim.

— Deixa a sua nova tia em paz, Dani. — Inácio falou, e

olhei-o como se pronta para atacá-lo. Porém, quando ele se

aproximou, agachou à frente da sobrinha, e ela sorriu


completamente encantada para ele, eu me calei. — Pestinha. —

pegou-a no colo, e jogou-a para cima, como se não pesasse

nada. A menina gargalhou, e pela primeira vez, em anos, vi Inácio


sorrir abertamente. Como se... Como se aquele fosse ele?

Eu já poderia culpar os hormônios por estar vendo coisas?

— Sua mãe quer te levar até os cavalos, o que acha? —

perguntou, e a garotinha apenas pulou do seu colo, e correu em

direção a cozinha. Ela deveria ir em direção ao jardim, onde todos


ainda estavam. Não sabia como, mas conseguira sair de lá, de

frente de todos os sorrisos, e apenas brincar com Daniela,

escondida. Eu não conseguiria sustentar o sorriso por tanto

tempo. Eu estava... exausta. — Escadas. — Inácio fez um sinal

com a cabeça, e pensei em retrucar, mas eu precisava de um

momento com ele.


Precisava de algo além daquela atuação grotesca que
fazíamos. Das mãos dadas sobre a mesa, como se

pertencessem. Dos vislumbres de sorriso dele em minha direção.

Do meu sorriso forçado e apaixonado para ele. Suspirei fundo, e

praticamente corri escada acima. Vi-me parada no corredor, e

algo me veio em mente. Como se a memória daquela noite, ou ao

menos, do dia seguinte, saindo do quarto, me recordasse da


exata porta do cômodo.

Vi-me adentrando a porta ao fim do corredor, e de repente,

estávamos ali – no mesmo quarto. Ouvi o exato momento que


fechou a porta atrás de si e eu estava por um fio. Engoli em seco,

e tentei encontras as palavras. Bastava dizer duas, porém, não

saíam. Precisava da segurança do meu filho, e de que ele teria

algo. E de repente, apenas vi-me aceitando tudo.

— Vou assinar os papéis. — falei, virando-me, e notando

seu olhar, inspecionador. — Vou ser sua esposa, e eu... Só

preciso da garantia de que assim que as terras forem minhas, ao

fim do contrato, você as comprará para si.

Era o meu plano. Era o meu carro de fuga.

Talvez péssimo, mas era o que tinha. Aquele dinheiro me

garantiria, e ao meu filho, por muito tempo após a separação. Por


mais que ele tivesse um pai rico, eu não sabia o que esperar.

Então, como o seguro morrera de velho, eu preferia, não arriscar.


Teria um ano para poder ter um trabalho bom, e me sustentar,

além de que, uma garantia para o meu filho ter uma boa vida,
após o casamento. Uma vida ótima, quem sabe.

Era uma péssima ideia?

— Está me dizendo que vou comprar as terras, passar para


o seu nome, e daí, compra-las de você? — indagou, como se

testando as palavras, e eu apenas me vi assentido para a


bagunça. — Por que precisa de tanto dinheiro ao fim do contrato?

— Eu... — pisquei algumas vezes, sem saber o que dizer.

— Por que está aceitando essa proposta? Das últimas

vezes, pareceu querer morrer a se casar comigo.

— As coisas mudaram. — rebati, e empinei o queixo. —

Então?

— Por que, Maria Beatriz? — indagou, dando um passo à


frente, e de repente, tê-lo ao meu redor, me deixava ainda mais

perdida e a ponto, de jogar tudo para o ar. — Está claro que tem
um motivo.
No meu conto de fadas ideal, eu teria preparado uma

surpresa. No meu clichê ideal, eu estaria com pessoas que


amávamos ao redor, presenciando tudo. Mas ali, na realidade,

apenas me vi olhando para o homem que eu trocava farpas a vida


toda, e no final, mal conhecia. E ele, era o pai do meu filho.

— Estou grávida. — soltei de uma vez, e meu olhar não


desviou do seu.

Analisei cada reação, como se fosse possível desvendá-lo.

No primeiro momento, ele pareceu sentir o baque. No segundo,


seu olhar mudou, e foi como se brilhasse. No terceiro, ele tirou o

chapéu, passando as mãos nervosamente pelos cabelos, como


se não acreditasse.

— E antes que pergunte...

— Sei que é meu. — cortou-me, como se soubesse o que

diria, e me vi indagando se era tão transparente assim. —


Quando soube?

— Hoje, antes de vir aqui. — respondi, e me deixando


completamente surpresa, ele apenas deu mais um passo à frente,

e pareceu querer me tocar. Era como se ele... Se ele estivesse


encantado. — Inácio?
Vi-o levar uma mão para frente da minha barriga, e respirar
profundamente, não fazendo o movimento por completo.

— Podemos contar para minha família, eles vão...

— Amar a ideia. — complementei, e ele assentiu, como se


fosse fácil assim. — Eles amaram a ideia de eu ser a sua noiva.

Estou aqui até agora, sem entender nada.

— Apenas... obrigado. — soltou, e fiquei perplexa, vendo-o

dar um passo atrás. — Podemos assinar o contrato nessa


semana, e daí, nos casamos na que vem.

— Tão rápido assim? — perguntei, e ele assentiu, sem dar


margem para qualquer explicação. Quando pensei em apenas
questionar de outra forma, batidas na porta me fizeram calar.

— Não sei o que estão fazendo, mas essa pestinha... — a


porta se abriu, e notei Daniela e Júlio. A pequena trazia uma rosa

de cor vermelha, e correu em minha direção, entregando-me. Vi-


me agachando e tocando seus cabelos, imaginando como seria,

uma parte de mim, correndo por ali, fazendo o mesmo. De


repente, eu estava completamente extasiada com a ideia.

— Obrigada. — falei, apertando seu nariz, e ela sorriu

abertamente.
— Acho que vai ter que brigar por ela, com a sua sobrinha.
— Júlio falou, e o encarei, vendo-o zombar do irmão. — A menina
apaixonou por ela em segundos.

— Qual é? Eu vou brigar por ela. — ouvi a voz de longe, e


não reconheci. Era grossa, mas não tanto quanto a dos homens a

minha frente.

Quando um homem muito parecido com todos a minha


volta adentrou o quarto, empurrando Júlio para o lado, vi-me

incrédula de que aquele era Bruno Torres. Ele era uma criança na

última vez que o vi. Fazia anos.

— Essa mulher só ficou mais linda, porra!

— A criança. — Inácio falou e deu um tapa na cabeça do

irmão, que sorriu, e fez sinal de silêncio com as mãos para a

sobrinha. — Maria Beatriz, a matraca do fim do mundo, melhor


amiga de Leti, louca por Hugo, e agora... futura senhora Torres.

— Que reputação mer... terrível. — mudei rapidamente, e

me levantei, aceitando o abraço do homem à minha frente. — Eu

sou Mabi, apenas. E pode me chamar de cunhada.

— Gosto do termo irmã. — piscou um olho, ao dar um

passo atrás, e me senti terrível, de fato. Eu estava sendo aceita


naquela família de uma forma tão orgânica que... me assustava.

Levei minha mão a barriga, como se fosse instantâneo, e


senti o exato momento em que Daniela veio para perto dela,

tocando a mão sobre a minha. Era como se ela sentisse que tinha

algo ali. Era como se tudo se encaixasse naquele pequeno


momento que entramos. Olhei-a incrédula.

— Espera aí... — ouvi o grito de Olívia, que eu sequer

sabia que chegara, e pisquei alguma vezes, ao notá-la. Ela

encarou a filha, então o meu rosto, e então, o irmão mais velho.


— Você está grávida?

— Puta que pariu! — o mais novo xingou, levando um tapa

na cabeça da irmã.

— Caralho! — o do meio soltou, e eu fiquei paralisada, sem


saber o que dizer para Olívia.

— Filha, hora de ganhar dinheiro. — ela falou, e Daniela

afastou a mão da minha, levando-a para as orelhas, no mesmo


segundo, como se para evitar ouvir. — Está grávida, não é?

Assenti, sorrindo abertamente, e de repente, senti uma

lágrima descer.
— Puta que pariu! — ela praticamente berrou e me puxou

para si. — Nosso pai, ele... — gritou ainda mais, pulando comigo

no lugar.

— Oli, cuidado. — a voz de Inácio era doce, mas era claro


que ele estava preocupado. Ela se afastou, e troquei um breve

olhar com ele, que de repente, apenas vi ser puxado pelos irmãos

e quase levantado do chão pelos dois.

— Eles acham que a gente quebra. — Olívia falou, e sorriu

abertamente. — Parece que foi outro dia que a gente dividia

algum lanche na escola...

— Sempre se deu melhor com as meninas mais novas,


como eu. — dei de ombros, e ela assentiu. — Agora vai ser tia.

— Obrigada por isso. — falou, e puxou-me novamente para

si. Mais palavrões foram gritados e eu fiquei perplexa, sendo


engolida por outros dois irmãos Torres, que me agradeceram tão

encantados quanto ela.

— Está impossível não ouvir o barulho. — ouvi a voz

Fabrício Torres, que estava de braços dados com a esposa. Notei,


por um segundo, que o mais velho dos Torres parecia ser

amparado pela esposa, e aquilo ficara em minha mente.


— Por que os gritos e palavrões? — ele perguntou, e sorriu

ao encarar a neta, que ainda tampava os ouvidos. — Por que


minha neta vai ficar rica?

Seu olhar parou no meu, e de repente, era como se

sentisse o mesmo que tinha em minha mente quando pisava nas

terras dos meus pais. O olhar dele, me fazia sentir em casa. Eram
os hormônios? Era o momento? Era a sensibilidade? Não sabia

dizer. Apenas me vi, indo até aquele homem e sua esposa, que

me entregava um olhar tão perdido e amoroso quanto o dele, e


sentindo como se fosse o certo.

Toquei a mão direita e esquerda de cada um, e trouxe para

minha barriga. Eles me encararam por um segundo, e de repente,


as lágrimas que eu tanto lutei para segurar, desceram. Aquela

família ali. Aquele contato todo. Aquela imensidão de

sentimentos. Aquele pedaço de mim e Inácio, que crescia dentro

de mim.

E de repente, apenas senti-os vindo até mim, e por um

segundo, era como se eu tivesse a reação, que apenas meus pais

me dariam. Não me questionei sobre, apenas... aceitei.

Aceitei que tinha deixado todo o nexo fora dali, no


momento em que soube que seria uma esposa por contrato. Ou
talvez, quando me perdi nos braços de Inácio e fizemos o nosso

filho. Não sabia quando, mas de repente, eu estava no lugar mais

errado que poderia, mas ainda assim, estava onde deveria estar.
CAPÍTULO V

“Então podemos dizer que estamos quites

Você poderia me chamar de "amor" no fim de semana

É a maldita temporada, anote isso”[6]

MABI

Todos festejavam, e eu, tinha um sorriso que não


conseguia mais sustentar.

Vi-me afastando levemente da mão de Inácio, e sabendo

que precisava de um momento sozinha. Caminhei até a cozinha,

e busquei algum banheiro. Não sabia onde encontraria, então,


apenas vi-me na grande sala de estar. Notei uma porta ao fundo,

e fui até ela. Não era o banheiro, porém, vi-me fechando-a e


respirando profundamente.

— Ok, você consegue. — falei para mim, e suspirei


profundamente, levando as mãos para a barriga. — Você mal

existe e olha só... Eu tô noiva, apaixonada por uma família e...

Merda!

Levantei-me de imediato, e quando fui abrir a porta, dei de


cara com Inácio. Ele me encarou preocupado, e quando abriu a

boca para dizer algo, apenas neguei.

— Preciso encontrar Leti. — soltei de uma vez, e ele

franziu o cenho. — Ela me trouxe, disse que ia no centro e depois

passaria para me pegar, nas terras ao lado. Já deve fazer...

— Duas horas que está aqui. — falou, como se

simplesmente fosse simples assim. Ele tinha controle sobre tudo,

calmo e sereno. Eu, era a bagunça e desordem, completamente

fora de controle. — Não pode ligar para ela?

— Ela não sabe que estou grávida, e eu... Sequer trouxe o

celular. Diacho! — reclamei, e vi-o tirar algo do bolso traseiro da


calça. — Sério?
— Somos noivos. — falou, fazendo-me revirar os olhos, e
de repente, era o quê de provocação que precisava. — Se ela

quiser entrar...

— Obrigada. — vi-me dizendo, e ele assentiu, saindo em

seguida. Disquei o número de minha melhor amiga, e torci, para

que ela não me matasse caso já estivesse ali, perdida a frente

das terras. — Leti!

— Eu vou socar a sua cara na terra, e depois, arrastar os

seus cabelos e...

— Não pode.

— Mas eu vou! Mulher, como assim você some e eu fico

maluca, e vou na sua casa, encontro o seu celular lá e nada de


você!!! E de quem é esse celular? Eu vou arrancar o seu coro!

— Não pode. — vi-me repetindo.

— Se falar que eu não posso, mais uma vez, e não me

disser o que aconteceu e onde está...

— Eu tô grávida. — falei, e ela berrou um “o que” do outro

lado da linha. — Eu tô na casa do pai da criança e... Meu Deus,

Leti. É do Inácio! — sussurrei, com medo de que alguém pudesse

ouvir e achasse aquilo tão estranho, quanto eu acharia.


— Não! — ela berrou e vi-me sussurrando “sim”. Ficamos

naquela uma cinco vezes, e eu quase gritei a resposta, mas me


segurei. — Você vai mover a sua bunda magra para cá, pra sua

casa, ou eu juro, que vou aparecer aí e fazer um escândalo.

— A família dele está aqui, eu não posso sair e...

— O que não está me contando? — indagou, e engoli em

seco. — Aquela proposta sem noção que ele te fez, no meio da


noite... — ela pareceu lembrar, e eu fechei os olhos, sabendo que

ela ligava os pontos. — Não!

— Sim! — praticamente berrei, para que não voltássemos

para o mesmo ciclo. — Eu sou a futura senhora Torres.

— Você se apaixonou pelo seu inimigo? Isso é um enemies

to lovers[7] e eu me perdi? — perguntou, e era claro seu tom. — O


que tem na cabeça, Mabi?

— Eu... Eu estou fazendo o que é certo. — minha voz saiu


em um fio, e ouvi seu suspirar do outro lado da linha. — Eu vou

ficar bem.

— Eu vou te buscar aí, Mabi. Você usa teu jeito maluco e


sai, porque eu vou passar por cima de qualquer Torres, mas você

não vai fazer essa loucura.


— Já está feito. — soltei, e suspirei profundamente. — Só

me dá algumas horas, e eu apareço na sua casa.

— Mabi.

— Por favor, Leti. — meu tom foi quase um implorar, e ela


bufou do outro lado da linha.

— Odeio como você consegue me manipular.

— Você me ama. — rebati e poderia vê-la olhando-me com

raiva pura.

— Sorte a sua, porque se não...

— Eu te amo também, e eu apareço daqui algumas horas.

— Você tem três ou eu...

— Ok. — falei por fim, e soltei o ar com força.

Desliguei a chamada, e apenas encarei o celular por

alguns minutos. Vi-me então presa a tela de fundo do celular, que


era um Iphone de última geração, e sorri ao ver a foto de Daniela

ali. Inácio colocaria uma foto do nosso filho ali? Que tipo de pai
ele seria? A pergunta melhor, que tipo de homem ele era?

Fora das provocações, eu não sabia nada. Fora do que era

costumeiro, e daquela noite, eu estava perdida. Passei a mão


pelo rosto e suspirei umas cinco vezes antes de abrir a porta do
que parecia ser um escritório e sair. Ele estava a alguns passos,
encostado na escada, olhando para o nada. De repente, era como
se eu quisesse entender, em que caminho maluco, a gente

seguia, para terminar, em um almoço de domingo em família, e


em breve, com o mesmo sobrenome.

— Tudo bem? — ele perguntou, assim que me notou, e


seu olhar era duro, como sempre.

— Vai ficar. — respondi, e entreguei-lhe o aparelho. —

Algum dia. — as últimas palavras saíram em um sussurro, mas


pareceu ser o suficiente para que ele ouvisse. Então, apenas

senti-o me puxando e nossos olhares se encontraram. — O que


está fazendo? — indaguei baixo, sem saber porque o fazia, e

senti uma mão em meu queixo. De repente, os olhos castanhos


pareciam bonitos demais, e eu sabia, que era a bagunça do dia,
que estava me causando aquilo. Só poderia.

Pensei que seus lábios viriam para os meus, mas ele


apenas beijou meu rosto, trazendo seus braços ao meu redor, e

me fazendo sentir amparada e presa a si. Queria apenas negar,


mas de repente, era bom. Por que era bom estar nos braços

dele? Nunca o foi.

No caso, há dois meses, foi sim! Minha mente gritou.


— Meu irmão está perto de nós. — sussurrou, fazendo
minha mente se ligar e eu entender que todo aquele carinho, tinha
algum motivo claro. Óbvio que o tinha. Estávamos atuando.

Toquei levemente suas costas, e então nos afastamos. Sorri,


odiando aquela situação, e odiando-me por estar ali. Uma

bagunça grávida, era como me sentia.

Sua boca veio para minha testa, dando-me um leve beijo, e


fechei os olhos, buscando a atriz dentro de mim. Precisava

aprender, urgentemente, a ser boa naquilo. Algo no olhar de

Inácio me dizia, que eu não sairia bem daquilo, se não


aprendesse. Precisava atuar, muito bem. E precisava aprender a

ler suas atuações, tão bem quanto.

INÁCIO

— Eu juro que adoraria ficar mais um pouquinho, é que...

— falou, e praticamente foi engolida pelo abraço de minha mãe,

enquanto eu segurava Daniela no colo. A pequena falava o


quanto estava adorando que tinha uma tia, e meu coração, a cada

batida, parecia querer falhar.

Suspirei profundamente, e senti o cutucão em meu braço.

Virei-me, e Júlio me encarava com deboche. Não lhe dei atenção,

mas o sorriso em seu rosto era claro. Ele me atormentaria,


enquanto pudesse, sobre aquele casamento. Mal sabia ele, que

por mais que meus pais e eles teorizassem o que fosse entre eu e

Maria Beatriz, no fim, era apenas um casamento por contrato. E

se não fosse pela gravidez, duvidava que ela estaria ali.

Tentei não pensar tanto, sentindo a pequena querer pular

do meu colo, e coloquei-a no chão. Daniela correu para os braços

de Mabi, que a levantou, e meu instinto protetor já se acionou. Ela


não podia pegar peso, mesmo que Dani fosse pequena.

— Relaxa! — Olívia passou a minha frente, como se me

barrando. Minha irmã sempre parecia saber mais sobre mim, do

que qualquer outra pessoa. — Eu sei que quer protegê-los, mas


está tudo bem.

— O peso, Oli. — comentei, e ela parecia genuinamente

despreocupada.
— Vai envelhecer nove anos em nove meses, maninho. —

sorri para ela, e acabei relembrando do apelido que Mabi tinha

para comigo. O qual, ela evitou por todo aquele tempo ali. Talvez,
na cabeça dela, nenhum deles soubesse, que nós dois, vivíamos

nos atracando. A realidade era, quem, naquele fim do mundo, não

sabia?

Mabi colocou Daniela no chão, tocando levemente o rosto


de minha sobrinha, e eu sabia, que era o golpe mais baixo, que

ela poderia me dar. Mesmo não tendo noção alguma. Então, seu

olhar azul parou no meu, e me movi, sabendo que precisava levá-

la. Poderia pedir para qualquer outra pessoa, contudo,


precisávamos daquele momento a sós, para colocar os pingos

nos is.

— Vocês já sabem... — falei para meus irmãos, enquanto


chegava próximo a ela, e como se fosse algo natural, coloquei

minha mão em sua cintura.

Meus pais sorriam, como se deslumbrados, e por aqueles

momentos, sabia que valia a pena toda aquela mentira. E no fim,


a verdade que nos uniria para sempre, não poderia ser mudada –

eu teria um filho com ela.


— Vamos nos instalar, e eu preciso dormir. — Bruno soltou,

e o vi já caminhar em direção as escadas. Coloquei meu chapéu,


que estava posicionado sobre uma mesinha próxima a porta de

entrada, e lhes fiz um cumprimento.

Dava para sentir a tensão sob a palma da minha mão, na

qual as costas de Mabi se encontravam. A cada passo que


dávamos em direção ao carro, notei como seu sorriso aberto

diminuía. Respirei pesadamente, afastando-me dela, e

caminhando até a porta do motorista.

— Um cavalheiro. — ela debochou, e seu tom de

nervosismo era claro.

Notei que ela não se moveu para colocar o cinto de


segurança, então, apenas me movimentei sobre ela, e

transpassei-o. Nossos olhares se encontraram, e nossas bocas

estavam há milímetros de distância. Foi exatamente ali, naquele

carro, meses antes, que tudo entre nós explodiu.

Vi-me segurando o que me atormentava, e me afastei,

notando que ela parecia estar com os pensamentos longe dali.

Talvez, estivesse pensando em Hugo e como arruinei o seu conto

de fadas para sempre. Ignorei o pensamento, e coloquei o meu


cinto de segurança, dando partida no carro em seguida.
— Leti me buscaria, não precisava...

— Precisamos conversar, criança. — dei entonação na

última palavra, e notei a forma como ela se mexeu desconfortável

no banco ao lado do meu. Existia algo em mim, que sempre


buscava pela mínima reação daquela mulher. Era o que eu podia

ter, e talvez, o mais perto de estar próximo a ela. — Precisa se

mudar para minha casa.

— A gente nem casou ainda. — rebateu, e eu assenti,

dando-lhe um leve olhar, e voltando a prestar atenção na estrada.

— Vamos no casar na próxima semana, então... É o tempo

que tem para se mudar para lá. — expliquei, e ela soltou um leve
“a”, como se fizesse sentido. — Nada a negar ou me contrariar?

— Na verdade, tenho uma pergunta... — soltou, e era

como se eu a conhecesse tão bem, para saber que me

perguntaria algo, que eu jamais, teria uma resposta. — Por que


não sorri?
CAPÍTULO VI

“Nós éramos uma página nova na mesa

Preenchendo os espaços em branco enquanto avançamos

Como se as luzes da rua apontassem para a ponta de uma flecha

Nos levando para casa”[8]

MABI

A pergunta que eu precisava fazer, além de outras


milhares. De repente, eu só queria entender um pouco sobre

aquele homem. Tentava, talvez, não pensar muito sobre o


estofado daquele mesmo carro, meses antes. E que agora, tinha

o resultado que nos uniria para sempre. Um vínculo eterno com


Inácio Torres, a ironia era exemplar.

— Olívia ficou exatamente assim. — falou, ignorando por


completo a minha pergunta, e vi-me sabendo que insistiria. — As

mãos sobre a barriga sem nem mesmo notar.

— Ah. — soltei, e sorri, olhando para a barriga, e minhas

mãos colocadas bem ali. Sequer percebi, era fato. — Por que
parece tão sorridente e feliz com a sua família, mas longe deles...

— Acho que quem eu sou não é um tópico. — cortou-me, e


bufei. — Pare de bufar como uma criança, Maria Beatriz.

— Pare de agir como um velho ranzinza. — rebati, e notei


a forma como suas mãos pareceram mais presas ao volante.

Mãos que eu lembrava, perfeitamente, de sentir em cada pedaço

de mim e... Foco, Mabi! — Não quer falar o porquê, ok. Talvez eu

descubra nesse tempo entediada sob o mesmo teto que você. —

soltei, e por uns segundos, era bizarro pensar que estávamos


noivos.

— Precisa começar a ir ao médico, e eu vou com você. —


comentou, e pela segunda vez, no mesmo dia, via-me
concordando com ele. Sobre o nosso filho, seria sempre assim?
— Precisa me dizer tudo o que precisa, para que eu possa te

ajudar.

— Não estou tão desesperada assim, Inácio. — vi-me

dizendo, e engoli em seco. Talvez, eu estivesse, mas o que

restara do meu orgulho, me segurava ali. — Só não tenho um

emprego, e vou conseguir arrumar, em breve. — levantei as mãos

para o alto, como uma prece.

— Não vai trabalhar enquanto nosso filho não nascer. —

falou, e eu me vi, o encarando completamente incrédula. O tom

era de ordem, como se não deixasse espaço para discordar. — É

perigoso. — complementou, em um tom menos duro, mas mesmo

assim, não menos controlador.

— Não vai controlar a minha vida só porque temos um

filho. — vi-me dizendo, e levei a mão aos cabelos, prendendo-os

em um coque. De repente, estava calor ali. — Muito menos, vai


controlar minha vida depois de nos casarmos.

— A questão não é controle, criança. É a sua segurança e


a do nosso filho. — falou, como se aquilo explicasse tudo. Ele não

percebia o tom que usava comigo? Ou como sempre parecia


pronto para me deixar a beira de querer socar a cara dele? —

Não quero te controlar, a questão é que precisa ter cuidado.

— Não vamos discutir sobre isso agora. — falei, respirando

profundamente. Eu estava exausta. — Foi um dia cheio, e que eu


nem imaginei que aconteceria tanta coisa, eu só preciso da minha

melhor amiga e paz. — encostei-me contra a janela e poderia


jurar que apagaria ali mesmo.

— Você não me parece triste com o fato de que vai ser

mãe, nem mesmo, por ser a mãe de um filho meu. — sua fala me
pegou completamente despreparada. — Sei que não sou o

candidato dos seus sonhos, criança. — revirei os olhos, porque ali


estava ele, trazendo Hugo para uma conversa, que em momento
algum, o incluía.

— Eu sonho em ter uma família desde... — soltei o ar com


força. — Eu já me sinto tendo uma pequena família feliz com ele...

— sorri, tocando minha barriga, e podia sentir os olhos de Inácio


sobre mim. — ou ela. Estou desesperada, mas não fiquei triste,

em momento algum.

— Entendo. — falou simplesmente, e o encarei, notando

que olhava para a estrada a sua frente.


— E você? — perguntei, tentando tirar o que pudesse. A

muralha naquele homem de um metro e noventa, que parecia


novamente levantada, assim que saímos de sua casa. — Não me

pareceu triste, na verdade... Não sei o que sente sobre.

— Eu... — vi-o respirar fundo. — Eu estou feliz. — disse

simplesmente, e o encarei, como se em busca de mais. — Não


vamos falar sobre sentimentos, criança.

— Por que tem que ser tão difícil? — indaguei, erguendo

os braços, como se não compreendendo porquê ele era de tal


forma. De fato, não compreendia.

Notei então que estávamos próximos a casa de Leti, e me


ajeitei melhor no banco. Nem percebi como tempo da fazenda até

ali voou, e de repente, era como se eu não tivesse entendido nem


um por cento do turbilhão que ele me causava.

Quando estacionou, virei-me apenas para sair, sabendo


que no fim, não conversamos absolutamente nada. Que deixasse

para o dia de amanhã então.

— Espera. — segurou meu braço, fazendo-me parar antes

de poder abrir a porta, e parei, a controversa. O seu toque me


lembrando de como ele sabia me tocar. Diacho! — Não é difícil
comigo, criança. — comentou, e o olhei completamente incrédula.

— Você é como dar dois passos à frente, e cinquenta para


trás, assim como a sua idade.

Sua mão permanecia em meu braço, e tentei não pensar

no calor que me causava.

— Pode ter o meu corpo, quando quiser. — falou, com seu

rosto bem próximo ao meu, e o encarei como se tivesse perdido


sua mente. — Mas não pense, em momento algum, que vai ter
mais que isso.

As suas palavras pesaram, e não consegui entender o


porquê. Contudo, vi-me sorrindo no seu rosto, como se fosse uma

piada. Ele me parecia, naquele instante, uma piada tão boa


quanto eu, uma romântica, grávida e noiva do homem que não

amava.

— Eu nunca te pedi nada... quer dizer, nada além do

dinheiro. — pontuei, e seu olhar permaneceu preso ao meu. —


Não espero nada, além de uma segurança para o meu filho.

Então... Esqueça que pode ter o meu corpo. — sorri, e afastei seu
toque do meu. — Vou marcar a consulta com a doutora Lena e te
mando uma mensagem. — vi-me dizendo, e dei-lhe o meu celular.
— Tem algum papel aqui? — perguntei, e ele franziu o cenho,
mas abriu o porta-luvas, e me entregou um bloquinho, assim

como, uma caneta.

Destinei-lhe os dois, e ele me pareceu perdido, enquanto

encarava os objetos, assim como, o meu rosto.

— Não tenho o seu número. — falei por fim, e notei que


sua expressão mudou, por alguns segundos. Então, pegou o

bloco e escreveu rapidamente, destacando uma folha, e me

dando. Apenas me afastei, abrindo a porta do carro e descendo.

Não olhei para trás, e abri o portão de minha melhor amiga,

que deveria estar na rede da frente, me esperando. Dito e feito,

ela estava. E quando fechei de fato o portão, vi o Range Rover

sair, e uma parte de mim, parecia em uma espiral. O que estava


acontecendo comigo?

— Você está bem? — indagou, levantando-se e correndo

até mim. Ela levou a mão ao meu rosto, tocando-o, e logo desceu

as mãos para minha barriga. — Temos um pinguinho teu aqui, é


isso mesmo? — perguntou, e quando seu olhar parou no meu,

notei seus olhos marejados.


Apenas consegui assentir. Leti era a pessoa que

compreendia perfeitamente como eu me sentia a respeito de estar


grávida, e dos meus reais planos de ter uma família. Poderia não

ser no momento mais perfeito, contudo, eu sabia o quanto

desejava aquilo.

