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REPÚBLICA DE ANGOLA

GOVERNO DA PROVÍNCIA DO CUNENE


INSTITUTO POLITÉCNICO DA CAHAMA / SALAS ANEXAS DE OTCHINJAU

IIº CICLO DO ENSINO SECUNDÁRIO

MATERIAL DE APOIO DE HISTÓRIA


10ª CLASSE

ELABORADO PELO PROFESSOR:


CELESTINO DE JESUS SAMPAIO

CAHAMA – 2023/2024

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ELABORADO PELO PROFESSOR: CELESTINO DE JESUS SAMPAIO. LICENCIADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO


CONTACTOS: 928512435 / CORREIO ELETRÓNICO: CELESTINO3537@HOTMAIL.COM
FACEBOOK: CELESTINO DE JESUS SAMPAIO. WHATSAPP- 928512435-- CAHAMA/2023
TEMA I – A CIÊNCIA HISTÓRICA

1.1 CONCEITO E OBJECTO DE ESTUDO

Como ciência, a História nasce nos primórdios do século XIX, tornando assim uma
ciência independente, possuindo métodos de investigação, métodos de análise e
síntese, objecto de estudo, etc.

A palavra história tem como origem a cidade da Grécia Antiga, que em grego historiei,
significa investigar.

Entre os vários historiadores da antiga Grécia, vamos destacar Heródoto Halicarnasso


(485 a.C. – 396 a. C) conhecido como o Pai da História, e posteriormente Tucídides
(460 a.C – 700 a. C).

Várias são as definições existentes sobre a História como ciência, não existe uma
definição exacta.

Conceitos de História:

· A História: é a narração científica e cronológica dos acontecimentos ou dos


factos ocorridos no passado, num determinado espaço geográfico e num dado
momento, em que os homens foram actores dominantes para o desenvolvimento ou
retrocesso da humanidade.

· A História: é a ciência que estuda o homem na sua evolução ao longo dos


tempos e num espaço.

· Segundo Marco Túlio Cícero, a «História é o testemunho dos tempos, a luz da


verdade, a mestra da vida, a mensagem dos dias que não voltarão».

1.1.1 OBJECTO DE ESTUDO DA HISTÓRIA

Toda e qualquer ciência possuí um objecto de estudo, a História não foge a regra,
também possui objecto de estudo:

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· Em primeiro lugar vamos encontrar o Homem como sendo a autor principal dos
factos históricos;

· O Tempo uns dos elementos primordial na ciência histórica;

· O Espaço o lugar ou o local onde os factos ou os acontecimentos históricos se


realizam;

· A Sociedade, grupo de indivíduos organizados que vivem sobre base de normas,


leis, etc., num determinado espaço geográfico.

Estes vão constituir o objecto de estudo da História, mais não nos esqueçamos que o
Homem é o objecto primordial da História.

1.2 - A FUNÇÃO SOCIAL DA HISTÓRIA

A história cumpre uma função na formação do cidadão. Seu estudo ilumina as


estruturas que impulsionaram o desenvolvimento dos povos e informa sobre as ideias
que esses povos têm sobre seu desenvolvimento histórico. Permite, portanto, registrar
a variedade de artefactos que imaginaram para armazenar, reter e difundir a memória
do passado. A função social da História é de informar e formar o Homem para que
possa evitar erros do passado viver de forma adequada o presente e projectar uma
sociedade sã.

1.2.1 AS CORRENTES DA HISTÓRIA

Antes de mencionarmos as correntes da História, vamos em primeiro lugar enumerar


as fases da evolução histórica:

1. Fase Pré- Científica – inclui toda a história grega, romana, cristã-medieval e a


história do renascimento.

2. Fase de Transição – é um periodo de passagem entre a fase Pré – científica e a


fase Científica.

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3. Fase científica – é o periodo da História Moderna em pleno século XX, inclui toda a
história da corrente positivista, o Historicismo e da História Nova.

Não devemos esquecer do Renascimento que foi um movimento pertencente a fase


Pré-científica.

1.3. Metodologia da análise histórica

Para se falar da Metodologia da Análise Histórica, em primeiro lugar teremos que


definir as principais terminologias: Metodologia e Análise.

Metodologia: é o conjunto de métodos que viabilizam um determindo trabalho;

Análise: Separação ou desagregação das diversas partes constituintes de um todo;


decomposição. (Vide Dicionários Aurélio).

Metodologia da Análise Histórica: é o conjunto de métodos que analisam as diversas


partes do conhecimento histórico. (Vide Culo).

Pode-se assim afirmar que, não se pode classificar as fontes históricas sem que, exista
a Metodologia da Análise Histórica, visto que, entre elas existe uma relação.

Falar da Metodologia da Análise Historia leva-nos a abordar sobre as fontes históricas,


já conhecidas por muitos:

Fontes Históricas: são todos os vestígios que testemunham a presença dos antigos
homens me variados sítios, épocas. Estas fontes classificam-se:

1. Fontes materiais – são todos os artefactos e construções da antiguidade deixadas


pelos nossos antepassados.

Exemplo: utensilio doméstico, armas, esculturas, barcos moedas, etc.

2. Fontes escritas: são todos os documentos escritos deixados pelos nossos


ancestrais em diferentes locais e épocas.

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Exemplo: cartas, contratos, livros, leis, listas de impostos, etc.

3. Fontes orais: são narrativas transmitida oralmente de geração em geração,


fazendo parte do modo de vida da comunidade.

Exemplo: as pessoas mais antigas das comunidades e que conhecem a historia da


mesma (os Reis, Sobas, anciões, etc.).

Obs.: a tradição oral é mais usual em África e em localidades onde tomaram contacto
com a escrita muito mais tarde, por isso é considerada a tradição oral como uma fonte
muito importante para o continente africano, visto que ela é transmitida de geração em
geração.

A CRÍTICA HISTÓRICA

É considerado como crítica histórica o método histórico que distingui o documento


verdadeiro do documento falso, é o método que verifica o que pode existir de falso num
documento verdadeiro ou vice-versa.

A História faz-se com documentos e não só. Para o historiador distinguir o verdadeiro
do falso deve seguir três passos importantes:

1. Procurar e classificar as fontes;

2. Verificá-las (mediante comparação);

3. Compreendê-las e intrepretá-los.

Na crítica histórica temos a estabelcer:

a. A crítica externa: A crítica externa consiste em determinar se um documento é


autêntico ou falso, no todo ou em parte.

b. A crítica interna: A crítica interna consiste em determinar a veracidade do


conteúdo de um determinado documento. O primeiro passo é a interpretação do

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texto; depois procede-se à crítica da sinceridade e crítica de exatidão, cujo
princípio fundamental é a desconfiança sistemática.

A SÍNTESE HISTÓRICA

Pode-se definir a síntese Histórica como sendo o resumo do conteúdo histórico após o
processo de análise. Assim pode-se dizer que, sem a análise não pode haver a síntese.

Os documentos e testemunhas, são os elementos fundamentais para dar corpo ao


conhecimento histórico, mais estes devem ser submetidos a uma análise e
posteriormente ao resumo ou síntese.

1.4 – A PERIODIZAÇÃO, SEUS CRÍTERIOS E PROBLEMAS

A História é uma ciência que tem como elementos fundamentais: o tempo e o espaço,
para de poder enquadrar os factos históricos.

Periodização: é a maneira de ordenar de forma cronológica os acontecimentos


históricos, isto é, desde a antiguidade até a actualidade. (Vide Culo).

A periodização histórica desempenha uma grande importância no estudo dos períodos


históricos da humanidade. Também permite compreender a sistematização do estudo
do passado da humanidade.

A História Tradicional divide-se nos seguintes períodos cronológicos:

PERIODIZAÇÃO HISTÓRICA GERAL

1. Pré- História - Aparecimento da Escrita

Pré-história inicia-se com o surgimento do Homem na Terra; e dura até cerca de 4000
a.C., com o surgimento da escrita. Caracteriza-se pelo nomadismo e actividades de
caça e re-coleção. Surge a agricultura e a pecuária, os quais levaram os homens pré-
históricos ao sedentarismo e à criação das primeiras cidades. É dividida entre Idade da
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pedra e Idade dos metais, sendo a primeira subdividida em Paleolítico e Neolítico,
enquanto a segunda em Idade do Cobre, Idade do bronze e Idade do ferro;

2. Idade antiga - Séc. V terminou em 476 d.C

compreende-se de cerca de 4000 a.C. até 476 d.C., quando ocorre a queda do Império
Romano do Ocidente. É estudada com estreita relação ao Próximo Oriente, onde
surgiram as primeiras civilizações, sobretudo no chamado Crescente Fértil, que atraiu,
pelas possibilidades agrícolas, os primeiros habitantes do Egito, Palestina,
Mesopotâmia, Irã e Fenícia. Abrange também as chamadas civilizações clássicas:
Grécia e Roma;

3. Idade Média - Terminou com a queda de Constantinopla

Compreende-se do ano 476 d.C. até 1453, quando ocorre a conquista de


Constantinopla pelos turcos otomanos; e consequentemente a queda do Império
Romano do Oriente. É estudada com relação às três culturas em confronto em torno
da bacia do mar Mediterrâneo. Caracterizou-se pelo modo de produção feudal em
algumas regiões da Europa;

4. Idade Moderna - 1789 com a Revolução Francesa

considerada de 1453 até 1789, quando da eclosão da Revolução Francesa.


Compreende o período da invenção da imprensa, os descobrimentos marítimos e o
Renascimento. Caracteriza-se pelo nascimento do modo de produção capitalista;

5. Idade contemporânea - Da Revolução Francesa até aos nossos dia

compreende de 1789 até aos dias atuais. Envolve conceitos tão diferentes quanto o
grande avanço da técnica, os conflitos armados de grandes proporções e a Nova
Ordem Mundial.

Um dos grandes problemas que a periodização histórica apresenta é o eurocentrismo e


a regionalização na História Universal.

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PERIODIZAÇÃO DA HISTÓRIA DE ANGOLA

A periodização da História de Angola goza de um período conturbado, complexo e de


difícil compreensão.

Exemplo: a data de 1482 possui um grande significado histórico para o Congo e não
para o resto do território angolano. O mesmo pode se dizer da data de 1575 que tem
um grande significado para Luanda igualmente sem muito interesse para o resto do
território de Angola.

A História de Angola deve-se em 8 períodos:

1- As civilizações pré-Históricas (desde os primeiros habitantes de Angola – os


Pigmeus e os Khoisan e termina com a migração Bantu.

2- Período dos reinos do território que é hoje Angola (antes e depois da chegada dos
europeus, terminando convencionalmente em 1482.

3- O chamado período do mercantilismo colonial (tem início com a chegada de Diogo


Cão na foz do rio zaire em 1482 e termina em 1885.

4- O capitalismo comercial (vai de 1885-1910);

5- Quinto período (1910-1926);

6- Angola no período entre 1926-1961 (implementação da 2ª República e termina

com o desenvolvimento do nacionalismo africano)

7- Início da luta da luta armada até à Independência Nacional (1961-1975);

8- Periodo pós-Independencia (desde 1975 até aos dias actuais).

Obs.: Estes dois últimos períodos são mais recentes que possuem maior número de
bibliografias, por isso são os períodos mais conhecidos da História Angolana.

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CONTAGEM DO TEMPO NA HISTÓRIA

A Contagem do Tempo na História varia de acordo com cada povo e época.

Os primeiros povos fizeram seus calendários tendo como referência os ciclos da


natureza, suas crenças e seus costumes.

Por isso, nem todos os países seguem o mesmo calendário.

❖ Tempo Cronológico e Tempo Histórico

O tempo cronológico é definido como o tempo onde se desenrolam as atividades


humanas: nascimento, crescimento, ir para a escola, as festas, etc.

O tempo histórico são os acontecimentos que marcam um povo, uma nação, ou às


vezes, a humanidade.

Como exemplo poderíamos citar uma guerra, a construção de uma grande obra, uma
revolução, etc.

Como nem sempre o tempo cronológico e o histórico coincidem, existem povos que
vivem diferentes momentos históricos no mesmo tempo cronológico.

Exemplo: apesar de vivermos numa sociedade informatizada, várias pessoas ainda não
tem acesso a essa tecnologia.

Mesmo dentro da sociedade informatizada existem vários níveis de conexão também.

❖ A importância da religião na contagem do tempo

A religião de um indivíduo e de um povo talvez seja o elemento que mais influencie na


criação de um calendário. Vamos analisar como o calendário de cada religião possui
marcações e períodos distintos.

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❖ Calendário judaico

O calendário judaico é chamado de Luach em hebraico. Ele é lunissolar, baseado nos


ciclos lunares e composto por 12 ou 13 meses.

Os judeus contam o tempo a partir da criação do universo, que para eles teria ocorrido
há cerca de seis mil anos.

❖ Calendário islâmico

Os muçulmanos têm como referência o ano em que Maomé fugiu de Meca para
Medina, isso ocorreu 622 anos depois do nascimento de Cristo. Em países como a
Arábia Saudita este é o calendário observado.

