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CURSO DE HIDROGEOLOGIA

SETEMBRO DE 2019
CURSO MDGEO Nº

01

CURSO IGAM 2019

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................. 5


ANEXOS ............................................................................................................................... 6
PARTE I - CONCEITOS BÁSICOS DE HIDROGEOLOGIA .................................................. 7
1 ORIGEM DAS ÁGUAS E O CICLO HIDROLÓGICO ..................................................... 8
2 CONCEITOS BÁSICOS............................................................................................... 13
2.1 RESERVATÓRIO SUBTERRÂNEO .................................................................................13
2.2 INFILTRAÇÃO E RECARGA ............................................................................................14
2.3 EVAPOTRANSPIRAÇÃO .................................................................................................14
2.4 DESCARGAS NATURAIS ................................................................................................14
2.5 ESCOAMENTO ................................................................................................................15
2.6 BALANÇO HÍDRICO ........................................................................................................16
2.7 RESERVAS E RECURSOS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA ..................................................17
2.8 CLASSIFICAÇÃO HIDROGEOLÓGICA DAS ROCHAS E TIPOS DE AQUÍFEROS ..........20
2.8.1 Aquíferos Livres ...........................................................................................................21
2.8.2 Aquíferos Confinados ...................................................................................................22
2.8.3 Aquífero Semiconfinado ...............................................................................................23
2.8.4 Aquiclude .....................................................................................................................23
2.8.5 Aquífugo ......................................................................................................................23
2.8.6 Aquitardo .....................................................................................................................23
2.9 O FLUXO NOS MEIOS POROSOS ..................................................................................24
2.9.1 Porosidade ...................................................................................................................24
2.9.2 Porosidade Total ..........................................................................................................25
2.9.3 Porosidade Efetiva .......................................................................................................25
2.9.4 Permeabilidade ou Condutividade Hidráulica ................................................................26
2.9.5 Transmissividade .........................................................................................................28
2.9.6 Coeficiente de Armazenamento....................................................................................28
2.9.7 Homogeneidade, Isotropia e Continuidade ...................................................................30
2.10 NOÇÕES DE HIDROLOGIA APLICADA À HIDROGEOLOGIA .........................................31
2.10.1 Bacia Hidrográfica ....................................................................................................31
2.10.2 Análise de Hidrogramas ...........................................................................................31
3 HIDRÁULICA DE POÇOS ........................................................................................... 38
3.1 REGIME PERMANENTE E TRANSITÓRIO......................................................................38
3.2 POÇO EM AQUÍFERO CONFINADO SOB REGIME ESTACIONÁRIO. ............................38
3.3 POÇO EM AQUÍFERO CONFINADO EM REGIME TRANSIENTE ...................................42
3.3.1 Determinação da Transmissividade e Coeficiente de Armazenamento pelo Método de
Theis 43
3.3.2 Determinação da Transmissividade e Coeficiente de Armazenamento pelo Método de
Jacob 43
3.4 POÇO EM AQUÍFERO LIVRE EM REGIME TRANSIENTE ..............................................46
3.5 AQUÍFEROS SEMICONFINADOS ...................................................................................47
3.6 AQUÍFEROS LIVRES COM DRENAGEM DIFERIDA .......................................................47
4 POÇOS EM AQUÍFEROS REAIS ................................................................................ 48
4.1 SUPERPOSIÇÃO DE EFEITOS DE INTERFERÊNCIA EM POÇOS COMPLETOS ..........48

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4.1.1 Teoria das Imagens - Poços em Aquíferos Limitados ...................................................52


4.1.2 Barreira Negativa .........................................................................................................52
4.1.3 Barreira Positiva ...........................................................................................................54
4.2 FUNÇÃO DO POÇO - ENSAIO DE PRODUÇÃO .............................................................56
4.2.1 Execução de Ensaio de Bombeamento Escalonado .....................................................59
4.2.2 Curva Características do Poço .....................................................................................63
4.3 DETERMINAÇÃO DA TRANSMISSIVIDADE PELO MÉTODO DE JACOB – AQUÍFERO
LIVRE – EXEMPLO ......................................................................................................................65
4.3.1 Utilizando os procedimentos para aquíferos confinados ...............................................65
4.3.2 Correção do rebaixamento para aquíferos livres. ..........................................................66
4.3.3 Correção da variação de vazão durante o ensaio .........................................................68

PARTE II: ASPECTOS PRÁTICOS DO PROJETO DE REBAIXAMENTO DO NÍVEL


D’ÁGUA EM MINAS A CÉU ABERTO ................................................................................ 71

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 72
2 ESTUDOS HIDROGEOLÓGICOS PARA PROJETOS DE REBAIXAMENTO DO
NÍVEL D’ÁGUA - ESCOPO DOS SERVIÇOS ..................................................................... 75
2.1 COLETA, COMPILAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS EXISTENTES ..................................75
2.2 INVENTÁRIO DE PONTOS D'ÁGUA ................................................................................76
2.3 CADASTRO DE USUÁRIOS DE ÁGUA............................................................................78
2.4 PROGRAMA DE MONITORAMENTO ..............................................................................80
2.4.1 Projeto da Rede de Monitoramento ..............................................................................80
2.4.2 Acompanhamento da Implantação da Rede de Monitoramento-Complementação ........81
2.4.3 Definição do Plano de Monitoramento Hídrico ..............................................................81
2.4.4 Caracterização hidroquímica ........................................................................................81
2.4.5 Caracterização isotópica ..............................................................................................82
2.4.6 Elaboração do Modelo Hidrogeológico Conceitual ........................................................82
2.4.7 Pesquisa hidrogeológica ..............................................................................................83
2.4.8 Montagem e calibração do modelo numérico ................................................................83
2.4.9 Projeto de rebaixamento do nível d’água ......................................................................84
2.5 PRINCIPAIS IMPACTOS E MEDIDAS MITIGADORAS EMPREGADAS EM
REBAIXAMENTO DO NÍVEL D’ÁGUA ..........................................................................................85
2.5.1 Os impactos .................................................................................................................85
2.5.2 A mitigação dos impactos.............................................................................................86

3 PROCEDIMENTOS PARA OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO DE POÇOS TUBULARES


PARA REBAIXAMENTO DO NÍVEL D’ÁGUA EM MINAS A CÉU ABERTO ...................... 90

3.1 OBJETIVOS .....................................................................................................................90


3.2 NATUREZA DOS EQUIPAMENTOS ................................................................................91
3.2.1 Poços Tubulares ..........................................................................................................91
3.2.2 Equipamentos de Bombeamento..................................................................................92
3.3 OPERAÇÃO DOS POÇOS ...............................................................................................93
3.4 MEDIÇÕES E ATIVIDADES NECESSÁRIAS ...................................................................93
3.4.1 Conceitos Sobre Medidas de Níveis D'água nos Poços Tubulares. ...............................93
3.4.2 Nível Estático ...............................................................................................................94
3.4.3 Nível Dinâmico .............................................................................................................94

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3.4.4 Nível Inicial ..................................................................................................................95


3.4.5 Medição de Vazão .......................................................................................................95
3.4.6 Tempo de Bombeamento .............................................................................................95
3.4.7 Amperagem e voltagem ...............................................................................................95
3.4.8 Volume Extraído e Tempo de Operação .......................................................................95
3.4.9 Teor de Areia ...............................................................................................................96
3.4.10 Desinfecção com Cloro ............................................................................................96
3.4.11 Teste de Produção ...................................................................................................96
3.4.12 Análise Físico-Química D'água ................................................................................97
3.4.13 Video-inspeção ........................................................................................................97
3.4.14 Limpeza dos Poços ..................................................................................................97
3.4.15 Periodicidade das Medições e Atividades .................................................................98
3.5 CUIDADOS ESPECIAIS COM OS EQUIPAMENTOS .......................................................98
3.5.1 Poços Novos ou com Equipamentos Redimensionados ...............................................98
3.5.2 Instalação de Bomba Submersa ...................................................................................99
3.5.3 Conjunto Moto-bomba de Reserva ...............................................................................99
3.6 ROTEIRO DE EXECUÇÃO DE DESINFECÇÃO EM POÇOS ...........................................99

PARTE III - CONCEITOS DE HIDROQUÍMICA ................................................................. 102

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 103


2 SUBSTÂNCIAS QUE SE ENCONTRAM DISSOLVIDAS NA ÁGUA SUBTERRÂNEA
105
3 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DOS ÍONS E SUBSTÂNCIAS DISSOLVIDAS MAIS
IMPORTANTES................................................................................................................. 108
3.1 ÂNIONS E SUBSTÂNCIAS IÔNICAS .............................................................................109
3.1.1 Íon cloreto (Cl-)...........................................................................................................109
3.1.2 Íon sulfato (SO4–2) ......................................................................................................109
3.1.3 Íons bicarbonato e carbonato, HCO3 – e CO3–2............................................................110
3.1.4 Íons nitrato, NO3-2.......................................................................................................110
3.1.5 Sílica, SiO2 .................................................................................................................111
3.2 CÁTIONS E SUBSTÂNCIAS CATIÔNICAS ....................................................................112
3.2.1 Íon sódio, Na+ ............................................................................................................112
3.2.2 Íon potássio, K + .........................................................................................................112
3.2.3 Íon cálcio, Ca +2..........................................................................................................113
3.2.4 Íons magnésio, Mg +2 .................................................................................................113
3.2.5 Íons relacionados ao ferro ..........................................................................................113
4 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS E FÍSICO-QUÍMICAS............................................ 116
4.1 POTENCIAL HIDROGENIÔNICO (PH)...........................................................................116
4.2 RESÍDUO SECO ............................................................................................................116
4.3 SÓLIDOS TOTAIS DISSOLVIDOS (STD): ......................................................................117
4.4 ALCALINIDADE TAC E TA.............................................................................................118
4.5 CONDUTIVIDADE ELÉTRICA........................................................................................118
4.6 DUREZAS TOTAL, PERMANENTE E TEMPORÁRIA OU CARBONATADA (DT, DP, DC).
119
4.7 DEMANDA QUÍMICA DE OXIGÊNIO (DQO) E MATÉRIA ORGÂNICA (MO) ..................120
4.8 DEMANDA BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO (DBO) ............................................................120
4.9 POTENCIAL DE OXI - REDUÇÃO (EH) .........................................................................120
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4.10 ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA ...........................................................................................121


4.10.1 Cálculo do equivalente grama dos compostos ........................................................121
4.10.2 Balanço de ânions e cátions em uma análise química e os erros relacionados .......125
4.10.3 Cálculo do Balanço Iônico ......................................................................................126
4.10.4 Apresentação das análises físico-químicas ............................................................126
4.10.4.1 Diagrama de Stiff ........................................................................................................... 128
4.11 RELAÇÕES IÔNICAS ....................................................................................................131
5 EXERCÍCIOS DE HIDROQUÍMICA ........................................................................... 134
6 CORROSÃO E INCRUSTAÇÃO DE POÇOS ............................................................ 138
6.1 ÍNDICE DE ESTABILIDADE DE RYZNAR (IER) .............................................................140
6.1.1 Cálculo do pH de equilíbrio.........................................................................................140
6.1.2 Aplicação prática para o cálculo do pH de equilíbrio ...................................................141
7 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 143
8 LEITURAS RECOMENDADAS ................................................................................. 143
9 SITES RECOMENDADOS ......................................................................................... 144
ANEXOS ........................................................................................................................... 145

LISTA DE FIGURAS
1.1: Ciclo Hidrológico. .......................................................................................................................10
2 - Figura I-1.1: Ciclo Hidrológico – Serviço Geológico dos EUA........................................................11
3 - Figura I-2.1: Hidrograma do Córrego Bebedouro, ano hidrológico 2004/05. ..................................16
4 - Figura I-2.2: Reservatório e reservas de água subterrânea...........................................................17
5 - Figura I-2.3: Perfil esquemático da variação do nível d’água e reservas. ......................................18
6 - Figura I-2.4: Gestão do reservatório de água subterrânea. ...........................................................19
7 - Figura I-2.5: Perfil esquemático de um sistema aquífero...............................................................21
8 -Figura I-2.6: Tipos de porosidades. ...............................................................................................24
9 - Figura I-2.7: O experimento de Darcy. ..........................................................................................26
10 - Figura I-2.9: O coeficiente de armazenamento para aquíferos livres e confinados. .....................30
11 - Figura I-2.10: Exemplo de um hidrograma. .................................................................................34
12 - Figura I-2.11 – Hidrogramas de cursos d’água com alta, baixa variabilidade e intermitente.........35
13 - Figura I-3.1: Representação de cone de influência de um aquífero livre e de um confinado com
transmissividades iguais. ..................................................................................................................38
14 - Figura I-3.2: Poço tubular captando em um aquífero confinado, sob regime estacionário............40
15 - Figura I-3.3: Método de Theis para determinação de T e S.........................................................43
16 - Figura I-3.4: Exemplo da determinação de T e S pela simplificação de Jacob. ............................44
17 - Figura I-3.5: Superposição dos efeitos de rebaixamanto. ............................................................49
18 - Figura I-3.6: Nível d’água em uma bateria de poços. ..................................................................50
19 - Figura I-3.7: Planilha para cálculo da interferência entre 2 poços tubulares. ...............................51
20 - Figura I-4.1: Exemplo de uma barreira negativa em um poço tubular. .........................................53
21 - Figura I-4.2: Gráfico de Bombeamento Prolongado de Aquífero Confinado com Barreira Negativa
.........................................................................................................................................................54
22 - Figura I-4.3: Exemplo de uma barreira positiva em um poço tubular. ..........................................55
23 - Figura I-4.4: Gráfico de bombeamento prolongado de Aquífero Confinado com Barreira Positiva
.........................................................................................................................................................56
24 - Figura I-4.5: Perdas de carga em um poço tubular. ....................................................................58

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Figura25 I-4.6: Exemplo de uma tabela de ensaio escalonado. .........................................................60


26 - Figura I-4.7: Gráfico do Ensaio Escalonado – Nível de Água no Poço. .......................................61
27 - Figura I-4.8: Cálculo de β ...........................................................................................................62
28 - Figura I-4.9: Curva característica de um poço tubular. ................................................................65
29 - Figura I-4.10 Exemplo da determinação de T sem correção no rebaixamento. ...........................66
30 - Figura I-4.11: Exemplo da determinação de T a partir de correções no rebaixamento .................67
31 - Figura I-4.12: Determinação de T utilizando o rebaixamento específico ......................................68
Figura32 - Fotos e desenhos de estruturas de conservação da água no solo ...................................89
33 Quadro II-3.1 - Sumário do programa de operação e manutenção de poços .................................98
34 III-3.1: Campos de estabilidade das soluções aquosas dos sistemas ferrosos-férricos. São
indicados os campos em que se situam a maioria das águas naturais e subterrâneas. (Segundo Hem
et al. in Custodio, E. & Llamas, M. R., 1976)....................................................................................115
35 - Quadro I-4.1 –Conversão de expressões químicas (Custodio ,E. & Llamas,M.R. , 1976 página
222) ................................................................................................................................................123
36 - Figura III-4.1: Diagrama de Piper com as respectivas classificações hidroquímicas ..................127
37 - Figura III-4.2: Exemplo de Diagrama de Piper correspondente a um conjunto de análises
químicas de água............................................................................................................................128
38 - Figura III-4.3: Diagramas de Stiff ..............................................................................................129
39 - Figura III-4.4: Diagramas de Stiff, Cauê, Gandarela e Cercadinho ............................................130
40 - Figura IV-4.5: Diagrama de Stiff, retirado do Plano da Bacia Hidrográfica do Rio do Douro,
Portugal. .........................................................................................................................................131
41 - Figura I-5.1 : Diagrama de Piper...............................................................................................138
42 - Tabela 1.6-1 – Classificação da água segundo a incrustabilidade ou agressividade, através do
índice de estabilidade de Ryznar .....................................................................................................140
43 - Figura III-6.1: Gráfico e Nomograma para determinação do pH de equilíbrio. - Extraído de Rocha,
G.A. & Jorba, A.F. – Manual de operação e manutenção e poços, DAEE – SP, 1982. .....................141

ANEXOS
Anexo 1 - Ficha de Cadastro de Poço .............................................................................................146
Anexo 2 - Ficha de Cadastro de Piezômetro....................................................................................148
Anexo 3 - Ficha de cadastro de surgência d'água ...........................................................................150

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PARTE I - CONCEITOS BÁSICOS DE HIDROGEOLOGIA

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1 ORIGEM DAS ÁGUAS E O CICLO HIDROLÓGICO


A evolução do conhecimento

“No pico mais alto da Serra da Piedade, perto de Sabará, que se eleva a 5.460
pés acima no nível do mar e em seu ponto mais alto se ergue no ar, como maciço e
isolado de itabirito, essa pedra exuda incessantemente grossas gotas de água, que
caem e desaparecem, mas surgem cerca de 100 pés mais abaixo como uma pequena
nascente, que forma uma das origens do Rio das Velhas, um dos afluentes do São
Francisco.

As nascentes do famoso Rio Doce descem da mesma forma despretensiosa das


montanhas vizinhas a Vila Rica, juntam-se sob o nome Ouro Preto em um ribeirão que
engole as riquezas auríferas trazidas das montanhas, e assim posso, pelo menos
conforme minhas numerosas pesquisas, nutrir outra opinião senão a de que os rios
devem sua origem à precipitação de umidade da atmosfera.

Se a água, através de misteriosas bombas artificiais construídas do Criador, é


elevada de imensos depósitos subterrâneos e trazida através de condutores capilares
até o cume dos montes, pergunto então: Por que, então, as maiores planícies e
baixadas, onde a água poderia chegar à superfície pelo caminho mais curto, são tão
pobres em rios e as regiões montanhosas e ricas em madeiras as mais bem dotadas
de água?” (Eschewege, 1824).

O texto acima foi extraído do livro Brasil, Novo Mundo – Volume II de Wilhelm
Ludwig Von Eschewege, publicado em 1996 pela Fundação João Pinheiro – MG. Este
texto aborda pelo menos três questões básicas da hidrogeologia:

• Eschewege como geólogo, revela a importância fundamental das


observações de campo, que apesar de óbvia nestes dias de internet,
sensoriamento remoto, helicópteros, etc, que merece ser sempre
lembrada;

• As contradições ainda existentes no meio científico do começo do século


XIX sobre a questão da origem das águas. Contradições estas,
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atualmente repetidas de forma continua por experts ou espertos em água,


sabe-se lá com quais intenções;

• A contradição, presente no Código Florestal Brasileiro, na definição das


Áreas de Proteção Permanente, em que a recarga se dá apenas no topo
dos morros.

Na antiguidade clássica Platão concebia que a água dos rios e surgências eram
provenientes de uma rede de condutos interconectados, que terminava em uma
grande caverna subterrânea, O Tártaro. Aristóteles, por sua vez, acreditava que a
água subterrânea era proveniente da condensação por esfriamento do ar e dessa
forma os rios mais caudalosos nasciam nas montanhas mais altas.

Foi Marcus Vitruvius Pollio, engenheiro e arquiteto romano que viveu na época
de Cristo, quem admitiu que a chuva que caía nas montanhas, infiltrava-se e ressurgia
no sopé das elevações, formando os rios. Foi a primeira teoria de infiltração que
rompeu os tabus dos conceitos antigos consolidados na época. Mas o texto de
Eschewege deixa claro que as ideias de Vitruvius não prosperaram o suficiente, nem
mesmo após serem fortemente questionadas durante o renascimento, com a
aplicação de metodologia científica.

Manuel Ramón Llamas no clássico Hidrología Subterránea (Ediciones Omega,


1976, pág. 252) comenta a frase de Roger Bacon (1214-1292) "Sine experientia nihil
sufficienter sciri potest" (sem experimentos nada pode ser conhecido de modo
suficiente) da seguinte forma: "... merecia todavía hoy ser repetida con frecuencia a
todos los que se dedican a la investigación hidrogeológica.". Seguir os conceitos de
Bacon recomendados pelo Prof. Llamas significa romper com o mágico ou místico
sobre as águas em geral, que habitam o imaginário do homem comum e o discurso
dos oportunistas de plantão.

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O ciclo hidrológico

A água da atmosfera precipita-se sobre o terreno na forma de chuva ou neve.


Ao cair, parte escoa pela superfície e fica armazenada em corpos d’água superficiais,
parte infiltra-se nos solos e posteriormente armazenada nos aquíferos e parte retorna
à atmosfera na forma de vapor. A água que escoa pela superfície forma os rios, lagos
e oceanos, praticamente quase toda a água superficial caminha para os oceanos. A
água infiltrada percola em profundidade nos aquíferos e retorna a superfície
constituindo as surgências que alimentam os rios e lagos durante os períodos de
estiagem. O retorno à atmosfera é assegurado pela evaporação direta dos corpos
d’água, solos, transpiração das plantas e sublimação do gelo ou neve (figuras I-1.1 e
I-1.2).

1.1: Ciclo Hidrológico.

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2 - Figura I-1.1: Ciclo Hidrológico – Serviço Geológico dos EUA

Dessa forma, podemos falar daquela brincadeira de nosso amigo o Prof. Dr.
Rafael Fernandez-Rubio, da Escuela Superior de Ingenieros de Mina de Madrid: “É
possivel que hoje pela manhã você tenha tomado um copo d’água com algumas
moléculas da água usada no banho em que a Rainha Cleopatra tomou quando se
encontrou com o General Marco Antônio pela primeira vez”. A afirmação é oportuna e
esclarecedora, pois a água circula continuamente em sub-superfíce, superfície e na
atmosfera.

A água das nascentes e rios não são originadas no “Tartaro”, tampouco


dependem da altura das montanhas e não são bombeadas pelo criador, o motor que
aciona o Ciclo Hidrológico é o Sol, e o escoamento é assegurado pela lei da gravitação
universal. Seja doce ou salgada, limpa ou poluída, dos mares, lagos, rios, solos e
vegetais água acaba sendo transformada em vapor pelo Sol, quer evaporada,
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evapotranspirada ou sublimada. Retorna limpa ou excepcionalmente com ligeira


acidez localizada, invariavelmente potável. Esse é o ciclo hidrológico. Assim, quando
ouço alguém falar: a água vai acabar, logo penso que alguém vai ter de desligar o
SOL.

Antonio Carlos Bertachini

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2 CONCEITOS BÁSICOS

2.1 RESERVATÓRIO SUBTERRÂNEO


“Reservatório Subterrâneo é um meio poroso natural (formação geológica), de
dimensões variáveis capaz de armazenar em seus poros um fluido e de permitir seu
movimento sob a ação de forças gravitacionais. Quando está saturado de água vem
a ser chamado de aquífero, que é uma unidade hidrogeológica.” (Custódio e Llamas,
1976).

Um aquífero nem sempre está associado fisicamente a uma formação geológica.


Um aquífero pode compreender parte de uma formação geológica ou várias
formações. Por exemplo, o aquífero Guarani da bacia do Paraná compreende diversas
formações: Santa Maria, Pirambóia, Botucatu, etc; tem a extensão de milhares de
quilômetros quadrados.

Da mesma forma, uma zona fraturada de um granito no semi-árido nordestino,


desprovido de solo e manto de alteração, pode ser um aquífero, ou zona aquífera
localizada. Por outro lado, uma zona fraturada de um granito similar, ambientado no
sudeste brasileiro, recoberto com algumas dezenas de manto de intemperismo
saturado, constituem ambos um aquífero ou sistema aquífero a dupla porosidade:
porosidade granular ou de interstícios no manto e fissural na rocha fraturada. As
condições climáticas ou ambientais influenciam diretamente na quantidade e
qualidade dessas águas.

Aquífero

Denomina-se por aquífero aquele estrato ou formação geológica que permite a


circulação de água por seus poros e fraturas, permitindo que o homem possa
aproveitá-la em quantidades economicamente viáveis para suprir suas necessidades
(Custodio e Llamas, 1976).

Sistema Aquífero

Sistema aquífero é um domínio espacial, limitado em superfície e em


profundidade, em que existam um ou vários aquíferos, relacionados ou não entre si,
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mas que consistam em um sistema prático para estudo (Instituto Tecnológico


Geominero de Espana, ITGE, 1971).