— Um pinguinho meu. — falei, e ela me puxou para si,

abraçando-me com força. — Já pode assumir o posto de

madrinha. — pisquei um olho, assim que nos afastamos, e notei

de imediato a preocupação em seu semblante.

— Como? — perguntou, e suspirei profundamente. —

Como você e Inácio?

— Eu não sei explicar, só... — vi-me lembrando daquela


noite, sem saber como lhe dizer. — Estava de noite, eu estava

toda molhada, no carro dele, e ele... Já reparou o quanto aquele

homem tem músculos?

— Maria Beatriz Gonçalo está admitindo que Inácio Torres


é um gostoso? — perguntou, quase soltando um grito, e eu revirei

os olhos.

— A gente se detesta desde sempre e... — soltei o ar com

força, e meus pensamentos voaram para longe dali. — Quer dizer,


desde que ele voltou do exterior e pareceu querer me infernizar.

— Uma implicância sem razão óbvia? — perguntou, e eu

assenti, e neguei ao mesmo tempo. — Por que vocês complicam

tanto? — insistiu e eu não soube o que respondeu. — Se


detestam tanto que estão esperando um bebê. — sua fala

amaciou e ela tocou minha barriga. — Como ele reagiu?

— Da maneira mais bonita possível. — respondi, e soltei o


ar com força. Enquanto meus pensamentos voavam para quando

nossas discussões começaram. Por um segundo, eu não

conseguia focar na realidade, apenas, em como a gente se


detestava, e era apenas assim, por anos.

Meu coração estava perdido pelo garoto que era

apaixonada, pela primeira vez. Na realidade, ele já era um

homem, e aquilo, parecia doer mais. Hugo beijava uma de nossas


colegas de classe, enquanto eu mal conseguia segurar a bebida

doce, e me encostava contra uma das pilastras da festa que

acontecia ao redor. Talvez, ninguém notasse ali, a mulher de

dezoito anos com o coração quebrado e querendo quebrar a cara


do cara que, dias antes, disse que ela era especial.

Especial a ponto de vê-lo com outra?


— Ele é um moleque. — uma voz surgiu a minhas costas,

e me afastei da pilastra, sem conseguir reconhecê-la de imediato.


Assim que me virei, notei os olhos castanhos profundos, a barba

por fazer e o chapéu de cowboy. Diferente da grande maioria dos

universitários que estavam por ali, todos seguindo roupas


descoladas para a época, mas não tão caipiras, quanto diziam. —

Não se lembra de mim?

Tentei buscar na memória, mas ela parecia falha. Eu

conhecia aquela voz, mas ao mesmo tempo, parecia perdida.


Quem era ele?

— Deve passar tanto tempo secando o moleque dos

Avelar, que sequer se lembra de qualquer outra pessoa. — falou,


e eu engoli em seco, notando que ele era mais ácido do que

esperava. As linhas em seu rosto me mostravam que também era

mais velho, assim como, não parecia estar ali para a festa. — Sou

eu, criança.

Minha memória despertou e vi-me encarando-o de cima

abaixo. Aquele homem gostoso, dentro de uma roupa de cowboy

que vai desgraçar a sua cama, era Inácio Torres. Não? Não
poderia ser ele.
Contudo, não existia outra pessoa, que me chamava

daquela forma. A única lembrança que tinha dele, na minha

infância, quando o encontrava, era me chamando assim. Mas ali,

o apelido parecia ter outro sentido.

— Desde quando voltou? — perguntei, e meu olhar voltou

para o centro da pista, e notei Hugo sair aos beijos com a nossa

colega. Diacho! A noite seria longa.

— Não parece interessada em saber sobre mim, mas sim...

sobre o moleque.

— Por que está implicando comigo? — indaguei,

encarando-o. — Desde quando temos essa intimidade?

— Por que você é cega por um moleque que nunca vai lhe

dar valor? — sua pergunta me acertou em cheio, e não pensei,

apenas reagi. A bebida foi para o seu rosto, e manchou toda a

camisa branca que usava. Contudo, não me arrependi.

— Agora vai ter razão para continuar a me chamar de

criança. — soltei, e respirei profundamente. Ele apenas continuou

a me encarar, e quis voar sobre sua cara. Por que de todas as


pessoas, de repente, eu estava desgostando de Inácio? — Devia
não ser um velho fuxiqueiro e se meter na vida alheia. Assim, não

levava uma bebida na cara.

— Não tem como me abalar com esses joguinhos. — falou,

e deu um passo à frente, ficando bem próximo. — Não sabe com

quem está lidando, Maria Beatriz. Não vai querer entrar em uma

queda de braço, que vai perder.

— Eu não perco, velho.

Sorri, enquanto ele sequer parecia ter qualquer reação no

rosto. Apenas deu um passo atrás, e se afastou, indo para longe.


Aquele meio minuto, em que tudo aconteceu, e felizmente,

ninguém presenciou, ou pelo menos, não acabou parando todas

as pessoas da festa, foi o suficiente para eu não saber para onde

Hugo iria. Merda! Merda de velho, diacho!

— Terra chamando Mabi! — o estalar de dedos em meu

rosto, me fez voltar a realidade, e Leti me encarou, claramente

sem entender o momento que fugi dali. De fato, nem eu entendia.

— Foi um dia confuso, eu... Eu só quero descansar, Leti.

— Por que não passa a noite aqui? — perguntou, e já foi

me puxando consigo, enquanto eu tentava não aceitar.


Assim que entrei na sua casa, dei de cara com Heitor, que
sorriu para mim, com o carinho de sempre. Seu marido era

praticamente um irmão para mim, que a vida me dera, e de

alguma forma, por mais que eu tentasse não estar entre eles, eu
estava, sempre. E ele, parecia sempre muito bem com aquilo.

— Eu preciso interferir? — perguntou sorrindo e Leti

praticamente o fuzilou com o olhar. — Eu vou dormir no quarto de

hóspedes hoje. — piscou um olho para mim, que tentei falar, mas
ele foi mais rápido. — Somos sua família, lembra?

Apenas o olhei, com todo amor e carinho que sentia, por

saber que Leti vivia seu conto de fadas juntamente com ele. Não
consegui dizer nada, enquanto Leti me levava até o seu quarto, e

as lágrimas desceram. Eu tinha aguentando. Eu tinha dado de


forte. Eu o era. Mas ali, de frente para ela, parecia impossível – eu

estava confusa com tudo.

— Deixa sair.

Ela falou, puxando-me para si, e deixei as lágrimas


descerem, enquanto minha mão estava sobre a barriga, e meus
pensamentos no pai daquela criança. De repente, eu mesma

tentava entender – por que Inácio Torres? Por que?


CAPÍTULO VII

“Você ainda me deixa nervoso quando você aparece

O frio na barriga volta quando estou perto de você

O tempo todo a única verdade

É que tudo me lembra você”[9]

INÁCIO

A pergunta que pairava sobre minha mente era: como o

destino poderia rir tanto assim de mim?

Estacionei algumas ruas a frente, sem conseguir focar na

estrada. Minha cabeça presa aquele dia. Tudo me remetendo ao


momento em que vi-a aparecendo e tirando todo o discernimento

de mim. Como sempre, era ela. Desde sempre, pairando sobre


minha mente, como se eu não conseguisse me afastar.

Anos e anos se passaram, e ali continuava eu, sempre de


frente para ela. Demorou tempo, talvez anos para aceitar e admitir

a mim mesmo o que sentia. Entender o porquê de não conseguir

apenas vê-la e ignorar. Ou o porquê eu sempre trazia o cara que


ela amava para a nossa conversa.

Eu sabia lidar com qualquer coisa, menos com a sua

indiferença. Era preferível vê-la colocar as garras para fora e

demonstrar algo, do que não ter nada. E foi então, no dia em que
me vi revelando uma foto dela e colocando em um porta-retratos

no meu escritório, que soube, que ainda era completamente


apaixonado por Maria Beatriz Gonçalo.

Sabia exatamente quando começara, e apenas reafirmara:


não tinha prazo de validade. Desde os vinte e oito e eu, me via

apaixonado por uma mulher dez anos mais nova. Não que aquele

fosse um problema, era apenas um fato. O caso era que Mabi

sonhava com um príncipe encantado, que já tinha nome e

sobrenome. E eu? Não passava de um peão escondido em uma

fazenda, e feliz por poder estar ao sol.


Fechei os olhos por alguns momentos, odiando a minha
autolamentação. A questão era: o que eu poderia esperar? Nada

diferente. Minha mente se perdeu no que resultou em um laço

eterno entre nós. Maria Beatriz esperava um filho meu, após uma

noite tão inesperada, quanto aquela gravidez.

Não entendi em que momento a minha raiva e

preocupação se tornaram nada. Contudo, ao encarar seus seios

praticamente expostos sob o tecido molhado e fino de cor branca,

e vê-los endurecerem diante do meu olhar, quase perdi a noção

do meu próprio nome. Precisei respirar fundo uma e duas vezes,


enquanto dava a volta no carro, e tentava pensar em carneirinhos

fofos cruzando a estrada, enquanto meu corpo todo ardia por ela.

Um olhar, e aquela mulher me tinha. Vê-la reagir ao meu


olhar, causava-me o inferno. Quando me sentei no banco do

motorista, completamente irado pela sensação de querer e não

poder ter, tentei focar em provocá-la de outra forma, e torcer para

que seu olhar não descesse para abaixo da minha cintura. Eu

estava duro por ela. Inferno!

Contudo, quando seu olhar azul, enorme como sempre,

encarou-me tão desejoso quanto um dia sonhei ter, esqueci-me

que não poderia arriscar ter aquele corpo. Seria demais para o
meu próprio coração. Porém, nada mais importava. Nem mesmo,

os meus sentimentos. Quando minha mão foi parar em sua nuca,


ao mesmo tempo que ela subiu em meu colo, e seus lábios se

abriram para os meus, eu soube: não tinha como fugir.

Como se ela me enfeitiçasse e me tivesse quando queria.

A qualquer momento. A qualquer horário. Ela poderia estar sobre


o meu colo, tirando toda minha razão. Mas mal sabia, que eu
sempre, estive por completo, nas mãos dela.

Um sorriso se formou em meu rosto, apenas por lembrar


que fora exatamente ali, naquele banco de carro que a tive pela

primeira vez. Poderia não ser a história de princesa que ela tanto
esperava e sonhava. Por mais que quisesse negar, sabia tudo o
que poderia sobre ela, até mesmo, aqueles detalhes.

Porém, mal sabia ela, que mesmo não sendo o príncipe,


em busca dela com um sapatinho de cristal, ela era a minha

loucura. No agora, minha futura esposa e mãe do meu filho.


Acima de tudo, a mulher que eu tanto sonhava.

Meu celular soou na escuridão do carro, e o atendi,


encostando-me contra o estofado e tentando não ficar imerso nas

lembranças. Ao mesmo tempo que tendo a certeza que tão


inesperadamente, que adentrou a minha vida, ela sairia, assim
que o contrato terminasse. Fechei os olhos e soltei o ar com força

atendendo a ligação.

— O que a matraca queria? — a pergunta de Lucas não

me surpreendeu, assim como, respondera a minha de como ela


teria entrado na fazenda sem alguém avisar. — Ela parecia muito

interessada em te ver, e preciso dizer que...

— Ela está grávida. — cortei-o, e ouvi-o soltar três


palavrões em menos de um segundo. Meu melhor amigo era tão

expressivo, que me assustava o fato de sermos tão diferentes.

— E por que não procurou o moleque bosta? — sua

indagação me acertou em cheio. Todos sabiam que aquela


mulher amava outro homem. Era uma situação tão terrível,

quanto, prendê-la em um casamento apenas por algo em troca.


Nos dóis ganharíamos, mas no fim, apenas eu estava em risco. —
Deu um emprego a ela, não é?

— Ela está esperando um filho meu, porra. — rebati, e

ouvi-o gargalhar do outro lado da linha, como se estivesse


debochando.

— Estava esperando a versão dormente de Inácio Torres


ciumento aparecer e aqui está ela! — praticamente gritou. —
Óbvio que eu vou ser padrinho, diacho! Desde que me fez
comprar roupas novas para ela as seis da manhã e mentir serem
da minha irmã...

— Não vamos falar sobre isso. — cortei-o, e ouvi sua


risadinha ao fundo.

— E como o responsável Inácio esqueceu da camisinha?


— perguntou-me e soltei o ar com força. — Vai admitir para mim,
finalmente, que ela te enlouquece? Que você a ama?

— Por que mesmo está me ligando? — rebati, e ele


gargalhou ainda mais alto.

— Parabéns, patrão. — falou, em seu tom mais sério e


sabia que estava feliz por mim. — Estou feliz, de verdade.

— Eu sei. — respondi, e sorri de lado. Sabia que


independente do que acontecesse na minha vida, Lucas estava

ali. Éramos inseparáveis desde crianças. — Você e Gustavo


serão os padrinhos, da minha parte. — já avisei, e ouvi-o chiar,

gritando pelo marido. Fazendo-me rir para o nada. — Leti e Heitor


devem ser os padrinhos por parte de Mabi. — vi-me falando, e

batendo os dedos contra o volante.


— E se ela chamar Hugo? — provocou e eu iria mandá-lo
para a puta que pariu, se não fosse a voz de Gustavo ao fundo.

— O que? Eu vou ser padrinho? Vamos ser padrinhos? De


quem? Como? Quando?

— Lucas vai te contar. — respondi, sorrindo da sua

confusão. — Preciso pegar a estrada, mas converso com vocês

depois.

— Eu vou te matar, Inácio!

— Te amamos, patrão. — Lucas falou, sorrindo, e desfez a

ligação, contra protestos do marido.

Deixei o celular de lado e fiquei preso a ideia, de


compartilhar a vida, como eles faziam. A diferença era que ele se

amavam, verdadeiramente. Como poderia eu, viver um

casamento por contrato com a mulher que eu amava, e que


amava outro?

Vi-me abrindo rapidamente o seu Instagram e encarando

suas fotos. Os olhos azuis que me encantavam, as covinhas nas

duas bochechas quando sorria, os laços de cabelo coloridos...


Tudo nela, era como o sol. Como o brilho em uma noite apenas
de escuridão. Ela iluminava qualquer coisa. Ela me fazia querer

ser poeta, ser príncipe.

Cliquei na última postagem e sabia que ela estava prestes

a lançar seu primeiro livro. Vi-me clicando no site que ela avisara

que saíra, e minutos depois, finalizei tanto a compra do e-book já

disponível, assim como, de um Kindle[10], que parecia ser o


melhor aparelho para a leitura.

Cliquei também para baixar o aplicativo e vi-me abrindo o

livro já comprado no mesmo, enquanto o aparelho demoraria


cerca de uns cinco dias para chegar em casa. Olívia deveria ter

um daqueles, mas nem por reza, lhe pediria emprestado. Ela me

atormentaria por uma vida, e com toda certeza, contaria a Maria


Beatriz.

A primeira frase, antes do livro iniciar, me pegou

despreparado.

Para os amores que não se tem escolha. E que se pudesse


escolher, nada mudaria.

O impacto fora tamanho, que joguei o celular sobre o

banco do carona e dei partida no carro segundos depois. Liguei o

rádio, para que qualquer outra coisa, a tirasse da minha mente.


Porém, como aos vinte e oito, ali estava eu, aos trinta e seis,

pensando nela. Sempre nela. E completamente perdido.


CAPÍTULO VIII

“Nós mantemos este amor numa fotografia

Nós fizemos estas memórias para nós mesmos

Onde nossos olhos nunca fecham"[11]

MABI

A primeira coisa que fiz após acordar, foi deixar minha


amiga dormindo e ligar para a médica. Precisava de um encaixe

para aquele dia, e felizmente, o consegui. Vi-me então, parada no

meio da sua cozinha, encostada contra um dos balcões de


madeira, digitando uma mensagem para Inácio. A consulta seria
apenas na parte da tarde, mas parecia o certo já avisá-lo. Talvez

ele tivesse algum compromisso e não aparecesse. A questão era


que eu nem sabia o que esperar.

— Bom dia, Yang. — a voz de Heitor surgiu da porta que


dava entrada para a cozinha.

Ele trazia um sorriso no rosto, e algumas sacolas. Aquele

era um dos poucos apelidos que eu adorava. Ele sabia o quanto

Leti e eu éramos apaixonadas por Grey’s Anatomy[12], até porque,

em algum momento, ele foi obrigado a assistir, e foi quando

nomeou nossa amizade de Grey-Yang. No fundo, eu sabia que


Leti e eu éramos realmente parecidas com as personagens da

série fictícia.

— Comprei pães, suco e algumas besteiras. — colocou as

sacolas sobre a mesa, e parou um segundo para me olhar. —

Não quer falar sobre?

— Leti te falou que estou grávida, que eu sei. — rebati,

brincando e ele deu de ombros.

— Eu ficaria sem falar com ela, se não me contasse que ia

ser padrinho — neguei com a cabeça de imediato. — Mas é sério,

Mabi! Como você está com tudo isso?


— Surtei, enfrentei, desabei... tudo isso ontem. — vi-me
dizendo, e ele me encarou com atenção. — Preciso ainda tentar

conversar com Inácio sobre algumas coisas, já que ele será meu

marido.

— Essa é a parte da história que não encaixa. — falou, e

cruzou os braços, escorando-se contra o tampo da mesa. — Tudo

bem que sempre achei que ele parecia mais louco por você, no

sentido bom da palavra, do que louco de ódio... Mas, mesmo

assim, por que se casar?

— Porque sim? — vi-me respondendo com a pergunta, e

tentando fugir da ajuda que ele me ofereceria a qualquer

momento. — E antes que comece a tentar ser o meu salvador,

assim como Leti, eu estou bem. Não vai ser o fim do mundo me
casar com Inácio, e apenas vocês, saberão que não é de

verdade.

— A cidade toda vai dizer que foi golpe. — falou e eu


acabei rindo alto.

— Já posso ver as fofocas enquanto eu passo: olhá lá, a


matraca deu o golpe do baú no herdeiro dos Torres. — zombei, e

ele revirou os olhos, bufando.


— Fico feliz que nunca se importou com essa falação sobre

o que fosse. — comentou e eu assenti.

— Falem bem ou falem mal, mas falem de mim. — pisquei

um olho, e me aproximei. Heitor me puxou para um abraço, e deu


um leve beijo em minha testa ao se afastar.

— Nunca esqueça, que em qualquer momento, somos sua

família. — falou, e eu assenti para ele. Sabia que os tinha, na


realidade, sempre os tivera. A questão era que precisava dar um

passo que não os prendesse a mim. No sentido de, ter a


segurança que ainda não encontrara. — E o livro?

— Diacho! — vi-me dizendo e me afastando. Tinha me


esquecido por completo que colocara o meu primeiro livro na

Amazon Brasil, e sequer sabia se alguém tinha comprado. O dia


anterior fora tão maluco, que nem me tocara.

— Bom dia aos gritantes, e ao homem mais sortudo do


mundo. — ouvi a voz da minha melhor amiga, e não precisei olhar
para saber que foi até o marido e se aconchegou em seus braços.

Meus olhos estavam presos na página inicial do ranking geral de


ebooks da Amazon Brasil, e tinha o meu nome, no número 1. — O

que foi, Mabi?


— Olha isso! — falei, lhe entregando o celular e notei o

arregalar dos seus olhos, e a forma como pareceu quase surtar.


— Eu...

— Eu disse que ia ser best seller! — gritou, e deixou o


celular na mesa, vindo até mim, me abraçando.

Tudo acontecia como um tsunami. Não sabia ao certo o


que estava me atingindo ou o que estava acontecendo de fato.
Porém, vi-me abraçando minha melhor amiga com uma mão, e

com a outra, tocava minha barriga, no qual meu pinguinho de


gente se escondia. Por um segundo, eu só poderia, ser grata.

INÁCIO

Estava quase discando seu número, quando duas


mensagens dela, apareceram em meu celular.

Consulta as 15h30 com a doutora Lena. Aqui é a Maria


Beatriz.
A assinatura no fim da mensagem me fez sorrir. Mal sabia
ela, que já tinha seu número há tempos. Até que ponto eu sabia
tudo o que podia e ela sequer tinha o meu número de telefone?

Eu era uma piada pronta para aquela mulher, mas não me


importava.

— Mensagem da matraca? — a pergunta de Júlio me


acertou e levantei o olhar para ele, que nem notei entrando em

meu escritório, dando-lhe meu pior olhar de mau humor. Não


estava em momento para ter que ver minha família zombar da
situação. — Ok! — fez um sinal de rendição, como se me lesse

bem. — Papai quer falar com você. — levantei-me no mesmo


instante, e a preocupação me acertou. — Ele está bem. — falou,

assim que quase passei por ele, colocando uma mão em meu
peito. — Está próximo ao lago.

— Obrigado, irmão. — saí pela porta, e a passos largos,

passei pela cozinha, na qual minha irmã e Daniela estavam,


cantando e mexendo em algo na mesa.

Dei um leve beijo na testa de minha sobrinha, e continuei


meu caminho até o lago. Encontrei meu pai sentado próximo as

árvores, com óculos escuros, o que me fez voltar a ter dez anos
novamente. Era como costumava ser. De repente, as coisas eram
simples, e não tão temerosas.

— Pai. — falei, assim que me aproximei, e ele não me


olhou, apenas bateu uma das mãos ao seu lado, e eu fui,
sentando-me.

No segundo que o fiz, ele se virou, e retirou os óculos

escuros. Os olhos castanhos como os meus, típicos de nós, que


se misturavam com os cabelos castanhos que minha mãe nos

dera.

— Ouvi sua irmã falando sobre o seu casamento. — falou,


e o encarei atentamente. — Sei que estão adiantando tudo por

minha causa.

— Pai...

— Inácio. — cortou-me, pegando minha mão e segurando,


olhando-me. — Eu te conheço, e sei que faria qualquer coisa para

realizar o sonho do seu velho pai. Mas eu também sei, que a

menina dos Gonçalo pode sonhar com um casamento de

princesa, então... Vai lhe dar isso. Eu estando aqui ou não, eu


quero que essa minha vontade seja respeitada.

— Não é sua culpa. — falei, e ele apenas riu de lado.


— Aquela menina sempre foi a menina dos seus olhos, era

nítido. Antes mesmo de Daniela encontrar uma foto dela em seu


escritório e mostrar para a família toda. — fechei os olhos ao me

recordar daquele episódio, a cerca de um ano. Minha família

encasquetou exatamente ali, que eu amava Mabi. De fato, eles


não estavam errados. Contudo, não era assim que gostaria que

eles descobrissem. No fundo, queria que apenas eu soubesse do

sentimento. — Não aceito que se casem com pressa, e muito

menos que seja por minha causa.

— Pai, ela está grávida e sabe como as pessoas daqui

são. — vi-me intervindo, de alguma forma, tentando realizar o

sonho que ele um dia já compartilhou comigo. — Não quero que


ela seja massacrada pelos fofoqueiros daqui. — aquela era uma

verdade.

— Se você a ama, dará a ela a cerimônia que merece. —


sabia que não deixava chance para que eu discordasse. — E que

se fodam os fofoqueiros. — vi-me rindo e ele piscou um olho. —

Veja como ela se sente a respeito disso, e caso queiram morar

sob o mesmo teto, por conta do amor que sentem, será uma
coisa. Os papéis assinados a frente de quem amamos, é apenas

um complemento. O real é o dia a dia, meu filho.


Vi-me assentindo e sem saber o que responder. Se ele

soubesse de toda a verdade por trás daquela relação, que sequer

existia, talvez, nunca me perdoasse. Contudo, era um risco que


eu correria.

— Vou falar com ela, e... Não tenho como dizer se ela

deseja ou não um casamento grande ou pequeno.

— Prometa que não vai abrir mão de dar o melhor a ela. —


pediu e eu assenti, apertando levemente sua mão.

— Eu prometo, meu pai. — falei, e ele sorriu. — Talvez a

gente devesse fazer como você e mamãe. Sequer casar e ser

feliz para sempre. — brinquei, e ele pareceu se perder nas


memórias.

— O dia que nos casamos, com todos vocês já nascidos,

foi o segundo melhor dia da minha vida.

— E qual foi o primeiro? — indaguei, e ele sorriu, sem


parecer precisar pensar.

— No dia em que ela entrou na minha casa e a tornou

nossa. — sorri, por imaginar como toda aquela situação estava


sendo para eles.
Era uma vida juntos. Era uma família que eles criaram. Era

um medo que ninguém poderia evitar. O médico deu-lhe no


máximo um ano, e a cada dia, o medo de que o tempo

diminuísse, era aterrorizador. E desde o dia em que soubemos

daquilo, vi-me batendo na porta de Maria Beatriz.

Sabia o quanto ele sonhava em me ver casado, e com uma


família. O quanto ele desejava que o seu mais velho, encontrasse

o amor que ele tanto ensinou por anos. Eu o tinha encontrado,

contudo, não era correspondido. Mas aquela parte, não era


importante.

Importava que ele acreditasse que era real, e por mais

horrível que pudesse parecer, eu apenas queria que ele fosse


feliz no tempo que restara. Ou que algum milagre nos

acontecesse, e seu corpo aceitasse algum dos novos

tratamentos.

Contudo, sabia o quanto meu pai estava exausto por lutar


em um hospital. Ele o fazia por nós, e não mais por si. Não

custava nada, fazer algo para com ele. E Maria Beatriz era a

escolha perfeita. De repente, a única possível, que o destino me


presenteava.
— Os homens da minha vida, no mesmo lugar, é isso

mesmo? — ouvi a pergunta de minha mãe, e me virei, ainda com

a mão de meu pai na minha. Meus irmãos vinham logo atrás e

notei a careta no rosto do mais novo.

— Eu sou o homem da sua vida, mulher. — Bruno falou,

praticamente correndo até ela, e a levantando, fazendo nossa

mãe gargalhar.

— Você não passa de uma criança. — Olívia gritou mais ao

fundo, trazendo a filha no colo, e sorrindo abertamente. — Aliás,

eu já estou imaginando uma versão mini do Ná correndo por aqui.

— falou e Daniela bateu palmas, claramente, não entendendo


nada. O apelido terrível que ela me colocou quando ainda era

criança, e que até hoje, me atormentava.

— Eu sinto que é um menino. — minha mãe falou, assim


que se aproximou com Bruno e Júlio a tiracolo, e se sentou ao

meu lado. — O que você acha, meu filho?

— Eu acho que... — olhei para eles, e por um segundo,

apenas soube que faltavam duas pessoas para eu estar de fato


completo – Mabi e o nosso filho. Imaginava uma cópia dela, com

os olhos azuis, e quem sabe, os meus cabelos castanhos.


— Ele está pensando na Mabi, mamãe. — Júlio implicou,

fazendo-me sair de meu devaneio e olhá-lo mortalmente. — Cara,


você nunca tem bom humor.

— A não ser quando está com Mabi. — Bruno farpou e eu

os ignorei.

— Então? — minha mãe insistiu, batendo um ombro no


meu, e cruzando as pernas. — Seu sexto sentido não diz nada?

Não sabia muito bem o que dizer, a realidade era que eu

não consegui me aproximar o suficiente de Mabi para tocar o


nosso filho. Não que ele fosse mexer ou algo parecido, contudo,

era como se eu necessitasse daquilo.

Naquela noite, apenas me recordava de sonhar com ela,

como quase sempre acontecia, mas tinha algo de diferente. Uma


voz masculina e infantil, que me chamava, bem próximo a ela.

Talvez aquele fosse o meu sexto sentido paterno?

— Um menino, eu acho. — vi-me dizendo e ela sorriu

abertamente, tocando meu rosto.

— Parece que foi ontem que eu me descobri grávida de

você e a gente fugiu para esse fim de mundo. — sorri, e notei

seus olhos marejados. — Vai ser o melhor pai, meu filho.


Sorri para ela, beijando seu rosto com todo meu amor, e
passando meu braço ao seu redor, enquanto meu pai ainda

segurava minha outra mão. Daniela praticamente correu a nossa

frente, deitando-se com a cabeça em minha perna, e Olívia fez o


mesmo.

Bruno e Júlio estavam logo ao lado, e ali, eu soube o

quanto sentia falta de todos nós, juntos. Eles ficariam apenas

alguns dias, devido ao fato de que cada um tinha sua própria vida,
fora dali, porém, era bom tê-los. Ainda mais, no momento mais

inesperado e de alguma forma, o momento mais bonito da minha

vida.
CAPÍTULO IX

“Lutar contra um amor verdadeiro é boxear sem luvas

Química até explodir, mesmo que não houvesse "nós"[13]

MABI

Não sabia dizer o porquê de estar nervosa. Minhas mãos

suavam e meu coração estava a mil. Levei-as sobre meu vestido


e acariciei minha barriga, pensando se estava assim, de fato,

porque saberia como meu filho estava pela primeira vez. Contudo,

com minhas mãos ali, soube que ele apenas me transmitia paz.
Uma paz que eu precisava.
— Ok, eu não posso ficar assim. — falei para o nada, e

notei a movimentação à frente da casa dos meus vizinhos. Notei


que os mais velhos, que moravam do lado esquerdo, estavam em

suas cadeiras, tomando algo, e conversando. Talvez fosse, até

mesmo sobre mim.

— Como está, matraca?

A pergunta gritada me fez girar nos calcanhares e me virar

na direção dos vizinhos da casa a frente. A voz era conhecida, e


eu nem sabia que ele tinha voltado de viagem, mas ali estava ele

– Hugo Avelar. Olhos azuis profundos, cabelos louros escuros e

uma barba bem-feita.

Vi-me forçando um sorriso ao perceber que sequer pensara

sobre ele nos últimos momentos. A realidade me atingindo, foi

assustadora. Sequer tive tempo para pensar de fato, porque a

Range Rover que agora eu conhecia muito bem, estacionou a


minha frente, e o tirou de meu campo de visão.