❖ Calendário cristão

Para os cristãos, os acontecimentos são registrados entre o que aconteceu antes de


Cristo (a.C.) e depois do nascimento de Cristo (d.C.).

Para a história ocidental, as datas referenciadas antes de Cristo devem ser seguidas
de a.C., já os fatos ocorrido depois não necessitam da sigla d.C.

É importante ressaltar que nem todas as igrejas cristãs seguem este calendário. A
Igreja Católica Ortodoxa não aderiu à reforma gregoriana e manteve o calendário
juliano.

❖ Divisão dos Séculos

A divisão dos séculos ocorre através da contagem de 100 anos. Quando nos referimos
ao século I estamos citando os acontecimentos ocorridos entre o ano 1 e o ano 100.

O século II remete aos acontecimentos ocorridos entre o ano 101 e o ano 200.

O século III compreende os fatos ocorridos entre o ano 201 e o ano 300.

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Vivemos hoje no século XXI, que corresponde aos fatos ocorridos no período que
iniciou no ano 2001 e vai se prolongar até o ano 2100.

❖ Ciências auxiliares da História

A História possui várias Ciências que fornecem conhecimentos, dados e informações


de grande importância para a pesquisa histórica.

Heráldica: estudo de brasões antigos também é uma ciência auxiliar da História.

Heráldica: estudo de brasões antigos também é uma ciência auxiliar da História.

❖ que são:

São Ciências que oferecem informações, dados, conhecimentos e métodos que


ajudam os historiadores na compreensão e geração de conhecimentos históricos.

❖ Importância

Em muitas pesquisas históricas, os cientistas e estudiosos destas áreas oferecem o


apoio necessário para o estudo de um determinado tema ou período histórico.

Exemplos de ciências auxiliares da História:

- Arqueologia (estuda a cultura e os costumes dos povos do passado, através de


materiais encontrados em escavações);

- Geografia humana (estuda as relações do homem com a natureza);

- Antropologia (estuda as relações dos grupos humanos, sistemas religiosos, cultura,


costumes, características raciais, etc.);

- Sociologia (estuda a organização e funcionamento das sociedades humanas);

- Genealogia (ciência que estuda a origem e os antepassados das pessoas);

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- História da Arte (estuda as obras de arte, significados, técnicas, movimentos artísticos
e as obras dos artistas plásticos);

- Filosofia (estuda e reflete sobre questões como, por exemplo, o conhecimento


humano, verdade, significado da vida, moralidade, linguagem, etc.);

- Psicologia (ciência que estuda o comportamento humano);

- Numismática (estudo de moedas antigas e medalhas);

- Heráldica (estudo de emblemas e brasões de armas antigos);

- Paleografia (estudo de textos manuscritos antigos);

- Paleontologia (ciência que estuda os fósseis, principalmente de eras geológicas


passadas);

- Epigrafia (estudo de inscrições antigas em pedra, madeira, metais, argila, etc.).

- Ciências Políticas (estudo dos movimentos políticos, funcionamento das formas de


governo, organização do Estado, relações políticas e partidos políticos).

- Filatelia (estudo de selos de cartas e cartões postais).

Arqueologia: uma ciência muito importante para as pesquisas históricas (foto de um


arqueólogo trabalhando numa escavação).

UNIDADE # II – ANGOLA – TERRITÓRIO E AS POPULAÇÕES MAIS ANTIGAS

2.1 VESTIGIOS ARQUEOLÓGICO DO PALEOLÍTICO, MESOLÍTICO E DO


NEOLÍTICO

Todo esse vasto e longo processo histórico começa desde a Pré-história, literalmente
quer dizer antes da História que só pode ser feita com fontes escritas, materiais e oral.
Com desenvolvimento da Arqueologia e outras ciências que buscam a reconstituição
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do passado por meio dos fósseis e objectos encontrados em escavações, com isso
começou-se a utilizar também as fontes ágrafas (não escrita).

Os arqueólogos ingleses dividem a arqueologia da africa sub-equatorial em três


grandes estádios: Paleolítico, Mesolítico e Neolítico.

De uma forma resumida vamos abordar sobre cada um deles:

a. PALEOLÍTICO

O primeiro e mais longo periodo do desenvolvimento humano, que se estendeu até


perto de 10,000 a. C, chama-se Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada.

Do grego podemos definir o Paleolítico da seguinte forma: Paleos = antigo + Litos =


Pedra, por isso chama-se periodo da pedra antiga ou também pedra lascada.

Além da pedra também utilizavam a madeira, vegetais, pele de animais, ossos e o


marfim, como matéria-prima para confecionar os instrumentos de trabalho. Vários
foram os instrumentos feitos nesta época: seixos, lanças, bifaces, raspadores,
machados, pontas de seta, arpões, anzóis e agulhas.

Neste período o Homem vivia totalmente dependente da natureza, vivia da colheita de


frutos silvestres, escavavam o solo, para arrancarem raízes, apanhavam insectos e
pequenos animais, em outras palavras podemos dizer que viviam da recolecção.

Neste periodo houve uma das maiores descobertas deste período: o fogo assim como
o seu domínio o que vai permitir-lhe cozer os seus alimentos, iluminar as cavernas,
afugentar os animais ferozes, aquecer-se do frio.

Estes também praticavam a pesca, primeiramente eram feitas nos lagos,


posteriormente nos rios e depois no mar.

Os povos deste período deslocavam-se de um lado ao outro procurando melhores


condições de recolha e de pesca, recebendo assim o nome de Nómadas.

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❖ FASES DO PALEOLÍTICO

Este período é dividido em três fases: o baixo Paleolítico, paleolítico médio e Paleolítico
Superior.

Os instrumentos de trabalho foram evoluindo ao longo dos tempos desenvolvendo as


técnicas de trabalho.

Os homens do Paleolítico deixaram alguns vestígios em Angola, concretamente nas


seguintes províncias: Kwangar e no deserto do Namibe.

b. MESOLÍTICO

Pode se definir o Mesolítico como sendo o período intermediário entre o Paleolítico e o


Neolítico ou período de passagem. É o período mais curto, por se tratar de um periodo
de passagem.

Este é um periodo que menos produziu, por isso poucos são os acontecimentos que se
registraram nesta época. Cerca de 10 milénio a. C, neste período a História registrou
uma vasta e profunda modificação no clima, alteração na fauna e na flora. Algumas
espécies de animais acabaram por desaparecer, tal igual as plantas, e algumas outas
espécies se desenvolveram neste no ambiente.

As regiões que haviam sido ocupadas por gelos dão origem a novas zonas vegetativas.

Assim como aconteceu com os animais também encontram-se a distribuído a raça


humana: os negróides na região florestal e de savana da África Ocidental.

Os Khoisan vão encontrar-se na África Austral e Oriental, onde deixaram paredes


pintadas. Os instrumentos de trabalho produzidos pela indústria microlítica eram o arco
e a flecha tornando-se como principal instrumento de trabalho.

Também vamos encontrar os vestígios desse povo em alguns lugares do vasto


território de África: Deserto do Namibe e Namíbia.

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Neste periodo o Homem ainda vivia totalmente dependentes da natureza ou podemos
dizer que ainda eram nómadas.

c. O NEOLÍTICO

Podemos definir este período como sendo a fase da “Nova Pedra”, também conhecido
como “Revolução Neolítica”. Neste período vamos assistir uma evolução da
humanidade, tanto na sua organização social assim como na evolução dos seus
instrumentos de trabalho.

Nesta fase o Homem deixa de ser nómada e passaram a ser sedentário, deixando de
depender totalmente da natureza e começando a praticar a criação de animais e a
agricultura. Neste período surgem os primeiros aldeamentos e consecutivamente as
novas necessidades de produção que originaram a nova organização social.

Neste periodo destaca-se a Agricultura e a Domesticação de Animais, sem nos


esquecermos da fundição do ferro.

Graças a agricultura e a criação de animais levou o Homem a deixar o nomadismo e


passou ao sedentarismo, tendo um lugar fixo para poder habitar e se desenvolver, o
que originou os aldeamentos e a organização social.

A agricultura era realizada nos vales dos rios que recebeu o nome de “crescente fértil”.
Ex: regiões localizadas no rio Nilo (Egipto), e os rios Tigre e Eufrates (Mesopotâmia).

A descoberta dos metais neste periodo revolucionou os instrumentos de trabalho, a


invenção da roda para as carroças vai aumentar assim a produção agrícola e a
economia de produção. As aldeias tornam-se maior e com divisão de trabalho.

➢ PROGRESSOS TECNICOS DO NEOLÍTICO

❖ O machado;
❖ A enxada;
❖ A faca;
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❖ O martelo;
❖ O arado;
❖ A roda;
❖ O triturador;
❖ A utilização de lã – fibra de linho.

2.2 AS COMUNIDADES HUMANAS DO TERRITORIO: KHOISAN E OUTROS

Muito antes das migrações Bantu no actual território que constitui hoje Angola, já
existiam alguns povos que constituíam o fundo primitivo de Angola que eram os
Pigmeus e os Khoisan. Nós faremos mais referência aos Khoisan, um grupo que hoje
se encontra em extinção.

Os Khoisan – um grupo reduzido, que encontram – se espalhados na parte sul de


Angola, respectivamente na província da Huíla e do Cunene. Como já fizemos
referência os Khoisan é resto de uma raça de habitou o território que é hoje Angola,
muito antes da chegada dos Bantu. Este grupo engloba os Hotentotes e os Kunji
(Kamussekele, Mukakhala ou Bosquímanos), este último nome é um pejorativo que
eles rejeitavam, pois que tinha como significado " Homem da Selva ou do Bosque".
Estes possuíam uma língua totalmente deferente dos povos Bantu, mais língua
pertencente aos Khoisan. Quanto aos Khoisan é curioso o caso de que durante todo
esse tempo eles nunca chegaram a formar reinos nem estados.

Eram povos que viviam totalmente dependentes da natureza, alimentando – se de


frutos silvestres, raízes e eram caçadores. Quanto a sua fisionomia eram de pequena
estatura, pele de cor acastanhada ou amarela. Estes foram considerados como
excelentes caçados, e trocavam a carne por outros produtos.

Para a caça utilizavam pequenos arcos e flechas envenenadas. Além de Angola vamos
encontrar estes povos na vizinha República da Namíbia, África do Sul e Botswana.

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2.3 O PROCESSO DE SEDENTARIZAÇÃO. A ECONOMIA AGRÍCOLA

Durante muito tempo o Homem passou por um longo processo em que vivia totalmente
dependente da natureza, eram nómada andando de um lado para outro procurando
melhores condições naturais.

Com a descoberta da agricultura o trabalho da terra, exigiu que o Homem se fixar-se


num determinado lugar que possuíam condições para a pratica da agricultura e da
pastorícia, em muitos dos casos estes lugares situavam – se ao longo dos rios,
terminando assim com o nomadismo do Paleolítico e começando a sedentarização.

Neste período começam a surgir as comunidades agrícolas e pastores nas zonas


férteis das planícies, dando origem as aldeias.

Com o crescimento da produção originou o crescimento da densidade populacional e


consequentemente a multiplicação das aldeias.

2.4 AS MIGRAÇÕES BANTU

É muito difícil estabelecer datas exactas das migrações Bantu devido a falta de
documentos por um lado, por outro lado pelo processo longo que teve as deslocações
pois que nunca tinham um carácter de estadia definitiva.

Um dos factores principais que acelerou as rápidas migrações foi a descoberta e


utilização dos metais durante os 500 anos da nossa era. Com a descoberta desses
metais esses povos tornam-se superior em relação aos outros povos, pois que estes
possuíam armas mais eficazes e instrumentos de trabalho mais avançados em relação
a outros povos.

Desenvolveu-se a agricultura, a caça e o crescimento populacional. Mesmo com esse


desenvolvimento a produção era pouca para toda a comunidade, razão essa que levou
ao surgimento de vários conflito no ceio dos Bantu, este também foi um dos motivos
para o desmembramento dos Bantu na procura de novas terras férteis pouco habitadas.

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Com o domínio da agricultura e da metalurgia os deferentes povos Bantu que
habitavam possivelmente na região do Níger e no Lago Tchad. Estes povos
deslocaram – se em duas direcções: Leste e Sul de África, passando grandes lagos a
baixo do planalto Luba e a bacia do rio Zaire.

Durante este processo migratório fixavam – se periodicamente em vários sítios onde já


eram habitados por povos caçadores e recolectores, povos esses que viram-se
obrigados a abandonarem as suas terras porque não se encontravam e altura para
enfrentar aos Bantu e estes recuaram até a parte sul de África.

Causas das Migrações Bantu

❖ A escassez de terras e alimentos nos locais onde vivem;

❖ A descoberta dos metais ( principalmente do ferro);

❖ O aumento da população;

❖ As guerras entre vizinhos;

❖ Os conflitos entre povos de diferentes regiões.

Consequencias das Migrações Bantu

As caracteristicas das migrações bantu foram:

❖ Permitiu a difusão da metalurgia;

❖ Permitiu a ocupação de terras de outros povos (Pigmeus e Khoisan);

❖ Permitiu a formação de grandes edstados so sul do Equador;

❖ Permitiu a expansão da agricultura e dffa domesticação.