2.2 INFILTRAÇÃO E RECARGA


Infiltração é o volume d’água procedente das precipitações (chuva, neve), rios,
lagos e oceanos ou também da recarga artificial que atravessa a superfície do terreno
e ocupa total ou parcialmente os poros do solo e das formações geológicas. Nem toda
infiltração alcança a zona saturada (aquífero), pois uma parte d’água fica retida no
solo e retorna à atmosfera pela evapotranspiração.

O volume de água que chega a zona saturada ou ao aquífero é denominado de


Infiltração Eficaz, e só ocorre quando a água infiltrada satura a capacidade de campo
do solo (capacidade de retenção de água), quando então se dá a recarga do
reservatório subterrâneo.

2.3 EVAPOTRANSPIRAÇÃO
Uma grande parte da água que atinge o solo volta a atmosfera na forma de vapor,
seja por evaporação direta ou indireta. Quando um solo está coberto por vegetação,
perde-se água tanto através da evaporação direta e através da transpiração das
plantas, que corresponde ao volume de água retirado pelas raízes das plantas
utilizado em seu ciclo vital.

A evapotranspiração é considerada o somatório da evaporação direta e da


transpiração das plantas, dado a impossibilidade prática de se quantificar os dois
fenômenos. Para calcular a evapotranspiração existem métodos teóricos, que levam
em conta o balanço de energia no solo ou perfis de umidade no solo, ou através de
métodos empíricos semi-empíricos (Thornthwaite, Turc, Penman, Blanney-Criddle).

2.4 DESCARGAS NATURAIS


Descarga Natural é o volume de água que, em um período de tempo, sai de um
reservatório subterrâneo e alcança a rede de drenagem superficial, ambientes
lacustres e marinhos. A descarga natural compreende as águas das fontes ou

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surgências. Durante o período seco apenas os reservatórios subterrâneos alimentam


o fluxo dos rios. Sendo assim, o escoamento dos rios durante o período seco é
chamado de Escoamento Subterrâneo.

2.5 ESCOAMENTO
O escoamento corresponde ao volume de água que passa por um determinado
ponto de um rio por um determinado período de tempo. O escoamento total de um rio
é formado pela somatória do escoamento superficial, escoamento subterrâneo e
escoamento hipodérmico.

• O escoamento superficial é a água que chega a um determinado ponto tendo


circulado sempre sobre a superfície do terreno. A relação entre o volume total
escoado e o tempo depende, em geral, das características da bacia, tais como:
declividade, vegetação, etc.

• O escoamento hipodérmico é a água que infiltra sub-superficialmente no


terreno e torna a escoar superficialmente. É muito comum durante a estação
chuvosa a ocorrência de surgências temporárias de água subterrânea, que
correspondem ao escoamento hipodérmico.

• O escoamento subterrâneo ou escoamento básico é quem de fato mantém o


fluxo dos rios perenes durante a estação seca. A geometria e as características
hidráulicas do reservatório subterrâneo são os fatores que governam a
descarga natural dos aquíferos.

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Hidrograma do Córrego Bebedouro - ano 204/05


10000
Vazão (m3/h)

04 1000
100

04

04

04

05

05

05

05

05

05

05

05

05
0/

0/

1/

2/

1/

3/

4/

5/

6/

7/

8/

8/

0/
/1

/1

/1

/1

/0

/0

/0

/0

/0

/0

/0

/0

/1
01

31

30

31

30

02

01

01

01

01

01

31

01
3 - Figura I-2.1: Hidrograma do Córrego Bebedouro, ano hidrológico 2004/05.

2.6 BALANÇO HÍDRICO


O cálculo do balanço hídrico consiste em aplicar o princípio da conservação de
massa (apesar de sempre se considerar volumes de água). Desta forma a diferença
entre as entradas e as saídas é igual à variação da água armazenada no aquífero.

Entradas – Saídas = Variação do Armazenamento + erro

Para realizar o balanço, em primeiro lugar deve ser bem definida a zona a ser
analisada, aonde serão aplicados limites segundo a conveniência. A partir desta
delimitação devem ser definidos todos os termos do balanço. Esta etapa é geralmente
mais complexa, dado a dificuldade prática de se medir ou estimar com segurança os
vários termos da equação. A validez do balanço pode ser verificada ao se calcular a
variação do armazenamento, para isso deve ser considerada a variação dos níveis, a
área e o capacidade de armazenamento do aquífero1 (ΔS =. Δ níveis x capacidade de
armazenamento x Área).

1
Equivalente à porosidade eficaz do aquífero.
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2.7 RESERVAS E RECURSOS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA


Reservas

Entende-se por reserva ou potencial a quantidade total de água armazenada nos


aquíferos. As reservas são subdivididas em reservas renováveis e permanente, a
saber:

• A reserva renovável corresponde à recarga natural dos aquíferos, trata-


se da água que anualmente chega pela recarga e sai pelo escoamento
subterrâneo;

• A reserva geológica compreende as águas armazenadas abaixo da zona


de flutuação dos níveis piezométricos do aquífero.

O RESERVATÓRIO DE ÁGUA SUBTERRÂNEA

RESERVA RENOVÁVEL RESERVATÓRIO SECO

RESERVA GEOLÓGICA

4 - Figura I-2.2: Reservatório e reservas de água subterrânea.

A reserva geológica está relacionada com os ciclos plurianuais de alimentação


e descarga do aquífero. A sua condição não é estanque, dependendo do aquífero o
tempo de residência varia de alguns anos a milhares de anos. A reserva geológica
não corresponde às águas conatas, são águas passíveis de serem explotadas e
utilizadas pelo homem.

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O RESERVATÓRIO DE ÁGUA SUBTERRÂNEA O RESERVATÓRIO DE ÁGUA SUBTERRÂNEA O RESERVATÓRIO DE ÁGUA SUBTERRÂNEA

5 - Figura I-2.3: Perfil esquemático da variação do nível d’água e reservas.

A não utilização de parte da reserva geológica por vezes impede o


aproveitamento pleno dos recursos hídricos, parte da água que infiltra no solo não
consegue chegar ao aquífero o reservatório subterrâneo, por este encontrar-se
totalmente saturado a partir de um certo momento. Em muitos aquíferos ocorre algo
similar ao que seria uma barragem sem tomada d’água, quer para captação ou
geração de energia: a água verte apenas pelo vertedouro de cheia, mantendo sempre
o lago com o mesmo nível d’água ou reduzindo por perdas de infiltração e evaporação.

As figuras I-2.2 e I-2.3 ilustram esquematicamente o comportamento de


aquíferos que não são utilizados e perdem água apenas pelas surgências
gravitacionais e evapotranspiração, a capacidade natural de reservação não é
utilizada. A utilização de parte da reserva geológica faz com que aumente a reserva
renovável de um aquífero, como representa esquematicamente a figura I-2.4. O
aumento da reserva renovável se dá pelo aumento da capacidade de reservação e
conseqüente otimização do aproveitamento da infiltração. Para a utilização de parte
da reserva geológica é necessário que se construam poços tubulares, poços
escavados, galerias de drenagem, etc.

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Antes:

Depois:

6 - Figura I-2.4: Gestão do reservatório de água subterrânea.

Recursos explotáveis

Em tese sempre que construímos um poço tubular estamos captando parte da


reserva geológica, que é imediatamente reposta por água da reserva renovável, que
pode afetar em parte as descargas do aquífero, por conseguinte o escoamento
subterrâneo de uma bacia hidrográfica.

De um modo geral, o aproveitamento de água subterrânea deve ser planejado


da mesma forma que se faz com um reservatório superficial. Neste existe um volume
de água armazenado que é explotado de forma a deixar um escoamento mínimo para
garantir as condições ambientais ou de outras demandas a jusante.

As reservas de água subterrânea, por razões técnicas, econômicas, legais ou


ambientais, nunca podem ser explotadas em sua totalidade. Assim para definir a
reserva explotável é fundamental conhecer primeiro a reserva renovável e o potencial
de recarga de uma determinada área.
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2.8 CLASSIFICAÇÃO HIDROGEOLÓGICA DAS ROCHAS E TIPOS DE


AQUÍFEROS
A água que se infiltra no solo é retida em grande parte na zona não saturada ou
de aeração. Na zona não saturada os poros são preenchidos por água e ar. A água é
retida pelas forças: de capilaridade, tensão superficial e atração molecular.

O excedente de água que supera a capacidade de retenção na zona não


saturada alimenta a zona saturada, onde todos os poros da rocha estão preenchidos
de água sob pressão hidrostática. O limite superior da zona saturada é denominado
de nível d’água, nível freático, superfície freática ou hipsométrica2.

Na superfície existente entre a zona saturada e a não saturada, a pressão


hidrostática é igual à pressão atmosférica. Em condições de fluxo d’água horizontal, a
pressão hidrostática num ponto do aquífero é igual ao peso da coluna d’água saturada
acima deste ponto.

A Figura I-2.3 apresenta o perfil esquemático de um sistema aquífero.

1
Do grego hýpsos, eós-ous; altura, elevação.
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7 - Figura I-2.5: Perfil esquemático de um sistema aquífero.

2.8.1 Aquíferos Livres


Os materiais saturados em água, com nível d’água correspondente ao equilíbrio
entre a pressão hidrostática e a pressão atmosférica são chamados de aquíferos
livres. O nível d’água encontrado em um poço perfurado em um aquífero livre é igual
ao nível de saturação do meio, daí o nome de aquífero livre.

Todo aquífero raso ou freático é um aquífero livre, porém nem todo aquífero livre
é freático. O termo freático vem do grego “phreatikós”, que significa poço escavado
ou cacimba, assim os aquíferos freáticos são aqueles com nível d’água raso, passíveis
de serem explotados por poços escavados manualmente. Estes aquíferos livres e
rasos permitem que as plantas freatófitas consigam alimentar-se diretamente de água
nos mesmos.

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Na literatura técnica de língua portuguesa alguns autores empregam a


expressão lençol freático3 ou aquíferos freáticos. Na literatura anglo-saxônica
emprega-se o termo “water table” para representar a superfície do nível d’água dos
aquíferos livres em geral.

Muito cuidado deve ser tomado com a denominação do rebaixamento do nível


d’água em mineração, pois existe a tendência de utilizar o termo: rebaixamento do
lençol freático. Esse termo pode ser aplicado somente para aquíferos livres com nível
d’água raso, pois está subentendido que o rebaixamento poderá afetar parte da flora,
as freatófitas.

2.8.2 Aquíferos Confinados


Quando a camada aquífera é encerrada dentro de camadas praticamente
impermeáveis, a água fica sujeita a pressões superiores à força gravitacional e o
aquífero é chamado de aquífero confinado. Ao perfurar-se um poço em um aquífero
confinado, após atravessar a camada confinante e atingir o aquífero, a água sobe para
dentro das paredes do furo, acima do topo do aquífero.

O confinamento ou artesianismo ocorre sempre que o nível d’água de um poço


estiver acima do topo do aquífero. Os denominados poços artesianos4 são aqueles
que apresentam nível d’água acima do topo da camada aqüífera. Quando a pressão
de confinamento permite que a água chegue à superfície topográfica, o poço é
denominado artesiano jorrante. A camada confinante de um aquífero é denominada
de “Aquiclude ou Aquífugo”, que em geral tem permeabilidade nula ou praticamente
desprezível em relação ao aquífero principal.

Na literatura técnica portuguesa emprega-se o termo superfície piezométrica que


é usada apenas para aquíferos confinados. Na literatura anglo-saxônica emprega-se

2
Dicionário de Aurélio Buarque de Holanda.: Verbete: lençol freático, 1. Lençol de água subterrâneo que se
forma em profundidade relativamente pequena. O termo freático, vem das plantas freatófitas cujas raízes se
alimentam de água subterrânea dos aquíferos livres rasos.
3
Dicionário de Aurélio Buarque de Holanda.: Verbete: artesiano: [Do fr. artésien.]Adj. 1. De, ou pertencente ou
relativo a Artésia (Artois - França). Região da França, onde existem aquíferos confinados com poços jorrantes.
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o termo “potenciometric surface” para representar a superfície do nível d’água dos


aquíferos confinados.

2.8.3 Aquífero Semiconfinado


Os aquíferos Semiconfinado são aquíferos confinados cuja camada confinante
tem pequena capacidade de circulação de água subterrânea, alimentando lentamente
o aquífero. A camada semiconfinante é chamada de "Aquitardo" e a alimentação do
aquífero é chamada de "Gotejamento" ("Leakage").

2.8.4 Aquiclude
Do latim “claudere” que significa fechar, os aquicludes são em geral rochas de
elevada capacidade de retenção de água, mas, sem condições de circulação de água
subterrânea. Tratam-se de materiais como as argilas com elevada capacidade de
armazenar e condutividade hidráulica praticamente nula. Em síntese: armazenam
mas não transmitem.

2.8.5 Aquífugo
Do latim “fugere”, fugir, são em geral rochas desprovidas de porosidade primária
ou secundária, sem condições de circulação e armazenamento de água subterrânea.
Tal qual um maciço granítico não fraturado, um evaporito 5, etc. Em síntese: não
armazenam e não transmitem.

2.8.6 Aquitardo
Do latim “tardere”, retardar, aquitardos são em geral rochas com capacidade de
retenção de água, mas com fraca capacidade de circulação de água subterrânea. Não
se prestam a serem captadas como um aquífero mas em condições especiais podem
alimentar outros aquíferos, fornecendo uma recarga suplementar. Em síntese:
armazenam e transmitem lentamente

5
Rocha sedimentar proveniente da evaporação total de salmouras, por exemplo as camadas de sal que recobrem
os campos petrolíferos do chmado pré-sal.
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2.9 O FLUXO NOS MEIOS POROSOS

2.9.1 Porosidade
Um meio poroso é formado por um agregado de grãos entre os quais existem
vazios que podem ser ocupados por um fluido; estes espaços vazios chamam-se
poros. O meio poroso pode ser uma rocha consolidada ou não, uma rocha alterada
ou mesmo uma rocha compacta fraturada ou carstificada.

De um modo geral, denomina-se porosidade intergranular ou porosidade de


interstícios a porosidade da matriz rochosa; porosidade de fissuras a porosidade
associada às descontinuidades da matriz rochosa do tipo falhas, fraturas, diáclases,
etc. Os aquíferos cársticos são um caso a parte onde ao longo de algumas
descontinuidades as rochas são dissolvidas e desenvolvem condutos cársticos.

A Figura I-2.6 representa meios com tipos de porosidades distintas: a da


esquerda representa um meio granular com porosidade de interstícios e a da ireita
uma rocha com porosidade de fraturas.

8 -Figura I-2.6: Tipos de porosidades.

A porosidade de uma rocha pode também ser classificada pela origem, isto é,
porosidade primária ou porosidade secundária. Os arenitos em geral apresentam
apenas a porosidade primária que corresponde aos vazios existentes entre seus grãos
e foram criados concomitantemente à formação da rocha. Um granito pode apresentar
porosidade secundária (criada após a formação da rocha) devido ao fraturamento e
também ao intemperismo.

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Existem meios que são considerados de dupla porosidade, com a porosidade


principal, seja intersticial ou de fissuras conectada à porosidade da matriz rochosa
também intersticial ou de fissuras. Exemplos destes tipos podem ser: Rochas ígneas
e metamórficas alteradas e fraturadas; conglomerados com seixos porosos; rocha
com sistemas de fraturas de alta frequência e pequena extensão associados a
sistemas de fraturas de baixa frequência e grande extensão, etc.

2.9.2 Porosidade Total


A porosidade é expressa por uma relação de volumes ou pesos, sendo mais
comum em mineração empregar a relação de peso. Em hidrogeologia, emprega-se a
relação de volumes, conforme a expressão:

Vv
m=  100
Vt
onde: m é a porosidade total expressa em porcentagem
Vv é o volume de vazios de uma amostra de material
Vt é o volume total da amostra

2.9.3 Porosidade Efetiva


A porosidade efetiva corresponde ao volume de água interconectada ou a água
que pode ser recuperada pela drenagem gravitacional. Uma parcela do fluído que
ocupa os vazios da rocha fica retido pelas forças de tensão superficial, capilaridade,
atração molecular e cargas iônicas. Na literatura técnica anglo-saxônica recebe o
termo “specific yield”.

Vg
me =  100
Vt
onde: me é a porosidade efetiva expressa em porcentagem
Vg é o volume de fluído que escoa gravitacionalmente, de uma amostra de
material
Vt é o volume total da amostra

A água que fica retida na rocha, isto é, a diferença entre a porosidade total e a
porosidade efetiva corresponde à retenção específica de uma amostra. Trata-se do
teor de umidade empregado na mecânica dos solos e aproximadamente à capacidade
de campo empregada pelos agrônomos.
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2.9.4 Permeabilidade ou Condutividade Hidráulica


Henri Darcy em 1856 publicou uma série de experiências (Figura I-2.7) sobre a
relação entre o gradiente hidráulico e o fluxo d’água em meios porosos, mostrando
que a vazão de um fluído qualquer pode ser demonstrado pela seguinte expressão:

h1 − h2
Q = K  A
L
onde:

Q é a vazão ou volume de água por unidade de tempo;

K coeficiente litológico ou de proporcionalidade, também chamado de


coeficiente de permeabilidade de Darcy;

A é a área da seção total atravessada pelo fluxo, isto é, espaço ocupado pelos
grãos e poros atravessados;

h1-h2 (=∆h) diferença de potencial ou carga ao longo do percurso L .

9 - Figura I-2.7: O experimento de Darcy.

O coeficiente de permeabilidade da experiência de Henri Darcy apresenta


valores distintos dependendo do fluído. A permeabilidade intrínseca de um meio
apresenta valores constantes e independentes dos fluídos. O coeficiente de
permeabilidade de Darcy e a permeabilidade intrínseca podem ser relacionados pela
equação:
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K=k

onde:

K é o coeficiente de permeabilidade de Darcy;

k é a permeabilidade intrínseca do meio;

 é o peso específico do fluído;

 é a viscosidade dinâmica do fluído.

No caso específico da água a relação entre  e  aproxima-se de 1, então pela


experiência de Darcy determina-se direto o valor da permeabilidade ou condutividade
hidráulica. A condutividade hidráulica tem a dimensão da velocidade “L/T”. A lei de
Darcy é válida para fluxo laminar e em regime de fluxo turbulento não se aplica. Uma
maneira de entender a condutividade hidráulica é imaginar a vazão de água que passa
por uma seção do aquífero com área unitária e gradiente hidráulico igual a 1 (figura I-
2.8).

Figura I-2.8: O conceito de transmissividade.

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2.9.5 Transmissividade
O conceito de transmissividade foi introduzido por Theis (1935) e define-se como
a vazão que atravessa uma seção vertical do aquífero, de largura unitária e altura igual
à espessura saturada, sob um gradiente hidráulico igual a 1 (Figura I-2-8).

A vazão pode ser expressa pela equação:

h
Q = k  (b  l )  onde: T = k  b
l

sendo: k = permeabilidade

b = espessura do aquífero

l = largura da seção

T = transmissividade

h
= gradiente hidráulico
l

2.9.6 Coeficiente de Armazenamento


O coeficiente de armazenamento de um aquífero representa o volume de água
liberado do armazenamento do aquífero, por unidade de área, para o rebaixamento
do nível d’água do aquífero igual à unidade.

Pode ser definido como o volume d’água liberado pelo aquífero de um prisma
vertical de base unitária, com altura igual à espessura do aquífero, ao se produzir um
rebaixamento igual a uma unidade Figura I-2.9.

O coeficiente de armazenamento é adimensional (1/L) e é representado pela


letra "S". Nos aquíferos livres corresponde à porosidade efetiva e oscila entre 0,01 e
0,3. Na literatura anglo-saxônica é chamado de “Specific Yield” (Sy).

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Nos aquíferos confinados é proporcional ao coeficiente de compressibilidade


dinâmica da água e ao coeficiente de compressibilidade dinâmica do meio. Nos
aquíferos confinados este parâmetro adimensional oscila entre 10 -3 e 10-5. Na
literatura anglo-saxônica é denominado “Specific Storage” (Ss).

Vg
Aquíferos livres: S = me =
Vt

Aquíferos confinados: S = S1 + S2

S1 = m  b 

S2 =  b 

onde: S1 = água liberada devido ao alívio de pressão d’água

m = porosidade total

 = peso específico d’água

 = coeficiente de compressibilidade dinâmica d’água

S2 = água liberada pela descompressão do esqueleto sólido do aquífero

 = coeficiente de compressibilidade dinâmica vertical do material do aquífero.

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10 - Figura I-2.9: O coeficiente de armazenamento para aquíferos livres e confinados.

2.9.7 Homogeneidade, Isotropia e Continuidade


Um meio é denominado homogêneo quando todas as suas propriedades são
constantes em qualquer porção deste meio. Um meio é denominado isotrópico quando
as relações entre as suas propriedades são constantes em qualquer direção.

O meio com porosidade granular é considerado o meio poroso fundamental


enquanto que um meio com porosidade de fissuras pode ser contínuo ou não
dependendo da escala em que se trabalha. Louis (1968), define como contínuo um
aquífero fissurado com mais de 10.000 fissuras e descontínuo quando apresenta
menos que 10 fissuras na área estudada. Assim um maciço fraturado para o estudo
de uma barragem pode ser considerado descontínuo enquanto que em um estudo
hidrogeológico regional pode ser considerado contínuo.

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2.10 NOÇÕES DE HIDROLOGIA APLICADA À HIDROGEOLOGIA

2.10.1 Bacia Hidrográfica


A bacia hidrográfica é uma área de captação da água de precipitação da chuva
que converge os escoamentos para um único ponto de saída, sendo denominado
exutório. Desta forma, uma bacia hidrográfica é um sistema que integra as
conformações de relevo e rede de drenagem, sendo delimitada por divisores
topográficos, os quais são caracterizados pelas regiões mais elevadas entre dois
vales.

Na bacia hidrográfica, a parcela da chuva que incide sobre a área de drenagem


que irá transformar em escoamento direto, geralmente denominada como precipitação
efetiva, escoa a partir das maiores elevações do terreno, formando enxurradas em
direção aos vales. Estes, por sua vez, concentram os escoamentos superficial,
hipodérmico e de base em córregos, riachos e ribeirão, os quais confluem e formam
o rio principal da bacia. O volume total de água, resultante da concentração dos
escoamentos em uma seção do exutório, por unidade tempo, é denominada vazão e
descarga da bacia.

Na hidrogeológica, o escoamento de base representa a descarga dos aquíferos,


sendo responsável por parte da vazão de um curso d’água ou se sua totalizada em
períodos de interchuvas. Como este é integrado a vazão do exutório (superficial,
hipodérmico e base), a qual é resultado das interações da bacia hidrográfica com o
ciclo hidrológico, uma das formas de identificá-lo é por meio da resposta da vazão
com o tempo no exutório, sendo descrito a seguir.

2.10.2 Análise de Hidrogramas


O hidrograma é uma representação gráfica da evolução temporal da vazão que
circula através de uma seção transversal do rio/exutório (Figura I-2.10). A área do
gráfico representa o volume de água que circulou pelo ponto de controle durante o
período de observação. O maior interesse ao se analisar um hidrograma é estudar a
resposta de uma bacia hidrográfica a uma determinada precipitação, promovendo a

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separação, identificação e/ou proporções dos diferentes tipos de escoamentos


(superficial, hipodérmico ou base) presentes no período analisado em uma
determinada seção transversal do rio/exutório.

A Figura I-2.10, a seguir, apresenta um hidrograma com seus diversos


componentes:

-Tempo de base: é o tempo desde que se inicia a precipitação até que se termine
o escoamento direto, ou seja até que chegue a última gota da chuva;

-Tempo de ascensão: é o tempo entre o início da chuva e o pico do hidrograma;

-Tempo de retardo: é o intervalo entre o centro de massa da precipitação e o


centro de gravidade do hidrograma;

-Tempo de concentração: é o tempo entre o final da precipitação até o final do


escoamento direto.

O hidrograma pode ser caracterizado por três partes principais:

-ascensão, relacionada à elevação da vazão após início da precipitação, sua


inclinação depende do gradiente do terreno e intensidade da precipitação;

-o ponto de inflexão, aonde se nota uma mudança na concavidade da curva e


marca o fim do escoamento superficial;

-curva de recessão ou esgotamento. Depois de terminado o efeito da


precipitação, ou seja, o escoamento superficial e o escoamento hipodérmico
originados pela chuva terminam, existe um outro ponto de inflexão no gráfico e apenas
o escoamento subterrâneo, recessão, contribui para a vazão do córrego.