Vi-me sem reação em um primeiro momento, e apenas abri


a porta no seguinte. Subi na mesma, e fiquei me perguntando,

como seria, dali alguns meses, subir aquele mesmo degrau. Uma

barriga grande deveria pesar. Quanto de fato pesaria?


Minhas indagações foram embora, no segundo em que
senti um olhar sobre todo meu corpo. Meu nervosismo aumentou,

minhas mãos suaram ainda mais e eu finalmente entendi, que

não era pelo ultrassom. Eu estava nervosa, e quase tendo uma

síncope, apenas pelo fato de que encararia Inácio.

O que estava me acontecendo?

— Tente ser legal com ele, Mabi. Me promete, vai!

— Leti... Eu não posso ser legal se ele se compromete a

tirar o pior de mim, sempre. — vi-me respondendo, e revirei os


olhos pelo olhar que Heitor me lançou, como se querendo rir. —

Posso tentar não ser a pior pessoa.

— Ótimo. — ela segurou meus ombros e sorriu. — Me


promete que liga se precisar que eu vá a clínica ou...

— Eu vou ficar bem com ele. — respondi e dei de ombros.

Eu iria?

Ali, eu já não sabia. Minha coragem fora pelo ralo. De

repente, não conseguia sustentar o seu olhar. Não consegui dizer

nada, apenas senti o momento em que ele se movimentou e

passou o cinto de segurança sobre mim, e acompanhei cada

ação. Ser eu mesma com ele era fácil, o difícil era ser legal. Como
se era legal com o cara que seria o pai do meu filho, que

claramente, me detestava?

Detestava tanto, a ponto de usar cada parte do seu corpo.

Merda!

— Você está suando e claramente nervosa, criança. —


falou, e tocou minha testa com as costas das mãos. — Está

sentindo algo? Sentiu algo essa noite?

— Eu... — engoli em seco, e tentei negar que a

aproximação dele me assombrava. — Eu não sei porque estou


assim. — assumi e respirei profundamente. — Era fácil apenas te

encontrar, trocar farpas e... Agora, a gente tá indo ver o nosso


filho. Tem ideia de como as coisas mudaram?

Ele se afastou levemente, parecendo pensar sobre a


pergunta, e por um segundo, queria que ele fosse transparente.

Tal qual, naquela noite. Eu conseguia ver o seu prazer e a forma


como me adorou. Mas ali, ele parecia o mesmo de sempre, e eu,
apenas uma pirada.

— Vamos com calma. — falou, e vi-o respirar


profundamente. — Podemos dar uma trégua, não é?
Pisquei algumas vezes, enquanto tentava me acalmar. De

tudo o que ele poderia me dizer, aquela pergunta, não se passava


por minha mente.

— Vamos nos casar, ter um filho... Podemos ao menos


tentar não nos farpar a cada segundo. — sugeriu e eu assenti de

imediato, como se fosse a solução do problema.

No final, não o era. Eu permanecia nervosa. Talvez, de


fato, fosse ele. Tentei enxergar algo em seu olhar, talvez uma

leveza, mas ele parecia mostrá-la em sua voz. No fundo, eu


poderia estar confundindo tudo e trazendo uma bagunça para ele.

Porém, o que eu poderia fazer?

— Ok, eu só... — soltei o ar com força. — Só... Vamos.

Ele assentiu e saiu com o carro. O ar dentro do carro


parecia pesado, e por alguns segundos, vi-me voltando aquela

noite. Não sabia a quem eu queria enganar, mas sabia que


aquela noite se repassava em minha cabeça todas as veze que

encostava no travesseiro. Era como um lembrete de que aquele


homem marcara minha pele e cada parte dela.

Não o vira por dois meses seguidos, e foi fácil lidar com a
agonia que me atingia sempre que me recordava do seu toque e
da maneira como parecia feito para pecar comigo. Contudo, após
vê-lo e o turbilhão de emoções se acalmarem, ali estava eu, presa
aquela noite outra vez. Dizendo a mim mesma que foi apenas

uma noite de sexo casual. Ok, nos levara a uma gravidez e um


casamento, mas... ainda assim, fora deixada lá, no passado.

— Chegamos. — falou alto, e era como se fosse para me


acordar dos pensamentos.

Olhei-o de relance, e vi-o pegar o chapéu sobre o banco de

trás e colocá-lo na cabeça antes de descer. Como eu nunca tinha


de fato prestado atenção que os músculos dele eram visíveis

mesmo sob uma camisa e calças jeans gastas? Naquela noite, vi


muito mais.

Foquei em sair do carro, e me surpreendi ao ter a porta


aberta, e ele me direcionou a mão, como se para me ajudar.

Franzi o cenho, e ele deu de ombros.

— Sei que acidentes podem acontecer. — falou, e indicou

com o olhar a altura do degrau para subir no carro, até o chão.


Assenti, e aceitei sua ajuda.

Em um leve deslize com o chinelo que usava, vi-me


batendo contra seu peito, e foi impossível negar a tensão sexual
que pairava sobre nós. Ela sempre estivera ali? Ou ela surgiu, do
nada, no meio daquele temporal meses atrás?

— Desculpe. — vi-me dizendo, e notei o começo de um


sorriso em seus lábios. — O que é engraçado?

— Te conheço desde criança, e nunca, me pediu

desculpas. — falou, ao se afastar, e fechar a porta do carro. —

Vamos? — fez um sinal com o chapéu, e sua mão parou em


minha cintura. Paralisei sob seu toque, e pude sentir os olhares

de várias pessoas que caminhavam por ali. A clínica ficava no

centro da cidade, ou seja, querendo ou não, todos já saberiam de


nós.

— Seremos a fofoca do ano. — sussurrei, dando um passo

e tentando não pensar em quão quente a mão dele parecia,

mesmo sobre o tecido do meu vestido.

— Deixem falar. — comentou também baixo, e apenas

assenti, seguindo até a entrada da clínica. — Tudo bem se eu

entrar com você? — indagou de repente, antes que eu pudesse

alcançar a recepção e cumprimentar uma velha colega. Franzi o


cenho sem entender sua pergunta. — Pode te incomodar.
— Você é meu noivo. — vi-me dizendo, sentindo o olhar de

algumas pessoas sobre nós, e sabendo que realmente, Inácio


não parecia saber atuar. Ele, na realidade, era péssimo. Ao

menos, ali. Na frente da família dele, pareceu muito bem

empenhado.

Subi minhas mãos até a sua camisa, tocando na leve

abertura próxima ao alto do seu peito, e sorri. Sem entender de

fato porquê, apenas levei uma de minhas mãos até o seu chapéu

e trouxe-o para a minha cabeça, com o sorriso ainda preso no


rosto.

Pensei que ficaria enorme ou não se encaixaria, contudo,

pareceu caber perfeitamente. Ele não disse nada, apenas


pareceu preso ao meu olhar, e notei o brilho presente ali. Suas

mãos em minha cintura, e aquele, seria um show e tanto para a

pequena cidade.

— Pai do meu filho. — falei, e apertei levemente a aba do


chapéu de cor branca, que combinava perfeitamente com ele. A

realidade era que aquele ar de personagem perfeito retirado de

uma novela colombiana, lhe fazia jus. — É claro que vai entrar
comigo.
— Maria Beatriz. — a voz me chamando me fez virar, e

notei que todos os olhares do pequeno lugar estavam sobre mim.

Doutora Lena sorriu para mim, e notei a forma como

encarou Inácio. Não sei dizer como, mas eu percebi como o


olhara. Tinha um quê de “que homem gostoso esse” e “ele é o

pai?”. Sabia que eles tinham praticamente a mesma idade, no

caso, ela deveria ser um ano mais nova, talvez, 35. De repente,
senti-me um pouco perdida com a forma que ela chamou meu

nome, mas não me cumprimentou, foi diretamente para ele,

dando-lhe dois beijos demorados no rosto.

Será que ela não enxergava eu, a mulher com o chapéu

daquele homem na cabeça? Diacho! De onde tal pensamento

veio?

— Como vai, Helena? — ele perguntou e quis pegá-lo


pelos cabelos, ao ver passar as mãos sobre eles, como se para

ajeitá-los. Ele não estaria flertando com ela na minha frente? De

repente, a trégua parecia ter ido para o beleléu.

— Melhor agora. — falou e piscou para ele, fazendo-me


praticamente entrar no meio dos dois, e afastá-los. — Mabi.
— Já é o meu horário, certo? — perguntei, e cruzei os

braços. Ela assentiu, franzindo o cenho. — Acho que por mais


que me ache linda com o seu chapéu, cowboy... Fica melhor em

você. — usei meu melhor tom meloso e coloquei o chapéu

novamente em sua cabeça, agradecendo o fato de ele se mover


um pouco para que eu o alcançasse com perfeição. Vi-me

trazendo sua mão para minha, e as entrelaçando.

— Vocês? — Doutora Lena, ou a tal Helena que Inácio

chamava sequer conseguiu disfarçar. — Me desculpem, isso...


Por favor, me acompanhem.

Apertei sua mão mais forte do que o normal, e sequer

soube explicar porque o fazia. O caso era que o olhar mortal que
lhe dei, assim que seguimos a médica gritava: não pense em me

fazer de corna. E eu, imbecil, presa a noite de sexo que tivemos.

Eu estava me tornando na pior ameba que poderia. E tudo, era

por culpa única e exclusiva dele.


Minutos depois, deitada sobre uma maca, meu coração

batia freneticamente, e felizmente, todo o profissionalismo de


Lena voltara. Ela olhava para algo na tela, enquanto fazia o

ultrassom, e de repente, sorriu. Pausou a imagem, que eu não

conseguia enxergar absolutamente nada, e eu encarei


atenciosamente.

— Esse é o bebê de vocês. — falou e eu mal conseguia

respirar. — Cerca de dois meses, como vimos no exame, e está

tudo exatamente como deveria. — soltei o ar com força, e vi-me


buscando com a mão a quem, eu sequer esperava que estivesse

ali. Sem esperar um segundo, a mão de Inácio encontrou a

minha, entrelaçando-a fortemente, e fiquei presa a imagem


borrada, na qual, o nosso bebê estava.

— E esse... é o coração dele. — de repente, o som mais

bonito que já ouvira, tomou conta de tudo ao redor.

Esqueci de qualquer coisa desnecessária, e todas as


dúvidas que tinha. Por um minuto, fiquei presa a cada tum tum

tum que ouvia. Virei-me para buscar o olhar de Inácio, e notei


seus olhos marejados, como se preso e atingindo aquele

sentimento, que nosso filho trazia, da mesma forma que eu.

Surpreendendo-me, ele me deu um leve beijo na testa, e

pela forma que sua boca se mexeu sobre ela, soube que me

dizia: obrigado. Olhei-o, com a mesma gratidão, porque por mais

que ele não fosse o meu sonho de amor, ele era o homem que
me trazia o que sempre sonhei, acima de tudo – ele me permitia

ter uma família.

E sabia, que eu e meu filho, seríamos felizes. Por um


segundo, vi-me perguntando se talvez, Inácio poderia estar

envolvido naquele sentimento. Tal pensamento se dissipou,

quando o som parou, e todo aquele momento ficara guardado em


meu coração.

Nenhum conto de fadas me preparou para o amor que

sentia, por alguém que eu ainda nem conhecia. Contudo, mesmo

perdida, confusa, nervosa e impulsiva, eu sabia que estava


pronta. Estava pronta pra ser mãe e dar tudo de mim, para que

fosse a melhor.
CAPÍTULO X

“Não podemos fazer

Nenhuma promessa agora, podemos, querido?"[14]

MABI

— Minha mãe acha que é um menino. — Inácio finalmente

falou algo, após entrarmos no carro, e as portas se fecharem. Ele


sempre parecia se guardar e não dizer nada em público, no caso,

em qualquer ocasião. Conheci-o o suficiente para não entender

como, mas aquele parecia ser seu jeito.


Vi-me sorrindo levemente, sem saber o que responder.

Tivera um sonho naquela noite, após conseguir colocar toda


minha confusão para fora e finalmente, dormir. Lembrava-me de

ver uma cópia dele, com os meus olhos, correndo ao redor.

Contudo, não sabia se deveria lhe falar a respeito. No final, não


sabia como agir diante dele.

— E você? — perguntei, e antes que ele fizesse o


movimento, coloquei o cinto de segurança e notei a forma como

me analisou.

Algo gritava para que eu me mantivesse longe. Mas como?

Como o faria? Se eu estava ligada a ele, dali por diante, e mais


especificamente, pelo ano do nosso casamento. Ele apenas ficou

em silêncio e ligou o carro, ignorando-me. Um passo à frente, e ali


estávamos, três passos atrás.

O que de fato nós seríamos? Teria como ser amiga dele?


Por que eu simplesmente não apenas vivia e parava de pensar

sobre?

— Bom, já que vai ignorar essa pergunta como tantas

outras que eu faço... Quero saber sobre o casamento. Será na

semana que vem? A sua família vai estar? Eu preciso me mudar

quando?
Notei a forma como ele apertou mais o volante, e que as
suas nuances não ficavam presas a seu semblante, mas sim, em

todo ele. Por que não reparara naquilo antes?

— Qual o tipo de casamento que você sonha?

Sua pergunta me surpreendeu, e notei o exato momento

em que estacionou à frente da minha casa. Ele queria continuar a

conversa ali, mas diante do fato de que estava me sentindo


sufocada, dentro daquele carro e todas as lembranças que me

trazia, vi-me tirando o cinto de segurança, e fazendo um sinal com

a cabeça para ele, que me olhou sem entender.

— Vem me ajudar a descer, velho. — soltei, e pela primeira

vez, usar aquele apelido parecia deixar as coisas mais simples.

No fim, se a gente se detestasse, ao menos, um cadinho,

poderia ser bom. Me lembraria de quem eu era diante dele, e não,

da ameba que me tornei após o seu toque, e da forma que ele me

encarava.

Não perguntou nada, e apenas desceu do seu lado, e logo,

abriu a porta do meu. Fazendo diferente, ele levou as mãos a

minha cintura e me desceu para si, colocando-me tão próxima ao

seu corpo, que senti todo meu corpo o reconhecer. Que merda!
Como se nada tivesse acontecido, ele desviou levemente, e

fechou a porta do carro.

— Vamos entrar. — usei o que restara do meu raciocínio, e

segui para minha casa.

A bolsa presa a meu corpo, como se pudesse me salvar, e


eu me vi presa há meses antes, quando ele bateu a minha porta,

pedindo-me em casamento. Se a Maria Beatriz do futuro me


contasse o que eu sei agora, jamais acreditaria.

Dei-lhe espaço para entrar, e aquela fora a primeira vez


que Inácio Torres adentrava a minha casa. Ele levou os olhos

castanhos ao redor, e eu fiquei presa à sua imagem ali, por


alguns segundos. Como se eu finalmente, o enxergasse no meio

de tudo. Pisquei algumas vezes, e suspirando profundamente,


virei-me para fechar a porta. Encontrei Hugo a frente de sua casa,
do outro lado da rua, o qual, levantou uma mão e fez um aceno.

Vi-me fazendo o mesmo, e de repente, eu só queria não pensar


que ele era o cara que eu amava.

Ele era?

Por que de repente, ele não estava em nenhuma parte

importante da minha vida? Até que ponto eu o amava,


verdadeiramente?

Fechei a porta de minha casa, com um sorriso forçado, e


uma das mãos na barriga. O fato era que, eu não tinha tempo

para pensar se ele era o cara certo ou não. Se ele seria o meu
conto de fadas após aquele casamento falso. Encontraria o meu

conto de fadas, em algum momento. Porém, naquele instante, eu


estava buscando apenas, a sanidade para cuidar do meu filho e

mais nada. Buscava um amor que ninguém mais poderia me dar –


o de uma família.

— Então? — perguntei, e notei que Inácio estava de pé,

próximo ao meu sofá. — Se senta. — falei, e ele o fez de bom


grado, enquanto eu dava a volta no outro sofá, e me sentava a
sua frente.

— Sua casa é como você. — encarei-o atentamente, e ele


retirou o chapéu, passando uma das mãos pelos cabelos.

Cabelos os quais eu me perdi ao passá-los por entre meus dedos.


Foco, Mabi! — Quer dizer, colorida.

— Obrigada, eu acho. — vi-me respondendo, e notando


que ele parecia completamente sem jeito. Ali não era sua zona de

conforto, de fato. Porém, por que eu não me sentia bem por estar
em casa? A presença dele me confundia. — Então, sobre o
casamento...

— A pergunta que fiz antes... Qual tipo de casamento


deseja?

— Por que o que desejo importa? — perguntei, e ele

desviou o olhar, passando as mãos pelos cabelos. O movimento


era quente, e se ele não tivesse noção daquilo, poderia jurar que
estava realmente jogando comigo. — É um casamento falso.

— Não pode parecer falso para minha família, e bom, nem


para ninguém. — respondeu e eu soltei o ar com força. Mordi o

lábio inferior e sabia que já quebrara tal regra – Leti e Heitor


sabiam da realidade. — Contou a quem? — indagou, como se

fosse óbvio em meu semblante.

— Leti e Heitor, mas eles não vão falar para ninguém. —

respondi, e ele assentiu, como se compreendesse. — Eles não


acreditariam se dissesse que era um casamento de verdade.

Ele pareceu querer dizer algo, mas fechou a boca, no


segundo seguinte. O silêncio se estendeu, e não era pesado

porque era ruim, mas sim, porque aquele homem de um metro e


noventa, com cada músculo devidamente espalhado, e a pele
bronzeada, era como uma lembrança do que eu deveria evitar.
Deveria evitá-lo, a ponto de não estar ali, com o ar entre nós
podendo ser cortado por uma faca.

Por que ele parecia não sentir nada?

Como poderia aquele homem ser o mesmo daquela noite?

Por que eu estava a ponto de jogar sobre seu colo?

— Não sonho com nada especial. — vi-me falando, para


tentar quebrar a tensão que me fazia já ter o corpo todo quente.

— Todo mundo sabe que sou romântica, mas diferente de Leti,

que teve o casamento de princesa, eu... Eu sonho com algo

simples, nas terras dos meus pais. — comentei, e sorri com o


pensamento. — Como se eu pudesse senti-los no momento que

começasse a minha família. — a frase saiu tão facilmente, e notei

que toda a atmosfera mudara. — As pessoas que amo e eu, mais


nada. — vi-me falando, após limpar a garganta, e o olhar de

Inácio pareceu me inspecionar por inteira.

— Não quero destruir os seus sonhos, criança. — falou, e

pela primeira vez, o apelido não parecia ácido. Parecia apenas,


ele me chamando para si. — Pensei que queria um casamento de

princesa, e isso tomaria um bom tempo, e... Eu posso te dar o


casamento que deseja, se isso não destruir o seu sonho de o

viver ao lado do homem que ama.

Olhei-o como se não compreendesse. A armadura parecia

cair, assim como, no momento em que aquela boca fora minha.

Assim como, quando aquele corpo fora meu.

— Não estou pensando no homem que amo. — dei de

ombros. — No momento, só penso em mim e nesse pinguinho. —

confessei, e olhei para minha barriga. — Mas não precisa se

preocupar em parecer real, acho que... poderíamos nos casar no


cartório e tudo certo.

— Queria que fosse mais simples. — comentou, e passou

as mãos pelo rosto. Ele parecia querer dizer algo, mas nada saía.
— Não sabe ainda, mas vai... Então, talvez seja o momento certo

para te contar.

— Do que está falando?

— Preciso que esse casamento seja real por conta de um


velho sonho do meu pai. — respondeu, e meu coração se

apertou, sem saber porquê. — Ele está doente, Maria Beatriz. Os

médicos lhe deram um ano, já que ele não responde mais ao

tratamento.
Olhei-o impactada e engoli em seco.

— Eu já estou mentindo demais para ele, para poder

realizar o seu sonho. Não posso mentir sobre um casamento às

pressas com você. Mas isso também não significa que posso usar
dos seus sonhos mais profundos. — suas palavras eram

certeiras, e meu coração se apertou ainda mais. Ele parecia...

apenas sincero, mas mesmo assim, a dor estava ali, cravada em


cada uma. — Não quero suas perguntas sobre isso tudo, mas...

Se puder convencer a eles que não deseja nada demais, como

algo no cartório, podemos negociar isso. — e de repente, a

realidade me bateu. Ele não estava se abrindo para mim, ele


apenas estava... negociando. Porém, por mais que soasse como

uma transação, ele estava confiando em mim, e aquela certeza,

me apavorou.

Vi-me apenas esticando minha mão até sua perna e a

apertando. Seu olhar parou no meu, e o encarei sem saber o que

dizer, e sem saber o que de fato desejava. Não poderia envolvê-lo


aos meus sonhos de amor, para o que desejava em um

casamento real. E como ele, já estava mentindo o suficiente. Para

a sua família e talvez, para mim mesma.


— Posso fazer isso. — sua mão veio para a minha e

quando pensei que a apertaria, ele a afastou de si. — Não quero


nada em troca, Inácio. Sua família me lembra a minha, e estar

próxima a eles, é mais do que o bastante.

— Não quero que se magoe, quando sair da minha vida. —

falou, e suas palavras foram tão assertivas, que era o exato


momento em que ele apenas voltava a ser o de sempre. Sem

qualquer rachadura.

— Eles podem ser uma parte minha, se quiserem. Nem


você, nem ninguém, além deles, pode me dizer o que vai

acontecer sobre. São os tios do meu filho, os avós, a prima... Uma

família vai muito além de um casamento. — ele assentiu, e o vi


pegar o chapéu em mãos. — Eles vão ficar por quanto tempo na

cidade?

— Não sei... — limpou a garganta e me encarou. — Por

que?

— Porque eu tenho esse tempo para convencê-los, e bom,

acho que é hora de você conseguir um anel de noivado. — falei,

tentando que tudo soasse tão roboticamente, como ele o fizera

parecer segundos antes. — Eu não sei como eles acreditaram na


história improvisada que criei, de você me pedindo em casamento

no meio da noite, e eu apenas dizendo sim.

— Eles sabem que eu sou um home de atos simples. —

rebateu, e parecia ser um lugar no qual não poderia adentrar.


Levantei as mãos em sinal de rendição.

— Nossa trégua nunca vai funcionar. — vi-me sendo

sincera. — Você não fala, eu quero perguntar. Eu falo, você ataca.


E se eu sou atacada, eu vou atacar de volta, Inácio.

— Não é por querer. — falou e eu suspirei pesadamente,

tendo seu olhar preso ao meu. — Nunca soube lidar com você,

Maria Beatriz.

— E eu, muito menos, sei como lidar com você. — admiti, e

ele pareceu pensar sobre. — Como a gente parou nessa? —

perguntou, como se fosse para o nada, e ri sozinha. — O carma

não falha.

Notei seu olhar mudar e de repente, toda a tensão que se

dissipara voltou.

Ele se levantou, colocando o chapéu na cabeça, e deu um


passo à frente. Vi-me levantando, como se não pudesse ser

intimidada, mas fora um erro. Ele estava próximo demais.


— Eu me lembro exatamente de como a gente parou aqui.

— sua voz soou mais baixa e completamente perigosa. Engoli em


seco, e ele era realmente, um homem que poderia seduzir quem

quisesse. O que me fez lembrar da forma como falou com Helena,

e meu sorriso debochado surgir.

— Não serei corna. — falei, e vi sua expressão mudar,


assim como, notei que uma de suas mãos que estava

perigosamente próxima a minha cintura, paralisou no ar. — Só pra

deixar claro. — sorri ainda mais falsamente, e ele parecia


confuso. — Só preciso pegar algumas coisas, passar na Leti e

vamos a missão “convencer a família Torres de que quero um

casamento no cartório”.

Desviei de seu corpo, como se fosse uma ninja, mas antes

que estivesse a salvo, sua mão veio para meu braço e me puxou

levemente. Olhei-o sem entender, e notei a forma como seu

maxilar estava cerrado. Eu mexo com você, velho! Molhei


propositalmente meus lábios e seu olhar acompanhou o

movimento. Notei seu pomo de adão subir e descer, como se

segurando, e eu tive a certeza. Eu mexia com ele, mesmo que o


mesmo soubesse disfarçar muito bem. Estava nos detalhes.
— Não serei corno também. — falou, e soltou meu braço,
enquanto eu dava de ombros.

— Minhas mãos e vibrador sempre foram o suficiente. —

pisquei um olho para ele, e não sabia explicar o que me deu, mas
de repente, provocá-lo daquela forma, parecia o certo. Eu tiraria o

inferno daquele homem, e estava só começando...

Torcia para que no meio do caminho daquelas


provocações, eu não me ferrasse por inteira. Ledo engano. Ele

me puxou novamente para si, de forma firme, mas certeira, que

me fez encostar os seios diretamente em seu peito, e abaixou a

cabeça em direção a minha, quase a ponto de nossos lábios se


tocarem.

Ele tinha cheiro de hortelã, e me lembrava que seu gosto,


bem ali, também era o mesmo. Merda! Por que eu amava chá de

hortelã mesmo?

— Não vai querer fazer esse joguinho. — falou, seu olhar

preso ao meu, enquanto a minha boca praticamente estava na


sua. — Não sabe com quem está lidando, Maria Beatriz. Não vai
querer entrar em uma queda de braço, que vai perder.
Senti-me no nosso passado, em nosso primeiro embate,
mas ali, anos depois, tudo era diferente. Eu era uma outra
pessoa, e ele sabia que eu não perdia.

— Eu não perco, velho. — respondi, com sua respiração


quente na minha. — Assim como não implorei para me casar com
você, não vai conseguir me fazer nada que eu não queira. —

deixei claro, e um leve vislumbre de sorriso apareceu em seu


rosto. Por que ele não me dava aqueles lindos dentes por
completo? Diacho de homem fechado!

— Você vai querer. — sua mão desceu perigosamente,

quase no limite entre minha cintura e bunda, mas mantive altiva,


mesmo que meu corpo todo implorasse para que ele descesse. —
E vai implorar por mim.

Quando pensei que jogaria a racionalidade pela janela, um


grito, justamente por ela, fez-me sair daquele momento, e me
afastar. Alguma criança estava correndo pela rua e atormentando

os velhos sentados, e eu a agradeci internamente por me salvar.

Era uma queda de braço, a qual, eu não podia perder. E eu


não, não imploraria por ele. No caso, já o tinha feito antes. Oh

destino do carma! Reclamei internamente, indo para meu quarto,


e evitando olhar para sua calça e ter a certeza de que ele estava
tão maluco com tudo aquilo como eu. Porém, ele era centrado e
controlado. Já eu? Eu era maluca quando parava de pensar. E de
repente, até os pensamentos, Inácio Torres conseguia me tirar.

Merda!
PARTE II

“Amor? Não sei. É meio paranoico. Parece uma coisa para


enlouquecer a gente devagar.”

Caio Fernando Abreu


CAPÍTULO XI

“Oh, não consigo

Te impedir de colocar raízes na minha terra dos sonhos

Minha casa de pedra, sua hera cresce

E agora estou coberta de você"[15]

MABI

— Eu posso apenas chegar com a ideia de um casamento

agora. — sugeri, quando notei-nos entrando na estrada de terra e

meu coração se apertar. Porque sempre que passava por ali,


apenas para ir até as antigas terras da minha família, ele o fazia.

Uma saudade deles. Uma saudade do que tive.

Levei a mão a minha barriga e vi-me jurando, que teria de

volta. Eu e meu pinguinho de gente, o teríamos.

— Eu não sei de fato o que te instruir sobre isso. — falou, e


sua visão permanecia na estrada. — Mas faça o que você faria.

— Não deveria dizer isso para alguém impulsiva, velho. —


provoquei, e não sabia dizer porquê, eu estava olhando

diretamente para os lábios dele. Pareciam tão perto de sorrir, e

existia uma magia inexplicável no fato que já o vira fazer. Mas não
fora de sua família. Não em qualquer lugar. Por que, Inácio? Por

que você só não é um cara qualquer?

— Minha família mais estranhou o fato de me chamar de

cowboy do que se me chamasse de velho, como já sabiam que o

faz. — comentou, enquanto mexi no rádio tecnológico a minha

frente. Como eu conseguiria ligar aquilo? — Assim, criança. —

falou, e sua mão veio para minha, e sem que eu pudesse


protestar, ensinou-me exatamente onde deveria clicar.

Contudo, o simples quente do seu toque, se espalhou por


todo meu corpo, e por um segundo, senti a velocidade diminuir, e
o olhar dele, se prendeu ao meu. Ele sentia aquela tensão que se
dissipava por cada canto, ao mínimo toque? Desde quando ela

estava ali?

— Obrigada. — falei sorrindo de nervoso, tentando não

pensar que queria saber se ele queimava comigo, naquele

momento. Eu conseguiria apenas evitar que aquilo me atingisse?

Ele afastou sua mão e senti falta no mesmo instante,


enquanto focava em achar minha playlist no aplicativo de música

que encontrei. Sorri, ao acha-la, e Inácio poderia não saber onde

amarrara seu burro durante um ano, contudo, seria um longo ano

de Marília Mendonça e Taylor Swift.

E quando coloquei no aleatório da playlist, apenas me vi

começando a cantar e fechei os olhos.

“Achei que ia te deixar num canto

Varrer você pra debaixo do tapete

Eu, que já tava fazendo outros planos

Meu celular não tem você no papel de parede

Não foi bem assim


Eu me enganei, tava bem longe do fim

Não foi bem assim

Você me desmontou, sorriu de novo pra mim...”[16]

Vi-me abrindo os olhos e sorrindo, em meio a música. Por


um segundo, apenas me permiti não pensar muito. E como diria
Leti: só aproveita o que tá acontecendo. Eu poderia, não era? Eu

poderia apenas ser eu, e deixar acontecer. Não tinha mais como
fugir ou fingir que nada acontecera. Além de que, eu estava feliz.