Distribuição territorial dos povos de Angola

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Os Bantu, possuem uma dezena de variantes, com centenas de subgrupos, a sua
distribuição abrange a totalidade do nosso território.

Basicamente os Bantu em Angola dividem-se em seguintes grupos:

1. Os Bakongo

Ocupam a maior parte do norte de Angola, limitados pelo mar e pelo rio Kwanza
especificamente Cabinda, Zaire e Uíge.

Organização Sócio-económica, política e cultural

Povos agricultores, praticam a escultura concretamente no fabrico de máscaras


coloridas, dentre eles existia subgrupos que eram muito bons no fabrico da arte sacra e
mestres na manufacturas mabula[4], esses povo é conotado como sendo propensos ao
misticismos[5], bons para o lado comercial[6]. São povos que as terras encontram-se
protegidas pelo espírito dos seus antepassados, Mfumu a Ntota.

2. Os Kimbundu

Ocupam também uma grande extensão do território nacional, limitados pelo mar e pelo
rio Kwanza, localizando-se na parte mais a Leste do Norte de Angola para o Sul médio
do Kwanza concretamente nas províncias de Luanda, Bengo, Kwanza Norte, Malange,
e partes de Kwanza Sul.

Organização Sócio-económica, política e cultural

De uma maneira geral são bons agricultores de subsistência, são bons no domínio dos
instrumentos musicais como é o caso do Xilofones[8], instrumentos construídos de
cabaças. Estes também dominam o artesanato, no ramo da escultura, em algumas
regiões existia povos que eram bons arquitectos de obras fúnebres, como campas
feitas de pedras.

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Na região costeira como é o caso da Ilha de Luanda o povo dedica-se a actividade
pesqueira ligado a crenças religiosas a Kyanda.[9] Por tanto também formam bons
guerreiros prova disso são os vários Estados que chegaram a constituir.

3. Os Lunda Tchokwé

Igualmente vão ocupar um grande e vasto território deste país, estes povos englobam
as seguintes províncias Lunda Norte e Sul, Moxico e partes do Kuando-Kubango.

Organização Sócio-económica, política e cultural

Descendentes de caçadores, são povo com uma inclinação para a escultura, bons
empreendedores na construção de habitações. Estes tinham um modo de educar um
pouco diferente em relação aos outros povos, os rapazes eram educados na Mukanda
e as meninas eram educadas na Cikumbi. Este tipo de educação ajudava na
transmissão dos valores culturais de geração a geração, caso característico em África.
Povo este que conserva acultura na linhagem matrilinear. Este povo também leva jeito
para o lado comercial. Actualmente estão a desenvolver a agricultura e a exploração
dos recursos minerais como é o caso do Diamante. Têm como actividade principal a
pesca artesanal e a caça.

4. Os Ovimbundu

um dos povos com a língua mais faladas em Angola, estes estendem-se pelas
seguintes províncias: Huambo, Bié e parte Norte da Huíla.

Organização Sócio-económica, política e cultural

Estes povos são bons caçadores em savanas, criador de gado, agricultores com a
técnica da charrua puxada pelos bois. Com inclinação na construção de fornos para a
fundição cobre, principalmente em Benguela.

Artisticamente eram bons, pois que possuíam escolas de escultura animalista e de


múltiplas máscaras utilizadas na iniciação masculina – evamba ou circuncisão. Os

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Ovimbundu foram também bons construtores de fortes embalas ou muralhas
defensivas.

5. Os Nganguela

Estes encontram-se divididos em dois territórios: na fronteira da bacia do Zambeze até


ao Kubangu, mais a maior parte encontram-se no Kuando Kubango.

Organização Sócio-económica, política e cultural

Descendentes de caçadores, hoje dedicam-se a agricultura no período chuvoso assim


como a pecuária como base económica. Também praticam a extracção do mel, pesca
fluvial como sustento a sua economia.

Este povo domina a metalurgia com a fundição do ferro, bons na cerâmica negra.
Socialmente também possuem os seus ritos de iniciação para os homens, sem este rito
o Homem não possui o estatuto de Homem.

TEMA 3 - ÁFRICA NA ERA DO TRÁFICO DE ESCRAVOS

A partir do fim do século XI até ao final do século XVI, a África produzira civilizações
que se destacaram pelo seu nível de organização, política, social e económica e pela
sua vida cultural.

Mas nos finais do século XVI, o sentido da história africana mudou brutalmente quando
a Europa exactamente na mesma época entrou em período de expansão económica e
geográfica, passando a interferir na evolução das sociedades africanas de uma forma
que se foi acentuando nos séculos seguintes.

Do século XVI ao século XVIII, a África foi teatro de um dos maiores genocídios que a
história da humanidade registou: milhões de africanos foram arrancados violentamente
das suas terras e do seu meio social, ou pereceram, para enriquecer uma burguesia
mercantil, sedento de ouro e outros produtos preciosos.

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É este período que se designou chamar-se ERA DO TRÁFICO. O tráfico de escravos
foi o factor essencial da história africana durante este período (XVI - XVIII). Enquanto
para os europeus, especialmente para suas classes dominantes, o tráfico significou
ouro, marfim, especiarias, açucar e tabaco, para os africanos significou grande martírio.

Os principais Estados pré coloniais antes da Era do Tráfico foram os Reinos do Ghana,
Mali, Songhai, Benin, Haussa e Congo. Vale dizer que os primeiros contactos entre os
réis da Europa e da África foram contactos de igualdade e de aliança. As relações
diplomáticas estavam intimamente ligadas as relações comerciais. O sentido destas
relações mudaram a partir do momento em que a Europa começou a ter influência
sobre a África.

A Europa estava num período de grande crescimento económico e precisava de uma


grande mão de obra para o funcionamento da sua economia e este factor motivou o
interesse pelo tráfico.

3.1. ÁFRICA NA HISTÓRIA MUNDIAL ANTES DO TRÁFICO (PRINCIPAIS


ESTADOS PRÉ-COLONIAIS GHANA, MALI, SONHAI, BENIN, HAUSSA)

A partir do fim do século XI até ao fim do século XVI, considerados períodos de


grandes séculos da África Negra, o continente vai conhecer um desenvolvimento
simultâneo de todas as suas regiões, do ponto de vista económico, político e cultural.
Estes quatro séculos foram, na realidade, a grande época da África Negra. O período
precedente viveu a fundação da maior parte dos grandes impérios africanos, como
veremos já a seguir.

Foi na savana sudanesa que se desenvolveram os mais antigos Estados da África


Ocidental.

Após a progressiva secagem do Saara, a região do Sahel (limite do deserto) toma-se


uma zona agrícola de refúgio com grande densidade de povoamento favorável, pela

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sua situação estratégica, pelo desenvolvimento das trocas comerciais entre a África e o
Magrebe.

O comércio do ouro parece ter sido o elemento decisivo na consolidação dos primeiros
estados. Nesta região desenvolveram-se as cidades em coruacto entre o Mundo
saariano e o Mundo sudanês, no ponto onde as caravanas ele camelos deixaram de
poder avançar mais e onde chegavam o ouro, a cola e, mais tarde, escravos.

No século XV a presença dos portugueses no litoral provocou o desvio das vias


conterciais transaarianas. Os pequenos estados costeiros tornaram-se o centro do
novo comércio internacional, em que o ouro africano era trocado por mercadoria
europeia.

Assim, os impérios sudaneses declinaramí tendo perdido o controlo das trocas


comerciais mais importantes.

AS CIVILIZAÇÕES DO SUDÃO OCIDENTAL

O Gana.

É o primeiro estado da África Ocidental conhe- cido na História.

Os autores árabes do século VIII chamavam-lhe o «País do Ouro». É, com efeito, o


comércio do ouro, organizado pelas caravanas transa arianas com os países
íslamizados do Magrebe, que explica a formação e desenvolvimento deste primeiro
estado. Mais próximo. Foi assim que o rei do Gana manteve uma exploração de todo o
povo, em benefício de uma minoria privilegiada. Podemos caracterizar o Estado do
Gana como politicamente centralizado.

Os Almorávidas no Gana

Esta unidade política não resistiu ao avanço almorávida no século XI: estes pastores
nómadas, dominados pelo Gana e sem participação no comércio do ouro e sal,
lançaram-se numa grande expansão militar, chegando a Marrocos e a Espanha.

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O Gana caiu em seu poder em 1077; apesar de recuperar a liberdade poucos anos
depois, a sua grandeza passada não foi recuperada. A seu lado, nos próprios locais
auríferos habitados pelos Malinké, desenvolvia-se entretanto um novo Estado: o Mali.

A tradição atribui o declínio do Gana ao facto de a região ter sido atingida por um
período de secas prolongadas. Além desta causa, registou-se ainda uma deslocação
das rotas do comércio transaariano: a insegurança ligada ao avanço almóravida levou,
no séc. Xll, à substituição das pistas caravaneiras que conduziam a Tombuctu.

Situação geográfica

O reino do Gana ocupava a região entre os rios Senegal e Níger. Na sua origem era
apenas uma confederação de tribos pertencendo ao grupo étnico dos Sarakolé. Essas
tribos dividiam--se num certo número de clãs, que por vezes tinham funções
especializadas, correspondentes à divisão do trabalho. Assim, os Kandé eram ferreiros,
os Cissé eram o clã real, etc.

Organização social

No clã, cada grande família vivia independente sob a autoridade de um patriarca.

Alguns destes patriarcas podiam exercer funções especializadas:

· Chefe da terra (encarregado de repartir as terras);

· Chefe responsável pelas cerimónias religiosas (para garantir os bons resultados


da cultura);

· Chefe da guerra.

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O chefe de clã dos Císsé era chefe da guerra, «chefe do ouro», assumindo funções de
destaque como:

· Responsável pelas cerimónias religiosas que afastavam os males;

· Cobrador do imposto sobre o ouro em pó.

Controlando esta riqueza, o chefe de clã dos Cissé tomou-se, em consequência, rei
dos Sarakolé, unificando o território sob seu poder. A este território de Uagadu e à
capital Kumbi-Saleh foi dado, pelos árabes, o nome de Gana.

O comércio

Os comerciantes traziam a Kumbi o ouro em pó. Aí o vinham procurar os comerciantes


árabes da África do Norte, trazendo em troca o sal de Taghaza, cobre, trigo e tecidos.

O rei recebia igualmente direitos sobre o comércio.

A capital subdividia-se em duas cidades distintas: uma cidade comercial, onde


habitavam os comerciantes árabes e berberes vindos do Norte e uma cidade real, onde
se encontravam o palácio do rei, os túmu!os reais e a floresta sagrada.

O Estado

O núcleo central deste reino era a casa real com os seus principais dignitários e a
guarda real que constituía a classe dominante, incluindo o exército.

A classe dominada ou explorada era constituída pela maioria da população e escravos,


vivendo em comunidades aldeãs, sujeitas ao pagamento de um tributo em gênero (em
percentagem da colheita).

Os tributos, o ouro e as taxas cobradas em todas as trocas comerciais, constituíam o


rendimento do rei, permitindo-lhe alimentar e vestir a sua família extensa (parentes
próxi- mos e afastados, até os seus escravos).
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Assim, as funções guerreiras e religiosas do rei permitiram-lhe controlar a defesa e a
segurança elo comércio e regularueritar a exploração do ouro, em seu proveito e do
grupo.

O Império do Mali

Com o desenvolvimento do reino do Gana, os territórios de onde vinha o ouro


escaparam ao seu controlo. Um pequeno reino da região mandinga ente o rio Níger e o
Buré, até então dependente do Gana, passou a fornecer aos comerciantes árabes o
ouro do Buré e escravos. O seu chefe converteu-se ao Islamismo.

No séc. XIII, Sundiata Keita, que na tradição dos Bardos refere como fundador do
império Mandinga ou do Mali, conquista e anexa outros reinos próximos. Com esta
expansão, o novo império ficou senhor das minas de ouro, cobre e sal, controlando
todo comércio.

O comércio

De Kabara, porto do rio Níger que servia Tombuctu, as mercadorias vindas do Norte
eram transportados por barcos até Djené e Niani. Nestas duas cidades concentrava-se
o ouro vindo de Bambuk e Buré. Das florestas do sul vinha a cola, o óleo de palma e
escravos. Este comércio provocou o enriquecimento dos comerciantes Malinké,
também participando alguns marabus, chefes religiosos.

Niani, a capital, tomou-se um pólo comercial onde residiam os comerciantes do Norte


ele África, que asseguravam o escoamento do ouro e escravos para o Mundo
mediterrâneo. Organizados, por vezes, em sociedades familiares, instalavam-se nas
diferentes escalas saarianas, trocando ente si informações sobre preços e existências
de produtos, de modo a promover as trocas na ocasião mais.Iavoravel e nas condições
mais lucrativas.

Organização social
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Segundo a tradição, Sundiata Keita teria organizado toda a população Malinké em
trinta clãs:

· dezasseis clãs de homens livres;

· cinco clãs de marabus;

· cinco de artesãos;

· quatro de bardos.

