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Paper - Cpo
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RESUMO
Palavras-chave: Elites políticas, teoria das elites, poder político e elites, circulação das elites.
1. INTRODUÇÃO
Formulada por Gaetano Mosca (1858 – 1941) e Vilfredo Pareto (1848 - 1923), a
Teoria das Elites (ou Elitismo) surgiu na Itália recém-unificada do século XIX, como uma
maneira de contraposição à teoria marxista, em especial ao materialismo histórico. Esse
conceito sociológico parte do princípio de que em todas as sociedades existem elites que
governam e massas que são governadas.
Em sua obra, "Elementos das Ciência Política", de 1896, Mosca argumenta que a luta
pelo poder é uma característica inerente a todas as sociedades, independentemente de sua
estrutura econômica. Defendendo que o governo é dominado por uma minoria influente,
composto por indivíduos que possuem habilidades políticas e organizacionais superiores aos
demais.
Pareto, por sua vez, desenvolveu a teoria das elites em sua obra "Tratado de Sociologia
Geral”, de 1916, explanando sobre a perpetuidade das elites no poder ao longo da história,
enfatizando que os poderes político e social estão concentrados nas mãos de uma minoria
dominante. Pareto também endossou o conceito da "circulação das elites", justificando que a
composição da elite pode mudar ao longo do tempo, mas que sempre haverá uma elite
governante, sendo a superioridade de uns sobre outros uma tendência natural, alicerçada no
poder político e econômico.
Nessa perspectiva de estruturas de governança e interações entre as elites e as massas,
Max Weber (2011) nos diz que
O Estado consiste em uma relação de dominação do homem sobre o homem,
fundada no instrumento da violência legítima (isto é, da violência considerada como
legítima). O Estado só pode existir, portanto, sob condição de que os homens
dominados se submetam à autoridade continuamente reivindicada pelos
dominadores. (WEBER, 2011, p. 57).
Essa abordagem argumenta que não importa o sistema político adotado, é difícil evitar
totalmente as relações de dominação e submissão entre os indivíduos, pois, mesmo em uma
anarquia, onde não há um governo centralizado, é possível que surjam relações de poder e
hierarquias informais. Isso ocorre porque as relações sociais são complexas e podem envolver
desigualdades de poder e patrimônio.
Dito isso, a Teoria das Elites sustenta que a governança é uma característica perene da
sociedade, contrariando a perspectiva marxista, que argumenta que a classe trabalhadora
eventualmente se emancipará e derrubará a classe dominante. Com isso, o Elitismo se baseia
na ideia de que a organização social é naturalmente desigual e que a existência das elites é
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uma característica inerente a qualquer sociedade humana, pois elas surgem da necessidade de
coordenação e liderança, cujo maior interesse é manter o status de poder e privilégios.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Geralmente, destacada pela persistência do poder nas mãos de uma minoria influente e
da desigualdade social ao longo do tempo, a Teoria das Elites é um conceito sociológico que
descreve a distribuição desigual do poder político, econômico e social em uma sociedade,
argumentando que, embora existam mudanças nas configurações específicas da elite ao longo
da história, a estrutura básica do poder sempre irá se manter relativamente estável, graças aos
recursos e mecanismos utilizados para preservar o status e perpetuar a influência da elite.
Essa teoria surgiu em resposta aos movimentos socialistas, postulando que o poder é
exercido por uma minoria privilegiada, antagônica à massa da população e defendendo que a
sociedade é composta por elites dominantes e massas dominadas, onde o poder está
concentrado nas mãos de poucos.
No início do século XX, Pareto desenvolveu o conceito de "circulação das elites" onde
ele defendeu a ideia de que diferentes elites sucedem umas às outras no poder,
independentemente do sistema político adotado.