A minha nova aposta de trabalho estava sendo um sucesso, e eu


só queria extravasar.

Senti o exato momento que o carro parou, mas antes que


Inácio ousasse desligá-lo ou qualquer coisa, coloquei uma mão à

frente da dele, e tive que terminar o meu show particular. Seus


olhos sobre mim, e mesmo assim, não me importei. No fim,
apenas cantei, olhando para ele. E de repente, não fora ruim.

Nada ali, naquele momento, era ruim. Éramos apenas nós, em um


carro, e eu colocando a voz não tão afinada assim para fora.

“A gente não se aguenta


Mas a gente não aguenta ficar longe um do outro

Vontade foi lá em cima

A sua boca tem um ímã e vai colar de novo

E a cama pega fogo

E é sempre o mesmo jogo

Assim que é gostoso...” [17]

— O que é tão gostoso, Maria Beatriz?

O tom de sua pergunta, fez meu sorriso morrer e de

repente, tive noção da tensão que se espalhou por todo o


ambiente fechado, com apenas nós. Aquele lugar. Fechei os

olhos, sem conseguir evitar, e jogando meu raciocínio um tanto


longe.

Lembranças me atormentando, pelo leve toque de sua mão

em meu braço que o impedia de desligar o veículo. Era demais


para suportar, e por mais que não quisesse lhe dar o gosto de
saber que me atingia, já sabia que ele percebeu. No fim, era uma

batalha 99% perdida.


— Do que está lembrando? — sua voz era baixa e rouca,
bem próxima ao meu rosto. Senti um beijo em meu pescoço, e de
repente, seus dentes contra minha orelha, puxando levemente o

lóbulo, no meu ponto fraco exato. — Está lembrando de como me


montou e eu te fiz minha, bem aqui? — sua mão veio para meu

queixo, e senti-o me forçando, como se precisasse dos meus


olhos nos seus.

Os dei para ele, e meu coração falhou uma batida,


enquanto o certo e errado já foram praticamente jogados pela
janela.

— E você? — perguntei, a minha mão descendo pelo seu


peito, e parando exatamente em seu cinto, perigosamente ali. Ele

engoliu em seco, e os olhos castanhos dilatados, mostravam-me


que era uma briga perdida para ambos. — Está lembrando de
como te tomei na minha boca?

Não demorou mais nada, para os seus lábios virem para os


meus, mas me surpreendendo, ele não me beijou, apenas quase

nos encostou e me matando por dentro, entregou-me um sorriso


que me desestabilizou por inteira. Inácio Torres sorria como um

verdadeiro cafajeste, e aquela certeza, me atingiu de formas que


não deveria.
— Vai ter que implorar. — falou, e eu semicerrei os olhos,
pronta pra mandá-lo para onde Judas perdeu as botas, e puxá-lo
pela camisa e ter aqueles lábios. Problema dele se precisava de

um implorar. Eu queria, eu teria. Sem implorar.

Batidas na porta do carro me fizeram pular no lugar, e

quase subir no seu colo, e sorri sozinha, ao encarar um de seus


irmãos ali, olhando-os como se em busca de ver algo. Deus
abençoasse o insulfilm!

— Isso não acaba aqui. — falou, e puxou meu lábio inferior

com os dentes, quase me fazendo gemer, mas me segurei mais


do que qualquer outro ser humano seria capaz.

— Está só começando. — pisquei um olho, afastando-me

dele, e descendo meu olhar para o volume em sua calça. — Acho

que precisa de um tempo, não?

— Vai pagar por isso, Maria Beatriz.

— Eu sei que vou. — toquei sua barba, e sorri

maliciosamente, abrindo a porta do carro, e descendo do mesmo,

com todo cuidado. Dei de cara com Bruno, que me estendeu uma
mão, e me ajudou de bom grado.
— Não vou nem perguntar porque Inácio ainda está dentro

do carro. — falou, e fez uma leve careta, que me causou um


sorriso. — Fugiram e se casaram diante de toda essa demora. —

comentou, como se sondasse, e eu neguei.

— Eu dei a ideia, mas daí, teríamos que correr e pegar


todos aqui, e correr pro cartório. — respondi, e ele sorriu

abertamente, como se gostasse da ideia. — Por que você não me

ajuda com isso?

— A convencer os Torres de casarmos vocês hoje? —


perguntou, e eu assenti de imediato. — Por que tão apressados?

— indagou, rindo baixinho, como se tivesse a resposta.

Andava ao seu lado, em direção a casa, e ele negava com


a cabeça.

— A gente já fez tudo ao contrário. — admiti, o que não era

uma mentira. Fiz sinal de aspas com os dedos, porque no fim, o

que era o certo ou errado, não poderia ser julgado por ninguém
que não fôssemos nós. — E eu já to vindo com um bebê, e a

mudança a tiracolo daqui uns dias. — sorri, e ele me parou,

olhando-me.
— Acho que ninguém vai te julgar por quererem se casar

rápido, na verdade, acho que vão adorar... Olívia já pode até ter

dito algo sobre querer comprar um vestido de casamento.

— Isso eu já tenho. — vi-me respondendo, e saiu tão


naturalmente, e não sei por que não me arrependi no momento

seguinte. Ele me encarou curioso. — O que minha mãe usou, e

eu guardei para esse momento.

— Juro, que por um momento, achei que era mentira dele,

quando falou que tinha uma noiva e que não duvidaríamos dele...

Mas vendo vocês, é nítido.

— O que? — perguntei, e ele sorriu.

— O amor que sentem um pelo outro. — calei-me diante da

resposta, apenas sorrindo.

— Tia! — o grito me fez virar, e me abaixei, para aceitar a

garotinha de cabelos castanhos presos no alto da cabeça, que


corria até mim. — E como tá meu priminho?

— Está maravilhosamente bem. — respondi, e Bruno me

encarou como se tivesse falhado na primeira missão. — Muita


novidade para lembrar de tudo. — pisquei um olho e ele pareceu

menos culpado.
— A noiva já tem o vestido, o noivo e...

— O que quer dizer, Bruno? — Heloísa Torres perguntou,


saindo de dentro da casa, junto ao marido e Júlio.

— Ele está dizendo que eu quero me casar com seu filho,

senhora Torres. E queria muito, que pudesse ser com todos vocês
juntos.

— Mas é claro que sim, querida. — respondeu-me, vindo

em minha direção. — Por que Bruno está fazendo um escarcéu

sobre algo que já temos certeza?

— Porque queria me casar com ele hoje. — a frase

simplesmente saiu. Ela arregalou os olhos e Olívia deu um

soquinho no ar.

— Eu disse! — falou animada.

— Por que, querida? — a pergunta do mais velho dos

Torres me acertou, e por um momento, percebi que por mais que

aquele homem soubesse do seu tempo contado, ele parecia não


transmitir nada perto daquilo. Ele apenas parecia um pai feliz, em

meio a sua família.

— Porque sinto que é agora, o momento certo. — vi-me

respondendo, e por mais que fosse para ser uma mentira, não
soou nem um pouco como uma. De duas uma: ou era uma boa

mentirosa, ou estava realmente à beira da loucura. — Porque a

gente tem adiado isso há tanto tempo, e de repente... — dei de

ombros, sentindo o carinho de Daniela em meu cabelo. — Estou


construindo a família que eu sempre sonhei, senhor Torres. —

admiti, e era a mais pura verdade. — Sei que assinar os papéis

pode não ser nada, mas... Ter todos ao redor, e fazer isso de um
jeito que me parece certo, significa muito para mim.

Outra verdade, em meio a uma mentira gigante.

— As minhas garotas. — a voz soou como um sussurro e

senti a mão de Inácio ao meu redor, e o olhei. Ele parecia


emocionado, e não sabia explicar porque, mas nunca o vira tão

exposto como naquele instante. Deu-me um leve beijo na testa, e

vi-o trocar um olhar significativo com os pais. — Eu falei para ela


sobre um casamento de princesa e tudo o que desejasse. —

falou, e os sorrisos de todos era claro.

— Tenho tudo o que desejo aqui. — comentei e fugi de seu

olhar, porque se tornara pesado demais. Era intenso demais. De


repente, era real demais.

Vi então, Heloísa Torres ir até o marido, e falar algo baixo

com ele. Meu coração disparou no peito, e senti a mão de Inácio


ainda mais forte em minha cintura. No segundo seguinte, ele

puxou a sobrinha de meu colo, como se me poupando do peso, e


quando pensei em questioná-lo, apenas senti a aproximação de

seus pais.

— Papéis não são tão importantes, não é querida? —

Heloísa indagou, e eu assenti, vendo o exato momento que o


marido sorriu para mim, e retirou uma das alianças do dedo anelar

direito dela. Olhei-os pronta para protestar e ela negou com a

cabeça e se apressou. — A nossa benção.

— Senhora Torres...

— Heloísa. — corrigiu-me, e tocou minha mão. Notei que

Olívia veio até o irmão e tirou a filha do colo dele. — Sua sogra, e

parte da sua família, a partir de agora.

— Eu não posso...

— Claro que pode, querida. — respondeu, e vi-a puxar a

mão do filho, assim como a minha. — Soube no momento que

não vi nenhum anel no seu dedo, que Inácio guardou isso para
você. Foi algo que conversamos, muitos anos atrás, e hoje, sei

que é o momento desse anel pertencer a quem meu filho ama, e

que nós todos, vamos amar.


Meus olhos marejaram, e todo aquele teatro que me
prestei, doeu. Porque era tudo real para eles. Porque não o era

para mim. Porque não o era para Inácio. Seria para o nosso filho?

Eu conseguiria ir até o fim?

Ela colocou o anel na mão do filho e sorriu para o mesmo,

o qual puxou-a e beijou sua testa.

— Não é um casamento tradicional, mas isso é o mais


perto do paraíso e da verdade, que tivemos, muitos anos antes.

— ela falou, e notei uma lágrima descer por seu rosto. — Um dia,

eu atravessei essa porta, com o homem que amava, e carregando

o nosso primeiro filho. — ela passou a mão pelo peito de Inácio e


era claro o seu amor. — Bem-vinda a família, Mabi.

— Eu...

Sequer tinha o que dizer, e de repente, estava sendo

casada, da forma mais linda e verdadeira, diferente de toda a


realidade ao nosso redor. Aquilo ali, era o mais próximo ao

romance que já acontecera e minha vida. Era uma família, abrindo


as portas para mim, e me deixando entrar, sem chance de tê-las
fechadas a minhas costas.
— Conhecemos seus pais, querida. — Fabrício Torres falou
e o encarei imediatamente. Suas mãos tocaram a minha e uma
lágrima desceu. — O amor deles era nítido e sei que eles lhe

criaram em meio ao real, a família... Hoje, você se torna parte da


nossa. E eu espero que se sinta parte, porque o é. Porque
quando se casa com um Torres, não é apenas com ele, minha

querida. É com a família toda.

— Eu aceito. — vi-me respondendo, em meio as lágrimas,


e ele me puxou para si, abraçando-me levemente.

Ele se afastou, assim como Heloísa, e busquei os olhos de

Inácio. Ele tinha os olhos marejados, e sabia que se segurava.


Uma de suas mãos veio diretamente para minha barriga, e então
notei, que fora a primeira vez que me tocara ali, com tanto carinho

e amor, que eu soube, naquele instante, que não faltaria aquilo ao


nosso filho. Por um momento, em meu âmago, questionei-me: e
eu?

— Minha mulher... Mãe do meu filho... Minha esposa... —


trouxe minha mão esquerda para seus lábios e deu um leve beijo,
fazendo-me tremer diante do toque. Ele percebia o que estava

fazendo? Por que ele tinha que ser tão bom assim? — Aceita ser
minha, e parte de mim, hoje e sempre?
Sua pergunta fora tão intensa, como se o amor estivesse
presente em cada palavra, e fiquei perplexa, presa a sensação de
ser amada, que eu não conseguia me desligar. Assenti, em meio

as lágrimas, e ele deslizou o anel em meu dedo anelar esquerdo,


no qual, coube perfeitamente, fazendo-me chorar ainda mais.

Senti seu corpo me puxar para o seu, e sua boca bem


próxima a minha. Era como se ele me pedisse permissão, mas
mal sabia ele, que não precisava. Perdida nas sensações, vi-me

levando a mão ao seu rosto, e fechei os olhos, tamanha a


intensidade. Ele não sabia, mas eu implorei internamente, por
aqueles lábios, assim como, naquela noite.

Como se eu fosse transparente para si, seus lábios vieram

para os meus. Um beijo leve, mas que parecia levar tudo de mim.
Um beijo que selava, o que jamais esperei. E mesmo com palmas
e gritos ao redor, naquele beijo, tudo silenciou, e eu pude ouvir os

nossos corações.

Um casamento, em meio a família dele, com o nosso filho


no ventre, e de repente, mesmo sem qualquer papel e em meio a

toda uma mentira... eu me tornava a esposa de Inácio Torres.

Seria mesmo uma mentira completa?


CAPÍTULO XII

“E diga, diga que conseguimos

Eu sou uma bagunça

Mas sou a bagunça que você queria

Oh, porque isso é a gravidade

Oh, mantendo você comigo"[18]

MABI

Eu estava próxima a entrada da casa, ainda uma bagunça,

com todos falando ao redor, e quando avistei o carro de Leti, meu


coração se acalmou. Outro carro vinha atrás do seu, e sorri,
porque ela tinha feito o que disse, traria mais gente para

comemorarmos. Por mais que ela não concordasse com aquilo,


ela estava ali, me apoiando. Sendo a minha família, que acabara

de crescer.

— Nenhuma delas é solteira, que merda. — Bruno falou,

assim que se aproximou, e Inácio me puxou para mais perto,

como se checando se eu estava bem. Algo nele, pareceu preso


ao meu corpo, e desde o momento que nos beijamos, ele estava

ali, junto a mim. — Nossa, que mulheres lindas nas terras Torres!

— meu cunhado falou, e eu revirei os olhos, tentando me


desvencilhar de Inácio e ir até minha melhor amiga, que acabara

de descer do carro, acompanhada por Heitor.

— O que foi? — indaguei baixo, e ele pareceu apenas


olhar ao redor, e ouvi a batida de uma porta de carro, e encarei na

direção que ele parecia preso. Ele então me soltou e o olhei

perdida. — Inácio?

— Vá falar com Leti. — piscou um olho, deixando-me

perdida, mas não me atentei a mais nada, ao ouvir o grito dela,

que trazia consigo um bolo, que deveria ter comprado na padaria.

Por que Leti estava trazendo comida?


— Passei na fazenda da Gabi, e todos estavam lá, ela e os
boys lindos de morrer. — falou, e me puxou levemente para si. —

Como assim você casou? — praticamente gritou, como o fizera no

telefone, minutos antes.

Jogou o bolo para Heitor, que quase o derrubou e ria dela,

que me deu um leve beijo nos cabelos e foi até Inácio, que estava

próximo a porta de entrada da casa. Todos os outros Torres

estavam concentrados em arrumar uma mesa gigante, para uma

festa que eu nem sabia que daríamos de casamento. Mas ali

estávamos nós, a dando.

— Eu sabia. — Gabi falou ao se aproximar, e ficou

petrificada assim como Leti diante do anel em meu dedo anelar

esquerdo. Era de fato, uma das joias mais lindas que já colocara
os olhos. Sequer sabia se era de fato joia, mas o significado

parecia maior do que qualquer coisa. — Naquela noite bêbadas

após o bar...

— Foi exatamente nela. — respondi e minha amiga de

faculdade bateu palmas, e quase pulou no lugar, acompanhada

por Antônio, que sabia ser seu noivo, que não perdera tempo em

amarrá-la também.
— Eu acho que você deveria ter um anel no dedo, Ane. —

ouvi a voz do irmão mais velho de Gabi, que trocou um olhar com
Antônio – seu melhor amigo e noivo da irmã – que caminhava

com Ane ao seu lado, e que era a melhor amiga dela. Sorri do
momento em que ela cutucou a barriga dele, em uma clara
negativa. — Um homem pode sonhar.

— Eu estou ótima podendo casar minhas amigas. — Ane


falou e piscou um olho para ele, aproximando-se. De repente, era

uma bagunça de perguntas sobre como tudo aconteceu e como


tudo acontecia, e eu as via especulando sobre tudo.

— Aí está ela! — ouvi a voz de Gustavo, e levantei o olhar.


Ele morava não muito longe dali, na realidade, no final da
propriedade. A amizade que Lucas e Inácio tinham era tamanha,

que eles dividiam a mesma terra. — Eu vou ser padrinho!

— Ei! — Heitor reclamou, parando ao lado de Inácio, que

parecia estar concentrado no que ele falara antes. — Eu vou ser


padrinho!

— Teremos dois padrinhos e duas madrinhas, diacho! —


falei, e tanto Ane quanto Gabi me encararam perdidas. — Tô

grávida.
— Puta que pariu! — Ane soltou, e arregalou os olhos. —

Eu vou beber o vinho que trouxe por você, sem problema.

Ri alto, e senti o exato momento que alguém puxou meu

vestido, e os olhos de todos se viraram para o pequeno ser ao


meu lado. Daniela Torres acabara de se tornar o centro das

atenções.

— O que foi, pequena? — perguntei, e ela claramente


queria que eu a pegasse. Antes que eu o fizesse, e não me

surpreendendo em nada, Inácio a pegou, aproximando-se do


nada, e a levantou. Ele parecia realmente querer me impedir de

carregar qualquer peso. Revirei os olhos e ele me olhou


atentamente.

— Mamãe disse que está tudo pronto. — falou, e todos se


derreteram por ela. — Quem são esses? — perguntou baixinho
para o tio, que a olhava como se fosse o seu mundo. De repente,

vi-me encontrando naquele olhar que ele lhe entregava, o mesmo


o qual me entregou, minutos antes.

— São os amigos da sua tia, pestinha. — respondeu e ela


os olhou interessada, principalmente, para Ane.
— Você quer ser minha amiga? — perguntou, e Ane se
derreteu por completo.

— Posso ser a sua melhor amiga. — respondeu, e foi até


ela, estendendo-lhe as mãos. A pequena foi de bom grado,
enquanto Leti e Gabi reviraram os olhos.

— Essa mulher ainda me ilude que não teremos filhos logo.


— Fábio reclamou e eu sorri. Ela lhe deu um olhar mortal, e logo
voltou a falar sobre algo aleatório com Daniela.

— Então, temos muito o que comemorar hoje! — Leti


praticamente chamou atenção de todos, enquanto Inácio me

guiava pela cintura, assim como todos, até o lado de trás da sua
casa. E que agora, era minha também. Meu Deus! Onde foi que

amarrei o meu burro?

Pense no bebê! Minha mente gritava.

— Boa tarde, família Torres. — ela anunciou, e todos os


olhos castanhos voltaram para nós, completamente animados. —

Temos um casamento, uma gravidez, e...

— Leti... — tentei impedi-la, mas ela foi mais rápida.

— Sabiam que tem uma escritora famosa na família? —


perguntou, e todos a encararam de imediato, mas logo, todos os
olhares se voltaram para mim. — Ela não é de falar, mas... Mabi
emplacou o primeiro romance dela em TOP1 da Amazon Brasil.
Olhem só! — falou, e pegou seu celular. Todo mundo

praticamente correu ao redor dela, e olharam para a pequena


tela.

Eu suspirei profundamente, e sem saber ao certo o que


fazia, vi-me levando o rosto ao peito de Inácio, como se fosse
possível me esconder. Por que não era mais fácil cavar um

buraco e sumir? Não tinha vergonha do que fizera, a questão era

que acabava de começar a publicar meus romances em uma


plataforma paga. Era tudo muito novo.

— Ei. — a voz de Inácio soou sobre mim, e meu olhar

subiu para o seu. Ele tocou levemente meu rosto, e poderia jurar

que tudo, novamente, silenciou. — Parabéns pelo sucesso. — ele


estava claramente sendo sincero, e eu quis lhe contar sobre como

foi o processo do livro, o que era o Kindle e o que tinha escrito.

Por que eu queria fazer aquilo? — Pode me mostrar mais tarde?

Mais tarde?

Minha mente viajou e eu só me vi pensando em como seria

tudo mais tarde. Meu corpo esquentou e era como se no olhar

dele, notasse o quanto eu o era transparente.


— Não me olha assim. — pediu em um tom baixo e

controlado, mas que era o oposto completo do que acontecia


dentro de mim. Acontecia o mesmo com ele? — Eu vou te levar

para dentro e te fazer implorar. — sussurrou em minha orelha, e

de repente, sabia que eu não lhe daria aquele gosto. Eu queria


vê-lo implorar

— Nem nos seus melhores sonhos, velho. — rebati, e senti

o exato momento em que nos virou e sua mão apertou

rapidamente, mas não deixou e ser intenso, a minha bunda. Filho


da... de uma mãe incrível! — Inácio! — reclamei, e ele me deu o

melhor olhar arrogante. — Vou te fazer implorar. — sussurrei e ele

negou com a cabeça.

— Nos seus sonhos, criança.

Alguém limpou a garganta e finalmente, pareci me lembrar

de que estávamos cercados por várias pessoas. Pisquei algumas

vezes, e quando me virei, senti os olhos de todos sobre nós. Eles


pareciam... encantados?

— Acho que precisamos de música! — Júlio falou,

comendo algum salgadinho que Olívia e Heloísa tinham


conseguido comprar de última hora na cidade, e me encarou

animado. — Sei que minha nova cunhada canta.


— Eu sou o médio do médio. — rebati, e ele pareceu não

se convencer.

— Ela cantou no meu casamento. — Leti ainda deu força e

eu quis voar em sua cara. — O que? É a verdade! E ninguém


reclamou.

— Claro que não! Estavam todos ocupados comendo e

dançando.

— Então, vou achar o velho violão do Inácio escondido em

alguma parte da casa, e antes que ele pense em me proibir,

lembre-se que é o dia especial da sua mulher. — ele falou,

praticamente sentenciando o irmão, que bufou, ao passar as duas


mãos ao meu redor.

Violão? Inácio?

— Enquanto isso... — Bruno falou, e vi-o colocar uma

enorme caixa de som, junto a Gustavo, que parecia ser quem


comandaria a playlist. — Bora dançar, minha gente!

Cristiano Araújo soou ao redor, e eu fiquei ali, perplexa, ao

apenas ser girada por Inácio, e ele me colocar a sua frente.

— Vamos mesmo fazer isso? — perguntei e ele assentiu.

— Eu não sou boa dançando.


— Eu te desafio a dançar comigo, criança. — falou, no tom

certo para me aceitar a entrar naquele jogo. Olhei-o como


sempre, como se aquele fosse o nosso jeito, e o era.

— Talvez eu possa pisar no seu pé de propósito. — rebati,

e ele pareceu nem ligar, enquanto eu levei minhas mãos ao seu

pescoço.

— Abram espaço para eles... — Bruno anunciou, fazendo-

me sorrir e notar que todos os casais ao nosso redor, estavam

juntos, e Daniela no meio de Ane e Fábio. — A primeira dança do


novo casal Torres.

— Senhora Torres? — Inácio indagou, afastando-se, e me

levando ao meio de todos, e me fazendo segui-lo naquele desafio.


Quando novamente envolvi seu pescoço, e ele fez o mesmo com

minha cintura, eu apenas me vi indo com ele, e com a música.

“Será que alguém explica a nossa relação?”

Vi-me perguntando internamente a mesma coisa, que a

música fazia. Nos braços daquele homem, tudo parecia tão certo,
que por mais errado que fosse, eu não me sentia. Eu me sentia

no lugar, hora e com a pessoa certa. O que estava acontecendo?

INÁCIO

“Um caso indefinido, mas rola paixão

Adoro esse perigo, mexe demais comigo

Mas não te tenho em minhas mãos

Se você quiser

Podemos ser um caso indefinido ou nada mais

Apenas bons amigos, namorar, casar, ter filhos

Passar a vida inteira juntos...”

Ela me olhava tão profundamente, que era como se tudo


fosse real. Como se nós dois, tendo a nossa primeira dança como

um casal, fosse apenas o certo. Suspirei fundo, e não pude evitar


subir uma mão para o seu rosto, e quase trazê-la para os meus

lábios. Aquela mulher não tinha a vaga ideia do que poderia fazer
de mim. Mal sabia ela, que aquela música me expunha por inteiro.

“E vai saber se um dia seremos nós

Nenhum beijo, para calar nossa voz

Um minuto, uma hora, não importa o tempo

Se estamos sós

Se você quiser

A gente casa ou namora

A gente fica ou enrola...”

Ela se encostou contra meu peito, e eu fechei os olhos,


tamanha intensidade que me atingiu. Ela era tão espontânea e

parecia apenas fazer o que queria. Por alguns segundos, apenas

me apeguei ao fato de que ela poderia ter me enxergado.

Por mais que eu lhe entregasse a parte de mim, fechada e


reclusa, porque aquele também era eu, me resguardava pelo

medo de que os meus sentimentos fossem tão intensos que a


fizessem correr. Porque ela poderia estar ali, em meus braços,
como naquela noite. Porém, era apenas uma parte de si, porque a

outra, pertencia a outro homem. Tentei não pensar naquilo, e

apenas deixei a música sair pelos lábios, sussurrando-a para ela.

Poderia apenas me entregar? Poderia deixar acontecer?

“O que eu mais quero é que você me queira...

Por um momento ou pra vida inteira...”

Seu olhar azul parou no meu, como se me inspecionando e

me surpreendendo, ela sorriu. Não sabia se estava atuando ou o


que diabos estava fazendo, porém, sabia que eu, mais do que

nunca, estava rendido por ela. Como anos atrás, ela ainda me

tinha, por completo. E aquele sentimento, apenas se reafirmava a


cada segundo. Quanto mais perto do paraíso, que era tê-la em

meus braços, sabia que seria o inferno, quando ela saísse.

Ela poderia, em algum momento, apenas não escolher ir,


certo?

Ela poderia apenas ficar ali e ser ela.


Poderia cantar algo no meu carro e me fazer querer sorrir a
cada segundo. Poderia me encantar pela forma como me olhava
surpresa a todo momento. Poderia me enfurecer o tanto quanto

me excitar apenas por me provocar sempre que podia. Poderia


me entregar além daquele corpo que era feito para o meu toque.
Poderia ser tanto. Poderia ser tudo. Mas lá no fundo, eu sabia,

que a qualquer momento, a bolha seria estourada, e apenas


sobraria o de fato éramos. Contudo, não poderia parar de me
dizer que sim, ela poderia ficar e escolher ser minha.
CAPÍTULO XIII

“E, querida, foi bom

Nunca olhar para baixo

E bem ali onde estávamos

Era solo sagrado”[19]

MABI

— Eu não sei como não vi antes. — Leti falou, ao se sentar

ao meu lado, com uma bebida em seu copo.

Já era tarde da noite, Daniela já tinha sido colocada para

dormir na rede, enrolada em cobertas, e ali estávamos todos nós,


em volta de uma fogueira, e com muita comida e bebida. Inácio

parecia ter se dado muito bem com Fábio e Antônio, os quais


pareciam emendados em uma conversa eterna com Heitor.

— Você não consegue tirar os olhos dele. — Gabi falou,


puxando o cobertor ao seu redor, e eu fiz o mesmo com o meu. —

Por que nunca soube nada além de Inácio ser o cara que te

deixava maluca?

— Ele... — parei de falar, e meu olhar fugiu do dele, que


parecia me buscar por ali. — Eu não sei nem explicar.

Leti me deu um olhar, como quem sabia de tudo, mas


ainda assim, queria dizer mais.

— Ele te adora, Mabi. — minha melhor amiga soltou e a


encarei confusa. — É nítido, em todos os detalhes. Acho que

presenciei discussões suficientes de vocês para saber que tinha

uma tensão sexual ali, gritante, mas... Isso que tem acontecido

aqui, é muito além.

— Leti. — reclamei, ela apenas negou com a cabeça, como

quem diz “vamos falar disso depois”. — E como assim estão

todas amarradas?
— Fábio acha que me amarrou. — Ane debochou, e deu
de ombros. — Ok, eu sou louca por ele, mas nunca o deixarei

saber de fato.

— Eles são péssimos. — Gabi reclamou, revirando os

olhos, e recebendo um cutucão da mesma. — Eu acho que cada

uma aqui teve seu clichê maluco. Eu com o melhor amigo do meu

irmão, Ane com o irmão da melhor amiga, Leti com o melhor

amigo de infância, e você...

— Um enemies to lovers de respeito. — Ane

complementou, e eu me vi assentindo, tentando concordar. Se

elas soubessem... — O cara é um gostoso, Mabi.

— Ele é. — respondi no automático e por um segundo,

lembrei-me daquele homem sem qualquer roupa. Aquela imagem

que se repassara por minha mente, dias e mais dias após aquela

noite. O homem era um pecado.

— Você está quase pulando sobre ele. — Leti me cutucou

com o ombro, e eu neguei com a cabeça. Olhei-a em desespero e

ela pareceu entender – precisava falar com ela. — Por que não
me ajuda a achar um cobertor? — indagou, e eu achei a pior

desculpa esfarrapada.
— Disse que não tava com frio. — Ane zombou e Leti

revirou os olhos.

— Do nada. — deu de ombros, e se levantou, fazendo um

sinal com a cabeça. — Mulher, eu não vou entrar na sua casa


sem você!

— Minha casa? — perguntei, e ela me encarou perplexa.

— Diacho! É a minha casa, real. — soltei, mesmo não sabendo se


de fato o era. O era?