A maior parte dos homens livres eram camponeses, recrutaveis como soldados em
caso da guerra. Pagavam tributos sobre as colheitas. .

A classe dominante era constituída pelos chefes religiosos (marabus), chefes de clãs e
funcionários reais.

As guerras de conquista tinham feito aumentar o número' de escravos, uma parte dos
quais eram trocados com os mercadores árabes que os exportavam juntamente com o
ouro, através dos portos do Magrebe.

A maior parte dos que ficavam, trabalhavam para si, como artesãos, criados
domésticos e camponeses nos domínios do rei. Por vezes, ascendiam a postos
importantes na administração, ocupando lugares de confiança.

O Estado

Ao longo dos sécs. XIII e XIV, o império do Mali estendeu a sua autoridade a todo o
vale superior do Níger, uma parte do Saara ao Bambuk e a toda a região costeira com-
preendida entre o Senegal e o rio Geba.

Este grande império tinha uma administração descentralizada. A região habitada pelos
Malinké (Mandinga) estava submetida à administração directa do rei e subdividia-se em
províncias chefiadas por um Farba que tinha funções administrativas e judiciárias.

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Ao nível das aldeias, a autoridade era exercida por um chefe político e pelo chefe de
terras, religioso. Os tributos cobrados às comunidades aldeãs, as colheitas e o gado,
as pepitas de ouro, as taxas aduaneiras, os despojos de guerra e os tributos pagos
pelos reinos submetidos constituíam os rendimentos do império.

O Islão

Sob a influência dos comerciantes árabes, os imperadores tinham-se convertido à


religião islãmica. A maior parte deles fazia peregrinação a Meca. Por sua iniciativa
afluíram a Niani, Djené e Tombuctu, sábios, geógrafos, artistas, provenientes de
diversos territórios árabes.

A decadência

Na segunda metade do séc. XIV o Mali entrou em declmio. O poder enfraqueceu devi-
do ao conflito no seio da família real. Ao mesmo tempo, as províncias iam sendo
pilhadas pelos Tuaregues e pelos Songhai. Estes, após terem conquistado as cidades
de Tombuctu e Djené, foram alargando o seu domínio, à medida que o Mali se ia
contraindo.

No séc. XVI o Mali estava reduzido à região Mandinga.

O REINO DE SONGHAI

Situação geográfica e origem

Desde o século Vftl existia nas margens do Níger o Reino de Songhai, com capital em
Kukia. Mais tarde, a capital deslocou-se para Gao, situada igualmente nas margens do
Níger, no término de uma importante via transaariana.

No início do século XIV, este reino foi conquistado pelo Mali, a quem passou a pagar
tributo. No final do século, aproveitando a fragilidade do poder político no Mali, os
Songhai expulsaram os chefes Mandigas de Tombuctu e Djené, cortando assim o
acesso do Mali à Africa do Norte e aos benefícios do comércio do ouro.

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O Estado

O império Songhai estava dividido em províncias administradas por governadores


nomeados pelo imperador. As grandes províncias de fronteira tinham administração
autonoma.

O imperador nomeava e revogava à sua vontade governadores e conselheiros.


Dispunha de um exército permanente, profissional, constituído por escravos e cativos
de guerra.

O domínio real era administrado directamente e nele os escravos ocupavam-se da


agricultura e da criação de gado. O rei fornecia as sementes, sendo os produtos das
colheitas armazenadas nos celeiros reais.

As fontes de rendimentos do imperador eram, tal como para o Gana e o Mali, as taxas,
os tributos, o saque. Funcionários encarregados da cobrança dos impostos percorriam
todo o país.

O ouro, o sal, os cereais, serviam de moeda corrente. Para evitar fraudes procedeu-se,
no século -XV, a uma unificação de pesos e medidas.

O declínio do Império

Este grande conjunto era demasiado vasto e a sua manutenção difícil. As populações
submetidas reagiam à dominação. As lutas internas enfraqueciam o poder.

Em 1585, os Marroquinos apoderaram-se das salinas de Taghaza, privando assim o


Songhai da sua principal moeda de troca para obter o ouro do sul.

Em 1591, os marroquinos conquistaram o Songhai. A posse de armas de fogo facilitou-


lhes a vitória, mas dependeu também de factares políticos e económicos.

A presença de portugueses no litoral desviara para o mar as rotas do ouro e dos


escravos. O comércio transaariano do ouro fora um elemento histórico determinante na
evolução dos estados sudaneses. O desaparecimento destes estados seguiu de perto
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a deslocação das correntes comerciais do Norte para o Sul (ouro e depois escravos
contra mercadorias estrangeiras).

O REINO DO BENIN

Situação geográfica e condições naturais

Em meio florestal, de comunicação difícil, com uma agricultura de fraco rendimento e


limitada possibilidade de criação de gado, formou-se a partir do século XIII, em tomo do
baixo Níger, o reino do Benin, um Estado que ia atingir grande dimensão territorial,
apresentando no entanto, urna estrutura

política complexa e manifestações culturais extremamente elaboradas.

Caracterizavam uma espécie de burguesia mercantil, burguesia empreendedora e


aberta a inovações, criadora uma aristocracia burocrática, também porque com a
escrita árabe, um pouco adaptada, os documentos escritos eram correntes: «girgam,
marham, etc.».

O rei era eleito por notáveis e era responsável perante eles, característica que se
afasta dos sistemas políticos negro-africanos, a comparar com o desenvolvimento
económico e social. Deixava com frequência a prática do poder a um primeiro-ministro,
«o galadima» que traba- lhava em colaboração com os chefes do exército, os
administradores, o astrónomo especialista do ciclo lunar, o chefe de protocolo, os
guardas das portas (cargo particularmente importante, etc).

A religião muçulmana continuava repleta de diversos elementos animistas, traduzindo


assim o carácter específico da civilização haussá, feita de síntese a todos os níveis.

IMPERIO HAUSSA

As cidades haussás foram as primeiras fortalezas nestas vastas extensões do Sudão


Central, expostas e abertas a todas as pilhagens, a todas as irrupções. Como nas
cidades fortifícadas da Alta Idade Média européia, os camponeses encontravam aí

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refúgio, em caso de alerta. Em troca, forneciam géneros aos homens de armas do forte,
cujo chefe se tomou pouco a pouco seu rei.

A cidade protegida tomou-se naturalmente o mercado em que os camponeses podiam


trocar os seus produtos, e sobretudo trocá-Ias por artigos dos artífices instalados nas
fortalezas.

O primeiro rei, ou Sarki, foi Bagoda (999-1063). Mas a partir de século XVII sente-se
que se manifestavam cobiças externas, o que impõe a necessidade de uma defesa. O
rei Yusa Sarkin (1136-1194) termina um primeiro muro em volta de Cano. Um destes
reis, a quem os conselheiros recomendavam violência contra os camponeses
autóctones, teve o cuidado de ouvir estes últimos, que lhe declararam: «o seu reino é
grande, deve o seu soberallo ser paciente. Não é pela impaciência que ele consegue o
que pretende». O rei, impressionado, deixou-os seguir os seus costumes e a sua
religião.

O Islão

Foi no século XIV, no reinado de Yaji (1349-1385), que o Islão foi introduzido em Cano
por malianos, que levaram ao mesmo tempo a arte de escrever. A nova religião talvez
explique os ataques lançados por este príncipe na direcção do vale do Benué contra o
Kororofa (jukun).

A ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS HAUSSÁS

As guerras intestinas entre cidades haus- sás impediram-nas de desempenhar um


papel político dominante. No fundo, não era esse, sem dúvida, o seu desígnio intimo.
Não eram de resto talhadas para isso tratavam-se, em primeiro lugar, ele comunidades
rurais. No século XIX, notavam-se espaços livres no interior das muralhas de Cano,
espaços esses reservados ao cultivo em caso de cerco. Mas as cidades dedicavam-se
ao comércio e ao artesanato. Desempenhavam um papel importante de intermediários
entre a África Negra e os seus vizinhos do norte e do leste.

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O sistema fiscal, muito elaborado e com frequência inspirado no Alcorão, compreendia
impostos sobre o rendimento (Zakat), o gado, as terras, os produtos de luxo e certas
pro- fissões (carniceiros, tinturciros, prostitutas). Os estados haussás realizaram
excepcional- mente, entre as colectívídades da África Negra, um tipo de economia
complexa, em que a agricultura e o comercio eram judiciosamente combinadas com
actividades do tipo pré-

-industrial, em verdadeiras manufacturas ele tecelagem, ele calçado, de artigos ele


metal, etc.

A economia

A vida económica dos estados africanos era caracterizada pela existência de uma
agricultura de auto-subsistência e pelo grande comércio a longa distância.

A comunidade aldeã era o centro de uma activídade predominantemente agrícola. Ela


era o lugar onde habitava um conjunto de famílias ligadas por laços de parentesco,
perten- cendo à mesma linhagem.

O trabalho era selectivo, a nível familiar ou de aldeia. No primeiro caso havia uma
divisão de trabalho entre homens e mulheres, entre adultos e jovens. As mulheres
dedica- vam-se ao trabalho agrícola, constituindo uma força de trabalho importante.

As classes sociais

Nos reinos africanos existiam duas classes fundamentais:

a. Classe explorada ou dominada:

✓ Camponeses, homens livres sujeiros ao pagamento de tributos.

✓ Escravos que eram grandes servidores da classe dominante, ligados ao trabalho


agricola.

b. Classe explorada ou dominante:

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✓ rei e os seus súbbditos (nobreza) detentores de terra e de toda a economia
proveniente, do comecio, dos saques da guerra.

O Estado

O Estado surgiu como consequência e não causa da exploração de classes. As classes


sociais, ao formarem-se, identificam-se por interesses opostos.

A função do Estado é a de manter a ordem social baseada na dominação de uma


classe. A exploração da comunidade aldeã por parte do Estado consistia nesta
apropriação de uma parte da produção dos aldeãos, que inicialmente se destinara a
satisfazer encargos colectivos. O rei detinha o poder político, religioso e militar.

As cidades-estado haussás, situadas entre o Níger e o Chadc, encontravam-se numa


grande encruzilhada. Constituíram-se por volta do século XII, em redor das vias comer-
o ciais que ligavam Tripoli e o Egipto à floresta tropical, por um lado, e por outro lado, o
Níger, no alto vale do Nilo pelo Darfur.

Bawa ou Bagoda, filho deste estrangeiro e os seus seis filhos tomar-se-iam os


fundadores das sete cidades - estados haussa (haussás Bokoi), que são: Cano, Doma,
Gobir, Katsina, Zaría, Biram e Rano. Dama era considerada a cidade-mãe. Mais tarde,
foram integradas no Mundo haussá.

A classe dirigente dos haussás são pretos que habitavam muito mais ao Norte e a
Leste do que hoje.

3.2. GÉNESE DO TRÁFICO DE ESCRAVOS E RESPECTIVAS ROTAS

Desde milênios, em todos os cantos do mundo, a escravidão foi uma prática comum e
aceita por diversos povos. Somente a partir do século XIX é que o comércio de
pessoas passou a ser criticado, e em muitas regiões foi abolido (pelo menos
legalmente). Hoje em dia, apesar da existência de milhões de indivíduos ainda
trabalhando como escravos, tal situação é considerada um crime pela comunidade
internacional.
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Mas o que é ser um escravo? escravo é "quem ou aquele que, privado da liberdade,
está submetido à vontade absoluta de um senhor, a quem pertence como propriedade".

Um indivíduo pode se transformar em escravo de diversas maneiras:

❖ por ser um prisioneiro de guerra;


❖ por contrair uma dívida, que seria paga com seu trabalho (por um tempo
determinado ou pela vida toda);
❖ por ter cometido um crime e sendo, portanto, punido com a escravidão;
❖ por se oferecer como escravo em troca de alimento ou bens para a salvação de
sua família ou comunidade em grande dificuldade;
❖ por pertencer a povos inimigos ou ser considerado culturalmente inferior.

Dessa forma, o escravo, sendo uma propriedade, pode ser vendido, emprestado,
alugado e até morto, segundo as necessidades do seu senhor.

A escravidão foi praticada por diversos povos durante toda a história, de modos
diferentes e específicos. Em algumas civilizações, como no Egito Antigo, por exemplo,
o escravo não era a base da produção, sendo o camponês livre obrigado a prestar
serviços ao Estado na forma de corveia (trabalho temporário sem remuneração). Aos
escravos cabia o trabalho doméstico e militar.

Ao contrário, na Roma Antiga, toda produção das grandes fazendas, todo serviço nas
obras públicas (incluindo as diversões nas arenas de gladiadores) recaía sobre a
massa de escravos e por isso chamamos a civilização romana de civilização escravista.

Em vários haréns, no Oriente, as concubinas do grande sultão, xeque ou xá, eram


escravas e muitas delas eram negociadas ou capturadas na região do Cáucaso (entre
a Rússia e o Oriente Médio). Portanto, nem sempre a escravidão foi baseada numa
diferença étnica: às vezes um parente distante precisava de ajuda e se submetia a uma
escravidão temporária. Ou seja, quando queremos refletir sobre a escravidão,

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precisamos compreender como ela se desenvolveu para aquele povo específico que
estamos estudando.