Segundo Pareto (1966), a renovação ou substituição de uma elite pode ocorrer de duas
formas diferentes. A primeira ocorre quando o grupo dominante é aberto e permite a entrada
de novos membros, inclusive daqueles que se destacam entre os não pertencentes à elite. A
segunda maneira ocorre de forma oposta, ou seja, quando o grupo dominante é fechado e não
permite um crescimento, eliminando todos aqueles que não fazem parte do grupo.
Essas maneiras de renovação da elite dominante possuem características importantes a
respeito do funcionamento e evolução de uma sociedade. Pois, quando a classe dirigente está
aberta a incorporar novos membros, ela também abre possibilidades para trazer novas
perspectivas ao grupo, entre diversidade de pensamentos, habilidades e talentos não tão
tradicionais para uma elite. Isso tende a resultar em uma maior adaptação às mudanças sociais
e políticas, permitindo que a elite se mantenha mais influente a longo prazo.
Porém,
[...] na medida que a elite florescer como classe social, ou como um grupo de
homens nos postos de comando, selecionará e formará certos tipos de personalidade,
rejeitando outros. O gênero de serem morais e psicológicos em que os homens se
transformam é em grande parte determinado pelos valores que aceitam e pelos
papéis institucionais a eles atribuídos e deles esperados. (MILLS, 1981, p. 24).
Logo, quando uma elite dominante é fechada e não permite a entrada de novos
membros, corre-se o risco de permanência de um poder estagnado e elitista, cuja falta de
renovação pode apartar ainda mais a classe dirigente das necessidades da classe dirigida,
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Pareto (1916) estava certo de que “as elites governantes são substituídas por outras, e
essa mudança contínua é uma característica universal da vida social”, cujo poder permanecia
nas mãos de uma minoria "naturalmente superior" que possuía características individuais,
como inteligência, carisma ou habilidades específicas.
Essas elites possuem emoções e sobreposições entre si, detendo uma influência
multifacetada, podendo manipular a estrutura e as dinâmicas de uma sociedade, influenciando
na tomada de decisões, na distribuição de recursos, na mobilidade social e até nos padrões
culturais. Exercendo domínio de forma direta, através do controle de instituições e recursos, e
de forma indireta, por meio de redes de relacionamento e influência social.
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Para Mosca (1923, p. 87) “a prevalência de uma minoria organizada, que obedece a
um único impulso, sobre a maioria desorganizada é fatal”, pois todas as sociedades têm uma
“classe dirigente” e uma “classe dirigida”, onde a primeira classe é composta por uma minoria
que se mantém no poder, controlando o governo e, consequentemente, a vida da segunda
classe. Essa minoria governante é capaz de se manter firme e forte devido à sua organização e
ao seu poder de controle, enquanto a maioria não se organiza e, portanto, é mais suscetível às
investidas da minoria.
A força de qualquer minoria é irresistível diante de cada indivíduo da maioria, que
está sozinho diante da totalidade da minoria organizada; e ao mesmo tempo pode-se
dizer que esta se organiza justamente por ser uma minoria. Cem que sempre agem
de acordo e de acordo uns com os outros triunfarão sobre mil tomados um a um e
que não terão acordo entre si; e ao mesmo tempo será muito mais fácil para os
primeiros agir de comum acordo e se entender, porque há cem e não mil. (MOSCA,
1923, p. 87).
Logo, é fácil perceber que em comunidades políticas maiores, a minoria que governa
tem menos representatividade em comparação à maioria governada. Além disso, fica mais
difícil para a maioria se organizar e proteger contra o poder da minoria dominante (MOSCA,
1923, p.87), essa dinâmica sugere que, ainda que em comunidades políticas maiores onde a
minoria teve menos influência de poder, a maioria continua enfrentando problemas
organizacionais e de resistência.
Dessa forma, uma minoria organizada, que caminha em direção a um único interesse,
domina e prevalece sobre a maioria desorganizada, mantendo seu poder através do controle
como a reprodução de elites, o comando de instituições políticas, recursos e influência,
sempre com o objetivo de moldar a estrutura social em próprio benefício.