Leti caminhou ao meu lado, e no segundo em que passei


próxima a rodinha que Inácio estava, meu coração disparou. Seu

olhar parou no meu, como se fosse o que buscasse, e eu sorri. O


que diabos estava acontecendo?

Adentramos a casa, e praticamente puxei Leti até o


escritório no fundo, que era o único lugar que de fato conhecia, a

não ser, o quarto dele. Ela entrou e eu soltei o ar com força.

— Ele é louco por você. — Leti falou, no segundo em que

me joguei sobre o sofá. — Eu nunca reparei de fato, mas amiga...


Ele é.

— Ele está atuando, Leti. — rebati, e ela negou de

imediato com a cabeça.


— Queria poder concordar ou mentir que vejo assim, mas...

Ninguém atua tão bem, Mabi. O jeito que ele te olha, e melhor, o
jeito que você olha para ele. — falou e eu engoli em seco.

— Não parei de pensar nele depois da nossa noite juntos,


mas isso... Ele é um deus na cama, isso é fato. Porém, isso não é

amor, é?

— Quantas vezes pensou em Hugo hoje? — sua pergunta


me pegou desprevenida e eu pisquei algumas vezes, perdida. O

total de zero, até aquele momento, era nítido na minha cara. — Já


parou para se perguntar, por que ele sempre conseguiu te atingir?

Por que Inácio sempre conseguiu tirar o pior de você?

— Eu não sei. — admiti, e levei as mãos ao rosto. — É um

casamento falso, e foi o casamento mais lindo que eu já vi na


vida, sem ofensa ao seu. — deixei claro e ela sorriu. — Ele é
apenas o pai do meu filho, que eu vou me divorciar e ainda, levar

dinheiro no meio do caminho... Isso tudo é uma bagunça muito


grande.

— Eu sei, eu sei. — falou e se ajoelhou a minha frente,


puxando minhas mãos. — Não pense sobre nada disso agora.

Não pense se é verdade ou mentira. Deixa acontecer, Mabi.


Regra número 1 do romance que você mesma escreveu, lembra?
— O amor não precisa ser questionado. — falei, e ela
assentiu. — Não busco amor nele, Leti. Não entrei nessa por isso.
Não quero um conto de fadas com Inácio Torres.

— Eu sei e ele sabe. — comentou e sorriu em minha


direção. — É tudo muito rápido, novo e maluco... Por que não

deixar acontecer? Aquele homem pode ser o tanto fechado que


for, mas está nítido o cuidado que ele tem com você. Ele não vai

te machucar.

— E se eu o machucar? — vi-me perguntando e ela sorriu


abertamente.

— Então não o faça. — respondeu e levou uma mão a


minha barriga. — Não são apenas vocês, e sei que tudo isso, tá

sendo mais louco do que você previu. Mas e se, no fim, você só
precise ter um momento a sós com ele? Longe de tudo e de

todos. Só vocês dois?

— Não tivemos isso ainda.

— Ouvi Bruno dizer que a família toda já alugou os lugares


da pousada na cidade. Eles não vão ficar na fazenda. — falou e

eu arregalei os olhos. — Conversem, Mabi. É sobre isso. Precisa


dizer como se sente.
— A questão é que nem eu sei. — levei as mãos aos
cabelos. — Não adianta surtar, não é?

— Sinto muito, mas por experiência, digo com propriedade


que não. — comentou e eu assenti sorrindo. — Precisamos agora
achar alguma coberta. — ri, e me levantei com ela, puxando-a

para um abraço.

— Obrigada por me apoiar na maior loucura que já cometi.

— Sabe que sempre pode só fugir e ficar comigo. — falou,

e eu assenti, sabendo que sim. Mas ali estava eu, trilhando meu

caminho, diretamente para Inácio.

Olhei para uma manta jogada sobre o sofá do escritório e


lhe entreguei, torcendo para que ninguém desconfiasse da nossa

conversa maluca entre sussurros e quase gritos ali.

Quando saímos do cômodo, demos de cara com Bruno,


que tinha sumido por um longo tempo, mas descia a escada com

um violão em mãos.

— Achei o tesouro do meu irmão. — falou animado, e o

seguimos.

No segundo em que me sentei novamente no lugar, Bruno

veio a tiracolo e me entregou o instrumento. Não era incrível


tocando, mas nunca de fato, tive vergonha de tocar. Ninguém

além de nós naquele canto, parecia ter notado que eu estava ali,
segurando o velho violão que deveria pertencer a Inácio, e

concentrada em buscar alguma música em mente.

— Taylor? — Gabi indagou, e eu tive que assentir. A paixão


pela cantora fora algo que nos uniu durante a faculdade, e de

fato, nunca mais nos separou.

Era a melhor escolha, já que mesmo sabendo que Inácio

deveria conhecer inglês, porque ele fizera um intercâmbio quando


mais novo, poderia não querer prestar atenção na letra. De

repente, a conclusão de que eu sabia detalhes da vida dele, me

assustara.

Quando dedilhei a primeira nota, cabeças se viraram em

minha direção, e notei o sorriso no rosto de meu sogro, que

estava a alguns passos dali, sentado em uma poltrona, assim

como minha sogra, que os filhos colocaram do lado de fora.


Porém, eu senti o olhar que buscava, queimar sobre cada dedo

meu, e pela primeira vez, soube que cantaria para alguém, que

nunca imaginei, que o faria.

Eu estava cantando para Inácio Torres.


“Coloque seus lábios perto dos meus

Desde que eles não se toquem

Fora de foco, fora de olhares

Até que a gravidade seja excessiva

E eu vou fazer qualquer que você dizer

Se você dizer isso com suas mãos

Eu seria inteligente para andar para longe

Mas você é areia movediça...”

Seus olhos pararam nos meus e eu soube, que de alguma


forma, aquela música se encaixava perfeitamente. E estando ali,

cantando uma das minhas canções favoritas, da minha cantora

favorita, soube que estava errada. Eu poderia estar confundindo


tudo, mas como a música ainda diria, eu estava gostando daquilo.

“Esse declive é traiçoeiro

Esse caminho é imprudente


Esse declive é traiçoeiro

E eu eu eu gosto...”

— Vocês sabem a letra. — incitei minhas amigas, ainda

tocando o violão e Olívia deu um grito, parecendo tão animada

quanto. Pelo jeito, minha cunhada também adorava as músicas


da loirinha.

Contudo, assim que chegou o momento, perdida junto a

elas, meus olhos se tornaram novamente dele. E de alguma


forma, eu soube, que estava o seguindo para casa. Estava

seguindo para casa com ele.

“Dois faróis brilham por uma noite sem dormir

E eu irei te pegar, te pegar de jeito

Seu nome ecoou em minha cabeça

Eu só acho que você deveria, que você deveria saber

Que nada que é seguro vale a pena dirigir, e eu iria

Eu seguiria você, seguiria você até em casa

Eu seguirei você, seguirei você até em casa...”[20]


Elas gritaram a última parte, junto a mim, e eu sorri,

terminando a última nota. Todos bateram palmas, e por um

segundo, apenas queria levar o violão até ele, e vê-lo tocar.


Existia tanto nele para eu descobrir, que me deixava de fato,

presa. Como se ele fosse a areia movediça, me prendendo a si. E

por mais traiçoeiro que pudesse parecer e o fosse. Realmente, eu


estava gostando daquilo.
CAPÍTULO XIV

“Nós éramos loucos em pensar

Loucos em pensar que isso poderia funcionar (...)"[21]

MABI

Silêncio.

Uma casa repleta de silêncio assim que a porta foi fechada.

Segurei o ar com força, e pensei em fazer alguma piadinha

sobre a família de Inácio se autoexpulsar dali para nos deixar a

sós, mas nada saiu. Assim que ele passou ao meu lado, pensei

que pararia a minha frente, me provocaria, e quem sabe, colocaria


fim aquela agonia. Contudo, ele apenas passou do meu lado e
não disse absolutamente nada.

Vi-o caminhar até a cozinha, e forcei meus pés a fazerem o


mesmo. Assim que cheguei na mesma, estava com as mãos

suando e meu coração quase na boca. Eu tinha tanto para dizer.

Eu tinha tanto para perguntar. Eu tinha tanto para tentar entender.

Contudo, apenas o olhei. Encostei-me contra um dos


balcões e paralisei, diante da cena e cada movimento dele, para

simplesmente pegar uma garrafa de água. A forma como tirou o

chapéu e colocou sobre a ilha, parecendo cansado, e após beber

a garrafa de água quase inteira, deixou-a sobre a ilha, e segurou

contra o que parecia ser mármore.

— O que...

— Sei que tudo...

Falamos ao mesmo tempo, e então, seu olhar parou no

meu. Ele logo desviou, como se fugisse, e fiquei completamente

perdida. O que estava havendo? Onde foi parar a conexão que

criamos? Ela parecia ter desaparecido, como se fosse nada.

— Prefiro que fale. — anunciei, engolindo em seco, e de

repente, vi-me sem saber o que esperar.


— Sei que tudo foi rápido e minha família pode ser demais

as vezes. Intensa demais, quero dizer. — soltou o ar com força. —


Eu tenho os papéis do contrato guardados no escritório, de

quando falei com o advogado e pensei em como seria feito de


forma sigilosa. Claro que preciso que leia, e que seu nome seja
incluso, e enfim, trâmites e mais trâmites.

— Do que... — parei minha pergunta, quando a verdade


me atingiu. Ele estava ali, após tudo o que aconteceu, negociando

comigo. Eu era uma estúpida, no fim. — Não nos casamos no


papel, e então, estamos falando do contrato das terras, não é?

— Isso. — falou, e eu assenti, sem saber o que dizer. —


Posso amanhã mesmo...

— Me dê sua palavra. — pedi, e ele finalmente me


entregou seus olhos. Era como se ele se segurasse. Era como se
eu o visse, por completo e exposto, mas ainda assim, ele corria.

— Sua palavra me basta.

— As coisas não funcionam assim no mundo real, criança.

— falou, e não sabia dizer porquê, mas aquele tom duro, pela
primeira vez, me machucou.
Me doeu vê-lo me tratar com tamanha indiferença, sendo

que tudo de mim, estava uma bagunça, justamente, pelo que


éramos e pelo que tínhamos nos tornado.

No final, fora uma atuação. E minha ficha, finalmente,


começava a cair.

— Não vou assinar qualquer papel, me dê sua palavra e


estamos resolvidos. Um ano e você compra as terras que serão
minhas. — ele apenas assentiu, e eu não consegui evitar, me

aproximei. Minha mão, como se fosse certa, tocou seu braço. Ele
então, apenas se afastou, como se eu o queimasse. — O que

diabos está acontecendo?

— Está confundido as coisas. — sua resposta me acertou

em cheio. — Sei que as coisas podem estar te dando ideias


erradas sobre o que somos ou o que seremos.

— Não ia poder me dar o seu corpo e só isso? — perguntei


e sem poder evitar, praticamente o encurralei contra a ilha. Meus

olhos não disfarçavam toda a decepção. — Você é um ótimo ator,


Inácio. Preciso dizer. Me enganou tão bem sobre... — ri de mim
mesma, levando a mão ao rosto, sem entender porque me

magoara tão profundamente. De repente, era como um tapa na


cara. — Sobre tudo.
— Não melhor que você. — e doeu ainda mais, porque ele
me julgava. Eu tinha tanto a falar. Eu tinha tanto a indagar. Porém,
apenas respirei fundo e levei um dedo até seu peito. Meu corpo

todo aprovando a aproximação, enquanto minha mente me


julgava, e meu coração diminuía. Diacho de bagunça!

— Somos então isso? Um casal perfeito e apaixonado aos


olhos de todos, mas quando estamos sozinhos... Somos

estranhos e nada? — perguntei, sem saber de onde saíra


tamanha raiva em minhas palavras. Ele não me encarou, e afastei
meu dedo de seu peito, como sempre, tendo nada como resposta.

Assim que me virei para sair, senti sua mão em meu braço
e ele me puxou.

— É a mãe do meu filho. — falou, e uma de suas mãos


veio diretamente para minha barriga, e não o impedi.

A música que cantei mais cedo, me atingiu em cheio, e


soube que era verdade. Eu faria tudo o que ele dissesse, se ele

dissesse com suas mãos. Taylor Swift e Inácio Torres


combinavam, e eu, queria correr dali, o mais rápido possível. Mas
não conseguia – permaneci.
— Vamos ter contato pela vida toda, e quero que isso seja,
ao menos, agradável para você.

Ri sem vontade, e aproveitei o momento para me afastar.

— Feliz primeiro dia de casamento. — fiz uma mesura


ridícula e apenas saí dali, sem ter ideia de onde de fato dormiria.

Sem pensar muito, apenas subi as escadas e adentrei o

seu quarto, trancando a porta. No fim, a luta seria dele. Não sabia
onde dormiria, e se eu pudesse infernizá-lo um cadinho, que

fosse, para que ele buscasse outra cama.

Soquei o travesseiro com seu cheiro, assim que me

encostei no mesmo. Tudo ali tendo o cheiro dele, me recordava


de cada momento que passei naquela cama.

— Diacho! — reclamei, quase a ponto de arrancar os

cabelos. — É pinguinho... — soltei o ar com força. — O que seu


pai tá fazendo comigo? Ele é maluco?

INÁCIO
Deite-me na rede e fiquei ali, por alguns segundos,
completamente perdido diante dos sentimentos. O final perfeito

daquele dia seria poder dormir com aquela mulher que eu tanto

amava, em meus braços. Porém, não poderia lhe exigir mais do


que queria me dar. E eu sabia, depois de ouvir suas palavras, tão

certeiras quanto eu deveria ser sobre o que ocorria entre nós, que

seria um longo ano ao seu lado.

“Não busco amor nele, Leti. Não entrei nessa por isso. Não
quero um conto de fadas com Inácio Torres.”

Uma simples frase dita, do outro lado da porta do escritório

que eu adentrava, sem ter a mínima ideia de que ela estaria ali
com sua melhor amiga. Felizmente, era silencioso e abri e fechei

a porta sem que nenhuma delas percebesse. As palavras me

deixaram zonzo, ainda mais, do que todo o sentimento que ela

me despertou durante aquele dia.

Maior do que ela um dia poderia sonhar que lhe entregaria.

Vi-me pegando o violão encostado em uma das pilastras e

o trouxe para mim. Era o meu melhor modo de expressão. Não

era bom falando ou demonstrando sentimentos, de alguma forma,


nascera daquela maneira. Sempre fora melhor, apenas pegar

meu violão e deixar sair. Fechei os olhos, pensando na mulher

que se trancara em meu quarto, que me olhara quase que


implorando para que eu passasse aquela noite com ela.

Eu queria, loucamente.

Porém, aquilo me machucaria e a confundiria,

profundamente. O melhor, era apenas deixar as coisas como


eram: apenas nós dois fingindo. Dedilhei as cordas e apenas me

deixei levar. Desejava, de alguma forma, que as coisas não

seguissem aquele caminho. Ela era minha, mais do que um


papel, muito mais do que um dia pensei que seria. Mas mesmo

assim, não éramos nada.

— Se a moça do café não demorasse tanto... — cantei

para o silêncio a minha frente e apenas deixei sair.

“Pra me dar o troco

Se eu não tivesse discutido na calçada

Com aquele cara louco

E ó que eu nem sou de rolo


Se eu não tivesse atravessado

Aquela hora no sinal vermelho

Se eu não parasse bem na hora do almoço

Pra cortar o cabelo

E ó que eu nem sou vaidoso

Eu não teria te encontrado

Eu não teria me apaixonado

Mas aconteceu

Foi mais forte que eu...”[22]

Parei de tocar e ri de mim mesmo, lembrando-me do olhar

que ela me entregou quando pedi para ser minha. Da forma como

cantou e pareceu que cada palavra era nossa. Da maneira como


que por mais que fosse apenas uma atuação, ela parecia tão

entregue. Era a ilusão mais bonita. O mais perto do amor com ela,

que eu chegaria. Guardaria cada memória bem ali, em meu


coração e mente, como se fosse possível, emoldurá-la comigo,

dentro de mim.
Sabia que poderia ficar horas e mais horas ali, apenas

perdido em meu violão e imaginando os lindos olhos azuis nos

meus.

Por que não sorri? Era a pergunta que ela me fizera, e eu


não tinha uma resposta exata. A questão era que não me

controlava para não o fazer, apenas, não acontecia em muitas

vezes. Mas se ela soubesse... Que apenas por pensar sobre ela,
um sorriso estava em meu rosto.

Feito um bobo. Feito um adolescente. Feito para ela.

— Deveria ser um crime você cantar bem. — sua voz me

paralisou e parei com os dedos quase tocando o violão. — Não


consigo dormir e fingir que não estou puta com você. — falou,

completamente sincera, e meu olhar se perdeu no robe que ela

usava, imaginando o que deveria ter debaixo dele. No caso, eu


sabia exatamente o que tinha. — Para de me olhar como se me

visse nua. — acusou e caminhou até a poltrona que ainda estava

ali, uma das quais, meus irmãos trouxeram para fora, para que

nossos pais pudessem se acomodar melhor.

— Por que está puta? — indaguei, mesmo que já soubesse

parte da resposta, e queria que fosse tão simples quanto ela,

apenas dizer: estou puto também. Puto porque você não me ama.
Puto porque não posso exigir nada. Puto porque não tenho o

direito de estar puto.

— Não vale a minha resposta. — falou, revirando os olhos,

e vi exatamente o momento que depositou a mão sobre a barriga,

como se nem percebesse que o fazia. — Não tem que acordar

cedo?

— Tenho. — respondi, deixando o violão novamente no

lugar que estava. — Mas estou sem sono.

— Culpa por ser sem coração? — perguntou, e uma


risadinha surgiu de sua boca, mas ela não parecia feliz. — Não

consigo fingir que não estou puta, já disse.

— E eu não posso tentar adivinhar. — rebati, e ela deu de

ombros.

— Cada um, luta com as armas que tem. — falou, e se

levantou, caminhando até mim. Quando parou a minha frente,

notei seu robe descer um pouco, e como seus seios estavam

tesos debaixo do fino tecido. — Você me deixa maluca porque


não consigo te entender e acho que nunca vou conseguir. E eu

vou te enlouquecer a ponto de que vai implorar para me ter.


— Não vamos entrar nesse jogo, Maria Beatriz. — falei, e
me segurei para não passar as mãos por sua bunda e a trazer

para mim. Meu corpo todo já a reconhecendo. Aquela mulher

poderia não saber de todo seu poder, mas ela sabia de parte.

— Achei que já tínhamos entrado. — falou, e abriu

levemente o robe, deixando-me preso a sua imagem, em apenas

uma camisola branca, praticamente transparente. Desgrama! —

Prometeu muito durante todo o dia, para chegar de noite, e me


tratar como nada. — respondeu simplesmente, e antes que eu

pudesse raciocinar, fechou o robe, e meu olhar parou no seu. —

Quando estiver se masturbando, pensando em mim... Lembra que


eu vou estar em um quarto, muito próxima a você... E lembra que,

se não for sincero e me explicar porque está me tratando feito um

nada, não vou ceder.

— Do que está falando, Maria Beatriz?

— Eu não vou negar que adoro a gente se bicando.


Sempre foi divertido e eu mesmo puta, nunca durava muito

tempo. Claro, até o próximo embate. Mas não vamos fingir ou


mentir, as coisas mudaram desde o momento que transamos no

seu carro no meio do nada. — falou, e gesticulou com as mãos.


Toda sua sinceridade massacrando os meus medos. — Mas eu
fiquei pensando, um bom tempo, e tá na sua cara que me
esconde algo. — Que eu te amo... foi o que pensei e quase
quebrei por saber que ela não poderia entender. — Pode escolher

ficar longe, ou ao menos, tentarmos ser felizes enquanto


estivermos juntos.

— Não posso te dar o que quer de mim. — respondi, sem

sequer precisar pensar.

— Mas você disse que eu poderia ter o seu corpo...

— Esqueça o que eu disse. — falei, e me levantei,


puxando-a levemente para mim, quase me intoxicando com ela

ao meu redor. — Simplesmente não posso.

— Por que? — perguntou, como se já soubesse a


resposta, e apenas, esperasse pela confirmação. — Por que,

Inácio?

Apenas neguei com a cabeça e a soltei, me afastando.

— Se é assim que quer, assim será. — falou, e antes que


eu pudesse passar pela porta de entrada, ela esbarrou em mim, e

entrou como um furacão, como se fosse capaz, de derrubar tudo


pelo caminho. No meio dos destroços, mal sabia ela, que estava o
meu coração.
Não poderia apenas perder a cabeça e deixar acontecer
como naquela noite. Tínhamos muito mais. Nós tínhamos um filho
juntos. E temia, que de alguma forma, o meu amor por ela,

pudesse estragar tudo. Mais do que eu já fazia.


CAPÍTULO XV

“Você me deixa tão feliz que vira tristeza, é

Não há nada que eu odeie mais do que o que não posso ter

Você é tão deslumbrante, isso me deixa tão maluca"[23]

MABI

Foi uma noite quase insone. Meu corpo todo queimando


pelo dele. Minha cabeça toda perdida em quem éramos. Minha

alma completamente confusa com a situação. Inácio Torres, de

repente, estava em todos os meus limites, e eu não conseguia


compreender. Nem sabia dizer, como o faria.
Desci as escadas, com um vestido de alças finas e de cor

branca. Prendi meu cabelo no alto, e tentei pensar que estava


sexy o bastante para infernizá-lo, da forma como, ele o fazia

comigo. Tudo bem que só atormentaria de forma física, enquanto

eu, era uma bagunça total. Diacho!

Assim que cheguei à cozinha, notei uma mulher se

dividindo entre panelas. Sabia que Inácio tinha uma cozinheira em


casa, mas de fato, ele não me explicara nada profundamente.

— Bom dia. — falei, e ela se virou, e os olhos castanho-

claros eram calorosos. — Eu sou Mabi, a esposa de Inácio. — o

mais estranho daquilo, era não ser estranho, me apresentar de tal


forma. O que diabos acontecia?

Aproximei-me dela, e pensei em lhe dar a mão, porém, ela

estava dividida entre mexer em algumas panelas, então, apenas

acenei com a cabeça.

— Bom dia, senhora Torres. — franzi o cenho, porquê de

fato, a gente deveria ter quase a mesma idade. Não estava nem
um pouco acostumada com aquilo. — O senhor Torres me pediu

para avisá-la que não vem para o almoço, e que deve chegar

tarde.
— Ele disse? — a pergunta soou livremente e tão
debochada, que vi-me esquecendo até mesmo de corrigi-la. —

Por favor, me chama de Mabi. — pedi por fim e soltei o ar com

força.

— Ele me pediu para avisar que toda semana, venho um

dia, e deixo as marmitas para a semana prontas. E caso queira

adicionar algo ao cardápio ou mudar... — falou e me vi dentro de

um pesadelo. Ele tinha mesmo nos afastado daquela maneira?

De repente, o dia do casamento, parecia não ter passado de uma

grande atuação. No fim, era uma palhaça.

— Não precisa se preocupar, eu como de tudo. — respondi

e levei minha mão a barriga. — Eu vou confirmar com a médica

sobre alguns alimentos, e te aviso, qualquer coisa. Obrigada...

— Desculpe, senhora. Eu sou Valéria Campos. — falou,

tampando uma das panelas, e limpou as mãos no avental,

destinando-o uma. — Trabalho aqui há alguns meses.

— É um prazer, Valéria. — falei e apertei sua mão — E não

se esqueça, apenas Mabi. — comentei, e ela assentiu não muito


contente. — Não é da cidade, certo?
— Me mudei recentemente, para uma vaga de emprego

em uma fazenda não muito próxima, mas quando cheguei, a vaga


tinha sido preenchida. — revelou e eu franzi o cenho. — Pois é,

não muito justo?

— Nem um pouco. — falei, e poderia desconfiar de que

família faria tal coisa. — Fico feliz que tenha conseguido uma
vaga aqui.

— Eu ainda mais. — respondeu e me vi gostando

gratuitamente dela. — O cardápio fica na geladeira, sem... quer


dizer, Mabi. — corrigiu e eu sorri, incentivando-a. — Pode mexer

no que quiser.

— Acho que só vou comer uma fruta e caçar o meu marido.

— falei, e ela assentiu, como se entendesse.

— Felicidades pelo casamento. — comentou, e diferente

do que poderia esperar, de alguém zombaria do fato de o marido


ter saído para trabalhar no dia seguinte do casamento, ela parecia
verdadeira. Sem julgamento. — E soube por Lucas, sobre o bebê.

— Obrigada, mesmo. — falei, e sorri para ela.

Peguei uma maçã sobre a fruteira e levei até a pia,

lavando-a. Logo trouxe-a a boca, e fiz um esquema mental de


como dividiria meu dia. Comeria a maçã enquanto caçava Inácio e

na parte da tarde, sentaria para analisar tudo sobre o meu


lançamento. Eu era mesmo uma best seller? Ri da minha

pergunta, dando um leve aceno e saindo da cozinha.

Os meus chinelos não eram muito apropriados, mas, eu

gostava da sensação do mato em meus pés. Caminhei por um


tempo, passei pelos estábulos, cumprimentei alguns peões, e

poderia jurar, que aquela propriedade era tão grande, que eu


poderia me perder. Merda! E nenhum sinal de Inácio.

Se o plano era infernizá-lo, como o faria se não o

encontrasse?

— É bebê, a gente já andou demais. — falei para o meu

filho, e passei a mão sobre a barriga, caminhando de volta para a


casa, e tentando me atentar aos detalhes. Deveria dar um
trabalho e tanto administrar aquele lugar. Por um momento, vi-me

pensando como seria, para os meus pais, se tivessem a chance


de administrar de fato, o nosso pedaço de terra – que não era

mais nosso – e ficava do outro lado da cerca. Sem pensar muito,


fui até lá, e fiquei alguns segundos, apenas olhando para o

buraco na cerca. Como uma propriedade daquele tamanho e


segurança, deixava aquilo ali?
Inácio viu aquele dia, e sequer consertou. Algo em tudo
aquilo que vivíamos não batia. Nada de fato batia. Nem mesmo
eu andava batendo bem da cabeça. Senti meu celular vibrar e

agradecida era, pelos vestidos com bolsos nas laterais. O tirei


dali, e sorri ao olhar a mensagem de minha melhor amiga, com:

Me diz que cavalgou no peão e tirou uma declaração de amor?


Leti poderia seguir a carreira de fanfiqueira e comediante.

Vi-me então clicando para enviar o áudio e rindo.

— Eu até que tentei, mas... Um passo para frente e talvez


cinquenta para trás. A idade dele, quem sabe. — zombei ao fim, e

não consegui passar despercebida a minha raiva sobre.

Meu corpo todo lembrando de como foi, na noite em que

parei exatamente do outro lado da cerca. Depois de me perder


por completo por ele. Eu já poderia culpar os hormônios? Ou era

o meu corpo gritando pelo dele porque o gosto que tive naquela
noite me atormentava ainda? Diacho!

Os lábios presos aos meus, devorando-me tão fortemente,


quanto minhas unhas arrebentavam a sua camisa e se
espalhavam pela pele bronzeada. Afastei-me em busca de ar, e o

desejo claro em seu olhar, me fez querer gemer. Quando seus


dedos afastaram a barra do vestido e me tocara ainda sobre a
calcinha, apenas deixei sair.

— Quer que eu te faça gozar, Maria Beatriz? — seu tom


não deixava abertura, era como se ele exigisse por uma resposta
positiva que estava óbvia em meu rosto. — Sim ou não? —

indagou, e um dedo entrou em mim, fazendo-me arfar.

Vi-me apenas tentando me concentrar em retirar seu cinto,


tentando não desabar a cada toque certeiro dele em todo meu

interior. O homem ia me fazer gozar ali? Nas suas mãos? Sobre

seu colo? Dentro do carro?

Nem nos meus sonhos mais molhados, me imaginei assim

com ele.

— O que está fazendo? — perguntou, no segundo em que

abri o botão da sua calça e fui presenteada com o fato de que ele
não usava cueca. No segundo em que contornei seu pau, e ele

gemeu, soube que era uma guerra justa.

Sua mão livre apenas pegou meus cabelos, praticamente

os enlaçando e beijou-me novamente, enquanto nos tocávamos.


Que se danasse o que a gente seria depois! Eu só queria ter

aquele homem dentro de mim.


Não sei ao certo como, mas ouvi o exato segundo em que

ele desceu o banco, enquanto eu lutava para descer sua calça, e


praticamente jogava a calcinha para qualquer lado do carro.

Minhas unhas se cravaram contra seu peito e apenas me vi

descendo sobre ele, e sentindo todo meu corpo energizar com o


toque. Porra!

Me perdi nas sensações, enquanto meu corpo quase

ondulou, e ele bateu com força contra uma das minhas pernas.

— Inácio. — seu nome saiu como um gemido e abri os


olhos, enquanto seus lábios se perdiam em baixar o meu vestido

e tentar ter meus seios para ele. Eu estava em agonia, e

encontrei a mesma, em seu semblante. — Por favor.

— O que? — perguntou, e antes que eu precisasse

implorar novamente, uma de suas mãos destruiu o fino tecido do

vestido e sua boca veio para meus seios, fazendo-me cavalgá-lo

com ainda mais força. — Rebola no meu pau. — exigiu, e eu


gemi, dando tudo o que tinha de mim, em busca do prazer cada

vez mais próximo.

Busquei seus lábios, e minhas mãos se perderam em seus


cabelos e peito, enquanto não conseguia parar de descer sobre
ele. Suas mãos castigavam minha bunda, ditando o ritmo

frenético, e eu estava por um fio.

— Goza para mim. — exigiu, e uma de suas mãos tocou

meu clitóris, dando-me o que faltava para praticamente gritar o


seu nome.