A escravidão entre os povos africanos

A escravidão existiu na Ásia, na Europa, nas Américas e na África. Muitos dos povos
africanos utilizavam escravos para os mais diversos fins, e como cada povo africano
tem sua própria organização política, econômica e social, a escravidão na África se
desenvolveu de muitas formas.

De uma maneira geral, partindo da história de grande parte desses povos, podemos
dizer que existia na África uma escravidão doméstica, e não uma escravidão mercantil,
ou seja, entre vários povos africanos, o escravo não era uma mercadoria, mas sim um
braço a mais na colheita, na pecuária, na mineração e na caça; um guerreiro a mais
nas campanhas militares.

Esses povos africanos preferiam as mulheres como escravas, já que eram elas as
responsáveis pela agricultura e poderiam gerar novos membros para a comunidade. E
muitas das crianças nascidas de mães escravas eram consideradas livres pela
comunidade. A grande maioria dos povos africanos eram matrilineares, ou seja, se
organizavam a partir da ascendência materna, partindo da mãe a transmissão de nome
e privilégios. Dessa forma, uma mãe escrava poderia se tornar líder política em sua
sociedade, por ter gerado o herdeiro à chefia local.

Além disso, um escravo que fosse fiel ao seu senhor poderia ocupar um cargo de
prestigio local, inclusive possuindo escravos seus. Assim, nem sempre ser escravo era
uma condição de humilhação e desrespeito. Mesmo representando uma submissão,
tratava-se de uma situação que muitas vezes era a mesma que a de outras pessoas
livres.

Os árabes e o tráfico de escravos africanos

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Ao lado da escravidão doméstica também existia o comércio de escravos. Algumas
sociedades africanas viviam da guerra para a captura de pessoas para serem vendidas
a outros povos que necessitavam de escravos. Como na África existiam várias etnias,
vários grupos políticos diferentes (os africanos não eram um único povo), as guerras
entre eles eram muito frequentes, e uma consequência disso era escravização dos
vencidos, que podiam ser vendidos, segundo a necessidade do vencedor.

O comércio de pessoas se intensificou no século VII, quando os árabes conquistaram o


Magreb e o leste africano. Os árabes eram grandes mercadores de escravos, e
conseguiam suas mercadorias humanas em diversas regiões: Espanha, Rússia,
Oriente Médio, Índia e África. Os escravos comprados nessas regiões eram vendidos
principalmente na península Arábica, mas também podiam ser vendidos em regiões
mais distantes, como na China.

Com o aumento da demanda por escravos nos portos africanos controlados pelos
árabes, aumentou também o número de povos africanos que passaram a viver (e
sobreviver) da captura de inimigos ou de grupos mais fracos, para vendê-los. Acredita-
se que entre os séculos VII e XIX, em torno de 5 milhões de africanos tenham sido
comprados na África pelos árabes.

Nesse processo, muitas tribos, cidades, reinos africanos se fortaleceram, pois


controlavam as rotas de comércio de escravos. E quanto mais fortes e ricos se
tornavam, mais tinham condições de oferecer mais mão de obra escrava para os
árabes. Foi o caso do Reino de Mali, Reino de Gana, as cidades iorubas, o Reino do
Congo e as cidades suaílis, e várias outras.

Os portugueses e o tráfico de escravos africanos

Apesar de o comércio de escravos já ser praticado na África, foi com a chegada dos
portugueses nesse continente que o tráfico escravista se configurou na maior migração
forçada de povos da história. Os pesquisadores apresentam números diferentes, que

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vão de 8 milhões até 100 milhões de pessoas obrigadas a deixar a sua terra natal,
atravessar o oceano Atlântico para ser escravo em regiões distantes.

Quando os portugueses chegaram a Ceuta, no início do século XV, iniciaram a captura


e escravização dos africanos das redondezas, com a justificativa de que eram
prisioneiros de guerra e muçulmanos, considerados inimigos da fé católica europeia.

A partir de então, em pleno processo de Expansão Marítima, os portugueses


avançaram em direção ao sul, na costa atlântica da África, em busca de riquezas para
serem comercializadas e foram descobrindo o comércio de escravos. Num primeiro
momento, o comércio de gente não interessou aos navegadores portugueses, já que a
Europa não tinha necessidade de mão de obra escrava.

Quanto mais os portugueses avançavam na costa africana, mais sentiam a


necessidade de se estabelecer em alguns pontos de comércio, para consolidar sua
exclusividade na região. Em 1455 os portugueses construíram sua primeira feitoria na
África: o forte de Arguim (na região da Senegâmbia, atualmente Mauritânia). Para
manter essa feitoria, os portugueses passaram a utilizar escravos africanos e a
comercializá-los.

Muitos portugueses tentavam capturar os africanos, mas em pouco tempo perceberam


que era mais lucrativo entrar nas redes de comércio de escravos já existentes, e por
isso começaram a buscar essa mercadoria junto aos povos do litoral. Um dos primeiros
povos aliados dos portugueses no tráfico de escravos foram os jalofos, na Senegâmbia.
Em troca de escravos, os jalofos conseguiam cavalos dos portugueses (um cavalo era
trocado por 15 ou 20 escravos) e armas de fogo, o que aumentava o seu poder de
guerra e de conquista de mais escravos.

Com o início da colonização das ilhas de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe (na
segunda metade do século XV), a necessidade de mão de obra aumentou, e a compra
de escravos foi a solução encontrada pela Coroa portuguesa. Por essa mesma época,
os portugueses chegaram à Costa da Guiné (atualmente desde a Guiné até a Nigéria),

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onde encontraram povos ricos que já negociavam com os árabes e puderam
comercializar ouro, especiarias e escravos. Tamanha era a riqueza da região que os
portugueses passaram a chamá-la de Costa do Ouro, Costa da Mina e Costa dos
Escravos.

Em 1482, o navegador português Diogo Cão chegou até ao Reino do Congo e


conseguiu fazer alianças com o manicongo ("senhor do Congo") Nzinga Kuvu. Nessas
alianças existiam interesses mútuos: os portugueses queriam ter maior acesso às
redes de comércio da África, e o manicongo pretendia obter as técnicas de guerra e de
navegação dos portugueses. Inclusive o manicongo se converteu à religião católica,
passando a se chamar dom João.

Por quatro séculos, a maior fonte de escravos do tráfico atlântico português se deu a
partir do Reino do Congo e do reino vizinho, Andongo, chamado pelos portugueses de
Angola. Isso ocorreu principalmente quando os portugueses conseguiram o direito de
negociar mão de obra para exploração espanhola da América (o direito de Asiento) e
passaram a precisar de mão de obra para desenvolver sua própria colônia americana:
o Brasil.

A ROTAS DO TRÁFICO DE ESCRAVOS DURANTE OS SEUS QUATROS SÉCULOS

a) Rota do Magrebe

A islamização do Norte de África, no século VII a.C., permitiu aos árabes o controlo de
rotas anteriores. A principal desenvolveu-se a +partir de Tripoli (actual Líbia) e dai
avançavam para o Sul do Sahara. Esta rota fornecia escravos todos ao Norte de África
e o Mediterraneo.

b) Rota dos Grandes Lagos

Desde o Antigo Egipto que se realizavam expedições para captrura de escravos em


África, seguindo a rota do Nilo e dos Grandes Lagos e manteve-se muito active ao
longo do século XIX. Esta rota fornecia escravos para o Egipto e o médio Oriente.

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c) Rota da costa oriental da África

Os portugueses chegaram ali no século XVI. A partir do século XVII os árabes e Suaílis
conseguem expulsar os portugueses das suas principais feitorias da costa Oriental de
África

NOVAS ROTAS COMERCIAS

Rotas Atlânticas: ligam a Europa a África e as Americas;

A Rota do Cabo: contorna a África, penetrando nos mercados indianos;

Oceano Índico a a do Extremo Oriente: atigindo o oceano Pacífico para o comércio


com a China e com o Japão.

Havia sete sectores principais de tráfico e que abrangiam a zona que vai de Arguim
Mauritânia até Angola nomeadamente: Senegal, Serra Leoa, Costa da Guiné, Costa do
Marfim, Costa do Ouro Ghana, Costa dos Escravos (togo, Daomé, Nigéria) e Angola.

3.3. CONSEQUÊNCIAS DIRECTAS DO TRÁFICO DE ESCRAVOS EM ÁFRICA E NO


MUNDO

O tráfico de escravos, que deu origem ao circuito comercial entre os três continentes -
Europa, África e América - trouxe consequências negativas, principalmente para o
continente africano, no domínio Económico, Sócio-político, Cultural e Demográfico.

a) Consequências Demográficas- o tráfico de escravos poderia ter conduzido ao


desaparecimento total da raça negra, pois os métodos praticados contribuíram
para o despovoamento do continente africano. o tráfico levou para fora do
continente mais de metade da sua população, sobretudo homens fortes e
saudáveis;

b) Consequências Económicas- O tráfico de escravo despojou o continente de


suas forças mais vivas, que davam estabilidade económica, sofrendo assim um

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grande abalo, e porque muitos reinos enfraqueceram em consequência do
tráfico;

c) Consequências Sócio-políticas- O tráfico destruiu a vida sócio-política dos


antigos reinos ou impérios, contribuindo para o desaparecimento dos mesmos,
como por exemplo: o Songhai, Benin, Kongo, etc... no seu lugar, surgem
pequenos estados independentes, rivais uns dos outros. Passou a vigorar a lei
segundo a qual quem tivesse mais armas de fogo e fosse capaz de dominar os
povos vizinhos.

d) Consequências Sociais e Psicologicas- desorganização das sociedades


africanas, devidpo ao envolvimento das classes dominantes no tráfico e as
guerras constantes. O medo, coação moral e complex de inferioridade entre os
africanus das áreas mais afectadas pelo tráfico. Diminuição da capaciodade de
resistências das populações africanas, facilitando a conquista de seu territórios
pelos colonizadores eurropeus.

e) Consequências religiosa- a religião Africana animista, foi substituída pela religião


crista.

TEMA 4 - ANGOLA, A ABERTURA AO ATLÂNTICO; IMPACTO INICIAL

A sociedade colonial portuguesa teve o seu início com a chegada dos portugueses no
Reino do Congo, nos finais do século XV (1482) caracterizada por uma dominação
colonial.

A dominação foi feita em 2 fases:

1º PENETRAÇÃO – A penetração é a fase que vai desde a chegada do português


Diogo Cão na Foz do rio Záire até vésperasde 1575.

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2º OCUPAÇÃO – Esta fase teve início em 1575, com a fundação da capitania de São
Paulo de Loanda, hoje cidade de Luanda, pelo capitão português Paulo Dias de Novais
e termina a 11 de Novembro de 1975 ano da ploclamação da independência de Angola.

Razões que condicionaram e influenciaram na ocupação do território angolano:

· Interesses económicos (necessidades de matérias primas, mercados e áreas de


investimentos );

· Motivos políticos (vontade de afirmar o seu poder e força militar através da


ocupação de regiões e zonas estratégicas);

· Razões ideológicas (desejo de divulgar a cultura europeia junto dos africanos.

4.1. O CONGO E OS PORTUGUESES

O Reino do Congo, foi o primeiro Estado a constituir-se na Costa Ocidental de África,


tinha como capital a cidade de Mbanza kongo.

Estava divido em seis províncias, entre as quais Mpemba (onde estava localizada a
capital do reino que se chamava Mbanza Kongo), Nsumdi, Mbamba, Mbata, Soyo,
Mpangu.

Os portugueses chegaram acidentalmente ao reino do Congo em 1482, comandados


por Diogo Cão e na expectativa de chegar a Índia. A segunda viagem de Diogo Cão ao
reino do Congo foi em 1484. Os navios portugueses chegaram ao reino do Congo pelo
porto de Mpinda. Contactaram com os habitantes do Soyo e com o próprio Mani Soyo.
Assim se teve a notícia, pela primeira vez no Congo da existência de europeus vindos
de um reino chamado Portugal.

Os primeiros contactos estabelecidos eram relações de amizade, relações comerciais e


diplomáticas. Em 1489 foi enviada para Portugal o primeiro embaixador do Congo
(relações de amizade, comerciais e diplomáticas).

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O Ntotela, rei do Congo Nzinga Nkuvu, foi baptizado em 1491 em Mbanza Congo,
tendo adoptado o nome cristão de D. João I do Congo. Muitos bakongos foram
mandados para Portugal, para receberem instrução portuguesa.

O objectivo preconizado pelos portugueses no reino do Congo eram:

· Manter relações comerciais com o reino e consolidar a sua conquista;

· Converter aquele reino ao cristianismo, permitindo assim a sua expansão.

4.2. O INÍCIO DO TRÁFICO DE ESCRAVOS: PAPEL DOS COLONOS DE S. TOMÉ

Em 1470, Portugal iniciou o processo de colonização em São Tomé e Príncipe. A


colônia foi utilizada como entreposto comercial, sobretudo de escravos capturados na
África. Os colonizadores também introduziram o cultivo de cana-de-açúcar, utilizando
mão de obra escrava.