A recessão ou escoamento subterrâneo pode ser representado por uma


equação exponencial do seguinte tipo:

Q(t ) = Q0e−t , sendo as vazões: Q(t ) no instante “t” e Q0 no instante inicial.

Observando novamente a figura I-2.1, que apresenta o hidrograma do Córrego


Bebedouro para o ano hidrológico 2004/05 (1/10/04 a 30/9/05) verifica-se que de abril
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de 2005 a setembro as vazões na escala logarítmica decaem na forma de uma reta,


observando a equação acima. Esse trecho do hidrograma é chamado de curva de
esgotamento. Custódio e Llamas (1976), pág. 393 define:

 2T
= , sendo:
4Sl 2

•  ➔ coeficiente de esgotamento;

• T ➔ transmissividade;

• S ➔ coeficiente de armazenamento;

• l ➔ distância do eixo de simetria do aquífero na bacia.

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11 - Figura I-2.10: Exemplo de um hidrograma.

A melhor forma de apresentar os hidrogramas quando se trabalha com água


subterrânea é o gráfico do logaritmo da vazão pelo tempo, conforme figura I-2.11. A
figura apresenta hidrogramas de três cursos d’água, sendo um com baixa
variabilidade, outro com alta variabilidade e um intermitente.
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1,000
100
Vazão em L/s
10
1

01-out-00 01-abr-01 01-out-01 01-abr-02 01-out-02

Baixa Variabilidade - Fechos Auxiliar V-28 Intermitente - Córrego Seco V-9 Alta Variabilidade - Ribeirão Mutuca VTD-01

12 - Figura I-2.11 – Hidrogramas de cursos d’água com alta, baixa variabilidade e intermitente.

O hidrograma de baixa variabilidade corresponde a uma surgência da formação


ferrífera, com coeficiente de esgotamento praticamente nulo. O reservatório é
permeável e grande, com uma excelente capacidade de regularização.

O curso d’água de alta variabilidade corresponde a terrenos com xistos e filitos


com baixa condutividade hidráulica e aquíferos associados à mata ciliar, permeáveis,
mas com baixa capacidade de retenção de água, o reservatório é pequeno. De um
ano hidrológico para outro aumentou bem o período de cheia, mas a reta de
esgotamento é a mesma, mudando apenas o ponto de partida “Q 0”, na escala
logarítmica as retas de esgotamento têm o mesmo ângulo.

O Córrego Seco, caracterizado como intermitente, está situado sobre a formação


ferrífera e a montante da surgência de Fechos Auxiliar. Este córrego apresenta fluxo
perdedor ou influente, pelo fato, do nível d’água do aquífero está em cota inferior a
sua cota, ou seja, abaixo do nível da calha do Córrego Seco é. Entretanto, quando o

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córrego está perene, este apresentou reta de esgotamento com mesma inclinação
para os dois períodos chuvosos.

A Figura I-2.12 é outro exemplo do comportamento do hidrograma relacionado a


hidrogeologia na bacia hidrográfica do Fechos, apontando o reflexo da explotação de
um aquífero na vazão dos cursos d’água, ou seja, na resposta do escoamento de base
na bacia hidrográfica.

O vertedouro Marumbé apresenta alta variabilidade de fluxo devido ao


escoamento superficial. Já os vertedouros V-Aux FCH e V-Gal FCH apresentam baixa
variabilidade de fluxo, coeficiente de esgotamento ≈ nulo, sendo reflexos direto do
escoamento de base, por estarem próximos as surgências da bacia dos Fechos.

Observa-se que, em setembro de 2005, após o aumento da intensidade do


bombeamento pelo poço CPX iniciado em 2004, houve decaimento das vazões
monitoradas, coeficiente de esgotamento ≠ nulo, no vertedouro V-Aux (inclinação
acentuada) em resposta a explotação dos poços da Mina do Capão Xavier no aquífero
responsável pela surgência logo a montante do vertedouro. Infelizmente, em 2007,
após obras realizadas na região, o vertedouro V-Aux sofreu avarias, impossibilitando
a observação do decaimento após este período.

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Hidrograma dos Principais Vertedouros da Bacia dos Fechos


1.000
Vazão em L/s
100

Obras
10

out-98 out-99 set-00 set-01 out-02 out-03 set-04 set-05 out-06 out-07 set-08
V-Aux FCH Marumbé V-Gal FCH Poços CPX

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3 HIDRÁULICA DE POÇOS

3.1 REGIME PERMANENTE E TRANSITÓRIO


Quando se inicia um bombeamento à vazão constante em um poço, ou de um
modo geral em qualquer tipo de captação, no início se extrai água do armazenamento
do entorno do poço devido ao rebaixamento do nível d’água. Aos poucos o cone de
influência vai estendendo-se de forma que a quantidade de água obtida devido ao
rebaixamento do nível d’água se iguale com a água extraída pelo poço. O período
durante o qual os rebaixamentos vão aumentando se chama de regime não
permanente, variável ou transiente (transitório).

Com o aumento da superfície do cone de influência, quando o aquífero é de


extensão muito grande (infinito em termos práticos), a velocidade de rebaixamento vai
diminuindo lentamente até que chega o momento em que pode ser considerado nulo,
e os rebaixamentos estão estabilizados. Então se pode dizer que foi alcançado um
regime permanente ou quase permanente. O regime permanente ou não variável ou
de equilíbrio ou “stead-state” acontece quando não se toma água do armazenamento
do aquífero. O aquífero é um mero transmissor da recarga.

Considerando um aquífero livre e um aquífero confinado com mesma


transmissividade, o cone do aquífero confinado, devido ao menor valor do Coeficiente
de Armazenamento, tende a estender-se muito mais que o cone do aquífero livre
(Figura I-3.1).

13 - Figura I-3.1: Representação de cone de influência de um aquífero livre e de um confinado


com transmissividades iguais.

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3.2 POÇO EM AQUÍFERO CONFINADO SOB REGIME ESTACIONÁRIO.


Supõe-se que o aquífero não recebe nenhum tipo de recarga nem do teto nem
base. Pode-se assumir o caso de um poço situado no centro de uma ilha circular
(Figura I-3.2). A vazão de água bombeada deve ser igual ao fluxo que atravessa
qualquer superfície equipotencial, as quais são cilindros verticais concêntricos em
relação ao poço.

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14 - Figura I-3.2: Poço tubular captando em um aquífero confinado, sob regime estacionário.

Em qualquer uma dessas superfícies equipotenciais o fluxo vai ser igual ao


produto entre o perímetro, a transmissividade e o gradiente, que é igual à vazão do
poço.

dh
Q = 2  r T 
dr

Sendo:

r = raio do cilindro considerado ou distância radial do poço;

h = nível piezométrico correspondente ao cilindro considerado;

T = transmissividade;

Q = vazão extraída.

Resolvendo a equação diferencial obtida:

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Q dr
dh =
(2    T ) r
Q
h= ln r + A
(2    T )

Supondo ser conhecido o nível piezométrico h1, à distância r1 e a vazão Q, pode-


se determinar o formato da superfície piezométrica

Q R
h1 − h = ln , sendo “R” o “raio da ilha circular”, o famigeradíssimo6 “raio
2 T r1
de influência”.
Para calcular o valor da transmissividade, temos:
Q R 2.3  Q R
T= ln ou T= log
(h1 − h)  2   r1 (h1 − h)  2   r1

Esta é a fórmula de Thiem a qual permite determinar a forma da superfície


piezométrica de um aquífero confinado em regime permanente. Os procedimentos de
cálculo dos parâmetros hidráulicos em regime permanente têm a função mais didática
de que prática e estão muito bem demonstrados nos capítulos 9.1 a 9.3 de Custódio
& Llamas (1976).

O uso da fórmula de Thiem torna-se bastante útil para demonstrar a inviabilidade


de um preceito popular, que é “aumentar o diâmetro do poço para aumentar a sua
vazão”. Na fórmula abaixo temos a vazão em regime estacionário de um aquífero
confinado em função do raio de influência e do raio do poço.

2    T  (h1 − h)
Q=
R
2.3  log
rp

Como a proporcionalidade entre o raio do poço (rp) e a vazão é logarítmica,


temos que aumentar em dez vezes o raio do poço para aumentar a vazão do poço, o
que é inviável. Entretanto, em poços tubulares diâmetros maiores de perfuração
significa maciços de pré-filtro mais espessos e maior diâmetro de revestimento.

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Quanto mais espesso o pré-filtro, menos finos na água; quanto maior o diâmetro útil
do poço maior a disponibilidade de equipamentos de bombeamento e espaço de
manutenção.

3.3 POÇO EM AQUÍFERO CONFINADO EM REGIME TRANSIENTE


A determinação da transmissividade de um aquífero mediante ensaio de
bombeamento à vazão constante e regime permanente precisa de um mínimo de dois
pontos de observação e raramente convêm utilizar o poço como um dos pontos de
observação por não poder eliminar as perdas de carga no poço. Por outro lado, os
ensaios de bombeamento com medidas durante o regime transiente permitem
determinar T e S com um único ponto de observação distinto do poço. Ainda assim
apenas com o poço bombeado consegue-se obter T com razoável aproximação.

A fórmula básica que descreve o rebaixamento de um aquífero confinado,


infinito, homogêneo e isotrópico, é a fórmula de Theis:

r2  S 
e −u
sendo: u =
Q
s=
4 T
 W (u )
4T  t
e W (u ) = u u du
Onde : s = rebaixamento (h-h1), no ponto de observação;

S = coeficiente de armazenamento, adimensional;

t = tempo relativo ao início do bombeamento;

Q = vazão;

T = transmissividade;

r = distância do ponto de observação ao poço bombeado.

Para valores de u suficientemente pequenos (u<0.03) a fórmula de Theis pode


ser substituída pela aproximação logarítmica de Jacob da seguinte forma:

Q 2.25  T  t 2 .3  Q 2.25  T  t 0,183  Q 2.25  T  t


s= ln( ) ou s = log( ) ou s = log( )
4  T r S
2
4   T r S
2
T r2  S

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3.3.1 Determinação da Transmissividade e Coeficiente de Armazenamento


pelo Método de Theis
Para determinação dos parâmetros hidráulicos em um ensaio de bombeamento,
com piezômetros, utilizando a formula de Theis, temos que plotar os gráficos
rebaixamento versus tempo em um papel bilogarítmico, com o rebaixamento na
ordenada e o tempo na abscissa. Em seguida usar um ábaco com a curva da função
de Theis (w(u) versus 1/u) em papel bilogarítmico na mesma escala, realizando a
superposição das curvas. Superpostas às curvas temos que selecionar um mesmo
1
ponto superposto no gráfico e no ábaco e anotar os valores de: s, t, w(u) e /u .
Substituindo os valores nas formulas abaixo, podemos obter os valores de T e S.

A Figura I-3.3 apresenta o gráfico bilogarítmico, relativo aos resultados de um


ensaio de bombeamento a vazão constante de 100 m 3/h, com rebaixamentos
observados em um piezômetro situado a 10 metros de distância do poço bombeado.
Pela superposição dos pontos foram obtidos os seguintes valores:

1/u = 27.8; W(u) = 0.52; s = 1 metro e t = 10 minutos, substituindo em:


Q 1 4Tt
s=  W (u ) e = 2 temos:
4 T u r S
T = 100 m2/dia e S = 0.001
100.00
1/u = 27.78 1/u = 277.8 1/u = 2778
Curva de Theis
Piezômetro
Rebaixamento em metros

10.00 w(u)=5.2

Ponto de
1.00 Supersiposição w(u)=0.52
s = 1.0 metros
t = 10 minutos
1/u = 27.78
w(u) = 0.52

0.10
1 10 100 1000 10000
Tempo em minutos

15 - Figura I-3.3: Método de Theis para determinação de T e S.

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3.3.2 Determinação da Transmissividade e Coeficiente de Armazenamento


pelo Método de Jacob
Para determinação dos parâmetros hidráulicos em um ensaio de bombeamento,
com piezômetros, utilizando a aproximação logarítmica de Jacob, temos que plotar os
gráficos rebaixamento versus tempo em um papel monologarítmico, com o
rebaixamento em escala normal na ordenada e o tempo em escala logarítmica na
abscissa. A seguir procurar o trecho em que os pontos se alinham em uma reta (Figura
I-3.4).

16 - Figura I-3.4: Exemplo da determinação de T e S pela simplificação de Jacob.

Traçada a reta deve-se medir o rebaixamento em um ciclo logarítmico, s10, isto


é, a diferença de rebaixamento entre dois pontos da reta onde; t2 = 10t1. Em
prosseguimento deve-se estender a reta até o ponto em que a reta corte a ordenada
com rebaixamento igual a zero t0.

A reta traçada corresponde à aproximação da função de Theis. Em geral, para


os tempos iniciais o valor de u ainda é muito grande e não temos uma reta. Quando

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toma-se o rebaixamento da reta relativo a um ciclo logarítmico7, estamos fazendo a


seguinte operação:

2.3  Q 2.25Tt1 0.183Q 2.25Tt1 0.183Q 2.25Tt


s1 = log( )= log( ); s2 = log( 2 2 )
4 T 2
r S T r 2S T r S

para T, S e Q constantes e t2=10t1, temos:


0.183Q 2.25Tt 2.25Tt 0.183Q t 0183
. Q
s10 = s2 − s1 = (log( 2 2 ) − log( 2 1 )) = log 2 = log 10
T r S r S T t1 T
0183
. Q
assim: T=
s10

Para determinar o coeficiente de armazenamento, toma-se o prolongamento da


reta até o ponto em que a abscissa do rebaixamento tem valor igual a zero, obtendo-
se o valor de t0.

7
Logarítimo na base 10
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para o rebaixamento s = 0 , temos:

0.183Q 2.25Tt0 2.25Tt0 2.25Tt


s= log( 2
) = 0 → log( 2
) = 0 2 0 = 1
T r S r S r S

2.25Tt 0
assim após determinar o valor de T temos: S=
r2

Como na figura I-3.4, obtivemos: t0 = 0.61 minutos e s10 = 4.4 metros, temos:

T= 100 m2/dia e S = 0.001

3.4 POÇO EM AQUÍFERO LIVRE EM REGIME TRANSIENTE


Se os rebaixamentos forem pequenos com relação à espessura saturada do
aquífero e se a drenagem é instantânea e proporcional ao rebaixamento produzido,
são aplicáveis as mesmas fórmulas dos aquíferos confinados. Caso o rebaixamento
seja menor que 30% da espessura saturada do aquífero, recomenda-se a correção
dos rebaixamentos pela fórmula:

s2
sc = s −
2b
onde: s = rebaixamento no ponto de observação;

sc = rebaixamento corrigido;

b = espessura saturada do aquífero.

Utilizando-se o rebaixamento corrigido, pode-se aplicar as mesmas fórmulas


para aquífero confinado.

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3.5 AQUÍFEROS SEMICONFINADOS


O aquífero semiconfinado comporta-se como um aquífero confinado que recebe
o aporte de água de um aquitardo, que atua como uma forma de recarga. Hantush
estabeleceu a seguinte fórmula para cálculo dos rebaixamentos em um aquífero
semiconfinado:

Q r r 1 r2
s= W (u , ) ; sendo: W (u , ) =  exp(−u − )du e
4 T B B u
u 4 Bu

T
B= l
k / bl

onde: k l = permeabilidade do aquitardo;

b l = espessura do aquitardo

B = Coeficiente de Gotejamento

A interpretação dos ensaios de bombeamento em aquíferos semi confinados


pode ser realizada pelo método da aproximação logarítmica de Jacob, sem determinar
os parâmetros do aquitardo. Para a determinação dos parâmetros do aquitardo, é
necessário utilizar os gráficos em papel bi logarítmico e ábacos com as curvas da
função de Hantush, analogamente ao que foi empregado para os aquíferos
confinados.

3.6 AQUÍFEROS LIVRES COM DRENAGEM DIFERIDA


Em aquíferos livres é comum ocorrer um retardo no esvaziamento dos poros.
Apenas uma parte da água armazenada é liberada de imediato, para, a partir de um
determinado tempo, ser liberada o restante da água.

Quando isto ocorre, no inicio do bombeamento os piezômetros comportam-se


como se estivessem bombeando um aquífero confinado, com respostas rápidas, para
em seguida apresentarem uma falsa estabilização para finalmente voltarem a
rebaixar.

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4 POÇOS EM AQUÍFEROS REAIS

4.1 SUPERPOSIÇÃO DE EFEITOS DE INTERFERÊNCIA EM POÇOS


COMPLETOS
Como a fórmula que define a superfície piezométrica de um poço em
bombeamento é uma equação linear, torna-se viável a combinação das equações
lineares que definem superfície piezométrica de dois ou mais poços. Assim, pode-se
definir o rebaixamento próximo a dois poços em operação, pela fórmula:
n
s =  QiZ (ri , ti )
i =1

onde,
2
Qi ri  S
Qi  Z (ri , ti ) = W (ui ) ; ui =
4T 4  T  ti

Na prática isto significa que os efeitos de interferência se somam. No caso de


um dos poços de bombeamento, o rebaixamento neste poço deve ser igual ao
rebaixamento do poço observado, acrescido ao rebaixamento dos demais poços. Nos
piezômetros os rebaixamentos serão iguais ao somatório dos efeitos de rebaixamento
de cada poço sobre o piezômetro, como ilustra a figura I-3.5.

Também é possível utilizar a aproximação logarítimica de Jacob, onde a equação:

s=(0,183×Q/T)×log((2,25×T×t)/(r2×S)) ➔ s=f(t, r)

Essa equação pode ser lançada em uma planilha Excel, desde que se tenha
determinado a Transmissividade (T) e o Coeficiente de Armazenamento (S) em um
ensaio de bombeamento com poço de observação ou piezômetro “Ensaio de
Interferência”, como na Figura I-3.7. A equação do exemplo poderia ser transformada
em uma função do tempo e da distância do poço bombeado, desde que sejam
observados os seguintes aspectos: rebaixamento inferior a 10% da espessura
saturada do aquífero e bombeamento a vazão constante, com os dados da planilha
apresentada, temos:

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s=(0,183×2400m3d/200m2d)×log((2,25×200m2d×t)/(r2×.0001)) ➔

s=21,96m×log(4,5×106m2d×t/r2)

Calculando para um período seco, sem recarga de 270 dias temos:

s=21,96m×log(1,215×109m2/r2) ➔ s=f(1/r2)

17 - Figura I-3.5: Superposição dos efeitos de rebaixamanto.

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18 - Figura I-3.6: Nível d’água em uma bateria de poços.

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19 - Figura I-3.7: Planilha para cálculo da interferência entre 2 poços tubulares.

Na operação de uma bateria de poços, o nível estático só é alcançado quando


TODOS os poços estão paralisados. O monitoramento periódico do nível estático de
uma bateria de poços permite melhor visualizar a evolução do rebaixamento do nível
d´água de um aquífero, bem como, a sua recuperação (exemplo Fazenda Santa
Mônica). Na prática o que pode ser feito é desligar por um tempo fixo toda a bateria e
comparar a sua evolução durante a estação seca e sua recuperação durante a
estação chuvosa. Importante esse tempo fixo tem de ser sempre o mesmo e nenhum
poço pode ficar ligado, esse tempo fixo pode ser de 12 ou 24 horas.

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4.1.1 Teoria das Imagens - Poços em Aquíferos Limitados


Quando um poço bombeia próximo a uma borda impermeável ou a uma borda
de recarga (rio, lago, mar, etc), no momento que o cone de rebaixamento atinge a
borda, o poço começa a ser afetado e as fórmulas deduzidas para aquíferos contínuos
não são mais válidas.

Se estes limites são bruscos e retilíneos é criado um poço imagem, virtual,


aplicando-se a superposição de efeitos de interferência. Quando o limite do aquífero
for uma borda impermeável, este limite é denominado “barreira negativa”. No caso da
borda de recarga o limite é denominado “barreira positiva”.

4.1.2 Barreira Negativa


Se um aquífero tem uma borda retilínea impermeável, iniciado o bombeamento,
quando o cone de rebaixamento atinge a barreira, imediatamente é acionado um poço
virtual no lado da barreira negativa com a mesma distância do poço real a barreira
(Figura I-4.1). Em termos práticos é como dois poços bombeando em um aquífero
contínuo.

Uma das formas de verificar a presença de uma barreira impermeável em um


ensaio de bombeamento é a análise do gráfico rebaixamento versus o logaritmo do
tempo. Neste tipo de gráfico o poço bombeado em aquífero com barreira negativa
apresenta duas retas, sendo a primeira correspondente ao poço real e a segunda
relativa à superposição dos efeitos de interferência do poço real com o poço virtual.

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20 - Figura I-4.1: Exemplo de uma barreira negativa em um poço tubular.

O rebaixamento de um ciclo logarítmico da primeira reta 1s10 tende a ser igual


à metade do rebaixamento de um ciclo logaritmo da segunda reta 2s10, por que é a
superposição do efeito de interferência de poços de igual vazão (real e virtual) (Figura
I-4.2).

2s10 = 21s10

É muito importante prestar atenção a esse tipo de comportamento para não


confundir com a interferência de outro poço, ou mesmo a presença de mais de um
aquífero.

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2s10

1s10

log t

10 100 1000 10.000

21 - Figura I-4.2: Gráfico de Bombeamento Prolongado de Aquífero Confinado com Barreira


Negativa

4.1.3 Barreira Positiva


Se um aquífero tem uma borda retilínea com uma área de recarga potencial
constante, tal como um rio, lago ou mar, iniciado o bombeamento, quando o cone de
rebaixamento atinge a barreira, imediatamente é acionado um poço de recarga virtual
no lado da barreira positiva com a mesma distância do poço real a barreira (Figura I-
4.3). Em termos práticos é como um poço bombeando e outro injetando água em um
aquífero contínuo.

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22 - Figura I-4.3: Exemplo de uma barreira positiva em um poço tubular.

Uma das formas de verificar a presença de uma barreira positiva em um ensaio


de bombeamento é a análise do gráfico rebaixamento versus o logaritmo do tempo.
Neste tipo de gráfico o poço bombeado em aquífero com barreira positiva apresenta
duas retas, sendo a primeira correspondente ao poço real e a segunda relativa à
superposição dos efeitos de interferência do poço real com o poço virtual.

O rebaixamento de um ciclo logarítmico da primeira reta 1s10 tende a ser igual


à metade do rebaixamento de um ciclo logaritmo da segunda reta 2s10, por que é a
superposição do efeito de interferência de poços de igual vazão (real e virtual) (Figura
I-4.4).

2s10 = 1/21s10

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2s10

1s10

log t

10 100 1000 10.000

23 - Figura I-4.4: Gráfico de bombeamento prolongado de Aquífero Confinado com Barreira


Positiva

De maneira análoga, à barreira negativa, é muito importante prestar atenção a


esse tipo de comportamento para não confundir com a presença de mais de um
aquífero.

4.2 FUNÇÃO DO POÇO - ENSAIO DE PRODUÇÃO


O rebaixamento do nível d’água em um poço bombeado, independentemente do
tipo de aquífero, deve-se a dois fatores básicos. O primeiro é o rebaixamento do
aquífero, ou seja, a função de Theis ou outra qualquer, aplicada para a distância
equivalente ao raio do poço, ao tempo de bombeamento e à vazão bombeada. O
segundo fator é o rebaixamento provocado pelas perdas de carga que ocorrem no
entorno do poço (Figura I-4.5), proporcionais à vazão bombeada e às características
construtivas do poço.

s = sa + sp = Q + Qn

onde:

s = rebaixamento total medido no poço

sa = rebaixamento do aquífero

sp = perdas de carga
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 = coeficiente de rebaixamento do aquífero

 = coeficiente de perdas de carga

n expoente da vazão, que varia de 1 a 3.

O termo Q representa o rebaixamento teórico devido às perdas de carga do


aquífero. O termo Qn representa a soma das perdas de carga no poço e seu entorno.

O coeficiente  independe do tempo; é um indicador do grau de eficiência do


poço e depende das características de sua construção e desenvolvimento. Influi,
portanto, o tipo de maciço de pré-filtro e sua colocação, a abertura e disposição dos
filtros, o sistema de perfuração empregado, a qualidade da lama usada na perfuração
e o grau de desenvolvimento e limpeza do poço.