Um grito engolido pela sua boca, enquanto a chuva

desmoronava do lado de fora. Já tinha maldito o nome dele várias


vezes e gritado outras tantas. Mas nunca, em hipótese alguma,

imaginei que o faria, perdendo completamente o controle de mim

mesma, com ele dentro de mim.

— Está um sol muito forte.

A frase me acertou em cheio e senti o exato momento em

que um chapéu fora colocado sobre minha cabeça. Saberia que

era ele, apenas pelo cheiro. E a constatação daquilo, me


assustou.

— Diacho, homem! — meu protesto saiu em um grito e

quase morri do coração, enquanto a minha calcinha estava

arruinada. Merda por lembrar daquela noite, mais uma vez! Merda
dupla, porque o dono dela estava na minha frente!
Ele pareceu tentar me inspecionar e eu mudei o semblante,

tentando não deixar tão claro que estava presa a um momento,


que não deveria. Eu tinha entrado em um jogo já perdido, porque

ele, continuava ali, intocável.

— Resolveu aparecer? — indaguei, retirando o chapéu e

lhe entregando de volta. — Ou melhor, olha que bom, esbarrei em


você, marido!

— Sem deboche, criança. — cortou-me, e eu revirei os

olhos. Notei o exato instante que seu olhar pairou sobre o meu
decote, que sequer era muito destoante, e soube que por mais

que ele tentasse, não podia evitar. E o Inácio com tesão, parecia

ser o único que apareceria ali. Ou melhor, a versão bruta de


fábrica também. — Não pode pegar sol assim.

— Eu uso protetor solar, e... Vai mesmo me ignorar dessa

forma?

— Que forma? — rebateu, recolocando o chapéu na


cabeça, e eu quis voar em seu rosto.

— Como se a gente não sentisse nada um pelo outro. —

falei, e dei um passo à frente, vendo seu maxilar ficar ainda mais

duro, e minha mente voou para o fato, de que outra parte dele
também poderia. Pare de pensar! Transar com ele só pioraria a

confusão, eu sabia. Mas atormentá-lo, assim como, ele

atormentava tudo de mim, sem que soubesse, era um jeito de

tornar justo. Ao menos, um casamento justo.

— Não vamos brigar. — anunciou, mas não negou que não

sentia nada. — O sol vai ficar ainda mais forte. — falou,

colocando as mãos nos bolsos e queria odiar o fato de ele ser tão
bonito. O mocinho perfeito de uma novela.

— Eu já vou entrar, tenho que trabalhar. — falei, e lembrei-

me de que fingiu interesse sobre aquilo no dia anterior. Tudo

parecia diferente no dia anterior, mas ali, ignorando-me, nada


mudava. — Sabe, o livro que disse que tinha interesse, mas

depois, sequer perguntou. — por que eu parecia tão magoada? —

Enfim, bom dia e bom trabalho.

Sorri sem vontade, porque me sentia péssima. Eu parecia

uma cobrança ambulante, e na realidade, o era. Tudo porque

queria entender o que se passava em mim, tanto quanto, o que se

passava por ele. Existia um conflito profundo que o atormentava?


Não pelo nosso filho. Não pelo casamento. Mas sim, por nós? Por

uma aproximação que de repente, pareceu a coisa certa. A coisa

mais certa, pensei.


Ele apenas me deixou ir, e a resposta talvez fosse aquela:

nada. Ele estava apenas facilitando para nós, no fim. Que


fôssemos o casal do casamento quando alguém estivesse por

perto. Que fôssemos nada, quando não tivéssemos ninguém ao

redor.

— Aliás, deveria arrumar essa cerca. — gritei, sem me


virar, e segui para a casa.

Me afundaria em entender mais sobre a minha mais nova

carreira e ao romance que realmente dava certo na minha vida


confusa – o dos livros.
CAPÍTULO XVI

“Empurrada para o precipício

Me agarrei aos lábios mais próximos

Resumindo, era o cara errado

Agora, estou completamente na sua "[24]

MABI

— Como eu posso ser a autora número 1 em romances, se

eu não consigo entender a cabeça de um homem? — perguntei

para as minhas mochilas, enquanto terminava de fechar algumas


coisas. — Talvez por isso, seja a número 1. Diacho! — falei, ao
mesmo tempo que sabia que precisava correr com aquelas

coisas, pegar meu notebook e trabalhar na divulgação do e-book.


Ao menos, no novo trabalho, eu estava com sorte.

Com Inácio, as coisas estavam mais paradas do que


nunca. Trocávamos poucas palavras por dia, e ele parecia querer

sumir e se ocupar com o trabalho. Sentia-o no meio da noite,

invadindo meu quarto e tocando minha barriga, conversando com


nosso filho. Porém, assim que me mexia, ele praticamente fugia.

Aquele homem era uma confusão tão grande, que depois de uma

semana naquela, estava a ponto de pegar a cabeça dele, bater na


parede e obrigá-lo a me contar o que acontecia em seu interior.

Toda a madrugada, eu ficava na varanda de um dos

quartos de hóspedes, e o assistia, lá de cima, cantando com seu


violão. Sempre músicas românticas, e de repente, era como se a

pergunta que não pudesse calar viesse: ele amava alguém?

Suspirei profundamente, e tentei não pensar sobre. Se eu

pensasse muito, acabaria por desistir do inferno pessoal que

escolhi fazer na vida dele até que confessasse sua dualidade.

Se ele me contasse que amava alguém, ao menos, saberia

porque parecia tão reticente de me tocar. E aquilo, me levaria a

uma explicação fácil. O problema eram os olhares que ele me


entregava. O problema era a nossa noite juntos, ainda
repassando em minha mente. O problema consistia em todos ao

nosso redor dizendo que ele me adorava. O problema era que no

nosso casamento, enxerguei-o tão próximo, como se fosse

possível, que ele me amasse.

— Fiquei grávida e maluca. — falei para o nada, e bufei,

jogando o restante das roupas em uma das mochilas.

Lucas me trouxera mais cedo, já que teria que resolver

algo no centro, e aproveitei, para pegar mais algumas peças de

roupa e objetos que não iria me desfazer. Aos poucos, fazia a

minha mudança. Como Leti tinha pago o aluguel, tinha tempo o

suficiente para levar as coisas aos poucos e vender o que não

precisaria durante aquele ano. Era uma boa ideia, vender alguns
móveis e já ter dinheiro guardado, ou quem sabe, usar o dinheiro

para investir no próximo livro. Maria Beatriz empreendedora vinha

aí!

Batidas na porta me chamaram atenção, e como estava no

quarto, apenas vi-me gritando para que entrasse. Só poderia ser

Lucas, já que ele era a única pessoa que sabia que estava ali. Ou

quem sabe, alguma vizinha fofoqueira. O povo daquela rua me

parava a cada dois segundos, quando aparecia ali, para perguntar


sobre Inácio, casamento e o bebê. Como se aquela fosse uma

história absurda. Para o azar deles, eu estava nem aí para o que


falavam.

— Está ainda mais bonita, matraca.

Levantei o olhar, completamente perdida e encontrei os


olhos azuis de Hugo. Ele me olhava de cima abaixo e por um

segundo, não entendi o que diabos fazia ali. Voltei a pergunta que
Leti me fez, no dia do casamento: quantas vezes pensei em

Hugo? Durante aqueles dias, a contagem continuava a mesma:


zero. Ou seja, a conclusão que chegava, anos acreditando ser

apaixonada e louca por um homem, era simples: eu nunca o


amei.

Ele fora minha primeira paixão adolescente, tinha certeza.


E talvez, até pudesse ter realmente sentido algo mais profundo,
contudo, se fosse real, não seria tão fácil apenas deletá-lo. Não

seria tão fácil apenas não o ter por perto. Esperei e esperei,
achando que o encontraria, em alguma esquina na vida e

seríamos felizes para sempre. Ironicamente, ali estava ele, a


minha frente por livre e espontânea vontade, e eu, não sentia

absolutamente nada. Sequer poderia imaginar um futuro com ele


pós casamento com Inácio. Quem te viu quem te vê, Maria

Beatriz! Caçoei internamente.

— Oi? — indaguei, e continuei focada em pegar as últimas

peças que separei, de forma que não amassassem tanto na


mochila. — Como vai, Hugo? — a minha boa educação saiu, e ele

me encarou, com um sorriso enorme.

— Soube que se casou. — seu tom zombeteiro não me


passou despercebido.

— Jura? — perguntei ironicamente, e ele levou uma mão


para atrás da cabeça, coçando a nuca. — A cidade toda só fala

disso. — complementei, revirando os olhos, sem ter ideia do que


ele fazia ali. Tudo o que desejava, meses antes era ver aquele

homem, mas de repente, era simplesmente inútil vê-lo. A ironia da


vida era tamanha que sequer sabia como reagir.

— Mas eu sei a verdade. — comentou, e deu passos em


minha direção. Notei que queria se aproximar demais, como se...

Como se fôssemos algo?

— Alto lá! — coloquei uma mão entre nós, e ele sorriu

debochadamente. — Que verdade está falando?


— Que é louca por mim. — respondeu e só não gargalhei
de imediato, tamanha foi minha surpresa pela sua audácia. —
Que deu o golpe do baú no velho, e daí, logo se divorcia, pega o

dinheiro e...

Antes que ele continuasse, apenas vi minha mão que

estava no seu peito, ir parar diretamente no seu rosto, em um


tapa que estalou tão alto, que deixaria marcas.

— Primeiro de tudo: não sou louca por você. Posso ter sido

um dia, mas por favor, supere. — falei, e forcei um sorriso. —


Segundo: não ouse falar do meu filho dessa forma, e muito

menos, achar que sabe algo sobre o meu casamento. — ele me


encarou perplexo. — Não sabe de nada, moleque. — pontuei, e

de repente, tive que concordar com todas as vezes que Inácio


falou exatamente daquela forma sobre ele.

Hugo Avelar era um moleque.

E parecia estar ali, como se eu fosse algo a se interessar,

apenas porque não estava mais disponível. Metidinho de merda!

— Mabi...

— Fora da minha casa. — determinei e ele tentou abrir a

boca para dizer algo, mas neguei de imediato com a cabeça. — A


porta da rua, é serventia da casa.

Ele pareceu ficar vermelho e de raiva, enquanto eu sorria,

e a roupa que tanto queria que não ficasse amassada, estava


praticamente um desastre na minha outra mão. Ele saiu batendo
pé, e senti como se tivesse chamado atenção de uma criança. Oh

diacho!

Enfim, uma coisa a menos na minha bagunça pessoal: eu


não amava Hugo Avelar, e ele era um moleque. Sorri sozinha e

encarei minha roupa toda cheia de marcas, odiando o fato de ter

descontado parte do meu nervosismo nela.

— Diacho! — reclamei, e me vi tentando dobrar a blusa de

forma correta, como se fosse possível, após estar toda amassada.

— Ótimo, vou ter que fazer o que mais odeio: passar roupa!

Suspirei profundamente, e senti o exato momento que o ar


todo ficou pesado e passos se aproximaram. E por um segundo,

sabia que só poderia ser ele. A pessoa que eu menos esperava

ver naquele dia, já que corria de mim como o diabo foge da cruz,

durante todos os últimos.

— Lucas teve um problema com o carro, e vim te buscar.

— falou, seu tom ainda mais grosso do que o normal, e o encarei


completamente impaciente. — Podemos ir?

— Não vou me estressar com seu mau humor hoje. —


rebati, e decidi apenas jogar a blusa na mochila. — Já que não

quer que eu carregue peso nenhum, as mochilas são suas. —

falei, indicando as duas, e ele as pegou, de bom grado. Quando


se aproximou, todo seu cheiro me atingiu em cheio, e quis poder

moer aquela camisa preta colada aos seus músculos.

Diacho de homem gostoso! E impaciente! E grosso! E rude!

E bonito!

Todos aqueles pensamentos que não deveria ter, culparia

os hormônios. Era aquilo que faria e ponto final.

Andei a sua frente, e corri até o banheiro, para pegar o

sabonete facial que esquecera nas outras vezes, e sabendo que


precisava mostrá-lo a doutora Lena, assim que fosse na próxima

consulta. Não sabia o nome dele e sequer se poderia usar de fato

durante a gravidez.

— Dando trabalho em, pinguinho. — sussurrei para o meu

filho, e trouxe o sabonete em mãos, assim como, peguei o celular

sobre o sofá.
— Ainda tem muita coisa aqui. — Inácio falou, o que me

surpreendia. — Por que não faz toda a mudança de vez?

— Porque me distrai vir aqui e falar sozinha. Por que ficar

numa casa enorme que nem é minha, falando com a poeira ou os


bichos da fazenda? — perguntei, e ele sequer me olhou, fazendo-

me ficar irada. — Um ótimo dia para o casal, velho. — debochei,

porque era o que me restara.

— Acho que o moleque concordaria. — falou rude, e parei

no momento em que terminei de trancar a porta. — O vi saindo

daqui todo vermelho e bagunçado, Maria Beatriz.

— O que está insinuando? — minha pergunta saiu em um


sussurro e ele apenas negou com a cabeça.

— Nada. — respondeu e eu fiquei incrédula.

Queria poder gritar e espernear, para ver se aquele homem

reagia, porém, ele apenas me ajudou a subir no carro, como se


eu fosse quebrar, e deu a volta no mesmo. Vi o exato momento

em que depositou as mochilas no banco do carona, e uma delas,

foi exatamente sobre um buquê de flores amarelas. Não... Por


que tinham flores ali?

Não pergunte!
Não questione!

Não lhe dê esse gosto!

Assim que passou o cinto de segurança ao meu redor,

segurei para não circular aquele belo rosto e obrigá-lo a falar.

Suspirei profundamente, e cada movimento do carro, em direção


a estrada que daria para a fazenda, meu corpo já não aguentava.

O silêncio insuportável, porquê de repente, sequer brigávamos.

Inácio escolheu esquecer da minha existência, e agora,

tinha um buquê de flores no banco de trás do seu carro, que ele


escondeu com as mochilas. Ou achava que escondeu.

Ou seja... ele amava alguém. Filho da... mãe muito boa,

dona Heloísa era incrível!

“Meu orgulho caiu quando subiu o álcool

Aí deu ruim pra mim

E, pra piorar, tá tocando um modão

De arrastar o chifre no asfalto...”[25]

A música não ajudava, e eu sabia que não precisava de

bebida alguma para estar a ponto de apenas admitir que estava


me corroendo por dentro, apenas pela ideia, de que ele estava

levando flores para outra mulher. Fechei os olhos e toquei o topo

do nariz, tentando encontrar minha noção. As coisas só iam

ladeira abaixo. Então, comecei a tentar fazer uma contagem,


enquanto rezava para chegar logo à fazenda.

Um: eu não amava o homem que sempre achei amar.

Dois: eu estava com ciúmes do pai do meu filho.

Três: pai do meu filho, vulgo, Inácio Torres.

Quatro: Inácio Torres que tinha flores no banco de trás do

seu carro.

Cinco: Não eram para sua família, porque sabia que eles

não viriam naquela semana.

Seis...

A contagem já estava se perdendo.

Quando o carro finalmente parou e a playlist chegara ao


ponto de tocar Afterglow da Taylor Swift, soube que a desgraça

estava feita. Não esperei por sua ajuda, e apenas desci do

veículo com todo cuidado. Se fosse antes, teria pulado do

mesmo, mas precisava pensar no pinguinho. Antes que ele


pudesse fazer o movimento de abrir a porta de trás, vi-me
fazendo, e ignorando as blusas que demorei horas para dobrar,

joguei uma das mochilas no chão e peguei o buquê.

As flores eram lindas e infelizmente, as minhas favoritas.

Porém, eu faria questão de realizar um sonho com elas, socá-las

no peito de um imbecil. E fora exatamente o que fiz.

— O que pensa que...

Vi-me batendo com as flores contra seu peito, e deixando

que minha raiva saísse em cada batida. Inácio apenas

permaneceu parado, como se não entendendo nada, e eu odiei


ainda mais o seu autocontrole. Por que eu tinha que sentir toda

aquela bagunça angustiante? Por que eu tinha que desejá-lo

loucamente? Por que eu tinha que sentir aquela raiva tão

assustadora?

— Pronto, agora o buquê ficou lindo. — debochei, diante

das flores esmagadas. — Aposto que ela ia adorar.

— De quem está falando? — perguntou, e dei um passo

atrás, dando de ombros.

— Isso só você sabe. Como eu vou saber para que mulher

você compra flores? — a pergunta saiu como um grito, e apenas

dei-lhe as costas, caminhando até a casa. Porém, travei, e me


virei, olhando-o com raiva. — Estava certo em escolher me
ignorar e não sermos nada. Vai ser mais fácil. — falei, e a passos

duros e com meu coração em mãos, apenas saí dali.

Diacho!

Eu estava me corroendo de ciúmes dele!

Eu estava... enlouquecendo por causa de Inácio.


CAPÍTULO XVII

“Eu vivi como uma ilha, te punindo em silêncio

Disparei como sirenes, só chorando

Por que eu tinha que partir o que eu amo tanto?

Está na sua cara, e eu sou a culpada, eu preciso dizer "[26]

MABI

Andei com toda fúria que tinha em direção as escadas, e

estava a ponto de ligar para minha melhor amiga e pedir uma

dose de realidade. Porque todas as doses de incertezas,


confusões e ridicularidades com Inácio, estavam me sufocando.

Ele mexia comigo, extremamente.

Senti meu braço ser puxado e no segundo seguinte minhas

costas foram contra a parede, mas antes que batessem, suas


mãos me seguraram com delicadeza. Um flashback do que

acontecera ali, meses antes. Lembrava do exato momento em

que subi em seu colo, e ele me jogou sobre a parede e fez-me


esquecer meu próprio nome.

Ali, com seu olhar preso ao meu, eu sabia meu nome, mas

no momento, ele tinha um leve acréscimo, mesmo que não nos

papéis. Por que eu me sentia parte dele? Por que?

— Eram para você. — falou, colocando uma das flores que

pareceram sobreviver a minha fúria contra minha orelha. —

Estava te levando um buquê. — olhei-o incrédula, e pronta para

empurrá-lo e sair.

— Não preciso de mentiras, muito menos, de você. —

soltei e tentei sair de seu aperto, mas ele não permitiu.

— Pode me deixar falar? — perguntou e o encarei

incrédula.
— É tudo o que te pedi por esses dias. — respondi e ri sem
vontade. — Não sou uma pessoa paciente, Inácio. Nem um

pouco. E eu fiquei aqui, esperando, enquanto você simplesmente

se escondia com os cavalos e no trabalho. E agora, queria me dar

flores? E daí, as amassou com as minhas mochilas? — indaguei,

completamente incrédula.

— O que queria que eu fizesse? — rebateu, e seu tom era

baixo, mas completamente irado. — Eu vi o moleque sair da sua

casa, e eu sei o que sente por ele e...

— E daí? — perguntei, batendo contra seu peito. — O que

isso tem a ver com o fato de estar sendo frio como gelo? Ou com

o fato de que nunca sei qual Inácio eu vou encontrar? Ou será a

versão gelo para sempre? É isso?

— Você o ama, e isso...

— CHEGAMOS!

Um grito fez o momento se dissipar e eu fiquei em choque,

enquanto engolia em seco, e meu coração paralisou diante da

sua fala sendo interrompida. Inácio baixou a cabeça e quando seu

olhar parou no meu, eu soube – ele tinha algo a dizer. Algo que

estava me escondendo. E por dentro, aquilo me matava.


No segundo em que se afastou e eu coloquei um sorriso no

rosto, Olívia entrou, com Daniela correndo em minha direção.


Abaixei-me para ficar do tamanho da pequena, que me deu um

forte abraço, e logo senti um leve toque no meu cabelo, e encarei


Júlio, que parecia um tanto desconfiado. Dei de ombros e me
levantei, recebendo seu beijo no rosto.

— A gente não ia vir a cidade tão cedo, mas certa


garotinha ia me matar se não cumprisse o dia com cavalos que

ela tanto pediu. — Olívia falou, e eu sorri, encarando Daniela, e


ignorando o fato, que estava a ponto de desabar, porque o

homem a frente dela, me enlouquecia, de todas as formas. — Por


que não passa o dia conosco e os cavalos, Mabi? — convidou e

eu engoli em seco, assentindo em seguida.

— Eu não cavalgo há anos, e confesso, que sempre morri


de medo. — falei, levando a mão a minha barriga de imediato.

— Na verdade, apenas temos uma amazona aqui. —


piscou um olho e se aproximou. — Daniela vai no seu cavalo,

enquanto Júlio a guia...

— Como assim, eu? — o irmão perguntou, se fazendo de

indignado, mas sabia que não estava nem um pouco.


— E você me conta tudo, de como foi sua primeira semana

aqui e tudo mais. Que tal? — indagou e eu apenas assenti, sem


saber ao certo o que responder.

— Tenho uma coisa para resolver nos estábulos, mas


sabem que aqui...

— É a nossa causa, eu sei, Ná! — Olívia falou e piscou um


olho para Inácio, que assentiu para ela. Em momento algum, ele
me destinou o olhar, e eu sabia, que a cada segundo, ficava mais

insustentável.

Anos nos bicando.

Uma noite que mudou o resto das nossas vidas.

Uma semana que me desestruturou por completo.

Caminhei com eles, e tentei prestar atenção em tudo que


Olívia falava, sobre como estava na cidade grande, e que sentia

falta de ficar mais tempo no interior. Contudo, assim como os


outros irmãos Torres, ela parecia gostar mais de estar em cidades
maiores do que em nosso pequeno fim de mundo.

Tudo bem que eles tinham fazendas por várias outras

cidades vizinhas, mas ainda assim, era claro que se dividiam


também, para acompanhar o tratamento do pai. Sabia por cima,
que Inácio viajava a cada quinze dias para a capital, apenas para
estar com ele. Era uma situação delicada, e mesmo sendo tão
novo, me doía vê-los assistir o pai naquela situação.

— Eu li o seu livro. — Olívia falou e eu arregalei os olhos.

— Não! — respondi e ela riu de lado.

— Mas é claro que sim, mulher! E eu preciso dizer, que


tudo o que desejo é um homem que me ame como Renan ama

Marcela. — falou, e suspirou profundamente, e poderia jurar, que


em algum momento, durante a escrita, fiquei exatamente como
ela – sonhando acordada. — E eu já quero a história dos

melhores amigos! E uma história de CEO!

— Preciso de você aqui, patrão!

A voz de Lucas soou alta, e longe, e Inácio se afastou no


mesmo instante de nós, o qual, sequer ainda me olhara, porém,

ele parou o passo, e veio até mim. Sem me olhar, tirou o chapéu
branco da cabeça e o colocou na minha. Ajeitou-o rapidamente, e

finalmente, me encarou. Tinha de tudo ali, no castanho dos seus


olhos.

— Está muito sol. — falou e eu me perdi, novamente.


Se um dia, eu desejei mergulhar em algum azul, eu não me
lembrava. Apenas desejava, poder desbravar tudo o que existia
no castanho dele. Merda!

Ele então saiu e me deixou, como sempre, sem entender.

— Há uma história sobre esse chapéu, que acredito que

ele não te contou. — Júlio falou, com Daniela no colo, que parecia

mais do que animada, enquanto nos encaminhávamos para perto


dos estábulos. Olhei-o sem entender, e ele sorriu para a irmã. —

Ele nunca deixa ninguém tocar nesse chapéu.

— O que? — indaguei, tocando o acessório e me


lembrando exatamente do dia em que o tirei de sua cabeça, e o

coloquei na minha, no meio da clínica, no primeiro ultrassom do

nosso filho. Ele não hesitou e sequer tirara de mim.

— Foi o primeiro chapéu de cowboy dele, e quando era


mais novo, dizia que só a mulher amada o usaria. — Olívia

complementou e eu fiquei perplexa. — O lado romântico do

homem mais contido que já conhecemos.

— A nossa contraditória ambulante: Inácio. — Júlio falou e


eu me vi engolindo em seco. — Mas disso, você já sabe.
— Que ele aparenta ser algo, mas por dentro, é um

completo mistério? O mais profundo? — vi-me indagando e meus


cunhados me encararam curiosos. — Eu sei. E de alguma forma,

todo dia, pareço mais maluca por descobrir.

— É por isso que ele te ama.

Olívia piscou um olho em minha direção, mas no momento

seguinte, apenas parei, e fiquei olhando para ele, que

praticamente desaparecia da minha visão. Aquela afirmação me

acertando em cheio, não porque era uma verdade, mas sim,


porque eu desejava, desesperadamente, que o fosse.

Ele chegou próximo a Lucas, que trazia consigo outro

cavalo, que eu já reconhecia – era Thunder, o cavalo de Inácio.


Ele subiu no mesmo, e eu fiquei ali, por alguns segundos, apenas

o observando. Tão óbvia quanto eu nunca fui. Tão pronta para

cair como nunca esperei.

— Vamos, tia!

O grito de Daniela deveria me despertar, porém, não fez

exatamente aquilo. Tudo o que acontecera até ali, finalmente, me

dando à luz que eu tanto buscava. Ele era sua própria contradição

e mistério. Já em mim, não existia mais bagunça ou dúvida. Ali,


parada no meio da fazenda, olhando-o conversar com o melhor

amigo, eu soube.

Que em algum momento, em todas as esquinas que nos

esbarramos, existia algum sentido. Que de todas as vezes que


tirou o pior de mim, ele sempre, me enervava a ponto de não

poder conter. Que talvez algo, me levava diretamente para ele, e

para aquele momento. No fim, não importava de fato, a questão


era, que por mais contraditória que pudesse parecer naquele

exato momento, eu sabia. Sabia que não tivera escolha, e de

alguma forma, talvez não quisesse escolher.

Eu estava apaixonada por todo o mistério, bagunça e

contradição que existia nele. Era a razão da minha loucura, minha

falta de senso, minha angústia, meu desespero, minha ânsia...

Era por aquilo que sua indiferença e frieza me acertava em cheio.


Eu estava apaixonada por Inácio.
CAPÍTULO XVIII

“Porque nos despedaçamos um pouco

Mas quando eu te pego sozinho é tão simples

Porque, querido, eu sei o que você sabe

Podemos sentir isso”[27]

INÁCIO

— Têm certeza que querem mesmo pegar a estrada a essa

hora? — Mabi perguntou a Olívia, talvez pela décima vez, e minha

irmã assentiu. Ela estava para se acostumar com o fato de que


meus irmãos apareciam do nada e sumiam do nada também.
— Tenho que estar as sete em uma audiência, então... —

deu de ombros. — Mas chegamos rapidinho, já que o carro é


alugado e vamos pegar um voo na cidade mais próxima. — foi até

ela, abraçando-a com força e como sempre acontecia, meu

coração se encheu com a cena. — Voltamos de surpresa, assim


que der.

— É bom ter vocês aqui. — admitiu, e Olívia sorriu em sua


direção.

Beijei Daniela várias vezes no rosto, a qual sorriu, e me

abraçou fortemente, antes de se afastar e praticamente pular do

meu colo, para ir até Mabi. Ela se abaixou e recebeu a pequena


nos braços, como se fosse o certo.

— Ela vai ser uma ótima mãe. — meu irmão falou e eu

assenti, aceitando seu abraço. — Cuide bem dela, irmão.

— Eu vou. — falei, e ele sorriu, mas sabia que estava se

segurando para não me indagar sobre nada. Eles me conheciam,

melhor do que ninguém, mas felizmente, conheciam a ponto de


saber que não teriam repostas no momento. Talvez, nunca.

— Até mais, Ná. — Olívia me abraçou e o fiz, logo depois,


beijei o topo de sua cabeça e ela sorriu. — Lembra que a gente te
ama.

— Eu sei. — toquei seu rosto, e ela se afastou, mandando

beijos com as mãos.

— Tchau tio! Tchau tia! — Daniela falou, enquanto se

sentava no banco de trás e a mãe passava o cinto ao redor dela.

— Vão visitar a gente!

— Não conte com essa sorte, pequena. — Olívia falou,

pois sabia que eu não era um grande fã da cidade grande. No

caso, só ia até lá, por conta de nosso pai, mas antes de sua
doença, raras vezes acabava por viajar. Gostava do meu canto.

Gostava do meu meio do mato.

Assim que o carro saiu, vi o silêncio recair como quilos


sobre nós, e ouvi um suspiro de Mabi.

— Ela sabia, antes mesmo de eu saber quem era ela. —


falou, surpreendendo-me por não me ignorar ou tentar voltar na

conversa de mais cedo. — Ela mal me viu e me chamou de tia. Eu

não tinha me ligado nisso, até hoje. Passei o dia revivendo

momentos, buscando detalhes, e de repente, as coisas não se

encaixam.

— Maria Beatriz...
— Não quis falar todo esse tempo, então... Não precisa. —

cortou-me, e seu olhar parou no meu. Ela não parecia mais


acuada ou assustada como cedo. Ela apenas parecia certa do

que fazia. O olhar azul inundando todo o meu. — Eu não sei


como, mas todo mundo parece saber mais do que eu nessa
história toda. Até mesmo, a sua sobrinha de quase sete anos.

— Tudo tem uma explicação, Mabi.

— Mas você não me dá nenhuma. — falou, passando as

mãos levemente sobre o vestido, e as parando sobre a barriga. —


Eu não sei se me conhece bem o suficiente como parece, mas eu

sou oito ou oitenta, Inácio. Ou tenho tudo, ou eu tenho nada. Ou


eu te dou tudo, ou não te dou nada. Ou você me dá tudo, ou não
me dá nada. Não aceito metades. Não aceito segredos. Não

aceito ser feita de idiota.

— Não quero que se sinta como se eu estivesse te

enganando. — falei, praticamente em desespero e ela abraçou o


próprio corpo.