Desde 1493 procedera-se ao povoamento da Ilha de S. Tomé por degradados


desterrados portugueses. Este povoamento veio promover contactos mais frequentes
dos portugueses com a costa ocidental Africana, tendo em vista fornecer à Ilha a mão-
de-obra necessária ao cultivo da cana-de-açucar e mais tarde, a produção do cacau.

O território, montanhoso e coberto por florestas tropicais, é formado por duas ilhas
principais (São Tomé e Príncipe) e várias ilhotas. A maioria da população reside na
capital, São Tomé. Conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU),
aproximadamente 50% dos habitantes vivem abaixo da linha de pobreza, ou seja, com
menos de 1,25 dólar por dia.

A principal actividade econômica de Tomé e Príncipe é a produção de cacau.


Entretanto, o turismo e a exploração das jazidas de petróleo descobertas no fim da
década de 1990 proporcionaram um aumento significativo na captação de recursos
financeiros.

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S.Tomé tornou-se também um ponto de escala (transito) na rota das Índias e das
Americas, depósito de escravos e prisão dos condenados. Mais tarde os contratados
eram enviados para esta Ilha, servindo de mão de obra escrava. O cultivo da cana de
açucar provocou o enriquecimento rápido dos colonos (desterrados) ali fixados.

A primeira tentativa de povoamento da Ilha de São Tomé foi no ano 1485 por João de
Paiva, mas não se viram resultados Tentou-se novamente no ano 1493 por Álvaro de
Caminha. Quanto à Ilha do Príncipe só teve o seu primeiro povoamento no ano 1500.

As primeiras plantações de grande interesse: Questões como o povoamento das ilhas,


a criação de grupos mestiços, as formas de organização da economia, os sistemas de
trabalho, os mecanismos de controlo político e social eram estudos de maneira a
exaltar o génio dos Portugueses, os quais, sublinha a metodologia colonial, teriam
utilizado métodos brandos e práticos humanitários, transformando as ilhas bravas em
espaços organizados para reforçar o capitalismo moderno em via de se afirmar.

A cana-de-açúcar foi introduzida nas ilhas no século XV, mas a concorrência brasileira
e as constantes rebeliões locais levaram a cultura agrícola ao declínio no século XVI.
Assim sendo, a decadência açucareira tornou as ilhas entrepostos de escravos.

Numa das várias revoltas internas nas ilhas, um escravo chamado Amador,
considerado herói nacional, controlou cerca de dois terços da ilha de São Tomé. A
agricultura só foi estimulada no arquipélago no século XIX. Registou-se uma enorme
explosão na produção de café e cacau com base no trabalho contratado. Após a
segunda grande guerra, o nacionalismo desenvolveu-se entre a população local crioula
tornando-se, desta forma, famosas algumas revoltas de negros, que se recusavam a
trabalhar para os portugueses nas plantações de cacau e café.

Consequencias do povoamento da ilha de S.Tomé

1. A presença em massa dos trtaficantes portugueses destrerrados;

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2. A entrada da mão-de-obra barata proveniete do Congo e do Ndongo para o
cultivo da cana-deaçúcar;

3. S,Tomé passou a ser o ponto de escala das rotas comercioais para a Índia,
América e depósito de escravos e prisão para os condenados de vários crimes;

4. Guerras militares nos reinos do Congo e do Ndongo para para obtenção de


escravos;

5. Rivalidades políticas, derivadas da captura de escravos;

6. O enriquecimento dos reino do Congo e Ndongo;

7. S.Tomé tornou-se ilha de recuperação de escravos debilitados e de pagamentos


de impostos aduaneiro obrigatório para as Américas.

4.3. AS CRISES INTERNAS: AS INVASÕES DOS IMBANGALAS E REFORÇO DA


INFLUÊNCIA PORTUGUESA

“Jagas” foi o nome que os Portugueses deram, no final do Sec. XVI e durante o sec.
XVII, a grupos de nativos africanos, predominantemente nómadas, que se
caracterizavam por não trabalhar, dedicando-se à rapina e à violência sobre as
populações.

Nos anos 70, uma acirrada polémica, de que falaremos a seguir, quis identificar o povo
que teria invadido o Reino do Congo em 1568, quando o Rei Álvaro II pediu ajuda a
Portugal na luta contra os invasores, a quem as fontes chamam "Jagas".

Acossado pelos invasores, o Rei fugiu de S. Salvador do Congo e refugiou-se com


parte da população na Ilha dos Cavalos no Rio Zaire. Pediu então ajuda ao Rei de
Portugal e D. Sebastião enviou-lhe uma força de seiscentos homens comandados por
D. Francisco Gouveia Sotomaior, que derrotou e pôs em fuga os rebeldes.

E mandando-se Francisco de Gouveia por governador dos reinos do Congo contra os


Iaga Iagas que eram homens que comiam carne humana, quase de sessenta mil
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alevantados nos ditos reinos do Congo que os destruíam, o passei com o dito
Francisco de Gouveia aos ditos reinos do Congo onde fiz muitos gastos e o ajudei, e foi
Deus servido dar vitória e aquietar os ditos reinos, e passando Paulo Dias por
governador dos reinos de Angola para as minas de prata também o ajudei em tudo

A morte consecutiva de dois reis no decurso de uma Guerra, em 1566 e 1567 deu
origem a uma confusão que degenerou em catástrofe, com a irrupção de guerreiros,
chamados Jaga, provenientes do leste. Os Jagas desafiaram as forças reais e a Corte
teve de se refugiar numa ilha do final do Zaire.

Numerosos refugiados foram vendidos como escravos para São Tomé. O Rei teve de
pedir ajuda a Portugal que enviou um corpo expedicionário, que reconquistou o reino
de 1571 a 1573. A hegemonia do Congo na região ficou destruída, pois, em 1575, foi
fundada a colónia de Angola e os Portugueses vieram comerciar em grande número ao
Loango, a partir do mesmo ano. A identidade dos invasores do Congo nunca pôde ser
determinada. O nome Jaga (em kikongo: Yaka) é utilizado nas fontes como sinónimo
de bárbaro e aplicado a toda uma série de guerreiros mais ou menos nómadas. Os
primeiros Jagas apareceram a leste de Mbata, ao sul do Pool e de lá passaram para as
margens do Coango”.

Os Jagas não constituem verdadeiramente uma família distinta, pois não eram mais
que o conjunto de indivíduos de diversas tribos, educados desde pequenos para a
guerra e só para esse fim.

Isto é: a questão a decifrar é a de saber onde é que os Portugueses foram buscar o


nome de Jagas e não propriamente as origens dos grupos de Jagas, que eram as mais
variadas. É possível que o nome venha dos povos a que pertenciam os guerreiros que
invadiram o Congo em 1568, mas não há certezas para afirmar isso.

O nome “Jagas” foi depois aplicado a grupos de variadas origens, mas podem dividir-se
facilmente entre os do Norte e, mais tarde, os do Centro e Sul de Angola (da Conquista,

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não do Reino), pois tiveram características e duração diferentes. Em termos de etnias,
nada tinham de comum uns e outros.

Na história de Angola, volta a falar-se muito nos Jagas, na viragem para o século XVII,
sendo o primeiro documento coevo, as Aventuras de Andrew Battell, um marinheiro
inglês preso pelos Portugueses no Brasil e desterrado para Angola, onde fugiu da
prisão, juntando-se depois, nos primeiros anos do Sec. XVII, a um grupo de Jagas
durante cerca de 16 meses, como refém e que conta.

Daqui surgiu conclusão de chamar Imbangalas a estes Jagas do centro e sul de Angola,
no que eu tenho alguma reserva pelas razões que apontarei a seguir.

Sobre estes Jagas do sul e centro de Angola, sabemos muito mais do que acerca dos
do Norte, havendo fontes coetâneas que nos falam deles.

Não cultivavam a terra e viviam permanentemente roubando as populações, que


assaltavam e aterrorizavam com ferocidade.

Os seus chefes, que eram conhecidos como o jaga Fulano (no singular), não eram
hereditários mas sim escolhidos entre os guerreiros mais valentes e mais ferozes.

As suas mulheres não eram autorizadas a criar os filhos que tivessem, nem podiam
mesmo dar à luz no perímetro do quilombo (acampamento). As fontes sugerem que
poderiam tentar entregar a outras os recém-nascidos para serem criados.
Possivelmente, poderiam também fugir dos quilombos quando soubessem que
estavam grávidas. Mas as que tentassem conservar os filhos consigo no quilombo
eram sujeitas à pena de morte.

Os grupos eram depois reforçados com os adolescentes de ambos os sexos, mas


sobretudo rapazes, que eram capturados nos assaltos às populações. Tinham depois
de provar a sua valentia, designadamente, matando alguém nas lutas em que
continuamente participavam. Os adultos, velhos e crianças capturados nesses assaltos,
eram vendidos como escravos ou assassinados.

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Assim sendo, a ascendência dos grupos de Jagas depressa se modificava. Dos 16 000
Jagas do grupo, apenas 12 eram Jagas originários dos que, cerca de cinquenta anos
atrás, tinham vindo de fora de Angola, ou seja, Imbangalas. (Ele diz que teriam vindo
da Serra Leoa, o que se põe em dúvida).

Não me parece assim fazer muito sentido, chamá-los Imbangalas, já que a composição
dos grupos ia variando em termos de raças. Isto apesar de, segundo a tradição, ainda
no sec XIX, os jagas do Cassanje se designarem a si mesmos “bângalas” (singular:
kimbangala).

4.4. O DESENVOLVIMENTO DO TRÁFICO DE ESCRAVOS NA REGIÃO

Na colónia de Angola, a exportação de mão-de-obra escrava pelo porto de Luanda terá


sido alvo de competição no século XVII entre portugueses e holandeses. É depois da
disputa entre os colonizadores, cujo vencedor foi o reino de Portugal, que pode ter se
originado a captura directa de escravos, nas chamadas Guerras Angolanas, no seio de
certas tribos que tinham lutado contra os portugueses.

Foi dessa forma que Angola se tornou um centro importante de fornecimento de mão
de obra escrava para o Brasil, onde crescia não apenas a produção de cana-de-açúcar
no Nordeste, mas também a exploração de ouro na região central. Navios com
mercadorias de Goa faziam escala em Luanda lá deixando panos, as chamadas
"fazendas de negros". Dali, seguiam para Salvador, na Bahia, carregados de escravos
e de outras mercadorias provenientes da Índia (como louças e tecidos). Foi assim que
Salvador se tornou um centro difusor de mercadorias da Índia pela América do Sul.

Os negócios foram se estruturando aos poucos. Num primeiro momento, os


governadores da colónia detinham o poder de determinar o preço dos escravos. O
pagamento era feito em ouro proveniente de Minas Gerais, no Brasil. Mais tarde, em
1715 a coroa portuguesa proibiu que os governadores se envolvessem com o tráfico.

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Negociantes provenientes do Brasil (principalmente do Rio de Janeiro, da Bahia e
também de Pernambuco) assumiram as rédeas do comércio, que se aqueceu. A
principal feira fornecedora de escravos para o porto de Luanda era a feira de Kassanje.
No século XVIII, a cachaça brasileira (geribita) passou a ter papel de destaque nas
trocas, sendo valorizado tanto em Angola quanto no Brasil.

Figurava, ao lado da seda chinesa e as armas europeias, como uma das principais
moedas de troca. Era, na verdade, a moeda mais corrente, já que o comércio de armas
era controlado e a seda chinesa a só chegava à África depois de passar por Lisboa, o
que elevava seu preço e reduzia sua liquidez. Outro produto brasileiro valorizado na
África era o fumo de corda de Salvador.

A partir da abertura da costa Atlântica da África, pelos comerciantes europeus, ocorre


um vertiginoso crescimento e expansão do tráfico de escravos, com consequências
decisivas na evolução da escravidão e na economia dessa região.

A similaridade nos padrões comerciais do tráfico de escravos, entre portugueses e


muçulmanos, fica evidente quando analisamos as seguintes características: demanda
de escravos domésticos para a Europa meridional, demanda de escravos para atender
plantações de cana-de-açúcar nas ilhas do Mediterrâneo e depois do Atlântico, pelo
desenvolvimento do comércio de escravos ao longo da costa ocidental africana e pelas
mercadorias exportadas para a África Ocidental.

O desenvolvimento e expansão do comércio transatlântico iniciado na última metade do


século XV representou um importante ponto de partida na história do tráfico de
escravos.

Em decorrência desse comércio, a escravidão existente nesta região, passou por


transformações distintas daquelas produzidas nas regiões islamizadas. Embora ela
tenha continuado, na maioria dos lugares, a ser interpretada no contexto das estruturas
de linhagem – como escravidão de linhagem, ela se consolida como importante
instituição nas estruturas das sociedades locais. Essa relação entre o comércio escravo

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europeu e o desenvolvimento da escravidão nas sociedades africanas, ajuda a
esclarecer essa mudança histórica.

A presença constante de comerciantes nesta região incentivou a formação de um


comércio sistemático de colecta de escravos, que passava a ser direccionado não só
para os grupos de parentesco, mas também para o mercado exportador. A
consequência dessa relação foi a perda pela África desses escravos e a substituição
de seres humanos por mercadorias importadas.

