You are on page 1of 14
D-302.0835 Juliana Berzin + Lumena Cell Tel + Mara Gabriela dos Santos ADOLESCENCIAS CONSTRUIDAS: a visdo da psicologia sdcio-historica SESioRs A ADOLESCENCIA E OS PSICOLOGOS: a concepcao e a pratica dos prof 1. Grfos nosos, dade,..impulsividade... Uma caracter 0 mundo © conflito {nas diferentes classes sociais} ¢ 0 mesmo. No adolescente de classe baixa a revolta é maior” (Profissio: nis da drea de Reeducagio) “Nit existe diferenca entre caracteristica das adolescentes ontem, hoje e amanki uma fase complicada... isto volvimento do individu.” cagdo) prio, faz parte do desen. Profissionais da érea de Edu “A adolescéncia & um periodo de formaéo dos prop =, da identidade, periodo onde as escolhas de' madas |..] se caracteriza pelas transformagées tas contradiges{.] Essa da ess Particular)! sooscns Consus \s Idade na elaboragio d tas [perda do corpo infan ibém compreender a lentiddo e a dor do processo da adi [uJ Nas lescéncia.” (Aberastury, 1980:26; grifo nosso) ia ver sendo considerada 0 momento crucial do desenvolvimento do individuo...” (Os6rio, 198910) Esta longa introdugdo baseada em falas dos profissionais e Psicologia e em autores que estudam o fendmeno da adolescénci teve a intengao de ilustrar alguns pontos: "Do ponto de vista psicolégico considera-se que a tarefa bisica da adolescéncia & a aquisigi [do] sentimento de identidade pessoal 1. a clara correspondéncia entre os significados presentes n Por isso, diz-se que a crise evolutiva do processo adolescente é so- discursos dos psicdlogos e dos tesricos; bretudo uma ‘crise de identidade’.” (Osério, 1989:15; grifo do autor) 2. a naturalizagio, universalizagao e patologizacao que pet- meiam os significados compartilhados; ‘A adolescéncia se caractetiza basicamente por uma série comple- de significados presentes na Psicologia des- ‘mentar de perdas e aquisigées: perda da bissexualidade infantil e a de o inicio do século XX, aqui no caso caracterizados por correspondente aquisicéo da sexualidade adulta, perda do pressupos- obras da década de 80 que se mantém até hoje nos discur- to de dependénecia infa iae também perda da comunicagdo 0 05 dos nossos profissionais. municagdo ou linguagem adil iptiager ” (Os6rio, 1989:18 Estas so as principais marcas que consideramos ao fazer uma revisio critica & concepgao de adolescéncia vigente na Psicologia se Se © processo adolescente € universal, isto é, se ocorre desde seus primérdios. Na verdade, desde o inicio do século, quan- eeaanae ee te, independente do Stanley Hall identificou este momento da vida “como uma et ts que € univer pa marcada por tormentos e conturbagGes vinculadas a sexualida- de” (Aguiar, Bock & Ozella, 2001:163), condicao reforgada pelas turas psicanaliticas, esta concep¢ao ficou indelevelmente impreg- nada na definicdo dos adolescentes por livros, teorias, a midia, pro- fissionais das 4reas das Ciéncias Humanas, e incorporadas pela populacio e pelos préprios adolescentes. | cente submisso & que é a excegio & normalidade. grifos do autor). Contra todas as evidéncias apresentadas desde Margaret Mea| (1945) que questionam a universalizagao dos conflitos e crises ad¢- lescentes e que reafirmam as determinagées histéricas e cultural 8,0 que alarma o adulto eo leva a buscar solugBes equivo- na constituigdo da adolescéncia, a psicologia insiste em negligen)- (Aberastury, 1980:16) ciar esta “insergao histérica e as condigoes 0 jovens” (Ozella, 2002:18). “As modificagdes psicoldgicas que se produzem neste perfodo,e que A responsabilidade das ciéncias médicas e psicolégicas no pro- so 0 cagbes corporas..” (Aberastury, 1980:24; grifos izacio, universalizagao e patologizagao da adoles- 108808) 5 € outros autores, bastante discutida em outrds “um peri racterizado por de contradiges, confuso, ambivaien iegGes com 0 meio familiar e o ambiente circundan- quadro é com freqiiéncia confundido com crise e estados obras [Climaco (1991), Santos (1996), Peres & Rosenburg (1998), Aguiar, Bock & Ozella (2001) e Ozella (2002)]. Gostariamos de des- tacar apenas um trecho que nos parece bastante sigi discussao: ficativo nesta “Ao supor uma igualdade de oportunidade entre todos os adoles- centes, a Psicologia que se encontra nos manuais de Psicologia do Desenvolvimento dissimula, oculta e legitima as desigualdades pre- sentes nas relagées sociais, situa a responsabilidade de suas ages no proprio jovem, se ideologiza” (Climaco, 1991, e Bock, 1997, apud Aguiat, Bock & Ozella, 2001:165) Em sintese, consideramos que € necessério superar as visées naturalizantes presentes na Psicologia e entender a adolescéncia como um processo de construgao sob condigdes hist6rico-culturais- sociais especificas. Devemos “entender a adolescéncia como constituida soci wente a partir de necessidades sociais e econémicas dos grupos sociais e olhar e com- preender suas caracteristicas como caracteristicas que vio se consti- tuindo no processo [...] Os modelos estardo sendo transmitidos nas relagdes sociais, através dos meios de comunicagio, na literatura e através das ligdes dadas