— Não está? — rebateu. — Não está me enganando ao


estragar as flores lindas que comprou para mim, só porque viu

Hugo sair da minha casa e pensou o pior?


— Pensei que poderia ter batido a porta na cara dele. — fui

sincero, e respirei profundamente. — O mesmo que fez comigo,


meses antes.

— Não são a mesma pessoa, Inácio. — falou, e seu olhar


me acertou por inteiro. Era exatamente ali, que eu quebrava. Ela

era o meu calcanhar de Aquiles. E o amor dela por outro, era a


minha destruição.

— Eu sei que não, e por isso, não posso ser o que espera

de mim. — falei, e desviei o olhar. — É mais fácil apenas


fingirmos que não nos desejamos, sabendo que temos um

prazo...

— O que eu espero de você? — perguntou, e eu me calei.

Deu alguns passos em minha direção e parou bem próxima. — O


que acha que eu espero?

— Uma cama quente. — respondi e soltei o ar com força.


— Um corpo para estar com você e um pai para o seu filho.

— No final, você me conhece tão pouco quanto eu te


conheço. Ou tem medo de enxergar o que está claro em mim. —

falou, pegando-me de surpresa, e eu fiquei estático.


Suas mãos vieram para meu rosto e fiquei perdido, como
um garoto, diante do olhar azul, que ultrapassava cada fresta da
minha armadura. Deixando um rastro de rachaduras por todos os

lados. Ela apenas me tocou, e sorriu, afastando-se no segundo


seguinte.

— Boa noite, Inácio.

A tensão entre nós ainda maior, como se fosse possível ser


cortada com uma faca. Percebi ali, que ela estava entregando

tudo o que tinha de si. Tudo que era dela para ser meu. E por
mais que pudesse ser a minha mente ilusória, não pude mais

apenas ignorar. Eu queria enxergar aquilo nos seus olhos. Eu


queria que ela me enxergasse.

— Posso não ser ele. — declarei, e de repente, nada mais


me escondia dela. Ela parou o passo e soube que me escutou. —

Mas posso ser seu, por completo. Basta me querer, Maria Beatriz.

Pensei em ir até ela, mas não consegui em um primeiro

segundo. O silêncio me acertou e a falta de reação, deixou-me no


limbo. Vi-me então indo até ela, e antes que a virasse, ela
praticamente se jogou em meus braços.
— Me faz implorar. — praticamente exigiu, e sua boca veio
diretamente para minha.

O desespero do seu toque, o sorriso em meio ao beijo, a


forma como suas mãos buscavam cada parte de mim. Soube ali,
que ela entendeu. Se não o todo, ela ainda entenderia. Mas

naquele momento, eu apenas precisava lhe mostrar, mais uma


vez, como a amaria com o meu corpo. E depois, lhe mostraria o
meu coração e alma, que lhe pertenciam.

MABI

Eu poderia morrer ou matar por aqueles lábios.

Sua boca em cada canto de mim, e mais um vestido,

completamente arruinado e jogado pelos degraus da escada. Vi-


me sendo levada pelo seu colo, enquanto lutava contra o seu

cinto, e tentava tocá-lo, a todo custo. Não queria dizer mais nada.

Não queria mais pensar em nada. Eu só queria, poder tê-lo, mais


uma vez. Eu só queria, poder ser dele, outra vez.
Sua boca assaltou a minha, tirando todo meu fôlego e me

fazendo castigar cada parte do seu peito quase totalmente


exposto, com minhas unhas. Outra camisa dele arrebentada,

jogada em direção qualquer. Todo meu corpo clamando para ser

adorado pelo dele, e eu soube, que poderia surtar a qualquer


momento, se ele não continuasse.

— O que você quer primeiro? — perguntou, no tom sexy e

quente que eu tanto recordei nos meus sonhos molhados. —

Olhos em mim, Maria Beatriz.

Abri-os, assim que fui depositada na cama, e fiquei

extasiada diante da imagem dele, sem camisa, o cinto quase fora,

a calça jeans apertando-se contra a ereção.

— Quer minha boca? — perguntou, e desceu os lábios

para os meus seios, fazendo-me arfar. — Quer os meus dedos?

— levou-os até a minha boca, os quais trouxe para dentro,

fazendo-o me olhar com total satisfação. — Ou quer o meu pau?


— levou minha outra mão sobre sua calça, e não pude resistir em

apertá-lo.

Saudade daquele corpo suado no meu.


— Posso pedir o menu completo? — indaguei, e ele me

mordeu o lábio inferior, ficando ainda mais quente, e uma de suas

mãos prendeu as minhas, acima da cabeça. — Inácio... —


reclamei, quando seus lábios começaram a descer por meu corpo

e eu soube que morreria de tesão, se ele não acabasse com a

minha agonia. — Pode me matar de prazer depois, agora... eu

quero o seu pau em mim.

— Implore, Maria Beatriz. — exigiu, e sua mão soltou as

minhas, mas seu olhar, claramente as exigia ali, no mesmo lugar.

Sua boca desceu perigosamente para minha coxa, e deixou uma

leve mordida. — Se não implorar, vou tomar o meu tempo. E você


sabe muito bem, como gosto de te saborear.

E por todos os sete infernos, eu sabia!

Então, apenas vi-me trazendo sua cabeça para cima,


forçando-o a me levar, o qual se apoiou com as mãos na cama, e

me encarou, profundamente.

— Me fode. — pedi, quase implorando, mas sabia que não

bastava. E era exatamente ali, naquele único lugar, que Inácio


conseguia ter controle sobre mim. Ao menos, em determinados

momentos. — Me fode, por favor.


— Não. — falou, mas ao contrário de sua negativa, ele se

levantou, e retirou o cinto, descendo a calça jeans e a cueca de


uma vez. O homem em toda sua glória, era o meu ponto fraco por

completo. Não era à toa que eu perdia a racionalidade diante

dele. Era um verdadeiro deus a minha frente, e todo meu. Nos


meus sonhos, mas que se danasse. Era meu.

— Não? — perguntei, quando voltou para mim, e ele

assentiu. — O que vai fazer então?

— Não é apenas uma foda, Maria Beatriz. Nunca foi. —


falou, e mesmo que não fosse um momento sobre sentimentos,

de repente, o era. Eu estava imersa nele. Meu corpo queimava, e

meu coração estava a ponto de sair pela boca. — Mesmo quando


achou que era apenas isso, não foi. — senti-o em minha entrada

e um gemido escapou de meus lábios. — Eu te fodi como se não

amasse... — falou, e entrou em mim, tomando cada parte, e

fazendo-me arfar. As mãos entrelaçadas nas minhas, o meu corpo


todo rendido e desesperado pelo dele. Não sabia se aguentaria

muito, porque de repente, estava próxima ao nirvana. — Mas eu

sempre amei.

— Inácio. — seu nome saiu da minha boca, como uma

prece, e antes que pudesse dizer qualquer outra palavra, seus


lábios vieram para os meus. Gemi em meio ao beijo, agarrando-

me a ele, como se fosse tudo o que necessitava. E de fato, eu o

fazia, naquele instante.

Não era a primeira vez que eu fazia amor com o homem


que amava, e a realidade me acertara em cheio. Porque era ele.

Porque sempre foi ele. Porém, era a primeira vez que eu fazia

amor com ele, sabendo que o amava. Dando-lhe mais do que


meu suor, prazer e devassidão. Mesmo que ele ainda não me

permitisse expressar, estava claro, no meu olhar – eu lhe

entregava tudo.
CAPÍTULO XIX

“Em jantares e festas

Eu exponho seu jeito do contra

E a cidade costeira

Por onde vagamos nunca

Tinha visto um amor tão puro quanto esse"[28]

MABI

Respirei profundamente em meu sono, e senti um corpo

quente envolto do meu. Depois de dias de guerra interna. Depois


de anos sem entender. Ali, finalmente, eu sabia, livremente. Virei-

me com cuidado e a expressão serena no rosto do semblante


mais duro que já conhecera, me atingia por inteira. Toquei sua

barba com cuidado para não o acordar, e fiquei apenas ali, por

alguns segundos.

— Como eu não te vi antes? — perguntei quase em um

sussurro, e me segurei para não o beijar.

A retrospectiva que fizera durante todo aquele dia. A forma


como eu sempre me lembrava de ele estar lá. Talvez longe.

Talvez perto. Mas Inácio Torres estava em todas as minhas

lembranças. Fosse para me abraçar aos dezesseis quando perdi


meus pais. Fosse para começar as nossas farpas aos dezoito. Ele

estava lá.

E finalmente eu entendi o porquê. Pelo menos, parte de

toda aquela confusão que adentramos. Não tinha como ser


simples apenas o ter por perto, como meu. Não o tinha. Porquê

de alguma forma, eu sabia, que não poderia resistir. Não o fazia

quando lhe respondia a altura. Não o fiz quando nos entregamos

ao desejo enlouquecedor naquele carro. Não o faria enquanto o

meu coração batesse tão freneticamente por ele.

— Lindo. — sussurrei e encostei nossas testas.


Afastei-me a contragosto e senti o frio me atingir no mesmo
instante. Olhei ao redor, e poderia até colocar sua camisa, porém,

a arruinara por completo. Adentrei o belo closet, no qual algumas

coisas minhas estavam colocadas, e do lado oposto, algumas

dele. A lembrança de ele apenas entrando ali, todas as manhãs,

para pegar as suas roupas e sair, me machucava. Porque eu não

queria apenas a sua presença, distante e intocável. Eu o queria.

E diacho! Eu estava adorando o querer. E morrendo de

medo de o amar tão perdidamente.

Desviei das minhas roupas e parei nas suas camisas, as

quais mexera em momentos sozinha, exatamente ali. Sorri,

porque não conseguira resistir. Tentei ao máximo não espionar

por todos os cantos da casa, contudo, sempre um lado meu, se


sobressaía. E enquanto ele dormia, na cama em que nos

amamos, eu resolvi buscar a camisa mais quente e bonita dele.

Preta, como a cor que lhe caía perfeitamente.

Olhei com atenção, como não fizera durante os outros dias,

já que estava com tamanha raiva, que sequer conseguia fuçar

tanto, antes de não querer apenas amassar a roupa e atirá-la pela

janela. Sorri sozinha, porque finalmente entendia a razão de ele


tirar toda minha raiva, racionalidade e angústia. Ele conseguia

despertar o que quisesse em mim. Ele tinha o meu amor.

Peguei uma das camisas pretas, e retirei do cabide. Passei

a colocá-la e olhei por um segundo para a minha barriga ainda


querendo tomar algum formato. Levei as mãos a ela, e uma

lágrima desceu. Nosso filho estava lascado com pais tão


complicados, mas lá no fundo, eu sabia, que não lhe faltaria amor.
Nunca.

Minha visão então parou em uma camisa jeans escura, que


diferente da outras, não estava pendurada. Alguma coisa me fazia

lembrar, daquela peça, anos antes. Tentei buscar na memória, e


sem resistir, trouxe o tecido até meu rosto, respirando
profundamente. O cheiro dele ali, e eu sorri. Porquê de alguma

forma, tudo em mim, estava envolto, de tudo dele.

Abri a jaqueta e foi como um estalo na mente. Ele a usava,

em um dia que joguei um copo de bebida diretamente na sua


cara, após uma noite no bar. Sorri sozinha, porque felizmente, a

bebida não estragara o tecido. Era uma jaqueta bonita, e


combinava com ele. O que eu não admitiria, nem por reza,

naquela época.
Assim que passei a dobrá-la novamente, e dei um passo

para guardá-la, senti algo sob meu pé esquerdo. Franzi o cenho e


notei que era uma fotografia. No segundo em que a peguei, meu

coração disparou tão fortemente, e minha mente girou. Era uma


foto minha. Uma foto que eu nunca revelei. A postara no facebook

há alguns meses, e lembrava que adorava o fato de meus olhos


estarem em evidência.

Mas...

— No que está mexendo, criança? — a pergunta soou, e


meu corpo todo reagiu a sua voz, enquanto a pergunta que não

queria calar, me atingia. Eu estava de costas para ele, o que não


permitia que me visse com a foto em mãos, então, quando me
virei, notei seu olhar mudar.

— Desde quando? — perguntei, engolindo em seco. Uma


lágrima desceu e tudo me atingiu em cheio. As palavras de todos

ao meu redor. Os anos de ele ao meu redor. A forma como ele


nunca deixava de estar por perto. A forma como ele sempre trazia

Hugo como uma questão entre nós. Porque no fim, o era para ele.
— Desde quando me ama?

Surpreendendo-me, ele me entregou um sorriso de lado,


que me fez paralisar por completo. Ele não estava correndo como
antes. Ele não estava se escondendo ou se trancando de mim.

“Posso não ser ele. Mas posso ser seu, por completo.

Basta me querer, Maria Beatriz.” Sua fala de mais cedo,


repassando em minha mente.

Veio a passos certos e tocou meu rosto com as duas mãos,

limpando algumas lágrimas.

— Desde aquela festa da faculdade, em que eu fui, sem

saber por que e... te encontrei. Desde um pouco antes disso, na


verdade. — admitiu, e sua testa tocou a minha. — Mas eu sabia
que era uma batalha perdida, então...

— Tirou a minha raiva, já que pensou que não poderia ter o


meu amor. — complementei e ele assentiu, fazendo-me fechar os

olhos, tamanha intensidade. — Por isso todos parecem saber. Por


isso até Daniela sabe. Por isso sua família acreditou em nós. —

soei como uma metralhadora e ele apenas assentia, enquanto os


olhos castanhos permaneciam fechados. — Como eu não vi? —

perguntei, não sabia se para mim, para ele, ou para o universo. —


Como eu fui tão cega?

— Não tinha como. — respondeu, e se afastou levemente.


— Mas está aqui agora, e se me der a chance... — neguei de
imediato com a cabeça, e tive que rir em meio as outras lágrimas
que desciam. Seu olhar mudou e eu quis socar sua bela cara,
porque ele era tão cego e burro quanto eu.

— A prova viva de que a idade não traz inteligência. —


caçoei, e ele franziu o cenho, claramente confuso. — Você é cego

como eu, Inácio.

— Do que estamos falando, Maria Beatriz? — indagou, e


eu revirei os olhos. — Criança.

— Estamos falando do fato de estar me matando

lentamente todos os dias desde que me tocou. Estamos falando


sobre como consegue despertar algo em mim, com um estalar de

dedos. Estamos falando do fato de eu nunca ter amado antes, e

talvez, mesmo romântica pra cacete, seja uma péssima mocinha.

Se eu tivesse olhado com mais atenção, ou saído da minha


bolha... eu te veria ali. E eu ia saber, que não era raiva, ódio ou

qualquer outra coisa. Ainda me irritaria, mas... sempre teve um

mais ali.

— Não precisa...

Levei os dedos a sua boca e o forcei a se calar.


— Não tenho porque mentir. — assumi, e afastei meus

dedos. — Você me tem, Inácio. E de alguma forma, sempre me


teve. Eu não vi. Você não viu. Mas... sempre me teve.

Ele piscou algumas vezes, como se assimilando as

informações e eu fiquei sem fôlego diante do seu semblante.


Como a gente era cego quando se tratava um do outro, como!

— Antes que pense que estou confundindo tudo ou se

afaste por achar que está cuidando de mim... Eu amo você,

Inácio. Me apaixonei desesperadamente e tô morrendo de medo,


mas eu amo. E eu amo essa loucura que a gente se meteu. Eu

amo o fato de querer socar a sua cara as vezes, ao mesmo tempo

que, só quero um sorriso. Eu amo te encontrar tocando na


madrugada e pensar que canta para mim. Eu amo quando entra

no meu quarto no meio da noite apenas para falar com nosso

filho. Eu amo como o seu toque me desperta e me faz querer não


ir, nunca mais. Eu amo que foram anos vivendo de uma mentira

inventada da minha cabeça, mas bastou uma noite, para eu não

te tirar da mente. Eu amo que mesmo que pudesse escolher amar

alguém, seria você. — admiti, deixando tudo sair, e sem querer


correr. Era aquilo. Aquela intensidade. Aquela era eu. E mesmo
morrendo de medo de que ele se assustasse diante do meu

sentimento, não minimizei nada. Apenas lhe dei tudo.

Seu olhar mudou ainda mais, e notei-o completamente

marejado.

— Não sou o príncipe que você sempre desejou, eu sei. —

falou e quis corrigi-lo no mesmo instante, mas ele tocou meu

rosto, impedindo-me. — Mas te ver, citando partes do livro que


escreveu sobre amor, eu... Não sou bom em falar e me expressar,

Maria Beatriz. Mas eu sou completamente louco por você há

anos. E a cada dia em que te tive por perto, e cada vez mais
perto, me apaixonei mais. Todo dia, me tem mais para si.

— E vou poder te ouvir tocar? — indaguei, em meio a um

sorriso, e ele me presenteou com um dele, fazendo-me derreter.

— Não vou facilitar para você, velho. Pode ser o meu felizes para
sempre, mas eu ainda vou te dar mais cabelos brancos.

— Usando apenas camisolas e desfilando pela casa como

uma maldita deusa? — perguntou, puxando-me para mais perto e

assenti. — Não obedecendo a nenhuma ordem minha, se não for


para benefício próprio? — indagou, e eu mordi o lábio, já sentindo

todo meu corpo esquentar. — Eu vou tocar todas as músicas que

quiser, criança.
— Bom, prepare-se porque vou te ensinar cada álbum da

Taylor Swift. — ele arqueou uma sobrancelha, como se me


desafiasse e eu arregalei os olhos. — Não! Você não sabe tocar

Taylor Swift, Inácio Torres!

— Eu sei de tudo que você ama, e bom...

— Depois de eu me acabar nesse corpo gostoso, homem...

Você vai pegar aquele violão e me fazer uma maldita serenata. —

falei, sorrindo abertamente, e sentindo-o subir meu corpo no seu,

praticamente em seu colo. — E vai me contar tim por tim tim do


que sabe sobre mim.

— Por que não fica quieta e me beija, criança? — indagou,

no tom provocativo e eu quis esganá-lo. — Hora de dormir, filho.


— sussurrou, em direção a minha barriga, e eu quis socá-lo por

ser a melhor contradição ambulante que já colocara os olhos.

Era ele.

Sempre ele.

Desgrama! Eu o amava.

— Porque esse é o momento em que eu te deixo achar que

manda em mim. — respondi, e puxei seu lábio inferior com os


dentes. — Mas acho que prefiro cavalgar hoje, e te mostrar, que

vai ter que aprender a me ler melhor que isso.

Sua mão veio para meus cabelos, puxando-os e me

fazendo arfar, no mesmo instante, em que me encostou contra


uma das paredes do closet.

— Vou te torturar antes disso, e vai me compensar ano a

ano, que esperei para poder te amar assim, abertamente. —


falou, sua boca chegando a minha e beijou-me levemente.

— Estou contando com isso. — respondi, e ele finalmente

me devorou.

Sabia que mais uma camisa dele seria destruída no


processo, mas valia a pena. De fato, nós dois juntos,

continuávamos sendo uma bagunça certeira. Não tinha como não

ser atingido quando estávamos juntos. Era uma explosão. Era o

certo. Era o amor que se esperava a vida toda para ter, e não se
poderia fugir.

A bagunça mais linda e romântica que eu poderia querer.

Era o meu conto de fadas com o homem que menos esperei, mas
o qual, sempre me esperou.
CAPÍTULO XX

“Eu não quero olhar para mais nada agora que te vi

(Eu não consigo mais desviar o olhar)

Eu não quero pensar em mais nada agora que pensei em você

(As coisas nunca mais serão as mesmas)"[29]

MABI

— Não! — falei, no exato momento em que Inácio tirou um

Kindle de uma gaveta que geralmente ficava trancada no seu

escritório. Sabia que estava trancada, porque já me vi trabalhando


ali, naquela mesa enorme durante a semana, e ficado encucada
em porquê tinha uma gaveta trancada, sendo que Inácio mal

ficava naquele cômodo. — O pacote que vi Lucas recebendo


esses dias... — girei na cadeira chique, e ele sorriu de lado,

colocando-o a minha frente.

— Me deixa sentar, criança. — pediu, e no segundo

seguinte, levantou-me, e soltei um gritinho, sendo depositada em

seu colo, e batendo em seu peito, quando me colocou com


cuidado sobre si. — Não queria saber tudo? — indagou, e me deu

o Kindle em mãos.

— Começando, por que comprou um Kindle?

— Não viu os livros pela biblioteca, criança? — provocou e

puxou levemente minha orelha com os dentes. Arrepiei-me por

inteira, e o encarei com os olhos semicerrados. — Eu sou um fã

de Harry Potter.

— Quantas mais surpresas eu vou descobrir sobre você,

velho? — perguntei e ele deu de ombros, como se não tivesse

muito ali. Mas eu sabia, porque tinha algo tentador em desbravar


aqueles olhos castanhos.

Liguei o Kindle e me choquei, no segundo em que vi meu


livro na biblioteca e 100% lido.
— Não! — falei, e ele apenas me encarava, do jeito que
poderia me ler por inteira. E no caso, o lia mesmo. — Como assim

você leu meu romance? E ainda leu meus cabarés? — perguntei

rindo, e sentindo meu rosto queimar.

— Descobri que se tiver similaridade entre você e a

mocinha, vou precisar comprar algemas.

— Inácio! — bati em seu peito com a mão livre, e senti a


sua apertar levemente minha bunda, e em seguida, suas mãos

pararam em torno de minha barriga, acariciando exatamente ali.

Sorri pelo carinho e sabia que ele estava em contato com nosso

filho. Como seria, dali alguns meses, ele ali conosco?

— Um menino. — falou de repente, como se lesse meu

olhar, e pisquei algumas vezes, sem entender. — Me perguntou

naquele dia, o que eu pensava que o nosso bebê é. — explicou e

me olhou profundamente. — Eu sonho com um menino, quase

toda noite.

— Eu sonhei também. — comentei e ele sorriu, olhando-

me com carinho. — Será que temos um péssimo instinto de pais


ou vamos acertar de primeira? — perguntei sonhadora, e ele

pareceu perdido em meu olhar, sem dizer nada. — O que foi? —


perguntei, sem conseguir compreender toda a intensidade que ele

me destinava.

— Você é linda. — respondeu simplesmente, e eu me

derreti por completo. — Sempre quis te dizer isso.

— Vou te obrigar a dizer todos os dias. — beijei seus lábios


com carinho e ele pareceu encantado. — E não me enrola não! A

gente desceu aqui para você me mostra algo e... tocar.

— Vai querer mesmo me ouvir tão perto? — indagou

zombeteiro e eu revirei os olhos.

— Não vai me enrolar. — bati em suas mãos e pulei do seu

colo, e ele gargalhou alto. — Inácio, você pare de me dar os seus


sorrisos, se não, vou te trancafiar em casa, e te obrigar a sorrir

pra mim, o dia todo.

— Eu não consigo forçar sorrisos, criança. — piscou um

olho, e se levantou, vindo até mim. — Simplesmente, as vezes


não sai. Vai ter que se acostumar com o meu lado fechado, quieto

e controlado fora do nosso próprio momento.

— Eu já te aturo há anos. — fiz um sinal com a mão de


descaso, e ele me encarou seriamente, como se me desafiasse.

— Violão! — pedi, e ele caminhou até o lado de trás do sofá a


minha frente, e retirou o instrumento. — Lá fora? — perguntei

animada, e ele assentiu de imediato. — Tô sendo uma stalker do


meu marido por uma semana, na varanda do quarto de hóspedes.

— assumi e ele veio até mim, passando uma mão em minha


cintura e beijando minha testa.

Andamos até o lado de fora, e meu coração disparou, a


cada movimento dele, ao se sentar em uma das cadeiras, e eu

em uma das redes, presa à sua imagem.

— Vai cantar comigo em algum momento, não vai? — sua


pergunta me surpreendeu e eu percebi, que a cada segundo, ele

parecia o fazer. Quando Inácio Torres não o fazia? — Qual


música, criança?

— Eu te desafio a cantar a minha música favorita da Taylor.


— falei, e ele semicerrou os olhos, sorrindo no segundo seguinte.
— To achando que fui muito fácil.

— Será? — indagou, e no segundo em que dedilhou as

primeiras notas, eu soube. Me danei por completa!

“Há glitter no chão depois da festa

Meninas carregando seus sapatos pela recepção


Velas de ceras e polaroids no chão de madeira

Você e eu da noite anterior

Não leia a última página

Mas, nela, eu fico quando você está perdido e eu estou com medo
e você está se afastando

Eu quero suas madrugadas

Mas eu estarei limpando garrafas com você

no dia de Ano Novo”[30]

O inglês dele era perfeito e a voz rouca, combinava


perfeitamente. Perdera a conta de quantas vezes cantara aquela

música a plenos pulmões. Levei as mãos a minha barriga,


enquanto ele continuava a cantar, com os olhos fechados e
parecendo perdido da música.

Como ele podia? Como ele conseguia? Como eu tinha


encontrado o príncipe encantado? De cabelos castanho-escuros

ondulados, sem camisa, um chapéu branco de cowboy ao seu


lado, e no momento, apenas com uma calça fina na cor preta. Ele
era o meu príncipe perfeito.
Vi-me apenas levantando, indo até ele, e me sentando no
degrau ao lado, e cruzando minhas pernas. Ele pareceu perceber
minha aproximação no mesmo momento, e logo, seu olhar parou

no meu, mas ele não parou de cantar. A brigde chegou e eu não


pude resistir, cantei junto a ele.

“Por favor, nunca se torne um estranho

No qual a risada eu poderia reconhecer em qualquer lugar

Por favor, nunca se torne um estranho

No qual a risada eu poderia reconhecer em qualquer lugar”[31]

Ele parou de tocar, e sua mão veio para o meu rosto.

— Acho que não terá problema em reconhecer minha

risada em qualquer lugar. — olhei-o incrédula e ele sorriu

abertamente.

— Que horror, Inácio! — bati em sua mão, e ele deixou o

violão. — Não brinca com esse tipo de coisa.

— Medo de me perder, Maria Beatriz? — indagou, e


desceu da cadeira, sentando-se ao meu lado.
— Eu te enxerguei agora, então... Sem chance, cowboy. —

respondi, e ele tocou meu queixo, levantando-o. — Vai ter que me


aguentar.

— Eu vou te amar, do jeito que eu sempre quis. — trouxe-

me para mais perto. — E quero que me ensine como quer ser


amada.

— Você ainda vai perceber que eu realmente te amo. —

falei, notando a fragilidade do seu olhar, e como ele parecia

inseguro. Como ele não poderia?

— Vem cá. — pediu, e me puxou para si, como se o certo

fosse me prender sobre seu corpo, e eu fui, de bom grado. — Vai

dormir na cama comigo. — praticamente mandou e eu tive que


revirar os olhos. Algumas coisas não mudavam. — E eu não vou

mais me esconder de você.

— Então nada mais de atuar, se é que em algum

momento, realmente, o fizemos? — perguntei, e ele assentiu. —


O nosso dia do casamento praticamente surpresa para nós, foi

real, não foi?

— Cada segundo. — falou, e tocou meu rosto. — Eu

ouvi, sem querer, você falando com Leti sobre algumas coisas...
— Merda! — cortei-o e suspirei pesadamente. Lembrava-

me do que dissera, um pouco por cima, porque eu estava

completamente perdida. — Eu não me lembro direito, mas pode


ter parecido que eu não te queria, não é? — indaguei, e ele

assentiu, como se concordasse. — Por isso se fechou? Por isso a

nossa noite foi um caos e a semana...

— Porque eu estava morrendo de medo, criança. — falou,


encostando nossos narizes. — Medo do que sinto. Medo de te

pressionar.

— Tanto medo que não percebeu a forma como eu te olho?


— perguntei, mas não precisava de resposta. — Sempre pareceu

me ler tão bem.

— Eu sempre soube te deixar com raiva, é diferente. —

aquela era uma verdade.

— Com raiva, com tesão... — seu olhar mudou por

completo e tocou meu rosto. — Agora, uma mistura disso tudo, e

amor.

— Vou ter que conhecer a minha esposa apaixonada. —


falou, e o título pareceu mais do que bem-vindo.
— E eu, a conhecer o meu marido, e me apaixonar por

ele... todos os dias. — respondi, e seus lábios vieram para os


meus.

Simples assim.

A gente não discutia sobre estarmos juntos ou casados


porque era claro. A gente já estava. A gente já se pertencia. Antes

mesmo de eu perceber. Antes mesmo de ele admitir. Sempre teve

algo que nos envolveu, e em minha mente romântica, como o

velho fio do destino. Talvez, Inácio Torres fosse uma parte do meu
destino.

Olhos castanhos misteriosos. Sorrisos contidos e

guardados. Surpresas intermináveis e os braços nos quais eu


gostaria de ficar. O seu toque me anestesiava, assim como, me

revivia. O seu olhar me endeusava, assim como, me acendia. A

sua presença, era o bastante para exigir tudo de mim, cada

mínimo e amplo sentimento. E eu queria, mais do que tudo,


conhecer todo o resto, que ele poderia me fazer sentir. Se ele não

fosse o meu destino, soube que seria a minha escolha.


CAPÍTULO XXI

“Eu quero usar sua inicial

Em uma corrente em volta do meu pescoço

Não porque ele seja meu dono

Mas porque ele realmente me conhece"[32]

INÁCIO

— Então ela te ama? — Lucas perguntou, encostado

contra o carro, e negou com a cabeça. — Ela ia demorar quanto

tempo mais para entender? E pior, você? Por que não simplificam
as coisas?
— Vou fingir que estou entendendo. — falei, passando as

mãos pelos cabelos. — Por que mesmo somos melhores amigos?