As perdas de carga são devidas à passagem do fluxo laminar ou de Darcy, para


o fluxo turbulento, no entorno do poço, onde a velocidade d’água é bem mais elevada
(figura I-4.5).

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Figura I-4.5: Perdas de carga em um poço tubular.

24 - Figura I-4.5: Perdas de carga em um poço tubular.

Em poços bem construídos em aquíferos granulares, ou de comportamento


similar, o expoente da vazão n tende a ser igual a 2. Neste caso temos a simplificação
da função do poço, em uma equação do segundo grau, da forma:

s = sa + sp = Q + Q2

Poços mal construídos ou mal desenvolvidos apresentam perdas de carga


importantes que podem ser reduzidas projetando e executando os poços com as
técnicas mais apropriadas a cada formação aquífera. Do ponto de vista econômico o
que ocorre diante de poços projetados, construídos e desenvolvidos de forma
equivocada é uma importante perda de carga que se caracteriza por alturas de
elevação maiores para se obter uma determinada vazão correspondente caso o poço

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tivesse uma melhor eficiência. Este fato tem como consequência um elevado consumo
energético em poços com elevada perda de carga.

Para se determinar os coeficientes  e  se procede a um teste de produção que


é feito em diferentes estágios de vazão, comumente chamado “Teste Escalonado”.
Nesse tipo de teste devemos conhecer os rebaixamentos em quatro ou pelo menos
três etapas de vazão constantes, distintas, e crescentes, na razão de: 40%, 60%, 80%
e 100% da vazão total do poço (Figura I-4.6).

4.2.1 Execução de Ensaio de Bombeamento Escalonado


O método convencional de execução de ensaio de bombeamento escalonado
consiste em bombear o poço etapa por etapa até alcançar a estabilização do nível
dinâmico de cada uma, ou seja, até alcançar o regime permanente. Estabilizado o
nível dinâmico parte-se, então para a etapa seguinte, regulando rapidamente a nova
vazão, bombeando o poço até novamente atingir a estabilização do nível dinâmico.
Este procedimento é muito dispendioso, pois, à medida que a vazão aumenta etapa a
etapa, o tempo de estabilização também tende a aumentar. Muitos perfuradores
simplificam o método para 3 etapas de 8 horas ou 4 etapas de 6 horas, o que também
não é muito correto.

Uma forma de prática de realizar os ensaios escalonados é a realização de


etapas de curta duração, fixas para cada ensaio, e compensar graficamente o efeito
de rebaixamento da etapa anterior sobre a posterior. Realizando esta compensação
gráfica podemos realizar etapas com apenas uma ou duas horas de duração. Cabe
salientar que a regulagem da vazão de uma etapa para outra tem que ser rápida e
eficiente, do contrário o ensaio fica sem efeito. O uso desta técnica permite apenas
determinar o coeficiente de perdas de carga do poço  e confirmar ou não o expoente
n. O coeficiente de perdas do aquífero  pode ser determinado através do ensaio de
longa duração, à vazão constante.

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ENSAIO ESCALONADO

Vazão máxima: - 40% Vazão máxima: - 60% Vazão máxima: - 80% Vazão máxima: - 100%

TEMPO VAZÃO NÍVEL TEMPO VAZÃO NÍVEL TEMPO VAZÃO NÍVEL TEMPO VAZÃO N.D
mim m3/h POÇO mim m3/h POÇO mim m3/h POÇO mim m3/h POÇO
0 37.67 0 39.70 0 41.59 0 44.93
ETAPA 1 ETAPA 2 ETAPA 3 ETAPA 4
1 70.56 39.15 1 100.56 40.61 1 136.80 43.06 1 164.50 46.63
2 70.56 39.15 2 100.56 40.72 2 136.80 43.21 2 164.50 46.77
3 70.56 39.20 3 100.56 40.76 3 136.80 43.23 3 164.50 46.94
4 70.56 39.22 4 100.56 40.80 4 136.80 43.24 4 164.50 47.03
5 70.56 39.22 5 100.56 40.82 5 136.80 43.13 5 164.50 47.06
6 70.56 39.22 6 100.56 40.84 6 136.80 43.13 6 164.50 47.13
7 70.56 39.09 7 100.56 40.87 7 136.80 43.15 7 164.50 47.17
8 70.56 39.10 8 100.56 40.90 8 136.80 43.18 8 164.50 47.21
9 70.56 39.11 9 100.56 40.92 9 136.80 43.39 9 164.50 47.22
10 70.56 39.12 10 100.56 40.95 10 136.80 43.66 10 164.50 47.28
12 70.56 39.15 12 100.56 40.97 12 136.80 43.69 12 164.50 47.32
14 70.56 39.17 14 100.56 41.01 14 136.80 43.74 14 164.50 47.38
16 70.56 39.19 16 100.56 41.04 16 136.80 43.75 16 164.50 47.41
18 70.56 39.21 18 100.56 41.07 18 136.80 43.82 18 164.50 47.49
21 70.56 39.25 21 100.56 41.11 21 136.80 43.88 21 164.50 47.51
24 70.56 39.28 24 100.56 41.16 24 136.80 43.94 24 164.50 47.58
27 70.56 39.30 27 100.56 41.19 27 136.80 44.02 27 164.50 47.62
30 70.56 39.32 30 100.56 41.22 30 136.80 44.03 30 164.50 47.68
35 70.56 39.35 35 100.56 41.28 35 136.80 44.09 35 164.50 47.76
40 70.56 39.38 40 100.56 41.31 40 136.80 44.15 40 164.50 47.83
45 70.56 39.41 45 100.56 41.35 45 136.80 44.21 45 164.50 47.93
50 70.56 39.44 50 100.56 41.39 50 136.80 44.27 50 164.50 48.09
60 70.56 39.48 60 100.56 41.45 60 136.80 44.37 60 164.50 48.22
70 70.56 39.52 70 100.56 41.51 70 136.80 44.49 70 164.50 48.35
80 70.56 39.56 80 100.56 41.56 80 136.80 44.58 80 164.50 48.53
90 70.56 39.60 90 100.56 41.64 90 136.80 44.66 90 164.50 48.57
100 70.56 39.64 100 100.56 41.67 100 136.80 44.75 100 164.50 48.73
110 70.56 39.67 110 100.56 41.74 110 136.80 44.85 110 164.50 48.84
120 70.56 39.70 120 100.56 41.89 120 136.80 44.83 120 164.50 48.91

Figura25 I-4.6: Exemplo de uma tabela de ensaio escalonado.

Em cada etapa os níveis e a vazão são lidos na mesma escala de tempo e os


níveis são plotados em um mesmo gráfico monolog, com o mesmo referencial na
escala de tempo. Prolongando-se as retas definidas pelos pontos até o tempo
equivalente ao término da etapa seguinte, cria-se um referencial para medir o
incremento de rebaixamento obtido na etapa seguinte si. Desta forma, desconta-se
o rebaixamento residual de uma etapa sobre a seguinte (Figura I-4.7).

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Ensaio ecalonado - Nível de água no poço


50.00

Etapa 1
48.00
Etapa 2
s4 = 3.57
Etapa 3
Reta de Projeção
Rebaixamento em metros

46.00
Etapa 4

44.00 Ponto de Intersecção


entre o tempo igual a
s3 = 2.52
240 mim e a projeção
do rebaixamento

42.00

s2 = 1.81

40.00

s1 = 39.7

38.00
1 10 Tempo em minutos 100 240 1000

26 - Figura I-4.7: Gráfico do Ensaio Escalonado – Nível de Água no Poço.

O rebaixamento da primeira etapa s1 será a diferença entre o nível estático do


poço e o nível dinâmico ao término da primeira etapa. O rebaixamento da segunda
etapa s2 será a soma do rebaixamento da primeira etapa s1 mais o incremento de
rebaixamento da segunda etapa s2. Da mesma forma repete-se o mesmo
procedimento para as etapas seguintes.

Para os casos em que o expoente n é igual a 2, a função do poço pode ser


simplificada para:

s
sq = = +Q
Q

O termo sq é o rebaixamento específico do poço e pode ser obtido para cada


uma das etapas do ensaio, dividindo a vazão da etapa Qi pelo rebaixamento da etapa
si. Conforme a tabela a seguir:

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REBAIXAMENTO
ETAPA VAZÃO INCREMENTO DE REBAIXAMENTO REBAIXAMENTO
ESPECÍFICO
1 Q1 (nd -ne) s1 = (nd -ne) sq1 = s1/Q1
2 Q2 s2 s2 = s1 + s2 sq2 = s2/Q2
3 Q3 s3 s3 = s2 + s3 sq3 = s3/Q3
4 Q4 s4 s4 = s3 + s4 sq4 = s4/Q4

Com os valores de sqi e Qi, pode-se construir o gráfico rebaixamento específico


versus vazão, que para valores do expoente n igual a 2 os pontos alinham-se em uma
reta, cujo coeficiente angular é o coeficiente de perdas de carga do poço . (Figura I-
4.8).

0.07

0.06
Rebaixamento específico em m/m3/h

s = 0.019

0.05

 = s/Q
 = 0.019/65
 = 0.0003

0.04

Q = 65.0

0.03
50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200
vazão em m3/h

27 - Figura I-4.8: Cálculo de β

Substituindo na função do poço os valores de , Q, e s para os valores de Q, e


s do ensaio de bombeamento prolongado à vazão constante, com o poço devidamente
estabilizado, obtém-se o valor de  da equação do poço.

s −   Q2 s
= = −   Q2
Q Q

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Caso o gráfico rebaixamento específico versus vazão não apresente os pontos


alinhados em uma reta, pode-se utilizar a equação abaixo para determinar-se o valor
de n:

s2 s
− 1
Q2 Q1 Q2n −1 − Q1n −1
= n −1
s3 s2
− Q3 − Q2n −1
Q3 Q2

Esta equação pode apresentar mais de uma solução para o valor de n, devendo
ser utilizada com muito cuidado. Obtido o valor de n, a seguir, por substituição na
equação do poço em cada etapa do ensaio escalonado, determina-se o valor de .

Salienta-se que os procedimentos apresentados são validos para ensaios


realizados em poços tubulares com os o nível d’água totalmente recuperado antes de
seu início e as vazões constantes em cada etapa. Estes dois quesitos são os que mais
afetam os resultados dos ensaios escalonados, garantir a recuperação do nível d’água
é uma questão de disciplina; a vazão constante em cada etapa depende de
equipamentos. O equipamento mais adequado é a medição de vazão com Tubo de
Pitot, que permite com muita facilidade mante-la constante mediante a manobra
continua da válvula de controle da vazão.

Outro aspecto importante é o de quando utilizar os ensaios escalonados, não faz


o menor sentido realizar este tipo de ensaio para poços de baixa vazão.

4.2.2 Curva Características do Poço


Determinada a função do poço pode-se montar a curva característica do poço,
que é um gráfico do nível dinâmico versus vazão. O gráfico deve ser montado em
planilha ou papel milimetrado, plotando-se nas abcissas os valores de vazão e nas
ordenadas os valores do nível dinâmico (Figura I-4.9).

Nesse gráfico temos uma parte inicial praticamente reta correspondente a


valores baixos de rebaixamento real no poço. Dependendo do poço, a inclinação da
curva aumenta rapidamente à medida que se aumenta a vazão. Existe a possibilidade

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de selecionar um ponto em que para pequenos incrementos de vazão, ocorrem


grandes aumentos de rebaixamento. Este ponto é denominado ponto crítico, que
define a vazão máxima explorável do poço. Dependendo do aquífero e da vazão
projetada no gráfico, este ponto não é perceptível, mas de qualquer forma o gráfico é
um indicativo importante para a seleção de equipamentos de bombeamento.

Como regra básica deve-se sempre fixar a vazão ótima de exploração do poço
um pouco abaixo do valor correspondente ao ponto crítico, uma vez que há um
abaixamento do nível dinâmico com o tempo e ocorre uma variação sazonal de níveis,
em geral pouco conhecida.

Em desaguamento de mina esse ponto torna-se mais crítico, uma vez que há
uma interferência enorme entre os vários poços com abaixamentos constantes do
nível dinâmico com o tempo, bem como queda contínua das vazões extraídas. É
extremamente difícil calcular, com base em formulações existentes, a evolução dos
níveis dinâmicos e vazões dos poços, sendo que somente com a utilização de
modelos de simulação muito bem calibrados consegue-se determinar valores
aceitáveis para essa evolução.

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-45

-55
nível dinâmico (m)

-65

-75

-85 vazão m3/h


100 140 180 220 260 300

28 - Figura I-4.9: Curva característica de um poço tubular.

4.3 DETERMINAÇÃO DA TRANSMISSIVIDADE PELO MÉTODO DE JACOB –


AQUÍFERO LIVRE – EXEMPLO
Adotando como exemplo o poço 1 da Pesquisa Hidrogeológica da Mina F4, da
BUNGE em Araxá, cujos dados encontram-se na Figura I-4.13, ao final deste capitulo.
O poço possui 162 metros de espessura saturada e teve um rebaixamento de 108
metros.

4.3.1 Utilizando os procedimentos para aquíferos confinados


Aplicando o método de Jacob para aquíferos confinados no gráfico da figura I-
4.10, que representa o rebaixamento versus o logaritmo do tempo obtém-se 3 retas
para calcular a transmissividade, conforme calculado a seguir:

0.183Q
T= ;
s

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Sendo: Q = 154.52 m3/h, média ponderada da vazão (volume total bombeado


dividido pelo tempo).

0.183Q
Para R1 se obtém ➔ T = = 16.08 m2/dia
42.2

0.183Q
Para R2 se obtém ➔ T = = 40 m2/dia
17

0.183Q
Para R3 se obtém ➔ T = = 226.21m2/dia
3

Aparentemente poderíamos interpretar R1 e R2 como do mesmo aquífero com


barreira positiva e R3 um outro aquífero. Mas, com um rebaixamento de 66% da
espessura saturada é mais do que evidente que não se pode empregar este método.

120.00

R2
R3

R1
100.00
Rebaixamento em metros ( s )

80.00

60.00

R1'

40.00

ΔS1 = 42.2

20.00
R2'
ΔS2 =17
R3'
ΔS3 = 3
0.00
1 10 100 1000 10000
Tempo em minutos

29 - Figura I-4.10 Exemplo da determinação de T sem correção no rebaixamento.

4.3.2 Correção do rebaixamento para aquíferos livres.


Calculando o rebaixamento corrigido, conforme item 3.4, temos:

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s2
sc = s − ; onde:
2b
s = rebaixamento no ponto de observação;

sc = rebaixamento corrigido;

b = espessura saturada do aquífero, 162 metros.

80.00

R2
70.00 R1

60.00
Rebaixamento corrigido em metros ( sc )

50.00

40.00

30.00

R1'

20.00

ΔS = 24.8

10.00

R2'
ΔS = 3
0.00
1 10 100 1000 10000
Tempo em minutos

30 - Figura I-4.11: Exemplo da determinação de T a partir de correções no rebaixamento

Utilizando a correção obtém-se apenas duas retas, deixando claro que se trata
de dois aquíferos, com um contraste de transmissividade da ordem de dez vezes.

Para R1 se obtém:

0.183Q
T= = 27.36 m2/dia
24.8

Para R2 se obtém:

0.183Q
T= = 226.21m2/dia
3

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4.3.3 Correção da variação de vazão durante o ensaio


Outra correção que é muito usual na interpretação de ensaios de bombeamento
é aquela relativa à variação de vazão, o método tem por condição de contorno que a
vazão é constante. A forma de realizar essa correção é substituir no gráfico de Jacob
o rebaixamento (neste caso rebaixamento corrigido) pelo rebaixamento específico (o
rebaixamento dividido pela vazão), conforme figura I-4.12.

0.50
R2
R1
0.45

0.40

0.35

0.30
sc/Q

0.25

R1'
0.20

0.15
ΔSC / Q = 0.18
0.10

0.05 R2'

ΔSC / Q= 0.027
0.00
1 10 100 1000 10000
Tempo em minutos

31 - Figura I-4.12: Determinação de T utilizando o rebaixamento específico

Continuam as duas mesmas retas do rebaixamento corrigido, sendo que para


R1 se obtém:

0.183
T = = 1.01 m2/h = 24.2 m2/dia
0.18

Para R2 se obtém:

0.183
T= = 6.77 m2/h =162 m2/dia
0.027

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Com a correção da variação da vazão ao longo do ensaio o contraste da


transmissividade diminui um pouco e temos valores mais próximos da realidade.

Do ponto de vista geológico o que se verificou na Mina F4 é que existe um


aquífero poroso representado pelo espesso manto de intemperismo com
transmissividades da ordem de 20 a 30 m2/dia, detectado nos poços 1 e 3 de menor
produção. O poço 2 atravessa também uma zona de maior condutividade hidráulica
que assegura a transmissividade da ordem de 160 m2/dia, essa zona mais permeável
foi detectada também em um poço pré-existente na área.

A partir da interpretação do perfil litológico do poço é possível atribuir a cada um


dos materiais, pela sua espessura o valor de sua condutividade hidráulica.

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Poço: 1 nº obra: Município: Araxá/MG

Proprietário: Bunge Fertilizantes S/A Local: Mina F4

Prof. N.E.(m): 11.62 referência de medidas:

Início Término
data: 19/12/06 hora: 17:00 data: 20/12/06 hora: 17:00
hora t (min) N.D.(m) V(m3) Q(m3/min) Q (m3/h) s med (m) s corr. (m) sc/Q areia (ppm) observações
17:00 0 11.62
1 15.30 3.00 3.00 180.00 3.68 3.64 0.02 0.02044
2 40.20 3.00 3.00 180.20 28.58 26.06 0.14 0.1586
3 50.15 2.99 2.99 179.30 38.53 33.95 0.19 0.21489
4 60.20 2.98 2.98 178.80 48.58 41.30 0.23 0.2717
5 65.10 2.96 2.96 177.80 53.48 44.65 0.25 0.30079
6 70.13 2.96 2.96 177.40 58.51 47.94 0.27 0.32982
7 72.15 2.96 2.96 177.40 60.53 49.22 0.28 0.34121
8 73.18 2.95 2.95 176.90 61.56 49.86 0.28 0.34799
9 76.20 2.93 2.93 175.50 64.58 51.71 0.29 0.36798
10 77.15 2.91 2.91 174.50 65.53 52.28 0.30 0.37553
12 78.20 5.75 2.88 172.50 66.58 52.90 0.31 0.38597
14 83.50 5.45 2.73 163.50 71.88 55.93 0.34 0.43963
16 85.60 5.52 2.76 165.50 73.98 57.09 0.34 0.44701
18 88.66 5.50 2.75 165.00 77.04 58.72 0.36 0.46691
20 92.00 5.50 2.75 165.00 80.38 60.44 0.37 0.48715
25 94.96 13.75 2.75 165.03 83.34 61.90 0.38 0.505
17:30 30 99.10 13.50 2.70 162.00 87.48 63.86 0.39 0.54
35 101.32 13.41 2.68 160.90 89.70 64.87 0.40 0.55749
40 103.08 13.37 2.67 160.40 91.46 65.64 0.41 0.5702
50 105.45 26.47 2.65 158.80 93.83 66.66 0.42 0.59087
18:00 60 107.30 26.30 2.63 157.80 95.68 67.42 0.43 0.60634
70 109.18 26.30 2.63 157.80 97.56 68.18 0.43 0.61825
80 109.58 26.22 2.62 157.30 97.96 68.34 0.43 0.62276
90 110.60 26.12 2.61 156.70 98.98 68.74 0.44 0.63165
19:00 120 112.22 78.10 2.60 156.20 100.60 69.36 0.44 0.64405
150 113.45 77.80 2.59 155.60 101.83 69.83 0.45 0.65443
20:00 180 114.48 77.80 2.59 155.60 102.86 70.21 0.45 0.66105
210 115.27 77.80 2.59 155.60 103.65 70.49 0.45 0.66613
21:00 240 115.72 77.80 2.59 155.60 104.10 70.65 0.45 0.66902
270 116.35 77.80 2.59 155.60 104.73 70.88 0.46 0.67307
22:00 300 116.75 77.55 2.59 155.10 105.13 71.02 0.46 0.67782
330 117.00 77.55 2.59 155.10 105.38 71.11 0.46 0.67943
23:00 360 117.37 77.25 2.58 154.50 105.75 71.23 0.46 0.68447
390 117.62 77.25 2.58 154.50 106.00 71.32 0.46 0.68608
00:00 420 117.96 77.25 2.58 154.50 106.34 71.44 0.46 0.68828
01:00 480 118.32 154.50 2.58 154.50 106.70 71.56 0.46 0.69061
02:00 540 118.64 154.70 2.58 154.70 107.02 71.67 0.46 0.69179
03:00 600 118.91 153.50 2.56 153.50 107.29 71.76 0.47 0.69896
04:00 660 119.18 153.50 2.56 153.50 107.56 71.85 0.47 0.70072
05:00 720 119.39 153.50 2.56 153.50 107.77 71.92 0.47 0.70208
06:00 780 119.61 153.50 2.56 153.50 107.99 72.00 0.47 0.70352
07:00 840 120.08 153.50 2.56 153.50 108.46 72.15 0.47 0.70658
08:00 900 120.24 153.50 2.56 153.50 108.62 72.21 0.47 0.70762
09:00 960 120.26 153.50 2.56 153.50 108.64 72.21 0.47 0.70775
10:00 1020 120.40 153.50 2.56 153.50 108.78 72.26 0.47 0.70866
11:00 1080 120.42 153.50 2.56 153.50 108.80 72.26 0.47 0.70879
12:00 1140 120.44 153.50 2.56 153.50 108.82 72.27 0.47 0.70893
13:00 1200 120.46 153.50 2.56 153.50 108.84 72.28 0.47 0.70906
14:00 1260 120.46 153.50 2.56 153.50 108.84 72.28 0.47 0.70906
15:00 1320 120.46 153.50 2.56 153.50 108.84 72.28 0.47 0.70906
16:00 1380 120.46 153.50 2.56 153.50 108.84 72.28 0.47 0.70906
17:00 1440 120.46 153.50 2.56 153.50 108.84 72.28 0.47 0.70906

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PARTE II: ASPECTOS PRÁTICOS DO PROJETO DE


REBAIXAMENTO DO NÍVEL D’ÁGUA EM MINAS A CÉU ABERTO

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1 INTRODUÇÃO
Em mineração a céu aberto a presença de água na cava é indesejável por vários
aspectos, entre os quais podemos citar:

- Atolamento de equipamentos de escavação e transporte;

- Maior custo de desmonte com utilização de explosivos especiais;

- Manutenção mais cara de estradas e locais de escavação;

- Menor vida útil de pneus de caminhões fora de estrada;

- Atraso na produção;

- Risco de acidentes com cabos energizados;

- Ambiente insalubre de trabalho com muita umidade;

- Instabilização dos taludes da cava com riscos de acidentes, etc...

- O rebaixamento do nível d’água facilita a redução da umidade no minério, que


aumenta o custo do transporte e interfere no processo de beneficiamento, na britagem
e peneiramento, entre outros;

A conjunção desses fatores leva a um maior custo de lavra e podem mesmo


chegar a inviabilizá-la. O desaguamento de mina tem como objetivo rebaixar o nível
d’água subterrânea abaixo do piso inferior da mina, de tal maneira que a lavra se
processe normalmente, sem os inconvenientes acima citados.

A drenagem da água subterrânea é, assim, parte integrante do planejamento de


lavra e deve permitir que os planos de lavra possam ser elaborados, considerando-se
o nível d’água rebaixado o suficiente para que a produção caminhe normalmente. Sem
o rebaixamento, na maior parte das vezes é impossível prosseguir a escavação abaixo
do nível d’água.

Posto isso, as atividades de rebaixamento do nível piezométrico do maciço


devem ser desenvolvidas de maneira integrada com o Planejamento de Lavra. Desse
modo, o nível d’água subterrânea deve ser rebaixado no ritmo previsto pelo plano de

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lavra, mantendo-se um nível de segurança tal que qualquer aumento de ritmo de


produção possa ser realizado sem maiores contratempos. Considera-se, dessa forma,
que o nível d’água deva sempre estar um banco abaixo do último banco em lavra.