Como já foi dito, a Teoria das Elites ganhou ênfase no contexto das críticas ao
socialismo e ao marxismo, que abordavam a luta de classes como agente da história ao longo
dos anos. E, ao contrário dessas teorias, a Teoria das Elites sustenta a ideia de que a
desigualdade não é apenas uma questão de classe, mas também de acesso e controle do poder
por uma minoria.
O termo elite, de Pareto, articulava-se a um argumento sobre a inevitabilidade da
desigualdade entre os homens. Do ponto de vista do autor, enquadrado por sua
origem nobre, essa desigualdade tinha uma marca essencialista, remetida à própria
natureza humana. Não por acaso, portanto, elite era usado por ele de modo
intercambiável com aristocracia. (GRYNSZPAN, 1999, p. 207).
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Dessa maneira, teóricos elitistas rejeitam a ideia de igualdade natural entre todos os
cidadãos. Para eles, a desigualdade entre os indivíduos é a premissa de uma sociedade
organizada politicamente. Essa ideia quebra completamente o conceito democrático, cujo
regime contempla todos os cidadãos com direitos e poderes iguais perante o Estado, não
podendo, na teoria, haver desigualdades, principalmente políticas (SCHMÖKEL; MIRANDA;
COLVERO, 2014, p. 06 e 07). Esse paradigma levanta um debate sobre o papel da
desigualdade na sociedade e sua relação com a democracia.
No entanto a ideia de incompatibilidade entre elites e democracia começou a ser
refutada por uma nova geração de elitistas, os democráticos. Os principais autores
do elitismo democrático são David Truman, William Kornhauser, Suzanne Keller e
principalmente Robert Dahl e Joseph Schumpeter. (SCHMÖKEL; MIRANDA;
COLVERO, 2014, p. 08).
Esses pensadores rejeitam a visão de que as elites são prejudiciais à democracia. Eles
afirmam que a existência de elites é uma característica inerente a qualquer sociedade
complexa, independente do seu sistema político, argumentando que o problema não está na
existência da elite em si, mas sim na forma como essa elite é formada, selecionada e
responsabilizada.
Portanto, essa nova visão, em vez de considerar a elite como um obstáculo para a
democracia, os elitistas democráticos argumentam que a questão central reside na forma como
essa elite é formada, selecionada e responsabilizada. E, apesar dos estudos de políticas
públicas terem adotado os debates das teorias das elites e democráticas, existe um
distanciamento entre as agendas de pesquisa no campo das Ciências Sociais e Políticas.
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3. MATERIAIS E MÉTODOS
Este trabalho é resultado de uma verificação sobre a Teoria das Elites, onde foi
utilizada a técnica da pesquisa bibliográfica, que, de acordo com Marconi e Lakatos (1992), é
a verificação de toda referência teórica já analisada e publicada em livros, sites, anais e
periódicos, cuja finalidade é conectar, diretamente, o pesquisador com todo conteúdo já
composto sobre determinada temática, sendo “o caminho do pensamento e a prática exercida
na abordagem da realidade. Neste sentido, a metodologia ocupa um lugar central no interior
das teorias e está sempre referida a elas (MINAYO, p. 16, 2001)” valendo o cientista no
momento da pesquisa e análise.
Com isso, diversos artigos e literaturas sobre a temática abordada tiveram de ser
consultados no intuito de desenvolver o conteúdo que estrutura o corpo desse trabalho, como
produções de Mosca (1966 - 1923), Pareto (1916 - 1966), Grynszpan (1999), entre outros, que
foram de grande valia para o detalhamento desse estudo, auxiliando no desempenho e análise
do conteúdo no que diz respeito a Teoria das Elites, bem como as contribuições necessárias
para dar embasamento à ideia central desse trabalho.