pela Psicologia” (Aguiar, Bock & Ozella, 2001:171), Alguns desses aspectos serdo aqui considerados e ilustrados através de um estudo levado a termo no final da década de 1990. A investigacdo tinha como objetivo entender os significados que os Profissionais de Psicologia tém dos adolescentes que séo seus obje- tos de intervencéo. Partimos do pressuposto de que uma det nada visdo de homem (no caso de adolescente) estaria vinculada a ‘uma proposta de intervencao profissional. Desta forma investiga- ‘mos, além do significado de adolescente, as propostas de atuagio junto a ele. A investigacao foi realizada como parte de uma disciplina de pesquisa oferecida aos alunos da Faculdade de Psicologia da PUC- SP que cursavam o 5° periodo. O planejamento foi realizado por nds e a coleta e o exercicio de analise pelos alunos. O material foi sesh creas | Doutorado do Programa de Estudos Pés-Graduados em Psicolo gia Social. O texto atual ¢ resultado de uma nova andlise por né realizada Foram entrevistados 51 psicélogos das mais diversas éreas at atuagio, sendo que a andlise se fez a partir de 46 entrevistas, Esta tinham apenas um roteiro tematico geral que constava, bescaner te, de trés pontos: — Qual a concepgio de adolescente do psicélogo. — Qual a eua forma de intervengéo. | Qual a sua compreensio sobre uma possivel politica de sa de publica voltada para o adolescente. Os profissionais entrevistados se distribuiram da seguinte forma: —15 da drea de Re-educapio (Febem, SOS-Crianea, instituigdes particulares e Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua) — 8 da drea de Educagio Formal (escolas das redes publica e privada) — 9 da drea de Satide Institucional (hospitais da rede puiblica e privada, postos de satide, ambulatérios) —5 da area de Sauide Particular (consult6rio particular) —2 da drea de Trabalho (servigos de insergao do jovem no tra- balho) 12 da area Juridica (Vara da Familia, varas especiais da infa cia e juventude, Centro de Orientagio Psicolégica — SOS-Crianga) As entrevistas ocorreram sempre no ambiente de trabalho d profissional, foram gravadas, com autorizagio dos mesmos, e trans- critas para a andlise final. A anélise do material foi norteada pela Psicologia Sécio-His- t6rica, € no que se refere & visio de homem se baseou na propost} de anilise realizada por Bock (1997) que apresentamos a seguir. Visio liberal de homem. * 0 homem € concebido a partir da idéia de natureza humana; homem aprioristico; * 0 homem € livre, dotado de potencialidades naturais; © na relagto homemi/sociedade: — a sociedade é sempre algo externo e independente do homem, — € vista como algo contrério as tendéncias naturais do homem; * 0 fenémeno psicoligico aparece como algo dado: Igo intimo, privado, — 6 aesséncia do homem, — refere-se ao seu verdadeiro eu, — mantém uma relagio com o mundo externo que estimu- la ou impede seu desenvolvimento; ia de doenga e de cura igica centrada na i — € vista como um conjunto de ages que visam a corregao ou a0 tratamento de distirbios, ica & vista como um conjunto de condiges apresentadas pelo individuo que Ihe permite a adaptagao ao seu meio social e fisico: — sio caracteristicas do seu comportamento, ou so capaci juico, que lhe permitem social de forma adaptada, — sio visGes morais e médicas da saiide. comportar-se e Visio sécio-historica de homem © ohomem é — um ser que tem caracteristicas forjadas pelo tempo, pela sociedade e pelas relagdes; marcada e delimitada por caracte t6rica como parte de um processo de desenvolvimer cao para a vida adulta, nais, politicos, soos consis 1 + ohomem 6 visto a partir da idéia de condigdo humana: —o homem é um ser que constréi suas formas de satisfa las necessidades e faz isso com os outros homens; © a relagio dialética: — o homem se constr ivfduolsociedade & concebida como uma relac a0 construir sua realidade; | + 0 fendmeno psicolégico & histérico: surge € se constitui a partir das relagdes do homem cont 0 mundo fisico e social, — todos os elementos internos, do mundo psicol6gico, s80 forjados nessas relagdes; + a pritica psicoldgica é vista da perspectiva da satide: i — reflexdes sobre a realidade e agdes € projetos coletivos so condigées basicas para a satide do individuo; + a sauide psicoldgica é vista como possibilidade de transforma- sao da realidade. Satide é capacidade de enfrentamento da realidade, suas possibilidades estao diretamente relaciona- das ao meio social Ainda dentro da perspectiva sécio-hist6rica, mas agora par- tindo dos discursos dos profissionais entrevistados, foram construi- das quatro categorias de andlise que marcariam o significado de adolescéncia. a) Adolescéncia como Etapa: um recorte no tempo, uma fase as “tipicas” da idade, b) Adolescéncia como Processo: uma visdo longitudinal ¢ his de transi ©) Adolescéncia como uma categoria Inerente, inata, que fa parte da natureza do homem e é inevitdvel. d) Adolescéncia como resultado de uma Construgiio Social: dé- estabelecidas durante 0 processo di los aqui fatores econémicos, sociais, educaciq- ilturais ete.

You might also like