Obviamente, cada mina deve ter seu ritmo de produção e rebaixamento, e o


custo deste é variável para cada uma. Ressalta-se aqui que o custo do desaguamento
será tanto maior quanto menor for o conhecimento da posição do nível d’água da mina.
Isso se explica porque o fator tempo é fundamental no processo de desaguamento.
Caso a lavra intercepte o nível d’água sem prévio conhecimento de sua posição, será
necessário um grande investimento para que o mesmo seja rapidamente rebaixado.

Até há pouco tempo poucas minas tinham a preocupação de definir a posição do


nível d’água subterrâneo. Atualmente grande parte das minas tem interceptado o
manancial subterrâneo e, portanto toda mineração tem hoje que considerar esse fator
no seu planejamento de longo prazo.

Para isso ou instalam-se piezômetros nos furos de pesquisa geológica, ou


perfura-se posteriormente com o objetivo único de se definir a posição da superfície
do nível d’água. Dessa maneira, tendo-se de antemão desde o início de produção de
uma mina essas informações, poder-se-á projetar com antecedência o início dos
trabalhos de desaguamento de mina de modo a se investir menos e no tempo certo.

Quando não há essa visão prévia, a consequência é imediata e ocorre a perda


de produção gerando um investimento muito maior nessa atividade, uma vez que o
tempo é um fator preponderante na drenagem. Deve-se ter em mente que o
desaguamento de mina instala dentro da mesma estruturas fixas que interferem
diretamente na lavra.

A perfuração, instalação e início de bombeamento de um sistema de


desaguamento de mina leva por vezes até um ano. Depois de instalado, até que o
nível esteja rebaixado para permitir a entrada de máquinas, dependendo do caso,
pode se levar um tempo equivalente. Estima-se pois que no mínimo as atividades de

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rebaixamento sejam iniciadas três a dois anos antes que a escavação atinja o minério
saturado.

O conhecimento hidrogeológico da área mineralizada e as relações com as


encaixantes representam assim elementos de extrema importância, e a função do
hidrogeólogo é prever e quantificar antecipadamente a possível presença de água
subterrânea.

Para isso é necessário realizar, desde o início do reconhecimento da jazida, uma


observação meticulosa das condições hidrogeológicas locais e regionais, para que se
tenha desde o princípio a visão dos problemas e das soluções possíveis da futura
incidência do rebaixamento do nível d’água nas atividades mineiras.

A partir do momento em que se define a necessidade de se efetuar o


desaguamento de mina por poços tubulares, temos então que iniciar o processo com
base na Geologia da Mina e nos Planos de Lavra, tanto de longo como de curto prazo.

A filosofia de trabalho no rebaixamento do nível d’água em mineração, sempre


que viável, deve ser o chamado “pré-rebaixamento” onde um número menor de poços
operado por um intervalo maior de tempo executem a tarefa deste rebaixamento. Com
isto diminui-se o custo de perfuração e o impacto locacional dos poços nas operações
mineiras.

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2 ESTUDOS HIDROGEOLÓGICOS PARA PROJETOS DE REBAIXAMENTO DO


NÍVEL D’ÁGUA - ESCOPO DOS SERVIÇOS8
A seguir são relacionadas as principais atividades necessárias ao
desenvolvimentos dos estudos hidrogeológicos para projetos de rebaixamento do
nível d’água em minas de grande porte ou com grande potencial de impactos
ambientais e sobre a disponibilidade dos recursos hídricos.

2.1 COLETA, COMPILAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS EXISTENTES


A primeira etapa dos trabalhos a ser realizada é a compilação de todas as informações
disponíveis, visando a maior e melhor familiarização com o universo de informações de que se
disporá para as fases seguintes. Será, particularmente, importante a obtenção dos dados
relativos a:

• Dados hidrometeorológicos;

• Hidrologia;

• Geologia local e regional, gênese do minério;

• Mapas topográficos e geológicos, fotografias aéreas, ortofotos;

• Informações de sondagens existentes;

• Perfis construtivos de poços tubulares e piezômetros, ensaios de bombeamento,


análises químicas, etc.;

• Hidrogeologia, trabalhos locais e regionais, se existentes;

• Hidroquímica e/ou qualidade das águas.

Em síntese, será feita uma compilação dos dados existentes, referentes à climatologia,
hidrogeologia, hidrologia e geologia.

O mapeamento geológico, com detalhamento em escalas de 1:5.000 a 1:10.000,


abrangendo mina e entorno é necessário; caso não exista tem de ser realizado. É de

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Esses são os procedimentos usuais das equipes da MDGEO, evidentemente aceitamos críticas e sugestões.
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fundamental importância conhecer o minério e as encaixantes e definir os potenciais


aquíferos presentes.

A gênese do minério, o conhecimento do processo é muito importante


principalmente em minérios com origem supergênica, como o fosfato, ferro e
manganês, onde o minério é o aquífero. Bem como, na presença de minerais
sulfetados, potencialmente geradores de drenagem ácida de rocha.

2.2 INVENTÁRIO DE PONTOS D'ÁGUA


Esta etapa é de fundamental importância em todos os estudos de natureza hidrogeológica,
deverá ser desenvolvida por hidrogeólogo devidamente treinado e com a devida Anotação de
Responsabilidade Técnica – ART junto ao CREA. Em áreas ainda não mineradas o inventário
retrata as condições iniciais dos corpos d’água, torna-se um documento legal, portanto deve ser
feita a ART.

O trabalho em si consiste no cadastro de todos os pontos d’água, sejam as surgências de


água subterrânea pontuais ou difusas, cabeceiras de drenagem, perfis de condutividade elétrica
ao longo das drenagens, piezômetros, poços tubulares profundos, poços escavados, lagoas,
galerias de drenagem, drenos de talude, drenos escavados e outras estruturas de captação.

O inventário deve ser realizado em fichas apropriadas que contemplem os seguintes


aspectos:

✓ Identificação, localização e acesso (referências em relação à drenagem e a


uma estrutura ou ponto conhecido, além de croqui do acesso);

✓ Coordenadas em UTM dos pontos, que devem ser levantados por GPS com
precisão compatível com o trabalho;

✓ Proprietário da área, fotografias digitais de situação e detalhe da surgência;


instalações associadas, estruturas de captação e emprego da água,
informações sobre a surgência e arredores;

✓ Esquema morfológico e geológico da surgência (croquis esquemático), além


de informações detalhadas sobre a geologia local (descrição litológica e

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estrutural de afloramentos próximos). O geólogo irá conferir sempre que


possível se os contatos litológicos, principalmente próximos às nascentes,
estão ajustados com o mapa disponibilizado/utilizado.

✓ Vazão estimada/medida das nascentes em m3/h;

✓ Temperatura do ar, temperatura da água, pH, Eh e condutividade;

✓ Propriedades físicas da água (cor, odor e presença de macro organismos);

✓ Particularidades do ponto.

Durante o inventário devem ser realizadas medições de vazão em pontos pré-


selecionados da rede de drenagem, para a caracterização hidrológica e definição da
rede de monitoramento. Essas medições devem ser, realizadas com chapas
vertedouros portáteis, recipientes volumétricos, micromolinetes ou em casos especiais
(corredeiras muito forte) com “Bottle Mariotte”, utilizando sal comum como traçador
químico.

Especificamente os poços tubulares, poços de monitoramento, piezômetros, indicadores


do nível d’água e poços escavados devem ser cadastrados também com fichas apropriadas (em
anexo). Nesses instrumentos ou captações é de fundamental importância que se proceda as
medições de vazão, níveis estáticos e dinâmicos, bem como as medições dos parâmetros físico
químicos.

Equipamentos de campo, necessários à atividade:

✓ Aparelho para medição “in situ” de parâmetros como pH, Eh, Condutividade Elétrica,
Temperatura do ar e da água. Aparelho com eletrodos intercambiáveis, com
certificado de calibração anual em laboratório idôneo. Os eletrodos devem ser
calibrados ou verificados no campo com soluções padrão conforme especificado
abaixo:

- eletrodo de pH – solução tampão pH 4,0 +/- 0,02 e pH 7,0 +/- 0,02, calibração;

- eletrodo de condutividade elétrica– solução de 1.412/1.413 mS, calibração;

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- eletrodo de potencial redox – solução de 228 mV, verificação;

✓ Medidor Elétrico de Nível D’água, cabo chato tipo fita com dois condutores de aço
inox, revestido com polietileno de alta densidade, marcando a cada meio centímetro;

✓ Micromolinete, com certificado de calibração anual;

✓ Placas de madeirite ou acrílico para medições de vazão;

✓ Medidor portátil de vazões com a utilização de um recipiente, denominado


“Mariotte”, com a utilização sal comum como traçador químico;

✓ Aparelho de Sistema de Posicionamento Global – GPS, marca Garmin;

✓ Altímetro digital de precisão;

✓ Facão, bússola, martelo, máquina fotográfica digital, etc;

✓ Fichas de cadastro de poços e piezômetros, padrão MDGEO em anexo;

✓ Fichas de inventário de pontos d’água, padrão MDGEO em anexo;

Após concluído o inventário de pontos d’água e o cadastro de usuários d’água, será


elaborado um relatório contemplando as características dos pontos d`água e contendo as fichas
de cadastro de campo e mapa topográfico em escala 1:10.000 ou maior, envolvendo todas as
áreas levantadas, com a locação de todos os pontos cadastrados.

2.3 CADASTRO DE USUÁRIOS DE ÁGUA


Os principais usuários devem ser cadastrados mediante o preenchimento de formulários
com os dados listados abaixo e o lançamento em mapa dos pontos cadastrados.

✓ Dados do imóvel: localização, nome do proprietário, endereço, município,


unidade da federação, distância da sede e área;

✓ Dados do usuário da água: nome completo, CPF/CNPJ, endereço completo,


distrito, município e estado;

✓ Dados do corpo d`água e captação/lançamento: nome do curso de água, tipo


de curso de água (rio, ribeirão, etc.), classificação (estadual, federal, etc.),

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bacia, sub-bacia, forma de captação/lançamento de efluente, coordenadas


do ponto de captação/lançamento, número da portaria de outorga (quando
tem), órgão outorgante, classe (especial, 1, 2, etc) e vazão captada. Caso
não tenha dados de vazão, deve-se medi-la se possível ou estimá-la.

✓ Finalidade do uso:

▪ Irrigação – área atual irrigada, método de irrigação, data de início,


tipo de cultura, entre outros;

▪ Abastecimento doméstico – população abastecida, volume e


tratamento;

▪ Dessedentação animal – tipo de animal, quantidade e volume;

▪ Abastecimento industrial – tipo de indústria, volume, tratamento;

▪ Tipo de efluente e volume do efluente, local e curso de água do


lançamento.

✓ Dados complementares: fonte de energia, informações do conjunto


motobomba e/ou canal de derivação e do barramento quando captação em
reservatório com regularização;

✓ Águas subterrâneas: tipo de captação, forma de captação, coordenadas do


poço, empresa perfuradora, endereço completo da empresa, vazão
explotada, qualidade da água, laboratório, características do poço e
características do sistema de bombeamento;

✓ Medição in situ dos parâmetros físico-químicos básicos (temperatura da


água, condutividade elétrica, pH e Eh), com equipamentos devidamente
calibrados;

✓ Medição de vazão com micromolinete, volumétrico ou vertedouro portátil;

✓ Planejamento – informações sobre o plano de expansão da empresa e


previsão de consumo futuro e monitoramento.

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2.4 PROGRAMA DE MONITORAMENTO

2.4.1 Projeto da Rede de Monitoramento

Elaboração do projeto da rede para o monitoramento das águas subterrâneas e


superficiais, contemplando a locação, projeto, especificações técnicas construtivas
dos seguintes instrumentos de monitoramento:

• Vertedouros, calhas e septos;

• Piezômetros e/ou indicadores de nível d’água (INAs);

• Poços de monitoramento (PMs);

• Pluviômetros, evaporímetros e demais instrumentos de monitoramento


climatológico;

• Pontos para medição de descarga d`água;

• Pontos para instalação de réguas linimétricas, em lagoas e captações de


água subterrânea, entre outros;

• Pontos para monitoramento fotográfico, na rede de drenagem e surgências


intermitentes;

• Pontos de coleta de água para análises físico-químicas.

Os pontos para o monitoramento deverão ser locados com critérios


geológicos/hidrogeológicos, devidamente justificados em relatório. Cada um dos tipos
de estruturas a serem implantadas deverá ser especificado no que tange às suas
dimensões, local exato a ser construído, bem como dos materiais e quantidades a
serem empregados.

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2.4.2 Acompanhamento da Implantação da Rede de Monitoramento-


Complementação
A construção dos instrumentos de monitoramento deve ser acompanhada por
hidrogeólogos, hidrólogos, e outros profissionais, com vistas a evitar equívocos nas
operações de monitoramento.

2.4.3 Definição do Plano de Monitoramento Hídrico

Após a construção da rede de monitoramento deve-se elaborar o Plano de


Monitoramento Hídrico o qual definirá os critérios de operação da rede de
monitoramento proposta, bem como a definição das rotinas de manutenção e
operação da mesma, contemplando os seguintes itens:

• Procedimentos operacionais de leitura dos instrumentos;

• Periodicidade das leituras e/ou determinações;

• Definição das rotinas de manutenção e operação dos instrumentos;

• Parâmetros a serem analisados para as águas da região;

• Critérios de validação e consistência de análises físico-químicas;

• Metodologia de armazenamento dos dados e da elaboração de relatórios.

2.4.4 Caracterização hidroquímica


Após a consistência das análises, o tratamento e interpretação dos resultados
das análises físico-químicas, deve ser realizada a caracterização hidroquímica das
áreas estudadas, identificando e quantificando as principais propriedades e os
principais constituintes químicos das águas subterrâneas e superficiais, procurando
estabelecer uma relação com o meio físico. Para tanto torna-se necessário a
verificação das relações iônicas e definir as fácies hidroquímicas. Em mapa os
pontos amostrados serão apresentados em Diagramas de Stiff e as fácies agrupadas
Diagramas de Piper.

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2.4.5 Caracterização isotópica


A análise de isótopos de elementos químicos presentes naturalmente na água,
ou mesmo a adição de traçadores artificiais ao sistema hídrico proporcionam a
obtenção de diversos parâmetros relacionados à dinâmica da água. Os isótopos
estáveis naturais 2H (Deutério), 18
O (Oxigênio-18) e 13
C (Carbono-13) marcam as
distintas partes do ciclo hidrológico, como verdadeiras “impressões digitais”,
possibilitando o conhecimento da história da água (origem e trajetória). Os isótopos
radiativos naturais 3H (Trítio) e 14
C (Carbono-14) são por sua vez utilizados para
“datar” águas recentes e antigas, respectivamente.
Essas técnicas vêm sendo largamente utilizadas, normalmente em conjunto com
técnicas tradicionais não nucleares, na caracterização hidrogeológica de sistemas
aquíferos, onde são particularmente eficientes.
A relevância das análises isotópicas é dada pela necessidade de separar fácies
hidroquímicas similares pertencentes a aquíferos distintos, com vistas a dirimir
dúvidas na previsão de eventuais impactos ambientais.
Em um primeiro momento recomenda-se a coleta de amostras d`água para
determinação da concentração natural dos isótopos 2H (Deutério), 18O (Oxigênio-18)
e 3H (Trítio). Eventualmente, em será necessário a determinação de 14
C e 13
C
(Carbono-14 e Carbono-13) em alguns pontos, dependendo dos resultados de Trítio.
Bem como, dependendo das especificidades da área poderão ser analisados outros
isótopos do nitrogênio e enxofre.

2.4.6 Elaboração do Modelo Hidrogeológico Conceitual


Para o estabelecimento do Modelo Hidrogeológico Conceitual do funcionamento
dos aquíferos serão desenvolvidas as seguintes etapas:
• Definição dos aquíferos e demais unidades hidrogeológicas presentes;

• Caracterização hidroquímica e isotópica dos aquíferos;

• Mapa piezométrico, elaborado manualmente por hidrogeólogo;

• Definição das características hidrodinâmicas;

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• Determinação dos parâmetros e condicionantes hidrológicos dos aquíferos;

• Elaboração de mapa hidrogeológico;

• Avaliação das reservas e recursos de água subterrânea.

2.4.7 Pesquisa hidrogeológica


A pesquisa hidrogeológica pode ser desenvolvida concomitantemente ao
programa de monitoramento ou posterior, dependendo da urgência que se tem com
relação ao rebaixamento do nível d’água. Consiste na construção de um ou mais
poços tubulares e a sua colocação em operação por um período de três meses a dois
anos, dependendo da urgência e características do aquífero.

A sua função é a geração de dados para a calibração do modelo numérico de


simulação do fluxo de água subterrânea em regime transitório. Em síntese observa-
se o efeito do rebaixamento sobre:

• Os níveis d’água em poços de monitoramento, indicadores do nível d’água e


piezômetros bombeamento dos poços nos níveis;

• Vazões de córregos, surgências, poços tubulares e demais captações


existentes.

Consequentemente, o bombeamento não pode ser intermitente e tampouco


estar em equilíbrio com as reserva locais do aquífero, algum impacto sobre vazões e
níveis tem de causar. No estado de Minas Gerais esta atividade é licenciada pelo
IGAM, mas não existe na legislação de outros estados brasileiros.

2.4.8 Montagem e calibração do modelo numérico


Com o estabelecimento do modelo físico do aquífero (modelo conceitual) torna-
se possível a montagem do modelo numérico de simulação do fluxo d`água
subterrânea em regime permanente. Ao término da pesquisa hidrogeológica é
possível calibrar o modelo numérico em regime transitório.

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Usualmente emprega-se o modelo desenvolvido pelo USGS (Serviço Geológico


dos EUA), o MODFLOW, que simula o fluxo de água subterrânea em três dimensões,
empregando o método das diferenças finitas
(http://water.usgs.gov/nrp/gwsoftware/modflow.html e
http://www.pmwin.net/pmwin5.htm). O modelamento, em linhas gerias, obedece aos
seguintes passos:

• Definição do modelo e diretrizes básicas, tais como condições de contorno e


o que será modelado;

• Montagem do modelo, a partir dos dados do modelo físico ou conceitual;

• Calibração em regime permanente, considerando os níveis d’água e vazões,


ao final do período seco anterior à pesquisa hidrogeológica, procedendo-se
principalmente a retro-análise da condutividade hidráulica e verificação do
modelo físico;

• Análise de sensibilidade;

• Calibração em regime transitório, com os dados de níveis d’água e vazões


monitoradas ao longo da pesquisa hidrogeológica, procedendo-se
principalmente a retro-análise dos coeficientes de armazenamento.

Adverte-se que o processo de calibração não pode basear-se apenas nas


correlações estatísticas entre os níveis d’água observados e os níveis d’água
simulados. É de fundamental importância que se verifique também as correlações
entre as vazões observadas e as simuladas, ou seja, o balanço de massa do modelo.

2.4.9 Projeto de rebaixamento do nível d’água


Projeto do sistema de rebaixamento

Com o modelo numérico calibrado é possível proceder as simulações do


rebaixamento do nível d’água da mina, considerando diversas estruturas de
rebaixamento e diversos arranjos operacionais.

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Com o modelo calibrado em regime permanente é possível simular cenários


como o final do rebaixamento e o final do descomissionamento. Em regime transitório
é possível simular todo o sequenciamento de lavra com o rebaixamento, calculando
passo a passo as estruturas de drenagem necessárias e os impactos potenciais a
serem gerados.

Medidas de mitigação

Da mesma forma que se obtém as estimativas das interferências sobre as


disponibilidades hídricas e se simulam as estruturas de drenagem é possível simular
alternativas de mitigação dos impactos sobre a disponibilidade dos recursos hídricos

Planejamento do descomissionamento da mina

De modo análogo o modelo calibrado em regime transitório permite simular o


processo de descomissionamento, principalmente no tocante até quando será
necessário manter estruturas de mitigação de impactos.

2.5 PRINCIPAIS IMPACTOS E MEDIDAS MITIGADORAS EMPREGADAS EM


REBAIXAMENTO DO NÍVEL D’ÁGUA

2.5.1 Os impactos
O rebaixamento do nível d’água pode vir a causar dois tipos de impactos a
considerar:

• Impactos sobre a disponibilidade dos recursos hídricos, os quais podem ser


mitigados pela gestão dos recursos hídricos;

• Impactos ambientais, sobre a flora, fauna, qualidade d’água, estradas,


canais, edificações, etc.

Os impactos ambientais são de difícil resolução ou mitigação e dependem da


sua caracterização. Os casos mais clássicos são:

• Impactos sobre a flora, devido a redução de vazão e rebaixamento do nível


d’água de aquíferos rasos, “Lençol Freático”;

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• Impactos sobre a qualidade das águas, devido a geração de drenagem ácida


de rocha.

2.5.2 A mitigação dos impactos


Sempre que o impacto for com relação às disponibilidades dos recursos hídricos,
dentre as medidas mitigadoras, destaca-se a reposição de água, tendo como lema:

“Água se paga com água”

Mesmo impactos ambientais gerados pela secagem de nascentes ou redução


de vazão que afetam a flora, a reposição de água mitiga muito bem a questão.

Ainda com relação à disponibilidade dos recursos hídricos outra forma


interessante de mitigação são os programas de conservação da água no solo, também
conhecidos como programas de micro-bacias bastante comum na agricultura. A
técnica consiste em aumentar o tempo de residência da água no solo, visando atenuar
o escoamento superficial e infiltrar a água das chuvas. Na página seguinte temos uma
sequência de fotos relacionadas à reposição de água.

O texto a seguir é do sumário executivo do relatório elaborado pela MDGEO para


o Comitê de Acompanhamento do Rebaixamento do Nível D’água da Mina do Capão
Xavier:

“MEDIDAS DE MITIGAÇÃO
No termo de compromisso firmado entre a MBR e a COPASA, estabelece-se que
a MBR, hoje Vale, deverá fornecer a COPASA, em caráter preventivo, a vazão
equivalente a 1/3 do total bombeado. A Vale construiu uma adutora interligando a
adutora da COPASA e vem disponibilizando acima do mínimo (50 L/s, vazão
equivalente a 1/3 da vazão bombeada), desde fevereiro de 2008. A definição da vazão
mínima adotou como referência a vazão média bombeada no ciclo hidrológico de
2007/2008 151 L/s.

Assim a vazão disponibilizada pela Vale à COPASA é suficiente para cobrir o


impacto de 32,2 L/s identificado na Barragem Auxiliar do Mutuca, Barragem Auxiliar

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de Fechos e V2 no Mutuca. Caso sejam identificados novos impactos hidrológicos no


futuro, há que se verificar se o somatório das reduções nas vazões superam o valor
da reposição preventiva (1/3 da vazão bombeada) de forma que, caso isto ocorra, o
fornecimento de água seja imediatamente aumentado na adutora, no sentido de
mitigar totalmente o impacto.

No caso específico dos dois poços do condomínio Jardim Monte Verde, foi
firmado um termo de compromisso, onde se estabelece que, preventivamente, a Vale
disponibilizará a vazão de 15 m 3/h (4,2 L/s) de águas oriundas dos poços de
rebaixamento durante toda a vida útil da mina.”

Na pratica a VALE vem fornecendo bem mais água que o acordado, para
compensar as perdas d’água (140 L/s) das águas da surgência dos Fechos
contaminada pelo esgoto contido ilegalmente nas águas da galeria pluvial de parte do
Jardim Canadá. A mineradora construiu uma estação de tratamento de esgoto e
entregou a COPASA, que fez a rede de esgoto, mas nela chega apenas uma parte. O
Córrego Seco encontrava-se (outubro de 2008) perenizado com os esgotos de outra
galeria pluvial do Jardim Canadá. O condomínio por sua vez usa a água de mitigação
para diluir o esgoto do Córrego Seco, pois mesmo impactado o seu poço ainda produz
o suficiente.