4.5. OS PRIMEIROS CONTACTOS COM NDONGO

A chegada dos portugueses no reino do Ndongo O Reino do Ndongo centralizou-se em


torno do soberano Ngola no princípio do século XVI, conquistando paulatinamente
independência perante o Congo e soberania sobre os chefes locais, chamados sobas.

Após duas expedições frustradas para converter o Ngola 2, Paulo Dias de Novais
chega em 1575 com a “carta de doação”3 de D. Sebastião, estabelecendo a
“conquista” a partir da recém fundada São Paulo de Luanda.

Inicia-se um complexo jogo de alianças e “avassalamento” dos sobas que estavam sob
o controle político do Ngola ou que lutavam para manter graus variados de autonomia.
No instável cenário político do reino do Ndongo foi se formando a colônia portuguesa
de Angola, nome derivado do título daquele régulo. Alternando-se momentos de
“coexistência pacífica” ou de conflitos armados entre o Ngola e os portugueses, as
guerras angolanas se intensificam a partir da década de 1590 fomentadas pelo “mito da
prata” de Cambambe - nunca encontrada- e pelo crescente mercado escravocrata que
surgia no Atlântico.

É a busca por escravos que vai definir a história de Angola no século XVII e nos
séculos posteriores. As inúmeras guerras, descritas minuciosamente pelo Capitão

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português Cardonegad, visaram sempre, em última instância, ao lucrativo comércio de
mão de obra.

Tudo era motivo para se fazer guerra: a não aceitação da submissão, a interceptação
de alguma caravana comercial, a rebeldia de um soba já avassalado. O controle dos
sobas garantia a penetração no interior e o avanço da “conquista” e, ao mesmo tempo,
fortalecia os exércitos lusitanos, pois os sobas aliados tinham obrigação de dar
passagem, alojamento e alimentação as tropas portuguesas, serem “amigos dos
amigos e inimigos dos inimigos”, de ceder pessoas de sua jurisdição para compor as
tropas da “conquista”, a chamada “GUERRA PRETA”. Ao lado dos generais
portugueses, lutavam africanos designados por seus sobas em sinal de obediência.

As guerras em Angola não existiriam sem a maciça participação dos africanos, que
actuavam como soldados, carregadores, guias na densa mata, coletores de alimentos,
já que a fome era um grande problema dos exércitos em Angola. Além do braço para a
guerra, os africanos combatentes utilizavam seus conhecimentos tribais na preparação
para a luta, as estratégia

4.6. A FUNDAÇÃO DA COLÓNIA

Em 1484, os portugueses atracaram no Zaire, sob o comando do navegador Diogo Cão.

A partir deste marco, os portugueses passaram a conquistar não apenas Angola, mas
África.

Já instalada a primeira grande unidade política do território, que passaria à história


como Reino do Congo, os portugueses estabeleceram aliança.

A Colónia portuguesa de Angola formou-se em 1575 com a chegada de Paulo Dias de


Novais com 100 famílias de colonos e 400 soldados. Paulo Dias de Novais foi o
primeiro governador português a chegar a Angola, que tinha como principais acções
explorar os recursos naturais e promover o tráfico negreiro (escravatura), formando um
mercado extenso.

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A partir de 1764, de uma sociedade esclavagista passou-se gradualmente a uma
sociedade preocupada em produzir o que consumia.

Em 1850, Luanda já era uma grande cidade, repleta de firmas comerciais e que
exportava, conjuntamente com Benguela, óleos de palma e amendoim, cera, goma
copal, madeiras, marfim, algodão, café e cacau, entre outros produtos: Milho, tabaco,
carne seca e farinha de mandioca começariam igualmente a ser produzidos localmente.

4.7. OS IMBANGALAS

São, possivelmente, originários da África Central. Invadiram o atual território angolano


no início do século XVII. Estabeleceram-se na Baixa de Cassange, ou seja, entre os
rios Cuango e Cuanza.

Suas origens ainda são controversas. Geralmente estão incluídos entre os jagas, que
atacaram o reino do Congo durante o reinado de Álvaro I.

Na década de 1960, foi estabelecido que as tradições orais do reino Lunda sugerem
que ambos os jagas citados acima se originaram no reino Lunda e de lá saíram durante
o século XVII. Outra teoria sugere que os imbangalas se originaram no Planalto Central
de Angola ou na região litorânea subjacente.

O primeiro registro escrito sobre os imbangalas foi feito pelo navegante inglês Andrew
Battell, que viveu com eles por dezesseis meses por volta de 1600-1601. O relato
localiza os imbangalas no litoral e no planalto angolanos, ao sul do rio Cuanza. Os
líderes imbangalas teriam dito a Battell que eles teriam vindo de um lugar chamado
Elembê.

A história de Battell foi publicada por Samuel Purchas parcialmente em 1614 e


integralmente em 1625. Os portugueses se interessaram pelos imbangalas mais ou
menos na mesma época em que Battell viveu inicialmente entre eles. Battell foi para o
território bangala em companhia de comerciantes portugueses que compravam os
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prisioneiros de guerra dos imbangalas para vendê-los como escravos. Nessa época, os
imbangalas atuavam como saqueadores, pilhando o país em busca de vinho de palma.

A capacidade militar e a crueldade dos imbangalas despertaram a atenção dos colonos


portugueses, que viviam uma trégua em sua guerra contra o reino do Dongo durante a
primeira etapa do período colonial (1575–1599). Apesar de professarem publicamente
desgosto pelos costumes imbangalas, os governadores portugueses de Luanda
algumas vezes contrataram os imbangalas para suas campanhas, começando por
Bento Banha Cardoso em 1615 mas principalmente no caso de Luís Mendes de
Vasconcelos e seu assalto de 1618 ao Reino do Dongo.

Mendes de Vasconcelos empregou três esquadrões de imbangalas mas logo percebeu


que eles não tinham disciplina suficiente para integrar as forças portuguesas. O
esquadrão liderado por Cassange, em particular, se livrou do controle português e
iniciou uma jornada de pilhagem que resultou na formação do reino de Cassange, na
bacia do rio Cuango. Essa foi a origem da atual etnia dos imbangalas, que renunciou a
seus costumes militares no final do século XVII.

Outro esquadrão imbangala chamado Caza se uniu ao Reino do Dongo e passou a


lutar contra os portugueses, embora eventualmente viesse a trair a rainha Ana de
Sousa em 1629, frustrando a intenção desta de preservar a independência do Reino do
Dongo a partir de uma base nas ilhas do rio Cuanza.

Após a breve tentativa de reunião do Dongo com Cassange em 1629-1630, a rainha foi
para o reino da Matamba e, lá, formou seu próprio esquadrão imbangala, liderado pelo
homem chamado de Jinga Mona ("filho de Ana de Sousa"). Acredita-se que a rainha
tenha se submetido ao rito de iniciação imbangala, golpeando um bebê.

No final do século XVII, os imbangalas originais localizados ao sul do rio Cuanza


firmaram alianças com grupos ovimbundos como os bienos, os huambos e os
ambalundos. No século XVIII, os costumes dos imbangalas tenderam a ficar mais
moderadosː por exemplo, a antropofagia ficou restrita a rituais e, algumas vezes,

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passou a ser meramente simbólica (no século XIX, imbangalas do Planalto Central de
Angola ainda praticavam um ritual chamado de "comendo o homem velho").

Costumes

Os imbangalas eram uma sociedade completamente militarizada, baseada inteiramente


em ritos de iniciação, ao contrário dos demais grupos étnicos africanos, que se
baseiam em ritos de parentesco. Para impedir que o parentesco tomasse o lugar da
iniciação, todas as crianças nascidas numa aldeia eram assassinadas. As mulheres
podiam deixar suas aldeias para terem seus filhos, mas, quando voltavam, as crianças
só eram consideradas imbangalas após terem participado dos ritos de iniciação. De
modo semelhante ao da antiga Esparta, as crianças eram treinadas diariamente em
combate individual e em grupo.

Durante o treinamento, se usava um colar que só poderia ser retirado depois que o
praticante matasse um homem durante uma batalha. Os imbangalas se cobriam com
um unguento chamado maji a samba, o qual eles acreditavam lhes conferir imunidade
nas batalhas, desde que o guerreiro seguisse um código de conduta chamado yijila.
Esse código incluía infanticídio, antropofagia e absoluta ausência de covardia.

Os guerreiros eram conhecidos como nugnza (singular: gonzo) e eram divididos em


doze grupos, cada um deles liderado por um musungo. Esses doze esquadrões eram
parte de um quilombo, uma cidade fortificada temporária cercada por uma paliçada de
madeira. Cada quilombo tinha doze portõesː um para cada esquadrão. ~

O exército imbangala entrava no campo de batalha com uma formação de três dentes
similar à famosa formação zulu de touro e chifre. A formação era composta pelo chifre
direito (mutanda), o chifre esquerdo (muya) e a vanguarda (muta ita) no centro. Suas
armas principais eram o porrete e a machadinha, mas também incluíam o arco e flecha,
a faca e a espada.

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Os imbangalas não permitiam que suas mulheres dessem, à luz, crianças. Para
recompor sua população, eles capturavam adolescentes e forçavam-nos a lutar em seu
exército. Em método semelhante ao utilizado com as atuais crianças-soldados, os
jovens cativos eram forçados a matar e comer pessoas e consumir bebidas alcoólicas,
e somente eram admitidos como membros plenos após matar alguém em uma batalha.
Antropofagia, sacrifício humano ritual e tortura faziam parte do que observadores do
século XVII chamaram de "leis da quixila" (do quimbundo kixila, "proibição").

TEMA 5 - O NOVO CONTEXTO POLÍTICO E MILITAR NA REGIÃO E A REACÇÃO


DOS POVOS AFRICANOS (SÉC. XVII)

5.1. AVANÇO DO TRÁFICO DE ESCRAVOS

No princípio a obtenção de escravos pelos portugueses nos reinos do Congo e do


Ndongo processava-se através de trocas. Depois, passou-se a obter escravos a partir
da captura e de atributos aos chefes subjugados.

Durantre as guerras o Congo e o Ndongo foram destruídos e o comércio de escravos


foi alimentado por acordos de paz e agressões sucessivas. Os portugueses fundaram
então a capitania de Luanda e a captura de escravos passou a ser maior e já for a do
control do rei do Congo.

No final do século XVI, o numero de escravos exportados a partir de Mpinda e Luanda


crescia e em 1575 encontravam-se sete barcos na praia de Luanda para o transporte
de escravos.

Os escravos eram exportados para o Brasil e para as colónias espanholas na América


(América Latina). Nos séculos XVII e XVIII, o tráfico alargou-se e atingiu outras regiões.

Os produtos mais procurados pelos europeus eram escravos e marfim; em troca os


africanus procuravam tecidos, armas de fogo e pólvora.

Os portugueses proibiam a venda de armas de fogo aos africanus. Por isso, os Estados
vizinhos da colónia procuraram abastecer-se junto de outros comerciantes europeus
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concorrentes dos portugueses. Mas tarde, autorizaram a venda de armas e pólvora, ao
mesmo tempo que proibiam os concorrentes relegados.

Da Baia de Luanda, como porto principal, saiam navios com mercadorias de resgate e
produtos de consumo para os portugueses, tais como: a farinha, conservas, queijos,
vinhos, azeite, calçado, etc. E ainda ofertas para os sobas e para os reis africanus
(louças e esmaltes da Índia, vinhos aguardentes, facas e quinquilharia da Europa).

Do Brasil vinha: vinho, açúcar, tabaco, aguardente de cana-de-açúcar, arroz, madeira e


farinha de mandioca.

5.2. A FUNDAÇÃO DO ESTADO DE KASSANGE: CONFLITOS E ALIANÇA

O reino de Cassange, também conhecido como reino de Jaga (1620-1910), foi um


Estado pré-colonial localizado no alto rio Cuango, no centro-norte da atual Angola,
numa faixa territorial coincidente nas províncias de Malanje, Lunda Norte e Lunda Sul.

História

Foi formado em 1620 por mercenários imbangalas que desertaram das tropas
portuguesas. O nome do reino é uma referência ao líder desses mercenários,
Cassange, que liderou o grupo na ocupação do alto rio Cuango. O outro nome pelo
qual é conhecido o reino é uma referência ao título assumido pelo rei, jaga. O jaga era
escolhido entre os três clãs formadores do reino.

Em 1689, o português António de Oliveira de Cadornega estimou que o reino tinha 300
000 habitantes, dos quais 100 000 podiam portar armas. No entanto, acredita-se que
tal número possa ser exagerado.[ O reino mantinha-se em constante estado de conflito
com seus vizinhos, especialmente com o reino da Matamba, governado na época pela
rainha Ana de Sousa. O reino era um importante centro comercial até ser eclipsado
pelas rotas comerciais ovimbundas na década de 1850.

