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Crianças selvagens são crianças que logo nos primeiros anos de vida passaram a viver

em completo isolamento da humanidade. São crianças que depois de pouco tempo de vida
se perdem da população, vivem como animais, não falam e não andam como pessoas
socializadas.

Tais histórias se originaram de relatos relativamente comuns no século XVIII, que


descreviam crianças encontradas no campo, tidas como sobreviventes por circunstâncias
especiais, desde os primeiros anos de vida, criadas por animais, sem contato com
humanos e assim se tornando selvagens.[1]

De acordo com o cirurgião francês Serge Aroles, que escreveu um estudo geral sobre
crianças selvagens, com base em arquivos (L'énigme des enfants-loups ou The Enigma of
Wolf-Children, 2007),[5] quase todos estes casos são fraudes escandalosas ou histórias
totalmente fictícias.
São esses relatos:

 Crianças-lobos do Hesse (1304, 1341 e 1344).


 O menino de Bamberg que cresceu entre bovinos (anterior a 1500).
 O menino irlandês criado por ovelhas, relatado por Nicolaes Tulp, em seu
livro Observationes Medicae (1672). Serge Aroles dá provas de que esse menino era
um menino com deficiência grave exibido por dinheiro.
 As três crianças-ursos da Lituânia (1657, 1669 e 1694). Segundo o referido autor, os
arquivos (da rainha da Polônia, 1664-1688) publicados por Serge Aroles mostram
evidências de que esses três casos são totalmente falsos. Houve apenas um menino,
encontrado nas florestas, na primavera de 1663, e levado à capital da Polônia.
 A garota de Oranienburg (1717).
 Os dois meninos dos Pirenéus (1719).
 Peter, o menino selvagem de Hamelin (1724): uma criança deficiente mental, com
deficiências na língua e nos dedos, que consta como tendo vivido por apenas um ano
na selva.
 Marie-Angelique Le Blanc, a menina selvagem de Champagne (França, 1731), floresta
de Songy (Marne). Serge Aroles, que já revelou centenas de documentos relativos a
essa menina e publicou 30 deles em sua biografia (2004), afirma que, apesar de
certas incoerências quanto a sua idade, origem étnica e localização da ocorrência, é o
único caso verdadeiro de uma criança que tenha sobrevivido por 10 anos nas florestas
(entre novembro de 1721 e setembro de 1731) e a única criança-selvagem que
conseguiu uma reabilitação intelectual completa, tendo aprendido a ler e a escrever.
 A garota-urso de Krupina, Eslováquia (1767). Segundo esse autor, não se
encontraram vestígios dos seus arquivos em Krupina.
 O adolescente de Kronstadt (1781). Segundo o documento escrito em húngaro,
publicado por Serge Aroles, é um caso de embuste: o menino, deficiente mental,
tinha bócio (hipotiroidismo?) e foi exibido por dinheiro.
Mowgli, capa do original de ficção sobre a criança-
selvagem criada por lobos deThe Jungle Book de Rudyard Kipling.

 Victor de Aveyron (1797), retratado no filme de 1970, O Menino Selvagem (L'enfant