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Fotos e desenhos de estruturas de conservação da água no solo:

Barraginha em estrada rural Barraginhas em estrada rural

Barraginha em estrada de mineração Vala de infiltração em mineração

Barragem de gabião para recarga


Barragens sobre a mina subterrânea
artificial

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Rheimbraun, recarga artificial aquífero Mina de ferro de Alquife, recarga


livre artificial
Figura32 - Fotos e desenhos de estruturas de conservação da água no solo

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3 PROCEDIMENTOS PARA OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO DE POÇOS


TUBULARES PARA REBAIXAMENTO DO NÍVEL D’ÁGUA EM MINAS A CÉU
ABERTO

3.1 OBJETIVOS
O rebaixamento do nível d'água em mineração emprega a metodologia do pré-
rebaixamento, ou seja, um menor número de poços de rebaixamento operando por
um tempo de bombeamento maior. Esta forma de trabalhar implica em um menor
custo de perfuração de poços e uma interferência menor com as operações de lavra.
Para o pré-rebaixamento tornar-se viável, a bateria de poços tem que atuar de forma
ininterrupta, com a máxima eficiência possível. Para cada metro que se deseja
rebaixar o nível d'água de uma mina, temos que bombear um determinado volume
d'água subterrânea. Como o avanço da lavra em profundidade é descontínuo, o
rebaixamento do nível d'água tem que caminhar na vanguarda, permitindo que, ao se
chegar no momento da abertura de um novo banco, este esteja seco e por segurança
o nível d'água esteja na cota correspondente ao banco inferior.

Para manter a mina drenada com pisos e taludes secos e com segurança
operacional, é necessário que o rebaixamento do nível d'água seja programado junto
com o planejamento de lavra. As águas subterrâneas de uma mina devem receber o
mesmo tratamento dado ao estéril, com volumes a serem removidos comprometidos
com o plano de lavra e também a destinação deste. Recomenda-se inclusive que pela
sua qualidade, seja dado um uso nobre a água bombeada, tal como abastecimento
dos prédios administrativos e das instalações de tratamento de minério. Com este
procedimento a água evolui de estéril para ser mais um produto da mina.

A implantação de um sistema de operação e manutenção permite avaliar


regularmente o desempenho do rebaixamento, otimizar sua eficiência, identificar
problemas e fornecer indicações para a manutenção preventiva. Os poços tubulares
são equipamentos fixos que tem condições de operar com uma eficiência mínima de
90% em termos de disponibilidade de horas, e cumprindo-se 100% da programação
de produção, ou seja, do volume mínimo programado para determinado período.

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Estes cuidados são extremamente necessários quando se emprega a concepção de


pré-rebaixamento do nível d'água da mina.

A alternativa a estes procedimentos seria empregar a concepção adotada no


chamado rebaixamento do lençol freático, muito utilizado pela engenharia geotécnica
em obras civis. O rebaixamento do nível d’água realizado para a construção de
barragens, metrôs, usinas nucleares, etc., é em geral alcançado em um pequeno
espaço de tempo com um número muito grande de poços. Terminada a obra, as
estruturas são impermeabilizadas e o nível d'água volta à sua posição original. Em
mineração temos planejamento para 10, 20 ou mais anos de atividade e não podemos
construir uma bateria de poços para cada banco que vamos abrir.

A metodologia do pré-rebaixamento para o rebaixamento do nível d'água em


mineração depende da operação de bateria de poços até o final das operações de
lavra. A implementação de um bom programa de operação e manutenção de poços
tubulares permite a otimização destes equipamentos e principalmente as informações
necessárias ao planejamento do próprio rebaixamento do nível d'água.

3.2 NATUREZA DOS EQUIPAMENTOS


Os objetos de operação e manutenção nas operações de rebaixamento do nível
d'água são principalmente os poços, os equipamentos de bombeamento e as linhas
de adução de água para fora da área de materiais permeáveis da mina.

3.2.1 Poços Tubulares


Os poços tubulares são obras de engenharia muito sensíveis à ação de esforços
mecânicos, hidráulicos e também corrosão e/ou incrustação das próprias águas
subterrâneas. Um cuidado que se deve tomar principalmente na manutenção de
poços é quanto ao tipo de revestimento empregado.

Os poços revestidos com aço são muito sensíveis à ação das águas agressivas,
com a ocorrência de processos de corrosão e incrustação. Consequentemente, a sua
vida útil é menor e com o passar do tempo os filtros espiralados perdem a resistência

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aos impactos mecânicos e hidráulicos, podendo devido à corrosão colapsar ou romper


as lamelas.

Os poços com revestimento de pvc geomecânico são poços com alta resistência
à agressividade das águas. No entanto, têm menor resistência aos esforços
hidráulicos e mecânicos, principalmente aos de tração. Por se tratar de uma tecnologia
ainda nova no Brasil, deve-se tomar muito cuidado com qualquer tipo de intervenção
que venha ser desenvolvida nestes poços. Uma das principais limitações deste tipo
de material é a sua resistência ao colapso da ordem de 16 kg/cm 2 para geomecânico
reforçado e 8 kg/cm2 para o geomecânico standart.

3.2.2 Equipamentos de Bombeamento


Os equipamentos de bombeamentos empregados em poços tubulares profundos
são os conjuntos motobombas submersas. Devido à necessidade de desenvolverem
potências da ordem de até 30, 70, ou 100 H.P., em diâmetros de 6, 8 ou 10 polegadas
respectivamente, tratam-se de motores especiais com características distintas
daqueles que trabalham em superfície. Estes motores operam sobre mancais muito
sensíveis à ação de partículas abrasivas. Outra característica destes motores é a
necessidade de refrigeração pela própria água do poço. Assim nunca se deve instalar
a bomba no fundo do poço sem nenhum filtro abaixo do motor, pois este vai sofrer
superaquecimento.

Estas bombas não podem ser colocadas em um poço sem uma prévia análise
das condições, dentre as quais destacamos:

- faixa de vazão e altura manométrica de operação do conjunto;

- posição do conjunto motobomba em câmara de bombeamento do poço;

- condições de operação do motor (fluxo lateral para refrigeração);

- posição do nível dinâmico do poço;

- verificação do teor de finos da água do poço;

- limites de amperagem do motor;


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- instalação de válvulas de retenção para evitar golpes;

- completação da água de lubrificação do motor.

Diante da necessidade de utilização de um equipamento de bombeamento não


indicado para um determinado poço, deve-se optar pelo uso de um conjunto
motobomba de menor porte, evitando o uso contínuo de um conjunto com capacidade
de bombeamento maior que o potencial de produção do poço.

3.3 OPERAÇÃO DOS POÇOS


Para a organização da atividade de operação dos poços é necessária a
padronização de uma série de atividades a serem desenvolvidas com periodicidades
distintas. Estas atividades compreendem: medições, ensaios de campo, o controle de
alguns instrumentos instalados nos equipamentos, assim como a coleta e o
processamento dos dados obtidos.

3.4 MEDIÇÕES E ATIVIDADES NECESSÁRIAS

3.4.1 Conceitos Sobre Medidas de Níveis D'água nos Poços Tubulares.


A medição dos níveis d'água no interior do poço e do indicador de nível d'água
do maciço de pré-filtro deve ser feita anotando-se os respectivos tempos de repouso
ou de bombeamento. Como estes poços estão instalados dentro da cava e são
cortados à medida que a lavra avança, todas as medidas levantadas devem ser
referidas em cota altimétrica.

Em poços com indicador de nível d'água do maciço de pré-filtro, as leituras de


nível d'água serão sempre duplas, uma no interior do poço e outra no indicador de
nível d'água do maciço de pré-filtro. Para a realização da medida do nível d'água no
interior dos poços se faz necessário a instalação de um tubo de leitura, geralmente de
pvc DN 20 mm.

Preferencialmente o tubo de pvc DN 20 mm deve ser instalado junto com a


bomba, devidamente amarrado na tubulação edutora. Este tubo deve ocupar
totalmente o intervalo da boca do poço até a conexão do edutor com a bomba

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submersa. É recomendável que a base desta coluna de pvc seja fechada com um
caps e o tubo basal perfurado com furos de 1/4" de 20 em 20 cm. Este procedimento

impede que a sonda de leitura do nível d'água saia fora do pvc de leitura e agarre na
tubulação do poço.

3.4.2 Nível Estático


O nível estático é a profundidade do nível d'água no poço em repouso e reflete
a carga piezométrica do aquífero. A obtenção da posição real do nível estático
depende do tempo de recuperação do poço, após a parada da bomba, o qual por sua
vez, é função da vazão extraída, do rebaixamento atingido e das características do
aquífero. Assim, um nível d'água medido a um dado tempo após desligar a bomba
pode ou não ser o nível estático real. Em poços de recuperação rápida e de curto
período de bombeamento é provável que o nível estático seja atingido rapidamente, o
que não ocorrerá com os poços de recuperação lenta.

Na operação de bateria de poços de rebaixamento do nível d'água em


mineração, recomenda-se para cada mina a padronização do tempo de recuperação
para a medição do nível estático. Desta forma pode-se considerar as características
do aquífero e da operação da mina. Geralmente utiliza-se um período de repouso em
torno de 12 horas. A leitura de nível estático é sempre realizada com todos os poços
de rebaixamento da mina desligados simultaneamente.

3.4.3 Nível Dinâmico


O nível dinâmico é a profundidade do nível d'água no poço atingida durante o
bombeamento a uma dada vazão. A medida deve ser feita simultaneamente com a
medida de vazão, sempre com o cuidado de informar o tempo de duração do
bombeamento. Deve ser padronizado como nível dinâmico de um poço, aquele
medido com no mínimo 24 horas de operação do poço.

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3.4.4 Nível Inicial


O nível inicial é a profundidade do nível d'água no poço paralisado com o restante
da bateria de rebaixamento do nível d'água operando. Da mesma forma que o nível
estático, deve ser lido a partir de um tempo de repouso do poço em questão
padronizado, por exemplo, 24 horas.

3.4.5 Medição de Vazão


A medição da vazão de operação do poço deve ser feita diariamente ou no
mínimo três vezes por semana. A medida pode ser feita por qualquer método,
dependendo do tipo de instalação de bombeamento. A vazão medida através de
métodos volumétricos ou vertedouros deve ser sempre realizada ao final da rede
externa de adução. Medidas de vazão na boca do poço somente em poços sem
adutora ou com hidrômetro. Mesmo nos poços com hidrômetros, mensalmente deve
ser feita uma medida com outro método para verificar a eficiência do mesmo.

3.4.6 Tempo de Bombeamento


A medição do tempo de bombeamento deve ser feita com o horímetro totalizador
de horas, que deve ser instalado no painel de controle da bomba submersa. Em áreas
com dificuldade de manutenção é recomendável a instalação de dois horímetros para
evitar que um dano em um equipamento de baixo custo prejudique a qualidade das
informações.

3.4.7 Amperagem e voltagem


Deve ser realizada a leitura da amperagem e voltagem do equipamento sempre
que for realizada as leituras de vazão e nível dinâmico do poço, informando a área de
manutenção qualquer anomalia nestas medidas.

3.4.8 Volume Extraído e Tempo de Operação


Periodicamente deve ser realizada a totalização do volume extraído pelo poço e
o tempo de operação no período. Procurando-se dar ao volume extraído o mesmo
tratamento dado ao estéril lavrado na mina.

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3.4.9 Teor de Areia


Por melhor que sejam construídos, os poços tubulares tendem a produzirem
diminutas quantidades de areia junto com a água, geralmente areia muito fina da
formação. Desta forma periodicamente deve ser realizada uma medição do teor de
fios do poço. Quantidades de areia acima de 30 partes por milhão podem danificar os
equipamentos de bombeamento.

Este procedimento pode ser realizado com o auxílio do "Sand Test", que é um
pequeno hidrociclone que colocado na tubulação de saída d'água do poço concentra
a areia produzida e permite a sua medição. Outra forma de medição da areia é coletar
5 litros de água do poço e levar para o laboratório e mediante a concentração
gravimétrica eliminar a água isenta de areia até se chegar a um volume possível de
medir em uma proveta cônica, ou utilizar um cone inmhoff.

3.4.10 Desinfecção com Cloro


A desinfecção dos poços tubulares através da cloração é uma medida preventiva
extremamente necessária para a conservação dos filtros e revestimentos dos poços,
principalmente em minas onde se detecte a presença de ferro-bactérias. No final deste
capitulo, o processo de cloração é descrito em detalhes.

3.4.11 Teste de Produção


O teste de produção ou ensaio de bombeamento escalonado tem por fim
detectar eventuais problemas no poço através da verificação de sua eficiência. Os
poços tubulares quando colocados em operação tendem a melhorar o seu
desempenho, porém, com o passar do tempo surgem problemas tais como
colmatação dos filtros por crostas carbonáticas ou colônias de ferro-bactéria. Assim,
a execução periódica deste procedimento permite sinalizar a necessidade de medidas
corretivas no poço bem como acusar a necessidade de redimensionamento dos
equipamentos de bombeamento.

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3.4.12 Análise Físico-Química D'água


A determinação periódica da qualidade físico-química da água extraída é de
importância básica na operação e manutenção, a fim de detectar a tempo efeitos
nocivos da água no poço que, geralmente, se processam de maneira lenta e gradativa.
Recomenda-se a análise dos seguintes parâmetros:

determinação no EH, pH, condutividade elétrica, temperatura e CO2


campo:
no laboratório: Na+, K+, Ca2+, Mg2+, Fe2+++, Fe3+, Cl-, HCO3-, CO32-, SO42-, ferro
bactéria

3.4.13 Vídeo-inspeção
A vídeo-inspeção ou endoscopia de poços tubulares é um processo de filmagem
interna dos mesmos com câmera de vídeo, que permite a verificação do estado interno
dos filtros e tubos lisos. Este procedimento também deve ser empregado para a
verificação de objetos que caiam nos poços para a construção de ferramentas de
pescaria mais adequadas.

3.4.14 Limpeza dos Poços


A limpeza interna dos poços também é uma medida preventiva que deve ser
realizada periodicamente com vistas a melhorar sua eficiência. Ela pode ser
executada através de jateamento de água limpa com pressões da ordem de 40
kg/cm2. O escovamento é realizado com escovas de aço acopladas a ferramentas de
percusão a cabo, e deve ser seguido do pistoneamento do poço. Ambos os
procedimentos permitem a remoção de crostas no interior dos tubos, no entanto, o
escovamento só deve ser empregado em poços com incrustação bastante acentuada,
pois danifica os filtros.

O procedimento de limpeza inclui também a aplicação de produtos químicos para


a remoção de crostas, sendo recomendado o uso do produto comercialmente
conhecido como Well Clean, que agride menos os filtros. Em poços de pvc
geomecânico não deve ser empregado o escovamento com escovas de aço, mas
pode-se por outro lado empregar produtos químicos até com pH 2. No final da limpeza

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o poços deve ser desinfectado com cloro e limpo com bombeamento com ar
comprimido, "air lift".

3.4.15 Periodicidade das Medições e Atividades


O quadro a seguir apresenta um resumo das principais medições e atividades a
serem desenvolvidas pela operação dos poços com a respectiva frequência de
realização.

Freqüência
medições / atividade diária mensal trimestral semestral anual
vazão xxxxx
nível dinâmico ou inicial xxxxx
amperagem e voltagem xxxxx
horímetro xxxxx
nível estático xxxxx
piezômetros xxxxx
volume total extraído xxxxx
tempo de operação xxxxx
desinfecção xxxxx
teor de finos xxxxx
processamento de dados xxxxx
teste de produção xxxxx
análise físico-química xxxxx
redimensionamento de bombas xxxxx
endoscopia/vídeo-inspeção xxxxx
escovamento/jateamento xxxxx
33 Quadro II-3.1 - Sumário do programa de operação e manutenção de poços

3.5 CUIDADOS ESPECIAIS COM OS EQUIPAMENTOS

3.5.1 Poços Novos ou com Equipamentos Redimensionados


Os critérios de seleção de equipamento de bombeamento para rebaixamento do
nível d'água em mineração não são os mesmos empregados nas atividades normais
de explotação de águas subterrâneas. Devido a necessidade de realizar a
superexplotação do aquífero, os poços não tem o seu nível dinâmico constante. Estes
evoluem em função do rebaixamento. Desta forma, as bombas têm que ser

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dimensionadas para recalcar os níveis atuais e futuros. Dependendo da curva da


bomba estas tem que iniciar a sua operação com o registro estrangulado, com controle
da vazão.

3.5.2 Instalação de Bomba Submersa


Na instalação das bombas submersas deve ser feito um planejamento prévio,
sobre a profundidade exata que esta deve ser posicionada. A bomba deve ser sempre
instalada dentro de uma câmara de bombeamento, isto é, em uma seção de tubos
lisos e nunca à frente a uma seção de filtros. É fundamental a colocação de relê de
nível para impedir que o nível dinâmico do poço chegue próximo ao crivo da bomba
ou deixe de respeitar a submergência mínima, definido pelo seu NPSH. Deve-se
também tomar precauções no sentido de evitar instalar uma bomba com maior
capacidade que o poço, pois esta além de ser mais cara que o necessário, danificará
mais rapidamente por ter que trabalhar fora de suas especificações.

O ato da instalação do equipamento deve ser acompanhado por funcionário


devidamente treinado, que esteja atento ao aperto das roscas, fixação do cabo
elétrico, posicionamento do conjunto motobomba, reles de nível e tubo de leitura do
nível d'água. A atividade de instalação compreende também a colocação de conexões
para manômetro e torneira de coleta d'água, assim como hidrômetro, válvula de
retenção na saída do poço e na tubulação edutora para instalações com mais de 100
metros de coluna d'água.

3.5.3 Conjunto Motobomba de Reserva


Para que o sistema de rebaixamento do nível d'água opere eficientemente,
atendendo às metas estabelecidas pelo planejamento da lavra é fundamental que
existam equipamentos a disposição para substituírem aqueles com problemas ou
necessidade de manutenção.

3.6 ROTEIRO DE EXECUÇÃO DE DESINFECÇÃO EM POÇOS


A desinfecção dos poços deve ser realizada de tal forma a se injetar cloro para
dentro do poço, de forma a atingir uma solução em seu interior com 100 ppm de cloro.
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Recomenda-se o uso de hipoclorito de sódio comercialmente encontrado na


concentração de 10%, mas também podem ser empregados outros produtos como
hipoclorito de cálcio, água sanitária, pastilhas, etc. O procedimento de cloração deve
seguir os seguintes passos:

 encher um tambor de 200 litros com água limpa, preferencialmente usar


tambor plástico;

 para cada metro cúbico de água armazenada no poço, diluir no tambor 1 litro
de hipoclorito a 10%;

 verter para o interior do poço a solução, com o auxílio de uma mangueira ou


funil;

 Nos poços com indicador de nível d'água do maciço de pré-filtro (INA), verter
a solução em partes iguais pela boca do poço, pelo INA e pelo pvc de leitura
do nível d'água;

 Nos poços sem o indicador de nível d'água do maciço de pré-filtro (INA), verter
a solução em partes iguais pela boca do poço e pelo pvc de leitura do nível
d'água;

 A seguir acionar a bomba em baixa vazão, retornando a água para o seu


interior, por cerca de 30 segundos;

 Para poços de alta vazão ou com dificuldade de retornar a água bombeada


para o interior do poço, aplicar uma carga hidráulica, lançando pela boca do
poço cerca de 600 litros de água limpa;

 Deixar o poço em repouso entre 6 e 12 horas, em seguida reiniciar o


bombeamento;

 Os poços destinados ao abastecimento humano, a água deve ser monitorada


até o teor de cloro ficar dentro dos limites de potabilidade, entre 0,5 e 1,0 ppm
de cloro, quando poderá ser ligado à rede de abastecimento;

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 Imediatamente antes de iniciar a instalação da bomba, deve ser feita uma


cloração, lançando toda a solução do tambor pela boca do poço;

 Nos poços com INA do pré-filtro a cloração pode ser feita com o poço em
operação, diluindo a água do tambor com parte da água bombeada, de modo
a injetar a solução pelo INA por um período de 6 horas;

 Os poços de extrema importância sem INA, devem ser clorados no dia de


execução da leitura do nível estático, de modo a não afetar a sua
produtividade.

Os poços revestidos em 6 polegadas armazenam 20 litros de água por metro


linear, os poços de 8 polegadas armazenam 35 litros metro linear, os poços de 10
polegadas 50 litros por metro linear. Deve-se considerar somente a parte saturada do
poço, isto e, aquela situada abaixo do nível estático.

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PARTE III - CONCEITOS DE HIDROQUÍMICA

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1 INTRODUÇÃO

Em todas as áreas do conhecimento humano, a utilização de termos e conceitos


é uma constante. Assim, na hidroquímica, que tem por finalidade identificar e
quantificar as principais propriedades e constituintes químicos das águas, é
indispensável a identificação e entendimento destes conceitos, de modo a facilitar os
estudos.

Um estudo hidroquímico é fundamentado em algumas definições químicas


importantes, sobretudo relacionadas à parte de concentrações em soluções aquosas.
A ligação com esta parte da química é importante, na medida que a água subterrânea
não é uma substância pura e sim uma mistura homogênea (solução) com uma série
de constituintes dissolvidos, sobretudo sais, na forma de íons. As principais unidades
de concentração utilizadas nestes estudos são:

− Miligramas por Litro (mg/L): Relação peso-volume, isto é, o peso de


determinado elemento ou composto dissolvido em 1 Litro de solução. A
massa de sais ou constituintes adicionados é chamada de soluto e o líquido
que os recebe, no caso a água é chamada de solvente. A mistura -soma -
do soluto e do solvente é a solução.

− Partes por Milhão (ppm): Relação peso a peso. Correspondente a 1


miligrama (mg) de soluto dissolvido em 1 quilograma de solução. Para
águas com até 10.000 mg/L (Dez mil miligramas por litro) de sólidos totais
dissolvidos, esta unidade é equivalente ao mg/L.

− Molaridade (mol/L): Corresponde ao número de mols de soluto dissolvidos


em 1 Litro de solução. A molaridade é representada pela letra "M"
maiúscula, onde o número de mols é igual a peso da substância dividido
pelo peso molecular calculado com auxílio da tabela periódica.

− Miliequivalente por Litro (meq/L) ou Peso Equivalente: Leva em


consideração não somente a concentração do soluto iônico em peso, mas

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também a equivalência química. O uso desta unidade permite avaliar a


precisão de uma análise pois, em uma solução, as somas dos equivalentes
químicos dos cátions e ânions devem ser iguais para que a mesma seja
equilibrada.

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2 SUBSTÂNCIAS QUE SE ENCONTRAM DISSOLVIDAS NA ÁGUA


SUBTERRÂNEA

Na água subterrânea em geral, a maioria das substâncias dissolvidas


encontram-se no estado iônico. Alguns íons encontram-se quase sempre presentes,
e representam quase a totalidade dos íons. Estes são denominados de íons
fundamentais, que são:

ânions cátions
Cloreto (Cl -) Sódio (Na +)
Sulfato (SO4 –2) Cálcio (Ca +2)
Bicarbonato (HCO3 -) Magnésio (Mg +2)
É frequente que os íons carbonato (CO3 –2) e potássio (K +) se enquadrem dentro
do grupo dos íons fundamentais, ainda quando sua proporção é pequena. Outras
vezes pode-se incluir também os íons Fe +2 (ferroso) e nitrato (NO3 -).

O potássio está sempre associado ao sódio, assim como o CO3–2 está associado
ao HCO3–. Os principais tipos hidroquímicos das águas subterrâneas são:

cátions ânions

Sódicos: (Na+ e K+-) Bicarbonatados: (CO3 –2 e (HCO3


-
)

Cálcicos: (Ca+2) Sulfatados: (SO4-2)

Magnesianos: (Mg+2) Cloretados: (Cl-)

Entre os gases, deve-se considerar como fundamentais o anidrido carbônico


(CO2) e o oxigênio dissolvido (O2), ainda que não sejam frequentes suas
determinações em águas subterrâneas.

Entre as substâncias dissolvidas pouco ionizadas ou em estado coloidal, são


importantes os ácidos e os ânions derivados da sílica (SiO 2).

O restante dos íons e substâncias dissolvidas encontram-se geralmente em


quantidades bem inferiores que os anteriores. São denominados íons menores
(aqueles que se encontram normalmente formando menos de 1% do conteúdo iônico

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total) e elementos traço, quando estão presentes em quantidades tão baixas que são
dificilmente mensurados em análises químicas de rotina.