— Porque eu sou o cara engraçado e bonito, e você... você

é você! — provocou e eu bati em seu ombro. — É sério, patrão!


— falou, e eu tive que revirar os olhos para o apelido que ele

sempre me dera.

Tudo bem, que no fim, me tornara aquilo para ele. Mas

Lucas me chamava de tal maneira, desde quando éramos


moleques. Segundo ele porque eu era cheio da grana. No fim, ele

achava que era engraçado, apenas achava mesmo.

— Não veio aqui só para me dizer que ela te ama, ou veio?

Aliás, agora eu entendi porque simplesmente tirou o dia de folga.

— inspecionou-me e era a verdade. Passara o dia perdido com

ela, apenas podendo amá-la e esquecer do mundo. Falando

sobre tudo, e as vezes, sobre nada. Nós merecíamos aquilo. —


Já sei! Vai admitir abertamente, para mim, que eu já sabia, que

você ama a sua senhora Torres?

Zombou e eu sabia que ele nunca pararia, se não falasse

de uma vez.
— As terras. — falei, e ele mudou completamente o
semblante. — Ela sabe de tudo, mas não das terras.

— E por que não foi a primeira coisa que contou? —


indagou, como se preocupado e eu passei a mão direita sobre o

chapéu pendurado na outra. — Você admitiu que ama a mulher a

vida toda, e ela tá descobrindo todo o seu lado romântico de

príncipe de conto de fadas...

— Lucas!

— Nem vem com a história de que não é o cara certo para


ela e blá blá blá. — revirou os olhos. — Sabemos que pode ser

um bruto, mas o teu coração é uma geleia!

— Esse não é o tópico. — cortei-o e ele parecia a ponto de


me mandar a merda, ou me levar diretamente até Mabi. — Isso

pode pressioná-la ainda mais.

— Acha que tudo isso está a pressionando? — perguntou,

e eu assenti, não sabendo se feliz ou não por ter alguém para

falar sobre. — Acha que ela está confundindo as coisas?

Fantasiando? E que se souber das terras, vai se sentir em dívida

ou...
— Ela disse que só não sabia, mas sempre me amou. —

falei, e meu amigo me olhou com atenção. — E se na verdade,


daqui um ano, ela acordar e ver que...

— Que o homem que eu me declarei e dei tudo de mim,


duvida? — uma voz ao fundo me paralisou e a luz não muito forte

na frente da casa de Lucas não ajudou em nada. Porém, eu sabia


que era ela.

— Eu sinto muito. — Gustavo falou, e caminhava ao lado

dela. Ele foi direto para Lucas, que apenas me encarou, sem
saber o que dizer. Ali, ela descobria mais do que a minha

insegurança, ela descobria que eu estava com medo. Morrendo.

Eu nunca pensei que a teria. E de repente, a tinha. Não tão

de repente quanto os anos que passei a amando, mas ainda


assim... Tão rápido quanto ela me enxergou, ela poderia escolher
não me enxergar. Não era?

Merda!

Um homem de trinta e seis anos, completamente domado e


perdido pelo medo de perder a mulher que amava. Que era sua
esposa. Que era a mãe do seu filho. Que era o seu futuro, ao

menos, em sua mente.


— Vim rebocá-lo para casa. — Mabi falou, e

surpreendendo-me, estendeu-me a mão, e eu fiquei sem reação.

— Vai logo, homem! — Gustavo praticamente ordenou e

saí de meu estupor.

— Velho? — ela insistiu, e eu fui, dando-lhe minha mão.

Uma vida escondendo o que sentia. Uma noite que mudara


tudo. Um dia que ela via cada rachadura minha.

Entrelaçou nossos dedos e eu não sabia o que dizer. De


repente, a culpa caiu sobre mim. A culpa de não confiar nela. A

culpa de não saber lidar com o amor. A cada passo que dávamos
em direção ao meu carro, meu coração se perdia na linha entre
quase sair pela boca e quase parar.

A casa de Lucas era na mesma propriedade, mas tinha


uma considerável distância. O que me fazia querer brigar com ela

por ter andado tanto até ali, mas não consegui. Apenas me calei,
ao ajudá-la a subir para o banco do passageiro, e passar o cinto

sobre si. Ela sorriu docemente, e eu estava perdido.

O que estava acontecendo?

Se um dia eu consegui lê-la, ali, eu não tinha ideia.


Pensei que o silêncio perduraria, mas senti seus olhos
presos em meu corpo, e uma mão diretamente na minha coxa, me
fez adorar seu toque.

— Pode me levar até aquele buraco na cerca? —


perguntou, e eu me vi apenas assentindo e seguindo caminho. —

E pode, deixar o farol do carro alto, em direção ao lago do outro


lado da cerca? Não deve ser muito eficiente, mas com as

lanternas dos celulares, deve funcionar.

— O que vai fazer? — indaguei, e ela deu de ombros.

— Bom, ao menos uma surpresa para você. — apertou

minha coxa com cuidado. — Não sou tão boa, mas... Vamos lá!

Assim que estacionei o carro, fiz o que me pediu. Carro

parado em direção que sabia que era o lago, farol alto, e corri
para ajudá-la a descer.

— Está com seu celular, não é? — perguntou e eu assenti,


sendo apenas puxado por sua mão e seguindo-a.

Mabi passou pelo buraco na cerca e fiz o mesmo, tentando


acompanhar seu ritmo. O caminho não estava totalmente
iluminado, pois seria impossível, porém, o farol alto, as luzes ao
redor da fazenda, e os nossos celulares com as lanternas,
ajudavam.

Quando ela parou a frente da árvore e passou os dedos


sobre algo, fiquei ainda mais perdido. Porém, ela sorriu sobre o
ombro, e os olhos azuis, me arrebataram, por inteiro. Eu poderia

duvidar de tudo, mas nunca, do amor que sentia por ela. E não
sabia o que pensar, por estarmos exatamente ali.

MABI

— Eles eram felizes aqui, sabe? — perguntei, tocando as

iniciais e tentando não pensar que a felicidade deles acabara

rápido demais. Um acidente de carro em um dia sem chuva ou


qualquer outro veículo. Alguns diziam que era para ser. Eu

gostava de me apegar a ideia de que eles se amavam tanto, que

tiveram que partir daquela vida, juntos. — Mas eles eram felizes,

em qualquer lugar.
— Meus pais contam até hoje, que nunca virão casal tão

apaixonado. — falou, e eu virei a lanterna para o seu peito,


tomando cuidado para não acertar seus olhos. — Eu sinto muito,

de verdade.

— Lembro de como me abraçou naquele dia horrível. —


anunciei, porque ele fora uma das pessoas que me apeguei aos

braços e deixei tudo sair. — Acho que nunca te agradeci por me

deixar destruir sua camisa ao chorar tanto.

— Sabe que isso não é um problema.

— Eu sei que eu tinha dezesseis, você vinte e seis, e nem

éramos amigos ou próximos... Mas você estava lá.

— Eu sempre me senti próximo a você, mesmo que nosso

contato fosse pouco. — admitiu, e eu assenti. — Mas daí veio a


faculdade, e a vida acontecendo... E quando eu tive um tempo

para ficar na cidade, soube que precisava de mim, e eu fui.

— Como você soube? — indaguei, e ele franziu o cenho.


— Como soube que me amava?

— Dois anos depois. — falou e dei um passo para perto,

sentindo seu toque em meu rosto. — Eu estava apenas


caminhando pela fazenda, era um domingo, e quando notei o
buraco na cerca, parei para tentar entender. Lembrei-me

vagamente, de passar por ali com meus irmãos, quando mais

novo.

— Eu passava por ele, e acabava correndo pelas suas


terras, com o que? Seis, dez anos?

— Nossos pais não pareciam ter problema em ter os filhos

correndo de um lado para o outro.

— Não. — sorri, e sua mão livre veio para meu rosto.

— Quando cheguei desse lado, eu te vi. — falou e pareceu

preso na lembrança. — Te vi com os cabelos sendo bagunçados

pelo vento, com um vestido rosa e falando sozinha com a árvore.


Deveria te achar maluca, mas no fim, senti que tinha me ferrado.

Eu estava presa a um conto de fadas, só podia.

— Apaixonado por uma mulher que fala com árvores.


Inácio Torres, se contasse isso a sua inimiga pessoal... Ela te

destruiria. — falei, e ele sorriu, olhando-me novamente. — Ou, ela

se apaixonaria também, perdidamente, quando te viu, sobre um

cavalo, falando com seu melhor amigo e a evitando por dias.

— Mabi...
— Eu quase tive um treco passando por esses dias de

confusão nossos. Não posso imaginar como foi para você


acreditar nesse amor, e me ver sendo cega. — falei, e quase

praguejei. — Me perdi em anos buscando um amor como o dos

meus pais, de alguém que eu achei que seria certo e seria o meu
futuro. Eu queria acreditar em algo, e acreditei, que a primeira

paixão da escola, seria o certo.

— Mabi...

— Não consegui enxergar que não era amor, porque, eu


nunca amei antes. Não até você chegar e quebrar tijolo por tijolo

do castelo encantado que eu criei. E depois disso, o transformado

em nós. Talvez não seja o suficiente, ou eu tenha que te provar


todos os dias, mas... O amor é sobre amar todos os dias, não é?

— Eu te amei por todos eles. — falou e notei a lágrima

escorrer pelo seu rosto.

— Como a minha música favorita, Inácio. — toquei seu


rosto com carinho e sorri. — “Eu fico quando você está perdido e

eu estou com medo.”[33] — ele beijou minha testa e eu quase me

desmanchei.
Éramos uma página nova, mas parecíamos estar contando

aquela história há muito tempo. Mesmo antes do “eu te amo”, era

amor.

— Pode me ajudar? — perguntei e mexi no bolso traseiro


de sua calça jeans, no qual sabia que geralmente, ficava uma

chave extra de casa. Até aquilo, eu passara a perceber no

homem.

Fiz um sinal com a cabeça até a árvore, e vi-me mirando a

lanterna na mesma. Cravei o símbolo de “mais” ao lado da minha

inicial, que fora feita ali, anos atrás. Antes que eu pudesse fazer a

inicial dele, senti-o segurar minha mão e surpreendendo-me, me


auxiliou a escrever a sua. A gente era um cafona tão bonito, que

eu poderia ficar presa aquele momento para sempre.

— Não vou ser mais fácil, só porque é cafona como eu. —


brinquei e ele sorriu para mim.

— Eu sinto por ser inseguro. — assumiu e eu neguei de

imediato. — Eu sou, e não tenho porque esconder isso. — tocou

meu rosto com carinho. — Não ouviu toda a conversa com Lucas,
não é?
— Gustavo e eu estávamos conversando, então... só ouvi o

final. E aqui estamos. — sorri, e ele fez o mesmo. — O que foi?


Tem mais alguma surpresa? Não vale! — falei, e bati levemente

em seu ombro. — Não vale superar a minha.

— Eu sou o dono das terras. — falou e eu demorei alguns

segundos sem entender o que de fato queria dizer. — Essas


terras, criança.

— Não! — vi-me parecendo uma repetição ambulante. —

Mas...

— Não sei explicar, eu só recebi a oferta do comprador do

leilão há alguns anos... Ele não sabia ao certo o que fazer e se

arrependeu de ter comprado. Então, as comprei e deixei como

estavam. — admitiu. — O furo na cerca, para me lembrar, do dia


em que em apaixonei... Da mulher que eu encontrei justamente

aqui e...

Fiquei incrédula e vi que a vida dele, parecia tão junto a


minha, que de repente, nos entrelaçávamos.

— O que eu vou fazer para poder surpreender você, de

verdade? — perguntei, enquanto algumas lágrimas desciam e


meu coração se perdia. Deixei o celular no bolso, e vi-me levando
as duas mãos para o seu rosto, sem conseguir pensar direito.

— Quando disse que me ama, o fez. — falou e eu fiquei

sem chão. — Vamos fazer dar certo, não sei como, mas vamos.

Sorri, sentindo sua mão limpando as lágrimas que desciam

de meu rosto. No meio do nada que era meu tudo. No meio da

escuridão em meio a pouca luz. No meio de onde tudo pareceu


começar, e de forma alguma, poderia terminar.

Porque era aquilo. Porque éramos nós. Porque era o meu

conto de fadas. E Inácio Torres, era o amor que tanto sonhei.


APEGUE-SE AS MEMÓRIAS

“Apegue-se as memórias, eles vão se apegar você

E eu vou me apegar a você"[34]

Meses depois...

Ela tentava, todos os dias, lhe fazer surpresas. E todas as

vezes, naqueles quase nove meses de gravidez, falhara


miseravelmente. Inácio tinha um quê de esperteza para sempre
descobrir o que ela tramava, até porque, Maria Beatriz era

completamente transparente para ele. Então, ela planejou


jantares românticos em casa – ele descobriu. Ela planejou

jantares românticos fora – ele descobriu. Ela planejou

piqueniques ao anoitecer – ele descobriu. Tudo relacionado a ela,


parecia simples para ele. E o era.

E mesmo que ela se sentisse frustrada, por não conseguir


surpreendê-lo de fato, no fim, ele se sentia, surpreendido, todos

os dias. Porque a cada tentativa dela, que em sua cabeça fora

falha, ele notava o quanto o amor dela por ele era verdadeiro. E
para Inácio, aquilo sempre seria o suficiente. Amara-a por uma

vida, achando que nunca teria aquele amor. Amara-a ainda mais,
por saber que era recíproco.

— Então, supermercado? — Inácio perguntou, sem


entender porque sua esposa lhe mandara uma mensagem do

nada, para que ele lhe encontrasse ali.

— A surpresa do dia. — Maria Beatriz respondeu, tentando

alcançar um pacote de miojo no alto da prateleira, mas o seu


tamanho e a barriga já enorme, não facilitaram. Inácio segurou um

sorriso e pegou o pacote, entregando-lhe. Ela colocou no carrinho

que empurrava e bufou. — Pelo menos esse, você não adivinhou.

— O que eu já te disse sobre surpresas, criança? — ele a

parou, e notou o olhar frustrado em seu olhar.

Sabia que ela estava assim, por ser uma romântica

incurável, e porque, queria quebrar todas as inseguranças dele.

Por mais que ele dissesse que já o fizera, ela parecia

determinada a continuar. E mesmo tentando, não conseguia


convencer a mulher da sua vida, grávida e determinada.

— Se disser que eu te surpreendo todo dia apenas por


acordar do meu lado, vou te bater. — declarou, e revirou os olhos.
Ela já era feroz, mas após alguns meses da gravidez,
tornara-se ainda mais. Maria Beatriz sabia daquilo. Sabia que não

conseguia mais guardar para si algumas frustrações. Dentre elas,

estava o fato de ser uma ótima escritora de romance, e uma

péssima romântica na vida real.

— Helena disse que...

— Não a chame assim. — cortou-o, e Inácio segurou a


risada, porque se o fizesse, ela lhe jogaria o miojo direto na cara.

A mulher estava que não se aguentava, com ciúmes de uma

outra, que mais parecia ter medo das reações dela. — Desculpe,

eu só...

Ela falou simplesmente, e Inácio a puxou para si, sabendo

que estava uma confusão em seu interior. Nunca conseguiria

compreendê-la, mas a cada dia, tentava amenizar o peso do

mundo, que ela parecia levar nas costas. A cada dia que se

aproximava do nascimento do filho deles, Maria Beatriz parecia


ainda mais ansiosa.

Sabia que ela tinha medo.

Não do parto, mas sim, de perder sua família.


Ele a entendia por completo, porque sua relação familiar

era a mesma. A cada dia que passava, Inácio sentia ainda mais o
medo de perder o pai, e não sabia dizer como Maria Beatriz

conseguira passar pela perda de tudo, quando mais nova. No


caso dele, ainda tinha uma esperança, já que um novo
tratamento, passara a fazer efeito, e quem sabe, as coisas se

encaminhariam. Era pelo que todos eles torciam. Já Maria Beatriz,


perdera tudo, e via-a todos os dias, falar de como o pinguinho

deles, era o seu tudo.

O era, a ponto de ela não saber lidar com o fato de que

seria uma boa mãe. O era, a ponto de Inácio tentar todos os dias
lhe dar o apoio e calma que precisava. Eles eram os opostos

perfeitos, de fato. Se encaixavam um no outro, mesmo quando


acharam que não faziam sentido algum. Ali, eles faziam.
Abraçados no meio do mercado da cidade, enquanto Maria

Beatriz sentia o medo de perder tudo, e Inácio, tinha o seu mundo


nos braços.

Era um dia de compras, que ela usara apenas de um

momento para respirar fundo. Mas minutos depois, se viu ligando


para ele, e o querendo ali. Não sabia dizer o porquê, mas algo

dentro de si, apitou. Acreditou, em um primeiro momento, que fora


a frustração do jantar romântico que não o surpreendera na noite

anterior. Porém, no segundo que sentiu uma leve cólica, e suas


pernas ficaram completamente molhadas, tudo fez sentido.

— Diacho! — falou, afastando-se de Inácio, o qual piscou


algumas vezes, sem entender. — A bolsa estourou. — declarou, e

ele arregalou os olhos, descendo o olhar para as pernas dela e


então, para o chão. E era real.

— Não pode ser, ainda faltam... — ele começou a falar,

mas se complicou todo no caminho. Maria Beatriz apenas ficou o


encarando, como se maravilhada diante da confusão do marido.

O homem que ela amava finalmente era surpreendido por ela. O


pinguinho não errava! — Por que está sorrindo? Não está com
dor ou...

Ela se viu então tocando os lábios do homem de um metro


e noventa a sua frente, que parecia pronto para desmaiar, e

continuou sorrindo.

— Primeiro: eu te surpreendi. — ele a olhou incrédulo. —


Segundo: nosso Lorenzo vai nascer! — ela praticamente gritou, e
deu um pulo no lugar. Nem ela mesmo entendia, mas não sentia

dores, apenas... calma. Depois de longos meses de medo, ali, ela


soube que estava pronta. Talvez, sempre estivesse, para dar à luz
ao seu filho.

— O que eu faço com você, criança? — Inácio perguntou,


e a pegou no colo no segundo seguinte.

Mesmo ela protestando, ele a levou até o carro daquela

maneira. E como sempre, ao depositá-la com cuidado,


transpassou o cinto sobre ela. Ambos sorriram, porque era o
melhor momento para se lembrarem de quem eram. Eram o amor

um do outro. Era o dia, do fruto daquele amor nascer.

Lorenzo Gonçalo Torres nasceu cerca de quatro horas

depois, com os cabelos ondulados e castanhos do pai, e os olhos


azuis da mãe. Ele não sabia, mas as pessoas que o amparavam,

olhando-o com tamanha devoção, lhe ensinariam o que era o


amor verdadeiro.

Inácio Torres encontrou o amor verdadeiro em um segundo


olhar para a mulher que vira crescer, e se perdeu por completo.

Maria Beatriz encontrou o amor no príncipe encantado que nunca


procurou, mas estava ali, pronto para tirar tudo dela. Lorenzo foi a
gravidez inesperada que os unira no momento certo, mas eles

estavam destinados, muito antes daquilo.


Foi no olhar que Inácio perdeu quando a viu com os
cabelos ao vento em um vestido rosa. Foi na fala que Maria
Beatriz perdeu quando o enxergou de fato e viu, que aquele

chapéu branco, só poderia ser dela.

E fora a primeira frase que ela escreveu, no prefácio do

seu segundo livro lançado, naquele último mês: Para o amor que
eu não tive escolha. E que eu escolho, novamente, todos os dias.
Para sempre.
E chegamos ao fim, e eu espero que de alguma forma,
Mabi e Inácio tenham alcançado as expectativas de todas as
pessoas que me pediram por eles. Um casal que traz consigo

vários clichês, mas que no fim, são apenas pessoas reais, com
medos, inseguranças, amores e desejos. Eu já estou com

saudade, mas posso dizer, que parte dela, será sanada quando
conhecermos as histórias dos outros Torres. Isso mesmo!
Teremos mais para contar deles, em clichês únicos. O que acha
disso?

O livro de JÚLIO TORRES e BRUNO TORRES já estão

disponíveis aqui na amazon:

CEO INESPERADO: meu ex melhor amigo

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SINOPSE
Se nem tudo que reluz é ouro, Júlio é apenas a melhor imitação

de pedra preciosa que Babi colocou os olhos.

O seu ex melhor amigo, a abandonou e quebrou seu coração

quando eram adolescentes. Bárbara Ferraz jurou a si mesma que nunca

mais o deixaria ficar perto. Maldito CEO engomadinho!

Júlio Torres sabe que deixou uma parte de si para trás. Sua ex

melhor amiga o odeia e ele, muitas vezes, teve o mesmo sentimento por si.
Maldita sombra!

Júlio sabe que não pode mais ignorar, porque ele não quer apenas a

sua melhor amiga de volta, ele a quer como sua.

Babi foge dele como o diabo foge da cruz. Entretanto, como fugir

se depois do reencontro e finalmente os pratos limpos, ela se

descobre grávida do seu ex melhor amigo?

O BEBÊ INESPERADO DO COWBOY

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SINOPSE

Se existe amor à primeira vista, Abigail Alencar e Bruno Torres


compartilham o completo oposto. Abi o detestou desde o primeiro

momento, e com o passar dos anos, o sentimento permaneceu. Bruno


é o típico cowboy cafajeste, arrogante e popular, que ela não suporta

um segundo na presença.

A cidade pequena sabe de seu desgosto e desinteresse no mais


novo dos Torres, porém, ele sempre pareceu ficar ainda mais animado

em confrontá-la. Se existe algo sobre Bruno que ela conhece bem, é


que ele não foge de um desafio.

Assim, quando Abi o encontra como babá da sua filha de

apenas um ano, ela só consegue pensar que ele quer algo. Bruno jura
que está ali apenas para tirá-la do sério, como sempre, mas tudo

acaba por mudar, naquele exato instante.

Existe uma linha tênue entre o amor e o ódio... eles estarão

dispostos a cruzá-la?

UMA FAMÍLIA INESPERADA PARA O VIÚVO


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SINOPSE

Olívia Torres sempre teve em mente que para bom entendedor


meia palavra basta. Assim, quando se apaixonou perdidamente e

descobriu que o homem com o qual se envolveu era casado, o seu mundo
perdeu o chão. Ela apenas foi embora, sem olhar para trás.

Contudo, com Murilo, ela nunca pode parar de olhar. Ainda mais,

quando descobriu que estava grávida.

Murilo Reis perdeu tudo. Nunca pensou, que em algum momento,


poderia voltar a sentir algo. Entretanto, bastou um olhar para Olívia, para
ele compreender que ainda existia uma chance. Chance essa, que se

perdeu por completo, quando ela o deixou.

Anos depois e uma coincidência do destino, Murilo descobre que


não apenas as lembranças daquele amor de verão permaneceram, mas

sim, que ele tem uma filha.

Um amor de verão pode ser o amor para a sua vida?


Caso tenha gostado da leitura, não esqueça de deixar sua
avaliação. Ela é muito importante para que a história chegue a

outras pessoas e desperte interesse nelas. E caso, queira


conhecer mais do meu trabalho ou papear comigo, recomendo

que me encontre nas redes sociais, principalmente, o Instagram


(@alineapadua).

Muito obrigada por chegar até aqui

Espero te ver em outras histórias ��

Com amor,

Aline
O melhor amigo do meu irmão (A REJEIÇÃO)

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Sinopse: Gabriela Moraes era apaixonada pelo melhor amigo do

irmão mais velho desde os quinze anos. Antônio era mais do que o seu

sonho de consumo, ele também era a pessoa com quem ela sempre pode

contar. O que ela não imaginava, era que no seu aniversário de dezoito

anos, ela seria rejeitada da forma mais fria por ele.

Dois anos depois e ele bate à sua porta.

Ela queria não sentir nada, e não sabia o que ele fazia ali. Porém,

sabia que, nunca mais, lhe daria a chance de quebrar seu coração.
O irmão da minha melhor amiga (A REDENÇÃO)

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Sinopse: Ane Sousa nunca quis se apaixonar por ninguém, muito

menos, pelo irmão mais velho da sua melhor amiga. Fábio Moraes era um

amigo, no fim, mesmo que a cada sorriso ela se visse sorrindo também.

Era inevitável desejá-lo. Quando aqueles lábios se tornam seus, por alguns

segundos, Ane pensa que talvez estivesse errada. Porém, a forma como
ele reage, lhe mostra, que o certo, sempre foi correr do sentimento.

Momentos marcados por desculpas esfarrapadas.

Dois anos de uma amizade consolidada, e nada mais.

Duas pessoas que fogem do real sentimento que as envolve.

No fim, eles se tornarão o clichê que nunca desejaram?


CONTATOS DA AUTORA

Instagram: @alineapadua

Wattpad: @AlinePadua

Facebook: Aline Pádua

Grupo do facebook: Romanceando com Aline Pádua

Meus outros livros: aqui


[1] Trecho da canção intitulada Ready For It? da artista norte-

americana Taylor Swift – álbum: Reputation, data de lançamento: 2017.

[2] Trecho da canção intitulada So It Goes... da artista norte-

americana Taylor Swift – álbum: Reputation, data de lançamento: 2017.

[3] Trecho da canção intitulada I Think He Knows da artista norte-

americana Taylor Swift – álbum: Lover, data de lançamento: 2019.

[4] Trecho da canção intitulada invisible string da artista norte-

americana Taylor Swift – álbum: folklore, data de lançamento: 2020.

[5] Trecho da canção intitulada Paper Rings da artista norte-

americana Taylor Swift – álbum: Lover, data de lançamento: 2019.

[6] Trecho da canção intitulada ‘tis the damn season da artista norte-

americana Taylor Swift – álbum: evermore, data de lançamento: 2020.

[7] Tradução direta: inimigos para amantes.

[8] Trecho da canção intitulada Cornelia Street da artista norte-

americana Taylor Swift – álbum: Lover, data de lançamento: 2019.

[9] Trecho da canção intitulada This Town do artista britânico Niall

Horran – álbum: Flicker, data de lançamento: 2017.


[10] Kindle é um leitor de livros digitais desenvolvido pela subsidiária

da Amazon, a Lab126, que permite aos usuários comprar, baixar, pesquisar


e, principalmente, ler livros digitais, jornais, revistas, e outras mídias digitais

via rede sem fio. Fonte: Wikipédia.

[11] Trecho da canção intitulada Photograph do artista britânico Ed

Sheeran – álbum: x, data de lançamento: 2014.

[12] Grey's Anatomy é um drama médico norte-americano exibido no

horário nobre da rede ABC. Fonte: Wikipédia.

[13] Trecho da canção intitulada Afterglow da artista norte-americana

Taylor Swift – álbum: Lover, data de lançamento: 2019.

[14] Trecho da canção intitulada Delicate da artista norte-americana

Taylor Swift – álbum: Reputation, data de lançamento: 2017.

[15] Trecho da canção intitulada ivy da artista norte-americana Taylor

Swift – álbum: evermore, data de lançamento: 2020.

[16] Trecho da canção intitulada A gente não se aguenta da artista

brasileira Marília Mendonça – álbum: Realidade, data de lançamento: 2017.

[17] Trecho da canção intitulada A gente não se aguenta da artista

brasileira Marília Mendonça – álbum: Realidade, data de lançamento: 2017.

[18] Trecho da canção intitulada Dancing With Our Hands Tied da

artista norte-americana Taylor Swift – álbum: Reputation, data de

lançamento: 2017.
[19] Trecho da canção intitulada Holy Ground da artista norte-

americana Taylor Swift – álbum: RED, data de lançamento: 2012.

[20] Trecho da canção intitulada Treacherous da artista norte-

americana Taylor Swift – álbum: RED, data de lançamento: 2012.

[21] Trecho da canção intitulada False God da artista norte-

americana Taylor Swift álbum: Lover, data de lançamento: 2019.

[22] Trecho da canção intitulada Dia, lugar e hora do artista brasileiro

Luan Santana – álbum: 1977, data de lançamento: 2016.

[23] Trecho da canção intitulada Gorgeous da artista norte-americana

Taylor Swift – álbum: RED, data de lançamento: 2017.

[24] Trecho da canção intitulada it’s time do to go da artista norte-

americana Taylor Swift – álbum: evermore, data de lançamento: 2020.

[25] Trecho da canção intitulada Largado Às Traças da dupla

sertaneja brasileira Zé Neto e Cristiano – álbum: Acústico, data de

lançamento: 2018.

[26] Trecho da canção intitulada Afterglow da artista norte-americana

Taylor Swift – álbum: Lover, data de lançamento: 2019.


[27] Trecho da canção intitulada So It Goes... da artista norte-

americana Taylor Swift – álbum: Reputation, data de lançamento: 2017.

[28] Trecho da canção intitulada gold rush da artista norte-americana

Taylor Swift – álbum: evermore, data de lançamento: 2020.

[29] Trecho da canção intitulada Daylight da artista norte-americana

Taylor Swift – álbum: Lover, data de lançamento: 2019.

[30] Trecho da canção intitulada New Year’s Day da artista norte-

americana Taylor Swift – álbum: Reputation, data de lançamento: 2017.

[31] Trecho da canção intitulada New Year’s Day da artista norte-


americana Taylor Swift – álbum: Reputation, data de lançamento: 2017.

[32] Trecho da canção intitulada Call It What You Want da artista

norte-americana Taylor Swift – álbum: Reputation, data de lançamento:

2017.
[33] Trecho da canção intitulada New Year’s Day da artista norte-

americana Taylor Swift – álbum: Reputation, data de lançamento: 2017.

[34] Trecho da canção intitulada New Year’s Day da artista norte-

americana Taylor Swift – álbum: Reputation, data de lançamento: 2017.

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