sauvage), de François Truffaut. Uma vez mais, Serge Aroles deu provas de que esse
famoso caso analisado por Philippe Pinel (1745-1826) e Jean Itard (1774-1838) não
correspondia a uma verdadeira criança-selvagem.
 Amala e Kamala, as meninas criadas por lobos, encontradas em 1920[1] perto de
Midnapore, região de Calcutá, na Índia. Amala, a mais jovem, morreu um ano após ser
encontrada e Kamala era uma menina deficiente mental espancada com um pedaço
de pau por seu tutor para obter o comportamento de suposto animal com fins de
exposição.
 Ramu, Lucknow, Índia (1954), tomado por um lobo como cria até a idade de 7 anos.
Uma vez mais, um embuste, de acordo com Serge Aroles, que conduziu investigações
em Lucknow.
 Criança-gazela da Síria. Segundo Aroles um rapaz com idade em torno de 10 anos foi
encontrado no meio de uma manada de gazelas no deserto sírio na década de 1950 e
só foi capturado com a ajuda de um jipe do exército iraquiano, porque ele podia correr
a velocidades de até 50 km/h. Típico boato, como são todas as crianças-gazelas
descritas.
 Criança-gazela do Saara (1960). Menino gazela do Rio do Ouro (Saara Espanhol),
descrito por Jean-Claude Armen, pseudônimo de Jean-Claude Auger (no livro The
Saharan Gazelle Boy, de 1971). Segundo o referido trabalho de Aroles após
investigações sobre esse caso, em 1997, e a recolha de testemunhos na Mauritânia, o
próprio autor da história, J.C. Armen, reconheceu que ele tinha escrito um livro de
ficção.
 Kaspar Hauser (início do século XIX), retratado no filme de 1974 O Enigma de Kaspar
Hauser, de Werner Herzog.[1] Esse adolescente, de cerca de 15 anos, encontrado
em Nurembergue, foi recentemente tomado como referência em estudos sobre
linguagem e realidade por Blikstein, 2003.[6] Um dos créditos desse relato são os
escritos do criminalista germânico Paul Johann Anselm von Feuerbach (1775-1833),
autor da obra “Kaspar Hauser. Beispiel eines Verbrechens am Seelenleben des
Menschen”.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Crian%C3%A7a_selvagem
Um dos grandes debates que ocupa uma parte importante na nossa história é o que
se refere à influência da sociedade na infância. Dois grandes autores desse
debate foram Jean-Jacques Rousseau de um lado e Thomas Hobbes em
oposição. Suas reflexões versavam sobre a bondade e a maldade da
humanidade, dois temas que, como veremos a seguir, estiveram relacionados
com as chamadas “crianças selvagens”.

Jean-Jacques Rousseau (1896) defendia que o homem é bom por natureza e a


sociedade o corrompe. Por sua vez, Hobbes (1588/2010) cunhou a famosa
frase “o homem é o lobo do homem”, que quer dizer que o homem é mau por
natureza e são exatamente os mecanismos de controle social que evitam que
essa maldade acabe nos destruindo.

Mas, como saber quem estava certo? Apesar de ser impossível separar
uma criança da sociedade para comprovar por razões morais e éticas, existem
crianças que, por diferentes circunstâncias, foram criadas isoladas da
sociedade. Esses casos foram chamados de “crianças selvagens”.

As “crianças selvagens” são pessoas que durante uma parte da infância viveram
fora da sociedade, isso inclui tanto crianças que foram confinadas quanto
crianças que foram abandonadas na natureza. Mesmo que sejam poucos
casos e mesmo que em alguns tenha sido colocada em questão a veracidade
do isolamento ou se são apenas mitos de pouca credibilidade, existem mais de
vinte casos que, com maior ou menor rigor, foram documentados e estudados.
Víctor de Aveyron
Possivelmente o caso mais famoso de uma criança selvagem é o caso de Víctor de
Aveyron. Víctor (Itard, 2012) foi capturado quando tinha aproximadamente onze
anos. Ao final de uma semana, ele escapou e, depois de passar o inverno, foi
capturado de novo quando estava escondido em uma casa abandonada. Ele foi
internado em um hospital, onde se começou a estudar seu caso.

Uma das teorias que teve mais aceitação sobre o caso de Víctor é que ele
sofria de um transtorno de espectro autista. Devido aos estranhos
comportamentos que ele apresentava, sua família o abandonou. Além disso, as
várias cicatrizes que Víctor tinha não eram por causa da vida selvagem. Elas
correspondiam a abusos físicos anteriores à época em que foi encontrado na
floresta.
Segundo um dos médicos que cuidou do seu caso (Itard, 1801), Víctor
era “uma criança desagradavelmente suja, que apresentava movimentos espasmódicos
e, inclusive, convulsões. Ele se balançava incessantemente como um animal de
zoológico e mordia e arranhava quem quer que se aproximasse. O menino não
demonstrava nenhum afeto pelas pessoas que cuidavam dele e, em suma, se mostrava
indiferente a tudo e não prestava atenção em nada”. Apesar do seu aspecto físico
ter melhorado, assim como sua sociabilidade, as tentativas de ensiná-lo a falar e
a se comportar de maneira civilizada não tiveram sucesso.

https://amenteemaravilhosa.com.br/criancas-selvagens/

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