Os íons NO3 -, CO3 –2, K +


e Fe +2
, NO2 -, F -, NH4 + e Sr +2
encontram-se em
concentrações entre 0,01 e 10 ppm. Os íons menores apresentam concentração em
geral entre 0,0001 e 0,1 ppm, e são eles:

− Ânions: Br -, S –2, PO4 –2, BO3H2 -, NO2 -, OH -, I -, etc

− Cátions: Fe +3, Mn +2, NH4 +, H +, AL +3, etc

Os íons metálicos ou semimetálicos derivados do As, Sb, Cr, Pb, Cu, Zn, Ba, V,
Hg, etc., representam os chamados metais pesados e substâncias tóxicas, sendo, na
maioria das vezes, elementos traço.

Embora os íons menores e os elementos traços não possam ser determinados


em análises químicas habituais, salvo em circunstâncias especiais, eles não deixam
de ser de grande interesse, em especial nos estudos de origem e relações entre águas
e prospecção mineral, especialmente nos casos de drenagem ácida ou em complexos
carbonatíticos.

Todo o dito se refere aos casos mais frequentes de águas naturais; em águas
contaminadas as substâncias podem mudar consideravelmente. Na natureza, existem
por vezes águas subterrâneas naturais com composições que não se ajustam ao
anteriormente indicado, ou porque contém quantidades muito pequenas de alguns dos
íons fundamentais ou porque uma fração importante do conteúdo iônico está
representada por um ou vários íons menores ou traço.

As águas subterrâneas chamadas doces (fresh water em inglês) contém no


máximo 1.000 ou até 2.000 ppm de substâncias dissolvidas; se o conteúdo é maior,
por exemplo 5.000 ppm, chamam-se águas salobras e com quantidade próxima de
40.000 ppm, de águas salgadas. Não é raro que sejam encontradas águas que
superem 40.000 ppm de substâncias dissolvidas, chegando às vezes a até 300.000
ppm. Estas águas são denominadas salmouras (brines em inglês) e estão associadas

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com freqüência a depósitos salinos (ou evaporitos), águas de jazimentos petrolíferos


ou águas muito antigas, situadas a grande profundidade. Estas águas podem conter
quantidades elevadas de elementos traço e constituir verdadeiros minerais destas
substâncias, que muitas vezes seguem como uma pequena porção do conteúdo total,
em que geralmente dominam os íons Cl – e Na +, às vezes, Ca +2.´.

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3 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DOS ÍONS E SUBSTÂNCIAS DISSOLVIDAS


MAIS IMPORTANTES

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3.1 ÂNIONS E SUBSTÂNCIAS IÔNICAS

3.1.1 Íon cloreto (Cl-)

a) Características químicas: São geralmente muito solúveis. Muito estáveis


em dissolução e dificilmente precipitáveis. Não se oxidam e nem se
reduzem em águas naturais. Em geral vão associados com o íon Na +; em
especial em águas muito salinas, mas o número de miliequivalentes de
ambos os íons nem sempre é igual.

b) Concentrações: Entre 10 e 250 ppm em águas doces, não sendo raro


encontrar conteúdos muito maiores, acima de milhares de ppm. A água do
mar tem entre 18.000 e 21.000 ppm. As salmouras naturais podem chegar
a ter 220.000 ppm (saturação)

c) Nocividade e toxidade: Mais de 300 ppm dão à água um sabor salgado ao


paladar, mas não é prejudicial até alguns milhares de ppm. É essencial para
a vida. Conteúdos excessivos são prejudiciais para várias plantas e
aumentam a corrosividade da água.

3.1.2 Íon sulfato (SO4–2)

a) Características químicas: são moderadamente solúveis a muito solúveis,


exceto os de Sr (60 ppm) e de Ba (2 ppm). Em água pura, o Ca SO 4 satura
a 1.500ppm e pode chegar a 7.500 ppm em águas salinas. Em meios
redutores, com abundante matéria orgânica, pode sofrer uma redução
bacteriana do SO4-2 a S–2, em geral estável. Dificilmente é precipitado
quimicamente já que sais solúveis de Estrôncio e Bário são muito escassos
na natureza, mas pode ser separado da solução por concentração, se
existe uma evaporação importante.

b) Concentrações: Entre 2 e 150 ppm nas águas doces, podendo chegar a


5000 ppm em águas salinas, se existe Ca e até 200.000 ppm, se está

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associado a Mg e Na em certas salmouras. A água do mar contém algo em


torno de 3.000 ppm.

c) Nocividade e toxidade: As águas selenitosas (elevado conteúdo em sulfato)


não matam a sede e têm um sabor pouco agradável e amargo.Por si só ou
associado a Na e Mg em quantidades importantes. Pode apresentar
propriedades laxantes. Em quantidades elevadas pode ser prejudicial às
plantas.

d)

3.1.3 Íons bicarbonato e carbonato, HCO3 – e CO3–2

a) Características químicas: existe uma profunda relação entre o gás CO 2


(dissolvido), HCO3-, CO3–2. Estes íons dão alcalinidade à água no sentido
em que dão capacidade de consumo de ácido ao produzir uma solução
tampão. Não são oxidados e nem reduzidos em águas naturais. Podem ser
precipitados com facilidade na forma de CaCO3.

b) Concentrações: O íon bicarbonato (HCO3-) varia entre 50 e 350 ppm em


águas doces podendo chegar às vezes a 800ppm. A água do mar tem ao
redor de 100ppm. O íon carbonato (CO3–2) está em concentrações muito
menores que o bicarbonato e se o pH < 8,3 é considerado zero. Em águas
alcalinas, com pH > 8,3 podem existir quantidades importantes, acima de
50 ppm em algumas águas naturais. A água do mar tem menos de 1 ppm.

c) Nocividade e toxidade. Não apresentam problemas de toxidade. As águas


bicarbonatadas sódicas são ruins para irrigação, devido à fixação do Na no
terreno e a criação de um meio alcalino. O equilíbrio entre CO 2, HCO3-,
CO3–2, e pH é determinante da corrosividade ou incrustabilidade da água.

3.1.4 Íons nitrato, NO3-2

a) Características químicas: Sais muito solúveis e portanto dificilmente


precipitados. Tem tendência a ser estável e em meios redutores pode

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passar a N2 ou NH4+ e excepcionalmente a NO2-. A maioria dos compostos


nitrogenados passam a NO3– em meio oxidante, onde o NH4+ pode perder-
se em parte como N2. O terreno pode fixar o NO3 -, especialmente o solo
vegetal.

b) Concentrações: Normalmente entre 0,1 e 10 ppm, mas em águas poluídas


pode chegar a 200 ppm. A água do mar tem ao redor de 1 ppm ou menos.

c) Nocividade e toxidade: Concentrações elevadas na água para consumo


pode produzir cianose nas crianças. Conferem corrosividade (oxidações) à
água e produzem interferências em fermentações

3.1.5 Sílica, SiO2

a) Características químicas: a hidroquímica do silício não está totalmente


elucidada, mas pode-se crer que a maioria da sílica está como ácido
ortosilícico (H4SiO4), em parte dissolvida e em parte coloidal, e somente
uma pequena parte está ionizada. (H3SiO4-) a pH normais. Águas
fortemente básicas podem ter quantidades importantes de sílica iônica,
mas são muito raras na natureza. A sílica iônica contribui para a
alcalinidade da água. O CO2, neste caso, tem o importante papel de evitar
que o pH da água natural suba, limitando assim a solubilidade da sílica. O
quartzo e suas formas alotrópicas são muito pouco solúveis, mas a sílica
amorfa é muito mais (50 ppm a 0 o C, 160 ppm a 25 o C e 400 ppm a 100
em água pura.)

b) Concentrações: A maioria das águas natural tem entre 1 e 40 ppm em SiO 2


podendo chegar a 100 ppm em águas bicarbonatadas sódicas. Em águas
muito básicas pode chegar a 1.000 ppm.

c) Nocividade e toxidade: O maior inconveniente está relacionado com sua


incrustabilidade em caldeiras.

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3.2 CÁTIONS E SUBSTÂNCIAS CATIÔNICAS

3.2.1 Íon sódio, Na+

a) Características químicas: Solubilidade muito elevada e muito difícil de


precipitar. É afetado facilmente pela mudança de bases. Pode ir associado
com o íon Cl-, ainda que nem sempre se suceda assim. As águas naturais
com elevados conteúdos em Na+, podem ter conteúdos elevados em F -.

b) Concentrações: Entre 1 e 150 ppm em águas doces, não sendo raro


encontrar concentrações muito maiores, em milhares de ppm. A água do
mar tem ao redor de 10.000 ppm, as salmouras naturais podem chegar a
ter 100.000 ppm, sendo que o limite de 500 meq/l ( 110.000 ppm),
raramente é alcançado.

c) Nocividade e toxidade: As águas com concentração elevada de sódio são


prejudiciais as plantas ao reduzir a permeabilidade do solo; são
especialmente nocivas se a concentração de Ca e Mg é baixa. Águas com
conteúdo elevado de NaHCO3 originam problemas de espumas em
caldeiras.

3.2.2 Íon potássio, K +

a) Características Químicas: Solubilidade muito elevada e difícil de precipitar.


É afetado facilmente pela troca de bases e é adsorvido de forma muito
pouco reversível pelas argilas (montmorillonita e illita), para formar parte da
sua estrutura, circunstância que o diferencia notavelmente do íon Na +. Por
isto, as águas naturais, apesar da maior abundância de K em muitas
rochas, têm muito menos K + que Na +, exceto nas muito diluídas.

b) Concentrações: Entre 0,1 e 10 ppm em águas doces. Extraordinariamente


podem possuir algumas centenas de ppm e raramente podem ocorrer
salmouras com concentrações superiores a 100 000 ppm. A água do mar
tem ao redor de 400 ppm.

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c) Nocividade e toxidade.: Não apresenta problemas especiais às


concentrações habituais e constitui-se em elemento fundamental para as
plantas.

3.2.3 Íon cálcio, Ca +2

a) Características químicas: Sais moderadamente solúveis a muito solúveis.


Precipita-se facilmente como CaCO3. Sua química é muito associada a dos
íons HCO3– e CO3–2 nas águas naturais, podendo precipitar e dissolver com
facilidade ao mudar-se o pH ou a pressão parcial de CO2. Pode ser afetado
por mudança de bases.

b) Concentrações: Entre 10 e 250 ppm em águas doces, podendo chegar a


600 ppm em águas selenitosas. A água do mar contém ao redor de 400
ppm. Excepcionalmente pode-se ter por volta de 50.000 ppm em salmouras
de CaCl2.

c) Nocividade e toxidade: O maior inconveniente é associado ao aporte de


dureza na água e produção de incrustações.
+2
3.2.4 Íons magnésio, Mg

a) Características químicas: Propriedades similares as do cálcio, mas com


maior solubilidade e portanto com difícil precipitação.

b) Concentrações: Entre 1 e 100 ppm em águas doces, podendo chegar a


alguns milhares de ppm em águas salinas ou salmouras. A água do mar
contém cerca de 1200 ppm.

c) Nocividade e toxidade: Propriedades laxantes e sabor amargo, se a


concentração atinge algumas centenas de ppm. Contribui para a dureza da
água e a pH elevado pode produzir Mg(OH) 2 incrustante.

3.2.5 Íons relacionados ao ferro

a) Características químicas: Sua química é relativamente complexa pois pode


existir nos estados de oxidação +2 e +3. A estabilidade dos íons Fe +2, Fe
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+3
, Fe(OH) +2, Fe(OH) +, em relação com o Fe(OH)3 e Fe(OH)2 precipitados
ou coloidais depende do pH, Eh e composição da solução. Certos materiais
orgânicos e alguns inorgânicos podem atuar formando complexos , que
complicam ainda mais o comportamento. Os trabalhos de Hem et al. (1962)
in Custodio, E. & Llamas, M. R., 1976 levaram ao estabelecimento de um
conjunto de diagramas de estabilidade tal como o da figura III-1.1. Nesta
figura aparecem os limites dos campos de estabilidade de onde se pode
ver que em geral as águas subterrâneas só têm normalmente o Fe+2
dissolvido (às vezes como Fe(OH)+ e sob condições de pH elevado
praticamente não existe ferro dissolvido; a medida em que o pH e o Eh
aumentam, o ferro forma o composto Fe(OH) 3 , insolúvel. A oxidação do
Fe+2 produz-se segundo:

Fe+2 + ½ O2 + 2H2O → Fe(OH)3 + H+

Ou seja, diminuindo o pH. O HCO3- assume o importante papel de tampão,


permitindo a continuação da reação com a liberação de CO2:

H+ + HCO3- → H2O + CO2

Certos micro-organismos promovem meios redutores que favorecem a


formação de Fe+2, embora outros utilizem a energia da passagem de Fe +2
para Fe+3 em seus processos vitais e dão lugar à precipitações gelatinosas;
estes crescimentos bacterianos são favorecidos em meios afóticos (sem
luz) e em águas com excesso de O2 e abundante CO2.

O Fe pode estabilizar-se com compostos orgânicos, tais como os ácidos


oxálico, tartárico, cítrico e também com polifosfatos.

b) Concentração: Fe+2 entre 0 e 10 ppm, sendo de menos de 0,5 ppm em


águas aeradas. Com pH entre 5 e 8 raramente chega-se a 50 ppm. Em
águas muito ácidas, pode-se chegar a 100 ppm em Fe+2 e Fe+3. As águas
alcalinas têm quantidades muito pequenas de Fe +2 ou Fe(OH)+.

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c) Nocividade e toxidade: produz manchas de ferrugem e depósitos orgânicos


de lodo com Fe(OH)3 e é maléfico às águas industriais. Pode originar
incrustações duras. Mais de 5 ppm pode ser tóxico para as plantas. Mais
de 0,5 ppm é nocivo e maléfico em geral.

34 III-3.1: Campos de estabilidade das soluções aquosas dos sistemas ferrosos-férricos. São
indicados os campos em que se situam a maioria das águas naturais e subterrâneas.
(Segundo Hem et al. in Custodio, E. & Llamas, M. R., 1976).

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4 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS E FÍSICO-QUÍMICAS

4.1 POTENCIAL HIDROGENIÔNICO (PH)


(a) Definição e propriedades: pH é definido como o negativo do logaritmo da
concentração de íons hidrônio ou Hidroxônio (H 3O+) em um determinado
meio. Este íon hidrônio é comumente simplificado para a forma H+,
denominada de hidrogênio ionizável,

pH = - log [H+]

O pH varia em uma escala logarítmica de 1 a 14, sendo que valores


logarítmicos inferiores a 7 conferem ao meio um caráter ácido (em virtude
de maiores concentrações de H+) e, contrariamente, valores superiores a 7
conferem um caráter básico ao meio, com menor quantidade de H+, em
detrimento de um aumento nos íons OH- (hidroxila).Com o pH em torno de
7 diz-se que o meio tem caráter neutro.

O pH cresce de acordo com o aumento de temperatura (8% a cada °C) e


por isso deve-se referi-lo a uma certa temperatura. A referência é 25 oC.

(b) Valores: O pH varia entre 6,5 a 8, mas raramente entre 5,5 e 8,5. Em casos
excepcionais pode variar entre 3 e 11. A água do mar tem um pH de
aproximadamente 8.

(c) Efeitos: Águas com pH < 7 podem ser agressivas. PH > 9 causa
dificuldades nas plantas. Os peixes suportam pH variante entre 5 e 9,5,
sendo que o ideal está entre 6,5. Valores de pH são mais facilmente
solubilizados e tornam as águas mais tóxicas. Em valores mais elevados
ocorre maior tendência à precipitação de metais.

4.2 RESÍDUO SECO


a) Definições: O resíduo seco é o peso dos sais resultantes da evaporação de
1 litro d’água, após a filtragem para a remoção dos materiais em

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suspensão. O resíduo seco mede o peso de todas as substâncias


dissolvidas em água, sendo ou não voláteis.

b) Unidades: ppm ou mg/L

c) Propriedades: O resíduo seco varia com a temperatura do material seco e


convém fixá-la por exemplo 105 – 110 oC. ou 180 oC.

A 105 – 110 oC podem existir alguns bicarbonatos, alguma água de hidratação


e alguma matéria orgânica.

A 180 oC os bicarbonatos passam a carbonatos e grande parte da matéria


orgânica e água são volatilizados. Em uma análise química a soma de
todos os cátions e ânions subtraídos de metade do bicarbonato deve ser
aproximadamente igual ao resíduo seco (RS), conforme a expressão:

RS = Cátions + ânions – ½ HCO3

d) Valores: Entre 50 e 1.500 ppm em águas doces, podendo chegar a 300.000


em salmouras. A água do mar tem ao redor de 35.000 ppm.

4.3 SÓLIDOS TOTAIS DISSOLVIDOS (STD):


a) É o peso total dos constituintes minerais presentes na água, por unidade
de volume. Representa a concentração de todo o material dissolvido na
água, ou seja, volátil e não volátil. Comumente os sólidos totais
dissolvidos têm valores superiores ao resíduo seco, em função do HCO 3-
(bicarbonato), que em altas temperaturas (>100 oC) se decompõe em
parte como CO3-2 e em parte como CO2, que se volatiliza e evapora da
amostra. Os valores dos sólidos totais dissolvidos são aproximadamente
iguais ao resíduo seco mais ½ de HCO3- em mg/L:

STD = RS + ½ HCO3-

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4.4 ALCALINIDADE TAC E TA


a) A alcalinidade é a capacidade que a água possui de neutralizar ácidos. A
alcalinidade TAC (Titulação Alcalimétrica Completa) mede a alcalinidade
até pH = 4,5 e a alcalinidade TA (Titulação Alcalimétrica) mede a
alcalinidade até o pH = 8,3. As alcalinidades medem o efeito dos íons HCO 3-
e CO3-2. Se o pH < 8,3 TA = 0 e TAC = HCO 3- em meq/L ou HCO3- (ppm) =
1,22 TAC (ppm de CaCO3).

b) Unidades:Usualmente ppm de CaCO3 ou meq/L (1meq = 50 ppm) ou


também grau Francês oF (1 oF = 10 ppm de CaCO3), grau alemão oA (1 oA
= 10 ppm de CaO)

c) Valores: O valor de TAC está entre 100 e 300 ppm podendo estar, às vezes,
entre 50 e 500 ppm de CaCO3. O valor de Ta é geralmente 0 e pode chegar
a 10 em águas bicarbonatadas sódicas.

4.5 CONDUTIVIDADE ELÉTRICA


a) Definição: A condutividade elétrica é a capacidade que a água possui de
conduzir eletricidade. Esta capacidade é devido à existência de sais
ionizados em água (dissolvidos) com os íons atuando como eletrólitos, ou
seja, condutores de corrente. Unidades: microsiemens/cm (S/cm),
micromhos/cm (mhos/cm), não mais usada.

b) Propriedades: A condutividade cresce com a temperatura e é preciso tomar


uma temperatura de referência; que pode ser 18 oC ou 25oC. Cresce na
razão de 2%/ oC. Cresce também com o aumento dos íons dissolvidos, ou
seja, da salinidade. A uma mesma temperatura, os parâmetros que podem
influenciar na condutividade de uma água presente no solo são o tipo de
íons dissolvidos e suas características principais (carga elétrica, estado de
dissociação e mobilidade elétrica) alem da concentração iônica. Em águas
naturais, as variações de composição fazem com que não exista uma
relação estreita entre a condutividade e o resíduo seco, mas esta

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correlação é boa para águas de composição química semelhante quanto à


distribuição de seus cátions e ânions, como por exemplo as águas de um
mesmo aquífero, ou mesmo aquelas que chegam a um mesmo rio.

c) Valores: Varia entre 100 e 2000 S/cm a 18oC para águas doces, podendo
chegar a 100.000 S/cm em salmouras. A água do mar tem ao redor de
45.000 S/cm a 18oC.

4.6 DUREZAS TOTAL, PERMANENTE E TEMPORÁRIA OU CARBONATADA


(DT, DP, DC).
a) Definições: A dureza mede a capacidade de uma água para consumir
sabão ou produzir incrustações, ou a capacidade da água neutralizar o
sabão pelo efeito do cálcio, magnésio ou outros elementos como Fe, Mn,
Cu, Ba, etc. 9

− Dureza total: Conteúdo total em Ca+2 + Mg+2, Cl-, SO4-2; entendida como
a soma das durezas permanente e temporária (D t = Dp + Dc)

− Dureza permanente: Dureza de não carbonatos (cloretos e sulfatos) é


aquela que persiste após a fervura (ebulição) da água. É produzida pelos
íons de Ca e Mg que se combinam com os íons de sulfato, cloreto, nitrato
e outros.

− Dureza temporária ou carbonatada: Total de cálcio e magnésio


associados com HCO3- e CO3-2, podendo ser eliminada com a ebulição
da água.

b) Unidades: as mesmas que a alcalinidade, em geral ppm CaCO 3 ou F (grau


francês).

9
Extraído de Hidrogeologia, conceitos e aplicações – CPRM – 1997.

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c) Valores: Geralmente entre 10 e 300 ppm CaCO 3 podendo chegar a 1.000


e excepcionalmente a 2.000 ou mais. A água do mar tem ao redor de 1.500
ppm.

4.7 DEMANDA QUÍMICA DE OXIGÊNIO (DQO) E MATÉRIA ORGÂNICA (MO)


a) Definições: Capacidade da água em consumir oxigênio durante processos
químicos.

b) Unidades: ppm de O2.

c) Propriedades: Mede o conteúdo de matérias orgânicas oxidáveis e também


outras substâncias que consomem oxigênio, tais como Fe +2, Mn+2, NH4+,
etc. É um dado semiquantitativo.

d) Valores: Geralmente de 1 a 5, até 15 ppm de O 2 em águas não


contaminadas.

4.8 DEMANDA BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO (DBO)


a) Definições: Medida da quantidade de oxigênio necessária para eliminar a
matéria orgânica contida em uma água, mediante processos biológicos
aeróbicos. Comumente se refere a 5 dias.

b) Unidades: ppm ou mg/L de O2.

c) Propriedades: É uma medida importante de poluição e deve referir-se a um


período de tempo, 24 h ou 5 dias. É pouco importante nos estudos de
hidroquímica, mas muito importante nos estudos de contaminação de
águas superficiais.

d) Valores: Em águas subterrâneas os valores são inferiores a 1 ppm. Valores


superiores são indício de poluição.

4.9 POTENCIAL DE OXI - REDUÇÃO (EH)


Entre os processos de dissolução de sais pelo ataque da água aos minerais são
de grande interesse aqueles inerentes às substâncias que alteram ou podem alterar

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seu estado de valência, oxidando-se algumas vezes e reduzindo-se outras. Tais


sistemas são chamados redox e estão regidos pelas condições de pH, pressão,
temperatura, entre outros parâmetros. O potencial Redox (Eh) de um sistema mede a
estabilidade de um íon em um nível de oxidação determinado.

São de interesse os sistemas que possuem o ferro nos números de oxidação +2


e +3 e o enxofre, com valências –2 ,+6 e intermediárias. A existência do oxigênio e
matéria orgânica são fatores de grande importância na evolução e estabilidade dos
sistemas Redox.

O Eh determina, então, a característica do ambiente, se redutor ou oxidante,


controlando inúmeros processos químicos que ocorrem na natureza.. Este parâmetro
tem de ser determinado no campo e com o auxílio de um potenciômetro. A medição
tem que ser feita no ponto da surgência d’água, antes da água subterrânea entrar em
contato com o oxigênio da atmosfera. O incremento de oxigênio na água aumenta a
sua capacidade de oxidação, ou seja, o seu potencial redox.

As águas superficiais naturais têm, em geral, maiores valores de potencial redox,


pois são oxidantes. As águas subterrâneas de circulação profunda tendem a
apresentar ambiente redutor.

O Eh, em conjunto com o pH definem os ambientes nos quais se encontram as


águas subterrâneas. O gráfico da figura 1.2-1 apresenta o comportamento do ferro
com relação ao Eh e ao pH. Este tipo de diagrama também pode ser aplicado para
outros íons.

4.10 ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA


Esta parte trata do estudo da forma de apresentação e valorização dos dados
resultantes das análises físico-químicas de água, com ênfase às águas subterrâneas.

4.10.1 Cálculo do equivalente grama dos compostos


O cálculo do equivalente grama de um composto é dado pela seguinte
expressão: Equivalente grama = Peso molecular / carga iônica

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A forma mais racional de expressar a fração iônica na água é na forma de íons.