As Guerras da Baixa de Cassange e o declínio do reino

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Cassange era um reino muito forte e temido em questões militares, até entrar em atrito,
em 1838, com Portugal, quando este resolve construir o presídio de Calandula,
transferindo, em 1843, um relevante contingente militar para a vila do Lombe, numa
tentativa de manter o reino de Cassange sob vigilância e controle.

Em 1850 explode a primeira guerra da Baixa de Cassange, entre reino de Portugal e o


reino de Cassange, onde os portugueses conseguem empreender a queda do rei
Bumba (1850), sem contudo derrotar as forças nativas, havendo necessidade de uma
segunda campanha (1851). Menos de um ano depois, em 1852, explode a segunda
guerra da Baixa de Cassange, onde as forças nativas impõem severas derrotas aos
contingentes coloniais, permitindo o regresso do rei Bumba. Para preservar seu trono,
Bumba oferece vassalagem.

Após quase uma década de relativa tranquilidade, ocorre a terceira guerra da Baixa de
Cassange (1861-1862), após a recusa do rei Bumba em continuar a prestar
vassalagem aos portugueses, declarando a independência do reino de Cassange. A
resposta lusitana foi esmagadora, derrotando o reino sublevado.

O reino foi extinto e incorporado à África Ocidental Portuguesa em 1910-1911, durante


as Campanhas de Pacificação e Ocupação.

5.3. RIVALIDADES EUROPEIAS NA REGIÃO

O Ultimato britânico de 1890 foi um ultimato do governo britânico — chefiado pelo


primeiro-ministro Lord Salisbury — entregue a 11 de Janeiro de 1890 na forma de um
"Memorando" que exigia a Portugal a retirada das forças militares chefiadas pelo major
Serpa Pinto do território compreendido entre as colónias de Moçambique e Angola
(nos actuais Zimbabwe e Zâmbia), a pretexto de um incidente entre portugueses e
Macololos.

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A zona era reclamada por Portugal, que a havia incluído no famoso Mapa cor-de-rosa,
reclamando a partir da Conferência de Berlim uma faixa de território que ia de Angola à
contra-costa, ou seja, a Moçambique. A concessão de Portugal às exigências
britânicas foi vista como uma humilhação nacional pelos republicanos portugueses,
que acusaram o governo e o rei D.Carlos I de serem os seus responsáveis.

O governo caiu, e António de Serpa Pimentel foi nomeado primeiro-ministro. O


Ultimato britânico inspirou a letra do hino nacional português, "A Portuguesa". Foi
considerado pelos historiadores Portugueses e políticos da época a acção mais
escandalosa e infame da Grã-Bretanha contra o seu antigo aliado.

Antecedentes

Em meados do século XIX, durante a chamada "partilha de África", Portugal reclamou


vastas áreas do continente africano baseado no "direito histórico", alicerçado na
primazia da ocupação, entrando em colisão com as principais potências europeias. A
crescente presença inglesa, francesa e alemã no continente ameaçavam a hegemonia
portuguesa, como alertou Silva Porto, comerciante sediado no planalto do Bié que,
assistindo aos movimentos, solicitou um destacamento português.

A partir da década de 1870 ficou claro que o direito histórico não bastava: à intensa
exploração científica e geográfica europeia seguia-se muitas vezes o interesse
comercial. Entre 1840 e 1872 David Livingstone explorou a África central, onde pouco
depois se instalou a Companhia Britânica da África do Sul. Em 1874 Henry Morton
Stanley explorou a bacia do rio Congo e foi financiado pelo rei Leopoldo II da Bélgica,
que em 1876 criou uma associação para colonizar o Congo ignorando os interesses
portugueses na região.

Em 1875 setenta e quatro subscritores, entre os quais Luciano Cordeiro, fundaram a


Sociedade de Geografia de Lisboa para apoiar a exploração, tal como as congéneres
europeias. Foi então criada a Comissão de África que preparou as primeiras grandes
expedições de exploração científico-geográfica, financiadas por subscrição nacional,

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de Hermenegildo Capelo, Roberto Ivens e Serpa Pinto, que entre 1877 e 1885
mapearam o território.

Pretendiam fazer o reconhecimento do rio Cuango, das suas relações com o rio Congo
e comparar a bacia hidrográfica deste com a do Zambeze, concluindo assim a carta da
África centro-austral (o famoso Mapa cor-de-rosa) e mantendo "estações civilizadoras"
portuguesas no interior do continente. Entretanto, o ministro dos negócios estrangeiros
João de Andrade Corvo procurou reafirmar a tradicional Aliança Luso-Britânica,
propondo abrir Moçambique e Goa ao comércio e navegação britânicos que em troca
reconheciam as suas exigências no Congo.

Em 1883 Portugal ocupou a região a norte do rio Congo. Contudo, na Conferência


internacional de Berlim (1884–1885) convocada por Bismark para fixar as zonas de
influência de cada potência em África e dirimir conflitos - incluindo a oposição
Portuguesa e Britânica à expansão de Leopoldo II- a aliança decepcionou. Sob
pressão da Alemanha e da França, Portugal perdeu o controlo da foz do Congo para
Leopoldo II da Bélgica. Do Congo português apenas Cabinda se manteve: em
Fevereiro de 1885, os notáveis de Cabinda assinaram o Tratado de Simulambuco, pelo
qual aceitavam ser um protectorado da coroa portuguesa.

A exigência da «ocupação efectiva» sobre a ocupação histórica, determinada pela


Conferência de Berlim obrigou a agir. O estado português diversificou então os
contactos internacionais, cedendo à França na Guiné, e à Alemanha no Sul de Angola,
em troca do reconhecimento às terras interiores entre Angola e Moçambique. Nascia
assim o chamado Mapa Cor-de-Rosa, tornado público em 1886, reclamando uma faixa
de território que ia de Angola à contra-costa ou seja, a Moçambique. Para sustentar a
reclamação de soberania foram desencadeadas diversas campanhas de exploração e
avassalamento dos povos do interior e a resistência foi combatida com as chamadas
Campanhas de Conquista e Pacificação conduzidas pelas forças armadas.

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5.4. A MATAMBA

Reino da Matamba foi um reino pré-colonial africano localizado nas terras da atual
Malanje, Angola. O reino localizava-se ao leste do Reino do Congo e da Angola
Portuguesa, sendo fundado pela rainha Ana de Sousa Ginga e resistindo com sucesso
a colonização portuguesa.

História e Origens

A primeira menção documental ao Reino de Matamba é uma referência à homenagem


ao rei do Congo, D. Afonso I, em 1530. Em 1535 Afonso mencionou posteriormente
Matamba como uma das regiões sobre a qual governou como rei. Não há mais
informações sobre a história inicial do reino e as tradições orais modernas não
parecem mencionar-lo no estado atual da pesquisa.

No entanto, não parece provável que o Congo tivesse mais do que uma presença leve
e simbólica em Matamba, e seus governantes eram provavelmente bastante
independentes. Matamba, sem dúvida, tinha relações mais estreitas com seu vizinho
do sudeste, Dongo, então um reino poderoso, bem como com o Congo.

Em meados do século XVI, Matamba era governada pela rainha Ana de Sousa Ginga,
que recebia missionários do Congo, na época já como reino cristão, despachados pelo
rei Diogo I (1545–1561). Embora essa rainha tenha recebido os missionários e talvez
tenha permitido que pregassem, não há indicação de que o reino se converteu ao
cristianismo.

A chegada dos colonos portugueses sob o comando de Paulo Dias de Novais a Luanda
em 1575 alterou a situação política, visto que os portugueses se envolveram
imediatamente nos assuntos do Dongo e estourou a guerra com o reino em 1579.
Embora Matamba tenha desempenhado um pequeno papel nas primeiras guerras, a
ameaça de uma vitória portuguesa incitou o governante de Matamaba (provavelmente
um rei chamado Cambolo Matamba) a intervir. Ele enviou um exército para ajudar o

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Dongo contra os portugueses e, com essas forças, os exércitos combinados foram
capazes de derrotar e derrotar as forças portuguesas na Batalha de Lukala em 1590.

Reinado de Ginga Ambande

Ana de Sousa Ginga, batizada como Ana de Sousa foi a fundadora do Reino da
Matamba.

A Rainha Ginga governou em Matamba de 1631 até sua morte em 1663. Durante este
tempo ela integrou o país em seus domínios e milhares de seus ex-súditos que fugiram
dos ataques portugueses se restabeleceram com ela estabeleceram lá. Ela fez várias
guerras contra Kasanje, especialmente em 1634-35. Em 1639 ela recebeu uma missão
de paz portuguesa que não conseguiu um tratado, mas restabeleceu as relações entre
ela e os colonizadores. Quando os holandeses tomaram Luanda em 1641, Njinga
imediatamente enviou embaixadores para fazer uma aliança com eles. Durante estes
anos, mudou a sua capital de Matamba para Kavanga, onde conduziu operações
contra os portugueses. Embora as forças do Dongo tenham obtido uma vitória
significativa sobre os mesmos na Batalha de Combi em 1647, quase forçando-os a
abandonar o país e sitiar sua capital do interior, Massangano, uma força de alívio
portuguesa liderada por Salvador de Sá em 1648 que expulsou os holandeses e forçou
Ginga a regressar a Matamba.

Guerra Civil de Matamba

Após a morte de Ginga, eclodiu um período de tensão, pontuado pela guerra civil.
Bárbara sucedeu a Ginga, mas foi morta por forças leais a Ginga Mona em 1666. João
Guterres conseguiu expulsar temporariamente a Mona em 1669, mas foi derrotado e
morto em 1670. Ginga Mona governaria o reino até o filho de João Guterres, Francisco,
ser deposto e executar Ginga Mona em 1680, tornando-se seu gobernante.

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Reinado de Verónica I

Francisco Guterres foi sucedido por sua irmã Verónica I Guterres Kandala Kingwanga,
cujo longo governo de 1681 a 1721 consolidou o controle da dinastia Guterres e criou
um precedente duradouro para governantes femininas. Verónica era aparentemente
uma cristã devota, mas também uma crente fervorosa na independência de Matamba.

Invasão Portuguesa

Quando Verónica morreu em 1721 foi sucedida pelo filho Afonso I Álvares de Pontes.
Durante o seu reinado, o distrito de Holo ao norte separou-se de Matamba para formar
o seu próprio reino e ainda estabeleceu relações com Portugal. Como resultado das
tentativas de Matamba de impedir a secessão e o comércio português com a província
rebelde, as relações entre Matamba e a colônia portuguesa se deterioraram.

Ana II (Ana I era a Rainha Ginga porque Matamba aceitou os nomes cristãos dos
antigos governantes e da sua dinastia), que chegou ao poder em 1741, enfrentou uma
invasão portuguesa em 1744. A invasão de Matamba pelas forças portuguesas em
1744 foi uma das maiores. operações militares no século XVIII.

Fragmentação

Com a norte de Ana II em 1756, estourou-se uma nova guerra civil entre os candidatos
rivais ao trono, durante a qual Verónica II governou brevemente por um tempo, mas ela
foi derrubada em 1758, deixando Ana III no trono.

Ana III foi por sua vez foi deposta por Kalwete ka Mbandi, um líder militar. Kalwete
venceu a guerra e foi batizado como Francisco II ao assumir o trono. No entanto, duas
das filhas de Ana, Kamana e Murili, escaparam da guerra civil, refugiaram-se na antiga
capital de Dongo nas ilhas Quindonga e resistiram com sucesso às tentativas de
Francisco II de as expulsar. A partir desta base, a Rainha Kamana criou um reino rival
e em 1767 tentando, sem sucesso, obter ajuda portuguesa contra o seu rival. Enquanto
o governador português da época, Francisco Innocencio de Sousa Coutinho, lhe

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concedia asilo e instruía os seus funcionários a respeitarem a ela e a sua posição, não
era favorável à intervenção direta nos assuntos da zona oriental da zona portuguesa.

O filho e sucessor de Camana, Andala Camana, conseguiu acabar com a divisão do


país, recuperando com sucesso a capital e sendo coroado rei de Matamba por volta de
1810.

5.4. O CONFLITO ENTRE A COLÓNIA DE ANGOLA E O CONGO

TEMA 6 - O APOGEU DO TRÁFICO DE ESCRAVOS (SÉC. XVIII)

6.1. ENQUADRAMENTO DA REGIÃO NA ECONOMIA MUNDIAL

6.2. RELAÇÃO EXISTENTE ENTRE DIFERENTES ESTADOS E POVOS


AFRICANOS

6.3. A COLÓNIA DE ANGOLA: DINÂMICAS ECONÓMICAS, SOCIAIS E POLÍTICAS

6.4. TENTATIVAS DE AVANÇO EUROPEU E A REACÇÃO AFRICANA

6.5. CONGO: DECADÊNCIA DO PODER CENTRAL, CONFLITOS INTERNOS E


AFIRMAÇÃO DOS PODERES REGIONAIS

6.6. O IMPÉRIO LUNDA: DINÂMICA DA EXPANSÃO

6.7. INTEGRAÇÃO TARDIA NO SISTEMA ATLÂNTICO DAS REGIÕES SUL E


SUDOESTE DE ANGOLA

6.8. A SITUAÇÃO DA COLÓNIA NAS VÉSPERAS DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL.

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