Fonte: https://fernandonogueiracosta.files.wordpress.com/2017/01/torcida-contra-o-brasil.jpg
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Teoria das Elites apresenta uma visão abrangente sobre a força que tem o poder e a
desigualdade na sociedade. Essa teoria, mesmo diante das mais diversas configurações
apresentadas pela elite ao longo da história, o poder tende a permanecer nas mãos de uma
minoria influente, impactando diretamente em quadros de desigualdades sociais duradouras.
Notoriamente, a Teoria das Elites também levanta o conceito de “Circulação das
Elites”, dando a ideia de sucessão de diferentes grupos no poder. Isso pode ocorrer de forma
aberta, permitindo a entrada de novos membros – inclusive daqueles que não pertencem à
elite -, ou fechada, exclusiva para aqueles que já fazem parte da elite. A abertura da elite para
novos membros pode trazer diversidade e adaptabilidade às mudanças sociais e políticas, o
que não é provável que aconteça se a elite engessar sua estrutura.
No entanto, a Teoria das Elites não considera que o poder e a influência das classes
estejam diretamente relacionados à perpetuação das desigualdades sociais, independentemente
do sistema político. Ao invés disso, essa teoria reforça que algumas pessoas são “naturalmente
superiores” e detêm um status de privilégio social. Essa perspectiva sustenta a ideia de que a
desigualdade é inevitável e essencial para a sociedade, argumentando que as elites
desempenham um papel crucial na estrutura da sociedade, tendo influência em diversas áreas
sociais, econômicas, políticas e culturais. Pois, agindo por força dessa influência, as elites
manipulam a estrutura e as dinâmicas sociais, pesando em tomadas de decisões, na
distribuição de recursos e na mobilidade social.
A Teoria das Elites também insufla o debate sobre a democracia. Inicialmente, essa
teoria foi refutada pela ideia democrática de igualdade natural entre a população, no entanto,
uma corrente de pensamento inovadora, chamada de Elitismo Democrático, defende que a
existência das elites é inevitável em qualquer sociedade complexa. Nessa perspectiva do
Elitismo Democrático, o problema não está na existência da elite, mas na forma como ela está
integrada e é responsabilizada. Logo, uma elite responsável e prestadora de contas é essencial
para o bom funcionamento do sistema democrático.
Contudo, apesar das discussões sobre as teorias das elites e da democracia terem sido
motor para o estudo das políticas públicas, ainda há necessidade de uma maior integração e
diálogo entre essas perspectivas teóricas, a fim de proporcionar uma maior compreensão sobre
a concentração e distribuição de poder e o impacto desse cenário nas desigualdades sociais.
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5. CONCLUSÃO
Em conclusão, a Teoria das Elites destaca que o poder tende a ficar nas mãos de uma
minoria influente, resultando na perpetuação das desigualdades sociais. Porém, essa teoria não
considera que o poder e a influência das classes elitistas estejam diretamente ligados aos
problemas sociais que levam à desigualdade social.
Desse modo, é fundamental incorporar abordagens mais inclusivas e igualitárias ao
analisar as estruturas de poder e desigualdades, tendo em vista que essa perspectiva pode levar
a justificativas injustas e prejudiciais para a manutenção dos privilégios sociais.
O Elitismo oferece uma visão que destaca a existência das elites, argumentando ser
inevitável a influência da classe dominante sobre as classes dominadas, sendo indispensável
que essas elites sejam responsáveis e prestem contas à sociedade, garantindo o bom
funcionamento do sistema político adotado e, concomitantemente, contribuir para a tomada de
decisões mais equitativas, para a distribuição de recursos e para a promoção da mobilidade
social ao longo do tempo.
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6. REFERÊNCIAS
MILLS, Wright. A elite do poder. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 18
ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
MOSCA, Gaetano. A classe dirigente. In: SOUZA, Amaury de. Sociologia Política. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1966.
____. Elementos de ciência política. 2ª ed. com uma segunda parte inédita. - Turim: Bocca
Brothers, 1923.
____. As elites e o uso da força na sociedade. In: SOUZA, Amaury de. Sociologia Política.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966.