Assim, o sulfato se expressa como SO4-2 e o cálcio como Ca+2. Mas muitas vezes
podemos encontrar a fração iônica representada pela concentração de substâncias
que guardam uma estreita relação com ela. Assim, o íon Cl - pode ser dado em
concentração de NaCl que contenha uma quantidade igual do mesmo; o Na, neste
caso, não possuindo relação com a quantidade de íon sódio que pode existir
realmente na água (aparece como puro processo de cálculo). O íon Sulfato (SO4) pode
ser calculado a partir do SO3 ou CaSO4, o cálcio (Ca) a partir do CaO ou CaCO 3, o
íon magnésio (Mg) do MgO, o íon bicarbonato (HCO 3-) do CaCO3 ou NaHCO3, etc. Na
realidade, a valorização da dureza ou alcalinidade em ppm de CaCO3 não é mais do
que uma variação destes modos de expressão. As expressões em forma de óxidos
têm uma difusão especial, posto que são muito utilizadas na composição de rochas e
produtos químicos. Entretanto, muito cuidado deve-se ter ao realizar tais
transformações pois devemos levar em consideração a valência (carga iônica) dos
íons e compostos.

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Para transformar ppm de Em ppm de Multiplicar por

CaCO3 HCO3 1,220

NaHCO3 HCO3 0,726

CaCO3 CO3 0,600

Na2CO3 CO3 0,566

SO3 SO4 1,200

CaSO4 SO4 0,705

NaCl Cl 0,607

N2O5 NO3 1,150

N NO3 4,426

Na2O Na 0,742

K2O K 0,830

CaO Ca 0,715

CaCO3 Ca 0,400

MgO Mg 0,603

CaCO3 Mg 0,243

Fe2O3 Fe 0,699

35 - Quadro I-4.1 –Conversão de expressões químicas (Custodio ,E. & Llamas,M.R. , 1976
página 222)

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Outra forma de conversão de unidades de expressões químicas pode ser feita


a partir do seguinte quadro:

Substância Peso Molecular epm a ppm ppm a epm


CO3H- 61 61 0,0164
CO3HNa 84 84 0,0119
-2
CO3 60 30 0,0333
CO3 Ca 100,1 50 0,0200
CO3Na2 106 53 0,0189
-
Cl 35,5 35,5 0,0282
NaCl 58,5 58,5 0,0171
SO4-2 96 48 0,0208
SO3 80 40 0,0250
SO4Ca 136,1 68 0,0147
3-
NO 62 62 0,0161
N 2 O5 108 54 0,0185
NO3Na 85 85 0,0118
+
Na 23 23 0,0435
Na2O 62 31 0,0323
K+ 39,1 39,1 0,0256
K2O 94,2 47,1 0,0212
Ca+2 40,1 20 0,0500
CaO 56,1 28 0,0357
Ca(OH)2 74,1 37 0,0270
Mg+2 24,3 12,1 0,0826
MgO 40,3 20,1 0,0498
Mg(OH)2 58,3 29,1 0,0344
Fe+3 55,8 18,6 0,0538
Fe+2 55,8 27,9 0,0358
Fe2O3 159,6 26,6 0,0376
FeO 71,8 35,9 0,0278

Quadro I-4.2 – Fatores de conversão de unidades de expressões químicas (Custodio ,E. &
Llamas,M.R. , 1976 página 223)

Nas análises químicas é necessário, para que se possa efetuar o cálculo do


balanço iônico, transformar os valores dados em mg/l para meq/l, conforme abaixo:

meq / l = Concentração (mg/l) / ( peso molecular / carga do íon)

Exemplo: Determinar o número de meq/l de SO42- em um solucão que contém


55,8 mg/l de SO42-
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meq/l = 55,8/(96/2) = 1,4 meq/l de SO4-


2

4.10.2 Balanço de ânions e cátions em uma análise química e os erros


relacionados
Em uma análise química completa deve ser verificado se a soma de
miliequivalentes (r) de ânions é igual à soma de miliequivalentes (r) de cátions:

rCO3-2 + rCO3H- + rSO4-2 + rNO3- = rNa+ + rK+ + rCa+2 + rMg+2

Na prática existe uma diferença entre os valores obtidos, que é devida aos erros
acumulados de cada uma das determinações individuais e a não contagem das
concentrações de contribuições iônicas menores.

Se a soma de cátions e ânions representam respectivamente as somas de


miliequivalentes de cátions e ânions, a % de erro no balanço da análise é dado por:

Erro (%) = 200 


 cátions −  ânions.
 cátions +  ânions.

O erro admissível depende um pouco da concentração e do tipo de água e pode-


se admitir, para valores específicos de condutividade (S/cm), que os erros máximos
admissíveis são:

Condutividade S/cm 50 200 500 2000 >2000

Erro admissível (%) 30 10 8 4 4

Se existe uma diferença muito marcante, esta somente pode ser devido à:

1. existência de quantidades anômalas dos íons menores;

2. erros analíticos graves.

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Assim, deve-se acrescentar ao balanço estes íons geralmente menores, como


Fe+2, F- e Ba+2

Em análises rotineiras podem ser admitidos erros maiores, dependendo da


circunstância. Se a análise apresenta um erro praticamente nulo é provável que a
soma Na+ + K+ tenha sido determinada por diferença, ou seja, desconhecendo-se o
valor do íon K+, calcula-se seu valor pela diferença entre ânions e cátions do balanço.

4.10.3 Cálculo do Balanço Iônico

4.10.4 Apresentação das análises físico-químicas


Existem muitas formas de apresentação de análises físico – químicas, desde
gráficos cartesianos, diagramas de pizza e outros. Os diagramas de Piper e de Stiff
são, em geral, os mais empregados.

O diagrama de Piper é utilizado para classificar os principais tipos hidroquímicos.


Quando se tem um maior número de análises químicas da água, este diagrama torna-
se uma excelente ferramenta de trabalho. O diagrama de Piper permite tanto
classificar e comparar as distintas fácies hidroquímicos, quanto observar correlações
entre os íons.

O diagrama de Piper é formado pela junção de dois diagramas ternários na base.


O da esquerda contém os cátions (Na++ K+), Mg+2 e Ca+2 e o da direita os ânions (CO3-
2
HCO3-), Cl- e SO4-2. Cada um desses diagramas ternários possui ainda quatro
triângulos como subdivisões. Para dispor os dados no diagrama, transformam-se os
valores de cada íon expressos em meq/L, em percentagem do total de ânions e do
total de cátions, separadamente. Um conjunto de amostras inseridas no diagrama de
Piper e localizadas aproximadamente no triângulo central dos diagramas ternários
basais é classificada como mista. Para facilitar a classificação e comparação da água,
o diagrama de Piper possui, ainda, um diagrama losangular com as subdivisões de
classificação hidroquímica, feito por extrapolação dos dados já inseridos nos referidos
diagramas ternários. O diagrama de Piper com as classificações é mostrado na figura

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III-4.1 são representados no diagrama de Piper da figura III-4.2 dados de um conjunto


de análises químicas, como exemplo.

36 - Figura III-4.1: Diagrama de Piper com as respectivas classificações hidroquímicas

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Legend:
Ponto C1
Ponto C2
Ponto C3
Ponto C4
80 80
Ponto C5
Ponto C6
Ponto C7
60 60
Ponto C8
Ponto C9
Ponto C10
40 40
Ponto C11

20 20

Mg SO4

80 80

60 60

40 40

20 20

80 60 40 20 20 40 60 80
Ca Na+K HCO3 Cl

37 - Figura III-4.2: Exemplo de Diagrama de Piper correspondente a um conjunto de análises


químicas de água

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4.10.4.1 Diagrama de Stiff


No diagrama de Stiff, todas as concentrações iônicas são expressas em meq/L
e representadas sobre linhas paralelas horizontais unidas a um eixo vertical que
corresponde ao ponto em que as concentrações em meq/L são iguais a zero. Os
cátions ocupam as semi-retas da esquerda e os ânions as semi-retas da direita.
Ligando todos os pontos respectivos obtém-se uma figura geométrica característica
para a água analisada.

Os valores de cátions e ânions em diagramas de Stiff para algumas amostras


são representados na figura III-4.3 e III-4.4, como exemplo. O diagrama de Stiff é
usado para amostras individuais e os valores podem ser obtidos na ficha hidroquímica
correspondente, a exemplo do anteriormente exposto para o diagrama de Piper.

O diagrama de Stiff por si próprio apresenta um formato visualmente perceptível


para cada tipo de água. Para poder comparar mais de uma amostra, é importante que
as escalas gráficas sejam iguais.

38 - Figura III-4.3: Diagramas de Stiff

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IHR01 IHR05 PQM01


Na+K Cl Na+K Cl Na+K Cl

Ca HCO3 Ca HCO3 Ca HCO3

Mg SO4 Mg SO4 Mg SO4

3 1.5 1.5 3 (meq/l) 3 1.5 1.5 3 (meq/l) 3 1.5 1.5 3 (meq/l)

PQM02 PQM03 PTMAC PA VI


Na+K Cl Na+K Cl Na+K Cl

Ca HCO3 Ca HCO3 Ca HCO3

Mg SO4 Mg SO4 Mg SO4

3 1.5 1.5 3 (meq/l) 3 1.5 1.5 3 (meq/l) 3 1.5 1.5 3 (meq/l)

PTMAC04 PTMAC07 PTMAC09


Na+K Cl Na+K Cl Na+K Cl

Ca HCO3 Ca HCO3 Ca HCO3

Mg SO4 Mg SO4 Mg SO4

3 1.5 1.5 3 (meq/l) 3 1.5 1.5 3 (meq/l) 3 1.5 1.5 3 (meq/l)

PTMAC16
Na+K
39 - Figura III-4.4: Diagramas
Cl
de Stiff, Cauê, Gandarela e Cercadinho

Sempre que for apresentar um conjunto de diagramas de Stiff seja em um


Ca HCO3
desenho que reúna vários ou em um mapa é importante que estejam todos na mesma
escala, conforme
Mg a figura III-4.4.
SO4

3 1.5 1.5 3 (meq/l)

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40 - Figura IV-4.5: Diagrama de Stiff, retirado do Plano da Bacia Hidrográfica do Rio do Douro,
Portugal.

4.11 RELAÇÕES IÔNICAS


O intercâmbio iônico afeta principalmente cátions e está mais frequentemente
presente em minerais de argila, os quais possuem uma grande capacidade de
adsorção. Os materiais orgânicos naturais também possuem uma capacidade de troca
de bases que deve ser levada em conta.

Uma água com uma relação entre dois cátions quaisquer X e Y (relação rX/rY)
alcança o equilíbrio com uma rocha cujos sais tenham uma relação determinada. Se
esta relação é modificada na água, a rocha em contato opõe-se à modificação

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cedendo e tomando íons, visando o equilíbrio. As principais relações iônicas


empregadas são: rMg+2/rCa+2, rK+/rNa+, rNa+/Ca+2, rNa+/r(Ca+2 + Mg+2) e rCl-/rHCO3-.

O Índice de troca de bases (itb) ou Índice de Desequilíbrio entre Cloretos e


Alcalinos é a troca de bases que afeta principalmente os cátions Na +, Ca+2, Mg+2 e
também o H+, enquanto que o K+ e o NH4+ são fixados irreversivelmente. O índice é
dado por:

rCl − r ( Na + K )
itb( + ) =
rCl

Em uma água subterrânea este valor pode tornar-se positivo ou negativo, em


geral próximo a 0. Quando existe um abrandamento através de troca de Ca +2 e Mg+2
por Na+, seu valor tende a diminuir, enquanto que, se existe endurecimento, tende a
crescer. Em águas onde são dominantes os íons Cl- e Na+, pode existir um notável
abrandamento sem que o valor do itb se altere, pois o Ca +2 e Mg+2 estão em
quantidades bem inferiores em relação ao Na+. Neste caso utiliza-se a seguinte razão
para expressar o itb:

rCl − − r ( Na + + K + )
itb(−) = − −
r ( SO4 − 2 + HCO 3 + NO3 )

Esta razão é utilizada, via de regra, para valores negativos que estão
relacionados com águas em terrenos plutônicos.

A água do mar tem valores de itb(+) na faixa de 1,2 a 1,3 e as salmouras, com
rCl- > 500, valores positivos. Águas de baixa salinidade podem possuir valores de
itb(+) positivos ou negativos. Um aumento no valor do itb indica uma troca de bases,
com endurecimento da água e uma diminuição indica troca de bases com um
abrandamento.

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5 EXERCÍCIOS DE HIDROQUÍMICA

1.a)Verificar a correção dos resultados de análise físico – química provinda de


laboratório, relativos aos parâmetros abaixo discriminados:

RESULTADOS CONCENTRAÇÕES
PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS
QUANTITATIVOS RELATIVAS (meq/L)
Resíduo seco a 18°C, em ppm 385 -
Condutividade elétrica, em mhos/cm 500 -
pH a 18°C, em log[1/H+] 7.5 -
Dureza total, em ppm de CaCO3 131.43
Alcalinidade TAC (pH <8.3), em ppm de CaCO3 156.3
Bicarbonatos (HCO3-), em ppm de HCO3- 190.65
Sulfatos (SO4-2), dados em ppm de SO4-2 55.8
- -
Cloretos (Cl ), em ppm de Cl 15
Nitratos (NO3-), dados em ppm de NO3- 1.67
Sódio (Na+), em ppm de Na+ 9.72
Potássio (K+), em ppm de K+ 40.5
Cálcio (Ca²+), em ppm de Ca²+ 43.3
Magnésio (Mg²+), em ppm de Mg²+ 10
Ferro (Fe²+), em ppm de Fe²+ 0
Amônia (NH4+), em ppm de NH4+ 0.03
Anidrido carbônico livre (CO2), em ppm de CO2 10 -

Pesos atômicos: Ca=40; Mg=24; Na=23; K=39; H=1; O=16; C=12; S=32; N=14; Fe=56; Cl=35.5

1.b) Fazer cálculos de balanço iônico para determinar o erro analítico da análise,
avaliando se a mesma apresenta resultados aceitáveis.

1.c) Plotar os dados da análise físico – química no diagrama de Piper.

5.4 Resolução

1.a) Converter as unidades, conforme abaixo, para efetuar o balanço iônico.

Conversão de mg/l meq/l


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meq / l = Concentração (mg/l) / ( peso molecular / carga do íon)

Assim:

➢ Dureza Total – CaCO3

meq/l = 131,43 / ( 100/2 ) = 2,629 meq/l

➢ Alcalinidade – (TAC) - CaCO3

meq/l = 156,3 / 100 = 3,126 meq/l

Cálculos Ânions:

➢ Bicarbonatos HCO3-

meq/l = 190,65 / 61 = 3,125 meq/l

➢ Cloreto Cl-

meq/l = 15 / 35,5 = 0,422 meq/l

➢ Sulfato SO42-

meq/l = 55,8/(96/2) = 1,162 meq/l



Nitrato NO3-

meq/l = 1,67/ 62 = 0,027 meq/l

Logo:

∑ Ânions = 4,734 meq/l

Cálculos Cátions

➢ Sódio Na+

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meq/l = 9,72 / 23 = 0,423 meq/l

➢ Potássio K+

meq/l = 40,50 / 39 = 1,038 meq/l

➢ Magnésio Mg2+

meq/l = 10 / (24 / 2) = 0,833 meq/ld

➢ Cálcio Ca2+

meq/l = 43,30 / (40/2) = 2,165 meq/l

➢ Amônia NH+4

meq/l = 0,03 / 18 = 1,6 . 10-3 meq/l

∑ Cátions = 4,461meq/l

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Completando a tabela, temos:

RESULTADOS CONCENTRAÇÕES
PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS
QUANTITATIVOS RELATIVAS (meq/L)
Resíduo seco a 18°C, em ppm 385 -
Condutividade elétrica, em mhos/cm 500 -
pH a 18°C, em log[1/H+] 7.5 -
Dureza total, em ppm de CaCO3 131.43 2.629
Alcalinidade TAC (pH <8.3), em ppm de CaCO3 156.3 3.126
Bicarbonatos (HCO3-), em ppm de HCO3- 190.65 3.125
Sulfatos (SO4-2), dados em ppm de SO4-2 55.8 1.16
- -
Cloretos (Cl ), em ppm de Cl 15 0.422
Nitratos (NO3-), dados em ppm de NO3- 1.67 0.027
Sódio (Na+), em ppm de Na+ 9.72 0.423
Potássio (K+), em ppm de K+ 40.5 1.038
Cálcio (Ca²+), em ppm de Ca²+ 43.3 2.165
Magnésio (Mg²+), em ppm de Mg²+ 10 0.833
Ferro (Fe²+), em ppm de Fe²+ 0 0
Amônia (NH4+), em ppm de NH4+ 0.03 1.6 x 10-3
Anidrido carbônico livre (CO2), em ppm de CO2 10 -

1.b) Erro (%) = 200 


 cátions −  ânions.
 cátions +  ânions.

ERRO% = 5,93 %; Resultados aceitáveis de acordo com a tabela acima.

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1.c)

DIAGRAMA DE PIPER

100

SO4 + Cl Ca + Mg

Na + K 0 0 CO3 + HCO3

100 0 0 100

Mg SO4

0 100 0
100 Ca 0 0 Cl 100

CATIONES ANIONES

41 - Figura I-5.1 : Diagrama de Piper

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6 CORROSÃO E INCRUSTAÇÃO DE POÇOS


As principais causas da perda de eficiência de um poço bem construído são os
fenômenos de incrustação e corrosão. Os efeitos da incrustação se traduzem em uma
colmatação progressiva nas ranhuras do filtro de um poço com consequente perda de vazão.
Os efeitos da corrosão estão relacionados à admissão de águas de outros níveis com
características indesejáveis. Em casos extremos pode-se chegar à destruição do poço.

A incrustação consiste em uma deposição de materiais, seja no filtro ou no pré-filtro, seja


no próprio aquífero. A corrosão, por sua vez, consiste no ataque aos materiais do revestimento
do poço, com eliminação superficial ou localizada dos mesmos ou alteração de suas
propriedades. Em certas ocasiões, os produtos da corrosão originam uma incrustação,
embora os mecanismos destes fenômenos sejam diferentes.

Alguns íons têm uma associação direta com a agressividade e incrustabilidade da água,
entre os quais os íons da dissociação da água, os relacionados com o equilíbrio carbônico e
os sais de metais alcalinos e alcalinos terrosos (colunas 1A e2A da tabela periódica). Assim,
deve-se considerar o papel do pH da água e os conteúdos em CO 2 dissolvido, HCO3-, CO3-2
e Ca+2.

Deve ser ressaltado que, para manter o bicarbonato cálcico em solução deve existir uma
certa quantidade de CO2 dissolvido, supondo-se, para tal, que existe um certo pH de
equilíbrio. Qualquer alteração na quantidade de CO 2 dissolvido provocará alterações no pH,
este podendo ser menor que o pH de equilíbrio (maior quantidade de CO2), ou maior que o
pH de equilíbrio (menor quantidade de CO 2). Uma água com maior conteúdo de CO2 tende a
ser agressiva, ao passo que conteúdos de CO 2 menores favorecem a precipitação de
carbonatos e a água torna-se incrustante.

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6.1 ÍNDICE DE ESTABILIDADE DE RYZNAR (IER)


O índice de Ryznar é um índice para indicar a agressividade e incrustabilidade da água,
definido pela relação entre o pH de equilíbrio e o pH medido no campo, sendo:

IER = 2pHe - pH;

onde:

pHe = pH de equilíbrio calculado

pH = Determinação de campo.

IER Caráter da água IER Caráter da água

4,0 a 5,0 Muito incrustante 7,0 a 7,5 Corrosiva

5,0 a 6,0 Moderadamente incrustante 7,5 a 9,0 Francamente


corrosiva

6,0 a 7,0 Pouco incrustante ou Maior que 9,0 Muito corrosiva


corrosiva

42 - Tabela 1.6-1 – Classificação da água segundo a incrustabilidade ou agressividade, através do


índice de estabilidade de Ryznar

6.1.1 Cálculo do pH de equilíbrio


O pH de equilíbrio poderá ser determinado empregando-se o nomograma da figura III-
5.1, realizando-se os seguintes procedimentos:

1 - Com os dados de temperatura da água coletada e do resíduo seco, determinar a


constante no gráfico da coluna (1);

2 - A partir deste ponto, traçar uma reta até o ponto correspondente ao valor da
concentração de Ca na coluna (3) e determinar o ponto de intersecção na coluna (2);

3 - Traçar uma nova reta, unindo o ponto da coluna (2) ao ponto correspondente ao valor
de alcalinidade, na coluna (5);

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4 - Ler o valor do pH e no ponto de intersecção desta reta com a linha da coluna (4).

43 - Figura III-6.1: Gráfico e Nomograma para determinação do pH de equilíbrio. - Extraído de Rocha,


G.A. & Jorba, A.F. – Manual de operação e manutenção e poços, DAEE – SP, 1982.

6.1.2 Aplicação prática para o cálculo do pH de equilíbrio


Exemplo de utilização do nomograma para a amostra 1429, correspondente ao ponto
d'água NAP2 (CVRD – Água Quente), com resíduo seco a 105 oC igual a 91 mg/L, temperatura
da água 30 oC (surgência hipotérmica), cálcio igual a 15,3 mg/L e alcalinidade total igual a
63,90.

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Conforme observado na utilização do nomograma, tem-se o pH de equilíbrio


aproximadamente igual a 8,35. Este valor é utilizado no cálculo do índice de Estabilidade
Ryznar, conhecendo-se também o pH da água coletada:

IER = 2 pHe – pH, onde pH = 8,4 para a amostra do exemplo

IER = (2 x 8,35) – 8,4

IER = 8,3

Com base neste resultado, pode-se analisar o caráter da água através da tabela 1.5-1
.Verifica-se, com base na mesma, que a água desta amostra é francamente corrosiva.

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7 BIBLIOGRAFIA

ANDERSON, M.P., W.W.WOESSNER. Aplied Grounwater Modeling Simulation of Flow and


advective Transport. San Diego: Academic Press 1992.

CUSTÓDIO, LLAMAS, M.R. Hidrologia Subterrânea. Barcelona: Ed. Omega, 1976. 2.v.

CUSTÓDIO, LLAMAS, M.R. Hidrologia Subterrânea. 2ed. Barcelona: Ed. Omega, 1983. 2.v.

DRISCOLL, F.G.. Groundwater and Wells. 2. ed. St. Paul Minnesota: Johnson Division,
1987, 1089 p.

FEITOSA, F.A.C. et al, 1997. Hidrogeologia – Conceitos e aplicações. 2a edição – Fortaleza:


CPRM/REFO, LABHID-UFPE, 2000. 391 p.

FREEZE, A. R., CHERRY, J.A. Groundwater.Englewood Cliffs: Prentice Hall, Inc., 1979.

MAC DONALD, M.G & HARBAUGH, A.W. – A Modular Three-Dimensional Finite-Difference


Ground-Water Flow Model. United States Geological Survey 1988.

ITGE, 1971 Mapa Hidrogeológico de España. Instituto Tecnológico Geominero de España.

8 LEITURAS RECOMENDADAS

EBÉR J.A. PINTO., MAURO N. Hidrologia Estatística. CPRM (2007)

FERNANDO A.C. FEITOSA., JOÃO MANOEL FILHOS. Hidrogeologia, Conceitos e


Aplicações: 3ed. CPRM (2009).

JOHN D. HEM., Study and Interpretation of the Chemical Characteristics of Natural Water.

U.S. Geological Survey, Water Supply Paper 2254

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9 SITES RECOMENDADOS

MDGEO- HIDROGEOLOGIA E MEIO AMBIENTE – www.mdgeo.eco.br

FUNDAÇÃO CENTRO INTERNACIONAL DE HIDROLOGIA SUBTERRÂNEA - www.fcihs.org

SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL - www.cprm.gov.br

SERVIÇO GEOLÓGICO DOS EUA - www.usgs.gov

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ANEXOS

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Anexo 1 - Ficha de Cadastro de Poço

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Anexo 2 - Ficha de Cadastro de Piezômetro

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Anexo 3 - Ficha de cadastro de surgência d'água

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